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Beleza e Vingança

Saga Rosas Brancas 2

Laura A. López
Sinopse

Primeiro a vingança, o amor pode esperar... Lady Emma


McBean, irmã do duque de Lancaster, teria sido uma jovem
promessa e uma beldade em sua futura estreia, mas um
acontecimento muda sua personalidade segura e jovial e a
converte em uma jovem tímida e reservada, de má aparência,
cuja maior habilidade é o cinismo e a prepotência com quem a
rodeia. A única pessoa que realmente conhece seus medos e
para quem não lhe importa absolutamente sua aparência é
lorde Brandon Waldow, que está apaixonado por ela há anos,
desde quando a salvou de uma desgraça. Emma se vê
envolvida em um compromisso acordado desde seu
nascimento com o jovem e amalucado lorde Clark
Mottengarden, conde de Duddley, o qual ao conhecê-la rejeita
a ideia do matrimônio porque a considera feia e rompe o
acordo após humilhá-la e feri-la profundamente. Poderá
Emma abrir-se de novo ao amor com lorde Brandon Waldow e
esquecer a sede de vingança que a envenena dia a dia? Esta é
a primeira história sobre os filhos dos protagonistas de
Resgatando sua alma perdida.
Capítulo 1

Londres, finais de 1836.

Lady Emma se encontrava em sua habitação com sua


criada pessoal.
— Celia, vou sair para ver Rain ― afirmou Emma
decidida.
— Mas, milady, está escurecendo ― replicou a criada.
— Não importa, hoje em todo o dia não a vi.
— Milady, é perigoso, uma moça como você não deve sair
sozinha a estas horas.
Emma era a mais formosa e prometedora jovenzinha de
quatorze anos, loira de olhos cinzentos, sua mãe e seu irmão
eram orgulhosos de sua beleza e encanto, em três anos mais
debutaria na sociedade.
— Não vai me acontecer nada, Rain está machucada,
quero saber se é muito grave.
— Pergunte ao seu irmão, milady.
— Minha querida e ingênua Celia, meu irmão jamais me
diria algo horrível e sabe, devo averiguar por mim mesma.
— É que a adoram, milady, e não os culpo, eu também a
adoro.
— Celia, é uma atrevida, ― disse entre sorrisos ― porei
uma capa e sairei por onde está o estábulo, agora já sabe onde
estarei.
— Eu não gosto, milady, acredito que é uma má ideia.
— Deixa de ser desmancha-prazeres, por favor, quantas
vezes o fiz e não ocorreu nada? Vou!

***

Na biblioteca, Arthur, duque de Lancaster, irmão de


Emma, encontrava-se despedindo um de seus criados das
cavalariças.
— Max, está despedido.
— Não, excelência, por quê?
— Tive queixa de você por toda parte nesta casa, as
criadas se queixam de que as assedia e apalpa-as, e para
cúmulo de tudo, não cumpre com seu trabalho nas
cavalariças, estão sujas e agora a égua de Emma está
machucada por uma pedra que lhe entrou em uma pata.
— Mas, excelência!
— Mas nada! Recolhe suas coisas e vai daqui, não vou
manter preguiçosos e pervertidos, não te contratei para isso.
— Excelência, levo toda a vida servindo a sua família,
minha família os serviu sempre.
— Mas você não tem feito honra à sua família, eles
trabalhavam duro, você é um folgazão, não faz nada útil, saia
já e pegue o seu pagamento, é um bom dinheiro até que
encontre outro trabalho.
— Se arrependerá disto, excelência ― ameaçou.
O criado saiu com desejos de vingança e foi recolher suas
coisas de seu quarto.

***

— Fez bem, querido ― disse a duquesa viúva.


— Não o quero um dia mais aqui, estava farto.
— Eu sei, só o aguentou pelo fato de que toda sua família
trabalhou para nós.
— Eles eram gente honesta e decente, este não acredito
que leve seu mesmo sangue.
— Bom filho, já não importa, irá.
— Bem, me acalmarei porque estou esperando lorde
Brandon Waldow, tenho negócios com ele.
— Esse libertino, filho, não siga seu exemplo, e pense
também em se casar.
— Mãe, basta com esse tema, sabe que sou muito jovem,
me deixe desfrutar uns anos mais da minha solteirice.
— Seu pai morreria novamente se te ouvisse dizer isso.
— Papai era igual, casou-se muito velho com você.
— É isso que quer? Deixar uma família só por ser um
ancião?
— Mãe, você é extremista.
— Menos mal que sua irmã não cairá nas garras de um
mulherengo.
— Claro, já que a comprometeram ao nascer com um
desconhecido.
— É o filho de um conde, são gente de bem.
— Claro, para comprometer seu filho de quase oito anos
com um bebê, claro que são gente de bem ― disse com ironia.
— Deixa o sarcasmo, Arthur.
— Não posso, está em mim ― replicou sorrindo.

***

Emma saiu sigilosamente pela porta de serviço e foi até


Rain.
— Não se vê mau, Rain, preocupei-me muito por você,
sabe que é minha companheira, me diga, o que te aconteceu?
A égua relinchava como lhe respondendo.
— É sério? Pobre de você, amiga, logo estará bem e
sairemos para passear pelo parque.
O criado ressentido saiu pela porta traseira e viu a bela
daminha. Max estava procurando uma ideia para sua
vingança, tantos anos servindo naquela mansão e o jogaram
como um cão.
— Vou, Rain, já é hora. Adeus, amiga, venho te ver
amanhã.
— Lady Emma, o que faz você por aqui?
— Oh, senhor Max, vim ver Rain, está machucada e hoje
não pude vir mais cedo.
— Alguém sabe que está aqui?
— Não, por isso já vou... até amanhã.
— Você não vai a nenhuma parte, milady, ― disse
pegando-a pelo braço ― você me dará alguns prazeres
primeiro, é uma menina muito bela.
— Me solte! O que diz Max? O que está fazendo? Trabalha
para nós.
— Não mais, milady, seu irmão me lançou à rua como um
cão e agora quero minha vingança.
— Do que fala? Solte-me!
— Vou desgraçar a sua família para sempre.
Emma estava pálida, acabava de entender perfeitamente
o que o homem queria, era muito inteligente.
— Você não fará tal coisa! ― Retrucou ela, e mordeu a
mão do rapaz.
O homem grunhiu de dor pela mordida.
— Maldita, me pagará por isso!
Emma se pôs a correr o mais rápido que pôde, mas ele a
alcançou e então a golpeou no rosto.
— Toma isto, rameira, agora te farei minha!
— Socorro, Arthur, mãe! ― Gritava desesperada.
— Se cale cadela, ninguém te escutará! ― Dizia enquanto
a golpeava e lhe rasgava a roupa.
— Não... por favor! ― Rogava entre lágrimas, sangue e
chutes.
— Claro que sim ― proferia o homem com voz excitada.
Abriu-lhe as pernas e lhe rasgou a roupa interior, ia fazer.
Baixou-se a calça, mas nesse momento sentiu umas enormes
mãos em seus ombros que o atiraram para um flanco.
— Maldito desgraçado! O que estava lhe fazendo?
— Nada, milord, ela é uma puta.
— Ela é uma menina, imbecil! ― Gritou Brandon
enquanto começava a golpeá-lo.
Brandon tinha chegado bem a tempo, escutou os gritos
desesperados de uma mulher.
— Quando eu disser ao duque será um homem morto -
bramou dirigindo-se ao criado atirado quase inconsciente no
chão.
— Milady, está bem? ― Perguntou Brandon à Emma.
Ela não falava, sangrava por todo o rosto e estava muito
assustada, inclusive com Brandon.
— Milady, não lhe farei mal, acalme-se... vamos para
dentro ― disse levando-lhe nos braços.
Ele a levou até a sala onde estava lady Mabel.
— Emma? Emma, filha! O que te ocorreu? ― Perguntou
desesperada. — O que lhe fez, libertino desgraçado?
— O que? Eu a resgatei de um homem que tentou violá-
la.
— Arthur, Arthur! ― Gritou chorando lady Mabel.
— O que acontece, mãe? Brandon? Emma, por Deus! O
que te aconteceu? ― Perguntou correndo para ela.
— Max... ― respondeu apenas.
— Maldito desgraçado! ― Grunhiu Arthur enquanto ia à
sua biblioteca para pegar sua arma.
Ao cabo de uns minutos retornou ainda muito alterado.
— Onde está? ― Perguntou esperando a resposta.
— Nos estábulos ― respondeu Brandon. — O que vai
fazer?
— Simplesmente o matarei, ninguém toca a minha irmã e
vive para contar.
Arthur saiu enfurecido e encontrou Max tentando
levantar-se.
— Nem sequer tente, infeliz! ― Advertiu Arthur
apontando-o com sua arma.
— Excelência, me perdoe por favor.
— Jamais, é um homem morto! – Respondeu-lhe
disparando ao peito. Esse foi o fim do criado, mas o começo da
triste e assustadiça existência de Emma. Apesar de não ter
obtido seu objetivo, tinha-a assustado e deixado-a ferida.
Culpava-se pelo que ocorreu por sua beleza, pensava que
nunca mais a mostraria, possivelmente outros homens
quereriam o mesmo dela.
Não queria passar pelo mesmo.
— Lady Emma, ― disse Brandon ― encontra-se melhor?
Essa pergunta a tirou de seus pensamentos, ela o olhou e
o primeiro que pensou foi que era um homem muito bonito,
caído do céu, mas que devia ser como todos.
— Sim, ― respondeu sem olhá-lo sequer ― obrigada,
milord.
— Lorde Brandon Waldow, sou seu vizinho, milady.
— Obrigada por me salvar, se não fosse por você...
— Não o recorde mais...
— Emma, filha, vamos à sua habitação para te fazer
curativos e se trocar ― interrompeu sua mãe.
— Sim, mãe, e obrigada outra vez pelo que fez por mim,
lorde Brandon.
— Não há por que, milady ― respondeu Brandon ao ver
que se afastava a menina mais formosa que jamais tinha visto.
Capítulo 2

Emma chorava em sua cama, sentia-se suja embora Celia


já lhe tivesse preparado dois banhos nas últimas duas horas,
sentia-se asquerosa, sem vontade de nada; aquele episódio
tinha roubado algo de sua vida. Não foi sua virtude, mas sim
sua confiança nos outros, sentia que tudo se perdera.
— Milady, encontra-se melhor?
— Não, Celia, dorme comigo, por favor, não me deixe
sozinha, deveria ter te escutado quando me advertiu que não
saísse, mas fui tão caprichosa que não te dei atenção ― se
lamentava Emma.
— Graças ao milord nada ruim chegou a acontecer, mas
cuide-se mais, milady; uma beleza como você não pode andar
sem supervisão muito tempo, é uma tentação.
— Tudo é culpa disto que não pedi ― disse olhando-se ao
espelho ― a beleza... se fosse feia e gorda ninguém se sentiria
tentado.
— Você não precisa ter que conquistar milady, recorde
que já tem um prometido.
— Claro, alguém a quem não conheço nem me conhece,
nunca saberemos se ele me quererá pelo que sou ou só pela
beleza.
— Não pense assim, venha e recoste-se em sua cama,
deve dormir e esquecer este episódio.

***

Na biblioteca, Arthur se encontrava conversando com


Brandon sobre o acontecido.
— Não sei como te pagar que tenha salvado a minha
irmã, sua virtude está a salvo para seu prometido ― indicou
Arthur com tom de alívio.
— Prometido? Mas é uma menina ― replicou Brandon.
— Não me olhe assim, jamais a teria cedido em
matrimônio desde seu nascimento, é algo que tem a ver com a
união de famílias e fortunas sabe, não é?
— Sim sei, é muito comum acontecer em nossa
sociedade.
— Brandon, tem meu agradecimento e minha amizade
por toda a vida, o que fez hoje não tem nome, evitou sua
ruína; ela ainda tem um futuro brilhante graças a você.
— Não me agradeça tanto, cheguei no momento adequado
e fiz o que me ditava a consciência.
— Então os libertinos têm consciência? ― Perguntou
divertido Arthur.
— Para minha desgraça a tenho para algumas coisas e
ainda mais para as damas em apuros ― disse mostrando um
sorriso malicioso.
— Menos mal, não tenho que me preocupar com Emma,
não está em sua lista.
— Claro lady Emma... ― ficou pensando ― ela será a
sensação em sua estreia em sociedade ― afirmou Brandon
com o olhar perdido.
Os dias foram passando, Emma tinha se encerrado em si
mesma, estava negligenciada e descuidada. Graças a Deus ao
menos se banhava, tinha perdido seu brilho e sua graça, já
não queria ser bela, já não sabia como sentir-se assim, se
esconderia dos homens atrás de uma máscara que não
representava o que era por dentro e por fora. Não confiava nos
outros, não se sentia pronta para sair ao mundo, como um
evento pôde transformar sua vida dessa forma?
Foi ganhando peso, largou-se completamente, quem a
quisesse a amaria feia e gorda, veria seu interior e não seu
exterior, a beleza era uma escura maldição.
Lady Mabel, à medida que foram passando os dias, ficava
mais preocupada, a vitalidade e a beleza de sua filha se iam
perdendo com celeridade.
— Se olhe Emma! O que te acontece? ― Perguntou sua
mãe, via-a triste e decaída.
— Nada mãe ― respondeu apática.
— Não é a mesma de antes.
— Nem serei mais, mãe.
— Está se abandonando, não compartilha conosco, passa
as festas em sua habitação comendo como uma porca, não se
arruma. É a filha de um duque, se comporte de acordo com a
sua posição, o que dirá seu prometido quando te vir neste
estado?
— Ele não virá até minha estreia mãe, e o que encontre
possivelmente não seja o que espera, é uma pena...
— Se seguir assim é evidente que não vai ser o que lhe
prometemos ― replicou sua mãe.
— A beldade da temporada, não é assim? Pois ninguém
jamais me verá como eu era, já não quero que me admirem -
grunhiu.
— Filha, está ainda doída pelo que aconteceu, mas deve
superar.
— É fácil dizer, aquelas mãos asquerosas não
percorreram seu corpo nem lhe rasgaram a roupa e muito
menos a golpearam porque era atraente e uma vingança, mãe
― rememorou com ar de asco.
— Emma quero o melhor para ti...
— Se quer o melhor, mãe, afaste-se de mim, estou bem
sozinha.
— Emma, não me fale assim.
— Me perdoe, mas já não quero seguir com esta
conversação, mãe.
Emma não estava interessada em raciocinar com lady
Mabel, sua única opção era Arthur, possivelmente ele poderia
convencê-la, era sua menina mimada.
— Arthur, Emma está me matando de preocupação, está
gorda e feia, devemos fazer algo...
— Já a vi, mãe, não sei o que lhe está acontecendo,
acredito que tem medo.
— Tolices, Arthur.
— Não acredito mãe, ela está mal, devemos ajudá-la.
— Como se não nos deixa?
— Deixando-a em paz, só assim.
Emma se aproximou até a porta do escritório de seu
irmão e escutou como sua mãe e ele discutiam.
— Arthur, mãe, ― interrompeu — sairei com a Celia para
me fazer uns vestidos novos, os que tenho já não servem.
— Vem aqui, toma o dinheiro, faça todos os que você
quiser, não o duvide ― murmurou Arthur, lhe dando o
dinheiro e um grande beijo na testa.
— Obrigado Arthur, adeus mãe ― se despediu.
No caminho à costureira Brandon e Bradley estavam
descendo da carruagem, Emma acreditou ter visto em dobro,
não conhecia muito os vizinhos.
— Lorde Waldow? ― Perguntou com certas dúvidas.
Ambos se giraram e responderam ao uníssono.
— Sim?
— Acredito que vejo em dobro ― sorriu confusa.
— Não, milady, somos gêmeos ― respondeu um deles.
— Oh! Por compaixão, quem é lorde Brandon?
— Sou eu, e você é? ― Perguntou sem reconhecer a
daminha.
— Sou lady Emma ― respondeu com vergonha ao não ser
reconhecida.
— Lady Emma? Não a reconheci ― comentou surpreso.
— Claro que não me reconhecerá, só sou uma sombra do
que fui, passei só para lhe agradecer novamente o que fez por
mim há um tempo, e lhe pedir que não o comente, por favor.
— Milady, não precisa pedir, jamais o diria, dou-lhe
minha palavra.
— Obrigada, até mais ― se despediu incômoda ante o
exaustivo olhar do gêmeo.
— Adeus, lady Emma ― respondeu observando-a partir.
— Brandon, agora você gosta das gordas e feias? ―
Provocou seu irmão.
— Ela não era assim, algo anda mal.
— Acredito que você anda mal, seus gostos estão
descendo de nível, espero que não me confundam contigo.
— Idiota! é meu gêmeo, claro que lhe confundirão comigo.
— Você é meu gêmeo.
— Não... Eu nasci primeiro, sou o futuro duque de
Rutland, o título familiar é meu.
— Igualmente tenho um título e sou o preferido de
mamãe e de Angeline.
— Se acredita nisso é porque lhe confundem comigo.

***

Lady Emma chegou com Celia à loja da senhora Polett, a


anciã costureira de Londres.
— Bom dia, senhora Polett, queria encomendar uns
vestidos.
— Tenho muitos pedidos, menina, não te reconheço como
uma de minhas clientes.
— Sou lady Emma de Lancaster.
— O que? É uma brincadeira? Ela é magra e...
— Formosa, não é? As coisas mudam às vezes, senhora
Polett, tome minhas novas medidas, por favor.
— Sim, milady ― obedeceu a anciã.
Depois de encomendar os vestidos e sair novamente às
ruas, enfrentou sua nova realidade, todos a olhavam com
desprezo por não ser como eles, escutava as senhoras falarem.
— Quem é essa? Está gorda e feia.
— Tão jovem e não deixa os bolos.
— Que menina mais desagradável!
— Olhe filha, se comer muitos bolos terminará assim.
Essa seria sua nova vida, devia acostumar-se àquelas
dolorosas palavras.
Capítulo 3

Londres, 1840.

Uma nova temporada se levaria a cabo em Londres, todas


as damas casadouras andavam como loucas nas costureiras,
havia tanto trabalho, tantas coisas a fazer para os outros,
menos para ela, pensava Emma. Nesses três anos cresceu um
pouco mais, já não era gorda, estava cheia, o que as outras
damas chamavam o bom viver.
Emma não se arrumava nem se maquiava, era insípida e
aborrecida, seus vestidos cinzas, marrons e outras cores
funestas, como os chamava lady Mabel, estavam em seu
armário, o pescoço alto e as mangas longas matavam paixões,
sem dúvida alguma; não era em extremo feia, mas não era
nada atraente.
— Milady, esta é a sua temporada, deve conhecer seu
prometido ― contava Celia arrumando os vestidos.
— Oh, sim, claro! Salto em uma perna só de emoção por
conhecer... ― ficou calada ― como se chamava?
— Lorde Clark Mottengarden, conde de Dudley.
— Claro, seguramente é horrível como eu... faremos um
bom casal.
— Não é o que dizem milady, dizem que seu prometido é
um homem muito atraente.
— É uma lástima, não acredito que nos gostaremos -
brincou.
— Milady, o que faço em seu cabelo?
— Só me faça uma cauda e pronto.
— Mas, milady, isso não combina com você ― questionou
a criada.
— Celia, uso-o faz anos, só siga minhas instruções, não
me importa se combina ou não, devemos ir recolher os
vestidos que encomendei para conhecer meu prometido e para
minha estreia.
— Está bem, milady ― resmungou.
— E não o faça a contragosto, Celia!
— Bom ― respondeu com um falso sorriso.
Ambas as mulheres saíram às ruas de Londres repletas
de damas e de cavalheiros que flertavam entre si, todos
tinham retornado para a temporada, ninguém queria perder
nenhum dos acontecimentos como: novos escândalos,
beldades, libertinos e outras coisas que atraíam a atenção da
aristocracia.
— Mamãe mataria para ver-me flertando ou me vestindo
como algumas dessas mulheres, Celia ― afirmou Emma.
— E, lhe faria bem uma mudança, milady.
— Desde quando se tornou contestadora, Celia?
— Milady, você unicamente fala comigo, não fala com sua
mãe nem com seu irmão, não tem amigos, alguma outra
coisa?
— Oh sim, necessito-te, Celia, morro por você ― ironizou
segurando o peito.
— Não zombe, milady, sabe que é verdade.
O que dizia Celia era mais que a verdade, Emma tinha se
isolado, não queria ver ninguém nem que a vissem, saía só
quando necessário.
Inclusive não falava muito com lorde Brandon, que
sempre era tão amável e bonito, lhe encantavam suas
atenções, mas sabia que eram só por educação. Além disso,
não se permitiu pensar nele por seu estado, no qual ela
mesma se colocara, muito ao seu pesar de vez em quando.
— Celia, parece minha consciência, não quero te escutar
mais, graças a Deus chegamos, ― disse entrando na loja ―
senhora Polett, como está?
— O melhor que me permite a idade, milady, vem por
seus vestidos?
— Em efeito.
— Milady, não costumo fazer esta classe de vestidos, são
muito...
— Horríveis para qualquer dama que se ame? Isso não me
interessa, pago pelo que peço ― respondeu cortante.
Com o tempo Emma também se tornara grosseira e
prepotente.
— Sim, milady, mas me deixe lhe dizer que eu sei o
potencial que tem você.
— Potencial?
— Sim, de beleza.
— Essa palavra desapareceu do meu dicionário faz um
bom tempo, rogo-lhe que agilize meu pedido ― sugeriu
incômoda.
— Sim, milady.
Ao retirar os vestidos soube que a observavam na rua.
Sempre que saía tinha esse complexo que tendia a ignorar,
mas desta vez não pôde; um jovem alto e bonito de 28 anos
observava-a atentamente, não pôde evitar sentir-se admirada
até o ponto que perdeu o pé e caiu ao chão.
Um homem foi correndo levantá-la.
— Tenha mais cuidado, lady Emma ― sussurrou uma voz
conhecida.
— Lorde Brandon? ― Perguntou observando sua altura e
corpo completo, aqueles olhos formosos eram inconfundíveis.
— Sim, milady, não tema me confundir com Bradley.
— É que, já sabe, são gêmeos ― alegou.
— Sim, mas sou o mais bonito ― brincou Brandon.
— São iguais ― riu ante a brincadeira.
— Note-se nas diferenças, milady, sou o mais inteligente.
— Você é muito simpático, lorde Brandon.
— Eu adoro tirar-lhe um sorriso ― disse em tom coquete.
— É muito amável, nem sempre tenho a amabilidade das
pessoas ― contou com certa tristeza.
— É porque não deixa que a conheçam.
— Ninguém tem por que se interessar por mim, ainda que
seja asquerosamente rica e meu dote seja escandaloso.
— Seu prometido leva uma joia.
— Claro ― disse zombadora. — Me retiro milord, até mais.
— Até mais, lady Emma.
O homem bonito observava a cena estranhando que
aquele aristocrata tão refinado tivesse tratado tão
amavelmente a horrenda e rechonchuda mulher que tinha
caído ao chão, bem como a forma tão carinhosa como a olhou.
Era muito estranho, notava-se que ao homem não podiam lhe
faltar mulheres, e mulheres belas de verdade.

***

Brandon ficou pensando nela e em seu sofrimento, sentia


certa empatia, sabia que tinha um coração enorme e nobre, só
sua nefasta forma de deixar-se estar era um problema para ser
aceita na sociedade. O que diria dela seu prometido quando a
visse? Ficaria ao seu lado tentando conhecer seu coração?

***

Ao chegar novamente em sua casa, Emma se encontrou


com sua mãe.
— De novo traz porcaria a esta casa, Emma?
— Mãe, ― disse zangada ― não são porcarias, são meus
vestidos.
— Não sei como a senhora Polett pode confeccionar esse
tipo de trapos tão horríveis, não lhe favorecem.
— Mãe, não me interessa ― respondeu com indiferença.
— A mim sim e vai me escutar, amanhã vem seu
prometido e deverá, pelo menos, se arrumar para conhecê-lo.
— Me apresentarei como sou, se me amar se casará
comigo e se não, bom, mãe, não vale a pena.
— O que está se fazendo, Emma? ― Perguntou sua mãe
chorando pela preocupação.
— Mãe, por favor... – Emma tentou aproximar-se, mas
lady Mabel já não estava.
O futuro de sua filha a preocupava, e se o conde a
rejeitasse? O que seria dela?
— Celia, minha mãe está exagerando sobre o que está
acontecendo, possivelmente esse conde tenha o coração doce
― explicou esperançada, Emma.
— Deus queira e seja igual à sua aparência.
— Outra vez com isso, nem sempre ser formosa é ter a
alma formosa também.
— É muito certo, mas conheci alguém assim.
— Não me diga que sou eu, ou que era.
— Sim, milady, era você.
— Já basta Celia, me prepare o banho e passa-me um
livro por favor.
— Sim, milady.
Todos se empenhavam em que ela retornasse ao que era,
uma bela jovem com um prometedor futuro, mas isso não
estava em seus planos; ela já não se via como aquela jovem
bela e segura, mas sim como uma menina escondida atrás de
uma rocha para que ninguém a visse. O mau era que
conseguia o efeito adverso, olhavam-na, mas para falar mal
dela e de quão horrível estava. Começava a ter medo de sua
apresentação, seria uma vergonha, sua mãe morreria e seu
irmão possivelmente não conseguiria casar-se jamais tendo
uma irmã horrenda.
Seus medos a estiveram perseguindo constantemente, até
que por fim chegou a noite e dormiu.
Capítulo 4

— Deus, que horrenda mulher! ― Exclamou Clark


enquanto caminhava pela rua com seu amigo Dylan.
— Caiu ao chão por te estar olhando ― insinuou Dylan.
— Deu-me asco, sabem que não tenho esses gostos, meus
gostos são muito refinados.
— Sim, sabemos, mas deve se reformar; sua prometida te
espera amanhã.
— Não me recorde ― negou com a cabeça o formoso Clark
Mottengarden. Tinha os olhos azuis e cabelos marrons
puxando para o loiro, era alto, quase de 1,80 metros,
conservado e arrebatador.
— Quem sabe como é ― duvidou Dylan.
— Se não fosse porque fiz um provável mau investimento
teria quebrado o compromisso faz tempo, mas lady Emma é
exorbitantemente rica, e seu dote é imenso.
— Fala como um completo caça-fortunas.
— Neste instante sou, dentro de uns meses saberei se
meu investimento foi rentável, investi quase tudo o que tinha;
se algo sair mau, mamãe e eu estaremos virtualmente na rua.
— Mas quase já tem tudo assegurado com sua
multimilionária prometida, não te chama a atenção seu dote?
— O que tem? ― Perguntou Clark com tranquilidade. —
Pode ser que seja porque querem que fique bem casada.
— Ou porque se parece com a porca de duas pernas? -
Predisse maliciosamente Dylan.
— Que se faça torresmo com a sua boca! Se me pedisse
um beijo lhe vomitaria na cara.
— É cruel, nem por mais gorda que fosse mereceria algo
assim.
— Realmente fugiria, não aguentaria algo assim, não sou
tão mau.
— Amanhã verá como será em sua casa, com sua família.
— Não será má gente, mas não quero me levar mal
porque eles me arruinariam a vida em um estalar de dedos.
— O bom de ser poderoso é isso, me diga o que fará com
sua bela amante Marie?
— A conservarei, não a deixarei ir ao momento, necessito
de uma distração todo o tempo que possa.
Clark mantinha uma relação secreta com uma dama de
berço nobre fazia um bom tempo, desde que voltou para
Londres. Depois de despedir-se de Dylan chegou à sua casa e
sua mãe o recebeu com prazer.
— Meu filho! A que horas saiu? Queria tomar o café da
manhã contigo e não te encontrei.
— Em realidade, mãe, estou chegando, saí ontem de noite
e agora, se me desculpar, vou à minha habitação.
— É claro, senhor conde da noite! O que crê estar
fazendo, Clark? Tem uma prometida, deixe as mulheres de má
vida de lado.
— Mãe, não me grite e deixe esta canção que conheço
desde que nasci, não deixa de me dizer «sua prometida isto e
aquilo», tem me cansado. Sou maior, faço o que quero, vocês
decidiram me casar e como você tem palavra eu não posso
romper o compromisso pela honra desta família, isto é
ridículo, não discutirei mais por este mesmo tema.
— Possivelmente você goste.
— E se não?
— Terá que aguentar.
— Uma vida atado a alguém que nem sequer,
possivelmente, chegue a me agradar alguma vez ― grunhiu
baixo completamente em desacordo com seu destino.
— Saia já da minha vista, Clark.
— Isso intento, se deixasse de interromper cada vez que
vou já deixaria de ver minha cara ― respondeu com ironia.
— Fora! ― Gritou sua mãe zangada.
— Que tenha um bom dia, mãe ― disse retirando-se à sua
habitação.
Estava farto das reclamações de sua mãe sobre sua vida
de excessos e mulheres, era sua única saída para o vazio de
sua existência. Seu pai tinha morrido depois que arrumaram o
compromisso com os Mcbean, e ele quase não teve infância
por encarregar-se do legado que lhe tinha deixado seu pai. Sua
mãe tinha feito grande parte do trabalho ao contratar
administradores até que ele cumprisse a maioridade e pudesse
dirigir o patrimônio.
Nos últimos meses tinha investido em um negócio que, se
resultasse, duplicaria seu patrimônio, mas se não, o deixaria
na rua. No risco estava o ganho, dizia para si.
***

Brandon estava em sua casa com sua família, uma


grande e formosa família.
— Mãe, pode acalmar-se cinco minutos? ― Perguntou
Bradley. — Está me pondo nervoso.
— Pequeno pirralho arrogante! Como fala assim com sua
mãe? Nove meses sofrendo por ti... ― replicou ofendida,
Darline.
— Mãe, seria por nós, recorde que tenho um gêmeo.
— Não me desafie Bradley Waldow, sou muito boa
contigo!
— A amo, mãe ― disse com carinho.
— É um adulador como seu pai.
— Mãe, nosso pai baba em suas saias ― brincou
Brandon.
— Brandon! Como diz essas coisas? ― Exclamou
envergonhada a duquesa.
— Sabemos que se amam mãe, não deve lhe dar vergonha
― respondeu Brandon.
— Cuidado como falam na frente de sua irmã, Angeline
está a ponto de casar-se com Daniel, os preparativos estão me
enlouquecendo. Esther está igual, são muitas coisas para
nossos filhos ― expressou Darline com ansiedade.
— Do que falam, família? ― Perguntou Alen ao entrar na
sala.
— Das iminentes bodas da estrelinha da casa, pai -
respondeu zombador Brandon.
— Darline, querida este menino não foi adotado?
— Não acredito, é tua cópia, Alen ― respondeu Darline
com um sorriso.
— A essa idade, querida, eu estava metido no ducado de
Malborough, acabava-o de herdar e fui à Escócia. Era um
homem ocupado em negócios, não como estes preguiçosos que
passam o tempo sob as saias de jovens de duvidosa reputação
― replicou Alen olhando aos seus filhos.
— Claro, pai, você terá sido celibatário ― disse Brandon
com tom irônico.
— Não, mas me comportava e ninguém dizia que eu era
um libertino, as matronas não escondiam as suas filhas de
mim como acontece com vocês. Devem reformar-se ― insistiu o
duque.
— Como tio Brent? ― Perguntou Bradley.
— Ele é um dominado ― respondeu Alen.
— Depois que nossa tia morreu, Violet o domina -
assegurou Bradley.
— Onde está Angeline? ― Perguntou Alen, cortando o
assunto.
— Acaba de subir contemplando uma carta do Daniel,
sabe que está de viagem e lhe escreve cartas quase
diariamente? ― Respondeu Darline.
— Todo um Dom Juan, Alfred e Esther virão na próxima
semana para arrumar os últimos detalhes das bodas ― contou
Alen.
— Onde ficarão?
— Em sua mansão, querida.
— Tinha esquecido, pensei que devia lhes preparar uma
habitação ― disse Darline aliviada.
— Não, querida, mas que tal se formos à nossa? Tenho
algo que você pode gostar ― soltou Alen com uma piscada à
sua esposa.
Os gêmeos olharam enojados ao seu pai.
— Adeus, adotados ― brincou seu pai levando Darline em
meio a maliciosos sorrisos.
— Vamos procurar Stephen para sair esta noite ― sugeriu
Bradley.
— Vá você, eu visitarei o Arthur.
— Ao Arthur ou à gordinha? ― Provocou Bradley.
— Mais respeito, Bradley, ela é uma dama.
— Melhor ir antes que fique louco e sentimental.
— Vá, parece minha sombra...
Bradley já se ia, mas não podia deixar de provocar a
pouca paciência de seu irmão gêmeo.
— Tomara que quando me apaixonar não tenha essa cara
de parvo ― resmungou enquanto saía rapidamente.
— Vá! ― Gritou Brandon lhe jogando um dos adornos de
sua mãe.
— Brandon Waldow, está em um problema! ― Grunhiu
sua mãe aparecendo pelas escadas.
— Era o que me faltava! ― Lamentou Brandon.
— Me conseguirá um igual, malcriado! ― Dizia Darline
entre sorrisos. — Basta Alen, estou repreendendo-o.
— Por favor! ― Resmungou Brandon abandonando a
casa, não ia ficar para ver o que faziam seus pais.
— Já se foi? ― Perguntou Alen.
— Sim, querido, missão cumprida; agora vamos tomar
um pouco de chá, embora pensei que me mostraria «algo».
— Esse «algo» vai ser depois do meu chá, meu amor.
— É um patife! ― Exclamou sorrindo Darline.

***

Brandon chegou à casa dos Mcbean, tocou à porta e


pediu ao mordomo para ver Arthur.
— Adiante, entre, milord, avisarei ao duque que você está
aqui.
— Claro, ― respondeu duvidoso ― emmm...
— Quer algo mais, milord?
— Lady Emma se encontra?
— Encontra-se dormindo, milord, não é de estar acordada
até tão altas horas ― respondeu o mordomo.
O homem o fez entrar ao escritório do Arthur.
— Brandon! Que surpresa, não te esperava.
— Queria sair de minha casa, é um hospício, já sabe que
Angeline se casa logo.
— Sua bela irmã me escapou ― lamentou zombador.
— Nunca teve oportunidade, foi virtualmente um pouco
arranjado, mas com a sorte de que estão loucos um pelo outro.
— Essa é uma desvantagem grande.
— Como está sua irmã?
— Bem, tudo o que lhe permite seu humor.
— Hoje me encontrei com ela na rua, ia muito distraída.
— Amanhã conhecerá seu prometido, veremos como vai ―
comentou preocupado Arthur.
— O que pensa?
— Quer que te seja sincero?
— Claro.
— O conde fugirá, é um mulherengo, sempre rodeado de
mulheres formosas, mas posso manipulá-lo.
Brandon franziu o cenho.
— Como?
— Está em uma, digamos, «falsa má situação econômica».
— Não entendo ― expressou Brandon.
— Investiu todo seu dinheiro em um negócio rentável que
eu estou dilatando porque em realidade está enriquecendo-se
bastante.
— Por que o faz?
— Para que creia que está na ruína e não duvide em
casar-se com Emma ― explicou Arthur.
— É desumano, Arthur ― disse incrédulo por semelhante
baixeza.
— É o futuro da minha irmã, se esse homem não se
comportar o deixarei na rua ― justificou.
—Emma não vai gostar disto.
— Não vai se inteirar se você não lhe disser.
— Tudo por sua felicidade ― disse enfim triste Brandon,
seria partícipe sem querer de um ato baixo de chantagem.
Capítulo 5

Brandon estava triste e não sabia por que, Emma era


doce, não importava sua aparência.
Seu irmão literalmente a estava oferecendo, ou melhor
dizendo, comprando um marido por meio da chantagem.
Amanhã seria um dia decisivo para sua felicidade ou
infelicidade, Emma seria capaz de suportar mais um desprezo
em sua vida?

***

No dia seguinte, na casa de Emma, sua mãe estava


enlouquecida, o prometido de sua filha chegaria e ela parecia
tirada de um livro de terror.
— O que é este trapo, Emma Charlotte Mcbean?! ―
Exclamou sua mãe com irritação. — Não é digno de ninguém
usar este tipo de porcarias.
— É meu vestido, mãe, não gosta de como fica? ―
Perguntou com ironia.
— Não, é horrível... e esse cabelo... é... é...
— É o que, mãe?
— Celia, vá pegar as tesouras do jardineiro, vou cortar a
cabeça desta menina, não compreende o que é horrível.
— Eu gosto como está ― justificou.
— Por que não me mata já, Emma? Não suporto todos
estes desgostos que me faz passar; se arrume, seu prometido
não demorará para vir ― alegou sua mãe.
— Já disse mãe, me amará pelo que sou.
— A beleza te ajudaria muito, filha. Entenda, se conquista
o homem também pelos olhos.
— A beleza não serve para nada, mãe, só para atrair o
mal.
— Emma, por favor, não se castigue assim, não foi sua
culpa o que aconteceu.
— Se não tivesse sido tão dura e arrogante hoje estaria de
outra forma, mas já não posso voltar atrás.
— Filha, pode fazer um esforço para se recuperar, para
ser aquela Emma cheia de segurança que antes foi.
— Não, mãe, ela não voltará.
— É inútil discutir contigo, se arrume o melhor que
possa, não saia como um esfregão.
— Faremos o possível, não é, Celia?
— Claro, milady.
— Está bem, espero-as em uma hora lá embaixo.
Lady Mabel saiu da habitação rumo à biblioteca, para
falar com Arthur novamente, não podia ver o panorama de
maneira mais escura da que o via.
— Arthur, estou preocupada!
— Emma, não é?
— Essa menina me levará à tumba, Arthur, tenho medo
de que seu prometido a rejeite ― exagerou sua mãe.
— Tenha por seguro que o fará, mãe.
— Não me diga essas coisas que me sinto pior!
— Mas não se preocupe mãe, tenho Clark onde quero, se
não se casar com Emma, o arruinarei ― consolou Arthur.
— Mas o que diz, Arthur?
— Clark investiu todo seu patrimônio em um dos meus
negócios, tenho-o em minha mão, e como saberá meu negócio
é rentável. Ele é mais rico hoje que ontem, mas não vai ser
porque reterei essa riqueza.
— Chantagem?
— Faria qualquer coisa pela Emma, mãe, e sabe
perfeitamente, ela é minha prioridade ― argumentou Arthur
sobre cometer aquele ato.
— Obrigada por amar tanto a sua irmã, é muito mimada
por você, em algum momento deve te conseguir uma esposa!
— Não vá pelos ramos, mãe, este tema está gasto entre
nós.
— Por hoje não reclamarei, pois melhorou notavelmente
meu humor.
— Bem, vá ver que nada falte, mãe, não queremos que
Clark tenha uma má impressão de nós ― disse com ironia.

***

— Mãe, você não pode me fazer isto, não vou aparecer


sozinho na casa de lady Emma!
— Filho... ― dizia lady Ana enquanto tossia ― não...
posso... ir... assim... estou doente.
— Ontem não estava assim ― expressou Clark,
suspeitava que sua mãe o estava enganando.
— Seguramente é o desgosto... que me dá, tenho um pé...
na tumba graças a você ― seguia com a tosse.
— Por favor, mãe, é uma exagerada!
— Anda... vá sem... mim que... já está ficando tarde...
para... conhecê-la.
— Sinto que vou arrepender-me toda a vida de ir a essa
casa.
— Não diga idiotices ― disse sua mãe esquecendo a tosse.
— Isso já lhe saiu melhor, mãe, deixe de fingir que está
doente.
— Estou, vá já.
— Adeus, se não voltar já sabe por que...! Fugi!
Clark saiu da habitação de sua mãe, que havia exagerado
só um pouco a tosse que tinha.
— Maxwell!
— Diga, milady.
— Traz um chá e umas bolachas, me passe esse livro que
está na mesinha, por favor ― pediu a condessa.
— Sim, milady, o conde acreditou?
— Não, mas pelo menos não fui, não quero que leve o
susto de sua vida e que queira me assassinar publicamente.
— O disse, milady, lady Emma é uma mulher muito feia.
— Não acreditei que tivesse mudado tanto, era uma
menina linda.
— As pessoas mudam com o tempo, neste caso para pior.
— Sinto por meu filho, mas somos uma família de palavra
e devemos cumprir.
Lady Ana tinha visto Emma na costureira no dia anterior
e não tinha podido acreditar no que vira. Era desagradável aos
olhos, mas tinha o olhar tão triste, algo lhe fazia mal.
Observava as pessoas como lhes dizendo se não tinham nada
melhor a fazer que olhar uma gorda.
Ela sofria, e provavelmente sofreria mais, Clark jamais se
casaria com ela. Ele amava a beleza das mulheres, isso era
prioridade, e isso é o que faltava à sua futura esposa.
Lady Ana era consciente de que não poderia fugir muito
tempo para evitar as reclamações de seu filho; claro,
devidamente justificadas ante semelhante engano.
Clark foi à biblioteca, pegou a garrafa de brandy, serviu-
se e logo bebeu um gole atrás do outro.
— Pela coragem e a honra, vamos Clark, não seja
negativo! Quão ruim pode chegar a ser ter lady Emma como
esposa? ― Perguntou-se.

***

— Celia, como crê que estou?


Celia a olhava sem saber o que responder, se respondesse
que estava bem, iria mau, e se respondesse que estava mal de
todas formas iria mau.
— Celia, fala!
— Eu não gosto do seu vestido, milady, é um trapo
horrível.
O vestido de Emma era granada, com babados no pescoço
alto e de mangas longas, a fazia parecer ter 120 anos, além de
que lhe apertava nas «áreas incorretas», e ressaltava seu «bom
comer».
— Me agrada, não mostra nada de carne.
— Milady, de fato mostra mais que carne ― ressaltou
irônica sua criada.
— Termina de me arrumar o cabelo, me faça um coque
esticado e uns cachos à frente ― ordenou zangada.
— Milady, não lhe favorecem os cachos na frente, seu
rosto se vê mais...
— Redondo... essa é a ideia, não quero dar uma imagem
errada do que sou.
— Está escondendo-se atrás disto.
— Basta, Celia! Se continuar nesse plano pedirei ao meu
irmão que te despeça, sabe que ele cumpre tudo o que lhe
peço ― disse caprichosa Emma.
— Sim, milady, desculpe.
— Calada está melhor.
Ninguém compreendia o empenho que tinha Emma por
ficar tão mal, podia ser gorda, mas bonita. Ela insistia em
colocarem-se coisas que não a favoreciam, coisas que
acreditava lhe dariam segurança, mas que com o tempo se
converteriam em seus inimigos.
Emma desceu as escadas e sua mãe a olhou como a
olhavam todos, com desagrado e desaprovação.
— Oh, por Deus, não há coisa que possa reter esse
homem ao seu lado! ― Exclamou sua mãe com tristeza.
Emma ignorou seu comentário e se dirigiu ao homem que
cumpria todos os seus caprichos.
— Estou muito bonita, Arthur, não crê?
— Quer a opinião da pessoa que te ama ou da pessoa
objetiva? ― Perguntou tentando não responder.
— Melhor se calar.
— É o melhor ― afirmou Arthur desinteressado.
A porta soou e todos se giraram para ver quem vinha,
sabiam que devia ser o conde de Dudley e sua mãe.
O mordomo abriu a porta e anunciou:
— O conde de Dudley, por favor, entre.
Emma o viu e recordou que era aquele o homem que ela
tinha estado olhando ao caminhar pela rua, vê-lo a fez
tropeçar, não podia acreditar que aquele era seu prometido.
Maldição! O que tinha feito? Ela estava horrível e ele era tão
bonito!
O conde tinha ficado sem fala, era a gorda horrenda, e
estava mais horrenda que ontem, algo tinha feito mal em sua
vida anterior para ter caído tão baixo.
Não podia ser mal-educado, eram muito influentes.
— Boa noite, excelência, lady Lancaster e... lady Emma?
― Perguntou incrédulo.
— Boa noite, milord ― respondeu Emma nervosa.
Clark tinha notado que a única coisa linda em Emma era
sua voz doce e melodiosa.
— É um... muito agradável conhecê-la ― disse nervoso
Clark, sabendo que mentia enquanto os outros o olhavam
como compadecendo-se dele.
— E sua mãe, milord? ― Perguntou a duquesa.
— Adoeceu... repentinamente... ― respondeu e ficou
pensando.
Sua mãe sabia! Clark pensou nas mil maneiras de matar
a sua mãe, e o faria da maneira mais cruel, a assassinaria,
cortaria seu corpo e o daria aos porcos que provavelmente
eram primos de sua prometida.
Capítulo 6

— Passemos à mesa, milord ― sugeriu lady Mabel


agarrando-se ao Arthur. — Você, acompanhe Emma.
— Claro, ― obedeceu a duvidoso o conde ― acompanha-
me?
— Encantada, milord ― respondeu pegando com gosto o
braço que lhe oferecia.
Emma estava deslumbrada pelas maneiras de Clark e por
sua beleza.
Durante o jantar muito poucas palavras se disseram,
Clark esperava que Emma se derrubasse como uma porca em
sua comida, mas isso não ocorreu. Ela mal provava bocados
pequenos, tinha umas maneiras excelentes, se fosse diferente
possivelmente até teria graça.
— E nos diga, lorde Mottengarden, como vão seus
negócios? ― Perguntou Arthur para romper o sepulcral
silêncio.
— Estive realizando alguns investimentos, esperemos que
deem bons frutos logo ― comentou e bebeu um gole de sua
taça de vinho.
— Você não tem que preocupar-se tanto por isso, o dote
da minha filha é mais que uma fortuna, além da herança que
terá ― manifestou lady Mabel.
— Entendo, milady, mas eu não gostaria de depender
disso ― afirmou com modéstia, já entendia o porquê do
poderoso e atraente dote de Emma, o dinheiro compensaria o
que o corpo não podia, Dylan tinha razão.
— Não seja modesto, logo seremos família ― anunciou
feliz lady Mabel.
Clark só pôde sorrir nervoso ante a afirmação da
duquesa.
Terminaram o jantar e passaram à sala para continuar
conversando, Emma virtualmente não falava, estava inibida
pela atração de seu prometido, só pensava se ele a amaria
como ela era.
Ele se comportava amável e atento, não tinha saído
correndo ao vê-la sabendo quão mau parecia aquilo, era um
avanço. Ao que parecia o homem não se deixava levar tanto
pelas aparências.
Clark estava a ponto de levantar-se e ir-se, não podia ser
tão mal-educado, mas não podia suportar mais. Era feia,
indecentemente feia, pensava que se voltasse a lhe dirigir a
palavra lhe diria suas verdades.
Acreditava que sofreria um trauma por estar muito tempo
ali, não entendia porque lady Emma era horrível. A mãe era
formosa e o irmão todo um galã, mas ela não tinha palavras,
via-se doce e boa embora isso não era um estímulo para casar-
se com ela. Definitivamente, jamais conseguiria ter herdeiros
se se casasse com aquela mulher; para ter herdeiros deviam
ter sexo, mas isso não aconteceria, essa mulher não era capaz
de acender sua libido.
— Acredito que já é hora de me retirar, ― pronunciou o
conde ― minha mãe está mal da gripe e como sabem só tem a
mim.
— Claro, lorde Mottengarden, recordo-lhe que você já
pode começar a visitar Emma para conhecerem-se melhor-
sugeriu a duquesa.
— Muito em breve saberão de mim novamente ― replicou
sem olhar à Emma.
— Esperarei suas visitas ― declarou Emma em um tom
muito baixo e temeroso.
— Até mais ― se despediu Clark e abandonou aquele
lugar. Ia ficar órfão, porque mataria a sua mãe.
Clark chegou a casa como alma que leva o diabo,
encontrou a sua mãe na sala, esperando-o.
— Você, diabólica mulher, não acredito que seja minha
mãe! ― Reclamou assinalando-a.
— Já a viu?
— Já a viu? ― Disse imitando o tom de sua mãe. — Se eu
a vi? Claro que a vi! Pensei que me morderia um braço...
— Não sei o que dizer... ― alegou sua mãe.
— Você não sabe? Eu sabia menos ainda o que dizer!
Quase me deu um enfarte ao ver aquela... aquela coisa em
frente a mim... e você... sabia, víbora! Escondeu-se nesta casa.
— Não posso mentir, tinha medo de sua ira em público.
— Sou educado, mãe, mas a educação quase se foi
quando aquela mulher me tocou, não poderia me casar com
ela nunca.
— Então não o faça, eu a vi e sei que seria infeliz ao seu
lado, não é seu tipo, e não te obrigarei a cumprir com um
compromisso assim.
— Por fim vi a claridade e a salvação! Não esperava menos
de você, mãe ― disse zombando. — Claro que de nenhuma
forma vou casar-me com ela, não me condenarei a ficar ao seu
lado.
— Quando romperá o compromisso?
— Amanhã mesmo, madrugarei para isso, sou o mais
interessado em que essa união não se realize.
— Ver-te madrugar será todo um espetáculo.
— Pois guarde os melhores lugares para o espetáculo.

***

Emma estava enlouquecida, era o homem de seus


sonhos, amável, cavalheiresco, bonito e varonil, despertava
todas as coisas que tinha dentro de si.
— Celia, tinha razão é... não tenho palavras, é
deslumbrante.
— Eu disse, milady, você fica me repreendendo, sem me
dar atenção.
— Me perdoe, Celia, amanhã vou arrumar-me melhor,
deixarei que você o faça.
— Faremos o que possamos com o que temos, milady.
— Não quero que me despreze por ser feia.
— Isso não lhe interessava até há duas horas.
— A gente muda de opinião, e mais ainda quando um
homem tão bonito é o prometido.
— Menos mal, entrou em razão.
— Acredito que, melhor, perdi a razão ― expressou
sorrindo.
Emma ao que parecia tinha caído no que todo o tempo
estava tentando ignorar: a beleza. Clark, conde de Dudley,
tinha-lhe entrado pelos olhos, estava deslumbrada com seu
físico e com sua educação. Ela queria que a amassem pelo que
era, mas o que ela estava fazendo?

***

À medida que passava a noite mais impaciente estava


Brandon pensando em como teria ido Emma, não entendia o
porquê de sua preocupação, possivelmente o bom coração da
jovem lhe preocupava, pois não acreditava que existisse outra
razão. Ela era muito amável, doce, inteligente, um sem-fim de
virtudes de caráter, mas fisicamente assassinava qualquer tipo
de paixão.
— Brandon ― interrompeu Bradley.
— Diga...
— Está estranho, e não me diga que não é assim, somos
gêmeos e sinto sua inquietação.
— Não posso te enganar, não é?
— É por lady gordinha?
— Não a chame assim, é uma dama.
— Será tudo o que quiser, mas meus olhos não me
mentem.
— Por que não sai? ― Perguntou lento.
— Vim te consolar.
— Não... você veio zombar e não me consolar, além do
mais, me consolar por que?
— Porque a gordinha já conheceu seu prometido e eu
também o conheço, e sei perfeitamente que ela não é do tipo
do Clark Mottengarden, mas terá ficado deslumbrada por ele.
— Isso não é da minha incumbência, só me preocupa
como a tratam, não queria que ninguém a tratasse mau; desde
que a salvei quero protegê-la.
— Salvou-a? Do que?
— É um segredo, não vou faltar à minha palavra.
— Mmm... de maneira que isso é o que o ata a ela? A
possibilidade de que sofra? Deixe-me te dizer que suas
probabilidades de sofrer são iminentes.
— Obrigado, sabe quanto me tranquilizam suas palavras,
Bradley?
— Não acredito que muito.
— Bem. Acredito que cumpriu com sua «obrigação» de
irmão ao preocupar-se comigo, mas assim mesmo, obrigado
por nada.
— Muito bem, mas ao que vim, vamos sair com o
Stephen? ― Perguntou levantando-se da cadeira.
— Já vou dormir.
— Dois dias, Brandon, dois dias que está estranho.
— Adeus, ― fingiu bocejar ― dá-me sono sua reclamação.
— Que sonhe com os anjinhos e que um deles não caia
em sua cabeça pelo peso.
— Basta...! Adeus!
Bradley tentava lhe tirar um sorriso fazendo piadas, não
tinha má intenção, mas às vezes ele não estava de humor, era
o mais sério deles.

***

Clark não podia dormir porque pensava na maneira mais


simples para dar por terminado aquele estúpido compromisso.
Falaria diretamente com o duque de Lancaster, apelando ao
ser racional de seu interior; e se se negasse a romper o
compromisso simplesmente iria à Escócia, se esconderia toda
a vida se fosse necessário, mas não se casaria. Teria vergonha
ter aquela mulher pela rua ao seu lado, o que diriam dele? O
apontariam como um caçador de dotes, isso era o pior.
— Em que problema meus pais me colocaram-murmurou
tentando conciliar o sono.
Capítulo 7

O conde se levantou muito cedo, inclusive antes que a


servidão, mas logo voltou para sua habitação, pois não havia
quem o atendesse. Duas horas depois já pôde descer para
tomar o café da manhã, estava sentado lendo o jornal e
comendo uma torrada.
— Cumpriu. Seu interesse em sair desse compromisso é
realmente grande.
— Bom dia mãe, acredito que meu interesse por sair
desse compromisso é mais que grande, é enorme!
— Você está bem.
— E quero permanecer assim, ― disse enquanto
mastigava uns ovos mexidos ― espero que o duque de
Lancaster aceite me liberar de tão mau matrimônio.
— Deus queira, se isso te fizer feliz.
— Isso me faria mais que feliz, voltaria para minha
tranquila vida e minha mãe deixaria de me atormentar com
uma prometida que já não existirá. Liberdade! ― Gritou e deu
um sorvo no suco.
— Não deixarei de te perseguir, deve pôr sua vida em
ordem.
— Já está ordenada, vou, não quero perder mais tempo,
urge-me a liberdade.
— Muito êxito, meu filho.
Clark tinha um enorme sorriso no rosto ao sair para
romper aquele compromisso. Já pensava em tudo o que faria:
procuraria a bela Marie e lhe faria amor tantas vezes, que ela
lhe pediria que parasse, nada lhe faria mudar de planos.
Uns minutos depois já se encontrava na casa do duque
de Lancaster, tocou à porta e o mordomo saiu a recebê-lo.
— Quero falar com sua excelência ― pediu.
— Adiante, milord.
Arthur se encontrava tomando o café da manhã sozinho,
sua mãe tinha dor de cabeça e Emma ainda não descera, ele
devia ir atender seus negócios e investimentos com Brandon.
— Excelência, lorde Mottengarden o procura.
— Então chegou o momento ― afirmou levantando-se da
mesa.
Arthur já supunha que ele vinha romper o compromisso.
Entretanto, não imaginava que fosse tão rápido e tão cedo.
— Leva-o ao meu escritório ― mandou Arthur.
— Como ordena, excelência.
Entrou em seu escritório e Clark estava olhando tudo ao
seu redor.
— Supunha que você viria, não sabia que seria com tanta
urgência.
— Não vejo por que a surpresa ― comentou sarcástico
Clark.
— Sei por que está aqui, quer romper o compromisso com
Emma.
— Você é mais que brilhante, excelência.
— Nem sequer a conhecerá? Ela é...
Clark o cortou.
— Ela não é do meu agrado, é singelo, nego-me a me
casar com sua irmã.
— Queria fazê-lo por bem, conde de Dudley, mas me verei
na penosa necessidade de fazê-lo por mal; que conste, tentei.
— A que se refere? Você de maneira nenhuma pode me
obrigar a me casar com essa...
— Mais respeito! Suponho que é um cavalheiro, Clark, e
Emma é uma dama, nem sempre teve essa aparência, ela era
formosa...
— Disse-o bem, era... não sei em que momento.
— Já me cansei de seus insultos, se casará com ela e
ponto ― asseverou Arthur.
— Não o farei não me condenarei à vergonha eterna.
— Fará, porque você está em minhas mãos.
— Não me faça rir... ― disse zombador Clark.
— Seu patrimônio inteiro está em um dos meus
empreendimentos Clark, não é acaso um risco muito grande
ter posto essa quantia toda em um só investimento?
Clark deixou de rir, foi um golpe muito baixo.
— O que... o que diz? ― Perguntou pálido.
— Já se vê que agora podemos falar, ― sorriu Arthur
zombando do rosto de Clark ― minha irmã é o mais
importante para mim, e simplesmente você vai cumprir com
sua promessa de casar-se, se não quiser que os deixe na rua,
você e a sua mãe. Faria sem compaixão se você voltar a
insinuar que quer romper o compromisso ― pressionou o
duque.
Clark estava tão pasmado que não podia falar.
— Fale conde, ou será que já decidiu que não romperá?
— Você é um miserável ― replicou frustrado.
— Não mais que você, tudo para que minha irmã não
sofra, vá pensando nas bodas, querido cunhado ― ironizou
Arthur.

***

Emma descia as escadas, o dia se perfilava formoso para


estar no jardim.
— E meu irmão? ― Perguntou ao mordomo.
— Está na biblioteca com o conde de Dudley, milady.
— É sério?! ― Expressou com emoção.
O conde saiu com cara de poucos amigos e se encontrou
com Emma.
— Lorde Mottengarden, ― pronunciou Emma ― veio me
visitar?
Clark ia responder, mas Arthur o fez por ele.
— Bom dia, Emma, o conde estava desejoso por te
conhecer melhor, veio pedir um passeio pelo jardim contigo.
Não é assim, milord?
— Milord, você é tão galante.
— Claro ― disse com voz duvidosa. Estava encurralado,
não tinha forma de desfazer-se daquele compromisso,
precisava encontrar uma solução para aquilo.
— Vamos, milord, vamos nos conhecer melhor.
Clark lhe ofereceu o braço olhando com ódio ao duque,
tinha-o em suas mãos e agora tinha que aguentar a horrenda
prometida da qual não pôde liberar-se.
— Claro, vamos, milady.
Arthur tinha um sorriso de triunfo no rosto, tinha
assegurado o matrimônio de sua irmã.
Já no jardim, ambos foram caminhando enquanto Emma
lhe falava.
— Me diga milord, de que atividades desfruta você? ―
Perguntou com passividade.
— Não tenho muitas, milady, sou alguém bastante
ocupado ― respondeu sem mais.
— Ah, também é madrugador ― opinou.
— Não milady poucas vezes madrugo.
— Então o fez para vir ver-me? ― Inquiriu cheia de
ilusões.
<<Não, gorda infame>>, pensou Clark.
— Sim milady, mais tarde terei todo o dia ocupado
procurando algumas soluções para maus investimentos.
— Milord, já não deve preocupar-se, minha herança dá
para montar um novo país, nunca terá apuros.
— Milady, não se ofenda, mas não sou um caça-fortunas,
nem um aproveitador, trabalhei desde muito jovem por meu
patrimônio.
— Desculpe se me excedi em meu comentário, milord, sei
que você é rico, mas só queria lhe fazer saber que tem meu
apoio para tudo.
— É muito amável de sua parte, milady.
Clark via que ela não era má, mas seria a culpada de sua
infelicidade, deveria brincar um pouco, divertir-se às custas
dela para vingar-se de seu irmão. Já encontraria uma forma
de fazê-lo.
Uns minutos depois Clark se despediu e deixou Emma
alucinando com suas boas maneiras e amabilidade.
Para ela, ele era todo um cavalheiro e ela procuraria a
forma de apaixoná-lo, e para isso devia mudar um pouco.
— Celia, estou tão contente, o conde veio só para dar uma
volta comigo!
— Que bom, milady ― respondeu Celia, que não estava
muito animada, pois tinha escutado o que o mordomo contou
na cozinha sobre a conversação entre o duque e o conde.
Aquele homem odiava Emma e ela estava apaixonando-se por
ele.
— Não te vejo muito animada por mim, Celia.
— Estou, milady, só tenho um pouco de cansaço, estive
fazendo modificações em seus vestidos para que pareçam
melhores.
— É um verdadeiro gênio, quero que o conde goste de
mim como sou, farei muitos esforços por mudar o mais que
puder minha aparência, isso ajudará que ele se apaixone por
mim.
— Você ficará tão bela ― a animou sua criada.
Abaixo, Brandon tinha chegado junto ao Arthur.
— Hoje Clark veio romper o compromisso.
— Tão rápido? São apenas onze horas.
— Pois acredito que Clark estava na porta desde as cinco
da manhã, seu interesse era a medida de sua ação, queria
romper com ela a todo custo.
— E o que fez?
— Era casar-se ou perder tudo.
— Espero que Emma não saiba.
— Também espero, ela está muito animada com ele.
— Muito animada? Crê que está se apaixonando por ele?
― Perguntou Brandon um pouco desiludido.
— Estou seguro.
Uma pontada de decepção fincou no peito de Brandon,
Emma sofreria ao lado de um homem que nunca a amaria.
Capítulo 8

Brandon já se retirava da casa de lady Emma quando a


encontrou no jardim.
— A vida se empenha em que a encontre, lady Emma -
murmurou Brandon com doçura impregnada em sua voz.
— Lorde Brandon ― respondeu sorrindo. — Como está?
— Muito bem ao vê-la, milady, e você?
— Estou muito bem.
— Tem o semblante mudado, lady Emma.
— Possivelmente seja o amor ― alegou sem dar-se conta.
— O amor? Não é um pouco precipitado para falar disso?
— Não, milorde acredito que meu prometido é um
cavalheiro que merece que eu o ame.
— Não se confie milady, ainda é muito cedo.
— O que insinua?
— Parece-me que está se apressando ao entregar seu
coração ao conde, existem outros cavalheiros.
— Me olhe, milorde quantos você crê que cairiam
rendidos ante mim? A quantidade é evidente, zero.
— Não se desmereça, milady, quem a conheça pode
chegar a apaixonar-se por você.
— Isso desejo que ocorra com lorde Mottengarden.
— Se é o que deseja, espero que se cumpra. Até mais ― se
despediu em tom mal-humorado.
— Adeus, lorde Brandon ― finalizou Emma observando
como seu não tão agradável vizinho se ia.
Por quê? Por que lhe incomodou que Emma queira que
lorde Mottengarden se apaixone por ela? Ele não podia
apaixonar-se por ela, não era seu ideal para nada, mas algo,
algo o atraía a ela como abelhas ao mel. Não poderia cortejá-
la, seu julgamento estava nublando, encontrava-se
comprometida e apaixonada. <<Maldita seja>>, refletiu.
Estava confundindo sua vontade de protegê-la com outra
coisa, isso devia ser o que nublava seus pensamentos. Lady
Emma era a doçura personificada, sua voz, seus gestos, sua
evidente inteligência lhe parecia atraente, mas ao que parecia
ela estava completamente deslumbrada pelo conde.

***

Clark, por seu lado, foi procurar seu amigo Dylan para
lhe contar tudo enquanto se puxava o cabelo e se apertava a
cara.
— Pois não sei como vai se liberar disso, possivelmente se
vender sua alma ao demônio. Não quer ser pobre, ou sim? ―
Questionou Dylan.
— Claro que não, recorro a você porque é um perito em
leis, não como conselheiro sentimental.
— Vou pensar em uma solução, enquanto isso meu
querido amigo, terá que seguir cortejando a sua amada lady
Emma, ou possivelmente melhor, se case e a mate dias depois,
aí além de ter seu dinheiro de volta, fica imensamente rico ―
sugeriu em brincadeira Dylan.
— Não sou um assassino, Dylan, mas se seguir assim me
acredite que será uma opção muito válida, ela não é má, só é...
feia como o diabo. Acredito que sinto por ela uma imensa
lástima com uma raiva ainda mais imensa pelo que me fez seu
irmão, mas ele não se dará bem, nem que eu morra tentando.
— E o que fará agora?
— Fingir e preparar o meu plano para fazer o duque me
pagar por tudo, e lhe darei onde mais lhe dói, na gorda. Assim,
meu bom Dylan, vá pensando em um plano, isto já está me
desgastando, acredito que farei uma visita rápida à Marie.
— Claro, Clark, deixe comigo, te darei uma solução rápida
para sua vingança, prometo.
Umas horas depois Clark visitou sua amante Marie, uma
jovem nobre que estava por converter-se em solteirona.
— Querido, que prazer ver-te aqui ― afirmou Marie ao vê-
lo.
— Não vim conversar, Marie, quero me descarregar,
necessito disso ― disse Clark com voz gutural.
— Já sabe que sempre estou disponível para você, sou
tua ― se ofereceu.
Ele literalmente saltou sobre ela, beijando-a
apaixonadamente, enquanto tocava completamente seu corpo,
necessitava-a com urgência.
— Se acalme querido ― sugeriu enquanto sofria suas
dores.
— Se cale... necessito isto... só aguenta ― respondeu
enquanto continuou castigando-a duramente até que se
liberou completamente fora dela; ele era muito cuidadoso com
sua semente, não a deixaria em qualquer lugar.
Depois de um merecido descanso, Marie sentia
curiosidade pelo que acontecia ao seu amante.
— Pode me contar o que te acontece, Clark?
— Logo saberá, se conforme sabendo que minha vida está
de cabeça para baixo hoje, e que quero que a terra me trague.
— Teve um dia muito ruim ― disse fingindo compreender.
— Não um dia ruim, mas o pior de todos, acredito que
sou até capaz de me tornar um assassino.
— Exagera, querido, nada pode ser tão grave.
— Não? Que tenha que se casar por obrigação, ou melhor
dizendo por chantagem, é grave. Não, espera, e o pior é que
minha prometida é horrível, gorda, uma vaca.
— Desta vez sua situação está ruim, meus pêsames mais
sinceros ― sorria enquanto brincava.
— Não zombe, Marie, que isto não tem nada de cômico,
melhor eu ir antes que meu dia termine pior ― expôs pegando
suas roupas para ir-se, sua amante não o tinha ajudado
muito.
Claramente Clark não podia ocultar seu mal-estar e sua
impotência, também devia enfrentar a sua mãe, ela era a
culpada de todas as suas penúrias.
Depois de um dia duro, entre más e péssimas notícias,
chegou em sua casa.
— Filho, como foi? Parece que não muito bem, tem má
cara.
— Que não foi bem é uma expressão amável, porque em
realidade foi fatal.
— Oh, não! Diga-me o que aconteceu.
Clark começou novamente com seu relato, o semblante de
sua mãe foi mudando da tristeza à ira.
— Como pôde Clark Mottengarden, conde de Dudley, nos
fazer isto! ― Gritou histérica. — Tudo o que tínhamos... Agora
se casa, porque o fará, entendeu-me?
— Isto é culpa sua mãe, se você e meu pai tivessem sido
mais inteligentes nada disto estaria acontecendo.
— Não mencione seu pai, deve estar se remexendo em
sua tumba por seu filho sem cérebro!
— Sem cérebro? Pois deve ser de família, não?
— Não me fale assim, jovem malcriado! ― Disse sua mãe
enquanto o golpeava com seu leque.
— Basta mãe, não me golpeie!
— Merece isso por ser ingrato, é um mau filho, olhe no
que ficamos agora.
— Estou pensando em uma solução, Dylan me ajudará.
— Esse advogado do diabo, dá-me confiança, só que suas
soluções não serão muito legais.
— Isso é o de menos, seja como for me liberarei desse
estúpido compromisso.

***

Emma passou o dia na costureira encomendando um


novo vestido para sua estreia, devia ver-se melhor para seu
prometido.
— Esperemos que goste, milady.
— Senhora Polett, também espero, estou muito animada.
— Por fim farei um vestido decente para você.
— O que quer dizer?
— Os outros não são do meu estilo, nem minha avó os
usava, este a favorecerá e lhe fará ver-se mais magra.
— Não acredito que seja mágico, mas lhe acredito, o amor
me faz acreditar ― confessou.
— Entrou em razão, já era hora! Agora deve deixar de...
você já sabe.
— Não, não sei.
— Comer!
— É fácil, posso fazê-lo ou isso acredito.
— Os homens gostam das mulheres nem muito magras,
nem muito gordas, deve ter um equilíbrio.
— Emagreci um pouco ― manifestou, Emma, com um
brilho especial.
— Mas ainda tem uns vinte quilos a mais, milady.
— Já sei... tenho que fazê-lo lentamente.
Emma estava muito animada com seu prometido, era
todo um sonho, ia pensando pela rua muito distraída como já
se fazia costume quando se chocou com um homem.
— Sinto-o mi... – se calou ao ver com quem se chocara.
— Não se preocupe, você ia muito distraída.
— Lorde Brandon?
— Não, sou lorde Bradley, seu gêmeo ― respondeu
sorrindo.
— Desculpe a confusão, é que...
— Somos iguais, na verdade já não, ele cortou o cabelo
hoje e eu vou a isso neste instante, não poderia deixá-lo que
me abandone, a quem culparia de minhas aventuras? ―
Brincou.
— Vocês, milorde, se me permite dizê-lo, são muito
divertidos.
— E muito bonitos.
— Disso não cabe dúvida, envie minhas saudações a
lorde Brandon.
— Ficará agradado ao receber essa saudação, o asseguro,
milady. Até mais ― afirmou Bradley, despedindo-se.
Ela pensou por que ele ficaria agradado com sua
saudação. Lorde Brandon era muito elegante, mas ela não
tinha olhos para outro que não fosse seu prometido, seria
indecente fixar-se em outro cavalheiro estando comprometida.
A amabilidade e preocupação de seu vizinho começava a
colocá-la em uma situação um tanto incômoda, fazendo-a
pensar além da conta nele.
Capítulo 9

Bradley ia pensativo pelas ruas, por isso tinha se chocado


com lady Emma. Ambos iam às nuvens, ele pensando em
Anne, sua bela Anne, ela era tudo o que ele desejava, e o que
desejava também o barão de Ros.
Nunca esqueceria o fatídico duelo que se levou a cabo há
quatro anos, quando era muito jovem. O barão era um homem
experiente quase 25 anos mais velho, mas ele era um atirador
perito, seu pai o tinha treinado. Desafiaram-se a duelo pelo
amor de Anne. Entretanto, as coisas não saíram como
esperava, o barão morreu no duelo, e lady Anne também, por
causa de uma enfermidade. Tudo tinha sido em vão, perdeu o
que mais amava, a doce Anne.
— Já sei no que pensa quando tem esse olhar -assegurou
Brandon na barbearia: — Anne.
— Foi há muito tempo.
— Ainda não o superou, não é verdade?
— Não diga tolices ― resmungou Bradley, embora
quisesse responder que não tinha superado, não sabia se seria
capaz de amar de novo.
— A mim não pode mentir.
— Falando de você, ― disse mudando de tema ― lady
Emma tropeçou comigo na rua e te enviou suas mais cordiais
saudações.
— De verdade? ― Perguntou surpreso.
— Primeiro lhe aconteceu o que acontece com todas,
confundiu-nos.
— É normal, deveríamos estar acostumados, de fato, vim
trocar o penteado para que já não nos confundam.
— E eu, irmãozinho, vim fazer o mesmo corte que você.
— Não pode ser original? Já é suficiente que seja igual a
mim.
— É culpa de mamãe, ela me criou mal, sempre escolheu
tudo igual para nós.
— Faz muito tempo que não o faz, somos adultos, já não
somos pequenos anões babando.
Ambos os irmãos eram idênticos: cabelo loiro e olhos
cinzas, 1,85 metros de altura, esbeltos e graciosos galãs, eram
como um paraíso, juntos. Sua família completa parecia caída
do céu, anjos cheios de beleza. Todas as damas queriam
pescar os gêmeos, eram um prêmio em dobro, queriam-nos
para ter filhos agraciados e um grande título. Cada um seria
duque, isso não se via todos os dias.
— Crê poder conquistar lady Emma, Brandon?
— O que? Por que me pergunta? Não tenho o menor
interesse amoroso por ela, só me preocupo que alguém tente
feri-la de novo, não sei se desta vez poderei salvá-la.
— Você gosta de algo nela, eu não vejo o que possa ser,
mas te agrada muito.
— Agrada-me sim, é amável e doce, apesar de estar um
pouco, digamos, desarrumada.
— Se você gosta do excesso de carne então possivelmente
essa não seja a melhor forma de descrevê-la-ridicularizou
Bradley.
— Basta já, Bradley, seguramente você é assim desde
quando compartilhávamos o ventre de mamãe.
— Adora-me, não poderia viver sem mim, sou como sua
sombra.
— Sim, é irritante, vou indo. Obrigado pelo corte, Francis.
— De nada, milord ― se despediu o barbeiro.
Brandon pensou no que lhe disse Bradley, conquistar
Emma, mas era tarde para isso, estava comprometida e muito
feliz com o prometido que lhe tinham imposto.
Foi à sua casa, cortou uma rosa branca para levar à lady
Emma, não sabia por que o fazia. A rosa branca só era
destinada a pessoas especiais, e para ele, Emma era, com
aquela rosa a faria sentir-se bela e especial.
— Agora coragem, para que isto pareça só educação e não
outras intenções ― se disse tentando convencer-se daquela
mentira.
Lentamente foi caminhando e, quando ia passar em
frente à sua casa, encontrou-a saindo ao jardim, embelezada
com um vestido novo e um pouco mais aberto do que estava
acostumada a usar, com o cabelo recolhido em um lindo
coque, toda de rosa. Estar apaixonada lhe estava fazendo bem,
podia-se ver um pouco da antiga Emma, aquela menina
formosa que tinha visto anos atrás.
Foi aproximando-se dela com cautela.
— Nunca vi uma rosa entre tantas margaridas-galanteou
Brandon.
— Lorde Brandon! ― Exclamou surpreendida. Seu novo
corte de cabelo o fazia mais atraente, ressaltando suas feições,
especificamente seus incitantes lábios.
— Para você, milady ― manifestou Brandon lhe
entregando a rosa branca.
— Jamais me tinham dado uma rosa, milord, é tão
formosa ― sussurrou percebendo o delicioso aroma e
levantando o olhar. — Obrigada, milorde.
Estava enternecida, aquele presente lhe estava fazendo
pulsar o coração apressadamente.
Ele sorriu timidamente, mas com certo grau de flerte que
estava tendo efeito nela.
— E seu prometido, milady?
— Não sei, possivelmente venha para ver-me nestes dias
― respondeu.
— Seriamente quer casar-se com ele? ― Questionou-a
Brandon com amabilidade.
— É o que espero de alguém para meu marido, só que eu
não cumpro as expectativas de qualquer homem. Como sabe,
estamos comprometidos desde que nasci, sei também que não
sou o que ele esperava, mas me trata bem e isso é suficiente
para mim ― indicou.
— Não quer algo mais para você?
— E o que pode ser? ― Perguntou confusa.
— O amor, possivelmente?
— Não sei se algum dia chegue a amar, mas acredito que
o que sinto é parecido ao amor, saberei quando o comprovar
com meu marido.
— E se não é o seu futuro marido quem você ama?
— Nesse caso a quem será? A um homem como você? ―
Questionou com ironia.
— Pode ser ― respondeu sustentando seu olhar.
— O que diz milorde? ― Inquiriu confusa.
— Só pense-o, lady Emma, ― murmurou tomando sua
mão e lhe beijando os nódulos ― até mais tarde.
Ela ficou sem fala, lorde Brandon Waldow virtualmente
lhe tinha pedido que o levasse em consideração. A rosa era um
detalhe que ela não podia passar por cima, guardaria em seu
livro preferido, sua primeira lembrança de seu herói pessoal.
— Lady Emma, o que faz aqui? ― Perguntou sua criada
ao ver-se interrompida durante suas tarefas.
— Olhe Celia ― disse lhe mostrando a rosa.
— É formosa, milady, de onde a trouxe?
— Lorde Brandon me deu! ― Expressou com voz aguda.
— O que?
— Eu tampouco posso acreditar, só veio para isso.
— Possivelmente esteja apaixonado por você.
— Não acredito, terá feito para me agradar, além disso
estou comprometida. Irei guardar esta rosa.
Emma não sabia o que pensar sobre o detalhe. Adorava,
mas não se permitia alegrar-se completamente, não era
atraente e, além disso, ele era deliciosamente bonito, um
manjar do qual ela não poderia desfrutar. No que estava
pensando? Ela estava muito contente pensando em seu
prometido, ele também era muito bonito e grácil, devia tratar
de que ele se apaixonasse por ela por sua forma de ser, e à
parte se arrumaria um pouco, possivelmente isso ajudaria
mais. Sentia-se cômoda com aquele compromisso arranjado,
mas lorde Brandon estava começando a pô-la pensativa.

***

Brandon saiu agradado do jardim dos Mcbean. O rosto de


Emma ao receber a rosa foi sem igual, aquele brilho em seus
olhos, não de surpresa, mas sim de felicidade. Apostava que
seu prometido não lhe tinha levado nada, e estava seguro de
que não o faria.
Para o conde de Dudley Emma não era nada,
simplesmente a chave para recuperar sua fortuna; quem sabia
o que faria depois com ela...
Brandon acreditava ter esperanças, Emma as tinha dado
de certa forma ao lhe insinuar «alguém como você».
O que aconteceria se ele tentasse roubar a missão de
Clark? O conde saltaria em um pé, e ele também, mas devia
assegurar-se primeiro que Emma lhe corresponderia de
alguma forma.
Ficou louco, queria roubar a prometida de outro homem,
estava surpreso consigo mesmo e com o rumo que tomavam
seus sentimentos e pensamentos por ela.
Capítulo 10

Os dias foram passando, lorde Clark Mottengarden não a


visitava com frequência. Tinham transcorrido três dias de sua
última visita, ela ainda não tinha tido a oportunidade de lhe
mostrar que estava melhorando seu aspecto para estar mais
de acordo com seu prometido. Mas quem quase não perdia
nada dela era lorde Brandon, cujos cuidados a estavam
perturbando.
— Parece um perseguidor ― sussurrou Angeline
colocando-se ao lado de Brandon.
— Angeline, assustou-me! ― Exclamou Brandon
segurando o peito.
— Você está me assustando, Brandon, está
enlouquecendo? De novo assediando a nossa vizinha? ―
Perguntou, olhando pela janela. — Por que não vai e lhe diz o
que sente? Embora não esteja muito de acordo com o tipo de
mulheres que está acostumado a frequentar.
— Você não chega a imaginar quão formosa ela é, bom...
foi, mas pode chegar a ser novamente com o estímulo
adequado.
— Crê ser esse estímulo?
— Não sei, não obstante, tentarei ― manifestou sem
perder de vista a paisagem do jardim vizinho. — Saiu, adeus
Angeline ― disse Brandon apressado e deu um beijo na
bochecha de sua irmã.
O dia estava esplendoroso e Emma saiu para desfrutar
daquela jornada ensolarada. Estava no jardim e de um nada
apareceu lorde Brandon, surpreendendo-a.
Ele passara toda a manhã espiando a casa do duque
esperando que ela saísse, assim a abordaria sem utilizar
sempre seu irmão para vê-la, tudo pareceria uma coincidência.
— Bom dia, milady, você está muito formosa com esse
vestido ― indicou Brandon.
— Bom dia, milorde, faz com que me ruborize; não
acredito que seja certo, mas deixarei passar. Que mulher não
gosta de adulações? ― Sorriu com doçura.
— Digo com absoluta veracidade, milady, vi-a e não pude
evitar vir saudá-la.
— Acabo de sair, lorde Brandon, você estava me
espiando? ― Perguntou com um olhar acusador, mas
amistosa.
— Não é de cavalheiros ― mentiu.
— Você é um? Mmmm... ficam algumas dúvidas, sempre
me apanha ao sair da minha casa.
— A vida se empenha em que nos encontremos ― alegou
ao ver-se quase descoberto.
— Não soa muito convincente, milorde ― reprovou Emma.
— E o que seria convincente para você, lady Emma? ―
Inquiriu aproximando-se como um felino em plena caçada,
sendo Emma a presa.
— Eu... ― murmurou, assustada, retrocedendo até se
chocar com uma escultura do jardim.
— Me diga Emma… ― pressionou chamando-a por seu
nome e aproximando-se ainda mais dela.
Seu nome em seus lábios parecia poesia, ela não podia
evitar lhe olhar os lábios, ele estava tão perto, podia quase
sentir como sua respiração a queimava.
— Peço-lhe que não volte a me chamar por meu nome,
lorde Brandon.
— Eu lhe peço que me chame por meu nome Emma -
concedeu ele aproximando seu rosto do dela.
— Mi... mi... milorde o que está fazendo? ― Perguntou
entrando em pânico por semelhante perseguição.
— Só quero lhe roubar um beijo, milady.
Ela tentou afastar-se ao ver que as intenções de Brandon
eram essas.
— O que? Por que? Há outras mulheres que poderiam lhe
dar isso, milorde ― tentou nervosamente persuadi-lo.
— Não quero o delas, quero-o de você ― expressou
Brandon com voz rouca pela paixão, aproximou-se e colou seu
nariz ao dela enquanto sua respiração alterava Emma.
— Não deseja um beijo? ― Perguntou tentador.
— Eu, eu, milorde… ― dizia ela abrindo os lábios,
morrendo por um beijo, e ele só roçando seus lábios contra os
dela, fazendo-a cair em um mar de ansiedade.
Ele a segurou pela cintura, e a olhou aos olhos.
— Logo, milady, logo… ― declarou com o olhar cheio de
desejo e logo se retirou deixando-a desejosa.
Foi o momento mais excitante da vida de Emma, seus
lábios a tinham hipnotizado, seu fôlego no rosto fez suas
pernas tremerem. Desejava um beijo, mas não era correto dar-
lhe a quem não fora seu prometido.
Emma ainda se tocava os lábios pelo roce que teve com o
de Brandon quando apareceu seu prometido e pegou-a
despreparada.
— Lorde Mottengarden! ― Exclamou assustada.
— Não era a quem esperava lady Emma? ― Perguntou
desconfiado.
— Claro que o esperava, milorde, mas não sabia quando
viria para ver-me ― respondeu e tentou acalmar-se.
— Pois parece que vim em mau momento, vi um Waldow
saindo daqui, qual era?
— Lorde Brandon Waldow.
— A que veio? ― Bisbilhotou Clark.
— Tem negócios com o Arthur, além disso é nosso
vizinho, vem sempre.
— Muito bem, vim passar um pouco de tempo com você,
lady Emma ― propôs Clark.
— Obrigada por lembrar-se de mim ― agradeceu Emma,
ruborizando-se.
Clark tinha chegado até o portão e viu como Brandon
estava quase beijando Emma, não lhe importou, pois ele não
queria nada com ela, mas tampouco seria um homem
enganado para passar por cima desse tipo de comportamento.
Não pôde evitar que as palavras lhe saíssem em um tom
receoso por ver um Waldow metido no jardim. Sua visita tinha
sido obrigada por uma nota explícita do duque para que fosse
visitar Emma que, para sua surpresa, estava mais arrumada,
menos feia e sua roupa mais alegre; embora seguia gorda, mas
mais apresentável.
— Gosta muito do jardim? ― Perguntou Clark para fazer
conversação.
— Desfruto-o muito, também desfruto montar, tenho uma
égua, Rain, faz tempo que não sai ao parque ― comentou com
um agradável sorriso.
— Em algum momento sairemos a um passeio, lady
Emma ― mentiu Clark.
— Gostaria de tomar um chá?
— Seria um prazer, milady.
Ela tocou a campainha e o mordomo apareceu.
— Ordene, milady.
— Pode trazer-nos um chá e pães doces aqui no jardim,
por favor?
— Sim, milady, com sua permissão.
Emma sorriu ao mordomo e o despediu.
— Você é muito amável com a servidão, lady Emma -
opinou Clark, adulando seu bom trato para ordenar.
— Pode me chamar de Emma. São pessoas como nós, não
sei por que não deveria ser cortês com eles.
— Emma, não me entenda mal, só que muitas damas não
costumam ser como você, ― esclareceu ― e você pode me
chamar de Clark.
— É bom nos chamarmos por nosso nome, Clark, logo
estaremos casados ― afirmou Emma abaixando o olhar
envergonhada por seu comentário.
Um calafrio percorreu as costas de Clark. Casado? Com
ela? Nem pensar, era amável e boa, mas não, não despertaria
nunca a libido nele.
Tomaram o chá e Clark se retirou. Emma só tinha um
defeito, era feia e gorda, não era de seu tipo e faria o que fosse
para não se casar com ela. Se fosse formosa sem dúvida se
casaria, a beleza era um requisito indispensável para ele
dentro de uma relação.
Enquanto se retirava, Clark pensava em que devia levá-la
ao seu baile de apresentação. Imaginava a vergonha que
passaria, o apontariam como caça-fortunas diretamente, mas
o que podia fazer? Era tão inevitável como a morte, ninguém
acreditaria que ali havia um compromisso para união de
fortunas, e sim para a absorção de uma.
Brandon tinha visto Clark chegar, cruzaram-se na rua e
abaixaram cabeças para saudar-se.
Por que tinha aparecido ali se ele não queria vê-la? Os
ciúmes começavam a crescer dentro de Brandon, Emma
estava apaixonada por Clark e não por dele. Não obstante,
tinha decidido que não desistiria até que ela se casasse com
Clark. Ainda tinha tempo de fazer o que fosse para que não se
casasse.

***

Emma não conseguia dormir essa noite, os olhos cinzas


de Brandon a estavam matando, a fazia sentir coisas que não
deveria, estava tão confusa.
Queria saber o que se sentia ao ser beijada, e para tirá-la
da curiosidade pediria um beijo a quem correspondia, e esse
era seu prometido, não seu adorável e cavalheiresco vizinho,
seu herói pessoal.
— Por que tem que ser tão perfeito?! ― Reclamou Emma.
— Sou um desastre.
Emma chorava de raiva, sentia-se tão horrível rodeada
por homens tão lindos, merecia a forca por ser gorda, embora
pensando bem, possivelmente a corda se soltasse por seus
vários quilos a mais.
— Está tudo bem, milady? ― Perguntou Celia que ainda
estava pelo corredor. — Escutei-a gritando.
— Tudo, Celia, só não sei o que me acontece, queria ser
outra.
— Você pode, logo será outra – sua criada a animou.
— Obrigada por estar sempre me animando, Celia, não
sei o que teria sido de mim sem você ― disse confortada por
Celia.
Recostada e com os olhos fechados só podia pensar em
seu vizinho, Brandon, aqueles lábios não saíam de sua mente,
devia esquecê-lo e pensar somente em seu prometido. Não era
correto o que estava acontecendo.
Capítulo 11

O baile de apresentação tinha chegado e Emma estava


nervosa. Iria ao baile, pediria um beijo ao Clark para saber o
que se sentia ao ser beijada, não podia ficar com aquela
dúvida que seu vizinho tinha semeado nela.
Dava-lhe vergonha olhar Brandon depois daquele roce,
não deixava de pensar em suas insinuações, precisava
experimentar e quem melhor que seu prometido? Ele era
atento e amável, gostava dela, e sobretudo, era o correto.
— Milady, esse vestido lhe assenta muito bem, emagreceu
uns quilos, aqui lhe sobra ― disse sua criada enquanto
segurava sob os braços do vestido.
— Sim, perdi um pouco, estar prometida me faz bastante
bem.
— Me alegro, milady.
— Que joias tenho para combinar com este vestido verde?
— Tem estas esmeraldas e as pérolas, milady.
— Qual... qual... ficaria melhor?
— Acredito que as pérolas, milady, ressaltarão.
— Tem razão, me coloque as pérolas, o colar, os brincos e
o bracelete ― ordenou Emma.
— Sim, milady ― obedeceu.
Sua mãe entrou na habitação para apressá-la.
— Já está preparada?
— Quase, mãe o conde veio para me acompanhar? -
Perguntou acariciando seu cabelo.
— O conde te esperará na festa.
— Mas ele disse que me levaria pelo braço ― expressou
decepcionada.
— Vai um pouco mais tarde, tem negócios a atender -
justificou sua mãe.
— Está bem, é um homem ocupado ― se resignou Emma.
A decepção era quase tão evidente como sua pele, mas
não podia fazer nada se era muito ocupado, tinha coisas a
fazer igual ao seu irmão.
Clark tinha ido ao chamado de seu amigo Dylan, seu
advogado, tinha notícias para ele, um plano que o salvaria
daquele horrível compromisso.
— E aí, Dylan, o que tem?
— Depois disto me beijará o traseiro por toda a vida, meu
querido lorde Mottengarden ― expressou Dylan brincando.
— Depende do que é que tem. Deve ser muito bom, ou
mais que simplesmente bom.
— É genial! Como sabe, sou advogado e conheço todas as
manhas ― se elogiou.
— Minha mãe diz que é o advogado do diabo ― opinou.
— Isso me vem muito bem hoje! Ao que veio ― disse sério.
— Tenho a solução a todos os seus problemas financeiros com
o duque de Lancaster sem ter que se casar realmente com lady
porca, digo lady Emma.
— Fala já...! ― Exclamou ansioso. — Vai me dar um
enfarte.
— O plano é o seguinte: leva lady Emma ao altar.
— Mas disse que seria sem me casar! Está zombando de
mim?
— Não me deixa terminar, está impaciente. Como te dizia,
leva-a ao altar, ou seja, a um falso altar; tenho um bispo
corrupto para que não os case realmente, mas é melhor que
faça tudo em segredo com sua família e a dela, claro, pela
reputação de ambos ― explicou Dylan.
— Mas isso não resolve o caso do meu patrimônio.
— Está equivocado, negociará com o duque de Lancaster
que se casará com sua irmã se te der todos os documentos do
investimento e os lucros no dia do matrimônio.
— Será que aceitará? ― Perguntou duvidoso.
— Deve persuadi-lo a que o faça.
— Se isto resultar, meu bom amigo, beijarei mais que seu
traseiro, inclusive o chão que pisa.
— Terei um conde aos meus pés, eu adoro, você consiga
que aceite o trato e eu me ocupo da parte legal do falso
matrimônio.
— Amo-te tanto, Dylan! ― Abraçou-o.
— Vá já, sua prometida te espera ― sorriu zombador.
— Oh, claro! Irei passar a vergonha da minha vida,
afundarei minha reputação de libertino adorador de belas
mulheres com essa coisa em meu braço ― se queixou Clark.
— Eu não irei, sabe que as aristocratas só querem
condes, duques, viscondes e marqueses, não advogados
milionários ― justificou Dylan com um ar de tristeza.
— Possivelmente alguma se fixe em você.
— Sim, claro; nem se eu esparramar milhões, são
inalcançáveis.
— Melhor dizendo, é inalcançável, não é? ― Inquiriu com
um sorriso malicioso.
— A senhorita Lucy Lowel é um sonho inalcançável,
sobrinha de um conde, estou mais do que frito.
— Por que não tenta?
— Para ser rejeitado? A olharei de longe, te acompanharei
só para vê-la.
— Vamos meu bom apaixonado amigo Dylan! ― Disse
zombando.
— Espero que nunca te aconteça e te seja impossível
acessá-la.
— Não me apaixonarei nunca.
— Nunca diga nunca.

***

Brandon e Bradley já estavam preparados para partir e


levar sua irmã com eles, deviam cuidar da missão de Daniel de
Huntly enquanto ele estava em sua viagem. Stephen, futuro
duque de Norfolk, também cuidaria dela, pois Daniel era seu
melhor amigo. Os Bellamy já estavam em Londres e iam todos
juntos ao baile dos Thompson.
— Bradley, odeio-te, ponha outro colete, não quero ver-
me igual a você! ― Zangou-se Brandon ao ver que seu irmão
estava vestido igual a ele.
— Por que não se troca você? ― Perguntou Bradley para
enfurecer seu gêmeo.
— Vou matar-te! Eu me vesti primeiro, que pouca
originalidade!
— Pois não me trocarei, faça-o você.
— Bem... farei! E usarei algo amarelo ― disse zombador.
Bradley odiava essa cor.
— Você é o pior Brandon! ― Acusou-o.
— Você procurou isso, não deixarei que algumas jovens
creiam que sou você.
— Medo que lhe complique com lady Emma?
— Adeus Brad ― se despediu evitando responder.
Todos os Waldow e Bellamy foram à festa em caravana,
era estranho ver duas famílias com histórias cruzadas indo
juntas a uma festa.
— Pai, por que não fui com Angeline, Brandon, Bradley e
Stephen na carruagem dos jovens? ― Perguntou lady Helen
Huntly.
— Simples, porque Stephen está lá, deve ser um libertino
como seu pai ― respondeu seu pai, Alfred.
— Alfred, Stephen é um bom moço e está procurando
esposa, por que não deixa que chegue mais perto de Helen? ―
Perguntou Alen. — Assim como seu filho se aproximou de
Angeline.
— Mmm... ― Alfred parecia meditar.
— É um pai ciumento ― expressou Darline. — Deve
deixá-la para que lide com ele.
— Está bem, farei. Poderá dançar com ele, claro, se você
desejar.
— De verdade o desejo! ― Respondeu sua filha com mais
veemência que a necessária.
— Agora sim o tomarei como um genro ― assegurou
Alfred agarrando cabeça.
Todos foram anunciados ao entrar, era toda uma
sensação.
As jovens casadouras já estavam olhando aos três jovens,
e os cavalheiros observavam Angeline e Helen.
— Helen, você vem comigo, ― ordenou Stephen ― eu
cuidarei de você.
— Está bem ― respondeu ela ruborizada. Estava feliz,
apaixonou-se por ele desde que o conheceu, e sabia que havia
certa atração, ele procurava uma esposa, só faltava fazer o
pedido.
— Eu fico com vocês ― afirmou Angeline.
— Correção! Fica com o Bradley ― alegou Brandon, que ia
procurar Emma.
— O que?! ― Exclamou Bradley.
— Estar com ela te salvará das jovens que adoram
bonitos duelistas.
— Que gracioso. Vem, Angel, tenho que cuidar da
mercadoria alheia – Bradley disse com humor.
Brandon procurava lady Emma, encontrou-a dançando
com seu irmão Arthur. Ela estava mais bonita a cada dia,
arrumava-se, as coisas iam bem.
Fizeram contato visual e lhe percorreu um calafrio,
começou a respirar mais agitada.
— Está bem? ― Perguntou Arthur.
— Sim, só estou cansada, descansaremos depois da
dança.
— Está bem, te levarei junto ao Clark.
— Sim ― aceitou ela.
A valsa terminou e Arthur localizou Clark com seu amigo
Dylan.
— Amigo, aí vem sua prometida, e melhorou um tanto
seu aspecto ― adicionou surpreso.
Clark a observou, e sim, tinha melhorado, mas não o
suficiente para ele.
— Clark, trago-lhe minha irmã, está um pouco cansada,
leve-a ao jardim para que tome um pouco de ar. Senhor
Warren… ― saudou Arthur com um gesto de cabeça.
— Excelência ― respondeu Dylan com uma inclinação.
— Me acompanhe Emma ― apressou Clark, levando
Emma a contragosto para fora do salão. Odiava o duque de
Lancaster, era um cretino, altivo e mandão.
Brandon observava a cena, iam ao jardim. Ele se
apressou a sair atrás deles pela preocupação, sempre ocorriam
coisas ali.
Seguiu-os sigilosamente para escutar a conversação de
ambos.
— Como está passando a noite, Emma?
— Muito agradável, Clark.
— Quanta intimidade! ― Resmungou, para si, Brandon.
— Clark, queria lhe pedir um favor ― falou temerosa.
— Diga...
— Poderia me dar um beijo? ― Perguntou nervosa.
Brandon não podia acreditar, estava pedindo um beijo
àquele homem e não a ele, que o tinha oferecido.
Era de entender-se, aquele era seu prometido, mas estava
seguro de que Clark não o faria e ele estaria ali disposto a
saciar a curiosidade de Emma.
Capítulo 12

Brandon queria estrangular Emma, ele estava disponível


para beijá-la, mas não, ela preferia o outro, estava muito
decepcionado.
Clark a olhava com os olhos exagerados. Um beijo? Nem
pensar! Jamais o daria, nem sobre seu cadáver.
— Querida Emma, jamais me aproveitaria de você, é uma
dama, ― justificou Clark ― além disso estamos em um jardim,
há uma reputação a cuidar.
— Mas será só um pequeno, tenho curiosidade por saber
como se sente ― defendeu Emma.
— O darei depois de nos casarmos, Emma.
— Está bem, ― se resignou ― poderia me deixar um
momento a sós? ― Pediu quase fugindo de sua presença pela
decepção.
— Como quiser, milady, logo a busco ― se despediu
Clark, salvo por um fio de ter que beijá-la.
Emma estava raivosa e decepcionada, não saberia o que
era um beijo, era tudo culpa de lorde Brandon. Era o culpado
de seu lamentável momento em casal, se ele não tivesse
despertado sua curiosidade nada disso ocorreria.
— Não quer que eu lhe ensine? ― Perguntou Brandon,
que apareceu repentinamente assustando Emma.
Quase morreu de um enfarte ao escutar sua voz, ao olhá-
lo só conseguia ver um homem muito bonito e elegante.
— Me ensinar o que, milorde? ― Perguntou nervosa.
— O que é um beijo, lady Emma, pode me fazer um favor?
Chame-me de Brandon ― indicou.
— Não é correto, tenho um prometido e você não deveria
estar aqui a sós comigo ― balbuciou Emma.
— Isso não me importa, milady ― murmurou
encurralando-a.
— Não...não está bem! ― Retrocedeu Emma até tocar com
suas costas em uma enorme árvore, aquele era o fim de sua
fuga.
— O que não está bem Emma? ― Inquiriu com voz
sedutora.
— Mi... milorde, por favor ― tragou saliva, estava agitada
e excitada, ele lhe provocava sensações estranhas.
Brandon se aproximou mais e pousou suas mãos em sua
cintura.
— Você tem algo especial, milady, será seu perfume?
Possivelmente seus formosos olhos? Não sei, mas eu gosto ―
declarava Brandon brincando com os cachos de cabelo de
Emma. Estava brincando com a antecipação dela por receber
um beijo, faria que aquele momento fosse ansiado.
— Isso não pode ser, não sou o tipo de mulher com quem
se envolveria um libertino como você, milorde ― insistiu para
que a deixasse em paz, embora não desejasse isso.
— Não se desmereça Emma, tem algo que me atrai a você,
― afirmou Brandon ― esse fanfarrão de seu prometido não
quis cumprir com seu pedido, então eu cumprirei por ele.
— Esteve escutando?! É um perseguidor ― expressou com
indignação.
— Querida minha, eu deveria ter a beijado aquele dia,
mas não me animei ― confessou.
— Não zombe de mim, lorde Brandon!
— Não zombo, ― disse Brandon, excitado; colava-se a ela
para que sentisse que não era uma brincadeira ― isto que
sente não é uma brincadeira, lady Emma.
Ela já não podia falar, estava ficando louca, esse homem
acabaria com sua prudência, estava sendo atrevido.
— Você é um impertinente, milorde! ― Acusou Emma
empurrando-o, mas ele a atraiu novamente.
Brandon olhou diretamente aos olhos de Emma, desejava
que aquele momento fosse sensual e apaixonado. Não pôde
conter-se mais e a beijou brandamente.
Ela lentamente foi seguindo seu passo. Era a coisa mais
deliciosa que tinha provado, tinha sabor de morangos e mel,
estava mais que dolorosamente contente, logo depois se daria
um banho gelado.
Emma estava recebendo seu primeiro beijo e não era de
seu prometido, mas sim de seu vizinho, seu herói, estava
ficando louca, ele a incitava a pecar grosseiramente, a fazia
sentir-se estranhamente libidinosa.
Brandon levou-a para os arbustos do jardim, onde se
apoderou com mais força de seus lábios e acariciou zonas
proibidas de sua doce Emma.
Aquele era um momento que ambos desfrutavam, beijos e
carícias. Brandon estava disposto a agradar Emma em tudo o
que pudesse, desejava lhe demonstrar quanto gostava dela e
que aquilo era real.
— Por que faz isto? ― Perguntou Emma, afastando seus
lábios de Brandon para poder observá-lo.
— Porque eu a adoro, Emma ― respondeu com
simplicidade.
— Mas isso não pode ser... me olhe, por favor! O que vê?
— Vejo a mulher mais doce e linda que existe.
— Não minta, lorde Brandon ― expressou com certa
irritação.
— Não minto, milady, não se case com Clark, faça-o
comigo ― declarou com decisão.
— O que? Você não está bem, milorde. Estou
comprometida desde meu nascimento, devo cumprir, serei
uma condessa.
— É por um título, milady? Porque você se converteria em
minha duquesa, a duquesa de Rutland, ofereço-lhe fazê-la
feliz, Emma, não me importa como parece ou parecerá. Você
me cativou.
Ela estava indignada, parecia uma brincadeira muito má.
— Está zombando de mim? Você fez algum tipo de
aposta? ― Inquiriu levantando-se de repente. — Quem
acreditaria que um libertino gostaria de uma gorda? É ridículo!
— Estou em meu são julgamento, e não apostei nada, o
asseguro.
— Não vou tolerar sua falta de respeito por mim, lorde
Brandon! Mantenha-se afastado, vou me casar, já tenho uma
vida assegurada com um homem que me respeita e me tem
afeto.
— Esse homem não sente nada por você! Você não vê? ―
Retrucou enfurecido.
— Vejo um cavalheiro, não um rufião sedutor como você!
— Não me escutou, não é? Quero me casar com você! ―
Exclamou enfastiado.
— Pois eu não... já estou comprometida.
Brandon, com seu orgulho ferido, foi tomando distância
dela.
— Está bem, lady Mcbean, não a incomodarei mais com
minhas confissões e minhas propostas insultantes, não as
reiterarei jamais. Tenha uma boa noite.
Ela via como tinha se quebrado sua amizade com
Brandon e não entendia.
«O que acabava de acontecer?», perguntou-se. «Por que ele
tinha se declarado, era bom ator ou estava sendo sincero?»
Na festa, Brandon tinha se despedido de todos, foi
embora, estava doído em seu orgulho. O que se acreditava
para rejeitá-lo? Seria um duque, pelo amor de Deus! Era um
cavalheiro e estava apaixonado, mas ela estava deslumbrada
por outro homem, isso não fazia mais que ofendê-lo e afundá-
lo mais em sua miséria.
Clark, enquanto isso, aproximou-se de Arthur para pôr
seu plano em marcha.
— Excelência, queria lhe fazer uma proposição ― falou
Clark.
— Fale, escuto-o ― respondeu, temerário, Arthur.
— Aceitei me casar com Emma, queria lhe pedir que todo
meu patrimônio me seja entregue intacto esse dia, depois da
cerimônia. Evidentemente, assim você se assegura que não
sairei fugindo com isso.
Arthur pensou, seu único interesse era casar Emma, o
que lhe importava o patrimônio do conde? Nada, não precisava
dele.
— Está bem, milorde, parece-me um trato justo.
Clark queria gritar de alegria, Dylan tinha razão, beijaria
seu traseiro pelo resto de sua vida. Continuou no bate-papo
com seu falso cunhado falando de temas variados para não
levantar suspeitas sobre sua maléfica saída para seus
problemas.
Horas depois, quando a festa estava chegando quase ao
seu fim, Clark se encontrou com Marie.
— Marie, querida ― recitou lhe dando um enorme beijo
nos lábios, ninguém os viu ou ao menos isso acreditou, exceto
lorde Bradley, o gêmeo de Brandon, que o tinha visto.
— Você não deveria estar com sua prometida? ― Inquiriu
Bradley, acusatório.
— Você é lorde Brandon? Acredito que você se ocupa bem
dela ― adicionou com cinismo, Clark.
— Sou lorde Bradley, ― corrigiu ― não me parece correto
que estando comprometido se exiba com lady Marie.
— Não se meta em meus assuntos, lorde Bradley, não são
de sua incumbência. Até logo ― se despediu Clark com Marie
pelo braço.
Aquele devia ser o indivíduo mais falso e arrogante que
poderia conhecer, comunicaria isso ao seu irmão.
Capítulo 13

Bradley contaria ao Brandon que sua amada Emma era


uma vaca já em todos os sentidos: gorda e cornuda. Lástima
que se retirou tão cedo.
Brandon se tinha ido direto à sua casa, estava com raiva,
ela o rejeitara. Ofereceu-lhe o céu e as estrelas, mas Emma
estava cega, não via no que se estava colocando, aquele
homem jamais a faria feliz. Era uma parva, mas não teria mais
pedidos, tinha decidido.
— Cheguei até aqui, não ouvirá mais uma proposta dos
meus lábios ― sentenciou Brandon com irritação.
— Aqui estava! ― Exclamou Bradley depois de havê-lo
buscado em sua habitação.
— Agora não, Brad, quero ficar sozinho.
— Só tenho uma intriga para te contar ― sorriu Bradley.
— Desde quando se tornou fofoqueiro? ― Questionou
Brandon olhando com estranheza seu gêmeo.
— Desde que vi algo que te interessará.
— E o que crê que pode me interessar? ― Perguntou com
total incredulidade.
— Lady Emma, claro está.
— Não me interessa ― respondeu cortante.
— A que se deve essa mudança? ― Consultou Bradley,
alheio à situação pela qual seu irmão estava passando.
— Pedi-lhe que se casasse comigo e me rejeitou -
comentou com raiva.
— Então não tem sentido que te conte que seu pequeno
pão-doce está tendo chifres como um touro. Clark a engana
com lady Marie, a solteirona.
— Ela merece, aquela mulher ingrata ― afirmou da boca
para fora.
— É malvado, Brandon, não a ajudará?
— Ajudá-la? A que? Não farei o papel de parvo de novo,
não vale a pena. Pensei que era uma mulher que procurava
algo mais que um matrimônio por conveniência, mas já se vê.
Estava completamente ferido pelas palavras de Emma,
nunca se tinha detido a pensar que podia ser certo seu amor
por ela. Tinha-o julgado mais por seu físico que por seus
sentimentos, conhecendo-se de anos, não pensava que aquela
dama lhe diria tantas calamidades juntas.

***

Emma não conseguia dormir, Brandon estava apaixonado


por ela, devia ser uma horrenda brincadeira, jamais lhe tinha
insinuado nada até que apareceu Clark em cena.
Brandon era apaixonado, tinha-a feito sentir-se mulher,
estava confusa, não podia ser que aquele homem cheio de
ímpeto e graça se fixou em uma coisa como ela. Era
impossível, uma muito má piada.
Podia sentir-se adulada, mas em lugar disso se sentia
como o bufão da corte, não podia ocorrer que alguém como ele
se apaixonasse por ela. Era impossível! Sem dúvida seria um
fato ao qual a sociedade se oporia, esse tipo de aberração
contra a vista; ver tal espécime perto dela.

***

No dia seguinte Clark foi onde estava Dylan para lhe


comentar o tinha obtido, deviam continuar com o seguinte
passo.
— Já sabia que conseguiria! ― Felicitou-o Dylan.
— Foi mais que fácil, o homem não deseja minha riqueza,
só quer ver a sua irmã casada.
— Muito nobre de sua parte ― ironizou.
— Nobre? Onde tem o cérebro, Dylan? Chantageou-me!
Que pouca memória tem! ― Exclamou Clark com certa
irritação.
— Disse a modo sarcástico, animal! ― Defendeu-se Dylan.
— Agora o seguinte, as bodas.
— O grande ato! ― Referiu-se Clark, com um sorriso
malicioso.
— Sim, já falei com o homem que te comentei, lhe pagarei
uma soma interessante que por certo me reembolsará depois,
quando recuperar todo o seu dinheiro. O matrimônio pode
fazer-se em uma semana, à porta fechada, sua mãe e a família
deles ― enfocou Dylan. — Quando crê que seja prudente? É só
você dizer.
— Irei falar com Emma, a convencerei de que se case
comigo em uma semana.
Dylan olhou o seu emocionado amigo com certas dúvidas,
o plano em si era perfeito, mas e as consequências?
— Tenho uma dúvida, em que momento lhe contará que a
usou?
— Possivelmente nesse mesmo dia, ou no dia seguinte,
primeiro tenho que ter os papéis comigo e logo verei o que
fazer ― respondeu com frieza.
— Nem te ocorra consumar o falso matrimônio ― advertiu
Dylan.
— Não diga isso nem de brincadeira! Ela não corre perigo
ao meu lado, tenha por seguro que nenhum fio de sua
cabeleira será tocado por este cavalheiro.
— Lady Emma sairá bastante mal desta situação.
— Não me importa, é amável, mas me importa mais meu
bem-estar e o de minha mãe.
— Já sabe que seu irmão te procurará por mar e terra
quando se inteirar?
— Presumo-o, mas já sei onde ir, deixarei minha mãe e
irei à França.
— Terá que voltar logo.
— Sim, mas logo tudo estará esquecido ― se confiou
Clark.
— Esperemos que esqueçam, sua reputação poderia ficar
arruinada por toda a vida ― considerou Dylan com certo peso
na consciência, fazia tudo para ajudar um amigo.
— O que importa? Já está arruinada sendo tão
desagradável, pelo menos dinheiro lhe sobra. Poderá no futuro
pagar alguns favores masculinos, não acredito que faltem
necessitados em Londres.
— Faremos, então, sem remorsos ― sentenciou Dylan.
Clark não sentia a mínima compaixão por Emma, só
queria afastar-se dela. Era agradável, mas não compensava
viver casado com ela pelo resto de sua vida, se arrependeria de
não levar a cabo esse plano. Se tudo saísse bem ninguém
sairia ferido e seriam todos felizes.
Chegou pela tarde junto à Emma, encontrando-a
pensativa no jardim.
— No que pensa, Emma? ― Surpreendeu-a Clark com um
tom doce.
Ela pensava em Brandon, em tudo o que a fazia sentir,
possivelmente o conde lhe desse também essa sensação no
futuro.
— Clark! ― Exclamou surpreendida. — Não pensava em
nada, só estava distraída.
— Não é o que parecia, mas enfim, vim para lhe falar.
Emma recuperou a compostura depois do susto que lhe
deu seu prometido, devia ser um estímulo para que sua
consciência se arrependesse de pensar em Brandon.
— Escuto-o ― sorriu com graça.
— Vim lhe pedir que se case comigo, em uma semana -
soltou Clark com leveza.
Ela ficou muda tentando entender o que acontecia.
— O que? Você está seguro? ― Perguntou olhando-o como
se aquilo fosse um pouco desatinado.
Não era a resposta que ele tinha esperado, pensou que
lhe diria: «Oh, sim, claro!»
— Sim, estou seguro, Emma ― respondeu.
— Mas não haverá tempo para os preparativos e todos
esses detalhes ― explicou Emma. Estava acaso negando-se a
contrair matrimônio?
— Será algo muito íntimo, Emma, e logo iremos a uma de
minhas propriedades em Sussex.
— Eu... ― duvidou por uns instantes, ela queria e não
queria, mas já estava comprometida, então para que lhe dar
tantas voltas? Devia deixar de lado a proposta de seu vizinho.
— Sim, está bem, aceito.
— Muito bem, agora falarei com seu irmão para que as
bodas se celebrem em uma semana.
— Vá... ― convidou perdida.
Emma devia deixar já de pensar em Brandon e em todo o
calor que despertava nela, ia ser uma mulher casada em uma
semana. Sua mãe entraria em pânico ao saber que não se faria
uma grande festa.
Clark não pensou muito, entrou sem ser chamado ao
escritório do duque.
— Clark? O que faz aqui? ― Perguntou confuso Arthur.
— Excelência, vim pedir à sua irmã que se case comigo
em uma semana.
— E aceitou?
— Fez...
— Excelente, sou um homem de palavra, lorde
Mottengarden, cumprirei com nosso trato, e espero que você
também o faça ― sentenciou Arthur olhando-o com severidade.
Tinha em sua consciência o peso de que não era um
homem de palavra, mas ao diabo, sem remorsos.
— Claro que farei ― mentiu.
— Pois felicidades, em uma semana terá o que me pediu.
— Obrigado, excelência, o verei no dia da cerimônia. Terei
muitos negócios a atender antes das bodas; sua irmã e eu
partiremos para Sussex, por esse motivo não virei vê-la, devo
preparar tudo ― se desculpou por não visitar Emma.
— Tão longe? ― Se inquietou Arthur.
— Sim, eu gosto do campo ― voltou a mentir Clark.
— Você será seu marido e decidirá por ela, lhe fará bem
uma mudança de ares ― se resignou Arthur triste, sua irmã já
não estaria aos seus cuidados.
— É claro, agora com sua permissão me retiro ― disse
Clark, mas não sem antes recordar algo. — Um detalhe, será
algo muito íntimo, só a cerimônia e logo iremos.
— Por que dessa forma, Clark? ― Inquiriu Arthur. Além
de tudo ser apressado, nem sequer fariam uma festa decente.
— Você sabe ― respondeu ressentidamente ante sua
chantagem.
— Não faça sofrer Emma porque o matarei. Tenha
presente uma coisa mais, não será o primeiro a quem mate
por fazer mal à Emma; por ela sou capaz de tudo e outro
morto não pesará em minha consciência. Fica claro, Clark? ―
Advertiu Arthur, ameaçador.
Clark olhou com receio ao duque, ao que parecia já tinha
matado alguém por sua irmã.
— Muito claro, excelência. Adeus ― se despediu
rapidamente.
O duque não era tão tranquilo como parecia, estava
louco, em definitivo.
Ia refletindo sobre as palavras do duque, sentia
curiosidade por conhecer sobre isso. Entretanto, ao sair se
cruzou com Brandon. Não pôde resistir à tentação de dirigir-se
a ele.
— Você aqui? ― Perguntou Clark.
— Tenho negócios com o duque ― respondeu frio.
— Possivelmente esteja querendo negociar as saias de
lady Emma, lorde Brandon Waldow ― comentou zombador.
Essa expressão fez Brandon ir às nuvens.
— E você, Clark, possivelmente agora vai negociar os
honorários de lady Marie? ― Contra-atacou Brandon.
— Seu irmão é bastante comunicativo ― afirmou com
ironia.
— Sim, já se vê.
— Em uma semana lhe acabará a vontade de visitar esta
casa, lorde Brandon Waldow. Emma aceitou casar-se comigo e
depois iremos à Sussex.
Brandon o olhou com raiva, tinha vontade de lhe partir o
rosto.
— Você é um... ― não terminou a frase, perderia a
educação se o fizesse – isso é tudo o que pode fazer o dinheiro.
Até mais, lorde Mottengarden ― exortou aborrecido, e deixou
Clark sozinho.
Capítulo 14

Brandon se sentia realmente mal, ela se casaria em uma


semana com aquele rato farsante.
— Lorde Brandon, o que faz você aqui? ― Perguntou
Emma ao vê-lo atravessar a entrada à mansão. Sem dar-se
conta seu coração tinha saltado de emoção ao vê-lo.
— Bom dia, lady Emma, não se preocupe, não vim lhe
rogar mais, se me permite queria lhe dar minhas sinceras
felicitações por seu próximo enlace ― expressou Brandon em
um tom dolorosamente frio.
Os olhos de Emma denotavam culpa e tristeza.
— Você me confunde, ontem me pediu que me casasse
com você zombando de mim, certamente ― se limitou a
expressar com rudeza pelas felicitações recebidas.
— Jamais zombei de você, falei-lhe dos meus
sentimentos, e você me chutou como quem chuta um cão
sarnento. Sou um futuro duque, milady, e não acredito que as
mulheres me faltem em algum momento. O que importa me
haver apaixonado por você, se se casará com outro? Que tenha
um bom dia ― culminou retirando-se ao escritório de Arthur.
Emma sentiu que as lágrimas caíam como cataratas por
seu rosto, doíam-lhe as palavras de seu vizinho, tinha deixado
de ser amável. Não pôde suportar mais, subiu à sua habitação
para chorar.
Por que lhe afetava tanto o que lorde Brandon lhe dizia? E
se estivesse apaixonada por ele?

***

— Brandon? Hoje acredito que é um dia de muitas


surpresas para mim, primeiro meu futuro cunhado e agora
você ― expôs Arthur surpreso ao receber outra visita.
— Claro, seu agradável cunhado me contou as novidades
― disse Brandon em tom triste.
— Não está feliz? Emma se casará.
— Estou saltando de felicidade, se casará com um
desgraçado que a engana ― respondeu um pouco alterado.
— Sabe que ele não a ama, mas Emma está muito
animada.
— É claro que sim ― ironizou.
Arthur notava a estranha atitude negativa de seu sócio de
anos.
— O que acontece contigo? Veio me jogar a peste? ―
Acusou Arthur.
— Sabe o que me acontece? Odeio Clark! ― Grunhiu
Brandon. — Porque leva a mulher mais maravilhosa que eu
conheço, leva a mulher que com sua doçura me apaixonou,
Arthur.
— O que diz? ― Inquiriu o duque com surpresa e
confusão.
— Estou apaixonado por sua irmã, não sei como
aconteceu ― explicou.
— Não... não... entendo ― murmurou Arthur jogando seu
peso na poltrona novamente.
— Pedi-lhe em matrimônio ontem...
— O que? Ficou louco? ― Questionou.
— Não se preocupe, ela não me aceitou, está convencida
que o fazia por zombaria ― contou enquanto caminhava para
um assento.
— Quem acreditaria?
— Você também? Vou embora, Arthur, não posso ficar
aqui! ― Manifestou ofendido.
— Brandon, se acalme. Então é verdade que está
apaixonado por Emma ― entendeu Arthur.
Brandon se atirou novamente à poltrona, agarrou-se o
cabelo e logo passou as mãos pela cara em gesto de frustração.
— Dolorosamente o estou, ela cumprirá sua palavra e se
casará com Clark, não lhe importou que eu a quisesse e a
fizesse duquesa no futuro.
— Sinto-o tanto, Clark não a ama e a levará, dei minha
aprovação para o matrimônio ― se desculpou Arthur.
— Sei, só fica me resignar e continuar com minha vida.

***

Na habitação, Celia tentava consolar sua lady, e nem


sequer sabia porque tamanha tristeza a afligia.
— Milady, por favor, deixe de chorar e me fale ― a criada
tentava saber o que lhe acontecia.
— Eu... Brandon... Clark... não posso dizer nada! ―
Gritou e continuou chorando a torrentes.
— Menina, se levante dessa cama e vamos preparar seu
enxoval, em uma semana será uma condessa! ― Dizia sua mãe
entrando como um furacão na habitação de Emma.
— Mãe, agora não, por favor.
— Por que chora? Não está emocionada por se casar com
esse conde tão bonito?
— Não é isso mãe, estou um pouco melancólica -justificou
Emma.
— Deixa isso já e se prepare que vamos tirar as medidas
para o vestido de noiva, a senhora Polett te aprecia tanto,
filha, que te fará o mais formoso que jamais tenha visto! ―
Saltava a duquesa de emoção.
— Eu...
— Anda, vamos, se anime, isto é uma festa!
A mãe de Emma não entendia que ela não estava para
celebrações, mas aceitou de todos os modos, possivelmente lhe
contagiasse a emoção que sentia para casar-se.
Aproximava-se as bodas, e quase todos os dias foram à
costureira, pois Emma estava emagrecendo rapidamente pelo
nervoso do matrimônio e também por lorde Brandon, sentia-se
tão mal ao não poder corresponder aos seus sentimentos, a
cada momento se convencia mais de que provavelmente não
queria casar-se.
Enquanto Brandon sofria em silêncio como se tivesse os
dias contados, Emma se casava em dois dias, claro que tinha
seus dias contados.
Numa manhã Brandon passou em frente à loja da
senhora Polett, Emma estava provando seu vestido de noiva;
via-se radiante nele, tinha perdido peso.
Ele ficou olhando através do vidro para contemplá-la. Não
pôde aguentar mais, golpeou seu punho contra o vidro de
forma que aplacasse um pouco sua frustração por vê-la antes
de casar-se com outro homem.
As mulheres se deram volta a olhar de onde provinha o
golpe. Emma o viu e se levou as mãos à boca. Era Brandon e
estava observando-a, sofrendo por ela.
— Não é esse um dos gêmeos Waldow? ― Perguntou uma
das costureiras que fazia correções no vestido.
Não podia responder, estava muito afetada e desesperada
para desaparecer, não podia vê-lo mais.
— Senhora Polett, quero tirar o vestido, por favor!
— Mas estou ajustando-o, menina.
— Por favor, senhora Polett, ajuste-o como desejar, já não
posso ficar aqui! ― Exclamou Emma entrando nos trocadores.
Brandon a viu desaparecer, para não dizer que foi
esconder-se dele, e lhe doeu até a alma, devia esquecer Emma,
mas não sem antes despedir-se dela.
Chorava copiosamente no trocador enquanto tirava o
vestido. Ela devia manter-se fiel ao conde, se casariam, ele não
merecia ser enganado. O que devia fazer era consumar o mais
breve possível esse matrimônio, ter um filho e tudo ficaria
esquecido.
Acreditava que essa era a solução, mas onde ficava o
amor? Ela sonhava com o amor, mas estavam a obrigação, a
palavra e a segurança de um matrimônio arranjado. Por mais
que Brandon lhe dissesse que estava apaixonado por ela, não
podia lhe acreditar, não se sentia capaz de atrair ninguém,
não era atraente e ele era tudo o que uma mulher podia
desejar: bonito, jovem, rico, amável, e um futuro duque. Que
oportunidade tinha a vaca de Londres de que fosse verdade
que ele a amava? Nenhuma. Aquele pensamento
possivelmente a consolaria, mas não continha seu sofrimento
por lorde Brandon.
Ao chegar à sua casa encontrou uma rosa branca no
jardim com uma nota.

Minha Doce Emma,


Meu coração sofre ao saber que você será de outro, guarde
esta flor como lembrança da dor de amor que sinto por você,
hoje deverei enterrar este sentimento.
Guardo as melhores lembranças de você vestida de noiva.
Estava formosa, minha bela lady.
Seu
Lorde Brandon Waldow

O que queria Brandon? Matá-la de remorsos? Com isto


ele a esqueceria? Uma dor se pulverizou por seu peito, a
respiração lhe faltava, cometeria um engano ao casar-se com o
Clark, sentia por fazer um cavalheiro sofrer, mas a decisão já
estava tomada, não havia mais voltas a dar. Em dois dias seria
a condessa de Dudley, gostasse ou não.

***
O dia do matrimônio tinha chegado. Brandon só pegou
uma mala e se dirigiu à saída.
— Brandon, aonde vai? ― Perguntou seu pai.
— Vou um tempo à Hertfordshire, com o tio Brent -
respondeu.
— Assim, tão de repente?
— Por amor, pai ― contou Bradley.
— Isso é verdade, Brandon?
— É.
— Quem é a lady que não te corresponde? ― Inquiriu com
surpresa, não acreditava que alguém ignorasse um de seus
filhos.
— Lady Emma Mcbean, casa-se hoje ― respondeu
Bradley.
— A vizinha de bom prato? ― Surpreendeu-se o duque.
Brandon colocou um rosto pouco amável ao seu pai.
— Não lhe fale assim, por favor. Sim, é ela, vocês não a
conhecem como eu, há anos a vi e sei quão formosa é e não o
demonstra, mas vocês não entenderão ― explicou.
— Brandon, filho, fugir não é a forma de enfrentar os
problemas, dê a cara ― animou seu pai.
— Para enfrentar o que? Outra negativa? Não... agora
não... vou por uns dias e logo retornarei, me fará bem.
— Brandon, fica comigo aqui, eu te ajudarei ― insistiu
Bradley.
— Você me ajudar? Tem a sorte de que lady Anne esteja
morta e não casada com outro.
Esse foi um golpe baixo para Bradley, ele amava até a
lembrança de Anne. Seu irmão estava doído, nunca tinha se
apaixonado e agora que o fez não era correspondido.
— Perdão, Brad, não queria dizer isso, irei, não sou uma
boa companhia para ninguém. Avisem a mamãe e a Angeline
que fui, estarei aqui para as bodas dela com Daniel.
Capítulo 15

Dias depois das bodas...

Como havia sido envolta em tanta infelicidade? Tudo


resultou ser um engano, uma grande mentira. Ela acreditou
haver sacrificado tudo por aquele «matrimônio» que não era
mais que um teatro, onde Clark era o maior mestre dos
fantoches, mas ela não ia deixar passar aquela dor e
humilhação.
— Me pagará, conde de Dudley. Juro que minha vingança
será implacável ― pronunciava Emma de uma carruagem
rumo à Escócia.
Algo em seu doce e frágil coração tinha mudado. Encheu-
se de rancor e de desprezo, algo que jamais sentiu, nem
sequer pelo homem que tinha tentado abusar dela.
Dois fatos tinham mudado sua forma de ver o mundo. O
primeiro foi que a beleza era um perigo e o segundo, que não
ser bela era o pecado maior e mais imperdoável do mundo.
Clark a fez saber da forma mais humilhante. Já não podia
voltar para Londres, não como lady Emma, porque sua
reputação nesse momento já estaria arruinada. Não
encontraria marido, nem lorde Brandon seria capaz de casar-
se com uma mulher escandalosa.
***

O dia das bodas...

Arthur levava Emma pelo braço para onde estava Clark.


Ela acreditava que seu futuro esposo estava reluzente, com
um sorriso no rosto, parecia muito contente.
— Emma, você está bem hoje ― a adulou Clark, surpreso
por suas próprias palavras. Sua pouco agraciada prometida
tinha emagrecido vários quilos e quase lhe dançava o vestido.
— Muito amável, você se vê muito elegante como sempre,
Clark ― correspondeu Emma.

***

A cerimônia tinha sido curta, assinaram um papel falso


que o senhor Dylan Warren tinha redigido, nada tinha valor
legal dentro daquele matrimônio.
Ao terminar, ambos subiram à carruagem, quando Arthur
se aproximou de Clark.
— Cumpri com minha palavra e você também, milord,
tome o que lhe pertence ― disse Arthur devolvendo a fortuna
dos Mottengarden.
Clark olhava os papéis, eram seus títulos, notas
promissórias e outros documentos que creditavam toda sua
herança.
— Obrigado, excelência ― respondeu com um vislumbre
de sorriso.
Subiu à carruagem com os papéis na mão enquanto
Emma o observava com curiosidade.
— O que são esses papéis, Clark?
Ele não sabia o que responder, de fato, não sabia o que
fazer com Emma naquele momento. Não sabia até onde levar a
falsidade daquele matrimônio.
— Só papéis de alguns investimentos que fiz com seu
irmão.
— Muito interessante ― opinou sem realmente estar
interessada nos negócios. — Quando chegaremos? Sussex se
encontra a uma boa distância.
— Ficaremos em uma estalagem no caminho, para
repousar da longa viagem.
— Não conheço Sussex, me conte como é.
— É muito bonita, cresci naquelas terras, tenho uma
mansão muito grande e muitas cavalariças.
— Os cavalos provocam fascinação em minha pessoa,
Rain poderia ser transladada para lá?
— É sua égua?
— Sim. Antes, quando era mais nova, inclusive a visitava
de noite.
— É perigoso sair sozinha de noite ― demarcou Clark.
— Creia que já passei por esse perigo por não dar
atenção, quase termina em tragédia para mim.
— Me conte.
— Não quero fazê-lo. Traz-me más lembranças ― se
pausou. — Sabe que nem sempre fui o que sou hoje? Uma
noite em particular mudou minha vida e me converti no que vê
em frente a você, Clark.
— A que se refere?
— Nem sempre fui gorda e feia, rendi-me ante o medo,
mas agora que estou casada já não tenho o que temer.
— Temer o que?
— A beleza. A beleza não fez mais que me trazer
desgraças.
Clark estava surpreso. Beleza aquela mulher? O que,
antes não era feia?
— Era toda uma promessa, a mais bela de todas, havia
me dito minha mãe, mas...
— Mas o que?
— Um homem tentou... ― não pôde continuar ao recordar
a fatídica noite em que foi golpeada brutalmente.
— O que tentou, Emma? ― Perguntou Clark, devorado
pela curiosidade.
— Tomar-me contra minha vontade. Entretanto, lorde
Brandon Waldow chegou a tempo ― assegurou Emma
recordando Brandon. Aquele era seu herói e grande amor.
Nesse momento compreendeu o porquê da estreita
relação de lorde Brandon Waldow com Emma, conheceu-a
antes e sabia algo que ele ignorava.
— Sinto-o tanto Emma. Uma experiência sem dúvidas
muito difícil para você.
— Mais do que crê. Levou-me a ser o que sou hoje, por
medo de sofrer o mesmo. Para mim, a beleza só atrai o mal e o
sofrimento.
Chegaram à estalagem. Emma desceu da carruagem e
logo Celia a alcançou.
— Clark, dormiremos juntos ou separados? ― Perguntou
Emma.
— Separados por hoje Emma, é melhor que descansemos
– desculpou-se Clark.
— Bem ― aceitou com tranquilidade.
Clark os registrou e logo cada um subiu à sua habitação.
Um sentimento de culpa o invadiu ao inteirar-se do que
tinha acontecido com Emma no passado. Lhe daria outra
punhalada, até mais profunda, como podia fazê-lo?
— Deus, não posso fazê-lo! O que lhe direi? Maldição -
resmungou encerrado em sua habitação.
A dor que causaria àquela moça seria pior que o intento
de violação que tinha sofrido.
Iria vê-la e lhe diria tudo o que aconteceu nesse mesmo
instante, a devolveria à sua casa e tudo arrumado.
Foi para a habitação de Emma e tocou à porta.
Ela o recebeu. Tinha o cabelo comprido, passando da
cintura, loiro e seus olhos o olhavam fixamente.
— Clark, quer entrar? ― Convidou-o.
— Não, só vim ver como estava e lhe desejar boa noite -
mentiu covardemente.
— Obrigada, tenha uma boa noite também.
Depois que ela fechou a porta, ele se aborreceu consigo
mesmo.
— Diabos! ― Grunhiu irritado por não ter tido coragem
naquele momento, mas já o faria em Sussex.
No dia seguinte estavam em Sussex. Era um lugar tão
belo como o havia dito ele, a enorme mansão era parecida com
um castelo de pedra cinza.
— É enorme, Clark ― pronunciou Emma, deslumbrada.
— É imponente, ― admitiu – vamos para dentro, há pouca
servidão, ainda não chegaram todos.
— Não importa, Celia pode atender nossas necessidades.
— Excelente.
Foram até as habitações do conde e da condessa, onde
lhe indicaria como se distribuía o lugar.
— Esta porta...
— Já sei para que serve, Clark. Em casa havia uma,
embora nunca se usasse, meus pais dormiam juntos.
— Meus pais também.
— Que agradável coincidência, possivelmente algum dia
possamos também dormir dessa forma ― comentou com
confiança ao achar-se no lugar mais íntimo da casa. Se queria
consumar seu matrimônio devia diminuir a distância que os
separava e tratá-lo como o que era, seu marido.
Ele sorriu nervoso dirigindo-se à porta.
— Irei recostar-me, Emma, fique à vontade ―
condescendeu Clark e se retirou.
— Descanse, eu farei o mesmo.
O matrimônio ainda não se consumara, não estava
cumprindo com seu objetivo de esquecer Brandon. Fazer com
que aquele matrimônio progredisse seria todo um sacrifício se
não pudesse esquecê-lo.
— Celia, me prepare um banho e o enxoval interior por
favor.
— Sim, milady, você está pensando em...
— Sim. Não me envergonhe e vá fazer o que te pedi.
Emma se arrumou o melhor que pôde e se atreveu a dar o
passo à habitação de quem ela acreditava que era seu marido.
Clark estava quase sem roupa quando a viu entrar.
— Emma, o que faz aqui? ― Perguntou cobrindo-se.
— Vim a... a... cumprir ― confessou com certo temor.
Sentiu como o temor se apoderava dele.
— Emma, eu não...
Emma se aproximou dele e o beijou procurando as
sensações que lhe davam os beijos de Brandon, mas não as
encontrou.
Ele tentou escapar, mas ela beijava muito bem, tinha
sabor de morangos.
Maldito era seu corpo traiçoeiro, colou-a ao seu corpo
para senti-la.
— Tome-me, Clark ― pediu Emma, desejava esquecer seu
amor proibido.
Não podia, não estavam casados. Ao que parecia tinha
chegado o momento de acabar com aquele teatro.
— Não Emma, não posso fazê-lo ― disse Clark.
— Por que não? ― Inquiriu confusa.
Tomou ar e muita coragem para falar a verdade.
— Porque em realidade não estamos casados. Tudo foi
uma mutreta para recuperar minha fortuna ― confessou ao
fim.
— O que está dizendo? ― Empalideceu.
— Quis terminar o compromisso contigo no dia seguinte
em que te conheci, não queria me casar com alguém como
você.
Ela se sentou na cama e continuou escutando.
— Seu irmão me chantageou. Eu tinha investido todo
meu patrimônio em uma de suas empresas, e ele aproveitou
isso para me obrigar a me casar contigo, mas consegui uma
solução.
— Fingir um matrimônio ― pronunciou com voz fria e
lágrimas nos olhos.
— Me perdoe Emma, não queria te fazer mal, mas não é a
mulher que desejo. Não quis chegar a isto.
— Sou feia não é assim, lorde Mottengarden? Sou gorda e
asquerosa para que você me toque ― afirmou Emma ao ver o
desprezo em seu rosto.
— Não diga dessa forma.
— Digo-o porquê é assim, utilizou-me, não, perdão...
utilizaram-me, você e meu irmão, cada um para cumprir com
seus miseráveis objetivos ― disse afogada em lágrimas de raiva
e impotência.
— Emma, não fique assim ― pediu Clark ao vê-la
dilacerada.
— Não me chame por meu nome! Eu me sentia
afortunada por não ter que procurar marido, rejeitei lorde
Waldow para cumprir com você. Agora quem vai querer uma
porca com a reputação manchada por ter fugido com um
conde desgraçado e depravado?
— Lady Emma, me perdoe, mas não podia fazer outra
coisa, você é boa embora eu não a queira.
— Arrastou este jogo até me afundar.
— Não sei o que fazer para solucioná-lo, Emma,
possivelmente lhe arrumar outro matrimônio.
— Para que me façam o mesmo? Não milorde, você pagará
por isso em algum momento.
Capítulo 16

Nessa noite Emma pegou todos os seus pertences e subiu


na carruagem.
— Milady, o que acontece? Por que vamos?
— Se cale, Celia, e sobe, explico-te no caminho ― ordenou
muito zangada.
Emma contou à sua criada, desconsolada, o que tinha
acontecido. Tinham-na destroçado por ser bela e por ser feia,
não cabia em nenhum lugar.
Nesse momento já estaria sendo a fofoca de Londres e
Brandon já não quereria saber dela ao voltar. Tinha lhe
reiterado que nunca mais lhe proporia matrimônio por suas
infinitas rejeições.
Só restava ir-se da Inglaterra.

***

Depois de horas de viagem ficaram em uma estalagem,


onde Emma pediu papel e pluma para remeter uma carta ao
seu irmão.

Querido Arthur,
Só posso te dizer que te devo minha infelicidade,
chantageou para que o conde se casasse comigo e acreditamos
nesse matrimônio, mas em realidade não existiu, nada era
legal.
Sou ainda solteira e com a reputação manchada por ter
fugido com um homem com quem me acreditava casada. Não
voltarei para Londres, estou decepcionada e abatida, peço-te
que não desafie Clark em duelo, eu me encarregarei de lhe fazer
pagar esta humilhação que me fez.
Diga também a lorde Brandon que lamento profundamente
não ter aceito sua proposta, embora os sentimentos dele por
mim sejam recíprocos, jamais me aceitará desta maneira.
Um beijo à mãe.
Adeus.
Emma

Emma pensava no que fazer e aonde ir, não lhe ocorreu


ninguém que pudesse lhe estender a mão.
— E se formos à casa de sua tia Linette, milady? ― Propôs
a criada.
— Ir à Escócia é uma boa ideia, poderei refazer minha
vida e procurar minha vingança ― reconheceu.
— O que diz, lady Emma?
— O que ouviu, pensa que deixarei Clark zombar de mim
desta maneira? Nunca! Sou uma Mcbean e nunca nos
rendemos.
— Mas, milady, você não é assim...
— Algumas coisas mudam, Celia, e eu mudei com isto.
Desejo tanto a vingança, como algo que nunca pensei desejar
― explicou com o rancor impregnado em sua voz.
— Milady, esqueça isto e volte. Estou segura de que lorde
Brandon a aceitará como for.
— Esquecer? Pede-me que me esqueça de que graças
àquele homem agora já não posso voltar para minha casa? Crê
que Brandon ou algum homem quererá casar-se comigo? A
razão de tudo isto, Celia, é que sou uma bendita vaca que não
pode escolher e menos ainda ser escolhida.
— Pois você está assim porque quer. Você pode ser bela
novamente. Pense, milady, se quer uma vingança com sangue
ou um coração quebrado ― repreendeu a criada. — Qual
acredita que doeria mais?
— A que se refere? Fale claro.
— Fique bela de novo, use sua beleza como vingança, lhe
fará ver quão equivocado estava e se arrependerá do que lhe
fez. Fará com que lorde Mottengarden deseje voltar para o
passado para desposá-la.
Emma pensava nas palavras de sua donzela, lhe subiria o
salário por ser tão inteligente.
— Crê que poderei obtê-lo?
— Milady, falta-lhe pouco para ser o que era antes. Eu e
sua tia a ajudaremos, estou segura.

***

Em Londres Arthur recebia a carta de Emma, lia-a e não


conseguia conectar seus pensamentos de maneira coerente.
— Desgraçado malnascido! ― Exclamou.
— Arthur, o que te acontece? ― Perguntou sua mãe.
— O maldito me trapaceou, mãe, Clark é rico de novo.
Nunca se casou com Emma, tudo foi fingido, nada era legal ―
contou com evidente frustração.
— Não pode ser! ― Desesperou-se lady Mabel.
— Ela não voltará para Londres, acredita que sua
reputação está manchada.
— Oh não, minha menina...!
— Mãe, você invente algo para que Emma não caia em
desgraça. Eu irei buscar Brandon para procurar Emma.
— Por que lorde Brandon Waldow?
— Porque ele ama Emma, e me ajudará.
Arthur não perdeu tempo e foi à casa de Brandon, mas
não o encontrou.
— Excelência, meu irmão não se encontra, foi para
Hertfordshire no dia em que sua irmã se casou, não pôde
suportar ― comentou Bradley.
— Lorde Waldow, me ajude a chegar onde ele está,
precisamos salvar Emma.
Bradley e Arthur partiram rumo à Hertfordshire naquele
mesmo dia.
Arthur não podia conceber que sua irmã não voltasse
para junto deles, não sabia que sua reputação estava
resguardada até o momento.
Chegaram várias horas depois em Hertfordshire.
Buscando-o pelo campo encontraram Brandon lendo sob
uma árvore perto do riacho.
— Brandon! ― Gritou Bradley ao vê-lo.
— O que faz aqui? Quero ficar sozinho e você... Arthur? O
que faz aqui? ― Perguntou surpreso por estar acompanhando
seu irmão.
— Necessito que me ajude a procurar Emma.
— Ela deve estar com seu marido ― afirmou Brandon
fingindo desinteresse.
— Todos fomos enganados. Clark fingiu o matrimônio, em
realidade nunca ocorreu ― explicou Arthur.
— Como é possível? ― Disse sobressaltado.
— Seguramente foi obra de Dylan Warren, seu advogado,
mas o fato é que Emma não quer que o desafie a um duelo,
quer vingar-se por sua conta e não sei onde está, não sei o que
aconteceu com ela. Disse-me que não voltaria para Londres...
melhor ler a carta ― explicou Arthur.
Brandon a leu e aquilo, ao que parecia, despertou-o da
letargia de havê-la perdido, lhe correspondia, devia encontrá-la
e lhe dizer que ele a quereria de qualquer forma.
— Vamos, Arthur, não devemos perder tempo ― alegou
Brandon pegando o livro para voltar para a mansão e
empreender a busca.
Os dias que seguiram foram infrutíferos, chegaram à
Sussex e ali estava Clark, só em sua mansão, bebendo.
Brandon não pôde resistir ao vê-lo, causava-lhe o mais
infinito ódio.
— Como pôde fazer algo assim à Emma, é um rato
infeliz?! ― Repreendeu agarrando-o pelas roupas.
— É culpa de seu irmão, chantageou-me ― se justificou
Clark.
— Maldita a hora em que cedi a minha irmã, você é da
pior espécie ― alegou Arthur olhando-o com um ódio
desmedido.
— Não pior que você, excelência ― falou Clark com
sarcasmo.
— Se cale! Se acontecer algo a Emma eu mesmo o matarei
― ameaçou Brandon entredentes.
— Vamos, Brandon, não vale a pena, vamos continuar
nossa busca ― pediu Arthur com seriedade.
— Oxalá morra, rato ― expressou Brandon atirando Clark
ao chão ao ir atrás de Arthur.
Clark se sentia realmente culpado, Emma era uma dama
doce e ele a transformou. Estava desaparecida, provavelmente
se culparia pela vida toda se algo lhe acontecesse.
Brandon estava desesperado, não sabiam nada, não tinha
enviado nenhuma carta para dar seu paradeiro.
<<Emma, onde está?>> perguntava-se Brandon, com
perseverança, segurando a cabeça com frustração.

***

Emma tinha chegado à casa de sua tia Linette. Era uma


mulher muito bela apesar de sua idade: loira de olhos
azulados, e rosto de anjo.
— Emma, é você? ― Perguntou ao não reconhecer a dama
da carruagem.
— Sim, tia ― respondeu chorando e lançando-se em seus
braços.
— Mas menina o que te aconteceu? Não te vejo há cinco
anos, está diferente.
— Sei, tia, contarei tudo depois que minhas nádegas
deixem de me doer ― comentou com um toque de humor para
passar seus maus momentos.
— Entra, minha menina.
Emma lhe relatou todo o ocorrido, falou-lhe da declaração
de lorde Brandon, de seu falso matrimônio e de sua vingança
pendente.
— Querida, opino como sua criada, e tenho tudo o que
necessita. Pode ficar comigo o tempo que desejar, sua prima se
casou faz tempo e quase não vem ― a confortou Linette.
— Obrigada tia, prometo me comportar bem.
— Isso espero. Amanhã mesmo começaremos a te pôr
formosa, querida.
— Não se preocupe, farei todo o possível para ficar
perfeita, tenho muito a ganhar e nada mais a perder ― indicou
com um sorriso triste.
— Ganhar? O que crê ganhar?
— Irei procurar Clark, o apaixonarei e lhe partirei o
coração em mil pedaços e verei se ainda posso recuperar
Brandon, sendo formosa não terei vergonha de estar ao seu
lado.
— Menina, pelo que me contou não acredito que esse
homem goste de sua vingança.
— Essa vingança é o primordial, o amor pode esperar.
Desejo ver Clark destroçado e clamando por meu amor e por
minha beleza ― concluiu. Aquele vingativo pensamento
começava a consumi-la com rapidez.
Capítulo 17

Escócia, 1842.

— Emma, tome cuidado, não pule a lista, por favor -


rogava sua tia.
— Tia, não me chame assim, já não sou Emma, recorde
que sou lady Charlotte Mcbean, prima de Emma.
— Oh sim, claro! E não será suspeito que leve Celia por
toda parte? Irei contigo a Londres, jovem, é um perigo sozinha.
— Sei me defender sozinha agora, tia, pratiquei tiro e
esgrima.
— Claro, também treinou essa língua venenosa que
adquiriu.
— Diz por esses amáveis cavalheiros que pediram minha
mão? O conde, o mequetrefe marquês, e o pequeno duque? O
mereciam, nenhum está à altura da mulher que sou hoje -
assegurou com altivez.
— Está muito altiva, menina.
— Devo chegar com a atitude correta se quero obter meu
propósito, que é afundar Clark na miséria. Evidentemente, tia,
minha atitude não será a mesma com Brandon, se não estiver
casado, claro está, serei como um lobo disfarçado de ovelha.
Emma ia guardar seu livro onde estavam suas duas rosas
brancas que Brandon tinha lhe dado, mas antes o abraçou
com afeto.
— Possivelmente me aceite, ― pronunciou com humildade
no coração.
— Se seguir com a ideia de se vingar, não acredito.
— Tia, chega dessas coisas tão negativas que me diz,
tento fazer com que Charlotte se sinta segura ― reclamou.
— Sim, Emma ― obedeceu sua tia, rodando os olhos.
— Tia!
— Bem, Charlotte, eu tenho minhas malas já feitas,
necessito de um pouco de emoção em Londres e ver sua mãe e
seu irmão.
— Sim, claro, eles me reconhecerão no ato.
— Guardarão o segredo.
— Tia, nos hospedemos em sua casa de Londres. Não
quero ir onde está minha mãe, Brandon é meu vizinho, ou ao
menos era.
— Está bem, querida, mova esse belo corpo para ir.
Emma começou a fazer-se chamar Charlotte, por seu
segundo nome, ninguém a reconheceria, nem sequer Brandon.
Era tão bela e magra que ninguém acreditaria que era a
mesma Emma.
Usava o cabelo só em parte recolhido quase todo o tempo
e não usava penteados recolhidos completos, nem os cachos
de cabelo. Deixava seu cabelo ser livre, o que a fazia até mais
bela.
Não perderam mais tempo e partiram para nova
temporada na agitada Londres.

***
Londres, 1842.

— Nada, a terra a tragou ― dizia Brandon frustrado.


— Procurou-a por quase dois anos, Brandon, é momento
de que...
— De que a esqueça? Amo-a e ela me ama, não
descansarei até encontrá-la.
— Foi celibatário dois anos, Brandon, inclusive sendo
renomado marquês por nosso pai, tem damas prostradas aos
seus pés, não queria ser você ― declarou seu gêmeo.
— Olhe quem o diz.
— Eu só... já basta...! sempre me usa contra mim mesmo.
— Sim, tem rabo para lhe pisar.
— Não saiu em muito tempo, em dois dias é o baile de
máscaras de tia Mariane, iremos queira ou não.
— Irei porque sempre insiste, possivelmente assim deixe
de fazê-lo.
Brandon não tinha cessado sua busca assim como
Arthur, ninguém recebeu cartas dela em todo aquele tempo.

***

Clark voltou para sua vida de loucura e descontrole,


muito pouco tempo lhe durou o sentimento de culpabilidade
pelo que fez com Emma.
— Marie, já basta.
— Não me deixe, Clark!
— Já não quero estar contigo, está descuidada! Entende?
— Nem tudo é beleza, é repugnante, este filho pode ser
teu! ― Reclamou-lhe Marie com veemência.
— Pode, mas não é e sabe, vá e diga ao seu outro amante
que te mantenha.
— Saia daqui! Se arrependerá disto!
— Olhe o que diz! Até nunca, Marie! ― Despediu-se
zombador deixando Marie em meio ao pranto.
Clark estava farto dela, queria-o culpar de sua gravidez
sabendo que ela andava com outros cavalheiros.
Provavelmente cantava a mesma canção aos outros.
Ao sair do lugar que durante anos tinha compartilhado
com Marie como amantes, foi junto ao seu amigo Dylan e no
caminho cruzou com uma carruagem desconhecida que lhe
chamou poderosamente a atenção ao ver a formosa jovem que
ia dentro.
— Chegamos, querida, ― avisou tia Linette ― desça para
que entremos.
Nesse momento Charlotte desceu da carruagem, sem
perceber que Clark a tinha visto.
Depois de uns segundos ela girou a cabeça e também o
viu. O ódio em seu interior renasceu rapidamente, devia
aproximá-lo dela para começar sua vingança, tinha que
aproveitar cada oportunidade que tivesse e afundá-lo.
Emma tomou seu leque e o lançou ao chão para provar
seu cavalheirismo.
Clark correu a pegá-lo. Quando ia passar, olhou-a
diretamente aos olhos. Era a mulher mais bela que jamais
tinha visto, seus lábios vermelhos e seu cabelo solto eram todo
um sonho.
— Milady, isto é seu ― indicou em tom amável.
Ela o olhou fingindo surpresa.
— Muito amável, cavalheiro, às vezes uma dama pode ser
tão torpe ― se desculpou com falsa modéstia.
Aquela voz de sereia quase o enlouqueceu, seu tom era de
pura doçura e flerte, precisava saber quem era ela.
— Deixe me apresentar, minha dama, sou Clark
Mottengarden, conde de Dudley, e você, milady?
— Lady Charlotte Mcbean de Kirkwall, milord, um prazer
conhecê-lo ― se apresentou.
— Disse Mcbean? – Perguntou surpreso.
— Sim, milord, sou prima do duque de Lancaster.
Ao escutar aquelas palavras supôs que aquela mulher
devia saber algo de lady Emma.
— Sabe algo de lady Emma?
Emma surpreendeu-se que ele ainda se lembrasse dela.
— Dela, nada, só que faz anos se foi e não sabemos por
que ― respondeu com toda tranquilidade.
Clark respirou sentindo que ainda tinha oportunidades
de flertar com a recém-chegada.
— Milady, seria tão amável de me conceder uma dança na
festa que organizam os Lowel? Claro, se é que veio para
participar da temporada.
— Nos veremos ali, milord, se quiser uma dança comigo
deverá competir com os outros cavalheiros ― indicou Emma.
— Não o duvide, milady, até a festa, dentro de dois dias ―
pronunciou sorridente Clark.
— Até então, milord ― se despediu Emma fingindo
amabilidade.
Ela queria estrangulá-lo, odiava-o, necessitava de sua
vingança, e o primeiro passo estava dado. A vida o punha
novamente em seu caminho para lhe fazer pagar todas as
coisas que tinha feito para humilhá-la. Essa festa seria o
princípio, embora talvez se encontrasse com Brandon, pois os
Lowel eram seus parentes.

***

Clark ia mais que feliz chegando junto ao Dylan.


— A que se deve tanta felicidade? ― Perguntou com tom
irônico.
— Conheci a mais bela das mulheres existentes na
Inglaterra, meu amigo ― alegou Clark com um sorriso que
partia seu rosto em dois.
— Sempre diz o mesmo ― objetou Dylan ordenando seus
papéis na escrivaninha.
— Oh, não! Quando a vir saberá, fiquei de lhe convidar
para uma dança na festa de seus futuros sogros.
— Não são nem o serão, nunca darão a sua filha e você
sabe, não zombe. Os Lowel são de muito alto voo e eu não
estou à altura da senhorita Lucy.
— Por que não tenta que lhe aceitem?
— E o que lhes direi? Que sou um advogado e nada...
neto de um aristocrata? E que até aí chega minha nobreza?
Não, obrigado, dirão que não tenho nada a oferecer à senhorita
Lucy ― lamentou.
— Nota-se que ela gosta de você, é de aparência
agradável, não acredito que o título importe muito, além disso
lorde Harold é o segundo filho, o que importa?
— Não importa. Não discutiremos mais este assunto, está
muito gasto, melhor me contar mais de sua musa – disse
zombeteiramente.
— É loira, de olhos entre azuis e verdes, uma boca
delicada e uma voz de sereia, chama-se lady Charlotte
Mcbean, embora obviamente é filha de alguém que herdou um
título escocês.
— Mcbean? De...
— Sim. Desses mesmos Mcbean.
— Acredito que se meterá em problemas com essa jovem.
— Não, não, não sabe nada sobre o que aconteceu entre
Emma e eu. Emma foi para muito longe ou ao menos isso me
disse a sereia.
— Se é sua parente, nem te ocorra, ― pediu Dylan ― já
tive que resolver um problema com eles, não quero ter que
resolver outro.
— Veremos como se dão as coisas, possivelmente ao final
eu seja parte dos Mcbean ― sorriu sem vergonha.
— Você não se mede? Voltou para suas porcarias. Deve
realmente sair de seu vício pelas mulheres.
— Ainda não conheci uma que me dê tudo o que
necessito, então continuarei procurando ― explicou Clark
olhando o rosto aborrecido de seu amigo.
Capítulo 18

Chegou o dia da festa e Brandon estava tão deprimido


que não quis ir. Sabia que havia dito que ia ao Bradley, mas
não estava com ânimo suficiente para enfrentar a noite.
— Brandon, vamos, se levante já, preocupa-me ver-te
assim ― disse Bradley puxando-o pelos braços.
— Brad, não irei a nenhuma parte, estou muito cansado.
— Cansado do que? De ficar chorando e brincando de
morrer aqui, lendo quem sabe que coisas? Essas são as
novelas de mamãe? ― Horrorizou-se seu gêmeo.
— São boas, deveria lhes dedicar um pouco de tempo ―
sugeriu Brandon.
— Não. Me farão chorar como a você, e a verdade é que
também quero sair da tristeza, vamos à festa. É da tia
Mariane, ela nos adora, não podemos lhe falhar.
— Ai, Deus, como é insistente! Vou trocar-me e nem te
ocorra me copiar, não quero brincar de ser você.
— Não o farei, vamos rápido que já está muito tarde ―
apressou Bradley.
Meia hora depois Brandon estava totalmente preparado,
desceu as escadas e encontrou Daniel e Angeline.
— Boa noite. Onde deixaram a pequena lady Emeline? ―
Saudou Brandon.
— Boa noite ― responderam ambos ao uníssono.
— Deixamo-la com sua babá, claro, não podíamos perder
a festa de tia Mariane ― alegou Angeline.
— Eme está em boas mãos ― disse Daniel.
Já tinha passado um ano e uns meses daquele ansiado
matrimônio. Viam-se tão felizes apesar de quase perderem
Angeline, que tinha herdado a enfermidade de sua mãe.
Daniel já não queria ter filhos por medo de que voltasse a
ocorrer algo similar e que desta vez fosse impossível salvá-la,
embora ela insistisse em conseguir um herdeiro para o
marquês.
— Bradley, já estamos todos preparados? ― Perguntou
Brandon.
— Faltam mamãe e papai.
— Pois vá buscá-los.
— Vá você, eu não penso ser partícipe de suas... suas...
coisas ― se desculpou Bradley ruborizado.
— Não estão um pouco velhos para isso? Papai já está
pelos 63 anos e mamãe lhe pisa nos calcanhares ― sugeriu
Brandon.
— Deixa-os, são felizes, ― dizia Angeline ― irei buscá-los
para que vocês não se escandalizem, moços puritanos.
— Pode zombar Angeline! ― Queixou-se Bradley.

***

Montados em duas carruagens partiram para a festa.


Foram anunciados na entrada, chamando a atenção dos
presentes.
As jovens começavam a grudar-se nos gêmeos que, com
cara de pânico, começaram a esgueirar-se até chegar onde
estava Stephen.
— Stephen! ― Gritou Bradley. — Por fim alguém decente
em todo este barulho.
— Oh, não, já vêm vocês, espantam as candidatas.
— Também nos alegra ver-te ― disse sarcástico Brandon.
— Não sabem se lady Helen veio? ― Perguntou Stephen
olhando aos arredores.
— Daniel não vai gostar que pergunte por sua irmã -
alegou Bradley brincando.
— Se cale! Aí vem ele ― se desesperou Stephen.
— Stephen, que prazer ver-te! Ainda não conseguiu
esposa? ― Inquiriu Daniel saudando-o.
— Não, ainda estou nisso.
— Está ficando velho e está perdendo algo muito bom -
assegurou Daniel.
Nesse momento escutaram que foram anunciados o
marquês de Huntly, a marquesa e sua filha.
— Já chegou por quem chorava Stephen ― delatou
Bradley para dar sabor à noite.
O rosto de Stephen se havia posto pálido como uma folha,
Bradley não pôde dizer aquilo no pior momento, justamente
em frente ao seu irmão.
— Eu...
— Fala agora, Stephen, antes que eu perca a cabeça! Está
interessado em minha irmã? Em minha irmãzinha? ―
Perguntou Daniel carregado de ciúmes enquanto o olhava
fixamente. — Pensa bem antes de responder, amigo.
Stephen tragou saliva e pegou coragem.
— Sim. Estou interessado nela, mas não sei como me
aproximar sem que você ou seu pai me matem.
O rosto de Daniel se suavizou, e lhe tocou o ombro.
— Vem comigo. Ajudarei-te. Sei que suas intenções são
boas e eu te apoio, não poderia deixar a minha irmã em
melhores mãos.
— É... é... sério? Não irá matar-me no jardim?
— Vamos, querido amigo, antes que eu me arrependa...
— Felicidades, Stephen! ― Exclamaram os gêmeos ao vê-
los partir. Stephen era um excelente jovem, Helen não poderia
estar mais que orgulhosa do que ter a ele como pretendente.

***

Emma ainda não tinha descido da carruagem, esperava


que aparecesse seu irmão Arthur.
— Mote, diga àquele cavalheiro loiro com colete verde que
há uma dama que precisa falar com ele nesta carruagem ―
ordenou Emma.
— Sim, milady.
O lacaio foi correndo até Arthur, que ia entrando com sua
mãe.
— Cavalheiro, minhas desculpas, tenho uma dama que
precisa falar com milorde naquela carruagem ― expressou o
servente com a cabeça encurvada e assinalando o lugar.
Arthur, desconcertado, olhou a carruagem sem escudo.
— Está bem, irei. Você, mãe, adiante-se... ― pediu à sua
mãe enquanto ele ia para onde o esperavam.
— Tome cuidado, Arthur, que não seja uma louca caça-
fortunas ― advertiu preocupada a duquesa.
— Sei me cuidar, mãe.
Seguiu ao lacaio até a escuridão onde se encontrava a
carruagem, lhe abriu a porta.
— Suba, excelência ― pronunciou uma voz suave e
conhecida que vinha de dentro.
Quando ao subir viu sua tia Linette estava ainda mais
desconcertado.
— Tia Linette? O que faz você aqui?
— Vim acompanhar Charlotte ― alegou.
Ele observou a bela mulher que estava em frente a ele e a
reconheceu.
— Emma?
— Olá, irmão, sou eu... espero que ninguém me
reconheça além de você ― sorriu contente por ver seu irmão.
— Mas o que faz aqui? Onde esteve e o que lhe
aconteceu? Sabe o que passamos te procurando?
— Passaram?
— Brandon e eu, ele está destroçado, ainda não se
resignou que você tenha desaparecido.
— Oh, meu valente Brandon! Logo terei tempo para vê-lo,
― indicou com um sorriso ― agora necessito que me ajude e
diga a todos que sou sua prima.
— Por que, Emma?
— Já não sou Emma, sou Charlotte Mcbean, porque
estou preparando minha vingança para o Clark. Pagará pelo
que me humilhou, e logo você e eu saldaremos as contas -
advertiu com seriedade.
— Por que não me deixa matar o Clark?
— Não quero que suje suas mãos por mim. Minha
vingança será pior que a morte, o deixarei morto em vida.
— Deus, o que fará, Emma?
— Apaixonarei lorde Mottengarden e levá-lo-ei até a
loucura, agora que sou formosa me permitirá.
— E o Brandon? Ele me confessou sua devoção a você.
— Seus sentimentos são plenamente correspondidos, mas
não tenho tempo para o amor. É tempo de cobrar as dívidas
que esse conde do demônio tem comigo.
— Emma, o que te aconteceu? Não te reconheço, você não
era assim...
— Sabe quem me fez assim? Você..., ― assinalou-o ― que
me vendeu e Clark que me humilhou fingindo um matrimônio,
me dizendo que jamais gostaria de mim. Fiz o ridículo
tentando consumar o suposto matrimônio, e foi aí onde me dei
conta de tudo.
— Me perdoe, Emma, pensei que estava assegurando o
seu futuro ― respondeu Arthur arrependido.
— Embora, graças a isso, agora tenho o que sempre devia
ter tido e que aquele criado me arrebatou, a beleza e a vontade
de ser bela.
— Emma, por favor, pensa bem no que fará.
— Já tenho tudo preparado, entrarei depois de ti, e diga à
mamãe que não fique a cacarejar ao ver-me, conte sobre o
meu plano, eu os visitarei depois.
— Está bem, Charlotte, ― aceitou Arthur ― adeus.
— E recorde, Clark acredita que não sei sobre Emma, só
me saúde na festa.
— Tudo bem ― assimilou seu irmão descendo da
carruagem e pensando no que sua desorientada irmã estava
tramando.

***

Clark chegou à festa acompanhado de sua mãe que não


deixava de oferecer quantas damas estivessem em seu campo
visual.
— Olhe quantas damas formosas e elegantes há para
você, filho!
— Muito lindas ― concordou distraído Clark olhando em
todas as partes esperando encontrar lady Charlotte.
— Lady Linette de Kirkwall e lady Charlotte Mcbean de
Kirkwall ― anunciaram na entrada.
Todos giraram e ficaram mudos. Lady Charlotte era
esplendorosa, parecia uma borboleta com seu vestido dourado
e decotado que envolvia sua magra figura. Uma bela cintura
que só era capaz de comparar-se a uma vespa, e o cabelo
muito extravagante.
— É muito bela ― comentou Bradley.
— Quem? ― Perguntou Brandon, que estava distraído.
— Aquela mulher, lady Charlotte Mcbean de Kirkwall.
— Mcbean? ― Isso chamou a atenção de Brandon, de
todas as formas olhou para onde ela estava e viu a mulher
mais bela que seus olhos tinham registrado.
Ao observá-la com atenção, a altivez e o narcisismo
podiam ver-se em seu rosto.
Não sabia que existia alguém assim e aquilo não lhe
agradou. Seus olhos não brilhavam como uma dama com boas
intenções, possivelmente era uma caça-fortunas ou só ele
estava vendo a maldade em semelhante mulher perfeita ao
simples olho humano.
— Olhe quem está se aproximando primeiro para
completar seu cartão ― comentou Bradley, intrigante. Sabia
quanto incomodava seu irmão a presença de Clark, quando
coincidiam.
— Clark... iguais...
— Por que diz? Você não gostou da dama?
— Não. A verdade é que sinto algo estranho quando a
olho, é uma fachada de algo efêmero e superficial. Vou ao
jardim, não devia ter vindo, não me divirto, nem sou boa
companhia ― alegou olhando para o conde com absoluto
desprezo.
Capítulo 19

Clark se aproximou de Emma e preencheu o cartão.


— Boa noite lady Charlotte, vê-se muito formosa esta
noite ― a elogiou Clark, condescendente.
— Obrigada, milorde, você é muito amável.
— Assinei para uma valsa, milady, espero que não lhe
incomode.
— Não, milorde, o que lhe parece se dançarmos o que
está por começar agora? ― Sugeriu ansiosa.
Emma queria desfazer-se de Clark e procurar Brandon,
tinha-o visto retirar-se ao jardim. Em realidade, não sabia se
era Brandon ou Bradley, já averiguaria depois.
Foram à pista e começaram a dançar. Clark era um bom
bailarino, ela estava sendo a inveja da noite, todas as damas e
cavalheiros tinham os olhos postos nela.
Sentia-se nas nuvens, e pensar que antes nem sequer
notavam sua existência. Nesse momento se deu conta de como
era importante ser bela na sociedade londrina.
— No que pensa, lady Charlotte? Você está muito calada.
— Na companhia, milorde, é você muito agradável.
— Obrigado pelo elogio milady, me conte algo sobre você
― pediu sorrindo.
— Eu gosto da leitura, da esgrima e de algumas práticas
de tiro ― contou Emma como se lhe falasse do clima.
— São atividades muito rudes para uma dama tão
refinada como você, faltou-lhe praticar boxe ― opinou com ar
de brincadeira.
— Creia-me que quis fazê-lo, mas minha tia não me
deixou, disse que essa disciplina faria que me vissem pouco
feminina.
— Por que quis praticar essas violentas disciplinas? ―
Inquiriu curioso.
— Defesa, milorde, há muitos homens com não muito
honoráveis intenções ― justificou.
— Você acredita que poderia ser eu um deles?
— Quem sabe, eu ainda não o conheço, mas lhe digo uma
coisa, vim procurar um marido e não outra coisa -respondeu
de maneira a lhe deixar claras suas intenções.
— Muito direta ― expressou um pouco surpreso pela
brutalidade com que ela disse.
— Não quero que existam más interpretações, milorde-
insinuou com olhar penetrante.
A valsa estava chegando ao seu fim, ambos se despediram
e foram para suas famílias.
— Dylan, que prazer ― saudou Clark.
— Como está? Vi-te dançando com aquela mulher tão
bela.
— Ela é de quem te falei.
— Recordo-o, foi curto na descrição.
— É toda uma fera, eu gostei ― contou Clark, observando
Charlotte enquanto conversava.
— E será que lhe agrada para que te brinde com seus
cuidados?
— Não sei, mas tentarei seduzi-la ao menos. Ela vem a
casar-se e eu não sei se estou preparado ainda ― adicionou
brincalhão.
— Provavelmente nunca esteja, e possivelmente... -Dylan
ficou calado.
— Olhe, a senhorita Lucy ― anunciou Clark ao vê-la
passar.
O homem estava totalmente atordoado por ela.
— Dylan? Dylan, homem! ― Golpeou-o Clark.
— O que!? ― Respondeu despertando.
— Não seja tão evidente, vá pedir-lhe uma dança.
— M... mas e se ela não quiser? ― Repôs calorosamente.
— Vá! ― Animou Clark, e viu que seu amigo saiu
disparado a procurar aquela dança.
— Boa... noi... noite, senhorita Lucy ― pronunciou,
Dylan, gaguejando com o rosto vermelho como um tomate.
— Boa noite, senhor Warren ― correspondeu Lucy.
— Me permitiria preencher seu cartão para alguma peça?
― Pediu esperançado.
— Está cheio, mas para você direi a um de meus primos
que lhe ceda uma valsa.
Dylan colocou um sorriso tão grande que lhe tampava
todo o rosto. Sua Lucy lhe daria uma valsa, era seu sonho.
— Será uma honra, senhorita.
— A honra será minha, senhor Warren.
Para Lucy, Dylan era um jovem atraente só que sem
título. Sabia-se que era o filho da irmã mais nova de um conde
sem filhos, só com filhas, por isso ao morrer este,
provavelmente herdaria o título de seu tio. A ela, em realidade,
não lhe importavam os títulos, pois seu pai não tinha
nenhum, nem sua mãe. Pensava que o senhor Warren era
uma boa opção para o matrimônio: honorável, atento e
trabalhador.
Emma estava, no momento, conforme seu plano. Tinha
atirado o chamariz do matrimônio para que Clark se
apressasse em cortejá-la.
Depois de tanto dançar seus pés a estavam matando. Mas
não podia resignar-se ainda, devia ver o Brandon.
Começaria por averiguar se quem estava no salão era
Brandon ou Bradley.
Ela se aproximou do gêmeo presente.
— Boa noite, milorde, ― saudou ― procuro lorde Brandon.
— Boa noite, milady, em realidade, já não somos simples
lordes, sou o marquês de Blandford, e meu irmão é o marquês
de Granby, se você quiser posso ser Brandon -respondeu
flertando.
— Então devo supor, senhoria, que você é seu gêmeo -
distinguiu.
— O mais bonito dos gêmeos ― esclareceu ele em tom
divertido.
— É claro que sim, sendo gêmeos. Onde poderia
encontrá-lo?
— Ele saiu ao jardim faz um bom tempo.
— Muito obrigado, senhoria, que tenha uma boa noite-se
despediu empreendendo a saída para o jardim.
Brandon estava sozinho sentado em um dos bancos do
jardim de seus tios, ao lado das rosas brancas.
Era virtualmente um costume em todas as residências
onde viviam os Lowel que existissem rosas brancas, a
condessa de Derby tinha levado um broto a cada casa de seus
filhos e em todas tinham florescido.
Sentia-se triste e solitário. Arrancou uma rosa branca,
levou-a aos lábios, olhou à lua, e pensou em Emma.
Emma o olhava da porta da saída para o jardim. Brandon
tinha a rosa branca, provavelmente estava pensando nela.
Sentiu-se sufocada e com vontade de chorar, via nele um
jovem triste beijando a rosa, o que devia fazer? Apresentar-se a
ele como Charlotte, ou lhe dizer que era Emma, sua Emma?
Deu uns passos sobre algumas folhas e ele se girou
bruscamente, saindo de seus pensamentos.
— Desculpe, senhoria, não sabia que havia alguém mais
aqui ― se desculpou Emma, aproximando-se.
— Já me retirava milady ― respondeu dando uns passos
para a porta.
Ela não podia deixá-lo ir.
— É uma bela rosa, você espera uma dama? ―
Questionou esperando lhe dar conversação e que não se fosse.
— Não. Em realidade, estou esperando que algum dia
apareça novamente ― contou sem dar-se conta de que contava
sobre sua vida a uma desconhecida.
— Aonde foi sua dama?
— É uma boa pergunta, mas a qual não tenho resposta.
— Senhoria, você quer me fazer companhia um
momento?
— Não é correto que esteja aqui sozinho com uma dama
como você, milady, não tenho muito boa reputação.
— Não me importa o que dirão.
— A mim sim, milady, não quero que pensem que estou
me aproveitando de você no jardim dos meus tios.
— Asseguro-lhe que não pensarão ― disse ela
aproximando-se dele enquanto Brandon dava um passo para
trás.
O que acontecia a essa mulher? Sua voz recordava
Emma, tinha um tom muito doce, mas Emma era diferente.
— Retiro-me, milady, que tenha uma boa noite ― se
despediu fugindo.
— Desejaria ser essa dama misteriosa a quem você espera
― alegou antes que partisse.
Isso o paralisou, e ele se girou para responder.
— Não acredito que queira sê-lo, ela sofreu muito
enquanto esteve aqui, e não desejou o que lhe ofereci, pensou
que eu zombava dela.
Ela novamente foi para ele e pôs suas mãos em seu peito.
— Estou segura de que ela não soube apreciá-lo,
senhoria, possivelmente por medo.
Ele a olhou diretamente aos olhos podia jurar que eram
iguais aos de Emma.
— Você é familiar de Emma?
— Emma Mcbean? Sim, sou sua prima.
— Você sabe onde posso encontrá-la?
— Emma se foi da Inglaterra ― lhe recordou.
— Mas para onde?
— Não sabemos, o certo é que não voltará.
Brandon ficou até pior. Emma jamais voltaria. Não teria
probabilidades de encontrá-la.
Emma notou seu semblante mais entristecido depois de
lhe dizer aquela mentira.
— Você estava apaixonado por Emma? Ela era feia... e...
— Não diga nada mais, ― a defendeu ― ela era formosa.
Por fora não se podia ver, mas por dentro era como esta rosa
branca, pura e inocente.
Com aquela comparação Emma caiu seduzida por seu
amado.
— De verdade você parece estar apaixonado.
— Apaixonado por alguém que não voltará, possivelmente
também deva ir da Inglaterra.
— Não, por favor, não se vá! ― Exclamou com medo de
não o ver mais, e se colou ao seu peito com um abraço.
Ele, surpreso pelo abraço, não pôde afastar a dama. Ao
que parecia sua primeira impressão sobre ela o tinha
enganado, talvez não fosse oca.
— Milady, o que faz? Poderiam vê-la e sua reputação
estaria no chão depois disto.
— Disse-lhe que não me importava o que dirão, ― disse
soltando-se um pouco dele e olhando-o aos olhos ― quero um
amor como o seu, quero um amor de verdade.
Estava seguro de que ninguém no mundo estaria tão
surpreso pelo giro que deram as coisas.
— Pois com Clark não o encontrará, foi ele quem
machucou Emma.
Isso ela sabia muito bem.
— Senhoria, poderia lhe pedir algo?
— No que posso ajudá-la?
— Dê-me um beijo ― pediu.
— Um beijo? – Questionou confuso.
— Dê-me um beijo ― reiterou decidida.
— Não, eu não...
— Por favor ― rogou com os olhos brilhando pelas
lágrimas que ameaçavam sair e delatá-la.
— Por favor, milady ― disse para que o liberasse de beijá-
la.
Viu que uma gota escapava de seus olhos.
— Está bem, mas não chore! – Cedeu. — Não entendo
porque chora.
— É que... é que... você me comove ― justificou enquanto
lhe cobria os lábios com os seus.
Capítulo 20

Ele a beijava tão brandamente que a fazia tocar o céu com


as mãos.
Brandon pensava só em Emma, sua prima beijava como
ela. Era como saborear morangos e mel, estava concentrado e
sobretudo convencido de que era Emma.
Baixou os lábios por seu pescoço, levado pela tentação de
provar sua pele, enquanto ela gemia como se aquilo fosse uma
cruel tortura.
Suas mãos viajantes baixaram até o decote da dama
fazendo que se fosse perdendo a inocência daquele beijo.
Um sussurro ininteligível escapou dos lábios de Emma,
sentia-se viva nos braços de Brandon.
— Emma... ― murmurou enquanto subia novamente aos
seus lábios para continuar com o inspirador beijo, até que
abriu os olhos e a empurrou. — Sinto muito, milady, não devia
perder o controle dessa maneira, ― expressou envergonhado ―
melhor me retirar. Tome ― voltou a dizer lhe obsequiando a
rosa branca.
— Não se desculpe, desfrutei-o tanto ou mais que você, -
sorriu ― espero voltar a vê-lo ― disse pegando a rosa e
levando-a aos lábios.
— Até mais, milady ― se despediu voltando para salão.
Emma ficou com um sorriso nos lábios, amava Brandon,
desejava-o com a alma, mas não podia ainda estar com ele
sem antes afundar Clark na miséria do amor.
— Charlotte, ― a chamou sua tia ― esteve aqui com um
cavalheiro a sós, é perigoso.
— Ele não é perigoso, tia, era Brandon ― contou e sentiu
o aroma da rosa.
— Oh, minha menina! O disse? Entrou um pouco afetado
no salão.
— Não, tia, só sei que ele ama muito Emma.
— Por que não lhe diz que é você?
— Não posso, não me deixaria em paz para terminar com
meu verdadeiro objetivo, não pararia até que me casasse com
ele.
— Esqueça a vingança e se dê a oportunidade de amar,
que este homem o desafie a um duelo por sua honra.
— Não, tia. Quero fazer isto eu mesma, é minha vingança
não dele, nem de Arthur; é só minha.
— Está cega pela vingança, perderá o amor por isso?
— Se tiver que perder o amor, o farei, meus desejos de ver
Clark sofrer são maiores que qualquer coisa.
— Inclusive maior que a dor que causa a esse jovem que
te ama?
— Basta, tia! quero ir já da festa, vamos ― pediu. Já não
tolerava os intentos de sua tia para convencê-la a não se
vingar.
— Como quiser ― consentiu sua tia.
Clark viu que lady Charlotte se retirava, então correu até
ela e lhe disse:
— Espere, milady.
— Milorde! ― Expressou com surpresa.
— Queria convidá-la a um passeio pelo parque amanhã ―
promulgou.
— Oh, claro, me busque em Mayfair, às dez.
— Ali estarei. Até nosso próximo encontro ― se despediu,
coquete.
Brandon, que ainda não tinha ido embora escutou o que
Clark e Charlotte falavam, devia advertir a prima da Emma.
Estava em perigo perto daquele homem que tinha enganado
Emma, que fugiu pela vergonha de que sua reputação
estivesse manchada por toda a vida. Graças a Deus nunca
nada se soube sobre esse fato. As pessoas perguntavam para
onde tinha ido Emma, ao que sua mãe respondia que tinha ido
à França, à casa de uns parentes. Era todo um teatro montado
ao redor de seu desaparecimento.
Tinha decidido que amanhã ele também daria um passeio
pelo parque.
— Brandon! A beleza já te encontrou? ― Perguntou
Bradley.
— A que se refere?
— A lady Charlotte, estava te procurando, disse-lhe que
estava no jardim.
— Encontrou-me, conversamos e... um momento! Ela te
perguntou diretamente por mim?
— Sim, perguntou-me por lorde Brandon primeiro, mas
lhe esclareci que já é marquês.
— Mas se não me conhece para que me procurava?
— É estranho, tenho a impressão de que a conheço de
algum lugar.
— Eu o sinto ainda mais.
Ela tinha um segredo, qual era esse segredo? Por que
tinha perguntado por ele?
Só podia ser Emma. Esta prima teve contato com Emma e
ela lhe teria contado tudo.
Essa era a única explicação racional que existia, e tiraria
a verdade dessa dama.

***

Pela manhã, Emma se levantou cedo junto à sua tia e


foram à mansão de seu irmão.
— Emma! ― Exclamou sua mãe. — Por que me fez isto? ―
Reclamou chorando.
— Mãe, era necessário. O conde zombou de todos nós, em
especial de mim. Não podia voltar, toda Londres zombaria de
mim ― indicou Emma.
— Sua reputação está intacta, minha menina ― contou
sua mãe.
— Isso é bom, mas no momento não sou Emma.
— Volta para a casa conosco, filha.
— Não, mãe. Primeiro, está Clark.
— Por Deus, Emma! Seja razoável, por favor ― pediu lady
Mabel.
— Estou sendo, farei a justiça por mim mesma, é o que
me corresponde.
— Emma, desperdiça sua juventude, logo fará 20 anos ―
tentou persuadi-la com aquele argumento.
— Ainda sou jovem ― justificou.
— Emma, ― chamou Arthur ― Brandon ainda te espera.
Aquela afirmação fez com que ela se removesse incômoda
em seu assento.
— Por favor, não volte a mencioná-lo, faz-me mal.
— Você o está ferindo muito mais com este engano -
acusou seu irmão.
— Já basta! – Reclamou. — Me deixem fazer isto. Não
devo me apresentar ante vocês. Vamos, tia, já não temos mais
o que fazer aqui, além disso, tenho um passeio com Clark.
— Vai sair com aquele trapaceiro? ― Repreendeu Arthur,
zangado.
— Sim, é parte do meu propósito.
— Até onde chega seu grande propósito, Emma? ―
Questionou lento.
— Até onde tiver que chegar ― referiu decidida. — Se tiver
que fingir um matrimônio o farei.
— Emma, por Deus! ― Surpreendeu-se sua mãe sem ter
imaginado até onde chegavam às intenções de sua filha.
Ante tanta acusação ela se levantou fazendo com que sua
tia a seguisse nessa ação com presteza.
— Adeus, família ― se despediu rapidamente.
De volta à mansão de sua tia devia preparar-se para a
chegada de Clark.
— Celia, me arrume o mais que possa, Clark virá logo e
quero impactá-lo ― expressou Emma observando-se no
espelho enquanto se acomodava o cabelo.
— Tenho o vestido ideal, milady... ― sorriu a criada com
cumplicidade.
— Qual é?
Celia se aproximou do armário, colocou a mão e lhe
mostrou um formoso vestido de passeio azul esverdeado, justo,
com um belo chapéu combinando, logo tirou umas luvas de
renda champagne e sapatos da mesma cor.
— Maravilhoso, não recordava havê-lo comprado.
— Era um presente de uns dos cavalheiros que estava
atrás de você, ― explicou sua donzela ― mas como sempre
pedia que eu jogasse todos os presentes no lixo... este era tão
formoso que não tive coragem de fazê-lo.
— Foi uma boa decisão.
— E o que faço com seu cabelo, milady?
— Só usa algumas forquilhas para colocar o chapéu -
mandou.
A criada obedeceu e fixou o chapéu com grande destreza.
Um sorriso se formou no rosto de Emma após apreciar-se
no espelho. Aquele detalhe ressaltava suas belas feições, já
não era uma grande bola.
Terminou de vestir-se e perfumar-se quando sua tia foi
procurá-la.
— Charlotte, ― disse sua tia ― o conde te espera abaixo.
— Perfeito. Chegou o momento. Como estou?
—Formosa como sempre, minha menina.
Clark a esperava no vestíbulo com seu chapéu nas mãos,
ansioso esperando pela dama.
— Lorde Mottengarden, ― expressou, descendo as
escadas e estendendo a mão para que ele a beijasse ― você é
muito pontual.
Ele não tinha palavras para descrever a beleza de lady
Charlotte, estava impressionado.
— Você está… não tenho palavras, lady Charlotte ― disse
lhe beijando a mão enluvada.
— Então isso é muito bom, iremos caminhando?
— Trouxe minha calesa, milady... ― indicou educado.
— Me chame de Charlotte ― pediu para que dispensasse
as formalidades, aquilo devia servir para que o infeliz tomasse
mais confiança e caísse com maior rapidez.
— E você pode me chamar de Clark, por favor ― seguiu a
corrente.
— Bem, Clark, ― pronunciou com voz suave ― vamos.
Clark franziu o cenho. Parecia-lhe ter escutado aquela voz
em algum outro lugar. Mas onde?
Ele a ajudou a subir em sua calesa.
— Hoje será um dia agradável, pois é atípico um clima tão
propício para um passeio em Londres ― comentou Clark para
iniciar sua conquista com a jovem.
— Concordo com você, Clark ― manifestou sorrindo por
fora, mas por dentro querendo jogá-lo entre as rodas da
calesa.
Foram sorrindo na calesa. Enquanto observavam a
paisagem Emma divisou um formoso cavalo branco com
Brandon em seu lombo, seu coração pulsava desesperado para
sair de seu peito. Depois daquele beijo apaixonado não podia
tirá-lo da mente.
— Bom dia, Clark ― saudou Brandon com uma educada
reverência.
— Granby, ― respondeu inclinando a cabeça ― lhe
apresento lady Charlotte de Kirkwall.
— Tive o prazer de conhecê-la ontem à noite -pronunciou
olhando-a diretamente.
Emma ruborizou-se pelo tom em que o disse e o agressivo
olhar que lhe dirigiu.
— Bom dia, senhoria, ― cumprimentou Emma, coquete ―
espero que tenha tido uma excelente festa.
— Muito boa, milady. Obrigado ― disse envolvendo-a em
um sorriso malicioso carregado de galanteio.
Clark estava sendo deixado de lado, sentia-se ciumento.
Ela o olhava de maneira estranha, seus olhos brilhavam e ele
não gostava disso. Devia afastá-la dele.
— Foi um prazer saudá-lo, senhoria. Nos despedimos,
continuaremos com nosso passeio ― ditou Clark.
— Grandes são as casualidades, também darei um
passeio. Estarei pelo parque. Até logo ― se despediu
inclinando a cabeça, dirigindo novamente um olhar malicioso
à dama.
— Adeus ― repôs Emma ocultando a emoção que a
embargava.
Uma vez que Brandon terminou de desaparecer da vista
de ambos, Clark manifestou:
— Odeio esse fulano.
— Por que o odeia? ― Questionou com fingida inocência.
— Por nada, só não o suporto – esquivou-se.
Ele o odiava pela Emma. Recordava-lhe constantemente o
que tinha feito contra ela, e estava quase seguro de que
tentaria ganhar a atenção de lady Charlotte a modo de
vingança.
— Ficou você muito calado, Clark ― mencionou ao vê-lo
pensativo.
— Aqui está bem, vamos descer ― disse ele.
— Muito bem ― aceitou ela.
A presença de Brandon incomodava visivelmente ao
Clark. Tudo saía como foi pedido, e provavelmente seu valente
cavalheiro lhe seria útil nesta ocasião.
Ambos davam voltas pelo parque enquanto Brandon lia
um livro sentado sob um enorme carvalho.
As damas o observavam intensamente, parecia-lhes muito
atrativo um homem com uma boa leitura nas mãos.
Emma, que caminhava de braços dados com Clark,
olhava-o com dissimulação ou ao menos mais que as demais
damas que cochichavam sobre seu amado.
— Clark, estou sedenta, poderia ser tão amável de me
trazer uma bebida, se for possível?
— Claro, Charlotte, ― respondeu galante e assinalou um
banco – espere-me nesse banco.
Ela, obedientemente, foi até ali e se sentou.
Brandon, como se não fosse nada, fechou seu livro e se
esgueirou entre os arbustos atrás de onde estava Emma.
— Milady, disse-lhe que não encontrará a felicidade com
Clark ― mencionou rapidamente.
Ela saltou pelo susto e se girou para ver de onde saía a
voz.
— Senhoria! O que faz metido aí? ― Perguntou
visivelmente surpreendida ao vê-lo.
— Não é óbvio? – Questionou. — Estou lhe dando uma
advertência.
— Sei o que faço, não necessito de suas advertências.
— Não sabe, não cometa o mesmo engano que Emma.
Não confie nesse rufião.
Emma se levantou do banco e se meteu com ele nos
arbustos.
— A que engano se refere?
— Apaixonar-se pelo Clark ― assegurou Brandon
olhando-a aos olhos.
— Ela não...! ― Ia confessar, mas se deteve. — E eu
tampouco.
— Não poderia assegurá-lo, o conde tem seus encantos.
— Como os seus, suponho ― provocou olhando seus
lábios.
— Desculpe-me, mas não faço coisas como as que ele faz,
afaste-se de Clark, repito.
— Por que o faria? ― Inquiriu desafiante, queria beijar
aqueles lábios novamente.
— É perigoso.
— Tanto quanto você? ― Voltou a provocá-lo.
Sem entender porque ele aproximou lady Charlotte dele.
— Não me tente, milady, posso chegar a ser – ameaçou
com mais paixão que a necessária.
— Quero correr esse perigo com você ― respondeu com a
respiração acelerada.
Capítulo 21

— Me diga, qual é o seu plano? A que veio? ― Perguntou


curioso. A atitude daquela dama o estava desconcertando, e o
fazia suspeitar.
Ela seguiu respirando agitada por sua cercania.
— Vingar Emma? Diga-me onde ela está!
— Que coisas diz! ― Disse empalidecendo.
— Fale! ― Ordenou sacudindo-a.
— Está me machucando ― acusou ela.
— Sinto muito, não queria feri-la, -se desculpou ― você é
muito formosa para desperdiçar sua vida com esse farsante.
— Me deixe decidir isso. A você também importa a beleza?
― Inquiriu com irritação por fazer ênfase nessa observação
para que ela não estivesse com Clark.
Ele não entendia a pergunta.
— Não sou partidário das aparências, milady, e sabe, do
contrário não estaria apaixonado pela Emma.
Emma raciocinou e aquilo era definitivamente certo.
— Bom ponto, por favor, me deixe terminar meu dever, e
você vá ver-me esta noite em Mayfair, em casa de lady
Kirkwall.
— Dever?
— Vá! Falaremos depois ― disse plantando um beijo nos
lábios de Brandon.
Ele ficou surpreso enquanto ela sorria voltando para
banco.
Essa mulher estava provavelmente demente, o que
pretendia?
Lentamente se foi retirando, subiu em seu cavalo ainda
desconcertado, tinha um encontro com a misteriosa prima de
Emma.
— Charlotte, está ruborizada ― mencionou Clark ao vê-la
com o rosto vermelho.
— É pelo calor ― justificou, sabendo plenamente que era
a vergonha de beijar Brandon.
— Pois esta limonada lhe virá como anel ao dedo ― sorriu.
Ela tomou o que lhe ofereceu.
— Clark, quero lhe perguntar algo.
— Diga.
— Quero saber que relação tinha com minha prima
Emma.
— Devo lhe dizer que isso é um assunto bastante escuro
em minha vida ― confessou.
— Por quê?
— Porque fui um canalha, é uma história muito longa,
não a quero recordar, ― se pausou ― eu era seu prometido, em
realidade tinham-nos prometido desde crianças.
— Não puderam escolher deixar-se?
— Eu estava obrigado a me casar com ela, seu irmão
ameaçou me deixar na ruína junto com minha mãe, por isso
cometi uma canalhice, não tenho perdão, mas o fiz. Ela era
uma boa jovem, mas me repugnava seu aspecto por mais que
tivesse melhorado sua aparência, sou amante da beleza.
Voltar a escutar quanta repugnância lhe produziu o que
ela tinha sido a enchia mais de ódio e desejos de vingança.
— Não lhe deu a oportunidade de mudar? ― Perguntou
para ver se respondia com sinceridade.
— Não, porque lhe menti, ela me odiou e acredito que
deve fazê-lo até o dia de hoje.
«Não sabe quanto» pensou Emma.
— Acredito que já o terá perdoado, não é rancorosa-
mentiu descaradamente.
— O diz a modo de consolo, suponho ― assumiu Clark.
Levantaram-se do banco e caminharam pelo parque
novamente, mas com a conversação mudada. Clark estava
contente, ela não o tinha julgado pelo acontecido com Emma,
era agradável e bonita. Aquela dama sim merecia ser uma
condessa.
— Charlotte, ― mencionou Clark ― eu gostaria de lhe
falar sobre minhas intenções para com você.
— Diga ― pronunciou para escutá-lo.
— Havia me dito que você veio procurar um marido, não
quero desviá-la de seu objetivo, mas possivelmente poderia me
incluir em sua lista de candidatos. Amanhã eu gostaria de
falar com sua tia, para cortejá-la, suponho que ela é sua
tutora ― manifestou Clark.
— Pode dirigir-se à minha tia sem problemas. Falarei com
ela sobre você, gosto muito de você ― declarou coquete.
Ele notou seu flerte e, simplesmente, aquele era um sinal
de correspondência.
— Me deixaria lhe dar um beijo? ― Perguntou Clark,
crédulo.
Ela só podia pensar em quão irônica era a vida, lhe pediu
um beijo quando no passado a tinha rejeitado por falsa
decência ou, melhor dizendo, por ser feia.
— Claro. Como já me corteja, pode me dar um.
Ele sorriu e lhe seguiu o jogo. Clark se aproximou e
pousou seus lábios sobre os dela, ela respondeu ao beijo.
Não beijava mal, mas não sentia nada mais que desprezo
por ele. Clark quis aprofundar o beijo, mas ela o deteve.
— É só um, milorde, e você está se aproveitando.
— Desculpe, Charlotte.
— Por hoje é suficiente, me leve a casa para que possa
conversar com minha tia.
— Perfeito.
Ele a levou a casa e a deixou na entrada.
— Até manhã, Charlotte ― se despediu lhe beijando a
mão.
— Adeus, Clark ― correspondeu.
— Estarei ansioso para voltar logo.
Emma o despediu com um sorriso, até vê-lo desaparecer.
Ao entrar na casa sentiu-se realizada.
— Quase está onde te quero, verme ― expressou
limpando a boca com um lenço. Devia limpar-se daquele
pestilento beijo.
— Emma! Esses termos não lhe foram ensinados por
ninguém conhecido ― reclamou a tia.
— Tia, tenho novidades! ― Expressou emocionada. —
Clark quer me cortejar, virá amanhã te pedir isso!
— Está emocionada.
— Claro que estou, está saindo tudo bem, está sendo
muito fácil.
— Bem, então lhe direi que é toda para ele.
— Obrigada, tia. Há outra coisa, Brandon virá para ver-
me esta noite, quero ficar a sós com ele.
— Em minha casa? Respeito os bons costumes.
— Tia não farei nada mau, só quero estar em privado com
ele, quero fazê-lo partícipe do meu plano.
— O que quer dele?
— A ele, tia. O usarei para destruir ao Clark. Farei-lhe
ciúmes com o Brandon.
— Quando o propuser possivelmente te enforque e,
advirto-lhe isso, não te salvarei Emma.
— Tudo sairá bem, tia, deixe-o em minhas mãos.
A noite tinha estendido seu manto sobre Londres, e
Emma estava pronta para receber Brandon. Vestiu-se com um
formoso vestido rosa, um pouco provocante, recolheu-se o
cabelo e se colocou seu perfume.
— Como estou minha querida Celia? ― Perguntou
presunçosa.
— Parece um formoso e inocente flamingo, milady.
— Isso é formoso. Bem, só tenho que esperar e estou
nervosa, ― expressou ― não sei por onde começar.
Brandon tinha chegado e se posto no saguão, esperava
impaciente a inconsciente lady Charlotte.
— Bem-vindo, senhoria ― se inclinou Emma.
— Boa noite, milady, você está deslumbrante ― adulou.
— Obrigada, senhoria, pode me acompanhar ao salão?
— Não a acompanhará sua acompanhante?
— Não, este é um assunto privado.
— Privado? ― Questionou.
— Muito.
— Pois acabemos logo então.
Chegaram a um salão formoso, decorado de maneira
muito feminina, com um grande divã perto da janela.
— Escuto-a, milady.
— Você é muito direto ― distinguiu Emma.
— Não quero permanecer além do necessário, só quero
saber o que pretende saindo com Clark?
— Acaso está ciumento?
— Sua beleza não é uma razão para me apaixonar, estou
apaixonado por sua prima, espero que o entenda.
Não sabia se se sentia feliz ou triste por aquela
elucidação.
— Estou aqui para saber o que quer, além de como achar
Emma ― continuou falando Brandon.
— Má jogada, senhoria, ― assegurou aproximando-se
lentamente, olhando-o aos olhos ― quer saber de Emma? Eu
posso lhe dizer o que deseja, mas…
— Mas o que? ― Perguntou ansioso.
— Você deve me ajudar.
— Como?
— Quero destruir o conde de Dudley para vingar Emma.
— Como quer que a ajude?
— É muito singelo, quero que seja seu concorrente, sei
que o odeia ― insinuou.
— Não entendo.
— Me corteje ― esclareceu, insolente.
— Perdeu o julgamento?
— Não, você, meu querido marquês, agrada-me e muito.
Parece-me uma excelente perspectiva a prometido, minha
querida prima foi uma estúpida ao não aceitar sua proposta de
matrimônio.
— Lhe falou disso?
— Sei tudo, só simulo não saber para que Clark não
suspeite de mim.
— Quando poderei saber um pouco de Emma se a ajudar
em seu plano?
— Muito em breve.
—Saiba as condições para que a ajude.
— Que condições? ― Perguntou zombadora.
— Não a tocarei.
— Não aceito, quero que você me beije e me acaricie.
— Nego-me a pensar mal de você, milady.
— Tenho minha virtude intacta, senhoria.
— Não parece, sua audácia no momento de me propor
isto me faz desconfiar ― confessou.
— Pode você comprová-lo ― insinuou tentando seduzi-lo.
— Se o comprovasse você já não seria virgem.
— Senhoria, não estamos chegando a nenhum acordo -
disse Emma.
— Não acredita que é melhor propor ao Bradley? Ele é
meu gêmeo, e estou seguro de que a ajudaria sem pigarrear.
— Não, quero você.
— Pois seguirei procurando Emma por minha conta -
decidiu tentando ir-se.
— Não gosta de mim? Ou prefere as gordinhas?
— Prefiro as honestas e de boa moral, como Emma.
— Ela mudou, e não sabe o quanto.
— E você sabe e se nega a me dizer onde está.
— Dê-me um beijo e lhe direi sua última parada-
chantageou Emma.
— Está me extorquido? O que dirá a Emma, depois? Que
sou um mentiroso e que meu amor por ela não é real?
— Juro ficar calada ― declarou ela.
Brandon não podia mentir a si mesmo, recordava-lhe
tanto a Emma, se sentia como se beijasse a ela.
— Nunca pensei que iam me chantagear desta forma, -
contou envergonhado ― farei só porque você me recorda ela,
tem seus mesmos olhos, e seus lábios o sabor dos dela.
— Imagine que sou ela.
— Não será difícil ― disse e começou a beijá-la
tortuosamente.
Emma estava feliz, respondia ao beijo com paixão e
desenfreio.
Brandon a puxou pela cintura e a atraiu para ele
colando-a completamente, enquanto ela aproveitando sua
cercania, enterrou as mãos sob sua jaqueta e começou a abrir-
lhe para acariciá-lo.
Ele fechou os olhos ante seu contato, depois de tanto
tempo, sentia-se cuidado.
Ela se deu conta de que ele estava desfrutado de suas
carícias e aproveitaria aquilo a seu favor. Arrastou-o até o divã
e o recostou ali.
— Só era um beijo! ― Recordou-lhe rouco.
— Não quer só isso e sabe.
— Eu…
Emma subiu sobre ele e se abriu a parte dianteira do
vestido.
Brandon era capaz de leva-la à loucura, quanto tinha
perdido ao rejeitá-lo. E nesse momento ela estava se
aproveitando de sua inocência e de sua vontade de saber sobre
ela.
Capítulo 22

— Me solte milady ― pediu enquanto sentia o peso de seu


corpo sobre o seu.
Em realidade, não desejava que o soltasse, mas não seria
infiel à Emma e menos ainda com sua prima.
— Você só desfrute ― replicou ela com uma voz que não
reconheceu, estava possuída pela paixão que sentia por aquele
homem.
— Não me faça isto, por favor ― rogou enquanto
aproximava seus lábios daquela generosa tentação.
Ela choramingou ao sentir seus lábios quando acariciava
aquele lugar.
Brandon estava perdendo o controle da situação, em
qualquer momento aquilo escaparia completamente de suas
mãos e acabaria em um terrível desastre.
Enquanto ele estava perdido naquelas sensações, lhe
tirava a jaqueta.
— Charlotte por favor detenha-se, estou há muito tempo
sem estar com uma mulher e isto está me matando -confessou
Brandon, já dolorido por seu contato.
Emma fez uma careta, sorriu-lhe e foi fechando
novamente sua jaqueta.
— Faremos um trato, então? Poderia ter mais disto -
insinuou com flerte enquanto se afastava lentamente.
— Farei um trato, mas não quero ter nada com você, não
a desejo, desejo Emma ― esclareceu Brandon tentando
recuperar a tão perdida compostura.
— Não era isso o que parecia… ― afirmou lhe dando as
costas e caminhando pelo salão.
— Lhe disse que faz tempo que estive com uma mulher, e
na verdade acredito que necessito de uma, mas não jazerei
com a prima de quem será minha futura esposa, não quero
confusões de família.
— Por que está tão seguro que ela aceitará casar-se com
você?
— Porque me ama e eu a ela ― respondeu com a mais
absoluta segurança.
— Acredito que o dá por muito certo ― contradisse, mas
querendo gritar aos quatro ventos que desejava com ardor ser
sua esposa para amá-lo cada dia de sua vida.
— Se não me amar, ao menos está apaixonada, e lhe
asseguro que obterei que me ame.
Brandon se acomodou a roupa e com uma inclinação de
cabeça despediu-se de Emma.
— Adeus Brandon, espero vê-lo por aqui muito em breve
― o despediu Emma com uma expressão cínica no rosto, como
devia ser Charlotte.
— E eu também, para saber de sua prima – recordou-lhe
saindo com ela atrás para guiá-lo.
Ainda sentia aquele comichão pelo que tinha feito com
Brandon naquele salão. Ela fez o que lhe tinha feito anos
atrás, e havia sido delicioso. Se pudesse, o levaria novamente
até a beira da loucura.
Amava a fidelidade que lhe professava e quanto resistia
ante a tentação. Em seu rosto podia denotar a imensa luta
entre o carnal e o espiritual. O pobre realmente sofria lhe
sendo fiel.

***

Brandon não podia acreditar no que fez, ia bastante


zangado consigo mesmo. Aquela dama o tinha seduzido da
pior maneira possível, tinha se lançado sobre ele e havia algo
até pior, tinha gostado muito. Não sabia se na próxima vez que
a visse não ocorreria nada, tentaria evitar ao máximo.
Continuou rumo ao White’s, onde tinha chamado Arthur
por meio de uma nota. Devia averiguar algo mais de sua prima
e que tipo de relação tinha com Emma.
Entrou e se encontrou com mais pessoas conhecidas das
quais deveria.
— Cunhado! ― Exclamou Daniel, que estava sentado com
Stephen e Bradley.
— O que fazem aqui? ― Inquiriu com certo receio.
— Que classe de recebimento é esse?! ― Surpreendeu-se
Bradley.
— É que não pensava encontrá-los aqui, tenho uma
reunião com alguém.
— Com o Arthur? Está por lá ― assinalou seu gêmeo para
um rincão.
— Obrigado, logo volto com vocês ― disse deixando-os
para ir junto ao duque.
— Arthur ― saudou Brandon.
— Brandon, recebi sua nota, do que quer me falar?
— É sobre sua prima… ― respondeu sem preâmbulos.
— Charlotte? ― Perguntou tragando saliva, esperava que
ele não se desse conta que era sua irmã.
— Sim, sua louca e desequilibrada prima ― a acusou
frustrado.
— Não a chame assim... ― defendeu ciumento a sua
vingativa irmã.
— E se te disser que se está deixando cortejar por Clark
para vingar Emma, além disso quer me colocar em seus
planos? ― Questionou-o com seriedade. — Venho de sua casa
e... até tenho vergonha de dizer!
— O que fez?
— Quase abusa de mim, e eu estive a ponto de cair, mas
obteve o que desejava, aceitei participar de suas maldades.
— Não posso acreditar que tenha feito isso -replicou
zangado Arthur por aquele proceder. Aonde queria chegar
Emma? O que pensava de maneira nenhuma poderia terminar
bem.
— O caso é que sua formosa prima recorda a Emma e me
é muito difícil, já sabe, aguentar; e como faz tempo que não…
— Nem te ocorra tocá-la Brandon, ela é virgem ainda!
— Pois me acredite, não parece...
— O que... o que acaba de insinuar? ― Pronunciou
vermelho de indignação.
— Está demente, assim de simples! Mas a cuidarei de
Clark, e de mim também ― disse tentando acalmar um
angustiado Arthur.
— Não espero menos de ti, Brandon.
— Não lhe faria nada, mas de todos os modos, preciso
saber qual é a relação dela com Emma, ela sabe muito, ―
contou em voz baixa ― sabe que propus matrimônio a ela, e
ainda assim sua prima é um pouco ligeira.
—Não sei o que deve estar passando por aquela cabeça
loira, mas desconheço a intimidade de seu relacionamento
com nossa prima longínqua, ― mentiu ― a mim tampouco
quer contar o que aconteceu à Emma.
— Vou ficar louco, homem! ― Exaltou-se Brandon. —
Necessito saber da Emma, e se devo jogar como sua prima
quer, farei.
— Espero que logo confesse o paradeiro da minha irmã,
ela precisa dar muitas explicações ― assumiu Arthur querendo
desde aquele momento enforcar sua insolente irmã.
Depois daquele bate-papo ambos se levantaram e foram
com seus outros amigos a uma mesa de jogos para relaxar.

***

Emma, enquanto isso seguia pensando em como ia fazer


para que Clark e Brandon se encontrassem. Aquilo devia ser
logo, amanhã Clark teria a permissão de sua tia para cortejá-
la.
Embora também conseguiria uma permissão mais que
especial ao Brandon para que a cortejasse igualmente. Com
aquilo, em algum momento Clark se apressaria e pediria sua
mão. Seria esse o momento em que lhe daria a estocada final.
— Como foi com o marquês, milady? ― Perguntou Celia
arrumando o cabelo de Emma.
— Como foi pedido, Celia. Tenho Clark comendo em
minha mão, Brandon é quem está resistindo um pouco, mas
cairá, cedo ou tarde o fará ― assegurou caminhando para sua
cama para recostar-se.
— Como conseguirá que participe para alcançar seus
propósitos como deseja? Segundo o tempo que o conhecemos,
milady, é um cavalheiro muito correto.
— Farei o que tiver que fazer para o ter perto, ― alegou
suspirando ― ele me faz pensar. Não sei se poderei escolher
entre o amor e a vingança, meu objetivo é Clark, mas Brandon
faz com que isto fique difícil.
— Fique com ele, milady. Seja feliz ao seu lado.
— Não sei, Celia, não deveria me repetir isso sempre,
poderia me obcecar com ele.
Celia e sua tia tentavam constantemente persuadi-la a
acabar com sua vingança, mas ela não podia; tinha sofrido e
chorado por causa de Clark, não se daria por vencida até vê-lo
imerso na dor do amor.

***
Na casa de Clark, ele comunicava a feliz notícia à sua
mãe, cortejaria uma dama.
— Por fim, filho querido, vai assentar a cabeça ― aplaudiu
a decisão.
— Acredito que é a indicada, mãe. Amanhã irei à sua casa
para pedir para cortejá-la.
— Me diga quem é a afortunada! ― Exclamou sua mãe,
muito ansiosa por saber quem era a mulher que tinha
conquistado seu filho libertino.
— Lady Charlotte de Kirkwall.
Sua mãe ficou sem fala.
— Clark... não crê que...
— Contei-lhe sobre Emma e mesmo assim quis que a
cortejasse, está interessada em mim, tanto como eu nela.
— Mas sua família... ― questionou sua mãe.
— Não se interporão, estou seguro de que ela o impedirá.
— Sigo sendo cética a respeito dessa jovem, quero
conhecê-la mais a fundo.
— A levarei para tomar o chá com ela e sua tia, se lhe
resultar tranquilizador.
— Está bem, acredito que isso acalmará meus medos.
— Não parece muito contente, mãe.
— É essa família, não posso vê-los na rua pela vergonha
que tenho. O que fez àquela pobre menina não foi certo.
— Fiz por nós, mãe. Você suportaria viver na rua
mendigando ou vivendo da caridade? Porque eu não ia casar-
me com ela realmente, encontrei essa solução ao problema.
— Mas a que custo? ― Questionou-o sua mãe.
— Era ela ou nós. Não sei por que seguimos com isto.
Você deveria alegrar-se em lugar de me repreender e me culpar
por aquilo que é parte do passado.
— Não confio nessa família.
— Calma mãe, saberei como dirigir o assunto, sempre e
quando esse Granby não se meter, esse sim terei que afastar
dela. Sei que fará algo para desmerecer-me, quer minha
cabeça.
— É um Lowel, são gente muito inteligente e de um
temperamento terrível, duelistas de nascimento, salvo por seu
pai, o duque, é um homem muito tranquilo, mas o conde de
Derby e seu irmão lutaram duelos por muito tempo e saíram
vitoriosos.
— O que insinua, mãe?
— Que é melhor não entrar em discussão com essa
família, ou terá um buraco na testa ― advertiu sua mãe.
— Sou um bom atirador, mãe ― assegurou com o cenho
franzido pela absoluta desconfiança de sua mãe em suas
habilidades.
— Mas eles são melhores. Vou dormir, filho, tenha uma
boa noite.
— Obrigado por me tranquilizar, você conta excelentes
histórias para dormir-se tranquilo ― sugeriu com sarcasmo.
Capítulo 23

Clark se levantou ansioso, nesse dia ia cortejar


oficialmente uma mulher, não a qualquer mulher, aquela era
uma mulher de verdade, a mais formosa de toda Londres.
Vestiu-se, tomou o café da manhã com sua mãe e saiu em
sua calesa.
Quando ia pela rua viu do outro lado que uma carruagem
tinha atropelado uma dama. Desceu de sua calesa, meteu-se a
bisbilhotar entre a multidão e olhou quem era a vítima.
Para sua surpresa era lady Marie a quem auxiliavam.
Sua curiosidade estava à flor da pele, por isso teve que
aproximar-se para perguntar aos presentes o que tinha
acontecido.
— Cavalheiro você faria a gentileza de me dizer o que
aconteceu?
— Sim, milorde, ― respondeu o homem em tom baixo ―
essa dama se jogou em frente à carruagem do conde de
Winfrey.
— Winfrey? ― Pensou uns segundos e logo recordou ao
que parecia era um de seus amantes e provavelmente o pai de
seu filho.
— Pobre mulher, estava muito mal ― comentou o homem.
—Sim, pobre. Obrigado por seu tempo, cavalheiro ― se
despediu disposto a continuar seu caminho.
Lady Marie não tinha podido suportar o desprezo de
Clark. Ela estava apaixonada pelo conde de Dudley e aquele
filho se interpunha entre eles, por isso decidiu desfazer-se dele
tendo um acidente.
Se sobrevivesse tentaria novamente conquistá-lo,
possivelmente algum dia veria que o amava e se casaria com
ela.
Clark chegou à casa de Charlotte e tocou à porta.
— Bom dia, milorde. No que posso ajudá-lo? ― Perguntou
o mordomo.
— Desejaria falar com lady Linette, tome, aqui tem meu
cartão ― manifestou Clark entregando-lhe.
— Entre, milorde, milady o está esperando ― convidou o
homem do serviço, afastando-se para um lado para que o
cavalheiro pudesse entrar.
De acordo, Clark ingressou pensando em que Charlotte
tinha cumprido com o que disse, tinha falado à sua tia sobre
ele.
— Bom dia, milorde ― saudou lady Linette lhe estendendo
a mão para que ele tomasse.
— É um prazer, milady, a beleza está na família ― elogiou
beijando sua mão e logo observando ao lado, onde estava
Charlotte acompanhando a sua tia.
— Muito adulador, milorde, ― sorriu educadamente ―
Charlotte querida, saúda o cavalheiro.
— Seja bem-vindo, milorde. É um prazer vê-lo, você é
muito pontual ― ressaltou fazendo uma reverência.
— O interesse é a medida da ação, minha querida
Charlotte ― adicionou Clark inclinando a cabeça.
— Devo presumir que está bastante interessado em
minha sobrinha ― comentou Linette indicando ao Clark onde
sentar-se.
— Na verdade, bastante ― confessou observando Emma
diretamente.
Ante aquelas palavras ela quis que a terra se abrisse pela
vergonha de que se manifestasse tão descaradamente.
— Os deixarei para que conversem, sairei um momento
para comprar umas fitas de seda e retornarei para que
conversemos um pouco, milorde ― se despediu com presteza,
devia continuar com a seguinte parte de seu plano.
Clark rapidamente se levantou para se despedir da dama.
— Até mais tarde, Charlotte, estaremos lhe esperando ― a
impulsionou sua tia.
Emma saiu da casa rumo à mansão de seu irmão, mas
em realidade ficou em frente à casa de Brandon esperando que
ele saísse. Aquilo era ter paciência, e se tivesse sorte o veria
saindo sem ter que tocar à porta para perguntar por ele.
Esperou uns dez minutos e saíram os gêmeos, por que o
faziam tão difícil? Ainda não aprendera a diferenciá-los, mas
tinha uma forma de saber qual era Brandon.
Colocou-se às costas deles, e pronunciou:
— O destino se empenha em que nos encontremos
Brandon, marquês de Granby.
— Lady Charlotte, ― expressou lento ― melhor dizendo,
você se empenha em que nos encontremos.
Naquele momento soube qual deles era seu amado.
— Preciso falar com você, a sós – mencionou olhando ao
Bradley.
— Com sua permissão, retiro-me, foi um verdadeiro
prazer vê-la, milady ― cumprimentou Bradley, despedindo-se
com uma inclinação.
— Muito amável senhoria ― reverenciou amável.
— Obrigado, Bradley não deixará de me incomodar até me
tirar algum tipo de informação sobre tão suspeita forma de
despachá-lo ― alegou Brandon olhando ao redor.
— Brandon, Clark se encontra com minha tia, é a
oportunidade para que comecemos a tomar medidas contra ele
― indicou tomando o atrevimento de chamá-lo por seu nome.
— Me diga que parte de seu diabólico plano levaremos a
cabo? ― Questionou com sarcasmo.
— Não se faça o bom samaritano, você também quer vê-lo
miserável.
— Equivoca-se, quero vê-lo realmente morto.
— De modo que o diabólico é você ― o acusou.
— É melhor irmos ao assunto…
— Vá à minha casa em uma hora, e peça também para
falar com minha tia, eu estarei com o conde.
— Muito bem, mas, o que eu consigo com isso?
— Incomodar Clark, ― sorriu coquete ― e a mim é claro,
minha companhia.
— Não acredito que o valha, estarei arriscando minha
reputação com você, se Emma souber…
— Quer informação da Emma?
— É o que mais quero.
— A darei, você cumpra com sua parte e eu cumprirei
com a minha ― chantageou novamente.
— Dessa forma, não tenha dúvidas de que serei seu
melhor pretendente ― disse soberbo.
— Estarei esperando-o, Brandon.
— Até logo ― se despediu fazendo com que ela fosse para
o lado contrário para onde ia ele.
Brandon, sem dar-se conta, já estava até o pescoço
naquele assunto. Quão único podia fazer era continuar, nada
o faria mais feliz que amargurar Clark por toda a vida,
amargurá-lo tanto ou mais do que ele estava por ter perdido
Emma.

***

Na casa de Emma sua tia estava conversando com Clark


sobre o cortejo.
— Deixarei que corteje a minha sobrinha porque ela
assim o deseja, mas saiba que você tem concorrência, há
muitos jovens atrás de uma dama como ela.
— Sou consciente de que muitos estão esperando serem
os afortunados, mas que ganhe o melhor ― expressou com
grande orgulho.
— Essa é a atitude de um vencedor, jovem.
Emma irrompeu na sala.
— Voltei, comprei umas belas fitas de seda ― afirmou
mostrando uma bolsa.
— Mostra-me isso depois ― mandou sua tia.
— Claro, tia. Neste instante sairei com o conde ao jardim
para conversar um pouco antes do almoço.
— Vão, vão. Este cavalheiro deve estar cansado da
companhia de uma dama entrada em anos.
— Clark, pode me esperar lá fora um minuto? Guardarei
minhas compras e o alcançarei ― pediu Emma.
— Claro, Charlotte, espero-a lá fora ― obedeceu saindo
dali.
Ele saiu com um sorriso para o jardim; enquanto isso,
Emma se encaminhou para sua tia.
— Brandon não demora a chegar – avisou.
— O que fez Emma? ― Repreendeu com recriminação sua
tia.
— Nada, só que hoje começará o calvário de Clark. Se vier
com intenções de me cortejar, deixará tia, por favor.
— Ele fará barbaridades se eu me negar.
— Obrigada, tia, guarde as fitas de seda para mim, vou
indo, meu amado Clark me espera ― disse sarcástica
caminhando para o jardim.
Chegou ao jardim onde ele a estava esperando com seu
chapéu na mão.
— Desculpe a demora ― se desculpou alcançando-o.
— Não se preocupe ― declarou Clark e lhe ofereceu o
braço que ela tomou com gosto.
Enquanto caminhavam de braços dados, só olhando o
imenso e belo jardim, Clark decidiu acabar com o agradável e
tranquilo silêncio.
— Sua tia é uma pessoa muito agradável.
— É excepcional, e muito moderna, tem em conta todos
os meus desejos.
— Pude notar, deixa-a escolher seus pretendentes.
— Ela só quer o melhor para mim.
Uns minutos depois Brandon se apresentou na casa de
Emma.
O mordomo o deixou entrar rapidamente.
— Bom dia, milady, vim ver lady Charlotte ― sustentou
Brandon.
— Bom dia, senhoria, ela se encontra falando com o
conde de Dudley, no jardim ― comunicou lady Linette.
— Vou então, lamentarei interromper aquela visita-
manifestou sem realmente pensar em lamentar.
— Acredito que essa rosa vermelha causará o efeito que
deseja.
— Esperemos que assim seja.
Brandon caminhou pelo vibrante jardim, onde não lhe
agradou o que viu. Clark a levava pelo braço enquanto ela
parecia divertida.
— Clark, voltamos a nos ver, ― saudou sarcástico –
milady, ― se aproximou para lhe dar a rosa vermelha ― é para
você.
— Uma rosa vermelha? ― Questionou surpreendida
levando-lhe ao nariz. — Por que vermelha e não branca?
— Estas simbolizam a paixão, milady ― manifestou
observando-a profundamente.
— Granby, o que faz você aqui? ― Repreendeu Clark
visivelmente aborrecido pela interrupção.
— Vim a quão mesmo você, cortejar lady Charlotte-
esclareceu com cinismo.
— Ela não necessita de mais pretendentes ― declarou
disposto a enfrentar Brandon.
— Melhor deixar que ela diga, acredito que ela gosta de
mim ― alegou Brandon com seu sorriso angélico.
— Que falácias diz! ― Exclamou indignado. — Faz
deliberadamente, teme que ela também me prefira como fez
Emma.
Aquela afirmação não fez mais que aumentar a ira de
Brandon, estava a um passado do fervor.
— É melhor que parta Clark, desta vez não o respeitarei.
Na vez anterior o fiz porque havia um compromisso no meio e
ela me pediu que o respeitasse.
— Você e sua patética rosa estão demais neste lugar, vá
embora aqui.
— Não o farei, já pedi a permissão para cortejá-la e sabe o
que? Também me concederam isso, temos as mesmas
oportunidades ― declarou Brandon quase elevando-se com a
vitória.
— Charlotte, este cavalheiro ― mencionou cuspindo as
palavras ― só quer importunar com sua presença, é só um
ressentido.
— Cavalheiros, por favor, sejamos pormenorizados uns
com outros, devo conhecer ambos ― disse Emma com doçura
para acalmar os esquentados ânimos de seus pretendentes.
— Pois eu não permitirei! ― Grunhiu Clark arrebatando a
rosa vermelha da mão de Charlotte, permitindo que um
espinho se inserisse em seu dedo.
Ela gemeu de dor.
— É uma besta, Clark! ― Acusou-o Brandon pegando as
mãos de Emma.
— Charlotte, me perdoe ― pediu arrependido.
— Lorde Mottengarden, pelo resto do dia não desejo vê-lo,
retire-se, por favor ― pediu sem olhá-lo.
— Mas...
— Já! Vá embora! ― Ordenou, enfurecido, Brandon.
Clark jogou a rosa ao chão e a pisou.
— Clark! ― Gritou Charlotte. — Melhor que não apareça
em dois dias.
— Maldição, mas...
— Vá embora ― o expulsou novamente, Brandon.
«Maldito seja o marquês de Granby» pensou Clark. Era um
intrometido, mas não se deixaria amedrontar por ele, jogaria
também o jogo. Entretanto, nesse instante, devia comportar-se
bem para recuperar a atenção de Charlotte e já estava
pensando em como o faria.
— Dói-lhe? ― Consultou Brandon esfregando sua mão.
— Um pouco ― confessou sentindo o ardor do espinho.
— Vejamos, ― disse Brandon tirando a luva de Charlotte
― ainda não se colocou por completo, ― falou referindo-se ao
espinho ― o tirarei.
— Por que não me trouxe uma rosa branca? ― Inquiriu
curiosa antes que ele procedesse com seu dedo.
— Porque essas são para a Emma, ela era pura e
inocente.
— Por que me trouxe a vermelha?
— Porque você é capaz de despertar todo tipo de paixões
nos cavalheiros, já vê como faz com o Clark ― manifestou
olhando mais de perto seu dedo para lhe tirar o espinho.
— Você foi muito impetuoso, ele se portou muito mal,
sinto-o tanto.
— Não se preocupe, agora lhe tirarei o espinho-informou
enquanto puxava de repente.
— Sangra… ― manifestou ela. Tomou o dedo e o dirigiu à
sua boca.
— Asseguro-lhe que isso não a curará ― arguiu Brandon
entre risadas.
— Então o que fará?
— Isto ― indicou Brandon agarrando o dedo dela para
levar-lhe à boca.
— Brandon… ― murmurou com os olhos fechados e
mordendo os lábios.
Depois de observá-la chegou à conclusão de que era
extremamente virgem.
Ele tirou o dedo de sua boca e deu um beijo na ferida.
— Logo curará ― expressou sorrindo.
— O que faz Brandon? Primeiro me rejeita e logo me
prova.
— Vale tudo pela informação que tiver da Emma ― se
justificou com frieza.
— Está certo ― o secundou.
Ela se decepcionou. Era bela e ele não era capaz de fixar-
se nisso. Que demônio ocorria a esse homem?
Capítulo 24

— Me diga o que sabe dela? ― Perguntou Brandon,


acreditando ter cumprido com o que lhe correspondia.
— Não tão rápido ― declarou Emma.
— O que? Estou cumprindo o trato.
— Sim, é verdade. Entretanto, eu desejo mais de você.
— Você não cumpre sua palavra ― a acusou com rapidez.
— Você sabe que estou interessada em algo mais-
explicou.
— No que? ― Repreendeu com fogo quase saindo pelo
nariz.
— Disseram-me que você era um libertino e um excelente
amante- sorriu olhando-o dos pés à cabeça.
Ele negou com a cabeça, fez com que sua língua
percorresse seus lábios, elevou uma sobrancelha e riu baixo.
— O que insinua?
Ela podia notar que odiava a chantagem que lhe estava
fazendo, mas era resistente em desfrutar de sua companhia.
— Desejo que me mostre os prazeres que se podem obter,
já sabe... ― insinuou com o olhar encurvado pela vergonha de
mencionar aqueles atos.
Brandon estava perplexo, essa menina virgem lhe pedia
para ser sua amante? Devem tê-la golpeado com algo na
cabeça ao nascer, ele devia estar interpretando mal devido ao
seu pensamento pervertido.
— Desculpe, mas definitivamente estou desconcertado.
— Não se faça o parvo ― resmungou.
— Pois bem, contratarei detetives para achar Emma, você
quer me afundar, me seduzir, quem sabe o que deve estar
passando por essa cabeça.
— Só quero conhecê-lo melhor, não seja cruel.
— Fale então com o Clark, ele poderá ensinar-lhe como
você preferir, eu vou embora ― declarou Brandon lhe dando as
costas.
— Não, não quero que ele o faça, quero você, -esclareceu
― é quem acende o fogo em meu ser, sempre.
— Sempre?
— No dia da festa dos duques de St. Albans terei algo
para você, assegure-se de ir ― pediu Emma.
— Mas...
— Também tenho segredos, Brandon.
— Por que tem que complicar tudo? ― Questionou
confuso.
— Porque tenho um propósito, e devo cumpri-lo. Você não
estava em meus planos, para ser sincera, mas agora já está
neles.
— Charlotte só quero saber da Emma. Entre nós só pode
haver um objetivo comum e é contar uma boa patranha ao
Clark, não mais que isso, não queria me envolver com você e
terminar...
— Apaixonado por mim e esquecendo a Emma? Acredite-
me, é o melhor que poderia fazer.
— Basta, não faz mais que me torturar, pensa que
entende este jogo, mas não é assim.
— Quem melhor entende este jogo sou eu. Está em
minhas mãos e, queira ou não, está nele ― declarou
respirando rapidamente, aproximando-se lentamente e
olhando-o aos olhos. — O que vê em meus olhos?
— Vejo uma mulher boa, apanhada em um corpo
formoso, mas o qual usará para seus fins.
— Bem, é assim, ― revelou ― as aparências importam, se
não se está à altura simplesmente te desprezam, nem sequer
voltam a ver-te, como aconteceu com Emma.
— Emma era formosa, eu a vi antes que se largasse,
mesmo assim conseguiu me conquistar sem que eu me desse
conta e sem que ela também notasse, tinha graça, era única -
manifestou com profundo afeto.
Ela sentia vontade de abraçá-lo por sempre ter visto seu
interior. Foi uma parva ao acreditar que um compromisso
arranjado lhe asseguraria a felicidade sendo feia, tendo àquele
homem declarando-se a ela, dia e noite, sofrendo por seu
afeto.
— Só você a enxergou pelo que ela desejava que se
fixassem, era romântica e sonhava com o amor…
Emma não podia suportar, começou a chorar.
— Não chore, por favor, não posso ver uma dama chorar.
— Ela jogou tudo ao vento por não acreditar em você.
— Como sabe de tudo isto?
— Foi uma estúpida, se pudesse retroceder o tempo faria.
— Lhe diga para voltar, e que eu ainda a espero…
Negou com a cabeça ao escutar aquelas mornas palavras
que esquentavam seu coração com esperança e
encorajamento.
— Ela não quer retornar, só quer vingança ― contou
Emma, abaixando-se para recolher a maltratada rosa do chão.
— Deixe-a, já não serve mais...
— Não, é a primeira rosa que me dá sendo quem sou,
guardarei em meu livro favorito.
Ela se afastou lentamente para voltar para a casa.
— Espere, ― disse Brandon aproximando-se – nos vemos
depois, milady ― se despediu lhe beijando as mãos.
— Até logo, Brandon.

***

Clark tinha chegado furioso em sua casa, chutando tudo


o que estivesse ao seu passo.
— O que te acontece, filho? Suponho que algo não saiu
bem ― opinou sua mãe vendo-o chegar jogando fumaça.
— Tudo estava bem até que aquele maldito apareceu! Eu
disse mãe, esse homem quer me incomodar, e está
conseguindo.
— Sente-se e me conte.
— Ele chegou quando eu estava com ela em seu jardim,
entrou como se nada estivesse acontecendo e lhe deu uma
rosa, em minha cara… ― contou recordando com coragem
aquela cena.
— E o que você fez?
— Comportei-me como um homem das cavernas,
arrebatei a rosa de Charlotte, atirei-a ao chão e a pisei. O
resultado do meu proceder é que não quer ver-me nem
pintado.
— Essas não são maneiras de um cavalheiro, deve se
acostumar com a concorrência.
— Não competirei com ele, ela será minha.
— Não falei de competição limpa, na guerra e no amor
vale tudo ― aconselhou sua mãe.
— Lhe ocorreu algo?
— Compre-a...
Clark parecia não compreender.
— Com cuidados e presentes, as mulheres são
impressionáveis e você com esse comportamento de primata
mandou ao inferno seus avanços.
— O que me sugere?
— Rosas, joias, passeios, vestidos ― citava sua mãe
incansavelmente.
— Mãe, você é diabólica.
— O diabo é mulher, meu filho...
— Tome um beijo, mãe, o merece, ― mencionou antes de
dirigir-se à porta ― eu vou cumprir essa tarefa.
Ele foi a uma joalheria e lhe comprou um colar que fazia
jogo com uns brincos de rubis, muito valiosos. Passou depois
pela floricultura e comprou o maior arranjo.
— Envie isto à Mayfair ― disse referindo-se ao arranjo e
as joias, com uma pequena missiva.
Horas depois de seu ocupado dia retornou à sua casa
para esperar uma resposta.
***

De noite tocaram à porta e deixaram o arranjo e os


presentes.
— Quem era Jules? ― Perguntou lady Linette.
— Um mensageiro, trouxe aquele arranjo e esta caixa, são
para lady Charlotte.
— Chame-a então e vejamos quem as enviou.
— Sim, milady ― obedeceu a criada.
Logo depois de ser informada Emma desceu rapidamente
as escadas.
— São para mim? ― Bisbilhotou emocionada.
Viu um lindo adorno de rosas vermelhas e um estojo.
— Examina-os, ― dizia ansiosa sua tia ― quero saber
quem lhe mandou isso.
— De quem serão?
— Acredito que são do conde de Dudley ― opinou sua
criada.
— Aquele orangotango ― recordou com desprezo.
— Abre a nota e sairemos das dúvidas ― assessorou sua
tia.
Emma abriu a carta e começou a ler em voz alta.

Querida lady Charlotte,


Sinto por meu comportamento pouco cavalheiresco, não
devia ter me comportado daquela forma tão selvagem, cegaram-
me os ciúmes e a insegurança de que você pudesse estar
interessada no marquês de Granby.
Eu lhe ofereço o céu e as estrelas, Charlotte, ofereço-lhe o
firmamento completo, você tem meu coração em suas mãos.
Apesar do pouco tempo que a conheço, estou seguro de que é a
mulher ideal para mim.
Por favor, aceite estas pequenas amostras de meu afeto
por você.
Seu
Clark Mottengarden, conde de Dudley

Emma se acelerou para abrir o estojo e ver suas amostras


de afeto.
O que viu a deixou branca.
— Por Deus, tia ― expressou boquiaberta.
— Oh, por Deus…
— São rubis, isto deve valer uma fortuna.
— Este jovem está perdidamente apaixonado por você,
Emma.
— De Charlotte, teve Emma, mas a rejeitou ― corrigiu
com voz fria.
— Mas...
— Formosos rubis. Isto me deu uma nova ideia para
chateá-lo.
— O que quer dizer?
— Chamarei Mote e irá à casa do conde. O pobre vai ser
recompensado e perdoado ― contou melosa e maliciosa.
— O que trama?
— Nada tia, só o iludirei, quanto mais alto o voo, mais
dolorosa se faz a queda.
O lacaio saiu da casa de Emma e foi até a mansão do
conde para lhe deixar um recado dela.
— Milorde, este lacaio veio procurá-lo por parte de lady
Charlotte.
— O que? Vem, vem rápido! ― Chamou-o.
— Tome, milorde ― disse Mote lhe entregando a resposta.

Estimado lorde Mottengarden,


Estou profundamente comovida por sua preocupação em
meus interesses, seus presentes tiveram o efeito desejado. Fica
você desculpado pela briga da tarde, embora ainda me doa o
lugar onde se incrustou o espinho.
Espero-o amanhã com sua mãe para tomar o chá da tarde.
Sua.
Lady Charlotte Mcbean

— Você espera uma resposta?


— Sim, milorde.
— Lhe diga que estarei lá amanhã.
— O direi, retiro-me ― se despediu o lacaio.
Clark não podia conter a alegria que sentia, logo faria o
marquês de Granby comer o pó da derrota.
— Mãe! ― Gritou Clark.
— Já sei, sua mãe é muito sabia, não é?
— Você é o diabo, solucionou-me a vida. Prepare-se,
amanhã temos o chá na casa de Charlotte.
— Por fim irei conhecê-la, não duvide que te darei minha
opinião sobre ela.
***

Brandon se dirigia à sua casa depois de cumprir com o


que seu pai lhe pedira.
Lentamente lhe estava passando os títulos que estavam
anexados ao ducado, como era atualmente, assim como ia
responsabilizando-o pelo ducado de Rutland, o que era
bastante pesado.
Bradley também estava na mesma e o dele era até pior,
tinha mais propriedades em outros países que só na
Inglaterra, logo devia viajar para ver o estado de todas elas.
Ia refletindo quando viu Arthur e a sua mãe, mas eles não
o viram. Estavam falando e ele ficou perto para escutar.
— Emma me preocupa, está correndo um risco muito
grande ― comentou lady Mabel.
— Jogar assim com Clark, e de passagem também com
Brandon. Mãe temo por ela, não quero que se meta em mais
problemas, isto lhe pode sair das mãos. O que dirá Brandon
quando souber que ela está em Londres, mais perto e mudada
do que pensava?
— Será terrível, não acredito que reaja muito bem, sofreu
muito.
— De fato não o fará, quero lhe dizer, mas Emma me
mataria.
— Pois deixemos que descubra sozinho, tem a verdade em
seu nariz.
«A verdade em seu nariz?», questionou-se Brandon.
Afastou-se dos Mcbean e foi para outro lugar, onde uma
risada nervosa se apoderou dele. Tinha sido um bruto todo
aquele tempo, não existiu nenhuma Charlotte, e sim lady
Emma Charlotte Mcbean de Lancaster.
Não havia nada melhor que lhe seguir o jogo, descobri-la
e se casar com ela. Clark seria um homem morto se tentasse
interpor-se uma vez mais ante sua felicidade com Emma.
Desta vez ele sairia triunfante.
Capítulo 25

Quanto mais Brandon pensava, mais se dava conta de


que Emma tinha mudado. Não só sacou sua beleza, mas sim
também as unhas. Não era sua Emma, aquela menina doce e
inocente.
Esta era uma mulher decidida, com sede de sangue, não
lhe importava o dano que fizesse aos outros. Devia evitar que
ela mesma se machucasse no processo de sua vingança. Que
estratégia usaria? Converter-se-ia em seu amante? Não. Ela
seria sua esposa. Não a degradaria a ser uma qualquer.
Em virtude daquele jogo, do qual se gabava de ser uma
perita, sua única ação seria seguir obedientemente seus
dementes intuitos. Entretanto, tiraria benefícios e logo viriam
as reclamações.
— Vejo-te feliz hoje, filho ― comentou Darline ao ver como
sorria incansavelmente o mais velho de seus filhos.
— Estou mãe ― aceitou.
— Me conte.
— É um segredo.
— Você, pequeno demônio, não tem segredos com sua
mãe.
— Este sim.
— Foram nove meses, Brandon, e assim me paga? Com
tanta ingratidão?
— Não esquece as horas de trabalho de parto também
mãe?
— Também retornou o seu senso de humor, é igual ao
seu pai. Você e Bradley são idênticos a ele quando era jovem,
salvo os olhos. Alegra-me ver-te de volta.
— Também me alegra estar de volta, mãe.
Brandon tinha um sorriso estampado na cara. Seu
sofrimento tinha cessado, estava decidido a obedecer e a
conquistar Emma, ou melhor dizendo, Charlotte.

***

Pela manhã, uma nota acompanhada por uma rosa


vermelha foi enviada à residência de lady Kirkwall com a
seguinte mensagem:

Serei seu escravo.


M. Granby

Aquela nota fez com que Emma se estremecesse.


— De novo uma rosa? Será do conde? ― Questionou
Celia.
— Não. É do Brandon, mas não entendo o significado
disto ― anunciou verdadeiramente confusa.
O que teria feito mudar de opinião alguém tão reticente
em ajudá-la?
Desconcertada, subiu para preparar-se para a chegada de
Clark e de sua mãe que viriam para o chá da tarde.
Colocou-se um vestido salmão com fitas de seda
vermelhas. Um vestido bastante adequado para apresentar-se
ante sua «suposta» sogra, ao olhar-se ao espelho Emma
pronunciou:
— De modo algum a condessa viúva me reconhecerá, aqui
não fica nada da Emma anterior.
O conde chegou acompanhado de sua mãe,
apresentaram-se e passaram à sala do chá.
A condessa a observava sem perder detalhe nenhum dela.
Tinha um mau pressentimento sobre aquela menina.
— E me diga lady Charlotte, ― pediu a condessa ― que
relação tem com os Mcbean?
— Eles são parentes próximos ― respondeu sorvendo seu
chá.
— Conheço os Mcbean desde sempre e nunca ouvi falar
de você, apesar de parecer-se com Arthur e Emma ― insinuou
acusatória, colocando sua xícara de chá na mesinha.
Emma não queria pensar que a condessa, com vista de
águia, iria delatá-la. Ela ia replicar, mas Clark se adiantou.
— Mãe, não a incomode lembrando-se do passado. Emma
é passado, deixe de voltar ao assunto.
— Clark, não se preocupe. Compreendo perfeitamente os
medos de sua mãe ― expressou Emma observando a condessa
com um condescendente sorriso.
— Desculpe minha rabugice, lady Charlotte ― se
desculpou com falsa modéstia a mãe de Clark.
— Não se desculpe, é normal sentir curiosidade sobre a
origem das pessoas que se relacionam com seu filho.
Depois daquele momento a tarde continuou agradável.
Clark e sua mãe se retiraram e Emma saiu ao jardim para
limpar a mente levando um livro que, dentro, tinha a rosa
vermelha que o condenado do Clark tinha pisoteado.
Encontrava-se absorta em sua leitura quando escutou
ruídos na roseira.
— Quem está aí?! ― Repreendeu assustada.
— Brandon ― mencionou mostrando a cabeça.
— Brandon? Saia, o que está fazendo aí? Acaso estava me
espiando?
— Poderia me ajudar? Sabe o difícil que é estar aqui
quase toda a tarde esperando que o idiota do Clark e sua mãe
se fossem? Tenho espinhos até nas nádegas ― comentou
tirando os espinhos e folhas da roupa.
— O merece, quem o manda vir quando não deve? –
repreendeu-o voltando a vista ao seu livro, ignorando a
presença do intruso.
— Devo pedir permissão para ver quem estou cortejando?
— Pensei que para você era só uma forma de obter
informação sobre Emma.
— Pensei melhor e quero outras coisas além de só
informação ― afirmou Brandon.
— Recebi sua nota hoje, o que você quer dizer com o que
escreveu?
— Que farei o que me pedir, tudo, até lhe ensinar os
prazeres da vida, minha bela lady ― reverenciou com uma
maliciosa expressão no rosto.
Emma estava com o coração pulsando tão rápido que
sairia do peito.
— Mas… ― continuou Brandon.
— Lá vamos ― se queixou ― mas o que?
— Com uma condição.
— Mais informação? ― Perguntou rodando os olhos.
— Não...
— Então?
— Se chegar a deflorá-la, se casará comigo ― citou
deixando a dama sem palavras.
Ela ficou boquiaberta, como pôde dizer tal coisa?
— Além disso… ― voltou Brandon a tomar a palavra.
— Há mais?! ― Alterou-se.
— Claro. A última e mais importante condição é deixar a
vingança do Clark.
— Isso não é negociável, senhoria. De nenhum ponto de
vista, ele deve pagar.
— Deixe isso para lá, não é sua luta, é de Emma. Que ela
venha encarregar-se de seus assuntos.
— Mas ela me pediu isso e eu quero fazer! ― Defendeu-se.
— Como quiser, só que se chegar a deitar-se comigo já
não poderá seguir com sua vingança, posso assegurar-
ameaçou com severidade.
— Isso não é justo ― reclamou sentindo-se frustrada.
Passar de ser caçador a converter-se na presa era
completamente humilhante.
— É. Não sabe onde está se colocando. O conde pode ser
perigoso quando se sentir ameaçado.
— Pensarei – sentenciou. — Quando começa a me
mostrar esses prazeres? ― Perguntou pegando Brandon pela
cintura e aproximando-o dela.
Ele deu um pulo e sorriu, safado.
Ele começava a gostar da nova Emma, mas ela merecia
uma surra e ele se encarregaria de dar-lhe na festa dos St.
Albans.
— Na festa me dirá algumas coisas, recorda?
— Mas faltam três dias ― lhe recordou fazendo uma
careta.
— Pois se estiver muito ansiosa, verei-a amanhã de noite.
— Estarei esperando-o ― sorriu mordendo os lábios com
ansiedade.
Brandon baixou seus lábios até os seus lhe dando
pequenos beijos e lambendo seus lábios, fazendo com que sua
ansiedade aumentasse, esperando por mais sensações.
Lentamente ele se foi retirando, deixando-a com os lábios
vermelhos e os olhos fechados, ainda sentindo a sensação de
ser beijada pelo homem que amava.

***

Clark chegou a casa com sua mãe e começaram as


reclamações por seu impertinente comportamento em frente a
sua apreciada Charlotte.
— Mãe, você foi um chateio. Como lhe ocorreu mencionar
Emma? Acaso enlouqueceu?
— Essa mulher é uma descarada, como vai querer estar
contigo depois do que fez à sua prima?
— O amor, possivelmente? ― Replicou.
— Essa fulana descarada não te ama, não trama nada
bom para você ― advertiu.
— Mãe, tenho-o decidido, tem-me louco, vou pedir sua
mão amanhã ― informou Clark à sua mãe.
— Sobre o meu cadáver, eu não gosto dessa mulher.
— É a mim a quem a dama deve agradar não a você.
— Não sabe o que faz, sua beleza não te deixa ver o
evidente.
— O que é evidente?
— Que ela não é nenhuma prima, é Emma, mas muito
má ― descobriu sua mãe, esperançada por conseguir que seu
filho repensasse.
— Que disparate diz mãe! Definitivamente, o chá tinha
algo que a alterou.
— Me escute, filho, eu conheci Emma quando era
pequena, e essa mulher é ela.
— Emma era horrível, mãe. Não pode as comparar, são
água e azeite, ― explicou Clark ― não sei porque discuto com
você, não nos levará a nenhum lugar, a idade a afeta, mãe.
— Você que é teimoso, se retire, filho ― ordenou sua mãe.
A condessa viúva não podia permitir que aquela mulher
se vingasse de seu filho, embora ele merecesse.
Devia conseguir atrasar o mais possível aquele ridículo
pedido de matrimônio por parte de Clark, até ter tempo
suficiente para pensar em como liberá-lo de seu destino.
Se não terminasse com o coração quebrado, o faria com
uma bala no corpo que lhe daria o marquês de Granby. Não
queria nem pensar, era seu único filho, devia fazer algo. Nesse
mesmo instante saiu.
Pegou sua pequena bolsa e saiu rumo à residência do
melhor amigo de Clark, Dylan Warren.
— Milady? ― Perguntou surpreso Dylan ao ver a mãe de
Clark em sua sala.
— Vim porque devemos salvar meu filho.
— Salvá-lo do que?
— De Emma e de si mesmo.
— Lady Emma? ― Inquiriu confuso, pois o único que
sabia dela era que tinha desaparecido.
— Sim, Charlotte é Emma, e ele não quer ver ― informou
colocando suas mãos no peito de Dylan.
— Eu suspeitava, mas não estava seguro.
— Ele não quer ver, e agora está teimando em pedir sua
mão, deve evitá-lo.
— Evitá-lo? Como eu faria isso?
— Leve-lhe a algum lugar, Dylan, não me importa onde,
me dê tempo para conseguir desmascará-la antes que isto
termine mal, faça pelo carinho que lhe tem.
— Mas…
— Vá a nossa casa cedo, lhe diga que o administrador
disse que algo anda mal em algumas terras e leve-o. Dê-me
dois dias, é tempo suficiente.
— Quando pensa pedi-la em matrimônio?
— Amanhã.
Dylan negou com a cabeça e riu.
— Impossível, não irá comigo a nenhum lugar.
— Então um acidente, qualquer coisa ― pensou a
condessa em voz alta ― já sei...
— O que lhe ocorreu?
— Vão cavalgar e eu me encarrego do resto.
— Bem, mas que não seja perigoso.
— Não seja insolente. Não poria meu filho em risco, o que
quero é salvá-lo de uma morte segura. Uma ferida seria o
menor de seus maus.
Capítulo 26

De manhã bem cedo Dylan apareceu na mansão do conde


de Dudley. Tinha que cumprir com seu encargo do dia e os
nervos o consumiam.
Ele tinha contratado um menino para que assustasse o
cavalo do conde, no máximo ficaria em cama um ou dois dias
conforme calcularam ele e a condessa.
— Bom dia! ― Saudou Dylan, incomodando Clark, que
ainda estava atirado na cama. — Vamos que hoje
perseguiremos o amanhecer, meu amigo.
— Que merda?! ― Exclamou estranhando. — Mas ainda é
noite!
— Não meu bom amigo, são seis da manhã ― esclareceu
Dylan abrindo as cortinas.
— Maldita seja a hora em que te conheci! ― Grunhiu
tampando a cabeça completa.
— Quieto, meu amigo, que me beijou o traseiro mais
vezes que ninguém pelos favores que te fiz.
— Deus, sempre me recordando minhas estúpidas
palavras. Enfim, vamos perseguir a madrugada. É melhor se
começarmos rápido, assim logo vou à casa de Charlotte.
— Por que tanta pressa?
— Vou pedir-lhe que se case comigo antes que o
desgraçado do Granby siga interferindo em meus planos-
manifestou levantando-se e bocejando. — Vamos lá, mãos à
obra, então.
Clark se asseou e colocou um traje de montar que lhe
ficava como anel ao dedo, ressaltando sua magra e elegante
figura.
Foram até as cavalariças e ambos partiram rumo ao
parque. Estava completamente deserto, podiam até jogar umas
corridas e ninguém notaria.
— Vê como é melhor vir cedo? – Assegurou-lhe, nervoso,
Dylan olhando aos arredores.
— O que tem nas mãos? Nunca aparece tão cedo para
cavalgar ― suspeitou Clark.
— É que eu não conseguia dormir.
— Isso não significa que eu tivesse o mesmo problema de
sono que você, entende, não é?
— Claro, mas não de amargure.
— Não me amarguro só me zango, ainda tenho sono e
queria estar na cama.
Dylan ia vários passos atrás, bem seguro às rédeas de seu
cavalo, quando um menino apareceu e deixou um
camundongo em frente ao cavalo do conde.
O garanhão, assustado, colocou-se em duas patas e
lançou Clark ao chão, o que ocasionou que golpeasse a cabeça
e torcesse o tornozelo, que estava preso na sela.
— Clark! ― Gritou Dylan descendo apressado de seu
cavalo.
Liberou o pé de seu amigo, que estava inconsciente,
questionando-se por que tinha dado atenção à mãe de Clark.
Levou-o para que o atendessem.
Já recuperando a consciência, Clark, perguntou:
— Onde estou?
Escutou uma voz feminina que lhe era muito familiar.
— Está na enfermaria, querido.
— Marie?
— Sim, somos companheiros de quarto.
— Mas… o que me aconteceu?
— O cavalo te derrubou ― respondeu com simplicidade.
— E Dylan?
— Foi buscar sua mãe, está sozinho comigo ― sorriu
maliciosa.
— Vou embora ― declarou tentando levantar-se, mas não
pôde, caiu ao chão pela agônica dor de cabeça.
— Não pode ir, acredito que quebrou a cabeça e tem o pé
torcido.
— Maldição! ― Resmungou do chão, cheio de frustração
por suas dores.
— Você não está ansioso pela minha companhia? ―
Perguntou cínica, e de certa forma triste, pois sempre
guardava esperanças de que Clark a amasse.
— Na verdade não, o que você faz aqui?
— Perdi o bebê que esperava porque uma carruagem me
atropelou.
— Como se sente?
— Perfeitamente bem, podemos retomar nossa relação, se
o desejar ― insinuou.
— Obrigado, mas não estou interessado, hoje pensava em
pedir em matrimônio lady Charlotte.
— Escutei que em Londres só falam dela e de sua beleza –
comentou em tom depreciativo.
— É mais que isso, estou apaixonado ― lhe confessou,
fazendo com que Marie se afastasse.
— Que tenha sorte, a concorrência é forte ― afirmou.
— O que diz?
— O marquês de Granby está atrás dela, viram eles
juntos e muito…
— É uma mentirosa e invejosa.
— E você está cego, se vê em sua cara ― zombou de sua
cama.
— Diz estupidezes! ― Grunhiu.
— Boa tarde, ― o doutor saudou ambos ― lady Marie, sua
carruagem a espera. Recorde, repouso absoluto.
— Sim, doutor ― aceitou com um sorriso.
— E você, milorde, está bem para ir à sua casa, só que
não deverá mover-se muito.
— O que? Mas se...
— Nada, milorde, vai guardar cama por uns dias, sem
sair de sua casa. Sua mãe e o Senhor Warren o levarão.
Clark amaldiçoava em seu interior a penosa sorte que
pesava sobre ele; perderia até o baile dos duques de St.
Albans, não poderia falar com Charlotte naquele estado.
— Está bem... ― aceitou impotente, olhando o sorriso
zombador de lady Marie.
Uma vez instalado em sua casa, chamou um lacaio,
entregou-lhe uma nota e o despachou.
***
Emma se encontrava tocando o piano em casa de sua tia
quando o mordomo se aproximou com uma nota.
— Para você, milady ― indicou.
— Quem a trouxe?
— Um lacaio do conde de Dudley.
— Oh, obrigado.

Querida Charlotte,
Só queria que soubesse que se não fui vê-la foi porque tive
um acidente com o cavalo, golpeei-me a cabeça e tenho o pé
torcido. Não poderei acompanhá-la ao baile de St. Albans, em
três dias estarei bem e irei visita-la.
Seu
Clark

— Oh, que pena! Pobre conde! ― Zombava enrugando a


nota. — Terei mais tempo livre para perseguir Brandon-
sentenciou emocionada.
— Milady, você está radiante ― disse Celia.
— Sim. Clark não me incomodará por três dias, vem,
vamos acima e me ajude a ver que roupas tenho para pôr
amanhã à noite.
— Amanhã?
— Sim. Brandon virá ver-me, estou ansiosa por saber o
que desatou sua mudança de atitude comigo ― contou
enquanto subia até a habitação.
— Acredita que a reconheceu?
— Não acredito. Como poderia?
— É verdade, olhe milady, este vestido verde… ― mostrou
sua criada.

***

Brandon já estava seguindo seu próprio plano, seduziria


Emma e a obrigaria a deixar suas maléficas intenções. Não
seria fácil, mas já tinha dado o primeiro passo: jogar o jogo
que ela acreditava que estava levando à perfeição por ter
vantagem sobre os outros. Só tinha sobre o Clark, não sobre
ele.
— No que pensa? ― Consultou seu irmão Bradley
enquanto estava realizando alguns escritos.
— Em Emma ― respondeu sem rodeios.
— Quando não… ― disse fazendo caretas.
— Sei onde está e a converterei em minha esposa.
Seu irmão deixou o que estava fazendo e se acomodou
para lhe prestar atenção.
— Isso sim me interessa, como a achou?
— Por sua falsa prima.
— Falsa? Não me diga que ela é...
— Ela é Emma ― esclareceu ante o incrédulo olhar de seu
gêmeo.
— Ninguém a reconheceria, de fato, eu não a reconheci.
— Disse-te sobre sua beleza.
— Só você via isto, porque eu não via nada.
— Alegra-me de ter sido só eu, quão único tenho que
fazer é obter que se case comigo.
— Deve tirar o conde de seu caminho, primeiro.
— Ele já é história para mim, não será um problema, já
tenho tudo forjado ― anunciou brincalhão.
— Tem um sorriso malicioso...
— Minha ideia é maliciosa. Emma provará uma colher de
seu próprio remédio.

***

Uma inesperada visita chegou à casa de Emma.


— Bom dia, milady. No que posso ajudá-la? ― Perguntou
o mordomo.
A mãe de Clark entrou passando ao lado do mordomo.
— Exijo ver lady Charlotte ― ordenou ao homem.
— Um momento, milady ― pediu, e retornou depois de
uns segundos com Emma.
— Condessa, que prazer vê-la ― manifestou Emma
sorrindo.
— Diria o mesmo se não soubesse de suas intenções ― a
acusou sem preâmbulos.
— A que se refere? ― Questionou com inocência fingida.
— Basta de jogos, Emma!
— O que disse? Não sei do que…
— Não seja hipócrita, Emma, eu te reconheci! Sabe por
que? Porque te conheci quando menina, e é idêntica, conheço
sua família desde sempre.
— Não sei do que me fala milady ― continuou fazendo-se
de desentendida, tentando despistar a condessa.
— Sei o que pretende fazer, e não permitirei, não
machucará meu filho.
Emma riu sabendo-se descoberta.
— Como ele me machucou no passado, não é assim? –
Corrigiu. — Voltei aqui para me vingar de seu filho, e de você,
que foi sua cúmplice.
— Nunca participei desse engano, não estive de acordo.
— Mas o permitiu por amor ao seu filho! ― Acusou-a
veemente. — Não tem ideia de como me humilhou, e você vem
me exigir que não o faça sofrer.
— Peço-lhe isso, por favor, Emma.
— Não, ele pagará pelo que me fez, o destroçarei! ―
Resmungou em tom áspero.
— Emma, por favor, pensa! O que ganha ferindo-o? Isso
não te devolverá nada ― afirmou a condessa tentando
persuadi-la.
— Será simplesmente satisfatório. Afastou-me de
Brandon, que me amava pelo que eu era. E eu, pensando em
não trair Clark, quando ele estava me apunhalando pelas
costas. Não merece minha compaixão!
— Sabe as circunstâncias!
— Meu irmão é culpado por querer assegurar minha
felicidade dessa maneira, mas a maneira que seu filho me
tratou não tem nome, fez sem compaixão e eu também serei
implacável. Não merecia seu desprezo.
— O que pretende!?
— Apaixoná-lo para expulsá-lo, partir seu coração em
pequenos e irreparáveis pedaços. E pense, sou mais generosa
que meu irmão, ele só quer matá-lo.
— Direi ao meu filho sobre seu plano, Emma.
— Diga-lhe, ele não lhe acreditará, está perdidamente
apaixonado por minha beleza, é meu fantoche.
— É má.
— Sou justa. Vá e diga ao seu filho que sou Emma, não
lhe acreditará e a odiará, vou plantar ideias em sua cabeça
sobre você, milady.
— Não seria capaz.
— Sou, inventarei mentiras se tentar meter-se entre seu
filho e eu. É melhor guardar forças para levar seu filho
humilhado de Londres.
— Por que, Emma?
Ela, com uma gargalhada histérica, e as lágrimas
banhando seu rosto respondeu:
— Por quê? Por quê? Até a pergunta ofende milady, ia
entregar tudo a ele, meus sonhos, minha esperança e meu
amor, mas recebi rejeições e humilhações. Vá embora e não
volte!
— Isto não ficará assim ― ameaçou a condessa, retirando-
se rapidamente da casa.
Capítulo 27

Uma pessoa já a tinha reconhecido, a questão estava se


complicando rapidamente. Devia conseguir a sedução
completa de Clark o mais breve possível, sua mãe estava se
pondo muito perigosa.
— Celia! ― Chamou a sua criada com presteza.
— Diga, milady.
— Me traga papel e pluma.
— Sim, milady ― obedeceu veloz.
Ao ter o pedido em suas mãos começou a redigir um
pequeno bilhete para Clark. Tempo depois o deu a um lacaio
com a ordem expressa de entregá-lo ao conde em sua própria
mão.
Na mansão de Clark, um mordomo abre a porta ao lacaio.
— Diga ― solicitou o homem.
— Trago uma mensagem para o conde ― mencionou o
criado.
— Dê-me que o entregarei.
— Tenho ordens de que se receba pessoalmente.
— O conde está repousando ― desculpou o mordomo.
— Com quem fala tanto? ― Perguntou a condessa.
— Com este jovem, milady, traz uma mensagem para o
conde e não quer me entregar, tem ordens de que ele mesmo a
receba.
— Quem o enviou jovem?
— Lady Charlotte ― respondeu.
— Dê-me a mensagem, eu a entregarei ― pediu a
condessa.
— Sinto muito, milady, minhas ordens são para entregar
na mão do conde.
— Está bem, entra e entrega-o ― ordenou irritada.
— Obrigado, milady.
O lacaio entrou acompanhado pela condessa à habitação
de Clark.
— Desculpe milorde, trago uma mensagem de lady
Charlotte ― manifestou o jovem com um papel na mão.
—Me dê isso ― o arrebatou das mãos.
Clark abriu e o leu.

Querido Clark,
Sinto muito pelo acidente que teve, estive esperando sua
visita ansiosa por vê-lo, agrada-me sua companhia e teria
desfrutado uma valsa junto a você no baile dos St. Albans.
Espero que melhore e vá amanhã para que possamos estar
juntos.
Tua
Lady Charlotte

— Acredito que já me sinto melhor, lhe diga que irei ao


baile amanhã.
— Sim, milorde, com permissão ― disse o criado
retirando-se da mansão.
— Escutei-te, Clark, essa mulher está brincando contigo,
não aprovo seu cortejo por ela ― pronunciou a condessa.
— Não me importa mãe, farei o que quiser.
— É Emma, filho, entenda-o, como é que não vê? ―
Lamentava em tom lento.
— Ela não é Emma, Charlotte é formosa, é também
agradável como ela, mas são diferentes ― justificou sem muito
sentido comum.
— Mudou filho. Não é como antes, abra os olhos, é uma
víbora.
— Não fale mal dela em minha presença, mãe ― reprovou
Clark, enfastiado pelos ataques de sua mãe.
Essas palavras fizeram com que a condessa ficasse calada
e se retirasse, não podia fazer nada por seu filho, estava cego
por Emma.

***

A noite se fez presente na elegante Londres, e Brandon


estava preparado para enfrentar seu destino, que o colocava
em frente a Emma, novamente.
— Boa noite, Charlotte ― saudou já dentro da mansão de
Kirkwall.
— Seja bem-vindo, Brandon, ― cumprimentou reverente
― me acompanhe, vamos acima.
— Vamos?
— Suponho que veio me ensinar o que sabe ― alegou com
suficiência.
— É bastante rápida.
— Melhor, um pouco ansiosa ― confessou espremendo as
mãos enquanto lhe mostrava para onde ir.
— Muito, diria eu.
— Não se faça o inocente, senhoria. Concluo que teve
muitas mulheres que lhe propuseram coisas piores.
— Não nego, mas você é a primeira dama que o faz como
se estivesse provando um vestido ― comentou com
naturalidade.
— Espero que isto seja satisfatório para ambos-
murmurou quase exigindo que fosse bom.
— Será e mais para mim...
— Está muito seguro disso.
— Sei quando vou ganhar a batalha, milady.
Ela sorriu e abriu a porta de sua habitação.
— Me diga Brandon, falará sobre sua repentina
colaboração à minha causa? ― Consultou caminhando para a
janela com segurança. Não devia dar a impressão de estar
morrendo por ser beijada e acariciada por ele.
— Não deveria ser tão curiosa, Charlotte ― replicou
Brandon cortando distâncias com ela e apoderando-se de seus
lábios.
Desfrutava implicitamente daquela irreverente paixão por
ele, que a torturava. Entretanto, ainda desconhecia a causa de
sua brusca colaboração.
— É tudo por Emma?
— A amo, e sabe disso, mas poderia me dar alguns
prazeres de libertino contigo, ― expressou beijando seus lábios
e deixando de lado confidencialmente, as formalidades, pois
compartilhavam um íntimo momento. — Prometeu-me guardar
segredo para que ela não soubesse.
— Assim que me deseja? ― Repreendeu desejosa de uma
resposta positiva.
— Não sei ― respondeu acariciando suas bochechas.
— Não sabe? ― Perguntou ela abrindo a camisa de
Brandon, deixando seu atraente torso descoberto.
— Você gosta do que vê? ― Sugeriu Brandon, referindo-se
ao seu peito.
— Eu adoro ― respondeu Emma deixando pequenos
beijos em seu torso.
Ela se afastou e afrouxou seu vestido, mas Brandon a
deteve.
— Não… ― mandou com segurança.
— Como não? Não deseja ver-me nua?
— Não, você só vai agradar-me hoje, e quando obtiver o
que quero te agradarei também ― sentenciou.
— É um mau jogador, muito trapaceiro, excelência -
brincou.
— Ainda não sou um duque…
— Mas será… ― insinuou dirigindo-se para a parte baixa
de seu corpo.
— Vai bem, querida ― augurou Brandon, desejoso de
fazê-la sua.
Ele se aproximou e a apertou contra si.
— Fala, Charlotte, você gostaria de sentir isto? ―
Questionou referindo-se a sua virilidade.
Emma assentiu aproximando-se dele com ansiedade. Ia
acariciá-lo, mas ele a apartou.
— Disse que primeiro me saciarei de ti, e logo te agradarei
― resolveu beijando-a até recostá-la na cama.
Desfrutou de cada centímetro de seu corpo, mas sem
profanar sua inocência. Beijou-a inteira, e a acariciou como
nunca ninguém o tinha feito.
De certa forma frustrado por não levar seu plano além do
solo da tentação, recostou-se ao lado de Emma exausto.
Emma se sentia extorquida, pensou que lhe faria amor.
— Pensei que... ― pronunciou.
— O que pensou? Que eu roubaria sua virtude?
— Eu ia dá-la, não precisava roubar-me ― assegurou
colocando-se sobre seu peito para observar com atenção suas
feições.
— Amanhã querida, depois que me confessar o que tem
preso, te farei amor...
— Mas será na festa do duque de St. Albans.
— Não importa, são meus amigos, verei como fazer.
— Pensarei no que confessar amanhã.
— Só me diga a verdade ― pediu, e a beijou com carinho.
— Por que é assim?
— Assim como? ― Questionou abraçando-a e lhe beijando
o pescoço.
— Por que me castigou não me fazendo amor?
— Porque merece, por me fazer sofrer ― confrontou
disposto a desmascarar a mulher que amava.
— Eu não tenho feito nada ― disse inocente.
— Deixa de mentir, Emma.
Ela reagiu, pegou um lençol, cobriu seu corpo, e se
afastou.
— Não sou Emma! ― Defendeu-se com intrínseco
nervosismo.
— Não é aquela jovem inocente que conheci, hoje é
mentirosa e manipuladora ― a acusou aproximando-se dela
zangado.
— Não sabe pelo que...
— Pelo que passou? Claro, sei tudo. Estive em cada etapa
contigo, te ofereci meu coração, Emma, e não te importou.
— Não é assim, Brandon, eu te amo.
— Então vem comigo, nos casemos, seja minha
marquesa.
Emma sorriu e com um gesto de cabeça, negou-se.
— Sua oferta é tão tentadora, mas não posso, Clark é
minha prioridade...
— De novo ele...! ― Grunhiu empurrando-a.
— Não sabe como me humilhou na noite em que eu quis
consumar nosso matrimônio só para me esquecer de você,
engravidar e continuar com a minha vida. Quis ser boa
Brandon ― confessava como um livro aberto, chorando.
— Sabe como eu sofri? Procurando-te, te amando. Se
quiser um filho eu lhe dou, Emma. Eu adoraria te fazer amor,
mas como suas prioridades não são o meu amor, nem minha
companhia, se esqueça de mim, e se case de verdade com
Clark. Vendo-te neste momento, não duvidará em te fazer
amor todas as noites ― murmurou colocando-se suas roupas
para retirar-se.
— Brandon não, por favor, não quero te perder de novo! ―
Rogou pegando-o pelo peito para que não se fosse.
— Não perderá algo que nunca teve, porque não quis.
Tem uma última oportunidade. Amanhã espero sua decisão,
Clark ou eu. Não estou de acordo com o que faz, se me deixar
eu poderia arrumar, me deixe limpar sua honra, Emma.
— Não, eu o farei. Desejo vê-lo prostrado e me rogando
amor ― manifestou com palavras carregadas de rancor.
— Está bem, eu não tenho nada que fazer aqui ― se
despediu indo à porta.
— Brandon, por favor! ― Tentou detê-lo, chorando.
— Por favor, nada! ― Exasperou-se por sua teimosia. —
Fui rejeitado uma vez mais pela mesma mulher. Não sei em
que parte do caminho perdi minha dignidade contigo.
Saiu da casa sem mediar mais palavras. Deixou-a
chorando a torrentes por sua própria culpa.
Sua vingança estava lhe trazendo problemas e muita
solidão. Mas não pararia até cumprir seu objetivo.
Essa ideia a fez levantar-se e continuar com seu plano.
Embora lhe doesse a rejeição de Brandon, devia seguir; ver
Clark sofrer era um incentivo impossível de resistir.
Capítulo 28

Ao levantar-se Emma tinha os olhos muito inchados de


tanto chorar, não havia forma de lhe baixar o inchaço.
— Milady, olhe esses olhos, não acredito que exista uma
beberagem que a ajude a ficar melhor ― expressou Celia,
sincera.
— Não quero ficar melhor ― se resignou tampando seu
rosto.
— Algo saiu mal?
— Tudo, Celia, tudo...! Ele sabe que sou Emma.
— E o que lhe disse?
— Ele quer que me case com ele… ― recordou chorosa.
— E o que fez você? Bom... não devo perguntar o
evidente, disse-lhe que não.
— Assim é… ― admitiu.
— Sinto-o milady, mas eu não a apoio mais. Esse homem
morrerá por você, está completamente apaixonado, entenda-o!
— Eu sei! ― Gritou histérica. — Mas minhas ânsias de
vingança são maiores que qualquer coisa.
— É uma pena ― expressou sua criada, muito
desconforme por seu proceder.
— Saia, e volta à tarde ― ordenou à Celia. Ela, enquanto
isso continuaria afogando-se em sua miséria.
Amava Brandon tão profundamente que não queria
perdê-lo, mas era perder tudo o que tinha conseguido para
compensá-la pela humilhação.
Não conseguia um equilíbrio entre seu amor e seus
objetivos pessoais.

***

O baile dos St. Albans estava levando-se a cabo sob


aquela lua cheia que iluminava os majestosos jardins da
mansão.
Brandon já se encontrava ali e esperava a aparição de
Emma. Enquanto isso, uma dama se aproximou dele.
— Senhoria, que prazer voltar a vê-lo ― expressou com
um sorriso enorme.
— Conhecemo-nos? ― Questionou intrigado.
— Você não é o marquês de Blandford?
— Não. Ele é meu gêmeo, está por ali ― assinalou seu
irmão.
Vermelha pela vergonha olhou para onde lhe indicavam.
— Desculpe a intromissão ― fez uma reverência, e se
retirou.
Aquela mulher se aproximou de Bradley com muita
confiança.
— Senhoria ― murmurou uma voz feminina.
— Lady Cecilia? Você aqui?
— Retornamos, passaram já quase seis anos da morte da
minha irmã mais velha, Anne.
— Eu sei ― recordou com tristeza.
— Aproxima-se a apresentação da minha irmã mais nova,
Imogen.
— Tem uma irmã mais nova?
— Sim, você não a conheceu, era muito pequena e foi
enviada à escola de senhoritas.
— Como estão seus pais?
— Melhor. Todos estes anos longe ajudaram bastante, e
me diga, senhoria se casou?
Ele a olhou desconfiado. Cecilia nunca tinha sido Santa
de sua devoção.
— Não ― respondeu, frio.
—É muito brusco ― acusou Lady Cecilia.
— Por que não seria? Você me assediou quando me
comprometi com sua irmã.
— Minha irmã estava profundamente apaixonada por
você, igual a mim ― lhe recordou com descaramento.
— Esse assunto não é meu.
— Você tem uma dívida de compromisso com minha
família, que estamos dispostos a cobrar ― declarou Cecilia.
— Pois vejam como cobrá-la ― a desafiou, lhe subtraindo
importância.
— Não duvide, senhoria.
— Desculpe. Retiro-me ― se despediu afastando-se da
pesada presença de Cecilia.
— Logo nos veremos, Bradley ― mencionou ela soando
ameaçadora.
Brandon observou o rosto escurecido de seu gêmeo e se
aproximou dele.
— Brad, está bem?
— Sim, pode-se dizer que estou bem.
— Quem era?
— A irmã de lady Anne ou melhor dizendo, sua prima.
— O que?
— Disse-me que queriam cobrar a dívida de compromisso
que tinha, imagina isso.
— E como?
— Me casando com ela, possivelmente, ― suspeitou ―
mas isso jamais.
— Não permitiremos, tenha por seguro. Sua palavra era
com Anne, e não com ela.
— Obrigado, Brandon – Bradley agradeceu o intento de
consolo de seu irmão. — Olhe, aí vem sua dama.
— E com Clark ao seu lado, como era de esperar-se-disse
fazendo seus dentes chiarem.
Clark tinha passado pela residência de Emma para
recolhê-la.
— Tem certeza que pode caminhar, milorde? ― Consultou
ao vê-lo recostado pela bengala.
— Sim, Charlotte, só não poderei dançar.
— Está bem, lhe farei companhia toda a noite.
A noite ia avançando, Emma e Clark saíram ao jardim,
pois se sentiam curvados entre a multidão e o pouco espaço
que ficava.
— Por fim sozinhos Charlotte ― expressou aproximando-
se dela.
— Muita gente, não crê? ― Pronunciou nervosa ante sua
aproximação.
Brandon não tinha parado de segui-los por todos os
rincões da casa e os olhava de seu esconderijo.
— Charlotte ― murmurou o conde pegando sua mão.
Provavelmente esse era o momento que esteve esperando
todo o tempo desde que ele zombara dela.
— Diga.
— Me daria a honra de me converter no homem mais feliz
do mundo? Case-se comigo ― pediu apertando sua mão com
força.
Tinha imaginado isso por tanto tempo que a enchia de
satisfação escutá-lo.
— Aceito, milorde, é o que mais desejo ― respondeu lhe
dando um sorriso.
Então Clark pegou-a de surpresa, beijou-a, e a apertou
contra um pilar.
— Milorde, o que faz?! ― Resmungou assustada ao vê-lo
com a respiração agitada.
— Só quero conhecê-la mais a fundo, ― confessou ―
estive contendo meus desejos por você ― contou subindo as
saias de Emma.
Brandon estava vermelho de ira. Ele a tomaria em pleno
jardim dos St. Albans.
— Não é correto, milorde, me deixe, por favor ― pediu
sentindo-se aterrada por suas intenções.
— A desejo fervorosamente, Charlotte.
Clark acariciou Emma intimamente, e a sensação não lhe
tinha agradado.
— Por favor, milorde, devemos guardar a compostura! ―
Exigiu apelando ao que poderia ter de bom julgamento aquele
homem.
— Tem razão, Charlotte, ― aceitou a sugestão e a soltou –
perdoe-me, tê-la perto é uma tortura.
— Não se preocupe, já estamos prometidos.
— Por fim Granby não poderá interpor-se mais entre nós.
— O que te disse, Clark, sobre esta mulher? ―
Repreendeu-o sua mãe olhando a Emma desafiante.
— Mãe, ela é minha prometida ― esclareceu antes que lhe
fizesse passar mais vergonha.
— O que fez filho? Se arrependerá ― avisou sua mãe,
lamentando aquelas palavras.
— Me olhe, Clark, vê um pouco da Emma em mim? ―
Questionou Emma em frente à condessa.
— Não vejo. Casar-me-ei e ponto, mãe.
Surpreendida por ter sido enfrentada, a condessa preferiu
bater-se em retirada.
— Vamos para casa, Clark, você ainda não está bem -
disse sua mãe pegando-o pelo braço.
— Não irei.
— Ao menos vem comigo, preciso falar contigo-requereu.
— Voltarei querida, me espere… ― solicitou Clark,
olhando-a.
Emma assentiu, e logo o viu partir junto à sua furiosa
mãe.
Recostou-se no pilar com os olhos fechados para
descansar e respirar, levou um grande susto, mas conseguiu o
que procurava.
— É infame, Emma, ― acusou a decepcionada voz de
Brandon ― como pode estar tão tranquila?
— Consegui o que perseguia ― argumentou.
— É uma pena que tenha que deixar todos os seus
esforços de lado.
— Isso não acontecerá ― discrepou.
— Pois o fará seja como for.
— Não sei como poderá me obrigar ― o desafiou.
— Assim ― mencionou beijando-a e começando a despi-
la.
— Isto não é decoroso ― justificou com falso decoro,
estava desfrutando-o.
— Fez com o Clark, por que não comigo?
— Estava espiando?
— Temo por ti, vi-me obrigado a fazê-lo ― expôs
acariciando-a transtornado enquanto ela gemia de prazer em
seu ouvido e colocava suas pernas ao redor de sua cintura, até
que uma multidão de gente se aproximou de onde se
encontravam.
— Vamos daqui ― ordenou Brandon, pegando-a para ir-
se.
Correram dentro da casa chegando à habitação que
Brandon tinha pedido ao seu amigo, lorde Matt, filho do duque
de St. Albans.
— Não podemos entrar aqui ― reclamou Emma.
— Claro que podemos, pedi emprestado este lugar.
Sorrindo, e seduzida por Brandon, Emma estava tentando
tirar o vestido para continuar onde tinham parado no jardim.
— Deixe que eu te ajudo ― disse Brandon lhe rasgando o
vestido.
Emma escutou tecido rasgar sem compaixão.
— O que fez?! Como sairei daqui?
— Não sairá, não me deu mais opções, Emma, te salvarei
de si mesma, ― pronunciou severo ― o jogo terminou.
— Me deixe, não me toque!
— Não farei, se não desejar.
— É o pior Brandon Waldow ― o acusou frustrada.
— Amo-te Emma, se case comigo.
— Nunca! ― Vociferou, afastando-se.
— Fará, queira ou não! ― Emitiu apropriando-se de sua
boca.
Ela resistia até que não pôde mais, cedeu ante ele, que a
levou direto à cama.
— Amo-te mais do que imagina, Emma ― declarou
acariciando sua bela figura prostrada na cama sob seu corpo.

***

— Este corpo o dediquei à vingança, mas o entregarei ao


amor ― decidiu entre lágrimas de resignação e amor por
Brandon.
As sensações os consumiam, e se entregaram enfim
àquele amor ao qual se negaram por tanto tempo, dando rédea
solta à paixão.
Brandon possuiu a sua querida Emma com amor e
delicadeza. Encheu cada espaço com suas carícias mais
dedicadas.
Extasiada ainda por haver se entregue ao seu amado,
murmurou:
— Foi maravilhoso.
— Sabe que não pode seguir com sua vingança? ―
Inquiriu com rosto sorridente.
— O que?
— Se casará comigo, deflorei-te ― lhe recordou descarado.
— Rufião! ― Resmungou golpeando-o no peito.
— Poderia estar grávida ― advertiu depravado ao ver a
histeria no rosto de Emma.
— É pior que...! Meu Deus, como pude me deixar seduzir
por seus planos!? ― Acusou-o zangada.
— Porque me ama!
— Não poderá me impedir de continuar, comprometi-me
com Clark.
— É simples, muda de opinião.
— Não!
— Ou faz você ou faço eu ― sentenciou perdendo a
paciência.
— Não se atreveria!
— Me ponha à prova.
— Maldito seja! ― Disse novamente golpeando-o,
consumida pela frustração.
—O que me disse? ― Repreendeu Brandon, furioso. —
Pois pagará já por me haver amaldiçoado Emma.
Ao terminar essas palavras, tomou-a novamente sem a
moderação da primeira vez. Emma, apesar de desfrutar de sua
posse, seguia repreendendo-o enquanto se perdia no êxtase de
sua paixão.
Adormeceram, extenuados por brigar e fazer amor.
Nenhum deles se deu conta de que seus gritos tinham
sido escutados por alguns presentes que abriram as portas e
os viram juntos.
— Marquês de Granby? ― Acusou a duquesa de St.
Albans.
Ele abriu os olhos. Estava nu, Emma ainda dormia.
— Brandon? ― Surpreendeu-se Bradley ao vê-lo recostado
com Emma.
Emma despertou e viu uma quantidade de público
estranho. Cobriu-se com os lençóis até a cabeça.
Eram os donos de casa e seu irmão quem os tinha
descoberto.
— Esperamos uma explicação ― pronunciou a duquesa
de St. Albans.
— Eu… ― tentou justificar-se.
— Planejou tudo, não é, Brandon? ― disse ela escondida
sob o lençol.
— Crê que eu gosto que a aristocracia me veja nu?
— Falarei com seus pais, senhoria, ― disse o duque de St.
Albans colocando-se atrás de sua esposa – chamarei-os neste
instante, você deve responder pela honra desta dama.
— A nossa mãe terá um enfarte ― resmungou Bradley. —
Vista-se, Brandon.
Capítulo 29

— Meu Deus, Brandon Waldow! ― Chorava Darline na


habitação.
— Se acalme, meu amor, nosso filho tem coisas a explicar
― olhou Alen, reprovador, ao seu filho.
— Quem é esta menina? Pensei que se casaria por amor,
acreditei que esperaria lady Emma ― lamentava sua mãe.
— Mãe, ela é lady Emma ― contou Brandon, esperando
que isso a acalmasse.
— Tem certeza? ― Questionou seriamente, olhando-a.
— Sou, milady, só que estou mudada ― confessou
envergonhada, ainda entre os lençóis, pois não tinha o que
colocar.
— Sabe quanto tempo fez meu filho sofrer?
— Perdão, excelência ― pediu baixando a cabeça.
— Me digam seus planos. Sua conduta, Brandon, não é
digna de um futuro duque, isto não deve sair à luz ― avisou
Alen repreendendo seu primogênito.
— Nos comprometeremos, ― explicou Brandon ― ninguém
saberá os detalhes salvo vocês, e os St. Albans.
— Menos mal que são nossos amigos ― respirou Darline,
sem temer que o escândalo cobrisse um membro de sua
família.
Emma se sentia feliz por casar-se com Brandon, mas
estava triste porque devia deixar a escuridão em que vivia para
trocá-la pela luz que significava ser a marquesa de Granby.
— Brandon, ― falou Emma ― já não quero sofrer por isso.
— Meu amor, já não deve temer ― a reconfortou
sentando-se ao seu lado na cama.
— Mas...
— Mas o que?
— Aceitei Clark.
— Romperei seu compromisso ― avisou.
— Dirá que sou Emma?
— Você dirá, isso será o fim de tudo.
Lady Darline conseguiu um vestido e o deu à Emma.
— Querida, já que será também minha filha, quero que
saiba que conta com todo nosso apoio, e ainda mais neste
momento em que pode estar grávida.
— Sinto vergonha, milady.
— Não a sinta, eu… ― contou Darline em voz baixa ―
fiquei grávida dos gêmeos antes de me casar com o duque,
fique quieta, foram trinta anos de segredo.
— Está bem, milady ― aceitou Emma um pouco mais
aliviada.
Enquanto isso, Brandon tinha saído da habitação em
busca de Clark, mas este já se retirara. Entretanto, divisou
seu amigo.
— Senhor Warren ― disse Brandon interrompendo a
conversação com sua prima Lucy.
— Diga…
— Onde se encontra Clark?
— Retirou-se, senhoria, pois não estava muito bem, só
veio porque lady Charlotte tinha insistido.
— Então irei vê-lo amanhã.
— Me diga, está tudo bem?

***

Depois de consultar senhor Warren pelo Clark, Brandon


levou à Emma na carruagem até depositá-la na casa de sua
tia, daquele momento em diante não voltariam a separar-se.
— Virei ver-te amanhã ― informou Brandon como
despedida.
Ela se abraçou forte a ele e disse:
— Eu não posso acreditar que isto esteja acontecendo.
— Pois acredite.
— Amo-te.
— Eu mais, Emma.
Celia não parou de fazer perguntas toda a noite sobre o
que tinha acontecido e Emma não podia ocultar sua emoção
ao lhe contar como tinham ocorrido os fatos.
Depois de uma noite reparadora sabia que devia enfrentar
seu destino em algum momento e romper com a palavra que
tinha dado ao Clark.
Durante o transcurso da manhã Emma foi ao jardim para
cortar umas rosas e adornar sua habitação, mas o que viu lhe
deixou gelada. Era Clark entrando pelo portão.
— Lady Charlotte, ― saudou Clark, animado ― estava-a
procurando.
— Clark… ― pronunciou nervosa, quase tremendo.
— Devo formalizar minha proposição de ontem.
— Milorde, eu não...
— Olhe o formoso anel que lhe trouxe ― disse abrindo o
pequeno estojo de veludo negro.
— É muito bonito, mas… ― ela negava com a cabeça.
— Mas, o que acontece, Charlotte? ― Perguntou notando-
a evasiva.
— Entra Clark, que eu não...
— Você não, o que?
Emma tomou coragem, tragou saliva e decidiu.
— Não posso me casar contigo.
Clark, incrédulo, observou-a.
— Por quê? Ontem me aceitou ― reclamou.
— Porque me casarei com Brandon, o marquês de
Granby.
— O que? O que diz? Está zombando de mim?! ― Grunhiu
gutural, agarrando-a forte pelo braço.
— Machuca-me! ― Exclamou Emma tentando liberar seu
braço da opressão.
— Sabe quanto isto me machuca? ― Interrogou abatido
pela decepção.
— Merece isso pelo que me fez ― o enfrentou enfim,
depois de anos.
— A que se refere?
— Você gosta do que eu sou não é? Meu corpo e minha
beleza te atrai, não me recorda, falso marido?
Ele a soltou, e com sua bengala se afastou.
— Sou eu e por fim o digo, cumpri com o único objetivo
que eu tinha, me vingar da humilhação que me fez passar.
Apaixonou-se pela Emma, da porca de duas patas, da
horrenda, ― falava decidida e nervosa ao mesmo tempo ―
chegou-me o momento, Clark. Ver sua cara é tão satisfatório
que não imagina o que estou sentindo.
Decepcionado e golpeado, Clark só a observava.
— Viu minha cara não é assim, e está feliz, mas te tirarei
um pouco dessa felicidade ― alegou rancoroso.
— Não acredito.
— Não me importa Emma, se casará comigo de novo, mas
será legal desta vez.
— Não o farei, sou prometida de Brandon.
— Se casará comigo e farei o que quiser contigo uma vez
que seja minha esposa. Pensa que ele estará constantemente
te cuidando? Poderia te deixar só e lhe encontrarem comigo...
sua reputação irá ao inferno e lhe obrigarão a se casar comigo.
— Segue sonhando, Clark ― murmurou uma voz atrás.
— Brandon! ― Exclamou Emma correndo para ele para
refugiar-se das ameaças.
— Não fará nada, inseto repugnante, aproxime-se dela e
terá chumbo entre as sobrancelhas ― advertiu com segurança.
— Isto não ficará assim, Emma. Será minha, juro-o,
sentenciou desaparecendo pelo portão.
Abraçada ao seu amado se sentia um pouco segura, mas
as palavras daquele homem a assustaram.
— Tenho medo ― admitiu tremente.
— Emma, se acalme, não te fará nada, estou contigo. Só
deve se cuidar.
***

Frustrado e afundado na decepção, Clark tinha passado o


dia em um botequim, embebedando-se e lamentando sua
sorte. Logo decidiu que deveria desafogar-se com seu amigo e
confidente.
Foi à casa de Dylan para lhe contar tudo, mas chegou
muito mal e bêbado.
— Clark… ― lamentou seu amigo ao vê-lo assim.
— Se cale e me diga como faço para que Emma se case
comigo.
— O que?
— Diga-me, o falso matrimônio, podemos legalizá-lo? ―
Perguntou enjoado, mas com a ideia fixa na mente.
— O que está me pedindo?
— Me diga, pode fazer algo ou não?! ― Gritou bêbado.
— Não, aqueles papéis jamais poderão ser legais.
— E quem mais sabe isso?
— Ninguém, sou muito discreto.
— Pois bem, me dê esses papéis, será minha arma para
ter Emma e zombar desse Brandon.
— Está mal, Clark, deixe disto, procura uma mulher de
verdade.
— Ela será minha mulher, é a única que quero!
— Dói-me ver-te assim, reaja.
— Só faz o que eu te disse e fecha o bico ― o maltratou,
exigindo que cumprisse com seu pedido.
Dylan lhe entregou os papéis, e Clark fez uma torpe
reverencia. Saiu de sua casa e foi procurar consolo em outro
lado.
— Marie, Marie ― pronunciou observando sua antiga
amante.
— Clark, que surpresa ― sorriu Marie, pensando que ele
voltaria para ela.
— Nenhuma surpresa, tire a roupa ― ordenou friamente.
Ela o obedeceu, disposta a esperar que a amasse.
— Tem um formoso corpo novamente, Marie ― adulou.
Depois de dizer aquilo a possuiu grosseiramente.
— Se acalme Clark! ― Pediu dolorida. Ainda não se
encontrava bem depois do acidente.
— Se cale! ― Grunhiu vertendo-se completamente nela,
que o sentiu e queria lamentá-lo, pois já não desejava
embaraçar-se.
— Não, não quero, por favor! ― Tentou afastar-se, mas ele
a deteve e terminou.
— Não me importa. Será só minha mulher daqui em
diante, entendeu? Irá viver em minha casa, recolhe suas
coisas.
— Não, não farei ― se negou, humilhada.
— Que o faça!
— Está bêbado. Não posso sair da minha casa assim.
Ele golpeou Marie, sua cabeça impactou diretamente
contra a cabeceira, o que causou sua inconsciência.
— Puta débil, se levante! ― Ordenou sacudindo-a, mas ela
não se movia. — Ora, se não vai por bem, vai por mal.
Ele a levantou com muito esforço, pois sua coordenação
lhe custava, e a levou à sua carruagem.
Durante o caminho, pelo balaço da carruagem, ela
despertou.
— Onde estou? ― Perguntou segurando a cabeça.
— Comigo ― respondeu Clark um pouco menos enjoado.
— Deixe-me ir, Clark ― rogou.
— Marie, Marie. Será meu consolo e irá quando eu disser.
Indignada, pensou em escapar. Escrutinava cada detalhe
com atenção e, ante um descuido de Clark abriu a porta da
carruagem e se lançou.
Para sua sorte, Marie caiu sobre uma quantidade de
palha que havia em um estábulo do mercado.
— Você vai se perder ― riu cínico, pegando uma das
garrafas que tinha comprado, e ainda não tinha aberto.
Ao chegar à sua casa, sua mãe o viu, e o encarou.
— Clark, o que te aconteceu?
— Juro-o, mamãe, Emma e aquele sujeito me pagarão!
— Cobrou-te o que lhe fez, deixa morrer aí.
— Nunca, ela será minha.
— Esse homem pode te matar, Clark! Não tem filhos, nem
herdeiros ao título!
— E o que isso...? Foi um engano não ter tido um reserva,
mãe ― replicou com ironia.
— Não deixarei que lhe matem ― assegurou sua mãe.
Retirou-se para procurar um gole para seu filho, mas lhe pôs
láudano para que se acalmasse.
Depois que bebeu tudo esperou uns minutos e logo se
aproximou e acariciou seu rosto.
— Não deixarei que faça mais estupidezes, meu filho, ―
sentenciou ― Maxwell, prepara nossa bagagem, vamos à
França.
— Sim, milady – o homem obedeceu.

***

Os dias passaram, e não sabiam nada do Clark, o tinha


tragado a terra. Brandon e Emma, anunciaram seu
compromisso e toda Londres soube quem era ela na verdade.
Retornou à casa de sua mãe e de seu irmão, ao lado de
seu amado vizinho e prometido.
— Arthur, sou tão feliz. Em um mês serei esposa do
Brandon.
— Me alegro tanto por ti, ― a abraçou ― desejava que
fosse feliz, por isso fiz aquilo com Clark.
— Perdoei-te Arthur, é parte do passado, nada pode
interpor-se entre nós. Brandon e eu ficaremos juntos.
Capítulo 30

Três dias antes das bodas Emma e seu irmão saíam da


mansão quando viram Clark em frente à sua casa.
— Clark ― disse Emma.
— Esposa minha, vim por ti ― alegou mostrando uns
papéis em sua mão.
— O que está dizendo, infeliz? ― Inquiriu Arthur
enfurecido.
— O que você ouve, cunhado.
— Nosso matrimônio não é legal, e você sabe melhor que
ninguém. Não?
— Legalizei-o para que sejamos felizes como devíamos ter
sido.
— Está demente, Clark, não deixarei que a leve, corre
Emma ― ordenou seu irmão.
Emma correu para a casa de Brandon, mas Clark tinha
outra opção se os papéis não funcionassem. Agarrou ao Arthur
pelo pescoço e lhe apontou com uma arma.
— Anda, corre a procurar seu amado, enquanto faz seu
irmão receber um tiro! ― Ameaçou Clark a uma assustada
Emma.
Seu irmão viu como ela se detinha na fuga.
— Emma, vá! ― Ordenou com mais afinco.
— Esse louco te matará!
— Condessa! Que vocabulário usa com seu marido, vem
para cá! ― Mandou com seu sorriso demente.
— Deixa-a, doente, não há provas da legalidade de seu
matrimônio! ― Insistiu Arthur.
— Tenho-as na carruagem.
O duque ia passando por ali e observou a cena, tinha
uma arma com ele, poderia fazer algo.
— Solte o duque, lorde Mottengarden, se não quiser que
lhe dê um tiro! ― Ameaçou mirando-o.
Clark estava baixando a arma, mas nesse momento
Emma se aproximou de seu irmão para agarrá-lo; entretanto,
caiu nas garras de Clark.
— Agora, duque do Rutland, será melhor que baixe a
arma se não quiser que seu filhinho chore por toda a vida
pronunciou apontando à testa de Emma.
Alen baixou a arma lentamente.
— Bem, meu amor, lhes diga adeus. Vamos longe para
consumar nossa união.
— Não, me deixe! ― Pedia entre soluços.
— Sobe querida ― a empurrava Clark.
— Brandon! Brandon!!!! ― Gritava Emma desesperada.
— Comove-me, Brandon, Brandon! ― Emulou-a,
zombador. — Não te serve de nada.
A carruagem começou sua marcha rumo à Escócia,
especificamente, à Gretna Green. Clark a obrigaria a casar-se.
Brandon e Bradley tinham escutado os gritos de Emma.
— Pai, o que aconteceu? ― Perguntou Brandon.
— Aquele louco conde levou Emma. Tentei impedi-lo, mas
não pude ― murmurou, culpado, Alen.
— Para onde?! ― Disse preocupado.
— Não disse nada, ― respondeu Arthur ― não pude salvar
a minha irmã.
— Para onde foram?
— Para lá, parecia Escócia ― respondeu Alen ao seu filho.
— Vai à Escócia para casar-se com ela, desgraçado! ―
Afirmou Brandon, mas ele se encarregaria de lhe frustrar o
propósito. — Bradley, você gostaria de ter uma aventura?
Matar ao mau e resgatar a donzela em apuros?
— Sempre desejoso de ajudar as causas justas, pode
contar comigo.
— Pois vá preparar nossos cavalos, cortaremos
distâncias. Uma carruagem é mais lenta.
— Eu irei com vocês ― decidiu Alen.
— Pai, só me empreste sua arma.
— Recorda tudo o que te ensinei ― aconselhou o duque.
— Com honra e justiça, pai. Jamais poderia esquecer.
Orgulhoso de seu filho colocou sua mão em seu ombro
em sinal de completo apoio.
Arthur, Bradley e Brandon saíram rapidamente.
Tentariam cortar as distâncias que os separavam pela demora
que tiveram ao sair.

***
— Por que está tão calada, Emma? Não se sente tão
valente sem o amparo de Brandon, não é assim? ― Zombou.
— Morra! ― Proferiu com desprezo.
— Estou morto, mas por sua causa. Você me fez ser este
monstro! ― Acusou-a veemente.
— Foi cruel comigo, humilhou-me, se esqueceu?
— É a única mulher que me deixou apaixonado e brincou
comigo ― reclamou.
— Podíamos ter sido felizes anos atrás, Clark, mas não te
importou meu coração, só minha beleza.
— E não sabe quanto me arrependo, mas uma vez que
consumemos o matrimônio poderemos ser felizes, não crê?
— Consumar o que? ― Riu mordaz. — Me deixe te dizer
que minha virtude é do Brandon. E outra informação mais,
estou provavelmente grávida, se encarregará do filho do
marquês?
— Querida! Para que existem os orfanatos? Estão
infestados dos bastardos de nobres ― respondeu girando a
situação a seu favor. — Você dará meus próprios herdeiros.
— Nem sonhe... ― disse cuspindo aquelas palavras.
Estava muito assustada, as probabilidades de gravidez
eram muito altas, estava atrasada. Aquele escuro futuro que
Clark pintou para seu filho a tinha enchido de temor.
Levavam toda a tarde e parte da noite na carruagem.
— Pararemos aqui ― decidiu, informando ao cocheiro
para que parasse.
— Em uma estalagem? ― Perguntou observando a
fachada.
— Claro querida, comprei-te vestidos e outras coisas.
Deve se assear.
— É tão amável ― respondeu com sarcasmo.
Ele a puxou pelo rosto apertou-a com força e lhe disse:
— Morda essa língua afiada, meu amor!
— Afaste-se de mim...! ― Resmungou empurrando-o para
livrar-se de seu agarre.
Entraram na estalagem, registraram-se e foram à
habitação.
Brandon e seus acompanhantes chegaram à estalagem e
viram a carruagem.
— Tenho-te, desgraçado ― pronunciou fazendo gestos ao
Bradley e ao Arthur para que parassem.
Já na habitação, Clark se aproximou de Emma e a puxou
pelo braço.
— Tire a roupa, Emma ― ordenou lascivo.
— Não o farei, saia ― se negou cortante.
— Não fará? ― Mencionou Clark, e lhe rasgou as saias.
— O que faz?!
— Vou fazer-te minha mulher, querida.
— Me solte, miserável! ― Gritou enquanto ele tentava
beijá-la.
Na entrada da estalagem Brandon perguntou ao
hospedeiro:
— Em que habitação está registrado o último casal que
recebeu?
— É informação confidencial ― respondeu o hospedeiro.
Brandon tirou a arma e lhe apontou.
— Quão confidencial?! ― Ameaçou-o até que escutou os
gritos de Emma pedindo auxílio.
— Arthur, Bradley, acima ― avisou subindo rapidamente,
eles o seguiram.
Emma lutava, mas ele já a tinha despido completamente,
era mais forte que ela.
— Me deixe! ― Exigiu golpeando-o no rosto.
— Fará por bem ou por mal ― ameaçou golpeando-a,
fazendo com que sua vontade cedesse por causa de sua quase
inconsciência. — Assim está melhor!
Brandon abriu a porta com um chute. Tinha perdido a
razão, aquele homem estava a ponto de tomar a sua
prometida.
— Vou matar-te, maldito desgraçado! ― Resmungou
jogando-se sobre Clark e golpeando-o sem piedade, enquanto
Bradley cobria o maltratado corpo de Emma.
— Emma! ― Chamou-a Arthur. — Acorda.
— Brandon ― pronunciou.
Ele deixou de golpear Clark e foi junto a ela, tomando-a
em seus braços.
— Emma, meu amor, estou aqui! ― Dizia Brandon.
— Ele me…? ― Perguntou sem saber se tinha sido
violada.
— Não pense nisso ― tentou confortá-la, mas ela chorava
amargamente enquanto não recordava nada.
— Brandon. Devo te dizer algo…
— Agora não, Emma, se acalme.
— Estou grávida ― disse confessando seu segredo.
— Emma, essa notícia é maravilhosa ― a abraçou e
sorriu.
Clark estava despertando de sua inconsciência e Brandon
o puxou pelas roupas, colocando-se em frente a ele.
— Em dois dias, maldito covarde, te esperarei ao
amanhecer, ― declarou Brandon ― busca um padrinho.
— Lá estarei. Teria valido a pena se tivesse tomado a sua
prometida ― riu zombador.
Brandon ia reagir, mas Bradley o impediu.
— Não vale a pena, será ao amanhecer ― lhe recordou seu
irmão.
— Vamos ― mandou levando Emma em seus braços.
Emma ficou tranquilizada e adormecida com Brandon
dentro de uma carruagem de aluguel rumo à sua casa.
— Me deixe cobrar isto, Brandon ― pediu Arthur.
— Não, ele se atreveu a tocar a minha mulher e pagará
com sua vida.
Toda Londres se inteirou do sequestro de lady Emma, e
os falatórios começavam a correr como pólvora por cada rincão
da cidade.
A condessa chegou à casa de Brandon e encontrou toda a
sua família e a de Emma.
— Preciso ver o marquês de Granby ― pediu a condessa
ao vê-lo.
— A que vem, milady?
— A lhe pedir que não mate meu filho.
— É um pouco tarde para isso, ele pagará o que fez -disse
implacável.
— Por favor, Emma! ― Rogou desviando a vista para ela.
— Não me olhe, não intercederei por um homem que
tentou abusar de mim.
— Isso não pode ser, Clark seria incapaz.
— É, então lhe recomendo que vá e prepare o funeral de
seu filho ― a despediu um cruel Brandon.
A condessa não parava de rogar, até aproximar-se de
Darline.
— Por favor, excelência.
— Não posso fazer nada ante tal aberração. Meu filho é
quem se baterá em duelo e estou sofrendo também, embora
confie em suas habilidades.
Ela, destroçada, retornou à sua casa e encontrou Dylan
esperando-a.
— Oh, Dylan! ― Abraçou-o chorando.
— Milady, sinto muito.
— Ainda não morreu.
— Mas ambos sabemos como terminará.
— Que bom que veio Dylan ― murmurou Clark.
— Foge, Clark ― pediu seu amigo colocando sua mão no
ombro.
— Não. É tempo de enfrentar os fatos, ― declarou ― peço-
te que seja meu padrinho.
— Não, não poderia! É meu melhor amigo, não o faça, lhe
rogo ― disse isso e o abraçou chorando.
— Faça por nossa amizade. E outra coisa, traz lady Marie
para esta casa, está esperando um filho e é meu.
— Mas...
— Cuida do futuro conde de Dudley, já que não poderei
fazê-lo. Atribua-lhe dinheiro ou o que desejar, mas que o
menino seja reconhecido, por favor.
— Prometo fazê-lo.
Clark saiu para ver seu último dia e foi ver lady Marie.
— O que faz aqui? ― Repreendeu zangada sabendo tudo o
que se murmurava em Londres.
— Vim me despedir, amanhã tenho um duelo à morte.
Sabendo daquela informação ela não pôde evitar as
lágrimas.
— Não, Clark, sempre te amei ― confessou ela sem deixar
de abraçá-lo.
— Sinto por nosso filho, ― disse rompendo seu abraço e
chorando ― perdoe-me por não valorizar o amor que você
sente por mim. Meu filho terá todos os direitos de um conde,
cuida-o, será conde de nascimento. Adeus, Marie.
— Vamos fugir, fujamos juntos ― rogou.
— Não, devo pagar pelo que fiz, como um homem de
honra.
Nesse último dia despediu-se de Marie fazendo amor,
como ela desejava. Aquela mulher foi quão única sempre
esteve ao seu lado, lhe pedindo amor, mas como tinha
resultado ser um beija-flor, deixou ir a oportunidade de amar.
A morte o fazia ver tudo de maneira diferente.

***

Tinha chegado o amanhecer do duelo. Ambos com seus


padrinhos, Brandon e Arthur, Clark e Dylan.
— Chegou o momento ― declarou Brandon.
— Bem ― aceitou Clark desanimado.
Ambos se localizaram e deram os passos regulamentares.
Os dois dispararam e tudo ficou em silêncio.
Como todos esperavam, Clark caiu à grama, enquanto
Brandon saía completamente ileso.
Lentamente se aproximaram de Clark para ver seu
estado.
Sua mãe foi a primeira em chegar.
— Não, meu filho ― chorava desconsoladamente a
condessa, enquanto Dylan a consolava.
Epílogo

Tinha chegado o dia das bodas, foi o dia mais feliz para as
famílias Waldow e Mcbean.
Também, intimamente, revelou-se a chegada do futuro
herdeiro do casal. Estavam extasiados pela chegada do menino
ou menina em uns meses mais.
Ambos tinham ficado satisfeitos pelo resultado do duelo,
a honra tinha sido restaurada e a paz voltou para suas vidas.
— Sinto-me tão feliz, Brandon ― expressou Emma com
um reluzente e enorme sorriso. — Sinto que fizemos o correto,
agora podemos ser felizes, perdoar e deixar ir o rancor de lado,
avançar para um futuro de paz.
— Tem um grande coração. Apesar de tudo o que passou
ainda segue sendo pura e inocente ― murmurou Brandon lhe
dando uma rosa branca que arrancou do jardim.
Ela pegou-a e a levou aos lábios, amava esses detalhes do
Brandon.
— Não teria obtido sem seu apoio e amor, nossa vida está
completa.
— Esperemos que Clark aprenda a lição ― meditou
Brandon pegando a sua esposa pelo braço para voltar junto
aos convidados das bodas.
—Estou segura de que o fez...
***

Dias antes...

Como todos esperavam, Clark caiu à grama, enquanto


Brandon saía completamente ileso.
Lentamente aproximaram-se de Clark para ver seu
estado.
Sua mãe foi a primeira em chegar.
— Não, meu filho ― chorava desconsoladamente a
condessa, enquanto Dylan a consolava.
— Ainda estou vivo, mãe ― murmurou com os olhos
fechados.
— Graças a Deus! ― Exclamou a condessa chorando de
alegria enquanto Dylan sorria.
— Você, Clark, deve endireitar seu caminho. Emma e eu
decidimos perdoá-lo e deixá-lo ir, não desperdice esta
oportunidade que lhe demos, aproveite-a ― disse Brandon,
despedindo-se. — Tenham um bom dia. Adeus.
Clark estava eufórico, ferido, mas feliz. Brandon o tinha
ferido no braço direito, muito perto do ombro. Lição aprendida.

***

O primeiro que fez Clark depois de ser atendido em sua


casa e ter recebido alta, foi ir a casa de Marie.
— Boa tarde, queria falar com o visconde ― pediu Clark
na entrada de sua casa.
— Adiante, milord, entre ― o convidou o mordomo, e o
levou junto ao pai de Marie.
— Lorde Mottengarden, você está vivo, o que o traz por
aqui?
— Vim por Marie e por meu filho ― mencionou sem muito
tato.
— O que diz? ― Questionou confuso o visconde.
— Como o ouve, quero me casar com ela.
— Mas ela não tem dote, estamos quebrados.
— Não importa, sou muito rico.
— Pois a leve, é toda sua! Marie! ― Chamou-a seu pai
com uma gutural exclamação.
— Diga, pai!? Necessi... Clark? Digo, lorde Mottengarden?!
— Marie, vem... ― expressou seu pai ― o conde me acaba
de pedir sua mão, quer casar-se contigo.
Ela o observou sem acreditar que aquilo fosse verdade.
— Pode nos deixar a sós, pai?
— Se já está grávida. Qual é o problema, não é?
— Obrigado por suas palavras, pai ― o despediu mordaz.
— Marie...
— Clark, por que quer que me case contigo se não me
ama?
— Mas posso chegar a fazê-lo, me dê uma oportunidade
de estar contigo e com meu filho.
— Então devemos ir de Londres.
— O que acha de Sussex?
— Nunca fui, mas contigo acredito que será o melhor.
— Pega suas coisas, subiremos à carruagem e partiremos
para Gretna Green com minha mãe.
Ela se dispunha a preparar seus pertences, mas ele a
deteve.
— Pega este anel, será o símbolo do nosso compromisso ―
expôs Clark enquanto o colocava no dedo.
Entre risadas e soluços por enfim imaginar uma vida feliz
assentiu ao ver o anel em seu dedo.

***

Os meses passaram e tinha chegado o momento do


nascimento do filho de Brandon.
— Por que demoram tanto?! ― Atacou enquanto ia de um
lado ao outro, nervoso, pelo corredor.
— Estas coisas são assim, filho – sua mãe tentou acalmá-
lo.
— Mas está a doze horas chorando como se a degolassem!
― Exclamou assustado e consumido pela ansiedade.
— Passei pelos mesmos nervos, ― o animou seu pai ― já
passará.
— E eu passei as dores, Alen ― lhe recordou Darline.
— Ninguém te tira o mérito, amor.
Todos ficaram calados quando escutaram o pranto de um
bebê.
Brandon correu e abriu a porta da habitação.
— O vão jogar de lá ― disse Alen ao escutar um «saia
daqui!» de sua nora parturiente, e ao ver seu filho sair com o
rabo entre as pernas. — Viu? ― Mencionou à sua esposa.
— Querido, sua esposa não quer saber de você, não quer
que a veja. Seja paciente ― pediu sua mãe.
— Parecia possuída ― murmurou recordando a imagem
de sua suarenta esposa, que ao vê-lo entrar o olhou com os
olhos brilhantes de raiva, ou possivelmente fosse ódio.
— Você não vê? Tantas horas de parto e quer que lhe
receba sorrindo. Está doente! ― Raciocinou seu gêmeo.
— Muito inteligente, irmão, ― apoiou Angeline ― eu não
recordo nada do meu parto.
— Porque quase morreu querida ― ironizou Brandon, seu
irmão.
O doutor tirou meio corpo e olhou ao Brandon.
— Senhoria, já pode entrar para conhecer seu filho ― o
convidou.
— Aleluia! ― Grunhiu passando ao lado do doutor.
Brandon correu junto à Emma, que tinha o menino em
seus braços.
— Olhe, Brandon ― indicou Emma olhando ao pequeno
menino loiro idêntico ao seu pai, com olhos azuis.
— É formoso, Bruce Waldow ― declarou dando um beijo
em Emma e outro em seu filho.
— É um lindo nome, amo-te ― murmurou Emma.
— E eu a ti...

***

O mesmo ocorria no caso de lady Marie, que estava em


trabalho de parto em sua residência de Sussex.
— Doutor, o que acontece? ― Inquiriu inquieto, Clark.
— O parto se complicou, milorde.
— Como que se complicou?!
— Pelo anterior aborto de lady Marie não acredito que
possa suportar o parto ― avisou o doutor, preparando-o para o
pior.
— Posso vê-la? ― Pediu.
Marie estava suarenta, gemendo de dor na cama.
— Marie? Escuta-me?
— Sinto tanto! ― Resmungou dolorida. — Se precisar
escolher, escolhe a criança, eu não valho nada.
— Não, Marie, não me deixe ― rogou lacrimejando seu
marido.
— Não suportarei, sinto-me débil.
— Marie, minha Marie, amo-te, não me deixe. Conseguiu
que eu te amasse, por favor, consiga sobreviver para que
sejamos felizes os três.
Essas palavras a encheram de fôlego e assentiu.
— Devo fazê-lo por vocês. Chama o doutor, seguirei
empurrando.
Uma hora mais tarde nasceu o pequeno varão, ao qual
chamaram igual ao seu pai, Clark Mottengarden.
Com os anos ambos os casais conseguiram ser felizes.
Embora nenhum procurasse uma aproximação, os eventos em
Londres os punham cara a cara, levando-os aos seus filhos e
fazendo-se inclinações amistosas entre eles.

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