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Artigo Completo - 3º Simpósio - Tatiana Costa
Artigo Completo - 3º Simpósio - Tatiana Costa
RESTAURAÇÃO
COSTA, TATIANA C.
RESUMO
Este trabalho é dirigido à investigação das intervenções arquitetônicas que tem o objetivo de proteger
áreas arqueológicas através de coberturas ou abrigos, permitindo sua apresentação e fruição. São
intervenções diretas em locais onde os vestígios constituem, na sua maioria, restos de fundações de
antigos edifícios encontrados em escavações. Ao contrário das ruínas arquitetônicas onde ainda
subsiste alguma espacialidade e cujas possibilidades de intervenção variam da reintegração à
reconstrução, os fragmentos edilícios que permanecem dispersos no sítio têm sido nos últimos anos
objetos de projetos arquitetônicos direcionados à preservação do seu status quo incluindo muitas
vezes a adição de elementos contemporâneos capazes de promover a sua conservação (como
coberturas e abrigos) e dotar o sítio de acessibilidade e estruturas necessárias à sua sobrevivência
na dinâmica atual. Nosso objetivo é investigar o impacto causado pela inserção da arquitetura
contemporânea na legibilidade do patrimônio arqueológico e na paisagem, analisando exemplos na
Europa e Brasil com base nos critérios projetuais estabelecidos pelo restauro crítico conservativo, tais
como: distinguibilidade, reversibilidade, intervenção mínima, atualidade expressiva, dentre outros.
Palavras-chave: proteção e apresentação in situ; áreas arqueológicas; restauro crítico conservativo.
Este trabalho é dirigido à investigação das intervenções arquitetônicas que tem o objetivo de
proteger áreas arqueológicas através de coberturas ou abrigos, permitindo sua
apresentação e fruição. São intervenções diretas em locais onde os vestígios constituem, na
sua maioria, restos de fundações de antigos edifícios encontrados em escavações. Ao
contrário das ruínas arquitetônicas onde ainda subsiste alguma espacialidade e cujas
possibilidades de intervenção variam da reintegração à reconstrução, os fragmentos
edilícios que permanecem dispersos no sítio têm sido nos últimos anos objetos de projetos
arquitetônicos direcionados à preservação do seu status quo. Muitas vezes são incluídos
elementos contemporâneos capazes de promover a sua conservação (como coberturas e
abrigos) e dotar o sítio de acessibilidade e estruturas necessárias à sua sobrevivência na
dinâmica atual.
Delineamento histórico
Como revela Brendle (2015), ao propor a permanência in situ dos mosaicos da Villa del
Casale, Brandi argumenta que a necessidade de realizar a cobertura de proteção, “não pode
ser obstaculizada por um respeito fetichista da ruína como ruína ou pela incongruente
pretensão da repristinação” e defende a construção de passarelas de visitação e coberturas
“em material opaco e transparente que a técnica moderna pode realizar”.
Pela primeira vez a não retirada de um manufato arqueológico de grande valor artístico e
cultural de seu sítio de origem é acompanhada de discussões multidisciplinares unindo
museografia, arquitetura, arqueologia, história e restauro, entre outros campos disciplinares.
A solução inovadora e experimental proposta por Minissi para a proteção dos mosaicos
através da criação de um museu in situ foi baseada na sugestão volumétrica dos espaços
originais mediante a montagem de paredes e cobertura em material leve e transparente,
com uma linguagem arquitetônica fundamentada no restauro crítico (BASILE; PURPURA;
TRAINA; 2015, p.57).
1
Diferentemente das construções de Pompeia e Herculano cujas elevações eram muito maiores, chegando às
vezes a três pavimentos, a grande maioria das paredes na Villa del Casale tinha no máximo um a dois metros de
altura (BRANDI, 1957: p. 94-95).
Após a intervenção na Villa del Casale, nem sempre as estruturas de proteção em sítios
arqueológicos foram concebidas com a mesma fundamentação teórica e conceitual, nem
com a cuidadosa inserção de novos elementos que considerava acima de tudo, os restos
antigos como parte integrante do patrimônio cultural. Nem mesmo a integração de
profissionais dos diversos campos do conhecimento tanto do campo da conservação, do
restauro, da musealização e da engenharia, entre outros. As razões desta desconexão são
derivadas em parte pela afirmação da primazia de um campo disciplinar sobre o outro: no
caso, da arqueologia sobre a arquitetura. Ou mesmo em função da necessidade urgente de
cobertura das áreas arqueológicas, resultando em medidas temporárias sem maior reflexão
conceitual e projetual que geraram a produção de galpões mais apropriados para
armazenamento e garagem do que um abrigo para estruturas milenares de arte e história.
Deste ponto de vista, proteger o bem arqueológico não significa cobrir ou criar um invólucro
mural em torno de todos os locais onde há indícios estratificados da presença humana, nem
significa restaurá-lo, mas trata-se de um processo que é iniciado com o reconhecimento
destes bens como bens culturais, independente do seu estado fragmentário; significa propor
soluções para questões técnicas de conservação, mas também implica no desejo de colocar
o bem cultural em evidência, revelando-o e incorporando-o a novas dinâmicas. Por isso
alguns autores (MINISSI, 1985; RANELLUCI, 1996) consideram esta prática como
metodologicamente unitária e homogênea ao restauro, tanto na satisfação da instância
"conservativa" como daquela “revelativa" que consiste em facilitar a leitura das ruínas
arqueológicas protegidas (DI MUZIO, 2010, p. 17).
Conciliar as exigências de conservação com aquelas de valorização e fruição pode ser uma
tarefa extremamente complicada tendo em vista que as intervenções voltadas à
conservação visam manter afastado o bem arqueológico do ambiente causa da degradação,
enquanto as intervenções direcionadas à fruição tendem a reinserir o monumento no próprio
contexto paisagístico e geográfico. Schmidt (1988) chamou a atenção para a dificuldade de
estabelecer regras gerais para o projeto e construção de estruturas de proteção devido a
cada vestígio possuir sua formação individual e história de sua destruição de forma única,
seja por sua estrutura arquitetônica, seja pela sua situação topográfica. Entretanto, formulou
algumas considerações básicas que podem alterar positivamente ou negativamente tanto a
aparência da estrutura como as escavações conduzidas, as quais devem ser adaptadas de
acordo com a especificidade do caso, a saber: 1) adequação funcional (climatização,
segurança, estabilidade, durabilidade, etc.); 2) diferenciação no projeto arquitetônico das
estruturas originais; 3) integração no ambiente em que se insere (contexto construído ou
paisagístico natural).
Fig. 3: Piazzeta Toscano, Cosenza em 2002 – Detalhe da cobertura em ferro e vidro sobre os
vestígios.
Fonte: https://www.artribune.com/progettazione/architettura/2018/05/marcello-guido-storia-
italia/attachment/marcello-guido-piazza-antonio-toscano-1999-2001-cosenza/. Acesso em: 16 fev.
2019.
A importância da leitura ‘daquilo que resta’, como um todo, como Franco Minissi propôs na
visita dos mosaicos da Villa Del Casale a partir do alto, facilitando sua percepção e
compreensão, é um aspecto que não deve ser negligenciado no projeto arquitetônico de
cobertura do sítio arqueológico (CARBONARA, 2010). Mesmo diante de vestígios de
fragmentada consistência material é possível distanciar-se da tentação da reconstrução ou
de soluções autorreferenciais e ter uma atitude projetual voltada para a prexistência.
Fig. 4: Cobertura metálica (2000) sobre as ruínas da Igreja Matriz e do Palácio dos Capitães
Generais na antiga Vila Bela da Santíssima Trindade, no Mato Grosso.
Fonte: http://fuzuedasartes.blogspot.com/2015/06/acontece-neste-sabado-2606-o-lancamento.html.
Acesso em: 05 mar. 2019.
BATTISTA SANGINETO, A. Cosenza Antica alla Luce Degli Scavi Degli Ultimi Decenni.
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