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Apesar de nós, como cientistas sociais e parte constituinte da sociedade

sentirmos a necessidade de conseguir entender a totalidade dos fenômenos


simultâneos que se apresentam ao longo de nossas vidas, devemos captar o
quanto a nossa finitude, implica nesse processo. Com isso em vista, podemos
apenas exercer a tentativa de compreender certos aspectos dentro do limite
que nos é imposto pela nossa própria existência, diante da infinidade dos
acontecimentos socioculturais que nos cercam.

Assim, é exigido do cientista uma espécie de habilidade para recorte. Por


exemplo, alguém que se interesse por estudar a significação cultural das
imigrações, obviamente não vai conseguir investigar todos os casos de
imigrações do mundo, então será preciso um trabalho de isolar apenas um
fragmento para tornar possível o estudo.

Durante muitos anos, um pensamento hegemônico dominou o nosso campo de


atuação a ideia de que o isolamento desses fragmentos se dava a partir da
repetição regular para a tentativa da construção de leis deterministas. O que
foge a isso, seria considerado irrelevante ou algum tipo de conhecimento que
se daria depois. Weber critica essa concepção se baseando em primeiro lugar
no fato de que essas “leis” não seriam de fato leis que dizem respeito ao
âmbito social, mas sim ao natural. Seriam leis extraídas de outras áreas e
aplicadas nas ciências da cultura. E em segundo lugar, na contradição que a
aplicação dessas leis como finalidade gera. Pois até as leis ditas
“astronômicas” (que visavam explicar a totalidade e realidade das constelações
e ) aplicadas não seriam tão gerais, pois recorreriam a inúmeros casos
particulares para a explicar a causalidade da lei. E por mais que recuemos ao
passado distante, a aplicação da lei se resumirá também numa perspectiva
individual e refratária com dedução a partir de leis.

Para Weber as formulações mais gerais do tipo lei ou fatores, são apenas parte
integrante do método que se utiliza para “o conhecimento da realidade concreta
segundo o seu significado cultural e relações de causa” e não constituem em
si, o objetivo da pesquisa como seria o caso das “leis astronômicas aplicadas
as ciências da cultura. Mais precisamente, essa formulação consiste na
primeira etapa. A segunda, seria nas suas próprias palavras “completamente
nova e independente apesar de se basear na tarefa preliminar” construída pela
“análise e exposição ordenada do agrupamento individual desses “fatores”
historicamente dados e da sua combinação concreta e significativa, dele
resultante; mas acima de tudo, consistiria em tornar inteligível a causa e a
natureza dessa significação”. A terceira etapa, se constrói a partir do remonte
“mais possível no passado, e observar como se desenvolveram as diferentes
características individuais dos agrupamentos de importância para o presente, e
proporcionar uma explicação histórica a partir destas constelações anteriores,
igualmente individuais”. E ainda há a possibilidade de uma quarta etapa,
baseada na “avaliação das constelações possíveis no futuro”.

E mesmo com as leis compondo apenas uma parte do método, elas ainda têm
um limite. Pois a “significação da configuração de um fenômeno cultural”
(objetivo de compreensão dos cientistas sociais), está relacionada com ideias
de valor. Segundo o autor, quando escolhemos focar em apenas uma pequena
parte da realidade individual, estamos atribuindo a essa parcela, ideias de valor
pois essa escolha está diretamente relacionada com a importância que aquele
fenômeno passou a ter para o pesquisador, de acordo com a sua experiência
de vida. E essa seria necessariamente a comprovação de que nenhuma
pesquisa é isenta de pressupostos.

Estando ciente de todos esses pontos, veremos a que resultados esperamos


chegar quando os colocamos em prática. O que se busca aqui, é entender por
exemplo um fenômeno como as redes sociais, e o porquê de hoje elas
adquirirem uma significação cultural muito forte e do fato histórico delas
constituírem um fenômeno de massas. Nesse caso, leis mais genéricas servem
apenas como meios de exposição.

Mas porque Weber parte de uma perspectiva micro estrutural, como vimos no
método exposto anteriormente? Para ele essa perspectiva ganha lógica
quando assumimos que apenas uma parte finita, da infinidade que compõe
esse âmbito sociocultural econômico é significativa, ou digna de ser conhecida.
Assim, nunca chegamos a conclusão de uma lei geral que explique
efetivamente de forma real o que significa o fenômeno e segundo o próprio
autor, “apenas pomos em relevo as causas a que se podem atribuir, num caso
concreto, os elementos “essenciais” de um acontecimento.” Então a
causalidade buscada não se debruça em certezas, mas em conexões
concretas; e imputação de uma constelação como resultado.

A crítica direcionada à carência de objetividade nas ciências sociais toma uma


direção muito correta e bem fundamentada nesse ponto. Pois para o autor, ao
se fazer pesquisa é preciso ter em mente que o conhecimento das leis sociais
não tenta e nem compete a ele, trazer à tona o socialmente real, mas sim
elucidar “um dos diversos meios auxiliares que o nosso pensamento utiliza
para esse efeito. E porque a significação real da vida, é configurada de modo
individual, singular. Ele leva tanto essa subjetividade da visão de mundo em
consideração, que em determinado momento ele afirma que todo trabalho
científico deve carregar de certa forma a personalidade do cientista.

No entanto, toda essa subjetividade presente durante o isolamento do objeto


até o alcance do resultado não implica num resultado subjetivo no sentido de
“são válidos para uns , mas não para outros”. O que varia mesmo é o grau de
interesse de cada cientista e aquilo no que ele procura se basear para suas
afirmações.

“O fluxo do devir incomensurável flui incessantemente ao encontro da


eternidade.” A dificuldade de basear a ciência da cultura em leis, é que como a
sociedade, a ciência e principalmente a própria cultura estão sujeitas a uma
infinidade de mudanças e reinvenções. Logo, a área responsável por esses
estudos, deve ser tão reinventada quanto o seu objeto.

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