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Autor
JOSÉ HUMBERTO DA CRUZ CUNHA
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS
RESUMO
Este artigo mostra que a contabilidade pode não estar evidenciando o real valor do
patrimônio das empresas (um objetivo da contabilidade). Partindo do conjunto ativo
intangível, focando o capital intelectual, o presente trabalho demonstra que existe uma
diferença entre o valor contábil e valor de mercado de uma empresa, ainda não mensurado
financeiramente; considerando o capital intelectual como bem das empresas. A partir disso
são exibidos três métodos de mensuração do capital intelectual discorrendo sobre suas
características e focando a ênfase financeira no resultado de suas mensurações, mostrando que
sem métodos de mensuração adequados a contabilidade não pode fazer a contabilização de tal
bem. Contudo, segue uma linha de raciocínio até concluir sobre a necessidade de registrar o
capital intelectual na contabilidade. Fato que se concretizado, auxiliará o gestor na tomada de
decisão. Por fim, é concluído que contabilidade financeira por si só não demonstra o real valor
das empresas. Assim, esta necessita da contabilidade gerencial como complemento para
evidenciar o patrimônio das empresas mais próximo do valor real, ou de mercado.
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
2 O ESTADO DA ARTE
3 PROBLEMATIZAÇÃO
Ativos são os bens e direitos da empresa que ela utiliza para alcançar os seus objetivos
sociais.
Segundo Hendricksen (1999), para ser caracterizado como ativo deve-se enquadrar o
bem em quatro critérios:
• Prováveis benefícios econômicos futuros;
• Obtidos ou controlados por entidade em particular;
• Resultado de eventos ou transações passadas;
• Possibilidade de transação.
Na composição do ativo de uma entidade, existem ativos materiais (ou tangíveis) e
ativos imateriais (ou intangíveis). Jonhson e Kaplan (1993 apud WERNKE, 1993), afirmam
que o valor da entidade não se restringe à soma dos valores de seus ativos tangíveis, e que
também se inclui os valores de ativos intangíveis: o sortimento de produtos inovadores, o
conhecimento de processos de produção flexíveis e de alta qualidade, o talento e a moral dos
empregados, a fidelidade dos clientes e imagem dos produtos, fornecedores confiáveis, rede
de distribuição eficiente, etc.
De forma simples, ativo intangível é aquele que não possui existência física. Se
quisermos ligar a etimologia da palavra "Intangível" à definição dessa categoria de Ativos
nada conseguiremos, a não ser concluir que não há tal significado etimológico no conceito
contábil. Monobe (1986 apud GOMES, 2003), diz que essa falta de substância física não tem
sido utilizada como condição, pelos profissionais da área contábil, para a separação entre
ativos tangíveis e intangíveis. Dessa forma, depósitos bancários, contas a receber, seguros e
títulos de investimentos, apesar de representarem direitos e, portanto, nada corpóreos, têm
sido classificados como ativos tangíveis.
Não tão simples, mas dando uma característica para os ativos intangíveis, Hendrinksen
e Breda (1999, p. 390), atribuem ser comum entre estes o grande grau de subjetividade
existente na avaliação de benefícios futuros.
Abaixo segue a explanação do pensamento de pessoas que já escreveram sobre o
assunto para tentar entender melhor o conceito de capital intelectual, um ativo intangível.
Edvinsson e Malone (1998 apud WERNKE, 2003, p. 75), relatam que para entender o
conceito de Capital Intelectual é necessário que os gestores considerem a empresa como um
organismo vivo, por exemplo, uma árvore, então o que é descrito em organogramas, relatórios
anuais, demonstrativos financeiros trimestrais, brochuras explicativas e outros documentos
constitui o tronco, os galhos e as folhas. O investidor inteligente examina essa árvore em
busca de frutos maduros para colher. Presumir, porém, que essa é a árvore inteira, por
representar tudo que seja imediatamente visível, é certamente um erro.
Já Stewart (1998) definiu o Capital Intelectual como a soma de todos os
conhecimentos que possuem os empregados de uma empresa e que dão a esta uma vantagem
competitiva. Deste modo, o Capital Intelectual não é mais do que o material intelectual -
conhecimentos, informação, propriedade intelectual, experiência - que se pode aproveitar para
a criação de riqueza. É um conceito difícil de identificar e ainda mais difícil de distribuir, de
modo eficaz. Todavia quem o encontra explora e triunfa.
O conceito de capital intelectual pode ser entendido se imaginarmos a passagem da
Era Industrial para a Era do Conhecimento. É mais evidente quando a força física passa a ser
menos utilizada do que o conhecimento. Usando o conceito de Edvinsson e Malone (1998), o
capital intelectual é uma parte invisível, porém conforme o conceito de Stewart (1998), o
conceito de capital intelectual está sendo limitado a nada mais do que o material intelectual.
5 VALOR DA AÇÃO INCLUI O INTANGÍVEL
Os modelos, padrões, etc, são capazes de mensurar e fornecer dados para alimentar os
sistemas de contabilidade, que por sua vez, agrupam todos os dados e transformam em
informações contábeis com o objetivo de demonstrar a realidade patrimonial de uma entidade.
Além dos bens tangíveis, é preciso considerar a inclusão dos ativos intangíveis para
que as Demonstrações Contábeis expressem o valor das empresas quanto o mais próximo
possível do real valor de mercado; valor este que os investidores do mercado acionário estão
dispostos a pagar em negociação nas bolsas de valores.
Normalmente o capital intelectual de um presidente de certa entidade faz com que o
mercado veja com bons ou maus olhos, valorize ou não a empresa. A figura de uma pessoa
que tem alto reconhecimento do mercado como tomador de decisão numa empresa possa
valorizar as ações desta empresa que são negociadas em bolsa de valores.
Com isso, é possível deduzir que o preço o qual os investidores estão dispostos a
desembolsar para investir numa determinada empresa não cobre apenas o Patrimônio Líquido
registrado na contabilidade desta; como também engloba o capital intelectual dessa pessoa de
confiança do mercado, ou seja, inclui o ativo intangível que ela representa.
Dentro dessa linha de raciocínio é possível citar também o aumento da
competitividade dinâmica do mercado, da volatilidade dos capitais, da conscientização dos
clientes, dos fornecedores, dos funcionários e da comunidade em geral. A mistura de todos
esses fatos fez os executivos perceberem que no atual cenário global, a rapidez, a inovação, a
flexibilidade, o conhecimento e a capacidade de aprendizado individual e coletivo tornaram-
se mais importantes que os próprios bens materiais, exigindo, assim, uma nova forma de
gerenciamento (ENSSLIN e SCHNORRENBERGER, 2004).
Essa nova forma é baseada no despontar dos ativos intangíveis, principalmente o
capital intelectual, considerado um diferencial competitivo dentro de uma organização
concorrendo com o restante do mercado.
“Substituindo as máquinas”, o capital intelectual reluz valor aos olhos dos investidores
à medida que são somadas as partes individuais gerando e adquirindo habilidades criativas e
inventivas, atitudes e motivação das pessoas que integram a organização.
A capacidade do ser humano em aprender e reinventar continuamente vem tornando
um dos elementos centrais da nova economia. As empresas estão investindo em profissionais
mentalmente qualificados, abandonando a força bruta muito utilizada na Era Industrial.
Investem em cursos, palestras, qualificações que agregam conhecimento, sinônimo de valor
na hora de realizar os trabalhos e tomar decisões dentro da organização.
Contudo, ao reconhecer o valor dos intangíveis, representado pelo capital intelectual, o
mercado volta-se principalmente para a capacidade da empresa em gerar benefícios futuros e
de se manter competitiva, acreditando na sua capacidade de expansão, resulta numa avaliação
positiva do empreendimento, que é refletido no aumento dos investimentos e valorização das
ações no mercado aberto. Ao desacreditar no empreendimento, o mercado, conduz a empresa
a uma situação de concordata, ou até mesmo falência, parando de investir neste.
1
CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Normas Brasileiras de contabilidade. Princípios
fundamentais de contabilidade. Resolução CFE 530/81.
Para prosseguir com o método de comparação é preciso ter em mãos o valor contábil
encontrado nas Demonstrações Contábeis divulgadas pelas empresas; divulgação esta de
caráter obrigatório para as empresas que emitem ações na bolsa de valores como a NASDAQ.
O valor contábil é o valor do Patrimônio Líquido (Capital Próprio), ou seja, todos os
ativos depois de subtraídas todas as Obrigações com terceiros (Passivo Exigível).
TABELA II
Fórmula do valor contábil
Ativo – Passivo Exigível = Patrimônio Líquido
TABELA III
Resumo Balanço Patrimonial da Oracle
Em milhões de Dólares em jun/05
Ativos (Assets) 20.687
Passivo Exigível (Liabilities) 9.850
Patrimônio Líquido (Stockholders' Equity) 10.837
Fonte de dados: DF’s da Oracle em junho de 2005
TABELA IV
Demonstração do Valor Contábil
Empresa Valor Contábil (Stockholders' equity)
Oracle 10,8 bilhões de dólares
Fonte de dados: DF’s da Oracle em junho de 2005
Neste modelo é percebido que o criador dele também não pretende utilizar uma
ferramenta simples como é o caso da Diferença entre Valor de Mercado e Valor Contábil.
Aqui, a razão entre estes dois valores é usada, porém existem mais três itens de complemento
à informação proporcionada pela simples razão.
Stewart (2002, p.217) acredita que uma única medida jamais descreverá os estoques e
fluxos de capital intelectual de uma empresa. Da mesma maneira que a contabilidade
financeira analisa vários índices como a razão débito/patrimônio, o fluxo de caixa, retorno
sobre vendas, ativos e participação acionária, por exemplo, a fim de retratar o desempenho
financeiro, a contabilidade do capital intelectual deve analisar o desempenho da empresa de
vários pontos de vista. Porém é preciso notar, ou melhor, ter cuidado que muitas vezes, o que
pode ser indicador chave em uma empresa talvez seja trivial para outra. Ser ou não trivial
depende do setor e até da estratégia a seguir.
No caso da Oracle, seu negócio é a desenvolvimento de softwares, as medidas do
capital do cliente poderiam incluir índices de vendas destes, desconto para compras em grades
quantidades, participação no mercado, enfim uma série de indicadores não-financeiros ao lado
de indicadores financeiros. A conclusão que chegamos nesse ponto é que este modelo não tem
apenas ênfase financeira como no apresentado anteriormente.
Em meio a métodos financeiros e não financeiros, é preciso tomar cuidado com o
exagero na quantidade de indicadores não financeiros, pois pode ser criado risco de
superlotação do gráfico radar, distorcendo a informação. É melhor utilizar uma quantidade de
indicadores considerada realmente importante ligada à estratégia da empresa. Acredito que o
gestor na sua tomada de decisão não precisará se preocupar tanto com indicadores fora da rota
estratégica.
O modelo sugere três medidas complementares à razão Valor de Mercado e Valor
Contábil e para cada uma delas sugere três indicadores ligados à estratégia da empresa a título
de exemplo quando da explanação do modelo em seu livro. São elas:
• Capital Humano - Vendas de novos produtos (% de vendas), Atitude dos
funcionários e Índice de rotatividade de trabalhadores do conhecimento;
• Capital Estrutural – Giro de capital, Custo de substituição de banco de dados e
Razão vendas/custos de vendas, gerais & administrativas;
• Capital do Cliente – Satisfação do Cliente, Índice de retenção de clientes e
valor da marca.
Dentro destes, é preciso avaliar estrategicamente a importância de cada “sub
indicador” alem de selecionar as atividades que produzam riqueza intelectual para chegar ao
objetivo de tentar mensurar o capital intelectual. Nesse ponto, Stewart sugere que ao aplicar o
modelo, enfatize itens que digam algo sobre o capital intelectual.
Será utilizado o mesmo exemplo do proposto por Stewart para não modificar a
originalidade do gráfico radar apresentado por ele.
Como já falado um pouco antes, Stewart demonstra o navegador do capital intelectual
para uma empresa imaginária utilizando uma medida geral (razão valor de mercado/ valor
contábil) e três “sub indicadores” para cada indicador citado anteriormente (Humano,
Estrutural e Cliente).
Conforme o autor, o gráfico inclui escalas e não inclui valores nos eixos.
Abaixo é encontrado um gráfico radar de fácil visualização, possibilitando o
acompanhamento de vários indicadores ao mesmo tempo. O interior do polígono mostra os
resultados atuais; a parte externa revela o que você deseja.
FIGURA II
Gráfico Radar proposto por Stewart
Exemplo: se a empresa tem uma meta de duplicar o capital de giro (um dos
indicadores), coloque a marcação deste ao meio da escala conforme na figura.
Gráficos normalmente são de fácil visualização, como é o caso deste gráfico radar.
Possibilita ao gestor ver facilmente todos os indicadores (neste caso, que se relacionem com
capital intelectual) e acompanhar o desempenho de vários indicadores ao mesmo tempo,
incluindo não financeiros e financeiros como a razão entre valores. A dificuldade de utilizar
esse método é na determinação dos indicadores de desempenho devido a questão da
subjetividade.
7.3 Monitor de Ativos Intangíveis (Modelo de Sveiby)
FIGURA III
Monitor de Ativos Intangíveis de Sveiby
É um modelo que pode ser utilizado para fins de acompanhamento de uma estratégia
orientada para o conhecimento. É uma Matriz de indicadores que tem uma apresentação
simples e fácil interpretação, requer apenas um (1) plano para demonstrar os indicadores
referentes ao capital intelectual da empresa.
Porém a elaboração é complexa uma vez que todos os indicadores são subjetivos,
tornando-se mais complexa. Existindo a possibilidade de demonstrar informações distorcidas,
uma vez que estas são subjetivas.
9 CONCLUSÃO
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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