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Processo: 1937/18.6T8GRD-A.C1
Nº Convencional: JTRC
Relator: RAMALHO PINTO
Descritores: SANÇÃO DISCIPLINAR
SEU CARÁTER ABUSIVO
MOMENTO DA SUA APLICAÇÃO
INDEMNIZAÇÃO POR APLICAÇÃO ABUSIVA
RESOLUÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO PELO TRABALHADOR
PRAZO PARA O EFEITO
Data do Acordão: 29-01-2021
Votação: UNANIMIDADE
Tribunal Recurso: TRIBUNAL JUDICIAL DA COMARCA DA GUARDA – JUÍZO DO TRABALHO DA
GUARDA
Texto Integral: S
Meio Processual: APELAÇÃO
Decisão: PARCIALMENTE REVOGADA
Legislação Nacional: ARTºS 330º, Nº 2, 331º, 394º E 395º DO C. TRABALHO.
Sumário: I – O nº 1 do artº 331º do CT contêm o elenco, taxativo, das
situações em que se deve considerar abusiva a sanção disciplinar.
II - A ratio legis do caráter abusivo da sanção reside na natureza
persecutória da punição, ou seja, no facto de a verdadeira razão da
aplicação da sanção disciplinar se situar fora da punição da
conduta ilícita e culposa do trabalhador.
III - Inexistindo ilicitude da conduta disciplinarmente punida, ou,
acrescentamos nós, invalidade do procedimento disciplinar, a
sanção aplicada ao trabalhador mostra-se ilegal, mas não abusiva,
quando não está demonstrado que subjacente ao exercício do poder
disciplinar se encontrava uma medida de retaliação da entidade
empregadora face ao exercício de direitos por parte do
trabalhador.
IV - O nº 2 do artº 330º do CT distingue dois momentos do
exercício do poder disciplinar por parte da empregadora: o da
decisão/determinação da aplicação da sanção, num primeiro
momento, e o da aplicação da mesma, num momento
necessariamente posterior, devendo interpretar-se o uso da palavra
“aplicação” no sentido de “execução” daquela sanção.
V - É o que resulta até da própria epígrafe do artigo e compreende-
se que assim o seja, já que previamente à imposição de uma sanção,
designadamente do elenco das conservatórias da relação laboral,
necessário se torna que o empregador avalie o comportamento do
trabalhador considerado ilícito, escolhendo, como lhe impõe o nº 1
desse artº 330º, aquela que se revele como proporcional à gravidade
da infração, e só num momento ulterior proceda à execução da
sanção, que deverá ocorrer nos 3 meses ulteriores à decisão.
VI - O que quer dizer que só a efetiva execução da sanção faz
nascer o direito do trabalhador à indemnização aí prevista,
desprezando o legislador quaisquer danos que possam decorrer da
simples decisão de determinação da sanção.
VII - Dispõe o artº 394º, nº 1, do CT de 2009 que, ocorrendo justa
causa, o trabalhador pode fazer cessar imediatamente o contrato.
VIII - A declaração de resolução do contrato deve ser feita por
escrito, com a indicação sucinta dos factos que a justificam, nos
trinta dias subsequentes ao conhecimento desses factos (artº 395º,
nº 1, do CT), sendo apenas atendíveis para justificar a resolução os
factos invocados nessa comunicação (artº 398º, nº 3, do CT).
IX - O prazo de 30 dias a que alude o nº 1 do artº 395º do CT
caracteriza-se como um prazo de caducidade, atento o disposto no
nº 2 do artº 298º do Cod. Civil (“quando, por força da lei ou por
vontade das partes, um direito deva ser exercido dentro de certo
prazo, são aplicáveis as regras da caducidade, a menos que a lei se
refira expressamente à prescrição”).
X - O trabalhador só pode resolver o contrato de trabalho, sem
observância de pré-aviso, e com direito a indemnização, se se
verificar um comportamento que seja imputável à entidade
empregadora, a título de culpa, e que esse comportamento, pela sua
gravidade e consequências, torne inexigível a manutenção do
vínculo laboral.