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Vejamos.
A autora na sua petição invoca o seu despedimento ilícito por extinção
do posto de trabalho. Resulta claro do seu articulado que assim é,
designadamente dos artigos 16 a 18, bem como do pedido formulado,
aludindo a ilicitude do despedimento. Esgrime agora a recorrente com o
teor da segunda missiva, falando na caducidade, mas sem razão.
Note-se que na segunda missiva a empregadora não refere o termo
“caducidade”, limitando-se a referir o artigo a esta respeitante, o 344º do
CT. Contudo resulta desta, não obstante esta indicação, que a vontade
declarada é no sentido do despedimento por extinção do posto de
trabalho. A empregadora refere em termos genéricos, aquele normativo,
adiantando, “no caso de contratos a termo”. Não refere que o contrato
da autora é a termo, pois pode bem ser que a empregadora entenda que
tal contrato, por qualquer razão, até de forma, não é contrato a termo.
Logo de seguida a mesma refere que “comunica a intenção de proceder
ao seu despedimento… em consequência da necessidade de extinguir o
seu posto de trabalho nos termos do nº 1 do artigo 369º do Código do
Trabalho”. Conjugada com a anterior missiva, no sentido de dar ao
trabalhador prazo para se pronunciar quanto à intenção de
despedimento por extinção do posto de trabalho, não pode senão
concordar-se com a decisão recorrida no que a este particular respeita.
A autora foi despedida por extinção do posto de trabalho, e ela assim o
entendeu e nesses termos introduziu a ação.
Já quanto ao não aproveitamento do articulado como requerimento a
que alude o artigo 98-C do CPT a questão não é tão liquida. Vejamos da
possibilidade de convolação.
Importa referir que as normas processuais têm uma função instrumental.
Da sua aplicação não pode resultar uma diminuição ou impedimento ao
www.dgsi.pt/jtrg.nsf/86c25a698e4e7cb7802579ec004d3832/dfac6bfd8bd8f74f802587b3003316fc?OpenDocument 4/5
07/01/22, 00:13 Acórdão do Tribunal da Relação de Guimarães
Consta do normativo:
Erro na forma do processo ou no meio processual
1 - O erro na forma do processo importa unicamente a anulação dos
atos que não possam ser aproveitados, devendo praticar-se os que
forem estritamente necessários para que o processo se aproxime,
quanto possível, da forma estabelecida pela lei.
2 - Não devem, porém, aproveitar-se os atos já praticados, se do facto
resultar uma diminuição de garantias do réu.
3 - O erro na qualificação do meio processual utilizado pela parte é
corrigido oficiosamente pelo juiz, determinando que se sigam os termos
processuais adequados.
Assim, o erro só determina a absolvição da instância nos casos em que
a petição inicial não possa ser aproveitada para a forma de processo
adequada (artºs. 193º; 278º, nº 1, al. b); 576º, nº 2, e 577º, al. b), do
CPC).
No caso estamos no início do processo, tendo apenas sido apresentada
a petição.
Resulta do artigo 98.º-C nº 1 que o processo especial se inicia com a
entrega, pelo trabalhador ou por mandatário judicial por este constituído,
junto do juízo do trabalho competente, de requerimento em formulário
eletrónico ou em suporte de papel, do qual consta declaração do
trabalhador de oposição ao despedimento, sem prejuízo do disposto no
número seguinte.
Desde que a petição inicial apresentada contenha todos os elementos
que deve conter o formulário a que alude o artigo 98º – C nº 1 do CPT
(portaria 1460-C/2009 de 31/12), não há obstáculo à convolação.
Nenhum prejuízo advém para a ré, desde que o aproveitamento se
atenha a esses termos. Vd. Ac. RP de 27/2/2012, www.dgsi.pt, processo
nº 884/11.7TTMTS.P1; RL de 26/3/2014, www.dgsi.pt, processo nº
28303/12.4T2SNT.L1-4, e RG de 12.3.2015, processo nº
1107/13.0TTGMR.G1.
Consequentemente, embora por razão diversa, procede a apelação,
devendo a ação prosseguir na forma adequada, por convolação.
DECISÃO:
Antero Veiga
Alda Martins
Vera Sottomayor
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