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Orientador:
Professor Doutor Manuel Monteiro Guedes Valente
Orientador:
Professor Doutor Manuel Monteiro Guedes Valente
ii
Estabelecimento de Ensino: Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna
Autor: Carlos Serafim Ventura Neto
Curso: XXVII – Mestrado Integrado em Ciências Policiais
Título da obra: Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
Orientador: Professor Doutor Manuel Monteiro Guedes Valente
Local de Edição: Lisboa
Data de Edição: 24 de Abril de 2015
iii
“Os governos passam, as sociedades morrem mas, a Polícia é eterna”.
Honoré de Balzac
iv
Aos meus pais Jacinto Neto e Filomena Neto,
à minha Mulher Núria Morais e às nossas filhas
Áurea e Luna Neto, pois foram as mais
prejudicadas pela minha dedicação a esta causa.
v
AGRADECIMENTOS
vi
RESUMO
vii
ABSTRACT
The democratic and lawful States define themselves by having their Police on the
service of the people and for the people, being unthinkable nowadays, any democratic
society that does not follow this standards. Angola is working, on the aftermath of the civil
war, to not stay behind this development that is already noticeable in some countries of the
Community of the Official Portuguese Speaking Countries.
Because of this, and allied with the constant socioeconomic evolution, result of the
human and technologic development the country has been registering, it's necessary that
the State incorporates a Police force capable to respond, preventively and reactively, to the
crime levels that have been rising, specialy in the major cities.
The Republic Constitution of 2010 is the first Constitution of the country that makes
reference to the police in Angola. The present dissertation has in its objectives, to present
judicial support and police knowledge to help the development of a theorization in Police
Law in Angola, giving more emphasis in portraying police law; in explaining wich security
forces and services contribute for the maintenance of the nacional security; wich are their
powers and capacities conferred by law; wich are the police authorities; how to distinguish
administrative authorities with police powers; as well as questions regarding the criminal
investigation activity, namely a judicial analysis concerning the creation of a criminal
investigation service in the direct jurisdiction of the Interior Ministry.
Key words: Police, police law, intern order services, police power and criminal
investigation.
viii
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
Al. – Alínea
AN – Assembleia Nacional
Art.º – Artigo
CPP – Código de Processo Penal
Cfr. – Confrontar
CGPN – Comando Geral da Polícia Nacional
CRA – Constituição da República de Angola
CGPPA – Comando Geral da Polícia Popular de Angola
CPPA - Corpo de Polícia da Província de Angola
CPL – Corpo de Polícia de Luanda
CSP – Companhia de Segurança Pública
CPSPA – Corpo de Polícia de Segurança Pública de Angola
CPPA – Corpo de Polícia Popular de Angola
FAA – Forças Armadas Angolanas
ISCPSI – Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna
LSN – Lei de Segurança Nacional
MININT – Ministério do Interior/Ministro do Interior
N.º – Número
PNA – Polícia Nacional de Angola
PN – Polícia Nacional
PIR – Polícia de Intervenção Rápida
PR- Presidente da República
P – Pergunta
PSPA – Polícia de Segurança Pública de Angola
PSP – Polícia de Segurança Pública
SB – Serviço de Bombeiros
Séc. – Século
SP – Serviço Penitenciário
SIC – Serviço de Investigação Criminal
SME – Serviço de Estrangeiros e Fronteiras
ix
ÍNDICE
AGRADECIMENTOS ....................................................................................................... vi
RESUMO............................................................................................................................ vii
ÍNDICE ................................................................................................................................. x
INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 1
x
3.1.1 Conceito ................................................................................................................ 40
CONCLUSÃO.................................................................................................................... 65
Bibliografia ...................................................................................................................... 68
xi
Legislação ........................................................................................................................ 71
xii
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
INTRODUÇÃO
1
Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, Teoria Geral do Direito Policial, 4.ª Edição, Coimbra:
Almedina, 2014, p. 106.
2
Para MANUEL VALENTE, o direito policial (…) compreende os princípios gerais, as normas regulares da
actuação e da conduta policial na prossecução das suas atribuições e competências na defesa da legalidade
democrática, na garantia da segurança interna e dos direitos dos cidadãos, cujos destinatários se encontram
indeterminados e indefinidos no espaço do território nacional ou da União Europeia e, até mesmo,
internacional. Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, Teoria Geral do Direito Policial, … p. 31. Numa
perspectiva mais ampla, mas fixando-se no quadro do Direito Administrativo, JOÃO RAPOSO, considera que o
direito policial… é o ramo do Direito Administrativo geral ou comum que regula a organização policial e a
actividade dos corpos de polícia, com vista à satisfação do interesse público da segurança interna, à garantia
do pleno exercício dos direitos, liberdades e ao cumprimento da lei. Cfr. JOÃO RAPOSO, Direito Policial – I,
ICPOL – Colecção do Centro de Investigação do ISCPSI, Coimbra: Almedina, 2006, p. 17.
1
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
3
Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, Teoria Geral do Direito Policial, 3.ª Edição, Coimbra:
Almedina, 2014, p. 23.
2
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
3
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
4
Cfr. MANUELA SARMENTO, Guia Prático sobre a Metodologia Científica para a Elaboração, Escrita e
apresentação de Teses de Doutoramento, Dissertação de Mestrado e Trabalhos de Investigação Aplicada. 3ª
Edição, Lisboa: Lusíada Editora, 2013, p. 7.
5
O método descritivo descreve fenómenos, identifica variáveis e inventaria factos. Cfr. MANUELA
SARMENTO, Guia Prático sobre a Metodologia Científica para a Elaboração,… p. 8.
4
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
5
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
10
Crf. JOÃO PEDRO BARROSA CAUPERS, Introdução ao Direito Administrativo, 11.ª Edição, Lisboa: Âncora,
2013, p. 28.
11
Crf. JOÃO PEDRO BARROSA CAUPERS, Introdução ao Direito Administrativo, … p. 28.
12
Ensina JOÃO PEDRO BARROSA CAUPERS que o Direito Administrativo é o ramo do direito público
constituído pelo sistema de normas jurídicas que regulam a organização, o funcionamento e o controlo da
Administração Pública e as relações que esta, no exercício da actividade administrativa de gestão pública,
estabelece com outros sujeitos de direito. Crf. JOÃO PEDRO BARROSA CAUPERS, Introdução ao Direito
Administrativo, 11.ª Edição, Lisboa: Âncora, 2013, p. 47.
13
Crf. MARCELLO CAETANO, Princípios Fundamentais do Direito Administrativo, 1.ª Edição, Coimbra:
Almedina, 1996, p. 267.
14
Crf. MARCELLO CAETANO, Manual de direito Administrativo, Volume II, 10.ª Edição, 7.ª Reimpressão,
Coimbra, 2004, p. 1150.
15
Cfr. Seguimos a posição de MANUEL VALENTE, que faz uma adequação do conceito de polícia à
modernidade. Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, Teoria Geral do Direito Policial, 4.ª Edição,
Coimbra: Almedina, 2014, pp. 53-54.
6
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
vigorava um regime ditatorial, contudo não nos queremos demarcar da história e, ao falar
de polícia sentimos a necessidade de trazer à ribalta os ensinamentos de MARCELLO
CAETANO, que na altura foram de uma grande evolução cientifico-jurídica.
Nos Estados modernos as funções e actividades da polícia vão muito além das
previstas na definição supra citada. Segundo MANUEL VALENTE “a actividade jurídico-
administrativa e jurídico-criminal de uma polícia pós-moderna se deve basear em primeira
linha na prevenção do perigo – que antecede a prevenção do risco e do dano. À polícia
hodierna cabe-lhe evitar que o perigo possa surgir e gerar o risco e o posterior dano
social”16.
Ainda de acordo com este Autor, a polícia “é a actividade de natureza executiva –
ordem e tranquilidade públicas e administrativa –, dotada de natureza judiciária no quadro
de coadjuvação e de prossecução de actos próprios no âmbito da legislação processual
penal – cuja função jurídico-constitucional se manifesta na concreção da defesa da
legalidade democrática, da garantia da segurança interna e da defesa e garantia dos direitos
do cidadão e da prevenção criminal quer por vigilância quer por prevenção stricto sensu,
podendo para cumprimento daquelas funções fazer uso da força – coacção – dentro dos
limites do estritamente necessário e no respeito pelo Direito e pela pessoa humana”17.
A actuação da polícia nos Estados modernos, os democráticos e de direito, deve ser o
rosto dos princípios constitucionais em vigor. Ela “encontra-se desta forma, subordinada
aos pilares do Estado democrático e de direito: deve ser a promotora e defensora da
dignidade da pessoa humana e deve agir como o rosto da vontade do povo para que seja
construtora de um Estado de direitos humanos, assente na liberdade, na justiça e na
solidariedade”18.
Definido que está o conceito de Polícia, é entendimento comum, que esta polícia
(corpos e serviços de polícia), enquanto organismos integrantes da Administração Pública
do Estado, que cumprem o seu fim de segurança têm de ter legitimidade legal, bem como
normas e regulamentos que legitimam a sua organização interna e respectiva actividade
policial. É aqui que surge o Direito Policial ou Direito de Polícia, que segundo MANUEL
VALENTE tem os elementos policiais como destinatários na qualidade de cidadãos, em que
compreende “os princípios gerais, as normas regulares da actuação e da conduta policial na
16
Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, Teoria Geral do Direito Policial,… p. 53.
17
Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, Teoria Geral do Direito Policial, …p. 106.
18
Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE. Os Desafios Emergentes de uma Polícia de Um Estado de
Direito Democrático, In Politeia - Revista do Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna,
Lisboa, ISCPSI, coord. Manuel Valente. 2012, p. 257.
7
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
19
Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, Teoria Geral do Direito Policial, 3.ª Edição, Coimbra:
Almedina, 2014, p. 29.
20
Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, …, 3.ª Edição, p. 28.
21
Cfr. JOÃO RAPOSO, Direito Policial – I, ICPOL – Colecção do Centro de Investigação do ISCPSI,
Coimbra: Almedina, 2006, p. 17.
22
Cfr. JOÃO RAPOSO, Direito Policial – I, … p. 17.
8
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
23
Cfr. JOÃO RAPOSO, Direito Policial – I, … p. 20.
24
Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, Do Ministério Público e da Polícia: Prevenção Criminal e
Acção Penal Como Execução de uma Política Criminal do ser Humano, Lisboa: UCP, 2013, pp. 276-281.
25
Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, Teoria Geral do Direito Policial, 4.ª Edição, Coimbra:
Almedina, 2014, p. 33.
26
Cfr. JOÃO RAPOSO, Direito Policial – I, ICPOL – Colecção do Centro de Investigação do ISCPSI,
Coimbra: Almedina, 2006, p. 17.
9
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
diferentes, tendo cada um o seu campo de acção, pese embora se vão cruzando, tendo em
conta que há interesses que se vão verificando, independentemente daquele que se lhe
destina a norma jurídica em questão27.
Expostos os argumentos, vamos centrar o nosso estudo no âmbito do Direito Policial,
e não Direito da Polícia, na medida em que nos propusemos abordar a temática do Direito
Policial numa perspectiva informadora e mediatizada pela jurisprudência e pela doutrina,
que como dissemos já anteriormente, não são fontes imediatas de Direito nem de Direito
Policial, mas sim, são fontes de hermenêutica, logo são fontes mediatas de Direito e,
consubstancialmente, fonte de Direito Policial.
Neste nosso trabalho de investigação científica em que pretendemos reflectir sobre o
Direito Policial em Angola, vamos fazê-lo maioritariamente num “(…) sentido estrito, ou
seja, aquele que confere legalidade e legitimidade às suas acções desenvolvidas para a
materialização da sua tarefa, e não sobre o Direito da Polícia”28.
27
Sobre este assunto MANUEL VALENTE considera que “Direito de Polícia ou Direito Policial tem uma maior
amplitude, tem o seu objecto próprio e, não obstante ser subsidiário em certas situações, tem natureza
originária”. Tendo em atenção ao exposto não nos afiguram dúvidas da independência do Direito Policial em
relação ao Direito da Polícia. Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, Teoria Geral do Direito Policial,
4.ª Edição, Coimbra: Almedina, 2014, p. 33.
28
Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, Teoria Geral do Direito Policial, 3.ª Edição, Coimbra:
Almedina, 2014, pp. 29-30.
10
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
ULPIANO contido em D. 1. 1. 1. 2. “Publicum ius est quod and statum rei romanae spectat,
privatum quod ad singulorum utilitatem”29. Hodiernamente existem inúmeros critérios que
ajudam a distinguir quando estamos diante de uma norma de direito público ou privado: o
critério do interesse; o critério da natureza dos sujeitos e o da posição dos sujeitos.
Da afirmação de ULPIANO entende-se que estamos diante de uma norma do direito
público, quando tivesse como fim a tutela de um interesse público da colectividade; e
estaríamos diante de uma norma do direito privado quando, o seu fim visasse satisfazer
interesses individuais dos particulares. Esse critério de interesses é criticado por CARLOS
DA MOTA PINTO, afirmando mesmo que esse não devia ser o critério perfilhado e justifica
acentuando primeiramente que “todo o direito – público e privado – visa proteger
simultaneamente interesses públicos e interesses particulares”30.
As normas do direito privado não são apenas aplicadas na resolução de situações de
interesse dos particulares, mas, também, em situações inerentes a interesses públicos da
colectividade.
Em seu entender, o critério supra citado só se poderá “manter, portanto, se procurar
exprimir apenas uma nota tendencial: o direito público tutelaria predominantemente (não
exclusivamente) interesses da colectividade e o direito privado protegeria
predominantemente (não exclusivamente) interesses dos particulares”31.
JOSÉ ASCENSÃO afirma que este critério é insustentável e que “não há nenhuma linha
radical de fractura entre o interesse público e o interesse privado, ao contrário do que
pretendem sectores liberais”32. É notório que o interesse público corresponde, ainda que de
maneira indirecta, interesses dos particulares, e, o faz, na medida em que há um interesse
público em resolver os interesses dos particulares.
Tendo em conta esse critério, o Direito Policial seria tanto Direito Público como
Direito Privado, na medida em que assumia-se como o primeiro se as suas normas
tutelassem interesses essencialmente colectivos e como o segundo se as suas normas
tutelassem interesses essencialmente dos particulares. Portanto, não podemos colocar o
Direito Policial como ramo do direito público à luz do critério do interesse, pois não é o
mais adequado para o efeito.
29
Crf. JOSÉ DE OLIVEIRA ASCENSÃO, O Direito – Introdução e Teoria Geral, 13.ª Edição, Coimbra:
Almedina, 2005, p. 333.
30
CARLOS ALBERTO DA MOTA PINTO, Teoria Geral do Direito Civil, 4.ª Edição, Coimbra: Coimbra Editora,
2005, p. 36.
31
Idem, p. 37.
32
Crf. JOSÉ DE OLIVEIRA ASCENSÃO, O Direito – Introdução e Teoria Geral, 13.ª Edição, Coimbra:
Almedina, 2005, p. 334.
11
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
33
Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, Teoria Geral do Direito Policial, 3.ª Edição, Coimbra:
Almedina, 2014, pp. 29-30.
34
Cfr. CARLOS ALBERTO DA MOTA PINTO, Teoria Geral do Direito Civil, 4.ª Edição, Coimbra: Editora, 2005,
p. 36.
35
Cfr. CARLOS ALBERTO DA MOTA PINTO, Teoria Geral do Direito Civil,… p. 39.
36
Crf. JOSÉ DE OLIVEIRA ASCENSÃO, O Direito – Introdução e Teoria Geral, 13.ª Edição, Coimbra:
Almedina, 2005, p. 334.
37
Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, Teoria Geral do Direito Policial, 3.ª Edição, Coimbra:
Almedina, 2014, p. 35.
12
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
aplicadas deixam de ser normas de Direito Privado e passam a ser normas de Direito
Público.
Neste critério é notório que a natureza dos sujeitos envolvidos na relação jurídica
não é suficiente para aferirmos se estamos diante de uma norma de Direito Público ou
Privado, o que “não delimita correctamente a integração do Direito Policial no Direito
Público38”.
O critério da posição dos sujeitos da relação jurídica é o que reúne hoje o consenso
da maioria da doutrina, pois assenta na qualidade dos sujeitos intervenientes nas relações
jurídicas tuteladas quer pelas normas do direito público ou pelas normas do direito privado,
dependentemente da posição em que estiverem os sujeitos intervenientes na relação
jurídica em causa.
Este é também o critério que melhor nos permite distinguir Direito Público do
Direito Privado com elevada precisão e segurança.
Este critério vem determinar que Direito Público é aquele que segundo o sentido da
definição de ULPIANO “(…) constitui e organiza o Estado e outros entes públicos e regula a
sua actividade como entidade dotada de ius imperii; Direito Privado é o que regula as
situações em que os sujeitos estão em posição de paridade”39.
Nesse critério o direito privado vai regular apenas as relações jurídicas estabelecidas
entre entes particulares ou entre entes particulares e o Estado ou outros entes públicos, em
que os últimos actuam despidos dos seus poderes de soberania (ius imperii): v.g., a polícia
arrenda um imóvel para instalar uma esquadra de polícia; para tal compra materiais de
construção a um particular etc.; nesses casos em concreto, a polícia enquanto departamento
do Estado está a actuar em pé de igualdade com o particular, não tem poderes nenhuns e
como está despida de qualquer poder se soberania essa relação jurídica ocorre no âmbito
do direito privado40. Por conseguinte, se a relação não for realizada dentro das
características supra citadas estamos diante de uma norma do direito público, sendo este
ramo integrado pelas normas que “estruturam o Estado e outras pessoas colectivas dotadas
de qualidades ou prerrogativas do poder estadual (…)”41.
38
Idem, p. 35.
39
Crf. JOSÉ DE OLIVEIRA ASCENSÃO, O Direito – Introdução e Teoria Geral, 13.ª Edição, Coimbra:
Almedina, 2005, p. 335.
40
Quanto a esta matéria, ver MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, Teoria Geral do Direito Policial, 4.ª
Edição, Coimbra: Almedina, 2014, pp. 35-40.
41
Cfr. CARLOS ALBERTO DA MOTA PINTO, Teoria Geral do Direito Civil, 4.ª Edição, Coimbra: Editora, 2005,
p. 40.
13
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
42
Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, Teoria Geral do Direito Policial, 3.ª Edição, Coimbra:
Almedina, 2014, p. 37.
43
Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, Teoria Geral do Direito Policial, 4.ª Edição, Coimbra:
Almedina, 2014, pp. 39-40.
44
Idem, pp. 39-40.
14
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
45
Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, Teoria Geral do Direito Policial, 3.ª Edição, Coimbra:
Almedina, 2014, p. 25.
46
Cfr. JOÃO RAPOSO, Direito Policial – I, ICPOL – Colecção do Centro de Investigação do ISCPSI,
Coimbra: Almedina, 2006, p. 17.
47
Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, Teoria Geral do Direito Policial, 4.ª Edição, Coimbra:
Almedina, 2014, p. 49.
15
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
de direito, querendo com ela significar – pelo menos num dos seus sentidos – as vias de
manifestação ou de formação do direito num certo ordenamento jurídico”48.
Em sentido teórico jurídico “as fontes do direito são modos de formação e revelação
de regras jurídicas”49.
Numa perspectiva histórica, as fontes do Direito podem ser definidas como as
origens históricas de um determinado sistema jurídico, bem como as influências que sofreu
ao longo dos tempos e que determinaram o seu modo de ser e a sua estrutura face ao
ordenamento jurídico inserido50.
Tendo em conta a ordem jurídica como uma realidade histórica é imprescindível que
a regra jurídica que a exprime corresponda a uma génese, historicamente ocorrida. O que
pretendemos referir quando falamos sobre fontes de direito é o modo como se formam e se
manifestam as normas e regras jurídicas em questão; tendo ainda por vezes que nos ocupar
com o entendimento como modo de formação51.
JOSÉ ASCENSÃO entende que a fonte representa uma imagem, tão vasta que é capaz
de se adaptar às várias realidades jurídicas. Fala-se em “fontes do Direito” e, estas podem
ser nos seguintes sentidos: “histórico; instrumental; fonte sociológico ou material; orgânico
e técnico jurídico ou dogmático”52.
Sendo o Direito Policial um ramo do Direito Público, as suas fontes não diferem das
outras disciplinas do direito. MANUEL VALENTE considera que constituem fontes imediatas
ou directas do Direito Policial “a lei – direito escrito – e o costume – direito
consuetudinário -, sendo que são fontes mediatas ou indirectas a jurisprudência e a
doutrina”53.
DIOGO FREITAS DO AMARAL elenca quatro fontes do Direito e o faz numa perspectiva
hierárquica, enumerando da seguinte maneira: costume; lei; jurisprudência e a doutrina54.
48
Quanto a esta temática das fontes de direito, afirma ainda que neste sentido, a expressão fontes de direito
aponta para uma certa pré-compreensão do direito. Cfr. ANTÓNIO MANUEL HESPANHA, O Caleidoscópio do
Direito – O Direito e a Justiça nos Dias e no Mundo de Hoje, 2.ª Edição, Coimbra: Almedina, 2009, p. 530.
49
Crf. JOSÉ DE OLIVEIRA ASCENSÃO, O Direito – Introdução e Teoria Geral, 13.ª Edição, Coimbra:
Almedina, 2005, p. 256.
50
Cfr. ANTÓNIO MANUEL HESPANHA, O Caleidoscópio do Direito – O Direito e a Justiça nos Dias e no
Mundo de Hoje, 2.ª Edição, Coimbra: Almedina, 2009, p. 530.
51
Crf. JOSÉ DE OLIVEIRA ASCENSÃO, O Direito – Introdução e Teoria Geral, 13.ª Edição, Coimbra:
Almedina, 2005, p. 51.
52
Crf. JOSÉ DE OLIVEIRA ASCENSÃO, O Direito – Introdução e Teoria Geral,…p. 51-53.
53
Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, Teoria Geral do Direito Policial, 3.ª Edição, Coimbra:
Almedina, 2014, p. 39.
54
Cfr. DIOGO FREITAS DO AMARAL, Sumário de Introdução ao Direito, 1.ª Edição, Lisboa: Faculdade de
Direito da Universidade de Lisboa, 1997, p. 30.
16
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
Autores há, que o fazem de maneira diferente, colocando a lei no topo da hierarquia
das fontes, pois, muitas das vezes as fontes legislativas têm predomínio em relação a
outras. É sabido que “o direito é constituído, essencialmente, pelas normas jurídicas
expressas, formalmente apresentadas como tais (v. g., as leis)”55. Devendo por este facto as
demais fontes do direito subordinarem-se à lei, num sentido que só são aceites e vigoram
no ordenamento jurídico angolano mediante submissão à lei e nos casos e circunstâncias
por ela prevista.
GERMANO MARQUES DA SILVA vai mais além e entende que existem outras fontes de
direito, caso dos princípios fundamentais de Direito, alertando que a sua admissibilidade
tem sido causa de discussão na doutrina. Estes princípios “enformam o direito positivo,
dando-lhe uma direcção, um sentido, e são o fundamento da sua validade e também que,
chame-se o que lhe chamar (direito natural, princípios da justiça ou simplesmente
princípios fundamentais do Direito) esses princípios fazem parte do direito, são Direito”56.
MANUEL VALENTE segue a mesma linha de pensamento e enquadra também os
princípios fundamentais do direito no elenco das fontes do Direito Policial e a razão de ser
prende-se com o facto de os princípios “não obstante serem apenas direito objectivo e não
direito positivo até consagração em fonte formal, como fontes do Direito Policial, porque
não só o legitimam, como o enformam e o validam na materialização da actuação jurídico-
administrativa e jurídico-criminal da Polícia”57.
De realçar, que as fontes do Direito Policial no entender de MANUEL VALENTE
podem ser “internas – lei, costume, jurisprudência e doutrina – e externas – tratado,
costume de organismos internacionais e doutrina”58.
Sufragando esta posição, consideramos que, quanto à lei, ou seja, todo o direito
positivo em vigor na República de Angola, seja supraconstitucional, constitucional ou
infraconstitucional é fonte de Direito Policial e não se afiguram dúvidas quanto a isto. A
constitucionalização ou legitimidade da actividade policial em Angola encontra
fundamento de ser no art.º 210.º da Constituição da República de Angola que vem atribuir
as seguintes competências:
55
Cfr. JOSÉ JOÃO GONÇALVES DE PROENÇA, Introdução ao Estudo do Direito, Lisboa: Universidade Lusíada,
1995, p. 29.
56
Cfr. GERMANO MARQUES DA SILVA, Introdução ao Estudo do Direito, 4.ª Edição, Lisboa: Universidade
Católica, 2012, pp. 93-95.
57
Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, Teoria Geral do Direito Policial, 3.ª Edição, Coimbra:
Almedina, 2014, p. 39.
58
Idem, p. 39.
17
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
59
A respeito desse assunto ver art.º 210.º da lei n.º 6/05, de 10 de Agosto, que aprovou a Constituição da
República de Angola.
60
Cfr. GERMANO MARQUES DA SILVA, Introdução ao Estudo do Direito, 4.ª Edição, Lisboa: Universidade
Católica, 2012, p. 126.
61
Idem, p. 126.
62
Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, Teoria Geral do Direito Policial, 3.ª Edição, Coimbra:
Almedina, 2014, p. 40.
63
Cfr. GERMANO MARQUES DA SILVA, Introdução ao Estudo do Direito, 4.ª Edição, Lisboa: Universidade
Católica, 2012, p. 130.
18
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
64
Idem, p. 135.
65
Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, Teoria Geral do Direito Policial, 3.ª Edição, Coimbra:
Almedina, 2014, p. 41.
66
Quanto a este assunto GERMANO MARQUES DA SILVA entende que há fontes que criam Direito, criam
normas jurídicas, enquanto outras apenas o revelam, clarificam as normas existentes, constituindo por isso
apenas fontes indirectas, mediatas das normas jurídicas, ou seja fontes júris cognoscendi, como lhe
chamavam os romanos. Cfr. GERMANO MARQUES DA SILVA, Introdução ao Estudo do Direito, 4.ª Edição,
Lisboa: Universidade Católica, 2012, p. 92.
19
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
67
Cfr. Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura. 15.ª Edição. Lisboa: Editorial Verbo, S.A.R.L., 1973, p. 399.
68
Cfr. NORBERTO BOBBIO… GIANFRANCO PASQUINO, Dicionário de Política. 13.ª Edição. Editora: UnB.,
2010, p. 944.
69
Cfr. JOÃO RAPOSO, Direito Policial – I, ICPOL – Colecção do Centro de Investigação do ISCPSI,
Coimbra: Almedina, 2006, p. 21.
70
Cfr. JOÃO RAPOSO, Direito Policial – I, … 2006, p. 21.
71
Relativamente ao assunto Aristóteles escreveu que existem três tipos fundamentais de constituições: a
monarquia ou governo de um só; a autocracia ou governo dos melhores; a democracia ou governo da
multidão. Esta última chama-se politia, isto é, constituição por antonomásia, quando a multidão governa para
o bem de todos. A estes três tipos correspondem outras tantas degenerações quando o governo descuida o
bem comum em favor do bem próprio. Cfr. NICOLA ABBAGNANO, História da Filosofia, Volume I, Lisboa:
Editorial Presença, 1969, p. 292.
20
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
72
Cfr. JOÃO RAPOSO, Direito Policial – I, ICPOL – Colecção do Centro de Investigação do ISCPSI,
Coimbra: Almedina, 2006, p. 22.
73
Idem, p. 23.
74
Crf. MARCELLO CAETANO, Manual de direito Administrativo, Volume II, 10.ª Edição, 7.ª Reimpressão,
Coimbra, 2004, p. 1152.
75
Ensina MARCELLO CAETANO que o objecto próprio da polícia é a prevenção dos danos sociais, segundo o
velho princípio de que mais vale prevenir que remediar. Crf. MARCELLO CAETANO, Manual de direito
Administrativo, … p. 1152.
76
Crf. MARCELLO CAETANO, Manual de direito Administrativo, … p. 1148.
21
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
menos esclarecidas, do príncipe, que, com total liberdade, tomava as medidas que muito
bem entendesse com vista a assegurar o bem comum (…)”77.
Com a Revolução Francesa surge o Estado de Direito (moderno) que vem pôr fim à
arbitrariedade, passando os Estados a subordinarem-se às leis que criam e traz, em si, um
novo conceito de Polícia, enquadrando-a como uma actividade do Estado. No direito
contemporâneo, a Polícia é definida como “o modo de actuar da autoridade administrativa
que consiste em intervir no exercício das actividades individuais susceptíveis de fazer
perigar interesses gerais, tendo por objecto evitar que se produzam, ampliem ou
generalizem os danos sociais que as leis procuram prevenir”78.
Nos dias que correm, a actividade da polícia não está, única e exclusivamente,
adstrita à ideia de prevenção de perigos que afectam interesses gerais da colectividade,
pelo facto de não serem só as actividades individuais susceptíveis de colocar em perigo de
lesão bens jurídicos protegidos da colectividade, podem ser também as pessoas colectivas.
Ensina MANUEL VALENTE que “uma polícia contemporânea ou pós-moderna procura
evitar que condutas de pessoas singulares e/ou colectivas possam afectar interesses gerais
ou colectivos e interesses singulares e individuais”79.
De referir que o cerne da actividade policial não se esgota na prevenção dos danos
sociais com interesses relevantes à colectividade, estende-se igualmente na prevenção de
danos sociais de interesses individuais e de lesões a bens jurídicos individuais.
É evidente que o vocábulo polícia assume significados diversos, neste sentido vamos
apenas nos fixar naqueles que são de interesse para o nosso estudo, nomeadamente: a
polícia em sentido orgânico ou institucional, material ou funcional e em sentido formal.
77
Cfr. JOÃO RAPOSO, Direito Policial – I, ICPOL – Colecção do Centro de Investigação do ISCPSI,
Coimbra: Almedina, 2006, p. 22.
78
Crf. MARCELLO CAETANO, Manual de direito Administrativo, Volume II, 10.ª Edição, 7.ª Reimpressão,
Coimbra, 2004, p. 1150.
79
Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, Teoria Geral do Direito Policial, 3.ª Edição, Coimbra:
Almedina, 2014, p. 49.
22
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
de polícia”80. Por conseguinte SÉRVULO CORREIA define polícia neste sentido como “todo
o serviço administrativo que, nos termos da lei, tenha como tarefa exclusiva ou
predominante o exercício de uma actividade de polícia”81.
A propósito da definição apresentada por SÉRVULO CORREIA, é necessário que se
faça uma clara distinção entre autoridades e serviços de polícia.
Na perspectiva de SÉRVULO CORREIA, as autoridades de polícia “são em geral os
órgãos das pessoas colectivas públicas com competência para emanar regulamentos
independentes em matéria de polícia administrativa geral e (ou) para determinar a
aplicação de medidas de polícia”82. Para JOÃO RAPOSO “(…) as autoridades de polícia são
as chefias dos diversos corpos de polícia, dispondo, nomeadamente, de competência para
aplicar as determinadas medidas de polícia (…)83. Já os serviços de polícia são
departamentos do Estado que tutelam exclusiva e predominantemente tarefas de carácter
policial e, dependem sempre de uma autoridade de polícia que para os devidos efeitos
determina as medidas de polícia a ter em conta numa situação concreta.
Em Angola existem serviços administrativos do Estado com funções preventivas de
situações de perigosidade social, denominados serviços de polícia, cuja missão genérica é a
de garantir os direitos, liberdades e garantias fundamentais dos cidadãos e a defesa da
legalidade democrática, a manutenção da ordem e tranquilidade públicas, bem como a
prevenção da delinquência e o combate à criminalidade. Esta actividade é desenvolvida por
uma componente humana, podendo ser autoridades de polícia e agentes de execução, por
conseguinte, são ambos agentes de autoridade.
De acordo a Lei de Segurança Nacional84 (LSN) angolana, são autoridades de
polícia85 as chefias dos diversos corpos de polícia, bem como de determinados órgãos com
competências de polícia, mas que não o são efectivamente em sentido orgânico. De realçar
80
Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, Teoria Geral do Direito Policial, …, 3.ª Edição, p. 61.
81
Cfr. SÉRVULO CORREIA, “Polícia”, in Dicionário Jurídico da Administração Pública, Vol. VI, Lisboa,
1994, p. 393.
82
Cfr. SÉRVULO CORREIA, “Polícia”, in Dicionário Jurídico da Administração Pública, … p. 393.
83
Cfr. JOÃO RAPOSO, Direito Policial – I, ICPOL – Colecção do Centro de Investigação do ISCPSI,
Coimbra: Almedina, 2006, p. 35.
84
Lei n.º 12/02, de 16 de Agosto de 2002.
85
De acordo com a LSN consideram-se autoridades de polícia as seguintes entidades:
«a) O Comandante Geral, os segundos Comandantes Gerais, os Comandantes Provinciais, e os
Comandantes Municipais da Polícia;
b) Os Funcionários superiores da Polícia Nacional referidos nos respectivos diplomas orgânicos;
c) Os funcionários superiores dos Serviços de Migração e Estrangeiros referidos no respectivo
estatuto;
d) Os chefes dos Departamentos Marítimos e os capitães dos portos, enquanto órgãos do sistema
de Autoridade Marítima e correspondentes entidades do sistema de Autoridade Aeronáutica».
Cfr. Art.º 19.º da Lei n.º 12/02, de 16 de Agosto de 2002, Lei de Segurança Nacional.
23
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
que essas autoridades dispõem de competências para mandar aplicar as medidas de polícia
dispostas no art.º 23.º da LSN.
Os agentes de execução “são o restante pessoal com funções policiais, a quem cabe
coadjuvar as autoridades de polícia no exercício da sua actividade, auxiliando-as na
preparação das suas decisões e dando cumprimento às determinações delas emanadas”86.
Seguindo ainda a linha do referido Autor, ao lado das autoridades policiais, existem
certas autoridades administrativas que, cumulativamente com as funções de outra natureza,
desempenham, também, pontualmente e em situações excepcionais determinadas funções
de polícia. São casos concretos acerca desse assunto o Governador Provincial, o Ministro
do Interior, as chefias das Forças Armadas, quando em situações pontuais colaboram com
a polícia e desempenham funções de cariz predominantemente policial. A essas
autoridades chamam-se autoridades administrativas com funções policiais, pois, não
devem ser confundidas com polícia porque não o são em sentido orgânico.
Portanto, “à polícia em sentido institucional ou orgânico pertencem, e apenas, as
autoridades do primeiro grupo – isto é, aquelas que desempenham as funções policiais a
titulo exclusivo ou principal”87.
86
Cfr. JOÃO RAPOSO, Direito Policial – I, ICPOL – Colecção do Centro de Investigação do ISCPSI,
Coimbra: Almedina, 2006, pp. 35-36.
87
Cfr. JOÃO RAPOSO, Direito Policial – I, …p. 39.
88
Crf. MARCELLO CAETANO, Manual de direito Administrativo, Volume II, 10.ª Edição, 3.ª Reimpressão,
Coimbra, 1990, p. 1150.
89
Cfr. SÉRVULO CORREIA, “Polícia”, in Dicionário Jurídico da Administração Pública, Vol. VI, Lisboa,
1994, p. 393.
24
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
90
Cfr. JOÃO RAPOSO, Direito Policial – I, ICPOL – Colecção do Centro de Investigação do ISCPSI,
Coimbra: Almedina, 2006, pp. 26-27.
91
Cfr. HÉLDER VALENTE DIAS, Metamorfoses da Polícia – Novos Paradigmas da Segurança e Liberdade,
ICPOL – Colecção do Centro de Investigação do ISCPSI, Coimbra: Almedina, 2012, p. 70.
92
Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, Teoria Geral do Direito Policial, 4.ª Edição, Coimbra:
Almedina, 2014, p. 67.
93
Idem, p. 68.
25
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
94
Cfr. HÉLDER VALENTE DIAS, Metamorfoses da Polícia – Novos Paradigmas da Segurança e Liberdade,
ICPOL – Colecção do Centro de Investigação do ISCPSI, Coimbra: Almedina, 2012, p. 76.
95
Cfr. SÉRVULO CORREIA, “Polícia”, In Dicionário Jurídico da Administração Pública, Vol. VI, Lisboa,
1994, P. 395.
96
Crf. MARCELLO CAETANO, Manual de Direito Administrativo, Volume II, 10.ª Edição, 3.ª Reimpressão,
Coimbra, 1990, p. 1170.
97
Cfr. HÉLDER VALENTE DIAS, Metamorfoses da Polícia – Novos Paradigmas da Segurança e Liberdade,
ICPOL – Colecção do Centro de Investigação do ISCPSI, Coimbra: Almedina, 2012, p. 77.
26
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
98
Cfr. Art.º 18.º da Lei n.º 12/02, de 16 de Agosto de 2002, que aprova a Lei de Segurança Nacional.
99
Cfr. JOÃO RAPOSO, Direito Policial – I, ICPOL – Colecção do Centro de Investigação do ISCPSI,
Coimbra: Almedina, 2006, p. 49.
27
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
tempo dilatados, e em que os elementos com funções policiais estão sujeitos à hierarquia
do comando e não na normal hierarquia administrativa”100.
Só as polícias que integram à concepção do art.º 210.º da CRA em conjugação com o
18.º da LSN – aquelas que desempenham, de forma originária, funções de manutenção e
reposição da ordem ou tranquilidade públicas, a nível nacional podem ser tidas como
forças de segurança. E na perspectiva de MANUEL VALENTE não basta os últimos atributos,
devem ainda “se encontrar dentro do princípio da territorialidade, do princípio da reserva
da lei e do princípio da unidade de organização para todo o território nacional”101.
Caso concreto é o da PNA (polícia militarizada) e inspirada no modelo castrense, que
desempenha na sua actividade tarefas de segurança pública conciliando em si uma
estrutura organizativa fortemente militarizada à semelhança das Forças Armadas
Angolanas (FAA). O Estatuto Orgânico102 da Polícia Nacional de Angola, no seu art.º 1.º,
define a PNA como uma força militarizada, conferindo-lhe um leque alargado de
atribuições como: a defesa da legalidade democrática; a manutenção da ordem e da
tranquilidade públicas; o respeito pelo regular exercício dos direitos e liberdades
fundamentais dos cidadãos; a defesa e protecção da propriedade estatal colectiva, privada e
pessoal; a prevenção à delinquência e o combate à criminalidade; colaborar na execução da
Política de Defesa Nacional, nos termos que forem estabelecidos por lei.
Tendo em conta que a competência territorial da actuação da polícia em todo o
território nacional reforça e sustenta a ideia de que determinada polícia é ou não força de
segurança, o n.º 2 do art.º 2.º do Estatuto Orgânico supra citado determina que a
organização da PNA é única e as suas missões serão exercidas em todo o território
nacional, obedecendo à hierarquia de Comando a todos os níveis da sua estrutura. Como
tem defendido MANUEL VALENTE, a “prossecução das competências a nível do território
nacional, a obediência ao princípio da territorialidade, é fundamental para que uma Polícia
seja constitucionalmente considerada força de segurança”103. Quanto aos critérios da
territorialidade e unidade enquanto princípios defendidos por MANUEL VALENTE, não nos
afiguram dúvidas de que a PNA é uma força de segurança à Luz da CRA.
O n.º 1 do art.º 210.º da CRA define apenas a Polícia Nacional de Angola como uma
instituição nacional policial, permanente, regular e apartidária, organizada na base da
100
Cfr. LUÍS MANUEL DE OLIVEIRA PIMENTEL, O Regime Estatutário das Forças de Segurança, In Estudos de
Direito de Polícia, 2. º Volume, coord. de Jorge Miranda, Lisboa, AAFDL, 2003, p. 180.
101
Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, Teoria Geral do Direito Policial, 3.ª Edição, Coimbra:
Almedina, 2014, p. 51.
102
Cfr. Decreto-lei n.º 20/93, de 11 de Junho.
103
Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, Teoria Geral do Direito Policial,… 3.ª Edição, p. 51.
28
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
6. Serviços de Segurança
Em Angola, temos ainda outros órgãos cuja organização e funcionamento
assemelham-se a da PNA, o que podem causar certas dúvidas se devem ser tidos ou não
como forças de segurança. São os casos concretos do Serviço de Migração e Estrangeiros
104
Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, Teoria Geral do Direito Policial,… 3.ª Edição, pp. 53-61.
105
Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, Teoria Geral do Direito Policial,… 3.ª Edição, pp. 53-61.
106
A inconstitucionalidade superveniente de que procede o Estatuto actual da PNA, como nos disse MANUEL
VALENTE em conversa e debate de ideias sobre o tema em concreto, é uma consequência natural do processo
de democratização constitucional em curso em Angola, que, em dia próprio, será afastado pela aprovação de
uma Lei Orgânica da PNA pela AN.
29
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
(SME), legislado pelo Decreto Executivo n.º 010/2000; o Serviço Penitenciário (SP),
legislado pelo Decreto Executivo n.º 013/2000 e o Serviço de Bombeiros (SB), legislado
pelo Decreto Executivo n.º 07/2000. Mas esses órgãos não congregam em si as
particularidades anteriormente elencadas e que caracterizam uma força de segurança.
Esses serviços são os chamados serviços de segurança, sendo os outros serviços, não
necessariamente policiais, que concorrem para garantir a segurança interna, prescindindo,
para o efeito, de uma organização de cariz preponderantemente militar107.
Na perspectiva de JOÃO RAPOSO, os serviços são entendidos como “as organizações
humanas criadas no seio de cada pessoa colectiva pública com o fim de desempenhar as
atribuições desta, sob a direcção dos respectivos órgãos”108. Trata-se de serviços
integrados no aparelho do Estado, pois a sua criação está inerente à prossecução dos fins
deste. Aqueles serviços estão acoplados à categoria dos serviços principais de carácter
operacional, pois desempenham uma actividade material inerentes a determinada
atribuição do Estado, nomeadamente o garante da segurança nacional, que o mesmo
procura preservar.
Os serviços de segurança, tal como as forças de segurança têm uma natureza jurídica
de “(…) serviços da administração estadual directa, como tal desprovidos de personalidade
jurídica e, sem prejuízo da sua autonomia financeira, administrativa, técnica e operacional,
dependentes hierarquicamente de um membro do Governo (…)”109.
107
Cfr. JOÃO RAPOSO, Direito Policial – I, ICPOL – Colecção do Centro de Investigação do ISCPSI,
Coimbra: Almedina, 2006, p. 49.
108
Cfr. JOÃO RAPOSO, Direito Policial – I,… p. 50.
109
Cfr. JOÃO RAPOSO, Direito Policial – I,… pp. 49-50.
110
Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, Teoria Geral do Direito Policial, 4.ª Edição, Coimbra:
Almedina, 2014, p. 73.
30
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
111
Idem, p. 73.
112
Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, Teoria Geral do Direito Policial, 4.ª Edição, Coimbra:
Almedina, 2014, p. 72.
113
Cfr. Art.º 19.º da Lei n.º 12/02, de 16 de Agosto de 2002, LSN de Angola.
31
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
114
Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, Teoria Geral do Direito Policial, 4.ª Edição, Coimbra:
Almedina, 2014, p. 73.
115
Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, Teoria Geral do Direito Policial, 4.ª Edição, Coimbra:
Almedina, 2014, pp. 70-71.
32
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
33
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
116
Cfr. DIVALDO JÚLIO MARTINS, O Trabalho Policial nas Sociedades Democráticas: O Caso de Angola, In
Estudos sobre Acção Policial e Direitos Humanos em Angola, coord. de Lúcia da Silveira & Sandra Furtado,
Luanda, 2010, p. 47.
117
Cfr. JOÃO MANUEL DE ALMEIDA DE SÁ, Origem e Evolução Cronológica da Polícia em Angola, Luanda:
Norprint, 2013, p. 11.
118
Cfr. JOÃO MANUEL DE ALMEIDA DE SÁ, Origem e Evolução Cronológica da Polícia... Anexo, p. 72.
34
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
119
Cfr. JOÃO MANUEL DE ALMEIDA DE SÁ, Origem e Evolução Cronológica da Polícia... Anexo, p. 82.
120
Cfr. JOÃO MANUEL DE ALMEIDA DE SÁ, Origem e Evolução Cronológica da Polícia..., p. 21.
35
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
121
Cfr. JOÃO MANUEL DE ALMEIDA DE SÁ, Origem e Evolução Cronológica da Polícia... Anexo, p. 129.
36
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
sido aprovado a pouco tempo. Neste período, foi também aprovada a Lei n.º 28/91, de 27
de Setembro, que equipara os postos e distintivos da PNA aos das FAA.
Em 1991, a corporação passa a ser comandada por ANDRÉ PITRA PETROFF e adoptou
mudanças significativas na Polícia. Com a aprovação do Decreto n.º 20/93, de 11 de Junho,
a Polícia Nacional passou a ter três áreas a saber: Área Administrativa; Área Operativa e
Área de Apoio. Neste período, foi ainda aprovado o Regulamento de Disciplina da
Corporação e mais tarde foi criada a Polícia de Emergência, actualmente designada Polícia
de Intervenção Rápida (PIR).
Em 2002, no cumprimento de uma orientação do Presidente da República, foi
elaborado um plano de Modernização e Desenvolvimento para a PNA. Da elaboração e
realização efectiva do disposto nesse plano resultou um maior esforço na formação de
quadros, na reparação e reconstrução de infra-estruturas, bem como a melhoria das
condições sociais dos efectivos; uma melhoria gradual na prevenção e repressão da
criminalidade; da sinistralidade rodoviária e da imigração ilegal, que muito assola as
fronteiras angolanas, tanto terrestes como marítimas.
Ao longo dos quase 35 anos de existência, a PNA, sempre procurou dignificar o
nome do Estado angolano e o cumprindo da melhor maneira possível dos lemas que
norteiam a sua actividade: Pela Ordem e Pela Paz ao Serviço da Nação e Pela Ordem e
Pela Paz ao Serviço do Povo.
37
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
O art.º 210.º da CRA define as funções da PN num sentido muito amplo. Quem
estabelece de forma clara a natureza das suas funções é o art.º 209.º da CRA, cujo título é
garantia da ordem. Este dispõe que a PN tem por objectivo a defesa da segurança e
tranquilidade públicas, o asseguramento e protecção das instituições, dos cidadãos e
respectivos bens e dos seus direitos e liberdades fundamentais, contra a criminalidade
violenta ou organizada e outro tipo de ameaças e riscos, no estrito respeito pela
Constituição, pelas leis e pelas convenções internacionais de que Angola seja parte.
Da leitura minuciosa do n.º 1 do art.º 209.º da CRA destacamos três grandes funções
a serem desenvolvidas pela PN, nomeadamente: a defesa da segurança e da tranquilidade
pública; a protecção das instituições democráticas e a garantia dos direitos e liberdades
fundamentais dos cidadãos.
Defender a segurança e a tranquilidade públicas é garantir a segurança interna da
nação122. É neste âmbito que a PNA tem competências e desenvolve a actividade de
prevenção e investigação criminal, bem como a manutenção e reposição da ordem pública,
como podemos ver no disposto nos art.º 1.º e 5.º do Decreto-Lei n.º 20/93, de 11 de
Junho123.
Ao protegermos as instituições democráticas, estamos a garantir a legalidade
democrática, definida por JORGE MIRANDA como “a legalidade própria de um Estado
democrático”124, defendendo assim que é imperioso a existência de um paralelismo entre
os actos do poder público, em relação às restantes leis e à Constituição, tendo sempre por
base o princípio da legalidade democrática, o que pressupõe que as demais leis busquem as
suas bases na Constituição.
Para CANOTILHO e MOREIRA a ideia de legalidade democrática estará, “porventura,
ligada à ideia de garantia de respeito e cumprimento das leis em geral, naquilo que
concerne à vida da colectividade”125.
Comutativamente compete ainda à PNA garantir os direitos e liberdades
fundamentais dos cidadãos. Como ensina MANUEL VALENTE126, esta é sem sombra de
122
Quanto ao assunto, acompanhamos MANUEL VALENTE, Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE,
Teoria Geral do Direito Policial, 4.ª Edição, Coimbra: Almedina, 2014, pp. 116-117 e CANOTILHO, J. J. G. &
MOREIRA, Constituição Portuguesa Anotada, 3.ª Ed. Coimbra. 1993, p. 955.
123
Estatuto Orgânico da PNA.
124
Cfr. JORGE MIRANDA, A Ordem Pública e os Direitos Fundamentais: Perspectiva Constitucional, In
Revista da Polícia Portuguesa, n.º 88.
125
Cfr. GOMES CANOTILHO & VITAL MOREIRA, Constituição Portuguesa Anotada, 3.ª Ed. Coimbra. 1993, p.
955.
126
Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, Os Desafios Emergentes de uma Polícia de Um Estado de
Direito Democrático, In Politeia - Revista do Instituto Superior de Ciências Policiais e Segurança Interna,
Lisboa, ISCPSI, coord. Manuel Valente. 2012, pp. 258-262.
38
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
dúvidas uma das principais razões da existência dos corpos de polícia, ou seja, deve ser
função fundamental da PNA enquanto força de segurança defender e proteger os direitos
dos cidadãos, para que não sejam violados. E nessa tarefa de protecção do cidadão, a
polícia não o faz só se a ameaça porventura vier de outro cidadão ou pessoa colectiva, mas
também, do próprio Estado, pois em Estado Democrático e de Direito o mesmo deve
subordinação à Constituição e às, leis que cria.
É função da polícia garantir os direitos dos cidadãos, tratando-se de um acto de
obrigatoriedade pública que consiste na protecção dos direitos dos cidadãos. Esta função
deve ser articulada com o direito à segurança. É obrigação do Estado garantir a protecção
dos cidadãos contra a agressão de terceiros aos seus direitos. Deste modo, “os direitos dos
cidadãos não são apenas um limite da actividade de polícia; constituem também um dos
próprios fins dessa função”127.
127
Cfr. GOMES CANOTILHO & VITAL MOREIRA, Constituição Portuguesa …, Anotada., p. 956.
128
Cfr. Art.º 18.º, n.º 1, da Lei n.º 12/02, de 16 de Agosto de 2002, que aprovou a Lei de Segurança Nacional.
129
Cfr. JORGE BACELAR GOUVEIA, Direito Constitucional de Angola, Lisboa: Norprint, 2014, p. 555.
39
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
encontramos no n.º 3 do art.º 4.º do Capítulo II, do Decreto Presidencial n.º 209/14 de 18
de Agosto, que aprova o novo Estatuto Orgânico do MININT.
40
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
41
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
42
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
130
Cfr. Art.º 19.º, alínea c), da LSN.
43
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
44
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
45
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
que tanto nas suas finalidades, como nos seus poderes materiais não constam nenhuma
actividade de polícia, seja administrativa ou judiciária. As suas competências estão
intimamente ligadas a questões de natureza de protecção civil e socorro dos cidadãos em
perigo quando haja situações de risco.
Partindo do pressuposto de que o objecto do Direito Policial em Angola é a
actividade de Polícia, enquanto instituição do Estado que detém o dever da regulação e
manutenção da ordem e tranquilidade públicas, prevenção e investigação criminal e, “(…)
garante da liberdade do cidadão face às ofensas ilícitas concretizadas e/ou produzidas quer
por outrem quer pelo próprio Estado”131, propusemo-nos estudar os serviços da ordem
interna do MININT.
Almejando uma melhor caracterização do Direito Policial em Angola, entendemos
necessário fazer uma caracterização (estudo da definição, bem como das atribuições e
competências) da PNA, SME e SP, enquanto forças e serviços de segurança que
contribuem na manutenção e salvaguarda da integridade e segurança nacional do Estado e
dos cidadãos que nele habitam.
131
Cfr. Cap. I, p. 15.
46
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
132
Segundo o Dicionário de Política a palavra Poder designa a capacidade ou a possibilidade de agir, de
produzir efeitos. Ainda nesta senda de ideias Hobbes escreveu que o poder consiste nos meios de alcançar
alguma aparente vantagem futura; já para Gumplowicz a essência do poder consiste na posse dos meios de
satisfazer as necessidades humanas e na possibilidade de dispor livremente de tais meios. Cfr. NORBERTO
BOBBIO… GIANFRANCO PASQUINO, Dicionário de Política. 13.ª Edição. Editora: UnB, 2010.
133
Para MEIRELLES nos Estados de direito, o caso de Angola, a “Administração Pública deve obediência à lei
em todas as suas manifestações”. Cfr. HELY LOPES MEIRELLES, Direito Administrativo Brasileiro, 35.ª Edição
Actualizada, Malheiros, 2009, p. 112. Sobre este assunto, ver ainda: JORGE BACELAR GOUVEIA, Direito
Constitucional de Angola, Lisboa: Norprint, 2014.
134
Cfr. CELSO ANTÔNIO BANDEIRA DE MELLO, citado por EDMIR NETTO DE ARAÚJO, Curso de Direito
Administrativo, 4.ª Edição, Saraiva, 2009, p. 1012.
47
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
135
Cfr. EDMIR NETTO DE ARAÚJO, Curso de Direito Administrativo, … p. 1012.
136
Estes poderes de polícia já vêem contidos na própria definição jurídica da polícia, sendo estes dois
institutos indissociáveis, de forma que a compreensão de ambos é essencial para que se apreenda sobre o
conjunto que formam. Cfr. JÚLIO CÉSAR LUCIANO, O A Polícia e o Poder de Polícia no Direito Brasileiro, In
Estudos de Direito de Polícia, 1º. Volume, coord. de Jorge Miranda, Lisboa, AAFDL, 2003, p. 31.
137
Cfr. HELY LOPES MEIRELLES, Direito Administrativo Brasileiro, 35.ª Edição Actualizada, Malheiros, 2009,
p. 133.
138
Cfr. JOÃO RAPOSO, Direito Policial – I, ICPOL – Colecção do Centro de Investigação do ISCPSI,
Coimbra: Almedina, 2006, p. 23.
139
Cfr. ODETE MEDAUAR, Direito Administrativo Moderno. 18.ª Ed. Revista dos Tribunais, 2004, p. 391.
48
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
colectivos”140. Já numa perspectiva restrita a expressão poder de polícia pode ser tida
como relacionando-se unicamente com as intervenções, quer gerais e abstractas, quer
concretas e específicas do poder executivo, destinadas a alcançar o mesmo fim de prevenir
e obstar ao desenvolvimento de actividades particulares contratantes com os interesses
sociais141.
No entender de JOÃO CAUPERS, para além do carácter limitativo da liberdade que os
poderes de polícia assumem, pode-se apontar-lhe três outros traços a saber: a
universalidade; a não sujeição às regras procedimentais; e a insusceptibilidade de
concessão dos poderes de polícia142.
Para este Autor, em primeiro lugar, os poderes de polícia são por natureza
unilaterais, insusceptíveis de negociação ou compromisso. Trata-se de um exercício de
autoridade e esta não se transacciona, nem se compromete. Não impedindo, de forma
óbvia, a audiência prévia dos interessados sempre que esta for compatível com os poderes
de polícia.
Em segundo lugar, o exercício dos poderes de polícia não está sujeito, ou pode não
estar sujeito a regras procedimentais. Em determinadas situações, fruto da urgência da
actividade policial não é susceptível assegurar a exigência prévia dos interessados ou, até,
exigências constitucionais e legais de fundamento das decisões administrativas.
Em terceiro e último, aponta-se a insusceptibilidade de concessão dos poderes de
polícia, o que quer dizer que os poderes de polícia não podem ver o seu exercício
concedido a particulares, é exclusivo da autoridade do Estado.
Segundo CATARINA SARMENTO E CASTRO, “é essencialmente a partir do Estado
Moderno que o poder de “polícia”, “governamental” ou “graça”, residual na idade media,
aparece como “marca caracterizadora” de um novo Estado, enquanto promoção do bem-
estar social, “conformando e recriando equilíbrios sociais”143.
Na Idade Média já se exercia o poder de polícia tal como é hoje entendido, no âmbito
das comunas e municípios europeus, pelos seus administradores, contribuindo para manter
a ordem e a tranquilidade nas modernas cidades. Em várias comunas havia licenças de
140
Cfr. EDMIR NETTO DE ARAÚJO, Curso de Direito Administrativo, 4.ª Edição, Saraiva, 2009, p. 1015.
141
Cfr. EDMIR NETTO DE ARAÚJO, Curso de Direito Administrativo, … p. 1015.
142
Cfr. JOÃO PEDRO BARROSA CAUPERS, Introdução ao Direito Administrativo, 11.ª Edição, Lisboa: Âncora,
2013, p. 206.
143
Cfr., CATARINA SARMENTO E CASTRO, A questão das Policias Municipais, Coimbra: Editora, 2003, p. 23.
49
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
construção, alinhamento nas construções, fiscalização das profissões como protecção dos
consumidores e polícia sanitária144.
A expressão poder de polícia, bem como a sua noção tem origem no direito
americano145, onde o referido vocábulo police power146 teria sido pela primeira vez
utilizado, significando sistema de regulamentação interna para preservar a ordem pública e
garantir de forma individual o gozo ininterrupto do seu próprio direito147. De salientar que
a sua origem está fortemente associada à jurisprudência, pelos mediáticos casos como
Brown e Maryland (1827), que depois de árduos trabalhos de conceituação, estenderam-se
para outros países, mas, com o mesmo sentido148.
Como podemos notar, das definições supracitadas, tanto portuguesas como
estrangeiras, há um ponto comum entre elas, o facto de o poder de polícia consistir na
actividade discricionária e não arbitraria do Estado (Administração Pública), ainda que
vinculada (por vezes), de ditar e executar determinadas medidas limitadoras do direito
individual do cidadão, com a finalidade de garante do interesse público da colectividade e
sobretudo a preservação do Estado.
Para MEIRELLES, o poder de polícia administrativa tem como objecto “todo o bem,
direito ou actividade individual que possa afetar a colectividade ou pôr em risco a
segurança nacional, exigindo, por isso mesmo, regulamentação, controle e contenção do
Poder Público”149.
Por outro lado, tem como finalidade “a protecção ao interesse público no seu sentido
mais amplo”150.
Contudo, “a razão do poder de polícia é o interesse social”151, e o seu fundamento
consiste no princípio da supremacia do interesse público da colectividade sobre o
particular, em que se atribui à Administração Pública uma posição de preponderância sobre
os Administrados, e “se lhe atribui a faculdade (poder discricionário) e mais que isso, o
144
Cfr. ODETE MEDAUAR, Direito Administrativo Moderno. 18.ª Ed. Revista dos Tribunais, 2004, p. 392.
145
Sobre este assunto, muitos autores fazem referência à origem e evolução do vocábulo. Pode ver-se, v.g.,
JÚLIO CÉSAR LUCIANO, A Polícia e o Poder de Polícia no Direito Brasileiro, In Estudos de Direito de Polícia,
1º. Volume, coord. de Jorge Miranda, Lisboa, AAFDL, 2003 e ODETE MEDAUAR, Direito Administrativo
Moderno. 18.ª Ed. Revista dos Tribunais, 2004.
146
De acordo com ODETE MEDAUAR esta expressão deu origem ao poder de polícia e se referia ao poder dos
Estados Membros (Americanos) de editar leis limitadoras de direito, em benefício do interesse público. Cfr.
ODETE MEDAUAR, Direito Administrativo Moderno. 18.ª Ed. Revista dos Tribunais, 2004, p. 392.
147
Cfr. EDMIR NETTO DE ARAÚJO, Curso de Direito Administrativo, 4.ª Edição, Saraiva, 2009, p. 1013.
148
Cfr. EDMIR NETTO DE ARAÚJO, Curso de Direito Administrativo, … p. 1013.
149
Cfr. HELY LOPES MEIRELLES, Direito Administrativo Brasileiro, 35.ª Edição Actualizada, Malheiros, 2009,
p. 136.
150
Cfr. HELY LOPES MEIRELLES, Direito Administrativo Brasileiro, … p. 136.
151
Cfr. HELY LOPES MEIRELLES, Direito Administrativo Brasileiro, … p. 135.
50
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
152
Cfr. EDMIR NETTO DE ARAÚJO, Curso de Direito Administrativo, 4.ª Edição, Saraiva, 2009, p. 1013.
153
Cfr. JÚLIO CÉSAR LUCIANO, A Polícia e o Poder de Polícia no Direito Brasileiro, In Estudos de Direito de
Polícia, 1º. Volume, coord. de Jorge Miranda, Lisboa, AAFDL, 2003, p. 36-37. Sobre este assunto, muitos
autores fazem ainda referência. Pode ver-se, v.g., ÂNGELA MARIA CAVALIERE LORENTZ, Limites ao Poder de
Polícia, In Estudos de Direito de Polícia, 1º. Volume, coord. de Jorge Miranda, Lisboa, AAFDL, 2003; HELY
LOPES MEIRELLES, Direito Administrativo Brasileiro. 35.ª Ed. Malheiros Editores, 2009.
154
Cfr. JÚLIO CÉSAR LUCIANO, A Polícia e o Poder de Polícia no Direito Brasileiro, In Estudos de Direito de
Polícia, 1º. Volume, coord. de Jorge Miranda, Lisboa, AAFDL, 2003, p. 37.
155
Idem, p. 36-37.
156
Cfr. MARCELLO REBELO DE SOUSA e ANDRÉ SALGADO DE MATOS, Direito Administrativo Geral, Tomo I,
3.ª Edição, Reimpressão, Lisboa: Dom Quixote, 2013, p. 187.
51
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
157
Cfr. JÚLIO CÉSAR LUCIANO, A Polícia e o Poder de Polícia no Direito Brasileiro, In Estudos de Direito de
Polícia, 1º. Volume, coord. de Jorge Miranda, Lisboa, AAFDL, 2003, p. 37.
158
Cfr. JÚLIO CÉSAR LUCIANO, A Polícia e o Poder de Polícia no Direito Brasileiro, In Estudos de Direito de
Polícia,… p. 37.
159
Cfr. JÚLIO CÉSAR LUCIANO, A Polícia e o Poder de Polícia no Direito Brasileiro, In Estudos de Direito de
Polícia,… p. 37.
160
Cfr. ÂNGELA MARIA CAVALIERE LORENTZ, Limites ao Poder de Polícia, In Estudos de Direito de Polícia,
1º. Volume, coord. de Jorge Miranda, Lisboa, AAFDL, 2003, p. 440.
52
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
161
Cfr. HELY LOPES MEIRELLES, Direito Administrativo Brasileiro, 35.ª Edição Actualizada, Malheiros, 2009,
p. 139.
162
Cfr. ÂNGELA MARIA CAVALIERE LORENTZ, Limites ao Poder de Polícia, In Estudos de Direito de Polícia,
1º. Volume, coord. de Jorge Miranda, Lisboa, AAFDL, 2003, p. 440.
163
Cfr. HELY LOPES MEIRELLES, Direito Administrativo Brasileiro, 35.ª Edição Actualizada, Malheiros, 2009,
p. 130.
164
Cfr. ITIBERÊ DE OLIVEIRA CASTELLANO RODRIGUES. Fundamentos dogmático-jurídicos de um poder de
polícia administrativo à brasileira, Revista Diálogo Jurídico, Salvador, nº. 17, 2008, p. 15.
53
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
165
Cfr. ARTUR DA ROCHA MACHADO, O Poder – Da Estrutura Individual À Construção Mediática, Instituto
Superior de Ciências Sociais e Políticas, Lisboa, 2000, p. 447.
166
Cfr. ÂNGELA MARIA CAVALIERE LORENTZ, Limites ao Poder de Polícia, In Estudos de Direito de Polícia,
1º. Volume, coord. de Jorge Miranda, Lisboa, AAFDL, 2003, p. 449.
167
Cfr. ODETE MEDAUAR, Direito Administrativo Moderno. 18.ª Ed. Revista dos Tribunais, 2004, p. 400.
54
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
restrições da lei devem ser interpretadas de modo restrito, isto é, no sentido mais favorável
ao exercício do direito. Por vezes a lei confere à autoridade administrativa a faculdade de
agravar disposições da lei, em casos especiais, mas sempre de modo temporário.
b). Inexiste lei disciplinadora do direito fundamental. Neste caso observadas as
regras de competência, a medida de polícia, sempre fundamentada no interesse público,
deve ser: b1) necessária, isto é, exigida ante as circunstâncias, para evitar conflitos,
desordens, perigo à integridade de pessoas e bens; b2) eficaz, isto é, adequada para evitar
perturbação; por exemplo: em locais de grande afluxo de pessoas são impostas restrições
mais amplas que em locais sem nenhum afluxo de pessoas; em geral medidas temporárias
podem ser mais rigorosas que medidas gerais e permanentes»168.
Ainda segundo esta Autora, o poder de polícia encontra também o seu limite na
legalidade dos meios. A forma e os meios de exercício dos poderes de polícia devem estar
previamente estabelecidos por lei. Na falta desta norma, cabe à autoridade competente para
a escolha dos meios observar os princípios e limites apontados na supra citada alínea a).
Consideramos que, entre os limites ao poder de polícia, importa acrescentar os
princípios inerentes à actividade de polícia; os axiomas; as regras; as normas, bem como a
sua utilização incorrecta, especificamente quando o poder é exercido para servir fins de
interesse pessoal, subjectivos ou político-partidários, caso em que se desvirtua a sua
finalidade, a salvaguarda do interesse público da colectividade.
168
Cfr. ODETE MEDAUAR, Direito Administrativo Moderno. 18.ª Ed. Revista dos Tribunais, 2004, p. 400.
169
Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, Teoria Geral do Direito Policial, 4.ª Edição, Coimbra:
Almedina, 2014, p. 69.
55
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
170
Cfr. ODETE MEDAUAR, Direito Administrativo Moderno. 18.ª Ed. Revista dos Tribunais, 2004, p. 398.
171
Cfr. MARCELLO CAETANO, Manual de direito Administrativo, Volume I, 10.ª Edição, 4.ª Reimpressão,
Coimbra, 1990, p. 459.
172
MARCELLO CAETANO adverte-nos sobre a imperatividade de não confundirmos a licença administrativa
que acabamos de referir, com a licença fiscal que condiciona o exercício de certa actividade lícita ao
pagamento de um imposto ou de uma taxa, pois, trata-se de um acto de natureza diferente do primeiro, pelo
que, na segunda, o que importa é sobretudo o aspecto tributário e não o preenchimento de requisitos. Na
primeira, mesmo quando motiva o pagamento de emolumentos ou taxas, resulta da verificação pelas
autoridades competentes, de que certa actividade proibida ou condicionada pode ser exercida em tal caso
concreto e por tal pessoa, sem inconveniente ou risco para os interesses que se pretende cautelar. Cfr.
MARCELLO CAETANO, Manual de direito Administrativo, Volume I, 10.ª Edição, 4.ª Reimpressão, Coimbra,
1990, p. 460; Cfr. MARCELLO CAETANO, Manual de direito Administrativo, Volume II, 10.ª Edição, 3.ª
Reimpressão, Coimbra, 1990, p. 1168.
173
Cfr. ODETE MEDAUAR, Direito Administrativo Moderno. 18.ª Ed. Revista dos Tribunais, 2004, p. 398.
56
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
acto, se entretanto haver interesse público que entenda existir fortes motivos que legitimem
a não realização da actividade que acabara de licenciar174.
Segundo MARCELLO CAETANO, a autorização é o acto administrativo que permite a
alguém o exercício de um seu direito ou de poderes legais”175.
Para ODETE MEDAUAR, a autorização é entendida como um “ato administrativo
discricionário e precário, pelo qual a Administração consente no exercício de certa
actividade; portanto, inexiste o direito subjectivo à actividade; no âmbito do poder de
polícia, diz respeito ao exercício de actividades cujo exercício pode, em muitos casos,
constituir perigo ou dano para a colectividade, mas que não é oportuno impedir de modo
absoluto; por isso a autoridade administrativa tem a faculdade de examinar, caso a caso, as
circunstâncias de facto em que o exercício pode desenvolver-se, a fim de apreciar a
conveniência e oportunidade da outorga”176.
Ao contrário das licenças, nas autorizações, o administrado (entidade autorizada)
possui um direito ou determinado poder, mas o exercício dos mesmos está-lhe vedado por
lei, antes que haja um consentimento prévio da Administração, após fundada apreciação
das circunstâncias de interesse da colectividade que considerem conveniente ou
inconveniente o exercício de tal actividade. Como ensina MARCELLO CAETANO, trata-se “do
condicionamento de um direito do particular ou do exercício da competência de um órgão
ou agente da Administração (autorizações tutelares e, delegações de poderes…)”177.
Definidos que estão os conceitos de licença e autorização, importa clarificar que nem
todas as licenças e autorizações são actos de polícia. Tanto a licença como a autorização só
revestem natureza policial se forem praticadas por autoridades policiais com poderes de
polícia e no âmbito do desempenho desses poderes de polícia em exercício da actividade
policial.
Existem no ordenamento jurídico angolano determinadas licenças e autorizações que
não revestem natureza policial, pois não são autorizadas por autoridades de polícia e,
noutros casos revestem de dupla natureza pois, dependem tanto de autorização da
Administração dos municípios como da autoridade de polícia competente: vg., as
autorizações disciplinares ou tutelares, bem como as licenças concebidas pelo superior
174
Segundo ODETE MEDAUAR, as licenças exteriorizam através de documento próprio denominado Alvará.
Vg., licença de construção de obras; licenças de actividade comercial; licença ambiental etc… Cfr. ODETE
MEDAUAR, Direito Administrativo Moderno. 18.ª Ed. Revista dos Tribunais, 2004, p. 399.
175
Cfr. MARCELLO CAETANO, Manual de direito Administrativo, Volume I, 10.ª Edição, 4.ª Reimpressão,
Coimbra, 1990, p. 459.
176
Cfr. ODETE MEDAUAR, Direito Administrativo Moderno. 18.ª Ed. Revista dos Tribunais, 2004, p. 399.
177
Cfr. MARCELLO CAETANO, Manual de direito Administrativo, Volume I, 10.ª Edição, 4.ª Reimpressão,
Coimbra, 1990, p. 459.
57
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
178
Cfr. MARCELLO CAETANO, Manual de direito Administrativo, Volume II, 10.ª Edição, 3.ª Reimpressão,
Coimbra, 1990, p. 1168.
179
Podemos dar como exemplo as licenças de uso e porte de arma que são passadas pelas autoridades de
polícia em Angola.
180
Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, Teoria Geral do Direito Policial, 4.ª Edição, Coimbra:
Almedina, 2014, p. 39.
58
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
defensora e garante da segurança [nacional] e dos direitos dos cidadãos181. Por este facto,
desenvolve as “(…) designadas medidas puras de polícia, que são ordenadas pelas
Autoridades de Polícia e/ou promovidas pelos Agentes de Polícia que estão subordinados
àquela Autoridade, que exerçam uma função de comando e/ou direcção, ou seja, os
Agentes de Polícia encontram-se em situação de dependência hierárquica”182.
Podem essas medidas consistir tanto em medidas (gerais) de polícia, como em
medidas especiais de polícia.
No que concerne à polícia de natureza judiciária [actividade de investigação
criminal], esta pode aplicar, por iniciativa própria, as designadas medidas cautelares e de
polícia, previstas e tipificadas [em toda a legislação processual penal de Angola, de acordo
com os princípios que orientam a actividade policial]183.
181
Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, Teoria Geral do Direito Policial, 4.ª Edição, Coimbra:
Almedina, 2014, pp. 39-40.
182
Jdem, pp. 68-69.
183
Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, Teoria Geral do Direito Policial, 4.ª Edição, Coimbra:
Almedina, 2014, p. 69.
184
Cfr. Disposto no art.º 5.º do Decreto-lei n.º 20/93, de 11 de Junho, que aprova o Estatuto Orgânico da
PNA.
185
Cfr. JOSÉ BRAZ, Investigação Criminal, 3.ª Edição, Coimbra: Almedina, 2013, p. 21.
59
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
186
Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, Teoria Geral do Direito Policial, 4.ª Edição, Coimbra:
Almedina, 2014, p. 395.
187
Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, Teoria Geral do Direito Policial, 4.ª Edição, Coimbra:
Almedina, 2014, pp. 398-399.
188
Cfr. JOSÉ BRAZ, Investigação Criminal, 3.ª Edição, Coimbra: Almedina, 2013, p. 21.
60
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
189
Cfr. Disposto no n.º 2 do art.º 3.º, Capítulo IV do Decreto-lei n.º 20/93 de 11 de Junho, que aprova o
Estatuto Orgânico da PNA.
190
Cfr. Art.º 210.º da CRA que define a PN.
61
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
191
Cfr. MANUEL MONTEIRO GUEDES VALENTE, Da Polícia da República de Moçambique (Parecer), In
Galileu, Revista de Economia e Direito, Vol. XI, n.º 2, 2006, p. 164.
62
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
192
Por forças de segurança entenda-se Polícia Nacional, pese embora o legislador não se referisse a esta
directamente como o fez com as FAA e os Serviços de Informações, todavia, devido as actividades que
constituem o cerne da actividade policial em Angola, nomeadamente a de garante da segurança nacional não
nos afiguram dúvidas do alcance da norma supra citada.
63
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
caso contrário, esta decisão política e legiferante do PR pode estar ferida de uma
inconstitucionalidade, porque, como nos ensina MANUEL VALENTE193, viola claramente o
princípio da separação de poderes194 e da reserva de lei, ambos consagrados na nossa CRA.
193
Posição do nosso orientador, que “foi por si defendida nas reuniões de orientação, e que sufragamos por
respeito à própria imperiosa legitimidade de ordem jurídico-constitucional material válida, vigente e efectiva
em Angola, que foi democraticamente consagrada com a CRA de 2010”. Reunião realizada aos 20 de Abril
de 2015.
194
Cfr. n.º 1, do art.º 2.º da CRA.
64
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
CONCLUSÃO
Esta nossa Dissertação de final de curso, que esperamos que possa servir de base
para futuros estudos na área do Direito Policial angolano, e que seja sobretudo um pilar
inicial para uma futura obra sobre a Teorização do Direito Policial de Angola, tendo em
conta a necessidade de adequação das matérias e técnicas policiais de maneira a dar
resposta às exigências constitucionais de um Estado Democrático e de Direito e, por
consequência, algumas questões de organização da estrutura policial, obrigou-nos a fazer
um enquadramento teórico do nosso tema tendo em conta o contexto, pelo que optámos
por fazê-lo em quatro capítulos do nosso trabalho.
A composição do nosso trabalho em quatro capítulos permitiu fazermos um
enquadramento teórico do tema e da nossa questão de estudo, facilitando a percepção de
quem o consultar.
Ao longo dos vários capítulos do nosso trabalho de investigação científica, tivemos
sempre como objectivo permitir responder com a maior clareza e objectividade possível às
nossas perguntas, tanto de partida, como derivadas, tendo em conta que correspondem o
nosso objectivo central.
A resposta à nossa interrogação inicial (Como se caracteriza o Direito Policial
Angolano?), bem como a resposta das duas perguntas derivadas, nomeadamente: (Que
policias podem integrar uma teorização do direito policial angolano?) e (Que
consequências podem advir da desintegração da actividade de investigação criminal na
PNA face a uma teorização aglutinadora?) encontram-se ao longo dos vários capítulos,
construídos em vários subtemas, sucintamente abordados. Ao fim deste percurso,
chegamos às seguintes conclusões:
Quanto a P1: o direito policial angolano é caracterizado por ser um direito
constitucionalmente novo, pelo facto de que a actividade policial em Angola ganhou
apenas legitimidade constitucional com a aprovação da nova e actual CRA aprovada em
2010.
Este direito pode, ainda, ser caracterizado através dos traços gerais da actividade
policial desenvolvida em Angola, socorrendo-se de um estudo pormenorizado das
legislações que abordam as matérias de polícia; as suas funções e competências no que diz
respeito à PNA enquanto força de segurança e aos serviços de segurança que auxiliam na
defesa e integridade da segurança nacional do Estado e dos cidadãos que nele fazem parte.
65
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
Quanto a P2: quando nos referimos a Polícia, pensamos nós, na polícia em sentido
formal, ou seja, nos “poderes desenvolvidos pela polícia em sentido funcional e orgânico,
não apenas no exercício de polícia administrativa geral, mas também quando exerce a
actividade de polícia administrativa especial e polícia judiciária”195.
Desta forma, numa teorização do direito policial angolano podem integrar
primeiramente a PNA, por ser a força policial que se encontra consagrada no art.º 210.º da
CRA, que faz referência à polícia; o SME, pois apesar de a sua orgânica não o identificar
como uma polícia desempenha actividade de polícia administrativa especial, como
podemos constatar nas suas atribuições e competências196, bem como os SP197, pelos
mesmos motivos que entendemos contemplar o SME.
Poderia, eventualmente, integrar ainda uma teorização do direito policial angolano o
SIC, se se tratasse de um serviço de segurança criado mediante o respeito às leis e à CRA,
o que não é o caso, pois entendemos inconstitucional a sua criação. Pelo que, propusemos
que para a sua legalidade sejam tomadas determinadas medidas, nomeadamente: ou a
revogação completa do art.º 210.º da CRA; ou a alteração parcial do texto constitucional do
art.º 210.º da CRA, primordialmente no seu n.º 3, sendo que ao invés de constar a lei
regula a organização e o funcionamento da Polícia Nacional, passasse a constar, a lei e
decretos presidenciais regulam a organização e o funcionamento da Polícia Nacional;
ou ainda, a que nos parece ser a solução mais coerente, que o SIC fosse aprovado por lei da
AN.
Quanto a P3: a implicação jurídica que pode advir da desintegração da actividade de
investigação criminal na PNA à luz do direito positivo vigente, tendo em conta uma
teorização aglutinadora é a inconstitucionalidade explícita, pois viola uma norma
constitucional do acto que a criou; bem como a inconstitucionalidade por acção, pois
resulta de um acto contra a CRA.
A “inconstitucionalidade só se afigura verdadeiramente operativa quando
confrontada com as consequências que o Direito Constitucional organiza para a hipótese
desse incumprimento, com incidência em dois níveis, numa dimensão sancionatória que
comporta por força do princípio da constitucionalidade”198. O que resulta na
195
Cfr. HÉLDER VALENTE DIAS, Metamorfoses da Polícia – Novos Paradigmas da Segurança e Liberdade,
ICPOL – Colecção do Centro de Investigação do ISCPSI, Coimbra: Almedina, 2012, p. 76.
196
Cfr. Cap. III, pp. 43-44.
197
Cfr. Cap. III, pp. 45-46.
198
Cfr. JORGE BACELAR GOUVEIA, Manual de Direito Constitucional, Vol. II, 2.ª Edição, Coimbra:
Almedina, Coimbra, 2007, p. 1305.
66
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
199
Preâmbulo da CRA
67
Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
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Bibliografia
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Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
69
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Direito Policial em Angola: Breve Reflexão
Legislação
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Código de Processo Penal Português.
Lei n.º 12/02, de 16 de Agosto – Lei de Segurança Nacional.
Lei n.º 28/03, de 07 Agosto – Lei de Bases da Protecção Civil.
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Decreto Presidencial n.º 209/14, de 18 de Agosto, que aprova o novo Estatuto
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Decreto-Lei n.º 20/93, de 11 de Junho – Estatuto Orgânico da PNA.
Decreto-Lei n.º- Sistema de Protecção Social do Pessoal do Ministério do Interior.
Decreto-lei n.º 35:007, de 13 de Outubro de 1945 – que remodela alguns princípios
básicos do processo penal.
Decreto Executivo n.º 010/2000 – Regulamento Orgânico do Serviço de Migração e
Estrangeiros.
Decreto Executivo n.º 013/2000 – Regulamento Orgânico do Serviço Penitenciário.
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71