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UNIVERSIDADE METODISTA DE ANGOLA

FACULDADE DE CIÊCIAS JÚRIDICAS E SOCIAIS

CURSO DE DIREITO

LICENCIATURA EM DIREITO

21771 - Paulo Tchikevende Solias

O SISTEMA POLÍTICO DE GOVERNO ANGOLANO À LUZ


DA CONSTITUIÇÃO DE 2010

Luanda, 2022
UNIVERSIDADE METODISTA DE ANGOLA

FACULDADE DE CIÊCIAS JÚRIDICAS E SOCIAIS

CURSO DE DIREITO

LICENCIATURA EM DIREITO

21771 - Paulo Tchikevende Solias

O SISTEMA POLÍTICO DE GOVERNO ANGOLANO À LUZ


DA CONSTITUIÇÃO DE 2010

Monografia apresentada à Faculdade de Ciências


Jurídicas e Sociais da Universidade Metodista de Angola
como parte do requisito parcial para a obtenção do grau
de
licenciatura em Direito, ramo Jurídico Económico sob
orientação do Professor Nsessani Vemba
Luanda, 2022
DEDICATÓRIA
Este trabalho é dedicado especialmente meus pais Armando Paulo Solias e Maria de Lurdes
Kangala, meus irmãos e familiares, pois sempre foram e ainda continuam a ser meus maiores
motivadores.

I
AGRADECIMENTOS
Antes de mais, gostaria de expressar o meu profundo agradecimento à Deus, pela inspiração, a
partir de um sonho, para a elaboração deste trabalho, e pela Luz que sempre me guiará nesta
caminhada terrena.

Agradeço aqueles e aquelas que me acompanharam e me apoiaram nesta caminhada, muito


especialmente aos meus pais Armando Paulo Solias e Maria de Lurdes Kangala, através de
gestos e/ou palavras de incentivo, de carinho, de atenção, ou que simplesmente me ouviram.

Ao meu orientador, Dr. Nsessani Vemba, pelo exemplo, rigor, disciplina e disponibilidade
demonstradas desde o início.

Aos meus colegas do curso de Direito e à todos que participaram directa e indirectamente para
o êxito deste trabalho, mormente aos magníficos professores e corpo diretivo da nossa
Faculdade da Faculdade de Direito da Universidade Metodista de Angola.

II
RESUMO
O sistema de Governo Angolano é uma análise histórica e jus política sobre a evolução das
instituições angolanas no período pré constituinte de Alvor revolucionário da primeira
República e suas instituições, a segunda República e suas instituições e finalmente a terceira
República e as perspectivas transconstitucionais ou globais que a ordem política interna não
ignora. O primeiro texto Constitucional de Angola foi caracterizada principalmente por uma
visão monista do poder, consubstanciada no partido-único. Em 1992 deu-se a primeira
abertura para a democracia multipartidária que teve como ápice a realização das primeiras
eleições legislativas, seguida das eleições Presidenciais. Em 2010 aprovou-se a primeira
Constituição da história do país que marcou o início da terceira República. Nesta
Constituição, tal como na Lei de Revisão Constitucional de 1992, consagrou-se o Estado
Democrático de Direito e vê-se o alargar dos direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos.
O Sistema de Governo angolano é denominado Presidencialista- Parlamentar por existir um
único processo eleitoral que legitima quer o Presidente da República, bem como os Deputados
à Assembleia Nacional. O actual Sistema de Governo angolano é um desenho institucional
híbrido, uma vez que resulta da combinação de elementos de diferentes sistemas de Governo
com prevalência do Presidencialismo, onde o Presidente da República é igualmente Chefe do
Governo e tem ainda poderes Legislativos.

Palavras-chave: Constituição; Eleições; Regimes Políticos; Sistema de Governo.

III
ABSTRACT
The Angolan Governament system is a historical analysis and political justification on the
evolution of the Angolan in pre-constituent period of revolutionary Alvor of the first Republic
and its institutions, the second Republic and its institutions and finally the third Republic and
the transconstitutional or global perspectives that order domestic policy is aware. The first
constitutional text of Angola was characterized mainly by a monistic vision of power,
consubstantiated in the single-party. In 1992 the first opening for multi-party democracy was
held, culminating in the holding of the first legislative elections, followed by the Presidential
elections. In 2010 was approved the first Constitution of the history of the country that
marked the beginning of the third Republic. In this Constitution, as in the Constitutional
Revision Law of 1992, the Democratic Rule of Law was established and the fundamental
rights and freedoms of the citizens were extended. The Angolan Government System is called
Presidentialist - Parlamentary because there is a single electoral process that legitimates both
the President of the Republic and the Deputies to the National Assembly. The current
Angolan Government System is a hybrid institutional design, since it results from the
combination of elements of different Government systems with prevalence of Presidentialism,
where the President of the Republic is also Head of Government and has Legislative powers.

Keywords: Constitution; Elections; Political Regimes; Governament system.

IV
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ACA- Associação Cívica Angolana.
ACNUR- Alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados.
AN – Assembleia Nacional
art.º - artigo.
CCFAA- Comando-Chefe das Forças Armadas de Angola.
CML- Câmara Municipal de Luanda.
CNE- Comissão Nacional Eleitoral.
FAA- Forças Armadas Angolanas.
FALA- Forças Armadas de Libertação de Angola.
FAPLA- Forças Armadas Populares de Libertação de Angola.
FLEC- Frente de Libertação do Enclave de Cabinda.
FNLA- Frente Nacional de Libertação de Angola.
GURN- Governo de Unidade e Reconciliação Nacional.
MFA- Movimentos das Forças Armadas.
ML- Movimentos de Libertação.
MNE- Ministro dos Negócios Estrangeiros.
MNIA- Movimentos dos Novos Intelectuais de Angola.
MONUA- Missão de Observação das Nações Unidas em Angola. Substituiu a UNAVEM III.
MPLA-PT- Movimento Popular de Libertação de Angola- Partido do Trabalho.
ONU- Organização das Nações Unidas.
OUA/ OA- Organização da Unidade Africana/ União Africana.
PDA- Partido Democrático de Angola.
PIDE- Polícia Internacional de Defesa do Estado (no tempo Colonial).
PM – Primeiro-Ministro
PR- Presidente da República.
UNAVEM- Missão de Verificação das Nações Unidas em Angola.
UNITA- União Nacional para a Independência Total de Angola.
UPA- União dos Povos do Norte de Angola.

V
ÍNDICE

DEDICATÓRIA.....................................................................................................................I

AGRADECIMENTOS..........................................................................................................II

RESUMO..............................................................................................................................III

ABSTRACT.........................................................................................................................IV

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS.........................................................................V

CAPITULO I – INTRODUÇÃO..........................................................................................8

1.1.Objetivos da Pesquisa........................................................................................................8

1.1.1.Objetivo Geral................................................................................................................8

1.1.2.Objectivos Específicos...................................................................................................8

1.2.Justificativa.......................................................................................................................8

1.3.Formulação do Problema..................................................................................................9

1.4.Formulação da Hipótese...................................................................................................9

CAPITULO- II. METODOLOGIA.......................................................................................10

2.1.Métodos de Pesquisa.......................................................................................................10

2.2.Técnica de Pesquisa........................................................................................................10

2.3.Tipo de Pesquisa..............................................................................................................10

CAPÍTULO III – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...........................................................11

3.1.Definição de Termos e Conceitos...................................................................................11

3.1.1.Sistema.........................................................................................................................11

3.1.2.Politica..........................................................................................................................11

3.1.3.Governo........................................................................................................................11

3.1.4.Os Sistemas de Governo..............................................................................................11

3.2.Caracterização dos Sistemas Tradicionais......................................................................12

3.2.1.Teoria da Separação dos Poderes.................................................................................16

VI
3.3.CONTEXTUALIZAÇÃO DO SISTEMA DE GOVERNO ANGOLANO NA 1ª E 2ª
REPÚBLICA.........................................................................................................................19

3.4.ANÁLISE DO SISTEMA DE GOVERNO ADOPTADO POR ANGOLA NA


CONSTITUIÇÃO DE 2010..................................................................................................24

3.4.1. Separação dos Poderes à Luz da Constituição Angolana de 2010..............................26

3.4.2. Principais Traços de Sistema Presidencialista Parlamentar Angolano.......................29

CONCLUSÃO......................................................................................................................31

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................32

VII
CAPITULO I – INTRODUÇÃO

O presente trabalho lança-se no desafio de discorrer de forma suscita a temática sobre


o Sistema de Governo Angolano.

A natureza deste trabalho obriga-nos construir de uma abordagem concisa e objetiva,


pelo que não nos propomos, desde já, analisar todos os factos políticos ocorridos na história
politico-constitucional de Angola. Deste modo, o presente trabalho limita-se em conhecer o
percurso político e as instituições contemporâneas instituídas pela constituição angolana de
2010. A delimitação espacial incide sobre o território nacional, sem prejuízo do recurso
pontual a comparações com outras realidades.

Espera-se, deste modo, dar um contributo modesto, mas significativo na compreensão


do sistema político de Governo angolano, plasmado na Constituição da República de Angola,
aplicando conceitos à luz de critérios científicos, mantendo a neutralidade axiológica.

Por questões de organização procura-se estruturar o presente trabalho em três


capítulos: no primeiro capítulo onde se faz a revisão da doutrina ou conceitos; no segundo
capítulo onde vai ser contextualizado o objecto em análise e no terceiro capítulo onde vamos
analisar o sistema de governo à luz da Constituição e das teorias descritas no primeiro
capítulo.

1.1. Objetivos da Pesquisa


1.1.1. Objetivo Geral

 Compreender o sistema político de governo angolano, consagrado na CRA, para


ilucidar as duvidas que se levantam, em torno do mesmo, com base na doutrina e no
principio consignadas na própria constituição.

1.1.2. Objectivos Específicos


 Conhecer e apresentar os sistemas de governo;
 Apresentar e diferenciar os sistemas de governo;
 Apresentar as vantagens e desvantagens de cada um dos sistemas;
 Saber o sistema de governo adoptado por Angola.

1.2. Justificativa

8
A escolha do tema justifica-se pela crescente complexidade que se levanta quanto ao
modelo híbrido de sistema de governo adoptado por Angola, comportando elementos do
sistema Presidencialista e Parlamentarista. Por outro lado, é muito frequente fazer uma grande
confusão entre Regime e Sistema Político, aplicando os dois termos indiscriminadamente para
se referir à mesma realidade. Falam muitas vezes em Regime Político para se referirem à
estrutura do aparelho do poder, e em sistema para evidenciarem a forma de designação dos
titulares dos órgãos de Soberania e como se relacionam, os poderes e limites de cada órgão de
soberania ou de Estado.

1.3. Formulação do Problema


 Dentre as várias formas de sistema de Governo, qual delas se enquadra no sistema de
Governo Angolano?

1.4. Formulação da Hipótese


 H1= O sistema de governo angolano enquadra-se no sistema presidencial, pelo facto
do Presidente da República ser simultaneamente, chefe do Estado e titular do poder
Executivo, dispondo ainda de importantes poderes de nomeação e poderes normativos,
não podendo ser destituído por razões políticas.

 H2= O sistema de governo angolano apesar de ter algumas características do sistema


presidencial não se enquadra totalmente neste sistema.

 H3=Entendemos que o sistema de governo angolano é híbrido, por acarretar traços


característicos do sistema presidencial e sistema semi-presidencial.

9
CAPITULO- II. METODOLOGIA
2.1. Métodos de Pesquisa
Para realizar a pesquisa proposta, o presente trabalho utilizou-se do método hipotético-
dedutivo, completado pelo método qualitativa. De acordo com Carmo e Ferreira (2015),
podemos classificar a metodologia segundo os objetivos e segundo a abordagem do problema;
quanto aos objetivos foi efetuada uma abordagem descritiva. E com referência ao critério da
abordagem do problema, classificamo-la como pesquisa mista, uma vez que utiliza ambas,
pesquisa qualitativa e quantitativa

2.2. Técnica de Pesquisa


A nossa pesquisa baseou-se na técnica da documentação indireita.

2.3. Tipo de Pesquisa


Quanto ao tipo de pesquisa, fizemos na presente monografia, uma pesquisa descritiva,
isto é quanto ao objectivo ao passo que no tocante aos procedimentos técnicos, a nossa
pesquisa e fundamentalmente bibliográfica e documental. Segundo Ribas (2018), a escolha do
tipo de método é essencial ao investigador para realizar um trabalho de investigação. Este
Estudo de Caso, de natureza exploratória e descritiva, tendo em conta a problemática
associada, as abordagens são hipotético-dedutivas

10
CAPÍTULO III – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
3.1. Definição de Termos e Conceitos
3.1.1. Sistema
Um sistema (do grego σύστημα systēma, através do latim systēma), é um conjunto de
elementos interdependentes de modo a formar um todo organizado. É uma definição que
acontece em várias disciplinas, como biologia, medicina, informática, administração, direito.
Vindo do grego, o termo "sistema" significa "combinar", "ajustar", "formar um conjunto".

3.1.2. Politica
O termo política é derivado do grego antigo πολιτεία (politeía), que indicava todos os
procedimentos relativos à Pólis, ou cidade-Estado grega. Por extensão, poderia significar
tanto cidade-Estado quanto sociedade, comunidade, coletividade e outras definições referentes
à vida urbana.

3.1.3. Governo
O Governo é a organização que é a autoridade governante de uma
unidade política"; "o poder de regrar uma sociedade política"; ou o aparato pelo qual o
corpo governante funciona e exerce autoridade. O governo é, usualmente, utilizado para
designar a instância máxima de administração executiva, geralmente reconhecida como a
liderança de um Estado ou uma nação. Os Estados podem ter vários níveis ou esferas de
Governo, conforme a organização política daquele país, como por exemplo os Governos
locais ou municipais, os regionais ou estaduais e o nacional ou federal.

3.1.4. Os Sistemas de Governo


O termo sistema diz respeito ao conjunto de elementos de um todo e à sua interação
permanente, enquanto a palavra regime diz respeito ao modo como esse todo se forma e
funciona? (Fernandes, 2010: p. 143).

Será, portanto, erróneo separar absolutamente os sistemas de Governo e os regimes


políticos: o conhecimento e o enunciado de ambo torna-se à definição da forma política de um
Estado. O sistema de Governo dá-nos uma indicação mais estática, mais sem estrutura; o
regime político completa-a com a visão do espírito que domina o funcionamento do sistema
(CAETANO, 2014; p. 351).

11
Para J. J. Gomes Canotilho (2003: p. 573) chama de «Forma de Governo, devendo
essa ser entendida como a posição jurídico-constitucional recíproca dos vários órgãos de
soberania e respectivas conexões e interdependências políticas, institucionais e funcionais».

O principal elemento dos sistemas políticos de Governo é a sede do poder, e todo o


processo político se traduz essencialmente numa luta pela sua ocupação e manutenção. No
entanto, há que distinguir a sede do exercício da sede de apoio, e esta da sede efectiva ou real.

3.2. Caracterização dos Sistemas Tradicionais


Quanto ao sistema parlamentares tem origem na Inglaterra, por volta do século XIII,
resultado das relações estabelecidas entre a monarquia e os barões. Estes últimos forçaram em
1215 o Rei João Sem Terra a assinar a magna carta, documento que exigia do monarca a
criação de um comité composto por barões, dotados de poderes para reformar as decisões do
Rei.

Todavia, o Parlamento com carácter contínuo e permanente surgiu somente com a


Revolução gloriosa de 1688, na Inglaterra.

Em 1689 o Parlamento promulgou a declaração dos Direitos da Inglaterra e obrigou os


novos monarcas a submeterem-se à ela. Esta declaração buscou limitar, de forma mais
efectiva, os poderes dos soberanos.

Tornou ilegal o direito de monarca suspender as Leis ou o seu cumprimento, tornou


ilegal a cobrança de imposto sem a anuência do Parlamento, proibiu prisões e vexações
ilegais, tornou ilegal a manutenção de um exército sem a autorização do Parlamento, bem
como a cobrança de fiança exorbitante, impostos excessivos e penas demasiadas severas, bem
como o exame dos discursos e debates dos parlamentares pelo Tribunal (Bonavides, 2000: p.
415).

O Parlamentarismo é um sistema Político de Governo que se caracteriza


essencialmente pelas seguintes regras jurídicas fundamentais comuns: responsabilidade do
Governo perante o Parlamento, reconhecimento do Parlamento como fonte de todos os
poderes, ausência de Democracia directa, não eleição do chefe de Estado por sufrágio
Universal, direito de dissolução do Parlamento pelo Chefe do Estado e acumulação de
poderes e de funções.

Umas das ideias básicas do Parlamentarismo é a existência de uma estreita ligação


entre o Parlamento e o Governo, que se traduz num equilíbrio de poderes e na ideia de
12
colaboração entre estes dois órgãos. O poder executivo, no seu conjunto, está dividido
em dois órgãos: o Chefe do Estado, que não tem responsabilidade política, exercendo
apenas poderes formais, e o Governo, que dirige a acção do poder executivo,
assumindo a direção política sob orientação de um Chefe do Governo. Este pode ser
denominado primeiro-ministro, Chanceler, Presidente do Conselho de ministro
(Fernandes, 2010: p.151).

O Chefe de Estado não é eleito por sufrágio universal. Este pode ser um Rei que
assume o poder político de forma hereditária ou, alguns casos, um PR escolhido por um
colégio restrito. Ao chefe de Estado são reservadas apenas competências formais, das quais,
cabe dissolver o Governo após a solicitação dos chefes de Governo ou pressão do Parlamento.

Os membros do Parlamento são eleitos por sufrágio Universal e compete-lhes escolher


o Chefe de Governo. Compete ao Parlamento controlar as acções do Governo. Quando este
não gozar da confiança do Parlamento deve demitir-se. O Parlamento pode dar o voto de
desconfiança para que o Governo se demita.

A estabilidade dos sistemas Parlamentares depende, por isso, da estabilidade da


relação de confiança entre o Parlamento e o Governo (Almeida, 2009; p. 31).

É o chefe de Governo que tem a competência de formar o Governo e dirigir a acção


política do Estado. Por semelhante modo, se ficar desprovido do apoio parlamentar pode
receber o voto de desconfiança e demitir-se.

Em suma, no Parlamentarismo, o poder executivo é organizado de forma dualista


assente no chefe de Estado e no Governo liderado pelo seu chefe. Estes últimos são
responsáveis perante o Parlamento e este último perante os eleitores.

Já no que concerne ao sistema presidencialista tem origem nos Estados Unidos da


América, em 4 de julho de 1776, as 13 colónias tornaram-se independentes da Grã-Bretanha e
em 1887 promulgaram a constituição dos Estados Unidos da América. Diferente da
monarquia Parlamentarista Britânica, os Americanos conceberam um novo desenho
institucional, a saber o Presidencialismo.

Usualmente contraposto ao parlamentarismo, faz-se mister todavia não


descurar que essa criação do gênio político americano se situa historicamente
como desdobramento algo consciente da experiência constitucional britânica,
já assentada sobre os moldes do governo parlamentar, e que recebeu em terras
do novo mundo retoques e modificações básicas, impostas pela ambiência
13
americana até configurar-se numa categoria nova e autônoma de organização
do poder político (Bonavides, 2000: p.383).

O sistema Presidencialista fundamenta-se no princípio da separação de poderes, na


eleição do Chefe de Estado por sufrágio Universal, na atribuição ao Presidente da República
das funções de Chefe do Estado e de Chefe do Executivo, na independência do Governo face
ao Parlamento e na impossibilidade do Chefe do Estado dissolver o Parlamento.

O sistema Presidencialista possui, dentre outras, as seguintes características: o


Presidente da República é o Chefe de Estado e Chefe do Governo. É eleito 1 mediante sufrágio
universal para o exercício de um mandato por um período determinado. Compete ao
Presidente da República chefiar a administração pública por meio dos ministérios e serviços
públicos, entre eles a pessoa de sua confiança escolhidos e exonerados livremente por ele.

O Presidente é igualmente auxiliado por um Vice-Presidente eleito na mesma chapa


mediante sufrágio universal. Entretanto, a responsabilidade pela directriz do poder executivo
cabe exclusivamente ao Presidente da República. O comando supremo das Forças Armadas
compete ao Presidente da República, bem como dirigir a política externa, assinar tratados e
convenções, declarar e fazer guerra e a paz após assentimento da Assembleia Nacional.

Os membros do poder legislativo são eleitos mediante sufrágio universal para um


mandato por um período determinado. O poder legislativo não está sujeito a dissolução pelo
Presidente da República, mas este pode vetar as decisões do Congresso. Todavia, prevalece o
princípio da separação, independência e harmonia entre os poderes.

Nos sistemas Presidencialistas as constituições podem prever o Impeachment,


dispositivo penal para responsabilizar criminalmente o Presidente da República caso cometa
algum crime a fim de destituí-lo do poder.

O maior problema do Presidencialismo, especialmente do americano, consiste na


possibilidade de o partido ao qual pertence o Presidente em funções não ter a maioria nos dois
ramos do congresso. Quando isso sucede, o presidencialismo dá lugar àquilo que tem sido
designado por Governo dividido. No caso de dispor de uma sólida maioria no congresso, o
Presidente pode, pura e simplesmente, governar esmagando a oposição (Pasquino, 2002; p.
339).

1
A eleição presidencial nos EUA, formalmente por sufrágio indirecto de dois graus, converteu-se, de facto, em
decisão popular directa dos eleitores na medida em que os grandes eleitores se encontravam vinculados a votar
em determinado candidato,
14
No que tange aos sistemas mistos, especialmente acordo com Maurice Duverger.

O sistema de Governo semi-presidencialista foi instaurado inicialmente na Finlândia e


mais tarde na Áustria, na Islândia, na França e em Portugal resultado da combinação do
sistema Presidencialista americano com o sistema Parlamentar da Europa Ocidental. Por esta
razão, o Semipresidencialismo é denominado de sistema híbrido (Duverger, 1985; p. 247).

O que torna o semipresidencialismo um sistema estruturalmente diferente do sistema


Parlamentar e do sistema Presidencial é a existência de três órgãos com competências
políticas próprias, e não apenas dois como nos outros sistemas.

E neste sentido que se diz «No Jogo do equilíbrio Político participam com poderes
efetivos o Chefe de Estado, o Parlamento e o Governo» (Miranda, 1998: p. 200).

O Presidente da República é eleito por sufrágio universal para um mandato fixo, é,


igualmente, o chefe de Estado e partilha o poder executivo com o Primeiro-Ministro, criando
uma estrutura de autoridade dupla, o que permite diferentes equilíbrios e a prevalência
cambiante do poder dentro do executivo. Nesta linha de pensamento encontramos Maurice
Duverger quando diz que «o carácter semi-presidencial do sistema Francês resulta da eleição
do Chefe de Estado, dos seus poderes e ainda da limitação do Parlamento» (Duverger, 1985:
p. 275).

O Presidente da República é independente do Parlamento, mas sua vontade deve ser


processada através do gabinete que ele mesmo dispõe. Compete ao Presidente da República
dissolver o Parlamento bem como traçar as linhas gerais da governação levada a cabo pelo
primeiro-ministro.

O Primeiro-ministro é nomeado pelo Presidente da República após serem ouvidos os


membros do Parlamento. Geralmente é escolhido o líder do partido vencedor das eleições ou
alguma personalidade que reúna certo consenso. O Primeiro-ministro é duplamente
responsável: em relação ao Presidente da República e perante o Parlamento.

No semi-presidencialismo os desfasamentos das eleições Presidenciais e


Parlamentares podem levar a que o Presidente eleito por uma certa maioria se
encontre em funções simultaneamente com uma maioria parlamentar de cor
diferente. Esta situação, que apresenta algumas semelhanças com o governo
dividido do Presidencialismo, designa-se por Coabitação (Pasquini, 2002: p.
242).

15
3.2.1. Teoria da Separação dos Poderes
O primeiro autor que nos tempos modernos formulou a teoria da separação dos
poderes do Estado foi o filósofo inglês John Locke na sua obra “Dois tratados do Governo
Civil” aparecida em 1960 para sustentar os princípios de liberdade política da revolução de
1689 e impugnar o absolutismo real.

Locke parte da existência de um estado de natureza em que os homens apenas estavam


sujeitos à lei natural manifestada na consciência e formulada pela razão.

Todos eram livres e iguais, todos tinham direito de gozar a vida, a liberdade e a
propriedade e a fazer observar e respeitar esta lei natural punindo, segundo o seu próprio
critério, aqueles que a perturbassem. No estado de natureza cada pessoa tinha dois poderes: o
primeiro era o de fazer o que bem lhe parecesse para a sua salvaguarda e dos outros, o
segundo era o de punir os crimes cometidos contra essa lei (Caetano, 2014; p.191).

Somente em 1748 a teoria da separação dos poderes ganha maior configuração através
da obra de MONTESQUIEU "De L’Espirit des Lois". A teoria apresentava a figura dos três
poderes, o legislativo, o executivo e o judiciário exercendo seus papeis harmonicamente e
independentes entre si, separação esta que hoje é prevista em quase totalidade das
constituições. Para Montesquieu cada poder apresentava suas funções intrínsecas e
inconfundíveis, admitindo ainda que estas funções fossem confiadas a um só órgão, porém
sendo ideal que o Estado separasse os três órgãos, cada qual com sua função determinada.

Os principais argumentos de sustentação da teoria, que seria a segurança do indivíduo


e a democracia do Estado não eram efetivos. O liberalismo, como ainda hoje, sempre
privilegiou grupos específicos da sociedade, ou seja, ao tempo que tomando por base a ideia
de uma democracia e uma liberdade individual o poder do Estado era enfraquecido, sua
intervenção diminuída aumentando por consequência as desigualdades entre a população.
Tratar os desiguais igualmente não seria tão aceito para aqueles que pensavam numa
igualdade.

Contudo, o legislativo não tem condições para fixar regras gerais sem ter
conhecimento do que já foi ou está sendo feito pelo executivo e sem saber de meios este
dispõe para atuar. O executivo, por seu lado, não pode ficar à mercê de um lento processo de
elaboração legislativa, nem sempre adequadamente concluído, para só então responder às
exigências sociais, muitas vezes graves e urgentes.

16
O que nos permite, portanto, concluir que separação de poderes não implica inimizade,
mas interligação e interdependência de funções.

Quanto, a ideia da separação de poderes, esta vem de longe. No fundo, é uma


enunciação do princípio da separação de funções estatais em três vertentes típicas: edição de
leis, administração, aplicação e cumprimento destas, e solução de conflitos, conforme teorizou
Montesquieu no seu livro, O Espírito das Leis publicado em 1748.

O modelo teórico clássico do Estado liberal desenvolveu uma ruptura radical com o
modelo absolutista que lhe antecedeu, tendo introduzido profundas alterações ao modelo de
organização e disposição do poder politico, através da introdução do princípio da separação
de poderes, sendo este um dos pontos de referência do movimento liberalista. Reconhecendo a
impossibilidade de resistência aos abusos em regime de concentração de poderes,
Montesquieu, na sua obra lapidar «De l´esprit des lois», propõe uma distribuição das várias
funções do Estado, até então concentradas no monarca, por diferentes órgãos, permitindo-se
assim o equilíbrio entre o Legislativo, o Executivo e o Judicial, no quadro de uma colaboração
e interdependências recíprocas.

Apesar da separação de poderes, na revolução francesa argumenta-se que não existem


mais que dois poderes: o que faz a lei e o que a executa. A respeito desta afirmação é o de
excluir qualquer relevância à vontade de criação de direito pelos juízes já que a sua função
exprime-se na decisão do facto, com base nas provas que lhe são apresentadas. Porém, ligada
ainda a separação de poderes, diferentemente do que ocorre em outras culturas, com o
cristianismo a Europa desenvolveu um tipo de pensamento e de organização social, que
assenta na separação do poder político, «A César o que é de César, a Deus o que é de Deus».
Em outras culturas tal como acontecia no Império Romano, os poderes estavam unificados. O
Imperador era também o Sumo-Pontífice, tal como o vemos ainda hoje nos modelos budista e
islâmico, onde são os hierarcas que dirigem e governam o Estado. Entre nós, a separação de
poderes é um imperativo constitucional. O poder executivo não deve intervir nas decisões
tomadas pelo poder judicial. Porém, a prática em muitos países demonstra uma palpável
contradição ao estabelecido neste princípio, o que gera um clima de desconfiança social nas
instituições.

A independência de cada órgão e a seriedade dos seus agentes é importante para a sua
própria credibilidade perante os governados em qualquer sociedade moderna, considerando
que o indivíduo do século XXI, não é mais um mero desatento, ou alheio em relação aos actos
17
praticados pelos agentes públicos, mas, o é, já, um analista e observador, que controla, critica
ou elogia e discute sobre a seriedade e legalidade de tais actos, pois, o indivíduo actual almeja
ascender ao poder, seja com o objectivo de lutar para alterar o sistema de coisas, ou apenas
para «corrigir o que está mal».

No que diz respeito ao governo emanado do contrato social e agindo sob a égide da
“vontade geral”, J.J. Rousseau admite que «o interesse do corpo político, i.e., classe política
podem entrar em conflito com o interesse da maioria da população, porém, o contrato social
estabelece meios visando repor a vontade geral». Mas, de acordo com o autor, a vontade
geral não se constitui meramente da somatória das vontades particulares: “há muita diferença
entre a vontade de todos e a vontade geral. Esta olha apenas o interesse comum, a outra olha
o interesse privado e é só uma soma de vontades particulares” . Por isso, deve-se esclarecer
que a vontade geral não está lastreada na ideia de unanimidade; ela não é geral por ser
unânime, por não haver discordância, mas porque nela estarão contadas todas as ideias, todas
as contribuições e todas as discordâncias que participam formalmente do todo.

18
3.3. CONTEXTUALIZAÇÃO DO SISTEMA DE GOVERNO ANGOLANO
NA 1ª E 2ª REPÚBLICA
A República Popular de Angola, nascida com a proclamação da Independência em
1975 pelo adoptou um sistema socialista e monopartidário. O primeiro texto Constitucional de
Angola foi caracterizada principalmente por uma visão monista do poder, consubstanciado no
partido-único correspondente ao MPLA.

Ainda o MPLA-Partido do Trabalho constituía a vanguarda organizada da classe


operária e cabia-lhe como partido marxista-leninista, a direção política, económica e social do
Estado nos esforços para a construção da sociedade socialista» (Miranda, 2010: 2).

Nos dizeres de Jorge Miranda, as primeiras Constituições de países africanos de língua


portuguesa foram profundamente marcadas por uma concepção monista do poder e
institucionalização do partido único.

Este período revolucionário foi caracterizado pela adoção de suas grandes opções
estratégicas, como aspetos fundamentais da ideologia oficial do poder: primeiro, a
consagração de um sistema económico que privilegia a apropriação colectivas dos meios de
produção, sendo o Estado o principal agente económico e simultaneamente o orientados e
planificador de toda a actividade económica (art.º 8.º LC/75), e a consagração de um sistema
político de concentração de poderes, assente num sistema de partido único.

«A influência dos princípios políticos da III Internacional e as suas conceções


marxistas-leninistas, de matriz soviética, estavam, assim, refletidas na Constituição de 11 de
Novembro de 1975, traduzindo a concepção Partido-Estado Nação (Correia e Sousa, 1996; p.
23).

No seu título III “Dos Órgãos do Estado”, a LC/75 consagrou quatro órgãos do poder
político: o Presidente da República, a Assembleia do povo 2, o Conselho da Revolução e o
Governo.

Não havendo verdadeiramente separação de poderes, o Estado definido na Lei


Constitucional como democrático pois que se inscrevia no paradigma corrente na época de
uma “democracia popular”, estabelecia, porém, uma separação entre a chefia do Estado e a

2
A Assembleia do Povo, embora tivesse previsão constitucional, foi criada de facto apenas em 1980. Antes da
sua criação, porém, o poder legislativo era exercido pelo conselho da Revolução, a quem competia a aprovação
do OGE, a nomeação e destituição do primeiro-ministro e dos respectivos membros do governo, bem como a
nomeação e exoneração dos comissários provinciais-entidades máximas a nível provincial.
19
chefia do Governo. Não obstante o Presidente da República acumular a presidência do
Conselho da Revolução e da Assembleia do Povo o Presidente da República não presidia
sequer ao Conselho de Ministros.

De acordo com o art.º 35º da LC/75, «enquanto não se verificar a total libertação do
território nacional e não estiverem preenchidas as condições para a instituição da
Assembleia do Povo, o órgão supremo do poder do Estado é o Conselho da Revolução».
Assim, «O conselho da Revolução se constituía no órgão supremo do poder do Estado até
1980, antes da instituição da Assembleia do Povo» (António, 2015; p. 96).

A Assembleia do Povo é o órgão supremo do Estado na República Popular de Angola


(art.º 34º). Pouco há mais na LC/75 sobre este órgão, situação resultante do facto de, embora
formalmente prevista, o processo para sua instituição ter sido concluído apenas em 1980.

O Governo é constituído pelo Primeiro-Ministro, pelos Ministros e pelos Secretários


de Estado, ambos nomeados pelo conselho da Revolução sob indicação do MPLA e
empossados pelo Presidente da República. Nos termos do segundo parágrafo do artigo 39º, o
Governo é presidido pelo Primeiro-Ministro, dando-lhe uma aparência de sistema de governo
Semipresidencialista, introduzindo uma hipotética bicefalia e levantando dúvidas sobre a sua
autonomia executiva face ao Presidente da República.

Convém reafirmar que na primeira República não existia uma evidente separação de
poderes, o governo configurava-se do tipo totalitário e de partido único; o Governo, embora
presidido pelo Primeiro-Ministro, nada mais se diz sobre as competências deste, não sendo
por isso indigno de realce o quase absoluto esquecimento da figura constitucional do
presidente do Governo, pelo constituinte.

Os Acordos de Bicesse ou Protocolo de Estoril 3 se constituem na pedra fundamental


para a inauguração da segunda República e a instituição da Democracia multipartidária.

Em decorrência dos acordos de Bicesse a Assembleia do povo aprovou a nova


lei Constitucional (Lei nº 12/91), revisada em 16 de Setembro de 1992 (Lei nº
23/92), e em 20 de novembro de 1992 (Lei nº 24/92), alterando, dentre várias
outras alterações nas formas de designação do aparelho do Estado, de
República Popular de Angola para República de Angola, a Assembleia do
Povo para Assembleia Nacional, a retirada da designação Popular dos
3
Os Acordos de Bicesse são assim denominados em razão da sua assinatura ter tido lugar em Estoril, Portugal,
nas proximidades da povoação de Bicesse. Assim, a denominação mais adequada aos chamados Acordos de
Bicesse refere-se a Acordos de Estoril.
20
Tribunais, no domínio económico implantam-se o regime de economia de
mercado, surgimento de novos partidos políticos na arena política interna, a
introdução de novos artigos visando o reforço do reconhecimento e garantia
dos direitos e liberdades fundamentais, a clara definição de Angla como um
Estado Democrático e de direito, assente em um modelo de organização do
Estado baseado na separação de funções e interdependência dos órgãos de
soberania e em um sistema político semipresidencialista que reserva ao
Presidente da República um papel activo e actuante (António, 2015; p. 130).

É esta Lei Constitucional de 1975, com todas as suas revisões que vem, por fim, a
integrar as alterações de 1991 e 1992 que deu lugar às primeiras eleições multipartidárias em
Angola (1992) e deram origem à chamada II República. «Consagrou a democracia
multipartidária, as garantias dos direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos e o sistema
económico de mercado, mudanças aprofundadas». (Araújo, 2009; p. 274).

O modelo constitucional de repartição dos poderes entre os órgãos político-


constitucionais na segunda República é o Semipresidencialismo e encontra acolhimento no
preâmbulo da LC/92 onde se pode ler «assente num modelo de organização do Estado
baseado na separação de funções e interdependência dos órgãos de soberania e num sistema
político semipresidencialista». Tentando orientar ou predefinir a variante funcional ou matriz
do nosso sistema de governo, o preâmbulo vai mais longe ao referir que a Lei Constitucional
reserva ao Presidente da República um papel activo e actuante.

Segundo Maurice Divergir (1985, p. 268) os regimes Semipresidencialistas se


caracterizam pelo facto de o chefe de Estado ser eleito por sufrágio universal directo e possuir
certos poderes que excedam os dum chefe de Estado Parlamentar normal. No entanto, o
Governo continua a ser confiado a um gabinete formado por um Primeiro-Ministro e
ministros, que podem ser derrubados por um voto do Parlamento.

A LC/92 rejeita claramente uma estrutura executiva monista prevendo, pelo contrário,
um modelo que permite que tanto o Presidente da República quanto o Primeiro-Ministro
exerçam funções políticas executivas. Essa estruturação executiva bifronte resulta
expressamente de alguns preceitos constitucionais.

Assim, sobre o Presidente da República, o texto constitucional dispõe: o Presidente da


República define a orientação política do país (art.º 56º, nº 2), preside o conselho de Ministros
e fixa a sua agenda de trabalhos (ouvido o Primeiro-Ministro) (art.º 66º, alínea d) e art.º 68º,

21
nomeia, com alguma margem de discricionariedade (umas vezes maior e outras menor) o PM
(art.º 66º, alínea a)) e põe termo às suas funções, promulga os decretos-leis e assina os
decretos do Governo. Por seu turno, PM representa o Governo, para efeitos da assunção da
sua responsabilidade política, perante o PR e perante a AN, dirige, conduz e coordena a acção
geral do Governo (art.º 114º n.º 1), coordena e orienta a actividade de todos os Ministros e
Secretários de Estado (art.º 114º, n.º 2, alínea a), dirige o funcionamento do Governo e as suas
relações com os demais órgãos do Estado (art.º 114º, n.º 2, alínea c), assina decretos-leis, os
decretos e as resoluções do conselho de Ministros.

A bicefalia executiva é, pois, uma realidade caracterizadora do semipresidencialismo


angolano, conclusão que chega Raúl Araújo, cuja presença em maior ou menor dimensão, se
faz sentir em todos os seus momentos constitucionais.

A CRA fora aprovada num primeiro momento a 21 de janeiro de 2010, tendo depois o
Tribunal Constitucional proferido o Acórdão nº 111/2010, de 30 de janeiro de 2010,
suscitando a necessidade da correção de algumas das suas normas, em importante aresto
jurisprudencial. Tem sido discutido se o aparecimento de uma nova Constituição – como
sucede a partir de fevereiro de 2010 com a CRA – não implicaria automaticamente a mudança
de regime constitucional a ponto de se impor uma III República de Angola, à semelhança do
que sucedeu com a periodificação da história político-constitucional portuguesa.

Assim acontece normalmente com o surgimento de novos textos constitucionais, seja


por revolução, seja por transição, pois que os mesmos, contrastando com o passado
constitucional, estabelecem um novo projeto de Direito, alterando substancialmente a
identidade constitucional.

É esse o resultado na esmagadora maioria das experiências de mudança de


Constituição por esse mundo fora, sendo até os textos constitucionais os símbolos das
alterações ocorridas no regime político, no sistema social e no sistema econômico dos
Estados.

A doutrina angolana tem maioritariamente entendido haver agora a III República,


seguindo também a dimensão político-partidária do problema, presente não apenas nos
discursos oficiais como igualmente em coletâneas de textos, que se referem à III República.

Mas também tem sido lembrada que essa pode não ser a melhor solução dada a
combinação existente entre a transição constitucional que se iniciou com o texto de 1992 e a

22
sua consumação em 2010. Vem a ser essa a opinião de Miranda (2010, p. 19): “Em 1991-
1992, poder constituinte material; em 2010, poder constituinte formal”.

A verdade é que o novo texto constitucional de 2010 segue as linhas originalmente


traçadas pela LCRA de 1992,essas verdadeiramente inovadoras e transformado ras do regime
constitucional antes vivido e que foi até então a I República Angolana.

Pode haver decerto um impulso político legítimo trazido por um novo texto
constitucional, que representa o culminar de todo um período, alentando os angolanos para os
desafios futuros, explicando-se que politicamente se possa falar em III República.

Porém, a substância jurídica dessa ordem constitucional é o desenvolvimento da


ordem constitucional inaugurada em 1992, podendo quando muito dizer-se que a República
emergente é o período da “pós-transição constitucional”, que terá significado um interlúdio na
evolução jurídico-constitucional de Angola. Significa isso que a nova Constituição de 2010
manteve a identidade constitucional inaugurada em 1992, a qual não foi tolhida e dela se
apresentando como um aprofundamento jurídico-constitucional.

23
3.4. ANÁLISE DO SISTEMA DE GOVERNO ADOPTADO POR ANGOLA
NA CONSTITUIÇÃO DE 2010
O sistema de governo angolano, acolhido pela CRA, resultou do proposto pelo Projeto
“C” da Comissão Constitucional, o qual caracterizava expressamente o sistema de governo
proposto como presidencialista parlamentar.

Para Esteves Hilário (2013, p. 242), não obstante a esta designação, «trata-se de um
sistema presidencial, o qual, na realidade, se traduz num regime “Hipe presidencialista”,
atentos aos amplos poderes que são conferidos pela CRA ao Presidente da República».

A promulgação da denominada Constituição atípica 4 deu início a uma nova etapa ao


processo de transição para a Democracia em Angola. Dentre as demais previsões legais, a
nova Lei Magna ditou regras inéditas para a eleição dos principais decisores governamentais,
bem como determinou a competências dos órgãos de soberania. Prescreveu, outrossim, a
salvaguarda de certos direitos e liberdades individuais e colectivas à semelhança daqueles
estatuídos em Constituições de países considerados democráticos ou em democratização.

Assim, a terceira República foi inaugurada com a promulgação da chamada


Constituição Atípica, em Fevereiro de 2010. Sua atipicidade reside no inédito desenho
constitucional adoptado pelos constituintes: Presidencialista-Parlamentar. Pela nova
Lei Maior, é eleito Presidente da República e titular do Poder Executivo o cabeça de
lista, pelo círculo nacional, do partido ou coligação de partidos mais votados nas
eleições gerais (art. 109.º, CRA). O número dois da mesma lista é eleito vice-
presidente, e os demais integrantes da mesma lista são eleitos deputados à unicameral
Assembleia Nacional mediante sufrágio universal, directo, secreto e periódico (art.
106.º; 13.º1, CRA) (António, 2015, p. 76).

Entrementes, qualquer sistema de Governo deve ser entendido como um todo, na sua
relação com os demais valores, princípios e regras constitucionais, o que significa que o
sistema de governo angolano deve ser compreendido à luz do seu relevo do ponto de vista dos
princípios republicanos, democrático e do Estado de Direito, bem como à luz do seu relevo na
proteção e promoção dos direitos fundamentais.

Destacam-se, entretanto, os órgãos constitucionais de soberania, a saber: o Presidente


da República, a Assembleia Nacional e os Tribunais.

4
A expressão Constituição Atípica foi consagrada pelo Presidente da República José Eduardo dos Santos no ato
da sua Promulgação.
24
A existência de um Presidente da República constitui um corolário do princípio
republicano, isto é, da estrutura republicana do Estado. Com particularidade, assinala-se o
facto de o Presidente da República ser eleito na sequência das eleições gerais para o
Parlamento.

O Presidente da República é o Chefe do Estado, representando institucionalmente a


República de Angola. Ele é, ainda, o titular do Poder e Executivo e o Comandante-em-Chefe
das Forças Armadas Angolanas (art. 108.º da CRA).

A função de garante o regular funcionamento dos órgãos do Estado confere ao


Presidente da República uma relevante missão de integração funcional e regulação política do
sistema. O mesmo goza de legitimidade democrática direita.

Contudo, nos termos do art. 127.º, nº 3º da CRA, o Presidente da República responde


por crimes estranhos ao exercício das suas funções apenas cinco anos depois do fim do
mandato, perante o tribunal Suprema. Pretende-se assim garantir o exercício do mandato sem
perturbações e interferências de outros poderes.

A Assembleia Nacional é o órgão democrático-representativo (art. 141.º); é o órgão


legislativo por excelência de todos os angolanos, dispondo de competência para legislar em
todas as matérias, salvo as reservadas por lei ao Presidente da República.

São competências da Comissão Permanente: exercer os poderes da Assembleia


Nacional relativamente ao mandato dos Deputados, preparar a abertura das sessões
legislativas, convocar extraordinariamente a Assembleia Nacional, quando haja a necessidade
de se analisar assuntos específicos de Carácter urgente, acompanhar as reuniões das
Comissões de Trabalho Especializados, Eventuais e Parlamentares de Inquérito fora do
Período de funcionamento efectivo da Assembleia Nacional. No termo da legislatura, a
Comissão Permanente mantém-se em funções até à abertura da reunião constitutiva da nova
Assembleia Nacional eleita (art. 156.º, nº 4, da CRA).

As funções da Assembleia Nacional são as que tradicionalmente se atribui aos


Parlamentos: a função electiva, de revisão constitucional, legislativa (a Assembleia Nacional
pode ainda aprovar atos normativos sem valor de lei, designados por resoluções), controlo e
fiscalização política, função autorizante e, finalmente, a importante função de representação
de todos cidadãos angolanos.

25
O atual texto constitucional angolano é o mais jovem dos textos constitucionais de língua
portuguesa e surgiu no contexto da abertura alcançada pelos Acordos de Bicesse, não obstante
toda a longa evolução ocorrida, interrompida durante anos pelo regresso da guerra.

Durante muito tempo, a convicção generalizada era a de que o mesmo deveria ser aprovado
no quadro político-eleitoral que resultou das eleições legislativas de setembro de 1992.

Foi assim que por alguns anos, sobretudo depois do fim guerra em 2002, foram apresentados
vários projetos de Constituição, dos quais resultou a elaboração de um anteprojeto de
Constituição da República de Angola no âmbito de uma comissão parlamentar.

Com as eleições parlamentares de 2008, decidiu-se transferir o processo constituinte para a


legislatura subsequente, no contexto de uma renovada legitimidade parlamentar.

3.4.1. Separação dos Poderes à Luz da Constituição Angolana de 2010


Com a aprovação da Constituição de 2010, consagraram-se os seguintes órgãos de
soberania ou de poder: o Presidente da República como titular do poder executivo, eleito
cabeça de lista do partido mais votado; Assembleia Nacional unicameral com duzentos e vinte
Deputados, representando os círculos provinciais (cinco Deputados para cada província) e
círculo nacional com cento e trinta Deputados; os Tribunais locais e superiores ou de
jurisdição nacional (art.º 105º da CRA).

Assim sendo, existem todos mecanismos de separação de poderes na Constituição


Angolana, nomeadamente: A incompatibilidade de funções no executivo, legislativo e judicial
(art.º 149).

Sabe-se que cada Estado tem poderes que se incorporam em órgãos distintos de modos
a melhor conduzir os cidadãos em uma sociedade. Nesta ordem de ideias, a presente
apresentação visa dar notas sobre a identificação e funcionamento dos poderes do Estado
angolano constitucionalmente consagrados na Sua Magna Carta ― CRA. A abordagem
ilustrará as competências de cada um dos órgãos bem como, fará alusão ao princípio
constitucional da separação de poderes, de modos a se encontrar o equilíbrio entre ambos,
expondo os limites e dimensão de cada um Destes poderes.

A separação de poderes, tal como está prescrita na Constituição angolana (CRA), não
se assume como um conceito rígido, criador de compartimentos estanques. Obviamente, cada
poder tem as suas funções e atribuições próprias. Contudo, cada um dos poderes está
interdependente, querendo isto dizer que interage através daquilo que se chama sistema de
26
“checks and balances” (controlos e equilíbrios). Dispõe o artigo 2.º, n.º 1 da Constituição que
“a República de Angola é um Estado Democrático de Direito que tem como fundamentos (…)
a separação de poderes e interdependência de funções”. Adianta o artigo 105.º, n.º 3 que “os
órgãos de soberania devem respeitar a separação e interdependência de funções estabelecidas
na Constituição”. E o artigo 236.º j) coloca a separação e interdependência dos órgãos de
soberania como limite material à revisão da Constituição. Portanto, na dinâmica das relações
entre os poderes, existe uma separação que exige colaboração de acordo com vários
mecanismos estabelecidos na Constituição e na Lei.

É neste sentido que a figura do presidente da República assume especial destaque


normativo, pois ele não é apenas o titular do poder executivo, mas também o chefe de Estado
(artigo 108.º, n.º 1 da CRA). E, como chefe de Estado, é alcandorado ao papel que a doutrina
constitucionalista novecentista representada por Benjamim Constant chamava de poder
moderador. Um poder que equilibra os outros e actua como facilitador, como “ponte”, entre as
variadas tensões político-legais. Esse papel também é atribuído ao presidente da República de
Angola. Aliás, basta ler o elenco de poderes que lhe é atribuído enquanto chefe de Estado para
perceber a amplitude do poder moderador. Como se compreende a partir da leitura do artigo
119.º da CRA, temos um presidente a marcar eleições, a designar membros do poder judicial,
a indultar e comutar penas, a mandar verificar a constitucionalidade dos actos legais do poder
legislativo, etc. Não se trata, consequentemente, de um mero responsável pelo poder
executivo, situando-se num patamar superior de garantia da unidade do país, zelando pelo
bom funcionamento das instituições. Acontece, contudo, que a atipicidade proclamada pelo
legislador constitucional angolano adulterou o conceito de Constant, pensado para o papel do
rei numa monarquia constitucional emergente, e criou um poder moderador bonapartista, em
que facticamente o presidente da República colocou o centro do poder.

É isto que resulta da CRA: uma separação de poderes mitigada e com um elemento
moderador no topo dotado de poderes imperiais, o presidente da República. Podemos
discordar desta arquitectura constitucional e querer revê-la, mas devemos clarificar o que,
neste momento, está escrito e determinado na Constituição.

A isto acresce que, no caso concreto, aquele que diz respeito às negociações com
Isabel dos Santos, a lei adiciona mais um elemento interessante no Estatuto do Ministério
Público. Estabelece o artigo 8.º, n.º 3 da Lei n.º 22/12, de 14 de Agosto, que “o Procurador-
Geral da República recebe instruções directas do Presidente da República, no âmbito da

27
representação do Estado pela Procuradoria-Geral da República”. Mais uma vez, até
poderemos contestar esta solução legal, mas é o que está expressa e claramente determinado,
para além de qualquer dúvida, na lei. Torna-se assim claro que, no caso de Isabel dos Santos,
é mesmo competência directa do presidente da República dar instruções ao procurador-geral
da República.

O constitucionalista coloca mesmo a pergunta: “Acarretam então este desvio como


consequência que deva pensar-se que, em vez de ter sido exercido o poder constituinte formal,
ao fim e ao resto ter-se-á ostentado, em 2010, um novo e diferente poder constituinte
material?” (Miranda, 2010, p. 37) E termina alertando para um perigo e formulando um
desejo: “Mas, a despeito de tudo, pode supor-se, esperar-se que o enraizamento dos direitos e
liberdades fundamentais, a dinâmica que vá desenvolver-se no interior do Parlamento e a
independência dos tribunais não permitam que a Constituição venha a tornar-se uma mera
Constituição semântica (na aceção de Karl Loewenstein), ou seja, uma Constituição
instrumento e não fundamento do poder” (Miranda, 2010, p. 37).

Não parece que tenha razão e crê-se que não houve por parte da solução definitiva que
a CRA corporiza qualquer desvio à identidade constitucional previamente definida no texto da
LCRA.

Essa também foi a conclusão alcançada pelo Acórdão nº 111/2010 do Tribunal


Constitucional, que apreciou cada um desses limites, apenas tendo detetado duas pequenas
situações de inconstitucionalidade que foram depois supridas em segundo votação da
Assembleia Nacional. Esse seu trecho, precisamente a propósito do princípio da separação de
poderes, não deixa margem para quaisquer dúvidas quanto a essa conclusão: “É assim
entendimento do Tribunal Constitucional, como é de ver entre os exemplos supra-
mencionados, que a Constituição prevê efectivamente instrumentos de interdependência
(checks and balances)” (Acórdão nº 111/2010 do Tribunal Constitucional, p. 20). O invocado
princípio da separação de poderes, tal como vem a ser definido no rol dos limites materiais
constitucionais, é suscetível de múltiplas concretizações e a solução de uma eleição
presidencial e parlamentar conjunta não o põe em causa.

Os poderes continuam separados e é o próprio texto da CRA a lembrar esse princípio,


definindo, autonomamente, todo o rol de competências que atribui ao Presidente da República
e à Assembleia Nacional.

28
3.4.2. Principais Traços de Sistema Presidencialista Parlamentar Angolano
Criado pela Assembleia constituinte angolana em 2010 e dispõe das seguintes
características: o Presidente da República e os deputados são eleitos por sufrágio universal,
directo, secreto e periódico para um mandato de cinco anos;

Dupla legitimidade democrática. O Presidente da República é o chefe do Estado, o


titular do poder executivo e o comandante em chefe das forças armadas angolanas. É eleito
juntamente com o Vice-Presidente em uma lista de Deputados pelo círculo nacional do
partido ou coligação de partido mais votado nas eleições gerais;

O Presidente da República exerce o poder executivo auxiliado por um Vice-


Presidente, Ministro de Estado, Ministro, vice-ministro e Secretários de Estado; Tem
possibilidades de renúncia por razões pessoais ou auto-demissão do Presidente por razões
objectivas;

Inexistência de Moção de Confiança ou Censura, quando muito destituição que deve


ser julgado pelos Tribunais competentes em caso de suborno, traição à Pátria e ofensa à
Constituição;

Quanto ao sistema eleitoral, o constituinte adoptou o sistema de Representação


Proporcional de Lista fechada, o que pode limitar a interação entre deputados e cidadãos. Pois
a escolha dos candidatos à Assembleia Nacional é praticamente definida pelas elites
partidárias, o que favorece o clientelismo, e o apagamento político dos deputados, uma vez
que a escolha dos candidatos constantes nas listas é dependente em demasia da obediência ao
partido.

Incompatibilidade com o exercício de Presidente da República ou auxiliar do poder


executivo com a de Deputado;

Fiscalização do Parlamento ao poder Executivo com aprovação e execução do OGE,


autorização legislativa, aprovação da Conta Geral do Estado e desde que haja direitos e
deveres recíprocos inerentes à legitimidade directa do titular do Executivo que delega nos
seus auxiliares a condução da Administração Central e Local;

Impossibilidade de demissão do Vice-Presidente pelo Presidente em caso de conflitos


Políticos, salvo auto-demissão, renúncia ou destituição;

29
Mais autonomia do Presidente da República face à maioria parlamentar caso seja o
líder do partido maioritário ou mesmo acontece com um cabeça de lista que não seja líder da
maioria;

Quanto a responsabilidade política o Presidente da República não depende da


Assembleia Nacional, nem é responsabilizado pelos seus actos no exercício das suas funções,
em caso de suborno, traição à pátria e crimes definidos pela constituição como imprescritíveis
e insusceptíveis de amnistias; O Presidente da República tem competências para dissolver a
Assembleia Nacional, por via da sua auto-demissão implica na dissolução da Assembleia
Nacional e na convocação de eleições gerais antecipadas, que devem ocorrer até 90 dias
(Araújo, 2009, p. 44).

A responsabilidade política do Presidente da República no sistema de governo


angolano é limitada, só excepcionalmente em caso de traição à pátria, suborno e ofensa ao
Estado de Direito com a destituição do Presidente depois de um processo iniciado por 1/3 dos
Deputados em efetividades de funções e a sua aprovação por 2/3 dos Deputados em
efetividade de funções. No entanto, só é destituível o Presidente da República depois de
condenado pelo Tribunal supremo ou constitucional, evitando-se a dependência do Chefe do
Estado ao Parlamento hostil, pelo facto de ser cabeça de lista da maioria parlamentar.

30
CONCLUSÃO
Em síntese conclusiva, o Sistema de Governo Angolano é um sistema híbrido,
resultante da combinação de diferentes sistemas de governo, com prevalência do
Presidencialismo e do parlamentarismo. A aprovação da Constituição angolana de 2010
introduziu um sistema de governo Presidencialista-Parlamentar.

A terceira República foi inaugurada com a promulgação da chamada Constituição


Atípica, em Fevereiro de 2010. A sua atipicidade reside no inédito desenho institucional
adoptado pelos constituintes: Presidencialista- Parlamentar. O sistema de Governo Angolano
é específico, inovador ou sui generis no sentido de não existir um igual ao Angolano.

A promulgação da denominada Constituição Atípica deu início a uma nova etapa do


processo de Democratização em Angola.

Ditando regras para a eleição dos principais decisores governamentais, bem como
ditou a competência dos órgãos de Soberania. Prescreveu, outrossim a salvaguarda de certos
direitos e liberdades individuais e colectivos.

O Presidente da República dispõe ainda de importantes poderes de nomeação e


poderes normativos, não podendo ser destituído por razões políticas.

A Constituição, contrariamente a Lei Constitucional de 1992, passa a definir apenas


três órgãos de soberania: o Presidente da República, a Assembleia Nacional e os Tribunais.
Isto significa que o sistema de governo angolano deve ser compreendido à luz do seu relevo
do ponto de vista dos princípios republicanos, democrático e do Estado de Direito bem como
à luz do seu relevo na protecção e promoção dos direitos fundamentais.

31
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32
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Lei de Revisão Constitucional da República de Angola (Lei nº 23/92, de 16 de Setembro)
Lei Constitucional de 07 de Fevereiro de 1978.
Constituição de Angola (2010).
Lei nº 7/04 de 17 de Junho (Lei eleitoral)
Lei Orgânica sobre as Eleições Gerais

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