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Resumo
1
Estudante do terceiro ano do curso de Licenciatura em ensino de História com Habilitação em Filosofia,
ministrado na Universidade Pedagógica de Moçambique- Delegação de Nampula, 2018.
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“Método é o caminho para atingir um objectivo, os métodos, são assim, meios adequados para realizar os
objectivos”.Cf. In: LIBANIO, José Carlos. Didáctica. São Paulo: Cortez Editora, 1990.
3
“A entrevista desenvolve-se de maneira metódica e proporciona ao entrevistador, verbalmente, a informação
necessária para a sua pesquisa”. É uma outra técnica de colecta de dados, através do diálogo face a face.
(MARCONI & LAKATOS, 1999, apud IVALA, HEDEZ & LUIZ, 2007).
4
O questionário é um instrumento de colecta de dados constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem
ser respondidas por escrito e sem a presença do entrevistador. (IVALA, HDEZ & LUÍS, 2007, p.26)
“Metodologias são os procedimentos adequados a serem seguidos na realização de uma determinada pesquisa”. Cf.
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In: IVALA, Adelino Zacarias, HDEZ, Jorge Martino e LUÍZ, Alberto. Orientação para elaboração, de Projectos e
Monografias Científicas. Nampula: Universidade Pedagógica, 2007.
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formal e informal que, por sua vez, constituem acções da governação local, esta que conhece os
verdadeiros problemas do dia-a-dia da sua comunidade.
Palavras-chaves: Democracia, descentralização, governação central, descentralização fiscal,
governação local e cidade de Nampula.
Introdução
Em 1989 devido as imposições das instituições do Bretton Woods, isto é, Banco Mundial e
Fundo Monetário Internacional e do antagonismo existente entre a FRELIMO e a RENAMO. A
FRELIMO separou o partido do Estado, abrindo assim a mão para o processo de democratização
no país e consequentemente, independência dos tribunais, realização de eleições livres e garantia
dos direitos individuais. A constituição de 1990, no artigo 73 capitulo IV, estabelecendo direitos,
deveres, liberdades e garantias de participação política, nestes termos, legitimando também a
realização periódica de eleições nacionais para a escolha do chefe do Estado e não só,
realizando-se simultaneamente eleições a nível local para escolha do presidente do Conselho
Municipal e outros membros da Assembleias Municipais em cidade e vilas consideradas
municípios pela Assembleia da República (MUSSA, 2008). Todavia, possibilitava assim, o
germinar da descentralização democrática e governação local em Moçambique.
A longa marcha moçambicana que iniciou em 1975, foi marcada primeiramente por uma
estratégia de desenvolvimento fundamentada na orientação socialista, onde a economia era
centralmente planificada, revertendo-se as antigas propriedades dos colonos em empresas
estatais. (JOSÉ, 2005:03). Porém, esse modelo de desenvolvimento representou uma ruptura
com o sistema colonial português, ao propor construir uma sociedade sem classes. Segundo
GENTILI (2006:315),
A FRELIMO, como expressão de uma comunidade moral, logo a seguir à independência, foi
concebido pelos moçambicanos como guia indispensável para a construção da unidade nacional
e o desenvolvimento do país. A ideologia do partido único que foi elaborada nos primeiros anos
de independência em Moçambique e reside até hoje, com as suas diferenças e morfologias,
segundo NGOENHA (1993:333), pode ser resumida nos seguintes pontos, o partido único
exprime e concretiza a unidade nacional fundamental; não reconhece nem admite divisões
étnicas, tribais, regionais ou de classe; qualquer oposição ao partido único é considerada
ilegítima; finalmente o partido único é democrático uma vez que nele está representado todo
povo.
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Sendo assim, o partido único era assim responsável pela construção da comunidade
alargada da nação, através de uma revolução moral e política, isto é, com o alcance da
independência deveria emergir assim, a afirmação da vontade unitária de um povo como única
fonte legítima de poder político. Segundo NGOENHA (1993:333),
O partido único que deveria ser o instrumento principal de mobilização das massas
populares em Moçambique transformou-se em instrumento das classes dirigentes do
partido que controlavam o Estado, eles beneficiaram-se de uma máxima legitimidade nos
primórdios da independência. Foi a construção dessa legitimidade que negou-se os
marcos de diferença e estratificação, também nisso a semelhança com o autoritarismo
colonial não escapou o quotidiano da população.
Não obstante, refere ainda o autor supracitado que, na era colonial, eramos simplesmente
chamados a executar futuros inventados por outros e em benefício deles. Na conjuntura pós-
independente, a Frelimo, na categoria de Partido-Estado convidava-nos a participar nos assuntos
de governação da nossa pátria de uma maneira arquitectada e com cores bem precisas, traços
bem determinados.
Mas uma vez, não nos foi perguntado qual o tipo de futuro que sonhávamos para nós e
para os nossos filhos; uma vez mais se pretendia que fôssemos rápidos a responder com
as nossas energias planos e projectos que, na elaboração dos quais não tínhamos
participado e uma vez mais os militares estavam lá para nos obrigar a traduzir em actos,
os planos daqueles que tinham o privilégio divino de saber o que era bom para todos.
(Ibidem)
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Não obstante, foi os Estados Unidos, que concedeu ajuda constituinte para Moçambique,
esses doadores entendiam por democratização principalmente a abolição do sistema político de
partido único a favor da instauração do sistemas político multipartidário. No entanto, o processo
de transformação política levada a cabo em Moçambique são inerentes conflitos e tensões entre
diferentes pólos de interesses e de poder, reflectindo as alterações da conjuntura internacional e
as dinâmicas políticas e sociais internas. (JOSÉ, 2005:03). Todavia, o estabelecimento da
democracia em Moçambique iniciou logo após ao Acordo Gerais de Paz, assinados em Roma
que, por sua vez, dois anos depois, culminaram com a realização das primeiras eleições
multipartidárias realizadas em 1994, que marcaram formalmente o fim da guerra civil e
construíram igualmente o passo inicial no caminho tortuoso ruma a uma estabilidade política e à
implementação de estruturas democráticas.
O acordo de paz, na política, constituía como uma carta de transição política para
Moçambique, na medida em que trava não só de questões militares, tais como o cessar-
fogo, a desmilitarização e a formação do novo exército, como também as bases do
processo de democratização do país, nomeadamente os critérios e modalidade de
formação dos partidos políticos, as questões eleitoras e a garantia das liberdades
fundamentais sob o plano constitucional.
Ainda assim, os autores supracitados argumentam ainda que, o processo de transição política
dependia, em grande medida, do sucesso da pacificação do país, facto que teve efeito
significativo na estruturação do campo político pós-transição, marco por uma forte bipolarização
política e por um lugar marginal para partidos políticos, cuja origem não esteve directamente
ligada à guerra civil. O objectivo principal da democratização de Moçambique era de criar a
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legitimidade do sistema político e do Estado, de modo que este possa garantir níveis razoáveis
de segurança, sobrevivência e serviços sociais básicos. (DAUCE, 2013:55).
3. Descentralização Democrática
A descentralização democrática7 remota a Europa ocidental no início dos anos 90, como
reacção das sucessivas falhas do Estado centralizado que vigorou durante vários anos. (DEVAS
apud DAUCE, 2013:19). Assim sendo, a maior parte destas mudanças, deve-se as políticas da
união europeia que incentivou a criação de governos a nível local. Segundo LANE apud DAUCE
“A palavra democracia tem origem no grego antigo demokraía que é composta por demo, isto é, povo e kratos, isto
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é, poder. Neste sistema político, o poder é exercido pelo povo através do sufrágio universal. Uma das principais
funções da democracia é a protecção dos direitos humanos fundamentais, como liberdade de expressão, de religião,
a protecção legal, e as oportunidades de participação na vida política, económica, e cultural da sociedade”.
Disponível em htpp/: www.significados.com.br
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(2003:19), As principais reformas que ocorreram no velho continente entre 1991 e 1992,
condicionaram a uma significativa privatização da propriedade, um grande declínio dos
partidos comunistas e a ascensão de um sistema eleitoral partidário competitivo. Ainda assim, o
autor supracitado refere que, de modo geral, a descentralização é entendida como a transferência
de recursos e poderes a nível central para o local.
Porém, em virtude disso tudo acima referenciado, urge a necessidade de enaltecer que, a
ênfase da presente pesquisa em alusão, irá recair meramente na análise da descentralização em
níveis fiscais ou mesmo financeiros, numa tentativa de se averiguar a articulação da governação
local, face a governação central na cidade de Nampula e, tendo fundamentalmente em
consideração a dimensão da descentralização que, pretende-se tratar na presente pesquisa. Sendo
assim, provavelmente irá se expor progressivamente as implicações no bem comum, que por sua
vez, constitui a finalidade de qualquer política mundana.
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No entanto, como se diz na gíria popular a pressa é a mãe da imperfeição, torna-se imperioso
conhecermos a descentralização e a governação local no contexto moçambicano, isto é, tendo
como pano de fundo a sua génese teórica.
No entanto, essa forma de funcionamento do poder local tornou-se mais fragilizado e menos
credível com a invasão imperialista no século XV no território moçambicano, onde Portugal,
com a sua máquina administrativa totalmente trazida da metrópole, controlava completamente
toda a estrutura da sociedade tradicional moçambicana até então existentes. Assim sendo, nessa
conjuntura temporal com a instalação da administração directa oriunda da mãe-metrópole, as
autoridades tradicionais foram criadas como forma de controlar recursos e necessidades da
população que os administradores não conseguiam por si só ter uma informação concreta. Uma
das suas funções era auxiliar a administração colonial na cobrança de impostos, fazer com que as
leis modernas sejam cumpridas ao pé da letra, auxiliar na captura de rebeldes e outras
actividades.
Segundo ZAVALE (2011:30), “o poder local, enquanto tal, no contexto pré-colonial em Moçambique, queria
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significar, para o individuo, o lugar onde vivia, praticando as suas actividades ou acções em relacionamento com
outro seu próximo, tanto as que encontrou de forma natural, como as que foi produzindo pela sua própria acção, até
à emergência das outras relações exógenas”.
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É neste contexto todo que, DIAS (2005) apud DAUCE (2013:32) considera, o processo de
descentralização Democrática em Moçambique, como devolução do poder, isto é, tomadas de
decisões, funções e recursos do governo central para o governo local. Assim sendo, no que diz
respeito a decentralização em Moçambique, refere CABRAL (2011) citado por DAUCE
(2013:34), aparece como um meio de reduzir a pobreza e como forma de mobilizar os recursos
locais, fomentar a participação loca na governação e melhorar a prestação de serviço públicos
e na prestação de contas.
os quarenta e três municípios distribuem-se da seguinte feição, catorze na região norte, dezasseis
na região centro e os restantes treze na região sul. Esse pensamento também é corroborado pelo,
Instituto Nacional de Estatística (2007) apud NGUENHA (2009:08) ao afirmar que, ao todo
vivem em espaços municipalizados perto de 5.500.00 habitantes, representando quase cerca
26% da população moçambicana.
Todavia, da leitura que se faz do objectivo da criação das autarquias locais em Moçambique,
identifica-se alguns elementos importantes, organização dos cidadãos para facilitar o diálogo
com o Estado ou Governo, seu principal parceiro; o aprofundamento e consolidação da
democracia como principal meio de alcançar o desenvolvimento local, sendo este o seu fim.
(Ibidem). Esse pensamento supracitado também é parafraseado por GIL (2013) ao afirmar que, o
processo de descentralização parte do reconhecimento das capacidades e iniciativas dos
cidadãos organizados nas suas organizações.
De acordo com SHAH (2006) apud DAUCE (2013:22), a governação local é a formulação
e execução de uma acção colectiva a nível local, englobando as funções de normas informais,
governação comunitária e associações de bairro na continuação da acção colectiva, definindo o
quadro de interacção entre os cidadãos e estes com o Estado na tomada de decisões e na
preservação de serviços públicos. Assim sendo, se fundamentando nas abordagens dos autores
supracitados, pode-se perceber que, a governação local é entendida como regra de governação
por processos, através do qual, os residentes de uma determinada área participam na sua própria
governação e que, por sua vez, é limitada pelos interesses locais.
Todavia, na visão de TALES (2010) citado por DAUCE (2013:23), toda governação local
necessita de um líder, pois o exercício de liderança é fundamental para as agências politicas,
mesmo em democracias contemporâneas. É devido a essa teorização supracitada que, não há
duvida quando STOKER (1998) citado por DAUCE (2013:23) refere que, o exercício de poder
necessita de ser legitimado de modo a dar o suficiente poder ao líder na mobilização da
população local para a resolução dos seus próprios problemas, para tal, é necessário que venha
deste governo local um espírito motivador de participação e não o contrario. No entanto, o autor
supracitado enaltece ainda que, o poder autárquico é considerado como um espaço da
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democracia participativa, política e social, assim sendo, a governação local deve procurar
valorizar a participação da sociedade civil9 na sua governação.
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“Sociedade civil, são as pessoas que tendem a lutar pelos seus direitos como cidadão e indivíduo no meio social,
protestando e reivindicando as suas vontades e direitos. Sendo assim, fazemos parte da sociedade civil, quando
exercermos a cidadania com o direito ao voto, manifestando a nossa satisfação ou insatisfação em relação aos actos
realizados pelo governo” Disponível em: http://www.Significadosbr.com. Acessado no dia 19/08/2018.
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município, tendo um governo local eleito pela população local e é formado por seis postos
administrativos urbanos que são Central, Muhala, Namicopo, Napipine e Natikiri e são também
compostos por dezoito bairros periféricos10.
No que tange ao assunto que, pretende-se tratar já no ápice da presente pesquisa, me refiro
aqui, a governação local, face a governação central na cidade de Nampula, temos que ter em
consideração que, o destaque vai meramente se fundamentar na análise da descentralização em
níveis fiscais ou tributarias como já se falou antes e, dessa analise progressivamente irá se expor
as prováveis implicações e as possíveis sugestões do autor do presente artigo para tentar mitigar
esse comportamento até então vigente nas actividades fiscais ou tributarias do Conselho
Municipal da cidade em alusão.
“Os seus bairros centrais foram, no período colonial, habitados exclusivamente por populações brancas e alguns
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mulatos e assimilados e actualmente são habitados por indivíduos de alta renda per capital. Os bairros destes postos
administrativos, também denominado de bairros periféricos ou subúrbios, eram os bairros segregados dos bairros
centrais, ali habitavam populações negras que se aproximavam da cidade de cimento à procura de trabalho, assim
áreas rurais habitadas pelos camponeses”. (Ibidem)
“A entrevista desenvolve-se de maneira metódica e proporciona ao entrevistador, verbalmente, a informação
11
necessária para a sua pesquisa”. É uma outra técnica de colecta de dados, através do diálogo face a face.
(MARCONI & LAKATOS, 1999, apud IVALA, HEDEZ & LUIZ, 2007).
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O questionário é um instrumento de colecta de dados constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem
ser respondidas por escrito e sem a presença do entrevistador. (IVALA, HDEZ & LUÍS, 2007, p.26)
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funcionarias do Conselho Municipal da Cidade de Nampula, onde das quais uma desempenham
actualmente funções de directora dos recursos humanos e outra desempenha funções de directora
do departamento de promoção económica.
Todavia, importa referir ainda que, o Conselho Municipal da cidade em alusão, tem levado a
cabo suas actividades fiscais ou tributarias à luz do Boletim da República de Moçambique, série
número três publicado no ano de 2008, onde no seu artigo três sobre autonomia financeira e
patrimonial argumenta categoricamente que,
Os Conselhos Municipais gozam de autonomia financeira, possuindo finanças e
património próprios geridos autonomamente pelos respectivos órgãos, possuem também
poderes de elaborar, aprovar, alterar e executar planos de actividade e orçamento; dispor
de receitas próprias e arrecadar quaisquer outras que por lei sejam destinadas; ordenar e
processar as despesas orçamentais; realizar investimentos públicos; elaborar e aprovar as
respectivas contas de gerência. (Boletim da República Série I, N.°3, 2008).
Não obstante, de acordo com a Dr.ª Ana Alchandra Castilho, actual directora dos recursos
humanos do Conselho Municipal da cidade de Nampula, as fontes de receitas do Município da
cidade de Nampula, tendo em consideração a descentralização fiscal em Moçambique definida
pelo quadro institucional legal da descentralização e autonomia fiscal, conforme a lei sobre as
finanças autárquicas do Boletim da República, são oriundas do imposto pessoal autárquico
(IPA); imposto predial autárquico (IPRA); imposto autárquico de sisa (ISISA); imposto sobre
veículos (IAV); uso do solo autárquico (DUAT); taxa por actividades económicas (TAE); uso de
espaços públicos, isto é, mercados e feiras; recolha, depósito e tratamento de lixo.
Ainda assim, esse pensamento supracitado também é corroborado pela Dr.ª Armanda
Ussene, actual directora do departamento de promoção económica do Conselho Municipal da
cidade de Nampula, ao afirmar que, a descentralização fiscal ou financeira, predomina sim no
Conselho Municipal da cidade de Nampula. O conselho Municipal da cidade de Nampula, goza
até então da legitimidade de elaborar, aprovar, alterar e executar planos de actividade e
orçamento sem fugir dos princípios estabelecidos no Boletim da República I série, número três
de 2008 que, por sua vez, estabelece leis que definem o regime financeiro, orçamental e
patrimonial das autarquias locais e o sistema tributário autárquico.
Contudo, referiu ainda a entrevistada supracitada que, é em virtude disso tudo que, o
Conselho Municipal da cidade de Nampula, arrecada numa vertente também esporádica e
preocupante verbas oriundas da governação central, como por exemplo, Fundo de
Compensação Autárquica (FCA) que, por sua vez, deriva do Fundo de Investimento de
Iniciativas Locais (FIIL), no entanto, em reconhecimento daquilo que é, a pilhagem consecutiva
das suas fontes financeiras, isto é, exploradas pelo governo central numa dimensão de carácter
macro-dimensional.
5.2.1.Descentralização Democrática
De acordo com SHAH (2006) apud DAUCE (2013:22), a governação local é a formulação
e execução de uma acção colectiva a nível local, englobando as funções de normas informal,
governação comunitária e associações de bairro na continuação da acção colectiva, definindo o
quadro de interacção entre os cidadãos e este com o Estado na tomada de decisões e na
preservação de serviços públicos. Porém, a governação local é entendida aqui, como regra de
governação por processos, através do qual os residentes de uma determinada área participam na
sua própria governação e que, por sua vez, é limitada pelos interesses locais.
Não obstante, na sua abordagem refere TALES (2010) citado por DAUCE (2013:23), toda
governação local necessita de um líder, pois o exercício de liderança é fundamental para as
agências politicas, mesmo em democracias contemporâneas. Conquanto, é em virtude dessa
teorização supracitada que, não há duvida quando STOKER (1998) citado por DAUCE
(2013:23) refere que, o exercício de poder necessita de ser legitimado de modo a dar o suficiente
poder ao líder na mobilização da população local para a resolução dos seus próprios
problemas.
desigualdades (NGOENHA, 2017). Por outro lado, nos bairros periféricos existe alguma
persistência do modo de vida completamente precário não só, pela precariedade de habitações
mas também das relações sociais13.
Ainda assim, importa frisar que, esse problema abarca consigo implicações muito negativas
até no âmbito do saneamento do meio ambiente, manutenção da ordem e segurança comercial
formal e informal que, por sua vez, constituem acções da governação local. A descentralização
fiscal, sendo um processo a partir do qual, a lei transfere os recursos fiscais para escalões
inferiores do governo como por exemplo, as autarquias locais, onde não pode haver influência
sobre o orçamento e decisões financeiras, há autonomia sobre impostos e orçamento próprio, no
entanto, o comportamento funcional até então vigente no Conselho Municipal da Cidade de
Nampula é, completamente contraditório.
Contudo, referem autores como ZAVALA (2011), não basta a sua configuração formal ou
melhor legal é, necessário tornar a descentralização fiscal verdadeira, sensível e concreta. A
capacidade de financiamento e a autonomia financeira das autarquias locais, constituem
elementos que, dão consciência à autonomia política do poder local, ao desembocarem na
elaboração, aprovação e alteração de planos financeiros, na mobilização dos recursos
atribuídos por lei as autarquias.
Em última analise, GIL (2018) argumenta que, a verdadeira descentralização é uma questão
financeira ou melhor descentralização fiscal. Enquanto tudo depender do orçamento central,
afirmou, a descentralização não terá sucesso. No entanto, é em virtude disso tudo que, importa
frisar que, o governo central com a sua moral ignorante acabou por se esquecer que, o poder
autárquico é considerado como um espaço de consolidação da democracia, onde os cidadãos se
organizam para facilitar o seu diálogo com o Estado, seu parceiro como um principal meio para
alcançar o desenvolvimento local e esqueceram também que, a necessidade de um poder forte
que domina radicalmente, como condição para a construção de um Estado de desenvolvimento,
serviu aqui e ali para provocar guerras, mas nunca para melhorar as condições de vida dos
cidadãos (NGOENHA, 1993:160).
“Em Moçambique, as Autarquias locais, possuem normalmente limitada receita e autoridade para a gestão dos
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serviços básicos locais, como a saúde, a educação e as infra-estruturas, têm pouca legitimidade relativamente ao
nível central do governo”. (DAUCE, 2013:38).
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Considerações Finais
A descentralização que, por sua vez, fragmenta-se em três níveis diferentes, assim sendo,
fazendo também parte desses níveis divergentes a descentralização fiscal esta que, constitui a
coluna vertebral da presente pesquisa e não só, consiste na transferência de recursos fiscais para
escalões inferiores do governo em que, não há concessão e nem influência sobre o orçamento e
decisões financeiras, isto é, há autonomia sobre impostos, orçamento próprios e se confia os
funcionário desconcentrados estes que, por sua vez, prestam contas a comunidade local, todavia,
importa frisar que, o autor responsável pela elaboração da pesquisa constatou que, o
comportamento funcional até então vigente no Conselho Municipal da Cidade de Nampula, local
este que, constituiu a área de abrangência do presente estudo, revela-se completamente
contraditório analogiando-se com os princípios e normas que regem a descentralização fiscal.
Todavia, da leitura que se faz aos itens supracitados, o autor do presente artigo constatou
ainda que, estas cobranças feitas pelo governo central a nível local, isto é, no Conselho
Municipal da cidade de Nampula, são obviamente feitas em detrimento do interesse da
comunidade local, ainda assim, de certa forma o Conselho Municipal da cidade de Nampula,
acaba por se tornar dependente do governo central e, por sua vez, este último torna-se
representante principal da fonte de receita do Município em alusão com a transferência
esporádica e preocupante da verba oriunda do Fundo de Compensação Autárquica (FCA) este
que, deriva do Fundo de Investimento de Iniciativas Locais (FIIL), no entanto, em
reconhecimento daquilo que é, a pilhagem consecutiva das suas fontes financeiras.
Em última analise, o autor do presente artigo constatou similarmente que, essa influência
acima referida congestiona de certa forma as actividades de desenvolvimento económico local e
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não só, o saneamento do meio ambiente, manutenção da ordem e segurança comercial formal e
informal que, por sua vez, constituem acções da governação local, esta que conhece os
verdadeiros problemas do dia-a-dia da sua população local.
Sugestões e opiniões
A criação das autarquias locais tem como objectivo último o bem-estar e a melhoria da
renda e da qualidade de vida do cidadão e a participação dos mesmos na solução dos seus
próprios problemas, isto é, da sua comunidade, todavia, o que é possível na minha óptica através
da descentralização fiscal. Como refere ZAVALE (2011), as autarquias representadas por um
governo local, tendo em consideração a descentralização fiscal, não podem depender da
orientação ou do controlo substancial do Estado, relativamente ao modo como actuam dentro da
orbita das suas atribuições por lei estabelecidas.
Ainda assim, o autor supracitado refere que, no caso mais corrente e digno, os órgãos
autárquicos, representam as populações respectivamente que os elegeram e devem prestar contas
a ela e não dependem, por isso, do governo ou de qualquer outro órgão da administração central,
por parte do Estado, somente deve fiscalizar e garantir o cumprimento da lei. Segundo GIL
(2018), a governação central parte de uma visão holística, isto é, global de cada região onde
garante o cumprimento da lei, estabilidade indispensável para a abundancia da unidade
nacional, onde o bem-estar das populações é a mediada de todas as coisas. Argumenta ainda o
autor supracitado, o Estado deve promover as iniciativas de cooperação e colaboração
intermunicipal e encorajar projectos e iniciativas comuns dos municípios vizinhos na provisão de
serviços públicos.
É em virtude disso tudo que, o autor do artigo propõe como sugestão ou opinião a
idealização de que, o governo moçambicano deve assumir uma posição mais clara acerca dos
processo de descentralização a nível fiscal no Municipal da Cidade de Nampula, isto é,
conciliando a teoria exibida no Boletim da República que, por sua vez, apologia e define o
regime financeiro, orçamental e patrimonial das autarquias e a sua prática, uma vez que, este
nível de descentralização supracitado possibilita ou melhor dá consciência à autonomia política
do poder local.
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Segundo MONDIN (2008:82), Para Platão o que caracteriza o bom governo é aquele que
tem como finalidade o bem do homem. Aqui devemos recordar que não se trata de bem
qualquer, nem do bem tão carro, mas de bem que corresponde a concepção platónica para a
qual o homem é constituído essencialmente pela alma, obviamente nessa idealização, o
verdadeiro bem do homem, é o seu bem espiritual.
Ainda assim, o autor supracitado fala-nos que, assim fica assinalada o divisório que separa a
verdadeira da falsa política. Para Platão a verdadeira política tem por finalidade cuidar da alma
do homem, ao passo que a outra é relativo a dimensão inautêntica do homem. Conquanto, não
existe outro meio de cuidar da alma do homem se não por meio do conhecimento verdadeiro.
Não obstante, Aristóteles fala-nos que, o Estado surge pelos seguintes motivo: tornar possível
não só a vida, mais também a vida feliz. O escopo da vida humana é a felicidade; o escopo do
Estado é facilitar a consecução da felicidade. Só o Estado torna possível e completa as
realizações de todas as capacidades humanas. Partindo do princípio segundo o qual a
finalidade do Estado é facilitar a consecução do bem-comum. (MODIN, 2008:110).
Contudo, predominando até então uma política de descentralização fiscal inautêntica e não
concreta no quotidiano da governação local da cidade de Nampula, referem autores como
ZAVALE (2011), existem algumas razões que fazem com que, tenhamos calma na
implementação dessa política em alusão, isto é, não existe em áfrica prova inequívoca de sua
conveniência; há ainda uma falta de clareza sobre o significado exacto da descentralização em
seus diferentes níveis fragmentários.
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Referencial Bibliográfico
Boletim da República, I Série, N.°3. Lei que define o regime financeiro, orçamental e
patrimonial das autarquias locais e o sistema tributário autárquico. Assembleia da
República, 2008.
GENTILI, Ana Maria. O Leão e o Caçador. Uma História da África Sub-sahariana dos séculos
XIX e XX. Maputo: Arquivo Histórico de Moçambique, 2006.
MONDIN, Battista. Curso de Filosofia: Os filósofos do Ocidente. 15ª Edição. São Paulo:
Paulus, 2008.
MUSSA, Carlos. História 12ª Classe. Textos Editores, Lda. MAPUTO, Fevereiro de 2008.
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Fontes Orais