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ESCOLA SUPERIOR DE ECONOMIA E GESTÃO

LICENCIATURA EM ADMINISTRAÇÃO PUBLICA

TRABALHO DE INVESTIGAÇÃO DA CADEIRA DE ADMINISTRAÇÃO


AUTÁRQUICA

TEMA

ORIGEM, CONCEITO E CONTEXTOS DA ADMINISTRAÇÃO AUTÁRQUICA

DISCENTES:
Angelina Severiano do Balar
Eliseu Jerreses Osvaldo Venâncio
Gimo Manlana
Guiness Samora Cuhuaio
Momade Sualehe Saide
Saifa Chomar
Sírio Zacarias da Cruz
Zita de Baptista Rafael Seis Ncumbadi

O DOCENTE:
Msc. Tomás Nevila Carimo

Pemba, Março de 2024

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Angelina Severiano do Bacar
Eliseu Jerreses Osvaldo Venâncio
Gimo Maulana
Guiness Samora Cuchuaio
Momade Sualehe Saíde
Saifa Chomar
Sírio Zacarias da Cruz
Zita de Baptista Rafael Seis Ncumbadi

ORIGEM, CONCEITO E CONTEXTOS DA ADMINISTRAÇÃO AUTÁRQUICA

Trabalho em Grupo, apresentado na Escola Superior de


Economia e Gestão como avaliação do nível de
conhecimento da matéria obtida na Disciplina de
Administração Autárquica, do Curso de Administração
Pública, sob orientação do Msc. Tomás Nevila Carimo.

Pemba, Março de 2024


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Índice

Introdução ................................................................................................................................... 5
1. ORIGEM, CONCEITO E CONTEXTOS DA ADMINISTRAÇÃO AUTÁRQUICA ......... 6
1.1. Pressupostos históricos da administração autárquica em Moçambique .............................. 6
1.1.1. Processo evolutivo das autarquias e eleições municipais em Moçambique ................... 10
1.2. Conceito e características de uma autárquica .................................................................... 11
1.3. Classificação das autarquias .............................................................................................. 13
1.4. Contextos da Administração Autárquica ........................................................................... 13
Bibliografia ............................................................................................................................... 20

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Introdução

Toda governação tem o seu fundamento, na maioria dos países africanos o seu modelo de
governação é o reflexo da forma administrativa do período colonial. O modelo adptado em
Moçambique é semelhando ao adotado no período colonial pelos portugueses, embora que
este tenha mudado algumas leis e formas organizações do Estado resultante do período pós-
colonial. O modelo actual adoptado em Moçambique, compreende-se a partir do governo
central – são tomadas todas decisões, o governo provincial – acata as decisões e coloca em
prática em administrações distritais e municípios. O presente trabalho tem como assunto
principal de fundamento a “Origem, conceito e contextos da administração autárquica”, onde
a abordagem do tema baseou-se nos seguintes pontos principais: pressupostos históricos da
administração autárquica em Moçambique - administração no período colonial e pós-
independência; conceito, características e classificação de uma autárquica; Contextos da
Administração Autárquica – autarquias locais.

Objectivo geral

 Descrever a origem, conceito e contextos da administração autárquica.

Objectivos específicos

 Apresentar os pressupostos históricos da administração autárquica em Moçambique;


 Estabelecer o conceito, característica e classificação de uma autárquica;
 Contextualizar a administração autárquica.

Importa destacar que para a efectividade do trabalho, teve-se como base no método de
pesquisa bibliográfico, que consistiu na busca/procura de fontes/obras em diversos autores
com vista a descrever os pontos precedentes. E quanto a estrutura o trabalho apresenta: capa,
índice, introdução, desenvolvimento, conclusão e bibliografia.

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1. ORIGEM, CONCEITO E CONTEXTOS DA ADMINISTRAÇÃO AUTÁRQUICA

1.1. Pressupostos históricos da administração autárquica em Moçambique

A administração autárquica teve a sua origem nos tempos remotos na maioria dos países do
ocidente e África. Em Moçambique, a administração autárquica teve como ponto de partida
no período colonial cuja a sua implementação era destinada ao controle das actividades
comerciais dos colonizadores no território dos colonizados.

O que tem se observado na maioria das sociedades Moçambicanas é a prevalência de certos


hábitos e costumes, estes que caracterizam a cultura dos indivíduos nativos e estrangeiros,
onde algumas actividades fazem surgir problemas nos centros urbanos/autárquicos, a título de
exemplo, resíduos sólidos que vem impactando o meio ambiente social, com isso, a
administração autárquica tem trabalhado para reduzir esses danos ambientais.

Administração no período colonial

A administração em Moçambique teve o seu marco no período colonial, no século XV, os


português chegaram a Moçambique a caminho da Índia. Durante a jornada acabaram se
estalando em Sofala e Ilha de Moçambique com o propósito de controlar o comércio entre o
interior africano e diversos portos do Oceano Índico. E durante essa época o que costuma
observar era o crescente processo administrativo na maioria nos pontos do país, tutelada pelos
portugueses.

Segundo Rodrigues (1998), “em 1763, foram criados municípios na Ilha de Moçambique e em
Quelimane; no ano seguinte, no Ibo, Sena, Tete e Zumbo; e em data desconhecida, entre o
final de 1763 e Maio de 1764, em Sofala e Inhambane”.

Em finais do século XIX, depois da Conferência de Berlim (1884-1885), a administração


colonial organizou campanhas de ocupação efectiva do território e reorganizou a
administração da colónia.

O sul e o distrito de Moçambique foram administrados de forma directa pelo governo colonial.
No centro e no norte, o território foi arrendado a grandes companhias capitalistas, algumas das
quais, a Companhia de Moçambique e a Companhia do Niassa, tinham poderes majestáticos.
Estas companhias majestáticas não exploraram apenas economicamente o território, como
asseguraram o exercício da autoridade administrativa nas áreas concessionadas (Newitt, 1997,
p.321).

E segundo este autor, na sequência da ocupação efectiva imposta pela conferência de Berlim,
o Estado português optou por uma administração indirecta, que assentava na diferenciação
entre europeus e nativos. Os primeiros estavam sujeitos ao direito e às instituições europeias,
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nomeadamente as municipais; os segundos, aos direitos costumeiros e às autoridades
tradicionais, legitimadas por poder colonial. Alguns moçambicanos, uma pequena minoria,
tinham emprego na economia capitalista e sabiam ler e escrever português, pelo que tinham o
estatuto de “assimilados”, mas tinham uma posição inferior à dos europeus.

No auge da colonização, durante o Estado Novo, acentuou-se a criação de estruturas


administrativas fortemente centralizadoras em que as estruturas municipais eram uma
extensão do poder central, tal como, acontecia na metrópole colonial. Na sequência da
reforma administrativa ultramarina de 1933, a colónia era dirigida por um governador-geral,
compondo-se de três províncias, por sua vez divididas em distritos com um administrador. A
nível local, a malha administrativa, na sequência da estabelecida já em 1914, distinguia-se em
concelhos municipais, nos principais centros urbanos, e em circunscrições, nas zonas rurais,
em ambos os casos, administrados por autoridades nomeadas.

Os Conselhos Municipais eram dirigidos por autoridades civis, sendo os mais importantes
presididos por um presidente de câmara, e dividiam-se em freguesias. As circunscrições eram
governadas por administradores e decompunham-se em postos administrativos, que podiam
existir igualmente nas áreas rurais dos concelhos, a cargo de chefes de posto.

A administração pós-independência

Declarada a independência, em 1975, sob a denominação de República Popular de


Moçambique, a administração do País foi marcada pela necessidade de reforçar a unidade
nacional, a liderança do partido único e o planeamento central. A estrutura sociopolítica e
administrativa obedecia ao centralismo democrático, que orientou os primeiros anos do País.

Uma das primeiras medidas do novo governo foi abolir a dualidade administrativa entre zonas
predominantemente rurais (circunscrições administrativas) e urbanas (concelhos), na
sequência da orientação política saída do Conselho de Ministros, de 9 de Junho do 1975.

Segundo Trindade (2003), “a orientação política perfilhada aquando da independência era


contrária às estruturas legadas pelo colonialismo, pelo que havia a necessidade de
“revolucionar o aparelho do Estado”.

Esta ideia constituiu uma das principais tarefas levadas a cabo pelo Governo da Frelimo, para
o qual a dualidade administrativa do modelo colonial deveria ser abandonada, enquanto se
instituía um novo conceito, as aldeias comunais, como estratégia política de desenvolvimento

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rural. A estratégia era apoiada pelas populações que a entendiam como um meio para
assegurar a melhoria das suas condições de vida.

após a independência, o território de Moçambique foi dividido em províncias, distritos e


localidades, não se reconhecendo o papel das autoridades tradicionais, já que se entendia que
essas autoridades haviam colaborado com a administração colonial. Importa considerar,
também, que existia o desiderato político de construir um País homogéneo do Rovuma ao
Maputo, pelo que os localismos tinham de ser eliminados.

Neste caso, a Lei no 5/78, de 22 de Abril, substituiu as estruturas coloniais orgânicas em


quatro níveis: Central, Provincial, Distrital e Local.

O contexto das estruturas locais era de serem meros receptoras e executores das decisões a
nível central. A grande novidade foi a criação de assembleias do povo a nível local, distrital e
provincial (Lei no 7/78, de 22 de Abril). Os Conselhos Executivos eram fortemente
dependentes do poder central.

Em Maio de 1992, o Governo aprovou o Programa de Reforma dos Órgãos Locais (PROL),
que tinha por objectivo a reformulação do sistema de administração local do Estado e a sua
transformação em órgãos locais com personalidade jurídica própria e doptados de autonomia
administrativa e financeira. Em consequência, foi aprovada a Lei 3/1994, de 13 de Setembro,
que estabeleceu a “institucionalização dos distritos municipais e representando o primeiro
instrumento normativo de descentralização” (Trindade, 2003).

A lei no 3/94, de 13 de Setembro, cuja regulamentação se fazia já depois de eleições


multipartidárias de 1994, acabou por se tornar um documento da discórdia em torno da sua
constitucionalidade, pelo que se optou por fazer uma revisão da Constituição (lei 9/96 de 22
de Novembro).

A emenda constitucional introduziu o título “Poder Local”, que previa a existência de


Autarquias Locais, visando a participação dos cidadãos na solução dos problemas da sua
comunidade, a promoção do desenvolvimento local e o aprofundamento da democracia, no
quadro da unidade do Estado moçambicano (Trindade, 2003, p.120).

Assim, em 1997, foi publicada nova Lei (2/97, de 18 de Fevereiro), que serviu de quadro
normativo às primeiras eleições municipais em 1998, feitas em 33 Municípios.

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Diferenças entre as leis Lei nº 3/94 e Lei nº 2/97

Segundo Faria e Chichava (1999), “existe a diferença entre a Lei nº 3/94 com a Lei nº 3/94.
As diferenças resultaram por causa das mudanças ocorridas e reformulação de certos padrões
administrativos”.

Principais constatações da Lei nº 3/94

 Divisão administrativa em 128 distritos municipais rurais e 23 distritos municipais


urbanos;
 Eleição directa e secreta dos três órgãos municipais: Presidente (Administrador nas
zonas rurais), Assembleia e Conselhos Municipais;
 Enumeração clara das funções e serviços dos governos locais (inclui segurança pública,
uso da terra, abastecimento de água, entre outros);
 Definição clara das prerrogativas e competências da administração central e do
município;
 Autonomia orçamental, fiscal, patrimonial, de planeamento e organização;
 Apoio orçamental previsto no OGE;
 Integração das autoridades tradicionais no processo de consulta e tomada de decisões
locais (nomeadamente no arbítrio de conflitos e em questões relacionadas com o uso
da terra);
 Direito à criação de uma associação de municípios;
 Princípio do gradualismo: estabelecimento gradual dos municípios com base em
condições socioeconómicas, administrativas e de infraestruturas mínimas;
 Tutela legal e financeira dos municípios por parte do Ministério do Plano e Finanças e
(MAE), respectivamente.

Principais constatações da Lei nº 2/97

 Criação de autarquias, subdivididas em municípios (urbanos), e povoações (rurais).


Cidades, vilas, aldeias, povoações (544) são à partida elegíveis para o estatuto de
autarquia. Ficam de fora do poder local os 128 distritos geridos pelos órgãos
administrativos locais e, por conseguinte, sob administração central;
 Eleição directa e secreta do Presidente e da Assembleia Municipal (AM). Metade dos
membros do Conselho Municipal são designados pelo Presidente e metade são
membros da AM;

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 As funções dos governos locais são reduzidas em questões essenciais (como o uso da
terra) e condicionadas à existência de recursos financeiros locais;
 Representação dos órgãos de administração central na jurisdição territorial das
autarquias. Possibilidade de controlo e participação destes no governo local (dupla
administração);
 Autonomia administrativa, fiscal, patrimonial e de organização. Subordinação
administrativa das autarquias ao princípio da “unidade do poder político”;
 Autonomia administrativa, fiscal, patrimonial e de organização. Subordinação
administrativa das autarquias ao princípio da “unidade do poder político”;
 A participação das autoridades tradicionais é substancialmente limitada e sujeita a
regulamentação ministerial;
 Não há referência ao direito de associação dos municípios;
 Princípio do gradualismo. A lei da criação das autarquias (elaborada, discutida e
aprovada posteriormente) limita o número de autarquias na primeira fase a 33;
 Tutela legal e financeira dos municípios por parte do MAE e do MPF, respectivamente.
A lei da tutela administrativa do Estado sobre as autarquias locais (elaborada,
discutida e aprovada posteriormente) determina que a tutela pode ser delegada aos
governos provinciais.

1.1.1. Processo Evolutivo das Autarquias e Eleições Municipais em Moçambique

Segundo a Comissão Nacional de Eleições (2018), Moçambique segue o princípio do


gradualismo na municipalização do país: o país começou com 33 municípios nas primeiras
eleições, em 1998, manteve esse número nas segundas, em 2003, passou para 43 nas terceiras,
em 2008, e para 53 no escrutínio de 2013, número que se mantém.

Ainda segundo a Comissão Nacional de Eleições (2018), a Constituição foi alterada em Maio
e as leis ordinárias adaptadas em Julho. E no que toca às autarquias, a principal mudança é
que um boletim autónomo para eleger o Presidente do Conselho Municipal: Os eleitores põem
a cruz apenas num boletim, para a Assembleia Municipal, e o cabeça de lista vencedor é o
presidente da autarquia.

Moçambique é um país em desenvolvimento, o índice de população aumenta em cada ano e


se instalam em diversos pontos do país, e isto, acaba originando novos distritos, município,
postos administrativos e localidades.

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Nesta senda, em 14 de Dezembro de 2022 a Assembleia da República aprovou a proposta do
governo para a criação de mais 12 autarquias, elevando o número
de municípios em Moçambique para 65. Onde as recentes eleições municipais de 2023
contaram com um total de 65 municípios.

1.2. Conceito e Características de uma Autárquica

Segundo Romita, “o conceito de Autarquia pode ser expresso através destes três aspectos:
etimologicamente – governo próprio; politicamente – forma da acção intervencionista do
Estado; juridicamente – pessoa jurídica de direito público, distinta das formas de organização
política do Estado” (p.143).

Decreto – Lei nº 200/1967 afirma que “autarquia é o serviço autónomo, criado por lei, com
personalidade jurídica, património e receita próprios para executar actividades típicas de
Administração Pública, que requeiram, para seu melhor funcionamento, gestão administrativa
e financeira descentralizada”.

Para Neto (2018), “a jurisprudência entende autarquia como gênero, com as seguintes
espécies: autarquia comum ou ordinária; autarquia sob regime especial; autarquia fundacional
e associação pública”.

Segundo este autor, a autarquia comum ou ordinária é aquela que se enquadra, sem nenhuma
peculiaridade, ao que está previsto no regime jurídico do Decreto – Lei nº 200/1967. A
autarquia em regime especial é aquela que a lei conferiu prerrogativas especificas (a título de
exemplo, a estabilidade de seus dirigentes) e não aplicáveis às autarquias em geral (comum ou
ordinária). A autarquia funcional é uma fundação pública instituída por lei especifica, com
personalidade jurídica de direito público.

Segundo Romita,
Os elementos essências ou características fundamentais da autarquia são, no elenco de CAIO
TÁCITO: a) instituição mediante ato legislativo; b) personalidade jurídica de direito público
interno; c) especialização dos fins ou actividades; d) autonomia administrativa; e) autonomia
patrimonial ou financeira; f) controle ou tutela administrativa (p.143).

A essas características essências, Di Pietro (2014), afirma que:

Acto Legislativo (em sentido formal e material), este reside no facto de a criação da
autarquia ser algo que constituído por leis especificas.

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Através do fundamentos acima referenciados, os autores do trabalho entendem que no acto
legislativo é onde são enumeradas pessoas jurídicas de direito público interno, e estes são
definidos sob o ponto de vista categórico, ou seja, quem responder à quem por ordem
hierárquica.

Personalidade Jurídica de direito público, esta se dedica a pessoa jurídica de direito


público interno, ou seja, é submetido ao regimento jurídico em publicidades e passa a servir o
Estado em finalidades sociais. “Nestes são definidos os direitos relacionados com a pessoa
que tem o poder para e com o Estado, onde este serve para solucionar questões sociais
relacionadas a entidade (autarquia) autónoma” (autores do trabalho).

Especialização dos fins ou actividades, nesta característica cada entidade (autarquia) dedica
suas actividades para acções tipicamente públicas, como a prestação de serviço ou actividade
política administrativa, em prol de beneficiar a sociedade como um todo.

No pensamento dos autores do trabalho, nesta característica encontramos definidos os deveres


da autarquia para com a sociedade, onde ela deve ter especialização de seus fins
expressamente declaradas, uma vez que atende a objectivos determinados, visa à realização de
serviços para o bem-estar da sociedade.

Autonomia administração, diz respeito a entidade possuir a capacidade eminente de se auto-


administrar, não dependendo dos recursos ou aprovação pública para exercer suas actividades,
desde que permaneça dentro dos limites da lei.

Para os autores do trabalho, na autonomia administrativa, as autarquias são compreendidas


como algo que existe e possui capacidade de reger por si os seus próprios interesses com vista
a responder/resolver os problemas da sociedade. A autarquia pode ser compreendida como o
Estado, onde o este prestar serviços para o bem do povo, principalmente ao resolver os
eminentes paradigmas, por isso a autarquia vai estar ao longo do Estado e não longe dele, pois
no final quem administrar as autarquias .

A autonomia patrimonial ou financeira, reside no facto das autarquias possuir a capacidade


de atribuição de receitas próprias e gestão financeira autónoma. A autarquia que pode ser
constituída com ou sem património inicial, os bens por ela adquiridos se integram em seu
património, como os de qualquer outra pessoa jurídica, onde a integração se processa para
todos os efeitos. Esta autonomia não é absoluta pois fica sujeita ao controle do Estado.

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Na percepção dos autores, a autónima patrimonial ou financeira diz respeito a
responsabilidade pública da autarquia onde conta com um controle financeiro próprio,
podendo esse estar sujeito à fiscalização do Estado.

O controle ou tutela administrativa, a autarquia se caracteriza por sua autonomia, doptada


de personalidade jurídica, dispondo de capacidade própria para exercer os atos necessários à
sua existência. Nestas circunstancias, a autarquia não significa que tenha uma absoluta
independência, mas sim a sua descentralização não desliga-se do Estado.

1.3. Classificação das Autarquias

Segundo Di Pietro (2014), quanto a classificação das autarquias, temos os seguintes critérios:
capacidade administrativa, estrutura e nível federativo.

Na capacidade administrativa, encontramos duas formas: a geográfica, que tem capacidade


administrativa genérica (Territórios Federais) e a de serviço, que possui capacidade
administrativa específica, limitada a determinado serviço que lhe foi atribuído por lei.

A Estrutura, é subdividida em duas formas: fundacionais e corporativas. Aquelas são


fundações de direito público dotadas de patrimônio ligado a um fim que irá beneficiar pessoas
indeterminadas (Hospital das Clínicas, da Universidade de São Paulo, por exemplo). Já as
corporativas são formadas por sujeitos unidos para o alcance de um fim de interesse público,
contudo só diz respeito aos próprios associados (como o Conselho Federal de Administração).

Ao nível federativo, encontramos as federais, estaduais, distritais e municipais, uma vez


instituídas pela União, pelos estados, pelo Distrito Federal e pelos municípios,
respectivamente.

1.4. Contextos da Administração Autárquica

Segundo Neto (2018),


As autarquias são titulares de direitos e obrigações próprias, não se confundindo com os
direitos e obrigações do ente político criador (seu estado, município). Quanto à personalidade,
são pessoas jurídicas de direito público, desempenhando actividades típicas de Estado,
desprovidas de carácter económico.

Nessa perspectiva, Paulodo (2013) afirma que “as autarquias são instituídas para
prestar serviço social e desempenhar actividades que possuam prerrogativas públicas, de
forma especializada, técnica, com organização própria, administração ágil e não sujeita a
decisões políticas pertinentes aos seus assuntos” (p.608).
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1.4.1. Autarquias locais

Autarquias locais são pessoas colectivas públicas de população e território, correspondentes


aos agregados de residentes em diversas circunscrições do território nacional, e que
asseguram a prossecução dos interesses comuns resultantes da vizinhança mediante órgãos
próprios, representativos dos respectivos habitantes.

As autarquias locais são entidades independentes.

Segundo Freitas (2003), em termos práticos, desempenha uma tripla função, permitindo
identificar a autarquia local:

 Definir a população respectiva e delimitar as atribuições e as competências da


autarquia e dos seus órgãos, em razão do lugar; o agregado populacional constitui o
substrato humano da autarquia local e é através dele que se definem os interesses a
prosseguir pela autarquia, acarretando, por isso, cada membro da autarquia, uma
panóplia de direitos e deveres;
 Os interesses comuns servem de fundamento à existência das autarquias locais; e
 Por fim, os órgãos representativos é através de eleições (eleições autárquicas) que são
escolhidos os representantes das populações locais para exercerem a função de órgãos
das autarquias locais, denominando-se, por isso, de órgãos representativos.

Com estes pontos o grupo entende que não podem existir autarquias locais quando é
administrada por membros não representativos sob o ponto de vista da população a ser
tutelada.

Por sua vez, inerente à existência de autarquias locais surge o conceito jurídico-político
da descentralização consiste no desempenho das tarefas da Administração Pública por várias
pessoas colectivas (descentralização em sentido jurídico) e, por outro lado, numa auto-
administração pelas populações (descentralização em sentido político) e o princípio da
autonomia local como garantia do pluralismo dos poderes políticos (e, consequentemente,
como um instrumento de limitação do Poder político indissociável do Estado de Direito
Democrátic (Alexandrino, 2015).

A Constituição da República de Moçambique consagra, no seu TÍTULO XIV, a existência do


Descentralização. De acordo com o Artigo 267 da Lei fundamental:

 A descentralização tem como objectivo organizar a participação dos cidadãos na


solução dos problemas próprios da sua comunidade, promover o desenvolvimento
local, o aprofundamento e a consolidação da democracia, no quadro da unidade do
Estado Moçambicano.

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 A descentralização apoia-se na iniciativa e na capacidade das populações e actua em
estreita colaboração com as organizações de participação dos cidadãos.

Assim, a Lei Fundamental atribui objectivos a descentralização que este deverá prosseguir.
Contudo, a realização destes objectivos precisa de estruturas e um grau de autonomia
suficiente para permitir a realização concreta dos interesses e fins consagrados pela
Constituição. A criação das autarquias locais não liberta o Estado da sua responsabilidade
global sobre o país e o funcionamento das diversas instituições constitucionalmente existentes;
deve, por conseguinte, exercer algum controlo sobre as autarquias locais.

Nas estruturas do poder local, encontramos duas perspectivas devem ser abordadas. Em
primeiro lugar, tratar-se-á de descrever a organização, o funcionamento e as competências dos
órgãos das autarquias locais e, em segundo lugar, apresentar as relações entre os órgãos destas
mesmas autarquias locais.

Os Órgãos das Autarquias Locais

A administração das autarquias locais é confiada à dois tipos de órgãos: um órgão deliberante
e representativo: a assembleia municipal; e órgãos executivos: o conselho municipal e o
presidente do conselho municipal.

 A Assembleia Municipal

A assembleia municipal é o órgão representativo da autarquia local dotado de poderes


deliberativos; é a expressão concreta do multipartidarismo e do pluralismo ideológico ao nível
da autarquia local. Por outras palavras, é o fórum das correntes políticas e ideológicas
existentes na autarquia local. A assembleia municipal é eleita por sufrágio universal, directo,
igual, secreto, pessoal e periódico por todos os cidadãos eleitores residentes na circunscrição
territorial da autarquia local, segundo o sistema de representação proporcional. O mandato
dos membros da assembleia municipal ou povoação é de 5 anos. A Assembleia Municipal é
constituída por um número de membros proporcional a um determinado número de eleitores
residentes no respectivo círculo eleitoral, na razão de:

 13 membros quando o número de eleitores for igual ou inferior a 20 000;


 17 membros quando o número de eleitores for superior a 20 000 e inferior a 30 000;
 21 membros quando o número de eleitores for superior a 30 000 e inferior a 40 000;
 31 membros quando o número de eleitores for superior a 40 000 e inferior a 60 000;
 39 membros quando o número de eleitores for superior a 60 000.

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No que diz respeito ao funcionamento das assembleias municipais, é regulado pelo Decreto
n.º 35/98, de 7 de Julho que estabelece os princípios fundamentais dos regulamentos das
assembleias municipais (princípio de legalidade, princípio de legitimidade democrática do
eleito local, princípio de especialidade, princípio de participação dos cidadãos residentes e
princípio de publicidade). Esses princípios devem ser introduzidos em cada um dos
regulamentos das assembleias municipais.

Esta assembleia municipal realiza cinco sessões ordinárias por ano. O calendário das sessões
ordinárias é fixado pela assembleia municipal na ocasião da primeira sessão ordinária de cada
ano. As sessões da assembleia municipal ou povoação são públicas. As competências da
assembleia municipal ou da povoação são, principalmente, definidas pelos artigos 45, 46, 77 e
78 da Lei n.º 2/97, de 18 de Fevereiro. Pode-se agrupar estas competências em duas categorias.

 Os órgãos executivos da autarquia local

Os órgãos executivos das autarquias locais são constituídos pelo Conselho Municipal e pelo
Presidente do Conselho Municipal .

O Conselho Municipal é o órgão executivo colegial do município constituído pelo presidente


do conselho municipal e por vereadores por ele escolhidos e nomeados, onde o número de
vereadores é fixado pela assembleia municipal sob proposta do presidente do conselho
municipal, de acordo com parâmetros estabelecidos por lei. E todas as competências do órgão
executivo colegial da autarquia local são estabelecidas pelos artigos 56 e 88 da Lei n.º 2/97,
de 18 de Fevereiro. Pode-se distinguir vários tipos de competências:

 As que têm como finalidade permitir a execução de determinadas tarefas ou


programas (por exemplo, executar e realizar as tarefas e programas económicos,
culturais e sociais definidos pela assembleia municipal;

 As que visam apoiar o presidente do conselho municipal na realização das suas


actividades (por exemplo, o conselho municipal coadjuva o seu presidente na
execução das deliberações aprovadas pelo respectivo órgão da autarquia local:
execução do orçamento e do programa de actividades definido pela assembleia
municipal );

 As que têm por objecto organizar a sua participação na elaboração da gestão municipal
(por exemplo, apresentar à assembleia municipal os pedidos de autorização e exercer
as competências autorizadas nas matérias previstas pela lei);
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 As de natureza normativa (por exemplo, o conselho municipal ou de da autarquia local;
e em segundo lugar, a assembleia municipal avalia a política seguida por estes
mesmos órgãos.

O presidente do conselho municipal, a principal função deste é dirigir o conselho municipal.


O Presidente do Conselho Municipal é o órgão executivo singular da respectiva autarquia
local. Ele é eleito por cinco anos, por sufrágio universal, directo, igual, secreto e pessoal, por
escrutínio maioritário uninominal em dois sufrágios, dos cidadãos eleitores recenseados e
residentes na respectiva circunscrição territorial.

A lei vigente atribui numerosas competências ao presidente do conselho municipal. Pode-se


classificá-las em cinco grupos distintos:

 As competências de direcção e de administração (por exemplo, a direcção e a


coordenação do funcionamento do conselho municipal);

 As competências de representação (por exemplo, o presidente do conselho municipal


é o representante legal da autarquia local);

 As competências de execução e de controlo (por exemplo, o presidente do conselho


municipal é o principal responsável para a execução das deliberações da assembleia
municipal);

 Competências em matéria de nomeação dos vereadores e do pessoal administrativo;

 As competências de substituição (por exemplo, no caso de situação de urgência, o


presidente do conselho municipal pode tomar actos no âmbito da competência do
conselho municipal .

Portanto, o presidencialismo municipal moçambicano é a estrita separação das funções dos


órgãos da autarquia local, por um lado, e, a necessária colaboração entre estes últimos.

Na separação das funções sustenta que a legitimidade democrática de que dispõe cada um
dos principais órgãos da autarquia local a assembleia municipal e o presidente do conselho
municipal faz com que nenhum dos referidos órgãos não possa sobrepor-se ou substituir-se à
outro no exercício das suas competências pelo facto de cada um deles foi atribuído uma
função distinta.

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Como estabelece o Artigo 15, da Lei n.º 2/97, de 18 de Fevereiro, “os órgãos das autarquias
locais só podem deliberar ou decidir no âmbito das suas competências e para a realização das
atribuições que lhes são próprias”.

Assim, o sistema de governação autárquico moçambicano consagra um modelo de separação


dos poderes e impede que um dos órgãos possa governar de forma “solitária”.

Na colaboração dos órgãos, diz respeito a concentração de poderes a nível “do órgão
presidencial”, onde a concentração é mais aparente do que real, uma vez que o presidente do
município precisa da colaboração e de apoio dos outros órgãos para a aprovação dos
instrumentos essenciais para o funcionamento da autarquia local.

Portanto, se existir uma separação de poderes, existe, também, uma real obrigação para os
diferentes órgãos, de coordenar o exercício das suas acções. Assim, o cruzamento das
competências torna-se uma necessidade. O executivo municipal precisa da colaboração da
assembleia da autarquia local para traduzir em decisões normativas o seu programa político.
Sem a adesão do órgão representativo da autarquia local, o conselho municipal e o seu
presidente não podem conduzir, praticamente, nenhuma reforma substancial.

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Conclusão

Chegado ao culminar do trabalho que tinha como propósito central descrever a origem,
conceito e contextos da administração autárquica, concluímos que a administração autárquica
em Moçambique teve a sua origem no período colonial e foi dando continuidade até o actual
período pós colonial. No período colonial a administração era controlada pelos colonizadores,
onde o seu maior propósito era de controlar o comércio a partir de pontos definidos, a titulo
de exemplo, temos a ilha de Moçambique. No período pós colonial encontramos duas leis – a
Lei nº 3/94 de 13 de Setembro e a Lei nº 2/97 de 18 de Fevereiro, estas duas leis foram
adaptadas para fins das actividades governamentais do Estado Moçambicano. Actualmente o
nosso país (Moçambique) tem se baseado na Lei nº 2/97 de 18 de Fevereiro, esta que veio
substituir a Lei nº 3/94 de 13 de Setembro. No total o país conta com 65 autarquias, onde
todas actividades concernentes da sua administração são autónomas, mas elas são
subordinadas ao Estado. Todas autarquias nacionais têm como características: a) instituição
mediante acto legislativo; b) personalidade jurídica de direito público interno; c)
especialização dos fins ou actividades; d) autonomia administrativa; e) autonomia patrimonial
ou financeira; f) controle ou tutela administrativa. Portanto, autarquia é o serviço autónomo,
criado por lei, com personalidade jurídica, património e receita próprios para executar
actividades típicas de Administração Pública, que requeiram, para seu melhor funcionamento,
gestão administrativa e financeira descentralizada.

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