Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
3° Ano – II Semestre
Feliciano Tchemane
Yúmina Sitoe
2
INTRODUÇÃO
Durante muito tempo, as comunidades locais em África tinham sistemas de liderança próprios
em que o “poder local assentava em crenças e religiões” (Vieira, 2004, p. 74). Facto este que
fazia com que o régulo fosse o único representante legítimo das comunidades em que dominava.
Tudo estava concentrado no régulo e era ele que definia como a sociedade se podia comportar.
O líder era considerado de “o descendente mais velho da linhagem mais antiga do clã que fundou
ou conquistou este território… sendo considerado de mágico e grande feiticeiro capaz de
defender a comunidade de todos os inimigos exteriores ou interiores” (Vieira, 2004, p. 74). É
neste contexto que se consideram os programas e processos de descentralização em África como
estratégias de aproximação dos Estados africanos junto das estruturas locais (Fauré & Rodrigues,
2011, p. 43).
Esta forma de funcionamento do poder local tornou-se mais fragilizado e menos credível com a
invasão das potências europeias no território africano, onde estes “controlavam completamente
toda a estrutura das sociedades tradicionais africanas existentes” (Vieira, 2004, pp. 75-76).
Moçambique, tal como outros países na região, iniciou um processo de descentralização que é
parte integrante de um conjunto de reformas e mudanças de natureza política, económica e
administrativa, em curso desde os anos 80, e tornadas praticamente inevitáveis pela contínua
degradação da situação económica, social e política do país.
A descentralização em Moçambique teve muitos significados e muitos rostos nos desde a sua
implementação, o que culminou com a coexistência de dois tipos de descentralização, a
devolução ou descentralização democrática e a desconcentração ou a descentralização
administrativa que são difíceis de reconciliar em termos territoriais, democráticos, fiscais e
administrativos. Esta mistura produziu dentre muitos efeitos o alargamento do público político
cívico (existente) às áreas (geográficas) e aos “públicos e espaços primordiais” periféricos, onde
o Estado e o partido dominante, as “estruturas”, têm sido fracos, distantes ou inexistentes e
Maiores possibilidades de a elite governante satisfazer, pelo menos parcialmente, as
reivindicações da sua clientela urbana periférica, oferecendo-lhe algum poder, acesso a recursos
3
públicos, cargos e oportunidades descentralizadas de procura de rendimentos improdutivos,
captura pela elite e compra de votos.
Objectivo Geral
Compreender o processo de Descentralização Administrativa em Moçambique
Objectivos Específicos
Identificar os factores que concorrem para o processo de desconcentração do poder
administrativo;
Descrever as formas de distribuição de poder antes centralizado.
Metodologia
Vários autores abordam sobre diversos tipos de pesquisa que são aplicadas em consideração de
cada tipo de trabalho. De modo a alcançar os objectivos propostos para a pesquisa, pautou-se por
uma pesquisa do tipo exploratória, de acordo com MARCONI E LAKATOS (2002), este tipo de
pesquisa ocorre em estudos com pequeno número de unidades e geralmente sem emprego de
técnicas estatísticas. Na concepção do presente ensaio, observou-se uma das técnicas de recolha
de dados que pode ser a documentação indirecta que inclui a pesquisa bibliográfica e
documental. Para a recolha de dados no presente ensaio privilegiou-se pesquisa bibliográfica,
que de acordo com Gil (2002), é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído
por livros e artigos científicos e o presente trabalho consistiu essencialmente na consulta de
vários livros e artigos científicos que versam sobre a temática da Descentralização
Administrativa em Moçambique.
Quadro Teórico
O presente ensaio, foi analisado a luz do institucionalismo, para explicar o processo de
distribuição do poder para um novo quadro administrativo, pois de acordo com a formulação
clássica de Douglass North citado por Bratton, as instituições podem ser “qualquer forma de
restrição que os seres humanos planejam interação humana", e podem trabalhar através de"
ambas as restrições formais tais como regras que os seres humanos criam - e restrições informais
- tais como convenções e códigos de comportamento ”. 2 A maioria dos praticantes do novo
institucionalismo desconsidera as qualificações do Norte e centram-se apenas nas instituições
formais, subestimando impacto do reino informal. Este viés pode ser razoável para estabelecer
4
democracias, onde o Estado de Direito orienta os atores políticos e uma ética generalizada do
“constitucionalismo” reforça as constituições escritas. Mas essas condições raramente ocorrem
em democracias emergentes, onde os limites do poder do estado são geralmente novos e não
testados.
5
História da Descentralização Administrativa
Durante muito tempo, as comunidades locais em África tinham sistemas de liderança próprios
em que o “poder local assentava em crenças e religiões” (Vieira, 2004, p. 74). Facto este que
fazia com que o régulo fosse o único representante legítimo das comunidades em que dominava.
Tudo estava concentrado no régulo e era ele que definia como a sociedade se podia comportar. O
líder era considerado de “o descendente mais velho da linhagem mais antiga do clã que fundou
ou conquistou este território… sendo considerado de mágico e grande feiticeiro capaz de
defender a comunidade de todos os inimigos exteriores ou interiores” (Vieira, 2004, p. 74). É
neste contexto que se consideram os programas e processos de descentralização em África como
estratégias de aproximação dos Estados africanos junto das estruturas locais (Fauré & Rodrigues,
2011, p. 43).
Esta forma de funcionamento do poder local tornou-se mais fragilizado e menos credível com a
invasão das potências europeias no território africano, onde estes “controlavam completamente
toda a estrutura das sociedades tradicionais africanas existentes” (Vieira, 2004, pp. 75-76).
O mesmo estudo comparou a capacidade dos governos locais, lideres locais e do governo central
de acordo com certos parâmetros, onde obteve os seguintes resultados: Na questão da resolução
dos conflitos locais, as autoridades tradicionais em áfrica, mostram-se mais eficientes em relação
aos governos locais e central; a demarcação da terra é feita na grande maioria pelo governo local
e um número equilibrado entre as autoridades locais e o governo central; quase dois terços do
imposto sobre o rendimento são feitos pelo governo central, um quarto pelo local e o resto pelas
autoridades tradicionais; Os serviços públicos básicos como a educação e a saúde são geridos na
6
sua maioria pelo governo central e com pouca intervenção das autoridades locais (Logan, 2013,
p.6).
Por fim, o colapso do sistema socialista teve efeitos catastróficos. Contrariamente ao que
aconteceu na África, os países asiáticos conseguiram contornar a situação pós-comunista. Porém,
os países africanos formam afetados negativamente com a queda da Ex URSS e aceitaram
completamente as condições estabelecidas pelo Banco Mundial e o Fundo Monetário
Internacional uma vez que eram na altura a única alternativa que existia. Foi assim que iniciou
em áfrica o processo de descentralização em áfrica.
Entre a década 80 e 90, Moçambique assim como Quénia e Malawi, aplicou programas de
ajustamento estrutural como fruto da sua aceitação das doações fornecidas pelo BM e o FMI,
com o slogan “boa governação”. Portanto, todos têm tentado implantar a devolução nos seus
respetivos países, mas a forma e a dinâmica desta é diferenciada. No entanto, muitos países
africanos adotaram a descentralização como um meio de diminuir as disparidades regionais e de
reduzir a pobreza e como forma de mobilizar os recursos locais, fomentar a participação local,
melhorar a prestação de serviço públicos e na prestação de contas. Mais isso não significou
necessariamente a redução da pobreza, pois existem casos em que mesmo com a implementação
da descentralização, os efeitos destes não são satisfatórios (Brosio, 2000, pp. 4-5; Manor, 2011).
Muitos desses insucessos são explicados pela limitada participação e pela reduzida mobilização
dos agentes locais nas questões do seu próprio município.
Descentralização
A descentralização consiste na transferência de autoridade no planeamento e na tomada de
decisões. No sector público em particular, os processos descentralizadores frequentemente
tomaram a forma do repasse desse poder decisório do nível nacional aos níveis subnacionais.
Mas a existência de diversas experiências descentralizadoras demonstra que estes processos
permitem avançar na construção de realidades completamente diferentes, Chichava (1999).
7
correspondam as necessidades das populações locais e deles decidirem sobre o volume da oferta
de certos bens e serviços públicos (Canhanga, 2009). Este processo abriu espaço para a
participação dos cidadãos no exercício governativo, através do seu envolvimento no processo de
tomada de decisões nos órgãos do Estado sobre os programas de desenvolvimento local, através
da institucionalização dos espaços de participação e consulta comunitária traduzindo-se no
incremento dos níveis de eficácia e eficiência dos programas concebidos e implementados
localmente, facto que marcou um passo importante para a democratização do processo decisório
no exercício governativo local.
Mazula (1998) define a descentralização como sendo a criação de entidades autónomas distintas
do Estado, paralelas a ele. Desaparece a hierarquia administrativa, surge um relacionamento
entre pessoas jurídicas diferentes, com atribuições e responsabilidades juridicamente definidas
pela lei. De um modo geral, Olowu (2003) associa os países da região africana, incluindo
Moçambique aos tipos de descentralização, classificando-os em três tipos nomeadamente:
Desconcentração; Devolução, Devolução parcial e Federações ou semi-federações.
8
ainda alguns países que optaram por um sistema misto, isto é, uma devolução parcial, na
qual faz parte Moçambique. Nestes países, somente o poder é exercido de baixo para
cima em áreas consideradas cidades e em algumas que apresentavam capacidade para
implementarem o modelo.
No que diz respeito às funções prevê as seguintes do governo local, por exemplo, a prestação de
serviços educativos e de saúde, e reorganiza e aglutina as antigas direcções distritais dos
ministérios em quatro ou cinco serviços distritais. Esses serviços são os seguintes: Serviços
Distritais de Actividades Económicas (SDAE); Serviços Distritais de Planificação e Infra-
estruturas (SDPI); Serviços Distritais de Educação, Juventude e Tecnologia (SDEJT) e Serviços
Distritais de Saúde, Mulher e Acção Social (SDSMS). O apoio internacional à desconcentração e
capacitação de governos distritais foi fornecido através do Programa Nacional de Planificação e
Finanças Descentralizadas (PNPFD), teve os seguintes financiadores CSD, Irlanda e pelo Banco
Mundial (todos no fundo comum), bem como pela GIZ e pelo PNUD fora do fundo comum.
9
O Processo de Descentralização em Moçambique
O processo de descentralização em Moçambique deve ser entendido no contexto dos esforços de
reaproximação do Estado moçambicano às comunidades locais, fortemente afectadas pela guerra
civil e pela falência das tentativas do partido Frelimo na promoção do desenvolvimento local.
Esses esforços iniciaram-se em finais dos anos 80, com a execução dos primeiros programas de
reajustamento estrutural (FMI e Banco Mundial), e conduziram à elaboração de um Programa de
Reforma dos Órgãos Locais (PROL), em 1991 (naturalmente, a introdução dos princípios do
pluralismo e da democracia multipartidária na Constituição, em 1990, e a celebração dos acordos
de paz de Roma, em 1990, não foram alheios a todos estes esforços). O PROL teve como
objectivo a reformulação do sistema de administração local do Estado vigente e previa
inicialmente a divisão administrativa do país em 128 distritos municipais rurais e 23 distritos
municipais urbanos, dirigidos por três órgãos municipais (Presidente, Assembleia e Conselho
Municipal), eleitos por sufrágio directo, secreto e universal. No entanto, com as primeiras
eleições multipartidárias (para a Presidência e para a Assembleia da República), realizadas no
mês de Outubro de 1994, e se bem que se tenham assegurado as condições de pacificação e
democratização necessárias para dar início ao processo de descentralização administrativa do
país, verificou-se igualmente que o partido Renamo conseguiu obter resultados eleitorais
potencialmente ameaçadores, na óptica da Frelimo, para a sua hegemonia política no âmbito
local (principalmente no Centro e Norte do país), mais ainda num cenário de eleições municipais.
Por essa razão, e também por divergências manifestadas pelo partido Renamo sobre o teor da
legislação que visava regulamentar a primeira lei sobre autarquias locais, acabou por proceder-
se, em 1996, à alteração da Constituição moçambicana, a qual passou a incluir um novo capítulo
sobre poder local. Foi esta alteração constitucional que permitiu finalmente a entrada em vigor,
em 1997, de uma nova lei reguladora da descentralização (a Lei das Autarquias Locais), a
criação de 33 municípios urbanos no país.
10
Federico Tobar (1991), o referido pluralismo existe dentro e fora das instituições da
administração pública oficial.
Assim, quando fala-se do fenómeno de diversidade das práticas administrativas que segundo
Étienne Le Roy, no contexto africano, “o que legitima, aos olhos dos actores, o interesse ou não
das reformas em vista não é tanto a ‘beleza’ do desenho institucional como as vantagens práticas
retiradas de um dispositivo organizativo” (Le Roy, 1995: 159). Ou seja, o autor entende que este
é o fundamento para a aceitação (legitimidade) e para o sucesso de um determinado modelo de
organização administrativa pelas comunidades locais africanas reside mais nas vantagens
práticas resultantes da sua adopção (isto é, na sua adequação a servir de instrumento para a
resolução dos problemas concretos) do que na aparente racionalidade burocrática do modelo
adoptado.
Antigos secretários dos Grupos Dinamizadores, formalmente extintos, mas que sobreviveram
sociologicamente através do exercício de funções administrativas. Os secretários dos Grupos
Dinamizadores eram responsáveis pela divulgação e enquadramento ideológico das comunidades
situadas nos bairros e nas aldeias, durante o período socialista. Opera dentro das próprias
instituições da administração pública “oficial”, estaremos a falar de um “pluralismo interno”. Já
quando nos referimos ao “pluralismo externo”, estaremos a falar no fenómeno de sobrevivência
de estruturas políticas que exercem as prerrogativas próprias do Estado no âmbito local,
socorrendo-se para o efeito de regras de Direito híbridas (“compósitos” de Direito formal e
informal) e de formas de legitimação política não oficial ou mesmo tradicional. É sobre esta
forma de pluralismo administrativo que nos debruçaremos no presente artigo.
11
Quem está interessado na Descentralização?
Analisamos aqui as partes interessadas no processo de descentralização a nível nacional,
provincial e local. Essas partes interessadas incluem organizações do Estado, bem como actores
não estatais.
12
na confiança política – directamente pelo Presidente, de quem o governador é o representante na
província, fazendo-se a prestação de contas da base para o topo. As funções do governo
provincial na descentralização podem ser descritas como sendo de execução e monitoria, bem
como de controlo e apoio a governos subprovinciais, conforme definido pelas instituições do
governo central.
Nível Local
Administrações dos distritos
O distrito é amplamente aceite como nível básico da organização e do desenvolvimento do país,
em termos políticos, administrativos e económicos. O governo do distrito faz parte da
“administração directa do estado”, representado pelo administrador nomeado para o distrito: Não
pode haver dúvida de que os municípios são um dos principais promotores da mudança no
sentido da descentralização e devolução, respectivamente, quer individual, quer colectivamente,
através do seu organismo coordenador. Em que medida um município participa em questões de
descentralização depende muito, obviamente, das suas dimensões, tempo de existência e bases de
recursos financeiros e humanos. No seio dos municípios, o executivo, ou seja, os presidentes dos
CMs e os CMs são importantes intervenientes activos, o que parece também ser o caso dos
cidadãos locais, que muitas vezes têm um sentido de identidade e de orgulho colectivo
relacionado com o seu município. O aumento da participação nas eleições do governo local é um
indicador disso.
13
CONCLUSÃO
Canhanga (2009) destaca que o processo de transferências de funções e de recursos do central
para o local em Moçambique resultou do reconhecimento das instituições locais que estavam
melhor preparadas para introduzirem este modelo de governação. É nesta lógica descrita acima
que em 1997, o governo criou 33 municípios que incluíam as 11 capitais provinciais, as restantes
12 cidades do país e 10 vilas selecionadas que se propunham ter condições para assegurar que
este modelo seguisse em frente, surgindo deste modo, como refere duma “descentralização
parcial (só nas áreas urbanas).
Em Moçambique, com a aprovação da Lei dos governos províncias e distritais (Lei 5/78) e (Lei
7/78), as reformas de descentralização administrativa deram origem a uma série de instituições
de participação e consulta comunitária (particularmente conselhos locais) visando a integração
das populações locais no processo de busca de soluções para o melhoramento das condições de
vida a nível local a o que permitiu ao pluralismo administrativo é um fenómeno relevante, quer
do ponto de vista sociológico, quer do ponto de vista jurídico e sociológico, de tal sorte que o
Estado moçambicano, a partir de 2001, se viu forçado a reconhecer e legislar sobre as formas de
14
legitimação e reconhecimento das autoridades comunitárias, e sobre os modos de articulação dos
órgãos locais do Estado e das autarquias com as autoridades comunitárias.
Por essa razão, na Lei dos Órgãos Locais do Estado (e respectivo Regulamento), o legislador
contemplou os diferentes níveis e espécies de organização administrativa. A filosofia subjacente
do programa da reforma dos órgãos locais do (PROL), é que o governo começou por estabelecer
municípios em termos de sistema de governo municipal, consagrado na lei n.3/94.
15
BIBLIOGRAFIA
CARRILHO. J. WEIMER, B. A Economia Política da Descentralização em Moçambique:
Dinâmicas, Efeitos, Desafios IESE. Maputo. 2017.
GIL, António C. Como Elaborar Projectos de Pesquisa. 4ª Ed. São Paulo: Atlas, 2002.
16
17