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Títulos de crédito

Lições de
Direito Comercial
Prof. Doutor Rui Teixeira Santos
(ISEIT/ISCAD/INP)
2013/2014
Crédito

• O crédito é a troca de uma prestação presente por uma


prestação futura, ou seja, o diferimento no tempo de uma
contraprestação.

• Dois elementos:

• 1. Confiança do credor ma honestidade e solvabilidade


do devedor
• 2. Decurso do tempo
Título de crédito
São documentos

C. Civ. Artº 362: “Diz documentos qualquer objeto elaborado pelo homem, com o fim
de reproduzir ou representar uma pessoa, coisa ou facto”.
• 1. são documentos escritos

• 2. são probatórios, comprovam determinados factos

• 3. São constitutivos pois são indispensáveis à própria constituição, exercício e


transmissão de direitos que neles são mencionados
• 4. são dispositivos pois o seu titular com ele pode dispor do direito – circulação
rápida e segura
• 5. São uma forma indireta de circulação a riqueza

Por isso se chamam também títulos circuláveis ou negociáveis : é um documento


necessário para exercitar o direito literal e autónomo nele mencionado.
Títulos de crédito

• Título de crédito é o documento necessário para o exercício do direito ,


literal e autónomo , nele mencionado.
• São os papéis representativos de uma obrigação e emitidos de
conformidade com a legislação específica de cada tipo ou espécie. A
definição mais corrente para título de crédito, elaborada por Vivante, é
"documento necessário para o exercício do direito, literal e autônomo,
nele mencionado".
• Todos os elementos fundamentais para se configurar o crédito decorrem
da noção de confiança e tempo. A confiança é necessária, pois o crédito
se assegura numa promessa de pagamento, e o tempo também, pois o
sentido do crédito é, justamente, o pagamento futuro combinado, pois se
fosse à vista, perderia a idéia de utilização para devolução posterior.
Tipologia: títulos de crédito
Títulos causais ou abstratos
• Critério do conteúdo do direito cartular : os títulos de crédito incorporam o
direito de crédito em sentido estrito e por isso se designam títulos de
crédito propriamente ditos.
• É o que sucede com as letras e livranças (LULL), cheques (LUC) estratos
de fatura (DL nº 19.490, 24.3.31), obrigações (art.º 348º CSC), Obrigações
de juro variável (DL nº 353-M/77, de 29.8); Obrigações com juro
suplementar ((DL nº 353-M/77) Obrigações hipotecárias ((DL 59/2006, de
20.3); Obrig. De Caixa (DL 408/91 de 17.10); papel comercial (DL
69/2004 de 25.3) e os títulos de participação (DL 321/85 de 5.8).
• Os títulos de crédito são títulos executivos
Critério da causa-função, ou do
nexo com a relação subjacente
Consideram-se duas espécies de títulos:
• São causais os títulos que se destinam a realizar uma típica e única
causa-função jurídico-económica, inerente a um determinado tipo de
negócio jurídico subjacente, do qual resultam direitos cuja transmissão
e exercício o título de crédito se destina a viabilizar ou facilitar.
• Os títulos abstractos são aqueles que não têm uma causa-função
típica, pois são aptos a representar direitos emergentes de uma
pluralidade indefinidamente vasta de causas-funções. Além disso,
estes títulos são independentes da respectiva causa: em princípio, o
devedor não pode invocar contra o portador do título, excepções
fundadas na relação subjacente, que é a causa (mediata) da sua
obrigação e do correlativo direito do portador.
Títulos representativos

• Conhecimento de depósito

• Cautelas de penhor ou warrants

• Guia de transporte

• Conhecimento de carga ou de embarque

• Guia de transporte aéreo


Critério do conteúdo do direito cartolar
e títulos de participação social
A maior parte dos títulos de crédito hoje em uso incorporam direitos de
crédito em sentido estrito, geralmente direitos a uma prestação
pecuniária, e por isso se designam como títulos de crédito propriamente
ditos.

Outros títulos, entretanto, denominam-se títulos representativos, porque


incorporam direitos sobre determinadas coisas, em geral mercadorias.

Em terceiro lugar existem os títulos de participação social, assim


designados por incorporarem uma situação jurídica de participação
social, ou seja, o complexo de direitos e obrigações que integra a
qualidade de sócio de uma sociedade. É o que sucede com as acções das
sociedades anónimas e em comandita por acções (arts. 298º segs. e 478º
CSC).
Critério do modo de circulação
Segundo este critério os títulos podem ser ao portador, à ordem e nominativos.

a)     Títulos ao portador: não identificam o seu titular e transmitem-se por mera tradição
manual, por entrega real do documento (art. 483º CCom): o titular é quem for o detentor do
documento. Tem como característica a facilidade de circulação, pois se processa com a
simples tradição.

b)    Títulos à ordem: mencionam o nome do seu titular, tendo este, para transmitir o título – e,
com ele, o direito cartular –, apenas de nele exarar o endosso (art. 483º CCom): uma
declaração escrita, no verso do título, ordenando ao devedor que cumpra a obrigação para com
o transmissário e/ou manifestando a vontade de transmitir para este o direito incorporado.

c)     Títulos nominativos: mencionam o nome do seu titular e a sua circulação exige um
formalismo complexo, do qual é exemplo modelar o regime da circulação das acções
nominativas (art. 326º CSC): para que a sua transmissão seja válida, deve ser exarada no
próprio título, pelo transmitente, uma declaração de transmissão, bem como nele seja lavrado
o pertence, isto é, que no local adequado seja inserido o nome do novo titular; além disso, é
ainda necessário o averbamento do acto no livro de registo de acções da sociedade emitente.
Tipologia dos títulos à ordem:
1. O título à ordem pode ser subscrito por mais de um devedor.

2. Os vários devedores respondem, na falta de cláusula em


contrário constante do título, solidariamente para com o credor,
que os pode demandar individual ou colectivamente, sem estar
adstrito a observar a ordem por que se obrigaram.

3. O facto de o credor fazer valer o seu direito contra um dos


co-obrigados não impede que faça valer o seu direito contra os
outros, mesmo que posteriores àquele.
Critério da natureza da
entidade emitente
São títulos públicos aqueles que são emitidos pelo Estado e por
outros entes públicos legalmente habilitados para tanto, aos quais
se refere o art. 463º CCom, como “títulos públicos negociáveis”.
São principalmente, os títulos da dívida pública.

Todos os demais títulos de crédito são títulos privados, por as


pessoas ou entidades que os emitem não terem a natureza de
entes públicos, ou porque, quando tenham essa natureza, actuam
de forma indiferenciada em relação aos entes privados,
colocando-se no mesmo plano de actuação destes. É o que se
passa por exemplo, quando um qualquer organismo ou serviço
público emite cheques para efectuar os seus pagamentos.
Princípios e caraterísticas dos
Títulos de Crédito
• Literalidade: "é literal no sentido de que, quanto ao
conteúdo, à extensão e às modalidades desse direito, é
decisivo exclusivamente o teor do título". (Messineo)
• Cartularidade: "o credor do título de crédito deve
provar que se encontra na posse do documento para
exercer o direito nele mencionado". (Fábio Ulhoa
Coelho) Documento necessário ao exercício do direito.
Vem da palavra cártula, análogo à cartela (houaiss)
• .
Caraterísticas Gerais

• Autonomia: "os vícios que comprometem a validade


de uma relação jurídica, documentada em título de
crédito, não se estendem às demais relações abrangidas
no mesmo documento".
• Abstração: "ocorre em alguns títulos de crédito (cite-
se a nota promissória e a letra de câmbio) – podem ser
emitidos independente da causa que lhes deu origem".
• Independência: "alguns títulos de crédito valem por si
só, independe de qualquer outro documento"
Características gerais dos
títulos de crédito
A confiança constitui a base do desempenho dos títulos de crédito. Para que essa
confiança exista, é essencial que o regime para eles traçado proteja ao máximo os
interesses do titular do direito, do devedor e daqueles que venham a adquiri-los de
boa fé. Todos eles se disporão a aceitar a emissão e transmissão dos títulos se
puderem ter absoluta confiança em que:

a)     O titular é quem tem o título em seu poder e por isso está habilitado para
exercer o direito nele referido;

b)     Cada titular poderá com toda a facilidade transmitir esse título, para realizar o
valor dele, sem necessitar de esperar pelo cumprimento da obrigação
correspondente ao direito nele mencionado.

c)      O teor literal do título correspondente ao direito que ele representa; e

d)     A posição jurídica do actual detentor do título não poderá ser posta em causa
pela invocação de excepções oponíveis aos anteriores detentores do título.
Princípio da incorporação ou
legitimação
A detenção do título é indispensável para o exercício e a transmissão do direito nele mencionado
(quem for titular de um título é titular de um direito).

Tal característica consiste em que a posse do título legítima o portador para exercer ou
transmitir o direito. Podemos designar esta característica por legitimação activa visto que ela se
refere à posição jurídica do sujeito activo do crédito, à sua aptidão para exercê-lo ou transmiti-
lo.

A posse, ou melhor a detenção material do título segundo as regras de circulação que para ele
estão defendidas,é que confere ao seu possuidor a legitimação formal para exercer ou transmitir
o direito que o título refere.

O regime jurídico dos títulos de crédito assenta numa presunção de boa fé dos sucessivos
detentores do título, através da qual se cimenta e robustece a formação e manutenção da
confiança que constitui a base da aceitação destes documentos.

Há igualmente que considerar uma legitimação passiva, relativa à posição e interesse do


devedor: este pode desonerar validamente da sua obrigação, correspondente ao direito cartolar,
se a cumprir perante o detentor do título segundo a respectiva lei de circulação.
Princípio da circulabilidade

Os títulos de crédito destinam-se a circular, o que significa


que, a sua própria destinação jurídico-económica implica a
potencialidade de serem transmitidos da titularidade de
uma pessoa para a outra sucessivamente, acarretando cada
transmissão do direito sobre o título a transmissão do
direito por ele representado, do direito cartolar.

Porque assim é, os documentos que não comportem a


possibilidade de circulação não podem ser considerados
como títulos de crédito.
Princípio da literalidade

O direito que está incorporado no título, é um direito


literal, porque o documento vale nos precisos termos que
constam no próprio documento. O direito cartolar é aquele
que está no documento independentemente da forma
como foi constituído, da relação subjacente do mesmo.
Princípio da autonomia
O tal direito cartolar (incorporado no documento), é em si um direito autónomo,
porque a relação cambiária tem vida própria, não está dependente de qualquer
relação subjacente a essa letra de câmbio. Importa distinguir dois sentidos:

a)     Autonomia face ao direito subjacente


O direito cartolar tem a sua origem numa relação jurídica logicamente anterior ao
surgimento do título de crédito – a relação subjacente ou fundamental – e que ele é novo e
diferente do direito subjacente ou fundamental, tendo um regime próprio.
Assim, o direito cartolar é autónomo do direito subjacente, e por isso não podem ser
opostos ao portador do título, em princípio, meios de defesa (excepções) emergentes da
relação fundamental (art. 17º in fine LULL).

b)    Autonomia face aos portadores anteriores


O direito cartolar é autónomo, segundo este sentido, porque cada possuidor do título ao
adquiri-lo segundo a sua lei de circulação “adquire o direito nele referido de um modo
originário, isto é, independentemente da titularidade do seu antecessor e dos possíveis vícios
dessa titularidade” como se o direito tivesse “nascido ex-novo nas suas mãos” (art. 16º
LULL)
Princípio da abstracção
O negócio cambiário é abstracto porque, esse negócio permite
preencher um conjunto de funções económico-jurídicas (ex. compra
e venda).

A obrigação cambiária pressupõe sempre a existência de uma relação


jurídica subjacente, a relação pode preencher uma diversidade de
funções económico-jurídicas, a obrigação cambiária só tem um fim –
pagamento ou garantia de pagamento. Não é por esse fim que
determina o negócio cambiário. O negócio cambiário é determinado
por outro negócio celebrado entre as partes – a convenção executiva
– é a causa próxima do negócio cambiário, as partes determinam
(através de convenção executiva) a função desse negócio (art. 17º
LULL).
Títulos impróprios
Habitualmente não são considerados como títulos de crédito certos
documentos que, muito embora tenham, em geral, as mesmas
características daquelas todavia se afastam deles no tocante à sua função
jurídico-económica e, por isso, quanto à característica da circulabilidade,
sendo designados como títulos impróprios.

Dentro destes documentos, é usual distinguir ainda duas categorias: a)    


Títulos de legitimação, têm por função conferir ao seu possuidor a
legitimação (activa) para o exercício de certos direitos e,
consequentemente, também conferem à outra parte a correspectiva
legitimação passiva.
b)    Comprovantes de legitimação, conferem igualmente a legitimação activa
e passiva relativamente ao exercício de certos direitos, mas nem sequer têm a
possibilidade de circular por serem intransmissíveis.
Principais títulos de crédito

• A) a letra
• B) a Livrança
• C) o Cheque
A letra
É um título de crédito, através do qual o emitente do título – sacador – dá
uma ordem de pagamento – saque – de uma dada quantia, em dadas
circunstâncias de tempo e lugar, a um devedor – sacado – ordem essa a
favor de uma terceira pessoa – o tomador.

Como título de crédito é rigorosamente formal, a letra é destinada à


circulação, a qual se efectua através de endosso, sendo portanto, um título à
ordem. O tomador poderá, portanto, assumir a qualidade de endossante,
transmitindo a letra a um endossado, o qual, por sua vez, poderá praticar
acto idêntico a favor de um outro acto endossado e assim por diante.

O principal obrigado em virtude da letra é o aceitante, que assume a


obrigação de pagar a quantia nela mencionada ao portador legitimado por
uma série ininterrupta e formalmente correcta de endossos, ao tempo do
vencimento e no local devido.
A livrança

• Menciona uma promessa de pagamento, de uma certa


quantia, em dadas condições de tempo e lugar, pelo seu
subscritor ou emitente, a favor do tomador ou de um
posterior endossado que for seu portador legítimo no
vencimento.
• A livrança é, também um, título à ordem, transmissível
por endosso e, rigorosamente formal, como se constata
pelos requisitos mencionados no art. 75º LULL.
O cheque

Exprime uma ordem de pagamento de determinada


quantia, dada por um sacador a um sacado, que tem a
peculiaridade de ser necessariamente um banqueiro (art.
3º LUC), uma instituição de crédito habilitada a receber
depósitos de dinheiro mobilizáveis por esta forma, e a
favor de uma pessoa denominada tomador, portanto um
meio de pagamento ao próprio depositante ou a terceiro, a
realizar pelas forças do depósito existente na instituição
de crédito.
A destruição e extravio do documento: a
reforma dos títulos de crédito
O título de crédito é um objecto material, um documento escrito geralmente
em papel, o que o torna muito facilmente perecível ou degradável, assim como
sujeito a numerosas causas de perda ou extravio, voluntárias ou involuntárias.

Ora, a característica da incorporação ou legitimação implica que só pode ser


exercido ou transmitido o direito cartolar mediante a posse material do título.
E, por isso, a destruição do documento implica a destruição do título de
crédito, pois impossibilita o exercício ou transmissão do respectivo direito.

A reforma consiste na reconstituição do título, através da emissão de um novo


documento, equivalente ao que foi destruído ou extraviado, possibilitando
assim a incorporação do direito no novo título, ou seja, que o titular fique de
novo legitimado para o seu exercício ou para fazer circular o direito. E isto
porque o título reformado equivale juridicamente ao que desapareceu, como se
fosse o mesmo documento (art. 484º CCom).
Extinção do direito cartolar
O título de crédito também se extingue quando ocorre a extinção do
direito nele incorporado, a qual pode ficar a dever-se à generalidade
das causas de extinção das obrigações.

O cumprimento constitui a forma natural e mais frequente de extinção


do direito cartular. Deve porém notar-se que só assim acontece com o
cumprimento efectuado pelo obrigado principal, quando existam
outros co-obrigados garantes: se forem estes a pagar ao portador,
ficam investidos no direito cartolar em via de regresso.

Além disso, o cumprimento deve ser acompanhado da cessação da


circulação do título, pela sua entrega ao obrigado a efectuar o
pagamento, para que não suceda que, apesar de cumprida a obrigação,
o título continue a circular, correndo o obrigado o risco de ter de pagar
duas vezes (art. 39º I LULL).
Letra
A letra de câmbio
Requisitos formais da letra

1º A palavra “letra”:

Tem que constar no próprio texto do título e tem de ser expressa na língua que é
utilizada para a reclamação do título, este requisito adverte logo as pessoas, para a
natureza do título e para o seu regime jurídico.

2º Mandato puro e simples de pagar uma quantia determinada:

Tem de conter uma ordem de pagamento que deve ser pura e simples e respeitar uma
quantia determinada, essa ordem de pagamento emite a letra e confere à letra, ao título
uma identidade própria com o título de crédito, que tem o regime da letra. O sistema
jurídico exige que a ordem de pagamento puro e simples, não pode ter cláusulas
acessórias que condicionem ou restrinjam o sentido e o alcance da letra (do título). O
saque é um acto jurídico que é incondicionável, tanto assim é, que o art. 2º LULL, vem
dizer que a condição que seja posta no saque “não produzirá efeito como a letra”.
•3º  sacado
Oordem
atem
nomenome daquele
dade letra temque
pagamento
completo, ou dedeve
é
quando pagar
indicar
dirigida,
de forma(sacado):
expressamente
identificando
abreviadaaa pessoa
a pessoa
esse à qual
nome pelo
4º   de de
concreta
prova.
Época estar
de de tal
identificação
pagamento:forma
do expresso,
sacado sempara que
recursoseja possível
outros meiosa
Data
sacada:
sacado deÀ
-        
-         A vencimento
vista,
(art.
um 34º ou
certoI dapagável
seja,
LULL);
termo letra
de (art.
no
vista, 33º
acto
isto LULL),
de
é, podedecorrido
ser pagável
apresentação
vence-se ao um –
certo
35º
prazo
-        prazo
LULL);
-         A um
sobre
Como sobre
acerto
data otermo
pagável aceite
do de
saque;
no oudata,
dia o protesto
quer
fixado, na por falta
dizer, de aceite
decorrido
própria letra um
para (art.
certo
esse
efeito.
Se na letra não
o art. 2º II pagável
entenderá houver
LULL determina qualquer menção da época
à vista. supletivamente que a letra se do pagamento,
5º   Identificação do lugar a efectuar o pagamento:

Se esta referência não constar do título é suprida, nos termos do art. 2º III LULL,
valendo para este efeito, o lugar indicado ao lado do nome do sacado, como seu
domicílio.

Relaciona-se com este requisito a regra do art. 4º LULL, que permite a chamada
letra domiciliada, isto é, pagável no domicílio de um terceiro. O uso mais corrente
desta faculdade consiste na identificação como local de pagamento de uma
dependência de um banco.

6º  O nome da pessoa a quem ou à ordem de quem deve ser paga (tomador):

Também a indicação do nome do tomador deve ser feita de modo a possibilitar a


sua identificação, em termos semelhantes aos referidos quanto ao nome do sacado.
O art. 3º LULL, permite que o sacador se identifique a si próprio como tomador.
7º Indicação da data e lugar em que a letra é passada:

Se verificar a falta da data do saque, terá como consequência a não produção


de efeitos daquele título como letra (art. 2º I LULL), se faltar o lugar, vale
como lugar aquele que foi indiciado ao lado do nome do sacador (art. 2º IV
LULL).

8º  Assinatura de quem passa a letra (sacador)

O saque é o acto gerador da letra, que implica o nascimento da obrigação


cambiária do sacador, por essa razão é que o sacador tem de assinar a letra. O
sacado só assume a obrigação mencionada nesse título (obrigação cambiária)
se e quando aceitar a ordem dada pelo sacador, assinando de forma transversal
no rosto do título da letra, e é esse acto de assinar do sacado que se denomina
por aceite que converte o sacado em aceitante da letra (art. 28º LULL).
A letra em branco ou
incompleta
A partir de todos os elementos essenciais enumerados no art. 1º
LULL, sobre o suporte mecânico da letra, o título fica completado
nos elementos essenciais constitutivos do título letra de câmbio,
portanto, esse instrumento, esse título fica a desempenhar a
função para que esse título foi emitido por lei.

É muito frequente na prática a emissão de letras que falta um ou


mais dos requisitos do art. 1º LULL, conquanto delas conste pelo
menos uma assinatura feita com a intenção de contrair uma
obrigação cambiária.
É o que se denomina geralmente de letra em branco (art. 10º LULL) para
haver uma letra em branco é necessário que preencha determinados
requisitos:

1)     Necessário que o instrumento, contenha já a assinatura de um dos


obrigados cambiários;

2)     Que haja o acordo prévio de preenchimento dos elementos


restantes.

A letra em branco é em certo sentido uma letra incompleta, porque não


contém no momento da sua emissão, de todos os elementos que se deve
revestir (art. 1º LULL). A LULL, ao contemplar a letra em branco,
denominava-a de letra incompleta (art. 10º LULL). Ou numa acepção
mais restrita, as duas designações, designam realidades distintas: letra
em branco, aquela que tem atrás de si um acordo para o preenchimento
ulterior da letra de formação sucessiva. Enquanto que na letra
incompleta, título incompleto, título nulo, que não poderá valer como
letra por falta dos elementos essenciais.
Os negócios jurídicos cambiários
- o saque

• Negócio jurídico cambiário que cria o título de crédito


unilateral, abstracto que prescinde da causa.
• Esse acto jurídico tem por objecto uma ordem que resulta da
letra, ordem que é dirigida ao sacado para que esse pague ao
tomador ou pague à ordem do tomador uma certa quantia.
• O conteúdo desse negócio envolve sempre uma promessa
que é feita pelo sacador de que o sacado obedecerá sempre a
essa ordem, que o sacado pagará se isso não se verificar, é o
próprio sacador que assume essa responsabilidade
A emissão da letra é sempre consubstanciada no saque (ordem de pagamento
incondicional). Tem como modalidades (art. 3º LULL):
-         À ordem do próprio sacador;
-         Contra o próprio sacador;
-         Por ordem e conta de terceiro.
Ao subscrever o saque, o sacador assume todas as obrigações cambiárias
referidas no art. 9º LULL, aí se estabelece que o sacador é o garante tanto na
aceitação como do pagamento da letra.
O portador que tenha um direito de acção pode pagar-se através do saque de
uma letra à vista, sacada necessariamente sobre um dos co-obrigados, pagável
no domicílio desse co-obrigado – o ressaque (art. 52º LULL), habilitará o
credor cambiário a realizar imediatamente o seu direito se tiver meio de obter
Pode também incumbir juros e encargos resultantes do não pagamento da
letra.
O aceite (arts. 21º a 29º LULL)
É a declaração de vontade pela qual o destinatário do saque – sacado – assume a obrigação
cambiária principal, ou seja, a de pagar, à data do vencimento, a quantia mencionada na letra a quem
for o portador legítimo desta (art. 28º LULL), passando a designar-se como aceitante.
O aceite é necessariamente escrito e assinado pelo sacado na letra. Exprime-se pela palavra “aceite”
ou outra equivalente, mas considera-se bastante a assinatura do sacado no rosto ou anverso da letra
(art. 25º LULL). Usualmente, o aceite é feito por assinatura transversal do sacado no lado esquerdo
do rosto da letra.
O aceite tem de ser puro e simples (art. 26º LULL), não podendo, ser sujeito a qualquer condição ou
aditado de qualquer modificação ao conteúdo da letra, sob pena de se ter como recusado, o que
faculta de imediato ao portador exercer o direito de regresso contra os de mais co-obrigados
cambiários. Mas daí não advém a nulidade do aceite, tendo-se o aceitante por obrigado nos termos da
sua declaração. A lei permite, no entanto, que o aceite seja parcial, isto é, restrito a uma parte da
quantia do saque.
Se não for feito o aceite pelo sacado, poderá sê-lo por outra pessoa: é o chamado aceite por
intervenção, que pode ocorrer devido a uma incumbência expressa na própria letra pelo sacador, um
endossante ou um avalista (art. 55º LULL), ou espontaneamente, sem incumbência (art. 56º LULL).
Endosso
O endosso realiza o que alguns chamam “a dinâmica da letra”. Constitui este acto uma nova
ordem de pagamento, dada pelo endossante[ ao sacador para que pague a letra, no
vencimento, ao portador, através de uma declaração no verso da letra seguida da assinatura.
(art. 11º LULL)

O endosso deve ser puro e simples (art. 12º LULL). Por vezes, limita-se à assinatura do
endossante, constituindo então o chamado endosso em branco (art. 13º LULL). Três
modalidades legítimas de endosso em branco:

a)    O endosso que contém a ordem de pagamento, a assinatura do endossante, mas omite o
nome do endossante;

b)     O endosso constituído unicamente pela assinatura do endossante no verso da letra ou


folha anexa;

c)     Endosso ao portador, fórmula: “pague-se ao portador”.

A LULL prevê que qualquer dos endossantes que tenha pago uma letra pode riscar o seu
endosso e dos endossantes subsequentes (art. 50º LULL).
a)     Endosso por procuração
Quando o endosso contém a menção – “valor a cobrar” ou “para cobrança” ou “por
procuração” – ou quando o endosso contém qualquer menção que implique um simples
mandato, o art. 18º LULL, diz que o portador pode exercer todos os direitos emergentes da
letra, mas só pode endossar na qualidade de procurador. O mandato não se extingue por
morte ou por incapacidade legal que sobrevenha ao mandatário.

b)    Endosso em garantia


Valor em garantia, valor em penhor, ou quando o endosso contenha qualquer outra
expressão que implique uma caução. O art. 19º LULL, diz que o portador pode exercer
todos os direitos emergentes da letra, mas um endosso que seja feito por ele, só vale como
endosso a título de procuração. Todos os co-obrigados não podem invocar contra o
portador, as excepções fundadas sobre as relações pessoais deles com o endossante, a
menos que o portador ao receber a letra tenha procedido conscientemente em deterimento.
O aval

Constitui um negócio cambiário unilateral, pelo qual um terceiro ou


mesmo um signatário se obriga ao seu pagamento, como garante de
um dos co-obrigados cambiários (art. 30º, 31º LULL). Na falta de
indicação expressa do avalizado, a lei indica supletivamente que o
aval valerá a favor do sacador (art. 31º LULL).

O aval pode respeitar à totalidade ou apenas a parte do montante da


obrigação do avalizado (art. 30º LULL).

O aval é uma garantia pessoal, que tem como característica própria,


por não conceder ao avalista o benefício da exclusão prévia, o
avalista é solidariamente responsável (art. 32º e 47º LULL) com os
outros subscritores posteriores da letra.
Pagamento por intervenção

• Pode realizar-se em todos os casos em que o portador de uma letra, aceitável, tem o
direito de acção antes do vencimento (art. 55º LULL). Nas hipóteses de recusa total
ou parcial do aceite ou nos casos de falência do sacado (art. 43º LULL).
• Quando for indicada uma pessoa como aceitante por intervenção, o portador da
letra, nunca pode exercer o seu direito de acção antes do vencimento contra aquele
que indicou essa pessoa e contra os signatários subsequentes, a não ser que tenha
apresentado a letra à pessoa designada e que caso esta tenha recusado o aceite, se
tenha feito protesto.
• A LULL, admite expressamente, sobre certas condições a figura da letra não
aceitável, isto é, a letra que fica proibida de ser apresentada ao aceite. O art. 22º
LULL, estatui que o sacador pode proibir na própria letra a sua apresentação ao
aceite excepto se tratar de uma letra pagável em domicílio de terceiro, ou de uma
letra pagável em localidade diferente do domicílio do sacado ou de uma letra sacada
a termo de vista.
Características
da obrigação cambiária
• a)     Incorporação ou legitimação: só o possuidor legítimo da
letra pode exercer o direito cartolar ou transmiti-lo, isto é, só ele
tem legitimação activa;
• b)    Literalidade: o conteúdo do direito cartolar e da obrigação a
ele correspectiva são literais, e consequentemente, não podem ser
invocados contra o portador de boa fé quaisquer factos ou
circunstancias que extingam, modifiquem ou impeçam o seu
direito, a não ser que transpareçam do próprio texto do título.
• c)     Circulabilidade: a letra é manifestamente vocacionada para a
circulação, como título à ordem que é, demonstra-o o regime do
endosso. 
d)     Autonomia: comporta dois sentidos distintos:
·        Autonomia do direito cartolar (art. 17º LULL): são inoponíveis ao portador, as
excepções decorrentes das relações pessoais do obrigado cambiário com os portadores
anteriores ou com o sacador.
·        Autonomia do direito sobre o próprio título: significa, que o adquirente do título
é um adquirente originário, cujo direito sobre a letra não está sujeito à arguição de ser
ilegítima a sua posse, em virtude da ilegitimidade de qualquer dos ante possuidores (art.
216º LULL).

e)     Abstracção: a característica da abstracção da obrigação cambiária diz respeito em face


da relação subjacente ou fundamental preexistente. Dois sentidos:
1)     Porque não tem causa-função típica, antes pode prosseguir uma multiplicidade de
causas-funções, inerentes a diversos negócios jurídicos que podem estar na origem da
relação subjacente: compra e venda, mútuo, etc.
2)     Porque a obrigação cambiária é independente da causa, e por consequência, não
sofre as consequências dos vícios da sua causa, isto é, são inoponíveis a portador
mediato e de boa fé as chamadas excepções causais, ou sejam as resultantes de possíveis
vícios da relação subjacente ou fundamental (art. 17º LULL).

f)       Independência recíproca: a nulidade de uma das obrigações que a letra incorpora
não se comunica às demais (art. 7º LULL).
Vencimento e pagamento da letra
A ordem de pagamento que está inscrita numa letra de câmbio surge desde a sua origem
histórica dessa letra, marcada por uma dilação de vencimento sobre a data da sua emissão.

A lei no art. 33º LULL, diz expressamente que as letras com vencimentos diferentes ou
com vencimentos sucessivos, são nulas.

As letras são pagáveis à vista, vencem-se mediante a simples apresentação ao sacado, o que
deverá ser feito no prazo de um ano a contar da sua data, podendo o sacador aumentar ou
reduzir esse prazo e os endossantes encurtá-lo (art. 34º LULL). Também pode o sacador
estabelecer que a letra não seja apresentada antes de certa data, contando-se então o prazo a
partir desta (art. 34º LULL).

Na letra a certo termo de vista, o prazo de vencimento conta-se do aceite ou do protesto


por falta dele, entendendo-se o aceite não datado como feito no último dia do prazo (art.
35º LULL).

Quanto às letras com vencimento em data certa ou a certo termo de data, deverão ser
apresentadas a pagamento na data do vencimento ou num dos dois dias úteis seguintes (art.
38º LULL).
Protesto

A falta de aceite ou a falta de pagamento devem ser certificadas através do


protesto: trata-se de um acto jurídico declarativo, não negocial, praticado
perante um notário, destinado a comprovar e a dar conhecimento aos
intervenientes na cadeia cambiária da falta do aceite ou do pagamento, bem
como a salvaguardar a integridade do direito do portador.

Há dois protestos diferentes:

a)     O protesto por falta de aceite: certifica que o sacado se recusou a aceitar
a letra que para tal lhe foi apresentada, ou que apenas a aceitou parcialmente;

b)    O protesto por falta de pagamento: comprova que foi recusado o


pagamento da letra para tal apresentada ao sacado e é feito contra este, já que,
ao aceitar, se obrigou a pagá-la no vencimento (art. 44º LULL).

 
Prescrição

• O direito cartolar está sujeito a prazos de prescrição extintiva,


diferentes consoante as posições dos sujeitos cambiários (art. 70º
LULL):
• a)     Contra o aceitante, três anos a contar do vencimento;

• b)     Do portador contra o sacador e os endossantes, de um ano


a contar da data do protesto, ou do vencimento quando exista
uma cláusula “sem protesto”.
• c)      Dos endossantes contra os outros e contra o sacado, de
seis meses a contar da data em que o endossante pagou ou foi
accionado.
Acções de regresso

• Todos os subscritores de uma letra são solidariamente


responsáveis pelo pagamento dela perante o portador, o
qual poderá accionar todos ou alguns deles, por
qualquer ordem, sem prejuízo de poder vir a accionar
os restantes. Tem o mesmo direito o subscritor da letra
que a tenha pago, quanto à acção de regresso (art. 7º
LULL).
Lei uniforme relativa a
Letras e Livranças

• Estabelecida pela Convenção internacional assinada em


Genebra em 7 de Junho de 1930, aprovada em Portugal
pelo Decreto-Lei nº 23 721, de 29 de Março de 1934, e
ratificada pela Carta de Confirmação e Ratificação, no
suplemento do "Diário do Governo", nº 144, de 21 de
Junho de 1934.
DA EMISSÃO E FORMA DA
LETRA

• Art. 1.o Requisitos da letra

• A letra contém: 1.o A palavra «letra» inserta no próprio texto


do título e expressa na língua empregada para a redação
desse título; 2.o O mandato puro e simples de pagar uma
quantia determinada; 3.o O nome daquele que deve pagar
(sacado); 4.o A época do pagamento; 5.o A indicação do
lugar em que se deve efetuar o pagamento; 6.o O nome da
pessoa a quem ou à ordem de quem deve ser paga; 7.o A
indicação da data em que, e do lugar onde a letra é passada;
8.o A assinatura de quem passa a letra sacador.
Falta de algum requisito

• Art.º. 2.o

• O escrito em que faltar algum dos requisitos indicados no


artigo anterior não produzirá efeito como letra, salvo nos casos
determinados nas alíneas seguintes: A letra em que se não
indique a época do pagamento entende-se pagável à vista. Na
falta de indicação especial, o lugar designado ao lado do nome
do sacado considera-se como sendo o lugar do pagamento, e,
ao mesmo tempo, o lugar do domicílio do sacado. As letras
sem indicação do lugar onde foi passada considera-se como
tendo-o sido no lugar designado, ao lado do nome do sacador.
Modalidades de emissão

• Art. 3.o

• A letra pode ser à ordem do próprio sacador. Pode ser


sacada sobre o próprio sacador. Pode ser sacada por
ordem e conta de terceiro.
Local de pagamento

• Art. 4.o

• A letra pode ser pagável no domicílio de terceiro, quer


na localidade onde o sacado tem o seu domicílio, quer
noutra localidade.
Contagem de juros

• Art. 5.o Numa letra pagável à vista ou a um certo termo


de vista, pode o sacador estipular que a sua importância
vencerá juros. Em qualquer outra espécie de letra a
estipulação de juros será considerada como não escrita.
A taxa de juro deve ser indicada na letra; na falta de
indicação, a cláusula de juros é considerada como não
escrita. Os juros contam-se da data da letra, se outra
data não for indicada.
Divergência na indicação do
valor
• Art. 6.o Se na letra a indicação da quantia a satisfazer
se achar feita por extenso e em algarismos e houver
divergência entre uma e outra, prevalece a que estiver
feita por extenso. Se na letra a indicação da quantia a
satisfazer se achar feita por mais de uma vez, quer por
extenso, quer em algarismos, e houver divergências
entre as diversas indicações, prevalecerá a que se achar
feita pela quantia inferior.
Independência de assinaturas

• Art. 7.o

• Se a letra contém assinaturas de pessoas incapazes de


se obrigarem por letras, assinaturas falsas, assinaturas
de pessoas fictícias, ou assinaturas que por qualquer
outra razão não poderiam obrigar as pessoas a
assinarem a letra, ou em nome das quais ela foi
assinada, as obrigações dos outros signatários nem por
isso deixam de ser válidas.
Responsabilidade do sacador

• Art. 9.o

• O sacador é garante tanto da aceitação como do


pagamento da letra. O sacador pode exonerar-se da
garantia da aceitação; toda e qualquer cláusula pela
qual ele se exonere da garantia do pagamento
considera-se como não escrita.
Violação do acordo na emissão da
letra
• Art. 10.o

• Se uma letra incompleta no momento de ser passada


tiver sido completada contrariamente aos acordos
realizados, não pode a inobservância desses acordos ser
motivo de oposição ao portador, salvo se este tiver
adquirido a letra de má fé ou, adquirindo-a, tenha
cometido uma falta grave.
DO ENDOSSO

• Art. 11.o Transmissão da letra

• Toda a letra de câmbio, mesmo que não envolva


expressamente a cláusula à ordem, é transmissível por
via de endosso. Quando o sacador tiver inserido nas
letras palavras «não à ordem», ou uma expressão
equivalente, a letra só é transmissível pela forma e com
os efeitos de uma cessão ordinária de créditos. O endosso
pode ser feito mesmo a favor do sacado, aceitante ou
não, do sacador, ou de qualquer outro co-obrigado. Estas
pessoas podem endossar novamente a letra.
Modalidades do endosso

• Art. 12.o

• O endosso deve ser puro e simples.

• Qualquer condição a que ele seja subordinado


considera-se como não escrita.
• O endosso parcial é nulo.

• O endosso ao portador vale como endosso em branco.


Forma do endosso

• Art. 13.o

• O endosso deve ser escrito na letra ou numa folha


ligada a esta (anexo). Deve ser assinado pelo
endossante. O endosso não pode designar o
beneficiário, ou consistir simplesmente na assinatura
do endossante (endosso em branco). Neste último caso,
o endosso para ser válido deve ser escrito no verso da
letra ou na folha anexa.
Efeitos do endosso

• Art. 14.o

• O endosso transmite todos os direitos emergentes da


letra. Se o endosso for em branco, o portador pode: 1.o
Preencher o espaço em branco, quer com o seu nome,
quer com o nome de outra pessoa; 2.o Endossar de
novo a letra em branco ou a favor de outra pessoa; 3.o
Remeter a letra a um terceiro, sem preencher o espaço
em branco e sem a endossar.
Responsabilidade do endossante

• Art. 15.o

• O endossante, salvo cláusula em contrário, é garante


tanto da aceitação como do pagamento da letra.
• O endossante pode proibir um novo endosso, e, neste
caso, não garante o pagamento às pessoas a quem a
letra for posteriormente endossada.
Legitimidade do portador
• Art. 16.o

• O detentor de uma letra é considerado portador legítimo se


justifica o seu direito por uma série ininterrupta de endossos,
mesmo se o último for em branco. Os endossos riscados
consideram-se, para este efeito, como não escritos. Quando um
endosso em branco é seguido de um outro endosso, presume-se
que o signatário deste adquiriu a letra pelo endosso em branco. Se
uma pessoa foi por qualquer maneira desapossada de uma letra, o
portador dela, desde que justifique o seu direito pela maneira
indicada na alínea precedente, não é obrigado a restitui-la, salvo se
a adquiriu de má fé ou se, adquirindo-a, cometeu uma falta grave.
Endosso por procuração
• Art. 18.o

• Quando o endosso contém a menção «valor a cobrar» (valeur


en recouvrement), «para cobrança» (pour encaissement),
«por procuração» (par procuration), ou qualquer outra
menção que implique um simples mandato, o portador pode
exercer todos os direitos emergentes da letra, mas só pode
endossá-la na qualidade de procurador. Os co-obrigados,
neste caso, só podem invocar contra o procurador as
excepções que eram oponíveis ao endossante. O mandato que
resulta de um endosso por procuração não se extingue por
morte ou sobrevinda incapacidade legal do mandatário.
Endosso em garantia ou em
penhor
• Art. 19.o

• Quando o endosso contém a menção «valor em garantia»,


«valor em penhor» ou qualquer outra menção que implique
uma caução, o portador pode exercer todos os direitos
emergentes da letra, mas um endosso feito por ele só vale
como endosso a título de procuração. Os co-obrigados não
podem invocar contra o portador as excepções fundadas
sobre as relações pessoais deles com o endossante, a menos
que o portador, ao receber a letra, tenha procedido
conscientemente em detrimento do devedor.
Endosso posterior ao vencimento
ou ao protesto
• Art. 20.o

• O endosso posterior ao vencimento tem os mesmos efeitos que


o endosso anterior. Todavia, o endosso posterior ao protesto
por falta de pagamento, ou feito depois de expirado o prazo
fixado para se fazer o protesto, produz apenas os efeitos de
uma cessão ordinária de créditos. Salvo prova em contrário,
presume-se que um endosso sem data foi feito antes de
expirado o prazo fixado para se fazer o protesto.
DO ACEITE

• Art. 21.o Apresentação a aceite

• A letra pode ser apresentada, até ao vencimento, ao


aceite do sacado, no seu domicílio, pelo portador ou
até por um simples detentor.
Estipulação de prazo para aceite

• Art. 22.o

• O sacador pode, em qualquer letra, estipular que ela será


apresentada ao aceite, com ou sem fixação de prazo. Pode proibir
na própria letra a sua apresentação ao aceite, salvo se se tratar de
uma letra pagável em domicílio de terceiro, ou de uma letra
pagável em localidade diferente da do domicílio do sacado, ou de
uma letra sacada a certo termo de vista. O sacador pode também
estipular que a apresentação ao aceite não poderá efetuar-se antes
de determinada data. Todo o endossante pode estipular que a letra
deve ser apresentada ao aceite, com ou sem fixação de prazo,
salvo se ela tiver sido declarada não aceitável pelo sacador.
• Art. 23.o Apresentação a aceite de letras a termos de
vista
• As letras a certo termo de vista devem ser apresentadas ao
aceite dentro do prazo de um ano das suas datas. O sacador
pode reduzir este prazo ou estipular um prazo maior. Esses
prazos podem ser reduzidos pelos endossantes.
• Art. 24.o Segunda apresentação a aceite

• O sacado pode pedir que a letra lhe seja apresentada uma


segunda vez no dia seguinte ao da primeira apresentação.
Os interessados somente podem ser admitidos a pretender
que não foi dada satisfação a este pedido no caso de ele
figurar no protesto. O portador não é obrigado a deixar nas
mãos do aceitante a letra apresentada ao aceite.
Forma do aceite
• Art. 25.o

• O aceite é escrito na própria letra. Exprime-se pela palavra


«aceite» ou qualquer outra palavra equivalente; o aceite é
assinado pelo sacado. Vale como aceite a simples assinatura
do sacado aposta na parte anterior da letra. Quando se trate
de uma letra pagável a certo termo de vista, ou que deva ser
apresentada ao aceite dentro de um prazo determinado por
estipulação social, o aceite deve ser datado do dia em que foi
dado, salvo se o portador exigir que seja a da apresentação.
À falta de data, o portador, para conservar os seus direitos de
recurso contra os endossantes e contra o sacador, deve fazer
constatar essa omissão por um protesto, feito em tempo útil.
Modalidades do aceite

• Art. 26.o

• O aceite é puro e simples, mas o sacado pode limitá-lo


a uma parte da importância sacada. Qualquer outra
modificação introduzida pelo aceite no enunciado da
letra equivale a uma recusa de aceite. O aceitante fica,
todavia, obrigado nos termos do seu aceite.
Local de pagamento diverso
do domicílio do sacado
• Art. 27.o

• Quando o sacador tiver indicado na letra um lugar de


pagamento diverso do domicílio do sacado, sem designar um
terceiro em cujo domicílio o pagamento se deva efectuar, o
sacado pode designar no acto do aceite a pessoa que deve
pagar a letra. Na falta desta indicação, considera-se que o
aceitante se obriga ele próprio, a efectuar o pagamento no
lugar indicado na letra. Se a letra é pagável no domicílio do
sacado, este pode, no acto do aceite, indicar, para ser
efectuado o pagamento, um outro domicílio no mesmo lugar.
Responsabilidade do aceitante

• Art. 28.o

• O sacado obriga-se pelo aceite a pagar a letra à data do


vencimento. Na falta de pagamento, o portador, mesmo
no caso de ser ele o sacador, tem contra o aceitante um
direito de acção resultante da letra, em relação a tudo
que pode ser exigido nos termos dos artigos 48.o e
49.o. da LULL
DO AVAL

• Art. 30.o Garantia do pagamento pelo aval

• O pagamento de uma letra pode ser no todo ou em


parte garantido por aval. Esta garantia é dada por um
terceiro ou mesmo por um signatário da letra.
Forma do aval
• Art. 31.o

• O aval é escrito na própria letra ou numa folha anexa.

• Exprime-se pelas palavras «bom para aval» ou por qualquer


fórmula equivalente; é assinado pelo dador do aval. O aval
considera-se como resultado da simples assinatura do dador
aposta na face anterior da letra, salvo se se trata das
assinaturas do sacado ou do sacador.
• O aval deve indicar a pessoa por quem se dá. Na falta de
indicação, entender-se-á ser pelo sacador .
Responsabilidade do avalista

• Art. 32.o

• O dador de aval é responsável da mesma maneira que a


pessoa por ele afiançada. A sua obrigação mantém-se,
mesmo no caso de a obrigação que ele garantiu ser nula
por qualquer razão que não seja um vício de forma. Se
o dador de aval paga a letra, fica sub-rogado nos
direitos emergentes da letra contra a pessoa a favor de
quem foi dado o aval e contra os obrigados para com
esta em virtude da letra.
DO VENCIMENTO
• Art. 33.o Modalidades de vencimento

Uma letra pode ser sacada:


• À vista;

• A um certo termo de vista;

• A um certo termo de data;

• Pagável num dia fixado

As letras, quer com vencimentos diferentes, quer com


vencimentos sucessivos, são nulas.
Vencimento à vista

• Art. 34.o

A letra à vista é pagável à apresentação. Deve ser


apresentada a pagamento dentro do prazo de um ano, a
contar da sua data. O sacador pode reduzir este prazo ou
estipular um outro mais longo. Estes prazos podem ser
encurtados pelos endossantes. O sacador pode estipular
que uma letra pagável à vista não deverá ser apresentada a
pagamento antes de uma certa data. Nesse caso, o prazo
para a apresentação conta-se dessa data.
Vencimento a termo de vista

• Art. 35.o

O vencimento de uma letra a certo termo de vista


determina-se, quer pela data do aceite, quer pela do
protesto. Na falta de protesto, o aceite não datado
entende-se, no que respeita ao aceitante, como tendo sido
dado ao último dia do prazo para a apresentação ao aceite.
Vencimento a prazo de vista
• Art. 36.o

O vencimento de uma letra sacada a um ou mais meses de data ou


de vista será na data correspondente do mês em que o pagamento
se deve efectuar. Na falta de data correspondente, o vencimento
será no último dia desse mês. Quando a letra é sacada a um ou
mais meses e meio de data ou de vista, contam-se primeiro os
meses inteiros. Se o vencimento for fixado para o princípio,
meado ou fim do mês, entende-se que a letra será vencível no
primeiro, no dia quinze, ou no último dia desse mês. As
expressões «oito dias» ou «quinze dias» entendem-se não como
uma ou duas semanas, mas como um prazo de oito ou quinze dias
efectivos. A expressão «meio mês» indica um prazo de quinze
dias.
Vencimento em dia fixo
• Art. 37.o

Quando uma letra é pagável num dia fixo num lugar em que o
calendário é diferente do lugar de emissão, a data do vencimento é
considerada como fixada segundo o calendário do lugar de
pagamento. Quando uma letra sacada entre duas praças que têm
calendários diferentes é pagável a certo termo de vista, o dia da
emissão é referido ao dia correspondente do calendário do lugar de
pagamento, para o efeito da determinação da data do vencimento.
Os prazos de apresentação das letras são calculados segundo as
regras da alínea precedente. Estas regras não se aplicam se uma
cláusula da letra, ou até o simples enunciado do título, indicar que
houve intenção de adoptar regras diferentes.
DO PAGAMENTO

• Art. 38.o Apresentação a pagamento

O portador de uma letra pagável em dia fixo ou a certo termo de


data ou de vista deve apresentá-la a pagamento no dia em que
ela é pagável ou num dos dois dias úteis seguintes. A
apresentação da letra a uma câmara de compensação equivale a
apresentação a pagamento.
Quitação do pagamento

• Art. 39.o

• O sacado que paga uma letra pode exigir que ela lhe
seja entregue com a respectiva quitação. O portador
não pode recusar qualquer pagamento parcial. No caso
de pagamento parcial, o sacado pode exigir que desse
pagamento se faça menção na letra e que dele lhe seja
dada quitação.
Pagamento antes do vencimento e
no vencimento
• Art. 40.o

O portador de uma letra não pode ser obrigado a receber


o pagamento dela antes do vencimento. O sacado que
paga uma letra antes do vencimento fá-lo sob sua
responsabilidade. Aquele que paga uma letra no
vencimento fica validamente desobrigado, salvo se da sua
parte tiver havido fraude ou falta grave. É obrigado a
verificar a regularidade da sucessão dos endossos, mas
não a assinatura dos endossantes.
Moeda estipulada para o
pagamento
• Art. 41.o

Se numa letra se estipular o pagamento em moeda que


não tenha curso legal no lugar do pagamento, pode a sua
importância ser paga na moeda do país, segundo o seu
valor no dia do vencimento. Se o devedor está em atraso,
o portador pode, à sua escolha, pedir que o pagamento da
importância da letra seja feito na moeda do país ao
câmbio do dia do vencimento ou ao câmbio do dia do
pagamento.
Falta de apresentação a
pagamento
• Art. 42.o

• Se a letra não for apresentada a pagamento dentro do


prazo fixado no artigo 38.o, qualquer devedor tem a
faculdade de depositar a sua importância junto da
autoridade competente, à custa do portador e sob a
responsabilidade deste.
Responsabilidade solidária dos
intervenientes na letra
• Art.º. 47.o

• Os sacadores, aceitantes, endossantes ou avalistas de uma


letra são todos solidariamente responsáveis para com o
portador. O portador tem o direito de acionar todas estas
pessoas, individualmente ou colectivamente, sem estar
adstrito a observar a ordem por que elas se obrigaram. O
mesmo direito possui qualquer dos signatários de uma
letra quando a tenha pago. A ação intentada contra um
dos coobrigados não impede de acionar os outros, mesmo
os posteriores àquele que foi acionado em primeiro lugar.
Direitos do portador
• Art. 48.o

• O portador pode reclamar daquele contra quem exerce o seu


direito de acção: 1.o O pagamento da letra não aceite ou não paga,
com juros se assim foi estipulado;
• 2.o Os juros à taxa de 6 por cento desde a data do vencimento;
(Em 2013 em Portugal para as empresas comerciais é de 7,75%)
• 3.o As despesas do protesto, as dos avisos dados e as outras
despesas. Se a acção for interposta antes do vencimento da letra, a
sua importância será reduzida de um desconta. Esse desconto será
calculado de acordo com a taxa oficial de desconto (taxa do
Banco) em vigor no lugar do domicílio do portador à data da
acção.
Direitos de quem pagou a letra
• Art. 49.o

A pessoa que pagou uma letra pode reclamar dos seus garantes:

1.o A soma integral que pagou;

2.o Os juros da dita soma, calculados à taxa de 6 por cento, desde a data
em que a pagou; 3.o As despesas que tiver feito.

• Art. 50.o Entrega da letra e eliminação do endosso

Qualquer dos coobrigados, contra o qual se intentou ou pode ser intentada


uma acção, pode exigir, desde que pague a letra, que ela lhe seja entregue
com o protesto e um recibo. Qualquer dos endossantes que tenha pago
uma letra pode riscar o seu endosso e os endossantes subsequentes.
Direito de ressaque
• Art. 52.o

• Qualquer pessoa que goze do direito de ação pode, salvo


estipulação em contrário, embolsar-se por meio de uma nova letra
(ressaque) à vista, sacada sobre um dos coobrigados e pagável no
domicílio deste. O ressaque inclui, além das importâncias
indicadas nos artigos 48.o e 49.o, um direito de corretagem e a
importância do selo do ressaque. Se o ressaque é sacado pelo
portador, a sua importância é fixada segundo a taxa para uma letra
à vista, sacada do lugar onde a primitiva letra era pagável sobre o
lugar do domicílio do coobrigado. Se o ressaque é sacado por um
endossante, a sua importância é fixada segundo a taxa para uma
letra à vista, sacada do lugar onde o sacador do ressaque tem o
seu domicílio sobre o lugar do domicílio do coobrigado.

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