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ADMINISTRAÇÃO POR CONVÊNIOS, UM INSTRUMENTO

GERENCIAL DE POLÍTICAS

UMA ANÁLISE DOS CONVÊNIOS DA SECRETARIA DE ESTADO DA


SAÚDE DE SÃO PAULO — 1987

Evelin Naked de Castro Sá*


Maria Celina Guimarães Rabello**

SÁ, E. N. de C. & RABELLO, M. C. G. Administração por convênios, um instrumento ge-


rencial de políticas. Uma análise dos convênios da Secretaria de Estado da Saúde de São
Paulo — 1987. Rev. Saúde públ., S. Paulo, 22:150-8, 1988.
RESUMO: Foi realizada análise dos 1.141 convênios vigentes no primeiro semestre
de 1987, celebrados pela Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, segundo os obje-
tivos dos convênios e entidades conveniadas. Foram consideradas as potencialidades do
convênio como instrumento de execução de políticas públicas de saúde e as necessidades
de resposta organizacional da Secretaria para definição, acompanhamento, avaliação e
controle dos convênios. Foram recomendadas algumas medidas para aumentar o rendi-
mento de ações conveniadas para aperfeiçoar a expressão orçamentário-financeira da admi-
nistração por convênios, com base num plano abrangente das ações de saúde.
UNITERMOS: Administração sanitária. Planejamento em saúde. Planos governamen-
tais de saúde. Gerência. Descentralização.

INTRODUÇÃO gadas, contando, no primeiro semestre de


1987, com cerca de 1.141 convênios, abran-
O convênio é uma forma de colaboração, gendo um largo campo de atividades. Há con-
pela qual as instituições podem atingir parte vênios para: controle sanitário de alimentos;
de seus objetivos, sem a necessidade de au- programas de saúde da mulher; controle de
mentar sua capacidade instalada e pessoal câncer; saúde mental; locação de leitos hospi-
permanente. talares; utilização de unidades para formação;
Convênio, vocábulo originário do latim estágio; treinamento e aperfeiçoamento de pes-
"cum + venire", significa ação conjunta de soal; integração docente-assistencial; auxílios
aproximação, quase sinônimo de acordo — a municípios carentes; ações integradas de
que sugere mais a idéia de superação de um saúde entre os níveis federal, estadual e mu-
conflito ou a preocupação de preveni-lo —, nicipal; administração de hospitais; pesquisa
e visa a construir as bases de uma colaboração sobre reprodução humana; odontologia; han-
mútua. seníase; dermatologia; tuberculose; intercâm-
bio de conhecimentos; vigilância e fiscaliza-
A administração por convênios como ins- ção sanitária de portos, aeroportos e limites
trumento de execução de políticas públicas geográficos da unidade federada; informática
favorece, na função de administração, a parti- em saúde; fornecimento de sangue e hemode-
cipação periférica nos níveis centrais do po- rivados; cooperação mútua em pesquisa; en-
der público no sentido de abordar os assuntos sino; produção e prestação de serviços; aten-
sociais de forma técnica e organizada. dimento a deficientes mentais, físicos, visuais
e auditivos; execução e fiscalização de obras
A Secretaria de Estado da Saúde de São e reformas de unidades; controles de ende-
Paulo vem adotando largamente o convênio mias; informações tóxico-farmacológicas; ser-
como instrumento de execução de suas pró- viços de saúde para previdenciários; detecção
prias finalidades, ou outras que lhe são dele- de erros inatos de metabolismo e hipertireoi-

* Departamento de Prática de Saúde Pública da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São


Paulo — Av. Dr. Arnaldo, 715 — 01255 — São Paulo, SP — Brasil.
** Grupo Técnico de Planejamento da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo — Av. Dr. Arnaldo
351 — 01246 — São Paulo, SP — Brasil.
dismo congênito; assistência médica a meno- inegável que o instrumento convênio conti-
res carentes, além de outros*. nuará a ter grande uso e utilidade na opera-
cionalização das ações de saúde.
Como instrumento adequado para ação des-
centralizada, o convênio vem sendo utilizado É previsível que haja grande incremento na
com maior destaque em algumas políticas nas celebração de convênios para cobrir a compra
quais a capacidade instalada da Secretaria pre- de serviços da capacidade instalada do setor
cisa ser suplementada pela ação ou operada privado, caso se concretize a política de muni-
em conjunto com outras instituições. Desta- cipalização dos serviços de saúde, a fim de
camos alguns: incorporar recursos de atenção secundária e
terciária à saúde.
a) Ações Integradas de Saúde — AIS —,
que têm como propósito a descentrali- O presente trabalho pretende fornecer ele-
zação, hierarquização, regionalização e mentos de análise que permitam melhor utili-
municipalização das ações de saúde, vi- zação do convênio como instrumento geren-
sando a universalização do atendimento cial de políticas de saúde.
à comunidade.
CARACTERIZAÇÃO DO INSTRUMENTO
b) Ações Básicas de Saúde.
O convênio vem sendo cada vez mais utili-
c) Integração Docente Assistencial. zado como instrumento de declaração de von-
d) Cooperação Mútua com Municípios para tades no âmbito do setor público, que "se en-
a prestação de assistência médico-sani- contram e se integram dirigindo-se a um obje-
tária. tivo comum e numa conjugação de interesses,
(Grau, 1977)1. É celebrado entre pessoas jurí-
e) Saúde mental, por meio da adesão de dicas de espécies diferentes, conforme se verá
outras instituições ao programa estabe- na Tabela 2, onde são mostrados os convênios
lecido pela Secretaria, seja em serviços segundo entidades conveniadas.
ambulatoriais, seja pela locação de lei-
tos. Segundo Meirelles3 (1979), "a ampliação
das funções estatais, a complexidade e o custo
f) Instalação, reforma e construção de uni- das obras públicas vêm abalando, dia a dia,
dades. os fundamentos da administração clássica, exi-
gindo novas formas e meios de prestação de
Os convênios de Ações Integradas de Saú- serviços afetos ao Estado".
de, Ações Básicas de Saúde e Cooperação
Mútua com Municípios tenderão a ser englo- A utilização ampla dos convênios vai en-
bados para a implementação da política de volver modificação na estrutura das organiza-
municipalização de serviços de saúde, confor- ções, pois "evoluimos cronologicamente, dos
me as diretrizes do compromisso interinstitu- serviços públicos centralizados para os servi-
cional para o Sistema Unificado e Descentra- ços delegados a particulares; destes, passamos
lizado de Saúde de São Paulo — SUDS e do aos serviços autorizados a autarquias; daqui,
Decreto n.° 27.140/87. Neste caso, o modelo defletimos para os serviços traspassados para
de convênio para municipalização define as entidades paraestatais e, finalmente, chega-
bases institucionais e operacionais da nova mos aos serviços de interesse recíproco de en-
forma conveniada, cessando todos os demais tidades públicas e organizações particulares
convênios existentes com os municípios. realizados em mútua cooperação, sob a forma
de convênios e consórcios administrativos"
Quaisquer que sejam as políticas de saúde (Meirelles3, 1979:373). "E assim se faz por-
que venham a ser definidas pela Assembléia que, em muitos casos, já não basta só modi-
Nacional Constituinte — de preferência abor- ficação instrutural da prestação de serviços
dando aqueles aspectos recomendados na na área de responsabilidade de uma Adminis-
VIII Conferência Nacional de Saúde —, é tração. Necessário se torna a sua ampliação

* No decorrer da elaboração do presente trabalho foram: a) firmado o termo de compromisso inter-


institucional entre o Ministério da Previdência e Assistência Social e o Governo do Estado de São
Paulo, através da Secretaria da Saúde, com a interveniência do Ministério da Saúde, objetivando fixar
as diretrizes e bases da implantação do Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde no Estado de
São Paulo — SUDS; b) baixado o Decreto n.° 27.140, de 30/6/87, "autorizando a celebração de
convênios e termos aditivos com os municípios, objetivando a implementar a integração dos serviços
de saúde que atuam no Município e dá providências correlatas", tendo, em anexo, modelo de con-
vênio de Municipalização dos Serviços de Saúde.
territorial e a conjugação de recursos técnicos contratos que, embora com objetivos similares
e financeiros de outros interessados na sua aos convênios, tenham tido essa caracteriza-
realização. Desse modo, se conseguem servi- ção jurídica. Foram incluídos convênios para
ços de alto custo que jamais estariam ao al- programas de saúde mental que, por razões de
cance de uma administração menos abastada. formalidades burocrático-legais, foram poste-
Daí o surgimento dos convênios e consórcios riormente transformados em contratos.
administrativos" (Meirelles3, 1979:374).
A caracterização do universo apresentou
O instrumento convênio vai ter implicações certa dificuldade, pois os registros não são
na estrutura organizacional formal da Secre- feitos cumulativamente, não há juntadas dos
taria, demandando respostas adequadas para Termos de Aditamento aos convênios origi-
essa ação, pois "Os convênios, entre nós, não nais, havendo necessidade de correção e veri-
adquirem personalidade jurídica, permanecen- ficação processo a processo.
do como simples aquiescência dos partícipes,
para a prossecução de objetivos comuns, o que METODOLOGIA
nos leva a considerá-los, tão-somente, uma
cooperação associativa, livre de vínculos con- Foram analisados 1.141 convênios vigentes,
tratuais. Essa instabilidade institucional, alia- descritos no universo da pesquisa, a partir
da à precariedade de sua administração, vem dos resumos publicados no "Diário Oficial do
criando dificuldades insuperáveis para sua Estado" e constantes dos arquivos da Seção
operatividade, principalmente no campo em- de Contratos e Convênios do Departamento
presarial que exige pessoas e órgãos respon- de Administração da Secretaria de Estado da
sáveis para as contratações de grande vulto" Saúde. Detalhamento de objetivos e verbas
(Meirelles3, 1979:374). foram obtidos em outras unidades da Secre-
taria.
OBJETIVOS Os dados foram, a seguir, classificados
tentativamente em blocos de objetivos simila-
O presente trabalho tem por objetivos: res que corresponderiam às funções da Secre-
— descrever o universo dos convênios vi- taria de Estado para as quais se decidiu por
gentes na Secretaria de Estado da Saúde; uma política de exercício cooperativo por via
de convênio. Verifica-se que alguns convê-
— São Paulo, primeiro semestre de nios têm, além do objetivo principal, um de-
1987, segundo número, objeto e enti- talhamento sobre administração, controle e
dades conveniadas; avaliação, o que permite uma nova perspec-
— analisar as tendências observadas na tiva de análise, qual seja a existência de uma
adoção do convênio como instrumento completa lista de atribuições das partes con-
de execução de políticas públicas; veniadas.
— analisar as vantagens e dificuldades da A necessidade de classificação dos convê-
administração por convênios; nios em blocos homogêneos por objetivos le-
vou-nos, em alguns casos, à supressão de de-
— fazer um ensaio de apreciação da ex- talhes dos convênios — extremamente úteis
pressão orçamentário-financeira da ad- para outros estudos — e, em outros, ao impe-
ministração por convênios e das limi- rativo de escolher entre um rótulo e outro.
tações apresentadas pela forma atual de São exemplo disso, os convênios com muni-
orçar as despesas; cípios para execução de obras de construção,
— fornecer subsídios para o planejamento reforma ou ampliação de unidade e operação
governamental de ações de saúde exe- futura da mesma unidade; ou, ainda, os con-
cutadas por meio de convênios. vênios para execução do programa de saúde
mental, com locação de leitos.
UNIVERSO DA PESQUISA Mesmo com essas ressalvas, o grupamento
por objetivos similares permitiu identificar os
O universo da pesquisa é o conjunto de blocos mais numerosos de convênios, para
1.141 convênios e termos aditivos vigentes no análise das tendências observadas na adoção
primeiro semestre de 1987, celebrados pela do convênio como instrumento de execução
Secretaria de Estado da Saúde, ou com sua de políticas públicas.
interveniência, com várias entidades públicas
e particulares, firmados entre 1983 e 1986. Foram feitas consultas aos orçamentos pú-
Não foram considerados aqui os consórcios e blicos e legislação de execução orçamentário-
financeira para as informações quanto ao mon-
tante de recursos alocados para os convênios.
Neste caso, só foi possível levantar alguns
dados estimativos e que, comparativamente,
permitiram inferir alguns custos de funções
exercidas por convênios. Verificou-se que a
maioria dos convênios acham-se classificados
juntamente com outros tipos de despesas, se-
ja na Classificação Funcional Progmatica, se-
ja na classificação por Elemento Econômico.
Exceção pode ser feita em alguns casos, como
no dos convênios com hospitais para atendi-
mento do programa de saúde mental, que têm
uma classificação separada e, assim, uma do-
tação individualizada.
Na análise dos dados são discutidos alguns
aspectos gerenciais ligados à execução dos
convênios e às políticas públicas por eles de-
senvolvidas e a necessidade da Secretaria da
Saúde dar resposta organizacional adequada
à administração por convênios.

O CAMPO DOS CONVÊNIOS


A distribuição dos convênios pesquisados,
segundo objetivos (Tabela 1) indica os diver-
sos tipos de convênio em que se projetam as
políticas de saúde desenvolvidas sob essa for-
ma de administração, bem como ressalta a
interligação operacional que necessariamente
terá que ser considerada num planejamento
integrado com as demais formas de atuação
da Secretaria.
Do total dos convênios segundo a classi-
ficação observada nos 25 tipos de objetivos,
destacamos, em primeiro plano (Tabela 1):
os de Ações Integradas de Saúde (Convênio
n.° 7/83) com 43,8%; Ações Básicas de Saú-
de, com 37%; Integração Municipal para re-
formas e ampliação de Centros de Saúde,
com 2,9%, perfazendo cerca de 84% que en-
volvem a política de municipalização. Em
segundo plano: Integração Docente Assisten-
cial, com 2,4%; Locação de leitos/dias, com
5,4%; Saúde Mental, com 1,9%. Os outros to conjunto em favor dos serviços à comuni-
dezoito tipos de objetivos são pouco expres- dade ou para o desenvolvimento de progra-
sivos na variedade inserida e contribuem para mas docentes assistenciais.
uma visão conjunta do leque que se experi-
mentou em convênios como instrumento de O Convênio n.° 7/83, por exemplo, tem
políticas de saúde, o que não invalida sua como objetivo a articulação e integração pro-
importância. gramática entre os diversos serviços de saúde
da assistência básica à saúde da população
Conforme já ressalvado na metodologia, a urbana e rural. Já em 1983, conforme Decreto
classificação por objetivos (Tabela 1) é mera- n.° 21.415/83, foi elaborada minuta de con-
mente distributiva. Assim, alguns convênios vênio que antecedeu ao Convênio n.° 7/83.
foram firmados objetivando um atendimento Aquele ampliou a cobertura à municipaliza-
de retaguarda hospitalar; outro para desen- ção quanto à contratação de pessoal e, pos-
volver o interesse pela pesquisa e planejamen- teriormente, quando alterado pelo Decreto n.°
24.812/86, possibilitou a ampliação e refor-
mas das unidades de saúde e a instalação de
equipamentos na unidade.
Na área de saúde mental, os convênios vi-
sam a organização, o desenvolvimento e fun-
cionamento de integração de atividades e ser-
viços na área, seja ambulatorial, seja hospi-
talar.
Convém salientar aqueles que objetivam a
organização e manutenção de serviços para
coleta e sistematização de dados epidemioló-
gicos junto às universidades.
Seguindo a tendência de descentralização e
integração com municípios, o agrupamento de
convênios com entidades conveniada (Tabela
2) indica maioria de Prefeituras, com cerca
de 84% do total. Nesta tabela é que se pode
verificar a atual abrangência interinstitucional
dos convênios, ora com a interveniência dos
Ministérios da Previdência e Assistência So-
cial e do Ministério da Saúde, ora com a
Secretaria como interveniente entre universi-
dades e prefeituras.
Também é de se destacar o número de con-
vênios celebrados com as Associações de Mi-
sericórdia — Santas Casas e outras associa-
ções de beneficência e assistência, significa-
tivo para operação conjunta, por exemplo, da
política de locação de leitos hospitalares.
Os convênios com o Instituto de Assistên-
cia Médica do Servidor Público Estadual — ticamente exclusivas para convênios. A partir
IAMSPE — para prestação de assistência a destes, seria possível rastrear outros compo-
previdenciários do Estado — oferecem uma nentes importantes para a administração de
característica especial para análise, pois refe- convênios, tais como o acompanhamento e a
rem-se a convênio que é celebrado com au- supervisão da execução, a avaliação da efi-
tarquia vinculada à própria Secretaria de Es- ciência e efetividade comparada das ações
tado. Isso se repete no caso de convênios com exercidas mediante convênio e as executadas
os hospitais de ensino, com os Hospitais de dentro da dinâmica interna das unidades da
Clínicas de São Paulo e de Ribeirão Preto, própria Secretaria. Estes aspectos não serão
ligados à Universidade, mas que também são abordados no presente trabalho, visto que são,
autarquias vinculadas à Secretaria da Saúde. presumivelmente, de grande complexidade.
Também é necessário ressalvar que a ex-
EXPRESSÃO ORÇAMENTÁRIO-FINANCEIRA
DOS CONVÊNIOS pressão orçamentário-financeira dos convênios
envolve receitas e despesas, como no caso de
Seria desejável que os convênios tivessem convênios tripartites, em que a Secretaria re-
uma expressão orçamentário-financeira obje- cebe e faz o repasse de verbas federais para
tiva, de modo a permitir uma avaliação com- níveis e órgãos estaduais e municipais. No
parativa das ações exercidas. No entanto, isso caso do Convênio n.° 7/83, de larga expres-
só é feito de maneira ainda incipiente. são, as verbas são repassadas diretamente do
A inserção dos convênios no orçamento INAMPS para as Prefeituras e hospitais, me-
público do Estado de São Paulo tem vários diante faturas de produção.
aspectos, dos quais destacamos, pela objetivi- As despesas com a execução dos convênios
dade de análise que permitem, a locação de têm sido alocadas nos orçamentos ora one-
despesas nos programas e subprogramas e os rando classificação funcional programática
poucos itens orçamentários com dotações pra- própria, ora diluída entre outras despesas.
A classificação funcional programática, na Saúde. Neste caso, estão incluídas receitas e
qual está alocado o convênio, permite identi- despesas numa conta gráfica que tem flexibi-
ficar o nível gerencial em que se situaria. lidade jurídica e atribuições amplas o bastan-
Embora não expresse uma conotação transpa- te para cobrir praticamente todas as finalida-
rente na análise global, a nível da lei orça- des da Secretaria. Sua expressão orçamentá-
mentária, o é a nível de delegação de compe- rio-financeira, 1987, é de Cz$
tência para gerir o recurso. 1.879.660.397,00*****.
São poucos os itens orçamentários capazes Depreende-se que na atual estrutura orça-
de indicar com exclusividade a execução con- mentário-financeira não estão prontamente dis-
veniada de ações*. poníveis, para tomada de decisões, as infor-
Assistência Médico-Hospitalar por tercei- mações sobre ações por convênios. O planeja-
ros, com dotação — 1987 de Cz$ mento, na Secretaria da Saúde, precisará ino-
34.206.929,00** e que tem a seguinte expres- var muito nessa área, dada a amplitude que
são orçamentária: está tomando a administração por convênios
— se realmente deseja ultrapassar a fase de
13) Função Saúde e Saneamento expressão orçamentária clássica e incremen-
75) Programa Saúde talista.
428) Subprograma de atendimento médi- ASPECTOS GERENCIAIS
co-hospitalar O convênio como instrumento de adminis-
2.589) Atividade: assistência médico-hospi- tração pública é da competência legal do Go-
talar por terceiros vernador e, seguindo a hierarquia, cabem aos
Secretários de Estado Termos de Adesão e
Convênios para execução de programas de Aditivos ******.
Saúde mental, com dotação — 1987 de Cz$
687.571.588,00*** para convênios com 45 en- Acordados os partícipes, cabe a um deles
tidades, no total de 8.003 leitos, com o obje- ou a ambos o controle, a execução, a super-
tivo de alocar leitos-dia e fazer a avaliação e visão e o acompanhamento.
controle do programa, que apresente a seguin- A Secretaria de Estado da Saúde de São
te expressão orçamentária: Paulo, organizada nos anos 70 como órgão
13) Função Saúde Saneamento normativo do Governo do Estado, tem como
função precipua promover a saúde, prevenir
75) Programa Saúde a doença, analisar os problemas de saúde pú-
428) Subprograma de atendimento médi- blica e propor medidas visando à melhoria das
do-hospitalar condições sanitárias da população, bem como
2.742) Atividades: médico-hospitalar em à recuperação da saúde.
saúde mental por terceiros Com a implementação da política de inte-
gração de serviços de saude, visando a univer-
Transferencias a municípios, com dotação/87 salizar o atendimento de saúde e instrumen-
de Cz$ 233.058.239,00****, destinada exclusi- tando a participação inter e intra-institucional,
vamente a cobrir despesas conveniadas com os a Secretaria foi reorganizada de modo que as
municípios e que tem as expressões orçamen- ações administrativas de organizar, planejar,
tárias próprias de cada atividade nos vários coordenar e executar foram redimensionadas,
programas de saúde desenvolvidos pela Secre- surgindo um modelo organizacional calcado
taria, identificáveis apenas pelo elemento eco- no atendimento horizontal do sistema de saú-
nômico. de, orientando verticalmente, de forma ampla,
Também poder-se-ia usar como estimativa flexível e hierarquizada, possibilitando uma
dos recursos administrados por convênio a integração de serviços integrados às várias es-
programação a cargo do Fundo Estadual de pecialidades e níveis de atendimento.

* Orçamento Público do Estado de São Paulo — 1987. Leis n.os 5.403, de 4/12/1986 e 5.728, de
17/7/1987 e legislação complementar para execução orçamentária.
** Equivalentes a US$ 342,069.00.
*** Equivalentes a US$ 6,685,715.00.
**** Equivalentes a US$ 2,330,582.00.
***** Equivalentes a US$ 18,796,603.00.
****** Na política pública da municipalização de serviços de saúde (Decreto n.° 27.140/87) foi dele-
gada ao Secretário de Estado da Saúde a celebração dos convênios e termos aditivos, desde que
não envolvam aumento de despesa.
Desse modo, as atribuições dos órgãos cen- dores a adotarem formas adequadas de con-
trais foram reorganizadas de forma a propor- trole, supervisão e acompanhamento.
cionar o planejamento e avaliação, prevendo
um comando único no sentido de oferecer A reorganização da Secretaria possibilitou
procedimentos técnicos padronizados, ao mes- um novo estilo de gerenciamento, propondo
mo tempo atendendo o universo dos Escritó- aos ERSAS autonomia para planejar, coorde-
rios Regionais de Saúde — ERSAS, nas espe- nar, executar e controlar as ações de modo a
cialidades que se fizessem necessárias.* As- promover um bom atendimento à população
sim, os sistemas de informação, vigilância epi- e segurança ao sistema.
demiológica e sanitária, bem como os demais, No momento em que é divulgado um acor-
deveriam estar aparelhados para ações diretas do interinstitucional para municipalização de
junto aos Escritórios Regionais, como também serviços de saúde, é de se esperar profundas
estava previsto para as comissões responsáveis modificações na administração dos convênios,
pelas várias especialidades e demandas de ser- como por exemplo, no papel do ERSA frente
viços técnicos e áreas programáticas, de modo a prefeituras municipais gestoras da rede de
a poder oferecer opções para decisão e manu- assistência primária**.
tenção da autonomia pretendida para os cita-
dos ERSAS. A delegação do exercício de funções me-
diante convênios pode ser entendida como
Portanto, se de um lado se propôs um aten- uma técnica e um recurso da administração,
dimento horizontal e regional à população, por adaptados a situações estratégicas de priori-
outro lado, dentro de um leque de opções e zacão de algumas atividades e para as quais
especializações de assistência à saúde, linhas tenha se decidido politicamente uma execução
mestras norteiam o sistema de saúde de for- externa ao aparelho administrativo disponível
ma padronizada. para a organização.
A administração, como ciência, vem evo-
Vale dizer que a regionalização adminis- luindo num crescendo entre tendências e es-
trativa da Secretaria gerou uma renovação colas (Kwasnicka, 1981)2 sendo certo que os
nas funções de planejar e gerenciar as ações enfoques mais modernos indicam a necessi-
de saúde, definindo objetivos e metas, geran- dade de ultrapassar os pontos extremados da-
do informações e possibilitando maior deman- quelas escolas mais tradicionalmente voltadas
da de tomadas de decisões a nível regional, para a administração pela administração. Mas
caracterizando uma descentralização adminis- também é verdadeiro que as tendências mais
trativa e o encaminhamento da municipaliza- modernas têm revitalizado pontos importan-
ção das ações de saúde. tes das escolas clássicas, adaptando-os aos no-
Em alguns casos, na área metropolitana de vos enfoques.
São Paulo, por exemplo, a instituição se orga- Dentre as abordagens da administração,
nizou de forma sistemática, equacionando o duas se mostram mais abrangentes para a aná-
gerenciamento dos níveis de assistência primá- lise da administração por convênios; são elas:
ria, secundária e até terciária, em módulos fe- a co-gestão e a teoria contingencial.
chados de atendimento. Já, em outros casos,
essas articulações deverão ser equacionadas Co-gestão: a maioria dos convênios celebra-
pelas diretorias dos ERSAS, em sistemas aber- dos pela Secretaria e que têm por objeto, por
tos. Cabe notar que, sendo saúde uma área exemplo, a integração docente-assistencial, as
social, são convenientes sistemas abertos por ações integradas de saúde, a execução conjun-
permitirem maior participação das comunida- ta e programas, e outros, contém dispositivos
des atendidas, devendo levar os administra- de divisão de atribuições e competências e dos

* Os Decretos n.os 25.519/86 e 25.609/86.


** Veja-se, por exemplo, a Alteração Unilateral de Convênio: (Diário Oficial do Estado, Seção I, São
Paulo, 97(109), 11/6/1987, p. 8:
"O Diretor Técnico do ERSA1 resolve unilateralmente declarar que, a partir de 1/1/87, entre a
SS e a Fundação Arnaldo Vieira de Carvalho e a Irmandade da Sta. Casa de Misericórdia de São
Paulo, para operação e funcionamento de um Centro de Saúde Escola no subdistrito da Barra Fun-
da, , passam a ser exercidas por este ERSA. A despesa do referido convênio onerará
a seguinte dotação:
Código local — 09.06.05
Elemento — 3.2.3.1-10
Programa — 13.75.4282.591
Processo — 323/85 — DRS-1 — 1 (10971/84/ASS)".
papéis mutuamente previstos para as partes evolução do seu ambiente", e como natureza
conveniadas. Tal divisão de trabalho com ob- da solução, meios e fatores a "interação em-
jetivo comum entre instituições, caracterizaria presa-ambiente, perfeito entrosamento entre as
claramente uma co-gestão, se a adoção dos pa- partes do sistema e os subsistemas de intera-
péis fosse exercida. Alguns convênios têm tal ção, adaptação e flexibilidade organizacional"
grau de detalhamento nas obrigações das par- (Kwasnicka2, 1981).
tes que se tornam documentos de organização
do objetivo a ser administrado. Segundo Mot- COMENTÁRIOS FINAIS
ta4 (1981), "apenas no sentido analógico, o Tal como aconteceu com o convênio-mode-
CTA assemelha-se à formação dos conselhos lo autorizado pelo Decreto n. 21.415/83, alte-
de co-gestão empresarial nos países onde real- rado pelo de n.° 24.812/86, é de presumir
mente ela existe e funciona..." " . . . a co- que também agora serão feitas adesões indivi-
gestão se passa nos Conselhos de Administra- dualizadas pelos municípios, num processo
ção ou Supervisão nas empresas, trazendo que demandará algum tempo até consolidar-
uma participação paritária ou quase paritária se, além de se levar em conta que a autonomia
entre o capital e o trabalho..." ". . em se política do município não pode ser ignorada.
tratando de administração pública, a extensão Isso significa que poderá haver município que
de poderes organizacionais, aos profissionais e não queira o convênio ou que não o queira
funcionários da instituição, deve ser exami- em dado momento.
nada com um cuidado maior" . "Na Admi-
nistração Pública, porém, a dimensão pública Outros pontos importantes são as efetivas
exige uma resposta às demandas e preferên- condições, bilateralmente, de assumirem o
cias comunitárias externas anterior e priori- convênio em todos os seus itens. É da vivên-
tária a qualquer participação de técnicos e cia profissional e didática dos autores a veri-
funcionários internos. Senão, a dimensão tec- ficação de que municípios não tinham e ainda
nocrática e valores interiores prevaleceriam não têm implantados seus Conselhos e, si-
sobre as preferências públicas externas. As- quer, órgão responsável previsto no acordo
sim, a co-gestão, quando existir em adminis- inicial.
tração pública, sempre deverá ser altamente À chamada "municipalização" — convênio-
subordinada aos órgãos superiores, que repre- modelo baixado e autorizado pelo citado De-
sentem os interesses externos." creto n.° 27.140/87 — aplicam-se as mesmas
A realidade é bem outra, sendo grande a premissas, dificultadas ainda mais pelo alcan-
distância entre o acordo formal e o real exer- ce que se pretendeu dar à descentralização,
cício da coisa conveniada: são relatados a au- envolvendo culturas organizacionais de três
sência de cobrança dos resultados dos convê- instituições: INAMPS, Secretaria da Saúde e
nios, o não aproveitamento pela Secretaria Prefeituras.
dos avanços tecnológicos e informações obti- Às dificuldades organizacionais de exe-
das pelos executantes e a própria impossibili- cução de um tão amplo universo de convê-
dade dos comandos da Secretaria poderem nios somam-se as dificuldades próprias da vi-
acompanhar a execução dos convênios em to- vência das reformas administrativas por parte
dos os seus termos. da Secretaria de Estado da Saúde. Daí porque
se torna atual situar novamente Meirelles3
A co-gestão é, ainda, considerada como (1979), destacando a necessidade de a Secre-
sistema administrativo, como "um esquema taria poder identificar com clareza quais as
frágil, fundamentado que é em artifícios e es- unidades de comandos que responderão pela
capismos para fugir das estruturas e regras execução dos convênios e que unidades utili-
implantadas no país para a administração pú- zarão as informações para um planejamento
blica da Saúde". Finalmente, a co-gestão sig- integral que inclua as ações de convênio: "A
nifica "um esforço de integração e comple- execução dos convênios tem ficado, comumen-
mentação, para solucionar conjuntamente pro- te, a cargo de uma das entidades participan-
blemas comuns a ambos os Ministérios, que a tes, ou de comissão diretora. De qualquer for-
burocracia artificialmente repartia" (Motta4, ma o convênio permanece despersonalizado e
1981). sem órgão diretivo adequado. Diante desses
Abordagem contingencial: Outro referencial inconvenientes, recomenda-se a organização de
teórico para a administração por convênios é uma entidade civil ou comercial com a finali-
o da escola contingencial, que tem como con- dade específica de dar execução aos termos de
ceito de organização "a prontidão em que a convênio, a qual receberá e aplicará os seus
organização deve estar para acompanhar a recursos nos fins estatutários, realizando dire-
tamente obras e serviços desejados pelos partí- sam adaptar e responder às situações que es-
cipes, ou contratando-os com terceiros. Assim, ses ambientes possam apresentar.
o convênio manter-se-á com simples pacto de A desvantagem da administração por con-
cooperação, mas disporá de uma pessoa jurí- vênio está na diluição de responsabilidade
dica que lhe dará execução, exercendo direi- distribuída pelos vários níveis de governo e
tos e contratando obrigações em nome pró- mesmo dentre o mesmo nível, na execução das
prio e oferecendo as garantias peculiares de ações de saúde.
uma empresa."
CONCLUSÕES
O planejamento governamental estadual se
vê atropelado pela evolução sistemática da 1. O convênio é instrumento de larga uti-
reforma sanitária, passando pela necessidade lização pela Secretaria de Estado da
de incrementar a recente reorganização admi- Saúde na execução de políticas públi-
nistrativa a nível de região de governo, para cas.
formar a malha técnica que dê suficiente 2. Sua adoção vem tendo incremento ace-
suporte à municipalização que tende a cres- lerado, envolvendo políticas públicas de
cer rápida e descontinuadamente. saúde abrangentes dos três níveis de
Com o convênio de municipalização absor- Governo.
vendo o Convênio n.° 7/83, e rescindindo os 3. Não são satisfatórios os mecanismos de
demais, é de se esperar modelos de avaliação acompanhamento e avaliação dos con-
que integrem ações comunitárias de acompa- vênios, nem a contrapartida de ações
nhamento. que deveriam ser exercidas pela Secre-
Das ações conjuntas de operacionalização taria.
dos serviços básicos de saúde das universida- 4. A expressão orçamentário-financeira das
des com a comunidade, espera-se sua partici- receitas e despesas com convênios não
pação como implementadoras dos serviços de traduz adequado planejamento dessas
saúde e afins, no seu campo de atuação. atividades.
As vantagens do convênio estão na utiliza- 5. A nova organização da Secretaria de
ção de uma estrutura formal, usando-se de Estado da Saúde de São Paulo está em
técnicas gerenciais dinâmicas, que além de fase de implantação, carecendo de ca-
considerar as relações internas e externas à pacitação concreta para administrar ple-
organização possibilitam mecanismos que pos- namente os convênios celebrados.

SÁ, E, N. de C. & RABELLO, M. C. G. [Administration by agreement a management


tool of health policies. An analysis of agreements made by the Health Secretariat
of S. Paulo State, Brazil — 1987]. Rev. Saúde públ., S. Paulo, 22:150-8, 1988.
ABSTRACT: Research was carried out into 1,141 agreements made by the State
Health Department of S. Paulo State, Brazil, and which were in force during the first
semester of 1987. An analysis was made of the objectives of the agreements and the enti-
ties with which they were made and of the potentialities of the agreements as such as
tools for the execution of public health policies as well as of the need for an organizational
answer on the part of the State Health Department for the definition, follow-up and con-
trol of the agreements. Some patterns of action with a view to increasing the efficacy
of the activities agreed on, for the improvement of the budgetary and financial expressions
of the administration by means of agreements, on the overall basis of comprehensive plan-
ning of health actions, are recommended.
UNITERMS: Public health administration. Health planning. State health plans. Mana-
gement. Decentralization.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. GRAU, E. R. Convênios. In: França, R. L., 4. MOITA, P. R. A proposta de participação na
coord. Enciclopédia Saraiva de Direito. São teoria gerencial: a participação indireta. Rev.
Paulo, Saraiva, 1977. p. 380. Adm. públ., 15(3):54-70, 1981.
2. KWASNICKA, E. L. Introdução à administra- Recebido para publicação em: 4/9/1987
ção. 3.a ed. São Paulo, Atlas, 1981.
3. MEIRELLES, H. L. Direito administrativo bra- Reapresentado em: 4/2/1988
sileiro. 7.a ed. São Paulo, Ed. Revista dos
Tribunais, 1979. Aprovado para publicação em: 2/3/1988

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