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Discente: Lauro José Cardoso

Docente: Nuno Falcão

Componente curricular: O Mundo Atlântico

Curso: Licenciatura em História

Resumo Crítico

Esse resumo crítico é pautado pela leitura do primeiro capítulo "O nascimento
do mundo atlântico" do livro A África e os africanos na formação do mundo atlântico
1400-1800 de John Thornton (2004), em que são feitas importantes abordagens sobre as
navegações africanas e europeias no oceano Atlântico ao longo do século XV.
Lembrando que, as navegações europeias deram início às conexões entre o Velho
Mundo, a Europa, com os novos mundos: nomeadamente, o continente americano e a
região centro-oeste da África. No entanto, o envolvimento de uma enorme migração
internacional de pessoas baseada na escravidão, que nunca fora realizada em nenhuma
parte do mundo, no que concerne à expansão europeia, também esteve relacionada com
o surgimento do Mundo atlântico, sem esquecer que o papel exercido pelos africanos e
americanos se assumem também como um aspecto relevante para essa formação.
Conforme Thornton (2004) essa migração não só foi composta pelos europeus,
como também pelos africanos que foram forçados a atravessar as ilhas do Atlântico,
assim como os indivíduos do Caribe e das Américas, que compunham, dessa forma, a
maior parte da população em vários locais nesses continentes. Houve, no Atlântico, uma
significação muito profunda em relação aos outros lugares do mundo, na medida em que
se estabeleceu um aumento da comunicação entre os diversos locais, da mesma forma
como foram reconfiguradas vários conjuntos de sociedades que deram origem ao "Novo
Mundo". Segundo Matheus Guimarães (2014), o fenômeno da globalização que tem
sido tema de debates nesses últimos tempos é considerada como uma fase de um
processo mais abrangente iniciado no século XV.
Ainda nesse período, Thornton (2004) relata que os barcos e navios tinham a
capacidade de fazer várias travessias em, relativamente, pouco tempo, pois, os mesmos
também tinham uma grande eficácia no carregamento de mercadorias pesadas e
volumosas. Nesse caso, a geografia do Atlântico foi criada com o dever de priorizar
áreas de acesso ao transporte por água, tendo em conta que isso contribuiria para a
alteração de outras considerações acerca do espaço à distância, capazes de conectar
regiões distantes umas da outras com mais facilidade do que aquelas encontradas nas
proximidades. Dessa forma, ao combinarem-se as rotas marítimas com as rotas fluviais,
a configuração da zona atlântica acabou por ser definida.
Guimarães (2014) reforça que, houve vários fatores que influenciaram esse
intercâmbio entre as mais diversas regiões do mundo. Ou seja, tanto os africanos,
europeus, os nativos da América e os asiáticos, com ou sem intenção, acabaram por
estabelecer uma rede complexa de trocas econômicas, políticas, culturais e biológicas.
Sendo o comércio dos escravizados uma das principais atividades que promoveu a
conexão entre esses continentes. Na medida em que, ainda segundo Guimarães (2014),
não foram somente as pessoas, as mercadorias e as culturas que se relacionaram pelo
Atlântico, obviamente, as plantas e as doenças também representaram um fator
importante nesse processo intercontinental.
Guimarães (2014) também afirma que o conceito de Mundo Atlântico é uma
construção histórica mesmo com a sua constituição natural. Desse maneira, podemos
complementar através da perspetiva de Thornton (2004), de que a costa africana era
representada por um sistema fluvial capaz de ligar vários pontos de África considerados
longínquos, tanto para os africanos como para os europeus, lembrando que a dos
africanos, frequentemente, antecederam ou complementaram o comércio europeu nessas
regiões. Dado que, para Thornton (2004), a definição da região atlântica foi definida
pelos caminhos feitos por água, relacionada com o domínio marítimo que deu a
possibilidade de comunicação entre todas essas rotas. Com base nisso, é possível
pensarmos no conceito de Mundo Atlântico enquanto, por exemplo, uma fusão entre a
História, Geografia e a Biologia, como métodos científicos complementares de
entendimento sobre a amplitude das relações que se deram naquela época e que
desembocam na contemporaneidade.
Segundo Thornton (2004), a expetativa de encontrar um caminho mais curto
para as minas de ouro da África ocidental é a mais provável para sustentar a motivação
dos europeus de navegarem por esse mares. Lembrando que a África ocidental acabou
por ser uma fonte de ouro para os países mediterrâneos, provavelmente, desde o império
bizantino. Uma outra observação pertinente, segundo Thornton (2004), está relacionada
com uma fantasia romântica, ligada à ideia de que os povos ibéricos estavam na
liderança dessa exploração ao continente africano. Isto porque, tratava-se de um
verdadeiro exercício internacional, que fomentava a exploração europeia do Atlântico,
mesmo que as maiores descobertas tenham sido feitas pelos países ibéricos cujo
pioneirismo estava ligado à rapidez que o regime monárquico desses países, tinham em
reivindicar uma soberania no decorrer do processo de realização dessas viagens
transatlânticas.
De acordo com Thornton (2004), a divisão da expansão se divide em duas
direções: a primeira foi a asa de África, enquanto exploradora dos seus principais
produtos, começando pelos escravos e em seguida pelo ouro, que tinha como objetivo o
financiamento de viagens pequenas ao longo da costa, pelo fato dos líderes africanos
terem tido expetativas em achar populações a serem atacadas ou comercializadas.
Enquanto que a segunda direção ou asa se inclinava para o Atlântico, pela busca de
terras a serem exploradas pelos europeus, sem precisarem de ser habitadas, mas onde
poderiam ser encontrados produtos naturais valiosos ou através do início da produção
agrícola de cultivação de produtos com uma grande demanda na Europa. Por
conseguinte, fechamos com a contribuição de Guimarães (2014) que elucida a
importância do conceito de Mundo Atlântico para uma interpretação da realidade dos
acontecimentos que marcaram as relações intercontinentais, a partir do século XV.

Referências

GUIMARÃES, Matheus Silveira. História e Mundo Atlântico: Contribuições para o


estudo da escravidão africana nas américas. Cadernos Imbondeiro. João Pessoa, v.3,
n.2, 2014.

THORNTON, John Kelly. O nascimento do mundo Atlântico. In: A África e os


africanos na formação do mundo Atlântico 1400-1800. Rio de Janeiro: Elsevier,
2004, p. 53 a 72

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