Você está na página 1de 642

estudos & memórias

Série de publicações da UNIARQ


(Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa)

Direcção: Ana Catarina Sousa


Série fundada por Victor S. Gonçalves (1985)

20.

FILIPE, V. (2023) –
Olisipo (Lisboa), o grande porto da fachada atlântica. Economia e comércio.
estudos & memórias 20. Lisboa: UNIARQ/FL-UL. 640 pp.

Capa: Rui Roberto de Almeida


Foto da capa: Ânfora gaulesa das Termas dos Cássios (autoria de Victor Filipe).
Foto da contracapa: Cais das colunas, foz do estuário do Tejo (autoria de Victor Filipe).

Paginação e artes finais: Rui Roberto de Almeida


Impressão: AGIR - Produções Gráficas Unipessoal, Lda.
500 exemplares

ISBN: 978-989-53453-8-0 / Depósito legal: 514494/23


DOI: https://doi.org/10.51427/10451/56712

Obra adaptada de Tese de Doutoramento defendida na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, cuja investigação foi
realizada no âmbito de uma bolsa de doutoramento atribuída pela FCT (ref.ª: SFRH/BD/7958/2011).
Este trabalho foi distinguido com o Prémio de Arqueologia Eduardo da Cunha Serrão 2020, 6ª edição, na categoria de Doutoramento -
Menção Especial, atribuído pela Associação dos Arqueólogos Portugueses

Copyright textos e imagens ©, 2023, o autor

O cumprimento do acordo ortográfico de 1990 é opção de cada autor. Os autores são responsáveis pelos seus originais,
respeitando a UNIARQ a sua autoria e não sendo responsável por quaisquer elementos que, de alguma forma, possam
prejudicar terceiros.

Esta publicação é financiada por fundos nacionais através da FCT - Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito dos
projetos UIDB/00698/2020 e UIDP/00698/2020.

Lisboa, 2023.
ÍNDICE

Felicitas Iulia Olisipo um grande porto romano no Atlântico


Carlos Fabião ............................................................................................................................................................................................ 5

I. O TERRITÓRIO, O TEMPO E O SEU ESTUDO

1. Introdução ............................................................................................................................................................................................. 10

2. O Território ............................................................................................................................................................................................ 15
2.1. Entre o Vale do Tejo e a fachada atlântica ........................................................................................................................................ 15
2.2. O rio, o mar e a costa: recursos naturais e condições portuárias ................................................................................................ 16

3. Olisipo, entre a República e o Principado: estado atual do conhecimento .......................................................... 22


3.1. Evolução da urbe entre a República e o Principado ....................................................................................................................... 22

4. Pressupostos metodológicos .................................................................................................................................................... 26

II. OS SÍTIOS E OS MATERIAIS

5. Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos ................................................................................ 34


5.1. Rua dos Lagares .................................................................................................................................................................................... 34
5.2. Encosta de Sant’Ana - 2002 e 2004/2006 ......................................................................................................................................... 35
5.3. Circo Romano - Praça D. Pedro IV, Rossio ........................................................................................................................................ 41
5.4. Praça da Figueira .................................................................................................................................................................................. 44
5.5. Hotel de Santa Justa ............................................................................................................................................................................ 79
5.6. Rua do Ouro, 197 - 2002 ....................................................................................................................................................................... 81
5.7. Rua Augusta, colector central - 1988 ............................................................................................................................................... 83
5.8. Rua do Ouro, 133-145 - 2014 ................................................................................................................................................................ 85
5.9. Zara, Rua Augusta ................................................................................................................................................................................ 87
5.1o. Banco de Portugal .............................................................................................................................................................................. 97
5.11. Criptopórtico, Galerias Romanas da Rua da Prata ...................................................................................................................... 116
5.12. Rua das Pedras Negras, 22-28. Termas dos Cássios .................................................................................................................... 119
5.13. Rua das Pedras Negras, 35-41. Termas dos Cássios .................................................................................................................... 137
5.14. Escadinhas de São Crispim .............................................................................................................................................................. 142
5.15. Rua de São Mamede ........................................................................................................................................................................ 149
5.16. Palácio dos Condes de Penafiel ...................................................................................................................................................... 155
5.17. Calçada do Correio Velho ................................................................................................................................................................ 169
5.18. Largo de Santo António da Sé ........................................................................................................................................................ 173
5.19. Rua da Madalena, 54-60 .................................................................................................................................................................. 176
5.20. Rua dos Bacalhoeiros, 32 ................................................................................................................................................................ 177
5.21. Teatro Romano de Lisboa ............................................................................................................................................................... 186
5.22. Claustros da Sé ................................................................................................................................................................................... 211
5.23. Casa dos Bicos - 2010 ........................................................................................................................................................................ 241
5.24. Travessa das Merceeiras, 27 .......................................................................................................................................................... 247
5.25. Beco do Marquês de Angeja .......................................................................................................................................................... 250
5.26. Pátio da Sr.ª de Murça ..................................................................................................................................................................... 253
5.27. Rua de São João da Praça - 2009 ................................................................................................................................................... 256
5.28. Rua de São João da Praça - 2001 ................................................................................................................................................... 259
5.29. Palácio do Marquês de Angeja ...................................................................................................................................................... 263
5.30. Fundação Ricardo Espírito Santo e Silva ..................................................................................................................................... 267
5.31. Rua do Recolhimento, 35 ................................................................................................................................................................ 270
5.32. Pátio José Pedreira ........................................................................................................................................................................... 272
5.33. Rua de Santa Cruz do Castelo, 29 .................................................................................................................................................. 278
5.34. Rua do Espírito Santo, Castelo ...................................................................................................................................................... 280
5.35. Palácio das Cozinhas ....................................................................................................................................................................... 284
5.36. Grupo Desportivo do Castelo ....................................................................................................................................................... 286
5.37. Largo de Santa Cruz do Castelo .................................................................................................................................................... 288
5.38. Praça Nova ........................................................................................................................................................................................ 296
5.39. Rua dos Remédios, 1-3 .................................................................................................................................................................... 299

6. Ânforas documentadas em Olisipo ....................................................................................................................................... 303


6.1. República ............................................................................................................................................................................................. 303
6.1.1. Hispania Ulterior ............................................................................................................................................................................... 303
6.1.2. Hispania Citerior ............................................................................................................................................................................... 325
6.1.3. Ebusus ................................................................................................................................................................................................ 327
6.1.4. Italia ................................................................................................................................................................................................... 328
6.1.5. Norte de África ................................................................................................................................................................................. 341
6.1.6. Mediterrâneo Oriental ................................................................................................................................................................... 347
6.2. Principado ............................................................................................................................................................................................ 352
6.2.1. Lusitania ............................................................................................................................................................................................. 352
6.2.2. Baetica ............................................................................................................................................................................................... 381
6.1.3. Tarraconensis .................................................................................................................................................................................... 414
6.2.4. Ebusus ............................................................................................................................................................................................... 423
6.2.5. Gallia, Narbonensis .......................................................................................................................................................................... 424
6.2.6. Italia .................................................................................................................................................................................................. 434
6.2.7. Norte de África ................................................................................................................................................................................ 442
6.2.8. Mediterrâneo Oriental ................................................................................................................................................................. 460
6.3. Epigrafia anfórica .............................................................................................................................................................................. 480
6.3.1. Marcas de oleiro ............................................................................................................................................................................. 480
6.3.2. Graffiti ................................................................................................................................................................................................ 491
6.3.3. Tituli Picti .......................................................................................................................................................................................... 494

III. OLISIPO, O GRANDE PORTO DA FACHADA ATLÂNTICA

7. Dinâmica comercial entre a República e o Principado .................................................................................................... 498


7.1. República ................................................................................................................................................................................................ 502
7.2. Principado .............................................................................................................................................................................................. 508
7.2.1. Preparados piscícolas ...................................................................................................................................................................... 517
7.2.2. Vinho .................................................................................................................................................................................................. 518
7.2.3. Azeite ................................................................................................................................................................................................. 521

8. Topografia urbana de consumo ................................................................................................................................................ 528

9. Olisipo, o grande porto da fachada atlântica ...................................................................................................................... 534

10. Epílogo ................................................................................................................................................................................................. 547

Bibliografia ............................................................................................................................................................................................... 553

ANEXOS
Anexo I. Os sítios ................................................................................................................................................................................... 607
Anexo II. Amostras macroscópicas de pastas ....................................................................................................................... 631

4
Felicitas Iulia Olisipo. Um grande porto romano no Atlântico

FELICITAS IULIA OLISIPO.


UM GRANDE PORTO ROMANO NO ATLÂNTICO

O porto da cidade romana de Felicitas Iulia Olisipo existia, de facto, mas os seus vestígios materiais
continuam a escapar à nossa observação, apesar das variadas intervenções de arqueologia urbana
realizadas nos últimos anos na cidade de Lisboa e da informação que têm proporcionado, a que se
acrescentam os dados das múltiplas sondagens geotécnicas que acompanham as obras de reabilitação.
A sismicidade histórica, com os subsequentes aterros e reconstruções, bem como as profundas
transformações conhecidas na frente ribeirinha dificultam a tarefa1. Mas, de há longa data, o debate
está instalado. Não sabemos como seria o porto, não conhecemos as suas instalações, para além do
seu possível complexo termal, identificado a partir do criptopórtico que lhe estaria subjacente2. Em boa
parte, este desconhecimento alimenta a controvérsia sobre a sua eventual expressão e relevância. O
“grande porto da fachada atlântica” a que o título do livro de Victor Filipe alude está implícito, mas na
realidade ainda fisicamente ausente.
Que o estuário do Tejo possuía condições excepcionais para acolher embarcações de grande e
pequeno calado é uma realidade que os antigos conheciam. Bastará lembrar o sempre citado passo
da obra de Estrabão que assim o descreve, na tradução de Jorge Inverno e Susana Marques Pereira:
O Tejo tem de embocadura uma extensão de vinte estádios e uma grande profundidade, de modo que
pode ser subido por cargueiros com capacidade para dez mil ânforas. Quando as marés têm lugar, forma
dois estuários nas planícies que se situam para o interior, de modo que se estende como um mar por
cento e cinquenta estádios e torna a planície navegável (…) e com as navegações fáceis até uma distância
considerável, inclusive para grandes embarcações (Geog. III.1)3. Condições naturais tinha o estuário e uma
longuíssima tradição de contactos com o mundo mediterrâneo, sendo plausível que a cidade romana
nele instalada tivesse um importante porto.
Mas quão relevante e em que dimensões?
Olisipo seria o grande porto lusitano, natural porta de entrada de quem demandava a Colonia
Augusta Emerita, a capital provincial, seria também, não se duvida, porta de entrada e saída de artigos
transportados por via marítima, eixo de comunicação entre litoral e interior, centro redistribuidor de
importações para a região, tudo deduções aceitáveis, pacíficas, consensuais. A controvérsia existe em
outro plano, o da relevância do porto olisiponense no contexto do Império Romano e dos grandes
fluxos de mercadorias, uma controvérsia que envolve a consideração do valor da dimensão atlântica
do Império. É neste domínio que se situa a indagação de Victor Filipe, que ganha corpo no presente
volume, acrescentando relevante informação.
Apesar das aventuras cesarianas a Brigantium, no noroeste peninsular, quando governou a
Hispania Ulterior, e das posteriores investidas à Britannia, que o próprio narrou, apesar de Augusto
se proclamar senhor do Oceano (RG. 26), um feito de que Plínio-o-Velho se fez eco (Nat.II, 167), ou de
Cláudio se proclamar em Roma triunfador sobre o grande mar, depois da sua breve viagem à Britannia
em processo de conquista (Suet. XVII), persistiu o cepticismo sobre a dimensão atlântica do Império
Romano e sua relevância. Mesmo Barry Cunliffe, incontornável referência na valorização das ligações

1. Costa, Ana Maria; Freitas, Maria da Conceição; Bugalhão, Jacinta; Fonseca, Cristóvão; Lopes, Vera; Pinto, Cláudia (2022) Paisagens
submersas do porto de Olisipo, Scaena Revista do Museu de Lisboa-Teatro Romano, 3, p. 16-29.
2. Caessa, Ana; Mota, Nuno; Martins, Pedro Vasco (2020) Criptopórtico: arqueologia e arquitectura de um equipamento portuário.
In: Fabião, Carlos (Dir.) Lisboa Romana / Felicitas Iulia Olisipo A Morfologia Urbana. Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa / Caleidoscópio,
p. 72-91.
3. Deserto, Jorge; Pereira, Susana da Hora Marques Estrabão (2016), Geografia. Livro III: introdução, tradução do grego e notas, Coimbra:
Imprensa da Universidade de Coimbra; Annablume. http://hdl.handle.net/10316.2/39957; DOI: https://doi.org/10.14195/978-989-26-1226-3

5
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

atlânticas desde a Pré-História, considerou o período romano como uma etapa de algum abrandamento
nas ligações marítimas fora da bacia do Mediterrâneo, presumindo um suposto regresso à fragmentação
regional dos sistemas de intercâmbio e comunicação na frente atlântica, até ao advento das navegações
vikings4. O cepticismo foi alimentado pelo estudo e valorização dos sistemas de comunicação fluviais
ao longo do Ródano ou do istmo gaulês, sem dúvida importantes, sem dúvida muito activos, mas que
não implicaram uma anulação da multisecular via atlântica, nas comunicações e intercâmbios Sul-Norte.
Vale a pena regressar ao episódio da viagem britânica de Cláudio, narrado por Suetónio. Diz o autor que
Cláudio partiu de Óstia, mas que esteve por duas vezes em perigo, devido às tormentas mediterrâneas,
tendo decidido seguir “por terra” até Gesoriacum (Bologne-sur-Mer), para cruzar o Canal da Mancha
(Suet. XVII). Para lá da anedota e do sarcasmo suetoniano, devemos reter duas informações: que o
Princeps decidira ir por mar, talvez já com o fito de se proclamar triunfador de Oceanus, mas que por
fim decidiu ir “por terra”, certamente tirando partido dos eixos fluviais, Ródano-Loire ou Ródano-Sena,
até ao Canal. Em suma, nas viagens para Norte, ambas possibilidades existiam, ou usar a via marítima,
mais rápida, mas menos segura, ou a via fluvial / terrestre, cruzando as gálias. Com toda a certeza, estas
vias conheceram crescente importância a partir de então, como consensualmente se reconhece e o
registo arqueológico confirma, contudo, à valorização dos eixos fluviais gauleses não correspondeu
uma análoga consideração da via atlântica, que seguramente existia, associada a portos de apoio.
Para os cépticos, o porto de Olisipo, desta periférica província do Império Romano, sobre
o Atlântico, teria uma relevância relativa, devido à sua localização; para outros, entre os quais se
inclui o autor destas linhas, independentemente de outras valências, seria um ponto de passagem
importante nas comunicações entre o Mediterrâneo e as províncias setentrionais, sobretudo, a partir
do Principado de Cláudio, quando a Britannia entrou definitivamente na esfera romana, passando a
receber consideráveis quantidades de artigos de procedência meridional, com larga expressão do azeite
bético, transportado em pesadas ânforas. Por falta de informação consistente, este debate arrastou-se
(e arrasta-se) há décadas, sem que novos e consistentes argumentos se acrescentem em favor da via
atlântica. Em outro lugar, ensaiamos a demonstração do envolvimento da fachada atlântica peninsular
e do porto de Olisipo em particular no fluxo de abastecimento de azeite às províncias setentrionais, a
partir de um indicador concreto, as marcas impressas sobre ânforas béticas do tipo Dressel 205. Não
fomos os primeiros, longe disso (!), a defender esta ideia, mas somente a apresentação de um volume
importante de nova informação permitiu reanimar o debate.
É justamente esse o maior contributo do presente volume, da autoria de Victor Filipe, de algum
modo, o corolário de um persistente e continuado estudo das ânforas romanas encontradas no
subsolo olisiponense, que de há longa data desenvolve: vem recentrar o debate. O paciente trabalho
de identificação, inventariação e estudo dos fragmentos de ânforas romanas encontradas nas múltiplas
intervenções de arqueologia de contrato realizadas em Lisboa que este volume apresenta, é outro
relevante mérito. Resgatar dos armazéns onde se deposita o produto destas escavações as provas da
presença de contentores de transporte de artigos alimentares procedentes das mais variadas paragens,
tornando-o informação e conhecimento, abrindo afinal novas linhas de debate.
Aqui se reúne o acervo dos contentores cerâmicos de procedência exótica que conheceram o seu
fim útil em Olisipo, depreendendo-se naturalmente que aqui se consumiu o conteúdo que transportavam;
mas também um outro acervo de mais difícil avaliação, o das ânforas fabricadas no próprio estuário
do Tejo. Neste último conjunto, poderemos vislumbrar não somente o que serviu para alimentar a
cidade, apesar da morfologia destes contentores cerâmicos ser a adequada para acondicionamento
no interior dos navios, não se excluiu a sua utilização em circuitos de distribuição de menor alcance,
penso concretamente nas ânforas vinárias, do tipo Lusitana 3, de fabrico local / regional, com forte
probabilidade documentando um consumo local, independentemente da possível existência de outros

4. Cunliffe, Barry (2001) Facing the Ocean. The Atlantica and its Peoples 8000 BC-AD 1500.Oxford: Oxford University Press; Cunliffe, Barry
(2008) Europe Between the Oceans 9000 BC – AD 1000. New Heaven and London: Yale University Press.
5. Fabião, C. (2018) O azeite da Baetica na Lusitania: reflexões sobre o actual estado dos conhecimentos a partir das marcas impressas
em ânforas Dressel 20 e 23. In: Víctor Revilla Calvo, V.; Aguilera Martín, A.; Pons Pujol, L.; García Sánchez, M. (eds.) Ex Baetica Romam.
Homenaje a José Remesal Rodríguez. Barcelona: Universitat de Barcelona, p. 701-736.

6
Felicitas Iulia Olisipo. Um grande porto romano no Atlântico

recipientes que possam ter sido também usados no transporte e distribuição do vinho da região. Não
se excluirá, porém, a possibilidade de alguns destes contentores terem chegado à cidade para envasar
produtos locais, por exemplo, as ânforas de preparados de peixe, tendo-se partido por acidente ou
simplesmente sido desviados para outras finalidades, ou seja, não constituírem indicadores de consumo.
O âmbito cronológico definido situa-se entre o período tardo-republicano (sécs. II – I a.C.), os
inícios da presença romana no ocidente peninsular, e os dois primeiros séculos da nossa Era (Principado).
Apesar do imenso volume de fragmentos cerâmicos estudado, esta pareceu uma dimensão manejável,
no tempo útil de que dispôs Victor Filipe, no fundo, aquele que permitiu transformar a sua investigação
em Dissertação de Doutoramento, submetida à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tendo
o Centro de Arqueologia (Uniarq) como instituição de acolhimento. O presente volume baseia-se nessa
Dissertação.
Para melhor compreender a dinâmica de longa duração e suas oscilações, impõe-se continuar
esta tarefa de identificação, classificação e estudo para o subsequente período da Antiguidade Tardia.
Compreensivelmente, uma nova e assaz volumosa tarefa que estava fora do alcance do presente
estudo, mas que urge realizar, sobretudo por dispormos já de um primeiro vislumbre, também com a
colaboração de Victor Filipe, que importa aprofundar e consolidar6.
O que aprendemos com o estudo que agora se publica é que Olisipo foi um grande centro de
consumo de artigos alimentares importados de diferentes regiões. Artigos que aqui chegaram no
âmbito de um consumo cosmopolita e diferenciado, não correspondendo à necessidade de satisfazer
carências reais, mas antes integrando as dinâmicas próprias da economia antiga e as práticas sociais de
um consumo sofisticado e diferenciado. O vinho, o azeite e as conservas importados foram consumidos
nesta cidade que produzia (e até exportava) esses mesmos artigos. Recentes estudos demonstraram
a presença de olea e vitis na paisagem olisiponense desde tempos anteriores à presença romana,
conhecendo significativa expansão sob o domínio de Roma7. As sequências polínicas estudadas
vêm afinal corroborar o que já sabíamos, das sondagens no Paúl dos Patudos, de Alpiarça, ou do
apontamento de Estrabão sobre os vinhedos do estuário do Tejo (Geog.III.1). De igual modo, sabemos
que se localizam no baixo Tejo as mais antigas oliveiras datadas no ocidente da Península Ibérica, o
exemplar de Mouriscas (Abrantes) ou o de Stª Iria da Azóia, Vila Franca de Xira8; e a cidade foi também
um relevante centro de produção e exportação de preparados de peixe.
Se este rico e diversificado leque de mercadorias importadas aqui chegou por estar a caminho das
províncias setentrionais, no âmbito da distribuição institucional ou de um “comércio livre”, se Olisipo foi
somente beneficiária por ser a porta de acesso à capital provincial ou se, cumulativamente, constituía
também núcleo importador em si, é algo que muito dificilmente poderemos deslindar no estado
actual dos conhecimentos. Seguro é que recebeu quantidades significativas de ânforas, transportando
alimentos de desvairadas paragens, que uma parte dos seus habitantes consumiu, e que, sem dúvida,
os agentes locais se envolveram na sua ampla redistribuição no território provincial. Comprova-se que
esta remota finisterra do Império estava bem integrada nos grandes fluxos de circulação de alimentos,
a parte mais visível de uma vasta e complexa dinâmica de integração, envolvendo outros produtos,
nem sempre fáceis de identificar no registo arqueológico, mas também gentes e ideias.
Se ainda não vemos o que restou das instalações portuárias de Felicitas Iulia Olisipo, a partir do
trabalho de Victor Filipe podemos ter um vislumbre do seu lugar no contexto do Império Romano.
Podemos também reanimar o debate sobre o valor da dimensão atlântica do Império, agora, com mais
rica e consistente informação.

Carlos Fabião

6. Viegas, Catarina; Filipe, Victor; Pimenta, João (2021) Rotas comerciais (comércio interno e externo). In: Fabião, Carlos; Nozes, Cristina;
Cardoso, Guilherme (Dir.) Lisboa Romana / Felicitas Iulia Olisipo A cidade produtora (e consumidora). Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa /
Caleidoscópio, p. 117-127.
7. Currás, Andrés; Costa, Ana Maria; Freitas, Maria da Conceição; Danielsen, Randi; Bugalhão, Jacinta (2021) Landscape change and
vegetation history in the city of Lisbon during Roman times and the Early Medieval Period, The Holocene, 31(1), p. 134–144.
8. https://www.icnf.pt/florestas/protecaodearvoredo/arvoredodeinteressepublico.

7
I
O TERRITÓRIO,
O TEMPO E O
SEU ESTUDO .
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

1.
INTRODUÇÃO

Estudar as ânforas republicanas e dos primeiros séculos da nossa Era de uma cidade como Lisboa
não é tarefa simples. A antiga cidade romana de Olisipo, situada no morro do Castelo e na actual Baixa
Pombalina, manteve uma intensa e contínua ocupação humana até hoje, conhecendo ao longo dessa
larga diacronia incontáveis episódios de laceração do seu subsolo, geralmente provocados por obras
de construção ou remodelação de edifícios e outras infra-estruturas ou pelas intrusivas reconstruções
que se seguiram aos vários eventos sísmicos, de que se destaca o de 1755. Esta enérgica ocupação do
espaço urbano resultou, como em todas as cidades históricas, num registo arqueológico extremamen-
te denso, rico e variado mas também em realidades estratigráficas assaz complexas e, normalmente,
profundamente truncadas.
A estas características, inerentes ao seu estatuto de urbe antiga, haverá que adicionar uma con-
turbada biografia da actividade arqueológica em Lisboa que, embora recuando bastante no tempo, só
com a instituição de novos quadros legais no final da última década do século passado se desenvolveu
de forma mais sistemática, observando-se a partir daí um aumento considerável das intervenções, par-
ticularmente numerosas nos últimos dez anos (Bugalhão, 2017). Acresce que essa actividade foi conti-
nuamente exercida por diferentes equipas, com distintos enquadramentos institucionais e utilizando
métodos de escavação e de registo diversos1, encontrando-se actualmente dispersos por inúmeros lo-
cais os espólios resultantes das intervenções realizadas na cidade.
Neste contexto de intensa actividade arqueológica não se observou uma equivalência no pro-
cesso de tratamento dos dados, que se mantêm na sua esmagadora maioria por estudar e publicar,
seja sob a forma de publicações monográficas ou artigos científicos, seja na forma mais elementar de
Relatório Final. Particularmente desolador é o cenário que se verifica em duas das mais interessantes
intervenções arqueológicas que decorreram em Lisboa na última década do século passado, Thermae
Cassiorum e Palácio dos Condes de Penafiel (dois dos mais relevantes conjuntos anfóricos analisados),
das quais, apesar da utilização de modernos métodos de escavação e registo, não existe actualmen-
te qualquer documentação estratigráfica associada aos respectivos espólios no local do seu depósito
ou na DGPC. Numa altura em que se parecem delinear estratégias para a promoção e valorização do
património arqueológico e histórico da cidade adquire especial importância a tomada de consciência
do papel fundamental que nessa valorização poderá ter o estudo e publicação do vasto manancial de
informação - mesmo quando inexistente o registo de campo - que teima em permanecer encerrado
em contentores e cadernos de campo dispersos pelos vários locais onde se encontram depositados os
materiais arqueológicos, mantendo-se em grande medida desconhecidos e inacessíveis.
A comparação entre o projecto inicial desta tese de Doutoramento, onde se propunha estudar
os conjuntos anfóricos de onze escavações distintas, e o seu resultado final, que inclui as amostras de
quatro dezenas de sítios, constitui um bom reflexo não só da aludida dinâmica que se tem observado na
actividade arqueológica em Lisboa de forma particularmente expressiva nos últimos anos e do imenso
volume de dados que daí advém, mas também da complexidade que muitas vezes se verifica no acesso
aos conjuntos artefactuais procedentes das escavações. De uma ou de outra forma, com maior ou me-
nor ênfase, os factores atrás enunciados acompanharam e condicionaram a execução deste trabalho,

1. Um bom exemplo é o próprio percurso do autor destas linhas que, tendo sido o responsável científico de algumas das intervenções
nos sítios aqui estudados - Beco do Marquês de Angeja, Casa dos Bicos, Hotel de Santa Justa, Palácio do Marquês de Angeja, Rua
do Espírito Santo - e tendo igualmente participado em algumas das outras escavações - Rua dos Lagares, Praça da Figueira, Rua dos
Bacalhoeiros, Rua dos Remédios, Rua de São João da Praça (2001), Teatro Romano -, teve a oportunidade de experienciar, durante esse
percurso, diferentes enquadramentos institucionais e distintas equipas com os respectivos métodos de escavação e registo.

10
Capítulo 1 Introdução

mas não constituíram entrave ao seu desenvolvimento, pelo contrário, tendo-se logrado uma articulação
positiva com os diferentes agentes da arqueologia de Lisboa, suficiente para permitir a realização deste
projecto que se dedicou ao estudo das ânforas romanas de Lisboa, da República ao Principado.
Enquanto contentores destinados ao transporte de produtos alimentares por via marítima, as ân-
foras são, reconhecidamente, um dos mais valiosos testemunhos arqueológicos para o conhecimento
das dinâmicas comerciais da Antiguidade e das relações interprovinciais, constituindo-se como impor-
tantes indicadores da dieta alimentar e dos ritmos de importação e de consumo nas diferentes regiões
do Império Romano. O seu estudo assume, por esse motivo, destacado relevo no quadro da investiga-
ção sobre a economia antiga.
Embora os primeiros estudos dedicados a esta temática remontem à segunda metade do século
XIX, com importantes avanços durante o terceiro quartel do século XX, foi sobretudo nos últimos qua-
renta anos que se assistiu a uma multiplicação das investigações sobre o tema, consolidando-se cada
vez mais o conhecimento empírico acerca das questões relacionadas com as áreas produtoras, artigos
transportados, difusão e tipos, bem como no que se refere à metodologia do seu estudo. Esta evolu-
ção, genericamente observável em toda a área do antigo Império Romano, verificou-se igualmente em
Portugal, ainda que talvez de uma forma menos expressiva (Fabião, 2014b).
Concretamente no actual território português, os estudos anfóricos desenvolvidos nos últimos
anos permitem esboçar um quadro aproximado da dinâmica comercial e ritmos de consumo em al-
guns dos seus principais centros urbanos, de que Bracara Augusta (entre outros, Morais, 1998; Morais,
2005; Morais, 2006) e Scallabis (entre outros, Arruda e Almeida, 1998; Arruda e Almeida, 1999; Arruda e
Almeida, 2000; Arruda et al., 2006; Bargão, 2006; Almeida, 2008) serão provavelmente os exemplos
mais expressivos, mas onde se poderiam igualmente destacar cidades como Conimbriga (Alarcão, 1976;
Buraca, 2005), Idanha-a-Velha (Banha, 2006), Setúbal (Coelho-Soares e Silva, 1978; Silva e Coelho-Soares,
1980-1981; Duarte et al., 2014; Silva et al., 2014; Silva e Coelho-Soares, 2014; Mayet e Silva, 2016), Alcácer
do Sal (Silva et al., 1980-1981; Pimenta et al., 2006; Pimenta et al., 2015a), Monte Molião (Arruda e Sousa,
2012; Viegas e Arruda, 2013), Faro (Viegas, 2011; Almeida et al., 2014e), Balsa (Fabião, 1994a; Viegas, 2011)
e Castro Marim (Arruda et al., 2006b; Viegas, 2011), onde os dados publicados assumem já uma apreciá-
vel expressão. No contexto regional em que se insere Olisipo, o Vale do Tejo, os últimos anos têm sido
particularmente fecundos no que se refere ao desenvolvimento de projectos de arqueologia, assistin-
do-se à publicação de numerosos dados inéditos, quer de sítios apenas recentemente escavados, quer
de “velhos conhecidos” da investigação nacional, onde as ânforas são recorrentemente colocadas em
evidência. Entre outros, e para além de Santarém a que já se fez referência, poder-se-ão mencionar os
recentes trabalhos sobre locais como o Monte dos Castelinhos (Pimenta, 2013; Pimenta e Mendes, 2014;
Pimenta, 2015; Pimenta, 2017), o Alto dos Cacos (Pimenta et al., 2012; Pimenta et al., 2014c), o Porto
Sabugueiro (Pimenta e Mendes, 2008; Pimenta e Mendes, 2013; Pimenta et al., 2014b) e Chões de Al-
pompé (Pimenta e Arruda, 2014).
Relativamente a Lisboa, o cenário até à data não era especialmente exuberante, sobretudo no
que se refere ao Principado. Embora se registe a publicação de alguns conjuntos anfóricos de relevante
interesse, destacando-se quantitativa e qualitativamente a amostra republicana do Castelo de São Jorge
(Pimenta, 2005; Pimenta, 2007; Filipe et al., 2013; Mota et al., 2014; Pimenta, 2014; Pimenta et al., 2014a;
Silva, 2014), o quadro era, em geral, relativamente pobre para o Principado, sendo constituído sobre-
tudo pelos dados algo mais expressivos sobre o Núcleo Arqueológico da Rua dos Correeiros (Bugalhão
e Sabrosa, 1995; Bugalhão, 2001; Sabrosa e Bugalhão, 2004; Dias et al., 2012; Bugalhão et al., 2013) e o
Teatro Romano de Lisboa (Diogo e Trindade, 1999; Diogo, 2000; Filipe, 2008a; Filipe, 2015), bem como
por alguns conjuntos de reduzida dimensão e dispersos pela cidade - Praça da Figueira (Moita, 1968;
Fabião, 1993-1994), Cais do Sodré (Marques et al., 1997), Rua dos Fanqueiros (Diogo e Trindade, 2000),
Mandarim Chinês (Bugalhão, 2003), Beco do Marquês de Angeja (Filipe e Calado, 2007), Armazéns Som-
mer (Gaspar e Gomes, 2007; Pimenta e Fabião, no prelo), Casa do Governador, Belém (Filipe e Fabião,
2006-2007; Fabião, 2009c; Filipe, 2011), Rua dos Bacalhoeiros (Filipe, 2008b), Rua da Madalena (Ama-
ro et al., 2013), Rua do Passadiço (Sarrazola e Macedo, 2013), Palácio dos Condes de Penafiel (Silva e
de Man, 2015), Rua dos Remédios (Silva, 2015a), Rua da Regueira (Silva, no prelo) e Fundeadouro da
Praça D. Luís (Parreira e Macedo, 2013; Parreira e Macedo, 2016). Embora esta lista de referências seja

11
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

relativamente extensa, o Número Mínimo de Indivíduos publicados contabilizados para o Principado


não ultrapassa os 304 NMI2, apresentando os contentores republicanos uma cifra bem mais razoável -
694 NMI.
A estes trabalhos haverá que adicionar alguns dados recentemente publicados cuja participação
do autor se inscreveu no âmbito desta tese, incidindo sobre sítios aqui analisados, nomeadamente so-
bre as ânforas das antigas e recentes escavações da Praça da Figueira (Almeida e Filipe, 2013; Silva et
al., 2016), da recente intervenção na Casa dos Bicos (Filipe et al., 2016), da Rua das Pedras Negras, 2013
(Gomes et al., 2017) e da Rua de São Mamede (Mota et al., 2017), bem como as marcas de ânfora docu-
mentadas nos conjuntos de Olisipo (Fabião et al., 2016) e algumas leituras mais gerais sobre a cidade
(Filipe, 2018a; Filipe, 2018b).
O comentado panorama que até aqui se observava de generalizada carência de estudos que
se debrucem sobre a economia e comércio da cidade de Lisboa em Época Romana confere particular
pertinência a este trabalho, na medida em que aqui se procede à análise de um amplo volume de dados
inéditos. Com o estudo das ânforas pretende-se essencialmente caracterizar as relações comerciais da
antiga cidade de Olisipo durante um lapso temporal que se estende do terceiro quartel do séc. II a.C.
ao final do séc. II/início do séc. III d.C., procurando-se definir as principais tendências nos perfis de im-
portação e de consumo e os distintos ritmos e expressão da aquisição de alimentos transportados em
contentores anfóricos, bem como demonstrar a relevância que a cidade de Olisipo alcançou no quadro
político e económico da Lusitania e da fachada atlântica e o papel do seu porto nas relações comer-
ciais entre as várias províncias do Império. Neste sentido, poder-se-á afirmar que esta tese se insere
principalmente no âmbito dos estudos sobre economia da Antiguidade, não se tendo deixado, toda-
via, sempre que assim se proporcionou, de aprofundar a vertente tipológica. Esta questão colocou-se
sobretudo na caracterização de uma nova produção lusitana, para a qual não existe, aparentemente,
qualquer dado até aqui publicado e que deverá corresponder a uma imitação local/regional das ânforas
béticas de tipo Urceus.
Convirá de igual forma referir que na leitura que se faz dos padrões de importação e consumo a
partir das ânforas identificadas em Lisboa se parte do pressuposto que o produto que foi originalmente
envasado naquelas constituiu, de facto, o produto que chegou a Olisipo e que aqui terá sido consumido
antes de descartado o contentor, o que nem sempre poderá ter acontecido (Peña, 2007a, p. 345). Em-
bora comummente aceite, esta perspectiva não tem em consideração a eventual reutilização de ânfo-
ras para a mesma finalidade (considerada negligenciável), isto é, o transporte de produtos alimentares
por via marítima, sejam aqueles análogos ou não ao conteúdo original, até porque só em situações ex-
cepcionais, como é o caso de alguns naufrágios, se poderá lograr documentar este tipo de reutilização,
como foi já observado no naufrágio do Grado (Auriemma, 2000).
A opção de limitar o âmbito cronológico deste trabalho à República e ao Principado relacionou-se
fundamentalmente com questões de ordem prática, considerando-se que o volume extra de tempo e
trabalho que necessariamente acarretaria a sua extensão à Antiguidade Tardia seria incompatível com
a duração de um trabalho académico desta natureza, que ainda assim se estendeu bem para lá do de-
sejável. Assim, revestiu-se de peculiar importância a definição da cronologia que marca a transição do
Principado para a Antiguidade Tardia, tema que não é totalmente isento de controvérsia3, na medida
em que essa fronteira cronológica iria determinar a inclusão, ou não, de determinados tipos anfóri-
cos neste estudo. Neste sentido, adopta-se aqui o conceito de Antiguidade Tardia expresso por Peter
Brown (1971, p. 9-7), que coloca o seu advento em torno ao ano 200 d.C., cronologia que é igualmente
defendida por outros investigadores como o período que marca a passagem do Principado para a An-
tiguidade Tardia (Brown, 1971, p. 9-7; Bowman e Wilson, 2009, p. 47; Quaresma, 2012, p. 250-262, com
indicações bibliográficas).
A coincidência entre esta data e o panorama generalizado de perturbação nos fluxos de expor-
tação de preparados à base de peixe que se observa na transição do século II para o III d.C. na Lusitânia

2. Pelas razões expostas no respectivo subcapítulo, não estão incluídos neste cálculo os materiais da Rua dos Bacalhoeiros (Filipe, 2008).
3. Acerca da discussão sobre as balizas cronológicas da Antiguidade Tardia, um ponto da situação em: Pereira, 2019, p. 26.

12
Capítulo 1 Introdução

(Fabião, 2004; Fabião, 2009b; Mayet e Silva, 2010), bem como as importantes transformações nos
repertórios anfóricos que daí decorrem sensivelmente pela mesma altura (Fabião, 2004), constituíram
os principais motivos para colocar precisamente nessa fase o limite cronológico deste trabalho. Uma
das questões mais delicadas foi justamente, no âmbito dos contentores cujo fabrico se processou
tanto no séc. II como no III d.C., definir de modo coerente que tipos deveriam ser abrangidos por este
estudo e quais não deveriam ser consideradas - atente-se que a extrema escassez de dados contex-
tuais desse período em Lisboa não autoriza que essa distinção fosse realizada com base nos contextos
arqueológicos.
A questão colocava-se sobretudo relativamente às formas cuja produção arrancou no último
quartel do séc. II d.C., tendo-se considerado que todas aquelas que se reportavam a uma data anterior
deveriam ser incluídas. Naturalmente, e no que se refere especificamente a estas últimas, existem dis-
tintas situações com diferentes implicações possíveis nas leituras de conjunto, que necessariamente
terão que se assumir como contingências de alguma forma naturais decorrentes da opção assumida re-
lativamente ao âmbito cronológico do estudo, e que se poderão exemplificar com alguns casos de certa
forma opostos: por um lado, e aparentemente menos problemáticos, os tipos cujo fabrico se iniciou
ainda no séc. I ou no início do séc. II d.C. e se estendeu até ao séc. III ou mesmo ao início do seguinte,
mas que conheceram uma difusão eminentemente centrada na segunda centúria da nossa Era, como
são os casos das Lusitana 3 e da Gauloise 4 narbonense; por outro, as ânforas que apenas começaram a
ser produzidas em torno a meados do séc. II d.C. mas que poderão ter sido maioritariamente difundidas
na centúria seguinte, tais como a Tripolitana III, a Africana I e a Kapitän 2.
Os tipos que mais questões colocaram foram, contudo, aqueles que começaram a ser fabricados
nos últimos anos do séc. II d.C. e cuja difusão se processou principalmente a partir do início do sécu-
lo seguinte. Por um lado, não foram consideradas as Keay XVI, tanto as de produção bética como as
lusitanas, que se constituem como contentores fundamentalmente do séc. III, praticamente, se não
totalmente, ausentes em contextos anteriores a essa centúria no espaço da antiga província da Lusita-
nia. Acresce que, no caso da produção bética, a sua inclusão neste estudo resultaria numa significativa
distorção dos dados, já que a sua representatividade na cidade de Lisboa é bastante considerável. Em
sentido oposto, optou-se por incluir tanto a Africana IIA como a variante Severa da Dressel 20. Relativa-
mente à primeira, da sua inclusão decorrerá seguramente uma certa sobrevalorização das importações
norte-africanas para o quadro cronológico aqui considerado do final séc. II d.C. e início do III, mas cujo
reflexo no conjunto global é diminuto. Creio que a sua não inclusão seria mais prejudicial na leitura
global e especificamente na que se refere às importações daquela região produtora, na medida em que
se tornaria menos evidente o aumento que efectivamente ocorre a partir de meados do séc. II d.C. na
chegada de produtos oriundos do Norte de África. Quanto à variante Severa da Dressel 20, com uma
representatividade nada despicienda, a sua exclusão representaria a segmentação de um tipo que é
importado desde a dinastia Júlio-Cláudia, ao qual não foi possível, apesar de tudo, atribuir na sua totali-
dade às diversas variantes, pelo que se decidiu pela sua inclusão.
O presente trabalho foi estruturado essencialmente em quatro partes distintas. Na primeira,
procede-se ao enquadramento geográfico e histórico da cidade de Olisipo. Procurou-se apresentar de
forma sintética as características geomorfológicas e geográficas da cidade e da região do Vale do Tejo,
bem como realçar os seus principais recursos naturais e condições que estimularam o seu crescimento
e desenvolvimento. De igual modo, efectuou-se uma sinopse sobre o estado actual dos conhecimentos
relativamente à cidade romana de Olisipo, focada na sua evolução entre o início da presença romana no
Ocidente Peninsular e o final do Principado.
A segunda parte corresponde à descrição dos sítios e amostras estudados, antecedidos por uma
exposição das opções metodológicas e critérios adoptados na execução deste trabalho. Os sítios são
apresentados de modo sucinto, remetendo-se, quando é caso disso, para eventuais publicações ou
relatórios já existentes, privilegiando-se aqui as informações relativas à sua interpretação geral, às evi-
dências arqueológicas documentadas e respectiva diacronia de ocupação, aos contextos de Época Ro-
mana, particularmente aqueles que continham contentores anfóricos, para além de questões como o
ano da intervenção, responsáveis científicos, âmbito em que decorreu (projecto de investigação, ar-
queologia preventiva), Código Nacional de Sítio e localização. Em cada um destes sítios foi efectuada a

13
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

análise quantitativa e, sempre que possível, qualitativa da amostra, procedendo-se à descrição dos as-
pectos relacionados com a sua procedência estratigráfica e composição, nomeadamente a quantidade
e tipo de fragmentos, classificação tipológica, região de origem e produtos transportados.
A terceira parte deste estudo é constituída pela descrição individualizada de cada um dos tipos
documentados nas várias amostras que se analisaram, procurando-se fazer um ponto da situação acer-
ca do conhecimento que actualmente se detém sobre cada uma, e ainda por um capítulo dedicado à
epigrafia anfórica. Em relação aos tipos, foram desenvolvidos sobretudo os tópicos relacionados com
a morfologia e eventual evolução tipológica de cada tipo, cronologia de fabrico, região onde foi pro-
duzido, conteúdo transportado e sua difusão, com particular relevo para a sua distribuição no actual
território nacional. Paralelamente, à descrição individualizada de cada tipo foram acrescentados os da-
dos sobre o número total de exemplares registados na cidade, sítios onde estes foram identificados e
respectivos contextos onde foram exumados e sua cronologia, bem como a sua representatividade no
conjunto global. Quanto à epigrafia anfórica, foram apresentados separadamente os diferentes tipos
de inscrições - marcas, tituli picti e grafitos -, tendo-se procedido somente à análise dos exemplares iné-
ditos, uma vez que a maioria das marcas identificadas no decorrer deste estudo foram recentemente
publicadas (Fabião et al., 2016).
Por fim, a quarta e última parte deste trabalho corresponde à interpretação e discussão dos da-
dos expostos ao longo dos pontos anteriores. Aqueles são abordados em perspectivas distintas em três
capítulos: numa óptica de análise quantitativa e qualitativa da globalidade dos dados, procurando-se
definir as principais tendências de importação e consumo; numa perspectiva de identificar na topogra-
fia urbana distintos padrões de consumo; e numa vertente de comparação com outros centros urbanos,
procurando-se situar o papel de Olisipo no quadro das relações comerciais à escala regional e do Império.
Estes três capítulos constituem, no fundo, o que habitualmente se designa por “considerações finais”.
O último capítulo desta tese - “Epílogo” - constitui tão só o sublinhar de alguns dos principais as-
pectos desenvolvidos ao longo do trabalho, particularmente nos três capítulos anteriores, procurando-
-se traçar, numa perspectiva diacrónica, as principais tendências, ritmos e oscilações na importação
e consumo de bens alimentares envasados em ânforas em Olisipo, desde a chegada de Décimo Júnio
Bruto e dos seus exércitos ao Vale do Tejo até à dinastia dos Severos, bem como proceder ao seu en-
quadramento histórico e social.

14
Capítulo 2 O território

2.
O TERRITÓRIO

2.1. Entre o Vale do Tejo e a fachada atlântica

Inserido na mesma unidade tectono-sedimentar da Bacia do Sado, a formação e evolução da


Bacia cenozóica do Tejo resultou, há cerca de 25 milhões de anos (Ma), da colisão entre duas massas
continentais: a microplaca ibérica e a placa africana (Carvalho, 2003, p. 398-401). Esta individualização
da Bacia do Tejo marca a origem do Tejo actual, cuja evolução ao longo do Miocénico de Lisboa, de in-
fluência marinha, é caracterizada por uma sedimentação quase constante da foz do rio durante cerca
de 16 Ma, período extenso em que aí se verificou, por um lado, uma enérgica subsidência, por outro,
a intensa sedimentação de materiais resultantes da erosão continental (Almeida, 1994, p. 21). Foi ao
longo deste curso fluvial e do seu imenso Mar da Palha, onde se registaram profundas alterações ao
longo de milénios (Daveau, 1994, p. 26), que desde épocas pré-históricas se estabeleceram inúmeras
comunidades humanas, ora mais viradas para o extenso território do interior ora voltadas para a frente
oceânica, mas sempre tirando partido das riquezas e vantagens do rio.
A localização geográfica de Lisboa, situada na área de fronteira entre o Norte Atlântico e o Sul
Mediterrâneo (Ribeiro, 1998) e entre o oceano e o interior de um vasto território, controlando a entra-
da de um extenso e navegável rio, denuncia a estreita ligação da cidade ao Tejo que, recuando à sua
génese, lhe conferiu as condições necessárias para actuar desde cedo como destacado pólo regional,
estabelecendo o contacto entre distintas entidades geográficas e culturais. O primitivo núcleo urba-
no desenvolveu-se na margem direita do Tejo, junto à sua foz, numa modesta mas destacada colina
onde hoje se implanta o castelo de São Jorge. As particularidades topográficas do local onde Lisboa
se implanta permitiam um amplo controlo visual da região envolvente, principalmente do rio e do s-eu
acesso ao interior e de toda a margem Sul, a que se aliavam excelentes condições naturais de defesa. A
poente, na zona onde actualmente se ergue a Baixa Pombalina, a cidade era bordejada por um peque-
no esteiro de rio onde desaguavam as ribeiras de Arroios e de Vale do Pereiro, que deveriam confluir
próximo do local onde hoje se situa a Praça da Figueira (Filipe, 2008a).

Figura 1 – Vista sobre Lisboa e colina do castelo a partir do Tejo (Foto de Manuel Vicente).

15
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Para o interior, ao longo do vale do maior rio peninsular, desenvolvia-se uma vasta planície aluvial
que se estendia para lá da zona de Santarém, periodicamente sujeita a inundações e onde se destaca-
vam os solos com elevadas aptidões para a prática da agricultura. A ocidente, o gargalo do Tejo e o
vasto Atlântico, com uma costa marcada por arribas altas e verticais, pontuadas por pequenas baías ou
enseadas que correspondem à foz dos talvegues que vêm do interior do território (Silva, 2012a, p. 78).
Para Norte, na Península de Lisboa, um terreno acidentado, caracterizado pelo manto basáltico e pelo
maciço granítico de Sintra e marcado por colinas e vales, destacando-se como acidentes na paisagem a
Serra de Sintra e, mais a Norte, a de Montejunto (Daveau, 1994, p. 24; Silva, 2012a, p. 77-78).

2.2. O rio, o mar e a costa: recursos naturais e condições portuárias

“O Tejo tem de foz uma largura de uns 20 estádios e uma profundidade tão grande que
pode ser remontado por barcos de dez mil ânforas de capacidade. Na altura das cheias,
produz dois esteiros, nos baixios interiores, a ponto de formar como que um mar de 150
estádios, de tornar a planície navegável e de isolar, no esteiro superior, uma ilha, de cerca
de 30 estádios de extensão e com uma largura um pouco menor, muito fértil e com belas
vinhas. Esta ilha situa-se junto da cidade de Móron, que se ergue num monte próximo do
rio, a 500 estádios de distância do mar no máximo, e está rodeada por uma região fértil. A
navegação até aí é fácil mesmo para barcos de grande porte numa boa parte do seu trajecto
e, no resto, por embarcações de rio. Para cima de Móron a navegação ainda é mais longa”.
Estrabão, Geografia, III, 3, 14

A célebre passagem da Geografia de Estrabão que acima se reproduz, amplamente citada pelos
investigadores que se têm dedicado ao Ocidente Peninsular, contém alguns dos principais aspectos que
caracterizavam a foz e o Vale do Tejo - a navegabilidade do rio, o controlo sobre a sua foz e respectivo
acesso ao interior e a fertilidade agrícola da planície aluvial - e que constituíram, afinal, o grande suporte
para o crescimento e desenvolvimento da cidade de Olisipo e consequente relevância que esta alcançou
desde épocas remotas.
Relativamente à sua navegabilidade em Época Romana, o texto do geógrafo de Amaseia (actual
Turquia) é bastante explícito. O rio era navegável por barcos de grande porte em boa parte do percurso
entre Olisipo e Móron, e por embarcações fluviais na parte final deste trajecto (e ainda muito para lá de
Móron), desconhecendo-se, todavia, exactamente até onde podiam chegar os navios de maior calado.
Tendo em conta a descrição de Estrabão e as fontes que no séc. XVI mencionam ser o Tejo ainda
navegável até Salvaterra de Magos (Daveau, 1994, p. 27), pode admitir-se que os barcos de grande
porte chegassem até esse ponto do rio. A navegabilidade do Tejo durante a Antiguidade pode tam-
bém ser deduzida a partir do registo arqueológico, ainda que sem a possibilidade de grandes preci-
sões relativamente à dimensão dos navios. Para além da particular concentração de cerâmicas e de
outros materiais importados em diversos sítios localizados ao longo de todo o Vale do Tejo, indício
claro da importância que esta via de comunicação natural tinha na penetração do território, haverá
também que ter presente a existência, nas suas margens, de olarias romanas onde se produziam ân-
foras, nomeadamente as que se situavam no Porto Sabugueiro, Muge (Cardoso, 1990), e na Garro-
cheira, Benavente (Amaro, 1990a; Amaro e Gonçalves, 2016; Amaro e Gonçalves, 2017), que seriam na-
turalmente escoadas por via fluvial até à área de Olisipo, onde se concentravam em ambas margens
do rio importantes unidades piscícolas. Bastante interessante e sugestiva é a localização do centro
oleiro da Garrocheira, junto à margem do rio Sorraia, ainda que relativamente próximo da sua foz,
confirmando plenamente a navegabilidade deste aquífero em período romano, que actualmente se

4. Tradução de José Ribeiro Ferreira: Kalb e Höck, 1988, p. 190.

16
Capítulo 2 O território

parece ainda manter dali até às imediações da vila de Coruche (Quaresma e Calais, 2005, p. 441; Amaro e
Gonçalves, 2017, p. 94). Como bem sublinhou Vasco Mantas, a utilização do Sorraia como eixo de comu-
nicação privilegiado é sugerida pela concentração do povoamento romano ao longo do vale deste rio,
particularmente na área a jusante e a montante de Coruche, até à Herdade do Pé da Erra (Mantas, 2001,
p. 55). Jorge de Alarcão sugere que se deveria situar no Vale do Sorraia Tubucci, ou Tabucci (Alarcão,
2002, p. 45), a primeira estação viária depois de Scallabis referida em uma das vias do Itinerário Antoni-
no que estabelecia a ligação entre Olisipo e Augusta Emerita, fazendo passar essa via junto à Herdade
do Pé da Erra (Alarcão, 2006, p. 239-240).
Tendo em conta a navegabilidade do Sorraia em Época Romana, ainda que possivelmente apenas
com embarcações fluviais; a densidade do povoamento romano no seu vale, sobretudo na zona de Co-
ruche e da Herdade do Pé da Erra; e a possível passagem por esta zona de uma das vias que ligava Olisipo
a Augusta Emerita; não deixa de ser tentador indagar da possibilidade da existência naquela zona de um
importante porto fluvial (Tubucci?) por onde chegassem diversos produtos destinados principalmente
à capital da província, nomeadamente vinho, azeite e preparados piscícolas envasados em ânforas. A
questão parece pertinente, até porque, assim sendo, este constituiria o porto fluvial mais próximo de
Augusta Emerita, com acesso a partir da fachada atlântica, o que, consequentemente, significaria que a
distância que restava percorrer por terra até à capital provincial seria inferior à das outras duas vias que
estabeleciam a ligação entre aquela cidade e Olisipo, significando menos tempo de viagem e menores
custos. Faltam, contudo, dados empíricos suficientemente expressivos para demonstrar esta hipótese,
reconhecidamente com bases frágeis: a localização de Tubucci nesta zona não está atestada e é reba-
tida por outros investigadores, que a situam ora no Tramagal, ora em Abrantes, Alvega, Benavente ou
Mora (Alarcão, 2006; Mantas, 2012; Mantas, 2014); a passagem da via pela área da Herdade do Pé da
Erra está por confirmar; apesar da densidade do povoamento romano no Vale do Sorraia, ainda não foi
identificado qualquer centro urbano de dimensão e importância consideráveis (Mantas, 2001), embora
os dados de São Pedro, Coruche (Quaresma e Calais, 2005), possam constituir um importante indício.
Voltando ao Tejo, Estrabão (III, 3, 1) refere a abundância de peixe e ostras no seu estuário. A
abastança de pescado no grande rio também não passou despercebida a um cruzado durante o cerco
e conquista de Lisboa em 1147, que, embora em sentido figurado e com claro exagero, se lhe refere
nos seguintes moldes: “(…) e é também tão grande a abundância de peixes que os habitantes acreditam
que dois terços do rio é de água e um terço de peixes. Tem tanta abundância de conquilhas como de areia.
Uma coisa é de salientar, é que os peixes deste rio mantêm pelo tempo fora a sua gordura e sabor natural,
sem se alterarem nem apodrecerem (…)” (Nascimento, 2001, p. 77). Mais de dez séculos separam estas
duas referências literárias que ilustram de forma clara a abundância piscícola do Tejo e do seu estuário.
A exploração dessa riqueza, que recua seguramente a momentos pré-históricos (veja-se os designados
concheiros de Muge, apenas para dar um exemplo ilustrativo), terá atingido proporções muito consi-
deráveis na Época Romana. Contudo, não parece ter sido apenas o peixe do vasto regolfo do Tejo que
fomentou a pesca e a importante indústria piscícola que emergiu nas duas margens do rio e de que são
actualmente conhecidas inúmeras unidades de transformação, implantadas sobretudo no suburbium
ocidental e área ribeirinha de Olisipo (Amaro, 1982; Amaro, 1994; Diogo e Trindade, 2000; Bugalhão,
2001; Fernandes et al., 2011), mas também em Belém (Fabião et al., 2008; Fabião, 2009c), em Cascais
(Cardoso, 2006) e na margem Sul, na Ponta do Mato, Seixal (Raposo et al., 2014), em Cacilhas (Barros
e Amaro, 1984-1985; Santos et al., 1996) e no Porto Brandão (Santos et al., 1996). Esta indústria parece
ter-se abastecido principalmente na ampla frente atlântica, rica em recursos piscícolas, e utilizado so-
bretudo a sardinha, tendo em conta os resultados dos estudos ictiológicos de restos provenientes de
unidades piscícolas de Lisboa (Assis e Amaro, 2006; Gabriel et al., 2009), verificando-se cenário similar
no Sado (Gabriel e Silva, 2016).
Esta exploração dos recursos marinhos e fluviais pautou, em grande medida, a economia de Olisi-
po, dando origem à mencionada actividade de transformação do pescado, que seria a marca industrial
mais visível em Olisipo e se destinaria em boa parte à exportação para a restante província e para outros
pontos do Império, promovendo, por sua vez, a produção de contentores anfóricos e a exploração do
sal (Fabião, 2009b). Relativamente a esta última actividade, apesar da relevância que por certo terá al-
cançado e que terá decorrido sobretudo da produção dos preparados de peixe, as evidências no estuário

17
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

do Tejo para a Época Romana são assaz escassas. Por um lado, o silêncio das fontes clássicas, por outro,
a fragilidade deste tipo de estruturas de produção, construídas em terra e dificilmente datáveis, bem
como a sua usual implantação em áreas sujeitas ao efeito das marés, dificultam grandemente a sua
identificação, pelo que os investigadores que se têm debruçado sobre o tema recorrem em boa parte às
fontes literárias de épocas posteriores (Étienne e Mayet, 2002; Fabião, 2009b). Carlos Fabião sublinhou
recentemente o facto de as áreas onde está atestada a exploração de recursos marinhos na Antiguidade
coincidirem sempre com zonas onde se regista o mesmo tipo de actividade em épocas mais recentes,
embora, possivelmente por deficiência da investigação, nem sempre se observe o contrário (Fabião,
2009b, p. 559). Esta realidade é perfeitamente reconhecível no estuário do Tejo, onde até há bem pou-
co tempo se registava ainda a extracção de sal e onde, como se disse, tem sido documentada uma im-
portante indústria de exploração de recursos marinhos romana. O mesmo autor reuniu um conjunto de
informações relativas à existência de salinas no estuário do Tejo que se estendem cronologicamente da
Idade Média ao período Contemporâneo. Aquelas, ocupando áreas consideráveis, desenvolviam-se nas
duas margens do Tejo e obedeceriam provavelmente aos mesmos critérios de implantação das salinas
exploradas em Época Romana, uma vez que as técnicas de extracção do sal marinho não parecem ter
sofrido alterações significativas ao longo dos séculos (Fabião, 2009b).
Como mencionado, a produção de ânforas romanas no Vale do Tejo decorreu como uma con-
sequência do desenvolvimento da indústria piscícola, destinando-se maioritariamente a envasar esse
tipo de produtos, embora não exclusivamente. O crescimento desta actividade oleira específica e o
seu peso na economia da região e da cidade de Olisipo estão, portanto, umbilicalmente associados ao
aludido desenvolvimento da exploração dos recursos marinhos. Os vários centros oleiros actualmente
conhecidos que produziram ânforas no Vale do Tejo laboraram genericamente entre o séc. I e o séc. V
d.C. e situavam-se todos na sua margem esquerda: Porto Sabugueiro, junto a Muge (Cardoso, 1990),
Garrocheira, Benavente (Amaro, 1990a; Amaro e Gonçalves, 2016; Amaro e Gonçalves, 2017), Porto dos
Cacos, Alcochete (Raposo, 1990; Raposo et al., 1995; Raposo e Duarte, 1996; Raposo, 2017) e Quinta do
Rouxinol, Seixal (Duarte, 1990; Duarte e Raposo, 1996; Filipe e Raposo, 2009; Raposo et al., 2016; Ra-
poso, 2017). No estado actual do conhecimento, não restarão grandes dúvidas quanto à sub-represen-
tação que este panorama revela no quadro do que seria a produção anfórica do Vale do Tejo em Época
Romana. Entre os centros produtores inventariados, nenhum parece ter laborado na fase mais antiga,
que recua ao terceiro quartel do séc. I a.C. e se desenvolve expressivamente durante Augusto, em que
se produziam modelos inspirados nas Haltern 70 e nas formas ovóides da área meridional peninsular
(Morais e Fabião, 2007), contrastando vivamente com a abundância dessas produções antigas na área
urbana de Olisipo (Filipe, 2008a; Filipe, 2008b; Filipe, 2015; Silva, 2015a; Silva et al., 2016) e de Scallabis
(Arruda et al., 2006a), ou no Monte dos Castelinhos (Pimenta, 2013; Pimenta e Mendes, 2014; Pimenta,
2015; Pimenta, 2017). Fica claro que subsiste ainda um número indeterminado de olarias por identificar,
que provavelmente não se resumirão apenas às etapas mais precoces da produção anfórica regional.
Tal cenário é especialmente bem ilustrado pelas análises químicas efectuadas sobre ânforas lusitanas
recolhidas no Núcleo Arqueológico da Rua dos Correeiros e sua comparação com estudos composi-
cionais similares existentes para os centros produtores da Garrocheira, Porto dos Cacos e Quinta do
Rouxinol, cujos resultados colocaram em evidência a existência de um centro produtor desconhecido
que terá produzido contentores do tipo Haltern 70 (Dias et al., 2012).
Concretamente em relação à cidade de Lisboa, não existe, até agora, qualquer notícia da docu-
mentação de fornos de ânforas romanas na sua área urbana, ainda que tal seja perfeitamente possível e
até expectável, especialmente nos momentos mais precoces da sua produção. São vários os argumen-
tos a favor desta perspectiva: a existência de uma zona periurbana de cariz marcadamente industrial
onde se implantaram várias unidades dedicadas à produção piscícola e que utilizavam este tipo de con-
tentores para escoar os seus artigos; a documentação, nesta mesma área, de evidências da produção
cerâmica durante a fase pré-romana (Sousa, 2011) e na Época Islâmica (Bugalhão et al., 2003; Bugalhão
et al., 2004); e a existência de bons barreiros nas proximidades. Independentemente destas questões,
a produção oleira terá tido um papel nada despiciendo na economia regional.
Mas as ânforas lusitanas não foram utilizadas somente no transporte dos preparados à base de
peixe, destinavam-se também a envasar o vinho produzido no Vale do Tejo. A produção e exportação

18
Capítulo 2 O território

Porto Sabugueiro

Garrocheira

Colaride

Lisboa
Cascais Belém
Oeiras
Olho da
Au Cacilhas Telha Porto dos
orto Brandão Au Cacos
Almada Ponta do Mato
Quinta do
Rouxinol

Au
Olarias Salinas Cetárias Pedreira Ouro 0 30 km

Figura 2 – Mapa do Vale do Tejo com indicação dos centros produtores de ânforas e de preparados piscícolas,
zonas de exploração de sal (em épocas históricas recentes), de ouro e pedreiras.

deste artigo na região, embora incontestável, mantém-se ainda um tema pouco estudado e mal defini-
do nas suas distintas vertentes5. Através da referência de Estrabão (III, 3, 1) sabe-se que no séc. II a.C.
existiam no Vale do Tejo “belas vinhas”, o que, sendo uma informação interessante, não aporta con-
tributo substantivo, referindo-se além do mais a uma fase muito precoce da presença romana no Oci-
dente Peninsular. São igualmente escassos os dados relativos às estruturas de produção vinícola de
Época Romana: lagares de vinho, cuja distinção relativamente aos de azeite nem sempre se afigura fácil
(veja-se o caso do lagar da villa romana de Freiria: Cardoso, 2015, p. 133); e alfaias agrícolas, de carác-
ter demasiado polivalente para uma identificação categórica (Fabião, 1998a, p. 171). Por outro lado, as
representações iconográficas de motivos relacionados com videiras e parras ou com as actividades da
vindima, de que se conhece uma ilustrativa representação num sarcófago proveniente de Castanheira
do Ribatejo, em pleno Vale do Tejo (Maciel et al., 2002, p. 165-166, fig. 2), não correspondem necessaria-
mente a indícios da produção local de vinho, já que se trata de “temas recorrentes, relacionáveis com o
universo simbólico das sociedades” produtoras de vinho (Fabião, 1998a, p. 171).
Interessa aqui sobretudo perceber qual o peso que teve a produção vinícola na economia de Oli-
sipo e do Vale do Tejo, e o melhor instrumento actualmente disponível para tal é constituído pela análise
das ânforas vinárias locais/regionais. O principal contentor vinário da Lusitânia durante o Principado foi,

5. O tema foi amplamente desenvolvido por Carlos Fabião há cerca de 20 anos (Fabião, 1998a), num texto que se mantém em grande
medida ainda actualizado.

19
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

sem qualquer dúvida, a Lusitana 3 (v. infra), cujo fabrico se encontra bem atestado no Porto dos Cacos
(Raposo, 1990; Raposo et al., 1995; Raposo e Duarte, 1996; Raposo, 2017). Contudo, e apesar de esta
forma ser conhecida em diversos locais, a sua representatividade no consumo de vinho mantém-se
ainda relativamente mal definida. Este tema é abordado mais adiante neste trabalho, pelo que não me
alongarei aqui, limitando-me a referir que, no conjunto das ânforas que aqui se analisam, as Lusitana
3 têm um peso muito expressivo, sendo totalmente preponderantes no que ao consumo de vinho se
refere. Tendo em conta que não parecem surgir antes do início do séc. II d.C., poder-se-á inferir que
durante essa centúria e o início da seguinte a produção do vinho local/regional alcançou um desenvolvi-
mento muito significativo, suficiente para justificar a sua exportação em volumes que neste momento
são difíceis de determinar - mas que poderão ter alcançado quantidades bastante expressivas (veja-se
a sua representatividade em Hispalis: García Vargas, 2015; García Vargas, 2016a) - com expectável reper-
cussão na economia local.
Mas, como se comentará ao longo deste trabalho, no Vale do Tejo foram produzidos outros con-
tentores destinados a envasar vinho - embora não se tenham ainda identificado os correspondentes cen-
tros produtores na maior parte dos tipos -, designadamente as imitações de “Dressel 28”, de Dressel 2-4
e, aparentemente, também de ânforas de tipo Urceus. A estas, poder-se-á muito provavelmente juntar
a Haltern 70 lusitana, cujo conteúdo para já se desconhece mas que poderá ter sido o vinho (v. infra).
Trata-se maioritariamente de formas que terão circulado durante o séc. I d.C., recuando possivelmente
à segunda metade do séc. I a.C. no caso das imitações de Urceus e das Haltern 70. Ainda que em propor-
ções significativamente inferiores às que se viriam a observar durante o séc. II d.C., haverá que ter em
conta que a produção de vinho no Vale do Tejo terá alcançado um volume suficiente para justificar a sua
exportação numa fase mais antiga do que por norma se considera, o que constitui um indicador de que
a actividade vitivinícola terá tido um maior peso na economia regional do que habitualmente se admite.
Para além das vinhas, Estrabão (III, 3, 1) refere-se igualmente à fertilidade do Vale do Tejo, cuja pla-
nície aluvial constituiu historicamente um território de extrema aptidão à exploração agrícola. Lisboa terá
sido desde sempre um dos centros urbanos que mais beneficiou dessa exploração desenvolvida no Vale
do Tejo, onde o rio se constitui como o principal elemento. Mas a importância do rio no abastecimento à
cidade situada na sua foz não se circunscrevia à sua própria bacia ou aos produtos alimentares. Como bem
referiu Jorge Gaspar, “O Tejo, ao longo de séculos, até ao advento do Caminho de Ferro, drenou para o Porto
de Lisboa uma bacia económica mais ampla que a sua bacia hidrográfica - produtos de agricultura e pecuária,
da mineração e da transformação de variadas matérias-primas (…)” (Gaspar, 1994a, p. 13). No entorno de
Lisboa, a paisagem era caracterizada por colinas calcárias e montes vulcânicos, flanqueados por pequenas
linhas de água e por ricos vales aluviais, permitindo uma agricultura rica e variada, onde viria a pontuar
a cultura do cereal, da oliveira, da vinha e dos produtos hortícolas, mas também os pinhais e charnecas
abandonadas ao mato e pasto (Gaspar, 1994b, p. 12; Ribeiro, 1998, p. 154). Registe-se ainda a menção de
Plínio-o-Velho (4, 116; Guerra, 1995) às éguas de Olisipo, que “concebem do favónio”, numa clara alusão a
fertilidade daquelas, constituindo indício de uma certa importância da actividade pecuária na região.
A exploração da riqueza aurífera das areias do Tejo - aurifer Tagus -, de que vários autores clássicos
dão testemunho (Fernández Nieto, 1970-1971; Cardoso et al., 2011, p. 171), dos quais o mais famoso será
talvez o de Plínio-o-Velho (4, 115; Guerra, 1995), deverá ter constituído uma importante componente da
economia regional. Apesar do estado incipiente da arqueologia mineira na bacia do Tejo, o tema foi recen-
temente tratado (Cardoso et al., 2011, com indicações bibliográficas), pelo que se remete para esse tra-
balho a consulta dos principais aspectos relacionados com essa actividade, nomeadamente os distintos
tipos de extracção da época e a localização dos vestígios. Convirá, porém, referir que esta riqueza aurífera
e respectiva exploração se estende por uma vasta área geográfica, que abarca praticamente toda a bacia
hidrográfica do Tejo - incluindo naturalmente a Península de Lisboa -, onde estão documentados diversos
vestígios da extracção de ouro que em muitos casos provocaram alterações significativas nas paisagens
locais, designadamente nas “conheiras” de Vila de Rei e de Vila Velha de Rodão (Alarcão, 1988; Pereira,
2006; Guerra, 2009; Cardoso et al., 2011). Aparentemente, o período de maior actividade na exploração do
ouro aluvionar do Tejo ter-se-á situado entre o séc. I a.C. e o séc. II d.C. (Cardoso et al., 2011, p. 173), embora
o seu início possa recuar aos primórdios da ocupação romana do território (Fabião, 2014a, p. 9). Seja como
for, Olisipo deverá certamente ter recolhido importantes benefícios económicos desta exploração.

20
Capítulo 2 O território

Outra área de estudo regional que se encontra insuficientemente desenvolvida é a que se refere
à actividade extractiva de rochas ornamentais, maioritariamente destinadas à arquitectura mas tam-
bém à epigrafia e estatuária (Cardoso et al., 2011). Na cidade de Olisipo são inúmeras as evidências da
utilização em Época Romana do lioz e dos calcários cristalinos existentes na Península de Lisboa, sendo
particularmente visíveis nos inúmeros elementos arquitectónicos e na abundante colecção epigráfica
da cidade, de que se destaca a inscrição de Caius Heius Primus do Teatro Romano (Fernandes e Caessa,
2007; Silva, 2012a). Estas rochas ornamentais da área de Olisipo parecem inclusivamente ter conhecido
uma certa difusão, tendo já sido sugerida a sua presença em Santarém, Setúbal e Tróia (Silva, 2012a, p.
126), bem como em paragens tão distantes e diversas como Augusta Emerita e Península Itálica (Mañas
Romero e Fusco, 2008 apud Cardoso et al., 2011, p. 186). Paradoxalmente, as evidências da explora-
ção regional deste recurso parecem resumir-se actualmente à pedreira de Colaride, em Sintra (Coelho,
2002). Tendo em conta a sua ampla utilização na cidade de Lisboa e, principalmente, a sua difusão para
outras cidades da Lusitânia e para o Mediterrâneo central, salienta-se, por um lado, o facto de este tipo
de exploração ter atingido uma razoável importância na cidade da foz do Tejo, com óbvias e positivas
repercussões na economia local e, por outro, o papel que o porto de Olisipo e o Tejo desempenharam
na sua difusão. Refira-se ainda que na região foi também extraído o carbunculum (Plínio-o-Velho, 37,
97; Guerra, 1995), gemas de coloração do carvão incandescente que deverá corresponder à granada,
mineral que foi explorado no Monte Suímo, Amadora (Cardoso et al., 2011; Silva, 2012a).
As águas de Alfama, que aliás estão na origem deste topónimo, constituíram outra riqueza local
explorada na Antiguidade (Gaspar, 1994b). Os geógrafos árabes do séc. XI relataram que “Numa das
portas de Lisboa (al-Usbuña) conhecida por Portas das Termas (Bãb al-Hamma), há umas termas (hamma)
perto do mar, onde correm [duas águas]: água quente e água fria” (Sidarus e Rei, 2001, p. 45). Este tes-
temunho refere-se à parte oriental da cidade, justamente onde foram recentemente documentados
vestígios de estruturas termais (Filipe e Calado, 2007) e de uma estrutura hidráulica de Época Romana
(Filipe e Leitão, 2014; Filipe et al., 2014; Leitão et al., 2016), constituindo ambas uma clara evidência do
aproveitamento das condições hidrogeológicas do local durante a Antiguidade que, aliás, foram explo-
radas até ao séc. XX (Ramalho e Lourenço, 2005; Marrero-Díaz e Ramalho, 2015).
Abrigado das tempestades oceânicas pela área vestibular do Tejo, ladeado a poente pelo esteiro
e a Sul pelo rio, o sopé da colina do castelo reunia notáveis condições portuárias naturais que viriam a
estar na origem do seu crescimento e desenvolvimento. O porto de Olisipo, simultaneamente marítimo
e fluvial e que foi já considerado como o melhor porto natural da Hispânia (Cary, 1950 apud Mantas,
1990, p. 160), constituía uma escala obrigatória na navegação atlântica, tanto nas rotas de longo curso
como nas de cabotagem. De igual modo, assegurava o controlo sobre uma importante via de penetra-
ção natural ao amplo e rico território do interior e a sua ligação ao Atlântico.
A importância estratégica que o porto de Olisipo adquiriu na fase de conquista e pacificação do
território ocidental da Península Ibérica é indiscutível, tendo sido eloquentemente descrita por Estra-
bão em torno à viragem da Era (III, 3, 1) e sublinhada por vários investigadores (entre outros, Pimenta,
2005; Filipe, 2008a; Fabião, 2014a). Esta relevância ampliar-se-ia significativamente durante o Princi-
pado de Augusto com a criação da província da Lusitania e a fundação da sua capital Augusta Emerita,
funcionando então Olisipo como autêntica capital marítima da província (Mantas, 1990; Mantas, 1999).
Para além de principal via de abastecimento à capital provincial, o porto de Lisboa desempenhava igual-
mente um papel primordial na rota atlântica que estabelecia a ligação marítima entre o Mediterrâneo
e os territórios mais setentrionais do Império, certamente muito utilizada durante Augusto mas com
particular incremento durante as campanhas de Cláudio na Britannia.

21
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

3.
OLISIPO, ENTRE A REPÚBLICA E O PRINCIPADO:
ESTADO ATUAL DO CONHECIMENTO

3.1. Evolução da urbe entre a República e o Principado

A cidade romana de Olisipo desenvolveu-se no local onde se implantava o primitivo núcleo ur-
bano sidérico, já então de dimensão e importância consideráveis e cujas origens se deverão situar no
séc. VIII a.C., ainda que os vestígios antigos se enquadrem maioritariamente no séc. VII (Amaro, 1993;
Arruda et al., 2000; Arruda, 2002; Gomes et al., 2003; Calado, 2008; Calado et al., 2013; Filipe et al., 2014;
Pimenta et al., 2014c; Pimenta et al., 2015b; Sousa, 2015). O topónimo da cidade, de clara origem pré-
-romana, denuncia um carácter mediterrâneo, deixando antever a mesma realidade linguística e uma
relação de grande proximidade com a região da actual Andaluzia, onde o elemento “-ipo” está presente
no nome de diversos centros urbanos, como de resto acontece em parte da fachada ocidental Peninsu-
lar (Fabião, 1993; Guerra, 2000; Calado, 2008; Sousa, 2011).
Exceptuando a controversa menção de Políbio (10, 7, 4) à presença do exército cartaginês co-
mandado por Asdrúbal junto à foz do Tejo, onde, no contexto da segunda guerra púnica, terá invernado
em 210 a.C. - mas que Tito Lívio (26, 19, 20) coloca na região de Cádis pela mesma altura (v. comentários
em: Fabião, 1993, p. 210-211) -, as fontes clássicas são avaras em referências a Olisipo para o período
compreendido entre o desembarque de C. Cornélio Cipião em Ampúrias em 218 a.C. e a fase final das
guerras lusitanas.
A cidade da foz do Tejo surge explicitamente mencionada no Livro III da Geografia de Estrabão, onde
este descreve o rio e o estuário, enaltecendo a sua navegabilidade. O geógrafo de Amaseia refere-se à
primeira grande campanha militar romana no actual espaço português conduzida em 138 a.C. pelo gover-
nador da Ulterior, Décimo Júnio Bruto, que terá então estabelecido o seu quartel-general no Vale do Tejo
junto à cidade de Moron, não descurando, todavia, a retaguarda, tendo criado condições para garantir
um fácil abastecimento por via marítima ao seu exército através da fortificação de Olisipo (Fabião, 1993,
p. 217; Filipe, 2008a, p. 12). Desta fortificação nada se sabe para além da referência daquele autor clássico:
“Brutos, denominado o Galaico, utilizou esta cidade como a base das operações, quando entrou em guerra
contra os Lusitanos e os submeteu. Em seguida amuralhou Lisboa, nas margens do rio, para ter livres a nave-
gação e o acesso aos víveres. Estas cidades são também as maiores que se encontram junto ao Tejo.” (III, 3, 1).
A temerária investida do general romano constitui, simultaneamente, a mais arcaica referência
literária à presença romana no extremo Ocidente Peninsular e a primeira presença efectiva romana na
região do Vale do Tejo. Assim o indica, por um lado, a ausência de importações itálicas anteriores ao
terceiro quartel do séc. II a.C., por outro, a cronologia dos contextos arqueológicos republicanos mais
antigos até agora documentados no subsolo de Lisboa, apontando justamente para o terceiro quartel
do séc. II a.C., ou mais precisamente entre 140 e 130 a.C. (Pimenta, 2005). Ainda que seja igualmente ras-
treável em vários locais situados na vertente Sul e no sopé da colina (Pimenta et al., 2005; Filipe, 2008a;
Pimenta, 2014), esta primitiva ocupação, de carácter essencialmente militar, ter-se-á centrado sobretu-
do na zona da alcáçova islâmica do castelo (Pimenta, 2005; Filipe et al., 2013; Mota et al. 2014; Pimenta,
2014; Pimenta et al., 2014a; Silva 2014). Verifica-se, assim, a feliz conformidade do registo arqueológico
e da informação contida nas fontes literárias relativamente à mais precoce presença romana em Olisipo,
o que, diga-se, nem sempre acontece.
A utilização do Vale do Tejo como principal eixo de retaguarda na campanha militar de Décimo
Júnio Bruto em 138 a.C. demonstra, implicitamente, a pacificação do território a Sul do Tejo, situação

22
Capítulo 3 Olisipo, entre a República e o Principado: estado atual do conhecimento

que se viria a alterar significativamente a partir do final da segunda década do séc. I a.C., no contexto
das guerras sertorianas (82-72 a.C.) (Fabião, 1989). No espaço de tempo balizado por estes dois episó-
dios, as menções ao Ocidente hispânico são reduzidas, aparentemente inexistentes no caso de Olisipo,
resumindo-se a notícias dispersas no tempo e sem referências geográficas precisas, sobretudo rela-
cionadas com confrontos entre romanos e lusitanos, e à importante expedição de reconhecimento ao
Noroeste Peninsular conduzida por Públio Crasso em 96-94 a.C., que logrou então identificar o acesso
às ilhas Cassitérides, isto é, à região de extracção do estanho, cujo conhecimento constituía até essa
data um segredo cuidadosamente guardado pelos mercadores gaditanos (Alarcão, 1988; Fabião, 1989).
Mais do que um episódio de resistência local ao invasor, o denominado conflito sertoriano deverá
ser visto à luz das guerras civis romanas de início do séc. I a.C., correspondendo a uma extensão à área
Peninsular das contendas que opuseram distintos grupos políticos da República romana e concentran-
do-se fundamentalmente no actual território de Espanha e nas áreas meridionais do espaço português
(Alarcão, 1990; Fabião, 1993). Neste contexto, não é totalmente claro qual o papel que Olisipo e o Vale
do Tejo terão desempenhado durante estas guerras. O abandono ou expressiva perda de importância
de Chões de Alpompé, que deverá ter ocorrido no decurso ou no final das guerras civis (Fabião, 2014a),
comprova a existência de movimentações militares no Vale do Tejo durante este período. As transforma-
ções que terão ocorrido nesta região são igualmente rastreáveis na ocupação de outros locais do Vale do
Tejo, como é o caso do Alto dos Cacos (Pimenta et al., 2012; Guerra et al., 2014; Pimenta et al., 2014c), do
Monte dos Castelinhos (Pimenta, 2013; Pimenta e Mendes, 2014; Pimenta, 2015) ou da Quinta do Almaraz
(Barros e Henriques, 2002), com claros indícios de presença militar no caso dos dois primeiros. A conti-
nuidade de ocupação que se regista em cidades como Olisipo e Scallabis, que recua ao terceiro quartel
do séc. II a.C., dificulta a percepção actual do real impacto do episódio sertoriano nesses locais, sendo
expectável, tendo em conta a sua importância, que ambos centros urbanos se tenham envolvido directa
ou indirectamente nas referidas movimentações militares. Quanto à cidade da foz do Tejo, e como mais
à frente neste trabalho se terá oportunidade de verificar, não são observáveis especiais alterações no
perfil das importações anfóricas, correspondendo aparentemente a um período de quebra no consumo
de produtos exógenos transportados em ânforas. Haverá, todavia, que ter algum cuidado na interpre-
tação destes dados uma vez que esta leitura decorre de uma análise estatística. A inexistência naquelas
duas cidades de conjuntos artefactuais expressivos provenientes de contextos estratigráficos seguros e
datados da fase das guerras civis e dos períodos imediatamente anterior e posterior impossibilitam, na
realidade, a percepção de eventuais diferenças nos ritmos das importações anfóricas.
Em 61-60 d.C., no âmbito das operações militares empreendidas na região entre o Douro e o
Tejo contra os Lusitanos, Júlio César, então governador da Hispania Ulterior, estabeleceu o seu quartel-
-general em Scallabis, o que constituiu um reflexo da importância estratégica que o Vale do Tejo e,
neste contexto, a cidade de Scallabis em particular detinham no âmbito das campanhas militares de-
senvolvidas por Roma no Ocidente (Arruda e Almeida, 1998; Arruda e Almeida, 2001; Arruda et al., 2005;
Almeida, 2008). Não é ainda claro o papel desempenhado por Olisipo nestas acções, sendo, porém, ex-
pectável, tal como acontecera com Décimo Júnio Bruto, que a cidade da foz do Tejo tenha constituído
relevante ponto de apoio nas movimentações militares, mormente na aparentemente bem sucedida
expedição naval que então se efectuou às costas galegas (Alarcão, 1988; Fabião, 1989; Alarcão, 1990;
Fabião, 1993). Embora os contextos desta época conhecidos em Olisipo sejam escassos e pouco escla-
recedores, o perfil das importações anfóricas que se observa na cidade em torno a meados do séc. I a.C.
indica um significativo incremento na chegada de produtos alimentares envasados em ânforas, prova-
velmente relacionável com a presença daquele destacado general romano. Tal é igualmente verificável
nos importantes dados de diversos sítios do Vale do Tejo que nos últimos anos vêm sendo publicados,
tais como Monte dos Castelinhos (Pimenta, 2013; Pimenta e Mendes, 2014; Pimenta, 2015), Alto dos
Cacos (Pimenta et al., 2012; Guerra et al., 2014; Pimenta et al., 2014c) e Santarém (Arruda e Almeida,
1998; Arruda e Almeida, 2001; Arruda et al., 2005; Almeida, 2008), consolidando o conhecimento sobre
a ocupação romana nesta região durante este período. Datará ainda muito possivelmente do terço
central do séc. I a.C. o abandono generalizado da área da antiga alcáçova islâmica de Lisboa, que deverá
ter conhecido a partir de então uma função muito específica, certamente não habitacional e provavel-
mente de cariz religioso.

23
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Esta conjuntura positiva manteve-se ao longo de todo o terceiro quartel do séc. I a.C., tendo
Olisipo recebido entre 31 e 27 a.C. o importante estatuto jurídico-administrativo de municipium civium
romanorum e, com ele, a designação de Felicitas Iulia Olisipo (Faria, 1999, p. 37). Mas é principalmente
a Augusto que tradicionalmente se atribui o grande desenvolvimento urbanístico de Olisipo, resultante
das importantes reformas político-administrativas levadas a cabo no Ocidente hispânico por aquele que
é considerado como o primeiro imperador de Roma (Alarcão, 1990; Fabião, 1993; Alarcão, 1994; Man-
tas, 1994; Le Roux, 1995). A cidade da foz do Tejo, como todo o Ocidente, beneficiou de um conjunto
de eventos que ocorreu por esta altura e que resultaram na pacificação da Hispânia e na instituição da
pax romana, entre os quais se poderão mencionar as campanhas militares encetadas por Augusto na
Callaecia, Asturia e Cantabria, terminadas em 25 a.C. mas com focos de revolta que se estenderam até
19 a.C. (Alarcão, 1988; Fabião, 1993); a fundação de Augusta Emerita, presumivelmente em 25 a.C.6, e o
estabelecimento de veteranos de guerra nesta cidade (Faria, 2006); a fundação da própria província da
Lusitania, de cronologia controversa mas enquadrável algures entre 27 a.C., segundo Díon Cássio (LIII,
12, 4-5), e 16-13 a.C., altura em que Augusto terá permanecido na Hispânia (Tranoy, 1983; Alarcão, 1988);
e a criação de um programa de rede viária (Alarcão, 1988; Fabião, 1993).
Se até então o porto marítimo de Olisipo havia desempenhado um papel relevante no contexto
da navegação atlântica e do controlo sobre a navegação do rio Tejo, a partir da mencionada fundação
da capital provincial esse papel passará a ser determinante, constituindo-se verdadeiramente como a
capital marítima da Lusitania (Mantas, 1990; Mantas, 1999). É ao período de Augusto que tem sido atri-
buída a construção de alguns dos principais edifícios públicos de Felicitas Iulia Olisipo, como o teatro,
o fórum7, o designado templo de Cíbele e as Thermae Cassiorum (Alarcão, 1994; Fernandes, 1997; Silva,
1999; Bugalhão, 2001; Silva, 2005; Fernandes, 2007; Fernandes, 2013). Foi ainda no contexto desta con-
juntura económica extremamente favorável que se verificou nos vales dos rios Tejo e Sado o emergir,
a uma escala apreciável, da indústria piscícola lusitana e da respectiva produção de contentores anfó-
ricos, que se havia iniciado de forma incipiente em torno a meados do séc. I a.C. (v. infra) e que se viria
mais tarde a constituir como um dos principais motores da economia da Lusitânia.
Este panorama de expressivo desenvolvimento urbanístico e crescimento económico de Olisipo,
aparentemente extensível à generalidade do território da Lusitania, prolongou-se durante todo o
séc. I d.C., sendo parcialmente observável na construção da muralha Alto-Imperial, presumivelmente
construída no final do Principado de Tibério (Gaspar e Gomes, 2007, p. 693); nas obras de remodelação
e embelezamento do Teatro Romano, datadas de 57 d.C. pela inscrição do frons pulpitum do proscae-
nium, oferecida pelo augustal Caius Heius Primus que dedicou ao imperador as obras do proscaenium e
da orchestra (Fernandes, 2007; Fabião, 2013; Fernandes, 2013); na construção da imponente estrutura do
criptopórtico da Rua da Prata, sobre o qual se deveria erguer uma praça ligada às actividades portuárias
e comerciais (Fabião, 1994c; Ribeiro, 1994; Silva, 2012a), de cronologia incerta mas cuja datação foi já
proposto centrar-se nos principados de Tibério (Mantas, 1990; Ribeiro, 1994) ou de Cláudio (Silva, 1999);
na implementação de várias oficinas de preparados de peixe no suburbium ocidental e área ribeirinha da
cidade principalmente a partir de meados séc. I d.C., tendo muito provavelmente atingido a sua fase de
apogeu pelos finais desse século e, sobretudo, durante o séc. II (Amaro, 1982; Diogo e Trindade, 2000;
Bugalhão, 2001; Fernandes et al., 2011; Filipe et al., 2016); ou ainda possivelmente na construção do de-
nominado Templo de Cibele, presumivelmente enquadrável no séc. I d.C. (Alarcão, 1994; Mantas, 1994;
Ribeiro, 1994; Silva, 1999; Silva, 2005).
Felicitas Iulia Olisipo terá atingido durante esta centúria um certo apogeu, económico e social,
constituindo-se como uma cidade cosmopolita, desempenhando o papel de porto marítimo da capital
provincial e de importante entreposto comercial da fachada atlântica, estabelecendo a ligação entre
o Mediterrâneo e o Atlântico Norte, onde avultam os materiais oriundos das mais diversas regiões do
Mare Nostrum e onde não são raros os testemunhos epigráficos que dão conta da presença de cidadãos
provenientes de distantes paragens (Silva, 1944; Ribeiro, 1994; Mantas, 1990; Alarcão, 1994; Mantas,

6. Sobre a acesa polémica acerca da data de fundação daquela cidade, com indicações bibliográficas anteriores: Canto, 2005; Faria, 2006.
7. Desconhece-se ainda o local exacto onde se implantava o forum de Olisipo. Um ponto da situação sobre o tema e diferentes propostas
de localização, com indicações bibliográficas: Silva, 2005, p. 21-28.

24
Capítulo 3 Olisipo, entre a República e o Principado: estado atual do conhecimento

1999; Silva, 2005; Caessa e Encarnação, 2012; Reis, 2015), demonstrando o papel activo e central de
Lisboa nos complexos intercâmbios comerciais do Império Romano, particularmente no Ocidente Pe-
ninsular. Igualmente demonstrativo da relevância do porto de Olisipo é a sua rede viária, partindo desta
cidade dois dos três principais itinerários da Hispânia (Mantas, 1999).
A informação arqueológica e literária existente para todo o séc. II d.C. é significativamente mais
escassa do que para a fase anterior. A generalidade das oficinas piscícolas documentadas no casco
antigo da cidade parece ter estado em plena laboração durante a segunda centúria da nossa Era, fase
que corresponde aparentemente a um primeiro apogeu dessa indústria na Lusitania e que terá tido
início ainda no século precedente (Bugalhão, 2001; Fabião, 2009b; Mayet e Silva, 2010), indiciando uma
conjuntura económica positiva em Olisipo e na região. Do mesmo modo, e como adiante se terá opor-
tunidade de aprofundar, terá sido também no decorrer do séc. II d.C. que a produção vitivinícola das
regiões do Vale do Tejo e do Sado terá atingido um certo apogeu, prestando de igual forma um contri-
buto muito importante à economia da região.
O Circo Romano, identificado na actual Praça do Rossio e atribuído por alguns investigadores ao
séc. III d.C. (Sepúlveda et al., 2002; Vale e Fernandes 2002; Vale e Santos, 2003; Vale e Fernandes, 2017),
poderá, na perspectiva de outros (Silva, 1999; Silva, 2002; Silva, 2005; Silva, 2012a), ter sido construído
durante a dinastia Flávia ou Antonina. De igual forma, também se desconhece verdadeiramente a cro-
nologia do aqueduto romano que conduzia água da zona de Caneças para a cidade da foz do Tejo. A
proposta que localiza a sua construção no séc. III d.C. apresenta bases pouco sólidas (Almeida, 1969),
sendo expectável que esta estrutura, de substancial importância numa cidade com a dimensão e digni-
dade de Olisipo, tenha sido construída numa fase bem mais recuada (Alarcão, 1994; Silva, 2005).
Relativamente ao mundo funerário, na área do Núcleo Arqueológico da Rua dos Correeiros foi
documentada uma necrópole datada entre o último quartel do séc. I a.C. e meados do séc. I d.C. (Buga-
lhão et al., 2013), a mais antiga desta época até agora identificada na cidade. A necrópole da Praça da
Figueira, situada a noroeste do pomerium, corresponde ao espaço funerário romano mais amplamente
documentado em Olisipo, tendo sido continuamente utilizada desde cerca de meados do séc. I d.C. até
uma fase bem posterior à cronologia que aqui nos ocupa e prolongando-se pelo menos até à encosta de
Sant’Ana (Moita, 1994; Silva, 2002; Leitão, 2004; Muralha et al., 2002; Silva, 2005; Silva, 2012a). Do séc.
III d.C. data a única sepultura romana identificada nas escavações da Fundação Ricardo Espírito Santo e
Silva (Gomes e Sequeira, 2001; Silva, 2005), constituindo importante indício da existência de um espaço
sepulcral romano junto às Portas do Sol, área onde se haviam já recolhido algumas epígrafes funerárias
(Silva, 1944; Moita, 1994; Silva, 2005). No lado oriental da cidade, ladeando a via Olisipo-Scallabis, são
conhecidas algumas referências antigas, enquadráveis nos séculos XVII e XIX, que mencionam a exis-
tência de sepulturas romanas em Santa Apolónia e de uma estrutura abobadada, feita de argamassa e
contendo urnas de vidro e chumbo, que poderia corresponder a um columbário, a Sul do actual Campo
de Santa Clara (Castilho, 1939; Moita, 1994; Silva, 2005).
Mas é à epigrafia que se deve boa parte do conhecimento que actualmente se detém sobre a
antiga cidade romana de Lisboa, particularmente no que se refere à sociedade olisiponense, não se
observando aqui a carência de dados relativos ao séc. II d.C. a que acima se aludiu. O conjunto muito
significativo de epígrafes romanas até aqui registadas (reunidas sobretudo em: Silva, 1944) permite
entrever a existência de uma aristocracia com poder suficiente para controlar os cargos municipais,
ostentando uma antroponímia fundamentalmente latina, salientando-se um conjunto expressivo de
inscrições dedicadas a duúnviros e a edis; mas também de uma cidade que atingiu um relevante estatu-
to político, que terá inclusivamente suplantado o da capital conventual Scallabis, e de que as profusas
inscrições dedicadas a imperadores ou mencionando governadores da Lusitânia constituem eloquente
testemunho, reflectindo características análogas “às dos grandes centros económicos e administrati-
vos” (Mantas, 1990, p. 165-166; Mantas, 1994, p. 71: Mantas, 1999, p. 33).

25
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

4.
PRESSUPOSTOS METODOLÓGICOS

Na realização deste trabalho foram adoptados alguns critérios e opções metodológicas que será
conveniente explicitar. Partiu-se fundamentalmente de uma perspectiva de análise quantitativa, quali-
tativa e tipológica, assim ordenada em termos da sua relevância neste estudo pelos condicionalismos
próprios das amostras, a que adiante se fará alusão. A natureza da amostra global é extremamente he-
terogénea, sendo constituída por conjuntos procedentes de intervenções muito espaçadas no tempo
- desde os anos sessenta do século passado até 2014 - e realizadas em distintos âmbitos - arqueologia
de salvaguarda, projectos científicos -, coordenadas por diferentes profissionais com distintos enqua-
dramentos institucionais - arqueólogos da tutela, do Município de Lisboa, de empresas de arqueologia
e por profissionais independentes - e utilizando métodos de registo e de escavação diversos.
Naturalmente, na hora de homogeneizar todo este vasto e heterogéneo conjunto de dados sur-
gem algumas questões mais difíceis de ultrapassar, tendo-se procurado nesses casos uma solução que
permita, por um lado, não perder/omitir informação pertinente, por outro, assegurar a uniformização da
informação mais relevante. Assim, no que se refere, por exemplo, à tabela de inventário dos diferentes
conjuntos anfóricos, ao invés de um modelo único, comum a todos, optou-se por um inventário adap-
tado às distintas realidades em que os campos “Nº Inv.”, “Ano”, “Fragmento”, “Tipo” e “Procedência”
são comuns e transversais a todos eles, enquanto os campos relativos à proveniência estratigráfica
respeitam as diversas formas de registo utilizadas em cada sítio - UE, complexo, camada, plano; fases;
quadrado, sondagem. Os campos não preenchidos nas tabelas de inventário correspondem, salvo even-
tual erro do autor, a informação que se perdeu ou a que, por qualquer motivo, não foi possível aceder.
Outra contrariedade que advém da comentada diversidade de sítios estudados relaciona-se com
o local onde actualmente se encontram depositados os respectivos materiais, dispersos entre Teatro
Romano, Patriarcado de Lisboa, Sé Catedral, Castelo de São Jorge, Museu de Lisboa, Palácio Pimenta
(Museu da Cidade à altura em que iniciei este trabalho), Museu do Dinheiro, sedes de empresas, local
das intervenções (quando estas se encontravam ainda a decorrer) e depósitos do Centro de Arqueolo-
gia de Lisboa (CAL) - no Rego e na Rua do Barão. A impossibilidade de reunir no mesmo espaço todos
os materiais criou, naturalmente, algumas dificuldades na hora de estabelecer comparações entre algu-
mas peças e, principalmente, na análise das pastas.
O nível de tratamento em que se encontravam os materiais, igualmente diverso, está de igual
forma directamente relacionado com a heterogeneidade e proveniência dos conjuntos. Assim, se é cer-
to que em alguns casos os materiais se encontravam marcados e até inventariados, outros houve em
que foi necessário proceder à sua marcação e até lavagem. Com excepção de uma pequena parte dos
conjuntos, foi necessário proceder à triagem dos fragmentos de ânfora (bordos, fundos, asas ou ou-
tro elemento relevante como marcas, grafitos ou tituli picti) entre os inúmeros contentores dos sítios
analisados para, numa fase seguinte, se proceder à sua marcação, classificação e inventariação. Foram
também realizadas diversas colagens de peças, incluindo alguns contentores completos ou semicom-
pletos de que se destacam as peças da Sé Catedral, da Rua dos Remédios, das Termas dos Cássios, da
Casa dos Bicos e do Pátio José Pedreira.
No que se refere aos critérios de selecção dos materiais, procurou-se incluir o maior número
possível de conjuntos anfóricos/sítios, independentemente da quantidade de indivíduos e da qualida-
de do registo estratigráfico, tendo sido estudados todos os conjuntos a que foi possível ter acesso8.

8. Refira-se que, dos conjuntos significativos existentes em Lisboa, apenas não foi possível aceder aos materiais da escavação dos
Armazéns Sommer, por motivos compreensíveis, uma vez que essa intervenção terminou já numa fase adiantada da elaboração desta
tese e o tratamento do significativo volume de materiais que daí procedeu não era compatível com os prazos deste trabalho. Os

26
Capítulo 4 Pressupostos metodológicos

Esta opção assentou em três pressupostos: quanto maior a amostra, maior a sua representatividade
estatística; uma maior abrangência relativamente à proveniência dos materiais no espaço urbano e
periurbano de Olisipo resultaria, igualmente, numa maior representatividade da amostra e dos perfis
de importação e consumo na cidade; e que todos os materiais, mesmo os descontextualizados, são
detentores de um potencial informativo suficiente para justificar a sua utilização. Relativamente a esta
última questão, e como haverá oportunidade de especificar nas páginas seguintes, será conveniente ter
presente que a grande maioria dos fragmentos de ânfora incorporados neste estudo9 não provém de
contextos coevos com a sua produção e circulação, seja porque procedem de intervenções arqueológi-
cas sobre as quais, por um motivo ou por outro, não existe documentação, seja porque correspondiam,
no momento da sua recolha, a residualidades no registo arqueológico.
Este aspecto, caracterizador da amostra global de Olisipo, condicionou o tipo de abordagem que
se efectuou, que, necessariamente, privilegiou a análise quantitativa. Esta foi realizada individualmen-
te em cada um dos 40 conjuntos estudados e de forma mais desenvolvida para o conjunto global10 de
Lisboa. Na análise quantitativa de cada sítio haverá que ter em conta que, por um lado, e por razões
óbvias, nos conjuntos mais volumosos foi realizada uma análise mais desenvolvida e completa enquan-
to nas amostras mais reduzidas foram sublinhados apenas os aspectos mais relevantes; por outro, e
apesar do que acabou de se referir, que mesmo nos aludidos conjuntos mais expressivos se optou por
estabelecer apenas algumas comparações e paralelos, principalmente dentro do espaço de consumo
definido pela cidade de Lisboa, incluindo os conjuntos aqui analisados, procurando-se desta forma evi-
tar repetições constantes e desnecessárias, que são referidas e devidamente sublinhadas mais à frente,
nos capítulos finais de interpretação da amostra global.
Apesar das condicionantes acima mencionadas relativamente à escassez de materiais proceden-
tes de níveis preservados, foi efectuada uma análise qualitativa aos distintos conjuntos sempre que
existiam dados contextuais. Aqui, naturalmente, fez-se uso da informação relativa aos contextos de
proveniência, procurando-se definir as diacronias e sincronias que aqueles evidenciam. Com os dados
desta análise, a que se adicionou a informação contextual já conhecida de alguns sítios de Olisipo, pro-
curou-se, dentro de limites razoáveis, matizar os dados puramente estatísticos resultantes da quantifi-
cação da amostra global e enquadrá-los numa perspectiva de análise mais qualitativa.
Sobre os aludidos (escassos) contextos de Época Romana, é importante sublinhar algumas ques-
tões. Desde logo, que em muitos deles se observam balizas cronológicas demasiado amplas, o que resulta
geralmente do estado incipiente em que se encontra a sistematização desses dados contextuais. Ainda
em relação aos contextos preservados a que se faz alusão na descrição de cada sítio, apenas se refere a
sua cronologia, independentemente dos seus maiores ou menores limites diacrónicos, não se especifican-
do, em regra, quais os materiais que permitiram aferir tais cronologias, para além das ânforas. Tal deve-
-se fundamentalmente ao facto de essa informação, para além de inédita, não estar ainda totalmente
disponível ou sistematizada na generalidade dos casos, não cabendo, de igual forma, realizar essa tarefa
no âmbito desta tese. Existem, por outro lado, alguns níveis que possuem balizas cronológicas bem defi-
nidas e que, em alguns casos, foram inclusivamente já publicados, tendo esse trabalho sido desenvolvido
parcialmente no âmbito deste estudo. Tal é o caso dos contextos dos séculos II e III d.C. da Casa dos Bicos
(Filipe et al., 2016), do séc. I d.C. da Praça da Figueira (Silva et al., 2016), dos séculos I e II d.C. da Rua de
São Mamede (Mota et al., 2017) ou da recente intervenção na Rua das Pedras Negras (Gomes et al., 2017).
Para uma melhor organização e tratamento da informação, optou-se por desenvolver separada-
mente os dados da República e os do Principado nos capítulos finais, tendo-se, de igual modo, estrutura-
do cronologicamente a apresentação e descrição dos tipos documentados, que, por sua vez, respeitam
uma sequência essencialmente geográfica: de ocidente para oriente. Os sítios estudados foram, grosso
modo, organizados de Norte para Sul e de Oeste para Este.

restantes sítios com amostras anfóricas expressivas, tais como a Casa dos Bicos (intervenção dos anos 80 do séc. XX), o BCP/Rua dos
Correeiros ou o Beco do Forno do Castelo, encontravam-se já a ser estudados por outros investigadores.
9. Seguramente para cima de 75% da amostra.
10. O conjunto global de Olisipo, expressão que se utiliza recorrentemente no desenvolvimento deste trabalho, corresponde à totalidade
da amostra analisada, composta pelos materiais das 40 intervenções.

27
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

50
45
40

55

65
60

70

75

85
80
60

65

70

75
2

75
35
75

85

85 60

90 90

80
80
38

85
3 75

4
70

37

80
90

36
90

95

34
90

35 33 32
31
5
30

39
6
14
7 12 16 15
13 17
8 21

40
24 26
18 27
25 28
22 29
9 19
11 20
23

10

jo
Te
o
Ri
0 200 m

Figura 3 – Planta de Lisboa com a localização dos sítios estudados.

Considerou-se pertinente a inclusão de um mapa do actual território português com a dispersão


de cada um dos tipos atestados em Lisboa, essencialmente por duas razões: por um lado, a relevância
que sempre tem a percepção da difusão de determinado tipo no território, permitindo uma melhor per-
cepção das principais vias e a intensidade da sua disseminação; por outro, porque a imensa diversidade
de tipolos documentada em Olisipo concede a rara oportunidade de, num único trabalho, cartografar
a distribuição de praticamente todos os tipos que se registam em Portugal. Ainda relativamente aos
mapas de difusão de ânforas, optou-se por ilustrar à escala do Império apenas a difusão dos principais
tipos lusitanos, sem pretensões de exaustividade.
Quanto à classificação das ânforas, foi efectuada sistematicamente com base em critérios de
morfologia e de fabrico, tendo sido usadas as tabelas tipológicas que se consideraram mais operativas
e que mais recorrentemente são utilizadas pela comunidade científica neste tipo de estudos, à seme-
lhança, por exemplo, do que se pode observar no projecto Amphorae ex Hispania. Refira-se que uma
parte significativa dos materiais se encontra muito fragmentado, o que colocou algumas dificuldades
na sua correcta classificação tipológica. Procedeu-se ainda à caracterização de um tipo lusitana até aqui

28
Capítulo 4 Pressupostos metodológicos

Nº Sítio CNS Cap. desconhecido, interpretad0 como uma


Anexo
1 Rua dos Lagares 35668 5.1 imitação local/regional das ânforas béticas
I.1
2 Encosta de Sant’Ana 16117 5.2 de tipo Urceus com base em critérios mor-
I.2
3 Circo Romano 16704 5.3 I.3
fológicos e de fabrico, mas também com
Praça da Figueira (1962) 1925 5.4.1
4
Praça da Figueira (2000)
1.4
1925 5.4.2
base nos dados contextuais e cronológi-
5 Hotel de Santa Justa 33825
I.5 5.5 cos disponíveis.
6 Rua do Ouro, 197 35341
I.6 5.6 Na definição dos diversos grupos
7 Rua Augusta (1988) 36212
--- 5.7 das regiões produtoras optou-se conscien-
8 Rua do Ouro, 133-145 35338
I.8 5.8 temente por distintos níveis de pormenor,
9 Zara, Rua Augusta 15596
1.9 5.9
10 Banco de Portugal 31081
I.10 5.10
isto é, se em alguns casos as ânforas são
11 Criptopórtico 6083
I.11 5.11 atribuídas a áreas concretas de produção,
12 Rua das Pedras Negras, 22-28 (1990’) 1191
I.12 5.12 como acontece, por exemplo, com as pro-
13 Rua das Pedras Negras, 35-41 (2013) 35365
I.13 5.13 duções lusitanas (Tejo/Sado ou Peniche)
14 Escadinhas de São Crispim 34675)
I.14 5.14 e béticas (Guadalquivir, costa ocidental e
15 Rua de São Mamede sem CNS
I.15 5.15
costa oriental), outros há em que se optou
16 Palácio dos Condes de Penafiel 19769
I.16 5.16
17 Calçada do Correio Velho 13833
--- 5.17 por definições mais genéricas e que se re-
18 Largo de Santo António da Sé 10632
I.18 5.18 ferem a áreas geográficas mais alargadas,
19 Rua da Madalena, 54-60 34959
I.19 5.19 incorporando, na realidade, múltiplas áreas
20 Rua dos Bacalhoeiros, 32 35339
I.20 5.20 produtoras, como é o caso do “Mediterrâ-
21 Teatro Romano de Lisboa 327
I.21 5.21
neo Oriental” e do “Norte de África”. Esta
22 Claustros da Sé 3229
1.22 5.22
23 Casa dos Bicos (2010) 274
1.23 5.23 opção reflecte, por um lado, distintos níveis
24 Travessa das Merceeiras, 27 35345
--- 5.24 de conhecimento dos fabricos das diversas
25 Beco do Marquês de Angeja 22400
I.25 5.25 áreas do Mediterrâneo, existindo uma re-
26 Pátio da Sr.ª de Murça 6428
I.26 5.26 lação directa de proporcionalidade entre
27 Rua de São João da Praça (2009) sem CNS
I.27 5.27
nível de conhecimento e representativi-
28 Rua de São João da Praça (2001) 16194
I.28 5.28
29 Palácio do Marquês de Angeja 34831
I.29 5.29 dade das diferentes regiões; por outro, a
30 Fundação Ricardo Espírito Santo e Silva 15643)
--- 5.30 consciência de que, tanto no Mediterrâneo
31 Rua do Recolhimento, 35 35336
I.31 5.31 Oriental como no Norte de África, se obser-
32 Pátio José Pedreira 11658
I.32 5.32 va a existência de múltiplos centros produ-
33 Rua de Santa Cruz do Castelo, 29 35717
--- 5.33
tores, dispersos por extensos territórios,
34 Rua do Espírito Santo 13306
I.34 5.34
35 Palácio das Cozinhas 13306
--- 5.35 fabricando muitas vezes os mesmos tipos
36 Grupo Desportivo do Castelo sem CNS
--- 5.36 de ânforas e com pastas similares - veja-
37 Largo de Santa Cruz do Castelo 33538
--- 5.37 -se, por exemplo, o caso das Tardo-Ródias/
38 Praça Nova 1101
I.38 5.38 Camulodunum 184, produzidas em diversos
39 Rua dos Remédios, 1-3 37459
I.39 5.39
locais para além da Ilha de Rodes, ou ain-
Figura 3 (cont.) – Sítios estudados.
da a questão da Tripolitana Antiga, assim
designada por referência à área onde era
produzida e entretanto renomeada para
Africana Antiga precisamente porque o seu fabrico não se limitava apenas à Tripolitânia, estendendo-se
também ao território da actual Tunísia. Acresce ainda o facto de, para alguns dos tipos daquelas regiões,
não se conhecer ainda o local onde foram produzidas - veja-se, a título de exemplo, e apenas para referir
tipos que foram identificados em Lisboa, os casos da Dressel 25, da Kapitän 2 ou ainda dos contentores
monoansados com pastas claras (v. infra), como é o caso do exemplar da Praça da Figueira. Contudo, não
deixou de se fazer alusão às questões específicas dos locais de produção em cada um dos tipos daquelas
áreas.
Ainda relativamente às regiões de produção, a respectiva atribuição de origem a cada fragmento
baseou-se em critérios de fabrico. Procedeu-se à análise macroscópica das pastas de todas as peças com
uma lupa de 15 aumentos e à sua atribuição a determinada região com base em critérios como o tipo de
pasta, a forma, natureza e frequência dos elementos não plásticos, a cozedura, o tratamento das super-
fícies e a cor. Optou-se por não proceder à individualização e respectiva descrição de diferentes grupos
de fabrico no âmbito de cada uma das regiões produtoras, devido à grande quantidade e diversidade
de materiais analisados e ao facto de estes se encontrarem dispersos por inúmeras instituições sem

29
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

possibilidade de os reunir no mesmo espaço, mas, sobretudo, pela impossibilidade de realizar análises
petrográficas e/ou químicas que permitam a atribuição dos materiais a centros produtores concretos
ou, pelo menos, a áreas bem delimitadas no âmbito das regiões de produção conhecidas. Tendo em
conta esta impossibilidade e a relatividade de que se revestem as análises macroscópicas a este nível de
detalhe (veja-se, por exemplo, a questão das pastas do Tejo e do Sado, não diferenciáveis sem recurso
a análises químicas), considerou-se, pois, que os resultados que se poderiam alcançar não justificavam
o tempo e esforço suplementares que seria necessário despender na sua execução, remetendo-se para
estudos futuros a realização de análises petrográficas e químicas às pastas das ânforas de Lisboa.
Relativamente ao método de quantificação utilizado, privilegiou-se a análise por Número Mínimo
de Indivíduos (NMI), estabelecido no Protocolo de Mont Beuvray em 1998 (Arcelin e Tuffreau-Libre,
1998). Resumidamente, o NMI é determinado pela contagem do elemento mais frequente (bordos,
asas, fundos) de entre cada tipo. Uma das principais vantagens deste método relativamente a outros -
Estimated Vessel Equivalent (EVE), número máximo de indivíduos (nmi), pesagem e contagem de frag-
mentos… - de análoga fiabilidade (Molina Vidal, 1997), consiste na sua generalizada maior utilização,
particularmente no actual território português, facilitando, por esse motivo, a comparação com os da-
dos de um maior número de sítios arqueológicos, o que motivou em grande medida a sua adopção
neste estudo.
Foram concebidos dois tipos de tabelas de quantificação11, uma organizada por região de produ-
ção e outra estruturada por conteúdo. Quanto à primeira, os tipos são agrupados por região produtora
e é indicado o número total de fragmentos (“TF”) e o NMI, bem como as respectivas percentagens. A
partir do NMI foi calculada e apresentada em campos individuais a percentagem de cada tipo na sua
região de produção (“% NMI região”) e na província de origem (“% NMI província”), reservando-se o
último campo à percentagem de cada tipo no âmbito das importações extraprovinciais. Este modelo é
replicado na tabela por conteúdo, desenvolvendo-se os mesmos campos mas agrupando os diversos
tipos por conteúdo. Com excepção de um ou outro conjunto de reduzida dimensão, os materiais são
divididos por período - República e Principado - e apresentados em tabelas de quantificação separadas,
antecedidas de uma tabela com a totalidade das ânforas de cada sítio. Estas foram utilizadas individual-
mente para cada um dos 40 conjuntos analisados e para a representação da totalidade das amostras,
ou seja, do conjunto global das ânforas de Olisipo.
A opção de não ensaiar quantificações por contexto estratigráfico deve-se principalmente ao fac-
to de em parte muito significativa dos sítios se verificar a total ausência de níveis balizados entre a Re-
pública e o Principado, ou a inexistência de coordenadas estratigráficas, ou ainda um índice muito alto
de residualidade e de materiais descontextualizados. Por outras palavras, a quantificação por contexto
estratigráfico apenas seria possível num muito reduzido conjunto de sítios e, mesmo nesses, apenas
uma pequena parte dos respectivos conjuntos seria quantificável devido à questão da residualidade.
No que se refere à apresentação dos desenhos dos materiais, optou-se pelo mesmo tipo de es-
truturação e organização que genericamente se seguiu no restante trabalho. Organizados em estam-
pas por sítio arqueológico, tendo estes últimos igual sequência à do corpo de texto, privilegiou-se a sua
apresentação por contexto (sempre que existe), área de produção (de ocidente para oriente) e tipo,
procurando sempre respeitar uma coerência cronológica. Relativamente aos contextos, assinala-se na
legenda qual o contexto de procedência e respectiva cronologia. Note-se que apenas se individualiza-
ram nas estampas os contextos minimamente expressivos em termos quantitativos e aqueles cuja cro-
nologia não apresenta balizas demasiado largas. Na legenda, é indicada a região produtora e a classifi-
cação tipológica de cada exemplar desenhado, com referência ao respectivo número de inventário que
acompanha o desenho de cada peça. Caberá esclarecer que não se procedeu ao desenho de todas as
peças, nem tão pouco de todos os bordos, já que, para além da quantidade imensa de materiais, trata-
-se na sua esmagadora maioria de tipos bastante estandardizados, nomeadamente as formas melhor
representadas na amostra estudada (Dressel 14, Lusitana 3, Dressel 20…). Acrescente-se que, como já

11. Estas tabelas seguem basicamente o modelo utilizado em trabalhos anteriores (Almeida e Filipe, 2013; Gomes et al., 2017), que,
por sua vez, se baseiam sobretudo nas tabelas de quantificação utilizadas por Rui Almeida no estudo sobre os tipos minoritários do
Guadalquivir em Santarém (Almeida, 2008).

30
Capítulo 4 Pressupostos metodológicos

mencionado, uma parte muito significativa dos materiais corresponde a fragmentos de reduzida e, por
vezes, muito reduzida dimensão.
Não será menos importante referir que alguns dos conjuntos que aqui se estudam foram, numa
fase inicial, trabalhados conjuntamente com Rui Almeida, tendo-se, nesse contexto, procedido à tria-
gem, classificação e inventariação das amostras provenientes da Rua das Pedras Negras (1991), Zara,
Rua de São Mamede, Rua de São João da Praça (2009), Palácio dos Condes de Penafiel, Hotel de Santa
Justa, Casa dos Bicos, Rua Augusta, Escadinhas de São Crispim, Calçada do Correio Velho e antigas e
recentes escavações da Praça da Figueira. Nestes sítios não procedi ao registo gráfico dos materiais
provenientes do Vale do Guadalquivir, salvo alguns exemplares normalmente provenientes de alguns
dos contextos preservados ou aqueles que foram entretanto alvo de publicação (Almeida e Filipe, 2013;
Fabião et al., 2016; Filipe et al., 2016; Silva et al., 2016; Mota et al., 2017), uma vez que o estudo daquele
investigador incide precisamente sobre as produções daquela área, não fazendo sentido, na minha
óptica, duplicar o registo daqueles materiais. Por motivos vários, que não interessará aqui explicitar, o
referido trabalho não foi ainda concluído. Naturalmente, apesar do exposto, a ausência neste trabalho
da representação gráfica da grande maioria das ânforas do Guadalquivir dos aludidos sítios é unicamen-
te da responsabilidade do autor. Por fim, será de igual modo conveniente explicitar que se estabeleceu
um limite cronológico para a bibliografia consultável, situado sensivelmente em meados do ano 2017, o
que facilmente se explicará tendo em conta que, por um lado, nessa data já se havia concluído um volu-
me muito importante de texto, por outro, que a inclusão de trabalhos com data posterior - não só nacio-
nais mas também de outros países - implicaria repetidas e intermináveis revisões ao presente estudo.

31
OS SÍTIOS E
OS MATERIAIS II
.
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

5.
INTERVENÇÕES, CONTEXTOS ARQUEOLÓGICOS E
CONJUNTOS ANFÓRICOS

5.1. Rua dos Lagares (anexo I.1)

A intervenção arqueológica da Rua dos Lagares decorreu no âmbito do projecto de reabilitação


de um conjunto de edifícios no bairro da Mouraria entre 2016 e 2017, tendo sido coordenada por Ana-
bela Castro. O local implanta-se no espaço extramuros da cidade romana de Olisipo, numa pequena
plataforma situada não muito longe do sopé da vertente Oeste da colina da Graça, a Norte do morro do
Castelo. Os vestígios desta época foram identificados no interior do edifício nº 45 da Rua dos Lagares e
em área contígua na via pública, em frente ao nº 37.
A documentação de contextos de Época Romana nesta zona da cidade constitui-se como uma
novidade, não sendo aí conhecidos quaisquer vestígios desse período. Durante os trabalhos de escava-
ção foram registados níveis de ocupação genericamente enquadráveis entre a dinastia Júlio-Cláudia e o
séc. II, localizados em áreas distintas mas adjacentes. A primeira situa-se na Rua dos Lagares, em plena
via, junto ao edifício nº 37, a segunda, no interior do nº 45. Os contextos correspondem, no primeiro
caso, a uma sequência de dois depósitos onde se recolheram apenas alguns fragmentos de ímbrice e
de ânfora, sobrepostos por estratos de Época Medieval. Já no interior do mencionado edifício, foi docu-
mentado um muro ao qual se associava uma sequência estratigráfica pouco potente, onde se recolhe-
ram somente cerâmicas da Época Romana. A funcionalidade desta estrutura é de difícil determinação
com base nos dados colectados, sendo que a reduzida altura conservada, aliada à inexistência de pa-
vimentos associados, sugere que aquela apenas se tenha preservado ao nível do alicerce. Os materiais
são escassos e muito fragmentados, dificultando o estabelecimento de cronologias finas, e incluem
terra sigillata, cerâmica comum e de construção, para além das ânforas.
O conjunto anfórico proveniente desta escavação é extremamente reduzido, sem qualquer tipo de
fiabilidade estatística e composto unicamente por contentores alto-imperiais. No total, contabilizaram-se
oito fragmentos classificáveis de ânfora (cinco bordos e quatro asas), equivalentes a um número mínimo
de seis indivíduos. Foi ainda contabilizado um fragmento de parede por se constituir como o único teste-
munho da presença de ânforas tirrénicas no conjunto, informação que se considera pertinente incluir na
reduzida amostra.Tendo em conta a sua reduzida dimensão, as observações que se poderão fazer são me-
ramente expositivas. Os tipos presentes são a Dressel 14 lusitana e a Dressel 20 bética, podendo o fragmen-
to de parede de produção tirrénica corresponder (mais provavelmente) a um contentor de tipo de tipo
Dressel 2-4 ou, mais dificilmente, Greco-Itálico ou Dressel 1. As oleárias do Vale do Guadalquivir dominam

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI
região província extraprov.
Dressel 14 4 44,44% 2 33,33% 100% 100%
Lusitânia, Tejo/Sado
Total 4 44,44% 2 33,33% 100% 100%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 3 33,33% 2 33,33% 66,67% 66,67% 50%
Bética, Vale do Guadalquivir Dressel 20 (Flávia-Trajana) 1 11,11% 1 16,67% 33,33% 33,33% 25%
Total 4 44,44% 3 50% 100% 100% 75%
Indeterminado 1 11,11% 1 16,67% 100% 100% 25%
Península Itálica, costa tirrénica
Total 1 11,11% 1 16,67% 100% 100% 25%
TOTAL 9 100% 6 100% 100%

Tabela 1 – Quantificação da totalidade das ânforas da Rua dos Lagares.

34
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

a amostra com 50% dos indivíduos, observando-se a presença das variantes Júlio-Cláudia (33,33%) e
Flávia-Trajana (16,67%); enquanto os envases piscícolas de produção local e regional significam 33,33%.
As importações da Península Itálica representam 16,67% do conjunto. Assim, as ânforas oleícolas cons-
tituem-se como as mais representadas (60%), correspondendo os restantes 40% a envases piscícolas.
Em termos gerais, esta pequena amostra aponta para uma cronologia posterior a meados do séc.
I d.C. e que não deverá ultrapassar os meados da centúria seguinte.

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Dressel 14 2 40% 100% 100% 100%
Preparados Lusitânia, Tejo/Sado
Total 2 40% 100% 100% 100%
piscícolas
Total 2 40% 100%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 2 40% 66,67% 66,67% 66,67%
Bética, Vale do Guadalquivir Dressel 20 (Flávia-Trajana) 1 20% 33,33% 33,33% 33,33%
Azeite
Total 3 60% 100% 100% 100%
Total 3 60% 100%
TOTAL 5 100%

Tabela 2 - Quantificação por conteúdo da totalidade das ânforas do Largo da Rua dos Lagares.

6
2 9

3
5
1 10cm

Estampa
Estampa 1 - Largo
1 – Largo das Olarias/Rua
das Olarias/Rua dos Lagares.
dos Lagares. Lusitânia:
Lusitânia: Dressel Dressel
14 (6, 5,141). 5, 1). Bética,
(6,Bética, Vale dovale do
Guadalquivir:
Guadalquivir: Dressel 20 Júlio-Cláudia (2, 9), Dressel 20 Flávia-Trajana (3).
Dressel 20 Júlio-Cláudia (2, 9), Dressel 20 Flávia-Trajana (3).

5.2. Encosta de Sant’Ana - 2002 e 2004/2006 (anexo I.2)

Situado no sopé da vertente oriental da encosta de Sant’Ana, no lado poente do Martim Moniz,
o sítio assim designado foi arqueologicamente intervencionado na sequência do projecto de loteamen-
to promovido pela Empresa Pública de Urbanismo de Lisboa (EPUL). Durante a primeira campanha de
escavação, realizada em 2002 e coordenada por João Muralha e Cláudia Costa, foram documentadas
evidências de ocupação durante a Época Moderna, Medieval (cristã e islâmica) e Romana, bem como do
Neolítico e da Idade do Bronze, constituindo-se então estas últimas como uma novidade naquela área
da cidade (Muralha et al., 2002; Angelucci et al., 2004; Muralha e Costa, 2006). Sucedeu-se uma segunda
campanha entre 2004 e 2006, da responsabilidade científica de Manuela Leitão e Vasco Leitão, onde se
viriam também a registar diversos vestígios das mesmas épocas (Leitão, 2004; Leitão e Henriques, 2014).
Relativamente à Época Romana, que aqui interessa directamente, as evidências detectadas em
2002 relacionam-se com: a necrópole noroeste de Olisipo, já anteriormente reconhecida na Praça da Fi-
gueira e escavada por Bandeira Ferreira e Irisalva Moita na década de 60 do séc. XX (Moita, 1968; Almei-
da e Filipe, 2013) e por R. Banha da Silva e Marina Carvalhinhos entre 1999 e 2001 (Silva, 2005; Silva 2012),

35
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

tendo agora sido registada a existência de um ustrinum, um bustum, urnas de incineração e sepulturas
de inumação, comprovando o seu desenvolvimento até ao Martim Moniz e a sua utilização entre o séc.
I d.C. e o III; um troço de via secundária, orientada a Sul-Norte, que terá permanecido em utilização até
Época Islâmica e cuja construção se deverá ter situado no início do séc. I d.C.; e com um poço, interpre-
tado pelos responsáveis da intervenção como destinado à extracção de argilas do substrato margoso
que ali se observa, que terá sido abandonado durante o séc. III (Muralha et al., 2002; Muralha e Costa,
2004; Costa et al., 2006; Gonçalves et al., 2010).

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 10 8,55% 5 7,94% 29,41% 27,78%
Haltern 70 1 0,85% 1 1,59% 5,88% 5,56%
Dressel 14 17 14,53% 6 9,52% 35,29% 33,3%
Lusitânia, Tejo/Sado
Lusitana 3 7 5,98% 3 4,76% 17,65% 16,67%
Indeterminado 3 2,56% 2 3,17% 11,76% 11%
Total 38 32,48% 17 26,98% 100%
Indeterminado 1 0,85% 1 1,59% 100% 5,56%
Lusitânia, Peniche
Total 1 0,85% 1 1,59% 100% 100%
Dressel 7-11 4 3,42% 1 1,59% 25% 3,13% 2,33%
Dressel 9 1 0,85% 1 1,59% 25% 3,13% 2,33%
Bética, costa ocidental Beltrán IIA 1 0,85% 1 1,59% 25% 3,13% 2,33%
Indeterminado 5 4,27% 1 1,59% 25% 3,13% 2,33%
Total 11 9,4% 4 6,35% 100% 9,3%
Oberaden 83/Ovóide 7 1 0,85% 1 1,59% 3,57% 3,13% 2,33%
Oberaden 83/Ovóide 7 - Haltern 71 1 0,85% 1 1,59% 3,57% 3,13% 2,33%
Ovóide indeterminada 3 2,56% 2 3,17% 7,14% 6,25% 4,65%
Haltern 70 18 15,38% 4 6,35% 14,29% 12,5% 9,3%
Haltern 70 (Augusto-Tibério) 3 2,56% 3 4,76% 10,71% 9,38% 6,98%
Verulamium 1908 1 0,85% 1 1,59% 3,57% 3,13% 2,33%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 2 1,71% 2 3,17% 7,14% 6,25% 4,65%
Dressel 20 (Nero-Vespasiano) 1 0,85% 1 1,59% 3,57% 3,13% 2,33%
Bética, Vale do Guadalquivir Dressel 20 (Flávia-Trajana) 2 1,71% 2 3,17% 7,14% 6,25% 4,65%
Dressel 20 (Antonina) 2 1,71% 2 3,17% 7,14% 6,25% 4,65%
Dressel 20 (séc. III) 2 1,71% 1 1,59% 3,57% 3,13% 2,33%
Dressel 20 8 6,84% 4 6,35% 14,29% 12,5% 9,3%
Dressel 20 parva (Júlio-Cláudia) 1 0,85% 1 1,59% 3,57% 3,13% 2,33%
Dressel 20 parva (Antonina) 1 0,85% 1 1,59% 3,57% 3,13% 2,33%
Dressel 20 parva 1 0,85% 1 1,59% 3,57% 3,13% 2,33%
Indeterminado 1 0,85% 1 1,59% 3,57% 3,13% 2,33%
Total 48 41,03% 28 44,44% 100% 100% 65,12%
Hispânia Ulterior, T-7.4.3.3. 2 1,71% 1 1,59% 100% 100% 2,33%
costa meridional Total 2 1,71% 1 1,59% 100% 100% 2,33%
Gauloise 4 3 2,56% 2 3,17% 100% 100% 4,65%
Gália Narbonense
Total 3 2,56% 2 3,17% 100% 100% 4,65%
Dressel 1 3 2,56% 1 1,59% 33,33% 20% 2,38%
Península Itálica, Dressel 2-4 2 1,71% 1 1,59% 33,33% 20% 2,33%
costa tirrénica Indeterminado 1 0,85% 1 1,59% 33,33% 20% 2,33%
Total 6 5,13% 3 4,76% 100% 7,03%
Península Itálica, Brindisi 2 1,71% 2 3,17% 100% 40% 4,65%
costa adriática Total 2 1,71% 2 3,17% 100% 100% 4,65%
Indeterminado 1 0,85% 1 1,59% 100% 100% 2,33%
Norte de África
Total 1 0,85% 1 1,59% 100% 100% 2,33%
Tardo-Ródia/Camulodunum 184 1 0,85% 1 1,59% 50% 50% 2,33%
Mediterrâneo Oriental Indeterminado 1 0,85% 1 1,59% 50% 50% 2,33%
Total 2 1,71% 2 3,17% 100% 100% 4,65%
Indeterminado 3 2,56% 2 3,17% 100% 100%
Indeterminada
Total 3 2,56% 2 3,17% 100% 100%
TOTAL 117 100% 63 100% 100%

Tabela 3 – Quantificação da totalidade das ânforas da Encosta de Sant’Ana.

36
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

Na intervenção de 2004/2005 foram igualmente documentados restos de ustrina, um bustum e


sobretudo sepulturas de inumação, abrangendo um arco cronológico que se estende do séc. I d.C. ao
III. Para além do troço de via secundária orientada a Sul-Norte, previamente documentado na inter-
venção de 2002, foram ainda identificados vestígios de uma outra via secundária perpendicular àquela,
igualmente em uso até Época Islâmica (Leitão, 2004; Calado e Leitão, 2005)12.
Embora apresentando níveis distintos do tratamento e publicação dos dados colectados durante a
escavação, em ambas as campanhas se mantém ainda por efectuar a sistematização da informação rela-
tiva aos contextos de Época Romana, sobretudo no que se refere à definição das cronologias. Acresce o
facto de a maioria dos materiais proceder da última campanha, para a qual o número de publicações é mais
escasso. Como tal, a cronologia dos contextos de onde procedem são demasiado genéricas não autori-
zando o estabelecimento de uma curva diacrónica de consumo no que se refere às ânforas ali exumadas.
A amostra que aqui se analisa inclui as ânforas das duas campanhas arqueológicas realizadas na
Encosta de Sant’Ana, acima sumariamente descritas. Foram inventariados 121 fragmentos classificáveis
de ânfora (73 NMI), dos quais 7,14% correspondem a produções tardias que não foram englobadas nes-
te estudo. Assim, o conjunto analisado, de escassa fiabilidade estatística, é constituído por 117 fragmen-
tos (39 bordos, 15 fundos e 63 asas), equivalendo a 63 indivíduos, observando-se que a maioria destes
corresponde a contentores de cronologia alto-imperial (77,78%), enquanto 6,35% são republicanos e
15,87% de tipo indeterminado. De entre os materiais estudados estão presentes 17 tipos distintos prove-
nientes da Lusitânia, da área costeira e Vale do Guadalquivir na província da Ulterior/Baetica, da Gallia,
das costas tirrénica e adriática da Península Itálica, do Norte de África e do Mediterrâneo Oriental.
Os envases tardo-republicanos, escassos e residuais, são compostos por um bordo e uma asa de
T-7.4.3.3., um fundo e duas asas de Dressel 1 tirrénica e dois fundos de ânforas brindisinas. Ainda assim,
neste reduzido conjunto denota-se a presença dos principais produtos importados das áreas produto-
ras usualmente mais observados nas ocupações republicanas no extremo ocidental da Península Ibéri-
ca: preparados piscícolas do Sul Peninsular, vinho da costa tirrénica da Península Itálica e azeite da costa
adriática. Sem qualquer tipo de peso estatístico, o aspecto mais interessante recai precisamente sobre a
sua presença numa área da cidade onde se desconhece ocupação durante a fase final da República. Com
uma expressão ainda mais significativa na Praça da Figueira (v. infra), poder-se-á entrever na presença
destes materiais um forte indício da ocupação da área Norte/noroeste de Olisipo durante a República.
A amostra de ânforas produzidas e comercializadas durante o Principado é constituída por um
total de 94 fragmentos (38 bordos, nove fundos e 47 asas), o que equivale a um Número Mínimo de 49
Indivíduos, e 14 tipos distintos procedentes de seis grandes regiões produtoras. Um dos aspectos mais
destacáveis do conjunto é a superioridade dos contentores provenientes da Bética (61,22%) relativamen-
te aos lusitanos (30,61%), onde o Vale do Guadalquivir representa 55,1%. Desta última região destaca-se
a percentagem de Dressel 20 e Haltern 70, enquanto da região costeira marcam presença de forma
moderada as Dressel 7-11 e as Beltrán IIA.
A baixa percentagem de ânforas lusitanas poderá, em parte, justificar-se com o facto de, no seu
conjunto, os materiais corresponderem maioritariamente a produções do séc. I d.C., particularmente à
sua primeira metade, fase em que a globalidade das importações da Bética era ainda superior às locais/
regionais, como se pode observar, por exemplo, no Teatro Romano (Filipe, 2008a; Filipe, 2015), na Rua
dos Bacalhoeiros (Filipe, 2008b) e na Rua dos Remédios (Silva, 2015a). De facto, a curva de consumo
evidenciada pelo conjunto da Encosta de Sant’Ana apresenta tendências claramente associáveis ao séc.
I d.C., algo que é igualmente verificável nos tipos documentados, nomeadamente no reduzido número
de Lusitana 3 que, juntamente com algumas variantes da Dressel 20, corresponde ao único contentor
da amostra que não foi (também) produzido durante o séc. I, e na significativa representação de Hal-
tern 70. Esta clara preponderância de formas enquadráveis no séc. I encontra eco na terra sigillata deste
mesmo sítio, onde se denota “uma especial incidência da ocorrência de cerâmicas da época das duas
primeiras dinastias do Principado” (Silva, 2012a, p. 386-387).

12. Ainda que alguns destes dados constem nas referências citadas (Leitão, 2004; Calado e Leitão, 2005), trata-se sobretudo de
informação inédita gentilmente cedida por Manuela Leitão e Vasco Leitão, a quem se agradece.

37
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

46 33
7

36
49

32
13 43

44

121
38

41 48
12

11

17 37 10cm

Estampa 2 – Encosta de Sant’Ana. Península Itálica, costa tirrénica: Dressel 1 (46). Península Itálica, costa adriática:
Ânfora de Brindisi (8, 7). Lusitânia: Lusitana Antiga (49, 32), Haltern 70 lusitana (13), Dressel 14 (44), Lusitana 3 (36),
Peniche indeterminado (33). Bética, costa ocidental: Dressel 9 (43). Bética, Vale do Guadalquivir: Ovóide indeter-
minada (121),Oberaden 83/Ovóide 7 (6), Dressel 20 Júlio-Cláudia (38), Dressel 20 Nero-Vespasiano (12), Dressel 20
Flávia-Trajana (17), Dressel 20 Antonina (41), Dressel 20 parva Antonina (11), Dressel 20 séc. III (37), Dressel 20 (48).

38
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 10 10,64% 5 10,2% 33,33% 33,33%
Haltern 70 1 1,06% 1 2,04% 6,67% 6,67%
Lusitânia, Tejo/Sado Dressel 14 17 18,09% 6 12,24% 40% 40%
Lusitana 3 7 7,45% 3 6,12% 20% 20%
Total 35 37,23% 15 30,61% 100% 100%
Dressel 7-11 4 4,26% 1 2,04% 33,33% 3,33% 2,94%
Dressel 9 1 1,06% 1 2,04% 33,33% 3,33% 2,94%
Bética, costa ocidental
Beltrán IIA 1 1,06% 1 2,04% 33,33% 3,33% 2,94%
Total 6 6,38% 3 6,12% 100% 8,82%
Oberaden 83/Ovóide 7 1 1,06% 1 2,04% 3,7% 3,33% 2,9%
Oberaden 83/Ovóide 7-Haltern 71 1 1,06% 1 2,04% 3,7% 3,33% 2,9%
Ovóide indeterminada 3 3,19% 2 4,08% 7,41% 6,67% 5,88%
Haltern 70 18 19,15% 4 8,16% 14,81% 13,33% 11,76%
Haltern 70 (Augusto-Tibério) 3 3,19% 3 6,12% 11,11% 10% 8,82%
Verulamium 1908 1 1,06% 1 2,04% 3,7% 3,33% 2,94%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 2 2,13% 2 4,08% 7,41% 6,67% 5,88%
Dressel 20 (Nero-Vespasiano) 1 1,06% 1 2,04% 3,7% 3,33% 2,94%
Bética, Vale do Guadalquivir
Dressel 20 (Flávia-Trajana) 2 2,13% 2 4,08% 7,41% 6,67% 5,88%
Dressel 20 (Antonina) 2 2,13% 2 4,08% 7,41% 6,67% 5,88%
Dressel 20 (séc. III) 2 2,13% 1 2,04% 3,7% 3,33% 2,94%
Dressel 20 8 8,51% 4 8,16% 14,81% 13,33% 11,76%
Dressel 20 parva (Júlio-Cláudia) 1 1,06% 1 2,04% 3,7% 3,33% 2,94%
Dressel 20 parva (Antonina) 1 1,06% 1 2,04% 3,7% 3,33% 2,94%
Dressel 20 parva 1 1,06% 1 2,04% 3,7% 3,33% 2,94%
Total 47 50% 27 55,1% 100% 100% 79,41%
Gália Gauloise 4 3 3,19% 2 4,08% 100% 100% 5,88%
Narbonense Total 3 3,19% 2 4,08% 100% 100% 5,88%
Península Itálica, Dressel 2-4 2 2,13% 1 2,04% 100% 100% 2,9%
costa tirrénica Total 2 2,13% 1 2,04% 100% 100% 2,9%
Tardo-Ródia/Camulodunum 184 1 1,06% 1 2,04% 100% 100% 2,9%
Mediterrâneo Oriental
Total 1 1,06% 1 2,04% 100% 100% 2,9%
TOTAL 94 100% 49 100% 100%

Tabela 4 – Quantificação das ânforas do Principado da Encosta de Sant’Ana.

Considerando que as evidências no local apontam para uma utilização da necrópole pelo menos
entre o séc. I e o III, espectro temporal que é concordante com a cronologia de difusão dos tipos anfó-
ricos documentados, esperar-se-ia uma maior representatividade dos contentores de fabrico lusitano
relativamente aos béticos. Como tal, poder-se-á presumir que os materiais anfóricos provêm principal-
mente de contextos datados do séc. I d.C., ainda que um índice relativamente alto de residualidade seja
expectável, à semelhança do que acontece na generalidade dos sítios de Época Romana de Olisipo. Para
além dos contentores lusitanos e béticos, que no seu conjunto representam 91,8% da amostra, estão
representados minoritariamente os produtos importados da Gália, da costa tirrénica da Península Itálica
e do Mediterrâneo Oriental, superiorizando-se a primeira região (4,08%) sobre as outras (2,04% cada).
Na óptica do consumo de alimentos destaca-se um relativo equilíbrio entre os principais artigos,
onde as ânforas vinárias representam 30,61% do conjunto imperial. Entre estas prevalece o vinho impor-
tado da Baetica, principalmente envasado nas Haltern 70, significando 53,33%. O vinho local/regional,
transportado nas Lusitana 3, representa 20% deste produto. Nas importações a longa distância predo-
minam as Gauloise 4 e os vinhos gauleses (13,33%) seguidos pelos produtos itálicos e do Mediterrâneo
Oriental, envasados respectivamente em Dressel 2-4 e Tardo-Ródias/Camulodunum 184, representando
6,67% em ambos casos. Os contentores piscícolas totalizam 28,57% da amostra, dominando as salgas
lusitanas (78,57% dessas ânforas) sobre as de origem bética (21,43%). Embora a Dressel 14 seja o tipo pis-
cícola melhor representado (42,86%), as Lusitanas Antigas apresentam valores aproximados (35,71%),
sublinhando o que anteriormente se referiu relativamente à cronologia dos contextos de origem destes

39
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

31

15 2

10
9
30

45

14 119 10cm

Estampa 3 – Encosta de Sant’Ana. Bética, Vale do Guadalquivir: Haltern 70 (31, 30, 45, 10, 9), Verulamium 1908 (15),
Dressel 20 (1, 2). Gália, Narbonense: Gauloise 4 (14). Mediterrâneo oriental: Tardo-Ródia / Camulodunum 184 (119).

materiais. As salgas béticas (21,43% das ânforas piscícolas) estão representadas sobretudo pelas Dressel
7-11 (14,29%) mas também pelas Beltrán IIA (7,14%), concorrendo no mesmo sentido do que atrás se refe-
riu. Já no que diz respeito ao azeite, surpreendentemente o artigo mais representado, a sua importação
provém exclusivamente do Vale do Guadalquivir, no interior da província da Bética. Estão presentes
todas as formas e as variantes das ânforas oleárias produzidas naquela região entre as duas últimas
décadas do séc. I a.C. e o séc. III d.C., incluindo os modelos ovóides Oberaden 83/Ovóide 7 e possivel-
mente Haltern 71. Relativamente às variantes da Dressel 20, destacam-se as das fases Júlio-Cláudia e
Antonina, ambas representando 35,29% das ânforas oleícolas e com presença da versão parva. Com ex-
cepção da variante Flávia-Trajana (11,76%), as restantes variantes (Nero-Vespasiano e séc. III) significam
5,88% destes contentores. Uma vez mais, são claramente maioritários os envases atribuíveis ao séc. I
d.C. relativamente aos dos séculos II e III.
Esta preponderância do consumo de vinho sobre o de peixe, bem como os valores altos do con-
sumo de azeite, é bastante atípica no quadro de consumo de Olisipo. Naturalmente, seria tentador ver
nestas proporções um indicador associado à funcionalidade específica deste espaço, a de necrópole.
Por um lado, a reconhecida utilização do vinho em banquetes rituais, justificando uma percentagem
tão alta de ânforas vinárias; por outro, o hábito de utilizar as ânforas oleícolas, sobretudo as Dressel 20,
enquanto urnas funerárias, facto atestado nesta necrópole e que poderia potenciar a sua representati-
vidade. De igual forma, o facto de se localizar relativamente afastado da actual Baixa Pombalina, local
onde se centraria o essencial da indústria piscícola de Olisipo, poderia em parte justificar uma percenta-
gem de ânforas piscícolas mais baixa do que o habitual. Haverá, porém, que matizar devidamente estes
dados uma vez que, por um lado, se trata de um conjunto reduzido e com escassa fiabilidade estatística,
por outro, os dados da Praça da Figueira - amostra de alta fiabilidade estatística -, espaço com a mesma
funcionalidade e âmbito cronológico, diferem completamente dos da Encosta de Sant’Ana, adquirindo
valores muito aproximados aos da leitura global da cidade.

40
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Lusitana Antiga 5 10,2% 45,45% 45,45% 35,71%
Lusitânia, Tejo/Sado Dressel 14 6 12,24% 54,55% 54,55% 42,86%
Total 11 22,45% 100% 100% 78,57%
Preparados
piscícolas

Dressel 7-11 1 2,04% 33,33% 33,33% 7,14%


Bética, costa ocidental Dressel 9 1 2,04% 33,33% 33,33% 7,14%
Beltrán IIA 1 2,04% 33,33% 33,33% 7,14%
Total 3 6,12% 100% 100% 21,43%
TOTAL 14 28,57% 100%
Lusitânia, Tejo/Sado Lusitana 3 3 6,12% 100% 100% 20%
Total 3 6,12% 100% 100% 20%
Haltern 70 4 8,16% 50% 50% 26,67%
Haltern 70 (Augusto-Tibério) 3 6,12% 37,5% 37,5% 20%
Vinho e derivados

Bética, Vale do Guadalquivir


Verulamium 1908 1 2,04% 12,5% 12,5% 6,67%
Total 8 16,33% 100% 100% 53,33%
Gália Narbonense Gauloise 4 2 4,08% 100% 100% 13,33%
Total 2 4,08% 100% 100% 13,33%
Península Itálica, Dressel 2-4 1 2,04% 100% 100% 6,67%
costa tirrénica Total 1 2,04% 100% 100% 6,67%
Mediterrâneo Oriental Tardo-Ródia/Camulodunum 184 1 2,04% 100% 100% 6,67%
Total 1 2,04% 100% 100% 6,67%
TOTAL 15 30,61% 100%
Oberaden 83/Ovóide 7 1 2,04% 5,88% 5,88% 5,88%
Oberaden 83/Ovóide 7-Haltern 71 1 2,04% 5,88% 5,88% 5,88%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 2 4,08% 11,76% 11,76% 11,76%
Dressel 20 (Nero-Vespasiano) 1 2,04% 5,88% 5,88% 5,88%
Dressel 20 (Flávia-Trajana) 2 4,08% 11,76% 11,76% 11,76%
Azeite

Dressel 20 (Antonina) 2 4,08% 11,76% 11,76% 11,76%


Bética, Vale do Guadalquivir
Dressel 20 parva (Júlio-Cláudia) 1 2,04% 5,88% 5,88% 5,88%
Dressel 20 parva (Antonina) 1 2,04% 5,88% 5,88% 5,88%
Dressel 20 (séc. III) 1 2,04% 5,88% 5,88% 5,88%
Dressel 20 4 8,16% 23,53% 23,53% 23,53%
Dressel 20 parva 1 2,04% 5,88% 5,88% 5,88%
Total 17 34,69% 100% 100% 100%
TOTAL 17 34,69% 100%
Lusitânia, Tejo/Sado Haltern 70 1 2,04% 100% 100% 33%
Total 1 2,04% 100% 100% 33%
Indet.

Bética, Vale do Guadalquivir Ovóide indeterminada 2 4,08% 100% 100% 100%


Vale do Guadalquivir Total 2 4,08% 100% 100% 100%
TOTAL 3 6,12% 33,33%
TOTAL 49 100%

Tabela 5 – Quantificação por conteúdo das ânforas do Principado da Encosta de Sant’Ana.

5.3. Circo Romano - Praça D. Pedro IV, Rossio (anexo I.3)

A intervenção arqueológica levada a efeito na Praça D. Pedro IV, Rossio, foi desencadeada pelas
obras do Metro realizadas naquele local e desenvolvida no âmbito de um protocolo entre o IPPAR e o
Metropolitano de Lisboa S.A., com a colaboração do então Museu da Cidade (CML). Os trabalhos de
escavação decorreram em 1994, 1995 e 1997 sob a direcção científica de Ana Vale (Vale e Fernandes,
2002; Vale e Santos, 2003).
Igualmente no âmbito das obras de construção do Metro, Irisalva Moita havia já na década de
60 do séc. XX registado um pavimento em opus signinum associado a “uma parede de alvenaria com 50
cm de largura” (Moita, 1968, p. 33). A autora viria a relacionar essas estruturas com um possível cais de
Época Romana, apoiando-se em parte numa antiga notícia publicada por Frei Luís de Sousa relativa a

41
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

uma estrutura documentada no local onde se implantava o dormitório do Convento de São Domingos
(Moita, 1968, p. 34).
Esta hipótese, discutível a vários níveis, viria a ser definitivamente colocada de parte com os resul-
tados da intervenção realizada pelo IPPAR nos anos 90. As estruturas então documentadas, compostas
por um largo tabuleiro revestido com opus signinum e ladeado por muros de alvenaria provavelmente
forrados com placas de mármore, correspondem à spina (barreira) de um circo romano que terá sido im-
plantado naquela área da cidade de Felicitas Ivlia Olisipo durante a segunda metade do séc. III ou início da
centúria seguinte e abandonado em data incerta (Sepúlveda et al., 2002, p. 259; Vale e Fernandes, 2017,
p. 126). Todavia, esta cronologia para a construção do circo de Olisipo tem sido contestada por R. Banha
da Silva que considera que aquele edifício lúdico poderá ter sido fundado em época ”Flávia ou posterior”
(Silva, 2012a, p. 377). Seja como for, não existirão dúvidas quanto à dificuldade em datar a fundação de
edifícios deste tipo e dimensão o que, aliado à reduzida área intervencionada e ao relativamente peque-
no conjunto de materiais exumados, aconselha alguma prudência no estabelecimento de cronologias.
As ânforas exumadas no decurso da escavação da Praça D. Pedro IV, Rossio, enquadram-se maio-
ritariamente num arco diacrónico compreendido entre o início do séc. I d.C. e o final do séc. II ou pri-
meiros decénios do séc. III – ainda que no caso específico da Gauloise 4, sobretudo típica do séc. II d.C.,
a sua produção se tenha estendido até inícios do séc. IV –, registando-se do Baixo-Império apenas um
indivíduo de Keay XVI bética a par da ausência de contentores republicanos. Trata-se de um conjunto
de pequena dimensão e de escassa fiabilidade estatística, constituído por um total de 50 fragmentos
de ânfora (21 bordos, cinco fundos e 24 asas) e um número mínimo de 27 indivíduos. Ainda assim, estão
presentes nove tipos distintos (número que deverá ser superior tendo em conta as peças de tipologia
indeterminada), provenientes da Lusitânia, da região costeira e interior da Bética, da Gália e da costa
tirrénica da Península Itálica.
Os envases de produção lusitana dominam a amostra, correspondendo a 70,59% do seu total,
seguidos pelas ânforas béticas do Vale do Guadalquivir com 21,43%. Minoritária é a presença de contentores
originários da Italia, representados apenas por um indivíduo (3,57%), significando as importações da Gallia
7,14%. As produções lusitanas são dominadas pelas Dressel 14 (75%), surpreendendo a escassez de Lusita-
na 3, sobretudo tendo em conta o carácter lúdico do edifício e a proximidade da necrópole da Praça da
Figueira, tratando-se em ambos casos de locais onde o consumo de vinho seria de algum modo frequente.

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 3 6% 2 7,14% 11,76% 11,76%
Dressel 14 28 56% 12 42,86% 70,59% 70,59%
“Dressel 28” 1 2% 1 3,57% 5,88% 5,88%
Lusitânia, Tejo/Sado
Lusitana 3 1 2% 1 3,57% 5,88% 5,88%
Indeterminado 2 4% 1 3,57% 5,88% 5,88%
Total 35 70% 17 60,71% 100% 100%
Indeterminado 1 2% 1 3,57% 100% 14,29% 10%
Bética, costa ocidental
Total 1 2% 1 3,57% 100% 10%
Oberaden 83/Ovóide 7 1 2% 1 3,57% 16,67% 14,29% 10%
Haltern 70 (inicial) 1 2% 1 3,57% 16,67% 14,29% 10%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 1 2% 1 3,57% 16,67% 14,29% 10%
Bética, Vale do Guadalquivir
Dressel 20 (Antonina) 2 4% 2 7,14% 33,33% 28,57% 20%
Dressel 20 4 8% 1 3,57% 16,67% 14,29% 10%
Total 10 20% 6 21,43% 100% 100% 60%
Gauloise 4 1 2% 1 3,57% 50% 50% 10%
Gália Narbonense Indeterminado 1 2% 1 3,57% 50% 50% 10%
Total 2 4% 2 7,14% 100% 100% 20%
Península Itálica, Dressel 2-4 1 2% 1 3,57% 100% 100% 10%
costa tirrénica Total 1 2% 1 3,57% 100% 100% 10%
Indeterminado 1 2% 1 3,57% 100% 100%
Indeterminada
Total 1 2% 1 3,57% 100% 100%
TOTAL 50 100% 28 100% 100%

Tabela 6 – Quantificação da totalidade das ânforas do Circo Romano.

42
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

23

11
35
10cm

10
24

18

2
29

20

14

21

19

13 10cm

Estampa 4 – Circo Romano. Lusitânia: Dressel 14 (1, 23, 11, 24, 2, 14, 13, 3, 4, 35), “Dressel 28” (10). Bética, Vale
do Guadalquivir: Haltern 70 (29), Oberaden 83/Ovóide 7 (18), Dressel 20 Antonina (20, 19). Gália, Narbonense:
Gauloise 4 (21).

43
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI % NMI con- % NMI conteú- % NMI
teúdo região do província conteúdo
Lusitana Antiga 2 8,33% 14,29% 14,29% 14,29%
Preparados Lusitânia, Tejo/Sado Dressel 14 12 50% 85,71% 85,71% 85,71%
piscícolas Total 14 58,33% 100% 100% 100%
TOTAL 14 58,33% 100%
“Dressel 28” 1 4,17% 50% 50% 20%
Lusitânia, Tejo/Sado Lusitana 3 1 4,17% 50% 50% 20%
Total 2 8,33% 100% 100% 40%
Bética, Vale do Guadalquivir Haltern 70 (inicial) 1 4,17% 100% 100% 20%
Vinho e
Total 1 4,17% 100% 100% 20%
derivados
Gália Narbonense Gauloise 4 1 4,17% 100% 100% 20%
Total 1 4,17% 100% 100% 20%
Península Itálica, Dressel 2-4 1 4,17% 100% 100% 20%
costa tirrénica Total 1 4,17% 100% 100% 20%
TOTAL 5 20,83% 100%
Oberaden 83/Ovóide 7 1 4,17% 20% 20% 20%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 1 4,17% 20% 20% 20%
Azeite Bética, Vale do Guadalquivir Dressel 20 (Antonina) 2 8,33% 40% 40% 40%
Dressel 20 1 4,17% 20% 20% 20%
Total 5 20,83% 100% 100% 100%
TOTAL 5 20,83% 100%
TOTAL 24 100%

Tabela 7 – Quantificação por conteúdo das ânforas do Principado do Circo Romano.

Ainda que estes contentores se reportem maioritariamente ao séc. II d.C., uma percentagem im-
portante é incontestavelmente atribuível ao séc. I. Tais são os casos das Lusitanas Antigas, da Oberaden
83/Ovóide 7, da Haltern 70 e da Dressel 20 do período Júlio-Cláudio, sendo que a Dressel 2-4 itálica, a
Gauloise 4, algumas das Dressel 14 e possivelmente a “Dressel 28” lusitana se poderão enquadrar cro-
nologicamente tanto no séc. I d.C. como na centúria seguinte.
Em relação aos artigos alimentares transportados por estas ânforas, destacam-se claramente os
preparados piscícolas (58,33%), unicamente representados pelos produtos lusitanos e, especialmente,
pelas Dressel 14, fazendo-se notar a ausência dos produtos da costa bética. A importação de vinho e
azeite apresentam valores iguais (20,83%). Relativamente ao consumo do primeiro, domina o vinho local
e regional envasado em ânforas de base plana, Lusitana 3 e “Dressel 28”, representando 40% dos enva-
ses vinários. Os restantes 60% são repartidos de forma equitativa entre o vinho procedente do Vale do
Guadalquivir, da Gallia e de Italia (20% cada). Quanto ao azeite, estando ausentes as ânforas de origem
norte-africana, a sua importação procede exclusivamente do Vale do Guadalquivir, observando-se a pre-
sença dos modelos ovóides mais antigos (Oberaden 83/Ovóide 7) e das variantes Júlio-Cláudia e Anto-
nina da Dressel 20, com ligeira preponderância da segunda. Embora a escassez da amostra não permita
a fundamentação de grandes interpretações a partir da sua análise, será interessante sublinhar uma
certa aproximação aos dados de sítios como a Zara, a Rua de São Mamede e a Calçada do Correio Velho,
nomeadamente no que à cronologia dos materiais se refere bem como à reduzida representatividade
do vinho (v. infra).

5.4. Praça da Figueira


5.4.1. Intervenções antigas - 1962 (anexo I.4)

Escassamente publicados pelos seus directos intervenientes (Moita, 1968; Moita, 1994), os da-
dos da intervenção arqueológica realizada na Praça da Figueira no início dos anos 60 do século passa-
do foram recentemente divulgados, ainda que não na sua totalidade. Destes trabalhos mais recentes,

44
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

a primeira abordagem foi dedicada ao estudo das marcas de terra sigillata, tendo aí o seu autor realiza-
do uma exaustiva descrição do contexto em que decorreram as acções arqueológicas empreendidas
por Irisalva Moita e F. Bandeira Ferreira bem como dos vestígios então documentados (Silva, 2005; Sil-
va, 2012a). Posteriormente, já no âmbito desta tese, foi dado à estampa o estudo do conjunto anfórico
recolhido nessas escavações, realizado pelo autor deste trabalho e por Rui Almeida (Almeida e Filipe,
2013). Refira-se que já na década de 90 do século passado Carlos Fabião havia dado a conhecer a exis-
tência de algumas ânforas oleícolas (Fabião, 1993-94) e vinárias (Fabião, 1998a) da Baetica no âmbito de
estudos mais alargados, ainda que não tenha então avançado com dados quantitativos.
Trata-se de uma das mais emblemáticas intervenções na arqueologia de Lisboa, principalmente
devido ao facto de esta ter sido a primeira grande actuação moderna de arqueologia urbana na cida-
de, realizada no âmbito das obras de escavação do Metro de Lisboa; não faltou, à semelhança do que
hoje acontece, um confronto entre os interesses da investigação arqueológica e dos promotores do
empreendimento bem como, no que se refere à gestão do património, uma certa tensão entre o poder
autárquico e o poder central (Fabião, 1994b).
A primeira intervenção teve início em 1960 com a escavação de uma área significativa do Hospital
Real de Todos-os-Santos, sob a responsabilidade de Irisalva Moita, então conservadora-adjunta dos
Museus Municipais. Porém, após essa escavação e por opção da autarquia, a acção de Irisalva Moita
viria a ficar condicionada apenas ao acompanhamento dos trabalhos das obras do metro. Já em 1961,
durante uma visita rotineira de acompanhamento, Irisalva Moita detecta vestígios de uma necrópole
de Época Romana na Praça da Figueira. Ao longo daquele ano e no início do seguinte viria a efectuar
várias visitas ao local e recolhas de espólio, identificando diversos conjuntos de sepulturas (Moita, 1968;
Moita, 1994; Silva, 2005; Silva 2012a).
Irisalva Moita veio a dirigir escavações aí entre 5 e 9 de Fevereiro de 1962, tendo registado 25
sepulturas e várias estruturas associadas. Entretanto, e novamente por opção da autarquia, a responsa-
bilidade dos trabalhos acaba por ser delegada à Junta Nacional da Educação, tendo as escavações sido
assumidas por Bandeira Ferreira ainda durante o mês de Fevereiro desse ano (Silva, 2012a).
Uma das primeiras acções empreendidas por aquele arqueólogo, para além de ter identificado
uma via romana que Irisalva Moita não tinha reconhecido enquanto tal, foi definir vários sectores na
área de escavação, a Oeste e a Este da via, com base nos restos construtivos que se observavam. Os
muros foram todos identificados com numeração romana, tendo ainda sido atribuída a mesma letra
do alfabeto grego aos muros de cada um dos compartimentos. Embora o volume de documentação
produzida seja bastante significativo, sendo visível uma grande preocupação metodológica no decorrer
da execução da escavação, os resultados da intervenção de Bandeira Ferreira mantêm-se praticamente
inéditos (Silva, 2012a).
Tendo em conta este cenário, facilmente se depreenderá que se desconhece a procedên-
cia estratigráfica dos materiais aqui analisados. O facto de a sistematização de todo o volume de
informação contida no “Diário das escavações” de Bandeira Ferreira (1962 apud Silva, 2012a) se en-
contrar ainda por fazer permite considerar a possibilidade (mais que provável) de se vir a conse-
guir estabelecer a associação entre alguns dos materiais exumados e respectivos contextos estra-
tigráficos. Naturalmente, não caberá aqui tamanha tarefa que dificilmente teria correspondência
em termos de tempo investido e resultados úteis verdadeiramente significativos para este estudo.
Nos dados que de seguida se apresentam e comentam poder-se-ão observar pequenas incoerên-
cias relativamente ao trabalho anteriormente publicado (Almeida e Filipe, 2013), não alterando estas as
principais linhas interpretativas que então se deram a conhecer. Tal resulta da revisão que entretanto
se realizou, bem como da inclusão de uma ou outra peça que se (re)descobriu nas instalações onde
se encontram depositados os materiais. Por outro lado, 10,62% do conjunto corresponde a produções
tardias não incluídas neste estudo, mas divulgadas no trabalho atrás mencionado.
Tendo em conta estes aspectos, o conjunto anfórico que aqui se analisa é composto por 269
fragmentos diagnosticáveis (83 bordos, 31 fundos e 155 asas), correspondentes a um Número Mínimo
de 109 Indivíduos. Trata-se de uma amostra de fiabilidade suficiente (Molina Vidal, 1997) onde 89,91%
das ânforas correspondem a formas do Principado, 1,83% à República e 8,26% a tipos indetermina-
dos, tendo-se reconhecido a presença de 18 tipos diferentes oriundos de nove regiões produtoras.

45
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Com excepção da costa adriática da Península Itálica, estão representadas as áreas produtoras mais
importantes da bacia mediterrânea que desempenhavam um papel activo nas redes comerciais do
Ocidente do Império. A distribuição dos valores do consumo segundo estes grandes blocos cronológi-
cos deverá ser coerente com as realidades então registadas, uma vez que, tal como foi proposto com
base nas intervenções posteriores, as evidências correspondentes diziam respeito à via e à necrópole
associada, com uso preferencial documentado entre os meados do séc. I e os inícios do III d.C. (Silva,
2005, p. 40-50). Os envases republicanos estão atestados unicamente pela presença de dois indivíduos
de Dressel 1 da costa tirrénica da Península Itálica, que deveriam corresponder a material residual no
contexto da sua recolha.

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 4 1,49% 4 3,67% 7,55% 7,55%
Lusitana Antiga/Dressel 14 1 0,37% 1 0,92% 1,89% 1,89%
Dressel 14 105 39,03% 32 29,36% 60,38% 60,38%
Lusitânia, Tejo/Sado
Lusitana 3 43 15,99% 15 13,76% 28,3% 28,3%
Indeterminado 2 0,74% 1 0,92% 1,89% 1,89%
Total 155 57,62% 53 48,62% 100% 100%
Dressel 7-11 4 1,49% 2 1,83% 25% 5,13% 3,7%
Beltrán IIB 7 2,6% 3 2,75% 37,5% 7,69% 5,56%
Bética, costa ocidental Beltrán IIB/Puerto Real 2 0,74% 1 0,92% 12,5% 2,56% 1,85%
Indeterminado 3 1,12% 2 1,83% 25% 5,13% 3,7%
Total 16 5,95% 8 7,34% 100% 14,81%
Oberaden 83/Ovóide 7 1 0,37% 1 0,92% 3,23% 2,56% 1,85%
Ovóide indeterminada 1 0,37% 1 0,92% 3,23% 2,56% 1,85%
Haltern 70 7 2,6% 1 0,92% 3,23% 2,56% 1,85%
Haltern 70 (Augusto-Tibério) 1 0,37% 1 0,92% 3,23% 2,56% 1,85%
Haltern 70 (Cláudio-Nero) 2 0,74% 2 1,83% 6,5% 5,13% 3,7%
Dressel 28 2 0,74% 1 0,92% 3,23% 2,56% 1,85%
Dressel 2-4 3 1,12% 2 1,83% 6,45% 5,13% 3,7%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 9 3,35% 5 4,59% 16,13% 12,82% 9,26%
Bética, Vale do Guadalquivir
Dressel 20 (Flávia-Trajana) 9 3,35% 3 2,75% 9,68% 7,69% 5,56%
Dressel 20 (Antonina) 16 5,95% 7 6,42% 22,58% 17,95% 12,96%
Dressel 20 (séc. III) 5 1,86% 2 1,83% 6,45% 5,13% 3,7%
Dressel 20 8 2,97% 1 0,92% 3,23% 2,56% 1,85%
Dressel 20 parva (Flávia-Trajana) 1 0,37% 1 0,92% 3,23% 2,56% 1,85%
Dressel 20 parva (Antonina) 3 1,12% 2 1,83% 6,45% 5,13% 3,7%
Dressel 20 parva 1 0,37% 1 0,92% 3,23% 2,56% 1,85%
Total 69 25,65% 31 28,44% 100% 100% 57,4%
Tarraconense, Pascual 1 1 0,37% 1 0,92% 50% 50% 1,85%
costa setentrional Dressel 3-2 1 0,37% 1 0,92% 50% 50% 1,85%
Total 2 0,74% 2 1,83% 100% 100% 3,70%
Gauloise 4 3 1,12% 2 1,83% 66,67% 66,67% 3,70%
Gália Narbonense Gauloise 5 1 0,37% 1 0,92% 33,33% 33,33% 1,85%
Total 4 1,49% 3 2,75% 100% 100% 5,56%
Dressel 1 4 1,49% 2 1,83% 50% 40% 3,7%
Península Itálica,
Dressel 2-4 4 1,49% 2 1,83% 50% 40% 3,7%
costa tirrénica
Total 8 2,97% 4 3,67% 100% 7,41%
Richborough 527 1 0,37% 1 0,92% 100% 20% 1,85%
Ilha de Lipari
Total 1 0,37% 1 0,92% 100% 100% 1,85%
Indeterminado 3 1,12% 2 1,83% 100% 100% 3,7%
Norte de África
Total 3 1,12% 2 1,83% 100% 100% 3,70%
Dressel 2-4/5 2 0,74% 1 0,92% 33,33% 33,33% 1,85%
Mediterrâneo Oriental Indeterminado 3 1,12% 2 1,83% 66,67% 66,67% 3,7%
Total 5 1,86% 3 2,75% 100% 100% 5,56%
Indeterminado 6 2,23% 2 1,83% 100% 100%
Indeterminada
Total 6 2,23% 2 1,83% 100% 100%
TOTAL 269 100% 109 100% 100%

Tabela 8 – Quantificação da totalidade das ânforas das antigas escavações da Praça da Figueira.

46
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

1355
1346
1139

1417

822
1320

156

1297

843
329

1258
1295

9 731
38

964
793

1005

276 10cm
892

Estampa 5 – Praça da Figueira, 1961/1962. Lusitânia: Lusitana Antiga (1355*, 1417, 1346*, 1139), Dressel 14 (822*,
156, 1297*, 329, 1320*, 1258*, 843, 38*), Lusitana 3 (276, 964, 1295*, 793, 731*, 892, 9, 1005*).
* in Almeida e Filipe, 2013.

Relativamente ao conjunto alto-imperial, e no que se refere à origem dos contentores, observa-


-se a supremacia das produções locais/regionais (53,06%), representadas sobretudo pelas Dressel 14
(61,54% dos envases lusitanos) e Lusitana 3 (28,85%) e com uma presença menos significativa das Lusi-
tanas Antigas (7,69%). A província vizinha da Bética significa 37,76% da amostra e 80,4% dos produtos

47
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

1617

1520
217

1603

934
2204
970

1331 238

1316

1336

1369

1302

53 1230

896

828

1270

1311

1395
10cm S/N 1 10cm

Estampa 6 – Praça da Figueira, 1961/1962. Bética, costa ocidental: Dressel 7-11 (1617*, 1603*), Beltrán IIB (2204*).
Bética, Vale do Guadalquivir: Haltern 70 Augusto-Tibério (217*), Haltern 70 Cláudio-Nero (1520*), Ovóide indeter-
minada (970), Dressel 2-4 (934*, 238*), Dressel 20 Júlio-Cláudia (1331*, 1316*), Dressel 20 Flávia-Trajana (1230*,
1369*, 53, S/N 1), Dressel 20 parva Flávia-Trajana (1336*), Dressel 20 Antonina (896*, 1311*, 1270*, 828*, 1395*),
Dressel 20 parva Antonina (1302*). * in Almeida e Filipe, 2013.

48
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

extraprovinciais, sendo que 83,8% desses artigos provém do Vale do Guadalquivir e apenas 16,22% da
área costeira. Da primeira região destacam-se as Dressel 20, significando 70,97% desses envases. Bem
mais modesta é a presença das Haltern 70 (12,9%), “Dressel 28” (3,23%), Dressel 2-4 (6,45%) e Oberaden
83/Ovóide 7 (3,23%). Da costa ocidental estão apenas atestados os tipos Dressel 7-11 e Beltrán IIB. Com-
pletando o panorama das importações, regista-se a presença minoritária de bens provenientes da costa
setentrional da Tarraconense (2,04%), da Gallia (3,06%), da costa tirrénica da Península Itálica (2,04%),
do Mediterrâneo Oriental (1,02%) e da Ilha de Lipari (1,02%). Este último representa o único testemunho
da importação de um produto não alimentar, neste caso o alúmen. Do Norte de África surgem apenas
alguns fragmentos de tipo indeterminado, que tanto podem ser atribuíveis ao Principado como à Anti-
guidade Tardia. Em termos gerais, a amostra aponta para uma distribuição centrada preferencialmente
em todo o séc. II d.C., embora indicando também uma importante actividade comercial no séc. I d.C.,
sobretudo a sua segunda metade, e no III.
Na óptica dos produtos comercializados ganha especial relevo o consumo de preparados piscí-
colas, significando 43,88% do conjunto. Estes têm uma origem maioritariamente local/regional (86,05%
desse artigo), sendo complementada unicamente com produtos béticos (13,95%). As salgas lusitanas
estão representadas sobretudo pelas Dressel 14 (74,42%), significando as produções mais antigas

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 4 1,61% 4 4,08% 7,69% 7,69%
Lusitana Antiga/Dressel 14 1 0,4% 1 1,02% 1,92% 1,92%
Lusitânia, Tejo/Sado Dressel 14 105 42,34% 32 32,65% 61,54% 61,54%
Lusitana 3 43 17,34% 15 15,31% 28,85% 28,85%
Total 153 61,69% 52 53,06% 100% 100%
Dressel 7-11 4 1,61% 2 2,04% 33% 5,41% 4,35%
Beltrán IIB 7 2,82% 3 3,06% 50% 8,11% 6,52%
Bética, costa ocidental
Beltrán IIB/Puerto Real 2 0,81% 1 1,02% 16,67% 2,7% 2,17%
Total 13 5,24% 6 6,12% 100% 13,04%
Oberaden 83/Ovóide 7 1 0,4% 1 1,02% 3,23% 2,7% 2,17%
Ovóide indeterminada 1 0,4% 1 1,02% 3,23% 2,7% 2,17%
Haltern 70 7 2,82% 1 1,02% 3,23% 2,7% 2,17%
Haltern 70 (Augusto-Tibério) 1 0,4% 1 1,02% 3,23% 2,7% 2,17%
Haltern 70 (Cláudio-Nero) 2 0,81% 2 2,04% 6,45% 5,41% 4,35%
Dressel 28 2 0,81% 1 1,02% 3,23% 2,7% 2,17%
Dressel 2-4 3 1,21% 2 2,04% 6,45% 5,41% 4,35%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 9 3,63% 5 5,1% 16,13% 13,51% 10,87%
Bética, Vale do Guadalquivir
Dressel 20 (Flávia-Trajana) 9 3,63% 3 3,06% 9,68% 8,11% 6,52%
Dressel 20 (Antonina) 16 6,45% 7 7,14% 22,58% 18,92% 15,22%
Dressel 20 (séc. III) 5 2,0% 2 2,04% 6,45% 5,41% 4,35%
Dressel 20 8 3,23% 1 1,02% 3,23% 2,7% 2,17%
Dressel 20 parva (Flávia-Trajana) 1 0,4% 1 1,02% 3,23% 2,7% 2,17%
Dressel 20 parva (Antonina) 3 1,21% 2 2,04% 6,45% 5,41% 4,35%
Dressel 20 parva 1 0,4% 1 1,02% 3,23% 2,7% 2,17%
Total 69 27,82% 31 31,63% 100% 100% 67,4%
Tarraconense, costa seten- Pascual 1 1 0,4% 1 1,02% 50% 50% 2,17%
trional Dressel 3-2 1 0,4% 1 1,02% 50% 50% 2,17%
Total 2 0,81% 2 2,04% 100% 100% 4,3%
Gauloise 4 3 1,21% 2 2,04% 66,67% 66,67% 4,35%
Gália Narbonense Gauloise 5 1 0,4% 1 1,02% 33,33% 33,33% 2,17%
Total 4 1,61% 3 3,06% 100% 100% 6,5%
Península Itálica, Dressel 2-4 4 1,61% 2 2,04% 100% 66,67% 4,35%
costa tirrénica Total 4 1,61% 2 2,04% 100% 4,35%
Richborough 527 1 0,4% 1 1,02% 100% 33,33% 2,17%
Ilha de Lipari
Total 1 0,4% 1 1,02% 100% 100% 2,17%
Mediterrâneo Dressel 2-4/5 2 0,81% 1 1,02% 100% 100% 2,17%
Oriental Total 2 0,81% 1 1,02% 100% 100% 2,17%
TOTAL 248 100% 98 100% 100%

Tabela 9 – Quantificação das ânforas do Principado das antigas escavações da Praça da Figueira.

49
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

994

829

1281

1272

997

1290

8
738

188 1665
1299 10cm

Estampa 7 – Praça da Figueira, 1961/1962. Bética, Vale do Guadalquivir: Dressel 20 séc. III (994*, 1281*), Dres-
sel 20 (829**, 1272**), Dressel 20 Júlio-Cláudia (997**), Dressel 20 Flávia-Trajana (1290**), Dressel 20 Antonina
(8**, 738**), Dressel 20 séc. III (188**). Tarraconense, costa setentrional: Pascual 1 (1299), Dressel 3-2 (1665*). * in
Almeida e Filipe, 2013; ** in Fabião et al., 2016.

50
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

Figura 4 – Dressel 20 reutilizada como urna na necrópole da Praça da Figueira (escavações da década de 1960).

1030

207

242

932 937

623

961 195

1359 933 10cm

Estampa 8 – Praça da Figueira, 1961/1962. Gália, Narbonense: Gauloise 4 (207*, 242, 932*), Gauloise 5 (1030*).
Península Itálica, costa tirrénica: Greco-Itálica/Dressel 1 (937), Dressel 2-4 (961, 623*). Mediterrâneo oriental: Dres-
sel 2-4/5 (1359*), Tardo-Ródia/Camulodunum 184 (195). Tipo e proveniência indeterminados (933).

51
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

apenas 9,3% desse bem alimentar, enquanto as que procedem da Baetica são testemunhadas pela pre-
sença de ânforas de tipo Dressel 7-11 (4,65%) e Beltrán IIB (6,98%). Estes dados concorrem no sentido
do que atrás se referiu relativamente ao perfil cronológico do conjunto. De facto, se o estado actual do
conhecimento nos permite situar a produção lusitana de preparados de peixe em escala considerável a
partir do Principado de Augusto, paralelamente a uma progressiva redução das importações piscícolas
da Bética (Filipe, 2008a; Filipe, 2015), permitem-nos de igual forma perceber que foi sobretudo a partir
da segunda metade do séc. I d.C. que o consumo dessas salgas se destaca de forma mais vincada rela-
tivamente às da provincia vizinha. Esta última ideia é bem ilustrada pela comparação entre a proporção
das Dressel 14 lusitanas e Beltrán IIB béticas e das Lusitanas Antigas e Dressel 7-11, à imagem, aliás, do
que se pode observar na leitura global da cidade.
O vinho, e seus derivados, constitui-se como o segundo produto mais significativo na amostra,
representando 30,61% do consumo. Como se tem observado na generalidade dos conjuntos analisados
neste trabalho bem como em grande parte dos estudos publicados, é neste produto que se evidencia
uma mais ampla e diversificada comercialização ao nível da origem dos contentores e tipos presentes.
O quadro de consumo é dominado pelo vinho local/regional, transportado nas Lusitana 3 e represen-
tando 50% desse produto. Das restantes regiões produtoras apenas a Bética atinge valores apreciáveis e
significativos (23,33%), destacando-se a importância da Haltern 70 no transporte desses vinhos (13,33%),
complementados pelos das Dressel 2-4 (6,67%) e Dressel 28 (3,33%). A Gallia, significando 10% desse
comércio, apresenta percentagens acima dos valores verificados na leitura global da cidade, estando
atestada a presença da Gauloise 4 (6,67%) e da Gauloise 5 (3,33%). Os vinhos itálicos (6,67%) surgem
neste conjunto em iguais proporções aos da Tarraconensis (6,67%), sendo os primeiros exclusivamente
testemunhados pelas Dressel 2-4 tirrénicas e os segundos pelas Pascual 1 e Dressel 3-2. Já as ânforas
vinárias com origem no Mediterrâneo Oriental são apenas representadas por um indivíduo de Dressel
2-4/5 (3,33%), constituindo-se como a região produtora menos representada, ao contrário do que suce-
de no conjunto anfórico recolhido durante a intervenção recente realizada no mesmo sítio. Na mesma
linha de raciocínio do que anteriormente se referiu relativamente ao perfil cronológico do conjunto,
verifica-se que durante o século I d.C., sobretudo durante o período Júlio-Cláudio, foi a Bética, particu-
larmente a região do Guadalquivir, a principal fornecedora destes produtos, ainda que estejam igual-
mente bem representadas as importações itálicas. Todavia, não se observa um domínio do tipo Haltern
70, como acontece de um modo geral nos contextos destes momentos na fachada atlântica (Morais
e Carreras Monfort, 2003, p. 98-100). Esta aparente quebra pode estar directamente relacionada quer
com o facto de os contextos da Praça da Figueira se poderem reportar em maior número a momentos
atribuíveis à segunda metade do século I e ao II d.C., quer com o maior índice de outros tipos da mesma
região (Dressel 2-4 e Dressel 28) e de outras províncias (Pascual 1 e Dressel 2-4 tarraconenses; Dressel
2-4/5 orientais) com conteúdos análogos. Indiscutível parece ser o facto de que todas estas origens
se viram suplantadas pela produção local a partir do início do século II d.C., como atesta a importante
percentagem de Lusitana 3.
O comércio do azeite, ao contrário do do vinho, tinha como região abastecedora exclusivamente
o Vale do Guadalquivir. Embora seja o produto menos consumido (com excepção do comércio vestigial
de alúmen), representando 24,49% da amostra, o azeite significa cerca de 50% das importações extra-
provinciais, constituindo-se como o artigo mais importante do quadro de importações com origem ex-
terior à Lusitânia. Os valores e a importância que alcança destronam categoricamente qualquer leitura
que defenda a sua hipotética escassez, confirmando as propostas anteriormente avançadas por Carlos
Fabião, designadamente a da relação directa existente entre a sua difusão e a rota atlântica (Fabião,
1993-94, p. 231-232, 238-239). Estão presentes as ânforas oleárias típicas dos últimos decénios do séc.
I a.C., a Oberaden 83/Ovóide 7 (4,17% desse produto), e uma significativa quantidade de envases da
variante Júlio-Cláudia da Dressel 20 (20,83%), observando-se, contudo, a ausência da Haltern 71 e da
variante Nero-Vespasiano da Dressel 20. A partir da dinastia Flávia estão atestadas todas as variantes
da Dressel 20, incluindo os contentores de pequeno módulo, observando-se um pico das importações
particularmente alto com a variante Antonina, fase que representa 37,5% dos contentores oleários; a
que se segue uma aparente significativa descida durante o séc. III.

52
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Lusitana Antiga 4 4,08% 10,81% 10,81% 9,3%
Lusitana Antiga/Dressel 14 1 1,02% 2,7% 2,7% 2,33%
Preparados piscícolas

Lusitânia, Tejo/Sado
Dressel 14 32 32,65% 86,49% 86,49% 74,42%
Total 37 37,76% 100% 100% 86,05%
Dressel 7-11 2 2,04% 33,33% 33,33% 4,65%
Beltrán IIB 3 3,06% 50% 50% 6,98%
Bética, costa ocidental
Beltrán IIB/Puerto Real 1 1,02% 16,67% 16,67% 2,33%
Total 6 6,12% 100% 100% 13,95%
Total 43 43,88% 100%
Lusitana 3 15 15,31% 100% 100% 50%
Lusitânia, Tejo/Sado
Total 15 15,31% 100% 100% 50%
Haltern 70 1 1,02% 14,29% 14,29% 3,33%
Haltern 70 (Augusto-Tibério) 1 1,02% 14,29% 14,29% 3,33%
Haltern 70 (Cláudio-Nero) 2 2,04% 28,57% 28,57% 6,67%
Bética, Vale do Guadalquivir
Dressel 28 1 1,02% 14,29% 14,29% 3,33%
Dressel 2-4 2 2,04% 28,57% 28,57% 6,67%
Vinho e derivados

Total 7 7,14% 100% 100% 23,33%


Pascual 1 1 1,02% 50% 50% 3,33%
Tarraconense, costa setentrional Dressel 3-2 1 1,02% 50% 50% 3,33%
Total 2 2,04% 100% 100% 6,67%
Gauloise 4 2 2,04% 66,67% 66,67% 6,67%
Gália Narbonense Gauloise 5 1 1,02% 33,33% 33,33% 3,33%
Total 3 3,06% 100% 100% 10%
Península Itálica, Dressel 2-4 2 2,04% 100% 100% 6,67%
costa tirrénica Total 2 2,04% 100% 100% 6,67%
Dressel 2-4/5 1 1,02% 100% 100% 3,33%
Mediterrâneo Oriental
Total 1 1,02% 100% 100% 3,33%
Total 30 30,61% 100%
Oberaden 83/Ovóide 7 1 1,02% 4,17% 4,17% 4,17%
Ovóide indeterminada 1 1,02% 4,17% 4,17% 4,17%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 5 5,1% 20,83% 20,83% 20,83%
Dressel 20 (Flávia-Trajana) 3 3,06% 12,5% 12,5% 12,5%
Dressel 20 (Antonina) 7 7,14% 29,17% 29,2% 29,17%
Azeite

Bética, Vale do Guadalquivir Dressel 20 (séc. III) 2 2,04% 8,33% 8,33% 8,33%
Dressel 20 1 1,02% 4,17% 4,17% 4,17%
Dressel 20 parva (Flávia-Trajana) 1 1,02% 4,17% 4,17% 4,17%
Dressel 20 parva (Antonina) 2 2,04% 8,33% 8,33% 8,33%
Dressel 20 parva 1 1,02% 4,17% 4,17% 4,17%
Total 24 24,49% 100% 100% 100%
Total 24 24,49% 100%
Ilha de Lipari Richborough 527 1 1,02% 100% 100% 100%
Alúmen Total 1 1,02% 100% 100% 100%
Total 1 1,02% 100%
TOTAL 98 100%

Tabela 10 – Quantificação por conteúdo das ânforas do Principado das antigas escavações da Praça da Figueira.

Trata-se de um conjunto com particularidades específicas que se deverão relacionar com os crité-
rios e condições de recolha dos materiais, indelevelmente associados às condições em que decorreram
os trabalhos arqueológicos na Praça Figueira no início da década de 60 do século passado, a que atrás
se aludiu. A comparação da curva de consumo evidenciada por esta amostra com a que se verifica no
conjunto exumado nas recentes escavações realizadas no mesmo local é particularmente demonstrati-
va dessas especificidades, mas também da relatividade de que se revestem sempre as abordagens es-
tatísticas aos conjuntos cerâmicos (sobretudo quando de pequena dimensão), importantes e represen-
tativas mas que deverão ser sempre, em certa medida, matizadas, relativizadas e ajustadas em função
do tipo e cronologia das ocupações dos sítios.

53
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

5.4.2. Intervenções recentes - 2000 (anexo I.4)

A intervenção arqueológica desenvolvida na Praça da Figueira entre 1999 e 2001 deverá, pela área
e profundidade intervencionada, muito provavelmente corresponder à escavação de maior dimensão
realizada na cidade de Lisboa. Os trabalhos arqueológicos foram coordenados por Rodrigo Banha da Sil-
va e Marina Carvalhinhos e decorreram no âmbito da construção de um parque automóvel subterrâneo,
não se tendo, incompreensivelmente e por motivos de diversa ordem a que os responsáveis pela inter-
venção foram alheios, preservado in situ qualquer vestígio arqueológico. Embora a ocupação de Época
Romana nesta zona estivesse já genericamente caracterizada (veja-se o ponto anterior deste trabalho),
o desenvolvimento de escavações com métodos de registo modernos possibilitou a obtenção de um
vasto volume de dados, de extrema importância para o conhecimento da cidade antiga de Lisboa. O local
situa-se na área de confluência das ribeiras de Arroios e Vale do Pereiro e do Esteiro da Baixa, na zona
noroeste de Olisipo.
Ainda que a sistematização e publicação dos dados resultantes desta escavação se mantenha
em grande medida por concretizar, existe já um significativo conjunto de informações dado à estampa
nos últimos anos, para o qual se remete para uma análise mais detalhada acerca da diacronia e tipo de
ocupações registados no local, evidenciando-se as ruínas do antigo Hospital Real de Todos os Santos, o
bairro islâmico, a necrópole e via romanas e os vestígios da proto-história (Silva, 2005; Silva et al., 2011;
Silva, 2012a; Silva, 2012b; Silva, 2013; Silva et al., 2016).
No que ao período romano se refere, interessando aqui em particular a ocupação até ao início
do séc. III d.C., os contextos documentados relacionam-se principalmente com a necrópole noroeste
de Olisipo e com a designada via “Norte”, mas também com uma via secundária orientada a E-O e com
algumas fossas de descarte que terão, em parte, precedido a construção da via e a utilização daquele
espaço enquanto necrópole (Silva, 2005; Silva, 2012a; Silva et al., 2016). Esta última terá funcionado en-
tre a segunda metade do séc. I d.C. e o séc. IV, tendo sido atestada uma intensa actividade de desman-
telamento de edifícios funerários no final do séc. III (Silva, 2012a, p. 399). Já a via principal, orientada a
SE-NO, parece ter sido edificada nos momentos finais do Principado de Tibério e sofrido diversas remo-
delações ou repavimentações desde a primeira centúria da nossa Era até ao final do séc. IV ou início do
V. Alguns dos contextos da Praça da Figueira mais detalhadamente analisados encontravam-se associa-
dos a esta via e permitiram a obtenção de cronologias finas. Tal é o caso dos estratos que colmatavam
a vala de drenagem associada à construção da via, datados entre a fase final de Tibério e o reinado de
Cláudio (Silva et al., 2016, p. 157), mais provavelmente de Cláudio uma vez que, para além das Lusitanas
Antigas, foram recolhidas variantes da fase Cláudio-Nero do tipo Haltern 70 do Guadalquivir e Dressel
20 Júlio-Cláudia; já no sector Norte da via, algo mais tardio que o sector Sul, os depósitos de preparação
para a sua construção e o primeiro pavimento foram datados entre os principados de Cláudio e Nero
(Silva, 2012b, p. 77-83; Silva et al., 2016, p. 157-158) com base num extenso conjunto de materiais, nos
quais se incluem ânforas dos tipos Lusitana Antiga, Haltern 70 (lusitana e do Guadalquivir), Dressel 20,
Tipo Urceus, Dressel 7-11, Dressel 2-4 tirrénica, Beltrán IIA ou B e uma asa de fabrico lusitano que poderá
corresponder à forma “Dressel 28” ou a um contentor de tipo Urceus (v. infra); também neste sector e
associado à vala lateral da via foi registado um contexto cronologicamente centrado na dinastia Flávia,
com presença de Dressel 20 e Haltern 70 béticas e de PE 25 da Ilha de Ibiza.
O eixo secundário, orientado a E-O e que entroncava com a via “Norte”, terá sido construído em tor-
no a meados do séc. I d.C. e abandonado no último terço do séc. III (Silva, 2012b, p. 77-83). Os contentores
anfóricos provenientes de contextos associados a esta via não são especialmente abundantes, tendo sido
identificadas Lusitanas Antigas e Haltern 70 béticas nos estratos de preparação para o seu primeiro piso,
datado do reinado de Cláudio. Já nas fossas detríticas o panorama é algo mais rico. A interface negativa
mais antiga [8933] data do período inicial de Tibério (Silva et al., 2016, p. 157) e revelou, nos depósitos que
a preenchiam, a presença de produções lusitanas dos tipos Haltern 70 e Lusitana Antiga, e de importações
da Bética, Haltern 70 e formas ovóides do Guadalquivir, da Tarraconense, Pascual 1, e das ilhas Eólias, Rich-
borough 527. No enchimento da fossa [8060], balizável entre os meados e o final do Principado de Tibério
(Silva et al., 2016, p. 157), foi recuperado um expressivo conjunto de materiais onde se incluíam ânforas dos
tipos Lusitana Antiga, Haltern 70 (lusitana e do Guadalquivir, sobretudo desta última região), bem como

54
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

7001.55
30030.06

30030.07
30048.01

30030.01

7166.27
30030.08

4936.01

[8933]
30030.09 7166.26
30030.10

9304.01
2029.01

30046.01

30032.02

2029.02
[8060]
10cm
9304.03 9245.02

Estampa 9 – Praça da Figueira, 2000. Contexto [8933] (fossa), período inicial de Tibério. Lusitânia: Lusitana An-
tiga (30030.06, 30030.07, 30030.08, 7166.27, 4936.01), Haltern 70 lusitana (30030.09, 30030.10). Bética, Vale do
Guadalquivir: Ovóide indeterminada (7001.55), Dressel 20 (30048.01), Haltern 70 (30030.01). Tarraconense, costa
setentrional (7166.26). Desenhos: adaptado a partir de Silva et al., 2016 e Silva, no prelo.
Contexto [8060] (fossa), meados a final do Principado de Tibério. Lusitânia: Lusitana Antiga (30032.02*, 2029.01),
Haltern 70 lusitana (9304.01, 30046.01*). Bética, Vale do Guadalquivir: Haltern 70 (9304.03, 2029.02**, 9245.02).
* in Silva et al., 2016. ** in Silva, no prelo.

55
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

9665.02

[8300]

30035.01
6433.03
6433.01

30031.02 30031.01

9837.01

30044.01 9680.07

30044.05

9680.01
9680.04

30031.05

30031.04

30031.03
[9907]/[9908]
10cm
30045.01

Estampa 10 – Praça da Figueira, 2000. Contexto [8300], final do Principado de Tibério a início do de Cláudio.
Lusitânia: Lusitana Antiga (6433.01*, 6433.03), Haltern 70 lusitana (9665.02). * in Silva et al., 2016. Contexto [9907]/
[9908], Principado de Cláudio a inícios do de Nero. Lusitânia: Lusitana Antiga (9837.01, 30031.02**, 30031.01**,
30031.04, 30031.05**, 30031.03**, 30045.01**), Haltern 70 lusitana (30044.05). Bética, costa ocidental: Dressel
9-10 (9680.01, 9680.04). Bética, Vale do Guadalquivir: Haltern 70 (30044.01, 9680.07). ** in Silva et al., 2016.

algumas formas mais antigas como a Ovóide 4, Oberaden 83/Ovóide 7, Classe 67/Ovóide 1 e Greco-Itálica/
Dressel 1. Refira-se ainda a fossa [9033], datada da década de 60 do séc. I d.C. (Silva et al., 2016, p. 158-160),
de onde provém igualmente um significativo conjunto artefactual, do qual fazem parte ânforas dos tipos
Lusitana Antiga, Peniche 6 e possivelmente Peniche 7, Haltern 70 béticas, Dressel 20 e Dressel 7-11.
Os contextos atrás referidos correspondem às realidades documentadas mais significativas cujos
conjuntos artefactuais foram já alvo de estudo detalhado. Na generalidade dos restantes contextos,
sobretudo nos quantitativamente mais expressivos, falta ainda efectuar esta análise, motivo pelo qual
as suas cronologias são em geral relativamente dilatadas.

56
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

6731.32
6731.11

6368.01

6737.39
6368.02
6559.01

6621.01
10cm 30055.03
6368.03

Estampa 11 – Praça da Figueira, 2000. Contexto [9033] (fossa), meados a final do Principado de Nero. Lusitânia:
Lusitana Antiga (6731.32*), Peniche 7? (6559.01*), Peniche 6 (6731.11*). Bética, costa ocidental: Dressel 9-10
(6368.01), Dressel 7-11 (6368.02). Bética, Vale do Guadalquivir: Dressel 20 Júlio-Cláudia (6621.01, 30055.03**,
6368.03**), Dressel 20 (6737.39**). * in Silva et al., 2016; ** in Silva, no prelo.

As ânforas recuperadas durante as modernas escavações conduzidas na Praça da Figueira cons-


tituem-se como o mais expressivo conjunto analisado no âmbito deste trabalho e, até ao momento,
em toda a cidade de Lisboa. Num total de 2854 fragmentos anfóricos diagnosticáveis e 1091 indivíduos,
13,38% correspondem a produções tardias, não englobadas neste estudo. Deste modo, a amostra que de
seguida se analisa é constituída por 2536 fragmentos (841 bordos, 286 fundos, 1408 asas e um bojo com
grafito), equivalentes a um Número Mínimo de 945 Indivíduos, dos quais 2,12% correspondem a ânforas
republicanas, 88,68% ao Principado e 7,72% a contentores de tipo indeterminado. Trata-se, portanto, de
uma amostra de alta fiabilidade estatística (Molina Vidal, 1997), suficientemente ilustrativa da curva de
consumo daquela zona da urbe e potencialmente bastante aproximada aos padrões gerais da cidade,
durante o Principado.
Ainda que à Fase I da Praça da Figueira correspondam (escassos) vestígios de uma ocupação repu-
blicana, as ânforas deste período foram integralmente recolhidas em contextos imperiais e pós-romanos,
com excepção de dois fragmentos de parede de ânforas tirrénicas (Silva, 2012b, p. 77), correspondendo,
por esse motivo, a elementos residuais na sua totalidade. O pequeno conjunto é composto por um total
de 35 fragmentos, dos quais 16 são bordos, cinco fundos e 14 asas ou arranques de asa, equivalendo a
um Número Mínimo de 20 Indivíduos. Apesar de pequena, a amostra republicana é surpreendentemente
diversificada quanto às regiões de proveniência e às formas, estando atestadas cinco áreas produtoras
e oito tipos distintos. Estes materiais revelam uma amplitude diacrónica que se estende dos momentos
mais antigos da presença romana em Olisipo até ao fim da República.

57
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 131 5,17% 49 5,19% 8,96% 8,69%
Lusitana Antiga/Dressel 14 9 0,35% 1 0,11% 0,18% 0,18%
Haltern 70 26 1,03% 21 2,22% 3,84% 3,72%
Dressel 14 689 27,17% 265 28,04% 48,45% 46,99%
Lusitânia, Tejo/Sado Dressel 14 parva 3 0,12% 2 0,21% 0,37% 0,35%
“Dressel 28” 4 0,16% 2 0,21% 0,37% 0,35%
Lusitana 3 619 24,41% 188 19,89% 34,37% 33,33%
Indeterminado 49 1,93% 19 2,01% 3,47% 3,37%
Total 1530 60,33% 547 57,88% 100%
Tipo 2 1 0,04% 1 0,11% 5,88% 0,18%
Tipo 6 1 0,04% 1 0,11% 5,88% 0,18%
Tipo 7 5 0,20% 5 0,53% 29,41% 0,89%
Lusitânia, Peniche
Tipo 10 7 0,28% 4 0,42% 23,53% 0,71%
Indeterminado 12 0,47% 6 0,63% 35,29% 1,06%
Total 26 1,03% 17 1,8% 100% 100%
Dressel 12 1 0,04% 1 0,11% 1,75% 0,37% 0,27%
Dressel 7-11 15 0,59% 4 0,42% 7,02% 1,47% 1,09%
Dressel 7 1 0,04% 1 0,11% 1,75% 0,43% 0,27%
Dressel 9-10 7 0,28% 7 0,74% 12,28% 2,57% 1,9%
Dressel 28 1 0,04% 1 0,11% 1,75% 0,37% 0,27%
Dressel 20 1 0,04% 1 0,11% 1,75% 0,37% 0,27%
Bética, costa ocidental Beltrán II 12 0,47% 1 0,11% 1,75% 0,37% 0,27%
Beltrán II/Keay XVI 2 0,08% 1 0,11% 1,75% 0,37% 0,27%
Beltrán IIA 4 0,16% 4 0,42% 7,02% 1,47% 1,09%
Beltrán IIB 26 1,03% 18 1,9% 31,6% 6,62% 4,89%
“Gauloise 4” 2 0,08% 1 0,11% 1,75% 0,37% 0,27%
Indeterminado 40 1,58% 17 1,80% 29,82% 6,25% 4,62%
Total 112 4,42% 57 6,03% 100% 15,49%
Dressel 7-11 1 0,04% 1 0,11% 20% 0,37% 0,27%
Dressel 28 1 0,04% 1 0,11% 20% 0,37% 0,27%
Bética, costa oriental Beltrán IIB 1 0,04% 1 0,11% 20% 0,37% 0,27%
Indeterminado 5 0,2% 2 0,21% 40% 0,74% 0,54%
Total 8 0,32% 5 0,53% 100% 1,36%
Oberaden 83/Ovóide 7 5 0,2% 3 0,32% 1,43% 1,1% 0,82%
Ovóide indeterminada 11 0,43% 5 0,53% 2,38% 1,84% 1,36%
Haltern 70 116 4,57% 27 2,86% 12,86% 9,93% 7,34%
Haltern 70 (inicial) 1 0,04% 1 0,11% 0,48% 0,37% 0,27%
Haltern 70 (Augusto-Tibério) 6 0,24% 6 0,63% 2,86% 2,21% 1,63%
Haltern 70 (Cláudio-Nero) 6 0,24% 6 0,63% 2,86% 2,21% 1,63%
Tipo Urceus 5 0,2% 3 0,32% 1,43% 1,1% 0,82%
Dressel 28 3 0,12% 2 0,21% 0,95% 0,74% 0,54%
Dressel 2-4 3 0,12% 2 0,21% 0,95% 0,74% 0,54%
Dressel 7-11 3 0,12% 2 0,21% 0,95% 0,74% 0,54%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) - Haltern 71 10 0,39% 5 0,53% 2,38% 1,84% 1,36%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 79 3,12% 45 4,76% 21,43% 16,54% 12,23%
Bética, Dressel 20 (Nero-Vespasiano) 13 0,51% 5 0,53% 2,38% 1,84% 1,36%
Vale do Guadalquivir Dressel 20 (Flávia-Trajana) 20 0,79% 14 1,48% 6,67% 5,15% 3,80%
Dressel 20 (Antonina) 67 2,64% 38 4,02% 18,1% 13,97% 10,33%
Dressel 20 (séc. III) 52 2,05% 18 1,9% 8,57% 6,62% 4,89%
Dressel 20 155 6,11% 14 1,48% 6,67% 5,15% 3,8%
Dressel 20 parva (Júlio-Cláudia) 4 0,16% 2 0,21% 0,95% 0,74% 0,54%
Dressel 20 parva (Flávia-Trajana) 4 0,16% 2 0,21% 0,95% 0,74% 0,54%
Dressel 20 parva (Antonina) 1 0,04% 1 0,11% 0,48% 0,37% 0,27%
Dressel 20 parva (séc. III) 1 0,04% 1 0,11% 0,48% 0,37% 0,27%
Dressel 20 parva 9 0,35% 1 0,11% 0,48% 0,37% 0,27%
Dressel 20 mini 6 0,24% 2 0,21% 0,95% 0,74% 0,54%
Dressel 20 mini (séc. III) 1 0,04% 1 0,11% 0,48% 0,37% 0,27%
Indeterminado 9 0,35% 4 0,42% 1,9% 1,47% 1,09%
Total 590 23,26% 210 22,22% 100% 100% 57,07%

Tabela 11 – Quantificação da totalidade das ânforas das recentes escavações da Praça da Figueira.

58
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Hispânia Ulterior, Dressel 1 1 0,04% 1 0,11% 100% 12,5% 0,27%
costa meridional Total 1 0,04% 1 0,11% 100% 0,27%
Classe 67/Ovóide 1 1 0,04% 1 0,11% 14,29% 12,5% 0,27%
Hispânia Ulterior, Ovóide 4 5 0,2% 5 0,53% 71,43% 62,5% 1,36%
Vale do Guadalquivir Ovóide 6 1 0,04% 1 0,11% 14,29% 12,5% 0,3%
Total 7 0,28% 7 0,74% 100% 100% 1,9%
Pascual 1 3 0,12% 3 0,32% 37,5% 30% 0,82%
Oberaden 74 2 0,08% 2 0,21% 25% 20% 0,54%
Tarraconense, Dressel 3-2 2 0,08% 1 0,11% 12,5% 10% 0,27%
costa setentrional “Gauloise 4” 1 0,04% 1 0,11% 12,5% 10% 0,27%
Indeterminado 1 0,04% 1 0,11% 12,5% 10% 0,27%
Total 9 0,35% 8 0,85% 100% 2,17%
PE 25 6 0,24% 2 0,21% 100% 20,0% 0,54%
Ilha de Ibiza
Total 6 0,24% 2 0,21% 100% 100% 0,54%
Hispânia Citerior, Greco-Itálica 1 0,04% 1 0,11% 100% 100% 0,27%
costa setentrional Total 1 0,04% 1 0,11% 100% 100% 0,27%
Gauloise 4 45 1,77% 14 1,48% 93,33% 93,33% 3,8%
Gália Narbonense Indeterminado 4 0,16% 1 0,11% 6,67% 6,67% 0,27%
Total 49 1,93% 15 1,59% 100% 100% 4,08%
Greco-Itálica 2 0,08% 2 0,21% 8% 6,67% 0,54%
Dressel 1 19 0,75% 6 0,63% 24% 20% 1,63%
Península Itálica, Greco-Itálica/Dressel 1 2 0,08% 1 0,11% 4% 3,33% 0,27%
costa tirrénica Dressel 2-4 45 1,77% 14 1,48% 56% 46,67% 3,8%
Indeterminado 4 0,16% 2 0,21% 8% 6,67% 0,54%
Total 72 2,84% 25 2,65% 100% 6,8%
Greco-Itálica 2 0,08% 1 0,11% 33,33% 3,33% 0,27%
Península Itálica, Brindisi 1 0,04% 1 0,11% 33,33% 3,33% 0,27%
costa adriática Dressel 6A 1 0,04% 1 0,11% 33,33% 3,33% 0,27%
Total 4 0,16% 3 0,32% 100% 0,82%
Richborough 527 5 0,20% 2 0,21% 100% 6,67% 0,54%
Ilha de Lipari
Total 5 0,20% 2 0,21% 100% 100% 0,54%
Tripolitana II 4 0,16% 3 0,32% 21,43% 21,43% 0,82%
Africana I 6 0,24% 3 0,32% 21,43% 21,43% 0,82%
Norte de África Africana IIA 3 0,12% 1 0,11% 7,14% 7,14% 0,27%
Indeterminado 15 0,59% 7 0,74% 50% 50% 1,9%
Total 28 1,10% 14 1,48% 100% 100% 3,8%
Tardo-Ródia/Camulodunum 184 15 0,59% 7 0,74% 38,89% 38,89% 1,9%
Dressel 2-4/5 8 0,32% 3 0,32% 16,67% 16,67% 0,82%
Agora M126/Contentores monoansados 1 0,04% 1 0,11% 5,56% 5,56% 0,27%
Mediterrâneo Oriental Ânforas de Quios 1 0,04% 1 0,11% 5,56% 5,56% 0,27%
Agora M54 6 0,24% 3 0,32% 16,67% 16,67% 0,82%
Indeterminado 6 0,24% 3 0,32% 16,67% 16,67% 0,82%
Total 37 1,46% 18 1,9% 100% 100% 4,89%
Dressel 2-4 4 0,16% 2 0,21% 15,38% 15,38%
Indeterminada Indeterminado 47 1,85% 11 1,16% 84,62% 84,62%
Total 51 2,01% 13 1,38% 100% 100%
TOTAL 2536 100% 945 100% 100%

Tabela 11 – Quantificação da totalidade das ânforas das recentes escavações da Praça da Figueira (cont.).

As importações da costa tirrénica da Península Itálica constituem-se como as mais representativas


(45%), sobretudo reveladas pela presença significativa da Dressel 1 (66,67% dessa região), especialmente
a variante A, mas também das Greco-Itálicas (22,22%). Igualmente significativa é a presença de formas
ovóides do Vale do Guadalquivir (35% dos envases republicanos) produzidas a partir do segundo quartel
do séc. I a.C., das quais adquire especial relevância a Ovóide 4 (71,43% dessa região), marcando também
presença as Classe 67/Ovóide 1 e as Ovóide 6 (14,29% cada). Um dos aspectos mais dissonantes deste
reduzido conjunto anfórico republicano é a ausência dos contentores piscícolas do tipo T-7.4.3.3. produ-
zidos na costa meridional da Ulterior, tão presentes em toda a cidade e habitualmente em proporções

59
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

bastante expressivas. De todas as formas fabricadas naquela região durante este período apenas se re-
gistou a presença da Dressel 1 (5%). As produções adriáticas representam 10% das ânforas republicanas,
observando-se a ocorrência de um exemplar de uma ânfora de Brindisi e um outro de Greco-Itálica. Em-
bora apenas representada por um exemplar, merece especial referência a presença das produções repu-
blicanas da costa setentrional da Hispânia Citerior, representadas por um exemplar de Greco-Itálica, por-
quanto a sua difusão para o extremo ocidental hispânico era, até aqui, totalmente desconhecida (v. infra).

9040.03
9774.01
9803.01

2175.08
2223.01 6654.01

2134.02

6580.01 6092.01

10cm
9588.16

Estampa 12 – Praça da Figueira, 2000. Ulterior, costa meridional: Dressel 1 (9803.01). Citerior, costa setentrional:
Greco-Itálica (9040.03). Península Itálica, costa tirrénica: Greco-Itálica (2223.01), Dressel 1 (6654.01, 2175.08, 2134.02,
9588.16(?), 6580.01), Greco-Itálica/Dressel 1 (6092.01). Península Itálica, costa adriática: Greco-Itálica (9774.01).

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Hispânia Ulterior, Dressel 1 1 2,86% 1 5% 100% 12,5% 5%
costa meridional Total 1 2,86% 1 5% 100% 5%
Classe 67/Ovóide 1 1 2,86% 1 5% 14,29% 12,5% 5%
Hispânia Ulterior, Ovóide 4 5 14,29% 5 25% 71,43% 62,5% 25%
Vale do Guadalquivir Ovóide 6 1 2,86% 1 5% 14,29% 12,5% 5%
Total 7 20% 7 35% 100% 100% 35%
Hispânia Citerior, Greco-Itálica 1 2,86% 1 5% 100% 100% 5%
costa setentrional Total 1 2,86% 1 5% 100% 100% 5%
Greco-Itálica 2 5,71% 2 10% 22,22% 18,18% 10%
Península Itálica, Dressel 1 19 54,29% 6 30% 66,67% 54,55% 30%
costa tirrénica Greco-Itálica/Dressel 1 2 5,71% 1 5% 11,11% 9,09% 5%
Total 23 65,71% 9 45% 100% 45%
Greco-Itálica 2 5,71% 1 5% 50% 9,09% 5%
Península Itálica,
Brindisi 1 2,86% 1 5% 50% 9,09% 5%
costa adriática
Total 3 8,57% 2 10% 100% 100% 10%
TOTAL 35 100% 20 100% 100%

Tabela 12 – Quantificação das ânforas republicanas das recentes escavações da Praça da Figueira.

60
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

Quanto aos produtos alimentares envasados nestas ânforas, observa-se a preponderância abso-
luta do vinho, representando 80% do total das ânforas republicanas. Provinha principalmente da costa
tirrénica da Península Itálica (56,25% deste artigo) nas Greco-Itálicas e Dressel 1, e do Vale do Guadal-
quivir (31,25%) nas Ovóide 4, mas também da costa setentrional da Hispania Citerior (6,25%) e do litoral
adriático da Península Itálica (6,25%), em ambos casos envasado em contentores de tipo Greco-Itálico. O
azeite constitui-se como o segundo produto mais comercializado, significando 15%, sendo importado nas
ânforas de Brindisi da região da Apúlia (33,33% desse produto) e, especialmente, do Vale do Guadalquivir
(66,67%), onde era envasado nas Classe 67/Ovóide 1 e nas Ovóide 6. Ao contrário do que usualmente
se observa em Olisipo e na generalidade dos sítios republicanos do Ocidente Peninsular, os preparados
piscícolas surgem escassamente atestados e com valores inferiores aos do consumo de azeite. Estão
representados apenas por um exemplar de Dressel 1 da costa meridional da Ulterior e significam apenas
5% da amostra republicana.
Estas proporções, tanto ao nível das regiões de origem e dos tipos como dos artigos alimentares,
destoam de forma assinalável dos padrões conhecidos para a cidade de Lisboa durante a fase final da
República. Tal dever-se-á imputar sobretudo à reduzida dimensão do conjunto e consequente escas-
sez de fiabilidade estatística, não sendo totalmente claro se o tipo de ocupação que terá existido nas
proximidades (que se desconhece) poderá ou não estar relacionado com esta curva de consumo. Inde-
pendentemente destas questões, será sempre de valorizar a presença destes materiais na zona Norte e
noroeste da cidade - estando igualmente presentes, como se viu, na Encosta de Sant’Ana -, porquanto
não se conhece aí, pelo menos até ao presente, qualquer ocupação significativa desse período.

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Dressel 1 1 5% 100% 100% 100%
Preparados Hispânia Ulterior, costa meridional
Total 1 5% 100% 100% 100%
piscícolas
Total 1 5% 100%
Ovóide 4 5 25% 100% 100% 31,25%
Hispânia Ulterior, Vale do Guadalquivir
Total 5 25% 100% 100% 31,25%
Greco-Itálica 1 5% 100% 100% 6,25%
Hispânia Citerior, costa setentrional
Total 1 5% 100% 100% 6,25%
Greco-Itálica 2 10% 22,22% 20% 12,5%
Vinho e
Dressel 1 6 30% 66,67% 60% 37,5%
derivados Península Itálica, costa tirrénica
Greco-Itálica/Dressel 1 1 5% 11,11% 10% 6,25%
Total 9 45% 100% 56,25%
Greco-Itálica 1 5% 100% 10% 6,25%
Península Itálica, costa adriática
Total 1 5% 100% 100% 6,25%
Total 16 80% 100%
Classe 67/Ovóide 1 1 5% 50% 50% 33,33%
Hispânia Ulterior, Vale do Guadalquivir Ovóide 6 1 5% 50% 50% 33,33%
Azeite Total 2 10% 100% 100% 66,67%
Brindisi 1 5% 100% 100% 33,33%
Península Itálica, costa adriática
Total 1 5% 100% 100% 33,33%
Total 3 15% 100%
TOTAL 20 100%

Tabela 13 – Quantificação por conteúdo das ânforas republicanas das recentes escavações da Praça da Figueira.

Mas é ao Principado que são atribuíveis a grande maioria dos contentores anfóricos da Praça da
Figueira, o que é perfeitamente coerente com os dados conhecidos acerca do período de utilização da-
quele espaço da cidade e havia já sido demonstrado nas leituras estratigráficas e na análise de outro tipo
de materiais (Silva, 2005; Silva, 2012a), tendo ficado igualmente patente no estudo das ânforas recolhi-
das durante as escavações da década de 60 do século passado (Almeida e Filipe, 2013). Desta época, fo-
ram contabilizados 2309 fragmentos diagnosticáveis (803 bordos, 253 fundos e 1253 asas), equivalentes

61
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 131 5,67% 49 5,75% 9,28% 9,09%
Lusitana Antiga/Dressel 14 9 0,39% 1 0,12% 0,19% 0,19%
Haltern 70 26 1,13% 21 2,46% 3,98% 3,9%
Dressel 14 689 29,84% 265 31,1% 50,19% 49,2%
Lusitânia, Tejo/Sado
Dressel 14 parva 3 0,13% 2 0,23% 0,38% 0,37%
“Dressel 28” 4 0,17% 2 0,23% 0,38% 0,37%
Lusitana 3 619 26,81% 188 22,07% 35,61% 34,88%
Total 1481 64,14% 528 61,97% 100%
Tipo 2 1 0,04% 1 0,12% 9,09% 0,19%
Tipo 6 1 0,04% 1 0,12% 9,09% 0,19%
Lusitânia, Peniche Tipo 7 5 0,22% 5 0,59% 45,45% 0,93%
Tipo 10 7 0,30% 4 0,47% 36,36% 0,74%
Total 14 0,61% 11 1,29% 100% 100%
Dressel 12 1 0,04% 1 0,12% 2,5% 0,4% 0,32%
Dressel 7-11 15 0,65% 4 0,47% 10% 1,61% 1,29%
Dressel 7 1 0,04% 1 0,12% 2,5% 0,48% 0,32%
Dressel 9-10 7 0,30% 7 0,82% 17,5% 2,81% 2,25%
Dressel 28 1 0,04% 1 0,12% 2,5% 0,4% 0,32%
Dressel 20 1 0,04% 1 0,12% 2,5% 0,4% 0,32%
Bética, costa ocidental
Beltrán II 12 0,52% 1 0,12% 2,5% 0,4% 0,32%
Beltrán II/Keay XVI 2 0,09% 1 0,12% 2,5% 0,4% 0,32%
Beltrán IIA 4 0,17% 4 0,47% 10% 1,61% 1,29%
Beltrán IIB 26 1,13% 18 2,11% 45,0% 7,23% 5,79%
“Gauloise 4” 2 0,09% 1 0,12% 2,5% 0,4% 0,32%
Total 72 3,12% 40 4,69% 100% 12,86%
Dressel 7-11 1 0,04% 1 0,12% 33,33% 0,4% 0,32%
Dressel 28 1 0,04% 1 0,12% 33,33% 0,4% 0,32%
Bética, costa oriental
Beltrán IIB 1 0,04% 1 0,12% 33,33% 0,4% 0,32%
Total 3 0,13% 3 0,35% 100% 0,96%
Oberaden 83/Ovóide 7 5 0,22% 3 0,35% 1,46% 1,2% 0,96%
Ovóide indeterminada 11 0,48% 5 0,59% 2,43% 2,01% 1,61%
Haltern 70 116 5,02% 27 3,17% 13,1% 10,84% 8,68%
Haltern 70 (inicial) 1 0,04% 1 0,12% 0,49% 0,4% 0,32%
Haltern 70 (Augusto-Tibério) 6 0,26% 6 0,7% 2,91% 2,41% 1,93%
Haltern 70 (Cláudio-Nero) 6 0,26% 6 0,7% 2,91% 2,41% 1,93%
Tipo Urceus 5 0,22% 3 0,35% 1,46% 1,2% 0,96%
Dressel 28 3 0,13% 2 0,23% 0,97% 0,8% 0,64%
Dressel 2-4 3 0,13% 2 0,23% 0,97% 0,8% 0,64%
Dressel 7-11 3 0,13% 2 0,23% 0,97% 0,8% 0,64%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) - Haltern 71 10 0,43% 5 0,59% 2,43% 2,01% 1,61%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 79 3,42% 45 5,28% 21,84% 18,07% 14,47%
Bética, Vale do Guadalquivir Dressel 20 (Nero-Vespasiano) 13 0,56% 5 0,59% 2,43% 2,01% 1,61%
Dressel 20 (Flávia-Trajana) 20 0,87% 14 1,64% 6,8% 5,62% 4,5%
Dressel 20 (Antonina) 67 2,90% 38 4,46% 18,45% 15,26% 12,22%
Dressel 20 (séc. III) 52 2,25% 18 2,11% 8,74% 7,23% 5,79%
Dressel 20 155 6,71% 14 1,64% 6,8% 5,62% 4,50%
Dressel 20 parva (Júlio-Cláudia) 4 0,17% 2 0,23% 0,97% 0,8% 0,64%
Dressel 20 parva (Flávia-Trajana) 4 0,17% 2 0,23% 0,97% 0,8% 0,64%
Dressel 20 parva (Antonina) 1 0,04% 1 0,12% 0,49% 0,4% 0,32%
Dressel 20 parva (séc. III) 1 0,04% 1 0,12% 0,49% 0,4% 0,32%
Dressel 20 parva 9 0,39% 1 0,12% 0,49% 0,4% 0,32%
Dressel 20 mini 6 0,26% 2 0,23% 0,97% 0,8% 0,64%
Dressel 20 mini (séc. III) 1 0,04% 1 0,12% 0,49% 0,4% 0,32%
Total 581 25,16% 206 24,18% 100% 100% 66,24%
Pascual 1 3 0,13% 3 0,35% 42,86% 33,33% 0,96%
Oberaden 74 2 0,09% 2 0,23% 28,57% 22,22% 0,64%
Tarraconense,
Dressel 3-2 2 0,09% 1 0,12% 14,29% 11,11% 0,32%
costa setentrional
“Gauloise 4” 1 0,04% 1 0,12% 14,29% 11,11% 0,32%
Total 8 0,35% 7 0,82% 100% 2,25%

Tabela 14 – Quantificação das ânforas do Principado das recentes escavações da Praça da Figueira.

62
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
PE 25 6 0,26% 2 0,23% 100% 22,22% 0,64%
Ilha de Ibiza
Total 6 0,26% 2 0,23% 100% 100% 0,64%
Gália Narbonense Gauloise 4 45 1,95% 14 1,64% 100% 100% 4,5%
Total 45 1,95% 14 1,64% 100% 100% 4,5%
Península Itálica, Dressel 2-4 45 1,95% 14 1,64% 100% 82,35% 4,5%
costa tirrénica Total 45 1,95% 14 1,64% 100% 4,5%
Península Itálica, Dressel 6A 1 0,04% 1 0,12% 100% 5,88% 0,32%
costa adriática Total 1 0,04% 1 0,12% 100% 0,32%
Richborough 527 5 0,22% 2 0,23% 100% 11,76% 0,64%
Ilha de Lipari
Total 5 0,22% 2 0,23% 100% 100% 0,64%
Tripolitana II 4 0,17% 3 0,35% 42,86% 42,86% 0,96%
Africana I 6 0,26% 3 0,35% 42,86% 42,86% 0,96%
Norte de África
Africana IIA 3 0,13% 1 0,12% 14,29% 14,29% 0,32%
Total 13 0,56% 7 0,82% 100% 100% 2,25%
Tardo-Ródia/Camulodunum 184 15 0,65% 7 0,82% 46,67% 46,67% 2,25%
Dressel 2-4/5 8 0,35% 3 0,35% 20% 20% 0,96%
Agora M126/Contentores monoansados 1 0,04% 1 0,12% 6,67% 6,67% 0,32%
Mediterrâneo Oriental
Ânforas de Quios 1 0,04% 1 0,12% 6,67% 6,67% 0,32%
Agora M54 6 0,26% 3 0,35% 20% 20% 0,96%
Total 31 1,34% 15 1,76% 100% 100% 4,82%
Dressel 2-4 4 0,17% 2 0,23% 100% 100%
Indeterminada
Total 4 0,17% 2 0,23% 100% 100%
TOTAL 2309 100% 852 100% 100%

Tabela 14 - Quantificação das ânforas do Principado das recentes escavações da Praça da Figueira (cont.).

a um Número Mínimo de 852 Indivíduos, evidenciando uma ampla geografia de origem onde estão re-
presentadas praticamente todas as grandes regiões produtoras cujos artigos foram comercializados
no Ocidente do Império, reveladas pela presença de 44 tipos distintos. Trata-se de um conjunto de alta
fiabilidade estatística, cujas principais características são precisamente a mencionada diversidade tipo-
lógica e de origem dos contentores, bem como o domínio absoluto dos produtos locais e regionais. A su-
premacia dos produtos lusitanos, com percentagens bem diferentes do que se observou nos materiais
das escavações de Irisalva Moita e Bandeira Ferreira, é mais evidente neste conjunto do que na amostra
global de Olisipo, ficando ainda assim aquém dos valores observados no Banco de Portugal onde aque-
les atingem os 70,32%. Este domínio deverá, entre outros, assentar principalmente em dois factores: por
um lado, o facto do sítio se localizar junto à área onde mais intensamente se instalou a indústria piscícola
de Olisipo; por outro, a cronologia dos contextos preservados na Praça da Figueira, essencialmente da
segunda metade do séc. I d.C. ao final do séc. III, ou seja, precisamente o lapso temporal em que a pro-
dução de ânforas lusitanas foi mais intensa. A este título, são bem demonstrativas as proporções das
produções lusitanas na Zara, Rua Augusta, localizada entre a Praça da Figueira e o Banco de Portugal,
onde esses artigos locais apresentam valores consideravelmente inferiores, o que deverá estar directa-
mente relacionado com a cronologia essencialmente Flávia dos contextos.
A hegemonia das produções lusitanas (63,26% dos envases alto-imperiais) é sobretudo eviden-
ciada pela presença massiva de ânforas do tipo Dressel 14 (50,57% dos envases lusitanos) e Lusitana 3
(35,61%), significando em conjunto 53,4% de todos os contentores do Principado. Igualmente destacá-
vel é o importante conjunto de 70 indivíduos atribuíveis às mais precoces produções da Lusitania, aqui
representadas pelas Lusitanas Antigas (49 NMI) e Haltern 70 (21 NMI), significando 8,22% da amostra
alto-imperial e 13% dos envases locais/regionais. Para além de se constituir como o maior conjunto destes
modelos precoces em Lisboa, verifica-se que parte considerável desses materiais provém de contextos
datados da época da sua produção, nomeadamente das fossas e níveis associados à construção da via
anteriormente referidos, fornecendo importantes dados contextuais e cronológicos para o estudo des-
tas formas. Refira-se ainda a presença minoritária de formas enquadráveis nas denominadas “Dressel
28” lusitanas, representadas apenas por dois indivíduos (0,23% do NMI e 0,38% dos envases lusitanos).
Para além das produções acima mencionadas, todas elas imputáveis às áreas produtoras dos vales do

63
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

9728.01 9786.01

6492.01

30005.01
6496.01

9252.04
6496.01
9048.03

2051.01

6641.01 2019.01

9153.02

2134.01 30088.01

6316.02

2030.02
6719.05

30000.01 6628.01
6354.02

9740.01
9972.01 9623.01
6861.01

30023.01
6450.03

6297.01
9239.01

6628.01

9866.07
6539.02 9966.01 10cm
9882.03

Estampa 13 – Praça da Figueira, 2000. Lusitânia: Haltern 70 lusitana (9786.01, 6492.01, 30005.01, 6496.01,
9252.04, 6496.01, 9048.03, 2051.01, 6641.01, 2019.01), Lusitana Antiga (todas as restantes).

64
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

6862.02
6608.01
6104.01

6450.01 2249.01
6333.01

2058.02

9744.02 2105.02
2221.01 2687.06 2568.01
10cm

Estampa 14 – Praça da Figueira, 2000. Lusitânia: Lusitana Antiga (2221.01, 9744.02, 2687.06(?), 2105.02), Peniche 2
(6862.02), Peniche 7 (6104.01, 6608.01), Peniche 10 (6333.01, 6450.01, 2249.01, 2568.01(?)), “Dressel 28”
(2058.02).

Tejo e do Sado e representando 97,96% das ânforas lusitanas, foi ainda identificado um pequeno conjun-
to de contentores originários do centro produtor do Morraçal da Ajuda, Peniche, significando 1,29% da
amostra Alto-Imperial e 2,04% dos envases produzidos na área da antiga Lusitânia. Apesar de estatistica-
mente pouco relevante no âmbito da amostra alto-imperial da Praça da Figueira e de Lisboa, constitui-se,
ainda assim, como o maior conjunto de ânforas daquela área produtora detectado em Olisipo. Estão pre-
sentes as formas 2, 3, 7 e 10, sendo as duas últimas as mais representativas. À semelhança das Lusitanas
Antigas e Haltern 70 lusitanas, foram também documentados alguns destes contentores em contextos
bem definidos do ponto de vista cronológico e coevos com a sua comercialização.
Relativamente às importações extraprovinciais, a proximidade geográfica da Baetica aliada à
enérgica produção de bens alimentares e de contentores anfóricos naquela província assumem-se cer-
tamente como as principais razões para um tão grande domínio dos produtos daquela região, signifi-
cando 29,23% do conjunto imperial e uns expressivos 80,06% no quadro das importações com origem
exterior à Lusitania. Estes valores aproximam-se bastante dos da leitura global da cidade, diferindo
apenas em cerca de 1%, observando-se todavia algumas diferenças nas proporções das distintas áreas
produtoras da província vizinha. Estas traduzem-se essencialmente, por um lado, no maior peso dos ar-
tigos do Guadalquivir na amostra da Praça da Figueira e, por outro, numa ligeira diminuição das percen-
tagens dos produtos do litoral. Ainda que pouco significativas, na base destas diferenças deverão estar
sobretudo factores relacionados com a cronologia dos contextos, verificando-se na Praça da Figueira
uma menor representação de ânforas da Época de Augusto e da primeira metade do séc. I d.C. relati-
vamente aos valores globais da urbe. Os contentores da região litoral (17,3% dos envases béticos) são
bastante elucidativos em relação a esta questão, observando-se que, proporcionalmente, a importação
dos tipos Beltrán IIA e, principalmente, Beltrán IIB (em conjunto, 58% dos artigos do litoral ocidental)
adquire maior expressão quantitativa do que a dos tipos 7 a 11 de Dressel (30%). Estas ânforas piscícolas
significam em conjunto 85% dos produtos oriundos da costa ocidental. De forma claramente minoritária
marcam também presença outros tipos daquela região, tais como a Dressel 28, a “Gauloise 4”, a Dressel
12 e a Dressel 20 costeira. Já da costa oriental bética estão presentes os tipos Dressel 7-11, Dressel 28 e
Beltrán IIB, todos representados apenas por um indivíduo.

65
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

2264.01 30021.01
9198.05

6711.01
6118.01

9278.01
9153.01
6625.01

6650.01 9572.05
9120.01

9772.01
2292.01

6532.01
9965.01
6625.02

6494.04
6624.01
10cm
6631.01

Estampa 15 – Praça da Figueira, 2000. Lusitânia: Dressel 14.

66
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

9840.01 30011.01

6621.01
9128.04

6134.04

9718.01

9216.01

9205.01

9126.02

2719.01

2026.01

9793.01

6664.01

9126.01

9022.02 9886.01 9584.01

2119.01 9859.03
9112.01 6456.01
10cm
9588.14

Estampa 16 – Praça da Figueira, 2000. Lusitânia: Dressel 14.

67
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

30011.02

30020.01
9605.01

2130.01 9661.01
9791.02

6702.01
9279.01

6498.01
2451.01

6351.01 9820.01

9107.04 9184.01
6383.01

6414.03 9601.02
9926.01 10cm

Estampa 17 – Praça da Figueira, 2000. Lusitânia: Lusitana 3.

68
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

9588.07
9126.04
9805.01

9111.01 9763.01 9973.07

9926.02 9111.02
9123.01

2249.05
9601.04
30011.04

9318.01
9791.03

9886.02

10cm 6289.01
30011.03

Estampa 18 – Praça da Figueira, 2000. Lusitânia: Lusitana 3. Fundo nº 9886.02, Lusitana 3?

No que se refere ao Vale do Guadalquivir, as importações privilegiaram sobretudo a comercializa-


ção do azeite (73,79% dos envases daquela área produtora), estando presentes a Oberaden 83/Ovóide 7
(1,46%) e muito provavelmente a Haltern 71 (2,43%), mas principalmente as diversas variantes da Dressel
20 (69,9%). Estas últimas, testemunhando a distribuição daquele artigo desde o segundo quartel do séc.
I d.C. até ao séc. III, denunciam um pico na sua comercialização durante a dinastia Júlio-Cláudia seguido
de uma queda abrupta a partir de Nero-Vespasiano, com ligeira subida na fase Flávia-Trajana e impor-
tante retoma durante o restante período da dinastia Antonina, altura em que atinge valores aproxima-
dos aos de meados do séc. I d.C., decaindo durante o séc. III, ainda que para níveis não tão baixos como
os que se verificaram entre o reinado de Nero e Trajano. Esta leitura, ainda que com algumas variações,
parece estar em sintonia com os dados globais da cidade, com excepção das variantes do séc. III que
adquirem na Praça da Figueira uma representação mais expressiva.
O vinho produzido naquela área interior da província da Baetica representou igualmente um im-
portante papel no abastecimento de bens alimentares a Olisipo, sendo isso inteiramente perceptível na
amostra da Praça da Figueira. O contentor que melhor representa esse comércio é sem dúvida a Haltern
70, significando 19,4% das ânforas do Vale do Guadalquivir e 12,86% das importações extraprovinciais.
Embora em boa parte dos bordos deste tipo não tenha sido possível uma atribuição às suas distintas fa-
ses/variantes, observa-se o predomínio das variantes de Augusto-Tibério e Cláudio-Nero. Em proporções

69
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

bem mais discretas surgem ainda as ânforas de Tipo Urceus (1,46% dos envases do Guadalquivir), as
Dressel 28 (0,97%) e as Dressel 2-4 (0,97%), todas destinadas ao transporte de vinho. O quadro de impor-
tações daquela região fica completo com os dois indivíduos atribuíveis ao tipo Dressel 7-11 (0,97%), cuja
presença em Lisboa era já conhecida (Filipe, 2008a; Filipe, 2015).

9638.02
9237.02

6218.01

9638.01
2261.01

9806.01

6719.01

9069.01

9037.06

9914.05

9866.01

9044.01

6479.02

6495.01
2125.02

9015.01
6544.02

9125.01

2175.10

9755.02
2767.03 10cm

Estampa 19 – Praça da Figueira, 2000. Bética, costa ocidental: Dressel 12? (9237.02), Dressel 7 (9638.02), Dres-
sel 9-10 (9638.01, 2261.01, 9806.01, 9069.01), Dressel 7-11 (6218.01, 6719.01, 6479.02, 9015.01), Beltrán IIA
(9037.06, 9044.01, 6495.01), Beltrán IIB (9866.01(?), 9914.05, 2125.02, 2767.03, 9125.01), Dressel 28 (6544.02),
Tipo Indeterminado (2175.10). Bética, costa oriental: Dressel 28 (9755.02).

70
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

9252.01 9263.04

9252.02
9933.01

2257.01
6608.05

9734.01
2089.01 2073.01

9910.01

6833.01

6867.01 2249.09
6680.01

9807.01

6902.01 6911.01
11000.01

9783.01

10cm
6576.01

Estampa 20 – Praça da Figueira, 2000. Bética, Vale do Guadalquivir: Haltern 70 (9252.01, 9252.02), Haltern 70
Cláudio-Nero (9263.04), Haltern 71/Dressel 20 Júlio-Cláudia (6608.05), Dressel 20 Júlio-Cláudia (2257.01,
6833.01*, 9734.01*, 9910.01*, 6867.01*, 9807.01*, 6902.01*), Dressel 20 Nero-Vespasiano (2073.01, 6680.01*),
Dressel 20 Antonina (6911.01*), Dressel 20 séc. III (11000.01*, 6576.01*), Dressel 20 (9933.01, 2089.01*, 2249.09*,
9783.01*). * in Fabião et al., 2016.

71
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

6907.02 9900.01

2751.01

6060.01 2105.03
2511.02

6484.02

9042.01 9656.01 10cm

Estampa 21 – Praça da Figueira, 2000. Tarraconense, costa setentrional: Pascual 1 (6060.01, 6484.02), Oberaden 74
(6907.02, 9900.01), Dressel 3-2 (2105.03), Gauloise 4 (2751.01). Ebusus: PE 25 (9042.01, 9656.01, 2511.02).

9291.02 6847.02
6674.01

6083.01
9696.01
6493.06

6647.01 2714.02
2687.01

30061.01 2079.01 6574.07

10cm

Estampa 22 – Praça da Figueira, 2000. Gália: Gauloise 4.

72
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

As restantes regiões produtoras da bacia mediterrânea presentes no conjunto anfórico da Praça


da Figueira adquirem uma expressão estatística claramente minoritária, situando-se todas abaixo dos
2% do NMI e significando em conjunto apenas 7,51% da amostra alto-imperial, divergindo de forma mais
ou menos significativa, em termos proporcionais, dos dados globais de Lisboa. O Mediterrâneo Oriental
constitui-se como a mais importante dessas regiões, representando 1,76% da amostra e 4,82% dos pro-
dutos extraprovinciais. Entre estas produções, as ânforas Tardo-Ródias/Camulodunum 184 são as mais
representativas (46,67%), como de resto acontece na leitura global da cidade, seguidos pelas Dressel
2-4/5 e Agora M54, estas últimas produzidas junto à costa da Cilícia (20% em ambos casos). Mais discreta
é a presença de dois tipos até aqui desconhecidos no Ocidente hispânico, a Agora M126 e uma ânfora
de Quios, representados apenas por um indivíduo cada (6,67%), sendo o primeiro caso único na cidade
de Lisboa e o segundo conhecido também por um só exemplar no conjunto da Rua das Pedras Negras,
igualmente analisado no âmbito deste trabalho.
A Gália e a costa tirrénica da Península Itálica apresentam percentagens iguais, significando cada
uma delas 1,64% da amostra e 4,5% das importações extraprovinciais. A primeira região é representada
somente pela Gauloise 4 (14 NMI) enquanto da segunda se regista a presença do tipo Dressel 2-4 (14
NMI). Recorde-se que no conjunto procedente das escavações antigas da Praça da Figueira foi identi-
ficada também a Gauloise 5. Comparativamente aos dados globais da cidade, a proporção de ânforas
provenientes da Gallia na amostra da Praça da Figueira é relativamente reduzida e pouco diversificada,
sendo ultrapassada pelas produções oriundas do Mediterrâneo Oriental. Outra aparente dissonância é

6405.01 30053.02
9791.01

9974.01

9749.02
6432.01

9912.01
2652.05

6635.01
9793.03
9120.06
9815.07
6296.02

2072.01
10cm 2497.01 6169.01

Estampa 23 – Praça da Figueira, 2000. Península Itálica, costa tirrénica: Dressel 2-4 (6405.01, 30053.02, 9974.01,
6432.01, 9793.03, 6296.02, 9815.07, 2652.05, 9791.01, 9749.02, 9912.01, 6635.01). Península Itálica, costa
adriática: Dressel 6B (6169.01). Ilha de Lipari: Richborough 527 (2072.01, 2497.01, 9120.06).

73
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

9825.03
9124.01

9158.13
9653.01
9788.07

30085.01 6703.02 9701.01


2752.01

6530.01
10cm 9419.02
9207.01

Estampa 24 – Praça da Figueira, 2000. Norte de África: Tripolitana II (9825.03, 9653.01, 9158.13, 30085.01(?)),
Africana IA (9124.01, 9788.07, 9701.01), Africana I? (9419.02, 6530.01, 6703.02), Africana IIA (9207.01, 2752.01(?)).

10540.01

6912.10
6608.02

10511.01 6674.02

6648.06

9243.01 6418.03 6527.04

2037.02
6576.06

2080.04

6899.04

6912.03 6625.03
10cm

Estampa 25 – Praça da Figueira, 2000. Mediterrâneo oriental: Tardo-Ródia/Camulodunum 184 (10540.01, 6608.02,
6674.02, 10511.01, 6912.10, 9243.01, 6648.06, 6527.04), Dressel 2-4/5 (2080.04, 6912.03, 6418.03), Ânforas de
Quios (2037.02), Agora M54 (6899.04, 6625.03), Agora M126 (6576.06).

74
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

a discreta representação das importações com origem no Norte de África, apenas 0,82% do NMI e 2,25%
dos artigos extraprovinciais na amostra da necrópole noroeste, enquanto na leitura global apresentam
valores mais elevados, ultrapassando inclusivamente as importações itálicas. Estão atestados os tipos
Tripolitana II, Africana I e Africana IIA, sendo esta última a menos representativa. Esta sub-representa-
ção dos produtos norte-africanos é particularmente observável no facto de os produtos provenientes
da Tarraconense (0,82% NMI) atingirem idênticas percentagens àqueles, quando usualmente os pri-
meiros representam perto do triplo dos segundos. Tal justifica-se não só pela sub-representação dos
artigos norte-africanos mas também pela presença algo mais expressiva na Praça da Figueira de ânforas
tarraconenses. De facto, o conjunto de contentores com essa origem documentado neste sítio repre-
senta mais de um terço do total documentado em toda a cidade de Lisboa no âmbito deste trabalho,
estando aqui atestados todos os tipos dessa região conhecidos em Olisipo. São eles a Pascual 1 (42,86%
dos envases da costa setentrional da Tarraconensis), a Oberaden 74 (28,57%), a Dressel 3-2 (14,29%) e
a “Gauloise 4” (14,29%), sendo que, destes, o primeiro e o terceiro estavam já atestados no conjunto
proveniente das escavações antigas de Irisalva Moita e Bandeira Ferreira (Almeida e Filipe, 2013). As
restantes áreas produtoras, Ilha de Ibiza (0,23% do NMI e 0,64% dos envases extraprovinciais), costa
adriática da Península Itálica (0,12% - 0,32%) e Ilha de Lipari (0,23% - 0,64%), apresentam valores pratica-
mente vestigiais, embora a sua documentação não seja de todo despicienda. Da primeira região estão
presentes as PE 25, cuja distribuição no Ocidente Peninsular é assaz escassa e a presença em Olisipo
até aqui desconhecida, observando-se situação análoga em relação à Dressel 6A adriática. Igualmente
escassa no antigo território da Lusitania, a Richborough 527 estava, todavia, já documentada na cidade
de Lisboa, precisamente na Praça da Figueira (Almeida e Filipe, 2013), bem como no Teatro Romano
(Filipe, 2008a; Filipe, 2015).
Numa óptica de análise ao consumo alimentar, o conjunto da Praça da Figueira é em termos ge-
rais, ainda que com ligeiras diferenças, bastante aproximado aos dados globais da cidade, verificando-
-se o consumo maioritário de preparados piscícolas e do vinho e seus derivados, seguidos do azeite e
do alúmen, este último apenas vestigial. O primeiro destes produtos, significando 43,46% da amostra
global do Principado, é maioritariamente constituído pelos produtos locais e regionais que representam
88,89% dos envases piscícolas. No âmbito dos produtos lusitanos dominam os preparados oriundos dos
vales dos rios Tejo e Sado (96,65%), sendo claramente minoritários os que provêm da área de Peniche
(3,35%). A este respeito, no conjunto das amostras estatisticamente mais significativas de Lisboa é na
Praça da Figueira que os artigos do Morraçal da Ajuda atingem uma maior representatividade, pelo que,
ainda que claramente minoritários, se poderá considerar que neste sítio se encontram excepcionalmen-
te bem representados. Com excepção do Tipo 12, estão presentes todas as outras formas fabricadas na-
quele centro produtor que se encontram atestadas em Olisipo, Tipos 2, 3, 7 e 10, com especial incidência
dos dois últimos. Já no que se refere aos envases piscícolas dos vales dos rios Tejo e Sado, o cenário é
totalmente dominado pela Dressel 14, incluindo o que parece corresponder a um módulo de menores
dimensões, significando 81,40% dos contentores piscícolas lusitanos, 72,34% das ânforas destinadas a
envasar esse produto e 31,33% do Número Mínimo de Indivíduos. O quadro das produções piscícolas
do Tejo e do Sado fica completo com o significativo conjunto de Lusitanas Antigas que, embora apenas
signifiquem 14,94% dos envases lusitanos, representam 13,28% da totalidade de contentores piscícolas,
sendo ultrapassadas apenas pelas Dressel 14.

30026.01 9687.01 9166.04


6448.01 10cm

Estampa 26 – Praça da Figueira, 2000. Ânforas de tipo e proveniência indeterminados.

75
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Lusitana Antiga 49 5,75% 15,46% 14,94% 13,28%
Lusitana Antiga/Dressel 14 1 0,12% 0,32% 0,3% 0,27%
Lusitânia, Tejo/Sado Dressel 14 265 31,1% 83,6% 80,79% 71,8%
Dressel 14 parva 2 0,23% 0,63% 0,61% 0,54%
Total 317 37,21% 100% 85,91%
Tipo 2 1 0,12% 9,09% 0,3% 0,27%
Tipo 6 1 0,12% 9,09% 0,3% 0,27%
Lusitânia, Peniche Tipo 7 5 0,59% 45,45% 1,52% 1,36%
Tipo 10 4 0,47% 36,36% 1,22% 1,08%
Preparados piscícolas

Total 11 1,29% 100% 100% 2,98%


Dressel 12 1 0,12% 2,7% 2,44% 0,27%
Dressel 7-11 4 0,47% 10,81% 9,76% 1,08%
Dressel 7 1 0,12% 2,7% 2,44% 0,27%
Dressel 9-10 7 0,82% 18,92% 17,07% 1,9%
Bética, costa ocidental Beltrán II 1 0,27% 2,7% 2,44% 0,27%
Beltrán II /Keay XVI 1 0,12% 2,7% 2,44% 0,27%
Beltrán IIA 4 0,47% 10,81% 9,76% 1,08%
Beltrán IIB 18 2,11% 48,65% 43,9% 4,88%
Total 37 4,5% 100% 10,0%
Dressel 7-11 1 0,12% 50% 2,44% 0,27%
Bética, costa oriental Beltrán IIB 1 0,12% 50% 2,44% 0,27%
Total 2 0,23% 100% 0,54%
Bética, Dressel 7-11 2 0,23% 100% 4,88% 0,54%
Vale do Guadalquivir Total 2 0,23% 100% 100% 0,54%
Total 369 43,46% 100%
“Dressel 28” 2 0,23% 1,05% 1,05% 0,68%
Lusitânia, Tejo/Sado Lusitana 3 188 22,07% 98,95% 98,95% 63,73%
Total 190 22,3% 100% 100% 64,41%
Dressel 28 1 0,12% 50% 2% 0,34%
Bética, costa ocidental “Gauloise 4” 1 0,12% 50% 2% 0,34%
Total 2 0,23% 100% 0,68%
Dressel 28 1 0,12% 100% 2% 0,34%
Bética, costa oriental
Total 1 0,12% 100% 0,34%
Haltern 70 27 3,17% 57,45% 54% 9,15%
Haltern 70 (inicial) 1 0,12% 2,13% 2% 0,34%
Haltern 70 (Augusto-Tibério) 6 0,7% 12,77% 12% 2,03%
Bética, Haltern 70 (Cláudio-Nero) 6 0,7% 12,77% 12% 2,03%
Vale do Guadalquivir Tipo Urceus 3 0,35% 6,38% 6% 1,02%
Dressel 28 2 0,23% 4,26% 4% 0,68%
Dressel 2-4 2 0,23% 4,26% 4% 0,68%
Total 47 5,52% 100% 100% 15,93%
Vinho e derivados

Pascual 1 3 0,35% 42,86% 33,33% 1,02%


Oberaden 74 2 0,23% 28,57% 22,22% 0,68%
Tarraconense,
Dressel 3-2 1 0,12% 14,29% 11,11% 0,34%
costa setentrional
“Gauloise 4” 1 0,12% 14,29% 11,11% 0,34%
Total 7 0,82% 100% 2,37%
PE 25 2 0,23% 100% 22,22% 0,68%
Ilha de Ibiza
Total 2 0,23% 100% 100% 0,68%
Gauloise 4 14 1,64% 100% 100% 4,75%
Gália Narbonense
Total 14 1,64% 100% 100% 4,75%
Península Itálica, Dressel 2-4 14 1,64% 100% 93,33% 4,75%
costa tirrénica Total 14 1,64% 100% 4,75%
Península Itálica, Dressel 6A 1 0,12% 100% 6,67% 0,34%
costa adriática Total 1 0,12% 100% 100% 0,34%
Tardo-Ródia/Camulodunum 184 7 0,82% 46,67% 46,67% 2,37%
Dressel 2-4/5 3 0,35% 20% 20% 1,02%
Agora M126/Contentores monoansados 1 0,12% 6,67% 6,67% 0,34%
Mediterrâneo Oriental
Ânforas de Quios 1 0,12% 6,67% 6,67% 0,34%
Agora M54 3 0,35% 20% 20% 1,02%
Total 15 1,76% 100% 100% 5,08%
Indeterminada Dressel 2-4 2 0,23% 100% 100% 0,68%
Total 2 0,23% 100% 100% 0,68%
Total 295 34,62% 100%

Tabela 15 – Quantificação por conteúdo das ânforas do Principado das recentes escavações da Praça da Figueira.

76
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Bética, Dressel 20 1 0,12% 100% 0,65% 0,64%
costa ocidental Total 1 0,12% 100% 0,64%
Oberaden 83/Ovóide 7 3 0,35% 1,97% 1,96% 1,92%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) - Haltern 71 5 0,59% 3,29% 3,27% 3,21%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 45 5,28% 29,61% 29,41% 28,85%
Dressel 20 (Nero-Vespasiano) 5 0,59% 3,29% 3,27% 3,21%
Dressel 20 (Flávia-Trajana) 14 1,64% 9,21% 9,15% 8,97%
Dressel 20 (Antonina) 38 4,46% 25% 24,84% 24,36%
Dressel 20 14 1,64% 9,21% 9,15% 8,97%
Bética, Dressel 20 parva (Júlio-Cláudia) 2 0,23% 1,32% 1,31% 1,28%
Azeite

Vale do Guadalquivir Dressel 20 parva (Flávia-Trajana) 2 0,23% 1,32% 1,31% 1,28%


Dressel 20 parva (Antonina) 1 0,12% 0,66% 0,65% 0,64%
Dressel 20 parva 1 0,12% 0,66% 0,65% 0,64%
Dressel 20 mini 2 0,23% 1,32% 1,31% 1,28%
Dressel 20 (séc. III) 18 2,11% 11,84% 11,76% 11,54%
Dressel 20 parva (séc. III) 1 0,12% 0,66% 0,65% 0,64%
Dressel 20 mini (séc. III) 1 0,12% 0,66% 0,65% 0,64%
Total 152 17,84% 100% 100% 97,44%
Africana I 3 0,35% 100% 100% 1,92%
Norte de África
Total 3 0,35% 100% 100% 1,92%
Total 156 18,31% 100%
Ilha de Lipari Richborough 527 2 0,23% 100% 100% 100%
Alúmen Total 2 0,23% 100% 100% 100%
Total 2 0,23% 100%
Haltern 70 21 2,46% 100% 100% 70%
Lusitânia, Tejo/Sado
Total 21 2,46% 100% 100% 70%
Indeterminado

Bética, Ovóide indeterminada 5 0,59% 100% 100% 16,67%


Vale do Guadalquivir Total 5 0,59% 100% 100% 16,67%
Tripolitana II 3 0,35% 75% 75% 10%
Norte de África Africana IIA 1 0,12% 25% 25% 3,33%
Total 4 0,47% 100% 100% 13,33%
Total 30 3,52% 100%
TOTAL 852 100%

Tabela 15 – Quantificação por conteúdo das ânforas do Principado das recentes escavações da Praça da Figueira
(cont.).

Os preparados à base de peixe com origem extraprovincial são exclusivamente procedentes da


Baetica (11,11%), nomeadamente da costa ocidental (10,03%) e oriental (0,54%) e inclusivamente do Vale
do Guadalquivir (0,54%). Da primeira região, o tipo Beltrán IIB corresponde, de longe, ao contentor mais
importado (48,65% dos envases dessa área), seguido das formas 7 a 11 da tabela de Dressel (32,43%).
A Beltrán IIA surge de forma relativamente discreta, não ultrapassando os 10,81%, e da Dressel 12 foi
identificado apenas um indivíduo (2,7%). Este panorama é claramente um reflexo da cronologia dos
contextos registados na Praça da Figueira, com maior incidência nos séculos II e III d.C. e consequente
menor representatividade das formas do séc. I d.C., principalmente as Dressel 7-11. Da costa oriental da
Bética e do Vale do Guadalquivir procedem apenas quatro indivíduos, Beltrán IIB da primeira e Dressel
7-11 de ambas, no que se poderá constituir como um indicador de uma menor capacidade produtiva da
segunda relativamente à costa ocidental e, sobretudo, na clara primazia das exportações desta última
para o Ocidente Peninsular.
O panorama do consumo de vinho, que representa 34,62% dos produtos transportados em ânfo-
ras, difere significativamente do dos preparados à base de peixe no que se refere à diversidade de re-
giões produtoras e tipos anfóricos que o transportavam. Embora os produtos lusitanos sejam maioritá-
rios (64,41% dos envases vinários), ainda que de forma menos expressiva que nos preparados piscícolas,
verifica-se a importação do apreciado líquido de praticamente todas as grandes regiões produtoras do
Mediterrâneo, com excepção do Norte de África, e uma menor importância dos produtos béticos relati-
vamente às restantes áreas produtivas do Mar Interior. O vinho local/regional era quase exclusivamente
envasado em contentores do tipo Lusitana 3, significando 98,95% das ânforas vinárias lusitanas e 63,73%

77
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

do consumo total de vinho. Apenas a presença residual de “Dressel 28” parece contrariar a hegemonia
daquela forma na distribuição do apreciado líquido lusitano, representando somente 0,68% da globali-
dade dos envases vinários, numa clara demonstração do carácter minoritário daquelas produções.
No contexto das importações extraprovinciais, o Vale do Guadalquivir constitui-se como a prin-
cipal área de importação, significando 15,93% do vinho consumido. A sua presença está atestada prin-
cipalmente pelas Haltern 70 (85,11% do vinho dessa região), particularmente em alguns contextos bem
datados do séc. I d.C.. As restantes formas documentadas, Tipo Urceus (6,38%), Dressel 28 (4,26%) e
Dressel 2-4 (4,26%) surgem em proporções bem mais modestas, remetendo de igual forma principal-
mente para uma distribuição durante o séc. I d.C.. Inteiramente perceptível na amostra da Praça da
Figueira, esta redução da importação do vinho bético a partir do final do séc. I d.C. e início do séc. II
ter-se-á relacionado estreitamente com o início da produção vitivinícola local e regional a larga escala,
de que a larga presença de Lusitana 3 representa eloquente testemunho. Embora algumas das ânforas
vinárias do Guadalquivir atestadas neste sítio possam ter chegado já durante o séc. II d.C., terá sido prin-
cipalmente no século anterior que tal ocorreu. O mesmo se poderá referir relativamente às produções
do litoral da Baetica, Dressel 28 e “Gauloise 4” da costa ocidental (0,68% dos envases vinários) e Dressel
28 da costa oriental (0,34%), sendo estes claramente minoritários.
Os vinhos do Mediterrâneo Oriental estão bem representados (5,08% dos envases vinários), sendo
ultrapassados apenas pelos do Vale do Guadalquivir no quadro das importações extraprovinciais, supe-
riorizando-se mesmo aos da Gália e da Península Itálica. A sua representatividade na necrópole noroeste
de Olisipo aproxima-se bastante do que se verifica nos dados globais da cidade. Destacam-se os vinhos
oriundos da Ilha de Rodes, significando 46,67% das importações da área oriental do Mediterrâneo, segui-
dos pelos transportados em contentores do tipo Dressel 2-4/5 e Agora M54, significando ambos 20%. Os
tipos Agora M126 e ânfora de Quios, a que já se fez alusão, são meramente vestigiais, representando em
ambos casos somente 0,34% dos envases vinários, constituindo-se, porém, como importantes testemu-
nhos do comércio de artigos de luxo provenientes de longínquas paragens e destinados às mais influen-
tes e empossadas elites de Olisipo. No que toca ao consumo de vinho, resta apenas referir a existência
de dois indivíduos tipologicamente enquadráveis no tipo Dressel 2-4 mas de proveniência desconhecida,
significando 0,68% dos envases destinados ao transporte daquele apreciado líquido.
A diversidade tipológica e de regiões de origem das ânforas vinárias contrasta claramente com
monotonia do abastecimento de azeite (que representa 18,31% dos produtos consumidos), quase ex-
clusivamente procedente do Vale do Guadalquivir. Com efeito, provém desta região 97,44% do azeite
importado, cenário que parece ser genericamente transversal aos restantes sítios de Olisipo e do Oci-
dente hispânico, exceptuando o Algarve. Relativamente aos contentores que o transportaram e à sua
curva de consumo, já atrás me referi, pelo que se remete para essas linhas as principais ilações que se
podem retirar do conjunto. A hegemonia bética é quebrada apenas pela presença minoritária do azeite
norte-africano (1,92%), neste caso testemunhado pela presença de três indivíduos do tipo Africana I. A
representatividade do azeite importado do Norte de África é acentuadamente mais reduzida no conjun-
to da Praça da Figueira do que nos dados globais da cidade, onde significa perto de 4% dos envases oleí-
colas, afigurando-se de difícil interpretação o porquê desta divergência, especialmente se se atender à
particular profusão de contextos do séculos II e III d.C. naquele sítio, precisamente o espectro temporal
em que os produtos norte-africanos parecem ter conhecido um incremento no comércio para ocidente.
Resta referir a importação em escassas quantidades do alúmen da Ilha de Lipari (0,23% da amos-
tra), envasado em ânforas do tipo Richborough 527, e os contentores cujo conteúdo se desconhece mas
que ainda assim representam 3,52% da amostra. Neste âmbito, será importante mencionar o importan-
te conjunto das Haltern 70 lusitanas (21 NMI), aqui enquadradas por se considerar que, no actual estado
do conhecimento, os dados não autorizam uma associação ao transporte de produtos à base de peixe,
devendo ser considerada a hipótese de se destinarem a envasar vinho ou outros seus derivados, aliás,
à semelhança da sua homónima bética (v. infra). Refira-se também o caso das Tripolitana II e Africana
IIA do Norte de África, acerca das quais, de igual forma, se desconhece que produtos transportariam.
Embora em termos gerais se enquadre no padrão de consumo característico do suburbium oci-
dental de Olisipo, onde os preparados piscícolas dominam sobre os outros artigos alimentares transpor-
tados em ânforas, o conjunto anfórico da Praça da Figueira apresenta um perfil de consumo bastante

78
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

próprio e com assinaláveis diferenças relativamente a sítios próximos como a Zara, na Rua Augusta,
e o Banco de Portugal. Nestes, o predomínio dos envases piscícolas sobre os vinícolas e oleícolas é
significativamente mais vincado. Tal dever-se-á relacionar principalmente com a localização da Praça
da Figueira, a montante da grande maioria das unidades de transformação de pescado da actual Baixa
Pombalina, bem como com a funcionalidade daquele espaço.
Ainda relativamente ao perfil de consumo desta amostra, não será demais sublinhar que se trata
do conjunto que mais se aproxima da leitura global da cidade.

5.5. Hotel de Santa Justa (anexo I.5)

A intervenção arqueológica realizada no sítio onde actualmente se implanta o Hotel de Santa


Justa foi efectuada em 2011 no âmbito do projecto de reabilitação dos edifícios situados na esquina da
Rua dos Correeiros, 194-208, e Rua de Santa Justa, 42-48, Baixa Pombalina, tendo a direcção científica
dos trabalhos sido assegurada pelo signatário deste estudo (Filipe, 2012).
A construção de um piso de cave, provavelmente durante a década de 60 do século passado,
obliterou aproximadamente 3,5 m de estratigrafia no local, razão pela qual a escavação se iniciou já em
níveis de Época Islâmica praticamente em toda a área intervencionada, concretamente nos estratos
de abandono do conhecido bairro ocidental da Lisboa Islâmica. Embora se tenham documentado pon-
tualmente algumas estruturas de Época Moderna que romperam os níveis islâmicos (sobretudo poços)
e contextos atribuíveis à Antiguidade Tardia, a área escavada corresponde essencialmente à fase de
ocupação islâmica, ali balizada entre o séc. XI e a reconquista: desde os depósitos de aluvião, onde foi
construído o referido bairro e que simultaneamente marcam a fase de abandono dos contextos roma-
nos tardios, até aos depósitos de aluvião que selam os níveis islâmicos e marcam o abandono do bairro
(Filipe et al., 2015; Filipe, 2017).
No que se refere aos contextos de Época Romana, que aqui nos interessam em particular, a
potência estratigráfica escavada foi em média de apenas 10/15 cm, pelo que aqueles foram somente
aflorados. Tratava-se principalmente de depósitos extremamente compactos, interpretados como pa-
vimentos de terra batida, situados em áreas de circulação próximas à necrópole da Praça da Figueira.
Esses pavimentos parecem resultar mais da contínua utilização do espaço como local de passagem do
que propriamente de um pavimento construído com esse intuito (Filipe, 2012). Situação análoga foi
igualmente registada na escavação da Praça da Figueira13.
Embora extremamente limitada em termos de potência estratigráfica, a escavação destes níveis
revelou-se profícua no que diz respeito à quantidade e diversidade de materiais arqueológicos, tendo-se
observado principalmente a presença de cerâmica de construção, cerâmica comum, terra sigillata (sobre-
tudo de produção norte-africana), cerâmica africana de cozinha, lucernas, vidros e ânforas. Estes contex-
tos datam todos da fase tardia da ocupação romana, estando balizados entre a segunda metade do sécu-
lo IV e o século V. Não foram documentadas quaisquer estruturas de cronologia atestadamente romana.
Apesar da datação tardia dos contextos romanos do Hotel de Santa Justa, constatou-se a presen-
ça de uma quantidade apreciável de material residual imputável às fases cronológicas em análise neste
estudo, neste caso ao Alto-Império. Do total da amostra, 56,86% correspondem a ânforas tardias, não
consideradas no âmbito deste trabalho, enquanto 13,73% dos contentores são de tipo indeterminado.
O conjunto de contentores analisados é constituído por um total de 41 fragmentos (14 bordos,
três fundos e 24 asas) e um Número Mínimo de 22 Indivíduos, dos quais 27,77% dizem respeito a a enva-
ses de tipo indeterminado, correspondendo a uma amostra de escassa fiabilidade estatística. Regista-
-se a presença de oito tipos distintos, oriundas de pelo menos cinco regiões produtoras diversas.

13. Comunicação pessoal de R. Banha da Silva, a quem se agradece.

79
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Dressel 14 6 14,63% 4 18,18% 50% 50%
Lusitana 3 6 14,63% 2 9,09% 25% 25%
Lusitânia, Tejo/Sado
Indeterminado 5 12,2% 2 9,09% 25% 25%
Total 17 41,46% 8 36,36% 100% 100%
Bética, costa ocidental Beltrán IIB tardia 1 2,44% 1 4,55% 100% 14,29% 9,09%
Total 1 2,44% 1 4,55% 100% 9,09%
Haltern 70 1 2,44% 1 4,55% 16,67% 14,29% 9,09%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 1 2,44% 1 4,55% 16,67% 14,29% 9,09%
Dressel 20 (Antonina) 5 12,2% 2 9,09% 33,33% 28,57% 18,18%
Bética, Vale do Guadalquivir
Dressel 20 (séc. III) 1 2,44% 1 4,55% 16,67% 14,29% 9,09%
Dressel 20 3 7,32% 1 4,55% 16,67% 14,29% 9,09%
Total 11 26,83% 6 27,27% 100% 100% 54,55%
Península Itálica, Dressel 2-4 1 2,44% 1 4,55% 100% 100% 9,09%
costa tirrénica Total 1 2,44% 1 4,55% 100% 100% 9,09%
Africana IIA 2 4,88% 1 4,55% 33,33% 33,33% 9,09%
Dressel 2-4/Schoene-Mau XXXV 1 2,44% 1 4,55% 33,33% 33,33% 9,09%
Norte de África
Indeterminado 1 2,44% 1 4,55% 33,33% 33,33% 9,09%
Total 4 9,76% 3 13,64% 100% 100% 27,27%
Indeterminado 7 17,07% 3 13,64% 100% 100%
Indeterminada
Total 7 17,07% 3 13,64% 100% 100%
TOTAL 41 100% 22 100% 100%

Tabela 16 – Quantificação da totalidade das ânforas do Hotel de Santa Justa.

69 44

43

49
41
35

83

47

4
77 10cm
8 68

Estampa 27 – Hotel de Santa Justa. Lusitânia: Dressel 14 (69, 44, 43), Lusitana 3 (41, 83, 49). Bética, costa ocidental:
Beltrán IIB (35). Bética, Vale do Guadalquivir: Dressel 20 Antonina (47, 68). Norte de África: Dressel 2-4? (4),
Africana IIA (77, 8(?)). Desenho nº 68: in Fabião et al., 2016.

Dominam as produções lusitanas (36,36%), onde se destaca a Dressel 14 que significa 50% desses
envases. A Lusitana 3 (25%) surge escassamente representada (2 NMI), enquanto as Lusitanas Antigas
estão completamente ausentes. A província da Baetica é, como habitualmente, o maior fornecedor ex-
traprovincial de produtos alimentares transportados em ânforas, significando 31,82% desse comércio,
cabendo ao Vale do Guadalquivir a maior fatia (27,27%). Desta região interior da província vizinha, 83,33%
das importações são Dressel 20, com melhor representação da variante Antonina (33,33%), mas também
da Júlio-Cláudia (16,67%) e da do séc. III (16,67%). O quadro fica completo, para o Vale do Guadalquivir,

80
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Dressel 14 4 25% 100% 100% 80%
Preparados
piscícolas
Lusitânia, Tejo/Sado
Total 4 25% 100% 100% 80%
Beltrán IIB 1 6,25% 100% 100% 20%
Bética, costa ocidental
Total 1 6,25% 100% 100% 20%
Total 5 31,25% 100%
Lusitana 3 2 12,5% 100% 100% 40%
Lusitânia, Tejo/Sado
2 12,5% 100% 100% 40%
Vinho e derivados

Total
Haltern 70 1 6,25% 100% 100% 20%
Bética, Vale do Guadalquivir
Total 1 6,25% 100% 100% 20%
Dressel 2-4 1 6,25% 100% 100% 20%
Península Itálica, costa tirrénica
Total 1 6,25% 100% 100% 20%
Dressel 2-4/Schoene-Mau XXXV 1 6,25% 100% 100% 20%
Norte de África
Total 1 6,25% 100% 100% 20%
Total 5 31,25% 100%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 1 6,25% 20% 20% 20%
Dressel 20 (Antonina) 2 12,5% 40% 40% 40%
Azeite

Bética, Vale do Guadalquivir Dressel 20 (séc. III) 1 6,25% 20% 20% 20%
Dressel 20 1 6,25% 20% 20% 20%
Total 5 31,25% 100% 100% 100%
Total 5 31,25% 100%
Africana IIA 1 6,25% 100% 100% 100%
Indet.

Norte de África
Total 1 6,25% 100% 100% 100%
Total 1 6,25% 100%
TOTAL 16 100%

Tabela 17 – Quantificação por conteúdo das ânforas do Principado do Hotel de Santa Justa.

com a Haltern 70 (16,67%) de que apenas se registou um indivíduo. Já as produções do litoral daquela
província, um bordo enquadrável nas variantes tardias da Beltrán IIB, surgem claramente sub-repre-
sentadas, significando apenas 9,09% dos artigos extraprovinciais, sendo ultrapassadas pelos produtos
oriundos do Norte de África e igualadas pelos provenientes da Península Itálica.
Do norte de África, a terceira região produtora melhor representada (13,64%), documentou-se a
ocorrência da Africana IIA (33,33% dos envases dessa zona) e da Dressel 2-4/Schoene-Mau XXXV (33,33%),
para além de um bordo de tipo indeterminado. Bem mais modesta é a representação dos produtos itá-
licos (4,55%), tendo-se identificado somente um fragmento de asa bífida de uma Dressel 2-4 tirrénica.
Ao nível dos produtos transportados por estes envases, observa-se o consumo em iguais propor-
ções (31,25%) dos principais produtos: vinho, preparados piscícolas e azeite. Enfim, embora demasiado
reduzido para outro tipo de considerações, o conjunto parece apontar genericamente para cronologias
balizadas sobretudo entre a segunda metade do séc. II d.C. e o séc. III, sublinhando-se principalmente as
ausências de artigos provenientes do Mediterrâneo Oriental e da Gália e destacando-se a presença do
tipo Dressel 2-4/Schoene-Mau XXXV de origem norte-africana.

5.6. Rua do Ouro, 197 - 2002 (anexo I.6)

Embora o incêndio do Chiado tenha ocorrido em 1988, as obras no edifício da Confepele, situado
no nº 197 da Rua do Ouro, viriam a ter início apenas em 2002, assumindo a Autarquia de Lisboa a sua
execução. A intervenção arqueológica levada a cabo neste âmbito decorreu com carácter de urgência
durante esse ano e foi dirigida por Lídia Fernandes e António Marques, então arqueólogos do antigo
Serviço de Arqueologia do Museu da Cidade, tendo sido realizadas 12 sondagens (CNS 35341).
Mantendo-se, infelizmente, inédito, a importância do sítio reside fundamentalmente na sua loca-
lização, indiciando a ocupação da margem direita do esteiro da Baixa em tempos antigos, comprovada

81
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

no edifício nº 133-145 da mesma rua descrito mais adiante. Durante a intervenção, registou-se a ocupa-
ção daquela área durante a fase final do período Islâmico, Idade Média cristã e Época Moderna, não se
tendo documentado quaisquer contextos romanos preservados (informação de António Marques e
Lídia Fernandes, a quem se agradece). Estes dados permitem perceber a extensão do designado bairro
ocidental de al-Ushbuna que deveria ocupar toda a área da actual Baixa Pombalina. O conjunto de ma-
teriais romanos ali reconhecidos, ainda que reduzido e exumado em níveis de Época Islâmica, poderá
ser entrevisto como mais um indício da ocupação daquela margem do esteiro durante o período roma-
no, observando-se a presença de cerâmica de construção conservando vestígios de argamassa, ânforas
e cerâmica comum, maioritariamente recolhidos na sondagem 1.
Reduzido e sem qualquer tipo de fiabilidade estatística, o conjunto anfórico da Rua do Ouro,
nº 197, é constituído por um total de 14 fragmentos classificáveis e um Número Mínimo de nove Indi-
víduos, sendo que 57,14% destes correspondem a produções tardias, não englobadas neste estudo. A
amostra que aqui se considera é, pois, composta apenas por nove fragmentos (um bordo, um fundo e
sete asas) e cinco indivíduos, dos quais 20% correspondem a ânforas de tipo e cronologia indetermina-
dos e 80% a ânforas alto-imperiais.

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana 3 4 44,44% 2 40% 100% 100%
Lusitânia, Tejo/Sado
Total 4 44,44% 2 40% 100% 100%
Oberaden 83/Ovóide 7 1 11,11% 1 20% 50% 50% 50%
Bética, Vale do Guadalquivir Dressel 20 2 22,22% 1 20% 50% 50% 50%
Total 3 33,33% 2 40% 100% 100% 100%
Indeterminado 2 22,22% 1 20% 100% 100%
Indeterminada
Total 2 22,22% 1 20% 100% 100%
TOTAL 9 100% 5 100% 100%

Tabela 18 – Quantificação da totalidade das ânforas da Rua do Ouro, nº 197.

7
4

1 10cm
8

Estampa 28 – Rua do Ouro, 197. Bética, Vale do Guadalquivir: Oberaden 83/Ovóide 7 (7), Dressel 20 (1).
Lusitânia: Lusitana 3 (8). Tipo e proveniência indeterminados (4).

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Lusitânia, Tejo/Sado Lusitana 3 2 50% 100% 100% 100%
Vinho e
Total 2 50% 100% 100% 100%
derivados
Total 2 50% 100%
Oberaden 83/Ovóide 7 1 25% 50% 50% 50%
Bética, Vale do Guadalquivir Dressel 20 1 25% 50% 50% 50%
Azeite
Total 2 50% 100% 100% 100%
Total 2 50% 100%
TOTAL 4 100%

Tabela 19 – Quantificação por conteúdo das ânforas do Principado da Rua do Ouro, nº 197.

82
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

Estão atestadas somente duas regiões produtoras em percentagens iguais, a Lusitania e o Vale
do Guadalquivir. Da primeira estão presentes dois indivíduos de Lusitana 3, unicamente representada
por asas. Do interior da província da Baetica regista-se um bordo de Oberaden 83/Ovóide 7 e duas asas
de Dressel 20. Neste pequeno conjunto estão ausentes as habitualmente omnipresentes Dressel 14
bem como outros contentores piscícolas, verificando-se uma paridade na proporção do consumo de
vinho e azeite, local/regional no primeiro caso e bético no segundo. O fundo de tipo e fabrico indeter-
minados poderá corresponder a uma produção do Mediterrâneo Oriental.

5.7. Rua Augusta, colector central - 1988

Em 1988, durante o acompanhamento das obras de renovação do colector de saneamento da


Rua Augusta, foram identificados no cruzamento com a Rua da Vitória vários tanques de pequena di-
mensão, interpretados como cetárias, tendo então sido recolhidos alguns bocais de ânfora dos tipos
Almagro 51C e Almagro 50 (Amaro, 1990b; Fabião, 1993-1994; Moita, 1994; Endovélico CNS 36212).
As informações acerca deste sítio, cujo acompanhamento foi efectuado por Ana Cristina Leite
do então Museu da Cidade, restringem-se a estes dados, desconhecendo-se a proveniência contextual
dos materiais e sua relação estratigráfica com as mencionadas estruturas, bem como a diacronia de
ocupação. O estado de preservação das ânforas recolhidas, onde se inclui um exemplar completo de
Lusitana 3, actualmente exposto no Museu da Cidade, e um bocal de Lusitana Antiga entretanto pu-
blicado (Morais e Fabião, 2007, fig. 1, nº 1), revelam bem a importância do sítio e, simultaneamente, da
informação que se perdeu.
O conjunto de ânforas recolhido em 1988 no cruzamento da Rua Augusta com a Rua da Vitória
apresenta um perfil fundamentalmente tardio, correspondendo a essa fase 63,64% dos envases reco-
lhidos. Os contentores que aqui interessam, todos do Principado, são constituídos por um total de 15
fragmentos (um exemplar completo, sete bordos, quatro fundos, duas asas e uma parede) e 14 indiví-
duos, provenientes de sete regiões produtoras e atribuíveis a oito tipos distintos. A escassa fiabilidade
estatística da amostra é bem visível nas curvas de importação e de consumo, exibindo valores que, em
alguns detalhes, se distanciam significativamente dos dados globais da cidade.

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 1 6,67% 1 7,14% 25% 25%
Dressel 14 1 6,67% 1 7,14% 25% 25%
Lusitânia, Tejo/Sado
Lusitana 3 2 13,33% 2 14,29% 50% 50%
Total 4 26,67% 4 28,57% 100% 100%
Dressel 9-10 1 6,67% 1 7,14% 50% 16,67% 10%
Bética, costa ocidental Beltrán IIB 1 6,67% 1 7,14% 50% 16,67% 10%
Total 2 13,33% 2 14,29% 100% 20%
Dressel 20 (Flávia-Trajana) 1 6,67% 1 7,14% 25% 16,67% 10%
Dressel 20 (séc. III) 3 20% 2 14,29% 50% 33,33% 20%
Bética, Vale do Guadalquivir
Indeterminado 1 6,67% 1 7,14% 25% 16,67% 10%
Total 5 33,33% 4 28,57% 100% 100% 40%
Península Itálica, Dressel 2-4 1 6,67% 1 7,14% 100% 50% 10%
costa tirrénica Total 1 6,67% 1 7,14% 100% 10%
Península Itálica, Schörgendorfer 558 1 6,67% 1 7,14% 100% 50% 10%
costa adriática Total 1 6,67% 1 7,14% 100% 100% 10%
Indeterminado 1 6,67% 1 7,14% 100% 100% 10%
Norte de África
Total 1 6,67% 1 7,14% 100% 100% 10%
Indeterminado 1 6,67% 1 7,14% 100% 100% 10%
Mediterrâneo Oriental
Total 1 6,67% 1 7,14% 100% 100% 10%
TOTAL 15 100% 14 100% 100%

Tabela 20 – Quantificação das ânforas do Principado da Rua Augusta.

83
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

S/N2

S/N3

745

752

731

737

721

S/N1 726 10cm

Estampa 29 – Rua Augusta (1988). Lusitânia: Lusitana Antiga (S/N3, S/N2), Dressel 14 (745), Lusitana 3 (S/N1).
Bética, costa ocidental: Dressel 9-10 (731), Beltrán IIB (737). Bética, Vale do Guadalquivir: Indeterminado (726).
Península Itálica, costa tirrénica: Dressel 2-4 (752). Península Itálica, costa adriática: Schörgendorfer 558 (721).
Desenho nº S/N3: a partir de original de Carlos Fabião.

84
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Lusitana Antiga 1 9,09% 50% 50% 25%
Lusitânia, Tejo/Sado Dressel 14 1 9,09% 50% 50% 25%
Total 2 18,18% 100% 100% 50%
Preparados
Dressel 9-10 1 9,09% 50% 50% 25%
piscícolas
Bética, costa ocidental Beltrán IIB 1 9,09% 50% 50% 25%
Total 2 18,18% 100% 100% 50%
Total 4 36,36% 100%
Lusitana 3 2 18,18% 100% 100% 66,67%
Lusitânia, Tejo/Sado
Vinho e Total 2 18,18% 100% 100% 66,67%
derivados Península Itálica, Dressel 2-4 1 9,09% 100% 100% 33,33%
costa tirrénica Total 1 9,09% 100% 100% 33,33%
Total 3 27,27% 100%
Dressel 20 (Flávia-Trajana) 1 9,09% 33,33% 33,33% 33,33%
Azeite Bética, Vale do Guadalquivir Dressel 20 (séc. III) 2 18,18% 66,67% 66,67% 66,67%
Total 3 27,27% 100% 100% 100%
Total 3 27,27% 100%
Schörgendorfer 558 1 9,09% 100% 100% 100%
Azeitonas Península Itálica, costa adriática
Total 1 9,09% 100% 100% 100%
Total 1 9,09% 100%
TOTAL 11 100%

Tabela 21 – Quantificação por conteúdo das ânforas do Principado da Rua Augusta.

As produções lusitanas dos vales dos rios Tejo e Sado representam 28,57% do NMI, observando-
-se a presença maioritária da Lusitana 3 (50% dos envases locais/regionais) e das Lusitanas Antigas e
Dressel 14 em percentagens equivalentes (25%). Idêntica proporção adquirem as importações do Vale
do Guadalquivir (28,57% do NMI), de onde provêm unicamente contentores do tipo Dressel 20, estando
atestadas as variantes Flávia-Trajana (25% das ânforas dessa zona) e do séc. III (50%). O litoral da Baetica
está igualmente bem representado, significando 14,29% do conjunto e observando-se a presença em
quantidades similares de Dressel 9-10 e Beltrán IIB. Menos significativa é a presença de ânforas das
restantes regiões produtoras documentadas na amostra, cada uma representada por um único indiví-
duo (7,14% do NMI): da costa tirrénica itálica procede a Dressel 2-4; da adriática a Schörgendorfer 558;
e do Norte de África e Mediterrâneo Oriental dois tipos de difícil determinação tipológica, o primeiro
representado por uma asa e o segundo por um fragmento de parede. O aspecto mais destacável desta
pequena amostra é sem dúvida a identificação de uma Schörgendorfer 558, totalmente desconhecida
no Ocidente Ibérico e, aparentemente, na restante Hispania. Refira-se também o exemplar de Lusitana
3 integralmente conservado.
Na óptica da importação de alimentos, destacam-se os preparados piscícolas (36,36%), equitativa-
mente representados pelos artigos locais/regionais, transportados nas Lusitanas Antigas e nas Dressel
14, e pelos oriundos da costa ocidental da Bética, envasados nas Dressel 9-10 e Beltrán IIB. O consumo de
vinho não ultrapassa os 27,27%, estando atestado apenas pelas Lusitanas 3 regionais (66,67% dos enva-
ses vinícolas) e pelas Dressel 2-4 tirrénicas (33,33%). O azeite apresenta a mesma percentagem daquele
último produto, procedendo exclusivamente do Vale do Guadalquivir nas Dressel 20. Por fim, a presença
da Schörgendorfer 558 testemunha a importação de azeitonas da costa adriática da Península Itálica.

5.8. Rua do Ouro, 133-145 - 2014 (anexo I.8)

As obras de reabilitação efectuadas no edifício situado na Rua do Ouro, nº 133 a 145, viriam a de-
sencadear a realização de uma intervenção arqueológica preventiva, levada a cabo em 2014 e dirigida
por António Valongo.

85
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Durante os trabalhos de escavação, para além de vestígios de épocas posteriores, foram colo-
cadas a descoberto importantes estruturas e contextos de Época Romana Imperial que se viriam a
revelar de suma importância para a leitura do urbanismo da cidade, na medida em que, até aqui, se
desconhecia qualquer evidência de efectiva ocupação durante aquele período do que se pressupõe que
constituísse então a margem direita do esteiro da Baixa. O conjunto anfórico, embora muito reduzido,
apresenta um espectro cronológico genericamente balizável entre o séc. I d.C. e o IV, com especial inci-
dência no II e primeira metade do III.
A amostra deste sítio corresponde a uma das mais reduzidas, analisadas no contexto deste tra-
balho, não tendo qualquer tipo de fiabilidade estatística, pelo que apenas se apontarão as principais
características do conjunto. As ânforas alto-imperiais compõem 70% da amostra e as do Baixo-Império
10% (correspondendo apenas a uma asa de Keay XVI da costa bética), enquanto os restantes 20% per-
tencem a contentores de tipo indeterminado. Estes últimos são constituídos por dois fragmentos de
asa, correspondendo um deles a uma produção norte-africana e o outro a um fabrico cuja origem não
foi possível determinar.
Os envases alto-imperiais são compostos por dez fragmentos diagnosticáveis (cinco bordos, um
fundo e quatro asas), equivalentes a um Número Mínimo de nove Indivíduos, observando-se apenas
quatro tipos e três regiões produtoras distintas. Destes, seis indivíduos (66,67%) correspondem a produ-
ções lusitanas, maioritariamente representadas pelas Dressel 14 (66,67% dos contentores locais/regio-
nais) e de forma mais discreta pelas Lusitanas Antigas (16,67%) e Lusitana 3 (16,67%). Está também pre-
sente um fragmento de asa de uma Dressel 20 do Vale do Guadalquivir, significando 11,11% da amostra.

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 1 10% 1 11,11% 16,67% 16,67%
Dressel 14 4 40% 4 44,44% 66,67% 66,67%
Lusitânia, Tejo/Sado
Lusitana 3 2 20% 1 11,11% 16,67% 16,67%
Total 7 70% 6 66,67% 100% 100%
Bética, Vale do Guadalquivir Dressel 20 1 10% 1 11,11% 100% 100% 50%
Total 1 10% 1 11,11% 100% 100% 50%
Indeterminado 1 10% 1 11,11% 100% 100% 50%
Norte de África
Total 1 10% 1 11,11% 100% 100% 50%
Indeterminado 1 10% 1 11,11% 100% 100%
Indeterminada
Total 1 10% 1 11,11% 100% 100%
TOTAL 10 100% 9 100% 100%

Tabela 22 – Quantificação da totalidade das ânforas da Rua do Ouro, nº 133 a 145.

1 10
6

3
2 10cm

Estampa 30 – Rua do Ouro, 133-145. Lusitânia: Dressel 14 (1, 2, 10, 3), Lusitana 3 (6).

86
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Lusitana Antiga 1 14,29% 20% 20% 20%
Preparados Lusitânia, Tejo/Sado Dressel 14 4 57,14% 80% 80% 80%
piscícolas Total 5 71,43% 100% 100% 100%
Total 5 71,43% 100%
Lusitana 3 1 14,29% 100% 100% 100%
Vinho e Lusitânia, Tejo/Sado
Total 1 14,29% 100% 100% 100%
derivados
Total 1 14,29% 100%
Dressel 20 1 14,29% 100% 100% 100%
Bética, Vale do Guadalquivir
Azeite Total 1 14,29% 100% 100% 100%
Total 1 14,29% 100%
TOTAL 7 100%

Tabela 23 – Quantificação por conteúdo das ânforas da Rua do Ouro, nº 133 a 145.

O pequeno conjunto indica um consumo preferencial de preparados piscícolas (71,43% do NMI),


exclusivamente lusitanos e transportados nas Dressel 14 e Lusitanas Antigas. Do mesmo modo, o úni-
co indivíduo que atesta o consumo de vinho, a Lusitana 3 (14,29%), tem também uma origem local ou
regional. Já o azeite, transportado nas Dressel 20, provém igualmente de forma exclusiva do Vale do
Guadalquivir.

5.9. Zara, Rua Augusta (anexo I.9)

A escavação do edifício pombalino onde se localiza a loja do grupo Zara, na Rua Augusta, nºs
61-69, foi realizada no verão de 2000 no âmbito das obras de reabilitação do imóvel. Os trabalhos ar-
queológicos foram assumidos pela empresa Era-Arqueologia e coordenados pelas arqueólogas Mulize
Ferreira, Ana Jorge e Rita Ramos. A intervenção confinou-se às áreas perimetrais do edifício e à caixa
do elevador, tendo-se detectado diversas realidades arqueológicas maioritariamente integráveis nos
períodos Romano, Islâmico, Moderno e Contemporâneo (Ferreira, et al., 2002). A documentação de
contextos deposicionais romanos, compostos por estratos arenosos com abundante cerâmica, em ge-
ral muito fragmentada, e a implantação do sítio em área muito próxima à antiga margem do esteiro,
aponta no sentido de uma formação resultante da acumulação detrítica urbana e de contextos de des-
carte de interface ribeirinho. Não obstante, foram também identificadas estruturas daquela época cuja
orientação parece ser coincidente com os eixos registados no Núcleo Arqueológico da Rua dos Correei-
ros (Ferreira, et al., 2002; Silva, 2012a).
Estes contextos e estruturas estão cronologicamente bem circunscritos entre a fase final da di-
nastia Júlio-Cláudia e os meados do séc. II d.C., sendo de assinalar a ausência de materiais posteriores
ao séc. II d.C. e o predomínio entre Nero e Vespasiano na cronologia das marcas de terra sigillata (Silva,
2012a). Os responsáveis pela escavação fasearam estes níveis em dois grandes blocos cronológicos:
Fases I a III, de Época Flávia ou anterior; e fases IV a IX, Época Flávia ou posterior. Apesar de muitos dos
fragmentos de ânfora terem sido exumados em estratos de formação medieval ou posterior, uma parte
bastante significativa daqueles foi recolhida em contextos romanos. A análise do conjunto anfórico,
juntamente com os dados da terra sigillata14, permitiu precisar um pouco mais a cronologia dos níveis
romanos, tendo-se estabelecido os seguintes blocos cronológicos: segunda metade do séc. I d.C.; di-
nastia Flávia/último terço do séc. I d.C.; entre finais do séc. I d.C. e os meados do séc. II.

14 . Agradece-se a Rodrigo Banha da Silva as observações sobre o conjunto de terra sigillata, complementares aos que havia já publicado
(Silva, 2012a).

87
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 67 13,62% 57 24,05% 47,9% 45,97%
Lusitana Antiga/Dressel 14 94 19,11% 6 2,53% 5,04% 4,84%
Haltern 70 2 0,4% 2 0,84% 1,68% 1,61%
Lusitânia, Tejo/Sado Dressel 14 84 17,07% 49 20,68% 41,18% 39,52%
Lusitana 3 2 0,41% 1 0,42% 0,84% 0,81%
Indeterminado 7 1,42% 4 1,69% 3,36% 3,23%
Total 256 52,03% 119 50,21% 100%
Tipo 2 2 0,41% 2 0,84% 40% 1,61%
Lusitânia, Peniche Tipo 7 3 0,61% 3 1,27% 60% 2,42%
Total 5 1,02% 5 2,11% 100% 100%
Dressel 7-11 22 4,47% 5 2,11% 22,73% 5,26% 4,55%
Dressel 9-10 3 0,61% 3 1,27% 13,64% 3,16% 2,73%
Beltrán II 7 1,42% 1 0,42% 4,55% 1,05% 0,91%
Bética, costa ocidental Beltrán IIA 1 0,2% 1 0,42% 4,55% 1,05% 0,91%
Beltrán IIB 12 2,44% 10 4,22% 45,45% 10,53% 9,09%
Indeterminado 4 0,81% 2 0,84% 9,09% 2,11% 1,82%
Total 49 9,96% 22 9,28% 100% 20%
Dressel 7-11 1 0,2% 1 0,42% 50% 1,05% 0,91%
Bética, costa oriental Dressel 9 1 0,2% 1 0,42% 50% 1,05% 0,91%
Total 2 0,41% 2 0,84% 100% 1,82%
Oberaden 83/Ovóide 7 9 1,83% 5 2,11% 7,04% 5,26% 4,55%
Haltern 70 17 3,46% 5 2,11% 7,04% 5,26% 4,55%
Haltern 70 (Augusto-Tibério) 1 0,2% 1 0,42% 1,41% 1,05% 0,91%
Haltern 70 (Cláudio-Nero) 15 3,05% 15 6,33% 21,13% 15,79% 13,64%
Haltern 70 (Flávia) 2 0,41% 2 0,84% 2,82% 2,11% 1,82%
Dressel 2-4 1 0,2% 1 0,42% 1,41% 1,05% 0,91%
Dressel 7-11 3 0,61% 1 0,42% 1,41% 1,05% 0,91%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) - Haltern 71 1 0,2% 1 0,42% 1,41% 1,05% 0,91%
Bética, Vale do Guadalquivir
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 36 7,32% 20 8,44% 28,17% 21,05% 18,2%
Dressel 20 (Flávia-Trajana) 16 3,25% 11 4,64% 15,49% 11,58% 10%
Dressel 20 (Antonina) 5 1,02% 4 1,69% 5,63% 4,2% 3,64%
Dressel 20 35 7,11% 1 0,42% 1,41% 1,05% 0,91%
Dressel 20 parva (Júlio-Cláudia) 3 0,61% 1 0,42% 1,41% 1,05% 0,91%
Dressel 20 parva (Flávia-Trajana) 2 0,41% 1 0,42% 1,41% 1,05% 0,91%
Indeterminado 4 0,81% 2 0,84% 2,82% 2,11% 1,82%
Total 150 30,49% 71 29,96% 100% 100% 64,55%
Dressel 1 2 0,41% 2 0,84% 66,67% 50% 2,17%
Hispânia Ulterior,
T-7.4.3.3. 1 0,2% 1 0,42% 33,33% 25% 0,91%
costa meridional
Total 3 0,61% 3 1,27% 100% 3,08%
Hispânia Ulterior, Ovóide 4 1 0,2% 1 0,42% 100% 25% 0,91%
Vale do Guadalquivir Total 1 0,2% 1 0,42% 100% 100% 0,91%
PE 25 7 1,42% 2 0,84% 100% 100% 1,82%
Ilha de Ibiza
Total 7 1,42% 2 0,84% 100% 100% 1,82%
Gauloise 4 1 0,2% 1 0,42% 100% 100% 0,91%
Gália Narbonense
Total 1 0,2% 1 0,42% 100% 100% 0,91%
Dressel 1 3 0,61% 2 0,84% 66,67% 50% 1,87%
Península Itálica,
Indeterminado 1 0,2% 1 0,42% 33,33% 25% 0,91%
costa tirrénica
Total 4 0,81% 3 1,27% 100% 2,78%
Richborough 527 1 0,2% 1 0,42% 100% 25% 0,91%
Ilha de Lipari
Total 1 0,2% 1 0,42% 100% 100% 0,91%
Norte de África Indeterminado 1 0,2% 1 0,42% 100% 100% 0,91%
Total 1 0,2% 1 0,42% 100% 100% 0,91%
Tardo-Ródia/Camulodunum 184 2 0,41% 1 0,42% 33,33% 33,33% 0,91%
Mediterrâneo Oriental Indeterminado 4 0,81% 2 0,84% 66,67% 66,67% 1,82%
Total 6 1,22% 3 1,27% 100% 100% 2,73%
Indeterminada Indeterminado 6 1,22% 3 1,27% 100% 100%
Total 6 1,22% 3 1,27% 100% 100%
TOTAL 492 100% 237 100% 100%

Tabela 24 – Quantificação da totalidade das ânforas da Zara, na Rua Augusta.

88
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

O conjunto anfórico da Zara, Rua Augusta, de fiabilidade estatística aceitável, constitui-se como
um dos mais importantes e numerosos analisados à luz deste trabalho, sendo de realçar a sua homoge-
neidade no que se refere à cronologia e tipologia. Compõe-se por um total de 492 fragmentos diagnos-
ticáveis (214 bordos, 26 fundos e 252 asas), que equivale a um Número Mínimo de 237 Indivíduos, dos
quais 2,53% correspondem a produções republicanas, 91,14% ao Principado e 6,33% a contentores de tipo
indeterminado. As ânforas republicanas são meramente vestigiais e integralmente constituídas por ma-
terial residual. Os seis indivíduos identificados correspondem a um bordo de T-7.4.3.3. e dois de Dressel
1 atribuíveis à costa meridional da Ulterior, a uma Ovóide 4 do Vale do Guadalquivir e a duas Dressel 1
tirrénicas, estas últimas unicamente documentadas por fragmentos de asa.
Já a amostra do Principado compõe-se por um total de 458 fragmentos (207 bordos, 24 fundos e
227 asas) e 216 indivíduos, tendo-se atestado a presença de 19 tipos provenientes de oito regiões produ-
toras distintas, sobretudo cronologicamente centradas entre Cláudio e a dinastia Flávia.

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 67 14,63% 57 26,39% 49,57% 47,5%
Lusitana Antiga/Dressel 14 94 20,52% 6 2,78% 5,22% 5%
Haltern 70 2 0,44% 2 0,93% 1,74% 1,67%
Lusitânia, Tejo/Sado
Dressel 14 84 18,34% 49 22,69% 42,61% 40,83%
Lusitana 3 2 0,44% 1 0,46% 0,87% 0,83%
Total 249 54,37% 115 53,24% 100%
Tipo 2 2 0,44% 2 0,93% 40% 1,67%
Lusitânia, Peniche Tipo 7 3 0,66% 3 1,39% 60% 2,5%
Total 5 1,09% 5 2,31% 100% 100%
Dressel 7-11 22 4,8% 5 2,31% 25% 5,49% 5,21%
Dressel 9-10 3 0,66% 3 1,39% 15% 3,3% 3,13%
Beltrán II 7 1,53% 1 0,46% 5% 1,1% 1,04%
Bética, costa ocidental
Beltrán IIA 1 0,22% 1 0,46% 5% 1,1% 1,04%
Beltrán IIB 12 2,62% 10 4,63% 50% 10,99% 10,42%
Total 45 9,83% 20 9,26% 100% 20,83%
Dressel 7-11 1 0,22% 1 0,46% 50% 1,1% 1,04%
Bética, costa oriental Dressel 9 1 0,22% 1 0,46% 50% 1,1% 1,04%
Total 2 0,44% 2 0,93% 100% 2,08%
Oberaden 83/Ovóide 7 9 1,97% 5 2,31% 7,25% 5,49% 5,21%
Haltern 70 17 3,71% 5 2,31% 7,25% 5,49% 5,21%
Haltern 70 (Augusto-Tibério) 1 0,22% 1 0,46% 1,45% 1,1% 1,04%
Haltern 70 (Cláudio-Nero) 15 3,28% 15 6,94% 21,74% 16,48% 15,63%
Haltern 70 (Flávia) 2 0,44% 2 0,93% 2,9% 2,20% 2,08%
Dressel 2-4 1 0,22% 1 0,46% 1,45% 1,1% 1,04%
Dressel 7-11 3 0,66% 1 0,46% 1,45% 1,1% 1,04%
Bética, Vale do Guadalquivir Dressel 20 (Júlio-Cláudia) - Haltern 71 1 0,22% 1 0,46% 1,45% 1,1% 1,04%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 36 7,86% 20 9,26% 28,99% 21,98% 20,83%
Dressel 20 (Flávia-Trajana) 16 3,49% 11 5,09% 15,94% 12,09% 11,46%
Dressel 20 (Antonina) 5 1,09% 4 1,85% 5,80% 4,4% 4,17%
Dressel 20 35 7,64% 1 0,46% 1,45% 1,1% 1,04%
Dressel 20 parva (Júlio-Cláudia) 3 0,66% 1 0,46% 1,45% 1,1% 1,04%
Dressel 20 parva (Flávia-Trajana) 2 0,44% 1 0,46% 1,45% 1,1% 1,04%
Total 146 31,88% 69 31,94% 100% 100% 71,88%
PE 25 7 1,53% 2 0,93% 100% 100% 2,08%
Ilha de Ibiza
Total 7 1,53% 2 0,93% 100% 100% 2,08%
Gauloise 4 1 0,22% 1 0,46% 100% 100% 1,04%
Gália Narbonense
Total 1 0,22% 1 0,46% 100% 100% 1,04%
Richborough 527 1 0,22% 1 0,46% 100% 100,0% 1,04%
Ilha de Lipari
Total 1 0,22% 1 0,46% 100% 100% 1,04%
Tardo-Ródia/Camulodunum 184 2 0,44% 1 0,46% 100% 100% 1,04%
Mediterrâneo Oriental
Total 2 0,44% 1 0,46% 100% 100% 1,04%
TOTAL 458 100% 216 100% 100%

Tabela 25 – Quantificação das ânforas do Principado da Zara, na Rua Augusta.

89
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

637
754

307

83

80

654

339

621

450 456 66

311

752
380
82

337 304

722

446

314

618
59
539
10cm

Estampa 31 – Zara, Rua Augusta. Contextos da segunda metade do séc. I d.C. Lusitânia: Lusitana Antiga (637, 311,
307, 339, 83, 621, 654, 450, 456(?)), Dressel 14 (82, 380, 337, 314). Bética, costa ocidental: Dressel 9 (66), Dressel
9-10 (754), Dressel 7-11 (80), Beltrán IIA (752), Beltrán IIB (304, 446, 618). Bética, Vale do Guadalquivir: Dressel 20
(59, 539). Ebusus: PE 25 (722). Desenhos nº 59 e 539: in Fabião et al., 2016.

90
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

Na análise à origem dos contentores, observa-se o predomínio das produções lusitanas (55,56%
do NMI), com especial destaque para os vales do Tejo e Sado (95,83% dos envases locais/regionais) e
presença discreta das ânforas do Morraçal da Ajuda (4,17%). Estas são unicamente representadas pelos
tipos 2 (40% dessas produções) e 7 (60%), que correspondem às duas formas daquele centro oleiro me-
lhor documentadas em Olisipo.

252 594
248

250
595
612

583
742 593

81
746 290

268
105

291

729 743
247

249

64

265
10cm

575

Estampa 32 – Zara, Rua Augusta. Contextos datados da dinastia Flávia. Lusitânia: Lusitana Antiga (252, 248, 250,
612, 742, 593, 594, 583, 595, 746, 290), Haltern 70 lusitana (81), Peniche 2 (105), Dressel 14 (291, 268, 729, 743,
247, 265). Bética, Vale do Guadalquivir: Haltern 70 Cláudio-Nero (249), Dressel 20 (64). Bética, costa ocidental:
Beltrán IIB (575). Desenho nº 64: in Fabião et al., 2016.

91
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Da segunda área produtora foram maioritariamente identificados os tipos Lusitana Antiga (49,57%
dessa região) e Dressel 14 (42,61%), tendo sido atestada a presença minoritária de Haltern 70 lusitanas
(1,74%) e de Lusitana 3 (0,87%). Note-se que deste último tipo apenas se identificaram dois pequenos
fragmentos de asa. Os restantes 5,22% das produções do Tejo/Sado foram indistintamente classificadas
como Lusitana Antiga/Dressel 14, uma vez que as suas características morfológicas dificultam a sua inclu-
são em um ou outro tipo. Este cenário é revelador da cronologia dos contextos e da generalidade dos
materiais da Zara, Rua Augusta, cujos elementos claramente atribuíveis à primeira metade do séc. II d.C.
são assaz escassos. Só assim se compreenderá uma tão frugal representatividade das Lusitana 3, para
além do predomínio das Lusitanas Antigas face às Dressel 14, tanto no cômputo geral da amostra como
nos distintos contextos.

515 330
207

510
477

482

388

675

733

210

707

386 545

203
204
209

508

476 10cm
549 677

Estampa 33 – Zara, Rua Augusta. Contextos balizados entre a dinastia Flávia e meados do séc. II d.C. Lusitânia:
Lusitana Antiga (515, 330, 477, 510, 207, 482, 675), Dressel 14 (545, 386, 733, 210, 388, 707, 203, 549, 677, 476).
Bética, costa ocidental: Dressel 9-10 (209), Beltrán IIB (204). Mediterrâneo oriental: Tardo-Ródia/Camulodunum
184 (508).

92
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

O conjunto da Zara constitui-se, aliás, e apesar das dificuldades em estabelecer balizas cronológi-
cas menos amplas para os contextos, como a melhor imagem das produções anfóricas lusitanas durante
a segunda metade do séc. I d.C., fornecendo elementos preciosos sobre a diversidade formal dessas
ânforas, bem como sobre a cronologia do final da produção das designadas Lusitanas Antigas e do início
da das Dressel 14. Ainda que se possa admitir que, entre os abundantes exemplares de Lusitana Antiga
recolhidos nos contextos da segunda metade do séc. I d.C., muitos possam ser residuais, tanto a homo-
geneidade formal que se verifica em grande parte dessas ânforas como a sua expressividade quantitati-
va nos mencionados contextos parecem indicar que a produção das formas que aqui se incluem nas de-
nominadas Lusitanas Antigas não terá cessado em meados do séc. I d.C. e no momento do arranque da
produção da Dressel 14, tendo-se antes estendido pelo menos até ao início da dinastia Flávia, ao reinado
de Vespasiano, e, durante esse período, decorrido paralelamente à da Dressel 14. Durante este espaço
de tempo, que corresponderá grosso modo ao terceiro quartel do séc. I d.C., atendendo aos dados da
Zara, Rua Augusta, aquele último tipo surge ainda em proporções inferiores aos das Lusitanas Antigas.
Nos contextos datados da segunda metade do séc. I d.C. foram identificados 18 bordos de Dressel 14,
maioritariamente com lábios triangulares e subtriangulares, e 29 de Lusitanas Antigas, observando-se
nestas últimas particular incidência das formas afins à Lusitana 12 (Diogo, 1987a) e Dressel 14A (Mayet e
Silva, 2002) e menor representatividade das Haltern 70 lusitanas e das variantes com bocais mais aber-
tos e moldurados, afins às Dressel 7-11.

719 525
424

661 396
464

528

496 230

492

363

438
233

423 418

279

10cm
419
360

Estampa 34 – Zara, Rua Augusta. Lusitânia: Haltern 70 lusitana (719), Lusitana Antiga (424, 464, 661, 525, 396,528,
230, 496, 492), Peniche 7 (363), Dressel 14 (233, 438, 423, 418, 419, 360, 279).

93
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

642
373
365

618 436

663
359

499

540

65

29
69

2
236

666
238 240
411 10cm

Estampa 35 – Zara, Rua Augusta. Ulterior/Bética, costa ocidental: Dressel 1 (642, 365), Dressel 9-10 (618), Dressel
7-11 (373, 436), Beltrán IIB (359, 663, 499). Bética, Vale do Guadalquivir: Dressel 20 parva Júlio-Cláudia (65), Dres-
sel 20 parva (540), Dressel 20 (2, 29, 69). Ebusus: PE 25 (411, 666, 240, 238). Ilha de Lipari: Richborough 527 (236).
Desenhos nº 2, 540, 65, 29 e 69: in Fabião et al., 2016.

Voltando à análise do conjunto, no âmbito das importações extraprovinciais, os produtos do Vale


do Guadalquivir são totalmente preponderantes, significando 31,94% do NMI e 71,88% dessas importa-
ções. Esta superioridade deve-se principalmente à significativa presença das oleárias Dressel 20 (56,52%
dos envases dessa área produtora), particularmente expressa nas variantes Júlio-Cláudia (30,43%) e
Flávia-Trajana (17,39%), e em menor medida pela Antonina (5,8%), para além de um exemplar indistinta-
mente classificado com Haltern 71/Dressel 20 Júlio-Cláudia (1,45%). Também as Haltern 70 adquirem uma
representatividade considerável (33,33%), ainda que inferior à que se verifica no Teatro Romano cujo âm-
bito cronológico é imediatamente anterior e parcialmente coincidente. Destaca-se a variante Cláudio-
-Nero (21,74%), surgindo em quantidades muito inferiores as Flávias (2,9%) e as de Augusto-Tibério

94
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

(1,45%). Ocorrem ainda as Oberaden 83/Ovóide 7 em percentagens não despiciendas (7,25%) e de forma
minoritária as Dressel 2-4 (1,45%) e as Dressel 7-11 (1,45%). Embora menos representativo que a região in-
terior, o litoral da Baetica constitui-se como a segunda área produtora mais importante no contexto das
importações extraprovinciais (22,92%), representando 10,19% do NMI. Aqui será interessante notar como
a Beltrán IIB (50%) adquire na segunda metade do séc. I d.C. valores mais elevados relativamente à Dres-
sel 7-11 (40%), enquanto a Beltrán IIA surge escassamente representada (5%). Igualmente interessante é
a presença, ainda que minoritária, das Dressel 7-11 produzidas na costa oriental daquela província.
As restantes áreas produtoras atestadas na amostra da Zara, claramente minoritárias, são com-
postas pela Ilha de Ibiza, Gália, Ilha de Lipari e Mediterrâneo Oriental. As últimas três, significando cada
uma 1,04% das importações extraprovinciais, estão representadas somente por um indivíduo, respec-
tivamente, a Gauloise 4, a Richborough 527 e a Tardo-Ródia/Camulodunum 184. A Ilha de Ibiza é a que
se encontra melhor representada, com dois indivíduos de PE 25 (2,08% dos envases extraprovinciais),
percentagem muito superior à que se verifica no conjunto global de Olisipo e em todos os sítios analisa-
dos. Aliás, dos 11 indivíduos deste tipo identificados no âmbito deste trabalho, apenas dois não provêm
de sítios localizados junto às margens do Tejo ou do esteiro da Baixa.
Em termos gerais, as proporções das regiões produtoras que se observam neste conjunto não
se afastam muito do conjunto global da cidade, aproximando-se mais das que se verificam no Palácio
dos Condes de Penafiel e na Praça da Figueira, ainda que nestes locais a percentagem das produções
do litoral bético sejam significativamente inferiores. Porém, numa óptica de análise aos produtos con-
sumidos, este cenário altera-se totalmente, aproximando-se em parte dos dados do Banco de Portugal.
De facto, no âmbito das amostras com maior fiabilidade estatística estudadas, só na Zara e naquele sítio
se observa uma preponderância tão expressiva dos preparados piscícolas face aos restantes produtos
transportados em ânforas, aqui significando 64,81% do NMI. Neste contexto, as produções lusitanas
são absolutamente predominantes (83,57% dos envases piscícolas), para isso contribuindo sobretudo
o grande volume de Lusitanas Antigas (40,71%) e de Dressel 14 (35%) - a que se deverão adicionar 4,29%
representados pelos exemplares indistintamente classificados como Lusitana Antiga/Dressel 14. Apesar
de a sua representatividade ser aqui mais do dobro do que se verifica na leitura global de Olisipo, a per-
centagem das produções de Peniche é visivelmente minoritária (3,57%). As importações extraprovin-
ciais de preparados à base de peixe provêm integralmente da província da Baetica, principalmente nas
Dressel 7-11, Beltrán IIA e Beltrán IIB da costa ocidental (14,29%), e em menor medida da costa oriental
(1,43%) e do Vale do Guadalquivir (0,71%), em ambos casos em ânforas do tipo Dressel 7-11.
O dado mais “perturbador” do conjunto anfórico da Zara, Rua Augusta, é precisamente a baixa
percentagem de ânforas vinárias e consequente superioridade do consumo de azeite (20,37%) relativa-
mente ao de vinho (13,43%). Embora algumas das amostras mais significativas de Olisipo exibam propor-
ções do consumo de azeite ligeiramente mais elevadas, em nenhum caso se observa a superioridade
desse consumo face ao do vinho. Mesmo no caso do Banco de Portugal, que ostenta percentagens
semelhantes nas ânforas piscícolas, a proporção daquele artigo (18,37%) é superior à do azeite (16,08%).
Embora de difícil interpretação, esta peculiaridade da amostra da Zara encontra paralelo na Rua de São
Mamede, na Calçada do Correio Velho e na Rua de São João da Praça (2009) - ainda que se trate de con-
juntos com escassa fiabilidade estatística -, não parecendo ser mera coincidência o facto de os contextos
destes sítios apresentarem balizas cronológicas muito aproximadas às da Zara. Para além destes haverá
ainda que referir o caso do Circo Romano, onde o âmbito cronológico da generalidade dos materiais é
similar e se observa uma equivalência entre o vinho e o azeite. A possibilidade - que este e os aludidos
conjuntos parecem confirmar - da relativa escassez de ânforas vinárias que se observa nestes sítios se re-
lacionar directamente com esse lapso temporal foi já colocada para o caso da Rua de São Mamede (Mota
et al., 2017), não sendo, todavia, totalmente claras as razões que estão na base do decréscimo desses
envases e de uma proporção inferior à do azeite. Voltarei a esta questão na parte final deste trabalho.
Seja como for, as ânforas oleícolas significam neste sítio 20,37% do NMI, sendo exclusivamente
provenientes do Vale do Guadalquivir. As variantes documentadas e respectivas percentagens, a que
acima se fez já referência, são genericamente coerentes com a cronologia dos contextos de proveniên-
cia, apesar de alguma residualidade, concedendo ao conjunto particular relevância. Os contentores
vinários (13,43% do NMI) procedem maioritariamente do Vale do Guadalquivir (82,76% desse artigo),
sendo estes quase exclusivamente representados pelas Haltern 70 (79,31%) e de forma vestigial pelas

95
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

imitações de Dressel 2-4 (3,45%). Das primeiras está atestada sobretudo a variante de Cláudio-Nero
(62,5%), surgindo as Flávias (8,33%) e as de Augusto-Tibério (4,17%) em proporções bem mais reduzidas.
Em termos gerais, poder-se-á referir que a amostra da Zara complementa diacronicamente a do
Teatro Romano, ampliando a sequência cronológica até ao início do séc. II d.C. e ilustrando perfeita-
mente a tendência já anteriormente salientada (Filipe, 2008a; Filipe, 2015), da acentuada diminuição
das importações béticas em detrimento das produções locais/regionais a partir do terceiro quartel do
séc. I d.C., altura em que as últimas ultrapassam em geral os 50% do consumo global.

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Lusitana Antiga 57 26,39% 50,89% 48,72% 40,71%
Lusitana Antiga/Dressel 14 6 2,78% 5,36% 5,13% 4,29%
Lusitânia, Tejo/Sado
Dressel 14 49 22,69% 43,75% 41,88% 35%
Total 112 51,85% 100% 80%
Tipo 2 2 0,93% 40% 1,71% 1,43%
Lusitânia, Peniche Tipo 7 3 1,39% 60% 2,56% 2,14%
Preparados piscícolas

Total 5 2,31% 100% 100% 3,57%


Dressel 7-11 5 2,31% 25% 21,74% 3,57%
Dressel 9-10 3 1,39% 15% 13,04% 2,14%
Beltrán II 1 0,46% 5% 4,35% 0,71%
Bética, costa ocidental
Beltrán IIA 1 0,46% 5% 4,35% 0,71%
Beltrán IIB 10 4,63% 50% 43,48% 7,14%
Total 20 9,26% 100% 14,29%
Dressel 7-11 1 0,46% 50% 4,35% 0,71%
Bética, costa oriental Dressel 9 1 0,46% 50% 4,35% 0,71%
Total 2 0,93% 100% 1,43%
Dressel 7-11 1 0,46% 100% 4,35% 0,71%
Bética, Vale do Guadalquivir
Total 1 0,46% 100% 100% 0,71%
Total 140 64,81% 100%
Lusitana 3 1 0,46% 100% 100% 3,45%
Lusitânia, Tejo/Sado
Totalz 1 0,46% 100% 100% 3,45%
Haltern 70 5 2,31% 20,83% 20,83% 17,24%
Haltern 70 (Augusto-Tibério) 1 0,46% 4,17% 4,17% 3,45%
Vinho e derivados

Haltern 70 (Cláudio-Nero) 15 6,94% 62,5% 62,5% 51,72%


Bética, Vale do Guadalquivir
Haltern 70 (Flávia) 2 0,93% 8,33% 8,33% 6,9%
Dressel 2-4 1 0,46% 4,17% 4,17% 3,45%
Total 24 11,11% 100% 100% 82,76%
PE 25 2 0,93% 100% 100% 6,9%
Ilha de Ibiza
Total 2 0,93% 100% 100% 6,9%
Gauloise 4 1 0,46% 100% 100% 3,45%
Gália Narbonense
Total 1 0,46% 100% 100% 3,45%
Tardo-Ródia/Camulodunum 184 1 0,46% 100% 100% 3,45%
Mediterrâneo Oriental
Total 1 0,46% 100% 100% 3,45%
Total 29 13,43% 100%
Oberaden 83/Ovóide 7 5 2,31% 11,36% 11,36% 11,36%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) - Haltern 71 1 0,46% 2,27% 2,27% 2,27%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 20 9,26% 45,45% 45,45% 45,45%
Dressel 20 (Flávia-Trajana) 11 5,09% 25% 25% 25%
Azeite

Bética, Vale do Guadalquivir Dressel 20 (Antonina) 4 1,85% 9,09% 9,09% 9,09%


Dressel 20 1 0,46% 2,27% 2,27% 2,27%
Dressel 20 parva (Júlio-Cláudia) 1 0,46% 2,27% 2,27% 2,27%
Dressel 20 parva (Flávia-Trajana) 1 0,46% 2,27% 2,27% 2,27%
Total 44 20,37% 100% 100% 100%
Total 44 20,37% 100%
Richborough 527 1 0,46% 100% 100% 100%
Alúmen Ilha de Lipari
Total 1 0,46% 100% 100% 100%
Total 1 0,46% 0%
Haltern 70 2 0,93% 100% 100% 100%
Indet.

Lusitânia, Tejo/Sado
Total 2 0,93% 100% 100% 100%
Total 2 0,93% 100%
TOTAL 216 100%

Tabela 26 – Quantificação por conteúdo das ânforas do Principado da Zara, na Rua Augusta.

96
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

5.10. Banco de Portugal (anexo I.10)

A intervenção arqueológica levada a efeito no Edifício Sede do Banco de Portugal decorreu entre
2010 e 2011, tendo sido realizada pela empresa Arqueohoje e dirigida por Artur Rocha. Os trabalhos
enquadraram-se numa acção de minimização de impactes sobre o projecto de arquitectura que abran-
gia todo o quarteirão delimitado pelo Largo de São Julião e pelas ruas do Ouro, do Comércio e de São
Julião (Rocha et al., 2013, p. 1011), constituindo-se como uma das intervenções arqueológicas de maior
envergadura efectuadas na cidade de Lisboa. Esta escavação foi precedida por uma fase de diagnósti-
co, em 2008, que procurou essencialmente avaliar o estado e dimensão das fundações do edifício bem
como proceder à caracterização da envolvente arqueológica, sem que então se tivessem registado
contextos de Época Romana.
Os vestígios documentados estendem-se diacronicamente do período Romano ao séc. XX, salien-
tando-se sobretudo: um conjunto considerável de espólio associado a níveis sedimentares do rio Tejo; a
identificação de um troço da muralha de D. Dinis (conservada in situ e acessível ao público no Museu do
Dinheiro) e respectiva malha urbana tardo-medieval associada, incluindo a Rua da Judiaria Nova e a Rua
do Morraz; vestígios do Paço Real da Ribeira e Igreja Patriarcal de São Tomé, destruída pelo terramoto
de 1755; a identificação de um conjunto de estacaria pombalina com várias centenas de exemplares; e a
necrópole da Igreja de São Julião, onde se identificaram 310 sepulturas e 30 ossários (Rocha et al., 2013,
p. 1011-1012). O espólio recolhido e inventariado ultrapassa as 130000 ocorrências.
Relativamente aos níveis sedimentares do rio Tejo, trata-se de uma formação estratigráfica de
origem natural relacionada com o assoreamento progressivo do Esteiro, em contexto de “fundo de
rio” à Época Romana, incorporando abundantes vestígios antrópicos, por norma rolados, relacionados
com a actividade humana nas cercanias. Foram definidos dois horizontes cuja formação estratigráfica
se terá situado ainda durante a Época Romana, de onde provém a esmagadora maioria das ânforas. A
par destas registou-se grande quantidade de seixos rolados e de espólio cerâmico variado (cerâmica
comum, Terra Sigillata, cerâmica africana de cozinha…), bem como a presença mais discreta de cerâ-
mica de construção e fauna mamalógica, malacológica e ictiológica (Rocha et al., 2013, p. 1012; Santos,
2015, p. 4-8).
Apesar da formação dos referidos horizontes se enquadrar cronologicamente no período roma-
no, a estratigrafia documentada não corresponde a uma estratificação diacronicamente sequencial, ve-
rificando-se a presença relativamente frequente de materiais tardios nos níveis de base e vice-versa, o
que se deverá justificar com a acção constante do movimento do rio e consequente remobilização dos
materiais. Ainda assim, dois aspectos são de realçar: por um lado, observa-se que tendencialmente os
materiais mais antigos surgem no horizonte mais antigo e os tardios no mais recente; por outro, que a
cronologia da maioria dos materiais cerâmicos se situa principalmente entre a segunda metade do séc.
I d.C. e o final do séc. III/meados do séc. IV, sendo mais raros os materiais republicanos e os posteriores
ao séc. IV. Estas evidências poder-se-ão relacionar com o crescimento da cidade, testemunhando uma
intensificação da ocupação do Vale da Baixa e relação directa com a eclosão da indústria piscícola nesta
zona, estabelecida a partir de meados do século I d.C., a que se segue um período de apogeu no século
II, durante a dinastia Antonina. O afluxo de materiais a este local da cidade parece ter sido em grande
medida truncado a partir do final do século III/meados do século IV, o que não se afigura, para já, de fácil
entendimento mas que eventualmente se poderá relacionar com uma mudança de certa forma abrupta
na ocupação da zona poente da urbe. Ainda que de difícil comprovação, é tentador, dada a coincidência
cronológica, relacionar estes dados com a fase de “desmonumentalização” da necrópole da Praça da
Figueira e subsequente construção da muralha tardia (Silva, 2005; Silva, 2012a; Filipe et al., 2016) e um
relativo recuo da cidade ou reorganização da orgânica relacionada com a localização de portos e outras
estruturas ligadas ao comércio.
O conjunto de ânforas exumado no decurso da intervenção arqueológica realizada no Edifício
Sede do Banco de Portugal é muito diversificado no que se refere às formas e regiões de origem -
observando-se a presença de 58 tipos provenientes da Hispânia, Gália, Península Itálica, Norte de África
e Mediterrâneo Oriental - e quantitativamente bastante expressivo, sendo constituído por um total de

97
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 11 0,72% 9 1,45% 2,22% 2,2%
Lusitana Antiga/Dressel 14 3 0,2% 2 0,32% 0,49% 0,49%
Haltern 70 2 0,13% 2 0,32% 0,49% 0,49%
Dressel 14 699 45,51% 318 51,37% 78,52% 77,56%
Lusitânia, Tejo/Sado Beltrán II 1 0,07% 1 0,16% 0,25% 0,24%
“Dressel 28” 2 0,13% 2 0,32% 0,49% 0,49%
Lusitana 3 193 12,57% 60 9,69% 14,81% 14,63%
Indeterminado 60 3,91% 11 1,78% 2,72% 2,68%
Total 971 63,22% 405 65,4% 100%
Tipo 7 3 0,2% 3 0,48% 60% 0,73%
Tipo 12 1 0,07% 1 0,16% 20% 0,24%
Lusitânia, Peniche
Indeterminado 2 0,13% 1 0,16% 20% 0,24%
Total 6 0,39% 5 0,81% 100% 100%
Dressel 7-11 9 0,59% 5 0,8% 10,2% 3,45% 2,48%
Dressel 28 1 0,07% 1 0,16% 2,04% 0,69% 0,5%
Dressel 20 parva 2 0,13% 2 0,32% 4,08% 1,38% 0,99%
Beltrán II 45 2,93% 4 0,65% 8,16% 2,76% 1,98%
Beltrán IIA 10 0,65% 8 1,29% 16,33% 5,52% 3,96%
Bética, costa ocidental
Beltrán IIB 24 1,56% 11 1,78% 22,45% 7,59% 5,45%
Dressel 14 2 0,13% 1 0,16% 2,04% 0,69% 0,5%
“Gauloise 4” 1 0,07% 1 0,16% 2,04% 0,69% 0,5%
Indeterminado 65 4,23% 16 2,58% 32,65% 11,03% 7,92%
Total 159 10,35% 49 7,92% 100% 24,26%
Haltern 70 8 0,52% 4 0,65% 4,17% 2,76% 1,98%
Verulamium 1908 1 0,07% 1 0,16% 1,04% 0,69% 0,5%
Dressel 28 2 0,13% 1 0,16% 1,04% 0,69% 0,5%
Dressel 2-4 1 0,07% 1 0,16% 1,04% 0,69% 0,5%
Dressel 20 (Nero-Vespasiano) 1 0,07% 1 0,16% 1,04% 0,69% 0,5%
Dressel 20 (Flaviana-Trajana) 7 0,46% 7 1,13% 7,29% 4,83% 3,47%
Bética, Vale do Guadalquivir
Dressel 20 (Antonina) 43 2,8% 32 5,17% 33,33% 22,07% 15,84%
Dressel 20 131 8,53% 35 5,65% 36,46% 24,14% 17,33%
Dressel 20 parva (Antonina) 1 0,07% 1 0,16% 1,04% 0,69% 0,5%
Dressel 20 parva 9 0,59% 3 0,48% 3,13% 2,07% 1,49%
Dressel 20 (séc. III) 7 0,46% 7 1,13% 7,29% 4,83% 3,47%
Indeterminado 9 0,59% 3 0,48% 3,13% 2,07% 1,49%
Total 220 14,32% 96 15,51% 100% 100% 47,52%
Dressel 1 2 0,13% 1 0,16% 50% 50% 0,5%
Hispânia Ulterior,
T-9.1.1.1. 1 0,07% 1 0,16% 50% 50% 0,5%
região costeira
Total 3 0,20% 2 0,32% 100% 100% 0,99%
Hispânia Ulterior, Ovóide 4 1 0,07% 1 0,16% 100% 33,3% 0,5%
Vale do Guadalquivir Total 1 0,07% 1 0,16% 100% 233% 0,5%
Dressel 3-2 2 0,13% 1 0,16% 50% 16,67% 0,5%
Tarraconense,
Indeterminado 1 0,07% 1 0,16% 50% 16,67% 0,5%
costa setentrional
Total 3 0,2% 2 0,32% 100% 0,99%
PE 25 4 0,26% 3 0,48% 100% 50% 1,49%
Ilha de Ibiza
Total 4 0,26% 3 0,48% 100% 100% 1,49%
Hispânia Citerior, Dressel 1 1 0,07% 1 0,16% 100% 1 0,5%
costa setentrional Total 1 0,07% 1 0,16% 100% 100% 0,5%
Gauloise 3 1 0,07% 1 0,16% 5,88% 5,88% 0,5%
Gauloise 4 34 2,21% 14 2,26% 82,35% 82,35% 6,97%
Gália Narbonense
Indeterminado 4 0,26% 2 0,32% 11,76% 11,76% 0,99%
Total 39 2,54% 17 2,75% 100% 100% 8,45%
Greco-Itálica 2 0,13% 1 0,16% 11,11% 10% 0,5%
Península Itálica, Dressel 2-4 18 1,17% 6 0,97% 66,67% 60% 2,97%
costa tirrénica Indeterminado 4 0,26% 2 0,32% 22,22% 20% 1%
Total 24 1,56% 9 1,45% 100% 4,46%
Richborough 527 1 0,07% 1 0,16% 100% 10% 0,5%
Ilha de Lipari
Total 1 0,07% 1 0,16% 100% 100% 0,5%

Tabela 27 – Quantificação da totalidade das ânforas do Banco de Portugal.

98
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Tripolitana I 1 0,07% 1 0,16% 9,09% 9,09% 0,5%
Tripolitana II 3 0,20% 2 0,32% 18,18% 18,18% 0,99%
Tripolitana III 1 0,07% 1 0,16% 9,09% 9,09% 0,5%
Norte de África Africana I 2 0,13% 1 0,16% 9,09% 9,09% 0,5%
Africana IIA 5 0,33% 3 0,48% 27,27% 27,27% 1,49%
Indeterminado 32 2,08% 3 0,48% 27,27% 27,27% 1,49%
Total 44 2,86% 11 1,78% 100% 100% 5,45%
Tardo-Ródia/Camulodunum 184 12 0,78% 5 0,81% 55,56% 55,56% 2,48%
Dressel 2-4/5 1 0,07% 1 0,16% 11,11% 11,11% 0,5%
Mediterrâneo Oriental Agora M54 1 0,07% 1 0,16% 11,11% 11,11% 0,5%
Indeterminado 16 1,04% 2 0,32% 22,22% 22,22% 0,99%
Total 30 1,95% 9 1,45% 100% 100% 4,46%
Dressel 2-4 1 0,07% 1 0,16% 12,5% 12,5%
Indeterminada Indeterminado 29 1,89% 7 1,13% 87,5% 87,5%
Total 30 1,95% 8 1,29% 100% 100%
TOTAL 1536 100% 619 100% 100%

Tabela 27 – Quantificação da totalidade das ânforas do Banco de Portugal (cont.).

Figura 5 – Fundo de Dressel 14 (à esquerda) e de Lusitana 3 (à direita) conservando vestígios de pez.

1972 fragmentos: 739 bordos, 128 fundos, 1101 asas e 4 paredes que apresentam singularidades como
tituli picti, marca de oleiro e “gatos”. Neste amplo conjunto, com um Número Mínimo de 769 Indiví-
duos, 0,65% correspondem a contentores republicanos, 72,43% a produções do Alto-Império, 21,2% à
Antiguidade Tardia e 5,72% a envases de tipo e cronologia indeterminados. Uma vez que as ânforas
tardias não foram consideradas neste estudo, a amostra analisada, englobando as ânforas republicanas
(5 NMI), alto-imperiais (566 NMI) e de tipo indeterminado (44 NMI), é composta por um total de 1536
fragmentos e 619 indivíduos.
Devido a questões que se relacionam com o tipo de formação da estratigrafia, atrás explicita-
das, os materiais apresentam-se, em geral, bastante fragmentados e rolados, o que em alguns casos
dificultou bastante a sua classificação, impossibilitando-a por vezes. Pelos mesmos motivos, em alguns
materiais observou-se a alteração das pastas, dificultando a sua caracterização. Uma das singularidades
mais marcantes deste conjunto é a quantidade de fragmentos de ânfora que ainda preserva vestígios
de revestimento resinoso interno, que serão futuramente objecto de estudo específico.
O conjunto de ânforas atribuíveis à República é extremamente reduzido e atípico face àquilo que
era o quadro de importações no Vale do Tejo (Pimenta, 2014), pelo que não apresenta qualquer vali-
dade estatística. Embora a sua presença seja meramente vestigial (0,81%), observando-se as habituais

99
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Greco-Itálicas tirrénicas e as Greco-Itálicas, Dressel 1 e T-9.1.1.1. da costa meridional hispânica, a presen-


ça de um fragmento de bordo de Dressel 1 produzida na costa setentrional da província hispânica da
Citerior adiciona particular interesse ao conjunto, na medida em que, até aqui, não se conhecia a sua
difusão para paragens tão ocidentais. A identificação deste exemplar deixa transparecer a possibilidade
de que a aparente ausência destas produções citeriores no extremo ocidental peninsular, tal como em
outros quadrantes geográficos, poder-se-á relacionar mais com o desconhecimento daquele tipo de fa-
bricos e consequente dificuldade em distingui-las das suas homólogas itálicas do que com a sua efectiva
ausência, o que, aliás, já anteriormente foi devidamente assinalado para a difusão daquele tipo por Jor-
di Miró Canals (2016). A presença de ânforas procedentes daquela região havia já sido documentada no
território actualmente português, sempre em proporções reduzidas, mas sistematicamente com tipos
de cronologia algo posterior, como as Pascual 115 em Castro Marim (Viegas, 2011), e as Dressel 2-4, em
Tomar (Banha e Arsénio, 1998), Idanha-a-Velha (Banha, 2006) e Lisboa (Almeida e Filipe, 2013). Apesar
do que foi exposto, não deixa de ser surpreendente a presença em Olisipo, em fase que poderá recuar
à primeira metade do século I a.C., de contentores fabricados naquele território, tanto mais que se tra-
taria de uma produção minoritária em relação às posteriores produções daquela região (Miró Canals,
2016), que, como se viu, nunca conheceram grande difusão para a Lusitânia.

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Dressel 1 2 28,6% 1 20% 50% 50% 20%
Hispânia Ulterior, região costeira T-9.1.1.1. 1 14,3% 1 20% 50% 50% 20%
Total 3 42,9% 2 40% 100% 100% 40%
Ovóide 4 1 14,3% 1 20% 100% 100% 20%
Hispânia Ulterior, Vale do Guadalquivir
Total 1 14,3% 1 20 % 100% 100% 20%
Dressel 1 1 14,3% 1 20% 100% 100% 20%
Hispânia Citerior, costa setentrional
Total 1 14,3% 1 20% 100% 100% 20%
Greco-Itálica 2 28,6% 1 20% 100% 100% 20%
Península Itálica, costa tirrénica
Total 2 28,6% 1 20% 100% 100% 20%
TOTAL 7 100% 5 100% 100%

Tabela 28 – Quantificação das ânforas republicanas do Banco de Portugal.

22
652

480
129
10cm
29

Estampa 36 – Banco de Portugal. Ulterior: T-9.1.1.1. (22), Dressel 1 (652(?), 480). Citerior: Dressel 1 (29). Península
Itálica, costa tirrénica: Greco-Itálica (129).

15. O exemplar nº 9 de Tomar (Banha e Arsénio, 1998), classificado como Pascual 1 de fabrico tarraconense, corresponde na realidade a
uma ânfora produzida na olaria do Morraçal da Ajuda, em Peniche (Prudêncio et al., 2003), verificando-se situação idêntica com a peça nº
12 de Conimbriga (Buraca, 2005), inicialmente classificada como Laietana 1 da tarraconense e posteriormente atribuída às produções do
Morraçal da Ajuda, Peniche (Buraca, 2016). Também o fundo nº 19 deste último sítio, enquadrado nas Pascual 1 tarraconenses (Buraca,
2005), deverá corresponder a uma produção de Peniche.

100
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Dressel 1 1 20% 50% 50% 50%
Hispânia Ulterior,
Preparados T-9.1.1.1. 1 20% 50% 50% 50%
costa meridional
piscícolas Total 2 40% 100% 100% 100%
Total 2 40% 100%
Hispânia Ulterior, Ovóide 4 1 20% 100% 100% 33,33%
Vale do Guadalquivir Total 1 20% 100% 100% 33,33%
Hispânia Citerior, Dressel 1 1 20% 100% 100% 33,33%
Vinho e costa setentrional Total 1 20% 100% 100% 33,33%
derivados
Península Itálica, Greco-Itálica 1 20% 100% 100% 33,3%
costa tirrénica Total 1 20% 100% 100% 33,33%
Total 3 60% 100%
TOTAL 5 100%

Tabela 29 – Quantificação por conteúdo das ânforas republicanas do Banco de Portugal.

Neste exíguo conjunto de ânforas republicanas nota-se sobretudo a ausência dos dois tipos
habitualmente mais expressivos em fase republicana no Vale do Tejo, isto é, as Dressel 1 itálicas e as
T-7.4.3.3. da costa meridional da Ulterior (Arruda e Almeida, 1998; Pimenta, 2005; Bargão, 2006; Fabião
e Pimenta, 2014; Filipe, 2015). A quase total ausência de ânforas republicanas não permite determinar
qualquer quadro de consumo para aquela fase ou estabelecer outras considerações relacionadas com
as ligações comerciais ao mediterrâneo, constituindo-se mais como um bom indicador da marginalida-
de desta área relativamente ao núcleo gravitacional e quotidiano da cidade, centrado no alto da colina
do castelo e na sua vertente Sul (Pimenta, 2005; Fabião e Pimenta, 2014; Filipe, 2015).
Se o conjunto de ânforas republicanas espelha de forma exemplar o risco de fazer interpretações
de quadros de consumo a partir de conjuntos de escassa fiabilidade estatística, o mesmo não se poderá
dizer das ânforas alto-imperiais onde, como já referido, se contabilizaram 558 indivíduos, corresponden-
do este a um conjunto de fiabilidade alta (Molina Vidal, 1997). Todavia, o quadro de consumo expresso
por qualquer conjunto anfórico é necessariamente indissociável do tempo e do espaço em que este
é formado, estando directamente relacionado com as especificidades e tipo de ocupação no local e
cercanias, bem como com os processos que modelam o registo arqueológico (Peña, 2007a). As caracte-
rísticas estratigráficas documentadas neste sítio, associadas à leitura dos vestígios materiais de Época
Romana, deixam entrever a forte possibilidade da existência de um cais ou outra estrutura relacionada
com actividades portuárias nas imediações. Algumas singularidades observáveis na análise quantitativa
da amostra do Banco de Portugal parecem reforçar essa hipótese, na medida em que tal poderá justi-
ficar a presença tão desproporcionada de alguns tipos de ânfora, tanto no Alto-Império como na fase
correspondente à Antiguidade Tardia. Como tal, e embora se trate, em teoria, de um conjunto de fiabili-
dade alta, o cenário estatístico que esta amostra ilustra é próprio àquele local, afastando-se do quadro
de consumo global de Felicitas Ivlia Olisipo entre o séc. I e inícios do III da nossa Era, encontrando na Zara
o conjunto com a leitura mais aproximada, entre os mais representativos analisados neste trabalho.
No bloco cronológico que se estende aproximadamente entre as décadas finais do séc. I a.C. e o
final do séc. II/início do III d.C., no que se refere à origem dos contentores, ganha especial relevo a alta
representatividade das ânforas lusitanas produzidas nos vales dos rios Tejo e Sado, traduzida em 70,32%
da amostra. Esta convincente superioridade dos produtos lusitanos alicerça-se fundamentalmente na
quantidade desproporcionada de Dressel 14, que se cifra em 318 indivíduos, representando 56,18% do
total das ânforas do Alto-Império e 79,9% das produções lusitanas. Estes valores são, a todos os níveis,
singulares, não encontrando paralelo em qualquer outro conjunto anfórico publicado de Lisboa (Buga-
lhão e Sabrosa, 1995; Diogo e Trindade, 1999; Diogo, 2000; Bugalhão, 2001; Filipe, 2011; Almeida e Filipe,
2013; Parreira e Macedo, 2013; Silva, 2014; Filipe et al., 2016; Gomes et al., 2017) ou centro de consumo
no Vale do Tejo (Arruda et al., 2006a; Cardoso, 2009), com excepção da villa de Povos (numa amostra
de apenas 28 indivíduos: Banha, 1991-1992); aproximando-se apenas de sítios como Tróia (Almeida et
al., 2014c), São Cucufate e Tourega (Pinto e Lopes, 2006). Naturalmente, esta sobrerrepresentação

101
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

relacionar-se-á em grande medida com a localização do sítio, em plena zona portuária, sendo o conjun-
to constituído em boa parte por material destinado à exportação dos produtos piscícolas produzidos
naquela área da cidade, tal como em Tróia.

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 11 0,84% 9 1,6% 2,3% 2,26%
Lusitana Antiga/Dressel 14 3 0,23% 2 0,35% 1% 1%
Haltern 70 2 0,15% 2 0,35% 0,51% 0,50%
Dressel 14 699 53,48% 318 56,18% 80,71% 79,9%
Lusitânia, Tejo/Sado
Beltrán II 1 0,08% 1 0,18% 0,25% 0,25%
“Dressel 28” 2 0,15% 2 0,35% 0,51% 0,50%
Lusitana 3 193 14,77% 60 10,60% 15,23% 15,08%
Total 911 69,7% 394 69,6% 100%
Tipo 7 3 0,23% 3 0,53% 75% 0,75%
Lusitânia, Peniche Tipo 12 1 0,08% 1 0,18% 25% 0,25%
Total 4 0,31% 4 0,71% 100% 100%
Dressel 7-11 9 0,69% 5 0,88% 15,15% 3,97% 2,99%
Dressel 28 1 0,08% 1 0,18% 3,03% 0,79% 0,6%
Dressel 20 parva 2 0,15% 2 0,35% 6,06% 1,59% 1,2%
Beltrán II 45 3,44% 4 0,71% 12,12% 3,17% 2,4%
Bética,
Beltrán IIA 10 0,77% 8 1,41% 24,24% 6,35% 4,79%
costa ocidental
Beltrán IIB 24 1,84% 11 1,94% 33,33% 8,73% 6,59%
Dressel 14 2 0,15% 1 0,18% 3,03% 0,79% 0,6%
“Gauloise 4” 1 0,08% 1 0,18% 3,03% 0,79% 0,6%
Total 94 7,19% 33 5,83% 100% 19,76%
Haltern 70 8 0,61% 4 0,71% 4,3% 3,17% 2,4%
Verulamium 1908 1 0,08% 1 0,18% 1,08% 0,79% 0,6%
Dressel 28 2 0,15% 1 0,18% 1,08% 0,79% 0,6%
Dressel 2-4 1 0,08% 1 0,18% 1,08% 0,79% 0,6%
Dressel 20 (Nero-Vespasiano) 1 0,08% 1 0,18% 1,08% 0,79% 0,6%
Bética, Dressel 20 (Flávia-Trajana) 7 0,54% 7 1,24% 7,53% 5,56% 4,19%
Vale do Guadalquivir Dressel 20 (Antonina) 43 3,29% 32 5,65% 34,41% 25,4% 19,16%
Dressel 20 (séc. III) 7 0,54% 7 1,24% 7,53% 5,56% 4,19%
Dressel 20 131 10,02% 35 6,18% 37,63% 27,78% 20,96%
Dressel 20 parva (Antonina) 1 0,08% 1 0,18% 1,08% 0,79% 0,6%
Dressel 20 parva 9 0,69% 3 0,53% 3,23% 2,38% 1,8%
Total 211 16,14% 93 16,43% 100% 100% 55,69%
Tarraconense, Dressel 3-2 2 0,15% 1 0,18% 100% 25% 0,6%
costa setentrional Total 2 0,15% 1 0,18% 100% 0,6%
PE 25 4 0,31% 3 0,53% 100% 75% 1,8%
Ilha de Ibiza
Total 4 0,31% 3 0,53% 100% 100% 1,8%
Gauloise 3 1 0,08% 1 0,18% 6,67% 6,67% 0,6%
Gália Narbonense Gauloise 4 34 2,6% 14 2,47% 93,33% 93,33% 8,38%
Total 35 2,68% 15 2,65% 100% 100% 8,98%
Península Itálica, Dressel 2-4 18 1,38% 6 1,06% 100% 85,71% 3,59%
costa tirrénica Total 18 1,38% 6 1,06% 100% 3,59%
Richborough 527 1 0,08% 1 0,18% 100% 14,29% 0,6%
Ilha de Lipari
Total 1 0,08% 1 0,18% 100% 100% 0,6%
Tripolitana I 1 0,08% 1 0,18% 12,5% 12,5% 0,6%
Tripolitana II 3 0,23% 2 0,35% 25% 25% 1,2%
Tripolitana III 1 0,08% 1 0,18% 12,5% 12,5% 0,6%
Norte de África
Africana I 2 0,15% 1 0,18% 12,5% 12,5% 0,6%
Africana IIA 5 0,38% 3 0,53% 37,5% 37,5% 1,8%
Total 12 0,92% 8 1,41% 100% 100% 4,79%
Tardo-Ródia/Camulodunum 184 12 0,92% 5 0,88% 71,43% 71,43% 2,99%
Dressel 2-4/5 1 0,08% 1 0,18% 14,29% 14,29% 0,6%
Mediterrâneo Oriental
Agora M54 1 0,08% 1 0,18% 14,29% 14,29% 0,6%
Total 14 1,07% 7 1,24% 100% 100% 4,19%
Dressel 2-4 1 0,08% 1 0,18% 100% 100%
Indeterminada
Total 1 0,08% 1 0,18% 100% 100%
TOTAL 1307 100% 566 100% 100%

Tabela 30 - Quantificação das ânforas do Principado do Banco de Portugal.

102
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

1260
901 1981

1778
1885

78

970 779
103

986
1528

82
1555

1594 1822

1516

10cm
1248

Estampa 37 – Banco de Portugal. Lusitânia: Lusitana Antiga (901, 1260, 1981, 1885, 1778), Haltern 70 lusitana
(78, 103, 970, 779), Peniche 7 (986), Dressel 14 (1594, 1822, 1248 e 1516), “Dressel 28” (1528, 82), Beltrán II
lusitana (1555). Desenhos nº 82, 779, 986 e 1528: Artur Rocha e Jessica Reprezas.

103
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Ainda que escassos, os dados do Banco de Portugal relativos ao lapso de tempo situado entre as
duas últimas décadas do século I a.C. e os meados do século I d.C. parecem confirmar as principais linhas
gerais observadas em outros pontos da cidade, nomeadamente no Teatro Romano (Filipe, 2008a; Filipe,
2015), Rua dos Bacalhoeiros (Filipe, 2008b) e Rua dos Remédios (Silva, 2015a; Silva, no prelo). Por um lado,
a crescente importância dos produtos piscícolas locais e regionais, envasados nos modelos anfóricos

1447 105
31

933
840
1442

393
1282 241

597 1394
244

1823
85
243

895 1250

10cm

Estampa 38 – Banco de Portugal. Lusitânia: Dressel 14.

104
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

lusitanos mais precoces, face aos da costa bética transportados nas Dressel 7-11, fruto da emergência da
indústria piscícola lusitana. Por outro, a importância da rota atlântica na importação de azeite e vinho
da província vizinha, principalmente nas típicas Dressel 20 e Haltern 70 do Vale do Guadalquivir, enqua-
drada na rede de abastecimento de carácter institucional aos estabelecimentos setentrionais do limes
germânico e à Britannia (Remesal Rodríguez, 1986; Fabião, 1993-1994; Morais e Carreras Monfort, 2004).

1249 902 896

1170
680

1170
1388

109 768
757

1247
1592

1390
10cm
1515

Estampa 39 – Banco de Portugal. Lusitânia: Dressel 14.

105
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

650 903

474

628

355

1354

990
993

1426

12 991
220
1243

9
20
13 10cm

Estampa 40 – Banco de Portugal. Lusitânia: Dressel 14. Desenhos nº 9, 12, 13 e 20: Artur Rocha e Jessica Reprezas.

106
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

5 15
10

17

11 6
18

14

10cm
7 8

Estampa 41 – Banco de Portugal. Lusitânia: Dressel 14. Desenhos de Artur Rocha e Jessica Reprezas.

No quadro das importações extraprovinciais, destaca-se a relevância dos produtos oriundos da


província da Baetica, prevalecendo em termos gerais o “princípio da proximidade geográfica” (Fabião,
1998a) que habitualmente se observa tanto em Olisipo como genericamente no restante território da
Lusitânia. Os artigos da Bética constituem 22,26% da amostra do Império e representam 75,45% no qua-
dro das importações extraprovinciais, constituindo-se, nesta óptica, como a região abastecedora mais
importante. O Vale do Guadalquivir assume 16,43% dessa percentagem e a área da costa ocidental os
remanescentes 5,83%. As restantes áreas produtoras adquirem um carácter claramente minoritário,
representando em conjunto 7,42%, ainda que patenteiem uma grande diversidade de centros de abas-
tecimento. Destas, a Gália Narbonense é a que apresenta valores mais elevados (2,65% no total, 8,98%
nas importações), seguida do Norte de África (1,41% - 4,79%), Mediterrâneo Oriental (1,24% - 4,19%), costa
tirrénica da Península Itálica (1,06% - 3,59%), Ilha de Ibiza (0,53% - 1,8%), costa setentrional da Tarraconen-
se (0,18% - 0,6%) e Ilha de Lipari (0,18% - 0,6%).
A já referida presença desproporcionada de Dressel 14 reflecte-se de forma marcada na distribui-
ção dos consumos quando se procede à análise dos produtos alimentares transportados pelas ânforas
exumadas no Banco de Portugal. Os preparados piscícolas representam 64,13% da amostra global do
Alto-Império, sendo 92,01% provenientes da Lusitânia e 7,99% da costa ocidental da Bética. As percen-
tagens dos artigos piscícolas (64,13%) afastam-se bastante dos 43,46% da Praça da Figueira (Almeida e
Filipe, 2013), dos 39,13% da Rua das Pedras Negras (Gomes et al., no prelo), dos 38,78% da Casa dos Bicos
(Filipe et al., 2016) e dos 34% do Núcleo Arqueológico da Rua dos Correeiros (NARC) (Bugalhão e Sabro-
sa, 1995; Bugalhão, 2001; Sabrosa e Bugalhão, 2004; Dias et al., 2012; Bugalhão et al., 2013), bem como
de outros conjuntos que não ultrapassam o século I d.C., como a Rua dos Remédios, 35,7% (Silva, 2015a),
a Rua dos Bacalhoeiros, 28,7% (Filipe, 2008b), e o Teatro Romano, 34,54% (Filipe, 2015). Proporções
idênticas às do Banco de Portugal são observáveis na Casa do Governador em Belém, onde também no
Alto-Império os preparados de peixe representam 64,2% do consumo (Filipe, 2011), tratando-se neste
caso de uma realidade distinta, uma vez que se refere a um núcleo fabril isolado e afastado de qualquer
centro urbano.

107
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Lusitana Antiga 9 1,59% 2,73% 2,69% 2,48%
Lusitana Antiga/Dressel 14 2 0,35% 0,61% 0,60% 0,55%
Lusitânia, Tejo/Sado Dressel 14 318 56,18% 96,36% 95,21% 87,60%
Beltrán II 1 0,18% 0,30% 0,3% 0,28%
Preparados piscícola

Total 330 58,30% 100% 90,91%


Tipo 7 3 0,53% 75% 0,9% 0,83%
Lusitânia, Peniche Tipo 12 1 0,18% 25% 0,3% 0,28%
Total 4 0,71% 100% 100% 1,10%
Dressel 7-11 5 0,88% 17,24% 17,24% 1,38%
Beltrán II 4 0,71% 13,79% 13,8% 1,10%
Beltrán IIA 8 1,41% 27,59% 27,59% 2,20%
Bética, costa ocidental
Beltrán IIB 11 1,94% 37,93% 37,93% 3,03%
Dressel 14 1 0,18% 3,4% 3,45% 0,28%
Total 29 5,12% 100% 100% 7,99%
Total 363 64,13% 100%
“Dressel 28” 2 0,35% 3,23% 3,23% 1,92%
Lusitânia, Tejo/Sado Lusitana 3 60 10,60% 96,77% 96,77% 57,69%
Total 62 10,95% 100% 100% 59,62%
Dressel 28 1 0,18% 50% 11,11% 0,96%
Bética, costa ocidental Gauloise 4 1 0,18% 50% 11,1% 0,96%
Total 2 0,35% 100% 1,92%
Haltern 70 4 0,71% 57,14% 44,44% 3,85%
Verulamium 1908 1 0,18% 14,29% 11,11% 0,96%
Bética, Vale do Guadalquivir Dressel 28 1 0,18% 14,29% 11,11% 0,96%
Dressel 2-4 1 0,18% 14,29% 11,11% 0,96%
Total 7 1,24% 100% 100% 6,73%
Vinho e derivados

Dressel 2-4 1 0,18% 100% 25% 0,96%


Tarraconense, costa setentrional
Total 1 0,18% 100% 0,96%
PE 25 3 0,53% 100% 75% 2,88%
Ilha de Ibiza Total 3 0,53% 100% 100% 2,88%
Gauloise 3 1 0,18% 6,67% 6,67% 0,96%
Gália Narbonense Gauloise 4 14 2,47% 93,33% 93,33% 13,46%
Total 15 2,65% 100% 100% 14,42%
Península Itálica, Dressel 2-4 6 1,06% 100% 100% 5,77%
costa tirrénica Total 6 1,06% 100% 100% 5,77%
Tardo-Ródia/Camulodunum 184 5 0,88% 71,43% 71,43% 4,81%
Dressel 2-4/5 1 0,18% 14,29% 14,29% 0,96%
Mediterrâneo Oriental
Agora M54 1 0,18% 14,29% 14,29% 0,96%
Total 7 1,24% 100% 100% 6,73%
Dressel 2-4 1 0,18% 100% 100% 0,96%
Indeterminada Total 1 0,18% 100% 100% 0,96%
Total 104 18,37% 100%
Dressel 20 parva 2 0,35% 100% 2,27% 2,2%
Bética, costa ocidental
Total 2 0,35% 100% 2,2%
Dressel 20 (Nero-Vespasiano) 1 0,18% 1,16% 1,14% 1,1%
Dressel 20 (flaviana-trajana) 7 1,24% 8,14% 7,95% 7,69%
Dressel 20 (antonina) 32 5,65% 37,21% 36,4% 35,16%
Dressel 20 35 6,18% 40,7% 39,77% 38,46%
Bética, Vale do Guadalquivir
Azeite

Dressel 20 parva (antonina) 1 0,18% 1% 1% 1,1%


Dressel 20 parva 3 0,53% 3,49% 3,41% 3,3%
Dressel 20 (séc. III) 7 1,24% 8,14% 7,95% 7,69%
Total 86 15,19% 100% 100% 94,51%
Tripolitana I 1 0,18% 33% 33% 1,1%
Tripolitana III 1 0,18% 33% 33% 1,1%
Norte de África
Africana I 1 0,18% 33% 33% 1,1%
Total 3 0,53% 100% 100% 3,3%
Total 91 16,08% 100%
Richborough 527 1 0,18% 100% 100% 100%
Alúmen Ilha de Lipari
Total 1 0,18% 100% 100% 100%
Total 1 0,18% 0%
Haltern 70 2 0,35% 100% 100% 28,57%
Indeterminado

Lusitânia, Tejo/Sado
Total 2 0,35% 100% 100% 28,57%
Tripolitana II 2 0,35% 40% 40% 28,57%
Norte de África Africana IIA 3 0,53% 60% 60% 42,86%
Total 5 0,88% 100% 100% 71,43%
Total 7 1,24% 100%
TOTAL 566 100%

Tabela 31 – Quantificação por conteúdo das ânforas do Principado do Banco de Portugal.

108
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

De igual modo, no fundeadouro da Praça D. Luís observa-se um predomínio acentuado de con-


tentores piscícolas sobre os vinários e oleícolas, 57,7% (Parreira e Macedo, 2013), embora também aqui
se trate de um caso com especificidades muito próprias ao nível da funcionalidade, formação do registo
arqueológico e implantação do sítio em relação à urbe. No conjunto dos sítios mais representativos ana-
lisados neste trabalho - Praça da Figueira, Rua das Pedras Negras, Claustros da Sé, Palácio dos Condes
de Penafiel, Teatro Romano e Zara, para além do Banco de Portugal - apenas na Zara se verifica tamanha
preponderância dos preparados piscícolas.
O vinho, e seus derivados, constitui-se como o segundo produto alimentar mais consumido e re-
presenta 18,37% no quadro do consumo, registando-se uma ampla variedade de regiões produtoras que
se estende por todo o Mediterrâneo. Para além dos vinhos regionais da Lusitânia (59,62% das ânforas
vinárias), totalmente dominantes e transportados essencialmente nas Lusitana 3, verifica-se o consumo
de vinhos da Gália (14,42%), do Vale do Guadalquivir (6,73%), do Mediterrâneo Oriental (6,73%), da Penín-
sula Itálica (5,77%), da Ilha de Ibiza (2,88%), da costa ocidental bética (1,92%) e da Tarraconensis (0,96%).
Os vinhos oriundos da província da Gallia, que terão começado a chegar a Olisipo ainda durante o
século I d.C. nas Gauloise 3, 4 e 5, tiveram um importante papel no contexto das importações, constituin-
do-se como a principal região produtora extraprovincial na amostra do Banco de Portugal desta fase, à
semelhança do que parece ter acontecido a partir de Época Flávia em algumas regiões do Império onde
dominava o abastecimento institucional, como por exemplo no limes germânico (Fabião, 1998a, p. 181-
182). O cenário até aqui conhecido para o Ocidente hispânico é, todavia, algo diferente. Nos conjuntos
anfóricos de Época Alto-Imperial de Olisipo já publicados a importação de vinho da Gália nunca é superior
à da Bética, assim se podendo verificar (ainda que na maior parte dos casos em amostras de escasso
valor estatístico) no NARC (Bugalhão e Sabrosa, 1995; Bugalhão, 2001; Sabrosa e Bugalhão, 2004), no
Largo das Portas do Sol (Silva, 2014) e na Praça D. Luís (Parreira e Macedo, 2013), sendo inclusivamente
suplantados pelos vinhos itálicos na Praça da Figueira (Almeida e Filipe, 2013). O mesmo se poderá referir
em relação ao restante território da Lusitânia, onde o panorama é aparentemente similar (Alarcão, 1976;
Buraca, 2005; Banha e Arsénio, 1998; Pinto e Lopes, 2006; Banha, 2006; Viegas, 2011).
Tal deverá encontrar justificação no facto de, na generalidade, esses sítios se reportarem em
grande medida ao séc. I d.C., ou possuírem quantidade apreciável de materiais atribuíveis a esse século,
altura em que a importação do vinho bético atinge o seu apogeu, concretamente na primeira metade
da centúria; para além de que esta leitura se baseia na quantificação global dos conjuntos e não na leitu-
ra individual dos contextos. Nos poucos casos em que se ensaiou a quantificação de cerâmicas por con-
texto em níveis dos séculos II e III d.C., como acontece na Casa dos Bicos (Filipe et al., 2016), verificou-se
que durante esse período o vinho proveniente da Gália é quantitativamente mais expressivo do que o
que procede da Bética.
Tendo em conta o que se referiu, poder-se-á dizer que o vinho gaulês deveria ser dominante relati-
vamente ao bético durante os séculos II e III d.C., suplantando esta ultima região - provavelmente a partir
de Época Flávia ou inícios do séc. II - que havia sido totalmente preponderante no aprovisionamento de
vinho à cidade pelo menos desde a Época de Augusto. Isto é perfeitamente perceptível nos dados globais
de Olisipo, onde, apesar dos vinhos do Vale do Guadalquivir exibirem uma percentagem muito superior
aos da Gallia, se verifica que aqueles correspondem quase exclusivamente a importações do séc. I d.C.
Por outro lado, é de realçar a importante expressão dos vinhos importados do Mediterrâneo
Oriental (suplantando os itálicos e igualando os do Vale do Guadalquivir) transportados em ânforas de
distintas regiões como a Ilha de Rodes (Tardo-Ródia/Camulodunum 184), a Cilícia, na Ásia Menor (Agora
M54) e outros locais do Egeu (Dressel 2-4), revelando um até aqui insuspeitado vigor na comercializa-
ção daquela apreciada bebida desde aquelas paragens durante o Alto-Império. Apenas suplantados
pelos vinhos da Gália, são demonstrativos do peso que teria então a importação de artigos destinados
a uma certa elite cultural de Olisipo, com poder económico suficiente para os adquirir (Fabião, 1998a,
p. 192). A presença das PE 25 procedentes da Ilha de Ibiza, embora até aqui desconhecidas em Lisboa,
não é totalmente de estranhar uma vez que este contentor vinário está documentado um pouco por
todo o mediterrâneo central e ocidental (Ramon Torres, 2006; Ramon Torres, 2013) e, inclusivamente,
em Conimbriga (Buraca, 2005). O mesmo se poderá dizer em relação às Dressel 2-4 da costa setentrional
tarraconense, neste caso já anteriormente reconhecidas em Olisipo (Almeida e Filipe, 2013).

109
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

935 934
1460

1266 131

1830

274
1461

1739

1723
273

634

84 1328

1982

1575
1733

1986
1343

1987

1988
1387

1666
2001 1960 10cm

Estampa 42 – Banco de Portugal. Lusitânia: Lusitana 3.

110
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

276

101
3

1841 266

104
91
2

1178
40

1429 406

227

640

1402

477 262
1087 10cm

Estampa 43 – Banco de Portugal. Bética, costa ocidental: Dressel 7-11 (276, 101, 477 (?)), indeterminado (1, 2, 3),
Dressel 28 (?) (227). Beltrán IIA (1841, 104, 1178, 1429, 266), Beltrán IIB (91 (?), 40, 406, 640, 1402), Beltrán IIA/B
(1087), Dressel 14 (262). Desenhos nº 1, 2 e 3: Artur Rocha e Jessica Reprezas.

111
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

1781
1277

1180

239 236

1547

1548

234

693

42

95

945
1837
1276

282 943
238

232
942 786

1980

1840

10cm
1623 1292

Estampa 44 – Banco de Portugal. Bética, Vale do Guadalquivir: Dressel 20 Flávia-Trajana (1277, 1781, 239, 236,
1548, 234), Dressel 20 Antonina (42, 95, 1276, 1837, 238, 282, 942, 232, 1180, 945, 1547, 943, 693, 786). Dressel 20
parva (1623, 1980, 1292, 1840). Desenho nº 1623: Artur Rocha e Jessica Reprezas.

112
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

230

1652

361
229

16
349

59

1979 228

1806

10cm

1972 854

Estampa 45 – Banco de Portugal. Bética, Vale do Guadalquivir: Dressel 20 Antonina? (229, 230). Dressel 20
parva (361, 349). Dressel 20 (4, 16, 1652, 59), Haltern 70 (1979, 1972), Dressel 2-4 (1806), Verulamium 1908
(854), Dressel 28 (228). Desenhos nº 4, 16 e 1652: Artur Rocha e Jessica Reprezas.

A importação de azeite entre os meados do séc. I e o início do III d.C. foi sobretudo assegurada
pelo Vale do Guadalquivir em ânforas Dressel 20, de onde provém 94,51% daquele produto, mas tam-
bém pelo Norte de África (3,3%) nas formas Africana I, Tripolitana I e III que, no caso da última, perdura
até ao séc. IV; e da costa bética (2,2%). À semelhança do restante conjunto, é ao século II que pertence a
maioria das ânforas oleícolas, particularmente a partir do seu segundo terço. Tal é mormente verificável
na percentagem elevada das variantes de Dressel 20 desse período mas também nas ânforas africanas
de tipo Africana I, Tripolitana I e III, ainda que esta última possa ter chegado em fase posterior. Também
no conjunto anfórico das antigas escavações da Praça da Figueira se verificou um acentuado aumento
da importação de azeite bético durante a dinastia Antonina (Fabião, 1993-1994, p. 232; Almeida e Filipe,
2013, p. 740), panorama claramente comprovado nos dados globais da cidade, reunidos neste estudo.
A presença em Lisboa de ânforas oleícolas provenientes do Norte de África durante o Alto-Império era
até agora assaz escassa, conhecendo-se apenas um exemplar no Teatro Romano (Diogo e Trindade,
1999), outro na Rua dos Fanqueiros (Diogo e Trindade, 2000) e um outro na Casa dos Bicos (Filipe et
al., 2016).
Foi ainda registada a importação de alúmen da Ilha de Lipari, no Sul da Península Itálica, através
de um exemplar de Richborough 527. Este tipo anfórico já havia sido identificado na cidade de Lisboa,
sempre em escassas quantidades, no Teatro Romano (Filipe, 2015) e na necrópole da Praça da Figueira
(Almeida e Filipe, 2013).

113
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Pelos motivos já expostos e apesar da fiabilidade estatística do conjunto, a leitura destes dados
não é extrapolável à cidade (como, aliás, mais à frente se poderá observar na análise global da amostra
estudada neste trabalho), devendo-se matizar devidamente alguns aspectos que parecem decorrer
de particularidades adstritas ao sítio onde hoje se implanta o edifício sede do Banco de Portugal. A
documentada sobrerrepresentação das Dressel 14 deverá ser encarada como uma singularidade direc-
tamente relacionada com esta área da cidade e com a existência de um elevado número de fábricas de
salga. De facto, a Dressel 14 dever-se-á ter constituído como o principal contentor para transportar os
produtos piscícolas ali produzidos durante o extenso arco cronológico que se estende desde a segunda
metade do séc. I d.C. até ao início do séc. III d.C..

1915
37 133

103
1908

1471

270

506

603 849

397
132 1907

30

28

1000 1974

285

2005 1992

1990 10cm

Estampa 46 – Banco de Portugal. Tarraconense: Dressel 2-4 (37). Ebusus: PE 25 (1915, 133, 103). Gália, Narbonense:
Gauloise 3? (1471), Gauloise 4 (1908, 506, 397, 28, 270, 849, 1907, 30, 1000, 132, 603, 1974, 2005, 1990, 285,
1992). Desenhos nº 133, 30 e 397: Artur Rocha e Jessica Reprezas.

114
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

416

268

1769

829
1805
1714
10cm
965

Estampa 47 – Banco de Portugal. Península Itálica, costa tirrénica: Dressel 2-4 (268, 416, 1769, 965, 1714, 1805).
Ilha de Lipari: Richborough 527 (829).

852
1624 685

497
1357
684

272

1930 752
1720

1800
1801
10cm

Estampa 48 – Banco de Portugal. Norte de África: Tripolitana I (1624), Tripolitana II (1357, 497, 1930), Tripolitana
III (272), Africana I (1801(?), 1720), Africana IIA (852, 685, 684, 752(?), 1800(?)). Desenhos nº 1624, 685 e 684: Artur
Rocha e Jessica Reprezas.

115
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

2000
1700

1500
1462

554
400 10cm

Estampa 49 – Banco de Portugal. Mediterrâneo oriental: Tardo-Ródia/Camulodunum 184 (1500, 1462, 2000, 554,
1700), Agora M54 (400). Desenho nº 400: Artur Rocha e Jessica Reprezas.

Apesar das especificidades próprias do conjunto do Banco de Portugal, o perfil de consumo que
este revela insere-se num padrão que parece caracterizar a zona baixa da cidade, que adiante se discute
mais detalhadamente, cuja maior peculiaridade é precisamente o domínio vincado dos contentores lusi-
tanos, destinados ao transporte dos preparados piscícolas, face aos restantes produtos transportados
em ânforas, o que se deverá relacionar directamente com a dimensão portuária desta zona, em que
uma significativa parte das ânforas locais/regionais se não deveria destinar ao consumo local mas antes
à exportação.

5.11. Criptopórtico, Galerias Romanas da Rua da Prata (anexo I.11)

A intervenção de onde procede o conjunto anfórico que aqui se analisa foi desenvolvida no final
de 2015 por Artur Rocha, enquadrando-se no projecto de remodelação do edifício localizado na esquina
entre a Rua da Prata, 45 a 51, e Rua de São Julião, 86 a 106, na Baixa Pombalina. A escavação de seis son-
dagens teve como objectivos principais a avaliação geotécnica das fundações do edificado e o despiste
da estrutura do criptopórtico, ou seja, averiguar da sua eventual continuidade sob o edifício em causa
(Rocha, 2015). Estes objectivos, particularmente o último, inserem-se num projecto de investigação que
se encontra a ser desenvolvido pelos técnicos do Centro de Arqueologia de Lisboa (doravante CAL), no
qual esta escavação se enquadrou. As ânforas da intervenção de 2015 foram exumadas nas sondagens
1, 2, 3 e 6, precisamente onde não foram detectados quaisquer vestígios construtivos do criptopórtico,
em níveis de areia e aterro presumivelmente encostados ao paredão Sul/Oeste daquela estrutura, ge-
nericamente entre os séculos I e II da nossa Era (Rocha, 2015).
Para além do mencionado projecto do CAL, que teve início em 2014/2015 e se encontra ainda em
desenvolvimento, a estrutura do criptopórtico romano da Rua da Prata havia já sido intervencionada
entre 1995, 1996 e 1997 por Lídia Fernandes e Manuela Leitão, em iniciativa igualmente promovida pela
Autarquia de Lisboa. Procedeu-se então à abertura de uma “pequena sondagem arqueológica numa
das galerias de maiores dimensões” e de quatro sondagens parietais, bem como ao levantamento

116
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

gráfico dos alçados de boa parte das paredes do edifício romano (Endovélico, CNS 6083). Em fase bas-
tante anterior, foram realizados levantamentos gráficos em 1773 por Joaquim Ferreira, após a desco-
berta da ruína, e em 1859 por Francisco Martins de Andrade e José Valentim de Freitas no âmbito da
renovação dos colectores de esgotos das Ruas da Conceição e da Prata (Fabião, 1994c).
Registe-se, por fim, que este notável monumento da Lisboa romana foi alvo de várias interpreta-
ções quanto à sua funcionalidade desde a sua descoberta em 1770, sendo hoje consensual que se trata-
va de um criptopórtico sobre o qual se ergueria uma praça ligada às actividades portuárias e comerciais
(Fabião, 1994c; Ribeiro, 1994; Silva, 2012a). Relativamente à cronologia da sua instalação, embora tenha
já sido sugerida uma data tibéria (Mantas, 1990; Ribeiro, 1994) ou Cláudia (Silva, 1999), não existem
dados objectivos que a permitam precisar, algo que se espera venha a acontecer com a publicação dos
resultados do projecto ora em curso.
No conjunto anfórico do Criptopórtico da Rua da Prata, sem qualquer tipo de fiabilidade estatís-
tica, destaca-se sobretudo uma grande coerência a nível cronológico, observando-se apenas contento-
res fabricados durante o séc. I d.C., pelo que estão completamente ausentes as produções republicanas
e tardias.
Foram contabilizados apenas 26 fragmentos de ânfora (10 bordos, um fundo e 15 asas), o que
neste caso equivale a um Número Mínimo de 14 Indivíduos, estando presentes cinco tipos distintos,
originários de três regiões produtoras: Lusitania, Baetica e Ilha de Ibiza. Predominam os contentores de
fabrico lusitano (64,29%), maioritariamente representados pelas Lusitanas Antigas (77,78% das ânforas
dessa província), mas igualmente com a presença de outras produções de idêntica cronologia como as
Haltern 70 lusitanas e um tipo indeterminado oriundo do centro produtor do Morraçal da Ajuda, Peni-
che. A bética constitui-se como a principal região extraprovincial no abastecimento de produtos alimen-
tares transportados em ânforas, representando 80% desses contentores, que provêm principalmente
do Vale do Guadalquivir (60%) e de forma menos expressiva do litoral daquela província hispânica (20%).
Essas importações completam-se com um fragmento de asa de uma ânfora do tipo PE 25 (20%), produ-
zida na Ilha de Ibiza, cuja presença em Olisipo era até aqui desconhecida.
Quanto ao quadro de consumo ilustrado por esta pequena amostra, destacam-se novamente os
preparados piscícolas (61,54%), onde as salgas lusitanas dominam (87,5%) face a uma discreta presença
dos produtos haliêuticos da costa bética (12,5%) envasados nas Dressel 7-11. O azeite constitui-se como o
segundo artigo mais consumido (23,08%), procedendo uma vez mais exclusivamente do Vale do Guadal-
quivir em ânforas do tipo Dressel 20, estando presente a variante Júlio-Cláudia. Por fim, o vinho significa
apenas 7,69% da amostra e está representado pela já mencionada PE 25 de Ibiza.
Naturalmente, o conjunto é demasiado reduzido para qualquer tipo de considerações relaciona-
das com a dinâmica comercial e quadro de consumo da cidade, e as suas incongruências falam por si.
Ainda assim, alguns aspectos são de destacar: a preponderância das produções locais/regionais, signi-
ficando mais de metade do conjunto; a importância das produções béticas, particularmente as do Vale

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 17 65,38% 7 50% 87,5% 77,78%
Lusitânia, Tejo/Sado Haltern 70 1 3,85% 1 7,14% 12,5% 11,11%
Total 18 69,23% 8 57,14% 100%
Lusitânia, Indeterminado 1 3,85% 1 7,14% 100% 11,11%
Peniche Total 1 3,85% 1 7,14% 100% 100%
Bética, costa Dressel 7-11 1 3,85% 1 7,14% 100% 25% 20%
ocidental Total 1 3,85% 1 7,14% 100% 20%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 3 11,54% 2 14,29% 66,67% 50% 40%
Bética, Vale do Guadalquivir Dressel 20 2 7,69% 1 7,14% 33,33% 25% 20%
Total 5 19,23% 3 21,43% 100% 100% 60%
PE 25 1 3,85% 1 7,14% 100% 100% 20%
Ilha de Ibiza
Total 1 3,85% 1 7,14% 100% 100% 20%
TOTAL 26 100% 14 100% 100%

Tabela 32 – Quantificação da totalidade das ânforas do criptopórtico.

117
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

do Guadalquivir, no quadro das importações extraprovinciais; a ausência de Dressel 14, constituindo-se


como um importante indicador cronológico, apontando para cronologias que dificilmente ultrapassa-
rão os decénios centrais do séc. I d.C. (veja-se: Filipe, 2008b; Filipe, 2015; Silva et al., 2016; Silva, no pre-
lo); a presença do tipo PE 25 aponta para uma cronologia nunca anterior ao início do reinado de Cláudio.
Esta leitura global da cronologia do conjunto anfórico, ainda que procedente de distintas sondagens e
sem relação estratigráfica directa com a estrutura do criptopórtico - apesar de com ela relacionada (Ro-
cha, 2015) - não deixa de se constituir como um dado pertinente e a ter em conta na aferição da cronolo-
gia de construção daquele monumento, sobretudo tendo em conta as cronologias e argumentos ante-
riormente apontados por outros autores que a situam no reinado de Tibério ou no de Cláudio (Mantas,
1990; Ribeiro, 1994; Silva, 1999). A amplitude diacrónica sugerida pelo conjunto anfórico, situada entre
o início do reinado de Cláudio e o de Nero, deverá ser confirmada ou infirmada pelas investigações que
actualmente decorrem e que, espera-se, venham a estabelecer de forma definitiva a data aproximada
da sua instalação.

146 134

167

62
68 123

61 10cm

Estampa 50 – Criptopórtico. Lusitânia: Lusitana Antiga (61, 62, 134, 167), Haltern 70 lusitana (146), Peniche inde-
terminado (68). Bética, Vale do Guadaqluivir: Dressel 20 Júlio-Cláudia (123).

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Lusitana Antiga 7 53,85% 100% 100% 87,5%
Lusitânia, Tejo/Sado
Total 7 53,85% 100% 100% 87,5%
Preparados
Dressel 7-11 1 7,69% 100% 100% 12,5%
piscícolas Bética, costa ocidental
Total 1 7,69% 100% 100% 12,5%
Total 8 61,54% 100%
PE 25 1 7,69% 100% 100% 100%
Vinho e Ilha de Ibiza
Total 1 7,69% 100% 100% 100%
derivados
Total 1 7,69% 100%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 2 15,38% 66,67% 66,67% 66,67%
Bética, Vale do Guadalquivir Dressel 20 1 7,69% 33,33% 33,33% 33,33%
Azeite
Total 3 23,08% 100% 100% 100%
Total 3 23,08% 100%
Haltern 70 1 7,69% 100% 100% 100%
Lusitânia, Tejo/Sado
Indet. Total 1 7,69% 100% 100% 100%
Total 1 7,69% 100%
TOTAL 13 100%

Tabela 33 – Quantificação por conteúdo das ânforas do criptopórtico.

118
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

5.12. Rua das Pedras Negras, 22-28. Termas dos Cássios (anexo I.12)

A intervenção arqueológica da Rua das Pedras Negras, nº 22-28, local onde se situa a área noroes-
te das designadas Thermae Cassiorum, decorreu entre 1991 e 1998 e foi dirigida por A. M. Dias Diogo,
enquadrada nas acções de arqueologia desenvolvidas pelo Município de Lisboa. O edifício termal foi im-
plantado num antigo talvegue na encosta sudoeste da colina do castelo (Silva, 2012a), correspondendo
muito provavelmente aos balneários públicos de maior dimensão da cidade de Olisipo.
A primitiva descoberta ocorreu em 1771/1772 durante as obras de reconstrução do Palácio do
Correio-Mor, que se seguiram ao terramoto de 1755, tendo então D. Thomàz Caetano de Bem dado
notícia dos achados num manuscrito intitulado “Notícia das Thermas ou Banhos Cassianos, e outros
monumentos romanos modernamente descobertos na cidade de Lisboa” (Moita, 1994, p. 48; Fernan-
des, 1997, p. 217). Na descrição dos vestígios arqueológicos é realçado um conjunto de três tanques em
abside, conservando-se no mais relevante a totalidade da sua parede e respectiva abóboda, numa altu-
ra de quase 10 m (Silva, 2012a, p. 208). Nessa parede refere a existência de um nicho, onde estaria uma
estátua de mármore branco, e, acima deste, um painel pintado com a seguinte inscrição em letras ver-
melhas: THERMAE CASSIORVM / RENOVATAE A SOLO IVXTA IVSSIONEM / NVMERI(i) . ALBANI . V(iri) .
C(larissimi) . P(raesidis) . P(rovinciae) . L(usitaniae) / CVRANTE AVR(elio) . FIRMO / NEPOTIANO ET FA-
CVNDO CO(n)S(ulibu)S; com a tradução “Termas dos Cássios. Reconstruídas desde os alicerces, a man-
dado de Numério Albano, varão muito ilustre, governador da província da Lusitânia, sendo encarregado
Aurélio Firmo, no ano em que foram cônsules Nepociano e Facundo” (Encarnação, 2009, p. 482-483).
Tratava-se, portanto, de um edifício termal mandado erigir pela família dos Cássios em data desconhe-
cida, cujo avançado estado de degradação levaria à sua reconstrução quase integral no ano de 336 d.C..
(Encarnação, 2009). Estas estruturas viriam a ser parcialmente destruídas no decorrer da mencionada
reconstrução do Palácio do Correio-Mor, actual palácio dos Condes de Penafiel.
A intervenção da década de 90 colocou a descoberto vestígios igualmente monumentais daquele
edifício termal, em alguns casos conservados em 7 metros de altura, compostos por um conjunto de estru-
turas que parecem corresponder ao limite NO daquele espaço (Silva, 2012a, fig. 19). Sob o pavimento de
um corredor de circulação interna, em opus signinum, foi identificada uma cloaca alinhada no sentido NE-
-SO que tinha continuidade para Sul. Para além daquelas, foi registada a existência de estruturas alto-im-
periais anteriores à construção das Thermae Cassiorum, exibindo distintas orientações e funcionalidades
(Silva, 2012a). Infelizmente, não existe qualquer relatório dos trabalhos de escavação e os dados nunca
foram devidamente publicados, pelo que se desconhece os contextos de origem do volumoso e diversi-
ficado conjunto de materiais dali provenientes, onde se inclui o conjunto anfórico que abaixo se analisa.
Naturalmente, a ausência de documentação estratigráfica inviabiliza a possibilidade de datar
com algum rigor a construção primitiva das termas e a sua desactivação, do mesmo modo que impos-
sibilita a relação directa entre a conhecida data de remodelação das termas e os repertórios cerâmicos
exumados nos níveis correspondentes, tão importante para a caracterização da cultura material daque-
la fase. Em trabalho recente, no âmbito do estudo das marcas de terra sigillata de Lisboa e com base na
pouca informação disponível (Silva, 2012a, p. 212), foi proposto que a sua fundação date de um período
não anterior à dinastia Flávia e que o seu abandono tenha ocorrido no final do séc. IV ou no século se-
guinte. O autor apoia-se, por um lado, em indicações constantes nas etiquetas que se conservam com
os materiais fazendo menção a valas de implantação de paredes das termas e, por outro, no conjunto
numismático dali proveniente e parcialmente publicado (Diogo, 1994). De base frágil, esta proposta
parece, contudo, encontrar eco nos dados colectados durante a recente intervenção nos edifícios loca-
lizados a Sul, que adiante se comentarão, sendo de refutar outras hipóteses cronológicas que situavam
o momento da sua construção primitiva na primeira metade do séc. I d.C. (Silva, 1999; Reis, 2004) e,
sobretudo, em meados do séc. I a.C. (Moita, 1994).
Recorde-se, por fim, a identificação de um capitel jónico em contexto medieval nas escavações
do Palácio dos Condes de Penafiel, que deverá muito provavelmente ter pertencido às Thermae Cassio-
rum, datado entre finais do séc. III e inícios do séc. IV d.C. (Fernandes, 2009, p. 198); e de um elemen-
to arquitectónico com idêntica proveniência para o qual, apesar de algumas dúvidas, se propõe uma

119
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

cronologia em torno a meados do séc. I d.C. (Fernandes, 2011, p. 289); bem como de um fresco parcial-
mente preservado numa das paredes documentadas na escavação das Thermae Cassiorum, exibindo
fundo branco e faixas vermelhas, datado da fase de remodelação do edifício termal (336 d.C.) ou de
época posterior (Fernandes, 2011, p. 298).
A amostra da Rua das Pedras Negras constitui-se como uma das mais importantes no âmbito dos
conjuntos examinados neste trabalho16, unicamente ultrapassada pelas da Praça da Figueira, Banco
de Portugal e Sé. De um total de 1733 fragmentos e 725 indivíduos, 36,69% pertencem a contentores
enquadráveis na Antiguidade Tardia e, por esse motivo, não incluídos neste estudo. Assim, o conjunto
analisado, que estatisticamente se poderá considerar de fiabilidade aceitável (Molina Vidal, 1997), com-
põe-se por 1170 fragmentos diagnosticáveis de ânfora (333 bordos, 188 fundos, 645 asas e quatro pa-
redes), equivalentes a um Número Mínimo de 459 Indivíduos, dos quais 3,49% pertencem à República,
78,87% ao Principado e 17,6% a contentores de tipo indeterminado. Estão presentes 45 tipos provenientes

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 11 0,94% 11 2,40% 4,60% 4,6%
Dressel 2-4 1 0,09% 1 0,22% 0,42% 0,42%
Haltern 70 3 0,26% 3 0,65% 1,26% 1,26%
Dressel 14 283 24,19% 93 20,26% 38,91% 38,91%
Lusitânia, Tejo/Sado Dressel 14 parva 1 0,09% 1 0,22% 0,42% 0,42%
“Dressel 28” 4 0,34% 4 0,87% 1,67% 1,67%
Lusitana 3 318 27,18% 98 21,35% 41% 41%
Indeterminado 63 5,38% 28 6,1% 11,72% 11,72%
Total 684 58,46% 239 52,07% 100% 100%
Dressel 12 1 0,09% 1 0,22% 4% 0,93% 0,47%
Dressel 7-11 1 0,09% 1 0,22% 4% 0,93% 0,47%
Dressel 9 2 0,17% 2 0,44% 8% 1,87% 0,94%
Tipo Urceus 2 0,17% 2 0,44% 8% 1,87% 0,94%
Dressel 20 1 0,09% 1 0,22% 4% 0,93% 0,47%
Bética, costa ocidental Beltrán II 6 0,51% 1 0,22% 4% 0,93% 0,47%
Beltrán IIA 5 0,43% 5 1,09% 20% 4,67% 2,36%
Beltrán IIB 14 1,2% 5 1,09% 20% 4,67% 2,36%
“Gauloise 4” 4 0,34% 2 0,44% 8% 1,87% 0,94%
Indeterminado 13 1,11% 5 1,09% 20% 4,67% 2,36%
Total 49 4,19% 25 5,45% 100% 11,79%
Ovóide indeterminada 4 0,34% 2 0,44% 2,44% 1,87% 0,94%
Haltern 70 11 0,94% 4 0,87% 4,88% 3,74% 1,89%
Dressel 7-11 1 0,09% 1 0,22% 1,22% 0,93% 0,47%
Tipo Urceus 1 0,09% 1 0,22% 1,22% 0,93% 0,47%
Tipo Urceus/Dressel 28 3 0,26% 2 0,44% 2,44% 1,87% 0,94%
Dressel 28 3 0,26% 2 0,44% 2,44% 1,87% 0,94%
Dressel 2-4 3 0,26% 1 0,22% 1,22% 0,93% 0,47%
Beltrán IIB? 1 0,09% 1 0,22% 1,22% 0,93% 0,47%
Bética,
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 21 1,79% 9 1,96% 10,98% 8,41% 4,25%
Vale do Guadalquivir
Dressel 20 (Flávia-Trajana) 10 0,85% 4 0,87% 4,88% 3,74% 1,89%
Dressel 20 (Antonina) 17 1,45% 7 1,53% 8,54% 6,54% 3,3%
Dressel 20 (séc. III) 14 1,2% 6 1,31% 7,32% 5,61% 2,83%
Dressel 20 97 8,29% 35 7,63% 42,68% 32,71% 16,51%
Dressel 20 parva (Júlio-Cláudia) 3 0,26% 2 0,44% 2,44% 1,87% 0,94%
Dressel 20 parva 6 0,51% 4 0,87% 4,88% 3,74% 1,89%
Dressel 20 mini 2 0,17% 1 0,22% 1,22% 0,93% 0,47%
Total 197 16,84% 82 17,86% 100% 100% 38,68%

Tabela 34 – Quantificação da totalidade das ânforas da Rua das Pedras Negras, nº 22-28.

16. Ainda assim, não corresponde à totalidade das ânforas exumadas naquele sítio durante as escavações a que anteriormente se fez
alusão. De facto, face à impossibilidade de aceder ao local da intervenção, onde ainda se encontra parte dos materiais daí procedentes,
foram estudadas somente as peças arquivadas no depósito do Rego, Câmara Municipal de Lisboa, que, apesar de tudo, deverão
corresponder ao volume mais significativo dos contentores anfóricos daquele sítio.

120
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

de 11 áreas produtoras distintas, o que representa uma assinalável diversidade formal e de origem,
sobretudo nos tipos atribuíveis ao Principado. Embora abrangendo toda a diacronia da República e do
Alto-Império, as tipos atestados parecem centrar-se maioritariamente nos séculos II e III d.C., apesar de
uma representação não despicienda de materiais da primeira centúria da nossa Era.
Concretamente em relação ao mais antigo daqueles períodos, o conjunto é inexpressivo e sem
qualquer tipo de significado estatístico, sendo composto por 28 fragmentos (11 bordos, 5 fundos e 12
asas) e 16 indivíduos, observando-se a presença de cinco tipos procedentes de três regiões produto-
ras. Dominam as produções da costa tirrénica da Península Itálica (81,25% do NMI), de onde provêm
as Greco-Itálicas (30,77% dos envases dessa área) e as Dressel 1 (46,15%). As importações do Vale do
Guadalquivir significam 12,5% dos contentores republicanos, ainda que unicamente representadas por
dois indivíduos: um bordo de Ovóide 2 e outro de Ovóide 4. O quadro completa-se com um exemplar de
Africana Antiga (6,25% do NMI), proveniente do Norte de África.

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Ovóide 2 1 0,09% 1 0,22% 50% 50% 0,47%
Hispânia Ulterior, Vale do
Ovóide 4 1 0,09% 1 0,22% 50% 50% 0,47%
Guadalquivir
Total 2 0,17% 2 0,44% 100% 100% 0,94%
Dressel 3-2 1 0,09% 1 0,22% 25% 20% 0,47%
Oberaden 74 1 0,09% 1 0,22% 25% 20% 0,47%
Tarraconense,
“Gauloise 4” 1 0,09% 1 0,22% 25% 20% 0,47%
costa setentrional
Indeterminado 1 0,09% 1 0,22% 25% 20% 0,47%
Total 4 0,34% 4 0,87% 100% 1,88%
PE 25 1 0,09% 1 0,22% 100% 20% 0,47%
Ilha de Ibiza
Total 1 0,09% 1 0,22% 100% 100% 0,47%
Gauloise 4 43 3,68% 17 3,70% 80,95% 80,95% 8,02%
Gauloise 5 2 0,17% 1 0,22% 4,76% 4,76% 0,46%
Gália Narbonense Tipo indet. pequeno módulo 1 0,09% 1 0,22% 4,76% 4,76% 0,47%
Indeterminado 4 0,34% 2 0,44% 9,52% 9,52% 0,94%
Total 50 4,27% 21 4,58% 100% 100% 9,90%
Greco-Itálica 4 0,34% 4 0,87% 25% 21,05% 1,89%
Dressel 1 17 1,45% 6 1,31% 37,5% 31,58% 2,83%
Península Itálica, Greco-Itálica/Dressel 1 4 0,34% 3 0,65% 18,75% 15,79% 1,42%
costa tirrénica Dressel 2-4 6 0,51% 2 0,44% 12,5% 10,53% 0,94%
Indeterminado 1 0,09% 1 0,22% 6,25% 5,26% 0,47%
Total 32 2,74% 16 3,5% 100% 7,55%
Península Itálica, Indeterminado 1 0,09% 1 0,22% 100% 5,26% 0,47%
costa adriática Total 1 0,09% 1 0,22% 100% 0,47%
Richborough 527 4 0,34% 2 0,44% 100% 10,53% 0,94%
Ilha de Lipari
Total 4 0,34% 2 0,44% 100% 100% 0,94%
Africana Antiga 1 0,09% 1 0,22% 2,86% 2,86% 0,46%
Tripolitana II 4 0,34% 2 0,44% 5,71% 5,71% 0,94%
Ostia XXIII 1 0,09% 1 0,22% 2,86% 2,86% 0,47%
Ostia LIX 1 0,09% 1 0,22% 2,86% 2,86% 0,47%
Norte de África Uzita Pl. 52,10 3 0,26% 3 0,65% 8,57% 8,57% 1,42%
Africana I 4 0,34% 3 0,65% 8,57% 8,57% 1,42%
Africana IIA 4 0,34% 2 0,44% 5,71% 5,71% 0,94%
Indeterminado 53 4,53% 22 4,79% 62,86% 62,86% 10,38%
Total 71 6,07% 35 7,63% 100% 100% 16,5%
Tardo-Ródia/Camulodunum 184 8 0,68% 3 0,65% 13,04% 13,04% 1,42%
Dressel 2-4/5 8 0,68% 4 0,87% 17,39% 17,39% 1,89%
Agora M54 1 0,09% 1 0,22% 4,35% 4,35% 0,47%
Mediterrâneo Oriental Ânfora de Chios 1 0,09% 1 0,22% 4,35% 4,35% 0,47%
Kapitän 2 2 0,17% 1 0,22% 4,35% 4,35% 0,47%
Indeterminado 40 3,42% 13 2,83% 56,52% 56,52% 6,13%
Total 60 5,13% 23 5,01% 100% 100% 10,85%
Indeterminado 15 1,28% 8 1,74% 100% 100%
Indeterminada
Total 15 1,28% 8 1,74% 100% 100%
T0TAL 1170 100% 459 100% 100%

Tabela 34 – Quantificação da totalidade das ânforas da Rua das Pedras Negras, nº 22-28 (cont.).

121
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Ovóide 2 1 3,57% 1 6,25% 50% 50% 6,25%
Hispânia Ulterior,
Ovóide 4 1 3,57% 1 6,25% 50% 50% 6,25%
Vale do Guadalquivir
Total 2 7,14% 2 12,5% 100% 100% 12,5%
Greco-Itálica 4 14,29% 4 25% 30,77% 30,77% 25%
Dressel 1 17 60,71% 6 37,5% 46,15% 46,15% 37,5%
Península Itálica, costa tirrénica
Greco-Itálica/Dressel 1 4 14,29% 3 18,75% 23,08% 23,08% 18,75%
Total 25 89,29% 13 81,25% 100% 100% 81,25%
Africana Antiga 1 3,57% 1 6,25% 100% 100% 6,25%
Norte de África
Total 1 3,57% 1 6,25% 100% 100% 6,25%
T0TAL 28 100% 16 100% 100%

Tabela 35 – Quantificação das ânforas republicanas da Rua das Pedras Negras, nº 22-28.

75138
(1998)
75167 8258
(1996) (1991)

8008
7989
(1991) 75280
(1991)
(1996)

75282 75514 78
75365 (1996) (1996) (1992)
(1996)
10cm

Estampa 51 – Rua das Pedras Negras, 22-28 (1990’). Península Itálica: Greco-Itálica (75138, 75167, 8008), Dressel 1
(7989, 8258, 75280), Greco-Itálica/Dressel 1 (75365, 75282, 75514). Norte de África: Africana Antiga (78).

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Hispânia Ulterior, Ovóide 4 1 6,25% 100% 100% 7,14%
Vale do Guadalquivir Total 1 6,25% 100% 100% 7,14%
derivados

Greco-Itálica 4 25% 30,77% 30,77% 28,57%


Vinho e

Dressel 1 6 37,5% 46,15% 46,15% 42,86%


Península Itálica, costa tirrénica
Greco-Itálica/Dressel 1 3 18,75% 23,08% 23,08% 21,43%
Total 13 81,25% 100% 100% 92,86%
Total 14 87,5% 100%
Hispânia Ulterior, Ovóide 2 1 6,25% 100% 100% 50%
Vale do Guadalquivir Total 1 6,25% 100% 100% 50%
Azeite

Africana Antiga 1 6,25% 100% 100% 50%


Norte de África
Total 1 6,25% 100% 100% 50%
Total 2 12,5% 100%
TOTAL 16 100%

Tabela 36 – Quantificação por conteúdo das ânforas republicanas da Rua das Pedras Negras, nº 22-28.

122
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

Este quadro de importações indica um consumo


preferencial do vinho (87,5% do NMI), maioritariamente
importado da costa tirrénica itálica (92,86% das ânfo-
ras vinárias) nas Greco-Itálicas (28,57%) e nas Dressel 1
(42,86%) e, em menor medida, do Vale do Guadalquivir
(7,14%) nas Ovóide 4. Face à ausência de contentores
piscícolas, a importação de azeite representa os restan-
tes 12,5% do pequeno conjunto republicano, proceden-
do em proporções iguais do Vale do Guadalquivir, nas
Ovóide 2, e do Norte de África, nas Africanas Antigas.
Já a amostra do Principado revela números bem
mais significativos, ultrapassando para essa época o
conjunto da Sé e sendo inferior apenas ao da Praça da
Figueira e do Banco de Portugal. É constituída por 951
fragmentos de ânfora (313 bordos, 136 fundos, 500 asas
e duas paredes), que equivalem a um Número Mínimo
de 362 Indivíduos, tendo sido atestados 40 tipos proce-
dentes de dez regiões produtoras distintas.
Numa análise à origem dos contentores sobressai
o domínio das produções lusitanas (58,29% dos envases
alto-imperiais) - proporção que se aproxima bastante da
que se verifica nos dados globais de Olisipo -, maioritaria-
mente representadas pelas Lusitana 3 (46,45% dos enva-
ses locais/regionais) e Dressel 14 (44,08%), incluindo um
exemplar do que parece corresponder a uma variante
parva deste último tipo (0,47%). É de sublinhar a supe-
rioridade das primeiras em relação às segundas, ainda Figura 6 – Dressel 14 das Thermae Cassiorum
que ligeira, situação que se observa de forma ainda mais cortada longitudinalmente para reutilização.
pronunciada nos Claustros da Sé e na Casa dos Bicos e
de forma inversa, mas com proporções praticamente equivalentes, no Palácio dos Condes de Penafiel.
Todavia, nos principais conjuntos da zona da Baixa o panorama é perfeitamente distinto, bem como nos
dados globais da cidade, verificando-se uma expressiva superioridade das Dressel 14 relativamente às
Lusitana 3. Esta peculiaridade justificar-se-á sobretudo com a localização dos sítios referidos na malha
urbana, observando-se um padrão de consumo distinto entre os locais situados na área da colina e aque-
les que se implantam na zona da actual Baixa Pombalina (v. infra).
Quanto às mais antigas produções anfóricas lusitanas, a sua representatividade é minoritária e
provavelmente reflexo da cronologia da generalidade dos contextos escavados neste sítio. Estão pre-
sentes várias formas enquadráveis nas designadas Lusitanas Antigas (5,21% dos envases locais/regio-
nais) bem como as Haltern 70 (1,42%). Ainda que significando apenas 1,1% dos contentores do Principado
e 1,9% das produções locais/regionais, pode considerar-se que as imitações lusitanas da “Dressel 28” se
encontram bem representadas no conjunto, já que correspondem a perto de um terço dos contentores
assim classificados identificados em toda a cidade.
O único sítio onde se documentam em igual número (4 NMI) é na Rua dos Bacalhoeiros (v. infra)
onde os exemplares em contexto procedem de níveis de meados do séc. I d.C., enquanto aqui se desco-
nhece a cronologia dos contextos de proveniência. Se no primeiro local apenas se identificaram fundos, no
segundo só se recolheram bordos, e sem cronologia contextual, repita-se, o que, enfim, não presta gran-
de auxílio no esclarecimento da questão de uma eventual produção lusitana de ânforas de Tipo Urceus du-
rante o séc. I d.C. que mais à frente se discute, bem como na importante temática da cronologia de produ-
ção das imitações lusitanas de “Dressel 28”. Por fim, reveste-se de particular interesse a identificação na
amostra da Rua das Pedras Negras de uma asa bífida de produção lusitana (0,47% das ânforas lusitanas),
único exemplar até agora reconhecido na cidade de Lisboa das imitações mais ocidentais da Dressel 2-4,
sendo novamente de lamentar o desconhecimento acerca da cronologia dos níveis de proveniência.

123
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

6501
(1991) 8252
75583 (1991)
(1996)

8078
(1991)

8133
(1991)
75615
(1996)
7508
(1991)
75396
(1991)
75503
(1996)

75577
(1996)
8066
(1991) 3166
(1993)

8286
(1991) 61
(1992)

7518
(1991)
2128
(1993) 7645
10cm
(1991)

Estampa 52 – Rua das Pedras Negras, 22-28 (1990’). Lusitânia: Haltern 70 lusitana (75583, 6501, 8252), Lusitana
Antiga (8078, 8133, 75615, 7508, 75396, 75503, 75577, 8066, 8286), Lusitana Antiga? (7518), “Dressel 28” (7645,
61, 3166), Dressel 2-4 (2128).

No quadro das importações extraprovinciais destaca-se claramente o Vale do Guadalquivir como


a principal região produtora presente na amostra, significando 22,65% do NMI e 54,3% dos produtos
extraprovinciais, percentagens que, ainda assim, são um pouco inferiores às que se verificam nos da-
dos globais da cidade. Estes valores devem-se principalmente à significativa presença de Dressel 20
(82,93% dos envases dessa área), da qual se registam todas as variantes, incluindo a parva e a “mini”,
com excepção da correspondente à fase Nero-Vespasiano. Infelizmente, a maior parte dos bordos des-
te tipo não permitiu a sua atribuição a uma variante concreta, o que poderá justificar que a sua curva
de importação ao longo da extensa diacronia em que foram produzidas apresente ligeiras diferenças
relativamente aos dados globais e de alguns dos principais sítios analisados, ainda que apontando ten-
dências genericamente idênticas. As restantes formas com aquela proveniência são constituídas pelas
Haltern 70 (4,88%), claramente sub-representadas em relação às Dressel 20 Júlio-Cláudias, pelas ânforas
de fundo plano de Tipo Urceus (1,22%) e Dressel 28 (2,44%), bem como pelas menos usuais Dressel 7-11
(1,22%), Dressel 2-4 (1,22%) e Beltrán IIB (1,22%).

124
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 11 1,16% 11 3,04% 5,21% 5,21%
Dressel 2-4 1 0,11% 1 0,28% 0,47% 0,47%
Haltern 70 3 0,32% 3 0,83% 1,42% 1,42%
Dressel 14 283 29,76% 93 25,69% 44,08% 44,08%
Lusitânia, Tejo/Sado
Dressel 14 parva 1 0,11% 1 0,28% 0,47% 0,47%
“Dressel 28” 4 0,42% 4 1,1% 1,9% 1,9%
Lusitana 3 318 33,44% 98 27,07% 46,45% 46,45%
Total 621 65,3% 211 58,29% 100% 100%
Dressel 12 1 0,11% 1 0,28% 5% 0,98% 0,66%
Dressel 7-11 1 0,11% 1 0,28% 5% 0,98% 0,66%
Dressel 9 2 0,21% 2 0,55% 10% 1,96% 1,32%
Tipo Urceus 2 0,21% 2 0,55% 10% 1,96% 1,32%
Dressel 20 1 0,11% 1 0,28% 5% 0,98% 0,66%
Bética, costa ocidental
Beltrán II 6 0,63% 1 0,28% 5% 0,98% 0,66%
Beltrán IIA 5 0,53% 5 1,38% 25% 4,9% 3,31%
Beltrán IIB 14 1,47% 5 1,38% 25% 4,9% 3,31%
“Gauloise 4” 4 0,42% 2 0,55% 10% 1,96% 1,32%
Total 36 3,79% 20 5,52% 100% 13,25%
Ovóide indeterminada 4 0,42% 2 0,55% 2,44% 1,96% 1,32%
Haltern 70 11 1,16% 4 1,1% 4,88% 3,92% 2,65%
Dressel 7-11 1 0,11% 1 0,28% 1,22% 0,98% 0,66%
Tipo Urceus 1 0,11% 1 0,28% 1,22% 0,98% 0,66%
Tipo Urceus/Dressel 28 3 0,32% 2 0,55% 2,44% 1,96% 1,32%
Dressel 28 3 0,32% 2 0,55% 2,44% 1,96% 1,32%
Dressel 2-4 3 0,32% 1 0,28% 1,22% 0,98% 0,66%
Beltrán IIB? 1 0,11% 1 0,28% 1,22% 0,98% 0,66%
Bética,
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 21 2,21% 9 2,49% 10,98% 8,82% 5,96%
Vale do Guadalquivir
Dressel 20 (Flávia-Trajana) 10 1,05% 4 1,1% 4,88% 3,92% 2,65%
Dressel 20 (Antonina) 17 1,79% 7 1,93% 8,54% 6,86% 4,64%
Dressel 20 (séc. III) 14 1,47% 6 1,66% 7,32% 5,88% 3,97%
Dressel 20 97 10,2% 35 9,67% 42,68% 34,31% 23,18%
Dressel 20 parva (Júlio-Cláudia) 3 0,32% 2 0,55% 2,44% 1,96% 1,32%
Dressel 20 parva 6 0,63% 4 1,1% 4,88% 3,92% 2,65%
Dressel 20 mini 2 0,21% 1 0,28% 1,22% 0,98% 0,66%
Total 197 20,72% 82 22,65% 100% 100% 54,30%
Dressel 3-2 1 0,11% 1 0,28% 33,33% 25% 0,66%
Tarraconense, Oberaden 74 1 0,11% 1 0,28% 33,33% 25% 0,66%
costa setentrional “Gauloise 4” 1 0,11% 1 0,28% 33,33% 25% 0,66%
Total 3 0,32% 3 0,83% 100% 1,98%
PE 25 1 0,11% 1 0,28% 100% 25% 0,66%
Ilha de Ibiza
Total 1 0,11% 1 0,28% 100% 100% 0,66%
Gauloise 4 43 4,52% 17 4,70% 89,47% 89,47% 11,26%
Gauloise 5 2 0,21% 1 0,28% 5,26% 5,26% 0,65%
Gália Narbonense
Tipo indet. pequeno módulo 1 0,11% 1 0,28% 5,26% 5,26% 0,66%
Total 46 4,84% 19 5,25% 100% 100% 12,57%
Península Itálica, Dressel 2-4 6 0,63% 2 0,55% 100% 50% 1,32%
costa tirrénica Total 6 0,63% 2 0,55% 100% 1,32%
Richborough 527 4 0,42% 2 0,55% 100% 50% 1,32%
Ilha de Lipari
Total 4 0,42% 2 0,55% 100% 100% 1,32%
Tripolitana II 4 0,42% 2 0,55% 16,67% 16,67% 1,32%
Ostia XXIII 1 0,11% 1 0,28% 8,33% 8,33% 0,66%
Ostia LIX 1 0,11% 1 0,28% 8,33% 8,33% 0,66%
Norte de África Uzita Pl. 52,10 3 0,32% 3 0,83% 25% 25% 1,99%
Africana I 4 0,42% 3 0,83% 25% 25% 1,99%
Africana IIA 4 0,42% 2 0,55% 16,67% 16,67% 1,32%
Total 17 1,79% 12 3,31% 100% 100% 7,95%
Tardo-Ródia/Camulodunum 184 8 0,84% 3 0,83% 30% 30% 1,99%
Dressel 2-4/5 8 0,84% 4 1,10% 40% 40% 2,65%
Agora M54 1 0,11% 1 0,28% 10% 10% 0,66%
Mediterrâneo Oriental
Ânforas de Quios 1 0,11% 1 0,28% 10% 10% 0,66%
Kapitän 2 2 0,21% 1 0,28% 10% 10% 0,66%
Total 20 2,1% 10 2,76% 100% 100% 6,62%
T0TAL 951 100% 362 100% 100%

Tabela 37 - Quantificação das ânforas do Principado da Rua das Pedras Negras, nº 22-28.

125
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

5032
7920 (1996)
(1991) 75165
(1998)

192
(1992)
75619
(1996)

75542
7516
(1996)
(1991)
41993
(1991)

75149
(1996)

75333
(1996)

75146
(1996)

75132
(1996)

75326
(1996)

282
(1992)

75561
(1996)

75232
(1996)

21
(1992)
75187
75000 (1996)
10cm
(1991)
10cm

Estampa 53 – Rua das Pedras Negras, 22-28 (1990’). Lusitânia: Dressel 14 (1996).

126
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

75304
(1996)
75231
(1996)

75153
(1996)
75129
(1996)

75261
75229 (1996)
(1996) 75308
(1996)

75150
(1996)

75541
(1996)

75195
(1996)

75616
(1996)

6018 75297
(1991) (1996)

75147
(1996)

7552 75220
8219 (1991) (1996)
(1991)
10cm

Estampa 54 – Rua das Pedras Negras, 22-28 (1990’). Lusitânia: Dressel 14.

127
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

75279
(1996)

75041
(1998)
7613
(1991)

75579
(1996)
75143
(1996)

75164
(1996)
75123
(1996)
75418
(1996)

75295
75532 (1996)
(1996)

8037
(1991)

75318
(1996)
7678
(1991)

8241
(1996)

7551
(1991)

7459 3083
(1991) 10cm
(1993)

Estampa 55 – Rua das Pedras Negras, 22-28 (1990’). Lusitânia: Dressel 14.

128
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

75383
(1996)

75530
(1996)

75447
(1996)

75138 75221
(1996) (1996)
75424
20
(1996)
(1992)

165 75179
75459 (1992) (1996)
(1996) 75399
(1996)

7485
75525 134
(1991)
(1996) 75529 (1992)
(1996)

75036
7874
(1996) 75276
75095 (1991)
(1996)
(1998)

75538 75281 7868


75024
(1996) (1996) (1991)
(1996)

7564
8100
(1991)
8121 (1991) 224
(1991) (1992)

8080
(1991)
75448
(1996)
75422 75487 10cm
(1996) (1996)

Estampa 56 – Rua das Pedras Negras, 22-28 (1990’). Lusitânia: Lusitana 3.

129
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

7489 7775
(1991) (1991)
75623
(1996)

75126
(1996)

75320
(1996)

75315
(1996)
7487
(1996)

75192
(1996)

75555
(1996)
75103
(1998)
7725
(1991) 75504
(1996)

75506 8224
7794
(1996) 8077 (1991)
(1991)
(1991)

75233
(1996) 75174
S/D

6819 75173
(1991) 10cm
(1996)

Estampa 57 – Rua das Pedras Negras, 22-28 (1990’). Bética, costa ocidental: Dressel
Dressel
99 (7489,7775),
(7489, 7775),Dressel
Dressel12?
(75623), Beltrán IIA (75126, 75315, 75192, 75320, 7487), Beltrán IIB (75504, 8224, 75555), Gauloise 4 (75103 e
7725), Indeterminado (75606). Bética, Vale do Guadalquivir: Ovóide 2? (7794), Dressel 20 Júlio-Cláudia (75173,
8077), Dressel 20 Flávia-Trajana (75174), Dressel 20 Antonina (6819), Dressel 20 (75233). Desenhos nº 75173, 8077,
75174, 6819 e 75233: in Fabião et al., 2016.

130
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

8106
(1991)

75492
(1996)

7201
(1991)

3224
(1993)

75533 10cm
(1996)

Estampa 58 – Rua das Pedras Negras, 22-28 (1990’). Tarraconense, costa setentrional: Oberaden 74 (8106), Dressel 3-2
(3224), Gauloise 4 (7201), Indeterminado (75492). Ebusus: PE 25 (75533).

Apesar de significativamente menos representativas, as produções do litoral da Baetica signifi-


cam 5,52% do NMI e 13,25% das importações extraprovinciais, valores que se aproximam dos da gene-
ralidade dos sítios mais importantes de Olisipo. Desta área sobressaem principalmente as Beltrán IIA e
Beltrán IIB, que apresentam percentagens iguais (25% dos envases dessa região, cada), superiorizando-
-se de forma clara às mais antigas Dressel 7-11 (15 %) e Dressel 12 (5 %), no que deverá constituir mais um
indicador da prevalência dos níveis do séc. II (ou pelo menos a partir de Flávios) relativamente aos do
século anterior. Situação idêntica ocorre no Banco de Portugal, na Zara e na Praça da Figueira, enquanto
na Sé e no Palácio dos Condes de Penafiel, onde o peso dos materiais e contextos do séc. I d.C. é maior,
se verifica cenário inverso. Particularmente bem representadas, tendo em conta os perfis de importa-
ção de Olisipo, estão as ânforas de fundo plano de tipo Urceus (10%) e as “Gauloise 4” (10%), indício da
prevalência dos contentores vinários neste sítio. O quadro completa-se com um indivíduo de Dressel 20
(0,98%) de produção costeira, importação raramente documentada em Lisboa, tendo-se identificado
apenas dois exemplares em todos os conjuntos analisados à luz deste trabalho.
Das restantes áreas produtoras atestadas nesta amostra, apresentam alguma expressividade as
importações procedentes da Gallia (5,25% do NMI - 12,57% das importações extraprovinciais), do Nor-
te de África (3,31% - 7,95%) e do Mediterrâneo Oriental (2,76% - 6,62%). Na primeira região o cenário é
totalmente dominado pelas Gauloise 4 (89,47% dos envases dessa província), com presença vestigial
da Gauloise 5 (5,26%) e de um tipo indeterminado de pequena dimensão (5,26%), cujo único exemplar
identificado se encontra quase completo. O conjunto de contentores gauleses das Thermae Cassiorum
apresenta-se como o mais numeroso no âmbito dos sítios mais importantes estudados neste trabalho,
bem como aquele onde essas produções adquirem uma maior expressividade estatística. Neste parti-
cular, os dados diferem bastante dos do conjunto da Sé, parecendo corresponder a uma característica
desta amostra desta amostra e estará, muito provavelmente, relacionada com a prevalência dos níveis
do séc. II d.C. a que acima já se fez referência.. Neste mesmo sentido, também as importações com ori-
gem no Norte de África adquirem neste conjunto uma expressividade superior à verificada na generali-
dade dos restantes sítios estudados que, consequentemente, se reflectem nos dados globais da cidade.

131
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Lusitana Antiga 11 3,04% 10,48% 10,48% 9,02%
Dressel 14 93 25,69% 88,57% 88,57% 76,23%
Lusitânia, Tejo/Sado
Dressel 14 parva 1 0,28% 0,95% 0,95% 0,82%
Total 105 29,01% 100% 100% 86,07%
Dressel 12 1 0,28% 6,67% 5,88% 0,82%
Preparados piscícolas

Dressel 7-11 1 0,28% 6,67% 5,88% 0,82%


Dressel 9 2 0,55% 13,33% 11,8% 1,64%
Bética, costa ocidental Beltrán II 1 0,28% 6,67% 5,88% 0,82%
Beltrán IIA 5 1,38% 33,33% 29,41% 4,1%
Beltrán IIB 5 1,38% 33,33% 29,41% 4,1%
Total 15 4,14% 100% 12,3%
Dressel 7-11 1 0,28% 50% 5,88% 0,82%
Bética, Vale do Guadalquivir Beltrán IIB? 1 0,28% 50% 5,88% 0,82%
Total 2 0,55% 100% 100% 1,64%
Total 122 33,7% 100%
Dressel 2-4 1 0,28% 0,97% 0,97% 0,66%
Lusitânia, Tejo/Sado “Dressel 28” 4 1,1% 3,88% 3,88% 2,63%
Lusitana 3 98 27,07% 95,15% 95,15% 64,47%
Total 103 28,45% 100% 100% 67,76%
Tipo Urceus 2 0,55% 50% 14,29% 1,32%
Bética, costa ocidental “Gauloise 4” 2 0,55% 50% 14,29% 1,32%
Total 4 1,1% 100% 2,63%
Haltern 70 4 1,1% 40% 28,57% 2,63%
Tipo Urceus 1 0,28% 10% 7,14% 0,66%
Tipo Urceus/Dressel 28 2 0,55% 20% 14,29% 1,32%
Bética, Vale do Guadalquivir
Dressel 28 2 0,55% 20% 14,29% 1,32%
Dressel 2-4 1 0,28% 10% 7,14% 0,66%
Total 10 2,76% 100% 100% 6,58%
Vinho e derivados

Oberaden 74 1 0,28% 33,33% 25% 0,66%


Tarraconense, Dressel 3-2 1 0,28% 33,33% 25% 0,66%
costa setentrional “Gauloise 4” 1 0,28% 33,33% 25% 0,66%
Total 3 0,83% 100% 1,97%
PE 25 1 0,28% 100% 25% 0,66%
Ilha de Ibiza
Total 1 0,28% 100% 100% 0,66%
Gauloise 4 17 4,70% 89,47% 89,47% 11,18%
Gauloise 5 1 0,28% 5,26% 5,26% 0,66%
Gália Narbonense
Tipo indet. pequeno módulo 1 0,28% 5,26% 5,26% 0,66%
Total 19 5,25% 100% 100% 12,5%
Península Itálica, Dressel 2-4 2 0,55% 100% 100% 1,32%
costa tirrénica Total 2 0,55% 100% 100% 1,32%
Ródia/Camulodunum 184 3 0,83% 30% 30% 1,97%
Dressel 2-4/5 4 1,1% 40% 40% 2,63%
Ânforas de Quios 1 0,28% 10% 10% 0,66%
Mediterrâneo Oriental
Agora M54 1 0,28% 10% 10% 0,66%
Kapitän 2 1 0,28% 10% 10% 0,66%
Total 10 2,76% 100% 100% 6,58%
Total 152 41,99% 100%

Tabela 38 – Quantificação por conteúdo das ânforas do Principado da Rua das Pedras Negras, nº 22-28.

A excepção é constituída pela amostra da Sé, onde aquelas produções patenteiam uma representativi-
dade ainda maior. Ainda que a diversidade formal das ânforas norte-africanas seja mais dilatada neste
último sítio, a variedade tipológica desses contentores na Rua das Pedras Negras é igualmente assina-
lável. Metade desses envases são compostos pelas Africana I (25%) e Uzita Pl. 52,10 (25%), enquanto as
Tripolitana II e as Africana IIA significam 16,67% cada. Mais discreta é a presença das Ostia XXIII (8,33%)
e das Ostia LIX (8,33%). Poder-se-á ver no domínio dos dois primeiros tipos, que se verifica não só aqui e
na Sé como também nos dados globais de Lisboa, um indício do incremento do comércio com o Norte
de África a partir da segunda metade do séc. II d.C..

132
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Bética, Dressel 20 1 0,28% 100% 1,45% 1,4%
costa ocidental Total 1 0,28% 100% 1,4%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 9 2,49% 13,24% 13,04% 12,16%
Dressel 20 (Flávia-Trajana) 4 1,1% 5,88% 5,8% 5,41%
Dressel 20 (Antonina) 7 1,93% 10,29% 10,14% 9,46%
Dressel 20 35 9,67% 51,47% 50,72% 47,30%
Bética, Vale do Guadalquivir
Dressel 20 parva (Júlio-Cláudia) 2 0,55% 2,94% 2,9% 2,7%
Azeite

Dressel 20 parva 4 1,1% 5,88% 5,8% 5,41%


Dressel 20 mini 1 0,28% 1,47% 1,45% 1,4%
Dressel 20 (séc. III) 6 1,66% 8,82% 8,7% 8,11%
Total 68 18,78% 100% 100% 91,89%
Ostia XXIII 1 0,28% 20,0% 20,0% 1,4%
Ostia LIX 1 0,28% 20,0% 20,0% 1,4%
Norte de África
Africana I 3 0,83% 60,0% 60,0% 4,1%
Total 5 1,38% 100% 100% 6,76%
Total 74 20,44% 100%
Richborough 527 2 0,55% 100% 100% 100%
Ilha de Lipari
Alúmen Total 2 0,55% 100% 100% 100%
Total 2 0,55% 100%
Haltern 70 3 0,83% 100% 100% 25,00%
Lusitânia, Tejo/Sado
Total 3 0,83% 100% 100% 25,00%
Bética, Ovóide indeterminada 2 0,55% 100% 100% 16,67%
Vale do Guadalquivir Total 2 0,55% 100% 100% 16,67%
Indet. Tripolitana II 2 0,55% 29% 29% 16,67%
Uzita Pl. 52,10 3 0,83% 43% 43% 25,00%
Norte de África Africana IIA 2 0,55% 29% 29% 16,67%
Total 7 1,9% 100% 100% 58,33%
Total 12 3,31% 100%
TOTAL 362 100%

Tabela 38 – Quantificação por conteúdo das ânforas do Principado da Rua das Pedras Negras, nº 22-28 (cont.).

Quanto às importações do Mediterrâneo Oriental, o conjunto da Rua das Pedras Negras pare-
ce exibir igualmente um cunho particular, constituindo-se, entre os principais sítios estudados, como
aquele onde os produtos com essa origem apresentam maior representatividade, com excepção do Pa-
lácio dos Condes de Penafiel que patenteia proporções similares. Estas produções são dominadas pelas
Dressel 2-4/5 (40% dessa área) e pelas Tardo-Ródias/Camulodunum 184 (30%), surgindo em proporções
menos expressivas as Agora M54 (10%) da Cilícia, as ânforas da Ilha de Quios (10%) e as Kapitän 2 (10%).
Em proporções aproximadas às dos dados globais da cidade, onde a importação daqueles dois primei-
ros tipos prevalecem sobre todos os outros, haverá que sublinhar a presença das ânforas de Quios e das
Kapitän 2, raras em Olisipo e até aqui desconhecidas na cidade.17
Tal como se observa no conjunto da Sé (v. infra), as particularidades estatísticas da amostra da
Rua das Pedras Negras apontam no sentido de um padrão de importação e consumo substancialmente
distinto do que se verifica nos mais importantes sítios da Baixa, reflectindo-se de forma notória nas
proporções dos diferentes géneros alimentares. Isto é particularmente observável na proporção entre
o consumo de vinho (41,99% do NMI) e o de preparados piscícolas (33,7%), cenário inverso ao que se
verifica na Praça da Figueira e, de modo ainda mais expressivo, no Banco de Portugal e na Zara, Rua Au-
gusta, mas semelhante ao da Sé e das Escadinhas de São Crispim. Já o Palácio dos Condes de Penafiel
exibe proporções equilibradas entre o consumo daqueles dois produtos, com ligeira vantagem para o
peixe. Aquela apreciada bebida era importada a partir de um conjunto expressivo de oito regiões pro-
dutoras situadas na bacia mediterrânea, incluindo a Lusitânia, fazendo-se sentir apenas as ausências

17. Acerca do presumível exemplar de Kapitän 2 da Praça da Figueira já publicado, veja-se a nota 65 deste trabalho.

133
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

7751
8192 (1991)
(1991)

7953 6405
(1991) (1991)

75152
(1998)

7996
(1991)
75324
(1996)
7872
(1991)

7748
(1991)

7963 7998 75191


(1991) (1991) (1996)

75160
(1998)
281
75102
75027 (1992)
(1998)
(1996)

111
(1992)

7736
(1991)
75214 7761 7468
(1991) (1991) 10cm
(1996)

Estampa 59 – Rua das Pedras Negras, 22-28 (1990’). Gália, Narbonense: tipo indeterminado de pequeno módulo
(75324), Gauloise 5 (75214), Gauloise 4 (todas as restantes).

75139
75131 (1996)
(1996)

7540 75019
(1991) (1998) 75136
(1996) 10cm

Estampa 60 – Rua das Pedras Negras, 22-28 (1990’). Península Itálica: Dressel 2-4 (75131, 7540, 75019). Ilha de
Lipari: Richborough 527 (75139, 75136).

134
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

de contentores do Norte de África e da costa adriática da Península Itálica. Dos 22 tipos vinários, desta-
cam-se as de produção local/regional, significando 67,76% do consumo de vinho, representadas maiori-
tariamente pela Lusitana 3 (95,15% dos envases vinários lusitanos) e de forma vestigial pelas imitações
de “Dressel 28” (3,88%) e de Dressel 2-4 (0,97%). Se em relação a estas duas últimas pouco se poderá
acrescentar para lá de se sublinhar o carácter minoritário da sua produção, relativamente à Lusitana
3 será interessante realçar o facto de, no contexto dos contentores vinários, adquirir neste conjunto
uma representatividade superior à que se observa na generalidade dos outros sítios e nos dados glo-
bais da cidade, panorama apenas igualado pela amostra do Palácio dos Condes de Penafiel, onde os
valores são similares.
A expressiva representação das ânforas da Gallia neste conjunto, anteriormente sublinhada,
fica bem atestada no peso que os vinhos dessa região têm no consumo desta bebida, constituindo-se
como a principal área de proveniência desse artigo (12,5% dos envases vinários) depois da Lusitania.
Esta proporção do vinho gaulês, principalmente transportado nas Gualoise 4 (89,47% dos envases des-
sa província), é significativamente superior às dos restantes conjuntos e dos dados globais da cidade,
com excepção do Banco de Portugal. Esta particularidade do conjunto das Thermae Cassiorum parece
ganhar especial relevo por se diferenciar de modo claro dos conjuntos da Sé e do Palácio dos Condes de
Penafiel, com os quais partilha normalmente mais aspectos em comum do que diferenças acentuadas.
Os apreciados vinhos do Mediterrâneo Oriental (6,58%) adquirem também um peso muito signifi-
cativo no conjunto das ânforas vinárias, ultrapassando inclusivamente os do Vale do Guadalquivir. Natu-
ralmente que tal se deverá em boa parte à questão da cronologia dos contextos, uma vez que no caso
da Sé, onde se encontram muito bem representados os contextos do séc. I d.C., o que se verifica é a
superioridade absoluta das importações do Guadalquivir face aos da metade oriental do Mediterrâneo.
As proporções entre os tipos procedentes dessa área do Império - todos vinários - foram já comentadas.
Independentemente da questão da cronologia, esta significativa representatividade do vinho oriental
observa-se também no Palácio dos Condes de Penafiel, bem como no Banco de Portugal, ocorrendo em
quantidades superiores às dos dados globais de Olisipo.

87
901
(1992)
(1993)

75199
75135 (1996)
(1996)

205
(1992)

75151 75227
(1998) (1996)

75260
(1996)
75133 1627
(1998) (1993)

7880
(1991) 8071 7955
10cm (1991) (1991)

Estampa 61 – Rua das Pedras Negras, 22-28 (1990’). Norte de África: Ostia XXIII (87), Ostia LIX (901), Uzita
Pl. 52, 10 (75199, 75227, 75151), Tripolitana II (205, 75260, 75135(?)), Africana IB (8071, 75133), Africana IC?
(7880), Africana IIA (1627, 7955(?)).

135
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

75510
(1996) 75053
1156 (1998)
(1993)

75171
(1998)
7727 7228 8361 7835
(1991) (1991) 10cm
(1991) (1991)

Estampa 62 – Rua das Pedras Negras, 22-28 (1990’). Mediterrâneo oriental: Tardo-Ródia/Camulodunum 184 (7727,
1156, 7228, 75510, ), Agora M54 (8361), Ânfora de Quios? (7835), Dressel 2-4/5 (75053(’pickled handle’), 75171).

Já as importações do vinho produzido no Vale do Guadalquivir surgem, como referido, clara-


mente sub-representadas no conjunto da Rua das Pedras Negras, representando apenas 6,58%, o que
poderá pelo menos em parte dever-se à relativa baixa frequência de ânforas do séc. I d.C., ainda que
as variantes desse século da Dressel 20, provenientes da mesma área, estejam bem atestadas. A Hal-
tern 70 destaca-se, significando 40% dos envases vinários daquela região, seguida da Dressel 28 (20%),
da Dressel 2-4 (10%) e das ânforas de tipo Urceus (10%). Em sentido contrário, os contentores vinários
da costa da Bética (2,63%) ocorrem em quantidades mais elevadas do que na generalidade dos sítios
mais importantes, com excepção, uma vez mais, do caso do Palácio dos Condes de Penafiel. Tal deve-
-se à presença das imitações de “Gauloise 4” e das ânforas de tipo Urceus, atestadas em quantidades
iguais.
Tal como acontece na amostra dos Claustros da Sé, os vinhos tarraconenses (1,97%) suplantam
os tirrénicos (1,32%), algo que não se verifica em nenhum dos restantes conjuntos mais numerosos,
embora, em termos gerais, a percentagem daqueles apresente valores equivalentes nos dados globais
da cidade. Da primeira região, observa-se a presença de três tipos distintos em quantidades similares,
constituídos pela Oberaden 74, “Gauloise 4” e Dressel 3-2. Da costa tirrénica da Península Itálica estão
atestadas unicamente as Dressel-2-4, evidenciando uma percentagem inferior aos sítios quantitativa-
mente mais significativos, particularmente visível nos conjuntos do Banco de Portugal e da Praça da
Figueira. Resta mencionar a presença vestigial do vinho produzido na Ilha de Ibiza (0,66%), não se afas-
tando muito das percentagens observadas nos dados globais.
Um panorama bem mais monótono em termos de áreas de origem e de tipos é o do consumo
de preparados à base de peixe (33,7% do NMI), como de resto é habitual nos conjuntos alto-imperiais
de Lisboa. Desde logo, os produtos lusitanos representam 86,07% desse consumo, cuja principal inter-
veniente é a Dressel 14 (88,57% dos envases piscícolas locais/regionais), enquanto as Lusitanas Antigas
(10,48%) surgem em quantidades bem mais discretas. Por outro lado, as importações extraprovinciais
destes produtos confinam-se à província da Baetica, com notória vantagem para a costa ocidental. Sig-
nificando 12,13% das ânforas piscícolas, aquela área produtora encontra-se maioritariamente represen-
tada pelas Beltrán IIA (33,33% dos envases piscícolas dessa região) e Beltrán IIB (33,33%), sendo bem
mais modesta a presença das Dressel 7-11 (20%) e das Dressel 12 (6,67%). Do Vale do Guadalquivir (1,64%)
estão atestados apenas dois indivíduos: uma Dressel 7-11 e, possivelmente, uma Beltrán IIB. Estas per-
centagens relativas às áreas de origem aproximam-se consideravelmente do que se verifica nos dados
globais da cidade e nos principais conjuntos estudados, afastando-se, todavia, de forma significativa
dos dados da Sé e do Teatro Romano (Filipe, 2008a; Filipe, 2015), onde a presença de contextos do séc.
I d.C. é mais expressiva.

136
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

Apesar de se assistir a uma ligeira superioridade dos sítios da colina face aos da Baixa (com ex-
cepção da Zara), as percentagens do consumo de azeite não apresentam, em geral, significativas os-
cilações entre os principais conjuntos. O azeite proveniente da Africa Proconsularis significa 6,76% no
contexto dos envases oleícolas, estando atestado pela presença das Africana I (60% dos envases oleíco-
las dessa região), das Ostia XXIII (20%) e das Ostia LIX (20%). Haverá ainda que ter em conta que o peso
destas pode ser superior, uma vez que se desconhece qual o conteúdo envasado numa parte importan-
te das ânforas norte-africanas identificadas na Rua das Pedras Negras.
Mas é do Vale do Guadalquivir que provém a esmagadora maioria do azeite (91,89%). Estão au-
sentes formas mais antigas como as Oberaden 83/Ovóide 7 e as Haltern 71. Relativamente às variantes
da Dressel 20 (integralmente representadas, com excepção da de Nero-Vespasiano) e aos seus perfis de
importação já atrás se fez referência, bem como ao facto de não ter sido possível atribuir variante numa
percentagem significativa desses contentores.
Por fim, refira-se também neste conjunto a importação de alúmen desde a Ilha de Lipari, junto à
Sicília, significando apenas 0,55% do Número Mínimo de Indivíduos.

5.13. Rua das Pedras Negras, 35-41. Termas dos Cássios (anexo I.13)

A intervenção arqueológica desenvolvida em 2013 nos nºs 35-41 da Rua das Pedras Negras surgiu
na sequência do Projecto de Arquitectura Apartamentos Pedras Negras, que previa a reabilitação e am-
pliação daqueles imóveis, tendo a direcção científica sido assumida por Sofia Gomes e Mónica Ponce
(Gomes e Ponce, 2014). O local situa-se a Sul e em frente ao edifício nº 22-28, onde se documentaram as
estruturas das Termas dos Cássios tratadas no ponto anterior, desenvolvendo-se para Sul, ao longo da
Travessa do Almada, até à Travessa das Pedras Negras.
Em traços largos, os principais vestígios arqueológicos documentados durante os trabalhos de
escavação são atribuíveis, por um lado, a uma fase do período Moderno anterior ao cataclismo de 1755
e, por outro, à Época Romana (Gomes e Ponce, 2014). A possibilidade do edifício termal acima referido
se desenvolver para Sul, justamente para a zona onde se implantam os imóveis nºs 35-41 da Rua das
Pedras Negras, havia já anteriormente sido contemplada com base na continuidade da cloaca nessa
direcção (Silva, 2012a). Os dados da intervenção de 2013 permitem agora confirmar essa hipótese, am-
pliando consideravelmente a área conhecida ocupada pelas Thermae Cassiorum.
Para o período romano foram identificadas cinco fases (I-V), abrangendo um espectro temporal
que se estende genericamente do séc. I d.C. a uma data indefinida da Antiguidade Tardia. A descrição
detalhada dos momentos de construção, remodelação e abandono representados por estas fases foi
recentemente publicada, dando-se igualmente conta dos principais materiais aí recolhidos (Gomes et
al., 2017), pelo que se remete para esse trabalho a sua consulta. Alguns elementos, todavia, merecem
ser realçados. Desde logo, a documentação de uma cloaca de dimensão assinalável e de um muro
robusto a ela adossado (Fase II), orientados no sentido NO-SE e interpretados como possível limite su-
doeste do edifício termal. Infelizmente, os dados estratigráficos para datar a construção das menciona-
das estruturas são reduzidos e pouco precisos, permitindo apenas afirmar que a mesma terá ocorrido
entre meados do séc. I d.C., já que corta um pavimento e um muro atribuídos à primeira metade da-
quele século (Fase I), e um momento indefinido do séc. II, anterior à Fase III (Gomes et al., 2017).Estas
balizas cronológicas, ainda que algo latas, parecem corroborar a proposta de uma fundação Flávia ou
posterior das Thermae Cassiorum (Silva, 2012a, p. 212), refutando outras hipóteses que assinalavam
datas anteriores (Moita, 1994; Silva, 1999; Reis, 2004). A este respeito, sublinhe-se que o referido muro
da Fase I - primeira metade do séc. I d.C. - possui orientação distinta das estruturas pertencentes às ter-
mas, pelo que se deverá relacionar com um momento anterior à construção daquelas, de que também
surgiram vestígios estruturais, com idêntica orientação, na área intervencionada na década de 90 do
século passado.

137
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Relativamente aos contextos de proveniência das ânforas, a maior parte destes materiais pro-
cede de níveis tardios e pós-romanos, das Fases IVa, IVb, V, VIa, VIIIb e XIII. Os escassos fragmentos re-
colhidos em contexto coerente com a cronologia da sua produção e distribuição correspondem a uma
asa e um fundo de Lusitana Antiga, Fase I, e três asas de Dressel 20, Haltern 70 e Gauloise 4 da Fase III.
O conjunto de ânforas exumado no decurso da escavação da Rua das Pedras Negras em 2013 é
constituído por 54 fragmentos diagnosticáveis e 37 indivíduos, dos quais cerca de 17% correspondem

37
29 20 24

34
50

36

26 1

45

52 54

19

53 18

7
17

10cm 5 22

Estampa 63 – Rua das Pedras Negras, 35-41 (2013). Lusitânia: Lusitana Antiga (29, 20, 37), Dressel 14 (24). Bética,
costa ocidental: Dressel 7-11 (50), Beltrán IIB (36, 34), Indeterminado (3). Bética, Vale do Guadalquivir: Haltern 70
(19, 52), Oberaden 83 (26), Dressel 20 Júlio-Cláudia (45, 54), Dressel 20 Flávia-Trajana (6), Dressel 20 Antonina (1).
Gália, Narbonense: Gauloise 4 (18), Indeterminado (Gália?) (53). Península Itálica, costa tirrénica: Greco-Itálica (7),
Dressel 2-4 (17). Mediterrâneo oriental: Dressel 2-4/5 (5), Dressel 24? (22). Desenho nº 54: in Fabião et al., 2016.

138
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

a produções tardias.18 Não sendo estes últimos incluídos no presente estudo, a amostra que aqui se
analisa compõe-se por 46 fragmentos anfóricos (oito bordos, nove fundos e 29 asas), equivalente a um
Número Mínimo de 30 Indivíduos, o que se poderá considerar como um conjunto de escassa fiabilidade
estatística. Tendo em conta a descrição destes números, será de realçar a diversidade de tipos e regiões
de origem, tendo sido atestadas 14 formas distintas provenientes de seis das mais importantes áreas
produtoras da bacia mediterrânea.
Da Época Republicana foram identificados apenas um bordo de Greco-Itálica da costa tirrénica e
um fragmento de asa de uma T-7.4.3.3. produzida na costa meridional da Ulterior, ambos residuais. Ape-
sar da ausência de níveis republicanos, a presença de materiais daquele período nesta zona da cidade é
uma constante, surgindo amiúde nas Thermae Cassiorum, no Palácio dos Condes de Penafiel, na Rua de
São Mamede e nas Escadinhas de São Crispim.
Já no que se refere ao Principado, o conjunto apresenta outra expressividade, ainda que seja
quantitativamente pouco representativo. Foram contabilizados 36 fragmentos classificáveis (cinco bor-
dos, oito fundos e 23 asas), o que equivale a 23 indivíduos, e registados 12 tipos procedentes de seis
regiões produtoras. As importações da Baetica (47,83% do NMI) superam as produções locais/regio-
nais (34,78%), sendo maioritariamente provenientes do Vale do Guadalquivir (34,78%) e de forma mais

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 4 8,7% 3 10% 33,33% 33,33%
Dressel 14 6 13,04% 3 10% 33,33% 33,33%
Lusitânia, Tejo/Sado Lusitana 3 3 6,52% 2 6,67% 22,22% 22,22%
Indeterminado 2 4,35% 1 3,33% 11,11% 11,11%
Total 15 32,61% 9 30% 100% 100%
Dressel 7-11 1 2,17% 1 3,33% 25% 8,33% 4,76%
Beltrán IIB 2 4,35% 2 6,67% 50% 16,67% 9,52%
Bética, costa ocidental
Indeterminado 2 4,35% 1 3,33% 25% 8,33% 4,76%
Total 5 10,87% 4 13,33% 100% 19,05%
Oberaden 83/Ovóide 7 1 2,17% 1 3,33% 12,5% 8,33% 4,76%
Haltern 70 3 6,52% 2 6,67% 25% 16,67% 9,52%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 2 4,35% 1 3,33% 12,5% 8,33% 4,76%
Bética, Vale do Guadalquivir Dressel 20 (Flávia-Trajana) 1 2,17% 1 3,33% 12,5% 8,33% 4,76%
Dressel 20 (Antonina) 1 2,17% 1 3,33% 12,5% 8,33% 4,76%
Dressel 20 7 15,22% 1 3,33% 12,5% 8,33% 4,76%
Dressel 20 (séc. III) 1 2,17% 1 3,33% 12,5% 8,33% 4,76%
Total 16 34,78% 8 26,67% 100% 100% 38,1%
Hispânia Ulterior,
T-7.4.3.3. 1 2,17% 1 3,33% 100% 100% 5%
costa meridional
Total 1 2,17% 1 3,33% 100% 100% 5%
Gauloise 4 1 2,17% 1 3,33% 50% 50% 4,76%
Gália Narbonense Indeterminado 1 2,17% 1 3,33% 50% 50% 4,76%
Total 2 4,35% 2 6,67% 100% 100% 9,52%
Greco-Itálica 1 2,17% 1 3,33% 33,33% 33,33% 4,76%
Península Itálica, Greco-Itálica/Dressel 1 2 4,35% 1 3,33% 33,33% 33,33% 4,76%
costa tirrénica Dressel 2-4 1 2,17% 1 3,33% 33,33% 33,33% 4,76%
Total 4 8,7% 3 10% 100% 100% 14,29%
Indeterminado 1 2,17% 1 3,33% 100% 100% 4,76%
Norte de África
Total 1 2,17% 1 3,33% 100% 100% 4,76%
Dressel 2-4/5 1 2,17% 1 3,33% 50% 50% 4,76%
Mediterrâneo Oriental Dressel 24? 1 2,17% 1 3,33% 50% 50% 4,76%
Total 2 4,35% 2 6,67% 100% 100% 10%
TOTAL 46 100% 30 100% 100%

Tabela 39 – Quantificação da totalidade das ânforas da Rua das Pedras Negras, nº 35-41.

18. O conjunto foi já alvo de publicação em artigo de âmbito mais alargado (Gomes et al., no prelo). As pequenas diferenças dos dados
estatísticos observáveis entre esse e este trabalho resultam, por um lado, da incorporação da Dressel 20 do séc. III na amostra alto-
imperial e, por outro, da classificação do fundo nº 22 como Dressel 24, anteriormente apresentado como indeterminado.

139
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 4 11,11% 3 13,04% 37,5% 37,5%
Dressel 14 6 16,67% 3 13,04% 37,5% 37,5%
Lusitânia, Tejo/Sado
Lusitana 3 3 8,33% 2 8,7% 25% 25%
Total 13 36,11% 8 34,78% 100% 100%
Dressel 7-11 1 2,78% 1 4,35% 33,33% 9,09% 6,67%
Bética, costa ocidental Beltrán IIB 2 5,56% 2 8,7% 66,67% 18,18% 13,33%
Total 3 8,33% 3 13,04% 100% 20,00%
Oberaden 83/Ovóide 7 1 2,78% 1 4,35% 12,5% 9,09% 6,67%
Haltern 70 3 8,33% 2 8,7% 25% 18,18% 13,33%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 2 5,56% 1 4,35% 12,5% 9,09% 6,67%
Dressel 20 (Flávia-Trajana) 1 2,78% 1 4,35% 12,5% 9,09% 6,67%
Bética, Vale do Guadalquivir
Dressel 20 (Antonina) 1 2,78% 1 4,35% 12,5% 9,09% 6,67%
Dressel 20 7 19,44% 1 4,35% 12,5% 9,09% 6,67%
Dressel 20 (séc. III) 1 2,78% 1 4,35% 12,5% 9,09% 6,67%
Total 16 44,44% 8 34,78% 100% 100% 53,33%
Gália Narbonense Gauloise 4 1 2,78% 1 4,35% 100% 100% 6,67%
Total 1 2,78% 1 4,35% 100% 100% 6,67%
Península Itálica, Dressel 2-4 1 2,78% 1 4,35% 100% 100% 6,67%
costa tirrénica Total 1 2,78% 1 4,35% 100% 100% 6,67%
Dressel 2-4/5 1 2,78% 1 4,35% 50% 50% 6,67%
Mediterrâneo Oriental Dressel 24? 1 2,78% 1 4,35% 50% 50% 6,67%
Total 2 5,56% 2 8,7% 100% 100% 13,33%
TOTAL 36 100% 23 100% 100%

Tabela 40 – Quantificação das ânforas do Principado da Rua das Pedras Negras, nº 35-41.

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Lusitana Antiga 3 13,04% 50% 50% 33,33%
Lusitânia, Tejo/Sado Dressel 14 3 13,04% 50% 50% 33,33%
Preparados
piscícolas

Total 6 26,09% 100% 100% 66,67%


Dressel 7-11 1 4,35% 33,33% 33,33% 11,11%
Bética, costa ocidental Beltrán IIB 2 8,70% 66,67% 66,67% 22,22%
Total 3 13,04% 100% 100% 33,33%
Total 9 39,13% 100%
Lusitana 3 2 8,70% 100% 100% 28,57%
Lusitânia, Tejo/Sado
Total 2 8,70% 100% 100% 28,57%
2 8,70% 100% 100% 28,57%
Vinho e derivados

Haltern 70
Bética, Vale do Guadalquivir
Total 2 8,70% 100% 100% 28,57%
Gauloise 4 1 4,35% 100% 100% 14,29%
Gália Narbonense
Total 1 4,35% 100% 100% 14,29%
Península Itálica, Dressel 2-4 1 4,35% 100% 100% 14,29%
costa tirrénica Total 1 4,35% 100% 100% 14,29%
Dressel 2-4/5 1 4,35% 100% 100% 14,29%
Mediterrâneo Oriental
Total 1 4,35% 100% 100% 14,29%
Total 7 30,43% 100%
Oberaden 83/Ovóide 7 1 4,35% 16,67% 16,67% 14,29%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 1 4,35% 16,67% 16,67% 14,29%
Dressel 20 (Flávia-Trajana) 1 4,35% 16,67% 16,67% 14,29%
Bética, Vale do Guadalquivir Dressel 20 (Antonina) 1 4,35% 16,67% 16,7% 14,29%
Azeite

Dressel 20 1 4,35% 16,67% 16,67% 14,29%


Dressel 20 (séc. III) 1 4,35% 16,67% 16,67% 14,29%
Total 6 26,09% 100% 100% 85,71%
Mediterrâneo Oriental Dressel 24? 1 4,35% 100% 100% 14,29%
Total 1 4,35% 100% 100% 14,29%
Total 7 30,43% 100%
TOTAL 23 100%

Tabela 41 – Quantificação por conteúdo das ânforas do Principado da Rua das Pedras Negras, nº 35-41.

140
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

modesta do litoral da província (13,04%). Considerando a primeira destas duas últimas regiões, não dei-
xa de ser surpreendente (tendo em conta a cronologia dos contextos acima referidos) que apresente
percentagem igual às dos produtos lusitanos, algo que se constitui como uma característica mais apro-
ximada ao perfil de consumo da primeira metade do séc. I d.C., como se pode observar nos conjuntos
do Teatro Romano (Filipe, 2008a; Filipe, 2015) e da Rua dos Bacalhoeiros (Filipe, 2008b), enquanto em
amostras como a da Rua de São Mamede, com cronologias Flávias e do primeiro terço do séc. II d.C., se
observa já uma ligeira vantagem dos contentores lusitanos face aos do Vale do Guadalquivir, ainda que
no cômputo geral as importações da província Baetica sejam superiores às locais/regionais. O índice alto
de residualidade e a presença de uma percentagem significativa de tipos cronologicamente enquadrá-
veis nos dois primeiros terços do séc. I d.C. poderá em parte justificar as proporções que se observam
no conjunto, mais características do período Júlio-Cláudio do que das cronologias documentadas no
registo estratigráfico deste sítio; não se devendo perder de vista a escassa fiabilidade estatística do
conjunto.
Seja como for, das importações da região interior da Bética ganham destaque as Dressel 20
(62,5% dos envases dessa área), estando atestadas em quantidades iguais as variantes Júlio-Cláudia,
Flávia-Trajana, Antonina e do séc. III (12,5% cada). O quadro fica completo com as Haltern 70, significan-
do 25%, e com um exemplar de Oberaden 83/Ovóide 7 (12,5%). Já da costa ocidental daquela província,
marcam presença as Dressel 7-11 (33,33%) e, sobretudo, as Beltrán IIB (67,67%). As produções locais/
regionais são representadas pelas Lusitanas Antigas (37,5%), pelas Dressel 14 (37,5%) e pelas Lusitana 3
(25%). A significativa percentagem das primeiras realça o que atrás de referiu relativamente à cronolo-
gia do conjunto anfórico e ao peso dos materiais da fase Júlio-Cláudia.
Quanto às importações extrapeninsulares, destacam-se as provenientes do Mediterrâneo Orien-
tal (8,7%), que se superiorizam às da Gallia (4,35%) e da Península Itálica (4,35%), notando-se a ausência
de ânforas norte-africanas (eventualmente representadas por um fragmento de asa de tipo indetermi-
nado) e tarraconenses. Daquela vasta região estão atestadas em igual proporção as Dressel 2-4/5 e as
Dressel 24, sendo esta última rara no Ocidente Mediterrâneo. Das outras duas regiões produtoras estão
presentes, respectivamente, as habituais Gauloise 4 da Narbonense e Dressel 2-4 tirrénica.
Olhando para o consumo de alimentos, observa-se a superioridade dos preparados piscícolas
(39,13% do NMI) que, ainda assim, não se destacam excessivamente do vinho e do azeite, apresentando
estes dois últimos percentagens iguais (30,43%). Este quadro de consumo é indissociável do que atrás
se referiu relativamente ao índice de residualidade, cronologia genérica do conjunto e respectiva fiabili-
dade estatística, afastando-se do perfil verificado nos mencionados conjuntos da Rua dos Bacalhoeiros
e da Rua de São Mamede e aproximando-se daquele que se observa no Teatro Romano, embora com
algumas diferenças.
Os preparados à base de peixe são maioritariamente locais/regionais (66,67% desse artigo) e re-
presentados em percentagens equivalentes pelas Lusitanas Antigas e Dressel 14. Do litoral bético pro-
vêm os restantes 33,33%, destacando-se a Beltrán IIB (66,67% dessa região) face às Dressel 7-11 (33,33%).
Já a importação de vinho demonstra, como habitualmente, um maior número de regiões de origem,
que se estendem da Lusitânia ao Mediterrâneo Oriental. Os vinhos lusitanos (28,57% dos envases viní-
colas), unicamente representados pela Lusitana 3, apresentam valores similares aos da Bética, de onde
provém a Haltern 70. Da Gália, da costa tirrénica da Península Itálica e do Mediterrâneo Oriental estão
respectivamente atestadas as Gauloise 4, as Dressel 2-4 e as Dressel 2-4/5, todas com um exemplar ape-
nas (14,29% cada). No que se refere ao consumo de azeite, alcançando valores análogos aos do vinho, a
total hegemonia dos produtos do Vale do Guadalquivir (85,71% das ânforas oleícolas) é quebrada com a
presença de uma Dressel 24 (14,29%), testemunhando a importação daquele artigo de geografias tão dis-
tantes como o Mediterrâneo Oriental. Do Vale do Guadalquivir, para além das já mencionadas Dressel 20
e das suas diversas variantes documentadas, foi ainda identificado um exemplar de Oberaden 83/Ovói-
de 7, estendendo assim, no conjunto que se analisa, desde o Principado de Augusto até ao séc. III d.C.
a importação de azeite desde aquela província.

141
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

5.14. Escadinhas de São Crispim (anexo I.14)

No âmbito do projecto de construção de um edifício no nº 3 das Escadinhas de São Crispim, Lis-


boa, a empresa Era-arqueologia procedeu, faseadamente, à escavação e acompanhamento arqueoló-
gicos dos trabalhos desenvolvidos no local. O sítio localiza-se na encosta Sul do morro do Castelo, na
confluência das Escadinhas de São Crispim com a Calçada do Conde de Penafiel, Calçada do Correio
Velho e Rua de São Mamede, a ocidente do Teatro Romano e a nascente das Termas dos Cássios.
A intervenção arqueológica, da responsabilidade científica de Hugo Silva e Iola Filipe, decorreu
entre 2011 e o início de 2012 permitindo registar, entre outras realidades mais recentes, uma importante
sequência estratigráfica de Época Romana, essencialmente constituída por níveis de aterro balizados
entre o início do séc. II d.C. e a primeira metade do séc. VI (Silva e Filipe, 2013). A cronologia deste
conjunto de contextos foi recentemente sistematizada por J. C. Quaresma com base no estudo das
cerâmicas e vidros, estabelecendo quatro fases cronológicas: 100-150 d.C.; 150-250 d.C.; 500-525 d.C.; e
525-550 d.C. (Quaresma, no prelo).
No que se refere ao contexto que marca a fase mais antiga, 100-150 d.C., o conjunto anfórico é
composto apenas por oito fragmentos de ânfora, estando presentes as formas Dressel 14, Lusitana 3,
Dressel 2-4 itálica e Dressel 20 Antonina, para além das presenças residuais de Dressel 1 e T-7.4.3.3. A
amostra proveniente dos contextos da fase 150-250 d.C. é ainda mais escassa, cinco fragmentos, veri-
ficando-se a associação dos tipos Lusitana 3, Dressel 14, Dressel 20 Antonina e Dressel 9-10, esta última
claramente residual.
Tendo em conta este cenário e o facto de o conjunto de ânforas republicanas e alto-imperiais ter
um total de 185 fragmentos, facilmente se depreenderá do carácter residual da maior parte daquelas
no momento da sua recolha.
O conjunto global de fragmentos diagnosticáveis de ânfora recolhidos na intervenção arqueoló-
gica das Escadinhas de São Crispim é de 209 peças (62 bordos, 34 fundos e 113 asas), o que equivale a 92
indivíduos, dos quais 14,77% correspondem a produções tardias não englobadas neste estudo.
Deste modo, a amostra que aqui se analisa é composta por 185 fragmentos classificáveis (51 bor-
dos, 29 fundos e 105 asas) e um Número Mínimo de 79 Indivíduos, sendo que, destes, 18,99% correspon-
dem a materiais republicanos, 73,42% a ânforas alto-imperiais e 8,86% a envases de tipo indeterminado.
O conjunto é, também neste caso, de escassa fiabilidade estatística, reconhecendo-se ainda assim 23
tipos distintos, provenientes das regiões produtoras mais importantes da bacia mediterrânea, notando-
-se sobretudo a ausência das produções tarraconenses.
Relativamente aos contentores republicanos, o pequeno conjunto é constituído por 24 fragmen-
tos (nove bordos, dois fundos e 13 asas) que correspondem a 15 indivíduos, registando-se a presença
dos principais tipos comercializados no Ocidente durante esta fase, com excepção de alguns, usual-
mente minoritários, como as Lamboglia 2 e as ânforas brindisinas da costa adriática da Península Itálica
bem como algumas formas da região meridional da Ulterior, tais como a T-9.1.1.1., a Greco-Itálica ou
algum dos tipos ovóides.
A amostra é dominada pelas produções da Ulterior (46,67%), particularmente pelas da costa
meridional (40%), que surgem representadas principalmente pelas T-7.4.3.3. (33,33%) e de forma mais
discreta pelas Dressel 1 (6,67%), mas também pelas do Guadalquivir, de onde procedem as Classe 67/
Ovóide 1 (6,67%), de que apenas se identificou um indivíduo. As importações da Península Itálica (40%),
usualmente dominantes nos contextos do Ocidente hispânico desta época, constituem-se como o se-
gundo conjunto mais importante, sobretudo a Dressel 1 da costa tirrénica (26,67%), embora também
as Greco-Itálicas dessa região e da costa adriática, representadas por valores iguais (6,67%). De forma
minoritária, estão ainda representadas as produções do Norte de África, com presença de uma ânfora
do tipo Africana Antiga (6,67%).
Da perspectiva do consumo, os dados evidenciam o domínio do vinho (46,67%) sobre os prepa-
rados piscícolas (40%), e um consumo de azeite significativamente mais reduzido, significando apenas
13,33% das ânforas republicanas. No que se refere aos produtos haliêuticos, a sua proveniência é exclu-
sivamente da costa meridional hispânica, sendo transportado principalmente nas T-7.4.3.3. (83,33% dos

142
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

envases piscícolas) mas também nas Dressel 1 (16,67%). O vinho procede apenas da Península Itálica,
sobretudo envasado nas Dressel 1 (57,14%) e nas Greco-Itálicas (14,29%) da costa tirrénica, e de forma
menos expressiva nas Greco-Itálicas da costa adriática (14,29%). Por fim, os contentores oleícolas teste-
munham a importação em quantidades similares do azeite produzido no Vale do Guadalquivir a partir
do segundo quartel do séc. I a.C. e transportado nas Classe 67/Ovóide 1, e no Norte de África, neste caso
envasado em ânforas de tipo Africana Antiga.

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 4 2,16% 2 2,53% 6,06% 6,06%
Haltern 70 2 1,08% 2 2,53% 6,06% 6,06%
Dressel 14 50 27,03% 14 17,72% 42,42% 42,42%
Lusitânia, Tejo/Sado Dressel 14 parva 2 1,08% 1 1,27% 3,03% 3,03%
Lusitana 3 38 20,54% 13 16,46% 39,39% 39,39%
Indeterminado 2 1,08% 1 1,27% 3,03% 3,03%
Total 98 52,97% 33 41,77% 100% 100%
Dressel 9-10 1 0,54% 1 1,27% 25% 6,25% 2,22%
Dressel 2-4 1 0,54% 1 1,27% 25% 6,25% 2,22%
Bética, costa ocidental Beltrán IIB 2 1,08% 1 1,27% 25% 6,25% 2,22%
Indeterminado 5 2,7% 1 1,27% 25% 6,25% 2,22%
Total 9 4,86% 4 5,06% 100% 8,89%
Oberaden 83/Ovóide 7 1 0,54% 1 1,27% 8,33% 6,25% 2,22%
Haltern 70 1 0,54% 1 1,27% 8,33% 6,25% 2,22%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 5 2,7% 2 2,53% 16,67% 12,5% 4,44%
Dressel 20 (Flávia-Trajana) 4 2,16% 2 2,53% 16,67% 12,5% 4,44%
Bética,
Dressel 20 (Antonina) 6 3,24% 2 2,53% 16,67% 12,5% 4,44%
Vale do Guadalquivir
Dressel 20 (séc. III) 4 2,16% 2 2,53% 16,67% 12,5% 4,44%
Dressel 20 8 4,32% 1 1,27% 8,33% 6,25% 2,22%
Dressel 20 parva 1 0,54% 1 1,27% 8,33% 6,25% 2,22%
Total 30 16,22% 12 15,19% 100% 100% 26,67%
Dressel 1 1 0,54% 1 1,27% 16,67% 14,29% 2,22%
Hispânia Ulterior,
T-7.4.3.3. 5 2,7% 5 6,33% 83,33% 71,43% 11,11%
costa meridional
Total 6 3,24% 6 7,59% 100% 13,33%
Hispânia Ulterior, Classe 67/Ovóide 1 1 0,54% 1 1,27% 100% 14,29% 2,22%
Vale do Guadalquivir Total 1 0,54% 1 1,27% 100% 100% 2,22%
PE 25 1 0,54% 1 1,27% 100% 100% 2,22%
Ilha de Ibiza
Total 1 0,54% 1 1,27% 100% 100% 2,22%
Gauloise 4 4 2,16% 2 2,53% 100% 100% 4,44%
Gália Narbonense
Total 4 2,16% 2 2,53% 100% 100% 4,44%
Greco-Itálica 2 1,08% 1 1,27% 12,5% 10% 2,22%
Dressel 1 10 5,41% 4 5,06% 50% 40% 8,89%
Península Itálica, Greco-Itálica/Dressel 1 3 1,62% 1 1,27% 13% 10% 2,22%
costa tirrénica Dressel 2-4 4 2,16% 1 1,27% 12,5% 10% 2,22%
Indeterminado 1 0,54% 1 1% 13% 10% 2,22%
Total 20 10,81% 8 10,13% 100% 17,78%
Península Itálica, Greco-Itálica 1 0,54% 1 1,27% 100% 10% 2,22%
costa adriática Total 1 0,54% 1 1,27% 100% 2,22%
Richborough 527 2 1,08% 1 1,27% 100% 10% 2,22%
Ilha de Lipari
Total 2 1,08% 1 1,27% 100% 100% 2,22%
Africana Antiga 1 0,54% 1 1,27% 25% 25% 2,22%
Tripolitana II 1 0,54% 1 1,27% 25% 25% 2,22%
Norte de África
Indeterminado 3 1,62% 2 3% 50% 50% 4,44%
Total 5 2,7% 4 5,06% 100% 100% 8,89%
Tardo-.Ródia/Camulodunum 184 5 2,7% 3 3,8% 60% 60% 6,67%
Dressel 2-4/5 1 0,54% 1 1,27% 20% 20% 2,22%
Mediterrâneo Oriental
Indeterminado 1 0,54% 1 1% 20% 20% 2,22%
Total 7 3,78% 5 6,33% 100% 100% 11,11%
Indeterminado 1 0,54% 1 1,27% 100% 100%
Indeterminada
Total 1 0,54% 1 1,27% 100% 100%
TOTAL 185 100% 79 100% 100%

Tabela 42 – Quantificação da totalidade das ânforas das Escadinhas de São Crispim.

143
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Dressel 1 1 4,17% 1 6,67% 16,67% 14,29% 6,67%
Hispânia Ulterior,
T-7.4.3.3. 5 20,83% 5 33,33% 83,33% 71,43% 33,33%
costa meridional
Total 6 25% 6 40% 100% 40,00%
Hispânia Ulterior, Classe 67/Ovóide 1 1 4,17% 1 6,67% 100% 14,29% 6,67%
Vale do Guadalquivir Total 1 4,17% 1 6,67% 100% 100% 6,67%
Greco-Itálica 2 8,33% 1 6,67% 16,67% 14,29% 6,67%
Península Itálica, Dressel 1 10 41,67% 4 26,67% 66,67% 57,14% 26,67%
costa tirrénica Greco-Itálica/Dressel 1 3 12,5% 1 6,67% 16,67% 14,29% 6,67%
Total 15 62,5% 6 40% 100% 40,00%
Península Itálica, Greco-Itálica 1 4,17% 1 6,67% 100% 14,29% 6,67%
costa adriática Total 1 4,17% 1 6,67% 100% 6,67%
Africana Antiga 1 4,17% 1 6,67% 100% 100% 6,67%
Norte de África
Total 1 4,17% 1 6,67% 100% 100% 6,67%
TOTAL 24 100% 15 100% 100%

Tabela 43 – Quantificação das ânforas republicanas das Escadinhas de São Crispim.

126

48

6 8
351

114
10cm
171

Estampa 64 – Escadinhas de São Crispim. Península Itálica, costa tirrénica: Greco-Itálica (126), Dressel 1 (48, 6, 8).
Ulterior, costa meridional: T-7.4.3.3. (114, 171). Norte de África: Africana Antiga (351).

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Dressel 1 1 6,67% 16,67% 16,67% 16,67%
Hispânia Ulterior,
Preparados T-7.4.3.3. 5 33,33% 83,33% 83,33% 83,33%
costa meridional
piscícolas Total 6 40% 100% 100% 100%
Total 6 40% 100%
Greco-Itálica 1 6,67% 17% 14,29% 14,29%
Península Itálica, Dressel 1 4 26,67% 67% 57,14% 57,14%
Vinho e costa tirrénica Greco-Itálica/Dressel 1 1 6,67% 16,67% 14,29% 14,29%
derivados Total 6 40% 100% 85,71%
Península Itálica, Greco-Itálica 1 6,67% 100% 14,29% 14,29%
costa adriática Total 1 6,67% 100% 100% 14,29%
Total 7 46,67% 100%
Hispânia Ulterior, Classe 67/Ovóide 1 1 6,67% 100% 100% 50%
Vale do Guadalquivir Total 1 6,67% 100% 100% 50%
Azeite Africana Antiga 1 6,67% 100% 100% 50%
Norte de África
Total 1 6,67% 100% 100% 50%
Total 2 13,33% 100%
TOTAL 15 100%

Tabela 44 – Quantificação por conteúdo das ânforas republicanas das Escadinhas de São Crispim.

144
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

O já comentado domínio das produções da Ulterior, maioritariamente representadas por ânforas


piscícolas, está directamente relacionado com a equivalência quantitativa entre envases piscícolas e
vinários neste conjunto, fugindo ao padrão que caracteriza esta época e que evidencia normalmente a
proeminência da importação dos vinhos itálicos sobre os restantes produtos.
Quanto aos envases do Principado, a amostra é um pouco mais expressiva, ainda que estatistica-
mente pouco significativa, tendo-se reconhecido 148 fragmentos classificáveis (42 bordos, 26 fundos e
80 asas) e um Número Mínimo de 57 Indivíduos. O conjunto apresenta-se bastante diversificado quanto
à tipologia e origem dos contentores, estando presentes alguns tipos habitualmente menos comuns no
Ocidente como a PE 25 de Ibiza e a Richborough 527 da Ilha de Lipari.
Relativamente à origem dos contentores, as produções lusitanas representam 56,14% da amos-
tra, destacando-se as Dressel 14 (46,88% dos envases locais/regionais) e as Lusitana 3 (40,63%) que não
exibem valores muito divergentes. A relativa escassez de tipos cuja produção não ultrapassa o séc. I
d.C. - Lusitanas Antigas e Haltern 70 (em conjunto, 12,5% das ânforas lusitanas) - constitui-se como um
bom indicador cronológico, apontando uma cronologia genérica da amostra imperial sobretudo centra-
da no séc. II d.C. e eventualmente nas primeiras décadas do século seguinte.
Já no que diz respeito às importações extraprovinciais, os produtos da Baetica são absolutamen-
te dominantes, significando 60% desses artigos. Entre estes, sobressaem os que provêm do interior
do território daquela província (80%), particularmente nas diversas variantes das Dressel 20 (66,67%).
A Haltern 70 e a Oberaden 83 são minoritárias, representando em conjunto 13,33% desses envases. Do
litoral bético (20% das ânforas dessa província e 12% das extraprovinciais) procedem em quantidades

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 4 2,7% 2 3,51% 6,25% 6,25%
Haltern 70 2 1,35% 2 3,51% 6,25% 6,25%
Dressel 14 50 33,78% 14 24,56% 43,75% 43,75%
Lusitânia, Tejo/Sado
Dressel 14 parva 2 1,35% 1 1,75% 3,13% 3,13%
Lusitana 3 38 25,68% 13 22,81% 40,63% 40,63%
Total 96 64,86% 32 56,14% 100% 100%
Dressel 9-10 1 0,68% 1 1,75% 33,33% 6,67% 4%
Dressel 2-4 1 0,68% 1 1,75% 33,33% 6,67% 4%
Bética, costa ocidental
Beltrán IIB 2 1,35% 1 1,75% 33,33% 6,67% 4%
Total 4 2,7% 3 5,26% 100% 12%
Oberaden 83/Ovóide 7 1 0,68% 1 1,75% 8,33% 6,67% 4%
Haltern 70 1 0,68% 1 1,75% 8,33% 6,67% 4%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 5 3,38% 2 3,51% 16,67% 13,33% 8%
Dressel 20 (Flávia-Trajana) 4 2,7% 2 3,51% 16,67% 13,33% 8%
Bética, Vale do Guadalquivir Dressel 20 (Antonina) 6 4,05% 2 3,51% 16,67% 13,33% 8%
Dressel 20 (séc. III) 4 2,7% 2 3,51% 16,67% 13,33% 8%
Dressel 20 8 5,41% 1 1,75% 8,33% 6,67% 4%
Dressel 20 parva 1 0,68% 1 1,75% 8,33% 6,67% 4%
Total 30 20,27% 12 21,05% 100% 100% 48%
PE 25 1 0,68% 1 1,75% 100% 100% 4%
Ilha de Ibiza
Total 1 0,68% 1 1,75% 100% 100% 4%
Gauloise 4 4 2,7% 2 3,51% 100% 100% 8%
Gália Narbonense
Total 4 2,7% 2 3,51% 100% 100% 8%
Península Itálica, Dressel 2-4 4 2,7% 1 1,75% 100% 50% 4%
costa tirrénica Total 4 2,7% 1 1,75% 100% 4%
Richborough 527 2 1,35% 1 1,75% 100% 50% 4%
Ilha de Lipari
Total 2 1,35% 1 1,75% 100% 100% 4%
Tripolitana II 1 0,68% 1 1,75% 100% 100% 4%
Norte de África
Total 1 0,68% 1 1,75% 100% 100% 4%
Tardo-Ródia/Camulodunum 184 5 3,4% 3 5,26% 75% 75% 12%
Mediterrâneo Oriental Dressel 2-4/5 1 0,68% 1 1,75% 25% 25% 4%
Total 6 4,05% 4 7,02% 100% 100% 16%
TOTAL 148 100% 57 100% 100%

Tabela 45 – Quantificação das ânforas do Principado das Escadinhas de São Crispim.

145
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

329

47

11

38

158

155

39

172

41

12

60

59

61

87
40 88
10cm

Estampa 65 – Escadinhas de São Crispim. Lusitânia: Lusitana Antiga (329, 11, 5), Haltern 70 lusitana (7, 158), Dres-
sel 14 parva? (47), Dressel 14 (38, 155, 39, 172, 60, 61, 41, 59, 12, 87, 88, 40).

146
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

iguais as Dressel 9-10, as Beltrán IIB e as Dressel 2-4, uma expressão quantitativa relativamente baixa
e inferior às importações do Mediterrâneo Oriental (16% das extraprovinciais), onde as Tardo-Ródias/
Camulodunum 184 adquirem a mesma representatividade que o conjunto dos três tipos daquela região
hispânica (12%). Desta última região, que se constitui como a segunda mais importante nas importações
extraprovinciais, estão ainda representadas as Dressel 2-4/5 (4%). Claramente minoritários e com valo-
res idênticos são os artigos transportados nas PE 25 de Ibiza, nas Dressel 2-4 da costa tirrénica itálica,
nas Richborough 527 das ilhas Eólias e nas Tripolitana II do Norte de África, todas representadas por um
único indivíduo (1,75% do total de NMI e 4% das extraprovinciais), destacando-se ligeiramente destas as
Gauloise 4 da Narbonense com dois indivíduos (3,51%, 8%).

119
63
252

116

106
10cm
21 62

Estampa 66 – Escadinhas de São Crispim. Lusitânia: Lusitana 3 (252, 63, 21, 62, 119, 106, 116).

150

78

36

134 81

148

69

135
35
147 10cm
53

Estampa 67 – Escadinhas de São Crispim. Bética, costa ocidental: Dressel 9-10 (150), Beltrán IIB (36), Dressel 2-4 (78).
Bética, Vale do Guadalquivir: Dressel 20 (81). Ebusus: PE 25 (134). Gália, Narbonense: Gauloise 4 (148, 135). Penín-
sula Itálica, costa tirrénica: Dressel 2-4 (69, 147). Ilha de Lipari: Richborough 527 (35). Norte de África: Tripolitana II
(53). Desenho nº 81: in Fabião et al., 2016.

147
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

O factor que mais se evidencia da leitura destes dados, que, sublinhe-se, são de escassa fiabilida-
de estatística, é a desmedida proporção alcançada pelos produtos da região oriental do Mare Nostrum,
não se observando qualquer outro caso em Olisipo que sequer se aproxime desses valores.
No quadro de consumo de produtos alimentares observa-se a preponderância do vinho (40,35%)
relativamente aos preparados piscícolas (33,33%), enquanto o azeite (19,3%) exibe valores similares aos
da leitura global da cidade e o alúmen (1,75%) percentagens ligeiramente mais elevadas. Estas propor-
ções encaixam no que parece corresponder a um padrão característico dos sítios do pomerium durante
o Principado, revelador de um perfil de consumo próprio que diverge do que se observa no suburbium
ocidental e que encontra nas amostras da Sé e da Rua das Pedras Negras os seus melhores e mais re-
presentativos exemplos. No conjunto das Escadinhas de São Crispim o predomínio dos produtos vitivi-
nícolas deriva essencialmente de dois aspectos: por um lado, da baixa representatividade dos artigos
piscícolas béticos e das produções lusitanas mais precoces; por outro, da quantidade significativa de

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Lusitana Antiga 2 3,51% 11,76% 11,76% 10,53%
Dressel 14 14 24,56% 82,35% 82,35% 73,68%
Lusitânia, Tejo/Sado
Dressel 14 parva 1 1,75% 5,88% 5,88% 5,26%
Preparados
piscícolas

Total 17 29,82% 100% 100% 89,47%


Dressel 9-10 1 1,75% 50% 50% 5,26%
Bética, costa ocidental Beltrán IIB 1 1,75% 50% 50% 5,26%
Total 2 3,51% 100% 100% 10,53%
Total 19 33,33% 100%
Lusitana 3 13 22,81% 100% 100% 56,52%
Lusitânia, Tejo/Sado
Total 13 22,81% 100% 100% 56,52%
Dressel 2-4 1 1,75% 100% 50% 4,35%
Bética, costa ocidental
Total 1 1,75% 100% 4,35%
Haltern 70 1 1,75% 100% 50% 4,35%
Bética, Vale do Guadalquivir
Vinho e derivados

Total 1 1,75% 100% 100% 4,35%


PE 25 1 1,75% 100% 100% 4,35%
Ilha de Ibiza
Total 1 1,75% 100% 100% 4,35%
Gauloise 4 2 3,51% 100% 100% 8,7%
Gália Narbonense
Total 2 3,51% 100% 100% 8,7%
Península Itálica, Dressel 2-4 1 1,75% 100% 100% 4,35%
costa tirrénica Total 1 1,75% 100% 100% 4,35%
Tardo-Ródia/Camulodunum 184 3 5,26% 75% 75% 13,04%
Mediterrâneo Oriental Dressel 2-4/5 1 1,75% 25% 25% 4,35%
Total 4 7,02% 100% 100% 17,39%
Total 23 40,35% 100%
Oberaden 83/Ovóide 7 1 1,75% 9,09% 9,09% 9,09%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 2 3,51% 18,18% 18,18% 18,18%
Dressel 20 (Flávia-Trajana) 2 3,51% 18,18% 18,18% 18,18%
Azeite

Dressel 20 (Antonina) 2 3,51% 18,18% 18,2% 18,18%


Bética, Vale do Guadalquivir
Dressel 20 1 1,75% 9,09% 9,09% 9,09%
Dressel 20 parva 1 1,75% 9,09% 9,09% 9,09%
Dressel 20 (séc. III) 2 3,51% 18,18% 18,18% 18,18%
Total 11 19,3% 100% 100% 100%
Total 11 19,3% 100%
Richborough 527 1 1,75% 100% 100% 100%
Alúmen Ilha de Lipari
Total 1 1,75% 100% 100% 100%
Total 1 1,75% 0%
Haltern 70 2 3,51% 100% 100% 66,67%
Lusitânia, Tejo/Sado
Total 2 3,51% 100% 100% 66,67%
Indet.

Tripolitana II 1 1,75% 100% 100% 33,33%


Norte de África
Total 1 1,75% 100% 100% 33,33%
Total 3 5,26% 100%
TOTAL 57 100%

Tabela 46 – Quantificação por conteúdo das ânforas do Principado das Escadinhas de São Crispim.

148
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

Lusitana 3 (56,52% desse produto) e da considerável amplitude das regiões produtoras representadas,
que se estendem desde o litoral e região interior da Baetica, à Ilha de Ibiza, à Gallia, à costa tirrénica
itálica e ao Mediterrâneo Oriental. No contexto dos contentores vinários extraprovinciais, destacam-se
claramente os vinhos do Oriente, principalmente transportados nas ânforas Tardo-Ródias/Camulodu-
num 184 e nas Dressel 2-4/5 (17,39% desse artigo), mas também os provenientes da Gália e envasados
em ânforas de base plana de tipo Gauloise 4 (8,7%). As restantes importações, todas representadas por
um indivíduo apenas (4,35%), provêm da costa ocidental bética, nas Dressel 2-4, do Vale do Guadalquivir,
nas Haltern 70, da Ilha de Ibiza, nas PE 25, e da costa tirrénica itálica, nas Dressel 2-4.
Em relação aos produtos piscícolas, o domínio dos artigos lusitanos é absolutamente esmagador
(89,47%), sendo as importações extraprovinciais unicamente compostas pelas salgas do litoral da Baetica
(10,53%). Estas últimas estão representadas pelas Dressel 9-10 e Beltrán IIB, ambas com um único indiví-
duo. Já nas lusitanas ganha ênfase sobretudo a Dressel 14 (78,95%), da qual se identificou também um indi-
víduo de pequeno módulo, enquanto as Lusitanas Antigas estão claramente sub-representadas (10,53%).
As ânforas oleícolas são, uma vez mais, exclusivamente procedentes do Vale do Guadalquivir,
observando-se a presença de praticamente todas as variantes da Dressel 20 (com excepção da Nero-
-Vespasiano), incluindo a versão parva, mas também da Oberaden 83/Ovóide7 da Época de Augusto. Os
dados cronológicos que derivam da proporção das distintas variantes de Dressel 20 parecem ser con-
cordantes com as observações atrás mencionadas relativamente à cronologia evidenciada pelo conjun-
to anfórico em termos gerais, apontando preferencialmente para o séc. II d.C. e primeiros decénios da
centúria seguinte em detrimento do séc. I d.C.. Ainda que, como se viu, a maioria destas peças fosse
residual no momento da sua recolha, estes dados cronológicos gerais resultantes da leitura dos tipos
presentes no conjunto são absolutamente concordantes com a cronologia dos contextos alto-imperiais
documentados no local, que apontavam para 100-150 d.C. e 150-250 d.C., embora a quantidade de peças
identificada naqueles seja extremamente reduzida.

5.15. Rua de São Mamede (anexo I.15)

A Intervenção da Rua de São Mamede, em plena via púbica, em frente ao nº 19, foi realizada
em 2010 e dirigida por Pedro Miranda e Marina Carvalhinhos, enquadrando-se no Projecto Integrado
de Estudo e Valorização da “Cerca Velha” de Lisboa (PIEVCVL) coordenado por Manuela Leitão, Câmara
Municipal de Lisboa (a que se fará referência detalhada posteriormente; v. nota 22). Os objectivos da
mencionada intervenção passavam pela identificação, datação e valorização dos vestígios da muralha,
tendo utilizado como referência para a sua localização e respectiva implantação das duas sondagens as
propostas de A. Vieira da Silva (1987); não se tendo, todavia, logrado documentar quaisquer vestígios
daquela estrutura defensiva (Mota et al., 2017).
Contudo, vir-se-iam a registar contextos de Época Romana em ambas sondagens, directamente
sob níveis Contemporâneos, no caso da sondagem 1, e sob depósitos e vestígios de estruturas de Época
Medieval/Moderna na 2, ainda que não tenha sido identificada qualquer estrutura daquela época. Os
referidos contextos romanos traduziam-se numa sequência estratigráfica composta por depósitos de
aterro aparentemente relacionados com a regularização de uma zona de encosta de pendente acen-
tuada e hipoteticamente associados à construção das designadas “Termas dos Cássios” (Silva, 2012a;
Mota et al., 2017). O estudo dos materiais exumados durante a escavação permitiu definir com alguma
segurança o lapso temporal da formação daqueles depósitos, observando-se distintas cronologias nas
duas sondagens, apesar da sua relativa proximidade. Assim, na sondagem 1, situada mais a nascente, os
dados apontam para uma formação enquadrável entre o final da dinastia Júlio-Cláudia e os últimos anos
do terceiro quartel do séc. I d.C., registando-se a associação entre ânforas de tipo Dressel 7-11, Dressel
20 e Haltern 70, para além de outros tipos claramente residuais; terra sigillata itálica, sudgálica e hispâ-
nica, sendo as primeiras as melhor representadas, registando-se ainda a presença de diversas marcas
de oleiro e a ausência de importações norte-africanas; paredes finas e lucernas de produção itálica e

149
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

bética; e, sobretudo, cerâmica comum (Silva, 2012a; Mota et al., 2017). Já na sondagem 2, a deposição
dos aterros parece ser ligeiramente posterior, balizada entre a dinastia Flávia e o primeiro terço do séc.
II d.C., cronologia aferida pela associação dos seguintes materiais: ânforas dos tipos Dressel 14, Lusita-
na 3, Dressel 7-11, Beltrán IIA ou B, Dressel 20, Haltern 70, Gauloise 4, Dressel 2-4/Schoene-Mau XXXV
norte-africana e Tardo-Ródia/Camulodunum 184; terra sigillata itálica, sudgálica e hispânica, sendo as se-
gundas as mais representativas, verificando-se a ausência de produções norte-africanas; paredes finas
de produção lusitana e bética; lucernas béticas; e, principalmente, cerâmica comum (Mota et al., 2017).
A amostra proveniente da Rua de São Mamede é composta por total de 107 fragmentos diagnos-
ticáveis de ânfora (46 bordos, dez fundos e 51 asas), equivalendo a um Número Mínimo de 60 Indiví-
duos, dos quais 11,67% correspondem a contentores republicanos, 78,33% ao Principado e 10% a ânforas
de tipo e cronologia indeterminados, abrangendo um arco temporal que se estende da segunda meta-
de do séc. II a.C. até finais do séc. II ou início do III d.C.. Com excepção da Tarraconensis, estão presentes
as principais regiões produtoras da bacia mediterrânea e 15 tipos distintos, numa amostra que se pode-
rá considerar de escassa fiabilidade estatística.

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Dressel 14 39 36,45% 18 30% 85,71% 85,71%
Lusitana 3 1 0,93% 1 1,67% 4,76% 4,76%
Lusitânia, Tejo/Sado Beltrán IIB 1 0,93% 1 1,67% 4,76% 4,76%
Indeterminado 2 1,87% 1 1,67% 4,76% 4,76%
Total 43 40,19% 21 35% 100% 100%
Dressel 7-11 8 7,48% 4 6,67% 57,14% 15,38% 10,53%
Beltrán IIA/IIB 1 0,93% 1 1,67% 14,29% 3,85% 2,63%
Bética, costa ocidental Beltrán IIB 1 0,93% 1 1,67% 14,29% 3,85% 2,63%
Indeterminado 1 0,93% 1 1,67% 14,29% 3,85% 2,63%
Total 11 10,28% 7 11,67% 100% 18,42%
Haltern 70 1 0,93% 1 1,67% 5,26% 3,85% 2,63%
Haltern 70 (inicial) 1 0,93% 1 1,67% 5,26% 3,85% 2,63%
Haltern 70 (Cláudio-Nero) 1 0,93% 1 1,67% 5,26% 3,85% 2,63%
Tipo Urceus 1 0,93% 1 1,67% 5,26% 3,85% 2,63%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia)/Haltern 71 1 0,93% 1 1,67% 5,26% 3,85% 2,63%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 8 7,48% 3 5% 15,79% 11,54% 7,89%
Bética, Vale do Guadalquivir
Dressel 20 (Flávia-Trajana) 10 9,35% 7 11,67% 36,84% 26,92% 18,42%
Dressel 20 6 5,61% 1 1,67% 5,26% 3,85% 2,63%
Dressel 20 parva (Júlio-Cláudia) 3 2,8% 1 1,67% 5,26% 3,85% 2,63%
Dressel 20 parva (Flávia-Trajana) 2 1,87% 1 1,67% 5,26% 3,85% 2,63%
Indeterminado 1 0,93% 1 1,67% 5,26% 3,85% 2,63%
Total 35 32,71% 19 31,67% 100% 100% 50%
Hispânia Ulterior, T-7.4.3.3. 4 3,74% 2 3,33% 100% 100% 5,13%
costa meridional Total 4 3,74% 2 3,33% 100% 100% 5,13%
Gauloise 4 1 0,93% 1 1,67% 100% 100% 2,63%
Gália Narbonense
Total 1 0,93% 1 1,67% 100% 100% 2,63%
Greco-Itálica 3 2,8% 3 5% 60% 50% 7,89%
Península Itálica, Dressel 1 1 0,93% 1 1,67% 20% 16,67% 2,78%
costa tirrénica Indeterminado 1 0,93% 1 1,67% 20% 16,67% 2,63%
Total 5 4,67% 5 8,33% 100% 13,3%
Península Itálica, Brindisi 1 0,93% 1 1,67% 100% 16,67% 2,63%
costa adriática Total 1 0,93% 1 1,67% 100% 100% 2,63%
Dressel 2-4/Schoene-Mau XXXV 1 0,93% 1 1,67% 50% 50% 2,63%
Norte de África Indeterminado 1 0,93% 1 1,67% 50% 50% 2,63%
Total 2 1,87% 2 3,33% 100% 100% 5,26%
Tardo-Ródia/Camulodunum 184 4 3,74% 1 1,67% 100% 100% 2,63%
Mediterrâneo Oriental
Total 4 3,74% 1 1,67% 100% 100% 2,63%
Indeterminado 1 0,93% 1 1,67% 100% 100%
Indeterminada
Total 1 0,93% 1 1,67% 100% 100%
TOTAL 107 100% 60 100% 100%

Tabela 47 – Quantificação da totalidade das ânforas da Rua de São Mamede.

150
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

7550

1658

7320

1
6781
10cm

S/N1

Estampa 68 – Rua de São Mamede. Contexto do terceiro quartel do séc. I d.C., sond. 1. Ulterior/Bética, costa oci-
dental: T-7.4.3.3. (1658), Dressel 7-11 (1). Bética, Vale do Guadalquivir: Haltern 70 Cláudio-Nero (7320), Haltern 71/
Dressel 20 Júlio-Cláudia (S/N1), Dressel 20 Júlio-Cláudia (6781). Península Itálica, costa tirrénica: Greco-Itálica
(7550). Desenhos nº 1, 7320, S/N1 e 6781: in Mota et al., 2017.

Tendo em conta a proveniência estratigráfica do conjunto anfórico, a que acima se fez referência,
facilmente se depreenderá do carácter residual dos envases republicanos. Situação análoga ocorre um
pouco por toda a cidade e particularmente em locais bem próximos, como nas Escadinhas de São Crispim,
Palácio dos Condes de Penafiel ou Rua das Pedras Negras, onde também em contextos imperiais se docu-
menta sempre a presença residual de ânforas atribuíveis à República. Trata-se de um pequeno conjunto
de sete indivíduos sem qualquer tipo de significado estatístico, onde, com excepção do Norte de África,
se encontram presentes as principais regiões produtoras que naquele período abasteciam o Ocidente
hispânico. Destacam-se as produções tirrénicas da Península Itálica, representadas pelas habituais Gre-
co-Itálicas (3 NMI) e Dressel 1 (1 NMI), e as da costa meridional da Ulterior, de onde provêm as T-7.4.3.3.
(2 NMI). Marcam ainda presença as ânforas brindisinas da costa adriática da Península Itálica (1 NMI).
Ainda que extremamente reduzido, neste conjunto de ânforas estão atestados os principais artigos
alimentares - vinho para as primeiras, preparados à base de peixe para as segundas e azeite para as ter-
ceiras - e em proporções aproximadas às que se podem observar nos dados globais de Olisipo durante
a segunda metade do séc. II a.C..
Quanto aos envases atribuíveis ao Principado, o conjunto mais expressivo, foram identificados
91 fragmentos (41 bordos, sete fundos e 43 asas) e 47 indivíduos, num total de 11 tipos procedentes de
seis regiões produtoras, com um perfil cronológico típico do período entre a dinastia Júlio-Cláudia e o
início do séc. II d.C., notando-se, contudo, a ausência das Lusitanas Antigas. Dominadas pelas Dressel
14 (90% dos envases lusitanos), as produções locais/regionais representam 42,55% da amostra, estando
escassamente atestadas as Lusitana 3 (5% das ânforas locais/regionais) e uma forma enquadrável no
tipo Beltrán IIB (5%). A parca representatividade da Lusitana 3 (apenas 1 NMI) deverá corresponder a
um reflexo da cronologia dos contextos, situada, quanto muito, nos primeiros decénios do séc. II d.C..
Já o fragmento de bordo imputável ao tipo Beltrán IIB, constitui-se como testemunho único em Olisipo
da produção de imitações daquelas formas originárias da Baetica, a que haverá a acrescentar somente
uma asa do Banco de Portugal, podendo esta enquadrar-se neste tipo ou na Beltrán IIA.
A segunda região produtora melhor representada é o Vale do Guadalquivir, significando 38,3%
do NMI. Esta alta representatividade relaciona-se sobretudo com uma presença muito expressiva das
Dressel 20 (77,78% dos envases dessa região), principalmente da variante Flávia-Trajana (44,44%) mas
também da Júlio-Cláudia (27,78%) que deverá, neste último caso, corresponder a material residual. A
Haltern 70 apresenta valores menos expressivos (16,67%), sendo que apenas o exemplar da variante
Cláudio-Nero estaria claramente em contexto da época. Daquela região regista-se ainda a presença de
uma ânfora de Tipo Urceus (5,56%), também esta residual. Do litoral bético, de onde provêm 12,77% dos
contentores, estão atestadas as Dressel 7-11 (66,67% dos envases dessa região) e as Beltrán IIB (16,67%)

151
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

e peças indistintamente classificadas como Beltrán IIA/IIB (16.67%), com clara supremacia das primeiras.
Note-se, contudo, que globalmente as produções béticas da costa e do interior surgem em maiores
proporções do que as lusitanas, o que se afasta das proporções expectáveis em qualquer sítio de Época
Flávia ou posterior no Ocidente Peninsular e das que se verificam na leitura global de Olisipo. O índice
relativamente alto de residualidade que se verifica neste conjunto não justifica esta aparente incoerên-
cia estatística que apenas se poderá compreender à luz da sua escassa fiabilidade.
As restantes áreas produtoras, Gália, Norte de África e Mediterrâneo Oriental, apresentam todas
apenas um indivíduo, não ultrapassando os 2,13% do NMI, embora no caso dos envases norte-africanos
se deva ter presente que, tendo em conta a cronologia do contexto de proveniência, o fundo de tipo
indeterminado poderá corresponder também a uma forma alto-imperial (ou republicana), duplicando
neste caso a sua representatividade na amostra. Ainda relativamente a esta região produtora, haverá
que sublinhar a identificação do tipo Dressel 2-4/Schoene-Mau XXXV cuja presença em Lisboa era até
aqui desconhecida, estando documentada apenas em Bracara Augusta no contexto de toda a fachada
atlântica (Morais, 2005, p. 101). Em relação à Gália e ao Mediterrâneo Oriental, estão presentes os dois
tipos produzidos naquelas áreas mais comummente distribuídas no Ocidente do Império, respectiva-
mente a Gauloise 4 e a Tardo-Ródia/Camulodunum 184, sendo de realçar a fraca representatividade da
primeira neste conjunto. Estão ausentes as produções imperiais da Península Itálica e da Tarraconensis.
Numa óptica de análise à importação de alimentos, sobressai o consumo maioritário de prepara-
dos à base de peixe (53,19% do NMI), com especial relevo para os produtos lusitanos (76% desse artigo)
e menor importância para os que procedem do litoral da Baetica (24%), única região extraprovincial
atestada na amostra. Os primeiros são representados quase exclusivamente pela Dressel 14 (94,74%
dos envases piscícolas lusitanos), constituindo-se o exemplar de Beltrán IIB local/regional (5,26%) como
a única excepção. Quanto aos produtos piscícolas provenientes da Bética, a sua importação está atesta-
da pela presença de Dressel 7-11 (66,67% dessa região) e das mencionadas Beltrán IIB (16,67%) e Beltrán
IIA/IIB com igual percentagem. A preponderância da primeira forma relativamente às segundas dever-
-se-á sobretudo à cronologia dos contextos e presença de algum material residual, acrescida do facto
das Beltrán IIB não terem, aparentemente, atingido os níveis de importação das Dressel 7-11.

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Dressel 14 39 42,86% 18 38,3% 90% 90%
Lusitana 3 1 1,1% 1 2,13% 5,0% 5,0%
Lusitânia, Tejo/Sado
Beltrán IIB 1 1,1% 1 2,13% 5,0% 5,0%
Total 41 45,05% 20 42,55% 100% 100%
Dressel 7-11 8 8,79% 4 8,51% 66,67% 16,67% 14,81%
Beltrán IIA/IIB 1 1,1% 1 2,13% 16,67% 4,17% 3,7%
Bética, costa ocidental
Beltrán IIB 1 1,1% 1 2,13% 16,67% 4,17% 3,7%
Total 10 10,99% 6 12,77% 100% 22,22%
Haltern 70 1 1,1% 1 2,13% 5,56% 4,17% 3,7%
Haltern 70 (inicial) 1 1,1% 1 2,13% 5,56% 4,17% 3,7%
Haltern 70 (Cláudio-Nero) 1 1,1% 1 2,13% 5,56% 4,17% 3,7%
Tipo Urceus 1 1,1% 1 2,13% 5,56% 4,17% 3,7%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia)/Haltern 71 1 1,1% 1 2,13% 5,56% 4,17% 3,7%
Bética, Vale do Guadalquivir Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 8 8,79% 3 6,38% 16,67% 12,5% 11,11%
Dressel 20 (Flávia-Trajana) 10 10,99% 7 14,89% 38,89% 29,17% 25,93%
Dressel 20 6 6,59% 1 2,13% 5,56% 4,17% 3,7%
Dressel 20 parva (Júlio-Cláudia) 3 3,3% 1 2,13% 5,56% 4,17% 3,7%
Dressel 20 parva (Flávia-Trajana) 2 2,2% 1 2,13% 5,56% 4,17% 3,7%
Total 34 37,36% 18 38,3% 100% 100% 66,67%
Gauloise 4 1 1,1% 1 2,13% 100% 100% 3,7%
Gália Narbonense
Total 1 1,1% 1 2,13% 100% 100% 3,7%
Dressel 2-4/Schoene-Mau XXXV 1 1,1% 1 2,13% 100% 100% 3,7%
Norte de África
Total 1 1,1% 1 2,13% 100% 100% 3,7%
Tardo-Ródia/Camulodunum 184 4 4,4% 1 2,13% 100% 100% 3,7%
Mediterrâneo Oriental
Total 4 4,4% 1 2,13% 100% 100% 3,7%
TOTAL 91 100% 47 100% 100%

Tabela 48 – Quantificação das ânforas do Principado da Rua de São Mamede.

152
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

1926 8110

1893
7062

3226

1922

2420

7900

4735

3280

5270

3220
7820

4750

7330
4730
4287

3726 6710
8120

7490
2503

4290
6536
3700 10cm

Estampa 69 – Rua de São Mamede. Contexto balizado entre o último quartel do séc. I d.C. e o primeiro terço do
séc. II d.C. Lusitânia: Dressel 14 (parva?) (1926), Dressel 14 (1922, 2420, 4735, 8110, 3220, 7062, 1893, 3226), Lusi-
tana 3 (7900), Beltrán IIB lusitana (3280). Bética, Vale do Guadalquivir: Haltern 70 (3726), Dressel 20 Júlio-Cláudia
(5270), Dressel 20 Flávia-Trajana (7820, 4750, 4287, 7330, 4730), Dressel 20 Flávia-Trajana parva (8120). Península
Itálica, costa tirrénica: Greco-Itálica (6710, 2503). Península Itálica, costa adriática: Ânfora de Brindisi (6536). Norte
de África: Dressel 2-4? (4290). Mediterrâneo oriental: Tardo-Ródia/Camulodunum184 (7490, 3700).

153
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Mas se a verificada hegemonia dos preparados piscícolas se pode considerar como um traço co-
mum em alguns conjuntos anfóricos de Olisipo, particularmente no suburbium ocidental, e de outros sítios
do Ocidente Peninsular durante o Principado, a representatividade do azeite com valores na ordem dos
30% e significativamente mais alto que o consumo de vinho é, sem dúvida, um traço próprio desta amos-
tra que se repete também nos conjuntos da Calçada do Correio Velho, da Rua de São da Praça (2009) e,
sobretudo, da Zara, de idêntico âmbito cronológico. Recorde-se que no caso do Teatro Romano (Filipe,
2015) a alta representatividade do azeite refere-se principalmente a momentos consideravelmente mais
antigos, particularmente do Principado de Augusto, expressa na significativa presença de Oberaden 83.
Significando 29,79% do NMI, o conjunto de contentores oleícolas da Rua de São Mamede é bem demons-
trativo do monopólio que a região do Vale do Guadalquivir detinha na comercialização do azeite no
Ocidente, uma vez que aqueles são integralmente provenientes dessa área geográfica. Tipologicamente
são representados unicamente pelas Dressel 20, estando presentes as primeiras variantes Júlio-Cláudias
(eventualmente também as Haltern 71) e as variantes Flávia-Trajana, sendo estas as mais representativas.
Em sentido oposto, o consumo de vinho, significando aqui apenas 17,02% do NMI, denuncia uma
maior rede de contactos comerciais testemunhada pela presença de ânforas vinárias originárias de vá-
rios pontos do Mediterrâneo. A região melhor representada é o Vale do Guadalquivir de onde provém
50% desse produto, transportado principalmente nas Haltern 70 (75% dos envases vinários dessa área)
e em menores quantidades nas ânforas de Tipo Urceus (25%). As restantes regiões produtoras apresen-
tam valores idênticos (1 NMI, 12,5% dos contentores vinários), sendo representadas pelas produções
lusitanas (Lusitana 3), gaulesas (Gauloise 4), norte-africanas (Dressel 2-4) e do Mediterrâneo Oriental
(Tardo-Ródia/Camulodunum 184).

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Dressel 14 18 38,3% 94,74% 94,74% 72%
Lusitânia, Tejo/Sado Beltrán IIB 1 2,13% 5,26% 5,26% 4%
Preparados
piscícolas

Total 19 40,43% 100% 100% 76%


Dressel 7-11 4 8,51% 66,67% 66,67% 16%
Beltrán IIA/IIB 1 2,13% 16,67% 16,67% 4%
Bética, costa ocidental
Beltrán IIB 1 2,13% 16,67% 16,67% 4%
Total 6 12,77% 100% 100% 24%
Total 25 53,19% 100%
Lusitana 3 1 2,13% 100% 100% 12,5%
Lusitânia, Tejo/Sado
Total 1 2,13% 100% 100% 12,5%
Haltern 70 1 2,13% 25% 25% 12,5%
Haltern 70 (inicial) 1 2,13% 25% 25% 12,5%
Vinho e derivados

Bética, Vale do Guadalquivir Haltern 70 (Cláudio-Nero) 1 2,13% 25% 25% 12,5%


Tipo Urceus 1 2,13% 25% 25% 12,5%
Total 4 8,51% 100% 100% 50%
Gauloise 4 1 2,13% 100% 100% 12,5%
Gália Narbonense
Total 1 2,13% 100% 100% 12,5%
Dressel 2-4/Schoene-Mau XXXV 1 2,13% 100% 100% 12,5%
Norte de África
Total 1 2,13% 100% 100% 12,5%
Tardo-Ródia/Camulodunum 184 1 2,13% 100% 100% 12,5%
Mediterrâneo Oriental
Total 1 2,13% 100% 100% 12,5%
Total 8 17,02% 100%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) - Haltern 71 1 2,13% 7,14% 7,14% 7,14%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 3 6,38% 21,43% 21,43% 21,43%
Dressel 20 (Flávia-Trajana) 7 14,89% 50% 50% 50%
Azeite

Bética, Vale do Guadalquivir


Dressel 20 1 2,13% 7,14% 7,14% 7,14%
Dressel 20 parva (Júlio-Cláudia) 1 2,13% 7,14% 7,14% 7,14%
Dressel 20 parva (Flávia-Trajana) 1 2,13% 7,14% 7,14% 7,14%
Total 14 29,79% 100% 100% 100%
Total 14 29,79% 100%
TOTAL 47 100%

Tabela 49 – Quantificação por conteúdo das ânforas do Principado da Rua de São Mamede.

154
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

Esta análise geral ao conjunto anfórico da Rua de São Mamede é complementada pela análise
por contexto já realizada e publicada em outro local (Mota et al., 2017), em trabalho que se enquadrou
também no âmbito desta tese. Resta referir a identificação da marca QATI vel QTAI sobre a asa de uma
Dressel 20, de que se tratará mais adiante em capítulo próprio.

5.16. Palácio dos Condes de Penafiel (anexo I.16)

O Palácio dos Condes de Penafiel implanta-se na vertente Sul da colina do castelo, ocupando
todo o quarteirão delimitado a Norte pela Rua de São Mamede e Largo do Correio-Mor, a Sul pela Rua
das Pedras Negras, a Este pela Calçada do Correio Velho e a Oeste pela Travessa do Almada. A responsa-
bilidade científica da intervenção arqueológica aí realizada entre 1992 e 1993 coube a A. M. Dias Diogo,
que então coordenava o extinto Gabinete Técnico do Teatro Romano de Lisboa. Os trabalhos de esca-
vação foram despoletados pela intenção de executar obras de adaptação daquele espaço à instalação
do Ministério das Obras Públicas e Comunicações, que incluía, na área nordeste, a construção de um
parqueamento automóvel subterrâneo (Fernandes, 2009; Silva, 2012a).
Do local eram já conhecidas notícias da existência de importantes vestígios arqueológicos, tendo
na sua zona sudoeste sido pela primeira vez identificadas as ruínas das designadas Termas dos Cássios
durante as obras de construção do edifício palatino do Correio-Mor, realizadas entre 1771 e 1773 no âm-
bito da reconstrução que se seguiu ao terramoto de 1755 (Fernandes, 2009, p. 192).
Infelizmente, das importantes realidades aí documentadas durante a intervenção de 1992/1993
não existe qualquer relatório ou publicação ampla dos dados, estando de igual modo inacessível a do-
cumentação dos contextos arqueológicos produzida durante a escavação; significando isto que, desa-
fortunadamente, desconhecem-se os contextos estratigráficos do expressivo e importante conjunto
de materiais que abaixo serão alvo de análise mais detalhada. Com excepção de um artigo sobre uma
epígrafe paleocristã exumada no local (Diogo e Trindade, 1997), os dados conhecidos, sujeitos às con-
dicionantes atrás mencionadas, foram publicados recentemente e referem-se a conjuntos de materiais,
designadamente às marcas sobre vasos de terra sigillata (Silva, 2012a), a um almofariz itálico (Silva,
2015c), a duas terracotas femininas (Silva, 2015b), a um interessante conjunto de materiais tardios (Silva
e De Man, 2016); e a um capitel jónico, recolhido em contexto medieval mas que terá muito provavel-
mente pertencido às Thermae Cassiorum (Fernandes, 2009).
Nestas publicações é feita menção à existência de silos islâmicos, níveis baixo-medievais e do
período Moderno, onde se incluem estruturas habitacionais pré-pombalinas (Silva, 2012a). De Época
Romana, é referida uma vala de perfil em “V” que terá sido entulhada no séc. VI d.C. e de onde procede
a epígrafe paleocristã e o conjunto de materiais de cronologia tardia a que já se aludiu (Diogo e Trinda-
de, 1997; Silva e De Man, 2016). Esta interface negativa rompia um conjunto de estratos detríticos, de
pendente nordeste-sudoeste, onde se identificou uma inumação em deficiente estado de preservação.
Sob estas camadas foi registada a presença de um muro de contenção de terras de Época Alto-Imperial,
única estrutura desse período documentada no local, ao qual encostava um conjunto de depósitos de
tendência horizontal presumivelmente formadas de forma sucessiva entre os séculos I e III d.C.. No
estudo da terra sigillata é proposto que as ocupações mais antigas escavadas no local se situem na
segunda metade do séc. I d.C.. Observou-se ainda a existência de uma sepultura infantil que reutilizava
uma ânfora de tipo Dressel 20, referenciada na área sudoeste da intervenção (Silva, 1999; Silva, 2012a).
Estas informações sobre a dinâmica estratigráfica do sítio, de carácter marcadamente genérico,
são reveladoras da importância do mesmo na compreensão do urbanismo e da ocupação daquela área
da cidade durante, pelo menos, o espectro temporal que decorreu entre o séc. I d.C. e a Antiguidade
Tardia. Os dados são especialmente interessantes quando se procede ao seu cruzamento com a docu-
mentação das intervenções realizadas nas proximidades, concretamente na Calçada do Correio Velho
(Silva, 2012a), na Rua de São Mamede, nas Escadinhas de São Crispim (Quaresma, no prelo) e, embo-
ra enfermando do mesmo tipo de problemas, nas designadas Thermae Cassiorum na Rua das Pedras

155
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 52 6,26% 26 7,56% 14,53% 14,53%
Tipo Urceus? 1 0,12% 1 0,29% 0,56% 0,56%
Haltern 70 2 0,24% 1 0,29% 0,56% 0,56%
Lusitânia, Tejo/Sado Dressel 14 189 22,74% 70 20,35% 39,11% 39,11%
Lusitana 3 173 20,82% 69 20,06% 38,55% 38,55%
Indeterminado 24 2,89% 12 3,49% 6,7% 6,7%
Total 441 53,07% 179 52,03% 100% 100%
Dressel 7-11 11 1,32% 2 0,58% 12,5% 2,13% 1,27%
Dressel 7 1 0,12% 1 0,29% 6,25% 1,06% 0,64%
Dressel 9-10 3 0,36% 3 0,87% 18,75% 3,19% 1,91%
Beltrán IIB 5 0,6% 2 0,58% 12,5% 2,13% 1,27%
Bética, costa ocidental Beltrán IIB/Puerto Real 1 5 0,6% 3 0,87% 18,75% 3,19% 1,91%
Puerto Real 1 1 0,12% 1 0,29% 6,25% 1,06% 0,64%
“Gauloise 4” 6 0,72% 3 0,87% 18,75% 3,19% 1,91%
Indeterminado 3 0,36% 1 0,29% 6,25% 1,06% 0,64%
Total 35 4,21% 16 4,65% 100% 10,19%
Oberaden 83/Ovóide 7 2 0,24% 2 0,58% 2,56% 2,13% 1,27%
Haltern 70 23 2,77% 6 1,74% 7,69% 6,38% 3,82%
Haltern 70 (Augusto-Tibério) 1 0,12% 1 0,29% 1,28% 1,06% 0,64%
Haltern 70 (Cláudio-Nero) 2 0,24% 2 0,58% 2,56% 2,13% 1,27%
Haltern 70 (Flávia)/Verulamium 1908 1 0,12% 1 0,29% 1,28% 1,06% 0,64%
Tipo Urceus 1 0,12% 1 0,29% 1,28% 1,06% 0,64%
Dressel 28 1 0,12% 1 0,29% 1,28% 1,06% 0,64%
Dressel 2-4 1 0,12% 1 0,29% 1,28% 1,06% 0,64%
Dressel 7-11 2 0,24% 1 0,29% 1,28% 1,06% 0,64%
Bética, Vale do Guadalquivir Beltrán IIB? 1 0,12% 1 0,29% 1,28% 1,06% 0,64%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 25 3,01% 13 3,78% 16,67% 13,83% 8,28%
Dressel 20 (Flávia-Trajana) 23 2,77% 16 4,65% 20,51% 17,02% 10,19%
Dressel 20 (Antonina) 28 3,37% 18 5,23% 23,08% 19,15% 11,46%
Dressel 20 (séc. III) 10 1,2% 7 2,03% 8,97% 7,45% 4,46%
Dressel 20 74 8,9% 4 1,16% 5,13% 4,26% 2,55%
Dressel 20 parva (Júlio-Cláudia) 1 0,12% 1 0,29% 1,28% 1,06% 0,64%
Dressel 20 parva Flávia-Trajana) 1 0,12% 1 0,29% 1,28% 1,06% 0,64%
Indeterminado 1 0,12% 1 0,29% 1,28% 1,06% 0,64%
Total 198 23,83% 78 22,67% 100% 100% 49,68%
Hispânia Ulterior, T-7.4.3.3. 14 1,68% 11 3,2% 100% 73,33% 7,05%
costa meridional Total 14 1,68% 11 3,2% 100% 7,05%
Classe 67/Ovóide 1 3 0,36% 2 0,58% 50% 13,33% 1,27%
Hispânia Ulterior, Ovóide 4 1 0,12% 1 0,29% 25% 6,67% 0,64%
Vale do Guadalquivir Ovóide 5 1 0,12% 1 0,29% 25% 6,67% 0,64%
Total 5 0,6% 4 1,16% 100% 100% 2,55%
Gauloise 4 13 1,56% 4 1,16% 100% 100% 2,55%
Gália Narbonense
Total 13 1,56% 4 1,16% 100% 100% 2,55%
Greco-Itálica 7 0,84% 7 2,03% 46,67% 38,89% 4,46%
Dressel 1 6 0,72% 3 0,87% 20% 16,67% 2,05%
Península Itálica, Greco-Itálica/Dressel 1 19 2,29% 1 0,29% 6,67% 5,56% 0,64%
costa tirrénica Dressel 2-4 8 0,96% 3 0,87% 20% 16,67% 1,88%
Indeterminado 2 0,24% 1 0,29% 6,67% 5,56% 0,64%
Total 42 5,05% 15 4,36% 100% 9,66%
Península Itálica, Ovóide adriática 1 0,12% 1 0,29% 100% 5,56% 0,6%
costa adriática Total 1 0,12% 1 0,29% 100% 0,64%
Richborough 527 4 0,48% 2 0,58% 100% 11,11% 1,27%
Ilha de Lipari
Total 4 0,48% 2 0,58% 100% 100% 1,27%
Dressel 2-4/Schoene-Mau XXXV 1 0,12% 1 0,29% 9,09% 9,09% 0,64%
Pupput T 700.4/T 700.5 1 0,12% 1 0,29% 9,09% 9,09% 0,64%
Africana I 3 0,36% 2 0,58% 18,18% 18,18% 1,27%
Norte de África
Africana IIA 1 0,12% 1 0,29% 9,09% 9,09% 0,63%
Indeterminado 16 1,93% 6 1,74% 54,55% 54,55% 3,82%
Total 22 2,65% 11 3,20% 100% 100% 6,99%

Tabela 50 – Quantificação da totalidade das ânforas do Palácio dos Condes de Penafiel.

156
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Tardo-Ródia/Camulodunum 184 14 1,68% 4 1,16% 26,67% 26,67% 2,55%
Dressel 2-4/5 5 0,6% 2 0,58% 13,33% 13,33% 1,27%
Pompeia 13/Agora G198 2 0,24% 1 0,29% 6,67% 6,67% 0,64%
Mediterrâneo Oriental
Agora M54 3 0,36% 1 0,29% 6,67% 6,67% 0,64%
Indeterminado 15 1,81% 7 2,03% 46,67% 46,67% 4,46%
Total 39 4,69% 15 4,36% 100% 100% 9,55%
Indeterminado 17 2,05% 8 2,33% 100% 100%
Indeterminada
Total 17 2,05% 8 2,33% 100% 100%
TOTAL 831 100% 344 100% 100%

Tabela 50 – Quantificação da totalidade das ânforas do Palácio dos Condes de Penafiel (cont.).

Negras (Silva, 2012a), na medida em que sugerem uma certa coerência relativamente à ocupação de
uma ampla área, particularmente em relação aos contextos tardios e aos aterros detríticos alto-impe-
riais associados a uma estrutura interpretada como destinada à contenção de terras.
A amostra do Palácio dos Condes de Penafiel constitui-se como uma das mais expressivas e di-
versificadas entre os conjuntos anfóricos estudados neste trabalho. Durante a triagem, inventariação e
classificação dos materiais foi reconhecido um total de 980 fragmentos de ânfora e 423 indivíduos, dos
quais 20,31% correspondem a produções tardias, não incluídas na presente análise. Assim, o conjunto
analisado é constituído por um total de 831 fragmentos (295 bordos, 100 fundos e 436 asas), equivalen-
te a um Número Mínimo de 344 Indivíduos, registando-se a presença de 35 tipos procedentes de oito
regiões produtoras distintas. Destes envases, 7,85% são republicanos, 81,69% alto-imperiais e 10,47% de
tipo indeterminado.
Quanto às ânforas republicanas, residuais e de escassa fiabilidade estatística, reconheceram-se
52 fragmentos (26 bordos, três fundos e 23 asas), que se traduzem num Número Mínimo de 27 Indiví-
duos, correspondentes a sete tipos, provenientes das costas tirrénica e adriática da Península Itálica e
do Vale do Guadalquivir e costa meridional da província hispânica da Ulterior. Os contentores hispânicos
(55,56%) dominam o pequeno conjunto, sendo especialmente representados pelas produções da costa
meridional (73,33% dos envases da Ulterior), com a habitual supremacia das T-7.4.3.3., e de forma me-
nos expressiva por tipos ovóides do séc. I a.C. produzidos no Vale do Guadalquivir (26,67%): Classe 67
(13,33%), Ovóide 4 (6,67%) e Ovóide 5 (6,67%).
As produções itálicas representam 40,74%, destacando-se os envases oriundos do litoral tirrénico
(91,67%) face aos da costa adriática (8,33%). Se da primeira região estão presentes as formas habituais
para esta época, a Greco-Itálica e a Dressel 1, não se devendo atribuir qualquer valor ao facto da primei-
ra surgir melhor representada, da segunda área registou-se a presença de uma ânfora ovóide da costa
central adriática, forma que era até aqui desconhecida em Olisipo e que foi igualmente registada no
Teatro Romano e no Pátio da Sr.ª de Murça no decurso deste trabalho.

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Hispânia Ulterior, T-7.4.3.3. 14 26,92% 11 40,74% 100% 73,33% 40,74%
costa meridional Total 14 26,92% 11 40,74% 100% 40,74%
Classe 67/Ovóide 1 3 5,77% 2 7,41% 50% 13,33% 7,41%
Hispânia Ulterior, Ovóide 4 1 1,92% 1 3,7% 25% 6,67% 3,7%
Vale do Guadalquivir Ovóide 5 1 1,92% 1 3,7% 25% 6,67% 3,7%
Total 5 9,62% 4 14,81% 100% 100% 14,81%
Greco-Itálica 7 13,46% 7 25,93% 64% 58,33% 25,93%
Dressel 1 6 11,54% 3 11,11% 27,27% 25% 11,11%
Península Itálica, costa tirrénica
Greco-Itálica/Dressel 1 19 36,54% 1 3,7% 9,09% 8,33% 3,7%
Total 32 61,54% 11 40,74% 100% 40,74%
Península Itálica, Ovóide adriática 1 1,92% 1 3,7% 100% 8,33% 3,7%
costa adriática Total 1 1,92% 1 3,7% 100% 100% 3,7%
TOTAL 52 100% 27 100% 100%

Tabela 51 – Quantificação das ânforas republicanas do Palácio dos Condes de Penafiel.

157
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Hispânia Ulterior, T-7.4.3.3. 11 40,74% 100% 100% 100%
Preparados
costa meridional Total 11 40,74% 100% 100% 100%
piscícolas
Total 11 40,74% 100%
Hispânia Ulterior, Ovóide 4 1 3,7% 100% 100% 8,33%
Vale do Guadalquivir Total 1 3,7% 100% 100% 8,33%
Greco-Itálica 7 25,93% 63,64% 63,64% 58,33%
Vinho e
Dressel 1 3 11,11% 27,27% 27,27% 25%
derivados Península Itálica, costa tirrénica
Greco-Itálica/Dressel 1 1 3,7% 9,09% 9,09% 8,33%
Total 11 40,74% 100% 100% 91,67%
Total 12 44,44% 100%
Classe 67/Ovóide 1 2 7,41% 66,67% 66,67% 50%
Hispânia Ulterior,
Ovóide 5 1 3,7% 33,33% 33,33% 25%
Vale do Guadalquivir
Azeite Total 3 11,11% 100% 100% 75%
Ovóide adriática 1 3,7% 100% 100% 25%
Península Itálica, costa adriática
Total 1 3,7% 100% 100% 25%
Total 4 14,81% 100%
TOTAL 27 100%

Tabela 52 – Quantificação por conteúdo das ânforas republicanas do Palácio dos Condes de Penafiel.

498

38998 39026

23190

33629
45706

53502

41427
32646

31967
39201 10cm

Estampa 70 – Palácio dos Condes de Penafiel. Península Itálica, costa tirrénica: Greco-Itálica (498, 23190, 33629,
39026, 45706), Dressel 1 (38998). Península Itálica, costa adriática: Ovóide adriática (53502). Ulterior, costa meridi-
onal: T-7.4.3.3. (32646, 41427, 31967, 39201).

No que se refere aos produtos transportados por estes contentores, verifica-se a superioridade
do vinho (44,44%) face aos preparados piscícolas (40,74%), enquanto o azeite representa apenas 14,81%.
O primeiro daqueles produtos provém sobretudo da Península Itálica (91,67%), mas também do Vale do
Guadalquivir (8,33%), verificando-se situação análoga no abastecimento de azeite, embora neste caso
com predomínio dos artigos hispânicos (75%) em relação aos adriáticos (25%). Já os preparados à base
de peixe procedem exclusivamente da costa meridional da Ulterior.

158
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

Embora de escassa fiabilidade, a amostra republicana deste sítio exibe um perfil de consumo
próprio da encosta Sul da colina do castelo, particularmente bem documentado nos Claustros da Sé,
evidenciando um padrão distinto da área da antiga alcáçova islâmica. Voltarei a este assunto mais à
frente neste trabalho.
O conjunto alto-imperial do Palácio dos Condes de Penafiel adquire uma dimensão bem mais
expressiva que o republicano, podendo-se considerar de fiabilidade estatística aceitável (Molina Vidal,
1997). Constituído por 701 fragmentos de ânfora (263 bordos, 84 fundos e 354 asas) e um Número
Mínimo de 281 Indivíduos, apresenta notável diversidade tipológica e de origem, traduzido na presença
de 28 tipos oriundos de praticamente todas as grandes regiões produtoras da bacia mediterrânea, com
excepção da Tarraconensis. Este conjunto de ânforas testemunha a importação e consumo de artigos
alimentares durante um lapso temporal que se estende de Augusto até ao séc. III d.C., com particular
incidência no séc. II.

29833 38937
48501

48743

48860

30078
51773

33845
39023
38936

39022
45188

46707

52094 44444

58016 27033
32645

35095
48475 10cm

Estampa 71 – Palácio dos Condes de Penafiel. Lusitânia: Tipo Urceus? (27033), Lusitana Antiga (todas as restantes).

159
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 52 7,42% 26 9,25% 15,57% 15,57%
Tipo Urceus? 1 0,14% 1 0,36% 0,6% 0,6%
Haltern 70 2 0,29% 1 0,36% 0,6% 0,6%
Lusitânia, Tejo/Sado
Dressel 14 189 27,0% 70 24,91% 41,92% 41,92%
Lusitana 3 173 24,68% 69 24,56% 41,32% 41,32%
Total 417 59,49% 167 59,43% 100% 100%
Dressel 7-11 11 1,57% 2 0,71% 13,33% 2,17% 1,75%
Dressel 7 1 0,14% 1 0,36% 6,67% 1,09% 0,88%
Dressel 9-10 3 0,43% 3 1,07% 20% 3,26% 2,63%
Beltrán IIB 5 0,71% 2 0,71% 13,33% 2,17% 1,75%
Bética, costa ocidental
Beltrán IIB/Puerto Real 1 5 0,71% 3 1,07% 20% 3,26% 2,63%
Puerto Real 1 1 0,14% 1 0,36% 6,67% 1,09% 0,88%
“Gauloise 4” 6 0,86% 3 1,07% 20% 3,26% 2,63%
Total 32 4,56% 15 5,34% 100% 13,16%
Oberaden 83/Ovóide 7 2 0,29% 2 0,71% 2,6% 2,17% 1,75%
Haltern 70 23 3,28% 6 2,14% 7,79% 6,52% 5,26%
Haltern 70 (Augusto-Tibério) 1 0,14% 1 0,36% 1,3% 1,09% 0,88%
Haltern 70 (Cláudio-Nero) 2 0,29% 2 0,71% 2,6% 2,17% 1,75%
Haltern 70 (Flávia)/Verulamium 1908 1 0,14% 1 0,36% 1,3% 1,09% 0,88%
Tipo Urceus 1 0,14% 1 0,36% 1,3% 1,09% 0,88%
Dressel 28 1 0,14% 1 0,36% 1,3% 1,09% 0,88%
Dressel 2-4 1 0,14% 1 0,36% 1,3% 1,09% 0,88%
Dressel 7-11 2 0,29% 1 0,36% 1,3% 1,09% 0,88%
Bética, Vale do Guadalquivir
Beltrán IIB? 1 0,14% 1 0,36% 1,3% 1,09% 0,88%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 25 3,57% 13 4,63% 16,88% 14,13% 11,4%
Dressel 20 (Flávia-Trajana) 23 3,28% 16 5,69% 20,78% 17,39% 14,04%
Dressel 20 (Antonina) 28 3,99% 18 6,41% 23,38% 19,57% 15,79%
Dressel 20 (séc. III) 10 1,43% 7 2,49% 9,09% 7,61% 6,14%
Dressel 20 74 10,56% 4 1,42% 5,19% 4,35% 3,51%
Dressel 20 parva (Júlio-Cláudia) 1 0,14% 1 0,36% 1,3% 1,09% 0,88%
Dressel 20 parva (Flávia-Trajana) 1 0,14% 1 0,36% 1,3% 1,09% 0,88%
Total 197 28,1% 77 27,40% 100% 100% 67,54%
Gauloise 4 13 1,85% 4 1,42% 100% 100% 3,5%
Gália Narbonense
Total 13 1,85% 4 1,42% 100% 100% 3,51%
Península Itálica, Dressel 2-4 8 1,14% 3 1,07% 100% 60% 2,63%
costa tirrénica Total 8 1,14% 3 1,07% 100% 2,63%
Richborough 527 4 0,57% 2 0,71% 100% 40% 1,75%
Ilha de Lipari
Total 4 0,57% 2 0,71% 100% 100% 1,75%
Dressel 2-4/Schoene-Mau XXXV 1 0,14% 1 0,36% 20% 20% 0,88%
Pupput T 700.4/T 700.5 1 0,14% 1 0,36% 20% 20% 0,88%
Norte de África Africana I 3 0,43% 2 0,71% 40% 40% 1,75%
Africana IIA 1 0,14% 1 0,36% 20% 20% 0,82%
Total 6 0,86% 5 1,78% 100% 100% 4,33%
Tardo-Ródia/Camulodunum 184 14 2% 4 1,42% 50% 50% 3,51%
Dressel 2-4/5 5 0,71% 2 0,71% 25% 25% 1,75%
Mediterrâneo Oriental Pompeia 13/Agora G198 2 0,29% 1 0,36% 12,5% 12,5% 0,88%
Agora M54 3 0,43% 1 0,36% 12,5% 12,5% 0,88%
Total 24 3,42% 8 2,85% 100% 100% 7,02%
TOTAL 701 100% 281 100% 100%

Tabela 53 – Quantificação das ânforas do Principado do Palácio dos Condes de Penafiel.

Na perspectiva da origem dos contentores, destaca-se a preponderância dos produtos lusitanos


representando 59,43% do total de indivíduos. Este domínio deve-se particularmente à significativa ocor-
rência de ânforas de tipo Dressel 14 (41,92% dos envases lusitanos) e Lusitana 3 (41,32%), mas também das
Lusitanas Antigas (15,57%), testemunhando uma relevante circulação de ânforas lusitanas durante o séc.
I d.C., a que se poderá acrescentar as minoritárias Haltern 70 e um contentor local/regional que parece
imitar as ânforas béticas de tipo Urceus (v. infra). Já as produções de Peniche estão totalmente ausen-
tes. De realçar é a elevada proporção dos envases vinários do tipo Lusitana 3 relativamente à piscícola
Dressel 14, com valores similares, panorama que se aproxima do que se verifica na Rua das Pedras Negras

160
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

41152
53048

29406

31861
24540

49343

43813

32522

33071
24587

58572
28548
42830

32749 55437 954

29383

40759

29672 25867
36615 10cm

Estampa 72 – Palácio dos Condes de Penafiel. Lusitânia: Dressel 14.

161
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

54496

44324

41689

39178

27157

34630

43579
27787
40760

7
49717 45102

35446

35024

641

28328 26368

39670
10cm

50007 24541

Estampa 73 – Palácio dos


Estampa
Condes73
de- Penafiel.
Palácio dos Condes
Lusitânia: de Penafiel.
Dressel 14 Lusitânia: Dressel 14

162
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

32749 31569
44439
37992

33725
4 33848

864
18254

25688

23891
28033 28284

25395
12643
50525

25420
31737

40605

31568
49443

38144

38143 31735

26943

25825 53002 10cm

Estampa 74 – Palácio dos Condes de Penafiel. Lusitânia: Dressel 14 (44439, 37992, 32749, 31569), Lusitana 3
(todas as restantes).

163
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

e na Sé, onde as primeiras ultrapassam de forma expressiva as segundas, observando-se situação idên-
tica na Casa dos Bicos. Este quadro é totalmente distinto do que se verifica no suburbium ocidental,
nomeadamente nos expressivos conjuntos da Praça da Figueira, Banco de Portugal e Zara.
A província da Baetica (32,74%) assume-se como a segunda região mais importante no aprovi-
sionamento de bens alimentares na amostra do Palácio dos Condes de Penafiel, sobretudo o Vale do
Guadalquivir (27,4%). A importante representatividade desta área face ao litoral (5,34%) deve-se espe-
cialmente aos contentores oleários de tipo Dressel 20 que significa 65,22% dos envases béticos e 77,92%
dos procedentes da região interior dessa província. Com excepção das da etapa Nero-Vespasiano, estão
presentes todas as variantes dessa forma com especial incidência das fases Antonina e Flávia-Trajana e
uma não despicienda representação das Júlio-Cláudias, enquanto as do séc. III surgem em quantidades
algo mais modestas. Se se exceptuar o caso da inferioridade das variantes Júlio-Cláudias relativamente
às Antoninas e Flávias-Trajanas, que se deverá relacionar com a cronologia dos contextos documenta-
dos no local, verifica-se que as proporções das diferentes variantes de Dressel 20 deste sítio são gene-
ricamente consonantes com o padrão geral da cidade. Sobretudo durante o séc. I d.C., a importação
destes contentores oleários era acompanhada pela das Haltern 70 (12,99% dos artigos do Guadalqui-
vir) provenientes da mesma região, bem como pelas ânforas de tipo Urceus, Dressel 7-11, Dressel 2-4,

27285
23202
27298

30654
26944 40878

29778
9797
27299

36375
28330

31863
30303

49362

29075
36305
257

36405
28262
2cm
256
10cm

Estampa 75 – Palácio dos Condes de Penafiel. Lusitânia: Lusitana 3 e marca sobre Lusitana 3. Desenho nº 36405:
in Fabião et al., 2016.

164
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

44094
9825

32139

44093
45205

54996

95893

56873

27962
26758

25943 10cm

Estampa 76 – Palácio dos Condes de Penafiel. Bética, costa ocidental: Dressel 7? (9825), Dressel 7-11 (44094,
45205, 44093), Beltrán IIB (56873, 95893), Puerto Real 1 (26758), Gauloise 4 (25943, 27962, 54996). Bética, Vale
do Guadalquivir: Dressel 20 Júlio-Cláudia (32139). Desenho nº 32139: in Fabião et al., 2016.

28541 30260

36616

49714
35109 44932
28329

36306
863 10cm
34946

Estampa 77 – Palácio dos Condes de Penafiel. Gália, Narbonense: Gauloise 4 (28541, 30260, 49714, 36616).
Península Itálica, costa tirrénica: Dressel 2-4 (28329, 34946). Península Itálica, Ilha de Lipari: Richborough 527
(44932, 35109, 863, 36306).

165
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Dressel 28 e Beltrán IIB, ainda que no caso das duas últimas a sua chegada a Olisipo possa ter ocorrido já
durante o séc. II d.C.. Refira-se ainda a presença das Oberaden 83/Ovóide 7, claramente minoritárias. Já
as produções do litoral ocidental da Baetica (estão ausentes os fabricos imputáveis à área oriental, de
Málaga e Granada) não surgem especialmente bem representadas, não ultrapassando 16,3% dos enva-
ses dessa província. O panorama é dominado pelas Dressel 7-11, que significam 40% dos envases daquela
região, seguida pelas “Gauloise 4” (20%) e Beltrán IIB (13,33%). Refira-se ainda a importante identifica-
ção de uma ânfora do tipo Puerto Real 1 neste conjunto, único exemplar desta forma conhecido em
Olisipo, e de alguns exemplares tardios de Beltrán IIB, possivelmente integráveis já nas Puerto Real 1.
Um outro aspecto peculiar e surpreendente deste conjunto é a relevância que os produtos ori-
ginários do Mediterrâneo Oriental adquirem no contexto das importações extraprovinciais (7,02%), su-
plantando todas as outras regiões produtoras presentes na amostra, com excepção da Baetica, sendo
a sua distribuição no Ocidente geralmente associada ao comércio de artigos de luxo. A sua representa-
tividade nesta amostra é consideravelmente superior ao padrão verificado nos sítios mais significativos
de Olisipo. As excepções são integralmente constituídas por sítios localizados nas proximidades, a sa-
ber: na Rua das Pedras Negras, onde se verifica uma proporção similar; nas Escadinhas de São Crispim,
com uma representatividade muito superior dos artigos daquela região; e no Largo de Santo António,
com valores aproximados mas representado por apenas um indivíduo. Contudo, para além da escassa
fiabilidade estatística das amostras destes dois últimos sítios, haverá que ter em conta que na Rua das
Pedras Negras os produtos da Gallia e do Norte de África superam os do Mediterrâneo Oriental.

35631 46706
34317

52821 25450
23333

44946
26003

37989
43610
26809

42971

40314

48862 29780 44095


49020 10cm

Estampa 78 – Palácio dos Condes de Penafiel. Norte de África: Pupput T700.4/5 (35631), Dressel 2-4 (34317),
Africana IC? (46706), Africana I? (52821, 25450), Africana IIA (23333). Mediterrâneo oriental: Tardo-Ródia/Camu-
lodunum 184 (26809, 43610, 49020, 29780, 40314), Pompeia 13/Agora G198 (44946,37989), Agora M54 (26003,
42971), Dressel 2-4/5 (44095, 48862).

166
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Lusitana Antiga 26 9,25% 27,08% 27,08% 23,64%
Lusitânia, Tejo/Sado Dressel 14 70 24,91% 72,92% 72,92% 63,64%
Total 96 34,16% 100% 100% 87,27%
Dressel 7-11 2 0,71% 16,67% 14,29% 1,82%
Preparados piscícolas

Dressel 7 1 0,36% 8,33% 7,14% 0,91%


Dressel 9-10 3 1,07% 25% 21,43% 2,73%
Bética, costa ocidental Beltrán IIB 2 0,71% 16,67% 14,29% 1,82%
Beltrán IIB/Puerto Real 1 3 1,07% 25% 21,43% 2,73%
Puerto Real 1 1 0,36% 8,33% 7,14% 0,91%
Total 12 4,27% 100% 10,91%
Dressel 7-11 1 0,36% 50% 7,14% 0,91%
Bética, Vale do Guadalquivir Beltrán IIB? 1 0,36% 50% 7,14% 0,91%
Total 2 0,71% 100% 100% 1,82%
Total 110 39,15% 100%
Tipo Urceus? 1 0,36% 1,43% 1,43% 0,98%
Lusitânia, Tejo/Sado Lusitana 3 69 24,56% 98,57% 98,57% 67,65%
Total 70 24,91% 100% 100% 68,63%
“Gauloise 4” 3 1,07% 100% 18,8% 2,94%
Bética, costa ocidental
Total 3 1,07% 100% 2,94%
Haltern 70 6 2,14% 46,15% 37,5% 5,88%
Haltern 70 (Augusto-Tibério) 1 0,36% 7,69% 6,25% 0,98%
Haltern 70 (Cláudio-Nero) 2 0,71% 15,38% 12,5% 1,96%
Haltern 70 (Flávia) 1 0,36% 7,69% 6,25% 0,98%
Bética, Vale do Guadalquivir
Tipo Urceus 1 0,36% 7,69% 6,25% 0,98%
Vinho e derivados

Dressel 28 1 0,36% 7,69% 6,25% 0,98%


Dressel 2-4 1 0,36% 7,69% 6,25% 0,98%
Total 13 4,63% 100% 100% 12,75%
Gauloise 4 4 1,42% 100% 100% 3,92%
Gália Narbonense
Total 4 1,42% 100% 100% 3,92%
Península Itálica, Dressel 2-4 3 1,07% 100% 100% 2,94%
costa tirrénica Total 3 1,07% 100% 100% 2,94%
Dressel 2-4/Schoene-Mau XXXV 1 0,36% 100% 100% 0,98%
Norte de África
Total 1 0,36% 100% 100% 0,98%
Tardo-Ródia/Camulodunum 184 4 1,42% 50% 50% 3,92%
Dressel 2-4/5 2 0,71% 25% 25% 1,96%
Mediterrâneo Oriental Pompeia 13/Agora G198 1 0,36% 12,5% 12,5% 0,98%
Agora M54 1 0,36% 12,5% 12,5% 0,98%
Total 8 2,85% 100% 100% 7,84%
Total 102 36,3% 100%
Oberaden 83/Ovóide 7 2 0,71% 3,23% 3,23% 3,13%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 13 4,63% 20,97% 20,97% 20,31%
Dressel 20 (Flávia-Trajana) 16 5,69% 25,81% 25,81% 25%
Dressel 20 (Antonina) 18 6,41% 29,03% 29,03% 28,13%
Bética, Vale do Guadalquivir Dressel 20 4 1,42% 6,45% 6,45% 6,25%
Azeite

Dressel 20 parva (Júlio-Cláudia) 1 0,36% 1,61% 1,61% 1,56%


Dressel 20 parva (Flávia-Trajana) 1 0,36% 1,61% 1,61% 1,56%
Dressel 20 (séc. III) 7 2,49% 11,29% 11,29% 10,94%
Total 62 22,06% 100% 100% 96,88%
Africana I 2 0,71% 100% 100% 3,13%
Norte de África
Total 2 0,71% 100% 100% 3,13%
Total 64 22,78% 100%
Richborough 527 2 0,71% 100% 100% 100%
Ilha de Lipari
Alúmen Total 2 0,71% 100% 100% 100%
Total 2 0,71% 0%
Haltern 70 1 0,36% 100% 100% 33,33%
Indeterminado

Lusitânia, Tejo/Sado
Total 1 0,36% 100% 100% 33,33%
Pupput T 700.4/T 700.5 1 0,36% 50% 50% 33,33%
Norte de África Africana IIA 1 0,36% 50% 50% 33,33%
Total 2 0,71% 100% 100% 66,67%
Total 3 1,07% 100%
TOTAL 281 100%

Tabela 54 – Quantificação por conteúdo das ânforas do Principado do Palácio dos Condes de Penafiel.

167
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Voltando a estes últimos, trata-se integralmente de contentores vinários, como é apanágio das
importações daquela área do Mediterrâneo no Ocidente. O conjunto mais importante é composto pe-
las produções da lha de Rodes, de onde provêm as designadas ânforas Tardo-Ródias ou Camulodunum
184, representando 50% desse comércio, seguido pelas Dressel 2-4/5 produzidas na Ilha de Cos e em ou-
tros locais daquela região (25%). Estão ainda presentes dois tipos originários da Cilícia, localizada no Sul
da Ásia Menor, a Agora M54 e a Pompeia 13/Agora G198, constituindo-se o primeiro como uma forma
escassamente mas de há muito documentada no Ocidente hispânico (Fabião, 1994a) e o segundo como
uma total novidade nesta zona do Império, apenas conhecida na capital provincial Augusta Emerita
(Almeida e Sánchez Hidalgo, 2013)
Os produtos originários do Norte de África (4,33% dos artigos extraprovinciais) surgem também
relativamente bem representados, ainda que com valores aproximados aos que adquirem nas percen-
tagens globais de Olisipo, superiorizando-se às produções da Gália. Trata-se sobretudo de ânforas co-
mercializadas durante o séc. II d.C., particularmente na sua segunda metade, embora possam ter che-
gado no decorrer do séc. I d.C., caso da Dressel 2-4, ou com bastante probabilidade durante o séc. III,
especialmente nos casos da Africana I e Africana IIA. Merece particular destaque a presença dos tipos
Pupput T 700.4/T 700.5 e Dressel 2-4, ânforas cuja comercialização no antigo território da Lusitania era
até aqui desconhecida.
Já no que se refere ao vinho da Gália, como já comentado, a sua presença é surpreendentemente
reduzida (3,51% dos envases extraprovinciais) se comparada aos dados globais de Olisipo durante o Prin-
cipado, onde a sua representatividade é de 5,32% e superior às importações orientais e norte-africanas.
Esta sub-representação das Gauloise 4, único tipo daquela região presente nesta amostra, é difícil de
compreender sobretudo à luz de uma das principais especificidades deste conjunto, isto é, o relevo que
as ânforas vinárias parecem adquirir em detrimento dos contentores piscícolas.
Dos produtos itálicos, representados pelas regiões produtoras da costa tirrénica (2,63% das impor-
tações extraprovinciais) e da Ilha de Lipari (1,75%), para além de se constituírem como os menos significa-
tivos no contexto da amostra, são representados apenas por uma forma de cada região, respectivamen-
te a Dressel 2-4 e a Richborough 527. Se os valores deste último tipo surgem aqui um pouco inflacionados
relativamente ao padrão de Olisipo, em relação à Dressel 2-4 observa-se o oposto, podendo-se também
aqui referir o que atrás se escreveu acerca da sub-representação da Gauloise 4.
Na óptica dos produtos comercializados, os preparados piscícolas (39,15%) assumem-se como o ar-
tigo mais consumido embora com uma percentagem muito próxima à do vinho e seus derivados (36,3%).
Cenário bem diferente pode ser observado na leitura global da cidade, onde a diferença percentual entre
um e outro artigo é de cerca de 12%, e nos sítios mais representativos do subúrbio ocidental de Olisipo.
À semelhança do vinho, também o azeite surge aqui com valores mais elevados relativamente aos dados
gerais de Olisipo. Os contentores que transportaram este último produto provêm na sua grande maioria
do Vale do Guadalquivir (96,88%) e em menor medida do Norte de África. Os primeiros são representa-
dos pelas já comentadas Oberaden 83/Ovóide 7 e Dressel 20, nas suas múltiplas variantes, enquanto os
norte-africanos apenas pela Africana I, subsistindo a dúvida relativamente ao conteúdo envasado na Afri-
cana IIA. Também no caso das ânforas piscícolas se observa uma reduzida diversidade de regiões de ori-
gem, unicamente representadas pelas produções lusitanas, compreensivelmente maioritárias (87,27%),
e pelas da província da Baetica, tanto do litoral (10,91%) como do Vale do Guadalquivir (1,82%). Quanto às
primeiras, a Dressel 14 domina totalmente, assumindo 72,92% dos contentores piscícolas dessa região e
63,64% da totalidade dos envases destinados a esse conteúdo, enquanto as Lusitanas Antigas represen-
tam, respectivamente, 27,08% e 23,64%. Nas importações do litoral bético destacam-se as Dressel 7-11
que, embora signifiquem 50% dos envases piscícolas dessa região, representam apenas 5,45% do con-
sumo global desse produto. Menos expressivas são as presenças da Beltrán IIB (1,82% dos contentores
piscícolas) e da Puerto Real 1 (0,91%), apesar de 2,73% dos envases piscícolas corresponderem a variantes
tardias da Beltrán IIB ou às primeiras produções de Puerto Real 1. A inexpressiva presença de contentores
do Vale do Guadalquivir destinados a envasar produtos à base de peixe é perfeitamente expectável, uma
vez que, para além de se tratar de uma região situada no interior do território, trata-se principalmente
de uma área de reconhecida e considerável produção oleícola e vitivinícola, pelo que tanto a Dressel 7-11
como Beltrán IIB aí produzidas se constituem como presenças minoritárias tanto neste conjunto (com
apenas um indivíduo de cada) como em qualquer outro centro de consumo da época.

168
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

Já na importação de vinho, observa-se uma ampla diversidade de origens, procedendo de todas


as regiões produtoras representadas neste conjunto anfórico, com excepção da Ilha de Lipari. Os vi-
nhos locais e regionais dominam totalmente o comércio desse produto (68,63%), sendo no contexto
das produções lusitanas quase exclusivamente representado pela Lusitana 3 (98,57%) e de forma muita
tímida pelos envases que parecem imitar as ânforas béticas de tipo Urceus (1,43%). No que se refere às
importações extraprovinciais, o cenário é dominado pelas ânforas da Bética, especialmente do Guadal-
quivir (12,75%) mas também da zona costeira (2,94%). Da primeira área produtora destacam-se natural-
mente as Haltern 70, significando 76,92% dos contentores do Guadalquivir, sendo vestigial a ocorrência
das Dressel 28, Dressel 2-4 e das ânforas de tipo Urceus (7,69% cada). O vinho produzido no litoral está
unicamente representado pela imitação das “Gauloise 4”. A proporção dos envases vinários oriundos
do Mediterrâneo Oriental, a que atrás se aludiu, é surpreendentemente elevada relativamente ao pa-
drão de Olisipo, significando 7,84% do vinho extraprovincial e ultrapassando as produções da Gália e da
Península Itálica, sendo de igual modo relativamente diversificada. Em sentido contrário, o vinho destas
duas regiões, respectivamente 3,92% e 2,94% das importações extraprovinciais, apresentam percenta-
gens inferiores aos valores globais da cidade. O quadro completa-se com a ocorrência vestigial de vinho
proveniente do Norte de África (0,98%), transportado em imitações locais da Dressel 2-4.
Em traços gerais, a amostra do Palácio dos Condes de Penafiel apresenta uma curva de consumo
que, em alguns aspectos, difere do que se verifica na amostra global de Olisipo, de uma forma que pode
ser mais ou menos significativa. Sobressai principalmente uma maior relevância da importação e consu-
mo de vinho, com valores quase equivalentes aos dos produtos piscícolas, bem patente na significativa
representatividade dos produtos do Mediterrâneo Oriental, exclusivamente constituídos por vinho, na
elevada proporção de Lusitana 3 em geral e em relação às Dressel 14 em particular, ou da “Gauloise 4” bé-
tica relativamente às restantes formas do litoral dessa província, enfim, na ampla diversidade de regiões
produtoras representadas. Outro aspecto destacável é a maior representatividade das ânforas oleícolas
face ao padrão da cidade. Paralelamente, o consumo de produtos à base de peixe é significativamente
mais reduzido.
Não será fácil perceber em toda a sua dimensão o significado das características peculiares desta
amostra que, estendendo-se entre os séculos I e III d.C., parece centrar-se cronologicamente sobretu-
do no séc. II d.C., especialmente quando são desconhecidos outros dados importantes daquele sítio
como a estratigrafia e o estudo dos conjuntos materiais, com excepção da terra sigillata itálica, gálica
e hispânica (Silva, 2012a). O perfil do conjunto estará por certo condicionado pelo tipo de ocupação
que aquela zona da cidade conheceu durante aquele período de tempo e pela funcionalidade das edi-
ficações existentes nas proximidades. A este respeito apenas se conhece, por um lado, as designadas
Termas dos Cássios a Sul e sudeste, por outro, o muro alto-imperial de contenção de terras identificado
neste mesmo sítio (Silva, 2012a) e intuído na intervenção da Rua de São Mamede (Mota et al., 2017),
desconhecendo-se que tipo de edificações se encontrariam associadas a este último, partindo-se do
pressuposto que as mesmas existiriam.
Apesar do que atrás se referiu e embora registando ligeiras diferenças, o conjunto anfórico do
Palácio dos Condes de Penafiel enquadra-se no padrão documentado para a área do pomerium, reve-
lando um perfil de consumo distinto do suburbium ocidental. Este tema desenvolver-se-á adiante mais
detalhadamente.

5.17. Calçada do Correio Velho

A intervenção arqueológica realizada na Calçada do Correio Velho decorreu em 1993 sob a res-
ponsabilidade científica de A. M. Dias Diogo, surgindo na sequência das obras de remodelação do Palá-
cio dos Condes de Penafiel que viriam a provocar a abertura de valas para colocação de infra-estruturas
de saneamento. De pendente acentuada e ladeando o referido Palácio dos Condes de Penafiel, esta
artéria localiza-se entre a Rua de São Mamede e o Largo de Santo António, a meia encosta da vertente

169
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Sul da colina do castelo e com orientação Norte-Sul, tendo sido traçada aquando do plano de recons-
trução da cidade após o terramoto de 1755 (Silva, 2012a, p. 245).
As evidências arqueológicas documentadas reportavam-se principalmente a vestígios de Época
Contemporânea, na metade Sul da rua, e Moderna e Medieval na metade Norte. Foi apenas nesta última
zona que se registaram contextos preservados de Época Romana, numa estratigrafia que compreendia
depósitos de formação atribuível a uma fase tardia do Império e aos séculos I e II d.C.. Estes contex-
tos alto-imperiais foram associados aos que se documentaram no Palácio dos Condes de Penafiel, aí
encostados a um muro de sustentação de terras de Época Romana e interpretados como resultado
de acumulações detríticas urbanas e do posterior acondicionamento urbanístico (Silva, 2012a, p. 245).
Refira-se ainda que também na intervenção levada a efeito na Rua de São Mamede em 2010, em local
bem próximo, se detectaram contextos alto-imperiais de idêntica cronologia e igualmente associáveis
a uma estrutura de sustentação de terras que, contudo, não foi aí documentada (v. supra).
O conjunto anfórico procedente da Calçada do Correio Velho é constituído por um total de 79
fragmentos de ânfora (43 NMI), dos quais 4,65% correspondem a contentores atribuíveis à República,
83,72% ao Alto-Império e 6,98% à Antiguidade Tardia, enquanto 4,65% dessas ânforas são de tipologia
e cronologia indeterminadas. Excluindo os materiais da fase tardia, a amostra compõe-se por três bor-
dos, sete fundos, 60 asas e um bojo, num total de 71 fragmentos que equivale a 40 indivíduos.
Apesar de ser uma amostra reduzida e de escassa fiabilidade estatística (Molina Vidal, 1997),
estão presentes 12 tipos distintos e, com excepção da Gália e da Tarraconense, representadas as princi-
pais áreas produtoras da bacia mediterrânea: a Lusitania, a Baetica, a Península Itálica (costas tirrénica
e adriática), o Norte de África e o Mediterrâneo Oriental, ainda que nesta última região não tenha sido
possível apurar quais os tipos a que pertencem os fragmentos com esta origem, neste caso, um fundo
e uma asa. No que se refere à extensão diacrónica da amostra, ainda que esta se estenda desde a Re-
pública até à Antiguidade Tardia, torna-se evidente um predomínio das ânforas produzidas durante os
séculos I e II d.C., como as Dressel 14 e Dressel 20 que dominam o conjunto, mas também as Lusitana 3
e as Haltern 70.

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 1 1,41% 1 2,5% 6,67% 6,25%
Lusitana Antiga/ Dressel 14 1 1,41% 1 2,5% 6,67% 6,25%
Lusitânia, Tejo/Sado Dressel 14 21 29,58% 11 27,5% 73,33% 68,75%
Lusitana 3 3 4,23% 2 5% 13,33% 12,5%
Total 26 36,62% 15 37,5% 100%
Tipo 2 1 1,41% 1 2,5% 100% 6,25%
Lusitânia, Peniche
Total 1 1,41% 1 2,5% 100% 100%
Beltrán IIB 1 1,41% 1 2,5% 100% 5,88% 4,35%
Bética, costa ocidental
Total 1 1,41% 1 2,5% 100% 4,35%
Haltern 70 5 7,04% 3 7,5% 18,75% 17,65% 13,04%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 1 1,41% 1 2,5% 6,25% 5,88% 4,35%
Bética, Vale do Guadalquivir
Dressel 20 28 39,44% 12 30% 75% 70,59% 52,17%
Total 34 47,89% 16 40% 100% 100% 69,57%
Dressel 1 1 1,41% 1 2,5% 50% 33,33% 4,35%
Península Itálica, costa tirrénica Dressel 2-4 1 1,41% 1 2,5% 50% 33,33% 4,35%
Total 2 2,82% 2 5% 100% 8,7%
Brindisi 1 1,41% 1 2,5% 100% 33,33% 4,35%
Península Itálica, costa adriática
Total 1 1,41% 1 2,5% 100% 100% 4,35%
Tripolitana I 1 1,41% 1 2,5% 50% 50% 4,35%
Norte de África Africana IIA 1 1,41% 1 2,5% 50% 50% 4,35%
Total 2 2,82% 2 5% 100% 100% 8,7%
Indeterminado 2 2,82% 1 2,5% 100% 100% 4,35%
Mediterrâneo Oriental
Total 2 2,82% 1 2,5% 100% 100% 4,35%
Indeterminado 2 2,82% 1 2,5% 100% 100%
Indeterminada
Total 2 2,82% 1 2,5% 100% 100%
TOTAL 71 100% 40 100% 100%

Tabela 55 – Quantificação da totalidade das ânforas da Calçada do Correio Velho.

170
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

Os envases republicanos, meramente vestigiais, resumem-se a uma asa de Dressel 1 e a um fundo


de uma ânfora de Brindisi, certamente com carácter residual no momento de recolha, testemunhando
a importação do vinho e do azeite itálico durante os séculos II e I a.C..
É ao Alto-Império que pertence a maioria dos contentores anfóricos deste sítio, com 36 indiví-
duos, constituindo-se como um conjunto deveras atípico tanto quanto à composição da amostra como
no que se refere ao quadro de consumo de Olisipo durante o Alto-Império. Em relação ao primeiro fac-
tor, em termos globais sobressai desde logo o reduzido número de bordos (apenas três) relativamente
ao número de asas e total de fragmentos, claramente sub-representados sem explicação aparente.
Quanto ao quadro de consumo, e no que diz respeito ao Principado, destaca-se a preponderância dos
produtos béticos (47,22%) relativamente aos lusitanos (44,44%), sobretudo os que provêm do Vale do
Guadalquivir (44,44%). Estes valores, embora encontrando situação análoga na amostra da Rua das Pe-
dras Negras (intervenção de 2013) (Gomes et al., 2017), são totalmente divergentes do que se observa
na generalidade dos conjuntos conhecidos em Lisboa, principalmente nos que possuem alguma fiabi-
lidade estatística, sendo particularmente evidente no conjunto global da cidade de Olisipo. Tendo em
conta este cenário, haverá que relativizar estes dados e não lhes conferir demasiada importância já que,
para além de se tratar de casos isolados, se trata de conjuntos de escassa fiabilidade estatística. Sur-
preende também a sub-representação dos produtos com origem na área costeira da Bética, que apenas
significam 2,78%, valores iguais aos das produções de Peniche e da costa Tirrénica da Península Itálica,
usualmente inferiores àqueles, e inferiores aos dos contentores que provêm do Norte de África (5,56%).

2889 73

10cm
441 2013

Estampa 79 – Calçada do Correio Velho. Lusitânia: Lusitana Antiga (2889), Peniche 2 (441). Bética, Vale do Guadal-
quivir: Dressel 20 (2013).Península Itálica, costa adriática: Ânfora de Brindisi (73). Nº 2013: in Fabião et al., 2016.

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 1 1,54% 1 2,78% 6,67% 6,25%
Lusitana Antiga/ Dressel 14 1 1,54% 1 2,78% 6,67% 6,25%
Lusitânia, Tejo/Sado Dressel 14 21 32,31% 11 30,56% 73,33% 68,75%
Lusitana 3 3 4,62% 2 5,56% 13,33% 12,5%
Total 26 40% 15 41,67% 100%
Tipo 2 1 1,54% 1 2,78% 100% 6,25%
Lusitânia, Peniche
Total 1 1,54% 1 2,78% 100% 100%
Beltrán IIB 1 1,54% 1 2,78% 100% 5,88% 5%
Bética, costa ocidental
Total 1 1,54% 1 2,78% 100% 5%
Haltern 70 5 7,69% 3 8,33% 18,75% 17,65% 15%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 1 1,54% 1 2,78% 6,25% 5,88% 5%
Bética, Vale do Guadalquivir
Dressel 20 28 43,08% 12 33,33% 75% 70,59% 60%
Total 34 52,31% 16 44,44% 100% 100% 80%
Dressel 2-4 1 1,54% 1 2,78% 100% 100% 5%
Península Itálica, costa tirrénica
Total 1 1,54% 1 2,78% 100% 5%
Tripolitana I 1 1,54% 1 2,78% 50% 50% 5%
Norte de África Africana IIA 1 1,54% 1 2,78% 50% 50% 5%
Total 2 3,08% 2 5,56% 100% 100% 10%
TOTAL 65 100% 36 100% 100%

Tabela 56 – Quantificação das ânforas do Principado da Calçada do Correio Velho.

171
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Lusitana Antiga 1 2,78% 7,69% 7,14% 6,67%
1 2,78% 7,69% 7,14% 6,67%
Preparados piscícolas

Lusitana Antiga/Dressel 14
Lusitânia, Tejo/Sado
Dressel 14 11 30,56% 84,62% 78,57% 73,33%
Total 13 36,11% 100% 86,67%
Tipo 2 1 2,78% 100% 7,14% 6,67%
Lusitânia, Peniche
Total 1 2,78% 100% 100% 6,67%
Beltrán IIB 1 2,78% 100% 100% 6,67%
Bética, costa ocidental
Total 1 2,78% 100% 100% 6,67%
Total 15 41,67% 100%
Lusitana 3 2 5,56% 100% 100% 33,33%
Lusitânia, Tejo/Sado
Vinho e derivados

Total 2 5,56% 100% 100% 33,33%


Haltern 70 3 8,33% 100% 100% 50%
Bética, Vale do Guadalquivir
Total 3 8,33% 100% 100% 50%
Dressel 2-4 1 2,78% 100% 100% 16,67%
Península Itálica, costa tirrénica
Total 1 2,78% 100% 100% 16,67%
Total 6 16,67% 100%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 1 2,78% 7,69% 7,69% 7,14%
Bética, Vale do Guadalquivir Dressel 20 12 33,33% 92,31% 92,31% 85,71%
Azeite

Total 13 36,11% 100% 100% 92,86%


Tripolitana I 1 2,78% 100% 100% 7,14%
Norte de África
Total 1 2,78% 100% 100% 7,14%
Total 14 38,89% 100%
Africana IIA 1 2,78% 100% 100% 100%
Indet.

Norte de África
Total 1 2,78% 100% 100% 100%
Total 1 2,78% 100%
TOTAL 36 100%

Tabela 57 – Quantificação por conteúdo das ânforas do Principado da Calçada do Correio Velho.

No que se refere aos produtos alimentares, dominam as ânforas piscícolas (41,67%), sobretudo
com origem local e regional (93,33% desses envases) e principalmente transportadas em ânforas do tipo
Dressel 14 (73,33%). Refira-se a presença minoritária de contentores produzidos no Morraçal da Ajuda,
Peniche (Tipo 2), que ocorrem em quantidades iguais às das ânforas piscícolas da costa da Bética, aqui
representadas pela Beltrán IIB. O azeite constitui-se como o segundo produto mais importante, signi-
ficando 38,89% das ânforas alto-imperiais, sendo especialmente importado do Vale do Guadalquivir em
ânforas do tipo Dressel 20 (92,86% dos envases oleícolas), mas também do Norte de África nas Tripoli-
tana I (7,14%). O consumo de vinho surge particularmente sub-representado na amostra da Calçada do
Correio Velho, representando apenas 16,67% na totalidade do conjunto alto-imperial. Domina o vinho
proveniente do Vale do Guadalquivir e transportado em ânforas do tipo Haltern 70, que significam 50%
dos contentores vinários, seguido do vinho lusitano envasado nas Lusitana 3 (33,33%), e por fim o vinho
procedente da costa tirrénica de Itália transportado nas Dressel 2-4 e representando apenas 16,67%.
Embora a escassa fiabilidade do conjunto aliada à atipicidade da sua composição aconselhe al-
guma prudência na leitura dos dados, há alguns aspectos interessantes, relativos às ânforas do Princi-
pado, que merecem ser realçados. Desde logo a escassez de ânforas vinárias, cuja representatividade
é anómala e consideravelmente inferior à do azeite, encontrando panorama análogo nas amostras da
Rua de São Mamede, Zara, Rua Augusta e Rua de São João da Praça (2009). Os contextos documenta-
dos nos dois primeiros sítios apresentam sensivelmente o mesmo âmbito cronológico, genericamente
entre meados do séc. I d.C. e o primeiro terço/meados do seguinte, enquanto no último local se pa-
recem balizar na segunda metade do séc. I d.C., diacronia que poderá também ser assumida para a
generalidade dos materiais da Calçada do Correio Velho. Como adiante se discutirá, mais do que uma
anomalia estatística relacionada com a falta de fiabilidade do conjunto, esta particularidade parece
constituir uma característica do perfil de consumo de Olisipo durante o espectro temporal mencionado,
cujas balizas cronológicas se poderão eventualmente circunscrever ao período entre a dinastia Flávia e
o início do séc. II d.C..

172
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

5.18. Largo de Santo António da Sé (anexo I.18)

A intervenção arqueológica do Largo de Santo António da Sé decorreu entre o final de 1993 e


início do ano seguinte, enquadrando-se no Plano de Remodelação do referido largo promovido pela
Autarquia de Lisboa. Os trabalhos foram desenvolvidos no âmbito de um protocolo entre a Câmara Mu-
nicipal de Lisboa e o então IPPAR e coordenados cientificamente por Lídia Fernandes (Vale e Fernandes,
1994). O sítio localiza-se entre o Largo da Madalena e a Sé Catedral, numa plataforma orientada a Este-
-Oeste, na parte baixa da vertente Sul do morro do Castelo.
As realidades detectadas durante os trabalhos de escavação incluem vestígios de Época Romana,
Medieval e Moderna. Relativamente a estes dois últimos períodos, foi documentado, respectivamente,
o embasamento da cerca moura e uma habitação do séc. XVII em assinalável estado de conservação
(Vale e Fernandes, 1994). Quanto aos níveis romanos, balizados segundo as autoras entre os séculos I
d.C. e IV, registaram-se estruturas interpretadas como pertencentes a um “edifício público com vários
períodos de ocupação” (Vale e Fernandes, 1994, p. 109). Sob o pavimento desta edificação, construído
em opus signinum, foi ainda detectada uma estrutura datada da fase republicana.
A amostra global, de escassa fiabilidade estatística, é constituída por 58 fragmentos de ânfora
(21 bordos, nove fundos e 28 asas) e um Número Mínimo de 37 Indivíduos, dos quais 14,71% pertencem à
Antiguidade Tardia. Subtraindo estes últimos, o conjunto estudado compõe-se por um total de 47 peças
diagnosticáveis (17 bordos, seis fundos e 24 asas) equivalentes a 32 indivíduos, sendo que, desses, 6,25%
são do período Republicano, 81,25% alto-imperiais e os restantes 12,5% de tipo indeterminado. Foram
reconhecidos 11 tipos distintos provenientes de seis áreas produtoras diferentes.

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 4 8,51% 4 12,5% 40% 40%
Dressel 14 1 2,13% 1 3,13% 10% 10%
Lusitânia, Tejo/Sado Lusitana 3 8 17,02% 4 12,5% 40% 40%
Indeterminado 1 2,13% 1 3,13% 10% 10%
Total 14 29,79% 10 31,25% 100% 100%
Indeterminado 1 2,13% 1 3,13% 100% 6,67% 4,76%
Bética, costa ocidental
Total 1 2,13% 1 3,13% 100% 4,76%
Ovóide indeterminada 1 2,13% 1 3,13% 7,14% 6,67% 4,76%
Haltern 70 9 19,15% 3 9,38% 21,43% 20% 14,29%
Haltern 71 2 4,26% 2 6,25% 14,29% 13,33% 9,52%
Tipo Urceus 1 2,13% 1 3,13% 7,14% 6,67% 4,76%
Bética, Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 4 8,51% 2 6,25% 14,29% 13,33% 9,52%
Vale do Guadalquivir Dressel 20 (Nero-Vespasiano) 1 2,13% 1 3,13% 7,14% 6,67% 4,76%
Dressel 20 (Flávia-Trajana) 2 4,26% 2 6,25% 14,29% 13,33% 9,52%
Dressel 20 (Antonina) 1 2,13% 1 3,13% 7,14% 6,67% 4,76%
Dressel 20 2 4,26% 1 3,13% 7,14% 6,67% 4,76%
Total 23 48,94% 14 43,75% 100% 100% 66,67%
Hispânia Ulterior, T-7.4.3.3. 3 6,38% 2 6,25% 100% 100% 9,52%
costa meridional Total 3 6,38% 2 6,25% 100% 100% 9,52%
Gauloise 4 1 2,13% 1 3,13% 100% 100% 4,76%
Gália Narbonense
Total 1 2,13% 1 3,13% 100% 100% 4,76%
Dressel 2-4/Schoene-Mau XXXV 1 2,13% 1 3,13% 50% 50% 4,76%
Norte de África Indeterminado 1 2,13% 1 3,13% 50% 50% 4,76%
Total 2 4,26% 2 6,25% 100% 100% 9,52%
Dressel 24 1 2,13% 1 3,13% 100% 100% 4,76%
Mediterrâneo Oriental
Total 1 2,13% 1 3,13% 100% 100% 4,76%
Indeterminado 2 4,26% 1 3,13% 100% 100%
Indeterminada
Total 2 4,26% 1 3,13% 100% 100%
TOTAL 47 100% 32 100% 100%

Tabela 58 – Quantificação da totalidade das ânforas do Largo de Santo António da Sé.

173
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

1335 528

542 1637
1024

1143
1406
1216

1438

527
1659

1437
550
2468

1426

10cm 956 947 1427

Estampa 80 – Largo de Santo António. Ulterior, costa meridional: T-7.4.3.3. (1335, 528). Bética, Vale do Gua-
dalquivir: Haltern 70 (542, 1406, 1437), Haltern 71 (1637, 1143), Ovóide indeterminada (1659), Dressel 20 Júlio-
Cláudia (1438), Dressel 20 Flávia-Trajana (550). Lusitânia: Lusitana Antiga (1024, 1216, 527, 1426), Lusitana 3
(2468). Gália, Narbonense: Gauloise 4 (956). Norte de África: Dressel 2-4? (1427). Mediterrâneo Oriental: Dressel
24 (947).

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 4 10,26% 4 15,38% 44,44% 44,44%
Dressel 14 1 2,56% 1 3,85% 11,11% 11,11%
Lusitânia, Tejo/Sado
Lusitana 3 8 20,51% 4 15,38% 44,44% 44,44%
Total 13 33,33% 9 35% 100% 100%
Ovóide indeterminada 1 2,56% 1 3,85% 7,14% 7,14% 5,88%
Haltern 70 9 23,08% 3 11,54% 21,43% 21,43% 17,65%
Haltern 71 2 5,13% 2 7,69% 14,29% 14,29% 11,8%
Tipo Urceus 1 2,56% 1 3,85% 7,14% 7,14% 5,88%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 4 10,26% 2 7,69% 14,29% 14,29% 11,8%
Bética, Vale do Guadalquivir
Dressel 20 (Nero-Vespasiano) 1 2,56% 1 3,85% 7,14% 7,14% 5,88%
Dressel 20 (Flávia-Trajana) 2 5,13% 2 7,69% 14,29% 14,29% 11,8%
Dressel 20 (Antonina) 1 2,56% 1 3,85% 7,14% 7,14% 5,88%
Dressel 20 2 5,13% 1 3,85% 7,14% 7,14% 5,88%
Total 23 58,97% 14 54% 100% 100% 82,35%
Gauloise 4 1 2,56% 1 3,85% 100% 100% 5,88%
Gália Narbonense
Total 1 2,56% 1 3,85% 100% 100% 5,88%
Dressel 2-4/Schoene-Mau XXXV 1 2,56% 1 3,85% 100% 100% 5,88%
Norte de África
Total 1 2,56% 1 3,85% 100% 100% 5,88%
Dressel 24 1 2,56% 1 3,85% 100% 100% 5,88%
Mediterrâneo Oriental
Total 1 2,56% 1 3,85% 100% 100% 5,88%
TOTAL 39 100% 26 100% 100%

Tabela 59 – Quantificação das ânforas do Principado do Largo de Santo António da Sé.

174
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

As ânforas republicanas estão representadas unicamente por dois bordos e um fragmento de


asa, claramente residuais, do tipo T-7.4.3.3., produzido na costa meridional da Ulterior.
Considerando apenas os contentores do Principado, o panorama que se pode observar é clara-
mente dominado pelas produções do Vale do Guadalquivir (54%) que se superiorizam aos artigos lusi-
tanos (35%). Daquela área produtora ocorrem de forma mais expressiva as Dressel 20 (50% dos envases
do Guadalquivir), representadas maioritariamente pelas variantes cronologicamente balizadas entre o
segundo quartel do séc. I d.C. e o primeiro terço do séc. II, sendo também significativa a presença das
Haltern 70 (21,43%). Em proporções mais modestas surgem ainda as Haltern 71 (14,29%) e as ânforas de
tipo Urceus (7,14%).
As produções locais/regionais são representadas pelas Lusitanas Antigas (44,44% desses enva-
ses), Lusitana 3 (44,44%) e Dressel 14 (11,11%), estranhando-se a superioridade dos modelos de base
plana face a esta última forma. Mais atípica é a ausência de produções originárias da costa bética, espe-
cialmente as ânforas piscícolas dos tipos Dressel 7-11 ou as Beltrán IIA e B - ainda que o fragmento de asa
de tipo indeterminado possa eventualmente corresponder a um envase deste período.
As restantes regiões produtoras apresentam um peso estatístico similar (3,85%) e são constituí-
das pela Gallia, Norte de África e Mediterrâneo Oriental. Cabe destacar a identificação de um fundo que
aparenta pertencer a uma Dressel 2-4/Schoene-Mau XXXV norte-africana e, particularmente, a ocorrên-
cia de um bordo de Dressel 24 procedente da metade oriental do Mar Interior, totalmente desconheci-
da até ao momento no actual território português e escassamente documentada na Península Ibérica.
Na óptica do consumo alimentar, evidencia-se a importação de vinho e seus derivados (38,46%),
sobretudo da Lusitania, nas Lusitana 3 (40% dos envases vinários), e da Baetica nas Haltern 70 (30%) e
Urceus (10%); e de forma minoritária da província da Gallia e do Norte de África, respectivamente nas
Gauloise 4 (10%) e Dressel 2-4/Schoene-Mau XXXV (10%). O azeite apresenta, surpreendentemente, per-
centagens iguais às do vinho (38,46%), sendo importado principalmente do Vale do Guadalquivir (90%)

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Lusitana Antiga 4 15,38% 80% 80% 80%
Preparados Lusitânia, Tejo/Sado Dressel 14 1 3,85% 20% 20% 20%
piscícolas Total 5 19,23% 100% 100% 100%
Total 5 19,23% 100%
Lusitana 3 4 15,38% 100% 100% 40%
Lusitânia, Tejo/Sado
Total 4 15,38% 100% 100% 40%
Haltern 70 3 11,54% 75% 75% 30%
Bética, Vale do Guadalquivir Tipo Urceus 1 3,85% 25% 25% 10%
Vinho e Total 4 15,38% 100% 100% 40%
derivados Gauloise 4 1 3,85% 100% 100% 10%
Gália Narbonense
Total 1 3,85% 100% 100% 10%
Dressel 2-4/Schoene-Mau XXXV 1 3,85% 100% 100% 10%
Norte de África
Total 1 3,85% 100% 100% 10%
Total 10 38,46% 100%
Haltern 71 2 7,69% 22,22% 22,22% 20%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 2 7,69% 22,22% 22,22% 20%
Dressel 20 (Nero-Vespasiano) 1 3,85% 11,1% 11,11% 10%
Bética, Vale do Guadalquivir Dressel 20 (Flávia-Trajana) 2 7,69% 22,22% 22,22% 20%
Dressel 20 (Antonina) 1 3,85% 11,1% 11,1% 10%
Azeite
Dressel 20 1 3,85% 11,11% 11,11% 10%
Total 9 34,62% 100% 100% 90%
Dressel 24 1 3,85% 100% 100% 10%
Mediterrâneo Oriental
Total 1 3,85% 100% 100% 10%
Total 10 38,46% 100%
Ovóide indeterminada 1 3,85% 100% 100% 100%
Bética, Vale do Guadalquivir
Indet. Total 1 3,85% 100% 100% 100%
Total 1 3,85% 100%
TOTAL 26 100%

Tabela 60 - Quantificação por conteúdo das ânforas do Principado do Largo de Santo António da Sé.

175
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

mas também do Mediterrâneo Oriental (10%), no que se deveria enquadrar no comércio de produtos
de luxo. Paralelamente, surpreende o reduzido peso dos contentores piscícolas (19,23%), unicamente
representados pelos artigos locais e regionais transportados nas Lusitanas Antigas (80% desses envases)
e nas Dressel 14 (20%).
Embora com importantes ausências, acima comentadas, o conjunto parece testemunhar o comér-
cio de alimentos envasados e transportados em contentores anfóricos sobretudo no lapso temporal que
se estende entre o Principado de Augusto e o primeiro terço do séc. II d.C., ainda que ultrapasse clara-
mente essas balizas cronológicas. O seu perfil de consumo parece distanciar-se em grande medida dos
restantes sítios analisados, tanto os do suburbium ocidental como os restantes, destacando-se princi-
palmente a reduzida proporção dos preparados à base de peixe a par de uma invulgar expressividade
do consumo de azeite. Enfim, de difícil apreensão, poderá relacionar-se mais com factores casuísticos
fundamentalmente derivados da escassa fiabilidade estatística do conjunto do que com algum significa-
do particular.

5.19. Rua da Madalena, 54-60 (anexo I.19)

No âmbito do projecto de reabilitação do edifício situado na Rua da Madalena, nºs 54-60, foram
efectuados trabalhos de escavação arqueológica pela empresa Era-Arqueologia, sob a coordenação
científica de Alexandre Sarrazola e Inês Simão. A intervenção, realizada em 2013, incluiu a escavação de
oito sondagens onde se viriam a detectar alguns contextos cronologicamente enquadráveis na Idade
do Ferro e um tanque do período Romano (Sarrazola e Simão, 2013; Sousa et al., 2016a).
Relativamente a este último, que os autores referem ser provavelmente parte integrante do nú-
cleo piscícola documentado na Rua dos Bacalhoeiros (Fernandes et al., 2011), não foram escavados
quaisquer contextos relacionados com a sua fundação. Já no que se refere à desactivação, os materiais
exumados nos depósitos que colmatavam a cetária parecem apontar para uma cronologia generica-
mente enquadrável no séc. III d.C., ainda que só com o estudo detalhado dos materiais aí recolhidos se
possa confirmar esta proposta. As ânforas que aqui se apresentam foram todas recolhidas nestes níveis
de enchimento, com excepção da Oberaden 74.
O conjunto de ânforas identificado nesta intervenção é extremamente reduzido, não apresen-
tando qualquer tipo de fiabilidade estatística. É composto por oito fragmentos diagnosticáveis (quatro
bordos, dois fundos e duas asas), equivalente a um Número Mínimo de 5 Indivíduos, estando atestadas
apenas duas regiões produtoras e três tipos, todos enquadráveis no Principado.
A pequena amostra é dominada pelos contentores de fabrico lusitano (80%), representados em
proporções iguais pelas piscícolas Dressel 14 e vinícolas Lusitana 3 (2 indivíduos de cada). A única região
produtora extraprovincial é representada pela costa setentrional da Tarraconensis, de onde provém um
exemplar de Oberaden 74, tipo até aqui desconhecido no antigo território da Lusitania e escassamente
documentada em Olisipo já no âmbito deste trabalho. Trata-se de uma forma aparentemente pouco co-
mercializada na metade ocidental da Península Ibérica que se destinaria a transportar vinho. Infelizmen-
te, o fragmento de bordo deste tipo não provém de um contexto coevo à sua produção e distribuição.

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Dressel 14 3 37,5% 40% 50% 50%
Lusitânia, Tejo/Sado Lusitana 3 4 50% 40% 50% 50%
Total 7 87,5% 80% 100% 100%
Tarraconense, Oberaden 74 1 12,5% 20% 100% 100% 100%
costa setentrional Total 1 12,5% 20% 100% 100% 100%
TOTAL 8 100% 100% 100%

Tabela 61 – Quantificação das ânforas do Principado da Rua da Madalena, nºs 54-60.

176
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

3
4
1

2
10cm 5 6

Estampa 81 – Rua da Madalena, 54-60. Lusitânia: Dressel 14 (4, 5, 1), Lusitana 3 (8, 3, 6). Tarraconense, costa se-
tentrional: Oberaden 74 (2).

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Dressel 14 2 40% 100% 100% 100%
Preparados Lusitânia, Tejo/Sado
Total 2 40% 100% 100% 100%
piscícolas
TOTAL 2 40% 100%
Lusitana 3 2 40% 100% 100% 66,67%
Lusitânia, Tejo/Sado
Total 2 40% 100% 100% 66,67%
Vinho e derivados Oberaden 74 1 20% 100% 100% 33,33%
Tarraconense, costa setentrional
Total 1 20% 100% 100% 33,33%
TOTAL 3 60% 100%
TOTAL 5 100%

Tabela 62 – Quantificação por conteúdo das ânforas do Principado da Rua da Madalena, nºs 54-60.

Tendo em conta a reduzida dimensão do conjunto, pouco mais se poderá acrescentar para lá de
referir o domínio do consumo de vinho relativamente ao de preparados à base de peixe e a ausência de
contentores oleícolas.

5.20. Rua dos Bacalhoeiros, 32 (anexo I.20)

Enquadrada nas medidas de minimização prévias às obras de reabilitação do edifício, a interven-


ção arqueológica efectuada no nº 32 da Rua dos Bacalhoeiros foi dirigida por Lídia Fernandes e António
Marques do extinto Serviço de Arqueologia do Museu da Cidade (Câmara Municipal de Lisboa) entre o
final de 2005 e o início de 2006 (Filipe, 2008b; Fernandes et al., 2011). O local implanta-se no sopé da co-
lina do castelo, na sua vertente Sul, em local que não se deveria afastar muito da margem do rio durante
o período romano e no espaço exterior à designada Cerca Velha.
Foi escavada praticamente toda a área do piso térreo do edifício, cerca de 160m2, tendo sido
descobertos importantes vestígios arqueológicos enquadráveis num arco diacrónico que se estende da
Época Romana ao período Contemporâneo. Merecem destaque as estruturas e contextos das antigas
fangas da farinha e das carniçarias da cidade de Lisboa e os níveis de incêndio relacionáveis com o ca-
taclismo de 1755, particularmente bem preservados. Refira-se ainda as estruturas do período Islâmico

177
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

que, embora de difícil interpretação, apresentavam apreciável dimensão e robustez (Fernandes et al.,
2006; Fernandes et al., 2011).
Relativamente à Época Romana, os dados documentados revelaram-se de particular importância
na medida em que permitiram reconhecer vestígios de uma unidade de transformação de pescado. No
Sector 1, sobretudo na vala 5, na parte Norte do imóvel, foram colocados a descoberto dois tanques de
salga e quatro embasamentos de secção quadrangular, alinhados de forma perpendicular aos tanques,
que poderão ter correspondido à infra-estrutura de suporte ao pátio da unidade de transformação. Nos
níveis estratigráficos associados à construção destas estruturas foi exumado um considerável conjunto
artefactual, onde, para além das ânforas, se inclui cerâmica comum, terra sigillata itálica e sudgálica, lu-
cernas, paredes finas, cerâmica cinzenta e opérculos, remetendo para os meados do séc. I d.C. a fundação
do aludido núcleo piscícola (Filipe, 2008b; Fernandes et al., 2011). Já nos sectores 2 e 3, na parte Sul, não
se registaram estratos preservados de Época Romana. Todavia, ainda que em mau estado, foram docu-
mentados vestígios de dois tanques de salga, um dos quais apoiado sobre um muro orientado a NE-SO
que entroncava perpendicularmente num outro com cerca de 1m de espessura. Este último, orientado
a NO-SE, foi interpretado como correspondendo ao limite Sul do núcleo fabril (Filipe, 2008b; Fernandes
et al., 2011).
No trabalho já publicado sobre as ânforas da escavação da Rua dos Bacalhoeiros (Filipe, 2008b)
foram privilegiados os contentores procedentes de contextos preservados de Época Romana, tendo-se
então, por esse motivo, publicado apenas os exemplares exumados na vala 5 do Sector 1 juntamente
com um conjunto expressivo de 38 fragmentos de opérculo, maioritariamente de produção lusitana.
Nesse trabalho, para além de não se incluir a totalidade dos envases recolhidos durante a intervenção,
não foi apresentado o respectivo inventário e quantificação dos materiais. Por estes motivos, conside-
rou-se pertinente apresentar aqui a totalidade das ânforas da Rua dos Bacalhoeiros, incluindo as que já
foram alvo de publicação, procedendo-se assim à leitura global do conjunto, deixando-se de parte os
opérculos que, para além de no caso vertente terem já sido publicados, foram igualmente preteridos
nos restantes conjuntos anfóricos analisados no âmbito deste estudo. Igualmente preterido foi um
bordo de Keay LXII produzida no Norte de África, que corresponde ao único contentor tardo-romano
identificado neste sítio. Paralelamente, foi revista a classificação de alguns dos materiais já publicados.
Esta revisão consistiu basicamente na indicação da respectiva variante e fase produtiva das Haltern 70
ou em assinalar a qual dos tipos entre a Dressel 7 e a 11 pertence determinado bordo, bem como na
reclassificação da peça nº 1750, anteriormente classificada como Dressel 7-11 e agora atribuída à forma
Beltrán IIA19; apresentando-se igualmente o desenho dos materiais já publicados.
Deste modo, o conjunto anfórico da Rua dos Bacalhoeiros aqui analisado é constituído por 108
fragmentos diagnosticáveis de ânfora (53 bordos, 12 fundos e 42 asas), equivalentes a um Número
Mínimo de 73 Indivíduos, e por 23 tipos provenientes de nove regiões produtoras distintas, sendo que
17,81% correspondem a produções republicanas, 78,08% ao Principado e 4,11% a contentores de tipo
indeterminado. Trata-se de um conjunto que estatisticamente se poderá considerar de escassa fiabili-
dade (Molina Vidal, 1997).
A amostra republicana é composta por 15 fragmentos (11 bordos e quatro asas) e 13 indivíduos,
provenientes da Península Itálica e da Hispania Ulterior, observando-se a presença de formas comercia-
lizadas no Ocidente Peninsular desde o terceiro quartel do séc. II a.C. até ao Principado de Augusto. A
costa meridional da Ulterior corresponde à região produtora melhor atestada neste pequeno conjunto
(38,46% do NMI), particularmente bem representada pelas T-7.4.3.3. (80% dos envases dessa área) e de
forma mais discreta pelas imitações de Dressel 1 (20%). A costa tirrénica da Península Itálica, de onde
procedem as Dressel 1, corresponde à segunda região melhor representada (30,77%). Do Vale do Guadal-
quivir (23,08% do NMI) estão atestadas as Classe 67/Ovóide 1 (33,33% da região) e as Ovóide 4 (66,67%),
produzidas no decorrer do terço central e final do séc. I a.C.. O quadro das importações republicanas
completa-se com um exemplar de Lamboglia 2 (7,69% do NMI), proveniente da costa adriática itálica.

19. O amplo diâmetro do bordo, o desenho do seu perfil e a grossura da parede do colo parecem constituir detalhes morfológicos mais
característicos da Beltrán IIA.

178
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 23 21,3% 12 16,44% 63,16% 63,16%
“Dressel 28” 4 3,7% 4 5,48% 21,05% 21,05%
Lusitânia, Tejo/Sado Lusitana 3 3 2,78% 2 2,74% 10,53% 10,53%
Indeterminado 2 1,85% 1 1,37% 5,26% 5,26%
Total 32 29,63% 19 26,03% 100% 100%
Dressel 7-11 4 3,7% 2 2,74% 40% 5,71% 3,77%
Dressel 9-10 1 0,93% 1 1,37% 20% 2,86% 1,89%
Bética, costa ocidental Dressel 2-4 1 0,93% 1 1,37% 20% 2,86% 1,89%
Beltrán IIA 1 0,93% 1 1,37% 20% 2,86% 1,89%
Total 7 6,48% 5 6,85% 100% 9,43%
“Gauloise 4”? 1 0,93% 1 1,37% 100% 2,86% 1,89%
Bética, costa oriental
Total 1 0,93% 1 1,37% 100% 1,89%
Oberaden 83/Ovóide 7 4 3,7% 3 4,11% 10,34% 8,57% 5,66%
Haltern 70 21 19,44% 6 8,22% 20,69% 17,14% 11,32%
Haltern 70 (inicial) 4 3,7% 4 5,48% 13,79% 11,43% 7,55%
Haltern 70 (Augusto-Tibério) 9 8,33% 9 12,33% 31,03% 25,71% 16,98%
Bética, Haltern 70 (Cláudio-Nero) 1 0,93% 1 1,37% 3,45% 2,86% 1,89%
Vale do Guadalquivir Tipo Urceus 1 0,93% 1 1,37% 3,45% 2,86% 1,89%
Dressel 28 2 1,85% 2 2,74% 6,90% 5,71% 3,77%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia)/Haltern 71 3 2,78% 2 2,74% 6,9% 5,71% 3,77%
Indeterminado 1 0,93% 1 1,37% 3,45% 2,86% 1,89%
Total 46 42,59% 29 40% 100% 100% 54,72%
Dressel 1 1 0,93% 1 1,37% 20% 12,5% 1,89%
Hispânia Ulterior,
T-7.4.3.3. 5 4,63% 4 5,48% 80% 50% 7,55%
costa meridional
Total 6 5,56% 5 6,85% 100% 9,43%
Classe 67/Ovóide 1 1 0,93% 1 1,37% 33,33% 12,50% 1,89%
Hispânia Ulterior,
Ovóide 4 3 2,78% 2 2,74% 66,67% 25% 3,77%
Vale do Guadalquivir
Total 4 3,7% 3 4,11% 100% 100% 5,66%
PE 25 1 0,93% 1 1,37% 100% 100% 1,89%
Ilha de Ibiza
Total 1 0,93% 1 1,37% 100% 100% 1,89%
Dressel 1 3 2,78% 3 4,11% 60% 42,86% 5,66%
Península Itálica, Greco-Itálica/Dressel 1 1 0,93% 1 1,37% 20% 14,29% 1,89%
costa tirrénica Dressel 2-4 1 0,93% 1 1,37% 20% 14,29% 1,89%
Total 5 4,63% 5 6,85% 100% 9,43%
Península Itálica, Lamboglia 2 1 0,93% 1 1,37% 100% 14,29% 1,89%
costa adriática Total 1 0,93% 1 1,37% 100% 1,89%
Richborough 527 1 0,93% 1 1,37% 100% 14,29% 1,89%
Ilha de Lipari
Total 1 0,93% 1 1,37% 100% 100% 1,89%
Ostia XXIII 1 0,93% 1 1,37% 100% 100% 1,89%
Norte de África
Total 1 0,93% 1 1,37% 100% 100% 1,89%
Cretense 4/Dressel 43 1 0,93% 1 1,37% 100% 100% 1,89%
Mediterrâneo Oriental
Total 1 0,93% 1 1,37% 100% 100% 1,89%
Indeterminado 2 1,85% 1 1,37% 100% 100%
Indeterminada
Total 2 1,85% 1 1,37% 100% 100%
TOTAL 108 100% 73 100% 100%

Tabela 63 – Quantificação da totalidade das ânforas da Rua dos Bacalhoeiros.

Estas formas testemunham o consumo maioritário de vinho (54%), importado da costa tirrénica
(57% desse produto) e adriática (14,29%) da Península Itálica e do Vale do Guadalquivir (28,57%), res-
pectivamente envasado em contentores do tipo Dressel 1, Lamboglia 2 e Ovóide 4. Já a importação de
preparados piscícolas, que significam 38,46% do consumo, está atestada unicamente por ânforas do
tipo T-7.4.3.3 (80% desse artigo) e Dressel 1 (20%) provenientes da costa meridional hispânica. O azeite
significa apenas 7,69% do consumo de alimentos transportados em ânforas, sendo exclusivamente re-
presentado pelas Classe 67/Ovóide 1 do Vale do Guadalquivir.
Embora se observe a presença de boa parte dos contentores e regiões produtoras típicos da se-
gunda metade do séc. II a.C. e início do século seguinte, notando-se a ausência das Greco-Itálicas e das

179
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Africanas Antigas, o conjunto republicano apresenta-se escasso no que às produções da segunda meta-
de do séc. I a.C. se refere. De igual modo, as proporções quanto às regiões produtoras e comercialização
de produtos alimentares afastam-se daquilo que são as habituais leituras para a República, o que se de-
verá relacionar com a reduzida dimensão da amostra e consequente escassez de fiabilidade estatística.

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Dressel 1 1 6,67% 1 7,69% 20% 12,5% 7,69%
Hispânia Ulterior,
T-7.4.3.3. 5 33,33% 4 30,77% 80% 50% 30,77%
costa meridional
Total 6 40% 5 38,46% 100% 38,46%
Classe 67/Ovóide 1 1 6,67% 1 7,69% 33,33% 12,5% 7,69%
Hispânia Ulterior,
Ovóide 4 3 20% 2 15,38% 66,67% 25% 15,38%
Vale do Guadalquivir
Total 4 26,67% 3 23,08% 100% 100% 23,08%
Dressel 1 3 20% 3 23,08% 75% 60% 23,08%
Península Itálica,
Greco-Itálica/Dressel 1 1 6,67% 1 7,69% 25% 20% 7,69%
costa tirrénica
Total 4 26,67% 4 30,77% 100% 30,77%
Península Itálica, Lamboglia 2 1 6,67% 1 7,69% 100% 20% 7,69%
costa adriática Total 1 6,67% 1 7,69% 100% 100% 7,69%
TOTAL 15 100% 13 100% 100%

Tabela 64 – Quantificação das ânforas republicanas da Rua dos Bacalhoeiros.

2589
30005

2954
10cm
3860 1477

Estampa 82 – Rua dos Bacalhoeiros. Ulterior, costa meridional: T-7.4.3.3. (30005, 2589), Dressel 1 (3860). Península
Itálica, costa tirrénica: Dressel 1 (1477, 2954).

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Dressel 1 1 7,69% 20% 20% 20%
Hispânia Ulterior,
Preparados T-7.4.3.3. 4 30,77% 80% 80% 80%
costa meridional
piscícolas Total 5 38,46% 100% 100% 100%
Total 5 38,46% 100%
Hispânia Ulterior, Ovóide 4 2 15,38% 100% 100% 28,57%
Vale do Guadalquivir Total 2 15,38% 100% 100% 28,57%
Dressel 1 3 23,08% 75% 60% 42,86%
Península Itálica,
Vinho e Greco-Itálica/Dressel 1 1 7,69% 25,00% 20,00% 14,29%
costa tirrénica
derivados Total 4 30,77% 100% 57%
Península Itálica, Lamboglia 2 1 7,69% 100% 20% 14,29%
costa adriática Total 1 7,69% 100% 100% 14,29%
Total 7 54% 100%
Hispânia Ulterior, Classe 67/Ovóide 1 1 7,69% 100% 100% 100%
Azeite Vale do Guadalquivir Total 1 7,69% 100% 100% 100%
Total 1 7,69% 100%
TOTAL 13 100%

Tabela 65 – Quantificação por conteúdo das ânforas republicanas da Rua dos Bacalhoeiros.

180
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

Relativamente aos envases alto-imperiais, a amostra é quantitativamente mais significativa sen-


do constituída por 88 fragmentos de ânfora (42 bordos, 12 fundos e 33 asas) e um Número Mínimo de
57 Indivíduos. Estão presentes 17 tipos distintos procedentes de oito das principais regiões produtoras
da bacia mediterrânea, notando-se sobretudo a ausência das produções da Tarraconense. Trata-se de
uma amostra muito homogénea e coerente em termos cronológicos, maioritariamente enquadrável na
primeira metade do séc. I d.C..
A região produtora melhor representada é o Vale do Guadalquivir, significando 49,12% dos enva-
ses do Principado, uma percentagem que, embora elevada, é ainda assim inferior à que se verifica no
Teatro Romano onde atinge os 58,86%. De entre as formas provenientes dessa área, destacam-se clara-
mente as Haltern 70 (71,43%) e em particular as variantes de Augusto-Tibério (32,14%) e Inicial (14,29%),
marcando igualmente presença as de Cláudio-Nero (3,57%). As oleícolas Oberaden 83/Ovóide 7 e Dres-
sel 20 Júlio-Cláudias/Haltern 71, significando em conjunto 17,86%, representam respectivamente 10,71%
e 7,14% desses envases. É precisamente na proporção entre as Haltern 70 e os contentores oleícolas do
Guadalquivir que reside a maior diferença entre a amostra da Rua dos Bacalhoeiros e a do Teatro Roma-
no, verificando-se neste último sítio um maior equilíbrio entre ambas regiões com ligeira vantagem para
o segundo tipo de envases. A ausência da Verulamium 1908 e de peças claramente atribuíveis à Dressel
20 Júlio-Cláudia (os dois fundos e uma asa poderão corresponder a Haltern 71) na Rua dos Bacalhoeiros
poderá constituir um indício de uma cronologia ligeiramente mais recuada, ainda que com as devidas
reservas. Estão ainda atestadas as produções de base plana do interior da província da Baetica do tipo
Urceus (3,57%) e Dressel 28 (7,14%).

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 23 26,14% 12 21,05% 66,67% 66,67%
“Dressel 28” 4 4,55% 4 7,02% 22,22% 22,22%
Lusitânia, Tejo/Sado
Lusitana 3 3 3,41% 2 3,51% 11,11% 11,11%
Total 30 34,09% 18 31,58% 100% 100%
Dressel 7-11 4 4,55% 2 3,51% 40% 5,88% 5,13%
Dressel 9-10 1 1,14% 1 1,75% 20% 2,94% 2,56%
Bética, costa ocidental Dressel 2-4 1 1,14% 1 1,75% 20% 2,94% 2,56%
Beltrán IIA 1 1,14% 1 1,75% 20% 2,94% 2,56%
Total 7 7,95% 5 8,77% 100% 12,82%
“Gauloise 4”? 1 1,14% 1 1,75% 100% 2,94% 2,56%
Bética, costa oriental
Total 1 1,14% 1 1,75% 100% 2,56%
Oberaden 83/Ovóide 7 4 4,55% 3 5,26% 10,71% 8,82% 7,69%
Haltern 70 21 23,86% 6 10,53% 21,43% 17,65% 15,38%
Haltern 70 (inicial) 4 4,55% 4 7,02% 14,29% 11,76% 10,26%
Haltern 70 (Augusto-Tibério) 9 10,23% 9 15,79% 32,14% 26,47% 23,08%
Bética, Vale do Guadalquivir Haltern 70 (Cláudio-Nero) 1 1,14% 1 1,75% 3,57% 2,94% 2,56%
Tipo Urceus 1 1,14% 1 1,75% 3,57% 2,94% 2,56%
Dressel 28 2 2,27% 2 3,51% 7,14% 5,88% 5,13%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia)/Haltern 71 3 3,41% 2 3,51% 7,14% 5,88% 5,13%
Total 45 51,14% 28 49,12% 100% 100% 71,79%
PE 25 1 1,14% 1 1,75% 100% 100% 2,56%
Ilha de Ibiza
Total 1 1,14% 1 1,75% 100% 100% 2,56%
Península Itálica, Dressel 2-4 1 1,14% 1 1,75% 100% 50% 2,56%
costa tirrénica Total 1 1,14% 1 1,75% 100% 2,56%
Richborough 527 1 1,14% 1 1,75% 100% 50% 2,56%
Ilha de Lipari
Total 1 1,14% 1 1,75% 100% 100% 2,56%
Ostia XXIII 1 1,14% 1 1,75% 100% 100% 2,56%
Norte de África
Total 1 1,14% 1 1,75% 100% 100% 2,56%
Cretense 4/Dressel 43 1 1,14% 1 1,75% 100% 100% 2,56%
Mediterrâneo Oriental
Total 1 1,14% 1 1,75% 100% 100% 2,56%
TOTAL 88 100% 57 100% 100%

Tabela 66 – Quantificação das ânforas do Principado da Rua dos Bacalhoeiros.

181
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

1585
1386
1918

2033
1844

1917

1444

1913

1920
3372
1483

1919

1481

1921
1912

2974
1564
2037

1924 10cm
30009

Estampa 83 – Rua dos Bacalhoeiros. Lusitânia: Lusitana Antiga e “Dressel 28”? (2037, 1924, 30009).

182
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

2484
30008
107

1750

30013
5116

1903
1403
2890

2506

2545
2726

1562

1463
2757

2758 2955

2458

2740 1634
2721

2490

1982

3709 2953
2055 10cm

Estampa 84 – Rua dos Bacalhoeiros. Bética, costa ocidental: Dressel 9-10 (2484), Dressel 7-11 (30008, 30013, 107?),
Beltrán IIA (1750), Dressel 2-4 (2890). Bética, costa oriental: Gauloise 4? (5116). Bética, Vale do Guadalquivir:
Ovóide 4 (1403, 1903), Haltern 70 Inicial (2506, 1562, 1463, 2757), Haltern 70 Augusto Tibério (2545, 2726, 2458,
2955, 2758, 2055, 2721, 2740), Haltern 70 Cláudio-Nero (1634), Haltern 70 (2953, 2490, 1982, 3709).

183
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

A Lusitania significa 31,58% do conjunto alto-imperial, sendo representada especialmente pelas


Lusitanas Antigas (66,67% dessa área). Para além de dois indivíduos de Lusitana 3 (11,11%), de que ape-
nas se documentaram asas em contextos pós-romanos, registou-se a interessante presença de quatro
fundos planos de fabrico claramente lusitano (22,22%) cuja classificação não é isenta de dúvidas. De
facto, o estado actual do conhecimento acerca das produções anfóricas lusitanas de fundo plano não
permite afirmar de forma categórica que as formas habitualmente consideradas como imitações da
Dressel 28 bética tenham sido produzidas durante o séc. I d.C. (v. infra). Por outro lado, a hipótese da
produção de imitações locais/regionais das ânforas béticas de tipo Urceus durante o séc. I d.C. parece
ganhar algum peso, estando estas bem documentadas em contextos dessa época na cidade de Lisboa.
Neste sentido, ainda que se haja optado por classificar de forma interrogada estes fundos como Dres-
sel 28, haverá que considerar a hipótese bastante provável de estes corresponderam antes a imitações
lusitanas de ânforas de tipo Urceus, uma vez que três dos quatro fragmentos foram exumados em
níveis de meados do séc. I d.C.. Independentemente destas questões de precisão tipológica, não deixa
de ser algo surpreendente a representatividade que esta forma tem na amostra da Rua dos Bacalhoei-
ros - significando 7,02% do NMI e 22,22% dos envases locais/regionais -, em contraposição aos restantes
locais de Olisipo onde, de resto, se verifica amiúde a sua ausência.
Voltando à análise da origem dos contentores, das restantes áreas produtoras atestadas apenas
o litoral bético apresenta algum peso, significando 10,53% do NMI e sendo representado pelas produ-
ções da costa ocidental (8,77%) e da costa oriental (1,75%). Desta última regista-se somente o que parece
corresponder ao bordo de uma imitação de “Gauloise 4”. Do litoral ocidental surgem sobretudo as
Dressel 7-11 (60% dessa área), mas também as Beltrán IIA (20%) e as imitações de Dressel 2-4 (20%).
A costa tirrénica da Península Itálica, a Ilha de Lipari, a Ilha de Ibiza, o Norte de África e o Mediter-
râneo Oriental constituem presenças claramente minoritárias na amostra (1,75% cada), daí procedendo
respectivamente um indivíduo dos tipos Dressel 2-4, Richborough 527, PE 25, Ostia XXIII e Cretense 4/
Dressel 43. Se as duas primeiras formas estavam já documentadas em Lisboa, nomeadamente na Rua
das Pedras Negras (Gomes et al., 2017), Rua da Regueira (Silva, no prelo), Teatro Romano (Filipe, 2008a;

2469
30011
30010

2766
1914 1915

30021

3821
1663
30022 1433

10cm
5120

Estampa 85 – Rua dos Bacalhoeiros. Bética, Vale do Guadalquivir: Classe 67/Ovóide 1 (30010), Ovóide 4 (1914),
Oberaden 83/Ovóide 7 (2469, 30011, 30021, 1915), Haltern 71/Dressel 20 Júlio-Cláudia (1433, 30022), Urceus?
(2766), Dressel 28 (1663). Norte de África: Ostia XXIII (5120). Mediterrâneo oriental: Cretense 4/Dressel 43 (3821).

184
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

Filipe, 2015), Praça da Figueira (Fabião, 1998a, p. 180; Almeida e Filipe, 2013), Castelo de São Jorge (Pi-
menta, 2005) e na Casa do Governador, Belém (Filipe, 2011) no caso da primeira, e no Teatro Romano e
Praça da Figueira no caso da segunda, os três outros tipos constituem-se como novidades, sendo até
aqui desconhecidos em Olisipo, ainda que identificados em outros conjuntos no âmbito deste trabalho.
Na óptica de análise aos produtos transportados pelas ânforas, sobressai a hegemonia do vinho
(59,65%), para isso contribuindo sobretudo a mencionada sobrerrepresentação das Haltern 70 béticas
e das ânforas de fundo plano lusitanas. Este perfil de consumo difere significativamente do que se
verifica no Teatro Romano, onde se regista um maior equilíbrio entre vinho e preparados piscícolas,
para além de se apresentar mais amplo no que se refere aos centros produtores presentes na amos-
tra; aproximando-se mais do conjunto da Sé, apesar, ainda assim, das significativas diferenças. Deste
modo, as ânforas vinárias são maioritariamente representadas pelas produções do Vale do Guadalquivir
(67,65% desse artigo), sobretudo pelas aludidas Haltern 70 (58,82%), mas também pelas de tipo Urceus
(2,94%) e Dressel 28 (5,88%). O vinho local/regional encontra-se relativamente bem atestado (17,65%),
principalmente pela presença das referidas imitações de fundo plano (11,76%) e, de forma menos ex-
pressiva, pelas Lusitana 3 (5,88%). Da costa bética (5,88%) procedem as reproduções de Dressel 2-4 e
“Gauloise 4”, ambas representadas por apenas um indivíduo de cada (2,94%). O quadro do consumo de

% NMI % NMI
Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo % NMI
conteúdo
região província
Lusitana Antiga 12 21,05% 100% 100% 75%
Lusitânia, Tejo/Sado
Total 12 21,05% 100% 100% 75%
Preparados
piscícolas

Dressel 7-11 2 3,51% 50% 50% 12,5%


Dressel 9-10 1 1,75% 25% 25% 6,25%
Bética, costa ocidental
Beltrán IIA 1 1,75% 25% 25% 6,25%
Total 4 7,02% 100% 100% 25%
Total 16 28,07% 100%
“Dressel 28” 4 7,02% 66,67% 66,67% 11,76%
Lusitânia, Tejo/Sado Lusitana 3 2 3,51% 33,33% 33,33% 5,88%
Total 6 10,53% 100% 100% 17,65%
Dressel 2-4 1 1,75% 100% 4% 2,94%
Bética, costa ocidental
Total 1 1,75% 100% 2,94%
“Gauloise 4”/Dressel 30? 1 1,75% 100% 4% 2,94%
Bética, costa oriental
Total 1 1,75% 100% 2,94%
6 10,53% 26,09% 24% 17,65%
Vinho e derivados

Haltern 70
Haltern 70 (inicial) 4 7,02% 17,39% 16% 11,76%
Haltern 70 (Augusto-Tibério) 9 15,79% 39,13% 36% 26,47%
Bética, Vale do Guadalquivir Haltern 70 (Cláudio-Nero) 1 1,75% 4,35% 4% 2,94%
Tipo Urceus 1 1,75% 4,35% 4% 2,94%
Dressel 28 2 3,51% 8,7% 8% 5,88%
Total 23 40,35% 100% 100% 67,65%
PE 25 1 1,75% 100% 100% 2,94%
Ilha de Ibiza
Total 1 1,75% 100% 100% 2,94%
Península Itálica, Dressel 2-4 1 1,75% 100% 100% 2,94%
costa tirrénica Total 1 1,75% 100% 100% 2,94%
Cretense 4/Dressel 43 1 1,75% 100% 100% 2,94%
Mediterrâneo Oriental
Total 1 1,75% 100% 100% 2,94%
Total 34 59,65% 100%
Oberaden 83/Ovóide 7 3 5,26% 60% 60% 50%
Bética, Vale do Guadalquivir Dressel 20 (Júlio-Cláudia) - Haltern 71 2 3,51% 40% 40% 33,33%
Azeite

Total 5 8,77% 100% 100% 83,33%


Ostia XXIII 1 1,75% 100% 100% 16,67%
Norte de África
Total 1 1,75% 100% 100% 16,67%
Total 6 10,53% 100%
Richborough 527 1 1,75% 100% 100% 100%
Alúmen Ilha de Lipari
Total 1 1,75% 100% 100% 100%
Total 1 1,75% 100%
TOTAL 57 100%

Tabela 67 - Quantificação por conteúdo das ânforas do Principado da Rua dos Bacalhoeiros.

185
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

vinho completa-se com a importação minoritária do apreciado líquido desde locais como a Ilha de Ibiza
(PE 25), a costa tirrénica itálica (Dressel 2-4) e a Ilha de Creta (Cretense 4/Dressel 43), no Mediterrâneo
Oriental, registando-se apenas um exemplar de cada (2,94%).
Os preparados à base de peixe (28,07% do NMI), ainda que importados desde a costa bética
em quantidades consideráveis (25% desse produto), são sobretudo de produção local/regional e en-
vasados nas Lusitanas Antigas, significando 75% do consumo desses artigos. Da Baetica eram trans-
portados nas Dressel 7-11 (18,75%) e nas Beltrán IIA (6,25%). Estas percentagens são bem reveladoras
do importante desenvolvimento da indústria piscícola lusitana que se terá desenvolvido sobretudo a
partir de Augusto, sendo em meados do séc. I d.C. absolutamente dominantes nos mercados ociden-
tais, particularmente em Lisboa, cenário já devidamente assinalado no conjunto do Teatro Romano
(Filipe, 2008a; Filipe, 2015). Relativamente ao que anteriormente se comentou, estes valores parecem
também constituir importantes indicadores da fiabilidade do conjunto, uma vez que no contexto do
consumo de preparados de peixe se verificam proporções muito idênticas às do já mencionado con-
junto do Teatro.
A importação de azeite (10,53%), cujo consumo adquire na amostra da Rua dos Bacalhoeiros pro-
porções muito inferiores às do edifício cénico, é feita maioritariamente a partir do Vale do Guadalqui-
vir (83,33% desse artigo), de onde provém envasado em ânforas do tipo Oberaden 83/Ovóide 7 (50%)
(residuais) e Dressel 20 Júlio-Cláudia/Haltern 71 (33,33%). Este produto foi de igual forma importado do
Norte de África, transportado nas Ostia XXIII, representando 16,67% do consumo desse bem alimentar
na amostra deste sítio. Resta referir que a presença de um indivíduo de Richborough 527 testemunha a
importação do alúmen da Ilha de Lipari (1,75%).
Sendo certo que se trata de uma amostra relativamente reduzida e de escassa fiabilidade esta-
tística, apresentando em geral percentagens díspares das que se observam no Teatro Romano e nos
dados globais da cidade, não deixa também de ser verdade que o conjunto é bastante coerente em
termos cronológicos e que, assim sendo, se esperaria uma certa fiabilidade na sua representatividade.
Tendo em conta esta linha de raciocínio, é difícil admitir que os perfis de consumo atestados no con-
junto da Rua dos Bacalhoeiros e a sua assimetria relativamente aos dados globais de Olisipo se devam
unicamente à hipotética falta de fiabilidade do conjunto devido à sua relativamente pequena dimensão.

5.21. Teatro Romano de Lisboa (anexo I.21)

O extenso conjunto de publicações existente sobre a descoberta e investigação das ruínas do


Teatro Romano de Lisboa, com particular destaque para os resultados das campanhas de escavação de-
senvolvidas nos últimos 16 anos, torna dispensável a sua descrição detalhada neste trabalho, optando-se
antes por referir em linhas gerais os principais aspectos e respectivas referências bibliográficas.
Este incontornável edifício cénico, situado na encosta Sul da colina do castelo, na confluência
das ruas da Saudade e de São Mamede, foi descoberto em 1798 durante as obras de reconstrução que
se seguiram ao terramoto de 1755 (Moita, 1970; Fernandes, 2006; Fabião, 2013). Apesar das missivas
do arquitecto italiano Francisco Xavier Fabri dirigidas ao rei no sentido de promover a conservação in
situ das ruínas, estas viriam a ser parcialmente desmontadas e no seu local construídos novos edifícios,
tendo os dados coligidos por aquele arquitecto sido publicados em 1815 por Luís António de Azevedo
(Fernandes, 2006; Filipe, 2008a). Só em 1964 se viriam a efectuar as primeiras escavações arqueoló-
gicas no local, coordenadas por D. Fernando de Almeida (Almeida, 1966), tendo continuidade entre
1966 e 1967 já sob a responsabilidade de Irisalva Moita (Moita, 1970), incidindo aquelas intervenções
sobretudo na área documentada no final do séc. XVIII. Por constrangimentos de diversa ordem, estas
campanhas não tiveram continuidade, sendo que só em meados da década de 80 do século passado se
viriam a retomar os trabalhos no Teatro Romano. Entre 1985 e 1987 o Instituto Arqueológico Alemão
procedeu ao levantamento gráfico exaustivo dos vestígios então a descoberto, que viria a ser publicado
poucos anos depois (Hauschild, 1990; Hauschild, 1994), realizando-se novas campanhas de escavação

186
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

entre 1989 e 1993, desta feita dirigidas por António Dias Diogo e centradas sobretudo na área da cavea
(Diogo, 1993a). Refira-se que as ânforas recolhidas durante as intervenções da década de 60 e do final
de 80 e início da seguinte foram posteriormente publicadas por aquele autor (Diogo e Trindade, 1999;
Diogo, 2000).
A apresentação em 1998 do Programa de Recuperação e Valorização do Teatro Romano por Ana
Cristina Leite, então Chefe de Divisão no Museu da Cidade, viria a desencadear um conjunto de acções
de que se destaca a conservação e restauro das ruínas e respectiva musealização, a integração urbana
e reabilitação da área envolvente, a realização de intervenções arqueológicas e, já em 2001, a criação do
Museu do Teatro Romano (Fernandes, 2007; Fernandes e Filipe, 2007). É neste contexto que se iniciam
as escavações coordenadas por Lídia Fernandes e desenvolvidas em 2001, 2005 e 2006, circunscritas
à área a Sul do teatro, de onde procedem os contentores anfóricos já estudados (Filipe, 2008a; Filipe,
2015). Entretanto, a realização de novas intervenções em 2010, 2011, 2013 e 2014, sempre sob a iniciativa
de Lídia Fernandes, viria a permitir documentar novos dados sobre as ocupações antigas no local e,
consequentemente, reunir um volume significativo de materiais inéditos onde, naturalmente, figuram
algumas ânforas.
O conjunto que aqui se estuda é precisamente constituído por esses materiais, mas também por
alguns exumados nas intervenções de 2001, 2005 e 2006 a que se não teve acesso nos estudos anterio-
res (Filipe, 2008a; Filipe, 2015). Refira-se que, das acima referidas, a campanha de 2014 foi a única que
não incidiu na área a Sul do postscaenium, tendo-se localizado na actual Rua de São Mamede (Fernan-
des e Filipe, 2017).
A traços largos e deixando de parte todas as evidências pré e pós-romanas20, os vestígios do-
cumentados durante as escavações de 2001, 2005 e 2006 colocaram a descoberto uma grande mu-
ralha correspondente ao postscaenium, estrutura que sustentava, a Sul, a frente cénica do teatro. Os
contextos estratigráficos de Época Romana eram circunscritos a Norte por aquela estrutura e a Sul
por um paredão, também de fundação romana, permitindo vencer um desnível bastante acentuado
com a zona da actual Rua Augusto Rosa e criando uma plataforma artificial cuja construção deverá ser
coetânea à do teatro (Fernandes, 2006; Fernandes, 2007; Fernandes e Filipe, 2007). Os mencionados
níveis romanos eram constituídos por aterros que encostavam e se situavam no espaço entre aquelas
duas estruturas, tendo-se identificado dois momentos distintos para a sua deposição/formação com
base nos dados estratigráficos e na componente artefactual aí exumada, definindo, assim, duas fases
correspondentes: Fase 1, coeva à fundação do teatro e cronologicamente enquadrável entre o primeiro
e o segundo decénio da nossa Era; e Fase 2, datável de meados do séc. I d.C. e muito provavelmente
associável às obras de remodelação empreendidas naquele edifício lúdico em 57 d.C. (Filipe, 2008a,
p. 31; Filipe, 2015, p. 136-137).
Sob aqueles aterros de inícios e meados do séc. I d.C. vir-se-iam a registar contextos do período
tardo-republicano e da Idade do Ferro, correspondendo aos únicos vestígios preservados da ocupa-
ção daquela área em fase anterior à construção do monumento cénico, prenunciados pela abundan-
te quantidade de materiais dessas épocas recolhidos nos níveis alto-imperiais e pós-romanos. O muro
identificado ainda no decorrer das campanhas de 2005 e 2006, orientado a E-O e com ligante de argila
(Fernandes, 2007, p. 35; Fernandes, 2014), parece enquadrar-se genericamente nos dois primeiros ter-
ços do séc. I a.C.. O desenvolvimento dos trabalhos de escavação nesta área em 2010 viria a permitir
documentar a continuidade daquela estrutura, revelando um compartimento rectangular cujos limites
Norte e Oeste eram definidos pelo mencionado muro e pelo próprio substrato geológico escavado e
afeiçoado (Fernandes, 2014). Igualmente republicana mas seguramente anterior é uma outra estrutura
de menores dimensões, implantada um pouco mais a Sul e orientada a NE-SO, cortando um forno de
cerâmica atribuível à Idade do Ferro (Fernandes, 2014; Fernandes e Coroado, no prelo).
Relativamente à campanha de 2014, na Rua de São Mamede, na sondagem 2 registou-se um inte-
ressante contexto de meados do séc. I d.C., coincidente com as obras de remodelação de 57 d.C., ainda

20. O grande volume de informação e de espólio recolhidos nas recentes intervenções do teatro romano tem motivado a publicação
de diversos estudos, entre os quais se poderão referir, para os momentos anteriores e posteriores à Época Romana, os seguintes:
Fernandes e Almeida, 2012; Fernandes et al., 2008; Calado et al., 2013; Fernandes, 2017; Fernandes e Coroado, no prelo.

187
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

que numa área de reduzida dimensão. Já na sondagem 1, embora se tenha colocado a descoberto uma
impressionante estrutura pertencente ao teatro, não foram detectados níveis preservados de Época
Romana. Pelo contrário, os depósitos que cobriam a aludida estrutura datam da segunda metade do
séc. XVIII (Fernandes e Filipe, 2017), indicando, assim, que o espaço desta sondagem se englobaria na
área colocada a descoberto em 1798.

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 104 19,40% 40 15,69% 95,24% 95,24%
Lusitânia, Tejo/Sado Indeterminado 2 0,37% 2 0,78% 4,76% 4,76%
Total 106 19,78% 42 16,47% 100% 100%
Dressel 7-11 9 1,68% 4 1,57% 16% 3,13% 1,9%
Dressel 7 3 0,56% 3 1,18% 12% 2,34% 1,42%
Dressel 9-10 8 1,5% 8 3,14% 32% 6,25% 3,79%
Bética, costa ocidental
Dressel 28 1 0,19% 1 0,39% 4% 0,78% 0,47%
Indeterminado 18 3,36% 9 3,53% 36% 7,03% 4,27%
Total 39 7,28% 25 9,8% 100% 11,85%
Oberaden 83/Ovóide 7 5 0,93% 5 1,96% 4,85% 3,91% 2,37%
Haltern 71 8 1,5% 8 3,14% 7,77% 6,25% 3,79%
Oberaden 83/Ovóide 7-Haltern 71 60 11,19% 14 5,49% 13,59% 10,94% 6,64%
Ovóide indeterminada 4 0,75% 4 1,57% 3,88% 3,13% 1,9%
Haltern 70 68 12,69% 10 3,92% 9,71% 7,81% 4,74%
Haltern 70 (inicial) 13 2,43% 13 5,1% 12,62% 10,16% 6,16%
Bética, Haltern 70 (Augusto-Tibério) 11 2,05% 11 4,31% 10,68% 8,59% 5,21%
Vale do Guadalquivir Tipo Urceus 1 0,19% 1 0,39% 0,97% 0,78% 0,47%
Dressel 2-4 3 0,56% 2 0,78% 1,94% 1,56% 0,95%
Dressel 7-11 2 0,37% 1 0,39% 0,97% 0,78% 0,47%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 15 2,80% 15 5,88% 14,56% 11,72% 7,11%
Verulamium 1908 9 1,68% 9 3,53% 8,74% 7,03% 4,27%
Indeterminado 11 2,05% 10 3,92% 9,71% 7,81% 4,74%
Total 210 39,18% 103 40,39% 100% 100% 48,82%
Greco-Itálica 2 0,37% 1 0,39% 2,94% 2,08% 0,47%
Hispânia Ulterior, T-7.4.3.3. 54 10,07% 30 11,76% 88,24% 62,5% 14,35%
costa meridional T-9.1.1.1. 3 0,56% 3 1,18% 8,82% 6,25% 1,42%
Total 59 11,01% 34 13,33% 100% 16,25%
Classe 67/Ovóide 1 1 0,19% 1 0,39% 7,14% 2,08% 0,47%
Ovóide 4 2 0,37% 2 0,78% 14,29% 4,17% 0,95%
Hispânia Ulterior,
Ovóide 5 1 0,19% 1 0,39% 7,14% 2,08% 0,48%
Vale do Guadalquivir
Ovóide 6 10 1,87% 10 3,92% 71,43% 20,83% 4,74%
Total 14 2,61% 14 5,49% 100% 100% 6,64%
Greco-Itálica 14 2,61% 14 5,49% 48,28% 42,42% 6,64%
Dressel 1 11 2,05% 11 4,31% 37,93% 33,33% 5,21%
Península Itálica, Greco-Itálica/Dressel 1 64 11,94% 2 0,78% 6,9% 6,06% 0,95%
costa tirrénica Dressel 2-4 2 0,37% 1 0,39% 3,45% 3,03% 0,47%
Indeterminado 2 0,37% 1 0,39% 3,45% 3,03% 0,47%
Total 93 17,35% 29 11,37% 100% 13,74%
Greco-Itálica 6 1,12% 2 0,78% 66,67% 6,06% 0,95%
Península Itálica,
Lamboglia 2 1 0,19% 1 0,39% 33,33% 3,03% 0,47%
costa adriática
Total 7 1,31% 3 1,18% 100% 1,42%
Richborough 527 2 0,37% 1 0,39% 100% 3,03% 0,47%
Ilha de Lipari
Total 2 0,37% 1 0,39% 100% 100% 0,47%
T-7.4.2.1./T-7.4.3.1. 1 0,19% 1 0,39% 50% 50% 0,5%
Norte de África Africana Antiga 2 0,37% 1 0,39% 50% 50% 0,47%
Total 3 0,56% 2 0,78% 100% 100% 0,95%
Indeterminado 3 0,56% 2 0,78% 100% 100%
Indeterminada
Total 3 0,56% 2 0,78% 100% 100%
TOTAL 536 100% 255 100% 100%

Tabela 68 – Quantificação das ânforas do Teatro Romano anteriormente publicadas (Filipe, 2008a; Filipe, 2015),
com a respectiva revisão tipológica.

188
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

Antes de iniciar a análise do novo conjunto anfórico, existem alguns aspectos relativos à amostra
já publicada que será importante actualizar - considerando-se ser pertinente fazê-lo aqui -, homogenei-
zando as classificações de alguns tipos então estudados com as opções tipológicas assumidas no pre-
sente estudo e corrigindo outras. Resumidamente, foi efectuada a revisão das peças classificadas como
Dressel 7-11, Haltern 70, Oberaden 83 e Dressel 20 no sentido de, sempre que possível, enquadrá-las nas
distintas variantes de cada tipo ou reenquadrá-las em outras tipologias. No caso das primeiras procu-
rou-se atribuir cada exemplar a um dos diferentes tipos entre a Dressel 7 e a Dressel 11, optando-se pe-
las classificações genéricas de Dressel 9-10 ou 7-11 nos casos que suscitavam mais dúvidas. Já a Haltern
70, para além da atribuição das variantes inicial e Augusto-Tibério a alguns fragmentos, procedeu-se em
alguns casos à sua reclassificação como Ovóide 4.
Cenário não muito diferente é representado pelos materiais anteriormente classificados como
Oberaden 83, atribuindo-se agora a alguns desses bordos a classificação de Ovóide 6, Haltern 71 ou Dres-
sel 20 Júlio-Cláudia. Já estas últimas foram integralmente consideradas como variantes Júlio-Cláudias.

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 19 12,93% 8 10,39% 88,89% 88,89%
Lusitânia, Tejo/Sado Tipo Urceus? 1 0,68% 1 1,3% 11,11% 11,11%
Total 20 13,61% 9 11,69% 100% 100%
Dressel 7-11 7 4,76% 2 2,6% 33,33% 5,88% 2,99%
Dressel 7 1 0,68% 1 1,3% 16,67% 2,94% 1,49%
Bética, costa ocidental Tipo Urceus 1 0,68% 1 1,3% 16,67% 2,94% 1,49%
Indeterminado 3 2,04% 2 2,6% 33,33% 5,88% 2,99%
Total 12 8,16% 6 7,79% 100% 8,96%
Oberaden 83/Ovóide 7 1 0,68% 1 1,3% 3,57% 2,94% 1,49%
Ovóide indeterminada 4 2,72% 2 2,6% 7,14% 5,88% 2,99%
Haltern 71 3 2,04% 2 2,6% 7,14% 5,88% 2,99%
Haltern 70 23 15,65% 4 5,19% 14,29% 11,76% 5,97%
Haltern 70 (inicial) 6 4,08% 6 7,79% 21,43% 17,65% 8,96%
Bética, Vale do Guadalquivir Haltern 70 Augusto-Tibério) 4 2,72% 4 5,19% 14,29% 11,76% 5,97%
Tipo Urceus 4 2,72% 4 5,19% 14,29% 11,76% 5,97%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 7 4,76% 3 3,9% 10,71% 8,82% 4,48%
Dressel 20 1 0,68% 1 1,3% 3,57% 2,94% 1,49%
Verulamium 1908 1 0,68% 1 1,3% 3,57% 2,94% 1,49%
Total 54 36,73% 28 36,36% 100% 100% 41,79%
Dressel 1 2 1,36% 1 1,3% 7,14% 5,88% 1,49%
T-7.4.3.3. 21 14,29% 11 14,29% 78,57% 64,71% 16,42%
Hispânia Ulterior,
T-9.1.1.1. 1 0,68% 1 1,3% 7,14% 5,88% 1,47%
costa meridional
Ovóide gaditana 1 0,68% 1 1,3% 7,14% 5,88% 1,49%
Total 25 17,01% 14 18,18% 100% 20,87%
Hispânia Ulterior, Ovóide 6 3 2,04% 3 3,9% 100,0% 17,65% 4,48%
Vale do Guadalquivir Total 3 2,04% 3 3,9% 100% 100% 4,48%
Tarraconense, Pascual 1 1 0,68% 1 1,3% 100% 100% 1,49%
costa setentrional Total 1 0,68% 1 1,3% 100% 100% 1,49%
Greco-Itálica 4 2,72% 4 5,19% 40% 26,67% 5,97%
Dressel 1 4 2,7% 4 5,19% 40% 26,67% 5,97%
Península Itálica,
Greco-Itálica/Dressel 1 14 9,52% 1 1,3% 10% 6,67% 1,49%
costa tirrénica
Dressel 2-4 1 0,68% 1 1,3% 10% 6,67% 1,49%
Total 23 15,65% 10 12,99% 100% 14,93%
Greco-Itálica 3 2,04% 3 3,9% 60% 20,0% 4,48%
Península Itálica, Lamboglia 2 1 0,68% 1 1,3% 20% 6,67% 1,49%
costa adriática Ovóide adriática 1 0,68% 1 1,3% 20% 6,67% 1,49%
Total 5 3,40% 5 6,49% 100% 100% 7,46%
Indeterminado 4 2,72% 1 1,3% 100% 100%
Indeterminada
Total 4 2,72% 1 1,3% 100% 100%
TOTAL 147 100% 77 100% 100%

Tabela 69 – Quantificação da totalidade das ânforas inéditas do Teatro Romano.

189
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

826
2427

2392
2483

605
832

2601
2440

827
2382

824 714

713
2458

2481
784

2522
226

606
2498
10cm

Estampa 86 – Teatro Romano. Ulterior, costa meridional: T-7.4.3.3. (Filipe, 2008; Filipe, 2015).

190
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

Resta referir que a peça nº 2603, antes enquadrada nas Dressel 12, foi agora englobada nas Ovóide 5,
ainda que não isenta de dúvidas (v. infra). Nesta óptica, apresenta-se a tabela de quantificação dos ma-
teriais já estudados e publicados com a respectiva revisão (Tabela nº 68), bem como os desenhos com
as classificações actualizadas. Note-se que esta amostra não é englobada na quantificação global dos
materiais inéditos analisados à luz deste trabalho, sendo contabilizada apenas na tabela onde constam
as ânforas já publicadas (Tabelas 138 e 139). Porém, apresenta-se abaixo uma tabela de quantificação
que engloba o conjunto inédito e o publicado, e que corresponde, no fundo, à verdadeira expressão
quantitativa das ânforas do teatro romano à qual se faz referência ao longo deste trabalho.
O conjunto inédito de ânforas recolhidas nas recentes campanhas de escavação do Teatro Roma-
no (2010, 2011, 2013 e 2014) não é particularmente expressivo nem equiparável em termos quantitati-
vos ao já publicado (Filipe, 2008a; Filipe, 2015). Observam-se basicamente as mesmas formas e regiões
de origem, ampliando-se a diversidade tipológica com a identificação das Pascual 1 tarraconenses, das
ovóides gaditanas e das ovóides adriáticas, até aqui desconhecidas neste sítio.
Colocando de parte uma asa de Late Roman 1 e um fundo de Almagro 51C, formas tardias recolhi-
das nos níveis modernos relacionados com o Celeiro da Mitra, a amostra inédita do teatro romano, de
escassa fiabilidade estatística, é composta por 147 fragmentos diagnosticáveis (66 bordos, 14 fundos,
65 asas e dois fragmentos de colo, um dos quais com um titulus pictus), equivalentes a um Número
Mínimo de 77 Indivíduos, dos quais 40,3% correspondem a ânforas da República, 55,8% ao Principado e
3,9% a contentores de tipo e procedência indeterminados.
Das primeiras, estão presentes dez tipos provenientes de quatro regiões produtoras, num total
de 55 fragmentos e 31 indivíduos. Sobressaem as importações da Ulterior, com particular incidência das
produções da costa meridional que significam 45,16% dos envases republicanos. Desta área são total-
mente dominantes as T-7.4.3.3., representando 78,57% desses contentores, surgindo em quantidades
bem mais discretas as imitações de Dressel 1, as T-9.1.1.1. e as Ovóides Gaditanas, todas com um único
indivíduo (7,14% cada). Já do Vale do Guadalquivir estão presentes somente as Ovóide 6, significan-
do 9,68% do NMI, valor que difere bastante da representatividade desta área produtora no conjunto
anteriormente estudado (Filipe, 2008a; Filipe, 2015). Embora com uma diferença menos significativa,
também a percentagem das produções tirrénicas é inferior nesta amostra (29,03%), ocorrendo em pro-
porções similares os tipos Greco-Itálica e Dressel 1. Em sentido contrário, as importações do Adriático
encontram-se aqui expressivamente documentadas (16,13%), ultrapassando inclusive as do Vale do Gua-
dalquivir. Desta área provêm maioritariamente as Greco-Itálicas (60% dessa região), e em quantidades
mais modestas as Lamboglia 2 (20%) e as Ovóides Adriáticas (20%).

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Dressel 1 2 3,64% 1 3,23% 7,14% 5,88% 3,23%
T-7.4.3.3. 21 38,18% 11 35,48% 78,57% 64,71% 35,48%
Hispânia Ulterior,
T-9.1.1.1. 1 1,82% 1 3,23% 7,14% 5,88% 3,23%
costa meridional
Ovóide gaditana 1 1,82% 1 3,23% 7,14% 5,88% 3,23%
Total 25 45,45% 14 45,16% 100% 45,2%
Hispânia Ulterior, Ovóide 6 3 5,45% 3 9,68% 100% 17,65% 9,68%
Vale do Guadalquivir Total 3 5,45% 3 9,68% 100% 100% 9,68%
Greco-Itálica 4 7,27% 4 12,9% 44,44% 28,57% 12,9%
Península Itálica, Dressel 1 5 9,09% 4 12,9% 44,44% 28,57% 12,9%
costa tirrénica Greco-Itálica/Dressel 1 13 23,64% 1 3,23% 11,11% 7,14% 3,23%
Total 22 40% 9 29,03% 100% 29,03%
Greco-Itálica 3 5,45% 3 9,68% 60% 21,43% 9,68%
Península Itálica, Lamboglia 2 1 1,82% 1 3,23% 20% 7,14% 3,23%
costa adriática Ovóide adriática 1 1,82% 1 3,23% 20% 7,14% 3,23%
Total 5 9,09% 5 16,13% 100% 100% 16,13%
TOTAL 55 100% 31 100% 100%

Tabela 70 – Quantificação das ânforas republicanas inéditas do Teatro Romano.

191
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

2516
831

661

2657

718

2661

2486

834

785

790

2366 687
734

2532
2568

2449 2400

4754

2529

599
655

10cm
591

Estampa 87 – Teatro Romano. Ulterior, costa meridional: T-9.1.1.1. (4754, 599, 591), Greco-Itálica (2529), T-7.4.3.3.
(todas as restantes) (Filipe, 2008; Filipe, 2015).

192
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

2403
2592
2517

659
598
667

613
2364
2617

829
2536
811

2475
840

2426

2645
614
2615

820
2367
2673

828

2465 798
709
10cm

Estampa 88 – Teatro Romano. Península Itálica, costa tirrénica: Greco-Itálicas (2403, 2517, 2592, 659, 667, 598,
2364, 2617, 613, 811, 2536, 829, 2426, 840), Dressel 1 (2475, 2615, 614, 2645, 2673, 2367, 820, 2465, 709, 798,
828) (Filipe, 2008; Filipe, 2015).

193
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

685

787

825

2653

2433
2644 746

684

800
723 2495

2423

2598

2663 830

2595
688
10cm
2456

Estampa 89 – Teatro Romano. Península Itálica, costa tirrénica: Greco-Itálica/Dressel 1 (825, 685, 2653, 2644, 746,
2433, 684, 723, 787, 800, 2423, 2495, 2663). Península Itálica, costa adriática: Lamboglia 2 (830), Greco-Itálica?
(2598). Norte de África: Africana Antiga (2456, 688), T-7.4.2.1./T-7.4.3.1. (2595) (Filipe, 2008; Filipe, 2015).

194
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Dressel 1 1 3,23% 7,14% 7,14% 7,14%
T-7.4.3.3. 11 35,48% 78,57% 78,57% 78,57%
Hispânia Ulterior,
Preparados T-9.1.1.1. 1 3,23% 7,14% 7,14% 7,14%
costa meridional
piscícolas Ovóide Gaditana 1 3,23% 7,14% 7,14% 7,14%
Total 14 45,16% 100% 100% 100%
Total 14 45,16% 100%
Greco-Itálica 4 12,9% 44,44% 30,77% 30,8%
Dressel 1 4 12,9% 44,44% 30,77% 30,77%
Península Itálica, costa tirrénica
Greco-Itálica/Dressel 1 1 3,23% 11,11% 7,69% 7,69%
Vinho e Total 9 29,03% 100% 69,23%
derivados Greco-Itálica 3 9,68% 75% 23,08% 23,08%
Península Itálica, costa adriática Lamboglia 2 1 3,23% 25% 7,69% 7,69%
Total 4 12,9% 100% 100% 30,77%
Total 13 41,94% 100%
Ovóide 6 3 9,68% 100% 100% 75%
Hispânia Ulterior, Vale do Guadalquivir
Total 3 9,68% 100% 100% 75%
Azeite Ovóide adriática 1 3,23% 100% 100% 25%
Península Itálica, costa adriática
Total 1 3,23% 100% 100% 25%
Total 4 12,9% 100%
TOTAL 31 100%

Tabela 71 – Quantificação por conteúdo das ânforas republicanas inéditas do Teatro Romano.

As diferenças observáveis na análise às regiões de origem, relativamente ao conjunto publica-


do, são menos perceptíveis nas proporções dos artigos alimentares importados, onde só no caso do
azeite se verificam divergências de maior peso. O consumo de preparados de peixe assume-se como
o mais importante (45,16% do NMI), sendo exclusivamente originários da costa meridional da Ulterior
e transportados nas T-7.4.3.3. (78,57% dos contentores piscícolas), T-9.1.1.1. (7,14%), Dressel 1 (7,14%) e
Ovóide Gaditana (7,14%), com particular destaque para o primeiro daqueles tipos. O vinho, representan-
do 41,94% da amostra republicana, provinha principalmente da costa tirrénica de Italia (69,23% desse
produto), transportado em iguais percentagens pelas Greco-Itálicas e Dressel 1, e em menor medida da
costa adriática (30,77% dos envases vinários), nas Greco-Itálicas (75% dessa região) e Lamboglia 2 (25%).
Por fim, o azeite significa 12,9% do NMI, sendo maioritariamente proveniente do Vale do Guadal-
quivir (75% dos envases oleícolas), onde era envasado em ânforas do tipo Ovóide 6, e em quantidades
mais discretas da costa adriática da Península Itálica (25%), nas Ovóides Adriáticas.
No que se refere às ânforas do Principado, neste caso concernentes a um arco cronológico re-
lativamente curto e bem balizado entre Augusto e Nero, a amostra é constituída por 88 fragmentos
(38 bordos, seis fundos, 42 asas e dois colos) e um Número Mínimo de 43 Indivíduos, registando-se a
presença de cinco regiões produtoras e de 12 tipos.
O Vale do Guadalquivir domina o quadro de importações, significando 65,1% dos contentores
alto-imperiais, onde se destacam especialmente as Haltern 70 (50% dos envases dessa área) com as
variantes inicial e de Augusto-Tibério. Igualmente dessa região, foram ainda atestadas as ânforas de
tipo Urceus (14,29%), as Verulamium 1908 (3,57%), as Oberaden 83/Ovóide 7 (3,57%), as Haltern 71 (7,14%)
e as Dressel 20. Estas últimas correspondem todas à variante Júlio-Cláudia, com excepção do bordo
nº 1 de 2014 que foi recolhido em níveis do séc. XVIII na sondagem efectuada na Rua de São Mamede,
enquadrando-se genericamente nas variantes Antonina ou do séc. III.
Já as produções locais/regionais correspondem à segunda área produtora mais importante do
conjunto (20,93% do NMI), onde a hegemonia das Lusitanas Antigas (88,89% desses envases) apenas é
quebrada pela ocorrência vestigial de um tipo que poderá corresponder a uma imitação local das ânforas
de tipo Urceus (11,11%). Da costa ocidental da Baetica (9,3% do NMI) estão atestadas as Dressel 7-11 (75%
dos contentores dessa região) e as ânforas de tipo Urceus (25%). Estão ainda presentes as importações
da costa setentrional da Tarraconensis (2,33% do NMI), de onde provém um exemplar de Pascual 1, e da
costa tirrénica itálica (2,33%), com uma Dressel 2-4, nitidamente minoritárias.

195
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 19 21,59% 8 18,6% 88,89% 88,89%
Lusitânia, Tejo/Sado Tipo Urceus? 1 1,14% 1 2,33% 11,11% 11,11%
Total 20 22,73% 9 20,93% 100% 100%
Dressel 7-11 7 7,95% 2 4,65% 50% 6,25% 5,88%
Dressel 7 1 1,14% 1 2,33% 25% 3,13% 2,94%
Bética, costa ocidental
Tipo Urceus 1 1,14% 1 2,33% 25% 3,13% 2,94%
Total 12 13,64% 4 9,3% 100% 11,8%
Oberaden 83/Ovóide 7 1 1,14% 1 2,33% 3,57% 3,13% 2,94%
Ovóide indeterminada 4 4,55% 2 4,65% 7,14% 6,25% 5,88%
Haltern 71 3 3,41% 2 4,65% 7,14% 6,25% 5,88%
Haltern 70 23 26,14% 4 9,3% 14,29% 12,5% 11,76%
Haltern 70 (inicial) 6 6,82% 6 13,95% 21,43% 18,75% 17,65%
Bética, Vale do Guadalquivir Haltern 70 (Augusto-Tibério) 4 4,55% 4 9,3% 14,29% 12,5% 11,76%
Tipo Urceus 4 4,55% 4 9,3% 14,29% 12,5% 11,76%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 7 7,95% 3 6,98% 10,71% 9,38% 8,82%
Dressel 20 1 1,14% 1 2,33% 3,57% 3,13% 2,94%
Verulamium 1908 1 1,14% 1 2,33% 3,57% 3,13% 2,94%
Total 54 61,36% 28 65,1% 100% 100% 82,35%
Pascual 1 1 1,14% 1 2,33% 100% 100% 2,94%
Tarraconense, costa setentrional
Total 1 1,14% 1 2,33% 100% 100% 2,94%
Dressel 2-4 1 1,14% 1 2,33% 100% 100% 2,94%
Península Itálica, costa tirrénica
Total 1 1,14% 1 2,33% 100% 100% 2,94%
TOTAL 88 100% 43 100% 100%

Tabela 72 – Quantificação das ânforas do Principado inéditas do Teatro Romano.

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Lusitana Antiga 8 18,6% 100% 100% 72,73%
Lusitânia, Tejo/Sado
Total 8 18,6% 100% 100% 72,73%
Preparados
piscícolas

Dressel 7-11 2 4,65% 66,67% 66,67% 18,18%


Bética, costa ocidental Dressel 7 1 2,33% 33,33% 33,33% 9,09%
Total 3 6,98% 100% 100% 27,27%
Total 11 25,58% 100%
Tipo Urceus? 1 2,33% 100% 100% 4,35%
Lusitânia, Tejo/Sado
Total 1 2,33% 100% 100% 4,35%
Tipo Urceus 1 2,33% 100% 5% 4,35%
Bética, costa ocidental
Total 1 2,33% 100% 4,35%
Haltern 70 4 9,3% 21,05% 20% 17,39%
Vinho e derivados

Haltern 70 (inicial) 6 13,95% 31,58% 30% 26,09%


Haltern 70 (Augusto-Tibério) 4 9,3% 21,05% 20% 17,39%
Bética, Vale do Guadalquivir
Verulamium 1908 1 2,33% 5,26% 5% 4,35%
Tipo Urceus 4 9,3% 21,05% 20% 17,39%
Total 19 44,19% 100% 100% 82,61%
Pascual 1 1 2,33% 100% 100% 4,35%
Tarraconense, costa setentrional
Total 1 2,33% 100% 100% 4,35%
Dressel 2-4 1 2,33% 100% 100% 4,35%
Península Itálica, costa tirrénica
Total 1 2,33% 100% 100% 4,35%
Total 23 53,5% 100%
Oberaden 83/Ovóide 7 1 2,33% 14,29% 14,29% 14,29%
Haltern 71 2 4,65% 28,57% 28,57% 28,57%
Azeite

Bética, Vale do Guadalquivir Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 3 6,98% 42,86% 42,86% 42,86%


Dressel 20 1 2,33% 14,29% 14,29% 14,29%
Total 7 16,28% 100% 100% 100%
Total 7 16,28% 100%
Ovóide indeterminada 2 4,65% 100% 100% 100%
Bética, Vale do Guadalquivir
Indet. Total 2 4,65% 100% 100% 100%
Total 2 4,65% 0%
TOTAL 43 100%

Tabela 73 – Quantificação por conteúdo das ânforas do Principado inéditas do Teatro Romano.

196
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

2453

607
2411

816 2384
603

592 231

669

2619 2451
812

839 2626
717

755
2464
712

837 2365 2434

2417

583 2412

227
2512 10cm
2539

Estampa 90 – Teatro Romano. Lusitânia: Haltern 70 lusitana (2453, 816, 592, 2619, 717), Lusitanas Antigas (todas
as restantes) (Filipe, 2008; Filipe, 2015).

197
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

O consumo de preparados piscícolas representa somente 25,58%, percentagem bem inferior aos
cerca de 41% anteriormente atestados. Esses produtos provêm sobretudo da Lusitânia (72,73%), nos
seus modelos mais precoces, e em menores quantidades da costa bética (27,27%), nas Dressel 7-11. No
consumo de vinho a discrepância é ainda maior, significando as ânforas vinárias 53,5% do conjunto iné-
dito. Estas são maioritariamente representadas pelas importações do Vale do Guadalquivir (82,61% dos
envases vinários), destacando-se as Haltern 70 (73,68% dessa região) e as menos expressivas ânforas
de tipo Urceus (21,05%) e Verulamium 1908 (5,26%). As restantes regiões de origem do vinho importado
apresentam todas a mesma percentagem (4,35%), sendo constituídas pela costa ocidental bética, pelo
litoral nordeste da Tarraconense, pela costa tirrénica de Italia e pela Lusitania.

838

2562

664
616

2652

775 2487

615

809
2478

2573
2580

697 686
722

2460 2492
2476

2548

2 767 2396 2450

10cm

Estampa 91 – Teatro Romano. Lusitânia: Lusitanas Antigas (Filipe, 2008; Filipe, 2015).

198
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

715
600

665
666

2521 601

2484

2538

835

2549

2437 2385

776
725

833

2634

663

2555

2664 10cm

Estampa 92 - Teatro Romano. Bética, costa ocidental: Dressel 7 (714, 665, 600), Dressel 9-10 (666, 2521, 601,
Estampa 92 –2549,
2484, 2538, Teatro Romano.
2385, 2437),Bética,
Dresselcosta
7-11 ocidental:
(725, 833, Dressel 7 (715,
2634, 663, 2664,665,
776,600),
2555)Dressel
Dressel9-10 (666,(Filipe,
28 (835) 2521, 2008;
601,
2484, 2538, 2549,
Filipe, 2015). 2385, 2437), Dressel 7-11 (725, 833, 2634, 663, 2664, 776, 2555), Dressel 28 (835) (Filipe, 2008;
Filipe, 2015).

199
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

780
668
204

781

2556

2610

2633

2582
2383
2594

2467
782
595

2527 2461
2377

2597 745
2395

2424
660 759

813
773
2506

602

10cm
2647 2638

Estampa 93 – Teatro Romano. Bética, Vale do Guadalquivir: Ovóide 4 (780, 668), Haltern 70 Inicial (781, 2633,
2610, 2594, 2383, 595, 2467, 2527, 2377, 2597, 745, 660, 2424), Haltern 70 Augusto-Tibério (204, 773, 2556,
2647, 2582, 2506, 782, 2638, 2461, 2395), Haltern 70 (813, 759, 602) (Filipe, 2008; Filipe, 2015).

200
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

836

2507

724
2567
2533

2540

585 656

2614
2510

2393
2500
721 2668

2404
168

2397

2488 2431

2374

708

10cm 588
2446
225

Estampa 94 – Teatro Romano. Bética, Vale do Guadalquivir: Haltern 70 (836, 2507, 2540, 2533, 724, 2567, 2668,
Estampa
721, 94 2614),
585, 656, - Teatro Romano. Bética,
Verulamium Vale do
1908 (2510, Guadalquivir:
2374, Haltern2397,
2393, 168, 2500, 70 (836, 2507,
2488, 2540,
2431, 2533,
2404), 724, 2-4
Dressel 2567,
(708,
588(?), 225(?)), Urceus, tipo 1 (2446) (Filipe, 2008; Filipe, 2015).

201
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

169 2603 758

2436
2389
2537

743
756

2523

657

754
2558

2596

2376
2390

774
2591

772
610
2574

2563

2659
2457

604

2409

2508
612

2459

2518
2526
2468 10cm

Estampa 95 – Teatro Romano. Bética, Vale do Guadalquivir: Classe 67/Ovóide 1 (169), Ovóide 5 (2603), Ovóide 6
(2537, 2389, 2523, 756, 2558, 754, 758, 743, 2436, 657), Oberaden 83/Ovóide 7 (2390, 2376, 772, 2591, 2596, 2563,
774, 604, 2574, 2526, 2457), Haltern 71 (2468, 610, 2459, 2659, 612, 2409, 2518, 2508) (Filipe, 2008; Filipe, 2015).

202
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

2422 2438
737 691

2429
2494
2513

597

2552
611
2528
2466

230
735

2407 2618 2577

2632
2425

2624
654
221
662

608

696 716
707

2454

689

653 2380
2432
10cm

Estampa 96 – Teatro Romano. Bética, Vale do Guadalquivir: Dressel 20 Júlio-Cláudia (2422, 2438, 2429, 2494,
2552, 611, 230, 735, 2407, 2425, 2632, 2624, 662, 608, 707), Indeterminado (Ovóides, Haltern 70)(737, 691, 2513,
597, 2528, 2466, 221, 2577, 2618, 654), Ovóide indeterminada (653), Oberaden 83/Ovóide 7? (2454, 689, 696,
716), Dressel 7-11 (2432, 2380) (Filipe, 2008; Filipe, 2015).

203
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

596 690 2439 10cm

Estampa 97 – Teatro Romano. Península Itálica, costa tirrénica: Dressel 2-4 (596, 690). Ilha de Lipari: Richborough
527 (2439) (Filipe, 2008; Filipe, 2015).

Destas áreas produtoras foram atestadas, respectivamente, as ânforas de tipo Urceus, as Pascual
1, as Dressel 2-4 e as imitações locais/regionais do tipo Urceus. Também no consumo de azeite se veri-
ficam valores significativamente inferiores, não ultrapassando os 16,28% do NMI. Este artigo é exclusi-
vamente representado pelos contentores do Vale do Guadalquivir, observando-se a presença de todas
as formas e variantes oleárias produzidas naquela região entre Augusto e os meados do séc. I d.C.:
Oberaden 83/Ovóide 7 (14,29% desses envases), Haltern 71 (28,57%) e Dressel 20 Júlio-Cláudia (42,86%),
correspondendo os restantes 14,29% à Dressel 20 mais tardia a que atrás se fez alusão.
Este conjunto inédito é importante sobretudo para complementar os dados já conhecidos do tea-
tro romano (Filipe, 2008a; Filipe, 2015) - remetendo-se para esses trabalhos as principais interpretações
do conjunto -, dotando-os de maior fiabilidade estatística. Neste sentido, será mais pertinente efectuar
a leitura do conjunto global das ânforas deste sítio (o inédito e o publicado) do que apenas da nova
amostra, procurando ora verificar se estas alteram ou não de modo significativo a leitura que então se
fez, ora estabelecer comparações com os restantes conjuntos da cidade. Sempre numa perspectiva de
comparação entre o conjunto já publicado e a amostra global do teatro, embora com ligeiras oscilações
que não ultrapassam os dois ou três pontos percentuais, durante a República não se registam signifi-
cativas diferenças nas percentagens relativas às regiões de origem. Por um lado, acentua-se o domínio
das produções da costa meridional da Ulterior, acompanhado de um ligeiro decréscimo das do Vale do
Guadalquivir; por outro, observa-se uma ténue diminuição das importações tirrénicas e um aumento das
adriáticas. Do Norte de África assiste-se a uma ligeira diminuição, reflexo da ausência de materiais dessa
origem no conjunto inédito. Em relação directa com estas oscilações, verifica-se no âmbito do consumo
um ligeiro aumento da importação de preparados à base de peixe e a consequente diminuição da de
vinho, enquanto o azeite mantém praticamente a mesma proporção; traduzindo-se no consumo maiori-
tário de preparados piscícolas (44,14% do NMI), seguido do vinho (40,54%) e do azeite (15,32%).
Olhando para os restantes conjuntos republicanos de Lisboa, sobressai o que adiante se mencio-
nará sobre a amostra republicana dos Claustros da Sé, isto é, a existência de um padrão de consumo
distinto entre a área da antiga Alcáçova Islâmica e a vertente Sul da colina do castelo, observando-se
na primeira a total preponderância do consumo de vinho, sobretudo itálico, face ao de preparados pis-
cícolas acompanhados de um consumo muito discreto de azeite, verificando-se na segunda um maior
equilíbrio entre os dois principais produtos importados e uma maior expressividade do azeite. Apesar
de, no caso da Sé, se verificar uma ligeira superioridade do vinho relativamente ao peixe, ainda que
com valores muito aproximados como se viu, no conjunto do Teatro observa-se um cenário inverso,
distanciando-se ainda mais do padrão do Castelo.
A leitura dos dados do Teatro e da Sé, as duas amostras republicanas mais numerosas na vertente
Sul da colina, é confirmada por outros conjuntos menos representativos desta época, como os do Pa-
lácio dos Condes de Penafiel e das Escadinhas de São Crispim, embora se observem igualmente casos
com proporções divergentes, todos referentes a amostras reduzidas, tais como o Pátio da S.ª de Murça
e a Rua das Pedras Negras, para além da Praça da Figueira, esta localizada na actual Baixa Pombalina. O
mesmo não acontece no Castelo, onde as proporções de há muito documentadas (Pimenta, 2005) são
confirmadas pelo conjunto publicado da Rua do Recolhimento, nº 68-70 (Mota et al., 2014) e por outros
sítios analisados no âmbito deste estudo: o Largo de Santa Cruz do Castelo, o Pátio José Pedreira e os
Balneários da Rua de Santa Cruz do Castelo.

204
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

53
5232 (2011)
(2005)

5231
1402 (2005)
(2006)

2798 5229
(2010) (2005)

69
(2011) 5233
(2005)

736
(2001)
1400
(2006)
2789
(2010)

2790
(2010)
22
(2013)

17
(2013)
72
(2011)

2791
(2010)
732
57
(2001)
(2011)

52
(2011)

56
(2011)
60
(2011)
1399
(2006)
785
10cm
(2010)

Estampa 98 – Teatro Romano. Ulterior, costa meridional: T-7.4.3.3. (5232, 53, 1402, 5231, 2798, 5229, 69, 22, 736),
T-9.1.1.1. (5233). Península Itálica, costa tirrénica: Greco-Itálica (1400, 2789, 2790, 17, 72, 2791), Dressel 1 (57, 52,
56, 785), Greco-Itálica/Dressel 1 (732). Península Itálica, costa adriática: Lamboglia 2 (1399), Ovóide adriática (60).

205
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 123 18,01% 48 14,46% 94,12% 94,12%
Tipo Urceus? 1 0,15% 1 0,3% 1,96% 1,96%
Lusitânia, Tejo/Sado
Indeterminado 2 0,29% 2 0,6% 3,92% 3,92%
Total 126 18,45% 51 15,36% 100% 100%
Dressel 7-11 16 2,34% 6 1,81% 19,35% 3,7% 2,16%
Dressel 7 4 0,59% 4 1,2% 12,9% 2,47% 1,44%
Dressel 9-10 8 1,17% 8 2,41% 25,81% 4,94% 2,88%
Bética, costa ocidental Tipo Urceus 1 0,15% 1 0,3% 3,23% 0,62% 0,36%
Dressel 28 1 0,15% 1 0,3% 3,23% 0,62% 0,36%
Indeterminado 21 3,07% 11 3,31% 35,48% 6,79% 3,96%
Total 51 7,47% 31 9,34% 100% 11,15%
Oberaden 83/Ovóide 7 6 0,88% 6 1,81% 4,58% 3,7% 2,16%
Haltern 71 11 1,61% 10 3,01% 7,63% 6,17% 3,6%
Oberaden 83/Ovóide 7-Haltern 71 60 8,78% 14 4,22% 10,69% 8,64% 5,04%
Ovóide indeterminada 8 1,17% 6 1,81% 4,58% 3,7% 2,16%
Haltern 70 91 13,3% 14 4,22% 10,69% 8,64% 5,04%
Haltern 70 (inicial) 19 2,78% 19 5,72% 14,5% 11,73% 6,83%
Haltern 70 (Augusto-Tibério) 15 2,2% 15 4,52% 11,45% 9,26% 5,4%
Bética, Vale do Guadalquivir Tipo Urceus 5 0,73% 5 1,51% 3,82% 3,09% 1,8%
Dressel 2-4 3 0,44% 2 0,6% 1,53% 1,23% 0,72%
Dressel 7-11 2 0,29% 1 0,3% 0,76% 0,62% 0,36%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 22 3,22% 18 5,42% 13,74% 11,11% 6,47%
Dressel 20 1 0,15% 1 0,3% 0,76% 0,62% 0,36%
Verulamium 1908 10 1,46% 10 3,01% 7,63% 6,17% 3,6%
Indeterminado 11 1,61% 10 3,01% 7,63% 6,17% 3,6%
Total 264 38,65% 131 39,46% 100% 100% 47,1%
Greco-Itálica 2 0,29% 1 0,3% 2,08% 1,54% 0,36%
Dressel 1 2 0,29% 1 0,3% 2,08% 1,54% 0,35%
Hispânia Ulterior, T-7.4.3.3. 75 10,98% 41 12,35% 85,42% 63,08% 14,80%
costa meridional T-9.1.1.1. 4 0,59% 4 1,2% 8,33% 6,15% 1,44%
Ovóide gaditana 1 0,15% 1 0,3% 2,08% 1,54% 0,36%
Total 84 12,3% 48 14,46% 100% 17,31%
Classe 67/Ovóide 1 1 0,15% 1 0,3% 5,88% 1,54% 0,36%
Ovóide 4 2 0,29% 2 0,6% 11,76% 3,08% 0,72%
Hispânia Ulterior,
Ovóide 5 1 0,15% 1 0,3% 5,88% 1,54% 0,36%
Vale do Guadalquivir
Ovóide 6 13 1,9% 13 3,92% 76,47% 20% 4,7%
Total 17 2,49% 17 5,12% 100% 100% 6,12%
Tarraconense, Pascual 1 1 0,15% 1 0,3% 100% 100% 0,36%
costa setentrional Total 1 0,15% 1 0,3% 100% 100% 0,36%
Greco-Itálica 18 2,64% 18 5,42% 46,15% 37,5% 6,47%
Dressel 1 15 2,2% 15 4,52% 38,46% 31,25% 5,4%
Península Itálica, Greco-Itálica/Dressel 1 78 11,42% 3 0,9% 7,69% 6,25% 1,08%
costa tirrénica Dressel 2-4 3 0,44% 2 0,6% 5,13% 4,17% 0,72%
Indeterminado 2 0,29% 1 0,3% 2,56% 2,08% 0,36%
Total 116 16,98% 39 11,75% 100% 14,03%
Greco-Itálica 9 1,32% 5 1,51% 62,5% 10,42% 1,8%
Península Itálica, Lamboglia 2 2 0,29% 2 0,6% 25% 4,17% 0,72%
costa adriática Ovóide adriática 1 0,15% 1 0,3% 12,5% 2,08% 0,36%
Total 12 1,76% 8 2,41% 100% 2,88%
Richborough 527 2 0,29% 1 0,3% 100% 2,08% 0,36%
Ilha de Lipari
Total 2 0,29% 1 0,3% 100% 100% 0,36%
T-7.4.2.1./T-7.4.3.1. 1 0,15% 1 0,3% 50% 50% 0,36%
Norte de África Africana Antiga 2 0,29% 1 0,3% 50% 50% 0,36%
Total 3 0,44% 2 0,6% 100% 100% 0,72%
Indeterminado 7 1,02% 3 0,9% 100% 100%
Indeterminada
Total 7 1,02% 3 0,9% 100% 100%
TOTAL 683 100% 332 100% 100%

Tabela 74 – Quantificação da totalidade das ânforas do Teatro Romano (inéditas e publicadas).

206
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Greco-Itálica 2 0,88% 1 0,9% 2,08% 1,54% 0,9%
Dressel 1 2 0,88% 1 0,9% 2,08% 1,54% 0,9%
Hispânia Ulterior, T-7.4.3.3. 75 33,04% 41 36,94% 85,42% 63,08% 36,94%
costa meridional T-9.1.1.1. 4 1,76% 4 3,6% 8,33% 6,15% 3,64%
Ovóide gaditana 1 0,44% 1 0,9% 2,08% 1,54% 0,9%
Total 84 37% 48 43,24% 100% 43,28%
Classe 67/Ovóide 1 1 0,44% 1 0,9% 5,88% 1,54% 0,9%
Ovóide 4 2 0,88% 2 1,8% 11,76% 3,08% 1,8%
Hispânia Ulterior,
Ovóide 5 1 0,44% 1 0,9% 5,88% 1,54% 0,9%
Vale do Guadalquivir
Ovóide 6 13 5,73% 13 11,71% 76,47% 20% 11,71%
Total 17 7,49% 17 15,32% 100% 100% 15,32%
Greco-Itálica 18 7,93% 18 16,22% 50% 40,91% 16,22%
Península Itálica, Dressel 1 15 6,61% 15 13,51% 41,67% 34,09% 13,51%
costa tirrénica Greco-Itálica/Dressel 1 78 34,36% 3 2,7% 8,33% 6,82% 2,7%
Total 111 48,9% 36 32,43% 100% 32,43%
Greco-Itálica 9 3,96% 5 4,5% 62,5% 11,36% 4,5%
Península Itálica, Lamboglia 2 2 0,88% 2 1,8% 25% 4,55% 1,8%
costa adriática Ovóide adriática 1 0,44% 1 0,9% 12,5% 2,27% 0,91%
Total 12 5,29% 8 7,21% 100% 7,22%
T-7.4.2.1./T-7.4.3.1. 1 0,44% 1 0,9% 50% 50% 0,9%
Norte de África Africana Antiga 2 0,88% 1 0,9% 50% 50% 0,9%
Total 3 1,32% 2 1,8% 100% 100% 1,8%
TOTAL 227 100% 111 100% 100%

Tabela 75 – Quantificação da totalidade das ânforas republicanas do Teatro Romano (inéditas e publicadas).

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Greco-Itálica 1 0,90% 2,08% 2,08% 2,04%
Dressel 1 1 0,90% 2,08% 2,08% 2,04%
T-7.4.3.3. 41 36,94% 85,42% 85,42% 83,67%
Hispânia Ulterior, costa meridional
T-9.1.1.1. 4 3,60% 8,33% 8,33% 8,16%
Preparados
Ovóide Gaditana 1 0,90% 2,08% 2,08% 2,04%
piscícolas
Total 48 43,24% 100% 100% 97,96%
T-7.4.2.1. / T-7.4.3.1. 1 0,90% 100% 100% 2,04%
Norte de África
Total 1 0,90% 100% 100% 2,04%
Total 49 44,14% 100%
Ovóide 4 2 1,80% 100% 100% 4,44%
Hispânia Ulterior, Vale do Guadalquivir
Total 2 1,80% 100% 100% 4,44%
Greco-Itálica 18 16,22% 50,00% 41,86% 40%
Dressel 1 15 13,51% 41,67% 34,88% 33%
Península Itálica, costa tirrénica
Vinho e Greco-Itálica/Dressel 1 3 2,7% 8,33% 6,98% 6,67%
derivados Total 36 32,43% 100% 80,0%
Greco-Itálica 5 4,50% 71% 11,63% 11%
Península Itálica, costa adriática
Lamboglia 2 2 1,80% 29% 4,65% 4%
Total 7 6,31% 100% 100% 15,6%
Total 45 40,54% 100%
Classe 67/Ovóide 1 1 0,90% 6,67% 6,67% 5,88%
Ovóide 5 1 0,90% 6,67% 6,67% 5,88%
Hispânia Ulterior, Vale do Guadalquivir
Ovóide 6 13 11,71% 86,67% 86,67% 76,47%
Total 15 13,51% 100% 100% 88,24%
Azeite Ovóide adriática 1 0,90% 100% 50,0% 5,88%
Península Itálica, costa adriática
Total 1 0,90% 100% 5,88%
Africana Antiga 1 0,90% 100% 50% 5,88%
Norte de África
Total 1 0,90% 100% 100% 5,88%
Total 17 15,32% 100%
TOTAL 111 100%

Tabela 76 – Quantificação por conteúdo da totalidade das ânforas republicanas do Teatro (inéditas e publicadas).

207
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

24
(2013)
2793
2 (2010)
(2014)

2792
(2010) 4
(2014)

59
(2011)
55 5236
(2011) (2005)
10cm

Estampa 99 – Teatro Romano. Lusitânia: Lusitana Antiga (24, 2793, 2792, 2, 55, 4, 59), tipo Urceus lusitano? (5236).

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 123 29,78% 48 24,74% 97,96% 97,96%
Lusitânia, Tejo/Sado Tipo Urceus? 1 0,24% 1 0,52% 2,04% 2,04%
Total 124 30,02% 49 25,26% 100% 100%
Dressel 7-11 16 3,87% 6 3,09% 30% 4,26% 4,14%
Dressel 7 4 0,97% 4 2,06% 20% 2,84% 2,76%
Dressel 9-10 8 1,94% 8 4,12% 40% 5,67% 5,52%
Bética, costa ocidental
Tipo Urceus 1 0,24% 1 0,52% 5% 0,71% 0,69%
Dressel 28 1 0,24% 1 0,52% 5% 0,71% 0,69%
Total 30 7,26% 20 10,31% 100% 13,79%
Oberaden 83/Ovóide 7 6 1,45% 6 3,09% 4,96% 4,26% 4,14%
Haltern 71 11 2,66% 10 5,15% 8,26% 7,09% 6,90%
Oberaden 83/Ovóide 7-Haltern 71 60 14,53% 14 7,22% 11,57% 9,93% 9,66%
Ovóide indeterminada 8 1,94% 6 3,09% 4,96% 4,26% 4,14%
Haltern 70 91 22,0% 14 7,22% 11,57% 9,93% 9,66%
Haltern 70 (inicial) 19 4,6% 19 9,79% 15,7% 13,48% 13,10%
Haltern 70 (Augusto-Tibério) 15 3,63% 15 7,73% 12,4% 10,6% 10,34%
Bética, Vale do Guadalquivir
Tipo Urceus 5 1,21% 5 2,58% 4,13% 3,55% 3,45%
Dressel 2-4 3 0,73% 2 1,03% 1,65% 1,42% 1,38%
Dressel 7-11 2 0,48% 1 0,52% 0,83% 0,71% 0,69%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 22 5,33% 18 9,28% 14,88% 12,77% 12,41%
Dressel 20 1 0,24% 1 0,52% 0,83% 0,71% 0,69%
Verulamium 1908 10 2,42% 10 5,15% 8,26% 7,09% 6,9%
Total 253 61,26% 121 62,37% 100% 100% 83,45%
Tarraconense, Pascual 1 1 0,24% 1 0,52% 100% 100% 0,69%
costa setentrional Total 1 0,24% 1 0,52% 100% 100% 0,69%
Dressel 2-4 3 0,73% 2 1,03% 100,00% 66,67% 1,38%
Península Itálica, costa tirrénica
Total 3 0,73% 2 1,03% 100% 1,38%
Richborough 527 2 0,48% 1 0,52% 100% 33,33% 0,69%
Ilha de Lipari
Total 2 0,48% 1 0,52% 100% 100% 0,69%
TOTAL 413 100% 194 100% 100%

Tabela 77 – Quantificação da totalidade das ânforas do Principado do Teatro Romano (inéditas e publicadas).

208
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

13 5235
(2013) (2005)

15
(2013)

25 1415
(2013) (2006)
5221
(2005)

5228
(2005)
51
(2011)
2796
(2010)
3
(2013)
7
2795 (2014)
(2010)
3122
(2005)

3104
1 (2005)
(2014) 89
(2001)

5225
5222 (2005)
1414
(2005)
(2006)

1411 3
(2006) (2013)
10
(2013)

2797 2794
(2010) (2010)
68 14
(2011) (2013)

1
6 (2013)
(2014)

731 5224
5223 12
(2001) (2005) 10cm
(2005) (2013)

Estampa 100 – Teatro Romano. Bética, costa ocidental: Ovóide Gaditana (5235), Dressel 7 (1415), Dressel 7-11 (13,
15(?), 25). Bética, Vale do Guadalquivir: Ovóide 6 (2796, 5221(?), 51), Oberaden 83/Ovóide 7 (5228), Haltern 71
(2795, 7), Dressel 20 Júlio-Cláudia (3), Dressel 20 (1), Urceus, tipo 3 (3122, 89), Urceus, tipo 1 (3104), Haltern 70
Inicial (1414, 1411, 10, 3(?), 5225, 2794), Haltern 70 Augusto-Tibério (2797, 1, 6, 5224), Haltern 70 (5223, 14, 68,
12), Verulamium 1908 (5222). Tarraconense, costa setentrional: Pascual 1 (731).

209
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Lusitana Antiga 48 24,74% 100% 100% 71,64%
Lusitânia, Tejo/Sado
Total 48 24,74% 100% 100% 71,64%
Dressel 7-11 6 3,09% 33,33% 31,58% 8,96%
Preparados
piscícolas

Dressel 7 4 2,06% 22,22% 21,05% 5,97%


Bética, costa ocidental
Dressel 9-10 8 4,12% 44,44% 42,11% 11,94%
Total 18 9,28% 100% 26,87%
Dressel 7-11 1 0,52% 100% 5,26% 1,49%
Bética, Vale do Guadalquivir
Total 1 0,52% 100% 100% 1,49%
Total 67 34,54% 100%
Tipo Urceus? 1 0,52% 100% 100% 1,41%
Lusitânia, Tejo/Sado
Total 1 0,52% 100% 100% 1,41%
Tipo Urceus 1 0,52% 50% 1,49% 1,43%
Bética, costa ocidental Dressel 28 1 0,52% 50% 1,49% 1,41%
Total 2 1,03% 100% 2,84%
Haltern 70 14 7,22% 21,54% 20,9% 19,72%
Vinho e derivados

Haltern 70 (inicial) 19 9,79% 29,23% 28,36% 26,76%


Haltern 70 (Augusto-Tibério) 15 7,73% 23,08% 22,39% 21,13%
Bética, Vale do Guadalquivir Tipo Urceus 5 2,58% 7,69% 7,46% 7,04%
Dressel 2-4 2 1,03% 3,08% 2,99% 2,82%
Verulamium 1908 10 5,15% 15,38% 14,93% 14,08%
Total 65 33,51% 100% 100% 91,55%
Pascual 1 1 0,52% 100% 100% 1,41%
Tarraconense, costa setentrional
Total 1 0,52% 100% 100% 1,41%
Dressel 2-4 2 1,03% 100% 100% 2,82%
Península Itálica, costa tirrénica
Total 2 1,03% 100% 100% 2,82%
Total 71 36,60% 100%
Oberaden 83/Ovóide 7 6 3,09% 12,24% 12,24% 12,24%
Haltern 71 10 5,15% 20,41% 20,41% 20,41%
Azeite

Oberaden 83/Ovóide 7/Haltern 71 14 7,22% 28,57% 28,57% 28,57%


Bética, Vale do Guadalquivir
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 18 9,28% 36,73% 36,73% 36,73%
Dressel 20 1 0,52% 2,04% 2,04% 2,04%
Total 49 25,26% 100% 100% 100%
Total 49 25,26% 100%
Richborough 527 1 0,52% 100% 100% 100%
Ilha de Lipari
Alúmen Total 1 0,52% 100% 100% 100%
Total 1 0,52% 100%
Ovóide indeterminada 6 3,09% 100% 100% 100%
Bética, Vale do Guadalquivir
Indet. Total 6 3,09% 100% 100% 100%
Total 6 3,09% 100%
TOTAL 194 100%

Tabela 78 – Quantificação por conteúdo da totalidade das ânforas do Principado do Teatro Romano (inéditas e
publicadas).

Relativamente ao Principado, as principais discrepâncias observadas entre o conjunto global do


Teatro e a amostra publicada referem-se às percentagens do tipo de produtos importados, enquan-
to as regiões de origem patenteiam proporções similares. Assim, o peso dos preparados piscícolas
decresce, de 41,48% para 34,54%, mantendo-se o azeite em percentagens praticamente iguais (25,19%
- 25,26%), aumentando o consumo de vinho (32,59% - 36,6%), enquanto o alúmen se mantém em valores
idênticos. Para além dos sítios localizados na actual Baixa Pombalina (Banco de Portugal, Zara e Praça
da Figueira), onde o peixe é dominante, as amostras mais significativas (Sé e Rua das Pedras Negras)
denunciam a prevalência do vinho, situação igualmente verificável em conjuntos mais reduzidos como
o da Rua dos Bacalhoeiros, Escadinhas de São Crispim, Casa dos Bicos (Filipe et al., 2016) e Largo de
Santo António. As excepções são constituídas pelo Palácio dos Condes de Penafiel e por amostras com
escassa fiabilidade estatística, como a Rua de São Mamede e a Rua dos Remédios (Silva, 2015a). Já o
consumo de azeite, embora bem representado no Teatro, não exibe significativas diferenças nos prin-
cipais conjuntos da cidade.

210
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

A ausência de ânforas norte-africanas e do Mediterrâneo Oriental no conjunto do Teatro Romano


parece concorrer no sentido do que se referiu anteriormente (v. supra), isto é, durante o Principado a
chegada a Olisipo dos artigos produzidos naquelas regiões ter-se-á incrementado sobretudo a partir do
séc. II d.C., particularmente na sua segunda metade, afigurando-se esporádico entre o Principado de
Augusto e o final do séc. I d.C..

5.22. Claustros da Sé (anexo I.22)

Desenvolvidas desde o início da última década do século passado, as intervenções arqueológi-


cas conduzidas na área dos claustros da Sé constituem-se como das mais emblemáticas na cidade de
Lisboa, fruto essencialmente dos expressivos vestígios ali colocados a descoberto e dos importantes
dados obtidos para o conhecimento do desenvolvimento da cidade de Lisboa, bem como do apreciável
intervalo de tempo em que se desenrolaram as diversas campanhas de escavação (1990-2011) e do facto
de se tratar de um sítio aberto ao público. Os trabalhos foram dirigidos numa primeira fase por Clemen-
tino Amaro e José Luís de Matos, então funcionários do extinto Instituto Português do Património Cul-
tural (IPPC), e mais tarde por Alexandra Gaspar do Instituto Português do Património Arquitectónico
(IPPAR), actual Direcção Geral do Património Cultural (DGPC).
O local, actualmente uma plataforma artificial, apresentava em Época Romana uma apreciável
pendente no sentido Norte-Sul, localizando-se então numa área central da cidade de Olisipo, na encosta
Sul do morro do Castelo e não muito afastado do seu sopé. A primeira campanha teve início em 1990 sen-
do despoletada pelo aluimento de um tabuado de madeira que tapava a boca de uma cisterna, situada
no jardim dos claustros, tendo-se sucedido até 1999 as campanhas arqueológicas e alargado a superfície
de escavação a praticamente toda a área do jardim (Matos, 1994; Amaro e Matos, 1996). De forma mais
intermitente, os trabalhos de escavação tiveram continuidade na década seguinte com campanhas em
2004, 2005, 2010 e 2011 (comunicação pessoal de Alexandra Gaspar, a quem se agradece).
As realidades documentadas durante aquelas duas décadas de trabalhos arqueológicos atestam
uma ocupação particularmente intensa do espaço, numa zona privilegiada da cidade, durante um lapso
temporal que se estende pelo menos desde o período orientalizante até Época Medieval. Nas primeiras
campanhas de escavação foi registada uma considerável potência estratigráfica de formação atribuível
à Idade do Ferro (c. 1,30 m), numa sondagem com cerca de 5,5 m de profundidade, onde os abundan-
tes materiais arqueológicos recolhidos parecem indicar uma ocupação sobretudo centrada no período
orientalizante (Amaro, 1993; Arruda et al., 2000; Arruda, 2002). Registe-se ainda que deste sítio eram
já conhecidos materiais dessa cronologia, recolhidos por Vergílio Correia na segunda década do séc. XX
(Cardoso, 1994). Para além dos importantes níveis romanos, de que adiante se fará referência, o local
teve também uma relevante ocupação durante o período Islâmico. Balizada entre os meados do séc. XI
e a reconquista de Lisboa, em 1147, essa ocupação é testemunhada por uma área habitacional situada
numa plataforma superior, a Norte, e por um edifício público, relacionado com a mesquita e implantado
numa plataforma inferior, com um desnível de cerca de 4 m. Estas estruturas viriam a ser reutilizadas
na fase pós-reconquista, verificando-se a continuidade da sua ocupação. Já no final do séc. XIII/início do
séc. XIV toda esta área viria a ser aterrada e as estruturas parcialmente destruídas durante a construção
do claustro o que, por um lado, produziu uma profunda alteração na topografia daquela zona da cidade
e, por outro, garantiu a preservação dos seus vestígios arqueológicos até à segunda metade do séc.
XVIII (Gaspar e Gomes, 2017a; Gaspar e Gomes, 2017b). Com efeito, datam desta altura algumas cons-
truções cujas fundações, de grande envergadura, provocaram um impacte assinalável na estratigrafia
do local (Matos, 1994; Amaro e Matos, 1996). Como seria expectável, foram recolhidos contentores
anfóricos em todos estes contextos pós-romanos. Esta residualidade era particularmente expressiva no
grande aterro medieval relacionado com a construção do claustro, de onde provém cerca de um quarto
das ânforas deste sítio.

211
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Quanto aos vestígios enquadráveis no período Romano21, que aqui directamente interessam, o
registo estratigráfico observado nos claustros da Sé de Lisboa logrou documentar uma extensa diacro-
nia de ocupação balizada entre o séc. II/I a.C. e o séc. VI d.C. (Pimenta, 2007; Gaspar e Gomes, 2017a). As
principais realidades desta época registadas no local correspondem, resumidamente, a uma via secun-
dária orientada a Sul-Norte, cardine, em torno da qual se organiza um conjunto urbanístico constituído
por lojas (tabernae) e uma casa (localizada no canto NE da área intervencionada e apenas parcialmente
identificada), bem como uma cloaca, situada sob a via, com 1,30 m de altura e 0,64 m de largura. A fun-
dação destas construções inseriu-se numa profunda alteração urbanística que terá ocorrido na primeira
metade do séc. I d.C. (Matos, 1994; Amaro e Matos, 1996; Gaspar e Gomes, 2017a). A via, construída com
lajes de calcário e documentada numa extensão de 17,5 m, apresentando entre 3 m e 3,5 m de largura,
corresponderia a um eixo de circulação pedonal uma vez que se organizava em pequenos patamares
separados por degraus, chegando estes a atingir 0,25 m. Este conjunto urbanístico ter-se-á mantido
sem significativas alterações até ao séc. IV d.C., altura em que toda a superfície correspondente ao eixo
de circulação é privatizada e possivelmente incorporada na área da aludida habitação através da cons-
trução de uma série de muros que compartimentam aquele espaço, outrora público, mantendo-se a
continuidade de utilização do lajeado. O abandono destas estruturas parece ocorrer já na segunda me-
tade do séc. VI d.C., com excepção da cloaca que terá mantido a sua função durante o período islâmico,
sendo abandonada já depois da reconquista (Gaspar e Gomes, 2015; Gaspar e Gomes, 2017a;).
Concretamente em relação aos contextos de proveniência das ânforas, da fase mais recuada,
genericamente enquadrável no séc. I a.C., foi registado um muro, conservado em 2 m de altura, ao
qual se encontrava associada uma área de circulação constituída por um pavimento de seixos e cerâ-
mica rolada, regularizado por argila (Gaspar e Gomes, 2017a). Sob este último, documentou-se uma
sequência estratigráfica onde, entre outros materiais, se identificou um conjunto apreciável de ânforas,
observando-se sobretudo formas típicas da segunda metade do séc. II e início do I a.C. (Greco-Itálicas,

12601 12621

12571
12623 12668

12614
12632
10cm

Estampa 101 – Claustros da Sé. Contexto de entre o segundo e terceiro quartéis do séc. I a.C. Península Itálica,
costa tirrénica: Dressel 1 (12668, 12632), Indeterminado (12623). Península Itálica, costa adriática: Lamboglia 2
(12614). Ulterior, costa meridional: T-7.4.3.3. (12601), T-9.1.1.1. (12621). Ulterior, Vale do Guadalquivir: Classe 67/
Ovóide 1 (12571).

21. Devo a Alexandra Gaspar, a quem muito agradeço, a cedência dos dados relativos aos contextos romanos que de seguida se
mencionam, particularmente os que permanecem inéditos. Como tal, e excepto quando se indica referência bibliográfica específica,
remete-se para essa comunicação pessoal as informações constantes ao longo do texto sobre este sítio, dispensando-se assim a
desnecessária e constante repetição da fonte.

212
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

Dressel 1, Lamboglia 2, T-7.4.3.3. e T-9.1.1.1.) mas também a presença da Classe 67/Ovóide 1, produzida
no Vale do Guadalquivir a partir do segundo quartel do séc. I a.C.. Estes contextos, onde se inclui tam-
bém o pavimento, foram genericamente datados dos dois quartéis centrais da primeira centúria antes
da nossa Era. Mais antigo poderá ser o depósito [928] (quadrados IJ24), em área não muito afastada
dos níveis atrás mencionados, podendo eventualmente recuar ao séc. II a.C., ainda que as suas balizas
cronológicas sejam demasiado latas (138-25 a.C.) para atestar com segurança uma datação tão recuada.
Embora a presença de ânforas e outras cerâmicas republicanas seja uma constante nos distintos níveis
da Sé, os contextos escavados seguramente datados dessa época e com ocorrência de contentores
anfóricos resumem-se aos que atrás se fez alusão.

Augusto
12596

12704

12649
12705

Augusto - Tibério
12622

12684

12692

12711
12672

2º quartel séc. I
16216

16197

16195
16191
10cm
16171

Estampa 102 – Claustros da Sé. Contexto do Principado de Augusto. Bética, costa ocidental: Dressel 9 (12704,
12596), Dressel 12 (12705). Bética, Vale do Guadalquivir: Ovóide 6 (12649). Contextos Augusto - Tibério. Lusitânia:
Lusitana Antiga (12622). Bética, Vale do Guadalquivir: Classe 67/Ovóide 1 (12684), Haltern 70 (12692, 12672,
12711). Contextos 2º quartel do séc. I d.C.. Bética, Vale do Guadalquivir: Haltern 70 (16197), Haltern 71 (16171),
Ovóide indeterminada (16191). Tarraconense, costa setentrional: Oberaden 74 (16216). Mediterrâneo oriental:
Tardo-Ródia/Camulodunum 184 (16195).

213
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Tomando em conta apenas o espectro temporal contemplado neste trabalho, da República ao


Principado, e deixando de lado os níveis tardios, os contextos preservados de onde provém o maior
número de materiais enquadram-se genericamente entre Augusto e os meados do séc. I d.C., relacio-
nando-se em parte com as acções de urbanização que se registam nesta zona durante a primeira me-
tade do séc. I d.C. (Gaspar e Gomes, 2017a), destacando-se a aparente quase total ausência de níveis
atribuíveis ao séc. II d.C..
O já referido pavimento republicano foi desactivado em momento impreciso do Principado de
Augusto, possivelmente ainda antes do virar da Era, altura em que é substituído por um outro. O con-
junto artefactual exumado neste último e no depósito que cobre o piso republicano/preparação do
pavimento augustano (correspondente ao seu abandono/desactivação) é constituído por ânforas dos
tipos Greco-Itálicas, Dressel 1, T-7.4.3.3., Dressel 9, Dressel 7-11, Dressel 12, Haltern 70 e Ovóide 6, a par
de outras categorias cerâmicas como campanienses, terra sigillata itálica, engobe vermelho pompeia-
no, paredes finas e cerâmica cinzenta. Já o conjunto de materiais exumados nos depósitos que cobrem
o mencionado piso Augustano, parece indicar que a sua desactivação/abandono ocorreu em data não
muito afastada da sua construção, possivelmente ainda durante a Época de Augusto ou já na de Tibério,
registando-se a associação de ânforas de tipo Urceus, Haltern 70 béticas e lusitanas, Lusitanas Antigas,
T-7.4.3.3. (residuais?) Classe 67/Ovóide 1 e outros tipos ovóides do Guadalquivir, a par de outras formas
certamente residuais como as Greco-Itálicas e a Dressel 1.

16297
13255
16293

16295

16294

16292
16296

16291

13256
13248

11429

13232

13236

16302
13243
10cm
11411

Estampa 103 – Claustros da Sé. Contextos 2º terço do séc. I d.C.. Bética, Vale do Guadalquivir: Haltern 70 (16297,
16293, 16294, 13255, 16295, 16292, 16296), Dressel 20 Júlio-Cláudia (16291, 13248, 13256). Bética, costa oci-
dental: Dressel 12 (11429), Dressel 9-10 (13232). Lusitânia: Lusitana Antiga (13236, 13243). Península Itálica, costa
tirrénica: Dressel 2-4 (16302). Mediterrâneo oriental: Dressel 24 (11411).

214
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

Já na área dos quadrados IJ24, a que já se fez referência, foi documentada uma interessante
sequência estratigráfica sobre os mencionados contextos republicanos registados nesses quadrados,
onde se observou uma sucessão de contextos aparentemente datáveis: entre Augusto e inícios de Ti-
bério, com presença de T-7.4.3.3., Haltern 70, Dressel 7-11, Lusitanas Antigas e uma forma ovóide de tipo
indeterminado do Vale do Guadalquivir, bem como Greco-Itálicas; do segundo quartel do séc. I d.C.,
com Haltern 70, Dressel 28, Haltern 71, Oberaden 74, Lusitana Antiga, Tardo-Ródia/Camulodunum 184,
tipo indeterminado do Norte de África e ovóide indeterminada do Guadalquivir, bem como as residuais
Greco-Itálica, Dressel 1, Apani VII A/B e T-7.4.3.3.; e da segunda metade do séc. I d.C., onde se atestaram
Haltern 70, Dressel 20 parva e ovóide indeterminada do Guadalquivir, bem como de forma residual as
Greco-Itálicas e as T-7.4.3.3.

16242
16364

16282

16271

10cm

10 cm
16373 16002

Estampa 104 – Claustros da Sé. Contexto 1ª metade do séc. III d.C.. Lusitânia: Lusitana 3 (16373, 16364), Dressel 14
(16271). Tarraconense, costa setentrional: Dressel 3-2 (16282). Norte de África: Tripolitana II (16002), Africana IB
(16242).

215
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Também nos quadrados KLM20-21 se registou uma sucessão de contextos cronologicamente


bem definidos e enquadráveis: entre o último terço do séc. I a.C. e o primeiro quartel do séc. I d.C.,
com Greco-Itálicas, T-7.4.3.3., Ovóide 6, Haltern 70, tipo Urceus, Lusitana Antiga, Tipo 2 de Peniche; e no
segundo terço do séc. I d.C., onde se recolheu um vasto conjunto anfórico constituído por envases dos
tipos Ovóide 6, Dressel 12, Dressel 7-11, Haltern 70, Dressel 24, ovóides indeterminadas do Guadalquivir,
Lusitanas Antigas, Dressel 2-4 itálica e Dressel 20 Júlio-Cláudia, bem como por Dressel 1 e T-7.4.3.3, clara-
mente residuais. A cronologia deste último contexto caracteriza igualmente um nível (com idêntica pre-
sença expressiva de ânforas) documentado na área dos quadrados KL18-19, verificando-se basicamente
os mesmos tipos e a prevalência de formas mais antigas face às Dressel 20 Júlio-Cláudias, havendo ape-
nas que adicionar as Oberaden 83/Ovóide 7 e as T-7.4.2.1./ T-7.4.3.1. norte-africanas, de resto residuais.
Para além de um contexto datado da primeira metade do séc. I d.C., onde os escassos fragmen-
tos de ânforas se resumem a duas asas e um fundo de Greco-Itálica/Dressel 1, um bordo de T-7.4.3.3. e
outro de Oberaden 83/Ovóide 7, a escavação dos quadrados KL25 viria a permitir a documentação de
uma camada de preparação (de fraca potência) para a construção de um piso em opus signinum, cuja
formação se parece situar genericamente na segunda metade do séc. I d.C. e onde se identificou a me-
tade superior de uma Gauloise 4 com a marca MATVRI associada a um fundo de Greco-Itálica/Dressel 1.
Por fim, cabe ainda realçar um importante contexto situado nos quadrados MN24 e datado da
primeira metade do séc. III onde, a par de Dressel 14, Lusitana 3, Dressel 20 do séc. III d.C., Africana 1B e
Dressel 3-2 tarraconense, se recolheu uma Lusitana 3 completa e uma Tripolitana II à qual apenas faltava
o colo e o bordo.
As cronologias avançadas para os contextos que atrás se mencionaram tiveram em conta não só
os dados das ânforas mas também das restantes categorias cerâmicas aí atestadas, como a cerâmica
campaniense, a terra sigillata, as paredes finas e as lucernas, cujo estudo se encontra em desenvolvi-
mento por Alexandra Gaspar, podendo a conclusão deste vir a precisar de forma mais rigorosa as bali-
zas cronológicas de alguns desses níveis.
O conjunto anfórico recolhido nas escavações dos claustros da Sé de Lisboa corresponde a um
dos mais numerosos no âmbito dos sítios aqui estudados - apenas ultrapassado pelos da Praça da Fi-
gueira e do Banco de Portugal - e ao mais amplo e diversificado no que ao número de tipos se refere,
tendo sido identificadas 11 regiões produtoras e 59 tipos distintos imputáveis ao período Republicano e
ao Principado. Deixando de parte o importante e interessante conjunto de ânforas tardias, que significa
cerca de 30% da totalidade, a amostra estudada é constituída por 1037 fragmentos diagnosticáveis (446
bordos, 137 fundos, 449 asas e cinco paredes), equivalentes a um Número Mínimo de 489 Indivíduos,
dos quais 35,17% correspondem a produções da República, 55,42% ao Principado e 9,41% a contentores
de tipo e cronologia indeterminados, podendo-se considerar um conjunto de fiabilidade estatística acei-
tável, ainda que muito próximo dos valores considerados necessários para uma fiabilidade alta (Molina
Vidal, 1997). A sua expressividade quantitativa e a peculiar amplitude de formas e regiões de proveniên-
cia, aliada ao importante conjunto urbanístico e contextos bem definidos de onde procedem os mate-
riais, atribuem à amostra da Sé uma particular importância para a leitura das questões relacionadas com
o comércio e o consumo de alimentos em Olisipo e, particularmente, nesta zona da cidade.
Relativamente aos contentores republicanos, a amostra é composta por 350 fragmentos (170
bordos, 40 fundos e 140 asas) e 172 indivíduos, procedentes de cinco regiões produtoras diferentes e
enquadráveis em 17 tipos, correspondendo ao maior conjunto desta época analisado à luz deste tra-
balho e apenas superiorizado pela expressiva amostra já publicada do Castelo de São Jorge (Pimenta,
2005). Sublinhe-se que a sua expressão quantitativa é deveras significativa - porventura mais do que os
números deixam antever - e significante do papel desta zona da cidade nessa época, na medida em que,
para além do peso que têm na totalidade das ânforas da Sé, onde representam 25% (incluindo aqui tam-
bém as produções tardias), haverá que considerar que, da área total escavada neste sítio, apenas numa
percentagem muito reduzida foram alcançados os níveis republicanos; o que, associado às estruturas
ali registadas, deverá constituir um importante indicador da intensa ocupação desta área durante esse
período. Os dados dos Armazéns Sommer (Ribeiro et al., 2017), do Pátio da Sr.ª de Murça, da Rua de São
João da Praça e do Teatro Romano, tanto os já publicados (Pimenta et al., 2005; Filipe, 2008a; Filipe,
2015) como os que se apresentaram no ponto anterior, parecem ser bem ilustrativos da área onde se

216
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

desenvolveria o principal núcleo da cidade de Olisipo durante a República, a que se deverão adicionar o
Palácio dos Condes de Penafiel, Rua das Pedras Negras, Escadinhas de São Crispim e Rua dos Bacalhoei-
ros (Filipe, 2008b), conferindo, pelo que acima se referiu, uma inequívoca centralidade à área onde hoje
se implanta a Sé Catedral.

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 27 2,60% 16 3,27% 11,94% 11,76%
Haltern 70 8 0,77% 6 1,23% 4,48% 4,41%
Dressel 14 97 9,35% 34 6,95% 25,37% 25,00%
Lusitânia, Tejo/Sado “Dressel 28” 2 0,19% 1 0,2% 0,75% 0,74%
Lusitana 3 120 11,57% 65 13,29% 48,51% 47,79%
Indeterminado 42 4,05% 12 2,45% 8,96% 8,82%
Total 296 28,54% 134 27% 100%
Tipo 2 1 0,1% 1 0,2% 50% 0,74%
Lusitânia, Peniche Tipo 7 1 0,1% 1 0,2% 50% 0,74%
Total 2 0,19% 2 0,41% 100% 100%
Dressel 12 3 0,29% 3 0,61% 12% 2,44% 0,87%
Dressel 7-11 17 1,64% 5 1,02% 20% 4,07% 1,45%
Dressel 9 4 0,39% 4 0,82% 16% 3,25% 1,16%
Dressel 9-10 4 0,39% 4 0,82% 16% 3,25% 1,16%
Bética, costa ocidental Beltrán II 4 0,39% 1 0,2% 4% 0,81% 0,29%
Beltrán IIA 2 0,19% 1 0,2% 4% 0,81% 0,29%
Beltrán IIB 1 0,1% 1 0,2% 4% 0,81% 0,29%
Indeterminado 19 1,83% 6 1,23% 24% 4,88% 1,74%
Total 54 5,21% 25 5,11% 100% 7,27%
Oberaden 83/Ovóide 7 5 0,48% 5 1,02% 5% 4,07% 1,45%
Haltern 71 4 0,39% 4 0,82% 4,08% 3,25% 1,16%
Oberaden 83/Ovóide 7 - Haltern 71 1 0,1% 1 0,2% 1,02% 0,81% 0,29%
Ovóide indeterminada 24 2,31% 2 0,41% 2,04% 1,63% 0,65%
Haltern 70 61 5,88% 13 2,66% 13,27% 10,57% 3,78%
Haltern 70 (inicial) 10 0,96% 10 2,04% 10% 8,13% 2,91%
Haltern 70 (Augusto-Tibério) 13 1,25% 13 2,66% 13,27% 10,57% 3,78%
Haltern 70 (Cláudio-Nero) 1 0,1% 1 0,2% 1,02% 0,81% 0,29%
Verulamium 1908 1 0,1% 1 0,2% 1,02% 0,81% 0,29%
Tipo Urceus 8 0,77% 3 0,61% 3,06% 2,44% 0,87%
Dressel 28 2 0,19% 1 0,2% 1,02% 0,81% 0,29%
Bética, Vale do Guadalquivir Dressel 2-4 1 0,1% 1 0,2% 1,02% 0,81% 0,29%
Dressel 7-11 4 0,39% 3 0,61% 3,06% 2,44% 0,87%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 16 1,54% 10 2,04% 10,2% 8,13% 2,91%
Dressel 20 (Nero-Vespasiano) 10 0,96% 5 1,02% 5,1% 4,07% 1,45%
Dressel 20 (Flávia-Trajana) 6 0,58% 2 0,41% 2,04% 1,63% 0,58%
Dressel 20 (Antonina) 12 1,16% 9 1,84% 9,18% 7,32% 2,62%
Dressel 20 (séc. III) 7 0,68% 3 0,61% 3,06% 2,44% 0,87%
Dressel 20 19 1,83% 3 0,61% 3,06% 2,44% 0,87%
Dressel 20 parva (Júlio-Cláudia) 1 0,1% 1 0,2% 1,02% 0,81% 0,29%
Dressel 20 parva 5 0,48% 2 0,41% 2,04% 1,63% 0,58%
Indeterminado 12 1,16% 5 1,02% 5,1% 4,07% 1,45%
Total 223 21,5% 98 20,04% 100% 100% 28,56%
Dressel 1 3 0,29% 3 0,61% 4,48% 3,33% 0,87%
T-7.4.3.3. 125 12,05% 60 12,27% 89,55% 66,67% 17,44%
Hispânia Ulterior,
T-9.1.1.1. 3 0,29% 3 0,61% 4,48% 3,33% 0,87%
costa meridional
Ovóide Gaditana 1 0,1% 1 0,2% 1,49% 1,11% 0,3%
Total 132 12,73% 67 13,7% 100% 19,48%
T-7.4.3.3. 1 0,1% 1 0,2% 4,35% 1,11% 0,29%
Classe 67/Ovóide 1 11 1,06% 7 1,43% 30,43% 7,78% 2,03%
Ovóide 4 2 0,19% 2 0,41% 8,7% 2,22% 0,58%
Hispânia Ulterior,
Ovóide 5 1 0,1% 1 0,2% 4,35% 1,11% 0,29%
Vale do Guadalquivir
Ovóide 6 10 0,96% 10 2,04% 43,48% 11,11% 2,91%
Ovóide 8 2 0,19% 2 0,41% 8,7% 2,22% 0,58%
Total 27 2,6% 23 4,7% 100% 100% 6,69%

Tabela 79 – Quantificação da totalidade das ânforas da Sé de Lisboa.

217
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Pascual 1 2 0,19% 1 0,2% 25% 25% 0,29%
Oberaden 74 1 0,1% 1 0,2% 25% 25% 0,29%
Tarraconense,
Dressel 3-2 1 0,1% 1 0,2% 25% 25% 0,29%
costa setentrional
Indeterminado 1 0,1% 1 0,2% 25% 25% 0,29%
Total 5 0,48% 4 0,82% 100% 100% 1,16%
Gauloise 1, var. B 1 0,1% 1 0,2% 11,11% 11,11% 0,29%
Gauloise 3 1 0,1% 1 0,2% 11,11% 11,11% 0,29%
Gália Narbonense Gauloise 4 9 0,87% 5 1,02% 55,56% 55,56% 1,45%
Indeterminado 4 0,39% 2 0,41% 22,22% 22,22% 0,58%
Total 15 1,45% 9 1,84% 100% 100% 2,62%
Greco-Itálica 31 2,99% 31 6,34% 42,47% 38,75% 9,01%
Dressel 1 47 4,53% 38 7,77% 52,05% 47,5% 11,05%
Península Itálica, Greco-Itálica/Dressel 1 92 8,87% 1 0,2% 1,37% 1,25% 0,29%
costa tirrénica Dressel 2-4 5 0,48% 2 0,41% 2,74% 2,5% 0,58%
Indeterminado 3 0,29% 1 0,2% 1,37% 1,25% 0,29%
Total 178 17,16% 73 14,93% 100% 21,22%
Greco-Itálica 2 0,19% 2 0,41% 33,33% 2,5% 0,58%
Península Itálica, Lamboglia 2 1 0,1% 1 0,2% 16,67% 1,25% 0,29%
costa adriática Brindisi 6 0,58% 3 0,61% 50% 3,75% 0,87%
Total 9 0,87% 6 1,23% 100% 1,74%
Richborough 527 1 0,1% 1 0,2% 100% 1,25% 0,29%
Ilha de Lipari
Total 1 0,1% 1 0,2% 100% 100% 0,29%
T-7.4.2.1./T-7.4.3.1. 5 0,48% 2 0,41% 6,9% 6,9% 0,58%
Africana Antiga 7 0,68% 4 0,82% 13,79% 13,79% 1,16%
Dressel 2-4/Schoene-Mau XXXV 2 0,19% 2 0,41% 6,9% 6,9% 0,58%
Tripolitana II 1 0,1% 1 0,2% 3,45% 3,45% 0,29%
Ostia XXIII 1 0,1% 1 0,2% 3,45% 3,45% 0,29%
Ostia LIX 3 0,29% 3 0,61% 10,34% 10,34% 0,87%
Norte de África
Uzita Pl. 52,10 1 0,1% 1 0,2% 3,45% 3,45% 0,29%
Pupput T 700.4/T 700.5 1 0,1% 1 0,2% 3,45% 3,45% 0,29%
Africana I 4 0,39% 3 0,61% 10,34% 10,34% 0,87%
Africana IIA 3 0,29% 3 0,61% 10,34% 10,34% 0,87%
Indeterminado 26 2,51% 8 1,64% 27,59% 27,59% 2,33%
Total 54 5,21% 29 5,93% 100% 100% 8,43%
Tardo-Ródia/Camulodunum 184 4 0,39% 2 0,41% 22,22% 22,22% 0,58%
Dressel 2-4/5 2 0,19% 1 0,2% 11,11% 11,11% 0,29%
Dressel 24 1 0,1% 1 0,2% 11,11% 11,11% 0,29%
Dressel 25 2 0,19% 1 0,2% 11,11% 11,11% 0,29%
Mediterrâneo Oriental
Agora M54 1 0,1% 1 0,2% 11,11% 11,11% 0,29%
Kapitän 2 3 0,29% 1 0,2% 11,11% 11,11% 0,29%
Indeterminado 4 0,39% 2 0,41% 22,22% 22,22% 0,58%
Total 17 1,64% 9 1,84% 100% 100% 2,62%
Indeterminado 24 2,31% 9 1,84% 100% 100%
Indeterminada
Total 24 2,31% 9 1,84% 100% 100%
TOTAL 1037 100% 489 100% 100%

Tabela 79 – Quantificação da totalidade das ânforas da Sé de Lisboa (cont.).

Numa análise à origem dos contentores, sobressaem as importações da península Itálica (43,86%
dos envases republicanos), sendo particularmente expressivas as da costa tirrénica (40,7%) face às da
adriática (3,49%). Da primeira região estão atestadas as habituais Greco-Itálicas (44,29% dos envases
dessa região) e as Dressel 1 (54,29%), sendo destacável, apesar da prevalência das segundas e da pre-
sença das algo mais tardias Dressel 1B e C, a significativa percentagem de materiais inequivocamente
imputáveis ao séc. II a.C., como as Greco-Itálicas e as Dressel 1A de transição, o que parece constituir um
indício da efectiva ocupação do local nos momentos mais recuados da presença romana em Olisipo. Já
as importações da costa adriática, claramente minoritárias no conjunto, como de resto é usual no Oci-
dente Peninsular, são compostas por ânforas do tipo Greco-Itálica (33,33% das produções dessa área),
Lamboglia 2 (16,67%) e principalmente pelos contentores brindisinos da região da Apúlia (50%).

218
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Dressel 1 3 0,86% 3 1,74% 4,48% 3,33% 1,74%
T-7.4.3.3. 125 35,71% 60 34,88% 89,55% 66,67% 34,88%
Hispânia Ulterior,
T-9.1.1.1. 3 0,86% 3 1,74% 4,48% 3,33% 1,74%
costa meridional
Ovóide Gaditana 1 0,29% 1 0,58% 1,49% 1,11% 0,58%
Total 132 37,71% 67 38,95% 100% 38,95%
T-7.4.3.3. 1 0,29% 1 0,58% 4,35% 1,11% 0,58%
Classe 67/Ovóide 1 11 3,14% 7 4,07% 30,43% 7,78% 4,07%
Ovóide 4 2 0,57% 2 1,16% 8,7% 2,22% 1,16%
Hispânia Ulterior,
Ovóide 5 1 0,29% 1 0,58% 4,35% 1,11% 0,58%
Vale do Guadalquivir
Ovóide 6 10 2,86% 10 5,81% 43,48% 11,11% 5,81%
Ovóide 8 2 0,57% 2 1,16% 8,7% 2,22% 1,16%
Total 27 7,71% 23 13,37% 100% 100% 13,37%
Greco-Itálica 31 8,86% 31 18,02% 44,29% 40,79% 18,02%
Península Itálica, Dressel 1 47 13,43% 38 22,09% 54,29% 50% 22,09%
costa tirrénica Greco-Itálica/Dressel 1 92 26,29% 1 0,58% 1,43% 1,32% 0,58%
Total 170 48,57% 70 40,7% 100% 40,7%
Greco-Itálica 2 0,57% 2 1,16% 33,33% 2,63% 1,16%
Península Itálica, Lamboglia 2 1 0,29% 1 0,58% 16,67% 1,32% 0,58%
costa adriática Brindisi 6 1,71% 3 1,74% 50% 3,95% 1,74%
Total 9 2,57% 6 3,49% 100% 3,49%
T-7.4.2.1./T-7.4.3.1. 5 1,43% 2 1,16% 33,33% 33,33% 1,16%
Norte de África Africana Antiga 7 2% 4 2,33% 66,67% 66,67% 2,33%
Total 12 3,43% 6 3,49% 100% 100% 3,49%
TOTAL 350 100% 172 100% 100%

Tabela 80 - Quantificação das ânforas republicanas da Sé de Lisboa.

Figura 7 – Ânforas dos claustros da Sé.

219
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

16115
16303

11561

16345

11286

11561
16064

16195
16092

11283

11648

11683
11308

11327 11308

11628 11353

11271
12062

11529

11325

16135

12576 11321
10cm

Estampa 105 – Claustros da Sé. Ulterior, costa meridional: T-9.1.1.1. (11321, 16135), Dressel 1 (12576), T-7.4.3.3.
(todas as restantes).

220
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

16224 16041
11684

11331

11231

11665

11213
11221

11450

11513 12657

16313
12661 11610

10545
11501

11038

11201

16365 16301

3740

10764 16086
10cm

Estampa 106 – Claustros da Sé. Península Itálica, costa tirrénica: Greco-Itálicas (16224, 11684, 16041, 11231,
11331, 12,221, 11665,11513, 11213, 12657, 11450), Dressel 1 (12661, 11610, 16313, 11501, 11038, 10545,
11201, 16365, 16301, 3740, 10764, 16086.

221
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

11528

11695
10914
10933

11280
16188
11080

10963
10cm
10618 10704

Estampa 107 – Claustros da Sé. Península Itálica, costa tirrénica: Dressel 1 (11695, 10914), Greco-Itálica/Dressel 1
(11080, 10618, 11280). Península Itálica, costa adriática: Greco-Itálica (11528), Brindisi (10704, 10963), Brindisi,
Apani VII A/B (16188), Brindisi, Apani V? (10933). Desenho nº 11695: in Fabião et al., 2016.

A área costeira do Sul da Ulterior corresponde à segunda região produtora mais importante
(38,95% do NMI), destacando-se sobretudo a presença robusta das T-7.4.3.3. que significam 34,88% dos
envases republicanos e 89,55% das importações daquela zona. Daí provêm também, ainda que em quan-
tidades bem mais modestas, as imitações de Dressel 1 (4,48%), as T-9.1.1.1. (4,48%) e as Ovóides Gadita-
nas (1,49%). A apreciação da expressividade das T-7.4.3.3. neste conjunto republicano, cuja fiabilidade
estatística se poderá considerar como aceitável, parece denotar um padrão algo distinto, ou mesmo
inverso, do que se verifica no topo do morro do Castelo onde representam “apenas” 18,76% da amostra,
observando-se na Sé uma supremacia evidente desta forma em relação às Dressel 1 itálicas. Estas últimas
significam na antiga Alcáçova cerca de 41%, enquanto aqui, como já referido, não ultrapassam os 22,09%.
Padrão idêntico pode ser observado no Teatro Romano, tanto nos dados já publicados (Filipe, 2008a;
Filipe, 2015) como nos inéditos, onde as percentagens das T-7.4.3.3. e das Dressel 1 correspondem, no
cômputo global deste sítio, respectivamente a 36,94% e 13,51%. O mesmo acontece no conjunto do Pa-
lácio dos Condes de Penafiel, onde as proporções são, respectivamente, de 40,74% e 11,11%. As restantes
amostras provenientes de sítios localizados na encosta Sul são demasiado reduzidas e sem fiabilidade
para confirmar este padrão, observando-se em alguns casos situação idêntica (como nas Escadinhas de
São Crispim e no Palácio do Marquês de Angeja) e, noutros, divergente (Pátio da Sr.ª de Murça).
Este padrão - que, embora expressivo, deverá ser devidamente confirmado com a publicação de
um volume mais significativo de dados e, consequentemente, com maior fiabilidade estatística - parece
indicar uma diferença significativa no aprovisionamento de géneros alimentares transportados em ân-
foras entre a área da encosta Sul (grosso modo a Sul do Teatro Romano) e o topo da colina do castelo,
verificando-se um maior peso do vinho itálico nesta última área da cidade. É, naturalmente, e na linha
do que tem vindo ultimamente a ser proposto ainda que com base em outros argumentos (Pimenta,
2005; Pimenta, 2014), tentador ver nestas assimetrias e neste padrão uma evidência da presença de
contingentes militares no espaço da antiga Alcáçova islâmica, situação em que o consumo do vinho

222
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

3277 13240

11083 11649

16062
12572
10cm
11653

Estampa 108 – Claustros da Sé. Norte de África: T-7.4.2.1./T-7.4.3.1. (3277, 13240, 16062), Africana Antiga (11083,
11649, 11653, 12572), Dressel 2-4 (10519, 11251(?)), Ostia LIX (16043, 11061, 10523), Ostia XXIII (11179), Uzita
Pl. 52, 10 (10959).

itálico adquire uma maior relevância face a outros artigos alimentares. No contexto da encosta Sul,
onde se desenvolveria a cidade durante o período Republicano, o perfil de consumo apresenta um
maior equilíbrio entre vinho e preparados à base de peixe, reflectindo em maior medida o que deveria
corresponder à procura dos habitantes de Olisipo no que se refere aos produtos transportados em
ânforas, beneficiando do comércio realizado de forma paralela ao abastecimento do exército. Haverá
também que sublinhar que a distinção observada entre os perfis de consumo destas duas áreas da cida-
de se deverá igualmente relacionar com a escassez de materiais dos dois terços finais do séc. I a.C. na
antiga Alcáçova Islâmica e sua presença na vertente Sul da colina, resultando em grande medida numa
maior expressividade do consumo de azeite nesta última.
Ainda em relação às T-7.4.3.3., haverá que realçar a sua recorrência em contextos datados do rei-
nado de Augusto e/ou do primeiro quartel do séc. I d.C. - podendo-se referir o mesmo relativamente às
Dressel 1 tirrénicas - o que, não descartando a residualidade de alguns exemplares, parece atestar a sua
importação em Olisipo até em torno à viragem da Era, momento em que a sua produção parece cessar
(Sáez Romero, 2008a, p. 572), algo que, de resto, havia já sido devidamente realçado para os contextos
da Sé (Pimenta, 2007, p. 227).
Voltando à análise à origem dos contentores, a representatividade das produções do Vale do
Guadalquivir (13,37% do NMI) relaciona-se directamente com a documentação de contextos balizados
entre o segundo e o último quartel do séc. I a.C. nos claustros da Sé, arco cronológico onde se enqua-
dram todas as formas republicanas (deste conjunto) daí provenientes, com a eventual excepção de
um exemplar de T-7.4.3.3. (que significa 4,35% dos envases dessa área produtora). Embora aquém de
regiões como a costa meridional da Ulterior e o litoral tirrénico de Italia, a representatividade das pro-
duções republicanas do Vale do Guadalquivir na amostra da Sé pode considerar-se alta no contexto dos
dados globais de Olisipo para todo o período da República. Tal deverá advir de dois factores principais:
por um lado, a escassez de contextos datados dos três últimos quartéis do séc. I a.C. identificados em
Lisboa até à data; por outro, o grande volume de importações que se verificou em Olisipo no séc. II
a.C. - fase em que as produções anfóricas romanas daquela região da Ulterior não tinham ainda a pu-
jança que viriam a conhecer -, cujas formas nem sempre são discerníveis quanto à data da sua chegada
(com excepção das Greco-Itálicas), quer por questões tipológicas (Dressel 1 e T-7.4.3.3. - séc. II a.C. ou
séc. I a.C.?) quer pela falta de contextualização dos materiais e consequente desconhecimento da cro-
nologia da sua proveniência estratigráfica ou amplitude demasiado lata dessa mesma cronologia; enco-
brindo pelo menos parcialmente o verdadeiro peso dos envases do Guadalquivir em Lisboa nos últimos
anos da República. Cenário diferente verifica-se em Scallabis, onde o peso das produções daquela re-
gião é algo mais expressivo (Arruda e Almeida, 1998; Arruda e Almeida, 1999; Arruda e Almeida, 2001;
Bargão, 2006; Almeida, 2008).

223
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Com excepção do exemplar já referido de T-7.4.3.3., até aqui escassamente registada em Olisipo
com aquela origem (Pimenta, 2005), todas as formas republicanas provenientes do Vale do Guadalqui-
vir correspondem a ânforas ovóides produzidas a partir do segundo e terceiro quartéis do séc. I a.C..
Entre estas, destacam-se particularmente as Ovóide 6 (43,48% dos envases dessa região) e as Classe 67/
Ovóide 1 (30,43%) como as mais representativas, enquanto as Ovóide 4, 5 e 8 apresentam valores mais
discretos, respectivamente de 8,7%, 4,35% e 8,7%. Estas proporções estão genericamente em sintonia
com os dados globais de Olisipo e com as considerações efectuadas acerca do êxito que os diversos
contentores republicanos do Guadalquivir obtiveram nos mercados (García Vargas et al., 2011), com ex-
cepção da Ovóide 4 que surge escassamente representada na Sé. Merece também ser realçado o facto
de alguns destes tipos, concretamente a Ovóide 5 e a 8, serem até agora totalmente desconhecidos em
Lisboa, sendo ainda de sublinhar a presença nos claustros da Sé de todas as formas ovóides republica-
nas do Guadalquivir registadas em Olisipo, com excepção da Ovóide 2.
Resta ainda referir a presença minoritária de ânforas norte-africanas (3,49% do NMI), sobretudo
representadas pelas Africanas Antigas (66,67% dos envases dessa área produtora), e, nesse contexto, a
importante identificação de dois indivíduos de T-7.4.2.1./T-7.4.3.1. (33,33%), tipo até aqui apenas escassa-
mente documentado no Teatro Romano (Filipe, 2008a; Filipe, 2015).
Relativamente ao perfil de consumo, a amostra da Sé permite visualizar um certo equilíbrio en-
tre o consumo de vinho e o de preparados piscícolas, com ligeira vantagem para o primeiro artigo. As
ânforas vinárias significam 43,6% do NMI, sendo maioritariamente provenientes da costa tirrénica da
Península Itálica (93,33% desse conteúdo) e representadas pelas Greco-Itálicas (41,33%) e pelas Dressel 1
(50,67%). As restantes áreas produtoras atestadas apresentam percentagens pouco mais que residuais:
costa adriática itálica (4%), com as Greco-Itálicas (2,67%) e as Lamboglia 2 (1,33%); e Vale do Guadalquivir,
com as Ovóide 4 (2,67%). Regiões como o Mediterrâneo Oriental, a costa setentrional da Citerior e a
Ilha de Ibiza, escassamente representadas no conjunto global de Olisipo, estão totalmente ausentes na
amostra da Sé.
Já os preparados à base de peixe (40,7% do NMI) provinham principalmente da costa meridional
da Hispania Ulterior (95,71% dos contentores piscícolas) e eram maioritariamente transportados nas aci-
ma comentadas T-7.4.3.3. (85,71%) e de modo pouco expressivo nas imitações de Dressel 1 (4,29%), nas
T-9.1.1.1. (4,29%) e nas Ovóides Gaditanas (1,43%). A total hegemonia daquela área produtora era quebra-
da apenas pela presença residual da T-7.4.3.3. (1,43%) do Vale do Guadalquivir e das T-7.4.2.1./T-7.4.3.1.
(2,86%) do Norte de África.
Por fim, ainda que apenas significando 15,7% do NMI, o consumo de azeite é bastante considerá-
vel se comparado com as proporções verificadas no alto do morro do Castelo e mesmo com os dados
globais da cidade - o que estará directamente relacionado com a questão cronológica dos contextos de
proveniência -, embora aparentemente seja um pouco inferior ao que se verifica em Scallabis (Arruda
e Almeida, 1998; Arruda e Almeida, 1999; Arruda e Almeida, 2001; Bargão, 2006; Almeida, 2008). Trans-
portado exclusivamente em contentores ovóides, procede essencialmente do Vale do Guadalquivir
(74,07% desse artigo) em ânforas do tipo Classe 67/Ovóide 1 (25,93%), Ovóide 6 (37,04%), Ovóide 5 (3,7%)
e Ovóide 8 (7,41%), destacando-se as duas primeiras; do Norte de África, nas Africanas Antigas (14,81%);
e da costa adriática da Península Itálica em ânforas brindisinas (11,11%).
As considerações efectuadas anteriormente sobre as particularidades do conjunto republicano
da Sé, observáveis na análise à origem dos contentores, expressam-se de forma igualmente particular
nas proporções dos produtos alimentares importados em ânforas. Desde logo, o relativo equilíbrio
entre o consumo de vinho e preparados piscícolas que aqui se observa distancia-se de forma clara do
que se observa no Castelo de São Jorge, onde o primeiro daqueles artigos é absolutamente dominante
(Pimenta, 2005). Por outro lado, como atrás se comentou, o consumo de azeite é muito mais expres-
sivo na Sé do que na antiga alcáçova, o que se poderá justificar em grande medida pela escassez de
produções do séc. I a.C. neste último sítio, que, por sua vez, parece constituir uma consequência de
uma ocupação muito específica daquela área, pelo menos em parte distinta da que se terá verificado
na época imediatamente anterior e, certamente, não habitacional. O certo, porém, é que o perfil de
consumo da Sé não é caso isolado na cidade de Lisboa. Situação análoga ocorre na amostra do Palácio
dos Condes de Penafiel, onde o vinho e os preparados piscícolas apresentam valores equivalentes,

224
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Dressel 1 3 1,74% 4,48% 4,41% 4,29%
T-7.4.3.3. 60 34,88% 89,55% 88,24% 85,71%
Preparados piscícolas

Hispânia Ulterior,
T-9.1.1.1. 3 1,74% 4,48% 4,41% 4,29%
costa meridional
Ovóide Gaditana 1 0,58% 1,49% 1,47% 1,43%
Total 67 38,95% 100% 95,71%
Hispânia Ulterior, T-7.4.3.3. 1 0,58% 100% 1,47% 1,43%
Vale do Guadalquivir Total 1 0,58% 100% 100% 1,43%
T-7.4.2.1. / T-7.4.3.1. 2 1,16% 100% 100% 2,86%
Norte de África
Total 2 1,16% 100% 100% 2,86%
Total 70 40,7% 100%
Hispânia Ulterior, Ovóide 4 2 1,16% 100% 100% 2,67%
Vale do Guadalquivir Total 2 1,16% 100% 100% 2,67%
Greco-Itálica 31 18,02% 44,29% 42,47% 41,33%
Vinho e derivados

Península Itálica, Dressel 1 38 22,09% 54,29% 52,05% 50,67%


costa tirrénica Greco-Itálica/Dressel 1 1 0,58% 1,43% 1,37% 1,33%
Total 70 40,7% 100% 93,33%
Greco-Itálica 2 1,16% 66,67% 2,74% 2,67%
Península Itálica,
Lamboglia 2 1 0,58% 33,33% 1,37% 1,33%
costa adriática
Total 3 1,74% 100% 100% 4,00%
Total 75 43,6% 100%
Classe 67/Ovóide 1 7 4,07% 35% 35% 25,93%
Ovóide 5 1 0,58% 5% 5% 3,7%
Hispânia Ulterior,
Ovóide 6 10 5,81% 50% 50% 37,04%
Vale do Guadalquivir
Ovóide 8 2 1,16% 10% 10% 7,41%
Azeite

Total 20 11,6% 100% 100% 74,07%


Península Itálica, Brindisi 3 1,74% 100% 100% 11,11%
costa adriática Total 3 1,74% 100% 100% 11,11%
Africana Antiga 4 2,33% 100% 100% 14,81%
Norte de África
Total 4 2,33% 100% 100% 14,81%
Total 27 15,7% 100%
TOTAL 172 100%

Tabela 81 - Quantificação por conteúdo das ânforas republicanas da Sé de Lisboa.

verificando-se exactamente o mesmo cenário no conjunto das Escadinhas de São Crispim. No Teatro
Romano o quadro do consumo distancia-se ainda mais do que se verifica no alto da colina do castelo,
observando-se um maior consumo de produtos piscícolas em relação ao vinho e valores de importação
de azeite muito aproximados aos da Sé.
Com base nestes dados, e não perdendo de vista a importante questão da escassez de materiais
e contextos claramente atribuíveis ao séc. I a.C., sobretudo a sua segunda metade, e a relação directa
entre esse aspecto e os perfis de consumo, parece ser incontornável a existência de um perfil de impor-
tação e de consumo distinto entre a área da antiga alcáçova islâmica e a encosta Sul da colina onde se
desenvolveu o primitivo núcleo urbano de Olisipo. Se se considerarem os dados de Scallabis, verifica-se
uma aproximação ao perfil da Sé, sobretudo no que se refere aos valores do consumo de azeite, embo-
ra naquele sítio o vinho se superiorize aos produtos à base de peixe, ainda que de forma muito menos
expressiva do que acontece no Castelo.
Olhando agora para o conjunto alto-imperial, constituído por 552 fragmentos diagnosticáveis de
ânfora (247 bordos, 74 fundos e 231 asas) e um Número Mínimo de 271 Indivíduos, a diversidade tipo-
lógica é ainda mais notória, registando-se um total de 42 tipos provenientes de dez origens distintas,
onde se encontram englobadas praticamente todas as principais regiões produtoras da bacia medi-
terrânea, com excepção da costa adriática da Península Itálica. Esta assinalável diversidade tipológica
durante o Principado é tanto mais surpreendente se comparada com a da Praça da Figueira onde, ape-
sar de se verificar o triplo do NMI, se regista um número aproximado de formas, no caso vertente, 44.
Também a amostra da Rua das Pedras Negras apresenta uma diversidade aproximada, 40, embora se
trate igualmente de um conjunto mais numeroso.

225
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 27 4,89% 16 5,90% 13,11% 12,9%
Haltern 70 8 1,45% 6 2,21% 4,92% 4,84%
Dressel 14 97 17,57% 34 12,55% 27,87% 27,42%
Lusitânia, Tejo/Sado
“Dressel 28” 2 0,36% 1 0,37% 0,82% 0,81%
Lusitana 3 120 21,74% 65 23,99% 53,28% 52,42%
Total 254 46,01% 122 45,02% 100%
Tipo 2 1 0,18% 1 0,37% 50% 0,81%
Lusitânia, Peniche Tipo 7 1 0,18% 1 0,37% 50% 0,81%
Total 2 0,36% 2 0,74% 100% 100%
Dressel 12 3 0,54% 3 1,11% 15,79% 2,68% 2,04%
Dressel 7-11 17 3,1% 5 1,85% 26,32% 4,46% 3,40%
Dressel 9 4 0,72% 4 1,48% 21,05% 3,57% 2,72%
Dressel 9-10 4 0,72% 4 1,48% 21,05% 3,57% 2,72%
Bética, costa ocidental
Beltrán II 4 0,72% 1 0,37% 5,26% 0,89% 0,68%
Beltrán IIA 2 0,36% 1 0,37% 5,26% 0,89% 0,68%
Beltrán IIB 1 0,18% 1 0,37% 5,26% 0,89% 0,68%
Total 35 6,34% 19 7,01% 100% 12,93%
Oberaden 83/Ovóide 7 5 0,91% 5 1,85% 5,38% 4,46% 3,40%
Haltern 71 4 0,72% 4 1,48% 4,30% 3,57% 2,72%
Oberaden 83/Ovóide 7 - Haltern 71 1 0,18% 1 0,37% 1,08% 0,89% 0,68%
Ovóide indeterminada 24 4,35% 2 0,74% 2,15% 1,79% 1,57%
Haltern 70 61 11,05% 13 4,80% 13,98% 11,61% 8,84%
Haltern 70 (inicial) 10 1,81% 10 3,69% 10,75% 8,93% 6,8%
Haltern 70 (Augusto-Tibério) 13 2,36% 13 4,80% 13,98% 11,61% 8,84%
Haltern 70 (Cláudio-Nero) 1 0,18% 1 0,37% 1,08% 0,89% 0,68%
Verulamium 1908 1 0,18% 1 0,37% 1,08% 0,89% 0,68%
Tipo Urceus 8 1,45% 3 1,11% 3,23% 2,68% 2,04%
Dressel 28 2 0,36% 1 0,37% 1,08% 0,89% 0,68%
Bética, Vale do Guadalquivir
Dressel 2-4 1 0,18% 1 0,37% 1,08% 0,89% 0,68%
Dressel 7-11 4 0,72% 3 1,11% 3,23% 2,68% 2,04%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 16 2,90% 10 3,69% 10,75% 8,93% 6,8%
Dressel 20 (Nero-Vespasiano) 10 1,81% 5 1,85% 5,38% 4,46% 3,40%
Dressel 20 (Flávia-Trajana) 6 1,09% 2 0,74% 2,15% 1,79% 1,36%
Dressel 20 (Antonina) 12 2,17% 9 3,32% 9,68% 8,04% 6,12%
Dressel 20 (séc. III) 7 1,27% 3 1,11% 3,23% 2,68% 2,04%
Dressel 20 19 3,44% 3 1,11% 3,23% 2,68% 2,04%
Dressel 20 parva (Júlio-Cláudia) 1 0,18% 1 0,37% 1,08% 0,89% 0,68%
Dressel 20 parva 5 0,91% 2 0,74% 2,15% 1,79% 1,36%
Total 211 38,22% 93 34,3% 100% 100% 63,48%
Pascual 1 2 0,36% 1 0,37% 33,33% 33,33% 0,68%
Tarraconense, Oberaden 74 1 0,18% 1 0,37% 33,33% 33,33% 0,68%
costa setentrional Dressel 3-2 1 0,18% 1 0,37% 33,33% 33,33% 0,68%
Total 4 0,72% 3 1,11% 100% 100% 2,04%
Gauloise 1, var. B 1 0,18% 1 0,37% 14,29% 14,29% 0,68%
Gauloise 3 1 0,18% 1 0,37% 14,29% 14,29% 0,68%
Gália Narbonense
Gauloise 4 9 1,63% 5 1,85% 71,43% 71,43% 3,40%
Total 11 2% 7 2,58% 100% 100% 4,76%
Península Itálica, Dressel 2-4 5 0,91% 2 0,74% 100% 66,67% 1,36%
costa tirrénica Total 5 0,91% 2 0,74% 100% 1,36%
Richborough 527 1 0,18% 1 0,37% 100% 33,33% 0,68%
Ilha de Lipari
Total 1 0,18% 1 0,37% 100% 100% 0,68%
Dressel 2-4/Schoene-Mau XXXV 2 0,36% 2 0,74% 13,33% 13,33% 1,36%
Tripolitana II 1 0,18% 1 0,37% 6,67% 6,67% 0,68%
Ostia XXIII 1 0,18% 1 0,37% 6,67% 6,67% 0,68%
Ostia LIX 3 0,54% 3 1,11% 20% 20% 2,04%
Norte de África Uzita Pl. 52,10 1 0,18% 1 0,37% 6,67% 6,67% 0,68%
Pupput T 700.4/T 700.5 1 0,18% 1 0,37% 6,67% 6,67% 0,68%
Africana I 4 0,72% 3 1,11% 20% 20% 2,04%
Africana IIA 3 0,54% 3 1,11% 20% 20% 2,04%
Total 16 2,90% 15 5,54% 100% 100% 10,2%

Tabela 82 - Quantificação das ânforas do Principado da Sé de Lisboa.

226
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Tardo-Ródia/Camulodunum 184 4 0,72% 2 0,74% 28,57% 28,57% 1,36%
Dressel 2-4/5 2 0,36% 1 0,37% 14,29% 14,29% 0,68%
Dressel 24 1 0,18% 1 0,37% 14,29% 14,29% 0,68%
Mediterrâneo Oriental Dressel 25 2 0,36% 1 0,37% 14,29% 14,29% 0,68%
Agora M54 1 0,18% 1 0,37% 14,29% 14,29% 0,68%
Kapitän 2 3 0,54% 1 0,37% 14,29% 14,29% 0,68%
Total 13 2,36% 7 2,58% 100% 100% 4,76%
TOTAL 552 100% 271 100% 100%

Tabela 82 - Quantificação das ânforas do Principado da Sé de Lisboa (cont.).

11010 10889
16308

11728 11491
11732

11332 16027

12644

11216 16342
16069

11376
16368

12652

11410

16146

11443

16178
11412
11238

11403 10cm

Estampa 109 – Claustros da Sé. Lusitânia: Lusitana Antiga (11010, 10889, 11728, 11491, 11332, 16027, 11216,
16342, 16368, 11376, 11410, 16178), Haltern 70 lusitana (16308, 11732, 16069, 12652, 12644, 11412), Indetermi-
nado (16146), Peniche 2 (11443), Peniche 7 (11403), “Dressel 28” (11238).

227
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

No que se refere à origem dos contentores, as produções lusitanas dominam o panorama repre-
sentando 45,76% do NMI, correspondendo 0,74% ao centro oleiro do Morraçal da Ajuda e 45,02% aos va-
les dos rios Tejo e Sado. Entre estas últimas, surpreende a hegemonia da Lusitana 3 (53,28% dos envases
locais/regionais) face às Dressel 14 (27,87%), quase o dobro, um cenário que se regista em proporção
genericamente inversa à quantificação global da cidade bem como da Praça da Figueira e, ainda mais
marcadamente, do Banco de Portugal.
Dos restantes conjuntos alto-imperiais mais significativos, apenas na Rua das Pedras Negras se
observa também a superioridade da Lusitana 3 em relação à Dressel 14, embora aqui por uma diferença
de apenas cerca de dois pontos percentuais, enquanto no Palácio dos Condes de Penafiel as duas formas
apresentam proporções praticamente iguais. Esta marcada diferença na presença de um e outro tipo
em duas zonas distintas da cidade - suburbium ocidental e área central da urbe - dever-se-á certamente
relacionar, por um lado, com a intensa indústria de transformação piscícola existente na primeira zona,
sobrevalorizando a representatividade da Dressel 14 nesses locais, por outro, com a centralidade na
cidade romana de sítios como a Sé, a Rua das Pedras Negras e o Palácio dos Condes de Penafiel, onde
se verificaria um consumo mais equilibrado dos diferentes produtos, ainda que evidenciando alguma
superioridade do consumo de vinho. Seja como for, no contexto dos sítios com maior fiabilidade esta-
tística aqui estudados, é no conjunto da Sé que se verifica a maior representatividade da Lusitana 3, o
que terá necessariamente um significado quanto ao perfil de consumo que adiante se comentará.
Convém, todavia, relembrar que na Casa dos Bicos, um sítio que se pode considerar ribeirinho
(mas localizado no eixo da cidade e não no seu subúrbio poente), ainda que se tratando de uma amos-
tra com escassa fiabilidade estatística, se registou um panorama idêntico, sendo a representatividade
daquele tipo vinário ainda maior (v. infra).
A presença das produções lusitanas mais antigas adquire também aqui uma representatividade
estatística não despicienda, revelada pelas Haltern 70 (4,92%) e, especialmente, pelo conjunto de for-
mas englobadas nas designadas Lusitanas Antigas (13,11%). O cenário completa-se com um indivíduo da
forma que parece imitar a “Dressel 28” (0,82%), claramente minoritária no panorama das produções
locais/regionais.
No quadro das importações extraprovinciais, a província vizinha da Baetica contribui com 76,4%
da amostra alto-imperial (41,3% do NMI), dos quais 12,93% procedem do litoral e 63,48% do Vale do Gua-
dalquivir, constituindo-se esta última como a principal região abastecedora de Olisipo e do extremo
Ocidente Peninsular. Deste âmbito geográfico procedem maioritariamente as Haltern 70 (39,78%) e as
Dressel 20 (37,63%) que, em conjunto significam 77,42% dos envases dessa área produtora. Do primeiro
tipo são particularmente expressivas as variantes Inicial (10,75%) e de Augusto-Tibério (13,98%), o que
parece constituir um claro reflexo da particular incidência de contextos datados dessa época neste sí-
tio. Já a presença da variante Cláudio-Nero (1,08%) é apenas vestigial, enquanto a uma parte importante
dos exemplares desta forma (13,98%) não foi possível atribuir variante.
Em relação à Dressel 20, é no período Júlio-Cláudio que se verifica um maior índice de importação
(11,83%), que inclui também o módulo de menor dimensão (parva), decrescendo entre Nero e Vespasia-
no (5,38%) e de forma ainda mais expressiva entre a dinastia Flávia e c. de 130 d.C. (2,15%), observando-se
a partir dessa data uma retoma significativa (9,68%) que atinge valores próximos aos da fase Júlio-Cláu-
dia, diminuindo novamente a partir do séc. III (3,23%) para percentagens pouco superiores às do final
do séc. I e início da centúria seguinte. Embora estas proporções não incluam um número significativo
de exemplares a que não foi possível atribuir variante (5,38%), elas são genericamente coerentes com a
leitura global de Olisipo e com as principais tendências verificadas em outros conjuntos importantes da
cidade, tanto no caso já devidamente assinalado do conjunto anfórico das antigas escavações da Praça
da Figueira (Fabião, 1993-1994, p. 232; Almeida e Filipe, 2013, p. 740) como noutros sítios estudados
no âmbito desta tese, tais como nas recentes intervenções da Praça da Figueira e da Rua das Pedras
Negras, ainda que neste último local com algumas nuances distintas, possivelmente derivadas da alta
percentagem de materiais a que não foi possível atribuir variante. Sítios como a Rua de São Mamede e o
Banco de Portugal são dificilmente comparáveis pela questão da cronologia dos contextos e do âmbito
cronológico da generalidade dos materiais, factor que também deverá estar relacionado com algumas
diferenças que se verificam na amostra do Palácio dos Condes de Penafiel.

228
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

16006

11587

11255

16003

12678

11578

16327 11420

10471

11067

10611

16132

10735

16083
12658 16084
10cm

Estampa 110 – Claustros da Sé. Lusitânia: Dressel 14.

229
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

11306

16023

16279

10728

11212

16248

11562
16237
16359

10566
16257
16095

16121

16244 10359

11307
10cm 11019
10478

Estampa 111 – Claustros da Sé. Lusitânia: Lusitana 3 (fragmentos nº 11019 e 10478: Lusitana 3/Almagro 51C).

230
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

Os restantes 21,74% das importações alto-imperiais do Vale do Guadalquivir são constituídos


pelas Oberaden 83/Ovóide 7 (5,38%), Haltern 71 (4,3%), outras formas ovóides de tipo indeterminado
(2,15%), ânforas de tipo Urceus (3,23%), Verulamium 1908 (1,08%), Dressel 28 (1,08%), Dressel 2-4 (1,08%) e
Dressel 7-11 (3,23%). Refira-se que, comparativamente aos dados do Teatro Romano, a proporção entre
as Oberaden 83/Ovóide 7 e Haltern 71 e as Haltern 70 Iniciais e de Augusto-Tibério é menos equilibrada,
com clara vantagem para o tipo vinário.

10888 16273

11323
11320

16358

11731

1598

12645

16347

11232
11488

11654

11235

12697
11641 10cm

Estampa 112 – Claustros da Sé. Bética, costa ocidental: Ovóide Gaditana (10888), Dressel 12 (16273), Dressel 9
(11323, 16358), Dressel 9-10 (11320, 1598, 11731), Dressel 7-11 (16347, 12645, 11488, 11232, 12697, 11641),
Beltrán IIA (11235), Indeterminado (11654).

231
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

11270
4022
11028

12590
10988

10725
16106

3373
11506
16168
12629

11630
11347

10927

16207
11252 3453

12685 11073

12654

5149 11284

12647

11288 11336

10685

11337
12694

12641

11656
11324 11367 10cm

Estampa 113 – Claustros da Sé. Bética, Vale do Guadalquivir: Classe 67/Ovóide 1 (4022, 11270, 11028, 10988),
Ovóide 5 (3373), Ovóide 8 (10725, 12590), Ovóide 4 (16106, 11506), Ovóide indeterminada (10927, 16168),
Haltern 70 Inicial (11347, 11630, 16207, 11252), Haltern 70 Augusto-Tibério (11073, 12654, 12685, 5149, 10685,
12647, 11284, 11288, 11336), Haltern 70 Augusto-Tibério (11337), Haltern 70 Cláudio-Nero (11324), Haltern 70
(12641, 3453, 12629), Verulamium 1908 (12694), Urceus, tipo 1 (11656), Urceus? (11367).

232
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

16289 16306 16290

286 11278
11439

11343
11612
16169

11480
11611

13234

16174

12640
11463

11071

10569

16042
10844

11269

11499

11481

11507
11576

11413

11350 10cm
11452

Estampa 114 – Claustros da Sé. Bética, Vale do Guadalquivir: Ovóide 6 (16289, 16306, 16290, 286(?), 11439,
11278, 11612, 16169, 11343), Oberaden 83/Ovóide 7 (13234, 11480, 11611, 16174, 11463), Haltern 71 Inicial
(12640, 11071, 10569), Oberaden 83/Ovóide 7-Haltern 71 (16042), Dressel 20 Júlio-Cláudia (10844, 11269, 11499,
11481, 11507), Dressel 20 Antonina (11452, 11413, 11576, 11350).

233
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

16339

16259

11694

2726

11697
11048 11299
10cm

Estampa 115 – Claustros da Sé. Bética, Vale do Guadalquivir: Ovóide indeterminada (11697), Dressel 20 Flaviana-
Trajana (11694), Dressel 20 séc. III (16339, 16259, 11048), Dressel 20? (2726). Tarraconense, costa setentrional:
Pascual 1 (11299). Desenhos nº 11697, 2726, 11694 e 11048: in Fabião et al., 2016.

Quanto à região costeira da Baetica, o quadro é dominado pelas Dressel 7-11 que significam 68,42%
dos envases dessa área. A marcada superioridade destas formas face às menos expressivas Beltrán IIA
(5,26%) e Beltrán IIB (5,26%) encontra novamente justificação na cronologia dos contextos da Sé, diver-
gindo dos dados globais da cidade onde, em conjunto, estas duas formas adquirem maior relevância
que as Dressel 7-11. Sublinhe-se ainda a presença da Dressel 12 (15,79%), anteriormente desconhecida
na cidade, cujos três exemplares documentados representam metade dos indivíduos identificados em
Lisboa no âmbito deste trabalho.
Um dos aspectos que mais caracteriza o conjunto alto-imperial da Sé é a significativa expressão
das produções norte-africanas, que representam 5,54% da amostra e 10,2% das importações extrapro-
vinciais, valores que se afastam consideravelmente do que até aqui se conhecia em Olisipo bem como
dos dados globais da cidade e dos principais conjuntos estudados, com excepção da Rua das Pedras
Negras onde os artigos daquela origem adquirem percentagens aproximadas. O grupo de ânforas com
origem no Norte de África apresenta uma apreciável diversidade tipológica, aliás só escassamente ul-
trapassada pelas produções do Guadalquivir, caracterizando-se por um relativo equilíbrio na quantida-
de dos diferentes tipos. As formas mais atestadas são a Ostia LIX, a Africana I e a Africana IIA, significan-
do cada uma 20% daquelas produções. A Dressel 2-4/Schoene-Mau XXXV representa 13,33%, enquanto
os restantes tipos, constituídos pela Tripolitana II, Ostia XXIII, Uzita Pl. 52,10 e Pupput T 700.4/T 700.5,
ostentam percentagens similares (6,67% cada). Trata-se de tipos minoritários e, na sua maioria, até ago-
ra desconhecidos em Lisboa e mesmo no Ocidente hispânico. Não é claro o significado da represen-
tatividade das ânforas norte-africanas na Sé em comparação com os restantes conjuntos de Olisipo,
sendo, porém, tentador procurar na localização deste sítio, claramente central na cidade romana, e na
funcionalidade dos edifícios aí colocados a descoberto (tabernae?) a respectiva explicação.
Com percentagens consideravelmente inferiores surgem as importações da Gallia e do Mediter-
râneo Oriental, significando cada uma 2,58% do NMI e 4,76% dos artigos extraprovinciais. A primeira
região é maioritariamente representada pela Gauloise 4, significando 71,43% dos envases dessa área

234
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

10722

10731

11570

10549

10932

11365

11358

11027
16238
10cm

Estampa 116 – Claustros da Sé. Gália: Gauloise 1, variante B (10731), Gauloise 3 (10722), Gauloise 4 (11570,
11365, 10549, 10932, 16238). Península Itálica, costa tirrénica: Dressel 2-4 (11027, 11358). Desenho nº 16238: in
Fabião et al., 2016.

produtora, e de forma bem mais modesta pelas pouco habituais Gauloise 1, variante B (14,29%), e Gau-
loise 3 (14,29%). Mais do que a representatividade da Gauloise 4, o contentor gaulês de maior sucesso
comercial no Império, importa sublinhar a documentação da variante B da Gauloise 1 e a Gauloise 3,
totalmente desconhecidas no actual território português até à data (embora em Tomar esteja atestada
a Gauloise 1 “clássica” - Banha e Arsénio, 1998), sobretudo por se tratar de contentores usualmente
considerados como essencialmente destinados a uma distribuição de carácter regional e pouco docu-
mentados na Hispania. Este facto enfatiza de algum modo a importância de Olisipo e do seu porto no
contexto das relações comerciais da metade ocidental do Império Romano.
No mesmo sentido concorre a presença de vários tipos originários do Mediterrâneo Oriental, tes-
temunho de um comércio de produtos de luxo, certamente destinado aos habitantes mais abastados
de Olisipo e de Augusta Emerita. À excepção da Tardo-Ródia/Camulodunum 184, de que se identificaram
dois indivíduos (28,57% dos envases desta região), todas as formas atestadas são representadas por
um único exemplar (14,29% cada), estando presentes as Dressel 2-4/5, Dressel 24, Dressel 25, Agora
M54 e Kapitän II. Embora seja ligeiramente superior, esta representatividade estatística não se afasta
significativamente da leitura global da cidade, sendo, todavia, consideravelmente inferior aos conjun-
tos da Rua das Pedras Negras e do Palácio dos Condes de Penafiel. À semelhança de alguns dos tipos
norte-africanos, a maior parte destas ânforas procedentes da metade oriental do Mediterrâneo eram
totalmente desconhecidas em Olisipo e, nalguns casos, em todo o território da antiga Lusitânia.

235
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

16043 11179
10519

11061
10959
11251

11466
10523
10934

11402
11563

10806

11204 10869
10874

10cm
16158 10746

Estampa 117 – Claustros da Sé. Norte de África: Dressel 2-4 (10519, 11251(?)), Ostia LIX (16043, 11061, 10523),
Ostia XXIII (11179), Uzita Pl. 52, 10 (10959), Africana 1C (10934, 10806), Africana 1? (16158), Africana IIA (11466,
10869, 11402), Pupput T700.4? / Keay LV/LVI (10746), Indeterminado (11563, 10874, 11204).

As restantes regiões produtoras atestadas na amostra da Sé são compostas, em ordem de re-


presentatividade, pela costa setentrional da Tarraconensis (2,04% das importações extraprovinciais),
de onde provêm as Pascual 1, as Oberaden 74 e as Dressel 3-2 (0,68% cada); pelo litoral tirrénico da
Península Itálica (1,36%), através das Dressel 2-4; e pela Ilha de Lipari (0,68%), com as Richborough 527.
A primeira região exibe uma percentagem apenas ligeiramente superior à da leitura global da cidade,
enquanto no caso da Ilha de Lipari sucede o oposto. Já a costa tirrénica de Italia apresenta valores sig-
nificativamente inferiores aos dessa leitura e dos principais conjuntos analisados, com excepção da Rua
das Pedras Negras.
As considerações efectuadas nas páginas anteriores acerca das particularidades das proporções
observáveis nos vários tipos anfóricos do conjunto da Sé reflectem-se na curva de consumo e nas per-
centagens dos vários produtos importados, sublinhando o carácter distinto desta amostra face aos da-
dos globais da cidade e dos principais sítios localizados no Vale da Baixa, tais como o Banco de Portugal,
a Praça da Figueira e a Zara, na Rua Augusta. A excepção é constituída pelo azeite, cujo consumo não
apresenta significativas oscilações percentuais entre os principais conjuntos estudados, tanto os que
se localizam na encosta Sul da colina do castelo como na Baixa, cenário que é confirmado nos dados
globais de Olisipo. Já a proporção entre o consumo de vinho e de preparados piscícolas é totalmente
distinta entre estas duas zonas da cidade, o que é particularmente verificável na amostra da Sé mas
também na da Rua das Pedras Negras.

236
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

16104

10539

10712

11373

16275
16355

11609

10851

16315 16075 10cm

Estampa 118 – Claustros da Sé. Mediterrâneo Oriental: Tardo-Ródia/Camulodunum 184 (16104, 10539), Dressel
2-4/5 (10712, 11373), Dressel 25 (16275, 10851), Agora M54 (16355), Kapitän 2 (16075, 11609, 16315).

O consumo de vinho evidenciado pelo conjunto da Sé representa 47,23% do NMI, enquanto no


Banco de Portugal não vai além dos 18,37% e na Praça da Figueira dos 34,62%, sendo no cômputo geral
da cidade de 32,4%. Refira-se que este último valor é indissociável da grande dimensão e do peso que
têm nos dados globais da cidade os dois últimos sítios mencionados, cuja localização - na área de in-
tensa indústria piscícola - potencia o aparecimento preferencial de tipos piscícolas de produção local/
regional como a Dressel 14, tipo que no caso do Banco de Portugal ascende a 318 indivíduos e significa
56,38% da amostra.
As ânforas vinárias da Sé são maioritariamente procedentes da Lusitania (51,56% dos envases vi-
nários), sendo estas quase exclusivamente representadas pela Lusitana 3 (50,78%) e de forma vestigial
pela designada “Dressel 28” (0,78%). Apesar desta hegemonia, a representatividade da Lusitana 3 no
contexto dos contentores vinários nos principais conjuntos estudados (Praça da Figueira, Banco de
Portugal, Rua das Pedras Negras e Palácio dos Condes de Penafiel) é sempre superior à verificada na
Sé, com percentagens normalmente acima dos 60%, apesar de nos dados globais de Lisboa essa percen-
tagem ser apenas de 54,11%, ou seja, bastante aproximada à do sítio que aqui se analisa. Esta diferen-
ça relativamente aos outros locais referidos deverá assentar sobretudo na frequência de contextos e
materiais datados entre Augusto e o final do séc. I d.C. que se documentaram na Sé, a que já se aludiu.
É precisamente esta questão cronológica que deverá estar na base da expressiva representati-
vidade dos vinhos do Guadalquivir (33,59%), que se constitui como a segunda região produtora mais
importante, uma vez que as formas daí provenientes se reportam quase integralmente a produções do
séc. I d.C., com especial ênfase na sua primeira metade. Neste contexto, a supremacia da Haltern 70

237
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Lusitana Antiga 16 5,904% 32% 30,77% 21,62%
Lusitânia, Tejo/Sado Dressel 14 34 12,55% 68% 65,38% 45,95%
Total 50 18,45% 100% 67,57%
Tipo 2 1 0,37% 50% 1,92% 1,35%
Lusitânia, Peniche Tipo 7 1 0,37% 50% 1,92% 1,35%
Total 2 0,74% 100% 100% 2,7%
Preparados piscícolas

Dressel 12 3 1,11% 15,79% 13,64% 4,05%


Dressel 7-11 5 1,85% 26,32% 22,73% 6,76%
Dressel 9 4 1,48% 21,05% 18,18% 5,41%
Dressel 9-10 4 1,48% 21,05% 18,18% 5,41%
Bética, costa ocidental
Beltrán II 1 0,37% 5,26% 4,55% 1,35%
Beltrán IIA 1 0,37% 5,26% 4,55% 1,35%
Beltrán IIB 1 0,37% 5,26% 4,55% 1,35%
Total 19 7,01% 100% 25,68%
Bética, Dressel 7-11 3 1,11% 100% 13,6% 4,05%
Vale do Guadalquivir Total 3 1,11% 100% 100% 4,05%
Total 74 27,31% 100%
“Dressel 28” 1 0,37% 1,52% 1,52% 0,78%
Lusitânia, Tejo/Sado Lusitana 3 65 23,99% 98,48% 98,48% 50,78%
Total 66 24,35% 100% 100% 51,56%
Haltern 70 13 4,8% 30,23% 30,23% 10,16%
Haltern 70 (inicial) 10 3,69% 23,26% 23,26% 7,81%
Haltern 70 (Augusto-Tibério) 13 4,8% 30,23% 30,23% 10,16%
Haltern 70 (Cláudio-Nero) 1 0,37% 2,33% 2,33% 0,78%
Bética,
Verulamium 1908 1 0,37% 2,33% 2,33% 0,78%
Vale do Guadalquivir
Tipo Urceus 3 1,11% 6,98% 6,98% 2,34%
Dressel 28 1 0,37% 2,33% 2,33% 0,78%
Dressel 2-4 1 0,37% 2,33% 2,33% 0,78%
Total 43 15,87% 100% 100% 33,59%
Pascual 1 1 0,37% 33,33% 33,33% 0,78%
Vinho e derivados

Tarraconense, Oberaden 74 1 0,37% 33,33% 33,33% 0,78%


costa setentrional Dressel 3-2 1 0,37% 33,33% 33,33% 0,78%
Total 3 1,11% 100% 100% 2,34%
Gauloise 1, var. B 1 0,37% 14,29% 14,29% 0,78%
Gauloise 3 1 0,37% 14,29% 14,29% 0,78%
Gália Narbonense
Gauloise 4 5 1,85% 71,43% 71,43% 3,91%
Total 7 2,58% 100% 100% 5,47%
Península Itálica, Dressel 2-4 2 0,74% 100% 100% 1,56%
costa tirrénica Total 2 0,74% 100% 100% 1,56%
Dressel 2-4/Schoene-Mau XXXV 2 0,74% 100% 100% 1,56%
Norte de África
Total 2 0,74% 100% 100% 1,56%
Tardo-Ródia/Camulodunum 184 2 0,74% 40% 40% 1,56%
Dressel 2-4/5 1 0,37% 20% 20% 0,78%
Mediterrâneo Oriental Agora M54 1 0,37% 20% 20% 0,78%
Kapitän 2 1 0,37% 20% 20% 0,78%
Total 5 1,85% 100% 100% 3,91%
Total 128 47,23% 100%

Tabela 83 – Quantificação por conteúdo das ânforas do Principado da Sé de Lisboa.

(86,05% dos envases vinários dessa área produtora), particularmente das suas variantes Inicial (23,26%)
e Augusto-Tibério (30,23%), a que se poderá adicionar a presença das ânforas de tipo Urceus (6,98%),
atesta isso mesmo. Os restantes tipos desta região atestados na amostra, Verulamium 1908 (2,33%),
Dressel 28 (2,33%) e Dressel 2-4 (2,33%), claramente minoritários, enquadram-se genericamente no séc.
I d.C., embora possam ter chegado já nos primeiros anos do século seguinte. Refira-se ainda a ausência
de contentores vinários produzidos no litoral da Baetica.
Com valores bastante mais modestos surgem as importações da Gallia (5,47%), com as pouco ha-
bituais e já comentadas Gauloise 1, variante B, e Gauloise 3, significando cada uma 14,29% das produções

238
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Oberaden 83/Ovóide 7 5 1,85% 11,11% 11,11% 9,43%
Haltern 71 4 1,48% 8,89% 8,89% 7,55%
Oberaden 83/Ovóide 7 - Haltern 71 1 0,37% 2,22% 2,22% 1,89%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 10 3,69% 22,22% 22,22% 18,87%
Dressel 20 (Nero-Vespasiano) 5 1,85% 11,11% 11,11% 9,43%
Bética, Dressel 20 (Flávia-Trajana) 2 0,74% 4,44% 4,44% 3,8%
Vale do Guadalquivir Dressel 20 (Antonina) 9 3,32% 20% 20% 16,98%
Dressel 20 3 1,11% 6,67% 6,67% 5,66%
Dressel 20 parva (Júlio-Cláudia) 1 0,37% 2,22% 2,2% 1,89%
Azeite

Dressel 20 parva 2 0,74% 4,44% 4,44% 3,8%


Dressel 20 (séc. III) 3 1,11% 6,67% 6,67% 5,66%
Total 45 16,61% 100% 100% 84,91%
Ostia XXIII 1 0,37% 14,3% 14,3% 1,89%
Ostia LIX 3 1,11% 42,9% 42,9% 5,66%
Norte de África
Africana I 3 1,11% 42,9% 42,9% 5,66%
Total 7 2,58% 100% 100% 13,21%
Dressel 24 1 0,37% 100% 100% 1,89%
Mediterrâneo Oriental
Total 1 0,37% 100% 100% 1,89%
Total 53 19,56% 100%
Richborough 527 1 0,37% 100% 100% 100%
Ilha de Lipari
Alúmen Total 1 0,37% 100% 100% 100%
Total 1 0,37% 100%
Haltern 70 6 2,21% 100% 100% 40,00%
Lusitânia, Tejo/Sado
Total 6 2,21% 100% 100% 40,00%
Bética, Ovóide indeterminada 2 0,74% 100% 100% 13,33%
Vale do Guadalquivir Total 2 0,74% 100% 100% 13,33%
Indeterminado

Pupput T 700.4/T 700.5 1 0,37% 17% 17% 6,67%


Tripolitana II 1 0,37% 17% 17% 6,67%
Norte de África Uzita Pl. 52,10 1 0,37% 17% 17% 6,67%
Africana IIA 3 1,11% 50% 50% 20,00%
Total 6 2,21% 100% 100% 40,00%
Dressel 25 1 0,37% 100% 100% 6,67%
Mediterrâneo Oriental
Total 1 0,37% 100% 100% 6,67%
Total 15 5,54% 100%
TOTAL 271 100%

Tabela 83 – Quantificação por conteúdo das ânforas do Principado da Sé de Lisboa (cont.).

daquela província, e principalmente as Gauloise 4 (71,43%). A distribuição destas produções na cidade


de Olisipo não parece obedecer a qualquer padrão. Se na Sé ocorrem em proporções ligeiramente in-
feriores às que se observam nos dados globais da cidade, na Rua das Pedras Negras e no Banco de
Portugal, dois sítios com implantação distinta no contexto urbano de Olisipo cujos conjuntos anfóricos
evidenciam inúmeras dissemelhanças, surgem em percentagens na ordem dos 13% e 14%.
Igualmente de difícil compreensão é o facto de, entre os principais sítios estudados, ser precisa-
mente na Sé que se verifica uma menor representatividade das importações provenientes do Mediter-
râneo Oriental no âmbito dos contentores vinários, o que se poderá eventualmente relacionar também
com a questão da generalidade da cronologia dos contextos. Tendo em conta a quase total ausência de
ânforas dessa região em amostras de Lisboa cuja cronologia dos contextos ou dos conjuntos materiais
não ultrapassa a dinastia Júlio-Cláudia, como o Teatro Romano (Filipe, 2008a; Filipe, 2015), a Rua dos Ba-
calhoeiros (Filipe, 2008b), a Rua dos Remédios (Silva, 2015a) e alguns contextos bem datados da Praça
da Figueira (Silva et al., 2016), poder-se-á questionar se a comercialização de produtos com aquela ori-
gem não se terá desenvolvido sobretudo a partir do séc. II d.C., sendo até então meramente episódica.
Neste sentido concorrem também os dados da Zara, onde num importante conjunto que se repor-
ta sobretudo ao séc. I d.C. e primeira metade do séc. II as ânforas da metade oriental do mare nostrum
estão escassamente atestadas, podendo-se referir o mesmo relativamente ao conjunto da Rua de São
Mamede, ainda que neste caso com menor fiabilidade estatística. De forma inversa, em sítios como o

239
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Banco de Portugal, a Rua da Pedras Negras, o Palácio dos Condes de Penafiel e a Praça da Figueira, com
importantes contextos e conjuntos materiais inseríveis nos séculos II e III d.C., verifica-se uma maior
representatividade das importações orientais. Os mesmos exemplos parecem ser válidos para as produ-
ções norte-africanas, cuja chegada ao Ocidente hispânico se parece ter efectuado principalmente a par-
tir do séc. II, com maior probabilidade na sua segunda metade. Representando 3,91% do consumo de vi-
nho, as ânforas vinárias provenientes do Mediterrâneo Oriental atestadas na Sé correspondem aos tipos
Tardo-Ródia/Camulodunum 184 (1,56%), Dressel 2-4/5 (0,78%), Agora M54 (0,78%) e Kapitän II (0,78%).
Já o vinho importado da costa setentrional da Tarraconensis significa apenas 2,34% do consumo
desse produto, sendo transportado em ânforas do tipo Pascual 1, Oberaden 74 e Dressel 3-2, que aqui
exibem percentagens iguais. A sua representatividade é bastante aproximada à dos dados globais da
cidade e de sítios como a Rua das Pedras Negras e a Praça da Figueira. Completando o quadro das
importações de vinho, foram ainda atestadas ânforas vinárias com origem na costa tirrénica da Penín-
sula Itálica e no Norte de África em proporções idênticas (1,56%), respectivamente representadas pelas
Dressel 2-4 e Dressel 2-4/Schoene-Mau XXXV. Se estas últimas são raras na cidade e, por esse motivo,
relativamente bem representadas na Sé em comparação com os restantes locais, as Dressel 2-4 tirréni-
cas surgem em quantidades mais baixas do que nos principais sítios analisados, com excepção, uma vez
mais, da Rua das Pedras Negras.
No que concerne ao consumo de preparados à base de peixe, os produtos lusitanos dominam
completamente o cenário significando 70,3% dos envases piscícolas, dos quais 67,57% provêm dos vales
dos rios Tejo e Sado e somente 2,7% do Morraçal da Ajuda, Peniche. Desta última área produtora estão
atestados os tipos 2 e 7 locais, com apenas um indivíduo de cada. Do Vale do Tejo/Sado a Dressel 14 é
predominante, representando 68% dos envases dessa área, enquanto as Lusitanas Antigas significam
32%. Tendo em conta os vários contextos registados na Sé datados entre Augusto e meados do séc. I
d.C., a que se tem feito alusão e com que a relativamente baixa percentagem de Dressel 14 parece con-
cordar, não deixa de surpreender a presença algo escassa das Lusitanas Antigas. Relacionado ou não,
certo é que nos restantes conjuntos mais importantes de Lisboa se verifica uma maior hegemonia das
ânforas piscícolas lusitanas face às béticas.
Em relação aos produtos piscícolas do litoral da Baetica (25,68% dos envases destinados a esse
artigo), o conjunto é dominado por tipos produzidos e comercializados entre o final do séc. I a.C. e o
séc. I d.C., como seria expectável tendo em conta as características da amostra, amplamente comen-
tadas. Particularmente expressiva é a presença das Dressel 7-11 (68,42% dessa região), com valores não
muito distantes das já referidas Lusitanas Antigas, o que sublinha o que atrás se referiu em relação à
baixa frequência destas últimas. Esta singularidade diverge largamente dos dados de outros conjuntos
desta cronologia, como o Teatro Romano (Filipe, 2008a; Filipe, 2015), a Rua dos Remédios (Silva, 2015a)
e a Rua dos Bacalhoeiros (Filipe, 2008b). Neste âmbito cronológico enquadra-se igualmente a Dressel
12 (15,79%), escassamente identificada nos restantes sítios. A presença das Beltrán IIA e Beltrán IIB, algo
mais tardias sobretudo no caso da última, é praticamente vestigial concorrendo igualmente no sentido
do que se referiu acerca da generalidade da cronologia dos contextos e materiais. Do Vale do Guadal-
quivir foram apenas contabilizados três indivíduos de Dressel 7-11, significando 4,05% dos contentores
piscícolas alto-imperiais.
O que atrás se referiu relativamente à significativa representatividade das produções norte-afri-
canas na amostra da Sé reflecte-se de forma marcada no consumo de azeite, mormente nas respectivas
proporções das distintas regiões de proveniência. Este produto, significando 19,56% do NMI, era maio-
ritariamente importado do Vale do Guadalquivir (84,91% dos envases oleícolas) e em quantidades bem
mais modestas do Norte de África (13,21%) e do Mediterrâneo Oriental (1,89%). Embora preponderante,
a expressividade do azeite bético neste conjunto é consideravelmente inferior à que se observa nos
sítios de maior dimensão analisados à luz deste trabalho e nos dados globais de Olisipo (95,47%). Conse-
quentemente, o azeite procedente do Norte de África adquire aqui uma expressão que não se verifica
em nenhum dos conjuntos mais importantes, alcançando uns impressionantes 13,21%. Note-se que este
valor poderá na realidade ser mais elevado, na medida em que se mantém ainda como uma incógnita
o conteúdo envasado e transportado em alguns dos tipos originários daquela região e atestados neste
sítio, como a Pupput T 700.4/T 700.5, a Tripolitana II e a Africana IIA. Os contentores que testemunham

240
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

a importação do azeite norte-africano são sobretudo a Ostia LIX (1,4%) e a Africana I (4,1%), bem como a
Ostia XXIII (1,85%), estas últimas de forma mais discreta..
Igualmente digno de menção é a presença de azeite proveniente do Mediterrâneo Oriental
(1,89%), transportado nas Dressel 24. Para além deste exemplar, esta forma apenas foi identificada no
Largo de Santo António e, possivelmente, na recente intervenção da Rua das Pedras Negras, ambos
localizados nas proximidades da Sé. Refira-se ainda que a representatividade do azeite oriental poderá
ser mais elevada, já que esse poderá eventualmente ter sido o produto transportado pelas Dressel 25,
de que se reconheceu um indivíduo nos claustros da Sé.
Apesar de tudo o que se referiu, o conjunto de ânforas oleícolas béticas da Sé não deixa de ser
notável. Estão atestadas todas as formas alto-imperiais produzidas no Vale do Guadalquivir destinadas a
transportar aquele produto: Oberaden 83/Ovóide 7 (9,43%), Haltern 71 (7,55%) e Dressel 20 (66,04%), in-
cluindo todas as variantes desta última e o módulo de pequena dimensão, já anteriormente comentadas.
Resta fazer menção ao alúmen, transportado desde as ilhas Eólias, representando 0,37% da amos-
tra do Principado, percentagem bastante aproximada à que se observa nos dados globais de Lisboa.

5.23. Casa dos Bicos - 2010 (anexo I.23)

A intervenção arqueológica realizada na Casa dos Bicos em 2010 enquadrou-se no âmbito do


Projecto Integrado de Estudo e Valorização da “Cerca Velha “ de Lisboa (PIEVCVL)22 e decorreu durante as
obras de remodelação dos pisos superiores do edifício para a instalação da Fundação José Saramago,
tendo o autor deste trabalho assumido a responsabilidade científica da escavação em colaboração com
Manuela Leitão, funcionária do extinto Serviço de Arqueologia do Museu da Cidade, Câmara Municipal
de Lisboa (Filipe et al., 2016; Filipe e Leitão, 2017).
O sítio, situado no sopé da vertente Sul da colina de São Jorge, junto à praia fluvial, havia já sido
intervencionado entre 1981 e 1982 pelo antigo Instituto Português do Património Cultural, sob a coor-
denação de Clementino Amaro, tendo-se tornado uma referência na história da Arqueologia Urbana
de Lisboa, inaugurando uma nova fase da prática arqueológica na cidade e protagonizando uma expe-
riência inédita de intervenção num edifício histórico, com dados inéditos sobretudo sobre o urbanismo
em Época Romana, possibilitando ainda a primeira integração no interior de um edifício de vestígios
arqueológicos efectuada na cidade (Amaro, 1982; Duarte e Amaro, 1986; Amaro, 2002).
Durante os trabalhos de 2010 foram documentados diversos contextos e estruturas de Época
Romana relacionados com a unidade fabril de preparados de peixe e com a muralha tardia, realidades
conhecidas desde a intervenção de 1981/82 (Amaro, 1982). Em relação à unidade fabril, as evidências
estratigráficas agora colocadas a descoberto testemunham uma diacronia de utilização do espaço que
se estende desde a primeira metade do século II, ou ainda durante o século I, até ao final do século III
ou início do IV d.C.. Ao longo desse período foram realizadas diversas remodelações no edifício que re-
configuraram a sua dinâmica interna. Com base na análise estratigráfica e no estudo das cerâmicas foi
possível estabelecer sete momentos relativos a diferentes acções no funcionamento da unidade fabril,
designados de Fase I a VII, dados igualmente informativos sobre o universo das produções, do consumo
e do comércio de alimentos na cidade romana de Olisipo (Filipe et al., 2016).

22 . Coordenado por Manuela Leitão (CML), o Projecto Integrado de Estudo e Valorização da “Cerca Velha” de Lisboa foi promovido
pelo Município de Lisboa com o apoio financeiro do Instituto do Turismo de Portugal. Iniciado em 2009, este projecto englobou um
conjunto de acções multidisciplinares (estudo, arqueológico e histórico; conservação; valorização e divulgação), visando contribuir
para o conhecimento científico da primitiva cerca urbana medieval de Lisboa, construção de origem romana, bem como proporcionar
meios que permitissem a interpretação e a fruição pública do Monumento contextualizado nas dinâmicas da cidade. A implementação
de um plano de pesquisa arqueológica, em áreas previamente definidas em função do potencial científico, levou à concretização
de 11 sondagens, cujos resultados contribuíram para a divulgação de informação inédita, relacionada, por exemplo, com a evolução
cronológica e construtiva da muralha.

241
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Fase II
Sond. 1
Fase III
Sond. 1

2962

Fase IV
Sond. 2

2469

4564

2064

Fase IV
Sond. 1

151
117

150

119 288

773

146 152

143

149 2069

142
147 10cm
144

Estampa 119 – Casa dos Bicos. Contextos Fase II - Bética, Vale do Guadalquivir: Dressel 20 parva Antonina (2962).
Contextos Fase III - Lusitânia: Lusitana 3 (2469), Dressel 14 (2064). Contextos Fase IV - Lusitânia: Dressel 14 (117,
119, 151, 150, 773), Lusitana 3 (146, 149, 147, 152, 2069, 144, 143, 288). Bética, Vale do Guadalquivir: Dressel 20
séc. III (4564). Gália, Narbonense: Gauloise 4 (142).

242
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

145

292
Fase IV
Sond. 1

289

Contextos
pós-romanos

6400

6161

Fase V
Sond. 4
2966

5322 6001

6375

5747
6003
5740

2722

6297 10cm
5600

Estampa 120 – Casa dos Bicos. Contextos Fase IV - Lusitânia: Lusitana 3 (145, 292, 289). Contextos Fase V -
Lusitânia: Lusitana 3 (5322, 5740, 6375), Dressel 14 (6297). Contextos pós-romanos - Península Itálica, costa tirré-
nica: Dressel 1 (6400). Bética, Vale do Guadalquivir: Haltern 70 (6161, 2966). Bética, costa ocidental: Dressel 9-10
(5600, 5747, 2722). Lusitânia: Lusitana Antiga (6001 e 6003).

243
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Quanto à muralha e à cronologia da sua construção, os dados documentados são escassos e


indirectos, permitindo apenas afirmar que aquela estrutura defensiva não terá sido construída antes
do final do século III. Esta datação post quem mantém-se, para já, como um dos escassos indicadores
cronológicos conhecidos da muralha tardia de Lisboa, para além dos elementos aduzidos na interven-
ção dos Armazéns Sommer, onde o único elemento datante é uma parede de terra sigillata africana
recolhida no núcleo da muralha (Gaspar e Gomes, 2007).
Refira-se, por fim, que a área intervencionada foi entretanto musealizada, contemplando as es-
truturas arqueológicas já conhecidas e as documentadas na nova campanha, e aberta ao público no
piso térreo da Casa dos Bicos em Julho de 2014, num projecto coordenado por Manuela Leitão e com a
colaboração, entre outros, do autor deste estudo.
A amostra que aqui se analisa é composta unicamente pelos contentores anfóricos identificados
durante os trabalhos de 2010, encontrando-se os procedentes das antigas intervenções em fase de es-
tudo pelo seu responsável. Pelas razões anteriormente expressas, a quantificação foi efectuada sobre
o total da amostra e não por contexto. Essa análise quantitativa contextual foi já realizada e publicada
em trabalho anterior (Filipe et al., 2016), igualmente enquadrado no âmbito desta tese.
O conjunto total de ânforas exumadas na Casa dos Bicos é composto por um número global de
173 fragmentos e 83 indivíduos, sendo que 32,53% desses materiais correspondem a produções tardias,
não contempladas neste estudo, 1,2% à República, 59,04% ao Principado e 7,23% a contentores de tipo in-
determinado. Assim, a amostra em estudo, de escassa fiabilidade estatística, constitui-se por 48 bordos,
28 fundos, 54 asas e dois bojos, num total de 132 fragmentos que se traduzem num Número Mínimo
de 57 Indivíduos. Estão presentes 12 tipos distintos provenientes da Lusitania, da Baetica (costa e Vale
do Guadalquivir), da Gallia, da Península Itálica (costa tirrénica) e do Norte de África, estando ausen-
tes as produções da Tarraconensis e das províncias do Mediterrâneo Oriental. Da Época Republicana
apenas se identificou um bordo (residual) de Dressel 1 produzida na costa tirrénica da Península Itálica,
sendo a única peça com origem nessa região produtora.
Os contentores do Alto-Império são constituídos por 49 indivíduos, dominando as ânforas de
produção lusitana - como seria expectável num centro de produção piscícola -, com 65,31% da amostra,
destacando-se as Dressel 14 e, sobretudo (paradoxalmente), as Lusitana 3, uma ânfora vinária, que
significa 56,25% dos envases lusitanos. As importações da Bética representam 30,61% do conjunto, com-
pondo 88,24% das ânforas com origem extraprovincial, destacando-se principalmente as que provêm
do Vale do Guadalquivir e que correspondem a 66,67% dos envases daquela província. Estas estão par-
ticularmente bem representadas pelas Dressel 20 (incluindo a variante de pequeno módulo), desde
os modelos de Época Júlia-Cláudia até aos do séc. III, estando igualmente presentes as Haltern 70 e
as Oberaden 83. Atendendo às cronologias dos contextos de origem destes materiais facilmente se
depreenderá do carácter residual deste último tipo e das Lusitanas Antigas, observando-se situação
análoga quanto às Dressel 9-10 da região costeira da Baetica, curiosamente o tipo maioritário no con-
junto de contentores com origem no litoral daquela província. Ainda desta área produtora são os tipos
Beltrán IIA e IIB, respectivamente representados apenas por um indivíduo. As restantes importações,
de carácter francamente minoritário, procedem da Gália e do Norte de África significando apenas 2,04%
do total de NMI e estando representadas, respectivamente, pelas Gauloise 4 e Africana IIA.
Enfim, mesmo tendo em conta a escassa fiabilidade da amostra, o conjunto da Casa dos Bicos
é demonstrativo, por um lado, do peso das produções locais e regionais no consumo de produtos ali-
mentares transportados em ânforas em Olisipo durante o Principado e, por outro, da preponderância
dos produtos oriundos da Bética no quadro das importações extraprovinciais, onde de igual forma se
fazem notar as ausências de géneros alimentares provenientes da Tarraconense, da Península Itálica e
do Mediterrâneo Oriental. Note-se ainda que a percentagem de ânforas lusitanas do conjunto, que se
pode considerar alta face à leitura global da cidade, não se deve tanto aos contentores piscícolas de
produção local e regional, como seria de esperar já que se trata de um centro produtor de preparados
piscícolas, mas sim a uma excepcional representação das Lusitana 3 destinadas ao transporte de vi-
nho. Situação totalmente díspar a este respeito pode ser observada em outros centros produtores de
preparados piscícolas, como o NARC (Bugalhão, 2001) ou Tróia (Almeida et al., 2014c), bem como nos
conjuntos aqui estudados, provenientes de sítios implantados na actual Baixa Pombalina, tais como o
Banco de Portugal, a Praça da Figueira e a Zara, na Rua Augusta.

244
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

6496
3993
5741

5526

6293

6485

10cm 5300 4018

Estampa 121 – Casa dos Bicos. Contextos pós-romanos - Lusitânia: Lusitana Antiga (5741), Dressel 14 (5526, 6293),
Lusitana 3 (6496). Bética, costa ocidental: Beltrán IIA? (3993), Beltrán IIB (4018). Gália, Narbonense: Gauloise 4
(6485). Norte de África: Africana 1A? (5300).

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 4 3,03% 4 7,02% 12,12% 12,12%
Dressel 14 16 12,12% 10 17,54% 30,3% 30,3%
Lusitânia, Tejo/Sado Lusitana 3 67 50,76% 18 31,58% 54,55% 54,55%
Indeterminado 2 1,52% 1 1,75% 3,03% 3,03%
Total 89 67,42% 33 57,89% 100% 100%
Dressel 9-10 3 2,27% 3 5,26% 42,86% 16,67% 13,64%
Beltrán IIA 1 0,76% 1 1,75% 14,29% 5,56% 4,55%
Bética, costa ocidental Beltrán IIB 2 1,52% 1 1,75% 14,29% 5,56% 4,55%
Indeterminado 5 3,79% 2 3,51% 28,57% 11,11% 9,09%
Total 13 9,85% 7 12,28% 100% 31,82%
Oberaden 83/Ovóide 7 2 1,52% 1 1,75% 9,09% 5,56% 4,55%
Haltern 70 2 1,52% 1 1,75% 9,09% 5,56% 4,55%
Haltern 70 (Flávia) 1 0,76% 1 1,75% 9,09% 5,56% 4,55%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) - Haltern 71 1 0,76% 1 1,75% 9,09% 5,56% 4,55%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 1 0,76% 1 1,75% 9,09% 5,56% 4,55%
Dressel 20 (Flávia-Trajana) 1 0,76% 1 1,75% 9,09% 5,56% 4,55%
Bética, Vale do Guadalquivir
Dressel 20 (Antonina) 1 0,76% 1 1,75% 9,09% 5,56% 4,55%
Dressel 20 (séc. III) 3 2,27% 1 1,75% 9,09% 5,56% 4,55%
Dressel 20 5 3,79% 1 1,75% 9,09% 5,56% 4,55%
Dressel 20 parva (Antonina) 1 0,76% 1 1,75% 9,09% 5,56% 4,55%
Indeterminado 1 0,76% 1 1,75% 9,09% 5,56% 4,55%
Total 19 14,39% 11 19,3% 100% 100% 50%
Gauloise 4 2 1,52% 1 1,75% 100% 100% 4,55%
Gália Narbonense
Total 2 1,52% 1 1,75% 100% 100% 4,55%
Península Itálica, Dressel 1 1 0,76% 1 1,75% 100% 100% 4,55%
costa tirrénica Total 1 0,76% 1 1,75% 100% 100% 4,55%
Africana IIA 1 0,76% 1 1,75% 50% 50% 4,55%
Norte de África Indeterminado 4 3,03% 1 1,75% 50% 50% 4,55%
Total 5 3,79% 2 3,51% 100% 100% 9,09%
Indeterminado 3 2,27% 2 3,51% 100% 100%
Indeterminada
Total 3 2,27% 2 3,51% 100% 100%
TOTAL 132 100% 57 100% 100%

Tabela 84 – Quantificação da totalidade das ânforas da Casa dos Bicos.

245
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 4 3,45% 4 8,16% 12,5% 12,5%
Dressel 14 16 13,79% 10 20,41% 31,25% 31,25%
Lusitânia, Tejo/Sado
Lusitana 3 67 57,76% 18 36,73% 56,25% 56,25%
Total 87 75% 32 65,31% 100% 100%
Dressel 9-10 3 2,59% 3 6,12% 60% 20% 17,65%
Beltrán IIA 1 0,86% 1 2,04% 20% 6,67% 5,88%
Bética, costa ocidental
Beltrán IIB 2 1,72% 1 2,04% 20% 6,67% 5,88%
Total 8 6,9% 5 10,20% 100% 29,41%
Oberaden 83/Ovóide 7 2 1,72% 1 2,04% 10% 6,67% 5,88%
Haltern 70 2 1,72% 1 2,04% 10% 6,67% 5,88%
Haltern 70 (Flávia) 1 0,86% 1 2,04% 10% 6,67% 5,88%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) - Haltern 71 1 0,86% 1 2,04% 10% 6,67% 5,88%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 1 0,86% 1 2,04% 10% 6,67% 5,88%
Bética, Vale do Guadalquivir Dressel 20 (Flávia-Trajana) 1 0,86% 1 2,04% 10% 6,67% 5,88%
Dressel 20 (Antonina) 1 0,86% 1 2,04% 10% 6,67% 5,88%
Dressel 20 (séc. III) 3 2,59% 1 2,04% 10% 6,67% 5,88%
Dressel 20 5 4,31% 1 2,04% 10% 6,67% 5,88%
Dressel 20 parva (Antonina) 1 0,86% 1 2,04% 10% 6,67% 5,88%
Total 18 15,52% 10 20,41% 100% 100% 58,82%
Gauloise 4 2 1,72% 1 2,04% 100% 100% 5,88%
Gália Narbonense
Total 2 1,72% 1 2,04% 100% 100% 5,88%
Africana IIA 1 0,86% 1 2,04% 100% 100% 5,88%
Norte de África
Total 1 0,86% 1 2,04% 100% 100% 5,88%
TOTAL 116 100% 49 100% 100%

Tabela 85 – Quantificação das ânforas do Principado da Casa dos Bicos.

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Lusitana Antiga 4 8,16% 28,57% 28,57% 21,05%
Lusitânia, Tejo/Sado Dressel 14 10 20,41% 71,43% 71,43% 52,63%
Total 14 28,57% 100% 100% 73,68%
Preparados
piscícolas

Dressel 9-10 3 6,12% 60% 60% 15,79%


Beltrán IIA 1 2,04% 20% 20% 5,26%
Bética, costa ocidental
Beltrán IIB 1 2,04% 20% 20% 5,26%
Total 5 10,20% 100% 100% 26,32%
Total 19 38,78% 100%
Lusitana 3 18 36,73% 100% 100% 85,71%
Lusitânia, Tejo/Sado
Total 18 36,73% 100% 100% 85,71%
Vinho e derivados

Haltern 70 1 2,04% 50% 50% 4,76%


Bética,
Haltern 70 (Flávia) 1 2,04% 50% 50% 4,76%
Vale do Guadalquivir
Total 2 4,08% 100% 100% 9,52%
Gália Narbonense Gauloise 4 1 2,04% 100% 100% 4,76%
Total 1 2,04% 100% 100% 4,76%
Total 21 42,86% 100%
Oberaden 83/Ovóide 7 1 2,04% 12,5% 12,5% 12,5%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) - Haltern 71 1 2,04% 12,5% 12,5% 12,5%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 1 2,04% 12,5% 12,5% 12,5%
Dressel 20 (Flávia-Trajana) 1 2,04% 12,5% 12,5% 12,5%
Bética,
Azeite

Dressel 20 (Antonina) 1 2,04% 12,5% 12,5% 12,5%


Vale do Guadalquivir
Dressel 20 1 2,04% 12,5% 12,5% 12,5%
Dressel 20 parva (Antonina) 1 2,04% 12,5% 12,5% 12,5%
Dressel 20 (séc. III) 1 2,04% 12,5% 12,5% 12,5%
Total 8 16,33% 100% 100% 100%
Total 8 16,33% 100%
Africana IIA 1 2,04% 100% 100% 100%
Indet.

Norte de África
Total 1 2,04% 100% 100% 100%
Total 1 2,04% 100%
TOTAL 49 100%

Tabela 86 - Quantificação por conteúdo das ânforas do Principado da Casa dos Bicos.

246
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

No quadro dos produtos consumidos verifica-se a superioridade das ânforas vinárias (42,86%),
onde se destaca o vinho lusitano transportado nas Lusitana 3, cuja excepcional representação foi já
comentada, significando 85,71% do consumo desse produto. Nas importações vinárias extraprovinciais
dominam os vinhos do Vale do Guadalquivir, envasados nas Haltern 70 (9,52% dos contentores vinários),
e os da Gália transportados nas Gauloise 4 (4,76%).
O consumo de produtos haliêuticos significa 38,78% da amostra, não se distanciando muito dos
produtos vitivinícolas, estando representado sobretudo pelas salgas lusitanas (73,68% dos envases pis-
cícolas) transportadas nas Dressel 14 (52,63%) e nas Lusitanas Antigas (21,05%). Menos importante, mas
ainda assim significativa, é a presença dos produtos do litoral da Baetica, cifrando-se em 26,32% dos enva-
ses destinados a esse conteúdo e estando representada sobretudo pelas Dressel 9-10 (15,79%), mas tam-
bém pelas Beltrán IIA e IIB (5,26% cada), constituindo-se como a única região produtora extraprovincial.
Menos expressiva é a presença de contentores oleícolas, exclusivamente representados pelos
modelos do Vale do Guadalquivir, maioritariamente do tipo Dressel 20. A ausência do azeite norte-afri-
cano poderá ser mais aparente do que real já que, para além da problemática relativa ao conteúdo trans-
portado pelas Africana IIA, as produções daquela região estão representadas por um fundo e três asas
que, eventualmente, poderão (pelo menos em parte) pertencer a ânforas destinadas a envasar azeite.
Da leitura destes dados e independentemente do significativo nível de residualidade documen-
tado nos contextos (Filipe et al., 2016), verifica-se que o conjunto é maioritariamente atribuível ao séc.
II e início do séc. III d.C., embora uma parte significativa daquele seja claramente imputável ao séc. I
d.C.. O aspecto que mais se evidencia e que mais surpreende (por se tratar de um sítio ribeirinho e de
produção piscícola) é a superioridade do consumo de vinho relativamente ao dos produtos haliêuticos,
peculiaridade que caracteriza os sítios localizados no pomerium, como de resto se pode observar na
Sé e na Rua das Pedras Negras. O mesmo quadro pode também ser observado, de forma ainda mais
vincada, no não muito distante sítio da Rua dos Bacalhoeiros, local com o mesmo tipo de implantação e
funcionalidade, ainda que remetendo para cronologias mais recuadas. Pelo contrário, na área da actual
Baixa Pombalina, mais afastada da zona central da cidade e onde se localizaria a maior parte da indús-
tria conserveira de Olisipo, dominam as ânforas piscícolas. A explicação poderá, em parte, residir na
proximidade da Casa dos Bicos em relação ao pomerium e na eventual utilização daquela área junto à
margem do Tejo para o descarte de materiais provenientes da encosta Sul, que se poderá entrever em
contextos como o aterro da Fase IV detectado na sondagem 1, reflectindo desse modo não o padrão
que se verificava junto ao esteiro da Baixa mas sim o da área da Sé. Por outro lado, o contexto portuário
desta zona poderá também em certa medida justificar o predomínio das Lusitana 3.

5.24. Travessa das Merceeiras, 27

A intervenção arqueológica desenvolvida na Travessa das Merceeiras, nº 27, decorreu no âmbito


do projecto de reabilitação do edifício com vista à construção do Hotel Memmo Alfama. Os trabalhos
foram assegurados pela empresa Era-Arqueologia e dirigidos por Marina Pinto e Tiago Nunes em 2013.
Nas 17 sondagens efectuadas, as realidades documentadas enquadravam-se essencialmente nas
épocas Medieval, Moderna e Contemporânea, daí provindo a esmagadora maioria das ânforas iden-
tificadas. Do período romano, foi documentado apenas um contexto atribuível aos dois terços finais
do séc. I a.C., onde, num conjunto artefactual pouco numeroso, se exumaram alguns fragmentos de
T-7.4.3.3. e um arranque de asa possivelmente de Ovóide 4. Refira-se ainda que, embora com um desní-
vel altimétrico muito significativo, o local onde se identificou o contexto republicano preservado encon-
tra-se muito próximo dos níveis republicanos documentados no Beco do Marquês de Angeja (v. infra).
O conjunto anfórico da Travessa das Merceeiras, de reduzida dimensão e escassa fiabilidade es-
tatística, é constituído por 24 fragmentos diagnosticáveis (nove bordos, quatro fundos e 11 asas) e um
Número Mínimo de 15 Indivíduos, dos quais 20% correspondem a produções republicanas, 66,67% ao
Principado e 13,33% a contentores de tipo indeterminado, registando-se a presença de sete tipos e cinco
regiões produtoras distintas.

247
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

As ânforas republicanas estão representadas unicamente por dois bordos e uma asa de T-7.4.3.3.
produzida na costa meridional da Ulterior. A amostra atribuível ao Principado revela uma maior pro-
porção de importações do Vale do Guadalquivir, significando 40% desses envases, exibindo as Haltern
70 e as Dressel 20 percentagens iguais (50%). As áreas produtoras dos vales dos rios Tejo e Sado e da
costa ocidental bética apresentam a mesma representatividade (20% do NMI, cada), observando-se da
primeira região apenas a presença da Dressel 14 e, da segunda, a das Dressel 7-11. Foram ainda atestadas
as produções da costa setentrional da Tarraconensis, Dressel 3-2, e da costa tirrénica de Italia, Dressel
2-4, com apenas um indivíduo cada.

26
1 5

22

17

10cm 9

Estampa 122 – Travessa das Merceeiras. Lusitânia: Dressel 14 (1, 5). Ulterior/Bética, costa ocidental: T-7.4.3.3. (22),
Dressel 7-11 (17). Bética, Vale do Guadalquivir: Haltern 70 Inicial (9), Haltern 70 (26). Tarraconense, costa setentri-
onal: Dressel 3-2 (8).

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Dressel 14 5 20,83% 2 13,33% 100% 100%
Lusitânia, Tejo/Sado
Total 5 20,83% 2 13,33% 100% 100%
Dressel 7-11 3 12,5% 2 13,33% 100% 28,57% 15,38%
Bética, costa ocidental
Total 3 12,50% 2 13,33% 100% 15,38%
Haltern 70 3 12,50% 1 6,67% 20% 14,29% 7,69%
Haltern 70 (inicial) 1 4,17% 1 6,67% 20% 14,29% 7,69%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 2 8,33% 1 6,67% 20% 14,29% 7,69%
Bética, Vale do Guadalquivir
Dressel 20 2 8,33% 1 6,67% 20% 14,29% 7,69%
Indeterminado 1 4,17% 1 6,67% 20% 14,29% 7,69%
Total 9 37,50% 5 33,33% 100% 100% 38,46%
T-7.4.3.3. 3 12,5% 2 13,33% 66,67% 50% 15,38%
Hispânia Ulterior,
Indeterminado 1 4,17% 1 6,67% 33,3% 25% 7,69%
costa meridional
Total 4 16,7% 3 20% 100% 23,08%
Hispânia Ulterior, Ovóide 4 1 4,17% 1 6,67% 100% 25% 7,69%
Vale do Guadalquivir Total 1 4,17% 1 6,67% 100% 100% 7,69%
Tarraconense, Dressel 3-2 1 4,17% 1 6,67% 100% 100% 7,69%
costa setentrional Total 1 4,17% 1 6,67% 100% 100% 7,69%
Península Itálica, Dressel 2-4 1 4,17% 1 6,67% 100% 100% 7,69%
costa tirrénica Total 1 4,17% 1 6,67% 100% 100% 7,69%
TOTAL 24 100% 15 100% 100%

Tabela 87 – Quantificação da totalidade das ânforas da Travessa das Merceeiras.

248
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Dressel 14 5 27,78% 2 20% 100% 100%
Lusitânia, Tejo/Sado
Total 5 27,78% 2 20% 100% 100%
Dressel 7-11 3 16,67% 2 20% 100% 33% 25%
Bética, costa ocidental
Total 3 16,67% 2 20% 100% 25%
Haltern 70 3 16,67% 1 10% 25% 16,67% 12,5%
Haltern 70 (inicial) 1 5,56% 1 10% 25% 16,67% 12,5%
Bética, Vale do Guadalquivir Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 2 11,11% 1 10% 25% 16,67% 12,5%
Dressel 20 2 11,11% 1 10% 25% 16,67% 12,5%
Total 8 44,44% 4 40% 100% 100% 50,0%
Tarraconense, Dressel 3-2 1 5,56% 1 10% 100% 100% 12,5%
costa setentrional Total 1 5,56% 1 10% 100% 100% 12,5%
Península Itálica, Dressel 2-4 1 5,56% 1 10% 100% 100% 12,5%
costa tirrénica Total 1 5,56% 1 10% 100% 100% 12,5%
TOTAL 18 100% 10 100% 100%

Tabela 88 – Quantificação das ânforas do Principado da Travessa das Merceeiras.

Este parco conjunto indica um consumo equilibrado de preparados piscícolas e vinho, significan-
do cada um destes produtos 40% do NMI. O primeiro provinha em quantidades iguais da Lusitânia e do
litoral bético, respectivamente nas Dressel 14 e nas Dressel 7-11; o segundo era importado do Vale do
Guadalquivir nas Haltern 70 (50% desse dos envases vinários), da Tarraconense nas Dressel 3-2 (25%) e da
costa tirrénica da Península Itálica nas Dressel 2-4 (25%). Já o azeite era exclusivamente procedente do
Vale do Guadalquivir nas Dressel 20. Pouca informação se poderá retirar de tão reduzida amostra, para
lá de sublinhar que a mesma se integra em termos cronológicos essencialmente no séc. I d.C., apesar de
alguns tipos se poderem eventualmente enquadrar já no século seguinte, e da ocorrência de materiais
republicanos. Registe-se ainda a presença de uma Dressel 3-2 tarraconense, cuja presença em Olisipo é
assaz escassa.

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo
região província conteúdo
Dressel 14 2 20% 100% 100% 50%
Lusitânia, Tejo/Sado
Total 2 20% 100% 100% 50%
Preparados
Dressel 7-11 2 20% 100% 100% 50%
piscícolas Bética, costa ocidental
Total 2 20% 100% 100% 50%
Total 4 40% 100%
Haltern 70 1 10% 50% 50% 25%
Bética, Vale do Guadalquivir Haltern 70 (inicial) 1 10% 50% 50% 25%
Total 2 20% 100% 100% 50%
Vinho e Dressel 3-2 1 10% 100% 100% 25%
Tarraconense, costa setentrional
derivados Total 1 10% 100% 100% 25%
Dressel 2-4 1 10% 100% 100% 25%
Península Itálica, costa tirrénica
Total 1 10% 100% 100% 25%
Total 4 40% 100%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 1 10% 50% 50% 50%
Bética, Vale do Guadalquivir Dressel 20 1 10% 50% 50% 50%
Azeite
Total 2 20% 100% 100% 100%
Total 2 20% 100%
TOTAL 10 100%

Tabela 89 – Quantificação por conteúdo das ânforas do Principado da Travessa das Merceeiras.

249
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

5.25. Beco do Marquês de Angeja (anexo I.25)

No Beco do Marquês de Angeja, Alfama, foi realizada uma primeira intervenção arqueológica em
2005 e uma outra em 2013, ambas sob a responsabilidade científica do autor deste trabalho e enquadra-
das no “Projecto de Alteração e Ampliação do Conjunto Edificado situado na Rua de São João da Praça
(nºs 28-30) e Beco do Marquês de Angeja”. Na primeira intervenção foram abertas duas sondagens de
diagnóstico: uma no nº 28 da Rua de São João da Praça (sondagem 2), onde apenas se observaram
contextos de Época Moderna; e uma outra (sondagem 1) no interior do nº 4 do Beco do Marquês de
Angeja, construção precária e em elevado estado de deterioração localizada na área interior da desig-
nada “Cerca Velha”, onde se viria a registar uma intensa ocupação do espaço em Época Romana (Filipe,
2005; Filipe e Calado, 2007).
Resumidamente, foi documentada uma estrutura em abside revestida a opus signinum no seu
interior, que poderá corresponder a um alveus e que deverá ter pertencido a um complexo mais amplo
de banhos privados ou termas. Para além desta, registou-se uma outra estrutura, com ligante de argila,
cronologicamente anterior e de funcionalidade indeterminada, sobre a qual viria a ser construída a
mencionada estrutura termal. Desta prolífica ocupação estrutural do espaço, bem como da reduzida
dimensão da sondagem, resultaria a escassez de depósitos arqueológicos associados e, consequente-
mente, de materiais arqueológicos, pelo que são bastante reduzidos os elementos cronológicos para
datar as referidas estruturas. Relativamente à mais antiga, não foi possível datar a sua construção,
embora os escassos materiais recolhidos pareçam apontar para o seu abandono em Época de Augusto
ou pouco posterior, pelo que aquela poderá datar ainda da fase tardo-republicana. O complexo termal
terá sido construído em finais do séc. I d.C. ou início da centúria seguinte, não tendo ficado esclarecida
a cronologia do seu abandono (Filipe e Calado, 2007). Ainda que de forma bastante parcelar, a docu-
mentação daquela estrutura termal adquiriu particular importância na medida em que no pomerium da
cidade de Olisipo apenas se conheciam, então, as designadas Termas dos Cássios, na parte ocidental
da urbe, para além das termas do Núcleo Arqueológico da Rua dos Correeiros, situadas extramuros.
Acrescente-se ainda a reconhecida riqueza aquífera desta zona oriental da encosta Sul da colina do cas-
telo (veja-se, a título de exemplo: Almeida, 1972; Ramalho e Lourenço, 2005; Marrero-Díaz e Ramalho,
2015), que não passou despercebida em Época Romana e de que são conhecidos outros testemunhos
do seu mais que provável aproveitamento no Palácio do Marquês de Angeja (v. infra).
A intervenção de 2013 viria a incidir no canto Norte do pátio do Beco do Marquês de Angeja
(sondagem 3), a poucos metros da sondagem atrás descrita, no local onde anteriormente se localizara
uma pequena edificação cujo piso se elevava cerca de 1,5 m em relação à cota do pátio e das restan-
tes edificações que ali se implantavam. Esta diferença altimétrica justificava-se pela existência, sob a
referida edificação, de alguns blocos de calcário local de considerável dimensão, que poderão even-
tualmente corresponder a antigos episódios de colapso da escarpa23 e que terão condicionado a sua
construção. Foi justamente no exíguo espaço existente entre estes blocos calcários e o afloramento
rochoso detectado no local que se registaram alguns depósitos arqueológicos que, embora localizados
a cota mais alta em relação à estrutura termal alto-imperial documentada na sondagem 1 em 2005, são
de formação anterior.
No conjunto artefactual ali exumado, reduzido e muito fragmentado, evidencia-se uma gran-
de componente de cerâmica atribuível à Idade do Ferro a par de materiais tardo-republicanos, fauna
mamalógica, ictiológica e, sobretudo, malacológica24. Relativamente à Tardo-República, observa-se a
presença de cerâmica cinzenta, paredes finas republicanas, cerâmica comum itálica, do Sul Peninsular e
local, bem como, ainda que de forma escassa, de cerâmica campaniense. Quanto às ânforas, os únicos

23. A diferença altimétrica entre o Beco do Marquês de Angeja e o edifício localizado a Norte - actualmente Hotel Memmo Alfama na
Travessa das Merceeiras, cujo conjunto anfórico se analisou anteriormente - ultrapassa seguramente os seis metros, devendo corresponder
aproximadamente à base e topo, respectivamente, de um primitivo patamar do afloramento geológico da encosta Sul da colina.
24. O estudo das cerâmicas e faunas encontra-se actualmente em desenvolvimento pelo autor deste trabalho em colaboração com Elisa
Sousa, Marco Calado e Cleia Detry.

250
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

fragmentos morfologicamente classificáveis identificados são dois bordos de T-7.4.3.3. da costa meri-
dional da Ulterior e um fundo com pasta atribuível à região costeira do Nordeste Peninsular, que deverá
corresponder a uma Pascual 1. Para além destes, verificou-se ainda a presença frequente de paredes
de ânforas romanas exibindo fabricos associáveis à costa tirrénica e adriática da Península Itálica, ao
Vale do Guadalquivir e aos vales dos rios Tejo e Sado, que, tendo em conta a cronologia dos restantes
materiais, poderão corresponder, respectivamente, a contentores de tipo Dressel 1, ânforas de Brindisi
ou Lamboglia 2, ovóides do Guadalquivir e Lusitanas Antigas.
Se a presença de ânforas com fabrico lusitano não permite recuar a cronologia de formação
destes depósitos para lá dos meados da primeira centúria antes da viragem da Era, a ausência de terra
sigillata parece indicar que aquela deverá ter ocorrido em fase anterior ao início do Principado de Au-
gusto ou nos seus primeiros anos, ou seja, muito provavelmente algures durante o terceiro quartel do
séc. I a.C. ou pouco depois.
Naturalmente, haverá que ter presente que o conjunto de materiais no qual assenta esta propos-
ta de cronologia é assaz escasso, pelo que apenas a realização de futuras escavações a poderá confir-
mar de forma segura. Não deixa, contudo, de ser sugestivo que a cronologia proposta para a estrutura
mais antiga detectada em 2005 na sondagem 1 (Filipe e Calado, 2007, p. 5), situada a escassos metros
da sondagem 3, seja precisamente a fase imediatamente anterior ao Principado de Augusto, embora
também ali tal proposta assente sobre uma (ainda mais) reduzida amostra cerâmica.
Trata-se de uma amostra extremamente reduzida, constituída pelas ânforas da sondagem 3,
atrás enunciadas, e pelas recolhidas na sondagem 1 em 2005. Estas últimas resumem-se a dois bordos
de Dressel 14 lusitana, dois bordos de uma forma desconhecida de produção lusitana que poderá cor-
responder à imitação das ânforas béticas de tipo Urceus (v. infra), um arranque de asa de Haltern 70
do Guadalquivir, um fragmento de asa que poderá corresponder tanto a uma Dressel 14 como a uma
Lusitana Antiga e um fundo de uma ânfora ovóide de tipo indeterminado com fabrico do Guadalquivir.
Sem qualquer pertinência estatística - motivo pelo qual se considera dispensável uma análise
estatística detalhada -, a amostra global é composta por 44 fragmentos de ânfora, o que equivale a
um Número Mínimo de 12 Indivíduos, estando presentes apenas contentores republicanos e alto-impe-
riais. Refira-se que aqui se tiveram em consideração também os fragmentos de parede de ânfora uma
vez que estes testemunham a presença efectiva de determinadas regiões produtoras que, no escasso
conjunto exumado, não estão representadas por qualquer fragmento de bordo, fundo ou asa. Foram
identificadas seis tipologias distintas e outras tantas áreas produtoras - vales dos rios Tejo e Sado, Vale
do Guadalquivir, costa meridional peninsular, costa setentrional da Tarraconense e costas tirrénica e
adriática da Península Itálica.

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 7 15,91% 1 8,33% 20% 20%
Tipo Urceus? 2 4,55% 2 16,67% 40% 40%
Lusitânia, Tejo/Sado
Dressel 14 3 6,82% 2 16,67% 40% 40%
Total 12 27,27% 5 41,67% 100% 100%
Ovóide indeterminada 1 2,27% 1 8,33% 50% 50% 14,29%
Bética, Vale do Guadalquivir Haltern 70 1 2,27% 1 8,33% 50% 50% 14,29%
Total 15 34,09% 2 16,67% 100% 100% 28,57%
T-7.4.3.3. 2 4,55% 2 16,67% 100% 100% 28,57%
Hispânia Ulterior, costa meridional
Total 2 4,55% 2 16,67% 100% 100% 28,57%
Pascual 1 1 2,27% 1 8,33% 100% 100% 14,29%
Tarraconense, costa setentrional
Total 1 2,27% 1 8,33% 100% 100% 14,29%
Indeterminado 10 22,73% 1 8,33% 100% 100% 14,29%
Península Itálica, costa tirrénica
Total 10 22,73% 1 8,33% 100% 100% 14,29%
Indeterminado 4 9,09% 1 8,33% 100% 100% 14,29%
Península Itálica, costa adriática
Total 4 9,09% 1 8,33% 100,00% 100,00% 14,29%
TOTAL 44 100% 12 100% 100%

Tabela 90 – Quantificação da totalidade das ânforas do Beco do Marquês de Angeja.

251
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

8 9

2 5
6

4
7 10cm
10

Estampa 123 – Beco do Marquês de Angeja. Ulterior, costa meridional T-7.4.3.3. (8, 9). Lusitânia: Tipo Urceus? (6,
7), Dressel 14 (5, 4). Bética, Vale do Guadalquivir: Haltern 70 (2). Tarraconense, costa setentrional: Pascual 1 (10).

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Lusitana Antiga 1 10% 33,33% 33,33% 33,33%
Lusitânia, Tejo/Sado Dressel 14 2 20% 66,67% 66,67% 66,67%
Preparados Total 3 30% 100% 100% 100%
piscícola   T-7.4.3.3. 2 20% 100% 100% 100%
Ulterior, costa meridional
Total 2 20% 100% 100% 100%
Total 5 50% 100%
Tipo Urceus? 2 20% 100% 100% 50%
Lusitânia, Tejo/Sado
Total 2 20% 100% 100% 50%
Haltern 70 1 10% 100% 100% 25%
Vinho e Bética, Vale do Guadalquivir
Total 1 10% 100% 100% 25%
derivados
Pascual 1 1 10% 100% 100% 25%
Tarraconense, costa setentrional
Total 1 10% 100% 100% 25%
Total 4 40% 100%
Ovóide indeterminada 1 10% 100% 100% 100%
Bética, Vale do Guadalquivir
Indeterm. Total 1 10% 100% 100% 100%
Total 1 10% 100%
TOTAL 10 100%

Tabela 91 – Quantificação por conteúdo da totalidade das ânforas do Beco do Marquês de Angeja.

Particular referência merece a presença de ânforas de produção lusitana em contextos aparen-


temente anteriores ao Principado de Augusto, algo que em Olisipo era até agora desconhecido e que
não se verifica em nenhum dos outros locais estudados neste trabalho (com excepção da eventual pos-
sibilidade do Pátio José Pedreira), ainda que tal esteja documentado em outros sítios do Vale do Tejo
como o Monte dos Castelinhos (Pimenta, 2017). De igual forma, destaca-se a ocorrência de uma Pascual
1 em contextos do terceiro quartel do séc. I a.C., devendo corresponder ao testemunho mais antigo da
importação destas ânforas no espaço geográfico da antiga Lusitania, situável no momento inicial da
sua produção. Embora este tipo tenha sido produzido desde cerca de 40 a.C. até finais do séc. I d.C., a
sua exportação parece ter ocorrido com maior frequência entre os principados de Augusto e Tibério,
cronologia que se verifica, por exemplo, na Praça da Figueira (v. supra) e genericamente no restante
território da Lusitânia.
Ao nível dos conteúdos, refira-se apenas o predomínio dos preparados piscícolas e do vinho, que
apresentam valores aproximados, sendo igualmente destacável a ausência de ânforas oleícolas.

252
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

5.26. Pátio da Sr.ª de Murça (anexo I.26)

Na sequência das obras de remodelação destinadas à instalação de uma casa de fados no Pátio
da Sr.ª de Murça, nº 18 da Rua de São João da Praça, o extinto Serviço de Arqueologia do Museu da Cida-
de (Câmara Municipal de Lisboa) procedeu à escavação de uma sondagem arqueológica, de que foram
responsáveis científicos Manuela Leitão e Vasco Leitão. A intervenção enquadrou-se num programa
de estudo então em desenvolvimento pela primeira investigadora que viria mais tarde a coordenar o
Projecto de Estudo e Valorização da Cerca Velha. A referida sondagem foi implantada junto à face exte-
rior da designada “Cerca Velha”, em local privilegiado para indagar acerca dos contextos associados à
construção daquela (Leitão e Leitão, 2016). Foram ainda realizados trabalhos de conservação e restauro
no troço de muralha visível no Pátio da Sr.ª de Murça, estes já em 2012, tendo então sido identificadas
três epígrafes de Época Romana (Encarnação et al., 2015).
A estratigrafia documentada durante a escavação revelou-se profícua na obtenção de dados so-
bre a ocupação romana no local, especialmente durante a República e fase tardia do Império, tendo-se
ainda registado alguns níveis atribuíveis à Idade do Ferro. Resumidamente, e no que à fase republicana
se refere, os vestígios assinalam uma sequência de pelo menos três fases de ocupação que se estendem
genericamente entre o terceiro quartel do séc. II a.C. e o primeiro da centúria seguinte (fases I e II) e
centrada nos quartéis centrais do séc. I a.C. (fase III), consubstanciadas pela existência de estruturas
e pavimentos associados que se sucedem no espaço e no tempo, evidenciando uma insuspeitada di-
nâmica construtiva e ocupacional durante esse lapso temporal. Directamente sobre os níveis da fase
III, foi reconhecido um contexto datado do séc. III d.C., ao qual se sobrepunha um outro atribuível aos
séculos V ou VI (Leitão e Leitão, 2016). Ambos contextos tardios indicam uma interface de destruição no
momento da sua formação inicial, evidenciando um corte na estratigrafia então existente e obliterando
os níveis anteriores, neste caso respectivamente balizados entre o último terço do séc. I a.C. e o séc. III
da nossa Era e entre este e o séc. V ou VI. Estes dados, que decorrem do trabalho de sistematização da
informação coligida durante a escavação, entretanto efectuada pelos responsáveis da mesma (Leitão

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Dressel 14 1 3,45% 1 5% 25% 25%
Lusitana 3 5 17,24% 2 10% 50% 50%
Lusitânia, Tejo/Sado
Indeterminado 2 6,9% 1 5% 25% 25%
Total 8 27,59% 4 20% 100% 100%
Dressel 20 (Antonina) 1 3,45% 1 5% 100% 100% 7,14%
Bética, Vale do Guadalquivir
Total 1 3,4% 1 5% 100% 100% 7,14%
T-9.1.1.1. 1 3,45% 1 5% 100% 50% 7,14%
Hispânia Ulterior, costa meridional
Total 1 3,45% 1 5% 100% 7,14%
Ovóide indeterminada 1 3,45% 1 5% 100% 50% 7,14%
Hispânia Ulterior, Vale do Guadalquivir
Total 1 3,45% 1 5% 100% 100% 7,14%
Indeterminado 1 3,45% 1 5% 100% 100% 7,14%
Tarraconense, costa setentrional
Total 1 3,45% 1 5% 100% 100% 7,14%
Greco-Itálica 2 6,9% 2 10% 28,57% 22,22% 14,29%
Península Itálica, Dressel 1 8 27,59% 4 20% 57,14% 44,44% 28,57%
costa tirrénica Greco-Itálica/Dressel 1 2 6,9% 1 5% 14,29% 11,11% 7,14%
Total 12 41,38% 7 35% 100% 50%
Greco-Itálica 1 3,45% 1 5% 50% 11,11% 7,14%
Península Itálica,
Ovóide adriática 1 3,45% 1 5% 50% 11,11% 7,14%
costa adriática
Total 2 6,9% 2 10% 100% 100% 14,29%
Dressel 4 de Cos 1 3,45% 1 5% 100% 100% 7,14%
Mediterrâneo Oriental
Total 1 3,45% 1 5% 100% 100% 7,14%
Indeterminado 2 6,9% 2 10% 100% 100%
Indeterminada
Total 2 6,9% 2 10% 100% 100%
TOTAL 29 100% 20 100% 100%

Tabela 92 – Quantificação da totalidade das ânforas do Pátio da Sr.ª de Murça.

253
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

2399

1312

1981
1084

818

1086

1122
1149

B
A 2251 5000 10cm

1139

801

1684 1485
1442

219

307
10cm

5001

Estampa 124 – Pátio da Sr.ª de Murça. Contextos - 150-75 a.C. (A), Península Itálica, costa tirrénica: Greco-Itálica
(1084), Dressel 1 (1312, 5000), Greco-Itálica/Dressel 1 (1086). Mediterrâneo oriental: Dressel 4 de Cos (2251). Tipo e
proveniência indeterminados (1122); 75-25 a.C. (B), Península Itálica, costa tirrénica: Greco-Itálica (2399), Dressel 1
(1981, 818), Greco-Itálica/Dressel 1 (1139, 1149). Ulterior, costa meridional: T-9.1.1.1. (1684); (C), Península Itálica,
costa tirrénica: Dressel 1 (307). Península Itálica, costa adriática: Ovóide adriática (1485). Lusitânia: Dressel 14
(1442), Lusitana 3 (801, 219). Bética, Vale do Guadalquivir: Dressel 20 Antonina (5001). Desenho nº 5000: in Fabião
et al., 2016.

254
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

e Leitão, 2016), demonstram de forma clara que, por um lado, não existiu qualquer abandono da área
no séc. II a.C., como foi já sugerido (Pimenta, 2014, p. 56), por outro, que o hiato entre o final do tercei-
ro quartel do séc. I a.C. e o séc. III d.C. e entre este e o séc. V ou VI resulta de um corte na estratigrafia
praticado durante essas ocupações tardias.
Nos contextos das fases I e II foram identificadas Greco-Itálicas, Dressel 1 e Dressel 4 de Cos,
enquanto nos da fase III se observou a presença de uma ânfora ovóide do Guadalquivir de tipo indeter-
minado associada a Dressel 1 itálicas, Greco-Itálicas e T-9.1.1.1., remetendo para cronologias nunca ante-
riores ao segundo quartel do séc. I a.C.. Já nos níveis do séc. III, para além de algumas formas tardias,
surgem as Dressel 14 e as Lusitana 3 a par de Dressel 1.
Do conjunto global de ânforas recuperadas durante a intervenção no Pátio da Sr.ª de Murça,
28,57% correspondem a produções tardias não englobadas nesta análise. Assim, a amostra aqui em con-
sideração, de escassa fiabilidade estatística, é constituída por um total de 29 fragmentos (oito bordos,
12 fundos e nove asas) e um Número Mínimo de 20 Indivíduos, sendo que 55% destes são atribuíveis à
República, 25% ao Principado e 20% a tipos indeterminados.
No conjunto de ânforas republicanas (12 NMI) destacam-se de forma clara os contentores viná-
rios de tipo Greco-Itálico (2 NMI) e Dressel 1 (4 NMI) da costa tirrénica da Península Itálica, para além
de um indivíduo indistintamente classificado como Greco-Itálica/Dressel 1 da mesma região, significan-
do 58,33% da amostra. A costa adriática corresponde à segunda região produtora mais representada
(16,67%), com um exemplar de Greco-Itálica e outro de uma ânfora ovóide da costa central adriática.
A Ulterior é representada pela T-9.1.1.1. da costa meridional mas também por um contentor de forma
ovóide proveniente do Vale Guadalquivir, do qual se desconhece o tipo.
Estão ainda presentes as importações do Mediterrâneo Oriental (8,33%) com um fundo de uma
ânfora do tipo Dressel 4 da Ilha de Cos, aparentemente desconhecida na fachada atlântica até agora, re-
colhida em contexto balizado entre 138 e 75 a.C.. Em termos gerais, o perfil da amostra é perfeitamente
enquadrável nos momentos mais antigos da presença romana em Olisipo, sendo escassos os elementos
claramente imputáveis à segunda metade do séc. I a.C..
O vinho constitui-se como o principal produto comercializado nesta pequena amostra (75%), sen-
do maioritariamente importado da costa tirrénica (77,78%) da Península Itálica e de forma menos ex-
pressiva da adriática (11,11%) e do Mediterrâneo Oriental (11,11%). O azeite (8,33%) e os preparados piscí-
colas (8,33%) exibem percentagens similares nas importações, salientando-se a ausência das T-7.4.3.3.,
quase sempre presentes nos contextos republicanos de Lisboa, mas também, ainda que em menor
medida, das oleícolas brindisinas e Africanas Antigas.
Parece igualmente importante referir um fundo cujo tipo e região produtora não foi possível
determinar (nº 2251), exumado em níveis de 138-75 a.C. sob o pavimento republicano mais antigo. Em
termos formais, esta peça parece poder-se atribuir à fase republicana, não se descartando, porém, uma
cronologia mais recuada e de filiação púnica.

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
T-9.1.1.1. 1 5,88% 1 8,33% 100% 50% 8,33%
Hispânia Ulterior, costa meridional
Total 1 5,88% 1 8,33% 100% 8,33%
Ovóide indeterminada 1 5,88% 1 8,33% 100% 50% 8,33%
Hispânia Ulterior, Vale do Guadalquivir
Total 1 5,88% 1 8,33% 100% 100% 8,33%
Greco-Itálica 2 11,76% 2 16,67% 28,57% 22,22% 16,67%
Dressel 1 8 47,06% 4 33,33% 57,14% 44,44% 33,33%
Península Itálica, costa tirrénica
Greco-Itálica/Dressel 1 2 11,76% 1 8,33% 14,29% 11,11% 8,33%
Total 12 70,59% 7 58,33% 100% 58,33%
Greco-Itálica 1 5,88% 1 8,33% 50% 11,11% 8,33%
Península Itálica, costa adriática Ovóide adriática 1 5,88% 1 8,33% 50% 11,11% 8,33%
Total 2 11,76% 2 16,67% 100% 100% 16,67%
Dressel 4 de Cos 1 5,88% 1 8,33% 100% 100% 8,33%
Mediterrâneo Oriental
Total 1 5,88% 1 8,33% 100% 100% 8,33%
TOTAL 17 100% 12 100% 100%

Tabela 93 – Quantificação das ânforas republicanas do Pátio da Sr.ª de Murça.

255
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Hispânia Ulterior, T-9.1.1.1. 1 8,33% 100% 100% 100%
Preparados
costa meridional Total 1 8,33% 100% 100%
piscícolas
Total 1 8,33% 100%
Greco-Itálica 2 16,67% 28,57% 25% 22,22%
Península Itálica, Dressel 1 4 33,33% 57,14% 50% 44,44%
costa tirrénica Greco-Itálica/Dressel 1 1 8,33% 14,29% 12,5% 11,11%
Total 7 58,33% 100% 77,78%
Vinho e
Península Itálica, Greco-Itálica 1 8,33% 100% 12,5% 11,11%
derivados
costa adriática Total 1 8,33% 100% 100% 11,11%
Dressel 4 de Cos 1 8,33% 100% 100% 11,11%
Mediterrâneo Oriental
Total 1 8,33% 100% 100% 11,11%
Total 9 75% 100%
Península Itálica, Ovóide adriática 1 8,33% 100% 100% 100%
Azeite costa adriática Total 1 8,33% 100% 100% 100%
Total 1 8,33% 100%
Hispânia Ulterior, Ovóide indeterminada 1 8,33% 100% 100% 100%
Indeterminado Vale do Guadalquivir Total 1 8,33% 100% 100% 100%
Total 1 8,33% 100%
TOTAL 12 100%

Tabela 94 – Quantificação por conteúdo das ânforas republicanas do Pátio da Sr.ª de Murça.

Das produções alto-imperiais apenas de registou a presença de uma Dressel 14 e cinco fragmen-
tos de Lusitana 3, todos em contextos do séc. III d.C., bem como um bocal de uma Dressel 20 Antonina
com marca (Fabião et al., 2016), esta recuperada em níveis pós-romanos. Note-se ainda a presença das
produções tarraconenses, ainda que somente representadas por um pequeno fragmento de asa de
tipo que não foi possível determinar, proveniente de contexto tardio.
Tratando-se, como já mencionado, de uma amostra de escassa fiabilidade estatística, e tendo em
conta a escassez que até aqui se verifica em Olisipo de contextos republicanos bem definidos e com
estruturas associadas, a principal valência deste conjunto é a sua proveniência estratigráfica e contex-
tual, num sítio de suma importância na compreensão da ocupação e urbanismo republicano da colina
do castelo.

5.27. Rua de São João da Praça - 2009 (anexo I.27)

A intervenção arqueológica realizada em 2009 em plena via pública da Rua de São João da Pra-
ça enquadrou-se no âmbito do Projecto Integrado de Estudo e Valorização da “Cerca Velha” de Lisboa,
tendo a responsabilidade científica sido assumida pelos arqueólogos Manuela Leitão e Vasco Leitão,
funcionários da Autarquia de Lisboa (Leitão, 2014). Com um quadro de indagações principalmente
centrado na questão da cronologia de construção da muralha tardia, as três sondagens foram implan-
tadas junto àquela estrutura defensiva e torreão semicircular, documentados em 2001 (v. infra), no
prolongamento da área anteriormente intervencionada, procurando completar a informação então
coligida.
No decurso destes trabalhos foi colocada a descoberto a face exterior da muralha (sondagem
1 e 3) e da torre semicircular (sondagem 1), na base dos quais se registou um lajeado adossado (son-
dagem 1), pavimento que deveria corresponder ao nível de circulação da Porta de Alfama em época
tardia. Sob este, para além de uma sequência estratigráfica genericamente balizada entre a dinastia
Júlio-Cláudia e o final do séc. I d.C. de onde, aliás, provêm as ânforas exumadas em contexto romano,
registou-se ainda a existência de uma cloaca (Silva, 2012a; Almeida, 2015; Silva, 2015a). Relativamente
aos referidos depósitos alto-imperiais, a ausência de Lusitana 3 ou de outras formas inequivocamente

256
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 2 4,44% 1 4,35% 10% 10%
Haltern 70 1 2,22% 1 4,35% 10% 10%
Tipo Urceus? 1 2,22% 1 4,35% 10% 10%
Lusitânia, Tejo/Sado
Dressel 14 16 35,56% 6 26,09% 60% 60%
Indeterminado 1 2,22% 1 4,35% 10% 10%
Total 21 46,67% 10 43,48% 100% 100%
Dressel 7-11 4 8,89% 2 8,7% 66,67% 16,67% 15,38%
Bética, costa ocidental Beltrán IIB 2 4,44% 1 4,35% 33,33% 8,33% 7,69%
Total 6 13,33% 3 13,04% 100% 23,08%
Haltern 70 2 4,44% 1 4,35% 11% 8% 7,69%
Haltern 70 (Cláudio-Nero) 1 2,22% 1 4,35% 11,11% 8,33% 7,69%
Tipo Urceus 1 2,22% 1 4,35% 11,11% 8,33% 7,69%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) - Haltern 71 1 2,22% 1 4,35% 11,11% 8,33% 7,69%
Bética,
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 4 8,89% 2 8,7% 22,22% 16,67% 15,38%
Vale do Guadalquivir
Dressel 20 5 11,11% 1 4,35% 11,11% 8,33% 7,69%
Dressel 20 parva 2 4,44% 1 4,35% 11,11% 8,33% 7,69%
Indeterminado 1 2,22% 1 4,35% 11,11% 8,33% 7,69%
Total 17 37,78% 9 39,13% 100% 100% 69,23%
Península Itálica, Dressel 1 1 2,22% 1 4,35% 100% 100% 7,69%
costa tirrénica Total 1 2,22% 1 4,35% 100% 100% 7,69%
TOTAL 45 100% 23 100% 100%

Tabela 95 – Quantificação da totalidade das ânforas da Rua de São João da Praça (2009).

produzidas apenas a partir do séc. II d.C. parece constituir importante indício de uma datação centrada
na segunda metade do séc. I d.C.. Haverá, porém, que aguardar o estudo dos restantes materiais ali
exumados para confirmar esta hipótese.
Trata-se de um conjunto de pequena dimensão e sem qualquer fiabilidade estatística, composto
por 45 fragmentos classificáveis de ânfora (14 bordos, quatro fundos e 27 asas) e um Número Mínimo
de 23 Indivíduos, dos quais apenas um (4,35%), uma asa de Dressel 1, é de cronologia republicana cor-
respondendo os restantes integralmente a formas produzidas durante o Principado. Com uma abran-
gência diacrónica que se estende do séc. II a.C. à primeira metade do séc. III d.C., os dez tipos presentes
atestam um quadro de proveniência disperso por quatro regiões produtoras distintas.
A amostra Alto-Imperial é, assim, constituída por 42 fragmentos e 20 indivíduos, unicamente
provenientes da Lusitania e da Baetica. A região dos vales dos rios Tejo e Sado correspondem à área
produtora melhor representada (45%). Desta região procedem as Dressel 14 (66,67% dos envases locais/
regionais), as Lusitanas Antigas (11,11%), as Haltern 70 lusitanas (11,11%) e um contentor que parece imi-
tar as ânforas de tipo Urceus béticas (11,11%), com visível supremacia do primeiro tipo. Da Bética estão
maioritariamente presentes os contentores fabricados no Vale do Guadalquivir (40% do NMI), sobretu-
do representados pelas Dressel 20 (62,5% dos envases dessa área), particularmente pela variante Júlio-
-Cláudia (37,5%); bem como as Haltern 70 (25%) e as ânforas de tipo Urceus (12,5%). Já do litoral daquela
província hispânica (15% do NMI) surgem as Dressel 7-11 (66,67% dessa região) e as Beltrán IIB (33,33%).
Com excepção da Dressel 1 republicana, claramente residual, estão ausentes as importações de ânforas
de áreas produtoras exteriores à Hispania, o que não deixa de ser surpreendente.
Na perspectiva do consumo alimentar, sobressai o consumo de preparados à base de peixe (50%
do conjunto), especialmente de origem local e regional (70% desse produto) e envasados em conten-
tores do tipo Dressel 14 (60%) e Lusitana Antiga (10%). Da costa ocidental da Bética (15% do NMI) estes
artigos são importados nas Dressel 7-11 (20% desse conteúdo), típicas do séc. I d.C., e nas Beltrán IIB
(10%), predominando as primeiras. Algo surpreendentemente, o azeite constitui-se como o segundo
produto mais consumido (25% do NMI), sendo exclusivamente importado a partir do Vale do Guadalqui-
vir nas Dressel 20, maioritariamente da variante Júlio-Cláudia. Finalmente, o vinho, representando ape-
nas 20% do NMI, provém do Vale do Guadalquivir (75% desse produto) em ânforas de tipo Urceus (25%)
e Haltern 70 (50%), e possivelmente da Lusitânia (25%) numa forma que parece imitar as ânforas de tipo
Urceus béticas (v. infra). A presença desta última forma constitui-se, aliás, como um dos elementos mais

257
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

interessantes do conjunto, cuja mais valia assenta principalmente no facto de uma parte significativa
dos materiais proceder de contextos romanos coevos à sua produção e distribuição. Embora carecendo
de fiabilidade estatística, parece pertinente sublinhar que também aqui se verifica uma escassez de ân-
foras vinárias, à semelhança do que se verifica em outros conjuntos de Olisipo com idêntica cronologia,
tais como a Rua de São Mamede, a Calçada do Correio Velho e a Zara, Rua Augusta.

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 2 4,76% 1 5% 11,11% 11,11%
Haltern 70 1 2,38% 1 5% 11,11% 11,11%
Lusitânia, Tejo/Sado Tipo Urceus? 1 2,38% 1 5% 11,11% 11,11%
Dressel 14 16 38,1% 6 30% 66,67% 66,67%
Total 20 47,62% 9 45% 100% 100%
Dressel 7-11 4 9,52% 2 10% 66,67% 18,18% 18,18%
Bética, costa ocidental Beltrán IIB 2 4,76% 1 5% 33,33% 9,09% 9,09%
Total 6 14,29% 3 15% 100% 27,27%
Haltern 70 2 4,76% 1 5% 12,5% 9,09% 9,09%
Haltern 70 (Cláudio-Nero) 1 2,38% 1 5% 12,5% 9,09% 9,09%
Tipo Urceus 1 2,38% 1 5% 12,5% 9,09% 9,09%
Bética, Dressel 20 (Júlio-Cláudia) - Haltern 71 1 2,38% 1 5% 12,5% 9,09% 9,09%
Vale do Guadalquivir Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 4 9,52% 2 10% 25% 18,18% 18,18%
Dressel 20 5 11,9% 1 5% 12,5% 9,09% 9,09%
Dressel 20 parva 2 4,76% 1 5% 12,5% 9,09% 9,09%
Total 16 38,1% 8 40% 100% 100% 72,73%
TOTAL 42 100% 20 100% 100%

Tabela 96 – Quantificação das ânforas do Principado da Rua de São João da Praça (2009).

2903

3387
2048

3789
3428

3790 1216

3785

3786
1576
10cm

Estampa 125 – Rua de São João da Praça (2009). Lusitânia: Lusitana Antiga (2048, 2903, 3387), Tipo Urceus lusi-
tano? (3428), Dressel 14 (3789, 3790). Bética, costa ocidental: Dressel 7-11 (1576, 3786, 1216). Bética, Vale do
Guadalquivir: Dressel 20 Júlio-Cláudia (3785). Desenho nº 3785: in Fabião et al., 2016.

258
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Lusitana Antiga 1 5% 14,29% 14,29% 10%
Lusitânia, Tejo/Sado Dressel 14 6 30% 85,71% 85,71% 60%
Preparados
piscícolas

Total 7 35% 100% 100% 70%


Dressel 7-11 2 10% 66,67% 66,67% 20%
Bética, costa ocidental Beltrán IIB 1 5% 33,33% 33,33% 10%
Total 3 15% 100% 100% 30%
Total 10 50% 100%
Tipo Urceus? 1 5% 100% 100% 25%
Lusitânia, Tejo/Sado
Total 1 5% 100% 100% 25%
derivados

Haltern 70 1 5% 33,33% 33,33% 25%


Vinho e

Haltern 70 (Cláudio-Nero) 1 5% 33,33% 33,33% 25%


Bética, Vale do Guadalquivir
Tipo Urceus 1 5% 33,33% 33,33% 25%
Total 3 15% 100% 100% 75%
Total 4 20% 100%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) - Haltern 71 1 5% 20% 20% 20%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 2 10% 40% 40% 40%
Azeite

Bética, Vale do Guadalquivir Dressel 20 1 5% 20% 20% 20%


Dressel 20 parva 1 5% 20% 20% 20%
Total 5 25% 100% 100% 100%
Total 5 25% 100%
Haltern 70 1 5% 100% 100% 100%
Indet.

Lusitânia, Tejo/Sado
Total 1 5% 100% 100% 100%
Total 1 5% 100%
TOTAL 20 100%

Tabela 97 - Quantificação por conteúdo das ânforas do Principado da Rua de São João da Praça (2009).

5.28. Rua de São João da Praça - 2001 (anexo I.28)

A intervenção arqueológica realizada com carácter de emergência na Rua de São João da Praça
em 2001, sob a responsabilidade de Manuela Leitão e Cláudia Costa da Câmara Municipal de Lisboa, foi
despoletada na sequência do projecto de substituição e remodelação de esgotos e outros equipamen-
tos urbanos, empreendido pela autarquia de Lisboa. A área intervencionada corresponde à Rua de São
João da Praça até ao Largo de São Rafael e troço inicial da Rua da Adiça, tendo sido realizados trabalhos
de escavação e de acompanhamento arqueológico (Pimenta et al., 2005). Para além de diversos vestí-
gios de Época Medieval, Moderna e Contemporânea, foram documentados alguns contextos romanos
e da Idade do Ferro, tendo sido registado um troço da muralha romana tardia - séc. III/IV - com cerca de
5 m de espessura e o arranque de uma torre de planta semicircular junto ao edifício nº 17 daquela artéria
(Leitão, 2014). Na sondagem 2, localizada no lado interno e junto à muralha, foi registada uma interes-
sante sequência estratigráfica associada a estruturas positivas possivelmente de carácter habitacional,
balizada entre o séc. III a.C. e finais do séc. II/inícios do I a.C., onde foram exumadas algumas ânforas
de tipo Dressel 1 (ainda que já publicadas, foram incluídas no inventário deste trabalho) e cerâmica de
verniz negro campaniense do círculo da A e do círculo da B (Pimenta et al., 2005; Pimenta, 2014). Já na
sondagem 1 - cujos resultados se encontram ainda inéditos -, situada junto ao paramento externo da
muralha e ao arranque da mencionada torre, foram registados alguns níveis romanos, genericamente
datáveis entre a segunda metade do séc. I d.C. e o séc. II. Saliente-se que, embora não se tenha ainda
procedido à sistematização dos dados e ao estudo dos materiais, cerca de 60% dos fragmentos de ânfo-
ra desta intervenção provêm da sondagem 1.
A amostra da Rua de São João da Praça, intervenção de 2001, de escassa fiabilidade estatística, é
composta por um total de 57 fragmentos de ânfora diagnosticáveis (23 bordos, nove fundos e 25 asas)
e um Número Mínimo de 31 Indivíduos, dos quais 38,71% correspondem a contentores republicanos,
45,16% ao Principado e 16,13% a envases de tipo indeterminado.

259
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 6 10,53% 5 16,13% 62,5% 62,5%
Dressel 14 6 10,53% 1 3,23% 12,5% 12,5%
Lusitânia, Tejo/Sado Lusitana 3 4 7,02% 1 3,23% 12,5% 12,5%
Indeterminado 1 1,75% 1 3,23% 12,5% 12,5%
Total 17 29,82% 8 25,81% 100% 100%
Beltrán IIA 2 3,51% 2 6,45% 66,67% 25% 9,09%
Bética, costa ocidental Indeterminado 2 3,51% 1 3,23% 33,33% 12,5% 4,55%
Total 4 7,02% 3 9,68% 100% 13,64%
Haltern 70 3 5,26% 1 3,23% 20% 12,5% 4,55%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 3 5,26% 1 3,23% 20% 12,5% 4,55%
Bética,
Dressel 20 4 7,02% 2 6,45% 40% 25% 9,09%
Vale do Guadalquivir
Indeterminado 2 3,51% 1 3,23% 20% 12,5% 4,55%
Total 12 21,05% 5 16,13% 100% 100% 22,73%
T-7.4.3.3. 3 5,26% 2 6,45% 66,67% 66,67% 9,09%
Hispânia Ulterior,
T-9.1.1.1. 1 1,75% 1 3,23% 33,33% 33,33% 4,55%
costa meridional
Total 4 7,02% 3 9,68% 100% 100% 13,64%
Greco-Itálica 1 1,75% 1 3,23% 12,5% 11,1% 4,55%
Península Itálica, Dressel 1 11 19,3% 6 19,35% 75% 66,67% 27,27%
costa tirrénica Greco-Itálica/Dressel 1 4 7,02% 1 3,23% 12,5% 11,11% 4,55%
Total 16 28,07% 8 25,81% 100% 36,36%
Península Itálica, Brindisi 1 1,75% 1 3,23% 100% 11,1% 4,55%
costa adriática Total 1 1,75% 1 3,23% 100% 100% 4,55%
Indeterminado 1 1,75% 1 3,23% 100% 100% 4,55%
Norte de África
Total 1 1,75% 1 3,23% 100% 100% 4,55%
Tardo-Ródia/Camulodunum 184 1 1,75% 1 3,23% 100% 100% 4,55%
Mediterrâneo Oriental
Total 1 1,75% 1 3,23% 100% 100% 4,55%
Indeterminado 1 1,75% 1 3,23% 100% 100%
Indeterminada
Total 1 1,75% 1 3,23% 100% 100%
TOTAL 57 100% 31 100% 100%

Tabela 98 – Quantificação da totalidade das ânforas da Rua de São João da Praça (2001).

As ânforas republicanas são constituídas por 21 fragmentos (10 bordos, três fundos e oito asas),
equivalentes a 12 indivíduos, estando atestados cinco tipos e três áreas produtoras distintas. As pro-
duções tirrénicas dominam totalmente o pequeno conjunto (66,67% do NMI), sendo especialmente
representadas pelas Dressel 1 (75% dos envases dessa região) e vestigialmente pelas Greco-Itálicas
(12,5%), para alem das peças indistintamente classificadas como Greco-Itálicas/Dressel 1. Do primeiro
tipo, cinco dos seis indivíduos foram exumados na sondagem 2, tendo já sido publicados (Pimenta et
al., 2005). Os contentores provenientes da costa meridional da Ulterior, T-7.4.3.3. (66,67% dos envases
dessa área) e T-9.1.1.1. (33.33%), correspondem à segunda região melhor representada (25% do NMI). O
cenário completa-se com a presença de uma ânfora de Brindisi produzida na região da Apúlia, no Sul da
costa adriática itálica.

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
T-7.4.3.3. 3 14,29% 2 16,67% 66,67% 66,67% 16,67%
Hispânia Ulterior,
T-9.1.1.1. 1 4,76% 1 8,33% 33,33% 33,33% 8,33%
costa meridional
Total 4 19,05% 3 25% 100% 100% 25,00%
Greco-Itálica 1 4,76% 1 8,33% 12,50% 11,1% 8,33%
Península Itálica, Dressel 1 11 52,38% 6 50% 75% 66,67% 50%
costa tirrénica Greco-Itálica/Dressel 1 4 19,05% 1 8,33% 12,5% 11,11% 8,33%
Total 16 76,19% 8 66,67% 100% 66,67%
Península Itálica, Brindisi 1 4,76% 1 8,33% 100% 11,11% 8,33%
costa adriática Total 1 4,76% 1 8,33% 100% 100% 8,33%
TOTAL 21 100% 12 100% 100%

Tabela 99 – Quantificação das ânforas republicanas da Rua de São João da Praça (2001).

260
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

No que se refere à importação de artigos alimentares, o vinho tirrénico predomina significando


66,67% da amostra republicana, enquanto os preparados à base de peixe, exclusivamente procedentes
do litoral Sul da Ulterior, representam 25%. Note-se ainda a importação em quantidades reduzidas de
azeite, exclusivamente procedente da Apúlia (8,33%) e distribuído nos contentores brindisinos.

17.2016

55.2016

56.2016

51.2016

57.2016

39.2016 46.2016
58.2016

41.2016
59.2016 10cm

Estampa 126 – Rua de São João da Praça (2001). Ulterior, costa meridional: T-9.1.1.1. (41.2016), Península Itálica,
costa tirrénica: Dressel 1 (55.2016, 56.2016, 57.2016, 58.2016, 59.2016, 17.2016, 51.2016). Península Itálica, costa
adriática: Ânfora de Brindisi? (39.2016). Mediterrâneo oriental: Tardo-Ródia/Camulodunum 184 (46.2016). Dese-
nhos da coluna da esquerda: in Pimenta et al., 2005.

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
T-7.4.3.3. 2 16,67% 66,67% 66,67% 66,67%
Preparados Hispânia Ulterior, costa meridional T-9.1.1.1. 1 8,33% 33,33% 33,33% 33,33%
piscícolas Total 3 25% 100% 100% 100%
Total 3 25% 100%
Greco-Itálica 1 8,33% 12,5% 12,5% 12,5%
Dressel 1 6 50% 75% 75% 75%
Vinho e Península Itálica, costa tirrénica
Greco-Itálica/Dressel 1 1 8,33% 12,5% 12,5% 12,5%
derivados
Total 8 66,67% 100% 100% 100%
Total 8 66,67% 100%
Brindisi 1 8,33% 100% 100% 100%
Península Itálica, costa adriática
Azeite Total 1 8,33% 100% 100% 100%
Total 1 8,33% 100%
TOTAL 12 100%

Tabela 100 – Quantificação por conteúdo das ânforas republicanas da Rua de São João da Praça (2001).

261
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

A amostra alto-imperial é pouco mais representativa do que a republicana sendo composta por
29 fragmentos (12 bordos, quatro fundos e 13 asas) e um Número Mínimo de 14 Indivíduos, observando-
-se a presença de sete tipos provenientes de quatro regiões produtoras e abrangendo um arco tem-
poral que se estende do Principado de Augusto até à primeira metade do séc. III d.C., com particular
incidência para o séc. I d.C..

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 6 20,69% 5 35,71% 71,43% 71,43%
Dressel 14 6 20,69% 1 7,14% 14,29% 14,29%
Lusitânia, Tejo/Sado
Lusitana 3 4 13,79% 1 7,14% 14,29% 14,29%
Total 16 55,17% 7 50% 100% 100%
Beltrán IIA 2 6,9% 2 14,29% 100% 33% 28,57%
Bética, costa ocidental
Total 2 6,9% 2 14,29% 100% 28,57%
Haltern 70 3 10,34% 1 7,14% 25% 16,67% 14,29%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 3 10,34% 1 7,14% 25% 16,67% 14,29%
Bética, Vale do Guadalquivir
Dressel 20 4 13,79% 2 14,29% 50% 33,33% 28,57%
Total 10 34,48% 4 28,57% 100% 100% 57,14%
Tardo-Ródia/Camulodunum 184 1 3,45% 1 7,14% 100% 100% 14,29%
Mediterrâneo Oriental
Total 1 3,45% 1 7,14% 100% 100% 14,29%
TOTAL 29 100% 14 100% 100%

Tabela 101 – Quantificação das ânforas do Principado da Rua de São João da Praça (2001).

25.2016 29.2016
35.2016

19.2016

27.2016
30.2016

38.2016

20.2016

24.2016
12.2016

16.2016 43.2016
45.2016 10cm

Estampa 127 – Rua de São João da Praça (2001). Lusitânia: Lusitana Antiga (25.2016, 29.2016, 35.2016, 19.2016),
Dressel 14 (27.2016, 30.2016), Lusitana 3 (38.2016). Bética, costa ocidental: Beltrán IIA (20.2016, 16.2016). Bética,
Vale do Guadalquivir: Haltern 70 (24.2016), Dressel 20 Júlio-Cláudia (43.2016), Dressel 20 (12.2016), Indetermina-
do (45.2016).

262
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Lusitana Antiga 5 35,71% 83,33% 83,33% 62,5%
Lusitânia, Tejo/Sado Dressel 14 1 7,14% 16,67% 16,67% 12,5%
Preparados
piscícolas

Total 6 42,86% 100% 100% 75%


Beltrán IIA 2 14,29% 100% 100% 25%
Bética, costa ocidental
Total 2 14,29% 100% 100% 25%
Total 8 57,14% 100%
Lusitana 3 1 7,14% 100% 100% 33,33%
Lusitânia, Tejo/Sado
Total 1 7,14% 100% 100% 33,33%
derivados

Haltern 70 1 7,14% 100% 100% 33,33%


Vinho e

Bética, Vale do Guadalquivir


Total 1 7,14% 100% 100% 33,33%
Tardo-Ródia/Camulodunum 184 1 7,14% 100% 100% 33,33%
Mediterrâneo Oriental
Total 1 7,14% 100% 100% 33,33%
Total 3 21,43% 100%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 1 7,14% 33,33% 33,33% 33,33%
Azeite

Bética, Vale do Guadalquivir Dressel 20 2 14,29% 66,67% 66,67% 66,67%


Total 3 21,43% 100% 100% 100%
Total 3 21,43% 100%
TOTAL 14 100%

Tabela 102 - Quantificação por conteúdo das ânforas do Principado da Rua de São João da Praça (2001).

A supremacia das produções lusitanas é bastante evidente no conjunto alto-imperial (50% do


NMI), destacando-se as Lusitanas Antigas (71,43% dos envases locais/regionais) relativamente às Dres-
sel 14 e Lusitana 3, que surgem em proporções idênticas (14,29% cada). O Vale do Guadalquivir cons-
titui-se como a região extraprovincial melhor representada (28,57%), estando atestada a presença da
Dressel 20 (75% dos contentores dessa área), incluindo a variante Júlio-Cláudia, bem como da Haltern
70 (25%). Do litoral da Baetica registam-se apenas dois indivíduos do tipo Beltrán IIB (14,29% do NMI), es-
tando ausentes as Dressel 7-11. O quadro das importações completa-se com um fragmento de fundo de
uma ânfora Tardo-Ródia/Camulodunum 184 proveniente do Mediterrâneo Oriental, significando 7,14%
da amostra do Principado.
Já no que se refere aos artigos alimentares transportados por estas ânforas, a preponderância
dos preparados à base de peixe (57,14% do NMI) é bastante clara, sendo dominada pelos produtos
locais/regionais (75% desse produto) envasados sobretudo nas Lusitanas Antigas (62,5%) mas também
nas Dressel 14 (12,5%). Os restantes 25% correspondem a importações da costa ocidental da Bética, pa-
tenteadas pela presença da Beltrán IIA. O vinho e seus derivados significam somente 21,43% dos produ-
tos consumidos, sendo procedentes da Lusitânia, do Vale do Guadalquivir e do Mediterrâneo Oriental
em quantidades iguais e envasados, respectivamente, nas Lusitana 3, Haltern 70 e Tardo-Ródia/Camu-
lodunum 184. O azeite apresenta percentagens iguais às do vinho (21,43%), sendo exclusivamente pro-
veniente do Vale do Guadalquivir. Tomando em consideração a reduzida dimensão da amostra e con-
sequente escassez de fiabilidade estatística pouco mais se poderá acrescentar à sumária descrição do
conjunto, para lá de realçar aspectos como a particular incidência do séc. I d.C. e os materiais exumados
em contextos de Época Republicana e Imperial ou a presença de uma ânfora Tardo-Ródia/Camulodu-
num 184, até aqui desconhecida em Olisipo.

5.29. Palácio do Marquês de Angeja (anexo I.29)

A intervenção arqueológica desenvolvida no local onde se implanta o antigo Palácio do Marquês


de Angeja foi realizada no âmbito da Empreitada de consolidação estrutural da Mãe de Água do Cha-
fariz d’El Rei e reabilitação dos edifícios localizados entre a Rua de São João da Praça e a Travessa do
Chafariz d’El Rei, nºs 19-39. Os trabalhos de escavação decorreram entre os últimos meses de 2004 e o

263
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

início do ano seguinte, tendo a direcção científica sido assumida pelo autor deste estudo conjuntamen-
te com Manuela Leitão. O sítio localiza-se na vertente Sul do morro do Castelo, próximo do seu sopé,
na área intramuros contígua ao início do lanço ribeirinho oriental da designada “Cerca Velha” (Filipe e
Leitão, 2014; Filipe et al., 2014; Leitão et al., 2016).
Para além das realidades atribuíveis à Época Medieval e Moderna, sendo raras as primeiras e
frequentes as relacionadas com o palácio seiscentista, foram documentados importantes vestígios de
Época Romana e da Idade do Ferro, tendo estes últimos já sido alvo de publicação (Filipe et al., 2014).
Relativamente ao período que directamente aqui interessa, as estruturas e contextos romanos preser-
vados localizavam-se nas sondagens 1, 2/4 e 9, tendo ainda sido identificados alguns materiais residuais
na sondagem 3.
Na sondagem 1 foi detectado o soco de um muro romano, directamente sobreposto por um
alicerce do palácio seiscentista e assentando, por sua vez, numa estrutura da Idade do Ferro. Este
muro foi genericamente datado da fase republicana com base nos materiais recolhidos nos níveis de
base de uma lareira que se lhe encontrava associada. Ainda nesta sondagem, foram registadas duas
interfaces negativas - uma fossa e uma vala - que cortavam a mencionada lareira, colmatadas entre o
período de Augusto e o séc. I d.C.25. Na sondagem 2/4, de onde provém o conjunto mais numeroso de
materiais romanos, documentou-se um muro orientado a E-O ao qual se encostava, na face virada a
Sul, um conjunto de depósitos datados do terceiro quartel do séc. I d.C. onde se recolheram abundan-
tes materiais, tais como cerâmica de paredes finas, terra sigillata itálica e sudgálica, lucernas, ânforas,
cerâmica cinzenta e cerâmica comum. Na sondagem 9 não se identificou qualquer nível preservado do
período romano, tendo-se, todavia, observado a existência de uma parede de grande dimensão reves-
tida a opus signinum na sua face interna, preservando ainda o arranque da abóbada no seu topo, que,
por razões de segurança, não foi possível colocar totalmente a descoberto26. Tendo em conta o tipo de
revestimento e a riqueza aquífera desta zona da cidade, que, aliás, está da origem do topónimo Alfama,
tratar-se-á certamente de uma estrutura hidráulica (Filipe e Leitão, 2014; Leitão et al., 2016).
O conjunto de ânforas deste sítio é relativamente reduzido e de escassa fiabilidade estatística,
sendo constituído por 34 fragmentos classificáveis (12 bordos, sete fundos e 15 asas) e um Número
Mínimo de 23 Indivíduos, dos quais 39,13% são republicanos, 39,13% alto-imperiais e 21,74% de tipo des-
conhecido. Estão presentes 12 tipos oriundos de sete regiões produtoras distintas.
Quanto às produções republicanas (9 NMI), são dominantes os contentores piscícolas da costa
meridional da Ulterior do Tipo T-7.4.3.3. (44,44%). Os envases vinários oriundos da Península Itálica pro-
cedem maioritariamente da costa tirrénica (33,33%) e de forma menos expressiva da adriática (11,11%),
ainda que a proporção entre uns e outros seja significativamente superior ao que normalmente se veri-
fica nos conjuntos anfóricos de Olisipo e restante Hispania. Da primeira região surgem as Greco-Itálicas
e as Dressel 1, com nítida vantagem das últimas (66,67% dos envases itálicos), verificando-se nas Lam-
boglia 2 da costa adriática idêntica percentagem à das referidas Greco-Itálicas tirrénicas. Destacável é
a ocorrência de um fragmento de bordo do tipo T-7.4.2.1. produzida no Norte de África, cuja difusão no
Vale do Tejo se encontra escassamente documentada em Olisipo (Filipe, 2008a; Filipe, 2015), Scallabis
(Bargão, 2006) e Chões de Alpompé (Diogo e Trindade, 1993-1994). Estão ausentes os tipos ovóides da
Apúlia e do Norte de África e as T-9.1.1.1. da costa meridional da Ulterior.
Na perspectiva do consumo, dominam os produtos piscícolas (55,56%), particularmente repre-
sentados pelas T-7.4.3.3. hispânicas (80% desse artigo) mas também pelas T-7.4.2.1. (20%) norte-africa-
nas. O vinho significa 44,44% das importações, sendo exclusivamente proveniente da costa tirrénica
(75%) e adriática (25%) da Península Itálica. Estão ausentes os envases oleícolas.

25. Será importante esclarecer que, ao contrário do que foi incorrectamente mencionado por R. Banha da Silva, que refere de forma
genérica “cerâmica de Época Alto-Imperial em deposição secundária, em U.E.’s de cronologia medieval e posterior” (Silva, 2012a, p.
306), trata-se de contextos preservados de Época Romana Republicana e Alto-Imperial.
26. Será igualmente importante referir que a orientação e respectiva localização desta estrutura na planta do edifício se encontra
incorrecta na “Planta da Lisboa Romana” de R. Banha da Silva (Silva, 2005, p. 26, fig. 2).

264
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 1 2,94% 1 4,35% 50% 33,33%
Lusitânia, Tejo/Sado Lusitana 3 1 2,94% 1 4,35% 50% 33,33%
Total 2 5,88% 2 8,7% 100%
Indeterminado 1 2,94% 1 4,35% 100% 33,33%
Lusitânia, Peniche
Total 1 2,94% 1 4,35% 100% 100%
Dressel 12 1 2,94% 1 4,35% 25% 11,11% 5,26%
Dressel 7-11 2 5,88% 1 4,35% 25% 11,11% 5,26%
Bética, costa ocidental Dressel 9-10 1 2,94% 1 4,35% 25% 11,11% 5,26%
Indeterminado 1 2,94% 1 4,35% 25% 11,11% 5,26%
Total 5 14,71% 4 17,39% 100% 21,05%
Haltern 70 5 14,71% 2 8,7% 40% 22,22% 10,53%
Tipo Urceus 2 5,88% 1 4,35% 20% 11,11% 5,26%
Bética, Vale do Guadalquivir Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 2 5,88% 1 4,35% 20% 11,11% 5,26%
Indeterminado 1 2,94% 1 4,35% 20% 11,11% 5,26%
Total 10 29,41% 5 21,74% 100% 100% 26,32%
T-7.4.3.3. 7 20,59% 4 17,39% 100% 100% 21,05%
Hispânia Ulterior, costa meridional
Total 7 20,59% 4 17,39% 100% 100% 21,05%
Greco-Itálica 1 2,94% 1 4,35% 33,33% 25% 5,26%
Península Itálica, costa tirrénica Dressel 1 4 11,76% 2 8,7% 66,67% 50% 10,53%
Total 5 14,71% 3 13,04% 100% 15,79%
Lamboglia 2 1 2,94% 1 4,35% 100% 25% 5,26%
Península Itálica, costa adriática
Total 1 2,94% 1 4,35% 100% 100% 5,26%
T-7.4.2.1. 1 2,94% 1 4,35% 50% 50% 5,26%
Norte de África Indeterminado 1 2,94% 1 4,35% 50% 50% 5,26%
Total 2 5,88% 2 8,7% 100% 100% 10,53%
Indeterminado 1 2,94% 1 4,35% 100% 100%
Indeterminada
Total 1 2,94% 1 4,35% 100% 100%
TOTAL 34 100% 23 100% 100%

Tabela 103 – Quantificação da totalidade das ânforas do Palácio do Marquês de Angeja.

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
T-7.4.3.3. 7 50% 4 44,44% 100% 100% 44,44%
Hispânia Ulterior, costa meridional
Total 7 50% 4 44,44% 100% 100% 44%
Greco-Itálica 1 7,14% 1 11,11% 33,33% 25% 11,11%
Península Itálica, costa tirrénica Dressel 1 4 28,57% 2 22,22% 66,67% 50% 22,22%
Total 5 35,71% 3 33,33% 100% 33,33%
Lamboglia 2 1 7,14% 1 11,11% 100% 25% 11,11%
Península Itálica, costa adriática
Total 1 7,14% 1 11,11% 100% 100% 11,11%
T-7.4.2.1. 1 7,14% 1 11,11% 100% 100% 11,11%
Norte de África
Total 1 7,14% 1 11,11% 100% 100% 11,11%
TOTAL 14 100% 9 100% 100%

Tabela 104 – Quantificação das ânforas republicanas do Palácio do Marquês de Angeja.

Destes materiais, apenas um pequeno fragmento de bordo de T-7.4.3.3. (nº 9) e uma asa de Dres-
sel 1 provêm de contextos republicanos da sondagem 1, enquanto os restantes, de carácter residual,
surgem tanto em níveis do Principado como em estratos pós-romanos. Apesar de escasso, este pe-
queno conjunto apresenta um perfil claramente imputável aos momentos mais antigos da presença
romana no Ocidente hispânico, não se verificando a presença dos contentores da Ulterior que marcam
o comércio de produtos alimentares em toda a fachada atlântica a partir do segundo e especialmente
do terceiro quartéis do séc. I a.C..
Relativamente aos materiais atribuíveis ao Principado (9 NMI), destacam-se as produções do Vale
do Guadalquivir (44,44%), lideradas pelas Haltern 70 (50% dessa região) e com um exemplar de Dres-
sel 20 do período Júlio-Cláudio e outro de uma ânfora de tipo Urceus (25% cada). As ânforas lusitanas

265
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

significam 22,22% da amostra alto-imperial sendo equitativamente representadas pelas Lusitanas Anti-
gas e pelas Lusitana 3. Os contentores produzidos na costa ocidental da Baetica representam 33,33%,
daí sendo proveniente um bordo de Dressel 12 e um outro de Dressel 9-10. Refira-se ainda a presença de
um fragmento de asa de tipo indeterminado exibindo o fabrico típico do Morraçal da Ajuda, Peniche.
Com excepção da Lusitana 3, o conjunto do Principado é bastante coerente em termos cronológicos,
apontando para uma ocupação durante o séc. I d.C..

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
T-7.4.3.3. 4 44,44% 100% 100% 80%
Hispânia Ulterior, costa meridional
Preparados
piscícolas

Total 4 44,44% 100% 100% 80%


T-7.4.2.1. / T-7.4.3.1. 1 11,11% 100% 100% 20%
Norte de África
Total 1 11,11% 100% 100% 20%
Total 5 55,56% 100%
Greco-Itálica 1 11,11% 33,33% 25% 25%
Península Itálica, costa tirrénica Dressel 1 2 22,22% 66,67% 50% 50%
derivados
Vinho e

Total 3 33,33% 100% 75%


Lamboglia 2 1 11,11% 100% 25% 25%
Península Itálica, costa adriática
Total 1 11,11% 100% 100% 25%
Total 4 44,44% 100%
TOTAL 9 100%

Tabela 105 – Quantificação por conteúdo das ânforas republicanas do Palácio do Marquês de Angeja.

8
22
28

15

17

1
11

33

25
27
21

10cm

16

Estampa 128 – Palácio do Marquês de Angeja. Norte de África: T-7.4.2.1. (8). Península Itálica, costa tirrénica:
Greco-Itálica (22), Dressel 1 (28). Ulterior/Bética, costa ocidental: T-7.4.3.3. (15), Dressel 12 (17), Dressel 9-10 (11).
Bética, Vale do Gaudalquivir: Urceus, tipo 1 (21), Urceus (16), Haltern 70 (33, 1), Haltern 71 (27). Lusitânia: Lusitana
Antiga (25).

266
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 1 6,67% 1 11,11% 50% 50%
Lusitânia, Tejo/Sado Lusitana 3 1 6,67% 1 11,11% 50% 50%
Total 2 13,33% 2 22,22% 100% 100%
Dressel 12 1 6,67% 1 11,11% 33,33% 14,29% 14,29%
Dressel 7-11 2 13,33% 1 11,11% 33,33% 14,29% 14,29%
Bética, costa ocidental
Dressel 9-10 1 6,67% 1 11,11% 33,33% 14,29% 14,29%
Total 4 26,67% 3 33,33% 100% 42,86%
Haltern 70 5 33,33% 2 22,22% 50% 28,57% 28,57%
Tipo Urceus 2 13,33% 1 11,11% 25% 14,29% 14,29%
Bética, Vale do Guadalquivir
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 2 13,33% 1 11,11% 25% 14,29% 14,29%
Total 9 60% 4 44,44% 100% 100% 57,14%
TOTAL 15 100% 9 100% 100%

Tabela 106 – Quantificação das ânforas do Principado do Palácio do Marquês de Angeja.

Relativamente aos conteúdos transportados por estes envases, resulta clara a supremacia do vi-
nho e dos preparados piscícolas (44,44% cada), provindo 75% do primeiro produto do Vale do Guadalqui-
vir, em ânforas de tipo Urceus (25%) e Haltern 70 (50%), e 25% do Vale do rio Tejo ou Sado, envasado nas
Lusitana 3 (25%). Em relação aos produtos à base de peixe, 75% desse artigo foi importado da área costei-
ra da Bética, nas Dressel 12 e nas Dressel 9-10, enquanto os restantes 25% são representados pelo vinho
local ou regional. Enfim, o azeite é o produto com menos peso no conjunto, não ultrapassando os 11,11%.
Naturalmente, as proporções que se verificam nesta amostra não podem ser devidamente valo-
rizadas, uma vez que a mesma apresenta uma escassa fiabilidade estatística.

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Lusitana Antiga 1 11,11% 100% 100% 25%
Lusitânia, Tejo/Sado
Total 1 11,11% 100% 100% 25%
Preparados
piscícolas

Dressel 12 1 11,11% 33,33% 33,33% 25%


Dressel 7-11 1 11,11% 33,33% 33,33% 25%
Bética, costa ocidental
Dressel 9-10 1 11,11% 33,33% 33,33% 25%
Total 3 33,33% 100% 100% 75%
Total 4 44,44% 100%
Lusitana 3 1 11,11% 100% 100% 25%
Lusitânia, Tejo/Sado
Total 1 11,11% 100% 100% 25%
derivados
Vinho e

Haltern 70 2 22,22% 66,67% 66,67% 50%


Bética, Vale do Guadalquivir Tipo Urceus 1 11,11% 33,33% 33,33% 25%
Total 3 33,33% 100% 100% 75%
Total 4 44,44% 100%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 1 11,11% 100% 100% 100%
Azeite

Bética, Vale do Guadalquivir


Total 1 11,11% 100% 100% 100%
Total 1 11,11% 100%
TOTAL 9 100%

Tabela 107 – Quantificação por conteúdo das ânforas do Principado do Palácio do Marquês de Angeja.

5.30. Fundação Ricardo Espírito Santo e Silva

A intervenção arqueológica levada a efeito na Fundação Ricardo Espírito Santo e Silva (FRESS)
enquadrou-se nas obras de ampliação e restauro do edifício onde aquela instituição se encontra instala-
da, que engloba os antigos palácios dos Condes de Azurara e dos Viscondes de Castelo Novo (Gomes e

267
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Sequeira, 2001). O sítio localiza-se no Largo das Portas do Sol, na zona alta da cidade, a Sul do terraço do
Palácio de Belmonte e numa área contígua à muralha, no seu lado externo. Os trabalhos de escavação e
acompanhamento decorreram entre 1996 e 1997 e foram dirigidos por Ana Gomes e Maria José Sequei-
ra, técnicas da tutela, então IPPAR (Gomes e Sequeira, 2001). Em 1993 o edifício confinante a nordeste
havia já sido intervencionado, tendo então sido identificados diversos vestígios de Época Romana, re-
publicanos e imperiais, apenas recentemente publicados (Silva, 2014).

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Dressel 14 1 3,23% 1 5,26% 50% 50%
Lusitânia, Tejo/Sado Indeterminado 1 3,23% 1 5,26% 50% 50%
Total 2 6,45% 2 10,53% 100% 100%
Dressel 28 1 3,23% 1 5,26% 100% 25% 6,25%
Bética, costa ocidental
Total 1 3,23% 1 5,26% 100% 6,25%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 2 6,45% 2 10,53% 67% 50% 12,5%
Bética, Vale do Guadalquivir Dressel 20 4 12,9% 1 5,26% 33,33% 25% 6,25%
Total 6 19,35% 3 15,79% 100% 100% 18,75%
T-7.4.3.3. 3 9,68% 2 10,53% 100% 100% 12,5%
Hispânia Ulterior, costa meridional
Total 3 9,68% 2 10,53% 100% 100% 12,5%
Península Itálica, costa tirrénica Greco-Itálica 7 22,58% 7 36,84% 87,5% 87,5% 43,75%
Greco-Itálica/Dressel 1 8 25,81% 1 5,26% 12,5% 12,5% 6,25%
Total 15 48,39% 8 42,11% 100% 100% 50%
Africana Antiga 1 3,23% 1 5,26% 50% 50% 6,25%
Norte de África Indeterminado 1 3,23% 1 5,26% 50% 50% 6,25%
Total 2 6,45% 2 10,53% 100% 100% 12,5%
Indeterminado 2 6,45% 1 5,26% 100% 100%
Indeterminada
Total 2 6,45% 1 5,26% 100% 100%
TOTAL 31 100% 19 100% 100%

Tabela 108 – Quantificação da totalidade das ânforas da Fundação Ricardo Espírito Santo e Silva

434
453 455

437
435
458

454

464

442 457
10cm
461

Estampa 129 – Fundação Ricardo Espírito Santo e Silva. Península Itálica, costa tirrénica: Greco-Itálica (453, 435,
455), Greco-Itálica/Dressel 1 (458). Península Itálica, costa adriática: Greco-Itálica (434). Ulterior: T-7.4.3.3. (454).
Norte de África: Africana Antiga (437). Bética, Vale do Guadalquivir: Dressel 20 Júlio-Cláudia (464, 461), Dressel 20
(442). Lusitânia: Dressel 14 (457). Desenho nº 442: in Fabião et al., 2016.

268
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

Ainda em relação à escavação de 1996/1997, o espaço intervencionado organizava-se em duas


plataformas altimetricamente distintas, designadas de Pátio Superior e Pátio Inferior pelas responsá-
veis pela escavação, documentando-se ocupações antigas em ambas. Para além de diversos vestígios
de Época Medieval, balizados entre os séculos XI e XIV, foram reconhecidos níveis de ocupação de Épo-
ca Romana, realçando-se uma sepultura do séc. III d.C. (Gomes e Sequeira, 2001).
A amostra da Fundação Ricardo Espirito Santo e Silva é reduzida e sem qualquer tipo de fiabili-
dade estatística, sendo composta apenas por materiais republicanos e alto-imperiais, com excepção de
um bordo de Africana III. Deixando este último de parte, contabilizaram-se 31 fragmentos (14 bordos,
cinco fundos e 12 asas) equivalentes a um Número Mínimo de 19 Indivíduos, dos quais 57,89% são repu-
blicanos, 26,32% alto-imperiais e 15,79% de tipo e cronologia indeterminados. Estão presentes seis tipos
distintos, provenientes da Lusitania, da Ulterior/Baetica (costa e Vale do Guadalquivir), da Península
Itálica (costa tirrénica) e do Norte de África.

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
T-7.4.3.3. 3 15,79% 2 18,18% 100% 100% 18,18%
Hispânia Ulterior, costa meridional
Total 3 15,79% 2 18,18% 100% 100% 18,18%
Greco-Itálica 7 36,84% 7 63,64% 88% 87,5% 63,64%
Península Itálica, costa tirrénica Greco-Itálica/Dressel 1 8 42,11% 1 9,09% 13% 12,5% 9,09%
Total 15 78,95% 8 72,73% 100% 100% 72,73%
Africana Antiga 1 5,26% 1 9,09% 100% 100% 9,09%
Norte de África
Total 1 5,26% 1 9,09% 100% 100% 9,09%
TOTAL 19 100% 11 100% 100%

Tabela 109 – Quantificação das ânforas republicanas da Fundação Ricardo Espírito Santo e Silva.

Da fase republicana, a mais expressiva no conjunto, marcam presença os vinhos da Península


Itálica transportados nas Greco-Itálicas (72,73% dos contentores republicanos) e possivelmente tam-
bém nas Dressel 1 (tendo em conta as asas indistintamente classificadas como Greco-Itálica/Dressel 1),
os preparados piscícolas da costa meridional da Ulterior envasados nas T-7.4.3.3. (18,18%) e o azeite do
Norte de África representado pelas ânforas de tipo Africana Antiga (9,09%). Particularmente sublinha-
do pela presença maioritária das Greco-Itálicas, é bem patente o carácter antigo deste conjunto de ma-
teriais que se reporta à fase mais precoce da presença romana em Olisipo e no Vale do Tejo, de que são
bem conhecidos diversos testemunhos na área bem próxima do Castelo de São Jorge (Pimenta, 2005;
Filipe et al., 2013; Mota et al., 2014; Pimenta et al., 2014a), para além do já referido edifício contíguo in-
tervencionado em 1993 (Silva, 2014).

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
T-7.4.3.3. 2 18,18% 100% 100% 100%
Preparados Hispânia Ulterior, costa meridional
Total 2 18,18% 100% 100% 100%
piscícolas
Total 2 18,18% 100%
Greco-Itálica 7 63,64% 87,5% 87,5% 87,5%
Vinho e Península Itálica, costa tirrénica Greco-Itálica/Dressel 1 1 9,09% 12,5% 12,5% 12,5%
derivados Total 8 72,73% 100% 100% 100%
Total 8 72,73% 100%
Africana Antiga 1 9,09% 100% 100% 100%
Norte de África
Azeite Total 1 9,09% 100% 100% 100%
Total 1 9,09% 100%
TOTAL 11 100%

Tabela 110 – Quantificação por conteúdo das ânforas republicanas da Fundação Ricardo Espírito Santo e Silva.

269
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Tendo em conta a escassez de materiais de Época Imperial (5 NMI), pouco se poderá dizer acer-
ca dos contentores desse período para lá da sua enumeração. Marcam presença as oleárias Dressel
20 (Júlio-Cláudias) do Vale do Guadalquivir (3 NMI) e as piscícolas Dressel 14 (1 NMI) da Lusitânia, que
correspondem, juntamente com as Lusitana 3, aos tipos mais frequentes em Olisipo durante o Império.
Para além destas, ocorre ainda um exemplar de Dressel 28 do litoral da Baetica (5,26%), testemunhando
a importação do vinho daquela região. O pequeno conjunto parece apontar para uma diacronia baliza-
da entre a dinastia Júlio-Cláudia e o séc. II d.C..

5.31. Rua do Recolhimento, 35 (anexo I.31)

A intervenção arqueológica realizada no nº 35 da Rua do Recolhimento, Castelo de São Jorge,


enquadrou-se no Programa de Intervenção Prioritária em Acções de Reabilitação Urbana (PIPARU) da
Câmara Municipal de Lisboa, tendo como principal objectivo a caracterização das evidências arqueoló-
gicas existentes no local em fase prévia às obras de reabilitação. Os trabalhos de escavação, assegura-
dos pela empresa Era-Arqueologia e dirigidos por Marina Pinto em 2011, incidiram sobre um conjunto
de edifícios implantados entre o nº 35 da Rua do Recolhimento e o Beco do Leão (Pinto, 2012). Poste-
riormente, já no decurso das aludidas obras de reabilitação desses edifícios, vir-se-iam a desenvolver
novos trabalhos arqueológicos, dessa feita designando o sítio de Pátio José Pedreira, cujos materiais
são igualmente analisados neste estudo (v. infra).
Na intervenção de 2011 foram escavadas 16 sondagens de diagnóstico de 1,5 m X 1,5 m, tendo-se
documentado vestígios da Idade do Ferro, de Época Romana Republicana, Islâmica, Medieval cristã,
Moderna e Contemporânea (Pinto, 2012; Sousa e Pinto, 2016). Os contextos republicanos, que aqui mais
interessam, foram identificados nas sondagens 2 e 4, onde respectivamente se registou uma fossa,
possivelmente detrítica, e o resto de um muro muito destruído (Pinto, 2012). No enchimento ([205]) da
estrutura negativa da sondagem 2 foram recolhidos três bordos de Dressel 1, incluindo um da variante
Dressel 1C, e um de T-7-4.3.3. juntamente com cerâmica atribuível à Idade do Ferro, esta última já pu-
blicada (Sousa e Pinto, 2016). Tendo em conta a escassez de materiais, o conjunto anfórico permitirá
quanto muito balizar a colmatação da fossa entre o final do séc. II a.C. e o terceiro quartel do século
seguinte. Já na sondagem 4, o panorama é ainda mais pobre no que se refere a materiais que permitam
atribuir cronologias, limitando-se a um bordo e um fundo de Dressel 1 e a um bocal de Greco-Itálica, para
além de alguns fragmentos de asa tipologicamente enquadráveis em qualquer destas duas formas. Es-
tas peças foram recolhidas em depósitos que parecem assinalar o abandono do muro republicano a que
se fez já referência, cuja cronologia de construção se desconhece mas que poderá ser bastante recuada
no contexto da presença republicana no morro do Castelo.
Trata-se de uma amostra bastante reduzida e de escassa fiabilidade estatística, constituída por
22 fragmentos diagnosticáveis (nove bordos, um fundo e 12 asas) e um Número Mínimo de 11 Indi-
víduos, observando-se a presença de duas regiões produtoras e quatro tipos distintos, todos atribuí-
veis à República.

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
T-7.4.3.3. 3 13,64% 2 18,18% 66,67% 66,67% 18,18%
Hispânia Ulterior, costa meridional T-9.1.1.1. 1 4,55% 1 9,09% 33,33% 33,33% 9,09%
Total 4 18,18% 3 27,27% 100% 100% 27,27%
Greco-Itálica 1 4,55% 1 9,09% 12,5% 12,5% 9,09%
Dressel 1 7 31,82% 6 54,55% 75% 75% 54,55%
Península Itálica, costa tirrénica
Greco-Itálica/Dressel 1 10 45,45% 1 9,09% 12,5% 12,5% 9,09%
Total 18 81,82% 8 72,73% 100% 100% 72,73%
TOTAL 22 100% 11 100% 100%

Tabela 111 – Quantificação da totalidade das ânforas da Rua do Recolhimento.

270
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

O conjunto é dominado pelas produções da costa tirrénica da Península Itálica (72,73% do NMI),
representadas de forma mais expressiva pelas Dressel 1 (54,55%) e mais discretamente pelas Greco-
-Itálicas (9,09%) e Greco-Itálicas/Dressel 1 (9,09%). Os restantes indivíduos, compondo 27,27% do NMI,
provêm da costa meridional da Ulterior e correspondem a contentores do tipo T-7.4.3.3. (66,67% das
ânforas dessa região) e T-9.1.1.1. (33,33%).

4
20

23

12

3
1

13 2
5
10cm

Estampa 130 – Rua do Recolhimento, 35. Ulterior, costa meridional: T-7.4.3.3. (20, 4). Península Itálica, costa tirré-
nica: Greco-Itálica (1, 23), Dressel 1 (3, 13(?), 2, 5), Greco-Itálica/Dressel 1 (12).

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
T-7.4.3.3. 2 18,18% 66,67% 66,67% 66,67%
Preparados Hispânia Ulterior, costa meridional T-9.1.1.1. 1 9,09% 33,33% 33,33% 33,33%
piscícolas Total 3 27,27% 100% 100% 100%
Total 3 27,27% 100%
Greco-Itálica 1 9,09% 12,5% 12,5% 12,5%
Dressel 1 6 54,55% 75% 75% 75%
Vinho e Península Itálica, costa tirrénica
Greco-Itálica/Dressel 1 1 9,09% 12,5% 12,5% 12,5%
derivados
Total 8 72,73% 100% 100% 100%
Total 8 72,73% 100%
TOTAL 11 100%

Tabela 112 – Quantificação por conteúdo das ânforas republicanas da Rua do Recolhimento.

As proporções dos produtos alimentares importados são o reflexo directo das acima verificadas
quanto às regiões de origem. Da Península Itálica provém única e exclusivamente o vinho tirrénico
transportado nas Dressel 1 e Greco-Itálicas, enquanto da costa meridional da Ulterior são importados,
igualmente de forma única e exclusiva, os preparados feitos à base de peixe.
Pouco de significativo se poderá acrescentar a tão reduzido conjunto de ânforas, para além de
sublinhar o seu perfil antigo, sobretudo enquadrável na segunda metade do séc. II a.C. embora ex-
tensível até ao segundo terço da centúria seguinte, tendo no exemplar de Dressel 1C o seu elemento
aparentemente mais recente.

271
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

5.32. Pátio José Pedreira (anexo I.32)

A reabilitação do conjunto de edifícios situados no Pátio José Pedreira foi enquadrada no Progra-
ma de Intervenção Prioritária em Acções de Reabilitação Urbana (PIPARU) da Câmara Municipal de Lis-
boa, no âmbito do qual foi desenvolvida uma intervenção arqueológica com o objectivo de minimizar os
impactes sobre o património arqueológico. Os trabalhos de escavação foram efectuados em 2015, sob
a responsabilidade de Anabela Joaquinito, tendo sido precedidos por uma intervenção de diagnóstico
em 2011, então empreendida pela Empresa ERA-Arqueologia e designada de Rua do Recolhimento, nº
35. Os materiais desta última foram também analisados no âmbito do estudo que aqui se dá a conhecer
(v. supra), embora se tenha optado por apresentá-los separadamente.
Durante a escavação de 2015 foram documentados importantes vestígios da ocupação naquela
zona da cidade, abrangendo um lapso temporal que se estende da Idade do Ferro à Época Contemporâ-
nea, incluindo, para além daqueles, contextos romanos, islâmicos, medievais e modernos. Infelizmente,
os dados recolhidos durante a intervenção não se encontram ainda devidamente sistematizados, pelo
que na generalidade dos contextos de Época Romana (que aqui directamente interessam) as cronolo-
gias avançadas são provisórias e principalmente baseadas na análise do conjunto anfórico, carecendo
de confirmação posterior.
Existe, porém, uma excepção constituída por uma fossa de descarte de onde provém um interes-
sante conjunto de materiais, seguramente datável do terceiro quartel do séc. II a.C. (Edifício B, Compar-
timento 2, Vala Norte, UE [11]), de que adiante se falará mais detalhadamente.
O conjunto do Pátio José Pedreira constitui-se como um dos mais representativos de Época Re-
publicana estudados no âmbito deste trabalho e seguramente o mais significativo, em termos quantita-
tivos, no que que se refere a contextos preservados do séc. II a.C.. A amostra é composta por um total

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 1 0,68% 1 1,56% 25% 25%
Lusitana Antiga/Dressel 14 1 0,68% 1 1,56% 25% 16,67%
Lusitânia, Tejo/Sado
Lusitana 3 4 2,72% 2 3,13% 50% 50%
Total 6 4,08% 4 6,25% 100% 92%
Ovóide indeterminada 3 2,04% 1 1,56% 50% 50% 1,75%
Bética, Vale do Guadalquivir Haltern 70 1 0,68% 1 1,56% 50% 50% 1,75%
Total 4 2,72% 2 3,13% 100% 100% 3,51%
Tipo 6 2 1,36% 2 3,13% 100% 8%
Hispânia Ulterior, Tejo/Sado
Total 2 1,36% 2 3,13% 100%
T-7.4.3.3. 36 24,49% 21 32,81% 95,45% 84% 36,84%
Hispânia Ulterior, costa meridional T-9.1.1.1. 1 0,68% 1 1,56% 4,55% 4% 1,28%
Total 37 25,17% 22 34,38% 100% 38,12%
Ovóide 4 1 0,68% 1 1,56% 100% 4,35% 1,75%
Hispânia Ulterior, Vale do Guadalquivir
Total 1 0,68% 1 1,56% 100% 100% 1,75%
Greco-Itálica 14 9,52% 14 21,88% 56% 48,28% 24,56%
Dressel 1 8 5,44% 7 10,94% 28% 24,14% 12,28%
Península Itálica, costa tirrénica
Greco-Itálica/Dressel 1 66 44,90% 4 6,25% 16% 13,79% 7,02%
Total 88 59,86% 25 39,06% 100% 43,86%
Greco-Itálica 4 2,72% 3 4,69% 75% 10,34% 5,26%
Península Itálica, costa adriática Brindisi 1 0,68% 1 1,56% 25% 3,45% 1,75%
Total 5 3,4% 4 6,25% 100% 100% 7,02%
Africana Antiga 2 1,36% 2 3,13% 100% 100% 3,51%
Norte de África
Total 2 1,36% 2 3,13% 100% 100% 3,51%
Dressel 2-4 de Cos 1 0,68% 1 1,56% 100% 100% 1,75%
Mediterrâneo Oriental
Total 1 0,68% 1 1,56% 100% 100% 1,75%
Indeterminado 1 0,68% 1 1,56% 100% 100%
Indeterminada
Total 1 0,68% 1 1,56% 100% 100%
TOTAL 147 100% 64 100% 100%

Tabela 113 – Quantificação da totalidade das ânforas do Pátio José Pedreira.

272
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

de 147 fragmentos de ânfora, bordos (54), fundos (22), asas (69) e duas paredes com grafito e titulus
pictus, que se traduzem num Número Mínimo de 64 Indivíduos. Destes, 89,06% (57 NMI) correspondem
a produções republicanas, 9,38% (6 NMI) a ânforas do Principado e 1,56% (1 NMI) a contentores de tipo
indeterminado, estando totalmente ausentes as produções tardias. Ainda que se constitua como uma
amostra de escassa fiabilidade estatística, foram identificados 12 tipos fabricados em sete regiões pro-
dutoras distintas.
No que aos materiais republicanos diz respeito, as importações são dominadas pelas produções
da Península Itálica (50,88% no seu conjunto), sendo representadas sobretudo pelas ânforas de tipo
Greco-Itálico (48,28% dos envases itálicos) e Dressel 1 (24,14%) da costa tirrénica, e de forma mais mo-
desta pelas produções da costa adriática (7,02% do total de NMI), de onde provêm algumas Greco-
-Itálicas (10,34% dos itálicos) e uma ânfora de Brindisi (3,45%). Foram ainda registados quatro indivíduos
indistintamente classificados de Greco-Itálica/Dressel 1, significando 13,79% das ânforas itálicas. No âm-
bito destas produções, não deixa de ser assinalável o alto índice de Greco-Itálicas, remetendo para o
momento mais recuado da presença romana em Olisipo.

2444.05
2444.17
2444.15

2444.06 2444.18

2444.16

2444.13

2444.19
2444.04
2444.20

2444.14

2444.02
10cm

Estampa 131 – Pátio José Sequeira. Contexto (fossa) do terceiro quartel do séc. II a.C. Península Itálica, costa adriá-
tica: Greco-Itálica (2444.05, 2444.16). Península Itálica, costa tirrénica: Greco-Itálica (2444.02, 2444.06, 2444.17,
2444.18), Dressel 1 (2444.15, 2444.13, 2444.14), Greco-Itálica/Dressel 1 (2444.04, 2444.20, 2444.19).

273
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

A costa meridional da Ulterior surge como a segunda região mais importante (38,6%) no qua-
dro das importações anfóricas do Pátio José Pedreira, sendo maioritariamente representada pelas
T-7.4.3.3. (95,45% dessa região) e de forma pouco expressiva pelas T-9.1.1.1. (4,55%). Da mesma pro-
víncia, surgem representadas as áreas produtoras dos vales do Tejo e Sado (3,51% do total NMI) e do
Vale do Guadalquivir (1,75%), ambas com um peso estatístico reduzido na amostra. Da primeira região
foram identificados dois indivíduos tipologicamente enquadráveis nas produções locais/regionais de
tradição pré-romana de Tipo 6, recentemente sistematizadas (Sousa e Pimenta, 2014), recolhidos em

2444.01

10cm 2444.03

Estampa 132 – Pátio José Sequeira. Contexto (fossa) do terceiro quartel do séc. II a.C.. Península Itálica, costa
tirrénica: Dressel 1 (2444.01), Norte de África: Africana Antiga (2444.03).

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Tipo 6 2 1,47% 2 3,51% 100% 8%
Hispânia Ulterior, Tejo/Sado
Total 2 1,47% 2 3,51% 100%
T-7.4.3.3. 36 26,47% 21 36,84% 95,45% 84% 38,18%
Hispânia Ulterior,
T-9.1.1.1. 1 0,74% 1 1,75% 4,55% 4% 1,82%
costa meridional
Total 37 27,21% 22 38,6% 100% 40%
Hispânia Ulterior, Ovóide 4 1 0,74% 1 1,75% 100% 4% 1,82%
Vale do Guadalquivir Total 1 0,74% 1 1,75% 100% 100% 1,82%
Greco-Itálica 14 10,29% 14 24,56% 56% 48,28% 25,45%
Península Itálica, Dressel 1 8 5,88% 7 12,28% 28% 24,14% 12,73%
costa tirrénica Greco-Itálica/Dressel 1 66 48,53% 4 7,02% 16% 13,79% 7,27%
Total 88 64,71% 25 43,86% 100% 45,45%
Greco-Itálica 4 2,94% 3 5,26% 75% 10,34% 5,45%
Península Itálica,
Brindisi 1 0,74% 1 1,75% 25% 3,45% 1,82%
costa adriática
Total 5 3,68% 4 7,02% 100% 100% 7,27%
Africana Antiga 2 1,47% 2 3,51% 100% 100% 3,64%
Norte de África
Total 2 1,47% 2 3,51% 100% 100% 3,64%
Dressel 4 de Cos 1 0,74% 1 1,75% 100% 100% 1,82%
Mediterrâneo Oriental
Total 1 0,74% 1 1,75% 100% 100% 1,82%
TOTAL 136 100% 57 100% 100%

Tabela 114 – Quantificação das ânforas republicanas do Pátio José Pedreira.

274
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

contexto possivelmente datado da segunda metade do séc. I a.C.. Do Vale do Guadalquivir apenas se
reconheceu um fragmento de bordo de uma Ovóide 4 em nível pós-romano. Já do Norte de África fo-
ram documentados dois indivíduos de Africana Antiga, significando 3,51% das ânforas republicanas. Por
fim, o Mediterrâneo Oriental representa 1,75% das importações, registando-se a importante e até agora
desconhecida presença do vinho da Ilha de Cos no alto do morro do Castelo através de uma asa bífida
com o fabrico típico daquela ilha ostentando marca de oleiro em caracteres gregos (v. infra).

2414.02

2554.01 1203.01
1154.02

2035.01 1693.01
1148.18

2414.01
1148.14

1148.15

1071.01 1148.13

1168.01
1154.01

1372.01

1766.01

10cm
1149.01
1148.02

Estampa 133 – Pátio José Sequeira. Península Itálica, costa tirrénica: Greco-Itálica (2414.02, 1203.01, 2035.01,
1148.18, 1693.01, 2554.01), Dressel 1 (2414.01, 1148.15, 1148.14, 1148.13), Greco-Itálica/Dressel 1 (1154.02,
1071.01, 1154.01, 1168.01, 1766.01). Península Itálica, costa adriática: Ânfora de Brindisi, Apani VIIA (1372.01).
Norte de África: Africana Antiga (1148.02). Mediterrâneo oriental: Dressel 4 de Cos (1149.01).

275
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

1148.21
2313.01

1693.03

1809.01

2314.01
1148.12

1148.08 1148.05

1148.06
1692.01
1282.01 1148.20 1148.19
10cm

Estampa 134 – Pátio José Sequeira. Ulterior, costa meridional: T-9.1.1.1. (1148.21), T-7.4.3.3. (1693.03, 1282.01,
1692.01, 2313.01, 1809.01, 2314.01, 1148.08, 1148.12, 1148.05, 1148.06). Ulterior, Vale do Tejo/Sado: Tipo 6
(1148.19, 1148.20).

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
T-7.4.3.3. 21 36,84% 95,45% 95,45% 95,45%
Hispânia Ulterior,
Preparados T-9.1.1.1. 1 1,75% 4,55% 4,55% 4,55%
costa meridional
piscícolas Total 22 38,6% 100% 100% 100%
Total 22 38,6% 100%
Hispânia Ulterior, Ovóide 4 1 1,75% 100% 100% 3,33%
Vale do Guadalquivir Total 1 1,75% 100% 100% 3,33%
Greco-Itálica 14 24,56% 56% 50% 46,7%
Península Itálica, Dressel 1 7 12,28% 28% 25% 23,33%
costa tirrénica Greco-Itálica/Dressel 1 4 7,02% 16% 14,29% 13,33%
Vinho e
Total 25 43,86% 100% 83,33%
derivados
Península Itálica, Greco-Itálica 3 5,26% 100% 10,71% 10%
costa adriática Total 3 5,26% 100% 100% 10%
Dressel 4 de Cos 1 1,75% 100% 100% 3,33%
Mediterrâneo Oriental
Total 1 1,75% 100% 100% 3,33%
Total 30 52,63% 100%
Península Itálica, Brindisi 1 1,75% 100% 100% 33,33%
costa adriática Total 1 1,75% 100% 100% 33,33%
Azeite Africana Antiga 2 3,51% 100% 100% 66,67%
Norte de África
Total 2 3,51% 100% 100% 66,67%
Total 3 5,26% 100%
Hispânia Ulterior, Tipo 6 2 3,51% 100% 100% 100%
Indet. Tejo/Sado Total 2 3,51% 100% 100% 100%
Total 2 3,51% 100%
TOTAL 57 100%

Tabela 115 – Quantificação por conteúdo das ânforas republicanas do Pátio José Pedreira.

276
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

Em relação aos produtos envasados nestes contentores, o vinho domina totalmente, significan-
do 52,63% da amostra. Este precioso líquido era importado sobretudo da costa tirrénica da Península
Itálica (83,33% das ânforas vinárias) nas ânforas de tipo Greco-Itálico (46,7%) e Dressel 1 (23,33%) (a que
se deverão adicionar 13,33% indistintamente classificadas como Greco-Itálica/Dressel 1s); mas também
da costa adriática (10%), exclusivamente em Greco-Itálicas, e, em idênticas percentagens (3,33%), do
Vale do Guadalquivir, nas Ovóide 4, e do Mediterrâneo Oriental, nas Dressel 4 de Cos.
Já os preparados piscícolas, significando 38,6% dos bens alimentares transportados em ânforas
durante esta fase, provêm exclusivamente da costa meridional da ulterior, sendo transportados nas
T-7.4.3.3. (95,45% desse produto) e T-9.1.1.1. (4,55%). O azeite constitui-se claramente como o produto
menos importante no quadro das importações republicanas, significando apenas 5,26% dos envases
desse período. Era importado da região líbia e tunisina nas designadas Africanas Antigas (66,67% desses
envases) e do Sul da Península Itálica nas ânforas de Brindisi (33,33%).
Em termos gerais, e apesar de ser quantitativamente pouco expressiva, as proporções que se
verificam nesta amostra não se afastam muito do quadro de consumo global da cidade de Lisboa, no-
tando-se sobretudo uma menor representação do azeite e uma ligeira subida das percentagens dos
preparados piscícolas e de vinho. O perfil de consumo enquadra-se, ainda que com ligeiras diferenças,
no que era já conhecido para a área da antiga alcáçova islâmica (Pimenta, 2005), definindo um padrão
próprio desta zona da cidade que difere do que se observa na encosta Sul, que se abordará detalhada-
mente mais à frente.
Apesar de, na sua maioria, os contentores anfóricos do pátio José Pedreira terem sido exumados
em contextos posteriores à sua época de produção e circulação, os dados contextuais do conjunto são,
ainda assim, relevantes. Particularmente expressivo é o conjunto datado do terceiro quartel do séc.
II a.C. recolhido no interior de uma fossa de descarte situada no edifício B, anteriormente menciona-
do, que infelizmente não foi possível escavar na sua totalidade. Aí verificou-se a associação de Greco-
-Itálicas (que compunham 60% das ânforas do contexto) com Dressel 1A e de transição (30%) e com um
exemplar completo de Africana Antiga, de perfil marcadamente ovóide e aparentemente imputável a
um momento antigo da sua produção. Da mesma cronologia parece ser o contexto de onde provém o
bocal de Greco-Itálica nº 2554.01, na sondagem 1 do mesmo edifício. De cronologia menos fina, gene-
ricamente balizada entre o terceiro quartel do séc. II a.C. e o segundo terço da centúria seguinte, são
alguns contextos documentados no edifício B1, onde se recolheram Greco-Itálicas, Dressel 1, T-7.4.3.3.
e o Tipo VIIA de Apani. Menos clara é a cronologia de formação do depósito [12] da sondagem 1 deste
último edifício onde, a par de um expressivo conjunto anfórico (60 fragmentos) genericamente enqua-
drável na segunda metade do séc. I a.C. e composto por contentores do tipo Greco-Itálico, variantes A
e C da Dressel 1, Dressel 4 de Cos, T-9.1.1.1., ânforas ovóides do Guadalquivir de tipo indeterminado, um

1616.01

1148.01
1491.01
10cm

1083.01 1154.04

Estampa 135 – Pátio José Sequeira. Ulterior, Vale do Guadalquivir: Ovóide 4 (1616.01). Lusitânia: Lusitana Antiga
(1148.01), Lusitana 3 (1154.04, 1083.01, 1491.01).

277
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

bordo de Lusitana Antiga e ânforas de tradição púnica de produção local/regional, foram recolhidos
dois fragmentos de Lusitana 3. Apenas a sistematização de todos os dados permitirá afinar a crono-
logia deste contexto e esclarecer se estamos perante um nível já do séc. II d.C. (ou posterior…) com
um índice alto de residualidade ou se, pelo contrário, aquelas peças poderão corresponder a intrusões
na estratigrafia. Considerando esta segunda possibilidade, será bem provável que o contexto date do
terceiro quartel do séc. I a.C. sobretudo tendo em conta a baixa percentagem de produções do Guadal-
quivir e a importante representação das Dressel 1 e das T-7.4.3.3.. A confirmar-se esta suposição, este
contexto seria um dos mais antigos conhecidos com presença das mais precoces produções anfóricas
tipicamente romanas da Lusitania ou extremo Ocidente Ibérico, comprovando a sua produção em mo-
mentos anteriores ao Principado de Augusto.
Já a unidade [27] (B, 1) parece atestar a ocupação do local durante a fase imperial, provavelmente
durante o séc. II ou III d.C., uma vez que o grau de preservação da Lusitana 3 aí exumada (nº 1491.01,
veja-se os comentários às características desta peça no ponto 6.2.1.4.) e a existência de diversas cola-
gens na mesma afasta qualquer hipótese de infiltração.
Em termos gerais, o conjunto apresenta um perfil marcadamente antigo, isto é, em boa parte
enquadrável ainda no séc. II a.C., sendo a representação das Greco-Itálicas (24,56% dos envases re-
publicanos) bastante ilustrativa quanto a esse aspecto, bem como os contextos datados dessa fase.
Embora bastante completo no que se refere à diversidade de origens e de tipos, nota-se, ainda assim, a
ausência de formas como a Dressel 1 da costa meridional da Ulterior e da Lamboglia 2 da costa adriática
da Península Itálica. Embora em menor medida, os materiais e os contextos estratigráficos apresentam
igualmente alguns testemunhos da ocupação daquela área durante o séc. I a.C., particularmente as
designadas Dressel 1B e C, as Ovóide 4 do Guadalquivir e as produções locais/regionais; bem como do
Alto-Império, através da presença de contentores como a Haltern 70 do Guadalquivir e a Lusitana 3.

5.33. Rua de Santa Cruz do Castelo, 29

A intervenção arqueológica realizada no nº 29 da Rua de Santa Cruz do Castelo no ano de 2014


foi espoletada pelo projecto de remodelação do Balneário Municipal do Castelo, tendo ficado a cargo
da empresa Era-Arqueologia e sob a responsabilidade científica de Alexandre Sarrazola e Filipe Oliveira.
Os trabalhos incluíram a abertura de uma sondagem e cinco valas de escavação. As realidades co-
locadas e descoberto resumiam-se, por um lado, a vestígios de Época Moderna e Contemporânea, ma-
terializados em estruturas habitacionais da fase anterior ao terramoto, da reconstrução que se seguiu
à catástrofe de 1755 e à construção, durante a década de 70 do século passado, do edifício actualmente
existente, tendo-se igualmente registado interfaces de destruição relacionadas com o nivelamento do
espaço e associadas à construção dessas edificações; por outro, a contextos de Época Romana Republi-
cana, localizados imediatamente sob os do período Moderno (Sarrazola e Oliveira, 2014). Estes últimos,
atribuídos pelos autores à segunda metade do séc. II a.C., eram constituídos por uma sequência estra-
tigráfica de três depósitos, de onde provém a maioria dos materiais estudados, assentando num pavi-
mento de argila. Por não ter sido escavado, uma vez que se encontrava já no limite da cota de afectação
da obra, os autores colocam a interrogação sobre a cronologia deste pavimento, Idade do Ferro ou re-
publicana (Sarrazola e Oliveira, 2014). Parece-me, todavia, bastante provável que se tratasse de um piso
republicano, uma vez que, tendo em conta a documentação existente (Pimenta, 2005; Pimenta, 2014),
os mais antigos testemunhos da presença romana no alto do morro do Castelo parecem demonstrar
uma ruptura com as realidades pré-existentes, não se verificando o reaproveitamento e reutilização das
estruturas então existentes mas sim a construção de novas. Os materiais recolhidos nos mencionados
depósitos republicanos eram constituídos principalmente por ânforas, nomeadamente Greco-Itálicas e
Dressel 1 da costa tirrénica, brindisinas do litoral adriático e T-7.4.3.3. gaditanas, bem como, em menor
medida, por cerâmica campaniense A e por cerâmica comum e cinzenta de tradição indígena (Sarrazola
e Oliveira, 2014). O exemplar de Classe 67/Ovóide 1 foi identificado num nível de Época Contemporânea.

278
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

Tendo em conta estes dados, e para além do conjunto artefactual exumado, a intervenção nos
balneários da Rua de Santa Cruz do Castelo reveste-se de particular importância na medida em que
permitiu registar uma estrutura (ainda que não se tenha documentado a sua associação a muros) rela-
cionada com a fase mais precoce da presença romana em Olisipo, infelizmente até agora escassas no
registo arqueológico daquela área da cidade (acerca dessa escassez, veja-se Pimenta, 2014).
A amostra, de pequena dimensão e de escassa fiabilidade estatística, é constituída por um total
de 43 fragmentos de ânfora (13 bordos, quatro fundos e 26 asas), equivalentes a um Número Mínimo
de 21 Indivíduos. Estão presentes cinco tipos distintos provenientes de quatro regiões produtoras, loca-
lizadas na Península Itálica e na Hispânia.

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Hispânia Ulterior, T-7.4.3.3. 12 27,91% 8 38,1% 100% 88,89% 38,1%
costa meridional Total 12 27,91% 8 38,1% 100% 38,1%
Hispânia Ulterior, Classe 67/Ovóide 1 1 2,33% 1 4,76% 100% 11,11% 4,76%
Vale do Guadalquivir Total 1 2,33% 1 4,76% 100% 100% 4,76%
Greco-Itálica 1 2,33% 1 4,76% 10% 8,33% 4,76%
Península Itálica, Dressel 1 4 9,3% 3 14,29% 30% 25% 14,29%
costa tirrénica Greco-Itálica/Dressel 1 21 48,84% 6 28,57% 60% 50% 28,57%
Total 26 60,47% 10 47,62% 100% 47,62%
Península Itálica, Brindisi 4 9,3% 2 9,52% 100% 16,67% 9,52%
costa adriática Total 4 9,3% 2 9,52% 100% 100% 9,52%
TOTAL 43 100% 21 100% 100%

Tabela 116 – Quantificação das ânforas republicanas da Rua de Santa Cruz do Castelo.

32
2

15 17

21

29

31
37

38

13 12
10cm

Estampa 136 – Rua de Santa Cruz do Castelo, 29. Ulterior, costa meridional: T-7.4.3.3. (2, 15, 32, 17). Península
Itálica, costa tirrénica: Greco-Itálica (29), Dressel 1 (21, 31, 37), Greco-Itálica/Dressel 1 (13). Península Itálica, costa
adriática: Ânfora de Brindisi (38). Ulterior, Vale do Guadalquivir: Classe 67/Ovóide 1 (12).

279
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

O conjunto, integralmente republicano, é dominado pelas produções tirrénicas (47,62% do NMI),


representadas pelas Greco-Itálicas (10% dos envases dessa área) e pelas Dressel 1 (30%). A importante
porção de contentores com essa origem indistintamente classificada como Greco-Itálica/Dressel 1 (60%)
relaciona-se com o alto índice de asas que se verifica na amostra, não permitindo precisar entre um e
outro tipo. Também da Península Itálica são as ânforas brindisinas (9,52% do NMI), de que se identifica-
ram três fragmentos de asa e um fundo. A segunda região melhor representada é a costa meridional da
Ulterior, como de resto usualmente se verifica nos conjuntos do Ocidente Peninsular, significando 38,1%
do NMI e sendo exclusivamente representada pelas T-7.4.3.3.. Quanto ao Vale do Guadalquivir (4,76% do
NMI), foi identificado apenas um fragmento de bordo de uma Classe 67/Ovóide 1, descontextualizado.

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Hispânia Ulterior, T-7.4.3.3. 8 38,1% 100% 100% 100%
Preparados
costa meridional Total 8 38,1% 100% 100% 100%
piscícolas
Total 8 38,1% 100%
Greco-Itálica 1 4,76% 10% 10% 10%
Península Itálica, Dressel 1 3 14,29% 30% 30% 30%
Vinho e
costa tirrénica Greco-Itálica/Dressel 1 6 28,57% 60% 60% 60%
derivados
Total 10 47,62% 100% 100% 100%
Total 10 47,62% 100%
Hispânia Ulterior, Classe 67/Ovóide 1 1 4,76% 100% 100% 33,33%
Vale do Guadalquivir Total 1 4,76% 100% 100% 33,33%
Azeite Península Itálica, Brindisi 2 9,52% 100% 100% 66,67%
costa adriática Total 2 9,52% 100% 100% 66,67%
Total 3 14,29% 100%
TOTAL 21 100%

Tabela 117 – Quantificação por conteúdo das ânforas republicanas da Rua de Santa Cruz do Castelo.

Relativamente à importação dos artigos alimentares, o panorama é dominado pelo vinho das cos-
tas tirrénicas da Península Itálica transportado em Greco-Itálicas (10% dos envases vinários) e Dressel 1
(30%), significando 47,62% da amostra do sítio. Os preparados piscícolas representam 38,1% e consti-
tuem-se como o segundo produto mais importante no consumo de alimentos transportados em ânfo-
ras, sendo exclusivamente importado do Sul da Hispânia nas T-7.4.3.3.. Já o azeite, maioritariamente
procedente da Apúlia e envasado nas ânforas brindisinas (66,67% dos contentores oleícolas), embora
também nas Classe 67/Ovóide 1 do Vale do Guadalquivir (33,33%), compõe somente 14,29% do conjunto.
Embora em termos gerais se possam verificar nesta pequena amostra as principais tendências da
curva de consumo durante os primeiros momentos da presença romana em Olisipo, ainda que com sig-
nificativas variações, a sua reduzida dimensão não autoriza qualquer tipo de leitura representativa para
a cidade. No mesmo sentido e com as mesmas limitações poder-se-á referir que o conjunto parece apre-
sentar um perfil enquadrável na segunda metade do séc. II a.C., não olvidando que o exemplar do tipo
Classe 67/Ovóide 1 foi exumado em contexto Contemporâneo. Ainda assim, não deixa de representar
um testemunho válido da continuidade da ocupação daquela área da urbe durante o séc. I a.C., apesar
de esta ser visivelmente muito menos intensa do que durante a segunda metade do século anterior.

5.34. Rua do Espírito Santo, Castelo (anexo I.34)

Desencadeada pelo Projecto de Ampliação da Albergaria do Castelo de São Jorge, a intervenção


conduzida na Rua do Espírito Santo teve lugar em 2011, incidindo em área anexa à anterior intervenção
do Palácio das Cozinhas (v. infra) e sendo dirigida pelo autor deste texto (Filipe et al., 2013). Os vestígios
colocados a descoberto documentam uma ocupação que se estende desde a Época Republicana até

280
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

à Contemporânea, tendo aquele espaço sido utilizado como necrópole durante o período Islâmico e
na fase posterior à reconquista cristã. Igualmente atribuível à Idade Média é um conjunto de silos cujo
abandono foi balizado entre os séculos XIII e XV. Na zona tardoz do edifício, ou seja, na área mais
próxima ao Palácio das Cozinhas, foram registadas algumas estruturas datadas dos séculos XVI e XVII,
incluindo uma calçada e algumas interfaces negativas onde se recolheram algumas peças de cerâmica
comum completas. Já durante o séc. XIX, a construção do edifício existente implicou uma ampla remo-
delação daquele espaço, acção que viria a apagar boa parte do registo arqueológico, particularmente
dos contextos de Época Moderna (Filipe, 2011).
Do período romano republicano foram escavados apenas alguns depósitos na sala Norte junto à
entrada, não se tendo identificado quaisquer estruturas positivas associadas. A dinâmica estratigráfica
desses níveis, limitados a Oeste por uma depressão no substrato geológico, parece evidenciar uma se-
quência de aterros aparentemente realizados em diferentes fases. As deposições mais antigas, assen-
tes directamente sobre o substrato, parecem corresponder a um momento ainda enquadrável no séc. II
a.C., estando aí atestadas as ânforas de tipo Greco-itálico e Dressel 1 da Península Itálica, as T-7.4.3.3. da
região meridional hispânica e as Africanas Antigas do Norte de África. A presença de elementos como
a Dressel 1 C no depósito [196] parece marcar uma segunda fase de aterro daquela área, possivelmente
enquadrável nos momentos finais do séc. II ou início do séc. I a.C., ainda que a maioria dos materiais
remeta para cronologias anteriores. Já no topo destes depósitos foi documentada uma unidade estra-
tigráfica [87] que, pela presença de ânforas ovóides do Vale do Guadalquivir, neste caso uma asa de
Classe 67/Ovóide 1, foi genericamente datada dos quartéis centrais do séc. I d.C.. Para além das ânforas
foi ainda documentada a presença de cerâmica campaniense de classe A e B e cerâmica comum de
produção itálica (observando-se as típicas pastas da Campânia), cerâmica atribuível à Idade do Ferro,
como pintada de bandas, ânforas, cerâmica cinzenta, um cossoiro e cerâmica comum, bem como de
tradição do Bronze Final, nomeadamente taças carenadas com carena alta, modeladas manualmente
(Filipe, 2011; Filipe et al., 2013).
De escassa fiabilidade estatística, o conjunto anfórico da Rua do Espirito Santo é constituído por
63 fragmentos diagnosticáveis de ânfora (18 bordos, sete fundos e 38 asas), equivalente a um Número
Mínimo de 31 Indivíduos, estando atestadas seis regiões produtoras e 11 tipos distintos. Com excepção
de uma asa e um bocal, respectivamente classificados como Lusitana Antiga e Dressel 21-22, os mate-
riais correspondem integralmente a produções republicanas, com um perfil cronológico maioritaria-
mente imputável ao séc. II a.C. e escassa presença de contentores típicos do séc. I a.C..

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 1 1,59% 1 3,23% 100% 100%
Lusitânia, Tejo/Sado
Total 1 1,59% 1 3,23% 100% 100%
Dressel 1 1 1,59% 1 3,23% 8,33% 7,69% 3,33%
Hispânia Ulterior, T-7.4.3.3. 20 31,75% 10 32,26% 83,33% 76,92% 33,33%
costa meridional T-9.1.1.1. 1 1,59% 1 3,23% 8,33% 7,69% 3,33%
Total 22 34,92% 12 38,71% 100% 40%
Hispânia Ulterior, Classe 67/Ovóide 1 2 3,17% 1 3,23% 100% 7,69% 3,33%
Vale do Guadalquivir Total 2 3,17% 1 3,23% 100% 100% 3,33%
Greco-Itálica 4 6,35% 2 6,45% 16,67% 13,33% 6,67%
Dressel 1 4 6,35% 3 9,68% 25% 20% 10%
Península Itálica,
Greco-Itálica/Dressel 1 23 36,51% 6 19,35% 50% 40% 20%
costa tirrénica
Dressel 21-22 1 1,59% 1 3,23% 8,33% 6,67% 3,33%
Total 32 50,79% 12 38,71% 100% 40%
Greco-Itálica 3 4,76% 2 6,45% 66,67% 13,33% 6,67%
Península Itálica,
Brindisi 1 1,59% 1 3,23% 33,33% 6,67% 3,33%
costa adriática
Total 4 6,35% 3 9,68% 100% 100% 10%
T-7.4.2.1./T-7.4.3.1. 1 1,59% 1 3,23% 50% 50% 3,33%
Norte de África Africana Antiga 1 1,59% 1 3,23% 50% 50% 3,33%
Total 2 3,17% 2 6,45% 100% 100% 6,67%
TOTAL 63 100% 31 100% 100%

Tabela 118 –– Quantificação da totalidade das ânforas da Rua do Espírito Santo.

281
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

40
38

35

43
4

52
57

6
3

39

2
7

18

11

17

63

12

47 50 10cm

Estampa 137 – Rua do Espírito Santo. Ulterior, costa meridional: T-7.4.3.3. (40, 43, 38, 4, 35), T-9.1.1.1. (52). Ulterior,
Vale do Guadalquivir: Classe 67/Ovóide 1 (50). Península Itálica, costa tirrénica: Greco-Itálica (3, 2), Dressel 1 (57,
39, 18, 7), Greco-Itálica/Dressel 1 (6, 17), Dressel 21-22 (63). Norte de África: T-7.4.2.1./T-7.4.3.1. (12), Africana
Antiga (11). Lusitânia: Lusitana Antiga (47).

De entre as ânforas de Época Republicana dominam as produções da costa meridional da Ulterior


(41,38% do NMI), destacando-se as T-7.4.3.3. com dez indivíduos (83,33% dos envases dessa região). O
quadro das importações dessa área fica completo com um exemplar de Dressel 1 (8,33%) e outro de
T-9.1.1.1. (8,33%), claramente minoritários. As produções tirrénicas surgem em proporções inferiores
(37,93% do NMI) e são representadas pelas habituais Greco-Itálicas (18,18% dessa área produtora) e Dres-
sel 1 (27,27%). A importante percentagem destas produções (54,55%) indistintamente classificadas como
Greco-Itálica/Dressel 1 decorre de um elevado número de fragmentos de asa relativamente ao número
de bordos e fundos. Já com origem na costa adriática da Península Itálica e significando 10,34% do NMI,

282
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Dressel 1 1 1,64% 1 3,45% 8,33% 7,69% 3,45%
Hispânia Ulterior, T-7.4.3.3. 20 32,79% 10 34,48% 83,33% 76,92% 34,48%
costa meridional T-9.1.1.1. 1 1,64% 1 3,45% 8,33% 7,69% 3,45%
Total 22 36,07% 12 41,38% 100% 41,38%
Hispânia Ulterior, Classe 67/Ovóide 1 2 3,28% 1 3,45% 100% 7,69% 3,45%
Vale do Guadalquivir Total 2 3,28% 1 3,45% 100% 100% 3,45%
Greco-Itálica 4 6,56% 2 6,9% 18,18% 14,29% 6,9%
Península Itálica, Dressel 1 4 6,56% 3 10,34% 27,27% 21,43% 10,34%
costa tirrénica Greco-Itálica/Dressel 1 23 37,7% 6 20,69% 54,55% 42,86% 20,69%
Total 31 50,82% 11 37,93% 100% 37,93%
Greco-Itálica 3 4,92% 2 6,9% 66,67% 14,29% 6,9%
Península Itálica,
Brindisi 1 1,64% 1 3,45% 33,33% 7,14% 3,45%
costa adriática
Total 4 6,56% 3 10,34% 100% 100% 10,34%
T-7.4.2.1./T-7.4.3.1. 1 1,64% 1 3,45% 50% 50% 3,45%
Norte de África Africana Antiga 1 1,64% 1 3,45% 50% 50% 3,45%
Total 2 3,28% 2 6,9% 100% 100% 6,9%
TOTAL 61 100% 29 100% 100%

Tabela 119 – Quantificação das ânforas republicanas da Rua do Espírito Santo.

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Dressel 1 1 3,45% 8,33% 8,33% 7,69%
Hispânia Ulterior, T-7.4.3.3. 10 34,48% 83,33% 83,33% 76,92%
Preparados
piscícolas

costa meridional T-9.1.1.1. 1 3,45% 8,33% 8,33% 7,69%


Total 12 41,38% 100% 100% 92,31%
T-7.4.2.1. / T-7.4.3.1. 1 3,45% 100% 100% 7,69%
Norte de África
Total 1 3,45% 100% 100% 7,69%
Total 13 44,83% 100%
Greco-Itálica 2 6,9% 18,18% 15,38% 15,4%
Península Itálica, Dressel 1 3 10,34% 27,3% 23,08% 23,08%
derivados

costa tirrénica Greco-Itálica/Dressel 1 6 20,69% 54,55% 46,15% 46,15%


Vinho e

Total 11 37,93% 100% 84,62%


Península Itálica, Greco-Itálica 2 6,9% 100% 15,38% 15,38%
costa adriática Total 2 6,9% 100% 100% 15,38%
Total 13 44,83% 100%
Hispânia Ulterior, Classe 67/Ovóide 1 1 3,45% 100% 100% 33,33%
Vale do Guadalquivir Total 1 3,45% 100% 100% 33,33%
Península Itálica, Brindisi 1 3,45% 100% 100% 33,33%
Azeite

costa adriática Total 1 3,45% 100% 100% 33,33%


Africana Antiga 1 3,45% 100% 100% 33,33%
Norte de África
Total 1 3,45% 100% 100% 33,33%
Total 3 10,34% 100%
TOTAL 29 100%

Tabela 120 – Quantificação por conteúdo das ânforas republicanas da Rua do Espírito Santo.

ocorrem as Greco-Itálicas (66,67% dos envases dessa região) e as ânforas de Brindisi (33,33%). Com valo-
res pouco inferiores aos desta região surgem as produções do Norte de África (6,9% do NMI), de onde
procedem as T-7.4.2.1./T-7.4.3.1. e as Africanas Antigas em proporções iguais. O Vale do Guadalquivir
constitui-se como a área produtora menos representada na amostra (3,45% do NMI).
Tendo em conta a escassa fiabilidade estatística do conjunto e o facto de parte destes materiais
ser proveniente de contextos pós-romanos, não se deverá atribuir particular significado às proporções
das diferentes áreas produtoras que se observam nesta amostra, evidenciando sobretudo uma menor
representatividade das importações tirrénicas face às da costa meridional da Ulterior, ao contrário do
que sucede particularmente nos dados conhecidos para a área do castelo (Pimenta, 2005). As formas

283
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

claramente atribuíveis ao séc. I a.C. são escassas, sendo constituídas pela Classe 67/Ovóide 1 e pela
Dressel 1C, embora esta última possa recuar aos últimos anos do séc. II a.C.. De destacar é a presença de
um indivíduo enquadrável nos tipos T-7.4.2.1./T-7.4.3.1. do Norte de África, bastante raros no Ocidente
Peninsular e até aqui escassamente documentados em Olisipo (Filipe, 2008a; Filipe, 2015).
Na análise possível aos produtos importados, reflexo das proporções atrás sublinhadas, verifica-
-se a equivalência no consumo de preparados piscícolas e vinho, representando ambos 44,83% do NMI,
e a menor importância do azeite (10,34%). O primeiro destes artigos alimentares provinha principal-
mente da costa meridional da Ulterior (92,31% desse conteúdo) e era maioritariamente transportado
nas T-7.4.3.3. (76,92%), e em menor medida nas imitações de Dressel 1 (7,69%) e nas T-9.1.1.1. (7,69%). A
importação de preparados à base de peixe do Norte de África está igualmente atestada pela presença
da T-7.4.2.1./T-7.4.3.1. (7,69%), completando o quadro de importações daquele produto. Já o vinho provi-
nha exclusivamente da Península Itálica e era transportado nas Greco-Itálicas e Dressel 1, registando-se
a hegemonia das produções tirrénicas (84,62%) sobre as da costa adriática (15,38%). Quanto ao azeite,
observa-se a importação dos produtos norte-africanos nas Africanas Antigas, adriáticos nas ânforas
brindisinas e do Vale do Guadalquivir nas Classe 67/Ovóide 1, todos em proporções equivalentes.
Relativamente às produções imperiais, unicamente atestadas pelos tipos Lusitana Antiga e Dres-
sel 21-22 a que atrás se aludiu, pouco mais se poderá acrescentar para lá da sua presença na amostra e
do facto de procederem ambos de níveis pós-romanos. Haverá, todavia, que destacar a documentação
da Dressel 21-22 neste conjunto, tipo até aqui totalmente desconhecido no Ocidente hispânico.

5.35. Palácio das Cozinhas

Os trabalhos arqueológicos realizados em 1997 e em 2000 no antigo Palácio das Cozinhas, edi-
ficação do séc. XVIII actualmente integrada na Albergaria do Castelo, enquadraram-se nas acções de
minimização de impactes sobre o património decorrentes do projecto de reabilitação e requalificação
da freguesia do Castelo, tendo sido coordenados por Ana Gomes e Alexandra Gaspar (Base de dados
Endovélico). O sítio implanta-se no topo da colina do castelo, antiga alcáçova medieval, no nº 2 da Rua
das Cozinhas. Posteriormente, em 2011, a ampliação da Albergaria viria a desencadear nova intervenção
arqueológica na área adjacente a Este (v. supra: Rua do Espírito Santo), de que o autor destas linhas foi
o responsável científico. Embora então se tenha considerado tratar-se de um mesmo sítio arqueológico
e, por essa razão, se tenha mantido o mesmo Código Nacional de Sítio (CNS) relativamente às escava-
ções anteriores, optou-se aqui por tratar os dados separadamente uma vez que, para além das inter-
venções se terem realizado por equipas diferentes e com um intervalo de tempo relativamente longo,
não existe qualquer relação estratigráfica directa entre os contextos de Época Romana.
Durante as campanhas desenvolvidas pela equipa do Castelo, para além dos vestígios relacio-
nados com o edifício palatino, foram identificadas diversas estruturas de Época Medieval e Moderna,
incluindo algumas fossas/silos e uma sepultura possivelmente islâmica, que perturbaram os níveis de
ocupação mais antigos (Pimenta, 2005; Base de dados Endovélico). Os materiais da Idade do Ferro e de
Época Romana Republicana, ainda que ocorrendo em quantidades apreciáveis, foram maioritariamente
recuperados em níveis de aterro e de regularização dessa área. Apesar deste cenário, foi possível docu-
mentar e escavar o que deverá corresponder a uma fossa detrítica republicana, contendo um conjunto
de materiais típico do terceiro quartel do séc. II a.C., tais como ânforas de tipo Greco-Itálico, Dressel 1,
T-7.4.3.3. e Africana Antiga, bem como cerâmica campaniense A, um Kalathos ibérico e cerâmica comum;
existindo ainda referência a um aterro tardo-romano com presença residual de Dressel 2-4 itálicas e Clas-
se 67/Ovóide 1 do Guadalquivir a par de outros materiais republicanos (Pimenta, 2005, p. 39-40 e 48).
As ânforas exumadas no decurso da escavação do Palácio das Cozinhas foram já estudadas e
publicadas (Pimenta, 2005), apresentando-se aqui unicamente os materiais recolhidos em contextos
pós-romanos que, por esse motivo, não foram incluídos no trabalho citado. Embora extremamente
reduzida, e para além das questões que a este respeito foram já mencionadas no capítulo da metodolo-
gia, esta amostra detém algumas singularidades que justificaram a sua inclusão neste estudo.

284
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

Embora composto apenas por seis fragmentos de ânfora (quatro bordos e duas asas), equiva-
lentes a um Número Mínimo de cinco indivíduos, o conjunto regista cinco tipos distintos oriundos de
quatro regiões produtoras, não possuindo naturalmente qualquer tipo de validade estatística. Um dos
aspectos mais curiosos e interessantes das formas identificadas é o facto de na sua maioria correspon-
derem a testemunhos únicos ou raros na cidade de Lisboa e escassos ou ausentes no restante território
português. Correspondem todas a formas republicanas, com excepção da Pompeia 13/Agora G198.

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Hispânia Ulterior, Ovóide 6 1 16,67% 1 20% 100% 100% 20%
Vale do Guadalquivir Total 1 16,67% 1 20% 100% 100% 20%
T-8.1.3.2./PE 17 1 16,67% 1 20% 100% 100% 20%
Ilha de Ibiza
Total 1 16,67% 1 20% 100% 100% 20%
Península Itálica, Ovóide tirrénica 1 16,67% 1 20% 100% 100% 20%
costa tirrénica Total 1 16,67% 1 20% 100% 20%
Ródia 2 33,33% 1 20% 50% 50% 20%
Mediterrâneo Oriental Pompeia 13/Agora 198 1 16,67% 1 20% 50% 50% 20%
Total 3 50% 2 40% 100% 100% 40,0%
TOTAL 6 100% 5 100% 100%

Tabela 121 – Quantificação da totalidade das ânforas do Palácio das Cozinhas.

3652

30002

3656

30003

30001
30000 10cm

Estampa 138 – Palácio das Cozinhas. Mediterrâneo oriental: Ródia (30002, 30003), Pompeia 13/Agora G198
(3656). Ebusus: T-8.1.3.2./PE 17 (3652). Península Itálica, costa tirrénica: Ovóide tirrénica (30001). Ulterior, Vale do
Guadalquivir: Ovóide 6 (30000).

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
T-8.1.3.2./PE 17 1 20% 100% 100% 33,33%
Ebusus
Total 1 20% 100% 100% 33,33%
derivados
Vinho e

Ródia 1 20% 50% 50% 33,33%


Mediterrâneo Oriental Pompeia 13/Agora G198 1 20% 50% 50% 33,33%
Total 2 40% 100% 100% 66,67%
Total 3 60% 100%
Hispânia Ulterior, Ovóide 6 1 20% 100% 100% 50%
Vale do Guadalquivir Total 1 20% 100% 100% 50%
Azeite

Península Itálica, Ovóide tirrénica 1 20% 100% 100% 50%


costa tirrénica Total 1 20% 100% 100% 50%
Total 2 40% 100%
TOTAL 5 100%

Tabela 122 – Quantificação por conteúdo da totalidade das ânforas do Palácio das Cozinhas.

285
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Das produções hispânicas apenas se identificou um bordo da oleícola Ovóide 6 do Vale do Gua-
dalquivir, Ulterior, constituindo-se como um dos claros e pouco numerosos testemunhos da ocupa-
ção desta área durante a segunda metade do séc. I a.C.. Da Ilha de Ibiza provém um fragmento de
bordo de uma ânfora do tipo T-8.1.3.2./PE 17, de que existia já referência (Pimenta, 2005, p. 46, nota
20), exemplar único na cidade de Olisipo e, aparentemente, no contexto de toda a fachada atlântica.
Trata-se do envase ebusitano de maior sucesso durante o séc. II a.C., destinado a transportar vinho.
Da Península Itálica regista-se apenas uma ânfora ovóide produzida na costa tirrénica, destinada a
transportar azeite, cuja ocorrência na cidade de Lisboa estava já documentada por um exemplar com
marca proveniente da Rua Norberto de Araújo (Fabião, et al., 2016) mas que é praticamente desco-
nhecida no Ocidente hispânico. Estão ainda presentes duas formas produzidas na metade oriental do
Mediterrâneo, ambas destinadas ao transporte de vinho: as ânforas Ródias republicanas e a Pompeia
13/Agora G198. Em relação à primeira, que se constitui como o contentor helenístico que maior difusão
conheceu na bacia mediterrânea, documentou-se um fragmento de asa com marca ilegível e um outro
de bordo e arranque do colo. As produções republicanas desta forma, totalmente desconhecidas em
Olisipo, estavam até aqui atestadas unicamente em Scallabis (Bargão, 2006, p. 51). Também a presença
da Pompeia 13/Agora G198 era até agora ignorada em Lisboa e no actual território português, embora
fosse já conhecida na capital provincial Augusta Emerita (Almeida e Sánchez Hidalgo, 2013). Refira-se,
por fim, a ausência de ânforas piscícolas.

5.36. Grupo Desportivo do Castelo

A escavação do edifício onde se encontrava instalado o Grupo Desportivo do Castelo, localizado


na antiga alcáçova islâmica e no nº 21 da actual Rua das Flores de Santa Cruz, foi realizada entre 2003 e
2004, enquadrando-se nos trabalhos arqueológicos coordenados por Ana Gomes e Alexandra Gaspar e
desenvolvidos no âmbito do projecto de reabilitação e requalificação da freguesia do Castelo.
Do conjunto de sítios arqueológicos intervencionados no contexto deste projecto, o do Grupo
Desportivo do Castelo destaca-se pelos contextos datados do Principado, época de que escasseiam
os testemunhos em toda a área da alcáçova. Os dados colectados durante a intervenção estendem-se
cronologicamente desde a fase inicial da Idade do Ferro até à Época Contemporânea, embora não se te-
nham registado níveis republicanos preservados. Os referidos contextos de Época Imperial consistiam
essencialmente num conjunto de estratos associados e articulados com os alicerces de uma estrutura de
grande dimensão, eventualmente pertencente a um edifício público, interpretados como resultantes do
aterro para a construção daquele. Com base no conjunto de materiais aí exumados, que para além das
ânforas era composto também por terra sigillata gálica e hispânica e por lucernas de volutas, a constru-
ção do edifício foi balizada entre os finais do séc. I d.C. e meados do século seguinte27. O estudo das mar-
cas de oleiro em terra sigillata viria a confirmar a validade daquela proposta cronológica (Silva, 2012a).
Na intervenção do Grupo Desportivo do Castelo foi recolhido um conjunto reduzido de ânforas,
sem qualquer tipo de fiabilidade estatística, constituído por um total de 18 fragmentos (13 bordos, três
fundos e duas asas) equivalente a 14 indivíduos, dos quais 53,85% (7 NMI) correspondem a produções
republicanas e 46,15% ao Principado. Foram registadas oito tipos distintos, provenientes da Lusitânia,
da Ulterior/Bética (litoral e interior) e da costa tirrénica da Península Itálica.
Da fase mais antiga, marcam presença os contentores vinários de tipo Dressel 1 (3 NMI) produ-
zidos na costa tirrénica itálica, e possivelmente também as Greco-Itálicas da mesma região; bem como
as ânforas piscícolas da costa meridional da Ulterior, maioritariamente representadas pelas T-7.4.3.3. (3
NMI) e, de forma menos expressiva, pelas T-9.1.1.1. (1 NMI), observando-se a ausência das produções do
Norte de África, da costa adriática da Península Itálica e do Vale do Guadalquivir.

27. Comunicação pessoal de Alexandra Gaspar e João Pimenta, a quem se agradece.

286
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Dressel 14 2 11,11% 2 14,29% 66,67% 66,67%
Lusitânia, Tejo/Sado Lusitana 3 2 11,11% 1 7,14% 33,33% 33,33%
Total 4 22,22% 3 21,43% 100% 100%
Beltrán IIA 1 5,56% 1 7,14% 100% 50% 9,09%
Bética, costa ocidental
Total 1 5,56% 1 7,14% 100% 9,09%
Dressel 20 2 11,11% 1 7,14% 100% 50% 9,09%
Bética, Vale do Guadalquivir
Total 2 11,11% 1 7,14% 100% 100% 9,09%
T-7.4.3.3. 3 16,67% 3 21,43% 75% 75% 27,27%
Hispânia Ulterior, costa meridional T-9.1.1.1. 1 5,56% 1 7,14% 25% 25% 9,09%
Total 4 22,22% 4 28,57% 25% 25% 36,36%
Dressel 1 3 16,67% 3 21,43% 60% 60% 27,27%
Greco-Itálica/Dressel 1 3 16,67% 1 7,14% 20% 20% 9,09%
Península Itálica, costa tirrénica
Dressel 2-4 1 5,56% 1 7,14% 20% 20% 9,09%
Total 7 38,89% 5 35,71% 100% 100% 45,45%
TOTAL 18 100% 14 100% 100%

Tabela 123 – Quantificação da totalidade das ânforas do Grupo Desportivo do Castelo.

109

108

117 110

112

111

116
113

107

115

101 114

104
102

105

100 10cm
103

Estampa 139 – Grupo Desportivo do Castelo. Península Itálica, costa tirrénica: Dressel 1 (108, 112, 113), Greco-
-Itálica/Dressel 1 (115, 117, 116), Dressel 2-4 (101). Ulterior/Bética, costa ocidental: T-7.4.3.3. (109, 110, 111),
T-9.1.1.1. (107), Beltrán IIA (114). Bética, Vale do Guadalquivir: Dressel 20 (100, 105). Lusitânia: Dressel 14 (102,
103), Lusitana 3 (104). Desenhos de Sandra Guerra e João Pimenta, tratamento gráfico do autor.

287
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Dressel 14 2 14,29% 100% 100% 28,57%
Lusitânia, Tejo/Sado
Total 2 14,29% 100% 100% 28,57%
Beltrán IIA 1 7,14% 100% 100% 14,29%
Preparados
piscícolas

Bética, costa ocidental


Total 1 7,14% 100% 100% 14,29%
T-7.4.3.3. 3 21,43% 75% 75% 42,86%
Hispânia Ulterior,
T-9.1.1.1. 1 7,14% 25% 25% 14,29%
costa meridional
Total 4 28,57% 100% 100% 57,14%
Total 7 50,00% 100%
Lusitana 3 1 7,14% 100% 100% 17%
Lusitânia, Tejo/Sado
Total 1 7,14% 100% 100% 17%
derivados

Dressel 1 3 21,43% 60% 60% 50%


Vinho e

Península Itálica, Greco-Itálica/Dressel 1 1 7,14% 20,00% 20% 20%


costa tirrénica Dressel 2-4 1 7,14% 20% 20% 17%
Total 5 35,71% 100% 100% 87%
Total 6 42,86% 103%
Bética, Dressel 20 1 7,14% 100% 100% 100%
Azeite

Vale do Guadalquivir Total 1 7,14% 100% 100% 100%


Total 1 7,14% 100%
TOTAL 14 100%

Tabela 124 – Quantificação por conteúdo da totalidade das ânforas do Grupo Desportivo do Castelo.

Do Principado destacam-se sobretudo as produções lusitanas, representando metade dos enva-


ses dessa época: as piscícolas Dressel 14 (2 NMI) e as vinárias Lusitana 3 (1 NMI). As importações extra-
provinciais resumem-se a um indivíduo de Beltrán IIA bética, outro de Dressel 20 do Vale do Guadalqui-
vir e um outro de Dressel 2-4 tirrénica, respectivamente destinados ao transporte e comercialização de
preparados à base de peixe, azeite e vinho. Deste pequeno grupo de ânforas realça-se principalmente
a documentação de alguns tipos imperiais até aqui desconhecidos no topo do morro do Castelo, como
a Lusitana 3, a Beltrán IIA e a Dressel 20, e outros escassamente documentados como a Dressel 14
(Pimenta, 2005).

5.37. Largo de Santa Cruz do Castelo

A intervenção arqueológica realizada nos nºs 6 e 7 do Largo de Santa Cruz do Castelo foi desenca-
deada pelo projecto de reabilitação daquele edifício, tendo os trabalhos de escavação sido realizados
em 2010 e, intervaladamente, entre 2012 e 2016 sob a direcção científica de Sandra Guerra. O sítio, loca-
lizado no bairro histórico do Castelo, junto à Praça Nova, na área da antiga alcáçova islâmica da cidade
de Lisboa, havia já sido parcialmente intervencionado em 2001 (embora tenha então recebido distinta
designação e CNS: Pátio do Sequeira, 18115) no âmbito dos trabalhos arqueológicos desenvolvidos du-
rante a execução do Projecto Integrado do Castelo, que previa a reabilitação de um conjunto signifi-
cativo de edifícios daquele bairro, trabalhos que foram cientificamente coordenados por Ana Gomes
e Alexandra Gaspar. Durante essa intervenção os dados colectados referem-se sobretudo a contextos
datados da Idade do Ferro, de que se destaca a documentação de um pavimento empedrado dessa
época, não existindo menção à existência de níveis de Época Romana (Gomes e Gaspar, 2017).
Infelizmente, os contextos desta época registados durante as recentes escavações são de igual
modo praticamente inexistentes, apesar da quantidade assinalável de materiais republicanos e, em
menor medida, do Principado. Desafortunadamente, o expressivo conjunto anfórico deste sítio provém
integralmente de níveis pós-romanos, sobretudo de aterros medievais islâmicos. Paradoxalmente, pre-
servaram-se no local importantes contextos e estruturas da Idade do Ferro, reveladoras da importante
ocupação que durante esse período ali se registou, entretanto publicados (Guerra, 2017).

288
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

O conjunto de ânforas exumado durante a escavação do Largo de Santa Cruz do Castelo é consti-
tuído por um Número Mínimo de 120 Indivíduos, calculado a partir de um total de 287 fragmentos clas-
sificáveis, entre os quais 95 bordos, 46 fundos, 144 asas e duas paredes, uma das quais com vestígios de
pez. Maioritariamente enquadráveis no período Republicano (92,5%), estão presentes 16 tipos distintos
procedentes de sete regiões produtoras.

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana 3 1 0,35% 1 0,83% 50% 50%
Lusitânia, Tejo/Sado Indeterminado 1 0,35% 1 0,83% 50% 50%
Total 2 0,7% 2 1,7% 100% 100%
Bética, Dressel 20 (Nero-Vespasiano) 1 0,35% 1 0,83% 100% 100% 0,85%
Vale do Guadalquivir Total 1 0,35% 1 0,83% 100% 100% 0,85%
Dressel 1 1 0,35% 1 0,83% 3,57% 3,33% 0,85%
Greco-Itálica/Dressel 1 7 2,44% 2 1,67% 7,14% 6,67% 1,71%
T-7.4.3.3. 35 12,2% 19 15,8% 67,86% 63,33% 16,24%
Hispânia Ulterior, T-9.1.1.1. 3 1,05% 3 2,5% 10,71% 10% 2,59%
costa meridional Classe 67/Ovóide 1 1 0,35% 1 0,83% 3,57% 3,33% 0,85%
Ovóide 5 1 0,35% 1 0,83% 3,57% 3,33% 0,85%
Indeterminado 1 0,35% 1 0,83% 100% 100% 0,85%
Total 49 16,72% 28 23,33% 96% 23,95%
T-7.4.3.3. 1 0,35% 1 0,83% 50% 3,33% 0,85%
Hispânia Ulterior,
Ovóide 5 1 0,35% 1 0,83% 50% 3,33% 0,85%
Vale do Guadalquivir
Total 2 0,7% 2 1,67% 100% 197% 1,71%
Greco-Itálica 26 9,06% 23 19,17% 30,26% 27,71% 19,66%
Dressel 1 41 14,29% 39 32,5% 51,3% 46,99% 33,33%
Península Itálica,
Greco-Itálica/Dressel 1 149 51,92% 13 10,83% 17,11% 15,66% 11,11%
costa tirrénica
Dressel 2-4 1 0,35% 1 0,83% 1,32% 1,2% 0,85%
Total 217 75,61% 76 63,33% 100% 64,96%
Greco-Itálica 8 2,79% 5 4,17% 71,43% 6,02% 4,27%
Península Itálica, Lamboglia 2 2 0,7% 1 0,83% 14,29% 1,2% 0,85%
costa adriática Brindisi 1 0,35% 1 0,83% 14,29% 1,2% 0,85%
Total 11 3,83% 7 5,83% 100% 100% 5,98%
Africana Antiga 2 0,7% 2 1,67% 100% 100% 1,71%
Norte de África
Total 2 0,7% 2 1,67% 100% 100% 1,71%
Cretense 4/Dressel 43 1 0,35% 1 0,83% 100% 100% 0,85%
Mediterrâneo Oriental
Total 1 0,35% 1 0,83% 100% 100% 0,85%
Indeterminado 2 0,7% 1 0,83% 100% 100%
Indeterminada
Total 2 0,7% 1 0,83% 100% 100%
TOTAL 287 100% 120 100% 100%

Tabela 125 – Quantificação da totalidade das ânforas do Largo de Santa Cruz do Castelo.

A amostra republicana (113 NMI) constitui-se como o segundo maior conjunto dessa época estu-
dado no âmbito deste trabalho, no que se poderá considerar uma amostra de “fiabilidade suficiente”
(Molina Vidal, 1997). Em termos gerais, apresenta um perfil que se enquadra sobretudo na fase mais
antiga da presença romana em Olisipo, sobressaindo maioritariamente as Greco-Itálicas e as produções
comercializadas desde o séc. II a.C. estendendo-se pela centúria seguinte, e de forma minoritária os
envases cujo fabrico e difusão se processa a partir do segundo quartel ou de meados do séc. I a.C., no-
meadamente as produções ovóides da Ulterior.
Na análise à origem dos contentores, observa-se a preponderância das produções da costa tirréni-
ca da Península Itálica, significando 66,37% dos materiais republicanos, unicamente representados pelas
Greco-Itálicas (20,35%) e Dressel 1 (34,51%), com o habitual predomínio desta última (52% dos envases
tirrénicos), e uma importante percentagem de indivíduos indistintamente classificados como Greco-Itá-
licas/Dressel 1 (11,5%). Uma tão elevada percentagem das produções desta região na amostra deste sítio
deverá relacionar-se directamente com o perfil antigo da mesma, característico da área da antiga Alcáço-
va islâmica (Pimenta, 2005), não se observando, todavia, situação similar no quadro global da cidade

289
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

para a fase republicana (49,39%), onde as produções da segunda metade do séc. I a.C. adquirem um
peso um pouco mais significativo. Embora as variantes de Dressel 1 correspondam maioritariamente às
chamadas Dressel 1A e Dressel 1 de transição, dever-se-á sublinhar a presença relativamente significativa
das designadas Dressel 1C, até agora escassamente documentadas no Castelo de São Jorge. Em relação
às Greco-Itálicas, embora uma parte substantiva se enquadre formalmente no tipo de perfis típico da
fase final da sua produção e de transição para a Dressel 1, registaram-se alguns exemplares evidenciando
características de modelos mais antigos, ostentando bordos com menor inclinação externa, de que os
melhores exemplos serão as peças nº 240 e 252 para as produções adriáticas e a 107 para as tirrénicas.
Já as ânforas de fabrico adriático adquirem um carácter claramente minoritário (6,19%), ainda
que se superiorizem às do Norte de África e do Vale do Guadalquivir. Daquelas, destacam-se as Greco-
-Itálicas, estando ainda presentes as Lamboglia 2 e as ânforas brindisinas com um indivíduo cada, ambas
representadas apenas por fragmentos de fundo e asa.
A costa meridional da Hispânia Ulterior constitui-se como a segunda região produtora mais im-
portante na amostra deste sítio (23,89%), sendo representada principalmente pelo abastecimento de
produtos piscícolas transportados nas T-7.4.3.3. (70,37% dos envases dessa zona) e, em menor escala,
nas T-9.1.1.1. (11,11%), Dressel 1 (1 NMI = 3,7%) e, eventualmente, nas Greco-Itálicas. Concretamente em
relação a este último tipo, refira-se que, no conjunto de todos os sítios estudados neste trabalho, não foi
identificado qualquer bordo com fabrico atribuível ao litoral Sul da Ulterior, contrariamente ao que se
verifica na publicação dos dados do Castelo de São Jorge onde aquelas atingem percentagens na ordem
dos 6% (Pimenta, 2005, Quadro 12). Em sentido inverso, a proporção de Greco-Itálicas da costa adriática
é muito superior na amostra que aqui se analisa. No Largo de Santa Cruz do Castelo registaram-se, para
além de algumas asas, dois fragmentos de fundo de fabrico atribuível àquela região costeira da Ulterior
indistintamente classificados como Greco-Itálica/Dressel 1, correspondendo aos únicos testemunhos da
eventual presença dessas imitações hispânicas neste conjunto. Para além das já referidas, completam
o quadro das ânforas republicanas daquela região dois tipos de forma ovóide produzidas a partir do se-
gundo quartel do séc. I a.C., a Classe 67/Ovóide 1 e a Ovóide 5, que merecem um apontamento especial.
A primeira, embora já conhecida em Lisboa (Pimenta, 2005; Pimenta, 2007; Filipe, 2008a; Filipe,
2015), surge aqui pela primeira vez com um fabrico da área costeira, o que, embora não seja surpreen-
dente uma vez que já havia sido detectada em Scallabis (Arruda et al., 2005), constitui-se como uma
novidade.

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Dressel 1 1 0,36% 1 0,88% 3,7% 3,45% 0,88%
Greco-Itálica/Dressel 1 7 2,51% 2 1,77% 7,41% 6,9% 1,74%
T-7.4.3.3. 35 12,54% 19 16,81% 70,37% 65,52% 16,81%
Hispânia Ulterior,
T-9.1.1.1. 3 1,08% 3 2,65% 11,11% 10,34% 2,65%
costa meridional
Classe 67/Ovóide 1 1 0,36% 1 0,88% 3,7% 3,45% 0,88%
Ovóide 5 1 0,36% 1 0,88% 3,7% 3,45% 0,88%
Total 48 17,2% 27 23,89% 100% 23,86%
T-7.4.3.3. 1 0,36% 1 0,88% 50% 3,45% 0,88%
Hispânia Ulterior,
Ovóide 5 1 0,36% 1 0,88% 50% 3,45% 0,88%
Vale do Guadalquivir
Total 2 0,72% 2 1,77% 100% 100% 1,77%
Greco-Itálica 26 9,32% 23 20,35% 30,7% 28,05% 20,35%
Península Itálica, Dressel 1 41 14,7% 39 34,51% 52,0% 47,56% 34,51%
costa tirrénica Greco-Itálica/Dressel 1 149 53,41% 13 11,5% 17% 16% 11,5%
Total 216 77,42% 75 66,37% 100% 66,37%
Greco-Itálica 8 2,87% 5 4,42% 71,43% 6,10% 4,42%
Península Itálica, Lamboglia 2 2 0,72% 1 0,88% 14,29% 1,22% 0,88%
costa adriática Brindisi 1 0,36% 1 0,88% 14,29% 1,22% 0,88%
Total 11 3,94% 7 6,19% 100% 100% 6,19%
Africana Antiga 2 0,72% 2 1,77% 100% 100% 1,77%
Norte de África
Total 2 0,72% 2 1,77% 100% 100% 1,77%
TOTAL 279 100% 113 100% 100%

Tabela 126 – Quantificação das ânforas republicanas do Largo de Santa Cruz do Castelo.

290
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

252

196
240

63

107

83
99

247
172

256

197
101

279

208

147

62
16

169
246
10cm

Estampa 140 – Largo de Santa Cruz do Castelo. Península Itálica, costa adriática: Greco-Itálica (196, 240, 252,
279). Península Itálica, costa tirrénica: Greco-Itálica (todas as restantes).

291
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

283
287
210

207 249

112

148 159

257

99

162
161

277

258

160
9

254

284

81

285

213
10 248 10cm

Estampa 141 – Largo de Santa Cruz do Castelo. Península Itálica, costa tirrénica: Dressel 1.

292
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

115
223

22
224

129

86

268

276

130

48

269

80
23

251

75

185 204 10cm

Estampa 142 – Largo de Santa Cruz do Castelo. Península Itálica, costa tirrénica: Greco-Itálica? (204), Dressel 1
(115), Greco-Itálicas/Dressel 1 (todas as restantes).

293
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

288

286
99
150 273

53
227

145 214

106
77

158 281
144

239

98

202

200

11

156
228

14 226

274
135 78 280 10cm

Estampa 143 – Largo de Santa Cruz do Castelo. Península Itálica, costa tirrénica: Dressel 2-4 (150). Península Itálica,
costa adriática: Lamboglia 2? (99), Ânfora de Brindisi (286). Norte de África: Africana Antiga (288, 273). Ulterior,
costa meridional: T-7.4.3.3. (227, 53, 145, 77, 156, 158, 239, 144, 202, 214, 106, 281, 98), T-9.1.1.1. (200, 228,
11). Greco-Itálica/Dressel 1 (135), Classe 67/Ovóide 1 (280), Ovóide 5 (14). Ulterior/Bética, Vale do Guadalquivir:
Ovóide 5 (78), Dressel 20 Nero-Vespasiano (274). Mediterrâneo oriental: Cretense 4 (226).

294
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

Em relação à Ovóide 5 é de realçar que este exemplar apresenta um fabrico claramente imputável
à área costeira de Málaga, contrariamente à generalidade dos contentores deste tipo conhecidos e pu-
blicados no Ocidente hispânico e inclusivamente aos documentados em Olisipo durante este trabalho,
todos eles atribuíveis ao Vale do Guadalquivir.
As produções desta última região (1,77%) estão representadas precisamente por um exemplar
de Ovóide 5 e por um outro de tipo T-7.4.3.3., acerca do qual se poderá, em sentido inverso, referir o
mesmo que se disse em relação à Ovóide 5 costeira. As T-7.4.3.3. de fabrico costeiro estão densamente
documentadas em toda a fachada atlântica e particularmente em Lisboa. No entanto, as variantes des-
se tipo produzidas no Vale do Guadalquivir são raras e até agora desconhecidas em Olisipo, estando,
contudo, já documentadas em Santarém (Almeida, 2008).
Por fim, as produções norte-africanas, claramente minoritárias (1,77%), marcam presença com
as designadas Africana Antiga das quais se exumaram dois indivíduos, estando ausentes as T-7.4.2.1./
T-7.4.3.1..
Relativamente aos produtos comercializados durante a fase republicana, o panorama é nitida-
mente dominado pelo vinho (71,68%), exclusivamente proveniente da Península Itálica, particularmente
da costa tirrénica (92,59% desse artigo) e em menor escala da adriática (7,41%). A Dressel 1 representa
48,15% da importação desse produto enquanto a Greco-Itálica significa 34,57%, repartindo-se por 28,4%
com origem na costa tirrénica e 6,17% na adriática. Tendo em consideração o curto lapso temporal em
que aquele último tipo foi comercializado no extremo ocidental da Península Ibérica, que não terá sido
muito superior a um decénio, não restarão dúvidas que nesses primeiros anos da presença romana no
estuário do Tejo as Greco-Itálicas terão desempenhado o mais importante papel no abastecimento de
vinho aos contingentes militares. Resta mencionar a presença minoritária de um outro contentor viná-
rio produzido na costa adriática, a Lamboglia 2, cuja representação não ultrapassa os 0,88%.

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Dressel 1 1 0,88% 4% 3,85% 3,85%
Greco-Itálica/Dressel 1 2 1,77% 8% 7,69% 7,69%
Hispânia Ulterior,
T-7.4.3.3. 19 16,81% 76% 73,08% 73,08%
Preparados
piscícolas

costa meridional
T-9.1.1.1. 3 2,65% 12% 11,54% 11,54%
Total 25 22,12% 100% 96,15%
Hispânia Ulterior, T-7.4.3.3. 1 0,88% 100% 3,85% 3,85%
Vale do Guadalquivir Total 1 0,88% 100% 100% 3,85%
Total 26 23,01% 100%
Greco-Itálica 23 20,35% 30,67% 28,4% 28,4%
Península Itálica, Dressel 1 39 34,51% 52% 48,15% 48,15%
costa tirrénica Greco-Itálica/Dressel 1 13 11,5% 17,33% 16,05% 16,05%
derivados
Vinho e

Total 75 66,37% 100% 92,59%


Greco-Itálica 5 4,42% 83,33% 6,17% 6,17%
Península Itálica,
Lamboglia 2 1 0,88% 16,67% 1,23% 1,23%
costa adriática
Total 6 5,31% 100% 100% 7,41%
Total 81 71,68% 100%
Classe 67/Ovóide 1 1 0,88% 50% 33,33% 16,67%
Hispânia Ulterior,
Ovóide 5 1 0,88% 50% 33,33% 16,67%
costa meridional
Total 2 1,77% 100% 33,33%
Hispânia Ulterior, Ovóide 5 1 0,88% 100% 33,33% 16,67%
Vale do Guadalquivir
Azeite

Total 1 0,88% 100% 100% 16,67%


Península Itálica, Brindisi 1 0,88% 100% 100% 16,67%
costa adriática Total 1 0,88% 100% 100% 16,67%
Africana Antiga 2 1,77% 100% 100% 33,33%
Norte de África
Total 2 1,77% 100% 100% 33,33%
Total 6 5,31% 100%
TOTAL 113 100%

Tabela 127 – Quantificação por conteúdo das ânforas republicanas do Largo de Santa Cruz do Castelo.

295
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Os preparados piscícolas constituem-se como o segundo produto mais importado em contento-


res anfóricos (23,01%), neste caso oriundos unicamente da costa meridional (96,15% desse produto) e do
Vale do Guadalquivir (3,85%) na província hispânica da Ulterior. No âmbito dos contentores piscícolas a
supremacia da T-7.4.3.3. é absoluta (76,92% no total: costa, 73,08%; Guadalquivir, 3,85%), algo que não
foge muito dos valores habituais para esta fase no Ocidente já que este tipo é o grande representante
do comércio dos produtos à base de peixe produzidos na região meridional da Ulterior. A T-9.1.1.1.,
ainda que minoritária, assume-se como o segundo tipo mais importante na comercialização daquele
produto (11,54%), embora a Dressel 1 (3,85%) possa apresentar proporção idêntica se se considerar a
possibilidade das peças indistintamente classificadas como Greco-Itálica/Dressel 1 (7,69%) corresponde-
rem efectivamente a envases do tipo Dressel 1.
O já mencionado perfil antigo da amostra estará directamente relacionado com a escassa im-
portância do comércio de azeite verificável no conjunto (5,31%) onde, ainda assim, 50% desse produto
terá chegado já a partir do segundo quartel do séc. I a.C. envasado em contentores ovóides da área
meridional hispânica. A maior fatia das ânforas oleícolas do Largo de Santa Cruz é repartida pelas Classe
67/Ovóide 1 e Ovóide 5 da costa Sul da Ulterior (33,33%) e pelas Africanas Antigas (33,33%) oriundas do
Norte de África. O azeite adriático, representado pelas ânforas de Brindisi, significa apenas 16,67%, à
semelhança do procedente do Vale do Guadalquivir, envasado nas Ovóide 5.
Em termos gerais, o quadro de consumo evidenciado pela amostra do Largo de Santa Cruz en-
quadra-se no perfil característico da área da antiga alcáçova (Pimenta, 2005), afastando-se do que se
verifica na vertente Sul, particularmente evidenciado pelo conjunto da Sé (v. supra).
Embora de forma meramente vestigial, a identificação de contentores alto-imperiais neste local
é particularmente interessante. Por um lado, a já mencionada escassez de materiais dessa época no
espaço da alcáçova sublinha a importância da sua identificação na intervenção do Largo de Santa Cruz
do Castelo. A proximidade deste sítio relativamente ao Grupo Desportivo do Castelo (v. supra), onde
se registou a presença de uma estrutura dessa época, enfatiza ainda mais essa importância sugerindo,
simultaneamente, uma relação directa com a utilização daquele edifício imperial de que se desconhece
a funcionalidade mas cujo carácter monumental terá levado os responsáveis pela intervenção a consi-
derar a hipótese de se tratar de um edifício de carácter público (Silva, 2012a). Por outro lado, é interes-
sante verificar que, com excepção de uma asa de Dressel 20 com marca de oleiro (v. infra), os restantes
contentores destinavam-se ao transporte de vinho: Lusitana 3, Dressel 2-4 itálica e Cretense 4/Dressel
43. Destes, talvez o último se possa considerar o mais interessante na medida em que a sua ocorrência
em Lisboa era totalmente desconhecida até aqui, embora no trabalho que aqui se apresenta se tenha
também reconhecido uma outra ânfora deste tipo na Rua dos Bacalhoeiros.

5.38. Praça Nova (anexo I.38)

A intervenção arqueológica realizada na Praça Nova, Castelo de São Jorge, surgiu no âmbito
da intenção de construir um parque de estacionamento subterrâneo naquele local durante a segunda
metade dos anos 90 do século passado (Gaspar e Gomes, 2001). A escavação em área, cientificamente
coordenada por Ana Gomes e Alexandra Gaspar, viria a revelar importantes vestígios arqueológicos,
testemunhando uma diacronia de ocupação que se estende desde o séc. VII a.C. até aos nossos dias.
Com uma potência estratigráfica que chega a atingir 7 m, são especialmente importantes os contextos
relativos às ocupações da Idade do Ferro, do período romano republicano e das épocas Islâmica, Me-
dieval e Moderna (Gaspar e Gomes, 2001; Pimenta, 2005).
Relativamente à Época Romana, os dados coligidos na Praça Nova circunscrevem-se à fase re-
publicana, com uma cronologia centrada no terceiro quartel do séc. II a.C., muito provavelmente entre
140-130 a.C. (Pimenta, 2005, p. 47). A associação de um vasto conjunto artefactual, composto por ce-
râmica de verniz negro, sobretudo campaniense A, Kalathoi ibéricos, lucernas de influência helenística
e ânforas Greco-Itálicas, Dressel 1, brindisinas, T-7.4.3.3., T-9.1.1.1., T-4.2.2.5. e imitações hispânicas de

296
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

modelos itálicos, permite sustentar de forma sólida a cronologia proposta. Menos claro parece ser o
tipo de ocupação que aquela área terá tido nesse lapso temporal. As estruturas documentadas resu-
mem-se, por um lado, a fossas detríticas reveladoras de preocupações de índole higiénica, por outro, a
pequenos trechos de muros dos quais se desconhece a funcionalidade. Embora a informação seja pou-
co clara no que se refere ao tipo de utilização, os dados cronológicos remetem necessariamente para
o contexto da campanha militar empreendida pelo procônsul Décimo Júnio Bruto em 138 a.C. o que,
pese embora a ausência da documentação de elementos de cariz claramente militar, poderá indiciar a
instalação naquela área de um destacamento militar durante esse período (Pimenta, 2014).
O conjunto anfórico proveniente das escavações realizadas na Praça Nova que aqui se analisa
é essencialmente constituído por materiais descontextualizados, recolhidos durante a campanha de
2007. Para além destes, fazem também parte da pequena amostra alguns fragmentos das campanhas
de 1998 e de 2003 que não foram incluídos no estudo que João Pimenta dedicou às ânforas do Caste-
lo de São Jorge (Pimenta, 2005), para além de alguns com proveniência estratigráfica desconhecida.
Trata-se de um conjunto de pequena dimensão e, consequentemente, de escassa fiabilidade estatística,
maioritariamente composto por bordos, com um total de 39 fragmentos diagnosticáveis de ânfora (35
bordos e quatro fundos) e um Número Mínimo de 38 Indivíduos. Ainda assim, estão presentes as princi-
pais áreas produtoras que abasteciam o Ocidente durante a fase final da República e seis tipos distintos,
verificando-se a ausência de ânforas imperiais.
As produções tirrénicas da Península Itálica dominam amplamente o panorama, significando
68,42% da amostra e sendo representadas em proporções similares (cada, 34,21% do NMI) pelas Greco-
-Itálicas e pelas Dressel 1. Da costa adriática (7,89% do NMI) estão presentes as Lamboglia 2, que signi-
ficam 10,34% das importações itálicas, verificando-se a ausência dos contentores oleícolas da Apúlia. A
costa meridional da Hispania Ulterior representa apenas 10,53% do conjunto, estando atestados os tipos
T-7.4.3.3. (75% dos envases dessa região) e T-9.1.1.1. (25%). Do Norte de África procedem as Africanas
Antigas, significando 5,26% da amostra. Refira-se ainda a existência de três fundos de tipo e procedência
desconhecidos (7,89% do NMI).
A escassa representatividade do conjunto fica bem patente neste perfil de importação, exibin-
do proporções pouco usuais para os sítios republicanos do Ocidente. Por um lado, observa-se uma
sobrerrepresentação das produções tirrénicas e, entre estas, uma pouco usual equivalência entre as
Greco-Itálicas e as Dressel 1. Por outro, a ausência das ânforas brindisinas e a presença de Lamboglia 2
em proporções mais altas do que habitualmente se observa. A título de exemplo, no amplo conjunto
republicano do Castelo de São Jorge já publicado, apenas se documentaram dois indivíduos deste últi-
mo tipo num universo de 501 indivíduos (Pimenta, 2005, Quadro 12), enquanto na amostra que agora
se analisa se verificam três indivíduos. Por outro lado, os contentores da costa meridional da Ulterior
apresentam valores significativamente inferiores aos do mencionado trabalho e dos dados globais da
cidade.

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
T-7.4.3.3. 3 7,69% 3 7,89% 75% 75% 8,57%
Hispânia Ulterior,
T-9.1.1.1. 1 2,56% 1 2,63% 25% 25% 2,86%
costa meridional
Total 4 10,26% 4 10,53% 100% 100% 11,43%
Greco-Itálica 13 33,33% 13 34,21% 50% 44,83% 37,14%
Península Itálica,
Dressel 1 13 33,33% 13 34,21% 50% 44,83% 37,14%
costa tirrénica
Total 26 66,67% 26 68,42% 100% 74,29%
Península Itálica, Lamboglia 2 3 7,69% 3 7,89% 100% 10,34% 8,57%
costa adriática Total 3 7,69% 3 7,89% 100% 100,0% 8,57%
Africana Antiga 3 7,69% 2 5,26% 100% 100% 5,71%
Norte de África
Total 3 7,69% 2 5,26% 100% 100% 5,71%
Indeterminado 3 7,69% 3 7,89% 100% 100%
Indeterminada
Total 3 7,69% 3 7,89% 100% 100%
TOTAL 39 100% 38 100% 100%

Tabela 128 – Quantificação da totalidade das ânforas da Praça Nova.

297
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

30036
30019

30009

30013

30035
30032

30018

30014
30041

30008

30004
30037

30028

30022

30023

30026
30034

30038
30017

30031 30025 30027


10cm

Estampa 144 – Praça Nova. Ulterior, costa meridional: T-7.4.3.3. (30036, 30009), T-9.1.1.1. (30019). Península Itálica,
costa tirrénica: Greco-Itálica (30032, 30035, 30013, 30018), Dressel 1 (30041, 30014, 30037, 30008, 30028, 30004,
30023, 30022, 30026). Península Itálica, costa adriática: Lamboglia 2 (30034(?), 30017, 30038). Norte de África:
Africana Antiga (30025, 30027, 30031).

298
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Hispânia Ulterior, T-7.4.3.3. 3 8,57% 75% 75% 75%
Preparados costa meridional T-9.1.1.1. 1 2,86% 25% 25% 25%
piscícolas Total 4 11,43% 100% 100% 100%
Total 4 11,43% 100%
Greco-Itálica 13 37,14% 50% 44,83% 44,8%
Península Itálica, costa tirrénica Dressel 1 13 37,14% 50% 44,83% 44,83%
Vinho e Total 26 74,29% 100% 89,66%
derivados Península Itálica, costa adriática Lamboglia 2 3 8,57% 100% 10,34% 10,34%
Total 3 8,57% 100% 100% 10,34%
Total 29 82,86% 100%
Norte de África Africana Antiga 2 5,71% 100% 100% 100%
Azeite Total 2 5,71% 100% 100% 100%
Total 2 5,71% 100%
TOTAL 35 100%

Tabela 129 – Quantificação por conteúdo das ânforas republicanas da Praça Nova.

Estas inconsistências são, como seria de esperar, igualmente verificáveis nas proporções dos
artigos alimentares importados. Se o consumo de vinho surge claramente inflacionado (82,86%), be-
neficiando da sobrerrepresentação das ânforas tirrénicas e adriáticas, a importação de preparados pis-
cícolas (11,43%) apresenta valores significativamente inferiores aos que habitualmente se observam. O
azeite (5,71%) está representado apenas pelas Africanas Antigas, atingindo, ainda assim, percentagens
algo superiores às que normalmente se verificam em conjuntos com perfil enquadrável no séc. II a.C.,
como é o caso.

5.39. Rua dos Remédios, 1-3 (anexo I.39)

A intervenção arqueológica realizada na Rua dos Remédios, nº 1-3, foi coordenada por Anabela
Castro, inserindo-se no contexto da reabilitação do edifício aí implantado, tendo a primeira fase dos
trabalhos decorrido entre o final de 2014 e o início de 2015, e a segunda entre o final de 2015 e o início
de 2016. O sítio localiza-se a oriente da área muralhada de Olisipo, próximo da via romana que partia da
Porta de Alfama, numa zona baixa da cidade, junto à margem do Tejo.
Durante a escavação foram registados importantes vestígios arqueológicos, sendo particular-
mente expressivos os que se enquadram nas épocas Islâmica, Medieval cristã e Moderna. Do período
romano documentaram-se apenas duas realidades, bem circunscritas no espaço intervencionado. Por
um lado, uma estrutura de funcionalidade indeterminada e preservada apenas ao nível do alicerce,
sobre a qual veio a assentar a parede Este que delimita o edifício. Por outro, um conjunto de depósitos
que preenchia uma depressão no substrato rochoso, interpretados como resultantes de descartes
domésticos (comunicação pessoal de Anabela Castro, a quem se agradece). É deste contexto que pro-
vém a quase totalidade dos contentores anfóricos que aqui se analisam. Os materiais aí exumados,
onde se inclui também terra sigillata, lucernas, cerâmica comum, vidro e fauna mamalógica, remetem
para uma formação em torno aos meados do séc. I d.C.. Do conjunto anfórico analisado, apenas um
bordo de Haltern 70 do Vale do Guadalquivir e um outro de Lusitana 3 foram recolhidos em contextos
de formação pós-romana, neste caso medieval, provindo as restantes peças dos mencionados níveis
de descarte.
Em 2005-2006 haviam já sido realizados trabalhos de escavação neste local e no edifício contíguo
(nº 5-9), igualmente no âmbito da arqueologia preventiva, tendo então sido dirigidos por Rodrigo Banha
da Silva do extinto Serviço de Arqueologia do Museu da Cidade, actual Centro de Arqueologia de Lisboa.

299
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

3
2
1

10
6

10cm 8

10cm
7

Estampa 145 – Rua dos Remédios, 1-3. Lusitânia: Haltern 70 lusitana (1), Lusitana Antiga (2, 3). Bética, Vale do
Guadalquivir: Haltern 70 (10, 6), Haltern 71 (7 e 8). Tarraconense, costa setentrional: Indeterminado (5). Península
Itálica, costa tirrénica: Dressel 2-4 (4).

300
Capítulo 5 Intervenções, contextos arqueológicos e conjuntos anfóricos

Os resultados dessas intervenções foram dados a conhecer em publicações recentes onde se


divulgam os contextos e materiais de Época Romana, incluindo as ânforas (Silva, 2015a; Silva et al.,
2016; Silva, no prelo). Genericamente, foi documentada uma depressão no substrato rochoso, colma-
tada com uma sequência de depósitos interpretados como resultado de um descarte doméstico. O
importante acervo artefactual aí recuperado remete para uma formação centrada no reinado de Cláu-
dio, ainda que os elementos materiais recuem à Época de Augusto (Silva, 2015a; Silva et al., 2016; Sil-
va, no prelo). Quanto às ânforas, o conjunto é bastante coerente com o da intervenção de 2015-2016,
complementando-o, observando-se em traços gerais as mesmas proporções entre regiões produtoras
e produtos comercializados.
Trata-se de um conjunto de pequena dimensão e escassa fiabilidade estatística, com apenas 12 peças
diagnosticáveis (oito bordos, um fundo e três asas), incluindo um exemplar de perfil completo, o que
equivale a um Número Mínimo de 9 Indivíduos. Registam-se quatro regiões produtoras e seis tipos dis-
tintos, todos enquadráveis no Principado, a que haverá que acrescentar uma forma indeterminada com
origem na costa setentrional da Tarraconense.
Relativamente a esta peça, de difícil atribuição tipológica, de que se conserva parte do bordo e
do colo e em cujo fabrico são visíveis micas douradas, poderá corresponder a uma Dressel 1 tarraconen-
se de pequena dimensão, características das produções tardias, ou a um tipo ovóide, eventualmente a
Tarraconense 1 (Járrega Dominguez, 2016, p. 55-65). De qualquer modo, tendo em conta que provém
de um contexto estratigráfico fechado e de cronologia centrada em meados do séc. I d.C. onde a resi-
dualidade parece ser escassa, haverá que considerar a hipótese de se tratar de outra forma produzida
na Tarraconense durante o séc. I d.C..
Numa análise à origem das ânforas desta amostra, sobressai a hegemonia das produções do Vale
do Guadalquivir (44,44% do NMI), unicamente representadas pelas Haltern 71 (50% dos envases dessa
área) e pelas Haltern 70 (50%), sendo que um dos exemplares deste último tipo corresponde a uma va-
riante atribuível a Cláudio-Nero. Já as Haltern 71, para além de um fragmento de fundo, foi identificado
um exemplar inteiramente reconstituível, ainda que o seu estado de conservação não tenha permiti-
do a sua integral reconstituição - algo que apenas trabalhos de restauro com preenchimento das jun-
tas poderá permitir -, ao contrário do seu desenho. As produções locais/regionais significam 33,33% da
amostra, sendo representadas por um bordo de Lusitana Antiga, um de Haltern 70 lusitana e um outro
de Lusitana 3. De forma minoritária, estão ainda presentes contentores originários da costa tirrénica
da Península Itálica (11,11% do NMI), um bordo de Dressel 2-4, e da costa setentrional da Tarraconensis
(11,11%), de onde provém a já aludida peça de difícil atribuição tipológica.
No que se refere aos produtos comercializados por estes envases, as percentagens que se po-
dem observar ilustram de forma clara a questão da fiabilidade estatística dos conjuntos de pequena di-
mensão. O consumo de preparados piscícolas não ultrapassa os 12,5%, enquanto o azeite chega aos 25%.
O primeiro artigo provém unicamente do Vale do Tejo ou Sado, sendo representado pelas Lusitanas

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 3 25% 1 11,11% 33,33% 33,33%
Haltern 70 1 8,33% 1 11,11% 33,33% 33,33%
Lusitânia, Tejo/Sado
Lusitana 3 1 8,33% 1 11,11% 33,33% 33,33%
Total 5 41,7% 3 33,33% 100% 100%
Haltern 71 2 16,67% 2 22,22% 50% 50% 33,33%
Haltern 70 2 16,67% 1 11,11% 25% 25% 16,67%
Bética, Vale do Guadalquivir
Haltern 70 (Cláudio-Nero) 1 8,33% 1 11,11% 25% 25% 16,67%
Total 5 41,67% 4 44,44% 100% 100% 66,67%
Tarraconense, Indeterminado 1 8,33% 1 11,11% 100% 100% 16,67%
costa setentrional Total 1 8,33% 1 11,11% 100% 100% 16,67%
Península Itálica, Dressel 2-4 1 8,33% 1 11,11% 100% 100% 16,67%
costa tirrénica Total 1 8,33% 1 11,11% 100% 100% 16,67%
TOTAL 12 100% 9 100% 100%

Tabela 130 – Quantificação da totalidade das ânforas da Rua dos Remédios.

301
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Antigas, enquanto o azeite procede de forma igualmente exclusiva do Vale do Guadalquivir. Já o vinho
(50% do NMI) era maioritariamente importado desta última região (50% desse produto), onde era en-
vasado nas Haltern 70, e de forma menos expressiva nas Dressel 2-4 da costa tirrénica itálica (25%) e do
Vale do Tejo ou Sado (25%).

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Lusitana Antiga 1 12,5% 100% 100% 100%
Preparados Lusitânia, Tejo/Sado
Total 1 12,5% 100% 100% 100%
piscícolas
Total 1 12,5% 100%
Lusitana 3 1 12,5% 100% 100% 25%
Lusitânia, Tejo/Sado
Total 1 12,5% 100% 100% 25%
Haltern 70 1 12,5% 50% 50% 25%
Vinho e Bética, Vale do Guadalquivir Haltern 70 (Cláudio-Nero) 1 12,5% 50% 50% 25%
derivados Total 2 25% 100% 100% 50%
Dressel 2-4 1 12,5% 100% 100% 25%
Península Itálica, costa tirrénica
Total 1 12,5% 100% 100% 25%
Total 4 50% 100%
Haltern 71 2 25% 100% 100% 100%
Bética, Vale do Guadalquivir
Azeite Total 2 25% 100% 100% 100%
Total 2 25% 100%
Haltern 70 1 12,5% 100% 100% 100%
Lusitânia, Tejo/Sado
Indet. Total 1 12,5% 100% 100% 100%
Total 1 12,5% 100%
TOTAL 8 100%

Tabela 131 – Quantificação por conteúdo das ânforas do Principado da Rua dos Remédios.

Pouco mais se poderá adiantar sobre esta pequena amostra, cuja principal característica parece
ser a sua coerência cronológica, com excepção do exemplar de Lusitana 3, aliás, recolhido em contexto
medieval. Um outro aspecto que merece ser realçado é a presença de um exemplar de Haltern 71 frag-
mentado mas de perfil completo reconstituível, caso único na cidade de Lisboa.

302
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

6.
ÂNFORAS DOCUMENTADAS EM OLISIPO

6.1. República

6.1.1. Hispania Ulterior

6.1.1.1. Produções locais/regionais de tradição pré-romana - Tipo 6

O conhecimento sobre o fabrico de ânforas durante a Idade do Ferro no actual espaço português
conheceu nos últimos anos um importante desenvolvimento (Diogo et al., 1990; Fabião, 1998; Antunes,
2009; Arruda et al., 2006b; Filipe, 2010; Bargão e Arruda, 2014), particularmente no que se refere à área
do Vale do Tejo, que aqui directamente interessa (Arruda, 2002; Pimenta, 2005; Sousa, 2011; Sousa e
Pimenta, 2014; Arruda et al., 2017). A sua produção nesta última região foi inicialmente sugerida por
Ana Margarida Arruda com base em alguns materiais da Alcáçova de Santarém (Arruda, 2002, p. 211),
proposta que se viria sucessivamente a confirmar, com particular importância em sítios como o Caste-
lo de São Jorge (Pimenta, 2005, p. 92) e a Rua dos Correeiros, em Lisboa (Sousa, 2011, p. 102-103), e a
Quinta da Marquesa II na área de Vila Franca de Xira (Pimenta e Mendes, 2010-2011, p. 606). O avolumar
de informação viria a propiciar o aparecimento de uma proposta tipológica onde são considerados sete
tipos (Sousa e Pimenta, 2014), existindo então já um primeiro quadro tipológico para o conjunto da Rua
dos Correeiros (Sousa, 2011, p. 106-127).
Em termos gerais, trata-se de ânforas com uma considerável diversidade formal cuja produção se
terá iniciado no séc. VIII/VII a.C. e perdurado até aos alvores da romanização (Sousa e Pimenta, 2014),
encontrando-se o seu estudo ainda num estado bastante incipiente. Os exemplares reconhecidos

Castelo

100km

Produções locais/regionais de tradição pré-romana.


Figura 8 – Produções locais/regionais
Difusão de tradição
no território português: Santarém,pré-romana
Cabeço Guião, -Alto
Tipo 6.
do Castelo, Eira da Alorna, Alto dos
Cacos,
Difusão no território Porto do Sabugueiro,
português: Santarém,Castanheira
Cabeço do Guião,
Ribatejo, Alto
Lisboa,do
Moinhos da Atalaia,
Castelo, Quinta
Eira da da Torre.
Alorna, Alto dos Cacos, Porto
do Sabugueiro, Castanheira do Ribatejo, Lisboa, Moinhos da Atalaia, Quinta da Torre.

303
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

neste trabalho parecem enquadrar-se no Tipo 6 de E. Sousa e J. Pimenta (2014), caracterizado por bor-
dos curtos, que se constituem como o prolongamento da parede do ombro, do qual se destacam atra-
vés de um espessamento externo ou interno, podendo apresentar um pequeno ressalto, e diâmetros
entre os 12 e os 16 cm. Os ombros parecem ser mais descaídos nos exemplares mais antigos e com
maior tendência à horizontalidade nos mais recentes. Embora não se conheça qualquer exemplar com-
pleto, à semelhança, aliás, dos restantes tipos, tem sido associado a um corpo cilíndrico e de dimensão
considerável (Sousa e Pimenta, 2014, p. 308-311).
As ocorrências mais antigas do mencionado Tipo 6 datam dos meados do Iº milénio a.C., estando
atestado em contextos dessa época na Rua dos Correeiros (Sousa, 2011), surgindo em níveis do séc. III
a.C. na Rua de São João da Praça (Pimenta et al., 2005) e já da segunda metade do séc. II a.C. no Castelo
de São Jorge, neste caso associados a materiais republicanos (Pimenta, 2005). Tendo em conta a dia-
cronia de produção desta forma (bem como dos tipos 2 e 7), optou-se neste trabalho por incluir apenas
as peças que provinham de contextos republicanos, colocando-se de parte aquelas que foram recupe-
radas em estratigrafia anterior à presença romana ou em níveis imperiais e pós-romanos.
O já referido estado incipiente da investigação sobre este tipo ânforas é particularmente obser-
vável na ausência de dados relativamente aos conteúdos que se destinariam a transportar bem como
dos centros oleiros onde terão sido produzidas. Em relação a este último tema, as escassas evidências
resumem-se à identificação, na Quinta da Marquesa II, de fragmentos anfóricos deformados enquadrá-
veis no Tipo 1 e associados a prismas cerâmicos, indiciando a provável existência de um centro oleiro
em fase precoce no local (Pimenta e Mendes, 2010-2011). Já na Rua dos Correeiros, o forno de pequena
dimensão identificado nos níveis da Idade do Ferro, presumivelmente destinado à produção cerâmica,
tem sido apontado como um possível indício da existência de estruturas análogas e de maiores dimen-
sões nas imediações, destinadas ao fabrico de ânforas (Sousa, 2011). Esta hipótese é, a meu ver, reforça-
da pela quase total ausência de ânforas com origem exógena - as produções locais/regionais represen-
tam 99,64% dos contentores anfóricos -, cenário característico dos centros oleiros e contrário ao que se
verifica na encosta Sul da colina do Castelo.28 A este propósito, será conveniente sublinhar o carácter
mais industrial que o subúrbio ocidental detinha em Época Romana - que, aliás, teria continuidade em
toda a Idade Média e período Moderno -, e que estará na base de um padrão de importação/consumo
distinto do que se observa no pomerium, a que atrás se fez já referência, podendo ter ocorrido situação
similar durante a Idade do Ferro.
Quanto à sua difusão, o Tipo 6 parece estar atestado apenas na região do Vale do Tejo, ocorrendo
em Santarém (Arruda, 2002), no Cabeço Guião (Arruda et al., 2017), no Porto do Sabugueiro (Pimenta e
Mendes, 2008), na Eira da Alorna, no Alto do Castelo, no Alto dos Cacos (Pimenta et al., 2012), no Povoa-
do de Castanheira do Ribatejo (Pimenta et al., 2009), nos Moinhos da Atalaia (Sousa, 2011), na Quinta
da Torre (Cardoso e Carreira, 1997-1998) e em diversos locais de Lisboa, nomeadamente na Travessa do
Chafariz d’El Rei (Filipe et al., 2014; Filipe, 2010), na Rua de São João da Praça (Pimenta et al., 2005), no
Castelo de São Jorge (Pimenta, 2005) e na Rua dos Correeiros (Sousa, 2011).
Nos conjuntos anfóricos analisados no âmbito deste trabalho foram identificados apenas dois
indivíduos deste tipo, ambos procedentes do Pátio José Pedreira, correspondendo somente a 0,32% da
amostra global da República. Naturalmente, considerando a opção assumida a que acima se fez alusão
relativamente aos contentores deste tipo que se incluíram neste estudo, poder-se-á referir com algu-
ma segurança que a sua representatividade em Olisipo deverá ser um pouco superior à que se observa
aqui, não devendo, porém, ser muito distinta da percentagem que se observa no Castelo de São Jorge
(Pimenta, 2005, Quadro 12).

28. Embora a informação publicada seja escassa, na Travessa do Chafariz d’El Rei (Filipe et al., 2014) observa-se a presença de contentores
de fabrico imputável ao Vale do Tejo a par de importações exógenas, exibindo estas últimas percentagens significativamente
mais expressivas do que na Rua dos Correeiros. Estes dados são reforçados pelos resultados das análises químicas e petrográficas
recentemente realizadas a algumas ânforas daquele sítio, no âmbito de um projecto coordenado por Francisco José García Fernández
da Universidade de Sevilha (García Fernandez et al., 2021; Martín-del-Río et al., 2021). Refira-se ainda que também no conjunto de ânforas
da Idade do Ferro do Teatro Romano se observou a presença em proporções razoáveis de contentores com origem exógena.

304
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

Resta referir que os dois fragmentos de bordo do Pátio José Pedreira provêm de um contexto
que poderá datar da segunda metade do séc. I a.C., apesar das reservas apontadas à cronologia desses
níveis (v. supra).

6.1.1.2. Dressel 1 da Ulterior

A imitação de ânforas do tipo Dressel 1 na costa meridional da Ulterior foi desde cedo colocada
em evidência (Domergue, 1969 apud Étienne e Mayet, 1994; Beltrán Lloris, 1977; Peacock e Williams,
1986; García Vargas et al., 2016a), estando testemunhada quer em centros de produção quer em cen-
tros de consumo. Foi igualmente reproduzida no Vale do Guadalquivir (García Vargas et al., 2011) bem
como na costa oriental da Citerior (López Mullor e Martín Menéndez, 2008a).
Estas produções hispânicas reproduzem de forma relativamente fiel os modelos itálicos, parti-
cularmente as Dressel 1A e 1C, caracterizando-se genericamente por corpos fusiformes, rematados por
bicos fundeiros maciços, de ombros geralmente bem marcados onde repousam as asas. Estas são de
secção ovalada e perfil sinuoso, arrancando imediatamente abaixo do bordo. O colo é alto e cilíndrico e
o bordo é de secção triangular ou de tendência rectangular (Étienne e Mayet, 1994, p. 131-132; García Var-
gas, 1998, p. 71-72; García Vargas et al., 2016a). O seu fabrico ter-se-á iniciado no terceiro quartel do século
II e prolongado até ao terceiro quarto do século I a.C., podendo a produção de Dressel 1C ter-se estendido
até aos últimos anos do séc. I a.C. ou primeiras décadas do século seguinte (García Vargas, 1998, p. 73;
Bernal Casasola et al., 2003a, p. 310; Sáez Romero, 2008a, p. 572-578; García Vargas et al., 2016a).
Ao contrário do modelo itálico, a imitação da Ulterior destinava-se a envasar produtos piscícolas,
facto atestado em Baelo Claudia onde no interior de duas ânforas completas se conservavam ainda ves-
tígios de preparados de peixe (Bernal Casasola et al., 2003a, p. 310-311). São conhecidos alguns centros
oleiros na costa meridional da Ulterior que produziram Dressel 1 sobretudo localizados na Baía Gaditana,
na Baía de Algeciras e no litoral de Málaga (García Vargas, 1998, p. 73-74; Pérez Rivera, 2001, p. 228-236;
Sáez Romero e Díaz Rodríguez, 2007, p. 202; García Vargas e Bernal Casasola, 2008, p. 664-668; García
Vargas et al., 2016a).
A real difusão destas imitações meridionais está em grande medida por compreender, uma vez
que a hipotética confusão entre estas produções e as itálicas, ou de outras regiões do Mediterrâneo,

100km

Dressel 1 da Ulterior, costa meridional (García Vargas et al., 2016).


Figura 9 – DresselDiifusão
1 da costa meridional
no território daSantarém,
português: Ulterior.Monte dos Castelinhos, Lisboa, Ponta do Mato, Mesas do
Castelinho,
Diifusão no território Monte Molião,
português: Faro, Castro
Santarém, Monte Marim.
dos Castelinhos, Lisboa, Ponta do Mato, Mesas do Castelinho,
Monte Molião, Faro, Castro Marim.

305
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

poderá mascarar a geografia da sua distribuição. Bastante esclarecedor quanto a este aspecto, é o
facto das ânforas produzidas no centro de El Rinconcillo, na Baía de Algeciras, terem sido identificadas
em sítios tão distantes como Delos, Roma e Tharros (García Vargas e Bernal Casasola, 2008, p. 677; Gar-
cía Vargas et al., 2016a), enquanto as produções da Baía Gaditana e da região de Málaga apenas estão
atestadas em âmbito peninsular e no actual território de Marrocos. A identificação naqueles locais das
Dressel 1 fabricadas em El Rinconcillo deve-se à documentação de marcas de oleiro comprovadamente
associadas às produções deste centro, permitindo e facilitando o seu cabal reconhecimento (García
Vargas et al., 2016a).
No actual território português as Dressel 1 produzidas na costa meridional da Ulterior encontram-
-se bem documentadas sobretudo no Vale do Tejo e Algarve, estando presentes em Castro Marim (Vie-
gas, 2011, p. 474), Faro (Viegas, 2011, p. 187), Monte Molião (Arruda e Sousa, 2012, p. 120), Mesas do
Castelinho (Parreira, 2009, p. 56), Lisboa (Pimenta, 2005, p. 84; Mota et al., 2014, p. 165), possivelmente
na Ponta do Mato (Raposo et al., 2014, p. 21), Monte dos Castelinhos (Pimenta et al., 2008, p. 30) e San-
tarém (Arruda e Almeida, 2001, p. 709-710).
Na amostra que aqui se analisa foi identificado um Número Mínimo de 12 Indivíduos deste tipo,
provenientes do Banco de Portugal (um bordo e um fundo), das Escadinhas de São Crispim (uma asa),
do Largo de Santa Cruz do Castelo (um bordo), da Praça da Figueira (um bordo), da Rua do Espírito Santo
(uma asa), da Rua dos Bacalhoeiros (um bordo), da Sé Catedral (três bordos e uma asa), Teatro Romano
(um bordo e um fundo) e da Zara, Rua Augusta (dois bordos). Para além destes, foram ainda reconhe-
cidos alguns fundos e asas que se poderão enquadrar tipologicamente tanto nas Dressel 1 como nas
Greco-Itálicas, e que, por esse motivo, foram indistintamente classificados como Greco-Itálica/Dressel 1.
Claramente minoritária e com valores aproximados aos que se haviam já documentado no Caste-
lo de São Jorge (sobretudo Pimenta, 2005, p. 116) é, ainda assim, uma produção bem presente no con-
junto anfórico de Lisboa, atestando a relativa importância que estes contentores teriam então na ex-
portação dos produtos à base de peixe do litoral Sul da Península Ibérica. Representa 1,92% das ânforas
importadas durante a República, 5,74% dos contentores procedentes da costa meridional da Ulterior e
4,56% de toda a província, significando 5,63% da importação de preparados piscícolas. Se a estes valores
forem adicionados os das referidas peças classificadas como Greco-Itálica/Dressel 1, que com grande
probabilidade pertencerão a este tipo, a sua representatividade no conjunto ganha mais expressão, ul-
trapassando os dois pontos percentuais (2,24%) do total das importações republicanas e representando
6,57% das ânforas piscícolas.
O exemplar da Rua do Espírito Santo, Castelo, provém de um contexto genericamente datado
de entre o terceiro quartel do séc. II a.C. e o primeiro quarto do séc. I a.C., associado a ânforas do tipo
Greco-Itálico, Dressel 1 itálicas, T-7.4.3.3. e Africana Antiga. Os restantes fragmentos foram todos exu-
mados em níveis imperiais ou pós-romanos. Exibem perfis de bordo enquadráveis tanto nas designadas
Dressel 1A como nas Dressel 1C, em proporções aproximadas.
Refira-se ainda que no Banco de Portugal se observou a presença de revestimento resinoso na
superfície interna de um fragmento de fundo (nº 480).

6.1.1.3. T-7.4.3.3.

Enquadrada nos modelos anfóricos de tradição púnica (Benoit, 1961, p. 327), foi pela primeira vez
individualizada por H. Dressel (1899) com o número 18 da sua tabela e mais tarde agrupada nas formas
312-313 de P. Cintas (1950) e C2 de J. M. Mañá (1951), prevalecendo esta última na bibliografia arqueoló-
gica. No final da década de 70 do século passado J. H. Van der Werff (1977-1978) denomina estas formas
de “neopúnicas” e estabelece uma divisão nos tipos 1, 2 e 3, enquanto no início da década seguinte J.
Ramón Torres (1981), mantendo a tipologia de J. M. Mañá, estabelece as variantes A e B para o tipo
C2 daquele investigador, correspondendo a primeira às produções do séc. II a.C. da região de Cartago
e a segunda às produções ocidentais do séc. II e I a.C., respectivamente. A esta última proposta, que
viria a receber grande aceitação no meio científico, sendo ainda correntemente utilizada, V. Guerrero
Ayuso (1986) acrescentaria a variante C. Ainda que outros investigadores se tenham debruçado sobre

306
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

o tema (entre outros, v. Muñoz Vicente, 1987; Peacock e Williams, 1986), foi sobretudo o trabalho de
J. Ramón Torres (1995), no âmbito do estudo sobre as ânforas fenício-púnicas do Mediterrâneo central
e ocidental, que viria a estabelecer as linhas gerais da evolução morfológica e cronológica destes mode-
los, enquadrando a Mañá C2b nos seus subtipos T-7.4.3.2. e T-7.4.3.3. (Ramón Torres, 1995, p. 206-211).
Caracteriza-se por um corpo cilíndrico e alto, fundo de perfil tubular, normalmente oco e alonga-
do, com um característico bocal amplo e aberto que se alarga a partir de um colo de perfil bitroncocóni-
co, transitando de forma suave e contínua para o bordo e para o ombro, sendo este último arredonda-
do e pouco destacado. O desenho do bordo pode adquirir inúmeras variantes e exibir maior ou menor
complexidade, sendo normalmente menos desenvolvidos e moldurados nos momentos mais antigos,
altura em que parecem imitar de forma mais fiel os modelos norte-africanos. As asas, localizadas na
zona de transição do ombro para o corpo, apresentam perfil anelar e secção circular ou subcircular
(Peacock e Williams, 1986, p. 151; Ramón Torres, 1995, p. 212-213; Arruda e Almeida, 1998, p. 207; Filipe,
2008a, p. 60; Sáez Romero, 2008a, p. 565-566; Sáez Romero et al., 2016a).
A diacronia da sua produção estende-se desde meados do séc. II a.C. até à Época de Augusto,
centrando-se o auge da sua comercialização entre as últimas décadas do séc. II a.C. e a primeira meta-
de do séc. I a.C. (Arruda e Almeida, 1998, p. 212; Pimenta, 2005, p. 72; Sáez Romero, 2008b, p. 498). Os
centros oleiros conhecidos distribuem-se por boa parte do litoral Sul de Espanha (Ramón Torres, 1995),
com alguns focos de produção na costa marroquina (Ponsich, 1968; Boube, 1973-1975; Arharbi et al.,
2001; Aranegui Gascó et al., 2004), localizando-se sobretudo na Baía gaditana (Perdigones Moreno e
Muñoz Vicente, 1990; Blanco Jimenez, 1989; Lagóstena Barrios, 1996; Lagóstena Barrios e Bernal Casa-
sola, 2004; Sáez Romero, 2008a; Sáez Romero, 2008b) e no litoral da região de Málaga (Beltrán Lloris,
1970; Arteaga Matute, 1985; Ferrer Albelda e García Vargas, 2001; Sáez Romero et al., 2016a).
No que se refere ao conteúdo, a T-7.4.3.3. parece ter-se constituído como um contentor fun-
damentalmente destinado a transportar produtos à base de peixe, tendo sido documentados restos
de salsamenta preservados no interior de ânforas deste tipo em Baelo Claudia (Bernal Casasola et al.,
2007a, p. 373; Sáez Romero, 2008a, p. 570-571), para além de outras evidências como o titulus pictus
do Castro Pretório que refere Hal(ec) vel Hal(lex) coc(tiva?) soc(iorum)? (Dressel, 1899, p. 681, 4730;

100km

T-7.4.3.3., costa meridional da Ulterior (Sáez Romero et al., 2016).


Figura 10 – T-7.4.3.3.,
Difusão costa meridional
no território da Lomba
português: Ulterior
do (Sáez
Canho, Romero
Conimbriga,etChões
al., 2016).
de Alpompé, Santarém, Castro
deportuguês:
Difusão no território S. Salvador, Porto
LombaSabugueiro, Castelo
do Canho, de Povos, Vila Franca
Conimbriga, Chõesdede Xira, Mouchão Santarém,
Alpompé, da Póvoa (Tejo), S. Mar-
Castro de São Salvador,
Porto Sabugueiro,cos, Oeiras, Lisboa,
Castelo Almaraz,
de Povos, Chibanes,
Vila FrancaPedrão, Alcácer
de Xira, do Sal, Sado,
Mouchão daCastelo
Póvoada(Tejo),
Lousa, Castelo Velho de Oeiras, Lisboa,
São Marcos,
Almaraz, Chibanes, SanPedrão,
ago do Cacém,
AlcácerCabodo
Sardão,
Sal, Odemira, Mesas doda
Sado, Castelo Castelinho,
Lousa, Mértola,
CasteloMonte
VelhoMolião, Vila Velha de
de Santiago do Cacém, Cabo
Alvor, Foz do Arade, Cerro da Rocha Branca, Faro, Cerro do Cavaco, Castelo de Castro Marim, Forte de
Sardão, Odemira,S.Mesas do Castelinho,
Sebas ão (Castro Marim).
Mértola, Monte Molião, Vila Velha de Alvor, Foz do Arade, Cerro da Rocha
Branca, Faro, Cerro do Cavaco, Castelo de Castro Marim, Forte de São Sebastião (Castro Marim).

307
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

García Vargas, 1998, p. 68) e algumas estampilhas de cartela circular da Baía Gaditana, representando
cenas relacionáveis com produtos à base de peixe (Arruda e Almeida, 1998, p. 208). Porém, parece tam-
bém ter sido utilizada no transporte de outros produtos, presumindo-se que de forma mais ou menos
pontual, como parecem indicar as evidências registadas no exemplar do naufrágio Dramont A onde se
recolheu um ramo de oliveira e restos de azeitonas no interior de uma destas ânforas ainda selada com
opérculo (Arruda e Almeida, 1998, p. 208-209), ou o titulus pictus de Mesas de Asta, interpretado como
VINUM/D(…), indicando um conteúdo vinário ou de derivados do vinho (García Vargas, 1998, p. 68).
A distribuição e comercialização da T-7.4.3.3. centrou-se sobretudo nos mercados da metade oci-
dental do Império, particularmente na Península Ibérica, onde está amplamente documentada ao lon-
go da fachada atlântica e do litoral Sul e oriental, bem como no litoral marroquino na área do Estreito
(Ramón Torres, 1995, p. 635, mapa 83; Arruda e Almeida, 1998, p. 213-214; González Ruibal, 2006; Ra-
món Torres, 2008, p. 75, fig. 3; Sáez Romero et al., 2016a), surgindo de forma muito mais escassa no Sul
de França, por exemplo em Entremont, Saint-Blaise (Gateau, 1990, p. 175) e Lattes (Py, 1990, p. 255, fig.
10-8, nº 4), e em Itália, em Óstia (Ramón Torres, 1995, p. 635, Mapa 83). No actual espaço português
está muito bem representada, especialmente na metade Sul do território, parecendo concentrar-se
sobretudo nos vales dos rios Tejo e Sado e no litoral algarvio. Para além dos sítios anteriormente carto-
grafados - Lomba do Canho, Conimbriga, Chões de Alpompé, Santarém, São Marcos, Oeiras, Lisboa, Vila
Franca de Xira, Almaraz, Chibanes, Pedrão, Alcácer do Sal, Sado (a jusante de Alcácer do Sal), Castelo
Velho de Santiago do Cacém, Mértola, Cabo Sardão, Odemira, Mesas do Castelinho, Cerro da Rocha
Branca, Castelo de Castro Marim, Vila Velha de Alvor, Monte Molião, foz do rio Arade, Cerro do Cavaco,
Faro (Arruda e Almeida, 1998, p. 213-214; Fabião, 1998b, p. 391-393; Almeida e Arruda, 2005, p. 1326;
Pimenta, 2005, p. 124, fig. 34) -, haverá que acrescentar o Castelo da Lousa (Morais, 2010a, p. 185-186),
o Forte de São Sebastião, Castro Marim (Arruda e Pereira, 2008, p. 391), o Castro de São Salvador
(Cardoso, 2014, p. 218), o Castelo de Povos (Pimenta e Mendes, 2012, p. 52-cira 1) e o Porto Sabugueiro
(Pimenta e Mendes, 2008, p. 189).
Concretamente em Lisboa constitui-se actualmente como um dos tipos anfóricos melhor docu-
mentados, principalmente no Castelo de São Jorge (Pimenta, 2005, p. 116-117; Filipe et al., 2013, p. 8; Mota
et al., 2014, p. 168; Pimenta et al., 2014a, p. 135), mas também em outros locais como o Teatro Romano
(Diogo, 2000, p. 165; Filipe, 2008a, p. 94; Filipe, 2015, p. 153), Sé, Casa dos Bicos, Palácio Marquês de An-
geja, Rua de São João da Praça (Pimenta, 2007, p. 223, Quadro 1), Armazéns Sommer (Pimenta, 2007, p.
223, Quadro 1; Gaspar e Gomes, 2007, p. 692), FRESS (Pimenta, 2007, p. 223, Quadro 1; Silva, 2014, p. 183),
recente escavação da Rua das Pedras Negras (Gomes et al., 2017), Rua dos Bacalhoeiros (Filipe, 2008, p.
311) e NARC (Bugalhão et al., 2013, p. 266), contabilizando-se cerca de 180 indivíduos.
No conjunto inédito de Olisipo, aqui analisado, foram identificados 176 indivíduos do tipo T-7.4.3.3.,
todos com produção da costa meridional da Ulterior, maioritariamente da Baía Gaditana, com excepção
de dois que exibem fabrico atribuível ao Vale do Guadalquivir. Provêm do Beco do Marquês de Angeja
(dois bordos), Encosta de Sant’Ana (um bordo e uma asa), Escadinhas de São Crispim (cinco bordos),
FRESS (dois bordos e uma asa), Grupo Desportivo do Castelo (três bordos), Largo de Santa Cruz do
Castelo (19 bordos, quatro fundos e dez asas; uma asa com fabrico do Guadalquivir), Largo de Santo
António (dois bordos e uma asa), Palácio dos Condes de Penafiel (11 bordos e três asas), Palácio do Mar-
quês de Angeja (quatro bordos, um fundo e uma asa), Pátio José Pedreira (21 bordos, três fundos e 12
asas), Praça Nova (três bordos), Rua de Santa Cruz do Castelo (oito bordos e quatro asas), Rua de São
Mamede (dois bordos e duas asas), Rua do Espírito Santo (dez bordos, duas asas e nove fundos), Rua
do Recolhimento/Beco do Leão (dois bordos e uma asa), Rua dos Bacalhoeiros (quatro bordos e uma
asa), Rua de São João da Praça 2001 (dois bordos e uma asa), Sé Catedral (60 bordos, nove fundos e 56
asas; uma asa de fabrico do Guadalquivir), Teatro Romano (11 bordos, dois fundos e oito asas), recente
escavação da Rua das Pedras Negras (uma asa), Travessa das Merceeiras (dois bordos e uma asa) e Rua
Augusta/Zara (um bordo).
As T-7.4.3.3. representam 28,21% da amostra das ânforas republicanas, significando 84,21% das
importações da costa meridional da Ulterior e 66,92% de toda a província, constituindo-se ainda como
o principal contentor no aprovisionamento de produtos à base de peixe à cidade de Olisipo nesta fase
(82,63%). Esta proporção, face à globalidade das ânforas desta amostra atribuíveis à República, é con-

308
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

sideravelmente superior à verificada nos dados publicados do conjunto do Castelo de São Jorge, onde
esta forma representa 18,76% do total (Pimenta, 2005, p. 116), aproximando-se mais dos valores que se
observam em Santarém (c. 36%).
À semelhança do que se registou no referido conjunto do Castelo de São Jorge, onde apenas
cerca de 6% dos contentores deste tipo provêm dos contextos apresentados (Pimenta, 2005), a maioria
dos exemplares que ora se apresentam foram recolhidos em contextos imperiais e pós romanos, para
além daqueles de que se desconhece a cronologia dos contextos de recolha como é o caso do Palácio
dos Condes de Penafiel. Os materiais de níveis seguramente republicanos provêm essencialmente da
área do Castelo, com a notável excepção da Sé Catedral, da Travessa das Merceeiras e do Beco do
Marquês de Angeja. Neste último local identificaram-se dois fragmentos de bordo em contexto que se
deverá situar no terceiro quartel do séc. I a.C., enquanto na Sé se documentaram diversos exemplares
de T-7.4.3.3. em níveis republicanos atribuíveis aos dois quartéis centrais do séc. I a.C., entre os quais
dez fragmentos de bordo, bem como em contextos datados do Principado de Augusto e do primeiro
quartel do séc. I d.C..
Na Travessa das Merceeiras foram identificados dois bordos e uma asa num depósito datado
dos dois terços finais do séc. I a.C.. Na área do Castelo, os contextos mais antigos onde se exumaram
exemplares deste tipo parecem corresponder aos da Rua de Santa Cruz do Castelo, datados pelos
responsáveis pela intervenção na segunda metade do séc. II a.C. (Sarrazola e Oliveira, 2014). Aqui reco-
lheram-se três asas e oito bordos, observando-se um predomínio das variantes de lábio mais simples e
aparentadas aos modelos norte-africanos, normalmente apontadas como as produções mais antigas,
associados a cerâmica campaniense A e a ânforas de tipo Dressel 1, Greco-Itálica e Brindisinas. Também
na Rua do Espírito Santo se registou a sua presença em contextos que se poderão datar entre a segun-
da metade do séc. II a.C. e o primeiro quartel do séc. I a.C., de onde procedem 7 bordos, 2 fundos e 5
asas, e dois bordos em níveis dos dois quartéis centrais do séc. I a.C.. Do Pátio José Pedreira procede
um bordo e uma asa (respectivamente nº 1266.01 e 1267.01) recolhidos em nível do final do séc. II a
terceiro quartel do séc. I a.C., observando-se ainda a sua presença em abundância em estratos que
poderão datar da segunda metade do séc. I d.C.. No mesmo sítio - Rua do Recolhimento/Beco do Leão
- foi previamente documentada a sua presença em contexto datado de entre o final do séc. II a.C. e o
terceiro quartel do séc. I a.C..
Estes dados permitem, por um lado, apreciar o peso das T-7.4.3.3. no quadro do abastecimento
de produtos à base de peixe a Olisipo, por outro, confirmar o início da sua importação no terceiro quar-
tel do séc. II a.C., estendendo-se durante todo o séc. I a.C., o que, aliás, havia já sido demonstrado tanto
em Lisboa (Pimenta, 2005, p. 73) como em variados outros locais do nosso território (Arruda e Almeida,
1998; Almeida e Arruda, 2005).

6.1.1.4. T-9.1.1.1.

A T-9.1.1.1. foi pela primeira vez individualizada por Sanmartí Greco (1985) no contexto do estudo
dos materiais das escavações dos acampamentos numantinos realizadas por Schulten, de onde herda
a designação de CC.NN (Sanmartí Greco, 1985, 133-141). Posteriormente classificada por Muñoz Vicente
(1987) com a denominação E2 de Cádis, acabou por ser a tipologia de Ramón Torres que se cristalizou
no meio científico da especialidade, correspondendo ao tipo T-9.1.1.1. daquele investigador (Ramón
Torres, 1995, p. 226-227). Mais recentemente, A. Sáez Romero (2008a; 2016) vem precisando mais deta-
lhadamente a evolução geral do tipo.
Trata-se de um contentor inspirado em modelos púnicos ocidentais, que deverá ter evoluído a par-
tir das T-8.2.1.1. e T-8.2.2.1., ainda que a produção de ambas coincida durante um breve período (Ramón
Torres, 1995, p. 226) na Baía Gaditana, nomeadamente nos centros oleiros de Torre Alta (García Vargas,
1998, p. 64) e Pery Junquera (Carretero Poblete, 2004, p. 437).
Ânfora de pequena dimensão e com alguma variação morfológica ao longo do período em que
foi produzida, caracteriza-se genericamente por um corpo cilíndrico, com fundo em ônfalo e com to-
tal ausência de colo, apresentando um bordo vertical no exterior, apenas diferenciado da parede por

309
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

uma pequena canelura ou sulco, e espessado internamente. As asas arrancam directamente da referida
canelura, exibindo perfil e secção circular (Ramon Torres, 1995, p. 226; García Vargas, 1998, p. 63-64;
Carretero Poblete, 2004, p. 433; Sáez Romero, 2008a, p. 557-558; Sáez Romero, 2016).
O lapso de tempo em que foram produzidas parece situar-se entre os meados do século III a.C.
e os primeiros decénios do século I a.C. (Ramon Torres, 1995, p. 227; Sáez Romero, 2008a, p. 564), sen-
do sobretudo típicas da segunda metade do séc. II a.C., época em que estão bem representadas nos
acampamentos republicanos de circunvalação a Numância, 133-134 a.C. (Sanmartí, 1985), nos níveis de
fundação de Valência, 138 a.C. (Ribera i Lacomba, 1998), no naufrágio da Ilha Pedrosa (Guerrero Ayuso
e Roldán Bernal, 1992) e no Castelo de São Jorge, em Olisipo (Pimenta, 2005). Refira-se, porém, que a
cronologia do final da sua produção não se encontra ainda bem definida (Sáez Romero, 2008a, p. 564).
O fabrico de ânforas do tipo T-9.1.1.1. está amplamente atestado na Baía Gaditana em sítios
como La Torre Alta (Perdigones Moreno e Muñoz Vicente, 1990), Pery Junquera (Carretero Poblete,
2004), Luis Milena, El Canal, Cerro de la Batería e Calle Asteroides (Sáez Romero, 2008a, p. 563), exis-
tindo indícios da sua produção também na Baía de Algeciras, em Carteia (Bernal Casasola et al., 2011,
p. 73), na área de Málaga (Sáez Romero, 2016; Mateo Corredor, 2014, p. 60) e em Ibiza (Ramón Torres,
1995, p. 227). A sua hipotética produção no Levante ibérico e na costa da Catalunha (Carretero Poblete,
2004, p. 434-436) carece ainda de evidências arqueológicas que a comprovem, não sendo até ago-
ra conhecidos quaisquer centros oleiros nessas regiões onde se tivessem produzido T-9.1.1.1. ou ou-
tro tipo de evidências como defeitos de cozedura (Ramón Torres, 2008, p. 72; Sáez Romero, 2008a,
p. 563-564).
Embora não se conheçam evidências directas relativamente ao produto transportado por estes
contentores, é consensualmente aceite que se destinariam a envasar produtos à base de peixe (Ramón
Torres, 1995, p. 266; García Vargas, 1998, p. 65). Tal, é sobretudo ilustrado pelas estampilhas provenien-
tes dos fornos de San Fernando, La Torre Alta, e da fábrica de salga de peixe pré-romana da Praça de
Asdrúbal, Cádis, ostentando representações de atuns e de uma figura humana a envasar atum numa
ânfora do Subgrupo 9.1.1. (Ramón Torres, 1995, p. 266; García Vargas, 1998, p. 65).
Encontra-se maioritariamente atestada em âmbito peninsular, sobretudo na região meridional,
fachada atlântica e costa oriental, mas também nas Baleares, em Lixus, no Norte de África, em Marsel-
ha, Albintimilium e na Baía de Nápoles, em Itália (Ramón Torres, 1995, p. 645; Ramón Torres, 2008, p. 72;
Saez Romero, 2016).

50cm

100km

T-9.1.1.1., costa meridional da Ulterior (www.archaeologydataservice.ac.uk; Sáez Romero, 2016).


Figura 11 – T-9.1.1.1., costa
Difusão no meridional
território português:da Ulterior
Chões (www.archaeologydataservice.ac.uk;
de Alpompé, Sáez
Santarém, Lisboa, Castelo da Lousa, Mesas Romero, 2016).
do Cas-
telinho,português:
Difusão no território Monte Molião,Chões
Faro, Castelo de Castro Marim.
de Alpompé, Santarém, Lisboa, Castelo da Lousa, Mesas do Castelinho,
Monte Molião, Faro, Castelo de Castro Marim.

310
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

No actual território português foram documentadas em Castro Marim (Arruda et al., 2006b,
p. 165; Arruda e Pereira, 2008, p. 389), Faro (Viegas, 2011, p. 187), Monte Molião (Arruda e Sousa, 2012,
p. 113), Mesas do Castelinho (Filipe, 2010, p. 69-73; Parreira, 2009, p. 47-48), Castelo da Lousa (Morais,
2010a, p. 185), Chões de Alpompé (Diogo, 1982, fig. 2; Diogo, 1993b, p. 226; Diogo e Trindade, 1993-1994,
p. 272) e Santarém (Arruda et al., 2005, p. 282). Em Lisboa está atestada em vários locais do Castelo
de São Jorge (Pimenta, 2005, p. 73-74; Filipe et al., 2013, p. 8; Pimenta et al., 2014a, p. 139; Mota et al.,
2014, p. 165), no Teatro Romano (Filipe, 2008a, p. 58-59; Filipe 2015, p. 146), na FRESS (Pimenta, 2007,
p. 223, Quadro 1; Silva, 2014, p. 186), na Sommer, na Rua de São João da Praça e na Sé (Pimenta, 2007,
p. 223, Quadro 1).
Na amostra que aqui nos ocupa foram reconhecidos 15 indivíduos deste tipo (incluindo-se aqui os
exemplares anteriormente divulgados da Sé e da Rua de São João da Praça, atrás referidos: Pimenta,
2007), tendo sido exumados no Banco de Portugal (um bordo), no Grupo Desportivo do Castelo (um
bordo) no Largo de Santa Cruz do Castelo (três bordos), no Pátio da Sr.ª de Murça (um bordo), no Pátio
José Pedreira (um bordo), na Praça Nova (um bordo), na Rua do Espírito Santo (um bordo), na Rua do
Recolhimento (uma asa), na Rua de São João da Praça (um bordo), na Sé Catedral (três bordos) e no
Teatro Romano (um bordo). Quanto aos contextos de onde provêm estes materiais, a peça nº 12621 da
Sé foi recolhida num nível balizado entre o segundo e o terceiro quartéis do séc. I a.C.; as do Pátio da
Sr.ª de Murça e da Rua do Espírito Santo foram ambas exumadas em estratos datados dos dois quartéis
centrais do séc. I a.C.; enquanto o exemplar do Pátio José Pedreira procede de um nível possivelmente
datado da segunda metade do séc. I a.C.. Os restantes foram recolhidos em estratigrafia pós-romana ou
em níveis imperiais, aqui com carácter claramente residual.
Do conjunto de ânforas do litoral da Ulterior presentes na amostra republicana de Olisipo, as
T-9.1.1.1. correspondem ao segundo tipo melhor representado, ainda que com valores muito inferiores
aos da T-7.4.3.3. e pouco superiores aos da Dressel 1, significando 7,18% das importações daquela região
e 5,7% se se tiver em conta também as produções do Guadalquivir. No conjunto global deste período
representa 2,4%, enquanto no contexto da importação de preparados piscícolas significa 7,04%.
As variantes de bordo do pequeno conjunto de Lisboa parecem enquadrar-se perfeitamente na
diversidade conhecida para esta forma (Sáez Romero, 2008a, p. 559; Sáez Romero, 2016, fig. 8), so-
bressaindo a peça do Teatro que exibe um perfil de bordo mais aproximado aos modelos normalmente
considerados como mais arcaicos (Sáez Romero, 2008a, p. 559-560; Sáez Romero, 2016, fig. 4).

6.1.1.5. Ovóide Gaditana

A Ovóide Gaditana foi individualizada por E. García Vargas no âmbito do estudo das produções
anfóricas da Baía de Cádis (García Vargas, 1996, p. 58-62; García Vargas, 1998, p. 74-75), mantendo-se
actualmente, ainda assim, como um tipo relativamente mal definido (Mateo Corredor, 2013, p. 189).
Trata-se de um contentor enquadrável na primeira etapa das produções gaditanas de clara morfologia
romana - ou “primeiro horizonte de romanização da morfologia anfórica gaditana” -, provavelmente
inspirados nos protótipos itálicos ovóides da costa tirrénica e adriática (García Vargas, 1996, p. 61-62;
García Vargas et al., 2011, p. 257; Sáez Romero e Luaces, 2014, p. 39), num processo idêntico e indissociá-
vel do que se verificou na mesma época no Vale do Guadalquivir (Fabião, 2001, p. 670-671; García Vargas
et al., 2011, p. 228-230). Apresentando uma significativa diversidade de perfil de bordos, a sua evolução
tipológica terá derivado nas mais antigas formas da Dressel 7-11, isto é, nas Dressel 9-10, com as quais
facilmente se confunde e dificilmente se distingue quando se trata de pequenos fragmentos de bordo
(García Vargas, 1998, p. 74; García Vargas, 1996, p. 62; Mateo Corredor, 2013, p. 189; Sáez Romero e
Luaces, 2014, p. 40; García Vargas, 2016b, p. 62).
Caracteriza-se por um corpo ovóide que termina num fundo curto, oco e de perfil cilíndrico. Os
bordos são amplos, em banda, bem destacados da parede do colo e, apesar de significativamente varia-
dos, apresentam normalmente perfis de tendência rectangular ou triangular. O colo é bitroncocónico
e não muito desenvolvido em altura, transitando de forma suave e em linhas curvas para um ombro in-
clinado e não muito expressivo. As asas são curtas, de perfil semicircular e secção oval, podendo exibir

311
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

20cm

100km

Ovóide Gaditana, costa meridional da Ulterior (García Vargas, 2016).


Figura 12 – Ovóide Gaditana,
Difusão costa
no território meridional
português: Monteda Ulterior
Mozinho, (GarcíaAlto
Santarém, Vargas, 2016).
dos Cacos, Castro de S. Salvador, Mon-
Difusão no território português:
te dos Castelinhos,Monte Mozinho,
Lisboa, Castelo Santarém,
da Lousa, Alto
Castelo das dos
Juntas, Cacos,dos
Castelinho Castro
Mouros,deMesas
São do
Salvador,
Cas- Monte dos
telinho,
Castelinhos, Lisboa, Monteda
Castelo Molião, Castelo
Lousa, de Castro
Castelo dasMarim.
Juntas, Castelinho dos Mouros, Mesas do Castelinho, Monte
Molião, Castelo de Castro Marim.

discretas nervuras ou um sulco longitudinal no dorso, arrancando abaixo do bordo e repousando no


ombro (García Vargas, 1998, p. 74-75; García Vargas e López Rosendo, 2008, p. 293; García Vargas et al.,
2011, p. 257; Sáez Romero e Luaces, 2014, p. 40).
Os contextos mais antigos onde estas ânforas estão documentadas parecem ser os de La Loba,
testemunhando o começo da sua produção no início do segundo quartel a.C. (Benquet e Olmer, 2002,
p. 322-323). O seu fabrico e comercialização perduraria ao longo de todo o quartel seguinte, terminando
em torno a 30/20 a.C., altura em que é substituída pelas Dressel 9-10 (Mateo Corredor, 2013, p. 189; Sáez
Romero e Luaces, 2014, p. 40; García Vargas, 2016b, p. 62).
A produção da Ovóide Gaditana está atestada na região de Cádis nos centros oleiros de Javier de
Burgos (García Vargas, 1998, p. 75) e Jardín de Cano, ambos em Puerto de Santa María (López Rosendo,
2008, p. 46), e Rabatún, Jerez de la Frontera (García Vargas e López Rosendo, 2008, p. 293-294), sendo
expectável que, com o desenvolvimento da investigação, outros centros produtores sejam identifica-
dos, principalmente na área a Sul do território insular de Cádis (Sáez Romero e Luaces, 2014, p. 39). Mais
recentemente foi também documentada a produção de contentores de morfologia análoga em Málaga
(Mateo Corredor, 2015, p. 187).
No que se refere ao produto que se destinavam a transportar, os preparados piscícolas são nor-
malmente apontados como o mais provável, tendo por base não só alguns aspectos da morfologia do
contentor, como a boca ampla e inclinada ao exterior, e da geografia da sua produção, como também
o facto de ser esse o conteúdo preferencial dos tipos que a sucedem (García Vargas et al., 2011, p. 257;
Mateo Corredor, 2013, p. 190; García Vargas, 2016b, p. 62). Ainda que principalmente destinada ao trans-
porte de produtos haliêuticos, existem, todavia, algumas evidências que parecem apontar no sentido
de se tratar de um contentor polivalente. Com efeito, em Punta del Nao, Cádis, foi recuperado um des-
tes envases contendo no seu interior restos de uvas (Mateo Corredor, 2013, p. 190), tendo-se registado
idêntica evidência no naufrágio Grand Congloué 3 (Colls et al., 1977, p. 89).
A sua difusão alcançou a Gália, logo desde a primeira metade do séc. I a.C. (García Vargas e
Bernal Casasola, 2008, p. 677; García Vargas et al., 2011, p. 257-258; Sáez Romero e Luaces, 2014), a
Germania (García Vargas et al., 2011, p. 258), Óstia, na costa central da Península Itálica (D’Alessandro e
Pannuzi, 2016, p. 532), Cartago, no Norte de África (García Vargas et al., 2011, p. 258), a costa levantina
da Península Ibérica (Mateo Corredor, 2013; Mateo Corredor, 2014) e toda a costa ocidental, incluindo

312
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

o Noroeste Peninsular (García Vargas, 2016b, p. 62), para além, naturalmente, da área meridional hispâ-
nica (García Vargas et al., 2011, p. 258; Benquet e Olmer, 2002, p. 322-323; Mateo Corredor, 2014; Sáez
Romero e Luaces, 2014; Sáez Romero et al., 2016b). Foram ainda reconhecidas em diversos naufrágios,
entre os quais Titan, Cap Bear, Illes Formigues, Cala Bona I e no já citado Grand Congloué C (García
Vargas et al., 2011, p. 257).
Relativamente ao actual território nacional, a Ovóide Gaditana está para já identificada em Mon-
te Mozinho (Soeiro, 1984, fig. LXI), Santarém (Arruda et al., 2005, p. 287; Almeida, 2008, p. 78), Monte
dos Castelinhos (Pimenta 2013; Pimenta e Mendes, 2014, p. 131), Alto dos Cacos (Pimenta et al., 2012,
p. 57; Pimenta et al., 2014c, p. 270), Castro de São Salvador (Cardoso, 2014, p. 217), Castelo da Lousa
(Morais, 2010a, p. 187), Castelinho dos Mouros (Madeira, 1986, Est. I, nº 4), Castelo das Juntas (Madeira,
1986, Est. II, nº 4), Mesas do Castelinho (Parreira, 2009, p. 62), Monte Molião (Arruda e Sousa, 2012, p.
122) e Castro Marim (Bargão, 2006, p. 97), sendo até aqui desconhecida em Olisipo.
Nos conjuntos do Teatro Romano e da Sé Catedral foram identificados dois fragmentos de bordo
classificados como Ovóide Gaditana, ambos exumados em contextos pós-romanos. Refira-se, porém,
que a dificuldade em distinguir entre Ovóide Gaditana e Dressel 7, Dressel 9/10 ou Dressel 12 quando pe-
rante pequenos fragmentos, poderá mascarar o real significado quantitativo deste tipo na amostra de
Lisboa, o mesmo se podendo referir para qualquer um dos outros tipos referidos. Representa 0,32% dos
contentores republicanos, 0,96% das importações com origem na costa meridional da Ulterior e 0,76%
no quadro de todas as importações desta província. Representa ainda 0,94% da totalidade das ânforas
piscícolas e 0,96% dos envases da Ulterior destinados a transportar aquele produto.

6.1.1.6. Classe 67/Ovóide 1

Individualizada pela primeira vez por C. Fabião no contexto do estudo das ânforas do acampa-
mento romano da Lomba do Canho, Arganil (Fabião, 1989, p. 65-68), a designada Classe 67 havia já en-
tão sido identificada em diversos locais - em Albintimilium pela primeira vez (Lamboglia, 1955) -, embora
invariavelmente mal classificada e agrupada nas Dressel 7-11, Beltrán III, Haltern 71 ou simplesmente
como não enquadrável em nenhum tipo (Fabião, 1989, p. 65; Molina Vidal, 1995, p. 419). De provável
inspiração nos modelos ovóides apulo-adriáticos, constitui-se como uma das mais antigas produções
da Bética, inserindo-se no vasto grupo de ânforas ovóides de produção e características tipicamente
ocidentais (Fabião, 1989, p. 65-68; Fabião, 1998b, p. 404; Fabião, 2001, p. 667; Molina Vidal, 2001, p. 641-
642; Almeida, 2008, p. 70; García Vargas et al., 2011, p. 211-212).
Trata-se de um contentor de corpo ovóide, rematado por um bico fundeiro curto, de perfil tron-
cocónico, podendo ser maciço ou oco. O bordo pode ser ligeiramente inclinado para o exterior, apre-
sentando perfil arredondado, ovalado ou em fita, sendo a ligação ao colo marcada por uma moldura ou
ressalto muito saliente que se constitui como o seu principal elemento caracterizador. O colo é curto e
de perfil cilíndrico ou bitroncocónico, exibindo uma suave e pouco acentuada ligação à pança. As asas
são curtas, de perfil semicircular e secção ovalada, ostentando normalmente um sulco longitudinal no
dorso ou cristas salientes, arrancando abaixo do ressalto ou moldura e unindo-se ao ombro (Fabião,
1989, p. 68; Molina Vidal, 1997, p. 56; Fabião, 2001, p. 672; Almeida, 2008, p. 70; Filipe, 2008a, p. 65).
O arranque da sua produção terá ocorrido nos primeiros anos do segundo quartel do séc. I a.C. e
prolongado até ao final dessa centúria ou início do séc. I d.C., situando-se o auge da sua comercialização
no terceiro quartel do séc. I a.C. (Fabião, 1989, p. 68; Fabião, 2001, p. 672-673; Molina Vidal, 2001, p. 640;
Almeida, 2008, p. 76-82; García Vargas, 2011, p. 212; González Cesteros et al., 2016a). Os centros oleiros
que comprovadamente produziram esta forma localizam-se em Sala, na costa atlântica de Marrocos
(Boube, 1979-1980; Aranegui Gascó et al., 2004), e em diversos locais do litoral da província romana da
Bética, como na Baía de Algeciras, em El Rinconcillo (Fernández Cacho, 1995; Bernal Casasola e Jiménez-
-Camino Álvarez, 2004), na baía gaditana, em Laguna Salada, Puerto de Santa Maria, em Cantera Laval-
le, Puerto Real, e em Casa de Huertas (Lagóstena Barrios, 1996; Lagóstena Barrios e Bernal Casasola,
2004) e, possivelmente, em Toscanos, Málaga (González Cesteros et al., 2016a). Todavia, a maioria dos
exemplares documentados em centros de consumo não exibe as características petrográficas daquelas

313
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

regiões produtoras mas sim as típicas pastas do Vale do Guadalquivir - iguais às de outros modelos de
ânforas ovóides, ou Haltern 70 e Dressel 20 -, região que deveria assumir a maioria da produção deste
tipo mas onde, paradoxalmente, não são conhecidos quaisquer centros de produção (Fabião, 2001, p.
672; Molina Vidal, 2001, p. 638; Almeida, 2008, p. 78; García Vargas, 2011, p. 212-213). O seu fabrico nesta
região é, portanto, deduzido a partir das características petrográficas das pastas e não da identificação
dos centros oleiros que as produziram.
A problemática relativa ao conteúdo que se destinaria a transportar mantém-se ainda em grande
medida por resolver, sobretudo pela falta de evidências directas, sendo mais ou menos consensual no
meio científico que estas ânforas poderão ter sido utilizadas para o transporte de distintos produtos
(Fabião, 2001, p. 672; Molina Vidal, 2001, p. 638), ainda que alguns investigadores coloquem a possibili-
dade de se destinar preferentemente ao transporte de azeite durante o auge da sua comercialização,
isto é, no segundo terço do séc. I a.C. (García Vargas et al., 2011, p. 214; González Cesteros et al., 2016a).
Já no que se refere à sua distribuição os dados são abundantes, constituindo-se a designada
Classe 67 como o contentor ovóide republicano do Guadalquivir que maior difusão atingiu nos merca-
dos do Império, embora normalmente em percentagens algo reduzidas, alcançando inclusivamente o
Mediterrâneo Oriental onde está atestada na costa ocidental da actual Turquia, em Ephesus (Bezeczky,
2004, p. 86; Bezeczky, 2013, p. 136-137), e na província da Iudaea, em Caesarea Maritima (González Ces-
teros et al., 2016a). Discretamente presente em Itália, Óstia (Van der Werff, 1986 apud Almeida, 2008, p.
72) e Albintimilium (Lamboglia, 1955, p. 259-269), no centro (Loughton, 2014, p. 34) e Sul de França, em
Lyon (Desbat e Lemaître, 2001, p. 801; Almeida, 2008, p. 72), Fréjus (Février, 1956, p. 52), Vieille Toulouse
(Fouet, 1958; Almeida, 2008, p. 72) e naufrágios de Cap Gros C, Dramont A e Grand Congloué 3 (Almeida,
2008, p. 76), e na área atlântica da costa marroquina (Boube, 1979-1980; Aranegui Gascó et al., 2004; Bo-
net Rosado et al., 2005), é sobretudo na Península Ibérica que se concentra a Classe 67, particularmente
na costa Este/Sudeste e no actual território português (Fabião, 1989; Fabião, 2001; Molina Vidal, 1995;
Molina Vidal, 2001; Almeida, 2008).
Neste último espaço geográfico estão presentes em Cividade de Terroso (Paiva, p. 80, nº 29,
Est. L, 4), Monte Mozinho (Soeiro, 1984, fig. XCVIII), Lomba do Canho (Fabião, 1989, p. 65-71), Coimbra
(Carvalho, 1998, p. 160-161), Conimbriga (Buraca, 2005, p. 54), Vidais (Arruda e Catarino, 1981, p. 185),
Chões de Alpompé (Diogo e Trindade, 1993-1994, Est. II, nº 30), Santarém (Diogo, 1984, p. 128; Arruda
et al., 2005, p. 285-286; Almeida, 2008, p. 70-82), Coruche (Quaresma e Calais, 2005, p. 437), no tejo, de
origem subaquática, junto a Salvaterra de Magos (Diogo, 1987b, p. 112) e a Vila Franca de Xira (Quares-
ma, 2005, p. 406-407), Alto dos Cacos (Pimenta et al., 2012, p. 55), Monte dos Castelinhos (Pimenta et
al., 2008, p. 31; Pimenta, 2013, p. 21; Pimenta e Mendes, 2014, p. 131), Castro de São Salvador (Cardoso,
2014, p. 217), Freiria (Cardoso, 2015, p. 361-362), Almaraz (Barros e Henriques, 2002, p. 99), Castelo Velho
de Veiros (Arnaud, 1970, p. 321; Mataloto e Roque, 2012, p. 675) Soeiros, Arraiolos (Calado et al., 1999,
fig. 5), Monte da Nora (Gonçalves et al., 1999, p. 105; Teichner, 2008, p. 26 e 28), Chibanes (Soares e
Silva, 2014, p. 90), Pedrão (Soares e Silva, 1973, p. 29), Alcácer do Sal (Silva et al., 1980-1981, p. 195-197),
Castelo da Lousa (Gonçalves e Carvalho, 2002, p. 185; Morais, 2010a, p. 189-190), Beja (Fabião, 1989,
p. 116), Manuel Galo (Alves, 2014, p. 394), Mesas do Castelinho (Fabião, 1989, p. 116; Fabião e Guerra,
1994, p. 279; Fabião, 2001, p. 673; Parreira, 2009, p. 59-60), Monte Molião (Estrela, 1999, Est. XII, nº 3;
Arruda et al., 2008, p. 178; Bargão, 2008, p. 179), foz do rio Arade (Diogo et al., 2000, fig. 10, nº 90), Faro
(Bargão, 2006, p. 101; Viegas, 2011, p. 187), Cerro do Cavaco (Bargão, 2006, p. 99; Almeida, 2008, p. 75),
Castro Marim (Arruda et al., 2006b, p. 165-167).
Em Olisipo a sua presença era já conhecida no Teatro Romano (Diogo, 2000, fig. 8, nº 41; Filipe,
2008a, p. 65-66; Filipe, 2015, p. 146), no Castelo de São Jorge (Pimenta, 2005, p. 116) e na Sé (Pimenta,
2007, p. 223, Quadro 1).
Na amostra que aqui se apresenta foram identificados 15 indivíduos tipologicamente atribuíveis à
Classe 67, representando 2,4% do total da amostra do período Republicano, dos quais apenas um exibe
fabrico atribuível à área costeira enquanto os restantes possuem as típicas pastas do Vale do Guadalqui-
vir. Estes exemplares provêm das Escadinhas de São Crispim (um bordo), Largo de Santa Cruz do Cas-
telo (um bordo - pasta da área costeira), Palácio dos Condes de Penafiel (dois bordos e uma asa), Praça
da Figueira (um bordo), Rua de Santa Cruz do Castelo (um bordo), Rua do Espírito Santo (duas asas),

314
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

100km

Classe 67/Ovóide 1, Ulterior (Pimenta, 2015; Quaresma, 2005).


Figura 13 – Classe 67/Ovóide 1, Ulterior (Pimenta, 2015; Quaresma, 2005).
Difusão no território português: Cividade de Terroso, Monte Mozinho, Lomba do Canho, Coimbra, Conimbriga,
Chões de Alpompé, Santarém, Alto dos Cacos, Coruche, Castro de São Salvador, Salvaterra de Magos (Tejo),
Monte dos Castelinhos, Vila Franca de Xira (Tejo), Freiria, Lisboa, Almaraz, Chibanes, Pedrão, Alcácer do Sal,
Vidais, Castelo Velho de Veiros, Monte da Nora, Soeiros, Castelo da Lousa, Beja, Monte Manuel Galo, Mesas do
Castelinho, Monte Molião, Foz do Arade, Faro, Cerro do Cavaco, Castelo de Castro Marim.

Rua dos Bacalhoeiros (um bordo) e Sé Catedral (seis bordos29, dois fundos e duas asas). No quadro das
importações do Vale do Guadalquivir destaca-se, com valores aproximados aos das Ovóide 4 e Ovóide 6,
como uma das formas mais presentes, com 26,92%, enquanto no contexto geral da Ulterior a sua impor-
tância decai significativamente para 5,32%, principalmente devido à importação massiva de T-7.4.3.3. e à
sua mais extensa diacronia de produção e comercialização. No que se refere ao produto transportado,
assumindo-se aqui um possível conteúdo oleícola - ainda que consciente da problemática inerente a este
tema -, a Classe 67 representa 21,74% das importações de azeite em Olisipo, percentagem apenas igua-
lada pela Ovóide 6 do Guadalquivir, seguidas de perto pelas ânforas de Brindisi e pela Africana Antiga.
Uma vez mais escasseiam as peças em contexto, procedendo na sua maioria de níveis imperiais ou pós-
-romanos. O bordo nº 12571 proveniente da Sé e o fragmento de asa nº 50 da Rua do Espirito Santo foram
ambos recolhidos em contextos datados entre o segundo e o terceiro quartel do séc. I a.C., correspon-
dendo no actual estado da investigação aos mais antigos testemunhos da chegada destas ânforas a Olisi-
po. Ainda na Sé, foi exumado um bordo (nº 12684) em níveis situáveis entre o último quartel do séc. I a.C.
e o Principado de Tibério. De cronologia mais fina é o contexto onde se exumou o exemplar de bordo nº
2042.01 da necrópole da Praça da Figueira, no interior da fossa 8060, recentemente datado entre as dé-
cadas de 20 e 30 do séc. I d.C. (Silva et al., 2016, p. 157), correspondendo, neste caso, a material residual.

6.1.1.7. Ovóide 2

Esta forma foi recentemente individualizada e definida por R. Almeida (2008) no âmbito do estudo
sobre os tipos minoritários procedentes do Guadalquivir e identificados em Santarém e posteriormente

29. Embora nos dados publicados por J. Pimenta (2007, p. 230 e Quadro 1) sejam referidos 7 bocais da Classe 67 provenientes do Claustro
da Sé, no âmbito do presente estudo apenas se identificaram 6 bordos atribuíveis a este tipo, podendo a peça em falta corresponder ao
exemplar aqui classificado como Ovóide 5, tipo que viria a ser caracterizado em data posterior à daquele artigo (Almeida, 2008; García
Vargas et al., 2011).

315
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

100km

Ovóide 2, Ulterior (García Vargas et al., 2011).


Figura 14 – Ovóide 2, Ulterior
Difusão (García
no território Vargas
português: et al., Lisboa,
Santarém, 2011).Castelo de Castro Marim.
Difusão no território português: Santarém, Lisboa, Castelo de Castro Marim.

enquadrada no grupo de contentores de curta duração e escasso êxito nos mercados ocidentais da fase
final da República (García Vargas et al., 2011). Trata-se de um tipo que se parece inspirar nos modelos
ovóides apulo-adriáticos de Época Republicana, encontrando-se ainda mal definido sobretudo devido
à sua escassez nos centros de consumo e ao facto de não ser conhecido qualquer exemplar completo,
para além das questões relacionadas com o seu conteúdo. Presumivelmente de corpo ovóide, carac-
teriza-se por um bordo curto, de perfil simples e maciço, de secção tendencialmente sub-rectangular,
sendo normalmente engrossado e bem destacado da parede do colo. Este deverá ser curto, de perfil
bitroncocónico, estabelecendo de forma suave a ligação ao corpo. As asas presumem-se igualmente
curtas e de perfil semicircular (Almeida, 2008, p. 83; García Vargas et al., 2011, p. 202). Embora as balizas
temporais se mantenham ainda em grande medida por precisar, a Ovóide 2 parece ter sido produzida
essencialmente durante a segunda metade do séc. I a.C. (Almeida, 2008, p. 84; García Vargas et al., 2011,
p. 200). A sua origem foi estabelecida unicamente com base nas características petrográficas das pastas
dos exemplares conhecidos, desconhecendo-se os centros oleiros onde foram fabricadas. Também em
relação ao produto que se destinaria a transportar as evidências directas são inexistentes, colocando-se
a hipótese de, à semelhança da Classe 67, poder corresponder a um contentor polivalente, utilizado no
transporte de distintos produtos, como azeite (principalmente?), vinho e preparados piscícolas (Almei-
da, 2008, p. 195; Almeida, 2010, p. 194).
Relativamente à sua distribuição e comercialização encontra-se escassamente documentada,
estando atestada apenas em Marrocos, na cidade de Lixus (Bonet Rosado et al., 2005, p. 122; García
Vargas et al., 2011, p. 202) e na Península Ibérica, em Valeria no interior do território (González Cesteros,
2013, p. 136), em Hispalis (Almeida, 2008, p. 84; García Vargas et al., 2011, p. 202) e, já no espaço portu-
guês, em Santarém (Almeida, 2008, p. 83-86) e Castro Marim (Viegas, 2011, Ests. 104, 105 e 109; García
Vargas et al., 2011, p. 202). Os dados de Olisipo apenas sublinham o carácter minoritário desta forma no
quadro das produções anfóricas do Vale do Guadalquivir durante a fase final da República, tendo-se
identificado apenas um fragmento de bordo nas antigas escavações da Rua das Pedras Negras (0,16%
dos envases republicanos). A peça em questão, de reduzida dimensão, apresenta perfil de tendência
triangular, com cerca de 12 cm de diâmetro e um bordo com 2,4 cm de altura. Ainda assim, tendo em
conta o diâmetro e o perfil do seu bordo, não deixa de oferecer algumas dúvidas quanto ao seu correcto
enquadramento tipológico na Ovóide 2. Os melhores paralelos para a peça de Lisboa parecem ser os
bordos com os números 25322 e 28089 de Santarém (Almeida, 2008, p. 85, fig. 23), particularmente esta
última. Desafortunadamente desconhece-se a cronologia do contexto de onde provém este exemplar.

316
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

6.1.1.8. Ovóide 4

Inicialmente individualizada por D. Peacock e D. Williams (1986, p. 115-116), foi denominada “unu-
sually small variant” e incluída na Classe 15 daqueles autores juntamente com a forma típica da Haltern
70. Posteriormente, com base nos exemplares do acampamento romano da Lomba do Canho, C. Fabião
propõe a separação entre esta “unusually small variant”, que designa Classe 15A, e a Haltern 70, Classe
15B (Fabião, 1989, p. 63-64), tendo vindo alguns anos mais tarde a reformular esta proposta, agrupan-
do então a Haltern 70 “unusually small variant” juntamente com a Classe 24, sob a designação desta
última (Fabião, 2001, p. 669-670). Refira-se que na base desta reformulação terá estado principalmente
a recorrente dificuldade na distinção entre um e outro tipo quando em presença de exemplares frag-
mentados. Mais recentemente foi proposto que ambos subtipos sejam novamente individualizados
enquanto tipos distintos, baseando-se a sua diferenciação em critérios que assentam sobretudo na
forma, altura e diâmetro do bordo, designando-se o tipo que aqui directamente nos interessa de Ovói-
de 4 (Almeida, 2008; García Vargas et al., 2011; García Vargas et al., 2016b).
Apesar do importante desenvolvimento que estes estudos têm representado na investigação
das ânforas tardo-republicanas do Vale do Guadalquivir, particularmente as de morfologia ovóide, quer
na caracterização dos vários aspectos relacionados com algumas das formas conhecidas, quer na de-
finição de novos tipos anteriormente genericamente enquadrados em formas já caracterizadas, é im-
portante ter presente que a atribuição tipológica da Ovóide 4 com base no critério da altura do bordo
apenas em pequenos fragmentos não é, tal como referido pelos respectivos autores, taxativa mas sim
orientativa, tendo em conta a heterogeneidade morfológica que se verifica (Almeida, 2008, p. 102; Var-
gas et al., 2011, p. 219; García Vargas et al., 2016b).
Bastante elucidativo a este respeito é a realidade documentada na Rocha da Mina, Alto Alentejo,
onde se documentou a presença de bordos de Haltern 70 (com mais de 4 cm de altura e com 15 cm de
diâmetro) em contextos aparentemente anteriores ao Principado de Augusto (Mataloto et al., 2016,
p. 144-146), ou seja, em cronologias em que, segundo os autores anteriormente citados, circulariam
ainda as Ovóide 4 e as Haltern 70 não teriam ainda surgido; registando-se situação análoga no sítio dos
Soeiros (Mataloto e Angeja, 2015, p. 852-853).

100km

Ovóide 4, Ulterior (García Vargas et al., 2016; www.archaeologydataservice.ac.uk).


Figura 15 – Ovóide 4, Ulterior
Difusão (García
no território Vargas
português: et al.,
Castro 2016;
do Coto www.archaeologydataservice.ac.uk).
da Pena, Citânia de Sanfins, Monte Mozinho, Lomba do
Canho,
Difusão no território Conimbriga,Castro
português: Tomar, Santarém,
do CotoAlto da dos Cacos,
Pena, Castrode
Citânia de S. Salvador,Monte
Sanfins, Monte dos Castelinhos,
Mozinho, Lomba do Canho,
Conimbriga, Tomar,Lisboa, Castelo dos
Santarém, Mouros,
Alto dosRocha
Cacos,da Mina,
CastroCastelo da Lousa,
de São Monte Manuel
Salvador, MonteGalo,
dosMesas do Casteli- Lisboa, Castelo
Castelinhos,
dos Mouros, Rocha nho,
daFaro, Castelo
Mina, de Castro
Castelo daMarim.
Lousa, Monte Manuel Galo, Mesas do Castelinho, Faro, Castro Marim.

317
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Embora consciente das limitações deste método de classificação das ânforas ovóides do Vale do
Guadalquivir (García Vargas et al., 2011), optou-se por seguir essa proposta na classificação dos mate-
riais de Lisboa, considerando-se que, apesar do que se referiu, este representa actualmente a forma
mais eficaz de diferenciar pequenos fragmentos de bordo dos modelos ovóides produzidos na região
do Vale do Guadalquivir. Infelizmente, os contextos aqui analisados parecem ter, na sua generalidade,
intervalos de tempo demasiado amplos para poder verificar o nível de operacionalidade daquele méto-
do, pelo que dificilmente poderão os dados de Lisboa contribuir de forma expressiva para o desenvol-
vimento desse tema.
Voltando à forma que aqui nos interessa, a Ovóide 4 foi assim designada no estudo sobre as ânfo-
ras do Vale do Guadalquivir em Scallabis realizado R. Almeida (2008), tendo sido enquadrada no grupo
de contentores Sud-hispânicos com significativo êxito comercial nos mercados ocidentais do séc. I a.C.,
correspondendo a um dos tipos do “núcleo morfológico e funcional” a partir do qual se desenvolveu o
repertório anfórico da Bética do início da Época Imperial, derivando na Haltern 70, um dos contentores
de maior sucesso daquela província (García Vargas et al., 2011, p. 211). A cronologia da sua produção e
difusão aliada às suas características morfológicas, sem paralelo até então na região interior da pro-
víncia Ulterior, parecem indicar tratar-se de uma forma inspirada nos modelos ovóides itálicos tardo-
-republicanos, produzidos nas costas tirrénica e adriática, partilhando alguns detalhes formais com ou-
tros tipos contemporâneos (sobretudo a Ovóide 6), também produzidos na Ulterior, tais como o corpo
ovóide, a depressão longitudinal no dorso da asa e digitação na sua base, o bordo em banda e o fundo
troncocónico e maciço (Fabião, 2001, p. 669-670; Almeida, 2008, p. 100; García Vargas et al., 2011, p. 217).
Caracteriza-se por um corpo ovóide rematado por um fundo curto mas bem destacado, normal-
mente maciço e de perfil troncocónico ou cilíndrico, com um colo igualmente curto e bitroncocónico. O
bordo é ligeiramente inclinado e de perfil subtriangular ou subquadrangular, curto e bem destacado da
parede do colo, criando uma banda, com altura compreendida entre os 3 e os 4 cm. As asas são curtas,
de perfil semicircular e secção ovalada, apresentando no dorso um sulco longitudinal que termina com
uma profunda digitação na base. Arrancam da parte superior do colo, abaixo do bordo, pousando num
ombro discreto e mal definido (Fabião, 1989, p. 64; Almeida, 2008, p. 100; García Vargas et al., 2011, p.
218; García Vargas et al., 2016b).
No estado actual da investigação, os elementos cronológicos para datar o arranque da sua pro-
dução situam-se no segundo quartel do séc. I a.C., correspondendo o controverso exemplar do nau-
frágio de Madrague de Giens (Tchernia, 1990, p. 296 apud García Vargas et al., 2016b) ao mais antigo
testemunho da sua circulação, ainda que permaneça a dúvida se realmente se trataria de uma Ovóide
4. Estão ainda presentes em outros contextos do terço central do séc. I a.C., tanto em meio subaquá-
tico, como são os casos dos naufrágios de Grand Congloué 3, Cap Gros C, Portopí, Titan, Bona I e Illes
Formigues I (Almeida, 2008, p. 100; García Vargas et al., 2016b), como em meio terrestre, por exemplo
na Lomba do Canho (Fabião, 1989), em Santarém (Almeida, 2008), Mesas do Castelinho (Parreira, 2009)
e Santa Tecla (Morais, 2004a, p. 36). O final da sua produção foi estabelecido entre os anos 30 e 10 do
séc. I a.C., convivendo com as primeiras Haltern 70 durante esse período (Almeida, 2008, p. 102; García
Vargas et al., 2011, p. 223-224; García Vargas et al., 2016b).
A determinação de uma origem no Vale no Guadalquivir surgiu desde a sua individualização (Pea-
cock e Williams, 1986, p. 115) por associação à Haltern 70 e pela similitude entre as pastas destas e das
Dressel 20. Até à data, não são conhecidos os centros oleiros que produziram as Ovóide 4, com excep-
ção da olaria de Carmona, Rua González Parejo nº 9, onde surgem com carácter claramente residual em
contextos de finais do Principado de Augusto ou de Tibério (García Vargas et al., 2016b).
Também no que se refere ao conteúdo (ou conteúdos) que se destinaria a transportar, os dados
são exíguos. A evidência mais concreta é-nos fornecida pelos exemplares do naufrágio Illes Formigues
1, que se encontravam revestidos por matéria resinosa na superfície interna (Martín Menéndez, 2008,
p. 106-107 apud García Vargas et al., 2011, p. 224). Tendo em conta estes dados, parece claro que aquelas
ânforas não deverão ter transportado azeite, sendo o vinho ou um seu derivado o provável conteúdo.
O que permanece por esclarecer, face à ausência de outras evidências, é se a Ovóide 4 terá ou não sido
utilizada para o transporte de outros produtos, para além do vinho ou seus derivados (García Vargas et
al., 2011, p. 224), à semelhança do que parece ter ocorrido com a Classe 67/Ovóide 1.

318
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

A sua difusão privilegiou essencialmente os mercados ocidentais, ocorrendo sobretudo na Hispa-


nia e, em menor medida, no actual território francês. O Ocidente Peninsular parece ter-se constituído
como um dos principais eixos de distribuição destes contentores, paralelamente à área meridional da
Península Ibérica e à sua metade oriental, surgindo em quase todos os sítios com ocupação documen-
tada durante a segunda metade do séc. I a.C., particularmente em locais com presença de militares
(Morais e Carreras Monfort, 2004, p. 97; Almeida, 2008, p. 94; Almeida, 2010, p. 195; García Vargas et al.,
2011, p. 224; García Vargas et al., 2016b).
No actual território nacional, de acordo com a proposta de classificação das Ovóide 430 (García
Vargas et al., 2011), estão atestadas em alguns castros do Noroeste, como o Castro do Coto da Pena (Sá
e Paiva, 1993; Paiva, 1993), Monte Mozinho (Soeiro, 1984) e Citânia de Sanfins (Sá e Paiva, 1989; Paiva,
1993), e possivelmente em outros sítios desta região (Paiva, 1993; Morais e Carreras Monfort, 2004),
na Lomba do Canho (Fabião, 1989, p. 61-64), em Conimbriga (Buraca, 2005, p. 29), em Tomar (Banha e
Arsénio, 1998, p. 169-170), Santarém (Arruda e Almeida, 1999, p. Almeida, 2008, p. 100-104), Alto dos
Cacos (Pimenta et al., 2014c, p. 266), Monte dos Castelinhos (Pimenta e Mendes, 2014, p. 131), Castelo
dos Mouros (Mataloto, 2008, p. 130-134), Rocha da Mina (Mataloto et al., 2016, p. 144-146), Castelo da
Lousa (Morais, 2010a, p. 187), Castro de São Salvador (Cardoso, 2014, p. 218), Monte Manuel Galo (Alves,
2014, p. 394), Mesas do Castelinho (Parreira, 2009, p. 60-62), Faro (Viegas, 2011, p. 187) e Castro Marim
(García Vargas et al., 2011, p. 224; Viegas, 2011, p. 474). Na cidade de Lisboa a sua presença estava já
igualmente atestada na Rua dos Bacalhoeiros (Filipe, 2008b, p. 313, fig. 15, nº 1403) e no Teatro Romano
(Filipe, 2008a; Filipe, 2015, p. 142, fig. 6, nºs 668 e 780).
Na amostra que agora se analisa documentou-se um número mínimo de 15 indivíduos, represen-
tando 2,4% do conjunto de contentores republicanos, tendo sido exumados no Banco de Portugal (um
bordo), Palácio dos Condes de Penafiel (um bordo), Pátio José Pedreira (um bordo), Praça da Figueira
(cinco bordos), Rua dos Bacalhoeiros (dois bordos e uma asa), Sé Catedral (dois bordos), antigas inter-
venções da Rua das Pedras Negras (um bordo), Travessa das Merceeiras (uma asa) e Zara, Rua Augusta
(um bordo). No contexto das importações da região meridional da Ulterior a Ovóide 4 representa 5,7%,
valor que sobe significativamente se tomarmos em consideração apenas os envases produzidos no Vale
do Guadalquivir, atingindo 28,85%. Estas percentagens, iguais às das Ovóide 6 e ligeiramente mais altas
das que se verificam nas Classe 67/Ovóide 1, diferem do que acontece em Santarém onde as Classe 67 se
destacam claramente dos outros dois tipos, com aproximadamente o dobro dos exemplares. No con-
junto das ânforas vinárias de Época Republicana as Ovóide 4 representam 4,41% do vinho importado,
valor que ainda assim se poderá considerar significativo tendo em conta o curto espaço de tempo em
que foi produzida e comercializada, sendo apenas ultrapassada pelas ânforas vinárias itálicas.
Com excepção da peça da Travessa das Merceeiras, procedente de contexto balizado entre o
segundo quartel e o final do séc. I a.C., não se logrou identificar qualquer exemplar deste tipo em con-
texto da época, ocorrendo sobretudo em contextos pós-romanos ou da Antiguidade Tardia.

6.1.1.9. Ovóide 5

Caracterizadas pela primeira vez no âmbito do estudo sobre as ânforas do Vale do Guadalquivir
documentadas em Scallabis (Almeida, 2008, p. 126-134) - posteriormente classificadas como Castelinho
1 no estudo do conjunto anfórico de Mesas do Castelinho (Parreira, 2009, p. 66-69) -, as Ovóide 5 foram
até então habitualmente classificadas como Classe 67, Dressel 25 ou Dressel 12, muito devido à moldura
em anel existente abaixo do bordo (Fabião, 2001, p. 682; Bernal Casasola, 2008, p. 347-349; García Vargas
et al., 2011, p. 225).
A sua morfologia distingue-se por um corpo ovóide, com o diâmetro máximo localizado na sua
metade superior, terminando num fundo curto e maciço. O bordo é normalmente de secção subtrian-
gular, por vezes sub-rectangular, formando uma banda, diferenciando-se da Classe 67 pelo facto do seu

30. Em boa parte destes casos os exemplares foram classificados e publicados enquanto Haltern 70, incluindo os de Lisboa.

319
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

100km

Ovóide 5, Ulterior (García Vargas et al., 2016).


Figura 16 – Ovóide 5, Ulterior
Difusão (García
no território Vargas
português: et al.,Alto
Santarém, 2016).
dos Cacos, Vala Nova de Salvaterra de Magos/Vala de
Muge
Difusão no território (Tejo), Monte
português: dos Castelinhos,
Santarém, AltoLisboa, Pedrão, Vala
dos Cacos, Castelo das Juntas,
Nova Mesas do Castelinho,
de Salvaterra Castelo de Muge (Tejo),
de Magos/Vala
de CastroLisboa,
Monte dos Castelinhos, Marim. Pedrão, Castelo das Juntas, Mesas do Castelinho, Castelo de Castro Marim.

limite inferior ser pendente e claramente destacado da parede do colo. Este é curto e usualmente cilín-
drico, por vezes bitroncocónico, transitando de forma abrupta para o ombro através de um ângulo de
inflexão muito acentuado. Na sua metade superior, um pouco abaixo do bordo, apresenta uma típica
moldura em anel, arrancando as asas imediatamente abaixo desta e pousando num ombro expressivo.
As asas são curtas, de perfil semicircular, secção circular e sulco longitudinal no dorso (Almeida, 2008,
p. 126; García Vargas et al., 2011, p. 225; García Vargas et al., 2016c).
A sua produção e comercialização ter-se-á iniciado um pouco antes de meados do séc. I a.C.
estendendo-se até cerca de 15 a.C. (Almeida, 2008, p. 126-134; García Vargas et al., 2011, p. 226; García
Vargas et al., 2016c). Com base nas evidências actualmente disponíveis, parece ter circulado sobretudo
durante o terceiro quartel do séc. I a.C., arco cronológico em que se encontra documentada em locais
como o Patio de Banderas de Alcázar de Sevilla (García Vargas et al., 2011, p. 226), Santarém (Almeida,
2008, p. 134) e Mesas de Castelinho (Fabião, 2001, p. 682; Parreira, 2009, p. 69).
Embora se desconheçam os centros oleiros que fabricaram a Ovóide 5, as características petro-
gráficas da maioria destes contentores não deixam dúvidas quanto a uma origem no Vale do Guadalqui-
vir (Almeida, 2008, p. 126-134). Deverá também ter sido produzida na região costeira da Ulterior, ainda
que a escala mais reduzida, tendo em conta os dados dos contextos do Cerro del Mar, Torre del Mar,
Málaga (García Vargas et al., 2011, p. 225; García Vargas et al., 2016c).
Já no que se refere ao produto (ou produtos) que transportava, as evidências são ainda mais fru-
gais, resumindo-se à hipótese de um conteúdo oleário ou vinícola baseado na sua região de origem e nas
semelhanças morfológicas com as ânforas ovóides do Vale do Guadalquivir (García Vargas et al., 2016c).
A geografia da sua distribuição não parece distinguir-se significativamente da que caracteriza
outras formas ovóides do Guadalquivir da mesma época, ainda que, no actual estado do conhecimento,
em menores proporções e num número mais reduzido de sítios. O possível exemplar de Dangstetten
(Ehmig, 2010, Taf. 15, nº 449,058-1; García Vargas et al., 2011, p. 228) poderá testemunhar a sua expor-
tação para as províncias germânicas, correspondendo para já, juntamente com os exemplares de Lixus
(Bonet Rosado et al., 2005, p. 121) e de Ceuta (Bernal Casasola, 2008, p. 347-349), às únicas evidên-
cias documentadas para lá do território hispânico. Aqui, encontra-se identificada em Colonia San Jor-
di, Maiorca, sudeste peninsular, Baelo Claudia, Cádis, Silla del Papa, Sevilha e Medellín, bem como nos
naufrágios de Illes Formigues I e Cala Bona I (Almeida, 2008, p. 126-127; García Vargas et al., 2011, p. 226;
Mateo Corredor, 2014, p. 269; Saez Romero et al., 2016b, p. 81); e, já em território português, em Cas-

320
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

tro Marim (Arruda et al., 2006b, p. 167-168), Mesas de Castelinho (Fabião, 2001, p. 682; Parreira, 2009,
p. 66-69), possivelmente no Castelo das Juntas (Maia, 1987, Est. XII, nº 21) e no Pedrão (Soares e Silva,
1973, p. 29 e Est. VI, nº 42), no Monte dos Castelinhos (Pimenta e Mendes, 2014, p. 134), Alto dos Cacos
(Pimenta et al., 2014c, p. 266), Santarém (Almeida, 2008, p. 126-134) e no rio Tejo, recolhida entre a Vala
Nova de Salvaterra de Magos e Vala de Muge (Cardoso, 2013, p. 58). A estas poder-se-á acrescentar a
peça nº 2603 do Teatro Romano, anteriormente classificada como Dressel 12 (Filipe, 2008a, p. 68-69;
Filipe, 2015, p. 149) mas que deverá antes corresponder à Ovóide 5, ainda que se afaste um pouco das
típicas características desta forma.
No conjunto inédito que ora se analisa foram identificados quatro bordos de Ovóide 5, exumados
no Largo de Sta. Cruz do Castelo (dois bordos), no Palácio dos Condes de Penafiel (um bordo) e na Sé
Catedral de Lisboa (um bordo). Um dos aspectos mais interessantes deste pequeno conjunto será tal-
vez o facto de um dos bordos do Largo de Sta. Cruz do Castelo (nº 14) não apresentar o típico fabrico do
baixo Guadalquivir que estas formas normalmente exibem, observável nos restantes exemplares acima
referidos, mas sim uma pasta com características petrográficas atribuíveis à região de Málaga onde o
elemento mais destacável é constituído por pequenos xistos de cor escura. Como anteriormente refe-
rido, a produção deste tipo naquela área do litoral meridional da Ulterior não parece representar novi-
dade (García Vargas et al., 2011, p. 225; García Vargas et al., 2016c). Contudo, tanto quanto se conseguiu
perceber, não era ainda conhecida a sua presença em região tão afastada da sua área de produção.
A representatividade da Ovóide 5 é claramente inferior à dos principais modelos ovóides do Gua-
dalquivir da época - Classe 67/Ovóide 1, Ovóide 4 e Ovóide 6 -, mas superior à de outros de menor êxito
comercial, como a Ovóide 2 e Ovóide 8, observando-se que em Lisboa se verificam dinâmicas semelhan-
tes às de outros locais onde se atesta a presença das formas ovóides daquela região e que levou a que a
Ovóide 5 fosse incluída no grupo de contentores com êxito significativo nos mercados (García Vargas et
al., 2011, p. 211). Os quatro indivíduos representam apenas 0,64% do total de ânforas republicanas, valor
que sobe significativamente para 5,77% no quadro das importações com origem no Vale do Guadal-
quivir, neste caso tendo em conta apenas três indivíduos. O fragmento procedente da região costeira
representa apenas 0,48% das ânforas daquela área.
Infelizmente, as peças do Largo de Sta. Cruz do Castelo e da Sé Catedral foram exumadas em
níveis pós-romanos e, como já referido, do Palácio dos Condes de Penafiel desconhece-se a cronologia
dos contextos de recolha da generalidade dos materiais.

6.1.1.10. Ovóide 6

A Ovóide 6 foi enquadrada por C. Fabião (1989, p. 73-74) na Classe 24 de D. Peacock e D. Williams
(1986), que incluía já outros contentores oleários anteriores à Dressel 20, como a Oberaden 83, a
Haltern 71 e a Dressel 25 (Peacock e Williams, 1986, p. 134-135). Com o avançar da investigação e o
acumular de conhecimento relativamente aos diversos aspectos relacionados essencialmente com
questões morfológicas e cronológicas, e pese embora o facto de apresentarem características comuns,
estas formas acabaram por ser individualizadas e tipologicamente reestruturadas no âmbito do estudo
sobre as ânforas do Vale do Guadalquivir presentes em Santarém (Almeida, 2008, p. 145-149).
Sob a designação de Ovóide 6, ou Ovóide 6/Classe 24, ficou o tipo identificado por C. Fabião na
Lomba do Canho, a que atrás se fez alusão, ou seja, “os exemplares de datação seguramente mais re-
cuada, das ânforas destinadas ao azeite das regiões meridionais da Península Ibérica” (Fabião, 1989, p.
74), e que nos últimos decénios do séc. I a.C. acabariam por derivar nas Oberaden 83 ou Ovóide 7.
Estes modelos precoces, já de clara morfologia romana e inspirados nos protótipos itálicos ovói-
des da costa tirrénica e adriática, registam apreciáveis variações morfológicas nas diferentes partes que
as formam, o que poderá estar relacionado com uma rápida evolução do tipo durante o curto espaço
de tempo em que foi produzido (Fabião, 2001, p. 670-671; García Vargas et al., 2011, p. 228-230). De uma
maneira geral, ostentavam bordos engrossados e arredondados, bem demarcados da parede do colo e
normalmente direitos no interior. O colo é relativamente curto e habitualmente de tendência cilíndrica,
embora se possa apresentar bitroncocónico, arrancando as asas da sua parte superior, abaixo do bordo.

321
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

100km

Ovóide 6, Ulterior (García Vargas et al., 2016; Pimenta, 2015).


Figura 17 – Ovóide 6, Ulterior
Difusão (García
no território Vargas
português: et al.,
Lomba 2016;Santarém,
do Canho, Pimenta, 2015).
Alto dos Cacos, Monte dos Castelinhos,
Difusão no território português:
Lisboa, Castelo VelhoLomba doRocha
de Veiros, Canho, Santarém,
da Mina, Castelo dosAlto dosSoeiros,
Mouros, Cacos, Monte
Mesas dos Castelinhos, Lisboa,
do Castelinho,
Monte Manuel
Castelo Velho de Veiros, Rocha Galo,
daMonte
Mina,Molião, Castelo
Castelo dosdeMouros,
Castro Marim.
Soeiros, Mesas do Castelinho, Monte Manuel Galo,
Monte Molião, Castelo de Castro Marim.

Aquelas são de secção oval, exibindo sempre um característico sulco longitudinal no dorso que termina
numa profunda digitação na sua base. O perfil das asas varia de acordo com a forma do colo e do corpo,
podendo ser mais abertas e arredondadas ou mais fechadas e descer de forma mais ou menos paralela
ao colo. O corpo é tipicamente ovóide e largo, situando-se o diâmetro máximo na sua metade supe-
rior, enquanto o fundo se apresenta bem demarcado, com perfil troncocónico e normalmente maciço
(Fabião, 1989, p. 73-74; Fabião, 2001, p. 670-671; Almeida, 2008, p. 145; García Vargas et al., 2011, p. 228-
230; García Vargas et al., 2016d).
No actual estado da investigação, a cronologia do seu fabrico está balizada grosso modo entre
o segundo quartel e as últimas décadas do séc. I a.C., isto é, entre 60/70 a.C. e 20 a.C. (Almeida, 2008,
p. 146-147; García Vargas et al., 2011, p. 230-235; García Vargas et al., 2016d; González Cesteros e Almeida,
2017, p. 59). Ainda que relativamente ao início da sua produção os dados sejam pouco claros, a Ovóide 6
está presente em contextos atribuíveis aos momentos finais do segundo quartel do séc. I a.C. na Lomba
do Canho (Fabião, 1989, p. 73-74) e em Mesas do Castelinho (Fabião, 2001, p. 670-671).
Foi principalmente produzida no Vale do Guadalquivir, de onde é proveniente a maioria dos exem-
plares conhecidos em centros de consumo, embora também na região costeira, nomeadamente na Baía
Gaditana, e possivelmente na Baía de Algeciras (Almeida, 2008, p. 145-146; García Vargas et al., 2016d).
No quadro das produções ovóides tardo-republicanas do Vale do Guadalquivir a Ovóide 6 cons-
titui-se como uma excepção no que se refere à problemática do conteúdo, uma vez que, mesmo não
existindo até agora evidências directas, parece não subsistir qualquer dúvida quanto a um conteúdo
oleícola (Fabião, 1989. p. 74; García Vargas et al., 2016d). Tal deve-se, por um lado, à sua clara inspiração
nos protótipos itálicos de morfologia ovóide, destinados a transportar azeite, por outro, por se consti-
tuir ela própria como o protótipo a partir do qual evoluem as ânforas oleárias do Vale do Guadalquivir
- Oberaden 83 e Haltern 71 - e que acabaria por derivar na Dressel 20 (García Vargas et al., 2016d).
A semelhança entre a Ovóide 6 (sobretudo na sua fase mais tardia) e a Oberaden 83/Ovóide 7 e
a inerente dificuldade em distinguir uma da outra, especialmente quando em presença de pequenos
fragmentos de bordo e sem vestígios das asas, poderá mascarar a real amplitude da difusão destes
contentores. Actualmente, fora do âmbito peninsular, a sua presença encontra-se atestada no actual
território francês, em Saint-Roman-en-Gal (Almeida, 2008, p. 146), Narbona (Almeida, 2008, p. 146),
Lyon (Desbat e Lemaître, 2001, p. 805); possivelmente em Augusta Raurica, na Suíça, ainda que este

322
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

exemplar não apresente o típico sulco longitudinal no dorso (Martin-Kilcher, 1999, Taf. 60, nº 40); em
Roma (Ferrandes, 2008, p. 274, fig. 4 nº 21); e em Lixus, Marrocos (Bonet Rosado et al., 2005, p. 122).
Na Hispania parece ter circulado principalmente na região meridional e no litoral oriental (Berni Millet,
1998, p. 28; Almeida, 2008, p. 146; García Vargas et al., 2011, p. 234-235; Bernal Casasola et al., 2013, p. 20;
Mateo Corredor, 2014, p. 82-84; Sáez Romero et al., 2016b, p. 82), mas igualmente de forma significativa
no extremo Ocidente Peninsular.
Nesta última região está atestada na Lomba do Canho (Fabião, 1989, p. 73-74), Santarém (Almeida,
2008, p. 145-149), Alto dos Cacos (Pimenta et al., 2014c, p. 267; Fabião et al., 2016, p. 73), Monte dos Cas-
telinhos (Pimenta, 2013, p. 79-80; Pimenta, 2015, p. 156-157), Castelo Velho de Veiros (Mataloto e Roque,
2012, p. 677), Rocha da Mina (Mataloto e Roque, 2013, p. 136; Mataloto et al., 2014, p. 29), Castelo
dos Mouros (Mataloto, 2008, p. 130), Soeiros (Mataloto e Angeja, 2015, p. 852), Manuel Galo (Alves,
2014, p. 393), Mesas do Castelinho (Fabião, 2001, p. 670-671), Monte Molião (Arruda e Viegas, 2012,
p. 122) e Castro Marim (Viegas, 2011b, p. 97). Em Lisboa já se encontrava igualmente atestada no Teatro
Romano (Filipe, 2008, p. 54-56 e Est. XX e XXI; Filipe, 2015, p. 140-145 e fig. 9), tendo aí então sido enqua-
dradas nas Oberaden 8331.
No âmbito deste estudo documentou-se um número mínimo de 15 indivíduos, representando
2,4% do conjunto de ânforas atribuíveis à República, tendo sido registados no Palácio das Cozinhas
(um bordo), na recente escavação da Praça da Figueira (um bordo), na Sé Catedral (10 bordos) e no
Teatro Romano (três bordos). No contexto das importações com origem no Guadalquivir nesta época
a Ovóide 6 é o tipo mais representativo a par da Ovóide 4, ainda que seguida de perto pela Classe 67/
Ovóide 1, significando 28,85% no conjunto de contentores daquela região, valor que decresce substan-
cialmente para 5,7% se se tiverem em conta também as produções republicanas do restante território
da Ulterior. Representa ainda 21,74% das ânforas oleícolas e 42,86% do azeite importado do Vale do
Guadalquivir.
No que à cronologia dos contextos de recolha diz respeito, os dados são novamente escassos.
Na Sé Catedral, o bordo nº 12649 provém de um contexto datado de Augusto e o nº 16306 de um nível
balizado entre 25 a.C. e 25 d.C.. Os exemplares do Teatro Romano e da Praça da Figueira estavam des-
contextualizados.

6.1.1.11. Ovóide 8

A ovóide 8 corresponde a uma forma recentemente identificada (García Vargas, 2012) e sobre a
qual se dispõe ainda de pouca informação, não sendo conhecido até à data qualquer exemplar comple-
to. Foi individualizada no conjunto de materiais do Patio de Banderas de los Reales Alcázares de Sevilha,
na área do porto romano de Hispalis, em contextos datados entre 50 e 25 a.C., arco cronológico que
baliza, para já, o início e termo da sua produção (García Vargas et al., 2011, p. 205; García Vargas, 2012. p.
178). A classificação da Ovóide 8 respeitou a numeração das ânforas ovóides de Scallabis, que terminava
na Ovóide 7 (Almeida, 2008), e acrescentou três novas formas, Ovóide 8, 9 e 10 (García Vargas, 2012. p.
178), das quais as duas últimas estão aparentemente ausentes em Lisboa e Santarém.
No que se refere à sua morfologia, embora exiba algumas semelhanças com a Ovóide 5, uma
análise mais atenta permite distingui-la claramente daquela. Os bordos são altos - podendo ultrapassar
os 5 cm de altura como acontece nos dois exemplares de Olisipo - e muito moldurados, apresentando-se
a sua parte superior com secção triangular e inclinada para o exterior, descendo depois verticalmente
- no mesmo alinhamento da parede do colo - até ao limite inferior do bordo, que adquire o aspecto de
uma pequena moldura em anel, razão pela qual poderá ser confundido com a Ovóide 5. Observa-se um
colo cilíndrico, mais curto que naquele outro tipo, que parece transitar para o ombro de forma mais
ou menos abrupta, à semelhança do que acontece com a Ovóide 5. As asas arrancam directamente da

31. No âmbito do trabalho que aqui nos ocupa, procedeu-se a uma revisão da classificação daquele conjunto de ânforas, então classificado
como Oberaden 83, tendo por base a proposta de E. García Vargas, R. Almeida e H. González Cesteros (2011). Assim, identificaram-se dez
exemplares de bordo atribuíveis à Ovóide 6, correspondentes às peças com os nºs: 657, 743, 754, 756, 758, 2389, 2436, 2523, 2537 e 2558.

323
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Claustro da Sé

Sevilha

100km

Ovóide 8, Ulterior (García Vargas et al., 2011).


Figura 18 – Ovóide 8, Ulterior
Difusão (García
no território Vargas
português: et al., 2011). Difusão no território português: Lisboa.
Lisboa.

moldura inferior do bordo, ao contrário do que acontece com a Ovóide 5 em que aquelas se iniciam
sempre abaixo da moldura em anel (García Vargas et al., 2011, p. 205; García Vargas, 2012. p. 178).
O tipo de fabrico destes contentores indica uma origem no Vale do Guadalquivir, provavelmente
no baixo Guadalquivir, tendo em conta as pastas dos exemplares da Sé, não se tendo ainda identificado
os centros oleiros onde foram produzidos. Do mesmo modo, desconhece-se qual o produto, ou pro-
dutos, que se destinava a transportar, podendo-se, contudo, com base nos mesmos pressupostos de
outros tipos ovóides do Guadalquivir anteriormente descritos, intuir um conteúdo oleícola ou vinícola.
Na pesquisa que se realizou apenas se detectou a presença desta forma em Sevilha, nos já referi-
dos contextos onde pela primeira vez foi identificada, não se conhecendo a sua presença em quaisquer
outros locais do Ocidente Peninsular. Porém, o facto de apenas recentemente ter sido individualizada
bem como de se verificar a sua presença em Lisboa deixa antever a possibilidade de se virem a reco-
nhecer em outros sítios da Península Ibérica, sobretudo nas áreas onde se regista maior distribuição de
outros modelos ovóides tardo-republicanos do Guadalquivir, isto é, nas fachadas ocidental e oriental e
na área meridional.
Na amostra de Lisboa reconheceram-se apenas dois fragmentos de bordo do tipo Ovóide 8 nas
escavações realizadas no claustro da Sé Catedral, um dos quais foi exumado em nível genericamente
datado de entre o início do Principado de Augusto e meados do séc. I d.C. (nº 12590), enquanto o outro
procede de contexto pós-romano. Representam 0,32% da totalidade das ânforas republicanas e 3,85%
das importações com origem no Vale do Guadalquivir. De todos os tipos ovóides do Guadalquivir, tardo-
-republicanos e da Época de Augusto, só a Ovóide 2 está pior representada que a Ovóide 8. Por outras
palavras, os dados de Lisboa parecem confirmar o enquadramento que foi dado a esta forma relativa-
mente ao seu escasso êxito nos mercados da altura (García Vargas et al., 2011, p. 200).
Refira-se ainda, relativamente às questões formais, que a peça nº 12590 parece corresponder a
uma outra variante de bordo, apresentando pequenas diferenças relativamente ao exemplar de His-
palis (García Vargas, 2012, p. 192, fig. 8) e ao outro exemplar da Sé (nº 10725). Naquela, a parte medial
do bordo aparece mais destacada e aberta em relação à parede do colo, ou seja, com um alinhamento
distinto daquela e com ligeira inclinação; enquanto a moldura inferior do bordo ostenta um desenho
diferente, aparentando-se mais a uma pequena carena do que a uma moldura em anel. Nesta variante a
composição da totalidade do bordo é mais perceptível, distinguindo-se mais das Ovóide 5.

324
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

6.1.2. Hispania Citerior

6.1.2.1. Greco-Itálica Citerior

A Greco-Itálica produzida na costa nordeste da Hispania Citerior corresponde, juntamente com a


Dressel 1, à forma tipicamente romana mais precocemente fabricada naquela região, imitando os mo-
delos itálicos (López Mullor e Martín Menéndez, 2008a, p. 690).
Trata-se de uma ânfora sobre a qual a informação se mantém ainda assaz escassa, sendo co-
nhecidos apenas dois centros oleiros onde foram produzidas, Cabrera de Mar e El Vilar, Valls, situados
respectivamente nas actuais províncias de Barcelona e Tarragona (López Mullor e Martín Menéndez,
2006, p. 442-445; López Mullor e Martín Menéndez, 2008a, p. 689-690; López Mullor e Martín Menén-
dez, 2008b, p. 34-38). Nos poucos casos conhecidos, ainda que conservados apenas ao nível do bordo
e colo, estes contentores parecem reproduzir de forma bastante fiel os modelos itálicos, ostentando
os típicos bordos de secção triangular e colo ligeiramente inclinado (López Mullor e Martín Menéndez,
2008a, p. 690). As balizas cronológicas da sua produção encontram-se ainda relativamente mal defini-
das, situando-se presumivelmente entre o início do último quartel do séc. II a.C. e cerca de 75 a.C. (López
Mullor e Martín Menéndez, 2008a, p. 691-693; Járrega Domínguez, 2015, p. 93). O conteúdo vinícola é
assumido pela sua associação aos modelos itálicos, desconhecendo-se evidências directas que o com-
provem. Mais escassa ainda é a informação relativa à sua difusão, não sendo conhecida para lá da sua
região de fabrico (López Mullor e Martín Menéndez, 2008a, p. 693). A. J. Parker refere a possibilidade
das Greco-Itálicas do naufrágio La Ciotat A, costa Sul da Gallia, serem de produção hispânica, mas me-
ramente porque associadas com outros produtos originários da Península Ibérica, não sendo certo que
possam realmente corresponder a produções citeriores (Parker, 1992, p. 145). O único exemplar iden-
tificado em Lisboa, proveniente da Praça da Figueira, não deixa de colocar alguns problemas quanto à
sua classificação. Desde logo, a presença no extremo ocidental peninsular de uma forma cuja produção
e difusão parece ter sido tão escassa e tão localizada não deixa de ser surpreendente. Depois, o facto
de se tratar de um fragmento de pequena dimensão, onde apenas se conserva o bordo e o arranque da
parede do colo, aliado à proveniência estratigráfica (de cronologia desconhecida) também não facilita
a sua classificação tipológica.

El Vilar, Valls

Praça da Figueira

100km

Greco-Itálica, costa setentrional da Citerior (El Vilar: López Mullor e Mar n Menéndez, 2008).
Figura 19 – Greco-Itálica,
Difusão nocosta
território português: Lisboa.
setentrional da Citerior (El Vilar: López Mullor e Marín Menéndez, 2008). Difusão
no território português: Lisboa.

325
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Existem, porém, outros factores que, parece-me, permitem enquadrar esta peça nas Greco-Itáli-
cas da Citerior, ainda que com algumas reservas que, enfim, apenas a realização de análises petrológicas
e/ou químicas poderão dissipar. Embora de pequena dimensão, a secção do bordo é indiscutivelmente
atribuível a esse tipo: triangular e curto, espessura superior à altura e extensão externa máxima situada
a meia altura do bordo. Também o fabrico parece perfeitamente atribuível ao Nordeste da Citerior, com
uma pasta compacta, de tom vermelho-alaranjado e profusão de quartzos de variada granulometria.
Por fim, no exemplar da Praça da Figueira são ainda visíveis restos de um fino engobe de cor branca
mal conservado, algo que se constitui como uma das características mais distintivas das Greco-Itálicas
produzidas em Cabrera de Mar (López Mullor e Martín Menéndez, 2008a, p. 690; López Mullor e Martín
Menéndez, 2008b, p. 34). A sua expressão quantitativa na amostra republicana é pouco significativa,
representando apenas 0,16% das importações. A relevância da presença destas produções em Olisipo
prende-se sobretudo com a novidade que representa e com o seu significado no quadro das relações
e rotas comerciais em torno ao último quartel do séc. II a.C. entre o extremo Ocidente Peninsular e a
região nordeste, bem como na difusão e alcance daquelas produções que, até agora, apenas eram co-
nhecidas a nível regional.

6.1.2.2. Dressel 1 da Citerior

A constatação de uma produção de Dressel 1 na costa setentrional da Citerior ocorreu durante


a década de 80 do século passado, tendo sido desencadeada sobretudo pela observação de pastas
atribuíveis àquela região em contentores morfologicamente enquadráveis naquele tipo (Miró Canals e
Pons Pujol, 1982-1983 apud Miró Canals, 1988; Comas et al., 1987). À semelhança da forma que atrás se
descreveu, trata-se da imitação de um modelo itálico, de cronologia ainda mal definida mas cuja produ-
ção se deverá enquadrar ao longo de todo o século I a.C., que serviria para envasar vinho (Miró Canals,
1988, p. 60-63; López Mullor e Martín Menéndez, 2006, p. 441-445; López Mullor e Martín Menéndez,
2008a, p. 689-693; López Mullor e Martín Menéndez, 2008b, p. 34-38; Miró Canals, 2016). Como seria
expectável, tratando-se de uma imitação, apresenta grande similitude formal com o modelo itálico, os-
tentando corpo fusiforme, com fundo maciço e robusto. Com apreciáveis variações nos três subtipos,
A, B e C, o bordo pode ser triangular e curto, ou mais alto e de tendência sub-rectangular, por vezes
côncavo na face externa. O colo é alto e cilíndrico e as asas de secção oval, de perfil sinuoso ou paralelas

100km

Dressel 1, costa setentrional da Citerior (Miró Canalls, 2016).


Figura 20 – Dressel 1, costa
Difusão setentrional
no território daLisboa.
português: Citerior (Miró Canalls, 2016). Difusão no território português: Lisboa.

326
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

ao colo arrancando abaixo do bordo e repousando no ombro. Este pode ser mais ou menos marcado
por uma carena (Miró Canals, 2016).
A real difusão desta forma está ainda por apreender, sendo apenas conhecida na região de pro-
dução, nas Baleares, na costa Sul da Gália, em Bordéus de forma muito tímida, possivelmente em Mála-
ga e em Dangstetten, para lá da possibilidade de estar presente em alguns naufrágios (López Mullor
e Martín Menéndez, 2008a, p. 693; Ehmig, 2010, p. 42; Miró Canals, 2016; Mateo Corredor e Mayorga
Mayorga, 2017, p. 114).
A atribuição desta procedência ao exemplar do Banco de Portugal não deixa de colocar algumas
dúvidas (que apenas poderão ser totalmente dissipadas através da realização de análises químicas),
seja porque a imitação daquela forma na Citerior não terá, alegadamente, conhecido grande difusão
fora da região de produção, seja porque o fabrico observável no referido exemplar não corresponde ao
tipo de pasta que mais comummente se observa nas ânforas tarraconenses identificadas em Lisboa (de
tons vermelhos/vermelho-acastanhados com abundantes quartzos).
Todavia, a costa setentrional da província Citerior/Tarraconense parece caracterizar-se por uma
relativa diversidade de tipos de pasta (Martínez Ferreras, 2014), incluindo pastas claras, de tons bege,
amarelados, esverdeados ou rosados, como acontece, por exemplo, nos centros produtores de Darró e
Vilarenc (López Mullor, 1986-1989; López Mullor, 2009; López Mullor e Martín Menéndez, 2006, 2008a
e 2008b; Martínez Ferreras, 2014).
A pasta da Dressel 1 do Banco de Portugal insere-se neste tipo de fabrico, de cor bege/amarelada,
com presença de quartzo e ocasionais óxidos de ferro, embora morfologicamente se aproxime mais
dos exemplares do centro produtor de Burriac (Miró Canals, 1988, p. 61, nº 2-3; Lopez Mullor e Martin
Menéndez, 2006, p. 444, fig. 2, nºs 9-11), que, no entanto, não parece ter utilizado pastas claras.
Resta mencionar que no referido exemplar do Banco de Portugal se registou a presença de ves-
tígios de revestimento resinoso na superfície interna.

6.1.3. Ebusus

6.1.3.1. T-8.1.3.2./PE 17

Classificada como tipo E por J. M. Mañá (1951), viria a ser enquadrada na tipologia das ânforas
Púnico-Ebusitanas (PE) de J. Ramón Torres (1981; 1991) com o número 17, e mais tarde, no âmbito do
estudo sobre as ânforas fenício-púnicas do Mediterrâneo central e ocidental efectuado pelo mesmo au-
tor, no tipo T-8.1.3.2. (Ramón Torres, 1995). Trata-se de uma ânfora ebusitana que evolui directamente a
partir da T-8.1.3.1. e cuja evolução tipológica resulta na T-8.1.3.3., ou PE 18, que a sucede (Ramón Torres,
1991, p. 110; Ramón Torres, 1995, p. 223; Ramón Torres, 2016).
Morfologicamente caracteriza-se por um corpo bicónico, de paredes tendencialmente direitas e
pouco espessas, caneladas desde as asas até aproximadamente a meio do cone inferior, terminando
num fundo cónico e oco. O bordo, que pode apresentar algumas variações, é ligeiramente inclinado,
apresentando-se engrossado e com lábio arredondado na parte superior, estreitando a partir daí de for-
ma rectilínea até à parede do colo, da qual habitualmente se destaca através de um pequeno ressalto. O
colo é meramente a continuação da parte superior do corpo, apenas diferenciado pela implantação das
asas a meio daquela. Estas são de secção e perfil circular, de pequena dimensão (Ramón Torres, 1991,
p. 110-111; Ramón Torres, 1995, p. 224).
As T-8.1.3.2. foram produzidas na Ilha de Ibiza durante todo o séc. II a.C. (Ramón Torres, 1995, p.
224; Ramón Torres, 2016). Um conteúdo vinário parece suficientemente demonstrado por um conjunto
de evidências que incluem a documentação de vestígios de revestimento resinoso no seu interior, a
presença de grainhas de uva em alguns envases deste tipo no naufrágio junto à Illa des Conills, Baleares,
para além de estampilhas que imitam o estilo ródio (Ramón Torres, 1995, p. 265; Pons Valens, 2005, p.
759; Ramón Torres, 2008, p. 82; Ramón Torres, 2013, p. 88; Ramón Torres, 2017, p. 50).
Durante o séc. II a.C. constituiu-se como o contentor ebusitano de maior sucesso, tendo sido am-
plamente comercializado nas ilhas baleares e ao longo de toda a costa oriental peninsular, principalmente

327
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

100km

T-8.1.3.2./PE 17, Ebusus (foto: Ramón Torres, 1995).


Figura 21 – T-8.1.3.2./PE
Difusão no17,
território
Ebusus português: Lisboa. Torres, 1995). Difusão no território português: Lisboa.
(foto: Ramón

no litoral valenciano e alicantino, estando igualmente presente no Sul da Península Ibérica e no actual ter-
ritório de Marrocos e da Argélia, bem como em Pompeia, ainda que aqui de forma aparentemente episó-
dica (Ramón Torres, 1995, p. 223; Bernal Casasola et al., 2004-2005, p. 104; Pascual Berlanga et al., 2008,
p. 506; Sáez Romero, 2008a, p. 394; Ramón Torres, 2013, p. 107, fig. 7; Mateo Corredor, 2014, p. 64-66).
Do único exemplar que se identificou em Lisboa - proveniente de um contexto pós-romano da
escavação do Palácio das Cozinhas, Castelo - existia já referência à sua existência no trabalho sobre as
ânforas republicanas do Castelo de São Jorge (Pimenta, 2005, p. 46), ainda que então não tivesse sido
ilustrado, pelo que a sua presença em Olisipo não poderá ser considerada propriamente uma novida-
de. Trata-se do único caso conhecido em toda a fachada atlântica e, concomitantemente, à ocorrência
mais ocidental deste tipo, embora a existência de relações comerciais entre o Ocidente Peninsular e as
ilhas Baleares estivesse já atestada para cronologias ligeiramente anteriores, nomeadamente por um
exemplar proveniente de Mértola, classificado como T-8.1.3.1. (Hourcade et al., 2003, p. 199), e por um
outro da foz do rio Arade, este consideravelmente mais antigo, enquadrado pelos autores no tipo PE 13
(T-1.3.2.3.) (Alves et al., 2001, fig. 2, nº 4).
Existe ainda registo da presença da sua sucessora, a T-8.1.3.3., em Bracara Augusta (Morais, 2005,
p. 117; Morais et al., 2012, p. 511). Seria, portanto, um tipo francamente minoritário, testemunhando
relações comerciais bastante moderadas entre o extremo Ocidente Peninsular e a Ilha de Ibiza durante
a República, que se intensificariam um pouco mais durante o Principado, significando apenas 0,16% das
importações anfóricas durante a República e 0,28% do vinho importado durante este período.

6.1.4. Italia

6.1.4.1. Greco-Itálica

Identificada pela primeira vez por F. Benoit (1957, p. 247-285), a denominada Greco-Itálica corres-
ponde a uma ânfora de inspiração grega, da qual derivam as ânforas itálicas republicanas, sendo bas-
tante comum em contextos relacionados com a expansão marítima da República Romana (Manacorda,
1981, p. 24; Will, 1982; Fabião, 1998, p. 372-375; García Vargas, 1998, p. 70).
A sua produção durante uma extensa diacronia, que se traduziu em distintas variantes morfoló-
gicas, tem dificultado a sua correcta definição e caracterização, tendo sido alvo de estudo por parte de

328
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

inúmeros investigadores (Manacorda, 1981; Hesnard e Lemoine, 1981; Will, 1982; Sanmartí Greco, 1985
e 1992; Gateau, 1990; Vandermersch, 1994; Maza, 1998). E. Will (1982) propôs uma subdivisão do tipo
em cinco variantes, de A a E, com base no seu desenvolvimento morfológico. Esta proposta viria a ser
largamente contestada devido à sua falta de operacionalidade e inconsistência (Empereur e Hesnard,
1987, p. 25-28).
Um dos aspectos relacionados com a classificação desta forma que mais abordagens tem mere-
cido por parte dos investigadores relaciona-se com a fase de transição entre as produções mais tardias
do tipo Greco-Itálico e as primeiras produções da designada Dressel 1, herdeira directa daquela. Estas
duas formas coexistiram durante cerca de uma década, tendo sido produzidas nos mesmos centros
produtores e comercializadas nos mesmos circuitos de distribuição, evidenciando mais uma evolução
contínua, sem rupturas, do que uma transição entre as duas formas (Pimenta, 2005, p. 49).
De facto, a problemática inerente a uma correcta classificação num ou noutro tipo levou ao de-
senvolvimento de propostas metodológicas que permitissem uma correcta distinção tipológica entre
ambos, especialmente difícil quando perante exemplares fragmentados. É neste contexto que surgem
as propostas de A. Hesnard e C. Lemoine (1981), posteriormente revistas por E. Sanmartí Greco (1985
e 1992) e aperfeiçoadas por F. Gateau (1990). O estudo levado a cabo sobre um conjunto de materiais
provenientes de Lyon (Maza, 1998) viria a atestar a operacionalidade do método de Gateau na distin-
ção entre as Greco-Itálicas e as primeiras Dressel 1. A proposta de F. Gateau (1990) tem por base uma
equação matemática assente na relação altura/espessura do lábio. Os exemplares cujo resultado da
divisão entre a altura do bordo e a espessura do mesmo seja igual ou inferior a 1,2 são considerados
como Greco-Itálicas; os que sejam iguais a 1,3 são formas de transição; e os maiores de 1,4 são Dressel 1.
Apesar das limitações reconhecidas, foi esta a metodologia utilizada neste trabalho para distinguir en-
tre um e outro tipo.
As ânforas de tipo Greco-Itálico caracterizavam-se por um corpo fusiforme, terminando num fun-
do maciço e não muito alto. O bordo era triangular, curto e bem demarcado do colo, apresentando-se
este com perfil cilíndrico, alto e estreito. As asas arrancavam abaixo do bordo e desciam até ao ombro
de forma sinuosa, com secção oval (Peacock e Williams, 1986, p. 84; Empereur e Hesnard, 1987, p. 29-30;
Molina Vidal, 1997, p. 40-42).

100km

Greco-Itálica, Península Itálica (Nolla Brufau, 1974; www.archaeologydataservice.ac.uk).


Figura 22 – Greco-Itálica, Península
Difusão no território ItálicaSantarém,
português: (Nolla Brufau,
Chões de 1974;
Alpompé,www.archaeologydataservice.ac.uk).
Porto de Sabugueiro, Alverca do Ribatejo,
Lisboa,português:
Difusão no território Evoramonte, Santarém,
Mata-Filhos, Mértola,
Chões deMesas do Castelinho,
Alpompé, PortoMonte Molião, Faro, Cerro
de Sabugueiro, do Cavaco,
Alverca do Ribatejo, Lisboa,
Castelo de Castro
Evoramonte, Mata-Filhos, Marim.Mesas do Castelinho, Monte Molião, Faro, Cerro do Cavaco, Castelo de Castro
Mértola,
Marim.

329
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

A sua produção parece ter ocorrido num arco cronológico que se estende desde o final do século
IV a.C. até ao terceiro quartel do século II a.C., tendo sido fabricadas na região centro e Sul da costa
tirrénica da Península Itálica (Etrúria, Lácio e Campânia) mas também na costa adriática e na Sicília,
destinando-se a transportar vinho (Hesnard e Lemoine, 1981, p. 251-262; Hesnard et al., 1989, p. 60-62;
Cipriano e Carré, 1989, 68-91; Olcese, 2011-2012). Foram igualmente produzidas imitações deste tipo no
Sul da Gália, em Marselha, datadas do final do século III a.C. (Laubenheimer, 1990); em Ibiza, denomina-
das de PE 24 (Ramón Torres, 1991); e na Baía de Cádis (Perdigones Moreno e Muñoz Vicente, 1990; Pérez
Rivera, 2000; Bernal et al., 2003; Bustamante Álvarez e Martín-Arroyo Sánchez, 2004).
A fase de transição entre as Greco-Itálicas e as Dressel 1 parece situar-se entre 140 e 130 a.C.
(Pimenta, 2005, p. 49), estando a sua presença largamente documentada principalmente no Mediterrâ-
neo Ocidental, com particular incidência na Península Ibérica (Molina Vidal, 1997, p. 39). No território ac-
tualmente português surge invariavelmente em níveis da segunda metade do século II a.C. e em âmbito
de difusão militar, constituindo-se como um importante elemento na caracterização cronológica dos
contextos estratigráficos (Fabião, 1998b, p. 374-375; Filipe, 2008b, p. 34-35). Embora a cartografia da
difusão das Greco-Itálicas no espaço hoje português se tenha ampliado substancialmente nos últimos
20 anos, continuam actualizadas as observações efectuadas por C. Fabião (1998, p. 374-375) a respeito
do tema, observando-se a sua presença principalmente no Vale do Tejo, necessariamente associada à
movimentação de tropas no contexto da campanha de Décimo Júnio Bruto, e no litoral algarvio e inte-
rior alentejano, regiões onde o domínio romano se encontrava mais estabelecido. No estado actual da
investigação, estas ânforas estão atestadas em Santarém (Arruda e Almeida, 1999, p. 316; Bargão, 2006,
p. 36-38), Chões de Alpompé (Fabião, 1989, p. 98; Bargão, 2006, p. 100; Pimenta e Arruda, 2014, p. 387),
Porto de Sabugueiro (Pimenta e Mendes, 2008, p. 189; Pimenta e Mendes, 2013, p. 198; Pimenta et al.,
2014b, p. 44), Alverca do Ribatejo (Pimenta e Mendes, 2007, p. 59), Evoramonte (Mataloto, 2010, p. 70),
Mesas do Castelinho (Fabião, 1998, p. 371-375; Parreira, 2009, p. 51-53), Mértola (Palma, 2009, p. 65),
Mata-Filhos (Luís, 2003, fig. 6, nº 2), Monte Molião (Arruda e Sousa, 2012, p. 102; Sousa e Serra, 2006,
p. 15), Faro (Bargão, 2006, p. 100; Viegas, 2011, p. 187), Cerro do Cavaco (Bargão, 2006, p. 99) e Castro
Marim (Viegas, 2011, p. 474). De fora foram deixados alguns exemplares que não parecem encaixar nos
índices propostos para a caracterização deste tipo, tais como o exemplar de Conimbriga (Alarcão, 1976,
p. 80-81), de Tróia (Diogo e Trindade, 1992, Est. 1, nº 1), de Vila Velha de Alvor, Portimão (neste caso não
chegou a ser publicado, veja-se comentários em Fabião, 1998, p. 371), de Freiria (Cardoso, 2015, p. 361)
e de Leião (Cardoso, 2011, fig. 76).
Em Lisboa está amplamente atestada no Castelo de São Jorge (Pimenta, 2005, p. 48-50; Filipe et
al., 2013, p. 8; Mota et al., 2014, p. 165; Pimenta et al., 2014a, p. 135), surgindo também em proporções
razoáveis no Teatro Romano (Diogo, 2000, p. 163; Filipe, 2008, p. 33-35; Filipe, 2015, p. 138) e mais dis-
cretamente na Rua das Pedras Negras (Gomes et al., 2017) e na Rua de São Mamede (Mota et al., 2017).
No conjunto inédito de Olisipo foi identificado um Número Mínimo de 137 Indivíduos deste tipo,
sendo que 119 correspondem a produções da costa tirrénica da Península Itálica e os restantes 18 a
contentores produzidos no litoral adriático. Para além destes, foram ainda isolados 16 indivíduos com
pastas tirrénicas que se classificaram indistintamente como Greco-Itálica/Dressel 1 por se tratar de frag-
mentos de fundo e asa, de difícil distinção entre um e outro tipo. Este conjunto de 16 NMI é, ainda as-
sim, bastante significativo, representando 2,56% das ânforas republicanas e 4,71% dos envases vinários.
Voltando às Greco-Itálicas, trata-se de um dos contentores com maior peso no comércio de ali-
mentos durante a fase republicana, representando 21,96% da globalidade das ânforas desse período e
40,29% dos contentores destinados a transportar vinho. No contexto da totalidade das importações
com origem na Península Itálica significa 40,65%, representando 40,48% dos envases produzidos na cos-
ta tirrénica e 41,86% dos fabricados no litoral adriático. Estes números, ainda que na globalidade sejam
inferiores aos da Dressel 1, são verdadeiramente impressionantes se se tiver em conta que o espectro
temporal em que as ânforas deste tipo chegaram ao extremo ocidental da Península Ibérica não deverá
ter sido muito superior a um decénio, ao contrário das Dressel 1 ou das T-7.4.3.3. cuja importação se
estendeu por um período muito mais extenso. Este facto sublinha o investimento e esforços feitos por
Roma nas campanhas militares encetadas por Décimo Júnio Bruto no Ocidente Peninsular, testemu-
nhando de forma bastante ilustrativa a forte presença de militares no Vale do Tejo durante a segunda

330
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

metade do terceiro quartel do séc. II a.C., originando a importação massiva de géneros alimentares
transportados em ânforas, sobretudo do vinho itálico. Este volume de importações extraprovinciais
de vinho foi de tal ordem que não mais se voltou a verificar ao longo dos vários séculos da presença
romana. Do mesmo modo, até à data, em nenhuma outra região do território português se verificam
as quantidades de contentores anfóricos deste tipo observados no Vale do Tejo, principalmente, e de
forma esmagadora diria, na cidade de Olisipo.
Os exemplares de Greco-Itálica desta amostra foram exumados nas seguintes intervenções: Ban-
co de Portugal (um bordo), Escadinhas de São Crispim (um bordo e uma asa; Adriático: uma asa), FRESS
(sete bordos), Largo de Santa Cruz do Castelo (24 bordos e três fundos; Adriático: quatro bordos, um
fundo e duas asas), Palácio dos Condes de Penafiel (sete bordos), Palácio do Marquês de Angeja (um
bordo), Pátio da Sr.ª de Murça (dois bordos; Adriático: um fundo), Pátio José Pedreira (14 bordos; Adriá-
tico: três bordos e uma asa), Praça da Figueira (dois bordos; Adriático: um bordo e uma asa), Praça Nova
(13 bordos), Rua de Santa Cruz do Castelo (um bordo), Rua de São Mamede (três bordos), Rua do Espi-
rito Santo (dois bordos e dois fundos; Adriático: três asas), Rua do Recolhimento (um bordo), Rua de
São João da Praça (2001) (um bordo), Sé Catedral (31 bordos; Adriático: dois bordos), Teatro Romano
(quatro bordos; Adriático: três bordos e uma asa), antigas (quatro bordos) e recentes escavações da
Rua das Pedras Negras (um bordo).
Relativamente à cronologia dos contextos de recolha destes materiais, os dados não são es-
pecialmente generosos. Por um lado, e à semelhança de uma boa parte da amostra de Olisipo na sua
globalidade, observa-se que uma quantidade muito significativa, a grande maioria mesmo, corresponde
a material residual exumado em níveis do séc. I a.C., imperiais ou pós-romanos. Por outro, a maioria
dos contextos de Época Republicana de onde provêm estas ânforas não foram ainda detalhadamente
analisados, pelo que as cronologias avançadas para os mesmos extravasam invariavelmente os limites
cronológicos da comercialização daquelas ânforas. Por este motivo, são muito escassos os contextos
datados do terceiro quartel do séc. II a.C. e, consequentemente, dos envases deste tipo recolhidos em
contexto da época.
Dos exemplares indiscutivelmente identificados em contexto da época ou pouco posteriores, po-
der-se-ão referir os seguintes casos: em níveis do terceiro quartel do séc. II a.C. no Pátio José Pedreira
documentaram-se seis bordos (2444.02, 2444.05, 2444.06, 2444.16, 2444.17, 2444.18 e 2554.01) e vários
fragmentos de asa classificados como Greco-Itálica/Dressel 1; da segunda metade do séc. II a.C., o bordo
nº 29 e algumas asas e fundos da Rua de Santa Cruz do Castelo; entre 138 e primeiro quartel do séc. I
a.C., duas peças da Rua do Espírito Santo, um fundo e uma asa, esta última do Adriático (respectivamen-
te, nºs 17 e 15); por fim, na Rua do Recolhimento exumou-se um exemplar em contexto genericamente
situável entre o terceiro quartel do séc. II e o terceiro quartel do séc. I a.C..
Quanto às variantes de bordo, observa-se maioritariamente a presença de peças com perfis que
se aproximam morfologicamente das designadas Dressel 1 de transição, embora não deixem de es-
tar igualmente presentes variantes de bordo menos inclinado e mais largo, destacando-se, a título de
exemplo, os exemplares nº 240 do Largo de Santa Cruz do Castelo e nº 1 da Rua do Recolhimento, am-
bos no castelo.
O exemplar do Banco de Portugal (nº 129) exibe ainda restos de revestimento resinoso na super-
fície interna.

6.1.4.2. Dressel 1 Itálica

A Dressel 1 constitui-se como o principal e mais difundido contentor destinado ao transporte dos
vinhos itálicos durante a fase de conquista romana do Mediterrâneo Ocidental, herdando da Greco-
-Itálica as suas principais características morfológicas (Almeida, 2008, p. 61). Inicialmente individuali-
zada por H. Dressel (1899) com o número 1 da sua tabela, foi posteriormente dividida nos subtipos A,
B e C por Lamboglia (1955), com base em critérios morfológicos que assentavam sobretudo na altura
e inclinação dos bordos. Nesta óptica, as três variantes sucediam-se no tempo e apresentavam signi-
ficados cronológicos distintos. Esta divisão tradicional, que viria a ser adoptada e seguida por muitos

331
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

investigadores (Will, 1979; Peacock e Williams, 1986) e que actualmente ainda é utilizada, foi também
bastante contestada, sobretudo devido à imprecisão que revelava na hora de distinguir entre cada uma
das variantes, principalmente quando diante de exemplares fragmentados (Manacorda, 1981; Panella,
1981; Tchernia, 1986; Lougthon, 2000).
Estas dificuldades acabariam por levar à apresentação de novas propostas metodológicas com
base em fórmulas matemáticas, com o objectivo de permitir uma correcta distinção entre as três va-
riantes (Gateau, 1990; Maza, 1998). Mais relevante para esta questão terá sido a tomada de consciência
por parte do meio científico de que as três variantes não se sucediam no tempo, naquilo que se consi-
derava ser uma evolução formal acompanhada de distintos significados cronológicos para cada uma,
tendo antes ficado demonstrada a contemporaneidade das referidas variantes, no âmbito do estudo
dos conjuntos associados à fundação de Lyon (Mandy et al., 1987-88). Face ao exposto, a tendência
actual é o retorno à designação genérica de “Dressel 1” que se mantém, afinal, como a mais operativa
(Hesnard et al., 1989; Fabião, 1998, p. 375-384; Benquet e Olmer, 2002), tendo sido esta a designação
que se adoptou neste trabalho.
A dificuldade em sistematizar o real significado da variação morfológica das Dressel 1 poderá
encontrar explicação na profusão de centros oleiros que terão fabricado contentores deste tipo, es-
timando-se que tenham existido mais de uma centena (Hesnard et al., 1989). Questões como a olaria
de onde procede, o período em que funcionou a mesma, ou a sua localização geográfica poderão ter
tido influência na pluralidade de variantes de bordo que se observa (Benquet e Olmer, 2002). Natural-
mente, perante este cenário, é questionável a pertinência cronológica tradicionalmente atribuída às
diferentes variantes, e, do mesmo modo, compreensível que as principais linhas de investigação cada
vez mais se inclinem para a relação da variação formal com os centros produtores (Fabião, 1998, p.
376). Caracteriza-se por um corpo fusiforme ou tendencialmente cilíndrico, com bordo que pode ser
de secção triangular e perfil inclinado ou tendencialmente sub-rectangular, mais vertical e espessado;
de colo alto e cilíndrico, asas de secção ovalada que arrancam abaixo do bordo, descendo paralelas ao
colo até se ligarem ao ombro, sendo este normalmente bem marcado, rematada por um bico fundeiro
maciço, robusto e de tendência cónica (Peacock e Williams, 1986, p. 86-92; Molina Vidal, 1997, p. 43;
Filipe, 2008, p. 35).
A sua produção estende-se desde os meados do terceiro quartel do século II a.C. até às décadas
finais do séc. I a.C. (Peacock e Williams, 1986; Tchernia, 1986; Desbat, 1998), tendo sido produzida em
múltiplos centros oleiros localizados na costa tirrénica da Península Itálica, concretamente nas regiões
da Etrúria, Campânia e Lácio (Peacock, 1977; Hesnard e Lemoine, 1981; Hesnard et al., 1989; Olcese, 2011-
2012). São também conhecidas imitações deste tipo na Gália (Laubenheimer, 1990; Dangreaux et al.,
1992; Desbat, 1994) e na Península Ibérica, na área da Andaluzia e Catalunha (Fernández Cacho, 1992;
Lagóstena Barrios, 1994; Benquet e Olmer, 2002; Almeida, 2008), interpretando-se estas produções
como uma manifestação evidente do processo de romanização dos contentores (Fabião, 1998a, p. 178).
Esta forma conheceu uma ampla difusão nos territórios sob a alçada de Roma, principalmente no
Mediterrâneo ocidental, nas costas tirrénicas da Península Itálica, na Gália e na Hispânia (Molina Vidal,
1997, p. 46). Em Portugal as Dressel 1 estão bem atestadas em todo o território, desde o Minho ao Algar-
ve, no interior e no litoral, embora com particular incidência nas zonas costeiras e nas áreas próximas
aos grandes rios, encontrando-se identificadas em: vários castros da região do Minho (ver mapa de
difusão) (Soeiro, 1984; Sá e Paiva, 1989; Paiva, 1993), em Orjais, Covilhã (Pimenta, 2005), na Lomba do
Canho (Fabião, 1989), em Maiorca, Figueira da Foz (Imperial, 2010), em Coimbra (Carvalho, 1998; Silva,
2015), Conimbriga (Alarcão, 1976; Buraca, 2005), na ilha da Berlenga (Bugalhão e Lourenço, 2006; Car-
doso, 2013), Santarém (Diogo, 1984; Arruda e Almeida, 1999; Bargão, 2006), Chões de Alpompé (Diogo,
1982; Fabião, 1989; Ferreira et al., 1993; Bargão, 2006; Pimenta e Arruda, 2014), Porto de Sabugueiro (Pi-
menta e Mendes, 2013; Pimenta et al., 2014), Alto dos Cacos (Pimenta et al., 2012; Pimenta et al., 2014c),
Alto do Castelo (Arruda e Almeida, 1999), Castro de São Salvador, Cadaval (Cardoso, 2014), Castelo de
Povos (Pimenta e Mendes, 2012), Monte dos Castelinhos (Pimenta et al., 2008), entre a vala nova de
Salvaterra de Magos e a vala de Muge, Mouchão da Póvoa, Alhandra e imediações de Vila Franca de
Xira, todos provenientes do Tejo (Diogo, 1987b; Diogo e Alves, 1988-1989; Quaresma, 2005; Cardoso,
2013), Santa Eufémia (Arruda e Almeida, 1999), São Marcos (Maia, 1980), villa de Freiria (Cardoso, 2015),

332
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

100km

Dressel 1, Península Itálica (www.archaeologydataservice.ac.uk).


Figura 23 – Dressel
Difusão1,no
Península Itálica (www.archaeologydataservice.ac.uk).
território português: Monção, Castro do Coto da Pena, Cividade de Âncora, Castro do Vieito,
Guilheta,
Difusão no território Castelo do Neiva,
português: Monção,Cividade de Terroso,
Castro do CotoCastro
dadaPena,
Senhora da Saúde,de
Cividade Castro de Baiza,
Âncora, Castelo
Castro dodeVieito, Guilheta,
Gaia,Cividade
Castelo do Neiva, Monte Mozinho, Sanfins, Castro
de Terroso, Castrode Fiães, Orjais, Lomba
da Senhora do Canho,Castro
da Saúde, Maiorcade (Figueira
Baiza,da Castelo
Foz), Coim-de Gaia, Monte
bra, Conimbriga, Ilha da Berlenga, Santarém, Chões de Alpompé, Porto de Sabugueiro, Alto dos Cacos, Al-
Mozinho, Sanfins, Castro de Fiães, Orjais, Lomba do Canho, Maiorca (Figueira da Foz), Coimbra, Conimbriga, Ilha
to do Castelo, Castro de S. Salvador, Castelo de Povos, Monte dos Castelinhos, entre a vala nova de Salva-
da Berlenga, Santarém, Chões
terra de Magos de de
e a vala Alpompé, Portodade
Muge, Mouchão Sabugueiro,
Póvoa, Alto dosde
Alhandra, imediações Cacos, Altodedo
Vila Franca Castelo,
Xira, Lisboa, Castro de São
Salvador, Castelo deEufémia,
Santa Povos,S.Monte
Marcos, dos Castelinhos,
Ermidas, entre
ao largo de Santa a vala
Marta, nova
Freiria, de Salvaterra
Colaride, de Magos
Cacilhas, Almaraz, Quintaedaa vala de Muge,
Mouchão da Póvoa, Alhandra,
Torre, Chibanes, imediações
Pedrão, Castelo dosde Vila Franca
Mouros, praia da de Xira, Lisboa,
Figueirinha, Setúbal,Santa Eufémia,ilha
Tróia, Mirobriga, São Marcos, Ermidas, ao
do Pesse-
gueiro, Cabo
largo de Santa Marta, Sardão,
Freiria, Evoramonte,
Colaride, Quinta Almaraz,
Cacilhas, do Freixo, Monte
Quinta da da
Nora, Castelo
Torre, Velho de Veiros,
Chibanes, Pedrão,Cabeço de
Castelo dos Mouros,
Vaiamonte,
praia da Figueirinha, villa deTróia,
Setúbal, CourelaMirobriga,
das Antas, Garvão,
Ilha doCastelo das Juntas, Castelo
Pessegueiro, Cabo da Lousa, Castelinho
Sardão, Evoramonte,dos Mou-
Quinta do Freixo,
Monte da Nora,ros, Mata-Filhos,
Castelo Velho Mértola, Monte Manuel
de Veiros, Cabeço Galo,
deMesas do Castelinho,
Vaiamonte, villaMonte Molião, Cerro
de Courela da RochaGarvão,
das Antas, Bran- Castelo das
ca, Vila Velha de Alvor, Ilhéu do Rosário, foz do rio Arade, Faro, Cabo de Santa Maria, Cerro do Cavaco, Cas-
Juntas, Castelotelo
da deLousa, Castelinho dos Mouros, Mata-Filhos,
Castro Marim, Forte de S. Sebas ão de Castro Marim.
Mértola, Monte Manuel Galo, Mesas do Casteli-
nho, Monte Molião, Cerro da Rocha Branca, Vila Velha de Alvor, Ilhéu do Rosário, foz do rio Arade, Faro, Cabo de
Santa Maria, Cerro do Cavaco, Castelo de Castro Marim, Forte de São Sebastião de Castro Marim.

Ermidas, região de Sintra (Pimenta, 1982-83), Colaride (Coelho, 2002), ao largo de Santa Marta (Cardo-
so, 2013), Cacilhas (Barros e Amaro, 1984-85), Almaraz (Barros e Henriques, 2002), Quinta da Torre, Al-
mada (Pimenta, 2005), Chibanes (Fernandes e Carvalho, 1996; Silva e Soares, 1997, 2012; Soares e Silva,
2014), Pedrão (Soares e Silva, 1973), Setúbal (Silva e Coelho-Soares, 2014), Castelo dos Mouros (Silva e
Soares, 1986), praia da Figueirinha (Cardoso, 2013), Tróia (Diogo e Trindade, 1998; Cardoso, 2013), Miro-
briga (Diogo, 1999a), Garvão (Arruda e Almeida, 1999), Ilha do Pessegueiro (Silva e Soares, 1993), Cabo
Sardão (Diogo, 1999b; Cardoso, 2013), Evoramonte (Mataloto, 2010), Quinta do Freixo, Serra d’Ossa
(Arruda e Almeida, 1999), Monte da Nora (Teichner, 2008), Castelo Velho de Veiros (Arnaud, 1969; Ma-
taloto e Roque, 2012), Castelo da Lousa (Morais, 2010a), Cabeça de Vaiamonte (Fabião, 1996), villa da
Courela das Antas (Arruda e Almeida, 1999), Castelo das Juntas (Madeira, 1986), Castelinho dos Mouros
(Madeira, 1986), Mesas do Castelinho (Parreira, 2009), Monte Manuel Galo (Alves, 2014), Mata-Filhos
(Luís, 2003), Mértola (Fabião, 1987), Monte Molião (Estrela, 1999; Arruda e Sousa, 2012), Cerro da Rocha
Branca (Gomes et al., 1986), Vila Velha de Alvor (Arruda e Almeida, 1999), Ilhéu do Rosário (Pimenta,
2005), foz do Arade (Silva et al., 1987; Diogo et al., 2000; Fonseca, 2015), Faro (Viegas, 2011), Cabo de
Santa Maria (Cardoso, 2013), Cerro do Cavaco (Arruda e Almeida, 1999; Bargão, 2005), Castelo de Castro
Marim (Viegas, 2011) e Forte de São Sebastião de Castro Marim (Arruda e Pereira, 2008).
Concretamente em Lisboa, as Dressel 1 estão atestadas em quantidades muito significativas prin-
cipalmente no castelo de São Jorge, onde são conhecidos mais de duas centenas de exemplares (Pi-
menta, 2005, p. 50-51; Filipe et al., 2013, p. 8; Mota et al., 2014, p. 165; Pimenta et al., 2014a, p. 135), mas
também no Teatro Romano (Diogo e Trindade, 1999, p. 87; Diogo, 2000, p. 165; Filipe, 2008, p. 35-37;
Filipe, 2015, p. 138), na Sommer (Gaspar e Gomes, 2007, p. 692), na Casa dos Bicos (Filipe et al., 2016,

333
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

p. 440), na Rua das Pedras Negras (Gomes et al., 2017), na Praça da Figueira, antigas intervenções (Al-
meida e Filipe, 2013, p. 742), na Rua dos Bacalhoeiros (Filipe, 2008, p. 310), na Rua de São Mamede
(Mota et al., 2017), no NARQ (Bugalhão et al., 2013, p. 265), na FRESS (Silva, 2014, p. 185), no Fundeadou-
ro da Praça D. Luís (Parreira e Macedo, 2013, p. 751) e na Casa do Governador, Belém (Filipe, 2011, p. 79).
No conjunto inédito que aqui se considera a Dressel 1 corresponde ao segundo tipo republicano
melhor representado, apenas ultrapassado pelas T-7.4.3.3., tendo-se documentado 158 indivíduos des-
tes recipientes produzidos na costa tirrénica da Península Itálica. Procedem da Calçada do Correio Velho
(uma asa), Casa dos Bicos (um bordo), Encosta de Sant’Ana (um fundo e duas asas), Escadinhas de São
Crispim (um bordo, dois fundos e sete asas), Grupo Desportivo do Castelo (três bordos e três fundos),
Largo de Santa Cruz do Castelo (39 bordos e dois fundos), Palácio dos Condes de Penafiel (três bordos
e três fundos), Palácio do Marquês de Angeja (um bordo e duas asas), Pátio da Sr.ª de Murça (quatro
bordos e quatro fundos), Pátio José Pedreira (sete bordos), antigas (um fundo e três asas) e recentes
(quatro bordos, quatro fundos e 11 asas) intervenções na Praça da Figueira, Praça Nova (13 bordos),
Rua de Santa Cruz do Castelo (três bordos e um fundo), Rua de São Mamede (uma asa), Rua do Espirito
Santo (três bordos e um fundo), Rua do Recolhimento (seis bordos e um fundo), Rua dos Bacalhoeiros
(três bordos), acompanhamento (seis bordos, dois fundos e três asas) e escavação (uma asa) da Rua
de São João da Praça, Sé Catedral (38 bordos, três fundos e seis asas), Teatro Romano (quatro bordos
e uma asa), antigas escavações da Rua das Pedras Negras (quatro bordos, dois fundos e 11 asas) e Zara,
Rua Augusta (três asas). Representa 25,3% do conjunto total atribuível à República e 46,47% dos conten-
tores vinários. No âmbito das produções itálicas o seu peso é de 49,53%, valor que sobe para 53,92% se
se tiver em consideração apenas as ânforas de fabrico tirrénico. Aplica-se também aqui o que já se refe-
riu no tipo anteriormente descrito acerca da significativa percentagem de exemplares indistintamente
classificados como Greco-Itálica/Dressel 1 (v. supra).
Tendo em conta estes valores, escusado será referir que a Dressel 1 se constituiu como o mais
importante contentor vinário da fase republicana no Ocidente Peninsular, pelo menos até meados do
séc. I a.C.. Embora se registe a presença da designada variante 1C, e mais esporadicamente da 1B, a es-
magadora maioria das ânforas deste tipo documentadas em Lisboa enquadram-se na chamada Dressel
1A, de bordos triangulares e relativamente curtos. Também no que se refere aos contextos de prove-
niência destes contentores e sua cronologia se poderá repetir, em parte, o que se referiu para as Greco-
-Itálicas, procedendo na sua grande maioria de níveis cronologicamente posteriores à sua produção e
comercialização. Na Rua de Santa Cruz do Castelo foram recolhidos três bordos (nº 21, 31 e 37) em níveis
da segunda metade do séc. II a.C.; do Pátio da Sr.ª de Murça provêm dois fundos e um bordo (nº 1086,
1312 e 5000) de contexto enquadrável entre 138 a.C. e o primeiro quarto do séc. I a.C., bem como dois
bordos e dois fundos (nº 818, 1139, 1149 e 1981) de níveis datados dos dois quartéis centrais do séc. I a.C.;
no Pátio José Pedreira exumaram-se três bordos (nº 2444.13, 2444.14 e 2444.15) e um ombro com grafi-
to (nº 2444.01) em contexto do terceiro quartel do séc. II a.C. e outros três (nº 1148.13, 1148.14 e 1148.15)
num nível possivelmente datado da segunda metade do séc. I a.C.; na Rua do Espírito Santo os três frag-
mentos de Dressel 1 (nº 9, 18 e 39) foram identificados num contexto balizado entre o terceiro quartel
do séc. II e o primeiro quarto do séc. I a.C.; da Sé Catedral provém um bordo (nº 16232) identificado num
nível cronologicamente situado entre 138 a.C. e o terceiro quartel do séc. I a.C. e dois outros (nº 12632 e
12668) de estratos atribuíveis aos dois quartéis centrais do séc. I a.C.; por fim, na Rua do Recolhimento
foram reconhecidos cinco fragmentos (nº 2, 3, 5, 9 e 12) em contextos genericamente datáveis entre o
séc. II e o terceiro quartel do séc. I a.C..

6.1.4.3. Lamboglia 2

A Lamboglia 2 evoluiu a partir das Greco-Itálicas tardias, com as quais partilha evidentes afini-
dades morfológicas, tendo sido identificada pela primeira vez por N. Lamboglia (1955) no âmbito da
análise dos materiais do naufrágio de Albenga.
Trata-se de um contentor de pança ovóide cuja ligação ao colo é assinalada por uma carena bem
marcada, com fundo maciço de perfil troncocónico. O bordo é inclinado e de tendência triangular nas

334
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

100km

Lamboglia 2, Península Itálica (Fabião, 1987; www.archaeologydataservice.ac.uk).


Figura 24 – Lamboglia
Difusão 2,
no Península Itálica Santarém,
território português: (Fabião, Chões
1987;dewww.archaeologydataservice.ac.uk).
Alpompé, Lisboa, Tróia (fundão), Monte da Nora,
Caboportuguês:
Difusão no território Sardão, Castelo das Juntas, Mértola,
Santarém, Chões de Monte Manuel Galo,
Alpompé, MesasTróia
Lisboa, do Castelinho, Monte
(fundão), Molião,
Monte da Nora, Cabo Sar-
Ilhéu do Rosário, foz do Rio Arade, Faro, Castelo de Castro Marim.
dão, Castelo das Juntas, Mértola, Monte Manuel Galo, Mesas do Castelinho, Monte Molião, Ilhéu do Rosário, foz
do Rio Arade, Faro, Castelo de Castro Marim.

fases mais recuadas, evoluindo para bordos de perfil recto e de tendência rectangular e, já numa fase
de transição para as Dressel 6, para bordos voltados ao exterior. O colo apresenta-se alto e de perfil ci-
líndrico, arrancando as asas, de secção circular, da sua parte superior, logo abaixo do bordo, descendo
de forma paralela ou ligeiramente diagonal ao colo e repousando no ombro (Beltrán Lloris, 1970, 349;
Peacock e Williams, 1986, p. 99; Molina Vidal, 1997, p. 47-48; Rizzo, 2014, p. 121).
Foi produzida entre o final do séc. II a.C. e o terceiro quartel do séc. I a.C. (Fabião, 1987, p 146;
Molina Vidal, 1997, p. 49) na costa adriática da Península Itálica, principalmente nas regiões da Apúlia
e do Véneto, mas também na costa tirrénica, em Montelupo Fiorentino, Toscânia, e possivelmente na
Calábria; estando ainda atestado o seu fabrico na costa oriental do Adriático (Sangineto, 2006, p. 312;
Olcese, 2011-2012, p. 34-35; Bezeczky, 2013, p. 116; Rizzo, 2014, p. 121-122).
Embora tenha inicialmente sido considerada uma ânfora oleícola (Lamboglia, 1955), sobretudo
devido às suas especificidades morfológicas e por ser proveniente de uma zona tradicionalmente produ-
tora de azeite, o desenvolvimento da investigação viria a demonstrar tratar-se, de facto, de um conten-
tor anfórico destinado ao transporte de vinho. Para tal contribuiu a documentação de revestimento re-
sinoso interno em vários exemplares deste tipo, o grafito Viniam e a presença de resíduos no interior de
uma ânfora do naufrágio de La Madrague de Giens (Formenti et al., 1978, p. 100; Fabião, 1987, p. 145-146).
A Lamboglia 2 foi largamente difundida tanto no Mediterrâneo Oriental como no ocidental, es-
tando documentada em toda a bacia mediterrânea, sobretudo em contextos do século I a.C. onde sur-
ge normalmente associada a ânforas do tipo Dressel 1 (Fabião, 1987, p. 145; Molina Vidal, 1997, p. 49;
Bezeczky, 2013, p. 116). Salvo raras excepções, como no caso do conjunto de Mértola cujo contexto de
proveniência apresenta características particulares, esta forma é normalmente minoritária nos conjun-
tos anfóricos (Fabião, 1998, p. 384-386). No Ocidente Peninsular está atestada, por exemplo no Castro
de Vigo (Fernández Fernández, 2010, p. 230), em Cáceres el Viejo (Beltrán Lloris, 1970, p. 351), em Val-
detorres (Heras Mora, 2015, p. 729), em Hispalis (García Vargas, 2007a, p. 321), Cádis (Mateo Corredor,
2015, p. 291), Baelo Claudia (Mateo Corredor, 2015, p. 261) e possivelmente em Málaga e Cerro del Mar
(Mateo Corredor, 2015, p. 196).
Com uma presença bem mais discreta do que os dois tipos anteriormente descritos, a Lamboglia
2 encontra-se escassamente documentada no actual território português, observando-se a sua presen-
ça em Chões de Alpompé (Fabião, 1989, p. 113; Diogo Trindade, 1993-1994, p. 269), Santarém (Arruda

335
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

e Almeida, 1999, p. 316; Bargão, 2006, p. 41-44), fundão de Tróia (Cardoso, 2013), Monte da Nora (Tei-
chner, 2008, p. 29 e Taf. 116), Mértola (Fabião, 1987, p. 145-146), Monte Manuel Galo (Alves, 2014, p.
393), possivelmente no Castelo das Juntas (Madeira, 1986, p. 122-123; Fabião, 1989, p. 113), Mesas do
Castelinho (Fabião, 1998, p. 384-386; Parreira, 2009, p. 57), Cabo Sardão (Diogo, 1999b, p. 239), Ilhéu
do Rosário, Lagoa (Gomes et al., 1995 apud Pimenta, 2005, p. 120), Monte Molião (Arruda e Sousa, 2012,
p. 109), foz do rio Arade (Diogo et al., 2000, p. 83), Faro (Bargão, 2006, p. 100; Viegas, 2011, p. 187) e
Castelo de Castro Marim (Arruda e Almeida, 1999, p. 330; Bargão, 2006, p. 97; Viegas, 2011, p. 474).
Concretamente em Lisboa, havia já sido registada no Castelo de São Jorge (Pimenta, 2005, p. 121; Mota
et al., 2014, p. 165) e no Teatro Romano (Filipe, 2008, p. 37-38; Filipe, 2015, p. 139). No conjunto anfórico
analisado no âmbito deste trabalho foram identificados oito indivíduos deste tipo, todos com fabricos
adriáticos, procedentes do Largo de Sta. Cruz do Castelo (um fundo e uma asa), Palácio do Marquês de
Angeja (uma asa), Praça Nova (três bordos), Rua dos Bacalhoeiros (uma asa), Sé Catedral (um bordo) e
Teatro Romano (um bordo). A sua representatividade no conjunto anfórico republicano é de 1,28%, sig-
nificando ainda 18,6% das ânforas produzidas na costa adriática durante esse período e 2,37% de todos
os contentores itálicos. No quadro das importações de vinho representa 2,35%.
O exemplar da Sé foi recolhido em contexto datado entre o segundo e o terceiro quartéis do
séc. I a.C., enquanto o do Teatro provém da Fase 1, ou seja, finais do Principado de Augusto a inícios do
de Tibério. Embora se mantenha em aberto a possibilidade da chegada destes contentores no decurso
do séc. II a.C., até ao momento ainda não foi documentada de forma clara a presença de Lamboglia 2
em contextos anteriores ao séc. I a.C. no extremo ocidental da Península Ibérica. Nos quatro bordos
deste pequeno conjunto observa-se, equitativamente, a presença de variantes de bordo triangular,
tidos como mais antigos, bem como de bordos tendencialmente rectangulares, presumivelmente mais
tardios. Menção especial parece merecer a peça nº 30034 da Praça Nova, tendo suscitado algumas dú-
vidas quanto à sua classificação. De facto, e embora a secção triangular do bordo se enquadre bem nas
variantes da Lamboglia 2, a referida peça apresenta-se genericamente menos robusta que os restantes
exemplares deste tipo identificados em Lisboa. Embora os dados inéditos ampliem substancialmente o
número destes contentores na cidade de Olisipo, a Lamboglia 2 mantém-se ainda assim como um tipo
minoritário, condição que se observa em todos os outros locais do Ocidente Peninsular onde está docu-
mentada, com excepção do já referido depósito de Mértola.

6.1.4.4. Ânforas “de Brindisi”

As denominadas ânforas ovóides “de Brindisi” correspondem a formas de influência helenística


(Desy, 1989, p. 12; Opait, 2010, p. 156), sendo uma presença recorrente nos conjuntos anfóricos republi-
canos da Península Ibérica, ainda que em proporções bem mais exíguas que as suas contemporâneas
vinárias da costa tirrénica (Fabião, 1998, p. 386).
De dimensão relativamente modesta e corpo ovóide, sua principal característica, as ânforas “de
Brindisi” apresentam uma relativa diversidade formal, patente nas caracterizações tipológicas ensaia-
das para as formas produzidas nas olarias de Apani, “La Rosa”, Marmorelle e Giancola (entre outros,
Baldacci, 1972; Cipriano e Carre, 1989; Palazzo, 1989; Manacorda, 1994; Palazzo e Silvestrini, 2001; Mana-
corda, 2001; Palazzo, 2013). Genericamente, exibem lábios em fita ou arredondados, colos curtos, asas
de secção e perfil circular, arrancando abaixo do bordo pousando no ombro e fundo em botão (Peacock
e Williams, 1986, p. 82; Cipriano e Carre, 1989, p. 68-70; Manacorda, 2001, p. 231; Pimenta, 2005, p. 79).
Estes contentores de forma ovóide foram produzidos em quantidades apreciáveis nos já referi-
dos centros oleiros de Apani, “La Rosa”, Marmorelle e Giancola, situados na área da cidade de Brindisi,
Apúlia, entre a segunda metade do séc. II a.C. e o Principado de Augusto, sendo sobretudo típicos da
primeira metade do séc. I a.C. (Palazzo e Silvestrini, 2001, p. 60; Palazzo, 2013, p. 187; Rizzo, 2014, p. 119;
Auriemma e Degrassi, 2015, p. 175). A estas produções está associada uma rica tradição de estampilha-
gem (entre outros, Desy, 1989; Manacorda, 1994; Palazzo e Silvestrini, 2001; Manacorda e Pallecchi,
2012 apud Palazzo, 2013), de extrema utilidade na correcta identificação destas ânforas que, apesar dos
inúmeros estudos que a elas têm sido dedicados, se mantêm ainda relativamente mal sistematizadas -

336
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

100km

Ânforas de Brindisi, Península Itálica (Cipriano e Carre, 1989; www.archaeologydataservice.ac.uk).


Figura 25 – Ânforas
Difusão de Brindisi,
no território Península
português: Itálica
Coimbra, (Cipriano
Santarém, Chões e
deCarre,
Alpompé,1989; www.archaeologydataservice.ac.uk).
Alto dos Cacos, Lisboa, Alcácer
Difusão no território
do Sal, português:
Mirobriga, MesasCoimbra, Santarém, Chões de Alpompé, Alto dos Cacos, Lisboa, Alcácer do Sal,
do Castelinho.
Mirobriga, Mesas do Castelinho.

muito devido a uma grande e complexa variedade tipológica -, permitindo muitas vezes a identificação
dos centros oleiros que as produziram (Fabião, 1998, p. 388).
Embora consensualmente considerada como uma ânfora oleícola, a problemática relativa ao pro-
duto que se destinava a transportar mantém-se ainda relativamente mal documentada, uma vez que
são escassas as evidências directas que comprovem tal conteúdo. A associação ao azeite é estabelecida
fundamentalmente pela forma ovóide dos contentores, aos quais se atribui geralmente um conteúdo
oleícola, e pela reconhecida tradição na produção daquele importante bem alimentar na região da Apú-
lia, para lá de outros argumentos menos convincentes como o facto de se não documentarem exem-
plares deste tipo com revestimento resinoso interno (Empereur e Hesnard, 1987, p. 34; Fabião, 1998,
p. 388; Palazzo, 2013, p. 185-186). No entanto, será importante sublinhar que nem todas estas ânforas
de Brindisi terão transportado azeite, já que o designado tipo 1 de Apani, ou Giancola 4, que inegavel-
mente corresponde a uma tradição morfológica das Greco-Itálicas tardias, deverá ter sido utilizada no
transporte de vinho (Palazzo, 2013, p. 14).
As ânforas de Brindisi foram amplamente comercializadas por toda a bacia mediterrânea, quer
a oriente quer a ocidente (Bezeczky, 2013, p. 112), tendo alcançado o Norte da Europa em escala muito
reduzida (Laubenheimer e Marlière, 2010, p. 28). A cartografia da sua distribuição na bacia mediterrânea
foi recentemente actualizada para os contentores fabricados no centro produtor de Apani (Palazzo,
2013), tendo por base sobretudo materiais estampilhados, verificando-se na Península Ibérica, talvez
por esta razão, uma presença relativamente discreta destas ânforas em comparação com outras regiões
do Império, como por exemplo o Sul da Gália. Mais recentemente foi actualizada a geografia da sua
difusão na Península Ibérica (Carreras Monfort et al., 2016), que apresenta um panorama muito mais
completo que o trabalho anteriormente referido, observando-se uma distribuição preferencialmente
orientada para a actual Catalunha e Vale do Ebro, mas também ilhas Baleares, restante costa oriental
e Sul Peninsular, surgindo aqui, a título de exemplo, em Málaga, Baelo Claudia, Cádis, La Loba, Cáceres
el Viejo, este já na actual Extremadura espanhola, e inclusivamente no Noroeste (Beltrán Lloris, 1980;
Naveiro López, 1991; Benquet e Olmer, 2002; Beltrán Lloris, 2013; Palazzo, 2013; Mateo Corredor, 2014;
Carreras Monfort et al., 2016). A ocidente, onde a sua circulação parece estar associada às movimen-
tações dos contingentes militares e à distribuição dos contentores vinários da costa tirrénica, estão
identificados exemplares estampilhados deste tipo em Lisboa (Pimenta, 2005, p. 79-80; Mota et al.,
2014, p. 164; Mota et al., 2017), Santarém (Diogo, 1984, p. 130; Bargão, 2006, p. 50-51), Alto dos Cacos

337
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

(Pimenta et al., 2012, p. 50; Pimenta et al., 2014c, p. 266) e Mirobriga (Diogo, 1999a, p. 15), estando igual-
mente identificadas peças anepígrafas em outros locais, como Coimbra (Carvalho, 1998, p. 72-73), Chões
de Alpompé (Fabião, 1989, p. 105; Diogo e Trindade, 1993-1994, Est. II, nº 31), Alcácer do Sal (Pimenta et
al., 2015a, p. 154) e Mesas do Castelinho (Parreira, 2009, p. 58).
No âmbito deste trabalho foi reconhecido um número mínimo de 14 indivíduos, exumados nas
intervenções da Calçada do Correio Velho (um fundo), Encosta de Sant’Ana (dois fundos), Largo de
Santa Cruz do Castelo (um fundo), Pátio José Pedreira (um bordo), Praça da Figueira (uma asa), Rua de
Santa Cruz do Castelo (um fundo e três asas), Rua de São Mamede (um fundo), Rua do Espirito Santo
(uma asa), Rua de São João da Praça (acompanhamento) (um fundo) e Sé de Lisboa (três bordos, dois
fundos e uma asa). Representam 2,24% das ânforas republicanas, 4,15% dos contentores itálicos e 32,56%
das importações com origem na costa adriática. As ânforas de Brindisi significam ainda 20,29% das im-
portações de azeite durante este período, o que constitui uma percentagem bastante significativa do
consumo daquele produto.
As peças recolhidas em contexto coetâneo com a produção destes envases são escassas, docu-
mentando-se um bordo no Pátio José Pedreira em contexto republicano, genericamente datado entre
138 a.C. e o segundo terço do séc. I a.C.; e uma asa (nº 10) e um fundo (nº 38) da Rua de Santa Cruz do
Castelo em níveis da segunda metade do séc. II a.C.. Dos quatro bordos documentados, e ainda que
com algumas dúvidas na classificação tipológica de algumas peças, regista-se a presença do tipo V de
Apani (Sé, nº 10933) e Apani VIIA (Pátio José Pedreira) e VII A/B (Sé, nº 16188), todos da fase aniniana,
bem como do tipo IV de Apani (Sé, nº 11199), este atribuível à fase vehiliana (Palazzo, 2013).

6.1.4.5. Ânforas ovóides da costa central adriática

Para além das ânforas de Brindisi, são conhecidas outras produções de morfologia ovóide da cos-
ta central adriática, onde possivelmente se poderão incluir algumas peças desta amostra. A atribuição
destes exemplares àquelas produções médio-adriáticas baseia-se nas suas características morfológicas
e no tipo de pasta. Porém, as produções ovóides daquela região são ainda mal conhecidas, encon-
trando-se insuficientemente caracterizadas, pelo que esta classificação deverá considerar-se como uma
proposta de trabalho que deverá ser confirmada no futuro.

Cesano di Senigallia Palácio Condes de Penafiel

Cologna Marina
Pátio Sr.ª Murça Teatro Romano

100km

Ânforas ovóides da costa central adriá ca, Península Itálica (Cipriano e Carre, 1989).
Figura 26 – Ânforas ovóides
Difusão da costa
no território central
português: adriática, Península Itálica (Cipriano e Carre, 1989). Difusão no terri-
Lisboa.
tório português: Lisboa.

338
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

Sobretudo definidos a partir dos exemplares do naufrágio de Palombina e de Cesano di Senigallia


(Mercando, 1975-81 apud Cipriano e Carre, 1989, p. 77; Carre e Mattioli, 2003, p. 460), estes contentores
apresentam normalmente bordos em banda ou arredondados com uma moldura ou ressalto saliente
imediatamente abaixo do bordo, asas de secção oval, colo estreito, ombro carenado, corpo cilíndrico
ou ovóide e fundo curto e cilíndrico ou em botão (Cipriano e Carre, 1989, p. 77; Carre e Mattioli, 2003, p.
460; Rizzo, 2014, p. 118, nota 145).
Provavelmente fabricada na região do Picenum, na costa central adriática, o início da sua produ-
ção é incerto, podendo ter ocorrido nos primeiros decénios do séc. I a.C. e perdurado até 30 a.C. (Carre
e Mattioli, 2003, p. 460; Dobreva, 2013, p. 464; Rizzo, 2014, p. 118, nota 145; Auriemma e Degrassi, 2015,
p. 176). Do mesmo modo, não existem dados seguros quanto ao produto que se destinaria a transpor-
tar embora um conteúdo oleícola seja tido como provável (Cipriano e Carre, 1989, p. 80).
Tendo em conta o actual estado da investigação, as produções ovóides da costa central adriática
não parecem ter conhecido grande difusão no Mediterrâneo, estando, por outro lado, relativamente
bem documentadas nas costas adriáticas (Auriemma e Degrassi, 2015, p. 176). Contudo, a sua presença
no Mediterrâneo Oriental e ocidental, em locais tão afastados como Ephesus (Bezeczky, 2013, p. 110) e
Olisipo, poderão constituir uma evidência de uma maior disseminação.
Dentro destas produções foram classificados dois fundos e um bordo do conjunto de Olisipo,
respectivamente provenientes do Teatro Romano de Lisboa (nº 60, de 2011), Pátio da Sr.ª de Murça (nº
1485) e Palácio dos Condes de Penafiel (nº 53502), todos eles estratigraficamente descontextualizados.
Quantitativamente pouco expressivos, representam 0,48% das ânforas republicanas, 6,98% das impor-
tações adriáticas e 4,35% do azeite desse período.
No caso dos fundos de Lisboa, embora apresentem perfis similares ao do exemplar CM 12 de
Cologna Marina (Cipriano e Carre, 1989, p. 79, fig. 10), ambos possuem o seu interior preenchido por
uma bola de argila, ao contrário daquele outro. Já no que se refere ao bordo do Palácio dos Condes de
Penafiel, encontra paralelos aproximados numa peça de Parma (Corti, 2012, Tav. 7, nº 4) e numa outra
de Cesano Senigallia (Cipriano e Carre, 1989, p. 78, fig. 9, nº 8).

6.1.4.6. Ânforas ovóides da costa tirrénica

Embora a produção de ânforas ovóides na Península Itálica seja especialmente reconhecida para
a costa adriática, particularmente a região da Apúlia, são também conhecidos alguns locais na costa tir-
rénica onde se produziram modelos ovóides durante a fase tardia da República, ainda que permaneçam
como produções insuficientemente conhecidas e mal caracterizadas (Fabião, 1998, p. 386-390). Entre
aqueles, poder-se-ão referir os centros produtores de Albinia, na Etrúria (Benquet et al., 2013, p. 524),
Santa Severa (Olcese, 2011-2012, p. 202-203), Astura (Empereur e Hesnard, 1987, p. 35; Hesnard et al.,
1989, p. 24-26; Ricq et al., 1989, p. 264-265; Attema et al., 2003, p. 134-135; Haas et al., 2007-08, p. 548;
Olcese, 2011-2012, p. 153-154), e Fondi, Canneto (Empereur e Hesnard, 1987, p. 35; Hesnard et al., 1989,
p. 33; Olcese, 2011-2012, p. 134-135), todos no Lácio, ou ainda mais a Sul em Alliphae (Caserta), na Campâ-
nia (Rizzo, 2014, p. 108) e no território de Blanda Ivlia , Cosenza, na actual província da Calábria (Panella,
2011, p. 53; Rizzo, 2014, p. 108).
Em termos gerais, estas produções eram de dimensões modestas, apresentando colos curtos,
bordos em banda de secção tendencialmente arredondada, sub-rectangular ou subtriangular, normal-
mente engrossados, asas igualmente curtas, de perfil arqueado e secção circular ou oval, corpo ovóide
terminando num fundo curto em botão (Attema et al., 2003, p. 134-136; Haas et al., 2007-08, p. 523;
Benquet et al., 2013, p. 524; Rizzo, 2014, p. 107-108).
Terão sido produzidas entre os últimos decénios do séc. II a.C. e meados do I a.C. e destinar-se-
-iam ao transporte de azeite, ainda que esta asserção seja mais dedutiva do que propriamente baseada
em evidências concretas. A hipótese de um conteúdo piscícola foi também colocada, com base na im-
plantação junto à linha de costa de alguns dos centros produtores (Empereur e Hesnard, 1987, p. 35;
Fabião, 1998, p. 386-390; Attema et al., 2003, p. 136; Haas et al., 2007-08, p. 526-527; Benquet et al., 2013,
p. 524).

339
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Astura Palácio Cozinhas

Rua Norberto Araújo


100km

Ânforas ovóides da costa rrénica, Península Itálica (Haas et al, 2007-08, 1989; Fabião et al., 2016).
Figura 27 – Ânforas
Difusãoovóides
no território
daportuguês: Lisboa. Península Itálica (Haas et al, 2007-08, 1989; Fabião et al., 2016).
costa tirrénica,
Difusão no território português: Lisboa.

Relativamente pouco conhecidas e de difícil identificação, a sua difusão tem sido rastreada muito
graças à tradição epigráfica de alguns destes centros oleiros, nomeadamente Santa Severa (Olcese,
2011-2012, p. 202) e Canneto (Empereur e Hesnard, 1987, p. 35), bem como a partir das características
do fabrico que, no caso da marca M. Tuccius Galeo, permitiram a sua adscrição a um centro produtor
tirrénico (Cipriano e Carre, 1989, p. 74), ainda que esta não seja isenta de dúvidas32 (Rizzo, 2014, p. 108).
Os contentores ovóides da costa tirrénica da Península Itálica estão presentes na Gália (Gateau,
1990, p. 175; Borgard e Gateau, 1998), no actual território de Marrocos (Fabião, 1998, p. 388) e na Penín-
sula Ibérica (Beltrán Lloris, 1980, p. 199-201; Sanmartí-Greco, 1992, p. 424; Fabião, 1998, p. 387-89) em
contextos da segunda metade do séc. II e primeira metade do séc. I a.C., surgindo amiúde associados à
presença de contingentes militares na Península hispânica e evidenciando a sua presença nas mesmas
redes comerciais das ânforas oleárias da Apúlia e do vinho tirrénico. Ainda que se tenha já sugerido
(Fabião, 1998, p. 389) a possibilidade de algumas peças dos Chões de Alpompé corresponderem a ânfo-
ras deste tipo (Fabião, 1989, p. 106, fig. 14, nº 3; Diogo e Trindade, 1993-1994, Est. II, nº 23 e 24), o único
exemplar reconhecido no actual território português seguramente atribuível a essas produções parece
ser o da Rua Norberto de Araújo, Lisboa, a que adiante se fará referência.
No conjunto aqui em estudo foi identificado apenas um fragmento atribuível a este tipo, exuma-
do num contexto pós-romano no Palácio da Cozinhas, Castelo de São Jorge. Possui bordo em banda,
engrossado, de secção subtriangular e com o topo aplanado, com uma saliência na parte exterior do
lábio, de colo curto e asas de secção oval. Encontra paralelo morfológico quase exacto no bocal identi-
ficado em contexto republicano do séc. II a.C. na Rua Norberto de Araújo, Lisboa, que ostenta a estam-
pilha PVRG (Fabião et al., 2016, p. 26 e Est. 2, nº 6). Esta marca, documentada no mencionado centro
produtor de Santa Severa, estava já identificada na Península Ibérica em Sagunto, Espanha (Marquez Vi-
llora e Molina Vidal, 2005, p. 164-165; CEIPAC 21580), embora aí apenas se preserve ao nível do colo e ar-
ranque da asa, tendo sido classificada como Greco-Itálica de produção tirrénica. Classificada na mesma
forma foi uma outra asa com idêntica estampilha, exumada no Teatro Romano de Vallebuona, Itália
(CEIPAC 8573; Fabião et al., 2016, p. 26), constituindo estas três marcas, tanto quanto se conseguiu
apurar, os únicos casos identificados em centros de consumo.

32. D. Manacorda defende, ainda assim, que se poderá tratar de uma produção brindisina (Manacorda, 1994).

340
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

Relativamente à classificação tipológica das peças de Sagunto e Vallebuona, distinta da de Lisboa


(Fabião et al., 2016), o centro oleiro de Santa Severa produziu ânforas de morfologia ovóide (às quais
são recorrentemente associadas algumas das formas do naufrágio de Spargi) mas também de tipo
Greco-Itálico e Dressel 1A, pelo que não se estranhará que a mesma estampilha se tenha aplicado nos
três tipos, à semelhança, aliás, do que coetaneamente aconteceu no centro produtor de Fondi, Can-
neto (Fabião, 1998, p. 388; Olcese, 2011-2012, p. 134). A peça do Palácio das Cozinhas poder-se-á ainda
genericamente enquadrar nos tipos A e B do centro oleiro de Astura (Attema et al., 2003, p. 134).

6.1.5. Norte de África

6.1.5.1. T-7.4.2.1./T-7.4.3.1.

Acerca da historiografia da investigação sobre estes contentores de produção norte-africana


pode-se repetir o que foi já escrito sobre a T-7.4.3.3. (v. supra), de produção Sul Peninsular, sobretudo
até à publicação do trabalho de J. Ramón Torres em meados da última década do séc. XX, altura em que
este autor enquadra as Mañá C2a nos seus subtipos T-7.3.1.1. a T-7.4.3.1. (Ramón Torres, 1995, p. 206-211).
Morfologicamente caracterizam-se por um corpo cilíndrico e alongado, com ombro arredondado
e demarcado do colo - particularidade que as diferencia das produções da área do Estreito -, terminando
num fundo tubular, alto e normalmente oco. A parte superior apresenta um bocal amplo e exvertido,
que se abre a partir de um colo relativamente estreito, encimado por um bordo com desenho que pode
exibir maior ou menor complexidade, adquirindo inúmeras variantes. As asas são de secção circular ou
subcircular e de perfil arredondado, localizando-se na transição do colo para o corpo. A principal dife-
rença entre a T-7.4.2.1. e a T-7.4.3.1. radica numa ligeira maior amplitude do colo e maior complexidade
do desenho do bordo do segundo tipo (Peacock e Williams, 1986, p. 151; Ramón Torres, 1995, p. 209-211;
Arruda e Almeida, 1998, p. 207; Filipe, 2008, p. 60).
Embora J. Ramón Torres balize a sua produção na primeira metade do séc. II a.C. (1995, p. 209-
211), a publicação de diversos contextos arqueológicos enquadráveis na segunda metade daquele

100km

T-7.4.2.1./T-7.4.3.1., Norte de África (www.archaeologydataservice.ac.uk).


Figura 28 – T-7.4.2.1./T-7.4.3.1.,
Difusão no territórioNorte de Santarém,
português: África (www.archaeologydataservice.ac.uk).
Chões de Alpompé, Lisboa, Alcácer do Sal, Castelo da Lousa,
Difusão no território português:
Mértola, Santarém,
Monte Molião, Chões
Urbanização de Alpompé,
do Molião, Faro, Cerro Lisboa,
do Cavaco,Alcácer doCastro
Castelo de Sal, Marim.
Castelo da Lousa, Mértola,
Monte Molião, Urbanização do Molião, Faro, Cerro do Cavaco, Castelo de Castro Marim.

341
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

século e documentados em quadrantes geográficos tão díspares como Monte Molião (Arruda e Sousa,
2012), Lixus (Bonet Rosado et al., 2005), Valência (Ribera i Lacomba e Marín Jordá, 2003), Tarragona
(Díaz García, 2000) e Mnihla, próximo de Cartago (Jerbania, 2013), permitiu avançar o final da sua pro-
dução (pelo menos) para o início do último quartel do séc. II a.C.. A presença destes contentores em
sítios como Olisipo (Filipe, 2015), Scallabis (Arruda e Almeida, 1998), Chões de Alpompé (Diogo e Trinda-
de, 1993-1994, p. 269) ou Alcácer do Sal (Gomes e Alves, 2017), ainda que recolhidos fora de contexto,
aponta também nesse sentido, uma vez que, não existindo até à data qualquer testemunho de comer-
cialização de produtos alimentares transportados em ânforas provenientes do “mundo romano” em
fase prévia à presença militar de Décimo Júnio Bruto, pressupõe-se que aqueles tenham chegado ao
extremo ocidental peninsular durante o terceiro quartel do séc. II a.C. ou em data posterior.
Os centros produtores que terão fabricado estes modelos localizar-se-iam essencialmente na
actual Tunísia, nas regiões compreendidas pela Bizacena, cidade de Cartago e área a Norte de Túnis,
que J. Ramón Torres integrou no grupo de fabrico “Cartago-Túnis”, estando atestados em Kerkoua-
ne, Cartago e em Sidi Aoun, estendendo-se à Tripolitânia, na actual Líbia, onde foram produzidas, por
exemplo, na Ilha de Jerba (Ramón Torres, 1995, p. 258-260; Bonifay, 2004a, p. 89; Bonifay et al., 2010,
p. 155; Jerbania, 2013, p. 183).
Ao contrário das produções Sul Peninsulares, o produto transportado por estas ânforas de ori-
gem norte-africana mantém-se algo indefinido. A documentação de diversos exemplares com vestígios
de revestimento resinoso interno descarta um conteúdo oleário, sendo, muito por esse motivo, con-
siderados como contentores destinados a transportar preparados à base de peixe ou vinho (Guerrero
Ayuso, 1986, p. 168; Bonifay, 2004a, p. 89). J. Ramón Torres argumenta que a ausência de referências a
uma tradição de indústria de transformação de produtos piscícolas para a região de Cartago nas fontes
clássicas concorre no sentido de, com maior probabilidade, se destinarem ao transporte de vinho (Ra-
món Torres, 1995, p. 265).
Ocorrendo pontualmente no Mediterrâneo Oriental, onde está presente por exemplo em Ephe-
sus (Bezeczky, 2013, p. 95-96), foram amplamente distribuídas na metade ocidental do mare nostrum,
estando particularmente bem representadas no actual território da Tunísia, com destaque para os ní-
veis de destruição de Cartago - onde a T-7.4.3.1. se constitui como o tipo mais característico -, bem como
na Sicília, Córsega, ilhas Baleares e costa oriental e sudeste da Península Ibérica, parecendo surgir em
quantidades mais discretas na Líbia, Argélia, Marrocos, Sul de França e Itália (Guerrero Ayuso, 1986,
p. 164-167; Ramón Torres, 1995, p. 210-211 e fig. 633; Bonet Rosado et al., 2005, p. 109; Bechtold, 2007,
p. 54-63; Bechtold, 2010, p. 464; Rizzo, 2014, p. 261-263; Djaoui et al., 2015, p. 181).
Para além do referido litoral Este e sudeste hispânico, onde surgem em locais como Ampúrias
(Ramón Torres, 1995, p. 210-211 e fig. 633), Tarragona (Diaz García, 2000, p. 223; Diaz García, 2012, p.
76), Sagunto (Espinosa Ruiz et al., 1995-1997, p. 26), Valência (Ramón Torres, 1995, p. 210-211 e fig. 633),
Tossal de la Cala, Alicante (Espinosa Ruiz et al., 1995-1997, p. 26) ou Villaricos (Ramón Torres, 1995,
p. 633), ocorrem ainda na região meridional da Península, aparentemente de forma mais tímida, em
Abdera, Almeria (Molida Vidal e Mateo Corredor, 2016, p. 29), Morro de Mezquitilla, Málaga (Saez Ro-
mero et al., 2004, p. 50), Carteia (Juan Blánquez Pérez et al., 2006, p. 361), Cádis (Bernal Casasola et
al., 2004a, p. 610; Lopez Rosendo, 2008, p. 43), Sevilha (Bernal Casasola et al., 2013) e Cerro Macareno
(Ramón Torres, 1995, p. 633).
No actual espaço português são conhecidos exemplares de T-7.4.2.1./ T-7.4.3.1. em Castro Marim
(Viegas, 2011, p. 474), Serro do Cavaco (Maia, 1978, p. 203-204), Faro (Viegas, 2011, p. 187), Monte Molião
(Arruda e Sousa, 2012, p. 110), Urbanização do Molião (Sousa et al., 2016, p. 474), Mértola (García Fer-
nández et al., 2020), possivelmente no Castelo da Lousa (Morais, 2010a, p. 184), Alcácer do Sal (Gomes
e Alves, 2017, p. 97), Chões de Alpompé (Diogo e Trindade, 1993-1994, p. 269), Santarém (Arruda e Al-
meida, 1998, p. 216; Almeida e Arruda, 2005, p. 1327; Bargão, 2005, p. 44-47) e Teatro Romano de Lisboa
(Filipe, 2008a, p. 60-62; Filipe, 2015, p. 146).
No conjunto aqui em estudo foram reconhecidos quatro indivíduos: um bordo, exumado em con-
texto de Época Contemporânea na escavação do Palácio do Marquês de Angeja; dois bordos e três asas
na Sé Catedral (todos de níveis pós-romanos, com excepção do bordo nº 13240, procedente de contex-
to datado entre o final do reinado de Tibério e o de Nero; e uma asa (descontextualizada) proveniente

342
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

da Rua do Espirito Santo. Se em relação aos fragmentos de asa pouco se poderá dizer, no que se refere
aos bordos parecem enquadrar-se todos na forma T-7.4.2.1., com bons paralelos nas peças apresenta-
das por J. Ramón Torres (1995, p. 538-539). Embora a presença deste tipo estivesse já atestada no Vale
do Tejo, Santarém (Arruda e Almeida, 1998, Est. XI, nº 99), a sua identificação em Olisipo constitui-se
como uma novidade, uma vez que o exemplar do Teatro Romano (Filipe, 2008a, p. 60-62; Filipe, 2015,
p. 146), ainda que parcialmente fracturado no lábio, parece enquadrar-se mais nas T-7.4.3.1..
Os novos dados confirmam as anteriores leituras relativamente à representação destas ânforas
de tradição púnica nos circuitos comerciais do Ocidente Peninsular durante a República, de carácter
francamente minoritário, face às importações da Península Itálica e da área meridional peninsular, re-
presentando apenas 0,64% dos contentores republicanos e 1,88% dos produtos piscícolas deste perío-
do, assumindo-se esse como o seu conteúdo. Ainda assim, no contexto das importações com origem
no Norte de África, as T-7.4.2.1./T-7.4.3.1. significam 22,22%.

6.1.5.2. Africana Antiga

Esta forma foi caracterizada pela primeira vez por J. Y. Empereur e A. Hesnard que a enqua-
draram nas ânforas republicanas de tradição grega, denominando-a Tripolitana I Antiga (Empereur e
Hesnard, 1987, p. 35-36). A designação Tripolitana Antiga surge poucos anos depois no trabalho de ca-
rácter geral realizado por M. Sciallano e P. Sibella (1991, p. 78), tendo sido adoptada pela generalidade
dos investigadores a partir de então (Raynaud e Bonifay, 1993, p. 21; Asencio i Vilaró, 1996, p. 45). Só no
início deste século é publicado o primeiro estudo que analisa aprofundadamente estas produções, com
base em numerosos exemplares provenientes dos níveis republicanos de Valência (Pascual Berlanga e
Ribera i Lacomba, 2002), tendo na mesma altura sido publicado um importante conjunto destas ânforas
proveniente de La Loba, Córdova (Benquet e Olmer, 2002, p. 319-322).
Mais recentemente, a problemática foi revista por C. Capelli e A. Contino (2013) que consideram
mais acertada a designação Africana Antiga, relativamente à anteriormente utilizada, uma vez que os
centros produtores destas ânforas se estendem para lá dos limites da antiga Tripolitânia, como a recém-
-descoberta do centro oleiro de Mnihla, situado na região de Cartago, bem demonstra (Jerbania, 2013,
p. 184-190).

Pátio Jos
José Pedreira
100km

Africana An ga, Norte de África.


Figura 29 – Africana Antiga,
Difusão Norte
no território de África.
português: Santarém, Chões de Alpompé, Lisboa, Mesas do Castelinho, Monte Mo-
Difusão no território
lião, português:
Urbanização doSantarém,
Molião, Faro,Chões
Cerro dode Alpompé,
Cavaco, Castelo Lisboa,
de Castro Mesas do Castelinho,
Marim, Enterreiro Monte Molião, Urba-
(Castro Marim).
nização do Molião, Faro, Cerro do Cavaco, Castelo de Castro Marim, Enterreiro (Castro Marim).

343
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

A mesma forma de tornear o bordo tem sido interpretada como uma possível evolução morfo-
lógica a partir da Mañá C1, da qual nem sempre se consegue distinguir com base em pequenos frag-
mentos de lábio, apresentando, porém, notórias afinidades morfológicas com algumas das principais
formas republicanas itálicas, particularmente com as ovóides brindisinas (Empereur e Hesnard, 1987,
p. 35-36; Rizzo, 2014, p. 276). A principal característica da Africana Antiga é o perfil ovóide do seu corpo,
em alguns casos com notória tendência cilíndrica, rematado por um fundo em botão. O colo é relativa-
mente curto e de perfil troncocónico, transitando para o ombro de forma suave ou com ligeira inflexão,
sendo aquele arredondado e descaído. O bordo, bem destacado do colo, apresenta normalmente sec-
ção triangular ou sub-rectangular podendo ser ligeiramente inclinado para o exterior, enquanto as asas,
de pequena dimensão, arrancam abaixo daquele e repousam no ombro, exibindo perfil semicircular e
secção circular ou ovalada (Pascual Berlanga e Ribera i Lacomba, 2002, p. 305; Filipe, 2008a, p. 52; Con-
tino e Capelli, 2013, p. 201).
A sua produção ter-se-á iniciado em torno a meados do séc. II a.C., ou um pouco antes, ocorrendo
em contextos dessa cronologia em Cartago e Numância (Pascual Berlanga e Ribera i Lacomba, 2002, p.
311), bem como nos níveis fundacionais da cidade de Valentia (Ribera i Lacomba, 2014, p. 74) e nos con-
textos republicanos mais antigos da cidade de Olisipo (Pimenta, 2005, p. 81), ambos datados de 138 a.C.,
ou ainda nos naufrágios de Illa Pedrosa e Jaumegarde B (Pascual Berlanga e Ribera i Lacomba, 2002, p.
311). Os momentos finais do seu fabrico dever-se-ão localizar em fase augústea, com contentores já ten-
dencialmente cilíndricos ou com o diâmetro máximo situado na sua metade inferior, de que são bons
exemplos, respectivamente, as peças de Azaila (Pascual Berlanga e Ribera i Lacomba, 2002, p. 309, fig.
5) ou do naufrágio Camarat 2 (Liou e Pomey, 1985, p. 567, fig. 19), tendo sido documentados exempla-
res evoluídos, já próximos da Tripolitana I (que a sucede), no depósito augustano de La Longarina, em
Óstia (Hesnard, 1980, Pl. VII).
A questão dos locais onde estas ânforas foram produzidas não se encontra ainda totalmente
definida, apesar do pujante desenvolvimento que o seu estudo conheceu nos últimos anos. Tradicional-
mente considerada como uma produção da região da Tripolitânia (Empereur e Hesnard, 1987, p. 35-36;
Sciallano e Sibella, 1991, p. 78; Asencio i Vilaró, 1996, p. 45), a sua origem foi também atribuída à actual
Tunísia com base na análise macroscópica das pastas e sua comparação com outros fabricos tunisinos
(Pascual Berlanga e Ribera i Lacomba, 2002, p. 305), hipótese que se viria a confirmar com a desco-
berta do centro oleiro de Mnihla, próximo de Cartago (Jerbania, 2013) e com a realização de análises
petrográficas a diversos exemplares do tipo Africana Antiga (Capelli e Contino, 2013). Estas análises de-
monstraram a utilização de diferentes pastas no seu fabrico, evidenciando a sua produção em distintas
olarias ao longo da costa tunisina e, possivelmente, também no interior do território (Capelli e Contino,
2013, p. 207).
A tradicional atribuição de um conteúdo oleícola a estes contentores está mais relacionada com
as suas características morfológicas e directa associação às ânforas ovóides republicanas do Mediterrâ-
neo, normalmente destinadas a transportar azeite, e à histórica relação da região da Tripolitânia com a
produção oleícola, do que propriamente com evidências arqueológicas, epigráficas ou arqueométricas
(Benquet e Olmer, 2002, p. 320-322). A realização de análises químicas a alguns fundos atribuíveis aos
tipos africanos precoces, provenientes do “Nuovo Mercato del Testaccio”, revelou um conteúdo exclu-
sivamente oleícola, o que representa um importante contributo para a definição desta questão, embo-
ra os autores admitam não ser possível uma atribuição tipológica segura dos referidos fragmentos de
fundo à Africana Antiga (Capelli e Contino, 2013, p. 206-207).
Conheceu uma ampla distribuição no Mediterrâneo ocidental, ainda que normalmente em quan-
tidades modestas. Embora se encontre, paradoxalmente, ausente na área da antiga Tripolitana (Pascual
Berlanga e Ribera i Lacomba, 2002, p. 309), está bem atestada no Norte de África, na Tunísia, na Argélia
e em Marrocos, bem como no Sul de França, em locais como Entremont, Lattara e diversos naufrágios,
parecendo surgir de forma mais discreta na Sicília e em Itália, com excepção de Roma onde recentemen-
te de reconheceu um importante conjunto destas ânforas (Capelli e Contino, 2013). A Península Ibérica
parece ter-se constituído como um dos mercados preferenciais para a comercialização da Africana Anti-
ga, estando muito bem documentada na costa nordeste em sítios como, por exemplo, Ampúrias, Iluro,
Burriac, Tarraco, Valência e Cartagena, ou no interior do território em Azaila, Numância e Ilerda, surgindo

344
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

também nas ilhas Baleares (Pascual Berlanga e Ribera i Lacomba, 2002, p. 304, fig. 1; Pinedo Reyes,
2011, p. 49; Diaz García, 2012, p. 76; Jerbania, 2013, 187-190; Diaz García, 2016, p. 163-183). Na costa Sul
e sudeste está de igual forma bem documentada, ocorrendo em Villaricos, Abdera, Giribaile (Jáen),
Morro de Mezquitilla, Málaga, Lacipo, Baelo Claudia, Silla del Papa e Cádis, e no interior em Córdova,
La Loba, Castrejón de Capote, Valdetorres, Cáceres el Viejo e Villasviejas del Tamuja (Heras Mora e
Bustamante Álvarez, 2007, p. 321-322; Mateo Corredor, 2012, fig. 3; Heras Mora, 2015, p. 344 e 699;
Gutiérrez Soler et al., 2016, p. 682; Mateo Corredor, 2014, p. 166).
Nos últimos anos a investigação arqueológica em Portugal tem divulgado novos e importantes
dados sobre a presença destes contentores no território nacional, sendo actualmente conhecidos em
Castro Marim (Arruda et al., 2006b, p. 153; Viegas, 2011, p. 474), Serro do Cavaco (Bargão, 2006, p. 99),
Enterreiro, Castro Marim (Pereira e Arruda, 2015, p. 183), Monte Molião (Arruda e Sousa, 2012, p. 110-
113), envolvente do Monte Molião (Sousa e Serra, 2006, p. 18; Sousa et al., 2016, p. 472), Faro (Bargão,
2006, p. 48), Mesas do Castelinho (Fabião, 1989, p. 105; Fabião, 1998b, p. 393; Parreira, 2009, p. 53-54),
Chões de Alpompé (Fabião 1989, p. 105; Diogo e Trindade, 1993-1994, Est. II; Bargão, 2006, p. 102; Pimen-
ta e Arruda, 2014, p. 387) e Santarém (Almeida e Arruda, 2005, p. 1323; Bargão, 2006, p. 49).
Em Olisipo estavam já publicados alguns exemplares do Castelo de São Jorge (Pimenta, 2005,
p. 81; Mota et al., 2014, p. 171; Pimenta et al., 2014a, p. 144), da Fundação Ricardo Espírito Santo e Silva
(FRESS) (Silva, 2014, p. 183) e do Teatro romano (Diogo, 2000, p. 166 e fig. 4, 6-733; Filipe, 2008a, p. 53; Fili-
pe, 2015, p. 140), existindo ainda notícia da sua presença na Sé Catedral e na FRESS (Pimenta, 2005, p. 81).
No conjunto anfórico de Olisipo que aqui se analisa foram contabilizados catorze indivíduos de
Africana Antiga, procedentes das Escadinhas de São Crispim (um bordo), Fundação Ricardo Espírito
Santo e Silva (um bordo), Largo de Santa Cruz do Castelo (dois bordos), Pátio José Pedreira (um bordo
e uma peça completa), Praça Nova (dois bordos e um fundo), Rua do Espirito Santo (um bordo), Sé
Catedral (quatro bordos, um fundo e duas asas) e antigas intervenções da Rua das Pedras Negras (um
bordo). Representam 2,24% da totalidade das ânforas republicanas, 77,78% dos contentores com ori-
gem no Norte de África e 20,29% das importações de azeite durante aquela fase. Esta representação fica
aquém da verificada em Valência, onde as Africanas Antigas representam cerca de 10% das importações
anfóricas nos momentos mais antigos, ou seja, durante a segunda metade do séc. II d.C., sendo mais
raras nos níveis de destruição da cidade, em 75 a.C. (Pascual Berlanga e Ribera i Lacomba, 2002, p. 310).
Em Lisboa é mais difícil percepcionar o ritmo da sua chegada à cidade entre 138 a.C. e 75 a.C. por falta
de dados contextuais e cronologias mais finas, mas fica claro que no cômputo global da amostra o peso
destes contentores é significativamente inferior ao que se verifica em Valência, quedando-se pelos 2%.
Dos sítios onde foram reconhecidas, os únicos contextos seguros de Época Republicana corres-
pondem aos que se documentaram no Pátio José Pedreira e na Rua do Espirito Santo, ambos no Caste-
lo. Neste último, o único fragmento exumado provém de um estrato datado entre a segunda metade
do séc. II a.C. e meados do séc. I a.C.. Relativamente ao Pátio José Pedreira, os dois exemplares foram
identificados em distintos locais da intervenção. O fragmento de bordo nº 1148.02 provém de um con-
texto que pode datar da segunda metade do séc. I a.C., onde se registou abundância de ânforas Greco-
-Itálicas, T-7.4.3.3. e Dressel 1A e presença pontual de Dressel 1C, T-9.1.1.1., Dressel 4 de Cos, ânforas
ovóides de tipo indeterminado provenientes do Guadalquivir e um bordo de Lusitana Antiga, mas com
presença de algumas intrusões, nomeadamente um fundo e uma asa de Lusitana 3. Mais seguro parece
ser o contexto de proveniência do exemplar completo deste tipo (nº 2444.03), exumado no interior
de uma fossa juntamente com outras ânforas, maioritariamente Greco-Itálicas e em menor número
Dressel 1A, que deverá corresponder aos momentos mais antigos da ocupação republicana do morro
do castelo, situável em momento indefinido do terceiro quartel do séc. II a.C., mas necessariamente
posterior a 138 a.C., cronologia que parece estar em harmonia com as particularidades morfológicas
da peça. Trata-se de uma peça marcadamente ovóide, característica das produções mais antigas de
Africana Antiga e normalmente atribuídas a cronologias em torno aos meados do séc. II a.C. (Pascual

33. Embora classificados como Mañá C1a, os citados fragmentos poderão na realidade corresponder a bordos de Africana Antiga - veja-se
os comentários em: Pimenta, 2005, p. 81.

345
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Berlanga e Ribera i Lacomba, 2002, p. 315). A sua altura é de 74 cm, medindo 40 cm de largura máxima,
apresentando o seu bordo um diâmetro de 13,5 cm e o colo 9 cm de altura. Um bom paralelo é a peça
completa da Calle de l’Herba em Valência (Pascual Berlanga e Ribera i Lacomba, 2002, p. 311, fig. 7), ain-
da que, avaliando pela escala do desenho, se deva tratar de um módulo de pequena dimensão. Aparte
a questão da dimensão da peça, em termos proporcionais as diferenças são mínimas, apresentando o
exemplar de Olisipo um colo ligeiramente mais estreito, o ombro menos descaído e a metade inferior
do corpo mais cónica e menos arredondada.
À semelhança de outros exemplares de Lisboa, a sua superfície externa ostenta uma cor esbran-
quiçada provocada pela utilização de água salgada no seu fabrico. Refira-se por fim, ainda em relação
a esta peça, que a mesma exibe diversas fissuras na sua superfície interna, algumas delas de dimensão
considerável, que terão ocorrido durante a cozedura e aparentemente sido provocadas pela reacção
de elementos brancos de grande dimensão, visíveis onde aquelas ocorrem (fig. 30). Estas fissuras pro-
vocaram deformações pontuais e ligeiras no contentor tendo, muito provavelmente, algumas delas
ocasionado aberturas na face externa. Terá sido por essa razão que em alguns desses casos se aplicou
no exterior da peça uma camada de gesso (?), revestindo as áreas deformadas do contentor na sua su-
perfície externa e impermeabilizando eventuais aberturas (embora incidindo sobre uma fase mais tar-
dia e uma região limitada, sobre a reparação de ânforas norte-africanas veja-se: Nacef, 2015, p. 90-91).
Em relação aos restantes fragmentos de bordo analisados, no que se refere a este aspecto mor-
fológico, não se verificam grandes variações relativamente ao exemplar completo a que atrás se alu-
diu, documentando-se sobretudo bordos de secção triangular e sub-rectangular com diâmetros geral-
mente em torno dos 14 e 15 cm. A única excepção é o fragmento proveniente da Rua Espirito Santo, de
contexto republicano, cujo desenho da secção do bordo se afasta da morfologia dos restantes e das
formas tradicionais deste tipo. O seu fabrico é, porém, atribuível à Tripolitânia, apresentando as mes-
mas características petrográficas de outras peças de tipo Africana Antiga de Lisboa. O diâmetro do bor-
do é de 16 cm, aproximando-se das medidas padrão daquela forma. Apesar de se tratar de uma peça de

Figura 30 – Pormenores sobre alguns elementos não plásticos calcários de grande dimensão, fissuras e defor-
mações ocorridas durante a cozedura da peça e muito provavelmente provocadas pela explosão de elementos
calcários (em cima), e reparação com recurso a gesso (?).

346
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

difícil classificação optou-se por enquadrá-la no grupo das Africanas Antigas, tanto pelas características
da sua pasta, como pela cronologia do contexto de procedência, diâmetro do bordo e o facto de este
ser curto e ligeiramente inclinado para o exterior, ainda que admitindo poder tratar-se de outro tipo.
Relativamente à opção assumida em classificar sempre como Africana Antiga os fragmentos de
bordo que morfologicamente se poderiam também enquadrar na Mañá C1, ou seja, aqueles em que
apenas se conserva o lábio, estando a parede do colo e o arranque das asas ausentes, fundamenta-se
sobretudo em critérios de probabilidade, relacionados com uma comprovada maior presença do pri-
meiro tipo em relação ao segundo no registo arqueológico do extremo Ocidente Peninsular.
Embora seja certo que boa parte dos exemplares actualmente conhecidos no território portu-
guês conservem pouco mais que o bordo, o que não permite, de forma segura, diferenciá-los das Mañá
C1, também é certo que em todos os casos em que se conservou parte significativa do colo, em alguns
casos com arranque de asa, como acontece por exemplo em algumas peças oriundas de Chões de Al-
pompé (Fabião, 1989, fig. 14, nº 75; Pimenta e Arruda, 2014, fig. 8, nº 9), de Lisboa (Filipe, 2015, fig. 10,
nº 2456), de Mesas do Castelinho (Parreira, 2009, Est. V), de Castro Marim (Bargão, 2006, Est. XLI, nº
378) bem como da amostra de Olisipo que aqui se analisa, se verifica reiteradamente tratar-se do tipo
Africana Antiga e não Mañá C1, estando este aparentemente ausente no nosso território34. O colo da
Mañá C1 é muito curto e estrangulado, pelo que se considera que a conservação de uma porção não
necessariamente muito significativa da parede do colo é suficiente para distinguir entre um e outro
tipo. Naturalmente, e independentemente da validade dos critérios utilizados, não se poderá descartar
totalmente a hipótese, ainda que aparentemente de remota probabilidade, de alguns destes exempla-
res poderem corresponder à Mañá C1.

6.1.6. Mediterrâneo Oriental

6.1.6.1. Ródia

As ânforas Ródias constituem-se como o contentor helenístico que maior difusão conheceu na
bacia mediterrânea, sobretudo em toda a sua metade oriental, estando frequentemente presente nos
conjuntos anfóricos dos sítios do Mediterrâneo Ocidental com ocupação republicana, bem como em
vários naufrágios dessa época, e em maiores proporções que outros contentores helenísticos de suces-
so que também pontuam na parte ocidental do “mar interior” como as ânforas Cnídias, quiotas e coas.
Produzidas desde o final do séc. IV a.C., apresentavam a partir do terceiro quartel do séc. III a.C.
até ao final do II a.C., de forma sistemática, uma marca em cada asa, diminuindo a percentagem de
ânforas estampilhadas a partir do início do séc. I a.C., prática que acabou por cair em desuso durante
o reinado de Augusto (Grace e Savvatianou-Petropoulakou, 1970, p. 298; Empereur e Hesnard, 1987, p.
18). A informação ostentada nas marcas gravadas em ambas as asas destas ânforas era normalmente
composta pelo nome do fabricante/proprietário da olaria, sacerdote epónimo anual de Hélios, mês do
calendário ródio, símbolos como a Rosa ou a cabeça raiada do Deus sol Hélios que eram também uti-
lizados nas moedas da cidade, ou, entre outras, representações de âncoras, cachos de uva e estrelas
(Empereur e Hesnard, 1987, p. 14-15; Ariel e Finkielsztejn, 2003, p. 138; Bezeczky, 2013, p. 36; Badoud,
2017, p. 2-3).
Estas estampilhas constituem-se, portanto, como preciosos indicadores para definir a cronologia
dos contextos onde são descobertas, especialmente se estiverem presentes ambas as asas. Infelizmente,
a marca proveniente do Castelo de São Jorge está ilegível, embora deva muito provavelmente, quer pela
morfologia da asa quer pelo arco cronológico em questão, enquadrar-se na fase V da periodização defi-
nida por Virginia Grace (1985, p. 42; posteriormente aperfeiçoada por J. Y. Empereur e A. Hesnard, 1987,

34. Acerca de alguns exemplares identificados em território português e classificados como Mañá C1, veja-se as apreciações de J.
Pimenta (2005, p. 81) e C. Viegas (2011, p. 478).

347
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

e mais tarde por G. Finkielsztejn, 2001 apud Finkielsztejn, 2004a, p. 117), balizada entre a destruição
de Cartago e Corinto, em 146, e a destruição de Samaria em 108 a.C., ou, com menor probabilidade, na
fase VI cujo limite cronológico foi estabelecido pelos saques das cidades de Delos e de Atenas, respec-
tivamente em 88 e em 86 a.C..
No decurso do longo período de tempo em que foram fabricadas (séc. IV a.C. - II/III d.C.) as ân-
foras Ródias registaram algumas alterações quanto à sua morfologia, sobretudo no início do séc. I a.C.
e, particularmente, a partir do Principado de Augusto, tornando-se cada vez mais altas e estreitas, evo-
luindo as asas para perfis corniformes35 (Bezeczky, 2013, p. 35). Durante a segunda metade do séc. II a.C.
e os primeiros anos do século seguinte, período que nos interessa mais aqui, apresentavam geralmente
bordos curtos e arredondados, colo cilíndrico, asas de secção circular com ângulo bem marcado e em
cotovelo no topo, arrancando abaixo do bordo e repousando no ombro, apresentando-se este descaí-
do e arredondado, de corpo ovóide e fundo troncocónico maciço (Empereur e Hesnard, 1987, p. 19-20
e fig. 12; Monachov, 2005, p. 80).
Estes contentores foram produzidos na Ilha de Rodes, onde se conhecem diversos centros olei-
ros, e em outros sítios do seu território, que compreendia algumas ilhas vizinhas e uma pequena parte
da península anatólica, mas também em locais como as ilhas de Cos, Creta e Tasos, ou mesmo no Mar
Negro (Grace e Savvatianou-Petropoulakou, 1970, p. 280; Peacock, 1977, p. 266-270; Empereur e Picon,
1986, p. 115-116; Empereur e Picon, 1989, p. 224-225; Empereur e Tuna, 1989, p. 287-292; Eiring et al.,
2002, p. 61; Vnukov, 2004, p. 411; Lawall, 2011a, p. 55).
Embora as evidências arqueológicas directas não sejam abundantes, particularmente para o pe-
ríodo helenístico, e os melhores indicadores sejam mesmo fornecidos quer pelas referências a um con-
teúdo vínico nos papiros, quer pelo uso de cachos de uva na iconografia de algumas estampilhas de
ânforas e moedas Ródias, é um dado adquirido que estes contentores se destinavam a transportar o
afamado vinho de Rodes (Lawall, 2011b, p. 27; Lund, 2011, p. 280-283).
Com uma significativa difusão no Mediterrâneo ocidental, como já referido, aparece escassamen-
te reconhecida na fachada atlântica da Península Ibérica, onde apenas se conhece um fragmento de
asa (com estampilha) em todo o actual território português, proveniente de Santarém e, infelizmente,
recolhido à superfície (Bargão, 2005, p. 51 e Est. XXVI nº 245). Recentemente foi descoberta uma ânfora
Ródia em Valdetorres, Badajoz, área bem interior do território, com as duas asas e respectivas marcas
ainda preservadas e que permitiram datar o seu fabrico entre 133 e 129 a.C. e o contexto estratigráfico
de recolha em data próxima (Heras Mora, 2015, p. 195), estando também presente em Baelo Claudia
(Bernal et al., 2007, p. 298 e fig. 125).
Em Lisboa não era conhecida a presença destas ânforas durante a Época Republicana, surgindo
agora, ainda que provenientes de contextos pós-romanos, um fragmento de asa com marca ilegível e
um fragmento de bordo, ambos recolhidos durante as escavações do Palácio das Cozinhas, Castelo de
São Jorge, em 1999 e 2000, respectivamente. Ausentes em grande parte do território peninsular, pare-
ce verificar-se uma certa concentração na costa levantina ibérica, onde surge em Herrerias, Almeria (Pé-
rez Ballester, 1994, p. 355), Cartagena (Idem), Valência (Ribera i Lacomba, 2013, p. 457), Ampúrias (Perez
Ballester, 1994, p. 355), Tarragona (Díaz García, 2012, p. 325 e outras) e Pollentia, na Ilha de Maiorca, nes-
te caso em contexto já de meados do século I a.C. (Tarradell Mateu et al., 1993, p. 239). Estão igualmen-
te documentadas em alguns naufrágios da mesma costa, nomeadamente em Sec, Maiorca, meados
do séc. IV a.C. (Arribas et al., 1987 apud Pascual Berlanga e Ribera i Lacomba, 2013, p. 261; Parker, 1992,
p. 392-394), Llazaret, Menorca, início do séc. II a.C. (Nicolas Mascaró, 1972, p. 228-231; 1973, p. 168-169;
Parker, 1992, p. 241) e “Ses Lloses”, Puerto de Mahón, Menorca, entre a segunda metade do séc. III a.C.
e primeiro quartel do II a.C. (Nicolas Mascaró, 1979, p. 10-11).
Parecem surgir em maior número no Sul do actual território francês onde foram registadas em
mais de uma dezena de sítios, entre os quais Toulouse, Enserune, Narbona, Agde (Labrousse, 1971,
p. 37-43 e fig. 7), Lattara, contexto de 125 a 75 a.C. (Py, 1990, p. 255, fig. 10-8), Entremont, 146-108 a.C.
(Gateau, 1990, p. 177), Saint-Blaise, séc. III a.C. (Gateau, 1990, p. 165 e 177) e Marselha (Labrousse, 1971,

35. Sobre esta fase tardia das ânforas Ródias, também denominadas ânforas Tardo-Ródias ou Camulodunum 184, ver infra.

348
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

100km

Ródia, Mediterrâneo oriental (Grace, 1953; www.archaeologydataservice.ac.uk).


Figura 31 – Ródia,
Difusão no território português:
Mediterrâneo Santarém,1953;
oriental (Grace, Lisboa.www.archaeologydataservice.ac.uk).
Difusão no território português: Santarém, Lisboa.

p. 37-43 e fig. 7; Bertucchi e Marangou-Lerat, 1989, p. 60); ou nos naufrágios do Grand Congloué 1, 220-
190 a.C. (Long, 1987, p. 11), Chrétienne C, 175-150 a.C. (Joncheray, 1975 apud Gianfrotta, 2008, p. 68),
Antibes (Py, 1990, p. 348, nota 20) e, já ao largo da Córsega e estreito do Bonifácio, respectivamente, os
naufrágios de Sanguinaires A, finais do III início do II a.C. (Cibecchini et al., 2012, p. 34-35, fig. 6, p. 62) e
Spargi, em torno a 100 a.C. (Perez Ballester, 1994, p. 355).
Os escassos exemplares conhecidos no ocidente da Península Ibérica, concentrados ao longo do
alto e baixo Tejo, indiciam uma difusão de âmbito institucional relacionada com a presença do exército,
ou pelo menos acoplada a este, na medida em que tanto Olisipo como Scallabis - bem como Valdetorres,
este em distinto âmbito geográfico - tiveram um papel activo nas movimentações militares da segunda
metade do séc. II a.C. no ocidente Peninsular.
Refira-se por último que, na expectativa de se conseguir ler a marca da peça do Castelo de São
Jorge, procedeu-se à utilização do método M.R.M. (Modelo de Resíduo Morfológico) na referida es-
tampilha36. Infelizmente não foram obtidos resultados positivos, tal o seu estado de preservação.

6.1.6.2. Dressel 4 de Cos

Embora os contentores de asas bífidas sejam conhecidos pelo menos desde o séc. V a.C. (Geor-
gopoulou, 2004, p. 130; Stiglitz, 2004, p. 35), a Dressel 4 de Cos, ou Ânfora Coa, terá surgido na primeira
metade do séc. III a.C., tendo evoluído ao longo do período helenístico até ao séc. I a.C. para uma forma
mais alta e estreita, à semelhança, aliás, do que aconteceu com outros modelos anfóricos do Egeu, con-
tinuando a ser produzida em Época Imperial até ao séc. II d.C. (Grace, 1979, fig. 56; Empereur e Hesnard,
1987, p. 22; Finkielsztejn, 2004b, p. 155; Bezeczky, 2013, p. 56).
Possuindo nas asas bífidas o seu elemento morfológico mais característico, apresentava paredes
geralmente bastante finas, bordo arredondado e engrossado, colo cilíndrico, ombro bem destacado e
inclinado, formando um cone na parte superior e corpo cónico na inferior nos modelos mais antigos,

36. A análise foi efectuada pelo Dr. Hugo Pires, a quem se agradece. Este método permite detectar e contrastar irregularidades
não visíveis a olho nu através da obtenção de imagens de grande resolução e do uso de máscaras de contraste, criando um modelo
tridimensional (acerca deste tema veja-se, entre outros, Pires et al., 2015).

349
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

tornando-se paulatinamente mais estreito e cilíndrico. Ainda nos modelos mais precoces, o fundo é
apontado mas bem diferenciado das paredes do corpo, em botão, de perfil cilíndrico e com pequena
saliência na base. As asas eram altas e formadas por dois rolos de secção circular justapostos e parale-
los ao colo, com ângulo de inflexão bastante acentuado, arrancando abaixo do bordo e terminando no
ombro (Empereur e Hesnard, 1987, p. 22; Monsieur e Paepe, 2002, p. 156; Stiglitz, 2004, p. 34; Bezeczky,
2013, p. 56).
A atribuição à Ilha de Cos dos contentores helenísticos de asas bífidas deve-se a A. Maiuri (1925
apud Grace, 1949, p. 181, nota 27) e a V. Grace (Grace, 1949, p. 181; Grace e Savvatianou-Petropoulakou,
1970, p. 363-364), com base na semelhança de nomes e símbolos que figuravam tanto em moedas de
Cos como em algumas estampilhas apostas nas asas daquelas ânforas, bem como na existência de mar-
cas com o derivado do nome da cidade. Trabalhos mais recentes, sobretudo com base em programas
de prospecção e análises químicas, confirmaram a origem coa das Dressel 4, bem como a produção na
ilha de ânforas com outras morfologias (Empereur e Picon, 1986, p. 110-112; Empereur e Hesnard, 1987,
p. 22; Whitbread, 1995 apud Stiglitz, 2004, p. 34; Hein et al., 2008, p. 1059-1060).
Este modelo anfórico de asas bífidas viria a ser imitado em diversas regiões do futuro Império de
Roma - notavelmente na costa tirrénica da Península Itálica, na Tarraconense e na Gália, mas também
na Bética, na Lusitânia, na Germania e na Britannia -, sobretudo a partir de meados do séc. I a.C. e do
Principado de Augusto, mas também em fases mais recuadas, designadamente em algumas ilhas do
Egeu (como Rodes e Cnidos), na Ásia Menor, no Egipto e na costa adriática da Península Itálica (Empe-
reur e Picon, 1986, p. 109; Hesnard, 1986, p. 75; Empereur e Hesnard, 1987, p. 23; Martin-Kilcher, 1987,
p. 113-132; Empereur e Picon, 1989, p. 227; Will, 1989, p. 306). Destinar-se-ia a transportar os afamados
vinhos de Cos, referidos nas fontes clássicas pela sua característica salinidade, em resultado de ser tra-
tado com água do mar, ainda que fosse, em comparação com outros da região como Cnidos ou Quios,
um vinho relativamente barato não apresentando especial qualidade (Tchernia, 1986, p. 105; Monsieur
e Paepe, 2002, p. 156; Johnsson, 2004, p. 134; Bezeczky, 2013, p. 58).
A difusão das Dressel 4 de Cos abarca preferencialmente o Mediterrâneo Oriental - Egeu, Ásia
Menor, Egipto, faixa Sírio-palestiniana, Mar Negro e Mar Vermelho - e, em menores quantidades, o Me-
diterrâneo Ocidental onde se conhece a sua presença no Norte de África, Hispânia, Gália, Itália, Noricum
e Pannonia (Gateau, 1990, p. 175; Parker, 1992; Johnsson, 2004, p. 137-139; Georgopoulou, 2005, p. 179-
182; Beltrán Lloris, 2013, p. 401-402; Bezeczky, 2013, p. 58; Pascual Berlanga e Ribera i Lacomba, 2013, p.
262-263). Na Península Ibérica foram já documentados alguns exemplares em contextos republicanos
anteriores aos meados do séc. I a.C., ainda que quase sempre em quantidades residuais. Surgem nos
níveis de destruição de Valência, datados de 75 a.C. (Ribera i Lacomba, 2013, p. 461-462), em Iluro, 75-50
a.C. (García Rosselló et al., 2000 apud Ribera i Lacomba, 2013, p. 462), em Azaila, em torno de meados
do séc. I a.C. (Beltrán Lloris, 2013, p. 402), em Tarragona, onde surgem em contextos do séc. II a.C. e do
séc. I a.C. (Díaz García, 2000, p. 224, 247; Díaz García, 2012, p. 325 e 360), em La Loba, 100-90 a.C. (Ben-
quet e Olmer, 2002, p. 315), em Tossal de la Cala (Bayo Fuentes, 2010 apud Pascual Berlanga e Ribera
i Lacomba, 2015, p. 270; García Hernández, 1986, p. 183) e possivelmente em Cáceres el Viejo, embora
este último possa corresponder às primeiras imitações do modelo helenístico de Cos produzidas na
costa adriática itálica (Beltrán Lloris, 2013, p. 402).
Estão ainda presentes, junto à costa hispânica, nos naufrágios de San Ferreol, 75-65 a.C. (Mas
García, 1985 apud Beltrán Lloris, 2013, p. 402), Sant Jordi A, 90-80 a.C. (Colls, 1987 apud Beltrán Lloris,
2013, p. 401; Cerdà i Juan, 1999, p. 78), Portocristo (Cerdá i Juan, 1999, p. 78) e Lazaret, este significa-
tivamente mais antigo, datado da transição do séc. III para o II a.C. (Nicolas Mascaró, 1972, p. 228-230;
Nicolas Mascaró, 1973, p. 168; Parker, 1992, p. 241); bem como na costa meridional gaulesa nos naufrá-
gios de La Cavaliére, em torno de 100 a.C. (Charlin et al., 1978, p. 26), Madrague de Giens, em torno a
meados do séc. I a.C. (Tchernia et al., 1978, p. 46), Cassidaigne, séc. I a.C. (Liou, 1975, p. 584-585; Parker,
1992, p. 130) e ainda no naufrágio de Spargi junto ao estreito do Bonifácio, em torno a 100 a.C. (Colls,
1987 apud Beltrán Lloris, 2013, p. 401). Surgem também na costa atlântica do Norte de África, em Lixus
(Bonet Rosado et al., 2005, p. 123; Aranegui Gascó, 2010, p. 199).
No actual território nacional não é conhecida a sua presença em contextos claramente republica-
nos. Em Santarém foi exumado um bordo com colo e arranque de asa bífida em contexto pós-romano

350
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

100km

Dressel 4 de Cos, Mediterrâneo oriental (Grace, 1979; Empereur e Hesnard, 1987).


Figura 32 – Dressel
Difusão
4 denoCos,
território português: Lisboa.
Mediterrâneo oriental (Grace, 1979; Empereur e Hesnard, 1987).
Difusão no território português: Lisboa.

(“Silo 01”) que poderá corresponder a uma Dressel 4 de Cos (Bargão, 2005, p. 52, estampa XXVI e
invent. nº 246). Todavia, apesar da autora do estudo se referir a esta peça como “ânfora grega” de
“cronologia mais tardia, possivelmente alto-imperial” (Bargão, 2005, p. 52), acaba por não especificar
as características do seu fabrico ou outros argumentos que a terão levado a classificá-lo como tal. Ain-
da que a questão cronológica seja de difícil resolução - quer pelo contexto de proveniência quer pelas
características morfológicas do fragmento preservado - e que seja necessário proceder a uma atenta
análise do fabrico daquela peça, a presença de Dressel 4 de Época Helenística em Santarém afigura-se
bastante provável, tanto pela sua ocorrência em Olisipo como pela documentação de uma ocupação
republicana no local que se estende desde o final do séc. II a.C. até ao Principado de Augusto (Bargão,
2005, p. 72), onde não faltam ânforas procedentes do Mediterrâneo Oriental (Ródia).
Na amostra aqui em estudo foram identificados dois exemplares de Dressel 4 tardo-helenística
de produção coa: um fundo e uma asa bífida com marca incompleta, exibindo caracteres gregos. O pri-
meiro, foi exumado sob um pavimento datado de entre o terceiro quartel do séc. II e o primeiro quarto
do séc. I a.C., documentado na intervenção do Pátio da Sr.ª de Murça, apresentando as características
morfológicas e petrográficas típicas daqueles contentores, destacando-se, quanto a estas últimas, a
mica dourada. A asa provém da escavação do Pátio José Pedreira, no Castelo de São Jorge, tendo sido
recolhida num contexto que poderá datar da segunda metade do séc. I a.C.. Infelizmente, não foi en-
contrado nenhum paralelo para a marca aposta sobre essa asa, tratando-se portanto, e ao que tudo
indica, de uma marca inédita.
Durante o período helenístico as Dressel 4 de Cos ostentavam uma ou duas estampilhas no topo
das asas, normalmente representando símbolos ou nomes, sendo a sua impressão efectuada de forma
não sistemática e a sua frequência bastante reduzida, sobretudo se comparada com outras produções
anfóricas do mesmo contexto cultural, geográfico e cronológico como as ânforas Ródias e Cnídias (Gra-
ce e Savvatianou-Petropoulakou, 1970, p. 363; Empereur e Hesnard, 1987, p. 22; Bezeczky, 2013, p. 57).
Na região mais ocidental do Mediterrâneo as estampilhas sobre Dressel 4 de Cos de Época Helenística
com caracteres gregos são escassas. Em Entremont, próximo de Marselha, surgiu um exemplar estam-
pilhado, igualmente incompleto, em contextos da segunda metade do séc. II a.C. (Gateau, 1990, p. 175),
existindo notícia de um outro em Bibracte, séc. I a.C. (Olmer, 1997, p. 171). No naufrágio de Cassidaigne,
relativamente próximo de Marselha, foram identificadas diversas Dressel 4 de Cos com três marcas
distintas, também com caracteres gregos, embora neste caso pareçam reportar-se a produções já do

351
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

séc. I a.C. (Liou, 1975, p. 584-585; Parker, 1992, p. 130). Existe ainda referência a uma marca sobre a asa
de uma ânfora possivelmente atribuível à Dressel 4 de Cos registada no naufrágio del Sec (Cerdà i Juan,
1999, p. 78) e no naufrágio de San Ferreol, na costa oriental ibérica, datado de 75-65 a.C. (Mas García,
1985 apud Beltrán Lloris, 2013, p. 402; Parker, 1992, p. 380).
Este tipo, claramente minoritário no conjunto anfórico republicano de Olisipo, representa 0,32%
dos contentores daquele período, 66,67% das importações com origem no Mediterrâneo Oriental e
0,59% das ânforas vinárias.

6.2. Principado

6.2.1. Lusitania

6.2.1.1. Lusitanas Antigas

Coube a Rui Morais (2004) colocar em evidência, pela primeira vez de uma forma sólida, a exis-
tência de uma produção de ânforas de morfologia ovóide na província da Lusitânia em período tardo-
-republicano, com difusão considerável e quantitativamente expressiva. O referido investigador fun-
damentou-se, então, em conjuntos de ânforas ovóides, de evidente fabrico lusitano, exumados em
contextos balizados entre meados e finais do século I a.C. provenientes de vários sítios da Galiza (Castro
de Panxón, Montecastro e Castro de Vigo - Vigo), da região entre os rios Douro e Minho (Castro de San-
ta Luzia e Castro da Terronha, Viana do Castelo; Rua da Banharia e Aljube, Porto); Castro de Fiães, Vila
da Feira; e do Castelo da Lousa, Mourão (Morais, 2004a, p. 40).
A produção destes recipientes, que se constituem como as mais antigas ânforas de morfologia
plenamente romana fabricadas na província da Lusitânia, parece ter-se iniciado no decorrer do terceiro
quartel do século I a.C. com o fabrico de contentores de forma tendencialmente ovóide - mas não só
- e bordos moldurados ou em banda, inspirados nos modelos Sul Peninsulares e da costa adriática da
Península Itálica, tendo perdurado até cerca de meados do séc. I d.C./terceiro quartel (Morais, 2004a,
p. 36-40; Morais e Fabião, 2007, p. 131-132; Fabião, 2008, p. 726; Morais 2010, p. 190-191; Filipe, 2008a;
Filipe, 2015, p. 146-147; Filipe, 2016; Mataloto et al., 2016, p. 146; Morais e Filipe, 2016; Silva et al., 2016,
p. 164; Pimenta, 2017, p. 203). Para além do Castelo da Lousa e dos sítios do Noroeste acima referidos, as
ânforas desta fase inicial da produção lusitana surgem igualmente em contextos anteriores à viragem
da Era em sítios como o Monte dos Castelinhos (Pimenta, 2017, p. 203), Pedrão (Mayet e Silva, 2016,
p. 64), Rocha da Mina, Alandroal (Mataloto e Roque, 2013, p. 136; Mataloto et al., 2016, p. 146), Caladi-
nho (Mataloto et al., 2016, p. 148) e, possivelmente, no NARQ, Lisboa, onde ocorrem em níveis generica-
mente datados entre 25 a.C e 50 d.C. (Fabião et al., 2016, p. 109). Sobretudo para esta fase mais antiga, a
sua ocorrência parece coincidir, pelo menos em parte, com sítios com comprovada presença militar ou
integrantes do processo de romanização e articulação do interior do território que, simultaneamente,
coincidem com os circuitos de distribuição das ânforas béticas da segunda metade do séc. I a.C. (García
Vargas et al., 2011, p. 265).
A caracterização cronotipológica destas produções precoces encontra-se ainda num estado in-
cipiente da investigação, muito devido à escassez de boas estratigrafias que permitam a definição do
faseamento diacrónico de um conjunto muito diversificado de perfis de bordo - que corresponderão,
ou não, a outras tantas formas -, bem como à escassez de peças completas, necessárias para a correcta
definição dos distintos tipos e respectivas características morfológicas. Estas aproximam-se bastante
de algumas formas produzidas na região meridional da Península Ibérica, nomeadamente das Classe
67, Haltern 70 e do universo das Dressel 7-11 (Arruda et al., 2006a; Morais e Fabião, 2007; Filipe, 2016;
Morais e Filipe, 2016; Pimenta, 2015), como bem exemplificam os exemplares completos provenientes
do rio Tejo (Quaresma, 2005, p. 419) e de ao largo da Ilha da Berlenga (Diogo, 2005, p. 114), ou um outro
depositado no Museu de Évora (Morais e Fabião, 2007, p. 128).

352
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

100km

Lusitanas An gas (Morais, 2003; Morais et al, 2016; Quaresma, 2005; Diogo et al., 2005; Bertrand et al.,
Figura 33 – Lusitanas Antigas
2014; Diogo, 1987;(Morais, 2003;
Mayet e Silva, Morais et al, 2016; Quaresma, 2005; Diogo et al., 2005; Bertrand et
2002).
al., 2014; Diogo,Difusão
1987;noMayet
território português:
e Silva, Castro de Santa Luzia, Castro da Terronha, Braga, Porto, Lousada, Castro
2002).
de Fiães,
Difusão no território Conimbriga,Castro
português: Tomar, Berlengas,
de Santaao largo das
Luzia, Berlengas,
Castro Santarém, Alto
da Terronha, dos Cacos,
Braga, Porto,Muge, Coruche,
Lousada, Castro de Fiães,
MonteBerlengas,
Conimbriga, Tomar, dos Castelinhos,
ao rio Tejo, das
largo Lisboa, Alto das Cabeças
Berlengas, (Oeiras),Alto
Santarém, Freiria,
dosChibanes,
Cacos, Setúbal,
Muge, Tróia, Abul,
Coruche, Monte dos
Alcácer do Sal, Idanha-a-Velha, região de Monforte, Castelo Velho de Veiros, Soeiros,S. Miguel da Mota,
Castelinhos, rioRocha
Tejo,daLisboa, Alto das Cabeças (Oeiras), Freiria, Chibanes, Setúbal, Tróia, Abul,
Mina, Caladinho, Santa Justa, Monte do Almo, Vidigueira (Serra d’Ossa), Tourega, Castelo dos
Alcácer do Sal,
Idanha-a-Velha, Mouros,
região Castelo
de Monforte, Castelo
da Lousa, Cerrado doVelho
Castelo,de Veiros,
Monte Soeiros,
da Cegonha, São Miguel
S. Cucufate, Monteda Mota,
Molião, foz Rocha
do rio da Mina, Ca-
ladinho, Santa Justa,
Arade. Monte do Almo, Vidigueira (Serra d’Ossa), Tourega, Castelo dos Mouros, Castelo da Lousa,
Cerrado do Castelo, Monte da Cegonha, São Cucufate, Monte Molião, foz do rio Arade.

Ainda assim, os últimos anos têm sido profícuos na publicação de exemplares enquadráveis nes-
tas produções, quase sempre resumidos a pequenos fragmentos de bordo, fundo ou asa e recorrente-
mente descontextualizados, existindo actualmente um conjunto de dados muito significativo que per-
mite atestar a existência de uma importante indústria oleira de produção de ânforas nos vales do Tejo
e do Sado, que mais não é que o reflexo da existência de uma relevante actividade piscícola naquelas
regiões entre a segunda metade do séc. I a.C. e meados do século seguinte, com peso suficiente para
paulatinamente se constituir, muito provavelmente, como um dos mais importantes motores económi-
cos do extremo ocidental da Península Hispânica, sobretudo a partir do Principado de Augusto.
No estado actual do conhecimento, a escassez de exemplares completos ou consideravelmente
conservados não permite perceber se a multiplicidade de perfis de bordo que hoje conhecemos revela
um baixo nível de estandardização das ânforas lusitanas mais precoces ou se, pelo contrário, demons-
tra a existência de um amplo repertório tipológico nas produções anfóricas dos vales dos rios Tejo e
Sado entre a segunda metade do séc. I a.C. e os meados/terceiro quartel da centúria seguinte, à seme-
lhança do que acontecia no mesmo período na província da Bética.
Em termos gerais, e como já referido, observa-se uma grande variedade ao nível do desenho
dos bordos, normalmente moldurados ou em banda, podendo apresentar maior ou menor inclinação
para o exterior e maior ou menor abertura, com colos normalmente curtos e de tendência cilíndrica
ou troncocónicos, asas curtas, de secção oval, com ou sem sulco longitudinal no dorso e digitação no
arranque inferior. Verifica-se ainda a existência de bocais afins à Classe 67, com presença de uma mol-
dura em anel sob o bordo, podendo este ser arredondado, sub-rectangular ou subtriangular. O corpo é
ovóide ou de tendência cilíndrica e os fundos são normalmente ocos ou preenchidos por uma bola de
argila. Nos primeiros pode apresentar-se externamente liso ou com uma moldura em botão, enquanto
os segundos exibem normalmente características similares às dos fundos da Haltern 70 bética ou de al-
gumas ânforas ovóides do Guadalquivir da primeira metade do séc. I a.C. (Morais, 2004a, p. 40; Morais e
Fabião, 2007, p. 128-129; Filipe, 2008a, p. 72; Filipe, 2016; Morais e Filipe, 2016). Refira-se ainda que estas

353
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Figura 34 – Pormenor sobre engobes esbranquiçados aplicados na superfície externa de ânforas Lusitanas Antigas.

produções precoces de fabrico atribuível aos vales dos rios Tejo e Sado exibem muitas vezes engobes
de cor branca ou bege, por vezes bastante espessos.
Até ao momento a sua produção está atestada em vários locais do Vale do Sado, tendo todos
começado a laborar já durante a dinastia Júlio-Cláudia, concretamente no Largo da Misericórdia, em
Setúbal (Silva, 1996), no Pinheiro (Mayet e Silva, 1998), em Abul (Mayet e Silva, 2002) e nos Fornos da
Parvoíce, Alcácer do Sal (Pimenta et al., 2016). Refira-se ainda um outro centro oleiro recentemente
documentado no centro histórico de Setúbal, na Rua António Joaquim Granjo (Mayet e Silva, 2016),
e datado do período de Augusto onde, embora se não tenham identificado os fornos, foi registada a
presença de ânforas com defeitos de cozedura enquadráveis nas mais precoces produções lusitanas.
No Vale do Tejo, apesar da mais que certa possibilidade de ter igualmente existido fabrico de ânforas em
fases tão recuadas (Fabião, 2008; Dias et al., 2012), nunca foi escavada nenhuma olaria com cronologia
de produção tão recuada, apesar de os materiais recuperados em Muge constituírem um forte indício
do seu provável fabrico naquele local (Cardoso, 1990). Embora se enquadrem no mesmo âmbito cro-
nológico, as produções de Peniche serão tratadas à parte uma vez que se trata de uma realidade bem
individualizada e demarcada das produções dos vales dos rios Tejo e Sado, tanto em relação às formas
como no que se refere às pastas (Cardoso et al., 2006; Cardoso et al., 2016).
Tendo em conta o panorama da cronologia dos centros oleiros listados, facilmente se depreen-
derá da existência de diversos outros centros produtores ainda desconhecidos que terão laborado du-
rante o arco temporal em que estas formas foram produzidas, sobretudo nos vales do Tejo e do Sado
(Morais e Fabião, 2007, p. 129). Nesta linha de raciocínio concorre o facto de se ter registado, em diver-
sos locais, ânforas com pastas inegavelmente lusitanas mas das quais se desconhece o centro produtor,
como acontece em Santarém (Arruda et al., 2006a, p. 237), no Teatro Romano, Lisboa (Filipe, 2008a,
p. 78) e no NARQ, Lisboa, confirmado neste caso com análises químicas (Dias et al., 2012, p. 68), e no
Castelo da Lousa (Morais e Fabião, 2007, p. 129; Morais, 2010a, p. 191), aqui evidenciando uma provável
produção regional no Alentejo. Também no Algarve parece ter existido produção de ânforas em fases
recuadas, concretamente de Haltern 70, cuja cronologia está para já balizada entre a Época de Augusto
e o reinado de Calígula, sendo o seu fabrico naquela região até recentemente desconhecido e estando
para já unicamente documentado em Monte Molião (Arruda e Viegas, 2016, p. 458-460).
Embora até à data sejam reduzidas as evidências directas acerca dos produtos transportados por
estas ânforas, é muito provável que se destinassem essencialmente a envasar preparados piscícolas já
que os locais onde foram fabricadas correspondem a regiões com excelentes condições para a explora-
ção dos recursos marinhos, aliás, extensamente documentada a partir de meados do século I d.C.. Um
tal conteúdo ficou demonstrado, pelo menos para parte dessas formas mais precoces, nas análises de
resíduos orgânicos efectuadas sobre contentores provenientes do Castro de Vigo e de Braga (Oliveira
et al., 2015; Morais et al., 2016).

354
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

Todavia, creio que se deverá manter em aberto a forte possibilidade de um outro conteúdo, no-
meadamente o vinho, seja porque uma das formas produzidas imita um contentor que se destinaria a
transportar esse produto - a Haltern 70 -, seja pela existência de uma tradição de produção de ânforas
vinárias e, concomitantemente, de vinho nestas mesmas regiões, comprovadamente a partir do início
do século II d.C. (Filipe, 2016). Por estes motivos, considera-se aqui um conteúdo piscícola para as mais
antigas produções lusitanas com excepção da Haltern 70 que, face à forte possibilidade de um con-
teúdo vinário (todavia por atestar), se preferiu manter como de conteúdo indeterminado37. A este res-
peito, cabe ainda mencionar a existência de um exemplar de Haltern 70 lusitana no Banco de Portugal
(nº 78) que conserva restos de revestimento resinoso no seu interior.
Não parece ter existido uma grande tradição epigráfica nos centros oleiros que fabricaram as
mais antigas ânforas romanas da Lusitânia, o que, aliás, não difere muito do que se verifica nas fases
posteriores, sendo conhecida apenas uma marca sobre um destes contentores. Trata-se de uma peça
proveniente do NARQ que conserva bordo, colo e arranque das asas, tipologicamente enquadrável na
Haltern 70 lusitana. Incompleta na sua parte final, a estampilha foi aposta no colo do recipiente, pos-
suindo cartela rectangular onde se pode ler ROM[…] ou POM[…] (Dias et al., 2012, p. 61, fig. 2, nº 3460;
Fabião et al., 2016, p. 109 e Est. 14, nº 131).
Com base nos dados actualmente disponíveis, o mapa de distribuição destes modelos precoces
apresenta uma difusão que compreende grande parte do território nacional, litoral e interior, estan-
do presentes em vários sítios da Galiza e região entre Douro e Minho (Soeiro, 1984; Paiva, 1993; Mo-
rais, 2004a), Braga (Morais et al., 2016), Lousada (Sousa et al., 2006), Conimbriga (Buraca, 2005, p. 47;
Buraca, 2016, p. 234-236), Tomar (Prudêncio et al., 2005, p. 206-207), Berlengas (Bugalhão e Lourenço,
2006, p. 284-289; Bugalhão e Lourenço, 2011, p. 207-208), Alto das Cabeças, Oeiras (Cardoso, 2011, fig.
91), Freiria (Cardoso, 2015, p. 363), Monte dos Castelinhos (Pimenta e Mendes, 2014, p. 131; Pimenta,
2017, p. 202-203), Alto dos Cacos (Pimenta et al., 2012, p. 56; Pimenta e Mendes, 2014, p. 270), Santa-
rém (Arruda et al., 2006a, p. 238-243), Coruche (Quaresma e Calais, 2005, p. 439-440), Idanha-a-Velha
(Banha, 2006, p. 70), Mérida (Almeida e Sánchez Hidalgo, 2013, p. 50; Almeida, 2016, p. 195-201), Tróia
(Diogo e Trindade, 1998, p. 196; Almeida et al., 2014d, p. 657; Almeida et al., 2014c, p. 408; Pinto et al.,
2016, p. 177), Setúbal (Silva e Coelho-Soares, 2014, p. 336), Chibanes (Trindade e Diogo, 1998, p. 173),
Alcácer do Sal (Pimenta et al., 2006, p. 304-309; Pimenta et al., 2015b, p. 158-160), São Miguel da Mota,
Alandroal (Guerra et al., 2003, p. 431), Castelo da Lousa (Morais, 2010a, p. 190-191), região de Monforte
(Boaventura e Banha, 2006), Soeiros, Arraiolos (Calado et al., 1999, fig. 5; Mataloto e Angeja, 2015, p.
853), Castelo dos Mouros, Évora (Mataloto, 2008, p. 131), Castelo Velho de Veiros, Estremoz (Mataloto
e Roque, 2012, p. 675), Rocha da Mina, Alandroal (Mataloto e Roque, 2013, p. 136; Mataloto et al., 2016,
p. 146), Caladinho, Santa Justa, Monte do Almo e Vidigueira, todos na região da Serra d’Ossa (Mataloto,
2010; Mataloto et al., 2014), Cerrado do Castelo, Grândola (Ferreira et al., 1991, p. 109), Tourega, Évora
(Pinto e Lopes, 2006, p. 215, fig. 15, nº 13), Monte da Cegonha, Vidigueira (Pinto e Lopes, 2006, p. 215,
fig. 7), São Cucufate (Mayet e Schmitt, 1997, p. 100), Monte Molião (Arruda e Viegas, 2016) e foz do rio
Arade (Fonseca, 2015, p. 62-63). Em Lisboa estão particularmente bem documentadas, surgindo no
Teatro romano de Lisboa (Filipe, 2008a, p. 72-78; Filipe, 2015, p. 146-147), na Rua dos Bacalhoeiros (Filipe,
2008b, p. 318-321), nas antigas e recentes intervenções da Praça da Figueira (Almeida e Filipe, 2013,
p. 742; Silva, et al., 2016, p. 155-164), na Rua dos Remédios (Silva, 2015a, p. 61-63), na FRESS (Silva, 2014,
p. 183), na Casa dos Bicos (Filipe et al., 2016, p. 437), no NARQ (Dias et al., 2012, p. 61) e na recente inter-
venção da Rua das Pedras Negras (Gomes et al., 2017).
Não sendo totalmente clara e podendo até, eventualmente, ser em parte imputável à geografia
da investigação, a sua escassez no Algarve poder-se-á relacionar com a maior dependência daquele ter-
ritório com a zona de influência de Cádis durante os primeiros séculos da nossa Era (Viegas, 2011, p. 206),
constituindo-se muito provavelmente o fabrico local de Haltern 70 como uma produção minoritária.

37. A possibilidade de um conteúdo vinário para as imitações lusitanas de Haltern 70 foi já anteriormente equacionada: Sabrosa e
Bugalhão, 2004, p. 573; Almeida, 2008, p. 289; Filipe, 2016.

355
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Lusitanas Antigas
OCEANUS
GERMANICUS

Britannia
S

OCEANUS BRITANNICUS
N U

Germania
Inferior
E A

Belgica
Lugdunensis
O C

Germania
Superior
GALLIA Rhaetia
MARE Noricum
CANTABRICUM

erio nia
Aquitania Alpes

r
Inf nno
Pa
P Dacia
Suann
pe on
Narbonensis rio ia
r
PONTUS EUXINUS

IT
AL
HISPANIA Dalmatia
IA
Lusitania Moesia Inferior
Moesia
Olisipo Superior
Tarraconensis Corsica Roma
s
ontu
Thracia et P
ynia
Baetica Bith
Sardinia Macedonia
Cappadocia
Galatia

Ep
iru
Asia

s
MARE
MARE et
a lia Cilicia
Mauretania Caesariensis
Sicilia IONIUM Achaea ci hy
Mauretania Tingitana Ly mp
Pa

Africa Proconsularis AEGAEUM


Syria
Germania Inferior Lusitania (território espanhol)
Kops Plateau Emerita Augusta
Creta Cyprus
Tarraconensis Gallia
Castro de Panxón Lyon
Montecastro Saint-Bézard, Aspiran
Castro de Vigo Arles
Ilha de Torralla Naufrágios

ea
Santa Tecla, Galícia Italia

da
Montealegre San Potito Ardenza A

Iu
Cyrenaica
A Lanzada villa Arianna di Stabiae, baía de Nápoles Ventetone, sítio 1
Torres do Oeste Arabia
Aegyptus Petraea

Figura 35 – Difusão das Lusitanas Antigas no Império Romano.

Mas se uma ampla difusão destas ânforas por toda a faixa ocidental da Península Ibérica podia já ser in-
tuída com base nos dados publicados nos últimos anos, incluindo na capital provincial Augusta Emerita
onde está bem atestada (Aquilué Abadias e Dehesa, 2006 apud Almeida, 2016, p. 199; Aquilué Abadias e
Bello Rodrigo, 2009, p. 434; Almeida e Sanchez Hidalgo, 2013, p. 50), a sua identificação no Sul de Fran-
ça, em Lyon (Bertrand et al., 2014, Pl. 33), Saint-Bézard, Aspiran38 (Mauné e Duperron, 2012, p. 135-136)
e Arles (Djaoui e Quaresma, 2016, p. 358-351), bem como na Germania Inferior, em Kops Plateau, Nijme-
gen (Almeida et al., 2014a; Almeida e González Cesteros, 2017, p. 87), confere toda uma outra dimensão
a estas produções e à fase inicial de exportação e difusão dos produtos piscícolas lusitanos para pontos
mais distantes do Império. A estes locais, haverá ainda a acrescentar a sua possível presença em San
Potito, na vertente adriática da Península Itálica (Harshegyi, 2007, fig. 10, nº 127), e na villa Arianna di
Stabiae, na Baía de Nápoles (Federico, 2007, fig. 10, nº III, e fig. 16), bem como nos naufrágios Ardenza A
e Ventotene, Sítio 1, junto à costa tirrénica da Península Itálica (Bombico, 2016, p. 241 e 262).
As Lusitanas Antigas constituem-se como um dos tipos melhor representados no conjunto Alto-
-Imperial de Lisboa (ainda que, na realidade, não correspondam a um tipo mas sim a vários tipos distin-
tos), apenas ultrapassadas pelas Dressel 14, Lusitana 3 e Dressel 20 do Guadalquivir, significando 8,65%
da amostra global deste período, o que é bem demonstrativo da vitalidade da indústria piscícola e oleira
lusitana durante a sua fase inicial de produção. No âmbito das produções lusitanas alto-imperiais repre-
senta 14,77%, atingindo os 16,43% dos contentores piscícolas da mesma época.
Registou-se um Número Mínimo de 273 Indivíduos (40 dos quais classificados como Haltern 70
Lusitana), procedentes da maior parte dos sítios analisados neste trabalho, notando-se a sua escassez

38. Os autores referem a presença de um fragmento de colo e outro de fundo de pasta lusitana, enquadrando-os na Dressel 14. Contudo,
tendo em conta que se trata de um contexto datado de 10 d.C., dever-se-á antes tratar de uma forma integrável nas Lusitanas Antigas.

356
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

sobretudo na área do Castelo, algo que é recorrente em praticamente todos os outros tipos, com ex-
cepção dos contentores republicanos, indiciando uma ocupação diferenciada daquela zona da cidade
pelo menos a partir da Época de Augusto, aparentemente não habitacional.
Infelizmente, os dados estratigráficos são escassos para a fase de produção anterior à viragem
da Era, compreendendo apenas alguns fragmentos de parede de produção lusitana exumados num
contexto que deverá datar do terceiro quartel do séc. I a.C. no Beco do Marquês de Angeja, manifesta-
mente insuficientes para aferir os tipos presentes mas suficientemente representativos para confirmar
a sua circulação em Olisipo em fase anterior ao Principado de Augusto. Foi ainda recolhido um bordo
na intervenção do Pátio José Pedreira, no Castelo, exumado num nível de cronologia pouco clara mas
que poderá datar da segunda metade do séc. I a.C.. Já na Sé Catedral, os contextos mais antigos onde
se identificaram ânforas deste tipo datam do Principado de Augusto (nº 12598), de entre Augusto e o
início de Tibério (nº 16206, 12622, 12644, 16308, 16310 e 16311), e de entre o final do reinado de Tibério e
o de Nero (nº 11434, 13233, 13236, 13242, 13243, 13245, 13251, 16175, 16287 e 16288).
Para a primeira metade do séc. I d.C. o volume de informação é superior mas, ainda assim, de-
masiado parco para a quantidade de materiais existente. Da Praça da Figueira provém o conjunto mais
numeroso destes contentores recolhidos em contexto da época, parcialmente publicado em trabalho
recente (Silva et al., 2016). O mais antigo corresponde à fossa 8933, do início de Tibério, de onde pro-
cede um bordo (nº 30030), dois fundos (nº 30030.09 e 30030.10) e 4 asas; na fossa 8060, de 20-40 d.C.,
exumaram-se quatro bordos (9304.01, 30046.01, 2029.01 e 30032.01), dois fundos (30032.01 e 30032.03)
e sete asas; um bordo (nº 9665.02) e uma asa (nº 6357.01) provêm de estratos relacionados com a cons-
trução do primeiro tabuleiro da via, enquadrável entre o final do Principado de Tibério e o de Cláudio;
de uma estrutura negativa situada sob esse primeiro tabuleiro, do final do Principado de Tibério a inícios
do de Cláudio, procede um bordo (6433.01), uma asa e um fundo (6433.03); um fundo (6628.01) do sec-
tor Sul da via, de contexto balizado entre Tibério e Cláudio; atribuível ao reinado de Cláudio é um nível
de preparação da via secundária onde se identificaram três fragmentos de asa; no sector Norte da via,
nos níveis de preparação para a sua construção datados entre Cláudio e Nero, recolheram-se quatro
bordos (30044.05, 30031.01, 30031.02 e 9837.01) um fundo (6316.02) e 8 asas; por fim, da fossa 9033,
balizada entre 60-70 d.C., provêm sete asas e um bordo (6731.32).
No Teatro Romano apenas se identificou um fragmento de asa em níveis da Fase I - final do Prin-
cipado de Augusto e início do de Tibério -, e três bordos (2649 e 5243 de 2005; 1412 de 2006; 7 de 2013;
2793 de 2010) e um fundo em contextos da Fase II, cronologicamente enquadrável em torno a meados
do séc. I d.C. (Filipe, 2015, p. 137-138). Também de meados da primeira centúria são os estratos de onde
procedem a maioria dos materiais deste tipo da Rua dos Bacalhoeiros (Filipe, 2008b), bem como da
Rua dos Remédios, neste caso duas asas e um bordo (nº 2). Por último, na Zara, Rua Augusta, onde se
documentou o maior conjunto destas ânforas, ocorrem em quantidades significativas em contextos
atribuíveis à segunda metade do séc. I d.C..
Os dados deste volumoso conjunto de Lusitanas Antigas de Lisboa não acrescentam informação
relevante no que toca à cronologia do arranque da sua produção, embora forneça boas indicações para
a sua fase final, particularmente os da Praça da Figueira, parcialmente já publicados (Silva et al., 2016),
e os da Zara, Rua Augusta. As realidades registadas no primeiro sítio documentam a comercialização
dessas ânforas até ao reinado de Nero, salientando-se a ausência de Dressel 14 nos mesmos contextos.
Do mesmo modo, parece ser igualmente significativa a proporção de Lusitanas Antigas relativamente
à Dressel 14 nos níveis Flávios da Zara, Rua Augusta, maioritariamente representadas por peças atri-
buíveis à Lusitana 12 e à designada Dressel 14A. Por outro lado, na Rua de São Mamede, em contextos
cronologicamente balizados entre o último quartel do séc. I d.C. e o primeiro terço do séc. II (Mota et
al., 2017), não se regista a presença de Lusitanas Antigas enquanto as Dressel 14 estão muito bem repre-
sentadas. Com base nestes dados poder-se-á afirmar que a fase final da produção de ânforas de morfo-
logia enquadrável nas designadas Lusitanas Antigas se deverá situar no terceiro quartel do séc. I d.C.,
devendo ter-se prolongado pelo menos até ao reinado de Vespasiano no caso das formas atribuíveis à
Lusitana 12 e Dressel 14A, sobretudo esta última, que terão circulado ainda com as primeiras Dressel 14.
Relativamente às variantes que se observam na amostra de Olisipo, maioritariamente compostas
por formas enquadráveis nas Dressel 7-11, Haltern 70 e Lusitana 12, parece significativa a escassez de

357
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

bordos afins à Classe 67, relativamente bem representadas no Monte dos Castelinhos (Pimenta, 2015;
Pimenta, 2017), no interior alentejano (Morais, 2010a; Mataloto et al., 2016) e no Noroeste (Morais,
2004a; Morais e Fabião, 2007); bem como de bordos com perfil subtriangular ou sub-rectangular, obser-
váveis no Pedrão em contextos tardo-republicanos (Mayet e Silva, 2016, p. 63, fig. 6, nº 1-3) e no interior
alentejano (Morais, 2010a; Mataloto et al., 2016). Igualmente raras, tanto em Lisboa como, aparente-
mente, no restante território são as variantes de bordo de perfil arredondado e espessado externamen-
te e liso no interior (apenas duas: nº 9728.01 da Praça da Figueira e nº 11010 da Sé Catedral), cujo melhor
paralelo parece ser uma peça do Monte dos Castelinhos (Pimenta, 2017, p. 201, fig. 6, nº 5). Esta variante
apresenta notáveis similitudes com o tipo VC de Apani (Palazzo, 2013, p. 22) e, em menor medida, com
a Ovóide 6 do Guadalquivir (García Vargas et al., 2011), da qual difere sobretudo pela abertura do colo
e do bordo. Assinaláveis são as diversas variantes enquadráveis nas Dressel 7-11 e nas Haltern 70, levan-
tando a questão, acima referida, de um hipotético reduzido nível de estandardização.
Quanto ao possível significado cronológico atribuível às distintas variantes de bordo, os dados
continuam a ser relativamente parcos. No caso concreto de Lisboa, onde as Lusitanas Antigas estão
bem documentadas em contextos dos três primeiros quartéis do séc. I d.C., parece ser significativa a es-
cassez dos tipos atrás referidos (afins à Classe 67 e bordos com perfil subtriangular ou sub-rectangular),
podendo-se ver aí um indício de que a sua produção terá cessado em torno à viragem da Era ou mesmo
um pouco antes. Embora esta ilação pareça estar de acordo com a cronologia dos sítios onde estas
variantes estão atestadas, carecerá, naturalmente, de confirmação no futuro.

6.2.1.2. Dressel 2-4

Trata-se de uma ânfora sobre a qual existe muito pouca informação. Embora date já de 1990 a
publicação onde pela primeira vez se deu a conhecer a produção na Lusitânia de imitações da Dressel
2-4 (Cardoso, 1990), o conhecimento acerca deste tema manteve-se inalterado e sem desenvolvimento
praticamente até aos dias de hoje, com excepção da recente referência à existência de alguns fragmen-
tos destas ânforas em Mérida (Almeida e Sanchez Hidalgo, 2013). A forma não está representada na
tipologia das ânforas lusitanas de D. Diogo (1987), do mesmo modo que não surge habitualmente nas
sínteses sobre as produções anfóricas lusitanas (Filipe e Raposo, 1996; Fabião, 2004).
No colóquio de 1988, em Conimbriga - “Ânforas lusitanas: tipologia, produção e comércio” (Alar-
cão e Mayet, 1990) -, G. Cardoso apresentou “O forno de ânforas de Muge” onde refere a produção de
ânforas de tipo Dressel 2-4, juntamente com outras formas como os modelos mais precoces de ânforas
lusitanas (que classifica como Dressel 7-11) e as Dressel 14 (Cardoso, 1990, p. 156-158). Apesar de fazer
alusão à recolha de outros dois fragmentos atribuíveis à Dressel 2-4, entre os quais um ombro carenado,
o referido autor apresenta apenas o desenho de uma peça que conserva a totalidade do bordo e colo,
bem como o arranque das asas, cuja secção aparenta “ser do tipo em fita, com uma canelura central no
lado exterior, semelhante às aplicadas na forma Dressel 14” (Cardoso, 1990, p. 156-158).
A morfologia da referida peça parece encaixar bem nas características das Dressel 2-4, exibindo
um bordo engrossado e arredondado, um colo alto e cilíndrico, cuja transição para o ombro - de que se
parece conservar apenas o arranque - aparenta ser bem marcada por uma inflexão acentuada (Cardoso,
1990, fig. 41, nº 1). Porém, dois aspectos parecem destoar dos modelos itálicos. Por um lado, a inclinação
do arranque das asas, apenas sugerido devido à sua escassa conservação, fazendo recordar os modelos
orientais de Dressel 5 em que as asas apresentam o seu topo expressivamente elevado em relação ao
arranque superior, provocando uma inclinação acentuada da parte que estabelece a ligação entre o
colo e o ângulo de inflexão; igualmente verificável nas Dressel 3, ainda que de forma menos expressiva.
Por outro, parece possuir dimensões algo reduzidas (diâmetro do bordo, espessura das paredes do
colo e do bordo, altura do colo), principalmente se comparada com as peças 3 a 6 da mesma estampa.
Ainda em relação aos vestígios arqueológicos do centro produtor de Muge, para além da abun-
dância de cerâmica com pastas homogéneas - entulheiras - e da existência de carvões, em ambos casos
principalmente concentrados junto à margem mas no fundo do leito argiloso do Tejo, registou-se no
local a presença de cerâmica com defeitos de cozedura, onde se incluem fragmentos de ânfora (como,

358
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

Thermae Cassiorum

Muge 100km

Dressel 2-4 Lusitana (Cardoso, 1990).


Figura 36 – Dressel 2-4noLusitana
Difusão (Cardoso,
território português: 1990).
Lisboa, Muge (Porto Sabugueiro).
Difusão no território português: Lisboa, Muge (Porto Sabugueiro).

por ex., o bocal de “Dressel 7-11”), não tendo, contudo, sido documentados os fornos que terão produ-
zido estes contentores (Cardoso, 1990, p. 154-157).
A cronologia aferida pelo autor para a laboração deste centro oleiro “situa-se predominante-
mente durante a dinastia dos Flávios e a dos Antoninos” (Cardoso, 1990, p. 158). Haveria, porém, que
fazer recuar o início da sua actividade produtiva pelo menos até à primeira metade do séc. I d.C., se não
mesmo às últimas décadas do séc. I a.C., tendo em conta a produção no local de ânforas de morfolo-
gia antiga, cuja produção não ultrapassa certamente a dinastia Flávia (Morais, 2004a; Morais e Fabião,
2007; Filipe, 2016; Morais e Filipe, 2016). Este lapso temporal, que se estende da primeira metade do séc.
I d.C., ou dos últimos anos do século anterior, até à segunda metade do séc. II d.C. é, para já, o melhor
indicador sobre os limites cronológicos do fabrico desta forma na Lusitânia. Infelizmente, desconhece-
-se a cronologia do contexto de origem da peça de Lisboa.
Relativamente à questão do conteúdo, tendo em conta o panorama de manifesta escassez de
dados em tudo o que se refere a este tipo, era já expectável que, também em relação a este aspecto, as
evidências directas disponíveis fossem inexistentes. Um conteúdo vinário é, contudo, o mais provável
tendo em consideração que se trata da imitação de um envase destinado a transportar vinho. Mesmo
nas reproduções desta forma, documentadas nas mais diversas regiões da bacia mediterrânea, o vinho
parece ter correspondido ao único conteúdo conhecido. Tanto quanto se conseguiu apurar, o único
sítio onde se identificaram ânforas de tipo Dressel 2-4 com fabrico lusitano, para lá do centro produtor
de Muge, foi em Mérida, onde estão atestados quatro fragmentos (2 NMI, não ilustrados) com pastas
atribuídas aos vales dos rios Tejo e Sado (Almeida e Sanchez Hidalgo, 2013, p. 50-54).
O facto de em Lisboa apenas se ter reconhecido um fragmento de asa atribuível ao tipo Dressel
2-4 com pasta claramente lusitana (Tejo/Sado), num universo de perto de 10000 fragmentos de ânfora,
ilustra bem o carácter residual destas produções. No entanto, a sua presença em Lisboa e em Mérida,
juntamente com a sua documentação no centro oleiro de Muge, demonstra que houve de facto produ-
ção deste tipo também no extremo Ocidente Peninsular, com uma difusão que, para já, parece ter sido
apenas à escala regional e em proporções residuais.
A peça de Lisboa corresponde a uma asa bífida, da qual se conservou um dos rolos quase com-
pleto, fracturado no topo, na zona do ângulo de inflexão, observando-se o negativo onde estaria cola-
do o outro rolo. Pelo contrário, no caso do exemplar de Muge a asa não parece ser bífida, antes criando
essa ilusão através de um sulco no seu dorso (Cardoso, 1990, p. 156).

359
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

6.2.1.3. Dressel 14

Este tipo foi pela primeira vez individualizado por H. Dressel no volume XV do Corpvs Inscription-
vm Latinarvm, (Dressel, 1899), no âmbito do estudo da epigrafia sobre instrvmentvm domesticvm pro-
veniente do Monte Testaccio e do Castro Pretório, tendo recebido o número 14 da tabela dedicada às
ânforas por aquele investigador. Posteriormente a Dressel 14 foi incluída por M. Beltrán Lloris (1970) na
sua forma IV a que atribuiu origem bética, tendo mais tarde A. Parker criado a designação de IVb para
as produções de fabrico lusitano (Parker, 1977, p. 37-39). Mas foi no âmbito do estudo das ânforas das
Termas do Nadador, Óstia, que pela primeira vez se distingue a produção da Dressel 14 bética (Ostia
LXII) da lusitana (Ostia LXI) - “Forma simile alla Dressel 14” -, ainda que a autora considere a segunda uma
imitação da primeira (Panella, 1973, p. 519-521).
Já na segunda metade da década de 80, num trabalho de carácter mais geral, foi enquadrada por
D. Peacock e D. Williams na sua Classe 21 (Peacock e Williams, 1986, p. 128-129), enquanto A. M. Dias Dio-
go a denomina de Lusitana 2 no seu “quadro tipológico das ânforas de fabrico lusitano” (Diogo, 1987a).
A classificação dos autores ingleses, que distinguem as produções de Dressel 14 Lusitanas, Classe 21, das
da Bética, Classe 20, viria a ser criticada por C. Fabião e A. Carvalho, propondo que fossem agrupadas
em Classe 20/21 (Fabião e Carvalho, 1990, p. 44-48). A tomada de consciência de que a Dressel 14 era de
facto uma criação lusitana, posteriormente imitada na Baetica, e não o oposto, levaria, por fim, à desig-
nação de Dressel 14 Lusitana (Mayet e Silva, 1998, p. 58-59; Étienne e Mayet, 2002, p. 133)39.
Este tipo é considerado como a evolução da denominada Dressel 14A (Mayet e Silva, 1998,
p. 62-64), sendo esta última actualmente enquadrada dentro das produções mais antigas da Lusitânia
(v. supra) e derivando dos mais precoces modelos anfóricos lusitanos, inspirados em ânforas béticas
(Haltern 70 e Dressel 7-11).
Em termos gerais, apresenta bordos de secção triangular ou arredondada, podendo ser mais ou
menos espessados e destacados da parede do colo, sendo este tendencialmente alto, cilíndrico ou bi-
troncocónico, podendo transitar com maior ou menor suavidade para o ombro. As asas são de secção
ovalada e geralmente com um sulco longitudinal no dorso, arrancando abaixo do bordo e repousando
num ombro normalmente arredondado e ligeiramente descaído, cuja transição para a pança é habitual-
mente suave. O corpo é cilíndrico, sendo rematado por um bico fundeiro que pode ser mais ou menos
alongado e ser oco ou preenchido com uma bola de argila (Panella, 1973, p. 520; Parker, 1977, p. 38;
Peacock e Williams, 1986, p. 128; Fabião e Carvalho, 1990, p. 47; Mayet e Silva, 1998, p. 62; Raposo e
Viegas, 2016).
Produzida entre meados do séc. I d.C. e a primeira metade do século III (Mayet e Silva, 1998, p.
123; Almeida et al., 2014c, p. 416; Raposo e Viegas, 2016), a sua morfologia conheceu, ao longo deste lar-
go espaço de tempo, uma significativa variação formal que se traduz em distintas variantes, sobretudo
ao nível do bordo.
Na sistematização das produções anfóricas dos centros oleiros do Pinheiro e de Abul, os bordos
de perfil de tendência triangular (variante B) correspondem aos modelos mais antigos, de Época Flávia,
enquanto os lábios arredondados e por vezes encurvados para o interior, variante C, seriam produzidos
durante o séc. II d.C., correspondendo à variante mais difundida no Império; existindo ainda uma varian-
te tardia, produzida entre o final do séc. II d.C. e os primeiros decénios do século seguinte (Mayet e Silva,
1998, p. 62-119; Mayet e Silva, 2002, p. 103-108). Haverá, todavia, que matizar esta proposta de uma se-
quência e divisão cronológica entre as variantes B e C, uma vez que, tendo em conta alguns contextos es-
tratigráficos de Tróia, ela poderá não ser generalizável a todo o Baixo Sado (Almeida et al., 2014c, p. 415).
Relativamente ao conteúdo, H. Dressel (1899) documentou em Roma tituli picti conservados em
ânforas deste tipo fazendo referência a liquamen e muria, restando poucas dúvidas que se tratava de
ânforas destinadas ao transporte de produtos à base de peixe (Étienne, 1990; Fabião e Guerra, 1993;
Raposo e Viegas, 2016). Refira-se ainda a existência de análises químicas por cromatografia de gases,
realizadas sobre ânforas de tipo Dressel 14 e indicando um conteúdo piscícola (Oliveira et al., 2015).

39 . Sobre o historial da investigação da Dressel 14 veja-se: Fabião e Carvalho, 1990, p. 41-49; Raposo e Viegas, 2016.

360
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

A Dressel 14 constitui-se como a ânfora lusitana mais largamente produzida e difundida durante
o Alto-Império, estando o seu fabrico documentado em todas as regiões produtoras da antiga província
da Lusitânia, desde Peniche, aos vales do Tejo e do Sado e à costa algarvia (Fabião, 2004).
Pela mesma sequência geográfica, está atestada nos centros oleiros do Morraçal da Ajuda, Peni-
che (Cardoso et al., 2005; Cardoso et al., 2006; Cardoso et al., 2015; Cardoso et al., 2016); no Porto dos
Cacos (Raposo, 1990; Raposo et al., 1995; Raposo e Duarte, 1996; Raposo, 2017), na Garrocheira (Amaro,
1990a; Amaro e Gonçalves, 2016; Amaro e Gonçalves, 2017) e em Muge (Cardoso, 1990), todos no Vale
do Tejo; no Pinheiro (Mayet e Silva, 1998), em Abul (Mayet e Silva, 2002), nos fornos da Parvoíce, Alcá-
cer do Sal (Pimenta et al., 2016), no Zambujalinho (Fernandes 1992; Fernandes, 1993; Fernandes e Car-
valho, 1996), na Quinta da Alegria (Coelho-Soares e Silva, 1979; Fabião, 2004), na Enchurrasqueira e no
Vale da Cepa (Diogo, 1983; Fabião, 2004), no Bugio (Diogo, 1980; Fabião, 2004) e na Barrosinha (Diogo
et al., 1987; Fabião, 2004), no Vale do rio Sado; na Manta Rota (Vasconcellos, 1920; Fabião, 2004; Viegas,
2006) e em São Bartolomeu de Castro Marim (Vasconcellos, 1898; Maia, 1979; Fabião, 2004; Bernardes
e Viegas, 2016), no Algarve.
A geografia da distribuição da Dressel 14 foi recentemente actualizada para o Mediterrâneo
(Bombico, 2016, Vol. I, Tab. 25 e Vol. II, Tab. 1) e Norte do Império (Almeida et al., 2014a, p. 388; González
Cesteros, 2014, p. 457; Monsieur, 2016, p. 369-370; Almeida e González Cesteros, 2017, p. 87), verifican-
do-se a sua presença em toda a bacia mediterrânea e uma notória escassez nas províncias do Norte40.

100km

Dressel 14 (Raposo e Viegas, 2016).


Figura 37 – Dressel
Difusão14no (Raposo
territórioeportuguês:
Viegas, 2016).
Cividade de Âncora, Monte Murado, Braga, Quinta da Ivanta, Póvoa do
Difusão no território português:
Mileu, Coimbra, Cividade
Conimbriga, deParreitas
villa de Âncora, MonteTomar,
, Berlenga, Murado, Braga,Santarém,
villa Cardílio, Quinta da Ivanta,
Porto Póvoa do Mileu,
Sabuguei-
Coimbra, Conimbriga, villadede
ro, Salvaterra Parreitas,(Tejo),
Magos/Muge Berlenga, Tomar,
Vila Franca villa
de Xira, Cardílio,
imediações de Santarém,
Vila Franca dePorto Sabugueiro,
Xira (Tejo), Mouchão Salvaterra de
da Póvoa
Magos/Muge (Tejo), Vila(Tejo), villa de
Franca de Povos,
Xira, Sub-serra
imediações da Castanheira, Casa da de
de Vila Franca Câmara
Xirae(Tejo),
Morro do Castelo (Alverca),
Mouchão da Póvoa (Tejo), villa
Regiãoda
de Povos, Sub-serra de Sintra, São Marcos,
Castanheira, CasaFrielas,
da Almoínhas,
Câmara eFreiria,
Morro Cascais, Cabo da Roca,
do Castelo Lisboa,Região
(Alverca), Cacilhas,dePonta do São Marcos,
Sintra,
Mato, Mon jo, Herdade do Escatelar (Mon jo), Arrábidas e Quinta da Queimada (Palmela), Sesimbra, Se-
Frielas, Almoínhas, Freiria, Cascais, Cabo da Roca, Lisboa, Cacilhas, Ponta do Mato, Montijo, Herdade do Escatelar
túbal, Creiro, Comenda, Tróia, Alcácer do Sal, Santa Catarina de Sí mos, Cerrado do Castelo (Grândola), Si-
(Montijo), Arrábidas e Quinta
nes, Ilha da Queimada,
do Pessegueiro, Cabo Sardão, Sesimbra, Setúbal,
Idanha-a-Velha, QuintaCreiro, Comenda,
das Longas, Ammaia, Tróia, Alcácer
Torre de do Sal, Santa Ca-
Palma, Re-
tarina de Sítimos, Cerrado
guengo do Castelo
2, Brancas, Janelas 2,(Grândola),
Monte da Nora, Sines,
Monte Ilha do Pessegueiro,
Branco 2 (Juromenha), S.Cabo
PedroSardão, Idanha-a-Velha,
dos Pássaros (S. Pe- Quinta
das Longas, Ammaia, Torre S.
dro do Curval), deMiguel
Palma, Reguengo
da Mota, Xarez de2,Baixo
Brancas, JanelasMonte
13 (Monsaraz), 2, Monte da Nora,
de S. Pedro Monte
(Fronteira), Branco
Horta da 2 (Jurome-
nha), São PedroTorre
dos (Fronteira),
Pássaros,Monte de S. Francisco
São Miguel da Mota, (Fronteira),
Xarez S. dePedro
Baixo (Alter
13 do Chão), SantaMonte
(Monsaraz), Vitória de
do Ameixial,
São Pedro (Fronteira),
São Cucufate,Monte
Horta da Torre (Fronteira), Tourega,de Monte
SãodaFrancisco
Cegonha, Beja, Aljustrel,São
(Fronteira), necrópole
Pedro de(Alter
Valdoca,
doCidade
Chão),dasSanta
Rosas, Cada-
Vitória do Ameixial,
vais (Serpa),Monte
São Cucufate, Tourega, Mértola,da Mesas do Castelinho,
Cegonha, Beja, Vidigal /Aljezur,
Aljustrel, Monte Molião,
necrópole Abicada, Mar
Quinta da Cidade
de Valdoca, das de Rosas, Cadavais
Por mão, Foz do rio Arade, Cerro da Vila, Faro, Cabo de Santa Maria, Balsa, Castelo de Castro Marim, En-
(Serpa), Mértola,terreiro.
Mesas do Castelinho, Vidigal /Aljezur, Monte Molião, Quinta da Abicada, Mar de Portimão, Foz do
rio Arade, Cerro da Vila, Faro, Cabo de Santa Maria, Balsa, Castelo de Castro Marim, Enterreiro.

40. Acerca da reduzida presença de ânforas lusitanas na metade setentrional do Império, entre outros, veja-se: Fabião, 2009a; González
Cesteros, 2014; Monsieur, 2016; Almeida e González Cesteros, 2017.

361
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Surge esporadicamente na metade oriental do Mar Interior, nas costas do actual Líbano (Reynol-
ds, 2001, p. 1057) e Cilícia, Sul da Turquia (Ferrazzoli, 2010, p. 43), e em idênticas proporções no Norte
da costa adriática itálica (Bombico, 2016, Vol. I, Tab. 25; Gaddi e Degrassi, 2016, p. 437-442). Já o litoral
tirrénico daquele território parece ter correspondido ao destino preferencial do comércio de prepa-
rados piscícolas lusitanos transportados em ânforas de tipo Dressel 14, estando atestada em diversos
locais (Bombico, 2016, Vol. I, Tab. 25) e ocorrendo com particular frequência na capital do Império,
Roma (Panella, 1992, p. 190; Rizzo, 2003, p. 148-181; Ferrandes, 2008, p. 256; Coletti e Lorenzetti, 2010,
p. 158; Rizzo, 2012, p. 92; Rizzo, 2016, p. 409-414) e em Óstia (Panella, 1973, p. 519-521; Rizzo, 2012, p. 92;
Rizzo, 2014, p. 240-242).
Surge também, ainda que em quantidades mais modestas, nas ilhas da Sicília e da Córsega (Bom-
bico, 2016, Vol. I, Tab. 25), bem como na Gália (Almeida e González Cesteros, 2017, p. 89-91; Djaoui e
Quaresma, 2016, p. 357-362). De igual modo, não parece estar especialmente documentada na Península
Ibérica (com excepção do extremo ocidental), ocorrendo geralmente em quantidades pouco significati-
vas na costa oriental e no Sul (Bernal Casasola et al., 2006; García Vargas, 2007a, p. 332; Mateo Corredor,
2014, p. 117-118; Bernal Casasola, 2016a; Bombico, 2016, Vol. I, Tab. 25; Raposo e Viegas, 2016), bem como
no Noroeste (Naveiro López, 1991, p. 69-70; Fernández Fernández, 2010, p, 234; Fabião, 2009a, p. 64),
com excepção de Bracara Augusta, onde parece estar bem representada (Morais 2005, p. 109).
Também no que se refere aos achados subaquáticos foram recentemente actualizados os dados
existentes relativamente à costa portuguesa e à bacia mediterrânea (Cardoso, 2013; Bombico, 2016).
No actual território português a Dressel 14 ocorre, literalmente, em todas as latitudes, estan-
do documentada de Norte a Sul, no litoral e no interior, constituindo-se como a ânfora difundida em
maiores quantidades e para maior número de sítios, ainda que, à semelhança das Lusitanas Antigas, se
observe no Algarve uma presença menos expressiva. Isto é por demais evidente na amostra de Olisi-
po, onde se reconheceu um Número Mínimo de 964 Indivíduos, compondo 30,1% do total das ânforas

Maó, Menorca Italia Sardinia


Ibiza Ventimiglia Turris Libisonis
OCEANUS Génova Olbia
GERMANICUS Baetica Dertona Neapolis
Hispalis Villa de Varignano Korakodes portus
Italica Luni Nora
Britannia Cádis Siena Cagliari
Enseada de Baelo Claudia Villa de Plínio-o-Novo Capo Malfatano/Cabo Carbonara
Germania Inferior Ilha de Toralla Settefinestre
Lobres, Salobreña
Nimega Escombreras (Ilha) Portus Sicilia
Leiden Porto de Mazarrón
Lusitania (território espanhol) Ostia Segesta
S

Cartagena Roma
Emerita Augusta
OCEANUS BRITANNICUS Britannia Portus Ilicitanus
N U

Villa de San Potito Cilicia


Germania Colchester Fundeadouro de Portitxol Neapolis Elaiussa Sebaste
Inferior Gallia
Fundeadouro de Pope/Tangó Cuma
Arles
Tarraconensis Playa de Marineta Cassiana Pompeia Iudaea
Rhone
E A

Belgica Lugo Dertosa Lucera Caesarea,


Arles Rhône 3
Lugdunensis Cabo de Mar Els Carbuncles, Tarragona Arpi
Fréjus
Baetulo, Badalona Barletta
Toulon
O C

Can Blanc, Argentona Aquileia


Fos-sur-Mer
Germania Iluro (Mataró)
Superior Soumaltre, Aspiran
GALLIA Rhaetia
MARE Noricum
CANTABRICUM
erio nia

Aquitania Alpes
r
Inf nno
Pa

P Dacia
Suann
pe on
Narbonensis rio ia
r
PONTUS EUXINUS
IT
AL

HISPANIA Dalmatia
IA

Lusitania Moesia Inferior


Moesia
Olisipo Superior
Tarraconensis Corsica Roma
s
ontu
Thracia et P
ynia
Baetica Bith
Sardinia Macedonia
Cappadocia
Galatia
Ep
iru

Asia
s

MARE
MARE et
a lia Cilicia
Mauretania Caesariensis
Sicilia IONIUM Achaea ci hy
Mauretania Tingitana Ly mp
Pa

Africa Proconsularis AEGAEUM


Syria

Naufrágios
Creta Cyprus
Escombreras 4 Tiboulen-de-Maire
Bajo de la Campana 3 Cap Bénat 1
Escolletes 1 La Balise des Lavezzi
Naufrágios de Morosanto Lavezzi 3
Porto de Mahón Lavezzi 4
ea

Grum de Sal/San Antonio Abad Punta Sardegna A


da

Illa de L’Aire Ardenza A


Iu

Cyrenaica
Es Maressos de Cavalleria Macchia Tonda
Quarta a Gregal Ventetone, sítio 1 Arabia
Dressel 14 Saint Gervais 3 Aegyptus Petraea

Figura 38 – Difusão das Dressel 14 no Império Romano.

362
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

Figura 39 – Bocal de Dressel 14 de colo curto proveniente das Thermae Cassiorum.

alto-imperiais e 52,07% dos contentores lusitanos, significando ainda 67,55% do consumo de preparados
piscícolas. As Dressel 14 de Lisboa procedem quase na sua totalidade dos vales dos rios Tejo e Sado,
observando-se uma percentagem irrelevante de contentores do mesmo tipo (Peniche 10) com fabrico
atribuível à olaria do Morraçal da Ajuda, Peniche, e a ausência de produções algarvias.
Infelizmente, o contributo que este importante conjunto podia emprestar relativamente às ques-
tões relacionadas com um possível significado cronológico das distintas variantes de bordo reconheci-
das para esta forma fica muito aquém do que se poderia esperar de uma amostra desta proporção, uma
vez que a maioria destas ânforas se encontrava fora de contexto no momento da sua recolha, sendo
paradigmático o caso do Banco de Portugal, onde se identificaram 318 indivíduos, ou ainda a Rua das
Pedras Negras (93 NMI), o Palácio dos Condes de Penafiel (70 NMI) e as antigas escavações da Praça
da Figueira (32 NMI), dos quais se desconhecem as coordenadas estratigráficas. No mesmo sentido,
concorre o facto de não se ter ainda procedido a uma exaustiva sistematização dos materiais e da es-
tratigrafia em sítios como a recente intervenção da Praça da Figueira, onde uma análise mais completa
e minuciosa dos dados estratigráficos poderá ainda possibilitar definir cronologias finas para as diversas
fases de ocupação aí documentadas.
Os conjuntos que forneceram melhores dados contextuais são os da Casa dos Bicos, Praça da
Figueira, Sé Catedral, Rua de São Mamede, recente escavação da Rua das Pedras Negras, Zara e Rua de
São Mamede. Nestes sítios, a presença da Dressel 14 está atestada em contextos datados entre o últi-
mo quartel do séc. I d.C. e a primeira metade do séc. III. Haverá que realçar a ausência da Dressel 14 nos
níveis bem datados do terceiro quartel do séc. I d.C. na Rua de São Mamede, à imagem do que sucede
nos contextos ligeiramente anteriores, situados em torno aos meados desse século, em sítios como a
Rua dos Remédios, o Teatro Romano, a Rua dos Bacalhoeiros e a Praça da Figueira (Silva et al., 2016).
Na Zara ocorrem em estratos genericamente datados da segunda metade do séc. I d.C., não sendo, por
esse motivo, possível definir com rigor se as Dressel 14 aí documentadas poderão ou não corresponder
a produções do terceiro quartel daquele século. No último quartel da primeira centúria da nossa Era sur-
ge relativamente bem atestada na Zara e na Rua de São Mamede, tanto em contextos circunscritos à di-
nastia Flávia como em outros que se estendem até ao primeiro terço ou meados do século seguinte. Os
bordos mais marcadamente triangulares parecem ser típicos dos contextos datados do último quartel
do séc. I d.C. e mais escassos no início da centúria seguinte (como é sugerido para as produções do Vale
do Sado: Mayet e Silva, 2002), embora acompanhados desde essa fase mais precoce por variantes com
outras características morfológicas, como se pode observar sobretudo no conjunto da Zara (por exem-
plo a peça nº 337). Durante a primeira metade do séc. II d.C., para além daqueles sítios, está presente

363
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

nas Escadinhas de São Crispim e na Casa dos Bicos, ainda que neste último sítio concretamente nos dois
quartéis centrais. Surge de forma muito frequente em níveis genericamente situados entre meados do
séc. II d.C. e meados do III na Praça da Figueira e, concretamente da primeira metade deste último sé-
culo, na Casa dos Bicos, na Sé e, em momento indefinido da mesma centúria, no Pátio da Sra. de Murça
Cabe ainda destacar a documentação de revestimento resinoso na superfície interna de vários
exemplares deste tipo do Banco de Portugal e, inclusivamente, de vestígios ictiológicos na peça nº 1712.

6.2.1.4. Lusitana 3

Individualizada por A. M. Dias Diogo (1987a) com o número 3 da sua tipologia das ânforas lusita-
nas, classificação que prevalece, foi também designada de “Forma afim da Dressel 30” no âmbito das
produções do Porto dos Cacos (Raposo, 1990) e, mais tarde, enquadrada na variante A da Almagro 51C
nos trabalhos monográficos das ânforas do Sado (Mayet e Silva, 1998; Mayet e Silva, 2002), classifica-
ção que ainda é utilizada por alguns investigadores.
Trata-se de uma forma inspirada nos modelos de fundo plano produzidos na Gália, caracterizada
por um corpo ovóide ou piriforme, terminando num pé em anel. O bordo pode ser em fita ou em banda,
de secção sub-rectangular ou subtriangular, vertical ou arqueado, por vezes com uma ou mais ranhuras
no exterior, asas em fita, com um ou mais sulcos longitudinais no dorso e de perfil arqueado ou semicir-
cular, que arrancam imediatamente abaixo do bordo, normalmente em contacto com a parte inferior
deste, e repousam num ombro largo e arredondado (Diogo, 1987a, 184; Raposo, 1990, p. 126; Mayet e
Silva, 1998, p. 122; Fabião, 2008, p. 733; Quaresma e Raposo, 2016).
Os dados contextuais mais antigos onde se documenta a presença de Lusitana 3 parecem cen-
trar-se no início do séc. II d.C., não permitindo, para já, recuar ao final da centúria precedente o início da
sua produção, que se terá prolongado até meados do séc. III d.C. (Diogo, 1987a, p. 184; Fabião, 2008,
p. 733-735; Mayet e Silva, 2016, p. 68; Quaresma e Raposo, 2016)

Claustros da Sé

100km

Lusitana 3.
Figura 40 – Lusitana
Difusão3.no território português: Conimbriga, Tomar, villa Cardílio, villa de Parreitas, Idanha-a-Velha, Casta-
nheira português:
Difusão no território do Ribatejo, Monte dos Castelinhos,
Conimbriga, Vila villa
Tomar, FrancaCardílio,
de Xira, imediações de Vila Franca
villa de Parreitas, de Xira (Tejo),
Idanha-a-Velha, Castanheira
Mouchão
do Ribatejo, Monte dosdaCastelinhos,
Póvoa/Alcochete (Tejo),
Vila Almoínhas
Franca e Quinta
de Xira, do Belo (Loures),
imediações Região
de Vila de Sintra,
Franca deLisboa,
Xira Ponta
(Tejo), Mouchão da
do Mato, Tróia, Acácer do Sal, Ammaia, Torre de Palma, São Pedro (Alter do Chão), Santa Vitória do Amei-
Póvoa/Alcochete (Tejo), Almoínhas e Quinta do Belo (Loures), Região de Sintra, Lisboa, Ponta do Mato, Tróia,
xial, Cerrado do Castelo (Grândola), Mirobriga, Sines, Ilha do Pessegueiro, São Cucufate, Tourega, Monte
Acácer do Sal, Ammaia,
da Cegonha, Torre
Monte deMolião,
Palma,FozSão
do rioPedro
Arade. (Alter do Chão), Santa Vitória do Ameixial, Cerrado do Castelo
(Grândola), Mirobriga, Sines, Ilha do Pessegueiro, São Cucufate, Tourega, Monte da Cegonha, Monte Molião, foz
do rio Arade.

364
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

Este contentor de pequena dimensão foi produzido nos vales dos rios Tejo e Sado, estando o
seu fabrico atestado para a primeira região nos centros produtores do Porto dos Cacos (Raposo, 1990;
Raposo et al., 1995; Raposo e Duarte, 1996; Raposo, 2017), Quinta do Rouxinol, ainda que neste local em
escassas quantidades (Duarte, 1990; Raposo et al., 1995; Duarte e Raposo, 1996; Filipe e Raposo, 2009;
Raposo, 2017) e, possivelmente, na Garrocheira (Amaro, 2016); e no Vale do Sado nas olarias do Pinheiro
(Mayet e Silva, 1998), Abul (Mayet e Silva, 2002), Enchurrasqueira (Mayet et al., 1996; Quaresma e Rapo-
so, 2016) e, possivelmente, na Quinta da Alegria (Fabião, 2004; Quaresma e Raposo, 2016).
A problemática relativa ao produto transportado por estes envases permanece em grande medi-
da por resolver. A favor de um conteúdo vínico, que me parece a hipótese mais plausível, são normal-
mente apontadas as suas características morfológicas e a analogia à Gauloise 4, ânfora atestadamente
vinária (Diogo, 1987a, p. 184; Fabião, 1996, p. 378; Fabião, 1998a, p. 185-186; Fabião, 2008, p. 735), bem
como a existência de exemplares resinados e a não coincidência cronológica com a periodização das
ânforas piscícolas lusitanas (Diogo e Alves, 1988-1989, p. 230). Numa outra perspectiva, e partindo do
pressuposto que este tipo corresponde a uma primeira etapa evolutiva da Almagro 51C, os autores dos
estudos sobre os centros oleiros de Abul e do Pinheiro defendem um conteúdo piscícola (Mayet e Silva,
1998, p 122; Mayet e Silva, 2002, p. 177). A este respeito, ainda que não contribua para a resolução desta
problemática, será interessante referir a documentação entre as ânforas do Banco de Portugal de di-
versos exemplares de Lusitana 3 com vestígios de revestimento resinoso no interior, particularmente
visível em alguns fundos.
Embora relativamente abundante em Lisboa e absolutamente dominante na villa Cardílio - onde
representa cerca de 69,9% do conjunto anfórico (Diogo e Monteiro, 1999, p. 203) -, no estado actual do
conhecimento a Lusitana 3 não aparece especialmente bem representada nos restantes centros de con-
sumo da Lusitânia, destacando-se o Algarve pela sua escassez, estando presente, entre outros locais,
em Conimbriga (Buraca, 2005, p. 32-33; Buraca, 2016, p. 233), villa Cardílio (Diogo e Monteiro, 1999), villa
de Parreitas, Alcobaça (Antunes, 2008, p. 82-83), Seilium (Banha e Arsénio, 1998, p. 176), Idanha-a-Velha
(?) (Banha, 2006, Gráfico 1), Mérida (Almeida e Sanchez Hidalgo, 2013, p. 50; Almeida, 2016, p. 207), Al-
moínhas, Loures (Brazuna e Coelho, 2012, p. 111, fig. 11), Quinta do Belo, Loures (Silva e Santos, 2009, p.
12-27), região de Sintra (Pimenta, 1982-1983, p. 117-150), Ponta do Mato (Raposo et al., 2014, p. 22), Vila
Franca de Xira (Pimenta e Mendes, 2006, p. 4; Pimenta e Mendes, 2007a, p. 206), imediações de Vila
Franca de Xira, Mouchão da Póvoa/Alcochete e rio Tejo, todos de procedência subaquática (Quaresma,
2005; Cardoso, 2013), Monte dos Castelinhos (Pimenta, 2015, p. 167), Castanheira do Ribatejo (Cardoso,

Figura 41 – Lusitana 3 da Praça da Figueira (nº 2451.01, Estampa 17) com o bocal tapado com material de natureza
indeterminada (gesso?).

365
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

2009, p. 67-68), Alcácer do Sal (Silva et al., 1980-1981, fig. 23, nº 292 e 293; Diogo e Alves, 1988-1989,
p. 230), Tróia (Diogo e Trindade, 1998, p. 203; Diogo e Paixão, 2001, p. 123-126; Almeida et al., 2014d,
p. 657; Almeida et al., 2014c, p. 407; Pinto et al., 2016, p. 181), Cerrado do Castelo, Grândola (Ferreira
et al., 1991, p. 108), Torre de Palma (Monforte), São Pedro (Alter do Chão) e Santa Vitória do Ameixial
(Estremoz) (Diogo, 1999-2000, p. 311-327; Boaventura e Banha, 2006, p. 369-399), Ammaia (Venditti,
2016, p. 221), Mirobriga (Diogo, 1999a, p. 18; Quaresma, 2012, p. 406), Sines (Diogo, 1999a, p. 18), Ilha do
Pessegueiro (Silva e Soares, 1993, p. 111), São Cucufate, Tourega e Monte da Cegonha (Mayet e Schmitt,
1997, p. 81; Pinto e Lopes, 2006, p. 197-224), Monte Molião (Arruda e Viegas, 2016, p. 460) e foz do rio
Arade (Diogo, Cardoso e Reiner, 2000, p. 85; Fonseca, 2015, p. 69-70). Em Lisboa foi registada no NARC
(Bugalhão e Sabrosa, 1995, p. 387; Bugalhão, 2001, p. 151), Teatro romano (Diogo e Trindade, 1999, p.
87; Diogo 2000, p. 165), Praça da Figueira (Almeida e Filipe, 2013, p. 740), fundeadouro da Praça D. Luís
(Parreira e Macedo, 2013, p. 748), Casa dos Bicos (Filipe et al., 2016, p. 426), Rua das Pedras Negras (Go-
mes et al., 2017) e Rua de São Mamede (Mota et al., 2017).
Apesar de esta listagem não ser exaustiva, tendo em conta que este tipo anfórico era produzido
em quantidades apreciáveis nos centros oleiros do Tejo e do Sado, não deixa de ser surpreendente, por
um lado, a fraca expressão que genericamente assume nos conjuntos referidos, por outro a sua aparen-
te ausência em vários centros de consumo lusitanos, tanto do interior do território como da faixa litoral
e estuários fluviais, como são os casos de, entre outros, Santarém (Arruda et al., 2006a), villa de Povos
(Banha, 1991-1992), Faro, Balsa e Castro Marim (Viegas 2011). O cenário é igualmente surpreendente no
Noroeste Hispânico, não estando documentada em sítios como Bracara Augusta (Morais, 2005), Lugo
(Carreras Monfort e Morais, 2011) e Astorga (Carreras Monfort e Berni Millet, 2003). Ocorre, porém, no
Sul e sudeste da Península Ibérica em locais como Punta del Moral, Ayamonte (Bombico, 2016, p. 363),
Italica (Vázquez Paz, 2012, p. 261, fig. 2; García Vargas, 2016a, p. 287), Munígua (Fabião, 2006, p. 106-107),
Sevilha (García Vargas, 2015, p. 398; García Vargas, 2016a, p. 288-294), Carteia (Bernal Casasola, 2001,
p. 267; Bernal Casasola, 2011, p. 11-12; Bernal Casasola, 2016a, p. 301), villa de Portmán (Bombico, 2016,
p. 363) e Puerto de Mazzarrón, Cartagena (Quevedo e Bombico, 2016, p. 315).
Para lá dos limites geográficos da Hispania, a Lusitana 3 parece estar presente em Aquileia, no
Norte do Adriático (Gaddi e Degrassi, 2016, p. 439), em Roma (Bombico, 2016, p. 247), muito provavel-
mente em Óstia (Palma e Panella, 1968, p. 101 e Tav. XXVIII, fig. 460), na Sardenha (Bombico, 2016, Tab.
25), na necrópole tunisina de Pupput (Bonifay, 2004a, p. 150, nº 16), no naufrágio de Arles-Rhône 7, no
Sul de França (Long e Duperron, 2011, p. 45, fig. 13, nº 1; Long e Duperron, 2013, p. 138, fig. 22, nº 1 e 2), em
Lyon (Bombico, 2016, Tab. 25) e, possivelmente, em Bordéus (Laubenheimer e Watier, 1991, p. 14, fig. 15).
A sua atestada presença em diferentes regiões do Mediterrâneo central, estendendo-se do Nor-
te de África à Gallia, da costa adriática da Península Itálica à tirrénica e à Sardenha, mas sobretudo a sua
representatividade nos já referidos centros de consumo de Munígua (Fabião, 2006, p. 106-107) e Patio
de Banderas em Sevilha (García Vargas, 2015, p. 398; García Vargas, 2016a), correspondendo no último
a 49,1% das ânforas vinárias dos contextos Severos - suplantando o vinho da Gália -, deixa antever uma
considerável difusão daquele contentor lusitano na bacia mediterrânea, contrariando a ideia de que se
trataria de um contentor meramente destinado à circulação regional. Refira-se ainda que, apesar de até
recentemente insuspeitada, esta geografia de distribuição poderá estar longe da difusão que este tipo
alcançou, ficando por aferir sobretudo o volume que terá alcançado, uma vez que se trata de um con-
tentor com características morfológicas facilmente confundíveis com algumas categorias de cerâmica
comum, sobretudo quando se trata de pequenos fragmentos.
A presença da Lusitana 3 em Lisboa é absolutamente dominante, ocorrendo na maioria dos sítios
analisados e constituindo-se como uma das formas mais numerosas desta amostra, apenas ultrapassa-
da pela Dressel 14 e com valores similares aos da Dressel 20 do Guadalquivir, tendo sido identificado um
Número Mínimo de 560 Indivíduos. Representa 17,41% da amostra global do Alto-Império, 30,12% das
ânforas lusitanas e 53,74% da totalidade dos contentores vinários deste período. Estes valores revelam
bem a importância dos produtos regionais no consumo de vinho em Olisipo durante o Principado, indi-
cando de igual forma um significativo investimento na viticultura nos vales do Tejo e do Sado a partir de
final do séc. I d.C. e início da centúria seguinte, produção suficientemente excedentária para viabilizar a
exportação para outras províncias do Império.

366
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

OCEANUS Tarraconensis Gallia Naufrágios


GERMANICUS Puerto de Mazarrón Arles-Rhône 7
Villa de Portmán, Cartagena Lyon Punta Ala A
Bordeus
Britannia Lusitania (território espanhol)
Emerita Augusta Italia
Roma
Baetica Óstia
Punta del Moral, Ayamonte Aquileia
S

Munígua
OCEANUS BRITANNICUS
N U

Itálica Sardinia
Germania Sevilha Nora
Inferior
Carteia
Africa Proconsularis
E A

Belgica Pupput
Lugdunensis
O C

Germania
Superior
GALLIA Rhaetia
MARE Noricum
CANTABRICUM

erio nia
Aquitania Alpes

r
Inf nno
Pa
P Dacia
Suann
pe on
Narbonensis rio ia
r
PONTUS EUXINUS

IT
AL
HISPANIA Dalmatia

IA
Lusitania Moesia Inferior
Moesia
Olisipo Superior
Tarraconensis Corsica Roma
s
ontu
Thracia et P
ynia
Baetica Bith
Sardinia Macedonia
Cappadocia
Galatia

Ep
iru
Asia

s
MARE
MARE et
a lia Cilicia
Mauretania Caesariensis
Sicilia IONIUM Achaea ci hy
Mauretania Tingitana Ly mp
Pa

Lusitana 3 Africa Proconsularis AEGAEUM


Syria

Creta Cyprus

ea
da
Iu
Cyrenaica
Arabia
Aegyptus Petraea

Figura 42 – Difusão da Lusitana 3 no Império Romano.

O panorama relativo aos contextos de proveniência das ânforas deste tipo em Lisboa é franca-
mente desolador. Para além dos sítios com importantes conjuntos anfóricos sobre os quais, pelas ra-
zões já expostas, se desconhece a origem estratigráfica dos materiais, como a Rua das Pedras Negras,
o Palácio dos Condes de Penafiel e as antigas intervenções da Praça da Figueira, ou do caso específico
do Banco de Portugal, há ainda alguns conjuntos cuja estratigrafia não está totalmente sistematizada,
casos da Praça da Figueira, dos Claustros da Sé ou do Largo de Santo António, registando-se ainda uma
significativa quantidade de peças recolhida fora de contexto.
Os materiais exumados em níveis enquadráveis na primeira metade do séc. II d.C. são muito
escassos, resumindo-se a um bordo proveniente da Rua de São Mamede (nº 7900) identificado em
contexto de 75 - 130 d.C.; a um bocal das Escadinhas de São Crispim (nº 21); a duas asas da Zara, reco-
lhidas em depósitos datados da dinastia Flávia mas que deverão muito provavelmente corresponder
a intrusões provenientes dos contextos já de inícios do século seguinte; e a uma asa e um bordo (nº
2963) da Casa dos Bicos, em estrato datado de entre o segundo e o terceiro quartéis do séc. II (Filipe et
al., 2016). A peça do Pátio José Pedreira (nº 1491.01), com características morfológicas algo peculiares,
procede de um depósito genericamente datado do séc. II d.C.. A maioria dos exemplares recolhidos em
contexto romano procede de níveis balizados entre meados do séc. II d.C. e meados do séc. III, com
particular incidência na primeira metade desse século. Tal é o caso de um fundo (nº 441) das Escadinhas
de São Crispim (150-250 d.C.); de algumas peças da Sé Catedral, sobretudo da primeira metade do séc.
III d.C., onde se inclui um exemplar completo; de vários fragmentos da Casa dos Bicos provenientes
principalmente da primeira metade do séc. III d.C.; de alguns exemplares reconhecidos no Pátio da Sr.ª
de Murça, em níveis genericamente datados do séc. III; e, sobretudo, da Praça da Figueira, de onde pro-
cede o conjunto mais numeroso recolhido em níveis desse período, maioritariamente provenientes de
estratos do séc. III. Embora possa corresponder a material residual, é importante referir a documenta-
ção de um significativo número de fragmentos deste tipo em contextos da Fase IV da Praça da Figueira,

367
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Figura 43 – Lusitana 3 do Pátio José Pedreira, Castelo.

cronologicamente situáveis no último terço do séc. III. Este índice alto de residualidade poderá, em
parte, encontrar explicação no que o seu autor designou de “desmonumentalização” da necrópole no-
roeste de Olisipo, que parece ter ocorrido nessa altura e que terá implicado “intensas remobilizações”
da estratigrafia (Silva, 2012, p. 485). Para além do já referido caso da Zara, registaram-se também em
outros sítios intrusões de peças atribuíveis a este tipo em estratigrafia anterior ao início do séc. II d.C.,
nomeadamente, no Pátio José Pedreira (fundo nº 1154.04 e asa nº 1149.02), onde ocorrem em níveis
que poderão datar da segunda metade do séc. I a.C.; na Praça da Figueira, em contextos datados dos
principados de Cláudio e de Nero (asa nº 8631 e bordo nº 30039.01); no Palácio do Marquês de Angeja,
em estrato que poderá datar do terceiro quartel do séc. I d.C. (asa).
Não será exagero afirmar que no volumoso conjunto da amostra de Lisboa se registam todas as
variantes de bordo conhecidas para este tipo, às quais se acrescentam eventualmente mais algumas,
bem como as diversas variações ao nível das asas, colos e fundos. Perante o quadro contextual destas
peças, a que atrás se aludiu, não é possível estabelecer qualquer tipo de evolução morfológica com
significado cronológico ou sequer perceber se tal existiu.
Bastante peculiar é a peça do Pátio José Pedreira, Castelo (nº 1491.01), tanto no que se refere
ao fabrico como à morfologia, conservando colo, ombro e asas. Quanto ao fabrico, embora seja apa-
rentemente atribuível às produções do Tejo e do Sado, verifica-se em geral uma pasta bastante mais
depurada e com acabamento mais cuidado. Em relação à morfologia, é notória uma maior e significativa
amplitude do ombro e da parte superior do corpo da peça do Castelo em relação à Lusitana 3 “clássica”
(Quaresma e Raposo, 2016, fig. 8), sendo também mais elevado ou, se se preferir, menos descaído.
Estas peculiaridades, sobretudo a primeira, aproximam-se mais da Gauloise 4 da Narbonense (veja-se,
a título de exemplo, a peça nº 16238 da Sé e: Laubenheimer e Gisbert Santonja, 2001, fig. 3, nº 7) e de
algumas variantes da Almagro 51C (veja-se: Viegas et al., 2016, fig. 6, nº 6). Outro aspecto que difere
da Lusitana 3 típica é a secção das asas, apresentando duas arestas longitudinais na parte central da
face externa. Trata-se, portanto, de uma peça a todos os títulos atípica, cuja proveniência estratigráfica
não permite esclarecer se poderá corresponder à fase inicial da produção da Lusitana 3, o que poderia
eventualmente justificar essa maior aproximação morfológica aos protótipos gauleses. A hipótese de
se tratar de um dos tipos lusitanos já conhecidos não parece muito provável, uma vez que não se parece
enquadrar morfologicamente na “Dressel 28” Lusitana ou mesmo em outras formas como a Almagro
51C (em que a asa encosta sempre ao bordo, o que não parece ser o caso).
Refira-se, por fim, que na amostra do Banco de Portugal se documentou a existência de mais de
duas dezenas de exemplares desta forma com vestígios de revestimento resinoso no interior, consti-
tuindo-se em alguns dos fundos como verdadeiras acumulações de pez.

368
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

6.2.1.5. “Dressel 28” Lusitana

Embora a produção de ânforas de forma afim à Dressel 28 esteja de há muito atestada na Lusi-
tânia ela nunca foi devidamente estudada e caracterizada, muito devido à escassez de exemplares em
centros produtores e de consumo, dados relativos à sua morfologia (ausência de exemplares comple-
tos) e de âmbito estratigráfico e cronológico, mas também por se tratar de uma produção minoritária,
relegada para segundo plano.
A primeira referência a uma possível produção lusitana de ânforas afins à Dressel 28 data de
meados da década de 80 do século passado, tendo então G. Cardoso publicado um conjunto de ânforas
recolhidas nos fornos do Pinheiro, Abul e Bugio, todos situados no Vale do rio Sado, dando à estampa
uma peça proveniente do Pinheiro da qual se conservava o bordo, asas, colo e início do ombro, que
classificou como Dressel 28/Oberaden 74, colocando a hipótese de corresponder a um fabrico local
(Cardoso, 1986, p. 161 e Est. I, nº 4). No ano seguinte A. M. Dias Diogo e F. Reiner publicam um bordo
com arranque de asa proveniente de Sines, de fabrico aparentemente lusitano, que classificam como
Dressel 28 (Diogo e Reiner, 1987, p. 118-119 e Est. 1, nº 15), que mais tarde A. M. Dias Diogo viria a designar
de Lusitana 14 (Diogo, 1999a, p. 18).
Em 1990 são publicados os primeiros resultados das escavações dos centros oleiros do Porto
dos Cacos (Raposo, 1990) e da Quinta do Rouxinol (Duarte, 1990). Em relação ao primeiro, são dados à
estampa desenhos de dois fragmentos de bordo - com francas parecenças à Oberaden 74 tarraconense
e a um exemplar do Pinheiro (Mayet e Silva, 1998, fig. 52, nº 76) - que o autor classifica de Dressel 28 (Ra-
poso, 1990, p. 127 e fig. 37, nº 89-90). Quanto à Quinta do Rouxinol, publicam-se três peças apresenta-
das como “formas não classificadas” (Duarte, 1990, p. 102 e fig. 19, nº 35-37), que se parecem enquadrar
no âmbito das chamadas “Dressel 28” lusitanas. Em 1996, em novo artigo sobre a Quinta do Rouxinol,
é dado a conhecer um exemplar de bordo, asas, colo e início do ombro, classificado como “Dressel 28”
(Duarte e Raposo, 1996, fig. 6, nº 7). Alguns anos mais tarde é publicada a monografia sobre o centro
produtor do Pinheiro, no Sado (Mayet e Silva, 1998), onde são apresentadas algumas peças de pro-
dução local classificadas como “Dressel 28”, bem como outras de difícil identificação, eventualmente
análogas à Oberaden 74 (Mayet e Silva, 1998, p. 123 e 135).

Cássios

Cássios

Cássios

Banco de Portugal
100km

Dressel 28 Lusitana.
Figura 44 – “Dressel
Difusão 28” Lusitana.
no território português: Conimbriga, Tomar, villa Cardílio, Lisboa, Ponta do Mato, Tróia, Sines, Re-
guengo português:
Difusão no território (Monforte). Conimbriga, Tomar, villa Cardílio, Lisboa, Ponta do Mato, Tróia, Sines, Reguengo
(Monforte).

369
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Paralelamente, A. M. Dias Diogo, no seu “quadro tipológico das ânforas de fabrico lusitano” data-
do de 1987 (Diogo, 1987a) mas efectivamente publicado em 1991 (Fabião, 1996), faz referência à produ-
ção de uma ânfora do tipo “Dressel 28” no Vale do Sado, que então não havia ainda conseguido carac-
terizar (Diogo, 1987a, p. 185), publicando posteriormente alguns exemplares deste tipo, provenientes
da villa Cardílio, Torres Vedras (Diogo e Monteiro, 1999, p. 204 e Est. IV, nº 32 e 33) e de Tróia (Diogo e
Paixão, 2001, p. 125 e fig. 6, nº 27). O referido autor, que havia atribuído a esta forma a designação de
Lusitana 14, data-a de entre meados do séc. I d.C. e finais do séc. II (Diogo e Monteiro, 1999, p. 204),
aparentemente baseado na semelhança formal com as Dressel 28 béticas (Diogo e Paixão, 2001, p. 118).
Mais recentemente, no âmbito do estudo de um conjunto de materiais procedentes de um de-
pósito do séc. V em Tróia, foi proposta a designação de Sado 4 para um tipo de bordo com evidentes
similitudes à Dressel 28 mas com diâmetros inferiores (11-13 cm) (Pinto et al., 2012, p. 403-405 e fig. 9,
nº 23-26), eventualmente relacionáveis com uma forma produzida na olaria do Pinheiro na segunda
metade do séc. IV, que os autores definem como filiável à Almagro 51C (Mayet e Silva, 1998, p. 252, fig.
102, nº 193). Por outro lado, dentro das formas documentadas na Quinta do Rouxinol, foi isolada uma
das variantes de bordo documentadas (Duarte, 1990, p. 114, fig. 19, nº 35), a que se atribuiu a designação
de Rouxinol 35, surgindo em contextos do final do séc. III d.C. ao início do V (Raposo et al., 2014, p. 22).
Para além dos centros produtores já referidos, estas formas foram atestadas em Conimbriga (Bu-
raca, 2005, p. 32), Seilium (Prudêncio et al., 2003, fig. 7), villa Cardílio (Diogo e Monteiro, 1999, p. 204 e
Est. IV, nº 32 e 33), Olisipo (Filipe, 2008b, p. 318-319, fig. 24), Ponta do Mato (Raposo et al., 2014, p. 22),
Tróia (Diogo e Paixão, 2001, p. 125 e fig. 6, nº 27; Pinto et al., 2012, fig. 9, nº 23-26; Almeida et al., 2014d, p.
656), Herdade do Reguengo, Monforte (Diogo, 1999-2000, p. 313 e fig. 2, nº 3) e Sines (Diogo e Reiner,
1987, p. 118-119 e Est. 1, nº 15).
A Dressel 28, herdeira das ânforas de tipo Urceus, foi produzida nas províncias da Bética, da Tarra-
conense e da Narbonense, constituindo-se como um dos mais antigos contentores de fundo plano des-
tinado ao transporte de vinho (Fabião, 1998a, p. 187; García Vargas et al., 2011, p. 248; Carreras Monfort
e García Vargas, 2016). Contentor de pequena dimensão, caracteriza-se por possuir um corpo ovóide e
fundo plano, bordo moldurado e vertical ou inclinado para o exterior, colo curto e cilíndrico e asas que
arrancam abaixo do bordo, de secção elíptica e normalmente com duas depressões longitudinais no
dorso (Morais, 1998, p. 52; Filipe, 2008a, p. 47; Carreras Monfort e García Vargas, 2016).
Ainda que na Tarraconense o seu fabrico se prolongue até finais do séc. II d.C., a sua produção na
província da Baetica, que, em teoria, corresponderão aos contentores nos quais se inspiram os oleiros
lusitanos, ter-se-á estendido desde o início do séc. I d.C. até cerca de meados do século seguinte (Carre-
ras Monfort e García Vargas, 2016).
Contudo, os poucos dados cronológicos documentados para as produções desta forma na Lusitâ-
nia parecem apontar sobretudo para datas mais tardias, não coincidentes com as da Baetica. No Pinhei-
ro e no Porto dos Cacos a cronologia destas formas parece centrar-se no final do séc. II d.C. e primeira
metade do III (Mayet e Silva, 1998, p. 123; Fabião, 2008, p. 735), enquanto na Quinta do Rouxinol surgem
em contextos dos séculos III a V (Raposo et al., 2014, p. 22). Relativamente aos centros de consumo,
os dados cronológicos disponíveis são muito escassos. Para além dos já referidos contextos tardios
de Tróia, onde se documenta a presença da denominada Sado 4, apenas há a registar um fragmento
de fundo da Rua dos Bacalhoeiros, Lisboa, recolhido em nível datado em torno a meados do séc. I d.C.
(Filipe, 2008c, p. 318-319, fig. 24), claramente dissonante das datações dos centros produtores. O facto
de se tratar de um fundo não permite estabelecer uma classificação precisa da referida peça, embora
se encaixe morfologicamente nas ânforas de tipo Dressel 28, podendo remeter para outras formas de
base plana.
Tendo em conta este panorama, parece poder assumir-se que as ânforas de produção lusitana
habitualmente classificadas como afins à Dressel 28 correspondem na realidade a várias formas distin-
tas, com características morfológicas e âmbitos cronológicos igualmente distintos, ainda que, eventual-
mente, de alguma forma relacionáveis com a Dressel 28, sobretudo na sua fase inicial. Desde logo as
produções do Pinheiro, com diâmetros que variam entre 15 e 19 cm, atribuíveis à Dressel 28 (Mayet e
Silva, 1998, p. 123 e 135). Por outro lado, poder-se-á atribuir à Oberaden 74 as peças do Porto dos Cacos
(Raposo, 1990, p. 127 e fig. 37, nº 89-90) e o exemplar nº 76 da olaria do Pinheiro (Mayet e Silva, 1998,

370
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

p. 135, fig. 52), com diâmetros que variam entre os 16 e os 19 cm. Com distintas características, a desig-
nada Rouxinol 35, produzida na Quinta do Rouxinol e cronologicamente situável entre o final do séc.
III e o início do V, cujos diâmetros parecem variar entre 14 e 16 cm (Duarte, 1990, p. 114, fig. 19, nº 35;
Raposo et al., 2014, p. 22). Finalmente a Sado 4, com cronologia centrada no séc. V mas provavelmente
produzida desde o séc. IV, com diâmetros entre 11 e 13 cm (Pinto et al., 2012, p. 403-405 e fig. 9, nº 23-26),
e à qual se poderá talvez associar a peça nº 32 de villa Cardílio (Diogo e Monteiro, 1999, Est. IV). Obser-
vando os exemplares dos centros de consumo anteriormente elencados torna-se evidente a existência
de variantes de bordo que não se parecem encaixar nos quatro tipos acima referidos, não sendo certo
se tal se deve à existência de diversas variantes de bordo ou se, por outro lado, poderá representar um
indício da existência de outros tipos.
O facto de se não ter ainda registado qualquer exemplar de bordo em cronologia tão recuada
como a do fundo da Rua dos Bacalhoeiros - meados do séc. I d.C. -, poderá indiciar que este corresponda
antes a um outro tipo de contentor, reforçando a hipótese de uma produção de ânforas de tipo Urceus
na Lusitânia (v. infra).
Em relação ao produto transportado por estes contentores, as semelhanças formais com a Dres-
sel 28 sugerem um conteúdo vinário (Diogo e Monteiro, 1999, p. 204; Fabião, 2008, p. 736).
Significativa parece ser a identificação de um contentor enquadrável nestas formas, de fabrico
lusitano, no naufrágio Escolletes 1, Cartagena (Bombico, 2016, p. 185-186), de perfil bastante singular.
De igual modo, haverá que ter em conta a possibilidade da sua presença em outros dois naufrágios da
metade ocidental do Mediterrâneo, Cabrera III e Porticcio A, ainda que nestes dois últimos casos essa
hipótese seja deduzida a partir da cronologia tardia daqueles, datados de uma época em que a Dressel
28 já não era produzida na Bética e, pelo contrário se verificava na Lusitânia o fabrico de contentores
afins àquele tipo (Bombico, 2016, p. 364).
Na amostra inédita de Olisipo foram documentados 14 indivíduos provenientes do Banco de Por-
tugal (dois bordos), Circo Romano (um fundo), Praça da Figueira (um bordo e três asas), Rua dos Ba-
calhoeiros (quatro fundos), Sé Catedral (um bordo) e antigas intervenções da Rua das Pedras Negras
(quatro bordos). Representa 0,44% do total das ânforas alto-imperiais, 0,75% das produções lusitanas
e 1,34% dos contentores vinários. De todos estes exemplares, os únicos que provêm de estratigrafia
segura de Época Romana são os da Rua dos Bacalhoeiros, novamente apenas fragmentos de fundo,
exumados em contextos atribuíveis a meados do séc. I d.C..
Embora aqui se tenha optado por agrupar todos estes exemplares na designada “Dressel 28”
Lusitana, em alguns casos é possível atribuí-los a algumas das formas atrás enunciadas. Assim, o bordo
da Praça da Figueira deverá corresponder à Dressel 28, com bons paralelos nos fornos do Pinheiro; as
peças nºs 61 e 7645 da Rua das Pedras Negras, ainda que com algumas diferenças, encontram o melhor
paralelo no bocal nº 36 da Quinta do Rouxinol (Duarte, 1990, fig. 19), que por sua vez apresenta grande
proximidade formal com um exemplar da olaria do Parlamento de Andalucía, em Sevilha (García Vargas,
2003, fig. 8, nº 3); os bordos nº 11238 da Sé e 1528 do Banco de Portugal assemelham-se à Dressel 28 do
naufrágio Tiboulen-de-Maire, Marselha (Liou e Domergue, 1990, fig. 32, nº 3).
Embora se trate claramente de um tipo minoritário, o conjunto de Lisboa corresponde à amostra
mais significativa destas ânforas no que se refere aos centros de consumo.

6.2.1.6. “Beltrán IIA/B” Lusitanas

Tal como acontece com o tipo anteriormente descrito, pouco se sabe acerca do fabrico e dis-
tribuição das formas Beltrán IIA e IIB na Lusitânia para além de que corresponderia a uma produção
claramente minoritária. Coube a A. J. Parker a primeira referência a uma hipotética produção na Lusi-
tânia de ânforas que imitavam as Beltrán IIA/B béticas (Parker, 1977, p. 39). No entanto, o mencionado
investigador refere-se a modelos mais tardios, enquadráveis no tipo Beltrán 72, Almagro 50 e Keay XVI,
cuja produção está atestada, por exemplo, no Pinheiro (Mayet e Silva, 1998) e em Abul (Mayet e Silva,
2002). Posteriormente, Dias Diogo atribuiu o número 11 da sua tipologia a uma forma “semelhante à
Beltrán IIB”, mas produzida na região de Loulé, no Algarve, descrevendo um tipo de fabrico bastante

371
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

distinto dos conhecidos para os vales dos rios Tejo e Sado, onde o nosso exemplar se enquadra. Aquele
autor data a Lusitana 11 de inícios do séc. I a meados do II d.C. e atribui-lhe um conteúdo piscícola, pre-
sumivelmente baseado na analogia com a Beltrán IIB uma vez que não apresenta quaisquer dados que
fundamentem estas ilações41 (Diogo, 1987a, p. 184).
No centro oleiro do Porto dos Cacos foi reconhecido o fabrico em percentagens minoritárias de
uma forma que parece imitar de maneira bastante fidedigna a Beltrán IIA bética, ainda que se desco-
nheçam exemplares inteiros e não seja claro qual o espectro cronológico dessas produções (Raposo,
1990, fig. 37, nºs 91-93). Tal como a sua homóloga da costa meridional peninsular, as produções do Porto
dos Cacos ostentam bordos amplos, de secção triangular e levemente pendentes, com colos largos e
tendencialmente cilíndricos embora ligeiramente inclinados, e asas de secção ovalada que arrancam
junto ao bordo e logo inflectem num ângulo marcado para descer de forma mais ou menos paralela ao
colo. Olhando para as peças daquele centro oleiro do Tejo, note-se ainda o negativo do bordo no topo
da asa, na zona interna da sua inflexão.
Para além dos mencionados exemplares do Porto dos Cacos, esta imitação lusitana da Beltrán
IIA ou IIB parece também ter sido identificada em Mirobriga (Biers, 1988, p. 132 e fig. 244). Exemplares
enquadráveis na Lusitana 11 de Dias Diogo (1987a) estão atestados na foz do rio Arade (Diogo et al.,
2000, nºs 13, 15, 23 e 25), tendo ainda sido publicada uma peça da villa Cardílio, denominada Lusitana 13
(?), que se parece aproximar morfologicamente das Beltrán IIA, embora, pela descrição que o autor faz
da pasta, aquela se não deva enquadrar nas produções do Tejo e Sado (Diogo e Monteiro, 1999, p. 211
e Est. IV, nº 34).
O carácter minoritário que o fabrico destas imitações assumia na produção anfórica do Tejo, e
eventualmente no Sado também, está bem patente no número de peças identificadas em Lisboa e na
sua expressão quantitativa no actual conjunto. Os dois exemplares reconhecidos, um bordo na Rua de
São Mamede e uma asa no Banco de Portugal, representam apenas 0,06% do total das ânforas alto-
-imperiais e 0,11% das produções lusitanas. Ambos exibem um fabrico perfeitamente enquadrável nas
produções dos vales do Tejo e Sado, observando-se inclusivamente manchas de cor cinzento-escuro na
superfície externa das peças provocadas no momento da cozedura, recorrentes nas ânforas lusitanas

Rua de S. Mamede

100km

Beltrán IIA/B Lusitana.


Figura 45 – “Beltrán
DifusãoIIA/B” Lusitana.
no território português: Lisboa, Mirobriga.
Difusão no território português: Lisboa, Mirobriga.

41. Acerca desta questão, veja-se comentários em: Fabião e Guerra, 1993, p. 1011; Fabião, 1996, p. 379.

372
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

presentes em Olisipo. No que se refere à peça do Banco de Portugal, um fragmento da parte superior da
asa que conserva o negativo do bordo e do colo, onde estaria colada, a sua classificação fundamenta-
-se, por um lado, no tipo de asa - secção e inflexão bem marcada no topo, logo a seguir ao arranque - e
no negativo do bordo que aquela conserva, correspondendo muito provavelmente a uma peça seme-
lhante às Beltrán IIA que foram produzidas no Porto dos Cacos (Raposo, 1990, fig. 37, nºs 91-93). Já o
exemplar da Rua de São Mamede, que conserva uma porção significativa do bordo - para o qual desco-
nheço paralelos de produção lusitana -, exibe as características formais típicas das Beltrán IIB: um bocal
amplo e inclinado, com o bordo em aba voltado ao exterior e ligeiramente pendente. Relativamente
aos contextos de proveniência, se no caso do Banco de Portugal não foi possível obter quaisquer in-
dicações cronológicas, na Rua de São Mamede logrou-se definir com bastante clareza uma cronologia
balizada entre o último quartel do séc. I d.C. e o primeiro terço do século II (Mota et al., 2017).

6.2.1.7. Tipo Urceus de produção lusitana?

Em vários locais da cidade foram identificados fragmentos de bordo de uma forma de difícil clas-
sificação, que parece corresponder a uma produção lusitana. Todavia, as suas características morfo-
lógicas não se enquadram em nenhum dos tipos conhecidos no repertório anfórico da mais ocidental
província romana. O precário grau de preservação das referidas peças, na sua maioria pequenos frag-
mentos de bordo, quando muito com o início do colo, não permite sequer afirmar de forma segura se
estamos perante um contentor anfórico ou se, por outro lado, se trata de cerâmica comum.
De uma forma geral, apresentam bordos que não se destacam da parede do colo, sendo apenas
engrossados no interior, de lábio arredondado e ligeiramente reentrante, sendo a superfície externa
ligeiramente convexa. As paredes do colo são pouco espessas, intuindo-se um perfil troncocónico ou
estrangulado na sua metade inferior. A face externa pode ser lisa ou exibir caneluras horizontais, mais
ou menos marcadas. Apenas na peça da Rua de São João da Praça se preserva um vestígio do arranque
da asa, não sendo, porém, possível perceber como seria a sua secção e como se desenvolveria em per-
fil. O limite superior do arranque desta dista 3,4 cm do topo do bordo. Na maioria dos exemplares foi
aplicado um engobe de cor creme na superfície externa, observando-se ainda, no exemplar do Teatro
Romano, a aplicação de um fino engobe de cor branca na face interna. O diâmetro do bordo oscila
entre 14 e 19 cm. Na pasta destacam-se sobretudo quartzos sub-rolados e angulosos, alguma mica e
óxidos de ferro.
Foram identificados cinco fragmentos de bordo desta forma, exumados, respectivamente, no
Beco do Marquês de Angeja, onde se identificaram dois exemplares em contexto genericamente data-
do entre o Principado de Augusto e meados do séc. I d.C. (Filipe e Calado, 2007, p. 5); no Teatro Roma-
no, um bordo em contexto pós-romano mas onde a cronologia dos abundantes materiais romanos não
ultrapassa os meados do séc. I d.C.; na Rua de São João da Praça, intervenção de 2009, um bordo em
nível possivelmente tardio; e um bordo no Palácio dos Condes de Penafiel, sem quaisquer indicações
estratigráficas.
Como anteriormente se referiu, embora não se enquadre em nenhuma das formas reconhe-
cidamente produzidas na Lusitânia, as características morfológicas destas peças parecem encontrar
paralelos aproximados nas produções béticas denominadas ânforas de tipo Urceus (v. infra), designa-
damente nos tipos 2 e 3 de Rui Morais (2008, fig. 2), que equivalem aos tipos 2a e 2b de E. García Vargas,
Rui Almeida e H. González Cesteros (2011, fig. 31), não deixando de ser sugestivo o facto de também nas
peças de Lisboa se verificar a existência de exemplares com a face externa lisa e outros com caneluras
horizontais. Algumas ânforas do tipo Urceus 2a e 2b documentadas em Dangstetten são particular-
mente ilustrativas destas similitudes formais (Ehmig, 2010, Taf. 32, nº 471,053-1, e Taf. 33., nºs 163,028-1
e 936,019-1).
Para além das semelhanças morfológicas, refira-se ainda a aparente contemporaneidade entre
estes exemplares e aqueles contentores de fundo plano da Baetica. Outro aspecto a ter em conta é a
existência de fundos planos de produção lusitana exumados em contextos datados de em torno a mea-
dos do séc. I d.C., como é o caso da Rua dos Bacalhoeiros (v. supra), Lisboa (Filipe, 2008b, p. 320, fig. 24,

373
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

nº 2037), sem que esteja ainda verdadeiramente esclarecida a questão da cronologia das imitações lusi-
tanas de “Dressel 28” (que parecem surgir sempre em contextos mais tardios), tipo ao qual se atribuiu
o referido fundo, e, simultaneamente, sem que se conheçam quaisquer outras formas de fundo plano
e fabrico lusitano nesse lapso temporal.

Rua S. João da Praça

Teatro Romano

Beco do Marquês
de Angeja

Palácio Condes de Penafiel

100km

Tipo Urceus de produção lusitana?


Figura 46 – TipoDifusão
Urceus de produção
no território lusitana?
português: Lisboa.
Difusão no território português: Lisboa.

Figura 47 – Ânforas de tipo Urceus de produção lusitana e Urceus béticos de tipo 2 de Dangstetten (Ehmig, 2010).

374
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

Ainda que estes dados permitam colocar a hipótese de uma produção na Lusitânia de conten-
tores anfóricos de formas afins aos das ânforas de tipo Urceus da Bética, não parecem, contudo, ser
suficientemente sólidos para o afirmar categoricamente. Tal como durante muito tempo aconteceu
com as ânforas tipo Urceus béticas, a sua “aparência” de cerâmica comum poderá explicar a sua total
ausência nas publicações de conjuntos anfóricos - que desconheço em absoluto -, a que se deverá aliar
o facto de se tratar de uma forma produzida em escassas quantidades e que, devido à espessura das
suas paredes, surge normalmente muito fragmentada. Face ao exposto, apenas futuros trabalhos e o
desenvolvimento da investigação poderão confirmar, ou não, esta hipótese.
Os cinco fragmentos identificados representam apenas 0,16% dos contentores atribuíveis ao Prin-
cipado e 0,27% dos envases lusitanos desse período. Mais significativo poderá ser o seu peso nas ânforas
vinárias (0,48%), assumindo-se, por analogia aos contentores béticos, ser esse o produto que transpor-
tou, uma vez que poderá constituir-se como o contentor vinário lusitano mais representativo do séc. I
d.C., já que as Dressel 2-4 lusitanas surgem em percentagens mais reduzidas e a eventual produção de
“Dressel 28” lusitanas durante o séc. I d.C. permanece ainda por demonstrar (v. supra). Infelizmente,
a questão dos eventuais contentores vinários lusitanos produzidos ao largo do séc. I d.C. padece de
demasiadas interrogações, tanto em relação a este tipo como em relação a outros, nomeadamente a
Dressel 28 e a Haltern 70 lusitana e respectiva problemática do seu conteúdo que, para todos os efeitos,
permanece desconhecido.

Figura 48 – Fragmento de bordo de tipo Urceus de produção lusitana exibindo restos de engobe.

6.2.1.8. Peniche 2

As produções anfóricas de Peniche, conhecidas enquanto tal desde os últimos anos do século
passado (Cardoso et al., 1998; Cardoso et al., 1999) e caracterizadas por uma considerável variedade
formal, foram recentemente alvo de detalhada caracterização tipológica (Cardoso et al., 2015; Cardoso
et al., 2016). Neste âmbito, foram definidos doze tipos anfóricos fabricados naquela olaria ao longo de
três fases distintas de produção, cronologicamente situadas entre os principados de Augusto e Tibério,
entre Tibério e data indeterminada e no final do séc. II d.C., respectivamente (Cardoso, 2016, p. 8-10).
Embora a presença destas produções em Olisipo seja minoritária, foram identificados exemplares dos
tipos 2, 3, 7, 10 e 12, destacando-se claramente os de Tipo 7 e, em menor medida, os de Tipo 2 e 10.
No que se refere ao Tipo 2, anteriormente classificado como afim à Haltern 70 bética (Cardoso et
al., 2006, p. 264) ou afim à Dressel 7-11 da mesma região (Cardoso et al., 2005, p. 89), não se conhece

375
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

ainda nenhum exemplar completo. Morfologicamente caracteriza-se por um bordo alto e em banda,
inclinado ao exterior e bem destacado da parede do colo através de um ressalto ou degrau, exibindo
normalmente um espessamento na parte superior do lado interno do lábio. O colo pode ser cilíndrico
ou troncocónico com as asas a arrancarem da sua parte superior, imediatamente abaixo do bordo, e a
repousar num ombro arredondado e descaído. Aquelas são de secção oval e de perfil curvo no topo,
descendo depois de forma mais ou menos vertical até ao ombro. Os fundos que normalmente se asso-
ciam a esta forma, ainda que, como já referido, se não conheça nenhum exemplar completo, são ocos
e apresentam no exterior um aspecto torcido (Cardoso et al., 2016, p. 10).
As ânforas do Tipo 2 foram produzidas entre os principados de Augusto e Cláudio na olaria do
Morraçal da Ajuda, Peniche, sendo geralmente consideradas como ânforas piscícolas (Cardoso et al.,
2016, p. 10). Parece-me, contudo, ser prudente admitir também a possibilidade de um outro conteúdo
para este tipo, nomeadamente o vinho, sobretudo tendo em conta as similitudes formais entre esta e
a Haltern 70 bética bem como a diversidade morfológica evidenciada pelas produções de Peniche. A
documentação em Peniche de um fundo com revestimento resinoso no interior (Cardoso et al., 2016,
p. 11), do tipo normalmente associado às ânforas de Tipo 2 de Peniche, não constitui uma evidência di-
recta de um conteúdo piscícola já que também as ânforas que transportavam vinho eram usualmente
revestidas do mesmo modo (entre inúmeros outros casos, veja-se neste trabalho as dezenas de ânforas
vinárias dos tipos Lusitana 3 e Gauloise 4 do Banco de Portugal com vestígios de pez).
A distribuição desta forma parece ter-se concentrado na região centro e Norte do actual territó-
rio português, tanto no litoral como no interior, estando atestadas em Bracara Augusta (Morais, 2005,
p. 58, nº 57; Morais, 2010b, p. 215), Conimbriga (Buraca, 2005, nºs 60, 61, 63), Tomar (Banha e Arsénio,
1998, p. 185, nº 9), Santarém (Arruda et al., 2006a, p. 239, nºs 1 e 2) e Ilha da Berlenga (Bugalhão e Lou-
renço, 2006, p. 290, fig. 14; Bugalhão e Lourenço, 2011, p. 208, fig. 5), e ausentes em locais como Tróia
(Diogo e Trindade, 1998; Diogo e Paixão, 2001; Almeida et al., 2014c) e Mérida (Almeida e Sanchez Hidal-
go, 2013), este último com uma importante representação de outros tipos produzidos no Morraçal da
Ajuda (Almeida, 2016).
Em Lisboa era já conhecido um exemplar de difícil atribuição tipológica na Praça da Figueira, de
contexto datado do reinado de Nero (Silva et al., 2016, p. 159, fig. 5), que eventualmente poderá corres-
ponder a esta forma. De facto, a ausência do ressalto ou degrau na transição do bordo para a parede do
colo afastam esta peça de um dos mais característicos aspectos formais do Tipo 2 de Peniche, podendo

100km

Peniche 2 (Cardoso et al., 2016).


Figura 49 – Peniche
Difusão2no
(Cardoso et al., 2016).
território português: Braga, Conimbriga, Tomar, Santarém, Berlenga, Lisboa.
Difusão no território português: Braga, Conimbriga, Tomar, Santarém, Berlenga, Lisboa.

376
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

aquele, eventualmente, corresponder a uma variante tardia deste tipo. A cronologia do contexto pa-
rece corroborar esta hipótese podendo-se ainda, no mesmo sentido, estabelecer um paralelo com a
Haltern 70 que evolui de bordos moldurados bem demarcados da parede do colo para perfis em que o
bordo pouco se diferencia daquele. No conjunto aqui em apreço, identificaram-se cinco indivíduos pro-
venientes da Calçada do Correio Velho (um bordo), Praça da Figueira (um bordo), Sé Catedral (um bor-
do) e Rua Augusta, Zara (dois bordos). Representam apenas 0,16% da amostra global do Alto-Império e
0,27% do total das ânforas lusitanas, correspondendo no âmbito das produções de Peniche ao segundo
tipo melhor representado, com 21,74%.
O bordo da Sé foi recuperado em contexto balizado entre o início do Principado de Augusto e o
primeiro quartel do séc. I d.C., enquanto o fragmento nº 740 da Rua Augusta, Zara, provém de um nível
atribuível à dinastia Flávia. O exemplar da Praça da Figueira foi identificado num estrato do séc. V d.C..

6.2.1.9. Peniche 6

As ânforas de Tipo 6 de Peniche foram inicialmente designadas de Morraçal 2, tendo recebido a


actual denominação no contexto da já referida caracterização tipológica recentemente publicada (Car-
doso et al., 2016). Trata-se de um contentor tendencialmente cilíndrico de que se conhece a forma quase
completa, ostentando bordos amplos e em banda, com apreciável variação formal e bem demarcados
do colo. Este é aberto e troncocónico e as asas, de secção oval, arrancam imediatamente abaixo do bor-
do ou na junção deste ao colo, repousando num ombro discreto e inclinado (Cardoso et al., 2016, p. 12).
Produzidas no centro oleiro de Peniche entre a dinastia Flávia e o Principado de Trajano e exibin-
do normalmente o fabrico A daquele centro produtor, são habitualmente consideradas ânforas piscí-
colas mais pela localização da olaria do que pela existência de evidências directas que apontem nesse
sentido (Cardoso et al., 2016, p. 12).
Relativamente à sua distribuição, embora seja referido (Cardoso et al., 2016, p. 12) que os exem-
plares nº 17 de Conimbriga (Alarcão, 1976, Pl. XX, nº 17) e nº 57 de Bracara Augusta (Morais, 2005, p. 58,
nº 57) sejam tipologicamente atribuíveis ao tipo Peniche 6, parece-me que se encaixam melhor no tipo
2, sendo, aliás, muito semelhantes a um dos exemplares utilizados por aqueles autores para ilustrar a
Peniche 2 (Cardoso et al., 2016, p. 10, fig. 7 - em baixo, à esquerda), particularmente a peça de Braga.

100km

Peniche 6 (Cardoso et al., 2016).


Figura 50 – Peniche
Difusão6 no
(Cardoso et al., 2016).
território português: Braga, Conimbriga, Lisboa.
Difusão no território português: Braga, Conimbriga, Lisboa.

377
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Embora não existam quaisquer dúvidas quanto a uma origem na Ilha de Peniche, a atribuição
deste tipo a uma peça proveniente da Praça da Figueira (nº 6731.11), que corresponde ao único indivíduo
desta forma identificado no actual conjunto, não é pacífica. De facto, embora o perfil do bordo e o colo,
aberto e troncocónico, se assemelhem mais àquele tipo do que a qualquer um dos outros fabricados
na olaria de Peniche, o diâmetro do seu bordo é algo mais reduzido (13 cm). Para além desta questão,
refira-se também que o exemplar da Praça da Figueira foi exumado numa fossa datada da década de
60 do séc. I d.C. (Silva et al., 2016, p. 160), datação que antecede em cerca de um decénio as datações
Flávias daquele tipo (Cardoso et al., 2016, p. 12).
Face ao exposto, poder-se-ão considerar duas hipóteses. Ou se trata efectivamente de um tipo
diferente, diacronicamente anterior, com similitudes formais mas com bordos de diâmetro mais curto;
ou poderá de facto corresponder a uma ânfora de Tipo 6, numa variante de diâmetro mais reduzido.
Aceitando esta última hipótese, os dados da Praça da Figueira fazem recuar o início do fabrico destes
contentores em cerca de uma década relativamente à cronologia proposta (Cardoso et al., 2016, p. 12).

6.2.1.10. Peniche 7

O Tipo 7 apresenta notórias semelhanças morfológicas com algumas formas do Sul Peninsular,
particularmente com a Haltern 70, possuindo bordo em banda, normalmente engrossado na parte inter-
na do lábio e ligeiramente inclinado ao exterior, colo troncocónico ou cilíndrico, ombro inclinado, asas de
secção oval arrancando da ligação do bordo ao colo ou imediatamente abaixo do primeiro, repousando
no ombro (Cardoso, et al., 2006, p. 264; Cardoso, et al., 2016, p. 12). Sobretudo baseados na cronologia
dos contextos de proveniência de alguns exemplares de Peniche 7 em Conimbriga (Alarcão, 1976) e Bra-
cara Augusta (Morais, 2005), os autores do estudo estabelecem os limites cronológicos do início e termo
de produção desta forma entre a dinastia Flávia e o reinado de Trajano (Cardoso, et al., 2016, p. 12-13).
Ainda que estreitamente aparentada com a Haltern 70 bética, ânfora vinária amplamente difun-
dida no Ocidente Peninsular, o tipo 7 de Peniche destinar-se-ia muito provavelmente ao transporte de
produtos à base de peixe (Cardoso, et al., 2016, p. 12). A sua produção está atestada nos fabricos A e B
de Peniche, não se conhecendo em exemplares deste tipo a conhecida marca da figlina do Morraçal da

100km

Peniche 7 (Cardoso et al., 2016).


Figura 51 – Peniche
Difusão
7 no território português:
(Cardoso Braga, Conimbriga, ilha da Berlenga, Tomar, Santarém, Lisboa, foz do rio
et al., 2016).
Arade.
Difusão no território português: Braga, Conimbriga, Ilha da Berlenga, Tomar, Santarém, Lisboa, foz do rio Arade.

378
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

Ajuda (Cardoso, et al., 2016, p. 12). Ao que parece não terá tido uma difusão muito ampla. Para além dos
dois locais anteriormente referidos, está atestada na Ilha da Berlenga (Bugalhão e Lourenço, 2006, p.
290) e, possivelmente, em Tomar (Prudêncio et al., 2003, p. 206, fig. 6c), Santarém (Arruda et al., 2006a,
p. 239) e na foz do Arade (Fonseca, 2015, p. 63-64, figs. 35 e 36), estando aparentemente ausente em
Mérida (Almeida, 2016). Na amostra de Olisipo a Peniche 7 corresponde à forma melhor representada
com origem naquela olaria, tendo-se identificado um Número Mínimo de 12 Indivíduos, provenientes
do Banco de Portugal (três bordos), da recente intervenção da Praça da Figueira (cinco bordos), da Sé
Catedral (um bordo) e da Zara, Rua Augusta (três bordos). Representa 0,38% das ânforas alto-imperiais,
0,65% dos contentores lusitanos e 52,17% dos envases procedentes da olaria do Morraçal da Ajuda.
Dos exemplares reconhecidos poucos provêm de estratigrafias seguras e atribuíveis ao âmbito
cronológico proposto para a produção destes contentores. O bordo da Sé e dois dos três bordos da
Zara são provenientes da limpeza de perfis estratigráficos, os fragmentos do Banco de Portugal de
contextos com características especiais já comentadas anteriormente e, dos cinco exemplares da Praça
da Figueira (2000), três provêm de estratigrafia tardia ou pós-romana e um outro de um depósito cuja
formação se situa genericamente entre o séc. II d.C. e o séc. III. Os restantes dois fragmentos de bordo,
procedentes da Zara (nº 718) e da Praça da Figueira, oferecem, contudo, dados interessantes sobre a
cronologia das Peniche 7. No caso do primeiro sítio, o contexto de proveniência data da segunda meta-
de do séc. I d.C.. Já no que se refere ao fragmento da Praça da Figueira (nº 6559.01), a documentação
estratigráfica revela-se algo mais interessante, já que procede da fossa [9033], cuja cronologia foi atri-
buída à década de 60 do séc. I d.C. (Silva et al., 2016, p. 158-160), o que permite recuar a cronologia do iní-
cio da produção das Peniche 7 em cerca de um decénio, ou seja, para a fase final do Principado de Nero.

6.2.1.11. Peniche 10

Anteriormente designadas de Dressel 14, variante B (Cardoso et al., 2006, p. 264), assemelham-se
em todos os aspectos àquele tipo, ainda que não sejam conhecidos exemplares completos.
Com considerável diversidade formal, o bordo é ligeiramente inclinado ao exterior, de secção
que pode ser arredondada ou de tendência triangular, transitando de forma mais ou menos suave para
o colo. Este é normalmente cilíndrico ou ligeiramente troncocónico, recebendo o arranque das asas na

100km

Peniche 10 (Cardoso et al., 2016).


Figura 52 – Peniche 10no(Cardoso
Difusão et al., 2016).
território português: Lisboa.
Difusão no território português: Lisboa.

379
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

sua parte superior, abaixo do bordo. As asas são de secção oval, por vezes com sulco dorsal longitudi-
nal, arredondadas no topo e descendo de forma mais ou menos vertical até ao ombro (Cardoso et al.,
2006, p. 264; Cardoso et al., 2016, p. 13).
Sobretudo documentada nos fabricos A e C, foi produzida na olaria do Morraçal da Ajuda entre
a Época Flávia e o final do séc. II d.C., destinando-se ao transporte de produtos piscícolas (Cardoso et
al., 2016, p. 13).
O conhecimento acerca da geografia da sua difusão permanece em grande medida por apreen-
der, muito provavelmente encoberto pela habitual presença significativa das ânforas de tipo Dressel 14
produzidas nos vales dos rios Tejo e Sado, indubitavelmente maioritárias, mas entre as quais poderão
estar erradamente classificadas como tal produções que, de facto, sejam atribuíveis a Peniche e não
àquelas outras.
Em Lisboa foram identificados quatro fragmentos de bordo, duas possíveis asas e um possível
fundo classificados como Peniche 10, todos exumados no decurso da recente escavação da Praça da
Figueira. Registou-se a presença de bordos de tendência triangular (nº 6333.01) e de secção arredon-
dada e bem demarcados da parede do colo (nºs 2249.01 e 6450.01), estes últimos com a parede interna
lisa, apenas ligeiramente arqueada. Todos os exemplares deste tipo, acima elencados, foram recolhidos
em níveis tardios e pós-romanos. Correspondendo a uma das formas de Peniche melhor representadas
em Olisipo (17,39% dos envases desse centro produtor), significa apenas 0,12% do total das ânforas alto-
-imperiais e 0,22% de todas as produções lusitanas.

6.2.1.12. Peniche 12

O Tipo 12 das produções de Peniche corresponde à denominada Dressel 14 tardia de bordo am-
plo e “em forma de trompeta”, colo largo e de tendência cilíndrica, ombro pouco pronunciado e corpo
piriforme. As asas são de secção ovóide e arrancam da ligação do bordo ao colo, repousando na parte
superior do ombro (Cardoso et al., 2006, p. 264; Cardoso et al., 2016, p. 14). Terá sido produzida entre
o séc. II d.C. e o início do séc. III na olaria do Morraçal da Ajuda, destinando-se muito provavelmente ao
transporte de produtos piscícolas (Cardoso et al., 2016, p. 14). Associada ao fabrico C daquela olaria, não
se lhe reconhece qualquer tradição epigráfica (Cardoso et al., 2016, p. 14).

100km

Peniche 12 (Cardoso et al., 2016).


Figura 53 – Peniche
Difusão12
no(Cardoso et al., 2016).
território português: Conimbriga, Berlenga, Lisboa, Tourega.
Difusão no território português: Conimbriga, Berlenga, Lisboa, Tourega.

380
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

Encontra-se atestada em Conimbriga (Alarcão, 1976, Pl. XXI, nº 22; Buraca, 2005, nº 69), Ilha da
Berlenga (Bugalhão e Lourenço, 2006, p. 291, nº 224) e villa romana da Tourega (Pinto e Lopes, 2006, p.
214, nº 10). Na amostra de Olisipo foi identificado apenas um fragmento de bordo e parte do colo do tipo
12 de Peniche, no Banco de Portugal.

6.2.2. Baetica

6.2.2.1. Dressel 12

Foi individualizada pela primeira vez com o número XIV dos materiais de Pompeia por R. Schoene
(1871), sendo-lhe atribuído pouco depois o número 12 da tabela das ânforas de Castro Pretório por H.
Dressel (Dressel, 1899). Apesar de alguns trabalhos posteriores terem incluído o estudo do tipo e, nes-
se contexto, lhe tenham atribuído novas denominações, como são os casos dos estudos de E. Pelichet
(tipo 48) (García Vargas, 1998, p. 94), M. Beltrán Lloris (incluídas na forma III) (Beltrán Lloris, 1970, p.
448) e D. Peacock e D. Williams (Classe 14) (Peacock e Williams, 1986, p. 113), foi a designação atribuída
por H. Dressel que acabou por se estabelecer na bibliografia arqueológica.
A Dressel 12 constitui-se como um dos mais antigos tipos produzidos no Sul da Hispania de morfo-
logia plenamente romana, tendo presumivelmente evoluído a partir das imitações de Dressel 1C fabrica-
das nessa região (García Vargas, 1998, p. 93; García Vargas, 2010, p. 591). Ainda que com consideráveis
variações morfológicas, em traços largos este tipo caracteriza-se por corpos alongados e altos, de perfil
fusiforme e rematada por um fundo alto e maciço, de perfil cilíndrico ou troncocónico. Os bordos são
abertos e inclinados para o exterior, amplos, altos, engrossados e em banda, de secção sub-rectangular
ou subtriangular e bem destacados da parede do colo, evoluindo notavelmente nos exemplares mais
tardios para lábios mais finos e menos demarcados do colo42. O colo é alto e largo, tendencialmente

100km

Dressel 12 (González Cesteros et al., 2016; www.archaeologydataservice.ac.uk).


Figura 54 – Dressel 12no(González
Difusão CesterosBraga,
território português: et al., 2016;dewww.archaeologydataservice.ac.uk).
Cividade Terroso, Citânia de Sanfins, Monte Mozinho, Tomar,
Difusão no território português:
Santarém, Braga,
Alto dos Cacos, Cividade
Monte de Terroso,
dos Castelinhos, Lisboa, Citânia
Alcácer dode
SalSanfins, Monte
, Castelo da Lousa, Mozinho, Tomar, Santarém,
Mesas do Cas-
Alto dos Cacos,telinho,
Monte dosMolião,
Monte Castelinhos, Lisboa, Alcácer do Sal, Castelo da Lousa, Mesas do Castelinho, Monte
Cerro da Vila.
Molião, Cerro da Vila.

42. Relativamente aos contentores, normalmente atribuídos a esta forma, com lábios de tendência amendoada e com moldura situada
abaixo do bordo, veja-se as considerações de González Cesteros et al., 2016b.

381
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

cilíndrico, com a transição para o corpo bem marcada por um pequeno ressalto ou carena que se esbate
nas versões mais tardias. As asas são altas, de perfil em S e secção oval podendo apresentar diversos
sulcos dorsais. Arrancam abaixo do bordo e repousam na base do colo ou na ligação deste ao corpo
(Peacock e Williams, 1986, p. 113; García Vargas, 1998, p. 93-94; González Cesteros et al., 2016b).
Fabricada ao longo de uma extensa diacronia, a sua produção ter-se-á iniciado em torno aos
meados do séc. I a.C., estando presentes em alguns naufrágios dessa época, como o Grand Congloué B
(Tchernia, 1969, p. 484, figs. 35 e 36). Já no que diz respeito ao fim da sua produção, parece não ultra-
passar o final do séc. I d.C., ainda que outros tipos que deste derivam tenham sido produzidos ao longo
do séc. II d.C. e início da centúria seguinte (García Vargas, 1998, p. 95; González Cesteros et al., 2016b).
Relativamente aos locais onde terá sido produzida, estão documentadas olarias na área de Cádis
(García Vargas, 1998; García Vargas e Bernal Casasola, 2008), Baía de Algeciras (Bernal Casasola e Jimé-
nez-Camino Álvarez, 2004; Bernal et al., 2004) e Málaga (Serrano, 2004). Poderá também ter sido pro-
duzida na área do baixo Guadalquivir ou mesmo na costa marroquina (González Cesteros et al., 2016b).
A documentação de inscrições pintadas sobre contentores desta forma proporcionou um sig-
nificativo conjunto de informações sobre o seu conteúdo, constituído por produtos à base de peixe
(Dressel, 1899; Ehmig et al., 2004 apud García Vargas, 2007b, p. 527; Lagóstena Barrios, 2009, p. 200-
300; González Cesteros, 2012, p. 111-124; Rizzo, 2014, p. 230). O teor dessas inscrições bem como o local
de achado de algumas delas, nomeadamente as de Ephesus e do Castro Pretório em Roma, e o facto de
se tratar de uma ânfora normalmente quantitativamente pouco representativa nos conjuntos anfóricos
em que ocorre, embora com ampla distribuição no espaço do Império Romano, parecem indicar que
se poderia tratar de um contentor destinado a transportar preparados piscícolas de alta qualidade e
apenas acessíveis às elites (González Cesteros, 2012, p. 121).
Com efeito, a Dressel 12 surge disseminada por boa parte do Império, incluindo no Mediterrâneo
Oriental, em Ephesus (González Cesteros, 2012, p. 111-124; Bezeczky, 2013, p. 145-146), mas sobretudo
na metade ocidental do Mar Interior e nas províncias do Norte, bem como em alguns naufrágios como
o Titan (Benoit, 1958, p. 6; Quillon e Capelli, 2016, p. 495) ou o Ardenza, Livorno (Bargagliotti, 2001,
p. 1116). Está identificada em Itália, em Pompeia (Schoene, 1871), no Castro Pretório em Roma (Dressel,
1899), nas termas do Nadador (Rizzo, 2014, p. 230) e depósito de La Longarina (Hesnard, 1980, p. 148;
D’Alessandro e Pannuzi, 2016, p. 532), em Óstia; nas províncias germânicas, entre outros, em Dangstet-
ten, Rödgen, Oberaden (González Cesteros et al., 2016b), Neuss (Carreras Monfort e González Ceste-
ros, 2013, p.284), Kops Plateau (Almeida et al., 2014a, p. 385) e ainda Augst (Martin-Kilcher, 1994, p. 398-
399); e na Gália, por exemplo em Saint-Romain-en-Gal (Desbat et al., 1987, p. 164; González Cesteros,
2012, p. 121), bacia do Ródano e região de Lyon (González Cesteros et al., 2016b); ocorrendo por toda a
área Meridional e levantina da Península Ibérica (García Vargas et al., 2011, p. 258-259; Mateo Corredor,
2014, p. 86-87; González Cesteros et al., 2016b).
Em Portugal, a sua presença está atestada em Monte Mozinho (Soeiro, 1984, Est. LXVI), Citânia
de Sanfins (Paiva, 1993, p. 33), Cividade de Terroso (Paiva, 1993, p. 33), possivelmente em Bracara Augus-
ta (Morais et al., 2012, p. 511), Tomar (Ponte, 1999, p. 351), Santarém (Arruda et al., 2005, p. 286), Alto
dos Cacos (Pimenta et al., 2012, p. 57; Pimenta et al., 2014c, p. 270), Monte dos Castelinhos (Pimenta e
Mendes, 2013, p. 21; Pimenta e Mendes, 2014, p. 131), Alcácer do Sal (Pimenta et al., 2006, p. 301), Castelo
da Lousa (Morais, 2010a, p. 190), Mesas do Castelinho (Parreira, 2009, p. 63), Monte Molião (Sousa e
Serra, 2006, p. 15) e Cerro da Vila (Teichner, 2008, p. 110), sendo até aqui desconhecida em Lisboa. Ainda
que para alguns dos exemplares dos sítios listados se possa equacionar uma diferente classificação, a
distribuição da Dressel 12 parece abranger grande parte do actual espaço português, especialmente o
litoral algarvio, vales dos rios Tejo e Sado e interior alentejano, mas também o noroeste.
Não obstante, a sua presença nos conjuntos anfóricos atrás referidos é invariavelmente mino-
ritária e discreta, à semelhança, aliás, do que se verifica em outras latitudes. Em Lisboa a situação é
análoga, tendo-se documentado apenas seis fragmentos de bordo de Dressel 12, o que equivale a 0,19%
das ânforas imperiais. No âmbito das produções béticas representa 0,56% do total, percentagem que
sobe para 3,02% se se considerarem apenas as produções da região costeira daquela província. Na pers-
pectiva do consumo alimentar, a Dressel 12 representa apenas 0,42% da totalidade de ânforas piscícolas
e 3,33% dos contentores béticos destinados a transportar esse produto.

382
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

As peças de Olisipo provêm do Palácio do Marquês de Angeja (um bordo), Praça da Figueira (um
bordo), Sé Catedral (três bordos) e das antigas intervenções da Rua das Pedras Negras (um bordo). No
primeiro destes sítios, o bordo foi exumado num contexto do terceiro quartel do séc. I d.C., associado
a uma considerável quantidade de ânforas e outros materiais de Época Republicana e do início do séc. I
d.C.. Na Sé Catedral, a peça nº 12705 provém de um estrato datado do Principado de Augusto, enquan-
to o nº 11429 foi recolhido em nível do segundo terço do séc. I d.C. Os restantes provêm de contextos
tardios ou pós-romanos.
Poder-se-á ainda referir para a Dressel 12 o que se mencionou no tipo anteriormente descrito
relativamente à dificuldade em distinguir entre esta forma e algumas da família das Dressel 7-11 ou das
Dressel 1C gaditanas43 com base apenas em pequenos fragmentos de bordo, algo já devidamente subli-
nhado por outros autores (Panella, 1973, p. 505; García Vargas, 1998, p. 93).

6.2.2.2. Dressel 2-4 Bética (costa e Vale do Guadalquivir)

As imitações béticas do modelo helenístico que nasceu na Ilha de Cos, copiado e largamente pro-
duzido na Península Itálica a partir do séc. I a.C., patenteiam as principais características morfológicas
daqueles contentores, ainda que exibam alguns detalhes diferenciadores. Ao contrário dos modelos
originais, as asas são normalmente constituídas por uma única porção de argila à qual se confere o as-
pecto de asa bífida mediante a incisão de um sulco em cada um dos lados, por vezes apenas no dorso.
Por outro lado, em alguns exemplares mais tardios observa-se um bordo mais robusto, de tendência
trapezoidal ou quadrangular, bem como, por vezes, a colocação de uma bola de argila no interior do
fundo. Apesar de não serem conhecidos exemplares completos, intui-se a existência de módulos de
diferentes tamanhos das produções do Vale do Guadalquivir com base em alguns fragmentos de asa e
fundo (García Vargas e Carreras Monfort, 2016).

- Baetica
- Costa
- Guadalquivir
- Guadalquivir
e costa
100km

Dressel 2-4 bé ca (Díaz Rodríguez e Bernal Casasola, 2016).


Figura 55 – Dressel 2-4
Difusão nobética
território(Díaz Rodríguez
português: e Bernal Casasola,
Braga, Conimbriga, 2016).
Santarém, Idanha-a-Velha, Lisboa, Freiria, Tróia, Nossa
Difusão no território
Sra. deportuguês:
Aires (Alcácer Braga,
do Sal), S.Conimbriga, Santarém,
Miguel da Mota, S. Cucufate,Idanha-a-Velha, Lisboa,dasFreiria,
Monte da Cegonha, Castelo Tróia, Nossa Sra. de
Juntas, Monte
Molião,
Aires (Alcácer do Sal), Pedras d’El Rei (Tavira),
São Miguel da Mota, Balsa.
São Cucufate, Monte da Cegonha, Castelo das Juntas, Monte Molião,
Pedras d’El Rei (Tavira), Balsa.

43. Embora tenha sido proposto por alguns autores que as Dressel 1C da região Sul Peninsular corresponderiam a uma fase inicial das
Dressel 12 (Étienne e Mayet, 1994, p. 136), ficou já demonstrado tratar-se efectivamente de tipos distintos (García Vargas et al., 2011, p. 195).

383
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Embora a produção de ânforas de tipo Dressel 2-4 na província da Bética tenha sido proposta já
em 1977 por Beltrán Lloris com base nos materiais dos centros produtores de Guadarranque, Cádis, e El
Rinconcillo, Algeciras (Beltrán Lloris, 1977, p. 108 e 113), e confirmada petrograficamente para o Vale do
Guadalquivir alguns anos mais tarde nos materiais de Colchester Sheepen (Williams, 1985 apud Fabião,
1998a, p. 179), só mais recentemente tal parece ter sido definitivamente aceite entre a comunidade
científica, assumindo até então acentuada polémica, especialmente entre os investigadores franceses
e Ingleses, com os primeiros a colocarem sérias reservas a tal produção (Fabião, 1994a, p. 18; Fabião,
1998, p. 179; Diaz Rodriguez e Bernal Casasola, 2016). A identificação e escavação dos centros oleiros
que produziram estas formas, tanto na costa como na bacia do Guadalquivir, viria, naturalmente, a dis-
sipar as dúvidas existentes, ainda que nos centros apontados por Beltrán Lloris (1977) não se tenha até
hoje confirmado a sua manufactura (Bernal Casasola et al., 2004c, p. 635-636).
Na região costeira são conhecidas imitações de Dressel 2-4 no centro oleiro de Villa Victoria, San
Roque, na Baía de Algeciras (Bernal Casasola et al., 2004c, p. 639-644) e, possivelmente, em Manganeto
na costa malaguenha (Mateo Corredor, 2015, p. 191; Diaz Rodriguez e Bernal Casasola, 2016). No que se
refere ao Vale do Guadalquivir, a sua produção está atestada em Guadalbaida (ou Dehesa de Arriba),
onde inclusivamente se utilizou o mesmo tria nomina em marcas sobre Dressel 20 e Dressel 2-4 (García
Vargas, 2004a, p. 509; García Vargas, 2004b, p. 128-129), e em Picacho, ambos na actual província de
Córdova (García Vargas e Carreras Monfort, 2016).
Tanto quanto o actual estado da investigação permite perceber, a sua produção na costa da
Bética ter-se-á iniciado em Época de Augusto, na Baía de Algeciras, e na segunda metade do séc. I d.C.,
na costa malaguenha, tendo perdurado até aos primeiros decénios do século II (Bernal Casasola et al.,
2004c, p. 643-644; Diaz Rodriguez e Bernal Casasola, 2016), enquanto no interior da província a cro-
nologia da sua produção deverá ter abarcado todo o séc. I d.C. (Almeida, 2008, p. 138; García Vargas e
Carreras Monfort, 2016).
Relativamente ao seu conteúdo, as particularidades morfológicas desta ânfora não deixam
quaisquer dúvidas quanto a tratar-se de um contentor destinado a transportar vinho (Fabião, 1998a,
p. 179-180; García Vargas, 2004b, p. 129-130).
Se os parcos centros produtores conhecidos deixam antever uma produção minoritária das Dres-
sel 2-4 béticas, sobretudo se se tiver em conta o imenso número de olarias actualmente conhecidas
que produziam ânforas em Época Romana nas regiões costeira e interior daquela província, a fraca ex-
pressão que aquelas imitações adquirem nos centros de consumo onde estão atestadas, com excepção
de alguns locais do sudeste peninsular, acentuam ainda mais o carácter minoritário dessa produção.
Não obstante, elas estão presentes em praticamente todo o actual território português, de Norte a
Sul e tanto nos centros urbanos do litoral como do interior, tendo sido primeiramente cartografadas
por Carlos Fabião (1998a, p. 180 e fig. 3) e mais recentemente por Rui Almeida (2008, p. 138 e fig. 51).
As Dressel 2-4 de produção costeira encontram-se atestadas em Pedras d’El Rei, Tavira (Viegas e Diniz,
2010, p. 235-251), Freiria (Cardoso, 2015, p. 359), Conimbriga (Alarcão, 1976, p. 81-82; Buraca, 2005, p. 26-
27) e Braga (Morais, 2005, p. 103). Quanto às do Vale do Guadalquivir, identificadas em maior número
de sítios, foram já documentadas em Balsa (Fabião, 1994a, p. 17-19; Viegas, 2011, p. 358), Monte Molião
(Arruda e Viegas, 2016, p. 446), Castelo das Juntas, Castro Verde (Madeira, 1986, p. 127), São Cucufate
(Alarcão, Étienne e Mayet, 1990, p. 251-255; Mayet e Schmitt, 1997, p. 72-73), Monte da Cegonha (Pinto
e Lopes, 2006, p. 204), Nª. Sra. de Aires, Alcácer do Sal (Diogo e Faria, 1991, p. 26-27), São Miguel da
Mota, Alandroal (Guerra et al., 2003, p. 432), Santarém (Arruda e Almeida, 2001, p. 710; Almeida, 2008,
p. 135-142), Idanha-a-Velha (Banha, 2006, p. 41-42) e Bracara Augusta (Morais, 2005, p. 103; Morais et al.,
2012, p. 501). Foram também reconhecidas em Tróia, embora os autores não especifiquem se são pro-
venientes da zona costeira ou do interior da província bética (Almeida et al., 2014d, p. 655), e na capital
da Lusitânia, Augusta Emerita, aqui com ambos fabricos (Almeida e Sanchez Hidalgo, 2013, p. 50).
No restante território peninsular a sua difusão é relativamente reduzida, surgindo no Noroeste
em Asturica Augusta (Carreras Monfort e Berni Millet, 2003, p. 642) e Legio (Carreras Monfort, 2010, p.
241), no nordeste na villa de Les Pergoles, Mataró (Perez Suñé e Revilla Calvo, 2001, p. 594), e em Barcino
(García Vargas e Carreras Monfort, 2016), e com alguma concentração na área sudeste levantina, em Car-
tagena, Ilici, Portus Ilicitanus, Lucentum, Duanes (Molina Vidal, 1997, p. 35, fig. 61; Marquez Villora, 1999,

384
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

p. 227; Almeida, 2008, p. 138), Baria e Abdera, Almeria (Mateo Corredor, 2014, p. 139-141 e 154); e ainda
na região meridional em vários locais da área de Málaga (Mateo Corredor, 2014, p. 173-192), Carmona
(Mateo Corredor, 2014, p. 241), Sevilha (García Vargas e Carreras Monfort, 2016), Baelo Claudia (Mateo
Corredor, 2014, p. 264) e La Algaida, Cádis (Mateo Corredor, 2014, p. 294) e 154). Para lá da Hispania,
estas produções foram identificadas em Lixus (Mateo Corredor, 2014, p. 408), Roma (Rizzo, 2003, p. 151
e Tab. 26a), Colchester Sheepen, Britannia (Williams, 1985 apud Fabião, 1998a, p. 179), Xanten, Germania
(Carreras Monfort, 2007, p. 217), e Rouen, na Gália Belga (Laubenheimer e Marlière, 2010, p. 38).
Relativamente à cidade de Olisipo, havia já sido registada a presença de produções do Vale do
Guadalquivir nas antigas escavações da Praça da Figueira (Fabião, 1998a, p. 180; Almeida e Filipe, 2013)
e no Teatro Romano (Filipe, 2015, p. 138-139), bem como da região costeira, na Rua dos Bacalhoeiros
(Filipe, 2008b, p. 316).
Nos diversos conjuntos analisados no âmbito deste trabalho, para além dos exemplares já referi-
dos, foram identificados alguns fragmentos de fabrico bético atribuíveis ao tipo Dressel 2-4, num total
de 11 indivíduos (incluindo-se aqui o exemplar da Rua dos Bacalhoeiros). Dois procedem da costa e nove
do Vale do Guadalquivir, verificando-se também em Lisboa a supremacia das importações do interior
face às do litoral bético, situação genericamente análoga à do restante território embora oposta à da
cidade de Braga, onde em 11 fragmentos de Dressel 2-4 bética, oito são provenientes da zona costeira.
Provêm do Banco de Portugal (uma asa - Guadalquivir), Escadinhas de São Crispim (um bordo44 - costa),
Palácio dos Condes de Penafiel (uma asa - Guadalquivir), escavações antigas (dois bordos e uma asa -
costa) e recentes (dois bordos e uma asa - Guadalquivir) da Praça da Figueira, Sé Catedral (um fundo
- Guadalquivir), escavações antigas da Rua das Pedras Negras (um bordo, um fundo e uma asa - Guadal-
quivir) e Zara, na Rua Augusta (uma asa - Guadalquivir).
Para além dos sítios em que, pelas razões anteriormente expostas, nos faltam as coordenadas
estratigráficas de proveniência dos materiais (Banco de Portugal, Palácio dos Condes de Penafiel, Praça
da Figueira 1962, e Rua das Pedras Negras), também na Praça da Figueira, Escadinhas de São Crispim
e Sé Catedral a cronologia dos contextos de recolha destas ânforas não fornece dados pertinentes,
na medida em que foram recuperados em níveis da Antiguidade Tardia ou Medievais. Já na Zara, Rua
Augusta, o exemplar de Dressel 2-4 bética foi recolhido em contexto que se deverá atribuir ao período
compreendido entre a dinastia Flávia e os meados do séc. II d.C.. Relativamente à Rua dos Bacalhoeiros
e Teatro Romano, os dados cronológicos dos contextos onde se exumaram as ânforas deste tipo já são
conhecidos, correspondendo em ambos casos a contextos atribuíveis ao Principado de Nero (Filipe,
2008a, p. 316; Filipe, 2015, p. 155).
Significam 0,34% dos envases imperiais, 1,02% dos contentores béticos, 1,01% das importações da
região costeira e 1,03% do Vale do Guadalquivir. Representam ainda 0,81% do comércio extraprovincial
e 1,06% das ânforas vinícolas.

6.2.2.3. Dressel 7-11

A denominada Dressel 7-11 corresponde na realidade a cinco tipos distintos, individualizados e


numerados de 7 a 11 por H. Dressel (1899), constituindo-se como um conjunto de formas com evidentes
afinidades morfológicas, caracterizadas por uma múltipla diversidade formal ao nível do bordo. A sua
origem formal deve procurar-se nas ânforas republicanas da Península Itálica e nas “ovóides gaditanas”
(Garcia Vargas, 1998, p. 77-88).
E. Garcia Vargas (1998) levou a cabo a sistematização e caracterização destes diferentes tipos,
contribuindo para uma melhor compreensão da sua evolução e cronologia, ainda que não resolvendo
completamente as dificuldades de classificação de materiais muito fragmentados45. Em termos gerais

44. Trata-se de um fragmento de pequena dimensão que poderá oferecer algumas dúvidas quanto à sua classificação, podendo,
eventualmente, tratar-se antes de um bordo de “Gauloise 4” de fabrico bético.
45. Para um ponto da situação actualizado relativamente a cada um dos tipos 7 a 11 de Dressel, veja-se, por essa sequência, as fichas da
base de dados Amphorae ex Hispania.

385
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

constituem-se como ânforas com corpo de tendência ovóide ou piriforme, bocais moldurados e incli-
nados para o exterior, colo curto ou alongado e troncocónico ou cilíndrico, asas de secção elíptica que
arrancam abaixo do bordo e repousam no ombro, e um fundo normalmente oco, de secção troncocó-
nica ou cilíndrica (García Vargas, 1998, p. 77-92; Peacock e Williams, 1987, p. 118-121; Filipe, 2008a, p. 70).
Embora sobretudo produzidas na Bética, onde são conhecidos vários centros oleiros na região
costeira e no Vale do Guadalquivir (García Vargas, 1998; Lagóstena Barrios e Bernal Casasola, 2004;
García Vargas et al., 2011; Carreras Monfort, 2016a), o seu fabrico está também atestado na costa seten-
trional da Tarraconense (López Mullor e Martín Menéndez, 2008a; López Mullor e Martín Menéndez,
2008b; Járrega Domínguez, 2016b) e na Gália (Laubenheimer, 1985).
Trata-se de formas difundidas principalmente a partir do Principado de Augusto, cuja produção
se terá iniciado no último quartel do séc. I a.C. com as primeiras variantes de Dressel 7, e prolongado
até finais do séc. I d.C., correspondendo à ânfora piscícola do Sul Peninsular mais difundida no Império
Romano durante aquele período de tempo (García Vargas, 1998, p. 77-92; Almeida, 2008, p. 166; García
Vargas et al., 2011, p. 253; Carreras Monfort, 2016a; García Vargas, 2016).
A existência de diversas inscrições pintadas sobre ânforas destes tipos, documentadas em vários
locais do Império, referindo Garum, Liquamen, Muria, Halex e Laccatum comprova um conteúdo reco-
nhecidamente piscícola (García Vargas, 1998, p. 199-206).
Amplamente difundida em toda a metade ocidental do Império, incluindo a região do limes ger-
mânico, está também atestada no Norte de África e no Mediterrâneo Oriental, ainda que em propor-
ções bastante mais reduzidas (Panella, 1973; Riley, 1979; Peacock e Williams, 1986; Martin-Kilcher, 1994;
García Vargas, 1998; Rizzo, 2003; Bezeczky, 2013; González Cesteros, 2014; Rizzo, 2014; González Ceste-
ros e Almeida, 2014).
Em Portugal encontra-se muito bem representada e em praticamente todo o território, sobre-
tudo nos grandes centros urbanos e na faixa costeira, em locais como Bracara Augusta (Morais, 2005),

100km

Dressel 7-11 (García Vargas e Bernal Casasola, 2016; García Vargas et al., 2016).
Figura 56 – Dressel 7-11
Difusão (García português:
no território Vargas eBraga,Bernal Casasola,
Monte Mozinho,2016;
Coto daGarcía Vargas de
Pena, Cividade etÂncora,
al., 2016).
Cividade de Te-
Difusão no território português:
rroso, Citânia Braga,
de Sanfins, Monte Monte
Murado,Mozinho, Coto Porto,
Quinta da Ivanta, da Pena,
PóvoaCividade de Âncora, Cividade
do Mileu, Idanha-a-Velha, Coimbra, de Terroso,
Conimbriga,
Citânia de Sanfins, MonteTomar, Berlenga,
Murado, villa Cardílio,
Quinta da Ivanta,Santarém,
Porto,AltoPóvoa
dos Cacos,
do Monte
Mileu,dos Castelinhos, Vila Franca
Idanha-a-Velha, de
Coimbra, Conimbri-
Xira, Alverca,
ga, Tomar, Berlenga, Lisboa, Freiria,
villa Cardílio, Região deAlto
Santarém, Sintra,dos
Cacilhas,
Cacos,Tróia, Alcácerdos
Monte do Sal, Monte da Nora,
Castelinhos, Monte
Vila Branco
Franca de2 Xira, Alverca,
(Alandroal), S. Miguel da Mota, Rocha da Mina, Caladinho (Serra d’Ossa), Vidais (Marvão), Aljustrel, Monte
Lisboa, Freiria, da
Região de Sintra, Cacilhas, Tróia, Alcácer do Sal, Monte da Nora, Monte Branco 2 (Alandroal),
Cegonha, S. Cucufate, Mirobriga, Casa Branca (Ferreira do Alentejo), Beja, ilha do Pessegueiro, Monte Ma-
São Miguel da nuel
Mota, Rocha
Galo, Mesas da Mina, Caladinho
do Castelinho, Castelo de (Serra d’Ossa),
Castro Marim, Vidais
Balsa, Pedras(Marvão), Aljustrel,
d’El Rei (Tavira), Monte
Faro, foz do rio da Cegonha,
São Cucufate, Mirobriga,
Arade, MonteCasa Branca
Molião, (Ferreira
Lagos, Quinta do Alentejo),
do Marim, Beja,
Milreu, Cerro Ilha do Pessegueiro, Monte Manuel Galo, Me-
da Vila.
sas do Castelinho, Castelo de Castro Marim, Balsa, Pedras d’El Rei (Tavira), Faro, foz do rio Arade, Monte Molião,
Lagos, Quinta do Marim, Milreu, Cerro da Vila.

386
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

Monte Mozinho (Soeiro, 1984), Coto da Pena, Cividade de Âncora, Cividade de Terroso, Citânia de San-
fins, Monte Murado (Sá e Paiva, 1993; Paiva, 1993), Quinta da Ivanta, Valongo (Morais, 2007b), possivel-
mente no Porto (Almeida e Almeida, 2002), Póvoa do Mileu, Guarda (Pereira, 2005), Coimbra (Carvalho,
1998; Silva, 2015), Conimbriga (Alarcão, 1976; Buraca, 2005), Tomar (Ponte, 1999), Berlenga (Bugalhão
e Lourenço, 2006), villa Cardílio (Diogo e Monteiro, 1999), Cacilhas (Barros e Amaro, 1984-1985), Freiria
(Cardoso, 2015), região de Sintra (Pimenta, 1982-1983; Coelho, 2002), Alverca (Pimenta e Mendes, 2007c),
Vila Franca de Xira (Pimenta e Mendes, 2006), Monte dos Castelinhos (Pimenta e Mendes, 2014; Pimen-
ta, 2015), Alto dos Cacos (Pimenta et al., 2012), Santarém (Arruda et al., 2006a), Idanha-a-Velha (Banha,
2006), Mérida (Almeida e Sánchez Hidalgo, 2013), Tróia (Diogo e Trindade, 1998; Almeida et al., 2014c),
Alcácer do Sal (Pimenta et al., 2006; Pimenta et al., 2015b), Monte da Nora (Teichner, 2008), Monte
Branco 2, Alandroal (Gomes et al., 2013), São Miguel da Mota, Alandroal (Guerra et al., 2003), Rocha da
Mina, Alandroal (Mataloto e Roque, 2013), Caladinho, Serra d’Ossa (Mataloto, 2010), Vidais, Marvão (Ar-
ruda e Catarino, 1981), Aljustrel (Trindade e Diogo, 1995; Perez Macias et al., 2009), Monte da Cegonha,
Vidigueira (Pinto e Lopes, 2006), São Cucufate (Mayet e Schmitt, 1997; Pinto e Lopes, 2006), Mirobriga
(Diogo, 1999a), Casa Branca, Ferreira do Alentejo (Fabião et al., 1997), Beja (Grilo e Martins, 2013), Ilha
do Pessegueiro (Silva e Soares, 1993), Monte Manuel Galo, Mértola (Alves, 2014), Mesas do Castelinho
(Parreira, 2009), Castro Marim (Arruda et al., 2006b), Balsa (Fabião, 1994a; Viegas, 2011), Pedras d’El Rei,
Tavira (Viegas e Dinis, 2010), Faro (Viegas, 2011), foz do rio Arade (Silva et al., 1987; Diogo et al., 2000;
Fonseca, 2015), Monte Molião (Arruda et al., 2008; Arruda e Viegas, 2016), Lagos (Almeida e Moros
Diaz, 2014), Quinta do Marim (Silva et al., 1992), Milreu (Teichner, 2008) e Cerro da Vila (Teichner, 2008).
De igual forma, surge amplamente documentada em Olisipo, nomeadamente no Teatro romano
de Lisboa (Diogo, 2000; Filipe, 2008a; Filipe, 2015), na Rua dos Bacalhoeiros (Filipe, 2008b), na Praça da
Figueira (Almeida e Filipe, 2013), na Rua dos Remédios (Silva, 2015a), na FRESS (Silva, 2014), na Casa dos
Bicos (Filipe et al., 2016), nos armazéns Sommer (Gaspar e Gomes, 2007), no NARQ (Sabrosa e Buga-
lhão, 2004), no Cais do Sodré (Marques et al., 1997), no Castelo de São Jorge (Pimenta, 2005), na Rua
das Pedras Negras (Gomes et al., 2017) e na Rua de São Mamede (Mota et al., 2017).
No conjunto anfórico aqui em estudo foi identificado um Número Mínimo de 84 Indivíduos enqua-
dráveis nos tipos Dressel 7 a 11, representando 2,64% das ânforas do Alto-Império, 7,90% dos contentores
de origem bética, 6,41% das importações extraprovinciais durante aquele período e 5,93% dos envases
piscícolas. São compostos principalmente pelas produções do litoral da Bética, tanto da costa ociden-
tal (74 NMI) como da oriental (3 NMI), mas também pelas do Vale do Guadalquivir (8 NMI), e provêm

Figura 57 – Bocal de Dressel 9 da Zara, Rua Augusta.

387
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

de grande parte dos sítios analisados no âmbito deste trabalho. Para além das peças indistintamente
classificadas como Dressel 7-11, documenta-se sobretudo a presença das Dressel 7, 9 e 10, ou seja, as
formas mais antigas daquele grupo de contentores, o que poderá ser interpretado como mais um indí-
cio da crescente importância das produções piscícolas lusitanas; parecendo escassear, por outro lado,
as Dressel 8 e 11.
Relativamente aos contextos de proveniência destas formas, os mais antigos, nos Claustros da
Sé, datam do Principado de Augusto, de onde procedem dois bordos de Dressel 9 (nº 12596 e 12704) e
um de Dressel 7-11 (nº 12597), todos da costa ocidental; de entre o Principado de Augusto e o início do
de Tibério registou-se um fundo (nº 16203) na Sé e, no Teatro Romano, um bordo de Dressel 7 (nº 1415,
de 2006) e dois de Dressel 7-11 (nº 13 e 25, ambos de 2013), todos igualmente da costa ocidental; de con-
textos do segundo terço do séc. I d.C., procedem da Sé uma asa, dois bordos e dois fundos (nº 11449,
13254, 13250, 11423 e 11424), dos quais apenas dois (nº 13250 e 11424) correspondem a fabricos do Vale
do Guadalquivir. Na Praça da Figueira, onde se registam cronologias algo mais finas e apenas produções
da costa ocidental, foi identificado um bordo de Dressel 7-11 (nº 9680.05) e dois outros de Dressel 9-10
(nº 9680.01 e 9680.04) num nível de preparação para a construção do sector Norte da via, balizado en-
tre Cláudio e Nero; um fundo (nº 6479.02) no enchimento de uma fossa datada de entre o Principado de
Nero e a fase inicial do de Vespasiano; e um bordo de Dressel 9-10 (nº 6368.01), dois fundos (nº 6368.02
e 6559.21) e uma asa no enchimento da fossa 9033, datado da década de 60 d.C. (Silva et al., 2016). Da
Rua de São Mamede procedem dois bordos recolhidos em contextos do terceiro quartel do séc. I d.C.
(nº 1 e 7221) e outros dois em níveis datados entre a Época Flávia e o primeiro terço do séc. II d.C., todos
da costa ocidental. Por fim, na Zara, Rua Augusta, documentou-se a presença de vários bordos e frag-
mentos de asa em contextos da segunda metade do séc. I d.C. e também em níveis balizados entre a
dinastia Flávia e meados do séc. II, alguns dos quais do Guadalquivir.

6.2.2.4. Ânforas tipo Urceus

As designadas ânforas de tipo Urceus foram individualizadas por Rui Morais com base nos mate-
riais de Braga e de outros sítios do Noroeste Peninsular (Morais, 2005; Morais, 2008), bem como do Cas-
telo da Lousa (Morais, 2010a). A publicação dos dados do naufrágio Sud-Perduto 2, estreito do Bonifácio
(Bernard, 2008), onde foram identificados alguns exemplares completos desta forma, viria a possibilitar
a revisão de alguns aspectos relacionados com a sua morfologia e difusão, tendo então sido criada a
primeira divisão do tipo em três subtipos (Morais, 2008). Posteriormente, numa nova revisão da forma,
foram redefinidas as características dos três subtipos (1, 2a, 2b e 3), estabelecendo-se a distinção entre
estes e a Dressel 28 (García Vargas et al., 2011, p. 248-252).
Trata-se de contentores de corpo ovalado, exibindo por vezes uma carena na metade superior da
pança, de fundo plano com a base elevada, que em média apresentam 50 cm de altura. Os bordos po-
dem variar entre lábios engrossados, de secção tendencialmente rectangular e topo plano (Tipo 1); ou
apenas ligeiramente engrossados em relação à parede do colo, podendo ser mais ou menos destacados
deste, tendencialmente côncavos, apresentando-se lisos na face externa (Tipo 2b) ou com caneluras
(Tipo 2a); ou ainda bordos escalonados ou moldurados em dois degraus ou ressaltos, sendo o ressalto
superior o mais saliente. Os colos apresentam igualmente alguma variação, podendo ser cilíndricos,
mais ou menos estrangulados ou troncocónicos. As asas, de secção ovalada e com um ou dois sulcos
longitudinais mais ou menos marcados, arrancam abaixo do bordo, descrevendo um perfil em arco ou
com ângulo mais marcado, e repousam num ombro arredondado e normalmente descaído (Morais,
2007a, p. 402-403; Morais, 2008, p. 268-269; García Vargas et al., 2011, p. 248-250; Morais, 2016; Almeida
e González Cesteros, 2017, p. 106-107).
A sua produção ocorreu tanto na costa bética como no Vale do Guadalquivir, tendo-se estendido
desde o início do Principado de Augusto até cerca de meados do séc. I d.C. (Morais, 2008, p. 269; Bernal
Casasola e Lavado Florido, 2011, p. 10-11; García Vargas et al., 2011, p. 250; Morais, 2016).
Relativamente ao produto transportado pelas ânforas de tipo Urceus, as suas características
morfológicas - sobretudo o facto de se tratar de uma ânfora de base plana, normalmente associadas ao

388
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

Rua da Regueira

Tipo 1 Tipo 2a Tipo 2b Tipo 3


100km

Tipo Urceus (Silva, no prelo; García Vargas et al., 2011).


Figura 58 – TipoDifusão
Urceusno território
(Silva, no português: Braga, RioVargas
prelo; García de Moinhos (Esposende),
et al., 2011). Quinta da Ivanta, Porto, Matosinhos,
Santarém,
Difusão no território Lisboa, Castelo
português: da Lousa,
Braga, foz do
Rio de rio Arade,(Esposende),
Moinhos Monte Molião. Quinta da Ivanta, Porto, Matosinhos, Santa-
rém, Lisboa, Castelo da Lousa, foz do rio Arade, Monte Molião.

transporte do vinho (Fabião, 1998a) - e a analogia estabelecida com as Dressel 28 e com as produções
da Gália, para além da existência de alguns exemplares resinados no interior, estão na base de uma ime-
diata associação a um conteúdo vinário (Morais, 2007a, p. 403; Morais, 2008, p. 269; Bernal Casasola e
Lavado Florido, 2011, p. 10; García Vargas, 2012, p. 201; Morais, 2016), que foi já confirmada por análises
químicas por cromatografia de gases (Oliveira et al., 2015).
Embora se trate de uma produção bética, região onde surge, a título de exemplo, em Cádis (Ber-
nal Casasola e Lavado Florido, 2011) e Hispalis (García Vargas e Bernal Casasola, 2008, p. 674-676; García
Vargas, 2012, p. 194), a área onde actualmente se regista uma mais expressiva difusão destes contento-
res é precisamente a fachada atlântica da Península Ibérica, embora também estejam bem documen-
tados nos acampamentos militares da Germania. Em relação a estes últimos, a presença das ânforas de
tipo Urceus está atestada em sítios como Dangstetten (Ehmig, 2010, Tafs. 32 e 33; García Vargas et al.,
2011, p. 250), Kops Plateau, Nijmegen (García Vargas et al., 2011, p. 250; Almeida e González Cesteros,
2017, p. 105-110), Haltern (Almeida e González Cesteros, 2017, p. 105), Neuss e Rödgen (García Vargas et
al., 2011, p. 250). Ocorre também em Lyon e nos naufrágios de Sud-Perduto 2, Lavezzi 1 e Sud-Lavezzi 2
(García Vargas et al., 2011, p. 250).
Quanto ao Ocidente Peninsular, estes envases concentram-se sobretudo no Noroeste, onde
ocorrem, por exemplo, em Lugo, Santa Tecla, Castro de Vigo, Pontevedra, Bracara Augusta, Porto, Ma-
tosinhos e Valongo (Morais, 2007a, p. 402; Morais, 2007b, p. 273; Morais, 2008, p. 276-278; Carreras
Monfort e Morais, 2011, p. 35), para além do naufrágio de rio de Moinhos, Esposende (Morais, 2013). Já
no território da antiga província da Lusitania, a sua presença é conhecida em Santarém (Almeida, 2008,
p. 204-205; García Vargas et al., 2011, fig. 32), no Castelo da Lousa (Morais, 2010a, p. 190), Monte Molião
(Arruda e Viegas, 2016, p. 446) e foz do rio Arade (Fonseca, 2015, p. 65), mas também em Lisboa, no Tea-
tro Romano (Filipe, 2008a, p. 48-49; Filipe, 2015, p. 140), no Palácio do Marquês de Angeja (Filipe, 2008a,
Est. XLII, Nº 4), na Rua dos Remédios (Silva, 2015a, p. 63) e na Rua da Regueira (Silva, no prelo, fig. 10,
nº 2), no caso deste último local com um exemplar praticamente completo, de bordo escalonado, em
contexto situável entre os reinados de Cláudio e Nero.
No conjunto inédito foi documentado um número mínimo de 20 indivíduos de ânforas de tipo
Urceus, 17 dos quais apresentam fabrico atribuível ao baixo Guadalquivir e os restantes três à região cos-
teira da Bética. Os referidos exemplares foram recolhidos nos seguintes sítios: Largo de Santo António

389
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

(um bordo), Palácio dos Condes de Penafiel (um bordo), Palácio do Marquês de Angeja (um bordo e
um fundo), Praça da Figueira (três bordos e duas asas), Rua de São Mamede (um bordo), Rua dos Baca-
lhoeiros (um bordo), Rua de São João da Praça (um bordo), Sé Catedral (três bordos, dois fundos e três
asas), Teatro Romano (cinco bordos, um dos quais procedente da costa) e antigas escavações da Rua
das Pedras Negras (três bordos, dois dos quais são procedentes da costa).
Algumas destas peças foram recolhidas em contextos datáveis dentro do período de fabrico das
ânforas tipo Urceus ou ligeiramente posteriores: na Sé recolheram-se dois fundos (nºs 16155 e 16307) em
níveis balizados entre o Principado de Augusto e o primeiro quartel do séc. I d.C.; na Praça da Figueira
um arranque de asa (nº 30047.01) em contexto de Cláudio-Nero; no Teatro dois bordos (nºs 1219 e 3122)
em contexto de Nero; na Rua dos Bacalhoeiros o único bordo foi identificado num nível cronologica-
mente situável em torno a meados do séc. I d.C.; o exemplar do Palácio do Marquês de Angeja provém
de um contexto do terceiro quartel do séc. I d.C..
As variantes mais comuns são as dos tipos 1 e 3, observando-se no conjunto de Lisboa a habitual
diversidade de perfis de bordo reconhecida para esta forma, algumas das quais de difícil classificação
nos subtipos das propostas tipológicas acima referidas.
Representam 0,68% da amostra do Principado, 2,04% das ânforas originárias da província da Bae-
tica, 2,18% das que procedem do Guadalquivir e 1,51% das da área costeira, significando 1,6% das impor-
tações extraprovinciais. No que se refere ao seu peso nas importações de vinho, representam 2,11% do
total dos contentores destinados a envasar aquele produto e 8,8% das ânforas vinícolas béticas. Trata-
-se, portanto, de um contentor com algum peso no quadro nas importações extraprovinciais de vinho
na cidade de Olisipo durante a Época de Augusto e primeira metade do séc. I d.C., atingindo valores mais
elevados do que aqueles que a Dressel 28 viria a atingir posteriormente.

6.2.2.5. Dressel 28

As Dressel 28 parecem ter surgido a partir das ânforas de tipo Urceus - contentores de fundo pla-
no que as precedem e cuja produção é coincidente durante algumas décadas -, tendo sido produzidas
tanto na região costeira como no interior da província da Bética, Vale do Guadalquivir (García Vargas
e Bernal Casasola, 2008, p. 674-675; Carreras Monfort e García Vargas, 2016), incluindo-se aqui ambas
produções. Apesar de se manter ainda hoje como uma das ânforas vinárias romanas menos estudadas
e conhecidas (Fabião, 1998a, p. 179), ela foi individualizada pela primeira vez em 1899 por H. Dressel
com o número 28 da sua tabela, tendo sido posteriormente caracterizada no estudo do naufrágio de
Port-Vendres II (Colls et al., 1977) e revista por Martin-Kilcher no âmbito do estudo das ânforas de Augst
(1994). Para além das produções béticas, foi ainda produzida na Tarraconense, na Gália Narbonense e,
ainda que aparentemente em quantidades residuais, no Vale do Tejo (Fabião, 1998a, p. 187).
Trata-se de uma ânfora de pequena dimensão, não ultrapassando os 75 cm de altura, com corpo
de tendência arredondada na sua metade superior e paredes mais direitas na metade inferior que con-
vergem para um fundo plano com ônfalo mais ou menos pronunciado, assentando num pé baixo que
pode adquirir forma anelar. O bordo apresenta invariavelmente duas molduras na parte externa, sepa-
radas por uma depressão, sendo normalmente inclinado ao exterior. O colo é geralmente cilíndrico ou
ligeiramente estrangulado e curto, com a ligação ao ombro bem vincada. As asas arrancam abaixo do
bordo e repousam no ombro, apresentando perfil arredondado na parte superior e mais recto na infe-
rior, sendo pouco espessas e de secção ovalada ou de tendência rectangular, possuindo normalmente
dois ou três sulcos longitudinais bem vincados no dorso (García Vargas, 2003, p. 204; Filipe, 2008a, p.
47; Carreras Monfort e García Vargas, 2016).
A sua produção ter-se-á iniciado nos primeiros anos da nossa Era, em Época Augústea, embora
os dados de Saint-Roman-en-Gal e Verbe-Incarné, Lyon, permitam considerar a hipótese de recuar essa
data em um ou dois decénios (Desbat e Martin-Kilcher, 1989, p. 344-345; Carreras Monfort e García
Vargas, 2016). Sobretudo típicas da segunda metade do séc. I d.C. e primeiro quartel do século seguinte,
a sua produção terá cessado em torno a meados do séc. II (García Vargas, 2003, p. 204; Carreras Monfort
e García Vargas, 2016), como bem documentam os dados de Augst (Martin-Kilcher, 1994, p. 357-358).

390
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

100km

Dressel 28 (www.archaeologydataservice.ac.uk).
Figura 59 – Dressel
Difusão no território português: Braga, Conimbriga, Tomar, Berlenga, imediações de Vila Franca de Xira
28 (www.archaeologydataservice.ac.uk).
(Tejo),português:
Difusão no território Monte dos Castelinhos,
Braga, villa das Almoínhas,
Conimbriga, Lisboa,Berlenga,
Tomar, Ponta do Mato, Tróia, Horta de
imediações da Torre
Vila(Fronteira),
Franca de Xira (Tejo),
Balsa.
Monte dos Castelinhos, villa das Almoínhas, Lisboa, Ponta do Mato, Tróia, Horta da Torre (Fronteira), Balsa.

Como já se referiu, a produção da Dressel 28 na província da Bética está atestada tanto na região
costeira como no Vale do Guadalquivir. Para a primeira região conhece-se apenas o centro produtor
de Venta del Carmen, Los Barrios, na Baía de Algeciras (Bernal Casasola, 1998), onde o fabrico deste
contentor era aparentemente reduzido. No interior da província a sua produção foi reconhecida em
Sevilha, na escavação do Hospital de las Cinco Llagas ou Parlamento de Andalucía (García Vargas, 2000,
p. 242-243; García Vargas, 2003, p. 204), bem como em Cortijo del Romero, Belliciana, e Alcalá del Río,
Ilipa (García Vargas, 2010, p. 596; Carreras Monfort e García Vargas, 2016).
Relativamente ao produto transportado, embora não existam evidências directas, para lá da pre-
sença de revestimentos resinosos no interior de alguns exemplares, um conteúdo vinário é normalmen-
te assumido com base nas suas características morfológicas e por analogia com outras ânforas de base
plana, como as produzidas na Tarraconense e na Gália (Fabião, 1998a, p. 187; García Vargas, 2004, p. 511).
No que se refere à difusão, a Dressel 28 foi amplamente distribuída na metade ocidental do Impé-
rio, ocorrendo em Portugal, Espanha, Itália, França, Alemanha, Suíça e Inglaterra (Peacock e Williams,
1986, p. 149; Carreras Monfort, 2005b; Filipe, 2008a, p. 47; Carreras Monfort e García Vargas, 2016),
ainda que normalmente em quantidades reduzidas. No actual espaço português surgem um pouco
por todo o território, igualmente de forma minoritária, sendo conhecidas em Bracara Augusta (Morais,
1998; Morais, 2005), Conimbriga (Alarcão, 1976; Buraca, 2005), Tomar (Banha e Arsénio, 1998; Ponte,
1999), Ilha da Berlenga (Bugalhão e Lourenço, 2006), villa das Almoínhas (Brazuna e Coelho, 2012), Pon-
ta do Mato (Raposo et al., 2014), Vila Franca de Xira, provenientes de recolhas no rio Tejo (Quaresma,
2005), Monte dos Castelinhos (Pimenta et al., 2008), Horta da Torre, Fronteira (Alves e Carneiro, 2011),
Tróia (Diogo e Paixão, 2001), e Balsa (Viegas, 2011), bem como na capital da Lusitânia, Augusta Emerita
(Almeida e Sanchez Hidalgo, 2013). Na cidade de Olisipo eram já conhecidos os exemplares do Teatro
Romano (Filipe, 2008a; Filipe, 2015), escavações antigas da Praça da Figueira (Almeida e Filipe, 2013)
e Rua dos Bacalhoeiros (Filipe, 2008b), sendo que neste último sítio as peças procedem de contextos
datados em torno a meados do séc. I d.C..
No conjunto de materiais analisados no âmbito deste trabalho foram identificados 13 indivíduos
de Dressel 28, com fabricos atribuíveis à região costeira (3 NMI) e ao Vale do Guadalquivir (10 NMI).
Provêm do Banco de Portugal (dois fundos e uma asa), da Fundação Ricardo Espírito Santo e Silva (uma
asa), Palácio dos Condes e Penafiel (um bordo), escavações antigas (duas asas) e recentes (um bordo

391
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

da costa e três asas do Guadalquivir) da Praça da Figueira, Rua dos Bacalhoeiros (dois fundos), Sé Cate-
dral (um bordo e uma asa) e Rua das Pedras Negras, intervenções antigas (dois bordos e uma asa). O
panorama da procedência estratigráfica destes exemplares é deveras desolador, uma vez que, de todos
eles, apenas uma peça da Sé Catedral provém de contexto estratigráfico coerente com o âmbito crono-
lógico da produção das Dressel 28, datado do segundo quartel do séc. I d.C.. Esta cronologia precoce
demonstra que a importação de vinho bético transportado em contentores de tipo Dressel 28 ocorreu
em Olisipo desde o início da sua produção. Refira-se ainda que esta peça, uma asa, corresponde a uma
produção do Vale do Guadalquivir, assinalando a produção desta forma naquela região em fase precoce.
Em termos de significado estatístico, as Dressel 28 representam 0,44% do conjunto de ânforas
alto-Imperiais, 1,3% das importações da Baetica durante este período e 1,03% do total de importações ex-
traprovinciais. Corresponde ainda a 1,34% das ânforas vinárias e a 5,6% dos contentores vinários béticos.
Verifica-se, portanto, também em Olisipo o quadro geral de contentor de fraca expressão quantitativa
observado na grande maioria dos locais do Império romano onde foi identificado.

6.2.2.6. Beltrán IIA

A forma II, grupo A, de M. Beltrán Lloris (1970) caracteriza-se por uma certa diversidade formal que
o autor propôs dividir nos subtipos 1 e 2. E. García Vargas (1998) desenvolveu esta classificação para as
produções da Baía de Cádis e propôs a criação de duas variantes para cada subtipo (de A a D), e mais re-
centemente uma variante de transição. Evoluindo a partir das Dressel 7 e 8, estes contentores possuem
normalmente corpo de tendência cilíndrica ou piriforme, bordo de secção triangular levemente penden-
te, colo alto, largo e cilíndrico ou troncocónico, asas de secção ovalada e de tendência vertical que arran-
cam junto ao bordo, e fundos ocos, de tendência cónica e de dimensões consideráveis (Beltrán Lloris,
1970, p. 431; Peacock e Williams, 1986, p. 122; García Vargas, 1998, p. 106-107; García Vargas et al., 2016e).
Apesar de ser ainda objecto de debate, o início da produção da Beltrán IIA deverá situar-se nas
décadas iniciais do séc. I d.C., provavelmente no início do Principado de Tibério, tendo alcançado o apo-
geu da sua distribuição na segunda metade desse século e cessado o seu fabrico em meados do séc. II
(García Vargas et al., 2016e).
O seu fabrico está documentado em múltiplos centros produtores da costa bética que se esten-
dem de Huelva a Málaga e Granada, alcançando a sua expressão quantitativamente mais significativa
na Baía Gaditana, onde está atestada em inúmeras olarias (Lagóstena Barrios e Bernal Casasola, 2004;
García Vargas e Bernal Casasola, 2008; García Vargas et al., 2016e).
A rica documentação epigráfica existente sobre ânforas deste tipo não deixa qualquer dúvida
quanto a um conteúdo piscícola, sendo comuns, entre outros, os tituli picti com referência a garum,
liquamen, hallec, Laccatum ou cod[ ] (Liou, 1992; Laubenheimer et al., 1993; Martin-Kilcher, 1994; García
Vargas, 1998; Ehmig, 2007; García Vargas et al., 2016e).
Conheceu uma larga difusão no Império Romano, sobretudo nas províncias ocidentais mas tam-
bém no Mediterrâneo Oriental, Norte de África e limes germânico (Martin-Kilcher, 1994; Bezeczky, 2013;
García Vargas et al., 2016e). Em Lisboa está presente apenas no NARQ (Sabrosa e Bugalhão, 2004) e na
Casa dos Bicos (Filipe et al., 2016), tendo igualmente sido atestada em Bracara Augusta (Morais, 2005),
Conimbriga (Buraca, 2005), Idanha-a-Velha (Banha, 2006), Berlenga (Bugalhão e Lourenço, 2006), Peni-
che (Cardoso et al., 2011), Mérida (Almeida e Sanchez Hidalgo, 2013), Freiria (Cardoso, 2015), Tróia (Dio-
go e Trindade, 1998), Setúbal (Silva e Coelho-Soares, 1980-81), Alcácer do Sal (Silva et al., 1980-1981),
Ammaia (Venditti, 2014; Venditti, 2016), São Cucufate (Mayet e Schmitt, 1997; Pinto e Lopes, 2006),
Monte da Cegonha (Pinto e Lopes, 2006), Aljustrel (Peréz Macías et al., 2009), Ilha do Pessegueiro (Silva
e Soares, 1993), Lagos (Almeida e Moros Diaz, 2014), Marmeleiros, Quarteira (Teichner, 2008), Cerro da
Vila, Vilamoura (Teichner, 2008), Faro (Viegas, 2011), Milreu, Faro (Teichner, 2008), Balsa (Fabião, 1994a;
Viegas, 2011) e Castro Marim (Arruda et al., 2006b).
A Beltrán IIA foi um dos tipos que mais dificuldades colocou quanto à classificação. Por um lado,
trata-se de uma ânfora que devido à sua grande variedade formal nem sempre é facilmente distinguí-
vel de outros tipos, como a Dressel 7, a Beltrán IIB ou mesmo a Beltrán 72, sobretudo quando se trata

392
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

100km

Beltrán IIA (García Vargas et al., 2016; www.archaeologydataservice.ac.uk).


Figura 60 – Beltrán IIA (García Vargas et al., 2016; www.archaeologydataservice.ac.uk).
Difusão no território português: Braga, Conimbriga, Berlenga, Peniche, Idanha-a-Velha, Lisboa, Freiria,
Difusão no território português:
Setúbal, Tróia, AlcácerBraga, Conimbriga,
do Sal, Ammaia, Berlenga,
S. Cucufate, Monte daPeniche, Idanha-a-Velha,
Cegonha, Aljustrel, Lisboa, Freiria, Setúbal,
Ilha do Pessegueiro,
Tróia, Alcácer do Lagos,
Sal, Ammaia,
MarmeleirosSão Cucufate,
(Quarteira), Monte
Cerro daFaro,
da Vila, Cegonha, Aljustrel,
Milreu, Balsa, CasteloIlha do Pessegueiro,
de Castro Marim. Lagos, Marmeleiros,
Cerro da Vila, Faro, Milreu, Balsa, Castelo de Castro Marim.

de pequenos fragmentos de bordo sem asa. Por outro, o índice de rolamento que se verificou, por
exemplo, nas ânforas do Banco de Portugal dificultou ainda mais essa classificação, podendo existir,
naturalmente, alguns exemplares que suscitem dúvidas (podendo-se referir o mesmo em relação aos
outros tipos referidos).
Na amostra em análise reconheceram-se 25 indivíduos deste tipo, representando 0,78% das ânfo-
ras alto-imperiais, 2,32% dos contentores da Baetica e 12,56% dos provenientes da região costeira daque-
la província, significando ainda 1,85% das importações extraprovinciais durante este período e 1,74% dos
envases piscícolas. Foram recolhidos no Banco de Portugal (oito bordos e duas asas), Casa dos Bicos
(um bordo), Encosta de Sant’Ana (um bordo), Grupo Desportivo do Castelo (um bordo), Praça da Figuei-
ra (quatro bordos), Rua dos Bacalhoeiros (um bordo), Rua de São João da Praça, 2001 (um bordo), Sé
Catedral (um bordo e uma asa), Rua das Pedras Negras (cinco bordos) e Zara, Rua Augusta (um bordo).
De todos estes materiais apenas três peças procedem de níveis cronologicamente coevos com
a produção e distribuição das Beltrán IIA. O bordo da Rua dos Bacalhoeiros foi exumado em contexto
de em torno aos meados do séc. I d.C.; na Zara, Rua Augusta, o exemplar identificado foi recolhido em
nível da segunda metade do séc. I d.C.; e na Rua de São João da Praça (2001) em estrato datado entre a
dinastia Júlio-Cláudia e o final do séc. I d.C.. Neste conjunto, parecem estar presentes os cinco subtipos
definidos para esta forma (García Vargas et al., 2016e), maioritariamente representadas pelas variantes
B e C. Tendo em conta a escassa presença das variantes mais antigas nesta amostra bem como a ausên-
cia da Beltrán IIA no importante conjunto anfórico anteriormente estudado do Teatro Romano (Filipe,
2008; Filipe, 2015), cuja cronologia contextual se deverá centrar em torno a 58 d.C., poder-se-á supor
que a comercialização deste tipo se efectuou na fachada atlântica durante todo o espectro temporal da
sua produção, embora só a partir da dinastia Flávia se faça sentir com maior frequência.

6.2.2.7. Beltrán IIB

Coube a M. Beltrán Lloris (1970) a primeira sistematização tipológica da Beltrán IIB, cuja deno-
minação se manteve até hoje no meio arqueológico da especialidade, tendo E. García Vargas (1998)
estabelecido posteriormente as variantes A e B.

393
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

100km

Beltrán IIB (Bernal Casasola et al., 2016; www.archaeologydataservice.ac.uk).


Figura 61 – Beltrán IIB (Bernal
Difusão Casasola
no território et Braga,
português: al., 2016;
Montewww.archaeologydataservice.ac.uk).
Mozinho, Quinta da Ivanta, Conimbriga, Tomar, Berlenga,
Difusão no território
Peniche, Santarém, Lisboa, Idanha-a-Velha, Setúbal,Quinta
português: Braga, Monte Mozinho, da Ivanta,
Tróia, Santa Catarina deConimbriga, Tomar,
Sí mos, Ammaia, Berlenga,
Quinta das Peniche,
Santarém, Lisboa,Longas,
Idanha-a-Velha, Setúbal,
Tourega, S. Cucufate, Tróia,
Monte Santa Catarina
da Cegonha, de Sítimos,
Aljustrel, Vidigal Ammaia,Ilha
(Aljezur), Mirobriga, Quinta das Longas, Tourega,
do Pessegueiro,
Lagos, da
São Cucufate, Monte Monte Molião, foz
Cegonha, do rio Arade,
Aljustrel, Cerro(Aljezur),
Vidigal da Vila, Faro, Milreu, Quinta
Mirobriga, Ilhadedo
Marim, Balsa, Pedras
Pessegueiro, d’El Rei,Monte Molião,
Lagos,
Cacela, da
foz do rio Arade, Cerro Castelo
Vila,deFaro,
CastroMilreu,
Marim. Quinta de Marim, Balsa, Pedras d’El Rei, Cacela, Castelo de Castro Marim.

Morfologicamente caracteriza-se genericamente por possuir um corpo de tendência ovóide ou


piriforme, com fundo troncocónico, oco e de grande dimensão. O colo, estreito e alto, abre para um
bordo exvasado de secção triangular ou arredondada, por vezes pendente. As asas exibem secção ova-
lada, arrancando abaixo do bordo e descendo ao longo do colo (Beltrán Lloris, 1970, p. 433-444; Panella,
1973, p. 510-511; García Vargas, 1998, p. 108-110; García Vargas et al., 2016f).
Apesar de durante muito tempo se ter considerado que o arranque da sua produção se situaria
entre os principados de Tibério e Cláudio (Beltrán Lloris, 1970; Panella, 1973; Peacock e Williams, 1986),
a posterior revisão efectuada por E. García Vargas (1998) viria a demonstrar que o seu início foi algo
mais tardio, centrado nos meados do século I d.C.. O seu fabrico e comercialização estendeu-se durante
todo o século seguinte, tendo perdurado até às primeiras décadas do séc. III (García Vargas, 1998, p. 110;
Bernal Casasola, 2001, p. 278; García Vargas et al., 2016f).
Tal como em outras formas béticas, a sua produção foi especialmente intensa na Baía Gaditana,
onde são conhecidas cerca de duas dezenas de olarias que as fabricaram. Porém, a área da sua produ-
ção estende-se por grande parte do litoral daquela provincia meridional, desde a actual cidade de Huel-
va à Baía de Algeciras e à área de Málaga e de Granada, já na costa oriental (Bernal Casasola, 1998, p.
36; García Vargas, 1998, p. 110; Lagóstena Barrios e Bernal Casasola, 2004, p. 107; Serrano Ramos, 2004,
p. 174-189; Mateo Corredor, 2014, p. 114; García Vargas et al., 2016f). Terá ainda sido fabricada no Vale
do Guadalquivir, em Hispalis, ainda que em quantidades muito reduzidas (García Vargas, 2000, p. 250).
No que se refere ao produto transportado pelas Beltrán IIB, tal como acontece no tipo anterior-
mente descrito, a documentação de várias inscrições pintadas sobre recipientes deste tipo fazendo
alusão a produtos haliêuticos (muria, liquamen) não deixa dúvidas quanto a tratar-se de um conten-
tor sobretudo destinado a envasar produtos piscícolas (Beltrán Lloris, 1970, p. 444; García Vargas et
al., 2016f). Porém, são igualmente conhecidos tituli picti que mencionam vinho, pelo que haverá que
considerar a possibilidade de terem também transportado este tipo de produtos, ainda que de forma
minoritária (Lagóstena Barrios, 2004, p. 215-216).
Este tipo está muito bem documentado em todo o Mediterrâneo ocidental, mas também na
Britannia, no limes germânico e, de forma mais esporádica, na região oriental do Mediterrâneo (García
Vargas et al., 2016f). No território nacional o mapa de dispersão das Beltrán IIB é relativamente vasto,

394
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

estando registadas desde Bracara Augusta (Morais, 2005), Monte Mozinho (Soeiro, 1984), Quinta da
Ivanta, Valongo (Morais, 2007b), Conimbriga (Alarcão, 1976; Buraca, 2005), Tomar (Ponte, 1999), Santa-
rém (Arruda et al., 2005), Berlenga (Bugalhão e Lourenço, 2006), Peniche (Cardoso et al., 2011), Idanha-
-a-Velha (Banha, 2006), Tróia (Diogo e Trindade, 1998; Pinto et al., 2014), Setúbal (Coelho-Soares e Silva,
1978; Silva e Coelho-Soares, 1980-1981; Silva e Coelho-Soares, 2014), Santa Catarina de Sítimos, Alcácer
do Sal (Ferreira et al., 2000), Quinta das Longas (Almeida e Carvalho, 1998), Ammaia (Venditti, 2014;
Venditti, 2016), São Cucufate (Mayet e Schmitt, 1997; Pinto e Lopes, 2006), Monte da Cegonha, Tourega
(Pinto e Lopes, 2006), Mirobriga (Biers, 1988), Aljustrel (Peréz Macías et al., 2009), Ilha do Pessegueiro
(Silva e Soares, 1993), Vidigal, Aljezur (Pereira, 2012), Lagos (Almeida e Moros Diaz, 2014), Monte Molião
(Arruda et al., 2008; Bargão, 2008; Bargão, 2010; Arruda e Viegas, 2016), Foz do Arade (Silva et al., 1987;
Diogo et al., 2000; Fonseca, 2015), Cerro da Vila, Vilamoura (Teichner, 2008), Faro (Viegas, 2011), Milreu,
Faro (Teichner, 2008), Quinta do Marim (Silva et al., 1992), Balsa (Fabião, 1994a; Viegas, 2011), Pedras
d’El Rei (Viegas e Dinis, 2010), Cacela (Arruda et al., 1987) e Castro Marim (Arruda et al., 2006b), surgin-
do de igual forma na capital da província da Lusitânia (Almeida e Sanchez Hidalgo, 2013).
Para além dos locais referidos, existem ainda outros onde se menciona a presença de ânforas do
tipo Beltrán II, não se especificando se se trata da variante A ou B, tais como villa Cardílio (onde, embora
não surja no catálogo, é referida no Quadro da página 206: Diogo e Monteiro, 1999), Sesimbra (Ferreira
e Conceição, 2011) e Cidade das Rosas, Serpa (Norton et al., 2006).
Em Lisboa a sua presença encontra-se atestada na Casa dos Bicos (Filipe et al., 2016), nas esca-
vações antigas da Praça da Figueira (Almeida e Filipe, 2013), na recente intervenção da Rua das Pedras
Negras (Gomes et al., 2017), no Largo das Portas do Sol/FRESS (Silva, 2014) e no NARQ (Sabrosa e Buga-
lhão, 2004), surgindo habitualmente em quantidades modestas.
Na amostra de Olisipo registou-se um número mínimo de 62 indivíduos, sobretudo representados
pelas produções da costa ocidental (59 NMI) e oriental (1 NMI) e, de forma residual, por exemplares
com pastas atribuíveis ao Vale do Guadalquivir (2 NMI), possivelmente também atribuíveis a este tipo.
O seu peso no conjunto de ânforas alto-imperiais é de 1,93%, significando 5,76% das importações béti-
cas desse período e 4,58% da totalidade de importações extraprovinciais. Representa ainda 4,33% dos
contentores piscícolas daquele período e 32,78% das importações com origem na costa ocidental da
Baetica, constituindo-se como o segundo tipo mais representativo desta região durante o Principado.
Os exemplares de Olisipo provêm do Banco de Portugal (11 bordos e 12 asas), Calçada do Correio Velho
(uma asa), Casa dos Bicos (uma asa e um colo com arranque de asa), Escadinhas de São Crispim (um
bordo), Hotel de Santa Justa (um bordo), Palácio dos Condes de Penafiel (dois bordos e três asas da
costa ocidental e uma asa do Guadalquivir), antigas (um bordo e seis asas) e recentes (18 bordos, um
fundo e sete asas da costa ocidental e uma asa da costa oriental) escavações da Praça da Figueira, Rua
Augusta (1988) (um bordo), Rua de São Mamede (uma asa), Rua de São João da Praça (duas asas),
Sé Catedral (uma asa), antigas (cinco bordos, um fundo e oito asas da costa ocidental e uma asa do
Guadalquivir) e recentes (dois bordos) intervenções da Rua das Pedras Negras e Zara, Rua Augusta (10
bordos e duas asas).
O panorama dos contextos de proveniência das ânforas deste tipo é, infelizmente, muito pobre,
uma vez que na sua grande maioria procedem de contextos tardios e pós-romanos, ou de sítios onde se
desconhece o registo estratigráfico ou onde este não se encontra ainda totalmente sistematizado. Os
escassos dados disponíveis foram documentados nas intervenções da Casa dos Bicos, onde se regista
a sua presença num contexto de final do séc. II/início do séc. III d.C.; na Zara, Rua Augusta, recolhidos
sobretudo em níveis da segunda metade do séc. I d.C., mas também de entre a dinastia Flávia e meados
do séc. II d.C.; na Rua de São Mamede, entre Flávios e o primeiro terço do séc. II d.C.; e na Rua de São
João da Praça (2009), genericamente entre a dinastia Júlio-Cláudia e o final do séc. I d.C.
As Beltrán IIB documentadas em Lisboa enquadram-se maioritariamente na variante A deste
tipo, embora também estejam presentes alguns exemplares da variante B, o que, paralelamente aos
dados cronológicos dos contextos acima referidos, apontam para uma comercialização no Ocidente
hispânico sobretudo centrada na segunda metade do séc. I d.C. e início do seguinte.
Refira-se por fim que no Banco de Portugal se registou a presença de revestimento resinoso na
superfície interna de um bordo (nº 1402) e de dois fragmentos de parede e arranque de asa deste tipo.

395
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

6.2.2.8. Puerto Real 1

Conhecida no centro produtor de Puente Melchor, Cádis, desde meados do séc. XX (Jiménez Cisne-
ros, 1971 apud García Vargas e Bernal Casasola, 2016), foi enquadrada por M. Beltrán Lloris (1970) no seu
tipo IIB e por S. Martin-Kilcher no tipo Augst 30 (Martin-Kilcher, 1994). Foi individualizada já no decurso
dos anos noventa daquele século no âmbito da publicação das ânforas produzidas no referido centro
oleiro, tendo então sido estabelecidos os subtipos A e B (García Vargas e Lavado Florido, 1995; García
Vargas e Lavado Florido, 1996). A Puerto Real 1 deverá corresponder a uma forma de transição entre a
Beltrán IIB e a Keay XVI (García Vargas, 1998, p. 110-112; García Vargas e Bernal Casasola, 2016).
Trata-se de um contentor de corpo piriforme cujo fundo, para já desconhecido, se presume idên-
tico ao das Beltrán IIB tardias ou das Keay XVI, ou seja, de perfil cónico, oco e com anel saliente na base.
O bordo apresenta-se invariavelmente exvertido e com secção triangular, normalmente pendente, po-
dendo exibir ligeira moldura na face externa. A distinção entre os subtipos A e B baseia-se sobretudo
no perfil e altura do colo, sendo o primeiro bitroncocónico, curto, largo e discretamente demarcado do
ombro, e o segundo tendencialmente cilíndrico, mais alto e mais estreito que o anterior, não se desta-
cando do ombro. As asas, com secção de tendência oval, desenham uma pronunciada inflexão junto ao
bordo, de onde arrancam, descendo a partir daí de forma arqueada na metade superior e mais vertical-
mente na inferior, repousando na zona do ombro (García Vargas e Lavado Florido, 1995; García Vargas e
Lavado Florido, 1996; García Vargas, 1998, p. 110-112; García Vargas e Bernal Casasola, 2016).
A cronologia da sua produção e distribuição foi aduzida sobretudo a partir dos contextos docu-
mentados no centro produtor de Puente Melchor, parecendo centrar-se entre a segunda metade do
séc. II d.C. e as primeiras décadas do séc. III (García Vargas e Lavado Florido, 1996, p. 200; García Vargas,
1998, p. 112; García Vargas e Bernal Casasola, 2016), datação coerente com alguns centros de consumo
como Baelo Claudia (Bernal Casasola et al., 2007a, p. 416), Ceuta (Bernal Casasola e Pérez Rivera, 1999,
p. 62) ou Augst (Martin-Kilcher, 1994, p. 401-402; García Vargas e Bernal Casasola, 2016).
Trata-se de uma produção documentada apenas na Baía Gaditana, estando atestada somente
no já referido centro oleiro de Puente Melchor (García Vargas e Lavado Florido, 1995; García Vargas e
Lavado Florido, 1996; García Vargas, 1998, p. 112). Outras evidências menos consistentes dão conta do
seu possível fabrico nos centros produtores de calle de Albardonero, Cerro de los Mártires e El Rabatún,
na mesma região (García Vargas e López Rosendo, 2008, p. 292; García Vargas e Bernal Casasola, 2016).

100km

Puerto Real 1 (García Vargas e Bernal Casasola, 2016).


Figura 62 – Puerto Realno1território
Difusão (Garcíaportuguês:
Vargas eBraga,
Bernal Casasola, 2016).
Lisboa.
Difusão no território português: Braga, Lisboa.

396
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

As já mencionadas evidentes relações morfológicas com as Beltrán IIB e Keay XVI e a existência de uma
inscrição pintada em Augst referindo lacca(tum) são, para já, os principais argumentos de um provável
conteúdo piscícola (Rizzo, 2014, p. 235; García Vargas e Bernal Casasola, 2016).
A comercialização deste tipo deverá ter sido bastante limitada, tendo em conta o estado actual
do conhecimento relativamente à sua distribuição e significado estatístico nos centros de consumo em
que se encontra atestado. Para além dos locais a que já se fez alusão, Baelo Claudia (Bernal Casasola et
al., 2007c, p. 416), Ceuta (Bernal Casasola e Pérez Rivera, 1999, p. 62) e Augst, na actual Suíça (Martin-
-Kilcher, 1994, p. 401-402; García Vargas e Bernal Casasola, 2016), haveria que acrescentar Lyon (Silvino,
2007, p. 225), Carteia (Mateo Corredor, 2014, p. 414), a Baía de Algeciras e a costa tirrénica da Península
Itálica, com um exemplar conhecido em Rigisvilla, Toscânia (García Vargas e Bernal Casasola, 2016), e 12
em Óstia (Rizzo, 2014, p. 234), bem como, no actual território nacional, Bracara Augusta (Morais, 2005,
p. 109).
Em Lisboa, onde até agora era desconhecida, foi identificado apenas um fragmento de bordo na
intervenção do Palácio dos Condes de Penafiel, de contexto estratigráfico desconhecido. A sua presen-
ça em Olisipo em percentagens tão reduzidas apenas confirma, por um lado, a sua já conhecida circula-
ção na costa ocidental peninsular e, por outro, o carácter minoritário destas produções no comércio de
alimentos transportados em ânforas entre a segunda metade do séc. II d.C. e o início do século seguinte.

6.2.2.9. Dressel 14 bética

A Dressel 14 produzida no litoral da província da Bética, detentora de uma considerável variedade


formal (García vargas, 2001, p. 84), mantém-se ainda como uma produção relativamente mal estudada
(Fabião, 1997, p. 60). É morfologicamente idêntica às produções lusitanas já descritas neste trabalho
(v. Dressel 14), remetendo-se para esse ponto não só a referência às suas características formais como
também as questões relativas à historiografia do início da sua investigação (v. entre outros, Fabião e
Carvalho, 1990, p. 41-47).
O fabrico deste contentor ter-se-á enquadrado sensivelmente no mesmo arco temporal da sua
homónima lusitana, embora a sua presença nos naufrágios de Sud-Lavezzi 1 e Sud-Lavezzi 3 aponte para
um início de produção em Época Tiberiana (Sciallano e Liou, 1985, p. 144; Liou, 1990, p. 134-140; García
Vargas, 2001, p. 84), tendo cessado já no decurso do séc. III d.C. (Bernal Casasola, 2001, p. 278-279; García
Vargas e Bernal Casasola, 2008, p. 672)
Foi produzida em vários locais da costa bética (Étienne e Mayet, 2002, p. 133; García Vargas e
Bernal Casasola, 2008, p. 668-672), como por exemplo em Calahonda e Motril, Granada (Beltrán Lloris,
1970, p. 459), Manganeto, Málaga (García Vargas, 1998, p. 101; Serrano, 2004, p. 187), Venta del Carmen,
Algeciras (Bernal Casasola, 1998, p. 36), Guadarranque, Cádis (Beltrán Lloris, 1977, p. 112 e figs. 26-30),
Puente Melchor, Cádis (García Vargas, 1998, p. 101) e Villa Victoria, Cádis (Bernal Casasola et al., 2004d,
p. 466; Lagóstena Barrios e Bernal Casasola, 2004, p. 82).
Relativamente ao conteúdo, a existência de vestígios ictiológicos e de tituli picti fazendo menção
a produtos à base de peixe, não deixam grandes dúvidas quanto a tratar-se de uma ânfora destinada a
transportar esses produtos (Beltrán Lloris, 1970, p. 462; Fabião e Carvalho, 1990, p. 41-42; García Vargas,
1998, p. 200-206; Bernal Casasola, 2001, p. 279).
Apesar de surgir em alguns naufrágios do Mediterrâneo ocidental e em locais como Roma e Óstia
(Panella, 1973, p. 515-519; Rizzo, 2003, p. 151-152; Ferrandes, 2008, p. 262; Rizzo, 2014, p. 235-236), não
parece ter alcançado a difusão de outras produções contemporâneas da mesma província, como as
Dressel 7-11 ou Beltrán IIA e B, estando pouco representada no Ocidente Peninsular, onde ocorre princi-
palmente na metade Sul do território nacional. Em Lisboa não se conhece nenhum exemplar publicado,
surgindo esporadicamente em Bracara Augusta (Morais, 2005), Santarém (Arruda et al., 2005), Ponta
do Mato (Raposo et al., 2014), villa de Povos (Banha, 1991-92), Tróia (Diogo e Trindade, 1998), Monte da
Nora (Teichner, 2008), Mirobriga (Diogo, 1999a), Mesas do Castelinho (Parreira, 2009), foz do rio Arade
(Diogo et al., 2000), Castro Marim (Arruda et al., 2006b), Monte Molião (Arruda e Viegas, 2016, p. 446),
Faro e Balsa (Viegas, 2011).

397
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

100km

Dressel 14 bé ca (Sciallano e Liou, 1985; www.archaeologydataservice.ac.uk).


Figura 63 – Dressel 14 no
Difusão bética (Sciallano
território e Braga,
português: Liou, Santarém,
1985; www.archaeologydataservice.ac.uk).
villa de Povos, Lisboa, Ponta do Mato, Tróia, Monte da
Difusão no território
Nora, português: Braga,
Mirobriga, Mesas Santarém,
do Castelinho, villa
Monte de Povos,
Molião, foz do rioLisboa, Ponta
Arade, Faro, Balsa,do Mato,
Castro Tróia, Monte da Nora,
Marim.
Mirobriga, Mesas do Castelinho, Monte Molião, foz do rio Arade, Faro, Balsa, Castro Marim.

A sua presença na amostra de Olisipo é inteiramente residual, documentando-se apenas um frag-


mento de bordo e uma asa descontextualizados, exumados no Banco de Portugal. Pouco se poderá
acrescentar, para lá de sublinhar o carácter minoritário destas produções no comércio de produtos
alimentares transportados em ânforas no Ocidente hispânico, aparentemente mais orientadas para o
Mediterrâneo central e ocidental, particularmente para a capital do Império (Panella, 1973, p. 515-519;
Rizzo, 2003, p. 151-152; Ferrandes, 2008, p. 262; Rizzo, 2014, p. 235-236).

6.2.2.10. “Gauloise 4” bética

O típico contentor vinário da Gália, a Gauloise 4, foi profusamente imitado na Península Ibéri-
ca, notavelmente na costa da província tarraconense, conhecendo-se igualmente a sua produção em
algumas olarias localizadas na região costeira da Bética. Ainda que estas imitações do Sul Peninsular
sejam conhecidas na literatura arqueológica desde o final dos anos 80 do século passado (Marín Díaz,
1988), mantêm-se ainda relativamente mal caracterizadas em diversos aspectos, sobretudo quanto à
sua difusão.
Morfologicamente afins às produções gaulesas e apresentando algumas variações entre as dife-
rentes olarias onde a sua produção se encontra atestada, as “Gauloise 4” béticas exibem normalmente
bordos arredondados e engrossados externamente, que podem também ser levemente bilobados ou
mais direitos, colos curtos e cilíndricos, troncocónicos ou bitroncocónicos, com asas em fita, de perfil
circular, secção sub-rectangular ou oval com uma depressão central no dorso, arrancando do colo e
repousando na parte superior da pança. O corpo é piriforme (invertido), sendo bastante amplo na me-
tade superior e com paredes ligeiramente arqueadas na inferior, terminando num fundo plano, de pé
destacado (García Vargas, 1998, p. 116-117; Bernal Casasola, 2016b).
Embora a Gauloise 4 se produza na Narbonense desde os meados do séc. I d.C. (Laubenheimer,
1985, p. 390-392), a sua reprodução na Baetica ter-se-á iniciado apenas em torno a meados do séc. II
d.C., sensivelmente na mesma altura que a Dressel 28 deixa de ser produzida nesta região (García Var-
gas, 2003, p. 204), tendo perdurado até à primeira metade do séc. IV (García Vargas, 1998, p. 118; Bernal
Casasola, 2016b).

398
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

100km

Gauloise 4 bé ca (Bernal Casasola, 2016).


Figura 64 – Gauloise
Difusão4 no
bética (Bernal
território Casasola,
português: Lisboa. 2016).
Difusão no território português: Lisboa.

Foi produzida tanto na costa ocidental como na costa oriental bética, respectivamente na Baía
Gaditana e litoral granadino. Actualmente são conhecidos os centros produtores de Puente Melchor,
Puerto Real (García Vargas e Lavado Florido, 1995, p. 219) na Baía de Cádis, e Los Matagallares e Los
Barreros, Salobreña, e Loma de Ceres, Movízar, todos na costa de Granada (Bernal Casasola, 2001,
p. 288-289).
À semelhança do que acontece com muitos outros tipos, também para as “Gauloise 4” béticas
se verifica a inexistência de evidências directas quanto ao conteúdo que se destinariam a transportar. A
atribuição de um conteúdo vinário a estes contentores fundamenta-se essencialmente nas suas carac-
terísticas morfológicas e no facto de imitar uma ânfora vinária (Bernal Casasola, 2016b).
A real difusão destas ânforas no espaço do Império está ainda por esclarecer, muito devido ao
desconhecimento generalizado sobre estas produções, sendo actualmente apenas pontuais os casos
conhecidos fora da Península Ibérica (Bernal Casasola, 2016b). Estão presentes no naufrágio de Ouest-
-Embiez 1, Sul de França, datado de finais do séc. II/início do III d.C. (Bernard et al., 2007, p. 219), e possi-
velmente no naufrágio Cabrera III, Maiorca (Bost et al., 1992, p. 174; Bernal Casasola, 2016a).
No actual território português não se documentou, até hoje, a sua presença em qualquer centro
de consumo, incluindo Olisipo, embora tenha recentemente sido atestada na capital provincial, Augusta
Emerita (Almeida e Sanchez Hidalgo, 2013).
No conjunto aqui em estudo identificaram-se oito indivíduos de “Gauloise 4” de produção bética,
um de fabrico imputável à costa oriental e os restantes à costa ocidental daquela província. Foram
exumados nas intervenções do Banco de Portugal (um bordo), Palácio dos Condes de Penafiel (três
bordos, um fundo e duas asas), escavações antigas da Rua das Pedras Negras (dois fundos e duas
asas), Rua dos Bacalhoeiros (um bordo) e Praça da Figueira (duas asas). Malogradamente, os dados de
Lisboa não fornecem quaisquer dados quanto à cronologia de distribuição destas ânforas. Se dos três
primeiros sítios acima referidos não existem coordenadas estratigráficas, na Rua dos Bacalhoeiros o
bordo documentado foi recolhido num contexto pós-romano. Na Praça da figueira um dos exemplares
provém de um nível genericamente datado do séc. IV/V.
Embora se trate claramente de uma forma minoritária na amostra em apreço, a sua representa-
tividade não é de todo despicienda, sobretudo se considerarmos apenas as importações de vinho da
costa ocidental bética onde representa 46,67%. Há, contudo, que matizar este significado, uma vez que
o âmbito cronológico destas ânforas ultrapassa largamente o deste estudo e da generalidade dos tipos

399
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

tidos em conta nesta quantificação, estando muito provavelmente sobrerrepresentadas. As “Gauloise


4” béticas representam 0,25% no conjunto de ânforas alto-Imperiais, 0,74% das importações da Baetica
durante este período e 0,59% do total de importações extraprovinciais. Corresponde ainda a 0,77% do
total de ânforas vinárias e a 3,21% dos contentores vinários béticos.

6.2.2.11. Haltern 70

A Haltern 70 constitui-se como um dos contentores anfóricos romanos que mais discussão tem
estimulado no meio cientifico da especialidade, estando ainda longe de se encontrarem totalmente re-
solvidas algumas questões, nomeadamente as relacionadas com a sua evolução morfológica e conteú-
do transportado. Se, por um lado, alguns investigadores consideram tratar-se de uma ânfora inspirada
nas Dressel 1, com as quais partilha evidentes afinidades morfológicas e de conteúdo envasado (Fabião,
2001, p. 667; García Vargas, 1998, p. 98), outros especialistas consideram antes que a Haltern 70 poderá
ter tido como principal referência formal as ânforas ovóides tardo-republicanas do Sul Peninsular (Mo-
lina Vidal, 2001, p. 644; Berni Millet, 2011, p. 88; García Vargas et al., 2011, p. 243-244).
Ausente na tipologia de H. Dressel, ainda que possivelmente incluída na forma Dressel 10 do
CIL XV (Dressel, 1899) ou 7-8 similis de Castro Pretório (Dressel, 1879; Remesal Rodríguez e Carreras
Monfort, 2004, p. 19), foi pela primeira vez identificada por Loeschcke (1909) no acampamento ro-
mano de Haltern, Germânia Inferior, tendo-lhe sido atribuído o número 70 no catálogo de cerâmicas
dado à estampa. Só já em 1977, com a publicação dos dados do naufrágio Port-Vendres II (Colls et al.,
1977), viria a Haltern 70 a consolidar-se no meio científico enquanto tipo específico, embora entretanto
houvesse também sido individualizada por M. R. Hull e M. H. Callender em Inglaterra (Hull, 1932 apud
Remesal Rodríguez e Carreras Monfort, 2004, p. 19; Callender, 1965, p. 18), bem como por Ettlinger e
Simonet na Germania (Ettlinger e Simonet, 1952 apud Remesal Rodríguez e Carreras Monfort, 2004, p.
19). Para além destes trabalhos, e embora não tenha sido referenciada nos trabalhos de F. Zevi (1969) e
N. Lamboglia (1955), podem-se ainda referir os contributos de Beltrán Lloris (1970), que as inclui na sua
genérica Forma I, ou a aproximação tipológica realizada por A. Tchernia (1971, p. 40-42).
Estabelecido o tipo na década de 1970, as primeiras tentativas de sistematização tipológica sur-
gem na última década do século passado por S. Martin-Kilcher (1994), no estudo das ânforas prove-
nientes de Augst, e por J. Baudoux (1996), na síntese dos resultados do nordeste da Gália, propondo,
respectivamente, uma evolução faseada em 4 e 5 etapas distintas. O tema continua ainda em desenvol-
vimento, tendo entretanto sido efectuadas diversas revisões e actualizações do tema (Étienne e Mayet,
2000; Carreras Monfort, 2004; Puig, 2004; VV.AA., 2003; Almeida, 2008; Berni Millet, 2011; García Vargas
et al., 2011).
Genericamente, a Haltern 70 apresenta bordos em banda com considerável variação formal, um
ressalto na ligação ao colo que pode ser mais ou menos acentuado, sendo normalmente ligeiramente
inclinados ao exterior. O colo é cilíndrico, alto e estreito, com ombro pouco marcado estabelecendo
a ligação a um corpo relativamente amplo de tendência ovóide ou cilíndrica, terminando num fundo
maciço e de perfil troncocónico, preenchido por uma bola de argila, sendo a sua ligação à pança bastan-
te marcada por curvatura abrupta. As asas arrancam geralmente abaixo do ressalto do bordo e repou-
sam no ombro, muitas vezes com uma digitação no remate inferior, descendo paralelas ao colo e apre-
sentando secção oval, invariavelmente com uma depressão longitudinal no dorso (Molina Vidal, 1997,
p. 58-59; García Vargas, 1998, p. 96- 97; Puig, 2004, p. 26- 27; Almeida, 2008, p. 104; Filipe, 2008a, p. 42).
Nas mais recentes propostas de evolução tipológica - seguidas neste trabalho - são consideradas
quatro fases distintas, correspondendo a fase inicial ao momento entre meados do séc. I a.C. e início do
Principado de Augusto, seguida de uma segunda fase atribuível a Augusto, Tibério e Calígula, uma tercei-
ra aos reinados de Cláudio e Nero e uma última fase correspondente à dinastia Flávia (Berni Millet, 2011).
De forma sucinta, esta evolução caracteriza-se, na primeira fase, pela existência de uma grande variabi-
lidade e afinidade formal com os contentores ovóides hispânicos contemporâneos; pela uniformização
de um padrão tipológico bem definido, correspondendo ao período de maior apogeu do tipo, com
bordos curtos e bem destacados, colos igualmente curtos, asas arqueadas e corpo tendencialmente

400
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

100km

Haltern 70 (Colls et al., 1977).


Figura 65 – Haltern 70no(Colls
Difusão et al.,
território 1977).Castro Sra. da Assunção, Castro de S. Caetano, Necrópole do Cortês, Coto
português:
Difusão no território
da Pena,português:
Lobelhe, MarCastro Sra.Cividade
da Guardia, da Assunção,
de Âncora,Castro
Castro dodeVieito,
São Castro
Caetano, Necrópole
de Santa do Cortês, Coto da
Luzia, S. Estevão
Pena, Lobelhe, da Mar da Castro
Facha, Guardia, Cividade
da Terronha, de de
Castelo Âncora, Castro
Neiva, Castro de S.do Vieito,
Julião, CastroCastro de Santa
de S. Lourenço, Luzia,
Forte Santo Estevão da
de Espo-
Facha, Castro da sende, Rio de Moinhos
Terronha, Castelo(mar), Monte do
de Neiva, Castro,de
Castro Braga,
SãoCitânia
Julião,de Briteiros,
Castro de Monte
SãodaLourenço,
Saia, Castro das
ForteEi- de Esposende,
Rio de Moinhosras, CastroMonte
(mar), de Sto. Ovídio, Pico deBraga,
do Castro, Sto. Amaro, Castrode
Citânia de Penices,
Briteiros,Cividade
Monte de Terroso,
da Saia,Castro de Bagunte,
Castro das Eiras, Castro de
Vila do Conde (Mar), Caldas de Vizela, Sr. dos Perdidos, Castro de Alvarelhos, Padrão, Citânia de Sanfins,
Sto. Ovídio, Pico de Sto. Amaro, Castro de Penices, Cividade de Terroso, Castro de Bagunte, Vila do Conde (Mar),
Lousada, Castro de Guifões, Matosinhos (mar), Porto, Porto (Mar), Castro de Galegos, Oldrões, Monte
Caldas de Vizela, Sr. dosCastro
Mozinho, Perdidos, CastroTongobriga,
de Penegotas, de Alvarelhos,
Vale doPadrão, Citânia
Ave, Castelo de Monte
de Gaia, Sanfins, Lousada,
Murado, CastroCastro
de de Guifões,
Matosinhos (mar), Porto, Porto (Mar), Castro de Galegos, Oldrões, Monte Mozinho, Castro
Fiães, Castro de Romariz, Lomba do Canho, Coimbra, Conimbriga, villa do Rabaçal, Tomar, Berlenga, Ber- de Penegotas, Tongo-
briga, Vale do Ave,
lengaCastelo
(mar), Corde Gaia,
çais, Monte
Peniche, Murado,
Eburobri Castro
um, villa deSantarém,
Cardílio, Fiães, Castro
Coruche,de Romariz,
Salvaterra Lomba do Canho, Coim-
de Magos/Mu-
bra, Conimbriga, ge villa
(Tejo),doFreiria, Colaride,
Rabaçal, Alverca,Berlenga,
Tomar, Alverca (Tejo), Mouchão(mar),
Berlenga da Póvoa, villa e Castelo
Cortiçais, de Povos,
Peniche, Monte dos villa Cardílio,
Eburobritium,
Castelinhos,
Santarém, Coruche, Alto dos
Salvaterra deCacos, Lisboa, Cabo(Tejo),
Magos/Muge da Roca, Cascais Colaride,
Freiria, (mar), Oeiras (mar), Idanha-a-Velha,
Alverca, Alverca (Tejo), Tróia, Se-
Mouchão da Póvoa,
túbal, Abul, Alcácer do Sal, Ammaia, Castelo da Lousa, Sta. Vitória do Ameixial, Castelo Velho de Veiros,
villa e Castelo de Povos, Monte dos Castelinhos, Alto dos Cacos, Lisboa, Cabo da Roca, Cascais (mar), Oeiras
Penedo do Ferro (Monforte), Horta da Torre e Monte de S. Francisco (Fronteira), Soeiros, Castelo dos
(mar), Idanha-a-Velha, Tróia, Setúbal, Abul, Alcácer do Sal, Ammaia, Castelo da Lousa, Sta. Vitória do Ameixial,
Mouros, Monte da Nora, Foz dos Pardais (Alandroal), S. Miguel da Mota, Caladinho, Vidigueira (Serra
Castelo Velho de Veiros,
d'Ossa), Penedo
Aljustrel, MontedodaFerro (Monforte),
Cegonha, Horta
São Cucufate, da Torre
Mirobriga, Cabo e Sardão,
MonteCasa de São
BrancaFrancisco
(Ferreira do(Fronteira), Soei-
ros, Castelo dosAlentejo),
Mouros, Monte
Beja, Cadavaisda(Serpa),
Nora, Cidade
Foz dos Pardais
das Rosas, (Alandroal),
Manuel Galo, MesasSãodo Miguel daCastro
Castelinho, Mota, Caladinho,
Marim, En- Vidigueira
(Serra d’Ossa), terreiro
Aljustrel, Monte
(Castro Marim),daCacela,
Cegonha,
Balsa, São
PedrasCucufate, Mirobriga,
d'El Rei Tavira, Cabo
Tavira (Mar), Faro,Sardão, CasaMaria,
Cabo de Santa Branca (Ferreira do
Alentejo), Beja, Milreu,
CadavaisCerro(Serpa),
da Vila, Marmeleiros,
Cidade dasQuarteira,
Rosas, foz do rio Galo,
Manuel Arade, Ria de Alvor,
Mesas do Monte Molião, Castro
Castelinho, Meia PraiaMarim, Enterreiro
(Castro Marim), (Lagos),
Cacela, Lagos.
Balsa, Pedras d’El Rei Tavira, Tavira (Mar), Faro, Cabo de Santa Maria, Milreu, Cerro da Vila,
Marmeleiros, Quarteira, foz do rio Arade, Ria de Alvor, Monte Molião, Meia Praia (Lagos), Lagos.

ovóide, na segunda fase; por uma certa estilização dos contentores que se tornam mais altos, com
bordos de perfil mais afunilado, menos destacados do colo, mais altos, com a concavidade da parte
interna mais marcada, colos mais altos e estreitos, asas mais direitas e altas, fundos igualmente mais
destacados e robustos, na terceira fase; e, por fim, já durante a dinastia Flávia, acentua-se a estilização
geral da sua forma, perdendo quase na totalidade o ressalto que estabelece a ligação do bordo ao colo,
tornando-se ambos mais largos, os bordos acentuam ainda mais o perfil afunilado e tornam-se mais
curvos, a parte externa do lábio destaca-se formando por vezes uma ligeira canelura horizontal, dimi-
nuindo a altura do contentor (Berni Millet, 2011, p. 87-97).
A produção e difusão das ânforas de tipo Haltern 70 parece situar-se entre meados do século I
a.C., ou início do Principado de Augusto, e finais do século I d.C. ou primeiros anos do século II (Remesal
Rodríguez e Carreras Monfort, 2004, p. 21-22; Berni Millet, 2011, p. 87; García Vargas et al., 2011, p. 243-
244).
A Haltern 70 é fundamentalmente um contentor do Vale do Guadalquivir e do Genil, embora
fosse também produzido na região costeira da Bética (García Vargas, 1998; Carreras Monfort, 2004),
nos vales dos rios Tejo e Sado (Filipe, 2016), em Peniche (Cardoso et al., 2016) em Mérida, no interior da
província da Lusitânia (Bustamante Álvarez e Heras Mora, 2016), na região de Lyon e Vienne, no Vale do

401
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Ródano (Desbat e Dangreaux, 1992; Desbat e Dangreaux, 1997) e no Norte de África (Boube, 1973-1975;
Aranegui Gascó et al., 2004). Ainda assim, os centros oleiros do Guadalquivir e do Genil que produziram
esta forma mantêm-se mal conhecidos, sendo acima de tudo resultado de prospecções e recolhas su-
perficiais (Carreras Monfort, 2004, p. 80-81; Berni Millet, 2011, p. 98). A sua produção está atestada no
Baixo, Médio e Alto Guadalquivir e Genil, sendo conhecidos, entre outros, os centros oleiros de Puente
Melchor, Sevilha, Las Delicias, Pinguele, Alcalá del Río e Carmona46 (García Vargas, 2000; Carreras Mon-
fort, 2004; Chic García e García Vargas, 2004; García Vargas, 2004; Berni Millet, 2011; Carreras Monfort e
Berni Millet, 2016).
No que se refere à problemática do conteúdo que este tipo se destinaria a envasar e transpor-
tar47, já vários autores aludiram aos “contornos de polémica anglo-saxónica” que o tema conheceu
(Fabião, 1998a, p. 179-180; Fabião, 2001, p. 668; García Vargas, 2004, p. 507).
Ainda que se verifique uma certa escassez de vestígios de paleoconteúdos que comprovem um
conteúdo vínico, a existência de diversos tituli picti demonstra que a Haltern 70 transportava subprodu-
tos como o defructum (liquido doce obtido pela cozedura do mosto), o mulsum (vinho cozido mistura-
do com mel) e sapa (vinho cozido de uso comum na cozinha), para além de oliva ex defructo (azeitonas
negras em conserva) e oliva dulcis (azeitonas preservadas num produto doce derivado do vinho) (Fa-
bião, 1998a, p. 179; Morais, 2004b, p. 545-546). Para além deste aspecto, existe ainda uma conhecida
passagem de Estrabão (III. 2. 6), que refere a exportação em grandes quantidades dos vinhos da Turde-
tânia, muito provavelmente transportados nas Haltern 70, afinal a única ânfora vinária daquela região
exportada em grandes quantidades. Por estes motivos, parte-se do pressuposto que se trata de uma
ânfora preferencialmente destinada a transportar vinho, ainda que igualmente utilizada para transpor-
tar subprodutos vínicos e conservas, ou mesmo outros produtos (Fabião, 1998a, p. 180; Fabião, 2001, p.
668; Tchernia, 1986, p. 142).
A Haltern 70 está amplamente atestada em toda a metade ocidental do Império, na Hispania,
Britannia, Gália, Germania, Itália e Norte de África, registando-se particular incidência no noroeste da
Península Ibérica e no eixo Ródano-Reno, correspondendo ao contentor vinário da província da Bética
que maior sucesso alcançou (Fabião, 2001, p. 668; Morais, 2004b, p. 549; Morais e Carreras Monfort,
2004, p. 94, fig. 52). Ainda que em proporções bem mais modestas, alcançou também as regiões mais
orientais do Império como Magdalensberg, na província do Noricum (Bezeczky, 1998, p. 236), Ephesus,
na costa ocidental turca (Bezeczky, 2013, p. 137-138), Beirute, no actual Líbano, e vários locais em Israel
(Morais, 2004b, p. 549).
No espaço actualmente português encontra-se abundantemente documentada de Norte a Sul,
tanto no litoral como no interior do território, com especial ênfase no Noroeste, tendo recentemente
sido cartografada a geografia da sua distribuição bem como a sua quantificação (Morais e Carreras
Monfort, 2004). Nos últimos anos, o desenvolvimento da investigação e a publicação de diversos con-
juntos anfóricos tem vindo a acrescentar outros sítios a essa já extensa lista, pelo que se julgou perti-
nente uma actualização dessa informação.
No território actualmente português é conhecida a presença de Haltern 70 em Bracara Augusta
(Morais, 2005), Castro Sra. da Assunção, Castro de São Caetano, Necrópole do Cortês, Coto da Pena,
Lobelhe, Mar da Guardia, Cividade de Âncora, Castro do Vieito, Castro de Santa Luzia, Santo Estevão
da Facha, Castro da Terronha, Castelo de Neiva, Castro de São Julião, Castro de São Lourenço, Forte de
Esposende, Rio de Moinhos (mar), Monte do Castro, Braga, Citânia de Briteiros, Monte da Saia, Castro
das Eiras, Castro de Sto. Ovídio, Pico de Sto. Amaro, Castro de Penices, Cividade de Terroso, Castro de
Bagunte, Vila do Conde (Mar), Caldas de Vizela, Sr. dos Perdidos, Castro de Alvarelhos, Padrão, Citâ-
nia de Sanfins, Lousada, Castro de Guifões, Matosinhos (mar), Porto, Porto (Mar), Castro de Galegos,
Oldrões, Monte Mozinho, Castro de Penegotas, Tongobriga, Vale do Ave, Castelo de Gaia, Monte Mu-
rado, Castro de Fiães, Castro de Romariz, (Soeiro, 1984; Sá e Paiva, 1989; Paiva, 1993; Morais e Carreras
Monfort, 2004; Sousa et al., 2006; Silva, 2008; Castro, 2011; Cardoso, 2013), Lomba do Canho (Fabião,

46. Para uma geografia da produção das Haltern 70 actualizada veja-se Berni Millet, 2011, p. 97-105 e fig. 12.
47. Sobre este tema veja-se, entre outros: Colls et al., 1977; Tchernia, 1986; Fabião, 1998a e 2000; Étienne e Mayet, 2000; Van der Werff,
2002; García Vargas, 2004; Morais, 2004b; Morais, 2005; Carreras Monfort, 2004.

402
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

1989), Coimbra (Carvalho, 1998; Silva, 2015), Conimbriga (Alarcão, 1976; Buraca, 2005), villa do Rabaçal
(Buraca, 2011), Tomar (Banha e Arsénio, 1998; Ponte, 1999), Berlengas (Bugalhão e Lourenço, 2006),
recolhas subaquáticas junto às Berlengas e Farilhões (Diogo, 1999b; Diogo, 2005; Diogo et al., 2005;
Cardoso, 2013), Cortiçais (Cardoso, 2013), Peniche (Cardoso et al., 2011), villa Cardílio (Diogo e Montei-
ro, 1999), entre a Vala Nova de Salvaterra de Magos e a Vala de Muge, Alverca e Mouchão da Póvoa,
todos recolhidos no Tejo (Diogo, 1987b; Quaresma, 2005; Cardoso, 2013), Eburobritium (Moreira, 2002),
Freiria (Cardoso, 2015), Colaride (Coelho, 2002), Alverca (Pimenta e Mendes, 2007c), villa e Castelo de
Povos (Banha, 1991-92; Pimenta e Mendes, 2012), Monte dos Castelinhos (Pimenta et al., 2008; Pimenta
e Mendes, 2014; Pimenta, 2015), Alto dos Cacos (Pimenta et al., 2012), Cabo da Roca (Cardoso, 2013),
Oeiras e Cascais, recolha subaquática (Cardoso, 2013), Santarém (Diogo, 1984; Almeida, 2008), Coruche
(Quaresma e Calais, 2005), Idanha-a-Velha (Banha, 2006), Mérida (Almeida e Sánchez Hidalgo, 2013),
Tróia (Diogo e Trindade, 1998; Diogo e Paixão, 2001), Setúbal (Silva et al., 2014), Abul (Mayet e Silva,
2002), Alcácer do Sal (Silva et al., 1980-81; Pimenta et al., 2006, 2015), Ammaia (Venditti, 2014; Venditti,
2016), Castelo da Lousa (Morais, 2010a), Sta. Vitória do Ameixial, Estremoz (Gomes et al., 2000), Castelo
Velho de Veiros, Estremoz (Arnaud, 1970), Penedo do Ferro, na região de Monforte (Boaventura e Ba-
nha, 2006), Horta da Torre e Monte de São Francisco, no Concelho de Fronteira (Alves e Carneiro, 2011),
Soeiros, Arraiolos (Calado et al., 1999; Mataloto, 2010), Castelo dos Mouros, Évora (Mataloto, 2008),
Monte da Nora (Teichner, 2008), Foz dos Pardais, Alandroal (Gomes et al., 2013), São Miguel da Mota,
Alandroal (Guerra et al., 2003), Caladinho, na Serra d’Ossa (Mataloto, 2010; Mataloto et al., 2014), Vidi-
gueira, Serra d’Ossa (Mataloto, 2010; Mataloto et al., 2014), Aljustrel (Trindade e Diogo, 1995; Martins et
al., 2009), Monte da Cegonha, Vidigueira (Pinto e Lopes, 2006), São Cucufate (Mayet e Schmitt, 1997;
Pinto e Lopes, 2006), Mirobriga (Diogo, 1999a), Cabo Sardão (Diogo, 1999b), Casa Branca, Ferreira do
Alentejo (Fabião et al., 1997), Beja (Grilo e Martins, 2013), Cadavais e Cidade das Rosas, ambos no Con-
celho de Serpa (Filipe, 2013; Norton et al., 2006), Manuel Galo, Mértola (Maia, 1986; Alves, 2014), Mesas
do Castelinho (Parreira, 2009), Castro Marim (Viegas, 2011), Enterreiro, Castro Marim (Pereira e Arruda,
2015), Cacela, Vila Real de Santo António (Arruda et al., 1987), Balsa (Fabião, 1994a; Viegas, 2011), Pedras
d’El Rei, Tavira (Viegas e Dinis, 2010), ao largo de Tavira (Diogo e Cardoso, 2000), Faro (Viegas, 2011),
Cabo de Santa Maria (Cardoso, 2013), Milreu (Teichner, 2008), Cerro da Vila (Teichner, 2008), Marme-
leiros, Quarteira (Teichner, 2008), foz do rio Arade (Silva et al., 1987; Diogo et al., 2000; Fonseca, 2015),
ria de Alvor (Cardoso, 2013), Meia Praia, Lagos (Diogo, 1999b), Lagos (Almeida e Moros Diaz, 2014) e
Monte Molião (Estrela, 1999; Arruda et al., 2008; Bargão, 2008; Arruda e Viegas, 2016, p. 446).
Em Lisboa a Haltern 70 já estava documentada na FRESS (Silva, 2014), no NARQ (Sabrosa e Buga-
lhão, 2004), na Rua dos Remédios (Silva, 2015a), no Teatro Romano (Diogo, 2000; Filipe, 2008a; Filipe,
2015), na Rua dos Bacalhoeiros (Filipe, 2008b), na Praça da Figueira (Almeida e Filipe, 2013), na Casa dos
Bicos (Filipe et al., 2016), no Beco do Marquês de Angeja (Filipe e Calado, 2007), Rua de São Mamede
(Mota et al., 2017), nos armazéns Sommer (Gaspar e Gomes, 2007), na recente intervenção da Rua das
Pedras Negras (Gomes et al., 2017) e na Praça D. Luís (Parreira e Macedo, 2013). Para além destas, havia
também a notícia de alguns exemplares provenientes da Sé Catedral (8 NMI), Castelo de São Jorge
(1 NMI), Rua de São João da Praça (1 NMI) e Praça da Figueira (5 NMI), no já citado trabalho de R. Morais
e C. Carreras (2003). Todos estes últimos sítios foram analisados no âmbito deste trabalho, tendo-se
verificado que em todos eles o NMI era superior ao então publicado, como aliás seria expectável, uma
vez que os conjuntos não haviam sido detalhadamente observados.
Na amostra em apreço, o Número Mínimo de Indivíduos deste tipo é de 184, todos provenientes
do Vale do Guadalquivir, sendo de longe a ânfora vinária bética melhor representada. Estão presentes
no Banco de Portugal (quatro bordos, um fundo e três asas), Beco do Marquês de Angeja (uma asa),
Calçada do Correio Velho (cinco asas), Casa dos Bicos (um bordo, um fundo e uma asa), Circo Romano
(um bordo e uma asa), Encosta de Sant’Ana (seis bordos, três fundos e 13 asas), Escadinhas de São Cris-
pim (uma asa), Hotel de Santa Justa (uma asa), Largo de Santo António (três bordos, um fundo e cinco
asas), Palácio dos Condes de Penafiel (cinco bordos, um fundo e 21 asas), Palácio do Marquês de Angeja
(um bordo, dois fundos e duas asas), Pátio José Pedreira (uma asa), antigas (quatro bordos, um fundo
e cinco asas) e recentes (37 bordos, 13 fundos e 79 asas) intervenções da Praça da Figueira, Rua de São
Mamede (um bordo e dois fundos), Rua dos Bacalhoeiros (20 bordos um fundo e catorze asas), na Rua

403
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

dos Remédios (três bordos, um fundo e uma asa), no acompanhamento de 2001 (um bordo, um fundo
e uma asa) e na escavação de 2009 (um bordo, um fundo e uma asa) da Rua de São João da Praça, na
Sé Catedral (37 bordos, cinco fundos e 43 asas), no Teatro Romano (14 bordos, quatro fundos e 15 asas),
antigas (um bordo, quatro fundos e seis asas) e recentes (dois fundos e uma asa) escavações da Rua
das Pedras Negras, Travessa das Merceeiras (um bordo, um fundo e três asas) e Zara, Rua Augusta (18
bordos, cinco fundos e 12 asas).
Vários destes exemplares provêm de contextos situáveis no âmbito cronológico da produção
e distribuição deste tipo. No Palácio do Marquês de Angeja identificaram-se um bordo, uma asa e um
fundo em contextos do terceiro quartel do séc. I d.C.; na Rua de São Mamede, um bordo da variante
Cláudio-Nero em nível da mesma cronologia (nº 7320) e dois fundos em estratos datados entre Flávios
e o primeiro terço do séc. II d.C.; na Rua dos Bacalhoeiros, diversos bordos, fundos e asas em depósitos
de meados do séc. I d.C.; na Rua dos Remédios, numa fossa datada do Principado de Cláudio; na Rua de
São João da Praça, um fundo num contexto balizado entre a dinastia Júlio-Cláudia e o final séc. I d.C.;
na Sé Catedral foram exumados vários fragmentos em contextos datados do Principado de Augusto,
de Augusto a Tibério, do segundo quartel do séc. I d.C. e da segunda metade desse século; no Teatro
Romano quatro bordos, dois fundos e cinco asas provêm da fase 2, atribuível a Nero, e quatro bordos,
dois fundos e uma asa da fase 1 de finais Augusto/início de Tibério; na Zara, Rua Augusta, foram iden-
tificados diversos fragmentos de Haltern 70 em contextos da segunda metade do séc. I d.C. e entre a
dinastia Flávia e meados do séc. II d.C.; por fim, na Praça da Figueira foram reconhecidos 47 fragmentos
de Haltern 70 em vários contextos bem definidos do séc. I d.C., balizados entre o reinado de Tibério e a
dinastia Flávia mas com mais expressão em Tibério e Cláudio/Nero, documentados sobretudo em fos-
sas de descarte e em níveis relacionados com a construção da via. A Sé Catedral foi o único local onde
se poderão ter registado em contextos anteriores ao virar da Era, possivelmente enquadráveis nos
momentos iniciais de produção das Haltern 70.
As Haltern 70 representam 5,91% no conjunto de ânforas alto-Imperiais, 17,66% das importações
da Baetica durante este período e 14,04% do total das importações extraprovinciais. Corresponde ainda
a 18,23% do total de ânforas vinárias, 41,13% das importações extraprovinciais de vinho e a 76,31% dos
contentores vinários béticos. Estes valores demonstram bem a importância e o volume do vinho bético
nas importações vinárias do Alto-Império, que serão necessariamente mais expressivos se tomarmos
em consideração que a Haltern 70 é uma ânfora de finais do séc. I a.C. e de todo o séc. I d.C. e estes
valores se reportam ao período de entre final do séc. I a.C. e final do séc. II/início do século seguinte.
Esta importância das importações vinárias béticas viria a diminuir acentuadamente a partir de meados
do séc. I d.C. e de forma ainda mais visível a partir do início do séc. II. Embora a elevada percentagem de
contentores deste tipo aos quais não foi possível atribuir fase de produção concreta iniba uma leitura
diacrónica rigorosa dos dados relativamente à curva de consumo, a reduzida expressão de Haltern 70
de Época Flávia parece confirmar o que atrás se disse, do mesmo modo que sugere um apogeu entre
Augusto e Nero.

6.2.2.12. Verulamium 1908

Apesar de exibir evidentes afinidades formais com a Haltern 70, motivo pelo qual foi durante
algum tempo considerada como uma evolução tardia daquela (Martin-Kilcher, 1994, p. 385-390), a
Verulamium 1908, assim denominada no trabalho de M. G. Wilson (1984, p. 202), viria a ser individuali-
zada como tipo com a publicação de dados demonstrativos do seu fabrico e comercialização a partir de
Época Júlia-Cláudia (Carreras Monfort e Marimon Ribas, 2004; Sealey, 2003).
Apresentando características mais estilizadas do que a Haltern 70 no que se refere ao bordo, colo
e corpo, em termos gerais a Verulamium 1908 poder-se-á definir como uma ânfora com bordo amplo,
alto e inclinado, de perfil atrompetado e sem ressalto na ligação ao colo, apresentando-se este último
alto e largo. Os ombros são pouco marcados e descaídos e o corpo normalmente cilíndrico e rematado
por um fundo maciço. As asas, de secção oval e com depressão longitudinal no dorso, arrancam do
colo, abaixo do bordo, e repousam no ombro (Martin-Kilcher, 1994, p. 385-390; Carreras Monfort e
Marimon Ribas, 2004, p. 32; Sealey, 2003, p. 92; Filipe, 2008a, p. 50).

404
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

100km

Verulamium 1908 (www.archaeologydataservice.ac.uk).


Figura 66 – Verulamium
Difusão no1908
território português: Cividade de Âncora, Cividade de Terroso, Monte Murado, Santarém,
(www.archaeologydataservice.ac.uk).
Lisboa, S. Miguel da Mota, Mesas do Castelinho, Castro Marim, Balsa, Faro.
Difusão no território português: Cividade de Âncora, Cividade de Terroso, Monte Murado, Santarém, Lisboa,
São Miguel da Mota, Mesas do Castelinho, Castro Marim, Balsa, Faro.

Um outro aspecto que contribuiu para a sua incorrecta classificação como Haltern 70 relaciona-
-se com o tipo de pasta, já que a Verulamium 1908 foi igualmente produzida na região do Médio e Alto
Guadalquivir, não sendo conhecido o seu fabrico em qualquer outra região. O único centro conhecido
que poderá ter produzido esta forma é o de Cortijillo de Peñaflor, aguardando-se ainda a respectiva
publicação (Carreras Monfort e Marimon Ribas, 2004, p. 33; Carreras Monfort, 2016b).
Relativamente ao produto que se destinaria a envasar e transportar, à semelhança da Haltern 70
tudo indica tratar-se de subprodutos vínicos, como o defructum (mosto cozido), ou azeitonas conser-
vadas neste preparado, o que está de acordo com um titulus pictus documentado numa ânfora de tipo
Verulamium 1908 em Augst, que refere oliva (Martin-Kilcher, 1994, 455), bem como com os vestígios de
caroços de azeitona detectados no interior de um destes contentores, proveniente do possível naufrá-
gio de Cabo Cervera, Santa Pola (Lajara Martínez, 2013; Carreras Monfort, 2016b).
O início da sua produção situar-se-á no segundo quartel do séc. I d.C., tendo sido reconhecida em
León num contexto de c. 30 d.C. (Carreras Monfort e Marimon Ribas, 2004, p. 33), em Usk, em níveis da-
tados de 55-67 d.C. (Greene, 1993, p. 74), no Teatro Romano de Lisboa em contextos de meados do séc.
I d.C. (Filipe, 2015) e, possivelmente, na Cividade de Âncora, Monte Murado e Cividade de Terroso em
contextos anteriores a meados do séc. I d.C. (Paiva, 1993; Filipe, 2008a). Todavia, a sua difusão parece
ter-se acentuado sobretudo durante a dinastia Flávia, surgindo nessas cronologias em variados locais,
como Santarém (Almeida, 2008, p. 109-111), Londres (Sealey, 2003, p. 94), Roma (Rizzo, 2003, p. 191,
Tav. XXXVI, nº 188), Óstia (Rizzo, 2014, p. 207 e Tav. 23, nº 183) e Gália (Laubenheimer e Marlière, 2010,
p. 52), sendo sobretudo típica do séc. II d.C. e estando atestada nesse âmbito cronológico em locais
como Augst (Martin-Kilcher, 1994, p. 385-390), Mainz (Ehmig, 2007), Xanten, Walheim (Carreras Mon-
fort e Marimon Ribas, 2004, p. 34), Marselha (Bonifay et al., 1998, p. 94-95), Vechten (Monsieur e Brae-
ckman, 1995, p. 296-297), Amiens (Laubenheimer e Marlière, 2010, p. 52), Verulamium, Frenchurch St. e
Billingsgate Building (Sealey, 2003, p. 94; Carreras Monfort e Marimon Ribas, 2004, p. 33).
A difusão da Verulamium 1908 é, apesar de tudo, relativamente ampla, surgindo habitualmente
em pequenas quantidades. Para além dos sítios já mencionados, surge ainda em Lugo (Carreras Mon-
fort e Morais, 2011, p. 47), Cerro del Mar, Málaga (Mateo Corredor, 2014, p. 173), Málaga (Mateo Corre-
dor, 2014, p. 197), Estrasburgo (Carreras Monfort, 2016), Norte de África (Carreras Monfort e Morais,
2011, p. 47) e na província da Raetia (Carreras Monfort e Marimon Ribas, 2004, p. 35). De contextos

405
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

subaquáticos são conhecidos os exemplares depositados no Museu Arqueológico Provincial de Alican-


te (Ferrer Carrión e Chumilla Juan, 2013) e no Museu do Mar e da Pesca de Santa Pola, provenientes do
possível naufrágio de Cabo Cervera, Santa Pola (Carreras Monfort e Albert Martin, 2013; Lajara Martí-
nez, 2013). No território hoje português, para lá dos já referidos exemplares do Noroeste, Santarém e
Teatro Romano de Lisboa, foi ainda registada em São Miguel da Mota, Alandroal (Guerra et al., 2003, p.
432), Mesas do Castelinho (Parreira, 2009, p. 73) e, muito possivelmente, em Faro (Viegas, 2011, p. 219,
Est. 32, nºs 468-471), Balsa (Viegas, 2011, p. 362, Est. 65, nº 803) e Castro Marim (Viegas, 2011, p. 501, Est.
108, nº 1369).
No actual conjunto foram quantificados apenas quatro bordos deste tipo, provenientes do Ban-
co de Portugal (um bordo), Encosta de Sant’Ana (um bordo), Sé Catedral (um bordo) e Teatro Romano
(um bordo). Destes materiais, apenas a peça do teatro foi recolhida em contexto, neste caso da Fase 2,
atribuível a meados do séc. I d.C. (Filipe, 2015).
No conjunto das ânforas de Época Alto-Imperial a Verulamium 1908 representa 0,12% do NMI,
0,46% da região do Vale do Guadalquivir, 0,37% dos contentores béticos e 0,3% do total de ânforas de
proveniência extraprovincial. Já em relação à sua representatividade no consumo de vinho, adquire
0,38% do total de ânforas vinárias. Nos vinhos importados da província da Bética representa 1,61% e
1,72% nos vinhos procedentes do Vale do Guadalquivir. A sua representatividade no conjunto anfórico
de Lisboa é, pois, bastante diminuta, à semelhança do que acontece na maior parte dos sítios onde é
conhecida, mas particularmente idêntica aos valores verificados em Santarém, onde, no conjunto de
ânforas procedentes do Vale do Guadalquivir, representa 1,50% (Almeida, 2008, p. 284, Tab. 61).

6.2.2.13. Oberaden 83/Ovóide 7

A Oberaden 83 foi individualizada pela primeira vez em 1942 por S. Loeschcke no contexto do
estudo da cerâmica do acampamento militar de Oberaden, onde recebeu o número 83 da tabela daque-
le autor. Posteriormente foi enquadrada na Classe 24 de D. Peacock e D. Williams (1986), incluída por
S. Martin-Kilcher (1987, p. 53-54) no grupo A das ânforas oleárias de Augst e por P. Berni Millet no seu
Tipo A dos contentores oleícolas augustanos (Berni Millet, 1998, p. 27-28). Trabalhos mais recentes vêm
isolando esta forma da que a antecede, Ovóide 6 (Almeida, 2008, p. 150), e da que a sucede, Haltern 71
(García Vargas et al., 2011, p. 237-238; González Cesteros et al., 2016c), designando-a de Oberaden 83 ou
Ovóide 7 e estabelecendo as linhas gerais relativamente aos aspectos morfológicos que a caracterizam
e diferenciam dos referidos tipos, bem como delimitando a cronologia do início e final do seu fabrico.
Porém, haverá que ter sempre bem presente que, apesar de bem caracterizada, esta forma nem
sempre é de fácil distinção quando se trata de pequenos fragmentos, como é o caso de grande parte
dos materiais desta amostra. As semelhanças com as Ovóide 6 e com as Haltern 71 dificultam o correcto
enquadramento tipológico de algumas peças, podendo-se aplicar também aqui as limitações que se
referiram relativamente à proposta de classificação das Ovóide 4 e às mais antigas Haltern 70 (García
Vargas et al., 2011). Como tal, a classificação de algumas destas peças revestir-se-á sempre de alguma
falibilidade.
Trata-se de um contentor ainda pouco estandardizado, com alguma diversidade formal, que em
termos gerais se poderá descrever como de corpo tendencialmente ovóide, terminando num fundo có-
nico, relativamente curto e maciço, normalmente com uma bola de argila preenchendo o seu interior. O
bordo é engrossado externamente, de secção arredondada ou amendoada, podendo ser ligeiramente
inclinado para o exterior. O colo é curto e tendencialmente cilíndrico de onde, imediatamente abaixo
do bordo, arrancam as asas de secção circular ou oval, sem presença de sulco longitudinal, com perfil
que pode ser mais ou menos arredondado, repousando num ombro discreto, inclinado e arredondado
(Berni Millet, 1998, p. 27; Almeida, 2008, p. 150; Filipe, 2008a, p. 55; García Vargas et al., 2011, p. 237-238;
García Vargas, 2012, p. 188).
O início da sua produção parece estar relativamente bem definido, coincidindo com a instalação
dos primeiros acampamentos militares na fronteira do Reno em torno a 20 a.C.. A abundante presença
deste tipo anfórico nos acampamentos daquela região do Império, alguns deles com cronologias de

406
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

100km

Oberaden 83/Ovóide 7 (González Cesteros et al., 2016).


Difusão no território português: Braga, Citânia de Sanfins, Coimbra, Conimbriga, Tomar, Santarém, Lisboa,
Figura 67 – Oberaden 83/Ovóide 7 (González Cesteros et al., 2016).
Almaraz, Castelo da Lousa, Castelo Velho de Veiros, Castelo dos Mouros, Setúbal, Alcácer do Sal, Morro da
Difusão no território
Manganchaportuguês: Braga,
(Aljustrel), ilha CitâniaMesas
do Pessegueiro, de Sanfins, Coimbra,
do Castelinho, Conimbriga,
Monte Molião, Tomar,
Quinta do Marim, Santarém, Lisboa,
Castro
Castelo da Lousa, Castelo Velho de Veiros, Castelo dos Mouros, Setúbal, Alcácer do Sal, Morro da Mangancha
Marim.
(Aljustrel), Ilha do Pessegueiro, Mesas do Castelinho, Monte Molião, Quinta do Marim, Castro Marim.

ocupação muito curtas e bem definidas, permitiu balizar bastante bem também o final da sua circulação
nos mercados, que deverá ter ocorrido na mudança da Era (García Vargas et al., 2011, p. 238; González
Cesteros e Tremmel, 2011-2012, p. 535; González Cesteros et al., 2016c; González Cesteros e Almeida,
2017, p. 49-51). Também os dados relativos aos centros oleiros onde se produziu a Oberaden 83 pare-
cem confirmar esta cronologia para o final do seu fabrico, como é o caso de Calle Mesones, Alcalá del
Río (Ilipa Magna), de cronologia tiberiana, onde não se regista a produção deste tipo mas sim da sua
sucessora Haltern 71 (García Vargas, 2010, p. 586; González Cesteros et al., 2016c).
Embora não subsista qualquer dúvida quanto à sua origem no Vale de Guadalquivir, estão ainda
por localizar os centros oleiros que as fabricaram. Do mesmo modo, é inquestionável um conteúdo
oleícola para estas ânforas, podendo ocasionalmente também ter transportado azeitonas em conserva
ou de mesa (Almeida, 2008, p. 198).
A sua presença está bem atestada sobretudo nos acampamentos militares do limes germânico,
para onde parece ter sido preferencialmente exportada e onde surgem em associação com outros con-
tentores produzidos no Guadalquivir pela mesma altura, como as Haltern 70, ocorrendo igualmente
em diversos locais da Gália ao longo do eixo fluvial delimitado pelos rios Ródano e Reno, bem como
na Península Itálica, na Britannia, na Hispânia e em diversos naufrágios datados dessa época (Hesnard,
1980, Pl. VI, fig. 2; Peacock e Williams, 1986, p. 134; Martin-Kilcher, 1987, p. 54; Liou e Domergue, 1990;
Berni Millet, 1998, p. 26-27; Desbat e Lemaître, 2001, p. 806; Almeida, 2008, p. 150; García Vargas et al.,
2011, p. 237-238; González Cesteros e Almeida, 2017, p. 49-51).
No actual território português, estas ânforas estão atestadas em Braga (Morais, 2001, p. 695;
Morais, 2005, p. 107), possivelmente na Citânia de Sanfins (Sá e Paiva, 1989, p. 468, nº 51; Paiva, 1993,
Est. LXXV, nº 5), em Coimbra (Carvalho, 1998, p. 161), Conimbriga (Buraca, 2005, p. 35-36), Tomar (Pon-
te, 1999, p. 348-349), Santarém (Almeida, 2008, p. 150), possivelmente na Quinta do Almaraz, Almada
(Barros e Henriques, 2002, p. 104, nº 13), no Castelo da Lousa (Morais, 2010a, p. 189), Castelo Velho de
Veiros (Mataloto e Roque, 2012, p. 675), Castelo dos Mouros (Mataloto, 2008, p. 130), Setúbal (Silva
et al., 2014, p. 187; Gabriel e Silva, 2016, p. 112), Alcácer do Sal (Silva et al., 1980-1981, p. 200; Pimenta
et al., 2015b, p. 157), Morro da Mangancha, Aljustrel (Martins et al., 2009, p. 953), Ilha do Pessegueiro

407
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

(Silva e Soares, 1993, p. 101), Mesas do Castelinho (Parreira, 2009, p. 71-72), Monte Molião (Viegas e
Arruda, 2013, p. 728), na Quinta do Marim (Silva et al., 1992, p. 350) e em Castro Marim (Viegas, 2011, p.
491). Refira-se ainda a sua presença na Galiza, em Lugo (Carreras Monfort e Morais, 2011, p. 44) e Vigo
(Fernández Fernández, 2011, p. 624), e na capital provincial da Lusitânia, Augusta Emerita (Almeida e
Sanchez Hidalgo, 2013, p. 50).
Em Lisboa estava já bem atestada no Teatro Romano48 (Filipe, 2008a, p. 54-56; Filipe, 2015,
p. 140-145), na Rua dos Bacalhoeiros (Filipe, 2008b, p. 314), na Rua dos Remédios (Silva, 2015a, p. 61),
na Casa dos Bicos (Filipe et al., 2016, p. 440), na recente intervenção da Rua das Pedras Negras (Gomes
et al., 2017) e nas escavações da década de 60 e 70 do séc. XX da Praça da Figueira (Almeida e Filipe,
2013, p. 740).
Na amostra inédita, a Oberaden 83/Ovóide 7 surge muito bem representada no contexto das im-
portações anfóricas do último quartel do séc. I a.C., tendo sido identificados 26 indivíduos provenientes
de diversas intervenções: Casa dos Bicos (um bordo), Circo Romano (um bordo), Encosta de Sant’Ana
(um bordo), Escadinhas de São Crispim (um bordo), Palácio dos Condes de Penafiel (dois bordos), an-
tigas (uma asa) e modernas (três bordos e dois fundos) escavações da Praça da Figueira, nº 197 da Rua
do Ouro (um bordo), Rua dos Bacalhoeiros (três bordos e uma asa), Sé Catedral (cinco bordos), Teatro
Romano (um bordo), recente intervenção da Rua das Pedras Negras (um bordo) e Rua Augusta, Zara
(cinco bordos, um fundo e três asas). Para além destes, refira-se um outro pequeno fragmento de bor-
do (da Encosta de Sant’Ana) de difícil distinção entre a Oberaden 83/Ovóide 7 e Haltern 71 e, por esse
motivo, enquadrado em ambas formas.
Representa 0,81% do conjunto anfórico atribuível ao Alto-Império, 2,99% dos contentores origi-
nários do Vale do Guadalquivir e 2,42% das ânforas béticas, enquanto no contexto das importações
extraprovinciais a sua representatividade é de 1,92%. No âmbito do comércio de azeite e sua importação
na cidade de Olisipo durante o Principado, a Oberaden 83/Ovóide 7 representa 4,06% do total daquele
produto e 4,26% do azeite proveniente do Vale do Guadalquivir. Tendo em conta o reduzido período em
que foi produzida, esta forma pode-se considerar como uma das ânforas mais importantes no quadro
das importações de produtos alimentares durante o último quartel do séc. I a.C., sublinhando a impor-
tância crucial que o azeite detinha nesse comércio e na dieta da população da cidade.
Os contextos estratigráficos de onde procedem estes materiais parecem ser todos posteriores
à época da sua produção e distribuição. Os mais antigos datam da primeira metade do séc. I d.C., nos
Claustros da Sé, e do Principado de Tibério, na Praça da Figueira (Silva et al., 2016, p. 157).

6.2.2.14. Haltern 71

À semelhança do tipo anterior, a Haltern 71 foi pela primeira vez identificada por S. Loeschcke,
neste caso na publicação sobre os materiais do acampamento romano de Haltern, onde recebeu o nú-
mero 71 da sua tabela (Loeschcke, 1909). Tal como no caso da Oberaden 83, foi enquadrada por D. Pea-
cock e D. Williams (1986) na sua Classe 24 e por S. Martin-Kilcher (1987, p. 53-54) no grupo A das ânforas
oleárias de Augst, tendo sido individualizada por P. Berni Millet (Berni Millet, 1998, p. 30-33) no seu Tipo
B dos contentores oleícolas augustanos. Mais recentemente a designação original de Haltern 71 tem
recebido maior aceitação por parte dos investigadores que se vêm dedicando ao seu estudo, isolando-
-a da Oberaden 83 (García Vargas et al., 2011, p. 238-242; González Cesteros et al., 2016d). Trata-se de
uma forma que evolui a partir desta última, denotando-se um grau de estandardização mais elevado,
embora ainda partilhando com aquela algumas das principais características morfológicas que, como já
referido, dificulta a distinção entre um e outro tipo quando em presença de pequenos fragmentos de
bordo ou de fundo. A Haltern 71 aproxima-se já da sua sucessora Dressel 20 em aspectos como o perfil
e secção das asas (García Vargas et al., 2011, p. 240).

48. No âmbito da já mencionada revisão do conjunto anfórico do Teatro Romano, as ânforas seguramente classificadas como Oberaden
83/Ovóide 7 correspondem apenas a 5 NMI (nºs 2376, 2591, 2390, 2457 e 772), tendo outros seis indivíduos sido reclassificados como
Oberaden 83/Ovóide 7-Haltern 71 (nºs 604, 774, 2526, 2563, 2574 e 2596).

408
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

100km

Haltern 71 (González Cesteros et al., 2016).


Figura 68 – Haltern
Difusão
71no território português:
(González CesterosSantarém, Lisboa, Monte Molião.
et al., 2016).
Difusão no território português: Santarém, Lisboa, Monte Molião.

Morfologicamente caracteriza-se por um corpo já de tendência globular, que se pode apresentar


ovóide ou cilíndrico, terminando num fundo similar ao da Oberaden 83, ou seja, relativamente curto e
maciço, cónico e geralmente com uma bola de argila no interior. O bordo é arredondado e por vezes
mais grosso, mais curto e mais inclinado ao exterior do que o tipo anterior, podendo também ser de
tendência rectangular e com a parte superior do lábio mais ou menos plana, destacando-se bem do
colo. Este é também habitualmente mais curto e mais curvo do que naquele outro tipo, estabelecendo
uma ligação suave para um ombro discreto, inclinado e arredondado. As asas, talvez o elemento mais
diferenciador entre os dois tipos, são geralmente mais pequenas e circulares, desenhando um perfil
mais arredondado que, consequentemente, as afasta mais do colo; exibindo secção circular que, por
vezes, apresenta a parte superior apontada, já na linha das suas sucessoras Dressel 20. Arrancam ime-
diatamente abaixo do bordo, normalmente em contacto com a parte inferior daquele, elevando-se aci-
ma desse ponto e descansando no ombro (Martin-Kilcher, 1987, p. 54; Berni Millet, 1998, p. 30; Almeida,
2008, p. 150; García Vargas et al., 2011, p. 238-242; González Cesteros et al., 2016d).
A cronologia da sua produção estende-se desde a viragem da Era até ao final do Principado de
Tibério, isto é, pela década de 30 do séc. I d.C., dados em grande parte aduzidos dos acampamentos
militares romanos do limes germânico onde estas ânforas estão especialmente bem documentadas,
sobretudo para o início da sua comercialização (Berni Millet, 1998, p. 30; González Cesteros et al.,
2016d). Apesar de ser uma forma muito bem documentada nos centros de consumo, a informação
acerca das olarias que a produziram continua a ser assaz escassa, não existindo, porém, qualquer dú-
vida quanto a uma origem centrada no Vale do Guadalquivir. Para já, parece resumir-se ao já aludido
centro produtor de cronologia tiberiana de Calle Mesones, Alcalá del Río (Ilipa Magna), onde poderá
ter sido fabricada, e a recolhas de superfície em contexto de prospecção em La Catria, Sevilha (García
Vargas, 2010, p. 586; González Cesteros et al., 2016d). O facto de se constituir como a evolução entre
a Oberaden 83 e a Dressel 20 torna evidente que seria utilizada para o transporte de azeite (González
Cesteros et al., 2016d).
No que se refere à difusão, a Haltern 71 parece ter tido como um dos principais destinos os
mercados do limes germânico onde, como acima se referiu, surgem muito bem atestadas em vários
acampamentos militares (Martin-Kilcher, 1987, p. 54; Almeida, 2008, p. 150; García Vargas et al., 2011,
p. 242; González Cesteros et al., 2016d; González Cesteros e Almeida, 2017, p. 55). Um outro mercado
privilegiado na distribuição destes contentores poderá ter sido a capital do Império, Roma, bem como

409
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

outros centros urbanos da região central da Península Itálica (García Vargas et al., 2011, p. 242; González
Cesteros et al., 2016d; González Cesteros e Almeida, 2017, p. 55), estando documentados no depósito
de la Longarina, Óstia (Hesnard, 1980, Pl. VI, fig. 1). Na Península Ibérica parecem concentrar-se sobretu-
do na província bética e na costa oriental peninsular (González Cesteros et al., 2016d), encontrando-se
igualmente atestadas na fachada ocidental.
Nesta última região, onde a difusão da Haltern 71 parece ser estranhamente pobre, seria necessá-
rio proceder a uma revisão dos dados de vários dos sítios publicados por forma a obter uma leitura mais
credível da sua distribuição, uma vez que, muito provavelmente, existirão exemplares desta forma ti-
pologicamente enquadrados quer na Oberaden 83 quer na Dressel 20. Estão identificadas em Santarém
(Almeida, 2008, p. 150), em Lisboa, no Teatro Romano49 (Filipe, 2008a, p. 54-56; Filipe, 2015, p. 140-145)
e na Rua dos Remédios50 (Silva, 2015a, p. 61), e provavelmente no Monte Molião (Viegas e Arruda, 2013,
p. 732, fig. 2).
Na amostra inédita de Olisipo registaram-se 11 indivíduos atribuíveis a esta tipo e um outro in-
distintamente classificado como Haltern 71 ou Oberaden 83/Ovóide 7, este proveniente da Encosta de
Sant’Ana. Foram exumados no Largo de Santo António (dois bordos), na Sé Catedral (quatro bordos),
no Teatro Romano (dois bordos e um possível fundo) e na Rua dos Remédios (uma peça de perfil com-
pleto e um fundo). Destes, o exemplar que mais se destaca é naturalmente o de perfil completo, uma
vez que permitiu a sua quase completa reconstituição do perfil, faltando apenas um pequeno segmen-
to na ligação do colo ao ombro51. Com uma altura total de 73 cm, apresenta um bordo com 3,1 cm de
altura e 13 cm de diâmetro, colo com 7 cm de altura, fundo com 5,5 cm de altura, 45 cm de diâmetro
máximo. Em geral, estas dimensões enquadram-se bem naquilo que são as medidas padrão deste tipo
(Berni Millet, 1998, p. 30; García Vargas et al., 2011, p. 240), embora o diâmetro do bordo da peça da Rua
dos Remédios seja algo mais reduzido. Note-se ainda como a secção das asas se aproxima já bastante
das Dressel 20, com a parte superior nitidamente apontada, o que poderá indicar uma cronologia tar-
dia dentro do período de produção das Haltern 71. São bons paralelos os exemplares de Colonia, Lyon
ou do Sud-Lavezzi 2 (García Vargas et al., 2011, p. 242, fig. 26). O contexto onde foi exumada data do
reinado de Cláudio, surgindo associada a ânforas de tipo Haltern 70 de fabrico bético e lusitano, Lusi-
tanas Antigas e Dressel 2-4 itálicas. Também as duas peças do Teatro Romano provêm de um contexto
cronologicamente situável em torno a meados do séc. I d.C., relacionado com as obras de remodelação
do edifício cénico. Na Sé, o bordo nº 16171 provém de um nível datado do segundo quartel do séc. I d.C..
Os restantes exemplares desta forma apresentam-se em geral muito fragmentados e exibindo
uma certa diversidade ao nível do perfil do bordo. Desde bordos similares aos da Oberaden 83/Ovóide
7, a lábios com o topo ligeiramente aplanado, a peças com um ressalto interno mais ou menos pronun-
ciado, ou seja, estão presentes as três variantes de lábio maioritárias neste tipo elencadas no trabalho
de E. García Vargas, H. González Cesteros e R. Almeida (García Vargas et al., 2011, p. 240).
A Haltern 71 surge em menores quantidades do que a sua antecessora, representando apenas
0,34% do conjunto global das ânforas imperiais e 0,81% das importações extraprovinciais, valor que sobe
para 1,26% no contexto dos contentores provenientes do Vale do Guadalquivir durante essa época,
descendo para 1,02% se se levar em linha de conta todas as importações com origem na província da
Baetica. No quadro das ânforas oleícolas, representa 1,72% do total e 1,8% do azeite procedente do Vale
do Guadalquivir.

49. Então classificadas como Oberaden 83, a revisão dessa classificação resultou na identificação de oito fragmentos de bordo atribuíveis
à Haltern 71 (nºs 610, 612, 2409, 2459, 2468, 2508, 2518 e 2659), para além de seis outros exemplares que não foi possível distinguir entre
um e outro tipo (nºs 604, 774, 2526, 2563, 2574 e 2596).
50. Embora classificadas como Oberaden 83 e Dressel 20, os exemplares ilustrados (Silva, 2015a, p. 62, Est. 10) poderão na verdade
corresponder a ânforas de tipo Haltern 71, particularmente a peça nº 1001.
51. Embora de perfil quase totalmente reconstituível, a peça não se encontra completa. O facto de se encontrar em ambiente húmido
aquando da sua descoberta resultou em algumas alterações da pasta, o que não permitiu a reconstituição total dos fragmentos
preservados, ainda que tenha permitido o seu registo gráfico.

410
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

6.2.2.15. Dressel 20

A Dressel 20 deverá muito provavelmente corresponder a um dos contentores anfóricos de Épo-


ca Romana sobre o qual a investigação mais se tem debruçado, existindo actualmente um conhecimen-
to bastante detalhado acerca da sua evolução morfológica e principais características das distintas eta-
pas da sua longa diacronia52. Entre os principais aspectos que terão estimulado o seu estudo podem-se
referir, por um lado, a sua produção e difusão em grande escala, de que o Monte Testaccio é eloquente
testemunho, por outro, e talvez principalmente, a grande quantidade e variedade de informação epi-
gráfica associada à sua produção e comercialização. Trata-se de uma forma que se desenvolveu a partir
dos modelos oleários béticos de morfologia ovóide, as Oberaden 83 e as Haltern 71, evoluindo para uma
ânfora de corpo globular e de paredes grossas (Berni Millet, 2008, p. 57; García Vargas et al., 2011, p.
240; Berni Millet e García Vargas, 2016).
Na classificação desta forma seguiu-se, sempre que possível, a proposta de P. Berni Millet53
(2008), que subdividiu as Dressel 20 em cinco etapas cronológicas distintas com base nas característi-
cas morfológicas dos bordos e asas. A etapa mais antiga, Júlio-Cláudia (c. 30-50 d.C.), caracteriza-se por
bordos de perfil semicircular, engrossados externamente e côncavos na parte interna, asas arqueadas,
de secção circular, colos curtos e relativamente largos, e fundos curtos e cónicos. Uma segunda fase,
denominada Nero-Vespasiano (c. 50-80 d.C.), em que o corpo se torna perfeitamente esférico, com
colo mais largo, asas ainda arqueadas mas cada vez mais grossas na metade superior e mais finas na
inferior, fundos mais pequenos, cónicos e apontados, e bordos em quarto de círculo no exterior, com
a parte superior do lábio mais aplanada e por vezes com ligeira inclinação para o interior. Na terceira
etapa, Flávia-Trajana (c. 80-130 d.C.), a Dressel 20 adquire uma forma mais estilizada, com colos mais
estreitos e altos, fundos mais reduzidos e discretos, asas mais altas e “abastonadas” que descem de
forma vertical, com bordos de secção tendencialmente triangular e a extremidade externa mais eleva-
da em relação à meia altura do bordo, a parte superior do lábio aplanada e com ligeira inclinação para
o interior, marcando uma carena na parte interna. A etapa Antonina (c. 130-190 d.C.) caracteriza-se por
bordos triangulares, com a extremidade externa perfeitamente centrada em relação à altura do bordo
e parte interna ainda carenada, embora progressivamente menos marcada, colos mais curtos e robus-
tos, asas igualmente mais curtas, arredondadas e com ligação ao colo menos marcada. As formas da
etapa Severa e pós-Severa (séc. III) apresentam em geral um menor cuidado na sua manufactura, des-
cendo progressivamente a largura máxima do corpo da parte central para a metade inferior, rematadas
por fundos ainda mais pequenos e discretos. Os colos tornam-se mais curtos, abrindo logo abaixo do
arranque superior das asas, que adquirem perfil marcadamente circular, de aspecto maciço, e arrancam
mais próximo do bordo. Estes últimos são de secção triangular, por vezes ligeiramente inclinados para
o exterior (Berni Millet, 2008, p. 59-63).
Durante esta larga diacronia, que se estende do segundo quartel do séc. I d.C. - muito bem data-
do pelos naufrágios de Sud Lavezzi 1 (Liou, 1990; Liou, 2000) e Sud Lavezzi 2 (Liou e Domergue, 1990),
entre 25 e 30 d.C. - até ao final do terceiro quartel do séc. III d.C. (Remesal Rodríguez, 1983; Rodríguez
Almeida, 1984; Berni Millet 2008; Berni Millet e García Vargas, 2016), o típico contentor oleário bético
foi activamente fabricado ao longo das margens dos rios Guadalquivir e Genil, estando documentada a
sua produção em cerca de uma centena de olarias (Ponsich, 1974; 1979; Remesal, 1977-1978; Chic, 2001;
Berni Millet e García Vargas, 2016). Ainda que em proporções bem menores, foi igualmente produzida
nas regiões costeiras da Bética (García Vargas, 1998; Bernal Casasola et al., 2004) e da Tarraconense
(Berni Millet, 2016).

52. Entre muitos outros, poder-se-ão referir os estudos de André Tchernia (1964, 1967), Emilio Rodríguez Almeida (1978-1979, 1984), José
Remesal Rodríguez (1977-1978, 1986…), Stefanie Martin-Kilcher (1983, 1987), Genaro Chic García (2001), José María Blázquez Martínez
e José Remesal Rodríguez (1999, 2001, 2003…), Piero Berni Millet (1998, 2008), Robert Étienne e Françoise Mayet (2004), Piero Berni
Millet e Enrique García Vargas (2016).
53. O mesmo autor publicou entretanto, em co-autoria com Enrique García Vargas, novo e importante estudo acerca das ânforas de
tipo Dressel 20, onde propõe um quadro evolutivo de seis etapas, dividindo a fase Antonina em duas etapas distintas: inicial, Adriano e
Antonino Pio, e tardia, Marco Aurélio e Cómodo (Berni Millet e García Vargas, 2016). Essencialmente por questões relacionadas com o
estado de fragmentação dos materiais, considerou-se mais prudente seguir a proposta anterior (Berni Millet, 2008).

411
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

100km

Dressel 20 (Berni, 2008).


Figura 69 – Dressel
Difusão
20 no território
(Berni, português: Braga, Lousada, Quinta da Ivanta, Póvoa do Mileu (Guarda), Coimbra, Co-
2008).
nimbriga,
Difusão no território Tomar, villa
português: de Parreitas,
Braga, Peniche,
Lousada, villa da
Quinta Cardílio, Santarém,
Ivanta, PóvoaSalvaterra
do Mileu de(Guarda),
Magos/Muge (Tejo),
Coimbra, Conimbriga,
Morro do Castelo de Alverca do Ribatejo, Vila Franca de Xira, villa de Povos, Castanheira do Ribatejo, Frei-
Tomar, villa de Parreitas, Peniche, villa Cardílio, Santarém, Salvaterra de Magos/Muge (Tejo), Morro
ria, região de Sintra, São Marcos, Almoínhas, Frielas, Lisboa, Cacilhas, Ponta do Mato, Tróia, Sesimbra, Se-
do Castelo de Al-
verca do Ribatejo, VilaAlcácer
túbal, Francado de
Sal, Xira,
Horta villa de Povos,
do Crespo Castanheira
e Sta. Catarina de Sí mos,doambos
Ribatejo, Freiria,
na região região
de Alcácer dodeSal,Sintra,
Ida- São Marcos,
Almoínhas, Frielas, Lisboa, S.
nha-a-Velha, Cacilhas, Ponta
Pedro (Alter do Mato,
do Chão), QuintaTróia, Sesimbra,
das Longas, Ammaia, Setúbal,
Monte daAlcácer
Nora, S.do Sal, da
Miguel Horta
Mota,do Crespo e Sta.
Catarina de Sítimos, ambos
Aljustrel, Montenadaregião
Cegonha,deSão
Alcácer doTourega,
Cucufate, Sal, Idanha-a-Velha,
Mirobriga, ilha doSão Pedro (Alter
Pessegueiro, do Chão),
Sines, Beja, CadavaisQuinta das Lon-
e Cidade
gas, Ammaia, Monte dadas Rosas,
Nora, Sãoambos no Concelho
Miguel da Mota, de Serpa, CastroMonte
Aljustrel, Marim, da Balsa, Pedras d'ElSão
Cegonha, Rei, Cucufate,
Quinta do Marim,
Tourega, Mirobriga,
Faro, Cabo
Ilha do Pessegueiro, Sines,de Beja,
Santa Maria, Quintaedo
Cadavais Lago, Milreu,
Cidade Cerro daambos
das Rosas, Vila, Cerro
nodaConcelho
Rocha Branca,defoz do rio Arade,
Serpa, Castro Marim, Balsa,
Ria de Alvor, Monte Molião, Lagos, Vidigal (Aljezur).
Pedras d’El Rei, Quinta do Marim, Faro, Cabo de Santa Maria, Quinta do Lago, Milreu, Cerro da Vila, Cerro da
Rocha Branca, foz do rio Arade, Ria de Alvor, Monte Molião, Lagos, Vidigal (Aljezur).

Embora nas inúmeras inscrições conhecidas sobre ânforas de tipo Dressel 20 não existam re-
ferências explícitas a azeite, é actualmente inquestionável que se tratava de ânforas destinadas ao
transporte desse produto ou, ocasionalmente, azeitonas em conserva (Beltrán Lloris, 1970; Carreras
Monfort e Funari, 1998; Almeida, 2008; Berni Millet e García Vargas, 2016).
Como já referido, este contentor foi amplamente difundido em toda a metade ocidental do Impé-
rio, com particular destaque para a cidade de Roma - onde representa mais de 80% do material deposi-
tado no Monte Testaccio (Rodríguez Almeida, 1984; Blázquez Martínez et al., 1994; Blázquez Martínez e
Remesal Rodríguez 1999; 2001; 2003; 2007; 2010; 2014) - e acampamentos militares do limes germânico
(Remesal Rodríguez, 1986). Mas a sua presença é igualmente muito significativa na Britannia (Carreras
Monfort e Funari, 1998), Gália (Almeida, 2008) e na Hispânia (Berni Millet, 1998).
Encontra-se atestada em todo o actual território nacional, sobretudo na sua metade meridional,
observando-se uma distribuição que parece respeitar dois eixos distintos: um litoral, relacionado com
a rota atlântica e particularmente visível nos vales dos principais rios e costa algarvia, e um interior, so-
bretudo destinado ao abastecimento dos principais centros urbanos e aproveitando as principais vias
fluviais (Fabião, 1993-1994, p. 238).
A Dressel 20 está documentada em Bracara Augusta (Morais, 2005), Lousada (Sousa et al., 2006),
Quinta da Ivanta, Valongo (Morais, 2007b), Póvoa do Mileu, Guarda (Pereira, 2005), Coimbra (Carvalho,
1998; Silva, 2015), Conimbriga (Buraca, 2005), Tomar (Ponte, 1999), villa de Parreitas (Antunes, 2008), Pe-
niche (Cardoso et al., 2011), villa Cardílio (Diogo e Monteiro, 1999), Freiria (Cardoso, 2015), região de Sintra
(Pimenta, 1982-1983), São Marcos, Sintra (Coelho, 2002), Almoínhas (Brazuna e Coelho, 2012), Frielas (Po-
licarpo, 2009; Silva, 2012), Cacilhas (Barros e Amaro, 1984-85), Ponta do Mato (Raposo et al., 2014), Morro
do Castelo de Alverca do Ribatejo (Pimenta e Mendes, 2007b), Salvaterra de Magos, Muge, Tejo (Diogo,
1987b), Vila Franca de Xira (Pimenta e Mendes, 2007a), villa de Povos (Banha, 1991-1992), Castanheira do

412
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

Ribatejo (Cardoso, 2009), Santarém (Almeida, 2008), Idanha-a-Velha (Banha, 2006), Mérida (Almeida e
Sánchez Hidalgo, 2013), Tróia (Diogo e Trindade, 1998; Diogo e Paixão, 2001; Pinto et al., 2010; Pinto et al.,
2014), Sesimbra (Ferreira e Conceição, 2011), Setúbal (Coelho-Soares e Silva, 1978; Silva e Coelho-Soares,
1980-1981; Silva e Coelho-Soares, 2014), Alcácer do Sal (Silva et al., 1980-1981; Pimenta et al., 2006; Pimen-
ta et al., 2015a), Horta do Crespo e Sta. Catarina de Sítimos, ambos na região de Alcácer do Sal (Ferreira et
al., 2000), São Pedro, Alter do Chão (Diogo, 1999-2000), Quinta das Longas (Almeida e Carvalho, 1998),
Ammaia (Venditti, 2014; Venditti, 2016), Monte da Nora (Teichner, 2008), São Miguel da Mota, Alandroal
(Guerra et al., 2003), Aljustrel (Trindade e Diogo, 1995; Perez Macias et al., 2009), Monte da Cegonha,
Vidigueira (Pinto e Lopes, 2006), São Cucufate (Alarcão et al., 1990; Mayet e Schmitt, 1997; Pinto e Lopes,
2006), Tourega (Pinto et al., 2004; Pinto e Lopes, 2006), Mirobriga (Biers, 1988; Diogo, 1999a), Ilha do
Pessegueiro (Silva e Soares, 1993), Sines (Diogo, 1999a; Silva e Coelho-Soares, 2006), Beja (Grilo e Mar-
tins, 2013), Cadavais e Cidade das Rosas, ambos no Concelho de Serpa (Filipe, 2013; Norton et al., 2006),
Castro Marim (Viegas, 2011), Balsa (Viegas, 2011), Pedras d’El Rei, Tavira (Viegas e Dinis, 2010), Quinta do
Marim (Silva et al., 1992), Faro (Viegas, 2011; Almeida et al., 2014e), Cabo de Santa Maria (Cardoso, 2013),
Quinta do Lago (Arruda e Fabião, 1990), Milreu (Teichner, 2008), Cerro da Vila (Teichner, 2008), Cerro da
Rocha Branca (Gomes et al., 1986), foz do rio Arade (Silva et al., 1987; Diogo et al., 2000; Fonseca, 2015),
Ria de Alvor (Cardoso, 2013), Monte Molião (Estrela, 1999; Arruda et al., 2008; Bargão, 2008; Viegas e
Arruda, 2013; Arruda e Viegas, 2016), Lagos (Almeida e Moros Diaz, 2014) e Vidigal, Aljezur (Pereira, 2012).
Em Lisboa encontra-se bem representada nos conjuntos publicados, nomeadamente na FRESS
(Silva, 2014), no NARQ (Bugalhão, 2001; Sabrosa e Bugalhão, 2004), na Rua dos Remédios (Silva, 2015a),
no Teatro Romano (Diogo, 2000; Filipe, 2008a; Filipe, 2015), na Praça da Figueira (Almeida e Filipe,
2013), no Castelo de São Jorge (Pimenta, 2005), na Casa dos Bicos (Filipe et al., 2016), na Rua das Pedras
Negras (Gomes et al., 2017), no Mandarim Chinês (Bugalhão, 2003), na Rua de São Mamede (Mota et
al., 2017), na Rua do Passadiço (Sarrazola e Macedo, 2013), no Cais do Sodré (Marques et al., 1997), no
fundeadouro da Praça D. Luís (Parreira e Macedo, 2013) e na Casa do Governador, Belém (Filipe, 2011).
A sua expressão quantitativa adquire maior relevo na amostra aqui em apreço relativamente aos
dados anteriormente conhecidos, constituindo-se, a par da Lusitana 3, como o segundo tipo melhor
representado, apenas superada pela Dressel 14 de fabrico lusitano. Com origem no Vale do Guadalqui-
vir, documentou-se um Número Mínimo de 564 Indivíduos, onde se incluem todas as variantes conhe-
cidas e vários exemplares de tamanho reduzido (parva) e muito reduzido (mini), repartidos por: 137 da
etapa Júlio-Cláudia, 14 atribuíveis a Nero-Vespasiano, 80 da fase Flávia-Trajana, 133 à etapa Antonina, 53
ao séc. III e 132 de fase indeterminada, existindo ainda 11 indivíduos classificados como Dressel 20 Júlio-
-Cláudia/Haltern 71. Quanto à sua representatividade estatística, a Dressel 20 representa 17,44% do NMI,
64,41% das ânforas do Guadalquivir, 52,14% de todas as importações com origem na província da Bética
e 41,43% dos contentores de produção extraprovincial. No âmbito do consumo de azeite, a Dressel 20
do Vale do Guadalquivir adquire valores na ordem dos 87,66% do total do azeite consumido.
Dos contentores da mesma forma fabricados na região costeira da Bética apenas se identificaram
4 indivíduos, representando 0,12% da amostra Alto-Imperial, 2,01% das ânforas procedentes daquela re-
gião e apenas 0,63% do azeite consumido. No mesmo sentido, no espaço actualmente português, estas
produções da costa parecem escassear, tendo sido, por exemplo, identificadas em Santarém (Arruda
et al., 2005), estando igualmente presentes na capital provincial, Augusta Emerita (Almeida e Sanchez
Hidalgo, 2013). Esta efectiva escassez pode-se considerar como uma clara demonstração do carácter
minoritário destas produções do litoral face às do interior da província. Ainda assim, é provável que es-
teja presente em mais sítios no nosso território, sobretudo no Algarve, uma vez que em boa parte das
publicações apenas se refere a existência de Dressel 20, não se especificando o fabrico.
As ânforas de tipo Dressel 20 estão presentes na grande maioria dos sítios que compõem esta
amostra, exceptuando nove em que se registam apenas materiais de Época Republicana. A Praça da
Figueira destaca-se pela quantidade e diversidade destes contentores, tendo-se aí registado 143 indiví-
duos e a presença de exemplares de todas as etapas evolutivas e diferentes módulos (standard, parva
e “mini”), incluindo as produções do séc. III d.C. e da região costeira.
Relativamente aos contextos estratigráficos de onde provêm estes materiais, embora uma gran-
de parte não forneça qualquer informação pertinente, seja porque foram recolhidos em níveis pós-

413
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

-romanos ou com carácter residual ou ainda porque simplesmente se não conhecem as coordenadas
estratigráficas, existem alguns dados que se poderão comentar. Na Casa dos Bicos foi recolhido um
fragmento de bordo de Dressel 20 parva de fase Antonina em contexto datado entre o segundo e o ter-
ceiro quartéis do séc. II d.C. (Filipe, et al., 2016, p. 430, fig. 5). No mesmo local, em distintas sondagens,
foram recuperados em níveis da primeira metade do séc. III uma asa e o corpo de uma Dressel 20 con-
servando desde o arranque inferior da asa até perto do fundo, apresentando todas as características
da última fase evolutiva deste tipo (Filipe et al., 2016, p. 435, fig. 8). Ainda da Casa dos Bicos provém um
fragmento de bordo da etapa Severa e pós-Severa de contexto estratigráfico atribuído à segunda me-
tade do séc. III, possivelmente terceiro quartel (Filipe et al., 2016, p. 437). Nas Escadinhas de São Crispim
registou-se uma asa e um bordo da variante Antonina em níveis datados, respectivamente, da primeira
metade do séc. II d.C. e de entre a segunda metade deste século e meados do seguinte.
Na Praça da Figueira foram identificados diversos exemplares de Dressel 20 de fase indetermi-
nada em contextos balizados entre o segundo quartel do séc. I d.C. e o terceiro quartel do séc. III. Para
além destes, dos exemplares aos quais foi possível atribuir fase evolutiva, podem-se referir um bordo e
uma asa da etapa Júlio-Cláudia no enchimento da vala de drenagem associada à construção da via, fase
final do Principado de Tibério a Cláudio; três bordos da variante Júlio-Cláudia e um bordo e três asas as-
sinaláveis à fase Nero-Vespasiano, recuperados nos depósitos relacionados com a terraplenagem para
receber a via, datada de Cláudio-Nero; um bordo de Nero-Vespasiano nos níveis mais antigos da via
(Cláudio-Nero); cinco bordos e uma asa da mesma fase registados na fossa 9033, da década de 60 d.C.;
duas asas Antoninas exumadas numa pequena fossa detrítica da segunda metade do séc. II relacionada
com a construção de um compartimento funerário; um bordo e duas asas Antoninas em níveis de entre
meados do séc. II e meados do século seguinte, relacionados com a repavimentação da via secundária.
Embora já fora do âmbito cronológico deste estudo, não deixa de ser pertinente assinalar a existência
de diversos exemplares de Dressel 20 da fase Severa e pós-Severa em contextos datados do último
terço do séc. III d.C. na necrópole romana da Praça da Figueira.
Em estratos do segundo terço do séc. I d.C. foram exumados, na Sé Catedral, quatro bordos e
duas asas de Dressel 20 Júlio-Cláudia, sendo escassos os que procedem de depósitos genericamente da-
tados entre a segunda metade do séc. I d.C. e o final do séc. II. Na Zara, Rua Augusta, reconheceram-se
diversos fragmentos das variantes Júlio-Cláudia e Flávia-Trajana em níveis da segunda metade do séc. I
d.C. e de entre Época Flávia e meados do séc. II d.C., incluindo nestes últimos algumas peças atribuíveis
à variante Antonina. No Palácio do Marquês de Angeja, uma asa num contexto do terceiro quartel do
séc. I d.C.; na Rua de São Mamede, uma asa Júlio-Cláudia em estrato do terceiro quartel do séc. I d.C. e
diversos exemplares dessa variante e da Flávia-Trajana nos contextos de Flávios ao primeiro terço do
séc. II d.C.; na Rua São João da Praça, da dinastia Júlio-Cláudia ao séc. II d.C. Por fim, refira-se uma asa
exumada em níveis da Fase 2 do Teatro, meados do séc. I d.C..

6.2.3. Tarraconensis

6.2.3.1. Pascual 1

A Pascual 1 foi pela primeira vez individualizada por P. Guasch (1962) com base nos resultados de
prospecções efectuadas na antiga Laietânia, tendo a sua caracterização sido posteriormente melhora-
da por outros investigadores, de que se poderão, entre outros, referir os trabalhos de M. Beltrán Lloris
(1970), A. Tchernia (1971), J. Miró Canals (1988) e A. López Mullor e A. Martín Menéndez (2008a; 2008b).
Trata-se de um contentor morfologicamente inspirado nas Dressel 1, de corpo fusiforme, por
vezes com tendência ovóide, que termina num fundo alto, maciço e robusto. Os subtipos A e B dife-
renciam-se sobretudo pelo perfil do corpo, mais alongado o primeiro e com maior tendência ovóide o
segundo. O bordo é alto e em banda, normalmente vertical, podendo apresentar-se ligeiramente incli-
nado, demarcando-se da parede do colo através de um expressivo ressalto ou degrau. O lábio pode ser
engrossado internamente. O colo é alto, de perfil troncocónico ou cilíndrico, arrancando as asas da sua

414
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

100km

Pascual 1 (www.archaeologydataservice.ac.uk).
Difusão
Figura 70 – Pascual no território português: Braga, Cividade de Âncora, Citânia de Briteiros, Conimbriga, Lisboa,
1 (www.archaeologydataservice.ac.uk).
Mesas do Castelinho, Balsa, Castro Marim.
Difusão no território português: Braga, Cividade de Âncora, Citânia de Briteiros, Conimbriga, Lisboa, Mesas do
Castelinho, Balsa, Castro Marim.

parte superior, sob o bordo, e descendo paralelamente àquele até um ombro inclinado, cuja transição
para a pança e para o colo é relativamente suave. A secção das asas é arredondada, exibindo usualmen-
te um sulco longitudinal na sua face externa (Beltrán Lloris, 1970, p. 329-338; Miró Canals, 1988, p. 70;
Márquez Villora, 1999, p. 103; López Mullor e Martín Menéndez, 2008a, p. 698).
O seu fabrico abarcou uma diacronia que se estende desde a fase final da República, em redor a 40
a.C., até ao final do séc. I d.C., embora com decréscimo significativo de produção a partir de 60-70 d.C.,
situando-se o apogeu da sua comercialização nos principados de Augusto e Tibério (López Mullor e Martín
Menéndez, 2008a, p. 698-700; Carreras Monfort, 2016c). Estas cronologias foram fixadas tanto nos cen-
tros produtores como nos centros de consumo, sendo os últimos particularmente bem representados
por sítios do Sul e centro da Gália (Mullor e Martín Menéndez, 2008a, p. 698).
Os locais onde a Pascual 1 foi produzida localizam-se maioritariamente na região costeira da ac-
tual Catalunha, entre Llanfranc e Benifallet, com especial concentração na área de Barcelona (Pascual
Guasch, 1977, p. 48-71; Peacock e Williams, 1986, p. 93; Miró Canals, 1988, p. 12-59; López Mullor e Mar-
tín Menéndez, 2008a, p. 700-701). Foi ainda reproduzida em alguns centros oleiros do Sul da Gallia,
nomeadamente em Aspiran, Corneilhan e Montans (Laubenheimer, 1985, p. 312; López Mullor e Martín
Menéndez, 2008a, p. 701).
As evidentes afinidades morfológicas com as Dressel 1, aliadas à reconhecida e afamada produ-
ção vinícola do nordeste da Tarraconensis durante esta época, bem como à existência de alguns tituli
picti sobre este tipo mencionando vinum, tornam evidente tratar-se de um contentor destinado a enva-
sar vinho (Tchernia, 1986, p. 145; Miró Canals, 1988, p. 107; Carreras Monfort, 2016c).
O precioso líquido que estas ânforas terão transportado parece ter conhecido uma larga distri-
buição na metade ocidental do Império, alcançando igualmente o Mediterrâneo Oriental (Miró Canals,
1988, p. 123-144; Peacock e Williams, 1986, p. 94). Nesta última área geográfica, a Pascual 1 foi docu-
mentada em paragens tão longínquas como Ephesus (Bezeczky, 2013, p. 139) e o Mar Negro (Peacock
e Williams, 1986, p. 94). A ocidente, para além de diversos naufrágios (Miró Canals, 1988, p. 123-144),
ocorre com significativa representatividade na Hispânia e por boa parte da Gallia, onde o istmo gaulês
terá representado uma importante rota de distribuição para o Norte desta província e para a restante
região Norte do Império (Peacock e Williams, 1986, p. 94; Baudoux, 1992, p. 164; Laubenheimer e Mar-
lière, 2010, p. 34-37; Carreras, Monfort, 2016c). Está também atestada em Itália (Ferrandes, 2008, p. 255;

415
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Haas, 2011, p. 376; Rizzo, 2014, p. 198), em alguns acampamentos militares da Germania (González Ces-
teros e Tremmel, 2011-2012, p. 537-538; Carreras Monfort e González Cesteros, 2013, p. 281-297; González
Cesteros, 2015, p. 210), na Britannia (Revilla Calvo e Carreras Monfort, 1993, p. 61-63; Sealey, 2009, p. 3),
na Raetia e na Pannonia (Bezeczky, 2013, p. 139), bem como em Marrocos (Bonet Rosado et al., 2005,
p. 125).
No Ocidente Peninsular está atestada em percentagens discretas na Galiza, em locais como As-
torga (Carreras Monfort e Berni Millet, 2003, p. 650), Campa Torres (Carreras Monfort, 2010, p. 242),
Lugo (Carreras Monfort e Morais, 2011, p. 60), Vigo (Carreras, Monfort, 2016c), Castro de Montalegre
(González-Ruibal et al., 2007, p. 63-64), Beiramar, Rias Baixas (Fernández Fernández, 2010, p. 234); e, já
em território português, em Bracara Augusta (Morais et al., 2012, p. 511), Cividade de Âncora e possivel-
mente Citânia de Briteiros (Paiva, 1993, p. 30), Lisboa, necrópole da Praça da Figueira (Almeida e Filipe,
2013, p. 740), Mesas do Castelinho (Parreira, 2009, p. 64), Balsa (Fabião et al., 2016, p. 100) e Castro
Marim (Viegas, 2001, p. 474), correspondendo o exemplar de Tomar publicado por C. Banha e P. Arsé-
nio (Banha e Arsénio, 1998, p. 185, nº 9) a uma produção de Peniche e não a uma Pascual 1 tarraconense
(Prudêncio et al., 2003, p. 206). Surge ainda em Augusta Emerita (Bello Rodrigo e Márquez Pérez, 2010,
p. 412).
Pouco significativa em Lisboa, a sua presença na amostra aqui em apreço é marcada pela quase
total inexistência de bordos, o que poderá eventualmente conferir alguma incerteza na classificação
de algumas peças. Se em relação às asas não existem quaisquer dúvidas, alguns fundos deste tipo po-
dem ser formalmente idênticos aos de outras formas produzidas na mesma região, nomeadamente a
Dressel 3-2. Todavia, no caso da peça do Beco do Marquês de Angeja a cronologia do contexto dissipa
qualquer dúvida quanto a tratar-se efectivamente de uma Pascual 1, e quanto aos fundos da Praça da
Figueira as suas características morfológicas parecem apontar também nesse sentido, ainda que se não
deva colocar totalmente de parte uma eventual correspondência tipológica às Dressel 3-2.
A Pascual 1 foi identificada no Beco do Marquês de Angeja (um fundo), nas antigas (um bordo) e
recentes escavações da Praça da Figueira (três fundos), na Sé Catedral (duas asas) e no Teatro Romano
(uma asa), num total de sete indivíduos. Destes, apenas duas peças foram exumadas em contextos coe-
vos com a cronologia em que foi fabricada. No Beco do Marquês de Angeja surgiu em nível do terceiro
quartel do séc. I a.C.. Na recente intervenção da Praça da Figueira documentou-se um fundo na fossa
8933, contexto fechado e datado do Principado de Tibério, já parcialmente publicado (Silva et al., 2016,
p. 154-157; Silva, no prelo).
Representa 0,22% do conjunto de ânforas alto-imperiais, 0,52% das importações extraprovinciais
e 0,67% do vinho consumido. No contexto dos contentores provenientes da costa setentrional da Tarra-
-conense é, ainda assim, o envase melhor documentado, significando 35%, valor que, embora superior
no contexto da amostra de Lisboa, não se distancia muito das Dressel 3-2 e mesmo das Oberaden 74.
A ocorrência destas ânforas ao longo de toda a fachada atlântica, do Algarve à Galiza e tanto em
sítios do litoral como do interior, ainda que invariavelmente em quantidades reduzidas, demonstra que
a rota atlântica poderia constituir uma importante alternativa à rota do istmo gaulês no transporte do
vinho tarraconense para a costa Norte da Gália, Germânia Inferior e Britannia.

6.2.3.2. Dressel 3-2

Constituindo-se como uma imitação regional das ânforas vinárias mais reproduzidas na bacia me-
diterrânea, com maior probabilidade dos modelos da Campânia (Berni Millet, 2015, p. 197), cuja origem
formal se deverá procurar nos protótipos de asas bífidas da Ilha de Cos, as Dressel 2-3, habitualmente
designadas de Dressel 2-4, correspondem, juntamente com as Pascual 1, aos envases mais abundante-
mente produzidos na província da Tarraconensis (López Mullor e Martín Menéndez, 2008a, p. 701).
Embora detectada já no final do séc. XIX por H. Dressel (1899; Berni Millet, 2015, p. 189), coube a
A. Tchernia (1971) a sua identificação nos tempos modernos e o primeiro estudo de síntese destas pro-
duções (Tchernia e Zevi, 1972), sendo poucos anos depois publicado um conjunto expressivo de centros
oleiros que as fabricaram (Pascual Guasch, 1977), colocando em evidência uma relevante actividade

416
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

100km

Dressel 3-2 tarraconense (www.archaeologydataservice.ac.uk).


Figura 71 – Dressel 3-2notarraconense
Difusão (www.archaeologydataservice.ac.uk).
território português: Braga, Conimbriga, Tomar, Lisboa, Idanha-a-Velha, Freiria, Setúbal, Foz
do Rio
Difusão no território Arade.
português: Braga, Conimbriga, Tomar, Lisboa, Idanha-a-Velha, Freiria, Setúbal, foz do Rio Arade.

industrial de produção anfórica na região. Simultaneamente foi apresentada uma proposta de classifi-
cação que visava diferenciar as produções de Dressel 2-4 das diferentes regiões, que não viria a alcançar
grande sucesso, baseada em critérios morfológicos e estatísticos, onde as tarraconenses foram incluí-
das na classe 2 (Fariñas del Cerro et al., 1977, p. 182).
A diversidade morfológica observável nestas produções da tarraconense é perceptível nas classi-
ficações de M. Sciallano e B. Liou (1985), num importante estudo com base nos naufrágios com ânforas
desse tipo e, mais recentemente, de P. dell’Amico e F. Pallarés (2005), de A. López Mullor e A. Martín
Menéndez (2008a; 2008b) e de P. Berni Millet (2015). Não obstante esta diversidade formal, os referi-
dos autores defendem que não existem, até hoje, evidências da produção de Dressel 4 na Tarraconense
(dell’Amico e Pallarés, 2007, p. 103; López Mullor e Martín Menéndez, 2008a, p. 703-704; Berni Millet,
2015, p. 196).
No caso da classificação de A. López Mullor e A. Martín Menéndez (2008a; 2008b), os autores
procedem, por um lado, à divisão entre Dressel 2 e Dressel 3 e, por outro, à criação de vários subtipos
para uma (A e B) e outra (de A a D), respectivamente (López Mullor e Martín Menéndez, 2008a, p.
703-704; 2008b, p. 66-72), sempre com base em critérios morfológicos. Em traços largos, e para lá das
características gerais deste tipo (asas bífidas, ombros bem marcados, colo e corpo cilíndricos e fundos
maciços), as Dressel 2 correspondem aos envases com dimensões compreendidas entre 98 e 110 cm, de
perfil elegante e linhas tendencialmente direitas, enquanto as Dressel 3 exibem dimensões algo mais
reduzidas, entre 83 cm e 93 cm, corpo mais largo e curvilíneo, com colos e asas mais curtos. O subtipo
A da Dressel 2 apresenta bordo arredondado e o B lábio triangular ou em forma de seta, não sendo
totalmente claro se estas diferenças poderão ter um significado cronológico ou estar de alguma forma
relacionadas com a região de fabrico, embora existam indícios que apontem para esta última hipótese
(López Mullor e Martín Menéndez, 2008a, p. 703; López Mullor e Martín Menéndez, 2008b, p. 66-69).
Relativamente aos subtipos da Dressel 3, o A corresponde ao mais comum, presente nos naufrágios
de Sud Lavezzi 3, Dramont B, Chrétienne H, entre outros, com bordos arredondados e espessados; o B
diferencia-se por possuir asas curtas e colo bastante aberto; as ânforas do subtipo C são normalmente
mais pequenas, com colos mais curtos e afunilados e bordos amplos; enquanto a principal caracterís-
tica diferenciadora do subtipo D reside no facto do diâmetro máximo da pança se situar no seu terço
inferior (López Mullor e Martín Menéndez, 2008a, p. 703-704; López Mullor e Martín Menéndez, 2008b,
p. 69-72).

417
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Na mais recente proposta de P. Berni Millet (2015), o autor reordena a classificação do tipo com
base em critérios cronológicos, propondo a sucessão de quatro variantes evolutivas com características
morfológicas próprias. Fundamentando a sua análise sobretudo nos dados de vários naufrágios do Medi-
terrâneo, o referido autor demonstra a efectiva anterioridade da Dressel 3 em relação à Dressel 2, defen-
dendo não se tratar de formas distintas e coetâneas mas sim de um processo evolutivo do mesmo tipo,
que se estende diacronicamente durante a primeira metade do séc. I d.C. (Berni Millet, 2015, p. 196-198).
Neste quadro tipológico, P. Berni Millet faz corresponder à variante A a Dressel 3 precoce, ou
seja, a mais antiga forma de produção tarraconense que imita as Dressel 3 campanas, fabricada a partir
dos últimos anos do séc. I a.C. (Berni Millet, 2015, p. 198-199). A variante B, produzida durante o primeiro
quartel do séc. I d.C., corresponde à Dressel 3 clássica, evoluindo para a Dressel 2 clássica que o autor
denomina variante C, cuja produção se baliza entre os últimos anos do reinado de Tibério e meados do
séc. I. Por fim, a variante C, Dressel 2 tardia, produzida entre meados do séc. I e o início da dinastia Flávia
(Berni Millet, 2015, p. 198-199).
Na costa Norte da província da Tarraconense foi ainda atestada uma variante mais tardia deste
tipo, denominada Dressel 2-4 evolucionada, formalmente mais aproximada à Dressel 2, cuja produção
se poderá ter iniciado ainda no final do séc. I d.C. e perdurado até ao séc. III (Járrega Domínguez e Otiña
Hermoso, 2008, p. 283-285; Járrega Domínguez, 2016a). Apresenta-se em geral como um contentor de
dimensões algo mais desenvolvidas que as anteriormente descritas, com corpo mais maciço e pesado e
bordos de tendência marcadamente quadrangular (Járrega Domínguez e Otiña Hermoso, 2008; Járrega
Domínguez, 2016a).
Os ateliers actualmente conhecidos que fabricaram estes contentores distribuem-se por boa par-
te da área costeira da actual Catalunha, concentrando-se particularmente em quatro regiões: costa
nordeste, na actual província de Girona; Laietana, Barcelona; costa da actual província de Tarragona e
Sul da de Barcelona; e região do Ebro (Járrega Domínguez e Otiña Hermoso, 2008, p. 281-282; Martínez
Ferreras, 2014; Járrega Domínguez, 2016a).
Já em relação ao produto que as Dressel 3-2 tarraconenses se destinariam a envasar, e ainda que
actualmente não existam evidências arqueométricas que o comprovem, é consensual que seria o vinho.
Desde logo por comparação com os modelos de Cos e da Campânia, mas também pela documentação
de inscrições pintadas em ânforas deste tipo por H. Dressel no Castro Pretório, em Roma, referindo vi-
nho Lauranense vetus, que se deverá localizar na região de El Maresme e Vallès oriental, actual província
de Barcelona (Tchernia, 1986, p. 174; Berni Millet, 2015, p. 189; Járrega Domínguez, 2016a).
O vinho transportado nestes contentores conheceu uma ampla difusão nas províncias do Me-
diterrâneo ocidental sobretudo entre os principados de Tibério e Nero, estando atestado na Hispânia,
Gália, Itália, Germânia, Britannia, Raetia e Norte de África (Carreras Monfort, 2005a; Bernal Casasola,
2008, p. 341-343; Járrega Domínguez, 2016a). Para além da região da Catalunha, encontram-se parti-
cularmente bem documentadas nas ilhas baleares, em Roma, no Sul da Gália e no limes germânico
(Remesal Rodríguez e Revilla Calvo, 1991, p. 433; Étienne e Mayet, 2000, p. 229; Lopez e Mullor, 2008a,
p. 705). São igualmente conhecidos vários naufrágios com carregamentos de Dressel 3-2 tarraconenses,
entre os quais se poderão referir a título de exemplo os de Sud Lavezzi 3, Dramont B, Chrétienne H,
Petit-Congloué, Planier 1, Perduto 1 e Grand Rouveau (Sciallano e Liou, 1985). Foi ainda recentemente
documentada no Mediterrâneo Oriental, na área da necrópole portuária de Ephesus (González Cesteros
e Yilmaz, 2012, p. 23-24).
Ainda que presentes em grande parte do território actualmente português, a sua expressão
quantitativa é francamente reduzida, reforçando o carácter minoritário que a importação de vinho pro-
duzido na região nordeste da Tarraconense alcançou no extremo Ocidente Peninsular. São conhecidos
escassos exemplares em Lisboa, na Praça da Figueira (Fabião, 1998a, p. 180; Almeida e Filipe, 2013, p.
742), em Bracara Augusta (Morais, 2005, p. 103), Conimbriga (Alarcão, 1976, p. 81-82), Tomar (Banha e
Arsénio, 1998, p. 172-173), Idanha-a-Velha (Banha, 2006, p. 40), Freiria (Cardoso, 2015, p. 359), Setúbal
(Coelho-Soares e Silva, 1978, p. 175-176; Fabião, 1998a, p. 180) e foz do rio Arade (Silva et al., 1987,
p. 209-211; Fabião, 1998a, p. 180), estando ainda presentes na capital da Lusitânia, Augusta Emerita
(Almeida e Sánchez Hidalgo, 2013, p. 50). Apesar de tudo, poderão subsistir ainda algumas dúvidas na
atribuição de um fabrico tarraconense a alguns dos casos atrás referidos, nomeadamente em relação

418
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

aos exemplares de Tomar, segundo os próprios autores (Banha e Arsénio, 1998, p. 173), bem como no
que se refere aos provenientes de Setúbal e da foz do rio Arade que, pese embora se refira a descrição
das pastas, não são atribuídos pelos autores àquela proveniência. Haverá ainda a referir alguns exem-
plares publicados dos quais se desconhece a região de fabrico, designadamente os referidos por C.
Fabião (1998a, p. 180) no Norte do país.
Nos materiais inéditos de Lisboa, foram identificados seis indivíduos de Dressel 3-2 tarraconense
nas antigas (um bordo) e recentes (um fundo e uma asa) intervenções da Praça da Figueira, no Banco de
Portugal (um bordo e uma asa), na Sé Catedral (um bordo), antigas intervenções da Rua das Pedras Ne-
gras (uma asa) e na Travessa das Merceeiras (um bordo), correspondendo todas a produções da região
setentrional, não se tendo identificado os fabricos da região de Valência. Correspondem a 0,19% das ân-
foras alto-imperiais, sendo o segundo tipo melhor representado no âmbito das produções tarraconen-
ses da costa setentrional com 30%. No conjunto das ânforas vinárias alto-imperiais representa 0,58%,
valor que sobe para 1,3% considerando apenas as importações extraprovinciais do mesmo período.
O único exemplar que provém de estratigrafia seguramente de Época Romana é o da Sé Catedral,
exumado em contexto datado da primeira metade do séc. III. Trata-se de um fragmento de bordo e
parte do colo e asa, sendo esta de secção oval, com ombro muito vincado, enquadrando-se tipologica-
mente nas designadas Dressel 2-4 evolucionadas. Já no que se refere ao exemplar da Travessa das Mer-
ceeiras, tendo em conta a morfologia do bordo e a inclinação das paredes do colo, poderá corresponder
às produções tarraconenses mais antigas de Dressel 3 ou variante A de Berni Millet (2015, p. 198), tendo
sido recolhido num nível pós-romano.

6.2.3.3. Oberaden 74

Coube a S. Loeschcke a publicação desta forma pela primeira vez, tendo-lhe então atribuído o
número 68 dos materiais do acampamento militar de Haltern (Loeschcke, 1909) e alguns anos mais
tarde o número 74 das cerâmicas de Oberaden (Loeschcke, 1942), designação que se viria a cristalizar
na literatura da especialidade. As similitudes morfológicas com a Dressel 28 levaram a uma assimilação
dos dois tipos, sendo usual a designação Dressel 28/Oberaden 74, apesar da distinção entre ambas ter
ocorrido já no final dos anos 70 do século passado com base no fabrico e nas características morfológi-
cas (Tchernia e Villa, 1977, p. 234; Miró Canals, 1988, p. 95; González Cesteros e Carreras Monfort, 2016).
De pequena dimensão, esta ânfora caracteriza-se por um corpo de perfil ovóide que termina
numa base plana e côncava com pé em anel. O bordo é normalmente engrossado e curto, bem destaca-
do da parede do colo, com duas molduras, podendo ser vertical ou ligeiramente inclinado. O colo é cur-
to e relativamente largo, de perfil cilíndrico ou troncocónico. As asas, curtas e de secção oval com dois
sulcos longitudinais, arrancam sob o bordo, descrevendo um perfil de quarto de círculo e repousando
num ombro arredondado (Miró Canals, 1988, p. 92; Marquez Villora, 1999, p. 105-106; Lopez Mullor e
Martín Menéndez, 2008a, p. 709)
A cronologia de produção e comercialização da Oberaden 74 encontra-se bem fixada entre o
último terço do séc. I a.C. e os meados do séc. I d.C., com apogeu entre a última década antes da vira-
gem da Era e 20 d.C., estando amplamente documentada tanto em contextos de consumo como nos
centros produtores (Lopez Mullor e Martín Menéndez, 2008a, p. 709-710; González Cesteros e Carreras
Monfort, 2016).
Relativamente a estes últimos, localizam-se sobretudo no litoral setentrional da actual Catalu-
nha, onde se concentram na província de Girona e a Norte da de Barcelona, na zona de Tarraco e nas
margens do rio Ebro, tendo sido igualmente produzidas na região costeira meridional da Tarraconensis,
nas áreas de Castelló, Illici e Pradejón, La Rioja (Lopez Mullor e Martín Menéndez, 2008a, p. 709; Carre-
ras Monfort e González Cesteros, 2012, p. 208; Carreras Monfort, 2017, p. 96). Foram ainda documen-
tados dois locais no interior do território da Tarraconense onde também se produziram as Oberaden
74, presumivelmente destinadas a uma distribuição local ou regional, localizando-se em Segobriga (Al-
meida e Morín de Pablos, 2012) e Caesar Augusta (Hernández Pardos, 2016). Este tipo parece ter sido
imitado na Gália Narbonense, onde foi designado de Gauloise 8 (Laubenheimer, 1985, p. 306).

419
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

100km

Oberaden 74 (González Cesteros e Carreras Monfort, 2016).


Figura 72 – Oberaden 74território
Difusão no (González Cesteros
português: e Carreras Monfort, 2016).
Lisboa.
Difusão no território português: Lisboa.

À semelhança de outros contentores de base plana que se desenvolveram no Mediterrâneo oci-


dental durante os últimos decénios do séc. I a.C. e todo o século seguinte, a Oberaden dever-se-ia des-
tinar a transportar vinho. Tal acepção deve-se, por um lado, precisamente às suas características mor-
fológicas e, por outro, às regiões onde se concentra o seu fabrico, tradicionalmente ligadas à produção
daquele produto, para além da existência de exemplares internamente revestidos com resina (Miró
Canals, 1988, p. 107-108; González Cesteros e Carreras Monfort, 2016).
Olhando para os dados actualmente disponíveis, as Oberaden 74 parecem ter-se destinado so-
bretudo aos mercados das províncias do Norte da Europa, principalmente à Germania onde surgem do-
cumentadas em diversos locais, tais como Neuss (Carreras Monfort e González Cesteros, 2013, p. 282),
Kops Plateau (Almeida et al., 2014a, p. 384; Carreras Monfort, 2017, p. 96-97), Xanten (Carreras Monfort,
2007, p. 217), Novaesium (Carreras Monfort e Berni Millet, 2015, p. 178), Oberaden (Loeschcke, 1942;
González Cesteros e Tremmel, 2011-2012, p. 538-539), Haltern (Loeschcke, 1909), Rödgen (Carreras Mon-
fort e González Cesteros, 2012, p. 226), Dangstetten (Ehmig, 2010, p. 47) ou Augst (Martin-Kilcher, 1994,
p. 355), entre outros. Estão bem representadas também na Gallia, com particular destaque para o eixo
fluvial do Ródano-Reno que aparentemente constituía o principal circuito de difusão destes contento-
res (Borgard e Gateau, 1998, p. 247-254; González Cesteros e Carreras Monfort, 2016), mas também no
nordeste (Baudoux, 1992, p. 164; Laubenheimer e Marlière, 2010, p. 37), no Noroeste, em Bordéus (Lau-
benheimer e Watier, 1991, p. 8) e restante território (Carreras Monfort e González Cesteros, 2012, p. 226;
Bigot, 2014, p. 87-130). Menos importante parece ter sido a sua distribuição em Itália, estando atestada
na Ligúria (Gambaro e Parodi, 2016, p. 522), Roma (Ferrandes, 2008, p. 258) e Óstia (Rizzo, 2014, p. 198-
199), no Norte de África, Cartago (Carreras Monfort e González Cesteros, 2012, p. 226), e na Britannia
(Revilla Calvo e Carreras Monfort, 1993, p. 66-67; Carreras Monfort, 1994, p. 134). Já na Península Ibérica,
embora surja com relativa frequência na costa levantina, incluindo as ilhas Baleares (Carreras Monfort e
González Cesteros, 2012, p. 226), não parece ter tido uma grande difusão para o restante território. Na
fachada atlântica foi identificada apenas em Lugo, no Noroeste (Carreras Monfort e Morais, 2011, p. 61-
62), sendo até agora desconhecida em Olisipo e em Mérida.
No conjunto que agora se analisa foram reconhecidos cinco fragmentos classificáveis como Obe-
raden 74, exumados nas recentes escavações da Praça da Figueira (dois bordos), na Rua da Madalena
(um bordo), na Sé Catedral (um fundo) e na Rua das Pedras Negras (um bordo). O fundo da Sé é prove-
niente de um contexto datado do segundo quartel do séc. I d.C., enquanto os restantes procedem de

420
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

níveis tardios e pós-romanos. Representa 0,16% das ânforas atribuíveis ao Império, 0,37% das importa-
ções extraprovinciais dessa época, 25% dos contentores provenientes da costa setentrional da Tarraco-
nensis e 0,48% do vinho consumido.
As peças de Olisipo são demonstrativas das variações existentes no perfil dos bordos deste tipo,
observando-se três variantes diferentes. O exemplar nº 9900.01 da Praça da Figueira encontra paralelos
aproximados em Tivissa (Miró Canals, 1988, fig. 24) e Dangstetten (Ehmig, 2010, Taf. 8, nº 285,057-1), en-
tre outros. Já o outro bordo desta necrópole parece de mais difícil classificação, na medida que se apro-
xima formalmente também da Tarraconense 1. Ainda assim, optou-se por enquadrá-lo tipologicamente
nas Oberaden 74, podendo-se referir um paralelo aproximado de Colonia Celsa (Beltrán Lloris, 2008, fig.
14, nº 6). A peça da Rua da Madalena não exibe o topo do lábio aplanado ou engrossado como é habitual
nesta forma, embora o perfil da sua face externa se enquadre bem nas características da Oberaden 74.

6.2.3.4. “Gauloise 4” tarraconense

A reprodução na província da Tarraconense da Gauloise 4, o modelo anfórico gaulês de maior


sucesso comercial nos mercados do Império (v. infra), foi desde cedo colocada em evidência (Pascual
Guasch, 1977; Nolla et al., 1982 apud Barti et al., 2004; Miró Canals, 1988; Aranegui Gascó e Gisbert San-
tonja, 1992), ainda que só com o trabalho de V. Revilla Calvo, em meados da última década do séc. XX,
se tenha fixado a designação de “Gauloise 4”, ou G.4 para estas produções (Revilla Calvo, 1995 apud
Tremoleda Trilla e Járrega Domínguez, 2016; Tremoleda Trilla, 2000, p. 128).
Por se tratar de uma imitação apresenta genericamente as mesmas características morfológicas
da Gauloise 4 gaulesa, com os típicos fundos de base plana e pé em anel encimado por um corpo pirifor-
me. O bordo pode adquirir alguma variação, podendo ser semicircular ou subtriangular, engrossado e
bem diferenciado da parede do colo, ligeiramente aberto e de diâmetro reduzido. O colo é normalmen-
te curto e bitroncocónico ou estrangulado, transitando de forma suave para o ombro, que se apresenta
arredondado, inclinado e largo. As asas arrancam abaixo do bordo e descrevem uma curva pronunciada
de perfil semicircular, pousando no ombro, de secção ovalada e com depressão longitudinal (Pascual
Guasch, 1977, p. 69; Miró Canals, 1988, p. 96; Aranegui Gascó e Gisbert Santonja, 1992, p. 105; Tremoleda
Trilla, 2000, p. 128-129; López Mullor e Martín Menéndez, 2008a, p. 711).

100km

Gauloise 4 tarraconense (Tremolleda i Trilla e Járrega Domínguez, 2016).


Figura 73 – “Gauloise
Difusão no
4”território português:
tarraconense Lisboa.
(Tremolleda i Trilla e Járrega Domínguez, 2016).
Difusão no território português: Lisboa.

421
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Esta forma parece ter sido produzida entre a segunda metade do séc. I d.C. e o final do séc. III,
embora os dados que suportam esta cronologia de produção careçam ainda de melhores evidências
(Aranegui Gascó e Gisbert Santonja, 1992, p. 101; Tremoleda Trilla e Járrega Domínguez, 2016). De facto,
esta diacronia é assumida, por um lado, pelo paralelo com as Gauloise 4 gaulesas, por outro, pelos da-
dos das olarias de Llanfranc, no litoral setentrional, e de Almadrava, no País Valenciano (López Mullor e
Martín Menéndez, 2008a, p. 711).
A produção de “Gauloise 4” na Tarraconensis ocorreu tanto na costa setentrional como na costa
central, no País Valenciano. Na primeira região, de onde procedem os exemplares identificados em
Lisboa, são conhecidos três centros oleiros onde foram produzidos aqueles contentores: Santa María
de les Feixes, Cerdanyola (Pascual Guasch, 1977), Llafranc, Pallafrugel (Tremoleda Trilla, 2000; Barti et
al., 2004) e Can Lloverons, Girona (Tremoleda Trilla e Járrega Domínguez, 2016). Na costa central são
conhecidos alguns centros produtores no território de Dianium, destacando-se os de Almadrava e Oliva
(Laubenheimer e Gisbert Santonja, 2001; Mateo Corredor e Molina Vidal, 2016).
No que diz respeito ao produto envasado, no actual estado do conhecimento não são conhecidas
quaisquer evidências directas que comprovem um conteúdo vinário. Contudo, por comparação com as
Gauloise 4 gaulesas, não existem grandes dúvidas quanto a tratar-se de facto de ânforas vinárias (Miró
Canals, 1988, p. 107-108; Tremoleda Trilla e Járrega Domínguez, 2016).
Para além da costa oriental da Península Ibérica, onde estão documentadas em diversos locais
(Tremoleda Trilla e Járrega Domínguez, 2016), e do interior Norte Peninsular, onde surgem mais pon-
tualmente, como em Uxama Argaela, Soria (Carreras Monfort, 2010, p. 243), a sua difusão parece ter
sido muito limitada. Está atestada em Óstia, onde, embora não especificando a área de produção, a
avaliar pela descrição da pasta poderá corresponder a um fabrico da costa setentrional (Rizzo, 2014, p.
200); no Norte da Gália, aqui com produção do País Valenciano (Laubenheimer e Marlière, 2010, p. 37);
e em Mérida (Almeida e Sanchez Hidalgo, 2013, p. 50), embora também aqui pareça tratar-se de uma
produção atribuível à costa central54.
Naturalmente, este panorama não é senão o reflexo do actual estado do conhecimento, sendo
admissível que esteja presente num maior conjunto de sítios e latitudes onde, em alguns casos, poderá
ser confundida com as produções narbonenses, uma vez que os fabricos da costa central da Tarraco-
nense apresentam evidentes similitudes com aqueles (Tremoleda Trilla e Járrega Domínguez, 2016).
Demonstrativo desse reduzido conhecimento da sua geografia de difusão é a sua presença em Olisipo,
onde era totalmente desconhecida. Não deixa, contudo, de ser uma produção escassamente documen-
tada por estas paragens.
Na amostra inédita que ora se analisa foram identificados dois fragmentos de bordo, colo e arran-
que de asa tipologicamente enquadráveis no tipo “Gauloise 4”, exibindo fabricos semelhantes, atribuí-
veis à costa setentrional da Tarraconensis. Apresentam tons avermelhados e alaranjados nas superfícies
interna e externa e cor acinzentada no cerne, o que, naquela região, é normalmente associado a pro-
cessos de cozedura característicos das produções ibéricas (López Mullor e Martín Menéndez, 2008a,
p. 690; Martínez Ferreras, 2016, p. 142). Provêm da Praça da Figueira, contexto tardio ou pós-romano,
e das antigas intervenções da Rua das Pedras Negras. Representa apenas 0,06% do conjunto total de
contentores atribuíveis ao Principado e 0,15% das importações extraprovinciais, significando 10% das
ânforas do litoral setentrional tarraconense desse período e 0,19% do consumo de vinho.
O exemplar da Praça da Figueira ostenta um bordo com secção subtriangular, mais aproximado
às produções do centro oleiro de Santa María de les Feixes, Cerdanyola (Pascual Guasch, 1977, fig. 23),
enquanto o da Rua das Pedras Negras parece encontrar melhores paralelos no centro de Llanfranc (Tre-
moleda Trilla, 2000, fig. 97), com bordos tendencialmente mais arredondados. A sua presença em Olisi-
po, ainda que residual, não pode deixar de se considerar significativa, uma vez que atesta a comerciali-
zação na fachada atlântica de um contentor vinário da Tarraconense cuja única evidência no Ocidente
hispânico parece ser constituída pelo mencionado exemplar de Mérida, que ainda assim é proveniente
de uma região distinta dos de Lisboa.

54. Informação pessoal de Rui Roberto de Almeida, a quem se agradece.

422
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

6.2.4. Ebusus

6.2.4.1. PE 25

Ainda que já tenha sido apontada como uma imitação das Dressel 1, a ânfora Púnico-Ebusitana
25, ou Ramon 25, é actualmente considerada como uma versão ebusitana das Dressel 2-4 produzidas
na costa tarraconense (Ramon Torres, 1991, p. 119; Ramon Torres, 2006, p. 265). A ampla diversidade
de perfis de bordo que este tipo apresenta foi sistematizada por J. Ramon Torres (1991), definindo
um processo evolutivo que se desenvolve, diacronicamente, de bordos arredondados, engrossados ou
triangulares para variantes mais estreitas e altas, de perfil sub-rectangular e subtriangular, com diâme-
tros mais largos (Ramon Torres, 1991, p. 119). A par desta evolução ao nível do bordo, a PE 25 apresenta
colos relativamente curtos e de tendência cónica nas fases mais antigas e mais altos e cilíndricos nas
mais tardias, estabelecendo-se a ligação ao corpo através de uma curva suave. Este último é ovóide e
normalmente estriado, transitando de forma suave para um fundo oco e bem desenvolvido, cilíndrico
ou levemente cónico, possuindo por vezes uma canelura horizontal na extremidade, formando uma
pequena moldura. As asas, largas e de secção oval ou elíptica, por vezes com um ou mais sulcos longitu-
dinais, arrancam abaixo do bordo e descem de forma tenuemente oblíqua em relação ao eixo da peça,
repousando na parte superior do corpo (Ramon Torres, 1991, p. 120-121; Ramon Torres, 2006, p. 265;
Mateo Corredor, 2014, p. 102; Ramon Torres, 2016).
A sua produção ter-se-á iniciado em torno a 40 d.C. com as referidas variantes mais antigas, que
terão perdurado até Época Flávia avançada. Entre finais do séc. I d.C. e meados do século seguinte, ou
terceiro quartel, surgem variantes de bordo que apresentam já alguns dos traços característicos das
produções mais tardias, de tendência sub-rectangular e subtriangular, mas ainda relativamente grossos
e com alturas que não ultrapassam os 4cm. As variantes mais tardias perduram até cerca de 230 d.C.
e exibem bordos normalmente com mais de 4 cm de altura e diâmetros mais desenvolvidos (Ramon
Torres, 1991, p. 122; Ramon Torres, 2006, p. 259-263; Ramon Torres, 2016).
Seguramente produzida na Ilha de Ibiza (Ramon Torres, 1991, p. 122), é normalmente considerada
como uma ânfora destinada ao transporte de vinho, ainda que tal acepção se fundamente sobretudo
em factores indirectos, como o do conteúdo dos envases que lhe serviram de modelo, e não em evidên-
cias directas (Ramon Torres, 1991, p. 133; Ramon Torres, 2006, p. 266-267; Ramon Torres, 2016).

100km

PE 25 (Ramón Torres, 2006).


Figura 74 – PE 25Difusão no território
(Ramon Torres,português:
2006). Conimbriga, Lisboa, Monte Molião.
Difusão no território português: Conimbriga, Lisboa, Monte Molião.

423
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

A sua presença é especialmente significativa nas ilhas baleares e, ainda que em menor escala, na
costa oriental tarraconense, tendo-se difundido de forma pouco expressiva pelo Norte de África, Sul da
Gália, Sicília e Itália, onde estão atestadas em Óstia e Roma, encontrando-se ainda presentes, a título de
exemplo, nos naufrágios de Est-Perduto, no estreito do Bonifácio, datado de um momento avançado
da dinastia Júlio-Cláudia, de Chiessi, na Ilha de Elba, de Época Flávia, e de Cap Bénat I, no Sul de França.
A sua distribuição na restante Península Ibérica não parece ser particularmente expressiva, documen-
tando-se em Villaricos, Almeria e Málaga (Calmes, 1973; Ramon Torres, 1991, p. 122; Sciallano e Sibella,
1991; Parker, 1992; Marquez Villora, 1999, p. 99-100; Ramon Torres, 2006, p. 268; Mateo Corredor, 2014;
Ramon Torres, 2016). No espaço da antiga província da Lusitânia apenas se encontra atestada em Monte
Molião (Arruda e Viegas, 2016, p. 458 e fig. 9, nº 9) e Conimbriga (Buraca, 2005, p. 26-27, nº 17), ainda que
neste último sítio tenha sido classificada com algumas dúvidas como Dressel 2-4 de produção ebusitana.
Anteriormente desconhecidas em Lisboa, foram agora identificados 11 indivíduos, procedentes
do Banco de Portugal (três bordos e uma asa), criptopórtico da Rua da Prata (uma asa e vários fragmen-
tos de parede), Escadinhas de São Crispim (um bordo), recente intervenção da Praça da Figueira (dois
bordos e quatro asas), Rua dos Bacalhoeiros (uma asa), antigas intervenções da Rua das Pedras Negras
(um bordo) e na Zara, Rua Augusta (dois bordos, dois fundos e três asas).
Representam 0,34% dos contentores do Alto-Império e 0,81% das importações extraprovinciais
deste período. Ainda no âmbito dos envases imperiais, corresponde a 1,06% do total das ânforas viná-
rias e a 2,38% do vinho extraprovincial, suplantando as produções tarraconenses de Dressel 3-2, Obera-
den 74 e “Gauloise 4”.
Relativamente aos contextos estratigráficos de onde procedem as PE 25 reconhecidas em Lis-
boa, os mais antigos parecem ser os da Rua dos Bacalhoeiros, situável em torno a meados do séc. I d.C.,
e possivelmente os do Criptopórtico da Rua da Prata, que poderá recuar à dinastia Júlio-Cláudia. Na
Praça da Figueira o bordo nº 9656.01 procede de nível atribuível a Flávios e a asa nº 9592.01 de finais do
séc. II d.C. a momento indefinido do séc. III; finalmente, na Zara, Rua Augusta, o bordo nº 722 foi exu-
mado em estrato datado da segunda metade do séc. I d.C. e a asa nº 201 em nível balizado entre Flávios
e meados do séc. II.
Tipologicamente, os exemplares reconhecidos em Lisboa parecem testemunhar a importação de
vinho de Ibiza ao largo de toda a diacronia de produção das PE 25, com maior incidência na fase inter-
média, uma vez que foram identificadas variantes das três fases anteriormente indicadas. Das variantes
mais precoces, entre c. 40 d.C. e o final do séc. I, são os exemplares da Rua dos Bacalhoeiros e da Rua
da Prata, neste caso corroborado pela datação do contexto, e também o bordo nº 9656.01 da Praça da
Figueira, quer pela cronologia do contexto quer pela morfologia do bordo. Da etapa intermédia, baliza-
da entre um momento avançado da dinastia Flávia e o segundo quartel do séc. II d.C., parecem ser os
exemplares da Rua Augusta, nº 411, do Banco de Portugal, nºs 1915 e 967 (o estado de conservação do
terceiro exemplar deste último sítio não permite perceber em que variante se enquadra), da Rua das
Pedras Negras nº 9656.01 e, possivelmente, das Escadinhas de São Crispim. Já o bordo nº 9042.01 da
Praça da Figueira, sem contexto estratigráfico, parece poder enquadrar-se nas variantes mais tardias
(33-34), da segunda metade do séc. II d.C. a c. 230.

6.2.5. Gallia, Narbonensis

6.2.5.1. Gauloise 1, var. B

A Gauloise 1 é considerada uma ânfora destinada essencialmente ao comércio regional, estando


ausente da maior parte dos centros de consumo do Ocidente Mediterrâneo, onde marca presença a
Gauloise 4 (Laubenheimer, 2001, p. 55; Mauné, 2013, p. 351).
Morfologicamente distingue-se por um corpo amplo, de tendência globular, com o diâmetro má-
ximo sensivelmente a meio da pança, bordo de secção triangular com o topo aplanado, colo curto, asas
achatadas com uma ou duas depressões longitudinais, de perfil circular ou semicircular, arrancando

424
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

100km

Gauloise 1, var. B (www.archaeologydataservice.ac.uk; Laubenheimer, 1985).


Figura 75 – Gauloise
Difusão1no
e território
Gauloise 1, var. BTomar,
português: (www.archaeologydataservice.ac.uk;
Lisboa. Laubenheimer, 1985).
Difusão no território português: Tomar, Lisboa.

imediatamente abaixo do bordo e repousando no ombro ou início do corpo, e fundo plano com pé em
anel e base ligeiramente elevada (Laubenheimer, 1985, p. 243; Bigot e Djaoui, 2013, p. 385). À seme-
lhança de outros tipos produzidos na Gália, existem dois módulos desta forma: a standard, que tem em
média 50cm de altura, e um módulo de pequena dimensão, cuja altura ronda os 30cm (Laubenheimer,
1985, p. 254; Bigot e Djaoui, 2013, p. 385). Em 1985 F. Laubenheimer definiu ainda duas variantes deste
tipo, A e B, que considerou como produções marginais e associadas ao fabrico da Gauloise 1 sobretudo
por se tratar de variantes raras nos centros de produção e de consumo, o que não permite a sua carac-
terização enquanto tipo (Laubenheimer et al., 1984, p. 106; Laubenheimer, 1985, p. 254).
As variantes A e B diferem da típica Gauloise 1 sobretudo ao nível do perfil do bordo, o que é
bastante significativo tendo em conta que estas últimas apresentam uma elevada estandardização
(Laubenheimer, 1985, p. 254). No caso da variante B, que aqui nos interessa directamente, o seu bordo
não é triangular, mas sim moldurado com duas inflexões na parte exterior.
A cronologia de produção e comercialização da Gauloise 1 ”clássica” estende-se desde o primeiro
quartel do séc. I d.C. até ao final do séc. III d.C./meados do séc. IV (Laubenheimer, 1985, p. 389; Laube-
nheimer, 1989, p. 132; Mauné, 2013, p. 353).
Se até final dos anos 90 do século passado os centros oleiros conhecidos que atestadamente
produziram a Gauloise 1, sobretudo implantados na margem direita do baixo Vale do Ródano, eram
pouco mais de uma dezena, hoje esse número ascende a 35, abarcando, para além da região central,
também um importante foco de produção no ocidente da Narbonense (Laubenheimer, 1985, p. 245-251;
Bonnet e Laubenheimer, 1998, p. 260, fig. 6; Mauné, 2013, p. 348 e fig. 9). Relativamente à variante B, a
sua produção apenas se encontra atestada nas olarias de Moulin du Pont, Velaux (Laubenheimer, 1985,
p. 257 e fig. 113 b), e Puyloubier, Bouches-du-Rhône (Laubenheimer e Schmitt, 2009, p. 85), na região
a Norte de Marselha, onde se encontram associadas à produção da Gauloise 1 “clássica”. Esta associa-
ção é especialmente evidente pelo registo da utilização da mesma estampilha em contentores de tipo
Gauloise 1 “clássica” e nas suas variantes A e B (Laubenheimer, 1985, p. 254).
Ainda que se não conheçam inscrições pintadas ou outras evidências que o comprovem, a Gauloi-
se 1 destinar-se-ia muito provavelmente ao transporte de vinho, quer pelas suas características formais
e região de origem, ambas indelevelmente associadas ao transporte e produção daquela apreciada be-
bida, quer pela existência de exemplares destas ânforas onde se detectaram vestígios de revestimento
resinoso no interior (Bonnet e Laubenheimer, 1998, p. 260).

425
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

A sua distribuição é, como já referido, sobretudo de carácter regional, marcando presença nas
zonas limítrofes da província Narbonense, no maciço central e, em particular, no Vale do Ródano, em-
bora tenha também sido exportada em escassas quantidades para as províncias germânicas, através do
eixo Ródano-Saône-Reno, e Britannia, surgindo igualmente de forma diminuta em Roma e Óstia (Lau-
benheimer et al.,1992, p. 144-145; Remesal Rodríguez e Revilla Calvo, 1991, p. 411; Martin-Kilcher, 1994,
p. 360; Laubenheimer, 2001, p. 55; Rizzo, 2003, p. 166-167; Mauné, 2013, p. 351-352; Rizzo, 2014, p. 169).
Esta escassez nos circuitos comerciais do ocidente do Império justifica a sua quase total ausência na
Península Ibérica, onde, ao que se conseguiu apurar, está unicamente atestada em Tomar, cidade onde
se conhece um fragmento de bordo de Gauloise 1 “clássica” (Banha e Arsénio, 1998, p. 174 e 186, nº 13).
Em Lisboa foi identificado um único fragmento de bordo que, pelas características morfológicas
e de fabrico, se classificou como uma produção narbonense atribuível à variante B da Gauloise 1. A sua
expressão quantitativa é, naturalmente, praticamente inexistente, sendo sobretudo importante subli-
nhar a presença no extremo Ocidente Peninsular, já antes registada em Tomar (Banha e Arsénio, 1998,
p. 174), de um contentor destinado essencialmente a uma distribuição de carácter regional, particular-
mente por se tratar de uma variante considerada rara e marginal no âmbito da produção e difusão das
Gauloise 155.
Embora a sua presença em Itália tenha já sido considerada acidental (Laubenheimer, 2001, p.
55), o registo de novos exemplares em Roma e Óstia e a sua documentação no extremo Ocidente
Peninsular poderá relançar a discussão sobre o efectivo raio de difusão e papel que esta forma terá
tido no contexto da exportação do vinho narbonense, sempre em quantidades muito reduzidas, bem
entendido, mas efectivamente presente em pontos tão distantes do Império como a Península Itálica,
a Lusitânia e a Britannia. Do mesmo modo, poderá constituir uma evidência de que os circuitos onde
se inseria a sua comercialização para a Britânia e Germânia inferior, bem como Norte da actual França
onde foi identificada em Amiens (Laubenheimer e Marlière, 2010, p. 21 e 392), envolviam, também, a
utilização da rota atlântica. Somente nesta óptica, e pressupondo que utilizariam os circuitos de difusão
das Gauloise 4 e 5 viajando “a reboque” destas, se poderá compreender a sua presença no extremo
Ocidente do Império, região que não se constituía sequer como um dos mercados preferenciais para os
produtos vinários da Gália.
Resta referir que o exemplar de Lisboa foi exumado na escavação da Sé Catedral, em contexto
pós-romano, conservando bordo e parte da asa e do colo.

6.2.5.2. Gauloise 3

A Gauloise 3, identificada e individualizada há mais de três décadas por F. Laubenheimer (1985),


parece corresponder a uma das formas que em menor escala se produziu na província da Narbonense,
não alcançando as proporções de outros tipos da mesma região (Laubenheimer, 1985, p. 257; Lauben-
heimer e Marlière, 2010, p. 39; Mauné, 2013, p. 345-346).
Contentor de corpo ovóide, base plana e pé em anel, caracteriza-se por um bordo discretamente
moldurado, com dupla inflexão externa e normalmente arredondado no topo, e colo curto e estreito. As
asas arrancam normalmente imediatamente abaixo do bordo, descrevendo um arco e repousando na
parte superior do corpo, exibindo um ou mais sulcos longitudinais no dorso (Laubenheimer, 1985, p. 257;
Remesal Rodríguez e Revilla Calvo, 1991, p. 412; Martin-Kilcher, 1994, p. 360; Bigot e Djaoui, 2013, p. 385).
Constituindo-se como uma das mais precoces produções anfóricas da Gália (Laubenheimer, 1985,
p. 385-386), foi produzida durante toda a primeira metade do séc. I d.C., tendo muito provavelmente
perdurado até Época Flávia ou início do séc. II d.C., como parece demonstrar o expressivo conjunto do
naufrágio Arles-Rhône 3 (Bigot e Djaoui, 2013, 385; Mauné, 2013, p. 345; Rizzo, 2014, p. 171).

55. Tendo em conta o perfil moldurado do bordo bem como o facto de as asas arrancarem da ligação deste ao colo e não sensivelmente
a meio deste último como habitualmente acontece com as Gauloise 5, também o exemplar nº 174 de Roma (Rizzo, 2003, p. 167 e 189, Tav.
XXXV), classificado como Gauloise 5 pelo autor, poderá eventualmente corresponder à variante B da Gauloise 1.

426
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

100km

Gauloise 3 (www.archaeologydataservice.ac.uk).
Figura 76 – Gauloise
Difusão3no
(www.archaeologydataservice.ac.uk).
território português: Lisboa.
Difusão no território português: Lisboa.

Os centros oleiros que fabricaram as Gauloise 3 dispersam-se por boa parte do território da
Narbonense, de Ponteilla nos Pirenéus a Fréjus no extremo oriental da província, ainda que sejam re-
lativamente escassos comparativamente ao número de oficinas cerâmicas que produziram outros ti-
pos naquela província (Laubenheimer, 1985, p. 257-259; Laubenheimer, 1989, p. 112-113; Mauné, 2013,
p. 345). Embora sobretudo fabricadas na Narbonense, a sua produção encontra-se igualmente atestada
na região de Bordéus, na Aquitânia, em Chartres, na Gallia Lugdunensis, e na Gallia Belgica (Laubenhei-
mer e Marlière, 2010, p. 310 e 370; Rizzo, 2014, p. 171).
Para além das questões relacionadas com a sua forma, um conteúdo vínico para a Gauloise 3 é
atestado por duas inscrições pintadas provenientes de Fos-sur-Mer, referindo vinho aminneum (Laube-
nheimer, 2004, p. 163, fig. 87).
A relativa escassez de centros produtores e reduzida escala de produção deste tipo reflecte-se
na sua difusão, tratando-se de um envase pouco disseminado, inclusivamente na Gália, e normalmen-
te considerado como essencialmente de vocação regional (Laubenheimer e Schmitt, 2009, p. 11; Lau-
benheimer e Marlière, 2010, p. 39). Ainda assim, a sua presença está documentada em Óstia e Roma
(Rizzo, 2003, p. 150; Rizzo, 2014, p. 171), Alemanha (Remesal Rodríguez e Revilla Calvo, 1991, p. 412),
Augst (Martin-Kilcher, 1994, p. 360), Sevilha (García Vargas, 2007a, p. 333) e, com muitas dúvidas, pos-
sivelmente em Lixus (Aranegui Gascó, 2010, p. 199). Desconhece-se a sua presença no actual território
português, estando de igual forma ausente em Mérida.
Na amostra de Lisboa identificaram-se apenas dois fragmentos de bordo com arranque de asa
classificáveis como Gauloise 3, ambos de produção narbonense, exumados nas escavações da Sé Ca-
tedral e do Banco de Portugal. O exemplar deste último sítio não parece apresentar dúvidas de maior
quanto à sua classificação. Ainda que se aproxime morfologicamente bastante das Gauloise 2, a ausên-
cia de ressalto na parte interna do bordo e o arranque da asa imediatamente abaixo daquele parecem in-
dicar tratar-se de uma Gauloise 3 (Bigot e Djaoui, 2013, p. 385). Refira-se ainda que esta peça conserva na
sua face interna vestígios de revestimento resinoso. Já no que se refere ao fragmento da Sé, a sua clas-
sificação oferece algumas dúvidas uma vez que a mesma exibe algumas características pouco comuns
neste e em outros tipos fabricados na Narbonense, nomeadamente a exagerada inclinação do bordo.
Se o exemplar do Banco de Portugal provém do que em Época Romana deveria corresponder ao
fundo do rio, verificando-se por essa razão a ausência de contextos estratigráficos seguros, no caso da Sé
Catedral a peça foi recuperada em nível da Antiguidade Tardia, estando obviamente descontextualizada.

427
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Resta referir que as Gauloise 3 se apresentam como um tipo claramente minoritário, sem qual-
quer peso estatístico, representando 0,06% das ânforas alto-imperiais e 0,15% das importações extra-
provinciais desta época. Ainda neste âmbito cronológico, significa 0,19% da totalidade dos envases de
vinho e 2,78% dos envases gauleses.

6.2.5.3. Gauloise 4

A Gauloise 4 corresponde ao contentor gaulês que maior sucesso alcançou nas redes comerciais
do Império, tendo sido largamente produzida por toda a província Narbonensis de forma estandardizada
e exportada para os mais variados quadrantes geográficos sob a alçada de Roma, particularmente na
metade ocidental do Império. Trata-se de uma ânfora destinada sobretudo à exportação e ao comércio
a longa distância, simbolizando o importante desenvolvimento económico daquela província durante
a dinastia Júlio-Cláudia (Laubenheimer, 1985, p. 261-293; Mauné, 2013, p. 355; Laubenheimer e Schmitt,
2009, p. 11). O êxito da Gauloise 4 enquanto contentor vinário de ampla difusão é igualmente verificável
na influência que teve na produção de ânforas em outras regiões, que imitam ou se inspiram no mode-
lo narbonense, designadamente em diversas outras áreas da Gália (Laubenheimer e Gisbert Santonja,
2001, p. 34; Laubenheimer e Marlière, 2010, p. 39; Mauné, 2013, p. 356), na Britannia (Rizzo, 2014, p. 175),
no litoral catalão, valenciano e no noroeste da província da Tarraconensis (Revilla Calvo, 1995, p. 52-55;
Morais, 2005, p. 133-140; López Mullor e Martín Menéndez, 2008, p. 710-711), na Baetica (García Vargas,
1998, p. 116-118; Bernal Casasola, 2008b; Bernal Casasola, 2016a; Mateo Corredor e Molina Vidal, 2016),
na Lusitânia (Diogo, 1987a, p. 184; Fabião, 1998a, p. 187) e no Norte de África (Bonifay, 2004a, p. 148-151).
Morfologicamente caracteriza-se por um corpo piriforme com paredes finas, de ombros largos
e arredondados, terminando num fundo plano e estreito, com pé em anel, cuja base pode ser mais ou
menos alteada. O bordo é engrossado e arredondado externamente, formando uma ligação abrupta
para um colo curto, estreito e, não raras vezes, côncavo. As asas arrancam sensivelmente a meia altura
ou na metade superior deste e repousam no ombro, apresentando-se tendencialmente achatadas, de
secção elíptica, com depressão central e perfil semicircular (Panella, 1973, p. 541; Laubenheimer, 1985,
p. 361; Peacock e Williams, 1986, p. 142; Bigot e Djaoui, 2013, p. 378).
A sua produção abrangeu um arco temporal que se estendeu desde meados do séc. I d.C. até
finais do séc. III, particularmente típica no séc. II, embora recentes estudos tenham demonstrado que
o seu fabrico se terá prolongado até às primeiras décadas do séc. IV (Laubenheimer, 1985, p. 390-392;
Long e Duperron, 2011, p. 37-56; Mauné, 2013, p. 362-363), aliás, já antes sugerido por C. Panella em 1973
(Panella, 1973, p. 542).
Na província da Narbonense estão documentados mais de cinco dezenas de centros oleiros onde
este tipo foi produzido, sobretudo localizados em meio rural, no litoral e junto a linhas de água, concen-
trando-se essencialmente nas regiões de entre Sallèles-d’Aude e Lattes, no baixo Vale do Ródano, sen-
sivelmente na área compreendida entre as cidades de Nimes, Avignon, Arles e Orange, no Médio Vale
do Durance, entre Marselha e Istres, na zona de Toulon e Sanary e, finalmente, no território de Fréjus e
Mandelieu (Laubenheimer, 1985, p. 267-290; Laubenheimer, 1989, p. 105-114; Laubenheimer e Schmitt,
2009, p. 154-158; Mauné, 2013, p. 357-360 e fig. 13). Apesar desta considerável quantidade de olarias
conhecidas, a existência de algumas dezenas de marcas de oleiro cuja oficina de origem se desconhece
faz supor que o número de centros produtores que produziram Gauloise 4 possa ultrapassar a centena
(Laubenheimer e Gisbert Santonja, 2001, p. 33; Laubenheimer e Schmitt, 2009, p. 154-158).
A existência de mais de três dezenas de inscrições pintadas sobre ânforas de tipo Gauloise 4 (Pa-
nella 1973, p. 547; Liou e Marichal, 1978, p. 147; Tchernia, 1986, p. 283; Laubenheimer, 2004, p. 163-166),
associada a uma vasta documentação relativa à viticultura na Gália durante o Império (Panella, 1973,
p. 548; Brun, 2001, p. 69-89; VV.AA., 2001), não deixam qualquer dúvida quanto a um conteúdo vínico
transportado por estes envases. Entre estas inscrições são referidos diferentes vinhos, dos quais o mais
usual é o aminneum vetus, um vinho envelhecido feito a partir de aminnea vitis, casta célebre no mundo
romano, mas também o picatum vetus, mulsum e depletum, surgindo muitas vezes apenas a qualificação
de vetus (Laubenheimer, 2004, p. 164).

428
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

100km

Gauloise 4 (www.archaeologydataservice.ac.uk).
Figura 77 – Gauloise
Difusão 4no(www.archaeologydataservice.ac.uk).
território português: Braga, Citânia de Briteiros, Conimbriga, Tomar, Salvaterra de Magos/Muge
Difusão no território português:
(Tejo), Vila Braga,
Franca de Xira Citânia
(Tejo), Lisboa, de Briteiros,
Freiria, Setúbal, Conimbriga,
Tróia, Alcácer doTomar, Salvaterra
Sal, Ammaia, Tourega,de Magos/Muge
Torre de (Tejo),
Vila Franca de Xira (Tejo),
Palma, MonteLisboa, Freiria,
da Cegonha, Setúbal,
Mirobriga, ilha doTróia, Alcácer
Pessegueiro, doVidigal,
Sines, Sal, Ammaia, Tourega,
Balsa, Pedras Torre do
d'El Rei, Quinta de Palma, Monte
Marim, Faro,Ilha
da Cegonha, Mirobriga, foz do
dorioPessegueiro,
Arade, Monte Molião,
Sines,Lagos.
Vidigal, Balsa, Pedras d’El Rei, Quinta do Marim, Faro, foz do
rio Arade, Monte Molião, Lagos.

A difusão do vinho gaulês transportado em contentores do tipo Gauloise 4 efectuava-se princi-


palmente ao longo do eixo constituído pelos rios Ródano-Saône-Reno, com destino ao limes germânico
e à Britannia (Panella, 1973, p. 550; Peacock e Williams, 1986, p. 142-143; Remesal Rodríguez e Revilla
Calvo, 1991, p. 412; Martin-Kilcher, 1994, p. 360-364; Laubenheimer, 2001, p. 56-57), observando-se de
igual forma uma distribuição privilegiada em direcção a Itália, sobretudo em contextos do séc. II d.C.
em Óstia (Panella, 1972, p. 76-78; 1973, p. 538-551; Manacorda, 1977, p. 145-149; Rizzo, 2014, p. 175-180) e
Roma (Panella, 1992, p. 199; Rizzo, 2003, p. 178; Ferrandes, 2008, p. 262), surgindo em menores quanti-
dades no Norte de África e ao largo das ilhas da Sardenha, Elba, Malta e Maiorca (Panella, 1973, p. 543;
Riley, 1979, p. 195-196; Parker, 1992; Laubenheimer, 2001, p. 57). Na metade oriental estão presentes de
forma mais esporádica e dispersa, ainda que surjam em quadrantes geográficos tão variados como a
Ágora de Atenas (Panella, 1973, p. 543; Hayes, 1983, p. 146), Ephesus (Bezeczky, 2013, p. 134-135), Creta
(Hayes, 1983, p. 145-146), ao largo da costa turca (Laubenheimer, 2001, p. 57), em Israel (Morais, 1998,
p. 51), em Alexandria e outros locais no Egipto, no Mar vermelho, no Sudão e, inclusivamente, no Sul do
subcontinente indiano (Laubenheimer, 2001, p. 57; Laubenheimer e Schmitt, 2009, p. 141).
Ainda que até há relativamente poucos anos a sua presença na Hispania fosse pouco expressi-
va, actualmente a Gauloise 4 está atestada em grande parte das regiões ibéricas, observando-se uma
predilecção pelas zonas litorais desde a actual Catalunha até ao Noroeste Peninsular, com particular
incidência na costa oriental e uma aparente ausência ou rarefacção na costa Norte, não deixando de
estar presente em locais tão interiores do território como Toledo e Mérida. A sua representatividade
nos conjuntos anfóricos é geralmente baixa, com excepção da costa oriental onde adquire, por vezes,
percentagens ligeiramente mais elevadas.
No litoral catalão, valenciano e alicantino está amplamente documentada em sítios como Ampú-
rias (Beltrán Lloris, 1970, p. 526), Baetulo, Badalona, Les Sorres, Baix Llobregat, próximo de Barcino e
Tarragona (Márquez Villora e Molina Vidal, 2005, p. 74; Remolà Vallverdú, 2007, p. 249), Ilici, L’Alcúdia,
Elche (Ronda Femenia e Tendero Porras, 2010, p. 325), El Monastil, Alicante (Molina Vidal, 1997, p. 46;
Márquez Villora e Molina Vidal, 2005, p. 75), Lucentum (Molina Vidal, 1997, p. 39), Duanes, Alicante (Mo-
lina Vidal, 1997, p. 49), Cartagena (Márquez Villora e Molina Vidal, 2005, p. 74), Portus Ilicitanus (Már-
quez Villora, 1999, p. 96), entre outros (Márquez Villora e Molina Vidal, 2005). Mais a Sul, encontra-se

429
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

documentada em Baria, Villaricos, Almería (Mateo Corredor, 2014, p. 140), Abdera, Adra, Almería (Mateo
Corredor, 2014, p. 154), Algeciras (Bernal Casasola et al., 2003b, p. 177), Baelo Claudia (Mateo Corredor,
2014, p. 262), Puente Grande, Los Barrios, Cádis (Mateo Corredor, 2014, p. 246), Sevilha (García Vargas,
2007a, p. 333; García Vargas, 2012, p. 257) e Munígua (Fabião, 2006, p. 107), bem como na costa africana
do estreito de Gibraltar, em Septem Frates, Ceuta (Bernal Casasola, 2010, p. 72). No Noroeste foi iden-
tificada em Asturica Augusta, Astorga (Carreras Monfort e Berni Millet, 2003, p. 646), Lugo (Carreras
Monfort e Morais, 2011, p. 46-47), Chao Samartín (Zarzalejos Prieto, 2005, p. 178), Legio, León (Carreras
Monfort, 2010, p. 241) e Petavonium, Rosino de Vidriales (Carretero Vaquero, 2000, p. 735; Carreras
Monfort, 2010, p. 242), ocorrendo ainda no centro da província Tarraconensis no Cerro Calderico de
Consuegra, Toledo (Palencia García e Rodríguez López-Cano, 2016, p. 266), bem como na capital da
Lusitânia, Augusta Emerita (Almeida e Sánchez Hidalgo, 2013).
No actual espaço português a Gauloise 4 está relativamente bem atestada, conhecendo-se a sua
presença de Norte a Sul, tanto no litoral como no interior, ainda que sempre em proporções reduzidas.
Está referenciada em Bracara Augusta (Morais, 2005), Citânia de Briteiros (Fabião, 1998a), Conimbriga
(Alarcão, 1976; Buraca, 2005), Tomar (Banha e Arsénio, 1998; Ponte, 1999), no rio Tejo, na zona de Vila
Franca de Xira (Quaresma, 2005) e entre a Vala Nova de Salvaterra de Magos e a Vala de Muge (Diogo,
1987b), na villa de Freiria (Cardoso, 2015), Tróia (Almeida et al., 2014c), Setúbal (Silva et al., 2014), Alcá-
cer do Sal (Pimenta et al., 2015b), Ammaia (Venditti, 2014; Venditti, 2016), Torre de Palma (Diogo, 1999-
2000), Monte da Cegonha, Vidigueira (Pinto e Lopes, 2006), Tourega (Pinto e Lopes, 2006), Mirobriga
(Diogo, 1999a; Quaresma, 2012), Ilha do Pessegueiro (Silva e Soares, 1993), Sines (Diogo, 1999a), Balsa
(Viegas, 2011), Pedras d’El Rei, Tavira (Viegas e Dinis, 2010), Quinta do Marim (Silva et al., 1992), Faro
(Viegas, 2011), foz do rio Arade (Silva et al., 1987; Diogo et al., 2000), Monte Molião (Arruda e Viegas,
2016), Lagos (Almeida e Moros Diaz, 2014) e Vidigal, Aljezur (Pereira, 2012).
Especificamente em Lisboa foi já documentada na FRESS (Silva, 2014), na Praça da Figueira (Al-
meida e Filipe, 2013), na Casa dos Bicos (Filipe et al., 2016), na Rua das Pedras Negras (Gomes et al.,
2017), na Rua de São Mamede (Mota et al., 2017), nas Escadinhas de São Crispim (Quaresma, 2020) e no
fundeadouro da Praça D. Luís (Parreira e Macedo, 2013), para além de um fundo recolhido no Cais do
Sodré, que deverá também corresponder a uma Gauloise 4 (Cardoso, 2013). A classificação do exemplar
do NARQ56 neste tipo oferece algumas dúvidas (Bugalhão et al., 2013).
No conjunto inédito aqui em apreço registou-se a presença de 66 indivíduos deste tipo, docu-
mentados no Banco de Portugal (14 bordos, sete fundos e 14 asas), no Circo Romano (um bordo), na
Encosta de Sant’Ana (dois bordos e uma asa), no Largo de Santo António (um fundo), no Palácio dos
Condes de Penafiel (três bordos, quatro fundos e seis asas), na recente intervenção da Praça da Figueira
(oito bordos, dez fundos e 27 asas), na Sé Catedral (cinco bordos e quatro asas), nas antigas escavações
da Rua das Pedras Negras (11 bordos, 17 fundos e 15 asas) e na Zara, Rua Augusta (uma asa), para além
dos já referidos na Casa dos Bicos (um bordo e uma asa), Escadinhas de São Crispim (dois bordos e uma
asa), antigas intervenções da Praça da Figueira (um bordo e dois fundos), Rua de São Mamede (uma
asa) e recente escavação da Rua das Pedras Negras (uma asa), sítios também incluídos neste estudo.
Esta forma representa 2,05% das ânforas imperiais, 4,87% das importações extraprovinciais des-
te período, 6,33% do total de contentores vinários, valor que sobe para 14,29% se se exceptuarem os
envases de produção lusitana, representando ainda 91,67% das importações provenientes da Gália. Em
dois dos exemplares do Banco de Portugal (nº 1000 e 1908) foram identificados restos de revestimento
resinoso no interior.
Grande parte destes materiais foi recolhida em níveis tardios ou pós-romanos. Dos exemplares
exumados em contextos estratigráficos coerentes com a cronologia de produção e distribuição destas

56. Relativamente a esta peça, quer o elevado diâmetro do bordo (c. 17cm), quer a excessiva grossura da parede do colo (c. 1,5cm) e sua
inclinação - que apesar de se conservar em cerca de 5cm de altura não denuncia a curvatura dos colos curtos típicos destas formas - não
parecem autorizar a sua classificação enquanto Gauloise 4, pelo que não se considerará este exemplar. Por outro lado, poder-se-á tratar
de uma peça bastante interessante, na medida em que, se de facto se tratar de um fabrico narbonense, poderá corresponder a uma
Dressel 2-4 gaulesa, até agora desconhecida em Lisboa ou, eventualmente, a uma Dressel 2-4 da costa central tarraconense, igualmente
não documentadas em Olisipo, mas cujos fabricos se assemelham bastante às pastas calcárias do Sul da Gália, observáveis num exemplar
de Almadrava IV identificado nos Claustros da Sé.

430
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

ânforas registam-se os seguintes dados: na Sé Catedral, a parte superior de uma Gauloise 4, conser-
vando bordo, colo, asas, ombro e início da pança, com a marca MATVRI aposta em uma das asas, em
contexto da segunda metade do séc. I d.C., sendo o contexto mais antigo conhecido para esta marca
que conheceu apreciável difusão na metade ocidental do Império (Fabião et al., 2016, p. 32-33); na re-
cente intervenção da Rua das Pedras Negras, uma asa em estrato datado de entre meados do séc. I d.C.
e o séc. II (Gomes et al., 2017); na Casa dos Bicos, um bordo identificado em nível da primeira metade
do século III d.C. (Filipe et al., 2016, p. 433); na Rua de São Mamede, uma asa exumada em contexto
situável entre a dinastia Flávia e o primeiro terço do séc. II d.C. (Mota et al., 2017); na Zara, tendo o úni-
co exemplar presente no conjunto sido reconhecido num estrato datado entre o último terço do séc. I
d.C. e meados do séc. II; por fim, a Praça da Figueira onde o volume de dados se afigura mais elevado,
tendo-se recolhido cinco fragmentos em contextos enquadráveis entre meados do séc. II e meados do
século III d.C., três exemplares em níveis do último terço do séc. III e outros três em depósitos datados
do final deste último século e inícios do IV d.C.. A estes dados contextuais haverá que adicionar os da
FRESS, onde um dos exemplares se recolheu em estrato que deverá datar dos últimos anos da dinastia
Júlio-Cláudia (Silva, 2014, p. 183).
Da análise destes dados, dois aspectos sobressaem desde logo: por um lado, que em Olisipo a
importação de vinho narbonense transportado em ânforas de tipo Gauloise 4 parece abarcar todo o
amplo lapso temporal em que estes contentores foram fabricados, isto é, desde meados do séc. I d.C.
até ao final do séc. III/início do séc. IV; por outro, que a sua comercialização para o extremo Ocidente
Peninsular terá sido mais expressiva entre meados do séc. II d.C. e, provavelmente, meados do séc. III.
Naturalmente, esta é a análise possível com os dados disponíveis. Todavia, haverá que ter presente
que a expressão quantitativa destes exemplares recolhidos em contexto é demasiado reduzida para
que não se deixe em aberto a possibilidade de futuros trabalhos virem a alterar esta leitura, até porque
parte destes materiais poderão ser residuais, ainda que em contextos coetâneos da produção e difusão
das Gauloise 4.

6.2.5.4. Gauloise 5

Identificada pela primeira vez por C. Panella (1970), que lhe atribui procedência gaulesa e o nº L
da sua classificação no âmbito do estudo das ânforas das Termas do Nadador em Óstia (Panella, 1973,
p. 551-552), é posteriormente definida de forma mais sustentada por F. Laubenheimer (1985), que a
classifica como Gauloise 5, no seguimento de estudos anteriores (Fontes et al., 1981).
Morfologicamente caracteriza-se por um corpo piriforme, com o diâmetro máximo situado aci-
ma da meia altura da peça, terminando num pé em anel cuja base pode ser plana ou convexa. Ainda
que se trate de um tipo estandardizado, observa-se alguma diversidade na morfologia do bordo, que se
apresenta plano ou ligeiramente inclinado para o exterior, bem destacado do colo, sendo este levemen-
te estrangulado na zona do arranque superior das asas, alargando-se acima destas, e relativamente alto
em comparação com a Gauloise 4, por vezes com um discreto anel em relevo acima do arranque das
asas. Estas são de perfil tendencialmente circular, achatadas, apresentando normalmente um ou, mais
raramente, dois ou três sulcos longitudinais bem marcados, arrancando sensivelmente a meio do colo
e repousando num ombro largo e arredondado (Panella, 1970, p. 117-118; 1973, p. 553; Laubenheimer,
1985, p. 293; Peacock e Williams, 1986, p. 148; Bigot e Djaoui, 2013, p. 380-382). Para além do modelo
standard existe também um módulo de pequena dimensão, cuja capacidade em litros era ligeiramente
abaixo de metade da capacidade daquele (Laubenheimer, 1985, p. 299; Bigot e Djaoui, 2013, p. 382).
A Gauloise 5 foi produzida entre meados do séc. I d.C. e meados do séc. II (Fontes et al., 1981, p.
103; Laubenheimer, 1985, p. 390; Mauné, 2013, p. 354) na metade oriental da Narbonensis, conhecendo-
-se actualmente quinze centros oleiros que a fabricaram, localizados entre a foz do Ródano e o limite
Este da Narbonense, sobretudo em meio rural, ainda que também em meio urbano como são os casos
de Marselha e Fréjus (Laubenheimer, 1985, p. 295-297; 1989, p. 110-132; Mauné, 2013, p. 353-354). Foi
imitada na região de Bordéus, no noroeste da Gália (Berthault, 1992, p. 93-100), e, possivelmente, na
Pannonia (Bezeczky, 2005b, p. 47, nº 32; Rizzo, 2014, p. 172).

431
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

100km

Gauloise 5 (Laubenheimer, 1985; www.archaeologydataservice.ac.uk).


Figura 78 – Gauloise
Difusão5no território português:
(Cibecchini, 2017; Tomar, villa de Povos, Lisboa, Freiria, Tróia.
www.archaeologydataservice.ac.uk).
Difusão no território português: Tomar, villa de Povos, Lisboa, Freiria, Tróia.

Relativamente ao produto transportado por este tipo, à semelhança da Gauloise 4, os melhores


indicadores são fornecidos pela existência de tituli picti que mencionam vinho picatum excellens e mas-
sicum (Laubenheimer, 2004, p. 163; Rizzo, 2014, p. 173).
Do mesmo modo, eram também difundidas nos grandes circuitos comerciais da metade ociden-
tal do Império, embora em quantidades bem mais modestas que a Gauloise 4 e com um raio de disse-
minação muito menor (Laubenheimer, 2001, p. 60; Laubenheimer e Marlière, 2010, p. 41). Difundidas
através do eixo Ródano-Reno, surgem em quantidades moderadas em vários locais do limes germâni-
co, bem como na Britannia (Peacock e Williams, 1986, p. 148; Remesal Rodríguez e Revilla Calvo, 1991,
p. 412-413; Martin-Kilcher, 1994, p. 364; Laubenheimer, 2001, p. 55; Ehmig, 2007, p. 40-42), ainda que a
esta província, tal como à Germania inferior, possam também ter chegado por via marítima, através da
rota atlântica, o mesmo se podendo referir para o Norte da Gália onde parecem escassear (Laubenhei-
mer e Marlière, 2010, p. 41). Está muito bem atestada em Óstia (Panella, 1970, p. 117-119; 1973, p. 553;
Rizzo, 2014, p. 171-175) e em Roma (Panella, 1992, p. 190-199; Rizzo, 2003, p. 167; Ferrandes, 2008, p. 255;
Coletti e Lorenzetti, 2010, p. 158), onde ocorrem sobretudo durante a dinastia Flávia (Laubenheimer,
2001, p. 55), surgindo aparentemente em menores proporções em Pompeia (Panella, 1973, p. 554). A
sua presença no Egipto, na cidade de Alexandria (Laubenheimer e Schmitt, 2009, p. 141), faz supor uma
difusão bastante alargada, ainda que em volumes reduzidos.
Na Península Ibérica ocorre episodicamente, tendo sido reconhecida em Baria, Almeria (Mateo
Corredor, 2014, p. 140), possivelmente em Portus Ilicitanus, próximo de Alicante (Márquez Villora, 1999,
p. 169), Hispalis, Sevilha (García Vargas, 2007a, p. 333; 2012, p. 257) e Mérida (Almeida e Sánchez Hidalgo,
2013), bem como em Tomar (Banha e Arsénio, 1998), villa de Povos (Banha, 1991-92), Freiria (Cardoso,
2015), Tróia (Almeida, et al., 2014) e Lisboa, sendo aqui apenas conhecido um fragmento de bordo pro-
veniente da Praça da Figueira (Almeida e Filipe, 2013). Esta escassez demonstra bem o carácter minori-
tário das Gauloise 5 em geral, mas particularmente para ocidente da Narbonense, ainda que a geografia
da sua difusão actualmente conhecida seja certamente parcelar.
No conjunto anfórico aqui em estudo, para além do já mencionado bordo da antiga escavação
da Praça da Figueira, apenas se identificou um outro bordo e uma asa (colocando esta muitas dúvidas
quanto à sua classificação) procedentes das antigas intervenções da Rua das Pedras Negras, perfa-
zendo um total de dois indivíduos. Representa 0,06% da amostra Alto-Imperial, 0,15% das importações
extraprovinciais desta época e 2,78% dos contentores com origem na Gália. Ainda no que se refere

432
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

somente ao Principado, correspondem a 0,19% do total dos contentores vinícolas e a 0,43% do vinho
proveniente de outras províncias do Império.
Os dois bordos exibem características morfológicas algo distintas, sendo o da Praça da Figueira
ligeiramente inclinado para o exterior enquanto o da Rua das Pedras Negras se apresenta plano e com
as paredes do colo mais verticais. Também quanto ao fabrico se verificam diferenças, possuindo, este
último, uma pasta com maior número de elementos não plásticos e o primeiro um fabrico mais limpo e
mais comum nas produções narbonenses.

6.2.5.5. Tipo indeterminado de pequeno módulo

Entre os diversos fragmentos de ânforas de fabrico narbonense a que não foi possível atribuir
uma classificação, ou por se encontrarem demasiado fragmentados ou por exibirem características
morfológicas não enquadráveis nos tipos conhecidos das produções gaulesas, destaca-se uma peça
que, por se encontrar quase completa, merece aqui um comentário especial, tendo-se optado por indi-
vidualizá-la relativamente aos restantes. Trata-se de uma peça oriunda do conjunto anfórico das antigas
escavações da Rua das Pedras Negras (nº 75324), de fabrico narbonense, a que apenas falta o fundo e
a parte final do corpo, com características morfológicas singulares e que apresenta algumas afinidades
formais com o tipo Gauloise 4, ainda que efectivamente se deva tratar de uma forma distinta. Desde
logo, parece corresponder a um módulo de pequena dimensão, cuja altura máxima não deveria ultra-
passar os 50cm. Em comparação com aquele outro tipo, a peça da Rua das Pedras Negras apresenta um
colo mais curto, um bordo menos engrossado, com maior inclinação externa e com uma concavidade
interna bem marcada, asas de secção oval com discreta crista longitudinal, de perfil vagamente semi-
circular, arrancando da ligação do bordo ao colo, de forma horizontal e não em ângulo ascendente. O
diâmetro máximo da peça, 36cm, parece situar-se sensivelmente a meio do corpo, à semelhança, por
exemplo, das Gauloise 1, enquanto nas Gauloise 4 se situa, invariavelmente, na sua metade superior.
A altura do diâmetro máximo da peça deverá ser menor em relação ao módulo de pequena dimensão
de tipo Gauloise 4 proveniente do naufrágio Arles-Rhône 3 (Bigot e Djaoui, 2013, p. 379, fig. 4, nº 3). O
diâmetro do bordo é de 12,2 cm.

Thermae Cassiorum

100km

Tipo indeterminado de pequeno módulo.


Figura 79 – TipoDifusão no território português:
indeterminado de pequeno Lisboa.
módulo.
Difusão no território português: Lisboa.

433
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Na vasta bibliografia sobre produções gaulesas não se logrou identificar qualquer paralelo para
este exemplar. Se o perfil do corpo se aproxima das Gauloise 1, o bordo, ainda que distinto, encontra
maiores afinidades formais com as Gauloise 4. A este propósito, veja-se, a título de exemplo, as seme-
lhanças ao nível do lábio entre a peça da Rua das Pedras Negras e alguns exemplares de Alexandria
(Laubenheimer e Schmitt, 2009, p. 141, fig. 96, AMG752 e AMG753), Augst (Martin-Kilcher, 1994, Taf.
160, nºs 3106, 3112, 3131) ou Arras, no Norte da actual França (Laubenheimer e Marlière, 2010, p. 351,
N97F90Q07).
Os problemas de classificação que esta ânfora coloca em nada alteram a principal acepção que
se poderá retirar da sua presença em Olisipo: a de que também os contentores gauleses associados
essencialmente ao comércio regional entraram nos circuitos comerciais do Mediterrâneo e chegaram
à fachada atlântica da Península Ibérica, ainda que em proporções residuais. Tal é verificável pela pre-
sença em Olisipo não só desta peça mas também de ânforas de tipo Gauloise 1, var. B, e Gauloise 3,
anteriormente descritas.

6.2.6. Italia

6.2.6.1. Dressel 2-4

Inicialmente individualizadas por H. Dressel (1899) com os números 2 a 4 da sua tabela foram
posteriormente agrupadas num único tipo por N. Lamboglia (1955) e por F. Zevi (1966). Trata-se de uma
ânfora que evoluiu a partir dos protótipos helenísticos da Ilha de Cos do séc. III a.C. (v. supra), tendo-
-se tornado na forma mais imitada do mundo romano (Peacock e Williams, 1986; Empereur e Hesnard,
1987; Panella, 2001, p. 181).
O elemento morfológico mais característico deste tipo são as asas bífidas, formadas por dois ro-
los de secção circular justapostos que, arrancando abaixo do bordo, descem paralelas ao colo e repou-
sam num ombro com carena acentuada. O bordo é normalmente arredondado e espessado em relação
ao colo, sendo este alongado e de perfil cilíndrico ou troncocónico. O corpo pode variar entre um perfil
fusiforme ou cilíndrico, sendo rematado por um fundo maciço e alto (Peacock e Williams, 1986, p. 105;
Morais, 1998, p. 40; Filipe, 2008a, p. 39).
Considerada como sucessora da Dressel 1 no transporte dos vinhos itálicos, embora nunca alcan-
ce nas províncias ocidentais os volumes de importação que aquela alcançou (Fabião, 1989), foi produzi-
da ao longo de toda a costa tirrénica da Península Itálica, Etrúria, Lácio, Campânia e Calábria, e também
na costa adriática setentrional, central e meridional, desde o segundo quartel/meados do séc. I a.C. até
finais do séc. II d.C. ou séc. III (Zevi, 1966, p. 217; Carre, 1985, p. 226-228; Tchernia, 1986, p. 127; Empereur
e Hesnard, 1987, p. 36; Olcese, 2011-2012; Bezeczky, 2013, p. 129-130; Rizzo, 2014, p. 108-113).
A Dressel 2-4 Itálica encontra-se atestada um pouco por toda a área abrangida pelo Império Ro-
mano, embora com especial incidência no Mediterrâneo ocidental, ocorrendo desde a Britannia ao Nor-
te de África e da Lusitânia ao Egipto, Mar Vermelho e India (Peacock e Williams, 1986; Bezeczky, 2013).
No actual território português surge em Bracara Augusta (Morais, 2005), Cividade de Terroso
(Paiva, 1993), Monte Mozinho (Soeiro, 1984), Citânia de Briteiros (Silva, 1986), Conimbriga (Alarcão,
1976; Buraca, 2005), Lomba do Canho (Fabião, 1989), villa Cardílio (Diogo e Monteiro, 1999), Monte dos
Castelinhos (Pimenta et al., 2008), villa de Povos (Banha, 1991-92), Castanheira do Ribatejo (Cardoso,
2009), Chões de Alpompé (Diogo e Trindade, 1993-94), Idanha-a-Velha (Banha, 2006), Mérida (Almeida
e Sánchez Hidalgo, 2013), Cabo Espichel (Cardoso e Rodrigues, 2016), Tróia (Diogo e Trindade, 1998), Se-
túbal (Coelho-Soares e Silva, 1978; Silva et al., 2014), Concelho de Fronteira (Alves e Carneiro, 2011), Am-
maia (Venditti, 2014; Venditti, 2016), Monte da Nora (Teichner, 2008), Aljustrel (Trindade e Diogo, 1995),
Monte da Cegonha, Vidigueira (Pinto e Lopes, 2006), Tourega (Pinto et al., 2004; Pinto e Lopes, 2006),
Mirobriga (Diogo, 1999a), Ilha do Pessegueiro (Silva e Soares, 1993), Cabo Sardão (Cardoso, 1978), Ci-
dade das Rosas, Serpa (Norton et al., 2006), Balsa (Viegas, 2011), Quinta do Marim (Silva et al., 1992),
Cabo de Santa Maria (Cardoso, 2013), Quinta do Lago (Arruda e Fabião, 1990), Milreu (Teichner, 2008),

434
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

100km

Dressel 2-4 itálica (www.archaeologydataservice.ac.uk).


Figura 80 – Dressel 2-4noitálica
Difusão (www.archaeologydataservice.ac.uk).
território português: Braga, Citânia de Briteiros, Cividade de Terroso, Monte Mozinho, Conim-
Difusão no território
briga,português:
Lomba do Canho,Braga,
villa Citânia de Briteiros,
Cardílio, Chões Cividade
de Alpompé, de Terroso,
Castanheira Monte
do Ribatejo, Monte Mozinho, Conimbriga, Lom-
dos Castelinhos,
villaCardílio,
ba do Canho, villa de Povos, Lisboa,
ChõesCabo de Espichel,
Alpompé, Tróia,Castanheira
Setúbal, Idanha-a-Velha, Ammaia,
do Ribatejo, Horta da
Monte dosTorre, Monte de S. villa de Povos,
Castelinhos,
Francisco, Tróia,
Lisboa, Cabo Espichel, Talha deSetúbal,
Baixo, Monte da Nora, Tourega, Ammaia,
Idanha-a-Velha, Monte da Cegonha,
Horta Mirobriga,
da Torre,ilha do Pessegueiro,
Monte de SãoCa-Francisco, Talha
bo Sardão, Aljustrel, Cidade das Rosas, Balsa, Quinta do Marim, Cabo de Santa Maria, Quinta do Lago, Mil-
de Baixo, Monte da Nora, Tourega, Monte da Cegonha, Mirobriga, Ilha do Pessegueiro, Cabo Sardão, Aljustrel,
reu, Cerro da Vila, foz do rio Arade, Lagos, Quinta da Abicada.
Cidade das Rosas, Balsa, Quinta do Marim, Cabo de Santa Maria, Quinta do Lago, Milreu, Cerro da Vila, foz do rio
Arade, Lagos, Quinta da Abicada.

Cerro da Vila (Teichner, 2008), foz do rio Arade (Silva et al., 1987; Diogo et al., 2000), Lagos (Almeida e
Moros Diaz, 2014) e Quinta da Abicada, Mexilhoeira Grande (Teichner, 2008).
Em Lisboa encontra-se atestada na Rua das Pedras Negras (Gomes et al., 2017), Rua da Regueira
(Silva, no prelo), Teatro Romano (Filipe, 2015), Praça da Figueira (Fabião, 1998; Almeida e Filipe, 2013),
Castelo de São Jorge (Pimenta, 2005) e na Casa do Governador, Belém (Filipe, 2011).
Na amostra aqui em análise reconheceram-se 42 indivíduos de Dressel 2-4 de produção itálica,
exclusivamente da costa tirrénica, representando 1,31% dos contentores enquadráveis no Principado,
3,1% das importações extraprovinciais, 4,03% dos contentores vinícolas e 9,09% desses envases com
origem em outras províncias. Numa perspectiva regional, significa 73,68% das importações procedentes
da Península Itálica durante aquele período e 97,67% das produções atribuíveis à costa tirrénica.
Foram recolhidos nas intervenções do Banco de Portugal (cinco bordos, um fundo e 12 asas), Cal-
çada do Correio Velho (uma asa), Circo Romano (uma asa), Encosta de Sant’Ana (duas asas), Escadinhas
de São Crispim (um bordo, um fundo e duas asas), FRESS (um fundo), Grupo Desportivo do Castelo (um
bordo), Hotel de Santa Justa (uma asa), Largo de Sta. Cruz do Castelo (um fundo), Palácio dos Condes
de Penafiel (dois bordos e seis asas), antigas (dois bordos e duas asas) e recentes (nove bordos, nove
fundos e 27 asas) escavações da Praça da Figueira, Rua Augusta, 1988 (um fundo), Rua dos Bacalhoeiros
(uma asa), Rua dos Remédios (um bordo), Sé Catedral (dois fundos e três asas), Teatro Romano (uma
asa), antigas (um bordo, dois fundos e três asas) e recentes (uma asa) intervenções na Rua das Pedras
Negras, e na Travessa das Merceeiras (um fundo).
Mesmo tratando-se de um tipo com uma ampla diacronia de produção, em Lisboa são escassos
os exemplares recolhidos em contextos coevos. Os mais antigos centram-se todos na primeira metade
do séc. I d.C., correspondendo a um bordo da Rua dos Remédios identificado num estrato datado do
reinado de Cláudio; uma asa da Praça da Figueira, em nível de Cláudio-Nero; um fundo (nº 16302) da Sé
Catedral, em contexto do segundo terço do séc. I d.C.; e um fundo (nº 5238 de 2005) proveniente da
Fase 2 do Teatro Romano, em torno a meados do séc. I d.C.. Nas Escadinhas de São Crispim exumou-se

435
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

um fundo (nº 147) em estratos cuja cronologia foi atribuída à primeira metade do séc. II d.C.. Da Praça
da Figueira procedem duas asas e um fundo (nº 6296.02) identificados em contextos genericamente ba-
lizados entre meados do séc. II d.C. e meados da centúria seguinte. Provavelmente residuais serão três
asas e um bordo (nº 9198.02) exumados em níveis do último terço do séc. III d.C. naquela necrópole.
Relativamente à origem destas ânforas, deverão maioritariamente proceder da região da Cam-
pânia uma vez que em grande parte destes materiais se observa a presença de areias vulcânicas, típicas
das produções daquela região.
Tendo em conta a modesta representação destas formas na amostra de Olisipo, não restarão dú-
vidas quanto ao declínio da importação dos vinhos itálicos a partir da segunda metade do séc. I a.C. e ao
papel secundário que terão desempenhado no abastecimento daquele apreciado produto ao Ocidente
hispânico ao longo de todo o Alto-Império, algo que de há muito é reconhecido (Fabião, 1998A; Arruda
e Almeida, 1999). Ainda que reduzida, a informação contextual do conjunto em análise parece indicar
que o fluxo de chegada desse produto à fachada atlântica, embora quantitativamente pouco expressi-
vo, se manteve até final do séc. II/início do III d.C., embora se deva equacionar a hipótese dos materiais
documentados nos contextos dos séculos II e III poderem ser residuais.

6.2.6.2. Dressel 6A

Individualizada por H. Dressel (1899) com o número 6 da sua tabela, viria a ser subdividida por
P. Baldacci (1967-1968) em “forma II” e “forma III” e, poucos anos depois, em Dressel 6A e Dressel 6B
por E. Buchi (1973). Quanto às primeiras, herdeiras directas da evolução morfológica das Lamboglia 2,
foram produzidas entre o último terço do séc. I a.C. e meados do séc. I d.C., numa vasta área da Itá-
lia adriática setentrional, possivelmente na Calábria/Apúlia e ainda na costa da Dalmácia (Carre, 1985,
p. 209-218; Bezeczky, 2013, p. 120-122; Rizzo, 2014, p. 123). O facto de algumas olarias terem produzido
tanto a Lamboglia 2 como a Dressel 6A, a par das semelhanças existentes entre algumas variantes de
bordo de ambas, dificulta muitas vezes a distinção entre uma e outra, sobretudo quando se trata de
pequenos fragmentos (Bezeczky, 2013, p. 120).
Mantendo em mente que se trata de um tipo com apreciável diversidade morfológica, podem-se
genericamente descrever como contentores com bordo vertical, engrossado e em banda, colo normal-

100km

Dressel 6A (www.archaeologydataservice.ac.uk).
Figura 81 – Dressel 6Ano
Difusão (www.archaeologydataservice.ac.uk).
território português: Santarém, Lisboa, Setúbal.
Difusão no território português: Santarém, Lisboa, Setúbal.

436
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

mente alto e cilíndrico, asas de secção oval ou circular que arrancam abaixo do bordo e repousam num
ombro relativamente bem marcado, corpo piriforme e fundo alongado, maciço e troncocónico (Buchi,
1973, p. 547-548; Carre, 1985, p. 209-210; Rizzo, 2014, p. 123).
Destinavam-se aparentemente a transportar vinho (Carre, 1985, p. 218; Bezeczky, 2013, p. 122;
Rizzo, 2014, p. 123), tendo já sido demonstrado que as inscrições relacionadas com preparados de peixe,
conhecidas em alguns exemplares deste tipo, correspondem a casos de reutilização do contentor e não
ao produto originalmente envasado (Carre et al., 2009, p. 215-216).
A Dressel 6A foi sobretudo difundida na área do Mar Adriático, embora a sua presença esteja
atestada um pouco por todo o mediterrâneo ocidental e oriental e, inclusivamente, no mar vermelho
e India (Bezeczky, 2013, p. 122). No Ocidente Peninsular parece apenas estar atestada em Santarém
(Arruda et al., 2002, p. 126, nº 79) e Setúbal (Silva e Coelho-Soares, 2014, p. 309), estando igualmente
presente na capital provincial, Augusta Emerita (Almeida e Sanchez Hidalgo, 2013, p. 50).
O único exemplar reconhecido em Lisboa, proveniente de um contexto tardio da Praça da Fi-
gueira, poderá corresponder a uma produção do território de Fermo, na costa central adriática. Estes
fabricos são especialmente caracterizados pela recorrente inclusão de chamotas (Rizzo, 2014, p. 123),
observáveis na Dressel 6A da Praça da Figueira mas também em alguns exemplares de Lamboglia 2
identificados em Lisboa.
A sua exígua representatividade na amostra de Olisipo é demonstrativa do peso que as importa-
ções da costa adriática da Península Itálica tinham no comércio de alimentos transportados em ânfo-
ras durante o Alto-Império no Ocidente Peninsular, bem inferior à que havia alcançado durante a fase
republicana.

6.2.6.3. Dressel 21-22, Tipo 3 de Botte

Embora seja conhecido desde o séc. XIX, figurando nos célebres trabalhos de H. Dressel (1879),
R. Schoene (1871) e A. Mau (1909), este tipo só recentemente foi devidamente caracterizado. Num tra-
balho publicado em 2009, E. Botte redefine a tipologia das formas 21 e 22 de H. Dressel, criando quatro
tipos: 1A, 1B, 3 e 4. Esta divisão assenta em critérios morfológicos mas também petrológicos, uma vez
que aos diferentes tipos parecem corresponder distintos fabricos e regiões produtoras (Botte, 2009).

100km

Dressel 21-22, po 3 (Bo e, 2009).


Figura 82 – Dressel 21-22,
Difusão tipo 3português:
no território (Botte, 2009).
Lisboa.
Difusão no território português: Lisboa.

437
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Em termos gerais, apresenta-se como um contentor de boca larga, bordo normalmente moldu-
rado e descrevendo uma banda, asas de secção oval com nervura central no dorso, arrancando abaixo
do bordo e repousando no ombro. O colo é troncocónico e o ombro praticamente inexistente ou mais
ou menos destacado, dependendo do tipo, e corpo tendencialmente cilíndrico, com fundo maciço e
apontado (Peacock e Williams, 1986, p. 96; Botte, 2009, p. 125-162; Bezeczky, 2013, p. 124).
O único exemplar recolhido em Lisboa, proveniente de um contexto pós-romano da escavação
da Rua do Espirito Santo, Castelo, enquadra-se tipologicamente no Tipo 3 de Botte e apresenta um
fabrico atribuível à Campânia, região à qual o referido autor atribui a produção das Dressel 21-22, con-
cretamente Cumes e o seu território. Para além da Campânia, este tipo terá igualmente sido produzido
no Lácio, na Calábria e na Sicília (Peacock e Williams, 1986, p. 96; Panella, 2001, p. 194; Sangineto, 2001,
p. 212-214; Botte, 2009, p. 71-104; Olcese, 2011-2012, p. 511-513; Bezeczky, 2013, p. 125-126; Rizzo, 2014, p.
135-136). Parece ter sido imitada na província da Bética, onde a sua produção está atestada na olaria de
El Rinconcillo, Baía de Algeciras (Bernal Casasola e Jiménez-Camino Álvarez, 2004).
O Tipo 3 diferencia-se por possuir um bordo alto que apresenta uma saliência no topo do lábio
e um ressalto na ligação ao colo; este é mais estreito, o ombro é mais destacado e o corpo cilíndrico
(Botte, 2009, p. 146). Este subtipo da Dressel 21-22 foi produzido entre o último quartel do séc. I a.C. e o
final do século seguinte, estando presente em Pompeia (Botte, 2009, p. 158-159; Bezeczky, 2013, p. 124).
A existência de diversas inscrições pintadas permite afirmar com segurança que se destinaria a
transportar produtos piscícolas, tendo sido difundidas sobretudo no Mediterrâneo Ocidental, particu-
larmente em Itália e na Sicília, e pontualmente na bacia oriental do Mar Interior (Botte, 2009, p. 158-159;
Bezeczky, 2013, p. 124-126).
A sua distribuição no território hispânico parece ter sido pontual e pouco significativa, surgindo,
ao que se pôde apurar, apenas em Zaragoza, onde está presente o Tipo 3 de Botte (Cebolla Berlanga et
al., 2004, p. 468; Botte, 2009, p. 122, fig. 4-09), em Barcino (Aguelo Mas et al., 2010, p. 179) e em Lucentum
(Molina Vidal, 1997, p. 39).
A identificação deste tipo em Lisboa é deveras interessante, ainda que estatisticamente a sua re-
presentação seja meramente residual. Por um lado, para além de ser uma novidade por estas paragens,
alarga a área de difusão das Dressel 21-22 - contentores piscícolas - até ao extremo ocidental do Império,
região onde os preparados à base de peixe eram produzidos em grandes quantidades. Por outro, a sua
ocorrência em Olisipo poderá constituir um indício da utilização da rota atlântica no transporte destas
ânforas até à Britannia, onde surge bem representada em Colchester (Carreras Monfort, 1994, p. 129;
Botte, 2009, p. 122, fig. 4-09).

6.2.6.4. Schörgendorfer 558

Habitualmente denominadas “anfore troncoconiche da olive”, as Schörgendorfer 558 possuem


uma forma muito peculiar, tendo sido divididas em subtipo A e B por G. Muffanti Musselli (1987 apud
Bezeczky, 2013, p. 133). O bordo é normalmente moldurado e bem destacado de um colo cilíndrico.
As asas, de secção oval e com uma ou duas nervuras, arrancam da ligação do colo ao bordo e descem
paralelas ao colo ou de forma arqueada até repousarem no ombro, que apresenta uma carena muito
marcada na ligação ao corpo, desenvolvendo-se este de forma rectilínea ou convexa até uma pequena
base plana, internamente côncava (Carre, 1985, p. 231; Bezeczky, 2005b, p. 53; Mattioli, 2011, p. 166).
A localização dos centros produtores que fabricaram estas ânforas mantém-se como uma ques-
tão em aberto. Apesar de alguns investigadores terem proposto uma produção na Península da Ís-
tria (Baldacci, 1972, p. 18-25; Musselli, 1987 apud Bezeczky, 2005b, p. 53), R. Sauer viria a demonstrar,
através de análises petrológicas (Sauer, 2005, p. 120-121; Bezeczky, 2005b, p. 53-54; Bezeczky, 2013,
p. 133-134), que as Schörgendorfer 558 não foram produzidas naquela região, propondo, com base nas
características geológicas, que aquelas deveriam corresponder a produções da costa setentrional ou
central adriática da Península Itálica, enquanto S. Pesavento Mattioli (Mattioli, 2008, p. 341; Mattioli,
2011, p. 168-170) propõe igualmente a região central adriática para a origem daqueles contentores, con-
cretamente a área de Picenum.

438
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

100km

Schörgendorfer 558 (www.archaeologydataservice.ac.uk).


Figura 83 – Schörgendorfer 558 (www.archaeologydataservice.ac.uk).
Difusão no território português: Lisboa. Difusão no território português: Lisboa.
.

A existência de cerca de quatro dezenas de inscrições pintadas sobre este tipo de ânforas permi-
te afirmar que se destinavam a transportar azeitonas (verdes ou pretas) conservadas ex dulci, isto é, em
sapa, defructum ou mel (Carre, 1985, p. 232; Panella, 2001, p. 196; Bezeczky, 2005b, p. 55; Mattioli, 2008,
p. 338-339; Mattioli, 2011, p. 166-167).
A sua produção parece ter ocorrido entre os meados do séc. I d.C. e o final do séc. II, tendo sido
difundidas sobretudo na costa adriática da Península Itálica e províncias do Danúbio (Raetia, Noricum,
Pannonia, Moesia Superior e Dacia), surgindo ainda no Egipto, em Berenice, em Pérgamo, Ephesus e no
Mar Negro (Bezeczky, 2005b, p. 55-56; Mattioli, 2008, p. 335-336; Mattioli, 2011, p. 167-168; Bertoldi,
2012, p. 117; Bezeczky, 2013, p. 133-134). Na metade ocidental do Mediterrâneo, para além da Península
Itálica, parecem ser relativamente raras, ocorrendo em escassas quantidades na Gallia (Laubenheimer
e Marlière, 2010, p. 50; Bertoldi, 2012, p. 117) e estando aparentemente ausentes na Hispânia.
O único exemplar registado em Olisipo, conservando parte do bordo e colo e uma asa quase
completa, provém do acompanhamento realizado em 1988 na Rua Augusta, desconhecendo-se o seu
contexto estratigráfico. Tendo em conta o arquear das asas, esta peça parece corresponder ao subtipo
A (compare-se, por exemplo, com os exemplares publicados em Mattioli, 2011, fig. 1 a 4), aproximando-
-se o seu fabrico ao da peça nº 327 de Ephesus (Bezeczky, 2013, Pl. 78, nº 327).
A sua documentação em Olisipo parece representar uma novidade na península mais ocidental
do Império, testemunhando a comercialização pontual e minoritária nesta região de azeitonas da costa
adriática itálica durante o Alto-Império. A raridade destas ânforas no Ocidente sublinha a importân-
cia do seu reconhecimento em Lisboa, ampliando a área de comercialização destes contentores até
ao extremo ocidental do Mediterrâneo e realçando a relevância do porto desta cidade no quadro das
redes comerciais do Império. A escassa difusão deste contentor é habitualmente interpretada como
uma evidência do transporte de um produto de luxo (Carre, 1985, p. 232; Limbergen, 2016, p. 308-309),
apenas acessível às elites, enfatizando a capacidade aquisitiva de alguns cidadãos de Olisipo e, muito
provavelmente, de Mérida.

6.2.6.5. Richborough 527

Individualizada pela primeira vez em 1968 no âmbito do estudo dos materiais do forte romano
de Richborough, Kent, Reino Unido, onde lhe foi atribuído o número 527 (Pearce, 1968 apud Arthur,
1989, p. 250), seria só no final dos anos oitenta e inícios da década seguinte que o seu estudo registaria

439
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

significativo desenvolvimento (André, 1989; Arthur, 1989; Borgard e Gateau, 1991; Borgard, 1994;
Cavalier, 1994). Neste contexto, viriam a ser criadas duas categorias no seio deste tipo: uma primeira,
designada de grupo 1 e constituído por formas mais alongadas; e uma segunda, grupo 2, por contento-
res com corpos mais bojudos (Borgard e Gateau, 1991, p. 322). Em cada um destes dois grupos foram
ainda criados dois subgrupos, no que se traduziria em quatro variantes distintas correspondentes a
uma evolução formal e cronológica do que se considera ser um mesmo tipo: Lipari 1a, produzida entre
o segundo quartel do século I a.C. e o final do Principado de Augusto; Lipari 1b, desde o Principado
de Augusto até ao início da dinastia Flávia; Lipari 2a, de início de Flávios à primeira metade do século
II; e Lipari 2b, desde a primeira metade do século II até aos finais do século III/inícios do século IV d.C.
(Borgard e Gateau, 1991, p. 322-324; Borgard, 1994, p. 197-198; Borgard e Cavalier, 2003, p. 96-97; Borgard,
2005, p. 157 e 158).
Com notáveis semelhanças a alguns modelos púnicos, a Richborough 527 caracteriza-se, em ter-
mos gerais, por uma certa diversidade quanto ao perfil de bordo, sendo normalmente espessados, de
secção amendoada e verticais, podendo ser ligeiramente reentrantes ou levemente virados ao exterior.
O corpo é de tendência cilíndrica ou discretamente bojudo, exibindo habitualmente várias nervuras e
terminando num fundo maciço que pode ser mais ou menos curto. As asas são relativamente curtas e
semicirculares, de secção oval e com uma crista pouco pronunciada no dorso, arrancando de um colo
ligeiramente estrangulado, imediatamente abaixo do bordo, pousando na zona superior do corpo (Pea-
cock e Williams, 1986, p. 111; Arthur, 1989, p. 250; Borgard e Gateau, 1991, p. 322-324; Filipe, 2008a, p. 79).
Estes contentores foram produzidos na Ilha de Lipari, localizada junto à costa nordeste da Sicília
e do litoral sudoeste da Calábria, no arquipélago das Ilhas Eólias a Sul do Mar Tirreno. Ainda que se não
tenham identificado os fornos que as produziram, foram escavadas as entulheiras de uma olaria em
Portinenti onde, entre inúmeros fragmentos atribuíveis à Richborough 527, se documentou a existência
de rejeitados com defeitos de cozedura, cujas pastas apresentavam as características petrográficas da-
quele tipo (Cavalier, 1994, p. 192). Com base em análises petrográficas, foi sugerida a hipótese da produ-
ção destas ânforas se ter localizado, numa primeira fase, em local incerto fora das Ilhas Eólias (Borgard
e Capelli, 2005, p. 213). O mesmo estudo sugeriu também a possibilidade de as produções da olaria de
Portinenti utilizarem sobretudo argilas exógenas ao arquipélago, individualizando ainda dois grupos de
pastas com diferente composição, A e B, que estarão associados, respectivamente, às formas Lipari 1a
e Lipari 2a e 2b, que se sucedem no tempo (Borgard e Capelli, 2005, p. 212-213).

100km

Richborough 527 (www.archaeologydataservice.ac.uk).


Figura 84 – Richborough 527 (www.archaeologydataservice.ac.uk).
Difusão no território português: Braga, Conimbriga, Lisboa, Idanha-a-Velha, Ammaia.
Difusão no território
. português: Braga, Conimbriga, Lisboa, Idanha-a-Velha, Ammaia.

440
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

As Richborough 527 destinavam-se ao transporte da maior riqueza natural da ilha, isto é, o alú-
men, sulfato duplo de potássio e de alúmenínio hidratado, utilizado na Antiguidade Clássica para tingir
tecidos e curtir peles, mas também usado na medicina, ainda que em menor escala (Borgard, 1994, p.
200; Benquet e Olmer, 2002, p. 322-323; Borgard, 2005, p. 160-161; Botte, 2005, p. 199). Ainda assim, este
contentor foi já associado a outros possíveis conteúdos, sobretudo vinho e azeite, muito pela identi-
ficação de resíduos de azeite e de vinho em alguns exemplares (Arthur, 1989, p. 254), bem como pela
existência de vestígios de resina numa ânfora deste tipo proveniente de Nimes (Laubenheimer et al.,
1992, p. 144).
A longa diacronia da sua produção e comercialização resulta hoje numa ampla geografia de dis-
tribuição, particularmente notável na Gallia e na Britannia, mas também na Germania, Raetia, Noricum,
Italia, Sicília, Africa Proconsularis, Hispania, Turquia e faixa sírio-palestiniana, bem como em vários nau-
frágios das costas de França, Itália, Malta e Croácia (Bezeczky, 1998, p. 238; Borgard e Cavalier, 2003,
p. 101-102; Borgard, 2005, p. 164, fig. 2). Na Hispânia estão presentes, por exemplo, em Ampúrias (Ar-
thur, 1989, p. 255; Tremoleda et al., 2016, p. 76), Correu Vell, Barcelona (Carreras Monfort, 2007, p. 218),
Valência (Borgard e Cavalier, 2003, p. 102), La Loba (Benquet e Olmer, 2002, p. 322-323), Belo (Borgard
e Cavalier, 2003, p. 102), Sevilha (García Vargas, 2007a, p. 334; 2012, p. 258), Mérida (Almeida e Sánchez
Hidalgo, 2013, p. 50; Bustamante Álvarez e Cordero Ruiz, 2013, p. 89) e Astorga (Carreras Monfort e
Berni Millet, 2003, p. 638), encontrando-se atestadas no espaço hoje português em Bracara Augusta
(Morais, 2005, p. 117), Conimbriga (Alarcão, 1976, p. 88, nº 53; Buraca, 2005, p. 54-55), Idanha-a-Velha
(Banha, 2006, p. 49-51), Ammaia (Venditti, 2016, p. 221) e Lisboa, no Teatro Romano (Filipe, 2015a, p. 147)
e na Praça da Figueira (Almeida e Filipe, 2013, p. 742).
Na amostra aqui analisada, foram contabilizados 12 indivíduos, provenientes do Banco de Portu-
gal (um bordo), Escadinhas de São Crispim (um fundo e uma asa), Palácio dos Condes de Penafiel (dois
bordos e dois fundos), antigas (um bordo) e recentes (dois bordos, um fundo e duas asas) intervenções
da Praça da Figueira, Rua dos Bacalhoeiros (uma parede), Sé Catedral (um bordo), antigas intervenções
da Rua das Pedras Negras (dois bordos e um fundo) e Zara, Rua Augusta (um bordo).
Representam 0,37% das ânforas alto-imperiais e 0,89% das importações extraprovinciais desta
fase. Naturalmente, haverá que matizar os valores que dizem respeito ao Principado, uma vez que estes
envases também poderão ter chegado a Olisipo ainda em fase tardo-republicana ou já depois do séc. III
d.C., ou seja, fora do arco cronológico considerado na quantificação desta fase. Ainda que consciente
deste facto, optou-se por incluir no Principado todos os indivíduos deste tipo uma vez que, por um lado,
a sua produção centra-se sobretudo neste período e, por outro, não existem evidências estratigráficas
claras que demonstrem que as Richborough 527 chegaram ao extremo ocidental da península em fase
republicana ou mesmo na última etapa da sua produção, ainda que, sobretudo para esta última, seja
provável que tal tenha acontecido.
Relativamente à proveniência estratigráfica, apenas na Praça da Figueira se documentou um
exemplar em contexto coerente com o fabrico desta forma, neste caso um fragmento de asa exumada
na fossa 8933, bem datada de inícios do reinado de Tibério (Silva et al., 2016, p. 155-157). No caso Teatro
Romano, anteriormente publicado (Filipe, 2015, p. 147), embora a asa e fundo identificados procedam
de níveis de Época Moderna, o facto de nas várias intervenções do pátio não terem sido documentados
materiais posteriores ao Principado de Nero indiciam uma cronologia anterior para aquelas peças. No
caso vertente, o fundo é tipologicamente enquadrável no grupo 1a/b da classificação de P. Borgard
(Borgard e Gateau, 1991), confirmando essa cronologia e representando o exemplar mais antigo de Ri-
chborough 527 de Olisipo, a que se poderá, com algumas reservas, acrescentar um outro fragmento de
fundo do Palácio dos Condes de Penafiel (nº 44932). Todos os outros fragmentos classificáveis parecem
enquadrar-se no grupo 2a (nº 75136 da Rua das Pedras Negras; nºs 863 e 35109 do Palácio dos Condes de
Penafiel; fundo das Escadinhas de São Crispim; bordo Banco de Portugal; e bordo da Zara) e no grupo
2b (nºs 2497.01, 2072.01 e 9120.06 da Praça da Figueira; e nº 36306 do Palácio dos Condes de Penafiel), ou
genericamente no grupo 2a/b (nº 75139 da Rua das Pedras Negras e nº 11573 da Sé). Refira-se ainda que o
facto de os materiais de Época Romana da Rua dos Bacalhoeiros se enquadrarem maioritariamente no
período Júlio-Cláudio poderá indiciar que o exemplar aí reconhecido possa também pertencer ao grupo
1, embora tal não passe do campo das hipóteses uma vez que foi exumado em contexto pós-romano.

441
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Tendo em conta estes dados, sobressai, por um lado, a escassez de ânforas do grupo 1 e, portan-
to, da importação de alúmen das ilhas Eólias entre a tardo-república e os meados do séc. I d.C. (o exem-
plar do Teatro terá necessariamente que se enquadrar neste largo espectro temporal, quer por falta
de coordenadas estratigráficas quer pela existência de abundante cerâmica deste lapso temporal), e,
por outro, a prevalência do grupo 2 e uma aparente constância na importação daquele produto entre
meados do séc. I d.C. e o final do III/início do IV.
Naturalmente poder-se-á descortinar na relativa frequência destes contentores na Hispania - que
deverá ser mais significativa do que o actual estado da investigação permite perceber (como, aliás, já
anteriormente referido: Morais, 2005) - uma associação à sua presença na Britannia e nas regiões cos-
teiras do Norte do continente europeu através da rota atlântica.

6.2.7. Norte de África

6.2.7.1. Dressel 2-4/Schoene-Mau XXXV

No âmbito das produções norte-africanas inspiradas nos modelos de tradição coa, M. Bonifay
(2004a) considerou três tipos distintos: Dressel 2-4, pseudo-Dressel 2-4 e Schoene-Mau XXXV, respec-
tivamente tipos 56, 57 e 58 da sua tipologia. O primeiro corresponde a uma verdadeira imitação do
modelo itálico, de asas bífidas, bordo arredondado, colo alto e cilíndrico, ombro carenado e corpo ci-
líndrico ou fusiforme rematado por fundo maciço e alto. A cronologia da sua produção foi inicialmente
enquadrada entre o início do séc. I d.C. e meados do séc. II (Bonifay, 2004a, p. 146-147; Fentress, 2001,
p. 261-263), mas entretanto estendida até finais do séc. II ou inícios do III com base nos dados de Ós-
tia (Rizzo, 2014, p. 290). A designada pseudo-Dressel 2-4 distancia-se da forma itálica por apresentar
dimensões mais reduzidas e linhas menos marcadas e mais suaves, no que poderá representar uma
reinterpretação do modelo, ainda que claramente inspirada naquela (Bonifay, 2004a, p. 146-147). Por
fim, a Schoene-Mau XXXV, igualmente derivada das Dressel 2-4 tirrénicas mas de muito menor dimen-
são, identificada em Pompeia e bem documentada em Óstia, cujo fabrico de estendeu entre o final do
Principado de Tibério/início do de Cláudio e o final do séc. II/início do séc. III (Schoene, 1871; Mau, 1909;
Panella, 1973, p. 478-482; Fontana, 2005; Rizzo, 2014, p. 289-290). Destas três formas, as duas últimas
parecem ter alcançado maior sucesso comercial, estando melhor atestadas quer nos centros de consu-
mo quer nos centros de produção (Bonifay, 2016, p. 605).
Estes tipos foram produzidos no território da antiga Tripolitânia, na área que actualmente cor-
responde ao sudeste da Tunísia e noroeste da Líbia, nas olarias de Trípoli, Zian, Ilha de Jerba e Gallala
(Panella, 1973, p. 481; Fentress, 2001, p. 261-263; Panella, 2001, p. 211; Bonifay, 2004a, p. 146; Bonifay et
al., 2010, p. 325; Rizzo, 2014, p. 289-290). Com base na associação aos produtos transportados pelos mo-
delos que imita, presume-se que as Dressel 2-4/Schoene-Mau XXXV terão servido para transportar vinho,
faltando, contudo, evidências directas que o comprovem (Panella, 1973, p. 481; Bonifay, 2007a, p. 14).
No actual estado da investigação, o conhecimento que temos acerca da difusão destes mode-
los norte-africanos de asas bífidas poderá ser ainda bastante incompleto, sendo apenas conhecidos no
Norte de África, Tunísia e Líbia (Lazreg et al., 1995; Fentress, 2001, p. 261-263; Bonifay, 2004a, p. 146);
em Malta (Bruno, 2004, p. 146); em Itália, Pompeia (Schoene, 1871; Mau, 1909), Óstia (Panella, 1973,
p. 478-482; Manacorda, 1977, p. 374; Rizzo, 2014, p. 289-291), Roma (Panella, 1992, p. 190; Rizzo, 2003,
p. 154 e 169; Ferrandes, 2008, p. 253, 258-250 e 264; Coletti e Lorenzetti, 2010, p. 158; Revilla Calvo, 2014,
p. 563; Rizzo, 2014, p. 289), na região da Apúlia (Volpe et al., 2007, p. 359) e, entre outros, Aquileia (Ceazzi
e Del Brusco, 2014, p. 946); em França, Fréjus (Rivet, 2004, p. 167-188), Lyon (Lemaître et al., 2011, p. 206)
e, entre outros, Arles (Bonifay e Piton, 2008, p. 593; Djaoui et al., 2015, p. 181; Duperron e Capelli, 2015,
p. 168-170); na Holanda, Nijmegen (Almeida et al., 2014a, p. 383; Berg e Schimmer, 2017, p. 129).
Na Península Ibérica parecem escassear, tendo aparentemente apenas sido identificadas na fa-
chada ocidental em Bracara Augusta (Morais, 2005, p. 101) e, mais recentemente e já no âmbito deste
estudo, na Rua de São Mamede em Lisboa (Mota et al., 2017).

442
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

Dressel 2-4 Schöene-Mau XXXV Pseudo-Dressel 2-4

100km

Dressel 2-4/Schöene-Mau XXXV (Bonifay, 2004; Panella, 1973).


Figura 85 – Dressel 2-4/Schöene-Mau
Difusão XXXV
no território português: (Bonifay,
Braga, Lisboa. 2004; Panella, 1973).
.
Difusão no território português: Braga, Lisboa.

Incluindo o fragmento de fundo da Rua de São Mamede, foram contabilizados seis indivíduos
de Dressel 2-4/Schöene-Mau XXXV em Olisipo, provenientes do Hotel de Santa Justa (um bordo), do
Largo de Santo António (um fundo), do Palácio dos Condes de Penafiel (um bordo) e da Sé Catedral
(dois bordos). Representam 0,19% das ânforas imperiais e 0,44% das importações extraprovinciais deste
período. Ainda relativamente a esta fase cronológica, correspondem a 0,58% do total de contentores
vinários, valor que sobe para 1,30% se se exceptuarem os envases de produção lusitana. No quadro geral
das importações anfóricas em Olisipo durante o Principado as Dressel 2-4/Schöene-Mau XXXV de origem
norte-africana têm um significado estatístico perfeitamente marginal. Todavia, no âmbito do comércio
de produtos alimentares provenientes daquela província e naquele período o seu peso é relativamente
significativo, correspondendo a 10,71%.
Os exemplares de Lisboa provêm quase integralmente de contextos atribuíveis à Antiguidade
Tardia e fases pós-romanas, com excepção do fragmento de fundo da Rua de São Mamede recolhido em
nível bem datado de entre o último quartel do séc. I d.C. e primeiro terço do séc. II (Mota et al., 2017).
O estado fragmentado das peças de Lisboa dificulta bastante o respectivo enquadramento tipoló-
gico nas diferentes formas norte-africanas de asas bífidas e, eventualmente, até neste grupo de ânforas,
como é o caso do bordo nº 11251 da Sé Catedral ou do fundo do Largo de Santo António, cuja classifica-
ção não deixa de colocar algumas dúvidas. Os bordos da Sé Catedral e do palácio dos Condes de Penafiel
apresentam diâmetros superiores a 12 cm, pelo que não deverão corresponder à forma Schöene-Mau
XXXV, normalmente com diâmetros abaixo dos 12 cm (Fontana, 2005). Já o bordo do Hotel de Santa Jus-
ta, com 12,3 cm de diâmetro, poder-se-á eventualmente enquadrar em qualquer das três formas.

6.2.7.2. Pupput T 700.4/T 700.5

As formas Pupput T 700.4 e T 700.5 foram individualizadas por M. Bonifay (2004a, p. 103) a partir
dos exemplares completos da necrópole de Pupput, considerando-as no grupo dos tipos precursores
das ânforas romanas africanas clássicas da Bizacena (Bonifay, 2004b, p. 26). Apesar da grande seme-
lhança ao nível do perfil do bordo da primeira destas formas com a Africana IA - inclinado e convexo na
face externa -, o corpo distingue-se por se desenvolver de forma mais ampla e com tendência a alargar-
-se na sua metade inferior. Os fundos podem ser proeminentes e cónicos ou simplesmente apontados.

443
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

O colo é curto e troncocónico, os ombros arredondados e descaídos e as asas, de secção aplanada e


perfil semicircular, apresentam várias estrias longitudinais na face externa, arrancando abaixo do bordo
e descansando no ombro (Bonifay, 2004a, p. 103).
A Pupput T 700.5 diferencia-se por possuir um bordo maciço, de secção triangular, com o vértice,
muito bem vincado, situado a meia altura daquele, um colo alto e troncocónico, corpo amplo e um fun-
do curto de base aplanada (Bonifay, 2004a, p. 103).
Ambas formas se encontram ainda relativamente mal atestadas tanto em centros de consumo
como em centros de produção, pelo que os dados relativos à cronologia de fabrico e comercialização
são ainda assaz escassos, sobretudo no que se refere às balizas de início e fim de produção. Os exem-
plares completos da necrópole de Pupput datam de meados do séc. II d.C. (Bonifay, 2004b, p. 26), tal
como as peças do Monte Testaccio (Revilla Calvo, 2003, p. 399-411), surgindo em Óstia em níveis tardo-
-Antoninos (Rizzo, 2014, p. 282). Com base nestes dados, as Pupput T 700.4 e T 700.5 são actualmente
genericamente consideradas como produções do séc. II d.C.
A sua produção poderá ter ocorrido no centro e Norte da costa tunisina virada a oriente, nas ola-
rias de Leptiminius (Bonifay, 2004a, p. 103) e proximidades de Neapolis (Rizzo, 2014, p. 282).
Pouco ou nada se sabe relativamente ao produto que se destinavam a transportar (Bonifay, 2016,
p. 596, fig. 2), ainda que a sua presença no Monte Testaccio tenha levado G. Rizzo (2014, p. 282) a colo-
car a questão sobre um eventual conteúdo oleícola.
Como já comentado, encontram-se registadas em muito poucos sítios e quase sempre em quan-
tidades ínfimas, ocorrendo na actual Tunísia (Van der Werff, 1982, Pl. 50; Bonifay, 2004a, p. 103; Mrabet
e Moussa, 2007, p. 21, nº 9.2), notavelmente na necrópole de Pupput (Bonifay, 2004b, p. 26), em Roma
(Revilla Calvo, 2007, p. 273 e fig. 2, nº 8), em Óstia (Rizzo, 2014, p. 282), na Córsega (Lang-Desvignes, 2011
apud Rizzo, 2014, p. 282) e em Fréjus (Excoffon e Pellegrino, 2015, p. 156, nota 4).
A sua presença na amostra que aqui se analisa está atestada por um exemplar exumado nas es-
cavações do Palácio dos Condes de Penafiel e, possivelmente, por um outro da Sé Catedral. Em relação
ao primeiro, trata-se de um pequeno fragmento de bordo fracturado na sua ligação ao colo. Tendo em
conta a sua reduzida dimensão, e em função da já referida similitude entre estas formas e a Africana 1A,
poderá não resultar totalmente pacífica a sua classificação enquanto Pupput T 700.4 ou T 700.5. Porém,
a secção nitidamente triangular da peça e o ângulo bem vincado situado a meia altura do bordo parecem
apontar mais para o tipo Pupput T 700.5 do que para a Africana 1A, cuja face externa do bordo é convexa.

Pupput T 700.4 Pupput T 700.5

100km

Pupput T 700.4/T 700.5 (Bonifay, 2004).


Figura 86 – Pupput T 700.4/T
Difusão 700.5
no território (Bonifay,
português: 2004).
Lisboa.
.
Difusão no território português: Lisboa.

444
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

Infelizmente desconhecem-se as coordenadas estratigráficas deste exemplar. Já em relação à peça da


Sé, um fundo proeminente com grafito ante cocturam, ainda que apresente traços morfológicos próxi-
mos à ânfora de tipo Pupput T 700.4 da necrópole de Pupput (Bonifay, 2004a, p. 100, fig. 53, Type 16, 1;
Bonifay, 2004b, p. 25, fig. 9, nº 10), ostenta características que a poderão aproximar de outras formas,
como a Keay LV/LVI, hipótese realçada pelo facto de proceder de um contexto tardio, pelo que a sua
classificação é naturalmente interrogada. Foi exumado em contexto do séc. IV/V.
A importância da sua identificação no conjunto anfórico de Lisboa, sem qualquer expressão quan-
titativa (0,06% do NMI), é marcada sobretudo pela novidade que representa a sua presença no extremo
ocidental do Império, uma vez que, ao que se conseguiu apurar e para além de se tratar de um tipo cuja
difusão parece ter sido bastante reduzida, ainda não havia sido identificada na Península Ibérica.

6.2.7.3. Ostia LIX

Considerada por C. Panella (2001, p. 209) como representante da primeira geração de ânforas
de “tradição romana” de origem tunisina e enquadrada no grupo das formas precursoras das ânfo-
ras africanas clássicas por M. Bonifay (2004a, p. 101), o tipo Ostia LIX foi caracterizado pela primeira
vez a partir do material estratificado das escavações das Termas do Nadador, em Óstia (Panella, 1973,
p. 571-572).
Ausente na tabela tipológica de H. Dressel (1899) e exibindo algumas variações (Contino, 2013;
Contino e Capelli, 2016), em termos gerais a Ostia LIX distingue-se morfologicamente por um corpo
cilíndrico que transita de forma suave e afunilada para um fundo oco de pequena dimensão, podendo
este ser plano na sua base ou ligeiramente arredondado. O bordo é arredondado, engrossado exte-
riormente e bem destacado de um colo relativamente curto, cilíndrico ou ligeiramente troncocónico,
cuja transição para o ombro é bem acentuada, sendo este arredondado e descaído. As asas são cur-
tas, de perfil curvo e secção oval, arrancando abaixo do bordo e repousando no ombro (Panella, 1973,
p. 571-572; Contino, 2013, p. 319; Rizzo, 2014, p. 278; Bonifay et al., 2015, p. 191-192; Contino e Capelli, 2016,
p. 547-549).
A cronologia da sua produção e comercialização assenta sobretudo nos dados contextuais docu-
mentados em Roma (Rizzo, 2003; Ferrandes, 2008; Contino, 2013; Contino e Capelli, 2016, p. 549), Pom-
peia (Panella, 1973, 571-574; Bonifay, 2004a, p. 101; Scotti, 1984), Óstia (Panella, 1973; Panella, 1983 apud
Bonifay et al., 2015, p. 191; Rizzo, 2014), Arles (Bonifay et al., 2015; Djaoui et al., 2015) e Fréjus (Excoffon
e Pellegrino, 2015), permitindo, no actual estado da investigação, datar este tipo de entre a segunda
metade do séc. I d.C. e a segunda metade do séc. II (Bonifay et al., 2015, p. 192), mantendo-se em aber-
to a possibilidade do seu fabrico ter perdurado até cerca de meados do séc. III, conforme os dados do
Monte Testaccio parecem demonstrar (Revilla Calvo, 2007, p. 327)57. O apogeu da sua distribuição pa-
rece localizar-se na primeira metade do séc. II d.C., particularmente nos reinados de Trajano e Adriano,
sendo também bastante comum em contextos de Época Flávia (Contino, 2013, p. 319).
Embora seguramente produzidas na Africa Proconsularis, na área da Zeugitânia e Bizacena, e,
possivelmente, também na Tripolitânia (Contino, 2013, p. 319-320), não foram ainda documentados os
centros oleiros que as terão fabricado, ainda que fortes indícios apontem para uma possível produção
no Norte da Tunísia, na zona de Tabarka (Bonifay, 2016, p. 600). No entanto, em Salakta registou-se a
produção de uma forma, denominada Sullecthum 3 (Nacef, 2015, p. 38 e fig. 42), que se considera ser
uma imitação da Ostia LIX, cujas pastas, com características particulares desta zona, se afastam das
usualmente observadas nos contentores daquela forma sendo, por esse motivo, facilmente diferenciá-
veis (Bonifay et al., 2015, p. 202; Bonifay, 2016, p. 600).
No que concerne à problemática do produto transportado pelas Ostia LIX, e apesar de serem
conhecidas inúmeras inscrições pintadas em exemplares deste tipo bem como diversos resultados de
análises - não faltando, inclusivamente, casos de nítida reutilização destes envases para transporte ou

57. Acerca desta questão, v. considerações de M. Bonifay e colaboradores em Bonifay et al., 2015, p. 192, notas 26 a 29.

445
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

100km

Os a LIX (Panella, 1973; Bonifay, 2004).


Figura 87 – OstiaDifusão
LIX (Panella, 1973;
no território Bonifay,
português: 2004).
Lisboa.
.
Difusão no território português: Lisboa.

armazenagem de outros produtos (Djaoui et al., 2015) -, o tema está ainda longe de resolvido. Por um
lado, foi inicialmente colocada por C. Panella a hipótese de se destinar ao transporte de azeite (Bonifay,
2016, p. 600), proposta que tem também sido seguida por outros autores em trabalhos mais recentes,
alicerçados tanto em tituli picti como em análises de resíduos orgânicos, para além, claro está, da sua
sugestiva presença no Monte Testaccio (Revilla Calvo, 2007, p. 332; Contino, 2013, p. 327; Rizzo, 2014, p.
280). Por outro, com base na reanálise de um expressivo conjunto de inscrições pintadas sobre ânforas
deste tipo oriundas de Pompeia, foi proposto um conteúdo vinícola ou de produtos derivados do vinho
(Peña, 2007b apud Bonifay et al., 2015, p. 193), hipótese entretanto refutada por alguns investigadores
que, apoiados em vários tipos de evidências, incluindo também a epigrafia anfórica, demonstraram que
esta ânfora terá sido muito provavelmente utilizada tanto no transporte de azeitonas como de azeite
(Bonifay et al., 2015, p. 200). Refira-se que, face às evidências actualmente conhecidas, esta última hipó-
tese parece ser a que melhor fundamento apresenta.
Trata-se de um contentor que parece ter sido principalmente destinado aos mercados da costa
tirrénica da Península Itálica, sobretudo atestado em Roma e Pompeia, e do Sul de França, regiões onde
a sua presença é mais frequente e quantitativamente mais significativa, embora sempre em proporções
discretas, ocorrendo esporadicamente nas províncias do Norte do Império e no Mediterrâneo Orien-
tal. Por esta ordem, poder-se-ão referir os já citados casos de Óstia, Roma e Pompeia (v. supra, com
referências), a que se poderão acrescentar Monte Colma e Prino na Ligúria (Gambaro e Parodi, 2016, p.
517), Luni ou Settefinestre no litoral tirrénico e Otranto, Aquileia ou Ravena no adriático (Contino, 2013,
p. 320); para além de Arles e Fréjus (v. supra), foi documentada em Fos-sur-Mer, Bouches-du-Rhône
(Marty e Zaaraoui, 2009, fig. 14, nº 5), Istres (Bonifay et al., 2015, p. 191, nota 16) e Toulon (Brun et al.,
1992, p. 126); na actual Suíça, em Augst (Martin-Kilcher, 1994, p. 447 e Taf. 246); na Tunísia e Argélia
(Panella, 1973, p. 571-572; Manacorda, 1977, p. 361; Peacock et al., 1989, p. 210; Bonifay, 2004a, p. 101;
Contino, 2013, p. 320); no Mediterrâneo Oriental, em Gortina, Creta (Portale e Romeo, 2001, p. 280),
Ephesus, Turquia (Bezeczky, 2013, p. 155), em Khabata, Qaret el-Toub (Bonifay, 2007b, p. 457) e Al-Zarqa
(Brun, 1994, p. 13 e fig. 6) no Egipto, embora estes últimos casos suscitem algumas dúvidas. A Ostia LIX
está identificada no litoral italiano nos naufrágios de Grado (Auriemma, 2000), Camarina A (Bonifay,
2016), Capo Graziano e Capo Plaia (Contino, 2013), podendo-se ainda referir um exemplar do naufrágio
de Demakos, ao largo da costa egeia da Grécia, que parece poder corresponder a uma variante dos
tipos Ostia LIX ou XXIII (Koutsouflakis e Argiri, 2015, p. 5).

446
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

Até agora, tanto quanto se conseguiu apurar, a sua presença era desconhecida na Península
Ibérica. Em Lisboa identificaram-se três fragmentos de bordo no conjunto anfórico da Sé Catedral e
um fundo na colecção das antigas escavações da Rua das Pedras Negras. Se a classificação do bordo
nº 16043 não parece oferecer grandes dúvidas, enquadrando-se nas formas clássicas das Ostia LIX, com
um bom paralelo em Óstia (Rizzo, 2014, Tav. 44, nº 347) e com um fabrico que deverá corresponder
ao Norte da Tunísia, já os dois outros bordos (nºs 11061 e 10523) e o fundo poderão colocar algumas
dúvidas, podendo, no caso do último, corresponder antes a um contentor de tipo Ostia XXIII (a este
respeito v. Rizzo, 2014, p. 278, nota 1022). Ainda assim, optou-se por seguir a proposta de M. Bonifay
(2004a, p. 101 e fig. 53, Type 15, nº 2), classificando-o como Ostia LIX, ainda que de forma interrogada.
Já em relação aos bordos nºs 11061 e 10523, poder-se-ão referir como paralelos aproximados o exemplar
completo de El Jem (Nacef, 2015, p. 37, nº 17) e algumas peças do Monte Testaccio (Revilla Calvo, 2014,
fig. 5, nº 7 e 8), de Óstia (Rizzo, 2014, Tav. 44, nº 354), de Roma (Ferrandes, 2008, fig. 10, nº 99) e de Arles
(Duperron e Capelli, 2015, p. 170-171 e fig. 4, nº 11), ainda que este último seja classificado como Ostia
XXIII, ou ainda um exemplar do centro produtor de Henchir Bouker/Salakta (Nacef, 2015, p. 206, nº 4).
Poderão corresponder a formas de transição entre a Ostia LIX e a Ostia XXIII (Ferrandes, 2008, p. 264),
ou a contentores enquadráveis no Grupo I de A. Contino, concretamente no tipo AAfr7 (Contino, 2013,
p. 322-324 e fig. 3, nº 8). O bordo da Sé, variante clássica, dever-se-á enquadrar cronologicamente entre
a dinastia Flávia e o final do séc. II d.C. (Bonifay et al., 2015, p. 191-192). Os três bordos foram, desafortu-
nadamente, exumados em contextos tardios e pós-romanos.
Representa 0,12% das ânforas alto-imperiais, 0,30% das importações extraprovinciais deste perío-
-do, 7,14% das ânforas provenientes do Norte de África, 0,63% dos contentores oleícolas e 18,18% do
azeite norte-africano.
Apesar de estatisticamente não ser particularmente representativa, como de resto parece acon-
tecer com a generalidade das ânforas norte-africanas no extremo Ocidente Peninsular, a sua identifica-
ção em Olisipo adquire especial importância pela novidade que representa, demonstrando que, ainda
que de forma minoritária, os produtos alimentares oriundos do Norte de África aportavam ao extremo
ocidental do Império durante os séculos I e II d.C., transportados em contentores precursores das for-
mas africanas clássicas. De igual forma parece importante realçar o facto de, à semelhança de outros
tipos presentes nesta amostra, se registar em Olisipo uma ânfora cuja difusão foi, tanto quanto o actual
estado da investigação permite entrever, relativamente reduzida e, aparentemente, sobretudo orien-
tada para o centro do Império, o que deverá sublinhar a importância desta cidade ocidental e do seu
papel no abastecimento à capital provincial Augusta Emerita, bem como a sua efectiva incorporação nas
principais rotas e destinos comerciais do Mediterrâneo durante o Alto-Império.

6.2.7.4. Ostia XXIII

Tal como o tipo anteriormente descrito, também a Ostia XXIII foi inicialmente caracterizada por
C. Panella a partir do material estratificado das escavações das Termas do Nadador, Óstia, pertencen-
do à primeira geração de ânforas norte-africanas de morfologia tipicamente romana, precursoras das
formas clássicas amplamente produzidas naquela região (Panella, 1973, p. 573-574; Bonifay, 2004a,
p. 101). Trata-se de um contentor próximo ao tipo Ostia LIX, quer em termos formais quer no que diz res-
peito ao fabrico e conteúdo, caracterizando-se morfologicamente por um corpo cilíndrico, com bordo
engrossado, arredondado e inclinado ao exterior de forma oblíqua, colo curto e cilíndrico, asas curtas,
de perfil semicircular e secção tendencialmente oval, arrancando sob o bordo e repousando no ombro,
sendo este arredondado e descaído. A transição da pança para o fundo pode ser relativamente suave
ou mais acentuada, sendo aquele oco e de pequena dimensão, plano na sua base ou ligeiramente arre-
dondado (Panella, 1973, p. 573-574; Contino, 2013, p. 320; Rizzo, 2014, p. 281; Excoffon e Pellegrino, 2015,
p. 156-159).
Embora a Ostia XXIII tenha evoluído a partir da Ostia LIX, enquanto a Africana I terá evoluído a
partir da Ostia XXIII, trata-se efectivamente de tipos diferentes que são produzidos simultaneamente
em boa parte da sua diacronia, não se sucedendo a produção de um à produção do outro (Contino, 2013,

447
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

100km

Os a XXIII (Excoffon e Pellegrino, 2015).


Figura 88 – OstiaDifusão
XXIIIno
(Excoffon e Pellegrino,
território português: Lisboa,2015).
Monte Molião.
.
Difusão no território português: Lisboa, Monte Molião.

p. 320; Rizzo, 2014, p. 281; Bonifay et al., 2015, p. 200). Actualmente considera-se que foi produzida no
lapso temporal compreendido entre o final do séc. I d.C. e o início do séc. III (Contino, 2013, p. 320),
surgindo em Óstia apenas a partir do início do séc. II d.C. (Rizzo, 2014, p. 281).
A informação relativa aos centros oleiros onde foi produzida é ainda escassa, presumindo-se, com
base nas suas características petrográficas, que tenha sido fabricada nas mesmas regiões que a Ostia
LIX, ou seja, na área da Zeugitânia, Bizacena (sobretudo na região de Tabarka, no Norte da Tunísia) e,
possivelmente, Tripolitânia (Contino, 2013, p. 320; Rizzo, 2014, p. 281). Recentemente foi documentado
um possível centro produtor destas ânforas em Leptiminus, Lamta (Rizzo, 2014, p. 281; Bonifay, 2016, p.
600), enquanto na já referida região de Salakta se documentou igualmente a produção de Ostia XXIII, aí
denominada Sullecthum 4 (Nacef, 2015, p. 38-40 e fig. 43), sendo as suas pastas, como já se referiu em
relação ao caso das Ostia LIX, bastante diferentes das que usualmente se observam nestes contentores.
Relativamente ao conteúdo destas ânforas, parece existir um consenso generalizado de que se
destinariam ao transporte de azeite, sobretudo motivado pela ausência de exemplares com revesti-
mento interno resinoso, pela sua presença no Monte Testaccio e pela sua relação com a Africana I, bem
como pela existência de inúmeros vestígios de exploração oleícola na principal região onde se suspeita
terem sido produzidas - Tabarka, no Norte da Tunísia (Panella, 2001, p. 209; Revilla Calvo, 2007, p. 271;
Rizzo, 2014, p. 281; Bonifay et al., 2015, p. 200; Bonifay, 2016, p. 600).
Aparentemente terá conhecido uma difusão algo mais circunscrita que a Ostia LIX, mas igualmen-
te em quantidades discretas e concentrada no Mediterrâneo Ocidental, principalmente na costa tirréni-
ca da Península Itálica e no Sul de França, para além da região tunisina onde, apesar de tudo, não é es-
pecialmente abundante. Encontra-se atestada, entre outros locais, no Norte de África (Bonifay, 2004a,
p. 101); em Malta (Bruno, 2004, p. 146); possivelmente na Sicília (Facella et al., 2010, p. 157); na costa
tirrénica da Península Itálica, em Roma (Rizzo, 2003, p. 176; Revilla Calvo, 2007, 271; Ferrandes, 2008,
p. 264; Contino, 2013, p. 317), Óstia (Panella, 1973, p. 573-574; Manacorda, 1977, p. 133-134; Rizzo, 2014,
p. 281) e Luni (Contino, 2013, p. 321), e no litoral adriático, em Otranto e Aquileia (Contino, 2013, p. 320);
em França, Arles (Bonifay, 2004a, p. 101; Duperron e Capelli, 2015, p. 170-171) e Fréjus (Excoffon e Pelle-
grino, 2015, p. 156-159); e no Egipto (Bonifay, 2007b, p. 457). Em contextos subaquáticos, está presente
nos naufrágios de Camarina A, Capo Ognina, Capo Graziano e Capo Plaia (Contino, 2013, p. 321). Na
Península Ibérica parecem estar documentadas apenas no território português onde foi recentemente
identificado um exemplar em Monte Molião, Lagos (Arruda e Viegas, 2016, p. 456).

448
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

No conjunto anfórico de Lisboa foram identificados três indivíduos assinaláveis à forma Ostia
XXIII, registados na Rua dos Bacalhoeiros (um bordo), Sé Catedral (um bordo) e antigas escavações da
Rua das Pedras Negras (um fundo), todos recolhidos fora de contexto. Os dois fragmentos de bordo
encontram paralelos em algumas peças de Fréjus, contexto datado do último quartel do séc. II d.C.
(Excoffon e Pellegrino, 2015, fig. 4, nº 1), e do Monte Testaccio, de níveis em torno a meados do mesmo
século (Revilla Calvo, 2007, fig. 3, nº 10). Relativamente ao fragmento de fundo, com um bom paralelo
em Pompeia (Panella, 1983 apud Bonifay, 2004a, p. 101, Type 14, nº 2), coloca-se o mesmo problema
descrito para o fundo classificado como Ostia LIX (v. supra), tendo-se, ainda assim, optado por uma
classificação no tipo Ostia XXIII.
Representa 0,09% do conjunto das ânforas alto-imperiais, 0,23% das importações extraprovinciais
deste período, 5,36% das ânforas provenientes do Norte de África, 0,47% dos contentores oleícolas e
13,64% do azeite norte-africano. Relativamente à importância e significado da sua presença em Olisipo,
poder-se-á repetir o que atrás se escreveu sobre as Ostia LIX.

6.2.7.5. Uzita Pl. 52,10

Contentor de singular morfologia no quadro das produções africanas, sobretudo ao nível do per-
fil do bordo e da secção das asas, a Uzita Pl. 52,10 foi inicialmente identificada por J. H. Van der Werff
no estudo dos materiais das escavações de Uzita (Van der Werff, 1982, p. 185, Pl. 52, nº 10), tendo sido
relacionada com as ânforas piscícolas béticas por alguns autores (Peacock et al., 1989, p. 188-189) e com-
parada, por outros, às ânforas tripolitanas (Guéry, 1985, p. 404 apud Bonifay, 2004a, p. 103). A sua carac-
terização tipológica ficou definida com a publicação de um exemplar completo proveniente de Rougga,
na região oriental da Tunísia, e respectiva sistematização da informação referente ao tipo (Bonifay,
2004a, p. 103-105). Mais recentemente, no âmbito de um estudo sobre a produção cerâmica da região de
Salakta, principal área de produção destes contentores, as ânforas deste tipo aí produzidas foram deno-
minadas Sullecthum 2, tendo sido consideradas seis variantes da mesma (Nacef, 2015, p. 36-38).
Trata-se de uma ânfora pouco conhecida, enquadrável nas mais precoces produções norte-afri-
canas de morfologia tipicamente romana, formalmente caracterizada por um corpo amplo e de perfil
cilíndrico que termina num fundo alto, oco, cilíndrico e de pequena base plana. O colo é relativamente

100km

Uzita Pl. 52,10 (Bonifay, 2004).


Figura 89 – UzitaDifusão
Pl. 52,10 (Bonifay,
no território 2004).Lisboa.
português:
.
Difusão no território português: Lisboa.

449
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

alto, cilíndrico e ligeiramente inclinado, o que propícia um moderado exvasamento do bordo que se
apresenta moldurado. O ombro é arredondado e descaído e as asas de perfil semicircular, engrossadas
e de secção oval ou quase circular, arrancando imediatamente abaixo do bordo e repousando no om-
bro (Bonifay, 2004a, p. 103; Contino, 2013, p. 321; Nacef, 2015, p. 36-38).
No estado incipiente em que se encontra a investigação desta forma, com particular escassez
de informação cronológica, a diacronia do seu fabrico é em grande medida estabelecida pelos dados
de Roma, onde está presente em níveis bem datados da Época Flávia (Rizzo, 2003, p. 169) e Antonina
(Ferrandes, 2008, p. 264), podendo o seu início recuar à Época Júlia-Cláudia, tendo em conta os dados
da escavação do “Nuovo Mercato Testaccio” (Contino, 2013, p. 325).
Já no que se refere à localização dos centros que terão produzido contentores de tipo Uzita Pl.
52,10 a informação disponível revela-se um pouco mais generosa, estando desde há muito associada à
região de Salakta, onde haviam já sido assinalados os ateliers de Bir Abbad, El Hri 1 e Salakta (Peacock
et al., 1989). Em data mais próxima foram identificados, na mesma região, os centros de Dar Jaouad,
El Mzaouak e Henchir Bouker/Salakta (Nacef, 2015).
A questão do conteúdo envasado nestas ânforas mantém-se ainda em aberto, faltando evidên-
cias directas que permitam a sua definição. A frequente associação ao transporte de produtos à base
de peixe está sobretudo relacionada com as suas particularidades morfológicas e com a analogia esta-
belecida entre a Uzita Pl. 52,10 e os contentores piscícolas béticos, bem como com a documentação de
revestimento resinoso no interior de alguns exemplares (Peacock et al., 1989, p. 188-189; Bonifay, 2004a,
p. 103), que não exclui um conteúdo vinícola pelo que se optou por colocar este tipo nas ânforas de con-
teúdo indeterminado.
O padrão de difusão da Uzita Pl. 52,10 é idêntico aos outros tipos romanos precoces norte-africa-
nos documentados em Lisboa, tendo já sido identificada em vários locais da Tunísia (Van der Werff, 1982,
Pl. 52; Peacock et al., 1989, p. 188-189; Bonifay, 2004a, p. 103-105; Nacef, 2015), na actual Líbia, em Leptis
Magna (Bonifay e Capelli, 2013, p. 138), na Sicília (Facella et al., 2010, p. 166; Rizzo, 2014, p. 282), na costa
tirrénica da Península Itálica, em Roma (Rizzo, 2003, p. 169; Ferrandes, 2008, p. 264), Óstia (Rizzo, 2014, p.
282-283) e região do Pontino (Tol et al., 2014, p. 122), mas também em Veneza na costa adriática (Toniolo
e Cottica, 2013, p. 404), na Albânia, em Byllis (Bonifay, 2004a, p. 103), no Sul da Gália, em Toulon (Bonifay,
2004a, p. 103, nota 122) e Lyon (Lemaître et al., 2011, p. 220). Pelo que se conseguiu apurar, ainda não foi
identificada na Península Ibérica, constituindo os exemplares de Lisboa uma novidade em solo hispânico.
Na amostra de Olisipo registaram-se quatro indivíduos deste tipo, tendo sido exumados nas anti-
gas escavações da Rua das Pedras Negras (três bordos) e da Sé Catedral (um bordo). Do primeiro sítio
não se conhecem as coordenadas estratigráficas e a peça da Sé foi recolhida em contexto de Época
Moderna, pelo que os exemplares de Lisboa nada acrescentam em relação à cronologia de produção e
distribuição desta forma ou da sua chegada ao Ocidente Mediterrâneo. Em termos quantitativos a sua
expressão é praticamente residual, representando 0,12% no conjunto das ânforas alto-imperiais, 0,3%
das importações extraprovinciais desta fase, 7,14% das ânforas norte-africanas, 4,55% dos contentores
de conteúdo indeterminado.
O bordo nº 75151 da Rua das Pedras Negras parece enquadrar-se na variante 3 da Sullecthum 2,
com os paralelos mais aproximados em algumas peças do atelier de Dar Jaouad (Nacef, 2015, p. 183,
fig. 116, particularmente o nº 3). Já o nº 75227 parece mais difícil de encaixar nas variantes da Sullecthum 2,
tendo talvez o paralelo mais aproximado no exemplar de Byllis, Albânia (Bonifay, 2004a, p. 103, fig. 54,
nº 11). Ambos apresentam os típicos fabricos da região de Salakta, observando-se inúmeros elementos
não plásticos (v. Capelli, 2015, p. 250).
Quanto ao bordo da Sé, existem algumas particularidades que o distanciam da Uzita Pl. 52,10
“canónica” que convém realçar. Desde logo, em termos morfológicos, a secção do seu bordo diferen-
cia-se da grande maioria das peças publicadas por uma ligação suave e côncava entre a linha que marca
o limite inferior do bordo, na sua face externa, e o colo, enquanto normalmente esta passagem é rela-
tivamente abrupta, por inflexão do limite inferior do bordo, que se liga a um colo rectilíneo, com maior
ou menor inclinação. Esta particularidade morfológica resulta num marcado degrau na parte interna
do bordo, característica visível em alguns exemplares das variantes 1 e 2 de Nacef (2015), mas nunca de
forma tão expressiva. A peça mais aproximada será, talvez, um bordo do atelier Henchir Bouker/Salakta

450
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

(Nacef, 2015, p. 205, fig. 134, nº 10), mas, ainda assim, com marcadas diferenças. Mas também o fabrico
deste exemplar se afasta das pastas típicas da região de Salakta, patentes nas peças da Rua das Pedras
Negras. Estas particularidades da peça da Sé poderão, eventualmente, evidenciar uma outra área onde
estes contentores foram produzidos, certamente no território tunisino, mas afastada da região Salakta.

6.2.7.6. Tripolitana I

Ainda que a identificação desta forma se deva a F. Zevi (Zevi, 1969), foi Clementina Panella, no
âmbito do estudo dos materiais das Termas do Nadador em Óstia, que pela primeira vez procedeu à
sua classificação (Panella, 1973). M. Bonifay refere a possibilidade das características gerais desta forma
derivarem da morfologia dos contentores republicanos, em parte assimiláveis ao tipo Dressel 26 (Boni-
fay, 2004a, p. 105), enquanto C. Panella realça a continuidade de determinados aspectos morfológicos
entre as produções tardo-republicanas da Tripolitana Antiga e a Tripolitana I (Panella, 2001, p. 211). Mais
recentemente foram salientadas as afinidades entre esta última e uma forma afim à Van de Werff 3 pro-
duzida na Ilha de Jerba (Rizzo, 2014, p. 285).
Morfologicamente caracteriza-se por um corpo cilíndrico, fundo cónico e oco, colo não muito
alto, de perfil cilíndrico ou ligeiramente troncocónico e bem diferenciado do ombro por ângulo bem
marcado, sendo este último oblíquo e arredondado na ligação à pança. O bordo é moldurado e engros-
sado, bem destacado da parede do colo, podendo ser mais vertical ou ligeiramente inclinado. As asas,
de secção tendencialmente oval, acompanham a altura do colo, arrancando abaixo do bordo e pousan-
do no ombro (Panella, 1973, p. 560; Riley, 1979, p. 166; Bonifay, 2004a, p. 105; Revilla Calvo, 2007, p. 273;
Rizzo, 2014, p. 285).
A sua produção ter-se-á iniciado em Época de Augusto e perdurado até meados do séc. II d.C.,
tendo então sido substituída pela Tripolitana III, enquanto o apogeu da sua exportação, particularmen-
te evidente nos dados de Óstia, se terá centrado entre o final do séc. I d.C. e o início do séc. II (Panella,
1973, p. 562; Bonifay, 2004a, p. 105; Rizzo, 2014, p. 284-285).
Os centros oleiros que produziram a Tripolitana I localizam-se na antiga província da Tripolitânia,
nas regiões de Trípoli e Leptis Magna, Norte da Líbia, e no atelier de Zitha, sudeste da Tunísia (Panella,
1973, p. 564; Peacock e Williams, 1986, p. 166; Bonifay, 2004a, p. 105).

100km

Tripolitana I (www.archaeologydataservice.ac.uk; Panella, 1973).


Figura 90 – Tripolitana
Difusão noI (www.archaeologydataservice.ac.uk; Panella,
território português: Conimbriga, Lisboa, Mesas 1973).
do Castelinho.
Difusão no território português: Conimbriga, Lisboa, Mesas do Castelinho.

451
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Ainda que, com base na sua escassez no Monte Testaccio, se tenha já colocado a hipótese de um
conteúdo piscícola (Revilla Calvo, 2007, p. 274) e esse mesmo conteúdo se tenha observado nas ânfo-
ras deste tipo presentes no naufrágio de Grado (Auriemma, 2000, p. 31), a Tripolitana I é geralmente
considerada como uma ânfora destinada a transportar azeite (Panella, 1973, p. 562; Bonifay, 2004a,
p. 107), dedução que se fundamenta principalmente na análise das fontes literárias e na reconhecida
propensão para a produção de azeite na região da Tripolitânia (Panella, 1973, p. 568-571), bem como no
facto de estes envases normalmente não exibirem vestígios de revestimento resinoso interno (Bonifay,
2004a, p. 107).
Conheceu uma ampla difusão no Mediterrâneo ocidental, estando sobretudo atestada em vários
locais da Tunísia e Líbia, no Norte de África (Panella, 1973, p. 561-562; Riley, 1979, p. 166; Bonifay, 2004a,
p. 105-107), e em Itália em sítios como Roma (Rizzo, 2003, p. 176; Ferrandes, 2008, p. 264; Revilla Calvo,
2007, p. 273-274; Contino e Capelli, 2016, p. 539), Óstia (Panella, 1973, p. 560-562; Hesnard, 1980, p. 148;
Rizzo, 2014, p. 285), Pompeia (Panella, 1973, p. 561), Génova (Melli e Gambaro, 2002, p. 726), Padova
(Cipriano e Mazzocchin, 2011, p. 340), na Sardenha (Tore e Stiglitz, 1987, p. 650; Melis, 2002, p. 1339),
Ilha de Pantelleria, no estreito da Sicília (Bechtold, 2010, p. 512), ou ainda no naufrágio de Grado (Au-
riemma, 2000, p. 31). Surge ainda em Arles (Bonifay e Piton, 2008, p. 587; Djaoui et al., 2015, p. 181), Lyon
(Silvino, 2007, p. 200), Bavay (Laubenheimer e Marlière, 2016, p. 418), na Pannonia (Bezeczky, 1994, p.
87; Bezeczky, 2013, p. 152), em Augst (Martin-Kilcher, 1994, p. 447) e na Britannia (Williams e Carreras
Monfort, 1995, p. 245). Na metade oriental do Mediterrâneo ocorre de forma mais esporádica, tendo
sido detectada, por exemplo, em Corinto (Slane, 1986, p. 295), Ephesus (Bezeczky, 2013, p. 152), Chipre,
Egipto e Petra (Riley, 1979, p. 166; Bonifay, 2007b, p. 457).
Na Península Ibérica está relativamente bem documentada, surgindo, entre outros locais, na villa
romana de Mas d’en Gras, Tarragona (Járrega Domínguez e Sánchez Campoy, 2008, p. 81), Tarraco
(Remolà Vallverdú, 2000, p. 100), Valência (Huguet i Enguita e Ribera i Lacomba, 2014, p. 163), Mérida
(Almeida e Sanchez Hidalgo, 2014, p. 50), Astorga (Carreras Monfort e Berni Millet, 2003, p. 639) e, já no
actual território português, em Conimbriga (Buraca, 2005, p. 38), Mesas do Castelinho (Parreira, 2009,
p. 72) e, possivelmente, no Teatro Romano de Lisboa (Diogo e Trindade, 1999, p. 94) e na Rua dos Fan-
queiros58 (Diogo e Trindade, 2000, p. 189).
Na amostra aqui em estudo foram identificados apenas dois indivíduos de Tripolitana I: um bordo
proveniente do Banco de Portugal e, ainda que com algumas dúvidas na sua atribuição tipológica, um
fragmento de asa da Calçada do Correio Velho (não ilustrada). Em ambos casos a origem estratigráfica
não permite estabelecer a cronologia da sua chegada a Olisipo. A sua representação é meramente ves-
tigial, correspondendo a 0,06% das ânforas alto-imperiais, a 0,31% dos contentores oleícolas, a 3,57% das
ânforas provenientes do Norte de África e a 9,09% do azeite norte-africano.

6.2.7.7. Tripolitana II

Enquadrada por M. Bonifay (2004a, p. 89) nas ânforas de tradição púnica, termo originalmente
usado por F. Benoit (1961, p. 327) e J. H. Van der Werff (1977-1978) para designar as ânforas fabricadas
no Norte de África após a conquista de Cartago que mantiveram características morfológicas incon-
testavelmente púnicas, a Tripolitana II foi, também, pela primeira vez caracterizada por C. Panella no
contexto do estudo dos materiais das Termas do Nadador em Óstia (Panella, 1973, p. 562-564).
Trata-se de um contentor de grande dimensão, de corpo cilíndrico, fundo relativamente pe-
queno, cónico e oco ou preenchido por argila, asas curtas, de secção oval e perfil semicircular situa-
das na ligação do ombro ao corpo, sendo aquele arredondado e descaído. O colo é curto e de perfil

58. Os exemplares do Teatro Romano e da Rua dos Fanqueiros, ambos de pequena dimensão, foram classificados pelos autores como
Keay XI/Tripolitana III (respectivamente Diogo e Trindade, 1999, p. 94 e fig. 7, nº 13; Diogo e Trindade, 2000, p. 189 e fig. 9, nº 20). Contudo,
a verticalidade dos dois bordos bem como a sua espessura e altura parece indicar tratar-se mais provavelmente de ânforas de tipo
Tripolitana I.

452
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

100km

Tripolitana II (www.archaeologydataservice.ac.uk; Bonifay, 2004).


Figura 91 – Tripolitana
Difusão no território português: Lisboa, Alcácer do Sal, Faro.
II (www.archaeologydataservice.ac.uk; Bonifay, 2004).
Difusão no território português: Lisboa, Alcácer do Sal, Faro.

tendencialmente cilíndrico, encimado por um bordo discretamente inclinado para o exterior e moldura-
do por dois degraus ou arestas que podem ser angulosas ou arredondadas, normalmente designado “a
doppio gradino” (Panella, 1973, p. 562; Riley, 1979, p. 198; Bonifay, 2004a, p. 89).
Atestadas na Tripolitânia desde a primeira metade do séc. I d.C. até final do séc. IV, a sua exporta-
ção para outras regiões do Império parece ter ocorrido sobretudo a partir do início do séc. II d.C. e até
meados do séc. III, com especial frequência durante a dinastia Antonina (Panella, 1973, p. 563; Manacor-
da, 1977, p. 153; Peacock e Williams, 1986, p. 170; Bonifay, 2004a, p. 92). Em Óstia estão presentes desde
o final do séc. I d.C. até meados do séc. III, com um pico de importação durante a segunda metade do
séc. II d.C. (Panella, 1973, p. 563; Manacorda, 1977, p. 153). A sua produção está identificada na Tripolitâ-
nia nos centros produtores de Gargaresh, Sidi As Sid e Ain Scersciara (Panella, 1973, p. 563; Keay, 1984,
p. 130; Molina Vidal, 2007, p. 235).
Inicialmente foi considerado como um contentor provavelmente destinado a transportar azeite
(Panella, 1973, p. 564; Keay, 1984, p. 130), surgindo no Monte Testaccio, ainda que em quantidades míni-
mas (Revilla Calvo, 2007, p. 274; Revilla Calvo, 2014, p. 560), e tendo-se registado um exemplar comple-
to in situ num lagar de azeite em Leptis Magna (Barker et al., 1996 apud Bonifay, 2004a, p. 92), embora
também interpretado por outros autores como um armazém de vinho (Brun, 2004 apud Bonifay, 2007a,
p. 18, nota 51). Contudo, a documentação de exemplares deste tipo ostentando restos de revestimento
resinoso no seu interior complexifica a problemática inerente ao produto envasado nestas ânforas,
perfilando-se como possível um conteúdo piscícola ou oleícola (Panella, 2001, p. 211 e nota 303; Bonifay,
2004a, p. 92). A este respeito, refira-se a existência no Banco de Portugal de um fragmento de fundo
desta forma (nº 1930) com vestígios de revestimento resinoso no seu interior.
A distribuição da Tripolitana II abrangeu essencialmente o Mediterrâneo Ocidental, particular-
mente a Líbia e Tunísia, no Norte de África (Riley, 1979, p. 198; Bonifay, 2004a, p. 89-92), e Óstia (Panella,
1973, p. 562-564; Manacorda, 1977, p. 153-154; Rizzo, 2014, p. 270-271) e Roma (Rizzo, 2003, p. 182; Revilla
Calvo, 2007, p. 274; Ferrandes, 2008, p. 263-264; Coletti e Lorenzetti, 2010, p. 158), em Itália. De forma
aparentemente mais discreta, ocorre, por exemplo, na Gália, em Toulon (Bonifay, 2004a, p. 92), Lyon
(Lemaître et al., 2011, p. 208-209) e Arles (Bonifay e Piton, 2008, p. 587), na Britannia (Williams e Carre-
ras Monfort, 1995, p. 245), na Dalmatia (Cambi, 1989, p. 329; Pesic, 2013, p. 1209), e, episodicamente, no
Mediterrâneo Oriental, em Israel (Bonifay, 2005) e no Egipto (Bonifay, 2007b, p. 457).

453
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Na Península Ibérica estão relativamente bem representadas, ocorrendo em Ampúrias (Keay, 1984,
p. 129-131), Tarraco (Keay, 1984, p. 129-131; Remolà Vallverdú, 2000, p. 108), Badalona (Blázquez Martí-
nez, 2002, p. 305), Valentia (Huguet i Enguita e Ribera i Lacomba, 2014, p. 163), villa de Portmán (Múr-
cia), Cartagena e Denia (Molina Vidal, 2007, p. 235), Hispalis (García Vargas, 2015, p. 400), na Corunha
(Naveiro López, 1991, p. 68) e, no actual território português, em Faro (Viegas, 2011, p. 187) e, possivel-
mente, em Alcácer do Sal59 (Silva et al., 1980-1981, p. 199-200 e fig. 23, nº 279).
No conjunto que aqui se analisa foram identificados nove indivíduos desta forma, procedentes
do Banco de Portugal (dois bordos e um fundo), Escadinhas de São Crispim (um bordo), recente escava-
ção da Praça da Figueira (três bordos e um fundo), Sé Catedral (um exemplar quase completo) e antigas
intervenções da Rua das Pedras Negras (dois bordos e, possivelmente, duas asas), representando 0,28%
das ânforas imperiais e 0,66% das importações extraprovinciais deste período, correspondendo ainda a
16,07% das ânforas de origem norte-africana.
Quanto à proveniência estratigráfica dos fragmentos de tipo Tripolitana II de Lisboa os dados são
escassos e limitados à Praça da Figueira e Sé Catedral. No primeiro local, o fundo provém de um estrato
do último terço do séc. III d. C., enquanto o exemplar da Sé foi exumado em contexto datado da primei-
ra metade do séc. III juntamente com uma Lusitana 3 completa. Relativamente à peça da Sé, encontra-
-se quase totalmente preservada faltando-lhe apenas o colo e o bordo. Tratar-se-á seguramente de um
caso de reutilização do contentor para outras funções uma vez que a parte superior da peça foi inten-
cionalmente cortada, sendo visíveis os negativos do corte que produziu uma fractura regular na zona
do ombro. Este exemplar parece enquadrar-se na variante B do Tipo 4 de M. Bonifay (2004a, p. 90),
apresentando dimensões muito aproximadas às de uma peça da necrópole de Pupput (Bonifay, 2004a,
p. 90, nº 4), medindo 0,98 m de altura desde a base até à fractura no ombro e 0,35 m de largura máxima.
Tendo em conta o que se referiu relativamente ao conteúdo destas ânforas, nas quantificações
e estatísticas optou-se por se considerar como uma forma de conteúdo indeterminado. Seja como for,
em relação a esta questão em particular, é de realçar o facto de se ter identificado no Banco de Portugal
um exemplar de fundo deste tipo que ainda continha vestígios de resina no seu interior. Trata-se, pois,
de mais um testemunho da utilização de revestimento resinoso nestas ânforas e, concomitantemente,
da sua utilização no transporte de vinho ou preparados à base de peixe.
Refira-se, por fim, que a generalidade dos exemplares classificados como Tripolitana II é cons-
tituída por pequenos fragmentos de bordo, o que, naturalmente e face à similitude dos bordos deste
tipo e das Tripolitana I e III cria sérias dificuldades numa atribuição tipológica segura, igualmente verifi-
cável no que se refere aos fundos.

6.2.7.8. Tripolitana III

Constituindo-se como o típico contentor tripolitano do séc. III d.C., a Tripolitana III representa o
último estádio evolutivo das ânforas com bordo a “doppio gradino” produzidas naquela região (Boni-
fay, 2004a, p. 105; Rizzo, 2014, p. 285). À semelhança dos dois tipos anteriormente descritos, foi pela
primeira vez classificada por C. Panella no estudo dos materiais de Óstia (Panella, 1973), apesar da sua
identificação se dever a F. Zevi (Zevi, 1969).
Em tudo semelhante à Tripolitana I, destaca-se desta por possuir um bordo menos maciço e mais
alto e inclinado, um colo troncocónico cuja ligação ao ombro se faz de forma suave e contínua, sem
ângulo de inflexão. O bordo é igualmente moldurado e o colo curto, as asas são de perfil semicircular e
secção oval, arrancando imediatamente abaixo do bordo ou na ligação deste ao colo, por vezes mesmo
da parte inferior do bordo, e repousando na parte superior do ombro. O corpo é longo e cilíndrico, por
vezes ligeiramente estrangulado a meia altura, terminando num fundo cónico preenchido com argila
(Panella, 1973, p. 566; Bonifay, 2004a, p. 105; Revilla Calvo, 2007b, p. 322-323). S. Keay estabelece uma

59. Trata-se de um pequeno fragmento de bordo e início do colo, cujo perfil e descrição da pasta denuncia uma possível origem na
Tripolitânia. Poderá corresponder a uma Tripolitana II, embora se não deva descartar pertencer a outra forma daquela província do
Norte de África.

454
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

divisão do tipo em três variantes, de A a C, baseado nas características morfológicas dos bordos (Keay,
1984, p. 133-134), e mais recentemente M. Bonifay realçou o maior desenvolvimento da aresta superior
do bordo numa variante tardia, característica do séc. IV d.C. (Bonifay, 2004a, p. 105). A forma “clássica”
surge em torno a meados do séc. II d.C. substituindo a Tripolitana I, sendo fabricada ao longo de todo o
século III (Panella, 1973, p. 566; Manacorda, 1977, p. 154-155; Bonifay, 2004a, p. 105).
Os centros oleiros que produziram estas ânforas situavam-se na Tripolitânia, na região actual-
mente correspondente ao sudeste da Tunísia e ao noroeste da Líbia, podendo-se referir a título de
exemplo os ateliers de Zitha e Gargaresh (Panella, 1973, p. 566-568; Bonifay, 2004a, p. 105-107). Desti-
nar-se-iam a transportar o azeite produzido naquela região, dedução feita principalmente a partir da
sua presença significativa no Monte Testaccio e da ausência de exemplares com revestimento resinoso,
mas também da análise das fontes literárias e da epigrafia anfórica (Panella, 1973, p. 568-570; Keay,
1984, p. 136; Bonifay, 2004a, p. 107; Revilla Calvo, 2007b, p. 322-323).
A difusão da Tripolitana III é em tudo semelhante à dos dois tipos anteriormente descritos, cen-
trando-se fundamentalmente no Norte de África, Líbia e Tunísia (Bonifay, 2004a, p. 105-107;), e Itália,
sobretudo em Óstia (Panella, 1973, p. 562-564; Manacorda, 1977, p. 153-154; Rizzo, 2014, p. 270-271) e
Roma (Revilla Calvo, 2007b, p. 322-323; Coletti e Lorenzetti, 2010, p. 158; Contino e Capelli, 2016, p. 539),
mas também em outros locais como Aquileia (Cipriano e Carre, 1987, p. 486) ou na região da Ligúria
(Gambaro, 2008, p. 1440), na Ilha de Pantelleria, Cossyra (Bechtold, 2010, p. 513), na Sicília (Caminneci
et al., 2010, p. 274) e na Sardenha (Tore e Stiglitz, 1987, p. 642 e 653). Surge ainda na Dalmatia (Pesic,
2013, p. 1209), em Augst (Martin-Kilcher, 1994, p. 447), na Alemanha (Bezeczky, 2013, p. 153), na Britan-
nia (Williams e Carreras Monfort, 1995, p. 245), em vários locais da Gália, como Arles (Bonifay, 2004a,
p. 105, nota 123), Marselha (Bonifay, 1986, p. 279), Lyon (Silvino, 2007, p. 200; Lemaître et al., 2011,
p. 208-209), ou Bavay (Laubenheimer e Marlière, 2016, p. 418), e no Mediterrâneo Oriental, em Ephe-
sus (Bezeczky, 2013, p. 153), na Cilícia (Ferrazzoli e Ricci, 2008, p. 1564) e no Egipto (Bonifay, 2007b, p.
457). Na Península Ibérica está identificada principalmente na costa oriental, em Badalona (Blázquez
Martínez, 2002, p. 305), Tarragona (Keay, 1984, p. 133-136), Portus Ilicitanus (Marquez Villora, 1999, p.
151), Valentia (Ribera i Lacomba e Rosselló Mesquida, 2007, p. 190; Ribera i Lacomba, 2010, p. 277) villa
de Portmán (Múrcia), Cartagena, Puerto de Mazarrón, La Moleta (Elche), Castillo del Río (Alicante), El
Llombo e Camí Reial de Sagunto (Molina Vidal, 2007, p. 236), surgindo também no Noroeste Peninsular
(Naveiro López, 1991, p. 70).

100km

Tripolitana III (www.archaeologydataservice.ac.uk; Panella, 1973).


Figura 92 – Tripolitana III território
Difusão no (www.archaeologydataservice.ac.uk;
português: Lisboa, Quinta do Marim. Panella, 1973).
Difusão no território português: Lisboa, Quinta do Marim.

455
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

No território actualmente português está referenciada uma peça na Quinta do Marim (Silva et
al., 1992, p. 351 e fig. 10, nº 8), embora a atribuição deste tipo seja feita com algumas reservas pelos
autores,60 para além dos dois exemplares do Teatro Romano e da Rua dos Fanqueiros (Diogo e Trinda-
de, 1999, p. 94 e fig. 7, nº 13; Diogo e Trindade, 2000, p. 189 e fig. 9, nº 20) já referidos anteriormente e
que parecem corresponder antes à forma Tripolitana I (v. supra).
Na amostra de Lisboa apenas se identificou um bordo seguramente atribuível à Tripolitana III,
tendo sido recolhido fora de contexto nas escavações do Banco de Portugal. A sua representatividade
estatística é evidentemente quase nula, não deixando, todavia, de ser significativa a documentação
da sua presença em Olisipo. Embora se trate de um fragmento de acanhada dimensão, preservando
apenas cerca de meia altura do bordo, este conserva a marca do arranque superior da asa, caracterís-
tica própria de algumas variantes da Tripolitana III e que não se verifica na Tripolitana I. Deverá muito
provavelmente corresponder a uma produção do séc. III d.C..

6.2.7.9. Africana I

Considerada como uma das ânforas “clássicas” do Norte de África, a Africana I foi primeiramente
individualizada por F. Zevi, na sequência do estudo de alguns materiais provenientes de Óstia, e deno-
minada “Africana piccola” (Zevi, 1969, p. 179-180), denominação que advém do facto de se tratar de um
contentor de dimensão modesta no contexto das produções “clássicas” africanas.
Ânfora de corpo cilíndrico e alongado, colo troncocónico e curto, fundo apontado e de pequena
dimensão e asas de perfil e secção oval apostadas no colo e na parte superior do ombro, sofreu uma
evolução morfológica durante o arco temporal em que foi produzida, que se traduziu sobretudo na
variação da morfologia do bordo. Com base na evolução deste último, foram inicialmente definidas por
C. Panella (1973), depois por S. Keay (1984) e mais recentemente por M. Bonifay (2004a), três variantes
principais na classificação tipológica deste tipo: a Africana IA, em que o bordo se apresenta plano no
interior e com expressiva convexidade na parte externa, formando um arco tendencialmente simétrico;
a IB, em que a face interna do bordo é côncava e a face externa, mantendo-se fortemente convexa, é
tendencialmente assimétrica e mais aplanada no topo; e a IC, ou variante tardia, ostentando um bordo
mais simplificado e ligeiramente saliente (Panella, 1973, p. 576; Keay, 1984, p. 100-101; Bonifay, 2004a,
p. 107). Embora as distintas variantes se sucedam no tempo, verifica-se que coexistem pelo menos em
parte da sua diacronia de produção, surgindo, por exemplo, as variantes IA e IB associadas na mesma
sepultura na necrópole de Pupput (Bonifay, 2004a, p. 107), ou as variantes IB e IC associadas no nau-
frágio de Capo Ognina (Kapitän, 1972, p. 245; Manacorda, 1977, p. 157). A variante IA terá sido fabricada
entre meados do séc. II d.C. e o início do séc. III, a IB durante o séc. III e a IC a partir da segunda metade
do séc. III até ao séc. IV (Rizzo, 2014, p. 283).
Foi produzida na Bizacena e na Zeugitânia, principalmente ao longo do litoral tunisino, desde
Ariana no Norte, junto a Cartago, a Hr el-Kebir, Neapolis, Hadrumetum, Leptiminus, Sullecthum e Acholla,
na costa central oriental, até Thenae e Oued el Akarit mais a Sul, ou, mais no interior do território, Sidi
Saad e Hr Bem Hassine (Bonifay, 2004a, p. 8). Na área de Neapolis são conhecidos outros centros olei-
ros onde se fabricaram as Africana I (Mrabet e Moussa, 2007), bem como na região Sullecthum, onde J.
Nacef define sete variantes para as produções regionais (Nacef, 2015, p. 40-42).
A sua ampla documentação no Monte Testaccio aliada aos resultados de análises químicas e à
ausência de exemplares deste tipo com revestimentos resinosos no interior demonstra de forma ine-
quívoca que se tratava de um contentor destinado a transportar azeite (Bonifay, 2004a, p. 471; Revilla
Calvo, 2007, p. 271)
A Africana I foi amplamente distribuída no Mediterrâneo ocidental, especialmente no Norte de
África e em Itália, sendo particularmente representativa em Roma (Rizzo, 2003, p. 182; Revilla Calvo,

60. Possivelmente tratar-se-á de uma ânfora tardia de tipo Benghazi LRA 7 (veja-se a este propósito: Riley, 1979; e o recente trabalho de
M. Bonifay, C. Capelli e S. Muçaj, 2010).

456
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

100km

Africana I (www.archaeologydataservice.ac.uk; Bonifay, 2004).


Figura 93 – Africana I (www.archaeologydataservice.ac.uk;
Difusão Bonifay,
no território português: Lisboa, Freiria, Tróia, Sines, 2004).
Aljustrel, foz do rio Arade, Pedras d'El Rei,
Faro. português: Lisboa, Freiria, Tróia, Sines, Aljustrel, foz do rio Arade, Pedras d’El Rei, Faro.
Difusão no território

2007, p. 318; Ferrandes, 2008, p. 264; Coletti e Lorenzetti, 2010, p. 158) e Óstia (Panella, 1973, p. 574-
579; Manacorda, 1977, p. 156-159; Rizzo, 2014, p. 283), surgindo um pouco por toda a península e
ilhas, quer na área do mar Tirrénico, de Pisa (Costantini, 2010, p. 330) à Sardenha (Boninu et al., 2008,
p. 1794; Tronchetti, 2008, p. 1725) e Sicília (Malfitana et al., 2016, p. 49), quer no Adriático (Auriemma
et al., 2012). Para além de vários naufrágios no Mediterrâneo (Parker, 1992), de que se poderão citar o
de Grado (Auriemma, 2000, p. 27) e Ouest-Embiez 1, Var (Bernard et al., 2007, p. 216), ocorre na Gália,
em locais como Arles (Liou, 1987, p. 120), Porquerolles, Var (Pellegrino, 2010, p. 11), Lyon (Silvino, 2007,
p. 200), Golfe de Fos (Amar e Liou, 1984, p. 186) e Fréjus (Excoffon e Pellegrino, 2015, p. 156), na Ger-
mânia, por exemplo em Mainz (Ehmig, 2007, p. 40), Xanten (Carreras Monfort, 2007, p. 217) e Augst
(Martin-Kilcher, 1994, p. 447-448), na Britânia (Davies et al., 1994, p. 28; Williams e Carreras Monfort,
1995, p. 233), bem como na metade oriental do Império, em sítios como Demakos, um naufrágio jun-
to à costa egeia da Grécia (Koutsouflakis e Argiris, 2015, p. 5), Tomis, Roménia (Bajenaru, 2013, p. 72),
Egipto (Riley, 1979, p. 202; Bonifay 2007, p. 454) ou Benghazi (Riley, 1979, p. 202). Na Hispânia está
documentada principalmente na costa oriental, por exemplo nas ilhas Baleares (Marimon Ribas, 2004,
p. 1068), em Barcino (Martin Menéndez, 2007, p. 132), Baetulo (Comas i Solà e Padrós i Martí, 2010, p. 147),
Tarraco (Keay, 1984, p. 100-110; Remolà Vallverdú, 2000, p. 110), Portus Ilicitanus (Marquez Villora, 1999,
p. 131-132), Valência (Huguet i Enguita e Ribera i Lacomba, 2014), Torre de Benaduf, Valência (Seguí et al.,
2000, p. 1425), no litoral de Múrcia (Miñano Domínguez e Castillo Belinchón, 2013, p. 930), em Cartage-
na, Puerto de Mazarrón (Múrcia), Alicante, Garganes (Altea), Cullera (Valência), Saguntum, Piedras de
la Barbada (Castellón) (Molina Vidal, 2007, p. 218-219) e na Corunha, já no Noroeste Peninsular (Naveiro
López, 1991, p. 68).
No espaço geográfico da antiga província da Lusitânia a Africana I está atestada em Freiria (Car-
doso, 2015, p. 365), Tróia (Diogo e Trindade, 1998, p. 199), Aljustrel (Bustamante Alvarez et al., 2008,
p. 178), Sines (Silva e Coelho-Soares, 2006, p. 111), foz do rio Arade (Diogo et al., 2000, p. 85), Pedras
d’El Rei, Tavira (Viegas e Dinis, 2010, p. 248) e Faro (Viegas, 2011, p. 187; Almeida et al., 2014e, p. 154),
destacando-se a sua ausência nos dados publicados de Mérida e de Olisipo.
No âmbito da amostra em estudo, a Africana I constitui-se como o segundo tipo mais repre-
sentativo da fase imperial com origem no Norte de África. Os 12 indivíduos identificados provêm do
Banco de Portugal (duas asas), do Palácio dos Condes de Penafiel (um bordo e dois fundos), da recente
intervenção da Praça da Figueira (três bordos e três fundos), da Sé Catedral (três bordos e um fundo)

457
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

e das antigas escavações da Rua das Pedras Negras (três bordos e uma asa). No conjunto das ânforas
imperiais representa 0,37% do total, 21,43% das oriundas da África Proconsular, 0,89% das importações
extraprovinciais e 1,88% dos contentores oleícolas.
Três dos dez fragmentos de bordo pertencem à variante IA, outros três à variante IB e quatro à
variante IC, patenteando uma importação de certo modo uniforme das três variantes, que terão pre-
sumivelmente chegado a Olisipo durante todo o arco temporal da sua produção, possivelmente com
maior incidência no séc. III d.C.. Infelizmente, os dados da procedência estratigráfica destas ânforas são
parcos, não permitindo confirmar estratigraficamente aquelas ilações e desenhar com o rigor que se
desejaria quais os ritmos da sua importação em Olisipo durante o período de tempo em que foram pro-
duzidas e comercializadas. O exemplar da variante IB da Sé, nº 16242, foi exumado em contexto datado
da primeira metade do séc. III, enquanto os restantes fragmentos desta forma procedem de estratos
tardios ou pós-romanos. Da praça da Figueira, o bordo nº 9124.01 provém de um contexto do último
terço do séc. III d.C. e o nº 9701.01 de um nível atribuível ao séc. IV d.C., ambos da variante IA, enquanto
o fundo nº 6703.02 foi exumado num estrato genericamente datável entre os séculos III e IV d.C. e os
restantes em contextos tardios.
Resta referir que se observou a existência de distintos fabricos nos exemplares de Africana I de
Lisboa, estando seguramente representadas as produções de Sullecthum, o que indicia diferentes re-
giões produtoras desta forma no aprovisionamento ao extremo Ocidente Peninsular.

6.2.7.10. Africana IIA

De grande dimensão e evidenciando grande heterogeneidade, este tipo corresponde à mais an-
tiga das ânforas de tipo Africana II, ou “Africana grande” de F. Zevi e A. Tchernia (1969), ordenada por
C. Panella (1973) em quatro subtipos (IIA, IIB, IIC e IID). Igualmente com base nos materiais de Óstia, D.
Manacorda dividiu o tipo em Africana IIA “con gradino” e Africana IIA “senza gradino”, referindo-se à
presença ou ausência de um pequeno ressalto na face externa do bordo (Manacorda, 1977, p. 160), pro-
posta que viria a ser seguida por S. Keay e plasmada nos seus tipos IV e V (1984), mas cuja pertinência
M. Bonifay questiona (Bonifay, 2004a, p. 111). Fundamentado em exemplares completos da necrópole
de Pupput, M. Bonifay (2004a, p. 111) considera ainda a existência de três variantes da Africana IIA (IIA1,
IIA2 e IIA3) cujas diferenças se manifestam essencialmente na dimensão e perfil do contentor bem
como na altura do colo, tendo J. Nacef mais recentemente acrescentado uma quarta variante (Nacef,
2015, p. 44).
Morfologicamente caracteriza-se por um corpo amplo e cilíndrico, terminando num fundo apon-
tado, maciço e de grande dimensão. O bordo é geralmente curto, espessado e bem destacado do colo,
externamente arredondado e com um ressalto pouco saliente (“gradino”) que se pode localizar mais
acima ou abaixo da altura do lábio. O colo é troncocónico e normalmente relativamente bem demarca-
do do ombro, que se apresenta amplo, ligeiramente arredondado e com inclinação variável. As asas, de
secção tendencialmente oval, arrancam imediatamente abaixo do bordo, unindo-se à parte superior do
ombro mediante um perfil “de orelha” (Panella, 1973, p. 583; Bonifay, 2004a, p. 111).
O arco temporal abrangido pelo seu fabrico estende-se entre a parte final do séc. II d.C. e o final
do séc. III (Panella, 1973, p. 584; Manacorda, 1977, p. 161; Keay, 1984, p. 115; Bonifay, 2004a, p. 111), tendo
sido produzida em inúmeros centros oleiros da actual Tunísia, entre os quais se poderão referir Ariana,
El-Assa, região de Nabeul, Leptiminus, Hadrumetum, região de Sullecthum, Acholla e Thaenae, localiza-
dos no litoral, e, possivelmente, Sidi el Hani e Zegalass no interior do território (Bonifay, 2004a, p. 8, fig.
2; Mrabet e Moussa, 2007, p. 13-40; Rizzo, 2014, p. 285; Nacef, 2015, p. 44). Registe-se ainda a produção
de imitações desta forma na área do estreito, em Los Barreros, La Salobreña (Bernal Casasola, 2001, p.
256; Diaz Rodriguez, 2011, p. 568) e em Puente Melchor (García Vargas, 1998, p. 119-121; Bernal Casasola,
2001, p. 256; Diaz Rodriguez, 2011, p. 554).
A problemática acerca do produto que estas formas se destinariam a transportar não estará ainda
totalmente resolvida, admitindo-se, actualmente, que o seu conteúdo poderia ser vinho ou preparados
à base de peixe sobretudo devido à frequência de vestígios de revestimento resinoso no interior de

458
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

100km

Africana IIA (www.archaeologydataservice.ac.uk; Bonifay, 2004).


Figura 94 – Africana
Difusão território português: Berlenga, villa Cardílio, Lisboa,
IIAno(www.archaeologydataservice.ac.uk; Setúbal,
Bonifay, Tróia, foz do rio Arade, Pedras
2004).
d'El Rei,
Difusão no território Balsa, Faro. Berlenga, villa Cardílio, Lisboa, Setúbal, Tróia, foz do rio Arade, Pedras d’El Rei,
português:
Balsa, Faro.

alguns exemplares deste tipo (Bonifay, 2004a, p. 111; Rizzo, 2014, p. 285), rebatendo-se definitivamente
um conteúdo oleícola, durante algum tempo considerado como provável (Zevi, 1969, p. 187; Panella,
1973, p. 585; Manacorda, 1977, p. 162; Keay, 1984, p. 111).
O padrão de difusão da Africana IIA não varia muito relativamente ao do tipo anteriormente des-
crito, verificando-se uma especial concentração no Norte de África (Panella, 1973, p. 584-585; Bonifay,
2004a, p. 111; Nacef, 2015, p. 44) e na Península Itálica, novamente sobretudo em Óstia (Panella, 1973,
p. 584; Manacorda, 1977, p. 160-162; Rizzo, 2014, p. 283-285) e Roma (Revilla Calvo, 2007, p. 321; Fer-
randes, 2008, p. 264), mas disseminada por todo o território (entre outros, Paoletti e Genovesi, 2007,
p. 388; Gambaro, 2008, p. 1440; Bechtold, 2010, p. 449; Auriemma et al., 2012, p. 282). Surge igualmente
na Gália, principalmente no Sul, em sítios como Arles (Bonifay e Piton, 2008, p. 588), Porquerolles, Var
(Pellegrino, 2010, p. 11) e Lyon (Silvino, 2007, p. 200; Lemaître et al., 2011, p. 206), na Germânia (Panella,
1973, p. 584), em Augst (Martin-Kilcher, 1994, p. 448), na Britannia (Williams e Carreras Monfort, 1995,
p. 237) e, mais pontualmente, no Mediterrâneo Oriental em Benghazi (Riley, 1979, fig. 24, nº 72) e no
Egipto (Bonifay 2007, p. 458), por exemplo. Está, de igual forma, documentada em diversos naufrágios
do Mediterrâneo central e ocidental (Parker, 1992; Bonifay e Tchernia, 2012).
No território peninsular foi reconhecida em diversos locais, entre os quais Ibiza (Marimon Ribas,
2004, p. 1068), Barcelona (Berni Millet e Carreras Monfort, 2001, p. 127), Tarraco (Keay, 1984, p. 110-115;
Remolà Vallverdú, 2000, p. 112), Portus Ilicitanus (Márquez Villora, 1999, p. 133), villa de Portmán, Carta-
gena, Ilici, Valência, Saguntum, Vinaroz (Castellón) (Molina Vidal, 2007, p. 220), Málaga (Pineda de las
Infantas et al., 2003, p. 145), Hispalis (García Vargas, 2007, p. 339), região de Huelva (Campos Carrasco
et al., 2004, p. 129; Perez Macias, 2010, p. 1076), Mérida (Almeida e Sanchez Hidalgo, 2013, p. 57), pos-
sivelmente no Noroeste Peninsular (Naveiro Lopez, 1991, p. 70) e, no actual espaço português, na Ilha
da Berlenga (Bugalhão e Lourenço, 2006, p. 287), em villa Cardílio (Diogo e Monteiro, 1999, p. 206), em
Setúbal (Coelho-Soares e Silva, 1978, p. 183), Tróia (Diogo e Trindade, 1998, p. 199; Fabião et al., 2016,
p. 104), foz do rio Arade (Silva et al., 1987, p. 215; Diogo et al., 2000, p. 85; Fonseca, 2015, p. 73), Pedras
d’El Rei, Tavira (Viegas e Dinis, 2010, p. 248), Balsa (Viegas, 2011, p. 358) e Faro (Viegas, 2011, p. 187; Al-
meida et al., 2014e).
Em Lisboa haviam já sido registadas na Rua dos Fanqueiros (Diogo e Trindade, 2000, p. 184) e na
Casa dos Bicos (Filipe et al., 2016, p. 440).

459
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

A Africana IIA corresponde à forma norte-africana de Época Imperial mais representada na amos-
tra de Olisipo, tendo sido reconhecidos 14 indivíduos dispersos pela cidade, concretamente no Banco
de Portugal (três bordos, um fundo e uma asa), Calçada do Correio Velho (um fundo), Casa dos Bicos
(um fundo), Hotel de Santa Justa (um bordo e um fundo), Palácio dos Condes de Penafiel (um bordo),
recente escavação da Praça da Figueira (um bordo, um fundo e uma asa), Sé Catedral (três bordos) e
antigas intervenções da Rua das Pedras Negras (três bordos e dois fundos). Quantitativamente corres-
ponde a 0,40% das ânforas imperiais, 0,96% das importações extraprovinciais e 23,21% dos contentores
de fabrico norte-africano desse período. Os exemplares de Lisboa correspondem na maioria a produ-
ções da região de Sullecthum.
A proveniência estratigráfica dos exemplares deste tipo não acrescenta qualquer informação
pertinente, uma vez que, nos únicos locais onde poderiam existir dados quanto à cronologia dos con-
textos de recolha - Casa dos Bicos, Praça da Figueira e Sé Catedral -, os mesmos surgiram em estratos
de época pós-romana.
Curiosamente, as ânforas norte-africanas de Época Imperial parecem ter uma distribuição emi-
nentemente costeira, salvo muito raras excepções, sobretudo na Tripolitana I, mais ainda do que nor-
malmente já acontece, sendo que raramente surgem no interior do território (no de Portugal, embora
fenómeno semelhante pareça acontecer na restante Península).
A representatividade das ânforas norte-africanas na amostra de Lisboa parece indicar um aumen-
to das importações de produtos alimentares daquela região a partir da segunda metade do séc. II d.C., o
que se poderá justificar com o incremento da produção e exportação de produtos alimentares daquela
região que parece ter ocorrido a partir de uma etapa média da dinastia Antonina e que é genericamente
verificável em diversos centros de consumo na bacia mediterrânea, como por exemplo em Óstia (Pa-
nella, 1973, p. 584; Manacorda, 1977, p. 160-162; Rizzo, 2014, p. 283-285) e Roma (Revilla Calvo, 2007, p.
321; Ferrandes, 2008, p. 264).
Refira-se ainda a documentação de uma marca representando meio círculo, apostada sobre o
dorso do que parece ser uma asa de Africana IIA do Banco de Portugal (v. infra).

6.2.8. Mediterrâneo Oriental

6.2.8.1. Tardo-Ródia/Camulodunum 184

As Tardo-Ródias ou Camulodunum 184 correspondem à evolução das ânforas Ródias helenísticas,


anteriormente descritas no ponto 6.1.6.1., adquirindo ao longo do séc. I a.C. peculiaridades morfológi-
cas que as distinguem notavelmente das variantes anteriores e que, paralelamente ao distinto âmbito
cronológico, justifica caracterizar, tendo-se aqui optado por fazê-lo separadamente por questões rela-
cionadas com a organização e estruturação do trabalho.
Em termos gerais, estas variantes tardias, que, ao contrário das mais antigas, raramente têm
estampilha, apresentam igualmente corpo ovóide embora mais estreito e alongado, algo estilizado,
colo cilíndrico e alto, bordo em pequena banda, arredondado e engrossado no exterior e fundo tronco-
cónico e maciço. As asas, que arrancam abaixo do bordo e repousam num ombro quase imperceptível,
mantêm-se de secção circular mas passam a ter um perfil mais arqueado, elevando-se e acentuando-se
o ângulo de inflexão no seu topo e adquirindo configuração corniforme, o que acaba por encurtar e
tornar côncava a área situada entre o referido ângulo e o colo, onde, nas variantes precedentes, habi-
tualmente se aplicavam as estampilhas (Grace e Savvatianou-Petropoulakou, 1970, p. 298; Empereur e
Hesnard, 1987, p. 19-20; Bezeczky, 2013, p. 35; Rizzo, 2014, p. 322).
Como atrás se referiu, esta expressiva evolução morfológica decorreu durante o séc. I a.C. cris-
talizando-se genericamente em fase ainda anterior ao Principado de Augusto, ainda que até ao fim da
produção destes contentores, pelo séc. III d.C., se verifique alguma evolução, mantendo, contudo, os
principais traços gerais atrás descritos (Grace e Savvatianou-Petropoulakou, 1970, p. 298; Empereur e
Hesnard, 1987, p. 19; Lemaître, 2002, p. 221; Rizzo, 2014, p. 322).

460
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

100km

Tardo-Ródia/Camulodunum 184 (www.archaeologydataservice.ac.uk; Panella, 1986).


Figura 95 – Tardo-Ródia/Camulodunum Braga,
Difusão no território português:184 Conimbriga, Tomar, Lisboa, Freiria, Setúbal, Tróia,
(www.archaeologydataservice.ac.uk; Idanha-a-Velha,
Panella, 1986).
Ammaia,
Difusão no território Mirobriga,Braga,
português: Faro. Conimbriga, Tomar, Lisboa, Freiria, Setúbal, Tróia, Idanha-a-Velha, Ammaia,
Mirobriga, Faro.

Relativamente aos locais onde foi fabricada pouco se poderá acrescentar em relação ao que foi
já referido (v. supra 6.1.6.1.), podendo-se dizer o mesmo relativamente ao seu conteúdo. Já no que diz
respeito à difusão das Tardo-Ródias/Camulodunum 184, comparativamente com os modelos helenísti-
cos, haverá algumas alterações significativas a registar na metade ocidental do Império. Desde logo,
parecem surgir em maiores proporções nas regiões onde se registava já a sua presença durante a Re-
pública, mormente no Sul da Gália (Lemaître, 2002). Por outro lado, ocorrem em outras regiões, e de
forma bastante visível nos estabelecimentos militares das fronteiras do Império, como na Panónia, Ger-
mania, Norte da Gália e Britânia (Williams, 2005c; Ehmig, 2007; Ehmig, 2010; Sealey, 2001; Laubenheimer
e Marlière, 2010; Bezeczky, 2013; Carreras Monfort e Gonzalez Cesteros, 2013). No extremo ocidental
da Península Ibérica a sua presença estava já atestada em locais como Bracara Augusta, em contextos
datados do séc. I d.C. e de entre o final do séc. I a.C. e meados do séc. II (Morais, 1998, p. 53-54, 95 e
105; Morais, 2005, p. 78-79 e 101); Conimbriga, em níveis de Cláudio, Flávios e de Trajano (Alarcão, 1976,
p. 82; Buraca, 2005, p. 30-31); Tomar, em estrato do séc. I d.C. (Banha e Arsénio, 1998, p. 174-175; Ponte,
1999, p. 346-348); na Civitas Igaeditanorum (Banha, 2006, p. 52-55); na Ammaia, em nível do séc. I d.C.
atribuível a Cláudio ou posterior (Pereira, 2009, p. 82-83); em Freiria (Cardoso, 2015, p. 364); em Se-
túbal, num contexto datado do terceiro quartel do séc. I d.C. ao último quartel do séc. II (Silva et al.,
2014, p. 210 e 187, Quadro 5); em Tróia (Almeida et al., 2014d, p. 655); em Mirobriga, em fim do séc. IV/
início do séc. V (Quaresma, 2012, p. 406); e Faro (Almeida et al., 2014e, p. 157), revelando um padrão de
distribuição relativamente amplo em termos de abrangência do território, ainda que não sendo uma
forma abundantemente representada. Na restante Hispânia estão presentes em diversos locais, entre
os quais Astorga (Carreras Monfort e Berni Millet, 2003, p. 638), Lugo (Gonzalez Cesteros, 2011, p. 119) e
outros sítios do Noroeste Peninsular (Carreras Monfort, 2010, p. 241-243), Rosinos de Vidriales, Zamora
(Carretero Vaquero, 2000, p. 732-733; Carreras Monfort, 2010, p. 242), Celsa, Zaragoza (Beltrán Lloris et
al., 1998, p. 67-68), Ampúrias (Aquilué Abadias et al., 2010, p. 45), Tarragona (Ruiz de Arbulo et al., 2010,
p. 231), Barcelona (Banha, 2006, p. 53), Valência (Huguet i Enguita e Ribera i Lacomba, 2014, p. 160; Pas-
cual Berlanga e Ribera i Lacomba, 2015, p. 276), Cartagena (Ramallo et al., 2010, p. 301) e outros locais
da costa oriental ibérica (Molina Vidal, 1997), Valeria, mais no interior (Gonzalez Cesteros, 2013, p. 130),
Sevilha (García Vargas, 2007a, p. 334; García Vargas, 2012, p. 258) e na capital provincial Augusta Emerita
(Almeida e Sánchez Hidalgo, 2013, p. 53).

461
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Já no que se refere à cidade de Lisboa, só muito recentemente foram dados a conhecer alguns
exemplares de ânforas Tardo-Ródias/Camulodunum 184 provenientes do Palácio dos Condes de Penafiel
(Quaresma, 2020) e da Rua de São Mamede (Mota et al., 2017), todos incluídos na amostra aqui em estu-
do, constituindo-se assim como uma novidade recente no repertório anfórico da cidade.
Para além destes dois sítios, onde se recolheram dois bordos, quatro fundos e oito asas no pri-
meiro, e um bordo, um fundo e duas asas no segundo, em Olisipo foram identificadas ânforas Tardo-
-Ródias no Banco de Portugal (dois bordos, um fundo e nove asas), na Encosta de Sant’Ana (um bordo),
nas Escadinhas de São Crispim (cinco asas), na recente intervenção da Praça da Figueira (dois bordos,
sete fundos e seis asas), no acompanhamento da Rua de São João da Praça (um fundo), na Sé Catedral
(dois bordos, um fundo e uma asa), nas Termas dos Cássios (um bordo, dois fundos e cinco asas) e na
Rua Augusta, Zara (um bordo e uma asa), perfazendo um total de 28 indivíduos. Em termos globais,
estes 28 indivíduos representam 0,87% da amostra Alto-Imperial, 2,07% do total de importações extra-
provinciais, 45,16% do total de contentores provenientes do Mediterrâneo Oriental e 2,69% do total do
vinho consumido, percentagem que sobe para 6,06% se se exceptuarem os artigos lusitanos.
Relativamente à cronologia dos contextos de onde provêm, uma vez mais, são poucos os dados
disponíveis. Desde logo, nos sítios Palácio dos Condes de Penafiel, São João da Praça (2001) e Termas
dos Cássios (1991) não existem quaisquer coordenadas estratigráficas. De pouca ajuda são os casos do
Banco de Portugal, devido à natureza dos contextos (Rocha et al., 2013), e da Encosta de Sant’Ana, cuja
sistematização da informação não foi ainda realizada. Já os exemplares das Escadinhas de São Crispim
foram integralmente exumados em níveis da Antiguidade Tardia, estando, portanto, descontextualiza-
dos (Silva, 2013; Silva e Filipe, 2013; Quaresma, 2020). Nos restantes quatro sítios foram documentados
fragmentos de ânforas Tardo-Ródias/Camulodunum 184 em contextos com cronologias compatíveis
com a produção e comercialização destes contentores. Na Praça da Figueira, onde apenas parte da
informação estratigráfica está sistematizada, uma das peças foi recuperada em contexto datado entre
os meados do séc. II d.C. e meados do século seguinte. No caso da Zara, o contexto de proveniência das
duas peças data de entre a Época Flávia e meados do séc. II d.C.. Por outro lado, na Rua de São Mame-
de, onde a cronologia dos contextos estratigráficos ficou bem definida, os quatro exemplares foram
todos recolhidos em níveis atribuíveis ao período entre o último quartel do séc. I d.C. e o primeiro terço
do séc. II (Mota et al., 2017). O único fragmento contextualizado deste tipo na Sé Catedral, o fundo nº
16195, provém de um nível datado do segundo quartel do séc. I d.C., correspondendo ao testemunho
mais antigo da recepção em Olisipo das ânforas Tardo-Ródias/Camulodunum 184.
Da leitura destes dados resulta evidente a intensificação da chegada do vinho ródio a Olisipo a
partir de meados do séc. I d.C.. Ainda que demasiado escassos para estabelecer padrões de importação
bem definidos, esta leitura é concordante com a presença significativa deste tipo de ânforas no Noroes-
te Peninsular e na Britannia, sobretudo a partir de Cláudio (embora não só) e geralmente em contex-
tos relacionados com a presença militar. Olisipo poderá ter beneficiado do abastecimento institucional
aos estabelecimentos militares situados nas fronteiras do Norte do Império e do Noroeste da Hispania,
efectuados através da rota atlântica. Esse enquadramento institucional terá propiciado a intensificação
da produção e exportação do vinho oriental que, no caso concreto de Rodes, de onde provém a maio-
ria desse produto, poderá também estar relacionado com imposições tributárias impostas por Cláudio
(Peacock, 1977, p. 270; Fabião, 1998a, p. 183). Este tipo de contentores é normalmente associado ao
comércio de artigos de luxo dirigido sobretudo às elites e, no caso dos contextos militares, às patentes
mais altas do exército.
Refira-se, por fim, a existência de vestígios de revestimento resinoso na superfície interna de um
fragmento de colo com arranque de asa deste tipo recolhido no Banco de Portugal.

6.2.8.2. Dressel 2-4/5

Este grupo de ânforas compreende as formas classificadas por H. Dressel (1899) com os números
de 2 a 5, isto é, uma grande parte das formas atribuíveis à vasta família das ânforas de tradição coa, inte-
ressando aqui concretamente os contentores de fabrico localizável na parte oriental do Mediterrâneo

462
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

100km

Dressel 2-4/5 (Grace, 1979; Panella, 1986).


Figura 96 – Dressel 2-4/5
Difusão (Grace,português:
no território 1979; Panella, 1986).
Braga, Lisboa, Tróia, Faro.
Difusão no território português: Braga, Lisboa, Tróia, Faro.

genericamente a partir de meados do séc. I a.C.. Por um lado, os contentores produzidos na própria Ilha
de Cos, resultantes da evolução da Dressel 4 helenística para uma forma mais alta e estreita a partir do
séc. I a.C. e durante o Alto-Império, incluindo-se aqui também as Dressel 5 (Grace, 1979, fig. 56; Empe-
reur e Hesnard, 1987, p. 22; Bezeczky, 2013, p. 56). Por outro, as imitações de ânforas coas, reproduzidas
em diversos locais do Mediterrâneo Oriental, como referido anteriormente (Empereur e Picon, 1986,
p. 109; Hesnard, 1986, p. 75; Empereur e Hesnard, 1987, p. 23). Relativamente a estas últimas, sabemos
hoje que foram produzidas na Ilha de Rodes e outros locais da perea Ródia, na Ilha de Cnidos, em vários
sítios da costa sudoeste e Sul da actual Turquia, na Ilha de Creta e no Egipto (Empereur e Picon, 1986,
p. 108-112; Hesnard, 1986, p. 75-78; Empereur e Hesnard, 1987, p. 23; Empereur e Picon, 1989, p. 225-
229; Marangou-Lerat, 1995, p. 81; Rizzo, 2014, p. 317-318), reconhecendo-se, ainda assim, a existência
de outros centros produtores cuja localização é ainda desconhecida (Desbat e Picon, 1986, p. 640-645;
Empereur e Picon, 1986, p. 112).
Esta multiplicidade de centros oleiros que fabricaram as Dressel 2-4/5 na região oriental do Medi-
terrâneo complexifica bastante a sua correcta identificação, não resultando fácil a sua atribuição a esta
ou aquela região produtora sem o auxílio de análises químicas ou petrográficas. Foi precisamente por
esta razão, bem como pelo estado fragmentário dos exemplares de Lisboa e alguma indefinição na tipi-
ficação das diversas variantes associadas a distintos quadrantes geográficos de produção (Rizzo, 2014,
p. 315), que se optou por agrupar aqui todas as produções atribuíveis às ânforas de tradição coa de
fabrico oriental. Contudo, tal não significa que todas aquelas regiões estejam representadas na amos-
tra de Lisboa, sendo certo que as produções da Cilícia e do Egipto não estão presentes, tendo sido, em
contrapartida, reconhecidos alguns exemplares que deverão corresponder a fabricos da Ilha de Cos,
devendo os restantes corresponder, provavelmente, a outras produções do Egeu.
Genericamente, estas formas apresentam um corpo estreito, cilíndrico e de paredes finas, re-
matado por um fundo que tende a ser curto, maciço e troncocónico. O ombro, sempre inclinado, pode
ser em forma de sino (“en cloche”), recto ou côncavo, com carena bem marcada na ligação ao corpo,
por vezes com um pequeno ressalto ou aresta na junção ao colo. O bordo é curto, podendo ser sim-
plesmente arredondado externamente ou ligeiramente afilado no topo, coroando um colo cilíndrico,
normalmente mais alto na Dressel 5. As asas são bífidas e geralmente paralelas ao colo, sendo o seu
topo elevado em relação ao arranque superior da asa e com acentuado ângulo de inflexão. Nas Dres-
sel 5 tendem a ser arqueadas, podendo o seu topo ser ainda mais elevado e o ângulo de inflexão mais

463
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

pronunciado e em bico, apertado lateralmente (de onde advém o termo “pinched-handle”), adquirindo
configuração corniforme (Hayes, 1983, p. 149; Panella, 1986, p. 618; Auriemma, 2000, p. 31; Bezeczky,
2013, p. 56 e 79; Rizzo, 2014, p. 315-317).
A produção destes contentores estende-se até ao séc. II d.C. (Empereur e Hesnard, 1987, p. 22;
Bezeczky, 2013, p. 56 e 79; Rizzo, 2014, p. 315-317), perdurando até ao final do século seguinte no caso
do Egipto (Empereur e Picon, 1998, p. 77). À semelhança da Dressel 4 helenística, destinar-se-iam a
transportar vinho, conhecendo-se um titulus pictus sobre Dressel 5, proveniente de Atenas, que refere
vinho doce (Bezeczky, 2013, p. 80) e um outro de Pompeia com a inscrição Choum ve(tus) (vinho de Cos)
sobre uma Pompeia 6 (Panella e Fano, 1977, p. 153). O conteúdo piscícola identificado nos exemplares
de Dressel 2-4 e Dressel 5 do naufrágio de Grado são interpretados pela autora como uma clara reutili-
zação dos contentores anfóricos (Auriemma, 2000, p. 34).
Relativamente ao padrão de distribuição destas formas, verifica-se, expectavelmente, uma es-
pecial concentração na metade oriental do Mediterrâneo (Williams, 2005a; Bezeczky, 2013, p. 58 e 80).
No Ocidente do Império, onde, a par das Tardo-Ródias/Camulodunum 184, correspondem às formas de
origem oriental mais difundidas entre a segunda metade do século I a.C. e o séc. II, estão bem represen-
tadas em Itália, tanto na costa tirrénica, em Pompeia (Panella e Fano, 1977, p. 133-177), Óstia (Panella,
1986, p. 617-618; Rizzo, 2014, p. 315-318) e Roma (Dressel, 1899; Rizzo, 2003, p. 147-177; Ferrandes, 2008,
p. 257, Tab. 2), como na adriática, em Brindisi, S. Foca, Trieste (Auriemma e Quiri, 2004, p. 43) e naufrá-
gio de Grado (Auriemma, 2000, p. 31-34), na Gália, sobretudo em Época de Augusto, em Lyon (Desbat e
Picon, 1986; Lemaître, 1995; Lemaître, 2002, p. 220), Saint-Romain-en-Gal (Lemaître, 2002, p. 220) e no
naufrágio Dramont D (Panella, 1986, p. 618, nota 13; Parker, 1992, p. 167-168), mas também em Augst
(Martin-Kilcher, 1994, p. 344-346). Surgem ainda nas províncias da Pannonia (Bezeczky, 1994, p. 117-119),
Noricum (Bezeczky, 1998, p. 232-233), Germania (Ehmig, 2007, p. 40-42; Ehmig, 2010, p. 45; Berg et al.,
2012; Carreras Monfort e Gonzalez Cesteros, 2013, p. 284; Berg, 2017, p. 134-136) e Britannia (Carreras
Monfort, 1994, p. 83), bem como em Cartago, no Norte de África (Rizzo, 2014, p. 317).
Na Península Ibérica a difusão das Dressel 2-4/5 orientais é, poder-se-á dizer, no actual estado
do conhecimento, algo assimétrica, reflectindo muito provavelmente mais a geografia da investiga-
ção, particularmente pobre em relação aos materiais anfóricos de origem oriental (Gonzalez Cesteros,
2011, p. 110-112), do que a sua real presença em âmbito peninsular. No Noroeste Peninsular surge muito
bem representada em Asturica Augusta (Carreras Monfort e Berni Millet, 2003, p. 638), León (Carreras
Monfort, 2010, p. 241) e Petavonium, Rosinos de Vidriales, Zamora (Carretero Vaquero, 2000, p. 733-734;
Carreras Monfort, 2010, p. 242-243; Gonzalez Cesteros, 2011, p. 119), e em quantidades mais modestas
em Lugo (Gonzalez Cesteros, 2011, p. 119), Braga (Morais, 2005, p. 101) e Tiermes, Soria (Carreras Mon-
fort, 2010, p. 243). Na região oriental da Hispânia estão igualmente atestadas em vários locais, como na
“Casa de los Delfines” (Beltrán Lloris et al., 1998, p. 86) e calle Reconquista, com um exemplar quase
completo (Carreras Monfort et al., 2016, p. 236), ambos em Zaragoza, em Ampúrias (Tremoleda Trilla
et al., 2016, p. 72; Castanyer Masoliver et al., 1993, p. 173), em Tarragona (Díaz García, 2000, p. 252; Díaz
García e Otiña Hermoso, 2003, p. 78; Ruiz de Arbulo et al., 2010, p. 231) e em Valência (Pascual Berlanga
e Ribera i Lacomba, 2015, p. 276). Na Bética parecem ser raras, estando aparentemente ausentes em
Hispalis (García Vargas, 2007a), Cádis (Mateo Corredor, 2014) e Baelo Claudia (Arévalo González e Bernal
Casasola, 2007), surgindo depois já na Extremadura espanhola em Augusta Emerita, capital da Lusitania
(Almeida e Sánchez Hidalgo, 2013).
No território actualmente português, tanto quanto hoje se conhece, as Dressel 2-4/5 importadas
do Mediterrâneo Oriental distribuem-se de forma bastante uniforme, sendo conhecida a sua presença
de Norte a Sul, nomeadamente em Bracara Augusta (Morais, 2005, p. 101), Olisipo (Fabião, 1998a, p. 183
e fig. 4; Almeida e Filipe, 2013, p. 742; Gomes et al., 2017), Tróia (Almeida et al., 2014d, p. 655) e Faro
(Almeida et al., 2014e, p. 157). No caso de Lisboa, existia já menção à sua presença na Praça da Figueira
desde o final dos anos 90 do século passado (Fabião, 1998a, p. 183 e fig. 4), materiais que acabaram por
só recentemente ser publicados (Almeida e Filipe, 2013, p. 742). Para além destes, apenas se conhece
um outro exemplar proveniente da Rua das Pedras Negras (2013), igualmente dado a conhecer não há
muito tempo (Gomes et al., 2017).

464
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

No conjunto dos materiais analisados no âmbito deste trabalho foram identificados 14 indivíduos
atribuíveis a este grupo de ânforas, correspondendo a 0,44% do total da amostra do Alto-Império, a
1,03% do total de importações extraprovinciais e a 1,34% das importações de vinho durante o mesmo
período. Provêm do Banco de Portugal (uma asa), Escadinhas de São Crispim (uma asa), Palácio dos
Condes de Penafiel (dois fundos e três asas), antigas (um bordo e uma asa) e recentes (dois bordos e
seis asas) intervenções da Praça da Figueira, Sé Catedral (duas asas) e antigas (oito asas) e recentes
(uma asa) intervenções da Rua das Pedras Negras. Para além destes, há ainda a considerar a possibili-
dade de algum dos três exemplares de Dressel 2-4 dos quais se desconhece a origem poder proceder
igualmente da metade oriental do Mediterrâneo.
Desgraçadamente, os contextos de proveniência destes materiais não ajudam a esclarecer o qua-
dro cronológico da sua chegada a Olisipo. Do Banco de Portugal, Palácio dos Condes de Penafiel, inter-
venção de 1991 da Rua das Pedras Negras e escavações antigas da Praça da Figueira já se conhecem as
condicionantes estratigráficas. Por outro lado, as Dressel 2-4/5 orientais da Sé Catedral, Rua das Pedras
Negras (2013) foram recuperadas em estratos pós-romanos e as das Escadinhas de São Crispim e Praça
da Figueira (2000) provêm de contextos da Antiguidade Tardia. Refira-se, todavia, que neste último
sítio a informação estratigráfica dos níveis de onde procedem estas ânforas não se encontra ainda
totalmente sistematizada, pelo que poderá ainda, eventualmente, fornecer alguns dados importantes.
Apesar da inexistência de dados contextuais na amostra que aqui se analisa, é provável que a che-
gada destas ânforas a Olisipo e ao Ocidente hispânico se enquadre nas mesmas redes de abastecimento
que acima se referiram para as Tardo-Ródias/Camulodunum 184 e no mesmo âmbito cronológico.

6.2.8.3. Dressel 24

Embora identificado pela primeira vez no já distante final do séc. XIX, tendo recebido o núme-
ro 24 da tabela de H. Dressel (1899), mantém-se ainda como um tipo relativamente mal definido em
alguns dos aspectos elementares da sua caracterização tipológica (para um ponto da situação actuali-
zado: Rizzo, 2014, p. 318-322; Auriemma et al., 2015, p. 147-148). A Dressel 24 parece constituir-se como
uma família de ânforas bastante heterogénea, que evolui a partir da “Cup-shaped amphora” de Época
Helenística (Bezeczky, 2004, p. 87; Lawall, 2004, p. 185) e perdura até finais do séc. III d.C., adquirindo
diversas variações formais com bordos de morfologia similar, onde habitualmente são incluídas as Mid
Roman 18, Knossos 15 e 18 e a Dressel 24 similis A, sendo a Late Roman 2 considerada por alguns autores
como a sua última etapa evolutiva (Opait, 2007, p. 632; Auriemma et al., 2015, p. 147).
Em termos gerais caracteriza-se como um contentor de corpo relativamente amplo e perfil ten-
dencialmente ovóide, de paredes geralmente finas. O bordo pode ser em banda, destacado do colo
por um ressalto ou linha, ou apresentar-se simplesmente como a continuação daquele, exibindo perfil
aberto e inclinado e ligeiramente engrossado internamente. As asas são de secção oval, arrancando
abaixo do bordo e repousando no ombro, enquanto o colo apresenta perfil troncocónico, transitando
de forma suave para o ombro. O fundo é cónico e relativamente curto (Auriemma e Quiri, 2004, p. 49;
Opait, 2007, p. 628; Bezeczky, 2013, 72; Rizzo, 2014, p. 318).
Os centros produtores conhecidos localizam-se na costa ocidental da Ásia Menor, junto a Pér-
gamo, próximo de Ephesus e em Erythrai, embora a realização de análises petrográficas demonstre
que outros ateliers, em locais ainda não identificados, terão também fabricado estas formas (González
Cesteros, 2011, p. 114; Bezeczky, 2013, 73; Rizzo, 2014, p. 319-320).
A questão do produto transportado pelas Dressel 24 mantém-se ainda, de certo modo, em aber-
to, não sendo totalmente consensual entre os investigadores que se destinasse a envasar azeite. Fortes
evidências apontam nesse sentido, nomeadamente a sua presença no Monte Testaccio, a existência de
tituli picti em grego e latim referindo oleum, a própria morfologia do contentor e a sua bem documen-
tada presença na parte mais oriental do limes danubiano em lugar das Dressel 20 béticas, bem como
os resultados de análises aos resíduos orgânicos de ânforas deste tipo provenientes do sudeste da
Bulgária (Carreras Monfort, 1999, p. 98; Remesal Rodríguez e García Sanchez, 2007, p. 174; González
Cesteros, 2011, p. 114; Rizzo, 2014, p. 322). Não obstante, outras evidências parecem indicar que estas

465
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

100km

Dressel 24 (Opait, 2007).


Figura 97 – Dressel 24no
Difusão (Opait, 2007).
território português: Lisboa.
Difusão no território português: Lisboa.

ânforas poderão também ter sido utilizadas de forma mais ou menos pontual no transporte de outros
produtos ou especificamente alguma das suas variantes, como poderá ser o caso da Knossos 15 (Rizzo,
2014, p. 322; Auriemma et al., 2015, p. 148).
A sua difusão parece ter-se centrado na parte oriental do Império, particularmente no Egeu, Mar
Negro e região do Baixo Danúbio, ocorrendo também na Ilha de Chipre, Beirute e em Benghazi (Riley,
1979, p. 205-206; Hayes, 1983, p. 147; Panella, 1986, p. 625, nota 33; Auriemma e Quiri, 2006, p. 234 e fig. 19;
Reynolds, 2010, p. 90), e num segundo eixo de distribuição ocidental, principalmente destinado à Penín-
sula Itálica, Dalmatia, Sicília e Sul de França (Auriemma e Quiri, 2006, p. 234; Rizzo, 2014, p. 320-321, nota
1239), estando atestada em sítios como Brindisi, Aquileia, Trieste (Auriemma e Quiri, 2004; Auriemma
e Quiri, 2006; Auriemma et al., 2015), Pompeia (Manacorda, 1975 apud Panella, 1986, p. 625, nota 32),
Roma (Dressel, 1899; Panella, 1986, p. 624-625; Carreras Monfort, 1999, p. 97-98; Remesal Rodríguez e
García Sanchez, 2007, p. 173-174; Coletti e Lorenzetti, 2010, p. 159; Rizzo, 2012, p. 93-94), Óstia (Panella,
1986, p. 624-625; Rizzo, 2014, p. 320-321), Turim (Quiri, 2015, p. 164), Lyon (Bertrand, 1992, p. 270-272;
Lemaître, 1995, p. 198) ou no naufrágio de Camarina A (Auriemma e Quiri, 2004, p. 49, nota 16), surgindo
ainda em Augst (Martin-Kilcher, 1994, p. 440). Na Península Ibérica encontra-se escassamente docu-
mentada, estando assinalada em Lugo (González Cesteros, 2011, p. 114-115)61 e nos notáveis contextos
de Zaragoza (Cebolla Berlanga et al., 2004, p. 468-469), o primeiro no Noroeste e o segundo no interior
peninsular.
Na amostra de Olisipo identificaram-se três exemplares enquadráveis neste tipo, evidenciando
dois tipos de fabrico distintos, sendo procedentes do Largo de Santo António (um bordo), Sé Catedral
(um bordo) e recente intervenção da Rua das Pedras Negras (um fundo). No caso deste último62, um
fragmento de fundo em mau estado de conservação e recolhido em contexto medieval, a sua atribuição
tipológica não deixa de merecer algumas reservas, ainda que as características morfológicas se pare-
çam enquadrar nas Dressel 24 do séc. I d.C. (com paralelos aproximados em Kalos Limen e Tanais: Opait,
2007, fig. 1, nº 3a e fig. 2, nº 4). Todavia, as características da sua pasta não deixam dúvidas quanto a
uma origem oriental, no Egeu ou na costa ocidental da Ásia Menor. Relativamente ao bordo da Sé, a sua

61. Relativamente a este exemplar, veja-se os comentários de A. Fernández Fernández (2013, p. 166) que considera tratar-se antes de
uma Late Roman 2A.
62. Recentemente publicado pelo autor deste trabalho como “tipo indeterminado” (Gomes et al., no prelo, Quadro 10, nº 22).

466
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

proveniência estratigráfica facilita o seu enquadramento tipológico na Dressel 24 clássica, uma vez que
foi exumado num contexto datado do segundo terço do séc. I d.C.. Para este lapso temporal, A. Opait
(2007, p. 628) refere o subtipo representado com o número 24 na tabela de H. Dressel (1899) e um
exemplar completo de Mileto, em que o bordo não é ainda claramente diferenciado do colo através de
uma linha, diferenciando-se sobretudo pela distinta orientação, como sucede com o exemplar da Sé.
Igualmente enquadráveis na diacronia do contexto de onde procede a peça da Sé são alguns fragmen-
tos de bordo de Ephesus (Bezeczky, 2013, Pl. 11), com notáveis semelhanças formais particularmente
nos nºs 118 e 119. Já no que diz respeito ao bordo do Largo de Santo António, de que se desconhece
a cronologia do contexto de procedência, os melhores paralelos parecem corresponder às peças de
Kalos Limen e Knossos, respectivamente da segunda metade do séc. I d.C. e do séc. II, igualmente en-
quadradas na Dressel 24 (Opait, 2007, p. 628-629, fig. 1, nº 3a-b e fig. 2, nº 5), mas sobretudo com um
exemplar de Ephesus (Bezeczky, 2013, Pl. 10, nº 110).
Como se referiu, registaram-se dois tipos distintos de fabrico nestes três exemplares de Dressel
24. O fundo da Rua das Pedras Negras exibe uma pasta micácea de tom vermelho-acastanhado, en-
quanto os dois bordos ostentam fabrico idêntico, com alguns óxidos de ferro, de cor bege e pasta com-
pacta, semelhantes a algumas pastas registadas em Ephesus (Bezeczky, 2013, particularmente o nº 118).
Claramente minoritária, representa 0,09% das ânforas do Alto-Império, 4,84% das procedentes
do Mediterrâneo Oriental e 0,22% das importações extraprovinciais. No quadro do consumo, significa
0,47% de todos os contentores oleários, constituindo-se como o único testemunho da importação de
azeite da metade oriental do Império em Olisipo, muito provavelmente um produto de luxo.
A sua presença em Olisipo é uma novidade, tal como no território da antiga província da Lusitania,
não sendo totalmente despiciendo o seu significado quantitativo se se atentar apenas ao quadro das
importações do Mediterrâneo Oriental. A sua identificação em Lisboa reveste-se de especial interesse
na medida em que demonstra claramente o poder aquisitivo de alguns dos seus cidadãos em Época
Romana e do cosmopolitismo da cidade, inserindo-se a sua importação nas redes comerciais que abas-
teciam a cidade com produtos oriundos da metade oriental do Império.

6.2.8.4. Dressel 25

Trata-se de uma forma herdeira da Proto-Dressel 25 e da Coríntia A, com evidentes afinidades


morfológicas com os contentores brindisinos, que se mantém mal caracterizado nos seus principais
aspectos (Opait, 2010, p. 155-156; Bezeczky, 2013, p. 91). Embora apresente algumas variações formais,
a Dressel 25 é normalmente caracterizada por um corpo ovóide ou de tendência globular, colo curto
e cilíndrico, bordo em banda, arredondado, espessado e côncavo no interior, podendo a ligação ao
colo ser gradual ou com pronunciado ressalto, com uma moldura saliente em filete abaixo daquele, da
qual arrancam habitualmente as asas de perfil e secção circular que repousam num ombro discreto e
arredondado, terminando num pequeno fundo em botão que pode ser mais ou menos pronunciado
(Bezeczky, 1998, p. 238; Bezeczky, 2013, p. 91; Cipriano et al., 1997, p. 102; Mazzocchin e Gualtieri, 2004,
p. 73; Opait, 2010, p. 156).
Até recentemente desconheciam-se os locais de produção destas ânforas, sendo normalmente
consideradas produções da região Sul da Península Itálica ou da Grécia (Van der Werff, 1986 apud Beze-
czky, 2013, p. 91), panorama que se atenuou nos últimos anos, conhecendo-se hoje alguns centros que
produziram a Dressel 25 na costa Norte da Península do Peloponeso, concretamente em Sicyon, Aigio e
Corinto (Lawall et al., 2010, p. 396; Opait, 2010, p. 155; Bezeczky, 2013, p. 91; Filis, no prelo).
Cronologicamente, o seu fabrico parece abranger um arco temporal que se estende do final do
séc. I a.C. até à segunda metade do séc. I d.C., surgindo em quantidades moderadas em contextos do
último terço do séc. I a.C. em Ephesus (Bezeczky, 2013, p. 91) e em proporções bastante expressivas em
níveis da segunda metade ou final do séc. I d.C. em Pádua (Cipriano et al., 1997, p. 103; Mazzocchin e
Gualtieri, 2004, p. 73).
Mais indefinida parece ser a questão do produto transportado por estes contentores, muito devi-
do à escassez de evidências directas. Apesar de serem tradicionalmente consideradas ânforas oleárias,

467
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

por analogia aos contentores ovóides tardo-republicanos (Auriemma et al., 2016, p. 393), foi já sugerido
um conteúdo vínico com base nas características morfológicas e na proveniência oriental (Cipriano et
al., 1997, p. 103; Mazzocchin e Gualtieri, 2004, p. 74). Outros autores consideram plausível poder tam-
bém tratar-se de uma ânfora piscícola, com base em vestígios de revestimento resinoso num exemplar
de Dressel 25 proveniente de Canale Anfora, Aquileia (Auriemma et al., 2016, p. 393). Em suma, e en-
quanto não forem identificadas evidências que atestem de forma sólida qual o produto (ou produtos)
que se destinava a transportar, mantém-se como uma ânfora de conteúdo desconhecido.
No que se refere à difusão, e para além do Mediterrâneo Oriental (Grace, 1979, fi. 38; Bezeczky,
2013, p. 91) e Mar Negro (Opait, 2010, p. 155-156), a Dressel 25 está especialmente bem atestada na região
central e setentrional da Península Itálica, quer em quantidade quer em número de sítios (Dressel, 1899;
Cipriano e Carre, 1987, p. 485; Cipriano et al., 1997, p. 102; Rizzo, 2003, p. 156; Mazzocchin e Gualtieri,
2004, p. 73; Auriemma et al., 2016, p. 393, entre outros), surgindo de forma mais discreta em Magdalens-
berg, província de Noricum (Bezeczky, 1998, p. 238-239), e no naufrágio de Dhia A, Creta, genericamente
datado do séc. I d.C., a par de ânforas Tardo-Ródias/Camulodunum 184, coas e T-7.4. (Parker, 1992, p.
162). No âmbito geográfico peninsular, parece estar assinalada apenas em Zaragoza (Cebolla Berlanga
et al., 2004, p. 469). Tendo em conta esta geografia de difusão, o exemplar de Lisboa reveste-se de par-
ticular relevância na medida em que estende a comercialização desta forma até à extremidade ocidental
do Mediterrâneo, ainda que em proporções certamente minoritárias, deixando aberta a forte possibi-
lidade da sua identificação em outros locais do Ocidente, tanto na Hispânia como na Gália ou no Norte
de África.
Os exemplares atribuíveis à Dressel 25 provêm da Sé Catedral de Lisboa, consistindo em um ar-
ranque inferior de asa e em dois fragmentos de bordo, ambos com o arranque superior da asa, que,
apesar de não colarem, deverão muito provavelmente pertencer à mesma peça, razão pela qual se
considerou tratar-se de um mesmo indivíduo. Apresenta, todavia, um detalhe formal que não deixa de
poder colocar algumas reservas quando à sua correcta classificação como Dressel 25. De facto, neste
tipo verifica-se sistematicamente que a parte superior da asa arranca directamente da moldura localiza-
da abaixo do bordo, enquanto na peça da Sé ela arranca da ligação do bordo ao colo, acima da referida
moldura. Também em relação à pasta, e dentro daquilo que é possível aferir de uma análise macroscó-
pica e respectiva confrontação com os dados disponíveis (Bezeczky, 2005a; Bezeczky, 2013, Pl. 68-69,
nºs 172-185; Sauer, 2013, p. 92; Filis, no prelo), os fragmentos da Sé (que apresentam todos o mesmo tipo

100km

Dressel 25 (Foto de Stefania Mazzocchin; www.archaeologydataservice.ac.uk).


Figura 98 – Dressel 25 (Foto
Difusão de Stefania
no território Mazzocchin
português: Lisboa. (com autorização do Ministério da Cultura italiano; reprodução
proibida); www.archaeologydataservice.ac.uk). Difusão no território português: Lisboa.

468
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

de pasta) parecem divergir dos fabricos conhecidos. Naturalmente, é tentador ver nestas diferenças
evidências de particularidades morfológicas imputáveis a uma distinta região produtora, ainda que se
não deva conceder excessiva importância ao detalhe formal.
O bordo de Dressel 25 da Sé de Lisboa, para lá da já referida diferença na implantação da asa, en-
contra bons paralelos nas peças nºs 179-182 de Ephesus (Bezeczky, 2013, Pl. 16), embora estes últimos exi-
bam molduras com características algo diferentes, situadas em posição ligeiramente mais elevada em
relação ao bordo e apresentando-se mais em forma de degrau, por vezes duplo, do que em filete salien-
te. O melhor paralelo para a moldura e sua transição para o bordo será, talvez, o exemplar da Ágora de
Atenas publicado por A. Opait (2010, Pl. 88, nº 3), embora a transição do colo para o bordo não seja tão
pronunciada como na da Sé. Infelizmente, todos os fragmentos se encontravam descontextualizados
no momento da sua recolha, em níveis atribuíveis à Antiguidade Tardia e ao grande aterro do séc. XIV.

6.2.8.5. Cretense 4/Dressel 43

Este contentor de pequena dimensão, com 60/70cm de altura média e capacidade de 12/13 litros,
corresponde a uma imitação cretense de Época Imperial das ânforas Tardo-Ródias/Camulodunum 184
(Panella, 1986, p. 615; Marangou-Lerat, 1995, p. 84), tendo adquirido, contudo, características morfoló-
gicas algo distintas em relação ao modelo que imita. O bordo apresenta uma pequena banda e pode ser
arredondado ou mais apontado, de diâmetro curto. O colo é relativamente alto e pode ser troncocóni-
co ou cilíndrico, de paredes direitas ou abauladas, ombro descaído e pouco desenvolvido, corpo cilíndri-
co ou ovóide terminando num fundo curto e apontado que pode ser oco ou preenchido por argila. As
asas, elemento mais característico desta forma, têm secção circular e perfil arqueado, terminando num
bico bem pronunciado no topo da asa; arrancam abaixo do bordo e repousam no ombro (Empereur et
al., 1989, p. 574-575; Marangou-Lerat, 1995, p. 84; Bezeczky, 2013, p. 76-77).
Dentro destas características gerais, Antigone Marangou-Lerat (1995, p. 84-87) individualizou ini-
cialmente três subtipos que associou a três centros produtores na Ilha de Creta (Herakleion, Dermatos
e Tsoutsouros). Mais recentemente, num trabalho sobre as ânforas cretenses do Nuovo Mercato di
Testaccio, foram individualizados 10 subtipos distintos, baseados unicamente nas características mor-
fológicas (Casaramona et al., 2010, p. 116).

100km

Cretense 4/Dressel 43 (Marangou-Lerat, 1995; www.archaeologydataservice.ac.uk).


Figura 99 – Cretense
Difusão4/Dressel
no território43 (Marangou-Lerat,
português: 1995; www.archaeologydataservice.ac.uk).
Lisboa, Idanha-a-Velha.
Difusão no território português: Lisboa, Idanha-a-Velha.

469
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

As ânforas Cretense 4 foram fabricadas pelo menos nas já referidas três olarias da Ilha de Creta
entre a primeira metade do séc. I d.C. e o séc. III (Marangou-Lerat, 1995, p. 87; Casaramona et al., 2010,
p. 113; Bezeczky, 2013, p. 77). Embora pudesse igualmente ter sido utilizada para transportar outros
produtos, como indica uma inscrição proveniente de Londres que refere fruta (Williams, 2003 apud
Bezeczky, 2013, p. 77), destinava-se essencialmente a transportar o vinho produzido na Ilha de Creta
(Empereur et al., 1989, p. 577).
Ainda que fosse expectável que a difusão desta forma se centrasse sobretudo nos mercados do
Mediterrâneo Oriental, e apesar de aí estar bem documentada, a sua presença está particularmente
bem atestada em Itália, Inglaterra e ao longo dos rios Ródano, Reno e Danúbio, e de forma mais pontual
no Norte de África e Península Ibérica (Panella, 1986, p. 615-616 e fig. 17; Empereur et al., 1989, p. 576
e fig. 27; Bezeczky, 1994, p. 117; Bezeczky, 2013, p. 77; Marangou-Lerat, 1995, p. 84-89 e Pl. XLVII; Berg,
2012, p. 229 e fig. 4; García Vargas, 2012, p. 258). Na província da Lusitânia foram já identificados alguns
fragmentos de Cretense 4 em Mérida (Almeida e Sanchez Hidalgo, 2013, fig. 1) e em Idanha-a-Velha (Ba-
nha, 2006, p. 59), não sendo até aqui conhecida a sua presença em Olisipo.
Na amostra que aqui se analisa foram identificados apenas dois fragmentos de fundo deste tipo,
na intervenção da Rua dos Bacalhoeiros, em contexto datado de meados do séc. I d.C., e no Largo de San-
ta Cruz do Castelo, em nível pós-romano. A pequena dimensão de ambas peças e as suas características
morfológicas não permitem descartar totalmente a hipótese de corresponder antes a uma Cretense 2,
ou seja, a imitação cretense das ânforas de forma Dressel 2-4, embora se aproximem mais da Cretense 4.

6.2.8.6. Agora M126/Contentores Monoansados

Dentro da categoria dos contentores monoansados inserem-se uma série de ânforas, indubita-
velmente todas da mesma família, mas com distintas características morfológicas e petrográficas, evi-
denciando a sua produção e evolução morfológica em diferentes regiões durante um vasto período de
tempo, que as permitem individualizar em tipos específicos (Agora F 65-66; M 45-46; J 47; M 125-126; M
240-242; M 255-259; M 275-282 - Robinson, 1959).
Em termos genéricos, são ânforas de paredes finas, de tamanho reduzido (50-60 cm) e com uma
só asa de pequena dimensão, apresentando bordos e colos curtos, tanto em diâmetro como em altura,
adquirindo os primeiros variadas formas e sendo os segundos normalmente cilíndricos ou troncocóni-
cos; a asa, cuja secção pode variar, tem habitualmente uma depressão longitudinal, arrancando do colo
em perfil tendencialmente semicircular e repousando num ombro descaído que mais não é do que o
início da parte superior do corpo, apresentando-se este normalmente ovóide e canelado. Os fundos,
estreitos e ocos, apresentam múltiplas variantes e são invariavelmente o elemento mais diferenciador,
sobretudo quando se trata de pequenos fragmentos, podendo ser, nos modelos mais precoces, de
pé em anel e base ligeiramente elevada, levemente moldurados ou curvos na face externa, ou de pé
mais alto, liso e curvo na face externa e com bordo interno, base côncava ou com um pequeno cone ao
centro (Lang, 1955, p. 277-278; Panella, 1973, p. 460-462; Riley, 1979, p. 183; Lemaître, 1997, p. 312-316;
Bezeczky, 2013, p. 65 e 70; Bezeczky, 2014, p. 388; Rizzo, 2014, p. 313-314).
O único exemplar identificado em Lisboa, proveniente da recente intervenção da Praça da Fi-
gueira, corresponde a um fragmento de fundo, enquadrável no tipo Agora M126, apresentando um pé
relativamente alto quando comparado com os do tipo F 65-66, liso e curvo na face externa, com bordo
interno e um pequeno cone ao centro, com paralelos bastante aproximados em Quersonesos, Táurica,
no Mar Negro (Klenina, 2015, p. 89, fig. 7), na Ágora de Atenas (Robinson, 1959, Pl. 23), em Skolarice,
Eslovénia (Zerjal, 2008, p. 137, fig. 6), em Aquincum, Bulgária (Menchelli et al., 2010, p. 262, fig. 11), em
Lyon (Lemaître, 1997, p. 317, fig. 7, nº 1 e 2) e Óstia (Bezeczky, 2014, Tav. 72, nº 19).
A produção de ânforas monoansadas ter-se-á iniciado durante o Principado de Augusto, surgin-
do os modelos mais antigos, as Agora F 65-66, entre outros locais, na Ágora de Atenas em contextos
datados do último quartel do séc. I a.C. (Lang, 1955, p. 277; Robinson, 1959, p. 17 e Pl. 2), em Éfeso, últi-
mo terço do séc. I a.C. (Bezeczky, 2013, p. 66), no acampamento de Haltern no limes germânico, entre
7 a.C. e 9 d.C. (Loeschcke, 1909; Lemaître, 1997, p. 312), em Lyon, em Época de Augusto (Lemaître, 1997,
p. 312) e no naufrágio de Comacchio, de cerca de 10 a.C. (Berti, 1990, fig. 3 apud Lemaître, 1997, p. 312).

470
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

100km

Agora M126/Contentores monoansados (Robinson, 1959; www.archaeologydataservice.ac.uk).


Figura 100 – Agora M126/Contentores
Difusão monoansados
no território português: Lisboa. (Robinson, 1959; www.archaeologydataservice.ac.uk).
Difusão no território português: Lisboa.

Continuamente produzidas até ao final do séc. IV d.C., altura em que são substituídas por mode-
los com duas asas (sendo a Late Roman 3 a que atinge maior sucesso), a sua difusão no Mediterrâneo
Ocidental atinge uma particular visibilidade entre a segunda metade do séc. II d.C. e a primeira metade
do século seguinte. É neste arco cronológico que surgem melhor representadas na Gália, notavelmente
em Lyon mas também em Marselha (Lemaître, 1997, p. 313-316; Lemaître, 2002, p. 220), em Itália, Ós-
tia (Manacorda, 1977, Tav. XXXIII, Nº 236; Panella, 1986, fig. 2 a-b; Rizzo, 2014, p. 216, Tab. 13b) e Roma
(Rizzo, 2003, p. 180, Tab. 30b; Ferrandes, 2008, p. 256, Tab. 2; Colleti e Lorenzetti, 2010, p. 159, fig. 3),
em Augst (Martin-Kilcher, 1994, p. 440-441) e em Castrum villa, Croácia, neste caso sem coordenadas
estratigráficas (Bezeczky et al., 2015, p. 191 e Tab. 1).
O exemplar da Praça da Figueira, Agora M 126, enquadra-se também nesta fase cronológica de
maior fulgor na difusão para Ocidente dos contentores monoansados, que corresponde igualmente
ao período de utilização mais intensa da necrópole (Silva, 2005, p. 49), embora tenha sido recolhido
em contexto já do final do séc. IV/início do séc. V d.C.. Na Península Ibérica parece estar escassamente
representado, ocorrendo na Bética, onde se terá identificado um dos modelos mais antigos, Agora F
65-66, em contexto de cronologia indeterminada (Panella, 1973, p. 461) e em âmbito subaquático em La
Caleta, Cádis (González Cesteros et al., 2016e, p. 148).
Os contentores monoansados terão sido produzidos em diversos locais do sector ocidental da
Ásia Menor e do Egeu, designadamente em Ephesus e no seu território de onde parecem proceder os
exemplares que apresentam pastas micáceas e que se constituem habitualmente como os mais co-
muns nos centros de consumo onde são identificados (Bezeczky, 2013, p. 66; Rizzo, 2014, p. 313). Estas
pastas estão também presentes em Lisboa, em alguns dos conjuntos anfóricos analisados, mas apenas
em exemplares de ânforas tardias de tipo Late Roman 3. Embora outros centros produtores sejam co-
nhecidos (veja-se as indicações bibliográficas em Rizzo, 2014, p. 313 e respectivas notas), existem ainda
alguns fabricos cuja origem é desconhecida (Lemaître, 1997, p. 312; Rizzo, 2014, p. 313). O fabrico do
exemplar de Lisboa parece poder incluir-se no grupo 3 definido por Lemaître (v. infra), de proveniência
desconhecida e de pasta calcária e não micácea, sendo minoritário no conjunto de ânforas monoansa-
das de Lyon (Lemaître, 1997, p. 312 e 317).
São normalmente considerados contentores destinados ao transporte de vinho, muito devido ao
reduzido diâmetro do bordo e por possuir bastas vezes vestígios de revestimento resinoso no interior,
embora continuem a faltar evidências concretas que demonstrem de forma categórica esse conteúdo
(Panella, 1986, p. 622, nota 29; Lemaître, 1997, p. 317; Menchelli et al., 2010, p. 265; Bezeczky, 2013, p. 66).

471
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

6.2.8.7. Ânforas de Quios

A produção de ânforas na Ilha de Quios tem uma longa tradição, recuando à Época Arcaica. A par-
-tir de finais do séc. V a.C. observa-se uma profunda mudança na sua morfologia, fixando-se aquelas que
viriam a ser as características base das denominadas ânforas de Quios, que conheceriam, ainda assim,
uma constante e gradual evolução formal (Empereur e Hesnard, 1987, p. 21-22). Um colo muito alto e
tubular e um ombro inclinado e bem marcado por uma carena constituíam os principais elementos dife-
renciadores deste contentor em fase helenística, que possuía bordo arredondado, asas de secção circu-
lar que arrancavam um pouco abaixo do bordo e desciam paralelas ao colo, repousando no ombro um
pouco antes da carena. O corpo era cónico e de paredes direitas, e o fundo ligeiramente destacado da-
quelas, engrossado e maciço. Os exemplares mais tardios tornam-se em geral mais esguios e delgados,
as paredes da pança mais convexas, mantendo a forma cónica, o fundo era simplesmente apontado e
maciço, sendo o bordo a simples continuação das paredes do colo, enquanto o arranque superior das
asas se distancia cada vez mais do bordo (Grace, 1979, entre figs. 44 e 48; Empereur e Hesnard, 1987, p.
21-22; Göransson, 2007, p. 146; Bezeczky, 2013, p. 50).
Interessante é o facto de através das moedas da Ilha de Quios, que representavam frequente-
mente os contentores anfóricos produzidos na ilha, ser possível perceber a evolução que os mesmos
sofreram ao longo da sua longa diacronia de produção (Grace e Savvatianou-Petropoulakou, 1970, p.
359, nota 1; Grace, 1979, figs. 44-51). Para além das evidências indirectas, como a sua representação nas
moedas, a produção destas ânforas está atestada também através da identificação de fornos na zona
Norte da Ilha de Quios (Whitbread, 1995 apud Bezeczky, 2013, p. 51). Outras evidências indirectas, relati-
vas quer à produção destes contentores na ilha quer a um conteúdo vinícola, surgem a partir de várias
alusões de autores clássicos ao vinho de Quios, provavelmente o mais famoso de todos os vinhos gre-
gos, entre os quais Plínio-o-Velho, Estrabão, Ateneu e Dioscórides, referindo a existência de três tipos
de vinho quiota, dos quais o vinho doce era o mais apreciado, e que, para lá da sua distinta qualidade,
detinham ainda propriedades medicinais (Grace, 1979, entre figs. 44 e 48; Empereur e Hesnard, 1987,
p. 22; Bezeczky, 2013, p. 51). Tratava-se, portanto, de um vinho caro e de um produto de luxo, apenas
acessível às elites. A sua presença em Olisipo é um eloquente testemunho do poder económico das
elites locais bem como do papel que terá desempenhado na redistribuição de produtos alimentares
transportados em ânforas para a capital da província, Augusta Emerita.

100km

Ânfora de Quios (Grace, 1979; Fiori e Joncheray, 1975).


Figura 101 – Ânforas
Difusãode
no Quios
território(Grace, 1979;
português: Fiori e Joncheray, 1975).
Lisboa.
Difusão no território português: Lisboa.

472
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

Produzidas desde o início do séc. VI a.C., o limite do seu fabrico é normalmente apontado à Época
de Augusto, embora as moedas da ilha com representações de ânforas perdurem até ao séc. III d.C., o
que será um claro indício que o mesmo poderá ter sucedido com aqueles contentores (Goransson, 2007,
p. 146). Como seria expectável, a sua difusão centra-se essencialmente em todo o Mediterrâneo Orien-
tal, Egipto, Ásia Menor, Grécia e Egeu, sendo menos expressiva no Norte de África e no Mar Negro (Ro-
binson, 1959, Pl. 3, F 92; Riley, 1979, p. 129-130; Marangou-Lerat e Marchand, 2007, p. 243; Bezeczky, 2013,
p. 51). Na parte mais ocidental do “mar interior” a sua presença é reduzida, estando atestada em Roma
(Ferrandes, 2014, p. 364) e sendo conhecidos alguns exemplares augustanos em Lyon e Saint-Romain-
-en-Gal, no Sul da Gália (Lemaître, 2002, p. 217), e nos naufrágios de La Tradeliére, de finais do séc. I a.C.
(Fiori e Joncheray, 1975, p. 61) e Madrague de Giens, de meados do séc. I a.C. (Tchernia et al., 1978, p. 46;
Hesnard et al., 1988, 55), ambos na costa gaulesa; bem como em San Ferreol, de 75-65 a.C. (Mas García,
1985 apud Beltrán Lloris, 2013, p. 402; Parker, 1992, p. 380) e Colonia de Sant Jordi A, Maiorca, 100-80 a.C.,
na costa oriental da Península Ibérica (Cerdá, 1980 apud Perez Ballester, 1994, p. 351).
Quanto à Península Ibérica, tanto quanto se conseguiu apurar, em sítios arqueológicos terrestres
as ânforas de Quios somente foram reconhecidas em Tarraco63, onde surgiram em contextos do segun-
do quartel do séc. I a.C. (Díaz García, 2000, p. 228-229). No conjunto anfórico de Olisipo identificou-se
um fragmento de asa e um outro de ombro carenado e arranque inferior de asa de secção circular,
que deverão corresponder a ânforas deste tipo, exibindo restos de um engobe esbranquiçado e ca-
racterísticas petrográficas que parecem confirmar esta classificação (v. infra). Este último provém da
necrópole da Praça da Figueira, intervenção de 2000, e o primeiro das antigas intervenções da Rua das
Pedras Negras, desconhecendo-se a cronologia dos contextos de recolha. Tendo em conta o ângulo
do ombro, este exemplar poder-se-á enquadrar nas variantes tardias daquele tipo, provavelmente da
Época de Augusto.

6.2.8.8. Agora M54

A Agora M54 surge na tradição morfológica das ânforas de Cos, possuindo asas bífidas com uma
pronunciada aresta no topo que se eleva acima da altura do lábio, de perfil arqueado e que acom-
panham toda a altura da parte superior do corpo, arrancando sob o bordo e pousando ligeiramente
acima do ângulo, não muito pronunciado mas bem vincado, que separa a parte superior da inferior do
contentor. O bordo é simplesmente arredondado e destacado da parede do corpo que, por sua vez, se
apresenta bicónico, terminando num pequeno fundo apontado e troncocónico (Robinson, 1959, p. 89;
Panella, 1986, p. 618, nota 15; Bezeczky, 2013, p. 80; Rizzo, 2014, p. 338-339). A produção destas ânforas
está atestada na Cilícia, actual Turquia, e na Ilha de Chipre, tendo sido identificado para a primeira re-
gião um centro produtor em Yumurtalik e atestada a existência de outros dois em local indeterminado
da mesma região (Empereur e Picon, 1989, p. 231-232; Empereur, 1998, p. 395).
O vinho seria o principal produto transportado por estes contentores anfóricos, embora, tendo
em conta o razoável diâmetro da boca, pudessem igualmente ter sido utilizados no transporte de ou-
tros géneros alimentares, como fruta ou produtos piscícolas (Empereur, 1998, p. 395; Reynolds, 2005,
p. 564; Opait, 2007, p. 104; Bezeczky, 2013, p. 81). A cronologia do início de produção da Agora M54 foi
estabelecida, por um lado, pela sua ausência em Berenice, em Pompeia e nos níveis flávios das Terme
del Nuotatore em Óstia, por outro, pela sua documentação em níveis da segunda metade/finais do
séc. I d.C. e inícios da centúria seguinte, em locais como a Ágora de Atenas, Paphos, na Ilha de Chipre,
e Karanis, no Egipto (Riley, 1979; Panella, 1986, p. 618, nota 15; Rizzo, 2014, p. 90, Tab. 7). Terá sido pro-
duzida até ao final do séc. II d.C., existindo uma variante, identificada por P. Reynolds em Beirute, que
perdurou até aos inícios do séc. III (Reynolds, 2005, p. 564 e fig. 11).

63. Existe apenas uma referência (Gonzalez Cesteros, 2011, p. 118, nota 30) à possibilidade de um fragmento proveniente de Brigantium,
Corunha (Naveiro Lopez, 1981, p. 122, Lam. II, nº 17), poder corresponder a um destes contentores, sublinhando o autor, contudo, que tal
suposição necessitará de confirmação visual da peça e de análise petrográfica.

473
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

100km

Agora M54 (Grace, 1979; Empereur e Picon, 1989).


Figura 102 – Agora
Difusão
M54no território
(Grace, português: Tomar, Lisboa,
1979; Empereur Tróia, Idanha-a-Velha,
e Picon, 1989). Balsa.
Difusão no território português: Tomar, Lisboa, Tróia, Idanha-a-Velha, Balsa.

Como seria expectável, a sua difusão é particularmente visível na metade oriental do Mediterrâ-
neo, não sendo, ainda assim, conhecidas grandes concentrações destas ânforas (Lund, 2005; Bezeczky,
2013, p. 81). A ocidente, a sua presença não é muito expressiva, surgindo no Norte de África, em Cartago
(Bezeczky, 2013, p. 81), em Itália, Óstia (Rizzo, 2014, p. 338, Tab. 50) e Roma (Rizzo, 2003, p. 181; Fer-
randes, 2008, Tab. 2; Coletti e Lorenzetti, 2010, fig. 3), em França, Marselha (Panella, 1986, p. 618, nota
15), e em Espanha, Tarraco (García Noguera et al., 1997, p. 196), Valência (Pascual Berlanga e Ribera i
Lacomba, 2015, p. 277-278) e Mérida (Almeida e Sanchez Hidalgo, 2013, p. 50, fig. 1). No actual território
português a presença do tipo Agora M54 está bem atestada, ainda que invariavelmente apenas com
um ou dois exemplares por sítio, tendo sido documentada em Idanha-a-Velha (Banha, 2006, p. 56-57),
Tomar, em contextos possivelmente ainda da segunda metade do séc. I d.C. (Banha e Arsénio, 1998,
p. 175-176), Lisboa, nas antigas escavações do Teatro Romano (Diogo, 2000, p. 164), Tróia (Diogo e Pai-
xão, 2001, p. 118 e 120; Almeida et al., 2014d, p. 655) e Balsa, o primeiro local onde esta forma foi identi-
ficada em Portugal (Fabião, 1994a, p. 23).
Na amostra que aqui se analisa foram reconhecidos sete indivíduos desta forma, recolhidos nas
intervenções do Banco de Portugal (um bordo), no Palácio dos Condes de Penafiel (um bordo, um
fundo e uma asa), na Praça da Figueira (um bordo e cinco asas), na Sé Catedral (uma asa) e na Rua
das Pedras Negras (um fundo), todos com fabricos atribuíveis à região produtora da Cilícia. Destes
exemplares, apenas dois fragmentos de asa oriundos da necrópole da Praça da Figueira provêm de
contextos cronologicamente enquadráveis na diacronia de produção e comercialização das Agora M54,
datados de entre a segunda metade do séc. II d.C. e os meados da centúria seguinte. Todos os restantes
exemplares provêm de estratigrafia desconhecida ou posterior ao séc. III d.C..
Representa 0,22% dos envases Alto-Imperiais, 0,52% das importações extraprovinciais e 11,29%
das ânforas provenientes do Mediterrâneo Oriental. No quadro do consumo, significa 0,67% dos con-
tentores vinários e 12,07% do vinho importado daquela área do Império. Quanto ao significado da sua
ocorrência em Lisboa, poder-se-á repetir o que já se referiu nos tipos anteriormente descritos proce-
dentes do oriente da bacia mediterrânea relativamente ao cosmopolitismo da cidade e à sua inserção
nas grandes redes comerciais do mare nostrum.

474
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

6.2.8.9. Agora G198/Pompeia 13

À imagem do tipo anteriormente descrito, com o qual partilha inúmeras semelhanças, também
a Agora G198, ou Pompeia 13, surgiu na tradição morfológica das ânforas de Cos (Rizzo, 2014, p. 338).
Apresenta um bordo amplo, tendencialmente arredondado e engrossado em relação à parede do colo,
usualmente com uma pequena concavidade na parte interna do lábio, um colo igualmente largo e ci-
líndrico ou ligeiramente troncocónico, ombro inclinado e moderadamente côncavo que estabelece a
ligação ao corpo através de uma pequena carena não muito pronunciada mas bem vincada, sendo este
último piriforme e terminando num fundo curto e pouco destacado. As asas são semelhantes às da
Agora M54, embora de perfil menos encurvado: de secção bífida e com uma pronunciada aresta no
topo que se eleva acima da altura do lábio, arrancam abaixo do bordo e repousam no ombro, um pouco
acima da ligação deste à pança (Robinson, 1959, p. 43; Panella, 1986, p. 618, nota 14; Bezeczky, 2013,
p. 81-82; Rizzo, 2014, p. 338-340).
Desconhece-se ainda a região e respectivos centros oleiros que terão produzido este tipo. Po-
rém, P. Reynolds atribui à Cilícia a sua produção, concretamente ao centro produtor de Yumurtalik,
baseado na análise macroscópica de alguns exemplares de Agora G198 provenientes de Beirute (Rey-
nolds, 2005, Pl. 1, fig. 10 a-b; Rizzo, 2014, p. 339). T. Bezeczky refere ainda que poderá ter sido produzido
na região do Mar Egeu (Bezeczky, 2013, p. 82).
A cronologia da sua produção parece estar melhor definida, abrangendo uma diacronia que se
estende dos finais do Principado de Nero aos meados do séc. II, surgindo em Roma, Nápoles, Pompeia
e Brindisi em contextos de finais do séc. I d.C. e primeira metade do séc. II (Rizzo, 2003, p. 156 e 170;
Auriemma e Quiri, 2006, p. 231; Coletti e Lorenzetti, 2010, p. 159, fig. 3; Rizzo, 2014, p. 340), em Beirute,
na primeira metade do séc. II d.C. (Reynolds, 2005, p. 564), em Benghazi, no séc. II d.C. (Riley, 1979, p.
146 e fig. 73, nº 106), e em Óstia, com carácter residual, em níveis tardo-Antoninos (Rizzo, 2014, p. 340).
Relativamente ao produto envasado nestes contentores, uma vez mais, são poucas as evidências
documentadas, apontando-se, à imagem da Agora M54, para um conteúdo vinícola ou para o trans-
porte de fruta (Reynolds, 2005, p. 564; Williams, 2005b). Ainda que nunca tenha chegado a ser um
contentor de grande sucesso, sendo uma ânfora relativamente rara, a sua comercialização privilegiou
essencialmente a metade oriental do Mare Nostrum, surgindo em diminutas quantidades em poucos
locais no Mediterrâneo ocidental. Nesta região, as Agora G198 foram reconhecidas em Tipasa, na actual

100km

Agora G198/Pompeia 13 (www.archaeologydataservice.ac.uk; Panella, 1986).


Figura 103 – Agora G198/Pompeia
Difusão 13 (www.archaeologydataservice.ac.uk;
no território português: Lisboa. Panella, 1986).
Difusão no território português: Lisboa.

475
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Argélia (Panella, 1986, p. 618, nota 14), em França, Fos-sur-Mer (Lemaître, 2002, p. 214, fig. 1; Marty e
Zaaraoui, 2009, tab. 1), na Alemanha, em Mainz (Ehmig, 2003 apud Bezeczky, 2013, p. 82) e em Itália nos
locais acima referidos, entre outros. Na Península Ibérica é conhecida aparentemente apenas na capital
provincial da Lusitânia, Augusta Emerita, onde foi identificado um fragmento de bordo com asa deste
tipo (Almeida e Sanchez Hidalgo, 2013, p. 50).
Na amostra de Lisboa foram reconhecidos três fragmentos de Agora G198 (2 NMI), um bordo e
uma asa provenientes do Palácio dos Condes de Penafiel e uma asa no Palácio das Cozinhas, exibindo as
características petrográficas dos fabricos da Cilícia, em tudo semelhantes, numa análise macroscópica,
às das Agora M54 e de algumas Late Roman 1 exumadas em Lisboa. No que se refere ao primeiro local,
a inexistência de informação estratigráfica sobre a maior parte da área escavada neste importante sítio
arqueológico impede a caracterização cronológica dos estratos onde foi exumado. A peça do Palácio
das Cozinhas foi recolhida em contexto pós-romano.
Embora o seu significado quantitativo seja meramente vestigial, a sua identificação em Olisipo
reforça o que anteriormente se disse em relação à importância desta cidade no quadro das relações
comerciais do Império.

6.2.8.10. Kapitän II

Identificada pela primeira vez na publicação das escavações do forte de Niederbieber na Germa-
nia Superior, onde recebeu o número 77 (Oelmann, 1914 apud Keay, 1984, p. 136), foi caracterizada por
G. Kapitän com base nas ânforas dos naufrágios de Marzamemi e Ognina, ambos junto à costa da Sicília
(Kapitän, 1961; Kapitän, 1972).
As Kapitän 2 caracterizam-se por um corpo de tendência cónica, terminando num fundo tubular
discretamente estriado e oco, com pé alto e base cónica. O bordo, de reduzido diâmetro, embora com
alguma variação formal apresenta normalmente secção de tendência triangular, com um pequeno anel
em relevo imediatamente abaixo que estabelece a ligação ao colo, sendo este último alto e cónico,
exibindo várias caneluras na superfície externa. As asas são altas e robustas, elevando-se acima do bor-
do, com ângulo de inflexão bastante acentuado e arredondado no topo, de secção ovalada, podendo
exibir discretas caneluras no dorso, arrancando um pouco abaixo do bordo e descendo até ao ombro.
Este é oblíquo e bem demarcado do corpo por um ângulo bem definido (Kapitän, 1972, p. 248; Panella,
1973, p. 596; Riley, 1979, p. 189; Hayes, 1983, p. 155; Keay, 1984, p. 137; Peacock e Williams, 1986, p. 193;
Bezeczky, 2013, p. 149).
O início da sua produção é normalmente apontado à segunda metade do séc. II d.C., ocorrendo
em contextos dessa cronologia em Óstia (Panella, 1973, p. 596; Manacorda, 1977, p. 228; Panella, 1986,
p. 616-617; Rizzo, 2014, p. 329) e em Roma, no Palatino (Rizzo, 2003, p. 183, nota 138). Contudo, a sua
documentação em Roma, no “Nuovo Mercato Testaccio” e na Meta sudans, em níveis respectivamente
balizados entre 110-140 d.C. (Coletti e Lorenzetti, 2010, p. 159, fig. 3) e 140-160 d.C., ainda que neste últi-
mo caso os fragmentos de parede aí identificados possam pertencer tanto a Kapitän II como a Kapitän
I (Rizzo, 2003, p. 183; Rizzo, 2014, p. 328, nota 1307), parecem indicar uma cronologia algo mais precoce
para o seu fabrico e distribuição, possivelmente situada no segundo quartel do séc. II d.C.. O auge da
sua comercialização centrou-se nos séculos III e IV d.C., tendo perdurado até ao séc. V (Robinson, 1959,
Pl. 15; Panella, 1973, p. 597; Manacorda, 1977, p. 228-229; Hayes, 1983, p. 155; Panella, 2013, p. 386).
A problemática relacionada com os locais onde se produziu a Kapitän II mantém-se ainda em
aberto, desconhecendo-se por completo os centros oleiros que as produziram, embora, paradoxalmen-
te, estejam referenciados ateliers que produziram imitações desta forma na região do baixo Danúbio
(Dyczek, 2011 apud Rizzo, 2014, p. 328-329).
Tradicionalmente considerada como uma ânfora originária da região do Egeu, suposição funda-
mentada nas suas características tipológicas e numa clara distribuição preferentemente oriental e não
no reconhecimento de evidências directas do seu fabrico (Grace, 1971, p. 72, nota, 51; Panella, 1973, p.
598; Riley, 1979, p. 192; Peacock e Williams, 1986, p. 193), foi mais recentemente assinalada como pos-
sivelmente oriunda do Mar Negro (Reynolds, 2010, p. 257). Porém, os dados recentemente publicados

476
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

100km

Kapitän II (www.archaeologydataservice.ac.uk; Panella, 1973).


Figura 104 – Kapitän
DifusãoIIno
(www.archaeologydataservice.ac.uk;
território português: Lisboa. Panella, 1973).
Difusão no território português: Lisboa.

parecem corroborar a hipótese tradicional, não descartando a possibilidade de outras regiões de fa-
brico. Com base em análises de pastas, T. Bezeczky reconheceu duas produções distintas de Kapitän II
no conjunto das ânforas de Ephesus, atribuindo uma delas à área daquela cidade e/ou à Ilha de Samos
(Bezeczky, 2013, p. 149-150). Do mesmo modo, as análises efectuadas às ânforas deste tipo provenien-
tes da villa de Ercole, Aquincum, revelaram vários grupos de pastas distintos atribuíveis à área egeia
(Menchelli et al., 2010, p. 260-261).
Embora usualmente considerado um contentor vinário, conteúdo deduzido a partir das suas ca-
racterísticas morfológicas e da sua possível origem na região do Egeu, não foram ainda documentadas
evidências directas que o comprovem (Panella, 1973, p. 599; Bezeczky, 2013, p. 150).
Já no que se refere à sua difusão na área geográfica ocupada pelo Império Romano os dados
são abundantes, testemunhando uma ampla distribuição que abrangeu todo o seu território, particu-
larmente a sua metade oriental, parecendo concentrar-se na região do Egeu, no baixo Danúbio e nas
costas Norte e Oeste do Mar Negro (Panella, 1986, p. 626, fig. 25; Riley, 1979, p. 191, fig. 35; Bezeczky,
2013, p. 150). Na metade ocidental do Império, especialmente atestadas na Península Itálica, surgem
no Norte de África, Sicília, Córsega, Sul e Norte de França, limes germânico e Britannia (Arthur, 1986, p.
254; Panella, 1986, p. 626, fig. 25; Riley, 1979, p. 191, fig. 35; Keay, 1984, p. 136-140; Martin-Kilcher, 1994,
p. 440; Lemaître, 1995, p. 200; Auriemma et al., 2012, p. 278; Bezeczky, 2005b, p. 43-45; Laubenheimer e
Marlière, 2010, p. 47; Bezeczky, 2013, p. 150; Bonifay e Capelli, 2013, p. 72). No território peninsular ocor-
re em alguns sítios da costa oriental e sudeste, como por exemplo Tarragona (Keay, 1984, p. 136-140;
Reynolds, 2010, p. 261), Portus Ilicitanus (Marquez Villora, 1999, p. 159-160) e porto de Mazarrón (Perez
Bonet e Cabrera Bonet, 1992, p. 310), mas também na área meridional, em Sevilha (García Vargas, 2015,
p. 400; García Vargas, 2016a, p. 292), e no interior, em Mérida (Almeida, 2016, p. 204), estando de igual
forma atestada na costa ocidental64, em Tróia (Almeida et al., 2014d, p. 655), embora até agora ausente

64. Clementina Panella, no seu artigo sobre as ânforas de origem egeia em Óstia (Panella, 1986), assinala Conimbriga no mapa de difusão
da Kapitän II (p. 626, fig. 25), remetendo, na nota 36, para Keay, 1984, p. 641. Naturalmente, esta informação dever-se-á basear em algum
equívoco, uma vez que, para lá da questão do lapso no número de página do trabalho de S. Keay, este autor não parece fazer qualquer
referência à cidade romana de Conimbriga nas páginas onde se dedica a esta forma (Keay, 1984, p. 136-140). No mesmo sentido, a Kapitän
II está ausente das publicações antigas (Alarcão, 1976) e recentes (Buraca, 2005) de Conimbriga.

477
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

1 - Monção 69 - Castro de São Salvador 137 - Tróia


2 - Castro Sra. da Assunção 70 - Santarém 138 - Castelo dos Mouros, Sesimbra
3 - Necrópole do Cortês 71 - Alto do Castelo 139 - Creiro
4 - Castro de São Caetano 72 - Alto dos Cacos 140 - Sesimbra
5 - Lobelhe 73 - Eira da Alorna 141 - Cabo Espichel
6 - Coto da Pena 74 - Porto Sabugueiro 142 - Abul
7 - Mar da Guardia 75 - Cabeço Guião 143 - Horta do Crespo
8 - Cividade de Âncora 76 - Salvaterra de Magos/Muge, Tejo 144 - Sta. Catarina de Sítimos
9 - Castro do Vieito 77 - Castanheira do Ribatejo 145 - Alcácer do Sal
10 - Castro da Terronha 78 - Monte dos Castelinhos 146- Tourega
11 - Castro de Santa Luzia 79 - villa e Castelo de Povos 147 - São Pedro dos Pássaros, São Pedro do Corval
12 - Santo Estevão da Facha 80 - Vila Franca de Xira 148 - Xerez de Baixo 13, Monsaraz
13 - Castelo de Neiva 81 - Vila Franca de Xira, Tejo 149 - Castelo da Lousa
14 - Castro de São Julião 82 - Coruche 150 - villa de Courela das Antas
15 - Guilheta 83 - Alhandra 151 - São Cucufate
16 - Castro de São Lourenço 84 - Alverca, Tejo 152 - Cerrado do Castelo, Grândola
17 - Monte do Castro 85 - Alverca 153 - Monte do Meio
18 - Forte de Esposende 86 - Ermidas 154 - Monte da Cegonha
19 - Braga 87 - Mouchão da Póvoa 155 - Casa Branca, Ferreira do Alentejo
20 - Citânia de Briteiros 88 - Quinta do Belo, Loures 156 - Cadavais, Serpa
21 - Monte da Saia 89 - villa das Almoínhas 157 - Castelo Velho de Santiago do Cacém
22 - Castro das Eiras 90 - villa de Frielas 158 - Mirobriga
23 - Castro de Sto. Ovídio 91 - Santa Eufémia, Sintra 159 - Sines
24 - Pico de Sto. Amaro 92 - Cabo da Roca 160 - Beja
25 - Castro de Penices 93 - Colaride 161 - Fonte do Mouro
26 - Cividade de Terroso 94 - São Marcos 162 - Serpa
27 - Castro de Bagunte 95 - Moinho da Atalaia 163 - Cidade das Rosas
28 - Caldas de Vizela 96 - Alto das Cabeças, Oeiras 164 - Ilha do Pessegueiro
29 - Sr. dos Perdidos 97 - Freiria 165 - Aljustrel
30 - Castro de Alvarelhos 98 - Lisboa 166 - Necrópole de Valdoca
31 - Padrão 99 - Cascais 167 - Garvão
32 - Citânia de Sanfins 100 - Cascais, mar de 168 - Castelo das Juntas
33 - Vila do Conde, mar de 101 - Oeiras, mar de 169 - Mata-Filhos
34 - Matosinhos, mar 102 - Herdade do Escatelar 170 - Cabo Sardão
35 - Porto, mar do 103 - Montijo 171 - Odemira
36 - Lousada 104 - Cacilhas 172 - Mértola
37 - Castro de Guifões 105 - Almaraz 173 - Castelinho dos Mouros
38 - Quinta da Ivanta 106 - Quinta da Torre 174 - Manuel Galo
39 - Porto 107 - Ponta do Mato 175 - Mesas do Castelinho
40 - Castelo de Gaia 108 - São Pedro, Alter do Chão 176 - Vidigal, Aljezur
41 - Castro de Galegos 109 - Monte de São Pedro, Fronteira 177 - Lagos
42 - Oldrões 110 - Cabeço de Vaiamonte 178 - Monte Molião
43 - Monte Mozinho 111 - Horta da Torre, Fronteira 179 - Meia Praia, Lagos
44 - Tongobriga 112 - Reguengo 2 180 - Quinta da Abicada
45 - Castro de Baiza 113 - Torre de Palma 181 - Ria de Alvor
46 - Castro de Penegotas 114 - Monte São Francisco 182 - Vila Velha de Alvor
47 - Monte Murado 115 - Talha de Baixo, Fronteira 183 - Mar de Portimão
48 - Castro de Fiães 116 - Penedo do Ferro, Monforte 184 - Foz do rio Arade
49 - Castro de Romariz 117 - Quinta das Longas 185 - Ilhéu do Rosário
50 - Póvoa do Mileu 118 - Castelo Velho de Veiros 186 - Cerro da Rocha Branca
51 - Orjais 119 - Sta. Vitória do Ameixial 187 - Quarteira
52 - Lomba do Canho 120 - Monte da Nora 188 - Cerro da Vila
53 - Coimbra 121 - Soeiros 189 - Vala de Marmeleiros
54 - Maiorca 122 - Evoramonte 190 - Quinta do Lago
55 - Conimbriga 123 - Caladinho 191 - Milreu
56 - villa do Rabaçal 124 - Monte Branco 2, Juromenha 192 - Faro
57 - Idanha-a-Velha 125 - Castelo dos Mouros 193 - Cabo de Santa Maria
58 - Tomar 126 - Quinta do Freixo 194 - Quinta de Marim
59 - villa de Parreitas 127 - Vidigueira, Serra d’Ossa 195 - Balsa
60 - villa Cardílio 128 - Rocha da Mina 196 - Pedras d’El Rei, Tavira
61 - Berlenga 129 - São Miguel da Mota 197 - Cerro do Cavaco
62 - Berlenga, mar da 130 - Foz dos Pardais, Alandroal 198 - Tavira
63 - Cortiçais 131 - Chibanes 199 - Tavira, Mar
64 - Peniche 132 - Pedrão 200 - Cacela
65 - Eburobritium 133 - Setúbal 201 - Castro Marim
66 - Vidais, Marvão 134 - Arrábidas 202 - Enterreiro, Castro Marim
67 - Ammaia 135 - Comenda
68 - Chões de Alpompé 136 - Praia da Figueirinha

Figura 105 – Mapa de Portugal com a localização dos sítios mencionados na distribuição dos tipos anfóricos.

478
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

1
2
3 4

5
7 6
8
9 10
11 12
14
13
15 17
16
19
18 20
21 22 23
26 24
25 28
33 27 29
30 31 32 36
37
34 39 38 41
35 40 42 44
45 43
47 46
48
49

50

51

53
54 52

55

56
57

58
59
63 60
61
62 66
65
64 68 67
69 70 71
72
73 108
109
75 74
111
79 78 110 112
76
80 77 115 113 114
83 81
86 82 117
85 84 116
88 119 118
91 89 87
92 90 121 120
95
98 122 123
100 99 104 103 102 124
106 107 126 128
93 105 125 127 130
94 132 131 129
97 135 133 134
96 138 146
101 140 137
136 142 147
141 139 143 144
148
145
149
150
152 151
153
157 155 154
160 156
158
159 162
161 163
165
164 166

168 169
167
170
171 172

173 174
175
176

180 181 186 201


179
178
185 197 200 202
184 188 189 191 198
177 182 195 199
183 187 196
192
50km 190 194
193

479
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

em Olisipo65.
Na amostra que aqui se analisa foram identificados apenas dois indivíduos deste tipo, provenien-
tes da Sé Catedral (um fundo e duas asas) e das antigas intervenções da Rua das Pedras Negras (duas
asas). Se do último local faltam as coordenadas estratigráficas da procedência dos materiais, no primei-
ro a documentação revela que todos os fragmentos foram recuperados em níveis pós-romanos. Em-
bora a sua representação seja residual (0,06% dos contentores alto-imperiais e 0,15% das importações
extraprovinciais desta época), a sua documentação no conjunto anfórico de Olisipo é extremamente
interessante uma vez que sublinha a importância da cidade enquanto centro receptor e consumidor de
produtos alimentares oriundos dos mais variados quadrantes geográficos do Império e, paralelamente,
enquanto importante centro redistribuidor para o interior do território, nomeadamente para a capital
da província, Augusta Emerita.

6.3. Epigrafia anfórica

6.3.1. Marcas de oleiro

A maioria das marcas de ânfora identificadas nos diversos conjuntos anfóricos analisados no âm-
bito deste trabalho foram recentemente publicadas no catálogo “Marcas de ânforas romanas na Lusi-
tânia (do Museu Nacional de Arqueologia de Lisboa ao Museo Nacional de Arte Romano de Mérida)”
(Fabião et al., 2016). Naturalmente, não faria sentido repetir aqui o que aí foi escrito relativamente a
cada uma ou mesmo à leitura global do conjunto, remetendo-se para esse estudo a sua consulta, tendo-
-se antes optado por apresentar de forma mais detalhada e seguindo as mesmas normas e critérios,
unicamente as estampilhas que surgiram já depois do referido trabalho estar em fase de maquetagem.
Trata-se de um conjunto inédito de 11 marcas (quatro sobre ânforas republicanas e as restantes
sete sobre contentores do Principado), maioritariamente provenientes da Praça da Figueira, mas tam-
bém da Encosta de Sant’Ana, do Largo de Sta. Cruz do Castelo, do Banco de Portugal, do Palácio das
Cozinhas e do Pátio José Pedreira. Não obstante, apresenta-se uma tabela com a totalidade das marcas
de ânforas de Lisboa, englobando tanto as que são provenientes dos sítios abordados neste estudo
como as que procedem de outros locais e onde constam os dados elementares de cada uma - marca,
tipo de ânfora, região de origem, local do achado e bibliografia, acrescentando-se um comentário final,
principalmente focado nos dados inéditos (Tabela 132).

1. ((signum))
BR.: Sem paralelos conhecidos.
Dat.: séc. II-I a.C. (tipológica).
Leit.:
LP.: Desconhecido.
LA.: Lisboa, Largo de Sta. Cruz do Castelo. CNS 33538.
LC.: Lisboa, Largo de Sta. Cruz do Castelo. Nº de inv. LSCC’14/16.
B: Inédita.
C: ((signum))
PP.: in radice ansae.
DLeit.: Nula.
RMC.: Litt. extantibus.
Dim.: L - 12 / C - 16 (incompleta).

65. Embora seja referido um fragmento de fundo de Kapitän II no conjunto anfórico proveniente das antigas escavações da Praça da
Figueira (Almeida e Filipe, 2013, p. 740), uma reanálise da peça permitiu verificar que, quer pelo fabrico que exibe quer por alguns detalhes
morfológicos, não se trata de uma ânfora deste tipo. A referida peça corresponde ao nº 933 e foi aqui enquadrada nos contentores de
tipo e proveniência indeterminados.

480
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

Tip.: Greco-Itálica/Dressel 1.
Proc.: Itália, costa tirrénica.

2 CM

Ob.: Trata-se de uma marca aposta no arranque inferior da asa, com cartela aparentemente circular, in-
completa e com contornos mal definidos, parecendo corresponder à representação de um símbolo ou de uma
figura zoomórfica. A fractura não permite perceber se teria ou não inscrição. Recuperada em contexto de Época
Medieval no Castelo de São Jorge, é provável que corresponda a uma ânfora de tipo Greco-Itálico ou, com menor
probabilidade, Dressel 1. Em Lisboa são já conhecidas algumas marcas com cartela circular sobre Greco-Itálicas,
embora situadas no topo da asa, três das quais representando um busto de perfil com a face virada à direita e, a
outra, um elefante, todas com a inscrição LANICI (Pimenta, 2005; Pimenta, 2014; Fabião et al., 2016). A marca do
Largo de Santa Cruz do Castelo difere na representação e na aparente ausência de inscrição, sendo ainda ligei-
ramente maior, mas parece enquadrar-se no mesmo tipo de estampilha e, certamente, no mesmo tipo e âmbito
cronológico e de produção.
Não se logrou identificar qualquer paralelo. Refira-se, porém, a presença de marcas idênticas - com cartela
circular e representação de símbolos de difícil caracterização - em Mont Beuvray, França, embora neste caso so-
bre Dressel 1 e localizadas no ombro e no bordo (CEIPAC 21021, 21023, 21024).

2. LAL[---]
BR.:
Dat.: séc. II-I a.C. (tipológica).
Leit.: L( ) A( ) L( ) [---
LP.: Desconhecido.
LA.: Lisboa, Praça da Figueira, 1999-2001. CNS 1925.
LC.: Centro de Arqueologia de Lisboa. Nº de inv. PF/9588.16.
B: Inédita.
C: |LA^L^[---]
PP.: in pede.
DLeit.: Directa.
RMC.: Litt. extantibus.
Dim.: L - 19 / C - 34 (incompleta).
Tip.: Dressel 1?
Proc.: Itália, costa tirrénica (Campânia).

Ob.: Recolhida em contexto de cronologia indeterminada nas recentes escavações da Praça da Figueira,
encontra-se incompleta na sua parte final, o que coloca alguns problemas na sua leitura. A primeira letra aparenta
corresponder a um L com pé curto e tocando no A, parecendo esta última formar um nexo com uma terceira (L) e
quarta letra, sendo esta última de difícil definição (P, I, R, F, N...). Não são conhecidos paralelos exactos para esta
marca, podendo-se referir como paralelo mais aproximado o exemplar de L’Ermitage, Agen (França), igualmente
sobre um fundo de Dressel 1, com a leitura LA[...] (Gruat, 1994 - CEIPAC 21290). Embora pouco usuais, são conhecidas

481
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

algumas marcas em fundos de Dressel 1, sendo mais habitualmente constituídas por apenas uma ou duas letras
(CEIPAC 21551, 25175, 24357, 4866…), embora estejam igualmente documentadas excepções tais como as marcas
VITAL (Brentchaloff e Lequément, 1978, p. 223 - CEIPAC 6448) ou SL.D.A (Solier, 1981, p. 232 - CEIPAC 25214). Em
Portugal foi já atestada uma destas marcas, em Santarém, composta apenas pela letra C (Arruda e Almeida, 1999,
p. 320).

3. Ilegível
BR.:
Dat.: Séc. II a.C. (tipológica).
Leit.:
LA.: Lisboa, Palácio das Cozinhas. CNS 13306.
LC.: Direcção Geral do Património Cultural. Nº de inv. PCOZ/30003.
B: Inédita.
C: |[---]|
PP.: in ansa.
DLeit.:
RMC.: Litt. extantibus?
Dim.: L - 7 / C - 9 (incompleta).
Tip.: Ródia.
Proc.: Mediterrâneo Oriental.

2 CM

Figura 106 – Imagem da marca de ânfora Ródia republicana obtida a partir do Modelo de Resíduo Morfológico.

482
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

Ob.:66 Totalmente ilegível, conserva-se somente a extremidade do canto superior direito da cartela, onde
se observam apenas dois traços verticais. Como já anteriormente se mencionou, procurando obter uma leitura da
marca, procedeu-se à utilização do método M.R.M. (Modelo de Resíduo Morfológico), infelizmente sem resulta-
dos positivos. Foi recuperada em contexto pós-romano na intervenção do Palácio das Cozinhas, Castelo de São
Jorge, local onde se encontra bem documentada a ocupação romana durante a segunda metade do séc. II a.C.
(Pimenta, 2005).
A forma sistemática como as ânforas Ródias eram estampilhadas, sobretudo no lapso temporal que decor-
reu entre o terceiro quartel do séc. III a.C. e o final do séc. II a.C., e a informação que constava nessas marcas (Grace
e Savvatianou-Petropoulakou, 1970; Empereur e Hesnard, 1987; Ariel e Finkielsztejn, 2003), confere-lhes uma parti-
cular importância na definição de cronologias, especialmente quando estão presentes as duas asas. A informação
era normalmente composta pelo nome do fabricante/proprietário da olaria, sacerdote epónimo anual de Hélios,
mês do calendário ródio, símbolos como a Rosa ou a cabeça raiada do Deus sol Hélios que eram também utilizados
nas moedas da cidade, ou, entre outras, representações de âncoras, cachos de uva e estrelas (Empereur e Hesnard,
1987, p. 14-15; Ariel e Finkielsztejn, 2003, p. 138; Bezeczky, 2013, p. 36; Badoud, 2017, p. 2-3). As características mor-
fológicas da asa do Palácio das Cozinhas, em sintonia com a cronologia das ocupações republicanas conhecidas
no Castelo, parecem indicar um enquadramento na fase V da periodização definida por Virginia Grace (1985, p. 42;
posteriormente aperfeiçoada por J. Y. Empereur e A. Hesnard, 1987, e mais tarde por G. Finkielsztejn, 2001 apud
Finkielsztejn, 2004a, p. 117), balizada entre a destruição de Cartago e Corinto, em 146, e a destruição de Samaria
em 108 a.C., ou, com menor probabilidade, na fase VI, cujo limite cronológico foi estabelecido pelos saques das
cidades de Delos e de Atenas, respectivamente em 88 e em 86 a.C..
Trata-se da primeira marca de ânfora Ródia republicana identificada em Olisipo, enriquecendo, assim, o
panorama do Vale do Tejo onde a sua presença era já conhecida em Santarém (Bargão, 2006). A difusão destes
contentores no Ocidente Peninsular dever-se-á ter inserido nos abastecimentos destinados aos contingentes mi-
litares que durante a segunda metade do séc. II a.C. marcaram presença nesta região, sobretudo caracterizados
pela grande quantidade de vinho tirrénico transportado nas Greco-Itálicas e Dressel 1, mas também pelo azeite da
Apúlia e do Norte de África (Fabião et al., 2016).

4. [---]ΑΡΑΣ & [---]KΡΑΣ


BR.:
Dat.: Séc. II-I a.C. (tipológica).
Leit.: [---]ΑΡΑΣ vel [---]KΡΑΣ
LA.: Lisboa, Pátio José Pedreira. CNS 11658.
LC.: Pátio José Pedreira. Nº de inv. PJP/1149.01.
B: Inédita.
C: |[---]ΑΡΑΣ| vel |[---]KΡΑΣ|
PP.: in ansa.
DLeit.: Directa.
RMC.: Litt. extantibus.
Dim.: L - 12 / C - 30 (incompleta).
Tip.: Dressel 4 de Cos.
Proc.: Mediterrâneo Oriental.

Ob.: Marca em caracteres gregos sobre ânfora republicana de tipo Dressel 4 de Cos, exumada num contexto
possivelmente enquadrável na segunda metade do séc. I a.C.. Fragmentada na sua parte inicial, são visíveis as três
últimas letras da inscrição e parte de uma outra, que poderá corresponder a um A ou K, não sendo certo se existiria
ou não outra letra antes desta última. Tanto na bibliografia consultada como na base de dados Amphoralex (www.
amphoralex.org) não foram encontrados paralelos exactos. Existe, contudo, referência a uma marca de Dressel 4

66 . A imagem do Modelo de Resíduo Morfológico foi produzida por Hugo Pires, a quem se agradece.

483
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

de Cos identificada na área meridional do Levante (actuais Israel e Palestina) cuja inscrição - ΑΡΑΣ([+clava] - é
coincidente, embora no caso do exemplar do Castelo não se observe a presença da clava. Numa consulta à lista
dos nomes gregos no índice de Fraser e Mathews (1987) e à correspondente base de dados (www.lgpn.ox.ac.uk),
é possível verificar a existência de vários nomes que terminam ou que contêm ΑΡΑΣ ou KΡΑΣ, pelo que, enquanto
se não conhecerem exemplares completos, terão que se assumir várias hipóteses para a inscrição desta marca.
A identificação desta peça constitui-se como uma novidade no Ocidente hispânico, ampliando o repertório
anfórico das importações republicanas no Vale do Tejo, onde estavam já atestados os contentores ródios prove-
nientes da mesma região do Mediterrâneo e que se deverão inserir nos abastecimentos aos contingentes militares
presentes no Vale do Tejo durante a República.

5. MAR
BR.: CIL XII, nº 5683.13; CIL XV, nº 3143a, 3020; Callender, 1965, nº 1019; Beltrán Lloris, 1970, p. 266; Remesal Rodrí-
guez, 1986, nº 20; Chic García, 2001, p. 291-292; Étienne e Mayet, 2004, nº 64; CEIPAC 20581, 18113, 18904, 39969,
37618, 6467...
Dat.: Época Júlio-Cláudia e Flávio-Trajana.
Leit.: M. A( ) R( ) vel Mar( )
LP.: La Catria; Hospital de las Cinco Llagas, Sevilha; Azanaque-Castillejo e Las Delicias.
LA.: Lisboa, Praça da Figueira, 1999-2001. CNS 1925.
LC.: Centro de Arqueologia de Lisboa. Nº de inv. PF/2073.01.
B: Inédita.
C: |M.A.R|
PP.: in ansa.
DLeit.: Directa.
RMC.: Litt. extantibus.
Dim.: L - 19 / C - 45.
Tip.: Dressel 20.
Proc.: Bética, Vale do Guadalquivir.

Ob.: Trata-se de uma marca bem atestada no território português - particularmente no Vale do Tejo - e de
ampla distribuição por todo o Império: do Egipto (Will, 1983) à Britannia (Callender, 1965), passando por Roma e
Óstia, Gallia (Étienne e Mayet, 2004; Laubenheimer e Marlière, 2010), Marrocos (Pons Pujol, 2000), Espanha (Berni
Millet, 1998; Chic García, 2001), Germania (Remesal Rodríguez, 1986)... Os dois exemplares conhecidos em Lisboa
(Rua dos Douradores e Praça da Figueira) foram recentemente publicados (Fabião et al., 2016), remetendo-se para
esse trabalho as principais questões relacionadas com esta marca.

6. IIIVNMELISSI/ETMELISSE
BR.: CIL XII, nº 154; CIL XV, nº 2967; Callender, 1965, nº 879b; Remesal Rodríguez, 1986, nº 157; Chic García, 2001,
p. 144-145; Étienne e Mayet, 2004, nº 706; Berni Millet, 2017, nº 118; CEIPAC 14578, 12308, 28453, 18718, 6501, 7532...
Dat.: Primeira metade do séc. III em Augst (Martin-Kilcher, 1987, p. 118); 223 d.C. no Monte Testaccio (Berni Millet,
2017, nº 118); segundo quartel do séc. III em Las Delicias (Mauné et al., 2014, p. 436-440).
Leit.: duorum Iun(iorum) Melissi et Meliss(a)e
LP.: Las Delicias.
LA.: Lisboa, Praça da Figueira, 1999-2001. CNS 1925.
LC.: Centro de Arqueologia de Lisboa. Nº de inv. PF/9933.01
B: Inédita.
C: |[IIIVNM]ELISSI/[ETMELISSE]|
PP.: in ansa.

484
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

DLeit.: Directa.
RMC.: Litt. extantibus.
Dim.: L - 6 / C - 49 (incompleta).
Tip.: Dressel 20.
Proc.: Bética, Vale do Guadalquivi

2 CM

Ob.: Recuperada em contexto de cronologia indeterminada nas recentes escavações da Praça da Figueira,
conserva-se apenas junto ao limite superior da cartela, parecendo, contudo, ser incontestável a sua leitura.
Produzida em La Catria, constitui-se como uma das marcas mais difundidas no Ocidente no Império, estan-
do largamente documentada no seu centro produtor (Chic García, 2001; Mauné et al., 2014) e na Britannia (Callen-
der, 1965), Alemanha (Remesal Rodríguez, 1986; Ehmig, 2007), Suíça (Martin-Kilcher, 1987), Holanda (Berni Millet,
2017), Gallia (Amar e Liou, 1984), e Itália, particularmente no Monte Testaccio (CIL XV; Remesal Rodríguez, 2010b,
nº 375) e em Óstia (Manacorda, 1977; Étienne e Mayet, 2004). Ocorre ainda em Alexandria, no Egipto (Will, 1983).

7. Ilegível
BR.:
Dat.: Época Júlio-Cláudia (tipológica).
Leit.:
LA.: Lisboa, Praça da Figueira, 1999-2001. CNS 1925.
LC.: Centro de Arqueologia de Lisboa. Nº de inv. PF/2257.01.
B: Inédita.
C: |[---]|
PP.: in ansa.
DLeit.:
RMC.: Litt. extantibus?
Dim.: L - 11 / C - 39.
Tip.: Dressel 20.
Proc.: Bética, Vale do Guadalquivir.

2 CM

Ob.: Exemplar identificado na recente intervenção da Praça da Figueira, muito desgastado e sem leitura, de
proveniência estratigráfica desconhecida.

8. CFAV[---]
BR.: CIL XII, nº 5683.92; Callender, 1965, nº 315; Colls et al., 1977, p. 27 ; Amar e Liou, 1984, p. 166; Chic García, 2001,
p. 483; Étienne e Mayet, 2004, nº 427; Berni Millet, 2017, nº 92; CEIPAC 5239, 15953, 10109, 42205...
Dat.: Cláudio.
Leit.: C. F( ) Av(iti)
LP.: Desconhecido.
L.A.: Lisboa, Encosta de Sant’Ana. CNS 16117.
LC.: Centro de Arqueologia de Lisboa. Nº de inv. ESA’02/1.

485
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

B: Inédita.
C: |C[.]F[.]AV[?]|
PP.: in ansa.
DLeit.: Directa.
RMC.: Litt. extantibus.
Dim.: L - 19 / C - 46 (incompleta).
Tip.: Dressel 20.
Proc.: Bética, Vale do Guadalquivir.

2 CM

Ob.: Marca inédita e até aqui ausente no actual território de Portugal, foi exumada nas escavações da En-
costa de Sant’Ana, na área da antiga necrópole noroeste de Olisipo, desconhecendo-se a cronologia do contexto
de proveniência. Encontra-se truncada na sua parte final, não permitindo perceber se se trata da variante CFAV,
CFAVI ou CFAVC. Parece ainda estar relacionada com a marca CFVFAVITI, documentada sobre Haltern 70 (Berni
Millet, 2017). Do mesmo modo, as fracturas longitudinal e transversal não permitem esclarecer se existiam pontos
a separar as letras C e F, e F e A. As referidas variantes conheceram uma difusão considerável, estando atestadas
na Britannia (Callender, 1965; Carreras Monfort e Funari, 1998), na Holanda (Berni Millet, 2017), na Gallia (Amar e
Liou, 1984), na Alemanha (CEIPAC 14280) e no naufrágio de Port-Vendres 2 (Colls et al., 1977).
O exemplar da Encosta de Sant’Ana parece distinguir-se dos restantes pela presença de um pequeno traço
na base da primeira perna do A e outro no seu topo.

9. Ilegível
BR.:
Dat.: Séc. I d.C. (tipológica).
Leit.:
LA.: Lisboa, Encosta de Sant’Ana. CNS 16117.
LC.: Centro de Arqueologia de Lisboa. Nº de inv. ESA’04/2.
B: Inédita.
C: |[---]|
PP.: in ansa.
DLeit.:
RMC.: Litt. extantibus?
Dim.: L - 18 / C - 10 (incompleta).
Tip.: Dressel 20.
Proc.: Bética, Vale do Guadalquivir.

2 CM

Ob.: Exemplar identificado na recente intervenção da Encosta de Sant’Ana, campanha de 2004, de prove-
niência estratigráfica desconhecida. Encontra-se fracturado no início da cartela e bastante desgastado, observan-
do-se vestígios da primeira letra que poderá corresponder a um C, G, O, Q ou ainda D (inverso).

486
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

10. QSP
BR.: CIL XII, nº 260; CIL VX, 315; Callender, 1965, nº 1504; Remesal Rodríguez, 1986, 234; Carreras e Funari, nº 437;
Chic García, 2001, p. 633; Étienne e Mayet, 2004, nº 1052; Berni Millet, 2017, nº 155; CEIPAC 5239, 15953, 10109,
42205...
Dat.: Nero-Vespasiano.
Leit.: Q. S( ) P( )
LP.: Casa del Encinarejo Bajo.
LA.: Lisboa, Largo de Sta. Cruz do Castelo. CNS 33538.
LC.: Centro de Arqueologia de Lisboa. Nº de inv. LSCC’14/274.
B: Inédita.
C: |Q.S.P|
PP.: in ansa.
DLeit.: Directa.
RMC.: Litt. extantibus.
Dim.: L - 16 / C - 44 (incompleta).
Tip.: Dressel 20.
Proc.: Bética, Vale do Guadalquivir.

Ob.: Exumada num contexto de aterro medieval na escavação do Largo de Santa Cruz do Castelo, esta mar-
ca era até aqui desconhecida no Ocidente Peninsular. A parte inferior das duas primeiras letras está mal conserva-
da, encontrando-se fracturada um pouco antes do limite do P, o que não permite apurar se se está na presença da
variante QSP((ramus palmae)), ainda que esta pareça ser mais escassa.
Conheceu uma ampla difusão nos mercados civis e militares da metade ocidental do Império, onde está
particularmente bem atestada na Britannia (Callender, 1965; Carreras Monfort e Funari, 1998; Marlière, 2003),
na Holanda (Berni Millet, 2017), na Alemanha (Remesal Rodríguez, 1986; Ehmig, 2007), na Suíça (Martin-Kilcher,
1987), na Gallia (Amar e Liou, 1984; Étienne e Mayet, 2004), em Marrocos (Mayet, 1978; Pons Pujol, 2009), em Óstia
e em Roma (Étienne e Mayet, 2004). Surge ainda nos naufrágios Albufereta I, Alicante (Márquez Villora e Molina
Vidal, 2005), e Cala Culip I, Ampúrias (Nieto Prieto et al., 1989), ambos datados entre o Principado de Nero e o de
Vespasiano, tendo chegado ao Oriente Mediterrâneo, onde é conhecida em Alexandria (CEIPAC 6523; Will, 1983).

11. ((circulus))
BR.: Manacorda, 1977, p. 208-209 e nº 274; Márquez Villora e Molina Vidal, 2005, nº 310;
CEIPAC 23561.
Dat.: Final do séc. II d.C. a final do séc. III (tipológica).
Leit.:
LP.: Desconhecido.
LA.: Lisboa, Banco de Portugal. CNS 31081.
LC.: Museu do Dinheiro. Nº de inv. BP/1800.
B: Inédita.
C: ((circulus))
PP.: in ansa.
DLeit.: Nula.
RMC.: Symbolo cavo.
Dim.: L - 13 / C - 7
Tip.: Africana IIA?
Proc.: Africa Proconsularis.

487
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Ob.: Marca identificada em contexto de cronologia indefinida durante a escavação do Banco de Portugal,
aposta sobre asa de uma ânfora que deverá corresponder ao tipo Africana IIA.
Este tipo de marcas, também designadas de contra-marcas e normalmente situadas no colo, embora tam-
bém nas asas, no ombro ou no fundo, parece ter sido utilizado em diferentes regiões produtoras e tipos anfóricos,
designadamente na Lusitânia, onde está atestada no tipo Lusitana 3 (Guerra, 1996), no litoral bético, sobre Dressel
7-11 e Beltrán II (Márquez Villora e Molina Vidal, 2005), na Tarraconense, nas Dressel 3-2 (Márquez Villora e Molina
Vidal, 2005) e no Norte de África, em vários tipos (Manacorda, 1977; Bonifay, 2004a). A do Banco de Portugal, de
produção norte-africana, é em forma de C, ou meio círculo, e surge bem documentada em Óstia sobre Africana IIA,
tipo a que deverá igualmente corresponder o exemplar que nos ocupa (Manacorda, 1977, p. 208-209). Em Portu-
gal era já conhecida uma marca deste tipo em Tróia (Maia, 1975; Fabião et al., 2016), ainda que exibindo desenho
distinto. Constitui-se como uma novidade em Olisipo, onde até aqui se desconheciam marcas com origem naquela
região produtora.

Embora introduza algumas novidades importantes, o conjunto de marcas inéditas que aqui se dá
a conhecer não altera substancialmente o panorama actual sobre esta matéria em Olisipo, parecendo
antes confirmar as principais tendências recentemente observadas na publicação de um volume signifi-
cativo de dados, proveniente não só desta cidade como também de outros pontos da Lusitania (Fabião
et al., 2016).
Relativamente à fase republicana, destaca-se a identificação de marcas sobre ânforas vinárias
procedentes da região oriental do Mediterrâneo, quer pela importância da sua documentação nestas
paragens ocidentais quer pelo facto de se constituir como uma novidade, uma vez que até aqui esses
tipos anfóricos não eram conhecidos em Olisipo. Se no caso das Ródias, já atestadas em Santarém (Bar-
gão, 2006) e com uma difusão algo mais expressiva, se poderia considerar expectável a sua presença
na cidade que controla a entrada do Tejo, as Dressel 4 da Ilha de Cos eram totalmente desconhecidas
na área ocidental da península Ibérica. Já no que se refere às ânforas tirrénicas, a presença de uma
marca com cartela circular, muito provavelmente pertencente a uma Greco-Itálica, parece sublinhar a
aparente tendência para a ocorrência deste tipo de estampilhas em Olisipo sobre ânforas daquele tipo
(Pimenta, 2005; Fabião et al., 2016). Menos usuais por estas paragens são os exemplares apostos nos
fundos de contentores do tipo Dressel 1, de que se conhece apenas um caso em Santarém (Arruda e
Almeida, 1999). Ainda em relação à República, os novos exemplares sublinham a sua particular ocor-
rência no espaço da antiga alcáçova islâmica do Castelo, de onde procedem cerca de 77% da totalidade
das marcas deste período registadas em Lisboa, sendo as excepções constituídas pelo Teatro Romano,
Claustros da Sé, Rua Norberto de Araújo, Armazéns Sommer, Casa dos Bicos e Praça da Figueira.
Quanto ao Principado, a principal novidade é, sem dúvida, a identificação de uma marca sobre
ânfora norte-africana, cuja total ausência em Olisipo foi recentemente sublinhada (Fabião et al., 2016,
p. 124). As restantes marcas inéditas desta época são exclusivamente sobre Dressel 20 do Guadalquivir,
observando-se, por um lado, a presença da marca MAR, já conhecida em Lisboa e em outros locais da
Lusitania, particularmente no Vale do Tejo (Fabião et al., 2016), por outro, a ocorrência de três marcas
até aqui desconhecidas no actual espaço português - CFAV, IIIVNMELIISI/ETMELISSE e QSP -, todas elas
de ampla disseminação na metade ocidental do Império (tal como a MAR, refira-se), chegando as duas
últimas até Alexandria, no Egipto. Este é, aliás, um dos aspectos que mais se destaca quando se observa
o conjunto global das marcas sobre Dressel 20 documentadas em Olisipo (Tabela 132) - a que se deverão
acrescentar os exemplares dos Armazéns Sommer que parecem corresponder às marcas QFALB e MEE-
VPRO, não publicados mas expostos no local -, isto é, a recorrente presença de marcas de ânfora que se

488
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

encontram amplamente atestadas no Ocidente do Império, particularmente nas províncias do Norte -


Britannia, Germania Inferior, Gallia - e em Roma e Óstia, evidenciando a sua inclusão nos circuitos oficiais
de distribuição e, paralelamente, a importância da rota atlântica nesses mesmos circuitos. Por outro
lado, a considerável representatividade das marcas sobre Dressel 20 de pequeno módulo (parvae) em
Olisipo (cinco exemplares) parece constituir-se como um traço característico do Ocidente hispânico, de
que se não conhece paralelo em locais mais distantes do Império. Esta particularidade, a par da presença
de marcas de ânfora que, aparentemente, terão conhecido uma difusão mais restrita, parece constituir
um indício da existência de circuitos de distribuição de menor alcance, presumivelmente de iniciativa
privada, onde se utilizariam com maior frequência os modelos de pequena dimensão (Fabião, 1993-1994,
p. 238-240; Fabião et al., 2016, p. 118-119). O porto de Olisipo assumir-se-ia então como um lugar de pas-
sagem na extensa rota atlântica, mas também como o destino final das mercadorias destinadas aos seus
habitantes e aos do seu ager, funcionando certamente também como importante pólo redistribuidor so-
bretudo para o Vale do Tejo e região interior da província, onde se destacaria a capital Augusta Emerita.

Marca Tipo Proveniência Sítio Biblio.


((signum))(?) Greco-itálica/ Península Itálica, Largo de Sta. Cruz do Castelo Inédita
Dressel 1 costa tirrénica
[---]LSAE[---] Dressel 1 Península Itálica, Castelo de São Jorge, Fabião et al., 2016
costa tirrénica Rua de Santa Cruz
[---]PHO Dressel 1 Península Itálica, Teatro Romano Filipe, 2008, 2015;
costa tirrénica Fabião et al., 2016
[---]PVETFIHANOPR| Dressel 1 Península Itálica, Claustro da Sé Fabião et al., 2016
costa tirrénica
AN Dressel 1 Península Itálica, Castelo de São Jorge, Praça Nova Pimenta, 2005;
costa tirrénica Fabião et al., 2016
CLSEX Dressel 1 Península Itálica, Castelo de São Jorge, Praça Nova Pimenta, 2005;
costa tirrénica Fabião et al., 2016
CLSEX Dressel 1 Península Itálica, Castelo de São Jorge, Praça Nova Pimenta, 2005;
costa tirrénica Fabião et al., 2016
CLSEX Dressel 1 Península Itálica, Castelo de São Jorge, Praça Nova Fabião et al., 2016
costa tirrénica
EA Dressel 1 Península Itálica, Armazéns Sommer Fabião et al., 2016
costa tirrénica
LAL[---] Dressel 1? Dressel Península Itálica, Praça da Figueira, 1999-2001 Inédita
2-4? costa tirrénica
LANICI Greco-itálica Península Itálica, Casa dos Bicos Fabião et al., 2016
costa tirrénica
LANICI Greco-itálica Península Itálica, Castelo de São Jorge, Praça Nova Fabião et al., 2016
costa tirrénica
LANICI Greco-itálica Península Itálica, Castelo de São Jorge, Pimenta, 2005;
costa tirrénica Rua do Recolhimento Fabião et al., 2016
LANICI Greco-itálica Península Itálica, Castelo de São Jorge, Fabião et al., 2016
costa tirrénica Rua do Recolhimento
PVRG Ovóide tirrénica Península Itálica, Rua Norberto de Araújo Fabião et al., 2016
costa tirrénica
RA & AR Dressel 1 Península Itálica, Castelo de São Jorge, Fabião et al., 2016
costa tirrénica Beco do Forno
S&M Greco-itálica Península Itálica, Castelo de São Jorge, Fabião et al., 2016
costa tirrénica Beco do Forno
HERAIOS Ânfora de Brindisi Península Itálica, Castelo de São Jorge, Pimenta, 2005;
costa adriática Rua das Cozinhas Fabião et al., 2016
[---]ΑΡΑΣ vel [---]KΡΑΣ Dressel 4 de Cos Mediterrâneo Oriental Pátio José Pedreira Inédita
Ilegível Ródia Mediterrâneo Oriental Palácio das Cozinhas Inédita
Ilegível Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Encosta de Sant’Ana Inédita
Ilegível Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir NARC Fabião et al., 2016
Ilegível Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Praça da Figueira, 1999-2001 Inédita
Ilegível Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Praça da Figueira, 1962 Fabião 1993-1994;
Fabião et al., 2016
Ilegível Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Praça da Figueira, 1962 Fabião et al., 2016
Ilegível Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Rua das Pedras Negras, 1991 Fabião et al., 2016

Tabela 132 – Marcas de ânfora provenientes de Lisboa.

489
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Marca Tipo Proveniência Sítio Biblio.


[---]C Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Palácio dos Condes de Penafiel Fabião et al., 2016
[---]I? Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Palácio dos Condes de Penafiel Fabião et al., 2016
[---]P Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir NARC Fabião et al., 2016
[---]R? Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Praça da Figueira, 1999-2001 Fabião et al., 2016
[---]VP*YC & [---]VP*YK Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Praça da Figueira, 1999-2001 Fabião et al., 2016
[L?]RV Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Mandarim Chinês Fabião et al., 2016
C[---] Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Calçada do Correio Velho Fabião et al., 2016
CFAV Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Encosta de Sant’Ana Inédita
COI Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir NARC Guerra, 1995;
Sabrosa e Bugalhão, 2004;
Fabião et al., 2016
E[---] & F[---] Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Hotel de Sta. Justa Fabião et al., 2016
GAF Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Escadinhas de São Crespim Fabião et al., 2016
GDEC Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir FRESS Fabião et al., 2016
GMMF Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Praça da Figueira, 1999-2001 Fabião et al., 2016
I[---] & L[---] Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Praça da Figueira, 1962 Fabião, 1993-1994;
Fabião et al., 2016
IIIVNMELISSI/ Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Praça da Figueira, 1999-2001 Inédita
ETMELISSE
LATRV & LATRVS Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Zara, Rua Augusta Fabião et al., 2016
LCANTP Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Praça da Figueira, 1962 Fabião 1993-1994;
Fabião et al., 2016
LCM Dressel 20 parva Bética, Vale do Guadalquivir Praça da Figueira, 1961-1962 Fabião et al., 2016
(Antonina)
LCQ? Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Casa dos Bicos Fabião et al., 2016
LE[---] & LF[---] Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Praça da Figueira, 1999-2001 Fabião et al., 2016
LFCDM Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Praça da Figueira, 1999-2001 Fabião et al., 2016
LFFG Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Pátio da Sr.ª de Murça Fabião et al., 2016
LFFG Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Praça da Figueira, 1999-2001 Fabião et al., 2016
LFFV Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Praça da Figueira, 1999-2001 Fabião et al., 2016
LFO Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Claustro da Sé Fabião et al., 2016
LHORATI Indeterminado Bética, Vale do Guadalquivir Claustro da Sé Fabião et al., 2016
LHORATI Indeterminado Bética, Vale do Guadalquivir Teatro Romano Filipe, 2008, 2015;
Fabião et al., 2016
LVA Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Rua das Pedras Negras, 1991 Fabião et al., 2016
LVA Dressel 20 parva Bética, Vale do Guadalquivir Zara, Rua Augusta Fabião et al., 2016
M[---] Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Banco de Portugal Fabião et al., 2016
M[---] Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Zara, Rua Augusta Fabião et al., 2016
MAR Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Praça da Figueira, 1999-2001 Inédita
MAR Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Praça da Figueira, 1999-2001 Fabião et al., 2016
MAR Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Rua dos Douradores Fabião 1993-1994;
Fabião et al., 2016
MCVAR Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Rua das Pedras Negras Fabião et al., 2016
MINI Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Claustro da Sé Fabião et al., 2016
MMASVR? Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Rua das Pedras Negras, 1991 Fabião et al., 2016
PM[---] Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Zara, Rua Augusta Fabião et al., 2016
PMANILISVP Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Zara, Rua Augusta Fabião et al., 2016
PNN? Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Praça da Figueira, 1962 Fabião 1993-1994;
Fabião et al., 2016
PQSB Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Praça da Figueira, 1962 Fabião 1993-1994;
Fabião et al., 2016
QATI & QTAI Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Rua de São Mamede Fabião et al., 2016
QC[---] Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Rua de São João da Praça Fabião et al., 2016
QCR Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Palácio dos Condes de Penafiel Fabião et al., 2016
QCR Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Praça da Figueira, 1999-2001 Fabião et al., 2016
QCR Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Zara, Rua Augusta Fabião et al., 2016
QCR Dressel 20 parva Bética, Vale do Guadalquivir Praça da Figueira, 1999-2001 Fabião et al., 2016
QCR Dressel 20 parva Bética, Vale do Guadalquivir Zara, Rua Augusta Fabião et al., 2016
QIM? Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Rua das Pedras Negras, 1991 Fabião et al., 2016

Tabela 132 – Marcas de ânfora provenientes de Lisboa (cont.).

490
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

Marca Tipo Proveniência Sítio Biblio.


QSEEVPSHEI Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Rua das Pedras Negras (2013) Fabião et al., 2016;
Gomes et al., 2017
QSP Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Largo de Sta. Cruz do Castelo Inédita
QVCVIR Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Casa do Governador, Belém Fabião et al., 2016;
Fabião et al., n.p.
RIV[--- Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Praça da Figueira, 1999-2001 Fabião et al., 2016
ROM & ROMANI? Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Rua das Pedras Negras, 1991 Fabião et al., 2016
ROMANI Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Praça da Figueira, 1999-2001 Fabião et al., 2016
ROMANI Dressel 20 parva Bética, Vale do Guadalquivir Zara, Rua Augusta Fabião et al., 2016
SATVRNINI? Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Praça da Figueira, 1999-2001 Fabião et al., 2016
SPERATVS Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Banco de Portugal Fabião et al., 2016
ST[---] Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Escadinhas de São Crespim Fabião et al., 2016
VIRAV Dressel 20 Bética, Vale do Guadalquivir Praça da Figueira, 1962 Fabião, 1993-1994;
Fabião et al., 2016
ASMQ[---] Mañá C2b Ulterior, costa meridional Castelo de São Jorge, Pimenta, 2005;
Palácio Cozinhas Fabião et al., 2016
Ilegível Mañá C2b Ulterior, costa meridional Castelo de São Jorge, Pimenta, 2005;
Rua do Recolhimento Fabião et al., 2016
B[---] Dressel 7-11? Bética, costa ocidental Rua dos Bacalhoeiros Filipe, 2008b;
Fabião et al., 2016
MPO(?) Indeterminado Bética, costa ocidental Banco de Portugal Fabião et al., 2016
[---]FFI[---] Dressel 20? Bética, costa ocidental? Claustro da Sé Fabião et al., 2016
MATVRI Gauloise 4 Gália Claustro da Sé Fabião et al., 2016
((circulus)) Africana IIA? Norte de África Banco de Portugal Inédita
POM[---? & ROM[---? Haltern 70 lusitana Lusitânia, Tejo/Sado NARC Fabião et al., 2016
TMAM Lusitana 3 Lusitânia, Tejo/Sado Palácio dos Condes de Penafiel Fabião et al., 2016

Tabela 132 – Marcas de ânfora provenientes de Lisboa (cont.).

6.3.2. Graffiti

O registo gráfico produzido no âmbito deste estudo sobre este tipo de manifestações epigráficas
não foi exaustivo, ao contrário da opção que se tomou em relação às marcas de ânfora. Privilegiou-se
sobretudo os exemplares que se encontravam completos ou semicompletos e aqueles que, embora
incompletos, integravam fragmentos cujo registo gráfico se considerou importante. Haverá ainda que
ter em conta que os grafitos sobre contentores do Guadalquivir - tal como os próprios envases - pro-
venientes de sítios como a Praça da Figueira, Rua das Pedras Negras, Palácio dos Condes de Penafiel,
Rua Augusta (1988), Escadinhas de São Crispim, Rua de São Mamede e Zara, Rua Augusta, não foram
desenhados pelos motivos já referidos no início deste trabalho, com excepção de um ou outro caso,
tratando-se de formas com reconhecida tradição neste tipo de manifestação, particularmente nas Hal-
tern 70 e nas Dressel 20.
Mesmo tendo em conta o que se referiu, em termos gerais e face ao volume da amostra pode-se
afirmar que o número de grafitos documentado é relativamente reduzido. Os exemplares identificados
não parecem diferir do panorama conhecido neste domínio, integrando-se aparentemente nas três
categorias estabelecidas: numerais, alfabéticos e outros símbolos (Fabião e Guerra, 2004, p. 238). O
conjunto mais reduzido é representado pelas inscrições realizadas num momento posterior à cozedura
da peça (post cocturam). Destes, todos incompletos, apenas se registaram três sobre ânforas tirrénicas
(Dressel 1, Greco-Itálica?) e dois sobre ânforas lusitanas, que tanto poderão corresponder ao tipo Lusi-
tana 3 como à Almagro 51C. Relativamente a estes últimos - [---]XVII[---] e [---]XVI -, trata-se de grafitos
numerais cujo real significado é de difícil apreensão, uma vez que não é possível saber em que contexto
terão sido efectuados - relacionados com o produto envasado? Durante a sua comercialização? Reu-
tilização do contentor? Quanto aos graffiti sobre ânforas republicanas da costa tirrénica da Península
Itálica, os dois que foram efectuados na pança encontram-se demasiado fragmentados, não permitindo
qualquer leitura, para lá da possibilidade de o primeiro corresponder à letra A (figs. 106 e 107). Já no

491
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

que se situa no ombro de uma Dressel 1 parece poder ler-se [---]VIS(I?)[---], cuja interpretação se afigura
igualmente problemática.
Mas é ao processo produtivo das olarias que se reporta a maioria dos grafitos documentados,
aplicados no momento de secagem, entre a modelação e a cozedura das peças. Embora se trate de
um tema que envolva alguma controvérsia quanto ao seu significado no contexto da produção, estas
manifestações são normalmente interpretadas como processos de contagem, no caso dos grafitos nu-
merais, ou como elementos que identificam diferentes indivíduos envolvidos no processo de produção
quando se trata de letras (Fabião e Guerra, 2004, p. 236-237), podendo os outros símbolos correspon-
der a uma marca identificativa de um desses indivíduos ou a uma convenção utilizada na oficina cujo
a
Lusitana An
Dressel 14
Dressel 14
Fundo
Ante cocturam

Dressel 14
Dressel 14
a/Dressel 14
Pança

Lus. An

2 CM

Figura 107 – Grafitos ante cocturam sobre ânforas lusitanas.

492
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

significado seria claro para o conjunto restrito de pessoas que aí laborava. Os graffiti efectuados sobre
contentores cujo tipo foi possível identificar, correspondem integralmente a produções dos séculos I
e II d.C. e maioritariamente a ânforas lusitanas, com particular destaque para as Dressel 14. Este pano-
rama é coerente com as tendências gerais verificadas no território português (Fabião e Guerra, 2004),
tanto no que se refere à cronologia como no que diz respeito aos tipos, sendo particularmente expres-
sivo nos centros oleiros dos vales do Tejo e do Sado, tais como no Porto dos Cacos (Raposo, 1990), Gar-
rocheira (Amaro e Gonçalves, 2016), Porto Sabugueiro (Cardoso, 1990), Pinheiro (Mayet e Silva, 1998)
e Abul (Mayet e Silva, 2002), onde se podem observar diversos paralelos para os exemplares de Lisboa
que aqui se apresentam.

Costa bé a - Indet.
Pança

Bé a - Ovóide indet.
Ante cocturam

Bé a - Haltern 70
Fundo

Norte de África
Pupput T700.4?
Lusitana 3?
Ombro
Post cocturam

Dressel 1
Dressel 1/Greco-Itálica
Pança

2 CM

Figura 108 – Grafitos ante cocturam e post cocturam sobre ânforas béticas, norte-africanas, lusitanas e itálicas.

493
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Figura 109 – Grafito post cocturam sobre ombro de Dressel 1 itálica.

Ainda que em proporções mínimas, foram documentados alguns grafitos realizados nas designa-
das Lusitanas Antigas, sempre nos bicos fundeiros, cenário que se verifica igualmente no centro produ-
tor de Abul (Mayet e Silva, 2002), na denominada variante A da Dressel 14. Mais raros parecem ser os
graffiti ante cocturam efectuados no ombro ou na pança das Dressel 14 ou das Lusitanas Antigas, de que
se registou apenas um exemplar incompleto.
Quanto às produções extraprovinciais, com excepção de um fundo de Pupput T700.4 proveniente
do Norte de África - cuja classificação suscita algumas dúvidas, podendo eventualmente tratar-se de uma
Keay 55/56, que é uma forma tardia -, os grafitos identificados procedem exclusivamente da Baetica,
sobretudo em fundos de Haltern 70 e de ovóides indeterminadas produzidas no Vale do Guadalquivir.
Do litoral daquela província apenas se registaram dois exemplares com este tipo de manifestação epi-
gráfica, em ambos casos alfabéticas, incompletas e efectuadas sobre a pança de contentores de tipo
indeterminado.

6.3.3. Tituli Picti

São escassos e na sua maioria incompletos os tituli picti identificados na amostra de Olisipo, cor-
respondendo, ainda assim, ao maior conjunto deste tipo de inscrições proveniente de Lisboa, onde até
ao momento se encontram fracamente documentadas (Filipe, 2008a; Filipe, 2015).
Foram registados sete tituli picti, maioritariamente situados no colo de contentores anfóricos,
passíveis de serem agrupados em dois conjuntos com origem, conteúdo e cronologia distintos. Por um
lado, inscrições situadas no colo e efectuadas com tinta vermelha, compostas por uma ou mais letras ou
símbolo/s, sobre ânforas republicanas da costa tirrénica da Península Itálica do tipo Dressel 1 e Greco-
-Itálica. Por outro, epígrafes localizadas no colo ou na pança e pintadas com tinta preta, constituídas
por conjuntos de letras, sobre ânforas de tipo indeterminado com origem na costa ocidental bética,
que deverão muito provavelmente corresponder a contentores piscícolas dos tipos Dressel 7-11 ou, com
maior probabilidade, Beltrán IIA e/ou IIB.
Relativamente às primeiras, a sua interpretação é dificultada por diversos factores. Desde logo,
pelo facto de algumas delas se situarem junto à fractura da peça, não permitindo perceber se existiriam
outros signos. Em outros casos, não é totalmente claro se a inscrição seria originariamente constituída

494
Capítulo 6 Ânforas documentadas em Olisipo

apenas pela letra ou símbolo actualmente visível ou se este corresponde simplesmente ao único ele-
mento que se preservou. Enfim, para além destes aspectos, haverá ainda que ter em conta que a leitura
das inscrições preservadas não é totalmente clara. Se no caso das peças do Pátio Júlio Pereira parece
relativamente pacífico tratar-se de um B em uma delas e na outra possivelmente de um E disposto na
vertical, os dois exemplares do Largo de Santa Cruz do Castelo levantam mais dúvidas, podendo even-
tualmente tratar-se também de um B no primeiro e de um X no segundo, ainda que este último possa
antes corresponder a um símbolo. O titulus do Pátio da Sr.ª de Murça poderá corresponder a um C in-
vertido, que neste caso tanto poderia constituir uma letra como um número.
Os tituli picti sobre ânforas republicanas tirrénicas compostos por apenas uma ou duas letras são
relativamente frequentes e normalmente de difícil interpretação, ainda que alguns autores sugiram a
sua associação a um sistema de contabilização (Benquet e Grizeaud, 2009, p. 657). Meramente a título
de exemplo, veja-se as inscrições identificadas em Toulouse, onde tanto se registaram tituli picti apenas
com uma letra como outros mais extensos (Benquet e Grizeaud, 2009, fig. 5 e 15.2), ou a do Museo di
Fiesole, Itália, onde, numa inscrição com três linhas em que é indicada uma data consular, a primeira é
constituída apenas pela letra B (Manacorda, 1989, p. 447 e figs. 4 e 5); para além do titulus do Teatro
Romano de Lisboa, composta apenas pela letra N (Filipe, 2008a; Filipe, 2015).
Embora com outra expressividade, os dois tituli picti do Banco de Portugal não parecem autori-
zar o desenvolvimento de grandes interpretações. Trata-se em ambos casos de inscrições pintadas a
preto e aparentemente situadas no colo de ânforas piscícolas béticas, provavelmente do tipo Beltrán
IIA e/ou IIB, de que se conserva apenas uma pequena parte. A sua leitura é, por este motivo, proble-
mática, sendo o aspecto mais relevante o facto de ambas se encontrarem dispostas na vertical. Neste
tipo de manifestações epigráficas sobre ânforas piscícolas béticas as inscrições verticais, em cursivo, de
pequena dimensão e designadas de registo δ, situam-se habitualmente próximo da asa do envase - sub
ansa ou prope ansam - e à direita das restantes inscrições, ou seja, dos registos relativos ao produto en-
vasado (α), aos mercatores e negotiatores (β) e aos receptores da mercadoria no seu destino e contro-
ladores do processo de distribuição final (γ), constando normalmente da indicação de um nome pessoal
(cognomen, por vezes tria nomina) seguido de um conjunto de letras ao qual se dá habitualmente um
significado numérico (Étienne e Mayet, 1998, p. 151 e fig. 2; Martínez Maganto, 2001, p. 1214; Lagóstena
Barrios, 2002-2003, p. 228).
A interpretação do registo δ tem gerado alguma controvérsia, que não se encontra ainda to-
talmente resolvida, assentando essencialmente em duas hipóteses interpretativas: relacionada com o
controle fiscal dos contentores e respectivos produtos envasados; ou identificativa dos proprietários/
produtores dos preparados piscícolas (entre outros, veja-se: Liou e Marichal, 1978; Laubenheimer et
al., 1993; Étienne e Mayet, 1998; Martínez Maganto, 2001; Étienne e Mayet, 2002; Lagóstena Barrios,
2002-2003).
Greco-Itálica /
República

Dressel 1
(Beltrán IIA/IIB?)
Costa bé ca
Principado

2 CM

Figura 110 – Tituli picti sobre ânforas vinárias itálicas republicanas (em cima) e sobre ânforas piscícolas béticas
imperiais (em baixo).

495
III
OLISIPO,
O GRANDE PORTO DA
FACHADA ATLÂNTICA .
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

7.
DINÂMICA COMERCIAL ENTRE A REPÚBLICA
E O PRINCIPADO

O volume de dados expostos ao longo das páginas deste trabalho contrasta de forma signifi-
cativa com o quadro global até aqui conhecido relativamente aos padrões de consumo de alimentos
transportados em ânforas e às relações comerciais entre Olisipo e o restante mundo romano. Este as-
sinalável aumento da informação disponível abre uma nova janela sobre a economia e as dinâmicas
comerciais da cidade entre a República e o Principado, permitindo uma percepção mais aproximada
daquele que terá sido o papel de Felicitas Ivlia Olisipo durante aquele lapso temporal. A expressividade
estatística da amostra global autoriza uma certa segurança na delineação das principais tendências de
consumo ao longo dessa extensa diacronia, que se deverão aproximar de uma forma suficientemente
representativa do quadro de consumo que então se verificava. Paralelamente, a representatividade
da amostra permite uma articulação mais sustentada destes dados com os de outros locais, através
da análise comparativa, quer a nível regional quer a nível extraprovincial, permitindo entrever o papel
de Olisipo nas rotas comerciais da República e do Império que estabeleciam o contacto entre diversas
regiões e centros urbanos do Mediterrâneo e do Atlântico. Dever-se-á, todavia, sublinhar que se trata
de tendências principais e não de leituras definitivas, sujeitas a oscilações de maior ou menor vulto con-
soante o avançar do conhecimento, isto é, da publicação de novos dados.
A esta consistente base estatística não corresponde, porém, uma equivalência qualitativa e
quantitativa nos contextos estratigráficos de onde procedem os materiais. Como houve já ensejo de
comentar, uma parte muito significativa da amostra provém de sítios para os quais a documentação
estratigráfica é nula ou praticamente inexistente, assim sucedendo no conjunto da intervenção da dé-
cada de 60 do séc. XX na Praça da Figueira, nas escavações de A. D. Diogo na Rua das Pedras Negras
(Thermae Cassiorum), no Palácio dos Condes de Penafiel e na Calçada do Correio Velho, ou ainda no
acompanhamento das obras de renovação do colector de saneamento da Rua Augusta em 1988. Pa-
ralelamente, as características estratigráficas registadas na recente intervenção realizada no Banco de
Portugal - de onde provém um importante conjunto anfórico -, cuja implantação corresponderia em
Época Romana a uma zona submersa, ainda que próxima da margem direita do esteiro da Baixa, não
permitem mais do que a definição de grandes blocos cronológicos onde se observa sempre a presença
de elementos dissonantes. A tudo isto haverá ainda que somar os sítios onde, apesar da existência de
uma boa base documental e de uma maior ou menor quantidade de contextos bem definidos, incluin-
do mesmo alguns já publicados, não se procedeu ainda à sistematização da totalidade da informação
relativa aos contextos de Época Romana, tais como a Encosta de Sant’Ana, o Largo de Santo António e
a Fundação Ricardo Espírito Santo e Silva, ou mesmo a Praça da Figueira e os Claustros da Sé, estes últi-
mos em fase mais adiantada de sistematização. Por fim, haverá ainda que considerar a não despicienda
questão da residualidade, quer em contextos de Época Romana quer em níveis pós-romanos, obser-
váveis em praticamente todos os conjuntos e particularmente expressivos em sítios como o Largo de
Santa Cruz do Castelo, o Teatro Romano (questão já anteriormente desenvolvida: Filipe 2008a, Filipe,
2015), os claustros da Sé (sobretudo o grande aterro do séc. XIV), as Escadinhas de São Crispim, o Pátio
José Pedreira, a Rua de São João da Praça (2001) ou a Zara, Rua Augusta, entre outros casos menos
expressivos. Resumidamente, apesar de se documentar a existência de uma apreciável quantidade de
contextos bem definidos e em boa parte inéditos, com balizas cronológicas de maior ou menor ampli-
tude, abarcando toda a diacronia que se estende do terceiro quartel do séc. II a.C. ao final do séc. II d.C.
e início do seguinte, a grande maioria das ânforas não provém de contextos cronologicamente coevos
à sua produção e distribuição.

498
Capítulo 7 Dinâmica comercial entre a República e o Principado

Tendo em consideração este panorama, nem sempre foi possível a confrontação entre a análise
estatística e a contextual, essencial na matização dos dados globais e de algumas singularidades tantas
vezes invisíveis com base apenas na primeira. Deste modo, dever-se-á ter em conta que a leitura que se
faz da documentação de Olisipo é em grande medida proporcionada pela análise estatística, procuran-
do-se, sempre que possível, recorrer aos dados contextuais disponíveis para complementar e matizar
essa leitura ou assinalar particularidades relevantes.
No âmbito da vasta diacronia que aqui se considera, a representatividade dos contextos dispo-
níveis é bastante desigual para cada fase cronológica. Se para a segunda metade do séc. II a.C. a in-
formação contextual se pode considerar bastante apreciável, sobretudo tendo em conta os dados já
publicados do Castelo (Pimenta, 2005; Filipe et al., 2013; Mota et al., 2014; Pimenta et al., 2014a; Silva,
2014), para os dois primeiros terços do séc. I a.C. continua a verificar-se uma angustiante escassez de
níveis bem datados, de que a Sé será talvez o único sítio minimamente expressivo. Este quadro altera-
-se significativamente para o lapso de tempo que decorre entre o Principado de Augusto e a dinastia
Flávia, onde se enquadra a grande maioria dos contextos cronologicamente bem delimitados, particu-
larmente os dos Claustros da Sé, do Teatro Romano, da Praça da Figueira, da Rua dos Bacalhoeiros, da
Rua dos Remédios, da Rua de São João da Praça (2009), do Palácio do Marquês de Angeja, da Rua de
São Mamede e da Zara, na Rua Augusta. Nestes dois últimos locais foram igualmente documentados
importantes níveis datados do primeiro terço do séc. II d.C., possivelmente extensíveis até meados
desse século no caso da Zara, representando as principais evidências contextuais da primeira metade
desse século. Para além destes, são parcos e sobretudo pouco expressivos os conjuntos procedentes
de contextos bem definidos da primeira metade dessa centúria. Na realidade, os contextos datados do
séc. II são escassos, geralmente pouco expressivos e muitas vezes com limites cronológicos demasiado
amplos que se estendem até meados ou final do século seguinte. Para além dos já mencionados (Rua de
São Mamede e Zara), poder-se-ão referir a Casa dos Bicos, as Escadinhas de São Crispim e a Praça da Fi-
gueira. Não deixa, porém, de ser assinalável que, paradoxalmente, a amostra global revele um elevado
consumo de géneros alimentares transportados em ânforas durante todo o séc. II d.C., particularmente
representado pelos produtos piscícolas e vinários locais e regionais, indicando, portanto, uma intensa
actividade económica e comercial, contrariamente ao que a aludida escassez de contextos dessa fase
poderia fazer pensar.
Olhando para o conjunto global de materiais analisados à luz deste trabalho, que inclui 9902
fragmentos diagnosticáveis de ânfora, equivalentes a um Número Mínimo de 4270 Indivíduos, destaca-
-se claramente a amostra do Principado, representando 75,32%, face à republicana que não ultrapassa
os 15,27%, correspondendo os restantes 9,41% a contentores de tipo indeterminado. Em termos glo-
bais, trata-se de uma amostra quantitativamente apreciável cuja fiabilidade estatística é inquestionável,
atestando uma vasta e insuspeitada multiplicidade de tipos oriundos dos mais variados quadrantes
geográficos do Mediterrâneo. Esta ampla diversidade constitui um eloquente testemunho do carácter
cosmopolita de Olisipo demonstrando, simultaneamente, que a cidade desempenhava um importante
e activo papel nos intercâmbios comerciais da metade ocidental do Império.
Num primeiro nível interpretativo, a documentação que ora se expõe e analisa constitui a repre-
sentação mais aproximada do consumo dos habitantes de Olisipo entre a campanha militar de Décimo
Júnio Bruto e o início da dinastia Severa, no que se refere aos bens alimentares transportados em ân-
foras. De igual modo, as características da composição da amostra - constituída por conjuntos prove-
nientes de diversos pontos da cidade e com distintas funcionalidades - permitem uma análise espacial
desse consumo, possibilitando a observação dos diferentes padrões que caracterizam as distintas áreas
urbanas ao longo da diacronia a que acima se fez referência. Num outro nível de análise, e abarcando
somente o Principado, os dados de Lisboa podem igualmente ser interpretados como um instrumento
de leitura do tráfico comercial direccionado à capital provincial, desempenhando a cidade da foz do
Tejo o papel de principal porto marítimo de Augusta Emerita e de “capital litoral da Lusitania” (Mantas,
1990, p. 160). Nesta perspectiva, o perfil de consumo de Olisipo é indissociável desse papel, sendo esse
um dos seus elementos caracterizadores e definidores.

499
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 416 4,2% 233 5,46% 12,02% 11,82%
Lusitana Antiga/Dressel 14 110 1,11% 12 0,28% 0,62% 0,61%
Tipo Urceus? 5 0,05% 5 0,12% 0,26% 0,25%
Dressel 2-4 1 0,01% 1 0,02% 0,05% 0,05%
Haltern 70 48 0,48% 41 0,96% 2,11% 2,08%
Dressel 14 2407 24,3% 964 22,58% 49,72% 48,88%
Lusitânia, Tejo/Sado
Dressel 14 parva 6 0,06% 4 0,09% 0,21% 0,2%
Beltrán IIB 2 0,02% 2 0,05% 0,1% 0,1%
“Dressel 28” 17 0,17% 14 0,33% 0,72% 0,71%
Lusitana 3 1630 16,45% 560 13,11% 28,88% 28,4%
Indeterminado 270 2,73% 103 2,41% 5,31% 5,22%
Total 4912 49,59% 1939 45,41% 100%
Tipo 2 5 0,05% 5 0,12% 15,15% 0,25%
Tipo 6 1 0,01% 1 0,02% 3,03% 0,05%
Tipo 7 12 0,12% 12 0,28% 36,36% 0,61%
Lusitânia, Peniche Tipo 10 7 0,07% 4 0,09% 12,12% 0,2%
Tipo 12 1 0,01% 1 0,02% 3,03% 0,05%
Indeterminado 17 0,17% 10 0,23% 30,3% 0,51%
Total 43 0,43% 33 0,77% 100% 100%
Dressel 2-4 2 0,02% 2 0,05% 0,77% 0,17% 0,09%
Dressel 12 6 0,06% 6 0,14% 2,31% 0,52% 0,27%
Dressel 7-11 115 1,16% 40 0,94% 15,38% 3,44% 1,8%
Dressel 7 3 0,03% 3 0,07% 1,15% 0,26% 0,14%
Dressel 9 7 0,07% 7 0,16% 2,69% 0,6% 0,32%
Dressel 9-10 24 0,24% 24 0,56% 9,23% 2,06% 1,08%
Dressel 28 3 0,03% 3 0,07% 1,15% 0,26% 0,14%
Tipo Urceus 3 0,03% 3 0,07% 1,15% 0,26% 0,14%
Dressel 20 2 0,02% 2 0,05% 0,77% 0,17% 0,09%
Bética, costa ocidental Dressel 20 parva 2 0,02% 2 0,05% 0,77% 0,17% 0,09%
Beltrán II 79 0,8% 10 0,23% 3,85% 0,86% 0,45%
Beltrán IIA 28 0,28% 25 0,59% 9,62% 2,15% 1,13%
Beltrán IIB 106 1,07% 59 1,38% 22,69% 5,07% 2,66%
Beltrán IIB/Puerto Real 4 0,04% 4 0,09% 1,54% 0,34% 0,18%
Puerto Real 1 1 0,01% 1 0,02% 0,38% 0,09% 0,05%
Dressel 14 2 0,02% 1 0,02% 0,38% 0,09% 0,05%
“Gauloise 4” 13 0,13% 7 0,16% 2,69% 0,6% 0,32%
Indeterminado 173 1,75% 61 1,43% 23,46% 5,25% 2,75%
Total 573 5,78% 260 6,09% 100% 11,71%
Dressel 7-11 3 0,03% 3 0,07% 37,5% 0,26% 0,14%
Dressel 28 1 0,01% 1 0,02% 12,5% 0,09% 0,05%
“Gauloise 4” 1 0,01% 1 0,02% 12,5% 0,09% 0,05%
Bética, costa oriental
Beltrán IIB 1 0,01% 1 0,02% 12,5% 0,09% 0,05%
Indeterminado 5 0,05% 2 0,05% 25% 0,17% 0,09%
Total 11 0,11% 8 0,19% 100% 0,36%
Oberaden 83/Ovóide 7 33 0,33% 26 0,61% 2,91% 2,24% 1,17%
Haltern 71 12 0,12% 11 0,26% 1,23% 0,95% 0,5%
Oberaden 83/Ovóide 7 - Haltern 71 2 0,02% 2 0,05% 0,22% 0,17% 0,09%
Ovóide indeterminada 52 0,52% 18 0,42% 2,01% 1,55% 0,81%
Haltern 70 346 3,49% 94 2,2% 10,5% 8,08% 4,23%
Haltern 70 (inicial) 24 0,24% 24 0,56% 2,68% 2,06% 1,08%
Haltern 70 (Augusto-Tibério) 38 0,38% 38 0,89% 4,25% 3,27% 1,71%
Haltern 70 (Cláudio-Nero) 30 0,3% 30 0,7% 3,35% 2,58% 1,35%
Bética, Vale do Guadalquivir Haltern 70 (Flávia) 4 0,04% 4 0,09% 0,45% 0,34% 0,18%
Verulamium 1908 4 0,04% 4 0,09% 0,45% 0,34% 0,18%
Tipo Urceus 26 0,26% 19 0,44% 2,12% 1,63% 0,86%
Dressel 28 17 0,17% 10 0,23% 1,12% 0,86% 0,45%
Dressel 2-4 13 0,13% 9 0,21% 1,01% 0,77% 0,41%
Dressel 7-11 13 0,13% 8 0,19% 0,89% 0,69% 0,36%
Beltrán IIB? 2 0,02% 2 0,05% 0,22% 0,17% 0,09%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) - Haltern 71 17 0,17% 11 0,26% 1,23% 0,95% 0,50%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 230 2,32% 129 3,02% 14,41% 11,09% 5,81%

Tabela 133 – Quantificação global da amostra estudada - República e Império.

500
Capítulo 7 Dinâmica comercial entre a República e o Principado

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Dressel 20 (Nero-Vespasiano) 27 0,27% 14 0,33% 1,56% 1,20% 0,63%
Dressel 20 (Flávia-Trajana) 110 1,11% 74 1,73% 8,27% 6,36% 3,33%
Dressel 20 (Antonina) 207 2,09% 127 2,97% 14,19% 10,92% 5,72%
Dressel 20 614 6,2% 126 2,95% 14,08% 10,83% 5,67%
Dressel 20 parva (Júlio-Cláudia) 16 0,16% 9 0,21% 1,01% 0,77% 0,41%
Dressel 20 parva (Flávia-Trajana) 10 0,1% 6 0,14% 0,67% 0,52% 0,27%
Dressel 20 parva (Antonina) 7 0,07% 6 0,14% 0,67% 0,52% 0,27%
Bética, Vale do Guadalquivir
Dressel 20 parva 34 0,34% 14 0,33% 1,56% 1,20% 0,63%
Dressel 20 mini 8 0,08% 3 0,07% 0,34% 0,26% 0,14%
Dressel 20 (séc. III) 109 1,1% 51 1,19% 5,70% 4,39% 2,30%
Dressel 20 parva (séc. III) 1 0,01% 1 0,02% 0,11% 0,09% 0,05%
Dressel 20 mini (séc. III) 1 0,01% 1 0,02% 0,11% 0,09% 0,05%
Indeterminado 59 0,6% 24 0,56% 2,68% 2,06% 1,08%
Total 2066 20,86% 895 20,96% 100% 100% 40,30%
Dressel 1 14 0,14% 12 0,28% 5,69% 4,53% 0,54%
Greco-Itálica/Dressel 1 7 0,07% 2 0,05% 0,95% 0,75% 0,09%
T-7.4.3.3. 302 3,05% 176 4,12% 83,41% 66,42% 7,92%
T-9.1.1.1. 15 0,15% 15 0,35% 7,11% 5,66% 0,68%
Hispânia Ulterior,
Classe 67/Ovóide 1 1 0,01% 1 0,02% 0,47% 0,38% 0,05%
costa meridional
Ovóide 5 1 0,01% 1 0,02% 0,47% 0,38% 0,05%
Ovóide Gaditana 2 0,02% 2 0,05% 0,95% 0,75% 0,09%
Indeterminado 2 0,02% 2 0,05% 0,95% 0,75% 0,09%
Total 344 3,47% 211 4,94% 100% 9,50%
T-7.4.3.3. 2 0,02% 2 0,05% 3,85% 0,75% 0,09%
Classe 67/Ovóide 1 20 0,2% 14 0,33% 26,92% 5,28% 0,63%
Ovóide 2 1 0,01% 1 0,02% 1,92% 0,38% 0,05%
Hispânia Ulterior, Ovóide 4 15 0,15% 15 0,35% 28,85% 5,66% 0,68%
Vale do Guadalquivir Ovóide 5 3 0,03% 3 0,07% 5,77% 1,13% 0,14%
Ovóide 6 15 0,15% 15 0,35% 28,85% 5,66% 0,68%
Ovóide 8 2 0,02% 2 0,05% 3,85% 0,75% 0,09%
Total 58 0,59% 52 1,22% 100% 2,34%
Hispânia Ulterior, Tipo 6 2 0,02% 2 0,05% 100% 0,75% 0,09%
Tejo/Sado Total 2 0,02% 2 0,05% 100% 100% 0,09%
Pascual 1 8 0,08% 7 0,16% 26,92% 18,42% 0,32%
Oberaden 74 5 0,05% 5 0,12% 19,23% 13,16% 0,23%
Tarraconense, Dressel 3-2 8 0,08% 6 0,14% 23,08% 15,79% 0,27%
costa setentrional “Gauloise 4” 2 0,02% 2 0,05% 7,69% 5,26% 0,09%
Indeterminado 6 0,06% 6 0,14% 23,08% 15,79% 0,27%
Total 29 0,29% 26 0,61% 100% 1,17%
T-8.1.3.2./PE 17 1 0,01% 1 0,02% 8,33% 2,63% 0,05%
Ilha de Ibiza PE 25 21 0,21% 11 0,26% 91,67% 28,95% 0,50%
Total 22 0,22% 12 0,28% 100% 100% 0,54%
Greco-Itálica 1 0,01% 1 0,02% 50% 50% 0,05%
Hispânia Citerior,
Dressel 1 1 0,01% 1 0,02% 50% 50% 0,05%
costa setentrional
Total 2 0,02% 2 0,05% 100% 100% 0,09%
Gauloise 1, var. B 1 0,01% 1 0,02% 1,23% 1,23% 0,05%
Gauloise 3 2 0,02% 2 0,05% 2,47% 2,47% 0,09%
Gauloise 4 160 1,62% 66 1,55% 81,48% 81,48% 2,97%
Gália Narbonense Gauloise 5 3 0,03% 2 0,05% 2,47% 2,47% 0,09%
Tipo indet. pequeno módulo 1 0,01% 1 0,02% 1,23% 1,23% 0,05%
Indeterminado 18 0,18% 9 0,21% 11,1% 11,11% 0,41%
Total 185 1,87% 81 1,90% 100% 100% 3,65%
Greco-Itálica 126 1,27% 119 2,79% 31,56% 27,29% 5,36%
Dressel 1 223 2,25% 159 3,72% 42,18% 36,5% 7,17%
Greco-Itálica/Dressel 1 424 4,28% 43 1,01% 11,41% 9,86% 1,94%
Península Itálica, Ovóide tirrénica 1 0,01% 1 0,02% 0,27% 0,23% 0,05%
costa tirrénica Dressel 2-4 103 1,04% 42 0,98% 11,14% 9,63% 1,89%
Dressel 21-22 1 0,01% 1 0,02% 0,27% 0,23% 0,05%
Indeterminado 29 0,29% 12 0,28% 3,18% 2,75% 0,54%
Total 907 9,16% 377 8,83% 100% 16,98%

Tabela 133 – Quantificação global da amostra estudada - República e Império (cont.).

501
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Greco-Itálica 24 0,24% 18 0,42% 38,3% 4,13% 0,81%
Lamboglia 2 9 0,09% 8 0,19% 17,02% 1,83% 0,36%
Brindisi 19 0,19% 14 0,33% 29,79% 3,21% 0,63%
Península Itálica, Ovóide adriática 3 0,03% 3 0,07% 6,38% 0,69% 0,14%
costa adriática Dressel 6A 1 0,01% 1 0,02% 2,13% 0,23% 0,05%
Schorgendorfer 558 1 0,01% 1 0,02% 2,13% 0,23% 0,05%
Indeterminado 5 0,05% 2 0,05% 4,26% 0,46% 0,09%
Total 62 0,63% 47 1,1% 100% 2,12%
Richborough 527 20 0,2% 12 0,28% 100% 2,75% 0,54%
Ilha de Lipari
Total 20 0,2% 12 0,28% 100% 100% 0,54%
T-7.4.2.1. / T-7.4.3.1. 7 0,07% 4 0,09% 2,94% 2,94% 0,18%
Africana Antiga 17 0,17% 14 0,33% 10,29% 10,29% 0,63%
Dressel 2-4/Schoene-Mau XXXV 6 0,06% 6 0,14% 4,41% 4,41% 0,27%
Pupput T 700.4/T 700.5 2 0,02% 2 0,05% 1,47% 1,47% 0,09%
Tripolitana I 3 0,03% 2 0,05% 1,47% 1,47% 0,09%
Tripolitana II 12 0,12% 9 0,21% 6,62% 6,62% 0,41%
Tripolitana III 1 0,01% 1 0,02% 0,74% 0,74% 0,05%
Norte de África
Ostia XXIII 3 0,03% 3 0,07% 2,21% 2,21% 0,14%
Ostia LIX 4 0,04% 4 0,09% 2,94% 2,94% 0,18%
Uzita Pl. 52,10 4 0,04% 4 0,09% 2,94% 2,94% 0,18%
Africana I 17 0,17% 12 0,28% 8,82% 8,82% 0,54%
Africana IIA 20 0,20% 13 0,3% 9,56% 9,56% 0,59%
Indeterminado 163 1,65% 62 1,45% 45,59% 45,59% 2,79%
Total 259 2,61% 136 3,19% 100% 100% 6,1%
Ródia 2 0,02% 1 0,02% 1% 1% 0,05%
Dressel 4 de Cos 2 0,02% 2 0,05% 2% 2% 0,09%
Ródia/Camulodunum 184 66 0,67% 28 0,66% 28% 28% 1,26%
Dressel 2-4/5 28 0,28% 14 0,33% 14% 14% 0,63%
Dressel 25 2 0,02% 1 0,02% 1% 1% 0,05%
Cretense 4/Dressel 43 2 0,02% 2 0,05% 2% 2% 0,09%
Agora M126/Cont. monoansados 1 0,01% 1 0,02% 1% 1% 0,05%
Mediterrâneo Oriental
Ânforas de Quios 2 0,02% 2 0,05% 2% 2% 0,09%
Dressel 24 3 0,03% 3 0,07% 3% 3% 0,14%
Pompeia 13/Agora G198 3 0,03% 2 0,05% 2% 2% 0,09%
Agora M54 12 0,12% 7 0,16% 7% 7% 0,32%
Kapitän 2 5 0,05% 2 0,05% 2% 2% 0,09%
Indeterminado 93 0,94% 35 0,82% 35% 35% 1,58%
Total 221 2,23% 100 2,34% 100% 100% 4,5%
Dressel 2-4 5 0,05% 3 0,07% 3,9% 3,90%
Indeterminada Indeterminado 185 1,87% 74 1,73% 96,1% 96,10%
Total 190 1,92% 77 1,8% 100% 100%
TOTAL 9906 100% 4270 100% 100%

Tabela 133 – Quantificação global da amostra estudada - República e Império (cont.).

7.1. República

A acentuada clivagem entre a informação actualmente publicada e os dados analisados neste


estudo é particularmente evidente para o Principado, onde, a cerca de 300 indivíduos conhecidos, se
acrescentam agora um pouco mais de 3000, sendo bem menos expressiva para a fase tardo-republica-
na (Tabelas 138 e 139). De facto, para este último período era já conhecido um considerável volume de
informação, especialmente atribuível à segunda metade do séc. II a.C. e maioritariamente proveniente
da antiga alcáçova Islâmica (Pimenta, 2005; Filipe et al., 2013; Mota et al., 2014; Pimenta et al., 2014a;
Silva, 2014), e de forma mais episódica de outros locais distribuídos pela encosta do morro do Castelo

502
Capítulo 7 Dinâmica comercial entre a República e o Principado

(Diogo e Trindade, 1999; Diogo, 2000; Pimenta et al., 2005; Filipe, 2008a; Filipe, 2015; Gomes et al., 2017;
Mota et al., 2017) e pela zona baixa da cidade (Bugalhão, 2001; Gaspar e Gomes, 2007; Filipe, 2008b;
Almeida e Filipe, 2013; Bugalhão et al., 2013; Filipe et al., 2016). Embora introduzam novas e importantes
nuances que vêm complementar o panorama anteriormente traçado, os dados relativos à República
que agora se expõem - em número aproximado ao existente - vêm principalmente confirmar as grandes
tendências que se haviam já documentado no quadro de consumo de Olisipo.
As principais novidades relacionam-se, por um lado, com a documentação de tipos e regiões
de origem cuja presença era anteriormente desconhecida em Lisboa, como as Dressel 4 de Cos e as
ânforas Ródias provenientes do Mediterrâneo Oriental, as imitações de Greco-Itálicas e de Dressel 1 da
costa setentrional da Citerior ou as T-8.1.3.2./PE 17 de Ibiza, para além de outras formas inéditas cujas
áreas de procedência estavam já registadas na cidade; e, por outro, com a constatação de uma maior
representatividade das produções do séc. I a.C., em grande medida oriundas do Vale do Guadalquivir
e até aqui pouco documentadas. De igual modo importante é o facto de a amostra inédita incluir um
número significativo de materiais republicanos provenientes de sítios implantados na encosta da colina
do Castelo e na zona baixa da cidade, ou seja, em áreas distintas da antiga alcáçova islâmica de onde
provém a esmagadora maioria das ânforas desse período até aqui conhecidas em Lisboa, diversificando
consideravelmente a procedência das amostras. A este respeito, adquire especial relevância o expressi-
vo conjunto da Sé, contribuindo marcadamente para a percepção dos diferentes padrões de consumo
que se verificariam no espaço da antiga cidade de Olisipo durante a República, complementando um
quadro anteriormente entrevisto no conjunto do Teatro Romano (Filipe, 2008a; Filipe, 2015).
Considerando somente os materiais republicanos, a amostra é constituída por 1262 fragmentos
de ânfora (561 bordos, 150 fundos, 547 asas e quatro bojos), equivalendo a 652 indivíduos, observando-
-se a presença de 28 tipos procedentes de nove regiões produtoras. Esta considerável multiplicidade
de tipos e áreas de origem não encontra paralelo nos conjuntos de outros sítios do Vale do Tejo, como
Santarém e Chões de Alpompé, ou mesmo do Algarve, nomeadamente Castro Marim, Faro e Monte
Molião, reflectindo a relevância de Olisipo e o destacado papel desempenhado por este centro urbano
no âmbito nas redes comerciais no Ocidente hispânico durante a República, principalmente destinadas
ao abastecimento dos contingentes militares.
Em traços gerais, o panorama do comércio de alimentos transportados em ânforas na cidade
implantada na foz do Tejo durante o que aqui se poderá, por comodidade, designar de primeira fase da
República no nosso território, isto é, entre a campanha militar de Décimo Júnio Bruto e o final do pri-
meiro quartel do séc. I a.C., era essencialmente dominado pela importação do vinho produzido na costa
tirrénica da Península Itálica e, em proporções algo mais baixas, dos produtos piscícolas da costa me-
ridional da Ulterior, em ambos casos destinados principalmente a abastecer os contingentes militares
e inseridos numa rede de abastecimento público ao exército (Fabião, 1989; Pascual Berlanga e Ribera
e Lacomba, 2002; Pimenta, 2005; Filipe, 2015). A importação destes dois artigos alimentares a partir de
outras regiões produtoras era minoritária e pouco significativa, sendo, entre estas, a costa adriática
itálica a mais representativa no que se refere ao vinho, seguida do Mediterrâneo Oriental, da costa
setentrional da Citerior e da Ilha de Ibiza; cenário que se apresenta ainda mais evidente em relação aos
produtos piscícolas, onde as excepções são unicamente constituídas pelos artigos do Norte de África
e do Vale do Guadalquivir em percentagens muito reduzidas. Face a este cenário, o azeite constituía-se
como o produto alimentar menos consumido (ou pelo menos aquele que menos era transportado em
ânforas), sendo importado em quantidades modestas das costas adriática e tirrénica da Península Itáli-
ca e do Norte de África. A par das importações extra-regionais verificava-se ainda o consumo de artigos
alimentares produzidos na região do Vale do Tejo e envasados em contentores de tradição pré-romana,
sendo estes, pelas razões anteriormente expostas, de difícil quantificação no caso de Lisboa, mas, ao
que tudo indica, de modesta representatividade estatística no conjunto global desta fase.
Este panorama geral vir-se-ia a modificar de forma gradual mas significativa durante uma segun-
da fase da Tardo-República, genericamente constituída pelos quartéis centrais do séc. I a.C. e grosso
modo balizada entre as guerras sertorianas e o início do Principado de Augusto, sendo caracterizada
sobretudo pelo aparecimento de uma série de novas produções oriundas da Hispânia, particularmente
a partir de meados do séc. I a.C., resultantes da “progressiva ascensão económica da Península Ibérica”

503
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

(Fabião, 1989, p. 121) que terá beneficiado de um “substancial incremento da produção vitivinícola”
(Fabião, 1998a, p. 182) e oleícola, neste último caso com particular destaque para o Vale do Guadalquivir
(García Vargas et al., 2011, p. 188-191).
A par de um acentuado decréscimo na importação do vinho itálico, que a escassez de contextos
expressivos desta fase em Olisipo e a questão da residualidade tornam de difícil quantificação e defi-
nição, podendo-se eventualmente referir o mesmo relativamente aos preparados à base de peixe da
costa meridional da Ulterior transportados nas T-7.4.3.3. - ainda que neste caso específico os poucos
elementos contextuais indiquem o contrário67 -, observa-se sobretudo um significativo aumento da re-
presentatividade do azeite e do vinho oriundos do Vale do Guadalquivir, resultando num consumo mais
equilibrado entre vinho, preparados piscícolas e azeite. Paralelamente, surgem no terceiro quartel do
séc. I a.C. as primeiras produções anfóricas locais/regionais de características morfológicas plenamente
romanas. Uma vez mais, a carência de contextos com alguma expressão quantitativa atribuíveis a esse
reduzido arco temporal dificulta a definição do peso destas produções nessa fase, embora tudo pareça
indicar que a sua representatividade fosse então ainda pouco significativa em Lisboa e que terá sido
sobretudo a partir do Principado de Augusto que se terá desenvolvido a uma escala apreciável. Em
Olisipo, o único contexto seguramente enquadrável no terceiro quartel do séc. I a.C. onde se registou
a ocorrência de ânforas comprovadamente fabricadas no Vale do Tejo ou do Sado situa-se no Beco do
Marquês de Angeja, onde, ainda assim, apenas se identificaram alguns fragmentos de parede. Contudo,
em outros locais do Vale do Tejo, nomeadamente no sítio do Monte dos Castelinhos, estas produções
estão bem atestadas em níveis do terceiro quartel do séc. I a.C. (Pimenta, 2017), surgindo em cronolo-
gias análogas no Vale do Sado (Mayet e Silva, 2016, p. 64) e no interior Norte do Alentejo (Mataloto e
Roque, 2013; Mataloto et al., 2016).
No tratamento estatístico dos dados atribuíveis à República não foi possível considerar a divisão
diacrónica nas duas fases distintas a que acima se fez referência. Tal deve-se sobretudo ao facto de, por
um lado, se verificar a continuidade da produção dos principais tipos para lá de 75 a.C., como a Dressel 1
e a T-7.4.3.3., por outro, pela escassez de contextos suficientemente representativos cujas cronologias
sejam claramente diferenciáveis entre as duas fases. A impossibilidade de definir quais as percentagens
dos dois tipos atrás enunciados atribuíveis a cada uma das fases deita por terra qualquer tentativa com
um mínimo de rigor de quantificação individualizada por fase, essencial para a definição da evolução
dos padrões de consumo. Tendo em conta estas condicionantes, a opção tomada foi englobar na mes-
ma tabela de quantificação todos os contentores republicanos, isto é, todas as produções grosso modo
balizadas entre o terceiro quartel do séc. II a.C. e o final do segundo terço do séc. I a.C..
Numa análise a essa quantificação, rapidamente se poderá perceber que a esmagadora maioria
das ânforas vinárias da Península Itálica terá chegado a Olisipo durante a primeira fase. O principal in-
dicador desta leitura é constituído pela significativa proporção das Greco-Itálicas (21,01% dos envases
republicanos) a par do predomínio das Dressel 1A entre as distintas variantes deste tipo (que no total
representa 24,39% dos contentores deste período), ainda que este último factor não seja observável na
aludida quantificação. Tendo em conta que os contextos minimamente expressivos do terceiro quar-
tel do séc. II a.C. de Olisipo exibem sistematicamente uma superioridade numérica das Dressel 1A re-
lativamente às Greco-Itálicas68, poder-se-á presumir com alguma segurança que pelo menos 80% das
Dressel 169 terão chegado à cidade da foz do Tejo durante o séc. II a.C.. Assumindo esta hipótese, fica
claro que o peso das importações vinárias oriundas da costa tirrénica da Península Itálica a partir do
segundo quartel do séc. I a.C. seria muito inferior ao que se verificava na fase anterior, aumentando
consequentemente, de forma expressiva, o peso das importações do Vale do Guadalquivir, sobretudo

67. A este propósito, veja-se os contextos dos Claustros da Sé balizados entre os quartéis centrais do séc. I a.C. onde a ocorrência
do vinho itálico é relativamente reduzida enquanto as T-7.4.3.3. são absolutamente dominantes, estando as produções do Vale do
Guadalquivir atestadas pela presença de um único exemplar da Classe 67.
68. Tal é verificável de forma expressiva nos conjuntos publicados do Castelo de São Jorge (sobretudo em Pimenta, 2005, Quadro 12),
mas também em algumas amostras analisadas neste trabalho, ainda que quantitativamente menos significativas: Pátio da Sr.ª de Murça,
Pátio José Pedreira, Rua de Santa Cruz do Castelo e Rua do Espírito Santo.
69. Isto é, cerca de 20% dos envases republicanos, a que se deverão acrescentar os mencionados 21,01% das Greco-Itálicas e 6,6% dos
contentores indistintamente classificados como Greco-Itálica/Dressel 1.

504
Capítulo 7 Dinâmica comercial entre a República e o Principado

o azeite e o vinho. Haverá ainda que considerar a importante questão da proporção das T-7.4.3.3. nas
duas fases que, embora de difícil percepção, parece manter índices mais altos de importação nos dois
quartéis centrais do séc. I a.C. do que a Dressel 1, pelo menos tendo em conta a sua expressividade nos
poucos contextos analisados dessa época, ainda que não seja claro que percentagem desses materiais
corresponde a residualidade. Voltarei a esta questão mais à frente neste trabalho.
Tendo em conta este quadro, não restarão dúvidas que o paradigma da importação de géneros ali-
mentares em ânforas na cidade de Olisipo, bem como no Ocidente Peninsular, mudou significativamen-
te nos dois quartéis centrais do séc. I a.C. relativamente ao período anterior, particularmente a partir de
meados do século, passando então a ser dominado pelo comércio dos artigos produzidos no Sul da Ul-
terior, tanto na área costeira como no Vale do Guadalquivir. Do mesmo modo, os dados de Lisboa pare-
cem indicar que a importação de artigos alimentares em ânforas durante o séc. I a.C. não terá alcançado
os mesmos níveis que se verificaram durante a segunda metade do séc. II a.C., ainda que se deva olhar
para estes dados com alguma cautela já que, como anteriormente comentado, se observa uma relativa
escassez de contextos do séc. I a.C. em Olisipo. A comparação dos dados de Olisipo com os de Santarém

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Dressel 1 14 1,11% 12 1,84% 5,74% 4,56% 1,84%
Greco-Itálica/Dressel 1 7 0,55% 2 0,31% 0,96% 0,76% 0,31%
T-7.4.3.3. 302 23,93% 176 26,99% 84,21% 66,92% 26,99%
Hispânia Ulterior, T-9.1.1.1. 15 1,19% 15 2,3% 7,18% 5,7% 2,3%
costa meridional Classe 67/Ovóide 1 1 0,08% 1 0,15% 0,48% 0,38% 0,15%
Ovóide 5 1 0,08% 1 0,15% 0,48% 0,38% 0,15%
Ovóide Gaditana 2 0,16% 2 0,31% 0,96% 0,76% 0,31%
Total 342 27,1% 209 32,06% 100% 32,06%
T-7.4.3.3. 2 0,16% 2 0,31% 3,85% 0,76% 0,31%
Classe 67/Ovóide 1 20 1,58% 14 2,15% 26,92% 5,32% 2,15%
Ovóide 2 1 0,08% 1 0,15% 1,92% 0,38% 0,15%
Hispânia Ulterior, Ovóide 4 15 1,19% 15 2,3% 28,85% 5,7% 2,3%
Vale do Guadalquivir Ovóide 5 3 0,24% 3 0,46% 5,77% 1,14% 0,46%
Ovóide 6 15 1,19% 15 2,3% 28,85% 5,7% 2,3%
Ovóide 8 2 0,16% 2 0,31% 3,85% 0,76% 0,31%
Total 58 4,6% 52 7,98% 100% 7,98%
Tipo 6 2 0,16% 2 0,31% 100% 0,76% 0,31%
Hispânia Ulterior, Tejo/Sado
Total 2 0,16% 2 0,31% 100% 100% 0,31%
T-8.1.3.2./PE 17 1 0,08% 1 0,15% 100% 100% 0,15%
Ilha de Ibiza
Total 1 0,08% 1 0,15% 100% 100% 0,15%
Greco-Itálica 1 0,08% 1 0,15% 50% 50% 0,15%
Hispânia Citerior,
Dressel 1 1 0,08% 1 0,15% 50% 50% 0,15%
costa setentrional
Total 2 0,16% 2 0,31% 100% 100% 0,31%
Greco-Itálica 126 9,98% 119 18,25% 36,96% 32,6% 18,25%
Dressel 1 223 17,67% 159 24,39% 49,38% 43,56% 24,46%
Península Itálica,
Greco-Itálica/Dressel 1 424 33,6% 43 6,6% 13,35% 11,78% 6,6%
costa tirrénica
Ovóide tirrénica 1 0,08% 1 0,15% 0,31% 0,27% 0,15%
Total 774 61,33% 322 49,39% 100% 49,46%
Greco-Itálica 24 1,9% 18 2,76% 41,86% 4,93% 2,76%
Lamboglia 2 9 0,71% 8 1,2% 18,6% 2,19% 1,23%
Península Itálica,
Brindisi 19 1,51% 14 2,15% 32,56% 3,84% 2,15%
costa adriática
Ovóide adriática 3 0,24% 3 0,46% 6,98% 0,82% 0,46%
Total 55 4,36% 43 6,6% 100% 6,6%
T-7.4.2.1. / T-7.4.3.1. 7 0,55% 4 0,6% 22,22% 22,22% 0,61%
Norte de África Africana Antiga 17 1,35% 14 2,15% 77,78% 77,78% 2,15%
Total 24 1,9% 18 2,76% 100% 100% 2,76%
Ródia 2 0,16% 1 0,15% 33,33% 33,33% 0,15%
Mediterrâneo Oriental Dressel 4 de Cos 2 0,16% 2 0,31% 66,67% 66,67% 0,31%
Total 4 0,32% 3 0,46% 100% 100% 0,46%
TOTAL 1262 100% 652 100% 100%

Tabela 134 – Quantificação global da amostra das ânforas republicanas de Lisboa.

505
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

(na sua globalidade), onde se verifica uma documentação mais expressiva de contextos do séc. I a.C.,
não esclarece totalmente esta questão. Se é certo que o vinho itálico é também aí totalmente preponde-
rante durante a República, seguido de perto pelos preparados piscícolas da costa meridional da Ulterior,
e que as formas maioritariamente ovóides do Vale do Guadalquivir apresentam percentagens bem infe-
riores relativamente àquelas outras - ainda que consideravelmente superiores às observadas em Lisboa -,
não deixa igualmente de ser verdade que a proporção das Greco-Itálicas em Scallabis é consideravelmente
inferior e que, paralelamente, se observa uma presença mais significativa das variantes B e C da Dressel 1,
o que parece indicar um maior equilíbrio entre as importações do séc. II a.C. e as do séc. I a.C. face ao
que se verifica em Olisipo.
Numa leitura quantitativa, o panorama geral das importações é dominado pelas produções itáli-
cas (56%), seguidas das oriundas da costa meridional da Hispania Ulterior (32,06%) e, com percentagens
consideravelmente inferiores, das do Vale do Guadalquivir (7,98%), Norte de África (2,76%), Mediterrâ-
neo Oriental (0,46%), Vale do Tejo (0,31%), costa setentrional da Citerior (0,31%) e Ebusus (0,15%). As pri-
meiras provêm maioritariamente da costa tirrénica (49,39%) e de forma bem mais discreta da adriática
(6,6%). Na primeira região destacam-se as vinárias Dressel 1, especialmente a sua variante A, represen-
tando 24,39% dos envases republicanos e 43,21% do vinho consumido nesse período. A considerável di-
versidade de fabricos observável na análise macroscópica dos contentores deste tipo, onde estão bem
representadas as pastas da área vesuviana com partículas negras de origem vulcânica, parece indicar
a presença em Lisboa de uma ampla variedade de centros de produção que deverá certamente abran-
ger a Etrúria, o Lácio e, seguramente, a Campânia. As Greco-Itálicas da mesma área significam 18,25%
da amostra e 32,34% do vinho importado, o que, tendo em conta o curto lapso temporal em que terão
chegado ao Ocidente Peninsular (sensivelmente entre 138 e 125 a.C.), permite vislumbrar a intensidade
do abastecimento de vinho itálico a esta região, sem dúvida destinado essencialmente aos contingen-
tes militares que então circulavam no Vale do Tejo. Da costa tirrénica resta ainda mencionar a presença
de um exemplar de ânfora ovóide, de significado estatístico negligenciável (0,15%) mas cuja presença
em Olisipo se afigura importante na óptica da difusão daquele tipo de contentores, ampliando ainda as
regiões de proveniência do azeite importado em Olisipo. Já da costa adriática da Península Itálica (6,6%)
procedem maioritariamente as Greco-Itálicas (2,76%) e as ânforas de Brindisi (2,15%), apresentando as
Lamboglia 2 (1,2%) e, sobretudo, as Ovóides adriáticas (0,46%) valores consideravelmente mais baixos.
Será conveniente reter que, apesar da presença das ânforas adriáticas no Ocidente durante a República
ser normalmente e principalmente associada à importação de azeite, o produto daquela vasta região
mais importado em Olisipo é, à semelhança da costa tirrénica, o vinho.
Da costa meridional da Ulterior procedem exclusivamente produtos à base de peixe, sendo,
como já mencionado, especialmente representados pela T-7.4.3.3. (26,99% dos envases republicanos e
84,21% das ânforas dessa área produtora), que se constitui como a forma mais documentada na amos-
tra republicana analisada neste trabalho, ainda que no cômputo geral da cidade seja ultrapassada pela
Dressel 1. Os restantes tipos procedentes daquela região são compostos sobretudo por contentores
enquadráveis na já referida primeira fase da República - T-9.1.1.1. (2,3%) e imitações de Dressel 1 (1,84%
- 5,74%) e, possivelmente, de Greco-Itálicas (0,31%) - e minoritariamente por formas produzidas a partir
do terceiro quartel/meados do séc. I a.C., como a Classe 67, a Ovóide 5 e a Ovóide Gaditana. Em sentido
contrário e de acordo com o que acima se referiu, as importações do Vale do Guadalquivir referem-se
quase exclusivamente a este último lapso temporal, sendo a única (possível) excepção representada
pela T-7.4.3.3., que significa apenas 0,31% dos envases republicanos e 3,85% dos oriundos dessa região.
Os tipos predominantes são a Classe 67 (2,15% - 26,92%), a Ovóide 4 (2,3% - 28,85%) e a Ovóide 6 (2,3% -
28,85%), com notória superioridade dos envases oleícolas (Classe 67 e Ovóide 6). Para além destes, sur-
gem as menos comuns Ovóide 2 (0,15% - 1,92%), Ovóide 5 (0,46% - 5,77%) e Ovóide 8 (0,31% - 3,85%). Esta
relação proporcional entre os diferentes tipos republicanos do Guadalquivir no quadro de consumo de
Olisipo confirma as considerações efectuadas por E. García Vargas, R. Almeida e H. González Cesteros
relativamente ao êxito que aqueles obtiveram nos mercados (García Vargas et al., 2011). Do mesmo
modo, estas importações marcam o início da hegemonia das produções do Guadalquivir no âmbito das
importações extra-regionais em Olisipo, genericamente transversal a todo o Ocidente Peninsular, e que
se viria a estender por todo o Principado.

506
Capítulo 7 Dinâmica comercial entre a República e o Principado

% NMI % NMI con- % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo teúdo pro- conteúdo
região víncia
Dressel 1 12 1,84% 5,8% 5,74% 5,63%
Greco-Itálica/Dressel 1 2 0,31% 0,97% 0,96% 0,94%
T-7.4.3.3. 176 26,99% 85,02% 84,21% 82,63%
Preparados piscícolas

Hispânia Ulterior,
costa meridional T-9.1.1.1. 15 2,3% 7,25% 7,18% 7,04%
Ovóide Gaditana 2 0,31% 0,97% 0,96% 0,94%
Total 207 31,75% 100% 97,18%
Hispânia Ulterior, T-7.4.3.3. 2 0,31% 100% 0,96% 0,94%
Vale do Guadalquivir Total 2 0,31% 100% 100% 0,94%
T-7.4.2.1. / T-7.4.3.1. 4 0,61% 100% 100% 1,88%
Norte de África
Total 4 0,61% 100% 100% 1,88%
TOTAL 213 32,67% 100%
Hispânia Ulterior, Ovóide 4 15 2,3% 100% 100% 4,08%
Vale do Guadalquivir Total 15 2,3% 100% 100% 4,08%
T-8.1.3.2./PE 17 1 0,15% 100% 100% 0,27%
Ilha de Ibiza
Total 1 0,15% 100% 100% 0,27%
Greco-Itálica 1 0,15% 50% 50% 0,27%
Hispânia Citerior,
Dressel 1 1 0,15% 50% 50% 0,27%
costa setentrional
Vinho e derivados

Total 2 0,31% 100% 100% 0,54%


Greco-Itálica 119 18,25% 37,07% 34,29% 32,34%
Península Itálica, Dressel 1 159 24,39% 49,53% 45,82% 43,21%
costa tirrénica Greco-Itálica/Dressel 1 43 6,60% 13,4% 12,39% 11,68%
Total 321 49,23% 100% 87,23%
Greco-Itálica 18 2,76% 69,23% 5,19% 4,89%
Península Itálica,
Lamboglia 2 8 1,23% 30,77% 2,31% 2,17%
costa adriática
Total 26 3,99% 100% 100% 7,07%
Ródia 1 0,15% 33,33% 33,33% 0,27%
Mediterrâneo Oriental Dressel 4 de Cos 2 0,31% 66,67% 66,67% 0,54%
Total 3 0,46% 100% 100% 0,82%
TOTAL 368 56,44% 100%
Classe 67/Ovóide 1 1 0,15% 50% 2,7% 1,45%
Hispânia Ulterior,
Ovóide 5 1 0,15% 50% 2,7% 1,45%
costa meridional
Total 2 0,31% 100% 2,9%
Classe 67/Ovóide 1 14 2,15% 40% 37,84% 20,29%
Ovóide 2 1 0,15% 2,86% 2,7% 1,45%
Hispânia Ulterior, Ovóide 5 3 0,46% 8,57% 8,11% 4,35%
Vale do Guadalquivir Ovóide 6 15 2,3% 42,86% 40,54% 21,74%
Ovóide 8 2 0,31% 5,71% 5,41% 2,9%
Azeite

Total 35 5,37% 100% 100% 50,72%


Península Itálica, Ovóide tirrénica 1 0,15% 100% 5,56% 1,45%
costa tirrénica Total 1 0,15% 100% 1,45%
Brindisi 14 2,15% 82,35% 77,78% 20,29%
Península Itálica,
Ovóide adriática 3 0,46% 17,65% 16,67% 4,35%
costa adriática
Total 17 2,61% 100% 100% 24,64%
Africana Antiga 14 2,15% 100% 100% 20,29%
Norte de África
Total 14 2,15% 100% 100% 20,29%
TOTAL 69 10,58% 100%
Tipo 6 2 0,31% 100% 100% 100%
Hispânia Ulterior, Tejo/Sado
Indet. Total 2 0,31% 100% 100% 100%
TOTAL 2 0,31% 100%
TOTAL 652 100%

Tabela 135 – Quantificação global por conteúdo das ânforas republicanas de Lisboa.

Quanto aos artigos importados do Norte de África, a sua representatividade no conjunto global
republicano de Lisboa é francamente minoritária, quedando-se pelos 2,76%. Desta região destaca-se es-
sencialmente o azeite transportado nas ânforas de tipo Africana Antiga (2,15% dos envases republicanos
e 77,78% daquela área produtora), que na fase mais antiga representaria, ainda assim, uma importante
percentagem das importações daquele produto, inserindo-se muito provavelmente nos mesmos cir-
cuitos institucionais, a que acima se fez referência, de abastecimento ao exército. Meramente vestigial

507
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

parece ser a presença das piscícolas T-7.4.2.1./T-7.4.3.1. (0,6% - 22,22%), até aqui escassamente documen-
tadas quer em Olisipo (Filipe, 2008a; Filipe, 2015) quer nos restantes sítios republicanos conhecidos no
Vale do Tejo (Bargão, 2006), ao contrário do que parece suceder pelo menos em alguns locais do Sul
do actual território português, como Mértola (García Fernández et al., 2020) e Monte Molião (Arruda e
Sousa, 2012), onde surgem em percentagens consideravelmente superiores, indiciando distintas redes
de aprovisionamento entre as duas regiões. De igual forma vestigial seria a importação de produtos
com origem no Mediterrâneo Oriental (0,46% dos envases republicanos), que se poderia igualmente
enquadrar no aprovisionamento aos contingentes militares destacados no Ocidente Peninsular, surgin-
do no Mediterrâneo ocidental normalmente em escassas quantidades e associados ao comércio dos
vinhos itálicos (Pascual Berlanga e Ribera I Lacomba, 2013, p. 261; Pérez Ballester, 1994, p. 357). Estas
produções estão representadas unicamente por um exemplar de uma ânfora Ródia e dois do tipo Dres-
sel 4 da Ilha de Cos, provavelmente destinados às patentes mais altas do exército romano ou às elites
locais. Em distinto âmbito de abastecimento, provavelmente nos circuitos privados que acompanha-
vam as redes de abastecimento oficial, dever-se-á ter inserido a chegada quer das imitações produzidas
na Citerior dos tipos vinários itálicos Greco-Itálica (0,15%) e Dressel 1 (0,15%), quer das T-8.1.3.2./PE 17
oriundas da Ilha de Ibiza (0,15%).
Nesta fase, os contentores locais/regionais são meramente vestigiais, sendo representados uni-
camente pelo Tipo 6 do estuário do Tejo (Sousa e Pimenta, 2014). Ainda que, pelos motivos anterior-
mente mencionados (v. supra), se encontrem muito provavelmente sub-representados no conjunto em
análise (0,31%), a expressividade destas produções no quadro de consumo de Olisipo é francamente mi-
noritária, sendo, todavia, indicadora de uma efectiva utilização de contentores anfóricos para o trans-
porte e comercialização de produtos alimentares produzidos no Vale do Tejo durante os momentos
mais recuados da presença romana.
Sintetizando, os principais fenómenos observáveis na dinâmica comercial de Olisipo durante a
República são, numa fase mais recuada, a hegemonia do vinho itálico e dos produtos piscícolas da Ul-
terior acompanhada de uma escassa representatividade do azeite adriático, tirrénico e norte-africano,
a que se terá seguido, numa segunda fase, a ascensão e prevalência do azeite e vinho provenientes do
Guadalquivir paralelamente à continuidade das importações de artigos à base de peixe da costa da Ul-
terior e ao aparente tímido despontar da indústria piscícola local, paralelamente a uma abrupta quebra
das importações do vinho itálico.

7.2. Principado
Como anteriormente se referiu, o volume de dados atribuíveis ao Principado constitui 75,32% da
amostra analisada, traduzindo-se num total de 7619 fragmentos diagnosticáveis, entre os quais 2849
bordos, 832 fundos, 3924 asas e 14 bojos com elementos relevantes, equivalentes a um Número Mínimo
de 3216 Indivíduos. Este considerável conjunto anfórico provém de 13 regiões produtoras que se esten-
dem desde Peniche, na costa ocidental de Portugal, até à Cilícia, situada na extremidade oriental do
Mediterrâneo, no Sul da actual Turquia, englobando praticamente todas as principais áreas que produ-
ziam e exportavam artigos alimentares em ânforas durante o Principado e que participavam nas amplas
redes comerciais da metade ocidental do Império. Particularmente surpreendente é o número de tipos
documentados, ascendendo a 73, incomparavelmente superior ao que se conhece em qualquer outro
centro de consumo do Ocidente hispânico, incluindo a capital provincial Augusta Emerita (Almeida e
Sánchez Hidalgo, 2013), e equiparável aos grandes centros de consumo e entrepostos comerciais do
Mediterrâneo.
À semelhança do que se mencionou anteriormente relativamente ao tratamento estatístico dos
dados republicanos, o facto da cronologia de produção da generalidade dos tipos se estender por pe-
ríodos mais ou menos prolongados e da esmagadora maioria dos materiais do Principado não proceder
de contextos estratigráficos coevos ou cronologicamente bem definidos não permite ensaiar a sua
quantificação por fases relativamente curtas, como, por exemplo, foi feito com os dados das Terme del

508
Capítulo 7 Dinâmica comercial entre a República e o Principado

Nuotatore em Óstia (Rizzo, 2014), não possibilitando, desse modo, traçar com maior rigor a evolução
da curva de consumo ao longo de um amplo lapso temporal que se estende do início do Principado de
Augusto até aos finais do séc. II d.C./inícios do séc. III. Como tal, a opção tomada foi quantificar na mes-
ma tabela todos os contentores imperiais, procurando-se depois matizar essa leitura recorrendo quer a
alguns contextos específicos analisados no decurso deste trabalho e/ou já publicados, quer aos dados
cronológicos dos diferentes tipos de ânforas. Ao contrário da opção assumida relativamente ao perío-
do republicano, proceder-se-á primeiro à análise estatística dos dados globais, procurando-se depois
matizar e ajustar essa leitura na diacronia do Principado com base nos elementos acima mencionados.
Nesta óptica, a análise quantitativa global, sintetizada na Tabela 136, evidencia a hegemonia dos
produtos locais/regionais (57,80% do NMI) face às restantes importações, sendo essencialmente repre-
sentados pelas produções dos vales dos rios Tejo e Sado (57,09%) e de forma vestigial pelas do Morraçal
da Ajuda, Peniche (0,72%), estando ausentes as produções do Algarve. O consumo de artigos locais/re-
gionais é dominado pelos produtos à base de peixe (66,18% dos envases lusitanos), transportados numa
primeira fase pelas Lusitanas Antigas (12,69%) e a partir da segunda metade do séc. I d.C. pelas Dressel
14 (52,72%) - tendo circulado coetaneamente durante o terceiro quartel daquela centúria -, havendo
ainda que considerar a presença das imitações locais/regionais da Beltrán IIA/B, meramente vestigiais e
sem qualquer peso estatístico, não ultrapassando os 0,06% do NMI e 0,11% dos artigos lusitanos. O vinho
local/regional representa 31,59%, valor extremamente significativo no quadro das produções lusitanas
que, ainda assim, poderá eventualmente ser mais alto se se considerarem as Haltern 70 lusitanas (2,23%)
como ânforas destinadas ao transporte desse produto. Os contentores vinários são maioritariamente
constituídos pelas Lusitana 3 (96,55% do vinho local/regional) que parecem surgir só a partir do início do
séc. II d.C.. Embora a presença e frequência deste tipo em Lisboa seja um dado adquirido e de há muito
conhecido, mantinha-se ainda por definir o seu real peso no consumo de alimentos transportados em
ânforas na cidade de Olisipo. Representando 17,41% do NMI e 30,12% das ânforas lusitanas, a Lusitana 3
corresponde a um dos tipos melhor documentados, apenas ultrapassado pela Dressel 14 e igualado
pela Dressel 20 (cuja diacronia de produção é mais extensa), configurando-se como um testemunho
convincente da importância que a produção vitivinícola teria na economia local/regional pelo menos a
partir do séc. II d.C.. Haverá, pois, que considerar este tipo de exploração agrícola nos principais moto-
res económicos da região pelo menos a partir do início daquela centúria, a par da exploração dos recur-
sos piscícolas e do sal, para além de outros como a importante exploração do ouro das areias do Tejo.
Para além da definição da sua importância na economia local/regional, a amostra de Olisipo per-
mite ainda afirmar que o incremento da produção vitivinícola no Ocidente hispânico ter-se-á iniciado
muito antes, tendo atravessado muito provavelmente todo o séc. I d.C.. Embora minoritária, é extre-
mamente interessante e significativa a documentação de ânforas vinárias lusitanas cuja produção se
enquadra nessa centúria (0,62% do NMI, 1,09% dos envases locais/regionais e 3,45% do vinho lusitano)
- como serão os casos das possíveis imitações de ânforas de tipo Urceus, das Dressel 2-4 e da Dressel 28,
ainda que este último tipo englobe, na verdade, diferentes formas, algumas das quais comprovada-
mente mais tardias -, podendo-se eventualmente recuar essa cronologia até ao início do Principado de
Augusto. Se se considerar a hipótese da Haltern 70 lusitana (cujo conteúdo permanece por demons-
trar) ter sido utilizada no transporte de vinho, o que me parece perfeitamente plausível, verificar-se-á
que, no contexto do séc. I d.C., os produtos vitivinícolas locais/regionais transportados em ânforas
representariam uma importante e expressiva percentagem do vinho consumido em Olisipo, contraria-
mente ao que é habitualmente admitido. Considerando ainda esta hipótese, é igualmente significativo
que se registe a produção de quatro tipos distintos destinados ao transporte de vinho - Dressel 2-4,
Urceus, Dressel 28 e Haltern 70 - todas enquadráveis principalmente no séc. I d.C. e correspondendo
quase integralmente aos mesmos tipos vinários que nesta época eram importados a partir do Vale
do Guadalquivir. Naturalmente, assentando esta perspectiva em bases pouco sólidas, será necessário
aguardar que novos dados confirmem, ou não, as hipóteses sugeridas, sobretudo relativamente ao
conteúdo das Haltern 70 lusitanas bem como à questão das imitações lusitanas de ânforas de tipo Ur-
ceus e Dressel 28. O esclarecimento desta questão é importante não só para definir o quadro de consu-
mo do séc. I a.C. em Olisipo, já que, a comprovar-se uma apreciável produção vitivinícola local/regional
durante essa diacronia, acrescentaria também importantes informações acerca da economia da região
e do desenvolvimento desse tipo de exploração agrícola.

509
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Lusitana Antiga 416 5,46% 233 7,25% 12,69% 12,53%
Lusitana Antiga/Dressel 14 110 1,44% 12 0,37% 0,65% 0,65%
Tipo Urceus? 5 0,07% 5 0,16% 0,27% 0,27%
Dressel 2-4 1 0,01% 1 0,03% 0,05% 0,05%
Haltern 70 48 0,63% 41 1,27% 2,23% 2,21%
Lusitânia, Tejo/Sado Dressel 14 2407 31,6% 964 29,98% 52,51% 51,86%
Dressel 14 parva 6 0,08% 4 0,12% 0,22% 0,22%
Beltrán IIB 2 0,03% 2 0,06% 0,11% 0,11%
“Dressel 28” 17 0,22% 14 0,44% 0,76% 0,75%
Lusitana 3 1630 21,39% 560 17,41% 30,5% 30,12%
Total 4642 60,93% 1836 57,09% 100%
Tipo 2 5 0,07% 5 0,16% 21,74% 0,27%
Tipo 6 1 0,01% 1 0,03% 4,35% 0,05%
Tipo 7 12 0,16% 12 0,37% 52,17% 0,65%
Lusitânia, Peniche
Tipo 10 7 0,09% 4 0,12% 17,39% 0,22%
Tipo 12 1 0,01% 1 0,03% 4,35% 0,05%
Total 26 0,34% 23 0,72% 100% 100%
Dressel 2-4 2 0,03% 2 0,06% 1,01% 0,19% 0,15%
Dressel 12 6 0,08% 6 0,19% 3,02% 0,56% 0,44%
Dressel 7-11 115 1,51% 40 1,24% 20,1% 3,72% 2,95%
Dressel 7 3 0,04% 3 0,09% 1,51% 0,28% 0,22%
Dressel 9 7 0,09% 7 0,22% 3,52% 0,65% 0,52%
Dressel 9-10 24 0,32% 24 0,75% 12,06% 2,23% 1,77%
Dressel 28 3 0,04% 3 0,09% 1,51% 0,28% 0,22%
Tipo Urceus 3 0,04% 3 0,09% 1,51% 0,28% 0,22%
Dressel 20 2 0,03% 2 0,06% 1,01% 0,19% 0,15%
Bética, costa ocidental
Dressel 20 parva 2 0,03% 2 0,06% 1,01% 0,19% 0,15%
Beltrán II 79 1,04% 10 0,31% 5,03% 0,93% 0,74%
Beltrán IIA 28 0,37% 25 0,78% 12,56% 2,32% 1,85%
Beltrán IIB 106 1,39% 59 1,83% 29,65% 5,48% 4,36%
Beltrán IIB/Puerto Real 4 0,05% 4 0,12% 2,01% 0,37% 0,3%
Puerto Real 1 1 0,01% 1 0,03% 0,5% 0,09% 0,07%
Dressel 14 2 0,03% 1 0,03% 0,5% 0,09% 0,07%
“Gauloise 4” 13 0,17% 7 0,22% 3,52% 0,65% 0,52%
Total 400 5,25% 199 6,19% 100% 14,7%
Dressel 7-11 3 0,04% 3 0,09% 50% 0,28% 0,22%
Dressel 28 1 0,01% 1 0,03% 16,67% 0,09% 0,07%
Bética, costa oriental “Gauloise 4” 1 0,01% 1 0,03% 16,67% 0,09% 0,07%
Beltrán IIB 1 0,01% 1 0,03% 16,67% 0,09% 0,07%
Total 6 0,08% 6 0,19% 100% 0,44%
Oberaden 83/Ovóide 7 33 0,43% 26 0,81% 2,99% 2,42% 1,92%
Haltern 71 12 0,16% 11 0,34% 1,26% 1,02% 0,81%
Oberaden 83/Ovóide 7 - Haltern 71 2 0,03% 2 0,06% 0,23% 0,19% 0,15%
Ovóide indeterminada 52 0,68% 18 0,56% 2,07% 1,67% 1,33%
Haltern 70 346 4,54% 94 2,92% 10,8% 8,74% 6,94%
Haltern 70 (inicial) 24 0,32% 24 0,75% 2,76% 2,23% 1,77%
Haltern 70 (Augusto-Tibério) 38 0,5% 38 1,18% 4,36% 3,53% 2,81%
Bética, Haltern 70 (Cláudio-Nero) 30 0,39% 30 0,93% 3,44% 2,79% 2,22%
Vale do Guadalquivir Haltern 70 (Flávia) 4 0,05% 4 0,12% 0,46% 0,37% 0,3%
Verulamium 1908 4 0,05% 4 0,12% 0,46% 0,37% 0,3%
Tipo Urceus 26 0,34% 19 0,59% 2,18% 1,77% 1,4%
Dressel 28 17 0,22% 10 0,31% 1,15% 0,93% 0,74%
Dressel 2-4 13 0,17% 9 0,28% 1,03% 0,84% 0,66%
Dressel 7-11 13 0,17% 8 0,25% 0,92% 0,74% 0,59%
Beltrán IIB? 2 0,03% 2 0,06% 0,23% 0,19% 0,15%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) - Haltern 71 17 0,22% 11 0,34% 1,26% 1,02% 0,81%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 230 3,02% 129 4,01% 14,81% 11,99% 9,53%
Dressel 20 (Nero-Vespasiano) 27 0,35% 14 0,44% 1,61% 1,3% 1,03%

Tabela 136 – Quantificação global das ânforas do Principado de Lisboa.

510
Capítulo 7 Dinâmica comercial entre a República e o Principado

% NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo TF % TF NMI % NMI região província extraprov.
Dressel 20 (Flávia-Trajana) 110 1,44% 74 2,3% 8,5% 6,88% 5,47%
Dressel 20 (Antonina) 207 2,72% 127 3,95% 14,58% 11,8% 9,38%
Dressel 20 614 8,06% 126 3,92% 14,47% 11,71% 9,31%
Dressel 20 parva (Júlio-Cláudia) 16 0,21% 9 0,28% 1,03% 0,84% 0,66%
Dressel 20 parva (Flávia-Trajana) 10 0,13% 6 0,19% 0,69% 0,56% 0,44%
Bética, Dressel 20 parva (Antonina) 7 0,09% 6 0,19% 0,69% 0,56% 0,44%
Vale do Guadalquivir Dressel 20 parva 34 0,45% 14 0,44% 1,61% 1,3% 1,03%
Dressel 20 mini 8 0,11% 3 0,09% 0,34% 0,28% 0,22%
Dressel 20 (séc. III) 109 1,43% 51 1,59% 5,86% 4,74% 3,77%
Dressel 20 parva (séc. III) 1 0,01% 1 0,03% 0,11% 0,09% 0,07%
Dressel 20 mini (séc. III) 1 0,01% 1 0,03% 0,11% 0,09% 0,07%
Total 2007 26,34% 871 27,08% 100% 100% 64,33%
Pascual 1 8 0,11% 7 0,22% 35% 22,58% 0,52%
Oberaden 74 5 0,07% 5 0,16% 25% 16,13% 0,37%
Tarraconense,
Dressel 3-2 8 0,11% 6 0,19% 30% 19,35% 0,44%
costa setentrional
“Gauloise 4” 2 0,03% 2 0,06% 10% 6,45% 0,15%
Total 23 0,3% 20 0,62% 100% 1,5%
PE 25 21 0,28% 11 0,34% 100% 35,48% 0,81%
Ilha de Ibiza
Total 21 0,28% 11 0,34% 100% 100% 0,81%
Gauloise 1, var. B 1 0,01% 1 0,03% 1,39% 1,39% 0,07%
Gauloise 3 2 0,03% 2 0,06% 2,78% 2,78% 0,15%
Gauloise 4 160 2,1% 66 2,05% 91,67% 91,67% 4,87%
Gália Narbonense
Gauloise 5 3 0,04% 2 0,06% 2,78% 2,78% 0,15%
Tipo indet. pequeno módulo 1 0,01% 1 0,03% 1,39% 1,39% 0,07%
Total 167 2,19% 72 2,24% 100% 100% 5,32%
Dressel 2-4 103 1,35% 42 1,31% 97,67% 73,68% 3,1%
Península Itálica,
Dressel 21-22 1 0,01% 1 0,03% 2,33% 1,75% 0,07%
costa tirrénica
Total 104 1,37% 43 1,34% 100% 3,18%
Dressel 6A 1 0,01% 1 0,03% 50,00% 1,75% 0,07%
Península Itálica,
Schorgendorfer 558 1 0,01% 1 0,03% 50,00% 1,75% 0,07%
costa adriática
Total 2 0,03% 2 0,06% 100% 0,15%
Richborough 527 20 0,26% 12 0,37% 100% 21,05% 0,89%
Ilha de Lipari
Total 20 0,26% 12 0,37% 100% 100% 0,89%
Dressel 2-4/Schoene-Mau XXXV 6 0,08% 6 0,19% 10,71% 10,71% 0,44%
Pupput T 700.4/T 700.5 2 0,03% 2 0,06% 3,57% 3,57% 0,15%
Tripolitana I 3 0,04% 2 0,06% 3,57% 3,57% 0,15%
Tripolitana II 12 0,16% 9 0,28% 16,07% 16,07% 0,66%
Tripolitana III 1 0,01% 1 0,03% 1,79% 1,79% 0,07%
Norte de África Ostia XXIII 3 0,04% 3 0,09% 5,36% 5,36% 0,22%
Ostia LIX 4 0,05% 4 0,12% 7,14% 7,14% 0,30%
Uzita Pl. 52,10 4 0,05% 4 0,12% 7,14% 7,14% 0,30%
Africana I 17 0,22% 12 0,37% 21,43% 21,43% 0,89%
Africana IIA 20 0,26% 13 0,4% 23,21% 23,21% 0,96%
Total 72 0,95% 56 1,74% 100% 100% 4,1%
Ródia/Camulodunum 184 66 0,87% 28 0,87% 45,16% 45,16% 2,07%
Dressel 2-4/5 28 0,37% 14 0,44% 22,58% 22,58% 1,03%
Dressel 25 2 0,03% 1 0,03% 1,61% 1,61% 0,07%
Cretense 4/Dressel 43 2 0,03% 2 0,06% 3,23% 3,23% 0,15%
Agora M126/Cont. monoansados 1 0,01% 1 0,03% 1,61% 1,61% 0,07%
Mediterrâneo Oriental Ânforas de Quios 2 0,03% 2 0,06% 3,23% 3,23% 0,15%
Dressel 24 3 0,04% 3 0,09% 4,84% 4,84% 0,22%
Pompeia 13/Agora G198 3 0,04% 2 0,06% 3,23% 3,23% 0,15%
Agora M54 12 0,16% 7 0,22% 11,29% 11,29% 0,52%
Kapitän 2 5 0,07% 2 0,06% 3,23% 3,23% 0,15%
Total 124 1,63% 62 1,93% 100% 100% 4,6%
Dressel 2-4 5 0,07% 3 0,09% 100% 100%
Indeterminada
Total 5 0,07% 3 0,1% 100% 100%
TOTAL 7619 100% 3216 100% 100%

Tabela 136 – Quantificação global das ânforas do Principado de Lisboa (cont.).

511
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Nas importações extraprovinciais destacam-se claramente os produtos oriundos da Bética, re-


presentando 33,46% da amostra do Principado, sendo que, destes, 80,95% provêm do Vale do Guadal-
quivir, o que equivale a 27,08% do conjunto imperial. Os artigos provenientes desta região são maiori-
tariamente representados pelo azeite (70,15%), inicialmente distribuído nas Oberaden 83 e Haltern 71 e
depois nas diversas variantes das Dressel 20, mas também com uma forte expressão do vinho (26,6%),
sobretudo nas Haltern 70 mas também nas Verulamium 1908, Urceus, Dressel 28 e Dressel 2-4, e de
modo vestigial pelos produtos à base de peixe (1,15%) nas Dressel 7-11 e Beltrán IIB. Esta representativi-
dade dos artigos do Guadalquivir revela um importante incremento na importação de artigos alimenta-
res daquela região produtora para Olisipo relativamente à fase republicana, cujo arranque se terá feito
sentir com particular expressividade em torno a meados do séc. I a.C.. Em sentido inverso, diminui signi-
ficativamente a presença das produções do litoral bético em relação ao período anterior, quedando-se
pelos 6,37% no cômputo geral da amostra imperial. Os preparados piscícolas continuam a ser o principal
artigo importado desta região, significando nesse âmbito 90,45%, seguidos pelo vinho (7,54%) e pelo
azeite (2,01%), sendo respectivamente transportados nas Dressel 12, Dressel 7-11, Beltrán IIA, Beltrán IIB,
Puerto Real 1 e Dressel 14; Dressel 2-4, Dressel 28, Urceus e “Gauloise 4”; e nas Dressel 20.
As restantes áreas produtoras documentadas situam-se todas abaixo dos 2,3%, representando
em conjunto 8,74% na amostra imperial de Olisipo e 20,5% das importações extraprovinciais. Entre estas
importações minoritárias destacam-se, por ordem de importância, os produtos oriundos da Gália (2,24% -
5,32%), do Mediterrâneo Oriental (1,93% - 4,6%), do Norte de África (1,74% - 4,1%) e, com percentagens
ligeiramente inferiores, da costa tirrénica da Península Itálica (1,34% - 3,18%). Da primeira região provinha
unicamente vinho, envasado principalmente nas Gauloise 4 mas também nas Gauloise 1 (variante B),
Gauloise 3 e Gauloise 5, artigo que constituía igualmente a maior parte das importações do Mediterrâ-
neo Oriental (Tardo-Ródia/Camulodunum 184, Dressel 2-4/5, Cretense 4/Dressel 43, Agora M126, Ânforas
de Quios, Pompeia 13/Agora G198, Agora M54 e Kapitän 2) e da costa tirrénica itálica (Dressel 2-4), de
onde chegavam também, ainda que em quantidades vestigiais, respectivamente, o azeite (Dressel 24) e
os preparados piscícolas (Dressel 21-22).
Já do Norte de África, apesar da importante percentagem de tipos cujo conteúdo permanece
controverso ou desconhecido (correspondente a 50% dos envases dessa região - Pupput T 700.4/T
700.5, Tripolitana II, Uzita Pl. 52,10 e Africana IIA), era importado sobretudo o azeite (50% - Tripolitana I,
Tripolitana III, Ostia XXIII, Ostia LIX e Africana I) e, em quantidades bem mais modestas, o vinho (10,71%
- Dressel 2-4/Schoene-Mau XXXV). Por fim, todas com valores abaixo de 1% do conjunto do Principado,
estão presentes as produções da costa setentrional da Tarraconense (0,62%), da Ilha de Ibiza (0,34%), da
costa adriática da Península Itálica (0,06%) e da Ilha de Lipari (0,37%). Das duas primeiras era importado
apenas vinho nas Pascual 1, Oberaden 74, Dressel 3-2 e “Gauloise 4”, enquanto da costa adriática, para
além do vinho envasado nas Dressel 6A, provinham azeitonas nas Schörgendorfer 558; e de Lipari o
característico alúmen nas Richborough 527.
Ainda numa análise estatística global dos dados do Principado, no que se refere aos artigos trans-
portados nas ânforas, o panorama é claramente dominado pelos produtos piscícolas (44,71% do NMI),
seguidos do vinho (32,4%), do azeite (19,9%) e, com uma expressão francamente reduzida, do alúmen
(0,37%) e das azeitonas em conserva (0,03%), correspondendo os restantes 2,74% a ânforas cujo conteú-
do se desconhece. Relativamente aos primeiros, os artigos de produção lusitana dominam totalmente
o quadro de consumo, significando 86,39%, dos quais apenas 1,61% provêm de Peniche - o que revela
bem o carácter secundário dos produtos daquela área produtora em Olisipo -, e os restantes 84,79%
dos vales dos rios Tejo e Sado. Entre estes, destaca-se claramente a Dressel 14 (67,55%), embora se
possa igualmente considerar bastante expressiva a presença das Lusitanas Antigas (16,26%). O quadro
completa-se com as já mencionadas imitações de Beltrán IIA/B (0,14%) e com algumas ânforas cuja in-
dividualização entre Lusitana Antiga e Dressel 14 não foi possível (0,84%). Do Morraçal da Ajuda estão
atestadas as produções locais do tipo 2, 6, 7, 10 e 12, todas consideradas pelos autores como ânforas
piscícolas (Cardoso et al., 2016) apesar das escassas evidências arqueológicas a esse respeito.

512
Capítulo 7 Dinâmica comercial entre a República e o Principado

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Lusitana Antiga 233 7,25% 19,18% 18,82% 16,26%
Lusitana Antiga/Dressel 14 12 0,37% 0,99% 0,97% 0,84%
Dressel 14 964 29,98% 79,34% 77,87% 67,27%
Lusitânia, Tejo/Sado
Dressel 14 parva 4 0,12% 0,33% 0,32% 0,28%
Beltrán IIB 2 0,06% 0,16% 0,16% 0,14%
Total 1215 37,78% 100% 84,79%
Tipo 2 5 0,16% 21,74% 0,4% 0,35%
Tipo 6 1 0,03% 4,35% 0,08% 0,07%
Tipo 7 12 0,37% 52,17% 0,97% 0,84%
Lusitânia, Peniche
Tipo 10 4 0,12% 17,39% 0,32% 0,28%
Tipo 12 1 0,03% 4,35% 0,08% 0,07%
Total 23 0,72% 100% 100% 1,61%
Dressel 12 6 0,19% 3,33% 3,09% 0,42%
Preparados piscícolas

Dressel 7-11 40 1,24% 22,22% 20,62% 2,79%


Dressel 7 3 0,09% 1,67% 1,55% 0,21%
Dressel 9 7 0,22% 3,89% 3,61% 0,49%
Dressel 9-10 24 0,75% 13,33% 12,37% 1,67%
Beltrán II 10 0,31% 5,56% 5,15% 0,7%
Bética, costa ocidental
Beltrán IIA 25 0,78% 13,89% 12,89% 1,74%
Beltrán IIB 59 1,83% 32,78% 30,41% 4,12%
Beltrán IIB/Puerto Real 4 0,28% 2,22% 2,06% 0,28%
Puerto Real 1 1 0,03% 0,56% 0,52% 0,07%
Dressel 14 1 0,03% 0,56% 0,52% 0,07%
Total 180 5,75% 100% 12,56%
Dressel 7-11 3 0,09% 75% 1,55% 0,21%
Bética, costa oriental Beltrán IIB 1 0,03% 25% 0,52% 0,07%
Total 4 0,12% 100% 0,28%
Dressel 7-11 8 0,25% 80% 4,12% 0,56%
Bética, Vale do Guadalquivir Beltrán IIB? 2 0,06% 20% 1,03% 0,14%
Total 10 0,31% 100% 100% 0,7%
Dressel 21-22 1 0,03% 100% 100% 0,07%
Península Itálica, costa tirrénica
Total 1 0,03% 100% 100% 0,07%
TOTAL 1433 44,71% 100%
Tipo Urceus? 5 0,16% 0,86% 0,86% 0,48%
Dressel 2-4 1 0,03% 0,17% 0,17% 0,1%
Lusitânia, Tejo/Sado “Dressel 28” 14 0,44% 2,41% 2,41% 1,34%
Lusitana 3 560 17,41% 96,55% 96,55% 53,74%
Total 580 18,03% 100% 100% 55,66%
Dressel 2-4 2 0,06% 13,33% 0,8% 0,19%
Dressel 28 3 0,09% 20% 1,2% 0,29%
Bética, costa ocidental Tipo Urceus 3 0,09% 20% 1,2% 0,29%
“Gauloise 4” 7 0,22% 46,67% 2,81% 0,67%
Total 15 0,47% 100% 1,44%
Dressel 28 1 0,03% 50% 0,4% 0,1%
Vinho e derivados

Bética, costa oriental “Gauloise 4” 1 0,03% 50% 0,4% 0,1%


Total 2 0,06% 100% 0,19%
Haltern 70 94 2,92% 40,52% 37,75% 9,02%
Haltern 70 (inicial) 24 0,75% 10,34% 9,64% 2,3%
Haltern 70 (Augusto-Tibério) 38 1,18% 16,38% 15,26% 3,65%
Haltern 70 (Cláudio-Nero) 30 0,93% 12,93% 12,05% 2,88%
Haltern 70 (Flávia) 4 0,12% 1,72% 1,61% 0,38%
Bética, Vale do Guadalquivir
Verulamium 1908 4 0,12% 1,72% 1,61% 0,38%
Tipo Urceus 19 0,59% 8,19% 7,63% 1,82%
Dressel 28 10 0,31% 4,31% 4,02% 0,96%
Dressel 2-4 9 0,28% 3,88% 3,61% 0,86%
Total 232 7,21% 100% 100% 22,26%
Pascual 1 7 0,22% 35% 22,58% 0,67%
Oberaden 74 5 0,16% 25% 16,13% 0,48%
Tarraconense, costa setentrional Dressel 3-2 6 0,19% 30% 19,35% 0,58%
“Gauloise 4” 2 0,06% 10% 6,45% 0,19%
Total 20 0,62% 100% 1,92%

Tabela 137 – Quantificação global por conteúdo das ânforas do Principado de Lisboa.

513
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
PE 25 11 0,34% 100% 35,48% 1,06%
Ilha de Ibiza
Total 11 0,34% 100% 100% 1,06%
Gauloise 1, var. B 1 0,03% 1,39% 1,39% 0,10%
Gauloise 3 2 0,06% 2,78% 2,78% 0,19%
Gauloise 4 66 2,05% 91,67% 91,67% 6,33%
Gália Narbonense
Gauloise 5 2 0,06% 2,78% 2,78% 0,19%
Tipo indet. pequeno módulo 1 0,03% 1,39% 1,39% 0,10%
Total 72 2,24% 100% 100% 6,91%
Dressel 2-4 42 1,31% 100% 97,67% 4,03%
Península Itálica, costa tirrénica
Total 42 1,31% 100% 4,03%
Dressel 6A 1 0,03% 100% 2,33% 0,1%
Vinho e derivados

Península Itálica, costa adriática


Total 1 0,03% 100% 100% 0,1%
Dressel 2-4/Schoene-Mau XXXV 6 0,19% 100% 100% 0,58%
Norte de África
Total 6 0,19% 100% 100% 0,58%
Ródia/Camulodunum 184 28 0,87% 48,28% 48,28% 2,69%
Dressel 2-4/5 14 0,44% 24,14% 24,14% 1,34%
Cretense 4/Dressel 43 2 0,06% 3,45% 3,45% 0,19%
Agora M126/Cont. monoansados 1 0,03% 1,72% 1,72% 0,1%
Mediterrâneo Oriental Ânforas de Quios 2 0,06% 3,45% 3,45% 0,19%
Pompeia 13/Agora G198 2 0,06% 3,45% 3,45% 0,19%
Agora M54 7 0,22% 12,07% 12,07% 0,67%
Kapitän 2 2 0,06% 3,45% 3,45% 0,19%
Total 58 1,8% 100% 100% 5,57%
Dressel 2-4 3 0,09% 100% 100% 0,29%
Indeterminada
Total 3 0,09% 100% 100% 0,29%
TOTAL 1042 32,40% 100%
Dressel 20 2 0,06% 50% 0,33% 0,31%
Bética, costa ocidental Dressel 20 parva 2 0,06% 50% 0,33% 0,31%
Total 4 0,12% 100% 0,63%
Oberaden 83/Ovóide 7 26 0,81% 4,26% 4,23% 4,06%
Haltern 71 11 0,34% 1,8% 1,79% 1,72%
Oberaden 83/Ovóide 7 - Haltern 71 2 0,06% 0,33% 0,33% 0,31%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) - Haltern 71 11 0,34% 1,8% 1,79% 1,72%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 129 4,01% 21,11% 20,98% 20,16%
Dressel 20 (Nero-Vespasiano) 14 0,44% 2,29% 2,28% 2,19%
Dressel 20 (flávia-Trajana) 74 2,3% 12,11% 12,03% 11,56%
Dressel 20 (Antonina) 127 3,95% 20,79% 20,7% 19,84%
Dressel 20 126 3,92% 20,62% 20,49% 19,69%
Bética, Vale do Guadalquivir
Dressel 20 parva (Júlio-Cláudia) 9 0,28% 1,47% 1,46% 1,4%
Dressel 20 parva (flávia-Trajana) 6 0,19% 0,98% 0,98% 0,94%
Azeite

Dressel 20 parva (Antonina) 6 0,19% 0,98% 0,98% 0,94%


Dressel 20 parva 14 0,44% 2,29% 2,28% 2,19%
Dressel 20 mini 3 0,09% 0,49% 0,49% 0,47%
Dressel 20 (séc. III) 51 1,59% 8,35% 8,29% 7,97%
Dressel 20 parva (séc. III) 1 0,03% 0,16% 0,16% 0,16%
Dressel 20 mini (séc. III) 1 0,03% 0,16% 0,16% 0,16%
Total 611 19% 100% 100% 95,47%
Tripolitana I 2 0,06% 9,09% 9,09% 0,31%
Tripolitana III 1 0,03% 4,55% 4,55% 0,16%
Ostia XXIII 3 0,09% 13,64% 13,64% 0,47%
Norte de África
Ostia LIX 4 0,12% 18,18% 18,18% 0,63%
Africana I 12 0,37% 54,55% 54,55% 1,88%
Total 22 0,68% 100% 100% 3,44%
Dressel 24 3 0,09% 100% 100% 0,47%
Mediterrâneo Oriental
Total 3 0,09% 100% 100% 0,47%
TOTAL 640 19,90% 100%
Richborough 527 12 0,37% 100% 100% 100%
Ilha de Lipari
Alúmen Total 12 0,37% 100% 100% 100%
TOTAL 12 0,37% 100%

Tabela 137 – Quantificação global por conteúdo das ânforas do Principado de Lisboa (cont.).

514
Capítulo 7 Dinâmica comercial entre a República e o Principado

% NMI % NMI % NMI


Conteúdo Proveniência Tipo NMI % NMI conteúdo conteúdo conteúdo
região província
Schorgendorfer 558 1 0,03% 100% 100% 100%
Península Itálica, costa adriática
Azeitonas Total 1 0,03% 100% 100% 100%
TOTAL 1 0,03% 100%
Haltern 70 41 1,27% 100% 100% 46,59%
Lusitânia, Tejo/Sado
Total 41 1,27% 100% 100% 46,59%
Ovóide indeterminada 18 0,56% 100% 100% 20,45%
Bética, Vale do Guadalquivir
Total 18 0,56% 100% 100% 20,45%
Indeterminado

Pupput T 700.4/T 700.5 2 0,06% 7,14% 7,14% 2,27%


Uzita Pl. 52,10 4 0,12% 14,29% 14,29% 4,55%
Norte de África Tripolitana II 9 0,28% 32,1% 32,1% 10,23%
Africana IIA 13 0,4% 46,43% 46,43% 14,77%
Total 28 0,87% 100% 100% 31,82%
Dressel 25 1 0,03% 100% 100% 1,14%
Mediterrâneo Oriental
Total 1 0,03% 100% 100% 1,14%
TOTAL 88 2,74% 100%
TOTAL 3216 100%

Tabela 137 – Quantificação global por conteúdo das ânforas do Principado de Lisboa (cont.).

No que se refere às importações extraprovinciais de produtos à base de peixe, destaca-se a área


costeira da Baetica de onde provêm 12,84% desses artigos, maioritariamente originários da costa oci-
dental (12,56%), sendo os da costa oriental meramente vestigiais (0,28%) - estando inclusivamente me-
nos representados que os do Vale do Guadalquivir (0,7%). Do litoral ocidental daquela província desta-
cam-se sobretudo as Dressel 7-11 (41,11% dos envases dessa região e 5,16% dos piscícolas), entre as quais
ganham relevo as Dressel 9-10 (13,33%, 1,67%), seguidas pelas Beltrán IIB (32,78%, 4,12%) e pelas Beltrán
IIA (13,89%, 1,74%). Tendo em conta o panorama que até aqui se conhecia em Lisboa e, sobretudo, o
facto da sua distribuição se desenvolver em boa parte durante o séc. II d.C., altura em que as produ-
ções locais/regionais haviam já alcançado um certo apogeu, não deixa de surpreender a percentagem
alcançada pela Beltrán IIB (e em menor medida também pela Beltrán IIA) no conjunto de Olisipo, com
valores que não se afastam tanto assim das até aqui melhor documentadas Dressel 7-11. O quadro de
consumo de preparados à base de peixe fica completo com a presença meramente vestigial dos produ-
tos oriundos da costa tirrénica da Península Itálica (0,07% desse artigo), transportados nas Dressel 21-22,
de que se documentou apenas um exemplar em Lisboa. Resumidamente e em termos globais, durante
o Principado os produtos locais e regionais dominam destacadamente o consumo de conservas à base
de peixe em Olisipo, sendo as importações extraprovinciais quase exclusivamente constituídas pelos
artigos béticos, particularmente os oriundos da costa ocidental daquela província, com a excepção do
exemplar de Dressel 21-22 proveniente da costa tirrénica da Península Itálica.
Totalmente díspar é o cenário da proveniência do vinho consumido na cidade que domina a en-
trada do Tejo, observando-se uma ampla diversidade de regiões de origem e de tipos anfóricos, teste-
munho do cosmopolitismo de Olisipo à altura e da sua plena integração nas redes comerciais do Império
bem como do importante papel que a actividade vitivinícola (e consequente comércio e consumo dos
produtos vínicos) teria à escala do Império. Embora também aqui se observe o domínio dos artigos
produzidos local e regionalmente (55,66% desse produto), esse domínio não alcança os valores que
se verificam no consumo dos preparados piscícolas e terá ganho uma expressão significativa apenas a
partir do séc. II d.C.. As principais questões relativas às ânforas vinárias lusitanas foram já comentadas
acima, restando referir que, nesse âmbito, a representatividade dos tipos locais/regionais é a seguinte:
Lusitana 3, 53,74%; “Dressel 28”, 1,34%; Urceus, 0,48%; Dressel 2-4, 0,1%.
No contexto das importações extraprovinciais a principal área produtora representada é o Vale
do Guadalquivir, significando 22,26% da totalidade do vinho consumido. As Haltern 70 são totalmente
preponderantes, representando 81,9% do vinho dessa região e 18,23% da sua totalidade. Estão atestadas
todas as variantes deste tipo, destacando-se as da fase de Augusto-Tibério e Cláudio-Nero, ainda que a
uma importante percentagem destes contentores não tenha sido possível atribuir variante, sendo igual-
mente destacável a aparente sub-representação da variante Flávia. Para além da Haltern 70, por ordem

515
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

de importância, o vinho do Vale do Guadalquivir era importado em quantidades significativamente me-


nos expressivas nas ânforas de tipo Urceus (8,19% do vinho dessa região e 1,82% da sua totalidade),
nas Dressel 28 (4,31%, 0,96%), nas Dressel 2-4 (3,88%, 0,86%) e nas Verulamium 1908 (1,72%, 0,38%), sen-
do sublinhável que também estas formas deverão ter chegado a Olisipo maioritariamente durante o
séc. I d.C.. Ainda da província da Bética, estão atestados os pouco representativos vinhos produzidos
no litoral ocidental (1,44% dos envases vinários) e oriental (0,19%), respectivamente e por ordem de
importância, transportados nas “Gauloise 4” (0,67%), Urceus (0,29%), Dressel 28 (0,29%) e Dressel 2-4
(0,19%); Dressel 28 (0,1%) e “Gauloise 4” (0,1%). Olhando para o conjunto global das ânforas vinárias pro-
cedentes da Baetica, fica claro o predomínio das importações entre o início do reinado de Augusto e a
dinastia Flávia, com particular destaque para os artigos do Vale do Guadalquivir, a que se terá seguido
uma brusca diminuição a partir dos finais do séc. I d.C., com quebra significativa logo a partir do início
da dinastia Flávia.
Para além dos produtos do Guadalquivir, e com valores consideravelmente inferiores, destacam-
-se três importantes áreas produtoras: a Gallia (6,91% dos contentores vinários), o Mediterrâneo Orien-
tal (5,57%) e a costa tirrénica da Península Itálica (4,03%). Na primeira região observa-se a hegemonia
das Gauloise 4 (91,67% dos envases dessa área e 6,33% do vinho consumido), estando ainda atestadas
as menos comuns (nesta zona do Império) Gauloise 5 (2,78%, 0,19%), Gauloise 3 (2,78%, 0,19%) e Gauloise
1, var. B (1,39%, 0,1%), para além de um tipo de difícil atribuição tipológica (1,39%, 0,1%). Quanto à meta-
de oriental do Mediterrâneo, as principais importações correspondem às ânforas de tipo Tardo-Ródia/
Camulodunum 184 (48,28%, 2,69%), Dressel 2-4/5 (24,14%, 1,34%) e Agora M54 da Cilícia (12,07%, 0,67%), a
que se segue um conjunto de formas documentadas apenas por um ou dois exemplares, constituídas
pelas Cretense 4/Dressel 43 (3,45%, 0,19%), Ânforas de Quios (3,45%, 0,19%), Pompeia 13/Agora G198
(3,45%, 0,19%), Kapitän 2 (3,45%, 0,19%) e Agora M126/contentores monoansados (1,72%, 0,1%). Já da Itália
tirrénica, o precioso líquido era importado unicamente nas Dressel 2-4.
Menos representativas são as importações de vinho de regiões como, por ordem de importân-
cia, a costa setentrional da Tarraconensis (1,92%), a Ilha de Ibiza (1,06%), o Norte de África (0,58%) e a
costa adriática da Península Itálica (0,1%), para além de um pequeno conjunto de três exemplares do
tipo Dressel 2-4 a que não foi possível atribuir origem (0,29%). Da primeira área produtora foram iden-
tificados os tipos Pascual 1 (35%, 0,67%), Dressel 3-2 (30%, 0,58%), Oberaden 74 (25%, 0,48%) e “Gauloise
4” (10%, 0,19%); da Ilha de Ibiza apenas as PE 25 (1,06%); do Norte de África as Dressel 2-4/Schoene-Mau
XXXV (0,58%); e da costa adriática da Península Itálica as Dressel 6A (0,1%).
Quanto ao consumo de azeite, artigo de que não existe até hoje qualquer testemunho do seu
transporte em ânforas de origem lusitana, apresentando valores globais consideravelmente inferiores
aos do vinho e dos preparados piscícolas, era maioritariamente importado do Vale do Guadalquivir, re-
presentando 95,47% desse produto, e em modestas proporções do Norte de África (3,44%). Regista-se
ainda a presença, em percentagens residuais, do azeite proveniente da costa ocidental bética (0,63%),
transportado em ânforas do tipo Dressel 20, e do Mediterrâneo Oriental (0,47%), testemunhado pela
presença das Dressel 24. Relativamente ao Vale do Guadalquivir, estão atestados todos os tipos oleíco-
las produzidos naquela região e comercializados entre o Principado de Augusto e o final do séc. II d.C./
início do séc. III d.C.: Oberaden 83/Ovóide 7 (4,06%), Haltern 71 (1,72%) e Dressel 20 (88,02%), incluindo
as diversas variantes desta última. Já do Norte de África, cuja representatividade poderá ser mais signi-
ficativa em função dos tipos cujo conteúdo se desconhece, estão presentes as formas Tripolitana I e III,
Ostia XXIII e LIX e Africana I.
Por fim, cabe ainda referir a presença de ânforas destinadas a transportar outros produtos, de
escassa representatividade estatística, constituídos, por um lado, pelo alúmen da Ilha de Lipari, envasa-
do nas Richborough 527 (0,37% do NMI), por outro, pelas azeitonas em conserva procedentes do litoral
adriático da Península Itálica em contentores do tipo Schörgendorfer 558 (0,03%). Olhando ainda para
a amostra global analisada neste trabalho, numa leitura mais crítica e menos colada à quantificação dos
contentores imperiais, é possível entrever as principais tendências e a evolução da curva de consumo
dos diferentes produtos alimentares transportados nas ânforas e respectivas regiões de origem ao lon-
go do Principado, ainda que de difícil especificação estatística; análise que se fará no ponto seguinte,
estruturada com base nos principais produtos alimentares transportados nas ânforas.

516
Capítulo 7 Dinâmica comercial entre a República e o Principado

7.2.1. Preparados piscícolas

A tendência geral da quebra dos produtos itálicos e do domínio das importações da área costeira
e do Vale do Guadalquivir que anteriormente se observou para o lapso temporal constituído pelo ter-
ceiro quartel do séc. I a.C. acentuou-se, em termos gerais, durante o Principado de Augusto, registando-
-se importantes desenvolvimentos. Por um lado, intensificou-se a importação dos artigos do Vale do
Guadalquivir, cuja hegemonia é cada vez mais destacada em termos gerais e particularmente em rela-
ção à região costeira da Bética. Essa preponderância é especialmente representada por um acentuado
incremento na importação do vinho produzido naquela área, envasado sobretudo nas Haltern 70 e em
menor medida nas ânforas de tipo Urceus, e pela continuidade da chegada do azeite em quantidades
consideráveis, agora principalmente transportado nas Oberaden 83/Ovóide 7. Por outro, verifica-se a
continuidade das importações em escala apreciável dos preparados piscícolas oriundos do litoral bé-
tico, distribuídos sobretudo nos contentores dos tipos Dressel 7-11, mas também nas Dressel 12, para
além das últimas T-7.4.3.3..
É precisamente durante o Principado de Augusto que as produções locais/regionais de ânforas
piscícolas parecem arrancar com maior fulgor, embora não seja totalmente perceptível se estas su-
plantam as da costa bética ainda nesta fase ou só a partir de Tibério. De facto, nos escassos contextos
documentados em Olisipo datados de Augusto, os dados parecem ser contraditórios. Enquanto nos
Claustros da Sé, em níveis desta fase, se verifica uma expressiva superioridade dos artigos da Baetica
relativamente aos da Lusitania, patente na presença Dressel 7-11 e de Dressel 12 da primeira região (para
além das T-7.4.3.3. que deverão pelo menos em parte corresponder a residualidades) e das Lusitanas
Antigas da segunda, no Teatro Romano observa-se situação bem diferente. Neste sítio, nos contex-
tos da Fase 1 - datados dos últimos anos do reinado de Augusto/início de Tibério (Filipe, 2008; Filipe,
2015) - as Lusitanas Antigas estão bem representadas enquanto os artigos piscícolas béticos apenas se
encontram atestados pelas T-7.4.3.3. que deverão corresponder em grande parte, senão totalmente,
a materiais residuais. Ainda na Sé, em contextos ligeiramente posteriores mas que não ultrapassam o
final do primeiro terço do séc. I d.C., observa-se um certo equilíbrio entre o consumo de produtos à base
de peixe béticos e lusitanos, ainda que com ligeira vantagem para estes últimos. Na Praça da Figueira,
nas fossas [8933] e [8060], respectivamente datadas do período inicial de Tibério e de entre as décadas
de 20 e 30 d.C., a par de uma significativa presença de Lusitanas Antigas, as ânforas piscícolas béticas es-
tão totalmente ausentes, apesar de estarem atestadas (sempre em proporções inferiores às Lusitanas
Antigas) em praticamente todos os restantes contextos deste sítio balizados entre o final do Principado
de Tibério e o de Nero (Silva et al., 2016); observando-se situação análoga nos níveis datados do mes-
mo período registados na Sé, nos contextos associáveis à remodelação do Teatro Romano em torno
a meados do séc. I d.C., na Rua dos Bacalhoeiros (Filipe, 2008b) e na Rua dos Remédios (Silva, 2015a).
O cruzamento destes dados contextuais com os dados estatísticos globais de Olisipo, onde as Lusi-
tanas Antigas são significativamente mais expressivas que as produções piscícolas béticas do mesmo pe-
ríodo, demonstra a clara supremacia dos artigos lusitanos face aos béticos pelo menos a partir do início
do Principado de Tibério, possivelmente já desde o final do de Augusto, confirmando o que havia já sido
proposto com base na amostra do Teatro (Filipe, 2015, p. 158). Esta superioridade dos produtos piscíco-
las lusitanos dilata-se significativamente a partir da dinastia Flávia, altura em que as hegemónicas Dres-
sel 14 surgem em grandes proporções, mantendo-se durante toda a restante diacronia do Principado.
Ainda relativamente à importação de artigos piscícolas béticos, haverá que considerar a impor-
tante representatividade das Beltrán IIA e IIB que, em conjunto, são superiores às Dressel 7-11. A carên-
cia de dados contextuais expressivos dificulta, porém, a percepção do ritmo da sua chegada a Olisipo.
Do primeiro tipo, a presença mais antiga na cidade corresponde a um exemplar da Rua dos Bacalhoeiros,
exumado em contexto de em torno a meados do séc. I d.C., estando igualmente atestado em nível da se-
gunda metade do séc. I d.C. na Zara, Rua Augusta, e em estrato datado entre a dinastia Júlio-Cláudia e o
final do séc. I d.C. na Rua de São João da Praça (2009), resumindo-se a estas três evidências os exempla-
res contextualizados de Beltrán IIA. Já em relação à Beltrán IIB o cenário é pouco mais rico, ocorrendo na
Zara, Rua Augusta, sobretudo em níveis da segunda metade do séc. I d.C., mas também de entre a dinastia
Flávia e os meados do séc. II d.C.; na Rua de São Mamede, entre Flávios e o primeiro terço do séc. II d.C.;

517
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

na Rua de São João da Praça (2009), entre a dinastia Júlio-Cláudia e o final da Flávia; e na Casa dos Bicos,
num contexto de final do séc. II/início do séc. III d.C.. Embora parcos, estes dados parecem indicar a co-
mercialização dos tipos Beltrán IIA e IIB preferentemente a partir da dinastia Flávia no Ocidente Ibérico,
o que se poderá associar ao final da importação das Dressel 7-11. A quase total ausência daqueles tipos
nos níveis bem datados de Nero, como o Teatro Romano, parece confirmar esta hipótese.
Tendo em conta este panorama, mais do que um decréscimo na chegada dos produtos haliêuti-
cos da costa bética a Olisipo, parece ter-se assistido durante o séc. II d.C. à continuidade da sua impor-
tação em quantidades que não deverão ter divergido acentuadamente do que se verificou durante o
séc. I d.C., ainda que proporcionalmente se observe uma maior diferença entre estes e os produtos
locais/regionais, o que é perfeitamente compreensível face ao importante desenvolvimento da indús-
tria piscícola lusitana durante a segunda centúria da nossa Era.

7.2.2. Vinho

Relativamente ao consumo de vinho, até ao reinado de Nero os produtos do Vale do Guadal-


quivir são importados em grandes quantidades e totalmente preponderantes, sendo representados
principalmente pelas Haltern 70, amplamente documentadas em contextos coevos em Olisipo, de que
se poderão salientar a Praça da Figueira, os claustros da Sé, a Rua dos Bacalhoeiros, o Teatro Romano e
a Rua dos Remédios (Silva, 2015a; Silva et al., 2016). O auge deste comércio abrange a diacronia que se
estende desde o Principado de Augusto ao de Nero, tendo em conta as percentagens das variantes da
Haltern 70, enquadrando-se o seu comércio, em grande medida, no abastecimento aos contingentes
militares do Noroeste Peninsular, da Britannia e Germania (Morais e Carreras Monfort, 2004, p. 93).
Ainda que de forma bem menos expressiva, o vinho daquela região chegava também nas ânforas dos
tipos Urceus (atestadas em contextos datados até Nero na Sé, na Praça da Figueira, no Teatro Romano,
na Rua dos Bacalhoeiros e no Palácio do Marquês de Angeja), Dressel 28 (na Sé), Dressel 2-4 (no Teatro
Romano) e Verulamium 1908 (no Teatro Romano). Ainda enquadráveis nesta faixa cronológica, pelo
menos em parte, apesar de muito menos representativos, serão os vinhos provenientes da costa bética
transportados nos Urceus, nas Dressel 2-4 (atestada em nível de meados do séc. I d.C. na Rua dos Ba-
calhoeiros) e nas Dressel 28, bem como os de produção local/regional, representados pelas prováveis
imitações de ânforas de tipo Urceus (atestadas em contexto datado entre o Principado de Augusto e
meados do séc. I d.C. no Beco do Marquês de Angeja), Dressel 2-4 e possivelmente Dressel 28.
A importação do vinho produzido no Vale do Guadalquivir parece ter conhecido uma acentuada
diminuição a partir da dinastia Flávia ou mesmo da fase final de Nero, verificável na escassa representa-
tividade da variante Flávia da Haltern 70, coincidindo com o período em que, em Olisipo, se verifica uma
significativa quebra no consumo de vinho transportado em ânforas. Este último facto é especialmente
evidente nos contextos genericamente balizados entre a segunda metade/último terço do séc. I d.C.
e as primeiras décadas/meados do séc. II, onde as ânforas vinárias surgem sistematicamente em pro-
porções reduzidas e, o que é mais significativo, com valores inferiores aos dos envases oleícolas. Assim
sucede nos conjuntos da Zara, Rua Augusta (onde o vinho significa 13,43% da amostra e o azeite 20,37%),
na Rua de São Mamede (17,02% - 29,79%), na Rua de São João da Praça (2009) (20% - 25%) e na Calçada
do Correio Velho (16,67% - 38,89%), enquanto nos restantes conjuntos aqui estudados, ainda que com
alguma variação, as ânforas vinárias são sempre superiores aos contentores oleícolas, representando
nos dados globais da cidade, respectivamente, 32,40% e 19%.
A fraca representatividade das ânforas vinárias neste lapso temporal apenas se poderá com-
preender à luz do significativo declínio do grande comércio do vinho que ocorre na segunda metade do
séc. I d.C. - e não de uma redução no seu efectivo consumo -, indiciando a afirmação da vitivinicultura
local e regional, fenómeno que parece ser transversal a outras regiões do Império (Tchernia, 1986, p.
292; Fabião, 1998a, p. 169). Todavia, entre as produções anfóricas lusitanas enquadráveis no séc. I d.C.,
compostas pelas imitações de Urceus, de Dressel 2-4 e de Dressel 28, nenhuma parece ter sido suficien-
temente representativa para colmatar aquela lacuna no consumo da apreciada bebida, nem mesmo

518
Capítulo 7 Dinâmica comercial entre a República e o Principado

considerando a possibilidade da Haltern 70 lusitana ter sido utilizada para o transporte desse artigo.
Por outro lado, as Lusitana 3 não deverão ter surgido antes do início do séc. II d.C., e mesmo essas só
parecem adquirir uma expressão suficientemente significativa já a partir do segundo quartel/meados
dessa centúria, tendo em conta os dados contextuais de Olisipo apresentados anteriormente, onde a
maioria dos exemplares recolhidos em contextos romanos procedem de níveis balizados entre meados
do séc. II d.C. e meados do séc. III, sendo raros em níveis anteriores; mas também aqueles que se regis-
tam na generalidade dos outros centros de consumo onde se encontram documentadas (Fabião, 2004,
p. 390; García Vargas, 2016a; Quaresma e Raposo, 2016; Mota et al., 2017). Haverá, pois, que considerar
a probabilidade de uma produção de vinho local/regional em escala apreciável logo a partir da segunda
metade do séc. I d.C., sobretudo do seu último quartel, recorrendo-se então principalmente a outro
tipo de contentor para o seu transporte, provavelmente odres ou tonéis, justificando-se desse modo a
escassez de ânforas vinárias durante aquele período, que dificilmente constituirá uma real diminuição
do consumo de vinho.
Voltando ao vinho da Baetica, resta mencionar que a sua importação durante o séc. II d.C. terá
sido muito pouco expressiva, sendo unicamente representada pelas imitações de “Gauloise 4” da área
costeira, que poderão inclusivamente ter chegado já no decorrer do séc. III ou IV, e possivelmente por
alguns dos exemplares das Dressel 28 do Vale do Guadalquivir e das Dressel 2-4 da costa, situando-se,
assim, na dinastia Flávia o final da importação do vinho daquela província para Olisipo em quantidades
minimamente expressivas. Por outras palavras, é a partir de então que a Bética perde a hegemonia do
comércio desse artigo em Olisipo, que passa a ser dominado pelos produtos vínicos locais/regionais a
que acima se fez referência. No quadro das importações extraprovinciais deste produto, os artigos da
Gallia parecem assumir a preponderância a partir de então, sobretudo materializada na presença das
típicas Gauloise 4.
Em Olisipo estes contentores encontram-se bem documentados ao longo de uma extensa diacro-
nia: nos Claustros da Sé, com a marca MATVRI, em contexto da segunda metade do séc. I d.C. (Fabião et
al., 2016, p. 32-33); na Rua de São Mamede, em níveis datados entre a dinastia Flávia e o primeiro terço
do séc. II d.C. (Mota et al., 2017); na Zara, num estrato balizado entre o último terço do séc. I d.C. e mea-
dos do séc. II; na recente intervenção da Rua das Pedras Negras, em contexto de entre meados do séc.
I d.C. e o séc. II (Gomes et al., 2017); na Casa dos Bicos, em nível da primeira metade do século III d.C. (Fi-
lipe et al., 2016, p. 433); e em vários contextos da Praça da Figueira, enquadráveis entre meados do séc.
II e meados da centúria seguinte, em níveis do último terço do séc. III e ainda em depósitos datados do
final deste último século e inícios do IV d.C.. Foi ainda documentada na FRESS, em contexto que deverá
datar dos últimos anos da dinastia Júlio-Cláudia (Silva, 2014, p. 183). Tendo em conta estes dados contex-
tuais e a cronologia de produção e comercialização das Gauloise 4, poder-se-á dizer que o comércio dos
produtos vínicos gauleses para o Ocidente Ibérico parece ter abrangido toda a larga diacronia em que
aqueles contentores foram fabricados, devendo o auge desse comércio situar-se entre os séculos II e III
d.C., embora esteja bem atestada no registo arqueológico de Olisipo desde os momentos iniciais da sua
produção. Os produtos vínicos desta região estão ainda representados por outros tipos anfóricos, de-
signadamente pela variante B da Gauloise 1, Gauloise 3, Gauloise 5 e um tipo indeterminado de pequeno
módulo. Ainda que claramente minoritários e de escassa expressão estatística, a ocorrência em Lisboa
de ânforas cuja distribuição à escala do Império foi, com excepção da Gauloise 5, extremamente limita-
da, sublinha a relevância do porto desta cidade no âmbito das redes comerciais do Ocidente do Império.
Os vinhos do Mediterrâneo Oriental encontram-se bem representados em Olisipo, sendo apenas
ultrapassados pelos béticos e gauleses no âmbito das importações extraprovinciais. Embora os dados
contextuais sejam reduzidos para definir os ritmos da sua chegada ao extremo Ocidente Peninsular,
é possível entrever uma notável constância no comércio destes artigos de longínqua origem durante
todo o espectro temporal que se estende do Principado de Augusto ao séc. III. Tanto as Tardo-Ródias/
Camulodunum 184 como as Dressel 2-4/5 poderão ter chegado a Olisipo desde os primeiros anos do últi-
mo terço do séc. I a.C., ou mesmo um pouco antes, ainda que a sua presença não seja até aqui conheci-
da em contextos datados dessa fase. Se para as segundas não existem quaisquer dados contextuais, as
Tardo-Ródias estão documentadas em níveis datados do segundo quartel do séc. I d.C. nos Claustros da
Sé, em contextos balizados entre o último quartel do séc. I d.C. e o primeiro terço do séc. II na Rua de

519
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

São Mamede (Mota et al., 2017), entre a Época Flávia e os meados do séc. II d.C. na Zara, Rua Augusta, e
em contexto datado entre os meados do séc. II d.C. e meados do século seguinte na Praça da Figueira.
Coincidência ou não, é precisamente no período em que o consumo de vinho transportado em ânfo-
ras conhece uma significativa quebra em Olisipo, que acima se comentou, que as Tardo-Ródias estão
estratigraficamente melhor documentadas - tal como as Gauloise 4 e as PE 25 -, podendo tal situação
constituir um indício de uma certa intensificação das relações comerciais com o Oriente Mediterrâneo
a partir da segunda metade do séc. I d.C., hipótese reforçada pela sua generalizada ausência nos con-
textos datados entre Augusto e Nero em Olisipo, tanto os já conhecidos (Filipe, 2008a; Filipe, 2008b;
Filipe, 2015; Silva, 2015a) como os que se analisaram neste trabalho. Neste sentido concorre a presença
em Lisboa das Agora M54 e Pompeia 13/Agora G198, cujo início de produção e comercialização se si-
tua precisamente nessa cronologia, e mesmo das Kapitän II e Agora M126/contentores monoansados
que, não obstante, poderão ser consideravelmente mais tardias; bem como a verificação de uma maior
representatividade das importações orientais nos conjuntos anfóricos analisados que se enquadram
cronologicamente sobretudo nos séculos II e III d.C., como é o caso da Rua da Pedras Negras, do Banco
de Portugal e da Praça da Figueira. Acrescente-se ainda que a difusão do vinho oriental e a sua chega-
da a Olisipo se deveria enquadrar em grande medida no contexto dos abastecimentos institucionais,
beneficiando do abastecimento dirigido às províncias do Norte, onde surgem bem documentadas nos
estabelecimentos militares das fronteiras do Império precisamente a partir de meados do séc. I d.C., o
que poderá em parte ter resultado das imposições tributárias impostas por Cláudio às produções ródias
(Peacock, 1977, p. 170; Fabião, 1998a, p. 183).
Confirmando-se ou não a hipótese de um incremento no comércio do vinho com origem no Me-
diterrâneo Oriental a partir da segunda metade do séc. I d.C./dinastia Flávia, beneficiando dos abasteci-
mentos institucionais cujas rotas de distribuição percorreriam a fachada atlântica ibérica, não restarão
dúvidas que as ânforas vinárias orientais chegaram a Olisipo na fase inicial do Principado. Para além da
já aludida mais que provável presença das Tardo-Ródias e Dressel 2-4/5 pelo menos a partir do último
terço do séc. I a.C., está atestada em Olisipo a presença das variantes típicas da Época de Augusto das
Ânforas de Quios, ainda que recolhidas fora de contexto, para além do exemplar de Cretense 4/Dressel
43 da Rua dos Bacalhoeiros proveniente de níveis datados em torno a meados do séc. I d.C. e do já refe-
rido exemplar de Tardo-Ródia proveniente de contexto da Sé datado do segundo quartel do séc. I d.C..
O anteriormente comentado declínio do comércio dos vinhos itálicos a partir dos finais do séc. I a.C.
fica bem patente na representatividade das Dressel 2-4 tirrénicas na amostra global do Principado,
ostentando valores inferiores aos das importações da Gália e do Mediterrâneo Oriental, embora acima
das procedentes da Tarraconense. Haverá, contudo, que matizar devidamente estes dados, uma vez
que o comércio das Dressel 2-4 tirrénicas dever-se-á ter balizado fundamentalmente entre os decénios
imediatamente anteriores à viragem da Era e os três primeiros quarteis do séc. I d.C., período de maior
êxito destas produções itálicas (Fabião, 1998, p. 182; Williams et al., 2005), ainda que possam também
ter chegado em fase posterior.70 Os dados contextuais de Olisipo parecem confirmar esta hipótese,
observando-se a ocorrência daquele tipo em contexto datado do reinado de Cláudio na Rua dos Remé-
dios, em níveis de Cláudio-Nero na Praça da Figueira, do segundo terço do séc. I d.C. na Sé Catedral e de
Nero no Teatro Romano. Menos comum é a sua presença em contextos posteriores aos Flávios, estan-
do apenas documentados nas Escadinhas de São Crispim, em níveis da primeira metade do séc. II d.C.,
e na Praça da Figueira em contextos genericamente balizados entre meados do séc. II d.C. e meados
da centúria seguinte, onde, de resto, são abundantes os materiais residuais. Igualmente significativa
poderá ser a sua ausência nos poucos contextos de Olisipo datados entre Flávios e o séc. II d.C., como
é o caso da Zara, Rua Augusta, da Rua de São Mamede (Mota et al., 2017) e da Casa dos Bicos (Filipe et
al., 2016). Nesta perspectiva, a representatividade das Dressel 2-4 tirrénicas assume outras proporções
no consumo de vinho entre Augusto e o terceiro quartel do séc. I d.C., devendo então as importações
tirrénicas ser mais significativas que as oriundas da Gália e do Mediterrâneo Oriental, ainda que muito
distantes das béticas.

70 . Acerca da continuidade da produção das Dressel 2-4 campanas após a erupção do Vesúvio em 79: Rizzo, 2014, p. 108-115.

520
Capítulo 7 Dinâmica comercial entre a República e o Principado

Bastante mais modesta é a representação dos vinhos tarraconenses, cujo comércio se orientava
mais para o centro do Império, Roma, e para a Gália e eixo Ródano-Reno em direcção ao limes germâni-
co (Fabião, 1998a, p. 181), que deverão igualmente ter chegado à cidade da foz do Tejo principalmente
durante o final do séc. I a.C. e o século seguinte, estando a sua importação atestada pela presença das
Pascual 1, Oberaden 74, Dressel 3-2 e “Gauloise 4”. Os dados contextuais são, uma vez mais escassos.
O primeiro tipo surge em contextos datados do terceiro quartel do séc. I a.C., no Beco do Marquês de
Angeja, e do Principado de Tibério na Praça da Figueira, no interior da fossa 8933 (Silva et al., 2016; Silva,
no prelo). Das Oberaden 74 documentadas em Olisipo, apenas a peça da Sé provém de contexto coevo
à sua produção e circulação, datado do segundo quartel do séc. I d.C., verificando-se situação análoga
no caso das Dressel 3-2, em que o único exemplar em contexto procede igualmente da Sé, tendo sido
recolhido em nível da primeira metade do séc. III d.C. e correspondendo muito provavelmente à va-
riante tardia daquela forma. Já para os dois exemplares de “Gauloise 4” da costa setentrional da Tarra-
conensis não existem quaisquer referências contextuais. Da leitura destes dados, parece transparecer
uma certa estabilidade na chegada do vinho tarraconense a Olisipo, que se parece ter estendido até à
primeira metade do séc. III d.C. e conhecido no séc. I d.C. o período de maior dinamismo, ainda que a
sua expressão estatística seja sempre irrelevante.
A insuspeitada presença em Lisboa das típicas ânforas vinárias imperiais da Ilha de Ibiza, PE 25,
cujos circuitos de comercialização se centram sobretudo na metade ocidental da bacia do Mediterrâ-
neo, embora pouco representativa e exibindo proporções pouco superiores a metade das produções
da costa setentrional tarraconense, demonstra a superioridade quantitativa desta forma relativamente
a qualquer um dos tipos desta última região produtora. Embora com uma cronologia de fabrico alarga-
da, os exemplares de Olisipo recolhidos em contexto parecem indicar que a sua comercialização para o
Ocidente Ibérico terá conhecido durante a segunda metade do séc. I d.C. e primeira metade da centúria
seguinte o seu período de maior actividade. Estão atestadas em níveis de meados do séc. I d.C. na Rua
dos Bacalhoeiros e possivelmente em cronologia análoga no Criptopórtico da Rua da Prata, em distin-
tos contextos atribuíveis a Flávios e entre finais do séc. II d.C. e momento indefinido do séc. III na Praça
da Figueira, em estratigrafia datada da segunda metade do séc. I d.C. na Zara, Rua Augusta, e nível
balizado entre Flávios e meados do séc. II, igualmente na Zara. Tendo em conta estes dados, o período
de maior fulgor, se assim se poderá dizer, na importação do vinho ebusitano em Lisboa parece coincidir
com o incremento na importação do vinho da Gália e do Mediterrâneo Oriental e, simultaneamente, ao
decréscimo acentuado do comércio do vinho bético e itálico.
Mais difícil de determinar, mercê da diminuta informação contextual, será o ritmo da chegada
dos vinhos norte-africanos a Olisipo, cuja presença é atestada pela ocorrência das Dressel 2-4/Schoene-
-Mau XXXV, importadas em escassa quantidade. O único exemplar recolhido em contexto coetâneo
com a sua produção e comercialização provém da Rua de São Mamede, procedendo de nível datado
entre o último quartel do séc. I d.C. e primeiro terço do séc. II (Mota et al., 2017). O quadro de importa-
ção extraprovincial de ânforas vinárias completa-se com a presença do vinho das costas adriáticas da
Península Itálica, transportado nas Dressel 6A, normalmente mais orientado para a metade oriental do
Império, de que se reconheceu apenas um exemplar (descontextualizado) na cidade.

7.2.3. Azeite

Como anteriormente mencionado, durante toda a diacronia do Principado o azeite foi quase ex-
clusivamente importado do Vale do Guadalquivir, sendo as importações norte-africanas francamente
minoritárias e as do Mediterrâneo Oriental e da costa bética meramente vestigiais, não se conhecendo,
por outro lado, nenhum contentor lusitano destinado ao seu transporte. A presença em Olisipo de to-
dos os tipos oleícolas produzidos no Vale do Guadalquivir e comercializados entre o início do Principado
de Augusto e o final do séc. II d.C./início do séc. III d.C. permite, mercê do avançado estado em que se
encontra a sua investigação, traçar a curva de consumo e os ritmos de importação daquele produto
com alguma segurança. Paralelamente, a análise das marcas de ânfora, particularmente frequentes nas

521
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Dressel 20, fornecem de igual modo importantes informações sobretudo no que se refere à cronologia
e aos circuitos e enquadramento da sua distribuição.
Nos últimos decénios antes da viragem da Era observa-se uma aparente continuidade do abas-
tecimento de azeite a Olisipo com origem no Vale do Guadalquivir, relativamente ao período imediata-
mente anterior, isto é, o terceiro quartel do séc. I a.C.. Tal é observável na quantidade aproximada de
Oberaden 83 em relação aos tipos oleícolas da fase anterior, principalmente as Classe 67/Ovóide 1 e as
Ovóide 6 mas também as Ovóides 2, 5 e 8, não parecendo significativa a ligeira superioridade eviden-
ciada pela quantidade dos contentores mais antigos, uma vez que aqueles abarcam uma diacronia algo
mais extensa; ainda que proporcionalmente a sua representatividade no cômputo geral da amostra
seja significativamente inferior. Já para o primeiro terço do séc. I d.C., os dados são menos claros. A
quantidade de Haltern 71 - o contentor que garantia a exportação do azeite daquela região durante esse
lapso temporal - assim classificadas com alguma segurança, não alcança sequer metade do número das
Oberaden 83, parecendo indicar uma quebra considerável na importação de azeite a partir da viragem
da Era e até ao final do reinado de Tibério. Este dado pode, todavia, ser enganador uma vez que haverá
que considerar o número significativo de peças que não permitiu uma distinção clara entre os tipos
Haltern 71 e Dressel 20 Júlio-Cláudia, que é equivalente ao número de Haltern 71 assim classificadas com
alguma segurança.
Assim, poder-se-á resumidamente afirmar que no último quartel do séc. I a.C. se observa a con-
tinuidade do domínio das importações oleícolas do Vale do Guadalquivir atestada no período imedia-
tamente anterior, chegando em quantidades similares, a que se terá seguido uma ligeira retracção no
período seguinte, primeiro terço do séc. I d.C., cuja real dimensão é para já de difícil percepção mas que
poderá, eventualmente, ter sido pouco acentuada, não deixando de ser pertinente constatar que tam-
bém em Kops Plateau se parece observar uma ligeira retracção na importação de azeite durante esta
fase (Almeida et al., 2014a, p. 386; González Cesteros e Almeida, 2017, p. 49).
A partir do final do reinado de Tibério/início do de Cláudio a importação do azeite produzido
naquela região adquire proporções muito significativas, alcançando uma escala muito superior à dos
períodos anteriores e ultrapassando largamente as importações de vinho com origem na mesma área
produtora. Este apogeu parece ter conhecido uma fase de acentuado declínio entre o Principado de
Nero e o de Vespasiano, tendo em conta as proporções da variante de Dressel 20 dessa fase, observan-
do-se uma significativa retoma do comércio das ânforas oleárias do Vale do Guadalquivir logo na fase
seguinte, Flávia-Trajana, estabelecida entre 80 e 130 d.C. (Berni Millet, 2008). Uma vez mais, haverá que
encarar estes dados com alguma precaução. Desde logo porque existe uma quantidade muito signifi-
cativa de indivíduos do tipo Dressel 20 a que não foi possível atribuir variante, desconhecendo-se quan-
tos entre aqueles poderão corresponder às variantes Nero-Vespasiano e Flávia-Trajana. Paralelamente,
haverá de igual modo que assumir que nem sempre se afigura fácil a distinção de alguns bordos entre
as variantes Júlio-Cláudia e Nero-Vespasiano - veja-se, a título de exemplo, as semelhanças entre alguns
dos bordos da fig. 6 e a peça nº 4 da fig. 7 (Berni Millet, 2008, p. 59 e 60), respectivamente pertencen-
tes às mencionadas variantes. Ambos aspectos poderão, ou não, contribuir para distorcer a leitura da
amostra entre Nero e cerca de 130 d.C., razão pela qual se deverá matizar devidamente esta diminuição
do comércio do azeite proveniente do Guadalquivir durante esse período, que, não obstante os facto-
res enunciados, parece ter efectivamente ocorrido. A esta fase de abrandamento segue-se uma expres-
siva retoma a partir do segundo terço do séc. II d.C., atingindo valores muito aproximados aos que se
haviam verificado no apogeu do abastecimento de azeite à cidade, situado entre o final do reinado de
Tibério e o de Cláudio. A quantidade de exemplares identificados em Olisipo enquadrados nas variantes
Severa e pós-Severa de Dressel 20 denunciam uma clara diminuição da chegada do azeite bético à cida-
de relativamente ao período Antonino, pelo menos até à data da sua substituição por um novo tipo de
contentor, a Dressel 23, que escapa já à cronologia abrangida por este trabalho.
A chegada do azeite do Guadalquivir ao Ocidente Peninsular estaria em grande medida directa-
mente relacionada com a “rota atlântica de distribuição do azeite bético, no âmbito da Annona Militaris,
destinada aos estabelecimentos setentrionais do limes germânico e à Britannia” (Fabião, 1993-1994,
p. 239), mas não de forma exclusiva, tendo já sido demonstrado que aquela região se constituía igual-
mente como o destino final de parte desse comércio (Fabião et al., 2016). Expectavelmente, tendo em

522
Capítulo 7 Dinâmica comercial entre a República e o Principado

conta este contexto, o ritmo da chegada daquele produto a Olisipo reflectiria, em parte, as oscilações
dos abastecimentos institucionais às referidas paragens setentrionais.
O apogeu que se verifica em Olisipo durante a dinastia Júlio-Cláudia deverá em grande medida
relacionar-se com a conquista da Britannia, com Cláudio (Carreras Monfort, 1994, p. 207-211; Chic García,
1995, p. 79; Fabião, 2009a, p. 65; Remesal Rodríguez, 2010a, p. 156), observando-se também, nesta fase,
um pico nas importações oleícolas do Guadalquivir na generalidade dos estabelecimentos militares e
civis da Gallia e da Germania (Almeida et al., 2014a, p. 388). O novo auge que se regista a partir do se-
gundo terço do séc. II d.C. e até ao final da dinastia Antonina coincide com a etapa de maior apogeu na
exportação generalizada daquele artigo a partir do Guadalquivir (Blázquez Martínez, 1980, p. 35; Berni
Millet, 2008, p. 225; Berni Millet e García Vargas, 2016), observável em todo o limes germânico (Almeida
et al., 2014a) e Britannia (Carreras Monfort, 1994), tal como em Roma, no Monte Testaccio (Blázquez
Martínez e Remesal Rodríguez, 1999, 2001, 2003, 2007), tendo o incremento desse comércio de âmbito
essencialmente institucional revitalizado a rota atlântica durante o séc. II d.C..
O envolvimento das elites urbanas de Olisipo na rede de distribuição do azeite bético é claramente
demonstrado pela inscrição do olisiponense Marcus Cassius Sempronianus, diffusor olearius, recolhida em
Oducia (Tocina), no Vale do Guadalquivir (González Fernández, 1983; Loyzance, 1986; Mantas, 1990; Fa-
bião, 1993-1994; Ribeiro, 1994). Trata-se de um personagem relacionado com uma das mais importantes
famílias de Lisboa, os Cassii, cuja actividade de diffusor olearius se poderia eventualmente enquadrar na
distribuição institucional do azeite, possivelmente no abastecimento daquele artigo à Britannia, o que é
sublinhado por um titulus identificado em Vindolanda (Chic García, 1994 apud Fabião, 1993-1994, p. 240).
Olhando para os dados estatísticos das marcas de oleiro sobre ânforas oleícolas do Vale do Gua-
dalquivir atestadas em Lisboa, observam-se genericamente as mesmas tendências de consumo entre a
dinastia Júlio-Cláudia e o séc. III d.C. acima descritas, verificando-se de igual forma a grande escassez de
marcas nos contentores mais antigos dos tipos Oberaden 83 e Haltern 71 - como de resto é habitual nas
ânforas dessa fase -, de que a marca LHORATI parece constituir caso único. Sinteticamente, observa-se
a abundância de marcas atribuíveis ao período Júlio-Cláudio, um único caso seguramente atribuível a
Nero-Vespasiano a que se segue um importante aumento durante a dinastia Flávia e o reinado de Traja-
no, atingindo durante o restante período da dinastia Antonina níveis aproximados aos dos meados do
séc. I d.C., para voltar a diminuir a partir da dinastia Severa.
Como já anteriormente se fez referência (v. 6.3.1.), Olisipo beneficiaria certamente dos circuitos
institucionais que, através da annona militaris, garantiam o abastecimento de azeite aos exércitos esta-
cionados no Norte do Império, nomeadamente na Britannia e na Germania Inferior, utilizando para isso
a rota Atlântica, com paragem obrigatória na cidade da foz do Tejo. Este facto é demonstrado de forma
clara pela documentação em Olisipo e naquelas províncias setentrionais das mesmas marcas de oleiro
sobre Dressel 20 e pela presença dos principais centros produtores, nomeadamente as produções de La
Catria e as marcas dos grupos LFCCV da área de Corduba e de Astigi, PNN da zona de Arva, e Iuni Melissi
de Las Delicias (Remesal Rodríguez, 2010a, p. 157-158).
Em sentido contrário, a identificação em Lisboa de marcas cuja presença se desconhece no Norte
do Império parece indicar que algum desse comércio teria esta cidade como destino final, quer para o seu
próprio consumo, quer para a sua redistribuição para o interior da Lusitania, onde se destacaria natural-
mente a capital provincial Augusta Emerita. Ainda considerando Olisipo como destino final de algum do
comércio do azeite do Guadalquivir, haverá a considerar a representatividade que adquirem as marcas so-
bre Dressel 20 de pequeno módulo (parvae) nesta cidade, que parece constituir-se como um traço carac-
terístico do Ocidente hispânico, possível testemunho da existência de circuitos de distribuição de menor
alcance, presumivelmente de iniciativa privada, onde se utilizariam com maior frequência aqueles mode-
los de pequena dimensão (Fabião, 1993-1994, p. 238-240; Fabião et al., 2016, p. 118-119; Fabião, 2017, p. 81).
Embora me pareça que esta questão se encontra já devidamente ultrapassada, sobretudo des-
de a publicação do importante trabalho de C. Fabião sobre “O azeite da Baetica na Lusitania” (Fabião,
1993-1994), cujos argumentos foram sendo sistematicamente confirmados à medida que a informação
disponível ia aumentando (veja-se, para referir apenas o caso de Lisboa, Fabião, 1993-1994; Sabrosa e
Bugalhão, 2004; Filipe, 2008a; Filipe, 2011; Almeida e Filipe, 2013; Filipe, 2015; Fabião et al., 2016; Gomes
et al., 2017; Mota et al., 2017), não será de mais sublinhar que os dados de Olisipo demonstram de forma

523
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

clara que a importação do azeite da Bética adquiriu uma expressividade muito significativa na Lusitânia
durante a Época Romana, não se podendo de modo algum falar em escassez deste produto em grande
parte do actual território português (Alarcão, 1988; Alarcão, 1990), ainda que tal fosse uma realidade na
região mais setentrional (Fabião, 1993-1994, p. 239).
Quanto ao azeite proveniente do Norte de África, de fraca expressão estatística durante o Princi-
pado (3,44%), ainda que a existência de alguns tipos cujo conteúdo não seja de todo claro - como são os
casos das Pupput T 700.4/T 700.5, das Tripolitana II e das Uzita Pl. 52,10 - possa encobrir uma mais signi-
ficativa representatividade, a amostra de Olisipo permite observar que a sua importação poder-se-á ter
iniciado ainda durante o séc. I d.C., fase em que poderão ter chegado pelo menos alguns dos exemplares
de Tripolitana I e Ostia LIX, cujas proveniências estratigráficas não permitem, desafortunadamente, tecer
quaisquer considerações nesse âmbito. Os mencionados tipos poderão também ter chegado durante a
primeira metade do séc. II d.C., tal como a Ostia XXIII, ou já no decorrer da segunda metade dessa centúria.

NMI % NMI NMI % NMI NMI % NMI % NMI % NMI % NMI


Proveniência Tipo Inéditos Inéditos Public. Public. TOTAL TOTAL região província extra prov.
Greco-Itálica 0 0% 39 5,62% 39 2,90% 8,41% 7,2% 2,90%
Dressel 1 12 1,84% 15 2,16% 27 2,01% 5,82% 4,97% 2,01%
Greco-Itálica/Dressel 1 2 0,31% 2 0,15% 0,43% 0,37% 0,15%
T-7.4.3.3. 176 26,99% 178 25,65% 354 26,3% 76,29% 65,19% 26,3%
Hispânia Ulterior, T-9.1.1.1. 15 2,30% 22 3,17% 37 2,75% 7,97% 6,81% 2,75%
costa meridional Classe 67/Ovóide 1 1 0,15% 1 0,07% 0,22% 0,18% 0,07%
Ovóide 5 1 0,15% 1 0,07% 0,22% 0,18% 0,07%
Ovóide Gaditana 2 0,31% 2 0,15% 0,43% 0,37% 0,15%
Castro Marim 1 0 0% 1 0,14% 1 0,07% 0,22% 0,18% 0,07%
Total 209 32,06% 255 36,7% 464 34,5% 100% 34,50%
T-7.4.3.3. 2 0,31% 2 0,15% 2,74% 0,37% 0,15%
Classe 67/Ovóide 1 14 2,15% 7 1,01% 21 1,56% 28,77% 3,87% 1,93%
Ovóide 2 1 0,15% 1 0,07% 1,37% 0,18% 0,07%
Hispânia Ulterior, Ovóide 4 15 2,30% 2 0,29% 17 1,26% 23,29% 3,13% 1,26%
Vale do Guadalquivir Ovóide 5 3 0,46% 1 0,14% 4 0,3% 5,48% 0,74% 0,3%
Ovóide 6 15 2,30% 11 1,59% 26 1,93% 35,62% 4,8% 1,93%
Ovóide 8 2 0,31% 2 0,15% 2,74% 0,37% 0,15%
Total 52 7,98% 21 3,03% 73 5,43% 100% 5,79%
Hispânia Ulterior, Tipo 6 2 0,31% 4 0,58% 6 0,45% 100% 1,10% 0,45%
Tejo/Sado Total 2 0,31% 4 0,58% 6 0,45% 100% 100% 0,45%
T-8.1.3.2./PE 17 1 0,15% 1 0,07% 100% 100% 0,07%
Ilha de Ibiza
Total 1 0,15% 0 0% 1 0,07% 100% 100% 0,07%
Greco-Itálica 1 0,15% 1 0,07% 50% 50% 0,07%
Hispânia Citerior,
Dressel 1 1 0,15% 1 0,07% 50% 50% 0,07%
costa setentrional
Total 2 0,31% 0 0% 2 0,15% 100% 100% 0,15%
Greco-Itálica 119 18,25% 118 17,00% 237 17,62% 33,76% 31,18% 17,62%
Dressel 1 159 24,39% 259 37,32% 418 31,08% 59,54% 55,00% 31,08%
Península Itálica,
Greco-Itálica/Dressel 1 43 6,60% 3 0,43% 46 3,42% 6,55% 6,05% 3,42%
costa tirrénica
Ovóide tirrénica 1 0,15% 1 0,14% 1 0,07% 0,14% 0,13% 0,07%
Total 322 49,39% 381 54,90% 702 52,19% 100% 52,19%
Greco-Itálica 18 2,76% 3 0,43% 21 1,6% 36,21% 2,76% 1,56%
Lamboglia 2 8 1,23% 7 1,01% 15 1,12% 25,86% 1,97% 1,12%
Península Itálica,
Brindisi 14 2,15% 5 0,72% 19 1,41% 32,76% 2,5% 1,41%
costa adriática
Ovóide adriática 3 0,46% 3 0,22% 5,17% 0,39% 0,22%
Total 43 6,60% 15 2,16% 58 4,31% 100% 100% 4,31%
T-7.4.2.1. / T-7.4.3.1. 4 0,61% 1 0,14% 5 0,37% 13,89% 13,89% 0,37%
Norte de África Africana Antiga 14 2,15% 17 2,45% 31 2,30% 86,11% 86,11% 2,30%
Total 18 2,76% 18 2,6% 36 2,68% 100% 100% 2,68%
Ródia 1 0,15% 1 0,07% 33,33% 33,33% 0,07%
Mediterrâneo
Dressel 4 de Cos 2 0,31% 2 0,15% 66,67% 66,67% 0,15%
Oriental
Total 3 0,46% - 0,00% 3 0,22% 100% 100% 0,22%
TOTAL 652 100% 694 100% 1345 100% 100%

Tabela 138 – Quantificação geral das ânforas republicanas de Olisipo: inéditas e publicadas (as ânforas já publica-
das da Rua dos Bacalhoeiros foram contabilizadas nos materiais inéditos - Filipe, 2008b).

524
Capítulo 7 Dinâmica comercial entre a República e o Principado

Presumivelmente, terá sido a partir de meados do séc. II d.C., ou mais provavelmente do seu último
quartel, que o azeite norte-africano começou a chegar em quantidades um pouco mais expressivas,
embora sempre em níveis muito inferiores aos do azeite do Vale do Guadalquivir e francamente minori-
tários.
Esta difusão dos produtos alimentares norte-africanos no Ocidente Peninsular dever-se-ia inserir
num contexto de iniciativas privadas, não beneficiando do comércio anonário como acontecia com
os produtos oleícolas béticos, assentando muito nesse aspecto a sua fraca representatividade nesta
região. Embora o azeite do Norte de África fizesse igualmente parte do sistema da annona militaris, ele
era, nesse âmbito, preferencialmente encaminhado para a cidade de Roma (Carreras Monfort, 1998, p.
164), não surgindo no Norte do Império em proporções significativas. A conjugação deste factor com
a constatação da existência no antigo território da Lusitânia de marcas de ânforas que se encontram
ausentes nas províncias mais setentrionais indiciam que a Lusitânia era na verdade o destino final de

NMI % NMI NMI % NMI NMI % NMI % NMI % NMI % NM


Proveniência Tipo Inéditos Inéditos Public. Public. TOTAL TOTAL região província extra prov.
Lusitana Antiga 233 7,25% 53 17,43% 286 8,13% 14,63% 14,46%
Lusitana Antiga/Dressel 14 12 0,37% 12 0,34% 0,61% 0,61%
Tipo Urceus? 5 0,16% 5 0,14% 0,26% 0,25%
Dressel 2-4 1 0,03% 1 0,03% 0,05% 0,05%
Haltern 70 41 1,27% 2 0,66% 43 1,22% 2,2% 2,17%
Lusitânia,
Dressel 14 964 29,98% 25 8,22% 989 28,10% 50,59% 50%
Tejo/Sado
Dressel 14 parva 4 0,12% 4 0,11% 0,2% 0,2%
Beltrán IIB 2 0,06% 2 0,06% 0,1% 0,1%
“Dressel 28” 14 0,44% 14 0,4% 0,72% 0,71%
Lusitana 3 560 17,41% 39 12,83% 599 17,02% 30,64% 30,28%
Total 1836 57,09% 119 39,14% 1 955 55,54% 100%
Tipo 2 5 0,16% 5 0,14% 21,74% 0,25%
Tipo 6 1 0,03% 1 0,03% 4,35% 0,05%
Lusitânia, Tipo 7 12 0,37% 12 0,34% 52,17% 0,61%
Peniche Tipo 10 4 0,12% 4 0,11% 17,39% 0,2%
Tipo 12 1 0,03% 1 0,03% 4,35% 0,05%
Total 23 0,72% 0 0,00% 23 0,65% 100% 100%
Dressel 2-4 2 0,06% 1 0,33% 3 0,09% 1,27% 0,24% 0,19%
Dressel 12 6 0,19% 6 0,17% 2,53% 0,48% 0,39%
Dressel 7-11 40 1,24% 16 5,26% 56 1,59% 23,63% 4,49% 3,64%
Dressel 7 3 0,09% 3 0,99% 6 0,17% 2,53% 0,48% 0,39%
Dressel 9 7 0,22% 7 0,2% 2,95% 0,56% 0,45%
Dressel 9-10 24 0,75% 8 2,63% 32 0,91% 13,5% 2,57% 2,08%
Dressel 28 3 0,09% 1 0,33% 4 0,11% 1,69% 0,32% 0,26%
Tipo Urceus 3 0,09% 3 0,09% 1,27% 0,24% 0,19%
Bética, Dressel 20 2 0,06% 2 0,06% 0,84% 0,16% 0,13%
costa ocidental Dressel 20 parva 2 0,06% 2 0,06% 0,84% 0,16% 0,13%
Beltrán II 10 0,31% 10 0,28% 4,22% 0,8% 0,65%
Beltrán IIA 25 0,78% 6 1,97% 31 0,88% 13,08% 2,49% 2,01%
Beltrán IIB 59 1,83% 3 0,99% 62 1,76% 26,16% 4,97% 4,03%
Beltrán IIB/Puerto Real 1 4 0,12% 4 0,11% 2,01% 0,37% 0,30%
Puerto Real 1 1 0,03% 1 0,03% 0,42% 0,08% 0,06%
Dressel 14 1 0,03% 1 0,03% 0,42% 0,08% 0,06%
“Gauloise 4” 7 0,22% 7 0,2% 2,95% 0,56% 0,45%
Total 199 6,19% 38 12,50% 237 6,73% 100% 15,44%
Dressel 7-11 3 0,09% 3 0,09% 50% 0,24% 0,19%
Dressel 28 1 0,03% 1 0,03% 16,67% 0,08% 0,06%
Bética,
“Gauloise 4”/Dressel 30? 1 0,03% 1 0,03% 16,67% 0,08% 0,06%
costa oriental
Beltrán IIB 1 0,03% 1 0,03% 16,67% 0,08% 0,06%
Total 6 0,19% 0 0% 6 0,17% 100% 0,39%

Tabela 139 – Quantificação geral das ânforas do Principado de Olisipo: inéditas e publicadas (as ânforas já publi-
cadas da Rua dos Bacalhoeiros foram contabilizadas nos materiais inéditos - Filipe, 2008b).

525
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

NMI % NMI NMI % NMI NMI % NMI % NMI % NMI % NM


Proveniência Tipo Inéditos Inéditos Public. Public. TOTAL TOTAL região província extra prov.
Oberaden 83/Ovóide 7 26 0,81% 8 2,63% 34 0,97% 3,39% 2,73% 2,21%
Haltern 71 11 0,34% 8 2,63% 19 0,54% 1,89% 1,52% 1,23%
Oberaden 83/Ovóide 7-Halt. 71 2 0,06% 6 1,97% 8 0,23% 0,8% 0,64% 0,52%
Ovóide indeterminada 18 0,56% 18 0,51% 1,79% 1,44% 1,17%
Haltern 70 94 2,92% 23 7,57% 117 3,32% 11,65% 9,38% 7,6%
Haltern 70 (inicial) 24 0,75% 13 4,28% 37 1,05% 3,69% 2,97% 2,4%
Haltern 70 (Augusto-Tibério) 38 1,18% 11 3,62% 49 1,39% 4,88% 3,93% 3,18%
Haltern 70 (Cláudio-Nero) 30 0,93% 30 0,85% 2,99% 2,41% 1,95%
Haltern 70 (Flávia) 4 0,12% 4 0,11% 0,4% 0,32% 0,26%
Verulamium 1908 4 0,12% 9 2,96% 13 0,37% 1,29% 1,04% 0,84%
Tipo Urceus 19 0,59% 7 2,30% 26 0,74% 2,59% 2,09% 1,69%
Dressel 28 10 0,31% 10 0,28% 1% 0,8% 0,65%
Dressel 2-4 9 0,28% 2 0,66% 11 0,31% 1,1% 0,88% 0,71%
Dressel 7-11 8 0,25% 1 0,33% 9 0,26% 0,9% 0,72% 0,58%
Bética, Vale do Beltrán IIB? 2 0,06% 2 0,06% 0,2% 0,16% 0,13%
Guadalquivir Dressel 20 (Júlio-Cláudia)-Halt. 71 11 0,34% 11 0,31% 1,1% 0,88% 0,71%
Dressel 20 (Júlio-Cláudia) 129 4,01% 21 6,91% 150 4,26% 14,94% 12,03% 9,75%
Dressel 20 (Nero-Vespasiano) 14 0,44% 14 0,4% 1,39% 1,12% 0,91%
Dressel 20 (Flávia-Trajana) 74 2,3% 74 2,1% 7,37% 5,93% 4,81%
Dressel 20 (Antonina) 127 3,95% 127 3,61% 12,65% 10,18% 8,25%
Dressel 20 126 3,92% 24 7,89% 150 4,26% 14,94% 12,03% 9,75%
Dressel 20 parva (Júlio-Cláudia) 9 0,28% 9 0,26% 0,9% 0,72% 0,58%
Dressel 20 parva (Flávia-Trajana) 6 0,19% 6 0,17% 0,6% 0,48% 0,39%
Dressel 20 parva (Antonina) 6 0,19% 6 0,17% 0,6% 0,48% 0,39%
Dressel 20 parva 14 0,44% 14 0,4% 1,39% 1,12% 0,91%
Dressel 20 mini 3 0,09% 3 0,09% 0,3% 0,24% 0,19%
Dressel 20 (séc. III) 51 1,59% 51 1,45% 5,08% 4,09% 3,31%
Dressel 20 parva (séc. III) 1 0,03% 1 0,03% 0,1% 0,08% 0,06%
Dressel 20 mini (séc. III) 1 0,03% 1 0,03% 0,1% 0,08% 0,06%
Total 871 27,08% 133 43,75% 1 004 28,52% 100% 100% 65,24%
Pascual 1 7 0,22% 7 0,2% 35% 22,58% 0,45%
Tarraconense, Oberaden 74 5 0,16% 5 0,14% 25% 16,13% 0,32%
costa Dressel 3-2 6 0,19% 6 0,17% 30% 19,35% 0,39%
setentrional “Gauloise 4” 2 0,06% 2 0,06% 10% 6,45% 0,13%
Total 20 0,62% 0 0% 20 0,57% 100% 1,30%
PE 25 11 0,34% 11 0,31% 100% 35,48% 0,71%
Ilha de Ibiza
Total 11 0,34% 0 0% 11 0,31% 100% 100% 0,71%
Gauloise 1 1 0,03% 0,00% 1 0,03% 1,33% 1,33% 0,06%
Gauloise 3 2 0,06% 2 0,06% 2,67% 2,67% 0,13%
Gália Gauloise 4 66 2,05% 3 0,99% 69 1,96% 92% 92% 4,48%
Narbonense Gauloise 5 2 0,06% 2 0,06% 2,67% 2,67% 0,13%
Tipo indet. pequeno módulo 1 0,03% 1 0,03% 1,33% 1,33% 0,06%
Total 72 2,24% 3 0,99% 75 2,13% 100% 100% 4,87%
Dressel 2-4 42 1,31% 6 1,97% 48 1,36% 97,96% 75,0% 3,12%
Península Itálica,
Dressel 21-22 1 0,03% 1 0,03% 2,04% 1,56% 0,06%
costa tirrénica
Total 43 1,34% 6 1,97% 49 1,39% 100% 3,18%
Dressel 6A 1 0,03% 1 0,03% 50% 1,56% 0,06%
Península Itálica,
Schorgendorfer 558 1 0,03% 1 0,03% 50% 1,56% 0,06%
costa adriática
Total 2 0,06% 0 0,00% 2 0,06% 100% 0,13%
Richborough 527 12 0,37% 1 0,33% 13 0,37% 100% 20,31% 0,84%
Ilha de Lipari
Total 12 0,37% 1 0,33% 13 0,37% 100% 100% 0,84%
Dressel 2-4/Schoene-Mau XXXV 6 0,19% 6 0,17% 10,17% 10,17% 0,39%
Pupput T 700.4/T 700.5 2 0,06% 2 0,06% 3,39% 3,39% 0,13%
Tripolitana I 2 0,06% 2 0,66% 4 0,11% 6,78% 6,78% 0,26%
Norte de África Tripolitana II 9 0,28% 9 0,26% 15,25% 15,25% 0,58%
Tripolitana III 1 0,03% 1 0,03% 1,69% 1,69% 0,06%
Ostia XXIII 3 0,09% 3 0,09% 5,08% 5,08% 0,19%
Ostia LIX 4 0,12% 4 0,11% 6,78% 6,78% 0,26%

Tabela 139 – Quantificação geral das ânforas do Principado de Olisipo: inéditas e publicadas (as ânforas já publi-
cadas da Rua dos Bacalhoeiros foram contabilizadas nos materiais inéditos - Filipe, 2008b) (cont.).

526
Capítulo 7 Dinâmica comercial entre a República e o Principado

NMI % NMI NMI % NMI NMI % NMI % NMI % NMI % NM


Proveniência Tipo Inéditos Inéditos Public. Public. TOTAL TOTAL região província extra prov.
Uzita Pl. 52,10 4 0,12% 4 0,11% 6,78% 6,78% 0,26%
Africana I 12 0,37% 12 0,34% 20,34% 20,34% 0,78%
Norte de África
Africana IIA 13 0,4% 1 0,33% 14 0,4% 23,73% 23,73% 0,91%
Total 56 1,74% 3 0,99% 59 1,68% 100% 100% 3,83%
Ródia/Camulodunum 184 28 0,87% 28 0,8% 44,44% 44,44% 1,82%
Dressel 2-4/5 14 0,44% 14 0,4% 22,22% 22,22% 0,91%
Dressel 25 1 0,03% 1 0,03% 1,59% 1,59% 0,06%
Cretense 4/Dressel 43 2 0,06% 2 0,06% 3,17% 3,17% 0,13%
Agora M126/Cont. monoansados 1 0,03% 1 0,03% 1,59% 1,59% 0,06%
Mediterrâneo
Ânforas de Quios 2 0,06% 2 0,06% 3,17% 3,17% 0,13%
Oriental
Dressel 24 3 0,09% 3 0,09% 4,76% 4,76% 0,19%
Pompeia 13/Agora G198 2 0,06% 2 0,06% 3,17% 3,17% 0,13%
Agora M54 7 0,22% 1 0,33% 8 0,23% 12,7% 12,7% 0,52%
Kapitän 2 2 0,06% 2 0,06% 3,17% 3,17% 0,13%
Total 62 1,93% 1 0,33% 63 1,79% 100% 100% 4,09%
Dressel 2-4 3 0,09% 3 0,09% 100% 100%
Indeterminada
Total 3 0,09% 0 0% 3 0,09% 100% 100%
TOTAL 3216 100% 304 100% 3 520 100% 100%

Tabela 139 – Quantificação geral das ânforas do Principado de Olisipo: inéditas e publicadas (as ânforas já publi-
cadas da Rua dos Bacalhoeiros foram contabilizadas nos materiais inéditos - Filipe, 2008b) (cont.).

muitas daquelas mercadorias (Fabião, 2017).


A documentação em Olisipo de tipos anfóricos norte-africanos produzidos durante as duas pri-
meiras centúrias da nossa Era, independentemente do produto que se destinassem a transportar, de-
monstra de forma clara que as relações comerciais entre a fachada atlântica e a Africa Proconsularis e a
Tripolitania, ainda que pouco expressivas, não se limitavam ao comércio de terra sigillata clara, como foi
observado por P. Reynolds (2010, p. 23). Embora os dados contextuais relativos às produções imperiais
do Norte de África em Lisboa sejam escassos, o exemplar de Dressel 2-4/Schoene-Mau XXXV recolhido
na Rua de São Mamede, em contexto datado entre o último quartel do séc. I d.C. e o primeiro terço do
séc. II (Mota et al., 2017), não deixa dúvidas quanto ao que acima se referiu, para além da própria crono-
logia de produção de algumas dessas formas, nomeadamente das Tripolitana I, Ostia LIX, Uzita Pl. 52.10
e Pupput T 700.4/T 700.5 que, como se viu, terão seguramente chegado entre os séculos I e II da nossa
Era. A este propósito, refira-se que, embora escassa, está documentada a presença de ânforas norte-
-africanas do séc. I d.C. no Norte do Império, nomeadamente na Germania Inferior, em Kops Plateau,
Nijmegen (Berg e Schimmer, 2017).
Particularmente interessante, ainda que sem qualquer peso estatístico, é a presença do azeite
produzido no Mediterrâneo Oriental, cuja importação para o Ocidente Peninsular era até aqui pratica-
mente desconhecida. Tratar-se-ia de um produto de luxo, demonstrativo do cosmopolitismo da cidade
e certamente destinado às elites locais com suficiente conhecimento e poder económico para o adqui-
rir. Tendo em conta a cronologia do contexto de onde provém o exemplar da Sé, segundo terço do séc.
I d.C., poder-se-ia associar a sua chegada a Olisipo às campanhas de Cláudio na conquista da Britannia,
altura em que se regista um importante fluxo de produtos orientais para as paragens mais setentrio-
nais do Império, cujos circuitos de distribuição utilizariam sobretudo a rota atlântica. Todavia, a Dressel
24 não parece estar incluída no conjunto de ânforas orientais identificadas naquelas regiões, pelo que
que se poderá assumir que a fachada atlântica da Península Ibérica constituiria muito possivelmente o
destino final daquele produto.

527
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

8.
TOPOGRAFIA URBANA DE CONSUMO

A possibilidade de analisar as ânforas de um vasto conjunto de sítios dispersos pela área da an-
tiga cidade de Olisipo, abrangendo desde o topo da colina do castelo e restante área grosso modo ocu-
pada pelo pomerium aos suburbia localizados a Norte, Este e Oeste da urbe, proporcionou informação
suficiente para efectuar uma análise do que se poderá designar de topografia de consumo na cidade,
ou, se se preferir, da análise espacial desse consumo no espaço urbano, procurando identificar distintos
padrões nas suas diferentes áreas e a sua evolução ao longo do extenso espectro temporal abrangido
por este estudo. No decorrer deste trabalho foram já efectuadas diversas observações relativamente
a esta matéria, remetendo-se para elas a leitura de alguns aspectos importantes, evitando-se aqui des-
necessárias repetições.
Naturalmente, a fiabilidade desta análise é directamente dependente da representatividade das
amostras de cada uma dessas áreas. Neste particular, poder-se-ão considerar suficientemente repre-
sentativas as zonas da antiga alcáçova do Castelo, da vertente Sul da colina e da zona do esteiro ou
suburbium ocidental, todas com conjuntos anfóricos estatisticamente relevantes, ainda que para a fase
republicana os dados sejam menos abundantes, especialmente na área da encosta. Pelo contrário, os
suburbia localizados a Este e a Norte (se é que neste último caso se pode de facto utilizar este termo),
respectivamente representados pela Rua dos Remédios e pela Rua dos Lagares, não possuem represen-
tatividade suficiente para uma caracterização do seu consumo, ainda que no caso do primeiro se obser-
vem tendências muito aproximadas às do Teatro Romano em níveis de idêntica cronologia, o que, aliado
à presumida inexistência de indústria piscícola nesta zona, sugere um padrão de consumo semelhante
ao do pomerium durante o Principado. Pelos motivos já anteriormente referidos, os dados contextuais
são insuficientes para ensaiar este exercício por fases cronológicas mais circunscritas. A possibilidade de
o fazer forneceria certamente informações interessantes, nomeadamente relacionadas com o desenvol-
vimento da indústria piscícola ao longo dos dois primeiros séculos da nossa Era.
Para o período Imperial optou-se ainda por separar dois sítios localizados na linha de margem do
rio Tejo, Rua dos Bacalhoeiros e Casa dos Bicos, cujas características de implantação apresentam alguns
aspectos particulares que tanto os afastam como aproximam das áreas do pomerium e do suburbium
ocidental. Se, por um lado, se trata de sítios ribeirinhos e estreitamente relacionados com a indústria
piscícola, como sucede com a generalidade dos sítios da área do esteiro, por outro, localizam-se lite-
ralmente no limite do pomerium, ao contrário daqueles outros, exibindo tendências de consumo não
muito distintas entre si e mais aproximadas ao que se verifica na vertente Sul da colina do Castelo do
que acontece no esteiro. Nas tabelas 140 e 141, respectivamente atribuíveis à República e ao Principado,
estão representadas apenas as amostras com um Número Mínimo superior a 10 Indivíduos, agrupadas
por áreas da cidade, acrescentando-se na primeira os dados do estudo de J. Pimenta (2005, Quadro 12).
Relativamente à República, observam-se essencialmente dois padrões distintos de consumo no
espaço urbano. Por um lado o topo do morro do Castelo, onde se destaca de forma clara o consumo
de vinho, sobretudo itálico, relativamente aos preparados de peixe e ao azeite. Tal é particularmente
visível na amostra do Largo de Santa Cruz e nos dados da Praça Nova publicados por J. Pimenta (2005),
onde as ânforas vinárias representam respectivamente 71,68% e 65,02%, sendo igualmente observá-
vel nos conjuntos de menor fiabilidade estatística aqui analisados, com excepção da Rua do Espírito
Santo onde se verificam valores similares no consumo de vinho e preparados à base de peixe. Ainda
nesta zona da cidade, o consumo do azeite transportado em ânforas é consideravelmente reduzido,
quedando-se pelos 5,31% e 4,08% nos dois conjuntos atrás mencionados e por valores entre os 5% e os 6%
no Pátio José Pedreira e nos materiais inéditos da Praça Nova, apesar de algumas amostras de menor
dimensão apresentarem percentagens entre os 10% e os 14%.

528
Capítulo 8 Topografia urbana de consumo

50
45
40

Vinho

55

65
60

70

75

85
80
Preparados piscícolas

60

65

70

75
Azeite

Indeterminado

75
5,26%

35
75

15,79%

0,27%

5,08%
85

78,95%
85 60

90 90

30,49%

80
80
38

85
64,15%
4
75
70

37

80
90

90

95

34
90

33 32
31

30
0,28%

15,34%

39,77%

14 44,6%

12 16

21

40
26
28
22

20
8,33%

41,67%

50%

jo
Te
o
Ri

200m

Figura 111 – Padrões de consumo durante a República nas distintas áreas da cidade (percentagens apenas sobre
os sítios mencionados na Tabela 140).

Por outro lado, a vertente Sul da colina, onde se regista um padrão de consumo distinto, carac-
terizado por um maior equilíbrio entre o consumo de vinho e de preparados piscícolas, paralelamente
a uma maior representatividade do azeite. Nos dois conjuntos mais significativos, Claustros da Sé e
Teatro Romano, observam-se cenários algo divergentes. No primeiro sítio, o vinho é o artigo mais con-
sumido (43,6%), embora com valores que não se distanciam muito relativamente aos dos preparados
piscícolas (40,7%), ao contrário do que acontece no Castelo. Já no Teatro Romano o panorama inverte-
-se e é mesmo o consumo dos produtos haliêuticos que se destaca, representando 44,14%, enquanto
o vinho não ultrapassa os 40,54%. Tanto nos Claustros da Sé como no Teatro Romano, ou em amostras
mais reduzidas como o Palácio dos Condes de Penafiel, as Escadinhas de São Crispim e a Rua das Pedras
Negras, o azeite significa entre 13% e 16% o que, embora constituindo uma percentagem algo baixa,
reflecte uma considerável diferença na proporção do seu consumo relativamente à antiga alcáçova
Islâmica. Se os dados deste último espaço urbano se podem considerar suficientemente representa-
tivos da curva de consumo durante a República, os que se referem à encosta Sul do morro do Castelo

529
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Pomerium Outros

Claustros Teatro Palácio C. Escadinhas R. Pedras Pátio Sra. Rua São J. P. Figueira Rua dos
da Sé Romano Penafiel São Crispim Negras 90’ Murça Praça 2001 2000 Bacalhoeiros
NMI 172 111 27 15 16 12 12 20 13
Preparados
40,7% 44,14% 40,74% 40% 8,33% 25% 5% 38,46%
piscícolas
Vinho 43,6% 40,54% 44,44% 46,67% 87,5% 75% 66,67% 80% 54%
Azeite 15,7% 15,32% 14,81% 13,33% 12,5% 8,33% 8,33% 15% 7,69%
Indet. 8,33%

Antiga Alcáçova islâmica


Castelo Rua do Rua Sta.
Largo Santa Pátio J. Rua do
(Pimenta, Praça Nova Espirito Cruz do FRESS
Cruz Pedreira Recolhimento
2005) Santo Castelo
NMI 466* 113 57 35 29 21 11 11
Preparados
30,90% 23,01% 38,60% 11,43% 44,83% 38,10% 18,18% 27,27%
piscícolas
Vinho 65,02% 71,68% 52,63% 82,86% 44,83% 47,62% 72,73% 72,73%
Azeite 4,08% 5,31% 5,26% 5,71% 10,34% 14,29% 9,09%
Indet. 3,51%

* Não foram incluídos os tipos Dressel 2-4, T-4.2.2.5., T-12.1.1.0., T-8.1.3.2., Dressel 7-11, Dressel 14, Almagro 51C e indeterminados.

Tabela 140 – Padrões de consumo durante a República nas distintas áreas da cidade.

são, numa perspectiva de fiabilidade estatística, algo menos consistentes. Todavia, são suficientemente
seguros para assinalar as principais tendências do consumo nesta área da cidade e a sua clara distinção
relativamente ao topo da colina.
Estes distintos padrões de consumo evidenciam a presença militar no espaço da antiga Alcáçova
islâmica, âmbito em que o consumo do vinho itálico adquire uma maior relevância face a outros artigos
alimentares. No contexto da encosta Sul, onde se desenvolveria a cidade durante o período Republi-
cano, o perfil de consumo apresenta um maior equilíbrio entre vinho e preparados à base de peixe,
reflectindo em maior medida o que deveria corresponder à procura dos habitantes de Olisipo no que se
refere aos produtos transportados em ânforas, beneficiando, também, do comércio realizado de forma
paralela ao abastecimento do exército. Haverá igualmente que sublinhar que a distinção observada
entre os padrões de consumo destas duas áreas da cidade se deverá também relacionar com a escas-
sez de materiais dos dois terços finais do séc. I a.C. na antiga Alcáçova islâmica - tão caracterizadora da
ocupação desta zona quanto as presenças massivas dos contentores mais antigos - e sua presença na
vertente Sul da colina, resultando em grande medida numa maior expressividade do consumo de azeite
nesta última. Os casos da Praça da Figueira e da Rua dos Bacalhoeiros, com localizações distintas relati-
vamente às duas áreas atrás definidas, são menos relevantes na qualidade da informação que aportam
relativamente a este tema durante a República, uma vez que se trata de amostras de fraca fiabilidade
estatística (respectivamente 20 e 13 NMI). O primeiro destes sítios situa-se numa zona onde até hoje
não foi identificada qualquer ocupação republicana significativa, exibindo um padrão de consumo to-
talmente divergente das restantes amostras de Olisipo, pelo que se considera que não se deverá valo-
rizar demasiado estes dados. Já em relação à Rua dos Bacalhoeiros, a sua localização, em plena zona
ribeirinha, poderá constituir um indicador do padrão da área portuária da cidade, embora a escassa
fiabilidade do conjunto anfórico não autorize mais do que uma mera sugestão.
As áreas da cidade onde se observam distintos padrões de consumo durante o Principado são um
claro reflexo da evolução e desenvolvimento da urbe relativamente ao período anterior. Desde logo,
está ausente a zona da antiga alcáçova do Castelo, onde se verifica a inexistência de conjuntos imperiais
relevantes, embora se documente a presença mais ou menos ocasional de materiais dessa época,

530
Capítulo 8 Topografia urbana de consumo

o que constituí evidência clara de uma ocupação muito específica, certamente não habitacional e muito
provavelmente de carácter religioso. Mantendo-se a encosta Sul do morro do Castelo como o centro da
cidade, esta ter-se-á reorientado para o seu suburbium ocidental onde se desenvolveu uma importante
indústria de transformação de pescado, pelo menos a partir do séc. I d.C..
É precisamente a existência desta actividade industrial, situada principalmente na área do antigo
esteiro do Tejo, que estará na base dos dois padrões de consumo perfeitamente distintos observáveis
nas amostras de Olisipo analisadas ao longo deste trabalho. No suburbium ocidental destaca-se a hege-
monia das ânforas piscícolas, que alcançam percentagens na ordem dos 64% no Banco de Portugal e na
Zara, face a um bem menos expressivo consumo de vinho que não ultrapassa 18,37% e 13,43%, respec-
tivamente. Esta marcada diferença é bem menos expressiva nos conjuntos da Praça da Figueira, onde
os contentores piscícolas representam 43,46% (intervenção de 2000) e 43,88% (década de 1960) e os
vinários 34,62% e 30,61%.
50
45
40

Vinho

55

65
60

70

75

85
80
Preparados piscícolas

60

65

70

75
Azeite

2
Alum

Indeterminado

75
35

75

85

85 60

90 90
80
80

85

3
4
75
70
80

90

90

95

90

5
0,28% 2,09%

0,7% 1,86%
18,7%

52,42% 22,82%
26,51% 35,42%

14
7 12 16 15 39,21%

13 17
21
40

18 27
28
22
9
11 20
23
0,94% 0,94%
10
13,21%

33,02%

jo
Te
51,89%
o
Ri

200m

Figura 112 – Padrões de consumo durante o Principado nas distintas áreas da cidade (percentagens apenas sobre
os sítios mencionados na Tabela 141).

531
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Encosta Sul da Colina do Castelo

R. Pedras Palácio R. Pedras Rua São Rua São


Claustros Teatro Escadinhas Rua São Calçada Largo St.
Negras C. Negras J. Praça J. Praça
da Sé Romano São Crispim Mamede C. Velho António
90’ Penafiel 2013 2009 2001
NMI 362 281 271 194 57 47 36 26 23 20 14
Preparados
33,70% 39,15% 27,31% 34,54% 33,33% 53,19% 41,67% 19,23% 39,13% 50% 57,14%
piscícolas
Vinho 41,99% 36,3% 47,23% 36,6% 40,35% 17,02% 16,67% 38,46% 30,43% 20% 21,43%
Azeite 20,44% 22,78% 19,56% 25,26% 19,30% 29,79% 38,89% 38,46% 30,43% 25% 21,43%
Alúmen 0,55% 0,71% 0,37% 0,52% 1,75%
Azeitonas
Indet. 3,31% 0,71% 5,54% 3,09% 5,26% 2,78% 3,85% 5%

Suburbium ocidental (área do esteiro) Margem do Tejo

P. Figuei- Banco de P. Figueira Encosta Circo Hotel Criptop. Rua Rua dos Casa dos
Zara
ra 2000 Portugal 1962 de Santana Romano Sta. Justa R. Prata Augusta Bacalhoeiros Bicos

NMI 852 566 216 98 49 24 16 13 11 57 49


Preparados
43,46% 64,13% 64,81% 43,88% 28,57% 58,33% 31,25% 61,54% 36,36% 28,07% 38,78%
piscícolas
Vinho 34,62% 18,37% 13,43% 30,61% 30,61% 20,83% 31,25% 7,69% 27,27% 59,65% 42,86%
Azeite 18,31% 16,08% 20,37% 24,49% 34,69% 20,83% 31,25% 23,08% 27,27% 10,53% 16,33%
Alúmen 0,23% 0,18% 0,46% 1,02% 1,75%
Azeitonas 7,69% 9,09%
Indet. 3,52% 1,24% 0,93% 6,12% 6,25% 2,04%

Tabela 141 – Padrões de consumo durante o Principado nas distintas áreas da cidade.

A representatividade estatística dos sítios mencionados permite ainda estabelecer uma distinção
entre a zona situada mais a Norte do esteiro do Tejo (Praça da Figueira) e a que se situa mais a Sul (Ban-
co de Portugal e Zara). A menor representatividade dos preparados piscícolas na zona mais a Norte de-
ver-se-á relacionar com o maior afastamento da Praça da Figueira relativamente às unidades piscícolas
do suburbium ocidental, algo que parece ser confirmado pelas proporções documentadas na Encosta
de Sant’Ana, situada ainda mais a Norte e onde o consumo de vinho ultrapassa o dos artigos piscícolas;
enquanto a alta representatividade das ânforas piscícolas em sítios como o Banco de Portugal e a Zara
resulta em grande medida do descarte de material utilizado no envasamento dos produtos haliêuticos
produzidos naquela área. Acrescente-se ainda que é também da zona poente de Olisipo que provêm os
conjuntos anfóricos de maior dimensão, o que se reflecte de forma nítida nos dados globais da cidade,
onde os preparados piscícolas dominam o consumo.
Já no que se refere à área grosso modo constituída pelo pomerium, os dados apresentam assi-
naláveis diferenças. Tal como se verificou na mesma zona para o período imediatamente anterior, as
proporções entre o consumo de vinho e de preparados piscícolas são marcadas por um maior equilíbrio
- observável sobretudo nos conjuntos do Palácio dos Condes de Penafiel (36,3% - 39,15%) e no Teatro
Romano (36,6% - 34,54%) - ou por um claro domínio do primeiro daqueles artigos, o que é especialmente
evidente nas amostras do Claustro da Sé (47,23% - 27,31%) e da Rua das Pedras Negras (41,99% - 33,7%),
para não referir sítios de menor fiabilidade estatística como as Escadinhas de São Crispim. Este padrão
afasta-se claramente do que se observa na zona do esteiro, sendo ditado sobretudo pela presença ma-
ciça dos contentores piscícolas locais/regionais de tipo Dressel 14 naquela última área, cuja representati-
vidade no pomerium é significativamente inferior. Assim, o vinho assume no centro da cidade um papel
preponderante no que ao consumo de géneros alimentares transportados em ânforas se refere, ain-
da que os preparados piscícolas apresentem valores muito aproximados. Quanto aos sítios agrupados

532
Capítulo 8 Topografia urbana de consumo

na tabela 141 sob a denominação “Margem do Tejo”, a que acima me referi, o consumo maioritário de
vinho relativamente aos produtos haliêuticos não deixa de ser surpreendente, sobretudo tendo em
conta que tanto na Rua dos Bacalhoeiros (Filipe, 2008b; Fernandes et al., 2011) como na Casa dos Bicos
(Amaro, 1982; Amaro, 2002; Filipe et al., 2016) se documentou a existência de unidades de processa-
mento de pescado. Tal circunstância, que aproxima estes sítios do perfil de consumo do pomerium,
poder-se-á relacionar sobretudo com o hábito de descartar materiais para o exterior da muralha.
Embora com menor expressividade, são igualmente observáveis diferenças no consumo do azei-
te transportado em ânforas, quer relativamente à República, quer entre as zonas do suburbium oci-
dental e do pomerium, durante o Principado. Em relação ao período imediatamente anterior, nota-se
um ligeiro aumento da representatividade daquele artigo, algo mais evidente em relação ao que se
havia observado na antiga alcáçova Islâmica. O seu consumo apresenta maior expressividade na área
do pomerium, onde representa entre 20% e 23% dos artigos consumidos nos conjuntos mais importan-
tes, denotando-se uma menor relevância, ainda que ligeira, na zona da actual Baixa Pombalina, onde
significa entre 16% e 23%.
Da leitura destes dados, pode-se resumidamente afirmar que o padrão de consumo documen-
tado no suburbium ocidental se deve ao facto de aí se implantarem importantes unidades de transfor-
mação de pescado, o que naturalmente potenciou a sobrerrepresentação dos artigos piscícolas, em
parte provocada pelos expectáveis descartes no âmbito daquelas actividades e possivelmente também
nas actividades portuárias; enquanto o perfil registado na área grosso modo ocupada pelo pomerium
da cidade, marcado por um maior equilíbrio entre os principais géneros alimentares transportados em
ânforas, reflectirá uma imagem mais aproximada do que seria o consumo dos seus habitantes.
Situação análoga à zona baixa da cidade de Olisipo, em que o consumo de preparados de pei-
xe é totalmente dominante, verifica-se em Alcácer do Sal (Silva et al., 1980-1981; Pimenta et al., 2006;
Pimenta et al., 2015b), Setúbal (Coelho-Soares e Silva, 1978; Silva e Coelho-Soares, 1980-1981; Silva e
Coelho-Soares, 2014; Silva et al., 2014; Duarte et al., 2014), Tróia (Almeida et al., 2014c) e Ilha do Pesse-
gueiro (Silva e Soares, 1993), locais onde de igual forma de verifica uma íntima associação a ambien-
tes de produção piscícola. Já na generalidade dos centros urbanos sem relação directa com este tipo
de ambientes, como Santarém (Diogo, 1984; Arruda et al., 2005; Arruda et al., 2006a; Almeida, 2008),
Idanha-a-Velha (Banha, 2006), Mirobriga (Biers, 1988; Diogo, 1999a; Quaresma, 2012) e a capital Augusta
Emerita (Almeida e Sánchez Hidalgo, 2013), a tendência geral parece ser a mesma que se observa no
pomerium de Olisipo, isto é, um relativo equilíbrio entre o consumo de preparados piscícolas e vinho ou
a superioridade deste último artigo.

533
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

9.
OLISIPO, O GRANDE PORTO DA FACHADA ATLÂNTICA

Es preciso abandonar una visión simplista de la navegación y entender que


toda la “costa romana” del Atlántico fue un hervidero de relaciones en todas
las direcciones, tanto con el Mediterráneo como de estas provincias entre sí.
Deberemos pues estudiar la jerarquía entre los diversos puertos y sus funciones.
(Remesal Rodríguez, 2010a, p. 160)

Traçado o quadro de consumo de Olisipo na faixa cronológica compreendida por este estudo,
condicionado naturalmente aos dados das amostras disponíveis, importará agora contextualizar a cida-
de e o seu papel à escala regional e do Império.
A implantação estratégica de Olisipo e do seu porto marítimo está na base da relevância que a
cidade alcançou ao longo de todo o domínio romano (e, naturalmente, de toda a sua história), reflec-
tindo-se em momentos e situações tão díspares como, por exemplo, no papel que desempenhou na
campanha militar de Décimo Júnio Bruto ou nas navegações do Atlântico ao longo de todo o período
romano, em que se constituía como um local de paragem obrigatória. As principais tendências no co-
mércio e consumo de produtos alimentares transportados em ânforas entre o terceiro quartel do séc.
II a.C. e o final do séc. II/início do séc. III d.C. em Lisboa constituem um reflexo da sua evolução histórica,
económica, urbana e social no contexto da presença romana no Ocidente Peninsular. Essa imagem,
intrínseca à cidade, torna-se especialmente útil no momento de estabelecer comparações com outros
centros de consumo, procurando perceber e contextualizar o seu papel à escala regional e do Império.
No quadro da aludida campanha militar de Décimo Júnio Bruto em 138 a.C., que constitui simulta-
neamente a referência arqueológica e literária mais antiga da presença romana no Vale do Tejo, os pa-
drões de consumo observáveis nos sítios melhor documentados - Scallabis (Arruda e Almeida, 1998; Ar-
ruda e Almeida, 2001; Arruda et al., 2005; Arruda et al., 2006a; Bargão, 2006; Almeida, 2008), Chões de
Alpompé (Diogo, 1982; Diogo, 1993b; Fabião, 1989; Diogo e Trindade, 1993-1994; Bargão, 2006; Pimenta
e Arruda, 2014) e Olisipo (ver Tabela 138) - são bastante aproximados, realçando o mesmo contexto
histórico e geográfico. Em traços gerais, em todos estes sítios se observa a preponderância do vinho
tirrénico e a presença significativa dos preparados piscícolas da região meridional da Ulterior a par da
ocorrência discreta de ânforas oleícolas provenientes da costa adriática da Península Itálica e do Norte
de África. Relativamente ao vinho, merece referência o facto de, em Lisboa, a representatividade das
Greco-Itálicas ser significativamente mais alta do que nos dois outros locais mencionados (particular-
mente observável nas proporções entre estes contentores e as Dressel 1), não sendo totalmente claro
se tal se deverá mais a uma qualquer característica própria do perfil de consumo da cidade ou a factores
casuais da investigação. A escassa representatividade do conjunto anfórico do Porto Sabugueiro (Pi-
menta e Mendes, 2008; Pimenta e Mendes, 2013; Pimenta et al., 2014b), onde se encontra igualmente
documentada uma importante presença romana durante a segunda metade do séc. II a.C., não permite
aferir com a fiabilidade estatística desejável o seu padrão de consumo. Ainda assim, fica bem patente o
domínio do vinho itálico e dos preparados piscícolas do Sul Peninsular.
Cenário bem distinto pode ser observado no Sul do actual território português, em locais como
Mesas do Castelinho (Parreira, 2009), Mértola (García Fernández et al., 2020), Monte Molião (Arruda e
Sousa, 2012), Faro (Viegas, 2011) e Castro Marim (Arruda et al., 2006b; Viegas, 2011). Nos sítios algarvios,

534
Capítulo 9 Olisipo, o grande porto da fachada atlântica

a principal diferença relativamente ao Vale do Tejo relaciona-se com a menor importância das impor-
tações itálicas e maior relevo dos artigos do Sul Peninsular. Tal, dever-se-á compreender, por um lado,
à luz dos movimentos militares que então decorriam no Vale do Tejo e na relação directa entre a im-
portação do vinho itálico e a presença daqueles contingentes, por outro, na proximidade geográfica
entre o actual Algarve e a Baía Gaditana, encontrando-se aquela área sob a esfera de influência de
Cádis (Mantas, 1990; Arruda, 2002; Arruda et al., 2006b; Viegas, 2011). Em Mértola e Mesas do Casteli-
nho regista-se cenário idêntico, sendo todavia sublinhável, por um lado, a significativa proporção dos
produtos oriundos do Norte de África que se observa no primeiro daqueles sítios, destoando das rea-
lidades conhecidas na área meridional e na região do Tejo, com excepção de Chões de Alpompé (onde
os materiais procedem sobretudo de recolha de superfície, ao contrário de Mértola); por outro, o facto
de, quer em Mesas do Castelinho quer no Monte Molião, as importações itálicas adquirirem uma maior
importância do que nos restantes sítios meridionais, ainda que consideravelmente inferiores às pro-
porções verificadas no Vale do Tejo. Refira-se ainda o sítio de Mata-Filhos (Luís, 2003), junto a Mértola,
com uma expressiva presença de importações itálicas, possivelmente relacionável com movimentações
militares naquela região. O repertório anfórico de Olisipo encontra um paralelo notável em Valência,
na costa oriental espanhola, cidade que foi fundada em 138 a.C., precisamente no mesmo ano em que
Décimo Júnio Bruto chega a Olisipo (Ribera i Lacomba, 2009; Ribera i Lacomba, 2014).
O claro domínio das importações itálicas dever-se-á inscrever no âmbito de uma rede de abaste-
cimento público ao exército que garantia o aprovisionamento alimentar aos contingentes destacados
nesta região (Fabião, 1989, p. 42). Durante os últimos anos do séc. II a.C. e início do seguinte parece
verificar-se uma diminuição da importação do vinho itálico e consequente refreamento do comércio na
região, o que poderá estar relacionado com a redução de contingentes militares, ainda que se deva ter
presente que os contextos bem datados da viragem do séc. II para o I a.C. e do primeiro quartel deste
são muito escassos.
Com início no segundo quartel do séc. I a.C. mas sobretudo a partir de meados dessa centúria,
assiste-se àquilo que Carlos Fabião designou de “progressiva ascensão económica da Península Ibérica”
(Fabião, 1989, p. 121; Fabião, 1998a, p. 182), demonstrada no significativo aumento das importações da
área meridional Ulterior, nomeadamente de azeite e vinho do Guadalquivir, transportados em diver-
sos tipos de ânforas ovóides, e de produtos piscícolas da região costeira, igualmente envasados em
contentores de morfologia ovóide mas também ainda nas T-7.4.3.3.. Simultaneamente, a importação
do vinho itálico em ânforas de tipo Dressel 1 diminuiu significativamente, nunca sendo substituído em
quantidades similares pelas Dressel 2-4.
Estas profundas alterações são genericamente transversais a todo o Ocidente Peninsular e à res-
tante Hispania (Mateo Corredor, 2014), enquadrando-se nas importantes transformações comerciais que
ocorreram à escala do Império durante a segunda metade do séc. I a.C. e em particular durante o Princi-
pado de Augusto, observando-se uma inversão da tendência nas relações centro/periferia, em que Itália
deixa de ser a grande região produtora e exportadora para passar a ser a principal beneficiária (espe-
cialmente Roma) dos artigos produzidos nas províncias, onde os produtos itálicos chegam em cada vez
menores quantidades (Tchernia, 1986, p. 157-158; Fabião, 1998a, p. 178; Mateo Corredor, 2014, p. 681).
No actual espaço português esta ascensão dos produtos béticos paralelamente à quebra das
importações itálicas é reconhecível em praticamente todos os locais que tiveram ocupação durante a
segunda metade do séc. I a.C., nomeadamente na Lomba do Canho (Fabião, 1989), no Alto dos Cacos
(Pimenta et al., 2012; Pimenta et al., 2014c), no Castelo da Lousa (Morais, 2010a), em Mesas do Caste-
linho (Parreira, 2009), no Monte Manuel Galo (Alves, 2014) e no Monte Molião (Arruda e Sousa, 2012),
sendo especialmente evidente no Monte dos Castelinhos (Pimenta et al., 2008; Pimenta e Mendes,
2014; Pimenta, 2015) e em Castro Marim (Arruda et al., 2006b; Viegas, 2011), onde as produções itálicas
exibem proporções particularmente baixas.
Também em Santarém se entrevê este cenário (Arruda e Almeida, 1999; Arruda e Almeida, 2001),
apesar das dificuldades que as estratigrafias urbanas sempre levantam principalmente devido à intensa
e ininterrupta ocupação do espaço e aos altos índices de residualidade. Em Olisipo, apesar da angustian-
te escassez de contextos datados da segunda metade do séc. I a.C., observa-se situação idêntica. Na Sé
Catedral de Lisboa, em níveis balizados entre os quarteis centrais do séc. I a.C., a proporção das ânforas

535
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

itálicas é superior às do Vale do Guadalquivir, mas bastante inferior às da costa meridional, sobretudo
devido à sobrerrepresentação das T-7.4.3.3.. No mesmo sítio, em contextos datados de Augusto as
Dressel 1 estão praticamente ausentes, enquanto as produções béticas são totalmente dominantes,
observando-se o mesmo panorama nos níveis enquadráveis entre Augusto e o final do primeiro quartel
do séc. I d.C..
Ainda em relação à mencionada sobrerrepresentação das T-7.4.3.3. nos contextos da Sé datados
dos quarteis centrais do séc. I a.C., tendo em conta a dinâmica ocupacional do sítio, uma questão - ex-
tensível genericamente a toda a cidade - se impõe: quantas daquelas peças correspondem a material
residual e quantas efectivamente correspondem a importações enquadráveis naquele lapso temporal?
A este título, será muito interessante olhar para alguns locais onde se encontram bem docu-
mentados contextos atribuíveis aos quarteis centrais do séc. I a.C. e ao Principado de Augusto. No
Monte dos Castelinhos, sítio aparentemente fundado um pouco antes dos meados do séc. I a.C. e com
importantes contextos da Época de Augusto (Pimenta e Mendes, 2014; Pimenta, 2015), verifica-se a au-
sência das T-7.4.3.3. e a presença pouco expressiva das Dressel 1 itálicas a par da abundância de formas
ovóides do Guadalquivir e da área gaditana; estando igualmente ausentes no Alto dos Cacos (Pimenta
et al., 2012; Pimenta et al., 2014c). Sublinhe-se a clara relação geográfica entre estes dois sítios e Oli-
sipo, cidade que controlaria o abastecimento a todo o Vale do Tejo. Na Lomba do Canho, sítio grosso
modo enquadrável no terço central do séc. I a.C. (Fabião, 1989), foi identificado apenas um exemplar de
T-7.4.3.3., cuja classificação ainda assim não deixou de levantar algumas dúvidas, estando as Dressel 1
bem representadas, ainda que com percentagens inferiores às importações da Ulterior. Observa-se pa-
norama não muito distinto no Castelo da Lousa (Morais, 2010a) - segunda metade do séc. I a.C. - onde,
todavia, aquele tipo é ligeiramente mais representativo. No Monte Manuel Galo estão ausentes (Alves,
2014), situação que se parece repetir em outros castella do Baixo Alentejo (Madeira, 1986), bem como
em alguns sítios do interior do Alto Alentejo com contextos datados do terceiro e/ou do último quartel
do séc. I a.C., tais como Caladinho (Mataloto, 2010; Mataloto et al., 2014), Rocha da Mina (Mataloto e
Roque, 2013) ou Soeiros (Calado et al., 1999; Mataloto, 2010).
Estes dados parecem assinalar de forma bastante expressiva que durante a segunda metade do
séc. I a.C. se assistiu não só a uma importante quebra nas importações itálicas, sobretudo das Dressel
1, como também a um decréscimo bastante acentuado na chegada das T-7.4.3.3. - porventura mais sig-
nificativo do que normalmente se considera mercê sobretudo de um índice alto de residualidade nas
estratigrafias de sítios como Olisipo e Scallabis -, tendo estas últimas sido gradualmente substituídas por
outras formas produzidas na mesma região em quantidades igualmente significativas, ao contrário das
Dressel 1 itálicas.
Voltando a Olisipo, o panorama não se distancia muito do que se verifica durante o mesmo pe-
ríodo em vários locais do Vale do Tejo no que às proporções e proveniência dos diferentes artigos se
refere, ainda que se observem ligeiras diferenças. Estas parecem relacionar-se sobretudo com a maior
representatividade das ânforas produzidas no Vale do Guadalquivir nos quartéis centrais do séc. I a.C.
em sítios como Scallabis e Monte dos Castelinhos, e aparentemente no Alto dos Cacos, relativamente
a Olisipo. Este cenário é particularmente evidente no conjunto de Santarém onde as Classe 67/Ovóide
1 são proporcionalmente muito mais numerosas do que em Lisboa, o que se poderá eventualmente re-
lacionar com as campanhas de Júlio César contra os Lusitanos, em 61-60 a.C.. Haverá, contudo, que re-
lembrar a já aludida relativa escassez de contextos datados em torno a meados do séc. I a.C. em Olisipo,
que poderá explicar estas ligeiras diferenças entre Olisipo e outros locais do Vale do Tejo.
Já no Vale do Sado, os dados relativos à República em sítios como Alcácer do Sal, Pedrão ou
Chibanes, são manifestamente insuficientes para estabelecer comparações com Lisboa, ainda que o re-
duzido conjunto daquele último sítio pareça indicar uma superioridade dos preparados de peixe do Sul
Peninsular relativamente ao vinho itálico - cenário bem distinto do que se observa no Vale do Tejo. No
nordeste do Alentejo, no Castelo da Lousa (Morais, 2010a), embora enquadráveis em toda a segunda
metade do séc. I a.C., os dados referem-se sobretudo ao seu último terço. Ainda assim, a fraca repre-
sentatividade das Classe 67/Ovóide 1 face às contemporâneas e bem representadas Ovóides Gaditanas
parece indicar a prevalência dos produtos gaditanos relativamente aos do Vale do Guadalquivir durante
o terceiro quartel do séc. I a.C., ao contrário do que se verifica em Olisipo e Vale do Tejo. O mesmo não

536
Capítulo 9 Olisipo, o grande porto da fachada atlântica

parece observar-se em outros sítios daquela região alentejana, como o Castelo dos Mouros (Matalo-
to, 2008), Castelo Velho de Veiros (Mataloto e Roque, 2012), Monte da Nora (Teichner, 2008), Soeiros
(Calado et al., 1999; Mataloto e Angeja, 2015) e Rocha da Mina (Mataloto e Roque, 2013; Mataloto et
al., 2014), todos com conjuntos demasiado reduzidos para grandes ilações estatísticas mas evidencian-
do uma certa coerência global onde os produtos do Vale do Guadalquivir se destacam relativamente
aos da área gaditana; observando-se o mesmo panorama no interior do Baixo Alentejo, em Mesas do
Castelinho (Parreira, 2009) e no Monte Manuel Galo (Alves, 2014), mas, e embora em geografia bem
distinta, também na Lomba do Canho onde, para além da hegemonia do Guadalquivir, a presença das
ânforas itálicas é ainda bastante significativa (Fabião, 1989). Mais a Sul, no actual Algarve, o padrão
global é claramente distinto, mantendo-se a supremacia dos produtos gaditanos relativamente aos do
Vale do Guadalquivir que já se havia observado para o séc. II a.C., particularmente visível nos conjuntos
do Monte Molião, Faro e Castelo de Castro Marim.
Ainda dentro do terceiro quartel do séc. I a.C., haverá que mencionar o aparecimento das pri-
meiras produções anfóricas lusitanas plenamente romanas que, embora muito escassas em Olisipo du-
rante esse período, estão bem documentadas no Vale do Tejo, no Monte dos Castelinhos (Pimenta e
Mendes, 2014; Pimenta, 2015; Pimenta, 2017), no Vale do Sado (Mayet e Silva, 2016, p. 64) e no interior
alentejano, na Rocha da Mina (Mataloto e Roque, 2013; Mataloto et al., 2016). Nesta fase mais antiga,
a ocorrência destes contentores parece coincidir, pelo menos em parte, com sítios com comprovada
presença militar ou integrantes do processo de romanização e articulação do interior do território que,
simultaneamente, coincidem com os circuitos de distribuição das ânforas béticas da segunda metade
do séc. I a.C. (García Vargas et al., 2011, p. 265).
Esta relação de proximidade com os contingentes militares e principais agentes da romanização
parece ser especialmente evidente na fase imediatamente posterior, constituída pelo Principado de
Augusto, em que, para além da continuidade da sua ocorrência nas mencionadas regiões do Vale do
Tejo, Vale do Sado e Nordeste Alentejano, agora em proporções mais significativas, se observa uma ex-
pressiva concentração no Noroeste Peninsular (Morais, 2004b; Morais e Fabião, 2007; Carreras Monfort
e Morais, 2010a; Carreras Monfort e Morais, 2011; Fernández Fernández, 2013). Esta importante concen-
tração das produções anfóricas mais precoces da Lusitania numa região onde então se desenvolviam
as chamadas Guerras Cantábricas dever-se-á relacionar com o abastecimento às tropas ali estacionadas
que, por sua vez, deverá ter constituído um dos principais impulsos ao enérgico desenvolvimento que
ocorreu na produção de contentores anfóricos e, consequentemente, de preparados piscícolas no ex-
tremo Ocidente Peninsular durante este período, adquirindo a partir de então uma escala significativa.
Convirá, aqui, efectuar um pequeno parêntesis antes do desenvolvimento do período imperial
para referir que a análise comparativa entre o perfil de consumo de Olisipo e de outros locais do Oci-
dente hispânico é algo mais problemática para esse extenso lapso temporal - do início do Principado
de Augusto ao final do séc. II d.C./início do séc. III -, amplificando algumas dificuldades já sentidas no
tratamento dos dados do período tardo-republicano. A análise possível permite uma comparação glo-
bal dos dados respeitantes a essa larga amplitude cronológica, pecando por demasiado genérica, mas
não autoriza a sua comparação - com o rigor desejável - por fases relativamente curtas, o que decor-
re principalmente da escassez de contextos cronologicamente bem delimitados e abrangendo toda
aquela diacronia, que permitam definir a evolução dos perfis de consumo nos diversos centros urba-
nos, bem como da questão da lata cronologia de fabrico e circulação de grande parte dos contentores
anfóricos. A estas limitações, haverá que juntar a questão da representatividade estatística de muitos
dos conjuntos a que se fará referência, genericamente escassa em alguns deles ou insuficientemente
representativa da diacronia do Principado, como é o caso de Santarém. A comparação efectuada é, por
estes motivos, a possível neste momento ainda que não a desejável.
A traços largos, recordando de modo sucinto o que atrás se escreveu, o perfil de importações de
Olisipo no Principado caracteriza-se, por um lado, pelo domínio dos artigos locais/regionais, que signifi-
cam 57,8%, por outro, pela hegemonia dos produtos béticos (33,46%) no quadro das importações extra-
provinciais, notavelmente dos que provêm do Vale do Guadalquivir (27,08%) face aos da área costeira
(6,37%). Nas restantes importações destacam-se os produtos oriundos da Gallia (2,24%), do Mediterrâ-
neo Oriental (1,93%), do Norte de África (1,74%) e da costa tirrénica da Península Itálica (1,34%), enquanto

537
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

as áreas produtoras da Tarraconensis, Ilha de Ibiza, costa adriática da Península Itálica e Ilha de Lipari
apresentam todas valores inferiores a 1%. No que se refere aos produtos transportados nos contentores
anfóricos, dominam os preparados piscícolas (44,71%), seguidos do vinho (32,4%) e do azeite (19,9%),
para além da importação bem menos expressiva de alúmen (0,37%) e de azeitonas em conserva (0,03%).
Numa óptica de comparação global entre os padrões de consumo de Olisipo e os de outras ci-
dades da Lusitânia durante todo o período do Principado, tomando em consideração apenas as im-
portações extraprovinciais, Alcácer do Sal parece corresponder ao centro urbano com um perfil mais
aproximado no que se refere às regiões de proveniência dos contentores (Silva et al., 1980-1981;
Pimenta et al., 2006; Pimenta et al., 2015). Tendo em conta tanto a sua localização geográfica como a
relevância que teria durante este período (Mantas, 1990), poder-se-á intuir para esta cidade um papel
semelhante ao de Olisipo na redistribuição de produtos alimentares transportados em ânforas para o
interior do território através do Vale do Sado, provavelmente também até Mérida, a capital provincial.
Contudo, haverá que olhar para os dados de Alcácer do Sal com alguma prudência, uma vez que são
estatisticamente pouco expressivos, sendo particularmente escassos no que se refere às importações
extraprovinciais. Para além de uma representatividade dos produtos lusitanos muito mais destacada
do que se observa em Olisipo, o que, apesar de tudo, é admissível, causa estranheza sobretudo o facto
das ânforas oleícolas apresentarem valores muito superiores aos dos contentores vinários - perto do
dobro - o que eventualmente estará mais relacionado com a falta de fiabilidade estatística da amostra
do que com um efectivo padrão de consumo da cidade.
Outros locais implantados no Vale do Sado, como Setúbal (Coelho-Soares e Silva, 1978; Silva e
Coelho-Soares, 1980-1981) e Tróia (Diogo e Trindade, 1998; Diogo e Paixão, 2001; Almeida et al., 2014c;
Almeida et al., 2014d), parecem exibir diferentes padrões de importação, desde logo com uma propor-
ção mais expressiva dos artigos lusitanos, divergindo dos casos de Lisboa e de Alcácer do Sal sobretudo
nas proporções das importações béticas, observando-se um menor peso das produções do Guadalqui-
vir que surgem com valores mais aproximados aos artigos provenientes do litoral daquela província.
Mas haverá que ter em mente que o conjunto de Setúbal enferma dos mesmos problemas que acima
se mencionaram para o de Alcácer do Sal, sobretudo a escassa representatividade das ânforas impor-
tadas de outras províncias; e que na amostra de Tróia, apesar da sua expressividade, as dificuldades de
comparação são sobretudo ao nível dos produtos consumidos, uma vez que não são indicadas as per-
centagens dos diferentes tipos anfóricos extraprovinciais (Almeida et al., 2014c; Almeida et al., 2014d).
Scallabis, cujas ânforas imperiais publicadas se reportam maioritariamente ao período entre Au-
gusto e o final do séc. I d.C. (Diogo, 1984; Arruda et al., 2005; Arruda et al., 2006a; Almeida, 2008),
apresenta tendências marcadamente distintas no que se refere ao peso dos produtos locais/regionais,
que exibem percentagens a rondar os 10%, muito inferiores ao que se verifica em Olisipo durante essa
mesma fase. A preponderância dos produtos piscícolas lusitanos em Lisboa para o período menciona-
do - que não se verifica em Scallabis - havia já sido observada no conjunto do Teatro Romano (Filipe,
2008a; Filipe, 2015), sendo agora plenamente corroborada pelos dados inéditos apresentados neste
trabalho. Tendo em conta a relevância estatística de ambos conjuntos para o lapso temporal situado
entre Augusto e Nero, dificilmente tal distinção corresponderá a uma qualquer deficiência das amos-
tras, correspondendo antes a tendências efectivamente distintas na importação e consumo de géneros
alimentares transportados em ânforas. Não deixa, contudo, de ser paradoxal que seja precisamente na
cidade localizada no interior do território, ainda que acessível por via fluvial, que as importações extra-
provinciais de preparados piscícolas sejam mais representativas, mesmo tendo em conta o estatuto de
capital conventual de Scallabis e/ou admitindo a hipótese que a produção de salgas de peixe (e prova-
velmente de ânforas) na cidade de Lisboa recue à Época de Augusto.
Também na proporção entre os principais produtos transportados nos contentores anfóricos se
observam importantes diferenças entre aquelas duas cidades, apesar do mesmo contexto geográfico.
Atentando na globalidade dos conjuntos, em Santarém prevalece o consumo de vinho, seguido dos
preparados de peixe e do azeite, enquanto em Olisipo o consumo é dominado pelos produtos haliêuti-
cos, seguidos do vinho e do azeite. O panorama altera-se significativamente em Olisipo se se tiverem em
conta apenas as importações extraprovinciais, sendo nesse âmbito o vinho o artigo mais consumido, tal
como em Scallabis. Também na proporção das importações das diferentes regiões da Bética se observa

538
Capítulo 9 Olisipo, o grande porto da fachada atlântica

alguma concordância no quadro de consumo daqueles dois centros urbanos, com nítida vantagem para
os artigos do Vale do Guadalquivir. Ainda que, em parte, a escassez de contentores do séc. II d.C. em
Santarém se possa atribuir a factores casuísticos relacionados com o tipo e localização das intervenções
arqueológicas na cidade, não deixa de constituir um claro indício da significativa quebra nas relações
comerciais e importância económica daquela urbe a partir do séc. II d.C. (Arruda et al., 2005; Arruda et
al., 2006a; Almeida, 2008); dificultando uma comparação satisfatória com os dados de Olisipo para essa
fase cronológica.
Olhando agora para a capital provincial, que apresenta um perfil de consumo distinto (Calderón
Fraile, 2002; Almeida e Sanchéz Hidalgo, 2013; Almeida, 2016), a principal diferença em relação a Olisipo
e Salacia assenta sobretudo em dois aspectos: por um lado, na representatividade significativamente
menor dos artigos lusitanos (apenas 23,2%); por outro, no maior relevo do comércio a longa distância,
sobretudo com origem no Mediterrâneo Oriental, península itálica e Gallia, denunciando um maior po-
der aquisitivo de parte dos seus cidadãos. Embora também em Mérida as importações extraprovinciais
sejam dominadas pelos produtos béticos, estes não ultrapassam os 50% do total dessas importações,
enquanto em todos os outros locais referidos neste texto os produtos daquela província oscilam en-
tre os 63% e os 96% do comércio extra-provincial, com excepção de Ammaia que exibe percentagens
aproximadas a Mérida. A capacidade económica das elites da capital provincial, expectavelmente mais
numerosas do que nos restantes centros urbanos da província, deverá em grande medida estar na
origem desta considerável diferença, justificando de igual modo a expressiva diversidade de tipos e de
regiões de proveniência das ânforas importadas, que só encontra paralelo em Olisipo onde, aliás, essa
diversidade é ainda mais expressiva.
Ainda a este respeito, no caso de Mérida haverá também que ter em consideração a sua posição
geográfica, no interior do território, proporcionando o seu abastecimento por diversas vias, ainda que,
creio, principalmente a partir de Lisboa. Relativamente à proporção das importações das duas grandes
regiões produtoras da Baetica, área costeira e Vale do Guadalquivir, em oposição a Olisipo, dominam as
primeiras. Cenário idêntico pode também ser observado na Civitas Igaeditanorum (Banha, 2006), igual-
mente localizada no interior do território. Para além da proporção entre os produtos procedentes da-
quelas áreas exportadoras béticas, estes dois centros urbanos apresentam em termos gerais quadros
de importação bastante aproximados, particularmente no que se refere à representatividade dos arti-
gos lusitanos bem como aos do Mediterrâneo Oriental. É naturalmente tentador ver nestas analogias
um padrão de consumo característico do interior do território. Contudo, na cidade da Ammaia (Venditti,
2014; Venditti, 2016), com análoga posição geográfica, o cenário é algo distinto. Aqui os artigos lusitanos
adquirem uma proporção mais expressiva, ultrapassando ligeiramente os 50%, e as importações do Vale
do Guadalquivir suplantam as do litoral. Ainda assim, no que se refere aos produtos consumidos, obser-
va-se um padrão idêntico entre Augusta Emerita, Civitas Igaeditanorum e Ammaia, sobretudo entre esta
última e a capital provincial, evidenciando a superioridade do consumo de vinho face ao dos preparados
piscícolas e a fraca representatividade das ânforas oleícolas. Já na villa romana da Tourega, perto de Évo-
ra, o panorama é bem diferente. Os artigos lusitanos são hegemónicos, bem como o consumo de pre-
parados piscícolas, e as importações da costa bética e do Vale do Guadalquivir exibem valores similares.
Embora implantada numa região bem diferenciada e não muito distante da costa atlântica, a cida-
de de Conimbriga (Alarcão, 1976; Buraca, 2005) exibe padrões de importação e de consumo aproxima-
dos aos que se verificam nos centros de consumo do interior do território a que atrás se fez referência,
perfeitamente distintos dos que se registam na cidade da foz do Tejo. A representatividade dos artigos
lusitanos (c. 36%) é superior ao que se observa em Mérida e Idanha-a-Velha, mas significativamente infe-
rior à da Ammaia e da generalidade dos centros urbanos da Lusitânia, com excepção do actual Algarve.
Tal como se verifica nos conjuntos daqueles dois centros urbanos, também em Conimbriga se docu-
menta a superioridade das importações do litoral da Baetica relativamente ao Vale do Guadalquivir. Já
no que se refere ao quadro de consumo, embora globalmente se registe a hegemonia dos preparados
piscícolas, o que se afasta das proporções dos sítios localizados no interior do território mencionados
anteriormente, no contexto das importações extraprovinciais exibe percentagens similares às da Civitas
Igaeditanorum, prevalecendo o consumo de vinho relativamente ao dos preparados à base de peixe.
Igualmente inserível no mesmo padrão do interior da Lusitania é a escassa representatividade do azeite.

539
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Ainda que quantitativamente inexpressivos, os dados de Coimbra (Carvalho, 1998; Carvalho,


2002; Silva, 2015; Silva et al., 2015) concordam genericamente com o padrão que se parece observar
no interior do território e em Conimbriga, observando-se uma reduzida representatividade dos artigos
lusitanos (c. de 25%), um equilíbrio entre as importações do litoral bético e do Vale do Guadalquivir e a
escassez de ânforas oleárias.
De Seilium, cidade que grosso modo se situava entre Conimbriga e Scallabis, onde actualmente se
ergue Tomar, os dados são demasiado parcelares para que se possam estabelecer comparações, uma
vez que apenas as ânforas vinárias foram publicadas de forma detalhada (Banha e Arsénio, 1998). Dos
contentores piscícolas e oleícolas, embora exista notícia da presença de diversos tipos, sobretudo atri-
buíveis aos séculos I e II d.C., não são conhecidas as respectivas quantidades (Ponte, 1999; Prudêncio
et al., 2003). Nas ânforas vinárias destaca-se a presença significativa das Haltern 70, indiciando a supe-
rioridade dos artigos do Vale do Guadalquivir relativamente aos do litoral bético, sendo igualmente de
sublinhar as importações da Gallia e do Mediterrâneo Oriental. Cenário totalmente díspar é o que se
observa na villa romana de Cardílio (Diogo e Monteiro, 1999), um pouco mais a Sul. Os produtos lusi-
tanos são totalmente preponderantes (c. 87%) e os provenientes do Vale do Guadalquivir dominam as
importações, superiorizando-se aos da costa da Baetica, tendências que se aproximam um pouco mais
do cenário de Olisipo. Todavia, o quadro de consumo é verdadeiramente singular: os contentores viná-
rios significam 82% da amostra, sendo especialmente representados por uma quantidade inusitada de
Lusitana 3 (78%), o que poderá constituir indício de uma eventual produção de vinho no local, também
destinado à exportação, como foi já sugerido (Fabião, 1998a, p. 187 e nota 21).
Dificilmente comparáveis com Olisipo, quer pelo tipo de ocupação quer pela dimensão e especifi-
cidades dos conjuntos anfóricos, são as amostras das villae de Povos (Banha, 1991-1992), de Frielas (Poli-
carpo, 2009; Silva, 2012) e de Freiria (Cardoso, 2015), todas situadas na área do Vale do Tejo. Os produtos
lusitanos dominam o consumo nas duas primeiras, enquanto em Freiria significam pouco mais de 40%.
As importações do Vale do Guadalquivir são superiores às da costa bética na villa de Povos e em Frielas,
mas são suplantadas por aquelas na villa de Freiria. À semelhança de Olisipo, os preparados piscícolas
representam o artigo mais consumido, mas tanto em Frielas como em Povos as ânforas oleícolas são
superiores às de vinho, o que destoa totalmente do padrão de Lisboa.
Na costa alentejana, em sítios como Ilha do Pessegueiro (Silva e Soares, 1993), Sines (Diogo,
1999a; Silva e Coelho-Soares, 2006) e Mirobriga (Biers, 1988; Diogo, 1999a; Quaresma, 2012), este último
um pouco mais afastado do litoral, verifica-se que a representatividade dos produtos locais/regionais
atinge valores elevados, semelhantes aos que se observam nos vales dos rios Tejo e Sado, mas também
na Ilha da Berlenga onde são dominantes (Bugalhão e Lourenço, 2006). Relativamente à proporção
das importações da Bética, em Sines e Mirobriga as produções do Vale do Guadalquivir suplantam as do
litoral daquela província, enquanto no sítio insular exibem iguais percentagens. Quanto ao consumo,
as salgas dominam em Mirobriga e na Ilha do Pessegueiro, com valores pouco superiores aos do vinho
no caso do primeiro e de forma destacada no segundo. Já em Sines o quadro de consumo é dominado
pelas ânforas vinárias, seguidas das piscícolas e oleícolas, caracterizando-se sobretudo por um certo
equilíbrio entre os três principais produtos.
Se se atentar ao interior do Baixo Alentejo os dados são menos claros, não se observando um
padrão de consumo transversal a sítios como Beja (Grilo e Martins, 2013), Aljustrel (Pérez Macías et
al., 2009), São Cucufate (Alarcão et al., 1990; Mayet e Schmitt, 1997; Pinto e Lopes, 2006), Monte da
Cegonha (Pinto e Lopes, 2006), Cidade das Rosas (Norton et al., 2006) e Mesas do Castelinho (Parreira,
2009), o que poderá em parte justificar-se com a escassa fiabilidade estatística da maioria desses conjun-
tos mas também com factores relacionados com a cronologia e tipo de ocupação dos sítios, como, aliás,
foi já sugerido para os casos das villae de São Cucufate e do Monte da Cegonha (Pinto e Lopes, 2006). A
representatividade dos artigos lusitanos é bastante alta em São Cucufate, à imagem da costa ocidental
e dos vales do Tejo e Sado, mas o panorama das importações é distinto, sendo dominado pelos produ-
tos do litoral bético que representam sensivelmente o dobro dos oriundos do Vale do Guadalquivir. A
importante representatividade das ânforas locais/regionais parece ser uma característica particular de
São Cucufate, não se repetindo nos restantes sítios mencionados. Em Aljustrel alcançam c. 48% e no
Monte da Cegonha c. 29%, enquanto em Beja e na Cidade das Rosas representam apenas c. 14% e 10%,

540
Capítulo 9 Olisipo, o grande porto da fachada atlântica

respectivamente. Em Mesas do Castelinho a percentagem das ânforas lusitanas imperiais é ainda mais
baixa, com valores semelhantes aos que se registam no litoral meridional do actual território portu-
guês. No que se refere às importações, tal como em São Cucufate, também em Aljustrel e na Cidade das
Rosas se regista o domínio dos artigos da costa bética face aos do Guadalquivir, sucedendo o contrário
em Beja, no Monte da Cegonha e em Mesas do Castelinho, sítios com um perfil cronológico algo mais
antigo e de distinto tipo de ocupação.
Também ao nível do consumo se observa alguma heterogeneidade. Em Beja e no Monte da Ce-
gonha as proporções dos géneros alimentares envasados em ânforas são similares, demonstrando um
relativo equilíbrio ainda que com vantagem para os preparados piscícolas, seguidos do vinho e por fim
do azeite, sendo que é naqueles dois sítios que este último produto adquire maior representatividade
(c. 20%). Padrão bem diferente pode ser observado nas amostras de Aljustrel, São Cucufate e Cidade
das Rosas, em que os artigos haliêuticos são totalmente preponderantes (sempre acima dos 80%) e o
consumo de azeite, apesar de pouco significativo, ultrapassa o do vinho. Já em Mesas do Castelinho a
realidade é totalmente díspar, constituindo o vinho o artigo mais consumido, a que se segue o azeite e
por fim os preparados à base de peixe.
Olhando para o panorama de alguns sítios do Sul da Lusitânia, como Lagos (Almeida e Moros
Díaz, 2014), Monte Molião (Viegas e Arruda, 2013; Arruda e Viegas, 2016), Faro (Viegas, 2011), Balsa (Fa-
bião, 1994a; Viegas, 2011) e Castro Marim (Arruda et al., 2006b; Viegas, 2011), a que se poderão juntar as
villae de Milreu (Teichner, 2008) e do Cerro da Vila (Teichner, 2008), a principal distinção relativamente
ao padrão de consumo das regiões do Vale do Tejo e do Sado e da costa atlântica entre Peniche e o Bai-
xo Alentejo reside na diminuta representatividade que os artigos lusitanos adquirem nos conjuntos do
actual Algarve, por demais evidente, reflexo da fraca expressão que a produção de ânforas e salgas de
peixe teria na região durante o Principado e da maior proximidade geográfica e comercial com a área de
Cádis relativamente às restantes áreas produtoras lusitanas (Mantas, 1990; Fabião, 1994a).
Precisamente esta relação privilegiada com a área de influência gaditana, com raízes bem antigas
(Arruda, 1997; Arruda, 2002; Arruda et al., 2006b; Viegas, 2011), justifica o generalizado maior peso das
importações dessa região relativamente às do Vale do Guadalquivir, em contraposição ao que acontece
em Lisboa. As excepções são constituídas por Castro Marim e Monte Molião, onde a percentagem de
ânforas do Guadalquivir é superior à da costa, a que não será alheio o facto de, entre os casos mencio-
nados, estes corresponderem aos dois sítios com um perfil cronológico mais antigo.
Relativamente ao consumo, nos conjuntos de Faro, Balsa e Castro Marim, o cenário não se dis-
tancia muito do que se documenta em traços gerais em Olisipo: preponderância do consumo de pre-
parados piscícolas, seguidos do vinho e do azeite. Ainda assim, no conjunto de Faro verifica-se uma
equivalência entre a importação dos dois primeiros artigos. Porém, e sempre com a hegemonia dos
preparados de peixe, tanto a amostra de Lagos como as de Milreu e do Cerro da Vila evidenciam a su-
premacia do consumo de azeite sobre o de vinho. A este título, será importante sublinhar que também
em Faro se observa uma importante representatividade das ânforas oleícolas, ainda que, como já indi-
cado, inferior à dos contentores piscícolas e vinários. Verdadeiramente singular é o perfil de consumo
do Monte Molião, onde, apesar do grande equilíbrio que se constata nas proporções dos três principais
géneros alimentares, se observa a superioridade do consumo de azeite, quase integralmente impor-
tado do Guadalquivir nas Dressel 20, seguido do vinho e, por fim, dos preparados piscícolas (Arruda
e Viegas, 2016). Este quadro de consumo, que não encontra paralelo em nenhum outro sítio da costa
algarvia ou do restante território nacional com um mínimo de fiabilidade estatística, poderá eventual-
mente estar relacionado com a reutilização daquele tipo de contentores num contexto de produção de
preparados piscícolas documentado no Monte Molião (Viegas e Arruda, 2013, p. 729-730), o que, para
além de poder eventualmente potenciar a sobrerrepresentação das Dressel 20, poderá de igual forma
justificar a menor relevância na importação de produtos à base de peixe, produzidos localmente.
Tendo estes dados em conta, e sem perder de vista o que se foi referindo ao longo das páginas an-
teriores acerca da escassa fiabilidade estatística de grande parte dos conjuntos mencionados e do res-
pectivo perfil cronológico, é possível entrever distintos padrões de importação e consumo característi-
cos de algumas regiões da antiga Lusitânia, que a investigação deverá no futuro confirmar ou invalidar.
Desde logo, as regiões do Vale do Tejo e do Sado e a costa atlântica entre Peniche e o Baixo Alentejo,

541
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

onde, em traços gerais e salvo as excepções anteriormente comentadas, se observa a total preponde-
rância das ânforas lusitanas (exibindo percentagens entre os 58% e os 91%) e o domínio do consumo de
preparados piscícolas, não representando coincidência o facto de estas corresponderem às principais
áreas de produção piscícola e anfórica da Lusitânia durante o Principado. Igualmente característico do
perfil de importação destas regiões é o domínio dos artigos procedentes do Vale do Guadalquivir relati-
vamente aos do litoral bético, indiciando uma maior proximidade nas relações comerciais com Hispalis.

Alfeizerão
Torres Novas
Berlengas

Peniche EBUROBRITIUM Rio Maior


Chões de Alpompé

Alpiarça
SCALLABIS
Alto dos Cacos

Almeirim

Cartaxo
Porto do Sabugueiro
Torres Vedras
Muge
Alenquer

Salvaterra de Magos
Monte dos Castelinhos

Castanheira do Ribatejo
Garrocheira Coruche
Vila Franca de Xira
Rio Sorra
ia
Alverca

Sintra
Cabo da
S
GU

Roca
TA

Alcochete
OLISIPO
Cascais Oeiras Porto dos Cacos
Cacilhas
Almaraz
Ponta do Mato Vendas Novas
Quinta do Rouxinol

Palmela
Zambujalinho
CAETOBRIGA
OCEANUS
Tróia Pinheiro
Sesimbra
Enchurrasqueira
Abul
Cabo Espichel Bugio
SALACIA
Barrosinha

30 km

Figura 113 – Mapa dos vales do Tejo e do Sado com os principais locais mencionados ao longo do texto.

542
Capítulo 9 Olisipo, o grande porto da fachada atlântica

Um outro padrão é o que se observa no interior centro da Lusitânia, em sítios como Augusta Eme-
rita, Ammaia e Idanha-a-Velha, caracterizado pela menor representatividade dos produtos lusitanos e
pela supremacia dos artigos da costa bética face aos do Vale do Guadalquivir - apesar da excepção da
Ammaia -, bem como pelo consumo maioritário de vinho relativamente aos preparados piscícolas e ain-
da pela reduzida proporção de ânforas oleícolas. Apesar da distinta geografia, este padrão de importa-
ção verifica-se em grande medida também em Aeminium e em Conimbriga, cuja principal dissemelhança
assenta no maior consumo de preparados piscícolas relativamente ao de vinho. Ainda em relação aos
contentores oleícolas, a sua escassa presença no interior da Lusitania tem sido associada à existência
de uma produção local de azeite desde momentos precoces, destinada sobretudo a abastecer os mer-
cados locais e regionais, particularmente a capital provincial, muito provavelmente transportado em
odres ou em dolia de pequena dimensão (Calderón Fraile, 2002; Almeida e Carvalho, 2004; Rodríguez
Martín, 2011-2012; Almeida e Sánchez Hidalgo, 2013), cenário que se parece igualmente estender à re-
gião de Conimbriga, Aeminium e villa do Rabaçal (Buraca, 2011).
Outra realidade bem distinta é constituída pelo Algarve, onde os produtos lusitanos têm uma
representatividade muito reduzida e as importações da costa bética imperam sobre as do Guadalquivir,
com excepção de Castro Marim e Monte Molião. Observa-se genericamente o consumo preferencial
de preparados piscícolas, seguido do vinho e do azeite, embora a importância deste último artigo se
sobreponha ao vinho em Lagos e nas villae de Milreu e Cerro da Vila, constituindo mesmo o produto
mais consumido no Monte Molião.
Na região interior do Baixo Alentejo a situação é, como se viu, algo mais indefinida, o que em mui-
to se deve à reduzida dimensão da generalidade das amostras, não sendo possível visualizar um padrão
coerente de importação e de consumo com os dados actualmente disponíveis. De qualquer modo, a ge-
neralizada reduzida representatividade dos artigos lusitanos - com excepção de São Cucufate - e o peso
das importações béticas nos sítios mencionados para essa região, parece constituir indício de que pelo
menos parte importante do comércio de géneros alimentares transportados em ânforas seria efectua-
do a partir dos circuitos comerciais meridionais - onde nesta época escasseiam os artigos lusitanos -, de
que o porto de Mértola constitui a via mais provável. Nesta óptica, será talvez pertinente recordar que,
no contexto dos sítios da costa algarvia a que anteriormente se aludiu, Castro Marim representa um
dos dois únicos casos onde se observa a superioridade dos produtos do Guadalquivir face aos do lito-
ral bético, o que poderá eventualmente decorrer do facto deste centro urbano beneficiar também do
comércio dirigido ao porto de Mértola e daí a um vasto território do interior, particularmente à capital
conventual Pax Iulia, cidade que manteria relações comerciais privilegiadas com Hispalis, como parece
transparecer da prevalência das ânforas do Guadalquivir sobre as da costa bética naquele importante
centro urbano, onde se conhecia já uma marca sobre Dressel 20 associada à produção de La Catria (Fa-
bião, 1993-1994, p. 224). Naturalmente, esta leitura permanece no campo das hipóteses, carecendo de
um conjunto de dados empírico suficientemente robusto para a comprovar, cuja resolução deverá em
grande medida encontrar resposta nos conjuntos inéditos de Beja e de Mértola.
Já fora dos limites da antiga província da Lusitania mas ainda na fachada atlântica, a região do
Noroeste constitui uma realidade marcadamente distinta no que se refere aos perfis de consumo, ainda
que se documentem padrões de importação muito aproximados. Em cidades como Bracara Augusta
(Morais, 1998; Morais, 2005), Lucus Augusti (Carreras Monfort e Morais, 2011) e Asturica Augusta (Car-
reras Monfort e Berni Millet, 2003), onde os artigos locais/regionais adquirem uma fraca expressão,
prevalecem de forma esmagadora os produtos béticos, com ampla vantagem para os que provêm do
Guadalquivir relativamente aos da costa, tal como se verifica em Lisboa, se se atentar apenas às impor-
tações extraprovinciais. Ainda nesta óptica, as proporções que se verificam entre as importações das
restantes áreas produtoras - Mediterrâneo Oriental, Península Itálica, Tarraconensis, Gallia e Norte de
África -, com uma razoável representatividade sobretudo das duas primeiras, são, de um modo geral,
similares às que se reconhecem em Olisipo, com excepção das duas últimas. De facto, tanto os produtos
oriundos da Gália como os norte-africanos adquirem na cidade da foz do Tejo uma representatividade
consideravelmente mais expressiva do que ocorre no Noroeste. Mais significativas são as diferenças no
perfil de consumo, devido principalmente à ocorrência do tipo Haltern 70 em quantidades verdadeira-
mente impressionantes, característica que se parece estender a toda a região do Noroeste. Tal sobrer-

543
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

-representação de um contentor vinário resulta naturalmente num perfil de consumo caracterizado


pelo domínio totalmente hegemónico do vinho, sendo a importação em percentagens muito baixas
de ânforas oleícolas outro dos aspectos que caracteriza o consumo daquela região hispânica (Carreras
Monfort, 1996; Carreras Monfort e Berni Millet, 2003; Morais, 2005; Carreras Monfort e Morais, 2011).
Sintetizando, embora estes dados indiquem as mesmas vias e agentes comerciais no aprovisionamento
ao Noroeste e à área de Olisipo, observando-se as mesmas áreas de produção com proporções idênti-
cas, com excepção do Guadalquivir, evidenciam também que se trata de mercados com uma procura
marcadamente distinta, em que o vinho e seus derivados dominam de forma esmagadora no Noroeste
Peninsular principalmente devido à quantidade de Haltern 70.
Direccionando agora a atenção para o papel que Felicitas Iulia Olisipo terá desempenhado no
abastecimento de géneros alimentares à capital provincial Augusta Emerita, como já se referiu, a cida-
de da foz do Tejo ter-se-á constituído como o principal porto marítimo a partir do qual se canalizavam
inúmeros produtos para aquela cidade, nomeadamente os que eram transportados em contentores
anfóricos. Os principais argumentos que fundamentam este pressuposto são, por um lado, a relevância
do seu aludido porto marítimo (Mantas, 1990; Mantas, 1999; Fabião, 2011) e a importância da cidade,
que a partir de determinado momento pode mesmo ter assumido as funções administrativas da capital
conventual Scallabis (Alarcão, 1994; Mantas, 1990; Mantas, 1999); por outro, o facto de se tratar, a par
de Alcácer do Sal, do porto mais próximo de Augusta Emerita, na foz de um rio navegável que permitia
um acesso privilegiado ao vasto território do interior e que poderá igualmente ter desempenhado pa-
pel capital no abastecimento a Augusta Emerita.
A estes aspectos poder-se-ão de igual forma adicionar alguns dados da cultura material, designa-
damente das ânforas. Embora os conjuntos anfóricos publicados de Mérida não sejam especialmente
numerosos, a amostra do Cuartel de Hernán Cortés (Almeida e Sánchez Hidalgo, 2013) permite uma
visualização das principais tendências no quadro de importação e consumo da cidade, de que se des-
tacam: a superioridade das importações béticas face às lusitanas e, entre aquelas, a prevalência dos
produtos do litoral em relação aos do Vale do Guadalquivir; e o peso do comércio a longa distância,
isto é, a expressiva representatividade dos artigos oriundos de longínquas paragens, onde se destaca
principalmente o Mediterrâneo Oriental, a Península Itálica e a Gália, apresentando percentagens muito
superiores a Olisipo e à generalidade dos centros de consumo lusitanos.
Apesar das significativas diferenças entre os perfis de importação e consumo de Olisipo e Emeri-
ta, a que já anteriormente me referi, um relevante aspecto sobressai, aproximando os dois centros de
consumo: a importância e as proporções que o comércio de vinho alcança (observável numa expres-
siva percentagem no caso da primeira cidade e num significativo volume de contentores na segunda),
mas, sobretudo, a diversidade de regiões de origem e de tipos de ânforas vinárias presentes nas duas
cidades, incomparavelmente superiores aos restantes conjuntos conhecidos na Lusitânia71. O caso de
Mérida é, a este título, bastante elucidativo, uma vez que se documentam 24 tipos vinários distintos
numa amostra de apenas 155 indivíduos, enquanto em Olisipo se identificaram 34 formas vinárias num
conjunto bem mais alargado de 3169 indivíduos.
A relevância do comércio do vinho nestas duas cidades é um reflexo da capacidade económi-
ca das suas elites, expectavelmente mais numerosas na capital provincial mas igualmente com uma
importante representação de quadros administrativos em Lisboa (Silva, 1944; Mantas, 1990; Alarcão,
1994; Mantas, 1999; Silva, 2012a), que terá, naturalmente, beneficiado do comércio dirigido à capital
emeritense. Um bom exemplo de uma situação análoga, ainda que a escala seja bem diferente, é a
que se verificava na relação entre Óstia e Roma, funcionando o primeiro sítio como porto marítimo da
capital do Império e tirando obviamente partido dessa condição, reflectindo-se de uma forma bastante
convincente na “incredibile varietà delle anfore vinarie (…) fenomeno che non trova alcun riscontro

71. Julgo conveniente sublinhar o facto de este quadro corresponder tão somente ao estado actual da investigação, podendo sofrer
alterações de maior ou menor vulto com a publicação de um maior número de estudos, sobretudo das cidades mais importantes. A título
de exemplo, refira-se que, embora os dados das ânforas de Alcácer do Sal não se aproximem da profusão de tipos e regiões produtoras
de vinho documentados em Olisipo e Augusta Emerita, os estudos da terra sigillata proveniente destes três importantes aglomerados
urbanos parecem apontar mais na direcção de um abastecimento à capital provincial a partir de Alcácer do Sal (Silva, 2012a).

544
Capítulo 9 Olisipo, o grande porto da fachada atlântica

Brigantium

Lucus
Legio
Asturica Augusta

Vigo Emporiae
OCEANUS

Bracara Augusta
Caesar Augusta Barcino
Tongobriga Tarraco
Portus Cale

Salamantica
Tarraconensis
Aeminium Lusitania
Conimbriga Civitas Igaeditanorum
Seilium
Norba Valentia
Ammaia
Scallabis
Augusta Emerita
Ebusus
Olisipo Caetobriga Ebora Dénia

Tróia Salacia Lousa Lucentum


La Loba
Mirobriga Pax Iulia Portus Ilicitanus
Baetica
Myrtilis Corduba
Carthago Nova
Italica
Lagos Hispalis
Balsa Baria
Baesuri
Ossonoba
Abdera

Gades Malaca

Baelo Claudia Carteia

200 km
Lixus

Figura 114 – Mapa da Hispania com alguns dos principais sítios mencionados no texto.

in alcun altro porto mediterraneo, ma in quell’età, solo a Roma” (Rizzo, 2014, p. 206-207). A importa-
ção de artigos de luxo, como seria o caso de alguns dos vinhos atestados em Olisipo, destacando-se
talvez os de Quios, mas também do azeite oriental e das azeitonas do alto adriático, respectivamente
transportados nas Dressel 24 e nas Schorgendorfer 558, representava uma exclusividade das elites das
províncias e implicava um conhecimento e um poder económico acima da média, destinando-se ao
consumo sumptuário, sobretudo em ocasiões festivas ou quando recebiam hóspedes de elevada classe
social, mas também à troca de presentes entre membros dessas elites (Peacock e Williams, 1986, p. 57;
Fabião, 1998a, p. 187).
Como se referiu, esta abundância de tipos vinários não encontra paralelo em outros centros de
consumo da Lusitânia, destacando-se ainda assim Seilium (Banha e Arsénio, 1998) e Conimbriga (Bu-
raca, 2005) com pouco mais de uma dezena. Panorama não muito distinto destas últimas cidades e
apenas ligeiramente superior é o que se pode observar nos principais centros urbanos do Noroeste
Peninsular - Braga (Morais, 2005), Lugo (Carreras Monfort e Morais, 2011) e Astorga (Carreras Monfort
e Berni Millet, 2003) -, mesmo e apesar do absoluto domínio do consumo de vinho e seus derivados
face a outros produtos envasados em ânforas. De igual forma, não se conhece em todo o litoral da
Baetica qualquer centro de consumo onde se observe a profusão de ânforas vinárias que se constata
em Olisipo, ou mesmo em Mérida, destacando-se, entre os conjuntos conhecidos, o de Baria, no sudes-
te peninsular, com cerca de 20 tipos vinários (Mateo Corredor, 2014), numa amostra com pouco mais
do dobro dos indivíduos do conjunto emeritense. Em sítios como Hispalis (García Vargas, 2007a; García
Vargas, 2012; García Vargas, 2015), Baelo Claudia e Malaca (Mateo Corredor, 2014) o número de tipos
utilizados no transporte daquela apreciada bebida durante o Principado não parece alcançar a vintena.

545
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

Naturalmente, este panorama reflectirá mais o estado actual da investigação do que o real afluxo e
diversidade daqueles artigos aos grandes centros urbanos da região meridional hispânica, sendo ex-
pectável que em cidades como Hispalis, Cádis ou Corduba se verificasse igualmente um importante e
diversificado comércio de vinho, tal como deveria suceder na costa oriental da Península Ibérica em
sítios como Cartagena (Molina Vidal, 1997), Valência (Molina Vidal, 1997; Huguet i Enguita e Ribera i La-
comba, 2014) ou Tarragona (Díaz García e Otiña Hermoso, 2003; Gebellì Borràs, 2015), entre outros. Não
se pretende aqui enumerar quais as cidades do Mediterrâneo onde se verifica diversidade de ânforas
vinárias análoga ao contexto olisiponense, procurando-se apenas sublinhar e contextualizar no Medi-
terrâneo ocidental o que anteriormente se mencionou relativamente à importância do porto de Olisipo,
que, representando local de escala obrigatória na rota atlântica e sendo simultaneamente porto marí-
timo da capital da Lusitania, se constituiria como o grande porto da fachada atlântica, encontrando-se
certamente entre os principais portos marítimos do Império Romano.
A este respeito, e ainda que datado de uma fase mais tardia (301 d.C.), parece significativa a men-
ção de uma rota entre a Lusitania e o Oriente (Syria) no Édito de Diocleciano, onde se encontram tabe-
lados os preços de fretes por rota (Duncan-Jones, 1974). Embora no mencionado Édito não se encontre
especificado qual o porto da Lusitania, W. Scheidel (2013), que aperfeiçoa o modelo proposto por P.
Arnaud (2007), propôs recentemente que seria ao porto de Olisipo que aquela rota se referiria, o que
será razoavelmente expectável e está totalmente de acordo com o que se referiu sobre a importância
do porto desta cidade.

546
Capítulo 10 Epílogo

10.
EPÍLOGO

O conjunto de dados expostos e discutidos ao longo das páginas anteriores fornece uma imagem
das principais tendências no comércio de bens alimentares envasados em ânforas em Olisipo durante
um lapso temporal balizado entre o terceiro quartel do séc. II a.C. e o final do séc. II/início do séc. III d.C..
Embora, nos moldes da investigação moderna, a sua fiabilidade estatística seja incontestável, quer pela
quantidade de materiais analisados quer pela abrangência e diversidade da sua procedência no espaço
urbano e periurbano, haverá sempre que ter presente que a sua real representatividade num tão lato
contexto diacrónico de aproximadamente três séculos e meio de consumo é, na verdade, bastante re-
lativa, não ultrapassando cerca de 11 ânforas por ano.
Ainda assim, não é expectável que as investigações futuras alterem significativamente, nos seus
principais traços caracterizadores, o quadro de importação e consumo que se delineou a partir de um
vasto conjunto de materiais, sendo contudo muito provável que se verifiquem alterações de maior ou
menor vulto nas proporções das diferentes regiões produtoras e dos distintos produtos, particularmen-
te no âmbito das importações minoritárias.
Um importante aspecto que ficou patente na análise do conjunto global de Olisipo é a questão
da flutuação das importações, cujo enquadramento histórico e social nem sempre é totalmente com-
preensível, aportando importantes indicadores comerciais e económicos. O momento mais recuado da
presença romana no Vale do Tejo, no âmbito da campanha militar de Décimo Júnio Bruto em 138 a.C.,
é acompanhado por um afluxo muito significativo de importações anfóricas destinadas a abastecer os
contingentes militares, sendo particularmente expressivos os vinhos itálicos - que dominam de forma
esmagadora - e os produtos piscícolas da região meridional da Ulterior. A associação deste pico de im-
portações à presença do exército é incontornável.
No final daquela centúria e durante o primeiro quartel do séc. I a.C. parece ter-se verificado uma
descida acentuada nas importações anfóricas - que continuam a proceder das mesmas regiões produto-
ras -, o que só se poderá compreender à luz de uma expressiva diminuição dos efectivos militares nesta
região. Este panorama sofre algumas alterações a partir do segundo quartel do séc. I a.C., altura em
que se observa uma ligeira subida nas importações de alimentos transportados em ânforas e se regista
o inicio da chegada de contentores de forma ovóide, inspirados em modelos itálicos, provenientes do
Vale do Guadalquivir, a par da continuidade do abastecimento de vinho itálico e preparados piscícolas
da costa meridional da Ulterior. Esta subida, difícil de precisar no caso de Lisboa devido à escassez de
contextos dessa época, poderá constituir um reflexo do episódio sertoriano e das acções militares em-
preendidas por César durante a sua estadia na área da futura província da Lusitânia.
A partir de meados do séc. I a.C. e até ao início do Principado de Augusto, verifica-se um acen-
tuado aumento no comércio de alimentos, ainda que não pareça atingir as proporções que se haviam
observado durante o terceiro quartel do séc. II a.C.. Este novo auge das importações caracteriza-se
principalmente pela hegemonia dos produtos da Ulterior, particularmente do Vale do Guadalquivir, e
pelo acentuado decréscimo da importação de vinho itálico. O novo ou remodelado repertório anfórico
é a partir de então dominado pelas formas ovóides do Guadalquivir e do litoral Sul da Ulterior, enquanto
as T-7.4.3.3., a par das Dressel 1, parecem diminuir significativamente a partir de então. Relativamente
ao século anterior, o panorama do consumo regista agora um maior equilíbrio entre os três princi-
pais produtos, embora se mantenha a hegemonia do vinho, que procede agora sobretudo do Vale do
Guadalquivir. Também desta região, importa registar o expressivo aumento na importação de azeite,
enquanto os preparados piscícolas continuam a proceder em níveis consideráveis e de forma quase
exclusiva da costa meridional da Ulterior.

547
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

É precisamente o início da produção local/regional de preparados à base de peixe em proporções


consideráveis que vem introduzir algumas alterações no perfil das importações a partir de Augusto,
resultando numa gradual diminuição do afluxo desse tipo de artigo alimentar procedente da região ga-
ditana, ainda que sempre em percentagens significativas, e representando simultaneamente um impor-
tante impulso na economia regional que se viria a tornar num dos mais relevantes motores económicos
da Lusitânia. Paralelamente, durante o Principado de Augusto, em que não se atestam significativas
alterações nas regiões de origem dos artigos importados e se assiste a um incremento gradual do co-
mércio, parece ter continuidade o aumento proporcional do consumo de azeite que se regista desde
meados do séc. I a.C., observando-se na viragem da Era um relativo equilíbrio entre o consumo desse
produto e o de vinho e preparados piscícolas.
Este panorama, que denuncia uma conjuntura muito positiva na dinâmica comercial e na econo-
mia da cidade entre o início de Augusto e o final do primeiro quartel do séc. I d.C., enquadra-se num
contexto histórico em que se reuniu um conjunto importante de factores favoráveis, principalmente: o
desenvolvimento urbano que se regista em Olisipo durante esta época e que terá resultado sobretudo
das importantes reformas político-administrativas levadas a cabo no Ocidente hispânico por aquele que
é considerado como o primeiro imperador de Roma (Alarcão, 1990; Fabião, 1993; Alarcão, 1994; Mantas,
1994; Silva, 2005), tendo a cidade recebido o relevante estatuto jurídico-administrativo de municipium
civium romanorum entre 31 e 27 a.C. e, com ele, a designação de Felicitas Iulia Olisipo (Faria, 1999); a re-
levante dinâmica comercial proporcionada pelas campanhas militares no Noroeste Peninsular, de que
Olisipo e a restante província da Lusitânia terão seguramente beneficiado, tanto na recepção das mais
variadas mercadorias em trânsito como na intensificação da indústria de preparados piscícolas e sua ex-
portação para aquela região; e, naturalmente, a fundação de Augusta Emerita e o estabelecimento dos
veteranos de guerra nesta cidade a par da fundação da província da Lusitania (Alarcão, 1988; Mantas,
1990; Fabião, 1992; Faria, 1999; Faria, 2006; Le Roux, 2010), o que terá gerado uma significativa dinâmi-
ca comercial e económica de que, certamente, Olisipo terá constituído um dos principais beneficiários,
incrementando a partir de então o seu já vetusto carácter de importante entreposto comercial e pólo
de redistribuição.
O segundo quartel do séc. I d.C. representa o período de maior actividade comercial em Olisipo,
aparentemente extensível ao restante Ocidente hispânico, atingindo o apogeu durante o reinado de
Cláudio e o início do de Nero, em torno a meados da centúria. Para tal contribuiu sobretudo o desenvol-
vimento da indústria piscícola lusitana, cada vez mais importante no abastecimento local e regional, e a
importação do azeite e do vinho do Vale do Guadalquivir em grandes quantidades, cuja afluência haverá
que relacionar com a conquista da Britannia empreendida por Cláudio e com o relevante e estratégico
papel desempenhado pela rota atlântica nessas campanhas (Fabião, 2009a; Remesal, 2010), mantendo-
-se ainda o forte crescimento e desenvolvimento urbano em Olisipo que se havia iniciado com Augusto.
No terceiro quartel do séc. I d.C., mais provavelmente a partir dos últimos anos do reinado de
Nero, observa-se uma tendência geral de diminuição nas importações extraprovinciais, particularmente
do vinho que regista uma acentuada quebra, acompanhada de um aumento dos produtos piscícolas lo-
cais/regionais, sobretudo potenciado pelo importante desenvolvimento da indústria piscícola lusitana a
partir de meados do século; surgindo nesta altura o contentor que constituirá, pelo menos até ao final
do século seguinte, o grande representante dos preparados à base de peixe produzidos na mais ociden-
tal província do Império Romano, a Dressel 14. Estas tendências no quadro de consumo acentuam-se no
último quartel do séc. I d.C., registando-se então uma significativa quebra também na importação do
azeite, enquanto a importação dos preparados piscícolas béticos parecem manter uma certa estabilida-
de. A diminuição na importação dos produtos da uva enquadra-se na quebra que se registou no grande
comércio do vinho um pouco por todo o Império nesta época (Tchernia, 1986; Fabião, 1998a) e que,
também no caso da Lusitânia e como anteriormente se fundamentou, deverá estar directamente rela-
cionada com o desenvolvimento da produção local e regional daquele produto, que nesta fase poderia
ainda ser transportado sobretudo em contentores feitos de materiais perecíveis (odres e tonéis). Este
período é ainda marcado pelo colapso das importações do vinho bético, até então totalmente predomi-
nante, passando aquele produto a ser importado principalmente da Gália e do Mediterrâneo Oriental,
embora em quantidades significativamente mais reduzidas do que em épocas anteriores.

548
Capítulo 10 Epílogo

No primeiro quartel do séc. II d.C. acentua-se a quebra nas importações extraprovinciais de vinho
mas também de preparados piscícolas, enquanto o azeite parece registar uma muito ligeira subida.
Independentemente da existência ou não de um abrandamento da economia do Império logo a par-
tir do início desta centúria (Quaresma, 2012) e da sua eventual relação com a diminuição do volume
das importações em Olisipo, que na realidade se regista aqui desde a segunda metade do séc. I d.C.,
particularmente do seu último quartel, os dados de Lisboa não constituem necessariamente sinais de
declínio económico ou de diminuição da capacidade económica dos seus habitantes. Pelo contrário,
parecem sugerir uma conjuntura económica positiva, indiciando o desenvolvimento significativo da
economia lusitana, particularmente da produção piscícola e vitivinícola mas também da exploração do
sal e da produção oleira, cujos produtos passaram em grande medida a substituir os artigos que eram
anteriormente importados de outras regiões. Esta vitalidade da economia lusitana é particularmente
verificável na exportação dos seus produtos, sobretudo os piscícolas mas também, e certamente com
maior expressividade do que actualmente se documenta, os vinícolas. Embora a presença de ânforas
piscícolas lusitanas na Britannia (Carreras Monfort, 1998; Carreras Monfort, 2000), na Gallia Belgica (Lau-
benheimer e Marlière, 2010) e na Germania Superior (González Cesteros, 2014; Monsieur, 2016; Almeida
e González Cesteros, 2017) seja surpreendentemente escassa - ao contrário das béticas que deverão ter
beneficiado do comércio anonário, viajando “à boleia” do azeite do Guadalquivir a um custo inferior
(Reynolds, 2010, p. 16) -, elas estão bem documentadas em Óstia e Roma, bem como em vários outros
locais da Península Itálica, do Sul da Gália, das ilhas do Mediterrâneo ocidental e em vários naufrá-
gios no Mediterrâneo, para além da própria Hispânia (entre outros, Parker, 1992; Rizzo, 2003; Ferran-
des, 2008; Rizzo, 2014; Bombico, 2016; Djaoui e Quaresma, 2016; Gaddi e Degrassi, 2016; García Vargas,
2016a; Járrega Domínguez e González Cesteros, 2016; Rizzo, 2016).
Mesmo a descida no volume dos produtos extraprovinciais, consensual e perfeitamente verifi-
cável na amostra global analisada à luz deste trabalho, não representa necessariamente um sinal de
declínio ou abrandamento da economia. Haverá que considerar que foi sobretudo na importação dos
produtos oriundos da vizinha Baetica que se observou uma significativa quebra, o que, com excepção
do azeite, se deverá relacionar directamente com o importante desenvolvimento da exploração piscí-
cola e vitivinícola local/regional. Mais relevante será sublinhar que é precisamente a partir dessa altura
que se assiste à ampliação das relações comerciais com paragens mais distantes, diversificando-se as
áreas produtoras e aumentando, relativamente ao séc. I d.C., o volume de importação de regiões como
a metade oriental do Mediterrâneo, o Norte de África e a Gália. Por outras palavras, a maturidade da
indústria piscícola e vitivinícola lusitana, a par do incremento nas importações extra-Hispânia parecem
demonstrar um momento de particular vitalidade na economia de Olisipo e do Ocidente Peninsular que
se parece manter até final do séc. II d.C..
O quadro de importações altera-se significativamente durante o segundo quartel do séc. II d.C.
no que se refere ao afluxo de azeite, observando-se então uma notável subida do consumo daquele
produto, sempre esmagadoramente importado do Guadalquivir, alcançando em torno a meados do
século valores muito aproximados aos que se haviam verificado em meados da centúria anterior, pa-
norama que se parece ter mantido até ao final da dinastia Antonina, coincidindo com a época de maior
produção e distribuição do azeite bético (Blázquez Martínez, 1980; Berni Millet, 2008; Berni Millet e Gar-
cía Vargas, 2016). Ainda durante o segundo quartel do séc. II d.C., verifica-se a estabilização em níveis
muito baixos da importação das salgas béticas e do vinho, este essencialmente procedente da Gallia e
do Mediterrâneo Oriental.
Este cenário parece manter-se sem significativas alterações até ao final do séc. II d.C., ou talvez
mais correctamente até ao fim da dinastia Antonina, altura em que decresce consideravelmente a im-
portação do azeite do Guadalquivir (para níveis inferiores aos da Época Flávia) e se assiste ao retorno da
importação das salgas do litoral bético em grandes proporções72, mantendo-se aparentemente em ní-
veis relativamente estáveis o consumo do vinho extraprovincial. A escassez de contextos do séc. II d.C.

72. O expressivo aumento da importação de preparados piscícolas béticos a partir do início do séc. III, ou possivelmente da
última década do século anterior, é sugerido pela presença em grandes proporções das Keay XVI daquela província em Olisipo,
tipo que não foi incluído neste estudo, razão pela qual esta constatação não é observável nos dados quantificados.

549
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

ou com balizas cronológicas suficientemente finas em Lisboa, não permite precisar as oscilações que
terão ocorrido na produção e consumo dos produtos lusitanos durante esse lapso de tempo, embora
tudo pareça indicar que tanto a produção dos preparados piscícolas como a do vinho tenham conheci-
do um significativo incremento durante a segunda metade daquela centúria, cenário que parece rece-
ber confirmação sobretudo nos dados de Óstia (Rizzo, 2014), no que se refere ao primeiro produto, e
em alguns contextos de Olisipo no que se refere ao vinho (v. supra).
Estes dados sugerem a vitalidade da economia piscícola lusitana no final da dinastia Antonina,
não sendo fácil, a partir da sua leitura, localizar cronologicamente o momento de viragem para o propa-
gado panorama generalizado de perturbação nos fluxos de exportação de preparados à base de peixe
que genericamente se observa na Lusitânia, habitualmente apontado à transição do século II para o
III d.C. (Fabião, 2004; Fabião, 2009c; Mayet e Silva, 2010) e documentado em Olisipo em sítios como o
NARC (Bugalhão, 2001), a Rua dos Correeiros (Silva 1999; Bugalhão, 2001) e a Casa dos Bicos (Filipe et
al., 2016). Tendo em conta o que anteriormente ficou exposto, parece consensual que antes do final do
séc. II d.C. não se verificam na indústria piscícola lusitana os sinais de depressão vincada e abrandamen-
to da economia que se observam no consumo de terra sigillata durante a segunda centúria em Olisipo
(Silva, 2012a), Santarém (Viegas, 2003) e outros locais da Lusitânia (Viegas, 2011; Quaresma, 2012).
Se em relação às principais regiões produtoras atestadas em Olisipo foram já compendiados os
principais aspectos relacionados com os ritmos de importação na faixa cronológica abrangida por este
trabalho, alguns comentários de carácter geral se poderão ainda acrescentar relativamente às impor-
tações “minoritárias”. As oscilações na importação dos produtos da Gália não são fáceis de rastrear no
registo arqueológico de Olisipo. Estão atestadas a partir de meados do séc. I d.C., momento em que
parece arrancar a grande difusão dos vinhos narbonenses, maioritariamente exportados nas Gauloise
4. Os dados parecem apontar para uma intensificação da sua chegada à cidade da foz do Tejo a partir
da dinastia Flávia, coincidindo com a quebra acentuada da importação do vinho bético e também do
grande comércio do vinho à escala do Império (Tchernia, 1986; Fabião, 1998a). Durante os séculos II e III
d.C. a importação dos vinhos gauleses parece ter mantido uma certa estabilidade, não se observando
significativas oscilações na sua chegada a Olisipo, que aparentemente se terá mantido até ao final do
séc. III ou início do IV d.C.. Ainda que nunca atingindo o volume que os vinhos béticos haviam alcançado
em períodos anteriores, a Gália constituiu-se durante todo o século II e III d.C. como a principal região
abastecedora de vinho a Olisipo, no contexto das importações extraprovinciais.
No que se refere aos produtos provenientes do Mediterrâneo Oriental, quase exclusivamente
representados pelo vinho, embora presentes desde o séc. II a.C., não parecem alcançar qualquer ex-
pressividade estatística até ao final da dinastia Júlio-Cláudia. A sua chegada em proporções um pouco
mais significativas ao Ocidente hispânico parece iniciar-se sobretudo a partir da segunda metade do
séc. I d.C., o que poderá estar relacionado com a incorporação das produções ródias nos abastecimen-
tos institucionais às províncias do Norte durante a Época de Cláudio (Peacock, 1977, p. 170; Fabião, 1998,
p. 183), realidade que é principalmente rastreável na Britannia. Ainda assim, à semelhança do que se
verifica com o vinho da Gália, o registo arqueológico de Olisipo parece indicar que a importação dos ar-
tigos orientais ocorreu sobretudo a partir dos Flávios, mantendo-se aparentemente em níveis estáveis
durante todo o século seguinte. Embora este comércio nunca alcance volumes muito significativos, os
produtos orientais constituíam uma percentagem muito importante no âmbito da importação extra-
provincial de vinho durante o séc. II d.C., sendo apenas ultrapassados pelos artigos da Gallia.
Relativamente às produções itálicas, elas estão atestadas desde os momentos mais precoces da
presença romana em Olisipo, altura em que eram totalmente preponderantes, correspondendo essen-
cialmente a contentores vinários da costa tirrénica (Greco-Itálicas e Dressel 1), embora estejam igual-
mente presentes outros produtos, como o azeite e mesmo os preparados piscícolas, e outras regiões
produtoras como a costa adriática. No terceiro quartel do séc. II a.C. o vinho tirrénico era importado em
grandes quantidades, destinando-se a abastecer os exércitos em campanha no Ocidente Peninsular.
Este comércio abrandou de forma expressiva durante o final daquela centúria, apesar de continuar a
dominar o panorama das importações de então, mantendo provavelmente uma certa estabilidade até
meados do séc. I d.C.. Sensivelmente a partir desta data as importações itálicas em Lisboa parecem ter
conhecido uma considerável quebra que se terá prolongado de forma gradual até ao final do século,

550
Capítulo 10 Epílogo

altura em que deverá ter atingido níveis bastante baixos e em que se parece observar o final das Dressel 1
e sua definitiva substituição pelas Dressel 2-4, cuja produção se havia iniciado em torno a meados do
séc. I a.C. e que nunca viriam a conhecer os mesmos volumes de produção da Dressel 1.
As Dressel 2-4 itálicas, fundamentalmente provenientes da região campana, chegaram a Olisipo
principalmente durante os três primeiros quartéis do séc. I d.C., constituindo então uma percentagem
menor do comércio do vinho, dominado no Ocidente hispânico pela Bética. A sua importação parece ter
diminuído para níveis residuais a partir do último quartel daquela centúria e durante todo o séc. II d.C.,
o que se deverá relacionar com a erupção do Vesúvio, uma vez que é assaz rara nos contextos dessa
época em Olisipo. Refira-se ainda que a sua ocorrência nesta cidade em níveis do séc. III, nomeadamen-
te na Praça da Figueira, poderá indiciar que alguns dos fragmentos analisados possam na realidade
corresponder às Dressel 2-4 campanas tardias, normalmente designadas “Almond Rim”, cuja presença
está atestada em Hispalis (García Vargas, 2016a) e em Augusta Emerita (Almeida e Sánchez Hidalgo,
2013), sendo, por esse motivo, expectável que tenham igualmente chegado a Olisipo.
As relações comerciais com o Norte de África recuam também aos momentos mais precoces da
presença romana no Ocidente, altura em que o azeite da Tripolitânia e da região da actual Tunísia en-
vasado nas designadas Africanas Antigas fazia parte dos abastecimentos oficiais aos efectivos militares
em campanha, ainda que em quantidades relativamente reduzidas; estando também documentada a
importação de preparados piscícolas dessa área durante a República nas T-7.4.2.1./T-7.4.3.1. Se estas
últimas parecem cingir-se ao séc. II a.C., a importação das Africanas Antigas ter-se-á prolongado até um
momento avançado do séc. I d.C.. O registo arqueológico de Lisboa não permite definir com precisão o
ritmo de chegada destes contentores durante a República, sendo contudo expectável que as oscilações
da sua importação se relacionem com a maior ou menor presença do exército na região, à imagem do
que se passou com as Dressel 1.
As ligações comerciais de Olisipo e do Ocidente hispânico ao Norte de África parecem ter di-
minuído consideravelmente entre Augusto e os meados do séc. I d.C., sendo muito escassos os tipos
identificados em Lisboa cuja produção se enquadra, pelo menos em parte, nesse lapso temporal - Tri-
politana I e Dressel 2-4/Schoene-Mau XXXV - e inexistentes nos contextos olisiponenses dessa época.
Embora difícil de precisar devido à escassez de dados contextuais, as relações comerciais com a Africa
Proconsularis poderão ter sofrido um ligeiro aumento na segunda metade do séc. I d.C., tendo em conta
as cronologias de produção de algumas ânforas atestadas em Olisipo, parecendo, contudo, que deverá
ter sido sobretudo a partir do início do século seguinte que a dinâmica comercial com aquela região
terá ganho um novo fôlego, embora sempre em proporções modestas. Estas importações, que terão
conhecido um novo aumento em torno a meados do séc. II d.C., terão sido incrementadas sobretudo a
partir do último quartel/finais daquela centúria, atingindo já durante o séc. III níveis mais significativos.
Os produtos oriundos da região nordeste da Hispania nunca alcançaram proporções expressivas
no Ocidente Peninsular, orientando-se o seu comércio mais para o centro do Império. A sua presença
nesta região parece, todavia, recuar ao séc. II a.C., tendo em conta a ocorrência de uma imitação de
Greco-Itálica produzida na Citerior, estando igualmente atestada durante o séc. I d.C. pela presença de
uma Dressel 1 dessa mesma área e por um exemplar de Pascual 1 identificado num contexto do terceiro
quartel daquela centúria. Meramente residuais no quadro de importações de Olisipo antes da viragem
da Era, as importações tarraconenses, embora sempre minoritárias, conheceram um importante incre-
mento durante o séc. I d.C., que se terá iniciado muito provavelmente durante o Principado de Augusto.
A sua chegada parece diminuir significativamente durante o séc. II d.C., caindo novamente para níveis
meramente residuais, tendo perdurado pelo menos até à primeira metade do séc. III d.C..
De carácter igualmente minoritário, as importações de vinho da Ilha de Ibiza em Olisipo parecem
ter-se iniciado a partir de meados do séc. I d.C. e centrado sobretudo entre a dinastia Flávia e os meados
do século seguinte. A sua ocorrência em contextos da segunda metade do séc. II e do III d.C., bem como
a presença de variantes de bordo mais tardias, parece indicar que a sua importação se terá mantido até
às primeiras décadas do séc. III d.C..
A existência de uma importante rota Atlântica que estabelecia a ligação marítima entre o Mar
do Norte e o Mediterrâneo, garantindo o abastecimento de carácter institucional aos contingen-
tes militares estacionados na Germania, na Britannia e no Noroeste Peninsular e possibilitando o

551
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

desenvolvimento de redes comerciais paralelas de carácter privado, tem vindo a ser contundentemen-
te demonstrada por diversos autores ao longo das últimas décadas (entre outros, Remesal Rodríguez,
1986; Fabião, 1993-1994; Morais e Carreras Monfort, 2004; Fabião, 2009a; Carreras Monfort e Morais,
2010; Remesal Rodríguez, 2010a; Carreras Monfort e Morais, 2012; Morillo Cerdán et al., 2016). Os dados
apresentados neste trabalho vêm sublinhar a relevância dessa rota e a sua vitalidade desde a segunda
metade do séc. I a.C. até ao final do Principado, constituindo uma evidência mais da sua importância no
quadro das rotas marítimas do império e da conectividade interprovincial, particularmente no comércio
de alimentos envasados em ânforas.
Naturalmente, e como ficou patente também neste trabalho, a rota atlântica não seria a única
rota marítima de que Olisipo beneficiava. Segundo Remesal Rodríguez, apoiado em alguns textos clás-
sicos de autores como Tácito, Apiano, Horácio, Orósio e Estrabão, nos casos das mercadorias que se
destinavam directamente à Britannia e Germania, aquela seguiria um trajecto directo às ilhas britânicas
a partir do Noroeste Peninsular, tirando partido das correntes marinhas e utilizando o farol de Brigan-
tium (Corunha) como ponto fundamental no auxílio à navegação (Remesal Rodríguez, 2010a, p. 153).
Mas tal não excluía a existência de uma rota de cabotagem, que percorreria as fachadas ocidental e
setentrional da Hispânia e da Gália, ou de rotas directas aos principais portos dessa faixa litoral que
actuavam como centros redistribuidores - onde se destacaria Olisipo -, principalmente para as regiões
do interior, ou ainda de múltiplas rotas entre os diversos portos da extensa costa atlântica do Império
(Remesal Rodríguez, 2010a, p. 153-154).
Atentando de um modo geral aos dados analisados ao longo deste trabalho, e tendo em conta
aquilo que são os principais modelos interpretativos da economia romana, cujas visões tendencialmen-
te antagónicas entre os designados “primitivistas” (Weber, 1909; Finley, 1973) e “modernistas” (Ros-
tovtzeff, 1926) têm vindo nos últimos anos a ser algo matizadas por alguns autores (Harris, 1993 apud
Scapini, 2016, p. 220; Remesal Rodríguez, 2008; Lo Cascio, 2009; Fabião, 2017), dois aspectos se poderão
destacar: por um lado, a presença no extremo ocidental do Império de uma rica e diversificada gama
de produtos alimentares produzidos nas mais variadas regiões do Mediterrâneo, evidenciando a exis-
tência de complexas redes de intercâmbio comercial, totalmente contrária à visão “primitivista;” por
outro, o facto de uma parte importante dos produtos atestados em Olisipo terem chegado no âmbito
dos abastecimentos de carácter oficial, controlados e centralizados pelo estado romano, o que coincide
com um dos principais argumentos “primitivistas”.
A constatação de que ambos modelos interpretativos possuem argumentos válidos não é nova e
tem sido sublinhada por vários autores (v. referências acima), tendo sido exemplificada de forma con-
cisa mas bastante clara por J. Remesal Rodríguez: “Like the primitivists, I recognize that the means of
production and of transportation were very limited in the ancient world. Nevertheless, this limitation
cannot make us deny the existence of long-distance commerce in the Roman Empire. The archaeo-
logical evidence demonstrates that such commerce existed, so the question here is to explain how
and why, despite all the limitations highlighted by the primitivists, such traffic of goods ever existed.
The point is to explain why this commerce existed and not to deny it, as the primitivists do” (Remesal
Rodríguez, 2008, p. 155).
Em modo de conclusão, e como já anteriormente se havia mencionado, é importante realçar
que as principais interpretações e leituras aferidas a partir da análise das ânforas de Lisboa deverão
ser encaradas como tendências principais e não como factos absolutos, condicionadas à partida pelas
limitações inerentes aos distintos conjuntos anfóricos e respectivos contextos estratigráficos, mas tam-
bém àquilo que é o estado actual do conhecimento. Certo de que o presente trabalho constituirá um
contributo positivo no estudo das relações comerciais e da economia da antiga cidade de Felicitas Iulia
Olisipo, não tenho, de igual forma, qualquer dúvida de que o mesmo não esgota toda a potencialidade
da amostra analisada. Do mesmo modo, as questões que ficam todavia por responder são provavel-
mente em maior número do que aquelas para as quais se logrou alcançar resposta - mantendo-se como
um vasto campo aberto à investigação -, devendo tal ser encarado como um estímulo à prossecução
dos estudos sobre economia e comércio na cidade que, na Antiguidade, se constituiria como o principal
porto da fachada atlântica.

552
BIBLIOGRAFIA
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

AGUELO MAS, J.; BELMONTE SANTISTEBAN, C.; CASAS BLASI, J.; HUERTAS ARROYO, J. (2010) - Contextos
ceràmics al voltant del moment fundacional de Barcino: Darreres intervencions. In REVILLA, V., ROCA,
M., Eds. - Contextos cerámicos y cultura material de época augústea en el occidente romano. Actas de la
reunión celebrada en la Universitat de Barcelona, 15-16 de abril de 2007. Barcelona: Universidad de Barce-
lona, pp. 171-197.
ALARCÃO, J. (1976) - Les Amphores. In Fouilles de Conimbriga VI. Paris: Diffusion de Boccard, pp. 79-91.
ALARCÃO, J. (1988) - O domínio romano em Portugal. Mem-Martins: Europa-América.
ALARCÃO, J. (1990) - O Domínio Romano. In MARQUES, O., SERRÃO, J., Dir., Nova História de Portugal, vol. I,
Portugal das Origens à Romanização. Lisboa: Editorial Presença, pp. 342-441.
ALARCÃO, J. (1994) - Lisboa romana e visigótica. In Lisboa subterrânea. Lisboa: Lisboa Capital Europeia da Cul-
tura 94, pp. 58-63.
ALARCÃO, J. (2002) - Scallabis e o seu território. In ARRUDA, A. M., Coord., De Scallabis a Santarém. Lisboa:
Museu Nacional de Arqueologia, pp. 37-46
ALARCÃO, J. (2006) ‑ As vias romanas de Olisipo a Augusta Emerita. Conimbriga. Coimbra. 45, pp. 211–225.
ALARCÃO, J.; ÉTIENNE, R.; MAYET, F. (1990) - Les villas romaines de S. Cucufate (Portugal). Paris: Diffusion de
Boccard.
ALARCÃO, A.; MAYET, F. (Eds.) (1990) - Ânforas Lusitanas. Tipologia, produção, comércio. Actas das jornadas de
estudo (Conimbriga, 1988). Coimbra/Paris: MMC/Diffusion de Boccard.
ALMEIDA, C. B.; ALMEIDA, P. B. (2002) - Vestígios romanos encontrados na Rua Mouzinho da Silveira - Porto.
Portvgália. Porto. Nova Série. 27, pp. 155-184.
ALMEIDA, D. F. de (1966) - Notícias sobre o teatro de Nero, em Lisboa. Lucerna. Lisboa. 5, pp. 561-571.
ALMEIDA, D. F. de (1969) - Sobre a barragem romana de Olisipo e seu aqueduto. O Arqueólogo Português. Lis-
boa. Série III. 3, pp. 179-189.
ALMEIDA, F. (1972) - Parecer hidrogeológico sobre uma sondagem executada no Largo do Chafariz de Dentro
para o Metropolitano de Lisboa. Revista da Faculdade de Ciências. Lisboa. Série II. 17, fasc. 1º, pp. 187-196.
ALMEIDA, I. M. (1994) - Lisboa antes do Homem. In Lisboa subterrânea. Lisboa: Lisboa Capital Europeia da
Cultura 94, pp. 20-23.
ALMEIDA, L. (2015) - Caracterização das argamassas da muralha Tardo-Romana de Olisipo. Mestrado em Geolo-
gia Aplicada. Faculdade de Ciências, Universidade de Lisboa. Policopiado.
ALMEIDA, M. J.; CARVALHO, A. (1998) - Ânforas da uilla romana da Quinta das Longas (S. Vicente e Ventosa,
Elvas): resultados de 1990-1998. Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa. 1:2, pp. 137-163.
ALMEIDA, M. J.; CARVALHO, A. (2004) - Vias e circulação de produtos no SW do conuentus emeritensis: o exem-
plo da Quinta das Longas (Elvas, Portugal). In GORGES, J. G., CÁCERES, E. C. M., BASARRATE, T. N., Eds. -
V Mesa Redonda Internacional sobre Lusitania Romana: las comunicaciones, Cáceres, Facultad de Filosofía
y Letras, 7, 8 y 9 de noviembre de 2002. Madrid: Ministerio de Cultura, pp. 369-389.
ALMEIDA, R. R. de (2008) - Las Ánforas del Gualdalquivir en Scallabis (Santarém, Portugal). Aportación al
Conocimiento de Los Tipos Minoritarios. Instrumenta 28. Barcelona: Publications de la Universitat de
Barcelona.
ALMEIDA, R. R. de (2010) - The incorporation of the baetican hinterland into the western supply during the
Late Republic: a reading based on the distribution of the Guadalquivir’s minority amphora types. In
CARRERAS MONFORT, C., MORAIS, R., Eds. - The Western Roman Atlantic Façade A study of the economy
and trade in the Mar Exterior from the Republic to the Principate. BAR International Series, 2162. Oxford:
Archaeopress, pp. 191-196.
ALMEIDA, R. R. de (2016a) - On the way to Augusta Emerita. Historiographical Overview, old and new data on
fish-product amphorae and commerce within the trade to the capital of Lusitania. In PINTO, I. V., AL-
MEIDA, R. R. de, MARTIN, A., Eds. - Lusitanian Amphorae: Production and Distribution. Roman and Late
Antique Mediterranean Pottery 10. Oxford: Archaeopress, pp. 195-218.
ALMEIDA, R. R. de (2016b) - Oberaden 74 (Central Tarraconensis). Amphorae ex Hispania. Landscapes of produc-
tion and consumption (http://amphorae.icac.cat/amphora/oberaden-74-tarraconensis-central-coastal-
area).
ALMEIDA, R. R. de; ARRUDA, A.M. (2005) - As ânforas de tipo Mañá C em Portugal. In Ati del V Congreso Inter-
nazionale di Studi Fenici i Punici (Marsala, 2000). Palermo: Universidad de Palermo, pp. 1319-1329.
ALMEIDA, R. R. de; BERG, J.; BERNI MILLET, P.; SCHIMMER, F.; CARRERAS MONFORT, C. (2014a) - El comercio
de ánforas hispanas en Kops Plateau (Nijmegen) desde Época de Augusto a época Flavia. In MORAIS, R.,

554
Bibliografia

FERNÁNDEZ, A. e SOUSA, M. J., Eds. - As produções cerâmicas de imitação na Hispania (Actas do II Con-
gresso da Sociedade de Estudos da Cerâmica Antiga da Hispânia - SECAH/Braga, 4-6 Abril 2013), Vol. I.
Porto: Monografias Ex Officina Hispana II, pp. 379-392.
ALMEIDA, R. R. de; FILIPE, V. (2013) - 50 anos depois: as ânforas da Praça da Figueira. In Actas do I Congresso da
Associação dos Arqueólogos Portugueses (21-24 de Novembro de 2013). Lisboa: Associação dos Arqueó-
logos Portugueses, pp. 737-745.
ALMEIDA, R. R. de; GONZÁLEZ CESTEROS, H. (2017) - Las ánforas lusitanas en los origenes del mundo romano
septentrional. In CARRERAS MONFORT, C., BERG, J. Van der, Eds. - Amphorae from the Kops Plateau
(Nijmegen): trade and supply to the lower-rhineland from the Augustan period to AD 69/70. Roman Ar-
chaeology 20. Oxford: Archaeopress, pp. 87-91.
ALMEIDA, R. R. de; MORÍN DE PABLOS, J. (2012) - ¿Ánforas Tipo Segobriga/Oberaden 74 similis? Bases para una
producción singular en la Tarraconense interior. In BERNAL CASASOLA, D. e RIBERA I LACOMBA, A.,
Eds. - Cerámicas hispanorromanas II. Producciones regionales. Cádiz: Universidad de Cádiz, pp. 231-245.
ALMEIDA, R. R. de; MOROS DÍAZ, J. (2014) - Um Testemunho da Figlina Scalensia em Lagos (Portugal) a pro-
pósito da grande fossa detrítica da fábrica de salga da Rua Silva Lopes. Al-Madan, Adenda electrónica.
Almada. II:19, pp. 44-59.
ALMEIDA, R. R. de; PINTO, I. V.; MAGALHÃES, A. P.; BRUM, P. (2014c) - Ânforas piscícolas de Tróia: contextos
de consumo versus contextos de produção. In MORAIS, R., FERNANDEZ, A. e SOUSA, M. J., Eds. - As
produções cerâmicas de imitação na Hispânia. Monografias Ex Officina Hispana II, Tomo I. Porto: Faculda-
de de Letras da Universidade do Porto, pp. 405-423.
ALMEIDA, R. R. de; PINTO, I. V.; MAGALHÃES, A. P.; BRUM, P. (2014d) - Wich amphorae carried the fish pro-
ducts from Tróia (Portugal)? In Rei Cretariae Romanae Favtorvm. Acta 43, pp. 653-661.
ALMEIDA, R. R. de; SÁNCHEZ HIDALGO, F. (2013) - Las ánforas del Cuartel de Hernán Cortés. Nuevos datos para
el estudio de la importación y consumo en Augusta Emerita. In BERNAL, D., JUAN, L. C., BUSTAMANTE,
M., DÍAZ, J. J. e SÁEZ, A. M., Eds. - Hornos, talleres y focos de producción alfarera en Hispania (Actas do I
Congreso Internacional de la SECAH - Cádiz, 3-4 March 2011), Vol. II. Cádiz: Universidad de Cádiz, pp. 49-58.
ALMEIDA, R. R. de; VIEGAS, C.; BEJA, N.; TEIXEIRA, N. (2014e) - Ânforas do Mediterrâneo Oriental em Faro
(Ossonoba). Novos dados para equacionar o comércio durante a Antiguidade Tardia. In MORAIS, R.,
FERNÁNDEZ, A. e SOUSA, M. J., Eds. - As produções cerâmicas de imitação na Hispania (Actas do II
Congresso da Sociedade de Estudos da Cerâmica Antiga da Hispânia - SECAH/Braga, 4-6 Abril 2013), Vol. I.
Porto: Monografias Ex Officina Hispana II, pp. 151-160.
ALVES, C. (2014) - Os castella do Baixo Alentejo. O caso do Monte Manuel Galo. In FABIÃO, C., PIMENTA, J.,
Coords. - Actas do Congresso Conquista e Romanização do Vale do Tejo. Cira Arqueologia. Vila Franca de
Xira. 3, pp. 385-403.
ALVES, V.; CARNEIRO, A. (2011) - Ânforas romanas no concelho de Fronteira. Exemplares recolhidos entre 1999
e 2002. In Arqueologia do Norte Alentejano. Comunicações das 3.as Jornadas. Lisboa: Edições Colibri/C. M.
Fronteira, pp. 163-192.
AMAR, G.; LIOU, B. (1984) - Les estampilles sur amphores du golfe de Fos. Archaeonautica. Paris. 4, pp. 145-211.
AMARO, C. (1982) - Casa dos Bicos, notícia histórico-arqueológica. Arqueologia. Porto. 6, pp. 96-111.
AMARO, C. (1990a) - Olaria romana da Garrocheira, Benavente. In ALARCÃO, J., MAYET, F., Eds. - Ânforas
Lusitanas. Tipologia, Produção, Comércio. Actas das Jornadas de Estudo (Conimbriga, 1988). Coimbra/
Paris: MMC/Diffusion de Boccard, pp. 87-96.
AMARO, C. (1990b) - Ocupação romana da margem sul do estuário do Tejo: um (des)alinhar de ideias. In ALAR-
CÃO, J., MAYET, F., Eds. - Ânforas Lusitanas. Tipologia, Produção, Comércio. Actas das Jornadas de Estudo
(Conimbriga, 1988). Coimbra/Paris: MMC/Diffusion de Boccard, pp. 71-85.
AMARO, C. (1993) - Vestígios materiais orientalizantes do claustro da Sé de Lisboa. In Estudos Orientais IV - Os
Fenícios no território Português. Lisboa: Instituto Oriental da Universidade Nova de Lisboa, pp. 183-192.
AMARO, C. (1994) - A Indústria Conserveira na Lisboa Romana. In Lisboa subterrânea. Lisboa: Lisboa Capital
Europeia da Cultura 94, pp. 69-74.
AMARO, C. (2002) - Percurso arqueológico através da Casa dos Bicos. In AMARAL, M., MIRANDA, T., Coords.
- De Olisipo a Lisboa. A Casa dos Bicos. Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobri-
mentos Portugueses, pp. 11-27.
AMARO, C.; GONÇALVES, C. (2016) - The Roman Figlina at Garrocheira (Benavente, Portugal) in the Early Em-
pire. In PINTO, I. V., ALMEIDA, R., MARTIN, A., Eds. - Lusitanian Amphorae: Production and Distribution.
Roman and Late Antique Mediterranean Pottery 10. Oxford: Archaeopress, pp. 47-58.

555
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

AMARO, C.; GONÇALVES, C. (2017) - A Olaria Romana da Garrocheira, Benavente resultados de três interven-
ções arqueológicas. In FABIÃO, C., RAPOSO, J., GUERRA, A., SILVA, F., Coords. - Olaria romana, Semi-
nário Internacional e Ateliê de Arqueologia Experimental. Lisboa: UNIARQ, Câmara Municipal do Seixal,
Centro de Arqueologia de Almada, pp. 89-112.
AMARO, C.; MANSO, C.; SEPÚLVEDA, E. (2013) - Complexo industrial romano de preparados de peixe da
baixa. Sua abordagem a partir de dois novos equipamentos. In Actas do I Congresso da Associação dos
Arqueólogos Portugueses (21-24 de Novembro de 2013). Lisboa: Associação dos Arqueólogos Portugueses,
pp. 755-763.
AMARO, C.; MATOS, J. L. (1996) -Trabalhos arqueológicos no Claustro da Sé de Lisboa - notícia preliminar. In
FILIPE, G., RAPOSO, J. M. C., Dir. - Ocupação romana nos estuários do Tejo e do Sado (Actas das primeiras
jornadas sobre romanização dos estuários do Tejo e Sado, Seixal, 1991). Lisboa: C.M. do Seixal/Publicações
Dom Quixote, pp. 215-224.
ANDRE, P. (1989) - Les amphores cannelées du Ier siècle dans la France de l’Ouest. In Amphores romaines et his-
toire économique. Dix ans de recherche. Actes du colloque de Sienne (22-24 mai 1986). Rome: Publications
de l’École française de Rome (114), pp. 588-589.
ANGELUCCI, D. E.; COSTA, C.; MURALHA, J. (2004) - Ocupação neolítica e pedogénese médio-holocénica na
Encosta de Sant’Ana (Lisboa): considerações geoarqueológicas. Revista Portuguesa de Arqueologia.
Lisboa. 7:2, pp. 27-47.
ANTUNES, A. S. (2009) - Um conjunto cerâmico da Azougada. Em torno da Idade do Ferro Pós-Orientalizante da
margem esquerda do Baixo Guadiana. Lisboa: Museu Nacional de Arqueologia.
ANTUNES, N. (2008) - As ânforas romanas da villa de Parreitas (Bárrio, Alcobaça). In BARBOSA, P. G., Coord. -
A região de Alcobaça na Época Romana. A estação arqueológica de Parreitas (Bárrio). Alcobaça: Câmara
Municipal de Alcobaça, pp. 78-93.
AQUILUÉ ABADIAS, X.; BELLO RODRIGO, J. R. (2009) - Materiales arqueologicos de los contextos constructi-
vos y de amortización. In AYERBE VÉLEZ, R., BARRIENTOS VERA, T., PALMA GARCÍA, E. F., Eds. - El foro
de Augusta Emerita: génesis y evolución de sus recintos. Anejos del Archivo de Español de Arqueologia,
LIII. Mérida: Consejo Superior de Investigaciones Científicas, pp. 405-444.
AQUILUÉ ABADIAS, X.; DEHESA, R. (2006) - Los materiales arqueológicos de Época Romana y tardorromana
procedentes de las excavaciones del denominado “foro provincial” de Mérida”. In MATEOS CRUZ, P.,
Ed. - El “Foro” Provincial” de Augusta Emerita: Un Conjunto Monumental de Culto Imperial. Anejos del
Archivo Español de Arqueología, XLII. Mérida: Consejo Superior de Investigaciones Científicas, Instituto
de Arqueología de Mérida, pp. 157-171.
AQUILUÉ ABADIAS, X.; SANTOS, M.; TREMOLEDA, J.; CASTANYER, P. (2010) - Contextos d’època d’August pro-
cedents del fòrum de la ciutat romana d’Empúries. In REVILLA, V., ROCA, M., Eds. - Contextos cerámicos y
cultura material de época augústea en el occidente romano. Actas de la reunión celebrada en la Universitat
de Barcelona, 15-16 de abril de 2007. Barcelona: Universidad de Barcelona, pp. 36-91.
ARANEGUI GASCÓ, C. (2010) - The West African amphorae (II BC - I AD). In CARRERAS MONFORT, C., MORAIS,
R., Eds. - The Western Roman Atlantic Façade A study of the economy and trade in the Mar Exterior from
the Republic to the Principate. BAR International Series, 2162. Oxford: Archaeopress, pp. 197-200.
ARANEGUI GASCÓ, C.; GISBERT SANTONJA, J. A. (1992) - Les amphores à fond plat de la péninsule Ibérique. In
LAUBENHEIMER, F., Dir. - Les amphores en Gaule. Production et circulation. Paris: Centre de Recherches
d’Histoire Ancienne, pp. 101-109.
ARANEGUI GASCÓ, C.; KBIRI ALAOUI, M.; VIVES-FERRÁNDIZ, J. (2004) - Alfares y producciones cerámicas
en Mauritania Occidental. In BERNAL, D., LAGÓSTENA, L., Eds. - Figlinae Baeticae. Talleres alfareros y
producciones cerámicas en la Bética romana (ss. II a.C. - IV d.C.). BAR International Series, 1266. Oxford:
Archaeopress, pp. 363-378.
ARCELIN, P.; TUFFREAU-LIBRE, M. (1998) - La quantification des céramiques: conditions et protocole. Actes de la
table ronde du centre archéologique européen do Mont Beuvray (Glux-en-Glenne, 7-9 avril de 1998). Collec-
tion Bibracte, 2. Bibracte: Centre Archéologique Européen du Mont Beuvray.
ARÉVALO GONZÁLEZ, A.; BERNAL CASASOLA, D. (Eds.) (2007) - Las cetariae de Baelo Claudia. Avance de las in-
vestigaciones arqueológicas en el barrio industrial (2000-2004). Sevilla: Monografías, Junta de Andalucía.
ARHARBI, R.; KERMORVANT, A.; LENOIR, E. (2001) - Iulia Valentia Banasa: de la découverte du site aux recher-
ches récentes (Rabat, 1er-4 juillet 1998). In Actes des Premiers Journées Nationales d’Archéologie et du
Patrimoine, vol. 2. Rabat: Société marocaine d’archéologie et du patrimoine, pp. 147-168.
ARIEL, D. T.; FINKIELSZTEJN, G. (2003) - Amphora stamps and imported amphoras. In KLONER, A., Ed. - Maresha
Excavations Final Report 1: Subterranean complexes 21, 44, 70. IAA Reports 17. Jerusalem: Israel Antiqui-
ties Authority, pp. 137-151.

556
Bibliografia

ARNAUD, J. M. (1970) - O “Castelo Velho” de Veiros (Estremoz). Campanha Preliminar de Escavações de 1969.
In Actas das I Jornadas Arqueológicas da Associação dos arqueólogos Portugueses (Lisboa, 1969), vol. II.
Lisboa: Associação dos arqueólogos Portugueses, pp. 311-328.
ARNAUD, P. (2007) - Diocletian’s Prices Edict: the prices of seaborne transport and the average duration of
maritime travel. Journal of Roman Archaeology. Portsmouth. 20, pp. 321-336.
ARRIBAS, A.; TRÍAS G.; CERDÀ D.; DE HOZ J. (1987) - El barco de El Sec (costa de Calvià, Mallorca), estudio de los
materiales. Palma de Mallorca.
ARRUDA, A. M. (1997) - As cerâmicas áticas do castelo de Castro Marim. Lisboa: Colibri.
ARRUDA, A. M. (2002) – Los Fenícios en Portugal. Fenícios e mundo indígena en el centro e sur de Portugal (siglos
VIII-VI a.C.). Barcelona: Universidad Pompeu Fabra de Barcelona/Carrera Edició, S.L.
ARRUDA, A. M.; ALMEIDA, R. R. de (1998) - As ânforas da Classe 32 da Alcáçova de Santarém (Campanhas de
1983-1991). Conímbriga. Coimbra. 37, pp. 201-231.
ARRUDA, A. M.; ALMEIDA, R. R. de (1999) - As importações de vinho itálico para o território actualmente
português: contextos, cronologias e significado. In GEORGES, J. G., RODRIGUEZ MARTIN, F. G., Eds. -
Économie et Territoire en Lusitanie Romaine. Collection de la Casa de Velázquez, 65. Madrid: Casa de
Velázquez, pp. 307-337.
ARRUDA, A. M.; ALMEIDA, R. R. de (2001) - Importação e consumo de vinho bético na colónia Romana da
Scallabis (Santarém, Portugal). In Actas Congreso Internacional Ex Baetica Amphorae. Conservas y vino
de la Bética en el Imperio Romano (Écija-Sevilha 1998), Vol. 2. Écija: Gráficas Sol, pp. 703-715.
ARRUDA, A. M.; CATARINO, H. (1981) - Nota acerca de alguns materiais da II Idade do Ferro do complexo ar-
queológico dos Vidais (Marvão). Clio. Lisboa. 3, pp. 183-188.
ARRUDA, A. M.; FABIÃO, C. (1990) - Ânforas da Quinta do Lago (Loulé). In ALARCÃO, J., MAYET, F., Eds. - Ânforas
Lusitanas. Tipologia, Produção, Comércio. Actas das Jornadas de Estudo (Conimbriga, 1988). Coimbra/
Paris: MMC/Diffusion de Boccard, pp. 199-213.
ARRUDA, A. M.; FRADE, I.; TRAVASSOS, J. (1987) - Duas ânforas romanas de Cacela (Vila Real de Santo Antó-
nio). Conimbriga. Coimbra. 26, pp. 125-131.
ARRUDA, A. M.; FREITAS, V. T.; VALLEJO SÁNCHEZ, J. I. (2000) - As cerâmicas cinzentas da Sé de Lisboa. Revista
Portuguesa de Arqueologia. Lisboa. 3:2, pp. 25-59.
ARRUDA, A. M.; PEREIRA, C. (2008) - As ocupações antigas e modernas do Forte de S. Sebastião (Castro Marim).
Xelb. Silves. 8, pp. 391-421.
ARRUDA, A. M.; SOUSA, E. (2012) - Ânforas republicanas de Monte Molião (Lagos, Algarve, Portugal). Spal.
Sevilha. 21, pp. 93-133.
ARRUDA, A.; SOUSA, E.; BARGÃO, P.; LOURENÇO, P. (2008) - Monte Molião (Lagos) - Monte Molião: Resulta-
dos de um projecto em curso. Xelb. Silves. 8, pp. 161-192.
ARRUDA, A. M.; VIEGAS, C. (2016) - As ânforas alto-imperiais de Monte Molião. In JÁRREGA DOMÍNGUEZ, R.,
BERNI MILLET, P., Eds. - Amphorae ex Hispania: paisajes de producción y consumo. Monografías Ex Offici-
na Hispana III, Vol. I. Tarragona: Instituto Catalán de Arqueología Clásica, pp. 446-463.
ARRUDA, A. M.; VIEGAS, C.; ALMEIDA, M. J. (2002) - De Scallabis a Santarém. Museu Nacional de Arqueologia,
Lisboa.
ARRUDA, A. M.; VIEGAS, C.; BARGÃO, P. (2005) - As ânforas da Bética costeira na Alcáçova de Santarém. Revis-
ta Portuguesa de Arqueologia. Lisboa. 8:1, pp. 279-297.
ARRUDA, A. M.; VIEGAS, C.; BARGÃO, P. (2006a) - Ânforas lusitanas da Alcáçova de Santarém. Setúbal Arqueo-
lógica. Setúbal. 13, pp. 233-252.
ARRUDA, A. M.; VIEGAS, C.; BARGÃO, P.; PEREIRA, R. (2006b) - A importação de preparados de peixe no Cas-
telo de Castro Marim: da Idade do Ferro à Época Romana. Setúbal Arqueológica. Setúbal. 13, pp. 153-176.
ARTEAGA MATUTE, O. (1985) - Los hornos romanos de Manganeto, Amayate Bajo (Málaga). Informe prelimi-
nar. Noticiario Arqueológico Hispánico. 23, pp. 197-233.
ARTHUR, P. (1986) - Roman Amphorae from Canterbury. Britannia. Cambridge. 17, pp. 239-258.
ARTHUR, P. (1989) - On the origins of Richborough 527. In Amphores romaines et histoire économique. Dix ans
de recherche. Actes du colloque de Sienne (22-24 mai 1986). Rome: Publications de l’École française de
Rome (114), 249-256.
ASENCIO I VILARÓ, D. (1996) - Les àmfores d’importació de la ciutadella ibèrica d’Alorda Park o Les Toixoneres
(Calafell, Baix Penedès, Tarragona). Revista d’Arqueologia de Ponent. Lleida. 6, pp. 35-79.

557
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

ASSIS, C.; AMARO, C. (2006) - Estudo dos restos de peixe de dois sítios fabris de Olisipo. Setúbal Arqueológica.
Setúbal. 13, pp. 123-144.
AURIEMMA R. (2000) - Le anfore del relitto di Grado e il loro contenuto. In Mélanges de l’Ecole française de
Rome. Antiquité. Rome. 112:1, pp. 27-51.
AURIEMMA, R; DEGRASSI, V. (2015) - Flussi di circolazione e redistribuzione in Adriatico tra tarda Repubbli-
ca e Impero: anfore da contesti terrestri e subacquei. In MARION, Y., TASSAUX, F., Eds. - AdriAtlas et
l’histoire de l’espace adriatique du Ve s. a.C. au VIIIe s. a.C.. Actes du colloque international de Rome (4-6
novembre 2013). Bordeaux: Ausonius Scripta Antiqua (79), pp. 165-190.
AURIEMMA, R; DEGRASSI, V.; GADDI, D.; MAGGI, P. (2016) - Canale Anfora: uno spaccato sulle importazioni di
alimenti ad Aquileia tra I e III secolo d.C.. In CUSCITO, G., Ed. - L’alimentazione nell’Antichità. Atti della
XLVI Settimana di Studi aquileiesi. Aquileia: Editreg TRIESTE, pp. 370-403.
AURIEMMA, R.; DEGRASSI, V.; QUIRI, E. (2012) - Produzione e circolazione di anfore in Adriatico tra III e IV
secolo: dati da contesti emblematici. In FIORIELLO, C. S., Ed. - Ceramica romana nella Puglia adriatica.
Bari, SEDIT, pp. 255-298.
AURIEMMA, R.; DEGRASSI, V.; QUIRI, E. (2015) - Eastern amphora imports in the Adriatic Sea: evidence from
terrestrial and underwater contexts of the Roman Imperial age. In DEMESTICHA, S., Ed. - Per terram,
per mare. Seaborn trade and the distribution of roman amphorae in the Mediterranean. Uppsala: Aströms
förlag, pp. 139-160.
AURIEMMA, R.; QUIRI, E. (2004) - Importazioni di anfore orientali nell’Adriatico tra primo e medio impero. In
EIRING, J., LUND, J., Eds. - Transport Amphorae and Trade in the Eastern Mediterranean. Athens: Mono-
graphs of the Danish Institute at Athens (5), pp. 43-55.
AURIEMMA, R.; QUIRI, E. (2006) - Importazioni di anfore orientali nel Salento tra primo e medio impero. In
CACE, S., KURILIC, A., TASSAUX, F., Ed. - Les routes de l’Adriatique antique: géographie et économie. Actas
da Mesa Redonda de 18 a 22 Setembro de 2001 (Zadar), Bordeaux-Zadar: Ausonios Éditions, pp. 225-251.
BADOUD, N. (2017) - Deciphering Greek Amphora Stamps. CHS Research Bulletin 5, no. 2. http://nrs.harvard.
edu/urn-3:hlnc.essay:BadoudN.Deciphering_Greek_Amphora_Stamps.2017
BAJENARU, C. (2013) - Contextes céramiques de Tomis. Un ensemble de la fin du IIe ‐ début du IIIe s. ap. J.‐C..
PONTICA. Constanţa. 46., pp. 41-110.
BALDACCI, B. P. (1967-1968) - Alcuni aspetti dei commerci nei territori cisalpine. In Atti del Centro Studi e Docu-
mentazione sull’Italia romana, I. Milano: Cisalpino-Goliardica, pp. 5-50.
BALDACCI, B. P. (1972) - Importazioni cisalpine e produzione apula. In Recherches sur les amphores romaines.
Actes du Colloque de Rome (4 mars 1971, Rome). Rome: Publications de l’École française de Rome (10),
pp. 7-28.
BANHA, C. (1991-1992) - As ânforas da villa romana de Povos. Cira, Boletim Cultural. Vila Franca de Xira. 5, pp.
50-90.
BANHA, C. (2006) - As ânforas romanas de Idanha-a-Velha (Civitas Igaeditanorum). Dissertação de Mestrado
em Pré-história e Arqueologia, apresentado à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Lisboa.
Policopiado.
BANHA, C.; ARSÉNIO, P. (1998) - As ânforas romanas vinárias de Seilium. Revista Portuguesa de Arqueologia.
Lisboa. 1:2, pp. 165-190.
BARGAGLIOTTI, S. (2001) - Il relitto dell’Ardenza (Livorno): un carico di anfore betiche naufragato intorno alla
metà del I sec. d.C. In Actas Congreso Internacional Ex Baetica Amphorae. Conservas y vino de la Bética en
el Imperio Romano (Écija-Sevilha 1998), Vol. 3. Écija: Gráficas Sol, pp. 1111-1119.
BARGÃO, P. (2006) – As importações anfóricas do Mediterrâneo durante a Época Romana Republicana na
Alcáçova de Santarém. Dissertação de Mestrado em Pré-história e Arqueologia, apresentado à Faculda-
de de Letras da Universidade de Lisboa. Lisboa. Policopiado.
BARGÃO, P. (2008) - Intervenção de emergência na Rua do Molião: primeiras leituras. Xelb. Silves. 8, pp. 169-190.
BARGÃO, P. (2010) - Monte Moliao cetariae (Lagos, Portugal). In Rei Cretariae Romanae Favtorvm. Acta 41, pp.
345-351.
BARGÃO, P.; ARRUDA, A. M. (2014) - The Castro Marim 1 amphora type: a west mediterranean production
inspired by carthaginian models. Carthage Studies. Gent. 8, pp. 143-159.
BARKER, G.; GILBERTSON, D.; JONES, B.; MATTINGLY, D. (1996) - Farming the Desert. The UNESCO Libyan Valleys
Archaeological Survey, 1. Synthesis. Londres: UNESCO/Soc. Lib. Stud.
BARROS, L.; AMARO, C. (1984-1985) - Fábrica de Salga de Peixe em Cacilhas. Achegas para o seu conhecimento.
Al-Madan. Almada. 4-5, pp. 33-34.

558
Bibliografia

BARROS, L.; HENRIQUES, F. (2002) - A última fase de ocupação do Almaraz. In Actas do 3.º Encontro Nacional
de Arqueologia Urbana. Almada 20-23 de Fevereiro de 1997. Almada: Câmara Municipal de Almada, pp.
97-107.
BARTI, A.; PLANA, R.; TREMOLEDA I TRILLA, J. (2004) - Llafranc Romà. Quaderns de Palafrugell, 13. Palafrugell:
Ajuntament de Palafrugell.
BAUDOUX, J. (1992) - La circulation des amphores dans le Nord-Este de la France. In LAUBENHEIMER, F., Dir. -
Les amphores en Gaule. Production et circulation. Paris: Centre de Recherches d’Histoire Ancienne, pp.
163-169.
BAUDOUX, J. (1996) - Les Amphores du nord-est de la Gaule (territoire française): contribution à l’histoire de
l’économie provinciale sous l’Empire romain. Paris: DAF.
BAYO FUENTES, S. (2010) - El Yacimiento Ibérico de “El Tossal de la Cala”. Nuevo Estudio de los Materiales Deposi-
tados en el MARQ Correspondientes a las Excavaciones de José Belda y Miquel Tarradell. Serie Trabajos de
Arqueología del MARQ, 1. Alicante: MARQ.
BECHTOLD, B. (2010) - Le anfore da trasporto da Cossyra: un’analisi diacronica (VIII sec. a.C.-VI sec. d.C.) attra-
verso lo studio del materiale dalla ricognizione. In COSSYRA II Martina Almonte Ricognizione topografica.
Storia di un paesaggio mediterraneo. Tübinger Archäologische Forschungen 11, pp. 409-518.
BELLO RODRIGO, J. R.; MÁRQUEZ PÉREZ, J. (2010) - Los primeros contextos romanos de Augusta Emerita: el
vertedero de “los columbarios”. In REVILLA, V., ROCA, M., Eds. - Contextos cerámicos y cultura material
de época augústea en el occidente romano. Actas de la reunión celebrada en la Universitat de Barcelona,
15-16 de abril de 2007. Barcelona: Universidad de Barcelona, pp. 404-442.
BELTRÁN LLORIS, M. (1970) - Las ánforas romanas de España. Zaragoza: Institución «Fernando el Católico».
BELTRÁN LLORIS M. (1977) - Problemas de la morfologia y del concepto histórico geografico que recubre la
noción tipo. Aportaciones a la tipologia de las ânforas beticas. In Méthodes classiques et méthodes for-
melles dans l’étude typologique des amphores. Actes du colloque de Rome, 27-29 mai 1974. Rome: Publica-
tions de l’École française de Rome (32), pp. 97-131.
BELTRAN LLORIS, M. (2008) - Las ánforas tarraconenses en el valle del Ebro y la parte occidental de la pro-
vincia Tarraconense. In LÓPEZ MULLOR, A., AQUILUÉ ABADÍAS, J., Eds. -La producció i el comerç de las
àmfores de la Provincia Hispania Tarraconensis. Homenatge a Ricard Pascual i Guasch. Barcelona: Museu
d’Arqueologia de Catalunya, pp. 271-318.
BELTRÁN LLORIS, M. (2013) - Azaila. Estado de la cuestión en el año 2013. Caesaraugusta. Zaragoza. 83.
BELTRÁN LLORIS, M.; AGUAROD OTAL, M. C.; HERNÁNDEZ PRIETO, M. A.; MÍNGUEZ MORALES, J. A.; PAZ
PERALTA, J. A. (1998) - Colonia Victrix Iulia Lepida-Celsa (Velilla de Ebro, Zaragoza), III. El Instrumentum
Domesticum de la Casa de los Delfines. Zaragoza: Institución Fernando El Católico.
BENOIT, F. (1958) - Nouvelles épaves de Provence. Gallia. Nanterre. 16:1, pp. 5-39.
BENOIT, F. (1961) - Relations commerciales entre le monde ibéro-punique et le midi de la Gaule de l’époque
archaïque à l’époque romaine. Revue des Études Anciennes. Bordeaux. 63:3-4, pp. 321-330.
BENQUET, L.; GRIZEAUD, J.-J. (2009) - Découvertes récentes dans le quartier Saint-Roch à Toulouse (Haute-
-Garonne). S.F.E.C.A.G. Actes du Congrès de Colmar, pp. 655-670.
BENQUET, L.; OLMER, F. (2002) - Les amphores. In La Loba (Fuenteobejuna, Cordoue, Espagne). La mine et le
village minier antiques. Bordeaux: Ausonius, pp. 295-331.
BERG, J. van der (2017) - Amphorae from the Aegean and the consumption of Greek foodstuffs on the Kops
Plateau. In CARRERAS MONFORT, C., BERG, J. Van der, Eds. - Amphorae from the Kops Plateau (Nijme-
gen): trade and supply to the lower-rhineland from the Augustan period to AD 69/70. Roman Archaeology
20. Oxford: Archaeopress, pp. 133-142.
BERG, J. van der; POLAK, M.; ALDERS, P. G. (2012) - Oppervlaktevondsten van Vechten-Fectio De veldkartering
van 2009-2010. Auxiliaria 12. Nijmegen.
BERG, J. van der; SCHIMMER, F. (2017) - A few North-African amphorae from 1st century Nijmegen. In CAR-
RERAS MONFORT, C., BERG, J. Van der, Eds. - Amphorae from the Kops Plateau (Nijmegen): trade and
supply to the lower-rhineland from the Augustan period to AD 69/70. Roman Archaeology 20. Oxford:
Archaeopress, pp. 129-132.
BERNAL CASASOLA, D. (1998) - Excavaciones arqueológicas en el alfar romano de la Venta del Carmen. Los Barrios
(Cádiz). Madrid: UAM Ediciones.
BERNAL CASASOLA, D. (2001) - La producción de ánforas en la Bética en el s. III y durante el Bajo Imperio ro-
mano. In Actas Congreso Internacional Ex Baetica Amphorae. Conservas y vino de la Bética en el Imperio
Romano (Écija-Sevilha 1998), Vol. 1. Écija: Gráficas Sol, pp. 239-372.

559
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

BERNAL CASASOLA, D. (2008) - Vinos tarraconenses más allá de las Columnas de Hércules. Primeras evidencias
en la Baetica, Lusitania y Tingitana. In LÓPEZ MULLOR, A., AQUILUÉ ABADÍAS, J., Eds. - La producció i el
comerç de las àmfores de la Provincia Hispania Tarraconensis. Homenatge a Ricard Pascual i Guasch. Barce-
lona: Museu d’Arqueologia de Catalunya, pp. 319-352.
BERNAL CASASOLA, D. (2011) - Vinos lusitanos del Porto dos Cacos en Carteia. Boletín de la Sociedad de Estudios
de la Cerámica Antigua en Hispania. Cádiz. 3, pp. 11-12.
BERNAL CASASOLA, D. (2016a) - Lusitanian Amphorae in the Strait of Gibraltar: Interprovincial Food Supply. In
PINTO, I. V., ALMEIDA, R., MARTIN, A., Eds. - Lusitanian Amphorae: Production and Distribution. Roman
and Late Antique Mediterranean Pottery 10. Oxford: Archaeopress, pp. 299-310.
BERNAL CASASOLA, D. (2016b) - Gauloise 4 (Baetica coast). Amphorae ex Hispania. Landscapes of production
and consumption (http://amphorae.icac.cat/amphora/gauloise-4-baetica-coast).
BERNAL CASASOLA, D.; ARÉVALO GONZÁLEZ, A.; BUSTAMANTE ÁLVAREZ, M.; SÁNCHEZ LÓAIZA, V. (2013) -
Del teatro romano de Cádiz. Contextos cerâmicos associados a las fases constructivas y de reforma del
edifício. In BERNAL, D., JUAN, L. C., BUSTAMANTE, M., DÍAZ, J. J. e SÁEZ, A. M., Eds. - Hornos, talleres y
focos de producción alfarera en Hispania (Actas do I Congreso Internacional de la SECAH - Cádiz, 3-4 March
2011), Vol. II. Cádiz: Universidad de Cádiz, pp. 15-29.
BERNAL CASASOLA, D.; ARÉVALO GONZÁLEZ, A.; LORENZO, L.; AGUILERA, L. (2003a) - Imitations of Italic
amphorae for fish sauce in Baetica. New evidence from the salt-fish factory of Baelo Claudia (Hispania).
In Rei Cretariae Romanae Favtorvm. Acta 38, pp. 305-313.
BERNAL CASASOLA, D.; ARÉVALO GONZÁLEZ, A.; LORENZO, L.; CÁNOVAS, A. (2007c) - Abandonos en algunas
insulae del barrio industrial a finales del siglo II d.C. In ARÉVALO GONZÁLEZ, A., BERNAL CASASOLA,
D., Eds. - Las cetariae de Baelo Claudia. Avance de las investigaciones arqueológicas en el barrio industrial
(2000-2004). Sevilla: Junta de Andalucía, pp. 383-454.
BERNAL CASASOLA, D.; ARÉVALO GONZÁLEZ, A.; ROSELLÓ IZQUIERDO, E. (2007a) - Un ejemplo de conservas
de pescado baelonenses en el siglo II a.C.. In ARÉVALO GONZÁLEZ, A., BERNAL CASASOLA, D., Eds. - Las
cetariae de Baelo Claudia. Avance de las investigaciones arqueológicas en el barrio industrial (2000-2004).
Sevilla: Junta de Andalucía, pp. 355-374.
BERNAL CASASOLA, D.; ARÉVALO GONZÁLEZ, A.; SÁEZ ROMERO, A. M. (2007b) - Nuevas evidencias de la ocu-
pación en época Republicana (ss. II-I a.C.). In ARÉVALO GONZÁLEZ, A., BERNAL CASASOLA, D., Eds. - Las
cetariae de Baelo Claudia. Avance de las investigaciones arqueológicas en el barrio industrial (2000-2004).
Sevilla: Junta de Andalucía, pp. 237-354.
BERNAL CASASOLA, D.; DÍAZ RODRÍGUEZ, J.J.; JIMÉNEZ-CAMINO, R.; EXPÓSITO ÁLVAREZ, J. A.; SÁEZ ROME-
RO, A.M.; LORENZO MARTÍNEZ, L. (2004a) - Los hornos púnicos de praefurnium escalonado (ss. III y
II a.C.). Reflexiones a raíz del alfar de La Milagrosa (San Fernando, Cádiz). In BERNAL, D., LAGÓSTENA,
L., Eds. - Figlinae Baeticae. Talleres alfareros y producciones cerámicas en la Bética romana (ss. II a.C. -
IV d.C.). BAR International Series, 1266. Oxford: Archaeopress, pp. 607-620.
BERNAL CASASOLA, D.; JIMÉNEZ-CAMINO ÁLVAREZ, R. (2004b) - El taller de El Rinconcillo en la Bahía de Al-
geciras. El factor itálico y la economía de exportación (ss. I a.C. - I d.C.). In BERNAL, D., LAGÓSTENA, L.,
Eds. - Figlinae Baeticae. Talleres alfareros y producciones cerámicas en la Bética romana (ss. II a.C.-IV d.C.).
BAR International Series, 1266. Oxford: Archaeopress, pp. 589-606.
BERNAL CASASOLA, D.; JIMÉNEZ CAMINO, R.; LORENZO MARTÍNEZ, L.; TORREMOCHA SILVA, A.; EXPÓSITO
ÁLVAREZ, J. A. (2003b) - Las factorías de salazones de ‘Ivlia Traducta’. Espectaculares hallazgos arqueo-
lógicos en la Calle San Nicolás nº 3-5 de Algeciras. Almoraima. Algeciras. 29, pp. 163-183.
BERNAL CASASOLA, D.; LAVADO FLORIDO, M. L. (2011) - Primeras ánforas tipo urceus en la Bahía de Cádiz.
Boletín de la Sociedad de Estudios de la Cerámica Antigua en Hispania. Cádiz. 3, pp. 10-11.
BERNAL CASASOLA, D.; PÉREZ RIVERA, J. M. (1999) - Un viaje diacrónico por la historia de Ceuta. Resultados de
las intervenciones arqueológicas en el Paseo de las Palmeras. Ceuta: Consejería de Educación y Cultura
Ciudad Autónoma de Ceuta.
BERNAL CASASOLA, D.; ROLDÁN GÓMEZ, L.; BLÁNQUEZ PÉREZ, J.; PRADOS MARTÍNEZ, F.; DÍAZ RODRÍGUEZ,
J.J. (2004c) - Las Dressel 2-4 béticas. Primeras evidencias de su manufactura en el Conventus Gadita-
nus. In BERNAL CASASOLA, D., LAGÓSTENA BARRIOS, L., Eds. - Figlinae Baeticae. Talleres alfareros y
producciones cerámicas en la Bética romana (ss. II a.C.-IV d.C.). BAR International Series, 1266. Oxford:
Archaeopress, pp. 633-648.
BERNAL CASASOLA, D.; ROLDÁN GÓMEZ, L.; BLÁNQUEZ PÉREZ, J.; PRADOS MARTÍNEZ, F.; DÍAZ RODRÍGUEZ,
J.J. (2004d) - Villa Victoria y el barrio alfarero de Carteia en el s. I d.C. Avance de la excavación del 2003. In
BERNAL CASASOLA, D., LAGÓSTENA BARRIOS, L., Eds. - Figlinae Baeticae. Talleres alfareros y producciones
cerámicas en la Bética romana (ss. II a.C.-IV d.C.). BAR International Series, 1266. Oxford: Archaeopress,
pp. 457-472.

560
Bibliografia

BERNAL CASASOLA, D.; ROLDÁN, L.; BLÁNQUEZ PEREZ, J.; SÁEZ ROMERO, A. M. (2011) - De la producción
anfórica de Carteia en Época Republicana. Primeras evidencias. In Homenaje al Profesor Antonio Caro
Bellido. Cádiz: Universidad de Cádiz, pp. 65-82.
BERNAL CASASOLA, D.; SÁEZ, A.; MONTERO, R.; DÍAZ RODRÍGUEZ, J. J.; SÁEZ ROMERO, A. M.; MORENO, D.;
TOBOSO, E. (2006) - Instalaciones fluviomarítimas de drenaje con ánforas romanas. A propósito del
embarcadero flavio del Caño de Sancti Petri (San Fernando, Cádiz). Spal. Sevilha. 14, pp. 179-230.
BERNARD, H.; JEZEGOU, M.-P.; NANTET, E. (2007) - L’épave Ouest-Embiez 1, Var. Cargaison, mobilier, fonction
commerciale du navire. Revue archéologique de Narbonnaise. Montpellier. 40, pp. 199-233.
BERNARDES, J. P.; VIEGAS, C. (2016) - Roman Amphora Production in the Algarve (Southern Portugal). In PIN-
TO, I. V., ALMEIDA, R. R. de, MARTIN, A., Eds. - Lusitanian Amphorae: Production and Distribution. Roman
and Late Antique Mediterranean Pottery 10. Oxford: Archaeopress, pp. 81-94.
BERNI MILLET, P. (1998) - Las ánforas de aceite de la Bética y su presencia en la Cataluña Romana. Instrumenta 4.
Barcelona: Publications de la Universitat de Barcelona.
BERNI MILLET, P. (2008) - Epigrafía anfórica de la Bética. Nuevas formas de análisis. Instrumenta 29. Barcelona:
Publications de la Universitat de Barcelona.
BERNI MILLET, P. (2011) - Tipologia de la Haltern 70. In CARRERAS MONFORT, C., MORAIS, R., GONZÁLEZ FER-
NÁNDEZ, E., Coords. - Ánforas romanas de Lugo, Comercio romano en el Finis terrae. Lugo: Concello de
Lugo, pp. 80-107.
BERNI MILLET, P. (2015) - Novedades sobre la tipología de las ánforas Dressel 2-4 tarraconenses. Archivo Es-
pañol de Arqueología. Madrid. 88, pp. 187-201.
BERNI MILLET, P. (2016) - Dressel 20 (Tarraconensis northern coastal area). Amphorae ex Hispania. Landscapes
of production and consumption (http://amphorae.icac.cat/amphora/ dressel-20-tarraconensis-northern-
coastal-area).
BERNI MILLET, P. (2017) - Amphorae-epigraphy: stamps, graffiti and tituli picti from roman Nijmegen. Sellos.
In CARRERAS MONFORT, C., BERG, J. Van der, Eds. - Amphorae from the Kops Plateau (Nijmegen): trade
and supply to the lower-rhineland from the Augustan period to AD 69/70. Roman Archaeology 20. Oxford:
Archaeopress, pp. 189-282.
BERNI MILLET, P.; CARRERAS MONFORT, C. (2001) - El circuit comercial de Barcino: reflexions al voltant de les
marques amfòriques. Faventia. Barcelona. 23:1, pp. 103-129.
BERNI MILLET, P.; GARCÍA VARGAS, E. (2016) - Dressel 20 (Guadalquivir Valley). In Amphorae ex Hispania.
Landscapes of production and consumption (http://amphorae.icac.cat/amphora/ dressel-20-guadalquivir-
valley).
BERTHAULT, F. (1992) - Production d’amphores dans la région bordelaise. In LAUBENHEIMER, F., Dir. - Les am-
phores en Gaule. Production et circulation. Paris: Centre de Recherches d’Histoire Ancienne, pp. 93-100.
BERTI, F. (1990) - Fortuna Maris. La nave romana di Comacchio. Catalogo della mostra, Comacchio. Bologna:
Palazzo Bellini.
BERTOLDI, T. (2012) - Guida alle anfore romane di età imperiale. Forme, impasti e distribuzione. Roma: Espera.
BERTRAND, E. (1992) - Les amphores d’un vide sanitaire du Ier siècle à Lyon (Saint-Just). In S.F.E.C.AG., Actes du
Congrès de Tournai, pp. 265-277.
BERTRAND, E. (2014) - 46, Rue Victor Hugo, Place Ampère, 69002 Lyon. Rapport De Fouille D’archéologie Pré-
ventive. Lyon: Direction des Aaires Culturelles Service archéologique.
BERTUCCHI G.; MARANGOU-LERAT, A. (1989) - Le remblai hellénistique de la Bourse à Marseille: résultats d’un
sondage. Revue archéologique de Narbonnaise. Montpellier. 22, pp. 47-84.
BEZECZKY, T. (1994) - Aegean amphorae in Pannonia. Folia Archaeologica. Budapest. 43, pp. 115-123.
BEZECZKY, T. (1998) - Amphora types of Magdalensberg. In Arheološki vestnik. Liubliana. 49, pp. 225-242.
BEZECZKY, T. (2004) - Early Roman Food Import in Ephesus: Amphorae from Tetragonos Agora. In EIRING, J.,
LUND, J., Eds. - Transport Amphorae and Trade in the Eastern Mediterranean. Athens: Danish Institute at
Athens, pp. 85-97.
BEZECZKY, T. (2005a) - Dressel 25. Roman Amphorae: a digital resource. University of Southampton (http://
archaeologydataservice.ac.uk/archives/view/amphora_ahrb_2005/).
BEZECZKY, T. (2005b) - Roman amphorae from Vindobona. In KRINZINGER, F, Ed. - Vindobona. Beiträge zu
ausgewählten Keramikgattungen in ihrem topographischen Kontext. Wien: Österreichischen Akademie
der Wissenscheften, pp. 35-70.

561
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

BEZECZKY, T. (2013) - The Amphorae of Roman Ephesus. Forschungen in Ephesos, 15, 1. Wien: Österreichischen
Akademie der Wissenscheften.
BEZECZKY, T. (2014) - Contenitori monoansati delle Terme del Nuotatore di Ostia. In PANELLA, C., RIZZO, G.,
Eds. - Ostia VI. Le Terme del Nuotatore. Roma: L’Erma di Bretscheider, pp. 387-390.
BEZECZKY, T.; BERNI MILLET, P.; GONZÁLEZ CESTEROS, H. (2015) - New research on the Castrum villa, on the
island of Brijuni (Croatia). In DEMESTICHA, S., Ed. - Per terram, per mare. Seaborn trade and the distribu-
tion of roman amphorae in the Mediterranean. Uppsala: Aströms förlag, pp. 189-198.
BIERS, W. R. (Ed.)(1988) - Mirobriga. BAR International Series, 451. Oxford: Archaeopress.
BIGOT, F. (2014) - Les amphores des agglomérations de Rodez (Segodunum) et Millau (Condatomagus) entre
la fin du Ier s. et le IVe s. Réflexions sur le commerce des denrées méditerranéennes dans la cité des
Rutènes. Cahiers d’Archéologie Aveyronnaise. Rodez. 27, pp. 87-130.
BIGOT, F.; DJAOUI, D. (2013) - Étude préliminaire des amphores gauloises des fouilles de l’épave Arles-Rhône 3
(Arles, B.-du-Rh.) (2e moitié du Ier s. – 1ère moitié du IIe s. ap. J.-C.). Revue archéologique de Narbonnaise.
Montpellier. 46, pp. 375-394.
BLANCO JIMÉNEZ, F. J. (1989) - Excavaciones de urgencia en un solar de la Calle Gregório Marañon: Cadiz.
Anuario Arqueológico de Anlalucía. Sevilha. 3, pp. 78-81.
BLÁZQUEZ MARTÍNEZ J. M. (1980) - La exportación del aceite hispano en el Imperio romano. Estado de la
cuestión. In BLÁZQUEZ MARTÍNEZ, J. M., Ed. - Producción y Comercio del aceite en la Antigüedad. Primer
Congreso Internacional. Madrid: Universidad Complutense de Madrid, pp. 19-46.
BLÁZQUEZ MARTÍNEZ, J. M. (2002) - Relaciones de España en la tarda antigüedad con África y el Oriente.
Últimas aportaciones de la cerámica. In CARRIÉ, J.-M., TESTA, R. L., Eds. - Humana sapit. Études
d›Antiquité tardive offertes à Lellia Cracco Ruggini. Turnhout: Brepols publishers, pp. 299-307.
BLÁZQUEZ MARTÍNEZ, J. M.; REMESAL RODRÍGUEZ, J. (Eds.) (1999) - Estudios sobre el Monte Testaccio (Roma) I.
Instrumenta 6. Barcelona: Publications de la Universitat de Barcelona.
BLÁZQUEZ MARTÍNEZ, J. M.; REMESAL RODRÍGUEZ, J. (Eds.) (2001) - Estudios sobre el Monte Testaccio (Roma) II.
Instrumenta 10. Barcelona: Publications de la Universitat de Barcelona.
BLÁZQUEZ MARTÍNEZ, J. M.; REMESAL RODRÍGUEZ, J. (Eds.) (2003) - Estudios sobre el Monte Testaccio (Roma) III.
Instrumenta 14. Barcelona: Publications de la Universitat de Barcelona.
BLÁZQUEZ MARTÍNEZ, J. M.; REMESAL RODRÍGUEZ, J. (Eds.) (2007) Estudios sobre el Monte Testaccio (Roma) IV.
Instrumenta 24. Barcelona: Publications de la Universitat de Barcelona.
BLÁZQUEZ MARTÍNEZ, J. M.; REMESAL RODRÍGUEZ, J. (Eds.) (2010) - Estudios sobre el Monte Testaccio (Roma) V.
Instrumenta 35. Barcelona: Publications de la Universitat de Barcelona.
BLÁZQUEZ MARTÍNEZ, J. M.; REMESAL RODRÍGUEZ, J. (Eds.) (2014) - Estudios sobre el Monte Testaccio (Roma) VI.
Instrumenta 47. Barcelona: Publications de la Universitat de Barcelona.
BLÁZQUEZ MARTÍNEZ, J.M.; REMESAL RODRÍGUEZ, J.; RODRÍGUEZ ALMEIDA, E. (1994) - Excavaciones arqueo-
lógicas en el monte Testaccio (Roma). Memoria campaña 1989. Madrid: Instituto de Conservación y Res-
tauración de Bienes Culturales.
BOAVENTURA, R.; BANHA, C. (2006) - Ânforas da região de Monforte: contributo para o conhecimento do
comércio rural romano. O Arqueólogo Português. Série IV. 24, pp. 369-399.
BOMBICO, S. (2016) - Economia maritíma da Lusitânia romana: exportação e circulação de bens alimentares. Tese
de Doutoramento apresentada à Universidade de Évora. Policopiado.
BONET ROSADO, H.; FUMADÓ ORTEGA, I.; ARANEGUI GASCÓ, C.; VIVES-FERRÁNDIZ SÁNCHEZ,J .; HASSINI, H.;
KBIRI ALAUI, M. (2005) - La ocupación mauritana. In ARANEGUI GASCO, C., Ed. - Lixus 2. Ladera Sur. Exca-
vaciones arqueologica marroco-españolas en la colonia fenicia. Campañas 2002-2003. Sagvntvm. Valencia.
Extra 6, pp. 87-140.
BONNET, C.; LAUBENHEIMER, F. (1998) - Le dépotoir d’amphores des Sablières à St-Paul-Trois-Châteaux (Drô-
me). In LAUBENHEIMER, F., Dir. - Les amphores en Gaule II. Production et circulation. Paris: Institut des
Sciences et Technique de l’Antiquité, pp. 255-285.
BONIFAY, M. (1986) - Observations sur les amphores tardives à Marseille d’après les fouilles de la Bourse (1980-
1984). Revue archéologique de Narbonnaise. Montpellier. 19, pp. 269-301.
BONIFAY, M. (2004a) - Études sur la cerámique romaine tardive d’Afrique. BAR International Series, 1301.
Oxford: Archaeopress.
BONIFAY, M. (2004b) - Observations préliminaires sur la céramique de la nécropole de Pupput. In ABED, A.,
GRIESHEIMER, M., Dir. - La nécropole romaine de Pupput. Rome: Publications de l’École française de
Rome (323), pp. 21-57.

562
Bibliografia

BONIFAY, M. (2005) - Tripolitanian 2. Roman Amphorae: a digital resource. University of Southampton (http://
archaeologydataservice.ac.uk/archives/view/amphora_ahrb_2005/).
BONIFAY, M. (2007a) - Que transportaient donc les amphores africaines? In PAPI, E., Ed. -Supplying Rome and
the Empire. Proceedings of the international Seminar, Siena- Certosa di Pontignano, May 2-4 of 2004. Jour-
nal of Roman Archaeology, Suppl. ser. 69. Portsmouth, pp. 8-31.
BONIFAY, M. (2007b) - Observations préliminaires sur les amphores africaines de l’oasis de Bahariya. In MAR-
CHAND, S., MARANGOU, A., Eds. - Amphores d’Égypte de la Basse Époque à l’époque arabe. Cahiers de la
Céramique Égyptienne, 8. Cairo: IFAO, pp. 451-462.
BONIFAY, M. (2016) - Amphores de l’Afrique romaine: nouvelles avancées sur la production, la typo-chronolo-
gie et le contenu. In JÁRREGA DOMÍNGUEZ, R., BERNI MILLET, P., Eds. - Amphorae ex Hispania: paisajes
de producción y consumo. Monografías Ex Officina Hispana III, Vol. II. Tarragona: Instituto Catalán de
Arqueología Clásica, pp. 595-611.
BONIFAY, M.; BOTTE, E.; CAPELLI, C.; CONTINO, A.; DJAOUI, D.; PANELLA, C.; TCHERNIA, A. (2015) - Nouvelles
hypothèses sur l’origine et le contenu des amphores africaines Ostia LIX et XXIII. Antiquités Africaines.
Paris. 51, pp. 189-210.
BONIFAY, M.; CAPELLI, C. (2013) - Les Thermes du Levant à Leptis Magna: quatre contextes céramiques des IIIe
et Ive siècles. Antiquités Africaines. Paris. 49, pp. 67-150.
BONIFAY, M.; CAPELLI, C.; DRINE, A.; GHALIA, T. (2010) - Les productions d’amphores romaines sur le littoral
tunisien. Archéologie et archéometrie. In Rei Cretariae Romanae Favtorvm. Acta 41, pp. 319-327.
BONIFAY, M.; CARRÉ, M. B.; RIGOIR, Y. (1998) - Fouilles à Marseille. Les mobiliers (Ier-VII siècles ap. J.C.). Etudes
Massaliotes 5. Paris: Errance.
BONIFAY, M.; PITON, J. (2008) - Amphores africaines du musée d’Arles (Bouches-du-Rhône). In Archéologies de
Provence et d’ailleurs. Mélanges offerts à Gaëtan Congès et Gérard Sauzade. BAP, Supplément 5. Aix-en-
Provence: Association Provence Archéologie, pp. 585-595.
BONIFAY, M. ; TCHERNIA, A. (2012) - Les réseaux de la céramique africaine (Ie-Ve siècles). In KEAY, S., Ed. -
Rome, Portus and the Mediterranean. Monographs of the British School at Rome, 21. London: British
School at Rome, pp. 315-333.
BONINU, A. ; PANDOLFI, A., et alii (2008) - Colonia Iulia Turris Libisonis. Dagli scavi archeologici alla composi-
zione urbanistica. In L’Africa Romana, XVII, vol. 3. Siviglia, 13-18 dicembre 2006. Sassari: Carocci editore,
pp. 1777-1818.
BORGARD, P. (1994) - L’origine liparote des amphores “Richborough 527” et la détermination de leur contenu.
S.F.E.C.A.G. Actes du Congrès de Millau, pp. 197-203.
BORGARD, P. (2005) - Les amphores à alun (Ier siècle avant J.-C. - IVe siècle après J.-C.). In L’Alun de Méditerra-
née, Colloque International. Collection du Centre Jean Bérard, 23. Naples/Aix-en-Provence: Centre Jean
Bérard/Centre Camille Julian, pp. 157-169.
BORGARD, P.; CAPELLI, C. (2005) - Origine et typologie des amphores à alun de Lipari. In L’Alun de Méditerra-
née, Colloque International. Collection du Centre Jean Bérard, 23. Naples/Aix-en-Provence: Centre Jean
Bérard/Centre Camille Julian, pp. 211-213.
BORGARD, P.; CAVALIER, M. (2003) - The Lipari origin of the ‘Richborough 527’. In PLOUVIEZ, J., Ed. -
Amphorae in Britain and the western Empire. Journal of Roman Pottery Studies, 10. Oxford,
pp. 96-106.
BORGARD, P.; GATEAU, F. (1991) - Des amphores cannelées a Cavaillon (Vaucluse) a la fin du 1er siècle avant
notre ère. Nouveaux éléments pour l’étude des «Richborough 527». S.F.E.C.A.G., Actes du Congrès de
Cognac, pp. 311-328.
BORGARD, P.; GATEAU, F. (1998) - Les amphores de Cavaillon et d’Orange. Aperçu sur la circulation des ampho-
res dans la basse vallée du Rhône entre la fin du Ier s. avant J.-C. et le début du IIIe s. In LAUBENHEIMER,
F., Dir. - Les amphores en Gaule II. Production et circulation. Paris: Institut des Sciences et Technique de
l’Antiquité, pp. 247-254.
BOST, J.-P.; CAMPO, M.; COLLS, D.; GUERRERO, V.; MAYET, F. (1992) - L’épave Cabrera III (Majorque). Publica-
tions du Centre Pierre Paris, vol. 23. Paris: Centre Pierre Paris.
BOTTE, E. (2005) - Les amphores de Lipari découvertes dans la tannerie de Pompéi. In L’Alun de Méditerranée,
Colloque International. Collection du Centre Jean Bérard, 23. Naples/Aix-en-Provence: Centre Jean Bé-
rard/Centre Camille Julian, pp. 197-199.
BOTTE, E. (2009) - Salaisons et sauces de poissons en Italie du Sud et en Sicile durant l’Antiquité. Collection du
Centre Jean Bérard, 31. Naples: Centre Jean Bérard.

563
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

BOUBE, J. (1973-1975) - Marques d’amphores découvertes à Sala, Volubilis et Banasa. Bulletin d’Archéologie
Marocaine. Rabat. 9, pp. 163-235.
BOUBE, J. (1979-1980) - Amphores prérromaines trouvées en mer au voisinage de Rabat. Bulletin d’Archéologie
Marocaine. Rabat. 12, pp. 99-109.
BOWMAN, A. K.; WILSON, A. I. (2009) - Quantifying the Roman Economy: Methods and Problems. Oxford Stud-
ies in the Roman Economy, 1. Oxford: Oxford University Press.
BRAZUNA, S.; COELHO, M. (2012) - A villa das Almoinhas (Loures). Trabalhos arqueológicos de diagnóstico e
minimização. In PIMENTA, J., Coord. - Actas da Mesa Redonda de Olisipo a Scallabis. A rede viária romana
no Vale do Tejo. Cira Arqueologia. Vila Franca de Xira. 1, pp. 103-114.
BRENTCHALOFF, D.; LEQUEMENT, R. (1978) - Timbres amphoriques de Fréjus. Archaeonautica. Paris. 2, pp. 221-231.
BROWN, P. (1971) - The World of Late Antiquity. London: Thames and Hudson.
BRUN, J.-P. (1994) - Le faciès céramique d’Al-Zarqa. Observations préliminaires. BIFAO. Caire. 94, pp. 7-26.
BRUN, J.-P. (2001) - La viticulture antique en Provence. Gallia. Nanterre. 58, pp. 69-89.
BRUN, J.-P.; LECACHEUR, P.; PASQUALINI, M. (1992) - Les amphores du port antique de Toulon (Telo Martius).
In LAUBENHEIMER, F., Dir. - Les amphores en Gaule. Production et circulation. Paris: Centre de Recherches
d’Histoire Ancienne, pp. 123-131.
BRUNO, B. (2004) - L’arcipelago maltese in età romana e bizantina. Attività economiche e scambi al centro del
mediterraneo. Bari: Edipuglia.
BUCHI, E. (1973) - Banchi di anfore romane a Verona. Note sui commerci cisalpini. In Il Territorio Veronese in
età Romana. Atti del convegno tenuto a Verona, 22-24 ottobre 1971. Verona: Accademie di Agricoltura,
Scienze e Lettere di Verona, pp. 531-637
BUGALHÃO, J. (2001) - A indústria romana de transformação e conserva de peixe em Olisipo. Núcleo Arque-
ológico da Rua dos Correeiros. Trabalhos de Arqueologia, 15. Lisboa: Instituto Português de Arqueologia.
BUGALHÃO, J. (2003) - Mandarim Chinês, Lisboa - Contextos Romanos. In Quarto Encontro de Arqueologia
Urbana (Amadora, 10 a 12 de Novembro de 2000). Amadora: Câmara Municipal da Amadora, pp. 127-146.
BUGALHÃO, J. (2017) - Arqueologia urbana em lisboa: da intervenção preventiva à divulgação pública. In Entre
ciência e cultura: da interdisciplinaridade à transversalidade da arqueologia, Actas das VIII Jornadas de
Jovens em Investigação Arqueológica. Lisboa: CHAM/IEM, pp. 467-474.
BUGALHÃO, J.; ARRUDA, A. M.; SOUSA, E.; DUARTE, C. (2013) - Uma necrópole na praia: o cemitério romano
do Núcleo Arqueológico da Rua dos Correeiros (Lisboa). Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa. 16,
pp. 243-275.
BUGALHÃO, J.; GOMES, A. S.; SOUSA, M. J. (2003) - Vestígios de produção oleira islâmica no Núcleo Arqueoló-
gico da Rua dos Correeiros, Lisboa. Arqueologia Medieval. Porto. 8, pp. 129-191.
BUGALHÃO, J.; LOURENÇO, S. (2006) - As ânforas romanas da Ilha da Berlenga. Setúbal Arqueológica. Setúbal.
13, pp. 279-294.
BUGALHÃO, J.; LOURENÇO, S. (2011) - A ocupação romana da ilha da Berlenga. Revista Portuguesa de Arqueo-
logia. Lisboa. 14, pp. 203-215
BUGALHÃO, J.; SABROSA, A. (1995) - BCP - Uma unidade de salga de peixe, na Rua Augusta Lisboa. In 1º
Congresso de arqueologia peninsular (Porto, 1993) - Actas VII. Trabalhos de Antropologia e Etnologia.
Porto. 35:3, pp. 379-395.
BUGALHÃO, J.; SOUSA, M. J.; GOMES, A. S. (2004) - Vestígios de produção oleira no Mandarim Chinês, Lisboa.
Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa, 7:1, pp. 575-643.
BURACA, I. (2005) - Civitas Conímbriga: Ânforas romanas. Dissertação de Mestrado em Arqueologia na área de
especialização em Arqueologia Regional, apresentado à Faculdade de Letras da Universidade de Coim-
bra. Coimbra. Policopiado.
BURACA, I. (2011) - A colecção de ânforas da villa romana do Rabaçal. In Actas do Encontro Internacional so-
bre Ciências e Novas Tecnologias Aplicadas à Arqueologia na villa Romana do Rabaçal, Penela, Terras
da Sicó, Portugal. Penela: Câmara Municipal de Penela, pp. 153-159.
BURACA, I. (2016) - Lusitanian amphorae in roman city of Conimbriga. In PINTO, I. V., ALMEIDA, R., MARTIN,
A., Eds. - Lusitanian Amphorae: Production and Distribution. Roman and Late Antique Mediterranean
Pottery 10. Oxford: Archaeopress, pp. 231-240.
BUSTAMANTE ÁLVAREZ, M.; HERAS MORA, F. J. (2016) - Haltern 70 (Eastern Lusitania). Amphorae ex Hispania.
Landscapes of production and consumption (http://amphorae.icac.cat/amphora/haltern-70-eastern-lu-
sitania).

564
Bibliografia

BUSTAMANTE ÁLVAREZ, M.; MARTÍN-ARROYO SÁNCHEZ, D. (2004) - La producción de ánforas greco-itálicas


de imitación y su evolución en la bahía gaditana durante el siglo II a.C.: los contextos de la Avenida
Pery Junquera en San Fernando (Cádiz). In BERNAL, D., LAGÓSTENA, L., Eds. - Figlinae Baeticae. Talleres
alfareros y producciones cerámicas en la Bética romana (ss. II a.C.-IV d.C.). BAR International Series, 1266.
Oxford: Archaeopress, pp. 441-446.
BUSTAMENTE ÁLVAREZ, M.; CORDERO RUIZ, T. (2013) - Une exportation viticole à Mérida? Considération sur
la production locale d’amphores de style Haltern 70. In CLESTINO PÉREZ, S., BLÁNQUEZ PÉREZ, J., Eds. -
Patrimonio cultural de la vid y del vino. Madrid: UAM Ediciones, pp. 81-93.
CAESSA A.; ENCARNAÇÃO, J. (2012) - Epigrafia de Olisipo 66 anos depois! In DONATI, A., POMA, G., Eds. -
L’officina epigrafica romana in ricordo di giancarlo susini. Faenza: Fratelli Lega Editori, pp. 475-490.
CALADO, M.; MATALOTO, R.; PISCO, M. (1999) - Povoamento Proto-histórico no Alentejo Central. Actas do
Congresso de Proto-História Europeia - Centenário da morte de Martins Sarmento. Revista de Guimarães,
volume especial, Vol. I. Guimarães: Sociedade Martins Sarmento, pp. 363-386.
CALADO, M. (2008) - Olisipo pré-romana. Um ponto da situação. Lisboa: Apenas Livros.
CALADO, M.; ALMEIDA, L.; LEITÃO, V.; LEITÃO, M. (2013) - Cronologias absolutas para a Iª Idade do Ferro
em Olisipo - O exemplo de uma ocupação em ambiente cársico na actual Rua da Judiaria em Alfama.
Cira Arqueologia. Vila Franca de Xira. 5, pp. 118-132.
CALADO, M.; LEITÃO, V. (2005) - A ocupação islâmica da encosta de Sant’Ana (Lisboa). Revista Portuguesa de
Arqueologia. Lisboa: 8:2, pp. 459-470.
CALDERÓN FRAILE, M. N. (2002) - Sobre ánforas romanas halladas en Mérida. Memoria. Mérida. 6, pp. 361-370.
CALLENDER, M. H. (1965) - Roman Amphorae With Index of Stamps. London: Oxford University Press.
CALMES, R. (1973) - L’Épave I du Cap Benat. Cahiers d’Archeologie Subaquatique. Fréjus. 2, pp. 137-144.
CAMBI, N. (1989) - Cambi, Anfore romane in Dalmazia. In Amphores Romaines et Histoire Economique: dix ans
de recherche, Sienne, 22-24 mai 1986. Rome: Publications de l’École française de Rome (114), pp. 311-337.
CAMINNECI, V.; FRANCO, F.; GALIOTO, G. (2010) - L’insediamento Tardoantico di Contrada Carabollace (Sciacca-
Agrigento, Sicília, Italia): primi dati sui rinvenimenti ceramici. In MENCHELLI, S., SANTORO, S., PASQUI-
NUCCI, M., GUIDUCCI, G., Eds. - LRCW 3. Late Roman Coarse Wares, Cooking Wares and Amphorae in
the Mediterranean. Archaeology and archaeometry. Comparison between western and eastern Mediter-
ranean, Vol. I. BAR International Series 2185. Oxford: Archaeopress, pp. 273-282.
CAMPOS CARRASCO, J. M.; PÉREZ MACÍAS, J. A.; VIDAL TERUEL, N. (2004) - Alfares y producciones cerámicas
en la provincia de Huelva. Balance y perspectivas. In BERNAL, D., LAGÓSTENA, L., Eds. - Figlinae
Baeticae. Talleres alfareros y producciones cerámicas en la Bética romana (ss. II a.C.-IV d.C.). BAR Interna-
tional Series, 1266. Oxford: Archaeopress, pp. 125-160.
CANTO, A. M. (2005) - Sobre la verdadera fecha de la fundación de Mérida. Celtiberia.net 2-11-2005, 17 láms.
(http://www.celtiberia.net/es/biblioteca/?id=1597).
CAPELLI, C. (2015) - Caractérisation en microscopie optique des pâtes des ateliers d’Henchir ech Chekaf et
Salakta. In NACEF, J., Ed. - La production de la céramique antique dans la région de Salakta et Ksour Essef
(Tunisie). Roman and Late Antique Mediterranean porttery 8. Oxford: Archaeopress, pp. 246-251.
CAPELLI, C.; CONTINO A. (2013) - Amphores tripolitaines ou africaines anciennes? Antiquités Africaines. Paris.
49, pp. 199-208.
CARDOSO, G. (1986) - Fornos de ânforas romanas na bacia do rio Sado: Pinheiro, Abúl e Bugio. Conimbriga.
Coimbra. 25, pp. 153-174.
CARDOSO, G. (1990) - O forno de ânforas de Muge. In ALARCÃO. J.; MAYET, F., Eds. - Les amphores lusitaniennes
typologie, production et commerce. Coimbra: Museu Monográfico de Conímbriga, pp. 153-165.
CARDOSO, G. (2006) - As cetárias da área urbana de Cascais. Setúbal Arqueológica. Setúbal. 13, pp. 145‐150.
CARDOSO, G. (2009) - Ânforas. In BATALHA, L.; CANINAS, J. C.; CARDOSO, G.; MONTEIRO, M, Coords. - A villa
romana da sub-serra de Castanheira do Ribatejo (Vila Franca de Xira). Trabalhos Arqueológicos efectuados
no âmbito de uma obra da EPAL. Lisboa: EPAL- Empresa das Águas Livres, pp. 63-86.
CARDOSO, G. (2014) - Duas fortificações do final da Idade do Ferro/ início da romanização: São Salva-
dor (Cadaval) e sítio do Castelo (Arruda dos Vinhos). In FABIÃO, C., PIMENTA, J., Coords. - Ac-
tas do Congresso Conquista e Romanização do Vale do Tejo. Cira Arqueologia. Vila Franca de Xira. 3,
pp. 200-241.
CARDOSO, G. (2015) - Estudio arqueológico de la villa romana de Freiria. Tesis Doctoral, Universidad de Extrema-
dura. Policopiado.

565
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

CARDOSO, G.; GONÇALVES, J. L.; RODRIGUES, S. (1998) - Forno romano de cerâmica descoberto em Peniche.
Al-Madan. Almada. II:7, pp. 178-179.
CARDOSO, G.; RODRIGUES, S. (2002) - 4ª campanha de sondagens arqueológicas na olaria romana do Morraçal
da Ajuda (Peniche). Al-Madan. Almada. II:11, pp. 6.
CARDOSO, G.; RODRIGUES, S. (2005) - Olaria romana do Morraçal da Ajuda. In Actas do Congresso A Presença
Romana na Região Oeste. Bombarral: Câmara Municipal do Bombarral, pp. 83-102.
CARDOSO, G.; RODRIGUES, S.; SEPÚLVEDA, E. (2006) - A olaria romana de Peniche. Setúbal Arqueológica.
Setúbal. 13, pp. 253-278.
CARDOSO, G.; RODRIGUES, S.; SEPÚLVEDA, E.; RIBEIRO, I. (2011) - Vestígios de uma olaria romana no Morraçal
da Ajuda - Peniche. Paideia, Revista de Cultura e Ciência. Peniche. 2, pp. 47-58.
CARDOSO, G.; RODRIGUES, S.; SEPÚLVEDA, E.; RIBEIRO, I. (2015) - A figlina do Morraçal da Ajuda, Peniche - última
fase de produção. In QUARESMA, J. C.; MARQUES, J., Coords. - Contextos estratigráficos na Lusitania
(do Alto-Império à Antiguidade Tardia). Monografias, 1. Lisboa: AAP, pp. 105-116.
CARDOSO, G.; RODRIGUES, S.; SEPÚLVEDA, E.; RIBEIRO, I. (2016) - Production during the Principate in Peniche
(Portugal). Raw Materials, Kilns and Amphora Typology. In PINTO, I. V., ALMEIDA, R., MARTIN, A., Eds.
- Lusitanian Amphorae: Production and Distribution. Roman and Late Antique Mediterranean Pottery 10.
Oxford: Archaeopress, pp. 3-17.
CARDOSO, J. L. (2011) - Arqueologia no Concelho de Oeiras: do Paleolítico Inferior arcaico ao século XVIII. Oeiras:
Câmara Municipal de Oeiras.
CARDOSO, J. L.; CARREIRA, J. R. (1997-1998) ‑ A ocupação de Época Púnica da Quinta da Torre (Almada).
Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras. 7, pp. 189-217.
CARDOSO, J. L.; GUERRA, A.; FABIÃO, C. (2011) - Alguns aspectos da mineração romana na Estremadura e Alto
Alentejo. In CARDOSO, J. L., ALMAGRO-GORBEA, M., Eds. - Lucius Cornelius Bocchus, Escritor Lusitano
da Idade de Prata da Literatura Latina. Lisboa: Academia Portuguesa de História/Real Academia de la
Historia, pp. 169-188.
CARDOSO, J. P. (2013) - Ânforas romanas recuperadas em meio subaquático em Portugal.
CARRE, M.-B. (1985) - Les amphores de la Cisalpine et de l’Adriatique au début de l’empire. Mélanges de l’Ecole
française de Rome. Antiquité. Rome. 97:1, pp. 207-245.
CARRE, M.-B.; MATTIOLI, S. P.; BELOTTI, C. (2009) - Le anfore da pesce adriatiche. In MATTIOLI, S. P., CARRE,
M.-B., Eds. - Olio e pesce in epoca romana produzione e commercio nelle regioni dell’alto adriatico. Atti
del convegno (Padova, 16 febbraio 2007). Antenor Quaderni 15. Padova: Qedizioni Quasar, pp. 215-238.
CARRERAS MONFORT, C. (1994) - Una reconstrucción del comercio en cerámicas: la red de transportes en Brita-
nia: aplicación de modelos de simulación en PASCAL y SPANS. Cuadernos de Arqueología, 7. Barcelona:
Edicions Servei del Llibre l’Estaquirot.
CARRERAS MONFORT, C. (1996) - El comercio en Asturia a través de las ánforas. In FERNÁNDEZ OCHOA, C.,
Coord. - Los finesterres atlánticos en la Antiguedad. Época prerromana y romana (Coloquio internacional).
Homenage a Manuel Fernández Miranda. Gijón: Electa, pp. 205-210.
CARRERAS MONFORT, C. (1998) - Britannia and the imports of baetican and lusitanian amphorae. Journal of
Iberian Archaelogy. Porto. 0, pp. 159-170.
CARRERAS MONFORT, C. (1999) - Miscelânea: las otras ánforas del Monte Testaccio. In BLÁZQUEZ MARTÍNEZ,
J. M., REMESAL RODRÍGUEZ, J., Eds. - Estudios sobre el Monte Testaccio (Roma) I. Instrumenta 6. Barce-
lona: Publications de la Universitat de Barcelona, pp. 91-98.
CARRERAS MONFORT, C. (2000) - Economía de La Britannia romana: la importación de alimentos. Instrumenta
8. Barcelona: Publications de la Universitat de Barcelona.
CARRERAS MONFORT, C. (2004) - Geografia de la producció de les Haltern 70. In Culip VIII i les àmfores Haltern
70. Monografies del Casc 5. Girona: Museu d’Arqueologia de Catalunya, pp. 75-81.
CARRERAS MONFORT, C. (2005a) - Dressel 2-4 Catalan. Roman Amphorae: a digital resource. University of
Southampton (http://archaeologydataservice.ac.uk/archives/view/amphora_ ahrb_2005/).
CARRERAS MONFORT, C. (2005b) - Dressel 28. Roman Amphorae: a digital resource. University of Southampton
(http://archaeologydataservice.ac.uk/archives/view/amphora_ahrb_2005/).
CARRERAS MONFORT, C. (2007) - Consumo de salazones béticos desde Época de Augusto a los Julio-Clau-
dios: mercados emergentes en Asturica Augusta (Astorga), Barcino (Barcelona) y Oppidum Cugernorum
(Xanten). In Actas del congreso Internacional CETARIAE. Salsas y salazones de pescado en Occidente du-
rante la Antigüedad. Universidade de Cádiz, Noviembre de 2005. BAR, International Séries, 1686. Oxford:
Archaeopress, pp. 215-220.

566
Bibliografia

CARRERAS MONFORT, C. (2010) - The example of Astorga and León. In CARRERAS MONFORT, C., MORAIS, R.,
Eds. - The Western Roman Atlantic Façade A study of the economy and trade in the Mar Exterior from the
Republic to the Principate. BAR International Series, 2162. Oxford: Archaeopress, pp. 239-244.
CARRERAS MONFORT, C. (2016a) - Dressel 7-11 (Guadalquivir Valley). Amphorae ex Hispania. Landscapes of
production and consumption (http://amphorae.icac.cat/amphora/dressel-7-11-guadalquivir-valley).
CARRERAS MONFORT, C. (2016b) - Verulamium 1908 (Guadalquivir Valley). Amphorae ex Hispania. Landscapes of
production and consumption (http://amphorae.icac.cat/amphora/ verulamium-1908-guadalquivir-valley).
CARRERAS MONFORT, C. (2016c) - Pascual 1 (Tarraconensis northern coastal area). Amphorae ex Hispania. Lan-
dscapes of production and consumption (http://amphorae.icac.cat/amphora/ pascual-1-tarraconensis-
-northern-coastal-area).
CARRERAS MONFORT, C. (2017) - New views on the wine import from Hispania Tarraconensis. In CARRERAS
MONFORT, C., BERG, J. Van der, Eds. - Amphorae from the Kops Plateau (Nijmegen): trade and supply to
the lower-rhineland from the Augustan period to AD 69/70. Roman Archaeology 20. Oxford: Archaeo-
press, pp. 93-104.
CARRERAS MONFORT, C.; BERG, J. van den (Eds.) (2017) - Amphorae from the Kops Plateau (Nijmegen). Trade
and supply to the lower-Rhineland from the Augustan pariod to AD 69/70. Archaeopress Roman Archaeo-
logy 20. Oxford: Archaeopress.
CARRERAS MONFORT, C.; BERNI MILLET, P. (2003) - Ánforas. In AMARÉ TAFALLA, M. T., Dir. - Astorga IV.
Lucernas y ánforas. Colección de Arqueologia Leonesa I. Serie Astorga IV. León: Universidad de León,
pp. 653-673.
CARRERAS MONFORT, C.; BERNI MILLET, P. (2015) - Hispanic Imports in the First Military Camps of
Novaesium (Neuss): Lager 1-7 (Augustus–Flavians). In MBAH Band. Münster. 32, pp. 173-207.
CARRERAS MONFORT, C.; BERNI MILLET, P. (2016) - Haltern 70 (Guadalquivir Valley). Amphorae ex Hispania.
Landscapes of production and consumption (http://amphorae.icac.cat /amphora/haltern-70-guadalqui-
vir-valley).
CARRERAS MONFORT, C.; ESCUDERO, F. A.; PILAR GALVE, M. (2016) - Las ánforas de la calle Reconquista
(Zaragoza) frente a las inundaciones de la Huerva. In JÁRREGA DOMÍNGUEZ, R., BERNI MILLET, P., Eds. -
Amphorae ex Hispania: paisajes de producción y consumo. Monografías Ex Officina Hispana III, Vol. I.
Tarragona: Instituto Catalán de Arqueología Clásica, pp. 225-240.
CARRERAS MONFORT, C.; FUNARI, P. P. (1998) - Britannia y el Mediterráneo. Estudios sobre el comercio de acei-
te bético y africano en Britannia. Instrumenta 5. Barcelona: Publications de la Universitat de Barcelona.
CARRERAS MONFORT, C.; GARCÍA VARGAS, E. (2016) - Dressel 28 (Guadalquivir Valley). Amphorae ex Hispania.
Landscapes of production and consumption (http://amphorae.icac.cat/ amphora/dressel-28-guadalqui-
vir-valley).
CARRERAS MONFORT, C.; GONZÁLEZ CESTEROS, H. (2012) - Ánforas tarraconenses para el limes germano.
Una nueva visión sobre las Oberaden 74. In BERNAL CASASOLA, D. e RIBERA I LACOMBA, A., Eds. -
Cerámicas hispanorromanas II. Producciones regionales. Cádiz: Universidad de Cádiz, pp. 207-230.
CARRERAS MONFORT, C.; GONZÁLEZ CESTEROS, H. (2013) - Las ánforas de los primeros campamentos de
Neuss (Renania, Alemania). In BERNAL, D., JUAN, L. C., BUSTAMANTE, M., DÍAZ, J. J. e SÁEZ, A. M.,
Eds. - Hornos, talleres y focos de producción alfarera en Hispania (Actas do I Congreso Internacional de la
SECAH - Cádiz, 3-4 March 2011), Vol. II. Cádiz: Universidad de Cádiz, pp. 281-297.
CARRERAS MONFORT, C.; GONZÁLEZ CESTEROS, H. (2016) - Las ánforas de los primeros campamentos de
Neuss (Renania, Alemania). In BERNAL, D., JUAN, L. C., BUSTAMANTE, M., DÍAZ, J. J. e SÁEZ, A. M.,
Eds. - Hornos, talleres y focos de producción alfarera en Hispania (Actas do I Congreso Internacional de la
SECAH - Cádiz, 3-4 March 2011), Vol. II. Cádiz: Universidad de Cádiz, pp. 281-297.
CARRERAS MONFORT, C.; MARIMON RIBAS, P. (2004) - Verulamium 1908 (Haltern 70 tardana). In Culip VIII i
les àmfores Haltern 70. Monografies del Casc 5. Girona: Museu d’Arqueologia de Catalunya, pp. 32-35.
CARRERAS MONFORT, C.; MORAIS, R. (Eds.) (2010) - The Western Roman Atlantic Façade A study of the
economy and trade in the Mar Exterior from the Republic to the Principate. BAR International Series,
2162. Oxford: Archaeopress.
CARRERAS MONFORT, C.; MORAIS, R. (2011) - Las ánforas de Lucus Augusti. In CARRERAS MONFORT, C.,
MORAIS, R., GONZÁLEZ FERNÁNDEZ, E., Coords. - Ánforas romanas de Lugo, Comercio romano en el
Finisterrae. Lugo: Concello de Lugo, pp. 33-78.
CARRERAS MONFORT, C.; MORAIS, R. (2012) - The atlantic roman trade during the principate: new evidence
from the western façade. Oxford Journal of Archaeology. Oxford. 31(4), pp. 419-441.

567
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

CARRERAS MONFORT, C.; MORAIS, R.; GONZÁLEZ FERNÁNDEZ, E. (Coords.) (2011) - Ánforas romanas de Lugo,
Comercio romano en el Finis terrae. Lugo: Concello de Lugo.
CARRETERO POBLETE, P. (2004) - Las producciones cerámicas de ánforas tipo «Campamentos Numantinos» y
su origen en San Fernando (Cádiz): los hornos de Pery Junquera. In BERNAL, D., LAGÓSTENA, L., Eds. -
Figlinae Baeticae. Talleres alfareros y producciones cerámicas en la Bética romana (ss. II a.C.-IV d.C.). BAR
International Series, 1266. Oxford: Archaeopress, pp. 427-439.
CARRETERO VAQUERO, S. (2000) - El campamento romano del Ala II Flavia en Rosinos de vidriales (Zamora): la
cerámica. Zamora: Universidad de Valladolid.
CARVALHO, A. M. G. (2003) - Geologia sedimentar. Vol. I - Sedimentogénese. Lisboa: Âncora Editora
CARVALHO, P. C. (1998) - O Fórum de Aeminium. Lisboa: Instituto Português de Museus.
CARVALHO, P. C. (2002) - Acerca da cronologia do Fórum de Aeminium. In Actas do 3.º Encontro Nacional de Ar-
queologia Urbana. Almada 20-23 de Fevereiro de 1997. Almada: Câmara Municipal de Almada, pp. 317-332.
CARY, M. (1950) - The geographical background of Greek and Roman history. Oxford: Clarendon Press.
CASARAMONA, A.; COLANTONIO, S.; ROSSI, B.; TEMPESTA, C.; ZANCHETTA, G. (2010) - Anfore cretesi dallo
scavo del Nuovo Mercato di Testaccio. In Rei Cretariae Romanae Favtorvm. Acta 41, pp. 113-122.
CASTANYER MASOLIVER, P.; SANMARTÍ i GREGO, E.; SANTOS RETOLAZA, M.; TREMOLEDA TRILLA, J.; BENET, C.;
CARRETÉ NADAL, J. M.; FÀBREGA I VILÀ, X.; REMOLÀ VALLVERDÚ, J. A.; ROCAS GUTIÉRREZ, X. (1993) -
L’excavació del Kardo B. Noves aportacions sobre l’abandonament de la ciutat romana d’Empúries”.
Cypsela. Girona. 10, pp. 159-194.
CASTILHO, J. (1939) - Lisboa Antiga. Segunda Parte- Bairros Orientais. Vol. I. Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa.
CAVALIER, M. (1994) - Les amphores Richborough 527. Découverte d’un atelier à Portinenti (Lipari, Italie).
S.F.E.C.A.G. Actes du Congrès de Millau, pp. 189-196.
CEAZZI, A.; DEL BRUSCO, A. (2014) - La ceramica comune, la ceramica da cucina locale e importata e le anfore
dallo scavo di Via Bolivia, Aquileia (Udine - Italia). In POULOU-PAPADIMITRIOU, N., NODAROU, E., KILIK-
OGLOU, V., Eds. - LRCW 4 Late Roman Coarse Wares, Cooking Wares and Amphorae in the Mediterranean.
Archaeology and archaeometry. The Mediterranean: a market without frontiers. BAR International Series
2616. Oxford: Archaeopress, pp. 943-953.
CEBOLLA BERLANGA, J. L.; DOMÍNGUEZ ARRANZ, A.; RUIZ RUIZ, F. J. (2004) - La excavación arqueológica del
Solar de la Plaza de las Tenerías, nº 3-5 (Zaragoza). SALDVIE. Zaragoza. 4, pp. 463-472.
CERDÁ I JUAN, D. (1980) - La nave romano-republicana de la Colonia de Sant Jordi. Palma de Mallorca.
CERDÁ I JUAN, D. (1999) - El vi en l’ager Pollentinus i en el su entorn. Col.lecció la Deixa, 3. Palma de Mallorca:
Consell de Mallorca.
CHARLIN, G.; GASSEND, J. M. ; LEQUEMENT, R. (1978) - L’èpave antique de la bahie de Cavalière (Le Lavandou,
Var). Archaeonautica. Paris. 2, pp. 9-94.
CHIC GARCÍA, G. (1994) - Diffusores Olearii y Tesserae de Plomo. Revista de Estúdios Locales de Lora del Río. Lora
del Río. 5, pp. 7- 12.
CHIC GARCÍA, G. (1995) - Roma y el mar: del Mediterraneo al Atlantico. In ALONSO TRONCOSO, A., Coord. -
Guerra, exploraciones e navigación: del Mundo Antigo a la Edad Moderna. A Coruña: Universidade da Co-
ruña, pp. 55-89.
CHIC GARCÍA, G. (2001) - Datos para un estudio socioeconómico de la Bética. Marcas de alfar sobre ánforas olea-
rias. Écija: Editorial Graficas Sol.
CHIC GARCÍA, G.; GARCÍA VARGAS, E. (2004) - Alfares e producciones cerámicas en la provincia de Sevilla. In
BERNAL CASASOLA, D., LAGÓSTENA BARRIOS, L., Eds. - Figlinae Baeticae. Talleres alfareros y produccio-
nes cerámicas en la Bética romana (ss. II a.C. - IV d.C.). BAR International Series, 1266. Oxford: Archaeo-
press, pp. 279-348.
CIBECCHINI, F. ; CAPELLI, C.; FONTAINE, S. ; ALFONSI, H. (2012) - Nouvelles considérations sur la cargaison de
l’épave Sanguinaires A (Ajaccio, Corse du Sud). Archaeonautica. Paris. 17, pp. 31-69.
CINTAS, P. (1950) - Cerámique Punique. Paris: Publications de l’Institut des Hautes- Études de Tunis.
CIPRIANO, M. R.; CARRE, M. B. (1987) - Note sulle anfore conservate nel Museo d’Aquileia. In Vita sociale artis-
tica e commerciale di Aquileia romana. Antichitá Altoadriatiche XXIX, Vol. II. Udine: Arti Grafiche Friulane,
pp. 479-494.
CIPRIANO, S.; MAZZOCCHIN, S. (2011) - Bonifiche con anfore a Padova: note di aggiornamento alla cronologia
e alla distribuzione topografica. In Tra protostoria e storia studi in onore di Loredana Capuis. Antenor
Quaderni 20. Padova: Qedizioni Quasar, pp. 331-367.

568
Bibliografia

CIPRIANO, S.; MAZZOCCHAIN, S.; PASTORE, P. (1997) - Nuove considerazioni sui commerci del territorio pa-
tavino in età imperiale. Analisi di alcune tipologie di anfore da recenti scavi. Quaderni di Archeologia del
Veneto. Padova. 13, pp. 99-109.
COELHO, C. (2002) - Estudo preliminar da pedreira romana e outros vestígios identificados no sítio arqueológico
de Colaride. Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa. 5:2, pp. 277-323.
COELHO-SOARES, A.; SILVA, C. T. (1978) – Ânforas romanas da área urbana de Setúbal. Setúbal Arqueológica.
Setúbal. 4, pp. 171-201.
COELHO-SOARES, A.; SILVA, C. T. (1979) - Ânforas romanas da Quinta da Alegria (Setúbal). Setúbal Arqueo-
lógica. Setúbal. 5, pp. 205-221.
COLETTI, F.; LORENZETTI, E. G. (2010) - Le anfore orientali a Roma. Nuovi dati dagli scavi della Soprintendenza
Archeologica di Roma nell’area del Testaccio. In Rei Cretariae Romanae Favtorvm. Acta 41, pp. 155-164.
COLLS, D.; ÉTIENNE, R.; LEQUÉMENT, R.; LIOU, B.; MAYET, F. (1977) - L’épave Port-Vendres II et le commerce
de la Bétique à l’èpoque de Claude. Archaeonautica. Paris. 1.
COMAS I SOLÀ, M.; PADRÓS I MARTÍ, P. (2010) - L’època d’August a la ciutat de Baetulo a través de l’estudi de
dos contextos ceramològics. In REVILLA, V., ROCA, M., Eds. - Contextos cerámicos y cultura material de
época augústea en el occidente romano. Actas de la reunión celebrada en la Universitat de Barcelona, 15-16
de abril de 2007. Barcelona: Universidad de Barcelona, pp. 146-170.
CONTINO, A. (2013) - Anfore africane tra I e II d.C. a Roma (Ostia 59; Ostia 23; Uzita): rinvenimenti dall’area del
Nuovo Mercato di Testaccio. In BERNAL, D., JUAN, L. C., BUSTAMANTE, M., DÍAZ, J. J. e SÁEZ, A. M.,
Eds. - Hornos, talleres y focos de producción alfarera en Hispania (Actas do I Congreso Internacional de la
SECAH - Cádiz, 3-4 March 2011), Vol. II. Cádiz: Universidad de Cádiz, pp. 317-332.
CONTINO, A.; CAPELLI, C. (2016) - Nuovi dati archeologici e archeometrici sulle anfore africane tardorepub-
blicane e primo imperiali: rinvenimenti da Roma (Nuovo Mercato Testaccio) e contesti di confronto. In
JÁRREGA DOMÍNGUEZ, R., BERNI MILLET, P., Eds. - Amphorae ex Hispania: paisajes de producción y con-
sumo. Monografías Ex Officina Hispana III, Vol. II. Tarragona: Instituto Catalán de Arqueología Clásica,
pp. 538-556.
COSTA, C.; DUARTE, C.; MURALHA, J. (2006) - Associação de restos de Equus asinus ao núcleo de necrópole
romana da Encosta de Sant’Ana, Martim Moniz, Lisboa. In BICHO, N., Ed. - Animais na Pré-História e Ar-
queologia da Península Ibérica. IV Congresso de Arqueologia Peninsular. Faro: Universidade do Algarve,
pp. 105-116.
COSTANTINI, A. (2010) - Pisa - via marche: le anfore della necropoli tardoantica. In MENCHELLI, S., SANTORO,
S., PASQUINUCCI, M., GUIDUCCI, G., Eds. - LRCW 3. Late Roman Coarse Wares, Cooking Wares and
Amphorae in the Mediterranean. Archaeology and archaeometry. Comparison between western and east-
ern Mediterranean, Vol. I. BAR International Series 2185. Oxford: Archaeopress, pp. 329-336.
DAVEAU, S. (1994) - A foz do Tejo palco da história de Lisboa. In Lisboa subterrânea. Lisboa: Lisboa Capital
Europeia da Cultura 94, pp. 24-31.
DAVIES, B.; RICHARDSON, B.; TOMBER, R. (1994) - A dated corpus of early Roman pottery from the City of
London. The archaeology of Roman London, Volume 5. London: Museum of London.
D’ALESSANDRO. L.; PANNUZI, S. (2016) - Le anfore dello scavo di Longarina 2 ad Ostia antica (RM). In JÁRREGA
DOMÍNGUEZ, R., BERNI MILLET, P., Eds. - Amphorae ex Hispania: paisajes de producción y consumo.
Monografías Ex Officina Hispana III, Vol. II. Tarragona: Instituto Catalán de Arqueología Clásica, pp. 530-
537.
DELL’AMICO, P.; PALLARES, F. (2005) - Il relitto di Diano Marina e le navi a ‘dolia’: nuove considerazioni. In
CORTIS, T., GAMBIN, T., Eds. - De Triremibus, Festschrift in honour of Joseph Muscat. San Gwann:
Publishers Enterprises Group (PEG) Ltd, pp. 67-114.
DESBAT, A.; DANGREAUX, B. (1992) - La distribuition des amphores dans la région Lyonaise. Étude de deux
sites de comsommation. In LAUBENHEIMER, F., Dir. - Les amphores en Gaule. Production et circulation.
Paris: Centre de Recherches d’Histoire Ancienne, pp. 151-156.
DESBAT, A.; DANGREAUX, B. (1997) - La production d’amphores a Lyon. In DESBAT, A., Ed. - Les ateliers de
poitiers antiques a Lyon. 2e partie: les ateliers du ler siécle après J.C.. Gallia. Nanterre. 54, pp. 73-104.
DESBAT, A.; LEMAÎTRE, S. (2001) - Les premieres importations d´amphores de Bétique à Lyon. In Actas Congreso
Internacional Ex Baetica Amphorae. Conservas y vino de la Bética en el Imperio Romano (Écija-Sevilha 1998),
Vol. 3. Écija: Gráficas Sol, pp. 793-816.
DESBAT, A.; LEQUEMENT, R. ; LIOU, B. (1987) - Inscriptions peintes sur Amphores: Lyon et Saint-Romain-en-
Gal. Archaeonautica. Paris. 7, pp. 141-166.

569
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

DESBAT, A.; MARTIN-KILCHER, S., (1989) - Les amphores sur l’axe Rhône-Rhin à l’époque d’Auguste. In
Amphores Romaines et Histoire Economique: dix ans de recherche, Sienne, 22-24 mai 1986. Rome: Publica-
tions de l’École française de Rome (114), pp. 339-365.
DESBAT, A.; PICON, M. (1986) - Les importations d’amphores de Méditerranée orientale a Lyon (fin du Ier
siècle avant J.-C. et Ier siècle après). In EMPEREUR, J.-Y., GARLAN, Y., Eds. - Recherches sur les amphores
grecques. Actes du Colloque international (Athènes, 10-12 septembre 1984). BCH Supplément 13.
Athènes-Paris: École Française d’Athènes, pp. 637-648.
DIAS, M. I.; TRINDADE, M. J.; FABIÃO, C.; SABROSA, A.; BUGALHÃO, J.; RAPOSO, J.; GUERRA, A.; DUARTE, A. L.;
PRUDÊNCIO, M. I. (2012) - Arqueometria e o estudo das ânforas lusitanas do Núcleo Arqueológico da Rua
dos Correeiros (Lisboa) e de centros produtores do Tejo. In DIAS, M. I., CARDOSO, J. L., Eds. - Actas do IX
Congresso Ibérico de Arqueometria (Lisboa, 2011). Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras. 19, pp. 57-70.
DÍAZ GARCÍA, M. (2000) - Tipocronología de los contextos cerámicos tardo-republicanos en Tarraco. Empúries.
Girona. 52, pp. 201-260.
DÍAZ GARCÍA, M. (2012) - Conjunts ceramics dels segles II-I a.C. a Tarragona: producció, comerç i consum a la
Tarraco republicana. Tesis doctoral. Universitat Rovira i Virgili.
DÍAZ GARCÍA, M. (2016) - Las ánforas de Tarraco de los siglos II y I a.C.. In JÁRREGA DOMÍNGUEZ, R., BERNI
MILLET, P., Eds. - Amphorae ex Hispania: paisajes de producción y consumo. Monografías Ex Officina
Hispana III, Vol. I. Tarragona: Instituto Catalán de Arqueología Clásica, pp. 163-183.
DÁZ GARCÍA, M.; OTIÑA HERMOSO, P. (2003) - Nuevas evidencias tardo-republicanas en Tarraco, el silo de la
calle de la Unión, núm. 14. Revista d’Arqueologia de Ponent. Lleida. 13, pp. 289-313.
DÍAZ RODRÍGUEZ, J. J. (2011) - Los centros productores cerámicos en las dos orillas del Círculo del Estrecho en
la Antigüedad. Análisis comparativo de sus trayectorias alfareras. In Arqueología y Turismo en el Círculo
del Estrecho Estrategias para la Puesta en Valor de los recursos patrimoniales del Norte de Marruecos.
Actas del III Seminario Hispano-Marroquí (Algeciras, abril de 2011). Colección de Monografías del Museo
Arqueológico de Tetuán (III). Cádiz: Universidad de Cádiz, pp. 545-585.
DÍAZ RODRÍGUEZ, J. J.; BERNAL CASASOLA, D. (2016) - Dressel 2-4 (Baetica coast). Amphorae ex Hispania. Lan-
dscapes of production and consumption (http://amphorae.icac.cat/ amphora/dressel-2-4-baetica-coast).
DIMITRI VAN LIMBERGEN (2016) - A note on olives and olive oil from Picenum (Marche, northern
Abruzzo) an obscured food product within the economy of central adriatic Italy in roman times? Picus.
Roma. 36, pp. 301-312.
DIOGO, A. M. D. (1980) - Fornos de ânforas do Monte do Bugio. Notícia preliminar. Conimbriga. Coimbra. 19,
pp. 147-150.
DIOGO, A. M. D. (1982) - A propósito de «Moron». Estudo de alguns documentos provenientes dos Chões de
Alpompé (Santarém). Clio. Lisboa. 4, pp. 147-154.
DIOGO, A. M. D. (1983) - Fornos de ânforas do Monte da Enchurrasqueira e do Vale da Cepa. Notícia preliminar.
Conimbriga. Coimbra. 22, pp. 209-215.
DIOGO, A. M. D. (1984) - O material romano da 1ª Campanha de Escavações da Alcáçova de Santarém. Conim-
briga. Coimbra. 23, pp. 111-141.
DIOGO, A. M. D. (1987a) - Quadro tipológico das ânforas de fabrico lusitano. O Arqueólogo Português. Lisboa.
Série IV. 5, pp. 179-191.
DIOGO, A. M. D. (1987b) - Ânforas provenientes do rio Tejo (Salvaterra de Magos), no Museu do Mar. Arqueo-
logia. Porto. 16, pp. 112.
DIOGO, A. M. D. (1993a) - O teatro romano de Lisboa. Notícia sobre as actuais escavações. In Teatros Romanos
de Hispania. Cuadernos de Arquitectura Romana. Múrcia. 2, pp. 217-224.
DIOGO, A. M. D. (1993b) - Ânforas pré-romanas dos Chões de Alpompé (Santarém). In Estudos Orientais IV -
Os Fenícios no território Português. Lisboa: Instituto Oriental da Universidade Nova de Lisboa, pp. 215-
227.
DIOGO, A. M. D. (1994) - N.º 237- Moedas Romanas. In Lisboa subterrânea. Lisboa: Lisboa Capital Europeia da
Cultura 94, pp. 215-216.
DIOGO, A. M. D. (1999a) - Ânforas romanas de Miróbriga. Arquivo de Beja. Beja. 3:10, pp. 15-27.
DIOGO, A. M. D. (1999b) - Ânforas provenientes de achados marítimos na costa portuguesa. Revista Portugue-
sa de Arqueologia. Lisboa. 2:1, pp. 235-248.
DIOGO, A. M. D. (1999-2000) - Ânforas romanas provenientes do nordeste alentejano (Herdade do Reguengo,
Torre de Palma, Cabeço de Vaiamonte e Santa Vitória do Ameixial). Ibn Maruán. Marvão, 9/10, pp. 311-
327.

570
Bibliografia

DIOGO, A. M. D. (2000) - As ânforas das escavações de 1989-93 do Teatro Romano de Lisboa. Revista Portuguesa
de Arqueologia. Lisboa. 3:1, pp. 163-179.
DIOGO, A. M. D. (2005) - Vestígios de um possível naufrágio ao largo da ilha do Farilhão. In Actas do Congresso
A Presença Romana na Região Oeste. Bombarral: Câmara Municipal do Bombarral, pp. 103-107.
DIOGO, A. M. D. et alii (1990) - Notícia de uma olaria em Alcácer do Sal produtora de ânforas ibero-púnicas.
Comunicação apresentada às IV Jornadas arqueológicas da A.A.P. (Maio de 1990). Não publicada no
volume das actas.
DIOGO, A. M. D.; ALVES, F. J. S. (1988-1989) - Ânforas provenientes do meio fluvial nas imediações de Vila Franca
de Xira e de Alcácer do Sal. O Arqueólogo Português. Lisboa. Série IV. 6/7, pp. 227-240.
DIOGO, A. M. D.; CARDOSO, J. P.; REINER, F. (2000) - Um conjunto de ânforas recuperadas nos dragados da foz
do rio Arade. Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa. 3:2, pp. 81-118.
DIOGO, A M. D.; FARIA, J. C.; FERREIRA, M. A. (1987) - Fornos de ânforas de Alcácer do Sal. Conimbriga. Coimbra.
26, pp. 77-111.
DIOGO, A. M. D.; FARIA, J. C. (1991) - Materiais da “villa” romana de Nossa Senhora d’Aires (Alcácer do Sal).
Arqueologia. Porto. 21, pp. 26-27.
DIOGO, A. M. D.; MONTEIRO, A. (1999) - Ânforas romanas de Villa Cardíllio. Conímbriga. Coimbra, 38, pp. 201-214.
DIOGO, A. M. D.; PAIXÃO, A. C. (2001) - Ânforas de escavações no povoado industrial romano de Tróia, Setúbal.
Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa. 4:1, pp. 117-140.
DIOGO, A. M. D.; REINER, F. (1987) - Duas notícias sobre fornos romanos de fabrico de ânforas. Conimbriga.
Coimbra. 26, pp. 113-124.
DIOGO, A. M. D.; TRINDADE, L. (1993-1994) - Materiais provenientes de Chões de Alpompé (Santarém). Coním-
briga. Coimbra. 32-33, pp. 263-281.
DIOGO, A. M. D.; TRINDADE, L. (1997) - N.º 261: Inscrição paleocristã do Palácio dos Condes de Penafiel. Ficheiro
Epigráfico, 56, Suplemento da revista Conímbriga. Coimbra: Instituto de Arqueologia.
DIOGO, A. M. D.; TRINDADE, L. (1998) - Uma perspectiva sobre Tróia a partir das ânforas. Contribuição
para o estudo da produção e circulação de ânforas romanas em território português. O Arqueólogo
Português. Lisboa. Série IV. 16, pp. 187-220.
DIOGO, A. M. D.; TRINDADE, L. (1999) - Ânforas e sigillatas tardias (claras, foceenses e cipriotas) prove-
nientes das escavações de 1966/67 do teatro romano de Lisboa. Revista Portuguesa de Arqueologia.
Lisboa. 2:2, pp. 83-95.
DIOGO, A. M. D.; TRINDADE, L. (2000) - Vestígios de uma unidade de transformação do pescado descober-
tos na Rua dos Fanqueiros, em Lisboa. Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa. 3:1, pp. 181-196.
DIOGO, A. M. D.; TRINDADE, L.; VENÂNCIO, R. (2005) - Ânforas provenientes de achados subaquáticos ao largo
da Berlenga. In Actas do Congresso A Presença Romana na Região Oeste. Bombarral: Câmara Municipal
do Bombarral, pp. 109-117.
DJAOUI, D.; GARNIER, N.; DODINET, L. (2015) - L’huile de ben identifiée dans quatre amphores africaines de type
Ostia LIX provenant d’Arles: difficultés d’interprétation. Antiquités Africaines. Paris. 51, pp. 179-187.
DJAOUI, D.; QUARESMA, J. C. (2016) - Lusitanian Amphorae from the Dump Layer above the Arles-Rhône 3
Shipwreck. In PINTO, I. V., ALMEIDA, R., MARTIN, A., Eds. - Lusitanian Amphorae: Production and Dis-
tribution. Roman and Late Antique Mediterranean Pottery 10. Oxford: Archaeopress, pp. 357-368.
DOMERGUE, C. (1969) - La campagne de fouilles 1966 à Bolonia (Câdiz). In X Congreso Nacional de Arqueología.
Zaragoza: Arqueológicos Nacionales, Secretaría General, pp. 442-456.
DRESSEL, H. (1879) - Di un nuovo deposito di anfore rinvenuto nel nuovo quartiere del Castro Pretorio. Bullet-
tino della Commissione Archeologica Comunale di Roma, a. VII, s. II, pp. 36-112.
DRESSEL, H. (1899) - CIL XV: Inscriptiones urbis Romae latinae. Instrumentum domesticum. Berlin.
DUARTE, A. L. (1990) - Quinta do Rouxinol. A produção de ânforas no Vale do Tejo. In ALARCÃO, J., MAYET, F.,
Eds. - Ânforas Lusitanas. Tipologia, Produção, Comércio. Actas das Jornadas de Estudo (Conimbriga, 1988).
Coimbra/Paris: MMC/Diffusion de Boccard, pp. 97-115.
DUARTE, A. L. ; AMARO, C. (1986) - Casa dos Bicos: a Cidade e a Arqueologia. In Actas do 1º Encontro Nacional
de Arqueologia urbana. Setúbal, 1983. Trabalhos de Arqueologia, 3. Lisboa: Instituto Português do Patri-
mónio Cultural, pp. 143-154.
DUARTE, A. L. e RAPOSO, J. (1995) - Elementos para a Caracterização das Produções Anfóricas da Quinta do
Rouxinol (Corroios/Seixal). In 1º Congresso de arqueologia peninsular (Porto, 1993) - Actas VII. Trabalhos
de Antropologia e Etnologia. Porto. 35:3, pp. 237- -247.

571
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

DUARTE, S.; SOARES, J.; SILVA, C. T. (2014) - Intervenção arqueológica na Rua Álvaro Castelões n.ºs 38 e 40
(Setúbal) e sismo de 1755. Setúbal Arqueológica. Setúbal. 15, pp. 341-372.
DUNCAN-JONES, R. (1974) - The economy of the Roman Empire. Quantitative studies. Cambridge: University
Press.
DUPERRON, G. ; CAPELLI, C. (2015) - Observations archéologiques et archéométriques sur quelques types
d’amphores africaines en circulation à Arles aux IIe et IIIe s. apr. J.-C. Antiquités Africaines. Paris. 51, pp.
167-177.
DYCZEK, P. (2010) - Kapitän II amphorae from Novae - between East and West. In MENCHELLI, S., SANTORO, S.,
PASQUINUCCI, M., GUIDUCCI, G., Eds. - LRCW 3. Late Roman Coarse Wares, Cooking Wares and Amphorae
in the Mediterranean. Archaeology and archaeometry. Comparison between western and eastern Mediter-
ranean, Vol. I. BAR International Series 2185. Oxford: Archaeopress, pp. 993-999.
EHMIG, U. (2007) - Die römischen Amphoren im Umland von Mainz. Frankfurt: Reichert Verlag Wiesbaden.
EHMIG, U. (2010) - Dangstetten IV. Die Amphoren. Untersuchungen zur Belieferuq einer Militaranlage in augustei-
scher Zeit und den Grundlagen archaologischer Interpretation von Fund und Befund. Forschungen und Be-
richte zur vor-und Frühgeschichte in Baden-Wurttemberg Band, vol. 117. Stuttgart: Konrad Theiss Verlag.
EHMIG, U. ; LIOU, B. ; LONG, L. (2004) - Le garum de Caius Saturius Secundus, gouverneur de la province romaine
de Rétie. Revue des Études Anciennes. Bordeaux. 106, pp. 123-131.
EIRING, J.; BOILEAU, M.-C.; WHITBREAD, I. (2002) - Local and imported transport amphorae from a Hellenistic
kiln site at Knossos. The results of petrographic analyses. In BLONDE, F., BALLET, P., SALLES J.-F., Eds. -
Céramiques hellénistiques et romaines. Production et diffusion en Méditerranée orientale (Chypre, Égypte
et côte syro-palestinienne). Lyon: Maison de l’Orient et de la Méditerranée Jean Pouilloux (35), pp. 59-65.
EMPEREUR, J.-Y. (1998) - Empereur, Les amphores complètes du musée d’Alexandrie: importations et produc-
tions locales. In EMPEREUR, J.-Y., Ed. - Commerce et artisanat dans l’Alexandrie hellénistique et romaine.
Actes du Colloque d’Athènes (Athénes, 11-12 decembre 1988). BCH Supplément 33. Athènes-Paris: École
Française d’Athènes, pp. 393-399.
EMPEREUR, J. Y.; HESNARD, A. (1987) - Les amphores hellénistiques. In LÉVÊQUE, P., MOREL, J.-P., Eds. -
Cerámiques Hellénistiques et Romaines II. Centre de Recherches d’Histoire Ancienne, 70. Paris: Annales
littéraires de l’Université de Besançon, pp. 9-71.
EMPEREUR, J.-Y.; PICON, M. (1986) - A la recherche des fours d’amphores. In EMPEREUR, J.-Y., GARLAN, Y.,
Eds. - Recherches sur les amphores grecques. Actes du Colloque international (Athènes, 10-12 septembre
1984). BCH Supplément 13. Athènes-Paris: École Française d’Athènes, pp. 105-126.
EMPEREUR, J.-Y.; PICON, M. (1989) - Les régions de production d’amphores impériales en Méditerranée orien-
tale. In Amphores Romaines et Histoire Economique: dix ans de recherche, Sienne, 22-24 mai 1986. Rome:
Publications de l’École française de Rome (114), pp. 223-248.
EMPEREUR, J.-Y.; PICON, M. (1998) - Les ateliers d’amphores du lac Mariout. In EMPEREUR, J.-Y., Ed. -
Commerce et artisanat dans l’Alexandrie hellénistique et romaine. Actes du Colloque d’Athènes (Athénes,
11-12 decembre 1988). BCH Supplément 33. Athènes-Paris: École Française d’Athènes, pp. 75-91.
EMPEREUR, J.-Y.; STAVROULA, M.; MARANGOU-LERAT, A. (1989) - Recherches sur les centres de fabrication
d’amphores de Crète occidentale. BCH Supplément 113:2. Athènes-Paris: École Française d’Athènes, pp.
551-580. EMPEREUR, J.-Y.; STAVROULA, M.; MARANGOU-LERAT, A. (1989) - Recherches sur les centres
de fabrication d’amphores de Crète occidentale. BCH Supplément 113:2. Athènes-Paris: École Française
d’Athènes, pp. 551-580.
EMPEREUR, J.-Y.; TUNA, N. (1989) - Hiérotélès, potier rhodien de la Pérée. BCH Supplément 113:1. Athènes-
-Paris: École Française d’Athènes, pp. 277-299.
ENCARNAÇÃO, J. (2009) - As termas dos Cássios em Lisboa: ficção ou realidade? In GORGES, J.-G.,
ENCARNAÇÃO, J., NOGALES BESARRATE, T., CARVALHO, A., Eds. - Lusitânia Romana entre o Mito e a
Realidade (Atas da VI Mesa-Redonda Internacional sobre a Lusitânia Romana). Cascais: Câmara Municipal
de Cascais, pp. 481-493.
ENCARNAÇÃO, J.; LEITÃO, M.; LEITÃO, V. (2015) - Inscrições de Olisipo identificadas na “Cerca Velha”. Ficheiro
Epigráfico, 131, Suplemento da revista Conimbriga. Coimbra: Instituto de Arqueologia.
ESTRELA, S. (1999) - Monte Molião, Lagos: intervenção de emergência (1998) e problemas da gestão do patri-
mónio em sítios arqueológicos classificados. Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa. 2:1, pp. 199-234.
ÉTIENNE, R. (1990) - Que transportaient donc les amphores lusitaniennes? In ALARCÃO, J., MAYET, F., Eds. -
Ânforas Lusitanas. Tipologia, Produção, Comércio. Actas das Jornadas de Estudo (Conimbriga, 1988).
Coimbra/Paris: MMC/Diffusion de Boccard, pp. 15-19.

572
Bibliografia

ÉTIENNE, R.; MAYET, F. (1994) - À propos de l’amphore Dressel 1C de Belo (Cadix). Mélanges de la Casa de Veláz-
quez. Madrid. 30-1, pp. 131-138.
ÉTIENNE, R.; MAYET, F. (2000) - Le vin hispanique. Paris: De Boccard.
ÉTIENNE, R.; MAYET, F. (2002) - Salaisons et Sauces de Poisson Hispaniques. Paris: E. de Boccard.
ÉTIENNE, R.; MAYET, F. (2004) - L’huile hispànique. Corpus des timbres sur amphores Dressel 20. Paris:
E. de Boccard.
ETTLINGER, E.; SIMONET, C. (1952) - Romische keramik aus den Schutzhügel von Vindonissa. Basel.
EXCOFFON, P.; PELLEGRINO, E. (2015) - Amphores africaines du type Ostia XXIII à Fréjus. Antiquités Africaines.
Paris. 51, pp. 155-165
FABIÃO, C. (1989) - Sobre as ânforas do acampamento romano da Lomba do Canho (Arganil). Lisboa: UNIARQ/
INIC.
FABIÃO, C. (1993) - O passado Proto-Histórico e Romano. In MATTOSO, J., Ed. - História de Portugal, Vol. I.
Lisboa: Círculo de Leitores, pp. 77-201.
FABIÃO, C. (1993-1994) - O azeite da Baetica na Lusitania. Conímbriga. Coimbra. 32-33, pp. 219-245.
FABIÃO, C. (1994a) - As ânforas. In NOLEN, J. U. S., Ed. - Cerâmicas e vidros de Torre de Ares, incluindo espólio
ósseo e medieval. Lisboa: Museu Nacional de Arqueologia/IPM, pp. 17-34.
FABIÃO, C. (1994b) - Ler as cidades antigas: Arqueologia Urbana em Lisboa. Penélope - Ler e Desfazer a História.
Lisboa. 13, pp. 147-162.
FABIÃO, C. (1994c) - O monumento romano da Rua da Prata. In Lisboa subterrânea. Lisboa: Lisboa Capital Euro-
peia da Cultura 94, pp. 67-69.
FABIÃO, C. (1996) - Sobre a tipologia das ânforas da Lusitânia. In FILIPE, G., RAPOSO, J. M. C., Dir. - Ocupação
romana nos estuários do Tejo e do Sado (Actas das primeiras jornadas sobre romanização dos estuários do
Tejo e Sado, Seixal, 1991). Lisboa: C.M. do Seixal/Publicações Dom Quixote, 371-390.
FABIÃO, C. (1997) - Duas notas sobre ânforas lusitanas. Al-Madan. Almada. II:6, pp. 59-67.
FABIÃO, C. (1998a) - O vinho na Lusitânia: reflexões em torno de um problema arqueológico. Revista Portu-
-guesa de Arqueologia. Lisboa. 1:1, pp. 169-198.
FABIÃO, C. (1998b) - O Mundo indígena e a sua romanização na área céltica do território hoje português. Disser-
tação de Doutoramento em Arqueologia apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
Lisboa. Policopiado.
FABIÃO, C. (2001) - Sobre as mais antigas ânforas «romanas» da Baetica no Ocidente Peninsular. In Actas
Congreso Internacional Ex Baetica Amphorae. Conservas y vino de la Bética en el Imperio Romano (Écija-
-Sevilha 1998), Vol. 2. Écija: Gráficas Sol, pp. 665-682.
FABIÃO, C. (2004) - Centros oleiros da Lusitânia: balanço dos conhecimentos e perspectivas de investigação.
In BERNAL, D., LAGÓSTENA, L., Eds. - Figlinae Baeticae. Talleres alfareros y producciones cerámicas en la
Bética romana (ss. II a.C.-IV d.C.). BAR International Series, 1266. Oxford: Archaeopress, pp. 379-410.
FABIÃO, C. (2006) - Las ánforas romanas. In Munigua: la colina sagrada. Sevilla: Junta de Andalucía, pp. 106-107.
FABIÃO, C. (2008) - Las ánforas de Lusitania. In BERNAL CASASOLA, D., RIBERA I LACOMBA, A., Eds. - Cerámicas
hispanorromanas: un estado de la cuestión. Cádiz: Universidad de Cádiz, pp. 725-745.
FABIÃO, C. (2009a) - A dimensão atlântica da Lusitânia: periferia ou charneira no Império Romano? In GORGES,
J.-G., ENCARNAÇÃO, J., NOGALES BASARRATE, T., CARVALHO, A., Eds. - Lusitânia Romana entre
o Mito e a Realidade (Atas da VI Mesa-Redonda Internacional sobre a Lusitânia Romana). Cascais:
Câmara Municipal de Cascais, pp. 53-74.
FABIÃO, C. (2009b) - Cetárias, ânforas e sal: a exploração de recursos marinhos na Lusitânia. Estudos Arqueo-
lógicos de Oeiras. Oeiras. 17, pp. 555-594.
FABIÃO, C. (2009c) - O ocidente da Península Ibérica no século VI: sobre o pentanummium de Justiniano I
encontrado na unidade de produção de preparados de peixe da Casa do Governador da Torre de Belém,
Lisboa. Apontamentos de Arqueologia e Património. Lisboa. 9, pp. 25-50.
FABIÃO, C. (2011) - Felicitas Ivlia Olisipo, cidade de um império global. Lisboa: Fundação Millennium BCP.
FABIÃO, C. (2013) - Escavando entre papéis: sobre a descoberta, primeiros desaterros e destino das ruínas
do teatro romano de Lisboa. In PIMENTEL, M. C., ALBERTO, P. F., Eds. - Vir bonus peritissimus
aeque. Estudos de homenagem a Arnaldo do Espírito Santo. Lisboa: Universidade de Lisboa, pp. 389-409.
FABIÃO, C. (2014a) - Por este rio acima: a bacia hidrográfica do Tejo na conquista e implantação romana no oci-
dente da Península Ibérica. In FABIÃO, C., PIMENTA, J., Coords. - Actas do Congresso Conquista e Romani-

573
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

zação do Vale do Tejo. Cira Arqueologia. Vila Franca de Xira. 3, pp. 9-24.
FABIÃO, C. (2014b) - O estudo das ânforas. S. João do Estoril, pp. 1-24.
FABIÃO, C. (2017) - La Contribución del Ceipac a la Historia Económica del Imperio Romano. In REMESAL RO-
DRÍGUEZ, J, Ed. - Economia romana. Nuevas perspectivas. Instrumenta 55. Barcelona: Publications de la
Universitat de Barcelona, pp. 75-87.
FABIÃO, C.; CARVALHO, A. (1990) - Ânforas da Lusitânia: uma perspectiva. In ALARCÃO, J., MAYET, F., Eds. -
Ânforas Lusitanas. Tipologia, Produção, Comércio. Actas das Jornadas de Estudo (Conimbriga,
1988). Coimbra/Paris: MMC/Diffusion de Boccard, pp. 37-63.
FABIÃO, C.; FILIPE, I.; DIAS, I.; GABRIEL, S., COELHO, M. (2008) - Projecto - A Indústria de recursos haliêuticos
no período Romano: a fábrica da Casa do Governador da Torre de Belém, o estuário do Tejo e a fachada
atlântica. Apontamentos de Arqueologia e Património. Lisboa. 1, pp. 35-40.
FABIÃO, C.; GUERRA, A. (1993) - Sobre os conteúdos das ânforas lusitanas. In Actas do II Congresso Penin-
sular de Historia Antiga (Coimbra, 1990). Coimbra: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra,
pp. 995-1016.
FABIÃO, C.; GUERRA, A. (1994) - As ocupações antigas de Mesas do Castelinho (Almodôvar). Resulta-
dos preliminares das campanhas de 1990-92. In Actas das V Jornadas Arqueológicas (Lisboa, 1993)
da Associação dos Arqueólogos Portugueses. Lisboa: Associação dos Arqueólogos Portugueses,
pp. 275-290.
FABIÃO, C.; GUERRA, A. (2004) - Epigrafia anfórica lusitana: uma perspectiva. In REMESAL RODRÍGUEZ, J., Ed. -
Epigrafia Anfórica (Workshop, Barcelona, 9-10 Mayo de 2003). Instrumenta 17. Barcelona: Publications
de la Universitat de Barcelona, pp. 221-243.
FABIÃO, C.; GUERRA, A.; ALMEIDA, J.; ALMEIDA, R.; PIMENTA, J.; FILIPE, V. (2016) - Marcas de ânforas romanas
na Lusitânia (do Museu Nacional de Arqueologia de Lisboa ao Museo Nacional de Arte Romano de Mérida).
Corpus Internationale des Timbres Amphoriques (Fascicule 19). Lisboa: Union Académique Internatio-
nale, Academia das Ciências de Lisboa, Universidade de Lisboa, Centro de Arqueologia da Universidade
de Lisboa.
FABIÃO, C.; NORTON, J.; CARDOSO, J. L. (1997) - O recinto fortificado romano de Casa Branca. Al-Madan. Alma-
da. II:6, pp. 38-42.
FABIÃO, C.; PIMENTA, J. (Coords.) (2014) - Actas do Congresso Conquista e Romanização do Vale do Tejo. Cira
Arqueologia. Vila Franca de Xira. 3.
FACELLA, A.; PERNA, M.; PUPPO, P.; VAGGIOLI, M. A.; ZIRONE, D. (2012) - Dinamiche commerciali e di approvi-
gionamento cerâmico nel territorio di Contessa Entellina in età imperiale e tardoantica: riflessioni pre-
liminari su quattro siti-campione. In AMPOLO, C., Ed. - Sicília occidentale. Studi, rassegne, ricerche. Pisa:
Edizioni Della Normale, pp. 155-178.
FARIA, A. M. (1999) - Colonização e municipalização nas províncias hispano-romanas: reanálise de alguns casos
polémicos. Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa. 2:2, pp. 29-50.
FARIA, A. M. (2006) - Novas notas historiográficas sobre Augusta Emerita e outras cidades Hispano-Romanas.
Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa. 9:2, pp. 211-237.
FARINAS DEL CERRO, L.; HESNARD, A.; FERNANDEZ DE LA VEGA, W. (1977) - Contribution à l’établissement
d’une typologie des amphores dites Dressel 2-4. In Méthodes classiques et méthodes formelles dans
l’étude typologique des amphores. Actes du colloque de Rome, 27-29 mai 1974. Rome: Publications de
l’École française de Rome (32), pp. 179-206.
FEDERICO, R. (2007) - Contenitori da garum e consumi alimentari a villa Arianna di Stabiae: alcune considera-
zioni. In Actas del congreso Internacional CETARIAE. Salsas y salazones de pescado en Occidente durante
la Antigüedad. Universidade de Cádiz, Noviembre de 2005. BAR, International Séries, 1686. Oxford: Ar-
chaeopress, pp. 255-270.
FENTRESS, E. (2001) - Villas, wine, and kilns: the landscape of Jerba in the late Hellenistic period. Journal of
Roman Archaeology. Portsmouth. 14, pp. 249-268
FERNANDES, I. C. (1992) - Escavações arqueológicas na Herdade do Zambujal (Palmela). Al-Madan. Almada.
II:1, pp. 94.
FERNANDES, I. C. (1993) - Arqueologia em Palmela 1988/92 – Catálogo da exposição. Palmela: C. M. Palmela.
FERNANDES, I. C.; CARVALHO, A. R. (1996) - Trabalhos arqueológicos no Zambujalinho (Herdade do Zambujal)
- primeiros resultados. In FILIPE, G., RAPOSO, J. M. C., Dir. - Ocupação romana nos estuários do Tejo e do
Sado (Actas das primeiras jornadas sobre romanização dos estuários do Tejo e Sado, Seixal, 1991). Lisboa:
C.M. do Seixal/Publicações Dom Quixote, 73-106.

574
Bibliografia

FERNANDES, L. (1997) - Capitéis romanos da Lusitânia ocidental. Dissertação de Mestrado em Historia de Arte
apresentada à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Lisboa. Poli-
copiado.
FERNANDES, L. (2006) - O teatro de Lisboa. Intervenção arqueológica de 2001. In MÁRQUEZ, C.; VENTURA, A.,
Eds. - Jornadas sobre teatros romanos en Hispania. Actas del Congreso Internacional. Córdoba, 12 a 15 de
Noviembre de 2002. Córdoba: Seminario de Arqueología, pp. 181-204.
FERNANDES, L. (2007) - Teatro romano de Lisboa - os caminhos da descoberta e os percursos de investigação
arqueológica. Al-Madan. Almada. II:15, pp. 28-39.
FERNANDES, L. (2009) ‑ Capitel das Thermae Cassiorum de Olisipo (Rua das Pedras negras, Lisboa). Revista
Portuguesa de Arqueologia. Lisboa. 12:2, pp. 191-207
FERNANDES, L. (2011) - A decoração arquitectónica de Época Romana do municipium olisiponense. Revista
Portuguesa de Arqueologia. Lisboa. 14, pp. 263-311.
FERNANDES, L. (2013) - Teatro romano de Olisipo: a marca do novo poder romano. In Actas do I Congresso da
Associação dos Arqueólogos Portugueses (21-24 de Novembro de 2013). Lisboa: Associação dos Arqueó-
logos Portugueses, pp. 765-773.
FERNANDES, L. (2014) - The production of architectural elements in the city of Felicitas Iulia Olisipo (Lisbon):
the capitals. In ÁLVAREZ MARTÍNEZ, J. M., NOGALES BASARRATE, T., RODÀ DE LLANZA, I. Eds. - XVIII
CIAC: Centro y periferia en el mundo clásico/ Centre and periphery in the ancient world. Mérida: Edited, pp.
1435-1437.
FERNANDES, L.; CAESSA, A. (2006-2007) - O proscaenium do Teatro romano de Lisboa: aspetos arquitectóni-
cos, escultóricos e epigráficos de renovação decorativa do espaço cénico. Arqueologia e História. Lisboa.
58-59, pp. 83-102.
FERNANDES, L.; COROADO, J. (no prelo) - Novos dados sobre a ocupação pré romana do teatro romano de
Lisboa: proveniência das produções cerâmicas dos sécs. IV e III a.C. (campanha arqueológica de 2010).
In 8º Encontro de Arqueologia do Algarve. A Arqueologia e as outras Ciências (Silves, 21‑23 Outubro 2010).
Silves.
FERNANDES, L.; FILIPE, V. (2007) - Cerâmicas de engobe vermelho pompeiano do teatro romano de Lisboa.
Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa. 10:2, pp. 229-253.
FERNANDES, L.; FILIPE, V. (2017) - A nova e velha Rua de S. Mamede: diferentes revestimentos para os mes-
mos traçados. In FERNANDES, L., BUGALHÃO, J., FERNANDES, P. A., Coords. - Debaixo dos nossos pés.
Pavimentos históricos de Lisboa. Lisboa: Museu de Lisboa, pp. 212-215.
FERNANDES, L.; MARQUES, A.; FILIPE, V.; CALADO, M. (2006) - Intervenção arqueológica na Rua dos Baca-
lhoeiros (Lisboa). Al-Madan. Almada. II:14, pp. 60-65.
FERNANDES, L.; MARQUES, A.; FILIPE, V.; CALADO, M. (2011) - A transformação de produtos piscícolas durante
a Época Romana em Olisipo: o núcleo da Rua dos Bacalhoeiros (Lisboa). Revista Portuguesa de Arqueo-
logia. Lisboa. 14, pp. 239-261.
FERNÁNDEZ CACHO, S. (1995) - Las industrias derivadas de la pesca en la provincia romana de la Bética: la alfa-
rería de El Rinconcillo (Algeciras, Cádiz). Spal. Sevilha. 4, pp. 173-214.
FERNÁNDEZ FERNÁNDEZ, A. (2010) - Rías Baixas and Vigo (Vicus Eleni). In CARRERAS MONFORT, C., MORAIS,
R., Eds. - The Western Roman Atlantic Façade A study of the economy and trade in the Mar Exterior from
the Republic to the Principate. BAR International Series, 2162. Oxford: Archaeopress, pp. 229-237.
FERNÁNDEZ FERNÁNDEZ, A. (2011) - El comercio tardoantiguo (ss. IV-VII) en el Noroeste Peninsular através del
registro arqueológico de la ría de Vigo. Tesis Doctoral, Universidad de Vigo. Policopiado.
FERNÁNDEZ FERNÁNDEZ, A. (2013) - O comercio tardoantigo no Noroeste Peninsular Unha análise da gallaecia
sueva e visigoda a través do rexistro arqueolóxico. Serie Trivium, 48. A Coruña: Editorial Toxosoutos.
FERNÁNDEZ NIETO, F. J. (1970/1071) - Aurifer Tagus. Zephyrvs. Salamanca. 21/22, pp. 245‑259.
FERRANDES, A. F. (2008) - I contenitori da trasporto. In FILIPPI, F., Ed. - Horti et sordes. Uno scavo alle falde del
Gianicolo. Roma: Edizioni Quasar di Severino Tognon, pp. 247-283.
FERRAZZOLI, A. F. (2010) - Economy of Roman Eastern Rough Cilícia: Some Archaeological Indicators. In Pro-
ceedings of the 17th International Congress of Classical Archaeology, Rome 22-26 sept. 2008. Bolletino di
Arqueologia on line. Roma: Ministerio per I Beni e le Attività Culturali, pp. 39-50.
FERRAZZOLI, A. F.; RICCI, M. (2008) - Scambi commerciali fra l’Africa settentrionale e la Cilícia in età tardo
romana e protobizantina sulla base del materiale ceramico dallo scavo di Elaiussa Sebaste,
Cilícia. In L’Africa Romana, XVII, vol. 2. Siviglia, 13-18 dicembre 2006. Sassari: Carocci editore, pp. 1485-
1497.

575
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

FERREIRA, L. F.; CONCEIÇÃO, A. (2011) - URBCOM Sesimbra. Intervenção arqueológica na frente ribeirinha da
vila de Sesimbra. In ALMEIDA, M. J., CARVALHO, A., Eds. - Encontro Arqueologia e Autarquias (Cascais
25-27 Setembro de 2008). CMC e APA, Cascais, pp. 293-310.
FERREIRA, M. A.; FARIA, J. C.; DIOGO, A. M. D. (1991) - Ânforas lusitanas do Cerrado do Castelo, Grândola.
Conimbriga. Coimbra. 30, pp. 105-108.
FERREIRA, M. A.; FARIA, J. C.; DIOGO, A. M. D. (2000) - Ânforas de villae do nordeste alentejano: Cerrado do
Castelo (Grândola) e Santa Catarina de Sítimos (Alcácer do Sal). Vipasca. Aljustrel. 9, pp. 53‑58.
FERREIRA, M.; JORGE, A.; RAMOS, R. (2002) - Zara - Rua Augusta (Lisboa). Relatório Final da Intervenção Arqueo-
lógica. Lisboa: Era-Arqueologia. Policopiado.
FERRER ALBELDA, E.; GARCÍA VARGAS, E. (2001) - Producción y comercio de salazones y salsas saladas de
pescado de la costa malagueña en épocas púnica e romana republicana. In Comercio e Comerciantes
en la Historia Antigua de Málaga. Siglo VIII a.C. – año 711 d.C. (II Congreso de Historia Antigua de Málaga).
Málaga: Servicio de Publicaciones Centro de Ediciones de la Diputación de Málaga, pp. 547-571.
FERRER CARRIÓN, R.; CHUMILLA JUAN, A. (2013) - Arqueología subacuática en los fondos del MARQ-Museo
Arqueológico Provincial de Alicante. La problemática en torno a las Haltern 70 tardías. In NIETO PRIETO,
X., RAMÍREZ PERNÍA, A., RECIO SÁNCHEZ, P., Coords. - I Congreso de Arqueología Náutica y Subacuática
Española (Cartagena, 14, 15 y 16 de marzo de 2013). Cartagena: Ministerio de Educación, Cultura y De-
porte, pp. 126-132.
FÉVRIER P.-A. (1956) - Fouilles à la citadelle méridionale de Forum Julii (Fréjus, Var) en 1955. Gallia. Nanterre.
14:1, pp. 35-53.
FILIPE, G.; RAPOSO, J. (coord.) (2009) - Quinta do Rouxinol: uma olaria romana no estuário do Tejo (Corroios,
Seixal)/Roman Kilns in the Tagus Estuary (Corroios, Seixal). Seixal: C. M. do Seixal.
FILIPE, I. (2011) - Casa do Governador da Torre de Belém: o caso de uma unidade de produção de preparados de
peixe no âmbito da economia romana. Dissertação de mestrado apresentada à Faculdade de Letras da
Universidade de Lisboa. Policopiado.
FILIPE, I.; FABIÃO, C. (2006-2007) - Uma unidade de produção de preparados de peixe de Época Romana na
Casa do Governador da Torre de Belém (Lisboa): uma primeira apresentação. Arqueologia e História.
Lisboa. 58/59, pp. 103-118.
FILIPE, V. (2005) - Projecto de Alteração e Ampliação do Conjunto Edificado situado na Rua de São João da Praça
(nºs 28-30) e Beco do Marquês de Angeja. Relatório Final da Intervenção Arqueológica. Lisboa. Policopiado.
FILIPE, V. (2008a) - As ânforas do teatro romano de Lisboa. Dissertação de Mestrado em Pré-história e Arqueo-
logia, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Policopiado
FILIPE, V. (2008b) - Importação e exportação de produtos alimentares em Olisipo: as ânforas romanas da Rua
dos Bacalhoeiros. Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa. 11:2, pp. 301‑324.
FILIPE, V. (2010) - As ânforas de tradição pré-romana de Mesas do Castelinho. Revista Portuguesa de Arqueolo-
gia. Lisboa. 13:1, pp. 57-87.
FILIPE, V. (2011) - Projecto de ampliação e alterações para a Rua do Espírito Santo nº 31-35 - ampliação da Alber-
garia do Castelo de São Jorge, Lisboa. Relatório Final da Intervenção Arqueológica. Lisboa. Policopiado.
FILIPE, V. (2012) - Projecto de alterações para a Rua dos Correeiros nº 194 a 208, esquina com a Rua de Santa Justa
nº 42 a 48, Lisboa. Relatório Final da Intervenção Arqueológica. Lisboa. Policopiado.
FILIPE, V. (2015) - As ânforas do teatro romano de Olisipo (Lisboa, Portugal): campanhas 2001-2006. Spal.
Sevilha. 24, pp. 129-163.
FILIPE, V. (2016) - Haltern 70 (Western Lusitania). Amphorae ex Hispania. Landscapes of production and con-
sumption (http://amphorae.icac.cat/amphora/haltern-70-western-lusitania).
FILIPE, V. (2017) - Espaços públicos e espaços privados: pisos no arrabalde ocidental da Lisboa Islâmica (Hotel
de Santa Justa). In FERNANDES, L., BUGALHÃO, J., FERNANDES, P. A., Coords. - Debaixo dos nossos pés.
Pavimentos históricos de Lisboa. Lisboa: Museu de Lisboa, pp. 130-133.
FILIPE, V. (2018a) - Consumption patterns on the edge of the Roman Empire: the import of amphorae in Oli-
sipo (Lisbon, Portugal) between the 2nd century BC and the 2nd century AD. In Rei Cretariae Romanae
Favtorvm. Acta 45, pp. 91-97.
FILIPE, V. (2018b) - Olisipo e o mediterrâneo: economia e comércio no extremo ocidental do império. In Actas
do 2º Seminário Fragmentos de Arqueologia de Lisboa, 2017. Meios, vias e trajectos: entrar e sair de Lisbo.
Lisboa: Sociedade de Geografia de Lisboa/Câmara Municipal de Lisboa, pp. 102-112.
FILIPE, V.; CALADO, M. (2007) - Ocupação romana no Beco do Marquês de Angeja, Alfama: evidências de estru-
turas termais junto da porta nascente de Olisipo. Al-Madan, Adenda electrónica. Almada. II:15, pp. 1-10.

576
Bibliografia

FILIPE, V.; CALADO, M.; FIGUEIREDO, M.; CASTRO, A. (2013) - Intervenção arqueológica na Rua do Espírito Santo,
Castelo (Lisboa): do Romano Republicano à Época Contemporânea. Dados preliminares. Al-Madan,
Adenda electrónica. Almada. II:17, pp. 6-12.
FILIPE, V.; CALADO, M.; GUERRA, S.; VALONGO, A.; LEÓNIDAS, J.; RAMOS, R.; ROCHA, M.; COSTA, J. (2015)
- A cerâmica de importação no arrabalde ocidental de Luxbuna (Lisboa). Dados preliminares da inter-
venção realizada no Hotel de Santa Justa. In Actas do X Congresso Internacional Cerâmica Medieval no
Mediterrâneo, Silves e Mértola, 22 a 27 de Outubro de 2012. Silves/Mértola: Câmara Municipal de Silves/
Campo Arqueológico de Mértola, pp. 711-718.
FILIPE, V.; CALADO, M.; LEITÃO, M. (2014) – Evidências orientalizantes na área urbana de Lisboa: o caso dos
edifícios na envolvente da Mãe de Água do Chafariz d’El Rei. In ARRUDA, A. M., Ed. - Fenícios e Púnicos,
por Terra e Mar. Actas do VI Congresso Internacional de Estudos Fenícios e Púnicos (FLUL, 25 de Setembro
a 1 de Outubro de 2005), Vol. 2. Estudos e Memórias, 6. Lisboa: UNIARQ, pp. 736-746.
FILIPE, V.; LEITÃO, M. (2014) - Edifícios na Rua S. João da Praça e Mãe de Água do Chafariz d’el Rei - Alfama, Lisboa
(empreitada nº 8/2002/GLACC). Relatório Final da Intervenção Arqueológica. Lisboa. Policopiado.
FILIPE, V.; LEITÃO, M. (2017) - Um espaço, um pavimento da Casa dos Bicos no séc. XVI. In FERNANDES, L.,
BUGALHÃO, J., FERNANDES, P. A., Coords. - Debaixo dos nossos pés. Pavimentos históricos de Lisboa.
Lisboa: Museu de Lisboa, pp. 164-167.
FILIPE, V.; QUARESMA, J. C.; LEITÃO, M.; ALMEIDA, R. R. de (2016) - Produção, consumo e comércio de ali-
mentos entre os séculos II e III d.C. em Olisipo: os contextos romanos da Casa dos Bicos, Lisboa (inter-
venção de 2010). In JÁRREGA DOMÍNGUEZ, R., BERNI MILLET, P., Eds. - Amphorae ex Hispania: paisajes
de producción y consumo. Monografías Ex Officina Hispana III, Vol. I. Tarragona: Instituto Catalán de
Arqueología Clásica, pp. 423-445.
FILIS, K. (2019) - The ovoid amphorae from Aigion, in the north-west Peloponnese. The connections with
Corinth and the Brindisi area. In GARCÍA VARGAS, E., ALMEIDA, R. R. de, GONZÁLEZ CESTEROS, H., Eds. -
The Ovoid Amphorae in the Central and Western Mediterranean. Between the last two centuries of the
Republic and the early days of the Roman Empire. Roman and Late Antique Mediterranean Pottery 13.
Oxford: Archaeopress, pp. 3-34.
FINKIELSZTEJN, G. (2004a) - Establishing the Chronology of Rhodian Amphora Stamps: the Next Steps. In
EIRING, J., LUND, J., Eds. - Transport Amphorae and Trade in the Eastern Mediterranean. Athens: Mono-
graphs of the Danish Institute at Athens (5), pp. 117-121.
FINKIELSZTEJN, G. (2004b) - Koan amphorae imported in the southern Levant in the hellenistic period. In HÖG-
-HAMMAR, K., Ed. - The Hellenistic polis of Cos. State, Economy and Culture. Uppsala: Acta Universitatis
Upsaliensis, pp. 153-164.
FINLEY, M. I. (1973) - Ancient Economy. Berkeley/Los Angeles: University of California Press.
FIORI, P.; JONCHERAY, J.-P. (1975) - L’épave de la Tradelière: premiers résultats des fouilles entreprise en 1973.
Cahiers d’Archeologie Subaquatique. Fréjus. 4, pp. 59-70.
FONSECA, C. (2015) - Fundear e naufragar entre o Mediterrâneo e o Atlântico: o caso do arqueossítio Arade B.
Dissertação de Mestrado, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa. Lis-
boa. Policopiado.
FONTANA, S. (2005b) - Mau 35. Roman Amphorae: a digital resource. University of Southampton (http://archae-
ologydataservice.ac.uk/archives/view/amphora_ahrb_2005/).
FONTES, P.; LAUBENHEIMER, F.; LEBLANC, J.; BONNEFOY, F.; GRUEL, K.; WIDEMANN, F. (1981) - Nouvelles
données analytiques et typologiques sur les ateliers de production d’amphores en Gaule du sud. In
Actes du XXe symposium international d’archéométrie Paris, 26-29 mars Vol. III. Revue d’Archéométrie.
Paris. 1, pp. 95-110.
FOUET G. (1958) - Puits funéraires d’Aquitaine: Vieille-Toulouse, Montmaurin. Gallia. Nanterre. 16:1, pp. 115-196.
FRASER, P. M.; MATTHEWS, E. (1987) - A lexicon of Greek personal names I. The Aegean islands, Cyprus, Cyrenaica.
Oxford.
GABRIEL, S.; FABIÃO, C.; FILIPE, I. (2009) - Fish remains from the Casa do Governador - a Roman fish processing
factory in Lusitania. In MAKOWIECKI, D., HAMILTON-DYER, S., RIDDLER, I., TRZASKA-NARTOWSKI, N.,
MAKOHONIENKO, M., Eds. - Fishes, culture, environment: through archaeoichthyology, ethnography &
history. 15th Meeting of the ICAZ Fish Remains Working Group (FRWG), September 3-9, 2009, Poznań and
Toruń, Poland. Poznań: Bogucki Wydawnictwo Naukowe, pp. 117-119.
GABRIEL S.; SILVA C. T. (2016) - Fish Bones and Amphorae: New Evidence for the Production and Trade of
Fish Products in Setúbal (Portugal). In PINTO, I. V., ALMEIDA, R. R. de, MARTIN, A., Eds. - Lusitanian
Amphorae: Production and Distribution. Roman and Late Antique Mediterranean Pottery 10. Oxford:
Archaeopress, pp. 111-116.

577
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

GADDI, D.; DEGRASSI, V. (2016) - Lusitanian Amphorae in Northern Adriatic Italy: the Eastern Part of Decima
Regio. In PINTO, I. V., ALMEIDA, R. R. de, MARTIN, A., Eds. - Lusitanian Amphorae: Production and Distri-
bution. Roman and Late Antique Mediterranean Pottery 10. Oxford: Archaeopress, pp. 437-444.
GAMBARO, L. (2008) - Importazioni di merci africane nelle aree rurali dell’estremo Ponente ligure tra l’età tardo-
-repubblicana e la tarda antichità. In L’Africa Romana, XVII, vol. 2. Siviglia, 13-18 dicembre 2006. Sassari:
Carocci editore, pp. 1427-1470.
GAMBARO, L.; PARODI, A. (2016) - Amphorae ex Hispania nella Liguria di Ponente nel corso della prima e me-
dia età imperiale. In JÁRREGA DOMÍNGUEZ, R., BERNI MILLET, P., Eds. - Amphorae ex Hispania: paisajes
de producción y consumo. Monografías Ex Officina Hispana III, Vol. I. Tarragona: Instituto Catalán de
Arqueología Clásica, pp. 516-529.
GARCÍA FERNÁNDEZ, F.J.; FILIPE, V.; MORENO MEJÍAS, V..; MARTÍN DEL RÍO, J.J.; FLORES ALÉS, V.; FERNANDES,
L. (2021) - Producción e importación de contenedores anfóricos en la antigua Olisipo durante la Edad del
Hierro e inicios de la Romanización: caracterización arqueométrica. CuPAUAM. Madrid. 47:2, pp. 151-179.
GARCÍA FERNÁNDEZ, F. J.; PALMA, M. F.; GARCÍA VARGAS, E.; SÁEZ ROMERO, A.; FILIPE, V.; ALBUQUERQUE,
P. (2020) - Mértola entre la Edad del Hierro y la Romanización: nuevos datos a partir de las excavaciones
de la Biblioteca Municipal. Arqueologia Medieval. Porto. 15, pp. 5-24.
GARCÍA HERNÁNDEZ, F. (1986) - El yacimiento iberico del Tossal de la Cala (Benidorm). Los materiales deposita-
dos en el Museo Arqueológico Provincial de Alicante. Memoria de Licenciatura, Universidad de Alicante.
GARCIA NOGUERA, M.; POCIÑA LÓPEZ, C. A.; REMOLA VALLVERDU, J. A. (1997) - Un context ceràmic d’inicis
del segle II d.C. a Tàrraco (Hispania Tarraconensis). Pyrenae. Barcelona. 28, pp. 179-209.
GARCÍA ROSSELLÓ, J.; PUJOL, J.; ZAMORA, D. (2000) - Las cerámicas de barniz negro de los siglos II-I a.C. en
la zona central de la costa layetana: los ejemplos de Burric, Iluro y sus territorios. La ceràmica de vernís
negre dels segles II i I a.C.: centres productors mediterranis i comercialització a la Peninsula Ibèrica. Mataró:
Patronato Municipal de Cultura de Mataro, pp. 59-70.
GARCÍA VARGAS, E. (1996) - La producción anfórica en la Bahía de Cádiz durante la República como indice de
romanización. Habis. Sevilha. 27, pp. 49-57.
GARCÍA VARGAS, E. (1998) - La producción de ánforas en la bahía de Cádiz en Época Romana (siglos II A.C. - IV D.C.).
Ecija: Gráficas Sol.
GARCÍA VARGAS, E. (2000) - Ánforas romanas producidas en Hispalis. Primeras evidencias arqueológicas. Habis.
Sevilha. 31, pp. 235-260.
GARCÍA VARGAS, E. (2001) - La producción de ánforas “romanas” en el sur de Hispania. República y Alto Imperio.
In Actas Congreso Internacional Ex Baetica Amphorae. Conservas y vino de la Bética en el Imperio Romano
(Écija-Sevilha 1998), Vol. 1. Écija: Gráficas Sol, pp. 57-174.
GARCÍA VARGAS, E. (2003) - Las producciones de la figlina: ánforas. In ANGEL TABALES, M., Ed. - Arqueología
y rehabilitación en el Parlamento de Andalucía. Investigaciones arqueológicas en el antiguo Hospital de las
Cinco Llagas de Sevilla. Sevilla: Secretaria General del Parlamento de Andalucia/Caja de Ahorro de San
Fernando, pp. 200-219.
GARCÍA VARGAS, E. (2004) - Las ánforas del vino bético altoimperial: formas, contenidos y alfares a la luz
de algunas novedades arqueológicas. In BERNAL, D., LAGÓSTENA, L., Eds. - Figlinae Baeticae. Talleres
alfareros y producciones cerámicas en la Bética romana (ss. II a.C.-IV d.C.). BAR International Series, 1266.
Oxford: Archaeopress, pp. 507-514.
GARCÍA VARGAS, E. (2007a) - Hispalis como centro de consumo desde época tardorrepublicana a la antigüedad
tardía. Anales de Arqueología Cordobesa. Cordoba. 18, pp. 317-360.
GARCÍA VARGAS, E. (2007b) - La distribución interior de las salazones de pescado (Época Romana). Actas del con-
greso Internacional CETARIAE. Salsas y salazones de pescado en Occidente durante la Antigüedad. Univer-
sidade de Cádiz, Noviembre de 2005. BAR, International Séries, 1686. Oxford: Archaeopress, pp. 527-532.
GARCÍA VARGAS, E. (2010) - Ánforas béticas de época Augusteo-Tiberiana. Una retrospectiva. In VILLEDARY Y
MARIÑAS, A. N., GÓMEZ FERNÁNDEZ, V. G., Eds. - Las necrópolis de Cádiz apuntes de arqueología gadita-
na en homenaje a J.F. Sibón Olano. Cádiz: Diputación de Cádiz/Universidad de Cádiz, pp. 581-622.
GARCÍA VARGAS, E. (2012) - Producciones anfóricas tardorrepublicanas y tempranoaugusteas del valle del
Guadalquivir. Formas y ritmos de la romanización en Turdetania a través del artesanado cerámico. In
BERNAL CASASOLA, D., RIBERA I LACOMBA, A., Eds. - Cerámicas hispanorromanas II. Producciones regio-
nales. Cádiz: Universidad de Cádiz, pp. 177-205.
GARCÍA VARGAS, E. (2015) - Ánforas vinarias de los contextos severianos del Patio de Banderas de Sevilla. In AGUI-
LERA ARAGÓN, I., BELTRÁN LLORIS, F., DUEÑAS JIMÉNEZ, M. J., LOMBA SERRANO, C., PAZ PERALTA,
J. A., Eds. - De las ánforas al museo. Estudios dedicados a Miguel Beltrán Lloris. Zaragoza: Fundación
Fernando el Católico, pp. 395-412.

578
Bibliografia

GARCÍA VARGAS, E. (2016a) - Amphora Circulation in the Lower Guadalquivir Valley in the Mid Imperial
Period: the Lusitana 3 Type. In PINTO, I. V., ALMEIDA, R. R. de, MARTIN, A., Eds. - Lusitanian Amphorae:
Production and Distribution. Roman and Late Antique Mediterranean Pottery 10. Oxford: Archaeopress,
pp. 285-298.
GARCÍA VARGAS, E. (2016b) - Ánfora ovoide gaditana de época tardorrepublicana. In FERNÁNDEZ FERNÁNDEZ,
A., BARCIELA GARRIDO, P., Coords. - Emporium. Mil anos de comercio en Vigo. Vigo: Rede de Museos/
Concello de Vigo, pp. 62-63.
GARCÍA VARGAS, E; ALMEIDA, R.; GONZÁLEZ CESTEROS, H. (2011) - Los tipos anfóricos del Guadalquivir en el
marco de los envases hispanos del siglo I a.C. Un universo heterogéneo entre la imitación y la estanda-
rización. Spal. Sevilha. 20. pp. 185-283.
GARCÍA VARGAS, E; ALMEIDA, R.; GONZÁLEZ CESTEROS, H. (2016b) - Ovoid 4 (Guadalquivir Valley). Amphorae
ex Hispania. Landscapes of production and consumption (http://amphorae.icac.cat/amphora/ovoid-4
-guadalquivir-valley).
GARCÍA VARGAS, E; ALMEIDA, R.; GONZÁLEZ CESTEROS, H. (2016c) - Ovoid 5 (Guadalquivir Valley). Ampho-
rae ex Hispania. Landscapes of production and consumption (http://amphorae.icac.cat/amphora/ovoid-5
-guadalquivir-valley).
GARCÍA VARGAS, E; ALMEIDA, R.; GONZÁLEZ CESTEROS, H. (2016d) - Ovoid 6 (Guadalquivir Valley). Amphorae
ex Hispania. Landscapes of production and consumption (http://amphorae.icac.cat/amphora/ovoid-6
-guadalquivir-valley).
GARCÍA VARGAS, E.; BERNAL CASASOLA, D. (2008) - Ánforas de la Bética. In BERNAL CASASOLA, D., RIBERA I
LACOMBA, A., Eds. - Cerámicas hispanorromanas: un estado de la cuestión. Cádiz: Universidad de Cádiz,
pp. 661-687.
GARCÍA VARGAS, E.; BERNAL CASASOLA, D. (2016) - Puerto Real 1. Amphorae ex Hispania. Landscapes of pro-
duction and consumption (http://amphorae.icac.cat/amphora/ dressel-7-baetica-coast).
GARCÍA VARGAS, E.; BERNAL CASASOLA, D.; DIAZ RODRIGUEZ, J. (2016f) - Beltrán IIB (Baetica coast). Ampho-
rae ex Hispania. Landscapes of production and consumption (http://amphorae.icac.cat/amphora/beltran-
iib-baetica-coast).
GARCÍA VARGAS, E.; BERNAL CASASOLA, D.; DIAZ RODRIGUEZ, J.; SÁEZ ROMERO, A. M. (2016a) - Dressel 1
(Baetica Ulterior coast). Amphorae ex Hispania. Landscapes of production and consumption (http://am-
phorae.icac.cat/amphora/dressel-1-baetica-ulterior-coast).
GARCÍA VARGAS, E.; CARRERAS MONFORT, C. (2016) - Dressel 2-4 (Guadalquivir Valley). Amphorae ex Hispania.
Landscapes of production and consumption (http://amphorae.icac.cat/amphora/dressel-2-4-guadalqui-
vir-valley).
GARCÍA VARGAS, E.; LAVADO FLORIDO, M. L. (1995) - Ánforas alto, medio y bajoimperiales producidas en el
alfar de Puente Melchor (Villanueva, Paso a Nivel: Puerto Real, Cádiz). Spal. Sevilha. 4, pp. 215-228.
GARCÍA VARGAS, E.; LAVADO FLORIDO, M. L. (1996) - Definición de dos nuevos tipos de ánforas gaditanas:
las Puerto Real 1 y 2. Spal. Sevilha. 5, pp. 197-208.
GARCÍA VARGAS, E.; LÓPEZ ROSENDO, E. (2008) - El alfar de Rabatún (Jerez de la Frontera, Cádiz) y la pro-
ducción de ánforas y cerámica común en la campiña del Guadalete en época altoimperial romana. Spal.
Sevilha. 17, pp. 281-313
GARCÍA VARGAS, E.; MARTÍN-ARROYO, D.; LAGÓSTENA BARRIOS, L. (2016e) - Beltrán IIA (Baetica coast).
Amphorae ex Hispania. Landscapes of production and consumption (http://amphorae.icac.cat/amphora/
beltran-iia-baetica-coast).
GASPAR, A.; GOMES, A. (2001) - O Castelo de São Jorge: da fortaleza islâmica à alcáçova cristã. Contribuição
para o seu estudo. In FERNANDES, I. C., Coord., Mil Anos de Fortificações na Península Ibérica e no Magreb
(500-1500). Actas do Simpósio Internacional sobre Castelos. Lisboa: Edições Colibri/Câmara Municipal de
Palmela, pp. 397-404.
GASPAR, A.; GOMES, A. (2007) - As muralhas de Olisipo - o troço junto ao Tejo. In Actas del Congresso Internacio-
nal Murallas de Ciudades Romanas en el Occidente del Império: Lvcvs Avgvsti como paradigma, Novembro
de 2005. Lugo: Diputation Provincial de Lugo, pp. 687-697.
GASPAR, A.; GOMES A. (2015) - Cerâmicas comuns da Antiguidade Tardia provenientes do Claustro da Sé de
Lisboa - Portugal. In Actas do X Congresso Internacional Cerâmica Medieval no Mediterrâneo, Silves e
Mértola, 22 a 27 de Outubro de 2012. Silves/Mértola: Câmara Municipal de Silves/Campo Arqueológico
de Mértola, pp. 689-698.
GASPAR, A.; GOMES, A. (2017a) - Pavimentos do espaço público de Época Romana da Sé de Lisboa. In FERNAN-
DES, L., BUGALHÃO, J., FERNANDES, P. A., Coords. - Debaixo dos nossos pés. Pavimentos históricos de
Lisboa. Lisboa: Museu de Lisboa, pp. 116-117.

579
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

GASPAR, A.; GOMES, A. (2017b) - Ocupação medieval na Sé de Lisboa. In OLIVEIRA, L. F., TENTE, C., FARE-
LO, M., MARTINS M. G., Coords. - Lisboa medieval: gentes, espaços e poderes. Coleção Estudos, 15.
Lisboa: Instituto de Estudos Medievais, pp. 113-128.
GASPAR, J. (1994a) - Lisboa, o sítio: ocupação e organização do território. In Lisboa subterrânea. Lisboa: Lisboa
Capital Europeia da Cultura 94, pp. 13-19.
GASPAR, J. (1994b) - O desenvolvimento do sítio de Lisboa. In MOITA, I., Coord. - O Livro de Lisboa. Lisboa:
Livros Horizonte, pp. 32-34.
GATEAU, F. (1990) - Amphores importées durant le le IIe s. av. J.C. dans trois habitats de Provence occidentale:
Entremont, le Baou-Roux, Saint-Blaise. Documents d’Archéologie Méridionale. Lattes. 13, pp. 163-183.
GEORGOPOULOS, V. (2004) - The archaeological evidence of Coan amphorae from Kardamaina (ancient
Halasarna). In HÖGHAMMAR, K., Ed. - The Hellenistic polis of Cos. State, Economy and Culture. Uppsala:
Acta Universitatis Upsaliensis, pp.129-132.
GEORGOPOULOS, V. (2005) - The dissemination of transport amphorae from Cos. Contribution to the
study of the Coan trade in the Eastern Mediterranean during the Hellenistic period. In BERG BRIESE,
M., VAAG, L. E., Eds. - Trade Relations in the Eastern Mediterranean from the Late Hellenistic Period to
Late Antiquity. The Ceramic Evidence. Halicarnassian Sudies vol. III. Odense: University Press of Southern
Denmark, pp. 179-183.
GIANFROTTA, P.A. (2008) - Il commercio marittimo in età tardo-repubblicana: merci, mercanti, infrastrutture”.
In PÉREZ BALLESTER, J., PASCUAL BERLANGA, G., Eds. - Comercio, redistribución y fondeaderos. Navega-
ción a vela en el Mediterráneo, V Jornadas Internacionales de Arqueología Subacuática (Gandia, 8 a 10 de
noviembre de 2006). Valencia: Universitat de València, pp. 65-78.
GOMES, A.; GASPAR, A. (2017) - Pavimentos da Idade do Ferro no Castelo de São Jorge. In FERNANDES, L.,
BUGALHÃO, J., FERNANDES, P. A., Coords. - Debaixo dos nossos pés. Pavimentos históricos de Lisboa.
Lisboa: Museu de Lisboa, pp. 90-91.
GOMES, A.; GASPAR, A.; PIMENTA, J.; GUERRA, S.; MENDES, H.; RIBEIRO, S.; VALONGO, A.; PINTO, P. (2003) -
Castelo de São Jorge - Balanço e perspectivas dos trabalhos arqueológicos. Património Estudos. Lisboa.
4, pp. 214-223.
GOMES, A.; SEQUEIRA, M. J. (2001) - Continuidades e descontinuidades na arquitectura doméstica do período
islâmico e após a conquista da cidade de Lisboa: escavações na Fundação Ricardo do Espírito Santo
Silva. Arqueologia Medieval. Porto. 7, pp. 103-110.
GOMES, F.; ALVES, C. (2017) - The final phases of the Olival do Senhor dos Mártires necropolis (Alcácer do Sal,
Portugal): the roman republican material. Spal. Sevilha. 26, pp. 87-111.
GOMES, M. V.; GOMES, R. V.; BEIRÃO, C. (1986) - O Cerro da Rocha Branca (Silves) - resultados preliminares de
três campanhas de escavações. In Actas do IV Congresso do Algarve, Vol. 1. Silves: Racal Clube, pp. 77-83.
GOMES, S.; BRAZUNA, S.; MACEDO, M. (2013) - A ocupação romana na Bacia do Alqueva: da Ponte de Ajuda à
Ponte Velha de Mourão. Uma proposta de reconstrução da paisagem. Memórias d’Odiana, 2ª Série. Beja:
EDIA.
GOMES, S.; MACEDO, M.; BRAZUNA, S. (2000) - Apresentação dos trabalhos arqueológicos de 1997 na villa de
Santa Vitória do Ameixial. (Era) Arqueologia. Lisboa. 1, pp. 52-67.
GOMES, S.; PONCE, M. (2014) - Projeto de arquitetura Apartamentos Pedras Negras Rua das Pedras
Negras n.35-41/ Travessa do Almada n.º1-9/ Travessa das Pedras Negras n.º2,2a,2b. Relatório Final da Inter-
venção Arqueológica. Lisboa. Policopiado.
GOMES, S.; PONCE, M.; FILIPE, V. (2017) - A Intervenção Arqueológica no âmbito do Projecto de Arquitectura
“Apartamentos Pedras Negras”. In Actas do I Encontro de Arqueologia de Lisboa: uma cidade em escava-
ção, 26 a 28 de Novembro de 2015. CAL, Câmara Municipal de Lisboa, pp. 349-365.
GONÇALVES, A.; CARVALHO, P. C. (2002) - Intervenção arqueológica no Castelo da Lousa (1997-2002): Resultados
preliminares. Al-Madan. Almada. II:11, pp. 181-188.
GONÇALVES, A.; MORÁN, E.; POSSELT, M.; TEICHNER, F. (1999) - New aspects of the romanization of the Alto
Alentejo (Portugal): evidence from a geophysical and archeological survey at the Monte da Nora (Ter-
rugem). Arqueologia. Porto. 24, pp. 101-110.
GONÇALVES, D.; DUARTE, C.; COSTA, C.; MURALHA, J.; CAMPANACHO, V.; COSTA, A. M.; ANGELUCCI, D. E.
(2010) - The Roman cremation burials of Encosta de Sant’Ana (Lisbon). Revista Portuguesa de Arqueolo-
gia. Lisboa. 13, pp. 125-144.
GONZÁLEZ CESTEROS, H. (2011) - Las ánforas orientales de Lugo. In CARRERAS MONFORT, C., MORAIS, R.,
GONZÁLEZ FERNÁNDEZ, E., Coords. - Ánforas romanas de Lugo, Comercio romano en el Finis Terrae.
Lugo: Concello de Lugo, pp. 108-127

580
Bibliografia

GONZÁLEZ CESTEROS, H. (2012) - Scomber gaditano en Éfeso. Una Dressel 12 con titulus encontrada en la
“Casa Aterrazada 2” de Éfeso”. Dialogues d´Histoire Ancienne. Besançon. 38/I, pp. 9-22.
GONZÁLEZ CESTEROS, H. (2013) - Ánforas del foro tardorrepublicano de Valeria”. In BERNAL, D., JUAN, L. C.,
BUSTAMANTE, M., DÍAZ, J. J. e SÁEZ, A. M., Eds. - Hornos, talleres y focos de producción alfarera en His-
pania (Actas do I Congreso Internacional de la SECAH - Cádiz, 3-4 March 2011), Vol. II. Cádiz: Universidad de
Cádiz, pp. 127-144.
GONZÁLEZ CESTEROS, H. (2014) - Ánforas hispanas en Germania Inferior antes de la formación de la província
(20 a.C.-69 d.C.). Tesis Doctoral, Universidad Rovira i Virgili de Tarragona. Tarragona. Policopiado.
GONZÁLEZ CESTEROS, H. (2015) - Hallazgos de productos tarraconenses en la frontera germana. Un mercado
secundario. In MARTÍNEZ FERRERAS, V, Ed. - La difusión comercial de las ánforas vinarias de Hispania
Citerior-Tarraconensis (s. I a.C.-I d.C.). Archaeopress Roman Archaeology, Oxford, pp. 205-220.
GONZÁLEZ CESTEROS, H.; ALMEIDA, R. (2017) - Las ánforas de aceite de oliva béticas. De las Oberaden 83
hasta las Dressel 20 en el Kops Plateau de Nimega. In CARRERAS MONFORT, C., BERG, J. Van der, Eds. -
Amphorae from the Kops Plateau (Nijmegen): trade and supply to the lower-rhineland from the Augustan
period to AD 69/70. Roman Archaeology 20. Oxford: Archaeopress, pp. 47-60.
GONZÁLEZ CESTEROS, H.; ALMEIDA, R.; GARCÍA VARGAS, E. (2016a) - Ovoid 1 (Guadalquivir Valley). Ampho-
rae ex Hispania. Landscapes of production and consumption (http://amphorae.icac.cat/amphora/ovoid-
1-guadalquivir-valley).
GONZÁLEZ CESTEROS, H.; BERNAL CASASOLA, D.; GARCÍA VARGAS, E. (2016b) - Dressel 12 (Baetica coast).
Amphorae ex Hispania. Landscapes of production and consumption (http://amphorae.icac.cat/amphora/
dressel-12-baetica-coast).
GONZÁLEZ CESTEROS, H.; CARRERAS MONFORT, C. (2016) - Oberaden 74 (Tarraconensis northern coastal
area). Amphorae ex Hispania. Landscapes of production and consumption (http://amphorae.icac.cat/am-
phora/oberaden-74-tarraconensis-northern-coastal-area).
GONZÁLEZ CESTEROS, H.; GARCÍA VARGAS, E.; ALMEIDA, R. (2016c) - Oberaden 83 (Guadalquivir Valley). Am-
phorae ex Hispania. Landscapes of production and consumption (http://amphorae.icac.cat/amphora/
oberaden-83-guadalquivir-valley).
GONZÁLEZ CESTEROS, H.; GARCÍA VARGAS, E.; ALMEIDA, R. (2016d) - Haltern 71 (Guadalquivir Valley). Ampho-
rae ex Hispania. Landscapes of production and consumption (http://amphorae.icac.cat/amphora/dressel-
28-baetica-coast).
GONZÁLEZ CESTEROS, H.; HIGUERAS-MILENA CASTELLANO, A.; SÁEZ ROMERO A. M. (2016e) - Importaciones
efesias en Cádiz: nuevos hallazgos de la Punta del Nao (La Caleta). Sagvntvm. Valencia. 48, pp. 147-158.
GONZÁLEZ CESTEROS, H.; TREMMEL, B. (2011-2012) - Aceite, vino y salazones hispanos en Oberaden. In
NOGUERA CELDRÁN, J. M., ANTOLINOS MARÍN, J. A., Eds. - De vino et oleo Hispaniae. Áreas de produc-
ción y procesos tecnológicos del vino y el aceite en la Hispania romana. Anales de Prehistoria y Arqueología
de la Universidad de Murcia. Murcia. 27-28, pp. 527-542.
GONZÁLEZ CESTEROS, H.; YILMAZ, Z. (2012) - Dos nuevas piezas hispanas encontradas en Éfeso. Boletín de la
Sociedad de Estudios de la Cerámica Antigua en Hispania. Cádiz. 4, pp. 23-25.
GONZÁLEZ FERNANDEZ, J. (1983) - Nueva inscripción de un diffusor olearius en la Bética. In Producción y Co-
mercio del Aceite en Ia Antiguedad (Segundo Congreso Intemacional). Madrid: Universidad Complutense,
pp. 183- 191.
GONZÁLEZ RUIBAL, A. (2006) - Past the Last Outpost: punic merchants in the Atlantic Ocean (5th-1st centuries
BC). Journal of Mediterranean Archaeology, 19(1), pp. 121-150.
GONZÁLEZ-RUIBAL, A.; RODRÍGUEZ MARTÍNEZ, R.; ABOAL FERNÁNDEZ, R.; CASTRO HIERRO, V. (2007) -
Comercio mediterráneo en el Castro de Montealegre (Pontevedra, Galicia). Siglo II a.C. - inicios del siglo
I d.C. Archivo Español de Arqueología. Madrid. 80, pp. 43-74
GÖRANSSON, K. (2007) - The transport amphorae from Euesperides. The maritime trade of a Cyrenaican city 400-
250 BC. Acta Archaeologica Lundensia, 4:25. Lund: Lunds Universitet.
GRACE, V. R. (1949) - Standard Pottery Containers of the Ancient Greek World. Hesperia Supplements. Athens.
8, pp. 175-189.
GRACE, V. R. (1971) - Samian Amphoras. Hesperia. Athens. 40, pp. 52-95
GRACE, V. R. (1979) - Amphoras and the ancient wine trade. Athens: American School of Classical Studies at
Athens.
GRACE, V. R. (1985) - The Middle Stoa Dated by Amphora Stamps. Hesperia. Athens. 54:1, pp. 1-54.

581
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

GRACE, V. R.; SAVVATIANOU-PETROPOULAKOU, M. (1970) - Les timbres amphoriques grecs. In Exploration


Archéologique de Délos, École Française d’Athènes. L’Îlot de la Maison des Comédiens, Fascicule XXVII.
Paris: E. de Boccard, pp. 277-382.
GREENE, K. T. (1993) - The fortress coarseware. In MANNING, W. D., Ed. - Report on the excavation at Usk 1965-
1976. The Roman Pottery. Cardiff: University of Cardiff, pp. 3-124.
GRILO, C.; MARTINS, A. (2013) - O espólio dos contextos de amortização da Av. Miguel Fernandes (Beja). Um
contributo para o conhecimento da cidade romana. In JIMÉNEZ AVILA, J., BUSTAMANTE-ÁLVAREZ, M.,
GARCÍA CABEZAS, M., Coords. - Actas del VI Encuentro de Arqueología del Suroeste Peninsular. Villafranca
de los Barros: Ayuntamiento de Villafranca de los Barros, pp. 1471-1496.
GRUAT, P. (1994) - Les timbres sur amphores Dressel 1 du sud-ouest de la France: premier inventaire. Aquitania.
Bordéus. 12, pp. 183-202.
GUERRA, A. (1995) - Plínio-o-Velho e a Lusitânia. Lisboa: Edições Colibri.
GUERRA, A. (1996) -Marcas de ânforas provenientes do Porto dos Cacos (Alcochete). In FILIPE, G., RAPOSO,
J., Eds. - Ocupação romana dos estuários do Tejo e do Sado (Actas das jornadas, Seixal, 1991). Lisboa:
Publicações D. Quixote, pp. 267-282.
GUERRA, A. (2000) - A península de Lisboa no I milénio a.C.: uma breve síntese à luz das fontes e dos dados
arqueológicos. In TURRES VETERAS IV. Actas de Pré-história e História Antiga. Torres Vedras: Câmara
Municipal de Torres Vedras, pp. 121-128.
GUERRA, A. (2009) - A propósito do topónimo “Oeiras”: algumas considerações linguísticas e históricas. Estudos
Arqueológicos de Oeiras. Oeiras. 17, pp. 595‑605.
GUERRA, A.; PIMENTA, J.; SEQUEIRA, J. (2014) - Conjunto de Glandes Plumbeae do sítio arqueológico de Alto
dos Cacos - Almeirim. In FABIÃO, C., PIMENTA, J., Coords. - Actas do Congresso Conquista e Romanização
do Vale do Tejo. Cira Arqueologia. Vila Franca de Xira. 3, pp. 293-321.
GUERRA, A.; SCHATTNER, T.; FABIÃO, C.; ALMEIDA, R. (2003) - Novas investigações no santuário de Endovélico
(S. Miguel da Mota, Alandroal): a campanha de 2002. Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa. 6:2, pp.
415-479.
GUERRA, S. (2017) - Largo de Santa Cruz do Castelo: um exemplo de revestimento em argila. In FERNANDES,
L., BUGALHÃO, J., FERNANDES, P. A., Coords. - Debaixo dos nossos pés. Pavimentos históricos de Lisboa.
Lisboa: Museu de Lisboa, pp. 90-91.
GUERRERO AYUSO, V. M. (1986) - Una aportación al estudio de las ánforas púnicas Mañá C. Archaeonautica.
Paris. 6, pp. 147-196.
GUERRERO AYUSO, V. M.; ROLDÁN BERNAL, B. (1992) - Catálogo de las ánforas prerromanas. Cartagena: Museu
Nacional de Arqueología Marítima.
GUÉRY, R. (1985) - Survivance de la vie sédentaire pendant les invasions arabes en Tunisie centrale: l’exemple de
Rougga. In IIe Colloque International sur l’Histoire et l’Archéologie de l’Afrique du Nord (Grenoble, 5-9 avril
1983). Bulletin Archéologique du Comité des Travaux Historiques et Scientifiques. Paris. 19:B, pp. 399-410.
GUTIÉRREZ SOLER, G.; ORTIZ VILLAREJO, A.; ALEJO ARMIJO, M.; CORPAS IGLESIAS, F.; ALEJO SÁEZ, J. (2016) -
El conjunto de ánforas del área 11 de la meseta de Giribaile. In JÁRREGA DOMÍNGUEZ, R., BERNI MILLET,
P., Eds. - Amphorae ex Hispania: paisajes de producción y consumo. Monografías Ex Officina Hispana III,
Vol. II. Tarragona: Instituto Catalán de Arqueología Clásica, pp. 674-686.
HAAS, T. (2011) - Fields, farms and colonists Intensive field survey and early Roman colonization in the Pontine
region, central Italy. Groningen Archaeological Atudies, Vol. 15. Groningen: Barkhuis & Groningen Uni-
versity Library.
HARRIS, W. V. (1993) - Between archaic and modern: some current problems in the history of the Roman
economy. In HARRIS, W. V., Ed. - The Inscribed Economy. Production and Distribution in the Roman Empire
in the Light of Instrumentum Domesticum. JRA, Supp. ser. VI, Ann Arbor, pp. 11-29.
HÁRSHEGYI, P. (2007) - Le anfore della villa romana di San Potito. In GABLER D., REDŐ F., Eds. - Ricerche archeo-
logiche a San Potito di Ovindoli e le aree limitrofe nell’antichitá e nel alto medioevo. L’Aquila: Edizione Rea,
pp.123-166.
HAUSCHILD, T. (1990) - Das römishe Theater von Lissabon. Planaufnhame 1985/88. Madrider Mitteilungen.
Mainz. 31, pp. 348-392.
HAUSCHILD, T. (1994) - O Teatro Romano de Lisboa. In Lisboa subterrânea. Lisboa: Lisboa Capital Europeia da
Cultura 94, pp. 64-66.
HAYES, J. W. (1983) - The Villa Dionysos Excavations, Knossos: the Pottery. Annual of the British School of Athens.
Athens. 78, pp. 97-169.

582
Bibliografia

HEIN, A.; GEORGOPOULOU, V.; NODAROU, E.; KILIKOGLOU, V. (2008) - Koan amphorae from Halasarna: in-
vestigations in a Hellenistic amphora production centre. Journal of Archaeological Science. 35, pp. 1049-
1061.
HERAS MORA, F. J.; BUSTAMANTE ALVÁREZ, M. (2007) - Contribución al estudio de las ánforas tardorrepubli-
canas del enclave militar de “El Santo” de Valdetorres (Badajoz, España) In Actas do III Encontro de
arqueologia do Sudoeste Peninsular. Vipasca. Aljustrel. 2:2, pp. 318-324.
HERAS MORA, F. J. (2015) - Arqueologia de la implantación romana en los cursos Tajo-Guadiana (siglos II y I a.n.e.).
Tesis Doctoral. Universitat Autònoma de Barcelona.
HERNÁNDEZ PARDOS, A. (2016) - Una panorámica del consumo y producción de ánforas en Caesar Augusta
hacia el 50-60 d.C.. In JÁRREGA DOMÍNGUEZ, R., BERNI MILLET, P., Eds. - Amphorae ex Hispania: paisa-
jes de producción y consumo. Monografías Ex Officina Hispana III, Vol. I. Tarragona: Instituto Catalán de
Arqueología Clásica, pp. 241-254.
HESNARD, A. (1980) - Un dépôt augustéen d’amphores à La Longarina, Ostie. In D’ARMS, J. H., KOPFF, E. C.,
Dirs. - The Seaborne Commerce of Ancient Rome, Studies in Archaeology and History. Rome: American
Academy, pp. 141-156.
HESNARD, A. (1986) - Imitations et raisonnement archéologique, à propos des amphores de Rhodes et de Cos.
In EMPEREUR, J.-Y., GARLAN, Y., Eds. - Recherches sur les amphores grecques. Actes du Colloque interna-
tional (Athènes, 10-12 septembre 1984). BCH Supplément 13. Athènes-Paris: École Française d’Athènes,
pp. 69-79.
HESNARD, A.; CARRE, M.-B.; RIVAL, M.; DANGREAUX, B.; THINON, M.; BLAUSTEIN M., DUMONTIER, M.;
CHENE, A.; FOLIOT, P.; BERNARD-MAUGIRON, H. (1988) - L’épave romaine Grand Ribaud D (Hyères,
Var). Archaeonautica. Paris. 8, pp. 5-180.
HUGUET I ENGUITA, E.; RIBERA I LACOMBA, A. (2014) - Contextos cerámics altoimperials de Valentia. In ROCA,
M., MADRID, M., CELIS, R., Eds. - Contextos cerámicos de época altoimperial en el Mediterráneo occiden-
tal. Barcelona: Universidad de Barcelona, pp. 150-181.
HULL, M. R. (1932) - Additions to the Museum. Colchester and Essex Museum Annual Report for 1932, pp. 6-55.
JÁRREGA DOMÍNGUEZ, R. (2016a) - La Tarraconense 1, un ánfora ovoide de época triunviral. In JÁRREGA
DOMÍNGUEZ, R., BERNI MILLET, P., Eds. - Amphorae ex Hispania: paisajes de producción y consumo.
Monografías Ex Officina Hispana III, Vol. I. Tarragona: Instituto Catalán de Arqueología Clásica, pp. 55-65.
JÁRREGA DOMÍNGUEZ, R. (2016b) - Dressel 7-11 (Tarraconensis northern coastal area). Amphorae ex Hispania.
Landscapes of production and consumption (http://amphorae.icac.cat/ amphora/dressel-7-11-tarraconen-
sis-northern-coastal-area).
JÁRREGA DOMÍNGUEZ, R.; GONZÁLEZ CESTEROS, H. (2016) - Early Imperial Lusitanian Amphorae from the East-
ern Iberian Coast. In PINTO, I. V., ALMEIDA, R. R. de, MARTIN, A., Eds. - Lusitanian Amphorae: Production
and Distribution. Roman and Late Antique Mediterranean Pottery 10. Oxford: Archaeopress, pp. 343-353.
JÁRREGA DOMÍNGUEZ, R.; OTIÑA HERMOSO, P. (2008) - Un tipo de ánfora tarraconense de época medioim-
perial (siglos II-III): la Dressel 2-4 evolucionada. S.F.E.C.A.G., Actes du Congrès de L’Escala-Empúries, pp.
281-286.
JÁRREGA DOMÍNGUEZ, R.; SÁNCHEZ CAMPOY, E. (2008) - La villa romana del Mas d’en Gras (Vila-seca, Tarra-
gona). Un assentament de la via de Italia in Hispanias. Tarragona: Institut Català d’Arqueologia Clàssica.
JERBANIA, I. B. (2013) - Observations sur les amphores de tradition punique d’après une nouvelle découverte
près de Tunis. Antiquités Africaines. Paris. 49, pp. 179-192.
JOAQUINITO, A. (2017) - Estruturas pré-pombalinas e espólio associado no Pátio José Pedreira (Rua do Re-
colhimento e Beco do Leão, freguesia Santa Maria Maior). In ARNAUD, J. M., MARTINS, A., Coords. -
Arqueologia em Portugal: estado da questão. Actas do II Congresso da Associação dos Arqueólogos Portu-
gueses, pp. 1767-1779.
JOHNSSON, H. (2004) - The export of Koan wine to the south-eastern Mediterranean area during the Hellenis-
tic period. In HÖGHAMMAR, K., Ed. - The Hellenistic polis of Cos. State, Economy and Culture. Uppsala:
Acta Universitatis Upsaliensis, pp. 133-151.
JONCHERAY, J.-C. (1975) - L’épave “C” de La Chrétienne. Cahiers d’Archologie Subaquatique, sup.1. Fréjus.
KALB, P.; HÖCK, M. (1988) - “Moron”. Conimbriga. Coimbra. 27, pp. 92-102.
KAPITÄN G. (1961) - Schiffsfrachten antiker Baugesteine und Architekturteile vor den Küsten Ostsiziliens. Klio.
39, pp. 276-318
KAPITÄN G. (1972) - Le anfore del relitto romano di Capo Ognina (Siracusa). In Recherches sur les amphores
romaines. Actes du Colloque de Rome (4 mars 1971, Rome). Rome: Publications de l’École française de
Rome (10), pp. 243-252.

583
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

KEAY, S. J. (1984) - Late Roman Amphorae in the Western Mediterranean. A Typology and Economic Study: the
Catalan Evidence. BAR, International Series, 196. Oxford: Archaeopress.
KLENINA, E. Y. (2015) - Amphorae of the 1st century BC-4th century AD from Chersonesos Taurica: the issue of
trade relations. In DEMESTICHA, S, Ed. - Per terram, per mare. Seaborn trade and the distribution of ro-
man amphorae in the Mediterranean. Uppsala: Aströms förlag, pp. 79-97.
KOUTSOUFLAKIS G. V.; ARGIRIS, X. (2015) - Roman North African amphorae in the Aegean: the evidence of
shipwrecks. In DEMESTICHA, S., Ed. - Per terram, per mare. Seaborn trade and the distribution of roman
amphorae in the Mediterranean. Uppsala: Aströms förlag, pp. 3-22.
LABROUSSE, M. (1971) - Amphores rhodiennes trouvées à Toulouse et à Viellle-Toulouse. Revue archéologique
de Narbonnaise. Montpellier. 4, pp. 35-46.
LAGÓSTENA BARRIOS, L. (1996) - Explotación del Salazón en la Bahía de Cádiz en la Antigüedad: aportación
al conocimiento de su evolución a través de la producción de las ánforas Mañá C. Florentia Iliberritana.
Córdoba. II:7, pp. 141-169.
LAGÓSTENA BARRIOS, L. (2002-2003) - Aportación al conocimiento de la sociedad de la costa de la Ulterior en
Época Republicana y Julio-Claudia. El registro 8 en los tituli picti de las ánforas salsarias de Castra Prae-
toria. Lvcentvm. Alicante. 21-22, pp. 227-236.
LAGÓSTENA BARRIOS, L. (2004:) - Las ánforas salsarias de Baetica. Consideraciones sobre sus elementos epi-
gráficos. In REMESAL RODRÍGUEZ, J, Ed. - Epigrafía anfórica. Instrumenta 17. Barcelona: Publications de
la Universitat de Barcelona, pp. 197-219.
LAGÓSTENA BARRIOS, L.; BERNAL CASASOLA, D. (2004) - Alfares y producciones cerámicas en la provincia de
Cádiz. Balance y perspectivas. In BERNAL, D., LAGÓSTENA, L., Eds. - Figlinae Baeticae. Talleres alfareros
y producciones cerámicas en la Bética romana (ss. II a.C.-IV d.C.). BAR International Series, 1266. Oxford:
Archaeopress, pp. 39-124.
LAJARA MARTÍNEZ, J. (2013) - En torno al patrimonio arqueológico subacuático del Museo del Mar y la
Pesca de Santa Pola. In NIETO PRIETO, X., RAMÍREZ PERNÍA, A., RECIO SÁNCHEZ, P., Coords. -
I Congreso de Arqueología Náutica y Subacuática Española (Cartagena, 14, 15 y 16 de marzo de 2013).
Cartagena: Ministerio de Educación, Cultura y Deporte, pp. 936-945.
LAMBOGLIA, N. (1955) - Sulla cronologia delle anfore romane di etá repubblicane (II-I secolo a.C.). Rivista di
Studi Liguri. Bordighera. 22, pp. 241-270.
LANG, M. (1955) - Dated Jars of Early Imperial Times. Hesperia. Athens. 24:4, pp. 277-285.
LANG-DESVIGNES, S. (2011) - Campiani: un ensemble du IIe siècle à Lucciana. In ÁNGEL CAU, M., REYNOLDS,
P., BONIFAY, M., Eds. - LRFW 1. Late Roman Fine Wares. Solving problems of typology and chronology.:
A review of the evidence, debate and new contexts. Roman and Late Antique Mediterranean Pottery 1.
Oxford: Archaeopress, pp. 191-206.
LAUBENHEIMER, F. (1985) - La production des amphores en Gaule Narbonnaise. Paris: CNRS.
LAUBENHEIMER, F. (1989) - Les amphores gauloises sous l’Empire. Recherches nouvelles sur leur production
et leur chronologie. In Amphores romaines et histoire économique. Dix ans de recherche. Actes du col-
loque de Sienne (22-24 mai 1986). Rome: Publications de l’École française de Rome (114), pp. 105-138.
LAUBENHEIMER, F. (2001) - Le vin gaulois de Narbonnaise exporté dans le monde romain sous le Haut-Empire.
In: LAUBENHEIMER, F., Dir. - 20 ans de recherches à Salleles d’Aude, Actes du colloque international de
Sallèles d’Aude. 27 et 28 septembre 1996. Besançon: Institut des Sciences et Techniques de l’Antiquité,
pp. 51-66.
LAUBENHEIMER, F. (2004) - Inscriptions peintes sur les amphores gauloises. Gallia. Nanterre. 61, pp. 153-171.
LAUBENHEIMER, F.; GISBERT SANTONJA J. A. (2001) - La standardisation des amphores Gauloise 4, des ateliers
de Narbonnaise à la production de Denia (Espagne). In LAUBENHEIMER, F., Dir. - 20 ans de recherches à
Salleles d’Aude, Actes du colloque international de Sallèles d’Aude. 27 et 28 septembre 1996. Besançon:
Institut des Sciences et Techniques de l’Antiquité, pp. 33-50.
LAUBENHEIMER, F.; GRUEL, K.; NACIRI, A.; PASQUIER, M.; WIDEMANN, F. (1984) - L’atelier de potiers de Puy-
loubier (Bouches-du-Rhône). Prospections et étude du matériel. Document d’Archéologie Méridionale.
Montpellier. 7, pp. 97-110.
LAUBENHEIMER, F.; MARLIÈRE, E. (2010) - Échanges et vie économique dans le Nord-Ouest des Gaules (Nord/
Pas-de-Calais, Picardie, Haute-Normandie): Le témoignage des amphores du II s. a. J.-C. au IV s. ap. J.-C..
Besançon: Presses universitaires de Franche-Comté.
LAUBENHEIMER, F.; MARLIÈRE, E. (2016) - L’approvisionnement des chefs-lieux de cité dans le nord-ouest
de la Gaule à partir du témoignage des amphores. In BESSON, C., BLIN, O., TRIBOULOT, B, Coords. -

584
Bibliografia

Franges urbaines et confins territoriaux. la Gaule dans l’empire. Actes du colloque international (Versailles,
29 février-3 mars 2012). Mémoires 41. Bordeaux: Ausonius Editions, pp. 415-432.
LAUBENHEIMER, F.; MARTÍNEZ-MAGANTO, J.; HILLAIRET, J.-L. (1993) - Inscription sur une amphore à thon de
Bétique, Saintes, Charente-Maritime. Aquitania. Bordéus. 11, pp. 243-254.
LAUBENHEIMER, F.; SCHMITT, A. (2009) - Amphores vinaires de Narbonnaise, Production et grand commerce,
Création d’une base de données géochimique des ateliers. Lyon: Maison de l’Orient et de la Méditerranée
(51).
LAUBENHEIMER, F.; SCHWALLER, M.; VIDAL, M. (1992) - Nîmes, les amphores de la rue de Condé. In LAUBEN-
HEIMER, F., Dir. - Les amphores en Gaule. Production et circulation. Paris: Centre de Recherches d’His-
toire Ancienne, pp. 133-150.
LAUBENHEIMER, F.; WATIER, B. (1991) - Les amphores des Allées de Tourny à Bordeaux. Aquitania. Bordéus.
9, pp. 5-39.
LAWALL, M. (2004) - Archaeological context and Aegean amphora chronologies: a case study of Hallenistic Ephe-
sos. In EIRING, J., LUND, J., Eds. - Transport Amphorae and Trade in the Eastern Mediterranean. Athens:
Monographs of the Danish Institute at Athens (5), pp. 171-188.
LAWALL, M. L. (2011a) - Imitative Amphoras in the Greek World. In HANS-JOACHIM DREXHAGE, H. J., MATTERN,
T., ROLLINGER, R., RUFFING, K., SCHÄFER, C., Eds. - Marburger Beiträge zur Antiken Handels-, Wirt-
schaftsund Sozialgeschichte. Rahden/Westf: Verlag Marie Leidorf GmbH, pp. 45-88.
LAWALL, M. L. (2011b) - Socio-Economic Conditions and the Contents of Amphorae. In TZOCHEV, C., STOYANOV,
T., BOZKOVA, A., Eds. - PATABS II Production and trade of amphorae in the Black Sea. Acts of the Interna-
tional Round Table held in Kiten, Nessebar and Sredetz, September 26-30, 2007. Sofia: Bulgarian Acad-
emy os Sciences, pp. 23-33.
LAWALL, M. L.; LEJPUNSKAJA, N. A.; DIATROPTOV, P. D.; SAMOJLOVA, T. (2010) - Transport amphoras. In
LEJPUNSKAJA, N. A., BILDE, P., HØJTE, J., KRAPIVINA, V. V., KRYŽICKIJ, S. D, Eds. - The Lower City of
Olbia (Sector NGS) in the 6th Century BC to the 4th Century AD. Black Sea Studies, 13. Aarhus: Aarhus Uni-
versity Press, pp. 355-405.
LAZREG B.; BONIFAY, M.; DRINE, A.; TROUSSET, P. (1995) - Production et commercialisation des salsamenta de
l’Afrique ancienne. In L’Afrique du Nord antique et médiévale. Production et exportations africaines. Ac-
tualités archéologiques. Actes du VIe colloque d’Histoire et d’Archéologie de l’Afrique (Pau, 25- 29 octobre
1993). Paris: CTHS, pp. 103-142.
LE ROUX, P. (1995) - Romains d´Espagne: Cités & Politique dans les Provinces: Iie siècle av. J.-C. - IIIe siècle ap. J.-C.
Paris: Armand Colin.
LE ROUX, P. (2010) - Les colonies et l’institution de la province de Lusitanie. In GORGES, J.-G., NOGALES BASAR-
RATE, T., Eds. - Origem da Lusitania romana (siglos I a.C. - I d.C.). VII Mesa Redonda Internacional sobre la
Lusitania romana (Toulouse, 8-9 novembre 2007). Mérida: Museo Nacional de Arte Romano, pp. 69-91.
LEITÃO, M. (2004) - Encosta de Santana/Julho de 2004 (Martim Moniz). Intervenção Arqueológica, Relatório de
Progresso. Lisboa. Policopiado.
LEITÃO, M. (2014) - Muralhas de Lisboa. Rossio. Lisboa. 3, pp. 66-79.
LEITÃO, M.; GUERRA, S.; FILIPE, V. (2016) - A arqueologia e a sua convivência com o projecto de estruturas:
tudo, nada ou bom senso? Rossio. Lisboa. 5, pp. 68-83.
LEITÃO, M.; LEITÃO, V. (2016) - Pátio da Sr.ª de Murça - PSM 07 (Rua de S. João da Praça, 18). Relatório da Inter-
venção arqueológica. Lisboa. Policopiado.
LEITÃO, V.; HENRIQUES, J. (2014) - Ocupação Pré-histórica na Encosta de Sant´Ana. Rossio. Lisboa. 3, pp. 16-27.
LEMAÎTRE, S. (1995) - Les importations d’amphores orientales à Lyon de l’époque d’Auguste au début du IIIe
siècle après J.-C.. Étude préliminaire. S.F.E.C.A.G., Actes du Congrès de Rouen, pp. 195-205.
LEMAITRE, S. (1997) - L’amphore de type Agora F 65/66, dite “monoansée”. Essai de synthèse à partir d’exem-
plaires lyonnais. S.F.E.C.A.G. Actes du Congrès du Mans, pp. 311-319.
LEMAÎTRE, S. (2002) - Recherche sur la diffusion en Gaule des amphores produites dans le sudouest del’Ana-
tolie à l’époque impériale. In BLONDE, F., BALLET, P., SALLES J.-F., Eds. - Céramiques hellénistiques et
romaines. Production et diffusion en Méditerranée orientale (Chypre, Égypte et côte syro-palestinienne).
Lyon: Maison de l’Orient et de la Méditerranée Jean Pouilloux (35), pp. 213-227.
LEMAÎTRE, S.; DUPERRON, G.; SILVINO, T.; BONNET, C.; BONIFAY, M.; CAPELLI, C. (2011) - Les amphores afri-
caines à Lyon du règne d’Auguste au VIIe siècle: réflexions à propos de la circulation des marchandises
sur l’axe rhodanien. S.F.E.C.A.G., Actes du Congrès de d’Arles pp. 203-222.
LIOU, B. (1975) - Direction des recherches archéologiques sous-marines. Gallia. Nanterre. 33:2, pp. 571-605.

585
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

LIOU, B. (1987) - Inscriptions peintes sur amphores: Fos (suite), Marseille, Toulon, Port-la- Nautique, Arles,
Saint-Blaise, Saint-Martin-de-Crau, Mâcon, Calvi. Archaeonautica. Paris. 7, pp. 55-139.
LIOU, B. (1990) - Le commerce de la Bétique au Ier siècle de notre ère. Archaeonautica. Paris. 10, pp. 125-155.
LIOU, B. (1992) - Les amphores de la plate-forme a Frejus. Etude des inscriptions. Bulletin analytique d’histoire
romaine. Marseille, pp. 83-107.
LIOU, B. (2001) - Las ánforas béticas en el mar, ex baetica amphorae. In Actas Congreso Internacional Ex Baetica
Amphorae. Conservas y vino de la Bética en el Imperio Romano (Écija-Sevilha 1998), Vol. 3. Écija: Gráficas
Sol, pp. 1061-1110.
LIOU, B.; DOMERGUE, C. (1990) - Le commerce de la Bétique au Ier siècle de notre ère. L’épave Sud-Lavezzi 2
(Bonifacio, Corse du Sud). Archaeonautica. Paris. 10, pp. 11-123.
LIOU, B.; MARICHAL, R. (1978) - Les inscriptions peintes sur amphores de l’anse Saint- Gervais a Fos-Sur-Mer.
Archaeonautica. Paris. 2, pp. 109-181.
LIOU, B.; POMEY, P. (1985) - Informations archéologiques. Gallia. Nanterre. 43, pp. 547-576.
LO CASCIO, L. (2009) - Urbanization as a Proxy of Demographic and Economic Growth. In BOWMAN, A. K.,
WILSON, A. I., Eds. - Quantifying the Roman Economy: Methods and Problems. Oxford Studies in the
Roman Economy 1. Oxford: Oxford University Press, pp.87-106.
LOESCHKE, S. (1909) - Kerasmische funde in Haltern: ein Beitrag zur Geschichte der augusteischen Kultur in
Deutschland. Mitteilungen de Altertumskommission fur Westfale, 5. Bonn, Univ., pp. 103-322.
LOESCHCKE, S. (1942) - Die römische und die belgische Keramik. In ALBRECHT, C, Ed. - Das Römerlager in Oberaden
und das Uferkastell in Beckinghausen an der Lippe 11.2. Dortmund.
LONG, L. (1987) - Les épaves du Grand Congloué. Archaeonautica. Paris. 7, pp. 9-36.
LONG, L.; DUPERRON, G. (2011) - Le mobilier de la fouille de l’épave romaine Arles-Rhône 7. Un navire fluvio-
maritime du IIIe siècle de notre ère. In S.F.E.C.A.G., Actes du Congrès d’Arles, pp. 37-56.
LONG, L.; DUPERRON, G. (2013) - Navigation et commerce dans le delta du Rhône: l’épave Arles-Rhône 14 (IIIe s.
ap. J.-C.). In MAUNÉ, S., DUPERRON, G., Dir. - Du Rhône aux Pyrénées. Aspects de la Vie Matérielle en Gaule
Narbonnaise II. Archéologie et Histoire Romaine, 25. Montagnac: Éd. Monique Mergoil, pp. 125-167.
LÓPEZ MULLOR, A.; MARTÍN MENÉNDEZ, A. (2008a) - Las ánforas de la Tarraconense. In BERNAL CASASOLA,
D., RIBERA I LACOMBA, A., Eds. - Cerámicas hispanorromanas: un estado de la cuestión. Cádiz: Universi-
dad de Cádiz, pp. 689-724.
LÓPEZ MULLOR, A.; MARTÍN MENÉNDEZ, A. (2008b) - Tipologia i datació de les àmfores tarraconenses pro-
duïdes a Catalunya. In LÓPEZ MULLOR, A., AQUILUÉ ABADÍAS, J., Ed. - La producció i el comerç de las
àmfores de la Provincia Hispania Tarraconensis. Homenatge a Ricard Pascual i Guasch. Barcelona: Museu
d’Arqueologia de Catalunya, pp. 33-94.
LÓPEZ ROSENDO, E. (2008) - El alfar romano altoimperial del Jardín de Cano (El Puerto de Santa María, Cádiz,
España), en el contexto económico de “Gades”. Revista de Historia de El Puerto. Cádiz. 41, pp. 39-74.
LOUGHTON, M. (2014) - Les amphores. In JUD, P., Dir. - La Roche Blanche (63). Gergovie. Rapport de fouille.
LOYZANCE, M.-F. (1986) - À propos de Marcus Cassius Sempronianus Olisiponensis, diffusor olearius. Revue des
Études Anciennes. Bordeaux. 88:1-4. pp. 273-284.
LUÍS, L. (2003) - Ânforas republicanas de Mata-Filhos (Mértola). Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa. 6:2,
pp. 363-382.
LUND, J. (2005) - Agora M54. Roman Amphorae: a digital resource. University of Southampton (http://archaeo-
logydataservice.ac.uk/archives/view/amphora_ahrb_2005/).
LUND, J. (2011) - Rhodian Transport Amphorae as a Source for Economic Ebbs and Flows in the Eastern Mediter-
ranean in the Second Century BC. In ARCHIBALD, Z. H., DAVIES, J. K., GABRIELSEN, V., Eds. - The Econo-
mies of Hellenistic Societies, Third to First Centuries BC. Oxford: Oxford University Press, pp. 280-295.
MACIEL, J.; CABRAL, P.; NUNES, D. (2002) - Os sarcófagos tardo-romanos do Museu Nacional de Arqueologia.
Novos dados para a sua interpretação. O Arqueólogo Português. Lisboa. Série IV, 20, pp. 161-176.
MADEIRA, M. J. (1986) - Subsídios para o estudo do material anfórico dos Castella da zona de Castro Verde. in
Actas do 1º Encontro de Arqueologia da Região de Beja (Beja, 1986). Arquivo de Beja. Beja. 2:3, pp. 121-131.
MAIA, M. (1975) - Contribuição para o estudo das ânforas romanas de Tróia - ânforas do tipo “africano grande”.
Setúbal Arqueológica. Setúbal. 1, pp. 155-158.
MAIA, M. (1978) - Fortalezas Romanas do Sul de Portugal. Zephyrvs. Salamanca. 28-29, pp. 279-285.
MAIA, M. (1979) - As ânforas de S. Bartolomeu de Castro Marim. Clío. Lisboa. 1, pp. 141-151.

586
Bibliografia

MAIA, M. (1987) - Romanização do território hoje português a Sul do Tejo, Contribuição para a análise do proces-
so de assimilação e interacção sócio-cultural 218-14 d.C. Dissertação de Doutoramento em Pré-História e
Arqueologia apresentada à Faculdade de Letras de Lisboa. Policopiado.
MAIURI, A. (1925) - Nuova Silloge Epigrafica di Rodi e Cos. Appendice 1, Iscrizioni Anforarie di Cos. Firenze: F. Le
Monnier, pp. 245-249.
MALFITANA, D.; CACCIAGUERRA, G.; MAZZAGLIA, A.; PANTELLARO, C.; SCROFANI, M. L. (2016) - Studi e ricer-
che di ceramologia romana in Sicília. Un aggiornamento e qualche focus. In MALFITANA, D., BONIFAY,
M., Eds. - La ceramica africana nella Sicília romana. Tomo I. Catania: Istituto per i Beni Archeologici e
Monumentali, pp. 25-55.
MAÑÁ, J. M. (1951) - Sobre tipologia de ânforas púnicas. In Crónica del VI Congreso de Arqueología del Sudeste.
Cartagena, pp. 203-210.
MANACORDA, D. (1975) - Proposta per una identificazione dell’anfora Dressel 24. Archeologia Classica. Roma.
27, pp. 378-383.
MANACORDA, D. (1977) - Anfore. In CARANDINI, A., PANELLA C., Eds. - Ostia IV. Le Terme del Nuotatore. Scavo
dell’ambiente XVI e dell’area XXV (Studi Miscellanei, 23). Roma: De Luca Editore, pp. 117-267, 277-292 e
359-383.
MANACORDA, D. (1989) - Le anfore dell’Italia repubblicana: aspetti economici e sociali. In Amphores romaines
et histoire économique. In Dix ans de recherche. Actes du colloque de Sienne (22-24 mai 1986). Rome:
Publications de l’École française de Rome (114), pp. 443-467.
MAÑAS ROMERO, I; FUSCO, A. (2008) - Canteras de Lusitania. Un análisis arqueológico. In NOGALES BASAR-
RATE, T., BELTRÁN FORTES, J., Eds. - Marmora Hispana: Explotación y uso de materiales pétreos en la
Hispania Romana. Hispania Antigua. Série Arqueológica 2. Roma: L’Erma di Bretschneider, pp. 483‑522.
MANTAS, V. G. (1990) - As cidades marítimas da Lusitânia. In Les Villes Romaines en Lusitanie, Hiérarchies, et
Territoires. Table ronde Internationale du CNRS, 8‑9 Décembre 1988. Paris: Centre National de la
Recherche Scientifique, pp. 149‑205.
MANTAS, V. (1994) - Olisiponenses: epigrafia e sociedade na Lisboa romana. In Lisboa subterrânea. Lisboa:
Lisboa Capital Europeia da Cultura 94, pp. 70-75.
MANTAS, V. G. (1998) - Navegação, economia e relações interprovinciais. Lusitânia e Bética. Humanitas. Coimbra.
50, pp. 199-239.
MANTAS, V. G. (1999) - Olisipo e o Tejo. In Actas do II Colóquio Temático Lisboa Ribeirinha. Lisboa: Câmara
Municipal de Lisboa, pp. 15-41.
MANTAS, V. G. (2001) - Os romanos na região de Coruche. In O Homem e o Trabalho. A magia na mão Coruche.
Coruche: Câmara Municipal de Coruche, pp. 54-67.
MANTAS, V. G. (2007) - As relações europeias do território português na Época Romana. Estudos Arqueo-
lógicos de Oeiras. Oeiras. 15, pp. 183-208.
MANTAS, V. G. (2012) - As Vias Romanas da Lusitânia. Mérida: Museo Nacional de Arte Romano.
MANTAS, V. G. (2014) - As estações viárias lusitanas nas fontes itinerárias da Antiguidade. Humanitas. Coimbra.
66, pp. 231-256.
MARANGOU-LERAT, A. (1995) - Le vin et les amphores de Crète de l’époque classique à l’époque impériale. Études
crétoises, 30. Athènes: École Française d’Athènes.
MARANGOU, A.; MARCHAND, S. (2007) - Conteneurs importés et égyptiens de Tebtynis (Fayoum) de la deu-
xième moitié du IVe siècle av. J.-C. au Xe siècle apr. J.-C. (1994-2002). In MARCHAND, S., MARANGOU A.,
Eds. - Amphores d’Égypte de la Basse Époque à l’époque arabe. Cahiers de la Céramique Égyptienne, 8. Le
Caire: Institut Français d’Archéologie Orientale, pp. 239-294.
MARIMON RIBAS, P. (2004) - Las Insulae Baliares en los circuitos de intercambio africano: la importación de
alimentos (123 a.C.-707 d.C.). In l’Africa Romana, XV, vol. 2. Tozeur, 11-15 dicembre 2002. Sassari: Carocci
editore, pp. 1052-1076.
MARÍN DÍAZ, N. (1988) - Molvízar en tiempos de los romanos: La Loma de Ceres. Granada: Diput. Prov. Granada.
MARLIÈRE, E. (2003) - Tonneaux et amphores à Vindolanda contribution à la connaissance de l’approvisione-
ment des troupes stationnés sur la frontière Nord de l’Empire. In BIRLEY, A., Ed. - Vindolanda. Excava-
tions 2001-2002. Volume I. Chesterholm, pp. 125-179.
MARQUES, J.; SABROSA, A.; SANTOS, V. (1997) - Estrato Romano da Avenida Ribeira das Naus (Lisboa). Al-Madan.
Almada. II:6, pp. 166-167.
MÁRQUEZ VILLORA, J. C. (1999) El comercio romano en el Portus Ilicitanus. El abastecimento exterior de produc-
tos alimentarios (s. I a. C.-s. V d. C.). Alicante: Universidad de Alicante.

587
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

MARRERO-DIAZ, R.; RAMALHO, E. C. (2015) - Características geoquímicas das antigas nascentes termominerais
de Alfama (Lisboa, Portugal): estudo preliminar do seu potencial geotérmico e hidromineral. In Comu-
nicações Geológicas, 102, Especial I:XX-XX. Lisboa: Laboratório Nacional de Energia e Geologia IP, pp. 1-5.
(http://www.lneg.pt/iedt/unidades/16/paginas/26/30/208).
MARTÍN DEL RÍO, J. J.; FLORES ALÉS, V.; GARCÍA FERNÁNDEZ, F. J.; FILIPE, V.; MORENO MEJÍAS, V..; FERNAN-
DES, L. (2021) - Arqueometría de ánforas prerromanas procedentes de Lisboa (Portugal). Boletín de la
Sociedad Española de Cerámica y Vidrio, https://doi.org/10.1016/j.bsecv.2021.11.007
MARTÍN MENÉNDEZ, A. (2007) - El dipòsit d’àmfores de la torre 16 de la muralla romana de Barcino. Quarhis.
Barcelona. 2:3, pp. 126-137.
MARTÍN MENÉNDEZ, A. (2008) - Àmfores tarraconenses i bétiques em els dereclites de mitjan segle I a.C. a la
costa catalana. In S.F.E.C.A.G., Actes du congres de l’Escala-Empuries, pp. 103-127.
MARTIN-KILCHER, S. (1983) - Les amphores romaines à huile de Bétique (Dressel 20 et 23) d’Augst (Colonia Au-
gusta Raurucorum) et Kaiseaugst (Castrum Rauracense). Un rapport préliminaire. In BLÁZQUEZ MAR-
TÍNEZ, J. M., REMESAL RODRÍGUEZ, J., Eds. - Producción y Comercio del aceite en la Antigüedad. Segundo
Congreso Internacional. Madrid: Universidad Complutense de Madrid, pp. 337-347.
MARTIN-KILCHER, S. (1987) - Die römischen Amphoren aus Augst und Kaiseraugst 1. Ein Beitrag zur römischen
Handels- und Kulturgeschichte, 1. Die südspanischen Ölamphoren (Gruppe 1). Forschungen in Augst, vol. 7/1.
Augst.
MARTIN-KILCHER, S. (1994) - Die römischen Amphoren aus Augst und Kaiseraugst II e III. Ein Beitrag zur römis-
chen Handels- und Kulturgeschichte, 2-3. Di Amphoren Für Wein, Fischsauce Südfrücht (Gruppen 2-24).
Forschungen in Augst, vol. 7/2. Augst.
MARTÍNEZ FERRERAS, V. (2014) - Ánforas vinarias de Hispania Citerior-Tarraconensis (s. I a.C.- I d.C.). Roman
and Late Antique Mediterranean Pottery 4. Oxford: Archaeopress.
MARTÍNEZ FERRERAS, V. (2016) - Las ánforas vinárias de la Layetania. Dinámicas de producción y difusión
comercial en el siglo I a. C. y I d.C.. In JÁRREGA DOMÍNGUEZ, R., BERNI MILLET, P., Eds. - Amphorae
ex Hispania: paisajes de producción y consumo. Monografías Ex Officina Hispana III, Vol. I. Tarragona:
Instituto Catalán de Arqueología Clásica, pp. 139-153.
MARTÍNEZ MAGANTO, J. (2001) - Inscripciones sobre ánforas de salazón: interpretación sobre la estructura y
significación comercial de los tituli picti. In Actas Congreso Internacional Ex Baetica Amphorae. Conservas
y vino de la Bética en el Imperio Romano (Écija-Sevilha 1998), Vol. 3. Écija: Gráficas Sol, pp. 1207-1219.
MARTINS, A.; PÉREZ MACÍAS, J. A.; BUSTAMANTE ÁLVAREZ, M. (2009) - A ocupação romana no Morro de
Mangancha (Aljustrel). In PÉREZ MACÍAS, J. A., ROMERO BOMBA, E., Coord. - IV Encuentro de Arqueolo-
gía del Suroeste Peninsular. Aracena, 2008. Huelva: Universidad de Huelva, pp. 947‐965.
MARTY F.; ZAARAOUI Y. (2009) - Contextes céramiques du Haut- Empire de la bonification de l’Estagnon, à
Fos-sur-Mer (Bouches-du-Rhône). S.F.E.C.A.G., Actes du congrès de Colmar, pp. 397-426.
MAS GARCÍA, J. (1985) - Excavaciones en el yacimiento submarino de “San Ferreol” (Costa de Cartagena)”.
VI Congreso Internacional de Arqueología Submarina. Cartagena, 1982. Madrid: Ministerio de Educación
Cultura y Deporte, pp. 189-224.
MATALOTO, R. (2008) - O Castelo dos Mouros (Graça do Divor, Évora): a arquitectura “ciclópica” romana e a roma-
nização dos campos de Liberalitas Iulia Ebora. Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa. 11:1, pp. 123-147.
MATALOTO, R. (2010) - Do campo ao ager: povoamento e ocupação rural pré-romana do Alentejo Central e a
sua romanização. In MAYORAL HERRERA, V., CELESTINO PÉREZ, S., Coords. - Los paisajes rurales de la
romanización: Arquitectura y explotación. Madrid: La Ergástula, pp. 59-88.
MATALOTO, R.; ANGEJA, P. (2015) - Soeiros revisitado: aspectos da romanização do território alto alentejano
nos meados do séc. I a.C. In MEDINA ROSALES, N., Coord. - Actas del VII Encuentro de Arqueología del
Suroeste Peninsular. Aroche/Serpa, 2013. Aroche: Ayuntamiento de Aroche, pp. 841-866.
MATALOTO, R.; ROQUE, C. (2012) - Um regresso, de passagem, ao Castelo Velho de Veiros. In Actas do V Encon-
tro de Arqueologia do Sudoeste Peninsular. Almodôvar, 2010. Almodôvar: Câmara Municipal de Almo-
dôvar, pp. 669-685.
MATALOTO, R.; ROQUE, C. (2013) - Gentes de Endovélico: um primeiro balanço sobre a arqueologia da Rocha
da Mina. Cadernos do Endovélico. Lisboa. 1, pp. 125-141.
MATALOTO, R.; WILLIAMS, J.; ROQUE, C. (2014) - “… e dahí desceo a dar-lhe batalha…”: a ocupação pré-ro-
mana e a romanização da região da Serra d’Ossa (Alentejo Central, Portugal). In MAYORAL HERRERA,
V., MATALOTO, R., ROQUE, C., Eds. - La gestación de los paisajes rurales entre la Prehistoria y el período
romano. Formas de asentamiento y procesos de implantación. Anejos de Archivo Español de Arqueología
70. Mérida: Consejo Superior de Investigaciones Científicas, pp. 17-43.

588
Bibliografia

MATALOTO, R.; WILLIAMS, J.; ROQUE, C. (2016) - Amphorae at the origins of Lusitania: transport pottery from
western Hispania Ulterior in Alto Alentejo. In PINTO, I. V., ALMEIDA, R., MARTIN, A., Eds. - Lusitanian
Amphorae: Production and Distribution. Roman and Late Antique Mediterranean Pottery 10. Oxford:
Archaeopress, pp. 139-151.
MATEO CORREDOR, D. (2012) - La importación de aceite tripolitano en Hispania Ulterior durante la época tar-
do-republicana. In CASTRO, A., GÓMEZ, D., GONZÁLEZ, G., STARCZEWSKA, K., OLLER, J., PUY, A., RIE-
RAAND, R., VILLAGRA. N., Eds. - Estudiar el pasado: aspectos metodológicos de la investigación en Cien-
cias de la Antigüedad y de a Edad Media. BAR International Series 2412. Oxford: Archaeopress, pp. 119-127.
MATEO CORREDOR, D. (2013) - Quintus Fabius Arisim. Un comerciante de origen púnico en la Bética. Spal.
Sevilha. 22, pp. 187-197.
MATEO CORREDOR, D. (2014) - El comercio en Hispania Ulterior durante los siglos II a. C. y II d. C. Tráfico anfórico
y relaciones mercantiles. Tesis Doctoral, Universidad de Alicante. Policopiado.
MATEO CORREDOR, D. (2015) - Producción anfórica en la costa malacitana desde la época púnica hasta el
periodo julioclaudio. Lvcentvm. Alicante. 34, pp. 183-206.
MATEO CORREDOR, D.; MOLINA VIDAL, J. (2016) - Gauloise 4 (Tarraconensis central coastal area). Amphorae
ex Hispania. Landscapes of production and consumption (http://amphorae.icac.cat/amphora/gauloise-
4-tarraconensis-central-coastal-area).
MATOS, J. L. (1994) - As escavações no interior dos Claustros da Sé e o seu contributo para o conhecimento das
origens de Lisboa. In MOITA, I., Coord. - O Livro de Lisboa. Lisboa: Livros Horizonte, pp. 108-109.
MATTIOLI, S. P. (2008) - Le anfore troncoconiche da olive: spunti di riflessione. In Est enim ille flos Italiae. Vita
economica e sociale nella Cisalpina romana. Verona: QuiEdit, pp. 335-348.
MATTIOLI, S. P. (2011) - Le anfore Schörgendorfer 558 e il commercio delle olive adriatiche. In Rimske
keramičarske i Staklarske Radionice. Crikvenica, pp. 165-173.
MAU, A. (1909) - Inscriptiones Parietariaeet Vasorum Fictilium. Corpus Inscriptionum Latinorum, 4, suppl. Berlim.
MAUNÉ, S. (2013) - La géographie des productions des ateliers d’amphores de Gaule Narbonnaise pendant le
Haut-Empire. Nouvelles données et perspectives. Revue archéologique de Narbonnaise. Montpellier. 46,
pp. 335-373.
MAUNÉ, S.; DUPERRON, G. (2012) - Un lot de céramiques et d’amphores des années 10 ap. J.-C. mis au jour
à Saint-Bézard (Aspiran, Hérault). Revue archéologique de Narbonnaise. Montpellier. 45, pp. 111-142.
MAUNÉ, S.; GARCÍA VARGAS, E.; BOURGEON, O.; CORBEEL, S.; CARRATO, C.; GARCÍA DILS, S.; BIGOT, F.;
VÁZQUEZ PAZ, J. (2014) - L’atelier d’amphores à huile Dr. 20 de Las Delícias à Ecija (Prov. de Séville,
Espagne). S.F.E.C.A.G., Actes du Congrès de Chartres, pp. 419-444.
MAYET, F. (1978) - Marques d’amphores de Maurétanie Tingitane (Banasa, Thamusida, Volubilis). Mélanges de
l’Ecole française de Rome. Antiquité. Rome. 90:1, pp. 357-406.
MAYET, F.; SCHMITT, A. (1997) - Les amphores de São Cucufate (Beja). In ÉTIENNE, R., MAYET, F., Eds. - Itinéraires
Lusitaniens. Paris: E. de Boccard, pp. 71-109.
MAYET, F.; SCHMITT, A.; SILVA, C. T. (1996) - Les amphores du Sado, Portugal. Prospection des fours et analyse
du matériel. Paris: De Boccard.
MAYET, F.; SILVA, C. T. (1998) - L’atelier d’amphores de Pinheiro. Portugal. Paris: De Boccard.
MAYET, F.; SILVA, C. T. (2002) - L’atelier d’amphores d’Abul. Paris: De Boccard.
MAYET, F.; SILVA, C. T. (2010) - Production d’amphores et production de salaisons de poisson: rythmes chrono-
logiques sur l’estuaire du Sado. Conimbriga. Coimbra. 49, pp. 119-132.
MAYET, F.; SILVA, C. T. (2016) - Roman Amphora Production in the Lower Sado Region. In PINTO, I. V.; ALMEIDA,
R. R. de ; MARTIN, A., Eds. - Lusitanian Amphorae: production and distribution. Roman and Late Antique
Mediterranean Pottery, 10. Archaeopress series, pp. 59-71.
MAZZOCCHIN, S.; GUALTIERI, S. (2004) - Le anfore Dressel 25 rinvenute a Padova. Un caso di studio archeologico
e archeometrico. In BERTI, F., FABBRI, B., GUALTIERI, S., GUARNIERI, C., Eds. - Metodologia di ricerca e
objecttivi degli studi: lo stato dell’arte. Atti della 6ª giornata di Archeometria della Ceramica, Ferrara, 9
aprile 2002. Bologna: University Press Bologna, pp. 73-77.
MELIS, P. (2002) - Un approdo della costa di Castelsardo, fra età nuragica e romana. In L’Africa romana, XIV, vol. 2.
Sassari, 7-10 dicembre 2000. Sassari: Carocci editore, pp. 1331-1343.
MELLI, P.; GAMBARA, L. (2002) - Il porto di Genova e i traffici commerciali mediterranei dall’ età tardorepub-
blicana al tardo antico alla luce dei dati archeologici. In L’Africa romana, XIV, vol. 2. Sassari, 7-10 dicembre
2000. Sassari: Carocci editore, pp. 717-730.

589
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

MENCHELLI, S.; GENOVESI, S.; SANGRISO, P.; HARSHEGYI, P.; CABELLA, R.; CAPELLI, C.; PIAZZA, M. (2010) - La
villa di Ercole ad Aquincum: la terra sigillata e le anfore. Studi Classici e Orientali. Pisa. 54, pp. 233-280.
MIÑANO DOMÍNGUEZ, A.; CASTILLO BELINCHÓN, R. (2013) - Últimas campañas arqueológicas subacuáticas
del Museo Nacional de Arqueología Subacuática (2011-2012). In NIETO PRIETO, X., RAMÍREZ PERNÍA, A.,
RECIO SÁNCHEZ, P., Coords. - I Congreso de Arqueología Náutica y Subacuática Española (Cartagena, 14,
15 y 16 de marzo de 2013). Cartagena: Ministerio de Educación, Cultura y Deporte, pp. 923-935.
MIRÓ, CANALS, J. (1988) - La producción de ánforas romanas en Catalunya. Un estudio sobre el comercio del vino
de la Tarraconense (siglos I a.C.- I d.C.). BAR, International Series, 473. Oxford: Archaeopress.
MIRÓ CANALS, J. (2016) - Dressel 1 (Tarraconensis northern coastal area). Amphorae ex Hispania. Landscapes of
production and consumption (http://amphorae.icac.cat).
MOITA, I. (1968) - Achados da Época Romana no subsolo de Lisboa. Revista Municipal. Lisboa. 19, pp. 33-71.
MOITA, I. (1970) - O teatro romano de Lisboa. Revista Municipal. Lisboa. 124-125, pp. 7-37.
MOITA, I. (1994) - O Livro de Lisboa. Lisboa: Livros Horizonte.
MOLINA VIDAL, J. (1995) - Las ánforas Lomba do Canho 67. Aportaciones al estudio de un nuevo tipo: difusión
y valoración económica. In Actas del XXII Congreso Nacional de Arqueología. Vigo, 1993. Vigo: Xunta de
Galicia, pp. 419-424.
MOLINA VIDAL, J. (1997) - La dinámica comercial romana entre Italia e Hispania Citerior. Alicante: Instituto de
Cultura Juan Gil- Albert.
MOLINA VIDAL, J. (2001) - Las primeras exportaciones béticas en e Mediterráneo Occidental. In Actas Congreso
Internacional Ex Baetica Amphorae. Conservas y vino de la Bética en el Imperio Romano (Écija-Sevilha 1998),
Vol. 2. Écija: Gráficas Sol, pp. 637-645.
MOLINA VIDAL, J. (2007) - Commerce romain et ámphores nordafricaines sur la cóte sud orientale d’Hispanie.
In MRABET, A., REMESAL RODRÍGUEZ, J., Eds. - Africa et in Hispania: Études sur l’huile africaine. Barce-
lona: Universidad de Barcelona, pp. 205-243.
MONACHOV, S. (2005) - Rhodian Amphoras: Developments in Form and Measurements. In STOLBA, V.F.,
HANNESTAD, L., Eds. - Chronologies of the Black Sea Area in the Period C. 400-100 B.C. Black Sea Studies,
3. Aarhus: Aarhus University Press, pp. 69-95.
MONSIEUR, P. (2016) - Lusitanian Amphorae in Germania Superior, Germania Inferior and Gallia Belgica. Scar-
city, Identification Problems, Contexts and Interpretations. In PINTO, I. V., ALMEIDA, R. R. de, MARTIN,
A., Eds. - Lusitanian Amphorae: Production and Distribution. Roman and Late Antique Mediterranean
Pottery 10. Oxford: Archaeopress, pp. 369-380.
MONSIEUR, P.; BRAECKMAN, K. (1995) - Romeinse amforen in de vicus Velzeke. Archeologische Kroniek van
Zuid-Oost-Vlaanderen 4, pp. 289-316.
MONSIEUR, P.; PAEPE, P. (2002) - Amphores de Cos et amphores italiques a Pessinonte: croiser les donnes
archéologiques et pétrographiques. Anatolia Antiqua. Paris. 10, pp. 155- 175.
MORAIS, R. (1998) - As ânforas da zona das Carvalheiras. Braga: Universidade do Minho.
MORAIS, R. (2004a) - Problemàtiques i noves perspectives sobre les àmfores ovóides tardo-republicanes. Les
àmfores ovoides de producció Lusitana. In Culip VIII i les àmfores Haltern 70. Monografies del Casc 5.
Girona: Museu d’Arqueologia de Catalunya, pp. 36-40.
MORAIS, R. (2004b) - Bracara Augusta: um pequeno “testaccio” de ânforas Haltern 70. Considerações e pro-
blemáticas de estudo. In BERNAL CASASOLA, D., LAGÓSTENA BARRIOS, L., Eds. - Figlinae Baeticae.
Talleres alfareros y producciones cerámicas en la Bética romana (ss. II a.C.-IV d.C.). BAR International
Series, 1266. Oxford: Archaeopress, pp. 545-565.
MORAIS, R. (2005) - Autarcia e Comércio em Bracara Augusta: contribuição para o estudo económico da cidade
no período Alto-Imperial. Bracara Augusta, Escavações arqueológicas 2. Braga: Unidade de Arqueologia
da Universidade do Minho/Núcleo de Arqueologia da Universidade do Minho.
MORAIS, R. (2006) - Consumo de preparados piscícolas em Bracara Augusta durante a Época Romana. Setúbal
Arqueológica. Setúbal. 13, pp. 295-312.
MORAIS, R. (2007a) - Ânforas tipo Urceus de produção bética e produções regionais e locais do NW peninsular.
In Actas del congreso Internacional CETARIAE. Salsas y salazones de pescado en Occidente durante la Anti-
güedad. Cádiz, Noviembre de 2005. BAR, International Séries, 1686. Oxford: Archaeopress, pp. 401-415.
MORAIS, R. (2007b) - Ânforas da Quinta da Ivanta - um pequeno “Habitat” mineiro em Valongo. Conímbriga.
Coimbra, 46, pp. 267-280.
MORAIS, R. (2008) - Novos dados sobre as ânforas vinárias béticas de tipo Urceus. Spal. Sevilha. 17, pp. 267-280.

590
Bibliografia

MORAIS, R. (2010a) - Ânforas. In ALARCÃO, J., CARVALHO, P. C., GONÇALVES A, Coords. - Castelo da Lousa - In-
tervenções Arqueológicas de 1997 a 2002. Studia Lusitana, 5. Mérida: Museo Nacional de Arte Romano,
pp. 181-218.
MORAIS, R. (2010b) - Bracara Augusta. In CARRERAS MONFORT, C., MORAIS, R., Eds. - The Western Roman
Atlantic Façade A study of the economy and trade in the Mar Exterior from the Republic to the Principate.
BAR International Series, 2162. Oxford: Archaeopress, pp. 213-221.
MORAIS, R. (2013) - Um naufrágio bético, datado da Época de Augusto, em rio de Moinhos. In MORAIS, R.,
GRANJA, H., MORILLO CERDÁN, A., Eds. - O Irado Mar Atlântico. O naufrágio bético augustano de Espo-
sende (Norte de Portugal). Braga: Museu de Arqueologia D. Diogo de Sousa, pp. 309-334.
MORAIS, R. (2016) - Urceus (Guadalquivir Valley). Amphorae ex Hispania. Landscapes of production and con-
sumption (http://amphorae.icac.cat/amphora/urceus-guadalquivir-valley).
MORAIS, R.; CARRERAS MONFORT, C. (2004) - Geografia del consum de les Haltern 70. In Culip VIII i les àmfores
Haltern 70. Monografies del Casc 5. Girona: Museu d’Arqueologia de Catalunya, pp. 93-112.
MORAIS, R.; FABIÃO, C. (2007) - Novas produções de fabrico lusitano: problemáticas e importância económica.
In Actas del congreso Internacional CETARIAE. Salsas y salazones de pescado en Occidente durante la An-
tigüedad. Universidade de Cádiz, Noviembre de 2005. BAR, International Séries, 1686. Oxford: Archaeo-
press, pp. 127-133.
MORAIS, R.; FERNÁNDEZ FERNÁNDEZ, A.; MAGALHÃES, F. (2012) - El sondeo nº 8 de “as Cavalariças”: un con-
texto Augústeo. S.F.E.C.A.G., Actes du Congrès Poitiers, pp. 499-520.
MORAIS, R.; FILIPE, V. (2016) - Ovoid Lusitan (Western Lusitania). Amphorae ex Hispania. Landscapes of produc-
tion and consumption (http://amphorae.icac.cat/amphora/ovoid-lusitan-western-lusitania).
MORAIS, R.; OLIVEIRA, C.; ARAÚJO, A. (2016) - Lusitanian Amphorae of the Augustan Era and their Contents: Or-
ganic Residue Analysis. In PINTO, I. V., ALMEIDA, R., MARTIN, A., Eds. - Lusitanian Amphorae: Production
and Distribution. Roman and Late Antique Mediterranean Pottery 10. Oxford: Archaeopress, pp. 105-109.
MOREIRA, J. B. (2002) - Cidade romana de Eburobrittium Óbidos. Vila Nova de Famalicão: Mimésis.
MORILLO CERDÁN, A.; FERNÁNDEZ OCHOA, C.; SALIDO DOMÍNGUEZ, J. (2016) - Hispania and the atlantic
route in roman times: new approaches to ports and trade. Oxford Journal of Archaeology. Oxford. 35(3),
pp. 267-284
MOTA, N.; GRILO, C.; ALMEIDA, R. R. de; FILIPE, V. (2017) - Apontamento crono-estratigráfico para a topografia
histórica de Olisipo. A intervenção arqueológica na rua de São Mamede (Via Pública - 19), Santa Maria
Maior, Lisboa. Cira Arqueologia. Vila Franca de Xira. 5, pp. 149-206.
MOTA, N.; PIMENTA, J.; SILVA, R. B. (2014) - Acerca da ocupação romana republicana de olisipo: os da-
dos da intervenção na Rua do Recolhimento n.ºs 68-70. In FABIÃO, C., PIMENTA, J., Coords. - Actas
do Congresso Conquista e Romanização do Vale do Tejo. Cira Arqueologia. Vila Franca de Xira. 3,
pp. 149-177.
MRABET, A.; MOUSSA, M. (2007) - Nouvelles données sur la production d’amphores dans le territoire de l’an-
tique Neapolis (Tunisie). In MRABET, A., REMESAL RODRÍGUEZ, J., Eds. - Africa et in Hispania: Études sur
l’huile africaine. Barcelona: Universidad de Barcelona, pp. 13-40.
MUÑOZ VICENTE, A. (1987) - Las ânforas prerromanas de Cádiz (informe preliminar). Anuario Arqueológico de
Andalucía/1985. Sevilla. 2, pp. 472-478
MURALHA, J.; COSTA, C.; CALADO, M. (2002) - Intervenções arqueológicas na Encosta de Sant´Ana (Martim
Moniz, Lisboa). Al-Madan. Almada. II:11, pp. 245-246.
MURALHA, J.; COSTA, C. (2006) - A ocupação neolítica da Encosta de Sant’Ana (Martim Moniz, Lisboa). Do
Epipaleolítico ao Calcolítico na Península Ibérica. In BICHO, N., Ed. - Animais na Pré-História e Arqueologia
da Península Ibérica. IV Congresso de Arqueologia Peninsular. Faro: Universidade do Algarve, pp. 157-169.
MUSSELLI, G. M. (1987) - Diffusione dell’anfora tronco-conica da olive nel I sec. D.C. Rivista Archeologica dell’an-
tica provincia e diocesi di Como. Como. 168, pp. 187-215.
NACEF, J. (2015) - La production de la céramique antique dans la région de Salakta et Ksour Essef (Tunisie). Roman
and Late Antique Mediterranean pottery 8. Oxford: Archaeopress.
NASCIMENTO, A. A. (2001) - A Conquista de Lisboa aos mouros: relato de um cruzado. Lisboa: Veja.
NAVEIRO LÓPEZ, J. L. (1981) - As ánforas romanas de A Corunha (I). Brigantium. A Coruña. 2, pp. 117-126.
NAVEIRO LOPEZ, J. L. (1991) - El comercio antiguo en el N.W. peninsular. Lectura histórica del registro arqueoló-
gico. Monografias Urxentes do Museu, 5. A Coruña: Museu Arqueológico e Histórico.
NICOLÁS MASCARÓ, J. C. de (1972) - Materiales arqueológicos de procedencia submarina en el Museu Provin-
cial de Bellas Artes de Mahón. Revista de Menorca. Menorca. 63, pp. 225-240.

591
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

NICOLÁS MASCARÓ, J. C. de (1973) - Etat actuel de l’archéologie sous-marine a Minorque (Baléares). Cahiers
d’Archeologie Subaquatique. Fréjus. 2, pp. 167-174.
NICOLÁS MASCARÓ, J. C. de (1979) - Epigrafia anforaria en Menorca. Cuadernos del C.I.S.M. Arqueologia Clasica
en Baleares. Menorca. 2, pp. 5-87.
NIETO PRIETO, J.; JOVER ARMENGOL, A.; IZQUIERDO TUGAS, P.; PUIG GRIESSENBERGER, A. M.; ALAMINOS
EXPOSITO, A.; MARTIN MENENDEZ, A.; PUJOL HAMELINK, M.; PALOU MIQUEL, H.; COLOMER MARTI,
S. (1989) - Excavacions Arqueològiques Subaquàtiques a Cala Culip I. Monografies del Casc 1. Girona:
Museu d’Arqueologia de Catalunya.
NOLLA, J.M.; CANES, J.M.; ROCAS, X. (1982) - Un forn de terrissa a Llafranc (Palafrugell, Baix Empordà). Exca-
vacions de 1980-1981. Ampurias. Empúries. 44, pp. 147-183.
NORTON, J.; CARDOSO, J. L.; CARVALHOSA, A. B. (2006) - Ânforas do vale do Guadiana: o material da “Cidade
das Rosas” no Museu de Serpa. Setúbal Arqueológica. Setúbal. 13, pp. 225-232.
OLCESE, G. (2011-2012) - Atlante dei siti di produzione cerâmica (Toscana, Lazio, Campania e Sicília) com le tabelle
dei principali relitti del Mediterraneo Occidentale (IV secolo a.C.-I secolo d.C.). (Immensa Aequora 2). Roma:
Edizioni Quasar di Severino Tognon.
OLIVEIRA, C.; MORAIS, R.; ARAÚJO, A. (2015) - Application of gas cromotography coupled with mass spectrom-
etry to the analysis of ceramic conteiners of Roman Period. Evidence from the peninsular northwest.
In OLLIVEIRA, C., MORAIS, R., MORILLO CERDÁN, A., Eds. - ArchaeoAnalytics. Chromatography and DNA
analysis in archaeology. Esposende: Município de Esposende, pp. 193-212.
OLIVEIRA, J. A. (trad.) (1936) - Conquista de Lisboa aos Mouros (1147). Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa.
OLMER, F. (1997) - Les amphores romaines en Bourgogne. Contribution à l’histoire économique de la région dans
l’Antiquité, depuis La Tène finale jusqu’au Haut-Empire. Thèse de doctorat, Université de Bourgogne.
OPAIT, A. (2007) - From Dr24 to LR2? In BONIFAY, M., TRÉGLIA, J.-C., Eds. - LRCW 2. Late Roman Coarse Wares,
Cooking Wares and Amphorae in the Mediterranean: Archaeology and Archaeometry. BAR International
Series 1662. Oxford: Archaeopress, pp. 627-643.
OPAIT, A. (2010) - Aspects of the provisioning of the Pontic settlements with olive oil in the Hellenistic and Early
Roman period. In TEZGÖR, D., INAISHVILI, N., Eds. - PATABS I. Production and trade of amphorae in the
Black Sea. Actes de la Table Ronde internationale de Batoumi et Trabzon, 27-29 avril 2006. Istanbul: De
Boccard, pp. 153-158.
PAIVA, M. (1993) - Ânforas romanas de castros da fachada atlântica do Norte de Portugal. Dissertação de Mes-
trado em Arqueologia apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Porto. Policopiado.
PALAZZO, P. (2013) - Le anfore di Apani (Brindisi). Roma: Scienze e Lettere.
PALENCIA GARCÍA, J. F.; RODRÍGUEZ LÓPEZ-CANO, D. (2016) - Ánforas romanas de la Meseta sur a partir del
estudio de Consabura y su territorio. In JÁRREGA DOMÍNGUEZ, R., BERNI MILLET, P., Eds. - Amphorae
ex Hispania: paisajes de producción y consumo. Monografías Ex Officina Hispana III, Vol. I. Tarragona:
Instituto Catalán de Arqueología Clásica, pp. 262-273.
PALMA, B.; PANELLA, C. (1968) - Anfore. In CARANDINI, A., FABBRICOTTI, E., GASPARRI, C., TATTI, M., GIANNELLI,
M., MORICONI, M. P., PALMA, B., PANELLA, C., POLIA, M., RICCI, A., Eds. - Ostia I. Le terme del Nuotatore.
Scavo dell’ambiente IV. Studi Miscellanei, 13. Roma: De Luca, pp. 97-116.
PANELLA, C. (1970) - Anfore. In BERTI, F., CARANDINI, A., FABBRICOTTI, E., GASPARRI, C., GIANNELLI, M., MORI-
CONI, M. P., PALMA, B., PANELLA, C., PICOZZI, M. G., RICCI, A., TATTI, M., Ostia II. Le terme del Nuotatore.
Scavo dell’ambiente I. Studi Miscellanei, 16. Roma: De Luca, pp. 102-156.
PANELLA, C. (1972) - Annotazioni in margine alle stratigrafie delle Terme ostiensi del Nuotatore. In Recherches
sur les amphores romaines. Actes du Colloque de Rome (4 mars 1971, Rome). Rome: Publications de l’École
française de Rome (10), pp. 69-106.
PANELLA, C. (1973) - Le anfore. In CARANDINI, A., PANELLA, C., Eds. - Ostia III. Le terme del Nuotatore. Scavo
dell’ambiente V e di un saggio nell’area SO. Rome. Studi Miscellanei, 21. Roma: De Luca, pp. 460-633.
PANELLA, C. (1983) - I contenitori oleari presenti ad Ostia in età Antonina: analisi tipologica, epigrafica, quanti-
tativa. In BLÁZQUEZ MARTÍNEZ, J. M., REMESAL RODRÍGUEZ, J., Eds. - Producción y Comercio del aceite
en la Antigüedad. Segundo Congreso Internacional. Madrid: Universidad Complutense de Madrid, pp.
225-262.
PANELLA, C. (1986) - Oriente ed occidente: considerazioni su alcune anfore “egee” di età imperiale a Ostia. In
EMPEREUR, J.-Y., GARLAN, Y., Eds. - Recherches sur les amphores grecques. Actes du Colloque internatio-
nal (Athènes, 10-12 septembre 1984). BCH Supplément 13. Athènes-Paris: École Française d’Athènes, pp.
609-636.

592
Bibliografia

PANELLA, C. (1992) - Mercato di Roma e anfore galliche nella prima età imperiale. In LAUBENHEIMER, F.,
Dir. - Les amphores en Gaule. Production et circulation. Paris: Centre de Recherches d’Histoire Ancienne,
pp. 185-206.
PANELLA, C. (2001) - Le anfore di età imperiale del Mediterraneo occidentale. In LÉVÊQUE, P., MOREL, J.-P.,
Eds. - Céramiques hellénistiques et romaines III. Institut des Sciences et Techniques de l’Antiquité. Paris:
Presses Universitaires Franc-Comptoises, pp. 163-217.
PANELLA, C.; FANO, M. (1977) - Le anfore con anse bifide conservate a Pompei: contributo ad una loro classi-
ficazione. In Méthodes classiques et méthodes formelles dans l’étude typologique des amphores. Actes du
colloque de Rome, 27-29 mai 1974. Rome: École Française de Rome (32), pp. 133-177.
PANELLA, C.; RIZZO, G. (Eds.) (2014) - Ostia VI. Le Terme del Nuotatore. Roma: L’Erma di Bretscheider.
PAOLETTI, M.; GENOVESI, S. (2007) - Le anfore tardoantiche e l’economia della villa di S. Vincenzino a Cecina
(III-V sec. d. C.): un possibile modello per le ville dell’Etruria settentrionale costiera. In BONIFAY, M.,
TRÉGLIA, J.-C., Eds. - LRCW 2. Late Roman Coarse Wares, Cooking Wares and Amphorae in the Mediterra-
nean: Archaeology and Archaeometry. BAR International Series 1662. Oxford: Archaeopress, pp. 387-398.
PARKER, A. J. (1977) - Lusitanian Amphoras. In Méthodes classiques et méthodes formelles dans l’étude typolo-
gique des amphores. Actes du colloque de Rome, 27-29 mai 1974. Rome: Publications de l’École française
de Rome (32), pp. 35-46.
PARKER, A. J. (1992) - Ancient shipwrecks of the Mediterranean & the roman Provinces. BAR 580. Oxford:
Archaeopress.
PARREIRA, J. (2009) - As ânforas romanas de Mesas do Castelinho. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Le-
tras da Universidade de Lisboa. Lisboa. Policopiado.
PARREIRA, J.; MACEDO, M. (2013) - O fundeadouro romano da Praça D. Luís I. In Actas do I Congresso da Asso-
ciação dos Arqueólogos Portugueses (21-24 de Novembro de 2013). Lisboa: Associação dos Arqueólogos
Portugueses, pp. 747-754.
PARREIRA, J.; MACEDO, M. (2016) - Lusitanian Amphorae and Transport Coarse from the Roman Anchorage
of Praça D. Luís I (Portugal). In PINTO, I. V., ALMEIDA, R., MARTIN, A., Eds. - Lusitanian Amphorae:
Production and Distribution. Roman and Late Antique Mediterranean Pottery 10. Oxford: Archaeopress,
pp. pp. 167‑171.
PASCUAL BERLANGA, G.; RIBERA I LACOMBA, A. (2002) - Las ánforas tripolitanas antiguas en el contexto
del Occidente Mediterráneo. Un contenedor poco conocido de la Época Republicana. In RIVET, L.,
SCIALLANO, M., Eds. - Vivre, produire et échanger: reflets méditerranéens. Mélanges offerts à Bernard
Liou. Montagnac: Éditions Monique Mergoil, pp. 303-318.
PASCUAL BERLANGA, G.; RIBERA I LACOMBA, A. (2013) - El material más apreciado por los antiguos. Las ánfo-
ras. In RIBERA, A., Ed. - Manual de cerámica romana. Del mundo Helenístico al Imperio Romano. Alcalá de
Henares: Museo Arqueológico Regional, pp. 215-289.
PASCUAL BERLANGA, G.; RIBERA I LACOMBA, A. (2015) - Eastern amphorae in Valentia (1st century BC-3rd
century AD) and Pompeii (1st century BC to AD 79). In DEMESTICHA, S., Ed. - Per terram, per mare.
Seaborn trade and the distribution of roman amphorae in the Mediterranean. Uppsala: Aströms förlag,
pp. 269-286.
PASCUAL GUASCH, R. (1962) - Centros de producción y difusión geográfica de un tipo de ánfora. VII Congreso
Nacional de Arqueologia (Barcelona, 1960). Zaragoza: Universidad de Zaragoza, 334-345.
PASCUAL GUASCH, R. (1977) - Las ánforas de Layetania. In Méthodes classiques et méthodes formelles dans
l’étude typologique des amphores. Actes du colloque de Rome, 27-29 mai 1974. Rome: Publications de
l’École française de Rome (32), pp. 47-96.
PEACOCK, D. P. S. (1977) - Roman amphorae: typology, fabrics and origins. In Méthodes classiques et méthodes
formelles dans l’étude typologique des amphores. Actes du colloque de Rome, 27-29 mai 1974. Rome: Publi-
cations de l’École française de Rome (32), pp. 261-278.
PEACOCK, D. P. S.; BEJAOUI, F.; BELAZREG, N. (1989) - Roman amphora production in the Sahel región of Tuni-
sia. In Amphores Romaines et Histoire Economique: dix ans de recherche, Sienne, 22-24 mai 1986. Rome:
Publications de l’École française de Rome (114), pp. 179-222.
PEACOCK, D. P. S.; WILLIAMS, D. F. (1986) - Amphorae and the Roman Economy, an Introductory Guide. London:
Longman Publications.
PEARCE, B. W. (1968) - Roman coarse ware. In CUNLIFFE, B. W, Ed. - Fifth Report on the excavations of the ro-
man fort at Richborough, Kent. Rep Res Comm Soc Antiq. London. 23, pp. 117-124.
PELLEGRINO, E. (2010) - Le mobilier céramique du site de la rue de la Douane à Porquerolles (Hyères, Var), de
l’époque augustéenne au Ve s. apr. J.-C. Bulletin Archéologique de Provence. 33, pp. 1-41.

593
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

PEÑA, J. T. (2007a) - Roman Pottery in the Archaeological Record. Cambridge: Cambridge University Press.
PEÑA, J. T. (2007b) - Two Groups of tituli picti from Pompeii andenvirons: Sicilian Wine, not Flour and hand-
picked Olives. Journal of Roman Archaeology. Portsmouth. 20, pp. 233-254.
PERDIGONES MORENO, L.; MUÑOZ VICENTE, A. (1990) - Excavaciones arqueológicas de urgencia en los hor-
nos púnicos de Torre Alta. San Fernando, Cádiz. Anuario Arqueológico de Andalucía/1988. Sevilla. 3, pp.
106-112.
PEREZ BONET, M. A.; CABRERA BONET, P. (1992) - Ánforas romanas de origen Egeo procedentes del
puerto de Mazarrón (Murcia). Archivo Español de Arqueología. Madrid. 65, pp. 308-312.
PÉREZ MACÍAS, J. A. (2009) - Uillae y figlinae en la campiña de Huelva: Bonares. In PÉREZ MACÍAS, J. A.,
ROMERO BOMBA, E., Coords. - IV Encuentro de Arqueología del Suroeste Peninsular. Aracena, 2008.
Huelva: Universidad de Huelva, pp. 1066‐1107.
PÉREZ MACÍAS, J. A.; BUSTAMANTE ÁLVAREZ, M.; MARTINS, A.; LAGARES RIVERO, J. (2009) - Ânforas
romanas da “Casa do Procurador” (Aljustrel). Hábitos de consumo nos metalla de Vipasca. Vipasca.
Aljustrel. 3:2, pp. 13-26.
PÉREZ RIVERA, J. M. (2001) - Las imitaciones de ánforas greco-itálicas e itálicas en el sur de la Península Ibérica.
In Actas Congreso Internacional Ex Baetica Amphorae. Conservas y vino de la Bética en el Imperio Romano
(Écija-Sevilha 1998), Vol. 1. Écija: Gráficas Sol, pp. 227-238.
PEREIRA, C. (2015) - O sítio romano do Vidigal, Aljezur. Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa. 15, pp. 155-
179.
PEREIRA, C.; ARRUDA A. M. (2015) - O sítio arqueológico do Enterreiro, Castro Marim. Revista Portuguesa
de Arqueologia. Lisboa. 18, pp. 181-194.
PEREIRA, T. (2008) - «Conheiras» de Vila de Rei (centro de Portugal): minas de exploração de ouro aluvionar a
céu aberto em período romano. In Actas del I Congreso Internacional de minería y metalurgia en el contex-
to de la historia de la humanidad: pasado, presente y futuro. 6-9 julio, 2006. Mequinenza: Ayuntamiento
de Mequinenza, pp. 189-208.
PEREIRA, V. (2005) - Intervenção arqueológica na Póvoa do Mileu (Guarda). In Actas das 2ªs Jornadas do Patri-
mónio da Beira Interior Lusitanos e Romanos no Nordeste da Lusitânia (21-22 de Outubro, 2004). Guarda:
Centro de Estudos Ibéricos, pp. 229-248.
PÉREZ SUÑÉ, J. M.; REVILLA CALVO, V. (2001) - Las producciones béticas y el consumo urbano: Iluro y su ter-
ritorio. In Actas Congreso Internacional Ex Baetica Amphorae. Conservas y vino de la Bética en el Imperio
Romano (Écija-Sevilha 1998), Vol. 2. Écija: Gráficas Sol, pp. 593-603.
PÉREZ BALLESTER, J. (1994) - Asociaciones de laginos, boles helenísticos de relieves y ánforas rodias en con-
textos mediterráneos (siglos II y I a.C.). In CABRERA, P., OLMOS, R., SANMARTÍ, E., Coords. - Iberos y
Griegos: lecturas desde la diversidad. Simposio Internacional celebrado en Ampurias, 3 al 5 de Abril de 1991.
Huelva Arqueologica. Huelva. 13:2, pp. 346-365.
PESIC, M. (2013) - Connections between Eastern Adriatic Coast and African Provinces in the Period from
2nd – 5th Century AD Based on the Underwater Finds of Amphorae in Croatia. In BOMBARDIERI, L.,
D’AGOSTINO, A., GUARDUCCI, G., ORSI, V., VALENTINI, S., Eds. - SOMA 2012. Identity and Connectivity.
Proceedings of the 16th Symposium on Mediterranean Archaeology, Florence, Italy, 1-3 March 2012. Vol. II.
BAR International Series 2581. Oxford: Archaeopress, pp. 1207-1215.
PIMENTA, F. C. (1982-1983) - Subsídios para o estudo do material anfórico conservado no Museu Regional de
Sintra. Sintria. Sintra. 1-2:1, pp. 117-150.
PIMENTA, J. (2005) ‑ As ânforas romanas do Castelo de São Jorge (Lisboa). Lisboa: Instituto Português de
Arqueologia.
PIMENTA, J. (2007) - A importação de ânforas de preparados piscícolas em Olisipo (séculos II-I a.C.). In Actas
del congreso Internacional CETARIAE. Salsas y salazones de pescado en Occidente durante la Antigüedad.
Universidade de Cádiz, Noviembre de 2005. BAR, International Séries 1686. Oxford: Archaeopress, pp.
221-233.
PIMENTA, J. (2014) - Os contextos da conquista: Olisipo e Decimo Jvnio Bruto. In FABIÃO, C., PIMENTA, J., Coords. -
Actas do Congresso Conquista e Romanização do Vale do Tejo. Cira Arqueologia. Vila Franca de Xira. 3, pp.
44-60.
PIMENTA, J. (Coord.) (2013) - Monte dos Castelinhos (Castanheira do Ribatejo, Vila Franca de Xira) e a conquista ro-
mana no Vale do Tejo. Catálogo da Exposição. Vila Franca de Xira: Museu Municipal de Vila Franca de Xira.
PIMENTA, J. (Coord.) (2015) - O sítio arqueológico de Monte dos Castelinhos. Em busca de Ierabriga.Catálogo da
Exposição. Vila Franca de Xira: Museu Municipal de Vila Franca de Xira.

594
Bibliografia

PIMENTA, J. (2017) - Em torno dos mais antigos modelos de ânfora de produção lusitana. Os dados do Mon-
te dos Castelinhos - Vila Franca de Xira. In FABIÃO, C., RAPOSO, J., GUERRA, A., SILVA, F., Coords. -
Olaria romana, Seminário Internacional e Ateliê de Arqueologia Experimental. Lisboa: UNIARQ, Câmara
Municipal do Seixal, Centro de Arqueologia de Almada, pp. 195-205.
PIMENTA, J.; ARRUDA, A. M. (2014) - Novos dados para o estudo dos Chões de Alpompé - Santarém. Estudos
Arqueológicos de Oeiras. Oeiras. 21, pp. 375-392.
PIMENTA, J.; CALADO, M.; LEITÃO, M. (2005) - Novos dados sobre a ocupação pré-romana da cidade de Lisboa:
as ânforas da sondagem n.º 2 da Rua de São João da Praça. Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa.
8:2, pp. 313-334.
PIMENTA, J.; FABIÃO, C. (no prelo) - Ânforas orientais em Olysipona (Lisboa): a vitalidade da rota atlântica em
época pós-romana.
PIMENTA, J.; FERREIRA, M.; CABRITA, A. C. (2016) - The roman kilns at Estrada da Parvoíce, Alcácer do Sal
(Portugal). In PINTO, I. V., ALMEIDA, R. R. de, MARTIN, A., Eds. - Lusitanian Amphorae: Production and
Distribution. Roman and Late Antique Mediterranean Pottery 10. Oxford: Archaeopress, pp. 73-79.
PIMENTA, J.; GASPAR, A.; GOMES, A.; MOTA, N.; MIRANDA, P. (2014a) - O estabelecimento romano republi-
cano de Olisipo: estrutura e contextos do Beco do Forno do Castelo, Lote 40 (nº 16-20) – Lisboa. In
FABIÃO, C., PIMENTA, J., Coords. - Actas do Congresso Conquista e Romanização do Vale do Tejo. Cira
Arqueologia. Vila Franca de Xira. 3, pp. 122-148.
PIMENTA, J.; HENRIQUES, E.; MENDES, H. (2012) - O Acampamento romano de Alto dos Cacos, Almeirim. Almei-
rim: Associação de Defesa do património Histórico e Cultural do Concelho de Almeirim.
PIMENTA, J.; MENDES, H. (2006) - Ocupação Romana no Subsolo da Travessa do Mercado (Vila Franca de Xira).
Al-Madan, Adenda electrónica. Almada. II:14, pp. VI1-VI5.
PIMENTA, J.; MENDES, H. (2007a) - A escavação de um troço da via romana “Olisipo-Scallabis” (em Vila Franca
de Xira). Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa. 10:2, pp. 171-210.
PIMENTA. J.; MENDES, H. (2007b) - Evidências de ocupação romana no Morro do Castelo de Alverca do Riba-
tejo (Vila Franca de Xira). Al-Madan. Almada. II:15, pp. 1-16.
PIMENTA. J.; MENDES, H. (2007c) - A intervenção arqueológica na Casa da Câmara de Alverca do Ribatejo (Vila
Franca de Xira). In Catálogo da Exposição: Alverca da terra às gentes. Vila Franca de Xira: Museu Municipal
de Vila Franca de Xira, pp. 53-67.
PIMENTA, J.; MENDES, H. (2008) - Descoberta do povoado pré-romano de Porto do Sabugueiro (Muge). Revis-
ta Portuguesa de Arqueologia. Lisboa. 11:2, pp. 171-194.
PIMENTA, J.; MENDES H. (2010-2011) - Novos dados sobre a presença fenícia no Vale do Tejo. As recentes
descobertas na área de Vila Franca de Xira. Estudos Arqueológicos de Oeiras. Oeiras. 18, pp. 591-618.
PIMENTA, J.; MENDES, H. (2012) - Sobre o povoamento romano ao longo da via de Olisipo a Scallabis. In PIMENTA,
J., Coord. - Actas da Mesa Redonda de Olisipo a Scallabis. A rede viária romana no Vale do Tejo. Cira Arqueo-
logia. Vila Franca de Xira. 1, pp. 41-64.
PIMENTA, J.; MENDES, H. (2013) - 1.ª Campanha de escavações arqueológicas no povoado pré-romano de Porto
do Sabugueiro - Muge - Salvaterra de Magos. Cira Arqueologia. Vila Franca de Xira. 2, pp. 195-219.
PIMENTA, J.; MENDES, H. (2014) - Monte dos Castelinhos - Vila Franca de Xira. Um sítio singular para o estudo
da romanização do Vale do Tejo. In MAYORAL HERRERA, V., MATALOTO, R., ROQUE, C., Eds. - La gesta-
ción de los paisajes rurales entre la Prehistoria y el período romano. Formas de asentamiento y procesos de
implantación. Anejos de Archivo Español de Arqueología 70. Mérida: Consejo Superior de Investigaciones
Científicas, pp. 125-142.
PIMENTA, J.; MENDES, H.; ARRUDA, A.; SOUSA, E.; SOARES, R. (2014b) - Do Pré-romano ao Império: a ocupa-
ção humana do porto do Sabugueiro (Muge, Salvaterra de Magos). Magos. Salvaterra de Magos. 1, pp.
39-57.
PIMENTA, J.; MENDES, H.; HENRIQUES, E. (2014c) - O Acampamento militar romano do Alto dos Cacos, Almei-
rim. In FABIÃO, C., PIMENTA, J., Coords. - Actas do Congresso Conquista e Romanização do Vale do Tejo.
Cira Arqueologia. Vila Franca de Xira. 3, pp. 256-292.
PIMENTA, J.; MENDES, H.; MADEIRA, F. (2009) - O povoado pré‑romano de Castanheira do Ribatejo, Vila Franca
de Xira. Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa. 12:2, pp. 177-208.
PIMENTA, J.; SEPÚLVEDA, E.: FARIA, J. C.; FERREIRA, M. (2006) - Cerâmicas romanas do lado ocidental do
castelo de Alcácer do Sal, 4: ânforas de importação e de produção lusitana. Revista Portuguesa de
Arqueologia. Lisboa. 12:2, pp. 299-316.
PIMENTA, J.; SEPÚLVEDA, E.: FERREIRA, M. (2015a) - Acerca da dinâmica económica do porto de Urbs Impera-
toria Salacia: o estudo das ânforas. Cira Arqueologia. Vila Franca de Xira. 4, pp. 151-170.

595
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

PIMENTA, J.; SILVA, R. B.; CALADO, M. (2014d) - Sobre a ocupação pré-romana de Olisipo: A Intervenção Ar-
queológica Urbana da Rua de São Mamede ao Caldas n.º 15. In ARRUDA, A. M., Ed. - Fenícios e Púnicos,
por Terra e Mar, 2. Actas do VI Congresso Internacional de Estudos Fenícios e Púnicos (FLUL, 25 de Setem-
bro a 1 de Outubro de 2005), Vol. 2. Estudos e Memórias, 6. Lisboa: UNIARQ, pp. 724-735.
PIMENTA, J.; SOUSA, E.; AMARO, C. (2015b) - Sobre as mais antigas ocupações da Casa dos Bicos, Lisboa.
Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa. 18, pp. 161-180.
PINEDA DE LAS INFANTAS, G.; DORADO CANTERO, R.; PUERTO FERNÁNDEZ, J. L.; VILA OBLITAS, M. (2009) -
Excavación arqueológica de urgencia en Morro de Mezquitilla (Mezquitilla, Málaga). Bolskan. Huesca.
20, pp. 141-150.
PINEDO REYES, J. (2011) - Actuaciones arqueológicas submarinas en nueva dársena deportiva «Marina de
Curra», Cartagena. In Actas de las Jornadas de ARQUA, 3 y 4 de diciembre de 2011, Cartagena. Cartagena:
Ministerio de Cultura y Deporte, pp. 47-51.
PINTO, I. V.; ALMEIDA, R.; MAGALHÃES, A.; BRUM, P. (2016) - Lusitanian Amphorae at a Fish-Salting
Production Centre: Tróia (Portugal). In PINTO, I. V., ALMEIDA, R. R. de, MARTIN, A., Eds. - Lusitanian
Amphorae: Production and Distribution. Roman and Late Antique Mediterranean Pottery 10. Oxford:
Archaeopress, pp. 173-194.
PINTO, I. V.; LOPES, C. (2006) - Ânforas das villae romanas alentejanas de São Cucufate (Vila de Frades,
Vidigueira), Monte da Cegonha (Selmes, Vidigueira) e Tourega (Nossa Senhora da Tourega, Évora).
Setúbal Arqueológica. Setúbal. 13, pp. 197-224.
PINTO, I. V.; MAGALHÃES, A.; BRUM, P. (2010) - Sondagem junto ao poço da Oficina de salga 1 de Tróia. Conim-
briga. Coimbra. 49, pp. 133-159.
PINTO, I. V.; MAGALHÃES, A.; BRUM, P. (2012) - Un depotoir du ve siecle dans l’officine de salaisons 1 de Tróia
(Portugal). In Rei Cretariae Romanae Favtorvm. Acta 42, pp. 396-406.
PINTO, I. V.; MAGALHÃES, A.; CABEDAL, V. (2014) - O núcleo fabril do Recanto do Verde (Tróia). Setúbal Arqueo-
lógica. Setúbal. 15, pp. 217-244.
PINTO, I. V.; VIEGAS, C.; DIAS, L. F. (2004) - Terra sigillata and amphorae from the roman villa at Tourega (Évora,
Portugal). In PASQUINUCCI, M., WESKI, T., Eds. - Close encounters: sea- and riverborne trade, ports and
hinterlands, ship construction and navigation in Antiquity, the Middle Ages and in Modern Time. BAR Inter-
national Series 1283. Oxford: Archaeopress, pp. 117-127.
PINTO, M. (2012) - Sondagens de Diagnóstico Arqueológico - Rua do Recolhimento 35 / Beco do Leão, Lisboa. Rela-
tório Final dos Trabalhos de Arqueologia. Lisboa: Era-Arqueologia. Policopiado.
PIRES, H.; RUBIO, J. M.; ARANA, A. E. (2015) - Techniques for revealing 3d hidden archeological features:
Morphological Residual Models as virtual-polynomial texture maps. In The International Archives of the
Photogrammetry, Remote Sensing and Spatial Information Sciences, Volume XL-5/W4. Ávila, pp. 415-421.
POLICARPO, R. (2009) - As ânforas da villa romana de Frielas - economia e contactos no ager olisiponensis.
FIGUEIREDO, S. (Coord.), Actas das Jornadas de Arqueologia do Vale do Tejo em Território Português
(Lisboa, 3-6 de Março, 2008). Lisboa: Centro Português de Geo-História e Pré-História, pp. 29-36.
PONS PUJOL, L. (2000) - Nuevos sellos y grafitos hallados en la Mauretania Tingitana. Antiquités Africaines.
Paris. 36, pp. 109-136.
PONS PUJOL, L. (2009) - La economía de la Mauretania Tingitana (s.I-III d.C.). Aceite, vino y salazones. Instrumenta
34. Barcelona: Publications de la Universitat de Barcelona.
PONSICH, M. (1968) - Alfarerias de época fenicia y punico mauritana en Kuass (Arcila, Marruecos). Papeles del
Laboratorio de Arqueologia de Valencia, 4. Valencia. Faculdad de Filosofia y Letras de Valencia.
PONSICH, M. (1974) - Implantation rurale antique sur le Bas-Guadalquivir, I. Publications de la Casa de Velázquez,
sér. Archéologie, II. Madrid: Casa de Velazquez.
PONSICH, M. (1979) - Implantation rurale antique sur le Bas-Guadalquivir, II. Publications de la Casa de Velazquez,
sér. Archéologie, III. París: Casa de Velázquez.
PONTE, S. (1999) - Importação de produtos vinários de Sellium (Tomar, Portugal) no Alto-Império. Notícia de
outros bem alimentares. In GEORGES, J. G., RODRIGUEZ MARTIN, F. G., Eds. - Économie et Territoire en
Lusitanie Romaine. Collection de la Casa de Velázquez, 65. Madrid: Casa de Velázquez, pp. 339-360.
PORTALE, E. C.; ROMEO, I. (2001) - Contenitori da trasporto. In DI VITA, A, Ed. - Gortina V. 3. Lo scavo del Pretorio
(1989-1995). I material. Monografie della Scuola Archeologica Itálica di Atene e delle missioni italiane in
Oriente, XII. Padova: Bottega d’Erasmo, pp. 260-410.
PRUDÊNCIO, M. I.; DIAS, M. I.; PONTE, S. (2005) - Amphorae in Sellium from the first century to the fifth century
AD: importation and regional production. In PRUDÊNCIO, M. I.; DIAS, M. I.; WAERENBORGH, J. C., Eds. -
Understanding people through their pottery. Proceedings of the 7th European Meeting on Ancient Ceramics

596
Bibliografia

(EMAC’03). October 27-31, 2003, Lisbon. Trabalhos de Arqueologia 42. Lisboa: Instituto Português de
Arqueologia, pp. 201-209.
PUIG, A. (2004) - Evolució de les Haltern 70. In Culip VIII i les àmfores Haltern 70. Monografies del Casc 5.
Girona: Museu d’Arqueologia de Catalunya, pp. 23-32.
PY, M. (1990) - La céramique de l’îlot 3. In PY, M., Ed. - Lattara 3. Fouilles dans la ville antique de Lattes les
îlots 1, 3 et 4-nord du quartier Saint-Sauveur. Mélanges d’histoire et d’archéologie de Lattes. Lattes:
Association pour la Recherche Archéologique en Languedoc Oriental, pp. 151-190.
PY, M. (1990) - La céramique de l’îlot 4-nord. In PY, M., Ed. - Lattara 3. Fouilles dans la ville antique de Lattes
les îlots 1, 3 et 4-nord du quartier Saint-Sauveur. Mélanges d’histoire et d’archéologie de Lattes, pp.
247-268.
PY, M. (1990) - Mobilier céramique: productions et importations. In PY, M, Ed. - Lattara 3. Fouilles dans la
ville antique de Lattes les îlots 1, 3 et 4-nord du quartier Saint-Sauveur. Mélanges d’histoire et d’ar-
chéologie de Lattes, pp. 329-350.
QUARESMA, J. C. (2012) - Economia antiga a partir de um centro de consumo lusitano. Terra sigillata e cerâ-
mica africana de cozinha em Chãos Salgados (Mirobriga?). Estudos & Memórias 4. Lisboa: Centro de
Arqueologia da Universidade de Lisboa.
QUARESMA, J. C. (2020) - Late contexts from Olisipo (Lisbon, Portugal). In Duggan, M., Turner, S., Jackson,
M., Eds. - Ceramics and Atlantic Connections: Late Roman and early medieval imported pottery on the
Atlantic Seaboard. Roman and Late Antique Mediterranean Pottery 15. Oxford: Archaeopress, pp.
108-134.
QUARESMA, J. C.; CALAIS, C. (2005) - S. Pedro (Coruche): novos dados para o processo de romanização do vale
do Sorraia na época augústea e Júlio-Cláudia. Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa. 8:2, pp. 429-447.
QUARESMA, J. C.; RAPOSO, J. (2016) - Lusitana 3 (Western Lusitania). Amphorae ex Hispania. Landscapes of
production and consumption (http://amphorae.icac.cat/amphora/lusitana-3-western-lusitania).
QUEVEDO SANCHÉZ, A. e BOMBICO, S. (2016) - Lusitanian Amphorae in Carthago Nova (Cartagena, Spain):
Distribution and Research Questions. In PINTO, I. V., ALMEIDA, R. R. de, MARTIN, A., Eds. - Lusitanian
Amphorae: Production and Distribution. Roman and Late Antique Mediterranean Pottery 10. Oxford:
Archaeopress, pp. 311-322.
QUILLON, K.; CAPELLI, C. (2016) - Les amphores de l’épave du Titan: typologie, origine et contenu des
Dressel 12A et des conteneurs du type «Titan». In JÁRREGA DOMÍNGUEZ, R., BERNI MILLET, P., Eds.
- Amphorae ex Hispania: paisajes de producción y consumo. Monografías Ex Officina Hispana III, Vol. I.
Tarragona: Instituto Catalán de Arqueología Clásica, pp. 491-497.
QUIRI, E. (2015) - Imports of eastern transport amphorae to Turin (Italy). In DEMESTICHA, S., Ed. - Per ter-
ram, per mare. Seaborn trade and the distribution of roman amphorae in the Mediterranean. Uppsala:
Aströms förlag, pp. 161-180.
RAMALHO, E. C.; LOURENÇO, M. C. (2005) – As águas de Alfama - A riqueza esquecida da cidade de Lisboa.
Boletim de Minas. Lisboa. 40:1, pp. 6-24.
RAMALLO ASENSIO, S. F.; MURCIA MUÑOZ, A. J.; RUIZ VALDERAS, E.; MADRID BALANZA, M. J. (2010)
- Contextos de la segunda mitad del siglo I a.C. en Carthago Nova. In REVILLA, V., ROCA, M., Eds. -
Contextos cerámicos y cultura material de época augústea en el occidente romano. Actas de la reunión
celebrada en la Universitat de Barcelona, 15-16 de abril de 2007. Barcelona: Universidad de Barcelona,
pp. 294-321.
RAMÓN TORRES, J. (1981) - Ibiza e la circulación de ânforas fenicias y punicas en el Mediterráneo Occidental.
Trabajos del Museo Arqueológico de Ibiza, 5. Ibiza: Conselleria del cultura, educación i esports.
RAMÓN TORRES, J. (1991) - Las ánforas púnicas de Ibiza. Ibiza: Museo Arqueológico.
RAMÓN TORRES, J. (1995) - Las ánforas fenicio-púnicas del Mediterráneo central y occidental. Instrumenta 2.
Barcelona: Publications de la Universitat de Barcelona.
RAMÓN TORRES, J. (2006) - Les àmphores altimperials d’Ebusus. In Monografies, 8. Barcelona: MAC, pp. 241-270.
RAMON TORRES, J. (2008) - El comercio púnico en occidente en época tardorrepublicana (siglos -II/-I). Una
perspectiva actual según el tráfico de produtos envasados en ánforas. In UROZ, J., NOGUERA, J.M.,
COARELLI, F., Eds. - Modelos romanos de integración territorial. Tabularium. Murcia. 11, pp. 63-97.
RAMON TORRES, J. (2013) - Economía y comercio de la Ibiza púnica en la época de las acuñaciones de moneda
(siglos IV a.C.-I d.C.). In ARÉVALO GONZÁLEZ, A., BERNAL CASASOLA D., COTTICA D., Eds. - Ebusus y Pom-
peya, ciudades marítimas. Testimonios monetales de una relación. Cádiz: Universidad de Cádiz, pp. 83-123.
RAMON TORRES, J. (2016) - Ramon PE 25 (Ebusus Island). Amphorae ex Hispania. Landscapes of production
and consumption (http://amphorae.icac.cat/amphora/ramon-pe-25-ebusus-island).

597
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

RAPOSO, J. M. C. (1990) - Porto dos Cacos: uma oficina de produção de ânforas romanas no Vale do Tejo. In
ALARCÃO, J., MAYET, F., Eds. - Ânforas Lusitanas. Tipologia, Produção, Comércio. Actas das Jornadas
de Estudo (Conimbriga, 1988). Coimbra/Paris: MMC/Diffusion de Boccard, pp. 117-151.
RAPOSO, J. M. C. (2017) - As Olarias Romanas do Estuário do Tejo. Porto dos Cacos (Alcochete) e Quinta do
Rouxinol (Seixal). In FABIÃO, C., RAPOSO, J., GUERRA, A., SILVA, F., Coords. - Olaria romana, Seminário
Internacional e Ateliê de Arqueologia Experimental. Lisboa: UNIARQ, Câmara Municipal do Seixal, Centro
de Arqueologia de Almada, pp. 113-138.
RAPOSO, J. M. C.; DUARTE, A. L. (1996) - O forno 2 do Porto dos Cacos (Alcochete). In FILIPE, G., RAPOSO, J. M.
C., Dirs. - Ocupação romana nos estuários do Tejo e do Sado (Actas das primeiras jornadas sobre romaniza-
ção dos estuários do Tejo e Sado, Seixal, 1991). Lisboa: C.M. do Seixal/Publicações Dom Quixote, 249-267.
RAPOSO, J. M. C.; SABROSA, A. J. G.; DUARTE, A. L. C. (1995) - Ânforas do Vale do Tejo. As olarias da Quinta
do Rouxinol (Seixal) e do Porto dos Cacos (Alcochete). In 1º Congresso de arqueologia peninsular (Porto,
1993) - Actas VII. Trabalhos de Antropologia e Etnologia. Porto. 35:3, pp. 331-352.
RAPOSO, J. M. C.; SANTOS, C. e ANTUNES, O. (2016) – Roman Pottery Workshop of Quinta do Rouxinol (Seix-
al): quantification and classification of amphora production. In PINTO, I. V., ALMEIDA, R. R. de, MARTIN,
A., Eds. - Lusitanian Amphorae: Production and Distribution. Roman and Late Antique Mediterranean
Pottery 10. Oxford: Archaeopress, pp. 19-46.
RAPOSO, J. M. C.; SANTOS C.; HENRIQUE J. C. (2014) - Ponta do Mato (Seixal): geoarqueologia e ocupação hu-
mana da frente ribeirinha. In Actas 2º Encontro Sobre o Património de Almada e do Seixal. Almada: Centro
de Arqueologia de Almada, pp. 17-29.
RAPOSO, J. M. C.; VIEGAS, V. (2016) - Dressel 14 (Western Lusitania). Amphorae ex Hispania. Landscapes of pro-
duction and consumption (http://amphorae.icac.cat/amphora/dressel-14-western-lusitania).
RAYNAUD, C.; BONIFAY, M. (1993) - Amphores africaines. In PY, M., ADROHER AUROUX, M., RAYNAUD, C.,
Dirs. - DICOCER. Dictionnaire des céramiques antiques (VIIe s. av. n.è. - VIIe s. de n.è.) en Méditerranée nord-
occidentale (Provence, Languedoc, Ampurdan). Lattara 6. Lattes: Association pour la Recherche Archéo-
logique en Languedoc Oriental, pp. 15-22.
REIS, M. P. (2004) - Las Termas y Balnea Romanos de Lusitania. Studia Lusitana, 1. Mérida: Museo Nacional de
Arte Romano.
REIS, S. (2015) - Uma análise da epigrafia votiva de Olisipo contributo para um estudo das interacções culturais
no municipium. Al-Madan, Adenda electrónica. Almada. II:20, pp. 34-40.
REMESAL RODRÍGUEZ, J. (1977-1978) - La economía oleícola de la Bética: nuevas formas de análisis. Anuario
Español de Arqueología, 50-1, pp. 87-142.
REMESAL RODRÍGUEZ J. (1983) - Transformaciones en la exportación del aceite bético a mediados del siglo III
d.C. In BLÁZQUEZ MARTÍNEZ, J. M., REMESAL RODRÍGUEZ, J., Eds. - Producción y Comercio del aceite en
la Antigüedad. Segundo Congreso Internacional. Madrid: Universidad Complutense de Madrid, pp. 115-131.
REMESAL RODRÍGUEZ, J. (1986) - La annona militaris y la exportación de aceite bético a Germania. Madrid:
Universidad Complutense.
REMESAL RODRÍGUEZ, J. (2008) - Provincial Interdependence in the Roman Empire: an explanatory Model
of Roman Economy. In FUNARI, P. P. A., GARRAFONI, R. S., LETALIEU, B., Eds. - New Perspectives on
the Ancient World. Modern perceptions, ancient representations. BAR International Series 1782. Oxford:
Archaeopress, pp. 155-159.
REMESAL RODRÍGUEZ, J. (2010a) - De Baetica a Germania, consideraciones sobre la ruta y el comercio atlántico
en el Imperio Romano. In MARCO SIMÓN, F., PINA POLO, F., REMESAL RODRÍGUEZ, J., Eds. - Viajeros,
peregrinos y aventureros en el mundo antiguo. Barcelona: Publicacions I Edicions de la Universitat de
Barcelona, pp. 147-160.
REMESAL RODRÍGUEZ, J. (2010b) - Los sellos. In BLÁZQUEZ MARTÍNEZ, J. M., REMESAL RODRÍGUEZ, J., Eds. -
Estudios sobre el Monte Testaccio (Roma) V. Instrumenta 35. Barcelona: Publications de la Universitat de
Barcelona, pp. 167-241.
REMESAL RODRÍGUEZ, J.; CARRERAS MONFORT, C. (2004) - Historia de la recerca. In Culip VIII i les àmfores
Haltern 70. Monografies del Casc 5. Girona: Museu d’Arqueologia de Catalunya, pp. 19-23.
REMESAL RODRÍGUEZ, J.; GARCÍA SÁNCHEZ, M. (2007) - Los tituli picti sobre ánforas olearias orientales. In
BLÁZQUEZ MARTÍNEZ, J. M., REMESAL RODRÍGUEZ, J., Eds. - Estudios sobre el Monte Testaccio (Roma)
IV. Instrumenta 24. Barcelona: Publications de la Universitat de Barcelona, pp. 173-182.
REMESAL RODRÍGUEZ, J.; REVILLA CALVO, V. (1991) - Weinamphoren aus Hispania Citerior und Gallia Narbo-
nensis in Deutschland und Holland. In Fundberichte auns Baden-Württemberg. Band 16. Stuttgart, pp.
389-439.

598
Bibliografia

REMOLÀ VALLVERDÚ, J. A. (2000) - Las ánforas tardoantiguas en Tarraco (Hispania Tarraconensis). Siglos IV-VII
d.C.. Instrumenta 7. Barcelona: Publications de la Universitat de Barcelona.
REMOLÀ VALLVERDÚ, J. A. (2007) - Tarraco, amphores et contexte historique. In MRABET, A., REMESAL RO-
DRÍGUEZ, J., Eds. - Africa et in Hispania: Études sur l’huile africaine. Barcelona: Universidad de Barcelona,
pp. 245-256.
REVILLA CALVO, V. (1995) - Producción cerámica, viticultura y propiedad rural en Hispania Tarraconensis (siglos I
a.C.-III d.C.). Cuadernos de arqueología, vol. 8. Barcelona.
REVILLA CALVO, V. (2003) - Las ánforas africanas del siglo II d.C. In BLÁZQUEZ MARTÍNEZ, J. M., REMESAL
RODRÍGUEZ, J., Eds. - Estudios sobre el Monte Testaccio (Roma) III. Instrumenta 14. Barcelona: Publica-
tions de la Universitat de Barcelona, pp. 399-425.
REVILLA CALVO, V. (2007) - Les amphores africaines du IIème et Iiième siècles du Monte Testaccio (Rome). In
BLÁZQUEZ MARTÍNEZ, J. M.; REMESAL RODRÍGUEZ, J., Eds. - Estudios sobre el Monte Testaccio (Roma)
IV. Instrumenta 24. Barcelona: Publications de la Universitat de Barcelona, pp. 269-297.
REVILLA CALVO, V. (2014) - Ánforas africanas de finales del siglo II d.C. del Monte Testaccio (Campañas 2000
y 2005). In BLÁZQUEZ MARTÍNEZ, J. M., REMESAL RODRÍGUEZ, J., Eds. - Estudios sobre el Monte
Testaccio (Roma) VI. Instrumenta 47. Barcelona: Publications de la Universitat de Barcelona, pp. 559-570.
REVILLA CALVO, V.; CARRERAS MONFORT, C. (1993) - El vino de la Tarraconense en Britannia. In Münstersche
Beiträge zur antiken Handelsgeschichte, Bd. XII. Scripta Mercaturae Verlag, pp. 53-91.
REYNOLDS, P. (2001) - Baetican, Lusitanian and Tarraconensian amphorae in classical Beirut: some preliminary
observations on trends in amphora imports from the western Mediterranean in the anglo-lebanese ex-
cavations in Beirut (BEY 006, 007 and 045). In Actas Congreso Internacional Ex Baetica Amphorae. Conser-
vas y vino de la Bética en el Imperio Romano (Écija-Sevilha 1998), Vol. 3. Écija: Gráficas Sol, pp. 1035-1060.
REYNOLDS, P. (2005) - Levantine amphorae from Cilícia to Gaza: a typology and analysis of regional production
trends from the 1st to 7th centuries, In GURT I ESPARRAGUERA, J. M. A, BUXEDA I GARRIGÓS, J., CAU
ONTIVEROS, M. A., Eds. - Late Roman Coarse Wares, Cooking Wares and Amphorae in the Mediterranean.
Archaeology and Archaeometry. BAR, International Series 1340. Oxford: Archaeopress, pp. 563-611.
REYNOLDS, P. (2010) - Hispania and the Roman Mediterranean AD 100-700: Ceramics and Trade. London: Du-
ckworth.
RIBERA I LACOMBA, A. (1998) - La fundació de Valencia. La ciutat al’època romanorepublicana (segles II-I a. de C.).
Estudios Universitarios, 71. Valencia: Institució Alfons el Magnànim.
RIBERA I LACOMBA, A. (2009) - La fundación de Valentia: un apendice de Italia y Campania en la Hispania del
siglo II a.C. OEBALUS, Studi sulla Campania nell’Antichità. Roma. 4, pp. 41-77.
RIBERA I LACOMBA, A. (2014) - La fundación de Valentia: historia, arqueología, ritos, basureros y cabañas. In
FABIÃO, C., PIMENTA, J., Coords. - Actas do Congresso Conquista e Romanização do Vale do Tejo. Cira
Arqueologia. Vila Franca de Xira. 3, pp. 61-85.
RIBERA I LACOMBA, A. (2010) - Los materiales de época Augustea de Valentia: símbolo de una etapa precaria o
muestra del inicio del renacer de la ciudad. In REVILLA, V., ROCA, M., Eds. - Contextos cerámicos y cultu-
ra material de época augústea en el occidente romano. Actas de la reunión celebrada en la Universitat de
Barcelona, 15-16 de abril de 2007. Barcelona: Universidad de Barcelona, pp. 262-293.
RIBERA I LACOMBA, A. (2014) - La fundación de Valentia: historia, arqueología, ritos, basureros y cabañas. In
FABIÃO, C., PIMENTA, J., Coords. - Actas do Congresso Conquista e Romanização do Vale do Tejo. Cira
Arqueologia. Vila Franca de Xira. 3, pp. 61-85.
RIBERA I LACOMBA, A.; ROSSELLÓ MESQUIDA, M. (2007) - Contextos cerámicos de mediados del siglo V en
Valentia y en Cullera. In BONIFAY, M., TRÉGLIA, J.-C., Eds. - LRCW 2. Late Roman Coarse Wares, Cooking
Wares and Amphorae in the Mediterranean: Archaeology and Archaeometry. BAR International Series
1662. Oxford: Archaeopress, pp. 189-198.
RIBEIRO, J. C. (1994) - Felicitas Iulia Olisipo - Algumas considerações em torno do catálogo Lisboa Subterrânea.
Al-Madan. Almada. II:3, pp. 75-95.
RIBEIRO, O. (1998) - Portugal: o Mediterrâneo e o Atlântico. Lisboa: Livraria Sá da Costa Editora.
RIBEIRO, R.; NETO, N.; REBELO, P. (2014) - Os pavimentos romanos dos antigos armazéns Sommer (campanha
de 2014-2015). In FERNANDES, L., BUGALHÃO, J., FERNANDES, P. A., Coords. - Debaixo dos nossos pés.
Pavimentos históricos de Lisboa. Lisboa: Museu de Lisboa, pp. 106-111.
RILEY, J. A. (1979) - The coarse pottery from Berenice. In LLOYD, J. A, Ed. - Excavations at Sidi Khrebish Benghazi
(Berenice). Supplements to Lybia Antiqua, V, Vol. II. Tripoli: Department of Antiquities, pp. 91-467.
RIVET, L. (2004) - Un ensemble de céramiques de al fin du IIe/début de IIIe siècle à Fréjus (Var). S.F.E.C.A.G.,
Actes du Congrès de Vallauris, pp. 167-188.

599
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

RIZZO, G. (2003) - Instrumenta Urbis I. Ceramiche fini da mensa, lucerne ed anfore a Roma nei primi due secoli
dell’Impero. Rome: Publications de l’École française de Rome (307).
RIZZO, G. (2012) - Roma e Ostia, un binomio ancora possibile? Di alcuni generi trasportati in ânfora in età tardo-
Antonina. In KEAY, S., Ed. - Rome, Portus and the Mediterranean. Monographs of the British School at
Rome, 21. London: British School at Rome, pp. 87-103.
RIZZO, G. (2014) - Le anfore, Ostia e i commerci mediterranei. In PANELLA, C., RIZZO, G., Eds. - Ostia VI. Le Terme
del Nuotatore. Roma: L’Erma di Bretscheider, pp. 65-440.
RIZZO, G. (2016) - Lusitanian Amphorae in Rome. In PINTO, I. V., ALMEIDA, R., MARTIN, A., Eds. - Lusitanian
Amphorae: Production and Distribution. Roman and Late Antique Mediterranean Pottery 10. Oxford:
Archaeopress, pp. 409-418.
ROBINSON, H. S. (1959) - The Athenian Agora V. Pottery of the Roman Period, Chronology. Princeton: The Ameri-
can School of Classical Studies at Athens.
ROCHA, A. (2015) - Rua da Prata 45 a 51, Rua de São Julião 86 a 106, Lisboa. Relatório final dos trabalhos arqueo-
lógicos. Lisboa. Policopiado.
ROCHA, A.; REPREZAS, J.; MIGUEZ, J.; INOCÊNCIO, J. (2013) - Edifício sede do Banco de Portugal em Lisboa.
um primeiro balanço dos trabalhos arqueológicos. In Actas do I Congresso da Associação dos Arqueólo-
gos Portugueses (21-24 de Novembro de 2013). Lisboa: Associação dos Arqueólogos Portugueses, pp.
1011-1018.
RODRÍGUEZ ALMEIDA, E. (1978-1979) - Bolli anforare di Monte Testaccio. Bolletino Communale. Roma. 86, pp.
109-135.
RODRÍGUEZ ALMEIDA, E. (1984) - El Monte Testaccio, Storia. Ambiente Material. Roma: Edizioni Quasar.
RODRÍGUEZ MARTÍN, F. G. (2011-2012) - La producción de vino y aceite entre Avgvsta Emerita y el occidente
atlántico. In NOGUERA CELDRÁN, J. M., ANTOLINOS MARÍN, J. A., Eds. - De vino et oleo Hispaniae. Áreas
de producción y procesos tecnológicos del vino y el aceite en la Hispania romana. Coloquio Internacional,
Museo Arqueológico de Murcia 5, 6 y 7 de mayo de 2010. Anales de Prehistoria y Arqueología, Vols. 27-
28. Murcia: Universidad de Murcia, pp. 451-469.
RONDA FEMENIA, A. N.; TENDERO PORRAS, M. (2010) - Los materiales de época Augustea en Ilici (l’Alcúdia,
Elche ). In REVILLA, V., ROCA, M., Eds. - Contextos cerámicos y cultura material de época augústea en
el occidente romano. Actas de la reunión celebrada en la Universitat de Barcelona, 15-16 de abril de 2007.
Barcelona: Universidad de Barcelona, pp. 320-341.
ROSTOVTZEFF, M. (1926) - The Social and Economic History of the Roman Empire. Oxford: Clarendon Press.
RUIZ DE ARBULO, J.; MAR, R.; ROCA, M.; DÍAZ AVELLANEDA, M. (2010) - Un contexto cerámico de fines del
siglo I a.C. como relleno constructivo de un almacén portuario localizado bajo el teatro romano de
Tarragona. In REVILLA, V., ROCA, M., Eds. - Contextos cerámicos y cultura material de época augústea en
el occidente romano. Actas de la reunión celebrada en la Universitat de Barcelona, 15-16 de abril de 2007.
Barcelona: Universidad de Barcelona, pp. 222-261
SÁ, M.; PAIVA, M. (1989) - Ânforas romanas de Sanfins (I). In Actas do I Colóquio Arqueológico de Viseu. Viseu:
Governo Cívil do Distrito de Viseu, pp. 441-468.
SÁ, M.; PAIVA, M. (1993) - Notas sobre a romanização no alto minho: as ânforas do Castro do Coto da Pena
(Vilarelho, Caminha). Lvcerna. Porto. 2:3, pp. 237- 248.
SABROSA, A.; BUGALHÃO, J. (2004) - As ânforas béticas do Núcleo Arqueológico da Rua dos Correeiros, Lis-
boa. In BERNAL, D., LAGÓSTENA, L., Eds. - Figlinae Baeticae. Talleres alfareros y producciones cerámicas
en la Bética romana (ss. II a.C.-IV d.C.). BAR International Series, 1266. Oxford: Archaeopress, pp. 571-586.
SÁEZ ROMERO, A. M. (2008a) - La producción cerámica en Gadir en época tardopúnica (siglos -III/-I). BAR Inter-
national Series, vol. 1812. Oxford: Archaeopress.
SÁEZ ROMERO, A. M. (2008b) - La producción de ánforas en el área del Estrecho en época tardopúnica (siglos
III-I a.C.). In BERNAL CASASOLA, D., RIBERA I LACOMBA, A., Eds. - Cerámicas hispanorromanas: un esta-
do de la cuestión. Cádiz: Universidad de Cádiz, pp. 491-515.
SÁEZ ROMERO A. M. (2014) - Ramon T-9111 (Baetica Ulterior coast). Amphorae ex Hispania. Landscapes of pro-
duction and consumption (http://amphorae.icac.cat/amphora/ramon-t-9111-baetica-ulterior-coast).
SÁEZ ROMERO, A. M.; BERNAL CASASOLA, D.; GARCÍA VARGAS, E.; DÍAZ RODRÍGUEZ, J. J. (2016a) - Ramon
T-7433 (Baetica coast). Amphorae ex Hispania. Landscapes of production and consumption (http://am-
phorae.icac.cat/amphora/ramon-t-7433-baetica-coast).
SÁEZ ROMERO A. M.; DÍAZ RODRÍGUEZ, J. J. (2007) - La producción de ánforas de tipo Griego e Grecoitálico
en Gadir y en el área del estrecho. Cuestiones tipológicas y de contenido. Zephyrvs. Salamanca. 60, pp.
195-208.

600
Bibliografia

SÁEZ ROMERO, A. M.; GONZÁLEZ CESTEROS, H.; HIGUERAS-MILENA CASTELLANO, A. (2016b) - Una aporta-
ción al estudio del comercio marítimo antiguo gaditano a partir de un conjunto de ánforas halladas en
aguas del área de La Caleta (Cádiz). Revista Onoba. Huelva. 4, PP. 69-103.
SÁEZ ROMERO, A.; LUACES, M. (2014) - Una posible Ovoide Gaditana en la rada de Marsella (Francia). Boletín
de la Sociedad de Estudios de la Cerámica Antigua en Hispania. Cádiz. 5, pp. 39-41.
SANGINETO, A. B. (2001) - Trasformazione o crisi nei Bruttii tra il II a.C. e il VII d.C.? In LO CASCIO, E., MARINO,
A. S., Eds. - Modalità insediative e strutture agrarie nell’Italia meridionale in età romana. Bari: Edipuglia,
pp. 203- 246.
SANMARTÍ GREGO, E. (1985) ‑ Sobre un nuevo tipo de ánfora de época republicana, de origen presumiblemen-
te hispánico. In PICAZO, M., SANMARTÍ GREGO, E., eds. ‑ Ceràmiques gregues i helenístiques a la Penínsu-
la Ibèrica: taula rodona amb motiu del 75è aniversari de les excavacions d’Empuries, Empúries, 18–20 març
1983. Barcelona: Institut de Prehistòria i Arqueologia, pp. 133-141.
SANTOS, A. (2015) - A Terra Sigillata e a Cerâmica de Cozinha Africana do Edifício Sede do Banco de Portugal
(Lisboa). Dissertação de Mestrado em Pré-história e Arqueologia, apresentado à Faculdade de Letras da
Universidade de Lisboa. Lisboa. Policopiado.
SANTOS, V. M.; SABROSA, A.; GOUVEIA, L. A. (1996) - Carta arqueológica de Almada elementos da ocupação
romana. In FILIPE, G., RAPOSO, J. M. C., Dir. - Ocupação romana nos estuários do Tejo e do Sado (Actas das
primeiras jornadas sobre romanização dos estuários do Tejo e Sado, Seixal, 1991). Lisboa: C.M. do Seixal/
Publicações Dom Quixote, pp. 225-236.
SARRAZOLA, A.; MACEDO, M. (2013) - A rua do Passadiço nos suburbia de Olisipo. Apontamentos de Arqueolo-
gia e Património. Lisboa. 9, pp. 73-77.
SARRAZOLA, A.; OLIVEIRA, F. (2014) - Remodelação do Balneário Municipal do Castelo (Lisboa). Escavação
Arqueológica Santa Cruz do Castelo 29, Lisboa. Relatório Final dos Trabalhos de Arqueologia. Lisboa: Era-
-Arqueologia. Policopiado.
SARRAZOLA, A.; SIMÃO, I. (2013) - Rua da Madalena 54-60, Lisboa. Relatório Final dos Trabalhos de Arqueologia.
Lisboa: Era-Arqueologia. Policopiado.
SAUER, R. (2005) - Ergebnisse der mineralogisch-petrographischen Analysen von ausgewählten römischen
Amphorenproben aus Wien. In KRINZINGER, F, Ed. - Vindobona. Beiträge zu ausgewählten Keramikgat-
tungen in ihrem topographischen Kontext. Wien: Österreichischen Akademie der Wissenscheften, pp.
109-142.
SAUER, R. (2013) - Petrology. In BEZECZKY, T., The Amphorae of Roman Ephesus. Forschungen in Ephesos, 15, 1.
Wien: Österreichischen Akademie der Wissenscheften.
SCAPINI, M. (2016) - Studying Roman Economy and Imperial Food Supply. Conceptual and Historical Premises
of the Study of the Economic Initiatives of the Emperors in the 1st and 2nd Century AD. Gerión. Madrid.
Vol. 34, pp. 217-248.
SCHEIDEL, W. (2013) - Explaining the maritime freight charges in Diocletian’s Prices Edict. Journal of Roman
Archaeology. Portsmouth. 26, pp. 464-468.
SCHÖENE, R. (1871) - Titulis vasis fictilibus. Corpus Inscriptionum Latinorum, 4, Inscriptiones Parietariae Pompaei-
enae. Berlim.
SCIALLANO, M.; LIOU, B. (1985) - Les épaves de Tarraconaise à chargement d’amphores Dressel 2-4. Archaeo-
nautica. Paris. 5, pp. 5-178.
SCIALLANO, M.; SIBELLA, P. (1991) - Amphores. Comment les identifier? Aix-en-Provence: Edisud.
SCOTTI, C. (1984) - Anfore. In JOVINO, M. B, Ed. - Ricerche a Pompei, 1. L’insula 5 della Regio VI dalle origini al 79
d.C. (campagne di scavo 1976-1979). Roma: L’Erma di Bretscheider, pp. 270-317.
SEALEY, P. R. (2001) - Report on the amphoras from Elms Farm. Draft Report, 5th September 2001.
SEALEY, P. R. (2003) - Ver 1909 amphorae introduced. Journal of Roman Pottery Studies. Oxford. 10, pp. 92-95.
SEGUÍ, J. J.; FALOMIR, C.; MELCHOR, J. M. (2000) - La cerámica norteafricana de la Torre de Benaduf (Valencia,
España). In L’Africa Romana (Djerba, 10-13 dicembre 1998), XIII, vol. 2. Sassari: Carocci editore, pp. 1413-
1427.
SEPÚLVEDA, E.; VALE, A.; SOUSA, V.; SANTOS, V.; GUERREIRO, N. (2002) - A cronologia do circo de Olisipo: a
terra sigillata. Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa. 5:2, pp. 245 - 275.
SERRANO RAMOS, E. (2004) - Alfares y producciones cerámicas en la provincia de Málaga. Balance y perspec-
tivas. In BERNAL, D., LAGÓSTENA, L., Eds. - Figlinae Baeticae. Talleres alfareros y producciones cerámicas
en la Bética romana (ss. II a.C.-IV d.C.). BAR International Series, 1266. Oxford: Archaeopress, pp. 161-194.

601
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

SIDARUS, A.; REI, A. (2001) - Lisboa e o seu termo segundo os geógrafos árabes. Arqueologia Medieval. Porto.
7, pp. 37-72.
SILVA, A. R. (2009) - Villa Romana de Frielas. In FIGUEIREDO, S., Coord. - Actas das Jornadas de Arqueologia do
Vale do Tejo em Território Português (Lisboa, 3-6 de Março, 2008). Lisboa: Centro Português de Geo-
-História e Pré-História, pp. 88-102.
SILVA, A. R.; SANTOS, S. P. (2009) - Acompanhamento de obra revela eventual villa e assentamento proto-
-histórico (Via T5 - Unhos-Sacavém), Loures. In FIGUEIREDO, S., Coord. - Actas das Jornadas de Arqueo-
logia do Vale do Tejo em Território Português (Lisboa, 3-6 de Março, 2008). Lisboa: Centro Português de
Geo-História e Pré-História, pp. 13-27.
SILVA, A. V. da (1944) - Epigrafia de Olisipo (Subsídios para a história da Lisboa Romana). Lisboa: Câmara Municipal.
SILVA, A. V. da (1987) - A Cêrca Moura de Lisboa, Estudo histórico descritivo. Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa.
SILVA, C. T. (1996) - Produção de ânforas na área urbana de Setúbal: a oficina romana do Largo da Misericór-
dia. In FILIPE, G.; RAPOSO, J. M. C., Eds. - Ocupação romana dos estuários do Tejo e do Sado. Actas das
Primeiras Jornadas sobre Romanização dos Estuários do Tejo e do Sado. Seixal, Câmara Municipal. Lisboa:
Dom Quixote, pp. 43-54.
SILVA, C. T.; COELHO-SOARES, A. (1980-1981) - A Praça do Bocage (Setúbal) na Época Romana. Escavações
arqueológicas de 1980. Setúbal Arqueológica. Setúbal. 6-7, pp. 249-284.
SILVA, C. T.; COELHO-SOARES, A. (2006) - Produção de preparados piscícolas na Sines romana. Setúbal Arqueo-
lógica. Setúbal. 13, pp. 101-122.
SILVA, C. T.; COELHO-SOARES, A. (2014) - Preexistências de Setúbal. A ocupação da Época Romana da Travessa
de João Galo, nºs. 4-4B. Setúbal Arqueológica. Setúbal. 15, pp. 305-338.
SILVA, C. T.; COELHO-SOARES, A.; SOARES, J. (1987) - Nota sobre material anfórico da foz do Arade (Portimão).
Setúbal Arqueológica. Setúbal. 8, pp. 203-219.
SILVA, C. T.; SOARES, J. (1993) - Ilha do Pessegueiro. Porto romano da costa alentejana. Lisboa: Instituto para a
Conservação da Natureza.
SILVA, C. T.; SOARES, J.; BEIRÃO, C. M.; FERRER DIAS, L.; COELHO-SOARES, A. (1980-1981) - Escavações arqueo-
lógicas no Castelo de Alcácer do Sal (campanha de 1979). Setúbal Arqueológica. Setúbal. 6-7, pp. 149-218.
SILVA, C. T.; SOARES, J.; COELHO-SOARES, A. (1992) - Estabelecimento de produção de salga da Época Romana
na Quinta do Marim (Olhão). Resultados preliminares das escavações de 1988-89. Setúbal Arqueológica.
Setúbal. 9-10, pp. 335-374.
SILVA, C. T.; SOARES, J.; COELHO-SOARES, A.; DUARTE, S.; GODINHO, R. (2014) - Preexistências de Setúbal. 2ª
campanha de escavações arqueológicas na Rua Francisco Augusto Flamengo, nos 10-12. Da Idade do
Ferro ao Período Medieval. Musa. Setúbal. 4, pp. 161-214.
SILVA, H. (2013) - Escadinhas de S. Crispim, 3, Lisboa. Relatório Final dos Trabalhos de Acompanhamento Arqueo-
lógico. Lisboa: Era-Arqueologia. Policopiado.
SILVA, H.; FILIPE, I. (2013) - Escadinhas de São Crispim, 3 – 3ª, Lisboa. Relatório Final dos Trabalhos Arqueológicos.
Lisboa: Era-Arqueologia. Policopiado.
SILVA, R. C. (2015) - O Museu Nacional de Machado de Castro - um ensaio de arqueologia urbana em Coimbra: do
fórum augustano ao paço episcopal de Afonso de Castelo Branco. Tese de doutoramento, Faculdade de
Letras da Universidade de Coimbra.
SILVA, R. C.; FERNÁNDEZ FERNÁNDEZ, A.; CARVALHO, P. C. (2015) - Contextos e cerâmicas tardo-antigas do
fórum de Aeminium (Coimbra). Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa. 18, pp. 237-256.
SILVA, R. B. (1999) - Urbanismo de Olisipo: a zona ribeirinha. In Actas do II Colóquio Temático Lisboa Ribeirinha.
Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa, pp. 43-67.
SILVA, R. B. (2002) - As sepulturas da Calçada do Garcia e o urbanismo de Olisipo. In Actas do 3.º Encontro
Nacional de Arqueologia Urbana. Almada 20-23 de Fevereiro de 1997. Almada: Câmara Municipal de
Almada, pp. 193-205.
SILVA, R. B. (2005) - As “marcas de oleiro” em terra sigillata da Praça da Figueira: uma contribuição para o
conhecimento da economia de Olisipo (séc. I a.C. - séc. II d.C.). Dissertação de mestrado apresentada ao
Instituto de Ciências Sociais, Universidade do Minho. Policopiado.
SILVA, R. B. (2012a) - As “marcas de oleiro” na terra sigillata e a circulação dos vasos na Península de Lisboa. Dis-
sertação de Doutoramento, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa.
Policopiado.
SILVA, R. B. (2012b) - Arqueologia viária romana em Lisboa: a i.a.u. da Praça da Figueira. Cira Arqueologia. Vila
Franca de Xira. 1, pp. 74-87.

602
Bibliografia

SILVA, R. (2013) - A ocupação da Idade do Bronze Final da Praça da Figueira (Lisboa): novos e velhos dados
sobre os antecedentes da cidade de Lisboa. Cira Arqueologia. Vila Franca de Xira. 2, pp. 40-62.
SILVA, R. B. (2014) - Intervenção Arqueológica Urbana de 1993 na Fundação Ricardo Espirito Santo Silva/Largo
das Portas do Sol (Lisboa): as evidências do período romano. In FABIÃO, C., PIMENTA, J., Coords. - Actas
do Congresso Conquista e Romanização do Vale do Tejo. Cira Arqueologia. Vila Franca de Xira. 3, pp. 178-199.
SILVA, R. B. (2015a) - Um contexto alto-imperial da Rua dos Remédios, Lisboa. In QUARESMA, J. C.; MARQUES,
J., Coord. - Contextos estratigráficos na Lusitania (do Alto-Império à Antiguidade Tardia) (Monografias, 1).
Lisboa: AAP, pp. 41-67.
SILVA, R. B. (2015b) - Duas terracotas femininas romanas do Palácio dos Condes de Penafiel (Lisboa). In Estudos
e relatórios de Arqueologia Tagana, nº 5 (https://unl-pt.academia.edu/RodrigoBanhadaSilva).
SILVA, R. B. (2015c) - Um almofariz itálico com “marca de oleiro” de M. Cominivs Satvrninvs, de Lisboa. In Estu-
dos e relatórios de Arqueologia Tagana, nº 4 (https://unl-pt.academia.edu/RodrigoBanhadaSilva).
SILVA, R. B. (no prelo) - O “fácies” cerâmico de Olisipo (Lisboa) no período Júlio-Cláudio: uma primeira aproxi-
mação a partir de contextos suburbanos seleccionados. In Actas do Workshop Internacional La Configu-
ración de los Facies Cerâmicos Altoimperiales en el Sul de la Peninsula Iberica. Universidad de Granada, 28
de Noviembre de 2013.
SILVA, R. B.; DE MAN, A. (2015) - Palácio dos Condes de Penafiel: a significant late antique context from Lisbon.
In Actas do X Congresso Internacional Cerâmica Medieval no Mediterrâneo, Silves e Mértola, 22 a 27 de Ou-
tubro de 2012. Silves/Mértola: Câmara Municipal de Silves/Campo Arqueológico de Mértola, pp. 397-402.
SILVA, R. B.; FILIPE, V.; ALMEIDA, R. (2016) - Julio-Claudian lusitanian amphorae: a perspective on selected
contexts from Olisipo (Lisbon, Portugal). In PINTO, I. V., ALMEIDA, R., MARTIN, A., Eds. - Lusitanian
Amphorae: Production and Distribution. Roman and Late Antique Mediterranean Pottery 10. Oxford:
Archaeopress, pp. 153-166.
SILVA, R. B.; GOMES, R. V.; GOMES, M. V. (2011) - O bairro islâmico da Praça da Figueira (Lisboa). In Cristãos e
Muçulmanos na Idade Média Peninsular - Encontros e desencontros. Lisboa: Instituto de Arqueologia e
Paleociências das Universidades Nova de Lisboa e do Algarve, pp. 17-25.
SILVINO, T. (2007) - Lyon. La fouille du parc Saint-Georges: le mobilier céramique de L’antiquité Tardive. Revue
Archéologique de l’Est. Dijon. 56, pp. 187-230.
SLANE, K. W. (1986) - Two deposits from the early roman cellar building, Corinth. Hesperia. Athens. 55, pp. 271-
318.
SOARES, J.; SILVA, C. T. (1973) - Ocupação do período proto-romano do povoado do Pedrão (Setúbal). In Actas
das II Jornadas Arqueológicas. Lisboa: Associação dos Arqueólogos Portugueses, pp. 6-63.
SOARES, J.; SILVA C. T. (2014) - Projecto de Investigação Arqueológica “CIB” e a campanha de escavações Chi-
banes/2012. Musa. Setúbal. 4, pp. 75-98.
SOEIRO, T. (1984) - Monte Mozinho: apontamentos sobre a ocupação entre Sousa e Tâmega em Época
Romana. Penafiel - Boletim Municipal de Cultura. Penafiel. 3:1.
SOLIER, Y.; GUY, M.; LAVAGNE, G. F.; MORRISSON, C.; CHEVALIER, Y.; SABRIE, M.; SABRIE, R.; BOUSCARAS, A.;
DEPEYROT, G.; MARICHAL, R. (1981) - Les épaves de Gruissan. Archaeonautica. Paris. 3, pp. 7-264.
SOUSA, E. (2014) - A ocupação pré-romana da foz do estuário do Tejo. Estudos & Memórias 7. Lisboa: Centro de
Arqueologia da Universidade de Lisboa.
SOUSA, E. (2011) - A ocupação pré-romana da foz do Estuário do Tejo durante a segunda metade do 1º milénio a.C..
Dissertação de Doutoramento, Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa. Policopiado.
SOUSA, E.; ALVES, C.; PEREIRA, T. (2016) - O conjunto anfórico da urbanização do Moleão, Lagos (Portugal).
In JÁRREGA DOMÍNGUEZ, R., BERNI MILLET, P., Eds. - Amphorae ex Hispania: paisajes de producción y
consumo. Monografías Ex Officina Hispana III, Vol. I. Tarragona: Instituto Catalán de Arqueología Clási-
ca, pp. 464-478.
SOUSA, E.; PIMENTA, J. (2014) - A produção de ânforas no Estuário do Tejo durante a Idade do Ferro. In MO-
RAIS, R., FERNÁNDEZ, A. e SOUSA, M. J., Eds. - As produções cerâmicas de imitação na Hispania (Actas do
II Congresso da Sociedade de Estudos da Cerâmica Antiga da Hispânia - SECAH/Braga, 4-6 Abril 2013),
Vol. I. Porto: Monografias Ex Officina Hispana II, pp. 303-316.
SOUSA, E.; PINTO, M. (2016) - A ocupação da Idade do Ferro na colina do Castelo de São Jorge (Lisboa, Portu-
gal): novos dados das escavações realizadas na Rua do Recolhimento/Beco do Leão. Apontamentos de
Arqueologia e Património. Lisboa. 11, pp. 59-67.
SOUSA, E.; SARRAZOLA, A.; SIMÃO, I. (2016) - Lisboa pré-romana: contributos das intervenções arqueológicas
na Rua da Madalena. Apontamentos de Arqueologia e Património. Lisboa. 11, pp. 69-79.

603
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

SOUSA, E.; SERRA, M. (2006) - Resultados das intervenções arqueológicas realizadas na zona de protecção do
Monte Molião (Lagos). Xelb. Silves. 6, pp. 5-20.
SOUSA, L.; NUNES, M.; GONÇALVES, C. (2006) - O vinho na antiguidade clássica. Alguns apontamentos sobre
Lousada. Oppidum. Lousada. 1, pp. 69-85.
STIGLITZ, A. (2004) - Tra oriente e occidente: le anfore di Cos. Bolletino dell’associazione Iasos di Caria. Ferrara.
10, pp. 33-36.
TARRADELL MATEU, M.; ARRIBAS PALAU, A.; ROCA ROUMENS, M.; DOENGES, N.; SANMARTÍ GREGO, J.;
CARDELL PERELLÓ, J.; ORFILA PONS, M.; TARRADELL FONT, N. (1993) - Un conjunt de materials d’epoca
tardo-republicana de la ciutat romana de Pollentia (Alcúdia, Mallorca). Pyrenae. Barcelona. 24, pp. 227-267.
TCHERNIA, A. (1964) - Amphores et marques d’amphores de Bétique à Pompéi et à Stabies. Mélanges
d’archéologie e d’Histoire. Paris. 76:2, pp. 419-449.
TCHERNIA, A. (1967) - Les amphores romaines et l’histoire économique. Journal des Savants. Paris. 4, pp. 216-234.
TCHERNIA A. (1969) - Recherches archéologiques sous-marines. Gallia. Nanterre. 27:2, pp. 465-499.
TCHERNIA, A. (1971) - Les amphores vinaires de Tarraconaise et leur exportation au début de l’Empire. AEspA.
Madrid. 44, pp. 38-85.
TCHERNIA, A. (1986) - Le vin de l’Italie romaine. Essai d’histoire économique d’après les amphores. Paris: De
Boccard.
TCHERNIA, A. (1990) - Contre les épaves. In Gaule Interne et Gaule Méditerranéenne aux IIe et Ier siècles avant
J.-C. Paris: CNRS (Revue Archéologie de Narbonnaise; Supplément 21), pp. 291-301.
TCHERNIA, A.; POMEY, P.; HESNARD, A. (1978) - Les amphores. L’épave romaine de La Madrague de Giens.
Fouilles de l’Institut d’archéologie méditerranéenne. XXXIV Supplément a Gallia. Paris, pp. 33-50.
TCHERNIA, A.; VILLA, J.-P. (1977) - Note sur le matériel recueilli dans la fouille d’un atelier d’amphores à Velaux
(Bouches-du-Rhône). In Méthodes classiques et méthodes formelles dans l’étude typologique des am-
phores. Actes du colloque de Rome, 27-29 mai 1974. Rome: École Française de Rome (32), pp. 231-239.
TCHERNIA, A.; ZEVI, F. (1972) - Amphores vinaires de Campanie et de Tarraconaise à Ostie. In Recherches sur
les amphores romaines. Actes du Colloque de Rome (4 mars 1971, Rome). Rome: Publications de l’École
française de Rome (10), pp. 35-67.
TEICHNER, F. (2008) - Entre tierra y mar/Zwischen Land und Meer Architektur und Wirtschaftsweise ländlicher
Siedlungsplätze im Süden der römischen Provinz Lusitanien (Portugal). Studia Lusitana, 3. Mérida: Museo
Nacional de Arte Romano.
TOL, G.; HAAS, T.; ARMSTRONG, K.; ATTEMA, P. (2014) - Minor centres in the Pontine plain: the cases of Forum
Appii and Ad Medias. Papers of the British School at Rome. Rome. 82, pp 109-134.
TONIOLO, L.; COTTICA, D. (2013) - La circolazione del vasellame ceramic nella laguna Nord di Venezia tra I sec.
d.C. e VI secolo d.C. In BERNAL, D., JUAN, L. C., BUSTAMANTE, M., DÍAZ, J. J. e SÁEZ, A. M., Eds. - Hornos,
talleres y focos de producción alfarera en Hispania (Actas do I Congreso Internacional de la SECAH - Cádiz,
3-4 March 2011), Vol. II. Cádiz: Universidad de Cádiz, pp. 403-417.
TORE, G.; STIGLITZ, A. (1987) - Ricerche archeologiche nel Sinis e nell’alto Oristanese continuità e trasformazi-
one nell’Evo Antico). In L’Africa romana, IV, vol. 2. Sassari, 12-14 dicembre 1986. Sassari: Carocci editore,
pp. 633-658.
TREMOLEDA TRILLA, J. (2000) - Industria y artesanado cerámico de Época Romana en el nordeste de Cataluña
(época augústea y altoimperial). BAR International Series 835. Oxford: Archaeopress.
TREMOLEDA TRILLA, J. CASTANYER, P.; SANTOS, M. (2016) - Las ánforas de los niveles augusteos de las termas
de la ciudad romana de Empúries. In JÁRREGA DOMÍNGUEZ, R., BERNI MILLET, P., Eds. - Amphorae ex
Hispania: paisajes de producción y consumo. Monografías Ex Officina Hispana III, Vol. I. Tarragona: Insti-
tuto Catalán de Arqueología Clásica, pp. 66-82.
TREMOLEDA TRILLA, J.; JÁRREGA DOMÍNGUEZ, R. (2016) - Gauloise 4 (Tarraconensis northern coastal area).
Amphorae ex Hispania. Landscapes of production and consumption (http://amphorae.icac.cat/amphora/
gauloise-4-tarraconensis-northern-coastal-area).
TRINDADE, L.; DIOGO, A. M. D. (1995) - Ânforas romanas de Aljustrel. Vipasca. Aljustrel. 4, pp. 11‑14.
TRINDADE, L.; DIOGO, A. M. D. (1996) - Materiais provenientes do sítio romano da Comenda (Setúbal).
Al-Madan. Almada. II:5, pp. 7-12.
TRINDADE, L.; DIOGO, A. M. D. (1998) - Ânforas romanas provenientes do castro de Chibanes. Al-Madan. Almada.
II:7, pp. 172-173.
TRONCHETTI, C. (2008) - I rapporti di Nora (Pula, Cagliari) con l’Africa settentrionale. In L’Africa Romana, XVII,
vol. 3. Siviglia, 13-18 dicembre 2006. Sassari: Carocci editore, pp. 1719-1729.

604
Bibliografia

VALE, A.; FERNANDES, L. (1994) - Intervenção Arqueológica no Largo de Santo António da Sé. Al-Madan. Almada.
II:3, pp. 109.
VALE, A.; FERNANDES, L. (2002) - Intervenção Arqueológica na Praça D. Pedro IV (Rossio) em Lisboa. In Actas
do 3º Encontro de Arqueologia Urbana (Almada, 20 a 23 de Fevereiro de 1997). Almada: Câmara Municipal
de Almada, pp. 109-121.
VALE, A.; FERNANDES, L. (2017) - O Circo Romano de Olisipo: exemplos de revestimentos. In FERNANDES, L.,
BUGALHÃO, J., FERNANDES, P. A., Coords. - Debaixo dos nossos pés. Pavimentos históricos de Lisboa.
Lisboa: Museu de Lisboa, pp. 124-127.
VALE, A.; SANTOS, V. (2003) - A barreira do Circo de Olisipo. In Actas do Quarto Encontro de Arqueologia Urbana.
Amadora: Câmara Municipal da Amadora, pp. 177-186.
VAN DER WERFF, J. H. (1977-1978) - Amphores de tradition punique à Uzita. BABesch. Maastricht. 52-53, pp.
171-198.
VAN DER WERFF, J. H. (1982) - Uzita. Vondstenmaterial uit een antieke nederzetting in midden-Tunesië. Utrecht.
VAN DER WERFF, J. H. (1986) - The amphora wall in the House of the Porch. BABesch. Maastricht. 61, pp. 96-137.
VAN DER WERFF, J. H. (2002) - Old and new evidence on the contents of Haltern 70 amphoras. In RIVET, L.,
SCIALLANO, M., Eds. - Vivre, produire et échanger: reflets méditerranéens. Mélanges offerts à Bernard
Liou. Montagnac : Éditions Monique Mergoil, pp. 445-449.
VASCONCELLOS, J. L. (1898) - Olaria luso-romana em S. Bartolomeu de Castro Marim. O Archeólogo Português.
Lisboa. 4, pp. 329-336.
VASCONCELLOS, J. L. (1920) - Coisas velhas. 120. Olaria lusitano-romana (?) da Manta Rôta. O Archeólogo Por-
tuguês. Lisboa. 24, pp. 229.
VÁZQUEZ PAZ, J. (2012) - Cerámicas de importación africana en contextos italicenses de Bajo Imperio y la
Antiguedad Tardia (2ª mitad del s. III - inicios del VI d.C.). In BELTRÁN FORTES, J., GUZMÁN SÁNCHEZ, S.,
Coords. - La arqueologia romana de la provincia de Sevilha, actualidade y perspectivas. Historia y Geogra-
fía, 183. Sevilla: Universidad de Sevilla, pp. 255-272.
VENDITTI, C. (2014) - The amphorae. In CORSI, C., Ed. - Ammaia II: the excavation contexts 1994-2011. ARGU 9.
Ghent: Academia Press, pp. 57-323.
VENDITTI, C. (2016) - Lusitanian and Imported Amphorae from the Roman Town of Ammaia (Portugal). A Short
Overview. In PINTO, I. V., ALMEIDA, R., MARTIN, A., Eds. - Lusitanian Amphorae: Production and Distribu-
tion. Roman and Late Antique Mediterranean Pottery 10. Oxford: Archaeopress, pp. 219-230.
VIEGAS, C. (2003) - Terra sigillata da Alcáçova de Santarém - Economia, comércio e cerâmica. Trabalhos de Arqueo-
logia, 26. Lisboa: Instituto Português de Arqueologia.
VIEGAS, C. (2006b) – O Forno romano da Manta Rota (Algarve). Setúbal Arqueológica. Setúbal. 13, pp. 177 -196.
VIEGAS, C. (2011) - A ocupação romana do Algarve. Estudo do povoamento e economia do Algarve central e orien-
tal no período romano. Estudos & Memórias 3. Lisboa: Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa.
VIEGAS, C.; ARRUDA A. M. (2013) - Ânforas romanas de época imperial de Monte Molião (Lagos): as Dressel 20.
In Actas do I Congresso da Associação dos Arqueólogos Portugueses (21-24 de Novembro de 2013). Lisboa:
Associação dos Arqueólogos Portugueses, pp. 727-735.
VIEGAS, C.; DINIS, T. (2010) - Pedras d’el Rei (Tavira): villa suburbana de Balsa. Xelb. Silves. 10/11, pp. 235-251.
VIEGAS, C.; RAPOSO, J.; PINTO, I. V. (2016) - Almagro 51C (Western Lusitania). Amphorae ex Hispania. Landscapes
of production and consumption (http://amphorae.icac.cat/amphora/ almagro-51c-western-lusitania).
VNUKOV, S. (2004) - Pan-Roman Amphora Types Produced in the Black Sea Region. In EIRING, J., LUND, J.,
Eds. - Transport Amphorae and Trade in the Eastern Mediterranean. Athens: Monographs of the Danish
Institute at Athens (5), pp. 407-415.
VOLPE, G.; ANNESE, C.; DISANTAROSA, G.; LEONE, D. (2007) - Ceramiche e circolazione delle merci in Apu-
lia fra Tardoantico e Altomedioevo. In GELICHI, S., NEGRELLI, C., Eds. - La circolazione delle ceramiche
nell’Adriatico tra Tarda antichità e Altomedioevo, III Incontro di studio CER.AM.IS. Mantova: S.A.P., pp.
353-374.
VV.AA. (2004) - Culip VIII i les àmfores Haltern 70. Monografies del Casc 5. Girona: Museu d’Arqueologia de
Catalunya.
VV.AA. (2001) - La viticulture en Gaule. Gallia, 58. Paris: CNRS Éditions.
WEBER, M. (1909) - Agrarverhältnisse im Altertum. Handwörterbuch der Staatswissenschaften. Band 1, 3. Jena,
pp. 52-188.

605
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

WHITBREAD, I.K. (1995) - Greek transport amphorae: a petrological and archaeological study. Fitch Laboratory
occasional papers, 4. Athens: The British School at Athens.
WILL, E. L. (1983) - Exportation of Olive Oil from Baetica to the Eastern Mediterranean. In BLÁZQUEZ MARTÍ-
NEZ, J. M., REMESAL RODRÍGUEZ, J., Eds. - Producción y Comercio del aceite en la Antigüedad. Segundo
Congreso Internacional. Madrid: Universidad Complutense de Madrid, pp. 391-440.
WILL, E. L. (1989) - Relazioni mutue tra le anfore romane. In Amphores Romaines et Histoire Economique: dix
ans de recherche, Sienne, 22-24 mai 1986. Rome: Publications de l’École française de Rome (114), pp.
297-309.
WILLIAMS, D. F. (2005a) - Dressel 2-4 Cos. Roman Amphorae: a digital resource. University of Southampton
(http://archaeologydataservice.ac.uk/archives/view/amphora_ahrb_2005/).
WILLIAMS, D. F. (2005b) - Pompeii 13. Roman Amphorae: a digital resource. University of Southampton (http://
archaeologydataservice.ac.uk/archives/view/amphora_ahrb_2005/).
WILLIAMS, D. F. (2005c) - Rhodian Type. Roman Amphorae: a digital resource. University of Southampton
(http://archaeologydataservice.ac.uk/archives/view/amphora_ahrb_2005/).
WILLIAMS, D. F.; CARRERAS MONFORT, C. (1995) - North African Amphorae in Roman Britain: A Re-Appraisal.
Britannia. Cambridge. 26, pp. 231-252
WILLIAMS, D. F.; PANELLA, C.; KEAY, S. (2005) - Dressel 2-4 Italian. Roman Amphorae: a digital resource. Univer-
sity of Southampton (http://archaeologydataservice.ac.uk/archives/view/ amphora_ahrb_2005/).
WILSON, M. G. (1984) - The other pottery. In FRERE, S. S., Ed. - Verulamium excavations 3. Oxford: Oxford Uni-
versity, pp. 199-266.
ZARZALEJOS PRIETO, M. (2005) - Comercio y distribuición de cerámicas romanas en Asturias. In FERNÁNDEZ
OCHOA, C., GARCÍA DÍAZ, P., Eds. - Unidad y diversidad en el arco atlántico en Época Romana. III Colo-
quio Internacional de Arqueologia en Gijón, 28-30 de septiembre 2002. Archaeopress, BAR International
Series 1371, pp. 163-189.
ZERJAL, T. (2008) - Eastern imports in the ager Tergestinus. In Rei Cretariae Romanae Favtorvm. Acta 40, pp.
131-140.
ZEVI, F. (1966) – Apunti sulle anfore romane I. La tavola tipologica de Dressel. Archeologia Classica. Roma. 18,
pp. 208-247.
ZEVI F. (1969) - Amphores de Byzacène au Bas-Empire. I. Due tipi d’anfora africani. Antiquités Africaines. Paris.
3, pp. 173-195.

Principais sites consultados


Amphora ex hispania - http://amphorae.icac.cat/

DGPC. Base de Dados Endovélico - http://arqueologia.patrimoniocultural.pt/index.php?sid=sitios

CEIPAC - http://ceipac.ub.edu/

Le Centre Alexandrin d’Étude des Amphores - http://www.amphoralex.org/timbres/AnsesTimbrees.php

Roman Amphorae: a digital resource- http://archaeologydataservice.ac.uk/archives/view/amphora_ahrb_2005/


cat_amph.cfm

SECAH - https://www.exofficinahispana.org/

Terres d’amphores - http://www.mae.u-paris10.fr/terresdamphores/

606
ANEXO I
OS SÍTIOS
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

38.53
38.22 38.55 38.32
38.30
38.26

38.43

38.22 38.30
38.49

[1030]
[1028]
[1030] 38.51

38.46
38.24 38.23 38.50
38.31 38.32

1m

I.01a – Rua dos Lagares. Plano do muro romano


(desenho: Anabela Castro).

I.01b – Rua dos Lagares. Fotografia do


muro romano (foto: Anabela Castro).

I.02a – Encosta de Sant’Ana. Planta geral da área intervencionada com indicação dos diferentes sectores
(planta: Vasco Leitão e Manuela Leitão).

608
Anexo I. Os sítios

I.02b – Encosta de Sant’Ana. Plano da área da necrópole


romana no Sector A (Gonçalves et al., 2010).

I.02c – Encosta de Sant’Ana. Ao centro,


ustrinum (foto: Cláudia Costa).

I.02d – Encosta de Sant’Ana. Aspecto geral da escavação e


sepultura romana, em baixo, à esquerda (foto: Vasco Leitão e
Manuela Leitão).

I.02e – Encosta de Sant’Ana. Sepultura romana


reaproveitando ímbrices (foto: Vasco Leitão e
Manuela Leitão).

609
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

I.03a – Circo romano. Localização das estruturas (Sepúlveda et al., 2002).

I.03b – Circo romano. Planta das estruturas (Sepúlveda et al., 2002).

610
Anexo I. Os sítios

I.04b – Praça da Figueira, 1961-62. Plano de escavação do


«compartimento B» - Bandeira Ferreira, 1962 (Silva, 2012).

I.04a – Praça da Figueira, 1961-62. Hospital


Real de Todos os Santos - escavações de Irisalva
Moita (foto: Mário Novais).

I.04c – Praça da Figueira, 1961-62. «Edifício sudoeste»


do sector intervencionado em 1962 por Bandeira Fer-
reira, com proposta para localização dos elementos
funerários registados (Silva, 2005).

I.04d – Praça da Figueira, 1961-62. “Edifício Noroeste”


intervencionado em 1962 por Bandeira Ferreira, reconsti-
tuindo a localização dos elementos funerários (Silva, 2005).

611
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

B C D E F G H I J K L M N P

NORTE
2

9
Edificado

10
Pavimentos
viários
Estruturas
negativas
11 (Sepulturas)
5m

I.04e – Praça da Figueira, 1999-2001. Planta geral com as estruturas mais relevantes documentadas na necrópole
da Praça da Figueira - Fase III (Silva, 2005).

5m

9047

8268

4m
8554 8220
8219
8231
8267
8238 8230
9053 9054 9051
9048 3m
8299
9049 9050
8297 9052 8300

I.04f – Praça da Figueira, 1999-2001. Perfil Norte (F 8/9), com vários níveis de piso da “Via Norte” de Olisipo
(Silva, 2005).

5m
8504

8507
8519

8531 8530 8540


8535 8543 8533 8545
4m

8522
8542 8532 8808
8808
8554

8555 8559 8810


3m

I.04g – Praça da Figueira, 1999-2001. Perfil Este (F 7), com indicação de dois pisos da “Via Secundária” (Silva, 2005).

612
Anexo I. Os sítios

6m

5m

4m
9908=8874
9908=8874

3m

Super-estruturas e pavimentos Embasamentos Interfaces das U.E.s

I.04h – Praça da Figueira, 1999-2001. Alçado da área funerária com porta porticada (Silva, 2005).

I.04i – Praça da Figueira, 1999-2001. Aspecto sobre I.04j – Praça da Figueira, 1999-2001. Outro exemplo de
reutilização de ânforas de tipo Dressel 20 na necrópole reutilização de ânforas de tipo Dressel 20 na necrópole
(foto: Rodrigo B. da Silva). (foto: Rodrigo B. da Silva).

I.04k – Praça da Figueira, 1999-2001. Perspectiva I.04l – Praça da Figueira, 1999-2001. Aspecto geral sobre
sobre reutilização de ânforas de tipo Dressel 20 na os trabalhos de escavação (foto: Rodrigo B. da Silva).
necrópole (foto: Rodrigo B. da Silva).

613
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

I.05a – Hotel de Santa Justa. Contextos islâmicos e romanos.

I.05b – Hotel de Santa Justa. Topo dos


depósitos de Época Romana.

I.06a – Rua do Ouro, 197. Aspecto geral sobre os contextos


islâmicos (foto: Lídia Fernandes).
I.06b – Rua do Ouro, 197. Estruturas de época
islâmica (foto: Lídia Fernandes).

I.08a – Rua do Ouro, 133. Ara de I.08b – Rua do Ouro, 133. Tanque forrado a opus
argamassa e tijolo (foto: António signinum (foto: António Valongo).
Valongo).

614
Anexo I. Os sítios

21
4

19

23
16
7
I.09 – Zara, Rua Augusta. Detalhe sobre elementos
arquitectónicos (Ferreira et al. 2002).

28
14 12

30
2-20

9
15

25
34 35
I.10b – Banco de Portugal, estratigrafia. O Horizonte
vermelho corresponde aos níveis de Época Romana
(foto: Artur Rocha). 26 24

13
27

0 5m

I.10a – Lisboa, Banco de Portugal. Distribuição


das sondagens (planta: Artur Rocha)
I.10c – Banco de Portugal. Detalhe sobre os níveis de
época Romana (foto: Artur Rocha).

615
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

I.11a – Planta do criptopórtico da Rua da Prata (Silva, 1968).

I.11b – Criptopórtico. Implantação das sondagens arqueológicas relativamente ao criptopórtico da Rua da Prata
(planta: Artur Rocha).

616
Anexo I. Os sítios

T hermae
C assiorum

ium
er
yte

stum
od
Ap
I.12a - Thermae Cassiorum. Estruturas preservadas

u
oca
pertencentes às termas (DGPC: http://www.patri-

or

Hip
red
moniocultural.gov.pt)

Cor
?
tra Praefurnium
les
Pa

ca
Cloa
5m
Thermae Cassiorum
Pré termal
Pós termal

I.12c - Thermae Cassiorum. Planta das estruturas


documentadas (planta: Rodrigo B. da Silva - alterada).

Contexto
PPJ.92-Q.15/C.20
I.A.U. Escadinhas

I.12b - Thermae Cassiorum. Outro aspecto Inumação


em Dressel 20
S.Crispim

sobre as estruturas preservadas pertencentes I.A.U.s Rua S.Mamede


ao Caldas
às termas (DGPC: http://www.patrimoniocul- Thermae
“Muro de
contenção”

tural.gov.pt) Cassiorum

Epígrafe
funerária

I.A.U.s Calçada do
Correio Velho

“Templo de Cibele”

I.A.U.s Rua da
Madalena

I.A.U.s Lgº S.António da Sé

“Cetárias Napoleão”

I.12d - Thermae Cassiorum. Implantação das


Estruturas na malha urbana actual, com referên-
cia a outros vestígios documentados na mesma
zona (planta: Rodrigo B. da Silva - alterada).

617
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

I.13a – Thermae Cassiorum. Planta da área intervencionada em 2013 I.13b – Thermae Cassiorum. Perspectiva
(Gomes et al., 2017). sobre a cloaca e outras estruturas roma-
nas identificadas em 2013 (Gomes et al.,
2017).

I.14a – Escadinhas de São Crispim. Fossa [696] e


respectivo enchimento [701] (Silva e Filipe, 2013).

I.14b – Escadinhas de São Crispim. Perspectiva


sobre interfaces negativas de Época Romana (Silva I.15 – Rua de São Mamede. Perfil Este da Sond. 1
e Filipe, 2013). (Mota et al., 2017).

618
Anexo I. Os sítios

I.16 – Palácio dos Condes de Pena-


fiel. Foto de jornal sobre a escav-
ação (imagem cedida por: Rodrigo
B. da Silva).

I.18a – Largo de Santo António da Sé. Plano da estru-


tura romana (à direita) e do massame medieval (foto:
Lídia Fernandes).
I.18b – Largo de Santo António da Sé. Aspecto geral
sobre o alçado do muro romano (foto: Lídia Fernandes).

I.18c – Largo de Santo António da Sé. Estrutura tardo- I.18d – Largo de Santo António da Sé. Estrutura tardo-
republicana ou augustana e fossa tardia (foto: Lídia republicana ou augustana e fossa tardia (foto: Lídia
Fernandes). Fernandes).

619
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

I.19a – Rua da Madalena. Aspecto sobre o tanque I.19b – Rua da Madalena. Perspectiva sobre o tanque
identificado na sondagem 4 (Sarrazola e Simão, 2013). registado na sondagem 4B (Sarrazola e Simão, 2013).

Cota abs.
5m

Vala 5 Vala 1

Sapata
Est. 10 Est. 11
4m
Est. B
C. 8
E. 12
Est. 7
Cetária

C. 2
Est. 16

3m
C. 4 Est. 14
C. 7 C. 14 Enrocamento
C. 8
Est. 17 C. 15
C. 8 C. 28
C. 7a

C. 13 C. 13 C. 33

C. 14
C. 14
C. 15
2m

2ª Fase Área não escavada Embasamentos romanos

I.20b – Rua dos Bacalhoeiros. Perfil Norte das valas 1 e 5,


Sector Norte (Fernandes et al., 2011).

Cota abs. Vala 5 Vala 4 Vala 2

5m

C. 5
E 10
C. 1 C. 6
C. 7
C. 2
C. 8
4m
Estrutura 7 C. 9
C. 3 C. 10
C. 5

I.20a – Rua dos Bacalhoeiros. Planta geral com as estru-


C. 11
C.7

C. 15
C.8
Estrutura 10 Estrutura B
turas romanas (Fernandes et al., 2011). Estrutura 9
E. 13
E. 12
E. 12
C. 1 E. 12
C. 16
3m
C. 3 E.15
C. 4a C. 5 C. 4 Cetária
C. 9
C. 8
C. 8b
C. 10a C. 8
C. 10B C. 10
C. 14a C. 12a
2m C. 17

1ª FASE 2ª FASE Área não escavada Alicerce da parede sul

I.20c – Rua dos Bacalhoeiros. Perfil Sul das valas 2, 4 e 5,


Sector Norte (Fernandes et al., 2011).

620
Anexo I. Os sítios

I.21a – Teatro Romano de Lisboa. Levantamento de Francisco Xavier Fabri, 1798, das ruínas do Teatro.

46,27 m

14

13
Vala 5
Vala 5

16

15

15-a
17
15-a

2
2
4 2-a
2-a 2-a
4
9
9-a

I.21c – Teatro Romano de Lisboa. Vista geral do


4
6-a
4-a 6-a
6-a

6
7 9-b
12 post scaenium (foto: Lídia Fernandes).
Vala 9
Vala 11

5 8
10
9
14
7
16
9
10 13

12
- Muro actual do terraço (fundação romana?)

15 17 11
- Muro do postcaenium
16
- Afloramento rochoso

- Área não escavada

46,27 m - Cota absoluta - opus signinum

Vala 11 Vala 10 Vala 9

0 1 2 3m Teatro Romano de Lisboa


Serviço de Arqueologia - Museu da Cidade - C.M.L.

Pátio: Vala 5 Data: 09/09/06 Perfil: Oeste

Desenho: Lídia Fernandes Tintagem: Victor Filipe

I.21b – Teatro Romano de Lisboa. Escavações do pátio: perfil


Oeste, Vala 5.

I.21d – Teatro Romano de Lisboa. Perfil Oeste da


Vala 5, no pátio (foto: Lídia Fernandes).

621
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

I.22a – Claustros da Sé. Aspecto geral das escavações nos Claustros da Sé (Gaspar e Gomes, 2017b).

I.22b – Claustros da Sé. Contextos republicanos I.22c – Claustros da Sé. Aspecto sobre a Tripolitana 2,
(foto: João Pimenta).. fragmentada in situ (foto: João Pimenta).

622
Anexo I. Os sítios

I.23a – Casa dos Bicos. Planta geral das estruturas romanas.

Alçado Sul da Muralha Romana Tardia

3,41
Sob a escada

Sond. 3 Sond. 1
Sond. 2

0 5m

- Blocos de afloramento rochoso - Rebocos século XVI

- Ligante argiloso - Área não escavada Direcção científica da intervenção: Victor Filipe e Manuela Leitão
Desenhos de campo: Vasco Vieira
- Cerâmica de construção - Vigas e placa de betão Tratamento gráfico dos desenhos: Victor Filipe

- Ligante de argamassa branca - Silhares almofadados reaproveitados

- Torre vã Medieval - Elementos arquitectónicos reaproveitados

- Ligante de argamassa rosada - Nível freático

I.23b – Casa dos Bicos. Alçado Sul da muralha romana Tardia.

623
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

[227]
A - A’
3m

[229] Betão
Torre
Pav. Rom.
Muralha tardia [221]+[220]
(Cotas absolutas)

0m

Betão B - B’ Betão

Sapata
[21]

3m
anos 1960 [15]

Muralha tardia
[27]

[7]

Bloco de [6]
[28]
[29]

[41]

[44]
calco-arenito [49]
[43]

[69]
[42]

[61]
[63]
[68]

[65]

(Cotas absolutas)
[85]
[51]
[70]

[86]
[71]

[87]
[72]

[81]
[73]

[73]
[82]

[74]

[75]

[80] 0m
[84]

[77]

[79]

Substrato miocénico

D - D’
5m

Betão Betão 3m
(Cotas absolutas)

[403]
[403]
Betão
(Cotas absolutas)

[405]

Betão [405]
[229]
[406]
[407]

[408] [409]
[411] [410]

Substrato [412]
1m
miocénico
2m

I.23c – Casa dos Bicos. Cortes, alçados e secções das sondagens 1, 2, 4 e 6.

624
Anexo I. Os sítios

21,55
Sondagem 3
(2013) 0m

A:A

Sondagem 1
(2005)

Pátio
[13] 1m

[7]

[26]
2m
[28]

[29]
Beco do Marquês de Angeja

[30]
0 5m
[31]
[36]

A [32]

3m
N

Sondagem 2
I.25c – Beco do Marquês de Angeja. Corte A:A da
(2005)
Sondagem 1.

Rua São João da Praça

I.25a – Beco do Marquês de Angeja. Planta geral


dos edifícios e localização das sondagens de 2005
(1 e 2) e 2013 (3). 21,55
0m
[1]

[2]

[3]

[4] [5]

21,16 [13] [7]


21,08 21,16 20,61

[19] 1m
21,14 21,11
20,47
20,65
[13]
20,08 21,01
[8]
21,03
19,84

20,47
20,52
[26] 21,02 [7]

20,75
20,90
19,74

[19] [32] 2m
18,75
[26]
N
18,84 20,76
20,85
20,72
18,65 21,15
[36]
20,75
19,37
20,94

20,51 20,60
19,72 19,39 20,64 20,61

0 1m 3m

I.25b – Beco do Marquês de Angeja. Sondagem 1: I.25d – Beco do Marquês de Angeja. Corte Oeste
plano final após alargamento a Oeste. da Sondagem 1.

625
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

I.25e – Beco do Marquês de Angeja. Sondagem 3, I.25f – Beco do Marquês de Angeja. Plano Final da
aspecto dos trabalhos de escavação. Sondagem 3.

103

101

105

100

26
28

I.26a – Pátio da Sr.ª de Murça. Perspectiva sobre as estruturas 35


39
32
44 37
republicanas (fotos: Vasco Leitão e Manuela Leitão). 54
45
49
55 1m

56
59
60
61

I.26c – Pátio da Sr.ª de Murça. Perfil Sul e


alçado da muralha (desenho Vasco Leitão e
Manuela Leitão).

I.26b – Pátio da Sr.ª de Murça. Ânfora Dressel 1 sobre I.26d – Pátio da Sr.ª de Murça. Numisma republicano
piso de argila (fotos: Vasco Leitão e Manuela Leitão). (foto: José Paulo Ruas).

626
Anexo I. Os sítios

Lages de
pavimento
0 1m

I.27a – - Rua de São João da Praça, 2009. Alçado da torre


semicircular romana na área da Sondagem 1 (desenho:
Vasco Leitão e Manuela Leitão)
I.27b – Torre semicircular romana e lajeado,
Sondagem 1 de 2009 (foto: Vasco Leitão e
Manuela Leitão).

I.28a – Rua de São João da Praça, 2001. Perfil Sul da I.28b – Rua de São João da Praça, 2001. Vista geral da
Sondagem 2 (Pimenta et al., 2005). área da muralha e da torre (foto: Manuela Leitão).

627
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

I.29b – Palácio do Marquês de Angeja.


Plano final e perfil Este da sondagem 1.
I.29a – Palácio do Marquês de Angeja. Localização das
sondagens realizadas.

I.29c – Palácio do Marquês de Angeja. Plano final da I.29d – Palácio do Marquês de Angeja. Perspectiva
sond. 2/4. sobre o topo da estrutura hidráulica da sondagem 9.

628
Anexo I. Os sítios

I.31a – Rua do Recolhimento. Detalhe do


depósito de enchimento da fossa [207] I.31b – Rua do Recolhimento. Vestígio de estrutura romana cortada
(Pinto, 2021). por muro de Época Contemporânea (Pinto, 2021).

I.32a – Pátio José Pedreira. Fossa


republicana e material anfórico
descartado (Joaquinito, 2017).

I.34a – Rua do Espírito Santo. Contextos


de Época Republicana. I.34b – Rua do Espírito Santo. Depressão no substrato
geológico, preenchida por aterros de Época Republicana.

629
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

[164] 89,20m
[164] [192]
[185] [87]
[196]

[194] [193] [191]


[199] [88] [181]
[195] [197] [182]
Substrato geológico [200]

[196]
Parede - Empena Norte do edifício [198]
[20]
Alicerce da fachada

1m

I.34c – Rua do Espírito Santo. Perfil Norte da Sala Norte.

I.38b – Praça Nova. Registo gráfico


I.38a – Praça Nova. Fossa de descarte de época republicana de uma fossa de descarte de época
(Pimenta, 2005). republicana (Pimenta, 2005).

I.39a – Rua dos Remédios, 1-3. Perfil estratigráfico I.39b – Rua dos Remédios, 1-3. Estrutura romana de
do contexto de descarte de onde provém a funcionalidade indeterminada preservada apenas ao
generalidade do material romano nível do alicerce, sobre a qual assenta a parede Este do
(foto: Anabela Castro). edifício.

630
ANEXO II
LÂMINAS MACROSCÓPICAS
DE PASTAS CERÂMICAS
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

II.1 – Lâminas de pastas lusitanas e da costa meridional da Ulterior.

632
Anexo II. Lâminas macroscópicas de pastas cerâmicas

II.2 – Lâminas de pastas béticas, tarraconenses e gaulesas.

633
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

II.3 – Lâminas de pastas gaulesas, da Ilha de Lipari, itálicas da costa tirrénica e itálicas da costa adriática.

634
Anexo II. Lâminas macroscópicas de pastas cerâmicas

II.4 – Lâminas de pastas itálicas da costa adriática e do Norte de África, concretamente da Tunísia e da Tripolitânia.

635
Victor Filipe Olisipo (Lisboa), o grande porto romano da fachada atlântica. Economia e comércio

II.5 – Lâminas de pastas norte-africanas, da Tunísia, e do Mediterrâneo oriental.

636
Anexo II. Lâminas macroscópicas de pastas cerâmicas

II.6 – Lâminas de pastas do Mediterrâneo oriental.

637
estudos & memórias

Volumes anteriores:

VIEGAS, C.; BUSTAMANTE-ÁLVAREZ, M. Eds. (2021) – South Gaulish sigillata in Southwest Hispania.
circulation and consumption. estudos & memórias, 18. Lisboa: UNIARQ/ FL-UL. 242 p.
GOMES, F. B. (2021) – A necrópole do Olival do Senhor dos Mártires (Alcácer do Sal, Portugal). Práticas
funerárias, Cultura Material e Identidade(s) na Idade do Ferro do Baixo Sado (séculos VII – II a.n.e.). estudos &
memórias, 17. Lisboa: UNIARQ/ FL-UL. 560 p.
GONÇALVES, V. S., ed. (2021) – Terra e Sal. Das antigas sociedades camponesas ao fim dos tempos modernos.
Estudos oferecidos a Carlos Tavares da Silva. estudos & memórias, 16. Lisboa: UNIARQ/ FL-UL. 440 p.
PEREIRA, C..; ALBUQUERQUE, P.; MORILLO, A.; FABIÃO, C.; CHAVES, F, eds. (2021) – De Ilipa a Munda. Guerra
e conflito no Sul da Hispânia. estudos & memórias, 15. Lisboa: UNIARQ/ FL-UL. 338 p.
SOUSA, A. C.; BRAGANÇA, F.; TORQUATO, F.; KUNST, M. (2020) – Georg e Vera Leisner e o estudo do
Megalitismo no Ocidente da Península Ibérica. Contributos para a história da investigação arqueológica luso-
alemã através do Arquivo Leisner (1909-1972) / Georg und Vera Leisner und die Megalithgräberforschung im
Westen der Iberischen Halbinsel. Beiträge zur portugiesisch-deutschen Forschungsgeschichte der Archäologie
im Spiegel des Leisner-Archivs (1909-1972). estudos & memórias, 14. Lisboa: UNIARQ/ IAA/ DGPC. 704 p.
ARRUDA, A. M.; FERREIRA, D.; SOUSA, E. (2020) – Cerâmicas Gregas do Castelo de Castro Marim. estudos &
memórias, 13. Lisboa: UNIARQ/ FL-UL. 113 p.
MORÁN HERNÁNDEZ, M. E. (2018) – El Asentamiento Prehistórico de Alcalar (Portimão, Portugal). La
organización del territorio y el proceso de formación de un estado prístino en la Bahía de Lagos en el Tercer
Milenio A.N.E. estudos & memórias, 12. Lisboa: UNIARQ/ FL-UL. 312 p.
GONÇALVES, V. S.; SOUSA, A. C. (2018) – Casas Novas, numa curva do Sorraia (no 6.º milénio a.n.e. e a seguir).
estudos & memórias, 11. Lisboa: UNIARQ/ FL-UL, 280 p.
GONÇALVES, V. S., ed. (2017) – Sinos e Taças. Junto ao oceano e mais longe. Aspectos da presença campaniforme
na Península Ibérica. estudos & memórias, 10. Lisboa: UNIARQ/ FL-UL. 370 p.
SOUSA, A. C.; CARVALHO, A.; VIEGAS, C., eds. (2016) – Terra e Água. Escolher sementes, invocar a Deusa.
Estudos em Homenagem a Victor S. Gonçalves. estudos & memórias, 9. Lisboa: UNIARQ/ FL-UL. 623 p.
GONÇALVES, V. S.; DINIZ, M.; SOUSA, A. C., eds. (2015) – 5.º Congresso do Neolítico Peninsular. Actas. estudos
& memórias, 8. Lisboa: UNIARQ/ FL-UL. 661 p.
SOUSA, E. (2014) – A ocupação pré-romana da foz do estuário do Tejo. estudos & memórias, 7. Lisboa:
UNIARQ. 449 p.
ARRUDA, A. M., ed. (2014) – Fenícios e púnicos, por terra e mar, 2. Actas do VI Congresso Internacional de
Estudos Fenícios e Púnicos. estudos & memórias, 6. Lisboa: UNIARQ. 698 p.
ARRUDA, A. M., ed. (2013) – Fenícios e púnicos, por terra e mar, 1. Actas do VI Congresso Internacional de
Estudos Fenícios e Púnicos. estudos & memórias, 5. Lisboa: UNIARQ. 506 p.
QUARESMA, J. C. (2012) – Economia antiga a partir de um centro de consumo lusitano. Terra sigillata e cerâmica
africana de cozinha em Chãos Salgados (Mirobriga?). estudos & memórias, 4. Lisboa: UNIARQ. 489 p.
VIEGAS, C. (2011) – A ocupação romana do Algarve. Estudo do povoamento e economia do Algarve central e
oriental no período romano. estudos & memórias, 3. Lisboa: UNIARQ. 670 p.
GONÇALVES, V. S. (1989) – Megalitismo e Metalurgia no Alto Algarve Oriental. Uma aproximação integrada.
2 Volumes. estudos & memórias, 2. Lisboa: CAH/ Uniarch/ INIC. 566+333 p.
LEISNER, G.; LEISNER, V. (1985) – Antas do Concelho de Reguengos de Monsaraz. estudos & memórias, 1.
Lisboa: Uniarch/ INIC. 321 p.

Você também pode gostar