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Conjunto Cerâmico do Silo 3 do Largo da

Fortaleza de Cacela Velha, Vila Real de Santo


António
Análise e Estudo de Materiais

Camila Isabelle de Souza Silveira


Conjunto Cerâmico do Silo 3 do Largo da
Fortaleza de Cacela Velha, Vila Real de Santo
António
Análise e Estudo de Materiais

Camila Isabelle de Souza Silveira


Seminário de Tese

Trabalho efetuado sob a orientação de:


Prof. Doutora Maria João Valente
Prof. Doutora Susana Gómez Martínez

Faro
2019

1
Para o Lucas, que sempre vai ser
minha pessoa favorita no mundo

2
Índice
Resumo ....................................................................................................................................6

Abstract ....................................................................................................................................6

Agradecimentos .......................................................................................................................7

Parte I – Contato Inicial ...........................................................................................................9

Capítulo 1: Introdução e Objetivos ..........................................................................................10

1.1. Introdução ............................................................................................................10

1.2. Objetivos ..............................................................................................................10

Capítulo 2: Contexto Histórico-Arqueológico de Cacela Velha ...............................................12

2.1. Síntese Histórica do Algarve ................................................................................12

2.2. Caracterização de Cacela ....................................................................................15

2.3. Contexto Arqueológico .........................................................................................17

2.4. Trabalhos Arqueológicos Contemporâneos .........................................................19

2.5. A Escavação de 2007 – Largo da Fortaleza ........................................................19

2.5.1. Os Silos .................................................................................................22

2.5.2. Os Achados Cerâmicos ........................................................................23

Capítulo 3: Metodologias .......................................................................................................24

3.1. Seleção Prévia das Peças ...................................................................................24

3.2. Inventariação .......................................................................................................25

3.3. Matriz de Estudo da Cerâmica Islâmica de Cacela Velha ..................................26

3.4. Representação Gráfica e Fotográfica .................................................................27

Parte II – Análise da Coleção ................................................................................................29

Capítulo 4: Perspectiva Tipológica .......................................................................................30

Capítulo 5: Recipientes de Armazenamento e Transporte ....................................................33

5.1. Talhas .................................................................................................................33

3
5.2. Cântaros ..............................................................................................................34

Capítulo 6: Louça de Cozinha ................................................................................................37

6.1. Panelas ................................................................................................................37

6.2. Caçoila .................................................................................................................42

6.3. Alguidar ................................................................................................................44

6.4. Malga ...................................................................................................................45

Capítulo 7: Louça de Mesa .....................................................................................................47

7.1. Tigela e Tigelinha .................................................................................................47

7.2. Jarra e Jarrinha ....................................................................................................51

Capítulo 8: Objetos de Uso Doméstico ...................................................................................56

Capítulo 9: Objetos de Uso Lúdico .........................................................................................57

Capítulo 10: Objetos Indeterminados Decorados ...................................................................59

Capítulo 11: Interpretação Histórica .......................................................................................60

Conclusão ..............................................................................................................................67

Bibliografia .............................................................................................................................68

Índice de Figuras ....................................................................................................................70

Anexos ...................................................................................................................................72

4
5
Resumo
Localizada no sudoeste da Península Ibérica, Cacela Velha é uma pequena povoação algarvia
protegida pelo cordão dunar do complexo natural da Ria Formosa. Durante o período
medieval, Cacela Velha teria sido parte do território costeiro do Gharb al-Andalus, sendo,
portanto, território islâmico.
Devido a sua localização estratégica, entre o Rio Guadiana e a cidade de Faro (atual capital
do Algarve) e de frente ao oceano, tornou-se um importante porto, tendo um forte construído
para a sua defesa no século X. Bem povoado até o século XII, o forte de Cacela Velha passou
por modificações durante o período almóada, sendo uma verdadeira alcaçova, com a
presença de muralhas, estruturas bem edificadas e silos para cereais.
No âmbito arqueológico, Cacela vem sendo alvo de estudos desde o século XIX. Em 2007, o
largo de sua fortaleza foi escavado em campanha arqueológica, onde se encontraram um
conjunto de silos com materiais islâmicos, dentre os quais exemplares cerâmicos, cujo estudo
foi o objetivo deste trabalho.
Palavras-chave: Cacela Velha, cerâmica islâmica, arqueologia medieval
Abstract
Located in the southwest of the Iberian Peninsula, Cacela Velha is a small algarvian town.
During the medieval period, it would have been part of the coastal province of Gharb al-
Andalus, being, therefore, Islamic territory.
Due to its strategic location, between the Guadiana River and the city of Faro (capital of
Algarve) and facing the ocean, it had an important port, having a fort built in the 10th century
for its defense. Well populated until the 12th century, the Cacela Velha’s fort passed through
some modifications during the Almohad period, being a real alcazaba (Alcáçova).
Nowadays the little town is an important archaeological site, been object of studies since the
19th century. In 2007 the front of the fort was excavated, where were found a set of silos full
of ceramic materials, on which this work was developed.
Key words: Cacela Velha, islamic ceramic, medieval archaeology

6
Agradecimentos

Quando eu cheguei em Portugal em 2016 eu não sabia o que me esperava. A Arqueologia


sempre foi um sonho para mim e sair do Brasil para entrar em uma universidade estrangeira
era só o primeiro de muitos passos que eu viria dar para alcançar esse meu desejo.
A Universidade do Algarve me acolheu como casa e Faro virou meu lar instantaneamente.
Foram três anos de alegrias e também saudades de casa, de amizades e aprendizado. O meu
primeiro agradecimento é para todos os amigos que eu fiz em Faro, do primeiro ao terceiro
ano, e aos amigos que ficaram no Brasil, por terem me acompanhado e me apoiado nos mais
variados momentos. Um abraço especial pra Carol, porque se não fosse por ela eu acho que
não estaria escrevendo esse tema de tese agora.
O meu segundo agradecimento é para toda a Universidade do Algarve, das equipes que
trabalham nos bares até ao reitor. É a presença de todos vocês na universidade que faz com
que ela funcione e seja possível a formação de novos profissionais todos os anos.
Meu agradecimento também vai aos professores do curso de Património Cultural e
Arqueologia, por terem sido sempre tão queridos comigo e me ensinado muito mais do que
apenas conteúdo para os exames. Vou guardar no coração cada um de vocês e espero que
com o fim da minha licenciatura eu possa ainda chamar alguns de amigos.
O meu muito obrigado a professora doutora Maria João Valente, que muito me apoiou (e
cobrou) durante toda a licenciatura, mas principalmente durante o desenvolvimento desse
seminário de tese. Obrigada por todas as lições.
À minha orientadora, professora doutora Susana Goméz Martínez, obrigada por todo o auxílio
e ensino, principalmente no início deste trabalho, quando eu ainda não sabia nada sobre
cerâmicas islâmicas e ficava totalmente perdida com tantas tipologias.
À Cristina Garcia, a quem devo muito no desenvolvimento deste seminário, obrigada por tudo
e por todo o trabalho realizado em Cacela Velha. Certamente não existiria esse seminário se
não fossem as escavações em Cacela e todo o esforço envolvido nas campanhas
arqueológicas.
À Patrícia Dores, que também muito me ensinou sobre as cerâmicas islâmicas, o meu
muitíssimo obrigada. Trabalhar com você em campo foi muito didático, e esse trabalho não
seria o mesmo sem suas fotos.
Agradecer a minha família, principalmente aos meus pais, que eu amo incondicionalmente e
que sei que estão orgulhosos de me ver encerrando mais uma etapa. Agradecer ao Lucas,
meu irmão caçula, que sempre me ouviu falando de coisas antigas e agora também vai me
ver descobrindo coisas antigas. E ao Pedro, que acompanhou de pertinho toda essa jornada
e me apoiou em cada momento de loucura.

7
8
Parte I – Contato Inicial

9
Capítulo 1: Introdução e Objetivos

1.1. Introdução

“O passado não reconhece seu lugar: está sempre


presente. ” Mario Quintana (2013).

A arqueologia traz ao presente aquilo que é do passado, dando luz ao que muitas vezes já foi
esquecido e apagado da memória. Independente do território, o trabalho arqueológico traz à
tona o que estava enterrado, vestígios de um povo e uma cultura que são desvendados a
partir de análises feitas em campo e depois em laboratório.

Esses vestígios, dados arqueológicos, são importantes para a construção de uma narrativa,
as vezes abstrata, que explica e agrega fatos, conhecimentos e hipóteses a todo um conjunto
maior de narrativas, que por sua vez são responsáveis pela construção da História. É a
interpretação desses dados que nos permite perceber detalhes do passado e identificar num
território os hábitos, costumes, alimentação e estilo de vida dos povos que o habitaram.

Partindo dessa perspectiva, este trabalho que aqui é apresentado é uma interpretação de
dados, no intuito de contribuir com uma narrativa maior, que é a história do Algarve.

Sob o formato de um seminário de tese pelo curso de Património Cultural e Arqueologia da


Universidade do Algarve, este trabalho é uma análise conjunta à interpretação de uma
amostra de 119 conjuntos cerâmicos provenientes do sítio arqueológico de Cacela Velha,
adquirido na escavação do Largo da Fortaleza de Cacela em 2007 e gentilmente cedido para
seu estudo pela câmara municipal de Vila Real de Santo António.

Sob orientação de Susana Goméz Martinez e com o auxílio académico de Cristina Garcia e
Patrícia Dores, discorro, assim, sobre o material cerâmico encontrado na campanha
arqueológica de 2007 e seus possíveis enquadramentos e cronologias dentro da história do
Algarve.

1.2. Objetivos

O trabalho que se segue está dividido em duas partes. A primeira, já anunciada prévia a
Introdução, denomina-se Contato Inicial e é definida por mim como uma primeira parte de
apresentação do sítio arqueológico de Cacela Velha, seu contexto histórico arqueológico e,
por fim, a metodologia utilizada na realização do trabalho.

10
O principal objetivo dessa primeira parte, como o nome sugere, é estabelecer o contato inicial
do leitor com aquilo que vai ser analisado, contextualizar a coleção cerâmica, de forma que
se perceba seus possíveis enquadramentos e qual a importância da análise da coleção para
um estudo maior a respeito de Cacela Velha.

A segunda parte é composta por diversas análises da coleção cerâmica, sendo os objetivos
diversificados ao longo dos capítulos.

Num primeiro momento, a análise tipológica dos materiais, isso é, suas formas e nomenclatura
permitem identificar os usos do fabrico cerâmico e as técnicas com que o objeto foi fabricado.
A análise morfológica complementa a tipologia, pois diz das formas utilizadas no fabrico de
cada material, sendo a existência ou ausência de alguns elementos determinante para a
caracterização de alguns artefatos.

A análise da cor das pastas e das técnicas de fabrico evidenciam os materiais utilizados
durante o processo de feitura da cerâmica, sendo possível a percepção de um padrão ou
características usuais nas peças. A cor da pasta, por exemplo, varia de acordo com o solo em
que se retira sua argila, e alguns elementos não plásticos só existem em determinadas
regiões, sendo possível reconhecer se as cerâmicas foram produzidas ou não na região em
que o material foi encontrado. O tipo de cozedura e a presença de marcas de fogo ou
queimada também pode ajudar a identificar sua funcionalidade.

Por fim, a decoração fornece dados através da leitura de seus elementos, uma vez que
determinadas figuras decorativas tem significado, podendo ser símbolos de proteção ou
padrões recorrentes em determinada cultura ou cronologia.

A interpretação fecha as análises, sendo a concretização dos principais objetivos desse


trabalho. O primeiro é definir a funcionalidade do uso desses materiais cerâmicos e as
predominâncias percebidas na coleção, sejam elas tipológicas, morfológicas, decorativas, etc.
O segundo objetivo seria perceber, a partir de todos os dados analisados – seja por dados
bibliográficos, paralelos com outros sítios arqueológicos ou contemplação da própria coleção
– a cronologia, ou as cronologias, desses materiais cerâmicos.

Para finalizar, o último objetivo é a conclusão: a partir desse seminário de tese é conseguir
associar a coleção do Largo da Fortaleza ao contexto histórico-arqueológico de Cacela Velha
e, assim, contribuir na construção da sua história e, consequentemente, na história do
Algarve.

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Capítulo 2: Contexto Histórico-Arqueológico de Cacela Velha

2.1. Síntese Histórica do Algarve

A história do Algarve é extensa e complexa, fazendo com que este capítulo se atenha apenas
a eventos gerais e simplificados do período medieval passado na região, indo desde a as
primeiras ocupações islâmicas até a chegada dos cristãos e a integração do Algarve no reino
português.

O Algarve como é conhecido atualmente é um território de 5.000 km², mas antes disso foi
parte de um território muito maior, todo o sudoeste da Península Ibérica, que na época romana
se chamava Lusitania e na medieval islâmica irá tomar o nome de Gharb al-Aldalus, de onde
provém o nome atual de Algarve. Abrangendo os territórios de Mérida, Badajoz, Niebla,
Huelva e Saltés, Santa Maria de Faro, Lisboa, Beja e Sevilha, o Gharb al-Andalus corresponde
atualmente às regiões do Algarve, Alentejo, Lisboa e Andaluzia Ocidental, na Espanha
(Garcia, 2015, pp. 52).

Assim, história do al-Andalus como território de presença muçulmana inicia-se em 711, sob o
reinado de al-Walid Damasco, Musa Ibn Nusair conquista a Península Ibérica. Naquela altura,
os exércitos califais que promoveram a conquista se estabelecem no território peninsular,
exercendo o poder em estruturas tribais familiares.

Aos antigos habitantes do espaço agora ocupado foi estabelecido um sistema tributário anual,
de forma a manter sua antiga autonomia e prestar tributos e terras aos conquistadores,
acolhendo ainda os militares que chegaram. Assim decorreu o início de um povoamento
islâmico na região. (Garcia, 2015, pp. 60)

Como o al-Andalus era uma região extensa, sua unidade administrativa foi subdividida em
territórios chamados kura, kuwar no plural, que incluíam cidades, alcarias, torres e castelos.
A kura de Ossónoba1, por exemplo, abrangia todo o Algarve e tinha Silves como centro
administrativo. (Macías, 1992, pp. 419.)

A prosperidade do controle do Califado de Damasco não durou muito tempo, sendo destruído
pelos Abbasidas, de Bagdad. O al-Andalus torna-se então um emirado independente dos
califas do oriente sob a égide de Abd al-Rahman I, refugiado da família dos omíadas, tendo
seus governantes dificuldades de controlar o território. O excesso de carga fiscal, as
diferenças religiosas e a chegada da fome fez com que as populações do al-Andalus e do
Magrebe, a partir de 740 iniciassem revoltas independentistas. Essas revoltas duram mais de

1
Nome romano da cidade de Faro e que se manteve durante um primeiro momento de islamização do
território.

12
um século e são impulsionadas pela pressão fiscal do emirado, pela pobreza agrícola e,
consequentemente, pela fome e pelos constantes ataques cristãos vindos do norte da
península.

Após séculos de instabilidade e revoltas, Abd al-Rahmān III assume o controle do al-Andalus
a inícios do século X, quando em 929 proclama na cidade de Córdova o califado omíada.
Ainda que os primeiros anos do califado tenham sido frágeis devido as condições anteriores
do al-Andaluz, o século X foi considerado, de forma geral, uma época de prosperidade e de
crescimento económico, com dinamismo cultural e social (Garcia, 2015, pp. 69)

As kuwar continuavam como províncias administrativas, agora com contingentes militares


para pacificação do território. A kura de Ossónoba, antes com sede em Silves, agora teria
Faro como capital e sede administrativa, tendo um porto. A partir do século X há também um
aumento no povoamento rural, que depois irá se consolidar nos séculos XI e XII.

Apesar da aparente prosperidade, surgiram revoltas em 1009 em Córdova, de forma que os


poderes locais do Gharb al-Andalus acabaram por ganhar expressão política na região. Há,
então, uma fragmentação do território por esses poderes locais, criando reinos de taifa
politicamente independentes entre si e que lutavam pela sua autonomia frente ao novo
califado. (Macías, 1992, pp. 424.)

Durante o período dos reinos de taifa manteve-se a predominância do povoamento rural, estas
possuindo estruturas militares de defesa que foram melhoradas e aprimoradas. Foram
melhoradas também as alcáçovas das cidades e outras construções, indicando um
desenvolvimento económico e de poderio político na região.

Entretanto, todas essas estruturas de defesa não pareciam suficientes perante a crescente
ameaça de ataques cristãos vindos do norte. Após a conquista do rei Afonso VI até o vale do
Tejo, as taifas do al-Andalus pedir ajuda aos almorávidas, que governavam o Magreb africano.

Os exércitos almorávidas chegaram ao al-Andalus em 1086, entrando pela taifa de Sevilha e


derrotando Afonso VI junto de Badajoz naquele mesmo ano. Apesar de terem regressado ao
Magreb após a vitória, o reino almorávida logo retornou a península ibérica, dessa vez para
governar o al-Andalus.

O reinado almorávida passou então a administrar as grandes cidades andaluzas, com seus
aristocratas, alfaquis, sacerdotes e consultores jurídicos em cargos importantes do poder. O
fluxo de magrebinos para a península também aumentou e com isso o número e qualidade
de contatos e relações comerciais.

13
A partir da primeira metade do século XII, no entanto, o poder almorávida vai
progressivamente enfraquecendo, dando a oportunidade de surgirem no al-Andalus novos
reinos de taifa. As revoltas provocadas pelos reinos foram instigadas principalmente por
motivos religiosos que cobrem interesses políticos dos que organizavam as revoltas. (Macías,
1992, pp.427)

Seguindo esses interesses religiosos-político, os reinos de taifa recorrem ao reino almóada,


também de África, que em 1145/1146 desembarca na península ibérica e conquista Sevilha,
transformando-a na capital de todo o al-Andalus. Nisso, grandes cidades dos reinos de taifa
foram conquistadas, algumas sem apresentar resistência, mas muitas das regiões
peninsulares ainda estavam em regime de autogoverno.

A medida que o reinado almóada se consolidava no território andaluz, efetuava a construção


de fortificações e o alargamento dos recintos amuralhados já existentes. Nesse contexto a
população urbana e de alcarias teve crescimento, com a concentração de parte da população
em contexto rural e a mudança de outra parte para as cidades.

O período almóada, apesar desse desenvolvimento, também foi um período que passou por
dificuldades, com uma safra agrícola ruim na última década do século XII e da insegurança
constante frente ao insistente avanço dos exércitos portugueses e vindos de Espanha. Esse
último sentimento, segundo Garcia (2015, pp.91.) seria um fator importante para essa
migração populacional e para a implementação das políticas de defesa pelos almóadas.

A insegurança almóada foi justificada. Considerada por Macías (1992, pp. 429) como a última
fase de presença islâmica no Algarve, a reconquista cristã não tardou a chegar. Seu arranque
definitivo se dá após a derrota muçulmana para os exércitos cristãos em 1212, na batalha
ocorrida em Navas de Tolosa. A partir disso, a reconquista avançou sobre o Alentejo e o
Algarve.

Afonso IX de Leão conquistou Mérida e Badajoz em 1230, enquanto Sancho II de Portugal e


a Ordem de Santiago tomavam o Alentejo, passando por Moura, Serpa, Aljustrel, Mértola,
Alfajar de Pena e Aiamonte em 1238. Até 1240 Cacela e Tavira haviam sido ocoupadas e em
1242 Silves foi tomada. Por fim, em 1249, após passar por Porches e Albufeira, Faro foi
conquistada. (Garcia, 2015, pp. 93.)

A conquista, como de se esperar, não ocorreu de forma pacífica, fazendo com que as
populações muçulmanas entregassem as cidades, partindo com seus bens móveis. Foram
poucos os casos de populações que negociaram com os exércitos cristãos para
permanecerem em suas propriedades e ali viverem mesmo sob o domínio cristão.

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Ao fim da reconquista as cidades conquistadas foram entregues às ordens de Santiago e Avis
e Afonso X entregou a posse Algarve ao infante Dinis, seu neto.

2.2. Caracterização de Cacela

A história de Cacela Velha está atrelada a história do Algarve, sendo a cidade um dos pontos
escolhidos para a povoação muçulmana durante a época medieval.

A escolha da localização deve-se a natureza estratégica de Cacela, que está na costa


algarvia, fazendo parte do complexo natural da Ria Formosa, que com seus cordões dunares
protege toda a orla. O território ainda é historicamente bem situado, estando entre o Rio
Guadiana e a atual cidade de Faro, fazendo parte da kura de Ossónoba.

Figura 1 - Imagem aérea de Cacela Velha (inscrita no quadrado vermelho) com vista para o
continente a norte, o cordão dunar da Ria Formosa e o mar ao sul. (Fonte: Google Earth)

A proximidade com o mar e a possibilidade de uma integração nas rotas marítimas comerciais
do al-Andalus propiciou, no século X a construção de um porto no território e, mais tarde para
a sua defesa, de uma fortaleza sobre a arriba costeira. Chamado então de QasTallâ Darrâj,
da qual deriva a palavra Cacela, o povoamento da fortaleza surgia, expandindo-se com o
tempo para fora das muralhas e causando a construção de um bairro islâmico na área hoje
denominada como Poço Antigo (Garcia, Valente, 2017, pp. 5).

Cacela foi bem povoada até o século XII, tendo a fortaleza passado por modificações e sendo
transformada numa verdadeira alcaçova durante o período almóada.

Foi reconquistada pelos cristãos em 1240, sendo doada em 1255 por Afonso II à Ordem de
Santiago, a fim de reforçar seu apoio militar à causa portuguesa. (Garcia, 2015, pp.94.) Cacela

15
permaneceu sob administração da Ordem até o século XVI, quando passa a ser de posse do
Reino de Portugal.

Figura 2 - Mapa ampliado de Cacela Velha com ênfase nas estruturas da fortaleza e a sua volta.
(Fonte: Garcia, 2015)

A despeito de sua suposta grandiosidade em época medieval, Cacela Velha atualmente é


uma vila de poucas ruas e muito voltada para o turismo de sol e praia e para o turismo
histórico2. A construção estrutural de Cacela é composta pela presença da fortaleza,
atualmente um centro de operações da Guarda Nacional Republicana, pela Igreja de Nossa
Senhora da Assunção, por algumas casas, pelo cemitério e por algumas zonas de campo.

A fortaleza como agora se apresenta é fruto de uma reconstrução seiscentista, na qual o


governador do Algarve Nuno José Fulgêncio de Mendonça e Moura, o Conde de Vale de Reis,
teria promovido obras de reedificação após o terremoto de 1755. A obra teria terminado em
1794, ficando a fortaleza com uma estrutura trapezoidal com baluartes ao sul e torreões
alongados ao norte, o interior possui casas de guarda e um pátio com poço e pavimento de

2
Cacela Velha é designada pela Direção Geral do Património Cultural como um núcleo urbano/aldeia e também
um centro histórico. Disponível em: http://www.patrimoniocultural.gov.pt/pt/patrimonio/patrimonio-
imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/72984

16
seixos e lajeado. Em 1945 o edifício passou por uma recuperação pelos Edifícios e
Monumentos Nacionais. (Garcia, 2015, pp. 101.)

Figura 3 - Frente da Fortaleza de Cacela. (Fonte: Garcia, 2015 - Foto: J.C. Padrão, 1967)

2.3. Contexto Arqueológico

Cacela Velha se insere no contexto arqueológico juntamente com várias outras localidades
do Algarve: através dos estudos de Estácio da Veiga. Durante os anos de 1860 e 18913,
Sebastião Estácio da Veiga, académico em arqueologia pela Academia das Ciências de
Lisboa em 1876, dedicou grande parte de sua vida ao levantamento de vestígios
arqueológicos em todo o Algarve, tendo ainda realizado escavações sistemáticas e feito a
recolha de materiais de épocas pré-históricas a medievais. Entre 1874 e 1878 escreveu sua
obra de quatro volumes, Antiguidades e Monumentaes do Algarve, fundou o Museu
Acheologico do Algarve e também elaborou a Carta Arqueológica do Algarve, documento
ainda utilizado como referência.

Figura notável, Estácio da Veiga registrou vários indícios e achados islâmicos no Algarve, nas
localizades de Loulé, Faro, Tavira, Castro Marim, Alcoutim, entre outros. Também identificou
Cacela Velha como sítio “árabe”, citando as ruinas da fortaleza como predominante de
elementos árabes, e relatando ainda o achado de materiais arqueológicos de mesma
natureza, como silos com louças “árabes”, louça vidrada e jarrões com inscrições cúficas,
segundo ele. Apesar de todos os elementos mouriscos, como ele dizia, Estácio da Veiga não

3
Ano de sua morte.

17
nega um povoamento mais antigo do território, identificando características também de
populações neolíticas e romanas (Garcia, 2015, pp 20.).

Figura 4 - Carta Arqueológica do Algarve de Estácio da Veiga, 1878 (Fonte: Wikimedia Commons)

Além de Estácio da Veiga, outros acadêmicos realizaram estudos a respeito de Cacela Velha.
José Leite de Vasconcelos (1858-1941), fundador do atual Museu Nacional de Etnologia e
Arqueologia, realizava expedições pelo sul de Portugal, tendo encontrado duas candeias
metálicas, mas dando destaque em seus trabalhos aos achados romanos de Cacela Velha, a
exemplo da presença de opus signinum na base da fortaleza, além da presença de tegulae,
tijolos e mármore por todo o sítio.

Entre 1955 e 1972, o arabista Garcia Domingues redigiu ensaios sobre as origens islâmicas
algarvias, como o Património cultural arábico-algarvio de 1956 e a transcrição da Crónica da
Conquista do Algarve em 1972. Ele ainda realizou a primeira hipótese dos limites da fortaleza
original de Cacela, que era comum na região a presença de pequenos castelos que cercavam
a entrada do Algarve (Garcia, 2015, pp. 22).

Já Hugo Cavaco, professor e natural de Vila Real de Santo António, optou por investigar a
história da região, tendo entre suas obras publicadas A antiga vila de Cacela e o seu alfoz, de
1983 e Visitações da Ordem de Santiago no sotavento algarvio, de 1987.

Luis Filipe Oliveira, professor na Universidade do Algarve, também discorreu a respeito de


Cacela, especificamente sobre as guerras e a conquista cristã, tendo publicado a Visitação à
Comenda de Cacela de 1478-1482.

18
2.4. Trabalhos Arqueológicos Contemporâneos

É apenas em 1971 que se realiza no Algarve a primeira intervenção arqueológica


legitimamente de cronologia muçulmana, no Cerro da Vila, Loulé, sob direção de Luis de
Matos, em que foi encontrado um forno cerâmico e silos com materiais islâmicos.

Ainda no contexto algarvio, Teresa Gamito realizou estudos sobre a presença islâmica no
conselho de Faro, R.V. Gomes sobre Silves e Maria e Manuel Maia sobre Tavira. A
Universidade do Algarve, o Campo Arqueológico de Mértola e diversos departamentos de
arqueologia de câmaras municipais também muito contribuíram com a investigação da
arqueologia medieval e islâmica no Algarve.

No que se diz de Cacela Velha, seu trabalho arqueológico iniciou-se em 1990, quando Cristina
Garcia interviu um uma escavação arqueológica de emergência em um forno romano
descoberto no local. A partir daí. Garcia iniciou seus estudos e investigação sobre Cacela, no
intuito de reconstituir o passado de Cacela e perceber a organização de seu antigo
povoamento.

No contexto medieval a primeira intervenção foi, na verdade, em 1998, com a descoberta do


Bairro Islâmico do Poço Antigo. A descoberta foi assumida pelo Parque Natural da Ria
Formosa e os trabalhos realizados com a participação da Câmara Municipal de Vila Real de
Santo António, do Campo Arqueológico de Mértola e da Comissão de Coordenação da Região
do Algarve. (Garcia, 2015, pp. 28.) Em 2001 o Poço Antigo foi novamente escavado.

Em 2004 foi a vez de se escavar a Fortaleza, escavação financiada pela União Europeia e
promovida pelo Centro de Informação e Investigação do Património de Cacela. Foram quatro
sondagens abertas, sendo uma delas no exterior da fortaleza4, revelando as estruturas da
fortaleza e materiais – cerâmica, fauna, malacofauna e vidro – de época islâmica. (Garcia,
2015, pp. 29)

Em 2007 esse mesmo centro promoveu novos trabalhos, dessa vez expandindo a escavação
do lado externo da Fortaleza de Cacela.

2.5. A Escavação de 2007 – Largo da Fortaleza

A campanha arqueológica de 2007 iniciou-se após a iniciativa da autarquia de Vila Real de


Santo António de reformular a paisagem do Largo da Fortaleza. Sob a possibilidade de se
identificarem novas estruturas arqueológicas durante as obras no local, foi pedido a autarquia
a execução de escavações, que dariam continuidade ao trabalho iniciado em 2004.

4
Sondagem 2.

19
Figura 5 - Escavação no Largo da Fortaleza (Fonte: Garcia, Valente, 2017)

A campanha realizou-se entre maio e agosto, iniciando-se a partir da sondagem 2, externa a


fortaleza que havia sido aberta em 2004, e depois abrindo mais três sondagens.5 [figura 6]
Foram descobertos muros e pavimentos sobrepostos à construções islâmicas6 e
compartimentos de possível cronologia islâmica associados a silos com materiais islâmicos.

Figura 6 - Sondagens abertas até 2007 no Largo da Fortaleza (Fonte: Garcia, 2015 - adaptada)

5
Sondagem 5, Sondagem 6 e Sondagem 7.
6
Sondagens 5 e 7.

20
Em um panorama geral, o Largo da Fortaleza teve em área total escavada 128,44m², com
148 unidades estratigráficas registradas. Foram recolhidos 514 sacos de materiais –
cerâmicas, metais, faunas, malacofaunas, vidros, ossos trabalhados e amostras de terra –
com 7700 exemplares, sendo 4704 apenas materiais cerâmicos.

Ao final das duas campanhas, de 2004 e de 2007, foi possível identificar no perímetro da
Fortaleza de Cacela vários níveis de ocupação, a que aqui possam interessar: construções
pré-islâmicas, possivelmente da Antiguidade Tardia; construções islâmicas indeterminadas,
possivelmente dos finais dos séculos IX e X; ocupação e abandono na época almóada, entre
a segunda metade do século XII e a primeira metade do século XIII; obras de reforço da
fortificação, da segunda metade do século XIII até o século XIV; e por fim as obras de
reconstrução da fortaleza que teriam ocorrido na primeira metade do século XVI. (Garcia,
2015, pp. 109)

Figura 7 - Áreas escavadas no Largo da Fortaleza com suas datações (Fonte: Garcia, 2015)

21
2.5.1. Os Silos

Como mencionado anteriormente, a campanha arqueológica de 2007 revelou no Largo da


Fortaleza diversas estruturas de cronologia islâmica, essas associadas a silos contendo
materiais.

Os silos são achados bastante comuns em contextos arqueológicos islâmicos, tendo sido
encontrados alguns nos castelos de Aljezur, em Albufeira e em Salir (Garcia, 2015, pp. 134.).
Essa grande presença ocorre devido a sua funcionalidade: sendo o cereal a base alimentar
do al-Andalus, os silos serviriam para guardar e estocar trigo, papas de farinha e outras
sementes.

Mesmo após o abandono de sua utilização ainda eram úteis, podendo e sendo utilizados como
lixeiras, contendo restos alimentares, objetos cerâmicos e outros materiais de despejo.

Em Cacela Velha foram identificados nove silos, que teriam sido escavados para sua
construção no substrato rochoso do solo, estando no interior da alcaçova, onde as reservas
alimentares seriam guardadas pelo poder local. Suas formas eram cilíndricas ou
troncocónicas, sendo os silos profundos e alargados no corpo, mas de boca estreita. As
paredes possuíam um revestimento de barro seco, de forma a proteger da humidade os
cereais que ali ficariam guardados.

Os nove silos de Cacela foram identificados com números de acordo a ordem de sua
identificação. Os silos 1 e 2 possuíam dimensões semelhantes, aparentando ainda serem os
mais antigos dos silos encontrados. Os silos 3,4,5,6 e 7 aparentavam ser contemporâneos
entre si também. Do que se diz da escavação dos silos, apenas o 3 e o 7 foram escavados, o
silo 4 foi parcialmente escavado e os silos 5,6,8 e 9 não foram escavados.

O silo 3, de onde os materiais cerâmicos a serem analisados nesse trabalho foram retirados,
tinha uma forma troncocónica, com diâmetro superior de 80cm e um diâmetro máximo de
195cm. Era revestido em barro e seu preenchimento era formado por três unidades
estratigráficas, as quais se descrevem:

 UE 31: enchimento superior de terra castanha siltosa. Mistura de despejos de lareira,


cerâmica calcinada, restos alimentares e uma moeda portuguesa medieval.
 UE 41: camada intermediária, inferior a ue 31, de terra castanha clara argilosa.
Possuía elementos pétreos e poucos fragmentos cerâmicos. É nessa unidade ainda
que foi encontrado um fragmento calcário decorado em baixo relevo, de possível
datação do século IX.

22
 EU 43: enchimento do fundo do silo com terra argilosa e poucos materiais. (Garcia,
2015, pp. 127-134)

Figura 8 - Silo 3 encontrado no Largo da Fortaleza de Cacela em 2007. (Fonte: Garcia, 2015)

Em uma primeira análise (Garcia, 2015, pp. 136.), os materiais cerâmicos do silo 3,
provenientes das unidades estratigráficas 31 e 41 foram classificados como de cronologia
almóada.

Além de materiais cerâmicos, foram encontrados no silo 3 materiais de grande


representatividade: seu núcleo malacológico é o mais expressivo de Cacela, com 4671
exemplares.

2.5.2. Os Achados Cerâmicos

Os trabalhos realizados no Largo da Fortaleza nas campanhas de 2004 e 2007 resultaram no


achado de 8369 peças cerâmicas. Destas apenas 632 haviam sido estudadas até o ano de
20157, com 505 peças classificadas como louça de cozinha ou louça de mesa, representando
cerca de 80% da amostra e podendo ser um indicativo de sua relevância na vida doméstica
do castelo.

A louça de cozinha, com 311 fragmentos, faz-se representada na presença de panelas,


malgas, caçoilas e alguidares. Já a louça de mesa, com 194 fragmentos, seriam tigelas, jarras,
jarros e bilhas. Os outros materiais cerâmicos seriam compostos por objetos de
armazenamento e transporte de água, como cântaros, talhas e cantis, além de materiais de
presença menor na amostra, como objetos de uso doméstico ou lúdico.8

7
Ano que se refere a tese de doutoramento de referência (Garcia, 2015), de onde esses dados estão sendo
consultados e são as informações, até o momento, mais recentes de estudos feitos em Cacela Velha.
8
Nomenclatura e tipologia dos objetos a ser explicada em Metodologias: A Matriz de Cacela Velha

23
Capítulo 3: Metodologias

Este capítulo que aqui se inicia diz respeito das metodologias utilizadas na realização deste
trabalho, ao que vai ser explicado o processo de seleção da amostra trabalhada dentro do
acervo de Cacela Velha, a inventariação dessas peças e seu enquadramento na Matriz de
Estudo da Cerâmica Islâmica de Cacela Velha, além da representação dessas peças.

Além da parte laboratorial descrita acima e que irá ser desenvolvida nos próximos tópicos, foi
realizado um trabalho de leitura para a contextualização histórica e arqueológica do sítio de
Cacela Velha, bem como para perceber a semelhança da amostra cerâmica cacelense com
outros coleções e acervos no Algarve e em Portugal.

Nesse trabalho de leitura, foram consultados livros da história do Algarve e do al-Andalus, a


tese de doutoramento de Cristina Garcia – já referenciada anteriormente nesse trabalho -,
catálogos de museus com peças cerâmicas medievais e islâmicas do Algarve, além de outras
obras disponíveis da Bibliografia para consulta.

3.1. Seleção Prévia das Peças

O meu primeiro contato com o sítio arqueológico de Cacela Velha foi através da Universidade
do Algarve, quando no ano letivo de 2017/2018 surgiu a possibilidade de trabalhar como
voluntaria na campanha daquele ano, que iria escavar o Poço Antigo, no projeto “Muçulmanos
e Cristãos em Cacela Medieval: território e identidades em mudança”. Apesar de, afinal, não
ter participado da campanha desse ano, surgiu-me o interesse de aprender mais sobre Cacela
Velha. Após conversar com as professoras doutoras Maria João Valente e Susana Gomez
Martinez, esta que viria a se tornar minha orientadora, surgiu a possibilidade de trabalhar com
a análise de materiais cerâmicos provenientes de Cacela Velha como tema deste seminário
de tese.

A seleção da amostra cerâmica passou pela orientação da doutora Cristina Garcia e sendo
fornecida pela Câmara de Vila Real de Santo António. A amostra seria proveniente da
campanha de escavação realizada em 2007 no Largo da Fortaleza de Cacela, como já
mencionado.

Os conjuntos são pertencentes ao espólio encontrado no Silo 3 e distribuem-se entre as


unidades estratigráficas 31 e 41. Sua seleção foi realizada por Patrícia Dores, técnica em
arqueologia pela câmara de Vila Real de Santo António, que selecionou uma amostra vinda
de unidades estratigráficas com maior potencialidade de materiais cerâmicos e uma maior
variedade de tipologia e morfologia a serem estudadas.

24
Assim, os conjuntos foram disponibilizados para seu estudo, estando organizados em sacos
plásticos de separação e identificados sob o acrônimo CV/FC/20079, sendo ainda identificados
a sondagem, a quadrícula, a unidade estratigráfica e, por fim, ao saco onde estava guardada.
O passo seguinte seria, no laboratório de arqueologia da Universidade do Algarve, realizar a
inventariação dos conjuntos de fragmentos.10

3.2. Inventariação

Sob a orientação da professora doutora Susana Gomez Martinez, a etapa de inventariação


das peças cerâmicas iniciou-se por um reconhecimento prévio da amostra e, em seguida, sua
organização para o preenchimento de fichas com seus dados e informações. Através do
programa FileMaker e da base de dados para estudo de cerâmica do Campo Arqueológico de
Mértola, que recolhe as orientações do Grupo de Estudo da Cerâmica Islâmica do Gharb al-
Andalus, da qual minha orientadora faz parte, cada uma das peças foi analisada
individualmente e classificadas segundo os requisitos:

 Tipologia: no qual é identificado qual tipo de objeto cerâmico;


 Morfologia: na qual é identificado qual parte do corpo e forma aquele fragmento
representa;
 Pasta: na qual são analisados a coloração da cerâmica e a presença e natureza de
seus elementos não plásticos;
 Técnicas de Fabrico: em que são percebidos a técnica utilizada para modelar a peça,
sua cozedura e a presença de marcas ou inscrições pós fabrico;
 Decoração: na qual são apontados a presença de decorações internas ou externas,
sua localização, qual técnica utilizada, o motivo decorativo e sua cor, caso haja;
 Dimensões: na qual os conjuntos são medidos, com maior destaque a espessura dos
fragmentos e ao diâmetro daqueles que possuem bordo ou base mais significativos.
 Variante Tipológica: na qual as peças com perfil identificável são classificadas
segundo as formas funcionais percebidas em Cacela.

Dos campos citados acima, apena a tipologia, a cor da pasta e a variante seguiram
padrões classificativos adaptados ao contexto arqueológico de Cacela Velha, como será
esclarecido no próximo tópico desse trabalho. Os outros campos seguiram o modelo da

9
Consoante a escavação arqueológica de 2007 no Largo da Fortaleza, em que CV significa Cacela Velha e FC é
Fortaleza de Cacela.
10
Nota: o temo “conjunto” ou “peça” estará sendo utilizado para identificar as cerâmicas individualizadas por
seus sacos de separação. O termo “amostra” ou “coleção” é utilizado para identificar todo o material estudado.

25
base de dados do Campo Arqueológico de Mértola, como dito anteriormente, cada um
deles com suas opções de preenchimento.

As dimensões foram feitas a partir da medição da espessura, da largura e do comprimento


dos fragmentos através do uso de um paquímetro. O diâmetro de bordos ou bases dos
fragmentos em que era possível tirar esse tipo de medidas foi mesurado a partir da
orientação do bordo ou da base e da sua projeção em arcos de círculo com medidas.

3.3. Matriz de Estudo da Cerâmica Islâmica de Cacela Velha

A tipologia, cor da pasta e variante foram campos preenchidos consoantes a chamada Matriz
de Cacela. Ao final dos trabalhos arqueológicos de 2004 e 2007 e com o estudo de 632 peças
retiradas durante as campanhas foi estabelecida uma matriz de classificação para as
cerâmicas islâmicas provenientes de Cacela.

Da tipologia presente na matriz11, após a análise prévia das peças, vale destacar as
classificações de Recipientes de Armazenamento e Transporte, Louça de Cozinha, Louça de
Mesa, Objetos de Uso Doméstico, Objetos de Uso Lúdico e Objetos Indeterminados
Decorados. Dentro de cada uma das classificações há vocábulos que especificam cada uma
das tipologias, que são comuns a contextos cerâmicos islâmicos:

Nos Recipientes de Armazenamento e Transporte temos a presença do Cântaro, do latim


cantharus, um recipiente de forma fechada, altura média de 20 cm e pasta porosa destinada
ao transporte de líquidos, mas principalmente de água. Para o armazenamento desses
líquidos temos a Talha, com dimensão e volume maiores, podendo ter asas e que eram
amplamente decoradas durante o período almóada. (Gómez Martínez, 2014, pp. 91)

Na Louça de Cozinha temos a Panela (burma, qidr), um contentor de paredes altas, boca em
forma fechada e asas que é aplicável ao fogo para ebulição de líquidos e confecção de
guisados e sopas. As Caçoilas (qaṣ’a, ṭâŷin) também são aplicáveis ao fogo, porém para
cozeduras lentas e de conteúdos com pouco líquido, tento as paredes baixas, asas e boca
em forma aberta. Já o Alguidar (qaṣrîya, librîl, qadḥ) é um utensílio de funções múltiplas,
sendo um contentor de forma aberta. (Roselló Bordoy, 1991, pp)

Ainda na Louça de Cozinha de Cacela Velha aparece o vocábulo Malga, exclusivo desse
contexto arqueológico. Por se assemelharem as malgas amplamente utilizadas em ambientes
rurais do século XX, e daí receberem o mesmo nome, as malgas de Cacela são aplicáveis ao

11
A matriz completa (Garcia, 2015, pp. 45-46.) encontra-se disponível para consulta em Anexos (Anexo I).

26
fogo, possuindo uma forma semiesférica, fundo plano ou convexo e um acabamento de
superfície alisado, podendo também ter seu interior brunido (Garcia, 2015, pp. 46.).

A Louça de Mesa é representada pela Tigela (ṣaḥfa, ṭaufûr, giḍâr), um prato de serviço
designado para o consumo de alimentos, sendo comum a presença de vidrado e vidrado
decorado. Há também Jarra (ŷarra Šurba) ou Jarrinha, contentores de serviço medianos, com
ou sem asas e bico, e feitos com barro poroso para o transporte e para servir líquidos,
especialmente água. As Jarrinhas também podem ser utilizadas para beber. Os Jarros (qadh
ou ibrîq), assim como as jarras, são utilizados para servir líquidos, distinguindo-se por possuir
sempre um bico e apenas uma asa.

Como Objetos de Uso Doméstico há a Tampa (giṭâ’, mugaṭṭa), peça de forma variada utilizada
para fechar contentores. E como Objetos de Uso Lúdico há a Pedra de Jogo, fragmento
cerâmico normalmente circular utilizado para jogos de entretenimento. Os conjuntos
classificados como Objetos Indeterminados Decorados são aqueles fragmentos que possuem
decoração, mas por não possuírem perfil que possibilite a identificação de sua tipologia são
identificados como indeterminados.

No que se diz da Pasta, a Matriz de Cacela organiza-se em razão das tonalidades de pasta
cerâmicas perceptíveis a olho nu, sendo elas: pastas brancas, beges e laranjadas muito
claras; pastas alaranjadas; pastas vermelhas e vermelho escuras. (Garcia, 2015, pp. 48.)

As Variantes12 distinguem dentro das tipologias de Cacela indivíduos que pertencem a um


mesmo conjunto de características, categorizando cada conjunto desses como uma variante.
Essa composição foi realizada para todas as tipologias, mas ganha grande destaque nos
Recipientes de Armazenamento, na Louça de Cozinha e na Louça de Mesa.

Nisso, os Cântaros possuem quatro variantes, as Panelas três, as Caçoilas e Alguidares cinco
cada um, Malgas duas variantes, Tigelas quatro variantes, Jarras e Jarrinha cinco variantes e
Jarros três variantes.

3.4. Representação Gráfica e Fotográfica

O primeiro passo foi selecionar dentro da amostra fragmentos ou conjuntos considerados mais
significantes para representar, seja por estarem mais completas, por serem únicas dentro de
sua tipologia ou por apresentarem decoração.

Os fragmentos com bordo seriam orientados sobre uma folha quadriculada, onde seu
diâmetro seria calculado e em seguida seu perfil traçado. O objetivo do desenho é obter dois

12
Disponíveis em Anexos (Anexo II)

27
planos de representação, um interno e outro externo separados por uma linha de separação
das vistas, em que o lado direito do desenho retrata o lado externo do conjunto, seu contorno
e decorações, enquanto o lado esquerdo representa o lado interno do conjunto, com destaque
para a sua espessura.

As representações gráficas ainda seguiram a orientação técnica do livro Introdução ao


Desenho Arqueológico, de Fernanda Sousa (1999), gentilmente cedido pela professora
doutora Maria João Valente. Sob as instruções da obra foi possível representar fragmentos
que não possuíam bordo orientado e decorações internas no conjunto.

A digitalização dos desenhos foi realizada através do programa Inkscape, na versão 0.92.4,
na qual as representações gráficas dos conjuntos feitas à mão foram redesenhadas
digitalmente para sua melhor inserção nesse trabalho e para representações futuras dos
conjuntos. Ao todo 35 conjuntos foram representados graficamente.13

A representação fotográfica foi realizada em menor quantidade que a gráfica, sendo


selecionados os conjuntos com decoração de destaque ou mais visível, além de conjuntos
que se mostraram únicos em sua classificação tipológica. Algumas das fotos foram tiradas
por mim, através da câmera do meu telefone, e outras por Patrícia Dores com sua máquina
fotográfica. Ao todo foram tiradas cerca de 30 fotos14

13
Disponíveis em Anexo (Anexo III).
14
Idem.

28
Parte II – Análise da Coleção
Esta parte que se inicia é destinada à análise da amostra cerâmica. Para este trabalho foram
analisados, ao todo, 209 fragmentos, os quais se distribuem em 119 conjuntos cerâmicos
estudados individualmente sob os critérios estabelecidos na Metodologia.

Os capítulos que se seguem são uma apuração dos dados recolhidos após o trabalho de
análise, contendo gráficos e tabelas que permitirão a interpretação da amostra dentro do
contexto histórico-arqueológico de Cacela Velha e, numa maior perspectiva, no contexto
islâmico medieval do Algarve.

29
Capítulo 4: Perspectiva Tipológica

A análise tipológica da coleção cerâmica foi realizada de acordo com a Matriz de Cacela
Velha15, na qual cada um dos conjuntos foi caracterizado como Recipientes de
Armazenamento e Transporte, Louça de Cozinha, Louça de Mesa, Objetos de Uso
Doméstico, Objetos de Uso Lúdico ou Objetos Indeterminados Decorados.

A tabela abaixo apresenta a distribuição dos conjuntos dentre as tipologias enumeradas.

Tipologia Número de Conjuntos


Recipientes de Armazenamento e 16
Transporte
Louça de Cozinha 52
Louça de Mesa 41
Objetos de Uso Doméstico 5
Objetos de Uso Lúdico 2
Objetos Indeterminados Decorados 3
Total 119
Tabela 1 - Número de Conjuntos por Tipologia

Como percebido, a Louça de Cozinha representa maioria da amostra, sendo correspondente


a 43,7% de todos ou conjuntos. A segunda maior porcentagem, 34,5%, corresponde a Louça
de Mesa, sendo assim um possível indicativo do maior uso dessas louças no ambiente
doméstico. Ainda com um número significativo, os Recipientes de Armazenamento e
Transporte correspondem a 13,4% da amostra. Os Objetos de Uso Doméstico, Objetos
Indeterminados Decorados e Objetos de Uso Lúdico correspondem, respectivamente a 4,2%,
2,5% e 1,7% da amostra.

Ainda em uma análise geral da amostra é possível quantificar as tipologias distribuídas entre
as unidades estratigráficas nas quais os conjuntos foram encontrados. A ue43 é a única que
não apresenta nenhum conjunto cerâmico na amostra deste trabalho.

Os conjuntos, distribuídos, então, entre as unidades estratigráficas 31 e 41 apresentam-se


como representado no Gráfico 1 abaixo.

15
Ver Matriz de Estudo da Cerâmica Islâmica de Cacela Velha – Anexo II.

30
Gráfico 1 - Porcentagem Tipológica por Unidade
Estratigráfica

ue 41

ue 31

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Panela Malga Alguidar


Tigela/ Tigelinha Jarra/ Jarrinha Cântaro
Caçoila Talha Pedra de Jogo
Tampa Indeterminado Decorado

A leitura do Gráfico 1 possibilita visualizar a predominâncias de algumas tipologias em relação


a outras dependendo da unidade estratigráfica, o que possivelmente trará algum significado
com um estudo mais detalhado dessas tipologias, separadas agora pelas nomenclaturas e
não pelas categorias nas quais se encaixam.

É preciso primeiro apontar, antes de comparar os dados, que as unidades estratigráficas 31


e 41 não possuem o mesmo número de conjuntos e, por isso, as porcentagens mostram-se
relativas as quantidades de cada unidade. A ue31 é representativa de 72 conjuntos, mais da
metade da amostra – que é de 119 -, fazendo com que reste 47 conjuntos relativos a ue41.

Dito isso, a Jarra/Jarrinha se mostra como a tipologia predominante da ue31, com um total de
22 conjuntos, mas na ue41 possui apenas cinco, um número ínfimo se comparada a unidade
que a antecede. A Panela ocupa grande representatividade nas duas unidades, possuindo 16
conjuntos em cada e sendo a maior tipologia na ue41 e a segunda maior na ue31.

Também com um grande número de artefatos, o Cântaro possuí sete conjuntos na ue31 e
oito na ue41, um número considerável que não é partilhado com a Talha, que assim como o
Cântaro é um Recipiente de Armazenamento e Transporte, mas que apresenta apenas um
conjunto na ue31.

31
A Tigela/Tigelinha, uma Louça de Mesa como a Jarra/Jarrinha, também apresenta um número
significativo dentro da amostra, com oito conjuntos na ue31 e seis na ue41, sendo a quarta
maior e a terceira maior porcentagem dessas unidades respectivamente.

Além da Panela, a Louça de Cozinha também foi representada pela Malga, pelo Alguidar e
pela Caçoila, todos com números totais muito próximos. A Malga possuí mais exemplares
dentre esses três, com cinco conjuntos na ue31 e quatro conjuntos na ue41. Já o Alguidar
possui cinco conjuntos na ue31 para um conjunto na ue41. A Caçoila também apresenta
apenas um conjunto na ue41, mas quatro conjuntos na ue31.

Os Objetos de Uso Doméstico são representados apenas pelas Tampas, que com cinco
exemplares, possuem quatro na ue31 e uma na ue41. Os Objetos Indeterminados Decorados
possuem apenas três exemplares, todos na ue41. Por fim, a menor porcentagem é a de
Objetos de Uso Lúdico, que possui duas Pedras de Jogo na ue41.

A apreciação desses resultados será desenvolvida ao longo dos capítulos que se seguem.

32
Capítulo 5: Recipientes de Armazenamento e Transporte

Os Recipientes de Armazenamento e Transporte são chamados assim por conta de sua


função. Podendo ter grandes dimensões, são artefatos cerâmicos de identificação fácil e
geral, tendo pouca evolução morfológica e de uso ao longo dos séculos. (Gómez Martínez,
2014, pp. 90)

Na amostra deste trabalho os Recipientes de Armazenamento e Transporte são compostos


pelas tipologias de Cântaro e Talha, responsáveis pelo transporte e armazenamento de água,
respectivamente.

5.1. Talhas

A Talha é um recipiente de armazenamento por excelência, possuindo volume e peso que lhe
dão estabilidade quando depositada em algum sítio. Podendo armazenar tanto líquidos
quanto sólidos, possui grandes dimensões, com um corpo tendencialmente ovoide, podendo
ter asas ou não (Gómez Martínez, 2014, pp.91)

Em Cacela Velha, cada família possuiria uma ou duas talhas para o armazenamento de água.
Os fragmentos encontrados ao longo das campanhas no sítio arqueológico apresentavam
traços de cerâmica almóada, como motivos estampilhados e o símbolo profilático Hamsa,
incorretamente designada como a mão de Fátima. (Dores et al, 2008)

A tese de doutoramento de Cristina Garcia (2015, pp. 249) aponta a talha como uma pequena
porcentagem das amostras encontradas em Cacela Velha16, em que foram encontrados
apenas 20 exemplares, no que respeita a escavação no bairro almóada do Poço Antigo. Em
sua maioria, apresentavam pastas claras e porosas, com o predomínio da coloração laranja.

Neste trabalho, a talha também se mostra como a menor porcentagem da amostra, de 0,8%,
com apenas um exemplar em fragmento. À exceção dos exemplares já encontrados em
Cacela Velha, este fragmento de talha possui pasta de cor vermelha e de textura mais
compacta do que porosa, com elementos de quartzo médios e abundantes. O exemplar é
ainda um fragmento de bordo vertical com 16mm de espessura.

O fragmento não apresentava nenhuma decoração e mostrava-se incompleto, não sendo


possível identificar sua variante ou lhe atribuir uma cronologia.

16
Referida análise de materiais das campanhas arqueológicas de 2004 e 2007, já citado no capítulo 2.5.

33
5.2. Cântaros

O Cântaro, por sua vez, era utilizado para transportar a água das fontes ou do rio, possuindo
uma forma que permitia seu fácil levantamento e transporte e evitava a perda excessiva de
água. Possuí normalmente um tamanho médio, com altura superior a 20 cm e pastas porosas,
para manter o líquido contido fresco. (Gómez Martínez, 2014, pp. 99)

Em Cacela Velha, no Poço Antigo, já haviam sido analisados 183 cântaros (Garcia, 2015, pp.
258), em que predominam as pastas alaranjadas seguidas das brancas e das vermelhas.
Possuíam em maioria corpo de forma globular ou ovóide com duas asas, bordo saliente ou
em moldura, colo cilíndrico ou troncocónico e base plana ou em ônfalo. Os bordos possuíam
diâmetro variante entre os 80 e os 160mm.

Quanto ao acabamento e decoração, os exemplares de Cacela apresentavam superfície


alisada, podendo apresentar caneluras ou engobe, este cinzento nas pastas alaranjadas e
branco nas pastas claras ou alaranjadas. Quando possuíam pinturas eram linhas digitais,
pingos ou círculos nas cores branca, preta e almagre17.

A amostra estudada possui 15 conjuntos de cântaros, oito deles vindos da unidade


estratigráfica 41. Ao todo foram analisados 51 fragmentos, sendo 26 fragmentos do conjunto
CV/FC/07/43718, nove fragmentos do conjunto CV/FC/07/51119 e quatro fragmentos no
conjunto CV/FC/07/40120. O restante dos conjuntos possui apenas um fragmento cada.

Morfologia Cântaro: Número de Conjuntos


Asa 6
Bordo 5
Bordo + Colo 1
Bojo 2
Colo + Bojo + Base 1
Total 15
Tabela 2 - Número de Cântaros por Morfologia

Dos conjuntos analisados, seis são asas, o que dificulta a percepção das formas completas
das peças. Dessas asas, no entanto, foi possível perceber a presença de engobe cinzento em
um dos fragmentos de pasta alaranjada e, em outro fragmento, além do engobe cinzento é
presente a pintura de um traço fino e em motivo ondulado na cor branca a volta do arranque

17
Tom avermelhado.
18
Ficha 120 no Anexo III.
19
Ficha 58 no Anexo III.
20
Ficha 119 no Anexo III.

34
da asa21. Quanto à forma das asas três delas são de secção em fita com nervuras, duas em
fita e apenas uma de secção oval.

Dos restantes conjuntos, dois foram classificados como bojo, um como colo anexado a bojo
e base, um conjunto foi identificado como bordo anexado a colo e os outros cinco apenas
como bordos. A espessura desses conjuntos varia entre os 3 e os 7mm.

Os dois bojos apresentam forma globular, tal qual os exemplares encontrados em Cacela
Velha anteriormente, um com pasta alaranjada e outro com pasta vermelha. Dos bordos, dois
possuem lábio de secção plana, dois de secção plana triangular e apenas um de secção
triangular, todos eles com pasta vermelha. Em apenas dois desses bordos foi possível medir
o diâmetro, tendo cada um 90mm, estando dentro das medidas já observadas em Cacela
Velha.

Desses sete exemplares, um possui uma incisão em motivo horizontal, dois possuem engobe
cinzento e dois possuem apenas pintura branca, uma delas em motivos indeterminado e a
outra em linhas geométricas no corpo do bordo e outra em seu lábio22.

Por último, falta analisar os conjuntos identificados como colo anexado a bojo e base e como
bordo anexado a colo. O primeiro já foi citado, sendo o conjunto com 26 fragmentos. Possui
pasta vermelha pouco compacta e tem suas superfícies alisadas. Como decoração possuí
apenas uma incisão em motivo horizontal na linha que liga o colo ao bojo. Assim, como as
peças já encontradas em Cacela, apresenta o colo em forma troncocónica invertida, bojo
globular e a base em fundo ônfalo. [figura 9]

O último conjunto a ser falado também já havia sido citado, sendo o conjunto com nove
fragmentos. Diferente do conjunto acima, este é passível de uma restauração parcial, pois
seus fragmentos ligam-se uns aos outros, faltando-lhe apenas o bojo e a base. Sua pasta é
alaranjada e friável, tendo um acabamento em engobe cinzento e pinturas horizontais em
branco por todo o corpo da peça. No que se diz das formas do exemplar, seu bordo possuí
lábio plano e um diâmetro de 110mm, o seu colo é cilíndrico. Há ainda a presença de um
arranque de asa vertical em secção de fita.

21
Ficha 35 no Anexo III.
22
Ficha 47 nos Anexos.

35
Figura 9 - Cântaro CV/FC/07/437 (Ficha 120). Foto: Camila Silveira.

Dos 15 cântaros da amostra, apenas seis puderam ser identificados dentro das variantes da
Matriz de Cacela Velha, todos eles sendo parte da Variante 2 para cântaros. Essa variante é
caracterizada por cântaros de pasta alaranjada e bordos salientes, perfil triangular ou circular,
colo cilíndrico e com pintura branca ou cinzenta, podendo ter engobe cinzento.

Figura 10 - Cântaros CV/FC/07/532 (Ficha 13) e CV/FC/07/514 (Ficha 47). Fotos: Patrícia Dores.

36
Capítulo 6: Louça de Cozinha

Louça de Cozinha é uma denominação dada aos materiais cerâmicos utilizados diretamente
na preparação de alimentos, sobretudo aqueles que vão direta ou indiretamente ao fogo.
Sobre um lume de chão ou sobre um fogareiro, essas cerâmicas eram utilizadas para o
cozimento de alimentos, sendo a tipologia melhor representada em contextos arqueológicos
medievais e que mais proporcionam informações sobre os hábitos alimentares no al-Andalus
(jornal).

Dos vários tipos cerâmicos de Louça de Cozinha, concentram-se neste estudo a Panela, a
Caçoila, o Alguidar e a Malga, os três primeiros sendo formas de uso doméstico tipicamente
almóadas mais frequentes em Cacela Velha (Dores et al, 2008).

6.1. Panelas

Sendo um recipiente médio de forma fechada, paredes altas e asas, a Panela é um


instrumento de cozedura lenta e prolongada dos alimentos. Seu uso poderia estar relacionado
com a preparação de legumes, que precisam de cozimento com caldo abundante, de verduras
e produtos hortícolas, de sopas ou guisados. Também era possível o preparo de carne, ainda
que mais incomum por ser um alimento mais habitual de classes abastadas. (Gómez Martínez,
2014, pp.105.)

As panelas são um instrumento fundamental na cozinha da casa islâmica, sendo


frequentemente utilizada e, por isso, frequentemente substituída. De acordo com um
manuscrito anônimo do século XIII, sobre a cozinha hispano-magrebí e editado por Huici, a
cozinha islâmica ideal deveria ter tantas panelas quanto os dias do ano, uma para cada
alimento preparado, devendo ainda as panelas sem vidrado serem utilizadas apenas uma vez
e as outras limpas com água quente e farelo. (Elum López, apud Dores et al, 2008)

Em Cacela Velha já foram analisadas 353 Panelas do bairro islâmico do Poço Antigo (Garcia,
2015, pp. 263.), estando apenas três delas completas. A predominância é de pastas
alaranjada e acabamento alisado das superfícies, podendo ter pinturas digitais brancas, linhas
e pingos no exterior da peça, além linhas incisas e caneluras. No interior, ainda que menos
comum, pode haver um acabamento de vidrado melado ou verde. No que se diz da forma
dessas panelas, predomina um bordo engrossado de lábio plano, o colo cilíndrico curto, corpo
globular com uma ou duas asas de secção circular ou oval e fundo plano ou ligeiramente
convexo. A boca das panelas tem diâmetro variante entre os 90 e os 160mm.

37
O número de panelas na amostra deste trabalho é de 32 conjuntos, sendo ao todo 52
fragmentos. 14 fragmentos pertencem apenas ao conjunto CV/FC/07/42923, há dois conjuntos
com três fragmentos cada, três conjuntos com dois fragmentos cada e o resto dos conjuntos
é composto por apenas um fragmento.

Morfologia Panela: Número de Conjuntos


Asa 6
Bordo 14
Bordo com Asa 2
Bordo + Colo 6
Bojo 1
Bojo + Base 2
Base 1
Total 32
Tabela 3 - Número de Panelas por morfologia

Dos 32 conjuntos, seis são somente asas, elemento sempre presente na morfologia das
panelas. Dessas asas, todas eram verticais, sendo seis de secção em fita e seis de secção
oval. A secção oval nas asas das panelas é a que predomina no material de Cacela Velha,
portanto a presença de asas de secção em fita mostra-se atípica. As tonalidades da pasta
variam entre o alaranjado e o vermelho, tendo três fragmentos no primeiro tom e dois no
segundo. Um dos fragmentos não foi possível de identificar sua coloração por estar muito
carbonizado. Além desse fragmento, outros três apresentaram marcas de fogo ou queimada.

No que se diz de outras formas, dentre os conjuntos apenas um é fragmento de base, sendo
esta uma base plana de pasta vermelha, espessura de 7mm e acabamento superficial alisado.
Há ainda dois conjuntos que possuem base, estes estando anexados a parte do bojo: o
primeiro com o bojo globular e a base convexa, possuindo pasta alaranjada, uma espessura
de 8mm e apresentando marcas de queimada.

O segundo conjunto [figura 11] destaca-se, por ser o conjunto que possuí 14 fragmentos. Esse
conjunto indica possuir um bojo globular, porém não apresenta perfil suficiente para identificar
a morfologia da base. Sua pasta é vermelha, estando queimada na superfície exterior. Possui
uma espessura de 3mm, uma cerâmica fina, se comparada as citadas até agora. Seu
acabamento é vidrado melado no interior e caneluras no exterior, algo já apresentado dentre
os materiais de Cacela Velha.

23
Ficha 118 no Anexo III.

38
Figura 11 - Panela CV/FC/07/429 (Ficha 118). Foto: Camila Silveira.

Das 32 panelas da amostra, apenas um conjunto é só fragmento de bojo, este tendo forma
globular, pasta alaranjada, uma linha de incisão horizontal em seu corpo e marcas de fogo da
sua superfície exterior.

Seis conjuntos desses 32 foram considerados bordos anexados a colo e dois como bordos
com presença de asa. Os bordos com presença de asa são muito distintos entre si: um era
um fragmento de pequenas dimensões com 4mm de espessura, a asa de secção em fita
possuí o arranque rente ao bordo triangular, estando o fragmento tão carbonizado que não foi
possível identificar a tonalidade de sua pasta.

O segundo conjunto [figura 12] era um fragmento


de bordo ligado a uma de suas asas, quase
inteira, sendo vertical de secção triangular. O
bordo é arredondado e de pasta vermelha, com
duas linhas de incisão horizontais na altura do
arranque da asa, possuindo ainda marcas de
fogo. A espessura do bordo é de 3mm, uma
cerâmica mais fina, e seu diâmetro é de 100mm,
Figura 12 - Panela CV/FC/07/459 (Ficha 59).
estando dentro da variação observada em Foto: Camila Silveira
Cacela Velha24.

Dos seis bordos anexados a colo todos possuíam pasta vermelha e marcas de fogo ou
queimada. Suas espessuras variam entre 2 e 7mm e seus diâmetros variam entre 75mm e
120mm, estando dois conjuntos (um com 75mm e outro com 80mm) abaixo do menor valor
apontado em Cacela Velha, que era de 90mm. No que se diz de suas formas, três conjuntos

24
Ficha 59 no Anexo III.

39
possuem bordo com lábio plano e três com lábio arredondado. Cinco dos conjuntos
apresentam colo cilíndrico curto e um o colo troncocónico, além disso, cinco desses conjuntos
apresentavam um princípio de bojo globular.

A respeito da decoração desses conjuntos, a técnica mais utilizada foi a incisão na superfície
externa, na qual dois conjuntos possuem múltiplas linhas horizontais em seu bordo, um
conjunto possui uma linha horizontal no colo e um conjunto possui uma linha no bordo e outra
no colo. Um dos conjuntos, além de apresentar linhas de incisão em seu bordo e colo ainda
apresentava um acabamento vidrado melado na superfície interna e externa.

Por fim, resta analisar aqueles conjuntos compostos apenas por fragmentos de bordo, que
totalizam em 14. Esses fragmentos possuem espessura entre 3 e 6mm e uma predominância
de tom alaranjado na pasta, com sete fragmentos nesse tom. Há ainda três fragmentos em
pasta vermelha e quatro fragmentos que não puderam ter a cor da pasta identificada devido
ao seu estado de carbonização. A exceção desses quatro fragmentos carbonizados, outros
cinco apresentaram marcas de fogo ou queimada.

1 2

3 4

Figura 13 – Panelas: 1) CV/FC/07/407 (Ficha 79), 2) CV/FC/07/404 (Ficha 93), 3) CV/FC/07/408


(Ficha 114), 4) CV/FC/07/406 (Ficha 116). Desenhos: Camila Silveira.

40
No que se diz das formas, cinco bordos foram classificados como de lábio arredondado, quatro
possuem lábio em aba, quatro possuem lábio triangular e apenas um possui lábio plano. Dos
bordos, apenas três apresentam decoração, sendo traços horizontais incisivos, e em apenas
dois foi possível calcular o diâmetro: 140 e 150mm.

A partir da análise mais detalhada feita acima é possível quantificar os dados obtidos a
respeito das panelas da amostra. Ao final, foi possível concluir que dos 32 conjuntos 18
possuem marcas de fogo ou queimada, representando 56,3% dos exemplares. 34,4% dos
conjuntos possuem algum tipo de decoração, sendo a incisão a técnica predominante,
aparecendo em 10 conjuntos.

Gráfico 2 - Panela: Cor da Pasta


16

14

12

10

0
Pasta Alaranjada Pasta Vermelha Carbonizados

A cor da pasta pode ser avaliada pelo gráfico acima, na qual é possível perceber a
predominância da pasta de cor vermelha, representativa de 43,8% dos exemplares, contra
37,5% de panelas em pasta de cor alaranjada e 25% de exemplares que não puderam ter a
cor da pasta identificada devido ao seu estado de carbonização.

Se somadas as peças carbonizadas com as que apresentam marcas de fogo ou queimada, o


número de conjuntos que apresentam evidências visíveis de contato com o fogo é de 24,
correspondendo a 75% do total de panelas.

Das 32 panelas ainda, cinco foram caracterizadas como parte da Variante 1 da matriz de
Cacela Velha, em que há a presença de cilíndrico ou ligeiramente troncónico curto e arranque
de corpo globular. Há ainda um outro conjunto que, por apresentar colo troncónico e lábio
triangular, foi caracterizado como da Variante 2.

41
6.2. Caçoila

Diferente da Panela, a Caçoila é uma cerâmica de boca larga, paredes verticais baixas e base
convexa ou plana. Equivalente a uma frigideira moderna, seria utilizada para preparar
alimentos com pouco tempo de cozimento ou que eram fritos, como peixes e ovo. (Gómez
Martínez, 2014, pp.110.)

Dentre a variedade das caçoilas encontradas no al-Andalus, destaca-se a chamada caçoila


de costillas, que, vidrada, possui em seu exterior aplicações plásticas verticais radiantes que
permitiriam a liberação de calor excessivo da cerâmica, sendo considerada uma cerâmica
típica do período almóada.

Em Cacela Velha, do Poço Antigo haviam sido estudados 307 fragmentos de caçoila,
possuindo cinco peças semi-completas. A caçoila de costillas possuía 81 exemplares nessa
amostra. As pastas alaranjadas predominavam com 78% dos exemplares contra 22% de
pastas vermelhas. No que se diz das formas, os bordos eram variados e de diâmetro entre
180 e 320mm, com corpo carenado troncocónico ou hemisférico, fundo plano ou convexo e
podendo ou não ter asas. As superfícies são majoritariamente alisadas, podendo ainda exibir
brunido. A decoração simples consistia em linhas e pingos pintados em cor branca ou
cinzenta, podendo ainda possuir incisões, excisões e caneluras. A maioria dos fragmentos
apresentava marcas de fogo em seu exterior. (Garcia, 2015, pp. 267.)

Neste trabalho o número de caçoilas de cinco conjuntos, correspondendo a pequena quantia


de 4,2% da amostra total de cerâmicas. Ao total são oito fragmentos: três conjuntos com dois
fragmentos cada e dois conjuntos com um fragmento cada.

Morfologia Caçoila: Número de Conjuntos


Perfil Completo 1
Bordo 3
Base 1
Total 5
Tabela 3 - Número de Caçoilas por Morfologia

Apenas um dos conjuntos foi identificado como caçoila de costillas, sendo um fragmento de
pequenas dimensões de abrange o limite entre o bojo e a base da caçoila. O bojo apresenta
perfil suficiente para definir sua morfologia, mas a base é plana. O fragmento possui 6mm de
espessura, pasta em tom alaranjado claro e não possui marcas de fogo. Seu acabamento é
alisado, com as superfícies internas e externas cobertas por vidrado melado. Há ainda a

42
presença de uma única aplicação plástica vertical na superfície externa, que identifica esse
fragmento como pertencente a uma caçoila de costillas.25 Pode-se enquadrar na Variante 1
das Caçoilas de Cacela Velha.

Figura 14 - Caçoila de costillas CV/FC/07/433 (Ficha 76). Foto/Desenho: Camila Silveira

Os outros quatro conjuntos possuem pasta em tom vermelho, sendo que três apresentam
também marcas de fogo. Desses quatro, três são fragmentos de bordo bem distintos: um
possui o lábio arredondado e não possui decoração; o outro possui o lábio plano triangular e
é decorado com uma linha de incisão horizontal; já o terceiro possui o lábio plano, carena e
decoração em linhas de incisão sob linhas em pintadas em branco, tendo esse bordo 180mm
de diâmetro – o menor valor encontrado anteriormente nas caçoilas de Cacela.

Por último, o quarto desses conjuntos é o mais completo das caçoilas, possuindo bordo com
lábio triangular, corpo carenado e base convexa [figura 15]. Seu acabamento é alisado e como
decoração possui uma linha de incisão horizontal no bordo.26 Possui um diâmetro de boca de
140mm, 40mm abaixo do menor diâmetro já observado em Cacela. Pode-se enquadrar na
Variante 4 para Caçoilas de Cacela Velha.27

25
Ficha 76 no Anexo III.
26
Ficha 61 no Anexo III.
27
Vide Variantes em Anexo II.

43
Figura 15 - Caçoila CV/FC/07/476 (Ficha 61). Desenho: Camila Silveira.

6.3. Alguidar

Com formas mais abertas, grandes dimensões e bem próximo da nossa ideia de uma bacia,
o Alguidar era uma peça cerâmica versátil e multiuso, podendo ser utilizada na preparação de
alimentos, como o amassar do pão, ou na higiene doméstica. (Gómez Martínez, 2014,
pp.116.)

Em Cacela Velha, foram encontrados 149 alguidares, a maioria (64%) em pastas alaranjadas
claras ou bege. Com menor frequência apareceram peças de pastas vermelhas e alaranjadas.
Os diâmetros de bordo variavam entre 250mm e 630mm, devido as dimensões diversas que
os alguidares podiam tomar. As decorações em pintura são raras, sendo comum a presença
de cordão ou linha incisa no exterior do lábio do bordo.

Os exemplares estudados para este trabalho totalizam em seis, representando 5,0% da


amostra total cerâmica. Cada conjunto possui um fragmento, quatro de bordo e dois de bordo
com presença de colo. Os bordos com colo possuem pasta de cor laranja, bordo com lábio
em aba e colo troncocónico invertido, um identificado como Variante 1 e outro como Variante
2 dos alguidares de Cacela. Os outros quatro exemplares podem se separar em dois grupos:
o primeiro com dois bordos com lábio em aba, um com pasta laranja e outro com pasta
vermelha, sem decoração; o outro grupo com bordos de lábio semicircular, pasta bege e
cordão decorativo na parte externa no lábio do bordo.

44
Figura 16 - Alguidar CV/FC/07/439 (Ficha 106). Foto: Patrícia Dores.

6.4. Malga

Integrada como parte das louças de cozinha, a Malga possui esse nome por recordar as
cerâmicas de uso individual ou coletivo que eram utilizadas no meio rural do século XX.
Apesar do vocábulo Malga ter sido inserido para o contexto de arqueológico de Cacela Velha
no momento de criação da sua matriz de estudo para cerâmica islâmica, essa tipologia não é
exclusiva de Cacela28, aparecendo sob denominação de escudilla, uma forma antiga e de uso
cotidiano no al-Andalus rural (Garcia, 2015, pp. 279.) e podendo ainda ser classificada como
um tipo de caçoila, como foi orientado pela professora doutora Susana Gomez Martinez
segundo a matriz do CIGA29 (Bugalhão et al, 2009).

Em Cacela já haviam 84 fragmentos classificados como malga (Garcia, 2015, pp. 279), sendo
um grupo bem homogêneo. São cerâmicas de forma aberta, muito semelhantes as caçoilas,
com forma semiesférica ou com suave carena, tendo bordo introvertido ou extrovertido de
lábio arredondado, fundo ligeiramente convexo e sem asas. A pasta alaranjada é
predominante, estando presente em 77 dos fragmentos, havendo ainda seis fragmentos de
pasta vermelha e uma alaranjada clara. O acabamento normalmente é alisado na superfície
externa e brunido na superfície interna. A decoração predominante são linhas incisas na

28
O termo malga, em contexto islâmico, já havia sido utilizado por Matos (1983) ao descrever um conjunto
cerâmico encontrado no Cerro da Vila, Loulé. No entanto, diferente das malgas de Cacela, que são louça de
cozinha, as do Cerro da Vila seriam louça de mesa, semelhantes a tigelas - ou ataifores, em espanhol, como
citado por Matos (pp. 377). A escolha de Matos pelo termo malga é explicada pela impressão do autor de que
esse termo melhor define a sua funcionalidade.
29
Para Gómez Martínez (2014, pp. 124.) o termo malga não se aplica ao contexto islâmico, por ser de origem
tardia, dos séculos XV e XVI quando o termo “obra de Málaga” aparece referenciando peças importadas da
cidade ou suas imitações. Assim, o termo malga seria muito posterior ao contexto islâmico.

45
superfície exterior, mas não é muito raro linhas e pingos de cor branca. Por ser uma cerâmica
que vai ao fogo, apresenta frequentemente marcas de fogo. O diâmetro da boca varia entre
os 140mm e os 320mm.

Dentre a amostra estudada neste trabalho, nove foram classificadas como malga seguindo a
matriz de classificação para cerâmica islâmica de Cacela, sendo, no entanto, orientado por
Martinez como exemplares de caçoila. Os conjuntos eram todos de um fragmento cada,
sendo cinco bordos com corpo e quatro apenas bordos.

Morfologia Malga: Número de Conjuntos


Bordo 4
Bordo + Corpo 5
Total 9
Tabela 4 - Número de Malgas por Morfologia

Dos nove fragmentos, sete possuem pasta vermelha, sendo essa a cor predominante,
enquanto dois fragmentos possuem pasta alaranjada. Todas as peças apresentavam
acabamento alisado em sua superfície externa, com o detalhe de que duas dessas peças
também possuíam o seu exterior brunido. O brunido, aliás, é o acabamento principal da
superfície interna dos exemplares, estando presente em seis deles (66% das peças) e tendo
a funcionalidade de impermeabilizar o interior da louça de cozinha. Três dos fragmentos
apresentam marcas de fogo em ambas as superfícies e apenas um dos fragmentos possui
decoração, sendo esta linhas incisas horizontais no bordo do fragmento.

No que diz das formas, todos os bordos possuem lábio arredondado, cinco tendo orientação
extrovertida e quatro orientação introvertida. Dois conjuntos apresentam corpo semiesférico,
sendo classificados como parte da Variante 1 das malgas da matriz de Cacela, enquanto três
conjuntos apresentam suave carena, sendo parte da Variante 2 da mesma matriz.

Figura 17 - Malga CV/FC/07/443 (Ficha 110). Desenho: Camila Silveira.

46
Capítulo 7: Louça de Mesa
Com o segundo número de conjuntos mais representativo nessa amostra, a Louça de Mesa
é composta por tigelas, bilhas, jarrinhas, jarras e jarros, objetos cerâmicos com um processo
de fabrico mais elaborado e com decoração mais precisa do que as outras tipologias
analisadas até agora. Sua funcionalidade está ligada a apresentação e disposição de
alimentos no momento de serem consumidos.

Durante a época medieval islâmica há uma enorme variedade e quantidade de louça de mesa,
demonstrando uma evolução da tipologia ao longo dos séculos. Enquanto no período omíada
a produção dessa louça era bastante reduzida, durante o período almóada haverá uma
diversificação e especialização das cerâmicas para uso em mesa. Esse fenômeno almóada
iniciar-se-ia aos finais do século XI e multiplicar-se-ia ao longo do século XII, sendo
acompanhado por outro fenômeno, chamado por Gómez Martínez (2014, pp.123.) de
individualização da vasilha, em que aparecem objetos cerâmicos para a mesa de pequenas
dimensões, adequados ao consumo individual de alimentos.

Na amostra de louça de mesa do silo 3, relativa a campanha de 2007 no largo da fortaleza,


foram registradas apenas tigelas, tigelinhas, jarras e jarrinhas. Estas, divididas em duas
grandes tipologias, serão analisadas a seguir.

7.1. Tigela e Tigelinha

A tigela, com tigelinha sendo sua forma reduzida, pode ser definida como uma louça de mesa
de forma aberta, com boca larga e diâmetros superiores à sua altura. Sua funcionalidade, de
forma geral, seria a mesma de um prato fundo ou saladeira, para a disposição de alimentos
sólidos, pastosos ou líquidos. (Gómez Martínez, 2014, pp. 124 - 125.)

Em Cacela Velha, as tigelas são peças em evidencia, destinadas ao consumo de alimentos e


pratos tradicionais como o cuscuz. Os alimentos seriam consumidos direto do recipiente
cerâmico pelos membros do grupo família no pátio casa. (Dores et al, 2008)

As escavações arqueológicas do Poço Antigo, relatadas na tese de doutoramento de Cristina


Garcia (2015), trouxeram a superfície 334 tigelas e tigelinhas, 20% do espólio estudado por
ela. Possuíam tamanhos variados, com as tigelinhas com diâmetros até 150mm e as tigelas,
peças de tamanho médio, com diâmetros entre 200 e 400mm. Os bordos também possuíam
formas variadas, com corpo carenado ou semiesférico e pé anelar de pequeno diâmetro.

57% das peças possuía pasta alaranjada, 22% pastas vermelhas e 21% pastas claras,
demonstrando uma produção regional e local das tigelinhas. O acabamento é vidrado nas
superfícies interior e exterior, com predominância dos tons de melado e uma menor

47
quantidade de tons esverdeados. 65 fragmentos (20%) apresentaram decoração em negro
manganês. Alguns fragmentos ainda apresentaram estampilhas e círculos incisos como
decoração, muito utilizados na época almóada (Garcia, 2015, pp. 282.).

Na amostra retirada do silo 3, estudada nesse trabalho, há a presença de 14 conjuntos de


tigelas e tigelinhas, compostas por 23 fragmentos ao total. O conjunto com mais fragmentos
é o de série CV/FC/07/39830, com sete fragmentos, sendo o conjunto de perfil mais completo.
Além dele há ainda três conjuntos com dois fragmentos cada; o resto dos conjuntos possui
apenas um fragmento cada. Esses conjuntos são compostos em maioria por bordos, que
representam 50,0% das tigelas/tigelinhas, sendo que um deles ainda apresenta uma asa.
28,6% é composto por bojos e 14,3% por bases.

Dos 14 conjuntos, apenas dois exemplares eram de tigelinhas, fazendo com que o número de
tigelas equivalesse a 78,6% da tipologia. Essas duas tigelinhas são fragmentos de pequenas
dimensões, uma sendo de base de pé anelar, pasta alaranjada e sem acabamento vidrado e
a outra sendo um bordo de lábio semicircular, pasta alaranjada e decoração em vidrado
melado. A primeira tigelinha possui 4mm de espessura, enquanto a segunda possui 6mm.
Devido a suas pequenas dimensões, não foi possível classificar as tigelinhas segundo alguma
variante.

Morfologia Tigelas: Número de Conjuntos


Perfil Completo 1
Bordo 6
Bojo 4
Base 1
Total 12
Tabela 5 - Número de conjuntos de tigela por morfologia

Das tigelas, a que possui perfil mais completo (CV/FC/07/398) foi a única classificada como
Variante 3 para Tigelas e Tigelinhas da matriz de Cacela. Esta tigela possui uma forma
semiesférica, com o lábio de seu bordo arredondado, a pasta em um alaranjado claro e o
acabamento alisado nas duas superfícies, mas coberto por vidrado melado apenas na
superfície interior – a superfície exterior apresenta vidrado escorrido no bordo. Possui
espessura de 4 mm e um diâmetro de boca de 150mm, um tamanho menor que os observados
por Garcia (2015).

30
Ficha 90 no Anexo III.

48
As outras 11 tigelas variavam entre os 3 e 10mm de espessura, e possuindo certa diversidade
na tonalidade de suas pastas: pastas alaranjadas, redutora acinzentada e bege/branca estão
presentes igualitariamente em três exemplares, enquanto a pasta vermelha aparece em
apenas dois. No que se diz do acabamento e decoração, seis exemplares possuem ambas
superfícies vidradas em melado, um exemplar possui apenas a sua superfície interior com
vidrado melado31, dois exemplares possuem vidrado melado-esverdeado, um possui vidrado
esverdeado - este estando deteriorado – e um exemplar possui um vidrado simples. Isso faz
com que 100% das 11 tigelas tenha vidrado, sendo essa uma característica típica dessa
tipologia. Além disso, sete exemplares possuem decoração em negro manganês com motivos
verticais, curvos ou indeterminados.

1 3

2 4

Figura 18 – Tigelas: 1) CV/FC/07/497 (Ficha 31), 2) CV/FC/07/527 (Ficha 27), 3) CV/FC/07/435


(Ficha 64) e 4) CV/FC/07/539 (Ficha 18). Fotos: Patrícia Dores.

31
A superfície exterior apresentava vidrado escorrido no bordo como no conjunto CV/FC/07/398.

49
No que se diz das formas das 11 peças, há bordos, bojos e uma base. A base é anelar, com
65mm de diâmetro de pé. Os bojos, foram classificados como de forma indeterminada, sendo
inseridos na Variante 4 para Tigelas e Tigelinhas. Já dos bordos, dois possuem lábio
semicircular, dois lábio arredondado e um lábio plano. Um dos bordos com lábio arredondado
– e por acaso o bordo com vidrado esverdeado deteriorado – possui uma asa horizontal, um
elemento que ainda não havia aparecido em Cacela, mas não é incomum em tigelas, por
facilitar seu transporte [figura 19]. Apenas dois desses bordos apresentam diâmetro
mesurável, em 200 e 340mm, e apenas quatro foram classificados segundo as variantes da
matriz de Cacela, sendo três pertencentes a Variante 1 e um a Variante 2.

Figura 19 - Tigela CV/FC/07/537. Foto: Patrícia Dores.

Em uma apreciação geral sobre as tigelas e tigelinhas, 42,9% delas apresentavam pasta
alaranjada, 21,4% eram de pasta bege/branca e outras 21,4% foram consideradas como de
cozedura redutora, que ainda não havia aparecido nos registros das cerâmicas encontradas
no Poço Antigo, e por fim 14,3% das tigelas e tigelinhas eram de pasta vermelha.

50
Gráfico 3: Decoração em Vidrado das Tigelas e
Tigelinhas - Número de Conjuntos por Tipo de
Vidrado

1
1
1

3 8

Melado Melado-Esverdeado Esverdeado Simples Sem Vidrado

Quanto a decoração e segundo o gráfico, apenas uma das tigelas não possui vidrado,
correspondendo a 7,1% dos exemplares. Essa mesma porcentagem é partilhada pelo vidrado
simples e pelo vidrado esverdeado. 21,4% das tigelas é de vidrado melado-esverdeado e
57,1% é de vidrado melado, sendo representativo da maioria das peças.

Além disso, metade das peças apresentam decoração em negro manganês, seis em peças
de vidrado melado e uma em peça de vidrado melado-esverdeado.

7.2. Jarra e Jarrinha

Diferente da tigela, a jarra, e em sua versão reduzida a jarrinha, é uma peça de forma fechada
utilizada para servir líquidos, transportá-los até a mesa e, em alguns casos e principalmente
para as jarrinhas, para se beber, como um copo. Tem, de forma genérica, o colo diferenciado
e mais de uma asa32, esta facilita seu transporte em caso de maior peso da peça ou de seu
conteúdo. (Gómez Martínez, 2014, pp. 131)

Em Cacela Velha as escavações do Poço Antigo levaram a identificação de 176 jarras e


jarrinhas, que possuíam lábio arredondado ou biselado, bordo vertical e ligeiramente
introvertido, colo cilíndrico, corpo globular e pé anelar ou fundo plano. Os diâmetros de boca
variavam entre 80 e 150mm e verificou-se no espolio uma grande presença de asas, que são
elementos mais resistentes.

56% das jarras e jarrinhas encontradas possuíam pasta alaranjada, tendo as outras 44%
pastas claras. Os exemplares de pasta alaranjada apresentavam em maioria acabamento
alisado em ambas as superfícies, com linhas e reticulados de cor branca e cinzenta, linhas
incisas ou caneluras. Já os de pasta clara – bege, branco e alaranjada clara – apresentam

32
Aqui a Jarra diferencia-se do Jarro, de praticamente mesma função, mas que possui apenas uma asa.

51
paredes finas cobertas por engobe branco e podem ter caneluras ou vidrado verde, podendo
ainda as peças de pasta alaranjada claras podendo ser de produção local. (Garcia, 2015, pp.
289.)

Na amostra proveniente do silo 3 da escavação de 2007, que é a amostra desse trabalho, o


número de jarras e jarrinhas soma 27 conjuntos, 22,7% do total de cerâmicas. Ao todo são 50
fragmentos, sendo que 18 deles pertencem ao conjunto CV/FC/07/41233, sendo esse o único
conjunto de perfil completo; além desse conjunto, há dois que possuem três fragmentos cada
e outros dois conjuntos que possuem dois fragmentos cada; o restante dos conjuntos é
composto por apenas um fragmento.

Dos 27 exemplares de jarras e jarrinhas, apenas dois são efetivamente de jarra, fazendo com
que 92,6% da tipologia seja composta por jarrinhas.

Descrevendo primeiro as jarras, os dois exemplares presentes na tipologia possuem pasta


clara (branca/bege) e 5mm de espessura. Um deles é uma base de pé anelar com 85mm de
espessura, acabamento alisado e sem decoração. O segundo, o conjunto CV/FC/07/53434
[figura 20], é um fragmento de bojo globular com a presença de um arranque de asa de secção
de fita e de destaca pelo acabamento alisado e pela sua decoração em corda seca parcial
com pintura em vermelho e alaranjado e vidrado em verde. A decoração, no entanto, encontra-
se deteriorada, sendo difícil identificar o motivo desenhado.

Figura 20 - Jarra CV/FC/07/534 (Ficha 55). Foto: Patrícia Dores/ Desenho: Camila Silveira.

Olhando agora para as jarrinhas, dos 25 exemplares apenas um possui perfil completo e, com
seus 18 fragmentos, é também a única peça quase completa da tipologia. O conjunto
CV/FC/07/412 [figura 21], com 102mm de altura e 2mm de espessura, possui um bordo
vertical de lábio arredondado e com o diâmetro de boca de 60mm. Seu colo é diferenciado, o

33
Ficha 57 no Anexo III.
34
Ficha 55 no Anexo III.

52
bojo globular, a base convexa e a asa, que se inicia no bordo e finda no bojo, é vertical de
secção triangular. O conjunto apresenta pasta vermelha, com um acabamento alisado e linhas
de incisão horizontais no bordo e no colo. Foi classificado como Variante 1 para Jarras e
Jarrinhas da matriz de Cacela Velha.

Morfologia Jarrinha: Número de Conjuntos


Perfil Completo 1
Asa 4
Bordo com Asa 4
Bordo 12
Bojo 2
Base 2
Total 25
Tabela 6 - Jarrinhas: Número de Conjuntos por Morfologia

A exceção do conjunto de perfil completo, as jarrinhas são compostas por fragmentos entre
os 3mm e 5mm de espessura. No que se diz das pastas, 58,3% são de tonalidade vermelha,
25,0% de tonalidade alaranjada e 4,2% de tonalidade clara (branca ou bege). 12,5% das
peças não puderam ter sua pasta definida devido a estarem carbonizadas.

Para além dos conjuntos carbonizados, outros oito exemplares apresentaram marcas de fogo
ou queimada, podendo significar o uso das jarrinhas para a ebulição de líquidos junto ao fogo
ou a sua deposição em uma fogueira ou lareira após o seu descarte primário35.

Figura 21 - Jarrinha CV/FC/07/412 (Ficha 57). Foto/Desenho: Camila Silveira.

35
O termo descarte primário foi aqui escolhido por se tratar da hipótese de um primeiro descarte das peças.
Vale apontar que a amostra cerâmica estudada neste trabalho foi encontrada em um silo que, após seus anos
de uso, foi utilizado para o descarte de materiais e dentre eles os cerâmicos. Sendo o silo o local de descarte
final, o ato de atirar a lareira ou fogueira os restos de uma cerâmica que não será mais utilizada pode ser
considerada uma forma de descarte.

53
A respeito da morfologia, a tabela 7 aponta a presença de oito exemplares que são asas ou
bordos com asas. Isso faz com que o elemento asa, que já havia sido citado como o mais
resistente e de maior presença nas jarras e jarrinhas de Cacela Velha, seja representativo de
36% de todas as jarrinhas. Das oito asas presentes nessa tipologia seis foram identificadas
como verticais, estando quatro ligadas a bordos de lábio arredondando. Quando as secções,
três possuem secção circular, duas secção oval, duas secção triangular e apenas uma asa
possui secção de fita. A decoração não é um elemento muito presente nas asas, no entanto,
um conjunto apresentava traços de pintura branca em motivo indeterminado, um conjunto
apresentava pintura branca e uma linha de incisão vertical ao longo da asa e um outro
conjunto, este com bordo, apresentava engobe em sua superfície exterior e uma linha de
incisão horizontal em seu bordo.

O bojo e a base, por sua vez, são as morfologias com menor número de conjuntos, 16,0% da
tipologia se somados. As bases, que são duas, são simples em acabamento alisado e sem
decoração, sendo uma base plana e a outra de pé anelar. Os bojos também são dois: o
conjunto CV/FC/07/40236 e o conjunto CV/FC/07/40337.

O primeiro não possui a forma completa do bojo, entretanto pode-se inferir que seria globular.
Possui o acabamento alisado, com decoração de linhas de incisão horizontal no arranque do
colo e no bojo, estando essas linhas de incisão pintadas em linha com tinta branca. Acima da
linha decorativa do bojo há ainda motivos fitomórficos pintados em branco. O segundo
conjunto é globular com um arranque de asa de secção triangular. Possui acabamento alisado
e, de decoração, uma linha de incisão no arranque do colo e no centro do bojo, na mesma
altura do arranque da asa, possui linhas horizontais pintadas em branco com outras linhas
diagonais em branco pintadas acima.

36
Ficha 21 no Anexo III.
37
Ficha 53 no Anexo III.

54
1 2

Figura 22 - Jarrinhas: 1) CV/FC/07/402 (Ficha 21), 2) CV/FC/07/403 (Ficha 53). Fotos: Patrícia
Dores/Desenho: Camila Silveira.

Por fim, os bordos, com 13 conjuntos, correspondem a 48,0% da tipologia, sendo assim a
morfologia com maior número de exemplares. Desses bordos, metade possui orientação
vertical e metade introvertido, com uma maioria de nove bordos com lábio arredondado para
três bordos com lábio biselado. O acabamento predominante dessas peças é o alisado e a
decoração é a linha de incisão, que aparece na superfície exterior de nove bordos; há ainda
como decoração a pintura branca em linha que aparece em dois fragmentos de bordo.

No que se diz da classificação das variantes da matriz de Cacela, três foram enquadradas
como parte da Variante 1 para Jarras e Jarrinhas38 e uma na Variante 5.

38
E nesta contagem de três jarrinhas se exclui o exemplar de perfil completo, que já havia sido classificado em
sua descrição.

55
Capítulo 8: Objetos de Uso Doméstico

Uma tipologia a parte, os objetos de uso doméstico são aquilo que o próprio nome explica,
objetos que seriam usados no cotidiano da vida doméstica, como vasos, tinteiros, alambiques,
tampas de recipientes e pesos de rede.

Na amostra desse trabalho foram selecionadas tampas, que fazem parte dos objetos de uso
doméstico e são os únicos representantes da tipologia.

Os dados que se tem das tampas de Cacela Velha vem do estudo de Garcia (2015), em que
foram encontrados 22 fragmentos de tampas de recipientes. Essas tampas seriam variadas,
para recipientes diversos, com diâmetros entre 50 e 160mm. A predominância era de pastas
alaranjadas com acabamento alisado em ambas as superfícies, com pinturas de linhas
brancas. As cerâmicas de pastas claras apresentavam engobe branco. Essas tampas eram
comuns no al-Andalus e serviam para fechar cântaros, jarras ou panelas. (Garcia, 2015,
pp.304)

Na atual amostra utilizada nesse estudo, as tampas totalizam em cinco fragmentos. Possuem
entre os 5mm e os 8mm de espessura, mas não puderam ter seus diâmetros medidos. 60%
é de pasta vermelha, com os outros 40% sendo de pasta alaranjada. Dois exemplares ainda
possuem marcas de fogo ou queimada, associando as tampas ao seu uso junto da louça de
cozinha e, portanto, próximo ao fogo.

Quanto as formas das tampas, todos os exemplares eram de fundo plano e apenas um possui
intacta a sua pega, esta sendo central de botão. O acabamento das peças é alisado e elas
não possuem decoração.

Figura 23 - Tampa CV/FC/07/432 (Ficha 43). Foto: Patrícia Dores.

56
Capítulo 9: Objetos de Uso Lúdico

Podendo ser de estratégia, de sorte ou de azar, os jogos de tabuleiro fazem parte da vida
lúdica das populações humanas. Em Portugal o registro arqueológico dessa atividade de lazer
se faz pelos tabuleiros encontrados e as peças utilizadas para jogar. Os jogos mais comuns
são o Jogo do Alquerque, o Jogo do Galo, a Mancala e o Jogo do Moinho, todos jogos a serem
praticados entre duas pessoas. (Catarino et al, 2007, pp.5)

A confecção dos materiais de jogos era bastante simples, com a maioria dos tabuleiros sendo
de pedra riscada na superfície e as peças, chamadas de pedra de jogo, feitas em pedra ou
em cerâmica e tendo o corpo circular. As pedras de jogo são objetos frequentes em contextos
islâmicos (Catarino et al, 2007, pp. 538).

Em Cacela Velha haviam sido encontradas cinco pedras de jogo, provenientes das
campanhas no Poço Antigo. Possuíam pastas vermelha e alaranjada, com tratamento alisado
ou em vidrado melado e possuíam diâmetros entre 20 e 40mm (Garcia, 2015, pp.309).

Nesse trabalho foram estudadas duas pedras de jogo, provenientes do silo 3 do Largo da
Fortaleza, sendo uma muito diferente da outra. A primeira, de série CV/FC/07/49939 [figura 24]
possuí pasta alaranjada e uma espessura de 6mm. Possui cerca de 33mm de diâmetro, possui
acabamento alisado, limites deteriorados e uma das superfícies decoradas em engobe negro.

Figura 24 - Pedra de Jogo CV/FC/07/499 (Ficha 28). Foto Patrícia Dores.

39
Ficha 28 no Anexo III.

57
Já a segunda peça, de série CV/FC/07/53840 [figura 25], também possui pasta alaranjada,
porém tem 12mm de espessura, o dobro da outra pedra de jogo. Tem a forma ovalada,
possuindo entre 45 e 50mm de diâmetro, maior dos que as já observadas em Cacela. O
acabamento é alisado, mas sem decorações e os limites da peça também estão deteriorados,
sendo ela de material mais friável que a outra pedra.

Figura 25 - Pedra de Jogo CV/FC/07/538 (Ficha 41). Foto: Patrícia Dores.

O que se pode perceber a respeito das peças é que seriam um reaproveitamento de outros
materiais cerâmicos, por isso as suas formas não são círculos perfeitos e apresentam
deterioramento nos limites, como se tivessem sido talhadas de outra peça. Essa seria uma
explicação também para a diferença de espessura e textura das pastas, justificadas pela
utilização de cerâmicas variadas para sua composição.

O fato da pedra CV/FC/07/499 possuir decoração em engobe negro também é curioso, mas
poderia ser justificado pela razão de que os jogos de tabuleiros, jogados em dupla, possuíam
peças de cores distintas para identificar a qual jogador pertencia. Assim, o engobe negro
poderia ser esse mecanismo de diferenciação.

40
Ficha 41 no Anexo III.

58
Capítulo 10: Objetos Indeterminados Decorados

Os objetos indeterminados decorados são aqueles que, como o nome já diz, são objetos
cerâmicos que não tiveram sua tipologia identificada, normalmente por serem fragmentos
pequenos, e acabam por apresentar algum tipo de decoração.

Nesse trabalho foram quantificados três desses objetos, todos da ue41, tendo entre 5 e 6mm
de espessura. O primeiro desses objetos, o CV/FC/07/50341, possui pasta vermelha,
acabamento alisado e decoração em pintura branca com motivos indeterminados, mas que
se assemelham a figuras circulares. O segundo objeto, CV/FC/07/50242, é de pasta alaranjada
e como decoração possui a superfície exterior em engobe preto sob linhas concorrentes em
pintura branca. Por fim, o objeto CV/FC/07/53343 possui pasta laranja e como decoração tem
linhas incisivas e pintura branca em motivo indeterminado.

1 2

Figura 26 - Objetos Indeterminados Decorados: 1) CV/FC/07/502 (Ficha 71) e 2) CV/FC/07/533


(Ficha 78). Desenho: Camila Silveira/Foto: Patrícia Dores

41
Ficha 56 no Anexo III.
42
Ficha 71 no Anexo III.
43
Ficha 78 no Anexo III.

59
Capítulo 11: Interpretação Histórica

A campanha arqueológica de 2007 no Largo da Fortaleza de Cacela Velha revelou um


conjunto de silos com materiais arqueológicos, dentre os quais estavam vários fragmentos
cerâmicos. Para este trabalho foram selecionadas cerâmicas provenientes de um dos silos do
largo da fortaleza, no caso o silo 3.

Com três unidades estratigráficas, o silo havia sido enquadrado como parte da época
almóada, entre os séculos XII e XIII, por conta de uma análise prévia de seus materiais
(Garcia, 2015, pp. 136.) e pela análise dos materiais de Cacela Velha, em uma perspectiva
geral.

Apesar dessa primeira avaliação cronológica, é objetivo deste trabalho definir uma cronologia
para as cerâmicas através da análise dos materiais. Tendo isso em consideração, foi realizado
o estudo da evolução das cerâmicas islâmicas no al-Andalus, afim de identificar elementos
característicos de cada século que se assemelhem aos percebidos nas cerâmicas estudadas.

A evolução das cerâmicas no al-Andalus acompanha as diferentes ocupações islâmicas


ocorridas, uma vez que a alteração da forma regente traz alterações nos costumes e nas
influências culturais das populações que habitam o território. Sendo as cerâmicas parte da
cultura de um povo e um bem de produção e troca, também sofre as influências das mudanças
de governos.

A evolução das cerâmicas no al-Andalus divide-se, então, em quatro grandes fases: a fase
emiral, dos séculos VIII a inícios do século X, corresponde a dinastia omíada; a fase califal,
no século X; a fase dos reinos de taifa, no século XI; e a fase dos reinos africanos. Esta última
ainda pode se dividir entre as dinastias almorávida e almóada, ocorrendo entre os séculos XII
e a primeira metade do século XIII, apresentando diferenças entre si.

As cerâmicas do silo 3 do Largo da Fortaleza parecem pertencer à época dos reinos africanos,
não só pela cronologia do sítio arqueológico de Cacela Velha, que demonstra ter sido ocupado
a partir do século X e alcançar seu auge populacional no século XII, mas também pelas
características que apresentam e que se encaixam nas descrições de cerâmicas desse
período e que se assemelham a outros exemplares encontrados no Algarve datados como
desse período.

O período dos reinos africanos traz algumas inovações na produção de cerâmica no al-
Andalus, sendo uma delas a maior variedade de tipologias e formas cerâmicas. Esse
fenômeno faz com que haja a especialização das formas, que passam a se adequar melhor
a sua finalidade dentro de uma tipologia. Isso explicaria a existência de uma maior variedade

60
de tipologias e o aparecimento de uma tipologia tão específica quanto a malga de Cacela,
mas também explicaria a infinidade morfológica dentro de uma mesma tipologia.

O período almóada, dentro dos reinos africanos, é o que constitui o maior número de
mudanças, principalmente no que se diz do acabamento e na decoração das cerâmicas. É
nessa época que há um aumento significativo da decoração em estampilha, incisão e molde.
Apesar de não terem sido observados motivos estampilhados ou cerâmicas fabricadas em
molde na amostra do silo 3, a incisão foi a decoração predominante das cerâmicas, estando
em 25,2% exemplares.

A decoração pintada – em branco, preto e vermelho - também ganha destaque na época


almóada, com sua presença no vasilhame de cozinha e no vasilhame de louça (Gómez
Martínez, 2006, pp.103). Mesmo com a pouca e quase inexistente presença de pintura em
preto ou vermelho nas cerâmicas da amostra, a tonalidade branca esteve em todos os 16
exemplares que possuíam pintura - correspondente a 13,4% da amostra total – sendo sete
desses exemplares de louça de cozinha e mesa.

Os vidrados, por sua vez, também apresentam mudança: há uma alteração no gosto
cromático islâmico, com um abandono da policromia e a preferência por vidrados
monocromáticos ou bicromáticos, como o vidrado em verde, que no período almóada volta a
ser representado (Gómez Martínez, 2006, pp. 103.). Essa monocromia é possível de ser
perceber em cinco exemplares da amostra, quatro tigelas/tigelinhas e uma caçoila, que
apresentam um o vidrado monocromo na cor da peça, outro o vidrado em verde e os outros
três vidrados em melado.

O vidrado, na realidade, é uma técnica decorativa tipicamente de tigelas e tigelinhas44, que


majoritariamente apresentam o vidrado em melado com motivos em negro manganês. Esse
tipo de decoração em tigelas surge na época califal e estende-se as outras épocas. A fase
almóada, que no vidrado é dominada pelo melado e manganês, distingue-se das outras não
pela ornamentação, mas pela forma: o perfil do corpo é carenado, sendo retangular ou
trapezoidal, com o fundo mais espesso que o centro e pé anelar (Catarino et al, 2017, pp.
511.).

Na amostra analisada quatro exemplares foram identificadas com perfil com carena ou carena
suave45 e o único fragmento de base das tigelas/tigelinhas era de pé anelar. Exemplares como
os encontrados na amostra, em proximidade de formas e decoração, podem ser encontrados

44
A tipologia representa 88,2% dos conjuntos que possuem algum tipo de vidrado. Os outros 11,8% são
compostos por uma jarra e uma caçoila.
45
Características das variantes 1 e 2 da matriz de Cacela.

61
na coleção já existente de Cacela Velha, como também no Museu e Estação Arqueológica
Cerro da Vila (Catarino et al, 2017) [figura 27], este com peças datadas dos séculos XI a XIII.

1 2

3 4

Figura 27 – Decoração em negro manganês: 1) Tigela CV/FC/07/497 e 2) Tigela CV/FC/07/400 do


Largo da Fortaleza de Cacela - 2007 (Desenhos: Camila Silveira), 2) Tigela CV/PA/01/34/2521 do
Poço Antigo de Cacela (Garcia, 2015), 4)Tigela CV/70-91/42 do Museu e Estação Arqueológica
Cerro da Vila (Catarino et al, 2017).

Outra novidade em relação a técnica do vidrado é a sua presença na forma de cozinha. Na


realidade, o vidrado em louças de cozinha já era comum no mundo islâmico, mas é só a partir
da época almóada que a louça de cozinha vidrada vai aparecer no Gharb al-Andalus (Gómez
Martínez, 2006, pp. 102.). Na amostra, como já citado, há uma louça de cozinha com vidrado
em ambas as superfícies, sendo uma peça notável e que tem um exemplar semelhante no
acervo do museu municipal de Tavira, datado como pertencente aos séculos XII ou XIII
(Cavaco et al, 2012, pp 99.). Além dessa peça, há também na amostra uma panela com seu
interior vidrado, não para decoração, mas de forma a torna-la impermeável. Assim, é possível
afirmar que esses exemplares seriam de cronologia almóada.

A corda seca parcial, técnica decorativa que apareceu em apenas uma peça da amostra –
uma jarra – surge no al-Andalus durante o período califal e desenvolve-se a partir da época

62
dos reinos de taifa, aparecendo em jarrinhas de pasta clara e motivos fitomórficos. É no século
XII que a corda seca atinge seu auge, com até três cores representadas (Gómez Martínez,
2016, pp.158.). Apesar da jarra de corda seca parcial da amostra ser de pasta branca, seus
motivos não são perceptíveis. Seria possível associa-la como do século XII ou posterior pelo
fato de possuir três cores representadas – no caso verde, vermelho e alaranjado – por
assemelhar-se a uma jarrinha do acervo do Campo Arqueológico de Mértola [figura 28], de
cronologia do século XII, e que possui corda seca parcial, com vidrado na cor verde, assim
como a jarra da amostra de Cacela. Além disso, a peça de Mértola possuí em seu colo e bojo
motivos em bandas horizontais serpentiformes e, embora o movido decorativo do exemplar
de Cacela não seja explícito, é também no bojo e aparenta ser o princípio de uma banda como
a de Mértola.

1 2

Figura 28 – Decoração em Corda Seca Parcial: 1) Jarra CV/FC/07/534 do Largo da Fortaleza de


Cacela - 2007 (Foto: Patrícia Dores), 2) Jarrinha CR/CSP/0010 do Museu de Mértola (Gómez
Matrínez, 2014).

A última técnica decorativa a ser citada aqui é a presente na caçoila de costillas. A


especificidade desse tipo de caçoila já foi referida no capítulo que fala da louça de cozinha,
mas vale aqui enfatizar que as particularidades de sua decoração – o vidrado e as aplicações
plásticas verticais – são exclusivos da cronologia almóada, sendo mais frequentes em uma
fase tardia, entre os fins do século XII e a primeira metade do século XIII (Catarino et al, 2017,
pp. 505.)

O único exemplar da amostra classificado como caçoila de costillas seria então de época
almóada segundo as condições apresentadas. Outras peças como a da amostra também são

63
encontradas no acervo de Cacela, no museu municipal de Tavira e no museu municipal de
Loulé [figura 29].

1 2

3 4

Figura 29 - Costillas: 1) Caçoila CV/FC/07/433 do Largo da Fortaleza de Cacela -2007 (Desenho:


Camila Silveira), 2) Caçoila CV/PA/98/5/81 do Poço Antigo de Cacela (Garcia, 2015), 3) Caçoila
ML.A0618 do Museu Municipal de Loulé (Catarino et al, 2017), 4) Caçoila do Museu Municipal de
Tavira (Cavaco et al, 2012, pp. 99).

Nas técnicas de acabamento o brunido acaba por ganhar importância na louça de cozinha,
estando em 66,6% das malgas. A técnica, utilizada para a impermeabilização do interior das
cerâmicas é conhecida desde a pré-história, tendo registros em contextos islâmicos desde a
época omíada. Mas, assim como o vidrado no interior das peças torna-se mais frequente no
período dos reinos africanos (Gómez Martínez, 2006, pp. 102.).

Além de perceber a amostra do silo 3 dentro da evolução cerâmica do Gharb al-Andalus, foi
observada a semelhança dos conjuntos da amostra em relação a outros exemplares
presentes no Algarve e de cronologia da época dos reinos africanos.

As pedras de jogo de Cacela, a exemplo, possuem as descrições das peças do Castelo Velho
de Alcoutim e se assemelham em forma e acabamento às encontradas em Tavira (segunda
metade do século XII) e em Loulé (séculos XII e XIII), as dessa última tendo sido
reaproveitadas de bojos cerâmicos, como poderia ter ocorrido com as de Cacela.

As tampas provenientes de Tavira e Loulé também se assemelham a uma das tampas da


amostra, que apresenta base estreita plana, corpo troncocónico e pega central em botão,
datadas como dos séculos XI-XIII e XI, respectivamente. Esse modelo de planta também

64
aparece em Mértola, sendo o modelo 1B de tampa, de datações entre os séculos XII e XIII.
[figura 30]

1 2

3 4

Figura 30 - Tampa com pega central em botão: 1) Tampa CV/FC/07/432 do Largo da Fortaleza de
Cacela – 2007 (Foto: Patrícia Dores), 2) Tampa do Museu de Tavira (Cavaco et al, 2012, pp. 68), 3)
Tampa ML.A0596 do Museu Municipal de Loulé (Catarino et al, 2017), 4) Tampa CR/BR/0009 do
Museu de Mértola (Gómez Martínez, 2014).

Outras tipologias também apresentam paralelos em localidades do al-Andalus, a exemplo do


cântaro da amostra do silo 3 que possuía bordo e colo, com superfície exterior engobada e
com pintura em branco. A combinação de engobe com pintura branca está presente em peças
do acervo de Cacela Velha, mas também em um dos cântaros do acervo de Tavira, datado
como do século XI. Em Mértola o cântaro CR/PT/0080, com a pintura em branco como a de
Cacela, em cordão digitado, também é datado do século XI.

Além do cântaro, uma jarrinha da amostra com decoração em branco encontrou seu
semelhante em Tavira. Com uma decoração em motivo quase igual, a jarrinha de Cacela é
um fragmento de bojo com linhas pintas em branco, duas na horizontal e outras em sequência
na diagonal. Em Tavira, a jarra de mesma decoração é datada como do século XI-XII. [figura
31]

65
1 2

Figura 31 - Pintura em branco: 1) Jarrinha CV/FC/07/403 do Largo da Fortaleza de Cacela – 2007


(Foto: Patrícia Dores), 2) Jarra do Museu de Tavira (Cavaco et al, 2017, pp. 60).

Por fim, dentre as jarrinhas de Cacela há uma asa com decoração bem especifica, a qual foi
encontrada um paralelo dentre o acervo do museu municipal de Tavira. A decoração em
questão é uma linha incisa vertical na parte lateral da asa, apresentando traços de pintura
branca. De acordo com o catálogo do Núcleo Islâmico do Museu Municipal de Tavira esse
tipo de motivo está presente em Cadiz e essa peça seria do século XII (Cavaco et al, 2012,
pp. 63).

66
Conclusão

Ao final desse trabalho a apreciação feita é da especialidade das cerâmicas islâmicas de


Cacela Velha e de sua cronologia.

A respeito da especialidade, foi possível perceber a diferentes tipologias presentes no


contexto arqueológico de Cacela, mais especificamente do Largo da Fortaleza. A variabilidade
tipológica aponta para uma povoação rica em materiais, possuindo diferentes formas para
usos específicos dentro da casa islâmica. Ainda que os materiais encontrados no silo 3 não
abranjam todas as tipologias registradas em Cacela Velha ou no al-Andalus, eles certamente
são diversos em morfologia e decoração.

No silo 3 encontrou-se pedras de jogo, tampas, caçoila de costillas, panela com canelura e
vidrado interno, jarra com corda seca parcial, variados vidrados, pinturas em branco e linhas
incisivas, apontando a diversidade de todos esses materiais.

Há também a presença de malgas, que, como citado, são exemplos encontrados apenas em
Cacela e que ilustram bem a especialidade das cerâmicas de Cacela, especialmente na louça
de cozinha. O mesmo pode ser notado nas jarrinhas, nas quais algumas apresentam marcas
de fogo, sendo um indicativo de que eram utilizadas para a ebulição de líquidos, atribuindo
uma nova funcionalidade ao objeto.

O outro aspecto a ser apreciado, a cronologia, deu-se por meio de uma análise breve de
elementos presentes nas cerâmicas islâmicas que coincidiam com elementos dos conjuntos
do silo 3. Ao final, os exemplares analisados demonstraram pertencer a um espectro do século
XII e XIII, correspondendo ao período dos reinos africanos.

Parece-me sensível tentar distinguir dentre essa cronologia que em partes é vaga a qual
época pertenceriam as cerâmicas, entre a almorávida e a almóada. A partir de uma
comparação entre os exemplares com cronologia definida - que infelizmente não representam
a maioria da coleção, uma vez que esta é majoritariamente composta por fragmentos
pequenos -, pude constatar que a pluralidade é de exemplares datados como do século XII
ou XIII, quando não diretamente identificados como de época almóada.

Assim, em suma, a amostra de materiais cerâmicos provenientes da campanha arqueológica


de 2007 no Largo da Fortaleza de Cacela Velha enquadra-se na cronologia do período
almóada, por volta dos séculos XII e XIII. Os materiais, dispostos em um silo para seu descarte
e abandono, possuem três unidades estratigráficas de mesma cronologia.

67
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TORRES, Cláudio (1992). A Terra e os Homens. In MATTOSO, José (dir.). História de


Portugal. Primeiro Volume: Antes de Portugal. Lisboa: Editorial Estampa, pp. 329-346.

Bibliografia de Imagens

Figura 1: Imagem aérea de Cacela Velha. Fonte: Google Earth – Cacela Velha
37º09’N7º32’W. Acessado em setembro de 2019. Disponível em:
https://earth.google.com/web/@37.15621668,-7.54456448,0.19623588a,887.26770727d,35y,-
25.30748866h,33.2014093t,0r/data=ChQaEgoKL20vMDRuMDMyaxgCIAEoAg

Figura 4: Carta Arqueológica do Algarve 1878 por Sebastião Phillipes Martins Estácio da
Veiga. Fonte: Wikimedia Commons. Acessado em setembro de 2019. Disponível em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Carta_Archeologica_do_Algarve_1878.svg

69
Índice de Figuras

Figura 1 - Imagem aérea de Cacela Velha (inscrita no quadrado vermelho) com vista para o
continente a norte, o cordão dunar da Ria Formosa e o mar ao sul. (Fonte: Google Earth) . 15
Figura 2 - Mapa ampliado de Cacela Velha com ênfase nas estruturas da fortaleza e a sua
volta. (Fonte: Garcia, 2015) .............................................................................................................. 16
Figura 3 - Frente da Fortaleza de Cacela. (Fonte: Garcia, 2015 - Foto: J.C. Padrão, 1967) 17
Figura 4 - Carta Arqueológica do Algarve de Estácio da Veiga, 1878 (Fonte: Wikimedia
Commons) ........................................................................................................................................... 18
Figura 5 - Escavação no Largo da Fortaleza (Fonte: Garcia, Valente, 2017) .......................... 20
Figura 6 - Sondagens abertas até 2007 no Largo da Fortaleza (Fonte: Garcia, 2015 -
adaptada) ............................................................................................................................................. 20
Figura 7 - Áreas escavadas no Largo da Fortaleza com suas datações (Fonte: Garcia, 2015)
............................................................................................................................................................... 21
Figura 8 - Silo 3 encontrado no Largo da Fortaleza de Cacela em 2007. (Fonte: Garcia,
2015)..................................................................................................................................................... 23
Figura 9 - Cântaro CV/FC/07/437 (Ficha 120). Foto: Camila Silveira ........................................ 36
Figura 10 - Cântaros CV/FC/07/532 (Ficha 13) e CV/FC/07/514 (Ficha 47). Fotos: Patrícia
Dores .................................................................................................................................................... 36
Figura 11 - Panela CV/FC/07/429 (Ficha 118). Foto: Camila Silveira. ...................................... 39
Figura 12 - Panela CV/FC/07/459 (Ficha 59). Foto: Camila Silveira .......................................... 39
Figura 13 – Panelas: 1) CV/FC/07/519 (Ficha 46), 2) CV/FC/07/404 (Ficha 93), 3)
CV/FC/07/408 (Ficha 114), 4) CV/FC/07/406 (Ficha 116). Desenhos: Camila Silveira. ......... 40
Figura 14 - Caçoila de costillas CV/FC/07/433 (Ficha 76). Foto/Desenho: Camila Silveira ... 43
Figura 15 - Caçoila CV/FC/07/476 (Ficha 61). Desenho: Camila Silveira. ................................ 44
Figura 16 - Alguidar CV/FC/07/439 (Ficha 106). Foto: Patrícia Dores. ..................................... 45
Figura 17 - Malga CV/FC/07/443 (Ficha 110). Desenho: Camila Silveira. ................................ 46
Figura 18 – Tigelas: 1) CV/FC/07/497 (Ficha 31), 2) CV/FC/07/527 (Ficha 27), 3)
CV/FC/07/435 (Ficha 64) e 4) CV/FC/07/539 (Ficha 18). Fotos: Patrícia Dores. .................... 49
Figura 19 - Tigela CV/FC/07/537. Foto: Patrícia Dores. .............................................................. 50
Figura 20 - Jarra CV/FC/07/534 (Ficha 55). Foto: Patrícia Dores/ Desenho: Camila Silveira.
............................................................................................................................................................... 52
Para além dos conjuntos carbonizados, outros oito exemplares apresentaram marcas de
fogo ou queimada, podendo significar o uso das jarrinhas para a ebulição de líquidos junto
ao fogo ou a sua deposição em uma fogueira ou lareira após o seu descarte primário. Figura
21 - Jarrinha CV/FC/07/412 (Ficha 57). Foto/Desenho: Camila Silveira. ............................. 53
Figura 22 - Jarrinhas: 1) CV/FC/07/402 (Ficha 21), 2) CV/FC/07/403 (Ficha 53). Fotos:
Patrícia Dores/Desenho: Camila Silveira. ....................................................................................... 55
Figura 23 - Tampa CV/FC/07/432 (Ficha 43). Foto: Patrícia Dores. .......................................... 56
Figura 24 - Pedra de Jogo CV/FC/07/499 (Ficha 28). Foto Patrícia Dores. ............................. 57
Figura 25 - Pedra de Jogo CV/FC/07/538 (Ficha 41). Foto: Patrícia Dores. ............................ 58
Figura 26 - Objetos Indeterminados Decorados: 1) CV/FC/07/502 (Ficha 71) e 2)
CV/FC/07/533 (Ficha 78). Desenho: Camila Silveira/Foto: Patrícia Dores ............................... 59
Figura 27 – Decoração em negro manganês: 1) Tigela CV/FC/07/497 e 2) Tigela
CV/FC/07/400 do Largo da Fortaleza de Cacela - 2007 (Desenhos: Camila Silveira), 2)
Tigela CV/PA/01/34/2521 do Poço Antigo de Cacela (Garcia, 2015), 4)Tigela CV/70-91/42
do Museu e Estação Arqueológica Cerro da Vila (Catarino et al, 2017). .................................. 62

70
Figura 28 – Decoração em Corda Seca Parcial: 1) Jarra CV/FC/07/534 do Largo da
Fortaleza de Cacela - 2007 (Foto: Patrícia Dores), 2) Jarrinha CR/CSP/0010 do Museu de
Mértola (Gómez Matrínez, 2014). .................................................................................................... 63
Figura 29 - Costillas: 1) Caçoila CV/FC/07/433 do Largo da Fortaleza de Cacela -2007
(Desenho: Camila Silveira), 2) Caçoila CV/PA/98/5/81 do Poço Antigo de Cacela (Garcia,
2015), 3) Caçoila ML.A0618 do Museu Municipal de Loulé (Catarino et al, 2017), 4) Caçoila
do Museu Municipal de Tavira (Cavaco et al, 2012, pp. 99). ...................................................... 64
Figura 30 - Tampa com pega central em botão: 1) Tampa CV/FC/07/432 do Largo da
Fortaleza de Cacela – 2007 (Foto: Patrícia Dores), 2) Tampa do Museu de Tavira (Cavaco et
al, 2012, pp. 68), 3) Tampa ML.A0596 do Museu Municipal de Loulé (Catarino et al, 2017),
4) Tampa CR/BR/0009 do Museu de Mértola (Gómez Martínez, 2014). .................................. 65
Figura 31 - Pintura em branco: 1) Jarrinha CV/FC/07/403 do Largo da Fortaleza de Cacela –
2007 (Foto: Patrícia Dores), 2) Jarra do Museu de Tavira (Cavaco et al, 2017, pp. 60). ....... 66

71
Anexos

Anexo I – Matriz de Estudo da Cerâmica Islâmica de Cacela Velha (Fonte: Garcia, 2015)

1 – Recipientes de armazenamento 4 – Contentores de lume

1.1. Talha 4.1. Candil

1.2. Suporte de talha 4.2. Candeia

1.3. Tampa de talha 4.3. Candeia de pé

1.4. Pote 4.4. Fogareiro

1.5. Cântaro 4.5. Braseiro

1.6. Cantil 5 - Objetos de uso doméstico

2 – Louça de Cozinha 5.1. Tampa

2.1. Panela 5.2. Texto

2.2. Caçoila 5.3. Vaso

2.3. Caçoila de aplicações plásticas 5.4. Trempe


verticais
5.5. Trípode
2.4. Alguidar
5.6. Piveteiro
2.5. Malga
5.7. Peso de rede
2.6. Almofariz
5.8. Tinteiro
2.7. Funil
5.9. Alambique
3 – Louça de Mesa
5.10. Alcatruz
3.1. Tigela e Tigelinha
5.11. Cossoiro
3.2. Jarra e Jarrinha
6 – Objetos de Uso Lúdico
3.3. Jarro e púcaro
6.1. Tambor
3.4. Bilha
6.2. Pedras de jogo
3.5. Garrafa
6.3. Miniaturas
3.6. Copo
7 – Indeterminados decorados
3.7. Taça

72
Anexo II – Variantes segundo a Matriz de Cacela (Fonte: Garcia 2015 – adaptada)

Cântaros

• Variante 1: duas cântaras (pequenos cântaros) de pastas alaranjadas. Em Tavira foi


encontrado um exemplar semelhante, embora de pasta vermelha e com pintura de cor branca
(Cavaco e Covaneiro, 2010:107).

• Variante 2: cântaros de pasta alaranjada e bordos salientes, perfil triangular ou circular,


colo cilíndrico e com pintura branca ou cinzenta. Quanto à aplicação plástica do fragmento
CV/PA/01/3480 (Garcia, 2015), de pasta alaranjada e engobe cinzento, decorado de linhas
brancas e semelhante a um cântaro de pasta vermelha de Mértola (Goméz, 2004: ficha
CR/PT/0080), poderá igualmente colocar-se a hipótese de integrar uma produção local.

• Variante 3: cântaros de pastas claras e alaranjadas, bordos em moldura alongados,


caneluras, aplicação de engobe branco e pintura negra, vermelha e branca. Foi identificado
como um cântaro clássico, “forma 255”, presente em Saltés (Bazzana e Bedia, 2005: 283-
285).

• Variante 4: cântaros de bordo vertical. Peças de pasta alaranjada, de colo cilíndrico ou


convexo. Mértola tinha um forno cerâmico com produção própria de cântaros de pastas
vermelhas de tipo ferruginoso com abundantes elementos não plásticos. Os bordos eram
verticais, as molduras com estrias horizontais e o colo aproximadamente cilíndrico (Goméz,
2004: 676-678).

Panelas

• Variante 1: panela de colo cilíndrico ou ligeiramente troncónico curto e arranque de


corpo globular.

• Variante 2: panela de colo troncónico e lábio triangular.

• Variante 3: panela de colo convexo.

Caçoilas

• Variante 1: caçoilas vidradas de aplicações plásticas verticais (a.p.v.). Apresentam


principalmente pastas alaranjadas, 72% e pastas vermelhas, 28%. Possuem acabamento
vidrado em diversos tons de melado e castanho-esverdeado. Em Mértola predominam as
pastas vermelhas associadas a esta morfologia e no Castelo de Salir predominam as pastas
castanho avermelhadas ou acinzentadas (Catarino, 1997-98: 769). Em Cádis estes
exemplares têm pastas vermelhas bem decantadas e vidrado melado consistente de boa

73
qualidade ou vidrados com tons esverdeados de menor qualidade (Cavilla, 2005: 121). De
forma troncónica invertida, podem ter ligeira carena junto do bordo ou na base e fundos planos
ou ligeiramente convexos. Os diâmetros da boca variam entre 130 e 310mm.

• Variante 2: caçoilas carenadas com predomínio de duas asas (foi identificado um


exemplar sem asas em Cacela), com tratamento simples das superfícies.

• Variante 3: caçoilas de pasta vermelha, forma hemisférica e vidrado melado ou


castanho com manchas esverdeadas nas superfícies exterior e interior.

• Variante 4: inclui as peças com tratamento simples das superfícies, corpos de forma
hemisférica, troncocónica ou cilíndrica e fundo convexo. Encontramos em Mértola exemplares
semelhantes, de pastas vermelhas e formas hemisférica ou troncocónica.

• Variante 5: este grupo compõe-se de 11 imitações de caçoilas de a.p.v., de superfícies


alisadas sem vidrado.

Alguidares

• Variante 1: Alguidar de pastas alaranjadas e vermelhas de bordo espessado e saliente,


de secção circular.

• Variante 2: Alguidar de bordo espessado ligeiramente saliente. Pode estar relacionado


com formas mais abertas que a variante 1.

• Variante 3: Alguidar de bordo invertido. Este bordo é considerado pouco regular


(Lafuente, 2003: 278).

• Variante 4: Pequeno alguidar de bordo saliente com.

• Variante 5: Alguidar de bordo espessado rectilíneo. Poderá corresponder aos objectos


inclusos no tipo II de Mértola, de cronologia claramente almóada, pasta vermelha, podendo
ter ornamentação incisa de motivos ondulados ou estampilhados (Goméz, 2004: fichas
CR/CC/0082 e CR/CC/0119). Como o seu diâmetro é menor do que os exemplos
apresentados, coloca-se ainda a hipótese de ser uma boca de talha

Malgas

• Variante 1: Malgas hemisféricas.

• Variante 2: Malgas de suave carena.

Tigelas e tigelinhas

74
• Variante 1: Tigelas carenadas com vidrados melados e esverdeados. O estampilhado
surge normalmente associado a vidrado verde. Este tipo também apresenta decoração em
negro manganés (Cavilla, 2005: 159). Em Mértola, as formas carenadas (tipo 4C) de pastas
claras, alaranjadas e vermelhas e vidrados verdes ou melados estavam associados a
estampilhados ou manganés e incisões circulares no fundo (Goméz, 2004: 368). No castelo
de Salir as tigelas carenadas de contextos almóadas apresentam quase sempre tratamento
em brunido espatulado da superfície interior, mas também vidrados melado e verde, podendo
ter decoração de estampilhado (Catarino, 1997-98: 495).

• Variante 2: Tigelas de ligeira carena com superfícies vidradas de melado e verde, que
podem ter decoração em manganés. Integram-se nos tipos II e III de pastas vermelhas e
castanhas de Cádis e tipo 2 de Mértola. O tipo III de Cádis, de pastas vermelhas, tem
cobertura em vidrado melado e pequenos traços de óxido managanés. Existem ainda em
Cacela alguns exemplares com bordos salientes. No castelo de Salir, estas tigelas têm pastas
vermelhas e alaranjadas, existindo um fragmento com vidrado verde sobre estampilhas em
palmeta.

• Variante 3: Tigela de forma semi-esférica, com vidrados de tons melados, e verdes


acastanhados, forma antiga que ganha grande difusão no século XIII (Cavilla, 2005: 169).
Encontramos, na variadíssima tipologia de Mértola, estas tigelas de cronologia almóada
(particularmente tipos 3Aa e 3Ac) com pastas bege, alaranjadas e vermelhas e vidrados
melado e manganés, podendo ainda ter motivos estampilhados. Este grupo integra-se ainda
no tipo IV de Cádis de pastas que variavam entre alaranjadas, vermelhas e ocres. Estas
tigelas no castelo de Salir apresentam vidrados de tons melados e verdes e raramente
decoração em manganés.

• Variante 4: Formas indeterminadas com decoração em manganés. As tigelinhas


decoradas com traços secantes de manganés encontram paralelos nas peças de Cádis. A
decoração estampilhada da tigela 98/97 de palmetas inseridas numa faixa é semelhante a
uma peça encontrada em Silves e a uma tigela carenada de Cádis

Jarras e jarrinhas

• Variante 1: Jarrinhas de pastas alaranjadas, corpo globular e colo. Têm bordo


arredondado e introvertido e fundo plano ou ligeiramente convexo e acabamentos de
alisamento ou pinturas de côr branca.

• Variante 2: Jarras de pastas claras, fundo plano diferenciado, corpo de forma globular
com caneluras e pintura de côr branca.

75
• Variante 3: Jarrinhas de pastas claras e paredes finas. Têm bordo vertical ligeiramente
introvertido, colo cilíndrico, corpo de forma globular, pé anelar e engobe branco na superfície
exterior.

• Variante 4: Jarrinha de pasta alaranjada, bordo arredondado introvertido com moldura,


colo convexo e engobe branco exterior. Peça única.

• Variante 5: Jarra de colo alto e estreito, corpo globular e pé anelar. Poderá ser análoga
à peça de pintura branca encontrada no castelo de Salir (Catarino, 1997-98: 1195).

76
Anexo III – Fichas de Inventário

Número de Ficha: 1 Número de Ficha: 2


Número de Inventário: CV/FC/07496 Número de Inventário: CV/FC/07/493
Tipologia: Panela Tipologia: Malga
Morfologia: Bojo Globular Morfologia: Bordo introvertido lábio
Pasta: Alaranjada arredondado
Acabamento: Alisado Pasta: Vermelha
Decoração: Incisão horizontal no bojo Acabamento: Alisado
Alterações pós fabrico: Marcas de fogo Decoração: -
Dimensões: 5mm espessura Alterações pós fabrico: Queimada
Cronologia: séculos XII-XIII Dimensões: 6mm espessura
Cronologia: Século XII

Número de Ficha: 3
Número de Inventário: CV/FC/07/489
Número de Ficha: 4
Tipologia: Panela
Número de Inventário: CV/FC/07525
Morfologia: Bordo extrovertido lábio em
Tipologia: Panela
aba
Morfologia: Asa vertical secção de fita
Pasta: Alaranjada
Pasta: Alaranjada
Acabamento: Alisada
Acabamento: Alisado
Decoração: -
Decoração: -
Alterações pós fabrico: -
Alterações pós fabrico: Marcas de fogo
Dimensões: 5mm espessura, 150mm
Dimensões: 10mm espessura
diâmetro de boca
Cronologia: séculos XII-XIII
Cronologia: século XII-XIII

Pasta: Alaranjada
Acabamento: Vidrado
Número de Ficha: 5
Decoração: Vidrado melado com
Número de Inventário: CV/FC/07/528
motivos em negro manganês
Tipologia: Tigelinha
Alterações pós fabrico: -
Morfologia: Bordo vertical lábio
Dimensões: 4mm espessura
semicircular
Cronologia: séculos XII-XIII

77
Número de Ficha: 6 Número de Ficha: 7
Número de Inventário: CV/FC/07/491 Número de Inventário: CV/FC/07/523
Tipologia: Panela Tipologia: Malga
Morfologia: Bordo vertical lábio em aba Morfologia: Bordo introvertido lábio
Pasta: Alaranjada arredondado
Acabamento: Alisado Pasta: Vermelha
Decoração: - Acabamento: Alisado
Alterações pós fabrico: - Decoração: -
Dimensões: 4mm espessura Alterações pós fabrico: Queimada
Cronologia: séculos XII-XIII Dimensões: 7mm espessura
Cronologia: século XII

Número de Ficha: 8 Número de Ficha: 9


Número de Inventário: CV/FC/07/452 Número de Inventário: CV/FC/07/436
Tipologia: Tampa Tipologia: Jarrinha
Morfologia: Base plana Morfologia: Base plana
Pasta: Alaranjada Pasta: Alaranjada
Acabamento: Alisado Acabamento: Alisado
Decoração: - Decoração: -
Alterações pós fabrico: - Alterações pós fabrico: -
Dimensões: 6mm espessura Dimensões: 5mm espessura, 45mm
Cronologia: séculos XII-XIII diâmetro base
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 10 Acabamento: Alisado


Número de Inventário: CV/FC/07/451 Decoração: -
Tipologia: Tampa Alterações pós fabrico: Queimada
Morfologia: Base plana Dimensões: -
Pasta: Vermelha Cronologia: séculos XII-XIII

78
Número de Ficha: 11 Número de Ficha: 12
Número de Inventário: CV/FC/07/488 Número de Inventário: CV/FC/07/520
Tipologia: Alguidar Tipologia: Panela
Morfologia: Bordo com lábio em aba e Morfologia: Bordo extrovertido lábio
colo troncocónico invertido arredondado
Pasta: Alaranjado Pasta: Alaranjada
Acabamento: Alisado Acabamento: Alisado
Decoração: - Decoração: -
Dimensões: 12mm espessura Alterações pós fabrico: Queimada
Cronologia: séculos XII-XIII Dimensões: 4mm de espessura
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 13
Ficha 13
Número de Inventário: CV/FC/07/532
Tipologia: Cântaro
Morfologia: Bojo globular
Pasta: Alaranjada
Acabamento: Engobe negro
Decoração: Pintura branca traços
Alterações pós fabrico: -
Dimensões: 6mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 14
Número de Inventário: CV/FC/07/445
Tipologia: Malga
Morfologia: Bordo extrovertido lábio
arredondado
Pasta: Alaranjada
Acabamento: Alisado
Decoração: -
Alterações pós fabrico: -
Dimensões: 6mm espessura

79
Cronologia: século XII

Número de Ficha: 15 Número de Ficha: 16


Número de Inventário: CV/FC/07/513 Número de Inventário: CV/FC/07/517
Tipologia: Cântaro Tipologia: Panela
Morfologia: Bordo lábio plano triangular Morfologia: Bordo extrovertido lábio
Pasta: Vermelha plano
Acabamento: Engobe negro Pasta: Alaranjada
Decoração: Incisão horizontal Acabamento: Alisado
Alterações pós fabrico: - Alterações pós fabrico: Marcas de fogo
Dimensões: 7mm espessura Dimensões: 4mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 17
Ficha 18
Número de Inventário: CV/FC/07/512
Tipologia: Cântaro
Morfologia: Bordo vertical lábio plano
Pasta: Vermelha
Acabamento: Alisado
Decoração: -
Alterações pós fabrico: -
Dimensões: 5mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 18
Número de Inventário: CV/FC/07/539
Tipologia: Tigela
Morfologia: bojo
Pasta: Alaranjada
Acabamento: Vidrado
Decoração: Vidrado melado com
motivos em negro manganês
Alterações pós fabrico: -
Dimensões: 7mm espessura

80
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 19
Número de Inventário: CV/FC/07/495
Número de Ficha: 20
Tipologia: Panela
Número de Inventário: CV/FC/07/450
Morfologia: Bojo globular, base
Tipologia: Tampa
convexa
Morfologia: Base plana
Pasta: Alaranjada
Pasta: Alaranjada
Acabamento: Alisado
Acabamento: Alisado
Decoração: -
Decoração: -
Alterações pós fabrico: Queimada
Dimensões: 6mm espessura
Dimensões: 8mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 21
Número de Inventário: CV/FC/07/530
Tipologia: Jarrinha
Morfologia: Bordo vertical arredondado
Pasta: -
Acabamento: Alisado
Decoração: Pintura branca em traços
horizontais
Alterações pós fabrico: Queimada,
deteriorada
Dimensões: 4mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII

81
Número de Ficha: 22 Número de Ficha: 23
Número de Inventário: CV/FC/07/529 Número de Inventário: CV/FC/07/494
Tipologia: Jarrinha Tipologia: Malga
Morfologia: Bordo vertical lábio Morfologia: Bordo lábio arredondado e
arredondado bojo semiesférico
Pasta: Alaranjada Pasta: Vermelha
Acabamento: Alisado Acabamento: Brunido interior
Decoração: Incisões horizontais Decoração: -
Alterações pós fabrico: - Alterações pós fabrico: -
Dimensões: 3mm espessura Dimensões: 7mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII Cronologia: Século XII

Número de Ficha: 24 Número de Ficha: 25


Número de Inventário: CV/FC/07/518 Número de Inventário: CV/FC/07/498
Tipologia: Panela Tipologia: Tigela
Morfologia: Bordo extrovertido lábio Morfologia: Bordo vertical lábio plano
arredondado Pasta: Alaranjada
Pasta: Alaranjada Acabamento: Vidrado
Acabamento: Alisado Decoração: Vidrado melado com
Decoração: - motivos em negro manganês
Alterações pós fabrico: Marcas de fogo Alterações pós fabrico: -
Dimensões: 6mm espessura Dimensões: 8mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII Cronologia: séculos XII-XIII

Decoração: -
Alterações pós fabrico: Queimada
Número de Ficha: 26
Dimensões: 11mm espessura
Número de Inventário: CV/FC/07/526
Cronologia: séculos XII-XIII
Tipologia: Panela
Morfologia: Asa vertical secção em fita
Pasta: Alaranjada
Acabamento: Espatulado

82
Número de Ficha: 27
Número de Inventário: CV/FC/07/527
Tipologia: Tigela
Morfologia: Bordo introvertido lábio
arredondado
Pasta: Redutora (cinzenta)
Acabamento: Vidrado
Decoração: Vidrado melado-esverdeado
com motivos em negro manganês
Dimensões: 7mm espessura, 200mm
diâmetro boca
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 28
Número de Inventário: CV/FC/07/499
Tipologia: Pedra de Jogo
Morfologia: -
Pasta: Alaranjada
Acabamento: Alisado, engobe negro
Decoração: -
Alterações pós fabrico: -
Dimensões: 6mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 29
Número de Inventário: CV/FC/07/515
Tipologia: Panela
Morfologia: Bordo extrovertido lábio
arredondado, colo troncocónico
Pasta: Vermelha
Acabamento: Alisado
Decoração: Incisão horizontal
Alterações pós fabrico: Marcas de Fogo

83
Ficha 29

Dimensões: 7mm espessura, 110mm


diâmetro boca
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 30
Número de Inventário: CV/FC/07/427
Tipologia: Jarrinha
Morfologia: Base com pé anelar
Pasta: Alaranjada
Acabamento: Alisado
Decoração: - Ficha 31
Alterações pós fabrico: -
Dimensões: 4mm espessura, 50mm
base
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 31
Número de Inventário: CV/FC/07/497
Tipologia: Tigela
Morfologia: Bordo extrovertido lábio
arredondado
Pasta: Redutora (cinzenta)
Acabamento: Vidrado
Decoração: Vidrado melado com
motivos em negro manganês
Alterações pós fabrico: -
Dimensões: 7mm espessura, 340mm
diâmetro boca
Cronologia: séculos XII-XIII

84
Número de Ficha: 32 Número de Ficha: 33
Número de Inventário: CV/FC/07/169 Número de Inventário: CV/FC/07/522
Tipologia: Jarrinha Tipologia: Panela
Morfologia: Sobrelevada de secção de Morfologia: Base plana
fita Pasta: Vermelha
Pasta: Vermelha Acabamento: Alisado
Acabamento: Espatulado Decoração: -
Decoração: - Alterações pós fabrico: -
Alterações pós fabrico: - Dimensões: 7mm espessura
Dimensões: 11mm espessura Cronologia: séculos XII-XIII
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 34
Número de Inventário: CV/FC/07/501
Tipologia: Cântaro
Morfologia: Asa vertical de secção oval
Pasta: Vermelha
Acabamento: Engobe negro
Decoração: pintura branca traço curvo
Alterações pós fabrico: -
Dimensões: 5mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 35 Acabamento: Alisado


Número de Inventário: CV/FC/07/516 Decoração: -
Tipologia: Panela Alterações pós fabrico: Marcas de fogo
Morfologia: Bordo vertical lábio em aba Dimensões: 7mm espessura
Pasta: Vermelha Cronologia: séculos XII-XIII

85
Número de Ficha: 36 Número de Ficha: 37
Número de Inventário: CV/FC/07/531 Número de Inventário: CV/FC/07/471
Tipologia: Cântaro Tipologia: Jarrinha
Morfologia: Bojo globular Morfologia: Asa vertical secção
Pasta: Vermelha triangular
Acabamento: Alisado Pasta: Vermelha
Decoração: Pintura branca motivo Acabamento: Espatulado
indeterminado Decoração: -
Alterações pós fabrico: - Alterações pós fabrico: -
Dimensões: 5mm espessura Dimensões: 15mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 38 Número de Ficha: 39


Número de Inventário: CV/FC/07/536 Número de Inventário: CV/FC/07/521
Tipologia: Jarrinha Tipologia: Panela
Morfologia: Bordo vertical lábio Morfologia: Bordo extrovertido lábio
arredondado arredondado
Pasta: Vermelha Pasta: -
Acabamento: Alisado Acabamento: -
Decoração: Incisão horizontal Decoração: -
Alterações pós fabrico: Queimada Alterações pós fabrico: Carbonizada,
Dimensões: 5mm espessura deteriorada
Cronologia: séculos XII-XIII Dimensões: 5mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII

Acabamento: Alisado
Decoração: -
Número de Ficha: 40
Alterações pós fabrico:
Número de Inventário: CV/FC/07/421
Dimensões: 3mm espessura
Tipologia: Jarrinha
Cronologia: séculos XII-XIII
Morfologia: Bordo lábio arredondado
Pasta: Branca

86
Número de Ficha: 41
Número de Inventário: CV/FC/07/538
Tipologia: Pedra de Jogo
Morfologia: -
Pasta: Alaranjada
Acabamento: Alisado
Decoração: -
Alterações pós fabrico: -
Dimensões: 12mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 42
Número de Inventário: CV/FC/07/500
Tipologia: Cântaro
Morfologia: Asa vertical secção em fita
Pasta: Vermelha
Acabamento: Alisado
Decoração: -
Alterações pós fabrico: -
Dimensões: 12mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 43
Número de Inventário: CV/FC/07/432
Tipologia: Tampa
Morfologia: Base convexa e pega central
de botão
Pasta: Vermelha
Acabamento: Alisado
Decoração: -
Alterações pós fabrico: -
Dimensões: 5mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII

87
Número de Ficha: 44 Número de Ficha: 45
Número de Inventário: CV/FC/07/524 Número de Inventário: CV/FC/07/504
Tipologia: Caçoila Tipologia: Jarrinha
Morfologia: Bordo Morfologia: Asa vertical secção
Pasta: Vermelha triangular
Acabamento: Alisado Pasta: Vermelha
Decoração: - Acabamento: Engobe negro
Alterações pós fabrico: Queimada Decoração: Pintura branca motivo
Dimensões: 7mm espessura indeterminado
Cronologia: séculos XII-XIII Alterações pós fabrico: -
Dimensões: 11mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 46 Ficha 47


Número de Inventário: CV/FC/07/519
Tipologia: Panela
Morfologia: Bordo extrovertido lábio
arredondado
Pasta: Alaranjada
Acabamento: Alisado
Decoração: -
Alterações pós fabrico: Queimada
Dimensões: 5mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 47
Número de Inventário: CV/FC/07/514
Tipologia: Cântaro
Morfologia: Bordo vertical lábio plano
Pasta: Vermelha
Acabamento: Alisado
Decoração: Pintura branca traços
Alterações pós fabrico: -

88
Dimensões: 5mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 48 Número de Ficha: 49


Número de Inventário: CV/FC/07/535 Número de Inventário: CV/FC/07/425
Tipologia: Tampa Tipologia: Tigela
Morfologia: Base plana Morfologia: bojo
Pasta: Vermelha Pasta: Bege
Acabamento: Alisado Acabamento: Vidrado
Decoração: - Decoração: Vidrado melado com
Alterações pós fabrico: - motivos em negro manganês
Dimensões: 8mm espessura Alterações pós fabrico: -
Cronologia: séculos XII-XIII Dimensões: 4mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 50
Número de Inventário: CV/FC/07/492
Tipologia: Panela
Morfologia: Bordo extrovertido lábio
arredondado
Pasta: -
Acabamento: -
Decoração: -
Alterações pós fabrico: Carbonizada
Dimensões: 5mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 51
Número de Inventário: CV/FC/07/402
Tipologia: Jarrinha
Morfologia: Bojo globular
Pasta: Alaranjada

89
Acabamento: Alisado
Decoração: Incisão horizontal e pintura Ficha 51

branca motivos variados


Alterações pós fabrico: -
Dimensões: 4mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 52
Número de Inventário: CV/FC/07/490
Tipologia: Malga
Morfologia: Bordo introvertido lábio
Ficha 53
arredondado, carena
Pasta: Vermelha
Acabamento: Brunido interior
Decoração: Incisões horizontais
Alterações pós fabrico: -
Dimensões: 6mm espessura
Cronologia: século XII

Número de Ficha: 53
Número de Inventário: CV/FC/07/403
Tipologia: Jarrinha
Morfologia: Bojo globular, asa vertical
secção triangular
Pasta: Alaranjada
Acabamento: Alisado
Decoração: Pintura branca traços
Alterações pós fabrico: -
Dimensões: 4mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII

90
Número de Ficha: 54 Ficha 55
Número de Inventário: CV/FC/07/424
Tipologia: Tigela
Morfologia: bojo
Pasta: Vermelha
Acabamento: Vidrado
Decoração: Vidrado melado com
motivos em negro manganês
Alterações pós fabrico: -
Dimensões: 7mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 55
Número de Inventário: CV/FC/07/534
Tipologia: Jarra
Morfologia: Bojo globular, asa secção
oval
Pasta: Branca
Acabamento: Alisado
Decoração: Corda seca parcial
(vermelha, alaranjada e vidrada verde)
Alterações pós fabrico: Deteriorada no
vidrado
Dimensões: 5mm espessura Ficha 57
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 56
Número de Inventário: CV/FC/07/503
Tipologia: Indeterminado Decorado
Morfologia: -
Pasta: Vermelha
Acabamento: Alisado
Decoração: Pintura branca motivo
indeterminado

91
Alterações pós fabrico: -
Dimensões: 6mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 57
Número de Inventário: CV/FC/07/412
Tipologia: Jarrinha
Morfologia: Bordo vertical lábio
arredondado, colo cilíndrico, bojo
globular, base convexa, asa vertical
secção triangular
Pasta: Alaranjada
Acabamento: Alisado
Decoração: Incisões horizontais
Alterações pós fabrico: -
Dimensões: 2mm espessura, 60mm
diâmetro boca
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 58
Número de Inventário: CV/FC/07/511
Tipologia: Cântaro
Morfologia: Bordo vertical lábio plano,
colo cilíndrico, asa vertical secção de fita
Pasta: Alaranjada
Acabamento: Engobe negro
Decoração: Pintura branca traços
Alterações pós fabrico: -
Dimensões: 6mm espessura, 110mm
diâmetro boca
Cronologia: séculos XII-XIII

92
Número de Ficha: 59
Número de Inventário: CV/FC/07/459
Tipologia: Panela
Morfologia: Bordo vertical arredondado,
asa vertical seção triangular
Pasta: Vermelha
Acabamento: Alisado
Decoração: Incisão horizontal
Alterações pós fabrico: Marcas de Fogo
Dimensões: 3mm espessura, 100mm
diâmetro boca
Cronologia: séculos XII-XIII Ficha 59

Número de Ficha: 60
Número de Inventário: CV/FC/07/437
Tipologia: Cântaro
Morfologia: Asa vertical secção de fita
com nervuras
Pasta: Vermelha
Acabamento: Engobe negro
Decoração: Pintura branca motivo
indeterminado
Alterações pós fabrico: -
Ficha 61
Dimensões: 7mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 61
Número de Inventário: CV/FC/07/476
Tipologia: Caçoila
Morfologia: Bordo introvertido lábio
triangular, carena, base convexa
Pasta: Vermelha
Acabamento: Alisado
Decoração: Incisão horizontal

93
Alterações pós fabrico: -
Dimensões: 3mm espessura, 140mm
diâmetro boca
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 62 Número de Ficha: 63


Número de Inventário: CV/FC/07/460 Número de Inventário: CV/FC/07/434
Tipologia: Panela Tipologia: Jarra
Morfologia: Bordo vertical lábio Morfologia: Base pé anelar
triangular, asa vertical secção de fita Pasta: Bege
Pasta: Vermelha Acabamento: Alisado
Acabamento: Alisada Decoração: -
Decoração: - Alterações pós fabrico: -
Alterações pós fabrico: Queimada Dimensões: 5mm espessura, 85mm
Dimensões: 4mm espessura diâmetro base
Cronologia: séculos XII-XIII Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 64
Número de Inventário: CV/FC/07/435
Tipologia: Tigela
Morfologia: Base pé anelar
Pasta: Branca
Acabamento: Vidrado
Decoração: Vidrado simples
Alterações pós fabrico: -
Dimensões: 10mm espessura, 65mm
diâmetro base
Cronologia: séculos XII-XIII

94
Número de Ficha: 65 Número de Ficha: 66
Número de Inventário: CV/FC/07/438 Número de Inventário: CV/FC/07/475
Tipologia: Alguidar Tipologia: Cântaro
Morfologia: Bordo vertical lábio em aba Morfologia: Asa vertical secção em fita
Pasta: Alaranjada com nervuras
Acabamento: Alisado Pasta: Alaranjada
Decoração: - Acabamento: Alisado
Alterações pós fabrico: - Decoração: -
Dimensões: 15mm espessura Alterações pós fabrico: -
Cronologia: séculos XII-XIII Dimensões: 12mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 67 Número de Ficha: 68


Número de Inventário: CV/FC/07/448 Número de Inventário: CV/FC/07/472
Tipologia: Talha Tipologia: Cântaro
Morfologia: Bordo vertical lábio em aba Morfologia: Asa vertical de secção de
Pasta: Vermelha fita com nervuras
Acabamento: Alisado Pasta: Vermelho
Decoração: - Acabamento: Alisado
Alterações pós fabrico: - Decoração: Engobe negro
Dimensões: 16mm espessura Alterações pós fabrico: -
Cronologia: séculos XII-XIII Dimensões: 6mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 69 Alterações pós fabrico: Queimada


Número de Inventário: CV/FC/07/465 Dimensões: 3mm espessura
Tipologia: Jarrinha Cronologia: séculos XII-XIII
Morfologia: Bordo vertical lábio
arredondado, asa vertical secção
cilíndrica
Pasta: Vermelha
Acabamento: Alisada
Decoração: Incisão horizontal

95
Número de Ficha: 70 Ficha 71
Número de Inventário: CV/FC/07/470
Tipologia: Jarrinha
Morfologia: Asa vertical secção oval
Pasta: Vermelha
Acabamento: Alisada
Decoração: -
Alterações pós fabrico: Queimada
Dimensões: 12mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 71 Número de Ficha: 72


Número de Inventário: CV/FC/07/502 Número de Inventário: CV/FC/07/505
Tipologia: Indeterminado Decorado Tipologia: Panela
Morfologia: - Morfologia: Bordo vertical lábio
Pasta: Alaranjada triangular
Acabamento: Engobe negro Pasta: Alaranjada
Decoração: Pintura branca traços Acabamento: Alisado
Alterações pós fabrico: - Decoração: -
Dimensões: 6mm espessura Alterações pós fabrico: -
Cronologia: séculos XII-XIII Dimensões: 5mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 73
Número de Inventário: CV/FC/07/537
Tipologia: Tigela
Morfologia: Bordo vertical lábio
arredondado, asa horizontal
Pasta: Branca
Acabamento: Alisado, vidrado
Decoração: Vidrado verde
Alterações pós fabrico: Deteriorado

96
Dimensões: 5mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 74 Número de Ficha: 75


Número de Inventário: CV/FC/07/474 Número de Inventário: CV/FC/07/461
Tipologia: Cântaro Tipologia: Panela
Morfologia: Asa vertical secção de fita Morfologia: Asa vertical secção de fita
com nervuras Pasta: -
Pasta: Alaranjada Acabamento: -
Acabamento: Alisado Decoração: -
Decoração: - Alterações pós fabrico: Queimada
Alterações pós fabrico: - Dimensões: 8mm espessura
Dimensões: 9mm espessura Cronologia: séculos XII-XIII
Cronologia: séculos XII-XIII

Ficha 76
Número de Ficha: 76
Número de Inventário: CV/FC/07/433
Tipologia: Caçoila (costillas)
Morfologia: Bojo, base plana
Pasta: Alaranjada clara
Acabamento: Alisado, vidrado interior
exterior
Decoração: Aplicações plásticas
verticais exterior
Alterações pós fabrico: -
Dimensões: 6mm espessura
Cronologia: almóada

Número de Ficha: 77
Número de Inventário: CV/FC/07/413
Tipologia: Jarrinha
Morfologia: Bordo vertical lábio biselado
Pasta: Alaranjada
Acabamento: Alisado

97
Decoração: Incisão horizontal Ficha 78
Alterações pós fabrico: -
Dimensões: 3mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 78
Número de Inventário: CV/FC/07/533
Tipologia: Indeterminado Decorado
Ficha 79
Morfologia: -
Pasta: Alaranjada
Acabamento: Alisado
Decoração: Incisão horizontal, pintura
branca motivo indeterminado
Alterações pós fabrico: -
Dimensões: 5mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 79 Número de Ficha: 80


Número de Inventário: CV/FC/07/407 Número de Inventário: CV/FC/07/415
Tipologia: Panela Tipologia: Jarrinha
Morfologia: Bordo vertical lábio em aba Morfologia: Bordo introvertido lábio
Pasta: Vermelha arredondado
Acabamento: Alisado Pasta: -
Decoração: Incisão horizontal Acabamento: -
Alterações pós fabrico: Marcas de Decoração: Incisão horizontal
Fogo Alterações pós fabrico: Carbonizada
Dimensões: 5mm espessura, 140mm Dimensões: 4mm espessura
diâmetro boca Cronologia: séculos XII-XIII
Cronologia: séculos XII-XIII

98
Número de Ficha: 81 Número de Ficha: 82
Número de Inventário: CV/FC/07/440 Número de Inventário: CV/FC/07/444
Tipologia: Alguidar Tipologia: Malga
Morfologia: Bordo extrovertido lábio em Morfologia: Bordo extrovertido lábio
aba, colo troncocónico arredondado
Pasta: Alaranjada Pasta: Vermelha
Acabamento: Alisado Acabamento: Brunido interior
Decoração: - Decoração: -
Alterações pós fabrico: - Alterações pós fabrico: Queimada
Dimensões: 7mm espessura Dimensões: 7mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 83
Número de Inventário: CV/FC/07/447 Ficha 84
Tipologia: Malga
Morfologia: Bordo extrovertido lábio
arredondado
Pasta: Alaranjada
Acabamento: Alisado
Decoração: -
Alterações pós fabrico: -
Dimensões: 7mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 84 Decoração: Incisão horizontal


Número de Inventário: CV/FC/07/422 Alterações pós fabrico: -
Dimensões: 3mm espessura, 50mm
Tipologia: Jarrinha
diâmetro boca
Morfologia: Bordo vertical lábio biselado
Cronologia: séculos XII-XIII
Pasta: Vermelha
Acabamento: Alisado

99
Número de Ficha: 85
Número de Inventário: CV/FC/07/405
Tipologia: Panela
Morfologia: Bordo introvertido lábio
plano
Pasta: Vermelha
Acabamento: Alisado
Decoração: Incisões horizontais
Alterações pós fabrico: Queimada
Dimensões: 3mm espessura, 90mm
diâmetro boca
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 86 Número de Ficha: 87


Número de Inventário: CV/FC/07/420 Número de Inventário: CV/FC/07/416
Tipologia: Jarrinha Tipologia: Panela
Morfologia: Bordo introvertido lábio Morfologia: Bordo extrovertido lábio
arredondado triangular
Pasta: Vermelha Pasta: Vermelha
Acabamento: Alisado Acabamento: Alisado
Decoração: Incisão horizontal Decoração: -
Alterações pós fabrico: Queimada Alterações pós fabrico: -
Dimensões: 5mm espessura Dimensões: 4mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 89 Acabamento: Alisado


Número de Inventário: CV/FC/07/453 Decoração: Incisão horizontal
Tipologia: Caçoila Alterações pós fabrico: -
Dimensões: 5mm espessura
Morfologia: Bordo extrovertido lábio
Cronologia: séculos XII-XIII
plano triangular
Pasta: Vermelha

100
Número de Ficha: 90
Número de Inventário: CV/FC/07/398
Tipologia: Tigela
Morfologia: Bordo extrovertido lábio
arredondado, colo semiesférico
Pasta: Alaranjada claro
Acabamento: Alisado, vidrado interior
Decoração: Vidrado melado
Alterações pós fabrico: Vidrado
escorrido no exterior
Dimensões: 4mm espessura, 150mm
diâmetro bica
Cronologia: séculos XII-XIII

Ficha 90
Número de Ficha: 91
Número de Inventário: CV/FC/07/446
Tipologia: Malga
Morfologia: Bordo extrovertido lábio
arredondado
Pasta: Vermelha
Acabamento: Brunido ambas superfícies
Decoração: -
Alterações pós fabrico: -
Dimensões: 7mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 92 Alterações pós fabrico: Queimada


Dimensões: 4mm espessura
Número de Inventário: CV/FC/07/410
Cronologia: séculos XII-XIII
Tipologia: Panela
Morfologia: Bordo extrovertido lábio
triangular
Pasta: Vermelha
Acabamento: Alisado
Decoração: Incisão horizontal

101
Número de Ficha: 93
Número de Inventário: CV/FC/07/404
Tipologia: Panela
Morfologia: Bordo vertical lábio plano
Pasta: Vermelha
Acabamento: Vidrado em ambas as
superfícies
Decoração: Vidrado melado, incisão
horizontal
Alterações pós fabrico: Queimada
Dimensões: 3mm espessura, 75mm
diâmetro boca
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 94
Número de Inventário: CV/FC/07/462
Tipologia: Panela
Morfologia: Asa vertical secção oval
Pasta: Alaranjada
Acabamento: Brunido
Decoração: -
Alterações pós fabrico: -
Dimensões: 18mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 95 Decoração: Vidrado melado com


Número de Inventário: CV/FC/07/400 motivos em negro manganês
Tipologia: Tigela Alterações pós fabrico: -
Dimensões: 7mm espessura
Morfologia: Bojo
Cronologia: séculos XII-XIII
Pasta: Vermelha
Acabamento: Vidrado

102
Número de Ficha: 96 Número de Ficha: 97
Número de Inventário: CV/FC/07/418 Número de Inventário: CV/FC/07/409
Tipologia: Jarrinha Tipologia: Panela
Morfologia: Bordo introvertido lábio Morfologia: Bordo introvertido lábio em
biselado aba
Pasta: Vermelha Pasta: -
Acabamento: Alisado Acabamento: Alisado
Decoração: Incisão horizontal Decoração: -
Alterações pós fabrico: Queimada Alterações pós fabrico: Carbonizada
Dimensões: 5mm espessura Dimensões: 3mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 98 Número de Ficha: 99


Número de Inventário: CV/FC/07/431 Número de Inventário: CV/FC/07/419
Tipologia: Tigelinha Tipologia: Jarrinha
Morfologia: Base pé anelar Morfologia: Bordo introvertido lábio
Pasta: Alaranjada arredondado
Acabamento: Alisado Pasta: Vermelha
Decoração: - Acabamento: Alisado
Alterações pós fabrico: - Decoração: Incisão horizontal
Dimensões: 6mm espessura
Alterações pós fabrico: Queimada
Cronologia: séculos XII-XIII
Dimensões: 3mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 100 Acabamento: Vidrado


Número de Inventário: CV/FC/07/399 Decoração: Vidrado melado-
Tipologia: Tigela esverdeado
Morfologia: Bordo introvertido lábio Alterações pós fabrico: -
semicircular Dimensões: 7mm espessura
Pasta: Redutora (cinzenta) Cronologia: séculos XII-XIII

103
Número de Ficha: 101 Número de Ficha: 102
Número de Inventário: CV/FC/07/411 Número de Inventário: CV/FC/07/426
Tipologia: Jarrinha Tipologia: Tigela
Morfologia: Bordo introvertido lábio Morfologia: Bordo extrovertido lábio
arredondado, asa vertical secção oval arredondado
Pasta: Vermelha Pasta: Alaranjada
Acabamento: Alisado Acabamento: Alisado, vidrado interior
Decoração: Incisão horizontal Decoração: Vidrado melado
Alterações pós fabrico: Queimada Alterações pós fabrico: Vidrado
Dimensões: 4mm espessura escorrido exterior
Cronologia: séculos XII-XIII Dimensões: 3mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 103


Ficha 104
Número de Inventário: CV/FC/07/463
Tipologia: Panela
Morfologia: Asa vertical secção oval
Pasta: Vermelha
Acabamento: Alisado
Decoração: -
Alterações pós fabrico: Marcas de Fogo
Dimensões: 12mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII

Decoração: Pintura branca traços


Alterações pós fabrico: Carbonizada
Número de Ficha: 104
Dimensões: 4mm espessura
Número de Inventário: CV/FC/07/414
Cronologia: séculos XII-XIII
Tipologia: Jarrinha
Morfologia: Bordo introvertido lábio
arredondado
Pasta: -
Acabamento: Alisado

104
Número de Ficha: 105
Ficha 106
Número de Inventário: CV/FC/07/417
Tipologia: Panela
Morfologia: Bordo vertical lábio
triangular
Pasta: Vermelha
Acabamento: Alisado
Decoração: Incisão horizontal
Alterações pós fabrico: -
Dimensões: 4mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 106


Número de Inventário: CV/FC/07/441
Tipologia: Alguidar
Morfologia: Bordo extrovertido lábio
semicircular
Pasta: Branca/bege
Acabamento: -
Decoração: Cordão no bordo
Alterações pós fabrico: -
Dimensões: 17mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 107 Acabamento: Alisado


Número de Inventário: CV/FC/07/439 Decoração: -
Tipologia: Alguidar Alterações pós fabrico: -
Morfologia: Bordo extrovertido lábio em Dimensões: 16mm espessura
aba Cronologia: séculos XII-XIII
Pasta: Vermelha

105
Número de Ficha: 108 Número de Ficha: 109
Número de Inventário: CV/FC/07/466 Número de Inventário: CV/FC/07/468
Tipologia: Jarrinha Tipologia: Jarrinha
Morfologia: Bordo vertical lábio Morfologia: Bordo vertical lábio
arredondado, asa vertical secção arredondado, asa vertical secção
cilíndrica cilíndrica
Pasta: Vermelha Pasta: Vermelha
Acabamento: Alisado Acabamento: Alisado
Decoração: Pintura branca motivo Decoração: -
indeterminado Alterações pós fabrico: -
Alterações pós fabrico: Queimada Dimensões: 3mm espessura
Dimensões: 4mm espessura Cronologia: séculos XII-XIII
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 110


Número de Inventário: CV/FC/07/443
Tipologia: Malga
Morfologia: Bordo extrovertido lábio
arredondado
Pasta: Vermelha
Acabamento: Brunido
Decoração: -
Alterações pós fabrico: -
Dimensões: 7mm espessura, 220mm
diâmetro boca
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 111 Acabamento: Alisado


Número de Inventário: CV/FC/07/467 Decoração: -
Tipologia: Jarrinha Alterações pós fabrico: -
Morfologia: Bordo introvertido lábio Dimensões: 3mm espessura
arredondado, asa vertical secção oval Cronologia: séculos XII-XIII
Pasta: Vermelha

106
Número de Ficha: 112 Número de Ficha: 113
Número de Inventário: CV/FC/07/464 Número de Inventário: CV/FC/07/423
Tipologia: Panela Tipologia: Cântaro
Morfologia: Asa vertical secção oval Morfologia: Bordo vertical lábio plano
Pasta: Vermelha triangular
Acabamento: Brunido Pasta: Vermelha
Decoração: - Acabamento: Engobe negro
Alterações pós fabrico: - Decoração: -
Dimensões: 11mm espessura Alterações pós fabrico: -
Cronologia: séculos XII-XIII Dimensões: 5mm espessura, 90mm
diâmetro boca
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 114


Número de Inventário: CV/FC/07/408
Tipologia: Panela
Morfologia: Bordo introvertido lábio
arredondado
Pasta: Vermelha
Acabamento: Alisado
Decoração: Incisão horizontal
Alterações pós fabrico: Queimada
Dimensões: 2mm espessura, 80mm
diâmetro boca
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 115 Ficha 114

Número de Inventário: CV/FC/07/442


Tipologia: Alguidar
Morfologia: Bordo extrovertido lábio
semicircular
Pasta: Branca/bege
Acabamento: -
Decoração: Cordão no bordo

107
Alterações pós fabrico: -
Dimensões: 12mm espessura
Ficha 116
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 116


Número de Inventário: CV/FC/07/406
Tipologia: Panela
Morfologia: Bordo vertical lábio plano
Pasta: Vermelha
Acabamento: Alisado
Decoração: Incisão horizontal
Ficha 117
Alterações pós fabrico: Marcas de fogo
Dimensões: 4mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 117


Número de Inventário: CV/FC/07/449
Tipologia: Caçoila
Morfologia: Bordo introvertido lábio
plano
Pasta: Vermelha
Acabamento: Alisado
Decoração: Incisão e pintura branca
traço
Alterações pós fabrico: -
Dimensões: 4mm espessura, 180mm
diâmetro boca
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 118


Número de Inventário: CV/FC/07/429
Tipologia: Panela
Morfologia: Bojo globular
Pasta: Alaranjada

108
Acabamento: Alisado, caneluras
Ficha 118
exterior, vidrado interior
Decoração: -
Alterações pós fabrico: Queimada
Dimensões: 3mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 119


Número de Inventário: CV/FC/07/401
Tipologia: Cântaro
Morfologia: Bordo extrovertido lábio
triangular
Pasta: Vermelha
Acabamento: Engobe negro ambas
superfícies
Decoração: -
Alterações pós fabrico: -
Dimensões: 4mm espessura, 90mm
diâmetro boca
Cronologia: séculos XII-XIII

Número de Ficha: 120


Número de Inventário: CV/FC/07/437
Tipologia: Cântaro
Morfologia: Colo troncocónico, bofo
globular, base em ônfalo
Pasta: Vermelha
Acabamento: Alisado
Decoração: Incisão horizontal
Alterações pós fabrico: -
Dimensões: 3mm espessura
Cronologia: séculos XII-XIII

109
110
111

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