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Universidade do Algarve

Faculdade de Ciências Humanas e Sociais


Departamento de Artes e Humanidades
Licenciatura de Arqueologia

ESTUDOS DE CONSERVAÇÃO DE UM CONJUNTO CERÂMICO


DE ÉPOCA ALMÓADA DE CACELA-A-VELHA

Carolina Coutinho Ribaric n°. aluno 56684


Seminário de Conclusão do curso de Licenciatura em Património Cultural e
Arqueologia
Orientação: Profa. Doutora Susana Gómez Martínez
Prof. Doutor Luís Felipe Oliveira

2019
Estudos de Conservação de um Conjunto Cerâmico de Época Almóada de Cacela-a-Velha

Agradecimentos

Quero agradecer primeiramente à professora Susana Gómez Martinéz, que


gentilmente aceitou orientar este trabalho, disponibilizou seu tempo e esforços
para me guiar neste projeto. À professora Maria João Valente e a arqueóloga
Cristina Teté Garcia, que me acolheram no campo arqueológico de Cacela,
acreditaram na minha ideia, e sempre me incentivaram. À Patrícia Dores por toda
a paciência com as minhas dúvidas e mensagens, pelo apoio e pela bibliografia.
À Cristina Dores, técnica de conservação e restauro da Universidade do Algarve,
por aguentar a mim e aos colegas todos no laboratório, e estar sempre pronta a
ajudar. À toda a equipa do campo arqueológico de Cacela, em especial Ana
Nunes, Humberto Veríssimo e Márcio Beatriz.
Agradecimento especial aos meus pais e ao meu irmão, que nunca mediram
esforços para me apoiar em todas as minhas aventuras. Obrigada por estarem
ao meu lado e por me ensinarem todos os dias a ser uma pessoa melhor. E a
todos os professores e colegas do curso de Património Cultural e Arqueologia
da Universidade do Algarve, que fizeram parte desta minha jornada.
Sem vocês nada disto seria possível.

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Estudos de Conservação de um Conjunto Cerâmico de Época Almóada de Cacela-a-Velha

Sumário

RESUMO ...................................................................................................................... 4

ABSTRACT................................................................................................................... 4

INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 5

1. Metodologias utilizadas - O Estudo das Cerâmicas. ................................................. 6

1.1 O Inventário ......................................................................................................... 6

1.2 Documentação Fotográfica.................................................................................. 6

1.3 Documentação Gráfica ........................................................................................ 7

1.4 Metodologia de Limpeza ..................................................................................... 7

1.5 Procedimentos de Conservação .......................................................................... 9

2. Caracterização Histórica e Geográfica .................................................................... 10

3. Os achados do Largo da Fortaleza ......................................................................... 12

4. Análise e conservação preventiva do conjunto cerâmico ........................................ 15

4.1. Formas ............................................................................................................. 15

4.2 Ornamentação................................................................................................... 30

Considerações Finais ................................................................................................. 36

Referências Bibliográficas........................................................................................... 38

Anexos........................................................................................................................ 40

Fichas de Inventário.................................................................................................... 48

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Estudos de Conservação de um Conjunto Cerâmico de Época Almóada de Cacela-a-Velha

RESUMO

A descoberta do bairro islâmico no povoado de Cacela, ao Sudoeste de Portugal, foi


verificada com o aparecimento de muralhas e vestígios de habitações, que foram
escavadas durante as campanhas de escavação de 1998 a 2007. Também foram
encontrados silos repletos de vestígios de alimentação, material de construção e
recipientes de uso doméstico do período Almóada. O devido estudo de material
cerâmico, suas diferentes tipologias e funções, modos de fabrico e tipo de material
utilizado são pontos fundamentais para se entender o povoamento cacelence e sua
relação com as cidades ao seu entorno.

Aqui foi estudado um conjunto de 11 peças cerâmicas, sendo a maioria fragmentos de


pequena dimensão, com marcas de desgaste de uso intensivo e marcas de fogo. A
execução de uma inventariação feita correctamente, contendo todos os dados referente
a cada peça, a fotografia e a reconstrução gráfica das peças, assim como o tratamento
de conservação e restauro são os elementos que contribuem para a reconstrução da
memória e tradição do povoamento de Cacela. Os resultados parciais deste estudo
foram apresentados em uma conferência em Pisa, na Itália em junho deste ano de 2019.

ABSTRACT

The discovery of the Islamic quarter in the village of Cacela, southwest of Portugal, was
verified with the emergence of walls and vestiges of dwellings, which were excavated
during the excavation campaigns from 1998 to 2007. Silos filled with traces of food,
construction material and household containers from the Almohad period were also
found.

The correct study of ceramic material, its different typologies and functions, modes of
manufacture and type of material used are fundamental points to understand the
settlement of Cacela and its relationship with the cities to its surroundings. Here we
studied a set of 11 ceramic pieces, most of which are small fragments, with marks of
intensive use and fire marks. The execution of a properly inventorying, containing all the
data relating to each part, the photograph and the graphic reconstruction of the parts, as
well as the treatment of conservation and restoration are the elements that contribute to
the reconstruction of the memory and tradition of the settlement of Cacela.

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INTRODUÇÃO

O território de Cacela-a-Velha, localizado na região do Algarve ao sul de Portugal, tem


sido estudado sob a ótica da Arqueologia há mais de 20 anos, e a cada nova campanha
de escavação que se realiza, algumas dúvidas são sanadas enquanto outras tantas
surgem. O estudo das cerâmicas utilizadas pelas populações que ali viveram no passar
dos séculos, ajuda a perceber o modo como essas comunidades interagiam, o seu tipo
de alimentação, o tipo de material existente para poder produzir tais recipientes, ou até
as rotas de comércio e produções locais e regionais.

A escolha deste tema surgiu a partir de uma experiência anterior da autora deste
trabalho com restauro de cerâmicas medievais, durante um estágio profissional em Itália
no Centro di Restauro e Conservazione dei Beni Culturali, em 2017. Juntamente com a
prática da conservação de materiais arqueológicos, a experiência de escavação nas
campanhas de 2018 e 2019 em Cacela-a-Velha foram as motivações para dar
continuidade aos estudos das cerâmicas, de forma que os resultados possam fazer
parte do projeto de investigação do sítio arqueológico de Cacela.

Dentre as fonte literárias utilizadas para este trabalho estão: a tese de doutoramento da
arqueóloga Cristina Teté Garcia (2016), que fez o estudo sobre o povoamento rural de
Cacela-a-Velha e elaborou também a Matriz de Classificação da Cerâmica Islâmica de
Cacela, serviu como principal base para a realização deste estudos, assim como a tese
de Doutoramento da arqueóloga e professora Doutora Susana Gómez-Martínez, sobre
a Produção e Consumo da Cerâmica islâmica de Mértola, que foi a principal base para
a produção cerâmica e mais forte paralelo traçado da produção de cerâmica islâmica.
Outros nomes como Helena Catarino, Bugalhão e Rossello-Bordoy tiveram vital
importância para o entendimento das formas cerâmicas e ligação com o mundo islâmico.

As metodologias utilizadas aqui seguem as linhas de investigação de Cacela e Mértola,


iniciando com a leitura da bibliografia essencial, artigos, livros, documentos, sobre
Cacela e sobre a produção de cerâmica Islâmica em todo o al-Andalus; para a
inventariação foi utilizada uma ficha de inventário para cada objecto, seguindo a base
de dados do Campo Arqueológico de Mértola; documentação fotográfica de cada
conjunto; documentação gráfica utilizando técnicas de desenho técnico e representação
gráfica; limpeza e procedimentos de conservação das peças, com colaboração da
técnica em Conservação e Restauro, e responsável pelo laboratório de restauro da
Universidade do Algarve, Doutora Cristina Dores.

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1. Metodologias utilizadas - O Estudo das Cerâmicas.


1.1 O Inventário

O material para este estudo foi selecionado pela arqueóloga Doutora Cristina Garcia e
pela técnica da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António Patrícia Dores,
responsável pelo material por parte da CMVRSA. Após a seleção eles foram trazidos ao
gabinete de arqueologia da Universidade do Algarve, onde foi feita a verificação das
peças. Cada conjunto de fragmentos estava dentro de um saco plástico com uma
etiqueta de identificação, que trazia a proveniência do fragmento, no caso Cacela-a-
Velha/ Largo da Fortaleza; a sondagem; quadrícula; unidade estratigráfica; tipo de
material; o acrónimo ,que traz o sítio de proveniência e a data da escavação:
CV/FC/2007, e o número de identificação. Em algum deles, possui também o número
do saco.

Para cada um dos conjuntos de fragmentos de uma mesma peça, foi preenchida uma
ficha de inventário, baseada nas fichas de inventário do Campo de Mértola. As fichas
contêm as informações relevantes que identificam e descrevem as peças
individualmente. A elas são designadas um número de inventário ao todo 13 fichas de
inventário, porém, apenas 10 peças. Isto ocorreu pelo fato de alguns conjuntos
possuírem mais de uma etiqueta de identificação da CMVRSA.

1.2 Documentação Fotográfica

Após a ficha preenchida, foi feita a documentação fotográfica de cada um dos conjuntos.
Utilizando as orientações fundamentais para que a fotografia resulte em um registro de
qualidade das peças. A peça deve ser colocada de maneira centralizada em um plano
de fundo de coloração neutra, para assegurar a incidência de luz de forma uniforme.
Evitar a utilização de flash para que a imagem final não seja distorcida do real. Para
referência de tamanho e coloração, ao lado da peça deve ser colocada uma escala
gráfica em centímetros.

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1.3 Documentação Gráfica

A documentação gráfica das peças é um excelente método informativo e analítico, pois


permite uma percepção imediata daquilo que se pretende apresentar. Desde que seja
realizado com rigor consegue transmitir a informação de maneira clara e precisa. Desta
forma, o desenho se torna um modo de interpretação da peça, e não um meio de
representação. Aqui a documentação gráfica foi feita em duas fases: o desenho e a
respectiva representação digital.

Mesmo a fotografia sendo um elemento importante na documentação, o desenho deve


destacar algumas características da peça ou do fragmento que nem sempre ficam
evidentes com a fotografia, e as informações que não são visíveis, como a secção da
peça e o perfil. As técnicas utilizadas foram técnicas gerais de desenho técnico e à vista.

A representação gráfica dos recipientes cerâmicos requer que os desenhos sejam feitos
de forma pormenorizada, para que as peças sejam identificas corretamente. O desenho
traz informações dos aspectos ligados à tecnologia de fabrico, espessura de paredes,
forma do bordo, forma do fundo, tipo de decoração, elementos de pega (Souza, 1999).

Ao lado direito do desenho representa-se a parte externa, enquanto o lado esquerdo


está o interior da peça, com corte evidenciado a espessura das paredes. As dimensões
da peça são obtidas através da medição dos fragmentos ou do desenho total à vista no
caso de a peça estar inteira. Com o desenho da peça pretende-se criar uma visão mais
completa possível de um artefato real.

Após o desenho finalizado, foi feita a digitalização destes utilizando software de


desenhos técnicos AutoCad.

1.4 Metodologia de Limpeza

Devido à grande fragilidade do material cerâmico, é necessário haver um cuidado


especial para efetuar o seu tratamento. Frequentemente, além dos cortes, são vistos na
pasta cerâmica alguns elementos não plásticos e incrustações de sais minerais.
Também podem apresentar no seu interior resíduos como alimentos carbonizados e
que preferencialmente não devem passar pelo processo de limpeza, devendo-se pelo
menos reservar uma amostra para posteriores análises laboratoriais.

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Para os objectos cerâmicos, especialmente aqueles com a superfície pintada,


recomenda-se a lavagem com água deionizada, pois a utilização de água tratada pode
desencadear reações químicas que se desenvolvem de forma lenta e gradual,
resultando em pequenas fissuras ou descolamento do pigmento utilizado para a pintura.
Tais reações não se manifestam de imediato, o resultado de uma limpeza ineficiente
pode levar anos para transparecer (Vicroski, 2012).

A água deionizada é quimicamente pura e com carga elétrica neutralizada, não contém
íons ou elementos orgânicos e inorgânicos. Em sua ausência, deve-se privilegiar as
águas mais puras possíveis.

A cerâmica com a superfície pintada pode ser limpa com a ajuda de algodão encharcado
com água, nas peças com maior desgaste, a água pode ser substituída por álcool,
possibilitando uma evaporação mais rápida, ao contrário da água, que pode ser
parcialmente absorvida provocando pequenas fissuras.

As peças sem pintura podem ser lavadas com a ajuda de pincéis e pequenas escovas
com cerdas macias. Não se deve aplicar muita força, diante de maiores dificuldades
para a remoção de sedimentos é preferível que se mantenha a peça parcialmente limpa
do que comprometer sua integridade. Em caso de dúvidas quanto à resistência das
peças, pode-se realizar um teste num pequeno fragmento, avaliando-se seu
comportamento diante da escovação e lavagem.

No caso de fragmentos com incisões na parte externa resultantes da decoração da


superfície, quando necessário pode-se utilizar instrumentos pontiagudos, como palitos
de madeira ou até mesmo lâminas bisturis para retirada de sedimentos. Esta técnica
também pode ser utilizada para a remoção de sais solúveis incrustados
superficialmente. No caso de camadas de sais solúveis com maior espessura, deve-se
adotar procedimentos específicos de restauração e conservação, com a utilização de
produtos químicos.

Os procedimentos específicos para conservação e restauração também devem ser


utilizados em fragmentos ou peças que exigem sua consolidação em etapa prévia a
higienização. Devido à sua fragilidade, determinados objectos cerâmicos precisam ser
inicialmente consolidados com soluções ou emulsões de resinas acrílicas.

Dependendo da quantidade de resíduos, nem todos os fragmentos precisam ser


necessariamente lavados, parte do acervo pode ser apenas escovada para a remoção

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da sujidade superficial. Após a lavagem os objectos devem ser postos para secar sobre
uma superfície plana e arejada. O processo de secagem da cerâmica é bem mais lento
do que os artefatos líticos. É preciso deixá-los secar completamente antes de seu
acondicionamento.

1.5 Procedimentos de Conservação

Alguns procedimentos são necessários seguir para que se possa fazer um trabalho de
conservação e restauro de material cerâmico proveniente de sítios arqueológicos. Os
métodos aqui apresentados são resultado de pesquisa e da experiência própria a
restaurar peças cerâmicas.

As peças cerâmicas geralmente são encontradas fragmentadas e, muitas vezes, a faltar


partes essenciais para a reconstituição do objeto total. Sendo assim, antes de qualquer
tipo de tratamento, deve-se procurar os fragmentos que se encaixam como um puzzle,
tendo particular atenção às características dos fragmentos: formato, espessura,
coloração, policromia, tratamento da superfície e o tipo de fratura. Estas características
identificam o professo de fabrico da cerâmica e, muitas vezes, os sinais de descarte
após o abandono do objeto.

As fraturas e lacunas devem ser consolidadas com o objectivo de devolver a


estabilidade mecânica ao material cerâmico e evitar a sua perda ao longo da
intervenção. A colagem dos fragmentos deve ser feita com material reversível, portanto,
com adesivo que possa vir a ser retirado no futuro, caso seja necessário.

Para o preenchimento das lacunas, é utilizado um suporte maleável adaptado à parte


interna da peça, e a lacuna é preenchida com uma preparação de gesso e água. Depois
de seco, o gesso pode ser lixado para dar o acabamento da peça. O gesso pode receber
pintura ou coloração de acordo com o restante da peça, variando de acordo com cada
caso em particular.

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2. Caracterização Histórica e Geográfica

Cacela é uma pequena aldeia no leste do Algarve, localizada em um penhasco Mioceno.


É limitado por uma lagoa protegida do oceano por uma ilha de barreira arenosa. Durante
o período medieval, o Castelo de Cacela foi posicionado na confluência dos rios
Guadiana e Faro (ou Ria Formosa). Foi um porto estratégico, que acede à cidade de
Faro, a oeste e ao rio Guadiana, a leste. A fortaleza de Cacela existe desde pelo menos
o séc. X d.C. e foi modificada posteriormente diversas vezes. No período Almóada, a
Alcáçova teve algumas obras, incluindo a construção de um armazém para cereais e
alojamentos.

Fontes Históricas

Foi o autor João Baptista da Silva Lopes1 quem em 1841 escreveu o primeiro livro de
geografia histórica do Algarve, quem fez as impressões sobre Cacela, observando que
era um sítio que ainda preservava as ruínas dos antigos paços do concelho, a casa
paroquial além de outras quatro moradas, e que tinha ainda o indicativo da antiga vila
que ali existia (Garcia, 2015:18). Após conversar com a povoado local, teve a certeza
de que a cidade de Cacela estava assentada sobre uma antiga povoação romana
importante, e que seus vestígios eram ainda visíveis. Dos materiais de construção que
encontrou pode-se citar porções de opus signinum, um fuste de coluna em uma porta
de uma casa; fragmentos de tégulas e de tijolos, mármores em paredes de casas, ou
soltos. E que o mar esconde um poço e alicerces de edifícios romanos. Escreveu ainda
que Cacela tinha um povoado grande com três ferradores (Garcia, 2016:18).

Mais tarde, o pioneiro da investigação arqueológica no Algarve, Estácio da Veiga,


elaborou a Carta Arqueológica do Algarve, onde registou diversos achados islâmicos
em vários concelhos, como Loulé, Faro, Tavira e Castro Marim. Veiga também
identificou elementos medievais na freguesia da Cacela, nomeadamente as ruínas do
antigo castelo que abrigou a cavalaria de Santiago, possíveis silos com “louças
capituladamente árabes”, um machado de pedra perto da velha muralha mourisca. Em
Manta Rota, identificou uma torre vigia de “Hisn-Castalla” e fragmentos de louça vidrada
e grandes jarros com inscrições cúficas. Veiga ainda diz: “A outrora florescente vila de

1
João Baptista da Silva Lopes escreveu o livro “Corografia ou Memoria económica, estadística,
topográfica do Reino do Algarve”.

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Cacela, hoje arrasada a ponto de não se conhecerem os antigos limites da sua


grandeza, foi sucessora de mui anteriores populações, desde tempos remotíssimos,
pois ali se acha largamente caracterizada a civilização neolítica, a romana e a árabe,
como verifiquei, fazendo em vários lugares mui proveitosos reconhecimentos 2.”

Campanhas Arqueológicas em Cacela

Na campanha do ano de 1998, foi descoberto o Bairro Islâmico do Poço Antigo, onde a
cooperação para o desenvolvimento do território se deve ao Parque Natural da Ria
Formosa (PNRF), juntamente com a Câmara Municipal de Vila Real de Santo António
(CMVRSA), o Campo Arqueológico de Mértola (CAM) e a Comissão de Coordenação
da Região do Algarve (Garcia, 2015:28).

A campanha foi realizada em, no total, 45 dias de trabalho, onde foras descobertas
algumas sepulturas medieval-cristãs depositadas sobre as habitações abandonadas do
período Almóada (Garcia, 2015:29). Neste mesmo trecho, Garcia ainda comenta a
denominação de Poço Antigo para o local, devido ao testemunho de um morador que
“narrou a história de um poço existente naquele lugar, que abasteceria a aldeia de água
potável. De tempos a tempos, um menino de barrete encarnado, um mourinho, saía do
poço em corrida desenfreada e, quando era visto pelos habitantes, de imediato voltava
a refugiar-se no poço” (Idem).

Nova campanha, ainda no Poço Antigo, foi realizada em 2001, incluindo também a
parceria do Instituto de Antropologia da Universidade de Coimbra. Realizaram-se duas
fases de 75 dias cada, com o objetivo de atingir o nível islâmico da área.

Três anos depois, seguindo um projeto financiado pela União Europeia3, o Centro de
Informação e Investigação do Património de Cacela (CIIPC) realizou a escavação na
Fortaleza de Cacela. Desta vez com a parceria da Associação Portuguesa dos Amigos
dos Castelos. Nesta altura, foram deixados à mostra os muros do período islâmico e
troços de muralha de tipologia construtiva variada.

Em 2007, novos trabalhos foram realizados no Largo da Fortaleza. Em três meses de


trabalho, foram descobertos os silos, mas sem conseguir chegar ao fundo das
estruturas, que estavam preenchidas de entulho medieval. Ainda em 2004 e até 2009,

2
Citação da Carta de Estácio da Veiga retirada da tese de doutoramento de Cristina Garcia, p.20.
3
Projecto Castrum - Salvaguarda e Valorização dos Castelos, do programa MEDDOC III-B.

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a muralha islâmica pode ser confirmada devido a sondagens realizadas pela empresa
Palimpsesto.

Os estudos foram então continuados por Cristina Garcia, em sua tese de doutoramento,
onde faz a compilação, análise e interpretação histórico-arqueológica de Cacela na
Idade Média.

Os vestígios islâmicos

No Algarve, no âmbito do povoamento islâmico, o primeiro projeto de investigação


arqueológica foi realizado em 1971, por José Luis de Matos, que descobriu, entre outros
achados, um forno cerâmico islâmico em Cerro da Vila, Loulé. Vestígios islâmicos foram
registrados nos estudos de Helena Catarino em Alcoutim, Loulé e Paderne, e durante
as campanhas de escavações.

Daquilo que se sabe hoje, é que Cacela-a-Velha compõe-se de uma fortaleza e uma
igreja com a casa do pároco e campos semiabandonados. Mas as fontes históricas
contam uma história diferente daquilo que se vê, fala-se de um castelo medieval forte e
bem povoado à beira-mar.

Quanto aos vestígios islâmicos encontrados até o momento, durante as campanhas de


escavações realizadas entre 1998 e 2014, é possível afirmar a existência do bairro
islâmico no Poço Antigo. No Largo da Fortaleza, foram descobertos silos cheios de
entulho medieval e a muralha islâmica.

3. Os achados do Largo da Fortaleza

O conjunto de cerâmicas deste estudo foi retirado do silo n°7, que foi escavado
integralmente e estava localizado no Largo da Fortaleza de Cacela, durante as
sondagens realizadas nas campanhas de 2004 e 2007. Foram os trabalhos
arqueológicos que permitiriam a identificação do nível de ocupação e abandono da
época Almóada, referidamente da segunda metade do século XII e primeira metade do
século XIII d.C. (Garcia, 2016:109).

Os silos em geral tinham a boca estreita e o corpo de forma cilíndrica ou troncocônica,


e tinham todas as características necessárias para abrir os cereais da humidade. E o
silo 7 (S7) seguia esta mesma forma. Com diâmetro que variava de 185 – 277cm e

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345cm de profundidade, preenchido de terra castanha siltosa e materiais pétreos, uma


das suas unidades estratigráficas (ue) foi selada com uma camada de cal de cerca de
5cm de espessura. Na ue58 – onde foi encontrado o fragmento de talha, havia uma
quantidade significativa de carvão, malacofauna diversificada e materiais de construção.

Devido a profundidade do S7, foi feito um escoramento interno com tábuas e cabos de
aço, para permitir o prosseguimento da escavação neste silo até o fundo da estrutura e
garantir a segurança do técnico.

Após o abandono dos silos de Cacela, estes foram utilizados como contentores de lixo,
recebendo restos de construções, revestimentos, recipientes cerâmicos, objectos de
ferro e osso, e despejos domésticos como cinzas e restos alimentares. Daí a variedade
de materiais encontrados nos silos. Mas pelos materiais pertencerem, de forma geral,
ao mesmo período final da época Almóada, é provável que a utilização destes silos
como contentores de lixo tenha sido por um curto período.

Garcia (2016:134) ainda afirma que em muitos dos sítios arqueológicos do Período
Islâmico do Algarve, foram encontrados silos com estruturas semelhantes ao de Cacela,
e que muitas vezes podem ser confundidos com fossas e poços negros.

Das demais unidades estratigráficas dos materiais aqui estudados pode se dizer que: a
ue29, de onde foi retirado o perfil do púcaro, uma das peças a serem aqui analisadas,
era de terra castanhas arenosas com muitos materiais cerâmicos, faunísticos e
malacológicos. A ue39, onde foi encontrado o jarrinho, apresentava as terras castanhas
siltosas (Garcia, 2016:136).

As Cerâmicas do Largo da Fortaleza

Foram recolhidas um total de 8369 peças cerâmicas no Largo da Fortaleza, onde muitos
fragmentos pertenciam à mesma peça (Garcia, 2016:142). O espólio das louças de
cozinha inclui 311 fragmentos, com evidências de panelas, caçoilas, malgas e
alguidares. Foram identificados 194 fragmentos de louça de mesa e 83 de recipientes
de armazenamento e transporte, sendo que os cântaros eram utilizados para o
transporte de água dentro das habitações. O percentual de cerâmica representativa de
contentores de lume, tampas e talhas é baixo, não chegando a atingir os 5% (Garcia,
2016:144).

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Dos exemplares que mais se destacavam do espólio cerâmico, segundo Garcia


(2016,144) estão um fragmento de bordo espessado quadrangular, de colo troncocónico
invertido decorado com caneluras e estampilhado geométrico; pequeno fragmento de
telha estampilhado com figura amendoada; e um cantil de pasta bege com revestimento
de engobe branco e vestígios de pintura a negro.

As Panelas, de pasta alaranjada e superfície alisada com colo variado, têm exemplos
das três variantes identificadas no Poço Antigo. Apresentavam aguadas brancas ou
cinza, pinturas de cor branca, caneluras ou linhas incisas. Das caçoilas, parte da
amostra tinha pasta alaranjada, superfície alisada, linhas incisas ou de cor branca, mas
a maioria das caçoilas correspondia a variante 2 de forma carenada (Garcia, 2016:147).
Tigelas de pasta alaranjada ou tons claros e vidrados verde e melado. Duas Malgas
foram identificadas na amostra, as malgas seriam utilizadas como recipiente de
aquecimento e ingestão de alimentos, em dimensões variadas. Para além disto, jarras,
potes, cântaros, fragmentos de alguidar que finalizam as amostras de Louça de mesa
do Largo da Fortaleza (Garcia, 2016:148).

Ainda quatro miniaturas foram achadas: miniatura de jarra de pasta alaranjada clara e
pintura branca, outra de superfície alisada; miniatura de jarro de pasta e engobe
brancos, com pingos de vidrado verde; e um recipiente de essências aromáticas de
pasta alaranjada clara e engobe branco (Garcia, 2016:159).

Além do conjunto cerâmico de grande diversidade, durante as escavações do Largo da


Fortaleza também foram encontrados materiais de ambiente marinho e lagunar,
predominantemente berbigão (Cerastoderma edule), da conquilha (Donax trunculus) e
da ostra (Ostrea edulis). A recolha destes materiais sugere que estes moluscos
integravam a alimentação quotidiana dos habitantes do castelo de Cacela, e o acesso
à captura de mariscos e à zona lagunar do delta do Guadiana era facilitado (Garcia,
2016:142).

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4. Análise e conservação preventiva do conjunto cerâmico


4.1. Formas

Dentre o material recuperado das escavações, muitos deles estão relacionados


diretamente com a alimentação dos indivíduos de uma comunidade. Peças cerâmicas
de diversas formas e processos de fabricação que, hoje, nos permitem entender um
pouco de como os alimentos eram preparados e consumidos. A bibliografia mostra que
estas peças encontradas em Cacela fazem parte de um modelo de fabrico muito
semelhante e característico dos finais do século XII, encontrado no Algarve, Alentejo e
fronteiras hispânicas.

A coleção aqui analisada compreende 11 peças cerâmicas encontradas no Largo da


Fortaleza de Cacela-a-Velha, durante os trabalhos de escavação de 2007. As variantes
formais identificadas no bairro do Poço Antigo encontravam-se representadas no Largo
da Fortaleza. O relato descritivo de cada uma delas, o tipo de tratamento que foi
realizado em cada peça, e a correspondência destas com outras similares no mesmo
sítio e em outros sítios arqueológicos do Algarve.

Como referido anteriormente, a classificação desta coleção seguiu o modelo utilizado


na coleção do Poço Antigo de Cacela, apresentada na tese de doutoramento da Doutora
Cristina Teté Garcia (2015). A escolha deste modelo foi feita a fim de manter a
uniformidade na classificação das tipologias da cerâmica islâmica de Cacela. Para a
análise e conhecimento da cerâmica medieval, tipologia funcional, formal e processos
de fabrico, foi seguido o estudo do trabalho da orientadora Doutora Susana Gómez
Martinez. Para este trabalho foi então adotada a seguinte classificação:

1 Recipientes de Armazenamento e transporte: 1.1 Talha

2 Louça de Cozinha: 2.1 Panela

2.2 Caçoila

2.3 Malga

3 Louça de Mesa: 3.1 Tigela e tigelinha

3.2 Jarra e jarrinha

3.3 Jarro e púcaro

4 Contentores de lume: 4.1 Candeia

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1. Recipientes de Armazenamento e transporte

1.1 Talha

Talha é definida como uma forma fechada de grandes dimensões, de altura superior a
50 centímetros (Bugalhão et al. 2010). Rosselló-Bordoy (1991;162) traduz a definição
como “Contenedor grande, o muy grande generalmente de difícil manejo, aunque su
transporte pueda llevarse a cabo con la ayuda de alforjas acopladas a una caballería.
Nombre árabe JÂBÎYA.”

Dentro dos achados cerâmicos do silo 7, foi selecionado um fragmento de talha com o
número de inventário CV/FC/07[S5]1097. Sua espessura varia entre 13-23mm, o que
enquadra o fragmento dentro da variante 2, da matriz de classificação da cerâmica
islâmica de Cacela, definida por Cristina Garcia (2015; 251), sendo ela vidrada verde de
decoração estampilhada, com motivos vegetais e geométricos.

O fragmento em estudo da coleção de Cacela apresenta a pasta clara interna e


externamente, e pasta de cor rosada ao centro. Possui elementos não plásticos
pequenos e em quantidade abundante, sendo entre eles facilmente identificado xisto e
quartzo. Fabricado em um torno lento, com um processo de cozedura oxidante, e
apresenta claras marcas de degradação. O acabamento exterior é vidrado na cor verde,
com estampilhado de motivos fitomórficos. Já o engobo do interior tem a cor rosada. O
fragmento de talha pode ser enquadrado como pertencendo ao final do século XII e
início do século XIII.

Em Cacela-a-Velha, na área do Cemitério Antigo, foi encontrado um fragmento parecido,


também em pasta branca vidrada de verde e estampilhada. Este com decoração
requintada com representação da planta de lotus simulando movimento. Garcia ainda
afirma que fragmentos semelhantes foram descobertos em Algeciras e paralelo com um
exemplar de Silves. Foram encontrados paralelos deste fragmento, com a face externa
vidrada verde e decorada, em Tavira (Maia, 2012:49); e na Cerca do Convento de Loulé
(Luzia, 2003: 51-53).

O achado passou apenas por um processo de limpeza com água para tirar sujidades
remanescentes.

16
Estudos de Conservação de um Conjunto Cerâmico de Época Almóada de Cacela-a-Velha

Figura 1 Fragmento de Talha CV/FC/07[S5]1097. Fotografia / Desenho técnico

2.Louça de Cozinha

Dentro das escavações arqueológicas do período medieval, a presença da louça de


cozinha nos ajuda a perceber os usos e hábitos alimentares desses recipientes de uso
doméstico no al-Andalus. Estas peças iam ao fogo para cozinhar os alimentos, seja no
lume de chão ou utilizando um fogareiro.

Aqui neste estudo as caçoilas e panelas são as representantes da louça de cozinha do


período Almóada de Cacela.

2.1 Panela

Do árabe Burma ou Qidr, as panelas apresentam paredes altas, asas e boca fechada.
Eram utilizadas para cozinhar alimentos de forma lenta e prolongada, sobre fogo lento
de brasas, nomeadamente a confecção de guisados e sopas: Contenedor aplicable al
fuego para guisos con abundante líquido, ebulliciones a fuego vivo etc. Tiene paredes
altas y boca no excesivamente amplia (forma cerrada) asas o muñones de prensión.
Nombre árabe BURMA, QIDR. (Rosselló-Bordoy, 1991:168).

Duas outras definições são relevantes de serem mencionadas, a definição da matriz do


CIGA que diz que uma panela é uma forma fechada, de corpo globular e colo
diferenciado, uma ou duas asas, e boca de tamanho médio, que pode ser facilmente

17
Estudos de Conservação de um Conjunto Cerâmico de Época Almóada de Cacela-a-Velha

tapada. Costuma apresentar marcas de fogo. E a definição de Matos: Panela são


vasilhas de pança globular e boca larga, de uma ou duas asas, destinadas a cozinhar
alimentos.4

Exemplos de panelas são comumente encontrados em casas islâmicas de diversos


sítios, e eram de utilização muito frequente, portanto é possível dizer que era um tipo de
recipiente substituído continuamente.

Na coleção deste estudo, são apresentados dois exemplares de panelas. O primeiro


exemplar tem a ficha n°4, e de inventário CV/FC/07/833, se enquadra dentro da Variante
2 da matriz de Cacela, feita por Garcia. Sendo ela especificada como uma panela de
colo troncónico e lábio triangular5. O bordo de um dos fragmentos que foi encontrado
em melhor estado, é vertical e apresenta o lábio afilado, com boca circular de
aproximadamente 27,24mm de diâmetro e colo troncónico. O diâmetro do seu corpo
globular seria em torno de 210mm. De pasta alaranjada de textura compacta, apresenta
um número pequeno de elementos não plásticos nomeadamente quartzo, mas que não
são muito frequentes. Nenhum destes fragmentos apresentam pintura ou
ornamentação, apenas marcas do torno. Apesar de não ter sido encontrada asa deste
conjunto, os fragmentos apresentam indicativos de que haveria uma asa com arranque
no bordo de 44,76mm de diâmetro.

Esta panela foi entregue ao Gabinete de Arqueologia da Universidade do Algarve já com


alguma intervenção realizada previamente, nomeadamente alguns fragmentos já
colados. Foi então feita a limpeza superficial da peça, e a colagem de outros fragmentos.
Mesmo assim, o conjunto não teve todos os fragmentos reagrupados.

Semelhante a uma panela encontrada no Poço Antigo, também em Cacela, que Garcia
(2015:266) utiliza como exemplo para a variante 2, cronologicamente, essa variante de
panela se enquadra entre os finais do século XII e início do século XIII. Tem como
correspondência as panelas do Tipo 7A de Mértola (Gomez, 2004:325) e em Tavira
(Maia, 2012:99).

4
José Luís de Matos, em Cerâmica Muçulmana do Cerro da Vila. In A Cerâmica Medieval do
Mediterrâneo Ocidental. Pp. 430.
5
Garcia (2015:264) ainda cita que esta variante equivale à tipologia V da matriz de Cádiz, e aos
tipos I e III de Santa Maria de Niebla.

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Estudos de Conservação de um Conjunto Cerâmico de Época Almóada de Cacela-a-Velha

Figura 2 Bordo de Panela CV/FC/07/833. Fotografia / Desenho técnico

O segundo exemplar de panela CV/FC/07[S5]838 tem a ficha de inventário n°03. Possui


a boca circular e o colo troncocônico curvo, de pasta pouco compacta alaranjada e o
seu centro de coloração cinzenta acastanhada.

Dos seus 10 fragmentos, apenas de três deles foram possíveis de se encontrar o


encaixe. Eles todos passaram pelo processo de limpeza com água para levar as
sujidades superficiais e marcas de calcário. Depois os fragmentos foram deixados a
secar por dois dias para, só então, serem coladas as partes com um adesivo epoxídico
de endurecimento rápido. Com o pequeno número de fragmentos colados, não foi
possível fazer o desenho completo da peça, sendo assim não se conseguiu enquadrá-
la dentro das variantes da matriz de Cacela. Devido à forma, a decoração existente na
peça é discutida no capítulo 5.2 que trata exclusivamente das ornamentações presentes
nos achados.

Figura 3 Fragmentos Panela CV/FC/07[S5]838. Fotografia / Desenho Técnico.

19
Estudos de Conservação de um Conjunto Cerâmico de Época Almóada de Cacela-a-Velha

2.2 Caçoila e Malgas

Segundo Rosselló-Bordoy (1991:169), uma Caçoila é um Contenedor aplicable al fuego


para guisos com poco líquido, ebulliciones a fuego lento. Paredes bajas y boca amplia
(forma abierta) asas o muñones de prensión. Nome árabe QAS’A, ṬÂẎIN étimo del
menorquín TIÀ. Concordando com a definição do grupo CIGA que diz da caçoila como
uma forma aberta, de corpo mais largo do que alto, de tendência cilíndrica ou em tronco
de cone invertido. [A cerâmica] Costuma apresentar marcas de fogo (Bugalhão et al.,
2010: 460) 6.

Eram nestes recipientes que, além das panelas, se cozinhavam os alimentos que não
precisassem de muito tempo de fervura. Principalmente receitas de fogo lento, como
peixes e ovos, a principal característica das caçoilas é que a sua técnica e morfologia
eram adequadas à função de serem levadas direto ao fogo (Gómez, 2004:469). A
propósito de estudo aqui são apresentados 3 exemplos de caçoilas e malgas, todos
recolhidos do Largo da Fortaleza durante a campanha de escavação em 2007.

O primeiro exemplar é a caçoila CV/FC/07[31]458, com a ficha de inventário n° 11.


Possui as paredes mais finas do que as outras duas e com acabamento mais delicado.
De pasta vermelha e com caneluras, tem um diâmetro de 282mm e pode ser relacionada
com outros exemplos da variante 4 da Matriz de Classificação de Cacela (Garcia
2015:217). Tem o corpo de forma hemisférica, troncocônica e de fundo convexo. A peça
apresenta no seu interior material de coloração preta, que parecem ser restos de uma
pasta queimada apegadas à pasta. A parte externa da peça apresenta sinais de fogo e
uso intensivo.

Assim como aconteceu com outros exemplos desta coleção, alguns dos fragmentos já
haviam sido colados com cola UHU por parte da empresa que fez as escavações
arqueológicas na altura, quando foram entregues, conforme Fig 18 que mostra a coleção
quando chegaram ao Gabinete de Arqueologia. Sendo assim, os fragmentos foram
lavados com água, e com o auxílio de um bisturi, foi retirado excessos de cola visíveis

6
José Luís de Matos, em seu artigo sobre as Cerâmica Muçulmana do Cerro da Vila. In A
Cerâmica Medieval do Mediterrâneo Ocidental (p.437), fala da diferença entra a caçoila e uma
tigela como sendo o interior da sua forma aberta não ser em calote esférica, mas se vê a clara
distinção entre bojo e colo, sendo aquele dividido ao meio por uma ligeira carena.

20
Estudos de Conservação de um Conjunto Cerâmico de Época Almóada de Cacela-a-Velha

nas fraturas coladas. Um pequeno número de fragmentos foi colado novamente,


utilizando o mesmo tipo de adesivo.

Paralelos podem ser traçados com exemplares que foram encontrados na Cerca do
Convento de Loulé (Luzia, 2003:21) e em Tavira (Maia, 2012: 78).

Figura 4 Caçoila CV/FC/07[31]458. Fotografia / Desenho Técnico.

Os próximos dois exemplares entram em conflito quanto à terminologia. Seguindo as


matrizes de classificação das cerâmicas do Campo de Mértola e do grupo CIGA,
(Gómez, 2004:469; Bugalhão, 2010:469), essas duas peças são classificadas como
Caçoila, devido sua forma, função e dimensões. Já a matriz de classificação da
Cerâmica Islâmica de Cacela-a-Velha, reconhece as formas de recipientes de forma
semiesférica, fundo plano ou convexo, alisamento das superfícies e marcas de uso
intenso de fogo nas paredes exteriores como MALGA7. Porém, o termo malga tem como
origem a palavra “malagua”, e era usado para designar imitações da cerâmica de
Mélaga dos séculos XIV e XV, segundo Gómez8, na altura estas peças eram
consideradas como peças de luxo e, portanto, a utilização do termo Malga estaria

7
Cristina Garcia justifica a utilização do termo Malga como recipientes que “Recordam as
tradicionais malgas, de uso individual ou colectivo, que no século XX ainda eram largamente
utilizadas no mundo rural. Por isso, estas peças islâmicas foram denominadas malgas e incluídas
no trem de cozinha. De facto, a forma latina do termo “malga” tem derivados em várias línguas
românicas, podendo este termo ser antigo, anterior ao século XIII. Da mesma forma, Catarino
(1997-98: 758), tinha integrado as malgas na cerâmica de cozinha” (Garcia, 2015:46).
8
Informações obtidas durante aulas e orientações com a orientadora deste trabalho Susana
Gómez Martinez.

21
Estudos de Conservação de um Conjunto Cerâmico de Época Almóada de Cacela-a-Velha

incorrecto. Neste estudo, estes dois exemplares serão tratados como Malga, já que sua
proveniência é do sítio arqueológico de Cacela-a-Velha, desta forma mantém-se a
uniformidade na classificação da Matriz de Classificação das Cerâmicas Islâmicas de
Cacela.

As fichas de inventário n° 1 e 2 são referentes à Malga CV/FC/07[S5]876. Recebe duas


fichas pelo fato de o material estar separado em 2 sacos dentro do mesmo conjunto. A
peça apresenta forma aberta com 272mm de diâmetro e aproximadamente 90mm de
altura. Composta de uma pasta de cor alaranjada de textura pouco compacta,
apresentando elementos não plásticos de tamanho médio e pouco frequentes, como
calcário e xisto. Feita em torno rápido e de acabamento alisado, esta caçoila apresenta
marcas de fogo no seu exterior, indicando que o objecto foi mesmo utilizado ao fogo, e
o seu interior indicativo de decoração bege no fundo.

Esta malga pode ser enquadrada na variante 2 da Matriz de Classificação das


Cerâmicas Islâmicas de Cacela (Garcia, 2015:280). São exemplares com tratamento
muito simples das superfícies, de pasta vermelha não vidrada. Em Tavira, um exemplar
classificado como Tigela, do século XI d.C. tem a forma similar a esta malga. (Maia,
2012:78).

Figura 5 Malga CV/FC/07[S5]876. Fotografia / Desenho Técnico.

O segundo exemplar de malga deste estudo é um conjunto de fragmentos que foi


inventariado com dois números diferentes pela CMVRSA. Sendo assim, foram feitas

22
Estudos de Conservação de um Conjunto Cerâmico de Época Almóada de Cacela-a-Velha

duas fichas de inventário idênticas para este conjunto, por se tratar da mesma peça.
CV/FC/07S5]555 e CV/FC/07S5]870 é mais um exemplo da variante 2 das malgas de
Cacela (Garcia, 2015:280).

São 11 fragmentos, que não se encaixavam por completo. Receberam o tratamento de


limpeza das sujidades com água e ácido para tirar os vestígios de calcário, e secagem.
Para o procedimento da colagem, após encontrar e selecionar os fragmentos que se
encaixavam, a colagem foi feita utilizando adesivo epoxídico de endurecimento rápido.

Figura 6 Malga CV/FC/07S5]870. Fotografia / Desenho Técnico.

3.Louça de Mesa

3.1 Tigela e tigelinha

Pode ser denominada tigela um recipiente de mesa destinado a conter comida sólida ou
semilíquida9. Apesar das características que Garcia (2015:297) coloca para a tipologia
de taça serem muito semelhantes às encontradas nestes fragmentos, não se tem
informações o suficiente dentro da Matriz de Classificação da Cerâmica Islâmica de
Cacela a respeito das taças. Sendo assim, para fins deste estudo, será utilizado o termo
Tigela para a peça CV/FC/07[S5]1098.

Faz parte desta coleção o bordo de tigela CV/FC/07[S5]1098. O fragmento de cerâmica


vidrada, possui bordo vertical com lábio quadrangular, a pasta de tonalidade bege e de
textura compacta apresenta elementos não plásticos pequenos como xisto e quartzo. O

9
José Luís de Matos, em Cerâmica Muçulmana do Cerro da Vila. In A Cerâmica Medieval do
Mediterrâneo Ocidental. Pp.436.

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Estudos de Conservação de um Conjunto Cerâmico de Época Almóada de Cacela-a-Velha

acabamento vidrado da peça mostra uma cor verde no seu exterior com incisões de
diversos traços. O que caracteriza o fragmento como tigela é a sua forma aberta de
corpo semiesférico e diâmetro da boca de 244mm (superior a 150 mm como indica o
CIGA).

Este formato e dimensões só foram possíveis de descobrir após a reconstituição da


peça feita de forma gráfica através de desenho técnico. Por ser somente um fragmento
aproveitável para esta reconstituição, não foi possível o trabalho de restauro. Apenas a
limpeza do material com água, para retirar pequenas sujidades.

Foram encontrados exemplos desta tigela em Mértola, na Alcáçova do Castelo, datada


entre os séculos XI-XII d.C. (1987:418), e outra também com decoração incisa, mas
inserida entre os séculos XII e XIII d.C. (Torres, 2001:156)

Figura 7 Bordo de tigela CV/FC/07[S5]1098. Fotografia / Desenho Técnico.

3.2 Jarra e jarrinha

Jarrinha é o diminutivo da palavra Jarra10, são recipientes utilizados para conter


alimentos líquidos ou semilíquidos, mas que se não destinavam a cozinhar alimentos 11.
Bordoy traduz para o árabe SURAYBA ou BARRADA, aquilo que é: Basicamente útil

10
A matriz do grupo CIGA traz uma jarra como sendo um Objecto de forma fechada,
tamanho médio, corpo de tendência globular, colo e boca relativamente largos e duas
ou mais asas. (Bugalhão et al., 2010:10).
11
José Luís de Matos, em Cerâmica Muçulmana do Cerro da Vila. In A Cerâmica Medieval do
Mediterrâneo Ocidental. Pp 432.

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Estudos de Conservação de um Conjunto Cerâmico de Época Almóada de Cacela-a-Velha

para beber las de boca ancha; para escanciar líquidos, las de cuello alto, com o sin pico.
Rosselló-Bordoy (1991:165).

Uma das peças que chama mais atenção dentro do conjunto, seria a jarrinha
CV/FC/07/S5/1043. Uma peça em pasta clara rosada, com cerca de 4mm de altura, e
diâmetro do corpo de 148mm. De espessura fina, a jarrinha apresenta incisões
decorativas horizontais em todo o seu exterior, podendo assim se encaixar na variante
3 da matriz de Cacela, que são Jarrinhas de pastas claras e paredes finas. Têm bordo
vertical ligeiramente introvertido, colo cilíndrico, corpo de forma globular, pé anelar e
engobo branco na superfície exterior (Garcia, 2015:291). Na peça nota-se a presença
de 4 arranques de asas que saem do colo e para o corpo da jarrinha. Internamente nota-
se que existia antes um filtro também cerâmico, comprovado pelas marcas existentes
no interior do colo. Porém, os demais exemplos de jarrinhas pertencentes à variante 3
não enquadram as duas principais características dela: o colo alto e o número de asas
superior a 2.

Sendo assim, a considerar que dentro dos exemplos da matriz de Cacela, não foi citado
nenhum exemplo que se assemelhe ao desta coleção, é sugiro a inserção de mais uma
variante à matriz de Cacela. Nomeadamente a Variante 6: sendo ela Jarrinhas de pasta
clara e paredes finas, engobo branco, colo alto, corpo bitroncocónico e 4 asas. Exemplar
de jarrinha semelhante foi inventariado em Mértola, tipo 3E (Gómez Martinez,
2004:385).

O conjunto de fragmentos foi lavado com água para retirar as sujidades superficiais.
Após a secagem do material, foi feito o trabalho de encontrar os fragmentos que se
encaixavam para tentar completar a jarrinha. Os fragmentos que tinham encaixe foram
primeiramente postos juntos com uma fita cola de papel, e depois colados utilizando
adesivo epoxídico de secagem rápida. Apesar da peça não estar completa, e alguns
fragmentos ficarem de fora, com o trabalho que realiado, é possível um melhor
entendimento da peça como um todo, como costumava ser.

Um paralelo próximo pode ser traçado dentro do campo de Cacela com esta jarrinha,
porém é um exemplar de pote de pasta alaranjada, da variante 2 e que foi encontrado
no Poço Antigo, ele possui esta mesma característica de ter 4 asas. (Garcia, 2015:254)

Exemplar parecido, de passa clara, caneluras e 4 asas, foi encontrado na Alcáçova do


Castelo de Mértola (Torres, 2001:148), em Tavira, no Parque de Festas (Maia,

25
Estudos de Conservação de um Conjunto Cerâmico de Época Almóada de Cacela-a-Velha

2012:103), no Castelo de Silves (Gomes, Rosa Valera, 1991:40012). Porém estes dois
exemplos não apresentam o colo alto, como o exemplar deste estudo.

Figura 8 Jarrinha CV/FC/07/S5/1043. Fotografia / Desenho Técnico.

Figura 9 Interior da jarrinha CV/FC/07/S5/1043 com destaque às marcas do filtro.

12
Gomes, Rosa Varela – Cerâmicas Almóadas do Castelo de Silves in. Actas do IV Congresso
Internacional “A Cerâmica medieval no Mediterrâneo Ocidental”.

26
Estudos de Conservação de um Conjunto Cerâmico de Época Almóada de Cacela-a-Velha

3.3 Jarro e púcaro

Um jarro apresenta a forma fechada, de tamanho médio, de corpo globular com uma
única asa. O Jarrinho CV/FC/07[S6]831 que possui cerca de 134mm de altura, feito de
cerâmica com pasta alaranjada, apresenta elementos como xisto, calcário e quartzo
com um tamanho e frequência médias, provavelmente fabricado com um torno rápido.
O seu exterior é decorado com traços horizontais de pintura branca, na parte globular,
muito característico do período, e marcas de desenhos geométricos e restos de pintura
também branca no colo. A peça ainda apresenta indicativos de que haveria duas asas,
devido a presença do arranque de uma das asas, e a outra mostra uma falha na pintura
onde provavelmente a outra asa estaria colada. Apresenta marcas de fogo no seu
exterior, indicando uso intenso. Dentro da Matriz de Classificação de Cacela, este
jarrinho pode ser enquadrado na Variante 2.

Jarrinho semelhante foi encontrado no Castelo de Mértola, datado entre os séculos X-


XI d.C. (Torres, 2001:118-119); em Tavira, porém classificado como panela, também do
séc. XI d.C. (Maia, 2012:62); em Loulé, na cerca do Convento, do séc. XI-XII d.C. (Luzia,
2003:36). Em Mértola, esse jarrinho entra dentro do tipo 1B de jarrinhas (Gómez,
2004:379).

Figura 10 Jarrinho CV/FC/07[S6]831. Fotografia / Desenho Técnico.

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Estudos de Conservação de um Conjunto Cerâmico de Época Almóada de Cacela-a-Velha

Este pequeno púcaro CV/FC/07/S5[29]363 com cerca de 9,6cm de altura, possui o colo
cilíndrico reto e uma forma globular do bojo, de pasta alaranjada com o centro dela
castanho, apresenta uma textura compacta e pequenos elementos não plásticos como
xisto, calcário e quartzo.

Foram encontrados alguns fragmentos que permitiram a reconstituição do perfil quase


completo deste objecto. Nele consegue-se analisar bem a espessura fina da pasta, de
1-16mm, o fato de ter sido encontrado uma asa não descarta a possibilidade de terem
existido duas asas na sua constituição original. O exterior do objecto apresenta incisões
circulares por toda a peça, provavelmente feita em um torno, e resquícios de pintura
branca na parte inicial do bojo.

Figura 11 Púcaro CV/FC/07/S5[29]363. Fotografia / Desenho Técnico.

4. Contentores de lume

4.1 Candeia

Dentre os objectos contentores de lume, o exemplo de número de inventário


CV/FC/07/S5/1039 faz parte da variante 2, dentro da Matriz de Cacela escrita por Garcia
(2015:298), sendo assim, é denominada como uma Candeia. Durante o período
Almóada, as candeias foram gradualmente substituindo os candis almorávidas. José

28
Estudos de Conservação de um Conjunto Cerâmico de Época Almóada de Cacela-a-Velha

Luís de Matos13 em seu artigo exemplifique peças com o mesmo formato, e os denomine
como Candis - Lâmpadas de iluminação que funcionavam com azeite ou gordura. Para
Rosselló-Bordoy “Candil: elemento portátil o fijo para iluminación doméstica. A los tipos
habituales reseñados en otras ocasiones hay que añadir el receptáculo córnico
localizado en al-Zahra que formaría parte de una lámpara con múltiples cazoletas,
receptáculos de aceite y los candiles de suspensión (…). Nombre árabe QANDÎL,
MISBÂH.” (Rosselló-Bordoy,1991:177)

Esta candeia, provavelmente dos finais do século XII, início do XIII, de câmara aberta e
bico saliente levemente boleado, tem aproximadamente 100mm de comprimento e
35mm de altura até o final da sua asa, que sai do interior da peça. Apresenta uma pasta
cinzenta e compacta, bastante deteriorada com marcas de uso intenso de fogo, foi
fabricada manualmente e possui acabamento vidrado bicromado, com as cores branca
e bege por toda a peça.

O tratamento desta peça foi muito simples. Os dois fragmentos foram primeiramente
limpos com água, para eliminar pequenas sujidades ainda restantes. Após a secagem
do material, foi utilizado o adesivo UHU para a colagem dos fragmentos.

Outros exemplos desta forma de candeia podem ser encontrados em diversos sítios do
al-Andalus a partir da segunda metade do século XII. Em Tavira, estão expostas no
Palácio da Galeria, exemplos de candeias muito próximos a este de Cacela. Também
dos finais do século XII e com a asa saindo do interior (Maia, 2012:110), em Loulé, na
Cerca do Convento (Luzia, 2003:58), na Alcáçova do Castelo de Mértola elas estão
datadas como da primeira metade do século XIII (Torres, 2001:160).

13
José Luís de Matos, em Cerâmica Muçulmana do Cerro da Vila. In A Cerâmica Medieval do
Mediterrâneo Ocidental. Pp. 436

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Estudos de Conservação de um Conjunto Cerâmico de Época Almóada de Cacela-a-Velha

Figura 12 Candeia de mão CV/FC/07/S5/1039. Fotografia / Desenho técnico

4.2 Ornamentação

O estudo da Ornamentação é de fundamental importância para o entendimento da


produção cultural de um grupo humano, a forma de se expressar, as técnicas e
ideologias de uma cultura são manifestadas na linguagem ornamental. E essa
linguagem é carregada de simbolismos que fazem com que essas manifestações sejam
muito mais do que somente expressão da beleza. A terminologia de ORNAMENTAÇÃO
é, desta forma, definida pelo sentido que se emprega às técnicas, pois o termo
DECORAÇÃO seria muito mais correcto de se usar ao se referir na expressão de arte
apenas pela estética dos elementos.

Igualmente acontece com a ornamentação das cerâmicas. É a expressão de uma


cultura e o entendimento desta forma de se expressar ajuda a melhor percepção do
grupo que consome e produz estas cerâmicas. Portanto as cerâmicas apresentam
técnicas e desenhos de acordo com a suas crenças, de acordo com a sua vivência, e
com as trocas culturais que esses povos faziam no seu tempo.

Goméz (2004:518) ensina que para o estudo das ornamentações deve se fazer a análise
de três níveis básicos: A técnica utilizada para a execução, a associação da forma e
ornamentação e a iconografia representada.

A função da peça condiciona o local onde vai ser colocada a ornamentação e esta deve
se adequar à forma onde vai ser aplicada, não somente à técnica utilizada. Através da
associação entre forma e ornamentação consegue-se entender os tipos de produção. É
comum encontrar mais de uma técnica associadas.

30
Estudos de Conservação de um Conjunto Cerâmico de Época Almóada de Cacela-a-Velha

Incisão

É uma das técnicas mais simples. É necessário pressionar um objecto com ponta sobre
a peça modelada crua, ainda sem ter sido cozida. A mais comum é feita com uma ponta
mais grossa, linhas horizontais são feitas ao tornear a peça. Mas ainda podem ser feitos
linhas onduladas ou pequenos traços oblíquos. Outra forma de utilizar esta técnica é
com um pente, assim pode se realizar várias linhas perfeitamente paralelas. É muito
frequente encontrar a incisão associada a outros tipos de ornamentação, como um
complemento a aplicações plásticas, pintura ou vidrado (Gómez, 2004:523). Os motivos
de incisão baixa coberta, são muito frequentes na época Almóada, associadas a tigelas,
taças, jarras e jarros.

Dentro da coleção aqui estudada, é possível encontrar incisão de linhas horizontais na


panela CV/FC/07/S5/838, no púcaro CV/FC/07/S5[29]363, Jarrinha CV/FC/07/S5/1043
e na caçoila CV/FC/S5[31]458. O exemplo de incisão baixa e com motivos fitomórficos
é visto na taça CV/FC/07[58]1098.

No Largo da Fortaleza, foi encontrada uma tampa com ornamentação semelhante à da


taça CV/FC/07[58]1098, com linhas incisas desenhadas e o mesmo tipo de vidrado em
tom verde (Garcia, 2016:155), como se pode ver na Fig.31. Em Tavira foi encontrado
um fragmento de tampa decoradas com motivos semelhantes, também vidrada em
verde (Maia, 2012: 94).

Estampilhado

A técnica no estampilhado é essencialmente a impressão de um motivo ornamental


sobre o barro fresco, através de uma matriz com o negativo. Muitas vezes este
procedimento era facilitado utilizando sobre a peça já modelada, uma camada de argila
semilíquida, para que a superfície onde se aplica o motivo estivesse homogênea e lisa
(Gómez, 2004:525). Gomez ainda afirma que estas matrizes poderiam ser feitas de
madeira e, a partir do modelo, outras iguais em cerâmica. Este processo do
estampilhado poderia também ser complementado com outras técnicas como incisões
ou cordões digitados.

Esta técnica era muito comum em taças, tigelas, talhas e em pias de abluções. Estas
peças de tamanho maior, de parede mais grossa, recebem a aplicação de motivos

31
Estudos de Conservação de um Conjunto Cerâmico de Época Almóada de Cacela-a-Velha

igualmente maiores. Em Mértola, os exemplos de pia de ablução foram identificados


aquelas com motivos fitomórficos em forma de rosa (Gómez, 2004:527).

Este tipo de ornamentação foi uma técnica altamente difundida no al-Andalus a partir do
século XII (Gómez, 2004:530), e é considerado um dos aspectos gerais do período
africano Almóada. Uma grande variedade de formas e técnicas e motivos ornamentais
que foram difundidos geograficamente, e que caracterizam como a cerâmica andaluz
elevou o seu grau de padronização (Gómez, 2004:532).

O fragmento de talha CV/FC/07[S5]1097 é o único exemplo desta coleção de


ornamentação feita com estampilhado, e tem como complemento o acabamento vidrado
verde. É possível identificar dois elementos: fitomórficos, a folhagem é representada
através das linhas laterais; e o elemento geométrico, como um X representado na parte
central da impressão. Esse motivo pode se encaixar dentro do programa decorativo de
Torremocha (2002:66) como Vegetação estilizada, onde o tema é tratado como uma
tipologia vegetal, de morfologia muito complexa e estilização excessiva. Pode ainda ser
interpretada como a representação da “Árvore da Vida”, devido aos elementos foliáceos
e tendência a geometrização.

Quanto à ornamentação, verificou-se que até o momento não foi inventariado nenhum
exemplo em Cacela que se possa fazer paralelo com este fragmento. Alguns elementos
fitomórficos parecidos foram encontrados em talhas em Algeciras, porém já na segunda
metade do século XIII (Torremocha, 2002:64,103).

Pintura

A técnica da pintura na ornamentação cerâmica é feita com a aplicação de uma solução


mineral sobre a peça ainda sem ter sido cozida, com um pincel ou outra ferramenta
semelhante. As substâncias minerais se fixam na superfície da cerâmica através da
cozedura e esta solução ganha cor. Para a execução desta técnica, o tipo de
pigmentação utilizado é semelhante a das soluções de barro aplicada ao engobo, o que
levou a grande parte dos ceramistas portugueses a utilizar o termo engobo para
denominar a pintura (Gómez, 2004: 554). Entretanto, a aguada de engobo acaba por
ser muito mais tênue do que a pintura, e é aplicada através da imersão de toda a peça,
não com um pincel. Pode variar de acordo com a intenção ornamental a ser executada.

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Estudos de Conservação de um Conjunto Cerâmico de Época Almóada de Cacela-a-Velha

Gómez (2004:554) define que ornamentação de pintura pode ser feita de três modos
distintos, segundo as cores que aparecem, incluindo o fundo: monocromia, bicromia e
policromia. Sendo a pintura monocromada aquela em que aparece somente uma cor
em todo o objecto, implica na aplicação de um único tom. A policromia seria a aplicação
de duas ou mais cores diferentes sobre o fundo da pasta da peça.

A pintura bicromada consiste na aplicação de motivos de uma cor diferente ao da pasta


da peça, que atua como fundo. Em algumas ocasiões, não se trata da cor da pasta
propriamente, e sim da fina camada de engobo alaranjado que se aplica previamente
nas peças. A pintura bicromada pode ser associada a outras técnicas ornamentais.

No sudoeste Peninsular a coloração branca é aplicada com muita frequência sobre as


cerâmicas de fundo alaranjado, avermelhado, castanhos e acinzentados. No Ocidente
pode ser encontrada a pintura de cor vermelha, produzida quando se aplica uma solução
que contenha óxido ferro sobre um fundo claro (branca, bege ou alaranjado claro). O
vermelho vinho pode ser obtido com a utilização do óxido de manganês em algumas
atmosferas de cozedura com fogo muito alto. Podem ser encontrados com frequência
também a pintura preta de óxido de manganês sobre um fundo claro de pastas
avermelhadas ou beges (Gómez, 2004: 555).

O tipo de pintura encontrada nas peças deste estudo é a branca, muito utilizada no
ocidente do al-Andalus e que surgiu em Portugal aos finais do século I d.C. A técnica foi
encontrada em Conimbriga em alguns pratos e tigelas. Esta coloração era obtida com a
aplicação de uma solução calcárea sobre a superfície alisada, ou sobre uma película de
engobo em alguns casos14 (Gómez, 2004:556).

Vários tipos de composições e motivos ornamentais podem ser distinguidos nas


pinturas, mas por regra geral as formas não são distintas umas das outras. Para
distingui-las o primeiro passo a ser dado é identificar a forma dos traços de pinceladas
mais finas, médias e os traços mais espessos. De forma geral, os traços finos e médios
de pintura branca são os mais antigos, enquanto os traços mais grossos podem ser
associados, mas não exclusivamente, ao mundo Almóada. Frequentemente
encontrados grupos de 3 traços (Gómez, 2004:557).

14
Gómez ainda cita que o oleiro de uma localidade onubense de Cortegana Francisco Ramos
Vázquez, utiliza silicato de magnésio para fabricar o branco, e utilizada o termo TALCO para tal
(Gómez, 2004:556).

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Em Cacela, a pintura bicromada foi encontrada em larga escala, em diversos tipos de


peças diferentes. Os exemplos são a panela CV/FC/07[S5]838 (Fig. 24), que apresenta
um conjunto de traços de espessura média em sequência, e ainda um conjunto de traços
paralelos, porém irregulares, nesta peça também é possível identificar linhas horizontais
incisas por toda a peça15; e o jarrinho CV/FC/07[S6]831 (Fig. 10) com os três traços de
espessura média ao redor de toda a peça. Este exemplo de pintura bicromada com três
traços brancos é o mais frequente, e pode ser encontrado em Mértola exemplo
CR/PT/0025 (Gómez, 2004: fig. 89), em panela, púcaros e jarrinhos em Tavira (Maia,
2012:60-63), e em jarrinhas na cerca do convento em Loulé (Luzia, 2003:35-36).
Vestígios de pintura branca também foi identificado no púcaro CV/FC/07/S5[29]363.

Vidrado Monocromático

Segundo Gómez (2004:570), a técnica do vidrado se define pela aplicação de uma capa
de vidro sobre um objecto de cerâmica, e a origem desta técnica seria no Oriente
Próximo, que a utiliza desde o ano 2.000 antes de Cristo, mas de uma maneira mais
restrita e de caráter suntuoso. Vidrados alcalinos são vistos no Egito no séc. IV a.C., e
mais tardiamente os vidrados de chumbo do século III a.C. no Egito de Alexandre. A
cerâmica vidrada chega ao ocidente, muito provavelmente, pela Pérsia, e a grande
inovação do Islão é a generalização do vidrado.

Para executar o vidrado em uma peça cerâmica, deve se aplicar sobre a sua superfície
uma solução de sal e ácido mineral, geralmente utiliza-se o ácido sulfúrico que é obtido
com dificuldade e somente a altas temperaturas. Devido a um grande avanço técnico, o
Islão diminuiu os custos de produção desta substância, massificando a produção do
acabamento vidrado (Gómez, 2004:570).

A forma mais simples é a cobertura transparente que pode ser denominada de verniz
ou cobertura de plumbífera, sendo que o sal atuante no processo de fundição é o
chumbo. O Zarcão, ou álcool de oleiro em espanhol, tradicionalmente é utilizado na
composição de vidrados pelo sulfuro de chumbo, mas isto fazia as peças tóxicas
portanto com o tempo foi sendo substituída por outros produtos químicos. Diferentes

15
Um exemplo próximo desses motivos é um cântaro que foi encontrado em Loulé (Luzia,
2003:56), do século XII/XIII d.C., porém nenhum outro paralelo foi encontrado para esta
decoração.

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tipos de óxidos podem ser utilizados dependendo da cor desejada no produto final da
ornamentação.

Óxidos de ferro produzem vidrados de coloração ocre e castanhos, Óxido de cobalto


produz a cor azul, porém dependendo da densidade e da cozedura podem chegar
resultar em uma coloração preta. Óxido de Manganês são os tons pretos, arroxeados e
pardos, e dependendo do processo de cozedura avermelhados. Óxido de antimônio
produz o amarelo, Cromato de chumbo produz amarelos e laranjas. Por fim, o óxido de
cobre é utilizado para a cor verde se aplicado em conjunto com cozedura oxidante, o
processo de cozedura reduzida transforma o óxido de cobre em tons vermelhos
(Gómez, 2004:571).

A técnica utilizada com mais frequência, então, é o vidrado monocromático, aplicado ao


interior e/ou exterior de um recipiente em forma de uma capa de vidro consistente e, em
geral, semitransparente. O Vidrado de chumbo era obtido com a aplicação de uma
solução de água de chumbo, areia e sal comum bem moídos. Eram aplicados por
submersão ou vertidos sobre a peça antes de ser levada ao forno (Gómez, 2004:573).

A partir da época Almóada são encontrados com mais frequência os vidrados


monocromáticos verdes, que eram usualmente aplicados no exterior dos recipientes por
ser o local mais visível. A intenção da utilização da cor está estreitamente relacionada
com a simbologia que as cores têm no mundo islâmico. A utilização da cor verde acaba,
por fim, simbolizando aquilo que diz o Corão quando descreve jardins de vegetação
frondosa, onde os afortunados iriam repousar sobre colinas verdes (Gómez, 2004:274).

O estampilhado é uma técnica que foi largamente utilizada em talhas e outras peças de
maiores dimensões, e pode ser encontrada em exemplares em Mértola (Torres,
2001:163,), Algecíras (Torremocha, 2002) e em Tavira (Maia, 2012:94).

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Considerações Finais

A presença islâmica em Cacela, assim como em todo Algarve é muito forte, e


comprovada com a descoberta de estruturas de habitações, material de uso diário e
restos de alimentação durante as campanhas de escavações.

Após a análise das peças, foi possível identificar e associas a elas as características da
produção cerâmica do período Almóada. São exemplos dessas características a
utilização do vidrado verde com incisões e nas talhas estampilhadas, o uso da pintura
branca em jarros e panelas, para além das características da forma de cada uma destas
peças.

A divergência na nomenclatura entre Malga e Caçoila é o ponto de maior conflito deste


estudo, novamente o termo Malga é aqui associado à duas peças que são consideradas
Caçoilas pela classificação de cerâmicas do Grupo CIGA e por Susana Gómez
Martínez, porém a escolha de nomear as duas pelas como Malga neste trabalho de
investigação é para manter a mesma classificação já existente em Cacela, criada por
Cristina Garcia em 2016.

Este estudo ainda colabora com a sugestão de criação de uma nova variante para as
Jarrinhas, que pode ser inserida na Matriz de Classificação de Cerâmicas Islâmicas de
Cacela como Variante 6: Jarrinhas de pasta clara e paredes finas, engobo branco, colo
alto, corpo bitroncocónico e 4 asas.

Fazer o restauro completo de todas as 11 peças não seria possível, devido a muitas
delas serem só fragmentos, como é o caso da talha, tigela e as duas panelas. A falta de
partes principais das peças, que demonstrassem como seria a peça no seu total é o
segundo maior motivo para não fazer o trabalho total. O pequeno púcaro recebeu o
trabalho de consolidação pois suas paredes são muito finas, tornando a peça muito
frágil.

O trabalho de investigação das cerâmicas de Cacela foi apenas iniciado, e ainda há


muito o que ser levantado e estudado. Durante as campanhas de escavação de 2018 e
2019 muito material foi descoberto e que podem enriquecer o conjunto de cerâmicas
deste sítio. O estudo intensificado deste material é uma das chaves para entender como
o povoamento islâmico de Cacela se comportava, como se alimentava, e como interagia
com outras comunidades.

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Em conjunto com o trabalho de Camila Silveira, também sobre as cerâmicas de Cacela,


os resultados parciais desta investigação foram apresentados em forma de poster em
Junho deste ano de 2019, na conferência “Storie di Ceramiche 6: Comércio e Consumo”,
em Pisa, Itália; e já teve o resumo aceite para ser apresentado também em forma de
poster em outubro na XII Jornada de Jovens em Investigação Arqueológica - JIA 2019,
em Pontevedra, Espanha.

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Anexos

Imagens

Figura 13 Reconstituição Alcóçava. Fonte Garcia. 2016:189

Figura 14 Largo da Fortaleza. Fonte Garcia. 2016:112

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Figura 15 Silos 3 e 7. Fonte Garcia. 2016:129

Figura 16 Silo 7. Fonte Garcia. 2016:133.

Figura 17 Gráfico de distribuição de amostras cerâmicas do Largo da Fortaleza. Fonte Garcia. 2016:

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Figura 18 Caixa com o material cerâmico a ser estudado ainda nos sacos / retirados dos sacos.

Figura 19 Material a secar após a lavagem.

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Figura 20 Identificação já existente em alguns dos fragmentos. Figura 21 Adesivos utilizados na colagem.

Figura 22 Processo de colagem do Jarrinho CV/FC/07[S6]831.

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Figura 23 Candeia de mão CV/FC/07/S5/1039 antes e depois da colagem..

Figura 24 Fragmentos Panela CV/FC/07[S5]838. Frente e Verso.

Figura 25 Fragmentos da tigela CV/FC/07[S5]1098 antes da lavagem. E a parte interna.

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Figura 26 Detalhe do estampilhado no fragmento de talha CV/FC/07[S5]1097.

Figura 27 Púcaro CV/FC/07/S5[29]363 antes da limpeza e após limpeza e colagem

Figura 28 panela CV/FC/07[S5]838 antes e depois da colagem.

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Figura 29 Malga CV/FC/07[S5]876Antes e depois da colagem

Figura 30 Processo de colagem dos fragmentos jarrinha CV/FC/07/S5/1043

Figura 31 Comparativo da ornamentação tigela CV/FC/07[S5]1098 e uma tampa com incisão semelhante (Garcia,
2016:155)

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Figura 32 Poster apresentado na conferência Storie di Ceramiche 6 em junho/2016.

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Fichas de Inventário

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