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4.5.2. Palácios de Corte em Lisboa................................................................................45
4.5.3. Palácio do Patriarca de Lisboa em Santo Antão do Tojal.....................................51
4.5.4. Palácio Flor de Murta............................................................................................52
4.5.5. Paço da Glória......................................................................................................53
4.6. Colégio do Espírito Santo – Évora...................................................................................53
5. Urbanismo............................................................................................................................... 54
5.1. Aqueduto das Águas Livres.............................................................................................54
5.2. Terramoto de 1755 e a reconstrução de Lisboa..............................................................54
6. Escultura.................................................................................................................................. 56
6.1. António Pinto de Araújo................................................................................................... 56
6.2. Ayres de Carvalho............................................................................................................56
6.3. Machado de Castro..........................................................................................................56
7. Ourivesaria.............................................................................................................................. 61
7.1. Custódia da Bemposta.....................................................................................................61
8. Pintura..................................................................................................................................... 62
8.1. André Gonçalves..............................................................................................................62
8.2. André Reinoso................................................................................................................. 63
8.2.1. Pregação de São Francisco Xavier em Goa.........................................................64
8.2.2. Pintura do Convento dos Capuchos em Sintra.....................................................65
8.2.3. São Vicente...........................................................................................................65
8.3. Avelar Rebelo...................................................................................................................65
8.4. Ayres de Carvalho............................................................................................................66
8.5. Josefa de Óbidos............................................................................................................. 66
8.6. Pedro António Quillard.....................................................................................................67
8.7. Vieira Lusitano................................................................................................................. 67
9. Talha........................................................................................................................................ 70
9.1. Igreja de São Francisco...................................................................................................70
9.2. Igreja de Santa Clara do Porto.........................................................................................71
9.3. São Pedro de Miragaia.................................................................................................... 71
9.4. São Bento da Vitória........................................................................................................ 72
9.5. Capela-mor do Mosteiro de Jesus de Aveiro...................................................................72
9.6. Programa de intervenção na Sé do Porto:.......................................................................72
10.Azulejo..................................................................................................................................... 72
10.1. Igreja de Santa Clara no Porto.........................................................................................73
11.Textos complementares...........................................................................................................73
11.1. Sé Nova de Coimbra........................................................................................................73
1. Contexto histórico-cultural
Alterações religiosas –
Reforma Católica
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Barroco
e
Rococó
Alterações políticas –
centralização do poder
real - Absolutismo
Barroco – inicia-se em Itália ---- finais do século XVI e vai até meados do século XVII ----
Arte da Reforma Católica
Século XVI:
Contexto de crise religiosa ------ rutura religiosa da Europa ---
aparecimento das Igrejas Protestantes – Luterana, Calvinista e
Anglicana
1545-1630 – Concílio de Trento – Contrarreforma e Reforma Católicas –
convocado pelo Papa Paulo III para dar resposta à crise religiosa que se
vivia e reformar a Igreja Católica
Aberto em Dezembro de 1545 – 47
Continua no pontificado de Júlio III – 1551-52
Concluiu-se no pontificado de Pio IV – 1562-63
Reforma Disciplinar
Reforço da autoridade do Papa
Vulgata
Austeridade de costumes
Uso de sinais distintivos – vestes sacerdotais e a tonsura
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Só podem chegar a Bispos sacerdotes
Bispos não podem acumular dioceses e têm que viver na diocese; têm a obrigação
de visitar periodicamente as paróquias e examinar os candidatos ao sacerdócio
Párocos – têm de viver na paróquia; estão obrigados à pregação e à catequização;
estão proibidos de cobrar dinheiro pela administração dos sacramentos
Celibato dos membros do Clero
Criação de Seminários
1542 – Paulo III – restabelecimento do Tribunal da Inquisição – Santo Ofício – entregue aos
Dominicanos
Exerce a sua influência sobretudo em Itália, Espanha e Portugal
Luta contra a heresia protestante, contra o Judaísmo, a bruxaria, a magia, a
poligamia – tudo o que fosse contrário à doutrina e à moral católicas
Companhia de Jesus:
Fundada por Inácio de Loyola – aprovada pela Bula de 1540
Aos 3 votos das outras ordens – Pobreza, Castidade e Obediência aos Superiores –
os Jesuítas acrescentam um quatro – Obediência incondicional ao Papa, de quem
dependem diretamente
Profunda formação teológica e cultural
Funções:
Difusão da Fé
Pregação
Ensino
Ação:
Na Europa
Luta contra a Reforma Protestante – recuperação para a Igreja
Católica de regiões da Europa Central e de Leste – Áustria,
Checoslováquia, Polónia e Sul da Alemanha – que tinham caído sob
influência protestante
Formação da juventude – colégios e universidades
Influência junto aos monarcas europeus – conselheiros e confessores
Fora da Europa – missionação, especialmente na América e na Ásia,
conhecimento e adaptação às culturas locais para evangelizar
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Barroco:
Arte da propaganda ------ adesão pelos sentidos, pela magnificência
Encenação do poder --- criação dos espaços onde decorrem as grandes manifestações
do poder – religioso, político, de corte
Dirige-se aos sentidos ---- pompa teatral, capacidade ilusória, dinâmica das formas -----
objetivo - impressionar
Tendo objetivos iniciais muito precisos – propaganda e encenação do poder religioso católico e
do poder político absoluto – espalhou-se a toda a Europa – mesmo à Europa Protestante –
Alemanha e Inglaterra - e aos países onde não vigorou o Absolutismo – Inglaterra, Holanda
De uma arte com objetivos muito preciso, transforma-se num gosto generalizado e que abrange
todas as manifestações artísticas e todos os aspetos da vida quotidiana – arquitetura, escultura,
pintura, música, teatro, ópera, vestuário, etc.
Poeta espanhol Calderón de la Barca define o barroco como «o teatro do mundo»; «a vida é um
jogo»
Perante Deus Pai, rodeado da sua corte, os homens movem-se com atores; representam a sua
vida num grande palco que é o mundo
Grandes constantes contraditórias
Ser / Parecer deste período
Pompa / Despojamento
Poder / Impotência
Profunda crença religiosa
Perante o príncipe – da igreja ou político – rodeado da sua corte, os homens movem-se com
atores
Autoencenação do príncipe ----- programa político: cerimonial, etiqueta funcionam como reflexo
de uma ordem «instituída por Deus»
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Artes servem para:
Ofuscar, impressionar
Veiculam conteúdos ideológicos
Necessidade de
Teatralidade representação
Cultura festiva
Rococó – 1720 – 1760 ----- nasce em continuidade e oposição ao Barroco. Estilo alegre e
elegante ---- identifica-se com o ambiente de corte
2. Limites cronológicos
O desenvolve-se entre 1580 e 1756. Em 1580, Portugal perde sua autonomia como país,
passando a integrar uma união dinástica com o reino da Espanha. Em 1756 funda-se a Arcádia
Lusitana – uma academia poética -, e tem início um novo estilo: o Arcadismo.
Ao contrário do resto da Europa (onde se vivia um forte sistema político absolutista) o
Barroco português não se inicia em 1600. Portugal encontra-se nesta época em profunda crise
política, económica e de identidade social; provocada principalmente pela perda do trono para
Felipe II de Espanha. A nobreza abandona as cidades, saindo para o campo, levando pequenas
cortes consigo, desta forma tentando preservar a identidade sociocultural portuguesa. Fechados
às influências de Espanha, encontram-se também fechados ao mundo. É nesta época que nasce
a Arquitetura Chã.
O Barroco como estilo arquitetónico exige dinheiro que Portugal não tinha, após a perda
do nordeste do Brasil para os holandeses e a sua independência para a Espanha. A economia
não era sustentável porque grande parte da riqueza nacional baseava-se no ouro e nas pedras
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vindas do Brasil, com as quais se comprava todos os bens de consumo que não eram
produzidos no país. Só no fim do século XVII a crise económica do país melhora.
Na continuação da corrente absolutista vivida já no resto da Europa, D. Pedro II depõe o
irmão D. Afonso VI, alegando-o incapaz de governar e de comandar o reino de Portugal.
3. Princípios orientadores
Retórica ----- princípio básico que constrói um discurso, utilizando os recursos mais adequados
para garantir a adesão de quem o recebe ---- raciocínio, adesão pelos sentidos
Poética Barroca:
Apela à imaginação – a arte não pode demonstrar a Verdade da Fé, mas pode pôr a
imaginação ao seu serviço; há que superar os limites do real --- imaginação como um
dos meios de alcançar a salvação divina
Representação
Impressionar
Comover
Convencer
Objeto de prazer
Jogo de côncavos e convexos ---- criam uma dinâmica de movimento nos edifícios
Jogo de volumes
Jogo de planos
Valorização da ilusão
4. Arquitetura
A arquitetura Barroca em Portugal tem uma situação muito particular e uma periodização
diferente do resto da Europa. É condicionada por diversos fatores políticos, artísticos e
económicos que originam várias fases e diferentes tipos de influências exteriores, resultando
numa mistura original, frequentemente mal compreendida por quem procura ver arte italiana,
mas com formas e carácter próprios.
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Inicia-se numa conjuntura complicada, com o esforço financeiro do reino canalizado para
a guerra de independência, após 60 anos de reis espanhóis (D. Filipe I, II e III).
Outro fator fundamental é a existência da arquitetura Jesuítica, também a chamada
Arquitetura Chã. São edifícios basilicais de nave única, capela-mor profunda, naves laterais
transformadas em capelas interligadas (pequenas portas de comunicação), interior sem
decoração e exterior com portal janelas e muito simples. É um tipo de edifício muito prático,
permitindo ser construído por todo o império com pequenas adaptações, e pronto a receber
decoração.
A talha dourada assume características nacionais e posteriormente "joaninas" devido à
importância e riqueza dos programas decorativos.
A pintura, escultura, artes decorativas e azulejo também atravessam uma época de
grande desenvolvimento.
O barroco na verdade não sente grande falta de edifícios porque permite transformar
através da talha dourada, (pintura, azulejo, etc.) espaços áridos em aparatosos cenários
decorativos. O mesmo se poderia aplicar aos exteriores. Permitem posteriormente aplicar
decoração ou simplesmente construir o mesmo tipo de edifício adaptando a decoração ao gosto
da época e do local. Prático e económico.
4.1. Periodização
Inicia-se numa conjuntura complicada, com o esforço financeiro do reino canalizado para a
guerra de independência, após 60 anos de reis espanhóis (D. Filipe I, II e III).
Em Portugal, a arquitetura barroca durou cerca de dois séculos (finais do século XVII e
século XVIII). Surge em Portugal num período difícil ao nível político, económico e social,
situação que se fez sentir igualmente na cultura e arte. É tempo do domínio filipino, tendo-se,
também, perdido algumas colónias e ainda as guerras da Restauração. É tempo ainda da
pressão exercida pela Inquisição. Contudo, este período conturbado altera-se com os reinados
de D. João V e D. José, pois aumentam as importações de ouro e diamantes, num período
denominado de Absolutismo Régio.
O desenvolve-se entre 1580 e 1756. Em 1580, Portugal perde sua autonomia como país,
passando a integrar uma união dinástica com o reino da Espanha. Em 1756 funda-se a Arcádia
Lusitana – uma academia poética -, e tem início um novo estilo: o Arcadismo.
Após o fim da guerra de restauração da independência e depois da crise de sucessão
entre D. Afonso VI e D. Pedro II, Portugal estava pronto para o grande barroco. Inicia-se de
modo tímido, fugindo aos modelos maneirista, tentando animar e modernizar as novas
construções, recorrendo à planta centrada e a decorações menos austeras, destacando-se a
Igreja de Santa Engrácia em Lisboa, de João Nunes Tinoco e João Antunes. Santa Engrácia é
um edifício imponente, de formas curvas e geométricas, de planta centrada, coroado por uma
imponente cúpula (terminada apenas no século XX), decorado por mármores coloridos e
impondo-se à cidade.
No reinado de D. João V o barroco vive uma época de esplendor e riqueza completamente
novas em Portugal. Apesar de o terramoto de 1755 ter destruído muitos edifícios, o que chegou
aos nossos dias ainda é impressionante. O Paço da Ribeira, a Capela real (destruídos no
terremoto) e o Palácio Nacional de Mafra, são as principais obras do rei. O Aqueduto das Águas
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Livres pretende trazer para Lisboa água numa distância de cerca de 18 quilómetros, merecendo
destaque os troços sobre o vale de Alcântara devido à monumentalidade dos seus arcos
originais e imponência do conjunto. No entanto, um pouco por todo o país são visíveis as marcas
da época e o fausto a que o reino chegou. A talha dourada assume características nacionais e
posteriormente “joaninas” devido à importância e riqueza dos programas decorativos. A pintura,
escultura, artes decorativas e azulejo também atravessam uma época de grande
desenvolvimento.
As várias vertentes da produção artística ao longo do reinado de D. João V receberam a
designação genérica de Barroco Joanino. Contudo, este extenso período de 44 anos, apesar de
se consubstanciar em torno da figura do Magnânimo e da sua política absolutista, não apresenta
uma homogeneidade de correntes artísticas. Nesta classificação abrangente integram-se
diferentes manifestações da arte barroca setecentista.
Caracterizando o reinado de D. João V, podemos afirmar que este foi marcado por um
longo período de paz, após as desgastantes lutas da Restauração. O tempo de D. João V
coincide com o despertar do ciclo económico do ouro e dos diamantes do Brasil, mais-valia
preciosa que incrementará uma renovadora política de mecenato de grandes edificações, quer
de patrocínio da Coroa, quer ainda de iniciativa do Clero e da alta nobreza. Esta opulência e
enriquecimento refletiu-se no aparato e na monumentalidade das obras de arte, concebidas
numa triunfante linguagem barroca.
No campo artístico, a procura de uma encenação grandiloquente do poder foi
acompanhada por uma abertura e pelo estabelecimento de contactos com tratados, obras de
arte e artistas estrangeiros. Isto traduziu-se numa clara influência do Barroco internacional,
sobretudo a partir do segundo quartel do século XVIII, altura em que a severidade característica
do Barroco Nacional vai cedendo lugar à renovada linguagem deste Barroco estrangeirado.
No entanto, a arte portuguesa entra também em contacto com o vocabulário inovador do
rocaille, o que não permite uma clareza absoluta do Barroco durante o período joanino. Esta
coabitação de tendências do Barroco português resultou da influência de sensibilidades diversas.
Itália foi uma dessas influências marcantes, quer pela importação de obras, de gravuras e
tratados, quer ainda pela presença ativa de artistas italianos ou formados em Itália, como foram
os casos de Nicolau Nasoni, Domenico Duprà, Vanvitelli ou João Frederico Ludovice. A
Academia Portuguesa de Roma foi um alfobre de artistas nacionais que colheram as lições do
barroco italiano. A outra vertente marcante no período do barroco joanino proveio da França,
embora a sua maior influência se tenha manifestado no mundo cortesão, ao nível do
comportamento social, do luxo da moda e da etiqueta mundanas. Ainda assim, artistas como
Quillard, Claude Laprade ou Germain deixaram a indelével marca das suas requintadas
produções.
A corrente de renovação assolou todo o país e manifestou-se nas mais diversas
produções artísticas. A arquitetura, a escultura e a pintura, bem assim como as artes decorativas
- mobiliário, ourivesaria e, sobretudo, a talha e o azulejo -, foram incrementadas e
personalizadas por uma vasta plêiade de artistas portugueses e estrangeiros. Este Barroco
Joanino, marcado pela grandeza e ostentação das suas arquiteturas e pelo excesso dinâmico da
turgidez decorativa, manifestou-se nos diversos empreendimentos arquitetónicos do Magnânimo,
destacando-se a Igreja do Menino Deus e a magnífica Capela de S. João Batista de S. Roque,
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ambas em Lisboa, os surpreendentes Clérigos e a Misericórdia do Porto, a riqueza da Biblioteca
Joanina da Universidade de Coimbra e a emblemática e monumental obra do Palácio-Convento
de Mafra.
O triunfo do Barroco Joanino conferiu uma expressiva teatralidade de atitudes e gestos à
escultura em madeira e pedra, enquanto a arte da pintura assimilava o colorido excessivo e a
lição das pinturas em perspetiva e de ilusão, cobrindo os tetos e cúpulas dos templos e palácios
setecentistas. No capítulo das artes decorativas, para além das excelentes obras de ourivesaria
de influência italiana e francesa, uma harmonia em azul, branco e dourado apossou-se da talha
e do azulejo, duas das áreas artísticas que atingiram uma originalidade maior. Os interiores dos
templos religiosos foram inundados por uma dinâmica e excessiva onda dourada de talha,
contrastando harmoniosamente com o azul e branco dos tapetes de azulejaria, revestindo as
paredes com a sua temática de episódios religiosos e profanos.
Não se concretizando especificamente como um estilo artístico, o Barroco Joanino teve o
grande mérito de se abrir às influências das correntes internacionais, amalgamando-as com a
tradição artística das oficinas nacionais e produzindo algumas das mais emblemáticas obras da
arte portuguesa.
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4.3. Principais arquitetos
4.3.1. António Canevari
Antonio Canevari (Roma, 1681 – Nápoles, 1764) foi um arquiteto italiano do período do
barroco.
Canevari tornou-se conhecido em 1703, vencendo o primeiro prémio do concurso de
desenho da Academia de São Lucas. Em 1715 participou, juntamente com Filippo Juvarra,
Nicola Michetti e outros, no concurso para a sacristia da Basílica de São Pedro. Em 1713 foi
admitido na "Congregazione dei Virtuosi" do Panteão e em 1715 na Academia da Arcádia, da
qual em 1723 se tornaria arquiteto oficial, e onde conheceu o rei de Portugal D. João V.
Foi o próprio rei a oferecer à Academia o pequeno jardim no Janículo que Canevari
transformaria no Bosco Parrasio, segundo um pitoresco projeto (análogo ao da escadaria da
Praça de Espanha, realizado apenas em parte e modificado de seguida).
Entre 1727 e 1732 Canevari esteve em Lisboa, onde executou várias obras que ficaram
destruídas com o terramoto de 1755. Nesses anos as suas encomendas romanas (incluindo a de
um cibório para a abadia de Montecassino) foram "herdadas" e levadas em diante pelo colega
Nicola Salvi.
De regresso a Itália, Canevari foi requisitado pelo rei Carlos III de Espanha, que
procurava arquitetos de prestígio para o ambicioso programa de edificações para o Reino de
Nápoles (com ele foram chamados também Luigi Vanvitelli, que desenhou a Reggia di Caserta, e
Ferdinando Fuga).
Obras:
Coimbra: Torre da Universidade de Coimbra
Lisboa: Palácio do Patriarca de Lisboa em Santo Antão do Tojal, Torre do Palácio Real e
trabalhos no Aqueduto das Águas Livres
Em 1729, foram nomeados três homens para a elaboração do plano de construção do
sistema que incluiria a construção de um troço monumental do aqueduto sobre o vale de
Alcântara. Esses três homens eram António Canevari, arquiteto italiano, o Coronel Engenheiro
Manuel da Maia e João Frederico Ludovice, arquiteto alemão, responsável também pelo
Convento de Mafra.
Em 1731, o Alvará Régio do rei D. João V ditou o início do projeto. Um ano depois,
Canevari é afastado da direção do empreendimento, tendo sido substituído por Manuel da Maia.
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presente também noutras igrejas em Portugal e no Brasil colonial. Todas essas igrejas eram
decoradas com painéis de mármore de influência italiana, do século XVIII.
Antunes foi responsável pela Igreja de Bom Jesus de Barcelos, iniciada em 1704. A
planta inovadora desta igreja consiste numa igreja em cruz grega (uma influência de Santa
Engrácia) inserida num hexágono com quatro lados de forma redonda. Outra obra de Antunes no
norte de Portugal foi a renovação da sacristia da Catedral de Braga.
João Antunes também projetou vários retábulos barrocos para as capelas privadas da
nobreza e igrejas como a Igreja de Santo Antão, em Lisboa e a Capela de São Vicente na Sé de
Lisboa (perdida no terramoto de 1755). Outro trabalho notável é o túmulo da Princesa Joana no
Convento de Jesus em Aveiro. Todas estas obras foram feitas de mármore policromado de
influência italiana.
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os seus conhecimentos artísticos, designadamente escultura e arquitectura, alterando o seu
apelido para Ludovici.
Em virtude da sua vasta erudição em diversas ciências, granjeou simpatia entre
os Jesuítas, que, descobrindo o seu invulgar talento, tentaram com que ele ingressasse na
Ordem.
Lograram apenas a sua conversão ao Catolicismo, facto relacionado, sem dúvida, com o
seu casamento em 1700, em Neapel, com a Católica Kiara Agnese Morelli, dona de rara
formosura e dotes morais, filha do industrial de Calçado Francesco Morelli, e de sua mulher
Anna.
Em Itália, Johann, é convidado pelos Jesuítas para trabalhar na igreja de Gesú, na
fundição e cinzelagem da imagem do Santo Ignácio de Loyola, da autoria de los Groos, bem
como noutras alfaias.
Em Roma o seu trabalho foi enaltecido pelos jesuítas, destacando-se de tantos outros
artífices e colaboradores Romanos e Franceses, pelo género e qualidade de trabalho da sua
especialidade.
Depois de ter contraído núpcias com Kiara Agnese, Johann, faz uma visita à sua terra
natal, Schwabisch-Hall, para ver seus familiares e apresentar sua esposa.
Nessa altura questões familiares insuficientemente esclarecidas, motivaram o rompimento
de relações com sua mãe e irmãs, que compartilhavam os mesmos sentimentos. Atribuem à
independência assumida por Johann, em relação ao facto da sua família de S. Hall, ser Luterana
e como tal, não aceitar o seu casamento Católico, enquanto outros conjeturam que tão
desagradável incidente tenha sido ocasionado por questões de partilhas de herança paterna.
Pois todas as propriedades e bens advinham do primeiro casamento de seu pai. E a sua
segunda mulher, mãe do Johann apoderara-se de todos os bens deixando os herdeiros do
primeiro casamento praticamente na miséria. Pois tanto Johann como seus irmãos filhos do
segundo casamento praticamente não tinham direito a nada e Johann teria ficado indignado com
a atitude de sua mãe, tanto assim que mais tarde ignora a parte que lhe coube em testamento.
O que se sabe, porém, é que Johann diz à família que vai para a América e depois desta
data nunca mais dá notícias suas, ou da sua família direta, aos seus familiares.
É ainda no final de 1700, que Johann chega com sua esposa a Lisboa, fixando residência
na Rua dos canos, junto ao colégio de Santo Antão. Ele tem um contrato para trabalhar com os
Jesuítas, durante 7 anos, no Sacrário de Santo Antão, bem como noutras alfaias de igrejas da
mesma Ordem.
Neste contrato, Johann é obrigado a trabalhar em exclusividade para os Jesuítas.
A um de Janeiro de 1701, nasceu em Lisboa o seu primeiro filho, João Pedro Ludovice,
filho de Kiara Agnese Morelli, tendo a mãe falecido deste parto.
A 13 de Setembro desse mesmo ano, é pronunciada uma sentença contra Ludovice, pelo
não cumprimento do contrato de exclusividade para com os Jesuítas.
É então, que o rei D. Pedro II intercede a seu favor, pagando as custas da sentença,
orçadas em 1.012 Reis, e convence os Jesuítas a permitir que Ludovici pudesse fazer uma ou
outra obra do seu mister para algumas Igrejas do Padronado Real, ou até do Paço.
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Este facto revela-nos que, em 1701, já Ludovice se encontrava a trabalhar para o Rei
D.Pedro II.
Dos seus trabalhos em Ourivesaria a grande maioria não está identificado, pois na maior
parte das vezes Ludovice apenas desenha as peças e estas são identificadas apenas pelos
ourives executores, mas não autores das mesmas. Mesmo as peças de ourivesaria que são
atribuídas a Ludovice, não foram executadas pelo próprio e nelas consta a marca do executor.
Das peças atribuídas a sua autoria, constam: O Sacrário de Prata da Igreja de Santo
Antão, a Custódia para a Capela da Bemposta, o Frontal e a Banqueta de prata do Convento do
Carmo, o conjunto das Peanhas da Sé de Coimbra, Alfaias para a Capela Real do Paço da
Ribeira e muito provavelmente alfaias para a Igreja de São Vicente de Fora, Basílica de Mafra, a
Custódia da Sé de Lisboa, Alfaias para a Capela de São João Baptista na Igreja de São Roque
etc. Não nos podemos esquecer que desde 1701 a 1717 vão 16 anos de trabalho praticamente
exclusivo à ourivesaria.
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o Altar-mor da Sé de Évora, o Altar-mor de São Vicente de Fora, o Altar-mor da Igreja de São
Domingos em Lisboa e o seu Pórtico, que pertenceu à Sé Patriarcal, destruída pelo terramoto de
1755 e adaptado a esta pelo arquiteto Carlos Mardel.
Ludovice fez também a Torre de Coimbra e o Pórtico da Biblioteca da Universidade, o
Pórtico da Igreja de Santa Cruz de Coimbra, entre muitas outras obras de extremo relevo.
Para si construiu em Benfica a Quinta de Alfarrobeira, cujas obras ficaram concluídas em
1727, e em cuja capela contraiu segundas núpcias, com D. Anna Maria Verney em 1720. Em
Lisboa, ao cimo da Calçada da Glória, construiu um palácio de cinco pisos e janelas
avarandadas, considerado como um dos mais belos de Lisboa antiga, cuja construção foi
concluída em 1747. Atualmente, este belíssimo edifício corresponde ao Solar do vinho do Porto.
Ludovice participou também na resolução da construção do Aqueduto das águas Livres,
tendo solucionado o problema das canalizações. Estando já este construído, a água não
chegava, ainda assim, a Lisboa, pois os seus construtores tanto engenheiros como arquitetos
não conseguiam dar solução ao problema. É então Ludovice chamado por ordem Real e resolve
o problema da canalização de modo a que a água chegue a Lisboa. Em 1718, já Ludovice, fazia
parte da Mesa da Confraria de São Lucas, e no ano seguinte era seu colaborador Cláudio de
Laprade (1682-1738) na decoração da procissão do Corpo de Deus, em Lisboa.
D. João V concedeu-lhe várias benesses, entre as quais, se destaca a nomeação como
Arquiteto das Obras de São Vicente de Fora, em 1720 e a concessão do Hábito da Ordem de
Cristo, em 1740.
A 28 de Julho de 1720, viúvo de Kiara Agnese, contrai segundas núpcias com D. Anna
Maria Verney, irmã de Luís António Verney. Deste casamento nascem sete filhos, sendo um
deles, o futuro arquiteto José Joaquim Ludovice (1731-1803), autor do risco do Convento do
Espírito Santo, o atual Chiado.
A consagração suprema ser-lhe-ia dada porém, em 1750, por D. José I, que o nomeou
Arquitecto-Mór do Reino, com a patente de Brigadeiro. No decreto de nomeação referem-se os
serviços prestados “ tanto no Reino como fora dele”, pelo que é de presumir que a sua ação se
tenha estendido também ao Brasil.
João Frederico Ludovice, coberto de prestigio e rodeado de grande consideração, faleceu
em Lisboa a 18 de Janeiro de 1752, na Rua Larga de São Roque, onde residia então, e foi
sepultado na Igreja de São Roque como consta na sua certidão de óbito, (numa cripta que existe
na sacristia)
O mesmo Johann Friedrich Ludwig, que se julgava, por parte da sua família Suábia,
emigrado para a América, era considerado desaparecido na sua terra natal, em S. Hall, uma vez
que, após o ano de 1700, não houvera notícias suas.
Depois do falecimento de sua mãe, Elisabetha Rosina, no ano de 1729, os consideráveis
bens da mesma, e por virtude de um vasto testamento ainda hoje depositado no Arquivo de S.
Hall, foi distribuído em partes iguais, entre os filhos, ficando porém o quinhão de João Frederico
Ludovice, de parte sob administração.
Ao fim de 30 anos de ser dado como desaparecido, em 18 de Janeiro de 1734, por
decisão do Conselho de Hall, é considerado como morto, e a sua parte distribuída pelos
restantes irmãos.
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Em 1743, a sua última intervenção foi a Capela de São João Baptista na Igreja de São
Roque, segundo os riscos que enviou para Roma. João Frederico Ludovice altera os riscos de
Luigi Vanvitelli, para a Capela de São João Baptista em São Roque, enviando para Roma os
desenhos com as alterações, uma vez que Vanvitelli se recusava a alterar o projeto inicial. O
projeto definitivo é praticamente da autoria de Ludovice se forem comparados o projeto inicial e
as alterações impostas por Ludovice, segundo a correspondência entre Ludovice e Vanvitelli,
publicada por Sousa Viterbo.
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encheu de riquezas o Artista benemérito, que levantará Portugal na arquitectura e escultura da
prostração vergonhosa em que jaziam, o Arquitecto Ourives, João Federico Ludovici.
Também El-Rei D. José I em Dezembro de 1750, apenas alguns meses depois de empunhar o
cetro, remunerou Ludovici, fazendo-o Arquitecto-Mór do Reino, com Patente, soldo e graduação
de Brigadeiro de Infantaria na primeira Plana da Corte ; e declarando no decreto que lhe fazia
esta mercê ”pela grande capacidade com que servira por tempo de 43 anos ao Senhor Rei D.
João V, desenhando e fazendo modelos com tal acerto que, executados, deixam ver a
magnificência de quem os mandará pôr em execução; e instruindo os operários empregados em
tais obras com tanto zelo que à sua doutrina se deve o grande adiantamento em que se
achavam as Artes “n’ estes Reinos“.
“Esta nomeação feita ao artista octogenário já não era um prémio dos seus serviços. Tinha outra
significação mais nobre e mais elevada. Era o galardão desinteressado concedido ao mérito. Era
a coroação de louros com que o representante coroado de um povo agradecido cingia a fronte
do artista insigne na sua despedida do mundo. Era em fim a luz da glória projetando esplendores
sobre uma campa ainda vazia, e ao mesmo tempo, iluminando o caminho aos novos adeptos
para o Templo das artes”. (Vilhena de Barbosa - Estudos Históricos e Arqueológicos Tomo II)
“Era homem de grande vontade e maior entendimento. Chegou a ser tão estimado de D. João V,
que até lhe baptizou um filho e tratava-o por compadre.” (Visconde de Sanches de Baêna, 1881 -
O Notável Architecto da Basilica Real) (Leopoldo Drummond Ludovice "Apontamentos
genealógicos da família Ludovice", Raízes e Memórias, Associação de Genealogia Portuguesa,
nº 25 Dezembro 2008)
17
De acordo com a pesquisa de Paulo Varela Gomes (1987), terá colaborado, ainda que
episodicamente, nas obras de Santa Engrácia, atribuídas oficialmente ao arquiteto João Antunes
(1643 - 1712), seu discípulo.
Em 1715 foi nomeado um novo arcebispo para Siena, uma figura importante, sobrinho do
Papa Alexandre VII. Os preparativos para a sua receção foram grandes e o Istituto dei Rozzi
escolheu Nasoni para a execução dos trabalhos artísticos. Alguns anos mais tarde, por ocasião
da eleição do novo grão-mestre da Ordem de Malta, Nasoni trabalhou no "Carro de Marte" que
desfilou no cortejo das comemorações. E sempre que participou nestas celebrações, as suas
obras causaram sucesso, quer pela riqueza das decorações, quer pela técnica da construção.
Apesar de ser uma arte breve, não passou despercebida a muitos — entre eles, encontrava-se o
Conde Francisco Picolomini que certamente o teria relatado a António Manuel de Vilhena, o
homem que, passados dois anos, seria grão-mestre da Ordem de Malta.
Nasoni mudou-se de Siena para Roma e, mais tarde, para Malta, onde deu os primeiros
passos em arquitetura. Foi nesta ilha que assinou e pintou um teto no palácio de Valeta, em
1724, obra dirigida ao português D. António Manuel de Vilhena, grão-mestre da Ordem de Malta.
O trabalho terá sido muito apreciado, e o tempo que o artista permaneceu em Malta serviu
também para contactar com diversos fidalgos e importantes personagens ligadas à Igreja
Católica, entre eles Roque Távora e Noronha, irmão do então deão da Sé do Porto D. Jerónimo
18
Távora e Noronha. Foi certamente pela recomendação do seu irmão que o deão da Sé terá
convidado Nicolau Nasoni a deixar a ilha de Malta e partir rumo a uma cidade que, então, se
encontrava em plena revolução artística.
Não é conhecida a data exata em que Nicolau Nasoni chegou à cidade do Porto. Sabe-se
apenas que em Novembro de 1725 iniciou um trabalho de pinturas na Sé do Porto. Na época, a
Sé — um edifício de matriz românica — encontrava-se em profundas remodelações e foi um dos
primeiros edifícios da cidade a sofrer diversas adaptações do estilo barroco. Segundo um
documento redigido entre 1717 e 1741 do Cabido da Sé, em que alude às grandes obras que
mandou executar, encontra-se a seguinte nota:
«Para se fazerem logo com perfeição e acerto todas as obras, e se evitar o perigo de se
desmancharem e fazerem 2ª vez por falta de preverem os erros, vieram não só de Lisboa, mas
de outros reynos, arquitectos e mestres peritos nas artes a que erão respectivas as obras. Veyo
Niculau Nazoni arquitecto, e pintor florentino exercitado em Roma, donde foi chamado a Malta
para pintar o pallacio do Grão M(estre)…»
Os seus trabalhos na Sé duraram vários anos e não sendo o único artista contratado para
as obras de remodelação, tem o privilégio de trabalhar com artistas portugueses famosos na
época, entre os quais se encontram os arquitetos António Pereira e Miguel Francisco da Silva.
Além dos trabalhos decorativos, Nasoni terá ficado encarregue de projetar uma nova fachada
norte para a Sé, a galilé, em estilo barroco no ano de 1736 — a primeira obra de arquitetura
conhecida do artista — e uma pequena fonte adoçada à Casa do Despacho da Sé, o Chafariz de
São Miguel.
A 31 de Julho de 1729 casou-se nesta cidade com uma fidalga napolitana, D. Isabel
Castriotto Riccardi, que viria a falecer um ano mais tarde (1730), muito provavelmente na
sequência de complicações no parto do seu único filho, de nome José, nascido alguns dias
antes, a 8 de Junho. O padrinho de José, um fidalgo portuense, empregou Nasoni na obra da
casa e jardim da Quinta da Prelada. Sob influência deste mesmo fidalgo, em 1731 foi-lhe pedido
um projeto para a Igreja dos Clérigos, que o ocupou durante mais de 30 anos, embora o tenha
feito gratuitamente, e o imortalizou.
Também em 1731 Nicolau Nasoni voltou a casar-se, desta vez com uma portuguesa,
Antónia Mascarenhas Malafaia, da qual teve cinco filhos.
Seguindo o espírito e tradição da Renascença italiana, Nasoni dedicou-se a inúmeros
trabalhos artísticos, desde a pintura à ourivesaria, com singulares tradições no Porto. Contando
com o apoio de ricos mecenas, tornou-se uma espécie de Miguel Ângelo da cidade que, em
pouco tempo, lhe soube reconhecer o devido valor. A partir daí, realizou inúmeros trabalhos no
Porto e um pouco por todo o Norte de Portugal, dos quais se destacam a fachada principal da
Igreja do Senhor Bom Jesus (em Matosinhos), o corpo central do Palácio de Mateus (em Vila
Real), a fachada da Igreja da Misericórdia, o Palácio do Freixo e a Igreja e Torre dos Clérigos
(todos situados na cidade do Porto).
Morreu inexplicavelmente na pobreza a 30 de Agosto de 1773 e foi sepultado
precisamente na cripta da Igreja dos Clérigos.
19
Infelizmente não sobreviveu nenhum retrato deste artista que tanto fez pelo Porto. A fama
de Nasoni é de tal destaque no Porto, que muitos dos seus cidadãos, na ausência de
documentação precisa e provas concretas (e com base em estudos pouco esclarecidos, como os
de Robert C. Smith), lhe atribui sem hesitar a autoria da maioria dos edifícios e esculturas
barrocas da cidade e arredores. Alguns dos seus trabalhos são confundidos com os dos seus
discípulos e vice-versa, pelo que os especialistas em arte ainda hoje têm dificuldade em chegar
em consenso. Os traços mais idênticos e similares da arte de Nasoni encontram-se
essencialmente reconhecidos em pormenores rocaille orgânicos da Igreja dos Clérigos, fachada
da Igreja da Misericórdia e no Palácio do Freixo.
20
1749-1754 (ca.) - Capela da Casa dos Maias, Porto
1750 (ca.) - Reconstrução da Casa de Vandoma, Rua de D. Hugo, Porto
1750 (ca.) - Casa Barroso-Pereira, Porto
1754-1760 (ca.) - Risco para a fachada da Igreja do Carmo (continuada por discípulos),
Porto
1756 -1759 - Igreja da Ordem do Terço, Porto
1757 - Capela de Nossa Senhora do Pinheiro, Porto
1759 - Palácio de Bonjóia, Porto
1760 (ca.) - Risco para as obras de arquitetura e decoração de jardins para a Quinta do
Alão, Matosinhos
1
GOMES, Luís Miguel Martins. Geometria nos traçados urbanos de fundação portuguesa: O Tratado da Ruação de
José Figueiredo Seixas. [S.l.]: Instituto Universitário de Lisboa, 2007, p. 52
2
PEREIRA, José Fernandes. Dicionário de Arte Barroca em Portugal, Lisboa: Editorial Presença, 1989.
21
Garantia da fama pessoal para além da morte inevitável
Cidade barroca
Cidade medieval
Ruas largas e retas
Estreita
Praças amplas
Densamente povoada
Monumentos de grandes proporções
integrados na malha urbana larga
22
características do barroco italiano com o que se produzia em território português. Destacam-se,
então, como exemplos no Porto:
Igreja de Bom Jesus de Matosinhos;
Igreja da Misericórdia;
Paço Episcopal;
Loggia da Sé;
Igreja e Torre dos Clérigos.
23
Ricamente decoradas no interior
Exemplos:
Igreja do Colégio dos Órfãos
Igreja da Ordem Terceira de São Francisco
Igreja da Ordem Terceira de São Domingos – esquema mais elaborado –
desenhada em 1833 – fachada com grande carga decorativa – elementos
formais e elementos decorativos barrocos
Igreja Paroquial de S. Nicolau – 2 pilastras que dividem a fachada em três
partes – a central e duas laterais muito estreitas
3
Mísula – ornato saliente de uma parede para suporte de vasos, etc.
24
Coincide com o período de sede vacante no Bispado do Porto
Governo do Bispado a cargo do Cabido que levou a cabo:
Obras na Sé
Construção do Novo Paço Episcopal
Nova Casa do Cabido
Obras na Sé4:
Introdução do Barroco Romano
A intervenção na Sé vai ser uma escola de influências para toda a arquitetura
civil e religiosa do Porto
Segundo as informações do Tratado de Andrea Pozzo, acabado de ser
publicado – 1699-1710; em 1717 está a ser utilizado nas obras da Sé
Objetivo central – barroquizar toda a Sé
Razões das obras:
Necessidade de restauro
Novo interior
Aberturas de janelas para iluminar o interior
Frontão monumental
Novo portal monumental
Nicho
Galilé monumental transformada em fachada principal da Sé 5– com toda a
teatralidade e movimento das fachadas barrocas:
Grandes janelões
Escadas com lanços diferentes permitindo diversas movimentações
Pórtico monumental
Obras no interior:
Rasgam-se janelas
Abrem-se altares laterais e os retábulos adossados às colunas são
desviados para as paredes laterais
Todo o interior da Sé é revestido com uma caixa de estuque que cobre a
pedra da construção
Pilastras e frontões em estuque – depois pintado ou que recebem uma
cobertura em talha
Retábulos em talha
O transepto tinha um retábulo maneirista em pedra que, na intervenção
barroca, é copiado para ser colocado na frente
Claustro:
Revestido a azulejo
Conjunto de portadas
Escada com lanços convergentes e divergentes em vários patamares
Intervêm na obra:
4
Restauro dos anos 30-40 – tentativa de regresso ao original medieval que, no entanto, destrói alguns elementos
barrocos mas deixa outros.
5
É hoje a porta lateral da Sé
25
João Pereira dos Santos
António Pereira – mestre de estuque e arquiteto
Miguel Francisco da Silva – entalhador e arquiteto
António Vital
Exemplos:
Convento das Carmelitas Descalças
Igreja dos Clérigos:
Praticamente não existe espaço vazio
Elipse – forma típica do interior sacro barroco
Conjunto do edifício – igreja, casa de repouso (onde todos os
frontões são diferentes) e torre sineira
Sobrecarga de elementos decorativos – frontões e pilastras ----
traduzem o horror ao vazio
Torre sineira – por trás da capela-mor – consequência da
necessidade de encaixar o conjunto no espaço urbano
Nova fachada da Misericórdia – avançam a fachada em relação à
anterior
São João Novo:
Com um projeto para a igreja
Com um projeto para a fachada
Esquema semelhante à de São Lourenço
6
António Pereira – autor do Palácio Mateus
26
José de Figueiredo Seixas - homem de transição? / Igreja cujo
programa anterior se prolonga e que, na continuação, mudou de
estilo?
Igreja de Nossa Senhora da Lapa – de José de Figueiredo Seixas:
Interior barroco
Frontões, portadas e janelas barrocas
A parte central aponta já o Neoclássico
Parte superior e central – esquema clássico
27
igreja da Misericórdia, onde a disposição dos vãos formava um losango, tal como se verifica
neste templo, situação que denota a importância de elementos historicistas, bastante comum no
contexto da obra arquitetónica de Nicolau Nasoni (SMITH, 1966, p. 117).
No interior, uma cornija sobre as janelas, e rematando as pilastras de ordem toscana que
animam a superfície parietal, percorre todo o espaço da nave, coberta por abóbada de berço.
Para além do coro-alto (cujo perfil e elementos decorativos em pedra constituem um importante
traço do arquiteto italiano), encontram-se ainda várias capelas laterais e a capela-mor, de
alguma profundidade, é aberta lateralmente por portas cujo desenho é, também, atribuído a
Nasoni, exibindo um retábulo de talha dourada de grande imponência.
No contexto da obra de Nasoni, esta igreja insere-se dentro da "tendência à plasticidade e
ao realismo decorativo que aparecera primeiro na fachada dos Clérigos", e que confere a este
alçado uma grande dinâmica e movimento (SMITH, 1966, p. 115). (Rosário Carvalho)7
Cronologia
1724 - Início da construção do Recolhimento de Meninas Órfãs
1731 - Inauguração do Recolhimento das Meninas órfãs, com entrada das 20 primeiras
meninas
1746 - Início da construção da Igreja
1763 - Inauguração da igreja; foi construída no local onde existia um templo que servia os
doentes do Hospital de São Lázaro.1
28
arcos. No pano lateral abre-se fresta de arco quebrado. Fachada lateral com portal de arco
quebrado de várias arquivoltas aberto em gablete e duas frestas maineladas; ao nível da nave
central cinco janelas. O transepto, capela adossada e cabeceira são contrafortados e rasgados
por frestas ou rosácea, na capela. Interior com naves de cinco tramos separados por pilares com
colunas adossadas suportando arcos quebrados chanfrados nas arestas; as janelas implantam-
se sobre os arcos. Coro-alto sobre arco abatido e dois plenos, forrados inferiormente a talha
dourada, e tendo superiormente cadeiral de espaldar decorado com painéis pintados e órgão de
tubos no lado da Epístola. No lado do Evangelho existe no sub-coro capela sepulcral de Luís
Álvares de Sousa. Naves laterais com capelas contendo diferentes retábulos de talha dourada,
interligados por motivos de talha e que, a meio, se espandem para a nave central, onde toda a
estrutura do arco é revestida a talha e encimada por sanefas. No último tramo, dois púlpitos
quadrados com guarda e sanefa de talha. As naves são cobertas por tecto de talha dourada
formando abóbada de arestas com marcação dos tramos e decorada com motivos florais. Nos
braços do transepto dispõem-se, entre os vãos para os absidíolos e abside, retábulos de talha,
estreitos com nichos sobrepostos entre colunas e de frontão triangular interrompido, ligando-se
dois deles ao arco triunfal revestido e encimado por ampla sanefa de talha. A Capela dos
Carneiros no braço S. do transepto com arco pleno decorado por motivos vegetalistas possui
retábulo de talha com painel figurando o baptismo de cristo e abóbada de nervuras. Capela-mor
revestida a talha com paredes ritmadas por colunas. Retábulo magistralmente adaptado às
aberturas dos vãos através de colunas suportando entablamento e sanefas, e com trono central.
Cobertura em abóbada artesonada. Absidíolos abobadados com retábulos de talha. No do lado
da Epístola abre-se arco pleno rendilhado encimado por frontão triangular com o tímpano
decorado dando acesso a capela, onde existem dois túmulos.8
29
pilastras, desenvolvendo-se, em cada pano, uma composição simétrica de vãos alinhados,
compostos por portais, janelões, nichos e janelas fingidas. Apresenta torres sineiras,
desenvolvidas a partir de aletas no segundo registo, dando a ilusão de escalonamento da
fachada, diferindo da solução coimbrã.
Fachadas rebocadas e pintadas de branco, excepto a principal em aparelho regular de
granito e rematadas por cornija de cantaria e beiral. Fachada principal, a NO., simétrica, de 2
registos, separados por entablamento, suportado por pilastras colossais toscanas, duplas nos
extremos, assentes em plintos, que dividem o 1º registo em 5 eixos estreitos; o segundo,
também de 5 eixos, tem os centrais marcados por pilastras colossais, assentes em plintos, com
capitéis jónicos, e os extremos limitados por par de pináculos com bola, sobre plintos, e aletas
que se ligam aos eixos centrais, marcando o arranque das torres sineiras, com panos limitados
por pilastras. Remates em frontões nos eixos centrais, o central recortado encimado por cruz
latina tribolada e os intermédios interrompidos por pináculos piramidais com bola assentes em
urnas estilizadas, e em cornija encimada por pináculos nos ângulos nas torres sineiras. No 1º
registo, eixos extremos, com falso embasamento formado pela união dos plintos das pilastras
através de cornija, de 2 sub-registos separados por estreita cornija. Eixo central com portal de
verga recta, com frontão curvo, enquadrado por colunas com fuste marcado no terço inferior,
com capitéis coríntios, sobre pedestais chanfrados, suportando entablamento com friso decorado
com losangos e óvulos, e frontão interrompido por cartela recortada, com o símbolo dos jesuítas
"IHS", coroada por frontão triangular. Eixos intermédios com porta de verga recta com frontão
triangular, encimada por janelão rectangular gradeado com frontão curvo. Eixos extremos com
almofada rectangular saliente e nicho em arco de volta perfeita encimado por cornija decorada.
No 2º registo, no eixo central, janelão rectangular gradeado com cornija sobrepujada por motivo
concheado e frontão triangular, encimado pela pedra de armas do fundador *2, inserida em
cartela recortada. Eixos intermédios de 2 sub-registos separados por cornija, com nicho de volta
perfeita encimado por vão rectangular com cornija superior, abrindo acima da cobertura. Nos
eixos dos extremos, falso embasamento semelhante ao do 1º registo, de onde arrancam as
torres sineiras de 2 registos separados por cornija, o 1º com janela rectangular e o 2º com 4
ventanas de volta perfeita, assentes em impostas salientes. Fachada lateral esquerda, virada a
NE., com corpo adossado à nave e braço do transepto rasgado janela em meia-lua tripartida
sobre janelas de verga recta. Fachada lateral direita virada a SO., volume adossado à nave,
correspondente a corredor de circulação, rasgado por janelas rectangulares em capialço com
moldura de cantaria e junto ao transepto arco de volta perfeita, também com moldura em
cantaria, onde se abre porta; a este corpo adossa-se alpendre com varanda superior, com
acesso por escadas. Braço do transepto, enquadrado por grandes contrafortes encimados por
pináculos, rasgado superiormente por janela semelhante à da fachada oposta, enquadrando o
lanternim da capela, com remate em empena encimada por cruz latina sobre plinto e pano
enquadrado por pilastras de cantaria encimadas por pináculos. É ladeada por 2 estreitos corpos,
rasgados por janela e óculo. Fachada posterior, rasgada ao nível do cruzeiro por janelões em
capialço.
Interior com coro-alto, capelas laterais com acesso por arco de volta perfeita e coberturas
em abóbada de berço com caixotões, de granito, à excepção de uma em talha dourada, com
decoração fitomórfica policroma, albergando retábulos neoclássicos idênticos. Os arcos de
30
acesso apresentam vestígios de pintura mural fitomórfica policroma. Nas paredes das naves
encontram-se painéis de estuque trabalhado e nas pilastras rasgam-se nichos com imaginária e,
no último pilar e com acesso pelos corredores laterais, púlpitos confrontantes em talha
neoclássica.
No transepto, surge retábulo relicário barroco, profusamente decorado, a envolver a janela
termal que ilumina o espaço, semelhante aos dos topos do transepto da igreja de Coimbra.
Arco triunfal com monumental composição retabular de granito de organização serliana,
com colunas colossais definindo os eixos, em que se integram as pequenas capelas colaterais,
encimadas pelas janelas das tribunas.
Na capela-mor, o túmulo do fundador em mármore suportado por elefantes, de
composição semelhante aos túmulos régios do Mosteiro dos Jerónimos e aos da Capela dos
Castros, em Benfica.
INTERIOR com paredes rebocadas e pintadas de branco e cobertura em abóbada de
berço em granito, com caixotões, assente em cornija, na nave e braços do transepto, com
marcação dos arcos torais na nave e em abóbada de arestas, com medalhão central com o
símbolo "IHS", no cruzeiro. Pavimento em taburnos de madeira com guias de granito na nave e
transepto, e em laje de granito no sub-coro, formando corredor central na nave, nos braços do
transepto, o do Evangelho com pedra tumular. Coro-alto no 1º tramo, assente em três arcos, o
central abatido e os laterais, de menores dimensões, de volta perfeita, sustentados por colunas
com o terço inferior marcado por friso e por modilhões; tem guarda balaustrada e painel central,
decorado com motivos fitomórficos, assente em cornija suportada por modilhões. Na parede
fundeira, cadeiral com espaldar rectangular decorado com festões e motivos fitomórficos. Sub-
coro com paredes em granito aparente e cobertura de madeira, em caixotões, com o portal
protegido por guarda-vento à face, de ferro e vidro, ladeado por 2 grandes pias de água benta,
de mármore branco e rosa, de taça circular, inferiormente gomada, assente em coluna galbada
decorada com acantos, sobre base quadrilobada. Nave ritmada por pilastras de granito,
rasgadas por nichos de volta perfeita, em semi-cúpula concheada, contendo imaginária.
Lateralmente, as capelas laterais, com acesso por arcos de volta perfeita, com pavimento em
laje de granito e coberturas em abóbada de berço, em caixotões, com retábulos de talha,
dedicadas a Santa Rita de Cássia, Senhora das Dores *3 e Nossa Senhora da Conceição no
lado do Evangelho e a Santa Ana, Santa Quitéria e São José no lado da Epístola. Sobre os
arcos das capelas, painéis de estuque branco trabalhado com motivos fitomórficos, o do 1º do
lado do Evangelho tapado por órgão de talha policroma a branco e dourado. Nos últimos pilares,
púlpitos confrontantes, rectangulares, assentes em mísulas, com guarda de talha policroma a
branco e dourado, protegidos por baldaquino de talha idêntica e acesso por porta de verga recta,
protegida por duas folhas de madeira pintada, a partir dos corredores laterais. Braço do
transepto com portas de acesso às sacristias, encimadas por tribunas de verga recta com guarda
de madeira, surgindo, no topo do Evangelho, retábulo de talha dourada, dedicado a Nossa
Senhora da Purificação, com a talha a envolver as janelas termais que o encimam; no topo
oposto, a capela do Santíssimo Sacramento, com acesso por arco de volta perfeita assente em
pilastras toscanas e flanqueado por pilastras dóricas, que sustentam entablamento e frontão
semicircular, encimado por dois anjos e duas figuras femininas deitadas, protegido por teia
balaustrada; o acesso está rodeado por painéis de estuque policromo, com fundo verde e
31
decoração a branco, idênticos aos da nave, e, sobre estes, separados por friso marmoreado, que
se estende para as paredes laterais, painéis em forma de mandorla e janelas com moldura
idêntica ao friso e medalhão ao centro. Arco triunfal e retábulos colaterais marcados por
composição arquitectónica de granito, composta por quatro colunas colossais, com fuste liso
marcado no terço inferior e capitel jónico, assentes em altos plintos e suportando entablamento;
rodeiam capelas pouco profundas marcadas por arcos de volta perfeita, dedicadas ao Senhor
Preso à Coluna do lado do Evangelho e ao Sagrado Coração de Jesus, no oposto, encimados
por nichos em arco de volta perfeita, com imaginária. Ao centro, arco triunfal de volta perfeita,
assente em pilastras toscanas, enquadrado superiormente por estípides com capitéis coríntios,
suportando entablamento, com friso ritmado por mísulas, ladeado por janelas rectangulares e
rematado por frontão curvo interrompido por duas janelas, também rectangulares e tabela
enquadrada por estípides e rematada por frontão recortado, com nicho central, contendo
imaginária. São Lourenço. No 2º registo, nichos, idêntica à da nave, tendo no lado do Evangelho
São Pedro e do lado da Epístola São Paulo. É decorado com acantos, óvulos, cabeças de
pregos, molduras volutadas, decoração geométrica e enrolamentos. Capela-mor com pavimento
em laje de granito e cobertura em abóbada de berço de granito, com caixotões decorados com
cartelas ovais com enrolamentos, assente em entablamento, suportado por pilastras toscanas
com capitéis de inspiração jónica, sobre altos plintos, que dividem as paredes laterais em 3
panos. Capela-mor de dois tramos definidos por pilastras toscanas, o primeiro com painel de
estuque e, no segundo *3, levemente reentrante, tribunas com órgãos mudos, de talha policroma
a branco e dourado, e, no lado do Evangelho, túmulo de mármore do fundador. Sobre
supedâneo com degraus centrais, retábulo-mor de talha policroma a branco e dourado, de planta
contracurvada, de 1 eixo, definido por 6 colunas, a central avançada, com fuste decorado com
espira fitómorfica e marcação do terço inferior onde se desenvolve festão, e capitel compósitos,
assentes em dupla ordem de plintos paralelepipédicos, os superiores das colunas centrais
substituídos por consolas, e encimadas por urnas e estátuas de vulto, representando do lado do
Evangelho a Religião e do lado oposto a Esperança; na base das colunas laterais, mísulas com
imaginária. Ao centro, tribuna de perfil curvo, com cobertura em semicúpula, com trono
eucarístico, coroado por baldaquino, coberto por tela representando "Jesus Cristo a inflamar o
coração de Santo Agostinho"; na base desta, sacrário embutido. Remate em duplo espaldar,
separado por cornija recta, com decoração fitomórfica e festões, o 2º recortado e ladeado por
aletas e putti, tendo, ao centro, águia bicéfala com o brasão dos Agostinhos Descalços. Altar
paralelepipédico com frontal em mármore rosa, branco e preto. Junto ao cruzeiro, mesa de altar
paralelepipédica, de talha dourada, profusamente decorada.
Sacristia nova, barroca, com tecto de caixotões de madeira, silhar de azulejos figurativos
joaninos, lavabo de mármore e arcaz encimado por oratório de estilo nacional de talha em
branco.
Dependências colegiais compostas pela justaposição de diversos corpos, formando dois
pátios interiores, com acesso por portaria que ladeia a igreja, no lado esquerdo. Na fachada
posterior, varanda alpendrada de três registos, suportados por arcarias e colunelos, com tecto de
masseira de madeira, em "saia-camisa". No interior, antiga portaria, com silhar de azulejos
seiscentistas de padrão, e acesso a escadaria por arco ladeado por vãos de verga recta.
Escadaria percorrida por silhar de azulejos seiscentistas de padrão, a partir da qual se acede a
32
longa galeria rasgada numa das paredes por arcos de acesso a pequenos compartimentos. O
corpo em torno do pátio principal é percorrido por corredor de circulação de distribuição para as
diversas salas e quartos.
SEMINÁRIO de planta irregular composta pela articulação de diversos corpos, formando 2 alas,
uma lateral à igreja e outra posterior, a lateral constituída pela articulação de 3 corpos, 2
quadrangulares adossados em eixo, correspondentes a antiga portaria e escadaria principal e
outro, de maiores dimensões, em L invertido que forma junto à fachada lateral da igreja estreito
pátio secundário. A este corpo, já na ala posterior, adossa-se a SE., corpo rectangular, que
forma pátio principal com o corpo em U que se adossa à fachada posterior da igreja. O corpo
rectangular liga-se a outro também rectangular, disposto obliquamente no sentido O.-E., por
outro mais pequeno de planta irregular. Volumes escalonados de dominante horizontal com
coberturas diferenciadas em telhados de 1, 2, 3 e 4 águas. Fachadas rebocadas e pintadas de
branco, rematadas por cornija sob beiral e rasgadas por vãos rectangulares com molduras de
granito, excepto no corpo oblíquo em arco abatido. Fachada principal, a NO., de 2 panos, o da
direita, junto à igreja, correspondente à antiga portaria, com remate em meia empena, com galilé
marcada por arco de volta perfeita, com cobertura em abóbada de granito e portal de verga
recta com frontão curvo e tímpano vazado por janela, ladeado por janelas rectangulares;
superiormente, janelão rectangular com bandeira e óculo. O pano da esquerda encontra-se em
cota superior, junto à escadaria de acesso ao Largo do Colégio, recuado, com empena
escalonada, rasgado por janela geminada, de varandim e moldura simples, encimada por óculo.
Fachada lateral NE., do corpo em L, com remate em empena escalonada no topo de um dos
braços, de 2 registos, o 1º rasgado por janelões cruzetados e portas e o 2º por janelas de
varandim com guarda de ferro, a maioria geminadas; no topo do braço, porta com acesso por
passadiço de granito, encimada por óculo. Fachada lateral SO. de 3 registos, o 1º em granito
aparente com arcaria plena formando galeria, e os superiores com janelões com bandeira,
frestas e janelas de peito. Fachada posterior, a SE., de 2, 3 e 4 registos, no corpo oblíquo
separados por friso de cantaria, rasgados por portas, janelas de peito, algumas com bandeira, e
de varandim. No extremo do pano SO., 2 varandas alpendradas, formando, no piso inferior,
alpendre com acesso por arcaria abatida, a primeira com arcaria de volta perfeita e a segunda
com colunelos sobre plintos, tendo guardas em ferro. Último registo com tecto de masseira de
madeira, em "saia-camisa". O pano NE. tem um registo superior, resultante de um acrescento,
separado por cornija sobre beiral, surgindo, no 1º, portal de verga recta enquadrado por pilastras
toscanas, com aletas e rendilhado, e entablamento encimado por frontão de volutas
interrompido por plinto decorado com motivos fitomórficos, e ladeado por pináculos.
INTERIOR de 2, 3 e 4 pisos, consoante os corpos e a sua implantação no terreno, comunicando
por escadarias. Na ala lateral, encontram-se os dois pisos das dependências do museu, e, nos
superiores, as dependências do seminário. A antiga portaria, actual acesso ao museu, tem
pavimento em laje de granito e cobertura em abóbada de berço, com paredes percorridas por
rodapé de granito e, na parede lateral esquerda, azulejos seiscentistas de padrão, formando
silhar, tendo o acesso protegido por guarda-vento. Na parede testeira, arco em asa de cesto, de
acesso à escadaria principal, ladeado por vãos de verga recta; a escadaria tem 6 lanços com o
1º e 4º braços comuns, com paredes percorridas por silhar de azulejos seiscentistas de padrão,
33
tendo, no 1º patamar, porta para o pátio secundário e, no último, 2 salas de exposição, uma que
liga ao coro-alto através de estreito corredor e outra corresponde a longa galeria que comunica
com outras 2 pequenas salas; apresentam pavimento de soalho e cobertura em abóbada de
berço de granito, a da galeria em tijolo num dos extremos. A galeria é rasgada na parede lateral
por arcos plenos de acesso a pequenos compartimentos com pavimento cerâmico e abóbada de
berço. Nos 2 pisos superiores, localizam-se a actual portaria, a biblioteca, cujo pé-direito ocupa
2 pisos, e salas de aulas. A Biblioteca é percorrida por galeria de madeira com guarda em
balaustrada, suportada por colunas de granito e acesso por escada helicoidal de granito. Na ala
posterior, em redor do pátio principal, nos 2 pisos, desenvolvem-se corredores de distribuição,
com pavimentos em soalho e cobertura em tecto plano no primeiro e abóbada de berço
rebocada suportada por cornija, no segundo. Molduras das portas e janelas em granito, as
últimas com conversadeiras. No 1º piso, comunicante com as sacristias e pátio principal,
localizam-se quartos, salas de trabalho, de restauro, reservas e a antiga adega, transformada
em capela, com pavimento em tijoleira e cobertura em abóbada de berço de granito. No 2º, que
comunica com a varanda alpendrada, a galeria do museu e tribunas da igreja, vários quartos,
duas capelas privadas e refeitório. A capela principal tem acesso nos topos, através de
corredores, com portais flanqueados por pilastras e encimado por vão rectilíneo com moldura
recortada, rematado por frontão interrompido por esfera sobre acrotério; um dos portais tem as
iniciais "AM" e o oposto as insígnias dos jesuítas. Apresenta tecto de madeira e na parede
testeira órgão.9
AUTOR E DATA
Isabel Sereno / João Santos 1994 / Paula Noé 1999 / Patrícia Costa 2005
9
http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=5476
34
Os bens foram incorporados nos Próprios da Fazenda Nacional.
Em meados do séc. XVII a Confraria de Santo António, sediada por favor na Capela de
Santo António Magno ou do Penedo, propriedade do morgado Miguel Brandão da Silva, decidiu
adquirir casa privativa e conseguiu que a Câmara lhes vendesse um terreno perto da Porta dos
Carros, onde erigiram uma pequena capela. Poucos anos depois acordaram com a Câmara lhes
comprasse o terreno, com a condição de lhes construir a capela-mor, o que aconteceu. Porém,
por insistência real e do Bispo do Porto, a capela foi entregue, em 1680, à Congregação da
Regra de S. Filipe de Néri, com a condição de manter Santo António como padroeiro. Estes
terminaram a construção da parte da Igreja ainda inacabada. Tornando-se pequena, a capela foi
demolida em 1694, e em seu lugar erigida uma importante Igreja que, depois de novas
ampliações, é a que podemos apreciar no nosso tempo.
O convento começou a construir-se em 1683.
(Informações retiradas de O Tripeiro, serie V, nº. X de um artigo de Horácio Marçal - 1955)
35
rasgado por um grande janelão semicircular; sobre uma cornija, frontão circular com nicho e
imagem de Nossa Senhora da Vitória. No alinhamento das pilastras, dispõem-se frontal e
superiormente no terceiro registo pináculos. Mais recuada à fachada, organizam-se duas torres
sineiras quadradas, também de cantaria, com duplas pilastras nos cunhais e coroadas por
cúpulas. O edifício conventual, de alvenaria rebocada, com pilastras nos cunhais encimados por
pináculos, possui quatro pisos, rasgados regularmente por janelas, tendo os dois pisos
superiores bandeiras. Interior: galilé com abóbada de tijolo. Nave com seis capelas colaterais
intercomunicantes, de arco pleno, com retábulos de talha e encimadas por tribunas, ambas com
sanefas de talha; cada capela é fechada por balaustrada de jacarandá. Coro-alto com cadeiral
em U, de duas filas e espaldar ricamente decorado com cenas da vida de São Bento. Do lado do
Evangelho, encosta-se-lhe órgão de tubos em talha. No topo da nave, dois púlpitos quadrados
com baldaquino. Os braços do transepto têm no topo retábulos de talha ladeados por portas e
janelas e encimadas por janelão semicircular, todos com sanefas de talha; ladeando o arco
triunfal, capela com retábulo e janela. Nave e transepto coberta por abóbada de canhão em
caixotões e de aresta no cruzeiro. Arco triunfal pleno sobre pilastras sobrepujado por sanefa.
Capela-mor rasgada colateralmente por seis janelas com sanefas de talha encimando cadeiral;
amplo retábulo de talha e cobertura em abóbada de canhão formando caixotões. Ante-sacristia
abobadada, com lambril de azulejos, grande lavatório e várias imagens. Sacristia rectangular
com abóbada de berço, retábulo de talha dourada, contadores embutidos na parede e grande
arcaz. O claustro contíguo à portaria, todo em cantaria, possui dois pisos separados por cornija e
ritmados por duplas pilastras com vãos rectangulares entre elas. Em cada ala, abre-se no 1º piso
três arcos plenos e no 2º janelas de sacada com bandeira, balustrada de cantaria e frontões
triangulares e circular. Sobrepujando as coberturas, bolas sobre plintos no alinhamento das
pilastras e cartelas com enrolamentos ao centro. O outro claustro, de três pisos separados por
frisos, têm apenas duas alas com arcos plenos sobre pilares e janelas de guilhotina nos pisos
superiores.10
36
Nicho
Galilé monumental transformada em fachada principal da Sé 12– com toda a
teatralidade e movimento das fachadas barrocas:
Grandes janelões
Escadas com lanços diferentes permitindo diversas movimentações
Pórtico monumental
Obras no interior:
Rasgam-se janelas
Abrem-se altares laterais e os retábulos adossados às colunas são
desviados para as paredes laterais
Todo o interior da Sé é revestido com uma caixa de estuque que cobre a
pedra da construção
Pilastras e frontões em estuque – depois pintado ou que recebem uma
cobertura em talha
Retábulos em talha
O transepto tinha um retábulo maneirista em pedra que, na intervenção
barroca, é copiado para ser colocado na frente
Claustro:
Revestido a azulejo
Conjunto de portadas
Escada com lanços convergentes e divergentes em vários patamares
Intervêm na obra:
João Pereira dos Santos
António Pereira – mestre de estuque e arquiteto
Miguel Francisco da Silva – entalhador e arquiteto
António Vital
12
É hoje a porta lateral da Sé
37
A documentação subsistente permite-nos acompanhar o andamento dos trabalhos, que
tiveram início em 1732, ou seja, no ano seguinte à aprovação do plano de Nasoni pela
Irmandade dos Clérigos. Esta, existia desde 1707, com sede na Igreja da Misericórdia,
resultando da fusão de três confrarias (ALVES, 1989, p. 122). Nesse ano, era presidente o deão
Jerónimo de Távora e Noronha, protetor de Nasoni, o que terá favorecido a escolha deste
arquiteto. Como responsáveis pela obra encontramos nomes próximos do artista toscano -
António Pereira (responsável pelo traçado de São João Novo e cuja obra se confunde com a de
Nasoni), o entalhador Miguel Francisco da Silva e, por fim, já na última fase, Manuel António de
Sousa.
As obras da igreja foram bastante demoradas (com uma interrupção entre 1734 e 1745).
Neste último ano, foi necessário proceder a uma vistoria dos alicerces da fachada, destruindo-se
o que existia para se levantar de novo, com bases seguras. Por este facto, o templo estaria
totalmente concluído somente em data próxima a 1750, muito embora a escadaria de acesso ao
portal principal remonte aos anos de 1750-53/1754 (e posteriormente alterada em 1827).
Se na fachada observamos uma composição cenográfica (que encobre o corpo da igreja),
que se desenvolve na vertical e tira partido de um amplo leque de elementos decorativos de
cariz tardo-barrocos (comuns à formação pictórica de Nasoni) (SMITH, p. 89), o espaço interior é
marcado pelo desenho elíptico da sua planta, que recorda modelos de arquitetura romana, como
a igreja de Santa Maria in Campitelli, de Carlo Reinaldi (WOHL, 1993; SERRÃO, 2003, p. 268),
ou a igreja de Santiago de Valeta, em Malta (ALVES, 1989, p. 123). Por sua vez, a galeria que
percorre a nave, de origem toscana, constituiu uma novidade na arquitetura do Norte, razão pela
qual foi utilizada como modelo em muitas das igrejas construídas posteriormente (SMITH, 1966,
p. 91). A monumentalidade do espaço interno acentua-se através do retábulo marmóreo
(colorido) da capela-mor, executado entre 1767 e 1780 pelo arquiteto Manuel dos Santos Porto.
As representações das virtudes da Virgem enquadram-se na iconografia da igreja, dedicada,
desde a fundação, a Nossa Senhora da Assunção.
Por sua vez, o projeto da torre e da Casa dos Clérigos é mais tardio, tendo sido aprovado
em 1754. A enfermaria e a secretaria, atrás da igreja, estavam concluídas em 1759, e a Torre,
com os seus 240 degraus e 75 metros de altura, foi terminada entre 1757 e 1763, constituindo a
"síntese do estilo de Nasoni", onde os valores estruturais imperam sobre os decorativos que, no
entanto, se vão intensificando à medida que nos aproximamos do topo da torre (FERREIRA
ALVES, 1989, p. 125). As semelhanças entre esta obra máxima do arquiteto toscano e a Torre
Nueva da Sé aragonesa de Zaragoza, da autoria de Gian Bautista Contini (1641-1722), são
evidentes ao nível da configuração e da linguagem barroco-romana. Ainda que Nicolau Nasoni
possa não ter conhecido esta obra, a proximidade entre ambas "trai o domínio das mesmas
fontes do classicismo romano de Seiscentos" (SERRÃO, 2003, p. 268).
Nesta medida, a igreja e torre dos Clérigos é considerada o ex-libris do Porto, uma das
primeiras igrejas barrocas da cidade ("onde este estilo se apresenta organizado e estruturado
em função da planimetria, do espaço, da decoração e da escala" (FERNANDES, 1995, p. 72)), e
a primeira grande obra de Nasoni, cujas arquiteturas marcaram tão fortemente a paisagem
urbana do Norte do país nas décadas centrais do século XVIII.13
13
(RC) http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-
vias-de-classificacao/geral/view/70401/
38
4.4.9. São João Novo - Porto
Com um projeto para a igreja
Com um projeto para a fachada
Esquema semelhante à de São Lourenço
39
No interior, perde-se a noção longitudinal que o exterior aparentava. A nave octogonal
configura um espaço centralizado, animado por pilastras que conferem ritmo ao conjunto. A
capela-mor, ampliada no decorrer da campanha de obras de meados do século XIX, apresenta
retábulo em talha executado por Miguel Francisco da Silva em 1745, mas sob risco de Nicolau
Nasoni. Aquele entalhador lisboeta seria, mais tarde, responsável pelo grande retábulo da igreja
de São Francisco do Porto. Em Santo Ildefonso o desenho atribuído a Nasoni valoriza motivos
decorativos - flores, grinaldas, festões, anjos - em detrimento dos motivos arquitectónicos
(PEREIRA, 1995, p. 110), antecedendo, de alguma forma, a exuberância da talha e das igrejas
forradas a ouro que caracterizaram a cidade no decorrer do século XVIII.14
40
ordenou a edificação de uma primeira igreja, de reduzidas dimensões, para albergar as relíquias
da santa (GOMES, 2001, p. 235). O Papa concedeu a autorização em 1568, e as obras devem
ter sido logo iniciadas. A exiguidade do primeiro espaço terá levado a que Filipe I e D. Jorge de
Almeida impulsionassem um novo projeto, anterior a 1585 (data da morte do segundo), e
desenhado por Nicolau de Frias, mas, muito possivelmente, apenas iniciado cerca de 1606
(GOMES, 2001, p. 237).
Em 1621 há notícia de outro plano, da autoria de Teodósio de Frias, que deveria acabar a
obra do pai. Contudo, em 1630 ocorreu o célebre roubo do Santíssimo Sacramento, originando a
criação de uma nobre irmandade (Confraria dos Escravos do Santíssimo Sacramento), que
promoveu, nos anos subsequentes, a construção de uma nova capela-mor, como forma de
desagravo. Desenhada por Mateus do Couto, Velho (a primeira pedra foi lançada em 1632),
acabaria por ruir em 1681.
Contudo, e mau grado o investimento efetuado, a Confraria decidiu demolir o templo e
edificar um outro de raiz, com certeza, em maior consonância com os seus objetivos e crenças
políticas e religiosas. João Antunes apresentou a planta em 1683 e a primeira pedra foi lançada
por D. Pedro no ano seguinte. Subsistem, no entanto, outros desenhos de Santa Engrácia,
permanecendo ainda por esclarecer a questão da existência ou não de um concurso. De acordo
com Paulo Varela Gomes (2001, p. 272), o que importa perceber é que todos os arquitetos
concordavam com a proposta de um plano centralizado (com zimbório e torres na fachada). Aqui
podemos adivinhar várias questões: o culminar das experiências centralizadas da corte
brigantina, a omnipresente devoção ao Santíssimo Sacramento (tão cara à Confraria), a
evocação do templo de Jerusalém, a ideia de martyrium ligada ao culto da santa, uma espécie
de fortaleza contra os infiéis (evidente no carácter compacto do templo), e num âmbito político-
religioso, a vitória da corrente integrista e da Inquisição, que ressurgia neste momento, contra a
burguesia cristã-nova (GOMES, p. 271).
No plano da arquitetura, Santa Engrácia segue a proposta, ainda que simplificada, de
Peruzzi (desenhada por Serlio) para São Pedro de Roma (PEREIRA, 1999, p. 40; GOMES,
2001, p. 281), materializando "o melhor da mais erudita leitura portuguesa das correntes
estrangeiras", sem esquecer a lição nacional, bem presente na depuração dos alçados, com
panos quase cegos, ou na importação dos frontões das janelas de São Vicente de Fora. O
ondulamento dos panos murários, a par do estatismo da planta, revela uma interpretação
nacional muito própria que faz deste templo um exemplo quase único no nosso país, fechando
um ciclo mas iniciando um outro, clássico e "congelado", que se ligaria ao aqueduto e, mais
tarde, à baixa pombalina (GOMES, 1988, p.15).15
15
(Rosário Carvalho)
http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-
classificacao/geral/view/71214/
41
A igreja desenvolve-se com grande unidade espacial conseguida quer através da
colocação de altares de talha dourada a cortar os ângulos, quer com o desenvolvimento de um
jogo de luz e cor com mármores policromos embutidos nos panos murários articulados com
composições pictóricas e escultóricas - como por exemplo, a pintura do tecto, obra de parceria
entre Jerónimo da Silva e André Gonçalves, representando a "Ascensão de São Francisco de
Assis com as Virtudes"; e as duas estátuas de mármore representando São Domingos de
Gusmão e São Francisco de Assis, atribuídas a João António Bellini de Pádua.16
42
o seu aspeto exterior muito simples, sem ornamentos. No entanto, quando entramos,
percebemos a riqueza existente.
Igreja
Com uma só nave, está repleta de azulejos holandeses que retratam a vida e visões de
Santa Teresa de Ávila. As pinturas do século XVIII são atribuídas a António Pereira Ravasco e
André Gonçalves. O altar é dedicado a Nossa Senhora da Conceição.
A Capela de Nossa Senhora da Conceição dos Cardais dispõe-se longitudinalmente,
sendo a sua planta composta por dois corpos rectangulares justapostos. Tal como era regra nos
templos dos conventos femininos, a entrada faz-se pela fachada lateral, onde foram rasgadas
duas portas de moldura simples, rematadas por pequenos frontões, que integram nichos com as
imagens de São José e Nossa Senhora da Conceição.
O interior, de nave única, é iluminado por inúmeras janelas rasgadas no remate dos
panos murários, possuindo antecoro, coro alto, coro baixo e sacristia. Contrastando com a
austeridade da estrutura arquitectónica, destaca-se o sumptuoso programa decorativo interior,
de grande impacto cénico.
As paredes laterais da nave são cobertas, até meia altura, por painéis de azulejo azul e
branco de proveniência holandesa, assinados por Jan van Oort de Amsterdão. Os painéis
representam episódios da vida de Santa Teresa de Ávila, reproduzindo gravuras de Adrian
Collaert e Cornelis Galle. Estes são encimados por molduras de talha dourada, de estilo
nacional, onde foram colocadas, no primeiro quartel do século XVIII, telas a óleo; as do lado da
Epístola são atribuídas a António Pereira Ravasco, duas outras, nomeadamente a Anunciação,
terão sido pintadas por André Gonçalves.
O espaço da capela-mor é decorado a toda a volta por embutidos de mármore polícromos, de
gosto florentino, numa magnífica composição, que se atribui ao arquitecto João Antunes. Ao
centro, comporta um retábulo de talha dourada de estilo nacional, edificado pelo entalhador José
Rodrigues Ramalho, onde se destaca a imponência da composição, com sacrário e tribuna e
uma tela amovível, representando a Imaculada Conceição, com a figuração de santos
carmelitas, atribuída a André Gonçalves. Este conjunto assenta sobre o altar de pedra, também
adornado por "embrechados" de mármore.17
43
espantoso portal manuelino da autoria de João de Castilho, séc. XVI, bem como às Capelas das
Relíquias e do Senhor dos Passos, ambas em estilo barroco.
A Sala dos Reis tem painéis de azulejo do séc. XVIII, onde é narrada a lenda da formação
do Mosteiro de Alcobaça. A cozinha monumental, do séc. XVIII, é atravessada por um braço do
rio Alcoa e tem uma enorme chaminé.
44
A imagem de Nossa Senhora das Dores, da autoria de António Pinto de Araújo e não do
P. Martinho Pereira, como se supunha, foi colocada na igreja em 18 de Janeiro de 1761.
Numa das dependências da igreja há a capela da Senhora da Aparecida ou do Monges,
com um retábulo datável de 1761-1766, presumivelmente de André Soares. Com planta em cruz
grega, tem um «fortíssimo e fabuloso lanternim».
Fachada ---- marcada por loggias que abrem para a rua e para os jardins
Palácio:
Cenário do ritual de corte
Cenário da festa
45
Estrutura do século XVI intacta
Alterações decorativas
Não tem escadaria
Definição de torreões – imagem aristocrática – grande aristocracia entra em Lisboa com
a definição da Corte
Palácio:
A palavra vulgariza-se em finais do século XVII e início do XVIII
Ligada à instalação definitiva da corte em Lisboa
Aristocracia – domina o país até à ascensão do marquês de Pombal; desaparece
com a instauração do regime liberal
Realidade construída que se introduz na cidade
Com 4 torres
46
Pátio central
Vários pisos até à definição do piso nobre, marcado por janelas de sacada e frontão liso
Prolongamento para o rio – ancoradouro
Portal
Costa do Castelo
Mesmo modelo adaptado à cidade –
estrutura urbana
Adaptação à cidade
Palácio de D. Fradique
Junto ao castelo
47
Bairro Alto
Pós restauração
Restauração – revolta aristocrática contra a política de centralização do poder do Conde
Duque de Olivares
Restauração = Fronda
Completada com o golpe que impõe D. Pedro – golpe dos aristocratas que impõem o
poder da nobreza de corte
Estética de poder
Palácio da Independência
Conde de Almada
Barroco aristocrático
1712-13 – ainda se construíam de acordo com um
48
barroco aristocrático
Fachada que oculta uma realidade interior manuelina
Palácio Alvor
Palácio do Monteiro-Mor18
1724 – Calçada do Combro
Filippo Juvarra está em Lisboa
Modelo romano
Monteiro-Mor do Reino
Falta metade
Marquês de Anjeja
Desaparecem as sacadas
Quase não há hierarquias de andares
Mantém-se a ideia de torreão
Pátio central fechado de onde partem 3 arcos para um segundo pátio aberto e 2
escadarias romanas simétricas
18
Reconstituições das plantas feitas pelo arquiteto Sequeira Mendes
49
Aumento da casa anterior dando-lhe um novo aspeto
Um outro sentido barroco – importado de Itália – novo sentido do espetáculo
Palácio da Mitra
D. Tomás de Almeida
Escadaria para o rio
1º Cardeal patriarca de Lisboa
Canevarra – escada
Convento do Minoritas
Pampulha
Mandado fazer pela mulher de D. José I
Palácio da Rosa
Largo da Rosa
Morgado de Lourenço
Marquês de Ponte de Lima
50
João Francisco Ludovice
Aspeto de palácio mas é o 1º bloco de apartamentos de Lisboa
Modelo dos prédios da baixa
Fachada barroca
Construído em 1747 – 8 anos antes do Terramoto
2 Andares de sacada
4 Entradas com 4 escadas independentes
Modelo que incorpora os modelos palacianos de decoração urbana
51
urbanismo barroco de sabor romano do Portugal setecentista" (HORTA CORREIA, 1989, p.
509).
As primeiras referências a esta Quinta surgem na documentação do século XIII, com a
designação de Quinta de Pêro Viegas. Não sabemos em que época se construíram a igreja e
palácio, mas em 1554 já necessitavam de obras, que foram realizadas pelo então Bispo de
Lisboa, D. Fernando de Menezes e Vasconcelos, e concluídas por D. Miguel de Castro (CLARA,
p. 20). Como já referimos, a grande intervenção que transformou esta propriedade de cariz rural
em quinta de recreio, ocorreu em 1730, e foi uma iniciativa de D. Tomás de Almeida, que em
1717 havia sido elevado à categoria de Patriarca (e em 1737 à de Cardeal). Santo Antão do
Tojal ficava na estrada que ligava Lisboa a Mafra, pelo que as obras empreendidas tinham, entre
outros objetivos, dotar a antiga propriedade do necessário conforto para acolher o Rei, sempre
que este aqui pretendesse descansar, durante o percurso entre a capital e o novo palácio-
convento.
Assim, ao primitivo palácio de planta em L, foi acrescentado um corpo, que formava um
U, fechado por um muro alto, onde se abre o imponente portão coroado pelas armas dos
Almeidas. No seu interior, as salas do piso nobre são revestidas por painéis de azulejo com
temática muito variada, atribuídos a Bartolomeu Antunes ou a um artista próximo. Por sua vez,
os painéis das escadarias, onde se destacam as figuras de convite, podem ter sido executados
por Nicolau de Freitas.
A antiga igreja, ligada ao palácio, viu o seu espaço interno unificado e revestido por
azulejos e talha dourada, com as armas patriarcais pintadas no teto. Do lado esquerdo ergue-se
a torre, e o terraço a partir do qual D. Tomás de Almeida podia passar do palácio à Sala das
Bênçãos, sempre à vista da população. Esta sala abria-se simultaneamente para a igreja e para
a praça, através de um balcão, à maneira de Mafra ou de São Pedro de Roma (PEREIRA, 1999,
p. 150).
Na fachada italianizante da igreja, com as imagens de São Bruno, Rainha Santa Isabel e
Imaculada Conceição, desembocava a artéria de acesso a Santo Antão. Do lado esquerdo
desenvolvia-se surpreendentemente, a praça, delimitada pelo já referido solar e, ao centro, pelo
novo palácio e fonte, da autoria de Canevari. Este chafariz monumental é uma composição
barroca, antecedida por escadaria e enquadrada pelos braços do palácio, que concentra em si
uma forte carga visual e cenográfica, acentuada pela água, que cai em diversos níveis,
transformando o espaço numa praça verdadeiramente monumental. Esta fonte era abastecida
pelo aqueduto, que trazia água de Pintéus e que havia também sido concebido pelo arquiteto
italiano. Os seus arcos bem visíveis, na última parte do percurso, abasteciam também a
população, através de um outro chafariz, enquadrando-se numa política de melhoria das
condições da população, defendida pelo arcebispo (PEREIRA, 1999, p. 150).
Para além destes elementos, recordemo-nos que faziam ainda parte deste ambicioso
projeto os jardins de recreio, com todo um equipamento próprio da época (bancos, fontes...).19
19
(Rosário Carvalho), http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/
classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/69678/
52
A origem deste palácio tem por base uma casa nobre quinhentista, progressivamente
reedificada ao longo dos séculos XVII e XVIII, nas mãos da família dos Meneses, senhores da
Flor da Murta, facto que lhe imprimiu a sua feição atual, barroca. Apesar de pouco afetado pelo
terramoto de 1755, o edifício acabou por cair em ruína. Alvo de uma intervenção recente de
reconstrução de todo o interior, atualmente mantém apenas a fachada original, à qual foi
acrescentado um piso superior.
53
Humanidades, retiradas de cartões holandeses. Este conjunto, juntamente com os quatro painéis
azulejares de grandes dimensões que forram o cruzeiro octogonal que liga a ala Norte do
claustro a uma outra, desenvolvida no sentido N-S, constitui o mais importante núcleo barroco de
temática profana do Sul do país. A igreja, no topo Norte do claustro, foi dotada, em campanha
também do século XVIII, de magnífica talha joanina, acrescentando riqueza ornamental à
simplicidade da sua estrutura e espacialidade. Em todo o edifício destacam-se igualmente vários
silhares de azulejos quinhentistas (no Refeitório) e seiscentistas (Sala dos Actos, antiga capela
colegial), e exemplares de pintura e estuques ornamentais.
Na fachada Oeste do colégio rasga-se ainda um delicado portal renascença, proveniente
de uma capela da Igreja do Convento de São Domingos, lavrado em torno de 1540; tem sido
atribuída à mão de Nicolau de Chanterenne, com cuja obra apresenta evidentes afinidades
estéticas. Consiste num vão em arco de volta perfeita no interior de uma moldura rectangular,
composta por pilastras com capitéis coríntios e arquivolta sobre a qual se levanta um frontão
com volutas encimado por uma vieira coroada. Nas trompas do arco destacam-se duas
figurinhas de lavrado cuidado, à direita uma efígie feminina, à esquerda uma masculina. SML
5. Urbanismo
5.1. Aqueduto das Águas Livres
Em 12 de Maio de 1731, foi autorizada, por alvará régio de D. João V, a construção do
Aqueduto das Águas Livres. As obras de construção foram iniciadas em Agosto de 1732 e em
1748 o Aqueduto entra em funcionamento, abastecendo de água a cidade de Lisboa. A extensão
do Aqueduto, incluindo todos os seus ramais, é de 58 135 metros.
A arcaria sobre o Vale de Alcântara, constituída por 35 arcos - 14 ogivais e os restantes
em volta perfeita - tem 941 metros de comprimento tendo o maior arco 65 metros de altura por
29 metros de largura. Retirado do sistema de abastecimento em 1967, o Aqueduto é não só um
dos "ex-libris" de Lisboa, mas também uma das mais notáveis obras de sempre da engenharia
hidráulica.
O Aqueduto das Águas Livres, para além de servir para a passagem da água que abastecia
Lisboa, constituía um ponto de acesso à cidade. No cimo dos seus arcos estendem-se dois
passeios, que na zona do Vale de Alcântara eram conhecidos pelo "passeio dos arcos" e
serviam de passagem a hortelões, lavadeiras e todos aqueles que se deslocavam da zona saloia
para o centro da cidade.
Mas Portugal tinha muitos bons técnicos e reflexão teórica sobre a cidade, quer
ao nível da planificação quer através da reflexão mais prática.
54
4 de Dezembro de 1755:
Estava a ser entregue ao Duque de Lafões (que tinha então 80 anos) um
memorial de Manuel da Maia, engenheiro militar, que tratava de questões ao
nível do urbanismo, da arquitetura e da higiene
Memorial que aponta vias práticas para recuperar Lisboa
Propõe retratar a cidade
É aprovado o projeto de Eugénio dos Santos (incarna as ideias de Manuel da
Maia) ----- propõe uma malha urbana simétrica, coerente, que demonstra a
perfeição da forma, a disciplina de composição
Terreiro do Paço:
Espaço de memória
Espaço de legitimação do poder ---- prestígio da tradição
Encenação da ideia de poder
55
Mafra foi a ante reflexão do que deveria ser feito na conceção da organização
de uma cidade
Nova morfologia:
Arcarias
Torreão de Herrera ---- imagem de marca da cidade e imagem simbólica do Rei
Antes do terramoto previa-se que o Paço da Ribeira fosse todo rematado ---- é a
ideia que vai surgir depois do terramoto
Manuel da Maia aconselha o marquês para colocar a Bolsa no Terreiro do Paço
A alfândega também lá fica
Malha reticulada constituída por diagonais
Estátua de D. José I:
Dá o sentido à Praça
Marca a presença do Estado em que o Rei se separava da Nação
6. Escultura
6.1. António Pinto de Araújo
Autor da imagem de Nossa Senhora das Dores da Igreja dos Congregados em Braga
56
Veio para Lisboa aos quinze anos desejoso de encontrar um artista que o dirigisse e
encaminhasse. Encontrando Nicolau Pinto, escultor em madeira, pediu-lhe licença para
frequentar o seu atelier, e começou logo a auxiliar o mestre nos seus trabalhos. Nicolau Pinto
ficou por tal modo maravilhado da habilidade dessa criança que o acaso lhe trouxera, que não
tardou a encarregá-lo de modelar várias imagens. O jovem aprendiz apresentou modelos tão
perfeitos, que o mestre não duvidou em tomá-los para si, copiando-os em madeira. Em pouco
tempo o discípulo tornou-se superior ao mestre, e por isso procurou encontrar outro com quem
pudesse mais adiantar-se. Lembrou-se então do hábil escultor em pedra José de Almeida, que
estudara em Roma, protegido e sustentado por D. João V, e que passava por ser o primeiro
escultor português dessa época. Resolveu-se a procurá-lo, e José de Almeida recebeu-o
atenciosamente. Machado de Castro começou a executar várias obras, que desde logo
impressionaram o público. A estátua que existe no pórtico da igreja de S. Pedro de Alcântara, foi
um dos primeiros trabalhos, que tornaram conhecido o seu nome. O povo aglomerava-se para
admirar a produção artística do notável escultor. Machado de Castro adquiriu tão grande fama
que muitos artistas o procuravam congratulando-o pelo seu talento superior, não duvidando em
lhe pedirem que compusesse os modelos para as obras de que se haviam encarregado.
Machado de Castro satisfazia a todos os pedidos, recebendo muitos louvores pelo desembaraço
com que trabalhava, e pela graça que respirava em tudo quanto saía das suas mãos.
Com a consciência do seu valor artístico, intentou ir para as obras da grandiosa basílica de
Mafra, onde estavam muitos artistas de merecimento, tendo à frente o professor e ilustre
estatuário romano Alexandre Giusti. O seu ardente desejo de se aperfeiçoar na arte, o obrigou a
sair de Lisboa, onde auferia bons lucros, e ir encerrar-se naquela vila conseguindo dentro em
pouco, em 1756, ser nomeado ajudante do professor romano, situação em que se conservou
durante catorze anos, trabalhando sempre assíduo e com o maior aproveitamento, adquirindo
cada dia novos conhecimentos, e produzindo trabalhos já de excecional valor. Mas em Mafra
esperava-o um novo futuro. Como ali se tornara um ponto de reunião, não só de viajantes
estrangeiros, como de poetas, artistas e sábios portugueses, Machado soube tirar ótimo partido,
para se instruir, com a conversação dos homens doutos. Um dos frequentadores era o poeta
Cândido Lusitano, que não se cansava de admirar as novas produções dos artistas, que
trabalhavam ali. Travou relações com o jovem escultor, e desde logo lhe votou sincera amizade.
Reconhecendo o seu desejo de aprender, encarregou-se de lhe dar lições de Retórica, que o
nosso artista aceitou gratamente. Mafra foi, por assim dizer, para Machado de Castro, não só um
centro de educação artística, como uma espécie de universidade onde se lhe deparavam os
melhores livros do seu tempo, como professores que o instruíssem e o iniciassem no movimento
intelectual do século. As novas relações com o poeta e pintor Vieira Lusitano, marcaram assim
uma época na educação literária de Machado de Castro. As novas teorias que se revoltavam
contra a imitação servil dos mestres, contra o fanatismo das regras e que colocava acima de
tudo o entusiasmo e espontaneidade da poesia, a imitação da natureza, foram adotadas para
sempre pelo nosso ilustre artista, tornado um entusiasta discípulo delas. Joaquim Machado de
Castro caracteriza-se, porém, pelo seu bom senso, pela retidão dos seus julgamentos e a lucidez
das suas ideias.
Conservava-se no seu retiro de Mafra entregue ao estudo e ao trabalho, e estava concluindo
um pequeno baixo relevo, quando em 19 de outubro de 1760 recebeu uma carta de Domingos
57
da Silva Raposo, ajudante de arquitetura na Casa do Risco das Obras Públicas, convidando-o
para entrar no concurso para a execução da estátua de D. José. Foi aquele artista o primeiro que
lembrou ao marquês de Pombal o nome de Joaquim Machado de Castro. Este não quis partir
sem acabar a obra, e por isso só um mês depois é que veio a Lisboa, onde o arquitecto Reinaldo
Manuel dos Santos lhe entregou dois desenho iguais ao que deram ao seu competidor, que era
estrangeiro. Machado de Castro dedicou-se ao trabalho, começando a fazer o seu modelo de
cera. Mas uma dificuldade se lhe apresentava: os modelos impossíveis que por ordem do
governo se davam aos concorrentes. Machado de Castro, artista instruído, consciencioso e
correcto, e seguindo, além disso, as suas próprias inspirações e não as alheias, viu-se obrigado
a seguir modelos de mau gosto que lhe foram apresentados para se guiar por eles. Entristeceu,
pensando que executando-se a obra por eles, nem o artista nem a pátria tirariam glória
suficiente, por faltarem na imagem do herói os incidentes e circunstâncias, como ele havia
imaginado, um poema épico que pretendia gravar na pedra, que pudesse servir de estímulo à
posteridade. O pobre artista inspirado lutava, não só contra o regime político absoluto, mas
contra a mesma escola autoritária e dogmática de que era adversário. Ou tinha que abandonar o
concurso, o que era desonroso para os seus sentimentos patrióticos, e contrariava as suas
ambições de compor uma obra que o imortalizasse; ou sujeitar-se às ordens terminantes,
dimanadas da autoridade legítima. No fim de muitas lutas consigo próprio, resolveu dar princípio
ao seu primeiro e pequeno modelo nos fins de dezembro de 1770. Logo nos primeiros dias de
janeiro de 1771 voltou ao referido modelo de cera, em cuja matéria o fez, por conservar sempre
a medida, conforme o petipé, livre das diminuições do barro.
Concluído o primeiro modelo com as alterações que entendeu, e que tinham sido
concedidas, como artista de génio mais conhecedor das artes, foi avisado para comparecer no
paço no dia 21 de março, juntamente com o seu competidor, que levou dois modelos, um
conforme as severas instruções que também lhe haviam sido dadas, e outro da sua lavra. Este
concorrente era italiano e dispunha de grandes proteções que foram a causa da guerra de que
Machado de Castro foi vítima até à sua morte. O rei, comparando os modelos apresentados,
decidiu-se pelo nosso ilustre artista, dirigindo-lhe palavras muito lisonjeiras. No dia seguinte
recebeu aviso de que estava encarregado da obra, e que a aprontasse o mais breve possível. Ao
começar o segundo modelo em barro, que devia servir de guia ao modelo grande, depararam-se
novas dificuldades, oferecidas pelos secretários de estado e o mundo oficial. Machado de
Castro, com o talento de que era dotado desejou corrigir algumas coisas do primeiro modelo,
afim de que a sua obra ficasse como ele ambicionava. Felizmente encontrou um dos melhores
cavalos dessa época, que o marquês de Marialva pôs à sua disposição para servir de modelo.
Era um cavalo espanhol de fina raça, que dava pelo nome de Gentil. A 10 de julho do mesmo
ano de 1771 recebeu ordem para a execução do modelo em grande. Machado de Castro seguiu
neste trabalho um método próprio, e que lhe parecia mais afeiçoado para a obra sair perfeita,
afastando-se dos métodos ensinados por outros professores. Começou os trabalhos a 16 de
outubro de 1771, e ordenaram-lhe que os acabasse a 10 de março de 1772. Machado cumpriu
as ordens recebidas neste curto espaço de cinco meses, tempo verdadeiramente prodigioso,
porque no modelo grande foi que o escultor corrigiu e alterou nos salientes e cavados, de modo
a produzir o desejado efeito, aumentando ou diminuindo algumas partes, conforme lhe indicavam
os seus estudos e observações. A 11 de outubro de 1773 começaram os trabalhos para a
58
fundição, que se completaram a 18 de dezembro do mesmo ano. Nos princípios de abril de 1775
foi perfeitamente concluído o colossal monumento, que ainda hoje se admira na Praça do
Comércio, vulgo Terreiro do Paço.
Em 15 de outubro de 1774 fundiu-se a grandiosa estátua, num só jato e com uma perfeição
tanto mais admirável, quanto era este o primeiro trabalho no género que se executava no país.
Bartolomeu da Costa, distinto engenheiro, o fundidor da estátua, tornou-se tão célebre como o
escultor, pela grande obra patriótica que se erigiu. Os processos por ele empregados foram os
mais perfeitos e conhecidos no seu tempo; e quando a estátua saiu dos seus moldes foi tal o
entusiasmo do público, que por muitos anos o escultor Machado de Castro foi injustamente
esquecido pelo fundidor. A inauguração do colossal monumento realizou-se a 6 de junho do
mesmo ano de 1775, aniversário natalício do rei D. José. Na História do Reinado de el-rei D.
José, de Luz Soriano, vol. II, e no presente vol. do Portugal, pág. 331 e seguintes, vêm
minuciosamente descritos o trabalho que deu a condução da grandiosa estátua para o Terreiro
do Paço, as festas pomposas que se fizeram na sua inauguração e a descrição do monumento e
dos carros triunfais, que compunham o cortejo cívico, que então se realizou. No Dicionário
Universal Português, dirigido por Fernandes Costa, também se encontra um artigo interessante a
este respeito e a biografia de Joaquim Machado de Castro, no vol. VI, pág. 140 e seguintes.
Depois desta obra imortal, temos a registar outras do nosso notável artista, como a Fé
suplantando a heresia, que se admirava no frontispício do palácio da Inquisição, e que não
sabemos onde hoje existe; a estátua de Neptuno do antigo chafariz do Loreto, e que está
actualmente no museu arqueológico do Carmo. D. Maria I, quando construiu o convento da
Estrela, encarregou-o de todas as esculturas e baixos-relevos. Neste edifício teve a honra de
desempenhar o mesmo papel que em Mafra desempenhara o seu professor e amigo Alexandre
Giusti. Foi ele o autor do baixo-relevo do frontispício; das duas belas estátuas de Nossa Senhora
e de S. José, que se vêem debaixo da arcada da entrada; também são dele as estátuas
sobrepostas nas quatro colunas, representando a Fé, a Adoração, a Gratidão e a Liberalidade.
Cada uma é um desenho diferente, cada uma tem uma expressão própria e característica.
Também são trabalhos seus as estátuas de Santo Elias, S. João da Cruz, Santa Teresa e Santa
Maria Madalena de Pazzi. Esta obra foi começada em 1777 e concluída em 1783. Todas as
esculturas de madeira e barro que adornam interiormente o edifício, são obras por ele
executadas e dirigidas. Na Patriarcal também deixou muitas obras: as imagens de Nossa
Senhora e de S. José, as dos santos apóstolos Simão, Judas Tadeu e Matias: dirigiu a escultura
do Baldaquino de S. Vicente e a dos modelos da Custódia cravada de pedras preciosas e a Pia
Batismal. Esculpiu em madeira a imagem de S. João Baptista, que foi para Almeirim, e a imagem
de Nossa Senhora da Encarnação, que se venera atualmente na paroquial igreja deste nome, e
que foi exposta ao público em 24 de março de 1803, depois de se ter reedificado a igreja, que
ficara muito danificada pelo incêndio que se deu ali em 18 de junho de 1802. Joaquim Machado
de Castro também se revelou na escultura civil. Além da estátua equestre, vêem-se as três belas
estátuas no vestíbulo do palácio da Ajuda., que representam a Generosidade, a Gratidão e o
Conselho; a estátua de D. Maria I, em mármore de Carrara, que existe à entrada da Biblioteca
Nacional de Lisboa, a qual foi executada pelos seus discípulos Faustino José Rodrigues e
Feliciano José Lopes. São seus trabalhos as estátuas de Alpheu e Arethusa, e os bustos de
Homero, Virgílio, Camões e Tasso, existentes na casa de Oeiras. Na quinta de Caxias também
59
se encontram muitas estátuas em barro, de tamanho natural; e na quinta de Queluz admiram-se
ricos vasos de barro ornados de festões e flores. Foi também o autor de muitos túmulos ricos,
como: o da rainha D. Mariana Vitória, que está na igreja de S. Francisco de Paula; o da rainha D.
Maria Ana de Áustria, no hospício de S. João Nepomuceno; D. Afonso IV, em bronze, que está
na capela-mor da sé de Lisboa; e o do infante D. Pedro Carlos, que foi para o Brasil. Compôs um
grande presépio para o convento da Estrela, outro para D. Maria I, outro para D. Carlota
Joaquina, outros para os príncipes, e outro que existe na sé de Lisboa.
Pina Manique, intendente geral da Polícia, empregou todos os esforços para desenvolver
entre nós o gosto pela pintura e escultura, e para isso criou na Casa Pia uma aula de desenho; e
como em Portugal não existisse uma aula de nu, resolveu fundar uma sociedade para esse fim.
Procurou os melhores artistas para diretores desta academia, que se organizou em 16 de maio
de 1780, sendo o número de sócios de cinquenta e um, em que figuravam Joaquim Machado de
Castro e muitos outros professores, alunos e amadores das artes. Manique desejou que no dia
24 de dezembro de 1787, por meio de uma sessão académica, a que assistisse toda a corte,
realizada na Casa Pia, se mostrasse a público as vantagens do desenho. Foi Machado de
Castro o encarregado de falar a esse auditório seleto e composto das primeiras celebridades do
país, e proferiu um brilhante discurso, em que se revelou também um orador erudito. As suas
obras, tanto em prosa como em verso, e os seus variados conhecimentos, o elevaram à honra
de ser eleito em 9 de fevereiro de 1814 sócio correspondente da Academia Real das Ciências, e
alguns anos depois a mesma academia lhe ofereceu a medalha de ouro com que costumava
premiar os homens de mérito. O rei D. José nomeou-o escultor da Casa Real e obras públicas,
lugar que exerceu igualmente nos reinados de D. Maria I e D. João VI. Este monarca nomeou-o
director de toda a escultura do Palácio da Ajuda e obras reais. Machado de Castro foi lente da
aula de escultura em que prestou relevantes serviços à arte nacional.
Era casado com D. Maria Barbosa de Sousa. Possuía o grau de cavaleiro professo da
Ordem de Cristo, com que fora agraciado ao terminar todos os trabalhos do monumento da
estátua equestre. Faleceu ao noventa e um anos, e foi sepultado na igreja dos Mártires. Para a
sua biografia pode ver-se o artigo do diretor da Academia de Belas Artes Francisco de Assis
Rodrigues, que sob o título de "Comemoração" saiu na Revista Universal Lisbonense, de 17 de
novembro de 1842, e foi reproduzida no Diário do Governo, de 24 do referido mês; neste artigo
vêem apontamentos, em que se fala de Machado com muito louvor. Nas Memórias de Cyrillo
Volkmar Machado também se encontram muitos dados biográficos.
Bibliografia:
Elogia ao Sr. Francisco Vieira Lusitano, cavaleiro professo na Ordem de Santiago,
digníssimo pintor de Sua Majestade Fidelíssima, etc., em um soneto glosado, Lisboa, 1758; Ao
rei fidelíssimo D. José I, nosso senhor, colocando-se a sua colossal estátua equestre, e de toda
a escultura adjacente, Lisboa, 1775; é acompanhada de várias notas explicativas e
interessantes, do que diz respeito à estátua, e mais partes que compõe aquele monumento;
Triduo métrico na eleição que a província da Arrábida fez para seu ministro provincial da
religiosa pessoa do Ver.mo Sr. Fr. António da Chagas Lencastre, etc., Lisboa, 1763; Na feliz
aclamação dos fidelíssimos reis D. Maria I e D. Pedro III, nossos senhores; ode, Lisboa, 1777;
Pelo restabelecimento da saúde preciosa do Ser.mo sr. D. João príncipe do Brasil, em Agosto de
60
1789; Ode sáfica, Lisboa, 1789; Carta que um afeiçoado às artes de Desenho escreveu a um
aluno de Escultura, para o animar à perseverança no seu estudo, etc., Lisboa, 1780; 2.ª edição,
retocada pelo autor, Lisboa, 1817; Discurso sobre as utilidades do Desenho: dedicado à Rainha
N. Sr.ª e recitado na Casa Pia do Castelo de S. Jorge de Lisboa em 24 de Dezembro de 1787,
Lisboa, 1787; 2.ª edição correcta e retocada, Lisboa, 1818; Análise gráfico-ortodoxa, e
demonstrativa de que sem escrúpulo do menor erro teológico, a escultura e pintura podem, ao
representar o sagrado mistério da Encarnação, figurar vários anjos, etc., Lisboa, 1805; com duas
estampas; Descrição analítica da execução da estátua equestre, erigida em Lisboa à gloria do
senhor rei fidelíssimo D. José I, com algumas reflexões e notas instrutivas, para os mancebos
portugueses aplicados à escultura, etc., Lisboa, 1810; é ilustrada com vinte e cinco estampas
gravadas a buril, das quais as duas primeiras, que são alegóricas, o foram por artista espanhol
em Madrid, e as outras em Lisboa. A esta obra serve como de complemento a seguinte:
Memória sobre a estátua equestre do senhor rei D. José I; saiu no Jornal de Coimbra, n.os XI e
XII, com estampas. Consta que Machado de Castro deixara em manuscrito as seguintes obras:
Orpheida, poema épico trágico em quatro cantos, Dicionário filosófico da arte de escultura.21
7. Ourivesaria
7.1. Custódia da Bemposta
c. 1750-1760
Prata dourada e pedras preciosas
97 x 33 cm
Proveniência: Paço da Bemposta
Inv. 1 O ur
Esta emblemática obra da ourivesaria barroca é tradicionalmente conhecida com o a
Custódia da Bemposta. O Paço da Bemposta, também conhecido com o Paço da Rainha, foi
mandado construir por D. Catarina de Bragança, filha de D. João IV, para sua habitação, após o
seu regresso a Portugal, por morte de seu marido, Carlos II de Inglaterra. D Catarina deixou o
Paço da Bemposta a seu irmão D. Pedro II, o qual, em 1707, foi doado por D. João V, à Casa do
Infantado (propriedade do 2º filho do rei de Portugal). Aí terá permanecido até à extinção da
Casa do Infantado em 1834, tendo sido transferida para Queluz. Posteriormente a peça ficou à
guarda da Infanta D. Isabel Maria (regente) na Quinta da Infanta, em Benfica, até à sua morte
em 1786, sendo nesse mesmo ano levada para a Casa da Moeda e desta, após avaliação
(12.000 escudos), entregue à Academia de Belas Artes, vindo a figurar nas coleções do Museu
Nacional de Arte Antiga com o
n.º 1 de inventário.
Não existe documentação que confirme quer o encomendador quer o autor desta
custódia. D. Francisco de Bragança, irmão de D. João V, detentor de avultados bens com o
Senhor da Casa do Infantado, poderia, com algum a probabilidade, ter mandado executar esta
magnifica obra de acordo com os cânones construtivos do barroco joanino. Outra hipótese
aponta para D. Pedro III, já que a referência mais antiga à custódia se encontra no seu
testamento datado de 1786. Num a das disposições contempla seu filho, futuro D. João VI, com
21
http://www.arqnet.pt/dicionario/machadocastro.html
61
a quinta de Queluz, recomendando o grande cuidado a ter com o culto divino Que se costuma
dar a Deos na capela da Bem posta, à qual deixo a custodia preciosa que tenho….
A custódia tem sido tradicionalmente datada entre 1740 e 1750 e atribuída a João
Frederico Ludovice, ourives-arquiteto de D. João V e autor do risco do convento de Mafra.
Ludovice trabalhara com o ourives em Roma e fora chamado a Portugal pelos jesuítas para o
colégio de Santo Antão. Era pois o ourives com melhor preparação para realizar um a obra “ao
rom ano”. Além disso, um desenho preparatório da custódia existente no Museu (inv. 473 Des),
também proveniente da Bemposta, em bora não assinado, tem -lhe sido atribuído, dado que
evidencia, com o noutros desenhos assinados pelo ourives, um a fidelidade quase servil aos
protótipos romanos.
Mais recentemente Nuno Vassalo e Silva atribuiu a Adão Gotieb Pollet a autoria da peça
e do desenho preparatório, com base na lapidação e em certos elementos decorativos das
gemas, o que faria avançar a data de execução da custódia para o período de 1775-1785. Esta
atribuição a Pollet, joalheiro-cravador de D. Maria I, mas não ourives, deverá ser ponderada
dado que sendo a custódia um a obra de ourivesaria de cunho rom ano joanino, já estaria
plenamente ultrapassada na década de 80.22
8. Pintura
8.1. André Gonçalves
André Gonçalves foi um pintor português, nascido em 1685 e falecido em 1754. Foi o
responsável pela mudança estética que se operou em Portugal no início do século XVIII, e que
consistiu num abandono dos esquemas hispânicos do seiscentismo e na adoção dos esquemas
italiano e francês, mais ricos e variados.
Com dezasseis anos iniciou a sua aprendizagem artística na Oficina de António de Oliveira
Bernardes (1662-1732), onde viveu de 1701 a 1704. Este aprendizado surtirá reflectido nas
primeiras produções ainda apegadas ao naturalismo tenebrismo do primeiro barroco
seiscentista, sob influência de modelos gravados ítalo-flamengos a partir de obras de Rubens e
Barocci23.
Em 1711 ingressa na Irmandade de São Lucas, onde desempenhou cargos ativos ao
serviço da confraria até bem perto da sua morte, em 1754. Por esta altura pintou e assinou a
pintura representando Santo Amaro salva o mestre-de-obras do Mosteiro da Conomância , do
arcaz da sacristia da Ermida de Santo Amaro, em Lisboa.
Segundo Joaquim Oliveira Caetano, é da sua autoria uma Descida da Cruz, datada por ele
de cerca de 1720, estante na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa24.
Da primeira fase estilística do pintor são os trabalhos para a igreja do Convento de Nossa
Senhora da Conceição dos Cardais, em Lisboa, datáveis dos inícios da terceira década de
Setecentos. E, da mesma altura, as telas tenebristas estantes na capela de Nossa Senhora da
Conceição da igreja jesuítica da Horta, na ilha do Faial, reveladas por Vítor Serrão e Rui Carita
representando a Morte da Virgem e Apóstolos junto ao túmulo de Maria.
22
http://www.cnc.pt
23
[1] (PDF) Universidade de Lisboa.
24
Joaquim Oliveira Caetano, Pintura – Colecção de Pintura da Misericórdia de Lisboa (1700-1998), Tomo II, Museu
de S. Roque, 1998, p. 27
62
Nos primeiros anos de 1730 participa na obra do Convento de Mafra, ao lado de nomes
nacionais como Inácio de Oliveira Bernardes e Vieira Lusitano, a par do contacto com as obras
de artistas italianos e franceses cujo influxo das obras do barroco italiano se notará no recurso
às fontes imagéticas italianas, nas tonalidades claras e brilhantes, delicadeza no desenho
elegante sob o signo do belo clássico.
Logo em 1731 intervém na empreitada decorativa do convento dos Paulistas, ao lado de
Vieira Lusitano, para onde pinta seis telas da capela-mor dedicadas ao Ciclo Eucarístico, e as
doze telas do cadeiral do coro alto com a Vida de São Paulo Eremita.
Na mesma década encontra-se envolvido na decoração da Igreja do Menino de Deus da
Ordem Terceira de São Francisco de Xabregas, onde também trabalham Inácio de Oliveira
Bernardes, Vieira Lusitano, Jerónimo da Silva (act. c. 1700-1753) e o espanhol André Ruvira.
No quarto decénio de Setecentos participa na campanha pictórica do coro alto do
convento da Madre de Deus. Vítor Serrão apurou duas telas de André Gonçalves executadas
cerca de 1744 para a capela do Sagrado Coração de Jesus da Igreja Matriz de Santa Cruz da
Graciosa, nos Açores, representando São Domingos, uma e São José, outra.
Volvidos quatro anos a esta parte, André Gonçalves esteve envolvido em importante
empreitada decorativa para o Convento das Trinas do Mocambo, em Lisboa, para onde pintou
dois ciclos pictóricos revelados por João Miguel Simões. Um dedicado à Vida de São João da
Mata e São Félix de Valois, na nave da igreja, e o ciclo da Vida da Virgem para o coro baixo25.[3]
André Gonçalves dedicou-se na década de 50 de 1700 a pintar a série da Vida de José do
Egipto para a sacristia do Convento da Madre de Deus na mesma cidade, pintando em 1759 a
Assunção de Nossa Senhora para a empena da capela-mor.
Da mesma década desenvolveu intensa produção para os procedentes de Coimbra,
respondendo a encomendas para o Convento de Santa Cruz de Coimbra e para a igreja do
colégio da Sapiência, atualmente na posse da Misericórdia de Coimbra.
No ano de 1761 executa dezasseis pinturas que integravam oito bandeiras processionais
com dupla face, para a Misericórdia de Lisboa, representando Anjos e o ciclo da Paixão de
Cristo, actualmente na sacristia da igreja de S. Roque em Lisboa.
Do período derradeiro do pintor são também as cinco pinturas procedentes do refeitório da
casa professa de São Roque, com os temas de Santa Ana, S. José, São Joaquim, São João
Baptista e Santa Maria Madalena, estantes no Museu de S. Roque.
Muitos quadros seus encontravam-se em igrejas de Lisboa que foram destruídas pelo
terramoto de 1755.
Bibliografia relacionada
José Alberto Gomes Machado, André Gonçalves - Pintura do Barroco Português,
Editorial Estampa, 1996
Susana Cavaleiro Ferreira Nobre Gonçalves, André Gonçalves e a Pintura de Cavalete
em Portugal no tempo de D. João V (1706-1750). O caminho da Internacionalização
[Dissertação de Mestrado em Arte, Património e Restauro apresentada à Faculdade de
Letras da Universidade de Lisboa], 2002
25
João Miguel Ferreira Antunes Simões, O Convento das Trinas do Mocambo – Estudo Histórico Artístico, Lisboa,
Instituto Hidrográfico, 2004, pp. 25 - 65
63
8.2. André Reinoso
André Reinoso foi o primeiro pintor barroco de Portugal. Esteve activo entre 1610 e 1641.
Seu conjunto de vinte pinturas sobre a vida e a lenda de São Francisco Xavier, todas
executadas em 1619, serviram de modelo a muitas outras pintadas posteriormente26.
No Mosteiro dos Jerónimos em Lisboa, no Convento dos Capuchos em Sintra, no
Convento do Carmo em Moura, e em Lamego e Óbidos também existem obras atribuídas a este
pintor, cuja família viveu em Viseu.
Em 1641 foi nomeado juiz da Irmandade de São Lucas, encargo que todavia não aceitou.
Por alvará, com força de carta, de 30 de junho de 1623, isentando-o das obrigações da bandeira
de São Jorge27. Por este diploma se fica sabendo que era filho de António Reinoso e que era
perito na sua arte, como bem o demonstravam as obras que tinha feito: um dos mais
avantajados e melhores pintores de sua profissão de óleo e imaginária que havia em todo este
Reino28.
26
↑ http://www.scml.pt/default.asp?site=cultura&sub=museu&id=9&ACT=5&content=35&mnu=6
27
Memorias da Academia Real das Sciencias de Lisboa, Classe de Sciencias Moraes, Politicas e Bellas-Lettras,
Volume 11,Parte 1, p. 65
28
Torre do Tombo, Coleção especial, Caixa 116, Doc. n.º 2
64
cromatismo sem precedentes. A cena é focalizada pela representação, essa sim, mais
convencional, de uma rua em perspetiva. Para todos os efeitos, trata-se de uma das obras-
primas da pintura portuguesa do século XVII.
65
definitivo com o triunfo da revolução do 1º de Dezembro sendo designado pintor régio da corte
de D. João IV e mestre de pintura do príncipe D. Teodósio (1635-1653). Artista favorito da
melhor clientela do Reino, desde as irmandades nobres aos círculos da corte, em 1644 é votado
pelos pintores lisboetas para juiz da Irmandade de S. Lucas (confraria dos pintores de Lisboa) e
é honrado com o título de nobilitação do Hábito da Ordem de Avis.
Entre 1640 e 1645 pinta para a Livraria do Mosteiro dos Jerónimos a tela a óleo São
Jerónimo Doutor, que actualmente pode ser vista no Refeitório.
Bibl.: Paulo Pereira (Dir.) - História da Arte Portuguesa, Lisboa, Circulo de Leitores,
Volume II29
29
Site do Mosteiro dos Jerónimos
66
A Academia de Belas Artes de Lisboa também possui um quadro de Josefa de Óbidos.
O Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, a partir do ano de 2015 vai expôr mais um
dos seus trabalhos, que representa um Menino Jesus Peregrino associado aos Caminhos de
Santiago, para se juntarem aos 14 outros que já aí estavam, nessas condições, nomeadamente
duas das naturezas-mortas que a tornaram tão popular (Com Taça de Cristal e Com Caixas e
Potes), um Menino Jesus Salvador do Mundo, uma Adoração dos Pastores e um Casamento
Místico de Santa Catarina em ambiente doméstico, com a Virgem sobre um estrado, com um
cesto de costura aos pés30.
O Museu de Arte Antiga tem mais um Menino Jesus feminino e encantador de Josefa de
30
68
cima de todas as leis civis e eclesiásticas. Arranjou meio de lhe chegar ás mãos um fato
completo de homem, e um dia, ao anoitecer, D. Inês saiu da sua cela, passou em frente da
abadessa, que não a reconheceu com aquele disfarce, e saiu do mosteiro para se encontrar com
seu marido, e assim no fim de tantos anos de trabalhos e de amarguras puderam unir-se os dois
estremecidos esposos. Não tardou que a fuga de Inês fosse conhecida no convento, e os
parentes, ao saberem do facto, logo juraram que Vieira Lusitano não ficaria impune.
Um irmão da ex-reclusa constituiu-se em vingador da honra da família supostamente
ultrajada, e esperando o pintor próximo, da rua das Pretas, desfechou sobre ele um tiro de
pistola, que o feriu gravemente. Algum tempo depois, Vieira Lusitano achando-se restabelecido,
foi pedir a D. João V justiça contra o seu traiçoeiro agressor, mas o monarca não o atendeu,
porque influencias poderosas evitaram que a justiça procedesse; o criminoso saiu do reino
livremente, e passados anos, caindo em miséria, viu-se na dura necessidade de ir mendigar o
pão àquele mesmo que tentara assassinar. No entretanto, Matos Vieira, temendo algum novo
insulto, retirou-se por algum tempo para o convento dos Paulistas, onde em 1730 e 1731 pintou
uns famosos eremitas para o cruzeiro da igreja, e depois resolveu, para viver sossegado, uma
nova viagem a Roma, mas chegando a Sevilha em 1733, foi dali chamado a Lisboa, e voltando a
esta cidade, foi nomeado pintor do rei com o ordenado mensal de 60$000 reis e as obras pagas.
Esteve em Mafra, onde enviuvou em 1775, e cheio de desgosto pela perda da sua estremecida
companheira, abandonou a pintura, e foi viver para o Beato António, passando ali os últimos
anos da sua existência.
Muitos dos trabalhos de Vieira Lusitano se perderam na terrível catástrofe do terramoto
de 1755, sendo mais notável de todos eles o tecto da igreja dos Mártires, pintado em 1750, e em
que se via representada a tomada de Lisboa por D. Afonso Henriques. Das suas outras obras,
que escaparam ao terramoto, citaremos dois painéis na igreja de S. Roque: Santo António
pregando aos peixes e Santo António prostrado diante de Nossa Senhora , os quais eram muito
louvados por Pedro Alexandrino; Santo Agostinho, na portaria do convento da Graça. em 1736;
uns quadros de Santo António, S. Pedro, S. Paulo, a Família Sagrada, e Santa Bárbara,
pertencentes à casa de Povolide e executados de 1736 a 1740; outra Sagrada Família,
pertencente ao conde de Assumar; um grande painel representando S. Francisco, do convento
do Menino de Deus; um quadro da capela-mor da Cartuxa; os quadros de S. Francisco de Paula,
na capela-mor da sua igreja, e nas capelas laterais, os de Nossa Senhora da Conceição, da
Sagrada Família e Santo António, todos executados em 1765. A capela dos sete altares da igreja
de Mafra tem um grande quadro da Sacra Família; na capela de S. Joaquim ao Calvário. Há
outro quadro da Família Sagrada, colocado por cima do altar, que passa por ser um dos seus
mais belos trabalhos; uma Senhora da Conceição, que estava na Junta do Comércio. O conde
de Lippe visitou Vieira em 1762, e obteve dele um Santo António que, levou para Alemanha;
Guilherme Hudson também adquiriu um belo quadro da Adoração dos Reis magos, que levou
para Inglaterra. Fez um número prodigioso de óptimos desenhos, dos quais a maior parte deles
possui a Inglaterra, onde os amadores das belas artes os pagaram por bom preço, e muitos
deles foram reproduzidos em gravura. Vieira Lusitano também gravou a agua forte, evidenciando
se entre os seus trabalhos desse género: Neptuno e Coronis, e as Parcas cortando o fio vital de
seu irmão. A sua vida tão amargurada por causa dos seus primeiros e últimos amores, contou-a
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ele num longo poema impresso em 1780, intitulado: O insigne pintor e leal esposo, historia
verdadeira que ele escreve em cantos líricos.
Entre os discípulos do notável pintor conta se sua irmã Catarina Vieira, de quem eram, em
parte alguns quadros da ermida de S. Joaquim e que pintou um S. Lucas e um S. João
Evangelista, que pertenciam a um particular chamado Moreira Dias, que morava na rua da Fé.
Também foi seu discípulo o morgado de Setúbal. Consta que na Biblioteca de Évora existe uma
grande colecção de desenhos de Vieira Lusitano.
Portugal, Dicionário Histórico on-line
9. Talha
EXTERIOR – GRANITO E BRANCO
INTERIOR – AZULEJO E TALHA
Interior revestido a talha:
Raramente é feito de um só jato
Raramente os entalhadores atuam de forma violenta
É normalmente o produto de um conjunto de artistas
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Molduras em talha – destinadas a conter pintura ou imaginária
Pilares da Igreja – estrutura medieval com revestimento total ou
parcial em talha
Altar dos Evangelhos
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Ordem Terceira do Carmo Exemplares do Rococó
Igreja das Carmelitas
10. Azulejo
A partir dos finais do século XVII importam-se também dos Países Baixos ciclos em azul
e branco influenciados pela cerâmica chinesa, nos mesmos tons, que chegou à Europa pelos
caminhos marítimos e que agradou bastante, não só aos holandeses, que iniciaram uma
produção própria de azulejo azul e branco, mas também aos portugueses. Mas a preferência na
Holanda pelo trabalho em miniatura (enkele tegels) não corresponde ao gosto português pela
monumentalidade e assim passam-se a efectuar encomendas específicas às oficinas
holandesas de painéis que se adaptem perfeitamente aos enquadramentos arquitectónicos em
Portugal. Os temas centram-se agora em cenas religiosas, cortesãs e militares. Desta altura são
também os painéis de figura avulsa, com cenas independentes, e que vão ser aplicados
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sobretudo em cozinhas e sacristias de igrejas e conventos (como as típicas representações de
alimentos pendurados - caça ou peixe).
O emprego de uma só cor, azul, sobre o fundo branco permite uma maior concentração
na pintura e os exemplos importados da Holanda demonstram bem a superioridade técnica do
traço, evidentes em obras de Willem van der Kloet e Jan van Oort. Mas as oficinas portuguesas
vão reagir à concorrência e inicia-se o período de desenvolvimento da produção nacional,
conhecido pelo ciclo dos mestres, impulsionada pelo espanhol Gabriel del Barco, sediado em
Portugal, e que responde a um grande número de encomendas um pouco por todo o país. A sua
técnica não é de grande qualidade, mas uma série de seguidores vai dar início à época dos
grandes mestres das oficinas de Lisboa, como António Pereira, António de Oliveira Bernardes e
o seu filho Policarpo de Oliveira Bernardes, Manuel dos Santos e o anónimo P.M.P.,
abandonando-se progressivamente as importações do exterior.
A partir da segunda metade do século XVIII o número de encomendas aumenta,
(também vindas do Brasil) e a riqueza durante o reinado de D. João V (proveniente das mina de
ouro e diamantes do Brasil) permite o aumento sem precedentes da produção de azulejo de
onde resultam os maiores ciclos de painéis historiados. Esta estética é, acima de tudo,
influenciada pelo Barroco onde as cenas ganham um estatuto teatral e onde as molduras, de
carácter exuberante, chegam a ter quase tanto peso como as cenas centrais que envolvem
(cenas bucólicas, mitológicas, religiosas - bíblicas, marianistas, de caçadas, do quotidiano
cortesão e alegóricas). A riqueza ornamental, que faz uso dos contrastes claro-escuro para
ilusão de volumetria, chegam de livros de ornamentos de Jean Bérain I, Claude Audran III, Gilles
Marie Oppenord, Nicolas Pineau, Pierre Lepautre entre outros, e oferecem grande organicidade
e vitalidade ondulante à composição no seu todo. Vão proliferar os côncavos e convexos,
concheados, flores, frutos, cartuchos, entrelaçados, putti, baldaquino, efeitos ilusionistas
arquitectónicos (balaustradas) e as figuras de convite.
Nas igrejas o azulejo reveste todas as superfícies, mesmo tectos e abóbadas, e observa-
se um complemento estético entre a talha dourada do período barroco português e as molduras
ondulantes do azulejo.
Até ao terramoto de 1755 vão ter posição de relevo os seguintes nomes da azulejaria
portuguesa: Nicolau de Freitas, Teotónio dos Santos, Valentim de Almeida e Bartolomeu
Antunes.
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http://www.ippar.pt/monumentos/se_coimbra.html
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Protecção Legal Monumento Nacional (MN), Dec. de 16-06-1910, DG 136,
23-06-1910
Endereço Direcção Regional de Coimbra
Rua Fernandes Tomás, 76
3000-167 Coimbra
Freguesia Sé Nova
Concelho Coimbra
Distrito Coimbra
Tipo de Gestão Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR).
Igreja afecta ao culto.
Responsável Direcção Regional de Coimbra (DRC-IPPAR)
Descrição
Antigo Colégio e Igreja dos Jesuítas, a Sé Nova de Coimbra foi fundada em 1541, e
permaneceu na posse da Ordem até ao governo do Marquês de Pombal, que determinou a
entrega do templo à diocese, na sequência da expulsão dos Jesuítas de Portugal, ocorrida em
1759.
A Sé Nova revela as concepções artísticas decorrentes da Contra-Reforma, cujos Jesuítas
foram um dos principais promotores. O projecto deveu-se a Baltazar Álvares, arquitecto da
Ordem, que iniciou as obras em 1598. A fachada principal impressiona pela grandiosidade, e
segue a tipologia jesuítica adoptada a este elemento principal, com uma entrada tripartida e uma
organização ambiciosa dos registos superiores, terminando em empena triangular irregular e
criando um efeito cenográfico.
Vista geral do edifício
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Fachada principal
O interior obedece a uma planta em cruz latina com três naves, transepto inscrito e
capela-mor tripartida, destacando-se a cúpula de caixotões sobre o cruzeiro. Do espólio móvel e
integrado que compõe o interior da igreja, salienta-se o conjunto barroco da capela-mor, de finais
do século XVII, e alusivo aos principais nomes da história jesuítica, campanha a que pertencem
também os altares laterais que fecham os braços do transepto. Ao longo dos séculos o edifício
foi também engrandecido com obras de arte provenientes de outros templos de Coimbra, como
no caso do cadeiral seiscentista ou a notável pia baptismal manuelino-renascentista, ambas
procedentes da Sé Velha.
Ao longo dos últimos oito anos o IPPAR tem vindo a intervir continuamente neste edifício,
tendo já sido concluído um projecto de iluminação monumental, e encontrando-se em curso a
limpeza e conservação da fachada principal.