Você está na página 1de 354

Cultura Castreja:

identidade e transições
Atas do Congresso Internacional
Volume I

Câmara Municipal de Santa Maria da Feira 2020


FICHA TÉCNICA
Título Cultura Castreja: Identidade e Transições
Atas do Congresso Internacional
Volumes Vol. I e II
Coordenação Rui Centeno; Rui Morais; Teresa Soeiro e Daniela Ferreira
Edição Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, 2020
Impressão Gráfica Lda.
Deposito legal 477062/20

*Os textos são da responsabilidade dos autores.

FICHA TÉCNICA DO CONGRESSO


INTERNACIONAL CULTURA CASTREJA: IDENTIDADE
E TRANSIÇÕES
Data 15 > 17 novembro 2018
Organização Câmara Municipal Santa Maria da Feira | Museu Convento dos Lóios

Apoios
CITCEM - Centro de Investigação Transdisciplinar «Cultura, Espaço e Memória»
FLUP - Faculdade de Letras da Universidade do Porto
Museo do Pobo Galego

Outros Apoios
Fábrica de Papel de Ponte Redonda

Comité Executivo (Congresso)


Rui M. S. Centeno (UPorto-FLUP / CITCEM)
Rui Morais (UPorto-FLUP / CECH UC)
Ana José Oliveira (CM-Feira / Museu Convento dos Lóios)
Teresa Soeiro (UPorto-FLUP / CITCEM)

Secretariado
Daniela Ferreira (UPorto-FLUP/ CITCEM)
Ana Celina Marques (CM-Feira / Museu Convento dos Lóios)
Maria Manuel Gonçalves (CM-Feira / Museu Convento dos Lóios)
Pedro da Silva (UniBAS / CITCEM)
SUMÁRIO

Apresentação 7

A cultura dos Castros em permanente descoberta


Gil Ferreira, Vereador com o pelouro da Cultura, Turismo, Biblioteca e Museus

Congresso Internacional Cultura Castreja Identidade e Transições 11


Comité Executivo

Conferência de Abertura

A cultura castrexa, desde Guimarães (1880) ata Santa Maria da Feira 15


(2018).
Francisco Calo Lourido

Comunicações

Cronología radiocarbónica de la edad del hierro del noroeste de iberia. 39


Diez años después del congreso interpretierte eisenzeiten. Fallstudien,
methoden, theorie, Linz 2008.
Jesús F. Jordá Pardo | Emilio Abad Vidal | Israel Picón Platas | Valeria Zandueta
| Josefa Rey Castiñeira | Carlos Marín Suárez

Materiais em contexto: cerâmica grega no Noroeste da Península Ibérica. 63


Estudo de casos.
Daniela Ferreira

Cronologia e mundos de transição na cultura castreja: os achados 91


monetários.
Rui M. S. Centeno

Materiais em contexto. Cronologias e mundos de transição. O caso 107


de Bracara Augusta.
Rui Morais

Castros do Norte e Leste Galaico-Lucense: Arquitecturas en Transición. 139


Felipe Arias Vilas

Arquiteturas da Idade do Ferro do Crastoeiro, Mondim de Basto (Vila 167


Real): Resultados dos trabalhos de 2016 e 2017.
António Pereira Dinis | José Ribeiro | A. Mário Dinis
Catro anos de arqueoloxía no Castro de Doade (Lalín, Pontevedra): 191
Unha primeira síntese dos resultados das intervencións arqueolóxicas.
Vanesa Trevín Pita

O povoado de Santo António (Afife, Viana do Castelo): Dados e reflexões 213


sobre as suas materialidades.
Nuno Oliveira | Ana M. S. Bettencourt

Contributo para o estudo da cerâmica da idade do ferro do castro 243


de alvarelhos (Trofa, Portugal). Dados da campanha de 2008.
Vânia Borja

Elementos para o estudo da ocupação castreja no Castelo de Gaia (Vila 263


Nova de Gaia, Porto, Portugal).
André Nascimento | Francisco Queiroga | Laura Sousa | Teresa Pires de Carvalho

Cultura material de los castros del occidente cantábrico. Problemática 297


de su estudio e interpretación.
Hugo Lozano Hermida | Eduardo Ramil Rego | Sara Barbazán Domínguez

Excavaciones arqueológicas en castros de la Edad del Hierro en 327


la Provincia de Zamora. Peñas de la Cerca (Rionegrito de Sanabria),
fases de la Edad del Hierro de el Castillón (Santa Eulalia de Tábara)
y el Castro de la Encarnaciones (Rabanales De Aliste). Once años de
investigaciones sobre la Edad del Hierro llevados a cabo por la Asociación
Científico-Cultural ZamoraProtohistorica.
Jose Carlos Sastre Blanco | Óscar Rodríguez-Monterrubio | Patricia Fuentes Melgar
| Patricia de Inés Sutil | César Marco Pérez García | Manuel Vázquez Fadón
Apresentação
A CULTURA DOS CASTROS EM PERMANENTE DESCOBERTA

O Congresso Internacional de Cultura Castreja, encontro que reuniu reconhecidos


especialistas em Santa Maria da Feira entre 15 e 17 de novembro de 2018, foi espaço
de reflexão sobre os desafios atuais e possíveis novas abordagens na investigação da
cultura castreja. Com base no assinalável progresso do conhecimento até agora, resultante
das inúmeras escavações arqueológicas, o balanço do trabalho desenvolvido e o foco na
identidade e transições tornaram-se imperativos para debater o futuro dos castros.
Origem de tradições, costumes e folclore que hoje são partilhados pelos povos,
os castros são um importante património nacional que não pode ser descurado. A partir
da investigação destas construções, descobrem-se pedaços da História, desde, por
exemplo, momentos sociais em estruturas circulares até à gastronomia local em que
sobressaía o pão de bolota. Não são apenas monumentos pré-históricos, são ambientes
que revelam a vivência dos tempos idos.
Santa Maria da Feira tem o privilégio de ter no seu território dois castros que sobreviveram
ao passar dos milénios. Em Romariz, encontra-se uma das estações arqueológicas mais
expressivas da região de Entre Douro e Vouga, um povoado fortificado datado do século V a.C.
de onde proveio um espólio rico de inúmeras espécies de cerâmicas, vidros, metais, moedas
e epígrafes, permitindo reconhecer a importância da cultura castreja do Noroeste Peninsular.
Mais do que presença obrigatória nos livros, os castros devem ser também lugar de
história viva, onde a população se envolva e se identifique. Compreender o presente é
conhecer o passado e só através de uma investigação mais aprofundada destas estruturas
se conseguirá completar as várias fases da ocupação dos povoados. Os castros sempre
foram casa de resistência: no passado contra as invasões inesperadas, hoje contra a
erosão do tempo, através dos olhares atentos de quem deles cuida, salvaguardando as
muralhas e continuando a povoá-los de cultura e tradição.
O Congresso Internacional de Cultura Castreja expandiu o acesso, fomentou
oportunidades e construiu conexões, seguindo o lema da programação da V Capital
da Cultura do Eixo Atlântico em que esteve inserido. A dimensão e temáticas versadas
compuseram um momento ímpar que não encontrava lugar no espaço público desde os
anos 80. Santa Maria da Feira foi, durante três dias, o centro da Cultura Castreja, com

7
frutuosos contributos em termos de estudos e investigação, e provando, novamente, que
uma das mais-valias deste território e do povo feirense é a arte de bem receber, marcando
a memória e os corações de todos os que participaram no certame.

Gil Ferreira
Vereador com o pelouro da Cultura, Turismo, Biblioteca e Museus

8
CONGRESSO INTERNACIONAL CULTURA CASTREJA:
IDENTIDADE E TRANSIÇÕES

Ao longo das últimas quatro décadas e meia, assistimos a um assinalável


aprofundamento do nosso saber sobre a Cultura Castreja do noroeste peninsular,
fundamentalmente como resultado das inúmeras escavações arqueológicas, utilizando
as metodologias adequadas, que permitiram a divulgação de conhecimentos científicos
pioneiros e inovadores já em 1973, no Porto, aquando da realização do III Congresso
Nacional de Arqueologia. Esse encontro propiciou a retoma das relações entre
arqueólogos que trabalhavam na Galiza e no norte de Portugal, logo aprofundadas com o
restabelecimento da Democracia em Portugal e Espanha.
Como pensamos ter chegado o momento para actualizar o balanço do imenso trabalho
desenvolvido, relançar a discussão sobre temas mais problemáticos e ensaiar novas
abordagens na investigação da Cultura Castreja, convidámos a comunidade científica
interessada em participar no evento, o qual mereceu desde logo a colaboração de
especialistas hispânicos que tiveram o privilégio de participar nesse percurso desde os anos
setenta, aqui em diálogo com os que hoje dinamizam a investigação, sem esquecer os
jovens em formação.
O Congresso Internacional Cultura Castreja: identidade e transições decorreu no
auditório da Biblioteca Municipal da Feira, de 15 a 17 de novembro de 2018, sob os
auspícios da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, dando continuidade a uma
meritória preocupação desta autarquia, há várias décadas activamente empenhada no
estudo e valorização do riquíssimo património concelhio.
A cerimónia de abertura foi presidida pelo Dr. Emídio Sousa, Presidente da edilidade
feirense, acompanhado pelo Dr. Gil Ferreira, Vereador da Cultura, Turismo, Biblioteca e
Museus, pelo Doutor Francisco Calo Lourido, em representação do Museo do Pobo Galego
e incumbido da conferência inaugural, pela Prof.ª Teresa Soeiro, em nome do CITCEM,
e pelos Profs. Rui Centeno e Rui Morais, da Comissão Executiva do congresso. Nesta
sessão foram evocados, e homenageados com saudade, os investigadores Profs. Carlos
Alberto Ferreira de Almeida (UP/FLUP), Gerardo Pereira Menaut (USC), Fernando Acuña
Castroviejo (USC e MPG) e o Dr. Carlos García Martínez (MPG), pelo seu inestimável
contributo para o estudo da Cultura Castreja.

11
Participaram duas centenas de profissionais e estudantes universitários, que tiveram
a oportunidade de acompanhar as quatro dezenas de comunicações, sendo de salientar
o empenho de investigadores do país vizinho, demonstrativo da pertinência da temática
no âmbito peninsular. As sessões distribuíram-se pelos seguintes temas: cronologias;
urbanismo e arquitetura; exploração de recursos naturais - mineração; territórios vizinhos
do Noroeste; conquista do Noroeste e transição para o Mundo Romano; e arqueociências
no Noroeste.
O congresso contemplou também a realização do workshop - Cerâmica Castreja:
transições, com apresentações a cargo dos responsáveis da escavação e/ou do estudo
de dezoito dos mais paradigmáticos arqueossítios da Cultura Castreja, o que potenciou a
discussão sobre conjuntos cerâmicos seleccionados, apoiada na exposição dos materiais
em vitrina, acompanhados por poster de contextualização.
Para além do amistoso convívio informal e partilha de refeições, o programa social
proporcionou aos congressistas dois momentos especiais, aquele em que subimos ao
emblemático Castelo da Feira para a degustação da fogaça, doce tradicional do concelho,
e o jantar oficial do congresso.
No último dia, após a conferência de encerramento a cargo da Prof.ª Dolores Dopico
(USC), os participantes visitaram o Castro de Romariz e a exposição permanente do Museu
Convento dos Lóios.
Finalmente, cumpre-nos agradecer a todas as instituições envolvidas na organização
e apoio ao congresso, cabendo aqui um caloroso reconhecimento à Câmara Municipal da
Santa Maria da Feira e ao Museu Convento dos Lóios, bem como a todos os funcionários
e estudantes que contribuíram para o sucesso desta iniciativa.

A todos, o nosso muito obrigado.


Comité Executivo

12
Conferência de abertura
FRANCISCO
CALO
LOURIDO
A CULTURA CASTREXA, DESDE GUIMARÃES (1880)
ATA SANTA MARIA DA FEIRA (2018)

Á MEMORIA DE CARLOS ALBERTO FERREIRA DE ALMEIDA

RESUMO
Faise un percorrido polos fitos máis importantes da investigación sobre a Cultura
Castrexa desde os inicios, en 1875, na Citânia de Briteiros con Sarmento, seguindo por
autoridades como López Cuevillas ata os grandes avances iniciados nos anos 70 con
Carlos Alberto Ferreira de Almeida e chegando á situación actual, na que irrompeu a
arqueoloxía da paisaxe e procesual.

PALABRAS-CHAVE
Castro, relacións galaico-portuguesas, Arqueoloxía Procesual.

ABSTRACT
The article explores the most important advances of the research conducted on the
Castrexa Culture: Its origins in the Citânia of Briteiros with Sarmento in 1875, passing by
authorities like López Cuevillas and the great achievements of Carlos Alberto Ferreira de
Almeida since the 1970s, to the recent shift towards lanscape and processual archaeology.

KEYWORDS
Castro, galaico-portuguese relations, Processual Archaeology.

Non atopo unha ocasión máis acaída ca esta para lle dedicar un traballo ao grande
investigador e amigo Carlos Alberto que facelo neste congreso sobre Cultura Castrexa
celebrado precisamente no seu concello natal. Nunca perdía oportunidade de falar da súa
freguesía de Vila Maior, do seu concello, na altura Vila da Feira, da súa terra que, o mesmo
que Gaia, Espinho e grande parte dos territorios de Castelo de Paiva, Arouca e Cambra

17
son, malia estar na banda esquerda do Douro, “cultural e economicamente Entre-Douro-
e-Minho”. “É a final a região do vinho verde... verdadeiro instrumento científico a confirmar
esta delimitação”. Quixo, como bo fillo da terra, comezar con estas verbas a súa magnífica
tese de doutoramento sobre moito máis que arquitectura románica (Almeida, 1978. p.7-8).
A Cultura Castrexa atópase espallada polo noroeste dun estado nación, Portugal, e pola
case totalidade dunha nación sen estado, Galicia, máis o occidente de Asturias. Isto motivou
un desleixo por parte dos intereses políticos centrais e centralistas que, se en Portugal
procuraban as súas raíces nos lusitanos, en España o facían nuns celtíberos que, segundo
nos aprendían na escola, disque eran produto do cruzamento entre os celtas do norte e
os iberos do sur. A Cultura Castrexa foi marxinal e marxinada na longa etapa de construción
nacional dos devanditos estados, do mesmo xeito que, en Francia, a Revolución, despois de
desbotar os “aristocráticos” francos, dedicouse a reivindicar os galos e, consecuentemente,
a investigar sobre eles, ignorando os seus coetáneos belgas –por se teren independizado
- así como os aquitanos co seu falar raro. Os temas de investigación histórica responderon
sempre - hoxe tamén- a criterios políticos, permitíndose traballar noutros diferentes, mais sen
dotacións económicas nin valoración profesional.
Amais do desinterese oficial, o feito de atoparse a Cultura Castrexa espallada entre
dous estados motivou que as investigacións sobre ela se fixesen por separado e mesmo se
ignorasen mutuamente, como se de dous períodos históricos distintos se tratase.
As fronteiras político-administrativas funcionaron e, en gran medida, aínda funcionan
como verdadeiras fronteiras culturais. Desde moi cedo houbo contactos e colaboracións,
caso de Florentino López Cuevillas e Rui de Serpa Pinto, mais sempre foron excepcionais.
Chega con ler a bibliografía que se cita no xa inxente volume de traballos sobre esta cultura
para comprobar o descoñecemento mutuo que aínda hoxe existe. Xa Maluquer, en 1963,
deixou dito que había moitas obras sobre a Idade do Ferro no NO., mais que eran poucas
as obras de conxunto que tratan dela dun modo completo: “Ello es debido en parte a que
la actual frontera entre España y Portugal divide de hecho nuestra área cultural en dos
partes, con lo que las investigaciones se reparten entre portugueses y españoles, y si ello
contribuye al mayor número de investigaciones, también es causa de que raras veces se
enfoque el problema de esta cultura castreña con toda su debida amplitud” (Maluquer, 1963.
p.81, nota 1).

18
OS INICIOS. MARTINS SARMENTO

Todo comezou cando, en xullo de 1875, Francisco Martins Sarmento iniciou unhas
escavacións na Citânia de Briteiros, monte da súa propiedade. Traballou alí durante 9 anos,
mais xa, en 1877, o 9 de xuño, organizou unha visita ao xacemento, celebrándose ao
día seguinte na súa casa de Guimarães a “1ª Conferência Arqueológica Nacional”, á que
asistiron o Marqués de Sousa Holstein, Possidónio da Silva, Luciano Cordeiro, Augusto
Soromenho, Teixeira de Aragão, Nery Delgado, Filipe Simões, Rodrigues Ferreira, etc.
Esta xuntanza, como era previsible por tratar de algo absolutamente descoñecido naquela
altura, non adiantou nada ao coñecemento, limitándose os asistentes a facer preguntas,
“quesitos”, por recoller a verba de Cardozo (1930. p.17); mais tivo a grande virtude de dar
a coñecer á sociedade portuguesa e estranxeira esta nova cultura a traveso dos xornais.
Un ilustre profesor da universidade de Berlín, autor do tomo II (1869) e do seu suplemento
(1892) do Corpus Inscriptionum Latinarum correspondente á Península Ibérica, publicou
un artigo titulado Citânia (Hübner, 1879), sendo corrixido por Sarmento (1879). O sabio
alemán, que xa moito antes, en 1861, publicara un artigo sobre as estatuas de guerreiros
galaicos (mesmo nisto demostrou ciencia e agudeza, pois aínda hoxe hai quen lles chama
lusitanos), lonxe de molestarse coa crítica do portugués, entrou en contacto epistolar con
el, recoñecendo e aceptando as súas correccións, agás na colocación horizontal e na
interpretación como ara de sacrificio que Sarmento facía da “Pedra Formosa”. Para Hübner
estaría en pé a xeito de fachada, o que a segunda pedra semellante da mesma Citânia
vén confirmar. En 1881, regresa á Península Hübner para completar materiais para o
suplemente do CIL; percorre as provincias galegas e Portugal, visitando a Sarmento e, por
fin, a súa Citânia. A amizade e a correspondencia entre os dous investigadores durará ata a
morte de Sarmento en 1899.
En 1880, celebrouse en Lisboa a “IX Sessão do Congresso Internacional de Antropologia
e de Arqueologia Pré-históricas”, no que se reuniu a flor e nata dos investigadores e
anticuarios europeos, como Émile Guimet, Henri Martin, Rudolf Virchow, Gabriel de
Mortillet, Ernest Chantre, Émile Cartailhac, etc. Foi alí onde este último acusou de falsarios
a Marcelino de Sautuola, descubridor de Altamira, e ao seu defensor o catedrático de
Paleontoloxía Juan Vilanova y Piera. Sumouse á crítica Mortillet, mentres que Henri Martín
lle concedeu veracidade. Foron convidados os ilustres asistentes a se desprazaren

19
a Guimarães para visitar a Citânia, onde estiveron o 1 de outubro, deixando un documento
autógrafo coas súas impresións despois de percorrela. Cartailhac escribiu: “Je voudrais
passer ici au moins une semaine”, o representante español deixou escrito: “Juan Vilanova
y Piera, Delegado del Gobierno español, felicita cordialmente al Sor. Sarmento por sus
felices hallazgos”. O documento autógrafo está publicado na correspondencia Hübner-
Sarmento (Cfr. Cardozo, 1947. inter p.72-73). Cartailhac, despois de escribir moitas páxinas
sobre Citânia e Sabroso, di que non vai entrar en detalles, que só quixo mostrar o potente
interese das descubertas de Sarmento nunhas escavacións “habilement conduits”, mais
que a el lle pertence publicalas “dans un ouvrage digne d’elles e de lui”, e engade que, se
Schliemann só atopase a ágora da cidade de Agamenón, as alfaias e os resultados serían
escasos, mais el tamén atopou as tumbas “et les morts, entourés des plus précieux objets
de leur temps, ont raconté leur histoire”; di que Sarmento non tivo esa sorte e que “le pays
des citanias garde encore le secret des nécropoles”. (Cartailhac, 1886: 293).
E seguimos sen atopalas 132 anos despois. Hübner, na correspondencia citada, vai
máis alá, dicindo que non importaba que non se tratara de Olimpia, nin Troia, nin Pérgamo
o que Sarmento fixo aparecer, pero que este debía xa publicar os resultados “à la
Schliemann e em Francês sendo possivel”. Era daquela a lingua franca científica.
A partires deste 1880 a cultura castrexa irrompe con forza nos medios científicos
europeos, publicándose textos ilustrados sobre a Citânia (Cartailhac, Ceuleneer, Martin...)
e impartíndose conferencias sobre ela, como a de Virchow, pai da patoloxía celular e varias
veces proposto para o Nobel de medicina, na “Berliner Gesellschaft für Anthropologie,
Ethnologie und Urgeschichte”. O goberno francés concedeu a Sarmento a Lexión de Honra.
En 1878 inicia as escavacións de Sabroso, onde atopa fíbulas trasmontanas, unha de
“longo travesão sem espira” e un lote de anulares e en omega; pero di que ese castro
é máis antigo que a Citânia e que non ten nada de romano, criterio que, para moitos
arqueólogos, aínda se mantén. Volveremos sobre isto. A el interesáballe saber quen eran
as xentes que habitaran naqueles lugares e, xa o ano antes da visita dos sabios europeos,
falando da plástica que atopa nos dous xacementos, di que todo apunta a Oriente, que eran
arianos, mais que “o celtismo tornou-se uma especie de recurso banal, do que tambem
temos feito uso. Esperamos, porem, poder demonstrar que tal denominação deve ser
proscripta, quando se falla de lusitanos e de galegos, que muito provavelmente ja estavam

20
de posse d’esta parte de Europa, seculos antes da apparição dos celtas n’estas regiões”.
Coido que foi unha boísima intuición, pois efectivamente os construtores e habitantes dos
castros xa estaban aquí, cando subiron desde o Anas os céltici xunto cos túrduli.
Continúa Sarmento as súas investigacións pola zona costeira entre o Leça e o Minho
e verifica que as características comúns de todos os xacementos están a mostrar unha
mesma civilización. Hoxe isto é ben sabido, mais foi Sarmento quen o viu, partindo do
descoñecemento xeral máis absoluto sobre a nosa arqueoloxía. Morreu en 1899, deixando
encarrilados os estudos sobre a cultura castrexa e mantendo, hoxe, a súa vixencia boa
parte das ideas e conclusións ás que chegou o sabio vimarense. Mais non sempre foi
valorado na súa grandeza.
Naqueles anos houbo un interese nos formadores dos seminarios porque os sacerdotes
tivesen unhas nocións de historia da arte, do que se chamaba “arqueoloxía sacra”.
En Santiago, o profesor, cóengo e historiador López Ferreiro publicou, en 1889,
Lecciones de Arqueología Sagrada, manual que sería utilizado en diferentes seminarios
españoles. Para el, “Arqueología es aquella rama de la Historia que estudia, examina
y describe los antiguos productos no solo de las Bellas Artes propiamente dichas, sino
también los de la Industria en lo que puedan tener de artístico” (Lopez Ferreiro, 1889. p.5-6).
Dous anos antes, e coa mesma finalidade, editara en Portugal J. Possidónio da Silva
un manual intitulado Resumo Elementar de Archeologia Cristã. O de López Ferreiro,
en edición de 1904, figura na bibliografía dun libro de enfoque semellante de Aguiar
Barreiro (1917). Padres os dous, o texto do segundo foi tamén material de estudo en
distintos seminarios de Portugal. Interésame agora o prefacio deste, feito polo tamén padre
Martins Capella, no que lemos: “Passou já o tempo em que o archeologo era taxado de
maniaco á maneira do ideólogo e do astrólogo: especie de charlatão para entretenimento
de ociosos reinadios. A essa épocha pertence o caso do cacoide-rubro, de galhofeira
memoria coimbrã, mais o epitheto de escavador de montes, em má hora distribuído por um
dos nossos estadistas, ao mais illustre investigador de antiguidades, perfeito cavalheiro
e homem de sciencia que ainda conheci (en nota, Dr. Martins Sarmento). Quanto mais
leio a sua obra, maior me parece o auctor: Um dia lhe farão justiça” (Capella, 1917. p.7).
Referíase Capella ao Ministro do Reino que, a petición do Marquês de Sousa Holstein,
concedera a Sarmento a Encomenda de Santiago; a renuncia deste, considerouna

21
o ministro un desprezo e exclamou: “Que mais pode querer um escavador de montes?”
(Cardozo, 1961. p.5).
Tiña Capela relación con Sarmento, como lemos en Cardozo: “Já o ilustre estudioso
Pe. Martins Capela dizia, em carta para Sarmento: ‘Entre nós o Corpus (Inscriptionum
Latinarum) é obra de tamanho tômo que quási ninguém lê” (Cardozo, 1933. p.13).
A despectiva expresión de “escavador de montes” dirixida contra Sarmento
lembroume o que Pires de Lima contou que lle informaran do primeiro escavador do monte
de S. Miguel-o-Anjo (Delães, Famalicão) por volta de 1860: “Francisco Vicente, da casa
do Arieiro, freguesia de Ruivães, mandou proceder a umas escavações no Monte de
S. Miguel-o-Anjo, colhendo alguns objectos, cujo destino ignoro. Aquele obscuro
investigador era, pelo povo da terra, alcunhado de maluco, por gastar dinheiro em
cavagens improdutivas” (Lima, 1926-28. p.290, nota 2). Tamén de Sarmento dixo un
paisano que sería máis ben mellor que o dispendio que facía nos montes o deixase para
“missas pela sua alma, quando morrer...” (Cardozo, 1961. p.7). Un pilar coas catro caras
decoradas motivou que incluíse este xacemento de S. Miguel-o-Anjo na miña tese de
doutoramento (Calo, 1991. nº 68). A miña admiración por Sarmento, xunto coa que profeso
por López Cuevillas, levoume a dedicar o meu último libro (Calo, 2010) a estes dous
xigantes por permitirme, con permiso de Bernard de Chartres, empoleirar nos seus ombros
para ver máis lonxe. Hoxe, aquí, sigo a renderlles a miña humilde homenaxe.
Traballos historiográficos recentes (Soeiro, 2004; Centeno, Soeiro e Sanches, 2013;
Silva, 2014; Calo e Soeiro, 2017) evítanme repetir os listados de homes, institucións e
órganos de difusión desde a “Sociedade Carlos Ribeiro” de 1887 con Rocha Peixoto,
Ricardo Severo, etc., seguindo pola súa continuadora “Portugalia”, etc. Citarei tan só, para
estes primeiros tempos, amais de Leite de Vasconcelos e Mendes Correia, a Alves Pereira
traballando nos Arcos de Valdevez, Albano Bellino polos arredores de Braga e Santa Luzia,
Serpa Pinto por Terroso e, xa posteriormente, Abel Viana por Santa Luzia e Âncora, Santos
Junior por Carvalhelhos e, por non seguir, os coroneis Afonso do Paço e Mário Cardozo.
Adrede deixei para a fin a Alberto Sampaio para facer notar a modernidade da súa visión
paisaxística do Noroeste en época castrexa: “Os montes apresentar-se-iam então como
illas, emergindo d’um mar de arvoredo inextricavel. Em taes circunstancias as culturas
annuaes haviam de fazer-se nos altos...” (Sampaio, 1899. p.112-113). Veño defendendo

22
isto mesmo desde hai moi ben anos, partindo da visión ecolóxica emanada do aumento da
humidade que significou o paso do clima Subboreal ao Subatlántico. Unha cita do mestre
George Duby, falando do ano mil, coido que pode ser perfectamente aplicable á vida
durante a cultura dos castros. Di o grande medievalista: “Ante todo pocos hombres, muy
pocos. Diez veces, quizá veinte veces menos que hoy. Densidades de población que son
actualmente las del centro de África. Domina tenaz el salvajismo. Se espesa a medida que
nos alejamos de las orillas mediterráneas, cuando se franquean los Alpes, el Rin, el mar del
Norte. Acaba por ahogarlo todo. Aquí y allá, a trozos hai claros, cabañas de campesinos,
pueblos rodeados de jardines, de donde viene lo mejor de la alimentación; campos,
pero cuyo suelo rinde muy poco a pesar de los largos reposos que se le conceden; y
muy deprisa, desmesuradamente extendida, la zona de caza, de recolección, de pastos
diseminados. De tarde en tarde una ciudad. Casi siempre es el residuo de una ciudad
romana” (...) “Hai hambre. Cada grano de trigo sembrado no da más de tres o cuatro,
cuando es verdaderamente bueno. Una miseria. La obsesión: pasar el invierno, llegar
hasta la primavera, hasta el momento en que corriendo los pantanos y las espesuras, se
puede tomar el alimento en la naturaleza libre, tender trampas, lanzar redes, buscar bayas,
hierbas, raíces. Engañar el hambre” (Duby, 1994. p.13-14).
No decurso deste Congreso falouse da escaseza de restos óseos indicativos de
actividade venatoria. Non debemos esquecer que os historiadores (de todos os períodos)
tentamos traballar sobre o que houbo, cando, en realidade, só o facemos sobre o que se
conservou, que pode ser unha parte ínfima do que había e, talvez, non precisamente o máis
significativo. Que os restos actuais indiquen pouca caza non debe inducirnos a pensar que os
habitantes dos castros, como os medievais e ata hoxe, malia as lexislacións proteccionistas,
non practicasen o dito castelán de “ave que vuela, a la cazuela”.
En Asturias, no castro de Coaña, fará unhas escavacións, polo 1877, José María
Florez, tendo logo que agardar este xacemento e a arqueoloxía castrexa asturiana ata os
traballos de García y Bellido, na década de 1940, e, xa rematando a seguinte, continuará
os traballos Francisco Jordá. En Galicia, ata ben entrado o século XX, non hai ningunha
actividade arqueolóxica de campo digna de mención. É por iso polo que de Murguía direi
tan só que tiña coñecemento do que Sarmento andaba a facer en Sabroso e na Citânia,
como vemos cando fala de “los trabajos de nuestros hermanos de allende el Miño”

23
(Murguía, 1888. p.55), frase na “que amosa amor e ‘sentimento da terra’ común a unha
banda e outra do noso río” (Calo e Soeiro, 2017. p.494). Malia ser Murguía un celtista
convencido, tras ler a Hübner, recoñeceu que as estatuas de guerreiros castrexos son dos
“primeros tiempos del Imperio a los cuales deben ser adjudicadas sin vacilación de ningún
género” (Murguía, 1906. p.496, nota 1). Tampouco falarei de Maciñeira, amigo de Hübner
(sabio que debía ter un magnífico carácter a xulgar polo inmenso número de relacións que
mantiña na Península, Francia, Inglaterra...) e de Leite de Vasconcelos, do que chegou a
escribir: “A él le debo lo poco que significo” (Bouza, 1947. p.11).
Os traballos de campo de Maciñeira camiñaban por outras etapas da arqueoloxía.

O RELEVO. FLORENTINO LÓPEZ CUEVILLAS

En torno a 1920, Florentino López Cuevillas, home das Irmandades da Fala, de Nós e
do Seminario de Estudos Galegos, que viña de publicar sobre a aínda fresca Revolución
Rusa, muda o seu interese cara á nosa arqueoloxía, iniciándose no eido dos castros,
en 1922, cun traballo sobre o de San Cibrás de Las. Xa desde o principio se amosa
coñecedor da bibliografía europea, de Déchelette, Cartailhac, Childe, Leisner, Breuil,
Obermeier (quen andou por Galicia en 1922), Schulten, Mac White, Leeds, Schuchardt,
Almagro, Santa Olalla, Bosch ou o seu discípulo Pericot, co que escava en San Cibrán de
Las e en Troña, cando a súa pasaxeira estancia como profesor en Santiago e conservando
unha relación de amizade e respecto mutuo toda a vida (cfr. PERICOT, 1959). Coñece
ben os investigadores portugueses. desde Sarmento, Leite de Vasconcelos, Sampaio ou
Fontes ata os da súa época como Serpa Pinto (co que publicará traballos sobre a Idade do
Ferro), Jalhay, Cardozo, Paço ou Santos Junior, entre outros. Tamén foi Cuevillas sincero
admirador de Sarmento, a quen dedicou a súa grande obra, A civilización céltica en Galicia,
con estas discipulares verbas: “A la memoria de Francisco Martins Sarmento, cuyas huellas
son nuestro camino”. O estado da arqueoloxía galega era un “totum revolutum”, cando el
chegou, e precisaba dun analítico como Cuevillas, formado en farmacia e, por conseguinte,
coa mente orientada ás taxonomías, ás clasificacións, ás tipoloxías; cada substancia no
seu tarro ou albarela.

24
Despois dun traballo de prospección polo Barbanza (López Cuevillas e Bouza, 1927-
1928), cómpre citar un novidosísimo estudo feito entre os dous, en 1929, no que se
combinan a arqueoloxía prehistórica, os paralelos etnolóxicos e folclóricos, as fontes
literarias clásicas e a historia das relixións; neste libro, Os oestrimnios, os saefes e a
ofiolatria en Galicia, os galaicos, seguindo o invasionismo de moda de Bosch, eran celtas.
Nótanse aí uns intereses etnolóxicos semellantes aos de Sarmento, quen sempre dixo que
o que a el lle importaba era coñecer as orixes étnicas e que “nunca pretendí as honras
de arqueólogo” (Cardozo, 1961. p.11). En colaboración co malogrado Rui de Serpa Pinto,
publica dous interesantísimos traballos sobre as tribos e a relixión na Idade do Ferro
(López Cuevillas e Pinto. 1934a e 1934b). Entrementres, Losada Diéguez escava o castro
de Montealegre (Moaña) e González García Paz os de Baroña e Borneiro. Mais xa antes
Ignacio Calvo, pioneiro na escavación dun castro en territorio galego, realizará varias
campañas, entre 1914 e 1923, no xacemento de Santa Trega, continuando os traballos,
entre 1928 e 1933, Mergelina. En Castromao traballará García Rollán e, posteriormente,
Ferro Couselo e Lorenzo Fernández. En 1953 aparece La civilización céltica en Galicia de
López Cuevillas. Foi este libro un verdadeiro fito nos estudos da cultura castrexa, xa que,
con só sete castros (6 deles da etapa final) montou toda a engrenaxe dunha cultura, válida
aínda hoxe en moitos aspectos.
Na estela de López Cuevillas, traballaron Fraguas Fraguas, Lorenzo Fernández, Ferro
Couselo, Taboada, etc., mentres a universidade de Compostela se mantiña en barbeito,
o que tampouco é para se escandalizar excesivamente, coñecendo as queixas de Glyn
Daniel sobre o que acontecía nas inglesas polas mesmas datas, concretamente no curso
56-57. Dicía el: “Las universidades no han seguido, necesariamente, el ritmo del progreso
intelectual”, e engade unha cita de 1907, extraída dunha conferencia en Oxford do profesor
Haverfield: “nuestros arqueólogos más grandes no habían estado relacionados con las
universidades” (Glyn, 1977. p.11).
Todos os investigadores anteriores, galegos e portugueses, foron e son acusados
de escavar seguindo os muros e baleirando as casas. Hai quen semella ignorar como
traballaban fóra das nosas fronteiras. Xa vimos como Cartailhac gabou o bo facer de
Sarmento, mentres Mariette (morto en 1880), que, naquela altura, viña de “escarvar” en
30 xacementos exipcios, foi criticado por Sir Flinders Petri (1853-1942), tamén arqueólogo

25
no país do Nilo, dicindo que dinamitaba as ruínas dos templos para avanzar, que non
remataba as zonas, que non tiña un plano de traballo, nin de conservación, etc. En 1904
(morto xa Sarmento), publica Petrie o libro Methods and Aims in Archaeology, extractado
por Glyn (1994. p.227 ss.), no que aconsella que o arqueólogo estea sempre a pé de obra
e que, cando se atope algo, deben de ser as súas mans expertas as que o retiren do chan
e “su presteza debe mostrarse por lo corto de sus uñas y lo curtido de su piel”. Pero tamén
dixo que cando se escava en sitios pequenos e afastados, que chega con que vaia pola
escavación cada dous ou tres días para anotar os achados, frase que escandalizou a Sir
Mortimer Wheeler, que chegou a dicir: “Mi pluma se derrite cuando transcribo estas palabras”.
O s. XIX foi, segundo Frédéric, o século “dos ratoeiros, a ver quen levará para os seus
museus as mais belas peças” (1980, p.30). O verdadeiro iniciador das actuais técnicas de
escavación na Europa Occidental foi o xeneral Pitt Rivers (1827-1900), quen propugnou
a ordenación tipolóxica dos materiais arqueolóxicos, así como a anotación sistemática de
todo, aínda que non nos pareza de valor, porque non sabemos o que pode aparecer ou
interesar máis adiante e cómpre non desprezar ningún dato. Precisamente, por recoller
e valorar ata os anacos máis humildes, díxose del que acabou co bo gusto, co afán pola
contemplación de cousas vellas, que era o que se pretendía, ata el, coa arqueoloxía e as
conseguintes escavacións. Cando iniciamos o S. XX, estase a producir, seguindo a estela
de Rivers, unha revolución na técnica arqueolóxica, desenvolvida por Sir Mortimer Wheeler,
autor de Archaeology from the Earth, de 1954, (en español non aparece ata 1961, sendo o
manual de Martín Almagro, de 1941, o único que existía en España), unha completa guía
de traballo de campo na que insiste en que o arqueólogo debe de asegurar a sucesión
ordenada dos restos que atope, coidando das estratigrafías e comparando as falsas por
nivelación coas reais. Chega a dicir: “Hoy el excavador debe saber como leer sus cortes
en el terreno, o debe abstenerse de excavar en absoluto”. Así están as cousas no eido
da arqueoloxía de campo, cando xa Cuevillas, que morrería en 1958, tiña feito todo o seu
traballo e publicado, en 1953, a Civilización céltica en Galicia; Pensemos que, nese ano,
aínda se dicían frases como a que cita Dunnell: “En 1953, una fecha lejana, era posible que
el eminente prehistoriador americano A. C. Spaulding resumiera la Prehistoria como aquéllo
que a los prehistoriadores les gusta hacer, y nada o poco más” (Dunnell, 1977. p.137-138).

26
Tamén a técnica de datación polo C14 lle chegou tarde, non sendo descuberta por Libby
ata 1945. Xa antes de 1933, os irmáns Lorenzo (Xurxo e Xaquín) elaboraron un manual
non só de escavación, senón tamén de planimetría, de conservación, estudo e rexistro de
materiais, representación gráfica de perfiles, baleirados, etc. Non chegou a ser publicado
e está perdido talvez entre os documentos de don Vicente Risco, que dixo todo isto na
necrolóxica de Xurxo Lorenzo, prometedor e malogrado mozo que algúns, por paralelismos
intelectuais e vitais, relacionamos con Rui de Serpa Pinto (Cfr. Fariña e Rodríguez, 2004.
p.227-228).
Chegados aquí, cómpre salientar un bo traballo de Blanco Freijeiro case nunca citado,
no que defende que os inicios desta cultura, segundo o materiais, non poden ir máis alá do
500 a. C. Distingue dous períodos: s. IV-III de sorprendente primitivismo e II-I de castrexo
pleno; dos celtas di que “acaso el futuro rechacen de pleno” (Blanco, 1960).
Con lixeiros matices concordo co autor. Hai que subliñar tamén a Maluquer e a súa
síntese da cultura castrexa (na Historia de España de Menéndez Pidal), así como o seu
artigo, sempre citado, sobre a formación e desenvolvemento desta cultura (Maluquer, 1963 e
1975).
Na arqueoloxía dos castros, ata a década dos 70 e mesmo na seguinte, en case
todos os traballos que se publicaban, facíase constar a carencia de estratigrafías nos
xacementos. Nuns porque se dicía que non as había, noutros, porque non se escavaba
tentando atopalas. Christopher Hawkes -un dos escasos arqueólogos non alemáns
que, fronte ao nazismo, presentou a dimisión como membro que era do “Deutsches
Archäologisches Institut” (Demoule, 2014. p.225-227)- valorizou as estratigrafías en Âncora
e Sabroso, da que lle chamou a atención o aparello pétreo, dicindo: “its fine polygonal
masonry, exotic in this region, suggests skilled mason arriving from the South (Hawkes,
1971. p.285). Malia o dito e os materiais, seguindo o iniciado por Sarmento, non quere ver
alí nada romano. Máis cauto foi López Cuevillas, cando introduce un “quizá”: “abandonado
quizá antes del sometimiento de la Galecia a los generales de Augusto” (López Cuevillas,
1953. p.387). En Sabroso hai fíbulas anulares (Fowler Aa, Fowler B1 e mesmo 4 Fowler C;
as primeiras nacen entre os séculos III-I a. C. e sobreviven en Inglaterra e Alemaña en plena
época claudiana, as segundas teñen unha cronoloxía que vai do s. I d. C. ao s. III d. C.
e as últimas dátanse entre o s. I a. C. e o I d. C. Hai unha aucissa (17C de Camulodum) que

27
en Portugal aparece ben representada en Conímbriga entre o período claudiano e o flavio-
traxano (Ponte, 1984. p.126). En 1981, escavamos en Sabroso baixo a dirección de Soeiro.
As conclusión publicadas foron moi semellantes ás de Hawkes, se ben cautelosamente
se admite que este castro quizá tivese o seu máximo desenrolo no s. I a.C. e mesmo
despois do cambio de era, sen chegar a ser romanizado. A cronoloxía proposta vén dada
polo material cerámico, “o mais divulgado pelos trabalhos de Briteiros, Sanfins, etc.” (Soeiro,
Centeno e Silva, 1982). É evidente que a aculturación debeu de ter a súa importancia
a xulgar polos materiais: moeda(s), fíbulas anulares, de longo travessão sem espira,
aucissas e, por suposto, de “Sabroso”, que da nome ao tipo, algún anaco de ánfora, muíños
redondos e cerámica indíxena (dolios, vasos de asa interior...) de época augústea.
O urbanismo (rúas e praza lousadas, as casas (de aparello poligonal e con vestíbulo),
as decoracións pétreas... Todo nos leva a pensar que desenvolveu parte da súa vida no s.
I d. C. (Calo, 1991. p.422). Anos despois, lemos: “A periodização que nos deu (Hawkes) da
cultura castreja, baseada en factos históricos relativos à conquista e ao domínio romano do
Noroeste peninsular, aparece-nos, hoje, como algo mecânica e exterior à cultura material
que os castros evidenciam...” (Almeida e Acuña, 1996-1997. p.98).
Diciamos que era habitual a denuncia da falla de estratigrafías (Cfr. Soeiro e Calo,
2014. p.145-146). Esta ausencia levou a Silva e Centeno (1977) a realizar a 1ª análise
estratigráfica do castro auroral, da Citânia de Briteiros. Quéixase desta carencia tamén
Höck (1980), cando escava o castro de S. Juzenda (Mirandela), engadindo que só
contamos coas estratigrafías de Cameixa, xacemento recorrente sobre a cuestión e
escavado por López Cuevillas e Lorenzo (1948 e 1986). Höch di, en páx. 57, que a
serra do Marão é unha “nítida fronteira climatérica” ou que esta rexión de Tras-os-Montes
“pertence à parte continental do país. Na realidade apresenta características xeográficas
que o associam mas à paisagem que se estende para leste, para Espanha, do que ao
Minho”. Situado S. Juzenda a leste do río Tuela, queda xa fóra do que eu considerei e
considero Cultura Castrexa e, se o autor fai notar que desde o punto de vista climático,
paisaxístico e poboacional isto é máis España (léase Castela) que Entre-Douro-e-
Miño, farei eu notar que, subindo o Douro, en pasando o Túa, atopamos o “Cachão da
Valeira, onde afogou a barón de Forrester, bo coñecedor do río, autor dunha espléndida
cartografía do mesmo e loitador por unha unión entre o Porto e o Mediterráneo catalán,

28
facendo navegables e comunicando o Douro co Ebro. Trato disto nun traballo en prensa
sobre Lixa Filgueira e os barcos do Douro, e nel digo que, se, cando escribimos sobre os
lindeiros da Cultura Castrexa (Calo, 1991), tiveramos coñecido dados como os que aporta
o libro de Pereira e Barros, teriámolos engadido, pois ten interese para ao asunto saber
que a navegación polo Douro se realizaba só do Porto á foz do Túa. Por riba desta, está
a barreira do devandito Cachão da Valeira, “onde as augas caíam em açude”, propiciando
a riqueza piscatoria de San João da Pesqueira, ao tempo que funcionaba como auténtica
fronteira que “empurrou’ os almocreves e mercaderes, na sua maioria cristãos-novos,
para contactos preferenciais com o reino vizinho, particularmente para a zona em volta
de Salamanca” (Pereira e Barros, 2001. p.62 e 134) . Era un accidente xeográfico case
insalvable que exerceu de rotundo obstáculo divisorio xa desde a antigüidade, chegando
mesmo a facer variar o xeito de pronunciar o nome do mesmo río, pois, se contra o mar o
coñecemos como Douro, polas terras que levan do Tua aos lindeiros leoneses soará como
Doiro, sendo Duero na meseta castelá, desde a kárstica Soria ata a Miranda de falares
propios (Calo, en prensa. p.60-61). No noso traballo de 1991 consideramos tamén para os
lindeiros da cultura castrexa as isoglosas (p.48).

NOVO IMPULSO. CARLOS ALBERTO FERREIRA DE ALMEIDA

A década de 1970 significou un fito importantísimo na práctica da arqueoloxía no


Noroeste e no coñecemento do mundo dos castros. En Portugal temos a figura de
Carlos Alberto Ferreira de Almeida, un home de ampla e fonda formación teórica e cuns
coñecementos da terra froito da súas vivencias campesiñas das que sempre se sentiu
fachendoso. Escavador impecable, lector de estratigrafías, sempre minuciosas e ben
definidas, e un perfecto coñecemento das cerámicas levárono a concluír, xa en 1974, algo
revolucionario: que o monumento con forno de Sanfins “não só foi utilizado em plena época
de romanização como deve ter sido tambem construído ja nesta fase” (Almeida, 1974a).
No mesmo ano publicou a primeira tipificación cronolóxica da cerámica castrexa
(Almeida, 1974b), nun traballo no que aínda di que “povoados como Sanfins e Mozinho
parecem ter surgido rapidamente, passando a defender povos que habitaban zonas mais

29
abertas”. Pero a publicación desta década que merece ser sinalada como un verdadeiro fito
na arqueoloxía dos castros é a de 1977 sobre as escavacións de Monte Mozinho. Non son
máis que 38 páxinas (figuras e láminas incluídas) amais de 8 da autoría de Rui Centeno
sobre as moedas alí atopadas. Das 38, as 8 derradeiras son de conclusións e constituíron
na época un modelo clarificador (non lido ou, cando menos, case nunca citado) do que
era un grande castro ao longo do s. I d. C. (Almeida. 1977). Se co Monte Mozinho sentou
cronoloxías seguras para o romano dos castros, as escavacións de Santo Estevão da
Facha, tamén por el dirixidas, aportaron toda a diacronía desde o Bronce Final ata o Mundo
Medieval (Almeida et al. 1981).
Tiven a fortuna de traballar con Ferreira de Almeida nos dous xacementos citados
e noutros máis, e podo dicir que foi mestre directo meu e de moitos investigadores
participantes neste congreso, así como de especialistas doutras etapas, caso de
Vitor Oliveira Jorge, quen fixo arqueoloxía da paisaxe na serra da Aboboreira, a onde
chegaban “as visitas breves mas estimulantes do Prof. Carlos Alberto Ferreira de Almeida
(o responsável da minha vinda para o Porto)” (Jorge, 2014. p.131). Se Vítor O. Jorge
dicía no remate dese mesmo artigo que “No Norte de Portugal, nos anos 70, partimos
praticamente de zero, no âmbito da ‘arqueologia pré-histórica”, outro tanto podemos dicir
do que acontecía en Galicia, onde o peso das investigacións arqueolóxicas estaban en
mans da “Sección de Arqueoloxía e Prehistoria do IEGPS”, centro do CSIC diametralmente
distinto do actual co mesmo nome. A dita Sección acollía a todos os que, daquela, tiñamos
algo que dicir e facer no eido da arqueoloxía galega, aínda que a nosa formación tivese
moito de autodidactismo. En 1977, escribimos un estado da cuestión sobre arqueoloxía
en Galicia para presentar no “XV Congreso Arqueolóxico Nacional” celebrado en Lugo e
foi publicado dous anos despois (VV. AA., 1979). Insistiamos nel na necesidade de facer
escavacións en castros prestando especial atención ás estratigrafías e traballabamos en
diferentes xacementos coidadosamente escollidos. En Portugal, o 25 de abril de 1974
significou unha enorme revitalización da arqueoloxía. En Galicia, a morte do ditador non
significou nada neste eido. Seguiamos a depender de Madrid ata que, xa nos 80, pasamos
a facelo da Xunta de Galicia. A partires de 1985, impedíusenos a todos continuar coas
nosas escavacións baixo o pretexto de que non eramos arqueólogos; certamente, as nosas
titulacións eran licenciaturas ou doutorados en Historia e, non existindo na época dos

30
nosos estudos a titulación de arqueólogo (ata 1999 non hai licenciatura no Porto), resultaba
tecnicamente difícil ser cristiáns antes de Cristo. Posteriormente, só poderían escavar
os que montasen unha empresa e cotizasen como autónomos. Así remataron todos os
nosos plans en marcha e, anos despois, o IEGPS burocratizouse e desgaleguizouse, a
nosa Sección de Arqueoloxía e Prehistoria celebrou a súa derradeira xuntanza, como tal
Sección, o 13 de xaneiro de 2001, e o seu lugar foi ocupado por outras xentes.

NOVA ARQUEOLOXÍA

Se os investigadores anteriores, de Sarmento a López Cuevillas, foron acusados de


escavar seguindo muros, aos da miña xeración recrimínasenos que facemos cuadrículas
e banquetas, esquecendo que a maioría de nós non diriximos escavacións, polo denantes
dito, desde mediados de 1980 e algúns non ignoramos que o método Harris coas
súas unidades estratigráficas (UE) naceu nos anos 70, nin que foi pensado para facer
arqueoloxía urbana. Se hoxe abrise un novo xacemento, cuadricularía (tamén se cuadricula
na escavación en área), porque me sinto máis cómodo e seguro vendo as banquetas e
porque non detecto que, despois de varias décadas, empregando o Matrix Harris, avanzase
significativamente o coñecemento da cultura castrexa sobre o punto ao que chegaramos
nas décadas 70 e 80. Sería de necios minusvalorar a interdisciplinariedade ou o valor dos
métodos xeofísicos, a observación de anomalías magnéticas, condutividade e resistencias,
teledetección, cronoloxías absolutas, desde o método Libby do C14 ata a dendrocronoloxía,
palinoloxía... Todo isto benvido sexa. Cousa distinta é que me entusiasmen os “novos”
métodos, xa bastante antigos e con críticas varias. Sigfried de Laet, en 1977, falaba
de verdadeiras querelas entre escolas e enorme “confusão terminológica que lembra
deproravelmente a Torre de Babel”. Engade que aceptarán as novas tendencias, que
queren asimilar o máis posible a arqueoloxía (sobre todo a prehistórica) ás ciencias da
natureza, os menores de 30 anos, mentres que para os maiores de 40 anos a arqueoloxía
segue a ser unha disciplina histórica e ideográfica e o seu dominio está no campo das
ciencias humanas e debe estudar o home, a orixe e evolución das civilizacións humanas.
Métodos cuantitativos si, pero como medio, non como fin dos traballos arqueolóxicos.

31
Da New Archaeology, procesual, analítica ou de sistemas, teoría elaborada a partir do
estudo das sociedades amerindias, lemos: “professait que l’archéologie est une science
autonoma qui ne doit rien à l’histoire e doit même se detourner d’elle” (Bruneaux, 2017:
332-333). Esta teoría, elaborada por Binford nos anos 60, defende o método científico,
tanto das ciencias naturais como da antropoloxía social. O profesor Alarcão exemplifica a
aplicación desta arqueoloxía procesual con diferentes situacións en Conimbriga, facendo
notar o que é unha secuencia de feitos, semellante aos anais medievais, e o que é unha
narrativa, un proceso, unha articulación causa-efecto, e conclúe que a introdución da
explicación caracteriza o discurso procesual, vg o porqué das murallas de Conimbriga
(Alarcão, 1996/97). Iso mesmo faciamos nós sen ser procesualistas, (como lle pasaba ao
burgués de Molière que falaba en prosa sen sabelo), vg. cando explicabamos o porqué do
urbanismo dos castros despois dos anos 70 d. C.
Logo de traballar na Foz do Côa co método post-procesual, Vítor O. Jorge dixo: “a
maior parte do que cai dentro do campo chamado ‘pos-processual já não me satisfaz há
muito”. Verifica que na arqueoloxía actual case todo canto se fai é no ámbito empresarial,
sendo común a sumisión dos arqueólogos “a interesses que pouco ou nada têm a ver
com a pesquisa”. Critica duramente a destrución de xacementos “em nome de interesses
imediatos públicos ou particulares” (Jorge, 2014: 133-134). Adroher (2014. p.406), supoño
que para evitar aquela confusión da que falaba De Laet, chegou a propor establecer
protocolos para poder comparar distintas escavacións ou estudos de materiais con
independencia do grupo autor. Certamente, isto non era preciso coa metodoloxía que
seguiamos “os maiores de 40”.
O manual citado de Frédéric inicia con esta frase, que adopto, de Sir Mortimer Wheeler:
“The archaeological excavator is not digging things but people”. Isto lévame á viaxe a
Estocolmo de dous grandes historiadores, Marc Block e o mestre Pirenne. Estrañouse
Block de que o primeiro que quería ver o mestre fose a nova casa do concello, mais este
aclaroulle: “Si fuera anticuario no tendría ojos más que para las cosas antiguas. Pero soy
historiador. Por eso amo la vida” (Block, 2001. p.71). Eu tamén son historiador e gozo coa
lectura dos mestres. Un mes antes de morrer o grande historiador Braudel, fíxoselle un
grande coloquio-homenaxe. Théodore Zeldin dixo: “Yo diría que el lema de la ‘nueva nueva
historia’ es: ¡Hay que sorprender!. En el pasado, un historiador escribía de forma amena

32
e interesante lo que todo el mundo sabía, pero ahora eso no basta”. Ao que Braudel
contesta: “Se dice de forma desagradable lo que todo el mundo ignora!” (Braudel, 1994.
p.165-166). Como dixo Block, na páx. 44 do seu citado libro, “Cuidémonos de no quitarle
a nuestra ciencia lo que tiene de poesía”.
Cando vexo o adanismo e o desprezo das xeracións seguintes á miña por todo o traballo
que fixemos os anteriores e procuro comprobar que máis saben ca nós sobre cultura
castrexa, remato concordando con Bertier de Sauvigny cando reivindica publicacións
antigas “injustamente desdeñadas”, xa que “la experiencia me ha enseñado, en el
transcurso de una larga carrera dedicada a la enseñanza de la historia, que la novedad
aparente no es muchas veces sino el pasado que se vuelve a descubrir” (Bertier de
Sauvigny, 1986. p.11-12). Todo o aparello estrutural do coñecemento da cultura castrexa
se fixo, antes, seguindo muros e, posteriormente, cuadriculando o terreo. As escavacións
en área aínda non aportaron nada substancial, mais hoxe, mesmo por imposición, o
importante é o camiño, o método, non a chegada, non os resultados. Van alá 41 anos
desde que Glyn escribiu: “No quiero mostrarme cínico en esto, científico, en prehistoria,
quiere decir ‘moderno’ y ‘reciente...” (Glyn, 1977. p.64). Cando Cardozo se dirixiu, en
Guimarães, aos congresistas do “III Congreso Nacional Español de Arqueología”, dixo que,
despois de case un século de escavacións, “seria de esperar, repito, que tivéssemos hoje
um conhecimento muito mais exacto do que aquele que realmente possuimos da vida,
das origens e dos usos e costumes destes povos castrejos. E não é assim, infelizmente”
(Cardozo, 1953. p.671). Cando na década dos 80 traballaba na miña tese de doutoramento,
anotei á marxe deste parágrafo: “Vale para hoxe”. Agora, en 2018, aínda conserva moito do
seu valor.

33
BIBLIOGRAFÍA

ADROHER AUROUX, Andrés María (2014). S.I.R.A. Reflexiones sobre la normalización en el estudio de
cerámicas procedentes de excavaciones arqueológicas. In Congresso Conquista e Romanização do Vale o
Tejo. Cira Arqueologia, nº 3. Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, p.404-425.
AGUIAR BARREIROS, P. Manuel (1917). Elementos de Archeologia e Bellas Artes. Braga.
ALARCÃO, Jorge (1996/97). Sobre o discurso arqueológico. Porto. Portugalia. Nova Série, XVII/XVIII, p.15-22.
ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de (1974a). O monumento com forno de Sanfins e as escavações de
1973. Porto. Actas do III Congresso Nacional de Arqueologia, vol 1, p.149-172.
ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de (1974b). Cerâmica castreja. Guimarães. Revista de Guimarães. vol.
LXXXIV, p 171-197.
ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de (1977): Escavações no Monte Mozinho II. Penafiel
ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de (1978). Arquitectura románica de Entre-Douro-e-Minho. T. I. Porto.
Tese de doutoramento mecanografada. FLUP.
ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de e ACUÑA CASTROVIEJO, Fernando (1996-1997). A Cultura Castreja -
Ontem e Hoje. Porto. Portugalia, Nova Série, vol. XVII-XVIII, FLUP, p.97-99.
ALMEIDA, C. A. Ferreira de, SOEIRO, T., ALMEIDA, C. A. Brochado de, BAPTISTA, A. J. (1981):
Escavações Arqueológicas em Santo Estevão da Facha. Ponte de Lima. Sep. do Arquivo de Ponte de Lima, nº 3.
BERTIER DE SAUVIGNY, G. de (1986). Historia de Francia. Madrid. Ediciones Rialp S. A.
BLANCO FREIJEIRO, Antonio (1960). La Cultura Castreña. Pamplona. Primer Symposium de Prehistoria de
la Península Ibérica, p.179-194.
BRAUDEL, Fernand (1994). Una lección de Historia. Barcelona. Biblioteca Mondadori.
BLOCK, Marc (2001). Apología para la Historia o el oficio de historiador. México. Fondo de Cultura
Económica.
BOUZA BREY, Fermín (Revisión e edición) (1947). Prólogo. In Maciñeira y Pardo de Lama, Federico. Bares.
Puerto Hispánico de la Primitiva Navegación Occidental. Santiago de Compostela, IEGPS-CSIC.
BRUNAUX, Jean-Louis (2017). Les Celtes. Histoire d’un mythe. Paris. Éditions Belin,
CALO LOURIDO, Francisco (1991). A Plástica da Cultura Castrexa Galego-Portuguesa. Tese de
doutoramento mecanografada. Universidade de Santiago = (1994) “Fundación “Pedro Barrié de la Maza, Conde
de Fenosa”. Pontevedra. Catalogación Arqueológica y Artística del Museo de Pontevedra (2 tomos).
CALO LOURIDO, Francisco (2003). Evocación e encadramento cultural de D. Xaquín. Boletín Auriense. Ano
XXXIII, Tomo XXXIII. Ourense. Museo Arqueolóxico Provincial, p.9-35.
CALO LOURIDO, Francisco (2010). Os celtas. Unha (re)visión dende Galicia. Vigo. Edicións Xerais de Galicia. S.A.
CALO LOURIDO, Francisco (en prensa). Os barcos do Douro na ollada etnográfica de Lixa Filgueira. Peso
da Régua.
CALO LOURIDO, Francisco e SOEIRO, Teresa (2017). En demanda das raíces. A arqueoloxía do Noroeste
Peninsular nas primeiras décadas do século XX. In BERAMENDI et al. (Eds.). Repensar Galicia. As Irmandades
da Fala. Compostela. Xunta de Galicia-Museo do Pobo Galego, p.491-508.

34
CAPELLA, M. (1917). Prefacio. In AGUIAR BARREIROS, P. Manuel. Elementos de Archeologia e Bellas
Artes. Braga, p.5-8.
CARDOZO, Mário (1930). Citânia e Sabroso. Notícia Descritiva. Guimarães. Sociedade Martins Sarmento.
CARDOZO, Mário (1933). Dr. Francisco Martins Sarmento (Esbôço bio-bibliográfico). Homenagem a Martins
Sarmento, Guimarães, p.1-19.
CARDOZO, Mário (1947). Correspondencia epistolar entre Emílio Hübner e Martins Sarmento (Arqueologia
e epigrafia) 1879-1899. Guimarães.
CARDOZO, Mário (1953) Alguns problemas da Idade do Ferro no Norte de Portugal. Guimarães. Revista de
Guimarães, vol. LXIII, nº 3-4. p.666-683.
CARDOZO, Mário (1961). Francisco Martins Sarmento. Esboço da sua Vida e Obra Científica. Tomado de:
http://www.csarmento.uminho.pt/docs/sms/fms_biografia/Biografia%20de%20FMSarmento%20_MC_.pdf
CARTAILHAC, Émile (1886). Les âges prehistoriques de l’Espagne et du Portugal. Paris.
CENTENO, Rui, SOEIRO, Teresa e SANCHES, Maria de Jesus (2013). Caminhos e encruzilhadas. O
ensino e a investigação em arqueologia na faculdade de Letras U.P. Revista da Facultade de Letras. Ciencias
e Técnicas do Patrimonio, vol. XII. Homenagem a Armando Coelho Ferreira da Silva”. Porto. Universidade do
Porto, p.31-48.
DEMOULE, Jean-Paul (2014). Mais òu sont passés les Indo-Européens? Le mythe d’origine de l’Occident.
París. Éditions du Seuil.
DUNNELL, Robert C. (1977). Prehistoria Moderna. Introducción sistemática a la Arqueología Prehistórica.
Madrid. Ediciones Istmo.
DUBY, Georges (1994). Europa en la Edad Media. Barcelona. Ed. Planeta-Agostini S. A.
FARIÑA, Francisco e RODRÍGUEZ, Xulio (2004). Dimensión arqueolóxica de X. Lorenzo. In Xoaquín
Lorenzo, 1907-1989. Unha Fotobiografía. Vigo. Edicións Xerais de Galicia, S. A., p.225-234.
FRÉDÉRIC, Louis (1980). Manual prático de Arqueologia. Coimbra. Livraria Almedina.
GLYN, Daniel (1977). El concepto de prehistoria. Barcelona. Editorial Labor S. A.
GLYN, Daniel (1994). Historia de la Arqueología. De los anticuarios a V. Gordon Childe. Madrid. Ediciones
del Prado.
HAWKES, Christopher (1971). North-western castros: excavation, archaeology, and history. Actas do II
Congreso Nacional de Arqueologia, Coimbra, p.283-286.
HÖCK, Martin (1980). Corte estratigráfico no Castro de S. Juzenda (Concelho de Mirandela). Seminário de
Arqueologia do Noroeste Peninsular, vol. II. Guimarães, p.55-70.
HÜBNER, Emil (1861). Statuen galläkischer Krieger in Portugal und Galicien. Denkmäller und Forschunguen.
Archäologische Zeitung, nº 154, Berlin, p.186-195.
HÜBNER, Emil (1869) Corpus Inscriptionum Latinarum, II. Berlín.
HÜBNER, Emil (1879) Citânia. Archeologia Artística, t. I, fasc. V, Porto (25pp.) = SARMENTO (1933)
Dispersos, Coimbra, p.448-462.
HÜBNER, Emil (1892). Corpus Inscriptionum Latinarum, II. Supplementum, Berlín.

35
JORGE, Vítor Oliveira (2014). Do Campo Arqueológico da Serra da Aboboreira à experiência de Vila Nova
de Foz Côa: breve balanço de 35 anos da arqueologia... que Abril abriu (1978-2013). Revista da Facultade de
Letras. Ciencias e Técnicas do Patrimonio, vol. XIII. Porto. Universidade do Porto, p.129-141.
LAET, Sigfried de (1977). A arqueologia e a pré-história. Lisboa. Livraria Bertrand.
LIMA, J. A. Pires de (1926-28). Uma visita ao Monte de S. Miguel-o-Anjo. Trabalhos de Antropologia e
Etnologia, III, Porto, p.289-298.
LÓPEZ CUEVILLAS, Florentino (1953). La civilización céltica en Galicia, Santiago.
LÓPEZ CUEVILLAS, Florentino e BOUZA BREY, Fermín (1927-1928). Prehistoria e Folklore da Barbanza.
Nós, Ourense, nº 46, 47, 49, 50, 51 e 52.
LÓPEZ CUEVILLAS, Florentino e BOUZA BREY, Fermín (1929). Os Oestrimnios, os Saefes e a Ofiolatría en
Galicia. Arquivos do Seminario d’Estudos Galegos – II. Seizón de Prehistoria, A Coruña, Nós. (Hai ed. facs. de
1992).
LÓPEZ CUEVILLAS, Florentino e LORENZO FERNÁNDEZ, Xaquín (1948). Notas arqueolóxicas do castro
de Cameixa. Revista de Guimarães, LVIII, Guimarães, p.288-305.
LÓPEZ CUEVILLAS, Florentino e LORENZO FERNÁNDEZ, Xaquín (1986). Castro de Cameixa. Campañas
1944-46. Santiago. Xunta de Galicia.
LÓPEZ CUEVILLAS, Florentino e PINTO, Rui de Serpa (1934a). Estudos encol da Edade do Ferro no
Noroeste da Peninsua. As tribus e a súa costituzón política, Arquivos do Seminario de Estudos Galegos –VI
Seición de Prehistoria, Santiago.
LÓPEZ CUEVILLAS, Florentino e PINTO, Rui de Serpa (1934b). Estudos encol da Edade do Ferro no
Noroeste da Peninsua. A Relixión, Arquivos do Seminario de Estudos Galegos –VI Seición de Prehistoria,
Santiago de Compostela.
LÓPEZ FERREIRO, Antonio (1889). Lecciones de Arqueología Sagrada. Santiago.
MALUQUER DE MOTES, Juan (1963). Pueblos celtas. In MENÉNDEZ PIDAL (Ed.). Historia de España,
T. I. Madrid. Espasa-Calpe, S.A., p.41 ss.
MALUQUER DE MOTES, Juan (1975). Formación y desarrollo de la cultura castreña. Actas de las
I Jornadas de Metodología Aplicada de las Ciencias Históricas, I. Prehistoria e Historia Antigua. Vigo.
Universidade de Santiago, p.269-284.
MURGUÍA, Manuel (1888). Galicia. Col. España. Sus monumentos y artes. Su naturaleza e Historia.
Barcelona, Daniel Cortezo y Cía. (Eds), (con introdución de Beramendi), Vigo. Edicións Xerais de Galicia, S. A.
(2 tomos).
MURGUÍA, Manuel (1906). Historia de Galicia, t. II, 2ª ed., A Coruña.
PEREIRA, Gaspar Martins e BARROS, Amândio Morais (2001). Memória do rio. Para uma história
da navegação no Douro. Porto. Edições Afrontamento Lda.
PERICOT, Luís (1959). Algunos recuerdos personales de Cuevillas. Boletín de la Comisión Provincial
de Monumentos de Orense, XX. Ourense.
PONTE, Salete da (1981). Quatro fíbulas da Citânia de ‘Santa Luzia’. Minia, 2ª Série, vol. IV, fasc. 5, Braga,
p.149-152.

36
SAMPAIO, Alberto (1899). As ‘Villas’ do Norte de Portugal. Portugalia. Materiaes para o estudo do povo
portuguez, Tomo I, fasc. 1, Porto, p.97-128.
SARMENTO, Francisco Martins (1879). Observações à Citânia do Sr. Doutor Emílio Hübner, Porto (46 pp.) =
Dispersos. Coimbra, p.463-489.
SILVA, Armando Coelho Ferreira da (2014). Arqueologia no Porto para lá e para cá do sétimo día das
calendas de maio. Revista da Facultade de Letras. Ciencias e Técnicas do Patrimonio, vol. XIII. Porto.
Universidade do Porto, p.105-117.
SILVA, Armando Coelho Ferreira da e CENTENO, Rui (1977). Sondagem arqueológica na Citânia de
Briteiros (Guimarães). Notícia Sumária. Revista de Guimarães, LXXXVII, Guimarães, p.277-280.
SOEIRO, Teresa (2004). Menos mal que nos queda Portugal. Boletín da Real Academia Galega, nº 365.
A Coruña, p.217-234.
SOEIRO, Teresa e CALO LOURIDO, Francisco (2014). Escavações de Monte Mozinho (1974-1998):
projecto territorial e lugar de encontro de Callaecia. Revista da Facultade de Letras. Ciencias e Técnicas do
Patrimonio, vol. XIII. Porto. Universidade do Porto, p.143-158.
SOEIRO, Teresa, CENTENO, Rui e SILVA, Armando (1982). Sondagem Arqueológica no Castro de Sabroso
(Guimarães) 1981. Sep. da Revista de Guimarães, XCI, Guimarães, p.3-12.
VV. AA. (1979). Prehistoria e Arqueoloxía de Galicia. Estado da cuestión. Lugo. Sección de Arqueoloxía
e Prehistoria do IEGPS do CSIC.

37
Comunicações
Jesús F. Jordá Pardo
Emilio Abad Vidal
Israel Picón Platas
Valeria Zandueta
Josefa Rey Castiñeira
Carlos Marín Suárez
CRONOLOGÍA RADIOCARBÓNICA DE LA EDAD DEL HIERRO
DEL NOROESTE DE IBERIA. DIEZ AÑOS DESPUÉS DEL CONGRESO
INTERPRETIERTE EISENZEITEN. FALLSTUDIEN, METHODEN,
THEORIE, LINZ 2008

JESÚS F. JORDÁ PARDO1, EMILIO ABAD VIDAL2, ISRAEL PICÓN PLATAS3, VALERIA
FRANCÉS ZANDUETA4, JOSEFA REY CASTIÑEIRA5 Y CARLOS MARÍN SUÁREZ6

1
Laboratorio de Estudios Paleolíticos. Dpto. de Prehistoria y Arqueología. Universidad Nacional
de Educación a Distancia. Senda del Rey, 7. Ciudad Universitaria. E-28040 Madrid (Spain).
E-mail: jjorda@geo.uned.es

2
Fundación Centro Tecnológico de Supercomputación de Galicia. Av. de Vigo s/n (Campus Sur). Santiago
de Compostela (A Coruña - Spain). E-mail: eav@cesga.es

3
A Citania Arqueoloxía e Xestión do Patrimonio S.L. E-mail: chartinez@gmail.com

4
Estudiante del Dpto. de Prehistoria y Arqueología. Universidad Nacional de Educación a Distancia. Senda
del Rey, 7. Ciudad Universitaria. E-28040 Madrid (Spain). E-mail: valeriafrances@gmai.com

5
Grupo de Estudos para a Prehistoria do NW Ibérico - Arqueoloxía, Antigüidade e Territorio (GEPN-AAT)
(GI-1534). Dpto. de Historia I. Universidade de Santiago de Compostela. Praza da Universidade s/n. E-15782
Santiago de Compostela. E-mail: peparei@usc.es

6
Universidad de la República de Uruguay. E-mail: curuxu44@gmail.com

RESUMEN
El presente trabajo aborda la cronología de la Edad del Hierro en el noroeste de la
Península Ibérica a partir del análisis de 457 fechas 14C procedentes de 76 yacimientos
arqueológicos de la Edad del Hierro, de forma que se establece una periodización
radiocarbónica que sitúa a los castros y otros yacimientos de este periodo en la escala
calendárica.

41
PALABRAS CLAVE
Radiocarbono, Edad del Hierro, castros, noroeste de Iberia.

ABSTRACT
The present work approaches the chronology of the Iron Age at the Northwest of the
Iberian Peninsula from the analysis of 457 dates 14C from 76 archaeological sites of the Iron
Age. From these, a radiocarbon periodization is established that places the hillforts and
other sites of this period on the calendrical scale.

KEYWORDS
Radiocarbon, Iron Age, hillforts, Northwest of Iberia.

42
1. INTRODUCCIÓN

Desde que en 1971 Jesús Martínez Fernández publicara las tres primeras fechas 14C
del castro asturiano de Mohías (Martínez Fernández, 1971), han ido apareciendo en la
literatura numerosas fechas que han ido progresivamente enriqueciendo el catálogo de
fechas radiocarbónicas de la Edad del Hierro del noroeste de Iberia. Estas dataciones han
sido publicadas en diferentes medios y a partir de ellas se han realizado varios trabajos
recopilatorios (Carballo Arceo y Fábregas Valcarce, 1991; Cuesta et al., 1996; Rey
Castiñeira, 1996; Alonso, 2002; Picón, 2008; Marín, 2011).
Hace diez años recopilamos las fechas radiocarbónicas existentes y presentamos un
trabajo sobre la cronología radiocarbónica de los yacimientos de la Edad del Hierro del
noroeste de Iberia en el tercer congreso Interpreted Iron Ages: Case studies, method,
theory, organizado por el Oberösterreichisches Landesmuseum de Linz (Austria) y la Bangor
University (Bangor, Gales, Reino Unido), que tuvo lugar en noviembre de 2008 en la ciudad
austriaca de Linz, cuyas actas se publicaron en 2009 con el título Interpretierte Eisenzeiten.
Fallstudien, Methoden, Theorie (Karl y Leskovar, 2009) e incluyeron el trabajo titulado
Radiocarbon and Chronology of the Iron Age Hillforts of Northwestern Iberia (Jordá Pardo
et al., 2009).
Desde entonces, hemos actualizado el citado catálogo e incorporado nuevas
metodologías de estudio. Por ello, cuando recibimos la amable invitación de los
organizadores del Congresso Internacional “Cultura Castreja: Identidade e Transições”
(Santa María da Feria, Portugal, 15-17 noviembre 2018) para presentar una ponencia sobre
la cronología radiocarbónica de los castros del NO de Iberia, aceptamos encantados puesto
que nos permitía dar a conocer los avances realizados en estos 10 años. Actualmente
disponemos de un elevado número de fechas 14C que en este trabajo trataremos
de presentar de forma global, dado que la extensión del mismo impide analizarlas
pormenorizadamente, para extraer conclusiones en cuanto a la cronología y periodización
de la Edad de Hierro en el NO de Iberia.
En este trabajo hemos considerado los yacimientos de la Edad del Hierro del NO
de Iberia, como castros –la inmensa mayoría-, poblados en llano, actividades mineras y
cuevas sepulcrales, que cuentan con fechas radiocarbónicas y que en total suponen 76 sitios.
El área de estudio corresponde al NO de la Península Ibérica (Fig. 1), uno de los finisterres

43
atlánticos de Europa occidental en la antigüedad y, a la vez, una zona de confluencia cultural,
que coincide con el área de distribución de los castros de la Edad del Hierro del NO de Iberia.

Sus límites son los ríos Duero


y Esla al S y al E, en mar
Cantábrico al N y el océano
Atlántico al O. Actualmente,
este territorio se extiende por
Asturias, Galicia, N de Portugal
y NO de Castilla y León. Los
objetivos de este trabajo son:
a) la realización de una base
de datos con las dataciones
radiocarbónicas disponibles de
la Edad del Hierro del noroeste
de Iberia, b) la realización de
una infraestructura espacial
de datos arqueológicos
mediante el uso de un SIG, c)
el análisis global de las fechas
Fig. 1 - Situación de la zona de estudio y de los yacimientos con
fechas radiocarbónicas.
radiocarbónicas.

La metodología utilizada en nuestro trabajo se estructura en varias fases. En la primera,


hemos recopilado las fechas 14C publicadas hasta 2018 y las hemos sometido a un análisis
de validez; en la segunda fase hemos realizado la calibración de las fechas válidas
utilizando dos curvas de calibración diferentes, CalPal 2007 Hulu (Weninger y Jöris, 2008)
e IntCal 13 (Reimer et al., 2013), y dos programas de calibración, CalPal v13 (Weninger
et al., 2013) y OxCal 4.3 (Bronk-Ramsay, 2018); finalmente, en la tercera fase hemos
integrado las fechas calibradas en una infraestructura espacial de datos mediante el uso de
Quantum GIS (QGIS), para analizar los datos teniendo en cuenta los diferentes contextos
regionales y cronológicos y así llegar a establecer una periodización para la Edad del
Hierro del noroeste de Iberia basada en las fechas radiocarbónicas.

44
2. LAS FECHAS RADIOCARBÓNICAS Y SU VALIDACIÓN

Las 457 fechas radiocarbónicas consideradas en el trabajo proceden de 76 yacimientos


arqueológicos de la Edad del Hierro situados en Asturias, Galicia (provincias de A Coruña,
Lugo, Ourense y Pontevedra), norte de Portugal (distritos de Aveiro, Braga, Bragança,
Porto, Tras-Os-Montes, Viana do Castelo, Vila Real y Viseu) y el noroeste de Castilla
y León (provincias de León y Zamora). Se encuentran dispersas en la bibliografía en
un elevado número de publicaciones, por lo que, debido al espacio limitado de esta
publicación, nosotros sólo mencionaremos aquellas publicaciones en las que se presentan
recopilaciones de fechas de uno o varios yacimientos: Carballo Arceo y Fábregas Valcarce
(1991), Cuesta et al. (1996), Rubinos et al. (1999), Maya González et al. (2001), Rubinos
y Alonso (2002), Alonso Matthias (2002), Villa Valdés (2002), Arias Vilas y Fábregas
Valcarce (2003), Picón (2008) y Marín 2011.
Tras recopilar las fechas las sometimos a un análisis de validez, con objeto de asegurarnos
de que existía una correcta correspondencia entre el valor experimental de las fechas
radiocarbónicas y los datos arqueológicos, de tal forma que rechazamos todas aquellas
fechas que no se ajustaban a los requisitos necesarios para su validación, tanto en el orden
técnico como en el orden arqueológico (Mestres, 1995 y 2000; Mestres y Nicolás, 1997).
Los requisitos de orden técnico incluyen los requisitos químico-físicos y los analíticos.
Los primeros, de orden químico-físico, hacen alusión a la capacidad de un material para
proporcionar una fecha 14C válida. Todas las fechas obtenidas lo han sido a partir de
muestras cuyas características son válidas para la datación. A este respecto, contamos
con cierta información –aunque no muy detallada- sobre el tipo de muestra datada de
una gran parte de las fechas obtenidas, si bien en algunos casos, los autores no informan
en las publicaciones sobre la naturaleza del material datado. Predominan los carbones
(295 muestras) sobre las muestras de madera (42), semillas (34), hueso (26), concha
(10) y sedimento orgánico (1). Desgraciadamente, solo contamos con información sobre
las especies de las que proceden las muestras de 6 fechas de los castros de Castroeiro
(Seabra, 2015), San Cibriao de Las (Prieto Martínez y Álvarez González, 2016) y Quinta
de Crestelos (Costa Vaz, 2017), que corresponden a Arbutus unedus y a semillas de
Leguminosae, centeno, Triticum aestivum/durum y Vitis vinífera.

45
Los segundos, de orden analítico, son los requisitos de exactitud (eliminación de la
contaminación, tratamiento químico y medida del contenido en radiocarbono) y precisión
(desviación típica de las medidas) y están relacionados con la calidad de los laboratorios.
En cuanto al procedimiento de datación utilizado, solo 34 fechas se obtuvieron por AMS
(accelerator mass spectrometer) mientras que 375 fechas fueron obtenidas mediante el
método convencional y de otras 48 los autores no indican procedimiento. Los laboratorios
que han proporcionado la totalidad de las fechas son 18:
- Beta: Beta Analityc Inc., Miami (Florida, USA).
- CSIC: Laboratorio de Geocronología, Instituto de Química-Física Rocasolano (CSIC),
Madrid (España).
- CU: Department of Hydrogeology, Charles University, Prague (República Checa),
- GaK: University of Gakushuin, Tokyo (Japan).
- Gd: Radiocarbon Laboratory, Technology Institute of Physics, Silesian University,
Gliwice (Polonia).
- Gif: Centre de Faibles Radioactivites, CNRS-CEA, Gif-sur-Yvette (Francia).
- GrN: Isotopes Physics Laboratory, University of Groningen, Groningen (Alemania).
- I: Teledyne Isotopes, Inc., Huntsville (Alabama, USA).
- ICEN: Laboratorio de Isotopos Ambientais, Instituto Tecnológico e Nuclear, Sacavém
(Portugal).
- Ly: Laboratoire de Radiocarbone, Centre de Datations et d’Analyses Isotopiques,
Université Claude Bernard, Lyon (Francia).
- PAL: Radiocarbon Laboratory Palynosurvery Co., Tokyo (Japón).
- Poz: Poznan Radiocarbon Laboratory, Poznan (Polonia).
- Sac: Instituto Tecnológico e Nuclear, Lisboa (Portugal).
- Ua: Laboratorio Ángstrom, University of Uppsala (Suecia).
- UBAR: Laboratori de Dataciò per Radiocarboni (UBAR), Universidad de Barcelona,
Barcelona (España).
- UGRA: Laboratorio de Datación por Carbono 14, Universidad de Granada, Granada
(España).
- UtC: Utrecht van der Graaf Laboratorium, University of Utrecht, Utrecht (Paises Bajos).
Desde el punto de vista de la exactitud de los laboratorios, solo hemos rechazado

46
las 18 fechas obtenidas en el laboratorio de la University of Gakushuin (GaK), pues se ha
observado que las fechas que ofrece este laboratorio presentan el problema de tener una
edad mayor que los contextos arqueológicos datados (Carballo Arceo y Fábregas Valcarce,
1991; Castro et al. 1996). Con relación a la precisión de las fechas, hemos descartado
aquellas fechas que tienen una desviación típica superior a 100 años (28 fechas). Además,
9 fechas presentaban problemas de falta de información, falta de código de laboratorio y
duplicidad de este, por lo que las hemos considerado no válidas.
En el orden arqueológico, las fechas 14C deben ser representativas del acontecimiento
que se pretende datar, es decir que exista una buena correspondencia entre la fecha física
del material datado y la fecha arqueológica del contexto o acontecimiento datado (Mestres,
1995 y 2000; Mestres y Nicolás, 1997). Para ello las fechas deben cumplir dos condiciones:
que el material mismo o su presencia en el contexto arqueológico sea producto de la
actividad biológica o técnica del grupo humano que creó el contexto (asociación)
y que su formación sea contemporánea al grupo humano que creó el contexto arqueológico
(sincronía). La asociación sólo puede ser valorada a partir de los datos publicados por
los investigadores sobre el registro vinculado a la muestra datada; por tanto, y salvo
referencia expresa, debemos aceptar que existe una correcta asociación entre la muestra
datada y el contexto arqueológico que se quiere datar. La sincronía, por el contrario,
podemos valorarla en aquellos casos en los que existan contradicciones flagrantes
entre los aspectos arqueológicos del contexto y la fecha proporcionada por la muestra
datada; hemos eliminado una única fecha por carencia de sincronía. Por otro lado, hemos
eliminado 40 fechas que carecían de contexto arqueológico claro, así como 12 fechas
cuyos resultados numéricos se encontraban fuera del ámbito del estudio por corresponder
a carbones antiguos procedentes de niveles de incendio anteriores a la ocupación
o a paleosuelos en la base de las secuencias sin materiales arqueológicos asociados.
Otros aspectos que podrían ser considerados atañen a la pertinencia de comparar
resultados obtenidos por procedimientos distintos o a partir de muestras de naturaleza
y composición diversas. Así, el análisis por separado de las fechas obtenidas por el
método del radiocarbono convencional y las realizadas por AMS (únicamente 34 del total
de 457), alargaría un análisis que planteamos con perspectiva regional para este ámbito
geográfico. Somos conscientes de que su tratamiento independiente podría llevar a

47
conclusiones ligeramente distintas, pero el pequeño porcentaje de fechas AMS (7 %) frente
al total permite suponer que los resultados del análisis no iban a experimentar grandes
variaciones. Por tanto, en este trabajo trataremos ambos grupos de fechas como un
conjunto único.
Otro problema se deriva de la interpretación y comparación de muestras de diferente
naturaleza (carbones aislados, conjuntos de carbones, sedimentos carbonosos, huesos,
conchas, especies de vida corta o de vida larga, etc.). En nuestro caso, la desigual
referencia sobre la composición de las muestras datadas nos impide realizar un tratamiento
de las fechas en función de la naturaleza del material, por lo que, al igual que en el caso
anterior, trataremos las fechas de forma conjunta, siendo igualmente conscientes de las
variaciones que pueden experimentar los resultados obtenidos.
Tras realizar el análisis de validez de las fechas, hemos obtenido 349 fechas válidas de
los 457 totales, correspondientes a 68 yacimientos de los 76 que cuentan con dataciones 14C.

3. LA CALIBRACIÓN DE LAS FECHAS RADIOCARBÓNICAS

Una vez finalizado el proceso de validación y con objeto de situar las fechas
radiocarbónicas en la escala calendárica, hemos calibrado las fechas 14C convencionales
válidas mediante dos curvas y dos programas de calibración. Por un lado, mediante
la curva CalPal 2007 Hulu (Weninger y Jöris, 2008) incluida en la versión de 2013 del
programa CalPal (Weninger et al., 2013). Este programa transforma las distribuciones
gaussianas de las fechas sin calibrar en curvas de equiprobabilidad, lo que permite la
visualización de las tendencias cronométricas y la evaluación de la sincronía y diacronía
de los diferentes yacimientos de forma individual o agrupada. Tras la calibración, hemos
trabajado con los intervalos de las fechas calibradas centrados en las modas de la
distribución de probabilidad de la fecha calibrada verdadera correspondientes a una
probabilidad total del 95% (calibración 2σ), expresadas como fechas cal BC/AD y cal BP
(0 = AD 1950) (Fig. 2). Por otro lado, hemos utilizado también la curva IntCal 13 (Reimer et
al., 2013) incluida en el programa OxCal v4.3.2 (Bronk Ramsey, 2001, 2009, 2017), el cual
permite obtener mejores cronologías calendáricas mediante el uso de modelos de ajuste

48
Fig. 2 - Curva de calibración CalPal 2007 Hulu que muestra la “catástrofe de la Edad del Hierro” (izquierda)
y curva de probabilidad acumulada de todas las fechas 14C válidas consideradas (abajo), donde se observa
que la amplitud de las horquillas calendáricas de las fechas en la citada zona de la curva presentan una mayor
amplitud que las restantes (derecha).

de las ondulaciones de la curva de calibración en los que se puede introducir información


adicional sobre las muestras (orden en la secuencia) para reducir los intervalos de las
edades calibradas (Bronk Ramsey 2001). La adopción de este enfoque bayesiano va más
allá de la simple datación de eventos y permite explorar las tasas de cambio y el ritmo de
los procesos (Hamilton et al. 2015).
Uno de los mayores problemas a los que nos hemos enfrentado a la hora de realizar
la calibración de fechas correspondientes a la Edad del Hierro es la existencia de un
segmento horizontal de la curva de calibración que constituye una meseta o plateau
correspondiente a la edad radiocarbónica 2500-2400 BP, que produce una horquilla
calibrada entre 800 y 400 cal BC, que se conoce como “la catástrofe de la Edad del
Hierro” (Rubinos y Alonso, 2002) o “Hallstatt plateau” (Haselgrove et al. 2001; Cunliffe
2005; Hamilton et al. 2015). Además, a este tramo plano siguen dos fuertes altibajos en
torno a 2200 BP que generan otra horquilla calendárica entre 400 y 200 cal BC. Ambas
anomalías de la curva de calibración se extienden entre 800 y 200 cal BC (Fig. 2),
coincidiendo de lleno con la Edad del Hierro (Hamilton et al. 2015). Esto significa que las
fechas con edades radiocarbónicas comprendida entre 2500 y 2200 BP van a proporcionar
una amplia horquilla de fechas calendáricas al ser calibradas, cuya amplitud aumentará

49
cuanto más elevada sea la desviación típica de las fechas. Este hecho va a complicar la
atribución precisa de fechas numéricas para las distintas fases de la Edad del Hierro en
unos momentos donde otras cronologías arqueológicas aportan una mayor precisión. No
obstante, al haber eliminado de nuestro estudio aquellas fechas con desviaciones típicas
superiores a 100 años, este efecto se mitiga ligeramente.

4. ANÁLISIS CRONOLÓGICO

Tradicionalmente, las periodizaciones de la protohistoria del noroeste de Iberia se


han soportado sobre todo en los acontecimientos históricos de época romana y en las
cronologías tipológicas de sus materiales y se ha asumido una incorporación retardataria
de elementos sintomáticos de los acontecimientos del período de las colonizaciones
mediterráneas, bajo el modelo interpretativo de que el noroeste de Iberia es un finisterre
o una periferia de periferias. Esto ha conducido al convencimiento de que muchos de
los rasgos tecnológicos, como por ejemplo la incorporación de la metalurgia del hierro, o
sociales, como una sofisticación en el uso del espacio doméstico o territorial, por ejemplo,
sucedieron tardíamente. Muchas de las síntesis afirman que en el noroeste de Iberia no
ha existido una verdadera Edad del Hierro y que entre el Bronce final y la época romana la
región permaneció en un estadio oscuro.
Las fechas radiocarbónicas hasta ahora obtenidas en el noroeste de Iberia proporcionan
la suficiente información para comenzar a analizar la Edad del Hierro del NO en intervalos
calendáricos reales, aunque no sean todo lo precisos que desearíamos. Las fechas
radiocarbónicas demuestran con toda claridad y de manera insistente que los castros del
noroeste peninsular tuvieron fases de desarrollo claras desde el Bronce final hasta época
romana.
Después de calibrar las fechas con CalPal y de valorar la información arqueológica
asociada a cada fecha, las hemos analizado de manera global por contextos cronológico-
culturales, de tal forma que hemos podido establecer una seriación que puede ser
comparada con las periodizaciones realizadas para la Edad del Hierro de este territorio
(Rey Castiñeira 1996; Arias Vilas 2002; Gonzalez Ruibal 2006/2007; Marín, 2011). De esta

50
forma hemos podido definir el marco cronológico para la periodización de la Edad del Hierro
del noroeste de Iberia, marco en el que hemos señalado los límites convencionales entre
las diferentes fases de forma difusa, estableciendo transiciones entre las diferentes fases,
según el esquema siguiente:
- Bronce antiguo y medio: > 1040 cal BC (3000 BP).
- Bronce final: entre 1190 y 790 cal BC (3040-2740 BP). Este periodo corresponde
con la fase Ia de la periodización de la Edad del Hierro del noroeste de Gonzalez Ruibal
(2006/2007).
- I Edad del Hierro: entre 810 y 410 cal BC (2750-2360 BP). Este periodo se corresponde
con la Fase Inicial de Rey Castiñeira (1996), con el periodo Castrexo inicial de Arias Vilas
(2002) y con las fases Ib y Ic de la seriación de Gonzalez Ruibal (2006/2007).
- II Edad del Hierro: entre 400 y 30 cal BC (2350-2000 BP), correlacionable con la Fase
Media de Rey Castiñeira (1996), el periodo Castrexo pleno de Arias Vilas (2002) y las fases
II y IIIa de Gonzalez Ruibal (2006/2007).
- Periodo romano: entre 0 y 230 cal AD (1950-1700 BP), correlacionable con la Fase
Final de Rey Castiñeira (1996), el periodo Castrexo final de Arias Vilas (2002) y las fases
IIIb, IIIc y IIId de la seriación de Gonzalez Ruibal (2006/2007).

Fig. 3 - Cronología radiocarbónica de los Fig. 4 - Amplitud cronológica de la Edad del Hierro
yacimientos datados del NO de Iberia usando la curva en las diferentes áreas geográficas del NO de Iberia
de calibración CalPal 2007 Hulu. a partir de la calibración de las fechas 14C de los
yacimientos usando la curva de calibración CalPal
2007 Hulu.

51
- Periodo tardorromano y medieval: entre 430 y 1020 cal AD (1500-940 BP).
Además, dado que la información existente de algunos yacimientos para los momentos
de tránsito de una fase a otra presentan solapamientos, hemos incluido además dos
periodos transicionales: la transición entre la I y la II Edad del Hierro (entre 730 y 360 cal
BP; 2680-2300 BP) y la transición entre la II Edad del Hierro y el periodo romano (entre 160
cal BC y 100 cal AD; 2110-1850 BP).
Una vez establecidos los límites entre los intervalos temporales pudimos completar
la construcción de una cronología radiocarbónica para la zona considerada. El resultado
se muestra en las figuras 3 y 4.
Esto permite visualizar dos aspectos en relación con el proceso de asentamiento en
el área considerada:
- Las cronologías de los yacimientos individuales indican que la duración de la ocupación
varió considerablemente, reflejando duraciones a corto, medio y largo plazo, restringidas
a una sola fase cronológica o incluyendo varias fases. En algunos castros todas las fechas
de 14C se concentran en la Primera Edad del Hierro, en otros se limitan a la Segunda Edad
del Hierro, mientras que en otros incluyen tanto una como otra. En algunos casos las
fechas de radiocarbono se extienden a través de la época romana hasta la Edad Media.
Algunos castros se encuentran en el mismo lugar que anteriores ocupaciones de la Edad
del Bronce.
- La cronología radiocarbónica indica que las etapas de fundación y abandono se
produjeron probablemente en relación con ciclos económicos y sociales. Aunque se
observan continuidades entre las etapas principales de la ocupación en toda la región,
en muchos casos, estas etapas están delimitados por fundaciones generalizadas y por
períodos de decadencia y abandono. Incluso habiendo continuidades entre las principales
etapas de la ocupación -que corresponden a la Primera Edad del Hierro, la transición entre
la primera y la segunda Edad del Hierro, la Segunda Edad del Hierro y la época romana-
los intervalos están limitados por las fundaciones y decadencias generalizadas.
Si atendemos exclusivamente a los intervalos calendáricos radiocarbónicos observamos
que:
- A nivel regional, algunos castros, muy pocos, en los territorios del N de Portugal y de la pro-
vincia de A Coruña, tienen precedentes de ocupación en el Bronce antiguo, medio y final (Fig. 4).

52
- Un número importante registra su comienzo en la Primera Edad del Hierro y en mayor
medida en la Segunda Edad del Hierro.
- La época romana es una fase con poca representación radiocarbónica y que muy
pocas veces corresponde al comienzo de ocupación de un castro.
- Son excepcionales los castros que testimonian restos de ocupación en el periodo
tardorromano y en la Edad Media.

Fig. 5 - Modelo cronológico secuencial de fases continuas de los castros y otros yacimeintos de la Edad del
Hierro del NO de Iberia obtenido mediante el programa OxCal v4.3.2.

Por otro lado, hemos realizado sendas modelizaciones bayesianas con OxCal para las
fechas 14C de la Edad del Hierro del NO, una suponiendo un modelo de fases continuas
o continuous phases con boundaries entre fases y otra desarrollando un modelo de fases
superpuestas u overlapping phases con boundaries de inicio y final de cada fase. En el primer
caso, hemos modelizado todas las fechas válidas (Fig. 5) en una única figura, que permite
ver de forma muy gráfica las ocho fases definidas con el modelo probabilístico expuesto
anteriormente, con la Edad del Bronce que se extiende desde la horquilla 2796-2347 cal BC
hasta la horquilla 831-802 cal BC. La I Edad del Hierro se inicia de forma nítida en su límite
inferior, pero su límite final ya es más difuso puesto que las fechas se encuentran afectadas
por la “Hallstatt plateau” de tal forma que las fechas del tramo final presentan dos modas
en la curva de probabilidad acumulada. En este panorama, el boundary final de la I Edad
del Hierro se sitúa en una horquilla más amplia que la anterior, 604-402 cal BP, que da inicio

53
a lo que hemos considerado como fechas de la transición Hierro I-Hierro II, que termina en
una horquilla más ajustada, 411-389 cal BP, que a su vez da paso a la II Edad del Hierro.
El boundary final de la II Edad del Hierro se sitúa en una horquilla algo más amplia, 126-44
cal BP, de inicio de la transición a la época romana, cuyo límite final se ajusta a la horquilla
38-86 cal AD, fechas ligeramente más recientes que las esperadas para el inicio del periodo
romano, cuyo límite final se sitúa en la horquilla 90-165 cal AD. La horquilla que cierra la
ocupación tardorromana y medieval de los castros ofrece también una amplitud exagerada,
905-1487 cal AD, que no responde a la realidad arqueológica, si bien son solo cuatro las
fechas que se han modelizado para este periodo. El gráfico resumido de este modelo de
fases continuas se puede ver en la figura 6.

Fig. 6 - Modelo cronológico secuencial resumido de fases continuas de los castros y otros yacimientos de la Edad
del Hierro del NO de Iberia obtenido mediante el programa OxCal v4.3.2 (Bronk Ramsey 2001, 2009, 2017).

En general, se observa una buena modelización para la Edad del Bronce y la primera
mitad de la I Edad del Hierro. El problema subyacente de la “Hallstatt plateau” produce
que en su segunda mitad, transición y primera mitad de la II Edad del Hierro, se produzca
una mayor amplitud en las fechas modeladas. Esto se amortigua en la parte central de la II
Edad del Hierro, no así en su tramo final, afectado por los dos fuertes altibajos de la curva
de calibración en torno a 2200 BP. No obstante, su boundary final, ya fuera del efecto

54
de los altibajos de la curva, se ajusta bien a lo esperado. Por el contrario, la transición a la
época romana vuelve a ofrecer una horquilla amplia y demasiado reciente. La época romana
presenta un modelado de sus fechas muy ajustado con un límite final quizá demasiado
antiguo, pero en cualquier caso que responde al número de fechas disponibles, pues es
evidente que arqueológicamente se extiende al menos hasta el 400 cal AD.
Por su parte, el modelo de overlapping phases (Fig. 7) establece una secuencia
de periodos culturales, en la cual sus cronologías apenas presentan superposiciones
cronológicas. Así la Edad del Bronce se extiende entre las horquillas 2903-2347 y 831-781
cal BC; la I Edad del Hierro se desenvuelve entre 819-797 y 741-671 cal BC; la transición
a la II Edad del Hierro lo hace entre 424-401 y 411-396 cal BC; la II Edad del Hierro se

Fig. 7 - Modelo cronológico secuencial de fases superpuestas de los castros y otros yacimientos de la Edad
del Hierro del NO de Iberia obtenido mediante el programa OxCal v4.3.2 (Bronk Ramsey 2001, 2009, 2017).

55
extiende entre 411-390 y 151-94 cal BC; la transición a la época romana entre 51-2 cal BC
y 34 cal BC-31 cal AD; la época romana cubre entre 60-120 y 86-144 cal AD, y finalmente
los periodos tardorromano y medieval se extienden entre 341-583- y 901-1817 AD,
claramente fuera del rango cronológico esperado. Este modelo ofrece una buena seriación
cronológica a excepción del último tramo.

5. ANÁLISIS ESPACIAL

Para llevar a cabo el análisis espacial de las fechas radiocarbónicas de la Edad


del Hierro del NO de Iberia, hemos desarrollo una infraestructura de datos espaciales
(CastroBYTE; Rey et al., 2011) mediante QuantumGis (QGis), que nos ha posibilitado analizar
la información desde la óptica geográfica.

Fig. 8 - Mapa que muestra la amplitud cronológica de los yacimientos de la Edad del Hierro del NO que
cuentan con fechas 14C válidas.

56
En el marco geográfico de nuestra área de estudio hemos introducido no solo los datos
relativos a las dataciones radiocarbónicas de la Edad del Hierro, si no también información
complementaria como planos, fotografías y dibujos de los materiales arqueológicos de los
castros y otros yacimientos contemplados en el estudio.
En relación con el contexto geográfico, hemos realizado dos análisis, uno descriptivo y
otro cronológico:
- El análisis descriptivo incluye, por un lado, mapas de localización de los yacimientos
datados por radiocarbono sobre la base topográfica y administrativa actual y sobre el
mapa de pueblos de la geografía romana y, por otro, mapas descriptivos que indican el
número de fecha por yacimiento, la proporción de fechas válidas, los métodos utilizados
(convencional o AMS) y el material datado, entre otros aspectos.
- En el análisis cronológico hemos hecho una periodización por colores con objeto de
ver la evolución por medio de un mapa que muestra la evolución de las ocupaciones de
los castros y los otros yacimientos desde el Bronce antiguo y medio hasta la Edad Media,
incluyendo el Bronce final, la Primera Edad del Hierro y su transición a la Segunda, la
Segunda Edad del Hierro y su transición al periodo romano, el periodo romano y las
épocas tardorromana y medieval (Fig. 8).

6. ANÁLISIS ARQUEOLÓGICO

Si contrastamos la seriación radiocarbónica con las cronologías estratigráficas y


tipológicas los resultados obtenidos en el análisis cronológico se matizan. Hallazgos
sin datar radiocarbónicamente, pertenecientes al Bronce antiguo y medio y a la época
tardorromana y medieval, amplían el número de yacimientos que testimonian la ocupación
durante estos momentos, si bien se trata de ocupaciones ajenas a este tipo de poblamiento
fortificado.
La magnitud de los datos radiocarbónicos parece que guarda relación con la intensidad
con que ha sido aplicado el método analítico del 14C, el cual, en muchas ocasiones, se ha
centrado en los niveles arqueológicos que se han considerado más representativos de los
poblados castreños.

57
Otro dato importante que se destaca en este contraste de dataciones radiométricas y
arqueológicas confirma que un número importante de poblados comienzan a fortificarse
durante la Primera Edad del Hierro e incorporan entre sus productos metálicos instrumental
de hierro, aunque siguen estando vigentes las tipologías del Bronce final hechas en bronce.
También se evidencian contactos con el suroeste peninsular, de donde llegan influencias
y productos elaborados. En la cerámica indígena continúa la tecnología anterior pero se
aprecian cambios formales, como el abandono de las carenas y la incorporación de nuevos
códigos decorativos, entre ellos el uso de engobes rojos, aunque muy excepcionales. Otro
hecho importante desde ambas perspectivas -la cronología radiométrica y la arqueológica-
es que se constata que algunos castros comienzan y rematan en la Primera Edad del Hierro,
como es el caso de los castros de Torroso, Penalba, Penarrubia, que en todo caso, considerando
el margen máximo estadístico del 14C rozarían la transición a la Segunda Edad del Hierro.
Por otro lado, el comienzo de muchos castros en la Segunda Edad del Hierro, lo
confirman también las tipologías y las estratigrafías, si bien es cierto que esta fase aún
presenta muchas dificultades para ser caracterizada arqueológicamente, ya que casi todos
ellos evidencian una mayor permanencia de ocupación que los de la fase anterior, bien
porque comenzaron en el Bronce final o en el Primera Edad del Hierro o porque continúan
en la época romana. El no tener una ocupación exclusiva de un momento y no contar con
seriaciones tipológicas basadas en las estratigrafías dificulta la observación de esta fase,
que muchos autores niegan, la definen como oscura y la caracterizan mezclando rasgos de
la fase anterior -pervivencias- y de la siguiente -se anuncian cosas.
A pesar de ello y considerando la información arqueológica que proporcionan otros
castros no datados radiométricamente, como es el caso de Forca, Toralla o Cíes, entre
otros, cada vez hay más acuerdo en afirmar que se trata de una fase brillante, nos
atreveríamos a afirmar que la más representativa de la Edad del Hierro del noroeste. La
fortificación se hace más compleja, la siderurgia es evidente y la generalización del hierro
parece irse demostrando, por evidencias directas de recuento de hallazgos, o indirectas
por su uso en la construcción, agricultura, carpintería, etc. El hecho de que los niveles
arqueológicos de esta fase formen parte de una estratigrafía más larga hace que sea difícil
determinar qué rasgos arquitectónicos le pertenecen realmente, ya que muchas veces han
sido alterados y convertidos en escombro de niveles superiores.

58
El periodo romano en los castros del NO, con escasa representación radiocarbónica,
evidenciaría la decadencia de muchos castros, pero también el comienzo de otros en
muy bajo némero. Los datos arqueológicos confirman que hay poblados que realmente
decaen, pero también advierten que otros muchos continúan. Aunque no se proporcionen
dataciones 14C las fechas calendáricas de algunos productos de importación lo aseguran.
Probablemente, la presencia de estos materiales de cronología segura sea la razón de que
esta fase esté menos cuidada radiocarbónicamente. Aun así, los productos de tipología
romana informan que la duración de muchos castros, e incluso el fuerte desarrollo de
muchos de ellos, se produce durante los momentos de contacto con el mundo romano y
que languidecen cuando el proceso de romanización se intensifica.

7. CONCLUSIONES

Las conclusiones principales de este trabajo se pueden resumir en los siguientes puntos:
- Proponemos la primera seriación radiocarbónica de la Edad del Hierro en el noroeste.
- Las fechas calibradas indican que la ocupación de los castros tuvo lugar
fundamentalmente entre el siglo VIII BC y el siglo II AD.
- También se percibe que los castros comienzan en el Bronce final en Galicia occidental
y el oeste del valle del Duero.
- Por el contrario, este proceso se retrasa en la zona más septentrional del área
estudiada, donde este proceso no arranca hasta la Primera Edad del Hierro.
- En ambas zonas, los castros muestran una larga ocupación durante la totalidad de la
Edad del Hierro.
- Esta ocupación continúa en la gran parte de los asentamientos durante la dominación romana.
- Finalmente, se observa un abandono generalizado de los asentamientos desde los
siglos III y IV AD, con posteriores ocupaciones de tipo puntual que en algunos sitios llegan
hasta la Edad Media y Edad Moderna e incluso hasta la actualidad.
Por otra parte, hemos podido constatar que los programas CalPal y OxCal constituyen
unas herramientas valiosas para el análisis cronológico de la Edad del Hierro del NO a
partir de las fechas 14C existentes, a pesar del problema de la llamada “la catástrofe de la
Edad del Hierro” derivado de la curva de calibración.

59
REFERENCIAS

Alonso Matthias, F. (2002). Fechas de carbono-14 en los castros asturianos. In M.A. de Blas Cortina & A.
Villa Valdés (Eds.), Los poblados fortificados del noroeste de la Península Ibérica: formación y desarrollo de la
cultura castreña (pp. 337-344). Navia, España: Ayuntamiento de Navia – Parque Histórico del Navia.
Arias Vilas, F. (2002). Las fases de la Cultura Castreña en Galicia: un debate abierto. In M.A. de Blas Cortina
& A. Villa Valdés (Eds.), Los poblados fortificados del noroeste de la Península Ibérica: formación y desarrollo
de la cultura castreña (pp. 127-137). Navia, España: Ayuntamiento de Navia – Parque Histórico del Navia.
Arias Vilas, F. & Fábregas Valcarce, R. (2003). Datacións radiocarbónicas do castro de Viladonga (Lugo).
Gallaecia, 22, 193-210.
Bronk Ramsey, C. (2001). Development of the radiocarbon calibration program. Radiocarbon, 43, 355-363.
Bronk Ramsey, C. (2009). Bayesian Analysis of Radiocarbon Dates. Radiocarbon, 51(1), 337-60.
Bronk Ramsey, C. (2017). Methods for Summarizing Radiocarbon Datasets. Radiocarbon, 59(2), 1809-1833.
Carballo Arcedo, L.X. & Fábregas Valcarce, R. (1991). Dataciones de Carbono 14 para castros del noroeste
peninsular. Archivo Español de Arqueología, 64, 244-264.
Cuesta, F., Jordá Pardo, J.F., Maya, J.L. & Mestres, J.S. (1996). Radiocarbono y cronología de los castros
asturianos. Zephyrus, 49, 225-270.
Cunliffe, B. W. 2005. Iron Age Communities in Britain. 4th ed. London, Reino Unido: Routledge.
Gonzalez Ruibal, A. (2006-2007). Galaicos. Poder y comunidad en el Noroeste de la Península Ibérica
(1200 a.C.-50 d.C.). Brigantium, 18-19.
Haselgrove, C., I. Armit, T. Champion, J. Creighton, A. Gwilt, J. D. Hill, F. Hunter & Woodward, A. (2001).
Understanding the British Iron Age - An Agenda for Action. A Report for the Iron Age Research Seminar and the
Council of the Prehistoric Society Iron Age. Salisbury, Reino Unido: Trust for Wessex Archaeology.
Jordá Pardo, J.F., Rey Castiñeira, J., Picón Platas, I., Abad Vidal, E. & Marín Suárez, C. (2009). Radiocarbon
and Chronology of the Iron Age Hillforts of Northwestern Iberia.In R. Karl & J. Leskovar (Eds.), Interpretierte
Eisenzeiten. Fallstudien, Methoden, Theorie. Tagungsbeiträge der 3 Linzer Gespräche zur interpretativen
Eisenzeitarchäologie (pp. 81-98). Studien zur Kulturgeschichte von Oberösterreich, 22. Linz, Austria:
Oberösterreichischen Landesmuseum.
Karl, R. & Leskovar, J. (Eds.) (2009). Interpretierte Eisenzeiten. Fallstudien, Methoden, Theorie.
Tagungsbeiträge der 3 Linzer Gespräche zur interpretativen Eisenzeitarchäologie. Studien zur Kulturgeschichte
von Oberösterreich, 22. Linz, Austria: Oberösterreichischen Landesmuseum.
Marín Suárez, C. (2011). De nómadas a castreños. El primer milenio antes de la era en el sector centro-
occidental de la Cordillera Cantábrica. Servicio de Publicaciones de la UCM, Madrid (publicación digital:
http://eprints.ucm.es/14435/).
Martínez Fernández, J. (1971). Castro de Mohías: resultados de una investigación geocronológica. Boletín
del Instituto de Estudios Asturianos, 73, 351-356.
Mestres, J.S. (1995). La datació per radiocarboni i el calibratge de les dates radiocabòniques. Objectius,
problemes i aplicacions. Revista d’Arqueologia de Ponent, 5, 260-275.

60
Mestres, J.S. (2000). La datació per radiocarboni. Una visión actual. Tribuna d’Arqueologia, 1997-1998,
195-239.
Mestres, J.S. & Nicolás, J.C. (1997). Contribución de la datación por radiocarbono al establecimiento de la
cronología absoluta de la prehistoria menorquina. Caesaraugusta, 73, 237-341.
Picón, I. (2008). Unha aproximación a través do C14 a cronoloxía castrexa. Gallaecia, 27, 155-177.
Prieto Martínez, P. & Álvarez González, Y. (2016). Memoria técnica de la excavación arqueológica del castro
de San Cibrao de Las. Año 2016. Inédita.
Rey, J., Martín, M., Teira, A., Abad, E., Calo, N., Carballo, X., Comendador, B., Picón, I. &y Varela, A. (2011).
CastroBYTE: un modelo para a xestión da información arqueolóxica. Gallaecia, 30, 63-102.
Rey Castiñeira, J. (1996). Referencias de tempo na cultura material dos castros galegos. En J. M. Hidalgo
Cuñarro (Ed.), A cultura castrexa galega a debate (pp. 157-206). Tui, España: Instituto de Estudios Tudenses.
Rubinos, A. & Alonso, F. (2002). Las aplicaciones del carbono-14. In L. Berrocal-Rangel, P. Martínez Seco &
C. Ruiz Triviño (Eds.), El Castiellu de Llagú. Un castro astur en los orígenes de Oviedo (pp. 297-303). Madrid,
España: Real Academia de la Historia – Principado de Asturias.
Rubinos Pérez, A., Fábregas Valcarce, R., Alonso Matthias, F. & Concheiro Coello, A. (1999). Las fechas
C-14 del castro de O Achadizo (Boiro, A Coruña): problemática de la calibración de conchas marinas. Trabajos
de Prehistoria, 56 (1), 147-155.
Seabra, L.C.N. (2015). Estudo Paleoetnobotânico do Povoado da Idade do Ferro de Crastoeiro (Noroeste
de Portugal). Inédito.
Vaz, F.C, Tereso, J.P., Martín-Seijo, M., Simões Pereira, S., Gaspar, R., Seabra, L. & Sastre-Blanco, J.
(2017). Iron Age ovens and hearths from the hilltop of Quinta de Crestelos, Sabor Valley (NE Portugal): An
archaeobotanical approach on typology, functionality and firewood use. Quaternary International 458, 75-93.
https://doi.org/10.1016/j.quaint.2017.02.028.
Villa Valdés, A. (2002). Periodización & registro arqueológico en los castros del occidente de Asturias.
In M.A. de Blas Cortina & A. Villa Valdés (Eds.), Los poblados fortificados del noroeste de la Península Ibérica:
formación y desarrollo de la cultura castreña (pp. 159-188). Navia, España: Ayuntamiento de Navia - Parque
Histórico del Navia.
Weninger, B., Danzeglocke, U. & Jöris, O. (2005). Comparison of Dating Results achieved using Different
Radiocarbon-Age Calibration Curves and Data. Köln, Alemania: Universität zu Köln, Institut für Ur - und
Frühgeschichte.
Weninger, B. & Jöris, O. (2004). Glacial Radiocarbon Calibration. The CalPal Program. In T. Higham, C.B.
Ramsey C.B. & C. Owen (Eds.), Radiocarbon and Archaeology. Fourth International Symposium, Oxford, 2002.
Oxford, Reino Unido.

61
DANIELA
FERREIRA
MATERIAIS EM CONTEXTO: CERÂMICA GREGA NO NOROESTE
DA PENÍNSULA IBÉRICA. ESTUDO DE CASOS.

DANIELA FERREIRA

RESUMO
No presente artigo analisam-se os vestígios materiais de filiação grega, procedentes
de quatro sítios arqueológicos, representativos dos contactos estabelecidos entre o
mediterrâneo oriental e as populações que durante a Idade do Ferro habitavam o NO
da Península Ibérica. Como linha de investigação, foi dado particular destaque aos
diferentes alcances do comércio de produtos gregos neste território, abordando a sua
distribuição geográfica, as cronologias associadas à chegada destes produtos, e a sua
representatividade nos conjuntos de cerâmicas exógena e endógena identificados.

PALAVRAS-CHAVE
Vasos gregos, Intercâmbio, Comércio, Idade do Ferro.

ABSTRACT
In this paper we describe and interpret the historical and archaeological data available,
associated to the Greek pottery found in four archaeological sites located in the Northwest
of the Iberian Peninsula. These materials are representative of the contacts established
between the Eastern Mediterranean and the populations that inhabited this territory during
the Iron Age. The different scopes of trade of Greek products in this territory are analyzed,
as well as their geographic distribution, the chronologies associated to the arrival of
these products, and their representativeness in imported and locally produced ceramic
assemblies.

KEYWORDS
Greek vase, Iberian NW, Cultural Exchange, Trade, Iron Age.

65
1. INTRODUÇÃO

A partir de meados, e sobretudo do final do século passado, foram identificados um


pouco por todo território correspondente ao Noroeste (NO) da Península Ibérica, materiais
que testemunham uma importante presença de cerâmica grega neste território (e.g. Hidalgo
Cuñarro & Costas Goberna, 1978; Silva 1986; Naveiro López, 1991), e que nos permitem
caracterizar a fisionomia e as várias fases cronológicas do seu comércio e do intercâmbio
cultural estabelecido em diversos contextos de ocupação humana da Idade do Ferro.
No presente artigo, procuramos conhecer em maior profundidade esta presença, através
da análise de quatro exemplares de cerâmica grega identificados em sítios arqueológicos
localizados no NO Peninsular. Este pequeno conjunto será analisados à luz dos parâmetros
evolutivos - culturais e cronológicos – de cada contexto de proveniência, e inserido no
quadro das produções cerâmicas locais conhecidas para cada uma das regiões considerada.
Para tal, partimos da análise individual de quatro sítios arqueológicos com registo
de importações orientalizantes, valorizando aspetos ligados à fisiografia destes espaços
e aos vestígios da ocupação sidérica neles identificados. O enquadramento dos
materiais só foi possível graças à interpretação dos perfis estratigráficos e à análise
das associações estabelecidas entre os vasos gregos, os demais bens exógenos de
diferentes proveniências e naturezas, e produções de fabrico local/regional. A associação
destas materialidades ao seu contexto arqueológico contribuiu para o esclarecimento de
parâmetros cronológicos da ocupação humana do NO Peninsular, particularmente entre
os séculos V e IV a.n.e. e, em última análise, permitiu esboçar uma tentativa de leitura
problematizada sobre as trocas comerciais realizadas entre o Mediterrâneo Oriental e este
território.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Esta análise irá centrar-se em quatro exemplares de cerâmica grega, identificados no


decorrer de intervenções arqueológicas realizadas em quatro arqueossítios localizados no
norte de Portugal, designadamente, Crasto de Palheiros (Murça), Castro de São Lourenço

66
(Esposende), Castro de Romariz (Santa Maria da Feira) e Castro das Ermidas (Vila Nova
de Famalicão). [Figura 1]

Fig. 1 - Mapa com a localização dos arqueossítios em estudo.

O pequeno conjunto integra dois fragmentos de kratêres e um possível exemplar


de taça, ambos de figuras vermelhas, assim como um fragmento de lekanis totalmente
revestido de engobe negro. Dois exemplares são procedentes de contextos arqueológicos
conservados, atribuídos a uma ocupação da Idade do Ferro, e os restantes associam-se
a um contexto de revolvimento. Todos os fragmentos foram recolhidos em arqueossítios
que partilham estratégias de povoamento com características análogas, assim como
condicionantes geográficas idênticas, tais como a proximidade e relação com cursos
fluviais, comumente entendidos como vias de difusão de bens exógenos e condicionadores
das dinâmicas de comércio. Ainda que não se abordem no presente estudo, povoados

67
convencionalmente designados de «castros marítimos», como o castro de Santa Tegra
(La Guardia), o castro de Punta dos Prados (Ortigueira) ou o castro de São Paio (Vila
do Conde), a ligação próxima ao Atlântico é-nos dada através dos povoados que gozam
de uma posição liminarmente costeira, localizados a pouca distância do litoral ou tirando
partido de ambientes estuarinos e da desembocadura de rios de maior navegabilidade,
como se verifica, por exemplo, com o Castro de São Lourenço, sobranceiro ao rio Cávado.
É de contextos desta natureza que provêm a maioria de exemplares gregos identificados
no NO da Península Ibérica, uma geografia de distribuição que sugere, desde logo, o
abastecimento de bens de matriz orientalizante por via marítima. Esta tendência de
litoralização dos achados de cerâmica grega é partilhada pelo centro e principalmente pelo
sul do atual território português, o maior consumidor deste tipo de produtos, identificando-
se a maioria dos achados no litoral ou em áreas de acesso facilitado através dos cursos
fluviais navegáveis (VGP; Ferreira, 2019).
O fragmento de cerâmica ática identificado no Crasto de Palheiros, localizado a
mais de uma centena de quilómetros da linha de costa, distancia-se deste padrão de
distribuição dos achados, apresentando-se, até à presente data, como o arqueossítio com
registo de cerâmica grega localizado mais para o interior do atual território português.
Esta circunstância particular será discutida neste artigo, considerando as similitudes do
povoamento de Crasto de Palheiros e dos demais sítios arqueológicos que integram o
âmbito da cultura castreja.
O número de sítios no NO da Península Ibérica com presença de cerâmica grega
é já considerável, registando-se testemunhos da aquisição destes produtos de matriz
orientalizante em uma vintena de contextos arqueológicos da Galiza e do Norte de
Portugal (González Ruibal, Rodríguez Martínez & Ayán Vila, 2010; Domínguez Pérez,
2005; González Ruibal 2006-2007, fig. 4.159). No entanto, estas produções cerâmicas
representam percentagens diminutas no cômputo geral dos materiais identificados em cada
um destes arqueossítios, cingindo-se frequentemente apenas a uma ou duas peças. Esta
tendência parece verificar-se inclusivamente em locais que registam uma forte presença de
materiais exógenos, como ocorre, por exemplo no Castro de Romariz.
Todos os testemunhos registados neste território apresentam-se muito fraturados,
dificultando a determinação da sua forma, cronologia ou do seu pintor, no caso particular

68
dos exemplares de figuras vermelhas. Regra geral, são procedentes de contextos de
habitat, não obstante registar-se a presença de cerâmica grega em âmbitos funerários
e religiosos, em outras áreas da Península Ibérica (VGP; Ferreira, 2019).

2.1. SÍTIOS E CONTEXTOS

2.1.1. CRASTO DE PALHEIROS


Com uma ocupação que recua, pelo menos a 3000/2860 a.n.e. (Sanches, 2008, p. 44)
e que perdura no tempo, de forma aparentemente ininterrupta, até ao início do século II,
o povoado de Crastro de Palheiros tem merecido particular destaque pela sua localização
impactante na paisagem (Sanches & Pinto, 2005, p. 44) e pela articulação orgânica das
construções com o espaço natural envolvente, tirando dele partido. Ainda que a presença
humana neste local recue ao calcolítico2, registando, já neste período, uma dimensão
considerável, verifica-se igualmente uma forte presença de materiais arqueológicos e
estruturas datáveis da Idade do Ferro. A ocupação da Idade do Bronze, menos conhecida
em resultado do impacto destrutivo das construções subsequentes (Sanches, 2008, p.29),
revela, no entanto, que este espaço poderá ter sido ocupado numa larga diacronia,
adaptando-se e renovando-se com o avançar do tempo. Em todos estes momentos,
os vestígios conservados atestam a ausência de drásticas e repentinas ruturas na
organização do povoado, uma tendência que se faz sentir nas arquiteturas domésticas
identificadas3, assim como na realidade material. Os fragmentos cerâmicos atribuídos à
Idade do Bronze e Idade do Ferro utilizam pastas similares às que foram usadas já no
Calcolítico (Sanches, 2008, p. 48), salvo raras exceções que incorporam uma quantidade
mais elevada de mica, indo ao encontro das produções que usualmente se associam
à Idade do Ferro do noroeste litoral4. As decorações, apesar de pouco frequentes, são
diversificadas - formalmente e tecnicamente - (Sanches, 2008, pp. 132-133), tal como é
diversificada a panóplia de formas encontradas (Pinto, 2011).
A localização de Crasto de Palheiros, numa área que faz a ponte entre os povoados
castrejos do Noroeste e as comunidades da Meseta Espanhola Celtibérica (Sanches,
2008, p. 134)5, explica o reconhecimento de influências culturais distintas, presentes nos

69
mais variados aspetos da organização social, territorial e material do povoado de Murça,
devidamente adaptadas aos modos de fazer locais por via de fenómenos de apropriação
(Sanches & Pinto, 2005, p. 47, Sanches, 2008, p. 32). A identificação de materiais
exógenos em Crasto de Palheiros confirma a aproximação deste povoado aos protótipos
culturais próprios do litoral «castrejo», estando, também esta região mais interior, integrada
nas redes de comércio de bens orientalizantes, certamente por via de intercâmbios
regionais. Não obstante esta presença, contrariamente às dinâmicas que ocorrem
nos povoados litorais, onde encontramos um consistente abastecimento de produtos
forâneos, em Crasto de Palheiros, os materiais exógenos são escassos e temporalmente
circunscritos, limitando-se a um conjunto de 55 contas de pasta vítrea com lamelas em ouro
(Sanches, 2008, pp. 151)6, de proveniência indeterminada, e treze fragmentos de cerâmica
grega, correspondendo a uma única peça (Sanches & Pinto, 2005, pp. 44-45; Sanches,
2008, p. 152; 2016, pp. 102, fig. 13). Ainda que provenientes de áreas e estratos distintos,
os referidos fragmentos foram exumados numa zona de declive, em quadrículas contíguas,
testemunhando um provável fenómeno de escorrência de uma área mais elevada, para
uma plataforma inferior, adjacente.

2
Utilizando-se a designação «Calcolítico» regional” (Sanches, 2003, p. 117; 2006 p. 120, entre outros).
3
Até ao início do século II a.n.e., as arquiteturas domésticas continuam a adotar os modelos sidéricos
indígenas, que por sua vez, são reformulados a partir das conceções arquitetónicas calcolíticas (Sanches,
2008, p.41).
4
As pastas são, em todos os momentos, pouco diversificadas, tendo sido identificados 13/14 tipos distintos
de acordo com as suas caraterísticas, para todos os períodos considerados. Do conjunto, apenas 3 tipos de
pastas foram exclusivamente utilizados na Idade do Ferro, as restantes são comuns a mais do que um período
de ocupação do povoado (Sanches, 2008, p.130).
5
A presença de cerâmica com decoração penteada, tipicamente associada a povoados da Meseta
Espanhola (Hernandez, 1981) e rara no panorama da cultura castreja, é disso mesmo exemplo.
6
Associadas a contextos habitacionais, datados entre inícios do século V a.n.e. e meados ou finais do
século I.

70
Fig. 2 - Corte estratigráfico simplificado. Fonte: Sanches 2008: 163, fig. II.4 (adaptado). Os símbolos em forma
de cruz assinalam o posicionamento dos diversos fragmentos de cerâmica ática na área declive. Os símbolos
de cor amarela assinalam dois fragmentos com colagem entre si, tal como os símbolos de cor laranja. A cor
vermelha reporta-se aos fragmentos gregos que não registam colagens.

A identificação de colagens entre fragmentos oriundos da zona mais elevada e da


área topograficamente mais baixa, assim como as características e diâmetros dos
materiais, reforçam esta possibilidade. Trata-se de um krâter de figuras vermelhas, ático,
formalmente concordante com produções análogas, datadas de 400-350 a.n.e.7.
Os fragmentos foram recolhidos num espaço de natureza habitacional, intramuros8, com
possíveis escorrências para a plataforma de talude exterior leste, onde se verifica uma
ocupação sidérica que recua aos séculos VI/V a.n.e.9 e se prolonga pelas centúrias seguintes.

7
A referida cronologia é primeiramente avançada em (Sanches, 2008, p.152 e VGP, 2007).
8
Área PIL - Plataforma Inferior Leste, de acordo com as áreas definidas no decorrer das várias campanhas
de campo conduzidas neste local,
9
De acordo com as datações de C14 obtidas. A análise da cronologia absoluta e relativa da ocupação
de Crasto de Palheiros é apresentada em (Sanches, 2007). Os finais do século V (Pinto, 2003, p.2), e meados
do século V (Cardoso, 2005) são igualmente apontados como data provável para o início da ocupação sidérica
pelos demais investigadores que conduzidas estudos sobre este local.

71
2.1.2. CASTRO DE SÃO LOURENÇO
Construído num esporão rochoso de uma arriba com fortes pendentes, o povoado tira
partido das condições naturais de defesa oferecidas pelo terreno, complementando-as
com um aparelho defensivo construído no decorrer da ocupação sidérica do local. Goza
igualmente de um amplo domínio da paisagem envolvente, com destaque para o controlo
visual da foz do rio Cávado, da qual atualmente dista cerca de 3 km.
A ocupação inicial deste espaço remonta à Idade do Bronze Final (Almeida, 2006, p. 72;
Almeida & Almeida, 2008, p. 16), sendo testemunhada em escassos materiais cerâmicos
e metálicos, insuficientes para a caracterização da dimensão, economia, urbanismo
e arquitetura do povoado inicial. Também numa primeira fase de ocupação sidérica, regista
diminutos vestígios materiais que, no entanto, atestam a presença humana neste local
entre os séculos VII e VI a.n.e. Os testemunhos cerâmicos identificados exibem pastas
de coloração bege, de tonalidades acastanhada ou rosada, fazendo uso de abundantes
quantidades de mica e areias como desengordurante. Apresentam cozedura redutora
ou oxidante e são ornamentados com motivos decorativos compostos maioritariamente
de círculos concêntricos, triângulos e «SS». Falamos exclusivamente de produções locais,
não se registando, até este momento testemunhos de contactos comerciais mediterrâneos
ou atlânticos. Esta circunstancia altera-se nas centúrias seguintes, documentando-se
a presença de um fragmento de cerâmica ática em níveis concordantes com as primeiras
construções habitacionais pétreas identificadas no povoado. O fragmento, datado da
primeira metade do século IV a.n.e., foi recolhido no sector «T», uma das áreas mais
intervencionadas do castro e local de proveniência de abundante espólio cerâmico de
diversas cronologias. [Figura. 3]. Surge em camadas superficiais, associado a cerâmicas
da Idade do Ferro e do período de ocupação romana, revelando assim a pouca fiabilidade
cronológica do estrato. Não obstante este infortúnio, na sua génese o fragmento estaria
associado às construções pétreas mais antigas identificadas neste sector (assinaladas na
fig. 3), que integram a Fase III de ocupação do castro, definida pelos investigadores que
conduziram escavações neste local10. Esta fase, pouco conhecida no registo arqueológico,

10
É antecedida pela fase I, do bronze final, e pela fase II, da 1ª Idade do Ferro, sem construções pétreas.

72
inicia-se entre meados do I milénio e prolonga-se até ao século II a.C., testemunhando-
se, na arquitetura, através de construções
pétreas de planta circular, utilizando
coberturas que incorporam elementos
vegetais (Almeida & Almeida, 2008, p. 16).
No respeitante à cultura material, registam-se
exemplares de cerâmica manual, com uma
presença diminuta, e de cerâmica feita
a torno lento, representando também ela uma
reduzida percentagem do total recenseado.
A forma e decoração dos vasos variam em
relação ao período precedente, traduzindo
um gosto preferencial pela cozedura
oxidante, pelo alisamento e polimento das
superfícies dos vasos, proliferando
os grandes recipientes de armazenamento,
a par da cerâmica de mesa e cozinha
(Almeida & Almeida, 2008, p. 35).

Fig. 3 - Planta do Sector «T» com estruturas que da


fase III destacadas. Fonte: Almeida & Almeida, 2008
(adaptado).

2.1.3.CASTRO DE ROMARIZ
Ocupado desde o Bronze final e com uma forte presença de materiais arqueológicos
e estruturas datáveis da Idade do Ferro, o Castro de Romariz tem, no entanto, merecido
particular destaque pela sua fase final de povoamento, coincidente com a segunda metade
do século I. Sobre a sua ocupação mais antiga, são ainda poucos os dados revelados, em
resultado das parcas áreas intervencionadas em profundidade suficiente que permitam
conhecer as etapas prévias à romanização (Centeno, 2011). Sabe-se, no entanto,
que a colina, conhecida como Monte Crasto, foi ocupada desde pelo menos o Bronze
Final - c.900-700 a.C. (Centeno, 2011, p. 11; Centeno, Morais, & Soeiro, 2014, p. 291),
identificando-se para este período escassos fragmentos cerâmicos11. Estratigraficamente

73
associado a esta presença, foram recolhidos exemplares de cerâmica sidérica de produção
local, com destaque para a loiça de mesa e cozinha. Estas peças, micáceas e de fabrico
manual, surgem a par de grandes quantidades de produtos importados, totalizando estes
últimos, quase metade do conjunto cerâmico recolhido. Verifica-se assim, no Castro
de Romariz, um abastecimento de bens exógenos muito significativo, que acompanha
o povoamento sidérico, aparentemente desde o seu início, tal como nos revela a
interpretação estratigráfica considerada (Centeno, 2011)12.
O conjunto de materialidades exógenas é composto de fragmentos de ânfora, cerâmica
cinzenta orientalizante13, uma fusaiola importada, contas vítreas azuis e um fragmento
cerâmico de proveniência desconhecida, e fabrico similar às produções áticas que vão
igualmente estar presentes neste arqueossítio, em estratos cronologicamente posteriores.
Conservando apenas parte do bordo e colo, o fragmento pertenceria a uma peça de grande
dimensão, sugerindo o autor que se dedicou ao seu estudo (Centeno, 2011), uma possível
correspondência com a forma de um kratêr-de-colunas, identificado em Huelva e datado de
meados de 600 a.C.14. Sem paralelos precisos para a sua forma, e na ausência de análises
da pasta que permitam determinar a procedência do fragmento, o bordo de Romariz deve
ser remetido para uma origem indubitavelmente exógena à região, possivelmente no
Mediterrâneo Oriental.
Os estratos sidéricos mais recentes, dividindo-se em dois momentos ou fases
distintas [estratos 06 e 05], confirmam a significativa presença de materiais importados,
identificando-se uma quantidade muito significativa destes produtos, a par da cerâmica
de produção local. Merecem particular destaque, pela sua abundância, os exemplares de
ânfora de tradição oriental, caracterizados por bordos com lábios espessados, aos quais
se juntam quatro possíveis fragmentos de ânforas SOS áticas (Centeno, 2011)15. Tal como
no momento anterior, também estes estratos registam a presença de contas vítreas azuis e
fusaiolas que, numa primeira fase se remetem para produções exógenas, e nos níveis mais
recentes são fabricadas localmente, num dos exemplares, reaproveitando um fragmento
de cerâmica púnica. Mais uma vez, a cerâmica grega está presente nesta fase [05],
testemunhada através de um pequeno fragmento de uma taça ática, atribuída aos séculos
V/ IV a.n.e.16.
No respeitante à cerâmica de produção local, numa fase inicial, predominam as pastas

74
micáceas e fabricadas à mão, apresentando-se por vezes brunidas, com ou sem decoração
na superfície externa. Exibem cores que vão do laranja ao cinzento-escuro e as decorações,
quando existem, obedecem à técnica de estampagem ou incisão.
As formas produzidas, pouco diversificadas, reportam-se a loiça de cozinha e de servir
à mesa, predominando as taças, potes e panelas. À medida que nos encaminhamos para
momentos mais recentes [05], as superfícies tendem a apresentar-se mais brunidas e as
decorações são mais frequentes. A camada seguinte [04A], prévia à ocupação romana,
testemunha a diminuição da importação de bens e produtos exógenos, uma tendência
comum à generalidade dos sítios com ocupação sidérica do NO da Península Ibérica.
É igualmente neste momento que surgem os primeiros testemunhos, no castro de Romariz,
de cerâmica de produção local feita à roda. Este tipo de fabrico coexiste com as produções
locais manuais, verificando-se, inclusivamente na unidade [02], correspondendo ao último
período de ocupação da domus romana.
Por último, no respeitante à evolução arquitetónica e urbanística, verifica-se o início
do processo de petrificação das construções na transição do século III/ II a.n.e., coma
construção da muralha superior (Centeno, 2011, p. 12), desenvolvendo-se ao longo
do século II a.C. com a petrificação das habitações.

11
Esta escassez reflete as limitações verificadas na escavação dos níveis mais antigos do povoado,
estando por determinar a real dimensão da primeira ocupação do castro.
12
Reportando-se à camada [7].
13
Atribuídas a cronologias idênticas aos materiais recolhidos no estrato mais recente [6] (Silva, 1986, pp.
162-163, nº 174, 178-180).
14
(Cabrera, 1988-1989, pp.51, fig. 1, nº 5; Fernández Jurado, 1984, pp. 28-32, fig. 10). No caso do krâter
de Huelva, os autores que se dedicam ao seu estudo, colocam as hipóteses, que assumem como pouco
prováveis, de se tratar de uma imitação local de cerâmica cinzenta (Fernández Jurado, 1984, p.30). Mais
plausível, consideram a possibilidade de estarmos perante uma produção de cerêmica cinzenta realizada
no sudeste francês, ainda que a cronologia associada à produção francesa não corresponda às evidências
arqueológicas de Huelva (Fernández Jurado, 1984, p. nota ridapé 31). Perante a dificuldade de uma atribuição
coerente do ponto de vista estratigráfico, remetem a origem da peça ao Mediterrâneo Oriental (Fernández
Jurado, 1984, pp. 30-31), sem que se defina um local exato para a sua produção.
15
Podendo corresponder a dois ou três exemplares. (Caravale & Toffoletti, 1997, pp. 59-62).
16
O fragmento é erradamente atribuído ao estrato em [6] (Silva, 1986).

75
2.1.4. CASTRO DAS ERMIDAS
O povoado desenvolve-se, em extensão, no sentido Noroeste-Sudeste, com recurso
esporádico à construção em plataformas artificiais. Não obstante a sua implementação
num esporão de pendentes suaves, a sua posição sobranceira na paisagem possibilita
o controlo visual do território envolvente, em particular do vale dos rios Este e Guizando
(Queiroga, 1992). O local regista uma ocupação contínua entre os séculos IV a.n.e. e o
século I, mostrando um maior dinamismo, sugerido pelo maior volume de materialidades
identificadas, entre finais do século I a.n.e. e os inícios da centúria seguinte. Associadas
à ocupação da Idade do Ferro, foram identificadas diversas estruturas habitacionais,
maioritariamente de planta circular (Queiroga, 2015), em núcleos organizados em torno
de um pátio lajeado. Associados a estas estruturas, foram recolhidos abundantes vestígios
materiais, que se reportam a diferentes ocupações que vão do século V a.n.e. à mudança
de Era e ao período de ocupação romana do actual território português. Merece particular
destaque, pela sua abundância, a cerâmica de construção associada à ocupação
romana do local, assim como a cerâmica de mesa e cozinha da Idade do Ferro. Falamos
concretamente de cerâmica produzida localmente, de forma manual, de pastas homogéneas
e com uma reduzida diversidade formal, sendo particularmente abundantes os púcaros
e potes de bordos horizontais e aba soerguida. As decorações, quando se verificam,
são incisas ou, menos frequentemente, estampadas (Dinis, 1993). A par da cerâmica de
produção local, regista-se a presença de materiais exógenos de matriz orientalizante,
entre os quais, um fragmento de cerâmica grega totalmente revestido de engobe negro
(Dinis, 1993, p. 59). O gosto pela cerâmica de verniz negro perdura no Castro das Ermidas,
ocorrendo posteriormente a importação de produções de cerâmica campaniense B. Foi
igualmente recolhido neste local um fragmento de arýballos de pasta vítrea, com arranque
de asa bífida, de cor azul-esverdeado. De tradição púnica, foi fabricado segundo a técnica
do núcleo de areia, datando do século V-IV a.C, sendo por isso mesmo, possivelmente
contemporâneo do fragmento ático.

76
2.2. MATERIAIS – CERÂMICA GREGA

No decorrer dos trabalhos arqueológicos desenvolvidos no Castro de São Lourenço foi


identificado um fragmento de parede e arranque de asa e um kratêr-de-sino. A orientação e
características morfológicas do exemplar permitem integrá-lo na variante «Krâter-de-sino
do tipo 2», definida pelo estudo dos conjuntos de krâteres da Ágora de Atenas (Moore,
1997, nos 293-545). Na face externa, a envolver o arranque da asa, exibe decoração
composta de uma banda de óvalos e pontos, delimitada inferior e superiormente por
linhas negras. Conserva igualmente vestígios de uma palmeta de desenho cuidado,
possivelmente com núcleo central.

Fig. 4 - Desenho do fragmento ático do Castro de São Lourenço e proposta de reconstituição do krâter-de-
sino com base num exemplar de krâter da mesma variante, procedente da Necrópole do Senhor do Olival do
Senhor dos Mártires, em Alcácer do Sal.

O pequeno tamanho da palmeta identificada e o seu posicionamento na parede, ao


nível da asa, sugere que estaríamos perante uma decoração composta de duas palmetas
sobrepostas. Encontramos esse tipo de soluções decorativas em obras do Pintor de
Tirsos Negros17, em exemplares atribuídos ao Grupo de Viena 102518, e Pintor de
Telos19, citando apenas alguns exemplos de artistas com obras identificadas na fachada
atlântica da Península Ibérica. Não obstante a escassez e a natureza comum dos motivos
representados não permitir a correspondência do exemplar do Castro de São Lourenço
a um determinado Pintor ou Grupo de Pintores, a sua morfologia e as características
decorativas são concordantes com as produções da primeira metade do século IV a.n.e.

77
Efectivamente, kratêres-de-sino como este são produzidos em Atenas a partir do segundo
quartel do século V a.n.e. (Moore, 1997, p. 31), sendo, no entanto raros os exemplares
deste período. O fabrico destas peças aumenta consideravelmente no decorrer do terceiro
quartel e, ao longo da centúria seguinte torna-se a forma ática de figuras vermelhas mais
comum, deixando de ser produzida apenas no final do século IV a.n.e. (Moore, 1997, p. 31).
Idêntico enquadramento cronológico deve ser sugerido para o exemplar de kratêr-de-
sino procedente do Crasto de Palheiros. [Fig. 5]. Do vaso, apenas se conservam treze
fragmentos de bordo e parede pertencentes à mesma peça. Apresenta bordo esvasado, de
lábio saliente e espessado, antecedido de uma canelura reservada, uma morfologia comum
nos exemplares de kratêres-de-sino identificados na fachada atlântica da Península Ibérica.

Fig. 5 - Desenhos e fotografias de alguns dos fragmentos áticos de Crasto de Palheiros.

78
A face externa do bordo exibe decoração composta de uma banda de folhas de louro
e nos fragmentos de parede é possível identificar vestígios da decoração que apresentaria,
distinguindo-se possivelmente a nuca e o cabelo de uma figura masculina e um pequeno
segmento da banda de meandros que delimitaria inferiormente a área com decoração
figurativa. Mais uma vez, a pequena dimensão dos fragmentos e a natureza comum dos
motivos representados não permite a integração deste exemplar na obra de um pintor ou
grupo de pintores específico.
Do castro das Ermidas é procedente um fragmento pertencente a uma lekanis, uma
peça de pequeno tamanho concebida para servir variados propósitos, sendo os mais
comuns o de conter unguentos ou objectos de adorno pessoal. São vasos geralmente
compostos de dois elementos, integrando uma base do tipo taça e uma tampa, que pode
ela própria ser usada, quando colocada em posição invertida, como taça. O fragmento
do castro das Ermidas conserva parte do bordo, de perfil vertical; o arranque de uma
das protusões laterais, de perfil vertical e tubular; e parte da parede com a protuberância
típica desta forma, destinada ao encaixe da tampa. As suas características morfológicas
permitem integrá-lo na variante das lekanides de tampa reversível («reversible lids»)
definida pelo estudo do conjunto de lekanides da Ágora de Atenas (Sparkes & Talcott,
1970, nos 1240-1241). Peças deste tipo são produzidas a partir do século VI a.n.e.,
registando os exemplares de verniz negro, o pico de popularidade na segunda metade do
século V a.n.e. e sendo raras a partir de 400 a.n.e., altura em que as lekanides de figuras
vermelhas se tornam mais comuns (Sparkes & Talcott, 1970, p. 168). No respeitante à
evolução da forma, as principais alterações registam-se no aspecto geral das peças,
na morfologia do bordo, asas e protusões laterais. Os exemplares mais antigos são
tendencialmente mais altos, com paredes com uma curvatura menos pronunciada, mais
verticalizada, por oposição, os modelos tardios que prezam a horizontalidade. No século V
a.n.e., os bordos são rematados, inferiormente, por paredes protuberantes, apresentando-
se geralmente revestidos de engobe negro, contrastando assim com os bordos decorados
com linhas diagonais ou ziguezagues, característicos da centúria seguinte. Por último,
no respeitante às asas, nos exemplares do século V a.n.e., estes elementos adoptam
usualmente a forma de ferradura, conectadas com alguma proximidade às protusões
laterais, que no século IV a.n.e. passam a ser posicionadas a uma certa distância das asas.

79
O exemplar em análise integra os marcadores formais definidos para o século V a.n.e.,
devendo a sua produção ser remetida para esse momento.
Na restante Península Ibérica, a forma é pouco abundante, merecendo particular
destaque pela maior quantidade de registos, a região do Levante Espanhol20, onde
predominam os exemplares de figuras vermelhas de finais do século V a.n.e.

Fig. 6 - Desenhos do fragmento ático do Castro das Ermidas e proposta de reconstituição da forma.

Por último, no castro de Romariz foi recolhido um fragmento de uma possível taça ática
de figuras vermelhas. Ainda que venha sendo sugerida uma datação em torno do século
IV a.n.e.21 para este exemplar, o avançado estado de fragmentação e a deterioração quer
do fragmento, quer da decoração que apresentaria, coloca necessárias reservas quanto à

17
(E.g. Nº 260162, Beazley Archive Database. CVA, Wien, Kunsthistorisches Museum 3, 28, Pls. (127,128)
127.1-2, 128.6.
18
E.g. Krâter-de-sino nº 11257, procedente de Alcácer do Sal
19
Trías de Arribas, 1967- 1968, pls. 216-217.1 (A, B).
20
Registando-se um número de testemunhos mais avultado em Tarragona (entre outros: Trias de Arribas,
1967-1968, pp. 261-262; Jully, 1982-1983, p. 215; Pallares, Gracia & Munilla 1985, p. 127); e Girona (Trias de
Arribas, 1967-1968, p. 203, lám. CIX, 3; Jully, 1982-1983, p. 56, Rouillard 1991, p. 137, nº 158.2479; Sanmarti-
Grego, 1988, fig. 12, 30; Miró, 1998, fig. 15; 2006, pp. 208-209, fig. 513, p. 242, fig. 657).
21
(Centeno, 2011).

80
sua classificação tipológica e à proposta de cronologia apresentada. Além deste exemplar,
registam-se quatro fragmentos correspondendo possivelmente à parede de uma ânfora
«SOS». Exibem pasta homogénea, muito depurada, e a superfície externa encontra-se
totalmente revestida de verniz de cor negra com tonalidade acastanhada. Este tipo de
ânfora, com uma produção que extravasa os limites geográficos da Grécia Antiga, reporta-
se aos séculos VIII a VI a.C. (Shefton, 1982, p. 339).

Fig. 7 - Exemplar ático do Castro de Romariz. Fotografia da face interna (ao centro) e da face externa do
fragmento.

Fig. 8 - Desenho e fotografia de fragmento de possível ânfora «sos» de Castro de Romariz.

81
3. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES

Os quatro exemplares de cerâmica grega analisados testemunham a integração do NO


da Península Ibérica nas rotas de comércio de produtos gregos, sendo particularmente
representativos dos contactos estabelecidos entre o mediterrâneo oriental e as populações
que durante a Idade do Ferro habitavam este território. Abordando o repertório formal dos
produtos comercializados, verifica-se o predomínio dos krâteres nos conjuntos de cerâmica
grega identificados no NO Peninsular, aqui representados através dos exemplares
recolhidos no Castro de São Lourenço e Crasto de Palheiros, e igualmente registados no
Castro de Santo Estevão da Facha (Almeida, Soeiro, Almeida, & Batista, 1981), no povoado
A Forca (Carballo Arceo, 1987, p. 111) e no Castro de Fozara (Hidalgo Cuñarro, 1978),
mencionando apenas alguns exemplos. Não obstante a maior representatividade destes
vasos de grandes dimensões, verifica-se a importações de outras formas, igualmente
registadas no centro e sul do atual território português. É o caso da taça, presente no
Castro de Romariz, da lekanis identificada no Castro das Ermidas, da pelike recolhida no
Castro de Santo Estevão da Facha (Almeida, Soeiro, Almeida, & Batista, 1981) ou ainda
do possível fragmento de prato de peixes identificado no povoado A Forca (Carballo Arceo,
1987, p. 111). Abordando particularmente o exemplar do Castro das Ermidas, a forma tem
sido reiteradamente considerada rara no actual território português, estando o fragmento
omisso na generalidade dos estudos que listam os exemplares de lekanides encontrados
neste mesmo território22. Até ao presente momento, a forma testemunha-se igualmente em
Lisboa, através de dois exemplares identificados em diferentes áreas da cidade23, no Castro
da Azougada24 e em Castelo de Castro Marim25. Não obstante a reduzida amostragem,
contrariamente à tendência que vem sendo registada para outras tipologias de cerâmica
ática, as lekanides encontram-se entre as preferências de importação partilhadas pelas
comunidades da Idade do Ferro do sul, centro e norte do actual território português.
Tal como na generalidade dos fragmentos áticos identificados no NO Peninsular, no
pequeno conjunto analisado predominam os vasos de figuras vermelhas, registando-se,no
entanto, um reduzido número de exemplares totalmente revestidos de engobe negro.
No caso destes últimos, considerando o seu estado avançado de fragmentação, é
possível que pudessem, parte deles, corresponder a exemplares de figuras vermelhas,

82
conservando-se no registo arqueológico apenas frações não decoradas. No respeitante
à lekanis, são frequentes os exemplares em que apenas a tampa apresentaria motivos
decorativos pintado, permanecendo a parte inferior da peça ausente de decoração (Sparkes
& Talcott, 1970).
Abordando a distribuição geográfica dos produtos de matriz orientalizante identificados,
não obstante a clara tendência de litoralização supramencionada, merece destaque pelo
seu cariz de excepção, o exemplar identificado em Crasto de Palheiros. A presença de um
vaso ático no actual concelho de Murça, distando mais de cem quilómetros em relação aos
restantes arqueossítios com cerâmica grega identificada, localizados no actual território
português, sugere o estabelecimento de trocas inter-regionais entre comunidades de
regiões interiores e comunidades tradicionalmente incorporadas no litoral «castrejo».
A identificação de vários fragmentos pertencentes a diferentes partes do krâter, com e
sem decoração, indica que o vaso terá chegado a esta região inteiro, contrariando assim
a possibilidade da aquisição de apenas um fragmento decorado ou uma parte específica
da peça. Desconhece-se como se terá processado o transporte do krâter, com uma
dimensão considerável e paredes de pequena espessura, desde o litoral até ao Nordeste
transmontano. O recurso às vias fluviais, tão frequentemente sugerido como via de
penetração dos produtos orientalizantes para áreas mais interiores (VGP, p. 135-140), deve
ser considerado, sobretudo atendendo à proximidade verificada entre Crasto de Palheiros
e a principal via fluvial da região, o rio Douro, através do seu afluente Tua. A dificuldade de
navegação de alguns troços do rio permite admitir que, em determinados percursos, o vaso
possa ter viajado por terra. Abordar a complexa problemática da distribuição geográfica dos
achados de cerâmica grega no NO Peninsular exige a análise integrada do conjunto de
fragmentos identificados, confrontando-se as cronologias para a produção e usos destes
materiais, assim como as suas características formais e decorativas. Ainda que o âmbito
do presente artigo não permita tal discussão, sublinhamos, no entanto, a este propósito,
a identificação de um fragmento de pelike de figuras vermelhas associado à ocupação
sidérica do castro de Dehesa de Morales - Fuentes de Ropel (Martín Valls & Delibes de
Castro, 1978), localizado mais para o interior da Península, em articulação como rio Douro26.
A identificação de um exemplar ático a jusante do Douro, poderá indicar um percurso
alternativo para a peça identificada em Crasto de Palheiros, por via da Galiza, tirando

83
partido do sentido da corrente do rio, num trajecto com passagem na actual província de
Zamora. O fragmento recolhido em território espanhol apresenta características formais e
decorativas concordantes com as produções de 370-350 a.n.e., à semelhança da cronologia
proposta para o exemplar de Crasto de Palheiros.
Por fim, são abordadas sumariamente as problemáticas ligadas às cronologias de
recepção estes produtos. Ainda que no NO Peninsular predominem os exemplares áticos
datados entre 400-350 a.n.e., registam-se importantes excepções. A mais significativa
prende-se com o surgimento de fragmentos de uma ânfora SOS, presente nos estratos que
precedem a chegada da taça ática de figuras vermelhas, já mencionada.
Não obstante as características da pasta e engobe corresponderem a este tipo de
produções, a referida classificação deverá ser entendida com reservas, dada a pequena
dimensão dos fragmentos e a consequente dificuldade em determinar a tipologia de forma
a que pertenceriam.
Os testemunhos de ânforas gregas são raros no actual território português, registando-
se escassos fragmentos identificados em Mértola, Castelo de Castro Marim (Arruda,
Ferreira & Sousa, no prelo) e Monte Beirão - Ourique (Beirão, 1986, Sousa & Arruda, no
prelo). Na restante Península Ibérica, com particular destaque para a região da actual
Andaluzia, o número de exemplares de ânforas gregas é consideravelmente maior
(Rouillard, 1991), atestando diferentes origens, fabricos e acabamentos. No caso particular
das ânforas de tipo SOS, estão já identificados um número considerável de testemunhos
com origem na Ática e em centros produtores da costa Jónia (Cabrera, 1985), ainda que
nem sempre seja possível estabelecer esta distinção. Merecem destaque, pela maior
quantidade de indivíduos, os conjuntos recolhidos em Huelva (Cabrera, 1985, p. 50, Lám.
III; Cabrera 1994a, p. 251, fig. 6; Amo Del, 1976, p. 42-43, lám. 5; Rouillard 1991 | p. 740-
741, 2.2.5.58) e Málaga, designadamente em Toscanos (e.g. Niemeyer, 1979, p. 248, lám.
9; 1985, p. 28-32; Rouillard 1991, p. 695, 2.2.5.58, Blazquez 1975, CXIII, lám. 113 B), Cerro
de Villar (Cabrera 1994b, p. 108), e Calle San Agustín (Recio, 1990, p. 144; Gran Aymerich,
1988, p. 211, fig. 9). Os referidos materiais associam-se a estratos datados a partir de 700
a.n.e., no caso de Toscanos, e entre 650-500 a.n.e., nos restantes contextos. A verificar-
se a classificação dos fragmentos do Castro de Romariz como ânforas do tipo SOS, a
integração do Noroeste Peninsular nas rotas de comércio de produtos gregos recuará

84
assim à segunda metade do século VII/século VI a.n.e., altura em que chegam os primeiros
exemplares de cerâmica ática de figuras negras ao sul do actual território português
(Arruda 2003, 2005).

22
Incluindo os estudos mais recentes (Arruda & Sousa, 2008; Soares 2017).
23
Um dos exemplares, de figuras vermelhas, foi identificado no decorrer dos trabalhos arqueológicos
conduzidos na Rua Augusta (Arruda & Sousa, no prelo). O segundo fragmento, uma tampa totalmente coberta
de engobe negro, é proveniente da área do Castelo de São Jorge (Arruda & Sousa, no prelo).
24
Um estudo de 2017 refere a existência de um fragmento em castelo de Moura (Soares, 2017: 187, fig. 17,
n.º 416), contudo, a referência bibliográfica que lhe é atribuída, reporta-se ao exemplar do Castro da Azougada.
25
(Arruda, Ferreira & Sousa, no prelo).
26
Foi sugerida a chegada desta peça ao castro de Morales através da rota comumente designada de «via da
prata», propondo-se o seu transporte desde o sul da Península Ibérica, a partir de centros redistribuidores, uma
tese que vem sendo contrariada pelo número crescente de achados de cerâmica ática no NO litoral sugerindo
que a chegada deste tipo de bens por via marítima, e a sua difusão do litoral para áreas mais interiores.

85
REFERÊNCIAS

Almeida, C. (2006). O castro de São Lourenço Vila Chã (Esposende). In A Cultura Castrexa Accións e
estratexias para o seu aproveitamento socio-cultural. Actas do Seminario Final, Mondariz Balneario, 22 e 23 de
xuño de 2006, pp. 67-92.
Almeida, C., & Almeida, A. (2008). Castro de S. Lourenço - Esposende. Esposende: Câmara Municipal de
Esposende.
Almeida, C., Soeiro, T. & Batista, A. (1981). Escavações arqueológicas em Santo estevão da Facha, Arquivo
de Ponte de Lima, nº3.
Amo, M. del (1976): Restos materiales de la población romana de Onuba, Huelva Arqueológica II, Huelva,
13-43.
Arruda, A. (2003). A Idade do Ferro no Centro no Castelo de Castro Marim através das importações
cerâmicas, Xelb 4, 70-88.
Arruda, A. (2005). O 1º milénio a.n.e. no Centro e Sul de Portugal: leituras possíveis no início de um novo
século, O Arqueólogo Português, série 4, 23, 9-156.
Arruda, A. & Sousa, E. (2018). The greek pottery of the Tagus estuary. In Morais,R., Leão, D., Rodriguez-
Pérez, D. & Ferreira, D., Greek Art Studies in honour of Sir John Boardman on the occasion of his 90th birthday.
Oxford: Archaeopress Arqchaeology.
Blázquez, Mª. J. (1975). Tartessos y los orígenes de la colonización fenicia en occidente, Salamanca.
Cabrera, P. (1985). Nuevos fragmentos de cerámica griega en Huelva, Ceràmiques gregues i helenístiques
a la Península Ibèrica. Taula rodona amb motiu del 75è. Aniversari de les excavacions d’Empúries (Empúries,
18-20 de març 1983), Monografies Emporitanes VII, Barcelona, 43-57.
Cabrera, P. (1988-1989). El comercio foceo en Huelva: cronología y fisionomia. In J. F. Jurado, Tartessos y
Huelva - Huelva Arqueologica 10-11 (3), 41-100.
Cabrera, P. (1994a). La cerámica griega arcaica. Calle del Puerto 10, Excavaciones Arqueológicas en
España 171, Ministerio de Cultura, Madrid, 243-253.
Cabrera, P. (1994b). Importaciones arcaicas del Cerro del Villar, Guadalhorce (Guadalhorce-Málaga).
In Cabrera, P., Olmos, R. & Sanmartí, E. (coords.), Iberos y griegos: lecturas desde la diversidad, Simposio
Internacional celebrado en Empúries (3-5 de abril de 1991), Huelva Arqueológica XIII-1, Huelva, 98-121.
Caravale, A., & Toffoletti, I. (1997). Anfore Antiche conocerle e identificarle. Rome: Isituto di Recerche
Ecologiche ed Economiche.
Carballo Arceo, L. (1987). Castro da Forca. Campaña 1984. Arqueoloxia/ Memorias, 8. Xunta de Galicia.
Santiago.
Cardoso, J. (2005). Restos faunísticos do Crasto de Palheiros (Murça). Contributo para o conhecimento da
alimentação no Calcolítico e na Idade do Ferro no Nordeste português. Portugália, XXVI, 65-75.
Centeno, R. (2011). O Castro de Romariz (Aveiro, Sta. Maria da Feira). Santa Maria da Feira: Câmara
Municipal de Santa Maria da Feira.
Centeno, R., Morais, R., & Soeiro, T. (2014). A propósito da cerâmica cinzenta fina polida do Castro de
Romariz (Santa Maria da Feira - Portugal). In R. Morais, A. Fernández, & M. J. Sousa, As produções cerâmicas

86
de imitação na Hispânia. Monografias Ex Officina Hispana II (pp. 291- 308). Porto: Faculdade de Letras da
Universidade do Porto (FLUP).
Dinis, A. (1993). Ordenamento do território do Baixo Ave no I milénio a.C. Dissertação de Mestrado
apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
Domínguez Pérez, J. (2005): Materiales púnico-gaditanos en los confines del extremo occidente atlántico.
Antiqvitas, 17, 5-11.
Fernández Jurado, J. (1984). La presencia griega arcaica en Huelva. In Monografias Arqueológicas-
Colleción Excavaciones en Huelva, 1. Huelva: Servicio de Arqueologia, Excma. Diputación Provincial de Huelva.
Ferreira, D. (2019). A Cerâmica grega na fachada atlântica da Península Ibérica. Tese de Doutoramento
apresentada à Universidade Complutense de Madrid. Edição policopiada.
Gran Aymerich, J. (1988). Cerámicas griegas y etruscas de Málaga. Excavaciones de 1980 a 1986, Archivo
Español de Arqueología 61, Madrid, 201-222.
González Ruibal, A. (2006-2007). Galaicos. Poder y comunidad en el noreste de la Península Ibérica, 1200
a.C. - 50 d.C.. Brigantium, 18-19.
González Ruibal, A., Rodríguez Martínez, R., Ayán Vila, X. (2010). Buscando a los púnicos en el Noroeste.
Mainake, XXXII (I), 577-600.
Hernandez, F. (1981). Ceramica con decoracion “a peine”. Trabajos de Prehistoria, 38, 317-326.
Jully, J. (1982-1983). Céramiques grecques ou de type grec et autres céramiques en Languedoc
Mediterranéen, Roussillon et Catalogne, VIIe-IVe s. avant notre ère et leur contexte socio-culturel, Annales
littéraires de l’Université de Besançon, 275, I-III, Besançon.
Queiroga, F. (1987). Corte Estratigráfico no Castro de Penices. Boletim Cultural, 7, 3-22.
Queiroga, F. (1992). War and Castros. New aproaches to the northwestern Portuguese Iron Age. Oxford:
Oxford University.
Queiroga, F. (2015). As cabanas do Castro de Penices, e a evolução da arquitectura doméstica dos castros.
Portugália, 36, 263-276.
Hidalgo Cuñarro , J., & Costas Goberna , F. (1978). Importantes hallazgos en el castro ‘A cidade’ de Caneiro
(Fozara, Ponteareas). El Museo de Pontevedra, 32: 59-63.
Martín Valls, R. & Delibes de Castro, G. (1978). Hallazgos Arqueologicos en la Provincia de Zamora (V),
BSAA, XLIV, 322-346.
Miró, T. (1998). La cerámica àtica de figures roges d’Empúries. Una aproximació al seu estudi tipològic.
Empúries 51, 127-138.
Miró, T. (2006). La ceràmica àtica de figures roges de la ciutat grega d’Empòrion, Monografies Emporitanes 14.
Moore, M. (1997). Attic red-figured and white-ground pottery. The Athenian Agora, Results of excavations
conducted by The American School of Classical Studies at Athens, vol. XXX. Princeton, New Jersey: The
American School of Classical Studies at Athens.
Naveiro López , J. (1991). El comercio antiguo en el NW peninsular. Monografías Urxentes do Museu, 5.
Niemeyer, H. (1985). Cerámica griega en factorías fenicias. Un análisis de los materiales de la campaña de
1967 en Toscanos (Málaga), Monografies Emporitanes VII, Barcelona, 27-36.

87
Niemeyer, H. (1979). Toscanos, Campañas de 1973 y 1976 (con apéndice sobre los resultados de la
Campaña de 1978), Noticiario Arqueológico Hispánico 6, Madrid, 219-258.
Pallares, R., Gracia, F. & Munilla, G. (1985) Cerámicas áticas y de barniz negro del poblado ibérico de la
Moleta del Remei (Alcanar, Montsià). Empúries, 47, 120-129.
Pinto, D. (2003). Os artefactos metálicos do Crasto de Palheiros (Murça, Trás-os-Montes) e suas relações
com a Proto-história peninsular. In Actas do Encuentro de Jóvenes Investigadores sobre Bronce Final y Hierro
en la Península Ibérica, (pp. 107-126). Salamanca.
Pinto, D. (2011). O Crasto de Palheiros. Contributo da aplicação de uma nova metodologia no estudo da
cerâmica. vol. I e II. Faculdade de Letras Universidade de Coimbra.
Recio, A. (1990). La cerámica fenicio-púnica, griega y etrusca del sondeo de San Agustín (Málaga),
Monografías 3, Servicio de Publicaciones Diputación Provincial de Málaga, Málaga.
Rouillard, P. (1991). Les Grecs et la Peninsule Ibérique du VIII e au IV e siècle avant Jésus-Christ, Paris: diff.
de Bocart (Publications du Centre Pierre Paris, 21).
Sanches, M. (2003). Crasto de Palheiros-Murça. Reflexão sobre as condições de estudo e interpretação
duma mega-arquitectura pré-histórica no Norte de Portugal. In S. O. Jorge, Recintos murados da pré-história
recente. Técnicas construtivas e organização do espaço. Conservação, restauro e valorização patrimonial de
arquitecturas pré-históricas. (pp. 115-148). Porto: FLUP, DCTP, LCR, CEAUCP.
Sanches, M. (2006). Crasto de Palheiros-Murça (Northern Portugal). Considerations on the study and
interpretation of a Prehistoric Mega-Constrution. Journal of Iberian Archaeology, 6, 117-145.
Sanches, M. d. (2007). Cronologia absoluta e relativa da construção, uso e condenação do Crasto de
Palheiros: uma exposição sintética. In S. Jorge, A. Bettencourt, & I. Figueiral, A conceção das paisagens e dos
espaços na Arqueologia da Península Ibérica. Actas do 4º Congresso Nacional de Arqueologia (pp. 107-120).
Faro: Centro de Estudos do Património da Universidade do Algarve.
Sanches, M. (2008). O Crasto de Palheiros - Fragada do Castro Murça - Portugal. Murça: Câmara Municipal
de Murça.
Sanches, M. (2016). Animal bones, seeds and fruits recovered from Crasto de Palheiros.A contribution to
the study of diet and commensality in the recent Pre-History and Iron Age of Northern Portugal. In R. Vilaça,
& M. Serra (Eds.), Matar a fome, alimentar a alma, criar sociabilidades. Alimentação e comensalidade nas
sociedades pré e proto-históricas (pp. 85-125). Coimbra: FLUC, CEPBA, Palimpsesto - Estudo e Preservação
do Património Cultural Lda.
Sanches, M., & Pinto, B. (2005). O Crasto de Palheiros Murça (Norte de Portugal). Notas sobre um povoado
proto-histórico em Trás-os-Montes. Cadernos do Museu Municipal de Penafiel, n.º 11, 41-61.
Sanmarti-Grego, E. (1988) Datación de la muralla griega meridional de Ampurias y caracterización de la
facies cerámica de la ciudad en la primera mitad del siglo IV a. de J.C.. In Colloque Grecs et Ibères (Bordeaux
1986), Bordeaux: Revue des Études Anciennes (REA) X, 99-137.
Silva , A. (1986). A Cultura Castreja do Noroeste de Portugal. Paços de Ferreira: Câmara Municipal de
Paços de Ferreira, Museu Arqueológico da Citânia de Sanfins.
Soares, R. (2017). A cerâmica grefitada e o seu contexto, entre a margem esquerda do Guadiana e a serra
de Aracena, Revista Onoba, nº5, 171-193

88
Sparkes, B. & Talcott, L. (1970). Black and Plain Pottery of the 6th, 5th and 4th centuries B. C., vol. XII, Part
1 and 2. The Athenian Agora, Results of excavations conducted by the American School of Classical Studies at
Athens. Princeton, New Jersey: The American School of Classical Studies at Athens.
VGP –Vasos Gregos em Portugal, Aquém das Colunas de Hércules (2007). Lisboa: Instituto Português de
Museus, Museu Nacional de Arqueologia.
Trias de Arribas, G. (1967-1968). Cerámicas griegas de la Península Ibérica. Valencia: The William
L. Bryant Foundation.

89
RUI M. S.
CENTENO
CRONOLOGIAS E MUNDOS DE TRANSIÇÃO NA CULTURA
CASTREJA: OS ACHADOS MONETÁRIOS 

RUI M. S. CENTENO*
*Universidade do Porto e CITCEM.

A moeda é um dos artefactos da época clássica que, genericamente, é datável com


maior precisão. Tal singularidade permite que a descoberta de moedas em trabalhos
arqueológicos tenha um contributo importante na datação de contextos arqueológicos e
objetos de cronologia mais difusa mas, por vezes, este papel da moeda não é sempre
convenientemente utilizado como, a título de exemplo, quando nos cingimos simplesmente
à data da sua emissão, não considerando o período em que circulou até à sua deposição
ou perda que, como é sabido, pode ser de várias décadas e até séculos, perturbando o
estabelecimento de cronologias fiáveis de contextos arqueológicos. Tendo em conta esta
complexidade na utilização da moeda como um dos elementos de datação em arqueologia,
propomo-nos questionar neste trabalho até que ponto os achados monetários registados no
Noroeste poderão contribuir para precisar as cronologias de dois momentos de transição da
Cultura Castreja, o inicial e o dos primeiros contactos com os romanos.
Ao contrário do que ocorreu no Levante peninsular, os primeiros contactos das
populações do Noroeste com a moeda serão significativamente mais tardios, devendo
situar-se no século IV a.C., como o parecem testemunhar os achados da Serra do Pilar
(V. N. de Gaia) (Centeno 1987, pp. 190-91) e de Bouçós (S. Martinho de Anta, Sabrosa)
(Centeno 1987, p. 189). Naturalmente, estas primeiras moedas aqui chegadas seriam
consideradas na região, não como numerário, mas como pequenos lingotes de metal
precioso e/ou como artefactos exóticos e de prestígio, atendendo às figurações e legendas
que ostentavam, de difícil compreensão para as populações autóctones.
Por outro lado, a explicação destes achados de moeda grega na região também
levanta dificuldades porque, na sua totalidade, resultam de achados casuais e, por isso,
sem contexto arqueológico e mesmo sem informações de detalhe sobre as ocorrências,

93
situação que conduziu, em alguns casos, a um questionamento sobre a autenticidade de
alguns achados.
Um exemplo é o achado de duas tetradracmas nas imediações da Serra do Pilar que,
face à exiguidade de informação então disponível sobre este acontecimento, motivou
Mário Hipólito, em minuciosa e pertinente investigação (Hipólito 1981-83), a interrogar-se
sobre a veracidade deste achado, corroborado, segundo este Numismata, pela presença
de punções e marcas de teste de metal visíveis nos dois exemplares que apontariam para
a sua circulação entre o Egito a Ásia Menor. Contudo, a posterior revelação de novos
dados sobre a composição e as circunstâncias do achado (Centeno 1987, pp. 190-91 e
281) parecem confirmar a sua autenticidade, sabendo-se que ocorreu na abertura das
fundações de uma casa nas imediações da Serra do Pilar, anteriormente a abril de 1927,
e que incorporaria entre 6 a 8 moedas. Para além das tetradracmas de Atenas (finais de
século V, ante 406 a.C.) e de Alexandre III (de Miriandro, c. 325-23 a.C.; Price 1991, n.º
3231A) [Figs. 1 e 2], atualmente no Museu de História Natural da Universidade do Porto
e publicadas por M. Hipólito, tivemos a possibilidade de observar uma nova tetradracma
ateniense similar ao exemplar já conhecido e uma tetradracma póstuma de Alexandre III
(de casa da moeda incerta, c. 310-280 a.C.; Price 1991, n.º 4043) [Figs. 3 e 4], ambas
com um desgaste de circulação próximo dos primeiros dois exemplares conhecidos. Estes
novos dados, permitem apontar uma cronologia deste depósito em torno dos finais do
século IV a.C. e inícios do seguinte.

Fig. 1 e 2 - As tetradracmas de Atenas e de Alexandre III, procedentes da Serra do Pilar (Foto do Museu de
História Natural da Universidade do Porto).

94
Fig. 3 e 4 - As duas novas tetradracmas de Atenas e de Alexandre III, procedentes da Serra do Pilar (Coleção
Privada do Porto).

Ainda no vale do rio Douro, mas já no distrito de Vila Real, está referenciado outro
achado de moeda grega em Bouçós (São Martinho de Antas, Sabrosa), um duplo estátero,
posterior a 385 a.C., da colónia pan-helénica de Túrio, na Magna Grécia, ignorando-se
quaisquer pormenores sobre o seu achamento, realizado antes de 1930. A peça deu
entrada no então Museu Municipal de Porto e, após a extinção desta unidade museológica,
transitou para o Museu Nacional Soares dos Reis (Porto), de onde terá “desaparecido”,
anteriormente a 1985 (Centeno 1987, p. 189). Assim, o estudo deste exemplar apenas pôde
ser realizado a partir de um decalque realizado por Ruy de Serpa Pinto, acompanhado por
algumas notas descritivas da moeda, onde escreve que a moeda “parece de cobre forrado
de prata” [Figs. 5]. Não se tratando de uma novidade, já que são conhecidos diversos
duplos estáteros de imitação, forrados (Noe 1935, pp. 32-6 e est. X), o exemplar de Bouçós
apresenta semelhanças com o F20 ou, mais provavelmente, o F22 de Noe (1935, est. III),
que, caso se trate de uma imitação, teria servido de protótipo. De qualquer forma, estas
imitações produzidas por falsários da região de Túrio são contemporâneas das emissões
oficiais, o que não diminui a importância do achado de Bouçós, que também testemunha
o uso de moeda falsa por comerciantes em eventuais operações de intercâmbio com as
populações do Noroeste.

95
Problemático é o achado, ocorrido
possivelmente no Monte Crasto (Gondomar,
Porto), de uma dracma de Lisímaco
(297-81 a.C.) que Ruy de Serpa Pinto
observou em 1 de novembro de 1931,
registando a existência de “traços de lima
talvez a disfarçar soldadura dum orif[ício]
de suspensão”1 na moeda, o que pode
colocar em dúvida a sua autenticidade.
A análise de uma foto da moeda, de má
qualidade, publicada por Camilo de Oliveira
(1934, p. 34, n.º 1), não permite superar as
dúvidas sobre genuinidade deste exemplar.
A possível associação da dracma a dois
denários republicanos de L. Furius Philus,
(Roma, 119 a. C.; RRC 281/1) e de
Fig. 5 - Decalque e observações de R. de Serpa Pinto, sobre o duplo estátero de Túrio.

Q. Minutius M. f. Thermus (Roma, 103 a.C.; RRC 319/1), também achados neste
povoado castrejo (Oliveira 1934, p. 34, n.º 2 e 3), poderá dar alguma credibilidade ao
achado, remetendo-o todavia para um contexto bem mais tardio que, se atendermos ao
desgaste de circulação dos dois denários, deve situar-se já no decurso do século I a.C.
Os restantes achados de moeda grega referenciados no Noroeste aparecem claramente
já em contexto romano: uma tetradracma2 de Antíoco III (223-187 a.C.), encontrada com
moedas de cobre (por certo romanas) dentro de uma ânfora, junto da muralha de Leão,
antes de 1950 (Centeno 1987, p. 189); um cobre de Antioquia de Orontes, de 88 a.C. (Wroth

1
Manuscrito, depositado no Museu de História Natural da Universidade do Porto, de Ruy de Serpa Pinto,
Monte Crasto, de 1 de novembro de 1931, fol. 3.
2
Certamente por lapso, Mateu y Llopis (1951, pp. 237-38, n.º 445) diz ser uma didracma.19Trías de Arribas,
1967- 1968, pls. 216-217.1 (A, B).
3
As moedas estariam envoltas por um tecido. Foram estudados 4 exemplares, um de Crispina e os
restantes da primeira metade do século IV (Acuña Castroviejo & Cavada Nieto 1971, pp. 274-75).

96
1899, n.º 19), aparecido no Castro Lupario (Rois-Brion, Corunha), misturado com mais 10 ou
11 moedas romanas3, sendo a mais recente de 330-31 (Centeno 1987, p. 189); e, por fim,
temos o bronze de Siracusa, de Hierão II (SNGANS 1988, n.º 964-1013), emitido durante
a 2ª Guerra Púnica (264-41 a.C.), que integrava o tesouro da Torre (Sta. M.ª de Émeres,
Valpaços), composto por mais de 180 mil moedas, sobretudo dos séculos IV e V (Centeno &
Souto 1988).

Fig. 6 - À esquerda, a bracteata de Siracusa, encontrada nos arredores de Bragança (Foto do Gabinete de
Numismática da Câmara Municipal do Porto); à direita, reprodução de cunho de reverso C. XII, similar ao da
bracteata (in Gallatin 1930).

A estes testemunhos monetários devemos acrescentar a magnífica bracteata de ouro


encontrada nos arredores de Bragança [Figs. 6], em 1840, que reproduz o reverso de uma
decadracma de Siracusa (cabeça da ninfa Aretusa à esquerda, com coroa de espigas de
cevada, rodeada por 4 golfinhos; em baixo, EYAINE), datável entre c. 400-390 a.C. (Kraay
1976, pp. 231-32), produzida com o cunho C. XII (Gallatin 1930, pp. 21-2 e est. III), um dos
vinte e um cunhos identificados com o nome do gravador Euainetos (Kraay 1976, p. 232).
O local de produção e a cronologia desta peça de ourivesaria merecem uma análise mais
detalhada. Ao contrário de que sugerimos em 1987 (Centeno 1987, p. 192, nota 43),
a bracteata não será um produto hispânico mas antes itálico, talvez uma produção da
Campânia, região onde e referida representação de Aretusa ganhou grande popularidade,
bem evidente na produção de taças de verniz negro em olarias desta região, reproduzindo
no centro uma impressão do reverso daquelas emissões monetárias, identificando-se

97
em algumas a assinatura de Euainetos [Figs. 7]; na cidade de Teanum (perto de Cápua)
localizava-se o mais importante centro produtor deste tipo de taças que imitariam taças
similares em prata, incrustadas no centro com uma decadracma de Siracusa. O afluxo
de consideráveis quantidades destas moedas à Campânia resulta da participação de
mercenários da região nas operações militares desenvolvidas contra os cartagineses na
Sicília por Dionísio I de Siracusa que emitiu estas decadracmas para financiar os seus
exércitos de mercenários, onde o contingente de soldados profissionais da Campânia era
importante. Com o regresso a casa destes mercenários, as decadracmas de Siracusa
passaram a circular com abundância, tornando-se populares os tipos nelas representados,
especialmente o do reverso (a cabeça de Aretusa), cuja qualidade artística atraiu
principalmente oleiros e ourives.

Fig. 7 - Taça de verniz negro da Campânia (fins do século IV-III a.C.) com a representação do tipo de reverso
das decadramas de Siracusa,;à direita, pormenor do motivo decorativo, onde se vislumbra a assinatura de
Euainetos (MET Inv. 06.1021.277).

Em nosso entender, a produção da bracteata de Bragança poderá talvez inserir-se neste


ambiente de popularidade da representação de Aretusa com a imitação ou reprodução do
tipo ostentado no reverso das famosas decadracmas e talvez até na utilização das próprias
moedas na decoração de vasilhame de prata. Todas estas produções campanienses
deverão enquadrar-se num momento posterior ao final das emissões de Siracusa, por certo,
após o regresso dos mercenários que combateram nos exércitos de Dionísio I, ocasião
em que o motivo da Aretusa começa a ganhar popularidade; por outro lado, a produção
das taças de Teanum deve situar-se nos finais do século IV prosseguindo no III a.C.,

98
evidenciando que esta “moda” teve larga perduração. A bracteata de Bragança talvez possa
inserir-se num período inicial, posterior c. 390 a.C. e que se terá alongado talvez por pouco
mais de uma década, momento em que se popularizou este motivo decorativo e ainda
permanecia disponível um número razoável de decadracmas pouco circuladas, viabilizando
a sua utilização como protótipos ou a integração de alguns exemplares na confeção de
diversos objetos de ourivesaria, entre os quais se poderia encontrar a bracteata brigantina.
Pelo que fica dito e considerando o desconhecimento dos respetivos contextos
arqueológicos, os achados de moeda grega registados no Noroeste peninsular pouco
contribuem para as cronologias das primeiras fases de desenvolvimento da Cultura Castreja.
Na verdade, uma boa parte dos achados (os de Monte Crasto, Leão, Castro Lupario e Torre)
são já do período helenístico, aparecendo em ambientes romanos, do século I a.C. e baixo
imperiais. Já os achados de Bouçós, juntamente com o da bracteata de Bragança, e da
Serra do Pilar apontam para cronologias mais antigas que podemos situar entre a década
de oitenta e os finais do século IV a.C., similares às reveladas pelos achados de cerâmica
grega nesta região4. É interessante notar que a distribuição espacial destes achados mais
antigos parece sugerir que o rio Douro foi a via de penetração utilizada que permitiu a
difusão destes produtos exógenos, a que se pode acrescentar o Kratêr-de-sino, ático, do
Castro de Palheiros (Murça), datado de 370-50 a.C.5, coincidente com a cronologia dos
achados monetários. Porventura, os comerciantes frequentaram esta via fluvial para aceder
a algum ouro que deveria afluir a zonas ribeirinhas da margem direita do Douro, oriundo
de algumas das zonas auríferas da região. Talvez seja esta a explicação para os achados
de moedas gregas mais antigos que, até ao momento, não se testemunham noutras áreas
da fachada atlântica peninsular, mesmo nas meridionais, onde a presença de cerâmicas
gregas é incomensuravelmente mais significativa.
No segundo momento de transição da Cultura Castreja, em resultado do impacto da
conquista e ocupação de todo o território do Noroeste, a contribuição da moeda para a
afinação das cronologias de contextos arqueológicos, juntamente com outros artefactos
romanos, já é bem mais relevante, mas sempre condicionada por fatores elencados no
introito deste trabalho.

4
Sobre as cronologias das cerâmicas gregas do Noroeste, veja-se neste volume, Daniela de Freitas
Ferreira, Materiais em contexto: cerâmica grega no Noroeste da Península Ibérica. Estudo de casos.
5
Cf. o trabalho de Daniela de Freitas Ferreira, referido na nota anterior.

99
É certo que se verificaram afluxos
pontuais de moeda a esta região em
consequência de algumas incursões dos
exércitos romanos durante o período
republicano, como, por exemplo,
a expedição de Décimo Júnio Bruto
(138-37 a.C.) ou a campanha de Júlio
César (61 a.C.), mas também através
de comerciantes romanos vindos do
sul, que frequentavam estas paragens.
Nestes primeiros tempos da presença
Fig. 8 - Tesouro de Montedor e respetivo contentor cerâmico.

de numerário romano na região, essencialmente de prata, as populações autóctones


manuseariam a moeda como um pequeno lingote de metal, facto bem atestado no tesouro
de Montedor (Viana do Castelo), composto por 113 peças de AR (lingotes, fragmentos de
joias, de recipientes e de arames), num total de 920,5 gramas, por 30 denários romanos até
74 a.C. e por 8 denários ibéricos partidos, ocultado em meados do século I a.C. [Figs. 8], onde
moedas romanas e ibéricas, inteiras e fracionadas, aparecem misturadas com lingotes e
outros objetos de prata fragmentados (Centeno 1999) [Figs. 9]. Tratando-se de um conjunto
singular em todo o noroeste, a sua estrutura, idêntica à de alguns tesouros do norte da
Meseta, parece atestar que este depósito tenha sido reunido longe do local onde foi
escondido (Centeno 2013, pp. 214-16). A prática de partir moeda de prata, testemunhada
neste tesouro, persistiu na região durante os inícios do período imperial, presente, por
exemplo, no tesouro tiberiano do Castro de Santa Tecla (Pontevedra) (Centeno 1987,
p. 53-4, n.º 36).

100
Fig. 9 - Tesouro de Montedor: moedas, lingotes e outros objetos fragmentados.

O conjunto dos tesouros do Noroeste que terminam com moeda republicana ou de


Augusto [Fig. 10] indiciam que a monetização na região tem lugar a partir dos finais de
período republicano e, sobretudo, durante o governo de Augusto. Parece-nos mesmo
plausível que tesouros, conhecidos de forma muito incompleta, como os de Monte Pindo
(Boticas) (Centeno 1987, p. 66, n.º 55), Valadares (Baião) (Centeno 1987, p. 83, n.º 79),
Poio (Sabrosa) (Centeno 1987, p. 73, n.º 65), Izeda (Bragança) (Centeno 1987, p. 59,
n.º 45) e São Mamede de Ribatua (Alijó) (Centeno 1987, p. 81-2, n.º 76) que, à exceção
do primeiro, encerram com moedas de meados do século I a.C., terão uma data de
deposição bem mais tardia, provavelmente augustana, impressão sugerida pelo claro
desgaste de circulação que evidenciam os numismas mais recentes destes conjuntos
(Centeno 2013, pp. 216). Outros, como os tesouros de Guiães (Vila Real) (Centeno 1987,
p. 58, n.º 44) e da Citânia de Monte Mozinho (Penafiel) (Centeno 1987, p. 50, n.º 34), que
encerram com denários legionários de Marco António, de 32-1 a.C. (do tipo RRC 544),

101
serão certamente já augustanos. Dois destes tesouros têm a particularidade de integrarem,
juntamente com os denários, uma águia de ouro (o de Izeda) e uma taça e um bracelete
romanos, de prata (o de Guiães), objetos que sugerem uma eventual origem militar, isto
é, talvez tenham pertencido a elementos do exército romano que então operavam na
região. Aliás, uma propriedade de militares romanos poderá colocar-se para alguns dos 22
tesouros que terminam com moedas Augustus, como, por exemplo, o grande tesouro do
Castro de Alvarelhos (Trofa), aparecido em 1971, que continha pelo menos dois lingotes
plano-convexos grafitados com a inscrição CAESAR (Centeno 2011, pp. 364-65).

Fig. 10 - Mapa dos tesouros monetários do Noroeste (República e Augusto): 1. Citânia de Monte Mozinho
(Penafiel); 2. Valadares (Baião); 3. Guiães (Vila Real), 4. Poio (Sabrosa); 5. S. Mamede de Riba Tua (Alijó);
6. Junqueira (Torre de Moncorvo); 7. Castro de Alvarelhos 1893 (Trofa); 8. Castro de Alvarelhos 1964 (Trofa);
9. Castro de Alvarelhos 1971 (Trofa); 10. Citânia de Sanfins (Paços de Ferreira); 11. Regilde (Felgueiras); 12.
Vales (Tresminas, Vila pouca de Aguiar); 13. Izeda (Bragança); 14. Castro de S. Lourenço (Esposende); 15.
Cervães (Vila Verde); 16. Montedor (Viana do Castelo); 17. Castro do Vieito (Viana do Castelo); 18. Sampriz
(Ponte da Barca); 19. Monte Pindo (Ardãos, Boticas); 20. Chaves (arredores) 1744; 21. Santo Estêvão
(Chaves); 22. Castro de San Juan (Zamora); 23. Alto do Corgo (Valença); 24. Anhões (Monção); 25. Castro
de Arrabalde (Zamora); 26. San Ciprián de Cálogo (Pontevedra); 27 e 28. Castro de Chano (León); 29. Lugo
1929; 30. Coto de la Buena Madre (Oviedo); 31. La Cogolla de Fitoria (Oviedo).

102
Uma referência ainda para a boa representação dos tesouros augustanos, 22 no total
[Fig. 10] — entre os quais nove não integram denários da série Caius et Lucius Caesares
(=CLC) e treze, os mais recentes, fecham com estes numismas —, que apresentam um
padrão similar na sua distribuição espacial, estendendo-se para além do rio Minho e chegando
aos territórios mais setentrionais. A expressiva quantidade destes conjuntos monetários,
alguns constituídos exclusivamente por denários da série CLC, são sintoma da chegada
de grandes quantidades de moeda a esta região, abastecimento que parece reforçar-se no
câmbio de Era, atestado pela abundância de numerário da série CLC. Para além da presença
de um significativo dispositivo militar, a reorganização do território, o início da exploração
das jazidas auríferas e o fortalecimento de atividades económicas, designadamente
comerciais, serão responsáveis pelo afluxo à região de avultados recursos financeiros que
contribuíram para a sua rápida integração na já monetizada economia romana.

Fig. 11 - As diferentes denominações da emissão augustana da caetra, de c. 19-18 a.C.; à direita, um exemplar
de imitação.

Um outro sinal do início deste processo de monetização do Noroeste foi a emissão oficial
de moeda de cobre da conhecida série da caetra, que colocou em circulação na região
sestércios, dupôndios e asses [Fig. 11] (RPC I, pp. 67-8, n.º 1-3). Esta emissão foi uma das

103
medidas das autoridades romanas para responder a eventuais necessidades de moeda
divisionária para transações de menor valor6, tendo circulado na região com relativa abundância
sobretudo os asses, de que foram produzidas copiosas imitações (para uma distribuição dos
achados desta série no Noroeste, veja-se, entre outros trabalhos, Centeno 1987, Mapa 18).
Alguma da literatura da especialidade, considera esta série oficial como uma emissão militar
(moneta castrensis), datável entre 26-25 a.C. e, mais recentemente, alguns estudiosos
defendem que foi produzida em Lugo, fundamentando-se em significativos achados destas
moedas na cidade e também na existência de dois discos, não cunhados, similares aos
utilizados nas moedas da caetra, que, na verdade, poderão não existir, já que tem sido
impossível alguém observá-los e não existe qualquer fotografia destas peças. Mesmo
que existam tais peças, não nos parece razoável propor a cidade de Lugo como local de
emissão destas moedas: no estado atual dos nossos conhecimentos, parece prudente
considerar apenas estas emissões como produzidas em ambiente militar, desconhecendo-se
o local (ou locais) de cunhagem, que poderia ser até uma casa da moeda itinerante com o
exército.
Outra questão relacionada com esta cunhagem da caetra é a da sua cronologia. Como
foi dito, tem sido adotada pelos estudiosos uma data que aponta para os primeiros anos
do reinado de Augusto, post 27 a.C. ou 26-25 a.C. Contudo, o estilo da efígie de Augusto
representada no anverso desta série, revela uma notável similitude com as cunhagens
cívicas de Colonia Patricia, Iulia Traducta e Liberalitas Iulia Ebora, que poderá aconselhar
uma revisão da data de emissão desta série. Um bom momento para a emissão desta série
monetária, que homenageia o Princeps como conquistador e pacificador da Hispania, seria
durante o da estância de Marco Agripa na península, o que permitiria baixar a cronologia
desta série para c. 19-18 a.C.
Em suma, sobretudo a partir do período imperial, o contributo dos achados de moeda
romana para datação de contextos arqueológicos é mais rigoroso, uma vez que, a partir
de então, a circulação monetária no Noroeste se vai conformando ao panorama regional e
provincial na utilização da moeda, mas devendo atender-se sempre aos condicionamentos
referidos na parte inicial deste trabalho.

6
Têm sido diversos os autores que se ocuparam desta emissão monetária, mas como não pretendemos
abordar este tema aqui, de forma detalhada, deixamos esse desiderato para trabalho posterior.

104
REFERÊNCIAS

Acuña Castroviejo, F., & Cavada Nieto, M. (1971). Noticias arqueológico-numismáticas del Castro Lupario
(Rois-Brion, La Coruña). Cuadernos de Estudios Gallegos, XXVI (80), 265-77.
Centeno, R. M. S. (1987). Circulação monetária no noroeste de Hispânia até 192. Porto: Sociedade
Portuguesa de Numismática (Anexos Nummus, 1).
Centeno, R. M. S. (1999). Notas sobre o início da circulação da moeda no Noroeste peninsular: os denários
do tesouro de Montedor (Portugal). In R.M.S. Centeno, M.P. García-Bellido e G. Mora (eds.), Rutas, ciudades y
moneda en Hispania. Madrid: CSIC/UPorto (Anejos de AEspA, XX), 135-38.
Centeno, R. M. S. (2011). Da República ao Império: reflexões sobre a Monetização no Ocidente da
Hispânia. In M.P. Garcia-Bellido, L. Callegarin, A. Jiménez Díez (eds.), Barter, money and coinage in the Ancient
Mediterranean (10th-1st centuries BC), Madrid: CSIC (Anejos AEspA, 58), 355-67.
Centeno, R. M. S. (2013). Augusto e a monetização do noroeste hispânico: o testemunho dos tesouros
monetários. In R. Morais, H. Granja & A. Morillo Cerdán, O irado Mar Atlântico. O naufrágio bético augustano
de Esposende (Norte de Portugal). Braga: Museu de Arqueologia D. Diogo de Sousa, pp. 211-19.
Centeno, R. M. S., & Souto, J. M. V. (1988). Notícia de uma moeda helenística do tesouro da Torre (Santa
Maria de Émeres, Valpaços). Nummus, 2ª s., XI, 91-93.
Gallatin, A. (1930). Syracusan Dekadrachms of the Euainetos Type. Cambridge (Mass.): Harvard University
Press.
Hipólito, M. de C. (1981-83). As moedas gregas da Serra do Pilar (Vila Nova de Gaia). Nummus, 2ª s., IV-VI,
81-91 (artigo também publicado in Arqueologia, 8, Porto: GEAP, 75-82).
Kraay, C. M. (1976). Archaic and Classical Greek Coins. London: Methuen & Co. Ltd.
Mateu y Llopis, F. (1951). Hallazgos monetarios (VI). Ampurias, XIII, pp. 203-55.
Noe, S. P. (1935). The Thurian di-staters. New York: The American Numismatic Society (Numismatic Notes
and Monographs, 71).
Oliveira, C. de (1934). O concelho de Gondomar (Apontamento monográficos), vol. II. Porto: Imprensa Moderna,
Lda.
Price, M. J. (1991). The Coinage in the Name of Alexander the Great and Philip Arrhidaeus. A British
Museum Catalogue, 2 vols. Zurich / London: The Swiss Numismatic Society e British Museum Press.
RPC I Burnett, A.; Amandry, M. & Ripollès, P. P. (1992). Roman Provincial Coinage, Volume I. From the death
of Caesar to the death of Vitellius (44 BC-AD 69). London / Paris: British Museum Press e Bibliothèque Nationale.
RRC Crawford, M. H. (1974). Roman Republican Coinage, 2 vols. Cambridge: Cambridge University Press.
SNGANS (1988). Sylloge Nummorum Graecorum. The collection of the American Numismatic Society.
Part 5. Sicily III: Syracuse-Siceliotes. New York: The American Numismatic Society.
Wroth, W. W. (1899). Catalogue of the Greek Coins of Galatia, Cappadocia, and Syria, London: The Trustees
of The British Museum (Catalogue of the Greek coins in the British Museum, 20).

105
RUI
MORAIS
MATERIAIS EM CONTEXTO. CRONOLOGIAS E MUNDOS
DE TRANSIÇÃO.
O CASO DE BRACARA AUGUSTA

RUI MORAIS

SUMMARY
The foundation of Bracara Augusta, in the heart of the Bracari’s region, is connected to
a strategy of economic, political, and administrative control of the emperor Augustus of a
vast area that stretched out from Douro up to the estuary of Vigo, and from the Atlantic up to
the Gerês mountains. The foundation was not an independent and lonely deed. We cannot
speak of her correctly without inserting her in a wide and comprehensive historical context.
This historical context is precisely Augustus’ policy in Hispania and the development of
the campaigns that the Emperor and his generals carried out against the peoples of the
North of the Peninsula in the last years of the first century B.C.E. The foundation of the city,
between the years 16/15 B.C.E., at the time of Augustus’ presence in the Hispania, can be
corroborated by the group of exhumed materials, which are the result of a large number of
excavations undertaken in several places of the city. The older levels and the turned over
contexts of those excavations provided varied materials that unquestionably prove that date.
In this study, we will present the ceramic remains dated from the late first century B.C.E.
to the mid-first century C.E. Some of this ware have some affinities with ceramic found in
fortified settlements (“Castros”), revealing a continuity in the indigenous pottery designed to
supply the new nuclei that the Roman world brought about.

KEYWORDS
Bracara Augusta; Bracari; Augustus; Ceramic remains.

RESUMO
A fundação de Bracara Augusta, no coração da região dos Bracari, está ligada a uma
estratégia de controle económico, político e administrativo do imperador Augusto de uma

109
vasta área que se estendia do Douro até o estuário de Vigo, e do Atlântico até a serra
do Gerês. A fundação não foi uma ação independente e solitária. Não podemos falar dela
corretamente sem a inserir num contexto histórico amplo e abrangente. Este contexto
histórico é precisamente a política de Augusto na Hispânia e o desenvolvimento das
campanhas que o Imperador e seus generais realizaram contra os povos do Norte da
Península nos últimos anos do primeiro século a.C. A fundação da cidade, entre os anos
16/15 a.C., coincidente com a presença de Augusto na Hispânia, pode ser corroborada
pelo conjunto de materiais exumados, que são o resultado de um grande número de
escavações realizadas em vários lugares da cidade. Os níveis mais antigos e os contextos
de revolvimento dessas escavações forneceram materiais variados que inequivocamente
comprovam aquela data. Neste estudo, apresentaremos as cerâmicas datadas entre
os finais do século I a.C. e os meados do século I. Algumas destas cerâmicas possuem
algumas afinidades com aquelas encontradas em povoados fortificados, revelando uma
continuidade na olaria indígena projetada para suprir os novos núcleos de fundação romana.

PALAVRAS-CHAVE
Bracara Augusta; Bracari; Augusto; cerâmicas.

110
BREVE ENQUADRAMENTO

A cidade romana de Bracara Augusta insere-se no território designado Entre Douro e


Minho, ou simplesmente Minho, e foi implantada numa plataforma aplanada de uma colina
de pendor suave e de substrato granítico, com uma altitude máxima de 200 metros, no
interflúvio dos rios Cávado e Este, este último afluente do rio Ave (Fig. 1).

Fig. 1 - Localização de Bracara Augusta no contexto do Noroeste Peninsular.

111
Perscrutar as suas origens é um exercício complexo. Como se um palimpsesto se
tratasse vamos compilando as referências literárias e acumulando saber arqueológico
reunido ao longo de décadas de escavação na cidade de Braga1.
As referências literárias são, no entanto, muito parcas. Plínio, em História Natural (4,
112), atribui-lhe o título de Bracarum oppidum Augusta, destacando-a das restantes sedes
conventuais mais próximas, Lucus Augusti e Asturica Augusta2. Depreende-se assim que a
cidade tivesse, nos primórdios da sua existência e sob o ponto de vista administrativo, um
estatuto peregrino.
Os vestígios arqueológicos têm revelado que no local onde mais tarde se fundaria a
cidade romana teve uma ocupação mais antiga que remonta ao Bronze Final, ao largo
do I milénio a.C. Segundo Ana Bettencourt (2000), o local teria sido frequentado por
núcleos familiares cujos habitats eram constituídos por cabanas construídas com materiais
perecíveis. São disso testemunho um conjunto de fossas abertas no saibro, buracos de
poste e cerâmicas, que sugerem um povoado de limitadas dimensões situado no Alto da
Colina da Cividade e presumíveis áreas de necrópole identificadas na zona dos Granjinhos
(Bettencourt 2000) (Fig. 2).

Fig. 2 - Cerâmica do Bronze Final. Necrópole dos Granjinhos, Braga.

112
A historiografia tradicional data a fundação da cidade no período de Augusto. A ele se
deve a fundação das três capitais conventuais aquando da sua segunda viagem ao norte
da Península, entre 15 e 13 a.C. (Fig. 3).

Fig. 3 - Localização de Bracara Augusta.

A base do sistema foi a criação de ciuitates, entidades regionais com território e


população bem definida, sob o ponto de vista administrativo, jurídico e político (Sastre,
Beltrán, Sánchez-Palencia 2010: 121).

1
Devem destacar-se as campanhas de escavação e de acompanhamento realizadas no âmbito do “Projeto
de Salvamento da cidade romana de Bracara Augusta” iniciado em 1976 a cargo da Unidade de Arqueologia
da Universidade do Minho.
2
É possível que à semelhança de outras cidades designadas como Augustae (Augusta Emerita, Augusta
Vindelicum, Augusta Taurinorum, Augusta Raurica, …) a cidade tenha decalcado o mesmo modelo. Trata-se,
todavia, de uma atribuição não oficial, tendo Plínio seguido uma qualquer fonte de informação que mencionava
assim a cidade (Morais 2005b: 126-127).

113
Os dados arqueológicos parecem corroborar aquela data fundacional, em particular
as cerâmicas importadas3 que aparecem associadas às produções regionais de fabrico
castrejo da última Idade do Ferro4.
A ideia que têm vindo a ser veiculada sobre a fundação ex novo da cidade deve, no
entanto, ser devidamente matizada. Na verdade, ainda que aceitando que o ato da sua
criação oficial tenha obedecido a todos os preceitos e crenças habituais de um novo núcleo
urbano, acreditámos estar perante um ato de sinecismo5 resultante da paulatina deslocação
de populações indígenas que habitavam os povoados da região. Como recentemente foi
sugerido, seriam estas populações que teriam contribuído na demarcação de arruamentos,
zonas de habitat e de edifícios públicos, e na construção de vias e de espaços de
necrópole (Martins et alii 2017, 202-225).
Mas a aparente inexistência de estruturas datadas da Idade do Ferro não é, por si só,
elucidativa a favor da fundação da cidade numa área erma e virgem. Não sabemos, por
exemplo, se na área Noroeste da Colina da Cividade6 poderiam ter existido esses vestígios,
mas que tenham sido arrasados por razões relacionadas com o próprio ato fundacional,
ou mesmo com os diferentes projetos construtivos que ocorreram ao longo do período
imperial, designadamente o edifício pré-termal, as termas e o teatro (Morais, Morillo, Sousa
2015, 116-117)7.

1
Na tese de doutoramento por nós apresentada, intitulada Bracara Augusta. Escavações Arqueológicas
(Morais 2005a; republicada em 2009), foram considerados os materiais cerâmicos importados mais antigos de
cronologia augustana. Este estudo teve a vantagem de enquadrar aquelas cerâmicas no contexto do comércio
da fachada atlântica peninsular e problematizar o contexto de autarquia desta capital conventual. Outros
trabalhos alusivos a este período se seguiram, com destaque para aqueles apresentados e publicados em
congressos internacionais centrados nos primeiros tempos de vida da cidade (Morais 2005b, 125-138; 2010,
443-461; 2016a, 153-164; 2016b, 307-339; Martins et alii 2017, 202-225).
2
Esta situação encontra paralelo na cidade romana de Lucus Augusti em que as cerâmicas presentes na
designada primeira fase correspondem a produções saídas das olarias indígenas a par de formas romanas
importadas
5
O sinecismo, palavra grega, encontra a sua expressão no termo latino contributio, no sentido da reunião
de populações que habitam determinada região e passam a coabitar (cohabitatio) um lugar comum, leia-se a
“convite” do poder central romano.
6
hipótese de poder ter existido um castro na encosta Noroeste da Colina foi avançada por Sande Lemos
(Lemos et al. 2003, 43-46).
7
Como base em idênticos argumentos, Armando Coelho Ferreira da Silva (1986) e Carlos Alberto Brochado
de Almeida (2003) falam, inclusive, da possibilidade de ter existido um “castro pré-romano” em Braga (sobre a
opinião destes autores, vide Lemos 2007-2008, 203-239).

114
Esses vestígios, a terem existido, não teriam necessariamente que associar-se a um
povoado com as características habituais. Alain Tranoy (1981) sugere que a colina seria o
local onde se reuniam os habitantes dos diversos castros que integravam os Bracari, a fim
de discutirem assuntos de interesse comum e trocarem produtos. Esta tese é sublinhada por
Sande Lemos (2007-2008: 203-239) que realça o carácter sagrado do local e a sua posição
central entre as bacias fluviais dos rios Ave e Cávado e na encruzilhada de vias terrestres.
A hipótese de Alain Tranoy é muito tentadora, na medida em que é muito provável que
– à semelhança do que nos é relatado por Díon Cássio para a Germânia – as legiões
(mesmo antes do período de Augusto) tivessem controlado inicialmente as principais vias
de comunicação e, num segundo momento, impulsionado a organização de “mercados” ou
“synodoi”, com o objetivo de instalar novas relações socais e económicas (Morais 2005a, 25).
Como já foi observado (Morais, Morillo e Sousa 2015, 115-131), a ausência de provas
da existência de um acampamento na cidade não justifica que se anule a importância da
presença de fortes contingentes militares na região, nos primeiros tempos de vida. Estes
teriam sido fundamentais na representação planimétrica da sua Forma Urbis e, muito
provavelmente, na planificação do território da cidade, que foi cuidadosamente parcelado
(Carvalho 2012; 2016, 285-305; 2017, 277-288). Esta circunstância permite questionar
uma fundação da cidade com um carácter meramente civil, como tem vindo a ser aceite
por outros autores, e propor a sua fundação no quadro de um ambiente militarizado pela
presença de tropas romanas de passagem para as campanhas setentrionais, exista ou não
um assentamento militar propriamente dito8.
Se atentarmos na localização da cidade romana vemos que esta está situada numa
região onde não faltam vestígios de povoamento da Idade do Ferro, com destaque, pela
sua proximidade e importância, para o Castro Máximo9. A proximidade deste povoado
relativamente ao local onde seria fundada a cidade, apenas a cerca de 2 km em linha reta,
é por demais evidente10.
Este povoado vem referido pela primeira vez em fontes medievais datadas de 873 e 911
(Costa 1965, 35, apud Oliveira 1988, 155). As primeiras referências a achados arqueológicos
foram feitas por Jerónimo Contador de Argote (1734, 299), retomadas um século e mais
tarde por Sena Freitas (1890, 320), que alude ao achado de moedas de prata, e Albano
Belino (Belino 1909, 5). A primeira descrição detalhada deve-se, todavia, a Carlos Teixeira

115
que refere a existência de fossos na vertente virada para a cidade e a sul duas linhas
de muralhas reforçadas por fossos (à data ainda percetíveis), para além de abundantes
fragmentos de cerâmicas, carvões e cinzas (apud Oliveira 1988, 155-156). Em 1953 e
1954, Russel Cortez procedeu à limpeza de alguns cortes expostos pela exploração das
pedreiras e realizou algumas sondagens numa área habitacional (Oliveira 1988, 157).
Mais tarde, nos anos 70 do século XX, o povoado foi motivo de pequenas prospeções
e sondagens sob a tutela do Campo Arqueológico de Braga11, retomadas no final daquela
década, com duas pequenas sondagens realizadas em 1977 e 1978 pela recém criada
Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho (Oliveira 1988, 158-167; Martins
1990; Rocha 2017, 28). Em 2001 o povoado foi parcialmente escavado pelo Gabinete de
Arqueologia da Câmara Municipal de Braga, sob a responsabilidade de Armandino Cunha,
no local onde hoje se situa o moderno estádio do Braga12. Aí foram descobertas unidades
habitacionais e áreas de circulação organizadas em função de vários eixos viários (Rocha
2017, 65). De entre o espólio recuperado deve destacar-se um pavimento em argila
ornamentado com motivos geométricos (Morais 2005b, 126-127, Fig. 1; Rocha 2017, 64)
(Fig. 4) (Morais 2005b, 127-132).

8
Uma das evidências mais importantes é a existência de mais de uma dezena de emissões monetária
de Augusto com a caetra no reverso encontradas em contextos antigos da cidade de Bracara, um dos quais
um raro sestércio encontrado na Colina da Cividade (Centeno, 1988; Centeno 2010: 171-173), e elementos
associados a armas e à indumentária de militares, designadamente 5 elementos de lança, 3 elementos de
cinturão e 4 botões. Não há dúvida sobre o carácter militar dos ditos elementos de cultura material (Morais,
Morillo Cerdán e Sousa 2015, 122).
9
Para além do Castro Máximo temos a presença de uma cinta de povoados que envolvem o local onde
a cidade teria sido fundada, respetivamente, o Castro da Consolação, o Castro de Ferreiros (atualmente
destruído), o Castro de Santa Marta das Cortiças, o Castro das Caldas, o Castro de Monte Redond e o Castro
de Monte de Castro (Oliveira 1988, 154-155; Martins et alii 2017, 205-206, Fig. 2).
10
Na atualidade o local, com cerca de 198m de altitude máxima, está integrado na malha urbana de Braga
(Morais 2005b, 125-138; Martins 1990, 86).
11
Parte do material foi estudado por Carlos Alberto Ferreira de Almeida (1974, 171-198) e Susana Oliveira
Jorge (Jorge 1976, manuscrito inédito).
12
Infelizmente o desenvolvimento de novas pesquisas está extremamente condicionado pela excessiva
destruição do local, como consequência da existência de uma pedreira, de um bairro habitacional e do
mencionado estádio moderno.

116
Fig. 4 - Pavimento em argila ornamentado com motivos de tipo geométrico. Castro Máximo.

As cerâmicas castrejas, na sua maioria datáveis da última fase de ocupação, estão


abundantemente representadas por potinhos e potes, seguidos das panelas de asa interior,
das talhas e das tigelas. As outras formas, como os almofarizes, são residuais. Quando
apresentam decoração estas cerâmicas exibem os habituais motivos incisos (sulcos e
motivos em espinha) e/ou estampilhados (triângulos, círculos, séries em SSS, etc.); por
vezes estes motivos estão acompanhados pela aplicação plástica de cordões (Fig. 5).

117
Fig. 5 - Cerâmicas castrejas do Castro Máximo.

Apesar das intervenções arqueológicas acima referidas as datas de ocupação do


povoado não têm sido bem definidas. Diana Rocha, em tese de mestrado recentemente
defendida, refere que o povoado se insere na Fase III de Manuela Martins, que corresponde
ao intervalo entre finais do século II a.C./inícios do século I a.C. até à primeira metade do
século I d.C. (Rocha 2017, 88). Numa breve análise do material das distintas campanhas
de escavação constatámos que o Castro teve uma ocupação muito mais lata no tempo.
Efetivamente detetámos a presença de cerâmica do Bronze Final e de toda a Idade do
Ferro, ainda que com nítido predomínio da referida Fase III.
Igualmente problemática é a data de abandono do Castro. Segundo a autora, esse
momento devia ter ocorrido entre a época de Augusto ou Tibério, referindo a ausência de
material arqueológico romano (Rocha 2017). Na verdade, pensamos que o Castro teria sido
abandonado ainda nos finais do século I a.C., apesar da presença residual de cerâmica
romana importada13. Como tivemos oportunidade de sugerir (Morais 2005b, 127), e
recentemente foi reiterado por outros autores (Martins et alii 2017, 202-225), é possível que
o abandono do povoado esteja associado à deslocação de parte da sua população para a
nova cidade14.
Um outro testemunho a favor do sinecismo da cidade parece estar documentado pela
descoberta de um balneário castrejo atualmente integrado no novo edifício da estação de
caminho de ferro de Braga (Figs. 6 a-d).

118
Fig. 6a - Ruínas do Balneário castrejo da ECFB. Fig. 6b - Musealização das ruínas do Balneário
castrejo da ECFB.

Fig. 6c - Pedra Formosa do Balneário castrejo da Fig. 6d - Reconstituição 3D do Balneário castrejo da


ECFB. ECFB.

Motivo de várias interpretações e de propostas cronológicas distintas (Lemos et alii


2003), o que devemos destacar é a sua localização na periferia da cidade romana e da
relativa proximidade ao Castro Máximo (Morais 2005b, 127).
Mas no âmbito dos testemunhos mais antigos associados aos primeiros tempos de vida
da cidade são dignas de destaque as cerâmicas de tradição indígena. Estas cerâmicas

13
Na atualidade o local, com cerca de 198m de altitude máxima, está integrado na malha urbana de Braga
(Martins 1990, 86).
14
Segundo Martins et alii 2017, 208, “a presença de mão-de-obra indígena na cidade pode igualmente ser
deduzida da construção de estruturas, cujos paramentos revelam semelhanças com os que encontramos nas
muralhas e casas dos castros da região bracarense. Concretamente, podemos referir um grande muro de
suporte identificado na Colina do Alto da Cividade, ou o muro que delimitou a via XVII, cuja construção arranca
ainda em tempos de Augusto”. Ainda segundo a autora (Martins 1990), é possível que o Castro Maximum
possa corresponder ao castellum Agripia, com base em duas inscrições funerárias encontradas em Braga,
referentes a Agripa, lugar tenente de Augusto.

119
concentram-se preferencialmente no quadrante sudoeste da cidade, na Colina do Alto da
Cividade, na área junto ao forum e na zona das Cavalariças (Morais 2005b, 130-132), e em
enterramentos na necrópole da via XVII (Morais, Fernández e Braga 2013, 313-326;
Morais, Soeiro e Fernández 2014, 1259-1264). Muitas destas cerâmicas provêm, no
entanto, de enchimentos de valas para a extração de saibro ou de valas de fundação de
edifícios datados a partir de meados do século I (Morais, Fernández e Magalhães 2012,
499-520; Martins et alii 2017, 202-225). A análise atenta dos fabricos e da morfologia permite
situá-las na fase III estabelecida por Manuela Martins para os povoados proto-históricos
e romanizados do curso médio do Cávado (Martins 1990). Trata-se de uma cerâmica que
regista uma significativa evolução relativamente às fases anteriores, com uma mais consistente
utilização do torno e uma melhor qualidade nos fabricos, com pastas mais finas e melhores
acabamentos. Entre muitos outros exemplos, refira-se, uma talha de tradição indígena com
a marca CAMAL, abreviatura de CAMALVS, um nome conhecido na onomástica indígena,
frequente em dolia e inscrições lapidares e rupestres nos povoados do Noroeste, com
destaque para a Citânia de Briteiros (Morais 2005b; 2010: Delgado e Morais 2009: 13;
18-19, nº 27) (Fig. 7 a)15.
No mesmo sentido aponta o achado de duas tegulae, uma encontrada em Braga e

Fig. 7a - Dolia com a marca CAMALVS. Fig. 7b/c - Tegulae com a marca SATUR (de
SATURNINVS).

15
A este respeito não deixa de ser interessante a presença deste nome em inscrições funerárias
encontradas na cidade (Tranoy, A., Le Roux, P. 1989-90: 201, nº 11; 212-213, nº 3, Fig. 17; 216, nº 4, Fig. 20;
220, nº 2; 224-225 e 226), sinal da estreita relação com as elites indígenas, a quem naturalmente interessou
as vantagens associadas à criação do novo aglomerado.

120
Fig. 7d/e - Pote do povoado de S. Julião (Vila Verde) com o grafito SATVR (em anexo).

outra proveniente de um acompanhamento arqueológico nas proximidades da cidade


que ostentam a marca SATVR (= de SATVRNINVS), cognome igualmente associado à
antroponímica pré-romana (Kajanto 1982: 213), (Fig. 7 b-c).
Podemos encontrar esta mesma sigla, SAT, em escrita de tipo atuário, na parede de
pequenos potes de engobe vermelho provenientes do povoado de S. Julião (Vila Verde),
(Fig. 7 d-e).
A estas cerâmicas acrescente-se uma significativa e importante quantidade de moldes
bivalves em cerâmica utilizados na fundação de sítulas em bronze. Estes moldes, datados
das últimas décadas do século I a.C. e as primeiras décadas da centúria seguinte,
apresentam, como seria espectável, uma cor negra no interior e uma superfície externa
alaranjada. Apresentam uma profusa decoração geométrica no interior, ainda que limitados
no número de motivos: elementos em SSS entrelaçados e dispostos em bandas horizontais
e elementos em espinha e linhas de pérolas, também dispostas na horizontal. Um deles
representado pelas duas faces do molde bivalve permite perceber que se trata de moldes
para a fundição de lâminas decoradas provavelmente pertencentes à parte superior de
sítulas (Fig. 8 a).
Um outro corresponde à parte superior do suporte anelar da asa de uma armela de
sítula (Fig. 8 b).
Apesar destes exemplos dispersos inequivocamente indicarem a presença de materiais

121
Fig. 8a - Moldes bivalves para a fundição de lâmicas Fig. 8b - Molde para a fundição armela de sítula.
decoradas da parte superior de sítulas em bronze.

de produção indígena nos primeiros tempos de vida da cidade, iremos focar a nossa
atenção na apresentação de dois casos de estudo, um em contexto de habitat (Morais,
Fernández e Magalhães 2012, 499-520) e outro de necrópole (Morais, Fernández e Braga
2013, 313-326; Morais, Soeiro e Fernández 2014, 1259-1264).

1º CASO DE ESTUDO: OS MATERIAIS PROVENIENTES DE ÁREAS DE HABITAT

Um bom exemplo de um local de habitat datado dos primeiros tempos de vida da cidade
está associado aos vestígios mais antigos de uma domus, da qual ainda se conservam
muros e pavimentos de mosaicos, localizada a este da Rua dos Bombeiros Voluntários e
atualmente nos terrenos do Museu de Arqueologia D. Diogo de Sousa (Morais, Fernández
e Magalhães 2012, 499-520) (Fig. 9).
Deste local iremos destacar a amostra recolhida na designada por “Sondagem nº 8

122
Fig. 9 - Localização das insulae onde se encontra a Sond. 8 na malha urbana de época romana de Bracara
Augusta.

das Cavalariças”, onde se identificou uma fossa para extração do saibro selada por um
pavimento de terra batida (UE 2295), que possivelmente foi utilizada nas argamassas para
a construção do referido edifício (Figs. 10 a-b).

123
Fig. 10a - Localização da Sond. 8; 9b. Planimetria final Fig. 10b - Perfil estratigráfico Este da Sond. 8.
da Sond. 8.

Aí foram identificados três contextos datáveis: um primeiro, datado dos finais do reinado
de Augusto, associado ao momento da construção de uma insula (UE 2301); um segundo,
datado dos inícios do período flávio, relacionado com um enchimento de nivelação para a
construção de uma série de infraestruturas de novas unidades habitacionais (UE 2300);
um terceiro, de finais do século I, correspondente a uma vala de saque das estruturas
associadas ao contexto anterior (UE 2294) (Fig. 11).

Fig. 11 - Localização dos contextos no perfil estratigráfico Este da Sond. 8.

124
Destes três contextos interessa-nos em particular o primeiro. As cerâmicas finas estão
representadas por sigillatas itálicas, maioritariamente enquadráveis nos serviços Haltern I
e II (Consp. 12, 18, 21, 22 e 23), (Fig. 12, nº 1-22), e paredes finas do Vale do Pó (forma
XXXIII-XXXV) e da Etrúria (VIIIC, X, XIB)16 Fig. 13, nº 23-32).

Fig. 12 - Cavalariças (Braga). Terra sigillata itálica. Fig. 13 - Cavalariças (Braga). Cerâmicas de paredes
finas, lucernas e ânforas (Haltern 70).

As lucernas, ainda que muito fragmentadas, são também de produção itálica, uma
das quais integrável no tipo Loeschcke I A (nº 33-36). Nesta amostra são particularmente
interessantes as ânforas, com destaque para as Haltern 70 de fabrico bético, com 32
exemplares (nº 37-51; Fig. 14, nº 52-66).

16
Documentou-se ainda um exemplar provavelmente tarraconense e outro de proveniência desconhecida.

125
Fig. 14 - Cavalariças (Braga). Ântoras (Haltern 70, Fig. 15 - Cavalariças (Braga). Almofarizes béticos e
tipo urceus, Dressel 2-4, Dressel 7-11, Dressel cerâmica de tradição indígena.
14 arcaicas, Pascual 1,Pellicer 18, tipo Ródio e
Richborough 527).

As restantes ânforas correspondem a produções peninsulares, designadamente béticas


do tipo Dressel 2-4 (nº 67), urceus (nº 68-69) e Dresel 7-11 (nº 70-76), lusitanas do tipo
Dressel 14 arcaicas (nº 77-79) e tarraconenses, possivelmente Pascual 1. Pode ainda
referir-se um exemplar proveniente da ilha de Ibiza do tipo Pellicer 18 (nº 80) e vários
fragmentos de parede muito provavelmente pertencentes a ânforas Ródias e a ânforas da
ilha de Lipari do tipo Richborough 527.
As restantes produções documentadas neste contexto de finais do período de Augusto
pertencem a cerâmicas comuns e de cozinha, repartidas por produções importadas e de
âmbito regional. No âmbito da loiça importada são maioritárias as produções peninsulares
de origem bética, representadas por almofarizes (Fig. 15, nº 81-84) e cerâmica comum
(nº 85-86), seguidas das produções lusitanas de cerâmica comum (nº 87-88) e das

126
produções itálicas de novo presentes com almofarizes (nº 89) e os típicos engobes
vermelhos pompeianos de origem campana (nº 90-92).
As produções regionais estão maioritariamente presentes por cerâmicas de tradição
indígena (nº 93-94; Fig. 16, nº 95-107) e, em menor medida, por peças de fabrico romano,
das quais se destacam os potes, as taças e as grandes travessas, a par de algumas
tampas e uma fusaiola (nº 108-112).

Fig. 16 - Cavalariças (Braga). Cerâmica de tradição indígena e comum romana.

127
2º CASO DE ESTUDO: OS MATERIAIS PROVENIENTES DAS NECRÓPOLES
NAS PRIMEIRAS DÉCADAS DE VIDA. O EXEMPLO DA NECRÓPOLE DA VIA XVII.

O segundo caso de estudo que aqui se apresenta corresponde, como já referimos,


a uma área de necrópole. Como é sobejamente conhecido, Bracara Augusta, como
importante centro viário, contava com uma série de vias que a ligavam às principais
cidades do Noroeste e ao Sul da Península (Fig. 17).

Fig. 17 - Malha urbana e localização das necrópoles de Bracara Augusta, assinalando a Via XVII.

Associadas a essas vias existiam seis necrópoles: a necrópole de Maximinos,


provavelmente associada à Via XX, per loca marítima; a necrópole da Via XVII, que jaz
maioritariamente no subsolo da Avenida da Liberdade, no Largo Carlos Amarante e
na Cangosta da Palha17;a necrópole da Rodovia, na zona sudeste da cidade romana,

128
associada à porta sul e à saída da Via XVI; a necrópole do Campo da Vinha, provavelmente
pertencente à Via XIX que ligava a cidade a Lugo, por Ponte de Lima e Valença (ainda mal
definida); a necrópole da Via Nova, situada na parte noroeste da Avenida Central e que
parece assinalar a Via XVIII; e, por fim, a necrópole de S. Lázaro, que poderá associar-se a
uma saída da cidade a sudeste e que seguia em direção a Mérida, por Viseu (esta é a única
via que não vem referida no Itinerário de Antonino), (Martins e Delgado 1989-90, 41-186;
Martins 2000, 47-54). Neste estudo apresentam-se os materiais provenientes da ocupação
mais antiga da necrópole da Via XVII, com enterramentos datados da transição de Era a
meados do século I (Figs. 18-22).

Fig. 18 - Necrópole da Via XVII (sepulturas 2, 89 a 91, Fig. 19 - Necrópole da Via XVII (183 a 186).
95 a 96).

17
A continuação desta necrópole foi identificada na freguesia de S. Vítor com sepulturas datadas de todo
o período imperial. Neste núcleo foi inclusivamente encontrada uma estrutura que Sande Lemos interpretou
como sendo um Mausoléu.

129
Fig. 21 - Necrópole da Via XVII (sepulturas 5,18, 22).

Fig. 20 - Necrópole da Via XVII (sepulturas 112, 123,


130, 145, 162).

Fig. 22 - Necrópole da Via XVII (sepulturas 187 a 188,


190, 199).

130
A análise do espólio desta primeira ocupação permite-nos obter uma ideia precisa
do tipo de cerâmica utilizada no âmbito funerário. Com exceção de três sepulturas
documentadas na intervenção designada por Interligação (sepulturas 5, 18 e 22), os
enterramentos provém da intervenção conhecida como CTT (sepulturas 2, 27, 90, 91, 97,
112, 183, 187, 188 e 199). As cerâmicas encontradas nestes enterramentos correspondem
a potes de produção regional, com bordos esvasados, que foram utilizadas como urnas
funerárias (sepulturas 12, 13, 20, 25 e 26). Uma destas sepulturas, a nº 18, continha um
pote/urna ainda com a respetiva tampa, feita no mesmo fabrico. A par destes potes/urnas
também se documentam nestes enterramentos outras peças cerâmicas que encontram
paralelo em exemplares recuperados em povoados castrejos. Damos, como exemplo, a
sepultura número 2, datada de Augusto/Tibério, onde se recuperou, junto a uma lucerna
importada e um conjunto de contas de colar, um pequeno potinho18 idêntico aos que
aparecem na Fase II (IV-II a. C.) do Castro da Pena (Silva 2007, est. XLV, nº 3). O mesmo
se pode dizer, ainda que não tivéssemos encontrado paralelos claros, relativamente a
uma jarra encontrada na sepultura 27, datada dos inícios do século I, que apresenta
características próprias de peças da Idade do Ferro19. Mais claramente assimilável ao
mundo castrejo é a jarra recolhida na sepultura 183, datada do 1º terço do século I,
conhecida como “jarra lusitana” (Tipo C2b de Silva 2007), uma das formas mais comuns na
Fase III (século I a. C. - século I d. C.), em numerosos povoados da zona bracarense (Silva
2007). O mesmo se pode dizer do vaso de perfil campaniforme encontrado na sepultura
187, datada do reinado de Tibério, que apresenta um engobe vermelho na superfície
externa.
Associadas a estes materiais de produção regional foram recuperados outros materiais
importados como unguentários de vidro e, como já referimos, lucernas importadas
(sepulturas 2, 90, 91, 187 e 188). Os unguentários são de cor azulada, com forma ovoide
ou em gota, semelhantes aos tipos Isings 8, genericamente datados do século I (Isings
1957). Este tipo de unguentários são comuns em acampamentos romanos do limes, como
é o caso de Vindonissa (Berger 1960, 74-77, Taf. 12, 186-187). As lucernas mais antigas
são de proveniência itálica e caracterizam-se por possuir um rostrum triangular, uma orla
estreita e horizontal, separada do disco por um número variável de molduras de transição
e pela ausência de asa. As primeiras, atendendo à relação existente entre a separação das

131
volutas e os vértices do bico, enquadram-se nas formas Loeschcke IA, datadas do período
de Augusto-Tibério e, a segunda, da forma Loeschcke IB, datada da época de Tibério até
finais do reinado de Cláudio (Morillo 1999, 71). Como é habitual neste tipo de lucernas, os
discos são grandes e côncavos, com decoração em alto-relevo – uma ave (íbis?) situada
à direita; Vénus nua, sentada à direita e de perfil, com Eros situado à sua esquerda; duas
cornucópias da abundância estilizadas. Uma outra lucerna, encontrada na sepultura
187 - junto à lucerna já referida com a representação de uma ave no disco – possui um
rostrum idêntico às lucernas de volutas mas, ao contrário do que é habitual, não apresenta
as volutas superiores, facto que nos leva a integrá-la nas chamadas “variantes raras” da
forma Loeschcke I. Na base apresenta uma marca com letras retrógradas em relevo .A.D.I.
Conhecem-se marcas idênticas em produções de Lucivs Munativs Adiectvs, oleiro que
possivelmente trabalhou para um proprietário ou patronus que encarregava os seus libertos
da gestão de várias oficinas (Bailey 1980, 98; Morillo 1999, 297). A circunstância destas
marcas aparecerem sobre lucernas datáveis desde finais do período flávio até o reinado
de Antonino leva-nos a pensar que se trata de outra oficina que produzia na região centro-
itálica no período de Augusto-Tibério.
As outras lucernas, integradas nas chamadas “derivadas da forma Dressel 3”,
encontradas nas sepulturas 90 e 91 datadas, respetivamente, dos reinados de Tibério e
Cláudio. Estas lucernas são de produção hispânica, claramente inspiradas nos modelos
itálicos. Estas possuem características morfológicas muito peculiares já que, para além
do corpo troncocónico de paredes altas e retas, apresentam aletas laterais situadas nas
proximidades do rostrum. Como é habitual, o disco destas lucernas é côncavo e está
decorado com uma concha cujos raios partem do orifício de alimentação. Uma delas
apresenta no fundo externo a marca de oficina, neste caso assinalada com a letra M. A
pasta de cor de creme ou bege claro e porosa parece indicar-nos uma proveniência bética,
onde se conhecem vários centros produtores, como Andújar (Sotomayor et al 1976, 139,
nota 51; Sotomayor et al. 1981) e Córdoba (Amare 1988-1989; Bernal 1993, 214-215;
Bernal, Garcia Gimenez 1995, 178; García Gimenez et al. 1995), ainda que também se
tenha documentado uma produção em Emerita Augusta (Rodriguez Martin 1996, 143-144).
Segundo Ángel Morillo Cerdán (1999, 100, 104), estas lucernas podem situar-se nos
reinados de Tibério e Cláudio, num momento em que cessam as importações itálicas.

132
Apenas na sepultura 183 se documentou a presença de cerâmica fina importada, em
concreto uma taça da forma Consp. 20.3, datada entre a transição de era e o ano 30 d. C.
(Ettlinger et al. 1990).
Pela sua singularidade, refiram-se as sepulturas 2 e 199. A primeira, já referida, datada
dos reinados de Augusto/Tibério, destaca-se pela qualidade e raridade do seu espólio: a
par de um potinho de tradição indígena e uma lucerna itálica, recuperou-se uma peça de
bronze perfurada e três contas de faiança egípcia possivelmente pertencentes a um colar
depositado como oferenda. Na sepultura 199, recuperou-se uma urna em granito selada
por grampos de chumbo que encontra paralelos em urnas encontradas na necrópole de
Uxama (Abásolo 2002, 152) e Poitiers (Simon-Hiernard 1990). Uma vez aberta, a urna
continha uma moeda e um unguentário de vidro importado do tipo Isings 8, em forma de
gota e de cor verde azulado. A moeda dá-nos uma datação muito precisa: trata-se de um
Aes de Augusto da casa da moeda de Colonia Victrix Iulia Celsa, datada entre o ano 5 e
3 a. C. (RPC I – 278), ainda que o seu desgaste aponte para uma circulação situada nos
finais do reinado de Augusto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os dois casos de estudo aqui apresentados revelam a importância das cerâmicas


importadas e das cerâmicas de produção regional nos primeiros tempos de vida da cidade.
A quantidade e diversidade das primeiras está associada à sua importância económica,
graças às facilidades logísticas proporcionadas pela localização privilegiada da urbe,
funcionando como verdadeira plataforma viária (terrestre, fluvial e marítima)20.
As produções regionais, na sua maioria constituídas por potes, jarras e jarrinhos de duas
asas tipicamente indígenas, encontram paralelo em exemplares recolhidos em castros no
Noroeste peninsular. Como referimos, esta circunstância é muito interessante na medida
em que revela que naquela fase a cidade não possuía olarias e estava dependente
dos tradicionais centros de abastecimento de época pré-romana, designadamente dos
povoados castrejos próximos da cidade. Apresentam, como é habitual, pastas micáceas
idênticas àquelas documentadas na Fase III dos povoados castrejos, usadas na vida diária

133
– para comer, cozinhar, armazenar, etc. – mas também utilizadas como urnas cinerárias ou
como parte das oferendas funerárias.
A análise e contextualização estratigráfica dos materiais encontrados na Sond. 8 (UE
2301) das Cavalariças, como vimos datáveis dos finais do reinado de Augusto (Morais,
Fernández, Magalhães, no prelo), permite constatar a mesma tendência: a par das
numerosas produções importadas, documenta-se a presença de um importante grupo
de cerâmicas de tradição indígena (apenas uns fragmentos de cerâmica que podem ser
considerados “romanos”, menos de 2% do total).
Em contexto funerário, com exceção das lucernas e de uma peça de sigillata itálica da
sepultura 183, os materiais importados estão ausentes. Esta situação demonstra que nas
primeiras décadas da cidade existiu uma tendência da população local para depositar as
cinzas em potes/urnas e noutras loiças de tradição indígena.
Os materiais cerâmicos documentados associados a estes primeiros tempos de vida da
cidade estão em sintonia com os dados epigráficos e onomásticos que revelam que o corpo
cívico estava maioritariamente constituído por indígenas, como mencionámos, oriundos dos
castros da região. A fundação da cidade inseriu-se numa estratégia de controlo económico,
político e administrativo e foi motivada pela vontade de dotar a “poderosa” gens dos Bracari
de um concilium gentis e um necessário caput para os cidadãos residentes na área de
influência da cidade.

20
A presença de uma rara inscrição alusiva à presença de negotiatores no período de Cláudio é disso
testemunho (Alföldy 1966, 363-372; Morais 2005a).

134
BIBLIOGRAFIA

Alcorta Irastorza, E. J. (1995). Avance al estúdio de la cerâmica comum romana de cocina y mesa de Lucus
Augusti. In Cerâmica comum romana d’época imperial a la Península Ibérica. Estat de la questió. Empuríes:
Museu d’Arquelogia de Catalunya (Monografies Ampuritanes), VIII, 201-226.
Alföldy, G. (1966). Um ‘cursos’ senatorial de Bracara Augusta. Revista de Guimarães, 76, 1-2, 363-372.
Almeida, C. A. F de (1974). Cerâmica castreja. Revista de Guimarães, 84, 171-198.
Amaré, Mª T (1988-89). Notas sobre un posible taller de lucernas romanas en Córdoba. Ifigea, V-VI,
103-115.
Argote, J. C. de (1744). Memórias para a História Eclesiástica do Arcebispado de Braga, 3. Braga, 299.
Bailey, D. M. (1980). A Catalogue of the Lamps in the British Museum, 2, Roman Lamps in Italy. British
Museum. Londres.
Belino, A. (1909). Cidades Mortas. Archeólogo Português, 14, 1-28.
Berger, L. (1960). Römische Gläser aus Vindonissa. Veröffentlichungen der Gesellschaft Pro Vindonissa.
Band IV. Basel.
Bernal, D. (1993). Una pieza excepcional del Museo Nazionale de Roma y el problema de las lucernas tipo
Andújar. In Espacio, Tiempo y Forma (HistAnt), serie II 6, 207-220.
Bernal, D., García Giménez, R. (1995). Talleres de lucernas en Colonia Patricia Corduba en época
bajoimperial: evidencias arqueológicas y primeiros resultados de la caracterización geoquímica de las pastas.
AACord. 6, 175-216.
Bettencourt, A. M. S. (2000). Estações da Idade do Bronze e inícios da Idade do Ferro da bacia do Cávado
(Norte de Portugal). Cadernos de Arqueologia: Monografias. Braga.
Carvalho, H. P. (2012). Marcadores da paisagem e intervençao cadastral no território próximo da cidade de
Bracara Augusta (Hispania Citerior Tarraconensis), Archivo Español de Arqueología 85, 149-166.
Carvalho, H. P. (2016). Bracara Augusta e as transformações do território. Homogeneização e diversidade.
In Clausus est Ianus. Augusto e a transformación do noroeste hispano. Lugo (Philtáte 1. Studia et acta antiquae
Callaeciae), 1, 285-305.
Carvalho, H. P. (2017). Centuriação e reciclagem das formas cadastrais no território de Bracara Augusta.
In In Roma nata, per Italian fusa, in províncias manat. A cidade romana no noroeste: novas perspectivas. Lugo
(Philtáte. Studia et acta antiquae Callaeciae), 2, 277-288.
Centeno, R. M. S. (1988). Circulação monetária no noroeste de Hispânia até 192. Anexos Nummus 1, Porto.
Centeno, R. (2010). Um novo sestércio de Augusto com a caetra no reverso, aparecido em Braga. In Braga
Augusta (Rui Morais). Braga, 171-173.
Delgado, M., Morais, R. (2009). Guia das cerâmicas de produção local de Bracara Augusta. Braga.
Ettlinger, E. (1990). Conspectus Formarum Terrae Sigillatae Italico Modo Confectae. Materialen zur rômisch-
germanischen Keramiek. Bom.
Fontes, L., Martins, M., Andrade, F. (2010). Salvamento de Bracara Augusta. Quarteirão dos CTT/
Interligação Túnel Avenida da Liberdade (BRA 09 CTT-ITAVL). Relatório Final. Trabalhos Arqueológicos da
UAUM/Memórias 2. Braga.http://www.uaum.uminho.pt/edicoes/revistas.htm.

135
Fontes, L., Martins, M., Sendas, J., Catalão, S. (2010). Salvamento de Bracara Augusta. Ampliação do Túnel
da Avenida da Liberdade (BRA 08-09 TAVL). Relatório Final. Trabalhos Arqueológicos da UAUM/Memórias 7.
Braga 2010. http://www.uaum.uminho.pt/edicoes/revistas.htm.
Freitas, B. S. (1890). Memórias de Braga, 1, Braga, 320.
García Guiménez, R., Bernal Casasola, D., Morillo, A. (1995). Consideraciones sobre los centros
productores de lucernas tipo Andújar: análises arqueométrico de materiales procedentes de los Villares de
Andújar (Jaén) y de la Submeseta Norte. In Segunda Reunión de Arqueometría. Primer Congreso Nacional.
Granada.
Isings, C. (1957). Roman Glass from dates finds. Archaeologica Traiectina, Groningen/Djakarta.
Jorge, S. M. O. (1976). Cerâmica Castreja (manuscrito do trabalho apresentado à cadeira de Arqueologia
da Idade do Ferro da Faculdade de Letras da Universidade do Porto).
Lemos, F. S. (2007-08). Antes de Bracara Augusta. Forum, 42-43, 203-239.
Lemos, F. S., Leite, J. M. F., Bettencourt, A., Azevedo, M. (2003). O balneário pré-romano de Braga.
Al-Madam. 12, 43-46.
Martins, M. (1990). O povoamento proto-histórico e a romanização na bacia do curso médio do Cávado.
Cadernos de Arqueologia. Monografias. Braga.
Martins, M. (2000). Bracara Augusta. Cidade Romana. Universidade do Minho. Braga.
Martins, M. (2017). Topografia e urbanismo fundacional de Bracara Augusta. In In Roma nata, per Italian
fusa, in províncias manat. A cidade romana no noroeste: novas perspectivas. Lugo (Philtáte. Studia et acta
antiquae Callaeciae), 2, 203-225.
Martins, M., Delgado, M. (1989-90). As necrópoles de Bracara Augusta. Os dados arqueológicos. Cadernos
de Arqueologia, 6-7, 41-186.
Martins, M., Fontes, L., Braga, C., Braga, J., Magalhães, F., Sendas, J. (2010). Salvamento de Bracara
Augusta. Quarteirão dos CTT/ Avenida da Liberdade (BRA 08-09 CTT). Relatório Final. Trabalhos Arqueológicos
da UAUM/Memórias 1. Braga. http://www.uaum.uminho.pt/edicoes/revistas.htmç.
Morais, R. (2005a). Autarcia e Comércio em Bracara Augusta. Contributo para o estudo económico da
cidade no período Alto-Imperial. Bracara Augusta, Escavaçoes Arqueologicas 2, Braga: UAUM/Narq.
Morais, R. (2005b). Ab urbe condita. Desde a fundação da cidade de Bracara Augusta. Saguntum, 37,
125-138.
Morais, R. (2010). Bracarum oppidum Augusta. Os dados da cultura material. In Revilla, V., Roca, M. (eds.
científicos). Contextos cerámicos y cultura material de época augustea en el occidente romano. Actas de la
reunión celebrada en la Universitat de Barcelona los días 15 y 16 de abril de 2007. Barcelona, 443- 461.
Morais, R. (2016a). Bracarum Oppidum Augusta: os dados da cultura material. In Rui Morais, Miguel
Bandeira, Maria José Sousa (eds.). Celebração do Bimilenário de Augusto. Ad nationes. Ethnous kallaikon.
Braga, 152-164.
Morais, R. (2016b). O desenvolvimento do comércio no Noroeste a partir da conquista. O caso de Bracara
Augusta. In Clausus est Ianus. Augusto e a transformación do noroeste hispano. Lugo (Philtáte 1. Studia et acta
antiquae Callaeciae), 1, 307-339.

136
Morais, R., Fernández, A., Braga, C. (2013). Contextos cerâmicos de la transición de Era y de la primera
mitad del s. I provenientes de la necrópolis de la Via XVII de Bracara Augusta. In SFECAG, Actes du Congrés
d’Amiens, 313-326.
Morais, R., Fernández, A., Magalhães, F. (2012). El sondeo nº 8 de “As Cavalariças”: un contexto augusteo
de Bracara Augusta (Braga, Portugal). In SFECAG, Actes du Congrés de Poitiers, 499-520.
Morais, R., Soeiro, T., Fernández, T. (2014). Necrópolis de finales del s. I a.C. a mediados del s. I d.C. en el
conventus bracaraugustano: el caso de la necrópolis de la Vía XVII de Bracara Augusta (Braga) y de Monteiras
(Bustelo, Penafiel). In XVIII CIAC: Centro y periferia en el mundo clásico. Centre and periphery in the ancient
world / Congreso Internacional Arqueología Clásica. Mérida, 1259-1264.
Morillo Cerdán, A. (1999). Lucernas romanas en la región septentrional de la Península Ibérica: contribución
al conocimiento de la implantación romana en Hispania. Monographies Instrumentum. 8/2, I e II. Montagnac:
Éd. Monique Mergoil.
Morillo, A. (1999). Lucernas romanas en la región septentrional de la Península Ibérica: contribución al
conocimiento de la implantación romana en Hispania. Monographies Instrumentum. Montagnac, Éd. Monique
Mergoil, 8/2, I e II.
Oliveira, E. P. (1998). Estudos de Arqueologia de Braga e Minho. Braga, 153-169.
Rocha, D. S. F. da (2017). O Castro Máximo. Contributo para o estudo do povoamento proto-histórico da
região de Braga (Tese de mestrado em Arqueologia apresentada na Universidade do Minho).
Sastre, I., Beltrán, A., Sánchez-Palencia, A. (2010). Ejército y comunidades locales en el Noroeste
peninsular: Formas de control y relaciones de poder en torno a la minería del oro. In Militares y civiles en la
antigua Roma. Dos mundos diferentes. Dos mundos unidos. Salamanca, 117-134.
Silva, A. C. F. (2007). A cultura castreja no Noroeste de Portugal (2ª ed.). Paços de Ferreira.
Sotomayor, M., Perez Casas, A., Roca, M. (1976). Los alfares romanos de Andújar (Jaén): Dos nuevas
campañas. NAHisp 4, 111-147.
Sotomayor, M., Roca, M., Sotomayor, A., Atienza, R. (1981). Los alfares romanos de Los Villares de Andújar
(Jaén, campaña 1978-9). NAHisp 11, 307-316.
Tranoy, A., Le Roux, P. (1989-90). As necrópoles de Bracara Augusta. B. Les inscriptions funéraires.
Cadernos de Arqueologia, 6-7, 187-232.
Morais, R. Morillo Cerdán, Sousa, Mª J. (2015). A fundação de Bracara Augusta: assentamento militar ou
estabelecimento civil num ambiente militarizado? In Queiroga, Francisco Reimão, Taylor, Timothy F. (eds.).
Rethinking Warfare 2012. International conference on the social perceptions and representations of war. Porto:
Universidade Fernando Pessoa, 115-131.

137
FELIPE
ARIAS
VILAS
CASTROS DO NORTE E LESTE GALAICO-LUCENSE:
ARQUITECTURAS EN TRANSICIÓN

FELIPE ARIAS VILAS


Ex-director do Museo do Castro de Viladonga (Lugo)
Profesor-investigador ad honorem da USC (Galicia)

RESUMO
Despois dunha breve introdución sobre os elementos estruturais que permiten
documentar a etapa de transición do mundo prerromano ao galaico-romano, resúmense as
características da arquitectura interior e defensiva dos castros máis representativos desta
etapa de cambios entre o s. I aC. e o III dC. ou mesmo máis tardía.
Summary: After a brief introduction on the structural elements that document the
transition stage of the pre-roman world to the Galaico-Roman period, the characteristics of
the interior and defensive architecture of the castros most representative of this stage of
changes between the s are summarized. I BC. and the third century AD. or even later.

PALAVRAS-CHAVE
Romanización, norgalaico, castros, arquitectura, transición.

141
UNHAS CONSIDERACIÓNS INICIAIS

Non afondaremos aquí nos problemas de denominación, hoxe tan debatidos, e


referirémonos ao castrexo galaico antes e despois do cambio de Era, pero entendemos
que quizais non estea de máis lembrar que aínda se presentan diversos problemas á hora
de abordar varios temas da Cultura Castrexa, problemas que tamén se suscitan cando se
revisan os asentamentos do norte e do leste do que logo foi o conventus lucensis, pois ese
é o ámbito escollido para esta achega. Segue sendo, cremos que afortunadamente, un
debate aberto todo o referido, por un lado, á mesma definición daquela Cultura ou período,
sen dúbida decisivo na conformación histórica de Galicia e, por outro, á “homologación” ou
non con outras áreas peninsulares ou europeas.
No ámbito da investigación científica permanece activa a discusión sobre os temas
do celtismo e a Idade do Ferro: a arqueoloxía e a ergoloxía, a lingüística, a ideoloxía e
as crenzas, a organización social e política, as manifestacións artísticas e simbólicas…
Pero tampouco non é menor a importancia que este debate ten no ámbito máis colectivo,
referido ao patrimonio cultural como factor de identidade comunitaria, unhas veces
aceptado en forma de vellos estereotipos e outras tantas adaptado ás esixencias do
turismo cultural ou mesmo do merchandising máis espurio.
Estamos diante dunha complexa caracterización histórico-cultural, onde o factor
definidor é o castro como modelo de asentamento vinculado a unha cultura material e a
uns valores simbólicos ou inmateriais que tamén afectan á paisaxe e ao territorio (humano)
no que se insire, pois é evidente que a vinculación dun castro cun espazo e uns recursos
determinados é outro dos factores que caracteriza nesta etapa.
Cando aínda hai quen discute, cando falamos dos castros galegos (do norte e leste
galaico neste caso), se debemos aplicar o termo “castrexo” (“castrejo” en versión lusa)
ou castreño (como homologable a sitios hoxe non galegos), ou cando se prefire utilizar a
fórmula composta de “castrexo galaico”, perpetuada despois na de galaico-romano, hoxe
está claro que en calquera das opcións hai que ter presente un forte dinamismo interno
do substrato anterior, precastrexo (pre-celta para algúns, por exemplo na lingua), así como
unha sucesión de diversos aportes externos: atlánticos, centroeuropeos, mediterráneos
ou doutras areas peninsulares centrais ou meridionais (Calo, 1993).

142
Este panorama de conxunto está relacionado coa cuestión cronolóxica e coas posibles
periodizacións ou fases propostas para a Cultura Castrexa, entre outras cousas porque
pode permitir unha mellor comprensión dos distintos tipos de asentamentos que atopamos
no norte e leste galaico, dos que aquí se citarán tan só os exemplos máis representativos
nestes últimos tempos, tanto desde o punto de vista científico como patrimonial.
O que entendemos por Cultura Castrexa do NO. abrangue propiamente, e polo menos,
desde o século VII aC ao s. I dC, pero é igualmente certo que subsiste (e quizais non só en
canto que se seguen ocupando castros, con todos matices que esta idea esixe) deica
o s.V dC. Non se trata dun fenómeno estanco e unitario ao longo da súa extensa duración,
senón que hai unha clara evolución e uns cambios producidos, como xa se dixo, pola
propia dinámica interna desta Cultura e polas influencias, impulsos e contactos exteriores.
Os fitos clave do período de transición entre o castrexo galaico e o galaico-romano, que
é a etapa que nos corresponde comentar aquí serían a campaña de Xulio César sobre
o 60 aC, que chega polo menos ata Brigantium no Golfo Ártabro, logo as guerras ástur-
cántabras no 25-19 aC (nas que, segundo a maioría dos autores, o territorio galego foi máis
base de operacións que escenario de batallas), e despois a subseguinte organización xulio-
claudia e máis o decisivo impulso baixo os Flavios ao final do s. I dC.
O ámbito escollido é quizais o menos coñecido na bibliografía, sobre todo cando se
mira desde o sur galaico, é dicir desde o conventus bracarense. Trátase da metade norte
e a zona leste (aproximadamente) da Galicia actual, é dicir, a maior parte do conventus
lucensis, sen esquecer a súa relación coas áreas lindeiras de Asturias (Taramundi, Chao
Samartín, Coaña, Mohías..., que aquí tratarán outros autores) e do Bierzo (actual León)
(Chano, Castro Ventosa...), pero en todo caso marcando o límite aproximado no interfluvio
dos ríos Tambre-Ulla, trazando unha imaxinaria liña divisoria na península do Barbanza
nas súas dúas vertentes, e deixando fóra o ámbito pontevedrés e das Rías Baixas e toda a
zona ourensá, pertencentes na súa maior parte ao citado convento bracarense.
Outra cuestión previa non sempre está clara e por iso segue sendo debatida: cales son
os elementos materiais que permiten falar dun “castro romanizado” concepto este en si
mesmo aberto ao debate?: abondan as referencias bibliográficas que sitúan a presenza
de muros e esquinais rectos fronte ás construcións circulares como indicio de ocupación
na etapa galaico-romana, pero este aspecto parece estar en revisión na última década

143
(como xa o estivo no seu día, por ex., a adopción dos muíños circulares fronte aos planos),
e o mesmo podería dicirse a propósito da existencia de elementos “proto-urbanos” como
rúas ou canalizacións, aínda que estamos convencidos que ambos aspectos ou trazos hai
que telos moi en conta á hora de definir o contexto cronolóxico e cultural.
Por outro lado, é obvio que hai que considerar a boa ponderación ou matización dos
achados materiais, pois, por exemplo, non ten o mesmo valor indicador a simple aparición
dunhas moedas que o achado abundante de tellas de barro pois neste caso se trata dun
elemento que certifica a ocupación habitacional na etapa posterior á conquista, sexa
onde se queira colocar esta. E ademais, xa se ten incidido varias veces na idea de que
a romanización de carácter material non sempre quere dicir, nin moito menos, unha
plena romanización mental, e velaí o caso paradigmático das crenzas e divindades, con
numerosos entrecruzamentos galaicos/romanos (cfr. Arias, 1992).

ALGÚNS EXEMPLOS REPRESENTATIVOS

Con estas premisas revisaremos aquí, brevemente e cun percorrido de norte a sur,
algúns exemplos de castros do ámbito escollido (o norte e leste do conventus lucense, nas
actuais provincias de Lugo e A Coruña), citando os máis representativos e máis “visibles”
desde o punto de vista científico e patrimonial, que coinciden con lugares nos que houbo
e/ou hai escavacións (máis ou menos parciais pero nalgúns casos moi amplas) e que, en
todo caso, permitan comentar algo sobre a súa arquitectura interior e defensiva (se fosen
coñecidas ambas as dúas) neste período de transición que marcamos entre o s. I aC e o
II-III dC ou mesmo máis tardío.
Un dos primeiros castros coñecidos de atribución maiormente galaico-romana é o
asentamento costeiro (típico neste sentido) de Fazouro (Foz, Lugo) por ter sido escavado
desde os anos sesenta do século pasado, acondicionado logo nos noventa e despois re-
escavado e consolidado en 2006, á espera dunha maior intervención intensiva e extensiva
pois segue sendo un verdadeiro paradigma dos castros lucenses con ocupación quizais
prerromana pero, e sobre todo, na etapa galaico-romana, vinculado ás actividades

144
comerciais, marítimas e terrestres, e posiblemente tamén a explotacións auríferas nas
beiras dos próximos ríos Ouro e Masma (Arias, 2011; Espada, 2013 e VV.AA. 2006).

Fig. 1 - Fazouro (fot. Xunta de Galicia).

Fig. 2 - Punta da Atalaia (fot. E. Ramil).

145
No que queda do esporón natural sobre o mar (pois este foino desfacendo co paso do
tempo, (fig.1), consérvanse os restos de nove construcións en pedra de xisto, a maioría
de planta cadrada con esquinas en curva e dispostas en torno a tres espazos abertos
e lousados. Destacouse sempre a presenza dunha escaleira de dez chanzos apegada
ao exterior dunha das casas que indicaría un seu segundo andar. Nos últimos traballos
documentáronse tamén varias reformas puntuais no poboado así como a existencia de
restos de revoco de morteiro de cal nalgún dos muros. Todo isto, máis a caracterización
dos materiais recollidos, con abundancia de tipos comúns de cerámica romana, incluída a
sixilata, e outros obxectos metálicos, converten Fazouro nun asentamento castrexo costeiro
moi característico da etapa de transición galaico-romana, desde o s. I ata, cando menos,
o III dC.
Menos coñecido, por non figurar nos inventarios e catálogos dos asentamentos da
Mariña lucense ata hai pouco máis dunha década, e por tratarse dun espazo parcialmente
urbanizado desde hai tempo, é o caso do xacemento de Punta da Atalaia de San
Cibrao (Cervo, Lugo). Porén, nos últimos anos e por mor de actuacións públicas (como a
construción dun observatorio ornitolóxico) e privadas (unha nova, e agresiva, urbanización
e edificación no sitio), tense revelado como un interesante enclave habitacional que ocupa
unha península unida a terra por un estreito tómbolo areoso hoxe transitable. Ao igual
que no caso de Fazouro debeu de ser un sitio especialmente activo en época galaico-
romana a teor dos materiais atopados (de novo abundante cerámica común romana de
tipos maiormente lucenses), pero coa presenza de casopas circulares e datos dalgún nivel
anterior, todo isto nun contexto moi areoso que unhas veces deixa só algúns escasos
restos construtivos e outras permitiu a conservación de muros de maior altura (fig.2).
Presenta aínda diversos aspectos arqueolóxicos singulares (entre eles, o achado dun
machado votivo de bronce) que se veñen revelando desde o ano 2007 ate o 2010, ademais
dos problemas de índole patrimonial que sufriu e sofre dada a súa peculiar situación desde
o punto de vista da legalidade urbanística (Castro e Cabrera, 2009; Castro 2010). En todo
caso, o seu papel na articulación do territorio e dos intercambios da fase galaico-romana,
incluída a etapa baixoimperial, debeu de ser importante.
Na propia banda costeira do norte galego tamén habería que resaltar a presenza deses
elementos construtivos e así mesmo simbólicos e ben significativos que son os “fornos-

146
sauna”, documentados e escavados nos castros coruñeses de Punta dos Prados de
Espasante (Ortigueira) e O Sarridal (Cedeira), pola súa atribución a esta mesma etapa de
transición castrexo-romana, maiormente no s. I dC como se ten sinalado nos traballos de
Ángel Villa (cfr. en último lugar, 2018), Emilio Ramil (para o caso recente do Sarridal, Ramil,
2018) e na achega de Sergio Ríos nestas mesmas Actas.
O mesmo sería aplicable a outro exemplo situado nun ámbito xeográfico moi distinto, o
da montaña oriental lucense, case nos lindeiros da asturiana: o Castelón de Castañoso en
Maderne (A Fonsagrada, Lugo), moi probablemente un castro vinculado ás minas auríferas
desta extensa zona entre os ríos Eo e Navia, case pendurado nun lugar inaccesible pero
no que se localizaron nos últimos cinco anos oito construcións, entre as que destaca un
outro forno-sauna, moi ben conservado na súa potente arquitectura de xisto e lousa (fig.3),
e adxudicada polos seus escavadores (Terra-Arqueos) tamén ao s. I dC aínda que sen
desbotaren unha ocupación anterior (ademais das correspondentes memorias técnico-
administrativas, hai referencias na prensa, v.gr. noticia en El Progreso, Lugo, 16-8-2018).

Fig. 3 - Castelón de Castañoso.

147
Fig. 4 - Croa de Zoñán (fot. A. Vigo).

Volvendo ao ámbito mariñán do norte galaico pero xa no seu “transpaís” interior atopamos
o castro de Zoñán (Mondoñedo, Lugo), un amplo xacemento dunhas sete hectáreas, ben
defendido e estruturado en catro grandes espazos castrexos (con topónimos diferentes)
entre os que hai que salientar o da Croa (fig.4), no que se realizaron escavacións
parciais desde 2002 pero que parecen definir ben, tanto polo tipo de estruturas -incluso
conservando dúas ventás pola altura dos seus muros- e de materiais (cerámicos, metálicos
e numismáticos), unha ocupación nos séculos de transición castrexo-romana pero tamén
con claros niveis tardíos polo menos nesta parte do extenso xacemento (s. III-V dC.) (Arias,
2011; Vigo, 2007; Vigo, 2010 e VV.AA., 2006). Non se debe obviar tampouco aquí a
proximidade relativa das explotacións auríferas da bocarribeira do río Masma, que forma a
ría de Foz e xa citadas para o caso de Fazouro.
O castro de Saa (ou de Baltar, A Pastoriza, Lugo) entre as ladeiras da serra de Meira
e o val inicial do río Miño, foi obxecto de limpezas periódicas desde o ano 2005 e de
escavacións parciais nos dous últimos anos, que viñeron resaltar aínda máis a súa

148
impresionante presenza na paisaxe do nordés chairego, deixando á vista o seu complexo
sistema defensivo (en parte similar ao de Viladonga, vid. infra) que abeira unha croa case
perfectamente circular. Aínda que só se levan escavados uns 200 m2, semella que os datos
obtidos permiten documentar a súa ocupación desde o s. II aC ata o II dC, polo menos,
coa aparición dunha gran construción presuntamente habitacional pero vinculada a un
posible pozo e a unhas canles de drenaxe pouco comúns, e situado todo moi preto do
paramento pétreo interior da monumental muralla principal e os seus sinxelos chanzos de
acceso (fig.5). Os numerosos achados cerámicos de tipos castrexos e de común romana
inciden naquela ampla datación pero non parecen apuntar a un momento tan tardío, polo
menos nesta parte aberta ata agora), como o da ocupación principal do castro de Viladonga
pese ás súas semellanzas na configuración do asentamento e a súa relativa proximidade.
(Arias, e.p., recollendo os aportes inéditos do escavador de Saa, Emilio Ramil, cfr. tamén
noticia en El Progreso, Lugo, 30-8-2018).

Fig. 5 - Castro de Saa.

Dominando unha boa parte do Golfo Ártabro e a propia cidade, ou “aglomerado


secundario” ou como queiramos definir o seu centro neurálxico que era Brigantium, sitúase
o castro de Elviña (A Coruña), xacemento moi debatido sobre todo na última década no

149
que se refire á súa interpretación cronolóxica e adecuación patrimonial. Os sucesivos
traballos de L. Monteagudo, J.Mª Luengo, F.Senén López, J.Mª Bello e agora a empresa
Terra-Arqueos permitirían falarmos hoxe dun asentamento continuado desde o s. III aC ata
o II dC cunha posterior e parcial reocupación en época tardorromana (cfr. como últimas
achegas á súa problemática cronolóxica e patrimonial: Bello, 2018 e López, 2017). Pero
aínda hoxe parece estar en cuestión a relación entre os dous barrios principais, o do
interior e o do exterior da potente muralla principal (de 4/5 m. de grosor), e así mesmo a
sincronía ou diacronía das zonas leste e oeste do asentamento, que en todo caso aínda
non está totalmente escavado (fig. 6).

Fig. 6 - Elviña (2017) (fot. Terra-Arqueos).

En relación co tema que aquí tratamos, o da etapa de transición do propiamente


castrexo ao galaico-romano, abonde salientar o poboamento progresivo das ladeiras, máis
recente segundo se afastan da croa superior, evoluíndo desde as construcións de plantas
curvas dos s. II-I aC a outras de muros rectos do s. I dC e ao barrio máis exterior cun chan
empedrado que pode chegar ata o s. IV dC (VV.AA., 2006). Ao lado de zonas case atoadas
e desfeitas, hai outras que dan a rúas empedradas e con canalizacións de drenaxe, e así

150
mesmo son de destacar as monumentais entradas fortificadas dos ángulos NO. e E. (aínda
discutidas en canto á súa traza orixinal), e tamén o singular alxibe rectangular con dúas
escaleiras de acceso ao pozo inferior central (fig.7).

Fig. 7 - Elviña (alxibe).

O papel do castro de Elviña no contorno de Brigantium adquire especial importancia se


consideramos a súa relación visual, en tempos antigos posiblemente moi directa, co faro da
Torre de Hércules, resaltándose así a súa incidencia no Golfo Ártabro durante a etapa de
transición entre o mundo castrexo -nun ámbito máis ben rural- e a nova ocupación urbana
ou semi-urbana, directamente relacionada coa organización político-administrativa do
territorio costeiro e da actividade comercial tanto marítima como terrestre.
Moi diferente parece ser o caso do castro da Cidá de Borneiro (Cabana de Bergantiños,
A Coruña, preto da fachada atlántica na súa ‘Costa da Morte’), escavado xa en 1932 e
posteriormente en campañas descontinuas e por varios autores, e que foi o primeiro en

151
datarse polo C14 (no s. VI aC) como un dos castros máis antigos do NO., o que cadraba
ben coa minorada presenza de muros rectos (con esquinais arredondados) nas súas
construcións, por outro lado ben numerosas as de planta circular e caracterizadas no seu
día pola escaseza de portas de acceso ás vivendas, fose por telas a certa altura ou por
mor do sistema de escavación (fig.8). Por fóra da muralla principal do lado E. aparece un
conxunto de construcións que para algúns tería relación co uso da auga para o traballo
metalúrxico (abundan os achados metálicos neste castro), mentres que para outros sería
un exemplo máis dun forno-sauna, atribuídos estes, como xa se dixo, ao cambio de Era ou
ao s. I dC (López, 2009 e VV.AA., 2006), pero tamén hai debate sobre a ocupación principal
do xacemento, xa dixemos que quizais moi anterior á etapa de transición á Romanidade.

Fig. 8 - Borneiro (fot. Xunta de Galicia).

Por veces, puxéronse en certa relación con Borneiro outros dous castros coruñeses,
Baroña (Porto do Son e O Neixón (Boiro), neste caso debruzados directamente nun
esporón contra o mar e situados máis ao sur pero tamén na fachada atlántica e a ambos os
dous lados da península do Barbanza que estableciamos como límite do ámbito que aquí
consideramos. Pero tanto Baroña como, sobre todo, O Neixón, parecen ter máis relación
coa parte suroccidental galaica, pois se localizan e contextualizan plenamente na zona das

152
Rías Baixas (Muros e Noia un e Arousa o outro).
Abonde con mencionar aquí o carácter de arquitectura monumental de Baroña sobre
todo no que se refire ás súas murallas e entradas (a principal e ao barrio de cima), datadas
polo seu escavador principal entre o s. I aC e o I dC (Calo, 1997 e VV.AA., 2006), e no
caso dos castros do Neixón, lembrarmos a mención que se fai da ocupación en época
de transición e galaico-romana do recinto máis grande e interior, aínda que os elementos
arquitectónicos son, de momento, fragmentarios se ben si é notable a presenza das
murallas (ao parecer, só parapetos térreos) nos dous castros, o claramente antigo e
prerromano e o posterior (Ayán, 2005 e VV.AA., 2006).
Na parte central da provincia lucense érguese, dominante sobre a paisaxe e sobre este
territorio do val medio do Miño,
o xacemento de Castromaior
(Portomarín), un poboado
cun moi complexo sistema
defensivo (fig.9), unha entrada
fortificada e monumental ao
E. da muralla principal (pétrea)
e cunha ampla mostra da
arquitectura doméstica de
organización moi apiñada e
Fig. 9 - Castromaior (Terra-Arqueos).
con pouco utilización de muros
medianeiros, o que indicaría a existencia de numeroso grupos familiares (fig.10).

Fig. 10 - Castromaior.

153
Castromaior, vinculado ao paso do Camiño Francés a Santiago (que utilizou en orixe un
dos seus foxos exteriores), foi escavado e consolidado desde 2006, a cargo da empresa
Terra-Arqueos, ofrecendo uns resultados moi singulares en canto ás súas estruturas,
de muros maiormente rectos e de organización bastante regular pero moi apertada e
con poucos espazos abertos, se ben a escavación na croa é aínda parcial. Os materiais
aparecidos, maiormente a cerámica, falan dunha ocupación relativamente temperá e
anterior ao cambio de Era, que contrastaría, nunha primeira impresión e ao noso modo
de ver, coa organización interna do poboado. En todo caso, o poboado encádrase nunha
ampla etapa de transición con niveis de ocupación entre o III-II aC ata o II dC (Arias, 2011
e López, 2010).
Tamén no interior central da actual Galicia está o castro da Graña (Toques, A Coruña),
con escavacións parciais nos anos 80 que certifican a evolución desde un poboado antigo
feito de materiais perecedoiros a outro xa “petrificado” nas súas construcións rectangulares
con esquinas arredondadas e na súa muralla, que correspondería ao cambio de Era pero
entrando no s. I dC a teor de achados como tégulas, fragmentos de ánfora e cerámica
común romana (Acuña e Meijide, 1995). É de resaltar ademais que o modelo de entrada
ao poboado, moi encaixada na muralla e incluso posiblemente pensada para ser tapada
pola parte superior, é similar ao que logo apareceu noutros xacementos como Viladonga ou
Castromaior.
Citaremos agora catro xacementos da parte oriental galaica que é pertinente termos en
conta pola súa adscrición ao conventus lucensis e sobre todo pola relación que deberon
de manter coa súa capital Lucus en tanto que son asentamentos vinculados ás explotacións
mineiras auríferas do dito conventus, nos seus lindeiros co asturicense, e que en todo caso
exemplifican moi ben esta etapa de transición galaico-romana.
O castro de Formigueiros (Samos), no que vén traballando desde 2006, ben que de
xeito descontinuo, relaciónase coa minería aurífera (pero quizais tamén do ferro?) das
serras sudorientais lucenses (zonas de Lóuzara, O Incio, O Courel...), pero, ademais,
salientouse sempre del o seu carácter monumental e senlleiro, tanto polo seu completo
e complexo sistema defensivo de murallas, parapetos, fosos e mesmo áreas de pedras
fincadas (fig.11) como polo seu emprazamento predominante (desde a súa muralla vese
mesmo a cidade de Lugo e isto puidera non ser só unha “casualidade xeográfica”).

154
A maiores da súa potente muralla pétrea, as súas estruturas habitacionais maioritariamente
de muros rectos con esquinais curvos comproban para o seu escavador (Meijide, 2011)
unha ocupación prerromana desde o s. III ou II aC, pero sobre todo galaico-romana no s. I
dC, no que se abandonaría ata unha pequena e moi localizada reocupación en momentos
tardorrromanos no IV e V dC. Ademais dos achados habituais neste contexto, son de
destacar os máis curiosos e orixinais gravados (ou case finos esgrafiados) descubertos en
lousas dun pavimento dunha ‘praza’ ou área común na croa así como en pedras de muros
e pezas soltas, con motivos de cabalos e peixes con gran detalle descritivo, labirintos
completos, círculos e outras figuras xeométricas, todo o cal resulta case un unicum na
tipoloxía iconográfica dos gravados rupestres nun ámbito castrexo ou galaico-romano, pois
a súa utilización ou vixencia entraría tamén despois do cambio de Era.

Varios castros de
atribución cronolóxico-cultural
galaico-romana -pero con
moito compoñente material
indíxena- localízanse na
Serra do Courel e nos seus
vales interiores dos ríos Lor,
Pequeno e Soldón. A súa
situación xeográfica e as
súas defensas, con trazos de
Fig. 11 - Formigueiros (foto X.P. Fouz e E. Guerrero, Anacos 2011). tecnoloxía mineira (e de aí a

súa atribución cronolóxica), convérteos en sitios case inaccesibles e inexpugnablese desde


logo relacionados coas explotacións auríferas, numerosas nesta ampla zona.
Entre estes asentamentos citaremos aquí dous: o castro de Vilar (Vilamor, Folgoso do
Courel), empoleirado nun esporón sobre un pronunciado meandro do río Lor e onde as
construcións e o muro defensivo da entrada están practicamente sostidos na pendente do
monte por uns aterrazamentos ou “retenidas” artificiais que singularizan enormemente este
xacemento ao tempo que dificultan a súa escavación e posterior consolidación patrimonial
(Arias, 2011 e VV.AA., 1980).
Noutro esporón na serra pero a moita maior altura e cunha pequena plataforma ou croa

155
superior que facilita a implantación das construcións (na zona sempre de xisto e lousa,
mesmo para as cubertas) é o castro da Torre (ou Torre do Castro) de Sobredo (Folgoso
do Courel) (fig.12). Sobre plataformas artificiais cando a pendente o esixe, ten casas
circulares e cadrangulares con muros rectos e ángulos redondeados ou, ás veces. con
perfectos esquinais de 90º, que veñen dispoñerse ás beiras dunha especie de rúa ou
espazo central que articula moi ben, xunto con ben pensadas drenaxes, todo o poboado,
polo menos na parte ata agora escavada. Os achados materiais son máis ben escasos
pero a súa definición tipolóxica e cronolóxica permitiría atribuír a súa ocupación entre os
s. I e quizais IV dC. (Arias, 2011; VV.AA., 1980 e VV.AA, 2006).

Fig. 12 - Torre do Castro de Sobredo (fot. Xunta de Galicia).

A mesma vinculación coas minas de ouro do século I e parte do II d.C, pero aínda moito
máis estreita e próxima, prodúcese nunha das entradas á Serra dos Ancares e preto do
alto val do Navia, no Castro de Sta. María (Cervantes, Lugo), instalado nun avanzado
esporón no fondo dun pequeno val fluvial. Aos traballos de fins dos anos noventa hai que

156
engadir varias actuacións de limpeza, consolidación e adecuación patrimonial entre 2006
e 2008, que resaltaron a grande altura conservada dos muros e os elementos construtivos
asociados a casas maiormente circulares ou ovadas e coa porta ben singularizada, todo
apertando moito o espazo dispoñible dentro dunhas defensas nas que se usou a tecnoloxía
mineira e mesmo unha canle de auga para unha veta aurífera próxima. As análises
radiocarbónicas e os materiais aparecidos sitúan a súa ocupación desde mediados do
s. I aC ate, quizais, fins do II dC, co cal exemplifica moi ben a adaptación do mundo
castrexo á nova explotación e reordenación do territorio baixo Roma.
Parte deste castro foi posteriormente ocupado pola igrexa parroquial, atoado e reutilizado
para necrópole altomedieval e posterior. (Arias, 2011, DOG, 2018 e VV.AA., 2006) (fig.13).

Fig. 13 - Castro de Sta. Mª de Cervantes (fot. Xunta de Galicia).

En último lugar, dada a adscrición cronolóxica da súa ocupación principal, debemos citar
o castro de Viladonga, como caso paradigmático da aculturación ou asimilación galaico-
romana nun ámbito castrexo, caso ademais moi especial pois algúns materiais apuntan

157
mesmo ao s. VI dC, é dicir en pleno reinado suévico, sendo ademais un asentamento moi
vinculado á relativamente próxima cidade de Lucus Augusti e ao mundo rural das villae,
algunha delas (como a de Doncide) a moi pouca distancia. (Arias et al., 2013; cfr. tamén os
índices de Croa. Boletín do Museo do Castro de Viladonga -anual, desde 1991-).
Neste sentido, cómprenos destacar que o Castro de Viladonga, xa convertido nun
senlleiro referente arqueolóxico e museístico (non só lucense senón galego e aínda máis) é
o que ofrece máis superficie escavada (máis dunha hectárea das 4 que ten o xacemento) e
máis materiais aparecidos (máis de 80.000 rexistrados) en toda a provincia de Lugo, e por
tanto no ámbito escollido para este artigo, e nel continúan a realizarse traballos periódicos
de escavación, consolidación e limpeza.
Para o que aquí nos interesa, cómpre salientar o monumental e complexo sistema
defensivo do asentamento, que acolle unha coroa interior que tivo unha ocupación
prerromana pero moi localizada no tempo e no espazo, maiormente no ángulo NE. daquela
croa, que foi totalmente ocupada e reordenada probablemente a fins do s. II ou comezos
do III, acollendo poboacións doutros castros ou castriños da arrodeada que presumiblemente
foron abandonados nos primeiros séculos da Era.
Así, o poboado articúlase dentro da muralla principal e a el accédese por dúas portas
ben protexidas que marcan unha clara rúa E.-O. que se cruza con outro camiño interior
N.-S., complementándose ambos cunha rolda continua e paralela á muralla a xeito de
intervallum, pero non baleiro senón habitado, con presenza de vivendas case apegadas ao
paramento daquela. Dentro deste esquema cruzado organízanse as diversas construcións,
unhas veces articuladas e unidas por medianeiras formando barrios ‘familiares’, e outras
de xeito illado ou sen o uso de muros comúns, o que indicaría grupos familiares distintos.
En todos os casos hai unha evidente convivencia de construcións circulares ou ovadas,
cadrangulares con ángulos curvos ou ben nuns perfectos 90º, e por suposto con elementos
arquitectónicos e domésticos complementarios (escaleiras de acceso, notables lareiras,
canles de drenaxe, un alxibe (e pozo ?) de recente descuberta e mesmo algunha ventá...).
É significativo sinalar a numerosa presenza de tellas de barro (tégulae e imbrices) en todo o
xacemento, complementado coas pesas para os teitos de colmo nos edificios de muros curvos
(figs. 14-15).

158
Fig. 14 - Viladonga (plano 2015).

159
Fig. 15 - Viladonga (plano 2015).

Tanto as estruturas como os materiais certifican a importancia da súa ocupación galaico-


romana tardía, como un posible “lugar central” (somos conscientes do debatido que foi
este termo) neste territorio rural vinculado á capital do conventus lucense, aínda que tamén
se documentan reformas doutras estruturas anteriores, nalgún caso como no antecastro
oeste, de carácter temporal e con materiais perecedoiros, ao igual que sucede en toda a
parte NE. da croa, como xa se comprobou nas escavacións dos anos oitenta e como se vén
comprobando nos últimos traballos.

160
CODA FINAL

Xa se ten destacado noutras ocasións que o resultado da transición do fenómeno


castrexo galaico ao mundo galaico-romano foi unha aculturación ou asimilación de culturas
que convencionalmente chamamos proceso de ”romanización”. Entre os s. I aC. e I dC.
vaise conformando unha nova sociedade nun territorio preexistente e funcional pero agora
ben re-organizado para a explotación dos seus recursos económicos, fosen propios ou
importados.
Os diferentes mapas temáticos que se poden aducir (de poboamento tanto de castros
‘romanizados’ (coma os aquí citados) como doutros asentamentos ex novo ou de
localización dos populi ou civitates, así como os de vías e rutas que cruzan a Gallaecia en
todos os sentidos, ou en fin calquera mapa global referido a esta etapa, permiten concluír
que os compoñentes culturais, unhas veces similares, por teren incluso raíces comúns,
e outras veces moi diferentes, por procederen dun substrato distinto, dan lugar a uns
sistemas de hábitat, uns modos de vida e incluso unha lingua diferenciados dos do resto
da Hispania romana. Esta romanización, sui generis pero con aspectos comúns á doutras
áreas periféricas do Imperio, será lenta e gradual pero, sen dúbida, decisiva na historia de
Galicia. A súa intensidade variará segundo as zonas (máis na área meridional e na costa,
agás o caso de Lugo e o seu territorio), segundo o medio social (máis arredor do elemento
militar e/ou administrativo) e segundo a época (pois non é, sen dúbida, unha evolución
estritamente lineal e homoxénea ata os momentos finais do Baixo Imperio romano).
Aprécianse, porén, en toda a zona tratada, cambios na arquitectura das construcións
(que para algúns autores son incluso bastante anteriores ó cambio de Era): os muros, xa
sempre de pedra, son rectos, forman esquinais perfectos e cóbrense con tellas de barro,
pero conviven, sobre todo nos castros, coas plantas circulares e ovadas cubertas de palla,
conformando neles unha organización “protourbanística” (que non urbana, reservada ás
cidades), pero sempre adaptada ó terreo e ás necesidades de cada caso.
Co proceso da romanización prodúcese unha maior diversificación do poboamento,
antes tamén disperso pero concentrado case exclusivamente nos núcleos ben defendidos
que eran os castros, mentres agora aparecen e espállanse (despois dos campamentos
militares iniciais) as cidades, as aglomeracións semi-urbanas ou de funcións comerciais,

161
os vici ou pequenos poboados mal coñecidos, as mansións viarias, as villae ou grandes
mansións (sobre todo en época tardía e tanto interiores como na liña costeira), os casais
e outros núcleos, todo isto arredor dunha nova e densa rede viaria.

162
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Acuña Castroviejo, F. e Meijide Cameselle, G. (1995): Escavación arqueolóxica no Castro da Graña (Toques,
A Coruña. Arqueoloxía.Informes.3. Campaña 1989. Santiago de Compostela: Xunta de Galicia, pp. 23-24.
Arias Vilas, F. (1992): A Romanización de Galicia. Vigo: Ed. A Nosa Terra.
Arias Vilas, F. (2011): A cultura castrexa na provincia de Lugo. En A prehistoria de Lugo á luz das
descobertas recentes. Actas. Lugo: Deputación Provincial, pp.103-118.
Arias Vilas, F. (e.p.): Os tempos máis antigos da Pastoriza. En VV.AA. (2019): Guía do concello da Pastoriza
(Lugo).
Arias Vilas, F. et al. (2013): Museo do Castro de Viladonga (Castro de Rei - Lugo). S.l. (Lugo): Xunta de
Galicia.
Ayán Vila, X.M. (coord.) (2005): Os castros do Neixón. A recuperación desde a arqueoloxía dun espazo
social e patrimonial. Noia: Ed. Toxosoutos.
Bello Diéguez, J.Mª (2018): Ocultar el presente, falsear el pasado. La sinuosa edificación de un engaño
histórico irreversible en el Castro de Elviña (A Coruña). Férvedes, nº 9 (IV Congreso internacional de
Arqueoloxía de Vilalba). Vilalba: MUPAV, pp.163-172.
Calo Lourido, F. (1993): A Cultura Castrexa. Vigo: Ed. A Nosa Terra.
Calo Lourido, F. (1997). Castro de Baroña. Santiago de Compostela: Concello de Porto do Son.
Castro Vigo, E. e Cabrera Tilve, I. (2009): Sondaxes valorativas e escavación en área nunha parcela en
solo urbano no xacemento de Punta Atalaia e rúa do Faro de San Cibrao, Cervo, Actuacións Arqueolóxicas. Ano
2007. Santiago de Compostela: Xunta de Galicia, pp.154-157.
Castro Vigo, E. (2010). Escavación arqueolóxica en área nunha parcela situada en solo urbano no
xacemento de Punta Atalaia, San Cibrao, Cervo. Actuacións Arqueolóxicas. Ano 2008. Santiago de Compostela:
Xunta de Galicia, pp.156-157.
DOG (2018): Resolución do 14 de novembro de 2018, da Dirección Xeral de Patrimonio Cultural, pola
que se incoa o procedemento para declarar ben de interese cultural o denominado castro de Santa María de
Cervantes, sito no lugar do Castro, na parroquia de Santa María do Castro, no termo municipal de Cervantes
(Lugo). Diario Oficial de Galicia, 20 de decembro de 2018. Santiago de Compostela: Xunta de Galicia,
pp.53052-53065.
Espada Ballesteros, A. (2013): Historia de la investigación del Castro de Fazouro (Foz, Lugo). Reflexiones
para su puesta en valor. Croa. Boletín do Museo do Castro de Viladonga, nº 23, pp.22-29.
López González, L.F. (2009): Escavación arqueolóxica e consolidación no castro de Borneiro, Cabana de
Bergantiños (A Coruña). Actuacións Arqueolóxicas. Ano 2007. Santiago de Compostela: Xunta de Galicia,
pp.70-71.
López González, L.F. (2010). Posta en valor de Castromaior para fomento do turismo cultural no Camiño
de Santiago. Portomarín (Lugo). Actuacións Arqueolóxicas. Ano 2008. Santiago de Compostela: Xunta de
Galicia, pp.74-76.
López González, L.F. [Terra-Arqueos] (inédito): Memoria de la excavación y consolidación arqueológica en el
Castro de Elviña (A Coruña, 2017).

163
Meijide Cameselle, G. (2011): Novas perspectivas sobre a cultura castrexa na provincia de Lugo. As
achegas do castro de Formigueiros (Samos). En A prehistoria de Lugo á luz das descobertas recentes. Actas.
Lugo: Deputación Provincial, pp.121-136.
Ramil González, E. (2018): Un novo monumento con forno na comarca de Ortegal. O Castro do Sarridal
(Cedeira, A Coruña). Férvedes, nº 9 (IV Congreso V, internacional de Arqueoloxía de Vilalba). Vilalba: MUPAV,
pp.135-143.
Vigo García, A. (2007): O Castro de Zoñán (Mondoñedo, Lugo). Escavacións 2002-2004. (Concello de
Mondoñedo), Mondoñedo.
Vigo García, A. (2010): Actuación arqueolóxica de conservación e escavación en área no castro de Zoñán.
Mondoñedo (Lugo). Actuacións Arqueolóxicas. Ano 2008. Santiago de Compostela: Xunta de Galicia, pp.56-57.
Villa Valdés, A. (2018): Las saunas rituales de la Edad del Hierro de tipo cantábrico y su efímera perduración
bajo dominio romano. Férvedes, nº 9 (IV Congreso internacional de Arqueoloxía de Vilalba). Vilalba: MUPAV,
pp.117-123.
VV.AA. (1980): J.Mª Luzón e F.J. Sánchez-Palencia (coords.) et al.: El Caurel. Excavaciones Arqueológicas
en España 110. Madrid: Ministerio de Cultura..
VV.AA. (2006): Guía de Castros de Galicia e Noroeste de Portugal (Proxecto CASTRENOR). Santiago
de Compostela: Xunta de Galicia. (Para Elviña pp.14-15, O Neixón pp.16-17, Baroña p.18, Borneiro p.19,
Viladonga pp.22-23., Zoñán p.24, Fazouro p.25, A Torre de Sobredo p.26, Sta. Mª do Castro de Cervantes p.27,
coa bibliografía básica respectiva).

164
ANTÓNIO PEREIRA
DINIS

JOSÉ RIBEIRO

A. MÁRIO DINIS
ARQUITETURAS DA IDADE DO FERRO DO CRASTOEIRO,
MONDIM DE BASTO (VILA REAL):
RESULTADOS DOS TRABALHOS DE 2016 E 2017

ANTÓNIO PEREIRA DINIS *; JOSÉ RIBEIRO **; A. MÁRIO DINIS ***

* Lab2PT-UM / Câmara Municipal de Mondim de Basto; Coordenador do projeto CRASBASTO


** Mestre em Arqueologia pela Universidade do Minho; Projeto CRASBASTO
*** Licenciado em História, variante Arqueologia pela Universidade do Minho; Projeto CRASBASTO

RESUMO
No âmbito do projeto CRASBASTO, realizaram-se, em 2016 e 2017, sondagens
arqueológicas no Castro do Crastoeiro, no concelho de Mondim de Basto, trabalhos que
puseram a descoberto um conjunto significativo de estruturas arquitetónicas que irão
enriquecer o percurso de visita interna do sítio arqueológico.
Embora o projeto em curso se oriente, primordialmente, para a valorização e requali-
ficação da estação, com vista à preservação e fruição das suas ruínas, as escavações
levadas a cabo também assumiram um valor científico importante por ampliarem o conhe-
cimento das arquiteturas do Crastoeiro, além de terem permitido aferir os resultados das
prospeções arqueogeofísicas, previamente realizadas no local.

ABSTRACT
As part of the CRASBASTO project, archaeological surveys were carried out in Castro
do Crastoeiro, in the municipality of Mondim de Basto, in 2016 and 2017, which revealed
a significant number of architectural structures that will expand the inner visit route of the
archaeological site.
Although the current project aims mainly towards the valorization and requalification
of the settlement, with a view to the preservation and fruition of its ruins, the excavations
carried out also assumed an important scientific value by increasing the knowledge of its
architectures, allowing also the results of geophysical surveys, previously carried out at the
site, to be checked.

169
PALAVRAS CHAVE
Idade do Ferro, Povoado fortificado, Arquiteturas, Crastoeiro, Mondim de Basto.

KEYWORDS
Iron Age, Hillfort, Architectures, Crastoeiro, Mondim de Basto.

170
1. INTRODUÇÃO

Depois de um hiato de quase uma década, foram retomadas, em 2016, as escavações


arqueológicas no Crastoeiro, integradas num novo projeto de investigação plurianual e
multidisciplinar, aprovado pela tutela e suportado, financeiramente, pela autarquia local.
Com a denominação “Evolução arquitectónica, organização do espaço, cultura material e
contexto paleoambiental da estação arqueológica do Crastoeiro, Mondim de Basto (Norte
de Portugal)” e acrónimo CRASBASTO, este projeto, em desenvolvimento até 2020,
propõe-se alargar e consolidar o conhecimento do sítio arqueológico, nas suas diversas
componentes, aproveitando os trabalhos prévios à valorização e requalificação do espaço
patrimonial, finalidade última que se pretende alcançar num futuro próximo.
As sondagens realizadas em 2016 e 2017 orientaram-se, por conseguinte, para
dois objetivos concretos - a avaliação do grau de conservação da muralha perimetral,
especialmente da fração que defende o lado nascente, estrutura consagrada no projeto
de requalificação com a reconstrução de alguns troços, dado ser a imagem primeira do
Crastoeiro para quem chega à estação arqueológica; e a limpeza dos derrubes de pedra
do Sector 6, que é uma plataforma de ligação entre os mais importantes conjuntos de arte
rupestre do sítio e, por conseguinte, passagem obrigatória do traçado do percurso de visita.
A restituição parcial da monumentalidade da muralha do Crastoeiro e a requalificação do
Sector 6, onde se exumou um conjunto arquitetónico significativo, são ações fundamentais
para a valorização desta estação arqueológica, cujas materialidades configuram um
monumento paradigmático da ocupação da Idade do Ferro no Norte do país.

2. O SÍTIO DO CRASTOEIRO

2.1.LOCALIZAÇÃO, CONTEXTO GEOMORFOLÓGICO E AMBIENTAL


O Crastoeiro situa-se a norte da aldeia de Campos, ponto de partida para o seu
acesso, através do caminho ancestral, lajeado, utilizado por peregrinos e caminhantes que
demandam o Santuário de Nossa Senhora da Graça, no Alto do Monte Farinha1.
Administrativamente, integra a freguesia de São Cristóvão de Mondim de Basto,

171
concelho de Mondim de Basto, distrito de Vila Real, sendo as suas coordenadas
geográficas, de acordo com a carta militar de Portugal 1:25 000 (folha 87), as seguintes:
Latitude – 41°24’58’’ N;
Longitude – 7°55’41’’ W do Meridiano Internacional
Altitude – 453 m (ponto mais elevado)

Fig. 1 - Localização do Crastoeiro na CMP, escala 1:25.000, fl. 87.

O acesso automóvel faz-se desde a Cainha (na EM Mondim de Basto-Bilhó) ou a partir de Sobreira (na
1

EM Mondim de Basto-Atei) utilizando a estrada que conduz ao santuário de Nossa Senhora da Graça.

172
Integrado na bacia hidrográfica do Tâmega, o Crastoeiro está implantado na margem
esquerda do rio, a cerca de 3 Km em linha reta, num pequeno morro que se destaca na
meia encosta da vertente sudoeste do Monte da Senhora da Graça, sobranceiro ao vale da
ribeira de Campos, com excelente visibilidade para as serras da Lameira e da Cabreira.
O local, completamente antropizado pela exploração de granito e utilização florestal,
conserva alguns poucos carvalhos, sobreiros e medronheiros, no geral de muito pequeno
porte, reminiscência do primitivo coberto vegetal.

Fig. 2 - Implantação do Crastoeiro, na vertente do Monte Farinha.

Segundo a Carta Geológica de Portugal, fl. 10A (Celorico de Basto), na escala 1:50.000,
o substrato rochoso integra a mancha hercínica, denominada Granito da Senhora da
Graça, caracterizado por integrar duas micas, de grão médio, com esparsos megacristais.
O Crastoeiro situa-se no rebordo sudoeste dessa mancha granítica, a curta distância
da zona de contacto com a faixa de alternância de filitos e xistos com metassiltitos e
metagrauvaques onde ocorrem, em abundância, filões e massas de quartzo e aplitos.
No interior da estação arqueológica afloram muitas formações graníticas, por vezes

173
dispostas em grande caos de blocos, havendo algumas dezenas de exemplares gravados
na pré e proto-história com representações de temática abstracta. Alguns destes blocos
foram afeiçoados e trabalhados para a eles serem adossadas estruturas pétreas que
formam construções ou muros perimetrais. No século passado muitos dos afloramentos
existentes foram cortados para obtenção de esteios para as vinhas e blocos destinados
à construção civil.
Os recursos aquíferos são abundantes na envolvência do Crastoeiro, jorrando a água
duma mina, já referenciada nas Inquirições de D. Afonso III, localizada a poucos metros do
perímetro amuralhado.

2.2. HISTÓRICO DA INVESTIGAÇÃO


Identificado em 1982, no âmbito das ações de prospeção conducentes à concretização
da Carta Arqueológica do concelho, o Crastoeiro foi contemplado, a partir de 1984, com
trabalhos arqueológicos, financiados pelo Município de Mondim de Basto. Desde esse ano
até à atualidade decorreram no Crastoeiro catorze campanhas de escavação, integradas
em quatro projetos de investigação, expressamente desenhados para o local.
Os resultados dos trabalhos dos primeiros dois projetos (Fases I e II da investigação),
correspondendo às seis primeiras intervenções arqueológicas, realizadas de 1985 a
1987 e de 1997 a 1999 já foram divulgados, quer fragmentados em diversas publicações
arqueológicas (Dinis 1986a; Dinis 1986b; Dinis 1987; Dinis 1993-94; DINIS 1994; Dinis
2005), quer reunidos na primeira monografia do sítio, editada pela Unidade de Arqueologia
da Universidade do Minho (Dinis 2001).
No ano de 2005 as escavações arqueológicas voltaram ao Crastoeiro, desta vez
integradas num projeto, financiado pelo IPA/IGESPAR e pela autarquia local, designado
“Estudo e valorização do Património Arqueológico da vertente Oeste do Monte da Senhora
da Graça”.
As sondagens realizadas naquele período, centradas fundamentalmente nas áreas
adjacentes a dois complexos de gravuras rupestres, acrescentaram informação significativa
ao quadro da ocupação e organização interna do sítio, além de fornecerem dados relevantes
para a compreensão da utilização das gravuras e da relação espacial com o cume do
Monte Farinha.

174
Os resultados dos trabalhos desta terceira fase de investigação, que compreendeu cinco
intervenções arqueológicas, realizadas de 2005 a 2009, foram divulgados, parcialmente,
em alguns eventos arqueológicos e várias publicações da especialidade (Dinis 2009a; Dinis
2009b; Dinis & Bettencourt 2009) e serviram de matéria para os trabalhos académicos de
Luís Gonçalves (2013) e Luís Seabra (2015).
Em 2016, teve início um novo projeto, CRASBASTO, no âmbito do qual se realizaram as
sondagens arqueológicas que trouxeram à superfície as estruturas arquitetónicas que são
objeto deste texto.

2.3. CARACTERIZAÇÃO DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO


De contorno ovalado e topografia descendente no sentido N-S, o Crastoeiro ocupa uma
área de aproximadamente 1ha onde se organizam vários recintos, desnivelados e, nalguns
casos, delimitados por afloramentos graníticos.
Embora bastante afetado pela utilização florestal, corte de pedra e extração de
saibro e feitura de carvão vegetal, o sítio arqueológico conservou suficientes evidências
arqueológicas que têm permitido clarificar o seu sistema defensivo, organização interna e
caracterização de espaços funcionais, entre outras materialidades que fazem do sítio um
monumento singular.
Os vestígios mais antigos reconhecidos no Crastoeiro integram um conjunto de mais de
duas dezenas de afloramentos graníticos com gravuras abstratas, realizadas pela técnica
da picotagem e abrasão. Um pequeno fragmento de cerâmica “tipo Penha”, atribuível ao
Calcolítico regional e quatro fragmentos, tecnologicamente inseríveis na Idade do Bronze,
exumados nas imediações de um dos conjuntos de gravuras poderão constituir indicadores
da frequência destes locais, durante a Pré-história.
Na Idade do Ferro, a partir do séc. IV a.C. (segundo datações radiométricas) o Crastoeiro
passa a ser habitado permanentemente. Fragmentos de argila utilizados no revestimento de
cabanas construídas com materiais perecíveis, pavimentos em saibro muito compactados,
áreas de combustão e fossas abertas no saibro, por vezes preenchidas com sementes
carbonizadas, são alguns registos desta segunda fase de ocupação. Séculos mais tarde,
a defesa natural que o sítio já possuía foi reforçada com a construção de uma muralha de
paramento duplo, revestido com blocos graníticos e miolo preenchido com terra e pedras,

175
circuitando mais de dois
terços do seu perímetro.
Do lado nordeste, onde a
vulnerabilidade era mais
evidente, o sistema defensivo
foi complementado com um
fosso, cortado no substrato
rochoso, infelizmente
destruído na década de
1990. 
Durante esta fase,
embora a construção primitiva
ainda se mantenha, começam
a ser levantadas estruturas
habitacionais em pedra,
reconhecendo-se alguma
variabilidade formal, com
predomínio da planta circular.
A romanização do sítio
Fig. 3 - Levantamento aerofotogramétrico do Crastoeiro, com
localização das sondagens realizadas em 2016 e 2017. revelou-se pouco expressiva,

sendo comprovada pela existência de edifícios quadrangulares e retangulares, alguns deles


utilizando muros comuns e por algum espólio cerâmico e moedas da República e de Augusto.
Aceita-se que o Crastoeiro tenha sido abandonado durante o século I d.C., presumindo-se
uma curta reocupação na Idade Média.
Na Idade Moderna e Contemporânea o morro foi local de feitura de carvão vegetal, de
produção de madeira e de extração de granito para esteios de vinha e para a construção civil.

3. AS SONDAGENS ARQUEOLÓGICAS DE 2016 E 2017

As sondagens arqueológicas realizadas no Crastoeiro, em 2016 e 2017, incidiram em


dois locais distintos, a Muralha e o Sector 6.
Os trabalhos realizados na muralha, compreenderam o quadrante nordeste, numa

176
extensão de cerca de 70m, abarcando uma primeira área próxima do espaço interven-
cionado na década de 1980 (Sondagens 13 a 15 e 17) e outra, para norte, numa zona
especialmente perturbada pelo corte de pedra que aí ocorreu durante aos anos 60 e 70
do século passado e devido à construção de uma rampa para deslocar os blocos até à
base do castro (Sondagem 18).
O segundo local intervencionado (Sondagens 1 a 12 e 16), que designamos de Sector 6,
é um espaço aplanado, em forma de L invertido, com uma superfície de cerca 60m2,
encaixado entre grandes afloramentos, que servem de barreira de E para O e delimitado
por estruturas arquitetónicas e gravuras rupestres, integradas nos Sectores 2 e 5, situados,
respetivamente, a N e a S. A escavação desta plataforma justificou-se por ser a faixa de
passagem entre os dois setores que concentram os mais significativos conjuntos de gravuras,
sendo por isso necessária a sua integração no circuito interno de visita do Crastoeiro.
Em 2009 haviam sido feitas sondagens geofísicas no Sector 6, as quais mapearam
alinhamentos pétreos, interpretados como pertencendo a três estruturas diferenciadas
(Gonçalves 2013, p. 156).

4.1. A MURALHA
As Sondagens 13 a 15, abertas na face exterior da muralha, onde os derrubes
indiciavam um grau de destruição mais intenso, revelaram o desmoronamento da estrutura
quase até à base, devido à ausência de alicerces sólidos ou vala de fundação, facto que
condicionou a manutenção da sua verticalidade. Embora a primeira fiada do muro, que
estabelece a tendência horizontal que o aparelho demonstra, fosse constituída por pedras,
no geral de maior dimensão, a solidez da estrutura ficou comprometida pelo facto delas
assentarem, diretamente, numa camada de saibro, de espessura variável em função da
topografia do terreno. Quanto às fiadas que se seguem, de que se conservou um número
assaz reduzido, integram pedras de menor calibre, bem ajustadas, com interstícios de
pequena dimensão, colmatados por material lítico de pequenas dimensões e terra.
A Sondagem 17, aberta na face interna da muralha, mostrou como dado mais relevante
o alargamento da estrutura, de cerca de 2m para 3.05m, através da adição de um novo
paramento, talvez para contrariar a ameaça de cedência do muro mais antigo, numa
solução já registada nos trabalhos da década de 1980.

177
Finalmente, a Sondagem 18, implantada na área de maior destruição por ação humana,
revelou duas situações algo distintas. Um troço de muralha com a extensão de 12.60m,
localizado na parte norte da sondagem, mostrou um elevado grau de destruição, bem
patente no reduzido número de fiadas que permaneceram in loco. Com efeito, o paramento
da estrutura, no ponto onde conservou a maior altura, já pouco ultrapassava os 0.80m.
A construção deste pano de muralha revelou-se tecnicamente homogéneo,
caracterizando-se pelo aproveitamento do soco rochoso, em todo o perímetro, sobre o
qual foram assentes blocos de granito, de média e grande dimensão, com interstícios
colmatados por material lítico de pequenas dimensões e terra. Esta primeira fiada, que
desenha um aparelho muito irregular, serviu como elemento regularizador da topografia
dos afloramentos e funcionou como um robusto alicerce da estrutura defensiva. A partir
desta cota, a pedra utilizada passou a ter menores dimensões e forma mais regular,
proporcionando um aparelho algo cuidado, em fiadas tendencialmente horizontais.
No limite sul da sondagem, separado da anterior por uma grande corta encoberta pelos
inertes produzidos pela pedreira, escavou-se um troço de muralha, com cerca de 4m de
comprimento e 1m de altura máxima. Assente parte em saibro e parte sobre o afloramento
granítico, este pano, que conserva, ainda, meia dúzia de fiadas de pedra, dispostas
horizontalmente, mostra um aparelho bem cuidado constituído por blocos quadrangulares e
retangulares, com a face afeiçoada. Também nesta sondagem se percebeu que a muralha
havia sido remodelada, tanto pela existência de um pequeno alinhamento, mais recuado,
como pela melhoria técnica utilizada no paramento.

Fig. 4 - Sondagem 17. Reformulação da face interna da muralha.

178
Fig. 5-6 - Alinhamentos da face exterior da muralha.

4.2. O SECTOR 6
A escavação do Sector 6 do Crastoeiro revelou um número significativo de estruturas
pétreas e em negativo, materialidades relacionadas com diferentes fases de ocupação
do sítio. Focando-se este texto, especificamente, nas arquiteturas da Idade do Ferro,
deixaremos de lado as estruturas em negativo2, datadas de época moderna e contemporânea,
assim como uma estrutura (Muro I), de fraca qualidade construtiva, que seccionou parte
da plataforma, e que deverá associar-se à ocupação medieval proposta para o sítio. Por
outro lado, atendendo a que as estruturas da Idade do Ferro construídas em negativo ou
em materiais perecíveis foram residuais, porque a metodologia de escavação assumiu
não ultrapassar o nível dos pavimentos das construções pétreas, para a sua posterior

2
Trata-se de um conjunto de quatro covas, abertas nos sedimentos arqueológicos, para feitura de carvão
vegetal. Com exceção de uma delas, com forma circular e perfil em U, estas estruturas revelaram contornos
difusos, sendo apenas percetíveis pelos enchimentos com manchas muito escuras, restos de carvão
concentrados e cinzas.

179
musealização, destacaremos, apenas, o conjunto arquitetónico edificado em pedra.
O espaço aplanado que designámos de Sector 6 configura um recinto fechado, apenas
com um vão de entrada de sudeste e acesso através de arruamento delimitado por muros,
com orientação SO-NE. Do lado NNO, a plataforma está sobrelevada em relação ao
Sector 2, sendo a diferença de cota sustentada por um muro (Muro IV) constituído por
grandes pedras, ligeiramente afeiçoadas nas faces, assentes no sedimento e encaixadas
entre os penedos. De poente, sul e SSO, assim como do lado NNE, o espaço é fechada
pelos afloramentos graníticos que pontuam o sítio, tendo alguns deles sido incorporados
nas próprias edificações. A nascente foi cerrado por um muro (Muro II), de pedra, com
silhares de média dimensão e forma sub-rectangular, toscamente trabalhados na face
externa, intercalados com grandes blocos de pedra ligeiramente afeiçoados no exterior,
numa solução igual ao Muro IV, servindo esta estrutura de contenção do nível exterior
do arruamento SO-NE, que está a cota mais elevada. A entrada, a partir do referido
arruamento, é delimitada por um pequeno muro (Muro III) adossado ao afloramento
rochoso que é estruturado com elementos pétreos de pequena e média dimensão,
toscamente trabalhados na face externa, sendo, também, de assinalar a integração de
fragmentos de mós na sua construção, o que indicia fases de remodelação do núcleo.
No interior da plataforma organizam-se as seguintes quatro estruturas de pedra,
existindo espaço livres pavimentados entre elas e o arruamento já referido.

ESTRUTURA I – edifício de planta circular, com 3.50m de diâmetro interior, construído


com blocos de granito, de médio calibre, com vestígios de trabalho de pico. O muro, com
espessura média de 0.50m e duas faces, apresenta um aparelho irregular, com fiadas
tendencialmente horizontais, com interstícios de pequena dimensão, preenchidos com
pedras e terra. Ao longo de todo o perímetro, conserva quatro a cinco fiadas e integrauma
grande laje vertical, na face exterior, do lado oeste. Não tendo sido encontrada qualquer
interrupção no muro exumado, o qual possui 0.40m de altura mínima, presume-se que o
vão de entrada estaria a maior altura, servido por uma escada de madeira para acesso,
embora não se tenha encontrado qualquer evidência da sua existência. Esta estrutura
possui um pavimento em saibro, muito compactado, dispondo de alguma inclinação de
norte para sul. Na parte SO, apresenta uma depressão, preenchida por sedimentos e

180
coberta por uma mancha escura, de uma possível utilização como estrutura de combustão.
Encostada a esta construção, no lado poente, existe uma pia de contorno ovalado, cortada
num bloco granítico afeiçoado, com dois entalhes circulares, tipo covinha, com 0.07m de
diâmetro, colocados nos lados norte e sul, distanciados entre si 0.60m.
A pia, com a base aplanada, tem 0.65m de comprimento, 0.35m de largura máxima e
0.11m de profundidade.

ESTRUTURA II – edifício de planta irregular, com vestíbulo frontal, muito arruinado


pela ação das raízes de um eucalipto centenar que cresceu no seu interior. A construção
é composta por dois muros, tendencialmente retos (que definem um ângulo de 90º
e representam os lados norte e oeste) e quatro muros, com perfil arredondado, que
configuram os restantes lados da construção e os braços do vestíbulo, iniciando-se, o
do lado norte, numa laje vertical, com cerca de 1.00m de altura por 0.40m de largura,
utilizada como ombreira do vão de entrada na estrutura. No geral, o aparelho desta
construção assemelha-se a outros da Idade do Ferro. No interior há um pavimento de
saibro endurecido, com área de combustão central, em argila muito queimada, com cerca
de 1.00m de diâmetro. A construção encosta, do lado sul, ao afloramento granítico e, do
lado oeste, a uma parede de contenção, formada por um alinhamento de grandes blocos
de pedra. Nestes lados a estrutura possui, apenas, uma fiada de pedra, ao contrário dos
restantes, onde apresenta duas faces, com uma espessura média de 0.50m. O murete
do vestíbulo norte, o melhor conservado, tem de largura 0.34m, apresentando, num
pequeno troço, quatro fiadas de pedra, a inferior com blocos de médio calibre e as superiores
de pequenas dimensões. O murete do vestíbulo sul está pouco definido, sendo a sua
existência comprovada por um alinhamento de pedras, entre as quais uma maior, que
poderia fazer parte da ombreira. No interior do vestíbulo foi detetado o pavimento, com as
características já descritas, sendo o do lado sul melhor preservado, pois o do lado norte
sofreu grande perturbação pelas raízes de um medronheiro.

ESTRUTURA III – edifício de pequenas dimensões, de planta tendencialmente circular,


definida por penedos afeiçoados e muro de uma só face com aparelho irregular, com
tendência à horizontalidade, constituído por grandes blocos de pedra na primeira fiada

181
e pedras de médio e pequeno calibre nas restantes, conservando três ou quatro fiadas.
No interior possui pavimento de saibro endurecido, ainda bem conservado. Esta
construção apresenta nas fiadas superiores alguma inclinação para o interior, numa
solução construtiva já detetada em outros povoados da Idade do Ferro, procurando-se, por
essa via, contrariar o peso da estrutura de cobertura.

ESTRUTURA IV – embora tenha sido parcialmente escavada para preservar um


sobreiro que cresceu no seu interior, esta estrutura, de pequenas dimensões, encaixada
entre penedos, indicia uma planta sub-circular definida pelos afloramentos afeiçoadas e por
um muro, de dupla face, erguido do lado nascente. O interior, muito perturbado pelas raízes
das árvores, ainda conservou pequenas superfícies pavimentadas, com saibro endurecido,
semelhante ao das restantes estruturas.

Fig. 7 - Plano final do Sector 6.

182
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As sondagens realizadas no Crastoeiro, em Mondim de Basto, durante os anos de 2016


e 2017, vieram corroborar o quadro de conhecimento formulado sobre o sítio, já anteriormente
descrito. Em primeiro lugar, as escavações puseram a descoberto um quarteirão circunscrito
por afloramentos e muros de pedra, com acesso a partir de um arruamento murado, cujo
espaço revelou significativas alterações arquitetónicas compagináveis com sucessivas
adaptações do espaço às exigências do tempo.
Durante a Idade do Ferro estruturou-se um núcleo construtivo, com quatro edifícios pétreos,
de planta preferencialmente circular, com uma construção principal, de grandes dimensões,
provida de vestíbulo e lareira central. Uma segunda construção, formando um círculo perfeito,
desprovida de acesso ao nível do pavimento, remete-nos para um vão sobrelevado, numa
solução já identificada no Sector 2, escavado na década de 1980. Os outros dois edifícios,
de dimensões reduzidas, encaixados entre os afloramentos graníticos, com sinais evidentes
de afeiçoamento, mostram, uma vez mais, a solução de aproveitamento do exíguo espaço
disponível para as edificações, devido à proliferação de afloramentos no sítio.
A exumação destas quatro estruturas permitiu aferir os resultados apresentados por Luís
Gonçalves (2013), relativamente à prospeção arqueogeofísica realizada no local, em 2009.
Convém recordar que este setor mostrou ser particularmente difícil de prospetar por
apresentar na sua superfície diversos blocos e rochedos graníticos, montículos de pedras,
raízes, etc., obstáculos que dificultaram a utilização do Georadar. Não sendo viável a
prospecção em área, visto ser impossível implementar uma grelha onde fosse exequível
a aquisição de perfis paralelos, optou-se pelo método de prospeção através de perfis
individuais, tendo sido escolhidos cinco locais onde se conseguiram realizar, de uma forma
linear, cinco perfis de Georadar. Embora com esta opção, fosse praticamente impossível
definir a planta das estruturas, o método mostrou ser eficaz na deteção de estruturas
arqueológicas pétreas (paredes) e de argila compactada (pavimentos), materialidades que
vieram a ser reconhecidas nas Estruturas I e II.
Pese o facto das escavações não tenham produzido grandes avanços científicos, elas
cumpriram todos os objetivos traçados, os quais estão primordialmente orientados para a
valorização e requalificação do sítio arqueológico, com vista à sua preservação e salvaguarda,
contribuindo para a promoção da vertente turística da economia concelhia.

183
BIBLIOGRAFIA

Dinis, A. (2009). O Crastoeiro e a ocupação da vertente Oeste do Monte da Senhora da Graça, Mondim
de Basto (Norte de Portugal), Revista Aqvae Flaviae, nº. 41, Chaves, pp. 209-217.
Dinis, A. (2009). O Monte Farinha ou da Senhora da Graça, Mondim de Basto: interpretações para a
biografia de um “lugar”. In Ana M.S. Bettencourt & Lara Bacelar Alves (eds.). Dos montes, das pedras e das
águas. Formas de interação com o espaço natural da pré-história à atualidade , CITCEM-APEQ, pp. 77-94.
Dinis, A. (2005). A ocupação do Crastoeiro (Mondim de Basto, Norte de Portugal) no Ferro Inicial, Colóquio
“Castro um lugar para habitar”, Cadernos do Museu, 11, Penafiel, pp. 75-87.
Dinis, A. (2001). O Povoado da Idade do Ferro do Crastoeiro (Mondim de Basto, Norte de Portugal),
Cadernos de Arqueologia - Monografias, 13, Braga.
Dinis, A. (1994). Castro do Crastoeiro - Mondim de Basto (Vila Real) - 1987, Informação Arqueológica, 9,
IPPC, Lisboa, pp. 33-34.
Dinis, A. (1993-94). Contribuição para o estudo da Idade do Ferro em Basto: O Castro do Crastoeiro,
Cadernos de Arqueologia, série II, nº 10-11, Braga, pp. 261-278.
Dinis, A. (1987). Castro do Crastoeiro - Mondim de Basto (Vila Real) - 1986, Informação Arqueológica, 8,
IPPC, Lisboa, pp. 97-99.
Dinis, A. (1986b). Castro do Crastoeiro - Mondim de Basto (Vila Real) - 1985, Informação Arqueológica, 7,
IPPC, Lisboa, pp. 93-96.
Dinis, A. (1986a). Castro do Crastoeiro - Mondim de Basto (Vila Real) 1984, Informação Arqueológica, 6,
IPPC, Lisboa, pp. 74-75.
Dinis, A. & Bettencourt, A. (2009). A Arte Atlântica do Crastoeiro (Norte de Portugal): Contextos e
significados, Gallaecia, 28, Universidade de Santiago de Compostela, pp. 41-47.
Gonçalves, L. (2013). Estudo geoarqueológico com georadar. Aplicação aos contextos arqueológicos
da Pré-história recente à Proto-história do NW de Portugal, Dissertação de Doutoramento em Ciências,
especialidade Geologia, Universidade do Minho, Braga.
Seabra, L. (2015). Estudo Paleoetnobotânico do Povoado da Idade do Ferro do Crastoeiro (Noroeste de
Portugal), Dissertação de Mestrado em Arqueologia, Universidade do Minho, Braga.

184
Fig. 8 - Sondagem 14. Assentamento da muralha na camada de saibro.

Fig. 9 - Sondagem 18. Assentamento da muralha no afloramento granítico.

185
Fig. 10 - Sondagem 18. Paramento da muralha em aparelho regular em fiadas horizontais.

Fig. 11 - Sector 6. Estrutura II, de planta irregular e vestíbulo frontal.

186
Fig. 12 - Sector 6. Estrutura I, de planta circular.

Fig. 13 - Sector 6. Estrutura III, encaixada nos penedos afeiçoados.

187
12. Sector 6. Estrutura I, de planta circular.

13. Sector 6. Estrutura III, encaixada nos penedos afeiçoados.

14. Sector 6. Afeiçoamento do afloramento incorporado na Estrutura III.

15. Sector 6. Estrutura IV, de planta subcircular.

Fig. 14 - Sector 6. Afeiçoamento do afloramento incorporado na Estrutura III.

Fig. 15 - Sector 6. Estrutura IV, de planta subcircular.

188
VANESA
TREVÍN
PITA
CATRO ANOS DE ARQUEOLOXÍA NO CASTRO DE DOADE (LALÍN,
PONTEVEDRA): UNHA PRIMEIRA SÍNTESE DOS RESULTADOS
DAS INTERVENCIÓNS ARQUEOLÓXICAS

VANESA TREVÍN PITA


ARQUEÓLOGA

RESUMO
Este artigo trata de facer unha primeira síntese do que foron as catro campañas de
intervención arqueolóxica no castro de Doade (Lalín, Pontevedra), que se desenvolveron
entre os anos 2015 e 2018.

ABSTRACT
This article is meant to provide a first synthesis to explain what the fourth archaeological
interventions were, in Castro de Doade (Lalín, Pontevedra), that were development between
2015 and 2018.

193
INTRODUCIÓN

O castro de Doade coñécese popularmente como “A Aurela do Castro”, ou “O Castro


do Penedo” e sitúase na parroquia de San Pedro de Doade, (Lalín), na provincia de
Pontevedra, en Galicia.

Fig. 1 - Mapa de situación do castro de Doade. Realizado por Erik Carlsson-Brandt Fontán.

O territorio onde se asenta o castro presenta un relevo no que se suceden altiplanos


e vales, dentro da unidade de Lalín, cunha orografía moi afectada pola presenza de
innumerables canles de auga naturais, como son, o propio río Asneiro e os seus pequenos
afluentes, que pasan a engrosar as augas do río Arnego, que á súa vez alimenta o río
Deza, xunto con outros. O castro emprázase nunha zona de interfluvio, entre o río Asneiro
e un afluente deste, o río Lebozán. Todos verten as súas augas en dirección ao Ulla, unha
das entradas naturais a Galicia, orientados polo empenamento do zócolo cara ao noroeste.
Polo tanto, podemos afirmar que o castro de Doade se encontra nunha zona de paso de
vías naturais en dirección tanto á desembocadura do Ulla como cara á zona da Terra Chá.
O castro sitúase concretamente no estremo setentrional dunha lomba, preto do inicio da
ruptura de pendente, ou escarpe cara ao val do río Asneiro no seu lado norte e leste e dunha

194
ruptura menos pronunciada cara ao val do pequeno afluente no seu lado oeste,a unha cota
de 544 metros sobre o nivel do mar. Segundo a clasificación tipolóxica de Romero Masiá,
podería ser de tipo B3 –castros en escarpe ou espunllo- (Romero Masiá, 1984:50). Foi
interpretado dende sempre como un castro agrícola debido a que se empraza nun espazo
con aceptables condicións naturais de defensa, e posúe ao seu arredor unha importante
extesión de terreo agrícola, propio de asentamentos que teñen os seus inicios na transición
Ferro I a II (Carballo Arceo, 1996: 328-332)
Os castros desde os que a aurela de Doade ten visibilidade son o de Soutolongo
(2,7km), o de Vilanova (1,7 km) e o da Xesta (3,5 km).

Fig. 2 - Castros con intervisibilidade coa Aurela do Castro. Mapa realizado por David Fernández Abella.

A zona conservada do castro ocupa unha superficie lixeiramente inferior a unha hectárea
de terreo, ao igual que outros castros similares (Carballo Arceo, 1990:47), aínda que se
contamos o sistema de foxos e as posibles terrazas anexas podería triplicarse. O seu
perímetro, posúe unha forma tendente á circular, ten un eixe interior E-W duns 100 metros,
e preto de 120 no eixe exterior. No seu eixe N-S, mide uns 95 metros no interior e hai uns
105 metros nodo exterior.
Aproveitando un afloramento rochoso que está no medio do castro, parece que se foi
construíndo un parapeto artificial que o iría rodeando, o que nos dá a imaxe dunha muralla
de grosor potente, aínda que actualmente se encontra moi rebaixada. Nas escavacións

195
de 2017, púidose constatar que polo menos no lado oeste posúe unha cara externa e as
escavacións na zona habitacional confirmaron tamén que posúe unha cara interna, ou polo
menos algún tipo de estrutura que a delimita. Na zona nordeste, aumenta a altura debido
ao inicio da escarpa natural cara ao val do río que se conserva ata os nosos días.
A medida que nos desprazamos cara á zona suroeste, cara a onde se presume que
podería estar a zona inicial de acceso á croa —no lado oeste do castro—, eríxese en
pendente, aínda que o recheo se atopa derramado e a zona algo rebaixada debido a
modificacións posteriores, como a apertura de lugares de acceso á parte superior e
rebaixes incluso con maquinaria, pola necesidade de espazo para o cultivo.
No modelo dixital do terreo, podemos observar que puido conservarse un segundo
socalco na zona noroeste do castro, ademais dun antecastro, onde morrerían os fosos,
aínda que hoxe en día só se conservan as estruturas da aurela.

Fig. 3 - Modelo dixital do terreo. Mapa realizado por David Fernández Abella.

CATRO ANOS DE INTERVENCIÓNS EN DOADE

Hoxe en día, en Galicia temos todo un conglomerado de proxectos con diferentes


criterios de promoción, seguimento, protección e mantemento arredor das intervencións
en bens arqueolóxicos. Estes veñen dados moitas veces polos distintos focos promotores

196
e pola diversidade de fontes e contías de financiamento. No caso do Castro de Doade, o
proxecto basease nun patrocinio cultural, no que participan varios axentes públicos e privados
que se reúnen para darlle forma e continuidade cada ano ao proxecto do Castro de Doade.
Os obxectivos iniciais deste proxecto ían da man de obter un maior coñecemento
do castro de Doade en particular e da cultura castrexa do Deza en xeral, a través da
realización de traballos arqueolóxicos neste ben. Así mesmo, outro dos obxectivos era a
conservación e a musealizacióndos restos dun xacemento arqueolóxico que posúe unha
morfoloxía e características representativas dos castros agrícolas do interior de Galicia.
A finalidade era facelo accesible aos escolares e ao resto da poboación e, grazas á súa
estratexia de execución, pode verse todo o proceso de posta en valor dun ben patrimonial:
a escavación, a investigación, a conservación-restauración e a musealización e difusión.

Fig. 4 - Fotografia aérea do Castro de Doade. Realizada por Alejandro Ramil Blanco.

197
A Casa do Patrón xa exerce desde hai máis de vintecinco anos un labor de localización,
conservación e difusión de signos e obxectos que axudan a comprender e a valorar o noso
pasado máis próximo a través da etnografía (Blanco Villar, 2017). Ao longo do tempo, foise
constituíndo nun modelo de negocio sostible baseado no patrimonio cultural que proporciona
unha experiencia de contacto coa cultura galega. E isto conséguese co Museo Etnográfico
Casa do Patrón,que conta con diferentes salas nas que se explica o noso pasado máis
próximo coa exposición de varios espazos con máis de 4.500 obxectos. Ademais ofrece
unha serie de actividades e talleres para escolares, e posúe unrestauranteno que se ofrece
gastronomía galega de calidade1.

Fig. 5 - Imaxe da sala de arqueoloxía do Museo Etnográfico Casa do Patrón. Cedida por Museo Etnográfico
Casa do Patrón.

Hai cinco anos, o seu director, Manuel Blanco Villar, mercou algunhas parcelas
pertencentes a un castro situado a uns douscentos cincuenta metros do museo.
Seguidamente, púxose en contacto co Departamento de Historia I da Universidade de
Santiago de Compostela. A súa intención era a de embarcarse nunha nova liña de difusión
cultural de calidade que complementase a experiencia cultural ofrecida e os recursos
expositivos existentes.

1
Para observar todos estes aspectos do museo suxírese a consulta da súa páxina web:
http://museoetnografico.net/ (último acceso 17.05.2019).

198
Os traballos comezaron no mes de xuño do ano 2015, nunha pequena campaña baixo
a dirección científica do profesor José Manuel CaamañoGesto, e coa colaboración da
empresa Argos, S.L. e a Universidade de Santiago de Compostela. Un proxecto piloto que
pretendía unir a iniciativa privada e a investigación académica, ademais de elaborar un
esquema interpretativo de cara á sociedade por medio do museo.
Nesta primeira campaña, os esforzos centráronse na busca de evidencias de zonas
habitadas dentro do castro. A investigación deu como resultado principal a localización
dunha vivenda circular de pedra, preto da zona da muralla, e varias estruturas de
material perecedoiro. Ademais, puido documentarse parte do sistema defensivo, grazas
á localización de parte do reforzo interior da muralla e á escavación de parte do recheo
(Carlsson-Brandt, 2015).
Con base nestes resultados, ao ano seguinte continuáronse as investigacións.
O proxecto volveuse máis ambicioso grazas a un convenio de colaboración entre a
Universidade de Santiago de Compostela, a antiga Consellería de Cultura, Educación e
Ordenación Universitaria da Xunta de Galicia e a Asociación de Amigos do Museo Casa
do Patrón para os meses de maio e xuño de 2016. Contouse tamén coa colaboración da
empresa de arqueoloxía Argos, a executora dos traballos de escavación, baixo a dirección,
ao igual que no 2015, de ErikCarlsson-BrandtFontán,doutorando do grupo Síncrisis,
adscrito ao Departamento de Historia da Universidade de Santiago de Compostela. A
coordinación científica estivo da man do profesor José Manuel CaamañoGesto, ao igual
que o ano anterior, e tamén do profesor Pedro López Barja de Quiroga, coordinador
do mestrado universitario. Contouse tamén coa asesoría científica da profesora Pilar
PrietoMartínez (Carlsson-Brandt, 2016).
Este proxecto ofreceu, así mesmo, prácticas de campo para os alumnos do devandito
mestrado universitario en Arqueoloxía e Ciencias da Antigüidade, dado o convenio de
prácticas externas asinado entre a Universidade de Santiago de Compostela e o Museo
Etnográfico Casa do Patrón, para a realización de tarefas relacionadas coaproxecto Castro
de Doade.

199
Fig. 6 - Estudantes e técnicos traballando nas escavacións do Castro de Doade.

Nese mesmo ano, 2016 e financiada polo propio museo, levouse a cabo unha segunda
campaña de sondaxes valorativas para o que se asinou un novo convenio de colaboración
coa Universidade de Santiago de Compostela para a oferta de prácticas de campo, neste
caso destinada aos alumnos de grao de Historia. Deste xeito, permíteselles aos estudantes
participar nunha primeira experiencia de campo, un proxecto de intervención sobre un
xacemento arqueolóxico (Carlsson-Brandt, 2016b).
Neste ano, ampliouse a escavación da cabana circular que aparecera no 2015,
conseguiuse sacala á luz completamente.eFíxose unha prospección xeofísica das
parcelas propiedade da Casa do Patrón para comprobar a existencia de máis unidades
habitacionais. Grazas ao incremento no financiamento, puido introducirse unha nova
actividade no castro e comezáronse os traballos de conservación-restauración dos restos
e estruturas para poder ofrecer unha musealizacióninsitudos bens inmobles localizados,
(Carlsson-Brandt, 2016).

200
Fig. 7 - Fotografía das profesionais de Conservación-Restauración traballando no Castro de Doade. Cedida por
Delia Eguiluz Maestro.

No ano seguinte, continuáronse os traballos baixo a dirección de quen subscribe e


déuselle continuidade á investigación iniciada en 2015 e 2016. O financiamento das
seguintes campañas correría a cargo da Asociación de Amigos Casa do Patrón, a través
dos fondos europeos xestionados polos grupos de desenvolvemento local (GDR).
A dirección científica seguiu estando en mans do profesor José Manuel CaamañoGesto.
Seguimos contando coa asesoría científica da profesora Pilar PrietoMartínez e coa
colaboración do grupo Síncrisis, que continuou a prestar axuda loxística ao proxecto
ofrecendo as súas instalacións para o procesado dos materiais arqueolóxicos recuperados.

201
Fig. 8 - Imaxe dos traballos de procesado de materiais do Castro de Doade.

Continuamos sendo unha escola de arqueoloxía para o alumnado domestrado


universitario en Arqueoloxía e Ciencias da Antigüidade, que un ano máis renovou, na
persoa do profesor Pedro López Barja, o convenio para o envío de alumnos e alumnas
en prácticas. Continuouse así a ampliación da área principal, nos lados leste e oeste da
estrutura habitacional, e cumpriuse o obxectivo de localizar na súa totalidade unha segunda
vivenda circular, que se interpretou como anterior á principal. Nese ano iniciouse unha
nova liña de investigacións extramuros do castro e practicouse unha sondaxe nunha das
perturbacións detectadas pola prospección xeofísica do ano 2016. Isto permitiu documentar
un primeiro dobre foso, case en contacto coa muralla principal do castro (Trevín Pita, 2017).

202
No ano 2018, continuouse a
investigar na zona xa musealizada
ampliando o espazo e localizando
unha primixenia fiada de reforzo
interior da muralla. A campaña
completouse coa escavación
dun segundo foso defensivo e
a aparición dunha nova fase de
ocupación tardorromana, datada
arredor do século IV d. C.Ata ese
ano pensábase que o castro fora
abandonado paulatinamente a partir
de fináis do século I-século II d. C.,
(Trevín Pita, 2018).
Traballouse tamén nunha nova
liña de investigación para tratar de
localizar a zona orixinaria de acceso
á aurela, e tomouse como base
Fig. 9 - Traballos de limpeza final no dobre foxo
escavado en 2017. unha nova prospección xeofísica,

desta vez nas parcelas propiedade de veciños e veciñas da zona que deron o seu permiso
correspondente para poder acometer os traballos.

Fig. 10 - Imaxe do proceso de escavación da sondaxe onde apareceu o reforzo interior da muralla en 2018.

203
Unha vez completados cinco anos
de escavacións arqueolóxicas, fixo
tamén unha primeira publicación
enfocada á divulgación dos
resultados das investigacións destes
cinco anos nunha Guía turística e
arqueolóxica do castro de Doade,
publicada pola editorial A Formiga
Rabicha (Trevín Pita et al., 2018).
Fig. 11 - Fotografía da cara externa da muralla.

AS ZONAS ESCAVADAS

ZONA DE HABITACIÓN
A aparición de estruturas de calquera tipo veuse moi condicionada polos procesos de
reutilización do espazo. Debido a que o recinto foi destinado a labores agrícolas, ata hai
ben pouco, fóronse realizando explanacións e roturacións periódicas con arado en case
todas as parcelas. Isto provocou a modificación do seu estado orixinal, e o restos cando
estes se atopaban a pouca cota da superficie.
É interesante destacar que no interior de Pontevedra e A Coruña, as estruturas ubícanse
en espazos con baixa densidade de ocupación, e continúan construíndo con materiais
pereceoiros ata momentos tardíos, en ocasións ata o século I a. C., pese a que coñecen
as casas de pedra polo menos desde inicios da Segunda Idade do Ferro (González Ruibal,
2012: 9). Os terreos, que constaban de varias parcelas adquiridos pola Casa do Patrón,
ocupan uns 3557 m2, e supoñen arredor dun terzo do castro, non se mantiveron alleos a
esta dinámica. Das 21 sondaxes que se practicaron no castro, tan só 5 delas deron positivo
na procura de estruturas habitacionais.

204
Fig. 12 - Sondaxes practicadas no castro de Doade. 2015-2018. Abertal.

Grazas á combinación entre a escavacións e as datacións de carbono 14, podemos


falar dun primeiro momento centrado nos inicios da segunda Idade de Ferro,desde o
século V a. C. ao século II a. C. (correspondente coa Fase I do Castro de Doade), que
pertence a unha primeira ocupación do espazo habitacional onde se practicaron a maioría
das sondaxes e ao que se adscribe a vivenda máis pequena. Pódese falar dunha segunda
fase desde o século II a.C. ata o cambio de era, momento no que se construiría a vivenda
grande2,o que modificaría o perfil da muralla e que podería amortizar a anterior vivenda
máis pequena, aproveitando os materiais de construción. Isto pertencería aos momentos
de maior intensidade de ocupación e movemento no castro, segundo os datos que nos
proporcionan as mostras de carbono 14 analizadas.

2
Para ver un panorama amplo da problemática da organización do espazo doméstico, (González Ruibal, 2006:
349-372).

205
Un terceiro momento veríase
marcado por un desmantelamento
intencional da zona norte do
conxunto, onde as derrubas
describen unha curva e delimitan
un sector que, como se pode
comprobar nos perfís leste e norte
dalgunhas sondaxes, se desmonta
sistematicamente ata chegar á
Fig. 13 - Levantamento fotogramétrico da Vivenda Grande. cimentación das estruturas e acadar
o substrato rochoso.
A posible estrutura de delimitación
agrícola podería reforzar a idea dun
proceso de cambio de uso do castro
no que se empezan a despexar
as zonas destinadas a labores
agrícolas, aproveitando tamén
algúns materiais de construción
derivados da desmontaxe de zonas
como o lado norte da casa grande,

Fig. 14 - Vivenda pequena plano. Levantamento fotogramétrico. nun proceso de abandono. Isto ben

apoiado pola estratigrafía, moi limpa que se detectou dentro desta estrutura de delimitación,
e a aparición no seu fondo (nas ultimas capas, case en contacto co sustrato) dun pequeno
fragmento de TSH, froito dun proceso seguramente de estratigrafía invertida.

AS DEFENSAS DO CASTRO

Se combinamos a escavación arqueolóxica coas datacións radiocarbónicas e a


información dos estudos cerámicos, podemos ter unha secuencia cronolóxica do que foi a
construción e posterior abandono das defensas do castro, cunha primeira fase que podería

206
situarse entre os séculos V-IV a. C.,
á que pertencerían a construción da
muralla, e o dobre foso.
Nunha segunda fase, estaría
probablemente situado o foso máis
grande, xa máis cerca do cambio
de era; posiblemente no século
II a. C., que resulta da datación
radiocarbónica realizada no foso
Fig. 15 - Levantamento fotogramétrico do dobre foxo. 2017. grande.
A partir de inicios do século II
d.C., produciríase unha fase de
abandono paulatino do lugar.Na
época romana tardía —século IV a.
C.—, volveríase a detectar actividade
con unha colmatación intencionada
e unha adecuación na zona sur para
dedicar o lugar a labores agrícolas,
ao igual que acontece actualmente.

Fig. 16 - Fotografia da aparição do bancal agrícola adscrito.


Época romana.

OS RESULTADOS DAS INTERVENCIÓNS ARQUEOLÓXICAS

Grazas aos resultados das intervencións arqueolóxicas, podemos establecar unha


secuencia cronolóxica con varias fases:
Unha primeira fase que estaría entre os séculos IV e II a.C. na que a cultura material se
caracteriza pola preeminencia da cerámica de tradición indíxena. Sería neste momento
no que se constrúe a muralla, os reforzos interiores así coma os foxos escavados
nos anos 2017 e posiblemente o do ano 2018 – que se presume que se encontra nos

207
momentos finais desta fase e os inicios da segunda- ademais das construcións en material
perecedoiro da zona Norte do Castro, das que hoxe quedan só negativos.
Unha segunda fase na que aparece tanto cerámica de tradición indíxena coma material
galaico-romano (de produción local) e importacións romanas. Neste intre modifícase o
reforzo interior da muralla para a ampliación da zona habitacional. Semella ter sido este o
instante de ocupación máis intensa, algo deducido da cantidade de material asociado aos
seus niveis, que nos situarían entre fináis do século II a. C. e o cambio de Era.
Unha terceira fase situaríanos entre o cambio de Era o século II d. C. Neste momento
destaca a presenza de fragmentos de terra sigillata, e ánforas tipo Haltern 70. Ao longo do
século II d.C., hai evidencias dun abandono progresivo, sen mostras de conflitividade, e
unha modificación progresiva –xa dende o século I d.C.- que podería estar relacionada con
cunha adaptación dos terreos para o cultivo.
Os datos das últimas dúas campañas semellan indicar unha última fase de ocupación
(ou reocupación) na tardoantigüidade, -arredor do IV d.C.-. Esta fase correspondese a unha
ocupación do espazo da faldra da croa por determinar. Neste espazo, detectouse que
posteriormente a anulación do foxo escavado en 2018, existiu un nivel de uso romano –
evidénciao a presenza de abundante tégula e cerámica de posible tradición lucense.
A este momento podería asociarse tamén a aparición dun fragmento de vidro tardío.
Detectouse tamén unha última etapa do castro, xa en tempos actuais, vinculada a un
uso agropecuario, como evidencian os restos de vidrados, louza, pezas metálicas e mesmo
plástico de época recente.

CONCLUSIÓNS

Consideramos fundamental, de cara á construción do coñecemento científico, que esta


estratexia de traballo continúe e que a información que nos deu esta experiencia poida
aplicarse a outros bens arqueolóxicos.
Por un lado, é unha ferramenta esencial para a formación dos alumnos e alumnas de
arqueoloxía, e sen ningún custo para eles máis alá das taxas académicas. Os traballos
dótanse dun importante dinamismo polo feito de combinar equipos mixtos, formados pola

208
universidade e a empresa. Aumenta tamén a calidade das intervencións grazas ao apoio
académico e, ademais, serven de pulo laboral parao alumnado que afronta esta última
etapa formativa.
Serve tamén de campo de experimentación para diversas solucións, tanto desde o
punto de vista arqueolóxico, como de xestión, conservación-restauración, musealización e
didáctica, e constitúe un continuo reto de aprendizaxe e innovación para os profesionais de
todos estes campos que aquí traballan en diálogo constante.
Aínda que moitos de nós creamos firmemente na intervención pública, o certo é que este
proxecto demostra que a través do patrocinio cultural se pode recibir tamén unha infraestrutura
adecuada para o desenvolvemento de traballos científicos de calidade.
A proxección de cara á sociedade faise sostible no tempo grazas á capacidade da Casa
do Patrón para abarcar motu propio, unha conservación continua que permite manter en
boas condicións o ben durante todo o ano. Isto é debido á necesidade de que o castro se
encontre sempre en boas condicións para ofrecer un servizo de calidade que reverte nunha
economía familiar e dinamiza a economía dun contorno rural como é a parroquia de Doade,
que a fai extensible a todo o concello de Lalín.

209
BIBLIOGRAFIA

ÁLVAREZ LIMESES, G. (1936). Provincia de Pontevedra, en CARRERAS CANDO, F., Geografía General
del Reino de Galicia. Imprenta Alberto Martín. Barcelona.
BLANCO VILLAR, M. (2017). A Casa do Patrón. O Gran Ecomuseo do mundo rural galego. Editorial
A Formiga Rabicha. Ourense. (2018). O Castro de Doade. Editorial A Formiga Rabicha. Ourense.
BETA ANALYTICS (2017). Informe de los análisis de datación por radiocarbono. Inédito. (2018). Informe de
los análisis de datación por radiocarbono. Inédito.
BUXÁN, C. (1989). Guía dos castros de Lalín. Lalín: o trillón. Asociación CulturalO Naranxo. Páx. 22.
CALO LOURIDO, F. (1993). A Cultura Castrexa. Promocións Culturais Galegas. Vigo.
CARBALLO ARCEO, L.X. (1989).“A cultura castrexa na bacía media do río Ulla”. Tese de doutoramento lida
na Facultade de Xeografía e Historia, Universidade de Santiago de Compostela, 2001. (1990). Los Castros
de la cuenca media del río Ulla y sus relaciones con el medio físico. Trabajos de prehistoria, 47. Pp. 161-199.
(1996). Os Castros Galegos: Espacio e arquitectura. Gallaecia, nº14-15, pp. 309-357. (1997). Excavación dos
Castros do Marco e de Cartimil, no Val do Deza. Gallaecia nº16. Pp 231-264. (2002) A cultura castrexa na
comarca do Deza. Col. Deza básicos n.º 4. Lalín. Padroado Cultural de Lalín, Seminario de Estudos do Deza,
Concello de Lalín.
CARLSSON-BRANDT FONTÁN, E. (2015). “Memoria técnica. Intervención arqueolóxica no castro de
Doade (Lalín, Pontevedra)”.Dirección Xeral de Patrimonio Cultural. Santiago de Compostela. (2016). “Memoria
técnica. Intervención arqueolóxica no castro de Doade (Lalín, Pontevedra)”. Campaña 2016.Dirección Xeral de
Patrimonio Cultural. Santiago de Compostela. (2016b). “Memoria técnica. Intervención arqueolóxica no Castro
de Doade (Lalín, Pontevedra). Segunda Campaña de Sondaxes Valorativas. 2016. Dirección Xeral de Patrimonio
Cultural. Santiago de Compostela. Inédito.
EPYPSA (2018), Ficha 1-4 do Inventario do PGOU de Lalín.
FILGUEIRA VALVERDE, J.; GARCÍA ALÉN, A. (1954-56). “Materiales para la Carta arqueológica de la
provincia de Pontevedra”. O Museo de Pontevedra, T.VIII. Páx. 124.
FERNÁNDEZ PINTOS, M.P. (2007).“Sondeosarqueológicos valorativos y actuaciones complementarias
para la definición del castriño de Bendoiro y su entorno”. Informe inédito consultado no Servizo de Arqueoloxía
da Xunta de Galicia. (2008a) “Intervención arqueológica en el castriño de Bendoiro (3.ª fase). Desbroce y
documentación de estruturas en el extremo este de la zona 4”. Informe inédito consultado no Servizo de
Arqueoloxía da Xunta de Galicia. (2008b)“Intervención arqueológica en el castriño de Bendoiro (3.ª fase).
Zona 4: Resultados en el extremo este. Zona 1: Incidencias en el entorno de Es-03”. Informe inédito consultado
no Servizo de Arqueoloxía da Xunta de Galicia.
GARCÍA PORRAL, X. C. (2010).Lendas castrexas: antropoloxía da tradición oral no concello de Lalín. A
Coruña: Lóstrego. Páx. 30.

210
GONZÁLEZ MARCÉN, P. (2010). La dimensión educativa de la arqueoloxía. Ponencia en La Tutela del
Patrimonio Prehistórico. Congreso Memorial Siret, 22-25 de GONZÁLEZ RUIBAL, A. (2006-2007), Galaicos:
Poder y comunidad en el Noroeste septiembre de 2010. Antequera. http://www.juntadeandalucia.es/
culturaydeporte/museos/media/docs/CADAsd-gonzalez-dimension-educativa-arqueologia.pdf (último acceso
20/09/2019).
INGENIERÍA GEOLÓGICA Y GEOFÍSICA (INGEOFISA). (2018), Estudio Geofísico del Subsuelo con
Georradar para detección de estructuras soterradas en el Lugar de Castro de Doade (Pontevedra).
INSTRUMENTACIÓN GEOTÉCNIA Y ESTRUCTURAL, S. L. (INGE). (2016), Prospección Geofísico-
Arqueológica mediante georradar 3D en un castro en O Penedo (Pontevedra).
LÓPEZ CUEVILLAS, F.(1947). “Particularidades curiosas de algunos castros de la comarca de Lalín”.
Separata doBoletín del Museo Arqueológico Provincial de Ourense. Tomo III.
LUACES ANCA, J. (2012). Prospección arqueolóxica para a recollida de información do patrimonio cultural
castrexo da comarca de Deza, enmarcado no Proxecto Depodeza (Comarca do Deza, Pontevedra). Promotor:
Deputación de Pontevedra.
MEIJIDE CAMESELLE, G. e REY SEARA. E. (1989). “Ficha de inventario de xacementos arqueolóxicos
da Xunta de Galicia”. Inédito. Depositada na Dirección Xeral de Patrimonio Cultural. Xunta de Galicia.
PRESAS GARCÍA, A. (2008). Os castros de Lalín. Col. Deza básicos. Lalín: Concello de Lalín.
PRESAS GARCÍA, A.; GARCÍA PORRAL, C. (2014). O Mundo dos Castros. A Comarca de Deza. Faro de
Vigo.
ROMERO MASIÁ, A. (1984-85). Os Castros, recoñecemento e catalogación. Cuadernos de estudios
gallegos. T.35. Nº 100 pp. 31-61.
TREVÍN PITA, V. (2017).“Memoria técnica. Intervención arqueolóxica no castro de Doade (Lalín,
Pontevedra). Campaña 2017”. Inédita. Servizo de Arqueoloxía. Dirección Xeral do Patrimonio Cultural. Santiago
de Compostela. (2018).“Memoria técnica. Intervención arqueolóxica nocastro de Doade (Lalín, Pontevedra)”..
Campaña 2018. Inédita Dirección Xeral de Patrimonio Cultural. Santiago de Compostela. (2019).“Informe
valorativo. Proxecto turístico de posta en valor do castro de Doade, Lalín Pontevedra. Campaña 2019”. Inédita
Dirección Xeral de Patrimonio Cultural. Santiago de Compostela.
TREVÍN PITA, V. Ed., (2018). Guía Turística e Arqueolóxica do Castro de Doade. Editorial A Formiga
Rabicha. Ourense.
VVAA (2012), Fichas arqueolóxicas dos Castros da Comarca do Deza (Pontevedra). Deputación de
Pontevedra.
VÁZQUEZ CRESPO, A. (1991). Lalín. La tierra de Deza. Guía Everest. Madrid: Everest.

211
NUNO OLIVEIRA

ANA M. S.
BETTENCOURT
O POVOADO PROTO-HISTÓRICO DE SANTO ANTÓNIO
(AFIFE, VIANA DO CASTELO): DADOS E REFLEXÕES SOBRE
AS SUAS MATERIALIDADES

NUNO OLIVEIRA1, ANA M. S. BETTENCOURT2

1
Bolseiro de doutoramento em Arqueologia, FCT (Referência SFRH/BD/138105/2018), Universidade do
Minho, Braga.
E-mail: ntco_arque@sapo.pt;

2
Departamento de História da Universidade do Minho; Investigadora do Laboratório de Paisagens,
Património e Território (Lab2PT).
E-mail: anabett@uaum.uminho.pt

RESUMO
O povoado de Santo António está localizado numa pequena colina na planície do rio
de Afife, nas proximidades de uma baía que corresponde a um porto natural. Insere-se na
freguesia de Afife, concelho de Viana do Castelo, no noroeste de Portugal.
As primeiras referências ao local são feitas no séc. XIX, por Martins Sarmento que refere
o aparecimento de muralhas. No séc. XX é alvo de várias campanhas de escavação cujos
resultados não se conhecem. De salientar a publicação de um molde de sítula e de várias
cerâmicas aí encontradas (Silva, 1986) e a informação de Bettencourt (2013) que diz ter
observado cerâmicas do Bronze Final provenientes do local. Apesar do sítio arqueológico
estar bastante destruído existe espólio significativo, proveniente das antigas escavações,
no Núcleo Amador de Investigação Arqueológica de Afife (NAIAA).
Este trabalho tem assim, como objetivo, dar a conhecer os resultados do estudo desse
espólio, nomeadamente o cerâmico, e a partir dele, tirar ilações de ordem cronológica,
económica e social sobre as populações que viveram no povoado de Santo António.

PALAVRAS-CHAVE
Litoral minhoto; Povoado proto-histórico; Cronologia; Economia e Sociedade.

215
ABSTRACT
The settlement of Santo António is located on a small hill in the Afife River, near a bay
that corresponds to a natural port. This site is located in the parish of Afife, Viana do Castelo
municipality, in the northwestern Portugal.
Martins Sarmento makes the first reference to the place in nineteen century, which
reports the appearance of walls. In the twenty century the place was excavated but the
results of those works were never published. Of note is the publication of a metal cauldron
(sítula) and of some ceramics vessels found there (Silva, 1986) and the information of
Bettencourt (2013) that the place had an occupation of the Late Bronze Age. Although
this archaeological site is heavily destroyed, there is a significant collection from the old
excavations at the Amateur Archaeological Research Center of Afife-NAIAA (Núcleo Amador
de Investigação Arqueológica de Afife-NAIAA).
The purpose of this work is to make known the results of the study of this collection,
namely the ceramic, and from it, draw chronological, economic and social information on the
populations that lived in the settlement of Santo António.

KEYWORDS
Minho Coast; Proto-historic settlement; Chronology; Economy and Society.

216
1. INTRODUÇÃO

O trabalho aqui desenvolvido sobre o povoado de Santo António insere-se num projeto
mais vasto de estudo da Idade do Ferro intitulado “A Idade do Ferro do litoral dos rios
Minho e Cávado. Materialidades, intercâmbio e traços de identidade”. Em concreto, este
trabalho tem como objetivos dar a conhecer os resultados do estudo de algum do espólio
cerâmico exumado neste povoado e, a partir dele, tirar ilações de ordem cronológico,
económica e social sobre as populações que aí viveram.

2. LOCALIZAÇÃO ADMINISTRATIVA, CONTEXTO FÍSICO E AMBIENTAL

Este povoado situava-se numa colina implantado na planície aluvial do rio de Afife, na
freguesia de Afife, concelho e distrito de Viana do Castelo. As suas coordenadas geográficas
decimais no sistema WGS 84 são: 41º 46’52.88’’N 8º 51’42.76’’ W. Fica a uma altitude
máxima de 69 metros e a pouco mais de 700 metros da costa (Fig.1).

217
Fig. 1 - Localização do Povoado de Santo António, na Carta Militar de Portugal à escala 1:25000, folha 27,
IGEOE, 2015, 3ª edição.

Do local existe ótima visibilidade para toda a planície aluvial e para o oceano atlântico,
a partir do topo e do quadrante oeste. Em termos geológicos (Fig. 2) este povoado,
implantado numa colina residual de substrato granítico-alcalino, de grão médio a
fino, encontra-se sobranceiro a depósitos de praias antigas ou de terraços fluviais do
Pleistocénico (Teixeira et al., 1972).

218
Fig. 2 - Localização do Povoado de Santo António, na Carta Geologica de Portugal, à escala 1:50.000, folha 5-A
(DGMSG).

Em termos dos recursos mineiros metálicos, há jazidas primárias de estanho a 13 km


para este (Teixeira et al., 1972), sendo, no entanto, conhecidas da população local antigas
explorações de estanho, no alto da serra de Santa Luzia. Ao nível dos recursos mineiros
não metálicos, chama-se a atenção para a possibilidade de exploração de sal, já que, na
freguesia de Carreço e de Afife, se conhecem inúmeras pias escavadas nos afloramentos
da linha da costa, consideradas para esse efeito e emergentes na Idade do Bronze
(Bettencourt et al., 2020) ou do Ferro (Almeida, 2005; Costa et al., 2012).
O lugar encontra-se alterado pela construção da capela de Santo António e escadaria
de acesso ao topo. A pequena estrada de acesso ao monte, também, destruiu parte das
evidências arqueológicas, assim como o casario implantando nas suas vertentes nordeste,
sul e sudeste.

219
3. CONTEXTO ARQUEOLÓGICO

O povoado proto-histórico de Santo António situa-se num território com inúmeros


vestígios arqueológicos da Idade do Bronze e do Ferro. Para a Idade do Bronze há
referências ao achado de um machado de talão, de proveniência desconhecida (Meira, 1945),
e às gravuras de Santo António, em Âncora, com representações de armas, barquiformes,
equídeos e cavaleiros armados de Santo Adrião, em Âncora (Santos-Estévez e Bettencourt,
2017). Da Idade do Ferro há a registar diversos povoados, como o da Cividade de Afife/
Âncora, o do Cúturo e o de Montedor (Silva, 1986), a diferentes cotas e que delimitam o vale
de Afife, de norte a sul, respetivamente (Fig. 3). De registar, ainda, as gravuras rupestres do
Bronze Final ou da Idade do Ferro da Praia de Fornelos (Bettencourt et al., 2017).

Fig. 3 - Em cima: fotografia de satélite (Google Earth) do curso inferior da bacia do rio de Afife, com
implantação de diversos povoados da Idade do Ferro.

220
4. HISTORIAL DA INVESTIGAÇÃO

A primeira referência a este povoado é do séc. XIX, produzida por Francisco Martins
Sarmento. Este autor afirma que aí “se viam duas muralhas e talvez dois taludes. Refere
ainda que encontrou telha com rebordo (tégula)” (Sarmento, 1987: 8). Na primeira metade
do séc. XX o local é novamente referenciado por Abel Viana, que relata o aparecimento,
na vertente sul, de uma estrutura circular muito destruída. Em 1955, este autor diz ter
aparecido uma inscrição, nesse mesmo ano, enquanto se procedia à abertura de uma
estrada, na vertente ocidental deste monte (Viana 1955: 526; Moreira, 1982: 56), pelo que
não se sabe se estaria no interior ou no exterior do povoado. A inscrição foi recentemente
interpretada como um provável cipo, por Armando Redentor (2011). Abel Viana refere,
ainda, que o Padre Carvalho da Costa, na sua obra Chorographia Portugueza, tratando
da freguesia de Afife menciona a existência, perto da igreja, de “num monte não muito
grande cujo cume possui vestígio de um forte antigo” (Viana, 1955: 527). Em 1956, Paço
e Quesado referem que a construção da estrada de acesso ao monte revelou um pano de
muralha, uma casa circular e algum espólio.
Durante a segunda metade do séc. XX, mais concretamente em 1978, 1979, 1980,
1981 e 19821 houve escavações arqueológicas no início das vertentes noroeste, oeste
e sudoeste do Monte de Santo António. Esta informação está de acordo com algumas
etiquetas do material cerâmico e com algumas fotografias, em depósito, no Núcleo Amador
de Investigação Arqueológica de Afife (NAIAA), embora não se conheçam os relatórios
destes trabalhos (Fig. 4).

1
Informação transmitida pelo Sr. Engenheiro Horário Faria, fundador do NAIAA.

221
Fig. 4 - Fotografia das antigas escavações que se desenrolaram no local nos anos 80 do século XX (cortesia
do NAIAA).

Destas ações terá resultado a descoberta da maioria das estruturas em pedra que
ainda hoje se podem ver sobre a vegetação arbustiva, no topo das vertentes norte, oeste e
sudoeste. Referimo-nos, por exemplo, na vertente norte, ao que parece ser um muro de
contenção ou de delimitação de áreas, com cerca de 50 cm de espessura, e uma casa
redonda; e na vertente oeste, a várias casas redondas e a uma de contorno oval que
resultou do acrescento de uma estrutura circular.
Em 1983 e 1986 Armando Coelho Ferreira da Silva publica dois moldes de sítula
daí oriundas, e que insere na sua fase IIIA (entre os séculos II a.C. e I a.C.). Em 1986
publica, também, dois recipientes cerâmicos encontrados em 1978: um púcaro, que insere
na sua fase II (entre os séculos VI a II a.C.) e uma panela, que insere na fase III, sem
especificações, ou seja, entre os séculos II a.C. a I d.C. Estabelece, assim, uma diacronia
de ocupação para este local, com um momento que coloca na Idade do Ferro e outro no
câmbio de era.
Carlos Brochado de Almeida (2003:141), refere que aí terão existido atividades ligadas

222
à metalurgia do bronze, tendo em conta os moldes de sítula estudados por Silva (1986:134
e atividades associadas à produção e comercialização do sal, devido à sua localização
litoral (Almeida, 2008: 117). Admite que aí poderiam ter existido até três muralhas neste
local (Almeida, 2008:155).
Ana M. S. Bettencourt (2013), após ter observado algumas cerâmicas provenientes
deste sítio, identifica aí uma ocupação do Bronze Final.
O historial deste sítio arqueológico, a sua localização geográfica e a existência de espólio e
de alguma documentação fotográfica, em depósito no NAIAA, tornou pertinente o seu estudo.
No entanto, este restringiu-se apenas ao acervo cerâmico pois, apesar de Rodrigues
(2015) referir que, durante trabalhos de prospeção realizados em 2005, terem sido aí
identificadas várias mós, as que existem, em depósito no NAIAA, não estão identificadas.

5. METODOLOGIA

O material aqui publicado corresponde a uma breve amostra do conjunto cerâmico


proveniente deste povoado, embora ele tivesse sido estudado na totalidade para futura
publicação monográfica. Na ausência de contextos estratigráficos para o acervo de Santo
António, o estudo dos materiais cerâmicos e as inferências que, a partir deles se realizam,
foram efetuadas com base nas suas características técnicas, formais e decorativas e com
recurso a paralelos com materiais contextualizados. Usaram-se como tabelas tipológicas
de referência as de Bettencourt (1999; 2000) para a Idade do Bronze, e a de Martins (1987;
1990) para a Idade do Ferro e romanização. Foram, também, consultadas as tabelas de
formas de Silva (1986) e de Rey Castiñeira (1991: 468-469), estas últimas referente à Galiza.
Para o estudo dos cossoiros foi usada a tabela de Silva e Oliveira (1999).

6. ESTRUTURAS

Quanto às estruturas escavadas durante os anos 80, existem, a meio da vertente oeste,
pelo menos, duas casas redondas, e na vertente sudoeste, pelo menos, uma casa de
contorno oval (Fig. 5)

223
Fig. 5 - À esquerda: estruturas circulares da vertente oeste do Monte de Santo António; à direita: estrutura oval
existente na vertente sudoeste do Monte de Santo António (Fotografia dos autores).

É possível, também, observar-se parte do pano de muralha ou de um muro de


contenção, no início da vertente norte, com um aparelho muito irregular (Fig. 6).

Fig. 6 - Vestígios de pano da muralha ou de muro de contenção de terras, existente na vertente norte do Monte
de Santo António (Fotografia dos autores).

224
Há ainda vestígios de taludes, nas vertentes norte, este e oeste. O início da vertente
este encontra-se, aparentemente, bem preservado.

7. MATERIAL CERÂMICO

O material que foi estudado terá sido exumado – provavelmente – dos locais onde se
encontram as estruturas a descoberto, ou seja, dos inícios da vertente norte e do meio das
vertentes oeste e sudoeste do monte.
O conjunto cerâmico que se publica, corresponde a 376 de fragmentos e foi separado
em dois grandes grupos técnico-formais: um nitidamente mais antigo, com cerâmicas
de fabrico manual, pastas essencialmente arenosas e cozeduras redutoras, atribuíveis
ao Bronze Final, e outro da Idade do Ferro Recente ou dos inícios da Romanização no
Noroeste, com pastas de fabricos manuais e à roda e ou torno, pastas fundamentalmente
micáceas e cozeduras redutoras e oxidantes.

7.1. IDADE DO BRONZE FINAL


No que diz respeito aos fragmentos cerâmicos da Idade do Bronze Final, num total
de 114, estes apresentam apenas fabricos manuais, pastas arenosas (86%) e arenosas-
micáceas (14%). As cozeduras são totalmente redutoras conferindo cores escuras aos
recipientes, entre o castanho escuro e o cinzento. Quanto ao tratamento das superficíes
estas são, na sua maioria, polidas (57%) seguidas das alisadas (43%).
Identificaram-se diversas formas indígenas, como potes (4 exemplares) e potinhos/
púcaros - forma 10 (9 exemplares). Os potes são das variantes 1b (2 exemplares),
1c (1 exemplar) e 2 (1 exemplar) (Figs. 7, 8 e 9). Há dois bordos cujas formas não se
conseguiram determinar. Há ainda um vaso que não possui bordo, de corpo ovoide e base
de fundo plano simples, que não existe na tabela tipológica de Bettencourt (1999; 2000)
(Fig. 11).

225
Fig. 7 - Universo de formas atribuíveis à Idade do Bronze Final.

Fig. 8 - De cima para baixo: púcaro (forma 10) com asa de seção pentagonal; pote com bordo em aba
horizontal (forma 1c) com a particularidade de ter decoração brunida a partir do colo.

226
Fig. 9 - Pote da variante 2 com decoração brunida a partir do colo.

No que diz respeito às bases são todas de fundo plano simples (Fig. 10).
Quanto às técnicas decorativas podemos dizer que são variadas. Há recipientes
decorados com impressões ou puncionamento (1 ex.); com aplicações plásticas,
nomeadamente cordões na horizontal (3 ex.); com incisões através de sulcos na horizontal
e na vertical (11 ex.) e com decorações brunidas (14 ex.). Estas são maioritárias (Figs. 8 a
11). No âmbito deste grupo, os motivos decorativos também são diversificados, embora se
note uma maioria de recipientes com traços na vertical. Boa parte das linhas brunidas na
vertical começam a partir do colo. De destacar três fragmentos de paredes junto à base,
decorados com esta temática (Fig.8).
No entanto não sabemos se os vasos eram totalmente decorados, por falta de perfis completos.

Fig. 10 - Base de fundo plano simples e pança decorada com traços brunidos na vertical.

227
Ocorre, ainda, um recipiente com perfil quase completo, com vários traços brunidos na
horizontal, junto ao bordo e junto à base, e reticula brunida, distribuída por toda a pança.
Trata-se de uma peça que se pode integrar no grupo conhecido como cerâmica de ornatos
brunidos, nomeadamente retícula brunida (Fig. 11).

Fig. 11 - Vaso ovoide de retícula brunida.

De salientar um fragmento de base de um cadinho que tanto poderá ser deste período,
como da Idade do Ferro, mas cuja pasta é muito arenosa pelo que se aproxima das cerâmicas
deste conjunto. Apresenta aderências metálicas do que parece uma liga de cobre2 (Fig. 12).

Fig. 12 - Base (?) de cadinho com aderências metálicas.

2
Aguardam-se os resultados de composição química das amostras retiradas.

228
7.2 IDADE DO FERRO – CERÂMICA INDÍGENA
O material cerâmico da Idade do Ferro, num total de 262 fragmentos, apresenta, em
termos técnicas, fabricos essencialmente manuais (86,3%), apesar de existirem alguns à
rodaou a torno (13,7%). As pastas são maioritariamente micáceas (94%), com as restantes
6% arenosas. As cozeduras são tendencialmente oxidantes, o que confere aos recipientes
cores beges, amareladas e alaranjadas (19%), embora persistam cozeduras redutoras
(81%). No que diz respeito às superfícies estas apresentam-se, na sua maioria, polidas
(65%), sendo as restantes alisadas.
Foram estudados 175 bojos, 51 bordos, 25 bases, 9 asas, 1 cossoiro e 1 cadinho.
Do total de 51 bordos, 23 são esvasados, 13 abertos, 14 em aba soerguida e 1 em aba
horizontal. A partir destes identificaram-se diversas formas a saber: potes, potinhos/púcaros,
malgas/tigelas, panelas de asa interior, talhas e panelas de asa em orelha (Tab. 1).

TAB. 1 – TABELA DE FORMAS


FORMAS QUANT. (%)
Potes (forma 13 e de tipo Vigo4) 22 (43,1%)
Potinhos/Púcaros (forma 2) 13 (25,5%)
Panela de asa interior (forma 4) 9 (17,6%)
Malgas/tigelas (forma 3) 4 (7,8%)
Talha (forma 5) 1 (2%)
Panela de asa em orelha (forma 6) 2 (3,9%)
Total 51 (100%)
Há uma maior prevalência das formas de potes, com diferentes variantes (1a, 1b e 1c)
(Tab. 2).

TAB. 2 - VARIANTES DA FORMA 1 - POTES


FORMAS QUANT. (%)
Forma 1a 9 (41%)
Forma 1b 10 (45%)
Forma 1c 1 (5%)
Potes de tipo Vigo 2 (9%)
Total 22 (100%)

3
Da tipologia de Martins (1990).
4
Da tipologia de Rey Castiñeira (1992).

229
De salientar a fraca representatividade dos potes da forma 1c que se caracterizam por
terem bordo em aba horizontal. De destacar o aparecimento de duas formas de potes que
apresentam lábios com reforço triangular, com afinidades com a tipologia dos de tipo Vigo,
segundo a tipologia de Rey Castiñeira (1991: 295 e 392). Um deles é decorado com várias
linhas incisas, no bordo exterior (Fig. 16).
Quanto à forma 2 (potinho/púcaro), à forma 3 (malga/tigela) e à forma 4 (panela de
asa interior), também há variantes. Referimo-nos à forma 2c - potinho com bordo em
aba soerguida (1 exemplar); às formas 3b - malgas (2 exemplares); forma 3c - tigela (1
exemplar); forma 4 - panelas de asa interior (8 exemplares); forma 4b - panela de asa
interior com mais de 40 cm de diâmetro (1 exemplar) (Figs. 13 e 15).

Fig. 13 - Universo de formas estudadas da Idade do Ferro Recente.

Quanto à forma 5 - talha, de pequenas dimensões, com diâmetro inferior a 30


cm diâmetro, apenas há um 1 exemplar. A forma 6 - panela de asa em orelha está
representada por dois exemplares de asas distintas. A primeira possui a perfuração central
e circular e na segunda asa a perfuração não é possível verificar porque o fragmento
encontra-se muito rolado (Fig. 14).

230
Fig. 14 - Asa de panela de asa em orelha (Forma 6).

Fig. 15 - Formas cerâmicas: pote (forma 1c); pote de tipo Vigo; talha (forma 5b) e panela de asa interior (forma 4).

231
A este mundo cronológico-cultural deverá pertencer, ainda, um fragmento de cossoiro de
tipo bulboso e achatado, segundo a tipologia de Silva e Oliveira (1999), de pasta micácea
e um pouco rolado; os moldes cerâmicos de sítulas (decoradas com círculos concêntricos,
armelas e entrelaçados) (Fig. 17 a) publicados por Silva (1986) e, pelo menos, um dos
fragmentos de cadinho com aderências metálicas, que macroscopicamente e à lupa
binocular, parecem ser de minério de ferro (Fig. 17 b).

a) b)
Fig. 17 - a) fragmento de cadinho com aderências do que parece minério de ferro; a) Moldes de sítula
(seg. Silva, 1986).

As bases são de fundo plano simples (5 exemplares) ou alargado (10 exemplares) e de


pé alto (1 exemplar) (Fig. 18). Ainda se registaram 5 exemplares indeterminados.

Fig. 18 - Base pé alto.

As asas apresentam seções variadas. Além das asas em orelha, registaram-se 3


exemplares de seção pentagonal, 1 asa de seção em fita, 1 asa subcircular, 1 asa oval,
1 asa de canelura central e 1 asa com duas caneluras longitudinais.

232
Ainda foram estudados, pormenorizadamente, 52 bojos e 3 bordos decorados. Os
fragmentos decorados representam (21%) do total do acervo cerâmico. Em termos da
localização, a decoração é sempre parcial, e ocorre, maioritariamente, na passagem do
colo para a pança, sendo, facilmente, observável, a partir de cima.
As técnicas usadas foram a incisão, a impressão e a aplicação plástica. Os recipientes
foram decorados quer apenas com uma técnica (decoração simples) quer através
da combinação de várias técnicas (decoração compósita). Na primeira categoria (29
exemplares - 54%) os motivos incisos são os mais comuns (22 ex.), existindo alguns
recipientes com decoração brunida (5 ex.). Ocorrem algumas digitações (1 exemplar).
Há apenas um fragmento com impressão.
Na decoração compósita (25 exemplares - 46%) ocorrem motivos realizada através da
incisão e da impressão (14 ex.) ou através da aplicação plástica, da impressão e do brunido
(3 ex.), entre outros (Fig. 19).
Em termos dos motivos, a incisão está representada por sulcos na horizontal, na vertical,
por reticulados, ou definindo triângulos preenchidos.
A aplicação plástica está representada por cordões horizontais, em grupos de 2 ou de
3. Nas impressões são comuns as séries de SSS, os círculos concêntricos, os pequenos
quadrados e elementos figurativos, como peixes e motivos florais (Fig. 21).

a) b)

Fig. 19 -Fragmentos decorados com diferentes técnicas: a) Fragmento cerâmico decorado com linhas brunidas
(verticais), sulcos horizontais incisos, séries de SSS e cordões aplicados na horizontal; b) Fragmento cerâmico
decorado com linhas brunidas (verticais), sulcos incisos na horizontal, séries de SSS entrelçados impressos e
cordões aplicados na horizontal.

233
7.3. IDADE DO FERRO – CERÂMICA DE IMPORTAÇÃO OU IMITAÇÃO DE FORMAS
EXÓGENAS
Os materiais de influência romana correspondem a 30 fragmentos. Entre eles identificou-
se um bordo micáceo de produção local, mas com uma aguada ou espécie de engobe
negro que, pela forma, parece uma imitação de cerâmica cinzenta fina, do sul da Ibéria,
nomeadamente da forma 2 de tipo Lamboglia, datadas dos séculos II / I a.C. (Fig. 20a);
uma asa de ânfora de tipo Haltern 70 (finais do século I a.C. e século I d.C.); um fragmento
de cerâmica fina tipo bracarense (meados do século I e II d.C.); um bordo feito a torno
mas com pasta micácea que parece ser uma imitação de uma forma de cerâmica comum
romana (Fig. 20b). Há ainda materiais de construção, como escassos fragmentos de tégula.

a)

b)
Fig. 20 - Formas cerâmicas: a) Imitação de cerâmica cinzenta fina, do sul da Ibéria Forma 2 tipo Lamboglia; b)
Forma comum romana de pasta micácea.

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A primeira ilação que se pode tirar, atendendo aos fragmentos cerâmicos estudados, é
que houve no Monte de Santo António, pelo menos, duas ocupações cronológico-culturais,
bem distantes uma da outra: uma do Bronze Final e a outra, possivelmente dos finais da
Idade do Ferro com continuidade para os primórdios da romanização.
A ocupação mais antiga, pode datar-se pela presença de um recipiente decorado com
ornatos brunidos, nomeadamente reticula brunida. Poderá tratar-se de uma imitação de
uma forma exógena, típica do centro e sul de Portugal, datada de entre os séculos XII

234
aos finais do século VII a.C. (Osório, 2013; Almeida, 2014; Osório et al., 2013), pelo que
o seu aparecimento em Santo António revela contactos suprarregionais com o centro-sul,
durante o Bronze Final, provavelmente entre os séculos IX ou VIII a.C., momento de maior
impacto das navegações fenícias no Noroeste. De notar que este é o segundo povoado da
região onde aparecem cerâmicas deste tipo, sendo apenas conhecido um fragmento de
cerâmica com ornatos brunidos nos níveis antigos da Falperra, em Braga (Bettencourt, 2000).
Quanto à segunda ocupação, é provável que se tenha iniciado na Idade do Ferro
Recente (séculos II a.C. e I d.C.), persistindo pelos inícios da romanização, de forma pouco
expressiva, dada a fraca representatividade de material datável após o séc. I d.C. e a ausência
de casas de planta quadrada ou retangular conhecidas neste povoado. De notar que
Martins (1990: 169) coloca os inícios da romanização efetiva do Norte de Portugal, ou pelo
menos no Vale do Cávado, a partir de meados do século I d.C.
Pela sua localização espacial podemos considerar, que aqui se desenvolveram, em
ambos os períodos cronológicos, práticas agro-silvo-pastoris, extração de sal, para além
de atividades metalúrgicas, comprovadas por cadinhos e moldes, estes apenas para
a última fase. Embora as jazidas primárias de estanho referenciadas na bibliografia e
cartografia, estejam a mais de 15 km para nordeste, na serra de Agra, e para sudeste,
na serra de Perre (Teixeira et al., 1972), no séc. XX foi extraído estanho no topo da serra
de Santa Luzia, como é do conhecimento da população local. Também é de ter em conta
que o estuário do rio Âncora, que nasce na serra de Arga e que fica nas proximidades do
povoado de Santo António (cerca de 3 km para norte e noroeste), teria grande quantidade
de estanho de aluvião, de fácil extração, tendo em conta o número de jazidas primárias
deste minério nos territórios abrangidos por todo o seu percurso (Teixeira et al., 1972).
A localização geográfica deste povoado, face ao oceano atlântico, a cerca de 700 m de
uma baia com possibilidade de ter sido usada para desembarque e que, ainda, na época
moderna foi protegida por fortalezas, faz-nos pensar que poderia ter funcionado, também,
como local receptor de novidades oriundas do mundo meridional ou como entreposto
de bens, ideias e tecnologias. Tal poderia explicar, desde a Idade do Bronze Final, o
aparecimento de recipientes cerâmicos exógenos ou a sua imitação, como é o caso do
vaso com ornatos brunidos5 e, mais tarde, a forma 2 de tipo Lamboglia, a ânfora de tipo
Haltern 70, a cerâmica comum romana, entre outros.

235
O facto de existirem vários povoados, genericamente contemporâneos de Santo António,
durante o Ferro Recente, num aro geográfico muito próximo, e com intervisibilidade entre
eles, como é o caso da Cividade de Âncora/Afife e do povoado do Cúturo6 (Fig. 3), permite
colocar a hipótese de que estes três sítios estariam articulados em rede, no quadro de
uma lógica de povoamento muito vocacionada para o intercâmbio marítimo e onde cada
sítio teria funções específicas. De destacar que, do topo da Cividade de Âncora/Afife e do
Cúturo, a visibilidade e “controlo” sobre o mar seria maior do que de Santo António, que se
pode caracterizar com sendo um pequeno povoado de vale.
Outro assunto que importa abordar é o da relação entre as populações deste
povoado, nos finais da Idade do Ferro inícios da romanização, com as genericamente
contemporâneas de áreas mais meridionais (como as das bacias dos rios Lima e Cávado),
e as mais setentrionais (como as da bacia do rio Minho e as das rias Baixas galegas), tema
que se irá analisar através da tipologia das formas cerâmicas, da percentagem de olaria
decorada e dos padrões decorativos.
Em termos tipológicos verifica-se, de uma forma geral, que as formas encontradas são
similares às da bacia do Lima, Cávado e do Ave, nomeadamente as publicadas para os
povoados de Terronha, em Viana do Castelo (Oliveira, 2018; 2019), São Julião e Barbudo,
em Vila Verde (Martins, 1988b e 1989), Lago, em Amares (Martins, 1988a), S. João de
Rei, em Póvoa de Lanhoso (Oliveira, 2017) e Santo Ovídeo, em Fafe (Martins, 1991). No
entanto há novidades formais, tal como as formas de tipo Vigo, típicas das Rias Baixas
meridionais da Galiza (Rey Castiñeira, 1991).
Em termos decorativos há um maior número de cerâmica decorada (21%)7 face aos
conjuntos conhecidos para os povoados do Lima, publicados de forma detalhada, como
é o caso de Terronha, cuja % de decorações é apenas de 2% a 3% (Oliveira, 2018, 2019).
Para a região do Cávado e do Ave, as percentagens da decoração são sempre bastante
reduzidas. Tal é o caso do Lago onde a percentagem de decorações é de 6% (Martins,

5
Não foram realizadas análises de composição de pasta, pelo que se torna difícil perceber se é um recipiente
importado ou realizado no local, apesar de ter uma pasta de melhor qualidade e de textura mais fina do que os
restantes recipientes.
6
Desconhece-se a cronologia do castro de Montedo..
7
Convém referir que a quantidade de espólio estudado neste povoado é bastante reduzida, contudo parece-
nos interessante a quantidade de fragmentos decorados, comparativamente com os dos outros povoados.

236
1988a: 125). No caso de S. Julião, a percentagem de decorações é de 3% (38 fragmentos)
segundo dados apurados a partir da publicação deste povoado (Martins, 1988b: 209).
No Castro de Barbudo, Martins (1989: 112) só indica 29 fragmentos decorados, o que
corresponde a 6%8. Em S. João de Rei, os fragmentos decorados correspondem a 3%
dos fragmentos datados da Idade do Ferro Recente, o que corresponde a 148 fragmentos
(Oliveira, 2017). No que diz respeito a Santo Ovídeo, Martins (1991: 97) refere que apenas
se registam 81 de fragmentos decorados, o que corresponde a 1% do total estudado.
Nota-se, ainda, em Santo António, um maior barroquismo decorativo, com diversas
decorações complexas e o aparecimento da impressão de motivos figurativos, como o
peixe (Fig. 21), cujos paralelos se encontram em recipientes cerâmicos da Idade Ferro das
Rias Baixas meridionais galegas, onde são datados, possivelmente, de entre os séc. IV e II
a.C., segundo Rey Castiñeira (2005), datas que, no seu limite superior, concordam com a
amplitude cronológica proposta para o povoado de Santo António.

Fig. 21 - Fragmento cerâmico decorado, com sulcos incisos horizontais, eventuais motivos florais, impressos;
séries de SSS impressas e uma série de figuras piscícolas com cabeça virada para cima.

Partindo do princípio de que formas e decorações cerâmicas materializam o universo


ideológico das comunidades que as fabricam e usam, é provável que as comunidades dos
finais da Idade do Ferro da bacia do rio de Afife se integrem num universo cultural distinto das
populações do Lima e do Cávado, parecendo aproximar-se mais das da foz do rio Minho e das
rias baixas meridionais galegas. No entanto, só novos dados poderão confirmar ou infirmar esta
hipótese, nomeadamente o estudo monográfico do espólio da Cividade de Âncora e do Cúturo.

8
Os dados aqui apresentados para os povoados estudados monograficamente por M. Martins, que são os de
S. Julião, Barbudo, Lago e Santo Ovídio não tiveram em conta os bojos, mas apenas os bordos, base, asas
e fragmentos decorados, devido a falta de informações.

237
AGRADECIMENTOS

Os nossos agradecimentos vão para a direção do Núcleo Amador de Investigação


Arqueológica de Afife (NAIAA) que possibilitou o estudo deste espólio e cedeu fotografias
e outros dados documentais. Agradece-se, igualmente, à direção e a todos os funcionários
do Museu D. Diogo de Sousa, em Braga, que nos possibilitaram o acesso ao laboratório
de restauro.
O primeiro autor agradece, ainda, à Fundação da Ciência e Tecnologia a bolsa de
doutoramento com a referência SFRH/BD/138105/2018, no âmbito do qual desenvolveu
este trabalho.

238
BIBLIOGRAFIA

ALMEIDA, C.A.B. (2003). Povoamento romano do litoral minhoto entre Cávado e o Minho. 3 vols. Porto:
edição de autor.
ALMEIDA, C.A.B. (2008). Sítios que fazem história. Arqueologia do Concelho de Viana do Castelo. vol. 1.
Viana do Castelo: Câmara Municipal de Viana do Castelo.
ALMEIDA, S. (2014). Estilos e tendências na cerâmica de ornatos brunidos do sudoeste peninsular. In R.
VILAÇA e M. SERRA (coord.) Idade do Bronze do Sudoeste. Novas perspetivas sobre uma velha problemática.
Instituto de Arqueologia, Secção de Arqueologia, FLUC. Coimbra. Pp. 127-147.
BETTENCOURT, A.M.S. (1999). A Paisagem e o Homem na bacia do Cávado durante o II e o I milénios AC,
5 vols. Universidade do Minho, Braga (Tese de Doutoramento – Policopiada).
BETTENCOURT, A. M. S. (2000). Estações da Idade do Bronze e Inícios da Idade do Ferro da Bacia
do Cávado (Norte de Portugal). Cadernos de Arqueologia – Monografias 11. Unidade de Arqueologia da
Universidade do Minho, Braga.
BETTENCOURT, A.M.S. (2013). O Bronze Final no Noroeste português. Uma rede complexa de lugares,
memórias e ações. Estudos Arqueológicos de Oeiras 20. Pp. 157-172.
BETTENCOURT, A.M.S; SILVA, I.; ALVES, M. I. C.; SIMÕES, P. P; SANTOS-ESTEVÉZ, M. (2017). Where
do the horses run? A dialogue between signs and matter in the rocha carvings of Fornelos (Viana do Castelo,
North-western Portugal). In A.M.S BETTENCOURT, M. SANTOS-ESTEVÉZ, H.A. SAMPAIO, D. CARDOSO
(Eds.) Recorded places, Experienced places. The Holocene Rock Art of the Iberian Atlantic Northwest, British
Archaeological Reports – BAR, Oxford: Archeopress. Pp. 167-178
COSTA, M.; MACHADO. J.; LOPES, H.; ALMEIDA, T. (2012). Pias salineiras da praia do Canto Marinho
inventário arqueológico. Cadernos Vianenses 46, Pp. 95-111.
MARTINS, M. (1988a). O Povoado fortificado do Lago, Amares. Cadernos de Arqueologia – Monografias 1.
Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho, Braga.
MARTINS, M. (1988b). A Citânia de S. Julião, Vila Verde. Cadernos de Arqueologia – Monografias 2.
Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho, Braga.
MARTINS, M. (1989). O Castro de Barbudo, Vila Verde. Cadernos de Arqueologia – Monografias 3. Unidade
de Arqueologia da Universidade do Minho, Braga.
MARTINS, M. (1990). O povoamento proto-histórico e a romanização da bacia do curso médio do Cávado.
Cadernos de Arqueologia - Monografias 5. Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho, Braga.
MARTINS, M. (1991). O Povoado de Santo Ovídio (Fafe). Resultados dos trabalhos realizados entre 1980-
1984. Cadernos de Arqueologia – Monografias 6. Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho, Braga.
MEIRA, A.R. (1945) Monografia de Afife. Junta de Freguesia, Afife.
MOREIRA, M.A.F. (1982). A romanização do litoral do Alto Minho. Caminiana 6. Pp. 54-56.
OLIVEIRA, N. (2017). O Povoado de São João de Rei, na Idade do Ferro Recente (Póvoa de Lanhoso, NW
de Portugal). Braga: Universidade do Minho (Dissertação de Mestrado disponível em http://repositorium.sdum.
uminho.pt/handle/1822/48015).

239
OLIVEIRA, N. (2018). Contributos para o estudo do povoamento da Idade do Ferro no Rio Lima: Resultados
nas escavações dos sectores A-D do povoado de Terronha, Viana do Castelo (Portugal). Férvedes Revista de
Investigacíon 9. Pp. 87-96.
OLIVEIRA, N. (2019). The Iron Age Settelment of Terronha (Viana do Castelo, Northwestern Portugal):
Analysis of ceramic and lithic materials in context. Heritage 2 (1). Pp. 56-71.
OSÓRIO, A.B. (2013). Gestos e materiais: abordagem interdisciplinar sobre cerâmicas com decorações
brunidas do Bronze Final / I Idade do Ferro. 2 vols. Coimbra: Universidade de Coimbra (Tese de Doutoramento
– disponível em https://estudogeral.sib.uc.pt/handle/10316/23778).
OSÓRIO, A.B.; SILVA, S.; FERNANDES, D.; SERRA, M.; PORFÍRIO, E.; VIEIRA, T.; VILAÇA, R. (2013).
Atrás dos gestos: as cerâmicas decoradas do Outeiro do Circo (Mombeja, Beja, Portugal) e a ênfase nas
decorações brunidas. In J. JIMÉNEZ AVILA, M. BUSTAMANTE-ÁLVAREZ, M. GARCÍA CABEZAS (coord).
VI Encuentro de Arqueología del Suroeste Peninsular. Ayuntamiento de Villafranca de los Barros. Pp. 941-974.
PAÇO, A., QUESADO, A.P. (1956). Digressões arqueológicas pelo Alto Minho. Arquivo do Alto Minho 6 (2).
Pp. 168-179.
REY CASTINEIRA, R. J. (1991). Yacimientos castreños de la vertiente atlántica. Análisis de la cerâmica
indígena. Universidade de Santiago de Compostela, Santiago de Compostela (Tese de Doutoramento -
Policopiada).
REY CASTIÑEIRA, R. J. (2005). A cerámica castrexa. Arte e cultura de Galicia e norte de Portugal.
Arqueoloxía 2. Pp. 56-83.
REDENTOR, A.J.M (2011). A cultura epigráfica no conventvs Bracaravgvstanvs (pars occidentalis):
percursos pela sociedade brácara da época romana. 2 Vols. Imprensa da Universidade de Coimbra, Coimbra.
RODRIGUES, J.M.C. (2005). Relatório do inventário dos sítios e achados castrejos na região do Minho.
Viana do Castelo. (Relatório apresentado ao IPPAR (Instituto Português do Património Arquictetónico).
SANTOS-ESTÉVEZ, M., BETTENCOURT, A.M.S. (2017). O conjunto de gravuras rupestres de Santo Adrião
(Caminha, Portugal). Embarcações, armas, cavalos e ex-votos. In J. MORAIS ARNAUD e A. MARTINS (coord.)
Arqueologia em Portugal 2017 - Estado da Questão. Associação dos Arqueólogos Portugueses, Lisboa.
Pp. 1069-1084.
SARMENTO, F. (1987). Antíqua, Manuscritos inéditos de Francisco Martins Sarmento. Informes,
reconhecimentos e prospeções. Revista de Guimarães 97-98. Pp. 5-40.
SILVA, A.C.F. (1986). A Cultura Castreja do Noroeste de Portugal. Câmara Municipal, Paços de Ferreira.
SILVA, M.F.M., OLIVEIRA, P.C.P. (1999). Estudo tipológico dos cossoiros do Museu da Sociedade Martins
Sarmento (Citânia de Briteiros, Castro de Sabroso e proveniência diversa). Revista de Guimarães, Vol. Esp. II.
Pp. 633-659.
TEIXIERA, C.; MEDEIROS, A.C.; COELHO, A.V.P (1972). Carta geológica de Portugal na escala 1/50.000:
noticia explicativa da folha 5-A, Viana do Castelo: estudos petrográficos. Serviços Geológicos de Portugal.
Lisboa.
VIANA, A. (1955). Um lapidarius de Afife (Viana do Castelo) (Portugal). In III Congresso Arqueológico
Nacional, (Galicia, 1953). Sección de Arqueología de la Institución Fernando el Católico”, Secretaría General de

los Congressos Nacionales, Zaragoza. Pp. 525-528.

240
VÂNIA
BORJA
CONTRIBUTO PARA O ESTUDO DA CERÂMICA DA IDADE
DO FERRO DO CASTRO DE ALVARELHOS (TROFA, PORTUGAL).
DADOS DA CAMPANHA DE 2008.

VÂNIA BORJA

RESUMO
O quadro evolutivo do povoamento pré-romano do castro de Alvarelhos ainda está
por definir. Os dados existentes são parcos para o conhecimento da sua estrutura social
e económica, a informação quanto ao sistema defensivo, arquitetura das construções
e respetiva cultura material, é ainda insuficiente. A última campanha de trabalhos
arqueológicos levada a cabo neste local, em 2008, permitiu ampliar o conhecimento sobre
estruturas e cultura material de uma cronologia alargada. A realização das sondagens
que nesta campanha de trabalhos arqueológicos permitiram recolher uma quantidade
considerável de materiais: cerâmica castreja; cinzenta fina polida; cerâmica comum
romana local/ regional, a par da cerâmica importada expressa em terra Sigillata; lucernas;
almofarizes; ânforas; vidros; metais, assim como, materiais líticos. Procuramos nesta
comunicação enquadrar os fabricos indígenas, provenientes da última campanha de
escavações, no contexto das produções castrejas do noroeste peninsular, relacionando-os
com os materiais provenientes das escavações anteriores.

PALAVRAS-CHAVE
Castro de Alvarelhos, escavações, cultura material, Campanha de 2008.

ABSTRACT
The evolving picture of the pre-roman settlement of Castro de Alvarelhos remains to be
defined. The existing data are scarce for the knowledge of its social and economic structure,
the information about the defensive system, the architecture of the buildings and its material
culture is still insufficient. The last campaign of archaeological works carried out in this place

245
in 2008 allowed to increase the knowledge about the architecture and material culture of an
extended chronology. The execution of the surveys in this archaeological work allowed to
collect a considerable amount of materials: indigenous pottery; common local / regional
roman pottery, along with the imported ceramics expressed on Sigillata; lights mortars;
amphorae; glasses; metals, as well as lithic materials. We seek in this communication to
frame the indigenous production, from the last excavation campaign, in the context of the
castreja productions of the peninsular Northwest, relating them to the materials from the
previous excavations.

KEYWORDS
Castro de Alvarelhos, excavations, material culture, 2008 Campaign.

246
INTRODUÇÃO

Nesta comunicação pretendemos apresentar de forma breve alguns dos resultados da


última campanha de trabalhos arqueológicos levada a cabo neste local no âmbito do Projeto
de Recuperação e Valorização do Castro de Alvarelhos- Consolidação de estruturas e definição
de percursos, realizado em 2008. Estes trabalhos tiveram como objetivos: o estudo integrado
da estação arqueológica que visa o conhecimento das formas de ocupação do sitio;
a escavação arqueológica em áreas que documentassem as várias fases de ocupação;
a tipificação de cronologias, artefactos e estruturas; a definição de uma eventual continuidade
de ocupação entre as diferentes fases; a consolidação das estruturas existentes e a definição
de um percurso interpretativo. Os trabalhos foram promovidos pela câmara municipal da
Trofa, com a direção de Gilda Correia Pinto, arqueóloga do município na altura, e executada
pela empresa de arqueologia Perennia Monumenta.
Uma vez que ainda nos encontramos a realizar o estudo dos materiais desta escavação
apresentamos aqui resultados preliminares de apenas uma sondagem das dez realizadas.

ENQUADRAMENTO GEOGRÁFICO

O Castro de Alvarelhos localiza-se no norte de Portugal, distrito do Porto, concelho da


Trofa na freguesia de Alvarelhos. Implantado na vertente Este do esporão da Serra de
Santa Eufémia entre o topo do Monte Grande e o Monte de São Marçal no lugar de Aidos,
a cerca de 220m de altitude.

O CASTRO DE ALVARELHOS1

Desde o século XIX que este local é alvo da atenção de investigadores e estudiosos,
e logo se percebeu que seria um lugar de extrema importância tanto para o estudo da
proto-história como da romanização no noroeste do país, facto consolidado pelos achados
monetários no decorrer dos séculos XIX e XX. Foram realizados alguns estudos sobre da

247
cultura material do sítio, pequenas escavações e/ou sondagens, todos, os mais e os menos
científicos, foram determinantes para a continuidade dos estudos, conservação e salvaguarda
do Castro de Alvarelhos.
Os vestígios desta estação arqueológica expõem uma cronologia muito alargada que se
prolonga desde a pré-história recente até tempos medievos. Os mais antigos, confirmados
pela presença de um monumento megalítico, a mamoa do Monte Grande, referenciada
e escavada por Abade Sousa Maia2, e os fragmentos de cerâmica manual carenada,
encontrados no castro (Moreira, 1992, 2009), atestam que os sinais mais recuados de
ocupação pertencem á Idade do Bronze Final (Cruz, 1982).
Alguns autores, apesar da dificuldade que propõe a reestruturação romana tardia do
povoado, sugerem que a ocupação seguinte corresponde á Fase II_IIB da Idade do Ferro,
meados do século II a.C. – primeiro metade do século I, (Silva, 1986, 2007; Moreira, 2009).
De facto, confirma-se a existência do povoado neste período, firmada na natureza dos
materiais achados, particularmente nas cerâmicas manuais e micáceas e nas estruturas
circulares que afloram á superfície, altura em que o povoado terá desempenhado uma
relevante função estratégica, controlando um importante corredor terrestre entre o rio
Douro e a bacia hidrográfica do Cávado (Moreira, 1991, 1992, 2009). Apesar de estar
documentada a ocupação da Idade do Ferro, ainda não foi possível, talvez por não ter
sido um povoado de grande expressão neste período, assegurar uma caracterização do
povoado na perspetiva da organização socioeconómica e cultural. O quadro evolutivo do
povoamento pré-romano do castro de Alvarelhos ainda está por definir.
O período de ocupação romana verifica-se de maior expressão nesta estação,
propiciada pelo troço da via oficial romana Bracara – Cale3, da qual ainda subsistem alguns
miliários, e cuja importância se mantém atualmente, conferindo-lhe uma posição central na

1
Classificado Monumento Nacional pelo decreto de 16-06-1910, DG, nº 136, de 23-06-1910. Constituída a
ZEP (Zona Especial de Proteção) pela Portaria nº 105/93, DR, nº 24, de 29-01-1993.
2
Natural da freguesia de Santiago de Bougado, Trofa. Pároco da freguesia de Guidões (Concelho da Trofa)
e posteriormente da freguesia de Canidelo (concelho de vila do Conde). Os artefactos recolhidos, materiais
cerâmicos e líticos, encontram-se distribuídos pelo Museu Nacional de Arqueologia, o Museu do Instituto de
Antropologia (câmara municipal de Vila do Conde, gabinete de arqueologia) e o Museu Municipal Abade Pedrosa
(câmara municipal de Santo Tirso).
3
Esta via que aqui referenciamos pertence aos itinerários de Augusto- Itinerário XVI- Bracara-Cale-Aeminium-
Olisipo. Ainda hoje se mantém a importância desta mesma via, atualmente corresponde à Estrada Nacional
Braga-Porto, EN14.

248
área referida. Devido á proximidade do povoado à estrada, a grande qualidade das peças
importadas e os 3 tesouros monetários aqui achados, contando milhares de moedas em
prata e bronze, pode-se afirmar, que o povoado teria poder económico, e que também
poderia ter existido uma zona de trocas, um mercado importante (Moreira, 2009). Apesar
do seu posicionamento sugerir a sua importância, a discussão sobre o seu estatuto jurídico
continua aberta. Este período de ocupação estende-se sensivelmente desde o século I
ao século V, período em que terá sido abandonado. As fases de ocupação seguintes são
pontuais, sabemos através de fontes documentais, que possivelmente entre os séculos
IX e XII existiu uma pequena fortificação no Monte de S. Marçal (Fortes, 1899). Através
dos vestígios arqueológicos confirma-se a existência uma igreja de dimensões reduzidas,
de planta retangular e apenas uma nave, e uma necrópole com cerca de 27 sepulturas,
datável de entre meados do século XII e o século XV.
Os vestígios atualmente visíveis são constituídos por taludes, uma possível linha de muralha4,
estruturas de planta circular e quadrangular, uma praça, a igreja e necrópole associada.

OCUPAÇÃO E CULTURA MATERIAL CASTREJA

O estudo da cultura material deste período, embora pouco aprofundado por falta de dados
arqueológicos, coube a Álvaro de Brito Moreira5 (2009), entre os anos de 1992 e 1998.
O autor refere na sua dissertação 6 estruturas pré-romanas de cronologia atribuível às
Fases II e IIb6. Apesar das intervenções realizadas não serem esclarecedoras da evolução
de ocupação pelo nível de destruição que apresentavam. Para a cultura material revela
cronologias mais antigas que remete para as Fases I7 e II. Da primeira fase destaca as
formas cerâmicas de perfil em S com decorações incisas e da segunda as talhas, os
recipientes de asa interior e asa de orelha.

4
A estrutura defensiva do povoado ainda se encontra por apurar.
5
Arqueólogo da Câmara Municipal de Santo Tirso, concelho a que pertenceu o atual território do município
da Trofa. Autor da análise sistemática da cultura material e arquitetura do castro de Alvarelhos- foco da sua
dissertação de doutoramento apresentada à Universidade de Santiago de Compostela em 2009.
6
A fase II compreende o periodo entre 500 a.C. (início da fase II da cultura castreja) e 138-136 a.C.
(campanha de Decimus Iunis Brutus) e a Fase IIb a (reinados de Tibério/ Cláudio) 14/54 | 69 (Vespasiano/
atribuição do ius latti à Península). (Moreira, 2009).

249
A CAMPANHA DE 2008

Nesta campanha foram realizadas 10 sondagens arqueológicas, todas localizadas


junto de estruturas já conhecidas em campanhas anteriores, localizadas na plataforma
intermédia entre o Monte Grande e o Monte de S. Marçal. As sondagens foram implantadas
nos diferentes espaços do castro, nomeadamente: o espaço religioso, os complexos
habitacionais e a praça.

A SONDAGEM 9 - INTERIOR DA PRAÇA

A sondagem 9 foi implantada no lado este do interior da Praça, de construção


presumível do século I, e da qual foram exumados os níveis de circulação em campanhas
anteriores. Da escavação resultaram quatro muros, uma pequena fração de lajeado,
dois negativos de estruturas circulares e três fossas de extração de saibro talvez para
construção. Foram contabilizadas 97 unidades estratigráficas, retirados cerca de 10.300
fragmentos cerâmicos (terra sigillata; ânfora; cerâmica comum romana local/ regional e
cerâmica de tradição indígena) e cerca de 50 outros artefactos que contam com alguns
metais, vidro e materiais líticos.
A implantação desta sondagem e respetivos resultados da intervenção sugeriam que
esta nos reportasse para as fases mais antigas do castro permitindo talvez uma melhor
leitura da evolução de ocupação.

7
A Fase I compreende o período entre 900/ 700 a.C. e 500 a.C..

250
METAIS E MATERIAIS LÍTICOS

A presença de metais nesta sondagem é atestada por fragmentos de escória de ferro


e alguns artefactos em bronze que na maioria se encontram bastante deteorados o que
impossibilitou uma definição clara da sua utilidade. Estes materiais surgem pontualmente
um pouco por todas as camadas da sondagem.
Os materiais líticos presentes nesta sondagem são parcos, além de um cossoiro em
xisto, foram recolhidos alguns fragmentos de seixo rolado e um dormente de uma mó circular
rotativa.

CERÂMICA

Os materiais cerâmicos representam a generalidade da cultura material achada neste


local.
A cerâmica romana encontra-se expressa na cerâmica comum de pastas laranjas
produzida a torno, fragmentos de ânfora, cerâmica de construção e sigillata. A maioria
destes fragmentos surgem nas camadas mais recentes com mais abundância e vão
diminuindo à mediada que nos aproximamos das camadas mais antigas. Representam
cerca de 17% dos materiais recolhidos na sondagem.
O número de fragmentos de terra Sigillata é escasso, surgem nos estratos superiores
e na sua maioria não possuem forma. Embora em alguns seja difícil definir o tipo,
parece-nos que a grande parte dos fragmentos são de terra sigillata itálica. Destes,
salientamos a presença de dois fragmentos de um fundo que apresentam uma cartela
com a impressão C.VIB. Esta marca deverá pertencer ao oleiro C. Vibienus de Arezzo,
cuja atividade decorreu entre 1 d.C. e 40 d.C. (Silva, 2005, p.123). Parece-nos que estes
fragmentos são os elementos que estabelecem a baliza cronológica mais recente desta
sondagem no século I.
A presença de cerâmica cinzenta fina polida também é escassa, as poucas dezenas de
fragmentos, incluem alguns fragmentos de fundo e de bordo de perfil em S com decoração
polida.

251
A cerâmica castreja representa cerca de 80% dos materiais recolhidos na sondagem
9. Neste grupo prevalecem as cozeduras redutoras, pouco uniformes com cernes negros
ou cerne avermelhado e pastas de tom cinzento e castanho com elementos não plásticos
constituídos por quartzo, feldspato e mica, que está sempre presente e na maior parte dos
casos em abundância. A maioria dos fragmentos são de produção manual ou a torno lento
de acabamento manual. Os vasos de perfil em “S” surgem em abundância por toda a sondagem,
assim como as talhas de aba oblíqua, os recipientes de asa interior, alguns potes e púcaros.
Quanto à ornamentação dos recipientes cerâmicos verificamos uma grande diversidade de
motivos, alguns simples e outros mais complexos que combinam várias técnicas.
As decorações incisas, as impressas, os brunidos e as caneluras são as decorações
que surgem com mais frequência nos recipientes analisados. Os motivos incisos, mais
modestos, e os impressos surgem, maioritariamente, ao nível do colo ou do arranque do
bojo de vasos de perfil em S. As aplicações plásticas são mais comuns nos recipientes de
armazenamento de grande porte. Alguns fragmentos apresentam também uma espécie de
verniz negro na superfície exterior com um acabamento brunido.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O conhecimento do desenvolvimento da estrutura social e económica do período


castrejo no castro de Alvarelhos, e a informação quanto à sua estrutura defensiva,
arquitetónica e respetiva cultura material, são ainda insuficientes para estabelecer um claro
quadro evolutivo de ocupação. A destruição a que as estruturas pré-romanas foram sujeitas
e o revolvimento atestado pela estratigrafia, causados na sua maioria pelas construções
dos períodos de ocupação mais recentes, dificultam a leitura deste espaço.
A sondagem que analisamos apresenta algum revolvimento, causado muito
provavelmente pela construção da Praça, que impediu uma intervenção mais profunda nas
estruturas circulares descobertas, encontrando-se ambas ao nível do piso de circulação ou
abaixo.

252
As três fossas para a extração de saibro, anteriores a pelo menos uma das estruturas
circulares, ao lajeado e os quatro muros, apresentaram níveis de aterro bastante revolvidos,
com a exceção dos estratos mais antigos.
A cultura material é caraterizada, no geral, pela evidente abundância de cerâmicas
manuais, de pastas micáceas tons escuros e cozeduras irregulares, decorações com
motivos incisos e impressos de composição mais complexa, que remetem cronologicamente
para a Fase II. De notar também a escassez de elementos líticos e metálicos, assim como
de cerâmica fina de importação. As sigillatas Itálicas aqui achadas balizam a cronologia
mais recente das camadas no século I., altura em que a Praça terá sido construída,
levando-nos a crer que a evolução urbanística no período da romanização da plataforma
intermedia do castro aconteceu em detrimento da malha das estruturas indígenas.
Analisando a escassez de materiais finos importados, as características formais dos
materiais cerâmicos castrejos e respetivas decorações parece-nos relativamente seguro
balizar esta sondagem entre os finais da Fase I e a Fase II/IIb.

253
BIBLIOGRAFIA

ALARCÃO, Jorge (1987). Portugal romano, Lisboa.


(1988). O domínio romano em Portugal, Publicações Europa-América, Lisboa.
(1990). Nova História de Portugal - Portugal das Origens á Romanização., Editorial Presença, Lisboa.
ALMEIDA, Carlos Alberto F. de. (1969) - A romanização das Terras da Maia, Estudos sobre a Terra da Maia, IV,
Maia.
(1970). Algumas notas sobre o processo da romanização da zona de Entre-Douro-e-Ave, Actas das Ias
Jornadas Arqueológicas, Lisboa, v. 2, 379 – 387.
(1974) A cerâmica castreja, Revista de Guimarães, vol. LXXXIV, (1-4), Guimarães, 171-179.
(1981). Escavações arqueológicas em Santo Estevão da Facha, Arquivo de Ponte Lima, 3, Ponte de Lima.
CENTENO, Rui Manuel Sobral (1979). (Recensão de) J. Torres, Tesouro monetário do Castro de Alvarelhos.
Estudo numismático – Seriação cronológica e histórica, Boletim Cultural - Santo Tirso, 1979, Numunus, 2ª série,
II, Porto, 105-109.
CRUZ, A. (1982). O Reguengo de Bougado. Introdução ao Estudo da Terra e Do Homem, vol. I, Trofa.
DINIS, A. (1993). Ordenamento do território no Baixo Ave no 1.º milénio a.C..
Dissertação de Mestrado. FLUP. Porto.
FORTES, J. (1899). A Estação Archeologica de Alvarelhos. Archaeologia Portuguesa, Porto.
LLORIS, Miguel Beltran (1997). Guia de la Ceramica Romana. Pórtico.
MAIA, Abade Sousa (1913). Memórias de Guidões. Apontamentos Históricos, Maia.
MARTINS, Manuela (1989) - A proto-história do noroeste português: Breve balanço dos conhecimentos,
Fórum, 5, Braga 3-16.
(1990). O povoamento proto-histórico e a romanização da bacia do curso médio do Cávado, Cadernos de
Arqueologia - Monografias, n.º 5, Braga.
MOREIRA,  Álvaro Brito (1992). Santo Tirso Arqueológico, v. II. Câmara municipal de Santo Tirso, Santo
Tirso.
(1997). Santo Tirso Arqueológico 1, 2ª série, Edição da Câmara Municipal de Santo Tirso, Santo Tirso
(2007). Museu Municipal Abade Pedrosa : Colecção Arqueológica. Câmara Municipal de Santo Tirso, Santo
Tirso.
(2009). Castellum Madiae. Formação e desenvolvimento de um “aglomerado urbano secundário”
no ordenamento do povoamento romano entre Leça e Ave. Tesis doctoral. Universidade de Santiago
de Compostela.
OXÉ, August (2000). Corpus vasorum Arretinorum: a catalogue of the signatures, shapes and chronology
of Italian sigillata. 2nd ed., Bonn : Habelt.
SANTARÉM, Carlos Faya (1977). Uma inscrição romana de Alvarelhos, Santo Tirso, O Concelho de Santo
Tirso - Boletim Cultural, Santo Tirso, 161- 170.
SILVA, Armando Coelho F. (1980). Organizações gentílicias de entre Leça e Ave, Portugália, Nova Série,
1 Porto, 79-90.

254
(1995). A evolução do habitat Castrejo e o processo de proto-urbanização no Noroeste de Portugal durante
o I milénio a.C., Revista da Faculdade de Letras – História, Universidade do Porto, Porto, 505-546.
(2007). A Cultura Castreja no Noroeste de Portugal, Paços de Ferreira.
SILVA, Rodrigo Banha (2005). Marcas de oleiro” em terra sigillata da Praça da Figueira (Lisboa): contribuição
para o conhecimento da economia de Olisipo (séc. I a.C. - séc. II d.C..).Universidade do Minho.
SOEIRO, Teresa (1980). Objectos de bronze do Castro de Alvarelhos, Gallaecia, n.º 6, Santiago de
Compostela, 237-243.
(1981). Museu Abade Pedrosa em Santo Tirso, Arqueologia, n.º 4, Porto, 151-152.

255
Fig. 1 - Localização da estação arqueológica de Alvarelhos.

Fig. 2 - Planta topográfica da estação arqueológica de Alvarelhos.

256
Fig. 3 - Implantação das sondagens arqueológicas da campanha de 2008.

Fig. 4 - Sondagem 9, interior da praça.

257
Fig. 5 - Sondagem 9, frequência de materiais.

Fig. 6 - Sondagem 9, materiais castrejos.

Fig. 7 - Sondagem 9, materiais castrejos decorados.

258
Fig. 9A - Pormenor da cartela com marca de oleiro, Fig. 9B - Fragmentos de asa e bordo ânfora.
terra sigillata itálica.

Fig. 9C - Cossoiro em xisto.

Fig. 9D - Vaso de perfil em “S” decorado. Fig. 9E - Fragmento de bordo e asa de recipiente de
asa interior.

259
Fig. 10.1 - Posicionamentos mais frequentes dos motivos decorativos nos recipientes.

260
Fig. 10.2 - Quadro com os motivos decorativos mais frequentes. Motivos incisos e impressos.

261
ANDRÉ NASCIMENTO

FRANCISCO
QUEIROGA

LAURA SOUSA

TERESA PIRES DE
CARVALHO
ELEMENTOS PARA O ESTUDO DA OCUPAÇÃO CASTREJA NO
CASTELO DE GAIA (VILA NOVA DE GAIA, PORTO, PORTUGAL)1

ANDRÉ NASCIMENTO (Empatia - Arqueologia, Conservação e Restauro, Lda.)


FRANCISCO QUEIROGA (Universidade Fernando Pessoa - CLEPUL)
LAURA SOUSA (CITCEM)
TERESA PIRES DE CARVALHO

RESUMO
O sítio conhecido como Castelo de Gaia corresponde a uma colina situada na margem
esquerda do rio Douro, na antiga freguesia de Santa Marinha, atualmente junta com
a de São Pedro da Afurada, cidade e concelho de Vila Nova de Gaia.
Este local, posicionado frente a Miragaia, cidade do Porto, tem sido objeto de múltiplos
estudos e intervenções arqueológicas que, sobretudo nas últimas duas décadas, puseram
a descoberto uma intensa e pujante ocupação desde épocas antigas, com particular
afirmação na romanização e tardo-antiguidade.
Através da apresentação dos resultados de algumas escavações arqueológicas
realizadas na Área do Castelo de Gaia onde se registaram indícios da Cultura Castreja,
a que se sobrepuseram expressivos achados das épocas romana, tardo-antiga e alti-
medieval, pretende-se contribuir para o conhecimento da ocupação castreja do sítio,
designadamente dos tipos de ocupação e suas cronologias, da extensão espacial dos
vestígios e transição para o mundo romano.

PALAVRAS-CHAVE
Castelo de Gaia; Estrutura do Castro; Fosso; Muralha.

1
Um agradecimento especial à Filipa Guimarães (CG&LSC Arquitectos, Lda.) e Laura Esteves (Empatia -
Arqueologia, Conservação e Restauro, Lda.), pela adaptação dos desenhos.

265
ABSTRACT
The site known as Castelo de Gaia corresponds to a hill located on the left bank of
the Douro river, in the former parish of Santa Marinha, currently grouped with São Pedro
da Afurada, in the town and municipality of Vila Nova de Gaia. 
This site, positioned in front of Miragaia, Porto city, has been the object of multiple
archaeological studies and interventions that, especially in the last two decades, have
exposed an intense and thriving occupation since ancient times, with particular affirmation
in romanization and late antiquity. 
Through the presentation of the results of some archaeological excavations carried out in
the area of Castelo de Gaia where there were signs of Cultura Castreja (northwest Iberian
Peninsula Iron Age), which overlapped expressive findings from Roman, late-ancient and
high-medieval times, it is intended to contribute to the knowledge of the Iron Age occupation
of the site, namely the types of occupation and their chronologies, the spatial extent of the
remains and transition to the Roman world. 

KEYWORDS 
Gaia Hillfort; Site Structure; Ditch; Wall. 

266
INTRODUÇÃO

O sítio conhecido como Castelo de Gaia, localmente também chamado Monte Castelo,
corresponde a uma colina, com 78 metros de altitude, situada na margem esquerda do rio
Douro (Fig. 1 e 2), na antiga freguesia de Santa Marinha, atualmente junta com a de São
Pedro da Afurada, cidade e concelho de Vila Nova de Gaia, distrito do Porto. O morro,
“saliente da linha que margina o Douro, acompanha um meandro do rio, formando quase
como que uma península, de posição privilegiada na estratégia defensiva e controladora
da boca do rio” (Carvalho, & Fortuna, 2000, p.158). Integra a zona delimitada como Centro
Histórico de Gaia, em 1984, estando classificado como Imóvel de Interesse Público desde
1990 designado por Área do Castelo de Gaia2.
O topónimo Castelo de Gaia – por si só bastante significativo – encontra-se referenciado
já em documentação medieval. Sobre ele se pronunciou João de Barros, cerca de 1549,
referindo-se à sua antiguidade e ao facto de se julgar ter sido fundado por Júlio César,
pelo que aí se encontrariam algumas pedras com o nome do imperador gravadas: “He tão
antigo que dizem que o fundou Caio Júlio Cesar e dahi tomou o nome, e alli estauão alguas
pedras com o nome de Caio Cesar” (Barros, 1919, p. 37).
Não obstante as muitas e variadas referências históricas, a que aqui nos escusámos
de fazer menção, a importância do local assenta, sobretudo, na descoberta de vestígios
materiais revelados por diversas escavações arqueológicas, efetuadas de forma esporádica
desde 1983 e de uma forma mais contínua a partir de 2000.
Ao longo da nossa atividade como arqueólogos fomos desenvolvendo, em tempos
diferentes, trabalhos em grande parte do Castelo de Gaia. A informação recolhida foi
crescendo, embora de forma parcelar, decorrente das medidas de minimização de impacte
arqueológico definidas no âmbito do licenciamento de operações urbanísticas (arqueologia
de salvaguarda ou preventiva).

2
Decreto n.º29/90, Diário da República, I Série, n.º 163, de 17 de julho de 1990.

267
Neste artigo procurámos sistematizar os resultados de algumas intervenções arqueológicas
realizadas na área do Castelo de Gaia nos últimos 35 anos (i.e., até 2018, ano de realização do
presente Congresso), com particular enfâse naquelas que apresentaram vestígios da Cultura
Castreja3.

Fig. 1 - Localização do Castelo de Gaia. Fonte: Google Maps.

Fig. 2 - A colina do Castelo de Gaia vista a partir de Miragaia, cidade do Porto. ©Laura Sousa, 2013.
3
A este propósito esclareça-se que, embora se tenha feito um esforço no sentido de listar todas as intervenções
arqueológicas realizadas na Área do Castelo de Gaia até 2018, a dificuldade de pesquisa/ consulta na base de
dados online da Direção-Geral do Património Cultural, designada Portal do Arqueólogo, bem como a desatualização
da informação inventariada tornaram difícil, mesmo impossível, a boa concretização desta tarefa. Aproveitamos
para agradecer aos colegas arqueólogos e às empresas que nos facultaram dados sobre as suas intervenções.

268
ARQUEOLOGIA NO CASTELO DE GAIA: 35 ANOS DE INTERVENÇÕES (1983-2018)

Em 1983, Armando Coelho Ferreira da Silva dirigiu a primeira intervenção arqueológica


no Castelo de Gaia num terreno localizado no cimo da colina, no lugar do Candal.
Ao contrário da maioria das escavações posteriores, a sondagem realizada em 1983 (mais
tarde alargada em 1985) foi executada no âmbito de um projeto de investigação.
O trabalho realizado permitiu identificar uma estrutura romana e um conjunto de
fragmentos com um horizonte entre o Bronze Final e a Contemporaneidade. Embora não
tenha sido posta a descoberto qualquer estrutura da Idade do Ferro4, foi possível aferir a
existência de fragmentos de cerâmica de tradição púnica, dos séculos V-III a. C. (Silva, 1984).
Entre 1988 e 1992, Gonçalves Guimarães orientou campanhas de escavação na Igreja
do Bom Jesus de Gaia, na Rua de Viterbo de Campos, pondo a descoberto um conjunto de
vestígios estruturais desde a época tardo-romana e período paleocristão até à Baixa Idade
Média, com alterações posteriores nas épocas Moderna e Contemporânea. Embora não
tenham sido encontrados estratos selados ou estruturas da Idade do Ferro, verificou-se
a existência de material cerâmico castrejo (Guimarães, 1995).
Em 1999 teve início a primeira grande intervenção arqueológica na Área do Castelo de
Gaia, dirigida por Teresa Pires de Carvalho, como medida de salvaguarda no âmbito de um
projeto de construção de edifícios da empresa Taylor’s Fonseca, S.A., na encosta nordeste
da colina. O extenso programa de escavações, concluído em 2002, identificou o conjunto
de vestígios mais importante até então encontrado, entre os quais se destacam a muralha
romana datada do século I da nossa Era, duas casas castrejas e diversos materiais desde
a Pré-história até à Época Contemporânea (Carvalho, & Fortuna, 2000; Carvalho, 2003).
Dois anos após o final desta escavação, a empresa Empatia – Arqueologia, Lda. realizou
duas sondagens no Armazém 24, também propriedade da Taylor´s Fonseca, situado no
número 366 da Rua de Rei Ramiro. Os trabalhos, dirigidos por André Nascimento e Nuno
Garcia, desenvolveram-se no âmbito de uma intervenção de salvaguarda decorrente de
uma derrocada ocorrida em janeiro de 2001, na sequência de uma violenta tempestade,

4
De notar que durante o Cerco do Porto, ocorrido na Guerra Civil de 1832-1834, as tropas absolutistas
instalaram neste morro uma bateria de artilharia, que muito provavelmente terá destruído uma parte significativa
dos vestígios arqueológicos existentes.

269
e que pôs à vista um arco ogivado que se julgava poder ser uma entrada do Castelo de Gaia
(destruído aquando da crise dinástica de 1383-1385). Nesta intervenção não foram
detetados quaisquer vestígios da Idade do Ferro (Nascimento, & Silva, 2004).
Em 2005, novamente durante uma intervenção preventiva, Francisco Reimão Queiroga,
da empresa Perennia Monumenta – Serviços Técnicos de Arqueologia, Lda., desenvolveu
trabalhos no gaveto das ruas de Entre-Quintas e de São Marcos, os primeiros realizados
na zona sudoeste do Castelo de Gaia. Além de ter recolhido materiais de diversas
cronologias, incluindo da Idade do Ferro, identificaram-se duas valas escavadas no saibro
interpretadas como dois prováveis fossos de uma muralha castreja/romana (Queiroga, 2006).
Em 2007 e 2010, a empresa Empatia realizou escavações na Rua de Viterbo de
Campos, 10, dirigidas por Laura Sousa, que revelaram vestígios da antiga Fábrica de
Louça de Santo António de Vale de Piedade. Apesar de se ter identificado o edifício da
primitiva manufatura, fundada em 1785, e recolhido volumoso espólio da produção da
fábrica, não foram reconhecidos quaisquer vestígios da Idade do Ferro (Sousa, 2013).
No terreno localizado a norte do Convento de Santo António de Vale da Piedade, uma
equipa da empresa Empatia, orientada por André Nascimento, Laura Sousa e Nuno Garcia,
iniciou em 2007 uma intervenção que corroborou a continuidade de ocupação do sítio do
Castelo de Gaia e a sua importância desde a Idade do Ferro. A excecionalidade de alguns
elementos arquitetónicos encontrados constatou a presença de um edifício público com
funções administrativas-religiosas de carácter monumental associado a uma necrópole
paleocristã (Nascimento, Sousa, & Silva, 2007 e 2008).
Novamente no âmbito de um projeto de licenciamento urbanístico, neste caso para
o loteamento da Quinta de São Marcos, várias equipas da empresa Empatia desenvolveram
trabalhos entre 2007 e 2016, os primeiros coordenados por Laura Sousa e Marta Piedade
(2007-2008) e os subsequentes por André Nascimento, Gabriel Pereira e Sofia Pinho
Soares (2013 e 2015-2016). As várias campanhas apresentaram um conjunto de evidências
arqueológicas, onde se destacam diversas estruturas datáveis entre a Idade do Ferro
e a Idade Média, na continuidade dos vestígios identificados na intervenção de Teresa Pires
de Carvalho (Sousa, & Piedade, 2008; Nascimento, & Soares, 2017).
Também no edifício do antigo Hard Club, para edificação do empreendimento Rei
Ramiro Terraces, ocorreram duas intervenções: a primeira de sondagens prévias em

270
2008, dirigida por João Paulo Barbosa e Roger Prieto da empresa Logiark – Serviços
Arqueológicos, Lda., cujos resultados foram apresentados no congresso Genius Loci (2016)
e publicados nas respetivas atas (Silva, Morais, Pina-Burón, & Prieto de la Torre, 2017);
e a segunda relativa à escavação em área, dirigida por José Carvalho da empresa Era/
Omniknos e concluída em novembro de 2018, bastante divulgada na rede social Facebook.
O terreno escavado, nos socalcos contíguos logo abaixo da intervenção de Teresa Pires
de Carvalho, está próximo da beira-rio e numa cota inferior à muralha do século I. Aí foi
recuperado “um importante espólio arqueológico, composto por cerâmicas, moedas, vidros e
objetos metálicos, com um horizonte cronológico que abarca desde a Idade do Ferro até à
atualidade” (Silva, Morais, Pina-Burón, & Prieto de la Torre, 2017, p. 316-317) e detetadas
diversas “estruturas datáveis da Idade do Ferro e da Romanização” (Silva, Morais, Pina-
Burón, & Prieto de la Torre, 2017, p. 317), entre as quais se destacam: uma hipotética
muralha (Estrutura 1), sobre a qual “É difícil determinar o momento da sua construção, mas
podemos sugerir um horizonte cronológico dos séculos II-I a.C. tendo estado em utilização
até ao século II d.C.” (Silva, Morais, Pina-Burón & Prieto de la Torre, 2017, p. 318); e um
edifício “de grandes dimensões” (Estrutura 2), que “parece datar do séc. I a.C. e o seu
uso pode ter-se prolongado até ao séc. II da nossa era”. Segundo os autores, “A presença
de grandes salas, um possível silo de grandes dimensões e o abundante espólio de
contentores cerâmicos sugerem a sua utilização como armazém ou entreposto comercial
de produtos transacionados através do rio Douro, com destino ao interior do território ou
base para a exportação de mercadorias por via marítima” (Silva, Morais, Pina-Burón, &
Prieto de la Torre, 2017, p. 319).
Curiosamente, os trabalhos realizados no topo da colina apresentaram os resultados
mais escassos. Em 2009 e 2011 no Jardim do Lar Pereira Lima, André Nascimento e Nuno
Garcia detetaram apenas vestígios modernos e contemporâneos (Nascimento, Loureiro,
& Silva, 2011). E, em 2017, a escavação de um pequeno lote no Largo do Castelo, 22,
dirigida por Jorge Fonseca, da empresa Arqueologia e Património – Ricardo Teixeira & Vítor
Fonseca, Arqueologia, Lda., embora tenha revelado espólio pré-romano, não encontrou
estruturas dessa época (Fonseca, 2017).

271
Fig. 3 - Intervenções arqueológicas no Castelo de Gaia. ©Empatia/ Ricardo Dias.

VESTÍGIOS DA OCUPAÇÃO CASTREJA NO CASTELO DE GAIA

Da síntese de intervenções atrás apresentada é possível apurar a dispersão de vestígios


materiais da Cultura Castreja em praticamente todo o morro do Castelo de Gaia, do topo ao
sopé próximo da beira-rio.
O facto de a intervenção no extremo Norte da Rua de Viterbo de Campos, 10 (em parte
da antiga Fábrica de Louça de Santo António de Vale de Piedade), junto ao Cais Capelo e
Ivens, não ter fornecido qualquer indício deste período poderá apontar para um dos limites
da ocupação castreja. Todavia, como o local foi bastante alterado em épocas moderna
e contemporânea, serão necessários mais trabalhos arqueológicos para confirmar esta
hipótese.
No que respeita a construções do castro, até à data, das várias escavações realizadas
apenas cinco revelaram estruturas da Idade do Ferro: quatro dirigidas pelos autores
signatários, que descreveremos em seguida; e a quinta por outros colegas arqueólogos, no
edifício do antigo Hard Club, cujos resultados estão parcialmente publicados (Silva, Morais,

272
Pina-Burón, & Prieto de la Torre, 2017), aguardando-se com expetativa a publicação da
última fase, que certamente trará novos e importantes contributos para o estudo que
ora apresentamos.
A análise conjunta das intervenções da Taylor’s Fonseca, do Gaveto das ruas de Entre-
Quintas e de São Marcos, da Quinta de Santo António e da Quinta de São Marcos - que
têm como particularidade serem das mais extensivas áreas de escavação aqui efetuadas -
permite-nos hoje esclarecer as dinâmicas de ocupação do sítio, designadamente do antigo
castro (Fig. 4).

Fig. 4 - Localização das intervenções arqueológicas da Taylor’s Fonseca, do Gaveto das ruas de Entre-Quintas
e de São Marcos, da Quinta de Santo António e da Quinta de São Marcos. Fonte: Google Maps, adaptação de
Empatia/ Ricardo Dias.

273
TAYLOR’S FONSECA, S.A. (1999-2002)

A intervenção arqueológica nos terrenos da empresa Taylor’s Fonseca, S.A., na zona


nordeste do Castelo de Gaia, realizou-se na sequência do projeto de construção de
novos edifícios para escritórios. A encosta descia até ao rio em três plataformas artificiais
formando socalcos de cerca de 4 m de altura: a plataforma superior à cota média de 36,40
m; a intermédia a 32,20 m; e a inferior a 27,55 m.
As três sondagens iniciais localizaram-se na zona de maior afetação do projeto,
seguindo estratégias diferentes, de acordo com o local de implantação. Na plataforma
superior, no exterior de uma casa de meados do século XX, que iria ser alvo de restauro,
executámos uma sondagem com 8 m² (Sondagem C). Esta plataforma está na continuidade
da cota onde se implanta a Igreja do Bom Jesus de Gaia, cuja intervenção arqueológica
foi atrás referida e confirmou os dados anteriormente recolhidos em outras intervenções
(Silva, 1984; Guimarães, 1995). Na plataforma intermédia, abrimos duas sondagens
com 20 m² (Sondagens A e B), onde seria construído um novo edifício de escritórios no
prolongamento de outro já existente, a Este. Os trabalhos foram dirigidos por Teresa
Pires de Carvalho com uma equipa de técnicos e estudantes de Arqueologia5. Tendo-se
verificado a existência de uma estrutura de grandes dimensões (no local a afetar por uma
das sapatas) e um troço de muro redondo de casa castreja, optou-se por abrir o espaço
em área, alargando a intervenção à plataforma inferior6. Os trabalhos começaram no dia
9 de março de 1999 e prolongaram-se até final do ano de 2002, decorridos em três fases
sucessivas, abrangendo uma área de cerca de 650 m2, mantendo-se a abordagem inicial
numa organização espacial com base em dois eixos que se organizaram em quadrículas
de 4 m x 4 m.

5
A equipa era formada pelos técnicos auxiliares de Arqueologia Vítor Fonseca, Anabela Rodrigues de Sousa
e Sónia dos Santos e pelos estudantes da licenciatura de História - variante de Arqueologia da Faculdade de
Letras da Universidade do Porto André Magalhães do Nascimento e Nuno Garcia. Houve ainda a colaboração de
trabalhadores da empresa construtora já com experiência de trabalhos arqueológicos.
6
Neste seguimento, a equipa inicial foi alargada a partir de janeiro de 2000 com a contratação de mais
quatro arqueólogos (Jorge Arguello e sua equipa e Carlos Delgado), três estudantes da licenciatura de História
- Variante de Arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (Laura Sousa, Pedro Ferreira e
Susana Leite), oito finalistas do curso de Técnicos de Arqueologia da Câmara Municipal de Matosinhos e três
Técnicos de Arqueologia da Escola Profissional do Freixo, para além de 6 trabalhadores da empresa Taylor’s
Fonseca.

274
Das três primeiras sondagens só duas forneceram estruturas da Idade do Ferro: C e A.
Nesta, apareceu a primeira estrutura associada à ocupação castreja do monte: uma lareira
circundada por pedras à volta, associada a raro material castrejo dos séculos IV-II a.C..
A sondagem C, apesar da exiguidade do espaço, permitiu percecionar a existência de
quatro muros de diferentes cronologias: um medieval (U.E. 005), implantado a uma cota
mais alta; um tardo-romano (U.E. 008); e dois relativos a troços de uma casa castreja
com arranque de vestíbulo (U.E. 012 e 024), a 3,7 m de profundidade, implantada no
afloramento de base (Fig. 7 e 8). A parede compunha-se por dois paramentos de pedras
partidas, aparentemente sem vestígios de pico de ferro, bem integradas umas nas outras,
de pequenas dimensões, com cascalho e argamassa no interior e a cobrir os interstícios;
media cerca de 40 cm de espessura e 85 cm de altura; o muro que forma o “átrio” é mais
regular, sendo só visível o arranque que se encontra numa cota mais baixa e também
assenta no solo de base. Pese embora a estreiteza da sondagem e a escassez de luz,
foi possível constatar a existência de pequenos fragmentos de um piso muito desfeito de
composição argilosa, destruído em algumas zonas, que parece corresponder à ocupação
da casa castreja com espólio cerâmico contemporâneo dos inícios da romanização da
zona, apresentando quase exclusivamente fragmentos castrejos decorados ou lisos, muito
micáceos de pastas escuras ou avermelhadas, de potes, púcaros em S e panelas.
No desenvolvimento da intervenção em área confirmaram-se os dados mais relevantes
das estratigrafias anteriores e pôs-se a descoberto, na plataforma intermédia, vestígios de
uma segunda casa castreja (Fig.6) quase completa e, perto do limite norte da plataforma,
uma muralha de cerca de dois metros de largura, com vala de fundação que forneceu
materiais de cronologia romana alto imperial, num troço de cerca de 45 metros (Fig.9).
A muralha estaria desativada a partir da romanidade tardia, uma vez que vários muros
posteriores se adossaram e sobrepuseram a ela, com cronologias alti e baixo-medievais.
O alargamento para a plataforma mais baixa mostrou vários muros romanos (alto e baixo
império) e troços de muros medievais, já fora do espaço limitado pela muralha, propiciando
a descoberta de várias estruturas de diferentes épocas, no total da área escavada (Fig. 5):
castreja, romana alti-imperial, romana tardia, alti-medieval, baixo-medieval, para além de
espólio moderno e contemporâneo. Ficou, assim, patente a complexidade de ocupações
que o local teve.

275
Como vestígios mais interessantes, uma vez que foi percetível o seu traçado e função,
apontamos três importantes estruturas: a muralha romana, a casa castreja quase completa,
numa cota superior à da muralha, e a casa castreja com arranque de vestíbulo na
plataforma superior.
De todas as estruturas identificadas, apenas se preservou a muralha romana (integrada
no edifício que posteriormente ali se construiu) e os muros da mesma cronologia mais a
leste, que foram aterrados depois de cobertos com malha geotêxtil, por não estar prevista a
sua afetação durante a obra.
O resto das estruturas, depois de escavadas e exaustivamente registadas, foram
desmanteladas por imperativos da construção e com autorização do então Instituto Português
do Património Arquitectónico e Arqueológico (IPPAR).
Perante os dados recolhidos nesta intervenção, ficou clara a importância arqueológica
do sítio quer do ponto de vista da análise dos artefactos, que forneceram interessantes
informações a nível do registo arqueológico quer do ponto de vista patrimonial e histórico,
pela confirmação de ocupações numa sequência relativamente longa.

Fig. 5 - Implantação das estruturas escavadas na Taylor’s Fonseca, S.A. ©PLANITOP, adaptado por Filipa
Guimarães.

276
Fig. 6 e 7 - Casa castreja do século IV-II a.C. e casa castreja com vestíbulo respetivamente ©Teresa P. Carvalho.

Fig. 8 - Corte da Sondagem C. ©Teresa Fig. 9 - Alçado norte da muralha romana. ©Teresa P. Carvalho.
P. Carvalho.

GAVETO DAS RUAS DE ENTRE-QUINTAS E DE SÃO MARCOS (2005)

A intervenção arqueológica realizada no Gaveto das ruas de Entre Quintas e de São


Marcos aconteceu no âmbito das medidas de minimização recomendadas pelo então
IPPAR após apreciação de um projeto de loteamento previsto para o local.
Para avaliar a existência de vestígios patrimoniais nesta área propôs-se a abertura

277
de três valas de sondagem em momento anterior à obra. As sondagens, com um metro
de largura, foram dispostas no sentido Norte/Sul (S1, com 24,4 m de comprimento) e no
sentido Este/Oeste (S2, com 16,8 m, e S3, com 12,5 m). Os trabalhos de campo ocorreram
entre 28 de julho e 11 de agosto de 2005 e foram coordenados por Francisco Reimão
Queiroga7.
Aquando da abertura da terceira sondagem (S3), começou a ser percetível a presença
de blocos graníticos talhados e facetados, aliada à deteção de materiais cerâmicos
de diversos horizontes cronológicos, provenientes de níveis de revolvimento, pelo que
se tornou imperioso proceder ao seu alargamento Sul e Norte, de modo a procurar
compreender de forma mais clara a situação patente no terreno e percecionar a deposição
estratigráfica das camadas. Na sequência deste alargamento foi reconhecido um fosso
defensivo, que motivou um novo alargamento a partir do limite Sul da S2 em direção a Norte.
Esta ação permitiu o reconhecimento de uma estrutura pétrea encaixada no saibro.
Entretanto, pôde compreender-se que o nível geológico se encontrava a cota elevada neste
ponto, sendo que depois ia reduzindo sensivelmente de cota, tendo-se ainda detetado um
outro fosso defensivo. Estas sondagens e os respetivos alargamentos permitiram a identificação
e leitura de vários níveis estratigráficos e a identificação de dois fossos paralelos.
A sondagem 1 revelou a existência de um nível superficial de terra orgânica e humosa,
cuja espessura oscilava entre os 20 e os 40 cm e que incluía entulho recente em
abundância, debaixo da qual se encontrava uma camada de terra acinzentada, assente
sobre alterite granítica. O alargamento da segunda sondagem ou S2, nas imediações do
limite Oeste do terreno, em progressão para Norte, deixou a descoberto uma estratigrafia
que encontra correspondência com a observada no contexto da S3. Em paralelo, deixou
exposta uma estrutura pétrea, a única do género identificada, assim como algumas
estruturas em negativo. Na escavação do alargamento de S3, inicialmente na direção Sul,
num retângulo de 5 m (no sentido Este/Oeste), por 4 m (no sentido Norte/Sul), foi possível
identificar uma série de camadas, perfeitamente percetíveis no corte Norte.
A sucessão estratigráfica das três sondagens, sobretudo da 2, da 3 e dos seus
prolongamentos, possibilitou a perceção de uma sequência semelhante, com diferenças

7
Fizeram parte da equipa a arqueóloga Andreia Arezes, o assistente de arqueólogo Manuel Vitorino e o
estudante de Antropologia Hugo Linhares.

278
devidas a situações construtivas distintas. Assim, os três primeiros níveis eram superficiais,
com cerca de um metro de espessura, iniciando-se o quarto com o início do enchimento
dos dois fossos, constituído por derrube de pedras de feição romana, com pedras
almofadadas, fragmentos de aduelas de arcos e bases de colunas (Fig. 14), sobretudo
no fosso interior. Na sondagem 2, sob a U.E. 03 encontrou-se uma estrutura pétrea, uma
espécie de murete, visível na sua face voltada a Oeste, sendo que a face Nascente se
encaixadava no saibro. Apresentava-se já bastante truncado e sem continuidade a Norte,
mas a Sul revelou a sua posição original, também encaixada no saibro (Fig. 10). Era
composta por duas fiadas de pedra, cada uma das quais com, aproximadamente, 20 cm de
altura e 68 cm de largura apresentando pedras de granito facetadas e um miolo que inclui
pequenos calhaus e material de construção. Possivelmente serviria de reforço ao fosso.
As várias camadas que enchiam os fossos não são concludentes quanto a uma
cronologia fixa, antes fornecendo sempre materiais bastante misturados, desde materiais
castrejos, ou de época romana, ou fragmentos de cerâmica tardo-romana, tardo-medieval,
dos séculos XVII-XVIII, até entulhos recentes do século XX. Na camada 04 apareceram
blocos graníticos, muitos dos quais facetados e bem trabalhados, possivelmente
provenientes de estruturas pétreas derrubadas e na camada 05, uma laje de granito
descontextualizada que foi removida no decurso da escavação. O último nível sobre o
substrato geológico (a U.E. 09) forneceu muito pouco material, quer num quer noutro
fosso. Foi possível a observação de uma série de elementos em negativo, resultado
de intervenções sobre o material geológico, como é o caso de pequenas extrações e
de fossetes e ainda de uma espécie de “pia” ou reentrância. O saibro foi truncado para
possibilitar o encaixe do anteriormente referido murete e alvo de intervenção/escavação,
para criação de um dos fossos defensivos.
Esta intervenção salienta-se pelo achado dos dois fossos do “Castelo de Gaia”, a
juntar ao interessante conjunto de materiais exumados do seu interior. Os fossos estão
localizados no lado oposto ao declive face ao Douro, sendo o lado mais acessível do
monte.
A configuração do terreno sugere que apenas existiriam dois, pois imediatamente após
o exterior inicia-se a elevação natural do terreno. Os dois fossos são tipologicamente
semelhantes, sendo escavados na alterite granítica, com os lados bastante inclinados,

279
particularmente os lados interiores (Fig. 11 e 12). Mau grado as condições do terreno
não nos permitirem uma secção completa dos fossos – pois o exterior é intersetado pelo
caminho público e o interior está perigosamente próximo de um terraço com habitação -,
foi possível constatar que apresentam uma secção em “U”, sendo a face interior mais
alongada e ligeiramente mais íngreme. Apesar de a topografia do terreno se encontrar
profundamente adulterada pelas construções e criação de terraços, parece-nos evidente
que o primeiro fosso se encontraria adjacente a uma muralha, a qual acompanharia no
terreno o traçado do muro de suporte de terras. No fundo do fosso interior, do lado Norte
do espaço escavado, aparece-nos uma canelura estreita e alongada (Fig. 13), que poderá
ser resultante da escorrência de águas pluviais ou tratar-se de vestígios de implantação de
espeques em madeira, tipo paliçada.
Relativamente à estratigrafia dos fossos, sabemos que não é segura pela mistura dos
materiais de diversos contextos devido às escorrências. Mesmo salvaguardando a hipótese
de serem regularmente limpos na sua fase de utilização, eliminando escorrências naturais,
aceitaremos que o estrato de contacto com o fundo corresponde à sua última utilização.
Neste caso, os estratos inferiores indicam um abandono relativamente tardio, a julgar pela
larga diacronia dos materiais exumados. O nível de derrube documentado pelo estrato
04 no fosso interior, no qual nos apareceram diversos elementos de construção de época
romana, indicia que estaria ativo até uma fase avançada do processo de romanização.
O fosso exterior deu-nos comparativamente menos informação, até por ser aqui menor
a área escavada. De facto, a confluência da parte média desta estrutura com o caminho
público refreou as possibilidades de avaliação. Profundamente escavado no saibro, este
fosso individualiza-se do interior pelo facto de apresentar um murete em pedra, situado no
limite do seu lado Nascente e assente em alicerce de alterite granítica aplanada.

280
Fig. 10 - Plano final do alargamento Norte da sondagem 2, onde se observa o murete encaixado no
©
saibro. Perennia Monumental/ Franscisco Queiroga.

©
Fig. 11 - Corte Sul da sondagem 2. Perennia Fig. 12 - Corte Norte da sondagem 3. ©Perennia
Monumental/ Franscisco Queiroga. Monumental/ Franscisco Queiroga.

281
Fig. 13 - Pormenor do perfil do fosso que estaria Fig. 14 - Capitel com esquinas muito desgastadas,
©
anexo à muralha. Perennia Monumental/ Franscisco ©
indicando reutilização. Perennia Monumental/
Queiroga. Franscisco Queiroga.

QUINTA DE SANTO ANTÓNIO (2007-2008)

A intervenção arqueológica da Quinta de Santo António (QSA) incidiu numa plataforma


aplanada (a cerca de 50 m de altitude) a poente do cabeço do Castelo de Gaia, localizada
nas traseiras e lateral poente do atual edifício/armazém da empresa de produção vinícola
Symington (à Rua de Vinte e Oito de Janeiro). O sítio é delimitado a Norte por terrenos
agrícolas dispostos em socalcos que acompanham a vertente em direção ao rio, a Sul pelo
referido armazém, a Este pela Rua de Entre-Quintas e a Oeste pelo declive demarcado
por uma pequena linha de água que atravessa o Convento de Santo António de Vale da
Piedade e desagua no rio Douro8 e em cuja margem oposta se situam as instalações do
Clube Desportivo do Candal, hoje ladeadas pela Avenida Mestre José Rodrigues, à época
inexistente. Este espaço integrou outrora, tal como a área do armazém da Symington,
a vasta propriedade do Convento de Santo António, que lhe fica contíguo.
Os trabalhos, sob direção e responsabilidade científica de André Nascimento, Laura
Sousa e Nuno Garcia, realizaram-se no âmbito de um projeto de loteamento para o local e

8
Nasce no Candal, nas imediações da Electro Cerâmica (atual Candal Park).
9
De notar que, em meados de 2006, antes desta intervenção, já tinham ocorrido no local significativas
movimentações de terras sem qualquer acompanhamento arqueológico, através de desaterro mecânico que
atingiu profundidades entre os 50 cm (a Norte) e 1 m (a Sul), afetando, sobretudo, os estratos de cronologia
contemporânea e moderna. Pese embora este revolvimento do solo, quando chegámos ao local apenas eram
visíveis alguns fragmentos de tegula dispersos.

282
iniciaram em fevereiro de 20079 com a escavação de quatro sondagens de avaliação prévia
implantadas nos dois extremos do terreno: Norte (Sondagem 1 e respetivo alargamento) e
Sul (Sondagem 4 e respetivo alargamento), num total de aproximadamente 64 m2 de área
diagnosticada10.
A expressividade de materiais e estruturas arqueológicos identificados na 1.ª fase
de trabalhos (concluída em março de 2007), incluindo um enterramento em depósito
secundário, que comprovavam uma intensa e contínua ocupação do espaço entre a Idade
do Ferro e Idade Média, e o facto da execução do projeto afetar os vestígios existentes
determinaram a continuação da escavação (Nascimento, Sousa, & Silva, 2007).
A 2.ª fase, realizada entre julho e setembro de 200711, compreendeu o segundo
alargamento das sondagens 1 e 4 e a abertura de uma nova sondagem (Sondagem 2),
totalizando mais 96 m2 de área escavada. Na sequência dos resultados da 2.ª fase foi
possível confirmar a presença de indícios arqueológicos excecionais, designadamente
uma necrópole paleocristã (no sector Norte) associada a um amplo conjunto edificado de
caráter religioso-administrativo – uma provável basílica – com elementos arquitetónicos
monumentais (sectores Norte e Sul), ocultos sob uma densa camada de destruição/
derrube, cuja cronologia nos remetia para uma ocupação longa e possante daquele espaço
entre os séculos IV-V a VIII-IX (Nascimento, Sousa, & Silva, 2008).
A 3.ª e última fase de trabalhos, entre novembro de 2007 e fevereiro de 2008, teve como
principais objetivos verificar a dispersão dos indícios em toda a zona a afetar pelo projeto
de loteamento e estabelecer grosso modo os limites do sítio arqueológico, através do
terceiro alargamento da sondagem 1 e da abertura de sete novas sondagens (3, 5, 6, 7, 8,
9 e 10), incidido numa área de 138 m2. Desta forma, comprovou-se a esterilidade, ou menor
relevância arqueológica, da área Poente, onde os vestígios são praticamente inexistentes,
o que permitiu estabelecer, a Ocidente, uma possível linha-limite para a ocupação antiga do
sítio do Castelo de Gaia (Nascimento, Sousa, & Silva, 2008). Assim, após a conclusão da
3.ª fase, os arqueólogos codiretores definiram e propuseram, como medida de salvaguarda,

10
Além dos três arqueólogos codiretores, a equipa incluiu os seguintes elementos: Joana Isabel Alves Ferreira
(arqueóloga); Nelson Vale (assistente de arqueólogo); Carlos Alberto Loureiro, Franceline Gaspar e Rui Oliveira
(colaboradores licenciados); e cinco operários disponibilizados pela empresa promotora da obra.
11
Além da equipa da 1.ª fase, integraram a 2.ª e 3.ª fase de escavação os seguintes elementos: Marta
Piedade e Gabriel Pereira (arqueólogos); Eduardo Falcão (técnico de Conservação e Restauro); Filipa Ferreira,
João Mesquita e Susana Mesquita (colaboradores licenciados).

283
a escavação integral do espaço incluído no limite acima descrito (Nascimento, Sousa, &
Silva, 2008), estratégia que foi aprovada pela entidade da tutela. No entanto, os trabalhos
arqueológicos na QSA foram interrompidos por iniciativa do Requerente, não tendo sido
retomados até à data12.
Dos 298 m2 de área escavada, interessa-nos focar, para o tema em estudo, os achados
da Sondagem 4, no sector Sul, onde foi identificada parte de uma grande vala escavada
no substrato natural, que integraria a estrutura defensiva do castro proto-histórico,
complementando os dados da escavação dirigida por Francisco Queiroga, em 2005, acima
descritos (Queiroga, 2006).
O segmento do fosso encontrado na Quinta de Santo António, à semelhança do
detetado na intervenção do gaveto da ruas de Entre-Quintas e de São Marcos (que
passaremos a designar Gaveto), localizada nas imediações, foi aberto no saibro granítico
de tom amarelado, grão fino e consistência compacta, no sentido Norte/Sul, estando
atualmente intersectado pelo muro de limite de propriedade e pela Rua de Entre-Quintas,
que lhe ficam a Nascente. Devido à proximidade destas construções (muro e via), apenas
foi possível recuperar uma parte do fosso numa extensão de 4 m x 4 m (dimensão da
Sondagem 4), que estimámos corresponder a cerca de um terço da largura da estrutura,
tendo no topo 2,10 m no limite Norte da sondagem e 1,60 m no limite Sul, com uma
profundidade máxima de 1,20 m (Fig. 15 e 16). Pela sua orientação e inclinação, cremos
tratar-se do lado exterior do segundo fosso identificado por Queiroga (na Sondagem 2 do
Gaveto).
Considerando os resultados da restante área escavada na QSA, podemos afirmar
que esta será a segunda e última linha da estrutura defensiva artificial do castro, a mais
avançada na área Poente do Castelo de Gaia, que acompanha, grosso modo, o traçado
da Rua de Entre-Quintas nesta zona. A partir daqui o terreno segue o declive natural
nas vertentes Poente (em direção a uma pequena linha de água e à falha geológica que
originou o Vale da Piedade) e Norte (encosta voltada ao Douro).

12
Estes achados foram apresentados publicamente nas I Jornadas Arqueológicas do Castelo de Crestuma,
realizadas em Vila Nova de Gaia, nos dia 28 e 29 de junho de 2013, embora as respetivas atas não tenham
ainda sido editadas. Em janeiro de 2014, o sítio voltou a ser difundido num episódio do programa televisivo
Caminhos da História, produzido pela estação Porto Canal sob direção do historiador e arqueólogo Joel Cleto,
dedicado ao Castelo de Gaia.

284
As limitações dos espaços intervencionados não permitiram obter a secção completa
de nenhum dos dois fossos, embora o perfil estratigráfico Norte da Sondagem 3 do Gaveto
(Fig. 12) nos permita fazer uma leitura quase completa da tipologia do primeiro fosso, o
que ficaria mais próximo da muralha: apresenta secção em U, paredes simétricas bastante
inclinadas, largura no topo estimada em aproximadamente 6 m e profundidade máxima de 3,5m.
Tomando este exemplo e fazendo uma projeção entre os segmentos do segundo fosso
encontrados no Gaveto e na Quinta de Santo António, podemos considerar que a sua largura
será semelhante à do primeiro. Quanto à forma, os cortes estratigráficos das sondagens
parecem sugerir uma secção tendencialmente em V, mas de paredes irregulares
escadeadas - mais inclinada e íngreme na face interior (como se observa no corte Sul da
Sondagem 2 do Gaveto, Fig. 11) e de perfil mais aberto e rampeado na face exterior (como
se observa nos cortes estratigráficos Norte e Sul da Sondagem 4, Fig. 19 e 20).
Relativamente aos estratos e materiais que enchem o segundo fosso, constata-se uma
clara uniformidade entre os achados da Quinta de Santo António e do Gaveto, verificando-
se, como seria de esperar, uma mistura de espólio de ampla diacronia (desde a Idade
do Ferro à Idade Média), o que pressupõe um abandono relativamente tardio destas
estruturas. A presença de elementos arquitetónicos notáveis – como fragmentos de arcos,
colunas e pedras de boa almofada –, no estrato superior que enche o primeiro fosso (U.E.
004 – nível de derrube), indicia a presença de construções de carácter monumental no
Castelo de Gaia, depredadas e usadas com o intuito de nivelar o terreno numa fase na qual
o fosso já seria pouco percetível (Queiroga, 2006, p. 14). Em ambas as intervenções, os
estratos de contacto com o fundo do segundo fosso (U.E. 009) revelaram fragmentos de
cerâmica manual, de pasta porosa, castanha e micácea; no caso da QSA, pertencentes a
um prato de asa interior (Fig. 17), junto do qual se recolheu também vestígios de uma mó
manual (dormente e movente).

285
Fig. 15 e 16 - Perfis estratigráficos Norte e Sul da sondagem 4, respetivamente, observando-se a parte do
©
fosso encontrado na QSA. Empatia/ Laura Sousa, 2007.

Fig. 17 - Prato de asa interior achado no fundo do fosso.


© Empatia/ Laura Sousa, 2007.
Fig. 18 - Plano final da sondagem 4. ©Empatia/
AA.VV..

Fig. 19 e 20 - Perfis estratigráficos Norte e Sul da sondagem 4, respetivamente, com a seção do fosso
©
encontrado na QSA. Empatia/ AA.VV..

286
QUINTA DE SÃO MARCOS (2007-2008)

O espaço conhecido como Quinta de São Marcos (QSM) localiza-se na encosta Norte
do Castelo de Gaia, nas imediações da Igreja do Bom Jesus de Gaia13 e tem acesso pela
Rua de São Marcos e Rua do Salgado. Ocupa uma área total de 4872 m2 confinada pela
Rua de Entre-Quintas (a Norte/Noroeste), Rua de São Marcos (a Sul), Rua do Salgado14 (a
Nascente) e Travessa de Entre-Quintas (a Sudoeste), distribuída por quatro patamares ou
socalcos que acompanham e regularizam o declive do terreno em direção ao rio, com uma
altitude máxima de 50,50 m e mínima de 33,46 m.
A primeira intervenção arqueológica realizada no local, em 2007, proporcionou-se no
âmbito do licenciamento do projeto de loteamento da Quinta, que pretendia a demolição
da casa existente, em avançado estado de degradação, e das áreas exteriores de jardim
e pomar15, para construção de doze habitações unifamiliares e respetivas zonas de
circulação automóvel, estacionamento e passeios pedonais.
Em fase de avaliação do projeto, a Direcção Regional do Porto do então IPPAR emitiu
parecer Favorável condicionado à “realização de sondagens arqueológicas prévias ao início
dos trabalhos de construção”, tendo em conta “a localização do imóvel junto ao Castelo de
Gaia, em local de elevado potencial arqueológico”, prevenindo que, face aos resultados das
sondagens, será “avaliado o impacte do projecto sobre eventuais vestígios arqueológicos,
podendo vir a ser necessário efectuar alterações ao projecto”16. Os trabalhos foram
adjudicados à empresa Empatia – Arqueologia, Lda. e autorizados sob responsabilidade e
direção científica das arqueólogas Laura Sousa e Marta Piedade.
A primeira fase da intervenção ocorreu entre os dias 17 de maio e 27 de julho de 200717

13
Também conhecida por Capela da Senhora da Bonança, situada na Rua de Viterbo de Campos, a cujas
escavações arqueológicas já aludimos no presente texto.
14
Em parte, comummente designada Escadas do Salgado.
15
Esta casa e respetivas áreas exteriores da Quinta de São Marcos surgem representadas na Planta de 1892
(Ferreira, 1892, fl. 21), sendo de notar a semelhança entre a configuração do espaço registada em finais do
século XIX e a que encontrámos em 2007.
16
Inf. N.º S-2006/140961 (C.S: 399730), relativa ao processo n.º DRP-DS/2003/13-17/10622/PPL/111
(C.S:63110), da técnica Belém Campos Paiva, com despacho de 14-03-2006.
17
Além das duas arqueólogas codiretoras, integraram a equipa da intervenção os seguintes elementos:
Corrigir para: Nuno Garcia (arqueólogo); Eduardo Falcão, Francisco Barros e Nélson Vale (assistentes de
arqueólogo); Carlos Alberto Loureiro, Fernando Santos Silva, Franceline Gaspar e Rui Oliveira (colaboradores
licenciados).

287
e compreendeu a abertura de sete sondagens de avaliação prévia distribuídas pelos três
patamares com maior incidência de construção (excluindo-se o patamar posicionado à
cota mais baixa por se pretender manter o espaço ajardinado existente), implantadas da
seguinte forma: uma sondagem de 20 m2 (Sondagem 6) na plataforma mais alta, situada
junto ao limite da propriedade com a Rua de São Marcos, denominada Patamar I; três
sondagens de 16 m2 cada (Sondagens 3, 4 e 5) na plataforma imediatamente abaixo
(Patamar II), a uma altitude aproximada de 44 m; três sondagens (Sondagens 1, 2 e 7),
perfazendo 56 m2, no patamar seguinte (Patamar III), a cerca de 41 m de altitude.
Pese embora a abundância de materiais arqueológicos em todas as sondagens -
sobretudo cerâmicas de diversas cronologias -, apenas num dos patamares intervencio-
nados (Patamar II) foram detetados vestígios de várias estruturas que ditaram o alargamento
de duas sondagens (Sondagens 3 e 4), totalizando uma área de escavação de 148 m2.
Deste diagnóstico inicial concluiu-se a intensa e efetiva ocupação do espaço desde a
Idade do Ferro até à Época Contemporânea, com particular pujança e intensidade nos
períodos proto-histórico, romano e tardo-antigo, indiciada pela contínua sucessão entre
níveis de ocupação, abandono e destruição/derrube, pelos abundantes materiais exumados
e pelas várias estruturas pertencentes a diferentes construções que ali se sobrepuseram e
intersectaram até ao último uso/função como quinta rural do lugar de Gaia.
Por conseguinte, avançou-se para uma segunda fase de trabalhos, realizada entre 14
de janeiro e 17 de abril de 2008, que se concentrou no Patamar II e incluiu o alargamento
em área do espaço anteriormente escavado e a abertura de duas novas sondagens
(Sondagens 8 e 9), o que, a juntar ao diagnóstico da 1.ª fase, perfez um total de 235 m2 de
superfície pré-avaliada18.
Da Idade do Ferro foram identificadas duas estruturas habitacionais e duas de armazena-
mento, assentes no substrato natural (saibro granítico), que, devidamente regularizado,
terá servido também de nível de circulação coevo (U.E. 318). As duas casas (U.E. 376 e
478) distam entre si cerca de 6 m e apresentam planta circular (Fig. 22 e 23). A espessura
das paredes ronda os 40 cm nos dois exemplares, mais precisamente 42 cm na U.E. 376e

18
Na 2.ª fase de trabalhos, a equipa foi reforçada com os seguintes elementos: Gabriel Pereira, Joana Isabel
Alves Ferreira e Susana Mesquita (arqueólogos); Eduardo Falcão, Marco Araújo Pereira e Tiago Laranjeira
Brochado de Almeida (assistentes de arqueólogo); João Mesquita e Ricardo Laranjeira Brochado de Almeida
(colaboradores licenciados).

288
45 cm na U.E. 478. A exiguidade dos alicerces remanescentes, muito incompletos e que
corresponderão, aproximadamente, a apenas um quarto da construção, não permite apurar
se teriam zona de entrada ao nível térreo nem tampouco vestíbulo (“caranguejo”). Todavia,
o registo gráfico das estruturas permite-nos calcular alguns dados, como o diâmetro19,
estimando-se, assim, que ocupariam uma área total de 13 m2 (U.E. 376) e 16 m2 (U.E.
478), o que corresponderia a uma área interior, i.e. de espaço útil, de 8,20 m2 e 10,30 m2,
respetivamente. Em ambas registaram-se vestígios de piso em saibro granítico aplanado
e compactado (U.E. 491 na casa [376]; e U.E. 492, na casa [478]). Nas proximidades
das casas foram identificados duas estruturas de armazenamento: o silo com a U.E. 445
junto à casa [376], que se encontrava completo (Fig. 26); e o silo [488] junto à casa [478],
parcialmente destruído pela construção de um muro alti-imperial [378], a que se sobrepôs
um outro muro de época tardo-romana [314] (Fig. 24 e 25).
À semelhança do descrito na intervenção da Taylor’s Fonseca, os estratos da Idade
do Ferro encontram-se cobertos por níveis de abandono e destruição/derrube (Fig. 21),
nalgumas zonas acompanhado por uma camada de incêndio residual, onde assentou um
conjunto de construções de época romana, cuja funcionalidade não foi ainda possível
estabelecer, mas que datámos dos séculos I-II d.C. (Sousa, & Piedade, 2008).
A preservação destas construções tornou-se inviável face à vontade de execução do
projeto aprovado. Perante esta impossibilidade, procedeu-se ao registo e desmonte manual de
todas as estruturas e a obra prosseguiu com acompanhamento arqueológico, acautelando-se
a eventual necessidade de realização de mais sondagens ou escavação de emergência no
caso de se detetarem novos achados. Posteriormente, foi apresentado um novo aditamento a
propor a inclusão de mais um lote (Lote 10) no limite sudeste da propriedade, na esquina da
Rua de São Marcos com a Rua do Salgado, executando-se novas sondagens em 2015, sob
direção de André Nascimento e Sofia Pinho Soares, as quais, curiosamente, não revelaram
quaisquer indícios da ocupação antiga do sítio (Nascimento, & Soares, 2017).

19
Diâmetro exterior 4,10 m (U.E. 376) e 4,50 m (U.E. 478); diâmetro interior 3,20 m (U.E. 376) e 3,60 m (U.E. 478).

289
Fig. 21, 22 e 23 - Nível de destruição/ derrube [332] sobre a casa castreja [478] e os vestígios das duas
©
casas castrejas encontradas na QSM: U.E. 478 e 376, respetivamente. Empatia/ Laura Sousa, 2007 e 2008.

Fig. 24, 25 e 26 - Pormenor dos espólio encontrado no silo [488], cortado pelo muro alti-imperial [378], e os dois
©
silos encontrados na QSM: U.E. 488 e 445, respetivamente. Empatia/ Laura Sousa, 2008.

O CASTRO DO CASTELO DE GAIA: PROPOSTAS INTERPRETATIVAS E REFLEXÕES


FINAIS

Embora o sítio do Castelo de Gaia tenha ainda muito a revelar, os trabalhos


arqueológicos realizados nos últimos 35 anos, em particular os acima descritos, permitem-
nos já avançar com algumas propostas sobre o castro que aqui existiu.
Parece-nos seguro afirmar ter havido uma presença da Idade do Bronze Final neste
morro, embora os vestígios arqueológicos sejam escassos. A ocupação da Idade do Ferro
confirma-se, pelo menos, desde o século IV a. C., como sugerem os resultados da escavação
da Taylor’s Fonseca, mantendo-se em contínuo até à Romanização. É nesta fase que é
construída a muralha durante a primeira metade do século I.
O povoamento castrejo foi extenso, derramando-se por quase todo o monte, com
estruturas circulares nas encostas norte (QSM) e nordeste (Taylor’s Fonseca), as quais,
sabemos hoje, se prolongavam até ao rio, num espaço fora da muralha romana, conforme
demonstra a intervenção no edifício do antigo Hard Club recentemente concluída. Do outro

290
lado do monte, na vertente poente, o povoado delimita-se pelos fossos identificados nas
intervenções do Gaveto e da QSA.
A criação artificial de fossos justifica-se nesta área do Castelo pela carência/insuficiência
de condições naturais de defesa. Os resultados das escavações na QSA e no Gaveto das
ruas de Entre-Quintas e de São Marcos permitem caracterizar a estrutura defensiva do
castro, confirmando-se a existência de dois fossos, espaçados entre si cerca de 18 m, cujo
contorno é-nos já possível projetar, formando duas linhas concêntricas que circundam o
cabeço do morro do Castelo, servindo como complemento à(s) muralha(s) do Castro, “em
acumulação bem típica da cultura castreja do Noroeste peninsular” (Silva, 2007, p. 27).
Numa primeira análise, considerando os limites estabelecidos pela muralha romana e
pelos fossos da vertente poente, afigura-se-nos plausível estimar uma área de cerca de 5
hectares para o castro do Castelo Gaia, à época da romanização, partindo do princípio que
a muralha romana encontrada a nascente, se prolongaria até aos fossos sitos a poente,
repegando, eventualmente, o traçado de uma pré-existente.
A interpretação estratigráfica dos níveis associados aos fossos e à muralha datam o
seu abandono/desativação algures no tardo-império, visível pela cronologia dos materiais
da camada mais funda dos fossos e pela construção de muros sobre a muralha em época
tardo-romana.
De notar ainda que a exumação de pedras almofadadas de grandes proporções,
associadas a aduelas de arco, capitéis e colunas no Gaveto de Entre-Quintas/São
Marcos, sugere a existência de edifícios monumentais tardios, tal como identificado na
Quinta de Santo António. Por outro lado, os materiais cerâmicos fornecem-nos evidências
de contactos comerciais de longa distância, os quais já aconteciam desde tempos pré-
romanos. Estas ocorrências confirmam a pujança económica e comercial do Castelo de
Gaia desde a Romanização e de forma contínua até à Alta Idade Média, a par de outros
sítios que têm vindo a ser estudados nesta zona terminal do rio Douro (como a Casa do
Infante, no Porto, e o Castelo de Crestuma, em Vila Nova de Gaia20).
Como último apontamento resta-nos lembrar as dificuldades dos trabalhos enquadrados
na chamada arqueologia preventiva ou de salvaguarda, cujos condicionalismos inerentes

20
Silva, & Carvalho, 2014; Silva, Pereira, Carvalho, Pinto, & Sousa, 2015.

291
ao cumprimento dos prazos de licenciamento obrigam, a maior parte das vezes, a um
adiamento da investigação e publicação dos sítios e seus resultados pelos arqueólogos
responsáveis pela sua escavação, pese embora a elaboração dos devidos relatórios
científicos para aprovação da entidade da Tutela.
Agradecemos, por isso, a oportunidade de divulgar, no âmbito do presente Congresso,
os achados das intervenções arqueológicas por nós dirigidas, que são, em suma,
elementos – ou apenas alguns fragmentos – para o estudo da ocupação castreja no tão
vetusto como lendário Castelo de Gaia.

292
FONTES E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Barros, J. de (1919). Geographia d’entre Douro e Minho e Tras-os-Montes. Porto: Biblioteca Pública
Municipal do Porto. (Manuscritos inéditos; 5).
Carvalho, T. P. de, & Fortuna, Jorge (2000). Muralha Romana Descoberta no Castelo de Gaia. Al-madan,
II.ª Série, n.º 9 (Outubro 2000). Almada: Centro de Arqueologia de Almada, 158, 160 e 162.
Carvalho, T. P. de (2003). As ocupações no Castelo de Gaia – problemas de Arqueologia Urbana. Revista
da Faculdade de Letras – Ciências e Técnicas do Património, I Série vol. 2. Porto: FLUP-DCTP, 823-841.
Ferreira, Augusto Gerardo Telles (1892). Carta Cadastral da Cidade do Porto reduzida da que foi mandada
levantar na escala de 1:500 por ordem da Camara Municipal da mesma cidade referida ao anno de 1892.
Arquivo Histórico Municipal do Porto/Casa do Infante.
Fonseca, J. (2017). Intervenção Arqueológica no Largo do Castelo 22, Vila Nova de Gaia: Nota
Técnica. Perafita: Arqueologia e Património – Ricardo Teixeira & Vítor Fonseca, Arqueologia, Lda.
Guimarães, J. A. G. (1995). Gaia e Vila Nova na Idade Média: Arqueologia de uma área ribeirinha.
Porto: Universidade Portucalense.
Nascimento, A. M.; Silva, N. E. G. (2004). Sondagens Arqueológicas no Armazém 24, Rua Rei Ramiro 366,
Santa Marinha Vila Nova de Gaia. Relatório Preliminar. Vila Nova de Gaia: Empatia – Arqueologia, Lda..
Nascimento, A. M., Sousa, L. C. P., & Silva, N. E. G. (2007). Relatório de Progresso: Intervenção
Arqueológica QSA-VNG.07 Quinta de Santo António (Santa Marinha, Vila Nova de Gaia). Vila Nova de Gaia:
Empatia - Arqueologia, Lda..
Nascimento, A. M., Sousa, L. C. P., & Silva, N. E. G. (2008). Relatório de Progresso (2.ª e 3.ª Fases):
Intervenção Arqueológica QSA-VNG.07 Quinta de Santo António (Santa Marinha, Vila Nova de Gaia).
Vila Nova de Gaia: Empatia – Arqueologia, Lda..
Nascimento, A. M.; Loureiro, C. A. F.; Silva, N. E. G. (2011). Sondagens e acompanhamento Arqueológico
no Lar Pereira Lima, Santa Marinha Vila Nova de Gaia. Relatório Final. Vila Nova de Gaia: Empatia -
Arqueologia, Lda..
Nascimento, A., & Soares, S. P. (2017) – Sondagens arqueológicas na Rua de Entre Quintas e Escadas
o Salgado, Santa Marinha, Vila Nova de Gaia. Relatório Preliminar. Dezembro 2015. Vila Nova de Gaia:
Empatia - Arqueologia, Conservação e Restauro, Lda.
Queiroga, F. R. [2006]. Relatório de trabalhos arqueológicos. Loteamento do Gaveto Entre Quintas-S.
Marcos. Sta. Marinha, Vila Nova de Gaia. Vila Nova de Famalicão: Perennia Monumenta - Serviços Técnicos
de Arqueologia, Lda..
Silva, A. C. F. da (1984). Aspectos da proto-história e romanização no concelho de Vila Nova de Gaia
e problemática do seu povoamento. In Actas das Jornadas de História Local e Regional de Vila Nova de Gaia.
Gaya: Revista do Gabinete de História e Arqueologia de Vila Nova de Gaia, vol. II, 39-58.
Silva, A. C. F. da (2007). A Cultura Castreja no Noroeste de Portugal. 2.ª ed. Paços de Ferreira: Câmara
Municipal de Paços de Ferreira.
Silva, A. M. S. P., & Carvalho, T. P. (2014). Originalidade e tradição clássica na cerâmica local e regional
tardo-antiga do Castelo de Crestuma (V. N. Gaia, Portugal). In Morais, R., Fernández, A., & Sousa, M. J. (ed.).

293
As produções cerâmicas de imitação na Hispania. [Porto-Madrid]: Faculdade de Letras da Universidade
do Porto – Ex Officina Hispana, 381-396. (Monografias Ex Officina Hispana; II).
Silva, A. M. S. P., Pereira, P., Carvalho, T. P., Pinto, F., & Sousa, L. (2015). O Castelo de Crestuma (Vila
Nova de Gaia): um contexto estratigráfico tardo-antigo no extremo noroeste da Lusitania. In Quaresma, José
Carlos, & Marques, João António. Contextos estratigráficos na Lusitania (do Alto Império à Antiguidade Tardia).
Lisboa: Associação dos Arqueólogos Portugueses, 149-167.
Silva, A. M. S. P., Morais, R., Pina-Burón, M. R., & Prieto de la Torre, R., 2017. Cerâmica romana importada
na foz do Douro: uma escavação arqueológica no Castelo de Gaia (V. N. Gaia, Norte de Portugal). Genius Loci:
lugares e significados. Vol. 2. Porto: CITCEM, 315-331.
Sousa, L. C. P., & Piedade, M. M. G. (2008) – Intervenção Arqueológica QSM-VNG.07/08: Quinta de São
Marcos, Santa Marinha, Vila Nova de Gaia. Relatório Preliminar. Vila Nova de Gaia: Empatia – Arqueologia, Lda.
Sousa, L. C. P. (2013) – A Fábrica de Louça de Santo António de Vale de Piedade: arquitetura, espaços
e produção semi-industrial oitocentista. Dissertação de mestrado apresentada à Faculdade de Letras da
Universidade do Porto. 3 vol.

294
HUGO LOZANO
HERMIDA

EDUARDO RAMIL
REGO

SARA BARBAZÁN
DOMÍNGUEZ
CULTURA MATERIAL DE LOS CASTROS DEL OCCIDENTE
CANTÁBRICO. PROBLEMÁTICA DE SU ESTUDIO
E INTERPRETACIÓN.

HUGO LOZANO HERMIDA


EDUARDO RAMIL REGO
SARA BARBAZÁN DOMÍNGUEZ

PALABRAS CLAVE
Cantábrico, época romana, castro, materiales.

RESUMEN
Presentamos la situación actual del proyecto de revisión y estudio de colecciones
procedentes de los castros del sector más occidental de la costa cantábrica que desde
hace años estamos desarrollando desde el Museo de Prehistoria e Arqueoloxía de Vilalba.
Esta zona inserida entre la Ría de Ribadeo y el cabo de Estaca de Bares cuenta con un
número considerable de asentamientos que se pueden considerar castros, no obstante, el
grado de conocimiento que se tiene de ellos es muy dispar. Al haber sido poco frecuentes
las excavaciones sistemáticas, para la mayoría de los lugares contamos sólo con los
materiales recogidos en superficie o tras su remoción por causas ajenas a la arqueología.
A pesar de los problemas que arrastra la adscripción cronológica y la diferenciación de sus
fases debido a la ausencia de registro estratigráfico, los materiales recuperados se pueden
encajar en el período de conquista u ocupación romana, siendo por el momento imposible
precisar si el inicio de los asentamientos fue anterior a este momento.

ABSTRACT
We present the current situation of the project of review and study of collections from
the hillforts sited in the western sector of the Cantabrian coast, which we have been
developing for years from the Museo de Prehistoria e Arqueoloxía de Vilalba. This area

299
inserted between the Ría de Ribadeo and the cape of Estaca de Bares has a remarkable
number of settlements considered hillforts, however, our degree of knowledge of them is
very different. Since systematic excavations have been rare, for most of the sites we only
have the materials collected on the surface or after their removal due to causes beyond the
archeology. In spite of the problems that the chronological attribution and the differentiation
of its phases take, due to the absence of stratigraphic registry, the recovered materials
can be fitted in the period of Roman conquest or their subsequent occupation, but it is
impossible at this point to determine if the beginning of the settlements was earlier than this
moment.

300
Fig.1 - Mapa físico el espacio geográfico correspondiente al occidente cantábrico.

1. INTRODUCCIÓN

En este artículo profundizaremos en el análisis de la problemática que acompaña al


estudio de los materiales procedentes de los castros del sector más occidental de la costa
cantábrica. Nuestro objetivo es, al tiempo que exponemos la situación actual de los trabajos
de revisión y estudio de colecciones que realizamos desde hace años en el Museo de
Prehistoria e Arqueoloxía de Vilalba, introducir algunas reflexiones de carácter general
sobre nuestro ámbito de estudio y específicamente sobre los problemas que rodean a estas
tareas y condicionan sus resultados. Haremos especial hincapié en la necesidad de tener
presentes estas limitaciones a la hora de formular interpretaciones haciendo apología de la
premisa que considera que siempre es mejor una pregunta no resuelta que una respuesta
que no se sostiene sobre la evidencia.

301
2. DEFINICIÓN DEL ESPACIO GEOGRÁFICO

La falta de precisión que implica la utilización de referencias a puntos cardinales hace


que sea imprescindible empezar por acotar espacialmente el área objeto de estudio, que
englobamos en el título de este artículo bajo la ambigua denominación de occidente cantábrico.
Hemos optado por utilizar accidentes geográficos significativos como límites para
demarcar un área que consideramos suficiente para los objetivos que nos planteamos
y que creemos que mantiene cierta coherencia intrínseca. Así es como nuestro espacio ha
quedado circunscrito a la zona costera comprendida entre la Ría de Ribadeo y el cabo de
Estaca de Bares.
Desde un punto de vista geográfico este espacio se podría dividir a su vez en dos
zonas, con una orografía distinta y sustratos geológicos diferentes. Al oeste se sitúa el área
comprendida entre Estaca de Bares y Cabo Burela, una costa granítica muy quebrada con
un relieve muy acusado sin ninguna planicie que sirva de transición entre las zonas más
elevadas y el mar. En este paisaje accidentado se abren, junto a otros de menor entidad,
los valles de los ríos Landrove y Sor, que actúan como vías naturales de comunicación y
tránsito entre la costa y el interior y que dan lugar a las rías de Viveiro y de O Barqueiro
respectivamente.
Al este, en cambio, nos encontramos con el inicio de la rasa cantábrica, una plataforma
litoral que se extiende a lo largo de 250 km en dirección oeste-este desde Cabo
Burela hasta la Ría de Tina Mayor en el oriente asturiano, ganando altura y anchura
progresivamente. Despliega una línea de costa abrupta, caracterizada por la presencia
casi continua de acantilados que, si bien en el área que nos ocupa oscilan entre los 15
y los 25 metros, aumentan su altura a medida que lo hace la plataforma. Varios cursos
fluviales la cruzan segmentándola y creando conexiones a través sus valles entre la costa
y los sistemas montañosos en los que nacen.

2.1. DISTRIBUCIÓN ESPACIAL DE LOS YACIMIENTOS


Si nos fijamos en la distribución espacial de los yacimientos, observamos una
concentración de asentamientos en la línea costera actual y diferentes modelos de

302
dispersión a medida que avanzamos hacia el interior a través de los valles. Dejándonos
llevar por la orografía actual, podemos ver también en las rías la presencia de
asentamientos emplazados en lugares privilegiados de ambas márgenes, sin embargo, la
orografía actual probablemente diste mucho de la contemporánea a su ocupación debido a
la peculiar composición geológica de esta costa que facilita que la erosión marina produzca
cambios importantes en el frente costero en cortos periodos de tiempo. Por esta razón
debemos tomar con cautela cualquier interpretación sobre la disposición espacial de los
asentamientos respecto al mar, ya que lo que hoy se encuentra en plena línea de costa,
estaría considerablemente más lejos del mar en época romana.

Fig. 2 - Distribución espacial de los yacimientos con respecto al mar y al relieve costero.

Hacer una lectura interpretativa de la distribución espacial de los yacimientos no resulta


sencillo con tan pocos datos respecto a su cronología, sin embargo, la vocación marítima
de estas poblaciones en época romana parece clara a juzgar por la substancial explotación
de los recursos marinos (Fernandez Rodríguez, C., González Gómez de Agüero y Bejega,
2008) que se ha documentado en yacimientos que disponen de colecciones de materiales
zooarqueológicos.

303
3. ANTECEDENTES Y ESTADO DE LA INVESTIGACIÓN

Sin que podamos explicarnos la razón, este sector apenas ha despertado interés
entre los investigadores del mundo romano, por lo que casi no se han llevado adelante
investigaciones sistemáticas y las que se han hecho, principalmente compendios de
localizaciones de yacimientos (Romero, 1980; Fernandez Ochoa y Morillo, 1997; Cordeiro,
2015), no han tenido continuidad. Quizás sea cierta presunción sobre la incapacidad de
este territorio para aportar nuevos datos, relativamente extendida entre los investigadores,
la que explica que no se le haya dedicado una mayor atención hasta el momento y que
haya pervivido, de manera contraria a la evidencia, un antiguo prejuicio de “escasa
romanización” del área (Blázquez, 1977).
Uno de los objetivos de esta comunicación es volver a poner de manifiesto las
posibilidades de estudio que ofrece este espacio a la luz de los datos de que disponemos.
Estos datos, lejos de confirmar esa presunción, dibujan un área jalonada por multitud de
asentamientos que, por el aspecto que presentan sus defensas en prospección, se podrían
identificar como castros, además de otras estructuras inequívocamente romanas, entre las
que contamos minas (Shult, 1835), villas (Ramil González, 2008), estructuras que han sido
interpretadas como factorías de salazón (Maciñeira, 1947; Suárez Piñeiro, 2003) y hornos
alfareros (Lozano, Ramil Rego y Barbazán, 2018). A pesar de que la atribución cronológica
de todos estos asentamientos castreños a época romana no deja de ser controvertida
(González Ruibal, 2006); como veremos más adelante, existen evidencias que pueden
sustentar, si no su fundación, sí al menos su ocupación durante este periodo.
Contra lo que pudiera parecer por su gran número y amplia mención en bibliografía,
el grado de conocimiento que tenemos respecto a los yacimientos de este sector es muy
dispar y en ningún caso profundo. Las excavaciones sistemáticas en esta zona han sido
escasas y poco significativas para una visión de conjunto, acusando la mayoría problemas
metodológicos y de registro que afectan considerablemente a sus resultados. Cabe
mencionar también que una buena parte de los datos de los que disponemos se deben a
recogidas superficiales realizadas en yacimientos que, o han sido removidos por razones
ajenas a la arqueología, o permanecen todavía sin excavar, por lo que sólo podemos
considerarlos preliminares.

304
Si hacemos un repaso rápido por las excavaciones más importantes realizadas en este
sector, cabría destacar las distintas intervenciones practicadas a principios del siglo XX por
Federico Maciñeira (1947) en el entorno de Bares (Mañón), algunas de las cuales verían
continuidad en la década de los noventa (Ramil González et. al. 2003). También merecen
mención singular las excavaciones realizadas en Fazouro (Foz) a mediados de los sesenta
(Suárez Acevedo y González de Sela, 1963; Fernández Rodríguez, M., y Alonso, 1966),
y con motivo de su consolidación a finales de los ochenta y principios de los noventa
(Barbi, 1991; Barbi y Carrera, 1993, 1995). Contamos con algunas intervenciones más,
consecuencia de la arqueología comercial, entre las que podríamos destacar las del castro
de Punta Atalaia (Cervo) (Castro, 2008), la villa de Area (Viveiro) (Ramil González, 2008)
o el castro de As Grovas (Ribadeo) (Ramil González, 2009). No se trata en ningún caso
de intervenciones continuadas y sistemáticas con el fin de profundizar en el conocimiento
del yacimiento, sino que la mayoría afectan a pequeñas superficies y vienen motivadas por
otros fines distintos a los de la investigación, acusando los problemas habituales de este
tipo de intervenciones.
Si queremos ir más allá de los lugares en los que se han llevado a cabo excavaciones,
que resultan poco representativos respecto al total de asentamientos documentados,
disponemos de otra fuente de información en las colecciones de materiales recogidos en
yacimientos que habían sido removidos por razones ajenas a la arqueología como, por
ejemplo, en el castro de Punta do Castro (Barreiros) (Ramil Rego et al. 1995; Lozano et
al. 2015) donde se estableció una cantera de áridos, o en el castro de A Devesa (Ribadeo)
(Fernández Ochoa y Rubio, 1983), donde se construyó una vivienda. En ambos casos se
dieron recogidas puntuales de material superficial tras las remociones y se han podido
componer colecciones bastante voluminosas, aunque lo habitual es que las colecciones
descontextualizadas no tengan una gran entidad, así ocurre, por ejemplo, en Meirengos
(Ribadeo) o en A Pampillosa (Foz).
Otro factor importante de remoción es el mar, pues esta es una costa donde la erosión
marítima es especialmente acusada y en momentos de temporal no es extraño que
se derrumben partes del acantilado arrastrando consigo estratos arqueológicos cuyos
materiales quedan desperdigados por las playas. Es el caso de Fazouro, por ejemplo,
donde se pueden observar viviendas cortadas por el propio acantilado, lo que nos permite

305
suponer que una parte importante del asentamiento ha desaparecido. Los cambios
en el relieve costero motivados por esta causa pueden afectar profundamente a estos
asentamientos, sirva de ejemplo el castro de A Devesa que probablemente se extendía
de manera continuada sobre una superficie, hoy cedida al mar, entre la costa y los islotes
próximos. Del resto de los yacimientos de este sector, no habiendo sido excavados y no
contando tampoco con colecciones voluminosas de materiales fruto de remociones, poco
más nos atrevemos a decir. Aunque para los castros todavía podemos observar en prospección
sus sistemas defensivos y cómo estos configuran la estructura de los asentamientos, nos
parece prematuro inferir cualquier vínculo entre su morfología y la situación geográfica
del asentamiento (Cordeiro, 2015); ya que sin saber a qué periodos corresponden y, por
tanto, sin poder descartar que las diferencias se deban, entre otros factores posibles, a su
construcción en momentos distintos, consideramos arriesgado afirmar que exista un tipo
propio de la zona costera y otro del interior. A nuestro parecer, incluso convendría, teniendo
en cuenta las características peculiares de la erosión costera en esta zona, extremar
la cautela a la hora de interpretar que papel pudo jugar a nivel defensivo su situación
respecto a los acantilados o el mar, ya que es muy probable que la geografía actual no se
corresponda con la antigua.

4. ADSCRIPCIÓN CRONOLÓGICA DE LAS OCUPACIONES

La atribución cronológica de la mayoría de los asentamientos de esta zona es una tarea


compleja. No disponemos de estratigrafías claras que nos permitan diferenciar fases o periodos
de ocupación incluso en los yacimientos de los que sabemos más porque han sido excavados
varias veces en distintos momentos o se han realizado dataciones absolutas, tomemos
como ejemplo paradigmático el del castro de Fazouro.
Aunque podemos sostener que en su conjunto presenta múltiples características que
sitúan, al menos una de sus fases, en un momento avanzado de la dominación romana
donde su influencia es fácilmente documentable: estucos en las paredes, enlosados, muros
imbricados, esquinas, tégulas e ímbrices, fíbulas, monedas (Chamoso, 1963) y cerámicas
importadas romanas; no sabemos si se ha agotado la potencia o qué relación estratigráfica

306
existe entre las estructuras exhumadas y los materiales, ya que muchos de ellos fueron
recogidos sin que se elaborase un registro o más tardíamente fuera de contexto en las
terreras de excavaciones antiguas.
A pesar de que por el momento no observamos indicios inequívocos que apunten a

Fig. 3 - Ejemplos de TSH y TSHT procedentes de Fazouro.

la existencia de ocupaciones más antiguas, el estado actual de la investigación, sin una


secuencia estratigráfica completa y clara, no nos permite descartarlo por completo ni
tampoco diferenciar momentos dentro de la fase de ocupación que sí hemos podido identificar.
Tanto las dataciones radiocarbónicas (Barbi Alonso, V., 1991: 321) como los resultados
del estudio de las cerámicas son compatibles con una adscripción tardía de la ocupación
del castro de Fazouro, pero tampoco nos permiten ir mucho más allá. El informe realizado

307
en su día por López Pérez (1994) sobre la Terra Sigillata recuperada en las excavaciones
más recientes, recoge una propuesta de atribución cronológica, basada en la presencia y
ausencia de tipos característicos en la colección, que concuerda con los resultados que,
con todas sus limitaciones, arroja el estudio tipológico de la cerámica común y que dibujaría
una horquilla cronológica amplia para Fazouro que abarca desde el siglo II y hasta algún
momento avanzado del s. IV.
En este sentido, merece la pena mencionar aquí, aunque lo trataremos con mayor
detenimiento más abajo, que también se han documentado algunos fragmentos (Lozano

Fig. 4 - Cronología de la cerámica común de Fazouro según sus tipos a partir de Alcorta (2001).

Hermida et al. 2016) de ollas de cerámica común no torneada que refuerzan nuestra
hipótesis sobre este horizonte temporal, pues se corresponde con el periodo de mayor
expansión a lo largo de la costa cantábrica de esta producción (Esteban et al., 2008).
Sin embargo, debido a las carencias en el registro estratigráfico no podemos ir más
allá y discernir si se trata de una ocupación continua e ininterrumpida en el tiempo durante
casi tres siglos, o por el contrario, se trata de una ocupación más breve y tardía, pudiendo
considerarse los materiales más antiguos como pervivencias. Quizás futuras intervenciones
en el yacimiento permitan arrojen nueva luz y nos ayuden a discernirlo.

308
El caso de Fazouro resulta ilustrativo de las dificultades que supone interpretar los
resultados del estudio de materiales en ausencia de un contexto estratigráfico claro.
Huelga explicar, que si en un castro como este, excavado en varias ocasiones en distintas
décadas, nos encontramos con estas dificultades; para aquellas colecciones que carecen
de contexto y que han sido fruto de la actividad recolectora de particulares, la situación
es todavía más compleja, si bien hemos observado que existen paralelismos claros,
tecnológicos y formales, entre los materiales que conforman estas colecciones y los
documentados en Fazouro y en otros lugares con cronologías mejor conocidas. Esta
homogeneidad formal y tecnológica en algunos casos resulta tan significativa que nos
lleva a suponer una posible sincronía en la ocupación de varios lugares, al menos en algún
momento, aunque serían necesarias nuevas intervenciones para aclarar definitivamente
esta situación.

5. CONDICIONANTES DEL ESTUDIO TIPOLÓGICO DE LA CERÁMICA.

Existen una serie de condicionantes a la hora de estudiar la cultura material de los


asentamientos de nuestro ámbito, que debemos tener en cuenta si queremos valorar
correctamente los resultados de nuestro trabajo, ya que nos limitan e influyen de manera
notable en nuestra interpretación de los mismos.

5.1. DEFICIENCIAS METODOLÓGICAS EN EL REGISTRO ESTRATIGRÁFICO.


Como ya hemos mencionado, la ausencia de un registro estratigráfico claro es una
característica habitual tanto de las colecciones recogidas por aficionados, como de las
procedentes de excavaciones antiguas y, a menudo, también de las procedentes de
excavaciones recientes. La falta de claridad en los contextos estratigráficos no permite
establecer relaciones de sincronía entre los depósitos ni entre los materiales y lastra
considerablemente el resto de los estudios que se puedan acometer. Cabe mencionar que
la obtención de dataciones absolutas, escasas en los yacimientos de nuestra zona de
estudio, no reemplaza ni suple un registro adecuado de la estratigrafía, ni por supuesto
debe sustituir al estudio tipológico de los materiales, sino complementarlo.

309
Contar con un registro estratigráfico precario es una constante inexorable de la que
es difícil sustraerse cuando se afronta el estudio de materiales. Como ya hemos visto
antes con el ejemplo de Fazouro, esta circunstancia nos obliga a intentar inferir fases o
momentos de ocupación a través de dataciones relativas en base a tipologías, lo que, en la
práctica, a menudo nos coloca directa o indirectamente en una situación de dependencia
respecto de materiales foráneos, como por ejemplo las ánforas o la Terra Sigillata. Esta
dependencia no sólo se traduce en el uso en ocasiones abusivo de estas producciones,
minoritarias dentro de las colecciones y a menudo con mayor pervivencia de la que se
le podría suponer, como “fósil director” para la atribución cronológica de un conjunto de
materiales; sino también subyace en las tipologías de las producciones comunes de
carácter local o regional, pues la cronología de los tipos se ha establecido en muchos casos
siguiendo este método.
A la hora de ponderar este problema, no debemos olvidar que la mayor parte de las
piezas que componen nuestras colecciones son fragmentos de recipientes de cerámica
común romana. Como se ha explicado ya muchas veces (Beltrán, 1990; Huguet, 2013),
bajo este epígrafe se ocultan, en realidad, producciones muy diferentes tanto a nivel
formal como tecnológico, que pueden tener un origen próximo al asentamiento o tratarse
de productos de importación. Además, el estudio de cada una de estas producciones no
ha alcanzado el mismo grado de profundidad y la creación de tipologías se encuentra en
muchos casos en fase de desarrollo. A menudo, se conocen mejor los grupos cerámicos
con mayor difusión, mientras que las producciones de ámbito local o regional reciben
menor atención por parte de los investigadores.

5.2. LÍMITES Y CARENCIAS DE LAS TIPOLOGÍAS DE REFERENCIA.


La tipología de referencia para nuestro ámbito de estudio es la de la cerámica común
lucense (Alcorta, 2001). Esta tipología, pese a ser útil y necesaria por ser la única para este
contexto, trae parejos algunos problemas intrínsecos que convendría exponer brevemente.
Durante el proceso de adscripción tipológica hemos comprobado que no resulta
conveniente establecer un atributo secundario, como puede ser la presencia o no de asa,
engobe o decoración, como criterio diferenciador de un tipo, ya que la ausencia de estos
elementos puede deberse al estado de conservación o de fragmentación del recipiente.

310
También hemos observado que la descripción formal de los tipos no siempre concuerda
con los dibujos que los ilustran y, en algunos casos, la variabilidad formal en las figuras que
ilustran un único tipo es mayor que la existente entre dos tipos diferentes.
Por otra parte, la terminología empleada por su autor acusa cierta ambigüedad e
imprecisión, lo que dificulta la compresión de los atributos definitorios del tipo, que en
ocasiones son demasiado restrictivos y en otras un tanto vagos. Ocurre también que
algunos tipos se definen sin ejemplares completos y otros carecen de contextos claros y,
por tanto, de cronología fiable; lo que hace que varíe mucho, de un tipo a otro, la cantidad
y calidad de la información. Es inevitable que como consecuencia de estas limitaciones
se establezcan perduraciones muy largas para algunos tipos, fruto de la incapacidad para
determinar fehacientemente su periodo de vigencia. Por ello, la utilización de esta tipología
por sí sola, resulta problemática a la hora de otorgar una cronología precisa al yacimiento;
sin embargo, como hemos visto con el caso de Fazouro, puede ser una herramienta útil en
combinación con el resto de las evidencias.

5.3. LA CORRECTA IDENTIFICACIÓN DE LAS CERÁMICAS DE IMPORTACIÓN.


Como mencionamos brevemente arriba, hemos documentado recientemente en nuestra
zona una producción importada, las ollas de cerámica común no torneada de difusión
aquitano-tarraconense (CNT AQTA) (Rechin et al, 1996; Esteban et al, 2012), que nos puede
ayudar a ajustar un poco más la cronología que nos deja la utilización de la tipología lucense.
El hallazgo de ollas de esta producción en los yacimientos costeros de nuestro ámbito
debe ponerse en contexto con su expansión a lo largo de la costa cantábrica y aquitana.
Su aparición entra dentro de lo razonable, pues ya se había constatado su presencia en
yacimientos costeros asturianos (Esteban et al., 2008) y en Lugo (Alcorta, 2001: 209); sin
embargo, su identificación nos permite desterrar el prejuicio científico que pesó durante mucho
tiempo sobre el Cantábrico como mar peligroso y de difícil tránsito. Este prejuicio contribuyó
a construir la idea de que hubo poca navegación en sus aguas y una presencia escasa de
asentamientos en sus costas. Como ya hemos visto, la abundancia de yacimientos costeros
desmiente esta creencia y la aparición de productos importados procedentes del oriente
cantábrico confirma que no sólo fue un mar transitado, sino que probablemente funcionó como
vía natural de comunicación entre las costas septentrionales del Imperio y el Mediterráneo.

311
Partiendo de esta realidad debemos extremar la atención respecto a la posible aparición
de materiales importados en asentamientos costeros como estos, pues puede ocurrir que,
al igual que durante algún tiempo la CNT AQTA fue confundida con producciones indígenas

Fig. 5- Mapa de dispersión de las ollas CNT AQ-TA y ejemplo de olla del tipo 701a procedente del castro de
Fazouro.

o locales, en la actualidad podamos estar equivocándonos respecto al origen de algunas


piezas al asumir su procedencia sólo en base a observaciones subjetivas respecto a su
semejanza estilística, formal o tecnológica.
En la medida de lo posible, sería conveniente realizar análisis petrográficos cuyos
resultados sustenten esa interpretación ya que, si bien al investigador de manera subjetiva,

312
la similitud entre dos piezas puede parecerle evidente, esa semejanza aparente pudiera
ocultar en realidad fenómenos productivos y de intercambio mucho más complejos, ya que
tipos en apariencia semejantes pudieron producirse simultáneamente en zonas distantes
y ser suministrados a los asentamientos a través de redes de comercio quizás más complejas
e intensas de lo que suponemos.

5.1. LA CONTEXTUALIZACIÓN DE LAS PRODUCCIONES CERÁMICAS DE TRADICIÓN


NATIVA.
Entre las producciones cerámicas más habituales en nuestras colecciones predominan
las denominadas en contextos romanizados cerámicas de producción local o regional, en
ocasiones llamadas de tradición indígena en general, o de tradición castreña o tradición
astur según el área en la que se localice el yacimiento. Por supuesto también han recibido
otras denominaciones que no aluden a su supuesta cronología o ámbito cultural, sino a su
decoración o acabado característico: el bruñido.
Sirva esta breve enumeración de algunos de los nombres que han recibido para ilustrar
parte del problema. De manera habitual en la bibliografía se ha tendido a interpretar esta
producción cerámica, por oposición a la cerámica común convencional, como heredera
o perteneciente a una tradición anterior a la conquista romana. Se enfoca como una
producción con un carácter nativo, es decir, propio del lugar al que llega el invasor con
su propia cultura material, anteponiendo “tradición” cuando el contexto de su aparición se
considera ya demasiado avanzado para hablar de conquista, o cuando se aprecia en ellas
la incorporación de alguna innovación técnica que se considera fruto de la convivencia con
otras producciones romanas, una suerte de intercambio, imitación o hibridación con todas
las implicaciones interpretativas que arrastran estos conceptos.
A su consideración como cerámica autóctona contribuyeron notablemente sus
características tecnológicas, pues se trata de recipientes que no suelen estar elaborados
a torno rápido, con pastas ricas en desgrasantes, aunque no por ello necesariamente
groseras, y que reproducen un reducido número de formas polifuncionales, principalmente
ollas, cuencos y tazones, de distintos tamaños. La superficie presenta un acabado
característico que consiste en un alisado somero de la cara interior y más cuidado de
la exterior, en el que algunas zonas específicas se bruñen creando patrones decorativos,

313
aunque también pueden encontrarse simplemente alisadas o bruñidas, sin decoración.
El diseño más habitual, destinado por lo general a la superficie exterior del cuerpo del
recipiente, consiste en líneas verticales u oblicuas, paralelas o que forman retículas. Desde
el punto de vista del color podrían dividirse en dos grandes grupos, pastas claras y pastas
oscuras, aunque existe una gran variedad de tonalidades en ambos, pudiendo detectarse
fuertes cambios en la coloración incluso dentro de un mismo recipiente; por lo que una
excesiva atención a los matices cromáticos no parece adecuada para caracterizarlas.
Lo cierto es que su consideración como cerámica nativa se ha debido más a la
interpretación de sus características tecnológicas como arcaicas que a su documentación
en contextos muy anteriores a la llegada de los romanos, pues todavía no se ha podido
establecer de manera irrefutable en que momento empieza su producción ni tampoco
cuando se detiene. En nuestras colecciones aparece a menudo acompañada de
materiales de cronologías avanzadas, pero no podemos saber si su convivencia se debe a
que seguían produciéndose tiempo después de la conquista, a que existía una pervivencia
en su uso o, por el contrario, se trata de restos que proceden de distintos niveles y
contextos estratigráficos que han sido revueltos o ignorados. La ausencia de registro
estratigráfico no nos permite discernirlo.
Para intentar salvar estas las limitaciones en nuestras colecciones, debemos fijar
nuestra atención en otras zonas próximas con guardan mucha similitud y en las que se han
podido documentar también estas cerámicas como pueden ser los yacimientos del oeste
asturiano (Fernández Ochoa, 1982; Maya, 1988). Para la comparación cobran especial
relevancia los de la cuenca del Navia-Eo, siendo entre ellos, por supuesto, el mejor
referente el castro del Chao Samartín (Grandas de Salime) (Hevia, Montes y Benéitez, 2000;
Hevia y Montes, 2009); cuyas colecciones y contextos estratigráficos excepcionales se ven,
sin embargo, limitados por la fecha de abandono del asentamiento. Más información sobre
periodos tardíos nos pueden dar otros castros próximos a nuestra zona como el de Zoñán
(Mondoñedo) (Vigo, 2007) o el de Viladonga (Castro de Rei), que estamos estudiando
actualmente.
Al adentrarnos en este tipo de comparaciones debemos tener en cuenta que al
no haberse localizado aún hornos alfareros asociados de manera inequívoca a estas
cerámicas ni haber sido realizados todavía suficientes análisis petrográficos, no estamos

314
en disposición de valorar si se trata de cerámicas fabricadas y distribuidas desde talleres
de ámbito regional o por el contrario, fueron elaboradas en ámbitos más reducidos, con
técnicas semejantes y siguiendo un mismo modelo formal y decorativo o al menos teniendo
el mismo referente, ya que también pudiera ser que tras estas cerámicas se oculte un
fenómeno de regionalización más complejo y de mayor amplitud (Hevia y Montes, 2009: 178).
Por otra parte, se ha apuntado alguna vez la posibilidad de que exista algún tipo
de relación entre estas producciones y otras que se le asemejan y se documentan en
lugares alejados dentro del imperio (Carretero, 2000: 600), lo cual contravendría quizás su

Fig. 6 - Cerámica nativa procedente del castro de Punta do Castro.

315
consideración de cerámicas puramente autóctonas y nos obligaría a poner en relación su
aparición con las transformaciones en la cultura material que siguen a la incorporación de
un territorio a la órbita de influencia de Roma. Transformaciones que a menudo arrancan
antes de la conquista efectiva y no terminan con ella, sino que evolucionan al ritmo que lo
hace el intercambio cultural hacia un proceso que puede considerarse de aculturación o de
configuración de una cultura híbrida.
Por tanto, uno de los objetivos que deberíamos marcarnos para futuras investigaciones
debería ser aclarar el marco cronológico, el origen y la perduración de este grupo cerámico,
así como qué relación puede guardar con producciones anteriores o con cerámicas propias
de otras zonas del imperio.

6. LA APORTACIÓN DE OTROS MATERIALES

6.1. FAUNÍSTICOS
De la explotación de los romanos del mar Cantábrico tenemos muestra, no sólo en la
aparición de cerámicas importadas procedentes del sector oriental o en la semejanza con
yacimientos asturianos, sino también en la explotación pesquera que atestiguan los restos
de ictiofauna (González Gómez de Agüero, 2013:158).
Cabría mencionar en relación con el aprovechamiento pesquero, la existencia de dos
posibles “factorías de salazón” en nuestra área de estudio: el asentamiento de Bares y el
de Area (González Gómez de Agüero, 2013:170), también llamado a veces Estabañón.
La interpretación de estos lugares como factorías se basa en el hallazgo de áreas
de producción industrial con pilas, de base cuadrangular y de dimensiones variables,
normalmente realizadas en opus signinum. Tradicionalmente se ha querido ver en estas
estructuras una producción sostenida de conservas de pescado en salazón y no es raro
encontrar interpretaciones en este sentido en bibliografía antigua (Maciñeira, 1947), y no
tan antigua (Suárez Piñeiro, 2003), sobre la zona. A este respecto conviene aclarar que las
pilas documentadas son pocas, en comparación con las de factorías localizadas en otras
regiones (Jiménez, Lorenzo y Bernal, 2003), y que en el mundo romano existen muchos
otros tipos de conservas que no implican necesariamente sal, además de otras actividades

316
que podrían utilizar el mismo tipo de estructuras, por lo que la identificación automática
de las pilas con factorías de salazón, pudiera no serlo tanto. En contra de la interpretación
de estos lugares como factorías de salazón está también el que no se hayan localizado en la
zona centros de producción de sal, aunque si llegaron a existir y se ubicaban cerca la orilla,
sería razonable suponer que hubiesen desparecido ante el avance del mar.
Sin embargo, la pesca no es la única actividad que se desarrollaba en los asentamientos
que nos ocupan y que podemos documentar a través de los restos faunísticos. La ganadería
y la caza (Fernández Rodríguez, C., 1995) están bien atestiguadas a través de los restos
óseos. Existen evidencias de cierta actividad cinegética, aunque seguramente fuese
esporádica y complementaria a las actividades agropecuarias. Las cabañas ganaderas
predominantes son las habituales, bovina, ovicaprina y porcina, sin embargo también se
han documentado algún resto de gallinácea. Cabría destacar la presencia de caballos,
documentada a través de piezas dentales tanto en Punta do Castro como en Fazouro.
Entre los restos malacológicos (Bejega, 2015) destaca la aparición, en varios de estos
asentamientos, de grandes cantidades de púrpura (Fernández Rodríguez, C., et al. 2015).
Podríamos pensar en su aprovechamiento como fuente de alimento, aunque, habida cuenta
de su cantidad y del nivel de fragmentación de las conchas, es que se recolectasen con un
fin diferente, probablemente para procesarlas y obtener pigmentos.

317
6.2. METÁLICOS

Fig. 7 - Clavo de hierro (1) y fragmento de alfiler para el cabello de bronce (2) procedentes del castro de Punta
do Castro. (3) “Bronce votivo sacrificial” procedente del castro de Punta Atalaia (a partir de Castro, 2009).

El estudio minucioso de los concheros ha permitido asimismo documentar otras


actividades como la forja (González Gómez De Agüero , et al. 2011), a través de la
identificación en el triado de residuos ergológicos de pequeño tamaño. Esta actividad
también había sido atestiguada por la aparición de escorias. No obstante, contra lo
que cabría esperar, apenas se encuentran objetos de hierro en nuestras colecciones,
correspondiendo la mayoría de los restos conservados a partes de clavos. Esta ausencia
de utillaje puede deberse a procesos posdeposicionales de degradación o a una recogida
poco exhaustiva, pero en cualquier caso resulta significativa. Tampoco disponemos de

318
una gran cantidad de objetos de bronce y los que conservamos destacan por su función
ornamental o simbólica (Castro, 2009).
Respecto a los numismas, también sorprende que, pese al hallazgo en nuestra área
de varios tesorillos (Carnero, 2015), las colecciones procedentes de los castros del
occidente cantábrico apenas cuenten con monedas y que de algunas, como las aparecidas
en Fazouro, sólo tengamos noticia (Chamoso, 1963), desconociéndose en la actualidad su
paradero.

6.3. LÍTICOS
Existe también en nuestras colecciones un número significativo de objetos líticos
que van desde molinos hasta simples cantos rodados, lisos o con un rebaje central. No
obstante, el grupo más importante por su número y frecuencia es el de los objetos líticos
perforados. Este grupo no resulta homogéneo ni en forma ni en tamaño ni en número de
perforaciones, existiendo tanto fragmentos grandes de pizarra con múltiples agujeros
generados por percusión (documentándose también entre los restos líticos, los conos
generados por el golpe) como discos sin perforación, que se han interpretado como fichas
de juego, o con una única perforación, que pudieron ser suspendidos con algún fin, quizás
como pesos de red, o si su peso y tamaño lo permiten, utilizados como fusayolas.
También se ha recogido en el castro de Punta o Castro (Barreiros) un ejemplo de
industria lítica tallada, un buril diedro de eje, que nos hace preguntarnos si a lo mejor la
industria lítica tallada pudo jugar un papel complementario a la escasa disponibilidad de
utillaje metálico que su ausencia en nuestras colecciones parece confirmar. Será necesario
un mayor cuidado con la identificación de este tipo de restos para que su hallazgo sea más
habitual.

319
Fig. 8 - Objetos líticos: disco (1), canto con rebaje central (2), buril diedro de eje (3), fragmento con perforación
(4) y disco perforado (5).

7. CONCLUSIONES

El sector más occidental de la costa cantábrica es una zona rica en patrimonio


arqueológico donde se han identificado numerosos asentamientos castreños. Por el momento,
los materiales que han sido recuperados en estos lugares, tanto a través de excavaciones
arqueológicas como de recogidas superficiales tras remociones ajenas a la arqueología,
apuntan hacia una cronología tardía dentro de la ocupación romana, y aunque todavía no
podemos descartar que el inicio de los asentamientos se date en épocas anteriores, no
existen por el momento evidencias que así lo indiquen.
El significativo déficit metodológico en el registro estratigráfico y la escasez de
investigaciones sistemáticas impiden que podamos dibujar una visión de conjunto ya que
el conocimiento que tenemos de los asentamientos es muy dispar, limitándose en la mayor
parte de los casos a su identificación en prospección, sin que se hayan ejecutado sondeos
o excavaciones. Por esta razón debemos evitar construir interpretaciones espaciales que
obvien ese desconocimiento.

320
La escasez de contextos estratigráficos y de dataciones absolutas nos obliga a
recurrir al estudio tipológico de los materiales para poder acotar la cronología. Si bien
este procedimiento de datación relativa, cuando no va acompañado de un registro
riguroso, acusa una falta de exactitud importante, nos permite hacernos una idea del
momento cronológico en que nos encontramos y aunque no resuelve los problemas
derivados de la ausencia de un buen método de registro, intenta paliarlos a la espera de
nuevas intervenciones que los solventen. Las colecciones a menudo reúnen piezas de
momentos cronológicos diferentes cuya delimitación es imposible si no se ha documentado
correctamente la secuencia estratigráfica, por esta razón resulta imposible saber si la
convivencia de materiales de cronologías diferentes se debe a intrusiones, a pervivencias
o a la confusión de dos momentos distintos durante la excavación.
La dependencia de producciones foráneas a la hora de construir la cronología
de ocupación de un asentamiento, unida a los problemas de contexto arqueológico
mencionados, nos impiden avanzar en la comprensión de la evolución diacrónica de
fenómenos complejos de naturaleza local o regional, así como afinar la atribución
cronológica, siendo habitual en la bibliografía la consideración de todo material romano
como perteneciente a una única fase considerada “romana” o “galaico- romana” y adscrita
genéricamente a un periodo entre el s.I y el s. V.
Aunque el estudio de la cultura material nos permite acotar un poco más estos
horizontes y profundizar en la comprensión de algunos aspectos y actividades de la vida
en estos asentamientos, para poder avanzar con mayor seguridad y resolver algunos
interrogantes fundamentales serán necesarias nuevas intervenciones con mayor rigor en el
registro.
La puesta en marcha de proyectos de investigación sistemáticos permitirá mejorar la
atribución cronológica y caracterizar arqueométricamente estos materiales para facilitar
su comparación con los de otros lugares e identificar centros de producción y áreas de
distribución.
Es probable que esa comparación en un marco más amplio nos permita adentrarnos
en la naturaleza de las relaciones que sin duda existieron entre esta zona y el resto del
Imperio Romano.

321
8. BIBLIOGRAFÍA

ALCORTA IRASTORZA, E. (2001). Cerámica común romana de cocina y mesa hallada en las excavaciones
de la ciudad. Lugo: Fundación Pedro Barrié de la Maza.
BARBI ALONSO, V. (1991). Estudio dos materiais do Castro de Fazouro (Lugo). Arqueoloxía/ Informes, 2,
pp. 319-322.
BARBI ALONSO, V. y CARRERA RAMÍREZ, F. (1993). Síntesis de las actuaciones en el Castro de Fazouro:
modelos de intervención patrimonial, Primeiras Xornadas Históricas e Arqueolóxicas da Mariña Lucense (Foz,
Marzo 1993), pp. 24-32.
BARBI ALONSO, V. y CARRERA RAMÍREZ, F. (1995). Consolidación de Castro de Fazouro (Foz, Lugo),
Arqueoloxía/ Informes, 3, pp. 221-224.
BEJEGA GARCÍA, V. (2015). El marisqueo en el noroeste de la península ibérica durante la Edad del Hierro
y la época romana. León: Universidad de León.
BELTRÁN LLORIS, M. (1990). Guía de la cerámica romana. Zaragoza: Pórtico.
BLÁZQUEZ MARTÍNEZ, J.M. (1977). La Romanización del Noroeste de la Península Ibérica En Actas del
Coloquio Internacional sobre el Bimilenario deLugo. Lugo: Patronato del Bimilenario de Lugo, pp. 67-81.
CARNERO VÁZQUEZ, O. Os “tesouriños” da colección numismática do Museo Provincial de Lugo.
Férvedes, 8, pp.: 439-444.
CARRETERO VAQUERO, S. (2000). El campamento romano del Ala II Flavia en Rosinos de Vidriales
(Zamora): la cerámica. Zamora : Instituto de Estudios Zamoranos Florián de Ocampo.
CASTRO VIGO, E. (2008). Sondaxes arqueolóxicas valorativas nunca parcela situada no entorno do
xacemento arqueolóxico de Punta Atalaia, San Cibrao-Cervo, Lugo. Férvedes, 5, pp. 477-483.
CASTRO VIGO; E: (2009). “Un nuevo ejemplar de los llamados bronces votivos sacrificiales”. Gallaecia, 28,
pp.:131-138.
CHAMOSO LAMAS, M. (1963). Excavaciones arqueológicas en el Castro de Fazouro, en Foz (Lugo).
Noticiario Arqueológico Hispánico,VII, cuaderno 1-3, pp. 110-115.
CORDEIRO MAAÑÓN, L. (2015). Análisis de los asentamientos costeros en el sector oriental de la provincia
de Lugo. En Martínez Peñín. R. y Cavero Domínguez, G. (eds.). Actas del congreso “Evolución de los espacios
urbanos y sus territorios en el Noroeste de la Península Ibérica”. León: Ediciones El Forastero S.L., pp.93-122.
ESTEBAN DELGADO, M., IZQUIERDO MARCULETA, M.T., MARTÍNEZ SALCEDO, A., RÉCHIN, F. (2008).
Producciones de cerámica común no torneada en el País Vasco peninsular y Aquitania meridional: grupos de
producción, tipología y difusión. Sautuola, 14, pp. 183-216.
ESTEBAN DELGADO, M., MARTÍNEZ SALCEDO, A., IZQUIERDO MARCULETA, M.T., ORTEGA CUESTA,
L.A., ZULUAGA IBARGALLARTU, M.C., ALONSO OLAZABAL, A., RÉCHIN, F. (2012). La cerámica común
romana no torneada de difusión aquitano-tarraconense (s. II a.C.-V d.C.): Estudio arqueológico y arqueométrico.
Bilbao: Kobie, Anejo, 12
FERNÁNDEZ OCHOA, C. (1982). Asturias en la época romana. Madrid: Universidad Autónoma de Madrid.
FERNÁNDEZ OCHOA, C., MORILLO CERDÁN, A. (1997). De Brigantium a Oiasso. Una aproximación al
estudio de los enclaves marítimos cantábricos de época romana, Madrid: Foro.

322
FERNÁNDEZ OCHOA, C.; RUBIO, I. (1983). Materiales arqueológicos de “Los Castros” (Ribadeo, Lugo).
En Homenaje al prof. Martín Almagro Basch, Vol.3, Madrid: Ministerio de Cultura, pp. 173-188.
FERNÁNDEZ RODRÍGUEZ, C. (1995) “Recursos ganaderos y cinegéticos en los castros costeros del sector
cantábrico lucense (Noroeste de la Península Ibérica)”. Férvedes, 4, pp. 63-79.
FERNÁNDEZ RODRÍGUEZ, C., FUERTES PRIETO, M. N., RAMIL REGO, E., BEJEGA GARCÍA, V.,
GONZÁLEZ GÓMEZ DE AGÜERO, E. (2015). “A Cabana (Barreiros, Lugo): primeros datos de un conchero
purpurino en la costa cantábrica”. Férvedes, 8, pp. 85-94.
FERNÁNDEZ RODRÍGUEZ, C., GONZÁLEZ GÓMEZ DE AGÜERO, E. y BEJEGA GARCÍA. V. (2008).
Estudio del conchero del Castro de Punta Atalaia (San Cibrao, Lugo). Férvedes, 5, pp. 43-52.
FERNÁNDEZ RODRÍGUEZ, M. y ALONSO DEL REAL, C. (1966). Castro de Fazouro. Noticiario
Arqueológico Hispánico, 8-9, pp. 156-157.
GONZÁLEZ GÓMEZ DE AGÜERO, E. (2013). La ictiofauna de los yacimientos arqueológicos del noroeste
de la Península Ibérica. León: Universidad de León, p. 158.
GONZÁLEZ GÓMEZ DE AGÜERO, E., BEJEGA GARCÍA, V. FERNÁNDEZ RODRÍGUEZ, C. y ÁLVAREZ
GARCÍA, J. C. (2011). “Marisqueo, pesca y forja en el Castro de Punta Atalaia (San Cibrao, Lugo): avance de
resultados del concheiro” Férvedes, 7, pp. 17-26.
GOZÁLEZ RUIBAL, A. (2006). Galaicos. Poder y Comunidad en el Noroeste de la Península Ibérica (1200
a.C - 50 d.C.). Brigantium, 18-19.
HEVIA GONZÁLEZ, S., MONTES LÓPEZ, R. (2009). “Cerámica Romana Altoimperial de fabricación regional
del Chao Samartín (Grandas de Salime, Asturias)”. CuPAUAM, 35, pp. 27-190.
HEVIA GONZÁLEZ, S., MONTES LÓPEZ, R., BENÉITEZ GONZÁLEZ, C. (2000). “Cerámica común romana
del Chao Samartín (Grandas de Salime-Asturias). Vajilla de cocina y almacenamiento”. Boletín del Seminario de
Arte y Arqueología, 66, pp. 153-196.
HUGUET ENGUITA, E. (2013) El material más usado por los antiguos. La cerámica común y de cocina. En
Rivera i Lacomba, A. (Coord.). Manual de cerámica romana del mundo helenístico al Imperio Romano. Madrid:
Comunidad de Madrid, Museo Arqueológico Regional, pp. 291-330.
JIMÉNEZ-CAMINO ÁLVAREZ, R., LORENZO MARTÍNEZ, L. Y BERNAL CASASOLA, D. (2003). Las
factorías de salazones de Tulia Traducta: espectaculares hallazgos arqueológicos en la calle San Nicolás nº 3-5
de Algeciras. Almoraima: revista de estudios campogibraltareños, Nº 29, pp. 163-184.
LÓPEZ PÉREZ, C. (1994). Informe de las sigillatas del castro de Fazouro (Foz, Lugo). Campañas de 1988
y 1992. Inédito.
LOZANO HERMIDA, H., BARBAZÁN DOMÍNGUEZ, S. Y RAMIL REGO, E. (2016). Cerámica común romana
no torneada de difusión aquitano-tarraconense en castros de la costa de Lugo. Boletín Ex Officina Hispana, 7,
p.p. 47-51.
LOZANO HERMIDA, H., CAAMAÑO GESTO, J. M., RAMIL REGO, E., BARBAZÁN DOMÍNGUEZ, S. (2015).
El yacimiento galaico-romano de Punta do Castro (Barreiros, Lugo). Nuevas aportaciones, Férvedes, 8,
pp. 221-228.

323
LOZANO HERMIDA, H.; RAMIL REGO, E. Y BARBAZÁN DOMÍNGUEZ, S. (2018). Un horno en Esteiro
(Ribadeo, Lugo). Contribución al estudio de la producción cerámica de época romana en el occidente
Cantábrico. Férvedes, 9.pp.179-185
MACIÑEIRA Y PARDO DE LAMA, F. (1947). Bares: puerto histórico de la primitiva navagación occidental.
Santiago de Compostela: Instituto Padre Sarmiento de Estudios Gallegos. 431p.
MAYA GONZÁLEZ, J. L. (1988). La cultura material de los castros asturianos. Barcelona: Universidad
autónoma de Barcelona.
RAMIL GONZÁLEZ, E. (2008). Villa romana e poboado medieval de Area (Viveiro, Lugo). En Ramil Rego,
(ed.) Férvedes 5, pp.: 487-492.
RAMIL GONZÁLEZ, E., FERNÁNDEZ RODRÍGUEZ, C., ZABALETA ESTÉVEZ, M. y NAVEIRO LÓPEZ,
J. L. (2003). Excavación arqueolóxica no xacemento Eirexa-Vella de Bares -Concello de Mañón- (A Coruña).
Campaña 1997. Brigantium, 14, pp. 185-224.
RAMIL REGO E., FERNÁNDEZ RODRÍGUEZ, C., RODRÍGUEZ LÓPEZ, C., LÓPEZ PÉREZ, C. Y
FERNÁNDEZ PINTOS, P. (1995). El yacimiento de Punta do Castro (Reinante, Barreiros, Lugo). Materiales de
superficie y perspectivas, Férvedes, 2, pp. 87-115.
RECHIN, F., IZQUIERDO, M. T., COVERTINI, F., ESTEBAN DELGADO, M., FILLOY NIEVA, I., GARCIA,
M.-L., GIL ZUBILAGA, E. G. (1996). “Céramiques communes non-tournées du nord de la Péninsule Ibérique et
d’Aquitaine méridionale. Origine et diffusion d’un type particulier de pot culinaire”. En Rivet, L., Actes du Congrès
de Dijon. Dijon: Société Française d’Étude de la Céramique Antique en Gaule. pp. 409-422.
ROMERO MASIÁ, A. M. (1980). Asentamentos castrexos costeiros no Norde de Galicia”. Gallaecia, 6, pp.
61-80.
SCHULZ, G. (1835). Descripción geognóstica del Reino de Galicia, acompañada de un mapa petrográfico
de este país. Madrid: Imprenta de los herederos de Collado.
SUÁREZ ACEVEDO, J. J. y GONZÁLEZ DE SELA Y TORRES, J. (1963). Noticia sobre el castro de Fazouro,
en el municipio de Foz (Lugo), Archivo Español de Arqueología, 36, pp. 162-165.
VIGO GARCÍA, A. (2007). O castro de Zoñán (Mondoñedo, Lugo). Escavacións 2002-2004. Mondoñedo:
Concello de Mondoñedo.

324
JOSE CARLOS SASTRE
BLANCO

ÓSCAR RODRÍGUEZ-
-MONTERRUBIO

PATRICIA FUENTES MELGAR

PATRICIA DE INÉS SUTIL

CÉSAR MARCO PÉREZ


GARCÍA

MANUEL VÁZQUEZ FADÓN


EXCAVACIONES ARQUEOLÓGICAS EN CASTROS DE LA EDAD
DEL HIERRO EN LA PROVINCIA DE ZAMORA. PEÑAS DE
LA CERCA (RIONEGRITO DE SANABRIA), FASES DE LA EDAD
DEL HIERRO DE EL CASTILLÓN (SANTA EULALIA DE TÁBARA)
Y EL CASTRO DE LA ENCARNACIÓN (RABANALES DE ALISTE).

ARCHAEOLOGICAL EXCAVATIONS AT IRON AGE HILLFORTS IN THE


PROVINCE OF ZAMORA. PEÑAS DE LA CERCA (RIONEGRITO
DE SANABRIA), THE AGE OF IRON FROM EL CASTILLÓN (SANTA
EULALIA DE TÁBARA) AND CASTRO DE LA ENCARNACIÓN
(RABANALES DE ALISTE).

ONCE AÑOS DE INVESTIGACIONES SOBRE LA EDAD DEL HIERRO LLEVADOS


A CABO POR LA ASOCIACIÓN CIENTÍFICO-CULTURAL ZAMORAPROTOHISTORICA.

ELEVEN YEARS OF RESEARCH ON THE IRON AGE CARRIED OUT BY THE


SCIENTIFIC AND CULTURAL SOCIETY ZAMORAPROTOHISTORICA.

JOSE CARLOS SASTRE BLANCO1


ÓSCAR RODRÍGUEZ-MONTERRUBIO2
PATRICIA FUENTES MELGAR3
PATRICIA DE INÉS SUTIL4
CÉSAR MARCO PÉREZ GARCÍA5
MANUEL VÁZQUEZ FADÓN6

329
RESUMEN

En el año 2006 comenzaron los trabajos previos para el desarrollo del Proyecto
de Investigación y Difusión del Patrimonio Arqueológico Protohistórico de la provincia
de Zamora llevado a cabo por el equipo de arqueólogos que más tarde daría lugar a
la Asociación Científica y Cultural ZamoraProtohistórica. En 2007 y 2008 se llevaron
a cabo las excavaciones en el castro de Peñas de la Cerca (Rionegrito de Sanabria,
Zamora) sacando a la luz un poblado fortificado con un complejo defensivo basado en un
acrópolis, un recinto amurallado y un sistema de 6 terrazas-muro, datado entre el Hierro
I y el II ayuda a comprender el modo en el que se dibujan los límites entre los horizontes
castreño y soteño así como las vías de acceso de influencias culturales de la meseta en
este periodo de transición. Entre los años 2007 y 2017 se han realizado las excavaciones
arqueológicas sistemáticas en el castro de El Castillón (Santa Eulalia de Tábara), un
asentamiento tardoantiguo cuya fase mejor conocida se encuentra entre los siglos V y
VI d.C. pero que gracias a las excavaciones hemos podido completar varias fases de
ocupación desde la Edad del Bronce, concretamente la Edad del Hierro se conoce gracias
a varias estructuras, un posible planteamiento defensivo original y unos restos cerámicos que
marcan claramente las dos fases de la Edad del Hierro, cerámicas soteñas o de imitación
soteña y castreñas del Hierro I por un lado y cerámicas celtibéricas del Hierro II por el otro.
Recientemente en el año 2017 comenzaron los trabajos de investigación en el Castro de
la Encarnación (Rabanales de Aliste) en donde desde el verano 2018 se vienen realizando

1
jsastreb@hotmail.com. Doctor por la Universidad de Granada y arqueólogo de Zamoraprotohistórica.
Doctor in Archaeology by the University of Granada and Archaeologist in the Archaeological Protohistory Society
Zamoraprotohistórica.
2
orodmon@hotmail.com. Doctor por la Universidad Nacional de Educación a Distancia (UNED) y arqueólogo
de Zamoraprotohistórica. Doctor in Archaeology by the National University of Distance Studies and Archaeologist
in the Archaeological Protohistory Society Zamoraprotohistórica.
3
pf_melgar@yahoo.es. Arqueóloga profesional y de Zamoraprotohistórica. Archaeologist and member of the
Archaeological Protohistory Society Zamoraprotohistórica.
4
patriza_23@gotmail.com. Arqueóloga profesional y de Zamoraprotohistórica. Archaeologist and member of
the Archaeological Protohistory Society Zamoraprotohistórica.
5
zesar_perez@hotmail.com. Arqueólogo profesional y de Zamoraprotohistórica. Archaeologist and member of
the Archaeological Protohistory Society Zamoraprotohistórica.
6
manuelvazquezfadon@gmail.com. Arqueólogo profesional y de Zamoraprotohistórica. Archaeologist and
member of the Archaeological Protohistory Society Zamoraprotohistórica.

330
campañas de excavación. En los trabajos previos realizados durante el informe preliminar
y las prospecciones sucesivas se han detectado elementos compositivos de un complejo
sistema defensivo de la Edad del Hierro formado por un acceso principal diferenciado, una
muralla aparentemente perimetral y varias líneas de foso. Los tres asentamientos marcan
el pasado, el presente y el futuro de la Asociación ZamoraProtohistorica en relación a las
investigaciones sobre la Edad del Hierro en Zamora particularmente y en general en todo el
entorno meseteño occidental y la Cultura Castreña noroccidental.

PALABRAS CLAVE
Cultura Castreña, Edad del Hierro, Zamoraprotohistórica, Arqueología del Paisaje.

ABSTRACT
In the year 2006 began the preliminary work for the development of the Research and
Diffusion Project of the Protohistoric Archaeological Heritage in the province of Zamora
carried out by the team of archaeologists that later would lead to the Scientific and Cultural
Society Zamoraprotohistorica. In 2007 and 2008 the excavations were carried out in the
Peñas de la Cerca hillfort (Rionegrito de Sanabria, Zamora) bringing to light a fortified
Iron Age settlement with a defensive complex based on an acropolis, a walled enclosure
and a set of 6 walled tells, it was dated between Early and Late Iron Ages and It helps to
understand the way in which the boundaries between the Castros and Soto de Medinilla
Cultures are drawn, the limits between the horizons as well as the access routes of cultural
influences from the Northern Sub-Plateau in this transition period. Between 2007 and 2017
they were made systematic archaeological excavations in El Castillon (Santa Eulalia de
Tábara), a Late Roman settlement whose best known phase lies between the AD 5th and
6th centuries but that thanks to the excavations we are able to complete several phases
of occupation from the Bronze Age, specifically the Iron Age is known thanks to several
structures, a possible original defensive pattern and pottery remains that clearly mark the two
phases of the Iron Age, Soto de Medinilla (or imitations to it) and Castros Culture of the Early
Iron Age on the one hand and Celtiberian potteries of Late Iron on the other. Recently in the
year 2017 it began the research in Castro de la Encarnación (Rabanales de Aliste) during
the 2018 summer was run the first campaign of excavation, in the previous work done during

331
the preliminary report and the successive surveys we have detected compositional elements
of a complex defensive system of the Iron Age such as a differentiated main entrance, a
seemingly perimeter wall and several lines of ditches. The three settlements mark the past,
the present and the future of ZamoraProtohistorica in relation to Iron Age investigations in
Zamora particularly and in general in all the Western façade of the Northern Sub-Plateau and
the north-western Castros Culture.

KEYWORDS
Castros Culture, Iron Age, Zamoraprotohistorica, Landscape Archaeology.

332
1. EL MARCO GEOGRÁFICO

Los tres asentamientos castreños de la Edad del Hierro excavados por


Zamoraprotohistorica desde el año 2007 se encuentran en la franja noroccidental de la
provincia de Zamora (fig.1), una región montañosa donde más del 60% del territorio se
encuentra por encima de los 1.000m de altitud. Peñas de la Cerca pertenece a los términos
municipales de Palacios de Sanabria y Rosinos de la Requejada, siendo el pueblo de
Rionegrito de Sanabria la localidad más cercana a menos de 1 km de distancia se encuentra
sobre un cerro terminal de la sierra de La Cabrera en su vertiente sur, a una altitud de
1.085 m, en un afloramiento pizarroso con dirección armoricana NW-SE. El asentamiento
de El Castillón se localiza en el término municipal de Moreruela de Tábara perteneciendo
a los terrenos de la pedanía de Santa Eulalia de Tábara, se encuentra directamente sobre
un sinclinal de cuarcita desventrado y fracturado por el río Esla unos 750 m de altitud.
Finalmente el Castro de la Encarnación pertenece al pueblo de Mellanes que a su vez forma
parte del municipio de rabanales de Aliste, se encuentra en un espigón sobre el río Mena y
uno de sus afluentes de caudal irregular, a una altitud de 770 m.

Fig. 1 - Ubicación de los asentamientos castreños de la Edad del Hierro estudiados por Zamoraprotohistorica.
1.- Peñas de la Cerca; 2.- El Castillón; 3.- Castro de la Encarnación.

333
2. INVESTIGACIONES PREVIAS

Los tres asentamientos aparecen en los registros e inventarios realizados tanto por
Gómez Moreno (1927) como por Sevillano Carvajal (1978) que fueron posteriormente
ampliados y renovados en los años 80 por Ángel Esparza (en su estudio del poblamiento
castreño de la Edad del Hierro del noroeste de Zamora (Esparza, 1986), de la fachada
occidental del Duero (Esparza, 1984) y de manera indirecta en cuanto a la expansión de la
cultura del Soto de Medinilla hacia el occidente (Esparza, 2011). Para el castro de Peñas de
la Cerca no encontramos más publicaciones hasta las intervenciones llevadas a cabo por el
equipo de Zamoraprotohistórica pero no ocurre lo mismo para los otros dos asentamientos,
probablemente El Castillón sea el que tenga mayor cantidad de referencias bibliográficas
relacionadas con sus manifestaciones de Arte Esquemático (Fernández Rivera, 1987), las
propias investigaciones de Esparza y continuadas en fases posteriores (Sastre Blanco,
2006; Rodriguez-Monterrubio y Sastre Blanco, 2008; Sastre Blanco y Rodríguez Monterrubio,
2013). El caso del Castro de la Encarnación es interesante puesto que la abundancia de
restos arqueológicos de varias épocas (desde la Edad del Bronce a la romanización) ha
hecho posible encontrar varios trabajos previos sobre el arte de la prehistoria final (López
Monteagudo, 1989), la epigrafía romana y la propia romanización (Schulten y Maluquer,
1987), del mismo modo este asentamiento ha sido objeto procesos prospectivos no
publicados durante los años 80 (Viñé Escartín y Campano Lorenzo ambas en 1988 y
registradas como actuaciones previas en la Carta Arqueológica) y los 90 (Esparza Arroyo
y Martín Valls, 1997). Podemos resumir la información descrita en estas obras de manera
sintética (tabla 1).

Paisaje1 Muros Fosos Molinos Castreña Sigillata


Peñas de la Cerca X X X X
El Castillón X X
La Encarnación X X X

Tabla 1. Resumen de datos recogidos por investigaciones previas en cada uno de los asentamientos citados
en este trabajo.

1
Por paisaje nos referimos a toda la información relacionada con el dominio del entorno próximo
al que lo autores hacen referencia, por ejemplo la visibilidad, la posición estratégica en altura o la
proximidad de recursos como vados, minerales o pasos de montaña.

334
3. INVESTIGACIONES DE ZAMORAPROTOHISTORICA, LAS CAMPAÑAS
DE EXCAVACIÓN

El año 2006 supuso el inicio de las investigaciones arqueológicas cuando los ahora
doctores en Arqueología Jose Carlos Sastre Blanco y Óscar Rodríguez Monterrubio
juntaron sus proyectos de investigación y difusión del patrimonio arqueológico protohistórico
de Zamora en lo que se denominó PIDPAPZ vigente hasta el año 2018 con los
asentamientos de Peñas de la Cerca y El Castillón como principales objetos de estudio.
En el año 2009 nace en el seno del proyecto PIDPAPZ la Asociación Científica y Cultural
ZamoraProtohistórica que integrará a la dirección científica de proyectos más investigadores,
como Raul Catalán, Patricia Fuentes Melgar, Manuel Vázquez Fadón, César Pérez,
Raquel Portilla y Patricia de Inés y se incorporarán colaboraciones con los laboratorios de
Arqueo-metalurgia de la Universidad Complutense de Madrid, de carpología y palinología
del CSIC, de arqueofauna de la Universidad de Salamanca, de paleomagnetismo de la
Universidad Complutense de Madrid y de antropología de la Universidad de Murcia. Entre
los años 2007 y 2008 se excavaron cinco sondeos en el castro de Peñas de la Cerca (fig.
2). Desde el año 2007 y se ha estado excavando en el asentamiento de El Castillón. Se
han realizado varios sondeos que demuestran que el poblamiento del Hierro previo a la
Tardoantigüedad ha quedado de manera testimonial en hallazgos puntuales en los sondeos
1, 3 y 7 (fig. 3) siendo la Edad del Hierro una fase más del poblamiento de este sentamiento
conocido desde la Edad del Bronce (tabla 2). En el Castro de la Encarnación los trabajos
han comenzado recientemente en 2018 donde se han realizado dos sondeos al interior del
asentamiento y uno sobre la propia estructura de la muralla (fig. 4).

335
Fig. 2 - Ubicación de los sondeos en Peñas de la Fig. 3 - Ubicación de los hallazgos de la Edad del Hierro
Cerca. en los sondeos 1, 3 y 7 en El Castillón.

FASE PERIODO SONDEOS INFORMACIÓN


I CALCOLÍTICO Abrigo Pinturas esquemáticas
II EDAD DEL HIERRO 1 Estructuras y cerámica
III-A SIGLO V d. C. 1,3,4,5,8 Almacén
III-B SIGLO VI d.C. 3,5,7 ovicáprido y hornos
III-C SIGLO VI d.C. 3,7 Vivienda este
III-D CONTEMPORÁNEO Construcción Ruinas de la casa del Guardés
Tabla 2. Fases de poblamiento en El Castillón (Sastre Blanco et alii, 2015)

Fig. 4 - Ubicación de los sondeos en el Castro de la Encarnación.

336
4. PEÑAS DE LA CERCA (RIONEGRITO DE SANABRIA)

4.1. EL SISTEMA DEFENSIVO


Las características de los elementos compositivos del sistema defensivo fueron
estudiados tanto a partir de prospecciones sobre el terreno como de excavaciones, en
concreto los sondeos 2 y 4 en los años 2007 y 2008. Estas investigaciones han sacado a la
luz un complejo defensivo formado por tres elementos principales: una acrópolis, un recinto
amurallado y un sistema de terraza y muro (fig. 5).

Fig. 5 - Distribución de los elementos defensivos en Peñas de la Cerca.

La acrópolis de Peñas de la Cerca (1 en fig.5) es la parte más elevada del recinto


amurallado, ocupa 0,8 has y se encuentra separado del resto por un muro parcial sencillo,
de mampuestos a hueso, con un único paramento y de trazado lineal. En su interior se
realizó el sondeo 5, en el área conocida como depósito de molinos. El recinto amurallado

337
cubre unas 2 has (2 en fig.5) y comprende en total tres terrazas del asentamiento incluyendo
la de la propia acrópolis y viene delimitado por un conjunto de murallas y muros en conexión.
Las dos estructuras más significativas han sido denominadas como muralla interior y muralla
exterior, ambas forman un recinto de líneas parciales (norte, este y oeste) y concéntricas no
sólo entre ellas sino también con el área delimitada de la acrópolis.
La muralla interior fue excavada en el sondeo 2 (fig. 6) demostrando una técnica
constructiva rudimentaria a partir de mampuestos a hueso muy heterogéneos tanto en
materia prima como en tamaños, sin fosa de cimentación y de sólo un paramento, el tramo
de muralla mejor conservado pertenece a esta estructura (fig. 7). La muralla exterior tiene
un perímetro mayor y posee más tramos que cortan el nivel del terreno, posee dos muros
transversales (al noroeste y al suroeste) que parten directamente del lienzo del muro
cortando el desnivel y generando el espacio allanado de la cuarta terraza donde también
encontramos los tres antemuros, el muro transversal norte fue excavado (fig. 8) en el sondeo
4 revelando una técnica constructiva muy similar a la de la muralla interior aunque con
mayor uniformidad en la materia prima de los mampuestos, sin fosa de construcción pero
aprovechando las oquedades de la roca madre directamente.

Fig. 6 - Estructura interna de la muralla interior. Fig. 7 - Estado actual de la muralla interior en su tramo mejor
Sondeo 2, 2007. conservado.

338
Fig. 8 - Antemuro transversal norte. Sondeo 4, Fig. 9 - Distribución de sistemas defensivos de asentamientos
2008. de la Edad del Hierro en los Montes de León que incluyen
aterrazamientos (puntos azules).

El complejo de terraza y muro es el término con el que denominamos un sistema de


antropizar la ladera natural con fines de accesibilidad y/o explotación agropecuaria común
a varios entornos castreños típicos de la Edad del Hierro (fig. 9) en los Montes de León
(Rodriguez-Monterrubio, 2018). Este elemento fue detectado a partir de las prospecciones
realizadas sobre el terreno y sacaron a la luz un total de 6 aterrazamientos más construidos
sobre la ladera nororiental.

4.2. EL HÁBITAT DOMÉSTICO


El hábitat se pudo concentrar en las tres primeras terrazas incluyendo la acrópolis a partir
de los abundantes hallazgos líticos de superficie (molinos) y sobe todo de la cabaña de los
sondeos 1 y 3. Se trata de una cabaña construida con zócalo de piedra, pared de tapial
y sustentada por varios hoyos de poste (fig. 10) encontrados tanto en el sondeo como en
su ampliación en el sondeo 3. El zócalo ha sido encontrado incompleto y sin conexión, el
tapial se constata con pequeñas porciones de barro con la impronta de listones de madera
o ramas que hubieran reforzado su estructura interna. Interpretamos este tipo de cabañas
como propias del Hierro I, el uso del tapial sobre zócalos es bien conocido en asentamientos
de tipo soteño como Soto de Medinilla (Escribano Velasco, 1990), Pago de Gorrita (Romero

339
Carnicero y Ramírez Ramírez, 1996), Cuestos de la Estación (Célis, 1993) y otros entornos
meseteños como Sacaojos (Misiego Tejada, 1996), encontramos varios paralelismos
concretos situados entre el Bronce Final y el Hierro I en toda la zona central y norte de la
Península Ibérica (llanos, 1974; Oliveira 1988; Maldonado y Vela, 1996).

Fig. 10 - Hoyos de poste de la cabaña del sondeo 1.

4.3. HALLAZGOS SIGNIFICATIVOS


Entre los artefactos más significativos podemos destacar el amplio repertorio lítico
formado por más de 90 piezas recuperadas tanto en prospección como en los entornos
domésticos de los sondeos 1 y 3, siendo principalmente molinos barquiformes de gneis,
pizarra, cuarcita y granito y molenderas exclusivamente de granito. Entre otros artefactos
líticos destacamos afiladores, bolas de cuarcito, pesas de red y telar, morteros y una punta
de flecha de sílex que expresan una gran versatilidad en el uso dado a las diferentes

340
materias primas líticas y un amplio territorio de captación que podría extenderse hasta los
90 km de distancia (Rodríguez-Monterrubio y Sastre Blanco, 2013). La cerámica (fig. 11)
recuperada supera los mil fragmentos, se pueden identificar cerámicas hechas a mano con
pastas groseras y desgrasantes micáceos y cuarcíticos, predomina la cocción reductora
y las formas globulares, siendo la decoración muy reducida y limitada a impresiones en
los bordes (ungulaciones) y bruñidos. Se pueden identificar cerámicas de tipo castreño
(Esparza, 1986), Sacaojos (Celis, 1993; Misiego Tejada, 1996) y posibles Soto de Medinilla
en cualquier caso nos encontramos con cerámicas del Hierro I, como datación más tardía
podemos mencionar el siglo IV a.C. con las muestras de cerámicas castreñas orientales
(González Ruibal, 2007; Fernández Fernández, 2008).

Fig. 11 - Cerámica de Peñas de la Cerca. Fig. 12 - La fíbula de Peñas de la Cerca.

El repertorio metálico se limita a una fíbula de bronce (fig. 12) hallada en el sondeo 1
bajo el suelo de uso de la cabaña. Fue hallada completa lo que nos permite compararla
con otros ejemplares de fíbula y encontrar paralelismos en las fíbulas de tipo Bencarrón
(Almagro Basch, 1966; Maier, 1996) junto con otros ejemplares similares encontrados en la
meseta occidental como en León (Almagro Basch, 1966) o Salamanca (Martín Valls, 1971),
todo esto nos lleva a ejemplares de fíbulas tempranos en la península y que no llevarían
hasta el Hierro I. En los últimos estratos excavados fueron halladas unas semillas quemadas

341
analizadas posteriormente por el CSIC dando como resultado ser de avellanas, bellotas y
guisantes (Sastre Blanco y Rodríguez-Monterrubio, 2008).

5. EL CASTILLÓN, FASES DE LA EDAD DEL HIERRO (SANTA EULALIA DE TÁBARA)

De los 12 sondeos del yacimiento de El Castillón tan solo cinco han sacado a la luz
materiales y estructuras puntuales de la Edad del Hierro.

5.1. EL SISTEMA DEFENSIVO DEL DESAPARECIDO ASENTAMIENTO DE LA EDAD


DEL HIERRO
Las murallas que conocemos en la actualidad pertenecen a una estructura defensiva
tardorromana del siglo V d.C. (Sastre Blanco et alii, 2014) construida utilizando diferentes
técnicas en su trazado y algunas de ellas pudieran estar reutilizando materiales de la Edad
del Hierro. Las excavaciones en el sondeo 4 (acceso principal) revelaron una muralla
de sillares colocados a soga y tizón y con mortero, mientras que en los sondeos 1 y 5
realizados también sobre tramos de muralla las técnicas constructivas eran diferentes entre
sí y con la del acceso principal, una muralla de doble paramento de sillarejo y mampuesto
con relleno interno que fue amortizada con una reparación posterior que pudo haberse
utilizado hasta el siglo V d.C. y fue amortizada en una fase de ocupación del siglo VI d.C.
(Sastre Blanco y Rodríguez-Monterrubio, 2015). Ya que el asentamiento estuvo habitado
durante el Hierro, se barajan cuatro posibles hipótesis de cómo pudo ser la defensa del
poblado (fig. 13).

342
Fig. 13 - Posibles trazados de la defensa prerromana en El Castillón. 1.- trazado arrasado bajo la muralla
principal tardoantigua. 2.- Muralla del Hierro de doble paramento remodelada posteriormente en acceso
y antemuro. 3.- Trazado completamente distinto a partir del patrón del antemuro y afloramientos interiores.
4.- Defensas naturales.

5.2. ESTRUCTURAS DE LA EDAD DEL HIERRO


El sondeo 8, que es una ampliación del sondeo 1 dio como resultado el hallazgo de un
muro (fig. 14) perteneciente a una construcción fechada en Hierro II gracias a los hallazgos
cerámicos asociados. Se trata de un tramo de muro recto de un solo paramento construido
con mampuesto, situado bajo los hornos metalúrgicos de reducción de hierro que estuvieron
en uso entre los siglos V y VI d.C. (Sastre Blanco y Rodríguez-Monterrubio, 2015).
La profundidad a la que se encuentra hace pensar en un poblamiento del Hierro mucho
más extenso bajo el tardorromano, pero en otras zonas del asentamiento el afloramiento
rocoso del geológico se encuentra justo bajo los indicios del poblamiento tardoantiguo sin
que haya fases de habitación prerromanas.

343
5.3. HALLAZGOS CERÁMICOS

Fig. 14 - Estructura del Hierro II (Sondeo 8, El Castillón).

La cerámica prerromana se encontró en cinco sondeos: 1, 3 y 7 (fig.3). Aunque son


hallazgos puntuales nos indican presencia humana desde el Hierro I teniendo en cuenta
las dificultades de contextualizar a cerámica de estos entornos castreños. En el sondeo 1
que se centró en excavar los hornos metalúrgicos del siglo V d.C. se encontraron algunas
cerámicas identificadas como soteñas o de imitación al Soto de Medinilla (Esparza, 1986).
Años más tarde en la ampliación el sondeo con la zona de excavación 8 anexa al sondeo 1,
y asociados al muro fueron encontrados más fragmentos cerámicos (fig. 15) tanto de
tradición castreña (cocción reductora, desgrasante micáceo y pastas oscuras y groseras)
como de nuevo cerámicas soteñas (pastas más claras).
Situando este contexto entre el Hierro I y el II aproximadamente a partir del siglo V a.C.
Encontramos paralelismos para estas producciones en asentamientos castreños como El
Cerco de Sejas de Aliste y La Mazada en Gallegos del Campo (Esparza, 1986); Sacaojos
en Santiago de Valduerna (Celis, 1993) y Peñas de la Cerca (Sastre Blanco y Rodríguez-

344
Fig. 15 - Cerámicas de la Edad del Hierro en El Castillón. 1.- Sondeo 8. 2.- Sondeo 3.- 3.- Sondeo 7.

Monterrubio, 2008). En los sondeos 3 y 7 se excavaron dos edificios tardorromanos de los


siglos V y VI d.C. un almacén y un granero, en contextos secundarios y dentro de un nivel
de relleno que se produce después de la destrucción del almacén se encontraron varios
fragmentos de cerámica asimilables al Soto de Medinilla (Fig. 15) junto con fragmentos de
molino circulares y TSHT. En el granero se encontraron puntualmente cerámicas celtibéricas
(fig. 15) similares a las de Cuellar y el nivel II de Las Quintanas de Padilla (Sanz Mínguez
y Gómez Pérez, 1993) como también fueron identificadas en el sondeo 10 en un edificio
asociado a los trabajos metalúrgicos donde se acumulaban los desechos de la actividad
metalúrgica, por lo tanto también mezclados con materiales depositados de manera secundaria.

6. EL CASTRO DE LA ENCARNACIÓN (MELLANES DE ALISTE)

El Castro de La Encarnación en Mellanes fue excavado por primera vez en agosto de


2018, dentro de la primera campaña del proyecto Castrum Zoelarum: en busca de los
orígenes que incluía también prospecciones en el término municipal de Rabanales de Aliste
y que se prolongará durante tres campañas más. Ha sido datado en el Hierro II gracias a
los materiales cerámicos encontrados. Debido a su reciente excavación gran parte de los
materiales se encuentran aún en estudio, por lo que presentaremos los resultados de las
excavaciones realizadas en los tres primeros sondeos practicados sobre el terreno.

345
6.1. SONDEO 1, LOS SISTEMAS DEFENSIVOS
La planimetría del asentamiento y la imagen aérea realizada con dron han revelado una
estructura defensiva compleja, se trata de un asentamiento fortificado con muralla parcial,
un sistema de aterrazamiento, dos fosos y un hábitat dispuesto en dos plataformas interiores
(fig. 16.1), mientras que los resultados de la excavación sacaron a la luz una estructura de
muros simples de paramento único y reparados durante varias fases del Hierro II (V-I a.C).
Construidos los principales con lajeado ortostático de pizarra y las reparaciones en sillarejo
o mampuesto (fig. 16.2).
El recinto amurallado cubriría unas 3,7 has y se completa con un aterrazamiento de la
ladera por el este, se distinguen dos accesos diferenciados, el principal al norte por el que
aún se accede hoy al asentamiento y uno más en el lado sur por la senda conocida como
camino de los moros y que asciende desde el río Mena, existen al menos tres interrupciones
de menor envergadura en el recinto amurallado.

Fig. 16 - El Castro de la Encarnación. 1.- Vista aérea desde el N, son visibles tanto el foso principal como la
muralla. 2.- Sondeo 1, estructura interna de la muralla.

346
6.2. SONDEOS 2 Y 3 EL HÁBITAT INTERNO
El hábitat interno se encuentra distribuido en dos plataformas amesetadas, en cada una
de ellas se realizó una cata. En el sondeo 2 se detectó una estructura de planta circular
(fig. 17.1) construida directamente sobre el afloramiento rocoso que había sido parcialmente
adecuado a dicha estructura tallando el espacio necesario para la construcción de un
zócalo de piedra. Al interior fueron encontrados numerosos molinos circulares y en la parte
exterior un total de tres hoyos de poste, dos excavados en la roca y uno construido con
fosa reforzada con lajas de pizarra. Los hallazgos de molinos y su ubicación elevada sobre
la roca aislado del contacto directo con el suelo han ayudado a interpretar esta estructura
como una unidad de producción, procesado o almacenado del grano. Los materiales
encontrados sitúan esta estructura en el Hierro II.
El sondeo 3 se realizó directamente sobre el terraplén entre ambas plataformas de
hábitat y fue encontrada la ruina y derrumbe de una estructura constructiva que pudo
corresponder a un muro de contención que salvase el desnivel (más de 12 metros entre
el punto más elevado (sondeo 1) y permitiera contener la presión del terreno interior (fig.
17.2). En este sondeo se encontraron tres fragmentos de cerámica sigillata que atestiguan
un leve contacto con la Romanización, a partir de intercambios comerciales, puesto que de

Fig. 17 - El Castro de la Encarnación. 1.- Estructura circular del sondeo 2. 2.- Derrumbe del sondeo 3.

347
momento no se han encontrado más hallazgos ni estructuras de periodo romano, el impacto
de la romanización aun se nos presenta muy puntual en este asentamiento del Hierro II.

6.3. CULTURA MATERIAL


Gracias a las excavaciones y los hallazgos materiales podemos reconstruir parcialmente
algunas de las actividades económicas realizadas en el asentamiento, si bien los materiales
se encuentran actualmente bajo estudio. Sabemos que conocían la metalurgia del bronce
y del hierro o bien que comerciaban con artefactos, herramientas y clavos de metal,
destacando un cuchillo afalcatado encontrado en el sondeo 2. La producción cerámica es
abundante, todo indica que se trata de cerámicas castreñas en su mayoría, algunas muy
toscas similares a las del Hierro I con desgrasantes micáceos, pastas groseras y cocciones
reductoras y otras más finas de pastas mas claras y mejor factura más próximas a las cerámicas
del Hierro II, como lo son claramente las llamadas “cajitas celtibéricas” que se encuentran
tanto en entornos meseteños de contextos vacceos (Celis, 2007) como en el oeste zoela de
los valles portugueses de los ríos Sabor y Tuela (Sastre Blanco et alii, 2012).
El material lítico es más escaso pero se han encontrado pesas de telar, de tejado y de
red, principalmente en pizarra y esquisto, así como molinos del Hierro II, bolas de cuarzo
y cuarcita, pizarras con grabados lineales o geométricos y cuentas hechas en diorita, indicando
la versatilidad de las materias primas utilizadas y la diversificación en los usos dados a ellas.

348
REFERENCIAS

Almagro Basch, M. (1966). Sobre el origen posible de las más antiguas fíbulas anulares hispánicas.
Ampurias(28), 215-236.
Celis Sánchez, J. (1993). La secuencia del poblado de la Primera Edad del Hierro de los Cuestos de la
Estación (Benavente). En F. Romero, C. Sanz, & Z. Escudero, Arqueología Vaccea: Estudios sobre el mundo
prerromano en la cuenca media del Duero (págs. 93-132). Valladolid: Junta de Castilla y León.
Celis Sánchez, J. (2007). En los límites noroccidentales del territorio vacceo. En C. Sanz Mínguez, & F.
Romero Carnicero, En los extremos de la región vaccea (págs. 43-58). León: Proyecto de Investigación I+D+I
“Vacceos, identidad y arqueología de una etnia prerromana en el valle del Duero”, Caja España.
Escribano Velasco, C. (1990). Contribución al estudio de la Edad del Hierro en el occidente de Zamora y su
relación con el horizonte del Soto de Medinilla: “El Castillo”, Manzanal de Abajo (Zamora). Anuario Instituto de
Estudios Zamoranos Florian de Ocampo, 211-263.
Esparza Arroyo, A. (1984). Los castros de la Edad del Hierro en el borde noroccidental de la cuenca del
Duero. Salamanca: Universidad de Salamanca.
Esparza Arroyo, A. (1986). Los castros de la Edad del Hierro del noroeste de Zamora. Zamora: Instituto de
Estudios Florian de Ocampo.
Esparza Arroyo, A. (2011). Los castros del oeste de la Meseta. Complutum.
Esparza Arroyo, A., & Martín Valls, R. (1997). Estelas romanas y otros vestigios de Zamora en un pleito
antiseñorial del siglo XIX. Boletín del seminario de Estudios de Arte y Arqueología (BSAA), 253-277.
Fernández Fernández, A. (2008). Cerámicas del mundo castrexo del NO peninsular, problemática y
principales producciones. En D. Bernal Casasol, & A. Ribera i Lacomba, Cerámicas hispanorromanas, un debate
en cuestión (págs. 221-245). Cádiz: Asociación Rei Creteriaes Romanae Fautores. Universidad de Cádiz.
Gómez Morerno, M. (1927). Catálogo Monumental de España. Provincia de Zamora. Madrid.
González Ruibal, A. (2007). Galaicos: poder y comunidad en el noroeste de la Península Ibérica (1.200 a.C.-
50 d.C.). A Coruña: Brigantium, Museu Arqueoloxico e historico da Coruña.
Llanos, A. (1974). Urbanismo y arquitectuda en poblados alaveses de la Edad del Hierro. Estudios de
Arqueología alavesa, 6, 101-146.
López Monteagudo, G. (1989). Esculturas zoomorfas celtas en la península Ibérica. Madrid. Maier, J. (1996).
La necrópolis tartésica de Bencarrón (Mairena del Alcor/Alcalá de Guadaira, Sevilla) y algunas reflexiones sobre
las necrópolis tartésicas de los Alcores. Zephyrus: revista de Prehistoria y Arqueología(49), 147-168.
Maldonado Ramos, L., & Vela Cossío, F. (1996). Reconstrucción teórica de la cabaña del yacimiento del cerro
del Ecce Homo (Alcalá de Henares, Madrid). Una aproximación metodológica al estudio de la prehistoria de la
construcción. En A. de las Casas, S. Huerta, & E. Rabasa (Ed.), Actas del I Congreso Nacional de Historia de la
Construcción (págs. 19-21). Madrid: CEHOPU.
Martín Valls, R. (1971). El castro de El Picón de la Mora (Salamanca). Boletín del Seminario de Arte y
Arqueología. XXXVII, 125-144.

349
Misiego Tejada, J., Marcos Contreras, G., Martín Carbajo, M., & Sanz García, F. (1996). Excavaciones
arqueológicas en el castro de Sacaojos (Santiago de la Valduerna, León). Numantia: arqueoloía en Castilla
y León(7), 43-66.
Oliveira Jorge, S. (1988). O povoado do Bouça do Frade (Baiao)no quadro do Bronze FInal do Norte de
Portugal. Porto.
Rodríguez-Monterrubio, Ó. (2018). Sistemas defensivos de la Edad del Hierro en Los Montes de León. La
Protohistoria en el borde noroccidental de la Meseta Norte. Madrid: Tesis Doctoral dirigida por Jesús Jordá Pardo
y Mario Menéndez. UNED.
Rodríguez-Monterrubio, Ó., & Carlos, S. B. (2008). Aproximación a los trabajos de Investigación en los
Castros de Peñas de la Cerca y El Castillón (Zamora). I Jornadas de Jóvenes en Investigación Arqueológica:
Dialogando con la cultura material (págs. 271-278). Madrid: Universidad Complutense de Madrid.
Rodríguez-Monterrubio, O., & Sastre Blanco, J. C. (2013). El hábitat y la defensa en la Edad del Hierro: El
Castro de Peñas de la Cerca (Zamora). Actas de las I jornadas de jóvenes investigadores en el valle del Duero
(págs. 109-119). Madrid: La Ergástula.
Romero Carnicero, F., & Ramírez Ramírez, M. (1996). La Cultura del Soto, reflexiones sobre los contactos
entre el Duero Medio y las tierras del sur penínsular durante la Primera Edad del Hierro. Complutum extra 6 (I), 313-
326.
Sastre Blanco, J. (2006). Una aproximación a la puesta en valor del arte esquemático y su paisaje.
Arqueología y territorio.
Sastre Blanco, J. C. (2006). Una aproximación a la puesta en valor del arte esquemático y su paisaje. la
Sierra de la Culebra (Zamora). Revista electrónica del Programa de Doctorado de Arqueología y Territorio.
Universidad de Granada.
Sastre Blanco, J. C., & Rodríguez-Monterrubio, Ó. (2013). Estado de conservación del Arte Esquemático en
la Provincia de Zamora: situación actual y medios de protección para su preservación. En J. M. Garcis, & M. S.
Pérez (Ed.), Actas del II Congreso de Arte Rupestre Esquemático en la Península Ibérica 2010 (págs. 202-210).
Vélez-Blanco: Ayuntamiento de Vélez-Blanco.
Sastre Blanco, J. C., Fuentes Melgar, P., Catalán Ramos, R., & Rodríguez-Monterrubio, Ó. (2014). El poblado
fortificado de El Castillón en el contexto del siglo V d.C. Las fortificaciones en la tardoantigüedad: élites y
articulación del territorio (siglos V-VIII) (págs. 329-352). Zamora: Glyphos.
Sastre Blanco, J. C., Rodríguez-Monterrubio, Ó., Fuentes Melgar, P., & Vázquez Fadón, M. (2015). El
yacimiento arqueológico de El Castillón (Santa Eulalia de Tábara, Zamora). Un Enclave tardoantiguo a orillas del
Esla. Valladolid: Glyphos publicaciones.
Sastre Blanco, J., Santos, F., Soares de Figueireido, S., Rocha, F., Pinheiro, E., & Dias, R. (2012). El
sitio fortificado del Castelinho (Felgar, Torre de Moncorvo, Portugal). Estudio preliminar de su diacronía y las
plaquetas de piedra con grabados de la Edad del Hierro. Complutum, 165-179.
Schulten, A., & Maluquer, J. (1987). Hispania Antigua según Pomponio Mela, Plinio el Viejo y Claudio
Ptolomeo. Fontes Hispaniae Antiquae.
Virgilio Sevillano, F. (1978). Testimonio arqueológico de la provincia de Zamora. Zamora: Instituto de Estudios
Zamoranos Florian de Ocampo.

350

Você também pode gostar