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Senhorita Seator
— O mar traz algo de novo nesses dois anos que olha para ele,
senhorita Seator? — era o tempo em que tripulação existia.
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ruivo tendia ao magenta e aquele sorriso zombeiro parecia ser colado
em seu rosto. Anéis, pingentes e outros acessórios dourados, apesar de
discretos, mostravam a imagem de uma pessoa apegada aos bens
materiais.
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Uma menina de cabelo vermelho intenso, curto e repicado
correu em direção à proa. Ao parar com as mãos sobre as paredes do
navio, quase deixou que seu chapéu de couro enfeitado com penas e
uma caveira fosse levado pelo vento. Lydia Swambucker era uma das
duas garotas da tripulação.
— Oh! Me perdoe.
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— Arrear velas! — O capitão gritou do convés. Era um homem
loiro de vinte e sete anos, vestido completamente de acordo com a
opinião de Judas. Usava um chapéu preto com penas brancas, um
tapa-olho com uma estampa do “Jolly Roger” cobrindo seu olho
esquerdo, uma jaqueta negra lustrosa e diversos acessórios pelo corpo.
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— O que você quer dizer? Sabe que ele gosta de falar daquele
jeito quando dá ordens para...
—Ele com certeza notará que foi perdido, mas nunca vai saber
o que aconteceu. Isso é um mapa para o tesouro dessa ilha. Percebe?
Você não está curiosa para saber o que o capitão esconde da gente?
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— O que você está fazendo?
— Mas somos.
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—Você está bem? — o rapaz se agachou sobre a grade.
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II
Pássaro Negro
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saber qual passagem não havia sido tomada? Uma luz avançava por
um dos corredores indicando que alguém se aproximava, também de
posse de uma tocha. Tithania era uma lutadora por natureza e se
preparava para um combate. As coisas estavam ficando empolgantes.
Ellie foi atingida por uma esfera laranja, quente em seu ombro
direito. Fumaça subiu de sua roupa chamuscada e o impacto foi o
suficiente para que derrubasse a tocha que carregava consigo. Tithania
lançava a que tinha no chão e agora, sem nenhuma fonte de luz, a
escuridão era total.
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As lâminas colidiram, as adagas em xis pressionavam o florete.
As duas meninas se encararam por alguns segundos e Ellie expandiu a
aura que envolvia sua arma. A pequena explosão azul derrubou as
lâminas de Tithania e a obrigou a recuar um passo, momento que a
jovem exploradora dos mares aproveitou para estocar. O movimento
foi interrompido pelo braço esquerdo de Blackbird que fora coberto
por escamas negras e duras que podiam ser percebidas pelas brechas
das faixas.
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—Eu sou uma maga—Ellie levantava. —Uma não tão talentosa.
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— Isso não me parece muito fácil — Ellie dizia encarando a
passagem.
Ellie saía do bueiro com o cabelo denso pela água. Ela respirava
fundo e voltava ao chão. Depois, ambas colocavam a tampa de volta
no bueiro.
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— Judas! — um homem estava parado em um cômodo que
parecia ter destaque no centro. Se o tesouro estivesse em algum lugar
estaria ali, mas não havia nada.
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— O sol está se pondo. Não vamos deixar o capitão esperando.
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— Judas, desculpa! — Ellie se desculpava mesmo sem ter feito
nada.
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A garota fechou os olhos. Sua cabeça ainda estava em seu
pescoço? Eles eram realmente piratas? Ela foi enganada? Ao abrir os
olhos percebeu estar intacta. O ataque tinha sido extremamente real,
mas não estava nem um pouco ferida.
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Tithania olhou para o homem de cabelo azul estático diante
dela, mas assim que abriu a boca para falar qualquer coisa que
passasse em sua mente, ele andou para longe dali.
— Isso!
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— Entendo. Vocês são poucos, mas parecem se divertir
bastante — O papagaio pousou no colo dela.
—Terra à vista!
— Arrear velas!
Tithania mais uma vez riu daquele quase teatro que estava
assistindo. Seus novos amigos pareciam boas pessoas afinal e ela
imaginava que a garantiriam algumas risadas.
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A brisa do mar soprava gentilmente por seus cabelos. Ela
levantava para ver de longe o lugar onde morava: Wavecot, a cidade
portuária, lar dos Cavaleiros Alados.
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III
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sorriso descontraído fazia parecer que eram antigos amigos. Tithania
observava o vendedor ser hipnotizado pelo carisma do irmão de Ygor,
sem perceber que ela mesma fora seduzida pelo encanto da tripulação.
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— Ei, ei! Você não quer comprar algo? — Grimm se aproximou
de Tithania. — Por minha conta.
Os tripulantes se entreolharam.
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— Não façam essa cara! — quando Tithania começou a falar
tanto? — Eu quero todos você lá. Talvez o Grimm até nos pague uma
bebida.
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— Você vai me ver de novo, princesa — de certa forma aquilo
era uma maneira de caçoar da linhagem nobre de Ellie. Ele usou a
palma da mão para pressionar acima da cabeça da garota, diminuindo
ainda mais a postura dela. — Bom — soltou a menina. — A gente se
vê.
O caminho para a guilda não era longo, ela ficava na costa com
a porta virada para o mar. Tithania girou a maçaneta de uma porta de
madeira em uma grande construção branca e parou à soleira de braços
abertos. A tripulação do Asas da Aurora estava parada logo atrás
quando uma criança correu do interior e gritou tão alto quanto pôde:
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aparentando pouco mais de quarenta. Ele era o líder da guilda e o
homem que acolheu Tithania quando criança.
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— Um dragão foi visto nos campos, não muito longe daqui —
Grifor era um dos poucos que sabia o segredo de Tithania. — Isso com
certeza interessaria você.
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Assim que a menina saiu do balcão, outra mulher se
aproximou de Grifor. Beatrice Crocker se vestia perfeitamente como o
estereótipo de uma bruxa: roupas de um azul tão escuro que só um
olho sensível notaria que aquilo não era preto, um grande chapéu
pontudo sobre seus cabelos lisos e curtos de cor similar à sua roupa,
penas dos tons mais sombrios ornavam sua vestimenta. Seu rosto era
liso e bonito, de uma mulher por volta dos vinte e cinco.
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IV
O Dragão Bebê
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— Esse parece pequeno. Talvez seja um filhote.
— Talvez não tão filhote assim. Certo, vamos falar com Grifor e
partir em nossa missão. Acho que não tem boas vindas melhores pra
vocês.
— Aquele é o Grimm?
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— Não há nada pra ver aqui — Tithania empurrava a menina
para fora enquanto falava.
— Nada para ver aqui, nada para ver aqui. — Tithania repetia
para a amiga e para si mesma.
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Deitada, a criatura mantinha o topo da cabeça abaixo da altura
das meninas, com a parte inferior repousando ao solo. A cauda
enrolada e as asas comprimidas faziam com que o animal não
parecesse tão assustador.
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as meninas puderam perceber o dragão abrir os olhos. A criatura se
ergueu estendendo as asas e Tithania se apressou em agir.
— Espere! Nós...
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Tithania puxou a faixa que enrolava seu braço esquerdo. Sobre
a pele branca, uma tatuagem formava um padrão de runas no
antebraço. Símbolos tingidos de negro com um significado importante
que o dragão pareceu entender. Blackbird não tinha percebido os olhos
de seu parente vermelho até eles mudarem de cor. Os glóbulos, antes
acinzentados e artificiais, como se uma neblina cobrisse a íris,
tomaram uma coloração mais natural, cor de mel, vívida.
— Tithania...
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— Derick...
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V
Herança de Escamas
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— Os humanos têm um jeito próprio de viver, Zefir — Kalehan
falava pela primeira vez. — Tenho aprendido muito com eles.
— Sei onde isso vai chegar. Pare com esses discursos vazios. Sei
também que não está sozinho. Faça aparecer seus seguidores, quero
olhá-los no rosto.
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— Eu podia esperar isso de você — Kalehan olhou julgando o
homem encapuzado. — Mas Ragnar? — Demonstrava uma certa
decepção com o ruivo.
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Kalehan voltou ao combate. Um vento atravessou seu corpo,
um frio cortante, fractais de gelo corriam por seus olhos. Era uma
rajada gerada pelo indicador de Zefir. O dragão de fogo estacou por
um segundo, mas logo se envolveu em chamas, recuperou a perfeição
dos movimentos de seu corpo e avançou. Envolto em labaredas, ele
correu por dentro do sopro gelado e socou. O golpe foi parado pela
mão do dragão cinzento, o vento parou, fogo circundou os dois e então
irrompeu do chão.
Zefir atacou por cima, um corte com sua espada negra. Kalehan
deu um passo para trás, a espada tocou no chão e esse congelou sob
seus pés. O dragão de fogo estava preso e o ataque seguinte atravessou
abaixo de suas costelas. A lâmina saiu do outro lado, o sangue saiu
congelado.
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Dragões tinham diferentes níveis de controle sobre sua
transformação. Alguns, como Kalehan, podiam cobrir seu corpo de
escamas onde bem entendessem, outros, como Ragnar, podiam apenas
se transformar completamente. Havia também aqueles como Zefir, que
mal podiam disfarçar completamente sua natureza.
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Tithania olhou assustada enquanto a marca incandescia,
mudando do preto para o vermelho.
Tithania correu pela floresta, sem saber pra onde, sem saber
por quê. Virou as costas para o pai, deixou que suas asas negras
saíssem de suas costas e voou mesmo sem dominar a habilidade.
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VI
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No súbito de seus instintos, voltou-se para seu detentor e
socou, um golpe que foi facilmente bloqueado. O homem de cabelos
negros e lisos a fitou despreocupado. Ela tentou usar a outra mão,
chutar, usar a testa, todos golpes em vão.
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Tithania trouxe o braço de volta, cerrando a mão em torno das
moedas.
— Você não precisa pagar — não era sempre que Grifor dizia
isso.
Grifor sorriu.
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— Porque eu já esgotei todas as mentiras que eu podia contar e
agora só posso dizer a verdade.
Grifor levou Tithania para sua taverna. O lugar era bem grande
e a garota descobriu que também era usado como pousada. Estavam
em um lugar vazio, chão de areia, sem teto, uma espécie de quintal.
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— Olhos de águia e coração de leão? — o que aquilo
significava?
— Sim. Enxergue tudo, cada detalhe. Veja seu alvo para atacar,
veja seu alvo para defender e quando for agir, seja como um leão, não
hesite.
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— Você teve a chance de me atacar, mas não o fez. Você
hesitou.
— Sim.
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— Eu vou arrumar uma forma de pagar por tudo. Eu prometo.
Quando eu crescer, trarei algum dinheiro para você.
— Um certo alguém?...
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— Talvez dragões não tenham tanta dificuldade de se
relacionar com a gente — o homem sorriu e atravessou a passagem.
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VII
O Desafio de Tithania
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— Tiiiiiiiiiiiiii! — a criança de cabelos laranja saltou em
Blackbird levando ambas ao chão das ruas de Wavecot.
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assunto, contudo, não poderia fugir de um desafio, ainda mais
proposto por ela mesma.
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Tithania explicou a situação para Perseu que relutou, mas então
cedeu.
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Ellie pareceu aceitar aquilo como um desafio, mas Perseu não
entendeu assim tão bem. Eram cavalos, não touros, qual era a
dificuldade de permanecer em cima deles?
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VIII
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— Imagino que tenha uma taxa de inscrição — Tithania
perguntou, conhecendo o mestre.
— São termos muito perigosos. Tem certeza que vai dar certo?
— Beatrice foi racional.
Tinha muito para dar errado, mas Beatrice não duvidava de seu
mestre.
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Selene era uma jovem membra dos Cavaleiros Alados. Possuía
cabelos ruivos escuros e estava usando um pijama azul. Sentada em
uma das mesas, tomava um chá numa pequena xícara branca.
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Grifor, claramente feliz, estava no meio do espaço aberto pelas
pessoas em círculo que formava o que seria usado como arena. Com
um papel na mão, ele chamou os primeiros lutadores.
— Tithania e Grimm.
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olhos, ela notou uma espada se aproximando de seu rosto. Grimm
havia se movido em uma fração de tempo minúscula, mas ela não
tinha tempo para pensar, precisava reagir.
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Os dois oponentes se olharam novamente. O público ficou
exaltado com a situação.
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— Eu apostei algumas fichas em você, garanhão — Judas
apareceu quando Grimm se moveu para fora da arena.
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IX
Festa do Chá
Aisha aceitou.
— Dave, você não deveria estar lá fora? Seu nome pode ser
chamado — Blackbird indagou.
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simples de aparência bárbara e usava uma tiara metálica na cabeça. Ele
saiu correndo para fora enquanto Tithania subia as escadas sem largar
a roupa.
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— Vamos ter uma boa luta — Ellie desembainhou o florete.
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Ellie atacava e desviava, surpresa pela menina conseguir se
manter tão bem num combate corpo a corpo.
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perturbou-se assustando todos que olhavam e então dispersou,
desaparecendo.
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— Você acordou — Selene se alegrou tímida. — Vou procurar a
Aisha para você.
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X
Wyna era uma moça de vinte e três anos. Possuía sangue nobre
assim como Ellie, mas parecia querer fugir desse detalhe, seus cabelos
eram rosa, curtos e repicados e os olhos inspiravam confiança. Ela e
Tithania tinham uma espécie de rivalidade que sempre as
proporcionou boas disputas e agora, em um combate direto, Blackbird
não podia deixar-se ser derrotada.
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Ela conhecia bem as armas de Wyna: flechas venenosas. A
habilidade da nobre com o arco era inegável, mas em um combate
curto, dentro de uma arena, a vantagem era total para Tithania.
— Desiste, Blackbird?
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— Boa noite, marshmallow — socou o rosto de Wyna com força
o bastante para nocauteá-la e em seguida, apoiou a mão do chão
evitando desmaiar.
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— Me desculpe, Perseu, mas não posso lutar contra você — a
menina se curvou e se retirou da arena apressada.
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XI
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Selene sorriu e levou um pouco de seu chá à boca.
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— Isso é ridículo! — Tithania se irritou. — Meu pai não
morreria assim — ela olhou para o braço coberto pelos panos e se
lembrou do último dia que o viu.
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— Então o que vamos fazer? Você tem alguma ideia por acaso?
— Tithania?
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partiu, deixando para trás a cidade que abraça todos os visitantes.
Tithania, na popa, observava Wavecot sumir no horizonte, com a
certeza nos olhos que retornaria em breve.
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XII
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Para Tithania ainda era estranho acreditar que o ruivo de tapa-
olho era responsável pela comida, mas mais tarde, quando
banquetearam, ela teve que concordar que o homem sabia o que estava
fazendo.
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— Não, garota. Esse não é o motivo do desabafo.
— Aquilo é um navio?
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— Que? — Shaun indagou perplexo.
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Aquele nome era conhecido no mar. O mais perigoso navio
pirata. Um monstro de proporções enormes que não costumava deixar
suas presas escaparem. Há cinco anos, Grimm havia visto aquele navio
e essa não era uma memória que ele gostava de lembrar.
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Uma grande fenda abriu em meio ao ar. Um rasgo negro em
formato de boca que cortou o espaço e engoliu os projéteis. O navio
pirata também sabia se defender.
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Na impossibilidade de qualquer reação por parte dos
tripulantes do Asas da Aurora, Judas fez o que devia ser feito.
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XIII
Grimm tinha vinte e três anos e era o homem mais feliz do mar.
O jovem espadachim era o imediato da Rainha do Amanhecer e a
capitã do navio, Esmeralda, era sua noiva. A garota era a mulher
mais bonita do mundo, isso não era exatamente verdade, mas assim
era para os olhos de Grimm.
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fintas, as pernas eram a principal parte de sua técnica, um alicerce
móvel para golpes fluídos e ágeis. Esmeralda era mais concentrada, a
mão direita, que segurava a espada, movia a lâmina com precisão; os
pés se moviam pouco, mas a rapieira alcançava onde a garota queria
alcançar.
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— Querendo ou não, é um trabalho perigoso o nosso.
— Porque realmente o é.
— O que?
— E viajar a esmo.
— Sim. Não seria uma tarefa difícil para gente — ela segurou a
mão do amado.
Grimm riu.
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— Não gostou do nome?
— Esmeralda?
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Grimm se viu empunhando a espada, combatendo inúmeros
inimigos, se esquivando, cortando, sua roupa manchada de sangue
que ele já não sabia se era dele.
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Tirania do Imperador Titânico se mantinha impecável. Nenhum
soldado se aproximava dele, nenhuma partícula de poeira o tocava.
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XIV
A Manifestação do Medo
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— Você saqueou meu barco e está mantendo a minha
tripulação de refém. Não aja como se fôssemos amigos.
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Shaun lentamente recuperou o controle de seu corpo.
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diário de bordo da mesa. — Isso fica comigo — o rapaz andou
tranquilamente em direção à porta e se retirou do local.
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— Talvez você precise de revistadores melhores — Judas se
retirou da mesa e ficou parado em pé diante de Fokke.
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novo: um medo que não era simplesmente irracional, mas que estava
além da razão.
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XV
— Ei, eles são piratas, né? — tudo que Ellie sabia sobre o
passado de Grimm era que ele havia trabalhado caçando criminosos
do mar.
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— Ela sempre vestia verde... Nunca consegui entender isso.
— Oi?
O rapaz riu.
— Cale-se, Charybdis.
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eletricidade, as descargas eram rosa e se dobraram até tomarem a
forma de serpentes.
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Dois medos estavam coexistindo, não, estavam se enfrentando
e quando um deles finalmente se saiu vitorioso, todos olharam para o
leme a ponto de ver um homem chegar com um sorriso macabro no
rosto.
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Por longos segundos, ninguém ousou dizer nada. Não queriam
desafiar o homem que matou Bartolomeu Fokke.
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