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COMPORTAMENTO E CORES

UNIDADE 1 – TEORIA DAS CORES


Marília Matoso

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Introdução
Você conhece a Teoria das Cores? Já ouviu falar que as cores podem aumentar ou diminuir um ambiente? Ou,
então, que elas podem causar sensações de tranquilidade ou agitação? O estudo das cores é essencial para a
carreira do designer, pois, quanto mais domínio sobre a Teoria das Cores e suas possibilidades, mais facilidade o
profissional terá para desenvolver um bom projeto. Por meio de conceitos e ferramentas, o estudo das cores
possibilita que o profissional consiga elaborar paletas e ambientações que facilitem a vida do cliente, trazendo
sensações de conforto e bem-estar.
Assim, nesse contexto, nesta primeira unidade, vamos estudar a respeito do conceito geral da Teoria das Cores,
passando um pouco pela Física e pelos efeitos da luz. Também estudaremos sobre o olho humano e a estrutura
biológica que nos faz enxergar as cores. Depois, exploraremos como os grandes estudiosos trataram a cor em
seus trabalhos, criando ferramentas práticas para sua aplicação ao longo dos anos. Por fim, aprenderemos sobre
o círculo cromático e as diversas harmonias que podem ser criadas para gerar efeitos na aplicação das cores.
Ao final da unidade, esperamos que você consiga entender mais sobre a temática e possa colocar esse
conhecimento no seu dia a dia profissional. Vamos em frente?

1.1 Conceitos gerais da Teoria das Cores


O mundo ao nosso redor está repleto de cores. Entretanto, experimentamos a cor apenas por meio de um
sentido: a visão. Você não pode ouvir o amarelo, cheirar o azul ou tocar o vermelho, não é mesmo? Isso porque a
cor é uma sensação visual produzida pelo olho.
Algumas pessoas enxergam diferente, mas nossos olhos funcionam da mesma forma, sendo que o mesmo
estímulo produz a mesma resposta no sistema visual das pessoas. Contudo, as associações de cor diferem entre
uma cultura e outra. O mesmo tom de rosa pode significar algo diferente para diferentes indivíduos. Assim,
dizemos que cor não é simplesmente formada no olho. Ver, no final das contas, é um fenômeno duplo: um
encontro com o mundo e um encontro consigo mesmo.
Nesse contexto, é impossível entender o conceito de cor sem estudarmos um pouco de Física. Ela é um fenômeno
de refração da luz interpretado pelo nosso cérebro. Parece um pouco complexo, mas fica bem mais fácil de
compreender quando começamos a estudar sobre a Física Ótica e as Teorias de Newton.

1.1.1 Isaac Newton e o prisma de vidro


Uma das mais importantes contribuições para o entendimento da leitura da cor e sua relação com a luz se deu
por Isaac Newton, físico famoso pela Teoria Gravitacional. De acordo com Pedrosa (2002), no século XVII, as
pessoas acreditavam que a cor era uma mistura de luz e escuridão, mas Newton entendia que isso estava errado.

VOCÊ QUER VER?


O filme “Isaac Newton: o último mágico”, dirigido por Renny Bartlett, é um documentário que
retrata a vida de Isaac Newton, um dos maiores físicos da humanidade. A obra traz sua jornada
de descobertas, desde a Teoria da Gravidade até seus estudos com a luz. Vale a pena assistir!

Em 1665, Newton começou a realizar experimentos com prismas, refratando a luz através de um prisma sob

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Em 1665, Newton começou a realizar experimentos com prismas, refratando a luz através de um prisma sob
uma superfície afastada (PEDROSA, 2002). Essa experiência mostrou que, no lugar de colorir a luz, o prisma a
estava dividindo nas cores do arco-íris: vermelho, laranja, amarelo, azul, verde, índigo e violeta. Isso também
acontece quando um arco-íris aparece no céu, ou seja, é a luz refratada através de gotículas de água dentro das
nuvens. O fenômeno é conhecido como difração, que é a decomposição da luz branca em várias cores.

Figura 1 - O prisma refrata a luz e divide as cores


Fonte: SteveUnit4, Shutterstock, 2019.

Conforme Pedrosa (2002), a difração foi a primeira classificação oficial de cores no mundo. Com isso, Newton
concluiu que a luz era feita de partículas.
Posteriormente, a teoria foi mais aprofundada, chegando-se à conclusão que a luz visível era um espectro, ou
seja, uma radiação eletromagnética. Além disso, ela incluía comprimentos de onda. Assim, a luz visível também é
uma forma de radiação, só que invisível a olho nu.
O prisma, então, provou que a cor é um fenômeno real, mas a questão de como a luz criava a impressão do
colorido na mente precisava de uma resposta. No século XIX, outro físico, o inglês Thomas Young, sugeriu que o
olho continha receptores que oscilavam com determinados comprimentos de onda. Essa é a chamada Teoria
Tricomática de Young. Vamos conhecê-la melhor a seguir.

1.1.2 Teoria Tricomática de Young


De acordo com Fraser e Banks (2007), sem a estrutura ocular seria impossível enxergar as cores. Isso porque,
dentro da retina, um arranjo de células processa as informações dos receptores, chamados de cones e
bastonetes. Com isso, a luz entra no olho através da pupila, é focada na retina — que estimula os cones e
bastonetes — e a informação sobre o que estamos vendo é transmitida ao cérebro por meio do nervo óptico.

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Figura 2 - Luz x olho humano
Fonte: FRASER; BANKS, 2007, p. 24.

Os bastonetes são células que necessitam de pouca luz para serem tocadas. Entretanto, não conseguem formar
imagens coloridas ou muito nítidas. Devido a isso, à noite ou em locais escuros, é muito difícil distinguir uma cor
de outra. Os cones se sensibilizam com grande quantidade de luz, gerando imagens nítidas e coloridas.
Dessa forma, de acordo com a Teoria Tricomática de Young, as pessoas podem enxergar variações nas cores,
pois elas dependem das estruturas da retina, das células e do nervo óptico de cada indivíduo (FRASER; BANKS,
2007). Isso vale, por exemplo, para os animais, que, por terem uma estrutura ocular diferente da do seu humano,
podem enxergar certas cores com mais ou menos afinco.
Mas como os cones e bastonetes funcionam para criar as teorias aditivas e subtrativas? Vamos nos aprofundar
na temática a partir de agora. Acompanhe!

1.1.3 Mistura aditiva e subtrativa


Fraser e Banks (2007) nos explicam que os cones e bastonetes são classificados em três tipos: azuis, vermelhos e
verdes. Para conhecê-los, clique nas abas abaixo.

• Azuis
Os azuis são ativados por ondas de comprimento, muito aproximado as que formam a cor azul, ou seja,
as ondas curtas.

• Vermelhos

Os vermelhos, por sua vez, são ativados com ondas de comprimento próxima ao vermelho, ondas

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Os vermelhos, por sua vez, são ativados com ondas de comprimento próxima ao vermelho, ondas
longas.

• Verdes
Já os verdes se sensibilizam por ondas de comprimento próximo ao verde, as chamadas ondas médias.

Dessa maneira, as cores vermelho, azul e verde são de luz, aquelas que nossos olhos captam e que formam todas
as outras cores. É por isso, inclusive, que elas são consideradas cores primárias da visão e da síntese aditiva
(RGB).Esse padrão é utilizado para a exibição em monitores de computador, telas de celular e televisores em
geral, que são aparelhos que emitem luz (FRASER; BANKS, 2007).
Ocorre que, na infância, também ouvimos que as cores primárias são o vermelho, o azul e o amarelo. Vale, então,
uma explicação: as cores primárias da luz são as que estimulam os receptores em nossos olhos, porém, quando
enxergamos uma imagem, não estamos olhando para a luz emitida naquele comprimento de onda, mas, sim,
para uma luz refletida na superfície. É assim que manipulamos pigmentos para criar reflexões e sensações de
cores. Clique nas setas, e aprenda mais sobre o tema.
Ao misturar tintas e pigmentos, estamos, indiretamente, manipulando a luz. Quando a luz bate na superfície
pintada, alguns comprimentos são absorvidos e outros são refletidos.
Os comprimentos de onda refletidos determinam a cor que vemos. Assim, a tinta vermelha é, na verdade, a tinta
que absorve as luzes verde e azul.
Contudo, isso não funciona com os pigmentos, visto que cada um deles absorve mais luz do que reflete.
Misturar as duas só irá produzir mais uma cor escura: misturando as três cores primárias, em vez de produzir o
branco, como a luz, será produzido o preto. Já se misturarmos o verde com o azul, teremos um marrom, não um
vermelho.
A solução para isso é a síntese subtrativa (CMY ou RYB), que usa as cores primárias vermelho, azul e amarelo.
Assim, em vez de pigmentos que absorvem tudo, podemos usar pigmentos que só absorvem determinada cor,
subtraindo mais de cada cor primária até conseguir a cor desejada.

Figura 3 - Síntese aditiva (RGB) x síntese subtrativa (CMY/RYB)


Fonte: FRASER; BANKS, 2007, p. 26.

As cores que absorvem as primárias são seus complementos. Temos, então, que o azul absorve o vermelho, o

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As cores que absorvem as primárias são seus complementos. Temos, então, que o azul absorve o vermelho, o
vermelho absorve o verde e o amarelo absorve o azul. É assim que as crianças criam cores com guache, as
fábricas de tintas lançam novas cores, os artistas pintam seus quadros e a impressora imprime um documento
colorido. Tudo devido à mistura de tintas e pigmentos que absorvem uma cor isolada.
O comprimento de onda da luz envolvida, no entanto, é apenas uma das maneiras pelas quais diferenciamos as
cores. A tinta azul pode ser azul clara ou escura, viva ou forte, opaca ou acinzentada. O que indica essas
mudanças são a matiz, o brilho e a saturação. Essas qualidades são independentes uma da outra e, para
descrever inteiramente uma cor, temos de medir as três. Vamos conhecer mais cada uma delas na sequência.

1.1.4 Dimensões da cor: matiz, brilho e saturação


A propriedade da cor, associada ao comprimento de onda, é conhecida como matiz. Embora todos percebam a
cor mais ou menos igual, nem sempre concordarão sobre a cor exata que representa o vermelho ou azul puros. A
percepção comum do verde é ligeiramente mais amarela, enquanto a do vermelho é mais alaranjada.
Também podemos medir o brilho de uma cor como valor, ou seja, um pigmento de dada nuance pode ser
clareado ou escurecido ao adicionar branco ou preto. Variações no valor conferem luz, sombra e profundidade.
Os valores mais escuros e mais claros podem ser usados para se adicionar sombras e realces, dando ilusão de
objetos tridimensionais sobre uma tela bidimensional.
Por fim, o aspecto ou dimensão final de uma cor é a saturação. As cores mais saturadas podem ser descritas
como mais fortes ou vívidas. As cores não saturadas, por outro lado, são mais acinzentadas e podem ser
misturadas como pigmentos pela adição tanto do preto quanto do branco.

VOCÊ SABIA?
No aplicativo “Instagram”, é possível mudar a matiz, a saturação e o brilho das fotos antes de
elas serem compartilhadas. Você já testou? É só clicar na ferramenta de edição de fotos do
aplicativo. Assim, poderá deixar suas imagens mais brilhosas ou opacas, cinzas ou vivas e
iluminadas ou escuras. Você também pode fazer isso em outros softwares e aplicativos de
edição de imagem, a exemplo do “Photoshop” e do “Lightroom”.

Agora que já entendemos sobre o conceito das cores e as teorias envolvidas, vamos estudar os aspectos gerais da
cor. Acompanhe!

1.2 Aspectos gerais da cor como elemento de linguagem


visual
A partir de agora, vamos entender os primeiros estudos sobre a cor e sua aplicação prática para criar harmonias
cromáticas e utilizar o círculo cromático. Aliás, você já ouviu falar em contrastes de cor? E em cores análogas?
Ao longo deste tópico, iremos estudar o que são esses elementos. Para isso, analisaremos alguns estudos de
teorias cromáticas formuladas por grandes artistas, antes, inclusive, de Newton relacionar as cores com a luz.
Começaremos com Aristóteles. Acompanhe com atenção para melhor compreensão!

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1.2.1 Aristóteles
Os primeiros estudos sobre a cor foram feitos na Grécia Antiga, por Aristóteles. Ele afirmava que as cores
existiam na forma de raios enviados por Deus. Para ele, as cores mais simples seriam dos elementos da natureza:
ar, terra, fogo e água.
Segundo Bernardo (2009), a visão de Aristóteles era baseada na observação da cor: a luz do sol, ao atravessar ou
refletir em um objeto, acabava escurecendo. Assim, com esse processo, a cor seria produzida, ou seja, a cor seria
derivada de uma transição do claro para o escuro ou de uma mistura da sobreposição do preto e do branco. Com
isso, Aristóteles concluiu que as cores eram uma propriedade dos objetos.
Outro estudioso da cor foi Leonardo da Vinci, que complementa as ideias trazidas à tona por Aristóteles. Vamos
conhecer sua teoria?

1.2.2 Leonardo da Vinci


De acordo com Pedrosa (2002), complementando os estudos de Aristóteles, outro grande estudioso da temática
foi Leonardo da Vinci, artista e inventor renascentista que escreveu “Tratado de Pintura”, publicado 130 anos
após a sua morte. A obra foi baseada em manuscritos deixados pelo próprio autor.
Algumas das classificações do Tratado de Pintura podem ser conhecidas nos cards abaixo, clique e confira!

Cores físicas
Existem três cores físicas: vermelho, verde e azul.

Cores químicas
Existem três cores químicas: vermelho, amarelo e azul.

Branco
Branco é luz, sem o qual nenhuma cor é perceptível.

Antes mesmo de Newton, que desvendou o aspecto físico da luz, Leonardo já estudava os pigmentos para
entender como compor suas telas. Pedrosa (2002) nos explica que Da Vinci acreditava que todas as cores
poderiam se formar a partir do vermelho, do verde, do azul e do amarelo. Além disso, para ele, o branco e o preto
não eram cores, mas extremos da luz.
Nesse sentido, Da Vinci deu alguns significados simbólicos para as cores: amarelo é tido como terra, verde é
água, azul é ar, vermelho é fogo e o preto representa as trevas (PEDROSA, 2002).
Da Vinci foi o primeiro a estudar o olho humano com a dissecação de cadáveres. Nesse processo, ele entendeu
sobre a visão e o cérebro humanos.

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VOCÊ O CONHECE?
Leonardo da Vinci, além de grande estudioso da pintura e das cores, foi um grande pintor,
escultor, inventor e cozinheiro da época Renascentista. Ele é muito conhecido pelo quadro
“Monalisa”, que se encontra no Museu do Louvre; e pelo quadro “A Última Ceia”, que se
encontra na Catedral Santa Maria Della Grazie, em Milão.

O artista chegou a montar algumas composições utilizando o equilíbrio das cores, afirmando que uma cor ao lado
de outra mais escura tende a parecer mais clara, enquanto a outra se torna ainda mais escura pela aproximação
com a mais clara (PEDROSA, 2002). Isso ajudou artistas renascentistas, pintores e escultores a montarem paletas
e visualizarem harmonias cromáticas em suas composições.
Temos, também, as considerações de Johann Wolfgang von Goethe. Observe!

1.2.3 Johann Goethe


O filósofo alemão Johann Wolfgang Von Goethe iniciou seus estudos sobre as cores em torno de 1790, quando o
assunto se restringia à Ciência, já que a cor era tida como uma particularidade física da luz, depois das teorias de
Isaac Newton (FRASER; BANKS, 2007).
Conforme Fraser e Banks (2007), Goethe aprofundou as teorias de Leonardo da Vinci, refutando a visão científica
de Newton e tentando entender as cores sob um aspecto artístico. Enquanto as experiências de Newton eram
feitas sob condições controladas de luz, em salas escuras; Goethe realizava suas experiências em ambientes
abertos, ao ar livre, considerando a ação do homem e da natureza (FRASER; BANKS, 2007).
Em 1810, Goethe publicou o livro “Zur Farbenlebre”, abordando a cor por meio de observações da percepção
humana no lugar da física da luz. Além disso, ele explorou o contraste, a imagem residual, a cor das sombras e o
efeito da iluminação, considerando como as cores podem se relacionarem com estados emocionais.
Para Goethe, o equilíbrio das cores pode ser feito a partir de um diagrama, conforme vemos a seguir.

Figura 4 - Diagrama de proporção de Goethe


Fonte: FRASER; BANKS, 2007, p. 43.

De acordo com Fraser e Banks (2007), em sua teoria, Goethe menciona que, para que haja equilíbrio e harmonia

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De acordo com Fraser e Banks (2007), em sua teoria, Goethe menciona que, para que haja equilíbrio e harmonia
em uma composição, é preciso ter proporção entre as cores. Isso depende da luminosidade de cada uma delas.
Assim, quanto mais luminosa for a cor, menos ela será utilizada na composição.

1.3 Sistemas de cores


Entender a física da cor é uma coisa, mas usar as cores em espaços e objetos é outra. Para selecionar e combinar
cores, criando paletas agradáveis, precisamos da ajuda de referências visuais. Com essa necessidade, vários
sistemas de cor foram concebidos, incluindo círculos, triângulos e diagramas que ajudam nesse processo. Goethe,
por exemplo, criou seu círculo cromático usando aquarela para facilitar a visualização de suas teorias. Newton,
por sua vez, também chegou a dispor as sete cores refratadas no seu prisma em um círculo para conseguir
visualizar os efeitos.
De acordo com Pedrosa (2002), diversos teóricos desenvolveram sistemas de cores para as registrarem,
ordenarem e estudarem, permitindo a disseminação do conhecimento sob o olhar de diferentes abordagens.
Nesse contexto, conhecer as opções e usar o que cada um tem de melhor permite a escolha de caminhos para a
criação de cores. Designers, artistas, arquitetos e estilistas podem encontrar círculos no mercado e optarem por
aquele que se encaixa melhor em sua área de atuação.

1.3.1 Círculos cromáticos


O círculo cromático, tradicionalmente, é representado como o próprio nome indica, por um círculo. Ele deve
conter 12 cores: três primárias (amarela, azul e vermelha), três secundárias (formadas pela mistura das
primárias) e seis terciárias (criadas pela mistura das primárias com as secundárias).
O círculo de Harris, por exemplo, é composto por dois círculos. Em 1731, Harris observou que, para criar
qualquer cor, seria preciso utilizar o vermelho, o amarelo e o azul. Na época, o vermelho era feito de mercúrio e
sulfa, o amarelo de um pigmento artificial e o azul era o ultramarino. A mistura resultava em três cores
intermediárias: laranja, verde e púrpura.

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Figura 5 - Círculo cromático de Harris
Fonte: KUEHNI; SCHWARZ, 2008, p. 61.

O círculo prismático de Harris inicia com as cores primárias (vermelha, amarela e azul). No centro, há o que
chamamos hoje de mistura subtrativa, em que o preto é resultado da sobreposição das cores vermelha, amarela
e azul.
Já o círculo de Johann Goethe é composto por três cores primárias (amarela, azul e vermelha) e três
secundárias (laranja, violeta e verde). Geograficamente, o vermelho e o verde ficam em lugares opostos, assim, o
lado das cores verde e amarela é o positivo, enquanto o oposto é o negativo. Os polos opostos, chamados de
positivos e negativos, são formados, respectivamente, pelas cores amarela (próxima da luz) e azul (próxima da
escuridão). Entre elas, temos todas as outras cores agrupadas.

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Figura 6 - Círculo de Johann Goethe
Fonte: FRASER; BANKS, 2007, p. 48.

Goethe procurou superar o sistema desenvolvido por Newton utilizando seu conhecimento sobre os efeitos
morais das cores. Dessa forma, conseguiu dar ordem aos aspectos estéticos.
O círculo de Chevreul, por outro lado, é formado por 72 cores, construídas a partir de três cores primárias
(vermelha, amarela e azul) e três secundárias (laranja, verde e violeta). Seu círculo ainda traz cinco zonas com 20
segmentos, os quais retratam diferentes níveis de brilho.

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Figura 7 - Círculo de Chevreul
Fonte: KUEHNI; SCHWARZ, 2008, p. 85.

Foi a primeira vez em que fomos confrontados com o papel ativo do cérebro na formação de cores, confirmando
que estas também podem ser tidas como efeitos criados em nossas mentes. O trabalho de Chevreul, inclusive,
influenciou bastante os movimentos Impressionista e Neoimpressionista durante o século XIX.
Entre os anos de 1872 e 1874, o fisiologista Ewald Hering escreveu “Theory of Sensitive to Light”, livro em que
aborda os estudos da cor com a luz e a Psicologia. Ele constatou que existem três tipos de moléculas
fotorreceptoras sensíveis às ondas (foi a primeira vez que se ouviu falar nos cones e bastonetes).
No círculo de Hering, temos quatro cores fundamentais: vermelha, verde, amarela e azul. Experimentos atuais
utilizando testes subjetivos para descrever a impressão das luzes coloridas confirmam essa teoria.

Figura 8 - Círculo de Hering

Fonte: KUEHNI; SCHWARZ, 2008, p. 101.

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Fonte: KUEHNI; SCHWARZ, 2008, p. 101.

Já Albert Munsell foi o pintor americano que criou um sistema baseado no princípio da “equidistância
percebida”, o mais utilizado atualmente. No sentido de ordenar visualmente as cores, o círculo de Munsell é
composto por 100 tipos de tonalidades, partindo de cinco principais e cinco adicionais. O pinto adotou 10
unidades de luminosidade, além de uma escala de saturação. O resultado foi a criação de um espaço de cor,
chamado árvore da cor, em que as tonalidades, com suas diferentes saturações, são dispostas ao longo de uma
escala de cinzas.

Figura 9 - Círculo de Munsell


Fonte: KUEHNI; SCHWARZ, 2008, p. 115.

Por fim, temos o círculo de Itten, composto por 12 cores. Ele parte das três cores primárias (azul, vermelha e
amarela), que são dispostas em um triângulo. Em volta deste, encontram-se as cores secundárias (verde, laranja
e roxo), resultante das misturas das cores primárias.

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Figura 10 - Círculo de Itten
Fonte: FRASER; BANKS, 2007, p. 44.

Assim como o círculo de Hering, o desenvolvido por Itten é um dos mais utilizados por profissionais de
arquitetura e design.

1.3.2 Harmonias
Qualquer que seja o círculo cromático a ser utilizado, o objetivo principal é indicar matizes que funcionarão bem
quando em conjunto. Esses esquemas são chamados de harmonias, sendo que as principais harmonias são
divididas em cinco: frias e quentes, complementares, análogas, triádica e monocromática.
As cores quentes estimulam a circulação do observador e despertam calor humano. As cores frias, por sua vez,
diminuem a circulação do observador, são impessoais e denotam certo afastamento emocional.

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Figura 11 - Harmonia entre cores quentes e frias
Fonte: Elaborada pela autora, baseada em FRASER; BANKS, 2007.

Já as cores complementares se encontram opostas no círculo cromático. Nesse caso, vale lembrar que as cores
complementares são as que mais oferecem contrastes entre si, conforme vemos na figura a seguir.

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Figura 12 - Harmonia entre cores complementares
Fonte: Elaborada pela autora, baseada em FRASER; BANKS, 2007.

Análogas são cores que aparecem lado a lado no círculo cromático, isso significa que pertencem à mesma família,
ou seja, há nelas a mesma cor básica.

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Figura 13 - Harmonia análoga
Fonte: Elaborada pela autora, baseada em FRASER; BANKS, 2007.

A harmonia triádica é baseada em três cores equidistantes em torno do círculo cromático, formando um
triângulo. Ela é necessária para se criar paletas de cores complexas.

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Figura 14 - Harmonia triádica
Fonte: Elaborada pela autora, baseada em FRASER; BANKS, 2007.

Por fim, temos o monocromático, baseado em uma única cor matiz com variações criadas pelo ajuste de brilho
ou saturação. Nesse caso, a mesma cor que pode ser trabalhada de diversas formas.

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Figura 15 - Harmonia monocromática
Fonte: Elaborada pela autora, baseada em FRASER; BANKS, 2007.

Quanto mais entendemos de harmonias cromáticas, mais temos domínio das cores e facilidade para criar
projetos diferentes, inovadores e disruptivos. Para tanto, devemos sempre consultar o círculo cromático quando
temos dúvidas sobre composições, pois ele ajuda bastante na definição de equilíbrios, facilitando a vida de
profissional no dia a dia da prática projetual.

1.3.3 Pretos, brancos e cinzas


Você saberia responder o porquê de o preto, o branco e o cinza não aparecem nos círculos cromáticos, nem no
prisma de Newton? Apesar de serem necessários para compor a gama de cores, o preto, o branco e o cinza não
são considerados cores propriamente ditas. Isso porque o branco representa a capacidade de refletir todas as
cores, o preto absorve todas elas e o cinza as reflete de forma parcial. Por essa razão, elas são chamadas de cores
neutras, mas, na verdade, representam valores tonais.
Uma escala com variações tonais entre o branco e o preto, ou seja, com tons de cinza, recebe o nome de Escala
Acromática. Podemos vê-la conforme figura a seguir.

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Figura 16 - Escala Acromática
Fonte: Elaborada pela autora, 2019.

O caso a seguir nos traz um exemplo prático do uso do círculo cromático. Acompanhe!

CASO
Em uma composição de ambientes, o designer deseja equilibrar as cores de um espaço que foi
pintado de amarelo, mas não pode excluir esta cor do projeto, pois faz parte da identidade que
o cliente deseja. Para resolver o problema, utilizando o círculo cromático, ele pode escolher
uma cor complementar, ou seja, contrária, a fim de criar um contraste de cor. A opção mais
viável seria um azul ou, então, o lilás. O designer também poderia equilibrar o ambiente com o
uso de uma terceira cor, utilizando o Diagrama de Goethe.

Viu como é fácil usar o círculo cromático? A ferramenta ajuda a visualizarmos os exemplos práticos do cotidiano.
Além disso, conforme você se acostuma com seu uso, as soluções surgem facilmente na mente.

1.4 Cor na Bauhaus: Albers e Itten


No início do século XX, a escola de artes e arquitetura Bauhaus, situada na Alemanha, era um excepcional
aglomerado de artistas e teóricos. Dois membros da escola se destacaram em seus estudos sobres cores,
definindo muito dos conceitos e das teorias utilizados nas disciplinas de Projeto. Eles eram Joseph Albers e
Johannes Itten (FRASER; BANKS, 2007).

VOCÊ QUER LER?


O livro “Curso da Bauhaus”, de Wassily Kandisky, é um compilado com os principais textos do
autor, abordando as técnicas utilizadas nas aulas de pintura e desenho, aprofundando sobre
cor, forma e traço que ajudaram a fazer da Bauhaus a mais famosa escola de arte do século XX.

Para esses dois grandes mestres, a cor constituía algo subjetivo, que ia muito além da física de Newton e dos
círculos cromáticos. Ela abrangia um estudo complexo que envolvia espiritualidade, sentimento e percepção. Os
membros também acreditavam que cada pessoa possuía uma paleta própria que definia sua personalidade.

Esse estudo nos ajuda quando estamos trabalhando com clientes que têm diferentes personalidades. Por

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Esse estudo nos ajuda quando estamos trabalhando com clientes que têm diferentes personalidades. Por
exemplo, como utilizar as cores subjetivas em situações em que os sentimentos, as emoções e as
individualidades são tão importantes? Vamos encontrar uma resposta para tal questionamento a partir de agora!

1.4.1 Joseph Albers


Segundo Custodio (2018), Joseph Albers buscava, por meio do estudo da cor, despertar o interesse pela
experimentação prática, pelo autoconhecimento da estética e por exercícios que propõem desdobramentos de
modelos pré-existentes.
Para conhecer os princípios pedagógicos relacionado a este modelo, clique nos itens abaixo.

Na percepção visual, geralmente não conseguimos ver a cor como ela é fisicamente.
A cor é o meio mais relativo entre os empregados na arte.
A cor sempre pode enganar.
A cor evoca diversas leituras.
A cor deve ser observada por contraste e comparação em relação à outra.
A prática sempre precede a teoria nesse caso.
O fato físico não é coerente com o efeito psíquico.

Albers relacionava as cores como timbres subjetivos e sensações, podendo percebê-las por meio de relações
análogas. Depois de desenvolver em sua arte uma marca pessoal de abstração, ele foi para os Estados Unidos em
1933, onde ensinou nas universidades da Carolina do Norte e em Yale (CUSTODIO, 2018).
Seu livro, intitulado “Interaction of color”, é considerado de crucial importância para a Teoria das Cores, além de
ter influenciado a origem da op art (abreviatura de arte óptica), movimento artístico que lançava mão de truques
de geometria com cor como recurso visual.

1.4.2 Johannes Itten


Johannes Itten usou o esquema do curso preliminar da Bauhaus na escola de sua propriedade em Viena,
desenvolvendo uma pesquisa a respeito da aplicação das cores nas artes plásticas (CUSTODIO, 2018).
Quer aprender mais sobre este tema? Clique nas setas e confira!
Para Itten, o estudo da cor é fundamentalmente subjetivo e empírico, principalmente na formação de um artista.
Ele apresenta condições intuitiva, acadêmica e científica, que podem se complementares de acordo com
elementos individuais (FRASER; BANKS, 2007).
De acordo com sua crença, a cor deve ser experimentada para que os sentidos sejam renovados: a palavra, os
sons, a forma e as cores fazem com que sejam incorporadas abordagens por meios de seus aspectos físico,
químico, estético e espiritual. Dessa forma, compreender a cor abrange entender sua origem e suas
possibilidades infinitas de aplicação estética.
Conforme Custodio (2018), Itten acreditava que a cor pode ser dividida em dois aspectos: agente cromático e
efeito cromático. O agente cromático corresponde à parte da cor de natureza físico-química. É, portanto, os
estudos das tintas, dos pigmentos e dos corantes. O efeito cromático, por sua vez, diz respeito ao efeito
psicofisiológico que não corresponde à realidade da cor.
Itten também concebeu a estrela cromática de 12 pontas. O disco, composto por cores primárias, secundárias e
terciárias, apresenta 12 tons, em que, dentro do triângulo equilátero central, estão dispostas as três cores
primárias. Ele recomenda que cada cor, em sua pureza máxima, deve ser vista sobre um fundo cinza médio
devido aos efeitos de contraste simultâneo.

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Figura 17 - Estrela cromática de Itten
Fonte: FRASER; BANKS, 2007, p. 45.

Diferentemente dos círculos cromáticos, a estrela cromática de Itten inclui variações em brilho, matiz e
saturação. É um esquema mais complexo (FRASER; BANKS, 2007).

Síntese
Chegamos ao fim da primeira unidade desta disciplina. Agora, você já conhece sobre as relações de cor e luz, luz
e física, círculos cromáticos, sistemas de cor e harmonias existentes. Dessa forma, pode trabalhar na prática o
uso da cor dentro de projetos de design. Devemos entender que a cor é um dos assuntos mais importantes para
profissionais de design, arquitetura e artes, sendo seu estudo contínuo dentro dessas carreiras.
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• conhecer a estrutura biológica do olho humano e o complexo esquema de lentes e células que trabalham
para interpretar a luz e transformá-la em mensagem;
• compreender sobre as primeiras teorias a respeito do estudo da cor;
• conhecer o sistema de cor e como ele evoluiu até chegar aos dias de hoje;
• tomar conhecimento de grandes estudiosos e seus sistemas para identificarem harmonias;
• conhecer as harmonias cromáticas;
• compreender sobre os estudos da Bauhaus e das cores no século XX.
• entender sobre a refração da luz e os estudos de Newton com prismas;

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Bibliografia
BERNARDO, L. M. Histórias da luz e das cores. 2. ed. Porto: Universidade do Porto, 2009.
CUSTODIO, I. A leitura das cores na Bauhaus: Josef Albers, Johannes Itten e Wassily Kandinsky. In: 4º
SIMPÓSIO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESIGN DA ESDI, 2018, Rio de Janeiro. Anais eletrônicos […] Rio de
Janeiro: ESDI, out. 2018. Disponível em: https://even3.blob.core.windows.net/anais/120639.pdf. Acesso em: 2
jul. 2019.
DA VINCI, L. Tratado da pintura. São Paulo: Criativo, 2013.
FRASER, T.; BANKS, A. Guia completo da cor: livro essencial para a consciência das cores. São Paulo: SENAC São
Paulo, 2007.
ISAAC NEWTON: o último mágico. Dirigido por: Renny Barlett, 2013.
KUEHNI, R. G., SCHWARZ, A. Color ordered: a survey of color systems from antiquity to the present. New York:
Oxford University Press, 2008.
PEDROSA, I. Da cor a cor inexistente. Brasília: L. Christiano Editorial, 2002.

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