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TEORIA GERAL DO PROCESSO

 A Teoria Geral do Processo é uma disciplina introdutória do direito processual civil.


 Até o começo/primeira metade do século XIX, o direito processual civil era uma parte do
direito civil.
 O direito processual surge como um conjunto de normas para regular o processo, isto é,
regular como o processo de desenvolve.
 Para o direito processual, o processo é um instrumento da jurisdição para resolução de
conflitos.
 Jurisdição é o poder do Estado para aplicar o direito.

Direito material e processual

 As relações jurídicas são relações sociais às quais é atribuída importância pelo


direito/jurídica.
Relação jurídica processual

Relação jurídica material Juiz

sujeito ativo ↔ sujeito passivo autor réu

direito subjetivo – (objeto) – dever  autor e réu são sujeitos ativos


 juiz é sujeito passivo que deve a prestação
 ex.: direito de receber vs. jurisdicional
dever de pagar

 A relação jurídica material é uma relação social cotidiana na qual um sujeito dito portador de
direitos exige prestação que lhe diz respeito e um sujeito passivo tem o dever de cumprir tal
prestação.
 Intersubjetiva
 Quando se entra com uma petição, está sendo afirmada a existência de uma relação
material, que é levada a direito.

📢 Relação material não se torna relação processual, ela é levada ao processo para
apreciação do juiz, que delibera se ela existiu ou não.

 A relação material e a relação processual independem uma da outra.


 Caso o juiz entenda a relação jurídica material como improcedente, tem-se que essa relação,
então, não existe, e resta apenas a relação processual iniciada com a abertura do processo.

Direito processual civil

 O Direito Processual Civil pode ser definido como o ramo da ciência jurídica que trata do
complexo das normas reguladoras do exercício da jurisdição civil.

Justiça comum Justiça especial

civil penal eleitoral trabalhista militar


 O que não é especial, é comum, e o que não é penal, é civil. Dessa forma, a justiça civil é
muito mais abrangente. Tudo o que não for especial e/ou penal, é processo civil!

Noções básicas

 Interesse é a vontade de satisfazer uma necessidade.


 Segundo Carnelutti, o interesse é a posição favorável para satisfação de uma
necessidade.
 Pretensão é a exteriorização do interesse e o querer que a outra parte se submeta a sua
vontade.
 Segundo Carnelutti, a pretensão é a exigência de subordinação do interesse alheio
ao interesse próprio.
 Lide é o choque de pretensões, caracteriza-se quando houver resistência à pretensão.
 Segundo Carnelutti, a lide é um conflito de interesses qualificado por uma pretensão
resistida.

Métodos de solução de conflitos

 Métodos heterocompositivos são aqueles em que há a solução de conflitos com intervenção


de terceiros. São eles: tribunais administrativos, arbitragem e jurisdição.
 Métodos autocompositivos são aqueles em que a solução de conflitos parte dos próprios
sujeitos. São eles: autotutela, autocomposição.

Autotutela

 O próprio interessado atua na solução do conflito. Tem caráter excepcional. Ex.: desforço
imediato da posse (CC, art. 1.210).

Autocomposição

 CPC/15 - Art. 3º Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito.


§ 2º O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos.
 Realização da autocomposição
 Sem auxílio (negociação indireta)
 Com auxílio (conciliação, mediação, ODR, avaliação de terceiro imparcial)
 CPC/15 Art. 166. A conciliação e a mediação são informadas pelos princípios da
independência, da imparcialidade, da autonomia da vontade, da confidencialidade, da
oralidade, da informalidade e da decisão informada.
 A confidencialidade garante o sigilo das tratativas. O mediador precisa respeitar a
confidencialidade das informações tratadas. Por isso não se deve formalizar audiências de
conciliação, para garantir a privacidade das partes.
 Só pode ser quebrada pelas próprias partes, e a quebra (que não seja desejada
pelas partes) pode resultar em nulidade da sentença.
 Obs.: numa audiência bem-sucedida, a única coisa obrigatória a constar na ata é o
resultado, a não ser que as partes manifestem o desejo de que tudo seja registrado.
Heterocomposição

 Os meios heterocompositivos se caracterizam pelo fato de que um terceiro é chamado a


resolver um conflito.
 Não basta apenas que o terceiro participe da heterocomposição, é necessário que ele
solucione o conflito.

Arbitragem

 O conflito de interesses é solucionado pelo árbitro, que é um terceiro escolhido pelas partes
para que solucione o conflito.
 Não há arbitragem no direito brasileiro que não seja precedida por uma convenção de
arbitragem, que é um acordo de vontades feito pelas partes de um determinado conflito
atual ou eventual, através do qual se decide quando um conflito será solucionado por um
terceiro.
 Cláusula compromissória
 Compromisso arbitral
 Em síntese, tem-se duas ou mais pessoas que resolvem que querem um conflito de
interesses solucionado através da arbitragem.
 O conflito pode ser real ou que ainda não se concretizou. Em contratos, é comum que a
arbitragem seja escolhida para solucionar conflitos futuros.
 O árbitro pode ser qualquer pessoa capaz que goze da confiança das partes. Há, ainda, a
possibilidade de se instaurar um tribunal arbitral.
 Questões de direitos patrimoniais disponíveis.
 As partes podem desistir da arbitragem e recorrer ao Judiciário.
 Se assim for estabelecido na convenção de arbitragem, o árbitro poderá julgar por equidade,
ou seja, de acordo com seu próprio senso de justiça.

Caráter jurisdicional

 Terminado o processo arbitral, tem-se a sentença arbitral.


 Sentença arbitral é o ato que julga o conflito. Ao julgar o conflito, o árbitro está agindo
exercendo jurisdição. O árbitro, segundo a lei de arbitragem, é juiz de fato e de direito, e a
sentença arbitral não fica sujeita a recurso ou a homologação do Poder Judiciário (art. 18, lei
n. 9.307). A sentença arbitral é, portanto, final, a não ser que as partes previssem um
recurso arbitral quando da convenção de arbitragem.
 Numa ação anulatória da sentença arbitrária, discute-se se houve vício na sentença. É o
caminho existente para combater a sentença proferida de forma viciada/irregular/inválida (o
árbitro foi parcial, corrupto).
 A invalidação de uma sentença arbitral só pode decorrer de um ou mais defeito(s)
encontrado(s) nela. Erro de julgamento não configura defeito.
 Se a sentença arbitral for considerada numa, tem-se o processo arbitral novamente.

Vantagens e desvantagens
Vantagens:

 Mais rápida
 Menos burocrática
 Mais confidencial (a arbitragem pode ser, e normalmente é, mais confidencial que o litígio)

Desvantagens:

 Altos custos do processo arbitral

Tribunais administrativos

 Método heterocompositivo de solução de conflitos.


 Difundido no Brasil pelas agências reguladoras (p. ex., Procon, juntas marítimas, ANEEL).
 Funciona como um órgão jurisdicional, parecido com o Poder Estatal, onde a solução do
conflito é dada por um órgão administrativo, sendo, portanto, uma decisão administrativa e,
assim, nunca será definitiva. A decisão não é vinculante.

Jurisdição

 É a forma, por excelência, de resolução de conflitos por heterocomposição.


 O Estado deu às pessoas o direito de exigir a prestação de jurisdição. Basicamente, ao
impedir que a justiça seja feita pelas próprias pessoas de maneira desregulada, o Estado
oferece o direito de exigir que ele faça a justiça pelas pessoas.
 Vem do latim juris dictio.
 Há determinados atributos que só a jurisdição pode fornecer. Isso não significa que seja ela
o melhor método de solução de conflitos, pois isso dependerá do tipo do conflito.

Concepções clássicas

 Dois autores italianos influenciaram muito o pensamento ocidental, sobretudo na América


Latina.
 Giuseppe Chiovenda tinha a ideia de que a jurisdição era a realização da vontade concreta
da lei. O juiz era provocado e a sua atividade seria realizar o que ele chamava de vontade
concreta da lei, que seria a tradução do que o direito material estabelecia para aquele
problema que era apresentado ao juiz para julgamento. Direito material aplicado ao caso
concreto. O juiz revelava algo preexistente (o direito material, chamado vontade concreta da
lei).
 Substitutividade. O juiz substitui na aplicação do direito, fazendo o que as partes
estão impossibilitadas de fazer. A jurisdição seria uma atividade substitutiva.
 Francesco Carnelutti parte da ideia de que a jurisdição é a justa composição da lide. Para se
haver jurisdição, tem de haver a lide. A partir do existente conflito, a jurisdição o compõe.

Visão contemporânea

Hoje, a jurisdição pode ser definida como a função de aplicar o direito de forma criativa e
imperativa mediante um processo, certificando, protegendo ou realizando situações jurídicas,
através de atividade insuscetível de controle externo e com aptidão para definitividade.

Características da jurisdição:
 Função estatal: a jurisdição é uma função do Estado, ainda que, nem sempre, seja exercida
pelo Estado.
 Heterocomposição: envolve a atividade de aplicar o direito pelo juiz.
 Imperatividade: a jurisdição se impõe independentemente da vontade das partes.
 Criatividade: antigamente não se pensava a jurisdição como criativa, muito por influência das
ideias de Chiovenda. Hoje se sabe que a atividade interpretativa da lei precede a sua
aplicação. No entanto, a margem para interpretação pode variar.
 Tutela através do processo: envolve a tutela de direitos, que pode envolver a sua
certificação, proteção ou realização. A jurisdição precisa do processo, que é um mecanismo
para exercê-la; eles são indissociáveis.
 Definitividade: só a jurisdição tem aptidão para definitividade. A sentença quando transitada
em julgado, torna-se coisa julgada, ou seja, indiscutível, definitiva. Há decisões jurisdicionais
que são insuscetíveis a se tornarem definitivas, mas apenas elas podem assim ser.
 Ausência de controle externo: a jurisdição é uma atividade que não se subordina a controle
que não seja jurisdicional, interno, como recursos, mandados de segurança etc.

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