Você está na página 1de 44

UFSC – UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL


MECÂNICA DOS SOLOS II – ECV 5114

CAPÍTULO 8

EMPUXOS DE TERRA

Eng. Cesar Schmidt Godoi, M.Sc.


UFSC – UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
MECÂNICA DOS SOLOS II – ECV 5114

CAPÍTULO 8.1.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Eng. Cesar Schmidt Godoi, M.Sc.


IMPORTÂNCIA - EXEMPLOS
Diversos e constantes deslizamentos de terra (sobretudo após sua ocupação) nas
encostas da Serra do Mar, os quais provocaram a execução de obras de contenção
(emergenciais em alguns casos).

A determinação do valor do empuxo é fundamental para análise e projeto de obras de


contenção, paredes diafragma, subsolo de edifícios, encontro de pontes, etc.

O valor do empuxo de terra, assim como a distribuição de tensões ao longo do elemento


de contenção, depende da interação solo-elemento estrutural durante todas as fases da
obra. O empuxo atuando sobre o elemento estrutural provoca deslocamentos horizontais
que, por sua vez, alteram o valor e a distribuição do empuxo, ao longo das fases
construtivas da obra.
IMPORTÂNCIA - EXEMPLOS
IMPORTÂNCIA – DESENVOLVIMENTO AO LONGOS DOS ANOS
CASOS PRÁTICOS

Desenvolvimento das primeiras teorias sobre o assunto:

COULOMB (1773)
Posteriormente desenvolvidas por Poncelet, Culmann,
Rebhann, Krey, Terzaghi, Brich Hansen
RANKINE (1856)

Problemas relacionados à ruptura de estruturas de contenção, ruptura de túneis, etc.

Necessidade de obras de contenção em função dos movimentos de massa e catástrofes


naturais (cap. 6 Estabilidade de Taludes)
UFSC – UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
MECÂNICA DOS SOLOS II – ECV 5114

CAPÍTULO 8.2.

TIPOS DE EMPUXO

Eng. Cesar Schmidt Godoi, M.Sc.


EMPUXOS
Definição Geral: Empuxo de Terra se refere a ação produzida pelo maciço terroso sobre
as obras (muros de contenção, edifícios, encontro de pontes, etc.) que possam estar em
contato com o maciço.

Objetivo Geral: Estimar a magnitude dos esforços que atuam sobre essas obras
destinadas a conter o solo.

Tipos de Empuxo:
1. Empuxo no repouso (E0)
2. Empuxo Ativo (Ea)
3. Empuxo Passivo (Ep)
EMPUXO NO REPOUSO
O empuxo no repouso é definido pelas tensões horizontais, calculadas para condição de
repouso (condição geostática).

Neste caso para a condição de semi-espaço infinito horizontal, têm-se:

A análise de k0 deve ser realizada sempre em termos de tensões efetivas, pois o


coeficiente k0 está associado à compressibilidade dos solos.
EMPUXO NO REPOUSO
Valores típicos para o coeficiente k0:
EMPUXO NO REPOUSO
O valor de k0 depende de vários
parâmetros geotécnicos do solo,
principalmente:

1. ângulo de atrito
2. índice de vazios
3. razão de pré-adensamento, etc.

A determinação do coeficiente de
empuxo no repouso pode ser feita a
partir ensaios de laboratório e ensaios
de campo, teoria da elasticidade ou
correlações empíricas
EMPUXO ATIVO
Empuxo no qual o solo sofre uma espécie de distensão, ou seja, o maciço terroso atua
ativamente contra a estrutura de contenção, tendendo a empurrar a estrutura
EMPUXO PASSIVO
Empuxo no qual o solo sofre uma espécie de compressão, ou seja, o maciço
terroso atua passivamente contra a estrutura de contenção. A estrutura tende a
empurrar o maciço.
SITUAÇÕES EM QUE PODE OCORRER MAIS DE UM TIPO
DE EMPUXO
Muro cais ancorado – situação em que se desenvolve empuxos ativos e
passivos

Deve-se tomar muito cuidado na avaliação do tipo de empuxo ao que a


estrutura pode estar submetida!
SITUAÇÕES EM QUE PODE OCORRER MAIS DE UM TIPO
DE EMPUXO
COEFICIENTES DE EMPUXO
O valor do coeficiente de empuxo depende do movimento relativo entre o
solo (maciço) e a obra em contato com ele
UFSC – UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
MECÂNICA DOS SOLOS II – ECV 5114

CAPÍTULO 8.3.

CÁLCULOS DOS EMPUXOS

Eng. Cesar Schmidt Godoi, M.Sc.


CÁLCULOS DOS EMPUXOS
Principais teorias para Cálculo:

Teoria de Rankine (1856)

Teoria de Coulomb (1776)

Métodos Gráficos

Método de Culman

Método de Poncelet

Método de Rebhan
UFSC – UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
MECÂNICA DOS SOLOS II – ECV 5114

CAPÍTULO 8.3.1.

TEORIA DE RANKINE

Eng. Cesar Schmidt Godoi, M.Sc.


TEORIA DE RANKINE
O deslocamento de uma parede irá desenvolver estados limites plásticos, ou seja, no momento da
ruptura surgem infinitos planos de ruptura e ocorre a plastificação de todo o maciço.

As principais hipóteses para o método de Rankine são as seguintes:

1. Solo isotrópico;
2. Solo homogêneo;
3. Superfície do terreno plana;
4. A ruptura ocorre em todos os pontos do maciço simultaneamente (estados plásticos)
5. A ruptura ocorre sob o estado plano de deformação (superfície de ruptura reta)
6. O tardoz (superfície de contato entre o solo e muro) deve ser perfeitamente liso (ângulo de atrito
solo-muro = 0º)
7. os empuxos de terra atuam paralelamente à superfície do terreno
8. A parede da estrutura em contato com o solo é vertical
9. O empuxo atua a 1/3 da base da escavação
TEORIA DE RANKINE
TEORIA DE RANKINE
Desenvolvimento das fórmulas e cálculos
UFSC – UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
MECÂNICA DOS SOLOS II – ECV 5114

CAPÍTULO 8.3.2.

TEORIA DE COULOMB

Eng. Cesar Schmidt Godoi, M.Sc.


TEORIA DE COULOMB (1776)
A hipótese de não haver atrito entre o solo e o muro, adotada pela teoria de Rankine, raramente
ocorre na prática. Com o deslocamento do muro, a cunha de solo também se desloca, criando
tensões cisalhantes entre o solo e o muro.

Em resumo são consideradas as seguintes hipóteses:

1. O maciço é indeformável
2. A superfície de escorregamento é curva, no entanto, Coulomb admite que ela é plana, por
conveniência de cálculo.
3. O plano de deslizamento passa necessariamente pelo pé do talude
4. Admite a existência de atrito entre o solo e o muro (δ). Esse valor pode ser medido em
laboratório (cisalhamento direto) ou através de valores encontrados por pesquisadores
(Terzaghi e outros, sempre menor que o ângulo de atrito do solo)
5. Não afirma sobre o ponto de aplicação do empuxo, apenas afirma que deve variar entre h/2 e
h/3
TEORIA DE COULOMB
TEORIA DE COULOMB
Desenvolvimento das fórmulas e cálculos

Empuxo Ativo
Empuxo Passivo
TEORIA DE COULOMB – POLÍGONO DAS FORÇAS
EMPUXO ATIVO – SOLOS NÃO COESIVOS

Conhece-se a magnitude, direção e sentido do Peso (W).


Conhece-se a direção e sentido da reação (R) e do Empuxo (P)
Traça-se o polígono das forças.
TEORIA DE COULOMB – POLÍGONO DAS FORÇAS
EMPUXO ATIVO

Determinação da superfície crítica


TEORIA DE COULOMB – POLÍGONO DAS FORÇAS
EMPUXO ATIVO – SOLOS COESIVOS

W: peso da cunha W
P: reação entre a parede e o solo, com inclinação δ
R: reação no plano potencial de deslizamento, atuando a um ângulo φ
Cw: força devido a componente de adesão: EB x cw
C: força no plano potencial de deslizamento devido a parcela de coesão BC x c

As direções de todas as componentes são conhecidas, assim como as magnitudes de W, Cw e C. Com o traçado do
polígono de forças, determina-se o valor de P.
TEORIA DE COULOMB – POLÍGONO DAS FORÇAS
EMPUXO PASSIVO – SOLOS NÃO COESIVOS
Muro de Gabião – KM 25 – BR 282
Deslizamento – Km 25 – BR 282
UFSC – UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
MECÂNICA DOS SOLOS II – ECV 5114

CAPÍTULO 8.4.

DIMENSIONAMENTO DE MUROS

Eng. Cesar Schmidt Godoi, M.Sc.


DIMENSIONAMENTO DE MUROS
No dimensionamento de um muro, deve ser verificadas as seguintes condições de estabilidade:
tombamento, deslizamento da base, capacidade de carga da fundação e ruptura global.

Inicialmente realiza-se um pré-dimensionamento e, em seguida, verifica-se as condições de


estabilidade.
DIMENSIONAMENTO DE MUROS
De forma geral, utiliza-se a solução de Rankine, mesmo tendendo a apresentar valores mais
elevados de empuxo ativo, pois:

• As soluções são simples, especialmente quando o retroaterro é horizontal.

• Dificilmente se dispõe dos valores dos parâmetros de resistência na interface solo-muro (tardoz).

• No caso ativo, o efeito do atrito solo-muro no valor do coeficiente de empuxo ativo Ka é


desprezível. O efeito do coeficiente de atrito solo-muro pode ser expresso pela mudança na direção
do empuxo total EA

• Para paramentos não verticais, o solo pode ser incorporado ao muro


1. SEGURANÇA CONTRA O TOMBAMENTO
A segurança contra o tombamento deve ser calculada em torno da extremidade externa (ponto A).

O momento resistente deve ser maior do que o momento solicitante.

O momento resistente (Mres) corresponde ao momento gerado pelo peso do muro. O momento
solicitante (Msolic) é definido como o momento do empuxo total atuante em relação ao ponto A.

. .
.
2. SEGURANÇA CONTRA O DESLIZAMENTO
A segurança contra o deslizamento consiste na verificação do equilíbrio das componentes
horizontais das forças atuantes, com a aplicação de um fator de segurança adequado.

O valor de S é calculado pelo produto da resistência ao cisalhamento na base do muro vezes a


largura.

Onde:

!´ #$%&´ '(
3. CAPACIDADE DE CARGA DA FUNDAÇÃO
A capacidade de carga consiste na verificação da segurança contra a ruptura e deformações
excessivas do terreno de fundação.

A análise geralmente considera o muro rígido e a distribuição de tensões linear ao longo da base.

Se a resultante das forças atuantes no muro localizar-se no centro da base do muro, o diagrama de
pressões no solo será aproximadamente trapezoidal. O terreno estará submetido apenas a tensões
de compressão.

Deve-se garantir, que a base esteja submetida a tensões de compressão (σmin > 0) a resultante deve
estar localizada no terço central; ou seja, e < B/6 , para evitar pressões de tração na base do muro.
3. CAPACIDADE DE CARGA DA FUNDAÇÃO
O critério para a verificação da capacidade de carga é o seguinte:
* í
))
* ,

qmax se refere à capacidade de suporte calculada pelo


método de Terzaghi-Prandtl (Terzaghi e Peck, 1967),
considerando a base do muro como sendo uma sapata:

- . !´ / -0 /1 0,5 56 ´ /7

B’ = B - 2e = largura equivalente da base do muro;


c’ = coesão do solo de fundação;
γf = peso específico do solo de fundação;
Nc , Nq , Nγ = fatores de capacidade de carga
qs= sobrecarga efetiva no nível da base da fundação (qs = 0,
caso a base do muro não esteja embutida no solo de
fundação.)
4. RUPTURA GLOBAL
Com base nos métodos apresentados no capítulo anterior (Bishop, Spencer, Jambu, etc.)
FATORES DE SEGURANÇA – NBR 11.682 (2009)

De acordo com a NBR 11.682 (2009) considera-se que as análises usuais de segurança
desprezam as deformações que ocorrem naturalmente no talude ou na encosta e que o
valor do fator de segurança (FS) tem relação direta com a resistência ao cisalhamento do
material do talude.

Os fatores de segurança (FS) considerados em Norma têm a finalidade de cobrir as


incertezas naturais das diversas etapas de projeto e construção.

Dependendo dos riscos envolvidos, deve-se inicialmente enquadrar o projeto em uma das
seguintes classificações de nível de segurança, definidas a partir da possibilidade de
perdas de vidas humanas, conforme Tabela 1 e de danos materiais e ambientais,
conforme Tabela 2.
FATORES DE SEGURANÇA – NBR 11.682 (2009)
FATORES DE SEGURANÇA – NBR 11.682 (2009)
FATORES DE SEGURANÇA – NBR 11.682 (2009)
REFERÊNCIAS:
MOLITERNO, A. Caderno de Muros de Arrimo. 2ª Edição.1980.
CAPUTO, H.P. Mecânica dos Solos e suas Aplicações, Volume 2, 1988.
BRAJA DAS. Fundamentos de Engenharia Geotécnica”. 2007.
MILTON VARGAS; Introdução à Mecânica dos Solos
HOLTZ, R.D.; KOVACS W.D. An Introduction to Geotechnical Engineering. Prentice – Hall, New Jersey,
1981.
ORTIGÃO, J. A. R.; Introdução à Mecânica dos Solos dos Estados Críticos. LTC – Livros Técnicos e
Científicos Editora, Rio de Janeiro, RJ, 1995.
CARLOS SOUZA PINTO, Curso Básico de Mecânica dos Solos
Notas de Aula, Prof.ª Denise M S Gerscovich – UFRJ.: www.eng.uerj.br/~denise/
Notas de Aula, Prof.º Marciano Maccarini – UFSC
Notas de Aula, Prof.º Murilo Espíndola – UFSC
GODOI, C.S. Caracterização Geomecânica de um Solo Residual de Gnaisse – Santo Amaro da Imperatriz,
Santa Catarina

Você também pode gostar