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G i l b e r t o F I S C H , J o s é A . M A R E N G O , C a r l o s A. N O B R E
80W 70W 60W 50W 40W 30W 80W 70W SOW 50W 40W 30W
conjunto de dados (valores horários du- ventos de até 3,5 m.s" . Rocha et al. (1996)
rante um período de 15 meses) gerados também utilizaram de simulação climática
após 5 anos de integração. De modo geral, para estudar o efeito do desmatamento lo-
a substituição de floresta por pastagem cal no clima da Amazônia, encontrando
que a evapotranspiração e precipitação na 1988; Sa et ai, 1988; Viswanadham etal.,
área de floresta é praticamente insensível 1990) principalmente com os dados da
para variações de umidade no solo, ao torre micrometeorológica da Reserva
passo que a pastagem possui suas Ducke (Manaus, AM).
características fortemente associadas à "Nos quatros anos de medidas de
umidade. Os autores encontraram que uma campo do Projeto ABRAÇOS ocoircram
saturação inferior à 60% conduz à baixas sete campanhas intensivas de moni-
taxas de evaporação e de precipitação. toramento do clima. O objetivo dessas
Estes valores foram posteriormente campanhas de campo foi o de avaliar os
confirmados observacionalmente por parâmetros físicos que descrevem a
Wright et ai (1992). micrometeorologia dos sítios
Buscando comprovar as variações experimentais e fornecer estimativas de
meteorológicas decorrentes do desmata- todas as componentes do balanço de
mento, Paiva & Clarke (1995) analisaram energia, incluindo evaporação, a qual
estatisticamente as séries temporais de 48 pode ser utilizada para calibrar modelos
postos pluviométricos na Amazônia e da superfície vegetada. Em média os
encontraram que, embora haja tendências sítios experimentais de floresta
estatísticas sobre as anomalias positivas ou absorveram 11% mais radiação do que
negativas, há indícios de que tendências as pastagens. Isto advém do fato da
negativas são mais comuns de ocorrerem floresta refletir menos radiação solar e
do que as positivas, sendo também mais emitir menos radiação de ondas longas.
freqüente nas partes da Amazônia Central O albedo médio da floresta foi de 0,13,
e Oeste. A parte leste possue mais ligeiramente mais alto do que o valor
tendências positivas, provavelmente em usualmente utilizado em simulações
função da p r o x i m a d e do Oceano numéricas de desmatamento, enquanto
Atlântico e brisa marítima. Outros que o albedo médio da pastagem foi de
estudos que demonstram a variabilidade 0,18, ligeiramente menor que os valores
da precipitação são os de Rocha et al. habitualmente utilizados. Surpreenden-
(1989) e Chu & Hastenrath (1994). temente as gramíneas das pastagens não
apresentaram uma forte sazonalidade do
7. MICROMETEOROLOGIA albedo, ao passo que o albedo da floresta
DE FLORESTA mostrou uma variação sazonal bem
A seguir, descrever-se-á os definida, que não ocorre devido aos
principais resultados de micrometeorologia efeitos de variações do angulo de
de floresta e pastagem, obtidos pelo Projeto elevação solar ou as variações de
ABRAÇOS (Nobre et ai, 1996; Gash & nebulosidade, mas está correlacionado
Nobre, 1997). Estes resultados foram com a umidade do solo. Embora o al-
baseados em observações e dados bedo dos sítios de pastagem não tenha
coletados nos três pontos experimentais do mostrado uma clara tendência sazonai,
Projeto ABRAÇOS. Ressalta-se que variações de mês a mês foram
trabalhos científicos anteriores foram observadas, estando associadas ao
realizados (por exemplo, Shuttleworth, índice de área foliar. Em Ji-Paraná,
diferenças sistemáticas na radiação so- estação seca estão a s s o c i a d o s à
lar incidente entre os sítios experimen- subsidência de grande escala, que é
tais de floresta e pastagem foram predominante próximo às fronteiras do
observadas durante a estação seca. Estas domínio florestal (como nas regiões de
diferenças podem estar relacionadas Marabá e Ji-Paraná no sudeste e sudoeste
com o aumento de nebulosidade sobre da Amazônia, respectivamente). A
a pastagem durante aquela época do umidade do solo estudada continuamente
ano, fato este evidenciado por Cutrim et durante todo o projeto A B R A Ç O S
al. (1995). Em se confirmando essas mostrou que, durante a estação seca,
observações, é um resultado importante houve s i s t e m a t i c a m e n t e maior
na medida que indica um efeito direto extração de água no solo sob a
da mudança de cobertura vegetal em um floresta, resultando em perfis mais
fenômeno atmosférico de mesoescala. secos ao final da época seca. Há claras
As p a s t a g e n s apresentaram indicações de que a floresta está
temperaturas máximas durante o dia extraindo água a profundidade maiores
mais altas e amplitudes de temperatura que 3,6 m (profundidade máxima das
também mais altas. Geralmente o medidas de umidade do solo). Estas
mínimo de temperatura foi menor à indicações encontram suporte nas
noite para a pastagem. Este resultado medidas de variações máximas de
está associado provavelmente as baixas armazenamento registradas para cada
velocidades do vento próximo à um dos sítios experimentais. O termo
superfície para as pastagens à noite, o de armazenamento do balanço de água
que pode levar à redução dos processos não foi nulo ao final do ciclo anual e, se
turbulentos de mistura na vertical e esses resultados fossem extrapolados para
maior estabilidade atmosférica. A a escala regional, a diferença entre a
temperatura durante o dia na área urbana precipitação e vazão fluvial não
de Manaus foi sistematicamente mais resultariam na evaporação média anual
alta que aquela nas duas áreas rurais de grande escala. O quadro geral de
(pastagem e floresta), mas as tempe- água no solo mostra que existem grandes
raturas na cidade à noite foram similares diferenças nas variações sazonais de
àquelas sobre a floresta. Há pequena conteúdo de água no solo, tanto entre
variação sazonal de temperatura em floresta e pastagem como entre os
Manaus ou Marabá, porém há um sítios experimentais. Essas diferenças
resfriamento considerável durante a ocorrem como r e s u l t a d o dos
estação seca em Ji-Paraná, associada à diferentes regimes de precipitação,
advecção de ar frio de latitudes combinados com as diferenças
extratropicais no Hemisfério Sul, devido propriedades do solo, comportamento do
à passagem de sistemas frontais. Um lençol freático e profundidade das raízes
marcante ciclo anual de umidade foi das florestas e gramíneas.
observado em Ji-Paraná e Marabá, mas Durante a estação chuvosa, a
não foi observado em Manaus. Valores partição de energia para evaporação
mais baixos de umidade durante a foi similar para floresta e pastagem,
mas a evaporação total da pastagem superfície e diminuição da evaporação
nesta estação foi tipicamente 10 a 15% sobre pastagens em comparação com
menor em comparação com a floresta a floresta. Observou-se também uma
devido a reduzida energia disponível na pequena diminuição da quantidade to-
pastagem e as rugosidades aerodinâ- tal de vapor d'agua sobre a pastagem
micas mais suavizadas. Durante a em relação a floresta. A arquitetura de
estação seca, as pastagens, que têm faixas de floresta inseridas em grandes
raízes mais rasas, foram todas afetadas extensões de áreas de pastagem é tal
pela diminuição das reservas de água no que a justaposição deste dois tipos de
solo, ainda que com intensidades superfície (floresta fria e úmida e
variadas dependendo do tipo de solo e p a s t a g e m quente e s e c a ) p o d e
precipitação. Nos solos argilosos de provocar movimentos de mesoescala
Manaus, a Iranspiração das pastagens (circulação térmica), auxiliando a
declinou rapidamente depois de somente erosão da camada limite noturna na
10 dias sem chuvas. Em contraste, pastagem. Também ocorre aumento de
nenhuma atenuação significativa em turbulência e advecçâo de energia
transpiração foi observada em qualquer dos nesta situação."
sítios de floresta durante os períodos secos,
inclusive durante as estações secas mais 8. EXPERIMENTOS
longas em Marabá e Ji-Paraná. METEOROLÓGICOS
Medições dos fluxos turbulentos REALIZADOS NA REGIÃO
de C 0 sobre a floresta da Reserva
2 AMAZÔNICA
Jaru m o s t r a r a m que ocorreu um
acúmulo de carbono pela vegetação, Nas últimas duas décadas, vários
que é o resultado do balanço entre a experimentos micrometeorológicos
quantidade dc carbono absorvida du- integrados (veja resumo na Tab. 1) foram
rante a fotossíntese e liberada pela realizados na região amazônica, com o
respiração. Se for extrapolado para toda objetivo de aumentar os conhecimentos
a região, estas estimativas significam relativos à interação entre floresta tropical
que a Amazônia seria um sorvedouro de e a atmosfera. Individualmente, vários
aproximadamente 0,5 Gigatoneladas de estudos foram feitos por pesquisadores do
carbono por ano e teria um papel INPA, Museu Emílio Gueldi e Universi-
importante no efeito estufa, se todo este dade Federal do Pará (entre outros), sobre
carbono fosse liberado instantaneamente estas interações. O experimento ARME
para a atmosfera. (Amazonian Research Micrometeorologi-
A camada limite atmosférica du- cal Experiment) teve como objetivo a
rante condições convectivas atingiu altura coleta de dados micrometeorológicos da
de 700 a 1.000 m mais altas sobre áreas partição de energia pela floresta amazônica
com desmatamento do que sobre áreas de e estimativas de evapotranspiração. Vários
florestas na região de Ji-Paraná, o que resultados científicos foram encontra-
mostrou-se consistente com as observações dos, dentro dos quais ressalta-se o fato
de aumento do fluxo de calor sensível à de que a floresta tropical não sofre o
Tabela 1. Descrição resumida dos experimentos micrometeorológicos na Amazônia
ABRAÇOS Manaus (AM) 1990-94 a,b,f,g disponível Nobre etal. (1996) 1,2,4,6,7,8,9,10,11
Marabá (PA) e
Ji-Paraná (RO)
MACOE Manaus (AM) 1995 a,b,c,f consistência Culf etal. (1997) 1,2,4,5,6,7, 10,11