BARNES, B. The credibility of scientific expertise in a culture of suspicion.
Interdisciplinary science reviews, v. 30, n. 1, p. 11-18, 2005.
O referido artigo tem por finalidade discutir sobre a credibilidade de especialistas técnicos e cientistas num contexto europeu, mais precisamente do Reino Unido. Tal credibilidade está atrelada a taxa de aceite às alegações dos cientistas por parte do público não especialista. Nesse sentido, Barnes chama a atenção para o fato de que a população tem demonstrado grande relutância em acreditar nos dizeres de especialistas, resultado de uma forte desconfiança na Ciência, a qual tem perdido sua independência ao alinhar-se com interesses de instituições específicas. O que, segundo o autor, sustenta a credibilidade dos cientistas é a autoridade das instituições por eles representadas, as quais determinam a relevância do conhecimento que produzem. Embora tais especialistas, em geral, nunca terem sido de fato independentes, visto que suas opiniões sempre foram limitadas pelos interesses de seus financiadores, assiste-se, nas últimas décadas, um significativo crescimento de tais práticas, resultado de decisões políticas que diminuíram ainda mais a autonomia dos produtores de conhecimento. Nas universidades públicas, instituições responsáveis pela produção de quase toda a pesquisa brasileira, os reflexos de tal movimento se mostram com mais limpidez. Nota-se atualmente que os pesquisadores formados pela academia constituem sua prática de forma cada vez mais distribuída e compartimentalizada, o que, de certa forma, alimenta a alienação desses indivíduos. Desta forma, percebe-se o cientista superespecialista como uma demanda do mercado, que lucra com o controle do conhecimento produzido e a segmentação das funções. Marx, em sua obra ‘O capital’ faz duras críticas a tal tendência, afirmando que a subdivisão do trabalho acaba por assassinar uma sociedade. Traços dessa mercantilização são evidentes em toda a esfera da produção de pesquisa das universidades. Os projetos de pesquisa são divididos em subtarefas distribuídas a integrantes de todos os níveis de formação, desde os alunos de iniciação científica até os coordenadores dos programas de pós- graduação. Tal organização estimula a reprodução da hierarquização das relações de trabalho, contribuindo com a fragmentação do especialista e a perda de credibilidade por parte da população em geral. Barnes chama a atenção para um crescente fenômeno oriundo do entendimento de que vivemos sob uma disseminação do engano, a qual denomina ‘cultura de suspeita’. A partir disso, a diminuição da credibilidade passa a ser inevitável e uma tendência não só europeia, mas global. O autor finaliza ressaltando que, além da credibilidade, outros elementos como criticidade e confiabilidade são essenciais para uma produção de conhecimento mais autônoma e que vise o bem-estar coletivo.
Formação e ação de professores na escola com base na Teoria Crítica da
Sociedade
Augusto Cesar Araujo Lima
Mestrando do Programa de Pós-graduação em Educação para a Ciência