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FACULDADE MULTIVIX - DIREITO - NOTURNO

LIVIA RODRIGUES DIAS DE ALMEIDA - 1-1813628

  O novo Código Civil de 2002 traz expressamente a forma de obrigação


alimentar decorrente de parentesco em seu artigo 1.694 ao dizer que “podem
os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos
de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social,
inclusive para atender as necessidades de sua educação”. E o artigo 1.696
deste código dita que “o direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais
e filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais
próximos em grau, uns em falta de outros” e completando, o artigo 1.697 diz
que “na falta dos ascendentes cabe a obrigação aos descendentes, guardada a
ordem de sucessão e, faltando estes, aos irmãos, assim germanos como
unilaterais (BRASIL, 2010, p. 286).

O dispositivo constitucional tem a seguinte redação, verbis:


"Art. 6º - São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a
moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição."
Já o Estatuto da Criança e do Adolescente prevê expressamente:

"Art. 3º - A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais


inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata
esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as
oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico,
mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.

Art. 4º - É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder


público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes
à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, a
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária."

A Constituição Federal/88 e o próprio ECA definiram que o direito aos


alimentos é pessoal, intransferível, indisponível, irrenunciável, não pode ser
restituído nem compensado, é impenhorável, não passível de transação e
imprescritível, porém, atraiu para o Estado a responsabilidade pela
manutenção daquele que estiver impossibilitado de sobreviver com dignidade,
pois, expressamente, garante ao indivíduo meio de subsistência.

Silvio Rodrigues relata que "a tendência moderna é a de impor ao


Estado o dever de socorro dos necessitados, tarefa que ele se desincumbe, ou
deve desincumbir-se, por meio de sua atividade assistencial. Mas no intuito de
aliviar-se desse encargo, ou na inviabilidade de cumpri-lo, o Estado o transfere,
por determinação legal, aos parentes, cônjuges ou companheiro do
necessitado, cada vez que aqueles possam atender a tal incumbência." (2007,
p. 373)

Como dívida de valor, alimentos sempre serão caracterizados pelos


seguintes princípios: obrigatoriedade de prestá-los “busca a relação de
parentesco ou imposição legal para prestá-los”; necessidade de recebê-los; a
possibilidade de satisfazê-los entende-se a precisão de quem reclama, pelo
terceiro, atendem-se as condições econômicas do provedor” (OLIVEIRA, 1993,
p. 77).

  Sílvio Rodrigues (2007, p. 380), seguindo a ordem sucessiva, enumera


os possíveis prestadores de alimentos:
[...] em primeiro lugar, os parentes em linha reta, recaindo
a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta dos
outros. Assim, se por causa de idade ou moléstia a
pessoa não pode prover a sua subsistência, deve
reclamar de seu pai, avô etc.(art.1696), ou de seus filhos
( art.1697).[...]Não havendo filhos, são chamados os
netos a prestar alimentos, e assim por diante, porque a
existência de parentes mais próximos exclui os mais
remotos da obrigação alimentícia.
Não havendo parentes em linha reta, são chamados a
prestar alimentos os irmãos, tanto unilaterais como
germanos. Observe-se, desde logo, que o legislador não
chama os colaterais além do segundo grau para prestar
alimentos, embora defira a sucessão legítima aos
colaterais até o quarto grau. Assim, na linha colateral a
obrigação restringe-se aos irmãos do necessitado (art.
1.697). 
E assim é o entendimento unânime da jurisprudência:
DIREITO DE FAMÍLIA. ALIMENTOS PROVISÓRIOS.
AVÓ PATERNA. MENORES CREDORES DE
ALIMENTOS DOS PAIS. COMPLEMENTARIEDADE. Os
avós tem "obrigação de manter o sustento dos netos
quando demonstrado que os pais não reúnem condições
de prover a subsistência do filho quando comprovado que
os alimentos prestados pelos genitores não satisfazem às
reais necessidades do infante" (20060020094854AGI,
Relator J.J. COSTA CARVALHO). Todavia, trata-se de
responsabilidade de natureza sucessiva e complementar
(Código Civil, art. 1698).” (20090020014284AGI, Relator
WALDIR LEÔNCIO C. LOPES JÚNIOR, 2ª Turma
Cível, Tribunal de Justiça do DF e T julgado em
27/04/2009) (grifo nosso).
EMENTA: CIVIL E PROCESSUAL. RECURSO
ESPECIAL. ALIMENTOS. AVÓS. RESPONSABILIDADE
SUCESSIVA E COMPLEMENTAR. PRECEDENTES.
RECONHECIMENTO DA IMPOSSIBILIDADE DE
PRESTAÇÃO PELO PAI PERANTE A INSTÂNCIA
RECURSAL ORDINÁRIA. VALOR DOS ALIMENTOS.
REVISÕES QUE DEPENDEM DE INCURSÃO NA
MATÉRIA FÁTICA DA LIDE (SÚMULA 7 DO STJ). I.Nos
termos da jurisprudência consolidada do STJ, a
responsabilidade dos avós em prestar alimentos é
sucessiva e complementar. II. Tendo a corte local
reconhecido a impossibilidade do pai em prover os
alimentos, rever o referido posicionamento quanto à sua
capacidade impõe reexame da matéria fática da lide, o
que é vedado em sede de recurso especial, conforme o
enunciado nº 7 da Súmula do STJ. III. A revisão do valor
dos alimentos fixado pelas instâncias ordinárias esbarra,
igualmente, no reexame de matéria fática da lide (Súmula
7/STJ). IV. Recurso especial não conhecido (Superior
Tribunal de Justiça, REsp 858506 / DF, 4ª T., j.
20.11.2008, rel. Min. Aldir Passarinho Junior, grifo nosso).

    No mesmo sentido, está a lição de Ana Maria Gonçalves Louzada (2008, p.
50) ao comentar em seu livro Alimentos, Doutrina e Jurisprudência que:
[...] quando houver por parte de um dos genitores
omissão no pagamento da pensão alimentícia para o
filho, caberá adentrar com demanda alimentar contra
seus avós. Dessa forma, a obrigação alimentar dos
avós é subsidiária, complementar, uma vez que a
obrigação primeira encontra com os genitores.
Necessário sublinhar que quando o neto for buscar
alimentos dos avós em juízo, indispensável
demonstrar-se o não-pagamento da pensão
alimentícia por parte do genitor não-guardião, ou
suas escassas condições financeiras para a
mantença dos filhos.
    Diante do exposto, a inclusão dos avós no pólo passivo da obrigação
alimentar para com os netos é de fato algo aceitável e corriqueiro em todos os
tribunais do Brasil.

É evidente que o cabimento da ação de alimentos em desfavor dos avós


está condicionada à comprovação cabal da impossibilidade do alimentante
primário em prestá-los, não se admitindo tal demanda em razão do mero
inadimplemento ou mesmo da dificuldade em localizar o alimentante.

Os avós devem auxiliar a alimentação dos netos, mas não deve essa
obrigação ir além das garantias deste grupo social. É dever do Estado proteger
a família e proporcionar o convívio das gerações através do respeito das
garantia dos direitos humanos do idoso, da criança e do adolescente.
Nesse sentido, a obrigação dos avós deve ser observada com muito cuidado,
pois mesmo sendo a alimentação fator primário do direito à vida, este encargo
poderá, através do descumprimento do pagamento em favor dos netos, tirar o
direito a liberdade de um idoso.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

RODRIGUES, Silvio. Direito civil 6 - direito de família. 28. ed. rev. e atual. São
Paulo: Saraiva, 2007.

LOUZADA, Ana Maria Gonçalves (2008, p. 50)

Código Civil de 2002, BRASIL,(2010, p. 286)

OLIVEIRA, (1993, p. 77)

https://jus.com.br/artigos/54668/obrigacao-avoenga-historico-e-conceito

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