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Questões Metafísicas
Martina Korelc
Thiago Suman Santoro
(Orgs.)
Conselho Editorial
Prof. Dr. Hans Christian Klotz (UFG);
Prof. Dr. Fábio Ferreira de Almeida (UFG);
Prof. Dr. Adão Peixoto (UFG);
Prof. Dr. Carlos Diógenes Côrtes Tourinho (UFF)
Vice-Reitora
Sandramara Matias Chaves
Husserl:
Questões Metafísicas
Martina Korelc
Thiago Suman Santoro
(Orgs.)
Gráfica UFG
© Gráfica UFG, 2019
© Martina Korelc, Thiago Suman Santoro (orgs.), 2019
180 p.
ISBN: 978-85-495-0279-7
CDU: 11:165.62
INTRODUÇÃO.............................................................................................. 7
PERCEPÇÃO E PASSIVIDADE....................................................................17
Pedro M. S. Alves
SOBRE OS AUTORES...............................................................................178
INTRODUÇÃO
1 A esta questão foi dedicado o II Colóquio Internacional Husserl, cujos textos podem ser
consultados em Philósophos – Revista de Filosofia, vol. 21, Nº 1, 2016.
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fenomenológica encontra o início da percepção na receptividade do
eu, nas primeiras formas de atividade egológica. A passividade não
seria apenas reduzida a uma concepção de participação passiva do eu
nas vivências como centro de afecções, mas negada, segundo Pedro
Alves. O autor mostra esta aporia nos parágrafos 32-34 das Analises
sobre as sínteses passivas, onde Husserl pensa a relação entre a afecção
do eu pelos conteúdos sensíveis e a unificação ou organização do
conteúdo do campo sensível por proeminências, fusão e contraste.
Há uma circularidade nestas análises: para que algum conteúdo hilé-
tico afete o eu, fazendo-o voltar-se ativamente para o que o estimula,
este conteúdo deve já ser de certo modo estruturado ou unificado,
destacando-se do meio, por contraste e fusão; o material hilético
deve existir ou ser algo “em si” para poder exercer estímulo sobre o
sujeito. Por outro lado, a própria unificação do conteúdo é explicada
por Husserl a partir da afecção do sujeito, ora generalizada como a
forma de síntese passiva, redefinindo portanto o sentido da passi-
vidade: não pode haver nenhum sentido no material hilético sem a
afecção do sujeito, embora possamos pensar a gradação desta afecção
e portanto nela um grau zero de afecção, anterior ao despertar afec-
tivo. De todo modo, a aporia se mantém, restando sem a explicação
como um conteúdo pode ser pensado “em si”, num estado pré-afec-
tivo e como ocorre a passagem da não-afecção para a afecção, do
“em si” deste conteúdo para a consciência subjetiva deste conteúdo
como sendo algo para o eu. Observado o princípio fenomenológico
da correlação entre os lados subjetivo e objetivo da vivência, não se
pode pensar a atividade perceptiva do eu desenvolvendo-se contra
um plano de fundo de coisas externas que afetariam o eu, observa o
autor. Portanto, falta ainda uma fenomenologia da passividade, que
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seria por sua vez capaz de elucidar como surge a forma egológica da
consciência, como certas estruturas sensíveis que não precisam ser
afectantes para existirem, se tornam em seguida conscientes por uma
subjetividade como sendo “minhas”. A proposta do Pedro Alves para
esta fenomenologia, apenas indicada no texto, é que ela implique um
sentido de subjetividade não já egológico, mas corporal e que con-
ceba a passividade como um estrato pré-afectivo desta subjetividade,
analisando o próprio surgir afectivo subjetivo a partir deste estrato
não-afectivo. O texto se abre, portanto, para a pergunta sobre o que
é subjetividade, o que é o ego, e como explicar a sua relação com o
mundo objetivo.
A seguir, Marcelo Fabri escreve um interessante texto em torno
da pergunta sobre a efetividade do mundo. Estamos acostumados
com o questionamento metodológico da realidade do mundo, na fe-
nomenologia de Husserl, no interior da avaliação crítica – pelo mé-
todo de epoché – da crença na existência do mundo da atitude natural,
a fim de esclarecer fenomenologicamente o sentido do ser real. O
contexto atual, o nosso mundo ambiente cotidiano, porém, parece
sugerir um outro modo de questionar a realidade: a realidade virtual,
a virtualidade da realidade, das relações, parece impor-se por sobre a
concretude do mundo e a sua legitimação a partir de um centro que
é o sujeito real, encarnado; a efetividade do mundo, e da corporeida-
de material, parece esvair-se num “mito gnóstico”; por outro lado, a
ciência continua a pôr em jogo a subjetividade livre, constituinte do
sentido, fixando os sujeitos concretos como “natureza”: genes, here-
ditariedade, cérebro… Marcelo Fabri propõe uma leitura de Husserl
em resposta, sublinhando o paradoxo da fenomenologia: o ponto de
partida do filosofar é o mundo efetivo e a minha presença nele, mas
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o fenomenólogo deve justificar a crença originária no ser efetivo do
mundo; revendo os passos da justificação, Marcelo Fabri sublinha
por um lado a importância do si corpóreo para a atividade constitu-
tiva, contra a desmaterialização da realidade virtual, por outro lado
ressalta que a diferença entre a aparência e a realidade, ou entre o
mundo condicionado subjetivamente e o mundo objetivo, pela qual
se assegura “que o espaço vivido corporalmente não seja dissolvido
por uma rede de informações que realiza uma ubiquidade tecnoló-
gica” passa pela afirmação intersubjetiva do mundo. Para ser efetivo,
o mundo deve ser afirmado e proposto numa relação inter-humana,
afirma o autor, como o lugar de encontro com os outros: “a relação
inter-humana me institui como sujeito intencional, faz de mim uma
consciência doadora, não só em sentido epistemológico ou volitivo,
mas responsivo: intencionar o mundo é encontrar o outro sob a for-
ma de saída da imanência ou acolhimento da alteridade”. Eis que
a afirmação do mundo efetivo não é para a fenomenologia apenas
uma tarefa teórica, mas um compromisso ético, uma exigência da
consideração dos outros encontrados e acolhidos no mundo comum.
O tema do compromisso ético do fenomenológo é abordado
também no último texto, de minha autoria. Numa impressionante
afirmação na obra Crise das ciências europeias e a fenomenologia trans-
cendental, Husserl relaciona o sentido do ser verdadeiro do homem e
da humanidade com a filosofia e atribui à investigação e reflexão filo-
sóficas a responsabilidade pela descoberta e realização deste sentido.
O “sentido” – eis a mola propulsora da fenomenologia husserliana.
O sentido é, segundo a definição de Husserl nesta obra, a referência
normativa de tudo o que é à Verdade (Hua VI, p. 11/9). O sentido é
a modalidade fenomenológica da relação entre o ser, a Verdade e o
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do pelo entendimento enquanto formas, Husserl compreende o ser
como dado numa intuição, portanto como algo que se doa origina-
riamente. Não se trata, porém, da intuição sensível, mas categorial. O
categorial que Kant pensou como forma, para Husserl é uma doação
originária, que plenifica ou preenche a intenção da percepção de um
objeto sensível, por exemplo: ao vermos um papel branco, intuímos
o papel sendo branco; o ser intuído não é algo sensível, como a cor
branca, e por ser intuído também não resulta meramente da reflexão
sobre o juízo ou outros atos da consciência. É precisamente uma
doação, um fenômeno anterior a outros fenômenos. Heidegger de-
senvolve a sua fenomenologia, a pergunta pelo sentido do ser, preci-
samente a partir deste ponto, não considerando mais primeiramente
a consciência dos objetos, mas aquela abertura do ser que torna, para
Heidegger, originariamente possível toda evidência e presença.
O que é o ser da consciência é uma pergunta que ainda se levan-
ta a partir dos textos centrais de Husserl. Thiago Suman Santoro
discute, a partir da obra Ideias para uma Fenomenologia Pura e para
uma Filosofia Fenomenológica, a pretensão de Husserl de renovar ou
superar o impasse da filosofia transcendental kantiana, que impos-
sibilita o conhecmimento das coisas em si e do sujeito último do
conhecimento, e assim de apresentar a consciência, como também
a natureza, na sua forma pura. Por um lado, na fenomenologia de
Husserl, por meio da elucidação dos nexos intencionais pelos quais
o sentido da própria coisa é pensado, ou seja, constituído pela ativi-
dade da consciência, é superada a oposição entre a própria coisa e a
sua “aparência” na consciência. Com isso seria superada a concepção
“mítica” da natureza como uma realidade absoluta e delimitado o
âmbito em que tem sentido falar da causalidade: esta pertence ao
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pensado a partir da metafísica da facticidade, na qual o Eu transcen-
dental é o fato originário, cujo existir condiciona as possibilidades
eidéticas, mas enquanto fato, é marcado pela contingência e não dá
conta do sentido – Deus pode então ser pensado como o “princípio
de surgimento de todo o ser”, como o criador, agindo tanto no fundo
obscuro da experiência como também movendo a vontade subjetiva
para os fins éticos. Para Julio Vargas Bejarano, as duas concepções de
Deus não se excluem mutuamente.
Os textos foram originalmente apresentados no III Colóquio In-
ternacional Husserl, que em setembro 2017 reuniu em Goiânia os
pesquisadores que se dedicam à fenomenologia husserliana. E uma
vez que os temas metafísicos tratados por Husserl até agora ainda
não tiveram suficiente espaço nas publicações brasileiras, decidimos
reuni-las em livro, a fim de disponibilizá-las para um público maior;
para este fim, os textos foram aprofundados e ampliados pelos auto-
res. Agradecemos o apoio da Capes e da Fapeg para a realização do
Colóquio e da publicação.
Martina Korelc
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EL DIOS DE HUSSERL: ENTRE LA CREENCIA
RELIGIOSA Y LA IDEALIZACIÓN1
1 Este texto forma parte de la investigación titulada: “Duns Escoto y Edmund Husserl: diálo-
go entre dos concepciones de la intencionalidad”, inscrito en la Vicerrectoría de Investigacio-
nes de la Universidad del Valle, 2019.
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En relación con nuestro tema, este pasaje nos permite los siguien-
tes aspectos:
a. Los rasgos platónicos del Dios de Husserl: así como Platón
sostiene que el orden de la naturaleza proviene de la técnica
divina, del Demiurgo, cuya acción determina la acción de las
ideas, del mismo modo Husserl denomina a Dios como “La
Idea del Bien” (t’agathon) y le atribuye la función de garantizar
el orden del mundo (Held 2018, p. 45; Lee Chun Lo 2008, p.
158ss). Tanto el Dios de Husserl como el de Platón tienen en
común que generan el mundo sobre la base de un soporte, en
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tuar humano ético, orientado hacia los valores supremos, tal como
Husserl lo propone en las obras aquí referenciadas.
Esta interpretación de la metafísica fenomenológica difiere de la
vertiente de Fink, Merleau-Ponty, Richir y Tengelyi, para quienes el
orden del mundo siempre es provisional, no tiene ningún garante,
sino que remite a una dimensión oscura, de donde surge todo sentido
al modo de acontecimientos. Sin embargo, tal y como lo constatan
Ludwig Landgrebe, Klaus Held, James Hart, Angela Ales Bello, en-
tre otros, la metafísica de la facticidad también puede interpretarse a
partir de la creencia razonable en Dios como garante de la teleología,
del orden del mundo. La creencia no tiene un rango menor que el co-
nocimiento: el conocimiento del mundo y la fe en Dios tienen en co-
mún la creencia. Más aún, la fe en Dios determina la comprensión del
mundo, de la subjetividad y sus vínculos con las otras subjetividades.
En lo referente a la experiencia del factum absoluto, las reflexiones
de Levinas sobre la apertura del ‘mismo’ a la trascendencia, a partir de
la relación con el otro, del ‘rostro’, ofrecen una orientación importan-
te. De nuestra parte, planteamos que a la creencia en Dios no se llega
por vía argumentativa, sino mediante experiencias vividas en común.
La conversión es una llamada que se anuncia a partir de la relación
con los padres, quienes ofrecen a sus hijos(as) una primera indicación
sobre la presencia de Dios en la vida.
Sin embargo, las nuevas versiones de la fenomenología, que siguen
el denominado ‘giro teológico’ (Levinas, Ricoeur, Marion, Henry, en-
tre otros; cfr. Vargas Guillén 2010), toman distancia de cualquier
consideración de Dios como un ente, con atributos trascendentales.
Tales consideraciones sobre Dios, se alinean en la ‘teología negativa’,
en el carácter inefable, incognoscible de Dios. En cambio, la tradi-
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Referências bibliográfícas
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WALTON, Roberto. “Teleología y teología en Edmund Husserl”, en: Estu-
dios de Filosofía, No. 45, 2012, pp. 81-103.
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SOBRE OS AUTORES
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filosóficas através da possibilidade aberta pela fenomenologia, so-
bretudo a partir da leitura de Heidegger, e realizar um diálogo entre
fenomenologia e história da filosofia, fenomenologia e hermenêuti-
ca, fenomenologia e filosofia da religião, fenomenologia e filosofia da
educação. Email: maffernandes69@gmail.com.
Thiago Suman Santoro é professor da Faculdade de Filosofia da
Universidade Federal de Goiás. Ensina e pesquisa na área de Fi-
losofia, com ênfase em Teoria do Conhecimento e Estética. Inves-
tiga principalmente os seguintes temas e autores: Filosofia Trans-
cendental, Idealismo Alemão, Fenomenologia, Filosofia da Música,
Intuição, Improvisação; Leibniz, Kant, Fichte, Hegel, Schopenhauer,
Husserl, Adorno, Pareyson. Email: thsantoro@gmail.com
Julio César Vargas Bejarano é professor da Universidad del
Valle, Cali, Colómbia. Areas de investigação: fenomenologia,
metafísica, teoria de conhecimento e psicologia. Director do grupo
de pesquisa »Hermes«, Universidad del Valle. Email: juliocesarvar-
gasb@gmail.com.
Martina Korelc é professora da Faculdade de Filosofia da Uni-
versidade Federal de Goiás. Publicou o livro O problema do ser na obra
de Emmanuel Levinas pela Imprensa Universitária (2017). Os seus
interesses de estudo são voltados para fenomenologia e metafísica.
Email: martina.ufg@gmail.com.
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SOBRE O LIVRO
Tipologia: Adobe Caslon Pro, Clear Sans, Humanst521
Lt BT
Papel: Off-set 75 g/m² (miolo)
Supremo 250 g/m² (capa)
Tiragem: 500
Impressão e acabamento: Cegraf UFG
Câmpus Samambaia, Goiânia-
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