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01 Teorico
01 Teorico
Étnico-Cultural
Material Teórico
Natureza da Cultura
Revisão Técnica:
Profa. Dra. Vivian Fiori
Revisão Textual:
Prof. Ms. Luciano Vieira Francisco
Natureza da Cultura
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Tratar das características da cultura;
· Definir alguns conceitos para cultura;
· Evidenciar a relação homem-natureza e a cultura;
· Tratar da obra de alguns autores sobre população, sociedade e cultura.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como o seu “momento do estudo”.
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão,
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
UNIDADE Natureza da Cultura
Isso, por si só, permite-nos empreender uma série de reflexões; vamos realizá-
-las, então, conjuntamente, após observarmos atentamente a Figura abaixo:
Antecipação do Futuro
Experiência
Figura 1
Podemos começar percebendo que o pensar humano se distingue do pensar
de outros seres em natureza exatamente por seu grau de consciência, ou seja, o
homem é consciente de que suas ações têm resultados, ou seja, o ser humano tem
plena capacidade de consciência de que aquilo que fizer trará consequências.
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Figura 2
Fonte: iStock/Getty Images
No caso de nosso personagem, como vimos, evitou molhar-se e isso foi per-
cebido por ele como algo bom. Esse valor positivo é deslocado pelo indivíduo, do
resultado para a própria ação, dando-lhe, então, um significado de acordo com
a qualidade do resultado, ou seja, tendo sido bom o resultado, aquela foi uma
boa ação.
Tais valores, significados e sentidos, por sua vez, passam a compor a identidade
do próprio indivíduo, ou seja, nesse caso, um homem esperto. No campo da
valoração, identidades podem ser determinadas das formas mais diversas: o
homem bom, mau, mentiroso, verdadeiro, justo, injusto etc. Identidades sociais
são, portanto, determinadas por repertórios de valores, significados e sentidos.
Ocorre que, quem determina o que é bom ou ruim para os resultados de uma
ação? Poderíamos estar em uma sociedade na qual a chuva fosse entendida como
uma dádiva dos deuses e que, portanto, não se deve evitá-la. Poderíamos estar em
uma sociedade para a qual a chuva tem um valor higiênico, de modo que aqueles
que fogem à chuva são entendidos como anti-higiênicos.
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Perceba que valores e morais – tudo aquilo que determina o certo e o errado,
o bom e o ruim, até mesmo o justo do injusto –, sejam quais forem, são relativos
no tempo e no espaço, ou seja, o que é bom e ruim para mim, ou moral e imoral,
pode ter sido entendido de forma completamente diferente por meus antepassados,
o que prova que valores e morais mudam de acordo com o tempo. Logo, tais
condições variam ao longo da história e não são iguais em todas as sociedades,
nem em todos os lugares.
O que é certo e errado para mim, muda também em relação a indivíduos que
vivam em outra parte do mundo, em outra cultura. Para várias sociedades ocidentais,
por exemplo, é natural ingerir carne bovina, inclusive de vaca; enquanto na Índia
esse animal é considerado sagrado; provando que valores e morais também estão
em transformação no espaço. Enfim, morais e valores estão em movimento no
tempo e no espaço.
Mas o que isso tem a ver com cultura? Tudo! Isso porque moral, valores, sentidos,
significados e identidades compõem aquilo que chamamos de sistema cultural.
Como todos os itens acima são relativos no tempo e no espaço, não se pode dizer
que haja uma só cultura; mas complexos de distintos sistemas culturais.
Se todos esses itens são relativos, portanto, todas as culturas também são relativas,
ou seja, não há culturas superiores ou inferiores; mas sim diferentes. Mais do que
isso, se esse pensar é inerente ao humano e a consciência um potencial de todos
os indivíduos – o que ativa todas as relações que identificamos e qualificamos acima
–, logo, não existe indivíduo sem cultura, todos possuem uma cultura: a sua cultura.
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Por isso, não apenas inexistem indivíduos sem cultura; mas inexistem sociedades
sem cultura; da mesma forma como não existem também sociedades mais ou menos
avançadas que outras em termos culturais, mas sim sociedades distintas entre si.
Temos de pensar também que esses valores podem ser gerados pelo indivíduo
ou grupo – e nem sempre podem coincidir. Por exemplo, segundo a moral e os
valores do grupo, a ação que cometi é errada, ou seja, atenta contra a moral do
grupo, portanto, sou alguém imoral para esse grupo. Ocorre que, para mim, a
ação que empreendi pode ser plenamente aceitável segundo os meus valores, o
que me permite perceber-me como alguém pleno de moral. Pelo fato de haver
uma moral dominante e uma moral do indivíduo, é possível que existam duas ou até
mais identidades sociais para o mesmo indivíduo. Ou seja, para o grupo sou alguém
imoral; para mim mesmo, sou um indivíduo moral.
Figura 4
Fonte: iStock/Getty Images
Após essa breve análise, podemos então compreender que a condição existencial
humana é cultural. Isso porque o homem atribui sentidos às suas ações, constrói
símbolos, cumula experiência e a transmite por meio da linguagem – oralidade,
iconografia e escrita. A atribuição de significados às ações coloca as experiências em
movimento, podendo ser partilhadas e compor um repertório cultural coletivo. Já a
situação existencial animal está condicionada ao mundo dos fenômenos; obedece a
uma programação biológica, instintiva, na qual a experiência se esgota em si.
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A Cultura como Ação Transformadora do
Meio e do Homem
Outra forma de se compreender a constituição cultural das sociedades é a
partir de sua função transformadora do meio ambiente, do meio social e do
próprio homem. Para isso, mais uma vez, analisaremos e refletiremos sobre o
seguinte esquema:
Solução =
Ação Transformadora
Homem Meio Ambiente
Desenvolvimento necessário:
meios materiais + técnicas
Problema = sobrevivência
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Contudo, todas essas relações acabam determinando outro aspecto da vida social:
a cultura. O desenvolvimento da agricultura, que aqui mencionamos, implica em
um desenvolvimento cultural, nesse caso, da “cultura da enxada”. Não é por acaso
que o termo “cultura” foi utilizado pela primeira vez para se referir a atividades
econômicas na lavoura, isso porque, ainda segundo Marx, por meio do trabalho, o
homem altera não apenas o meio ambiente, mas a si. E como isso ocorre?
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Figura 10 – Escravos em plantação de algodão (Ilustração)
Fonte: iStock/Getty images
Não dissemos, citando Spencer, que o homem não existe solto no espaço, que
existe no meio geográfico? Assim, sua identidade social se constrói na interação do
indivíduo com o seu entorno, com a natureza, e como esse entorno foi modificado
pelo próprio homem.
Nesse sentido, o homem alterou a si, por conseguinte, alterou suas necessidades
e, sendo novas necessidades, a mesma forma de trabalho não poderia mais dar
conta das quais, de modo que se tornaram necessárias novas ações transformadoras
para atender a esse novo homem e suas novas necessidades.
Por sua vez, o meio foi alterado novamente, criando um novo homem, portador
de inéditas necessidades, formas de trabalho e, essencialmente, sistemas culturais.
É por isso que não existem sociedades estacionadas, todas estão fadadas à
transformação. Mas isso dito, parece que estamos, então, contradizendo Malthus
– citado no início da análise do quadro em questão. Isso porque, tendo alterado o
meio ambiente, o homem teria resolvido o descompasso entre suas necessidades e
aquilo que o meio ambiente poderia lhe oferecer, isso porque suas necessidades não
mais seriam maiores em relação ao que o meio poderia, transformado, fornecer.
Assim, por que, então, as sociedades mudam, se o problema do descompasso teria
deixado de existir?
Desse modo, um novo meio – alterado pela ação humana – traria novos problemas
à existência também humana, demandando sempre novos tipos de soluções, novas
ações transformadoras, de modo que novos sistemas culturais vão se formando daí.
Cabe uma pergunta: faltam alimentos ou estes são mal distribuídos? É preciso
relativizar o discurso de Malthus, considerando de onde veio e da época na qual viveu.
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Explor
Thomas Robert Malthus nasceu na Inglaterra, em 1766, filho de uma família abastada
e proprietária de terras. É considerado um economista e estudioso de demografia,
bem como foi pastor da igreja anglicana. Publicou sua obra, intitulada Ensaio sobre
população, em 1798, pela qual se tornou conhecido por definir que a população crescia
geometricamente, enquanto os alimentos aumentavam em uma proporção aritmética, o
que levaria à escassez dos recursos. Os adeptos de suas teorias ficaram conhecidos como
teóricos do malthusionismo.
Por que sistemas culturais teriam, então, segundo a visão marxista, uma deter-
minação decorrente das relações de produção? Ora, para Marx a infraestrutura
econômica das sociedades, ou seja, sua base econômica, determinaria a superes-
trutura política e ideológica, sendo a cultura a somatória dessas relações, pois se
inscreveria no modus vivendi das sociedades.
juntos algumas obras, entre as quais, O capital e o Manifesto do Partido Comunista. Suas
teorias sobre a sociedade e economia política influenciaram várias áreas do conhecimento,
evidenciando a luta de classes entre a burguesia e o proletariado, a relação entre capital e
trabalho, bem como a exploração do trabalhador. Conceitos como mais-valia, valor de uso
e de troca, mercadoria, produção e circulação, divisão social do trabalho, entre outros, são
usados por esses teóricos, cujo conjunto e pensamento ficaram conhecidos como marxismo.
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O Homem, a Natureza e o Meio
Assim, tendemos a nos distanciar cada vez mais das relações primordiais
geradoras de cultura, para assumir repertórios culturais gerados, em essência,
pela indústria de consumo de massa, conforme identificaram autores da chamada
Escola de Frankfurt, primordialmente Theodor Adorno, no conceito de indústria
cultural, publicado em 1947 no livro Dialética do iluminismo, que escreveu junto
de Max Horkheimer (SANTOS, 2014; PAIXÃO, 2012).
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Esse processo foi brilhantemente mapeado
pelo renomado antropólogo brasileiro, Antônio
Cândido, em sua tese de Doutoramento, intitu-
lada Parceiros do Rio Bonito, na qual estudou
as mudanças culturais da, então chamada, “cul-
tura rústica”, a “cultura do caipira”, em relação
às transformações que estavam em curso e que
acabaram por reduzi-lo à condição de boia-fria,
como dito.
Figura 13 - Antônio Cândido
Devemos rever o conceito de relação do Fonte: Divulgação
homem para com o meio ambiente, que haja integração – e não domínio. Implica
em perceber que o Planeta é um sistema fechado e que o consumo desenfreado
– que é o combustível de um capitalismo aprofundado sobre si e sob a fachada de
socialmente responsável – é a causa da quase inviabilidade da existência humana
sobre a Terra, em uma perspectiva de muito pouco tempo.
Segundo o que vimos até aqui, conseguimos entender que coisas se refiram
aos materiais fabricados pelo homem para atender às suas necessidades de
sobrevivência, isso porque já sabemos que o homem é portador de necessidades
biológicas. Mas, e as ideias? A qual tipo de necessidades se referem?!
O que é cultura?
Explor
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Material e imaterial:
Explor
Depois de refletir ao longo dessas páginas sobre a cultura, podemos concluir que:
·· É universal na experiência do homem; entretanto, cada manifestação
local ou regional da cultura é única;
·· É estável e, não obstante, igualmente dinâmica, evidenciando contínua e
constante mudança;
·· Inclui e condiciona amplamente o curso de nossas vidas e, no entanto,
raramente interfere no pensamento consciente.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
Antropologia Cultural
REIS, Nicoli Isabel dos. Resenha de: BOAS, Franz. Antropologia cultural. Org. Celso
Castro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. 109 p. Horizontes Antropológicos, Porto
Alegre, RS, v. 10, n. 22, jul./dez. 2004.
https://goo.gl/flaZVF
Livros
Antropologia Social e Cultural
CHICARINO, Tathiana. Antropologia social e cultural. São Paulo: Pearson Prentice
Hall, 2014.
Cultura e Diversidade
CORRÊA, Rosa Lydia Teixeira. Cultura e diversidade. Curitiba, PR: Intersaberes, 2012.
Antropologia
GOMES, Mércio Pereira. Antropologia. São Paulo: Contexto, 2014.
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Referências
CHILDE, V. G. A evolução cultural do homem. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1966.
ROCHA, E. O que é etnocentrismo. São Paulo: Brasiliense, 1988. (Col. Pri-
meiros passos).
SANTOS, Tamires Dias dos. Theodor Adorno: uma crítica à indústria cultural.
Revista Trágica: estudos de filosofia da imanência – 2º quadrimestre, v. 7 – nº 2,
2014, p. 25-36.
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