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Rudolf K. F. de Oliveira
Residente de Pneumologia do HSPE-SP
Carlos AC Pereira
Diretor do Serviço de Doenças Respiratórias do HSPE-SP
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Relato do caso:
Exame físico:
BEG, eupneica, afebril
Tórax: MV + bilateralmente, sem ruídos adventíceos
ACV: 2RBNF, sem sopros
Abdome: indolor, ruídos hidro-aéreos normais, sem hepato-esplenomegalia.
Extremidades: sem edema ou sinais de TVP.
Discussão:
Embora uma série de características clínicas e radiológicas possa sugerir o diagnóstico, muitos
nódulos pulmonares solitários permanecem indeterminados após a avaliação radiológica
convencional. Se não há achados morfológicos definidos de benignidade, o nódulo pulmonar
solitário é classificado como indeterminado, possivelmente lesão maligna. Muitos nódulos
pulmonares solitários têm características semelhantes, e 25% a 39% dos nódulos malignos são
erroneamente classificados como benignos, após a avaliação radiológica do tamanho, margens,
contornos e características internas. O diagnóstico não-invasivo muitas vezes não é possível.
Nódulos indeterminados podem ser avaliados com biópsia, ressecção ou simples observação a
depender do aspecto radiológico do nódulo, a história clínica do paciente bem como sua situação
atual e da probabilidade de malignidade. No entanto, existem outros parâmetros objetivos que podem
auxiliar melhor na estratificação de nódulos indeterminados:
1- A velocidade de crescimento: Um passo custo-efetivo importante na avaliação de um nódulo
pulmonar solitário é determinar a sua taxa de crescimento, comparando o tamanho da imagem atual
com imagens anteriores. Tempo de duplicação (isto é, o tempo necessário para um nódulo dobrar de
volume) para a maioria dos nódulos malignos está entre 30 e 400 dias e resulta em um aumento de
26% no diâmetro do nódulo. Nódulos que duplicam, quer mais rapidamente ou mais lentamente,
normalmente têm uma causa benigna. Estabilidade na radiografia de tórax ou tomografia
computadorizada, durante um período de dois anos implica um tempo de duplicação de pelo menos
730 dias e é geralmente considerado um indicador confiável de uma causa benigna. No entanto, a
hipótese de que a estabilidade durante um período de dois anos indica benignidade foi recentemente
questionada. Recálculo dos dados originais mostra que o valor preditivo para a doença benigna é de
apenas 65% se o nódulo é estável pelo período de dois anos. Além disso, pode ser difícil de detectar
com segurança o crescimento dos nódulos pequenos (<1 cm). Por exemplo, um nódulo de 5 mm
pode dobrar de volume ao longo de um período de 6 meses (a taxa de crescimento maligna), mas seu
diâmetro aumentará apenas 1,25 mm, de 5 para 6,25 mm. Esta mudança de 1,25 mm de diâmetro
não pode ser detectada com segurança nem na radiografia nem na tomografia computadorizada.
Assim, tumores pulmonares pequenos podem dobrar de volume e ainda parecerem radiologicamente
estáveis, resultando em um atraso no diagnóstico. Para superar essa limitação, foi proposto que a
taxa de crescimento de nódulos pequenos seja avaliada com medidas seriadas de volume ao invés de
diâmetro. Embora as medidas de volume possam ser mais precisas que a medida dos siâmetros, a
experiência sugere que a maioria dos nódulos maiores de 1 cm de diâmetro estáveis em tamanho por
pelo menos dois anos são benignos.
2- Dados clínicos: As características clínicas – idade, história prévia de malignidade, sintomas
presentes e história de tabagismo – podem ser úteis em sugerir o diagnóstico e auxiliar no
planejamento da condução do caso. Por exemplo, um novo nódulo pulmonar que é detectado em um
paciente adulto jovem com sarcoma periférico é mais provável que seja uma metástase solitária do
que um tumor primário de pulmão. Da mesma forma, em um paciente no qual infecção ou infarto é a
suspeita clínica mais forte, a realização de uma nova radiografia 1-2 semanas mais tarde pode ser
suficiente para avaliação posterior.
3 – Estratégias de manejo:
Análise Bayesiana: é um tipo de inferência estatística que descreve as incertezas de forma
probabilística. Incertezas são modificadas periodicamente após observações de novos dados ou
resultados. A operação que calibra a medida das incertezas é conhecida como operação bayesiana e é
baseada no teorema de Bayes. Pode ser útil na avaliação de nódulos pulmonares solitários
indeterminados, permitindo uma determinação mais precisa da probabilidade de malignidade (pCa).
Ela usa razões de probabilidades (likelihood ratios, RP) para vários achados clínicos e radiológicos
associados com NPS para estimar a probabilidade de câncer. Uma propriedade importante da razão
de probabilidade pode ser usada para encurtar a lista de hipóteses diagnósticas, por que:
Uma RP de 1,0 indica 50% de chance de malignidade. RP menores de 1,0 tipicamente indicam lesões
benignas, enquanto RP maiores de 1,0 tipicamente indicam malignidade.
RP para algumas características clínicas e radiológicas são mostradas na tabela abaixo. A chance de
malignidade é calculada da seguinte maneira:
Chance de malignidade
----------------------------
(1+ Chance de malignidade)
Entretanto calcificação central em NPS com margens espiculadas sugere malignidade, devido ao alto
valor preditivo positivo para câncer em nódulos espiculados.
Atenuação: nódulos mistos (componente em VF + componente sólido) são os de maior probabilidade
para câncer, sendo que o risco aumenta com o aumento do diâmetro do nódulo e da proporção do
componente sólido.
Broncograma aéreo: a presença de broncograma aéreo também é outra característica indicativa de
câncer, estando presente em aproximadamente 30% dos nódulos malignos e apenas em 6% dos benignos.
Margens: nódulos irregulares, espiculados ou lobulados são sugestivos de câncer (figura 3). A
presença de margens espiculadas tem um valor preditivo positivo para malignidade de aproximadamente
90%. Sua presença à TC de tórax demanda conduta diagnóstica agressiva, sendo um preditor
independente de malignidade.
Figura 3. Margens
Cavitação: tanto nódulos benignos quanto malignos podem apresentar cavitação. Nódulos cavitados
com paredes irregulares grossas (> 16 mm) sugerem câncer em aproximadamente 90% dos casos.
Nódulos cavitados, com paredes finas (< 4 mm) e mal definidas são benignos em até 95% dos casos.
Captação de contraste: nódulos com captação de contraste < 15 UH sugerem etiologia benigna, com
um valor preditivo positivo de 98%. Captação > 15 UH é sugestiva de processo maligno, entretanto
apenas 58% realmente têm diagnóstico de câncer, uma vez que processos benignos como lesões
inflamatórias (granulomas, BOOP, etc) também podem apresentar captação. Assim, o critério de realce
com contraste mostra-se mais valioso quando < 15 UH, altamente sugestivo de processo benigno.
PET: a tomografia com emissão de pósitrons (PET) apresenta sensibilidade de 94% e especificidade
de 83% para nódulos sólidos maiores que 10 mm. Entretanto para nódulos mistos apresenta sensibilidade
de 10% e especificidade de 20%. Isto se explica pelo fato de áreas em vidro-fosco (VF) apresentarem
baixo metabolismo, logo baixa captação pelo PET. Falsos positivos podem ocorrer em infecções focais e
lesões inflamatórias (tuberculose, sarcoidose, artrite reumatóide, histoplasmose, paracoccidioidomicose,
etc). Outra utilidade para o PET está na detecção de linfonodomegalia mediastinal em pacientes
sabidamente com câncer, mesmo que não sejam observados linfonodos aumentados na TC convencional.
Os modelos de análise de decisão clínica sugerem que a estratégia mais custo-efetiva na abordagem de
um NPS depende do pCa deste nódulo. Vários estudos da década de 1980 sugerem que a estratégia mais
custo-efetiva é observação quando o pCa é baixo (< 0,05), ressecção cirúrgica imediata quando o pCa é
alto (≥ 0,60) e biópsia quando o pCa está entre 0,05 e 0,60. Infelizmente, estes estudos não incluíram na
discussão alguns dos exames de imagem usados atualmente, como TC de tórax e a tomografia com
emissão de pósitrons (PET) com 18-fluorodeoxyglucose (FDG) (FDG-PET) que são muito úteis na
estratificação pré-operatória de nódulos benignos e malignos.
Probabilidade de malignidade (análise Bayesiana) do presente caso foi: 96% (vide abaixo)
http://www.chestx-ray.com/SPN/SPNProb.html
Resposta Questão 1. E
Evolução:
Paciente encaminhada para Cirurgia Torácica, sendo realizado lobectomia (LSD) por
videotoracoscopia.
Anátomo-patológico:
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