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São Paulo, segunda-feira, 10 de setembro de 2001

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RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Bloco de 15 países europeus tenta ocupar vácuo deixado
pelos EUA na solução de conflitos

União Européia busca maior ação


externa
PAUL TAYLOR
DA REUTERS

Frequentemente vista como um anão político, apesar de ser


um gigante econômico, a UE (União Européia) começa a
assumir maiores responsabilidades na busca de soluções para
crises internacionais, num momento em que os EUA
parecem adotar uma política mais isolacionista.
No mês passado, as 15 nações que formam a UE lideraram
as negociações para um acordo de paz na Macedônia e, nos
últimos dias, têm desempenhado um importante papel de
intermediação na tentativa de retomar o diálogo de paz entre
Israel e os palestinos.
Em cada um desses casos, o chefe de política externa da UE,
o espanhol Javier Solana, 59, usou a diplomacia pessoal para
tentar debelar os conflitos, tendo os EUA em contato
próximo.
A UE também teve uma atuação bem-sucedida na
conferência da ONU contra o racismo, encerrada anteontem
em Durban (África do Sul). Os delegados europeus
conseguiram evitar que a declaração final condenasse Israel
por supostas práticas racistas contra os palestinos, apesar de
forte pressão dos países árabes. A proposta árabe levou os
EUA e Israel a abandonarem a conferência.
"Macedônia e Oriente Médio serão vistos como um
importante marco no desenvolvimento de uma política
externa coerente para a UE", comentou um ministro europeu
de Relações Exteriores.
No Oriente Médio, os diplomatas da UE têm feito um
trabalho, que já foi monopólio dos EUA, de monitoramento
dos esforços da ANP (Autoridade Nacional Palestina) para
conseguir um cessar-fogo. E têm tentado restabelecer um
diálogo direto entre os líderes israelenses e palestinos -no
caso, entre Shimon Peres, ministro das Relações Exteriores
de Israel, e Iasser Arafat, líder da ANP.
Nos Bálcãs, Solana, em conjunto com o secretário-geral da
Otan (aliança militar ocidental liderada pelos EUA), o inglês
George Robertson, tem feito esforços de negociação e
convencimento que, em boa parte dos anos 90, eram feitos
por enviados dos EUA.
"Com Bush [George W. Bush, presidente dos EUA",
definitivamente não há o envolvimento que havia com Bill
Clinton. À medida que, ao ocupar esse vácuo, a política da
UE se mostra consistente com a dos EUA, isso os incentiva a
permanecerem à distância. Bush está dizendo: "deixe os
europeus resolverem isso'", disse Simon Lunn, uma alta
liderança da Otan.
Os progressos em incrementar a atuação da UE em questões
internacionais e de políticas de segurança tiveram como
marco a indicação, em 1999, de Solana para a chefia da
política exterior da UE.
O espanhol acabara de deixar o cargo de secretário-geral da
Otan, que ocupou durante a intervenção da aliança militar
em Kosovo (99), e tinha uma série de trunfos em sua
bagagem: personalidade forte, confiança dos EUA, ampla
rede de contatos e boas relações com a maioria das potências
européias.
Seu encontro coincidiu com um movimento sem
precedentes, liderado pelo Reino Unido e pela França, de dar
à UE uma capacidade própria de intervenção militar para
evitar que apenas os EUA tenham de tomar a liderança em
momentos de crise internacional.
A UE também está se tornando cada vez mais adepta da
combinação de seus recursos financeiros, comerciais,
políticos e diplomáticos como instrumento de mediação de
crises. A UE pode oferecer ajuda, preferências comerciais e,
no caso de países europeus, a possibilidade de filiação ao
bloco.
A UE permanece, no entanto, amarrada pela carência de
força militar (sua planejada força militar de ação rápida só
deverá estar pronta em 2003) e pela dificuldade de
estabelecer consenso entre seus atuais 15 membros.

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