Você está na página 1de 11

XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão.


Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009

ERP - ENTERPRISE RESOURCE


PLANNING: O IMPACTO DA MUDANÇA
ORGANIZACIONAL EM EMPRESAS DO
SETOR INDUSTRIAL
Gilmar DAgostini Oliveira Casalinho (UFPEL)
gilmarcasalinho@gmail.com
Marcelo Silva Batista (UFPEL)
marcelobatista.adm@gmail.com
Bethieli Hundertmark Lessa (UFPEL)
bethielihl@gmail.com
Suelen da Silveira Trettin (UFPEL)
suelenst@gmail.com
Marcia Abrantes Duval (UFPEL)
marcia-duval@hotmail.com

Integrar as áreas de vendas e distribuição, serviços, controladoria,


finanças, gerenciamento do chão de fábrica e recursos humanos é uma
tarefa que, a princípio, necessita do conhecimento minucioso do fluxo
de negócios e atividades da empreesa. Portanto, os processos internos
devem estar bem elaborados e também abertos a qualquer mudança,
pois a tecnologia é base de sustentação da organização. O ERP
Enterprice Resource Planning (Planejamento de Recursos
Empresariais) é um sistema de informação que tem o intuito de fazer
essa integração informatizada da empresa de modo a adaptá-la à
constante evolução do mundo dos negócios a fim de que a mesma
obtenha seu diferencial no que se refere à vantagem competitiva.

Palavras-chaves: ERP, Sistemas de Informação, Tecnologia em


Decisão
XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão
Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009

1. Introdução
A informação dentro das organizações é um bem extremamente valioso, que precisa ser
cuidadosamente administrado e protegido. A capacidade de usar computadores criativamente
para coletar, distribuir e controlar informações está determinando a diferença entre o sucesso
e a mediocridade em praticamente todas as áreas de negócios.
O uso da tecnologia como vantagem competitiva tornou-se essencial para a sobrevivência
empresarial, e a implantação de sistemas informatizados que permitem a interligação da
empresa num âmbito geral com o intuito de ir da padronização de dados ao auxílio no
processo de planejamento, é atualmente uma questão fundamental para a administração
moderna.
O presente artigo tem por objetivo atentar-se no detalhamento do ERP, sigla inglesa de
Enterprise Resource Planning, que são sistemas de informação que integram os dados e
processos de vários departamentos, ou mesmo da totalidade destes da organização num único
sistema: esta integração pode ser efetuada ao nível departamental (sistemas finanças,
marketing, comercial, pessoal, produção, etc.) ou ao nível processual (sistema de tratamento
de encomendas, sistema de informação de gestão, sistema de apoio à decisão, etc.).
Sua importância dá-se a partir de que com sua implantação, teoricamente, há uma
possibilidade maior de confiabilidade dos dados, seguida por um acompanhamento permitido
em tempo real e conseqüentemente diminuição do índice de retrabalho. Tudo isso aliado ao
auxílio e ao comprometimento dos funcionários, responsáveis por fazer a atualização
sistemática dos dados que alimentam toda a cadeia de módulos do ERP e que, em última
instância, fazem com que a empresa possa interagir.
O ERP surgiu na década de 1980, seguindo a linha evolutiva das redes de computadores
ligadas a servidores. O sistema é considerado uma continuação do MRP II, e tem datação
importante no seu desenvolvimento internacional em 1975, ano no qual surgiu a empresa
alemã – um símbolo do setor – SAP (System Analyse and Programmentwicklung, na tradução
literal Análise de Sistemas e Desenvolvimento de Programas). Com o lançamento do software
R/2, ela entrou para a história da área de ERP e ainda hoje é seu maior motor de inovação.
No Brasil, sua utilização iniciou-se em grande escala, uma década depois, já nos anos 1990,
em um cenário no qual as organizações eram forçadas a aumentar a sua capacidade de
produção e gerar de novos produtos e serviços. Para que isso ocorresse havia a necessidade de
uma gestão pró-ativa que controlasse a cadeia produtiva de uma forma mais efetiva (RUIZ,
2007).
Devido ao grande número de variáveis envolvidas, como o custo do sistema que varia de um
fabricante para outro, a quantidade de módulos a serem implantados, número de licenças a
serem adquiridas, quantidade de horas trabalhadas pelas empresas de consultoria ou
fornecedora do sistema, modificações a serem realizadas no sistema de acordo com as
necessidades da empresa, investimento em hardware necessário para o sistema e política de
treinamento adotados, não é possível definir valores num primeiro momento no que se refere
à sua implantação, e este irá variar de acordo com o porte e necessidade da empresa.
A seguir, o trabalho irá identificar informações relativas a conceitos, utilização, vantagens e
também desvantagens baseados em pesquisas e exemplificação prática deste sistema de

2
XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão
Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009

gestão, bem como análises e resultados de empresas que utilizam este sistema, tratando o ERP
como um dos principais ativos.
2. Revisão da Literatura
De acordo com as pesquisas realizadas, foi possível estruturar o trabalho sob três aspectos
básicos, sendo estes: 2.1 o que é sistema de ERP; 2.2 características do sistema de ERP; 2.3
vantagens de implantação; e 2.4 desvantagens da implementação.
2.1 O que é Sistema ERP
Para Buckhout et al. (1999), um ERP é um software de planejamento dos recursos
empresariais, que apresenta como principal função a integração das diferentes funções da
empresa para adicionar eficiência as suas operações. O sistema integra os dados-chave e a
comunicação entre os setores, fornecendo informações estratégicas sobre todas as operações
da empresa.
Hehn (1999) considera que o ERP nada mais é que uma evolução do MRP II, em uma forma
expandida. O novo sistema seria uma reunião de vários sistemas que atendem a uma visão
holística do negócio da empresa, atingindo todos os setores: contabilidade, finanças,
planejamento e controle de produção, compras, etc. Assim, todos os sistemas são integrados e
compartilham da mesma base de dados.
Segundo Davenport (1998), a integração das informações que fluem através das mais diversas
áreas de uma empresa é a grande utilidade de um sistema ERP, sendo que através dele a
empresa acaba sofrendo naturais mudanças estratégicas, culturais e organizacionais. É como
se a existência desse sistema acabasse por influenciar a empresa a um rumo de integração
departamental e, uma mudança dessa magnitude certamente traz influencias significativas no
negócio.
É fundamental que a empresa analise com precisão a necessidade de se implantar um sistema
de tal porte, considerando as conseqüências da aplicação do mesmo nas mais diversas áreas de
negócios. Um sistema ERP muda a forma de funcionamento de uma empresa e esta, por sua
vez, precisa estar preparada para uma mudança de tamanho impacto.
Segundo Miltello (1999), o ERP não apenas serve como uma ferramenta de otimização de
processos de troca de informação, mas controla a empresa, manuseando e processando a
mesma. A grande sacada é a criação de uma padronização de processos, através da
documentação e contabilização dos mesmos, e também da característica da integração dessas
informações. O sistema permite, ainda, um maior controle sobre áreas mais vulneráveis do
negócio, permitindo um esforço em todas as áreas para que o todo funcione corretamente.
Wood Jr. (1999), acredita que a gestão da empresa pode ser otimizada, melhor controlada e
que a tomada de decisão pode ser significativamente agilizada pelos sistemas ERP. Ainda
sobre o sistema, é destacado o seu dinamismo e capacidade de adequação ao meio para o qual
vai ser projetado. A aplicação se atribui a qualquer tipo de empresa, desde que realizadas as
devidas adaptações e padronizações a cada situação.
A partir do entendimento de que hoje a informação é vista como um dos patrimônios mais
valiosos da empresa e de que sua utilidade é a avaliada a partir de sua qualidade,
oportunidade, quantidade e da relevância para a administração, o sistema de ERP compreende
desde um conjunto de programas de computador até um sistema de informação gerencial que
visa apoiar as decisões estratégicas da empresa.

3
XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão
Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009

2.2 Características do sistema de ERP


Analisando os autores citados, as principais características identificadas no sistema de ERP
são auxiliar a tomada de decisão; atender a todas as áreas da empresa; ter base de dados única
e centralizada; possibilitar maior controle sobre a empresa; obter informação em tempo real;
permitir a integração das áreas da empresa; possuir modelos de referência; ser um sistema
genérico; oferecer suporte ao planejamento estratégico; apoiar as operações da empresa;
orientar processos. Além disso, o sistema é considerado uma evolução do MRP II e uma
ferramenta de mudança organizacional.
Quanto a possibilidade de atender a todas as áreas da empresa, percebe-se um grande passo
rumo à integração organizacional, com o rompimento de barreiras interdepartamentais e, mais
do que isso, rumo à configuração de uma empresa mais ágil e dinâmica e rápida nas tomadas
de decisão, característica que confere vantagem nos dias atuais. A possibilidade de se ter uma
base de dados única também contribui para esse panorama, além de contribuir
significativamente para a confiabilidade da empresa, acabando com problemas de
inconsistência e duplicidade de informações.
O ERP confere maior controle da empresa ao gestor, que possui dados mais confiáveis, mais
seguros, que abrangem todas as áreas da empresa, em tempo real, o que possibilita uma
tomada de decisão mais firme e rápida. Ainda quanto o alcance do ERP, é algo a ser definido
pela empresa, seguindo restrições culturais, estratégicas ou até mesmo financeiras.
Outra característica interessante do sistema ERP é a capacidade de gerar padrões de
processos, orientação de atividades dentro de uma visão holística da empresa. Os processos
são mais facilmente documentados, contabilizados e quantificados, tornando possível a
análise dos mesmos de forma a melhorá-los.
Ainda falando de orientação de processos, segundo Souza & Zwicker (2000), os processos de
um negócio são encarados como atividades e tarefas interdependentes que buscam alcançar
determinados resultados empresariais, mas que ainda sofrem com as barreiras
interdepartamentais e possuem sua eficiência minimizada também por essa questão.
2.3 Vantagens da Implantação
Todas as funções da administração – planejamento, organização, liderança e controle – são
necessárias para o bom desempenho da organização. Para apoiar essas funções, especialmente
o planejamento e o controle, são de destacada importância os sistemas que fornecem
informações aos administradores. Apenas com informações precisas e na hora certa os
administradores podem monitorar o progresso na direção dos seus objetivos
As principais vantagens da implementação de um ERP são: eliminar o uso de interfaces
manuais, reduzir custos, otimizar o fluxo da informação e a qualidade dentro da organização,
otimizar o processo de tomada de decisão, eliminar a redundância de atividades, reduzir os
limites de tempo de resposta ao mercado e reduzir as incertezas do lead-time.
Aspectos relevantes ao sucesso na implantação: análise dos processos, adequação de
funcionalidades, etapa crítica, estratégia, confiabilidade no fornecedor, gerência do projeto,
mudança organizacional, profissionais com conhecimento técnico e de negócios, treinamento,
comprometimento da alta direção e dos usuários.
Em uma tomada inicial, o ideal é que a empresa analise seus processos detalhadamente,
investigue a capacidade e funcionalidades dos sistemas existentes para depois analisar a
necessidade de sem implantar um sistema de ERP. O levantamento das necessidades de

4
XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão
Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009

compartilhamento de informações também é um ponto importante da análise, bem como o


impacto que a integração proporcionada pelo sistema vai ter sobre o negócio da empresa.
Todas as áreas da organização serão afetadas pela implantação dos sistemas e tudo deve ser
minuciosamente analisado, porque tudo influenciará tanto no custo do projeto, quanto no
cotidiano da empresa pós-aplicação.
O sucesso da implantação também está relacionado aos profissionais envolvidos, que além da
competência técnica devem reunir bons conhecimentos do negócio. Tem que haver um
esforço conjunto de todas as áreas da empresa. O gerente de implantação deve acompanhar os
prazos, auxiliar na definição do escopo das modificações e não perder o foco do projeto, além
de levanta o apoio necessário para implantar o projeto e fazer o mesmo atingir toda a empresa.
Os funcionários envolvidos devem ter bom conhecimento da empresa e das modificações que
estão sendo introduzidas.
Tida, por vários autores, como crítica e demorada, a etapa de implantação de um sistema
complexo como o ERP é fundamental para os objetivos da empresa, tornando-se estritamente
necessário que a ferramenta a ser aplicada abranja e reflita a mais fiel realidade da empresa.
Assim sendo, pensar a implantação de um ERP como apenas uma aquisição e aplicação de
uma nova ferramenta é uma falha. Mais do que isso, o ERP é um agente modificador de toda
uma cultura organizacional.
Pode-se definir mudança organizacional, ou de cultura organizacional, como o processo em
que se transforma o comportamento de indivíduos pertencentes a uma organização ou até
mesmo quando esta última sofre tal evento. Tal mudança pode acontecer de forma sistemática
e planejada, ou ainda implementada de forma aleatória. Segundo Daft (1999) e Montana &
Charnov (1999), uma mudança em uma cultura organizacional traz mudanças de hábitos de
cada indivíduo pertencente a esta, do modo de execução das funções por estes mesmos
indivíduos, além de influenciar significativamente nas rotinas e modos de execução da
empresa como um todo. Para Kruglianskas (1996), quando a empresa está implantando uma
nova metodologia de manufatura, em serviços ou em gestão, trata-se de uma mudança
organizacional.
Stamford (2000) afirma que o ERP é capaz de contribuir para o aumento de eficiência da
empresa, ao otimizar a capacidade de agilidade para fechar negócios em qualquer localidade,
graças à fluência e confiabilidade da informação compartilhada. Algumas das grandes
vantagens do sistema ERP são: aumento do valor percebido por parte dos investidores e
também pelo ambiente de mercado, visibilidade, maior agilidade e também maior capacidade
de aproveitar com precisão as oportunidades de negócio, base única de dados, informação
disponibilizada em tempo real, possibilidade de abranger níveis locais, regionais e até mesmo
globais e, por fim, a possibilidade de suporte a estratégias de e-business.
Segundo Lopes et al. (1999), a vantagem fundamental do ERP sobre outros sistemas é a
integração de módulos informatizados que outrora eram rodados de forma independente.
Desse modo, a operação geral da empresa compreende todas as suas áreas, sem barreiras
interdepartamentais. Além da característica de integração, o ERP traz uma melhor utilização
dos recursos internos e uma significativa economia para a empresa.
Pode-se afirmar que os sistemas de ERP auxiliam a empresa no controle sobre suas
informações. A partir de que o mesmo utiliza uma base de dados única e centralizada, os
dados são digitados uma única vez e todas as áreas da organização podem consulta-los.
Portanto, entende-se que todas as vantagens já citadas conferem confiabilidade e integridade
ao sistema desde que o dado esteja atualizado e reflita a realidade organizacional.

5
XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão
Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009

2.4 Desvantagens encontradas na implantação


De acordo com o que se pode observar no que se refere ao uso de computadores para atender
a muitas necessidades organizacionais, em função do aumento expressivo na demanda, houve
o que chama-se explosão tecnológica. Para tanto, toda inovação tem prós e contras, e os
problemas relacionados à implantação de sistemas informatizados, conseqüentemente também
estão em processo de crescimento, e por isso cabe aos administradores identificar essas falhas
e corrigi-las conforme à realidade de inserção de sua empresa.
A partir de estudos, a implantação de ERP, especificamente, em uma organização apresenta as
seguintes desvantagens: a utilização do ERP por si só não torna uma empresa
verdadeiramente integrada; altos custos que muitas vezes não comprovam a relação
custo/benefício; dependência do fornecedor do pacote; adoção de best practices aumenta o
grau de imitação e padronização entre as empresas de um segmento; torna os módulos
dependentes uns dos outros, pois cada departamento depende das informações do módulo
anterior, por exemplo. Logo, as informações têm que ser constantemente atualizadas, uma vez
que as informações são em tempo real (on line), ocasionando maior trabalho; excesso de
controle sobre as pessoas, o que aumenta a resistência à mudança e pode gerar desmotivação
por parte dos funcionários.
Ainda como barreiras encontradas durante a implantação do sistema, podem ser citadas: a
análise de processos; os muitos benefícios que não são atendidos; a complexidade na
customização; a dificuldade na comunicação; a equipe experiente para conduzir a
implantação; a dependência de um único fornecedor; a interface do sistema não amigável; a
diferença do modelo de referência e das práticas realizadas; a mudança organizacional; o não
envolvimento necessário da alta administração bem como o planejamento da implantação
inadequado.
Souza & Zwicker (2000) apontam a atualização constante do sistema e o gerenciamento das
versões como as principais dificuldade de administração de um sistema ERP, visto que se
trata de uma ferramenta em evolução contínua, que reflete as variantes de todos os processos
da empresa. Desse modo entende-se que toda e qualquer mudança processual, torna-se um
aspecto de evolução do sistema de informação e leva a empresa a se adequar a tal. Mudanças
promovidas até mesmo por fornecedores podem vir a ser tratadas como requisito de evolução
e melhoria do sistema. Assim, toda e qualquer mudança, prevista ou não, que seja necessária
no sistema, é descrita como uma implementação e, como tal, exige um tratamento especial e
preciso.
Dempsey (1999) observa que, diante da complexidade e amplitude do projeto, várias
organizações acabam esquecendo as motivações iniciais e requisitos que levaram à aquisição
do sistema e sucumbem diante das dificuldades encontradas. Problemas de interface e de
interação da mesma com o usuário, falta de treinamento para lidar com o sistema, fazem com
que projetos e sistemas sejam abandonados, acontecendo a adoção de outro sistema mais
simples e que garante melhor interface gráfica ou melhor interação com o usuário. O resultado
óbvio disso tudo é a perda de todo um investimento.
Segundo Stamford (2000), os principais problemas da implantação de um sistema ERP estão
relacionados à escala de reengenharia de processos, às tarefas de customização pertencentes à
implantação, à falta de experiência da equipe de suporte e apoioi, à implantação demorada da
ferramenta, ao alto custo envolvido em práticas de consultoria e treinamento, à complexidade
na customização do sistema e aos benefícios que nem sempre são alcançados. O autor afirma

6
XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão
Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009

que a etapa de implantação e serviços associados à configuração de uma customização do


software custam até sete vezes mais do que a aquisição do próprio software.
Wood Jr. (1999), em pesquisa realizada, observa que a decisão sobre a aquisição e
implantação de um sistema ERP muitas vezes é tomada apressadamente, sem precisão,
possivelmente alimentada por pressões que circundam o ambiente da empresa. Algumas
organizações não iniciam um projeto de adoção desse tipo de sistema da maneira que um
empreendimento desta magnitude deveria ser iniciado, isto é, buscando-se um alinhamento
estratégico entre missão e visão de futuro da empresa, bem como buscando-se suprir as reais
necessidades de informação. Quando questionadas sobre as desvantagens do sistema
implantado, foram coletadas as seguintes respostas: não atendimento das necessidades
específicas, perda de funções essenciais do negócio, visão excessivamente superficial dos
processos, dependência de um único fornecedor, excesso de controle, falta de envolvimento
da alta cúpula, perda de dados durante conversão, planejamento inadequado, insuficiente
adequação entre o sistema e o contexto empresarial do país ou do ambiente em que a empresa
está inserida e a falta de suporte qualificado.
Considerando que as empresas num âmbito geral estão despreparadas em relação à
profundidade das mudanças sofridas pela implantação de um sistema de informação, é
possível o entendimento que as mesmas consistem em uma mudança organizacional e não
somente de informática. Para tanto, para obtenção dos resultados esperados faz-se necessário
rever a forma de operação atual e propor modificações visando à potencialidade da tecnologia
que será instalada, sempre em consonância com a visão estratégica.
Outro problema que envolve a implantação de um sistema ERP, gira em torno da necessidade
de se limitar o poder dessa ferramenta no ambiente da empresa, não deixando que esse
empreendimento seja responsável pelo controle dos processos, da empresa, das decisões, mas
que sirva como suporte. É necessário que não se deixe o ERP comandar a empresa, mas que
ele possibilite ao gestor uma tomada de decisão eficiente, ágil e precisa.
3. Metodologia
Este trabalho caracteriza-se por sua natureza de caráter qualitativo e exploratório, utilizando-
se para isso a técnica de coleta de dados por meio de pesquisa bibliográfica. A preferência por
esse método deve-se ao fato de ser o mais adequado ao problema de pesquisa que envolve
estudos organizacionais e gerenciais, possibilitando uma análise aprofundada levando-se em
conta o contexto.
Para Malhotra (2001), o objetivo da análise exploratória é possibilitar a compreensão do
problema enfrentado pelo pesquisador. Já para Gil (1999) o caráter exploratório é devido ao
melhor esclarecimento e desenvolvimento de conceitos e idéias, a título de complementação
para possibilitar o conhecimento e possibilitar a avaliação sob um novo ângulo.
Já para o mesmo autor (2002), a pesquisa exploratória tem como objetivo proporcionar maior
familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito.
De acordo com Gil (2002), o desenvolvimento da pesquisa bibliográfica ocorre a partir de
material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos e que tem por
finalidade fornecer ao investigador uma visão complexa sobre o assunto a ser pesquisado.
Conforme Richardson (1999) geralmente as investigações que se voltam para uma análise
qualitativa têm como objeto situações complexas ou estritamente particulares.

7
XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão
Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009

A partir disso, procurou-se fazer uma pesquisa bibliográfica em duas fases distintas. A
primeira visou servir de base teórica para a construção de todo o trabalho. Após, realizou-se
outra pesquisa bibliográfica a fim de estudar casos de empresas divulgados em livros, artigos
e periódicos. Por esta razão, optou-se por definir esta pesquisa como apenas bibliográfica, e
não também como um estudo de caso.
A pesquisa cientifica deve ser realizada de modo racional e sistematizada, utilizando para
isso, métodos e técnicas próprias, procurando descobrir e interpretar os dados de forma
peculiar. Para realizar uma pesquisa cientifica é preciso promover o confronto entre os dados,
as evidências, as informações coletadas sobre o determinado assunto e o conhecimento teórico
acumulado a respeito do mesmo (HAIR et al. 2005).
4. Análise dos Resultados
Em uma publicação da Deloitte Consulting (1998), o ERP é definido como um software de
negócio que permite à empresa automatizar e integrar a maioria de seus processos;
compartilhar práticas de negócio e dados comuns pela empresa; e disponibilizar a informação
em tempo real.
Através desta linha de pensamento, a empresa calçadista Grendene acreditou que necessitava
de mudanças em sua área de Tecnologia de Informação e passou a adquirir em maio de 1998
um sistema ERP da Datasul.
A primeira unidade fabril da Grendene nasceu em Farroupilha, no interior do Rio Grande do
Sul, em 1971. O que era uma pequena fábrica de embalagens plásticas aos poucos foi se
transformando na sede do maior fabricante de calçados do país, graças ao empenho e à
determinação de seus fundadores: Alexandre e Pedro Grendene Bartelle.
De acordo com Ernani Toso, gerente de negócios da empresa, adquirir este sistema foi um dos
melhores negócios que a Grendene realizou nos últimos anos. Ele diz que antes tinham um
ambiente de sistema e infra-estrutura com um custo elevado para manutenção a uma
necessidade de ampliação desta plataforma de processamento. Além disso, necessitavam de
maior conectividade com os usuários internos e externos.
Após a implementação e desenvolvimento do ERP, a empresa passou a ter contato com os
stakeholders 100% via web. Ou seja, o próprio cliente tem acesso ao pedido, títulos, boletos
bancários e a todos os dados de logística. Com este sistema, tornou-se possível fazer 20 mil
notas por dia com apenas uma pessoa no processo. Além disso, a empresa foi capacitada a
fazer cerca de 1.200 pagamentos por dia, eletronicamente e sem a necessidade de emissão de
cheques.
De acordo com Souza & Zwicker (2000), definem como sistemas de informação integrados,
adquiridos na forma de pacotes comerciais, para suportar a maioria das operações de uma
empresa. Estes sistemas procuram atender a requisitos genéricos do maior número possível de
empresas, incorporando modelos de processos de negócio obtidos pela experiência acumulada
de fornecedores, consultorias e pesquisa em processos de benchmarking. Com isso, a
integração é possível pelo compartilhamento de informações comuns entre os diversos
módulos, armazenadas em um único banco de dados centralizado.
Segundo Corrêa et al. (1997), um ERP é constituído por módulos que atendem às
necessidades de informação de apoio à tomada de decisão de todos os setores da empresa,
todos integrados entre si, a partir de uma base de dados única e não redundante.

8
XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão
Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009

Para conquistar sucesso nesta nova implementação, a Grendene disponibiliza em torno de


3.000 horas por mês de melhorias em seus módulos, que capacitam a empresa a tomada de
decisão, tornando esta ferramenta como uma de suas principais vantagens competitivas.
Outra empresa que obtêm sucesso na implementação de um sistema ERP Datasul é a
Paramount Têxteis. Considerado um dos mais complexos setores da indústria, o têxtil, e em
especial a área de confecções, trabalha num timing próprio, onde não há espaço para atrasos.
Entre os principais fornecedores deste mercado está a Paramount Têxteis, detentora das
marcas Collezione Paramount (Tecidos), Lansul (Fios Industriais), Fios Pingouin (Mercerie),
além de ser a licenciada brasileira para confecção dos produtos Lacoste, abastecendo as 52
butiques exclusivas da marca espalhadas pelo Brasil.
A Paramount Têxteis possui este sistema desde 2000, quando acreditou ser necessário
controlar todas as atividades da empresa. O Principal objetivo da empresa era a integração,
possibilitando a agilização dos processos internos, desde o pedido do cliente até o
monitoramento da entrega. Agora, com o EMS, todas as unidades são integradas on-line.
Após esta parceria com a Datasul, houve um ganho de 20% em produtividade, de acordo com
José Carlos Cramelo, diretor superintendente.
No mesmo caminho seguiu a Mabel, uma das maiores empresas do setor alimentício do
Brasil. Em 1962 a Mabel inaugura sua primeira fábrica, que produzia no máximo 500 quilos
de biscoito por dia. No ano de 1975, foi inaugurado seu primeiro parque Industrial em
Aparecida de Goiânia, no estado de Goiás; em 1998 foi construída mais uma unidade
industrial em Três Lagoas, Mato Grosso do Sul; no ano de 1989 no Rio de janeiro; em 2000
em Itaporanga D'Ajuda, Sergipe; e em 2004 a sua 5a unidade em Araquari, Santa Catarina.
Muita visão e força coorporativa fizeram a Mabel se tornar uma das maiores produtoras de
biscoitos da América Latina. Presente em 5 estados brasileiros, o Grupo ainda exporta para
mais de 35 países em 4 continentes. Tudo isso com a preocupação de fabricar biscoitos com a
melhor qualidade e sempre com grande responsabilidade social.
Ela se encontrou com uma situação de mudança tecnológica, quando passou a estruturar sua
produção para atingir uma atuação nacional. Dessa forma, alcançaram um crescimento de
18% só em 2007, totalizando 2.900 funcionários diretos e mais 10 mil indiretos. A empresa
prevê para este ano um faturamento 15% superior ao período passado.
Para acompanhar todo este crescimento, a Mabel teve que inovar seus processos e instalações.
Por este motivo, criou o Projeto Renovação Datasul, que implica em investimentos em novos
pacotes, produtos e treinamento interno para suportar uma expansão de 15% em 2008.
5. Considerações Finais
A realização deste estudo teve como objetivo apresentar o tema ERP, buscando origem,
conceitos, características e potencialidades, bem como de trazer aplicações que demonstrem
como funciona esse sistema em uma rotina organizacional.
Nos resultados foi observado que, no caso da Grendene, o sistema de ERP foi responsável por
um grande desenvolvimento na área de gestão da informação, otimizando diversos processos,
provendo aos gestores informações sólidas, consistentes, de credibilidade e em tempo real
para a tomada de decisão.
Outro caso de sucesso foi o da Paramount, em que tal sistema foi responsável por um enorme
ganho de produtividade, agilidade nas decisões, simplificação dos processos e,
principalmente, pela integração de todos os setores da empresa que o sistema proporciona.

9
XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão
Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009

Ainda nessa linha, de ganho com produtividade, agilidade e flexibilidade, além de integração
e tomada de decisão mais eficiente e eficaz, a Mabel alimentos também foi um caso positivo
de aplicabilidade e implantação do sistema ERP.
Em um ambiente de tanta competição, em que muitas empresas não possuem o total controle
do seu negócio, é fundamental que haja uma preocupação no sentido de melhorar estes
pontos. A integração de processos, bem como a agilidade na leitura de problemas, e a
capacidade de responder rapidamente às incertezas de um ambiente tão incerto, fazem a
diferença e representam um enorme diferencial competitivo para a empresa.

Referências
BUCKHOUT, S,; FREY, E.; NEMEC JR. Por um ERP eficaz. HSM Management.. p. 30-36. 1999.
DAFT, R. L. Administração. Tradução: Fernando Gastaldo Morales. Rio de Janeiro: LTC. cap 12, p 230-247:
Mudança e Desenvolvimento. 1999.
DAVENPORT, T.H. Putting de enterprice into the enterprice system. Harvard Business Review. p. 1221-1231.
1998.
DEMPSEY, M. Pacote de ERP não resolve tudo. Gazeta Mercantil. Acesso em 2008.
DELOITTE CONSULTING. ERP’s Second Wave: maximizing the value of ERP_ Enabled Processes.
Relatório de pesquisa publicado pela Deloitte Consulting. Disponível em:
http://www.dc.com/whathsnew/second.html> Acesso em 2008.
GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2002
HAIR, J. et al. Fundamentos de Métodos de Pesquisa em Administração. Porto Alegre: Bookman, 2005.
HEHN, H. F. Peopleware: como trabalhar o fator humano na implementação de sistemas integrados de
informação (ERP). São Paulo: Editora Gente, 1999.
KRUGLIANSKAS, I. Tornando a pequena e média empresa competitiva. São Paulo: IEGE, 1996.
LIMA. A.D.A. et al. Implantação de pacote de gestão empresarial em médias empresas. Artigo publicado pela
KMPress. Disponível em: http://www.kmpress.com.br>, 13 fev. 2000. Acesso em nov. 2008.
LOPES, F. et al. Revolução no setor de softwares de gestão. Relatório da Gazeta Mercantil Latino – Americana,
1999.
MALHOTRA, N. Pesquisa de Marketing: Uma orientação aplicada. Porto Alegre: Bookman, 2006.
MILTELLO, K. Quem precisa de um ERP? Info Exame, p 140, mar. 1999.
MONTANA, P.J.; CHARNOV, B. H. Administração. Tradução: Robert Brian Taylor. São Paulo: Saraiva, cap
18, p. 306-320: Administrando a mudança organizacional. 1999.
RICHARDSON, R. Pesquisa Social: Métodos e Técnicas. São Paulo: Atlas, 1999.
RUIZ, M. ERP: A ferramenta da integração. Disponível em:
http://imasters.uol.com.br/artigo/6357/gerencia/erp_a_ferramenta_da_integracao/. 04 jun. 2007. Acesso em 18
nov. 2008.
SOUZA, C. A.; ZWICKER, R. Ciclo de vida de sistemas ERP. Caderno de pesquisas em administração. São
Paulo, 2000.
STAMFORD, P.P. ERP’s: prepare-se para esta mudança. Artigo publicado pela KMPress. Disponível em
http://www.kmpress.com.br/00set 02.htm, jun. 2000. Acesso em nov. 2008.
TAURION, C. Oportunidades e riscos na escolha de uma solução ERP. Artigo publicado pela gestão
empresarial. Disponível em: www.uol.com.br/computerworld/computer world/280/gcapa3.htm, 1999. Acesso
em nov. 2008.

10
XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão
Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009

WOOD JR., T. Modas e modismos gerenciais: o caso dos sistemas integrados de gestão. Série de Relatórios de
Pesquisa, NPP, Núcleo de Pesquisas e Publicações. Escola de Administração de Empresas de São Paulo, FGV.
Relatório n. 16/1999.

11

Você também pode gostar