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Minerva Maçônica

Revista Cultural do
Grande Oriente do Brasil ~ •.
Ano" - Nº 4
~

o RITO DE INICIA AO:


UMA ABORDAGEM
~

ANTROPOLOGICA








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Rito de Passagem: Funeral Viquingue •••
••••••••••••••••••






• o presente trabalho busca
• estabelecer alguns conceitos

• antropológicos para se analisar,


• em seguida, o rito de iniciação

• maçônico no R:.E:.A:.A:. como

• uma busca de apaziguamento

• da ânsia do sagrado que a huma-


Almeida de Carvalho * ...•••••• : nidade vem procurando nos
últimos tempos.
A Função Social do Rito diferente, o outro, desaparecia na sua história natural.
Na outra vertente, a do reducionismo psicológico
Um dos componentes fundamentais dos grupos do século XIX, o social se liqüefaz na vontade dos
e das sociedades humanas é o processo ritual. Os ritos agentes individuais, vontade que depois é projetada
e as cerimônias permeiam todo o grupamento social, por meio de um fiat obscuro para toda a sociedade.
desde as sociedades primitivas até as modernas Segundo o antropólogo brasileiro Roberto da Matta,
sociedades pós-industriais. Os antropólogos na apresentação do livro clássico de Van Gennep, Os
contemporâneos afirmam que temos um comporta- Ritos de Passagem, "Tylor é um excelente exemplo
mento ritual quando amamos e fuzilamos, quando desta posição (psicológica). Ele (Tylor) explica a
nascemos e morremos, quando noivamos ou casamos, origem da religião como uma especulação na crença
quando ordenamos e oramos. Os rituais revelam os da alma, especulação que nasce dos sonhos primitivos.
valores mais profundos do comportamento humano Sonhando com tudo e principalmente com os mortos,
e o estudo dos ritos tomou-se a chave para compreender- os homens primitivos descobrem - diz Tylor - a noção
se a constituição essencial das sociedades humanas.
Se o processo ritual é tão remoto quanto a
própria criação do Homem, o estudo sistemático e
científico dos ritos advém com a formação da
antropologia no século XIX.
Estuda-se hoje os ritos como um fenômeno
social que possui um espaço independente, isto é,
como um objeto dotado de uma autonomia relativa
em termos de outros domínios do mundo social, e
não mais como um dado secundário, uma espécie de Na Índia - corpo de um rei queimado para
apêndice ou agente específico e nobre dos atos favorecer as plantações
classificados como mágicos pelos estudiosos.
Essa autonomia relativa da antropologia foi da alma, de imagem, de duplo e assim constróem o
conseguida a duras penas no processo de formação domínio do 'outro mundo', o domínio do sagrado e
da antropologia. Os antropólogos ingleses, da época do sobrenatural. Descobrem, também, segundo o
vitoriana, evolucionistas e etnocêntricos, estudavam mesmo estudioso, que pode haver uma relação entre
os fenômenos mágicos e ritualísticos das sociedades os dois domínios e procuram então controlar um pelo
primitivas como um meio, no fundo, de provar a outro. Estaria agora fundada a estrutura mais
superioridade biológica e cultural do europeu de elementar da religião: a crença em espírito e em almas
então. Para os estudiosos da época, o ritual não surgia e a condição necessária a esta crença, a divisão entre
como algo socialmente relevante, pois nem mesmo o o mundo dos vivos e o dos mortos. Daí, como
fato social existia conceitualmente como algo sabemos, o nome 'animismo' para designar a
socialmente independente, como viria a ser descoberto religiosidade básica e enganada do primitivo. Nesta
pela sociologia de Durkheim posteriormente. perspectiva psicológica, que engloba estudos de Tylor
Para os antropólogos vitorianos, por des- e Prazer, o interesse é discutir o religioso em suas
conhecerem o fato social, reduzia-se o mesmo a sua formas mais primitivas, fazendo um corte evidente
componente biológica, psicológica ou geográfica. entre as religiões com tradição escrita (do Ocidente
Para os reducionistas biólogicos, os fenômenos e, às vezes, das grandes civilizações) e a magia, forma
sociais ou antropólogicos eram explicados como de religiosidade vigente nos grupos tribais, selvagens
resultantes de tensões e caracteres raciais. O social e primitivos"(pg.13).
submergia no biológico do mesmo modo que o A terceira variante explicativa era a do redu-

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cionismo geográfico ou ecológico. Reduzia-se, mais
uma vez, o social à dinâmica dos climas, solos,
vegetações, regime de chuvas e ventos. Presume-se
que até mesmo o escritor brasileiro Euclides da Cunha,
em "Os Sertões", sofreu este reducionismo geográfico
ao explicar o comportamente do sertanejo.
Todos esses três reducionismos - biológico,
psicológico e geográfico - liquidam o social como
um fenômeno específico de estudo. Contudo, a
tomada do fato social como um fenômeno não
esplicável nem pela biologia, nem pela psicologia e
muito menos pela geografia, nasce da tradição
francesa de Comte e, sobretudo, pela sociologia de
Emile Durkheim. Já não se trata aqui de subdividir o
social para estudá-Io, fazendo dele um fenômeno
individualizado e redutível a uma de suas partes, mas
tomar o estudo da sociedade partindo de sua
totalidade. O social adquire então a sua feição
contemporânea: são fatos capazes de coagir e
sobretudo de não serem redutíveis a seus componentes
geográficos, psicológicos, etc. ão se negam estes
aspectos - biológicos, psicológicos e geográficos -
do fato social ou cultural, mas não é isso que os faz
A cruz, decorada com flores restabelece a força
socialmente significativos. Pela sociologia de
protetora no ano que chega
Durkheim, somente quando se tornam socialmente
significativos é que são levados em consideração. Se Durkheim percebe a sociedade composta de
O modelo a ser representado para a análise do um sistema coercitivo de regras, sobretudo as regras
ritual de iniciação maçônico não será contudo o de penais e religiosas, com uma divisão interna entre o
Durkheim, que escreveu sobre a magia e a religião, sagrado e o profano, Van Gennep concebe o sistema
por ser o seu foco centrado na religião elementar, nas social com estando departamentalizado, como uma
formas mais simples da vida religiosa, como também casa, com os rituais sempre ajudando e demarcando
por apresentar uma polaridade rígida entre o sagrado os quartos e as salas, os corredores e as varandas,
e o profano. por onde circulam as pessoas e os grupos na sua
O modelo escolhido será então o de Van trajetória social.
Gennep, no seu famoso "Ritos de Passagem". Esse Concebendo a sociedade como internamente
autor não toma mais o rito como um apêndice do dividida, Van Gennep introduz um dinamismo no
mundo mágico ou religioso, mas como algo em si mundo social que nem vitorianos nem durkheimianos
mesmo. Como um fenômeno dotado de certos foram capazes de reconhecer. Se a divisão clássica
mecanismos recorrentes (no tempo e no espaço) e, entre o sagrado e o profano é vista como cerne e raiz
também, de certos conjuntos de significados, o do mundo social, Durkheim trabalha numa perspectiva
principal deles sendo o de realizar uma espécie de dualista do mundo, com um jogo do sagrado ao
costura entre posições e domínios sociais, pois a profano, do mecânico ao orgânico, como domínios
sociedade é concebida em Van Gennep como uma fixos e mutuamente exclusivos. Em suma, Durkheim
totalidade dividida internamente. é um evolucionista de seqüências duais e também um
sociólogo dos pontos populares, jamais das margens separação, de margem e de agregação à margem 1 E a
e das posições mais confusas, quando a totalidade passagem do noivado ao casamento supõe uma série
social não se encontra nem no polo do sagrado nem de ritos de separação da margem, de margem e de
do profano. agregação ao casamento. Esta mistura é também
Em Van Gennep o sagrado e o profano são verificada no conjunto constituído pelos ritos de
totalmente relativos, pois sempre haverá um lado mais gravidez, do parto e do nascimento. Embora procure
sagrado dentro da própria esfera tomada como agrupar todos esses ritos com maior clareza possível,
sagrada, o mesmo sendo válido para o profano. O não escondo que, tratando-se de atividades, não se
sentido não estará equacionado a uma essência do poderia chegar nestas matérias a uma classificação tão
sagrado (ou profano), mas na sua posição relativa rígida quanto a dos botânicos, por exemplo".
dentro de um contexto de relações. Antes de terminar esta parte teórica, convém
Van Gennep no seu "Ritos de Passagem" estuda tecer algumas considerações sobre o sagrado e o
diversos ritos, tais como: da porta e da soleira, da profano. Segundo ainda Van Gennep (pg.25), "toda
hospitalidade, da adoção, da gravidez e parto, do sociedade contem várias sociedades especiais, que são
nascimento, da infância, da puberdade, da iniciação
(que nos interessará mais de perto), da ordenação, do
noivado, do casamento, dos funerais, das estações,
etc.
Ele separa antologicamente os ritos em três
grandes subdivisões: ritos de separação, ritos de
margem e ritos de agregação. Segundo Van Gennep
(1978, pg.31) "essas três categorias secundárias não
são igualmente desenvolvidas em uma mesma
população nem em um mesmo conjunto cerimonial.
Os ritos de separação são mais desenvolvidos nas
cerimônias dos funerais, os ritos de agregação nas do
casamento. Quanto aos ritos de margem, podem
constituir uma seção importante, na gravidez, no
noivado, na iniciação, ou se reduziriam ao mínimo na
adoção, no segundo parto, no novo casamento, na
passagem da segunda para a terceira classe de idade,
etc., se, por conseguinte, o esquema completo dos
ritos de passagem admite em teoria ritos preliminares
(separação), liminares (margem), e pós-li minares
(agregação), na prática estamos longe de encontrar a Casamento malaio, o casal, príncipe e princesa,
equivalência dos três grupos, quer no que diz respeito por um dia
a importância deles quer no grau de elaboração que tanto mais autônomas e possuem contornos tanto mais
apresentam. Além disso, em certos casos, o esquema definidos quanto o menor grau de civilização em que
se desdobra, o que acontece quando a margem é se encontra a sociedade geral. Em nossas sociedades
bastante desenvolvida para construir uma etapa modernas, só há separação um pouco nítida entre a
autônoma. Assim é que o noivado constitui realmente sociedade leiga e a sociedade religiosa, entre o profano
um período de margem entre a adolescência e o e o sagrado ... Entre o mundo profano e o sagrado há
casamento. Mas a passagem da adolescência ao incompatibilidade, a tal ponto que a passagem de um
noivado comporta uma série especial de ritos de ao outro não pode ser feita sem um estágio
intermediário ... À medida que descemos na série das absolutamentes corriqueiros. Nas sociedades arcaicas,
civilizações, sendo esta palavra tomada no sentido as viagens eram raras, e antes de viajar realizavam-se
mais amplo, constatamos a maior predominância do cerimônias de purificação (rito de separação) para que
mundo sagrado sobre o mundo profano, o qual, nas o viandante não se poluísse ao entrar em contato com
sociedades menos evoluídas que conhecemos, engloba o estrangeiro. Ao chegar ao destino, o viajor poderia
praticamente tudo. Nascer, parir, caçar, etc. são então ou não ser recepcionado com um banquete (rito de
atos que se prendem ao sagrado pela maioria de seus agregação), que significava o seu ingresso em outra
aspectos ... Se em nossas sociedades a solidariedade dependência do sagrado.
sexual é reduzida ao mínimo teórico, entre os semi- Contudo, por mais profanos que sejamos no
civilizados desempenha considerável papel em mundo moderno, ainda mantemos os rituais, na
conseqüência da separação dos sexos nas questões maioria das vezes de forma inconsciente. Observe-
econômicas, políticas, e sobretudo mágico-religiosas. se, por exemplo, as despedidas dos astronautas em
A vida individual, qualquer que seja o tipo de Cabo Kennedy, momentos antes de partir em viagem
sociedade, consiste em passar sucessivamente de uma de exploração. A cerimônia de despedida não deixa
idade a outra e de uma ocupação a outra. Nos lugares de ser um rito de separação, o tensionamento da
em que as idades são separadas, e também as viagem está inserido num rito de margem e, quando a
ocupações, esta passagem é acompanhada por atos viagem é bem sucedida, o retorno triunfal se insere
especiais que, por exemplo, constituem, para os num rito de agregação.
nossos ofícios a aprendizagem, e que entre os semi- Vista esta parte mais conceitual, tenta-se agora
civilizados consistem em cerimônias, porque entre eles aplicar tais conceitos vangen-nepianos ao rito de
nenhum ato é absolutamente independente do iniciação.
sagrado. Toda alteração na situação de um indivíduo
implica aí ações e reações entre o profano e o sagrado, Análise do Rito de Iniciação
ações e reações que devem ser regulamentadas e
vigiadas, a fim de a sociedade geral não sofrer nenhum A ânsia do sagrado no mundo moderno também
constrangimento ou dano". faz parte do ideário do maçom que busca sair do
Mircea Eliade (1958, pg.9), por sua vez, afirma profano em direção ao sagrado.
que "a originalidade do homem moderno, sua Uma vez iniciado, o Aprendiz evade-se um
novidade com respeito às sociedades tradicionais, está pouco de um mundo essencialmente profano e
precisamente na vontade de considerar-se como um ingressa numa área um pouco mais sagrada, buscando
ser unicamente histórico, no desejo de viver em um alcançar o grau de Companheiro, para finalmente
Cosmos radicalmente dessacralizado ... Em certo atingir a plenitude maçônica. A senda em busca de
sentido, podemos dizer que, para o homem das apaziguar esta ânsia do sagrado prossegue nos altos
sociedades arcaicas, a História está fechada, esgotadas graus e, por que não dizer, só termina com a morte.
em uns quantos acontecimentos grandiosos do Todo este período, que vai da iniciação até a morte
começo. Ao revelar aos polinésios, in illo tempore, terrena, pode ser chamado de um rito de margem ou
as modalidades da pesca em alto mar, o herói mítico de liminaridade, pois o processo de aprendizagem e
esgotou de uma vez só as possíveis formas desta maturação só encontrará o seu final, para efeito de
atividade; desde então, cada vez que vão pescar, os análise, na morte terrena. Dentro desse período de
polinésios repetem o gesto exemplar do herói mítico: margem de longo prazo, se assistirá aos mais diversos
imitam um modelo de trans-humano". ritos de passagem de um grau para o outro.
O homem moderno perdeu o contato com o Esta análise somente levará em conta o período
sagrado em muitas ações diárias. Freqüentemente de iniciação propriamente dito. A cerimônia de
viajamos dentro do país e ao exterior como fatos iniciação será, assim, o rito de passagem do mundo

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profano ao mundo sagrado.
Vejamos a introdução e a preparação do neófito.
Denota-se já aqui um rito de separação, pois o mesmo
não é separado dos metais, talvez simbolizando o
despojamento de suas riquezas do mundo profano?
Nem nu nem vestido simbolizando o desnudamento
das vestes profanas, como num ritual de separação,
pedindo humildemente o ingresso no sagrado.
A venda dos olhos simboliza a morte de um
órgão vital estratégico que deverá renascer em um
novo estágio de consciência compatível com um
recinto mais sacralizado. A Câmara, o testamento, a
prova da Terra seriam, mais uma vez, a morte do
profano para um renascimento mais consciente em
outra esfera do sagrado. Simbolicamente, esta descida
aos infernos ou pelo menos às profundezas da terra,
como nos antigos mistérios greco-orientais, seria rito
de separação para uma longa viagem.
As outras três provas,já no interior do Templo,
podem ser vistas como ritos de aprofundamento de
passagem, de purificação crescente, agora defronte de todos os maçons.
dos altares da Beleza, da Força e da Sabedoria. Podem O juramento teria algo do rito de margem, pois
ser analisadas como ritos de margem neste vestibular o iniciante, já agora menos poluído pelo profano e
espiritual para uma esfera mais sagrada. Neste mais ciente do sagrado, teria então os pré-requisitos
processo de alquimia mental e espiritual, estaria se mínimos para um juramento mais consciente.
matando, homeopaticamente, o profano para o O nascimento - o fiat lux - pode ser analisado
renascer, simbolicamente doloroso e ao mesmo tempo como o nascer biológico do novo ser, um rito de
glorioso, do Aprendiz tateante. agregação ao mundo da Luz e da comunidade dos
E aqui nos socorremos de Mircea Eliade (1958, irmãos, que, em seguida, é batizado pelo ritual de
pg.12) quando diz que "a maior parte das provas iniciação propriamente dito. Nasce-se e imediatamente
iniciáticas implicam mais ou menos transparente, uma se é iniciado, sem perda de tempo, em suma, um rito
morte ritual à que se seguiria uma ressurreição ou novo sumário de agregação, a culminância do processo
nascimento. O momento central de toda iniciação vem iniciático.
representado pela cerimônia que simboliza a morte A passagem dos segredos de reconhecimento
do neófito e sua volta ao mundo dos vivos. Mas o que pode ser entendida como um reforço do ritual de
volta à vida é um homem novo, assumindo um modo agregação, um modo e um processo de comunicação
de ser distinto. A morte iniciática significa ao mesmo rápido e instantâneo para melhor agregar a
tempo o fim da infância, da ignorância e da condição comunidade dos eleitos. Os aventais seriam, então, a
profana. nova vestimenta do sagrado para cobrir a nudez
O batismo de sangue significaria o começo de simbólica do ex-profano.
um ritual de agregação, algo que na Igreja Católica se E por último, mas não menos importante, o
chama de Comunhão dos Santos, isto é, o iniciante, banquete, que não fazendo parte direta da cerimônia
depois de purificado pelas provas, começaria a do Templo, insere-se num contexto de um ritual de
participar, a ser agregado simbolicamente à comunhão re-agregação. Aqui, já se está de volta ao mundo
profano, mas como alguém que circulou pela esfera do sagrado no mundo laico, que avidamente necessita
do sagrado e volta ao mundo do profano aureolado dos eternos valores maçônicos.
pela sacralidade. É como uma espiral, deu-se um giro A resultante da crise deverá ser, não a negação
de 360°, mas num outro nível, outro patamar, está-se das ciências e das liberdades humanas mais
no mundo profano mas como um ser consagrado. fundamentais, não uma volta ao passado
preconceituoso, supersticioso e retrógrado, mas a
Conclusão busca de uma nova moralidade, que incorpore as
raízes profundas da Verdadeira Tradição,
A sociedade moderna assiste, cada vez mais, compatibilizando-a com a Liberdade e a Ciência.
ao crescimento da onda avalassadora do profano em E, neste momento, cremos profundamente que
relação ao sagrado. Os núcleos de sacralidade são a maçonaria terá um papel de escol a desempenhar.
como pequenas ilhas no imenso oceano do profano.
Tem razão MirceaEliade (1958, pg. 9) quando afirma Bibliografia
que "uma das características do mundo moderno é o
desaparecimento da iniciação. De capital importância - CASTELLANI, José, o Rito Escocês Antigo e
nas sociedades tradicionais, a iniciação é praticamente Aceito, ed, Trolha, Londrina, 1988.
inexistente na sociedade ocidental de nossos dias. É
bem verdade que as diferentes confissões cristãs - COIL, Henry Wilson, Coil's Masonic
conservam, em diferentes graus, vestígios de um Encilopedy, Macoy, Virginia, 1995.
Mistério iniciático. O batismo é essencialmente um
rito inciático; o sacerdócio implica numa iniciação. - ELIADE, Mircea, Iniciacinoes Misticas, ed.
Não se deve esquecer que o cristianismo triunfou Taurus, Espanha, 1958.
precisamente e chegou a ser uma religião universal
se não por ter se liberado dos Mistérios greco- - LALANDE, André, Vocabulaire de Ia
orientais, proclamando ser uma religião de salvação Philosophie, PUF, Paris, 1960.
acessível a todos".
Essa tendência secular de profanização da - Encyclopaedia Britannica, 30 voI., 1982
sociedade tem encontrado, contudo, nos últimos
tempos, uma busca, por parte de alguns homens, de - PIKE, Albert, Morais and Dogma ofthe Ancient
uma volta ao sagrado, ou uma revolta contra o and Accepted Scottish Rite of Freemasonry,
monopólio do profano, o que talvez tenha contribuído Charleston, 1871.
para que L. Kolakowski escrevesse o seu famoso
ensaio em 1973: "A Revanche do Sagrado na Cultura - TURNER, Victor, O Processo Ritual, ed. Vozes,
Profana". Petrópolis, 1974.
Talvez se assista, no limiar do século XXI, a
uma revivescência espiritual. As grandes religiões, que - VAN GENNEP, Arnold, Os Ritos de Passagem,
sempre foram matrizes de moralidade exotérica, estão ed. Vozes, Petrópolis, 1978.
em crise neste final do milênio, e estão sofrendo um
processo crescente de profanização de sua cultura
religiosa. A luta frenética de alguns fundamenta1ismos, * William Almeida de Carvalho é
principalmente os de base mulçumana, para barrar o
processo de modernização, inevitável no mundo atual, Obreiro da Loja Eqüidade e
é prova cabal. Na faixa esotérica, considera-se a Justiça n° 2336
Maçonaria como uma das mais poderosas alavancas

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