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A CIRURGIA PLÁSTICA E A CIRURGIA BUCO MAXILO FACIAL 270

A CIRURGIA PLÁSTICA E A
CIRURGIA BUCO MAXILO FACIAL

THE PLASTIC SURGERY AND THE


BUCO MAXILLOFACIAL SURGERY

Marília GERHARDT DE OLIVEIRA *


Josué BAHLIS **

__________________________________
* Professora de Cirurgia da PUCRS. Coordenadora dos Programas de Mestrado e Doutorado em
Cirurgia Buco Maxilo Facial da PUCRS, Porto Alegre, RS.
** Médico, Cirurgião Plástico, Porto Alegre, RS.
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RESUMO

A atuação dos profissionais deve ser um motivo de grande


expectativa dentro do campo dessas duas grandes especialidades, devendo-se
ressaltar que o papel primordial nisso tudo é, sem dúvida alguma, a perfeita
disponibilidade de pensamento entre esse dois seres humanos, além da
conscientização adequada de todos aqueles que ainda estão por vir. Para maior
facilidade didática foi explanado o assunto por atuação conjunta desses dois
especialistas. O trabalho conjunto do cirurgião plástico e do cirurgião e
traumatologista bucomaxilofacial não é apenas aditivo, mas as suas habilidades se
multiplicam. Cumpre aos centros de formação destes profissionais os preparar
para atuar conjuntamente, garantindo assim os melhores resultados possíveis aos
pacientes. Deve ser lembrado, também, que cumpre aos formadores destes
profissionais, darem o exemplo, trabalhando em conjunto.

ABSTRACT

The performance of the professionals must be a reason of great


expectation inside of the field of these two great specialties, having it to stand out
that the primordial paper in this everything is, without a doubt some, the perfect
availability of thought between these two human beings, beyond the adequate
awareness of all those that still are for coming. For bigger didactic easiness the
subject for joint performance of these was explanted two specialists. The joint
work of the plastic surgeon and the surgeon and buco maxillofacial
traummatologist is not only additive, but its abilities if multiply. It fulfills to the
centers of formation of these professionals to prepare them to act jointly, thus
guaranteeing best resulted the possible ones to the patients. It must be
remembered, also, that it fulfills to the formatters of these professionals, to give
the example, working in set.

Unitermos: Cirurgia Buco Maxilo Facial, Cirurgia Plástica, Especialidades,


Especialistas.

Uniterms: Buco maxillofacial Surgery, Plastic surgery, Specialty, Specialists.

INTRODUÇÃO

A atuação dos profissionais deve ser um motivo de grande


expectativa dentro do campo dessas duas grandes especialidades, devendo-se
ressaltar que o papel primordial nisso tudo é, sem dúvida alguma, a perfeita
disponibilidade de pensamento entre esse dois seres humanos, além da
conscientização adequada de todos aqueles que ainda estão por vir. Para maior
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facilidade didática foi explanado o assunto por atuação conjunta desses dois
especialistas.

NA URGÊNCIA

As lesões faciais estão entre os maiores desafios para os cirurgiões,


pois requerem que se restaure função e estética dos pacientes. Tem se enfatizado,
na literatura mundial, a necessidade de um tratamento precoce das lesões faciais,
minimizando assim o tempo de permanência hospitalar e devolvendo o paciente a
sua vida normal o quanto antes. Mas esse tratamento precoce exige grande perícia
e trabalho de equipe.
De uma maneira geral, o trauma de face pode ser:
1. com lesão de partes moles, sem fratura óssea;
2. com fratura óssea, sem lesão de partes moles;
3. com fratura óssea e lesão de partes moles.
Ocorre, especialmente em serviços de urgência, a tendência de que,
assim que se suspeita de uma fratura facial, o paciente seja encaminhado para o
cirurgião e traumatologista bucomaxilofacial, independente de que outras
patologias que apresente. Assim, muitas vezes, o cirurgião e traumatologista
bucomaxilofacial vira um coordenador de equipe, sendo um de seus auxiliares
mais valiosos o cirurgião plástico. A perfeita integração entre esses profissionais é
imprescindível para o sucesso da terapia a ser instituída.
Em muitas cirurgias são necessários enxertos de fáscia lata, gordura
ou osso, e o cirurgião plástico pode retirá-los com o menor dano estético possível.
Deve ser lembrado que muitos cirurgiões e traumatologistas buco
maxilo faciais têm formação no tratamento de partes moles, podendo resolver a
maioria dos problemas surgidos durante uma intervenção cirúrgica, mas o auxílio
de um cirurgião plástico os libera para atuar na área onde sua maestria se torna
mais necessária, a correção óssea.
Fundamentalmente, o trabalho do cirurgião plástico é dirigido às
partes moles e constituindo-se em:
1. Debridamento de lesões: a pele e os demais tecidos de uma área
de injúria geralmente apresenta bordas irregulares e necróticas, que irão provocar
infecção no pós-operatório; especialmente em mordidas de animais ou seres
humanos, na face, é importante lavar a área com solução fisiológica e anti-séptica
neutra de uma maneira intensa e, após, remover cirurgicamente áreas necróticas
e/ou irregulares. Deve ser lembrado que a saliva dos cães apresenta enzimas
necrotizantes, que devem ser removidas rapidamente.
2. Aproximação e sutura de bordas: deve ser feita uma sutura com
o fio mais fino possível, com um mínimo de tensão; quando o grau de
contaminação não permite a aproximação primária, deve ser usada uma técnica de
primeira intenção retardada.
3. Abrasões cutâneas: devem ser limpas com máximo de cuidado
usando anti-séptico neutro e solução salina; se necessário, devem ser debridadas,
pois a possibilidade de tatuagem é muito grande.
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4. Lesões profundas: após cuidadosa limpeza, devem ser fechadas


por planos.
5. Lesões nervosas: especialmente o nervo facial deve ser suturado
com técnica apropriada, de preferência microcirúrgica; deve também ser lembrado
que ramos terminais do nervo facial não necessitam ser suturados, pois a
recuperação espontânea é a regra.
6. Lesões de ducto parotídeo: este ducto pode ser localizado
traçando-se uma linha que vai do tragus da orelha até o meio do lábio superior, já
que o ducto intercepta o terço médio dessa linha; o ducto parotídeo desemboca ao
nível do dente segundo molar superior e pode-se localizar a porção proximal
através do fluxo de saliva, após ligeira compressão da glândula parótida;
eventualmente, a reconstrução não é possível e deve-se ligar o ducto, o que causa
grande aumento de volume na região parotídea; aguarda-se, então, que esta atrofie
ou fistulize para dentro da boca; se isto não ocorrer ou houver fistulização para a
pele, pode-se utilizar radioterapia para causar uma atrofia da glândula; estas
opções são bem menos desejáveis que o reparo primário do ducto.
7. Lesões do ducto submandibular: não é necessário o reparo do
ducto da glândula submandibular, pois, geralmente, fistuliza para o soalho da boca
sem maiores complicações.
8. Lesões do ducto lacrimal: sempre que houver lesão do canto
medial dos olhos, devemos suspeitar de lesão do ducto lacrimal; este ducto deve
ser cateterizado (em não existindo um cateter apropriado, fino e de silastic, pode-
se usar um fio mononylon 3-0); eventualmente, a dificuldade de drenagem se deve
a uma fratura óssea que comprime o ducto, impedindo a passagem da lágrima;
então, é necessário ser feita uma dacriocistorinostomia.
9. Correção de perdas de substância: devem ser tratadas por rotação
de retalhos ou, se não for possível, por enxertos cutâneos; eventualmente, pode-se
usar um enxerto composto incluindo cartilagem, como é o caso do enxerto
composto usando hélice da orelha para substituir asa nasal.

NA CIRURGIA ONCOLÓGICA
Na exérese e na reconstrução de tumores é que a estreita
cooperação entre cirurgiões plásticos e cirurgiões e traumatologistas buco maxilo
faciais deve ser mais intensa.
De uma maneira geral cabe ao cirurgião plástico o fechamento da
lesão causada pela remoção do tumor, e eventualmente a retirada de material
ósseo para enxertia a ser feita pelo cirurgião e traumatologista bucomaxilofacial.
É de tal responsabilidade a remoção de material para enxertia, que o caso deve ser
muito bem planejado pelos dois profissionais envolvidos, para que não ocorra
falta ou excesso de material, prejudicando o paciente. Da mesma forma, o
cirurgião e traumatologista bucomaxilofacial precisa conhecer o cirurgião plástico
que trabalha com ele e as técnicas possíveis a serem empregadas no caso, pois
uma simples mudança na orientação da incisão cirúrgica pode facilitar o trabalho
de seu colega.
Este paciente sofreu amputação traumática de nariz, com
subseqüente osteomielite. A rotação de retalhos foi feita pelo cirurgião plástico e
o suporte ósseo pelo cirurgião bucomaxilofacial (Figs. 1).
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C
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Figs. 1 – (A, B, C e D) Este paciente sofreu amputação traumática de nariz, com subseqüente
osteomielite, sendo que a rotação de retalhos foi feita pelo cirurgião plástico e o suporte
ósseo pelo cirurgião bucomaxilofacial.

Este outro paciente apresentava fratura do osso frontal, dos arcos


zigomáticos, do palato e da mandíbula. Foi submetido a procedimento cirúrgico
pelo cirurgião plástico e, também, pelo cirurgião e traumatologista
bucomaxilofacial (Figs. 2).

A
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C
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E F

Figs. 2 – (A, B, C, D, E e F) Este outro paciente apresentava fratura do osso frontal, dos arcos
zigomáticos, do palato e da mandíbula, sendo submetido a procedimento cirúrgico pelo
cirurgião plástico e pelo cirurgião e traumatologista bucomaxilofacial.
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NA CIRURGIA REPARADORA
Eventualmente, são necessárias movimentações de tecidos para
acomodação de próteses dentárias. Neste caso, o aprofundamento de sulco
associado a um retalho de mucosa é de grande utilidade; desnecessário dizer que
os cirurgiões e traumatologistas buco maxilo faciais dominam estas técnicas, mas,
eventualmente, quando enxertos ósseos são necessários, um cirurgião plástico
pode participar contribuindo efetivamente nas reconstruções de grandes áreas
alveolares atrofiadas ou ressecadas como, por exemplo, quando de tumores.
Outro exemplo é a enxertia, com osso de costela ou ilíaco, para
propiciar base para um implante dentário; neste caso, a atuação do cirurgião
plástico não só poupa tempo para o cirurgião e traumatologista bucomaxilofacial,
como garante, aos pacientes, cicatrizes mínimas na zona doadora.

NA CIRURGIA ESTÉTICA
Nessa importante área, infelizmente, nota-se ainda uma grande
dificuldade na integração entre os dois profissionais, não por decisão consciente,
mas por desinformação e falta de rotina na avaliação conjunta.
Muitas vezes, nota-se um resultado deficiente de uma rinoplastia
não por má técnica cirúrgica, mas pelo fato do cirurgião plástico não ter percebido
que o paciente apresentava uma disfunção ortognática ou mandibular. Nestes
casos, é imperativo que as correções sejam feitas concomitantemente, ou que as
correções mandibulares e/ou maxilares sejam feitas previamente.
Em contrapartida, os melhores resultados ocorrem em pacientes
que foram avaliados concomitantemente pelos dois profissionais e os casos
estudados em conjunto.

CONCLUSÕES
O trabalho conjunto do cirurgião plástico e do cirurgião e
traumatologista bucomaxilofacial não é apenas aditivo, mas as suas habilidades se
multiplicam. Cumpre aos centros de formação destes profissionais os preparar
para atuar conjuntamente, garantindo assim os melhores resultados possíveis aos
pacientes. Deve ser lembrado, também, que cumpre aos formadores destes
profissionais, darem o exemplo, trabalhando em conjunto.

REFERÊNCIAS *
BROADBENT, T. R.; WOLF, R. M. Gunshot wounds of the face - initial care. J.
Trauma, v. 12, p. 299, 1972.
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Surg., v. 2, p. 355, 1979.
GROSS, J. S.; HURWITZ, J. J.; NICK, N. A. et al., The pattern and incidence of
nasolacrimal injury in naso-ethmoidal fractures - the role of delayed assessment
and dacryocystorhinostomy. Brit. J. Plast. Surg., v. 38, p. 116, 1985.
____________________________________
* De acordo com as normas da ABNT.
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GWYN, P. P., CARRAWAY, J. H.; HORTON, C. E. et al., Facial fractures-


associated injuries and complications. Plast. Reconstr. Surg., v. 42, p. 225, 1971.
MCCARTHY, J. Facial injuries, in: Plastic Surgery, Philadelphia: Ed. W. B.
Saunders, 1990, v. 2, p. 867.
MLADICK, R. A.; GEORGIADE, N. G.; ROYER, J. Immediate flap
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ZIDE, B. M.; MCCARTHY, J. G. The medial canthus revisited - an anatomical
basis for canthopexy. Ann. Plast. Surg. v. 11, p. 1, 1983.

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