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Dra.

Ana Euler, pesquisadora da Embrapa - Amapá, ex-diretora do Instituto de Floresta do Amapá,


coordenadora do Projeto Manejo Florestal e Extrativismo Criando Referências para o
Desenvolvimento Territorial na Amazônia.
A bioeconomia na Amazônia é a economia do conhecimento, do uso e da transformação da
biodiversidade em qualidade de vida, em oportunidade de trabalho e geração de riqueza pela
sociedade por meio de sistemas de produção que respeitem o equilíbrio do planeta. As florestas e os
rios representam a vocação natural da região amazônica e as populações indígenas têm muito a nos
ensinar com o seu vasto conhecimento sobre as espécies, sobre como usar a floresta,
potencializando a sua biodiversidade, domesticando as espécies de interesse alimentício, de
interesse medicinal, promovendo a conservação in sito deste imenso patrimônio agrícola e florestal,
transmitindo este conhecimento, geração após geração, e compartilhando deste conhecimento com
os novos povos que aqui chegaram e que hoje compõem esta sociedade multiétnica e multicultural
que é a sociedade amazônica. Como pesquisadora da Embrapa, eu fui convidada para falar um
pouco sobre o nosso trabalho, relacionado à promoção da bioeconomia na Amazônia. É importante
ressaltar que a Embrapa atua na Amazônia há quase quatro décadas e tem unidades de pesquisa em
todos os Estados da Amazônia Legal, sendo responsável pela geração de energia e inovações que
têm sido fundamentais para a produção de alimentos a inclusão sócio produtiva. Entre os sistemas
produtivos florestais, mais estudados, a gente pode destacar a Castanha do Brasil, o açaí, o guaraná,
a serigueira, o cacau, o babaçu... No campo da fruticultura, são inúmeras outras, como o cupuaçu, o
taperebá, o bacuri, camu-camu, pupunha, bacaba, buriti, tucumã... Eu estou falando isso
principalmente para quem não é da Amazônia, não é do Brasil, para ter uma pequena noção da
riqueza que nós temos a oferecer. Na linha dos óleos vegetais, nós restamos estudando a andiroba, a
copaíba, o pracaxi, o buriti, o murumuru, o patauá, o cumaru, entre tantas espécies animais e
vegetais e nativas. As pesquisas da Embrapa têm sido orientadas por um melhoramento genético,
por um desenvolvimento de cultivares, para sistemas de manejo e de precisão, manejo de mínimo
impacto, sistemas florestais, tecnologias de pós colheitas... Enfim, os resultados estão presentes nas
inúmeras propriedades rurais que hoje detêm cultivares desenvolvidos e adaptados de diferentes
realidades da amazônia, além das inúmeras publicações, mais de cinco mil referências
bibliográficas cadastradas na nossa base de dados da pesquisa agropecuária. Estes são apenas alguns
dos indicadores do quanto a Embrapa tem a oferecer em termos de conhecimento para alavancar a
bioeconomia na Amazônia. Mas nem tudo são flores. Nós enfrentamos, todos que vivemos na
Amazônia, o enorme desafio de fazer com que este conhecimento chegue na ponta, até os
agricultores, extrativistas, quilombolas, indígenas, mulheres e homens que vivem da produção rural,
do extrativismo, da economia da floresta. A tecnologia não é um fim por si só. Ela precisa estar
acompanhada por uma assistência técnica, de crédito, de infraestrutura para o escoamento, de
inclusão digital para acesso à informação e a mercados, de energia, de água tratada, de saneamento,
de educação. E isso, a gente só consegue trabalhando em rede. Com uma organização de base
comunitária forte, com a cooperação entre os diferentes órgãos de governo, empresas e a sociedade
civil organizada. É com o objetivo de construir pontes entre o conhecimento tradicional e o
científico que atualmente estamos implementando o projeto Manejo Florestal e Extrativismo com
apoio do BNDES através do Fundo Amazônia. Neste projeto, desenvolvido em parceria com
comunidades de diferentes territórios da Amazônia, unidades de referência tecnológica para o
manejo de diversas espécies, como açaí, bacuri, babaçu, castanha, andiroba, pracaxi, pau mulato,
levando inovações para o sistema de pós colheita como secadores solares, armazéns, silos, cabos
aéreos, biodigestores, kits para beneficiamento do açaí, desenvolvendo tecnologias sociais para
extração de óleos vegetais. Os nossos principais desafios de inovação da Embrapa na Amazônia,
entre eles, são agregar valor aos produtos da biodiversidade, considerando a multifuncionalidade do
espaço rural, principalmente nas áreas de agricultura familiar; ampliar a rastreabilidade, a
produtividade e a rentabilidade do sistema de manejo sustentável, sejam eles madeireiros ou não
madeireiros, para que sejam competitivos com os sistemas agropecuários do bioma amazônida;
aumentar a escala, a qualidade, a regularidade e a logística de produção das matérias primas da
biodiversidade da Amazônia; para o desenvolvimento de produtos, de processos e serviços
sustentáveis para as indústrias agroalimentares, agroquímicas, de cosméticos, de fármacos, de
energias renováveis; ampliar a inserção de bioativos como insumos para produtos convencionais e
bioprodutos da indústria da bioeconomia. São inúmeros os projetos que a Embrapa desenvolve na
Amazônia. Mas eu queria finalizar a minha fala compartilhando com vocês a epxeriência que nós
temos com o projeto Bem Diverso no território do Marajó. Há cerca de três anos estamos
trabalhando com um programa de formação de jovens extrativistas, produtores de açaí no município
de Afuá. Eles nos ajudam no monitoramento da safra de açaí e atuam como agentes multiplicadores,
de nossas tecnologias nas comunidades. O ano passado foi um ano especialmente difícil devido à
pandemia de Covid-19. Tivemos que fazer o inimaginável, migrar para as plataformas online para
dar continuidade ao trabalho e oferecer oportunidades de capacitação sobre o uso da internet e das
redes sociais para a inclusão sócio produtiva. Muito inspirados pelo programa liderado pelo dr.
Carlos Nobre, Amazônia 4.0, propomos para os jovens, como seus trabalhos de final de curso,
produção de áudio onde eles pudessem expressar sua visão para o desafio para alcançar o
extrativismo 4.0 na Amazônia. E a resposta unânime destes jovens foi: o acesso à educação. A
educação de qualidade, ao Ensino Médio, ao ensino técnico. Acesso ao mercado para a venda de
seus produtos. acesso à internet. Os jovens estão ávidos para acessar conhecimento e acessar
mercados. Eles são os verdadeiros protagonistas do desenvolvimento da Amazônia. Eu encerro
minha fala reproduzindo mensagens de algumas mulheres inspiradoras. Eu queria começar pela
professora Berta Becker, que nos ensinou desde sempre que usar a floresta com racionalidade é a
melhor forma de conservar e permitir que todos se beneficiem de seus serviços ambientais, produzir
para conservar, conservar para produzir. Queria também compartilçhar a mensagem da indígena
Francisca Arara, do Acre. Ela destaca a importante contrubuição dos povos indígenas para o
equilíbrio do clima. E pede que as políticas públicas considerem e respeitem os direitos de seus
povos, os direitos das mulheres, dos jovens e dos pajés. E finalmente a extrativista paraense, de
Porto de Mós, d. Margarida da Silva, da Resex Verde Para Sempre. Ela é manejadora e compôs um
brega, que em resumo, em sua estrofe, ela diz assim: 'vamos manejar nossa floresta, o manejo
realizar, com o equilíbrio da floresta, a econonmia melhorar. Vivemos aqui há muitos anos, é nosso
direito manejar. Para manejar tem que inventariar, para manejar tem que se capacitar. Para manejar,
o Ibama tem que autorizar, para manejar, tem que rebolar’. É com muita alegria, entusiasmo,
determinação das mulheres da floresta que eu encerro minha fala e agradeço novamente o convite e
a oportunidade, é uma honra estar aqui nessa conferência magna e quero terminar convidando todos
e todas para virem para a Amazônia para discutir a bioeconomia e o equilíbrio do clima em nosso
planeta.”

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