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PLANEJAMENTO E
POLÍTICAS AMBIENTAIS
Ana Cobalchini
Cristiane Ronchi

PLANEJAMENTO E POLÍTICAS AMBIENTAIS


1ª edição

Londrina
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
2020

2
© 2020por Editora e Distribuidora Educacional S.A.

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reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio,
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Revisor
Ana Cobalchini; Cristiane Ronchi

Editorial
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Beatriz Meloni Montefusco
Gilvânia Honório dos Santos
Hâmila Samai Franco dos Santos
Mariana de Campos Barroso
Paola Andressa Machado Leal

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


__________________________________________________________________________________________
Ronchi, Ana Cobalchini; Cristiane
R769p
Planejamento e Politicas Ambientais/ Ana Cobalchini;
Cristiane Ronchi -
Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020.
44 p.

ISBN 978-65-86461-26-8

1. Planejamento ambiental. 2. Políticas ambientais I. Ana


Cobalchini; II. Ronchi, Cristiane , Título.

CDD 363.7
____________________________________________________________________________________________
Jorge Eduardo de Almeida CRB: 8/8753

2020
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
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PLANEJAMENTO E POLÍTICAS AMBIENTAIS

SUMÁRIO
A questão ambiental e os paradigmas contrastantes________________ 05

Etapas, estruturas e instrumentos da gestão e planejamento ambiental


urbano ______________________________________________________________ 19

Indicadores ambientais, planejamento e políticas públicas___________ 35

Cidades inteligentes e sustentáveis no Brasil e no mundo ___________ 51

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A questão ambiental e os
paradigmas contrastantes
Autoria: Ana Beatriz Ulhoa Cobalchini
Leitura crítica: Cristiane Ronchi de Oliveira

Objetivos
• A cidade como unidade territorial de
desenvolvimento humano.

• Compreender o processo de urbanização brasileiro e


suas tipologias.

• Compreender os conceitos de urbanização,


metropolização e conurbação.

• Identificar os preceitos iniciais de planejamento


urbano e sustentabilidade ambiental.

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1. A cidade enquanto espaço de construção
social

Desde os primórdios da ocupação humana e do seu desenvolvimento


inicial enquanto espécie, o ser humano tem se organizado em
aglomerados sociais, os quais tiveram a função de subsistência,
segurança do grupo e reprodução. Em princípio, as comunidades
humanas eram nômades, ou seja, transitavam de território em território
em busca de recursos naturais que pudessem prover sua perpetuação.
Mas, caso as condições fossem adversas, estas se deslocavam para
outro local mais propício para tais fins. No entanto, conforme a espécie
Homo sapiens evoluiu, a tendência de se fixar em territórios e dali prover
sua construção social foi mais acertada e próspera (RECH & RECH, 2016).

Ressalta-se, portanto, que as cidades são um espelho de sua


população, considerando-se os aspectos históricos, socioeconômicos
e ambientais. Portanto, o planejamento da cidade deve considerar
o seu passado, presente e ter abrangência de planejamento que
considere seu futuro, de forma a possibilitar seu tempo de vida mais
longo e sua sustentabilidade, enquanto núcleo de desenvolvimento
humano. Conforme Mumford (1998), a cidade deve ser compreendida
contemplando a sua natureza histórica, entendendo-se suas funções
originais, e também suas vocações futuras.

2. O processo de urbanização brasileiro e o


surgimento das grandes metrópoles

O processo de urbanização consiste na permanência da maioria


da população de um país nos núcleos urbanos ao invés dos núcleos
rurais, dentro do território de um Estado. No Brasil, isso ocorreu
definitivamente em meados de 1940, durante o Governo Getúlio Vargas.

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Naquela ocasião, grande parte da população passou a habitar em
núcleos rurais em razão do êxodo rural, impulsionado pela Revolução
Industrial Brasileira e concentrou-se principalmente nos núcleos
das capitais das regiões Sudeste e Sul. Essa fase é considerada por
estudiosos como tardia, em relação a outros países industrializados.

Posteriormente, as cidades brasileiras têm evoluído para grandes


metrópoles e depois para megalópoles ou conúrbios urbanos. O
processo de conurbação é conceituado como a fusão das áreas urbanas
de duas ou mais cidades, produzindo núcleos muito extensos. Esse
processo de junção de uma ou mais cidades, deu origem às regiões
metropolitanas, tais como São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Porto Alegre
(RS), Belo Horizonte (MS), entre outros.

Enquanto detentor das políticas urbanísticas e como ente de ordenação


do território, o Poder Público necessita satisfazer as demandas da
população por habitação, produção agrícola, segurança pública e
utilização potencializada do solo, não se abstendo das premissas de
sustentabilidade ambiental com vistas à perpetuação da utilização do
território com qualidade.

Considerando-se o crescimento da população, as condições da


ocupação urbana e diversos fatores ambientais, é natural que haja
conflitos quanto ao uso do solo, tais como: conflitos entre grupos
econômicos, demandas por moradia, núcleos de produção mineral ou
agrícola, grupos sociais ou religiosos, entre inúmeros outros setores
da sociedade civil organizada. Portanto, o ordenamento territorial
é, antes de tudo, um processo delicado e complexo de tomada de
decisões.

Diversas situações irregulares têm ocorrido na maior parte das cidades


brasileiras e que afetam substancialmente a qualidade de vida da
população e a qualidade ambiental. Por exemplo, a implantação de
loteamentos irregulares promovidos por pessoas que não detém a

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posse da terra, porém forjam documentos falsificados e as vendem. Os
novos “donos” sofrem o golpe, implantam suas residências e depois não
podem obter a posse digna da terra. Essas áreas griladas, costumam ser
pertencentes às áreas de preservação ambiental ou dentro de unidades
de conservação. Tais atitudes são denominadas grilagem de terras,
pois, os falsificadores colocam os documentos recém impressos e falsos
em gavetas ou caixas repletas de grilos, obtendo após curto espaço de
tempo a coloração amarelada comum dos documentos antigos de posse
ou propriedades de terras.

Outra situação precária de moradia deve-se a subutilização de terras


urbanas para implantação de loteamentos verticais de segunda
categoria, os chamados cortiços. Estes possuem uma concentração
muito alta de moradores, produzindo resíduos sólidos, esgoto e
captando água, seja de fonte regular ou irregular, ampliando o impacto
ambiental nas cidades.

Por fim, ainda existem as favelas, que são ocupações irregulares e


desordenadas de terras públicas, geralmente íngremes, sem a menor
condição sanitária e de ordenamento territorial. Não há espaçamento
correto nas ruas, não há calçadas e muitas vezes, não ocorre nem
esgotamento sanitário nem abastecimento de água de forma correta.

Ressalta-se dentro desse universo a existência de especulação


imobiliária, surgimento de núcleos violentos e com infraestrutura
deficitária, como as favelas, áreas de grilagem de terras e tantas
outras situações que evidenciam um processo de urbanização
deficiente em diversas cidades brasileiras. Dessa forma, o Estado
tão centralizador não tem condições reais de possibilitar o
desenvolvimento ideal da cidade e da cidadania, tende a não planejar
os espaços para todas as classes sociais e não tem levado em
consideração a questão ambiental no ordenamento territorial (RECH;
MARTIM; AUGUSTIN, 2015).

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No Brasil, as regiões metropolitanas são vistas como centros de
demandas sociais, especialmente quanto à moradia, transporte,
saneamento e exigem grandes investimentos em infraestrutura (DE
UGALDE, 2013).

3. Direitos essenciais do cidadão e


instrumentos legais urbanísticos

Considerando-se a Constituição Federal de 1988, em seu art. 5º,


todos os cidadãos brasileiros têm direito à moradia, à igualdade e à
propriedade. Segundo esse extrato da Carta Magna, todos são iguais
perante a lei e tem o direito de obter condições ideais de moradia,
qualidade ambiental, igualdade social e diversos outros direitos
considerados fundamentais para qualquer cidadão residente no Brasil,
mesmo que tenham nascido ou não em nosso território (BRASIL, 1988).
Contudo, a realidade das cidades brasileiras é bem diversa daquilo que
rege a Constituição Federal.

No intuito de possibilitar melhores condições de urbanização e


ordenamento do território, institui-se o Estatuto das Cidades. Esse
conjunto de normas e leis urbanísticas pretende orientar as normas
de uma cidade planejada, com viés de Direito Urbanístico. Além
desse instrumento, existem ainda os Planos Diretores e demais leis
municipais, os Códigos de postura e o Código de obras.

Os direitos fundamentais estão expressos na Constituição Federal, no


entanto, não são garantidos, pois dependem de políticas públicas que
estejam de encontro com as populações majoritárias de seu território.
Para tanto, o Estado precisa ser mais eficiente, mais rápido e menos
oneroso (RECH & RECH, 2016).

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4. Questões ambientais versus desenvolvimento
regional urbano

4.1 Tipos de ecossistemas

De forma conceitual serão apresentados todos os tipos de ocupação


humana possíveis, quais sejam: (i) o ecossistema urbano; (ii) o
ecossistema rural; e o (iii) ecossistema primitivo.

O ecossistema urbano é aquele em que as alterações do meio


ambiente são as mais significativas, pois apresenta alta densidade
demográfica, relação desproporcional entre o ambiente construído e
o ambiente natural. Há, também, extensa alteração da biodiversidade
biológica nativa, com a retirada histórica das florestas e a importação
de espécies da flora e da fauna. Cabe ainda ressaltar, a constante
impermeabilização do território, ou seja, a existência de vias
pavimentadas diminuindo a infiltração da água pelo solo.

No ecossistema rural, o conjunto de atividades agropecuárias é


responsável pela geração de mudanças bastante significativas no
ambiente. Esse fato se deve à vocação para produção de alimentos e à
criação de animais do território, assim como a inserção de defensivos
agrícolas e de insumos energéticos, como fertilizantes, os quais
modificam as características iniciais do solo.

Já o ecossistema primitivo é aquele em que o conjunto de ações


antrópicas exerce pequena ou nenhuma interferência no meio ambiente.
Isso ocorre principalmente pelo fato de que a ocupação humana nessas
áreas é ínfima em relação à totalidade da área ou até mesmo possui baixa
possibilidade de causar impacto ou alteração do ambiente.

A legislação brasileira, por meio da Lei da Política Nacional do Meio


Ambiente considera degradação ambiental como “alteração adversa das
características do meio ambiente” (BRASIL, 1998, art. 3°, inciso II).

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4.2 Processos de ocupação humana e diminuição da
qualidade ambiental

O processo de ocupação do território é extremamente complexo e


rápido, considerando-se o crescimento populacional e as dinâmicas
de utilização do solo. Portanto, conforme apresentado por Duarte
(2012), é dever do planejamento urbano prever essas modificações:
considerando-se que as mudanças concretas na cidade podem alterar as
relações econômicas, sociais e culturais, cabe ao planejamento urbano
antever essas modificações na organização espacial da cidade.

O urbanismo de uma cidade é o conceito mais amplo com relação


às modificações, ordenamentos e não se trata de uma área isolada
ou específica do conhecimento, abarcando assim todas as ciências e
procedimentos relacionados à ocupação urbana e territorial. Conforme
Wilheim (1979), o objetivo do urbanismo é analisar criticamente a
realidade apresentada no espaço urbano, propondo e idealizando
estratégias de mudança, propiciando a melhoria contínua da cidade.

Observa-se, historicamente, a preocupação humana em obter a


ocupação desordenada do espaço, a qual gerou diversos males e
dificuldades ao planejamento territorial.

O pensamento antropocêntrico, ou seja, aquele que considera o ser


humano o principal detentor do poder e o foco principal de todas as
decisões é considerado a fonte das atitudes históricas de degradação
ambiental das cidades. A tal fato, alia-se a falta de conhecimento técnico
quanto aos males que a ocupação desordenada poderia causar. Por
muito tempo, essa ocupação não apresentou deficiências ou problemas
ambientais. No entanto, atualmente, as consequências dessa prática
têm aparecido nas maiores cidades brasileiras.

A impermeabilização excessiva do solo, como consequência da


implantação de vias de circulação viária com asfalto e piso impermeável,

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aliado ao baixo índice de áreas verdes urbanas e a ocupação das áreas
alagáveis dos recursos hídricos aumentam a ocorrência de pontos de
alagamento e enchentes.

A questão da poluição atmosférica ocasionada pelo aumento do


quantitativo de veículos, fábricas e outros pontos de emissão de gases é
responsável pela diminuição da qualidade de vida da população urbana.
Aliado a isso, há a formação de “ilhas de calor” devido à diminuição da
circulação atmosférica e da dificuldade de dispersão da temperatura dos
centros urbanos ocasionada pela poluição do ar. A Tabela 1 apresenta
a comparação entre o ecossistema urbano e o ecossistema rural, em
relação às mudanças de clima.

Tabela 1 – Média das mudanças climáticas locais observadas nos


espaços urbanos em relação à área rural
Média das mudanças climáticas
Indicador de mudança locais observadas nos espaços
urbanos em relação à área rural
Material particulado. 10 vezes maior.
Temperatura (média anual). 0,5 a 1,5 ºC maior.
Precipitação. 5 a15% maior.
Umidade relativa. 6% menor.
Velocidade dos ventos. 25% menor.

Fonte: Ehrlich (1997 apud PHILLIPPI JR, 2005).

Dessa forma, a Tabela 1 apresenta o impacto ambiental das ocupações


humanas nas grandes cidades, quando comparadas aos ambientes
menos urbanizados e, portanto, com menor interferência humana.

4.3 Políticas públicas urbanas e qualidade ambiental

Em razão do cenário de degradação das áreas urbanas, surgiu


a necessidade de destinação correta dos esgotos, de captação
e tratamento de água, da disposição correta dos resíduos e do

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direcionamento das águas da chuva, também chamado de drenagem
pluvial. Essas obras de infraestrutura são denominadas de saneamento
ambiental e são fundamentais para o correto planejamento urbano.

4.3.1 Saneamento ambiental

A implantação de estruturas relativas ao esgotamento sanitário,


abastecimento de água, drenagem pluvial, coleta e destinação de
resíduos sólidos e esgotamento sanitário são fundamentais para a
manutenção da qualidade ambiental e são, em sua grande maioria,
compostas pela iniciativa pública ou por consórcios entre empresas
públicas e privadas.

Os consórcios públicos, como são chamadas as parcerias público


privadas (PPP) destinadas à contemplar os serviços públicos de
saneamento são instituídos pela Lei Ordinária nº 11107/2005.

A forma de estabelecer o consórcio público deverá seguir os seguintes


passos:

1. As entidades celebram um protocolo de intenções.


2. Esta documentação deverá ser submetida às casas legislativas
da esfera em que se insere a política pública. Ou seja, caso
seja realizado o consórcio público para coleta de resíduos em
um município, este, obrigatoriamente, deverá ser submetido à
aprovação da câmara legislativa do município.
3. Ser emitida uma autorização legislativa pela câmara referente,
consolidando o contrato entre as empresas.
4. Cria-se uma associação para representar o consórcio público.
5. Elabora-se o Estatuto da associação e é submetido ao registro civil.

Porém, pode-se questionar por que há tantas etapas nesse processo.


A resposta para tal questionamento é que este traz segurança
jurídica para o Governo quanto à manutenção do serviço, assim

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como responsabilização do ente privado em caso de má gestão ou de
interrupção dos serviços, sem causas justificáveis.

É importante ressaltar que há uma intrínseca relação entre a


implantação das estruturas de saneamento e a manutenção da
qualidade ambiental, porém, é ainda mais importante para a Saúde
Pública. Ou seja, quanto melhor e mais eficiente for a política pública
de saneamento em um determinado município, melhor será a saúde
ambiental deste local.

Esclarecendo-se, diversas patologias e endemias são relacionadas à


falta de saneamento ambiental. Por exemplo, o mosquito Aedes aegypti
é o mosquito vetor da zika, chikungunya e febre amarela e dengue e
tem sido considerado um vilão para a saúde pública brasileira e tem
sido extensivamente combatido pelos agentes de saúde. No entanto, a
principal motivação para sua proliferação são os locais com água parada
ou resíduos. Dessa maneira, a correta destinação dos resíduos seria
uma das principais formas preventivas de evitar esse vetor. Há ainda
a relação entre a falta de esgotamento sanitário ou de tratamento dos
esgotos que ocasiona.

4.3.2 Transportes

A correlação entre a qualidade ambiental e da política pública de


transportes é relacionada à diminuição do uso dos modais mais nocivos
ao ambiente e, também, da integração entre diversos modais.

Especificando melhor, por exemplo, um município que possui uma


infraestrutura deficitária, ou seja, que não consegue suprir a demanda
da população com relação à qualidade dos serviços, estrutura viária
ou até mesmo quantidade de frota de transporte público suficiente,
haverá uma demanda muito maior pelo uso dos automóveis para o
deslocamento populacional.

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Assim como a especulação imobiliária pode intensificar o
comportamento dos deslocamentos, o processo se dá da seguinte
maneira: a população de menor renda é impulsionada à residir em áreas
mais distantes dos centros geradores de renda, pois o valor imobiliário é
menor. De forma indireta, o trajeto demandado por essa população, que
será maioria, será realizado por transporte público ou por transporte
individual.

Pode-se dizer, então, que a especulação imobiliária traz maior pressão


sobre os modais de transporte, pois aumentam a sua demanda e
público.

Com relação aos modais, o mais abundante no Brasil é o transporte


viário, denominado o que é realizado por meio da circulação de veículos
pelas estradas e vias. Esse modal é impactante à qualidade ambiental,
pois produz muitos poluentes atmosféricos em razão da queima dos
combustíveis fósseis.

Portanto, as diversas políticas públicas se inter-relacionam e interferem


entre si. Caso ocorra inclusão de modais mais sustentáveis, tais como
o metroviário e o cicloviários, no caso das menores distâncias, haverá
um ganho ambiental maior do que a expansão das vias para absorver a
demanda crescente gerada pelos veículos automotores.

Assim como a integração entre diversos sistemas de transporte pode


ocasionar maior sustentabilidade, pode-se citar, ainda, a prerrogativa
de estímulo dos agentes públicos pela troca de combustíveis fósseis por
outros menos degradantes da qualidade ambiental. Tais tratativas serão
tratadas no próximo tópico, Energia elétrica e fontes alternativas de energia.

Ressalta-se que há diversos níveis de planejamento quanto à


modificação ou melhoria dos sistemas de transporte de uma localidade,
quais sejam nível estratégico, nível tático e nível operacional. O Quadro 1
apresenta as peculiaridades de cada um dos níveis apresentados:

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Quadro 1 – Exemplos de estratégias de planejamento ou melhoria
de um modal, considerando-se os três níveis de planejamento
Nível estratégico Nível tático Nível operacional
Planejamento de novas vias. Projetos geométricos. Avaliação do estado da área
controlada (volumes, tempos
de viagens, condições
climáticas, entre outros).
Modificações a longo prazo Projetos de sinalização. Informações aos usuários
no sistema existente. (velocidades, tempos de
viagem, guia de rotas etc.).
Análise de investimentos Projetos de controle Configuração do uso
nos sistemas de eletrônico do tráfico. das faixas de tráfego.
transportes públicos.
Definição da área de Definição espacial de Aplicação de dispositivos
influência dos polos subáreas de controle de controle de tráfego.
geradores de tráfego. do tráfego.

Fonte: Pereira (2005 apud CAMPOS, 2013).

O nível de planejamento compreende o ordenamento das áreas e vias


a serem implementadas ou melhoradas, verificação de investimentos
necessários e simulações de redes de tráfego. Com relação ao nível
tático, trata-se da implantação da integração.

4.3.3 Energia elétrica e fontes alternativas de energia

Aliado à necessidade de melhoria das cidades brasileiras, há ainda a


questão do aumento da demanda por energia. É muito importante que
ocorra a eficiência governamental nesse quesito, visto que a distribuição
de energia é primordial para a manutenção dos processos produtivos e
da habitação das populações.

A matriz energética mais utilizada no Brasil trata-se da energia elétrica,


porém há outras formas que têm sido extensivamente implementadas.
São elas, a energia eólica (movida pelos ventos), energia solar (obtida por
captação solar utilizando-se placas fotovoltáicas que absorvem os raios

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solares), energia nuclear (obtida pela quebra de isótopos radioativos),
biogás (obtido por meio da queima de matéria orgânica).

4.3.4 Meios de comunicação e redes de telefonia

Contemporaneamente, surgiu ainda a necessidade de provimento de


comunicação por meio das redes de telefonia e internet, sem as quais as
cidades não existem.

As melhorias apresentadas no Brasil com relação aos sistemas de


comunicação foram possíveis somente nas últimas duas décadas. Elas
passam por modificações estruturais muito rápidas, de acordo com a
demanda apresentada pelo mercado. Ressalta-se que todas as empresas
responsáveis por esse tipo de implantação são privadas e, portanto,
estão sendo regidas pelo capital e pela livre concorrência.

5. Considerações finais

Contudo, de nada adiantará a sociedade humana prosseguir em


sua evolução tecnológica sem que haja qualidade de vida para seus
habitantes. E, para tanto, somente poderá haver a proteção ambiental,
visto que a sociedade não é parte isolada do habitat urbano, mas está
contida nele e depende dele para as suas necessidades básicas de
subsistência (RECH & RECH, 2016).

Referências Bibliográficas
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado
Federal: Centro Gráfico, 1988.
BRASIL. Lei nº 6938 de 1981: Política Nacional de Meio Ambiente. 1981. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L6938.htm. Acesso em: 1 mar. 2020.

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CAMPOS, V. B. G. Planejamento de transportes: conceitos e modelos. Rio de
Janeiro: Interciência, 2013.
DE UGALDE, C. M. Movimento e hierarquia espacial na conurbação: o caso da
Região Metropolitana de Porto Alegre. Porto Alegre, 2013.
DUARTE, F. Planejamento urbano. Curitiba: Intersaberes, 2012.
MUMFORD, L. A cidade na história. 4. ed. São Paulo: M. Martins Fontes, 1998.
PHILIP JR, A. Saneamento, saúde e meio ambiente: fundamentos para o
desenvolvimento sustentável. Barueri: Manole, 2005.
PHILIP JR, A.; GALVÃO JR, A. de C. Gestão do saneamento básico: abastecimento de
água e saneamento básico. Barueri: Manole, 2005.
RECH, A. U.; MARTIM, J.; AUGUSTIN, S. Direito ambiental e sociedade. Caxias do
Sul: Educs, 2015.
RECH, A. U.; RECH, A. Cidade sustentável: direito urbanístico e ambiental–
instrumentos de planejamento. Caxias do Sul: Educs, 2016.
WILHEIM, J. Metropolizacion y medio ambiente. Chile, 1979.

18
Etapas, estruturas e instrumentos
da gestão e planejamento
ambiental urbano
Autoria: Ana Beatriz Ulhoa Cobalchini
Leitura crítica: Cristiane Ronchi de Oliveira

Objetivos
• Compreender o que é e como se dá o planejamento
ambiental urbano.

• Compreender as etapas de planejamento ambiental


urbano de um território.

• Assimilar os instrumentos de gestão do território,


sabendo diferenciá-los entre si e contextualizar sua
aplicação na prática.

19
1. Os preceitos de planejamento ambiental
urbano

O processo de planejar o ambiente urbano é complexo e repleto


de nuances, visto que deve incluir as capacidades do ambiente, as
demandas por ocupação do solo trazidas pela sociedade, e ainda
aspectos técnicos para a otimização dos atributos físicos de um
território. Portanto, deve-se inferir desde o início, que o planejamento
ambiental urbano é alcançado por meio da união de diversas áreas
científicas e tecnológicas. Cabe citar que este planejamento, segundo
Duarte (2012), visa atender às premissas da Engenharia, Arquitetura
e Urbanismo, Direito, Administração e diversos outros seguimentos
técnicos que intervém nesse processo.

Duarte (2012) conceitua, primeiramente, o planejamento, de forma


geral, como o conjunto de medidas tomadas para serem atingidos os
objetivos desejados, tendo em vista os recursos disponíveis e os fatores
externos que podem influir nesse processo.

O fim desejado para o planejamento ambiental urbano, portanto, é


atingir as demandas da sociedade com vistas ao melhor aproveitamento
das características físicas e espaciais do território urbano, de modo a
atender a maior parte da população possível com o pleno exercício das
funções social, econômica, ambiental, entre outras.

O planejamento urbano moderno, tal qual se apresenta em nosso


país, é resultante de diversas modificações históricas, as quais não
cabe informar didaticamente nesse momento. No entanto, pode-se
ressaltar que após a ocorrência da chamada Reforma Urbana, a qual
tem sua principal representação na criação do Estatuto das Cidades, o
principal enfoque do urbanismo foi prover atendimento às demandas
ocupacionais da população de forma alheia, tanto quanto possível, às
especulações imobiliárias (PEREIRA et al., 2013).

20
2. Especificidades do planejamento ambiental
urbano

O planejamento ambiental urbano deverá levar em conta a


caracterização do meio ambiente, as restrições ambientais presentes
no território, como a existência de unidades de conservação e áreas de
tombamento do patrimônio, entre outras restrições.

Ressalta-se, ainda, que o planejamento ambiental pretende apresentar


melhorias econômicas e territoriais, potencializando a utilização
sustentável do território. Por fim, pretende-se obter ou manter a
qualidade ambiental preexistente na localidade, ao mesmo tempo que
as demandas populacionais são atendidas.

Com vistas a alcançar o resultado pretendido pelas políticas públicas


municipais ou regionais, principalmente nos quesitos de infraestrutura
(transporte e mobilidade urbana, saneamento ambiental, moradia e
uso potencial do solo urbano, entre outros). Dessa forma, os gestores
instituem políticas urbanísticas e ambientais que façam uso desses
preceitos.

Quando se fala de planejamento urbano e ambiental, há diversos


documentos norteadores acerca da restrição quanto à ocupação das
áreas urbanas assim como definições de políticas públicas visando a
sustentabilidade ambiental das cidades. Podem ser citados os Planos
Diretores, o zoneamento ecológico econômico (ZEE), as leis de uso
e ocupação do solo, as leis urbanísticas e as políticas de gestão dos
recursos hídricos.

Em caso de potencialização das cidades com viés turístico, por exemplo,


o planejamento urbano deverá priorizar a manutenção das áreas
comunitárias, de monumentos ambientais ou urbanos, assim como

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incentivar essa área econômica em detrimento de outras. Em caso de
cidades voltadas à agropecuária, o ZEE dará prioridade para a ocupação
das áreas para implementação de lavouras e outros empreendimentos
dessa natureza, em detrimento de outras ocupações econômicas do
território.

A escala atribuída ao planejamento ambiental urbano, poderá ser


subdividida em escala espacial e temporal. A escala espacial pode
ser categorizada em escala setorial, municipal ou regional. Na escala
setorial, as áreas de interesse comportam bairros, enquanto na escala
municipal, todo o município deverá ser contemplado. E, por último, na
escala regional, uma determinada região intermunicipal ou megalópole
deverá ser considerada.

A escala regional é a mais incomum, no entanto, pode-se citar o exemplo


do Distrito Federal. Por possuir características administrativas de
município e estado ao mesmo tempo, as políticas urbanísticas do Distrito
Federal são realizadas considerando toda a extensão do território e não
somente cada unidade municipal, denominadas de cidades satélite ou
regiões administrativas.

A escala espacial também pode ser classificada como micro, macro e


mega-escala conforme o autor ou pesquisador. De modo geral, a escala
espacial adotada pode ser diferente em cada estudo, no entanto, é
necessário bom senso da equipe para sua escolha, e que estas auxiliam
na execução do trabalho e na tomada de decisão.

A escala temporal visa analisar a situação da área de estudo no presente,


passado e futuro; utilizando a proposição de cenários para interpretar
os diferentes momentos, problemas sociourbanos e visões individuais. A
construção de cenários no planejamento, como descreve Santos (2004),

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auxilia na visão do espaço, tempo e o meio, induzindo a uma maior
compreensão dos problemas prioritários e a proposição de soluções
comuns. No Distrito Federal, por exemplo, existem os planos diretores
de cada região administrativa, mas foi instituído o Plano Diretor de
Ordenamento Territorial, instituído pela Lei Complementar nº 803 de
25 de abril de 2009, com alterações decorrentes da Lei Complementar
nº 854 de 15 de outubro de 2012 (DISTRITO FEDERAL, 2020). Neste
instrumento legal são direcionadas as atividades econômicas permitidas,
considerando-se as restrições ambientais e legais pretéritas do território
do Distrito Federal.

De toda forma, os instrumentos de ordenamento territorial serão


melhor explicados posteriormente, em um item próprio.

3. Etapas do planejamento ambiental urbano

Segundo Santos (2004), planejamento é:

Um processo contínuo que envolve a coleta, organização e análises


sistematizadas das informações, por meio de procedimentos e métodos,
para chegar a decisões ou a escolhas acerca das melhores alternativas
para o aproveitamento dos recursos disponíveis. (SANTOS, 2004, p. 24)

O planejamento ambiental urbano é realizado em etapas, dada a sua


complexidade e conflito de interesses, já informadas anteriormente.

Segundo Duarte (2012), o planejamento ambiental urbano ocorre


em quatro etapas: diagnóstico, prognóstico, propostas e
implementação. De forma a consolidar o entendimento acerca das
etapas, segue a Figura 1 demonstrando o fluxograma das etapas
referidas:

23
Figura 1 – Fluxograma das etapas de planejamento ambiental
urbano

Fonte: elaborada pelo autor.

O diagnóstico de um território, compreende a composição do cenário


existente, considerando-se os dados disponíveis ou que possam ser
coletados acerca da cidade e munícipes. Cabe exemplificar aqui o perfil
populacional, a geomorfologia e relevo da região, áreas de risco de
desabamento e deslizamento, mobiliário urbano, paisagismo, áreas
de proteção ambiental, entre muitos outros levantamentos possíveis
de uma determinada localidade. À junção destes levantamentos,
deve compor um relatório unificado denominado inventário, e tais

24
informações ajudarão no desenvolvimento do planejamento ambiental-
urbano.

A etapa de diagnóstico deverá ser correlata aos objetivos e metas que


se pretende alcançar, do ponto de vista de planejamento. Por exemplo,
caso um gestor pretenda ampliar as vias de uma cidade, será necessário
diagnosticar a quantidade já existente, os tipos de vias e rodovias que
servem ao município, as vias não pavimentadas e as asfaltadas, as
áreas passíveis de implantação de novas vias, as áreas de preservação e
unidades de conservação que circundam tais áreas etc. Dessa maneira,
o diagnóstico necessita ser muito bem elaborado para que as demais
etapas sejam frutíferas, visto que é a base das demais.

Cabe ressaltar que a etapa de diagnóstico ambiental deverá seguir


a mesma escala espacial estabelecida nas metas e objetivos iniciais
do planejamento ambiental urbano. Portanto, caso a escala do
planejamento seja setorial, deverão ser inventariadas as informações
prévias urbanísticas do bairro a ser planejado ou adequado. Em caso de
políticas públicas de planejamento local, deverão ser consideradas as
informações obtidas em nível municipal.

Considerando-se a escala de trabalho regional, deverão ser


inventariadas todas as informações de interesse nos municípios que
serão contemplados pelo planejamento ambiental urbano pretendido.

A etapa de prognóstico apresenta as possibilidades de crescimento


em determinadas áreas visando à composição de um cenário futuro.
Ressalta-se, no entanto, que esse embasamento deva ser realizado
de maneira técnica, considerando-se indicadores de crescimento
comprovados ou aceitos pela comunidade técnica e científica, de acordo
com Duarte (2012).

Visto que a cidade é compreendida como um organismo vivo que


evolui, e que possui uma dinâmica de crescimento e evolução própria,

25
essa etapa é de suma importância para o estabelecimento de políticas
públicas voltadas ao planejamento ambiental urbano. Faz-se necessário
considerar as potencialidades relativas ao desenvolvimento urbano
em todas as esferas, com vistas a subsidiar tomadas de decisão mais
acertadas pelos gestores públicos e que sejam mais sustentáveis, tanto
quanto duráveis.

A próxima etapa trata-se da elaboração de propostas, que


compreendem a possibilidade de melhoria ou potencialização do
planejamento ambiental urbano considerando-se o prognóstico
apresentado previamente. Nessa etapa, são apresentadas propostas de
conformações espaciais, implantações e políticas públicas urbanísticas
considerando-se o que a cidade poderá tornar-se. Não obstante, as
propostas deverão ser baseadas em como a cidade se apresenta e como
se presume que ela será, ou seja, fazendo uma compilação entre as
etapas de diagnóstico e prognóstico.

Quanto à etapa de implementação, esta se refere à execução das


propostas consideradas mais acertadas para o planejamento ambiental
urbano, conforme a tomada de decisão dos gestores. Todas as
intervenções urbanísticas serão propostas baseado nessa escolha, ou
seja, capacidade demográfica, capacidades urbanísticas, implantação de
saneamento e tantas outras situações aderentes ao urbanismo serão
sempre baseadas nas propostas escolhidas.

A etapa de implementação não contempla somente a realização de


obras de melhoria, definição de políticas públicas relativas ao território,
mas também a manutenção da qualidade ambiental e urbanísticas
dos setores da cidade. Erroneamente, muitos gestores públicos não
consideram a mesma importância na manutenção dos espaços públicos,
gerando áreas abandonadas ou sem revitalização, o que é um equívoco.
A cidade sempre evolui e cresce, e é de suma importância que a maior
parte dos espaços possíveis, mantendo sua função social e econômica.

26
Por fim, é importante ressaltar que as atividades de planejamento
ambiental urbano são previstas pelo Poder Público, assim como
este também realiza a fiscalização da ocupação do território.
Consequentemente, prioriza-se contemplar as propostas nas leis
orçamentárias do município ou Estado e, assim, esses projetos devem
levar em conta a viabilidade econômica financeira para sua implantação.

4. Estatuto das cidades e instrumentos de


gestão do território

Os instrumentos da política urbana e suas principais diretrizes foram


instituídas na Lei nº 10.257 de 10 de julho de 2001, a conhecidamente
denominada Estatuto das Cidades. De acordo com essa legislação,
o objetivo principal da política urbana brasileira é ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade
urbana. Segundo a legislação, o ordenamento territorial deverá regular o
uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do
bem-estar dos cidadãos, objetivando o equilíbrio ambiental.

O Estatuto das Cidades prevê a realização de diversas regulamentações


realizadas pelo Poder Público, a nível municipal, voltados à atender
às demandas urbanas, são eles: (i) Plano Diretor; (ii) Lei de uso e da
ocupação do solo; (iii) Zoneamento ambiental; (iv) Plano plurianual; (v)
Diretrizes orçamentárias e orçamento anual; (vi) Gestão orçamentária
participativa; (vii) Planos, programas e projetos setoriais (BRASIL, 2008).

Na Lei nº 10.257 de 10 de julho de 2001, de forma a possibilitar a


atuação governamental sobre o território, é delimitada a possibilidade
de instituição de tributos relacionados ao uso do espaço urbano, os
quais deverão ser convertidos em serviços públicos para a população
das cidades. Em seu art. 4, inciso IV (BRASIL, 2001), são definidos os

27
institutos tributários e financeiros. Para o efeito desta lei, temos os
institutos tributários e financeiros, entre eles a implementação do
imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana (IPTU).

Outras intervenções importantes para a atuação do poder do Estado na


cidade são apresentadas por essa legislação, principalmente em relação
às intervenções de fiscalização e repressão em caso de irregularidade
do uso e ocupação do solo. Ressalta-se, nesse caso, (i) a desapropriação;
(ii) o tombamento de imóveis ou de mobiliário urbano; (iii) usucapião
especial de imóvel urbano; (iv) a instituição de unidades de conservação;
(v) operações urbanas consorciadas; (vi) parcelamento, edificação ou
utilização compulsórios; e (vi) regularização fundiária (BRASIL, 2001).

Desapropriação consiste na retomada do imóvel urbano por parte


do Estado, em caso de não utilização por seu proprietário por
parcelamento, edificação ou utilização, decorridos 5 (cinco) anos da
cobrança do IPTU.

Tombamento de imóveis ou mobiliário urbano é o instrumento de


reconhecimento e proteção do patrimônio cultural brasileiro, e pode ser
feito em qualquer esfera administrativa. Cabe ressaltar ainda, que foi
instituído na esfera federal pelo Decreto-Lei nº 25, de 30 de novembro
de 1937 (BRASIL, 1937). Conceitualmente, o tombamento dos imóveis
urbanos é atribuído aos imóveis ou monumentos urbanos que figuram
como um testemunho cultural, social, religioso ou arquitetônico da
sociedade e, portanto, precisam ser conservados e preservados para a
posteridade.

Usucapião especial de imóvel urbano trata-se da apropriação obtida


por ocupante de imóvel urbano, por utilizar um imóvel privado antes
propriedade de outra pessoa. Porém, há diversas condições mínimas

28
para que a usucapião se consolide como: o ocupante não possuir
propriedade de qualquer outro imóvel; o imóvel poderá ter somente a
área inferior ou igual a 250 m2; a ocupação ser realizada somente para
moradia e de forma ininterrupta por período de 5 (cinco) anos; que
não tenha havido interposto ou solicitação de retomada de posse pelo
possuidor inicial.

A instituição de unidades de conservação é regida pela Lei Federal


nº 9.985, de 18 de julho de 2000, a qual conceitua as áreas destinadas
como:

Espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas


jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído
pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob
regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas
de proteção (BRASIL, 2000).

Portanto, todas as áreas urbanas destinadas à manutenção da qualidade


ambiental, manutenção da biodiversidade e de campos de pesquisas
futuras, deverão ser instituídas por lei e ser de responsabilidade
municipal, estadual ou da União (em relação à fiscalização, manutenção
e definição de usos e planos de manejo).

A operação urbana consorciada é o conjunto de intervenções e


medidas coordenadas pelo Poder Público municipal, com a participação
dos proprietários, moradores, usuários permanentes e investidores
privados, com o objetivo de alcançar em uma área transformações
urbanísticas estruturais, melhorias sociais e a valorização ambiental. Ou
seja, é a junção do poder público à iniciativa para delimitação de áreas
destinadas à melhoria da cidade.

29
O parcelamento, edificação ou utilização compulsórios são leis
municipais que preveem a inclusão de uma área no plano diretor para a
obrigatoriedade de ocupar o solo urbano não edificado, subutilizado ou
não utilizado. Cabe ao poder público municipal estabelecer as condições
e os prazos para implementação desta obrigação.

Conclui-se, portanto, que tais instrumentos urbanísticos são


fundamentais para a potencialização da ocupação e gestão urbana,
evitando a especulação imobiliária, a existência de vazios urbanos e
subutilização de áreas.

5. Planos diretores

Os Planos Diretores são instrumentos legais, instituídos pelo Estatuto


das Cidades. Obrigatoriamente, os governos municipais devem
estabelecer seus planos diretores e revisá-los a cada 10 (dez) anos.

Tal obrigatoriedade se justifica pela dinâmica populacional e de


ocupação do território municipal, o qual demanda fiscalização e
planejamento ambiental urbano constantes. Segundo o Ministério de
Desenvolvimento Regional (BRASIL, 2019), o Plano Diretor necessita ser
compactuado pelos diversos setores da sociedade, considerando os
interesses sociais, econômicos e territoriais dos municípios.

A função principal desses planos é organizar, direcionar e estabelecer


regras para a ocupação e o funcionamento do território municipal nos
próximos 10 (dez) anos. Observe que as zonas são simbolizadas por
cores e possuem suas atividades possíveis definidas anteriormente à
implantação de novos empreendimentos. A Figura 2 ilustra um exemplo
de realização de um Plano Diretor.

30
Figura 2 – Zoneamento do Complexo Portuário Governador Erado
Gueiros

Fonte: Silva et al. (2012).

6. Zoneamento ecológico econômico (ZEE)

O zoneamento ecológico econômico (ZEE) é o instrumento presente


na Política Nacional do Meio Ambiente, por meio do Decreto nº
4297/2002, que cria as zonas econômicas de um determinado
território considerando a caracterização ambiental. Dessa forma, esses
instrumentos estabelecem os melhores usos econômicos para cada
área, considerando suas potencialidades e atributos naturais (BRASIL,
2002).

Os ZEE podem ser elaborados em diversas escalas e, atualmente,


têm sido elaborados por municípios, Estados e o Distrito Federal. O
diagnóstico dos meios físico, socioeconômico, jurídico-institucional e
de cenários futuros de exploração do território são as bases para esses
instrumentos de sustentabilidade.

31
Ressalta-se que as áreas protegidas ou que contam com algum tipo
de fragilidade ambiental serão privadas de ocupação territorial,
sendo mantidas em seu estado natural ou atual de qualidade
ambiental, segundo a data de criação das áreas de preservação ou de
estabelecimento do zoneamento ecológico econômico.

7. Gestão de bacias hidrográficas

Dentro do cenário brasileiro de planejamento ambiental urbano e


seus instrumentos, a unidade de planejamento basal é a unidade
hidrográfica. Tal unidade também é a unidade territorial para gestão dos
recursos hídricos brasileiros.

De forma a minimizar os conflitos territoriais pelo uso da água, foram


criados os comitês de bacia. Tal organização é composta por diversos
representantes da sociedade civil organizada, órgãos públicos e
organização não governamentais. Essa organização é consultada acerca
das medidas propostas pelo Poder Público para a gestão, categorização
e manutenção dos recursos hídricos.

A criação dos comitês de bacias hidrográficas ocorreu por meio da Lei nº


9433 de 08 de janeiro de 1997 (BRASIL, 1997), a qual instituiu a Política
Nacional de Recursos Hídricos. A mesma legislação institucionaliza ainda
o Sistema de Gerenciamento de Recursos Hídricos brasileira.

Portanto, todas as ações relativas ao planejamento ambiental urbano,


devem ser consultadas ao comitê de bacias hidrográficas responsável
pelos recursos hídricos correlatos na escala de planejamento
pretendida.

Segundo a legislação referida, a água deve ser usada para os mais


variados fins possíveis, priorizando-se a dessedentação animal e
humana, acima das demais. Da mesma forma, os empreendedores não

32
podem captar volumes superiores à capacidade de um determinado
corpo hídrico. Os recursos hídricos ainda devem ter quantidade e
qualidade necessárias para depurar efluentes de esgotamento sanitário
e industrial, após tratamento, assim como receber as águas pluviais de
uma dada região.

Referências Bibliográficas
BRASIL. Decreto nº 4.297, de 10 de julho de 2002. Regulamenta e institucionaliza
critérios para o Zoneamento ecológico econômico. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4297.htm. Acesso em: 2 mar. 2020.
BRASIL. Decreto-Lei nº25, de 30 de novembro de 1937. Organiza a proteção do
patrimônio histórico e artístico nacional. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/decreto-lei/del0025.htm. Acesso em: 20 fev. 2020.
BRASIL. Senado Federal. Lei Federal nº 10.257 de 10 de Julho de 2001. Estatuto
da Cidade. Regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, estabelece
diretrizes gerais da política urbana e dá outras providências. Disponível em:
https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/70317/000070317.
pdf?sequence=6%20Calizaya. Acesso em: 20 fev. 2020.
BRASIL. Presidência da República. Lei Federal Nº 9.985, de 18 de julho de
2000. Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal,
institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá outras
providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9985.htm.
Acesso em: 20 fev. 2020.
BRASIL. Presidência da República. Lei nº 94.33 de 08 de janeiro de 1997. Institui a
Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento
de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal,
e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei nº
7.990, de 28 de dezembro de 1989. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/LEIS/L9433.htm. Acesso em: 19 mar. 2020.
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Regional. Guia para elaboração
e revisão dos Planos Diretores. Brasília, 2019. Disponível em:
http://www.capacidades.gov.br/biblioteca/detalhar/id/368/titulo/
guia+para+elaboracao+e+revisao+de+planos+diretores. Acesso em: 2 mar. 2020.
DUARTE, F. Planejamento urbano. Curitiba: Intersaberes, 2012.
PEREIRA, E. M. et al. Planejamento urbano no Brasil: conceitos, diálogos e práticas.
2. ed. Chapecó: Argos, 2013.

33
SANTOS, R. F. dos. Planejamento ambiental: teoria e prática. São Paulo: Oficina de
Textos, 2004.
DISTRITO FEDERAL. SEDUH – Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e
Habitação do Distrito Federal. Plano Diretor de Ordenamento Territorial Urbano
– PDOT. Disponível em: http://www.seduh.df.gov.br/plano-diretor-de-ordenamento-
territorial/. Acesso em: 2 mar. 2020.
SILVA, A. M. da; SILVA, L. C. da; SILVA, L.M da. Um estudo dos impactos ambientais
pela implantação de refinaria do petróleo. Congresso Brasileiro de Cadastro
Técnico Multifinalitário – UFSC. Florianópolis, 2012.

34
Indicadores ambientais,
planejamento e políticas públicas
Autoria: Ana Beatriz Ulhoa Cobalchini
Leitura crítica: Cristiane Ronchi de Oliveira

Objetivos
• Apresentar os indicadores ambientais em que o
planejamento ambiental urbano se baseia.

• Elucidar as políticas públicas aplicáveis ao


planejamento ambiental urbano e qual sua
correlação com outras políticas públicas nacionais.

• Explicitar as premissas internacionais e nacionais de


desenvolvimento territorial urbano, objetivando a
sustentabilidade ambiental.

35
1. Indicadores ambientais relacionados ao
planejamento ambiental urbano

Os indicadores ambientais são informações ou caracterizações dos


territórios, os quais pretendem basear os processos decisórios em todos
os níveis da sociedade.

Com a utilização dos indicadores ambientais é possível ter uma visão


mais simplificada dos complexos sistemas urbanos, aliando não
somente um quantitativo palpável por meio de informações estatísticas.
Essas informações representam ou resumem tanto os recursos
ambientais disponíveis em um dado território assim como apresentam
as atividades humanas.

A nível nacional, a apresentação desses dados é realizada pelo Ministério


do Meio Ambiente (MMA) e retroalimentado pelas instituições vinculadas
a ele, também públicas. Um dos objetivos primários é buscar atender
aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) formulado pela
Organização das Nações Unidas (ONU), a qual subsidia as obrigações
dos Estados junto aos acordos internacionais vigentes. Os indicadores
ambientais têm, ainda, o objetivo de subsidiar o estabelecimento
das políticas públicas e tomada de decisão dos gestores públicos e
sociedade, de maneira geral (BRASIL, 2017).

A seguir, serão citados os principais indicadores ambientais e suas


influências nas políticas públicas territoriais.

1.1 Área de floresta pública com uso comunitário

A entidade responsável pela manutenção e obtenção desses dados é o


Serviço Florestal Brasileiro com periodicidade anual – apresentado em
hectares. Esse indicador registra a área de florestas (sejam elas naturais
ou plantadas) destinadas à utilização pelas populações ou comunidades

36
tradicionais. É de extrema importância para as políticas voltadas às
comunidades quilombolas, pastores, pescadores e povos indígenas que
fazem uso dessas áreas para subsistência.

O Objetivo do Desenvolvimento Sustentável relacionado a esse indicador


é o número 2 (acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e
a melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável). A meta
para que os países alcancem essa marca é até 2023, e de dobrar a
produtividade agrícola dessas populações (BRASIL, 2017).

Considerando os dados divulgados pelo Cadastro Nacional de


Florestas Públicas (BRASIL, 2017), divulgado no ano de 2016, registrou-
se aproximadamente 157.242.311,00 hectares de Florestas públicas
comunitárias no Brasil.

1.2 Área de florestas públicas

A entidade responsável por apresentar os dados atualizados com


periodicidade anual também se trata do Serviço Florestal Nacional,
também apresentado em hectares.

Esse indicador pretende apresentar a quantidade de área territorial


destinada à preservação dos ambientes florestais, os quais trazem
garantia de ambiente saudável para as futuras gerações e obtenção
de produtos florestais com segurança. Por último, porém não menos
importante, a manutenção desses ambientes propicia a preservação
das espécies florestais com um banco genético de biodiversidade para
pesquisas futuras.

O Objetivo do Desenvolvimento Sustentável a ser atingido aqui trata-se


do ODS 15 que diz:

Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas


terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a

37
desertificação, deter e reverter a degradação ambiental da terra e deter a
perda da biodiversidade. (BRASIL, 2017)

A meta estipulada para esse ODS se finda em 2020 e trata-se de:

Garantir a conservação, recuperação e o uso sustentável de ecossistemas


terrestres e de água doce interiores e seus serviços, em especial, florestas,
zonas úmidas, montanhas e terras áridas, em conformidade com as
obrigações dos acordos internacionais. (BRASIL, 2017)

Esse indicador apresentou crescimento significativo até o ano de 2016,


ocasionado pela destinação de terras públicas para esse fim, propiciado
pela execução de um programa institucional nacional chamado Terra
Legal. Após esse período, segundo dados apresentados pelo MMA
(BRASIL, 2017), houve uma estabilização dos valores em torno de 310
milhões de hectares de Florestas públicas em todo o território nacional.

1.3 Cobertura do território brasileiro com diretrizes de


uso e ocupação em bases sustentáveis, definidas por
meio do ZEE

Esse indicador apresenta o percentual do território nacional que respeita


e possui iniciativas de zoneamento ecológico econômico, considerando
as federais ou estaduais. A apresentação dos dados, assim como sua
atualização, é realizada pela Secretaria de Recursos Hídricos e Qualidade
Ambiental (SRHQ) com periodicidade anual. Os dados são apresentados
em porcentagem (%). As atualizações são repassadas pelos órgãos
setoriais, de forma a possibilitar o quantitativo nacional a ser divulgado
pelo MMA.

O Objetivo do Desenvolvimento Sustentável que apresenta correlação


com esse indicador ambiental é o ODS 15, assim como o indicador de
áreas de florestas públicas. O dado apresentado é importantíssimo para
apresentar o sucesso desse instrumento urbanístico ambiental, visto

38
que em 2017 registrou-se que 84,89% do território nacional possuía
iniciativas concluídas de acordo com o zoneamento ecológico econômico
previamente instituído (BRASIL, 2017).

1.4 Outros indicadores ambientais

Há diversos outros indicadores ambientais que apresentam importantes


políticas acerca da gestão ambiental do território, conforme
apresentado pelo Ministério do Meio Ambiente (BRASIL, 2017) e que são
apresentados resumidamente a seguir:

• Destinação adequada de pneus inservíveis no Brasil: coletados


pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais
Renováveis (IBAMA). Apresentou um saldo de destinação de
97,45% da meta prevista de destinação cumprida, em toneladas
de pneus inservíveis. O ODS 12 é o alvo de cumprimento deste
indicador.

• Espécies da fauna e flora ameaçadas de extinção com planos


de ação nacional para conservação das espécies ameaçadas
de extinção: tal indicador visa verificar as espécies da fauna
ameaçadas de extinção e os planos nacionais correlatos a essas.
O objetivo maior é contabilizar os esforços realizados para
preservação das espécies ameaçadas, considerando o território
nacional. O indicador é apresentado por números de espécies que
possuem plano de preservação em território nacional. Os dados
são coletados pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMBio).

• Índice de efetividade de gestão das unidades de conservação


federais: esse indicador prevê apresentar uma avaliação quanto
ao desempenho das políticas públicas de unidades de conservação
federais, sendo apresentado pelo ICMBio. Visa, ainda, servir de
subsídio para a tomada de decisão e aproximar a sociedade da

39
gestão das unidades de conservação. Em 2016, o dado apontou
para uma efetividade de 47,74% das UCs federais.

• Número de ações de fiscalização executadas nas unidades de


conservação federais: tal indicador visa apresentar a atuação
fiscalizatória dos órgãos de controle na manutenção das áreas
protegidas e, de maneira indireta, no ordenamento territorial
urbano. Considera a verificação em unidades de conservação
federais sob gestão direta do ICMBio. Em 2016, foram planejadas
1.111 ações fiscalizatórias e efetuadas 497.

• Percentual de alcance da meta estabelecida de coleta de


óleos lubrificantes usados ou contaminados (OLUC) no
Brasil: esse indicador apresenta o percentual de alcance da
meta estabelecida para a correta destinação dos óleos usados
ou contaminados. A importância desse indicador é relacionada à
gestão dos resíduos e demonstra, de maneira indireta, a redução
do risco de poluição dos solos e recursos hídricos por esse tipo de
agente contaminante. Os dados são obtidos por meio do relatório
de coleta de óleo lubrificante usado e contaminado obtido pelo
MMA. A meta de destinação para o ano de 2016 era de 38,90% do
material gerado, e esta foi superada ocasionando um percentual
de 39,74%.

• Percentual do território brasileiro coberto por Unidades de


Conservação: tal indicador apresenta a porcentagem do território
nacional que é destinado à conservação, baseando-se em dados
obtidos pela Secretaria Nacional de Biodiversidade. A verificação
é anual e segregada por tipo de bioma brasileiro. Os percentuais
apresentados foram em torno de 27% em bioma Amazônia,
aproximadamente 7% no bioma Caatinga, 8% no Cerrado e 9%
em Mata Atlântica, enquanto 8% restantes situavam-se nos

40
biomas Pampa, Pantanal e área marinha protegida. Apresentou-se
aumento, se comparado a 2015, em todos os biomas.

• Proporção da área marinha brasileira coberta por unidades


de conservação da natureza: a meta estipulada pela ODS 14 é
conservar pelo menos 10% das zonas costeiras e marinhas, esse
indicador é de extrema valia para análise das políticas públicas
relacionadas à conservação marinha. Os dados apresentados
são atualizados anualmente pelo MMA e somente 1,5% da área
costeira ou marinha era protegida por unidades de conservação.
Tal dado é extremamente preocupante e aponta a necessidade de
implementação de ações incisivas nesse quesito, visto que a meta
da ODS deverá ser cumprida até o ano de 2020 e muito distante de
sua efetivação.

• Reservação de água doce: preconiza disponibilizar


informações e monitorar a situação do abastecimento em
reservatórios por todo o país, sendo subsidiado pela Agência
Nacional de Águas (ANA) de forma anual. O ODS 6 preconiza
assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e o
saneamento para todos. Em 2016, o percentual de 55,90% era
reservado em relação ao quantitativo total de reservatórios.
Coincidentemente, apesar de ter sido um ano de escassez
hídrica em diversas regiões do país, houve um aumento em
relação aos dois anos anteriores (2014 e 2015).

2. Políticas públicas urbanas

As políticas públicas urbanas devem, além de respeitar e visar


ao atendimento aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável,

41
estabelecidos pela ONU, atender as demandas da sociedade fornecendo
serviços públicos de qualidade e eficiência.

São consideradas para tal fim a implantação, manutenção e substituição


de redes e dispositivos de saneamento ambiental (abastecimento de
água, esgotamento sanitário, coleta e disposição de resíduos sólidos),
captação e distribuição de energia e, de acordo com Duarte (2012), a
mobilidade urbana e transporte viário.

2.1 Saneamento ambiental

Sabendo-se que o saneamento ambiental contempla quatro macro


áreas de atuação, quais sejam: abastecimento de água, esgotamento
sanitário, manejo das águas pluviais e coleta e destinação dos
resíduos sólidos urbanos, conforme apresentado pela Figura 1.

Figura 1 – Simbologia das áreas estruturais do saneamento


ambiental

Fonte: Portal Trata Bem (2018).

Cada macroárea deverá ser tratada separadamente devido sua


importância e complexidade, conforme apresentado na Figura 1.
Cabe, no entanto, informar que não é pretendido encerrar todas as

42
informações sobre cada tema, visto que são extremamente amplos e
essenciais para o planejamento ambiental urbano.

2.1.1 Abastecimento de água

O abastecimento de água de uma população é de vital importância


para a manutenção da qualidade ambiental, assim como das atividades
econômicas, humanas e sociais. A água é um fator preponderante para a
sobrevivência da população humana e da biodiversidade.

Para que seja possível captar, tratar e distribuir água potável para a
população, é necessário que haja mananciais disponíveis para tal fim,
os quais devem ter qualidade e quantidade suficientes para manter sua
função ecológica e prover o abastecimento humano.

Há uma hierarquização de usos para os recursos hídricos, estabelecida


na Política Nacional de Recursos Hídricos, a qual sintetiza que a
prioridade será dada à dessedentação animal e humana, antes
de qualquer outro tipo de uso. Acima de tudo é necessário que
haja a conservação das áreas que possam interferir na qualidade
ou quantidade de água disponíveis nos reservatórios, sejam eles
naturais ou artificiais, evitando, assim, a escassez hídrica que tem sido
evidenciada em alguns locais nos últimos anos.

Para tanto, é necessário implementar propostas de conservação ou


recuperação de mananciais, as quais devem priorizar o esgotamento
sanitário, a coleta e destino corretos dos resíduos, a diminuição do
uso de pesticidas e fertilizantes agrícolas e regulação do uso do solo.
Para possibilitar o cumprimento das premissas de conservação citadas
anteriormente, diversos instrumentos legais subsidiam ações por parte
do Poder Público, podendo-se citar os planos diretores, o zoneamento
ecológico econômico, o Código Florestal, a Lei de Crimes Ambientais,
entre outros (PHILLIPI JR et al., 2005, p. 125).

43
Os mananciais podem ser superficiais ou subterrâneos. Os
denominados superficiais são os córregos, rios, lagos, represas e
qualquer outro que esteja situado na superfície. A água coletada desses
mananciais precisa passar por prévio tratamento para atingir os teores
de qualidade da água para abastecimento, preconizados na Portaria do
Ministério da Saúde nº 2.914, de 12 de dezembro de 2011 (BRASIL, 2011).

Quanto aos mananciais subterrâneos, estes compreendem o lençol


freático e o aquífero. A água coletada nesses mananciais geralmente
não precisa de intervenções massivas de tratamento, pois a qualidade
da água é mantida devido à dificuldade de obtenção desse insumo.
Os poços artesianos costumam apresentar profundidade mínima de
perfuração de 25 metros.

Em relação aos mananciais superficiais, estes necessitam contar com


uma rede de captação de água, reservação, de tratamento e distribuição.
As obras de abastecimento de água tendem a ser cada vez mais
onerosas, visto que os mananciais têm estado cada vez mais distantes,
pois os mais próximos das aglomerações urbanas tendem a estar
poluídos ou não ter quantidade suficiente para atender a população.

Dessa forma, há grande interferência das políticas de preservação das


áreas protegidas e áreas de proteção permanente para a manutenção
dos mananciais destinados ao abastecimento humano. Visto que os
taludes dos rios e outros mananciais devem ser mantidos sem ocupação
humana e vegetados, evitando, assim, processos erosivos, assoreamento
e poluição das águas.

2.1.2 Esgotamento sanitário

O esgotamento sanitário contempla a coleta, tratamento e destinação


dos efluentes em mananciais. Cabe ressaltar que tais medidas são
essenciais para a manutenção da qualidade ambiental das cidades, visto

44
que a disposição de esgotos domésticos ou industriais não tratados
ocasiona a poluição dos solos, água superficial e profunda.

As redes de esgotamento sanitário, por sua vez, necessitam de


manutenção constante, com vistas a diminuir o risco de extravasamento
do esgoto. Tais ocorrências podem ocasionar a poluição dos mananciais
próximos e do solo.

O fluxograma do esgotamento sanitário contempla a coleta das


residências e outros estabelecimentos, o transporte do material pelas
redes de esgotamento (contando com a ação da gravidade ou de
estações elevatórias), passando para a Estação de Tratamento de Esgoto
(ETEs). Quando o efluente estiver com condições mínimas de qualidade
após o tratamento, seus efluentes serão destinados ao corpo hídrico
receptor.

Ressalta-se, também, a importância da eficiência nos tratamentos de


esgotos de forma a possibilitar a manutenção da qualidade da água
do corpo receptor. Caso esta não seja atingida e ocorra o lançamento
no manancial, haverá risco de contaminação e poluição hídrica.
Relembrando que os corpos hídricos são utilizados para diferentes fins
e, portanto, precisam ser mantidas suas características ideais para o
abastecimento humano e animal.

2.1.3 Manejo de águas pluviais

As políticas públicas de manejo das águas da chuva, denominadas de


águas pluviais, devem priorizar a correta disposição em mananciais
ou por bacias de detenção. A principal função das redes coletoras de
água pluvial é garantir a disposição do escoamento superficial com a
menor energia possível, ou seja, evitando que ocorram deslizamentos,
processos erosivos e assoreamento dos corpos hídricos receptores.

45
As redes de drenagem pluvial necessitam promover a correta disposição
das águas pluviais para que seja mantida a qualidade e quantidade dos
mananciais, visto que a ação destrutiva das águas da chuva ocasiona
estragos no decorrer de sua trajetória, quando não condicionadas.

Ressalta-se, ainda, que a impermeabilização das áreas urbanas tem


potencializado o caráter agressivo das chuvas, visto que as superfícies de
infiltração da água pelo solo têm diminuído consideravelmente.

Um dos quesitos apresentados em grande parte dos planos diretores


trata-se do índice de permeabilidade, o qual é delimitado pelos órgãos
de controle do desenvolvimento urbano. Essa obrigatoriedade de
manutenção de áreas sem pavimentação dentro dos lotes urbanos visa
manter o escoamento por infiltração nos lotes urbanos.

2.1.4 Coleta e destinação de resíduos sólidos urbanos

O serviço de coleta de resíduos sólidos urbanos é de extrema


importância para a qualidade ambiental do território, visto que garante a
destinação correta e diminui a propagação da poluição hídrica, do solo e
atmosférica ocasionada pelos resíduos urbanos.

Cabe ressaltar que essas políticas estruturantes necessitam ser


apresentadas e alcançadas quando da implantação de novos núcleos
urbanos, visto seu potencial poluidor.

2.2 Transporte e mobilidade urbana

As vias internas e externas de uma cidade têm substancial importância


para as atividades humanas, assim como para a sustentabilidade. Caso o
sistema de transporte viário e público seja eficiente haverá uma pressão
menor sobre o uso individual de transporte, aumento da vida útil das
vias e diminuição da necessidade de ampliação das vias existentes.

46
Do ponto de vista ambiental, a área de transporte e mobilidade urbana
tem se apresentado como um desafio às cidades brasileiras, visto
que os engarrafamentos são uma constante queixa apresentada pela
população.

O aumento da densidade demográfica e a especulação imobiliária são


consideradas vilãs com relação às políticas de transporte. Para tanto, é
necessário explicar tais fatores de forma separada.

A densidade demográfica é um indicador de ocupação humana do


território e é medido em hab./km2. O aumento desse indicador tem
sido verificado em muitas cidades brasileiras e, principalmente, nas
megalópoles e metrópoles. Caso a população aumente muito, a
demanda por imóveis para habitação aumenta bastante, ora, visto
que há mais pessoas procurando imóveis nas áreas centrais esses
imóveis tendem a encarecer sua locação ou venda. Dessa maneira, a
especulação imobiliária ocorre. Por fim, as pessoas com menor poder
aquisitivo são arrastadas para as áreas mais distantes, denominadas
periferias.

Verificando a necessidade de promover o transporte dos trabalhadores


dessas áreas mais distantes, há uma demanda por ampliação das vias
de acesso às áreas centrais.

Sendo assim, as políticas urbanas de melhoria do transporte público são


de extrema importância para a melhoria da qualidade ambiental das
cidades.

2.3 Obtenção e distribuição de energia

A obtenção de energia é de fundamental importância para a


manutenção das atividades sociais e para a manutenção do
funcionamento dos municípios. Dessa forma, as políticas públicas de

47
obtenção e distribuição necessitam ser eficazes, a fim de manter as
atividades econômicas e produtivas da cidade.

Dessa forma, há diversas matrizes energéticas que podem culminar na


obtenção de energia para a população, são elas: elétrica, eólica, nuclear,
biomassa, entre outras.

A energia elétrica é a matriz energética mais comum no Brasil, e


contempla a retirada de corrente elétrica por meio de turbinas,
geralmente localizadas em quedas d’água.

Com relação à energia nuclear, esta é obtida por meio da quebra


de isótopos radioativos, acontecimento este que libera uma grande
quantidade de energia. Esse tipo de obtenção é bastante raro no Brasil,
visto a dificuldade de manejo da tecnologia, seu risco inerente, assim
como não há tanta demanda por energia nuclear, visto que o país possui
muitos recursos hídricos com capacidade de captação.

Quanto à energia eólica, esta também é captada por meio de turbinas


que são movidas pelos ventos. A região brasileira que apresenta grande
potencial energético para esse tipo de matriz é a Região Nordeste,
em razão das grandes extensões de litoral e da velocidade dos ventos
ocorrida, principalmente, nos Estados da Paraíba e Rio Grande do Norte.

Por fim, a biomassa é a matriz que necessita da queima de compostos


orgânicos, gerando energia durante este processo. Essa matriz
energética ainda é pouco difundida no país, apesar de haver grande
potencial de implantação, visto que somos um país extremamente
agrícola, e as plantas capazes de fornecer esse insumo são comuns.

A forma de distribuição da energia elétrica é dada de maneira


semelhante, independente do modal de obtenção. A corrente é
transmitida por meio de redes de alta tensão, decaídas por subestações
de energia até que atinja a voltagem constante nas redes domésticas.

48
3. Considerações finais

As políticas públicas de infraestrutura são intervenientes ao


planejamento ambiental urbano. Portanto, sendo de extrema
importância que os instrumentos legais e urbanísticos possuam
consonância entre si e as políticas públicas urbanas não desconsiderem
suas premissas.

Caso as políticas públicas urbanas estejam de acordo com as restrições


impostas pelo ambiente, haverá considerável diminuição da incidência
de riscos de desastres ambientais, processos erosivos, diminuição da
qualidade ambiental e outras avenças.

Por fim, salienta-se a importância da transparência quanto aos


diagnósticos ambientais, assim como os indicadores para que os
gestores e tomadores de decisões possam fazer intervenções mais
assertivas no ambiente urbano.

Referências Bibliográficas
BRASIL. Decreto nº 4.297, de 10 de julho de 2002. Regulamenta e institucionaliza
critérios para o Zoneamento ecológico econômico. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4297.htm. Acesso em 02 mar. 2020.
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria Ministério da Saúde nº 2.914, de 12 de
dezembro de 2011. Dispõe sobre os procedimentos de controle e de vigilância da
qualidade da água para consumo humano e seu padrão de potabilidade. Disponível
em: http://site.sabesp.com.br/uploads/file/asabesp_doctos/kit_arsesp_portaria2914.
pdf. Acesso em: 4 mar. 2020.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Indicadores ambientais. 2017.
Disponível em: https://www.mma.gov.br/images/arquivos/Informacoes_
ambientais/ListaDeIndicadores/area_de_FP_com_uso_comunitario/FS_SFB_
AreaFPUsoComunitario.pdf. Acesso em: 04 mar. 2020.
DOS REIS, L. B; FADIGAS, E. A. A; CARVALHO, C. E. Energia, recursos naturais e a
prática do desenvolvimento sustentável. Barueri: Manole, 2005.

49
DUARTE, F. Planejamento urbano. Curitiba: Intersaberes, 2012.
PHILLIPI JR, A. et al. Saneamento, saúde e meio ambiente: fundamentos para um
desenvolvimento sustentável. Barueri: Manole, 2005.
PORTAL TRATA BRASIL. Saneamento e desenvolvimento humano no mundo – o
acesso à água e esgoto. Portal Trata Brasil, [s.l.], 29 de agosto de 2018. Disponível
em: http://www.tratabrasil.org.br/blog/2018/08/29/saneamento-e-desenvolvimento-
humano-no-mundo-o-acesso-a-agua-e-esgoto/. Acesso em: 19 mar. 2020.

50
Cidades inteligentes e
sustentáveis no Brasil e no mundo
Autoria: Ana Beatriz Ulhoa Cobalchini
Leitura crítica: Cristiane Ronchi de Oliveira

Objetivos
• Apresentar os conceitos de cidades sustentáveis,
cidades inteligentes e pegada ecológica.

• Apresentar a realidade atual das cidades e apontar


possibilidades de melhoria.

• Apresentar estudos de caso de sucesso acerca da


mobilidade urbana, inserção de fontes alternativas
de energia, saneamento ambiental etc.

• Citar estudos de caso de cidades que já


implementam as técnicas e procedimentos de
sustentabilidade com sucesso.

51
1. Introdução

A atual realidade das cidades brasileiras e em grande parte do mundo


é de degradação ambiental, poluição, grandes congestionamentos e
queda da qualidade de vida de seus habitantes. Tendo em mente esse
cenário, os governos, sociedade e o terceiro setor tem procurado saídas
para realizar as atividades urbanas diminuindo os impactos ambientais.

Considerando-se que a causa principal para o atual cenário tem sido


a forma da comunidade humana se desenvolver extraindo recursos
naturais, produzindo resíduos e modificando os espaços naturais, de
forma desenfreada, há uma urgente necessidade de mudanças de
paradigmas e processos produtivos.

De acordo com o cenário apresentado pelo Painel Intergovernamental


de Mudanças Climáticas (IPCC), “nos próximos 100 anos as projeções
indicam massiva perda da biodiversidade, queda da produção de
alimentos, migração de populações, aumento do nível do mar e
intensificação de efeitos extremos, como desastres naturais” (ICLEI-
Brasil, 2011, p. 3). Tal cenário foi projetado considerando-se a emissão
de gases poluentes, devastação dos ambientes naturais ocasionados
principalmente pela indústria, construção civil, agricultura ostensiva e
desmatamento apresentados atualmente.

Considerando-se que a projeção de crescimento da população mundial


para 2050 é de 9,19 bilhões de pessoas, o atual sistema de crescimento
torna-se insustentável (ONU, 2020). De forma a refrear essas
expectativas nocivas, há um esforço atual em realizar alterações de
concepção energética, estrutural e de comunicação dentro das cidades,
objetivando, por último, minimizar os resíduos, poluentes e impactos
ambientais.

52
A globalização tem auxiliado na disseminação de conhecimento,
mudanças e aparato técnico, auxiliando, de forma secundária, na
propagação de casos exitosos em relação à sustentabilidade. Iniciando-
se pelo conceito de cidades sustentáveis, o qual obriga que haja
alteração benéfica dos sistemas, produção e captação de insumos com
viés de diminuir a interferência nociva da ocupação antrópicas nos
espaços urbanos.

2. Conceito de pegada ecológica

A pegada ecológica é um termo criado para quantificar a pressão das


comunidades humanas sob os recursos naturais. Ela é expressa na
unidade hectares globais (gha) e permite comparar os padrões de
consumo de países diferentes.

Assim, é possível afirmar que a pegada ecológica brasileira é de 2,9


hectares globais por habitante. Enquanto isso, a pegada ecológica global
é de 2,7 hectares globais por habitante (ONU, 2020). Dessa forma, é
extremamente importante utilizar esse conceito para que os gestores
possam almejar a melhoria da utilização dos recursos naturais dentro
da gestão, assim como tenham um índice que possam monitorar
suas intervenções e os resultados concernentes, objetivando atingir a
sustentabilidade nas cidades brasileiras.

3. O que são cidades sustentáveis e as cidades


inteligentes?

As cidades sustentáveis são aquelas em que o consumo por pessoa


é menor que nas tradicionais. Estas devem possuir um modelo de
desenvolvimento urbano que procure balancear ao máximo a entrada

53
de insumos e a saída de resíduos. Ao mesmo tempo, devem diminuir o
consumo energético, ter fontes alternativas e sustentáveis de obtenção
de energia, e, por fim, possuir qualidade de vida para a população.

Parece utópico, mas pelo mundo e até no Brasil há diversos exemplos


exitosos desse novo tipo de urbanização, mais sustentável e eficiente.

Com relação às cidades inteligentes, são aquelas que tem diversos


sistemas públicos instrumentalizados por sistemas de computação,
autônomos e robóticos, evitando gastos energéticos, utilização de
pessoal e tantas outras situações. Por exemplo, os sistemas de robótica
destinados à manutenção do tratamento de água e esgoto, os sistemas
de semaforização, sistemas de vigilância pública por câmeras, entre
tantos outros exemplos frutuosos de urbanização.

4. Perspectiva de mudança dos processos


urbanos

4.1 Diminuição dos gases de efeito estufa e uso de


fontes alternativas de energia veicular

Os países industrializados são os maiores emissores de gases de efeito


estufa do planeta. No entanto, os mercados emergentes, considerando-
se China, Índia e Brasil figuram como importantes agentes da produção
desses gases. Os poluentes são o dióxido de carbono (CO2), monóxido
de carbono (CO), compostos orgânicos voláteis (COV), dióxido de enxofre
(SO2), óxidos de azoto (NOx), partículas (PM), ozônio (O3) e o benzeno
(C6H6).

O quantitativo estipulado de emissão de gases poluentes é de 90


milhões de toneladas ao dia de dióxido de carbono (CO2), sendo a
queima de combustíveis fosseis a principal fonte de gases de efeito

54
estufa, a inclusão de fontes alternativas ou intensificação de matrizes
mais sustentáveis é a principal interferência benéfica possível nas
cidades.

Considerando-se que a obtenção de energia elétrica para substituir


os combustíveis fósseis já está se consolidando nos mercados
automobilísticos, afinal temos diversos modelos transitando nas ruas
brasileiras que trabalham com energia elétrica. Um exemplo desse tipo
de inovação é a venda em larga escala do veículo denominado Prius,
da marca japonesa Toyota. Trata-se de um modelo híbrido que utiliza
energia elétrica para consumo somente até que atinja os 60 km/h de
velocidade. No Salão do Automóvel de Frankfurt (Alemanha), em 2019,
diversas foram as marcas que lançaram modelos “verdes”, os quais
contavam com fontes de energia alternativa e priorizando a mobilidade.
Houve o lançamento de carros conceito, ou seja, aqueles que não tem
intenção de ir às ruas mas somente ser produzidos em pequena escala,
contando com hibridação e veículos 100% elétricos, conforme artigo de
Panaro (2019).

Considerando, ainda, que a transição para o álcool e o biodiesel ainda


não foi totalmente aproveitada, pode-se considerar esse processo como
atual. Há ainda muito potencial de aprimoramento ou intensificação,
principalmente no nosso país que tem uma produção importante de
álcool combustível.

As próximas modificações de matrizes energéticas seriam a implantação


de sistemas movidos a hidrogênio. Porém, ainda são incipientes, no
momento.

4.2 Mobilidade urbana

Um conceito bastante ligado à questão da emissão dos gases de efeito


estufa é a mobilidade urbana. Visto que se trata da utilização de veículos

55
e transporte da população, este item é de vital importância para a
sustentabilidade das cidades.

As questões de mobilidade urbana estão diretamente associadas ao


padrão de urbanização das cidades brasileiras, pois a distribuição das
pessoas no espaço urbano traz demandas com relação ao transporte.
Considerando que o padrão de urbanização brasileiro engloba
segregação do território, periferização da moradia e surgimento de
áreas subutilizadas nos centros urbanos ou criminalizadas, como é o
caso da Cracolândia registrada na grande São Paulo (SP).

A falta de serviços de transporte coletivo, ou seja, a ineficiência


com relação a frotas e horários de atendimento do transporte,
principalmente o rodoviário afeta a efetividade da mobilidade
urbana. Outro fator que piora essa situação trata-se da hegemonia do
transporte coletivo rodoviário, o que é a realidade da grande maioria
dos municípios brasileiros, sendo raras as implantações de transporte
metroviário, ferroviário, cicloviário e até de aluguéis coletivos de carros
e outros veículos. Essa diversidade de transporte é aplicável à algumas
capitais. Tal situação poderia ter sido evitada com a implantação gradual
de novos modais viários, concomitante ao crescimento das cidades,
porém a urbanização no Brasil e nos países sul-americanos, de forma
geral, é marcada pela falta de planejamento ambiental urbano.

Nesse contexto, é importante inserir novos modais rodoviários, de


acordo com a realidade orçamentária dos municípios. Um modal menos
oneroso para o sistema público seria o veículo leve sobre rodas (VLP),
pois trata-se de ônibus de maior capacidade e com vias exclusivas de
tráfego. A exclusividade das suas vias de rolamento, faz com que o
transporte seja mais rápido e um pouco menos impactante para o meio
ambiente, devido à diminuição do volume de gases poluentes. Ressalta-
se, ainda, que a implantação desse tipo de veículo pode ser integrada
com as rotas tradicionais de transporte rodoviário, fracionando as
viagens e rotas longas das zonas periféricas para as áreas centrais.

56
Com relação à inclusão do modal ferroviário, este tem uma vantagem
muito importante na realidade atual: possibilitar a implantação das
ferrovias nas áreas externas aos grandes centros urbanos, os quais
já contam com a maioria do espaço já ocupado por outros tipos de
construções. A saída mais acertada seria delimitar os trânsitos mais
distantes, ou seja, as rotas mais distantes para áreas de integração.
Dessa maneira, os custos seriam reduzidos e essa população não
interferiria no tráfego rodoviário, já bastante pesado e congestionado.

O transporte VLT também se encaixaria nesse quesito, por realizar seu


trajeto sob trilhos, porém, com veículos menos pesados e mais rápidos.
Essa opção de implantação é um pouco mais onerosa financeiramente
que o VLP, no entanto, permite a implantação de ferrovias menos
complexas e mais simples de serem implantadas em algumas áreas
centrais, pois os veículos se assemelham a bondinhos tradicionais.
Portanto, as vias são mais estreitas e leves que ferrovias tradicionais
e com menos interferência sobre redes enterradas e redes de
comunicação e elétricas, que seriam afetadas por essa implantação.

Algumas outras opções menos abrangentes, mas bastante simples e


aceitas pela população, são a inclusão de ciclovias e ciclofaixas. Essas
opções são destinadas aos pequenos trajetos interbairros, porém,
podem ser incluídas na integração com todos os outros modais. A
inclusão de vagões que permitam o transporte de ciclistas nos serviços
metroviários é bastante comum e potencializa a distância das viagens.

Algumas cidades implantaram, ainda, o aluguel de veículos de forma


coletiva. Nessa situação estão o aluguel de carros que é muito comum
na Europa e outros países desenvolvidos, além das bicicletas e patinetes.

Esse tipo de serviço funciona da seguinte forma: o usuário realiza um


registro em cadastros e bancos de dados das empresas que prestam o
serviço, inclusive sobre dados financeiros de pagamento, e a partir disso
é codificado no sistema de aluguel. Ao chegar nos pontos de acesso

57
aos veículos, ele passa um cartão ou algum outro tipo de identificação
eletrônica, retira o veículo de uma catraca eletrônica ou ponto pré-
determinado e realiza o trajeto registrado no sistema. Ao finalizar a
viagem, deixa o veículo em algum local e o próximo usuário coleta, por
meio de identificação por meio de sistemas de informações geográficas.
Ao fim do expediente de maior demanda, alguns funcionários ou
prestadores de serviço coletam os veículos pela cidade e devolvem aos
pontos de maior circulação, o que é mais comum no uso de patinetes e
bicicletas.

4.3 Modificação das matrizes energéticas

Do ponto de vista de planejamento urbano, as cidades brasileiras


são majoritariamente abastecidas por energia elétrica. A natureza
de abundância de mananciais do Brasil apresenta essa vantagem
competitiva. No entanto, a monopolização da energia vinda das
hidrelétricas traz uma insegurança energética. Portanto, seria
interessante aplicar às políticas públicas a inovação tecnológica de
obtenção energética, principalmente em relação à popularização da
utilização das placas fotovoltaicas.

Em relação à energia eólica, obtida por meio da ação mecânica dos


ventos, somente é possível utilizar esse tipo de matriz em áreas que
contam com velocidade dos ventos suficientes para o modelo. Quanto
à introdução do uso de biogás, deveria ser realizada a inovação
tecnológica nos aterros sanitários para que seja possível utilizar a
combustão para obtenção energética.

4.4 Construções sustentáveis e habitações sociais

O consumo exagerado e a falta de fontes alternativas apresentam


um impedimento ao incremento do desenvolvimento econômico no
país. Segundo a Figura 1, as edificações são responsáveis por 42% do

58
consumo de energia elétrica brasileira. Esse consumo exagerado e a
falta de fontes alternativas apresentam um impedimento ao incremento
do desenvolvimento econômico no país.

Figura 1 – Estimativas de consumo energético brasileiro,


considerando o tipo de consumidor final

Fonte: Lamberts, Dutra e Pereira (2004 apud ICLEI – BRASIL, 2011).

A maneira de corrigir esse problema seria incentivar o uso de outras


matrizes energéticas, tais como a eólica, a nuclear, e o biogás, conforme
citado. Porém, cita-se, ainda, a necessidade de promover e incentivar a
construção sustentável.

A eficiência energética nas edificações é promovida quando há


diminuição do uso de insumos, durante a construção, assim como
diminuição do consumo de água e energia, durante a operação do
empreendimento. Existem certificações passíveis de comprovar essa
efetividade e sustentabilidade das construções. Segundo o WGBC,
edifícios certificados podem economizar até 60% no consumo de água,
85% em consumo de energia e 69% na destinação de resíduos (LEVINE et
al., 2007 apud ICLEI-Brasil, 2011).

Um dos tipos de certificação relativos à sustentabilidade das construções


trata-se do selo Acqua para edificações. A certificação AQUA-HQE é uma
certificação internacional que define diversos parâmetros de qualidade
acerca da concepção dos projetos, execução das obras e operação

59
dos empreendimentos certificados. Existem diversas vantagens de
se obter essa certificação, dentre estes, atribui valor agregado ao
empreendimento, possibilita a utilização do marketing verde acerca do
mesmo e ainda diminui o impacto sobre o meio ambiente.

Existe, ainda, a certificação apresentada pela World Green Building


Council, denominada de certificação LEED (em inglês: Leadership in Energy
and Environmental Design; em português: Liderança em Energia e Design
Ambiental). Essa certificação é a mais aceita mundialmente e contém
diversas gradações de efetividade, ou seja, categorias. Atualmente, essa
certificação pode ser obtida em quatro tipologias: i.) Novas construções
e grandes reformas; ii.) Escritórios comerciais e lojas de varejo; iii.)
Empreendimentos existentes; e iv.) Bairros.

São analisados os parâmetros relativos à localização e transporte,


espaço sustentável, eficiência do uso da água, energia e atmosfera,
materiais e recursos utilizados, qualidade ambiental interna, inovação
e processos, créditos de prioridade regional. Conforme a pontuação
obtida pelo empreendimento nos parâmetros apresentados poderá ser
LEED Platina, LEED Ouro, LEED Prata ou LEED, considerando as maiores
pontuações para as menores, respectivamente.

De toda forma, há saídas construtivas para promover o


reaproveitamento da água das chuvas em reservatórios para
posterior utilização em fins de água de consumo com padrão de
balneabilidade. Por exemplo, pode-se utilizar reservatórios suspensos,
como caixas d’água, fazer um tratamento simples com tela para evitar
queda de particulados, utilizar soluções com cal para destinar esse
volume para jardinagem, água para sanitários e outros fins menos
nobres. Considerando uma escala maior, em relação às cidades,
há a possibilidade de acumulação das águas pluviais em bacias
de contenção, fontes ou algo semelhante e utilização destas para
jardinagem e manutenção das áreas públicas. A essa reutilização
damos o nome de águas cinzas. Tal acondicionamento pode ser

60
utilizado em muitos casos, somente sendo necessário prover
isolamento dos reservatórios, para evitar vetores e contaminações,
assim como prover um tratamento mínimo para que possua os índices
de balneabilidade comprovados.

Com relação às habitações sociais são uma tentativa de reestabelecer


a justiça socioambiental, melhorando a qualidade de vida das
populações, visto que os países industriais tardios, nos quais o Brasil
se enquadra, tiveram suas populações concentradas nos centros
urbano-industriais.

Essa situação gerou loteamentos precários nas áreas centrais,


consequente expulsão de grande parte da força de trabalho para áreas
mais periféricas em razão da especulação imobiliária e o surgimento de
loteamentos ou ocupações irregulares do espaço urbano. Explicando
melhor, as invasões são uma tentativa da população economicamente
mais fragilizada de se instalar em ocupações precárias, por não possuir
renda suficiente para se deslocar por meio do transporte público
ou temer perder as poucas oportunidades de emprego e renda se
deslocando para áreas mais distantes.

Dessa forma, as ocupações irregulares têm ocorrido tanto em áreas


de propriedade pública quanto privadas. Inclusive, uma tendência
percebida em grandes metrópoles, tem sido a ocupação irregular para
moradia de áreas de preservação ou unidades de conservação. Tal
fato se explica pela proximidade das áreas centrais que os parques
apresentam, a dificuldade do poder público de fiscalizar ostensivamente
essas áreas naturais e a especulação imobiliária das áreas consideradas
mais próximas dos centros geradores de emprego e renda.

Por fim, cabe ressaltar que o adensamento crítico das áreas centrais
e intermediárias apresenta uma verticalização dos bairros, ou seja,
a implantação de grandes edifícios em substituição aos loteamentos
horizontais, casas e condomínios com casas.

61
Atento a essa realidade e tentando promover mais justiça social, o Poder
Público tem priorizado a implantação de habitações sociais, ou seja,
instalações de residências de baixa ou média renda para priorizar que
essa população seja atendida e evite se alocar em ocupações irregulares.
Cabe ressaltar, porém, que a ocupação para essa população ainda
é em áreas intermediárias a periféricas, tendendo a implantação de
condomínios verticais.

Do ponto de vista ambiental, essa saída é viável ao passo que evita


instalação de condomínios ou loteamentos irregulares, os quais não
contarão com infraestrutura urbana ideal e, consequentemente,
ocasionariam mais impacto ambiental. Destaca-se, ainda, que o
ordenamento territorial urbano será mantido conforme o planejamento
ambiental urbano instituído pelo Poder Público. Os investidores que
possibilitam a implantação desses loteamentos geralmente tratam-
se de agentes particulares que são pagos pelo Governo Federal para
disponibilizar essas unidades habitacionais com subsídio para os
compradores.

As vantagens são imensas para o governo e para a população, visto


que as condições de pagamento são subsidiadas e mais acessíveis
à população de baixa renda. Além disso, as condições sanitárias e
viárias desses empreendimentos costumam estar de acordo com
as normas vigentes, ocasionando, maior qualidade de vida para os
moradores, assim como menor impacto ambiental em decorrência da
ocupação. Além disso, são disponibilizadas redes de comunicação e
eletricidade.

É necessário pontuar que uma falha comum desses parcelamentos é


que os serviços de transporte viário costumam ser ineficientes, no caso
de parcelamentos horizontais, ou seja, condomínios. É comum estes
se situarem mais distantes dos centros urbanos e ter deficiência nesse
quesito.

62
Outra situação bastante frequente nas cidades brasileiras é a priorização
dos espaços centrais por empreendimentos comerciais, institucionais
e centros de compra, denominados comumente por shopping
centers. Essa ocupação diminui a efetividade dos espaços urbanos e
desconsidera a vinculação da cidade ao seu caráter social de utilização.

4.5 Implantação de aterros sanitários

A questão relacionada à destinação dos resíduos sólidos urbanos


é bastante grave nos municípios brasileiros, sendo emergente sua
resolução. Tal fato se deve à poluição histórica atribuída aos lixões, tanto
dos lençóis freáticos quanto do solo e do ar.

A Lei nº 12.305/10 (BRASIL, 2010) que instituiu a Política Nacional dos


Resíduos Sólidos aponta diversas alternativas mais acertadas para
destinação dos resíduos urbanos. Ao mesmo tempo, apresenta metas
de implantação para os estados brasileiros. Por exemplo, esta legislação
instituiu o aproveitamento do biogás para consumo energético.
Especificando melhor, essa técnica consiste em utilizar os gases
resultantes da decomposição da matéria orgânica do resíduo doméstico
na queima e, consequente, na geração de energia. Isso é formidável,
porém, precisa haver a implantação técnica de aterros sanitários em
substituição aos lixões, os quais são a imensa maioria das instalações de
disposição dos resíduos urbanos brasileiros.

Outras técnicas aplicáveis aos resíduos urbanos tratam-se da reciclagem,


reutilização, reaproveitamento, logística reversa e tantas outras. Tais
medidas fariam com que os resíduos fossem drasticamente reduzidos,
visto que somente sobrariam aquilo que não pode ser transformado em
emprego e renda.

Citamos a geração de emprego e renda, pois é necessário empregar


pessoas nessas atividades de eficiência da destinação do resíduo. De
certa forma, ainda podem ser atingidas e capacitadas diversas pessoas

63
com menor renda, que atualmente trabalham de forma irregular
coletando resíduos nos lixões. Dessa maneira, haveria a formalização,
capacitação e melhoria da qualidade de vida dessas populações.

Para tanto, utilizam-se grandes áreas denominadas ATT (Áreas de


Transbordo e Triagem) de resíduos. O processo pode ser automatizado,
diminuindo sua insalubridade e gerando mais segurança ambiental.

A destinação dos resíduos perigosos é um fator que deve ser


pontuado, os quais devem ter destinação correta e certificada por
empresas especializadas. Esses resíduos são os pneus, óleos e graxas,
medicamentos, baterias e pilhas, solventes e tantos outros resíduos
tóxicos e altamente poluentes. Atualmente, grande parte deles tem
ido para os lixões e ocasionado poluição do solo e água por metais
pesados. Esses metais pesados não possuem tratamento possível, e são
responsáveis pelo surgimento de doenças neurológicas, câncer e outras
consequências graves para a saúde pública e para todo o ecossistema.

5. Estudos de caso no Brasil e no mundo

Alguns exemplos de cidades sustentáveis são apresentados no


Brasil e no mundo, demonstrando que é possível modificar o tipo de
urbanização visando qualidade de vida e ambiental.

A cidade de Essen, na Alemanha, foi intitulada a Capital Verde da


Europa no ano de 2017. Esse título foi concedido em razão das políticas
públicas de revitalização urbana, mobilidade urbana, intensificação
do uso de energias alternativas e da proteção climática. A cidade que
historicamente era classificada como uma cidade industrial, migrou para
um exemplo de cidade sustentável.

Considerando as premissas de sustentabilidade, a cidade de Curitiba


(PR) é nacionalmente reconhecida como a cidade mais sustentável.

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O destaque dessa cidade se deve aos investimentos históricos em
sustentabilidade e preservação ambiental, além dos investimentos
massivos durante as primeiras décadas dos anos 2000 em inclusão de
novos modais.

Londrina (PR) é outra cidade que conta com práticas de sustentabilidade,


porém nessa localidade, o destaque é dado para a destinação dos
resíduos sólidos. João Pessoa (PB) também é citada como uma cidade
que pratica a sustentabilidade, pois foi a primeira do Brasil a investir
nisso.

Em 2019, foi lançado o primeiro mapa denominado Cidades Sustentáveis


do Brasil, com o objetivo de promover as iniciativas, associações e entes
atuantes na questão da sustentabilidade das cidades. Todos os estados
foram representados nos mapas, com exceção do Rio Grande do Norte
e do Piauí, totalizando 681 organizações de impacto para a temática.
Foram avaliadas 4.500 iniciativas (FOLHA DE SÃO PAULO, 2019).

Referências Bibliográficas
BRASIL. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de
Resíduos Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras
providências. Disponível em: http://www2.mma.gov.br/port/conama/legiabre.
cfm?codlegi=636. Acesso em: 23 mar. 2020.
FGV. Cidades Sustentáveis. Cadernos FGV Projetos. Disponível em: https://
fgveurope.fgv.br/sites/fgveurope.fgv.br/files/downloads/caderno_cidades_
sustentaveis_digital_0.pdf. Acesso em: 10 mar. 2020.
FOLHA DE SÃO PAULO. Primeiro mapa Cidades Sustentáveis do país reúne 681
organizações de impacto. Folha de São Paulo, São Paulo, 21 de outubro de 2019.
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/empreendedorsocial/2019/10/
primeiro-mapa-cidades-sustentaveis-do-pais-reune-681-organizacoes-de-impacto.
shtml. Acesso em 12 mar. 2020.
ICLEI – BRASIL. Construindo Cidades Verdes: Manual de Políticas Públicas para
Construções Sustentáveis. MACEDO, Laura V. de; FREITAS, Paula G. 1. ed. São Paulo,
2011.

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LEVINE, M. et al. Residential and commercial buildings. In: Climate Change 2007:
Mitigation. Contribution of Working Group III to the Fourth Assessment Report
of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Cambridge University Press,
Cambridge, Reino Unido e Nova Iorque, NY, USA, 2007.
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Regional. Sustentabilidade urbana:
impactos do desenvolvimento econômico e suas consequências sobre o processo
de urbanização em países emergentes (Textos para as discussões da Rio +20).
Brasília, v. 1 a 3, 2015.
ONU. Organização das Nações Unidas. World population prospects: the 2006
revision. Disponível em: https://population.un.org/wpp/. Acesso em: 9 mar. de 2020.
PANARO, Rapahel. Salão de Frankfurt 2019: o que achamos da maior feira de carros
do mundo. Revista Auto Esporte, Frankfurt, 15 de setembro de2019. Disponível
em: https://revistaautoesporte.globo.com/Noticias/noticia/2019/09/salao-de-
frankfurt-2019-o-que-achamos-da-maior-feira-de-carros-do-mundo.html. Acesso
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WWF BRASIL. Pegada ecológica. WWF Brasil, [s.l.], [s.d.]. Disponível em: https://
www.wwf.org.br/natureza_brasileira/especiais/pegada_ecologica/pegada_brasileira.
Acesso em: 9 mar. 2020.

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BONS ESTUDOS!

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