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10/02/2019 Instituto Ludwig von Mises Brasil

Instituto Ludwig von Mises Brasil


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As distorções geradas pelos sindicatos e pela política


de salário mínimo
por Ludwig von Mises, sábado, 25 de fevereiro de 2012

O ápice da sabedoria política intervencionista consiste em querer encarecer o preço do trabalho, seja
por decreto governamental, seja pela ação violenta ou pela ameaça de tal ação por parte dos
sindicatos. Aumentar os salários acima do nível que eles teriam em um mercado livre e desimpedido
é considerado um postulado das leis da moralidade, e também uma medida indispensável do ponto de
vista econômico. Quem se atrever a desafiar esse dogma ético e econômico é considerado depravado
e ignorante.

Muitos dos nossos contemporâneos veem as pessoas que são suficientemente corajosas para
"atravessar uma linha de piquetes" da mesma forma que os membros de uma tribo primitiva viam os
que violavam os preceitos de um tabu. Milhões de pessoas exultam quando um desses "fura-greves"
recebe o seu merecido castigo das mãos dos grevistas, enquanto a polícia, o ministério público e os
tribunais mantêm uma arrogante neutralidade -- isso quando não tomam abertamente o partido dos
grevistas.

Os salários determinados por um mercado livre e desimpedido tendem para um nível que permite
àqueles que quiserem trabalhar conseguir emprego, e aos que desejarem contratar trabalhadores
empregar tantos quantos desejam. Tende para aquilo que hoje em dia é denominado de pleno
emprego. Onde não houver interferência do governo e dos sindicatos no mercado de trabalho só
pode existir desemprego voluntário. Mas tão logo uma pressão externa ou uma coerção, seja da parte
do governo, seja da dos sindicatos, tenta elevar os salários acima do valor de mercado, surge o
desemprego institucional.

Enquanto prevalecer no mercado de trabalho livre e desimpedido uma tendência a que desapareça o
desemprego voluntário, o desemprego institucional não poderá desaparecer enquanto o governo ou os
sindicatos conseguirem impor a sua vontade. Se o salário mínimo se aplica apenas a algumas
ocupações, enquanto outros setores do mercado de trabalho continuam livres, os que por esse motivo
perderam o seu emprego tentarão empregar-se nos setores livres, aumentando assim a oferta de
trabalho nos mesmos. Se o sindicalismo se restringir principalmente à mão de obra qualificada, o
aumento salarial conseguido pelos sindicatos não conduzirá ao desemprego institucional;
simplesmente diminuirá o nível salarial nos setores em que os sindicatos não são tão eficientes ou
não existem. A consequência natural do aumento salarial para os trabalhadores organizados é uma
queda salarial para os trabalhadores não organizados. Mas, com a generalização da interferência
governamental sobre os salários e com o apoio que o estado vem dando ao sindicalismo, as coisas
mudaram. O desemprego institucional tornou-se um fenômeno de massa crônico e permanente.

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Escrevendo em 1930, Lorde Beveridge, que mais tarde viria a ser um defensor da ingerência
governamental e sindical no mercado de trabalho, assinalava que o efeito potencial do fato de uma
"política de salários altos" provocar o desemprego é algo que "não pode ser negado por nenhuma
autoridade competente".[1] De fato, negar esse efeito equivale a desconhecer a existência de
qualquer regularidade na sequência e na interconexão dos fenômenos de mercado. Os economistas
mais antigos, que simpatizavam com o movimento sindical, tinham plena consciência do fato de que
o sindicalismo só pode atingir seus objetivos se ficar restrito a uma minoria de trabalhadores.
Aprovavam o sindicalismo como expediente benéfico aos interesses de um grupo privilegiado de
trabalhadores, sem se importarem com as consequências para todos os demais assalariados.[2]
Ninguém até hoje conseguiu demonstrar que o sindicalismo poderia melhorar a situação e elevar o
padrão de vida de todos os assalariados.

É importante lembrar também que o próprio Marx nunca sustentou que os sindicatos pudessem
aumentar os salários em geral. "A tendência geral da produção capitalista -- dizia ele -- não é
aumentar, mas diminuir o nível médio dos salários". Sendo essa a tendência, tudo o que o
sindicalismo pode conseguir em relação aos salários é "tirar o melhor partido possível das eventuais
chances de melhorá-los".[3] Os sindicatos, para Marx, só tinham importância na medida em que
atacassem "o próprio sistema da escravidão salarial e os métodos atuais de produção".[4] Deviam
compreender que "em vez do lema conservador: Um bom salário por dia, um bom dia de trabalho!",
deveriam inscrever na sua bandeira a palavra de ordem revolucionária: Abaixo o sistema salarial!".
[5]

Os marxistas mais consistentes sempre se opuseram às tentativas de impor salários mínimos por
considerá-las prejudiciais aos interesses da classe trabalhadora como um todo. Sempre houve, desde
que teve início o moderno movimento trabalhista, um antagonismo entre os sindicatos e os socialistas
revolucionários. Os sindicatos americanos e ingleses mais antigos dedicavam-se exclusivamente à
obtenção de salários mais elevados. Não viam o socialismo com bons olhos, tanto o "utópico" como
o "científico". Na Alemanha havia uma rivalidade entre os adeptos do credo marxista e os líderes
sindicais. Finalmente, nas últimas décadas que antecederam à Primeira Guerra Mundial, os
sindicatos triunfaram: conseguiram virtualmente converter o Partido Social Democrata aos princípios
do intervencionismo e do sindicalismo. Na França, George Sorel procurava imbuir nos sindicatos
aquele espírito de agressão e de guerra revolucionária que Marx lhes recomendava. Em todos os
países não socialistas existe hoje um conflito ostensivo entre duas facções sindicais. Um grupo
considera o sindicalismo como um instrumento para melhorar a situação dos trabalhadores no
contexto do capitalismo. O outro grupo quer usar os sindicatos como organizações a serviço da causa
comunista, só os aprovando na medida em que sejam os pioneiros na derrubada violenta do sistema
capitalista.

Os problemas do sindicalismo trabalhista foram ofuscados e completamente confundidos por um


verbalismo pseudo-humanitário. Os defensores do salário mínimo, seja decretado e imposto pelo
governo, seja obtido pela violenta ação sindical, afirmam estar lutando pela melhoria da situação das
massas trabalhadoras. Não permitem que alguém conteste o dogma de que os salários mínimos
sejam o meio apropriado para elevar permanentemente os salários de todos os assalariados.
Orgulham-se de ser os únicos verdadeiros amigos dos "trabalhadores" e do "homem comum", do
"progresso" e dos eternos princípios de "justiça social".

Entretanto, o problema é precisamente o de saber se existe alguma outra maneira de aumentar o


padrão de vida dos que querem trabalhar que não seja o aumento da produtividade marginal do
trabalho mediante o incremento de capital per capita. Os teóricos do sindicalismo procuram fugir

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dessa questão essencial e nunca mencionam o único ponto realmente importante: a relação entre o
número de trabalhadores e a quantidade de bens de capital disponíveis.

Os sindicatos lutam para reduzir a oferta de mão de obra por meio de leis contra a imigração e de
medidas que impeçam os não sindicalizados ou os ainda inexperientes de competir nos setores
sindicalizados do mercado de trabalho. Por outro lado, opõem-se à exportação de capitais. Essas
políticas seriam absurdas se fosse verdade que a quota de capital disponível per capita não tivesse
importância na determinação dos salários.

A essência da doutrina sindical está contida no slogan "exploração". Segundo a versão sindical da
teoria da exploração, que é diferente do credo marxista, o trabalho é a única fonte de riqueza, e os
gastos com trabalho são os únicos custos reais. De direito, toda a receita obtida com a venda de um
produto deveria pertencer aos trabalhadores. Ainda segundo essa doutrina, o trabalhador manual
pode legitimamente reivindicar para si a "produção total do trabalho". O mal que o sistema
capitalista de produção faz ao trabalhador fica evidente pelo fato de permitir que os proprietários de
terras, capitalistas e empresários retenham para si uma parte do que pertence de direito aos
trabalhadores. A parcela retida por esses parasitas sociais é chamada de renda não ganha. Os
trabalhadores têm razão em lutar pela elevação passo a passo dos salários, até que não sobre mais
nada para a classe dos exploradores socialmente inúteis. Ao visar a esse objetivo, os sindicatos dão
prosseguimento à luta, deflagrada há gerações, pela emancipação dos escravos e dos servos, e pela
abolição dos impostos, tributos, dízimos e do trabalho obrigatório gratuito que pesava sobre o
campesinato em benefício da aristocracia proprietária de terras. O movimento trabalhista é uma luta
pela liberdade e pela igualdade, em favor dos inalienáveis direitos do homem. Sua vitória final é fora
de dúvida, uma vez que a tendência inevitável da evolução histórica é eliminar todos os privilégios de
classe e instaurar definitivamente o reino da liberdade e da igualdade. As tentativas dos
empregadores reacionários para impedir o progresso estão condenadas ao fracasso.

Tais são os princípios da doutrina social contemporânea. É verdade que algumas pessoas, embora
inteiramente de acordo com esse ideário, só apoiam as conclusões práticas dos radicais com algumas
reservas e sob certas condições. Esses moderados não pretendem abolir inteiramente a parcela que
deveria caber à "administração"; contentam-se em limitá-la a um valor "justo". Como as opiniões
relativas a qual seja o valor justo da receita dos empresários e dos capitalistas variam muito, a
diferença entre o ponto de vista dos radicais e o dos moderados tem pouca importância. Os
moderados também endossam o princípio de que os salários reais deveriam aumentar sempre e nunca
baixar. Em ambas as guerras mundiais, poucos foram os que nos Estados Unidos questionaram o
pleito dos sindicatos segundo o qual os salários líquidos dos trabalhadores, mesmo numa emergência
nacional, deveriam crescer mais do que o custo de vida.

Segundo a doutrina sindical, não há nenhum inconveniente em confiscar, parcial ou totalmente, a


renda dos capitalistas e dos empresários. Ao tratar desse assunto, empregam o termo lucros com o
mesmo sentido empregado pelos economistas clássicos. Não distinguem lucro empresarial de juro
sobre o capital investido e de compensação pelos serviços técnicos prestados pelo empresário.

Foi Ricardo quem, pela primeira vez, enunciou a tese de que um aumento nos salários encorajaria os
capitalistas a substituírem mão de obra por equipamentos e vice-versa.[6] Portanto, concluem os
apologistas do sindicalismo, uma política de aumentos salariais acima do valor que teriam no
mercado de trabalho não obstruído é sempre benéfica. Gera progresso tecnológico e aumenta a
produtividade do trabalho. Salários mais altos pagam-se por si mesmos. Ao forçarem os
empregadores que relutam em aumentar os salários, os sindicatos estariam cumprindo o papel de
vanguarda do progresso e da prosperidade.
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Muitos economistas aprovam essa tese de Ricardo, embora poucos entre eles sejam suficientemente
consistentes para endossar a inferência que dela tiram os sindicalistas. Na verdade, o efeito de
Ricardo é um argumento que só pode impressionar os principiantes em economia; é um dos maiores
erros econômicos.

A confusão começa com o equívoco de que a máquina "substitui" a mão de obra. Na realidade, o que
a máquina faz é tornar a mão de obra mais eficiente. A mesma quantidade de trabalho possibilita a
obtenção de uma maior quantidade ou de uma melhor qualidade de produtos. O uso da máquina em
si não resulta diretamente em ma redução do mínimo de operários empregados na fabricação de um
artigo A. O que provoca esse efeito secundário é o fato de que -- tudo o mais constante -- um
aumento da oferta de A diminui a utilidade marginal de uma unidade de A em comparação com as
unidades de outros artigos; por consequência, a mão de obra é deslocada da produção de A para a
produção de outros artigos.

O progresso tecnológico ocorrido na produção de A torna possível realizar certos projetos que antes
não poderiam ser executados porque os trabalhadores necessários estavam ocupados na produção
de A, cuja demanda pelos consumidores era considerada mais urgente. A redução do número de
trabalhadores na indústria produtora de A é provocada pela maior demanda desses outros setores aos
quais é oferecida a oportunidade de expansão. Consequentemente, tudo o que se costuma dizer sobre
"desemprego tecnológico" fica devidamente refutado.

As ferramentas e as máquinas são primordialmente meios para aumentar a produção por unidade de
aporte e não dispositivos para economizar mão de obra. Parecem ser dispositivos para economizar
mão de obra se considerados exclusivamente do ponto de vista do setor da atividade econômica em
questão. Vistos do ângulo dos consumidores e da sociedade em geral, são instrumentos que
aumentam a produtividade do esforço humano.

Aumentam a oferta e tornam possível consumir mais bens materiais e usufruir mais lazer. Que bens
serão consumidos em quantidade maior e até que ponto as pessoas preferirão usufruir mais lazer
depende dos julgamentos de valor de cada indivíduo.

O emprego de mais e melhores ferramentas só é viável na medida em que o capital necessário esteja
disponível. A poupança -- isto é, um excedente da produção sobre o consumo -- é condição
indispensável de todo aperfeiçoamento tecnológico. O mero conhecimento tecnológico é inútil se
não houver capital para utilizá-lo. Os empresários indianos estão familiarizados com os métodos
americanos de produção; o que os impede de adotá-los é a falta de capital e não os baixos salários da
Índia.

Por outro lado, a poupança capitalista necessariamente gera o emprego de máquinas e ferramentas
adicionais. O papel que a poupança simples -- isto é, a acumulação de bens de consumo como uma
reserva para dias mais difíceis -- representa na economia de mercado é de menor importância. No
regime capitalista, a poupança é geralmente poupança capitalista. O excesso de produção sobre o
consumo é investido seja diretamente no próprio negócio ou na fazenda do poupador, seja
indiretamente nas empresas de outras pessoas por meio dos depósitos de poupança, ações ordinárias
ou preferenciais, títulos, debêntures e hipotecas.[7] Na medida em que as pessoas mantenham o seu
consumo abaixo de sua renda líquida, cria-se capital adicional que é empregado na expansão do
capital fixo do aparato de produção. Por um lado, o que é invariavelmente necessário para o emprego
de mais e melhores ferramentas é a acumulação adicional de capital; por outro lado, não há melhor
emprego para o capital adicional do que a utilização de mais e melhores ferramentas.

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A tese de Ricardo e a doutrina sindical que dela deriva invertem as coisas. Uma tendência de alta dos
salários não é a causa, mas o efeito, do progresso tecnológico. A atividade econômica com fins
lucrativos é obrigada a empregar os métodos de produção mais eficientes. O que impede um
empresário de melhorar o equipamento de sua empresa é somente a falta de capital. Se o capital
necessário não estiver disponível, nenhum aumento salarial poderá proporcioná-lo.

O máximo que os salários mínimos podem conseguir em relação ao emprego de maquinaria é desviar
investimentos adicionais de um setor para outro. Suponhamos que em um país economicamente
subdesenvolvido, a Ruritânia, o sindicato dos estivadores consegue forçar os empresários a pagarem
salários que são comparativamente maiores do que os pagos nas outras atividades econômicas. Pode
ocorrer então que o emprego mais rentável para o capital adicional seja utilizar dispositivos
mecânicos para carga e descarga dos navios. Mas o capital assim empregado foi subtraído de outros
setores da atividade econômica da Ruritânia, nos quais, não fosse a pressão sindical, teria sido
empregado de uma maneira mais vantajosa.

O efeito dos altos salários dos estivadores não é um aumento, mas uma diminuição da produção total
da Ruritânia.[8] Salários reais só podem aumentar, mantidas inalteradas as demais circunstâncias, na
medida em que o capital se torne mais abundante. Se o governo ou os sindicatos conseguem forçar
salários superiores aos que teriam sido estabelecidos pelo mercado de trabalho não obstruído, a oferta
de mão de obra excede a demanda por mão de obra. Surge o desemprego institucional.

Firmemente comprometidos com os princípios do intervencionismo, os governos tentam impedir esta


indesejada consequência de sua interferência pelo recurso a medidas conhecidas hoje em dia como
política de pleno emprego: auxílio-desemprego, arbitragem de questões trabalhistas, realização de
obras públicas por meio de gastos volumosos, inflação e expansão creditícia. Todos esses remédios
são piores do que os males que pretendiam corrigir.

O auxílio dado aos desempregados não acaba com o desemprego. Facilita para quem prefere
permanecer ocioso. Quanto mais próximo este subsídio estiver do nível que teriam os salários no
mercado não obstruído, menor será o incentivo para o beneficiado procurar emprego. É uma maneira
de prolongar o desemprego e não de suprimi-lo. As desastrosas consequências financeiras desse tipo
de auxílio-desemprego são por demais conhecidas.

A arbitragem não é um método adequado para decidir disputas quanto a valor de salários. A sentença
do árbitro se fixar os salários exatamente no valor potencial de mercado ou num valor mais baixo,
não terá efeitos práticos; se fixá-los acima do valor potencial de mercado, as consequências serão as
mesmas que as provocadas por qualquer outro modo de fixar salários mínimos acima do nível de
mercado, qual seja, desemprego institucional. Não importa que razões o árbitro tenha invocado para
justificar sua decisão. O que importa não é saber se os salários podem ser considerados "justos"
segundo algum critério arbitrário; é saber se provocam ou não um excesso de oferta de mão de obra
sobre a demanda por mão de obra.

Para algumas pessoas, pode parecer justo fixar os salários num nível tão alto que uma grande parte da
força de trabalho fique condenada a um longo período de desemprego. Mas ninguém poderá dizer
que isso seja conveniente e benéfico para a sociedade.

Se os recursos para a realização de obras públicas são obtidos através de impostos ou de empréstimo,
o aumento de recursos do Tesouro equivale à diminuição da capacidade de investir e de consumir dos
cidadãos. Nenhum emprego adicional pode ser criado dessa maneira. Mas se o governo recorre à
inflação para custear os seus gastos -- aumentando a quantidade de moeda e expandindo

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artificialmente o crédito (isto é, sem que esteja havendo poupança) --, o máximo que consegue é um
aumento geral de todos os preços e serviços.

Se, no curso dessa inflação, o aumento dos salários não acompanhar o aumento de preços das
mercadorias, o desemprego institucional pode diminuir ou mesmo desaparecer completamente. Mas
o que o faz diminuir ou desaparecer é precisamente o fato de que houve uma redução dos
salários reais. Lorde Keynes considerava a expansão do crédito um método eficiente para eliminação
do desemprego; acreditava que uma "diminuição gradual e automática dos salários reais em
decorrência do aumento dos preços" não encontraria tanta resistência por parte dos trabalhadores,
quanto uma redução no valor nominal dos salários.[9] Todavia, o sucesso de um plano tão ardiloso
implicaria um grau de ignorância e estupidez dos assalariados altamente improvável. Enquanto os
trabalhadores acreditarem que o estabelecimento de salários mínimos lhes beneficia, não se deixarão
enganar por esse tipo de subterfúgio.

Na prática, todos esses expedientes de uma suposta política de pleno emprego mais cedo ou mais
tarde conduzem à instauração de um socialismo modelo alemão. Levando-se em conta que os
membros de uma comissão de arbitramento indicados pelos empregadores nunca chegam a um
acordo com os indicados pelos sindicatos quanto à remuneração que possa ser considerada justa, a
decisão virtualmente fica com os membros indicados pelo governo.

Assim, o governo se investe no poder de determinar o valor que devem ter os salários. Quanto mais
proliferam as obras públicas e quanto mais o governo toma iniciativas para suprir a "incapacidade da
empresa privada de gerar emprego para todos", mais se retrai o campo de ação da iniciativa privada.
Isso nos coloca, mais uma vez, diante da alternativa: capitalismo ou socialismo.

Uma política de salários mínimos que produza resultados duradouros é inteiramente inconcebível.

Leia também Trabalho, emprego, poupança e capital

[1] Ver W.H. Beveridge, Full Employment in a Free Society, Londres, 1944, p. 92 e segs.

[2] Ver Hutt, The Theory of Collective Bargaining, p. 10-21.

[3] Ver Marx, Value, Price and Profit, ed. E.Marx Aveling, Chicago, Charles H. Kerr & Company,
p.125.

[4] Ver A.Lozovsky, Marx and the Trade Unions, Nova Iorque, 1935, p. 17.

[5] Ver Marx, op. cit, p.126-127.

[6] Ver Ricardo, Principles of Political Economy and Taxation, cap. i, seção v. O termo "efeito de
Ricardo" é usado por Hayek em Profits, Interest and Investment, Londres, 1939, p.8.

[7] Como estamos lidando com as condições de uma economia de mercado não obstruído, podemos
desprezar os efeitos de consumo de capital provocados pelos empréstimos públicos.

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[8] O exemplo é meramente hipotético. Um sindicato tão poderoso provavelmente impediria a


utilização de dispositivos mecânicos para carga e descarga de navios, a fim de "criar mais empregos".

[9] Ver Keynes, The General Theory of Employment, Interest and Money, Londres, 1936, p. 264. Para
um exame crítico dessa ideia, ver Albert Hahn, Deficit Spending and Private Enterprise, Postwar
Reajustments Bulletin n. 8, U.S. Chamber of Commerce, p. 28- 29; Henry Hazlitt, The Failure of the
"New Economics",Princeton, 1959, p. 263-295.

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