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ORIGEM E ACEPÇÕES DA PALAVRA DIREITO

1. ORIGEM DA PALAVRA DIREITO

Conforme visto em aulas anteriores, conceituar um objeto é


defini-lo. A palavra direito é indicada como sendo do tipo análoga, ou seja,
possui vários significados, os quais guardam entre si algum nexo, um ponto
em comum. Para assim considerarmos, todavia, devemos fazer a distinção
entre as acepções fundamentais e as secundárias. Podemos proceder com
a conceituação do direito tanto pelo plano nominal quanto pelo real.
Vejamos, em primeiro lugar, a definição da palavra direito pela forma
nominal etimológica.

A palavra direito é grafada de várias formas, de acordo com o


País e sua língua. Vejamos alguns exemplos: droit (França), diritto (Itália),
derecho (Espanha), dreptu (Romênia), right (Estados Unidos) e recht
(Alemanha). Todas estas palavras estão ligadas a uma origem comum, o
vocábulo latino directum ou rectum, que significam, respectivamente, direito
e reto. Seu sentido é ser (agir) conforme a uma régua.

Além desta origem, outras palavras também simbolizam a idéia


do direito, como judiciário, jurídico, justiça, jurisprudência. Todas elas são
oriundas do termo latino jus, que também significa direito. Ocorre que o
termo jus não tem formação pacífica entre os estudiosos históricos. Para
alguns, este termo latino é derivação do vocábulo jussum, ligado ao verbo
jubere, cujo significado é mandar, ordenar.

Outra explicação possível para o termo jus é ser ele


aperfeiçoamento do vocábulo justum, ou seja, aquilo que é justo ou
conforme a justiça.

Há, ainda, uma terceira corrente que acredita ser a origem o


verbo juvo ou juvare, com a idéia de ajudar, proteger, com o que o direito
seria uma proteção destinada a defender os homens contra qualquer
violência.

Vencida a etapa da definição etimológica, devemos passar para a


análise semântica, que será abordada junto com a definição real analítica.

Acepções da palavra Direito: o fenômeno jurídico é bastante


complexo, apresentando vários aspectos ou elementos. Esta circunstância
torna difícil uma única definição real. Pela forma analítica, busca-se uma
abordagem de um aspecto do objeto a definir. Aqui teremos cinco
possibilidades, ou acepções, da palavra direito.
Direito como Norma: Trata-se da forma mais comum
de aplicação da palavra direito, sendo também conhecida como direito
objetivo ou norma agendi. São as regras exteriores ao homem e que a ele
se dirigem e se impõem, atuando em sua vida particular e social. Na
definição de Rudolf Von Ihering, “é o conjunto de normas coativamente
garantidas pelo Poder Público” (Jus in civitate positum).

Direito como Faculdade: é o poder que tem o homem


de exigir garantias para a realização de seus interesses, quando estes se
conformam com o interesse social. É o poder de ação assegurado pela
ordem jurídica. Trata-se de uma prerrogativa de agir, uma opção, uma
alternativa posta ao sujeito. Também chamado de direito subjetivo ou
facultas agendi, tendo sido por Ihering definido como o interesse
juridicamente protegido (Jus est facultas agendi). Compreende um sujeito,
um objeto e a relação que os liga. Esta acepção da palavra direito, por sua
vez, pode ser considerado de duas maneiras:

Interesse: reconhecidos ao titular como


meio de permitir a satisfação de suas necessidades
materiais ou espirituais,como o direito à vida, à propriedade,
à liberdade etc... É um benefício ao titular.
Função: Beneficia outras pessoas, como no
caso de poder familiar (conferido aos pais em favor do filho)
ou o direito de julgar (atribuído ao juiz em benefício da
coletividade).

Direito como Justo: Relacionado com o conceito de


justiça, possuindo dois sentidos diferentes:
Bem devido por justiça: na definição de
São Tomás de Aquino, é o que é devido a outrem, segundo
uma igualdade.
Bem conforme a justiça: não existe
contrapartida, mas sim uma determinação social que
acredita ser aquela a melhor alternativa a determinada
situação.

Direito como Ciência: usada como “ciência do


direito”, o setor do conhecimento humano que investiga e sistematiza os
fenômenos da vida jurídica e a determinação de suas causas.

Direito como Fato Social: Ao realizar o estudo de


qualquer coletividade, a sociologia distingue diversas espécies de
fenômenos sociais. Considera os fatos econômicos, culturais e, também, o
direito. O direito é, então, considerado como um setor da vida social. É o
conjunto de condições de existência e desenvolvimento da sociedade,
coativamente asseguradas.
Por fim, podemos buscar entender o direito pela definição
sintética, que, todavia, revela-se como a mais ineficiente, pois é a definição
integral, que pretende ser capaz de abraçar todo o fenômeno jurídico,
dando-nos uma noção unitária da realidade jurídica. Eis algumas tentativas
de definição sintética:

• Celso: Direito é a arte do bom e do justo (ars boni et


aequi) – Digesto, L. I, De Justitia et Jura
• Dante Alighieri: Direito é a proporção real e pessoal do
homem para o homem que, conservada, conserva a
sociedade e que destruída, a destrói. (De Monarchia)
• Miguel Reale: Direito é a vinculação bilateral atributiva da
conduta para a realização ordenada dos valores de
convivência. (Curso de Filosofia)

2. TEORIAS SOBRE A ORIGEM DO DIREITO

Teoria Teológica: para esta teoria, o direito foi ditado diretamente ao homem por
Deus ou pelos Deuses. São exemplos desta possibilidade os 10 Mandamentos,
que teriam sido ditados por Deus a Moisés, o Código de Manu, ditado por Deus ao
príncipe Manu e o Alcorão, que foi ditado, segundo suas lendas, pelo anjo Gabriel
ao profeta Maomé.
Na mitologia grega, existia a figura de Themis, a deusa da
Justiça. Foi esposa e conselheira de Zeus (Júpiter). Mais do que
a Justiça, Themis encarna a Lei. Seu casamento com Zeus
exprime como o próprio Deus pode ser submetido à ela, que ao
mesmo tempo é sua emanação direta. Tradicionalmente é
representada cega, ou com uma venda aos olhos, para
demonstrar sua imparcialidade. Numa visão mais moderna é
representada sem as vendas, significando a Justiça Social, onde
o meio em que se insere o indivíduo é tido como agravante ou
atenuante de suas responsabilidades.
Para aceitar esta escola, é necessário acreditar nas revelações,
isto é, processo pelo qual a divindade transmite ao homem certas
verdades.

Teoria Jusnaturalista: seus defensores sustentam que o direito foi posto no


homem no próprio momento da criação divina. O ser humano foi criado por Deus,
recebendo desde este momento as faculdades de conhecer os princípios
fundamentais do direito, naquilo que é conhecido como Direito Natural. É a
formulação do direito ideal, abstrato.

Obs: tanto a teoria teológica quanto a teoria jusnaturalista são


integrantes de uma corrente maior denominada teísta, vez que fundada
na figura de Deus.
Teoria Contratualista: trata-se de pensamento que, partindo de um ponto
comum, abre-se em duas formas distintas de encarar o surgimento do direito. No
início, o homem viveu longo período no estado da natureza, período este
caracterizado pela anomia (ausência de normas). Quando entendeu por
necessário formas sociedades e estabelecer leis, referida teoria admite duas
possibilidades, identificadas de acordo com seus principais expoentes:

Thomas Hobbes (O leviatã1): o homem era essencialmente ruim e foi viver em


sociedade na tentativa de melhorar. Este pensamento ficou eternizado pela frase
homo lupus homini2 .
Jean Jacques Rousseau (O contrato social): o homem era um ser bom e, por
razões altruístas, resolveu elaborar um contrato social para viver em sociedade e
proteger o interesse de todos.

Teoria Marxista: Karl Marx também foi um contratualista. Para ele, no começo
tudo existia em comunidade. Porém, em certa época, alguém se apossou da
propriedade até então comum, passando a assumir o nome de Estado. Como o
Estado não conseguia manter por si a propriedade das coisas apossadas, criou
um instrumento dotado de coercibilidade, a que chamou de direito. Para Marx, o
direito nada mais é que um instrumento de opressão do Estado, para manter a
propriedade dos que a tem contra os que nada tem. Para ele, quando for
implantado o igualitarismo, o direito desaparecerá.

1
Monstro do caos, na mitologia fenícia, representado na Bíblia como um animal aquático ou réptil
2
O homem é lobo do próprio homem.

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