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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


CURSO DE FILOSOFIA (BACHARELADO)

JOSÉ ARNÓBIO ALMEIDA LEITE


TIAGO THOMÁS SILVA

QUESTIONÁRIO DE MITOLOGIA GREGA

RECIFE
2019
JOSÉ ARNÓBIO ALMEIDA LEITE
TIAGO THOMÁS SILVA

QUESTIONÁRIO DE MITOLOGIA GREGA

Questionário apresentado como requisito final à


obtenção da nota do 2º GQ da disciplina de
Mitologia Grega do curso de graduação em
Filosofia (Bacharelado) da Universidade Católica
de Pernambuco.

Orientador: Profa. Dra. Martha Solange Perrusi

RECIFE
2019
QUESITOS

1) Explique a afirmação de que os deuses gregos são forças ou potências e não


pessoas. (Até 10 linhas.)

Pessoa designa individuo singular, dotado de experiência moral e marcado pelas


deficiências da criatura mortal (fraqueza, fadiga, sofrimento, doença, morte). Deuses
gregos não são pessoas mas potências, forças naturais, pois: (1) não têm realmente
‘'existência para si'’ ao existir numa rede de relações que os unem ao sistema divino
onde não aparecem como um sujeito singular, mas como uma pluralidade, seja
indefinida, seja numerada; (2) conforme os momentos e as necessidades, a mesma
potência divina será considerada na sua unidade, no singular, na sua multiplicidade
de aspecto, no plural. A razão desse paradoxo, é precisamente que um deus
exprime os aspectos e os modos de ação da potência – beleza, força, juventude
constante, explosão constante de vida --, não as formas pessoais de existência.

Referência:
VERNAND, J.-P. O Mito e a Religião na Grécia Antiga. Tradução Joana Angélica D’Ávila
Melo. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2006.
2) Explique a passagem do mythos ao logos em Burnet, Cornford e Vernand.
(Até 15 linhas.)

John Burnet, historiador inglês, defende a tendência da historia da filosofia chamada


de milagre grego que enfatiza a ruptura radical da filosofia em relação à mitologia,
afirmando ser impossível constar algum tipo de continuidade entre ambas pois
certas características predominantes no mito (narrativa) são totalmente contrárias às
da filosofia (logos) no seu estágio primordial. Francis MacDonald Cornford, tradutor
clássico inglês, concebe a corrente da continuidade como transição gradual e
multifacetada do mito à filosofia ao defender que o surgimento da filosofia foi um fato
histórico cujas raízes estão na narrativa mítica, na qual os limites entre um e outro
tratamento da realidade são muitas vezes indistintos e mal definidos pois a filosofia
continua a usar estruturas semelhantes ao mito. Jean-Pierre Vernand não concorda
com o milagre grego e sim com um duplo processo cultural e político na medida em
que apregoa que a passagem de uma civilização oral para uma cultura escrita e de
uma palavra poética e profética para um discurso lógico e demonstrativo tem por
causa ou efeito a mudança do antigo sistema de governo mantido por um rei ou
grupo aristocrático para a organização da pólis.

Referência:
BURNET, J. A Aurora da Filosofia Grega. Tradução Vera Ribeiro. 3a ed. Rio de Janeiro:
Editora Contraponto, 2006, p. 21-49.

CORNFORD, F. M. Principium Sapientiae: as Origens do Pensamento Filosófico


Grego. Tradução Maria Manuela Rocheta dos Santos. 3a ed. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, 1989.

VERNAND, J.-P. O Mito e o Pensamento entre os Gregos. Tradução Haiganuch Sarian. 2a


ed. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 2008, p. 441-448.
3) Explique a mania e a sabedoria a partir do livro de Giorgio Colli o nascimento
da filosofia sob essa perspectiva. (Até 12 linhas.)

Giorgio Colli relaciona a mania e a sabedoria antiga grega como a primeira sendo a
origem da segunda. Ele estudou o culto de Apolo, no qual havia o transe divinatório
das pitonisas de Delfos após usarem de beberagens num suposto xamanismo
semelhante ao nórdico ou centro-asiático. A Apolo era atribuído o domínio da
sabedoria pois em Delfos se manifestava o conhecimento do futuro do homem e do
mundo e seu culto simbolizava a celebração da sabedoria pela adivinhação
teorética, ambígua, obscura, alusiva, difícil de interpretar e incerta. As palavras de
adivinhação de Apolo eram uma expressão de conhecimento e se reúnem em
discursos que se desdobram em discussões e se elaboram na abstração da razão.
Então, ele identificou essa relação entre os primeiros refinamentos do pensamento
grego abstrato e a tradição poético-religiosa da Grécia antiga, um ‘’manancial de
sabedoria’’ que entranha toda a sua rica mitologia, alusiva à mania ou loucura divina.

Referência:
COLLI, Giorgio. O Nascimento da Filosofia. Tradução Federico Carotti. 2a ed. Campinas:
Editora da UNICAMP, 1986, p. 9-17.

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