Você está na página 1de 328

The Sound Of Home

KRISTA SANDOR
Tradução: Ariella
Revisão Inicial: Vandinha
Revisão Final: Patricia
Leitura Final: Dalilah
Conferencia: Rose, Iza Fernanda & Ana Lídia
Formatação: Ariella

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
AVISO
A tradução foi efetuada pelo grupo Doll Books Traduções (DB), de modo a
proporcionar ao leitor o acesso à obra, incentivando à posterior aquisição. O
objetivo do grupo é selecionar livros sem previsão de publicação no Brasil,
traduzindo-os e disponibilizando-os ao leitor, sem qualquer forma de obter
lucro, seja ele direto ou indireto.

Levamos como objetivo sério, o incentivo para o leitor adquirir as obras,


dando a conhecer os autores que, de outro modo, não poderiam, a não ser no
idioma original, impossibilitando o conhecimento de muitos autores desco-
nhecidos no Brasil. A fim de preservar os direitos autorais e contratuais de
autores e editoras, o grupo DB poderá, sem aviso prévio e quando entender
necessário, suspender o acesso aos livros e retirar o link de disponibilização
dos mesmos, daqueles que forem lançados por editoras brasileiras. Todo
aquele que tiver acesso à presente tradução fica ciente de que o download se
destina exclusivamente ao uso pessoal e privado, abstendo-se de o divulgar
nas redes sociais bem como tornar público o trabalho de tradução do grupo,
sem que exista uma prévia autorização expressa do mesmo.

O leitor e usuário, ao acessar o livro disponibilizado responderá pelo uso


incorreto e ilícito do mesmo, eximindo o grupo DB de qualquer parceria,
coautoria ou coparticipação em eventual delito cometido por aquele que, por
ato ou omissão, tentar ou concretamente utilizar a presente obra literária
para obtenção de lucro direto ou indireto, nos termos do art. 184 do código
penal e lei 9.610/1998

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Uma nota para o leitor

Este livro é destinado a leitores maduros. Ele contém descrições de


relacionamentos de adultos, situações sexualmente gráficas e lingua-
gem de adultos. Se essas coisas o ofendem, este livro não é para você.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Uma noite fumegante de verão.

Uma traição imperdoável.

Duas vidas mudadas para sempre.

Em MacCaslin não é uma adolescente comum. Ela é uma violi-

nista de renome mundial - até a noite em que sofre uma lesão que

altera sua vida e perde a capacidade de tocar.

Uma noite que ela não consegue se lembrar.

Depois de doze anos fugindo do passado, ela está de volta a

Langley Park e está procurando respostas.

Faíscas voam e paixões acendem quando o homem que ela cul-

pa por sua desgraça insiste em ajudá-la a descobrir os segredos en-

terrados em torno de sua lesão.

Mas nem todo mundo quer que Em aprenda a verdade. Uma

verdade com potencial para matar.

The Sound of Home é um romance sexy independente da série Langley

Park.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
01
Há 12 anos
— Vamos lá, Em. Você tem dezoito anos agora. Você precisa
aprender a viver um pouco.

Mary Michelle MacCaslin, conhecida por seus amigos e familiares


como Em, saiu do carro e encontrou o olhar de Zoe Stein, uma de suas
amigas mais antigas e seu único elo real com a vida adolescente nor-
mal.

— Quero dizer, sério, Em. Você já esteve em uma festa de campo


no Sadie's Hollow?

Zoe sabia que não. “Não é realmente um campo”, Em atirou de vol-


ta.

— Você precisa atravessar um campo para chegar lá. Respondeu


Zoe, removendo um pequeno frasco da mochila e dando um longo gole.
Ela segurou, mas Em acenou com ela. — Vamos lá, um gostinho. Pro-
meto que encontrará o Sr. Daniels como o lubrificante social

— Sr. Quem?

Zoe puxou dois sacos de dormir do carro. Cristo em uma bolacha,


Em! Jack Daniels. É uísque. Vamos, Virgem Maria. Tome um gole.

— Você sabe que eu odeio quando as pessoas me chamam assim.

— Posso te chamar de Wunderkind? É assim que o jornal chama


você, e não vejo você ficando chateada com eles.

Em revirou os olhos. Zoe poderia realmente ser uma dor de bunda


às vezes.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Uma batida passou, e Zoe soltou um suspiro audível. Está bem,
está bem. Eu retiro. Mas essa roupa, Em...

— E a minha roupa? — ela perguntou, mexendo no colar de péro-


las enquanto olhava rapidamente para a saia xadrez.

— É muito mais parecida com a tia Ethel do que uma colegial sa-
fada, Britney Spears, por volta de 'Hit Me Baby One More Time'.

— Zoe, você sabe que eu tive uma apresentação hoje à noite. Tenho
sorte que meu pai me deixou sair.

— Eu sei. Eu sei Zoe respondeu e colocou o frasco na mão de Em.É


por isso que você precisa beber isso. Só temos mais algumas semanas
antes de todos começarem a ir para a faculdade. Esta noite é sobre ser
estúpida, isso! Se divertir e ser estúpido.

— Você disse estúpida duas vezes.

— Sim, porque precisamos ser duplamente estúpidas esta noite. E


sem escrever na sua pequena agenda. Não quero ver álcool em excesso
escrito em seu diário quase obsessivo-compulsivo.

Em deu-lhe um olhar de soslaio. Zoe sempre a provocou sobre seus


muitos diários e agendas.

Ela não iria reconhecer a pequena conversa de sua amiga, então


mudou de assunto. — Eu sei que só fiz o ensino médio online, mas te-
nho certeza de que a palavra que você procura é duplamente.

Em MacCaslin não viveu a vida de um adolescente típico. Risca is-


so. Toda a existência de Em MacCaslin tinha sido bem diferente da
maioria das pessoas. Quando ela tinha quatro anos, seus pais a matri-
cularam em aulas de piano. Ela tocava peças complicadas de Chopin,
Rachmaninoff e Beethoven antes de completar cinco anos. Aos seis, ela
pegou o violino, e os resultados foram os mesmos. Os artigos de jornal
de sua cidade natal, Langley Park, Kansas, a proclamaram "Wunder-
kind" e "Child Musical Prodigy". Aos doze anos, ela se concentrara ape-

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
nas em tocar violino e estava morando em uma mala, viajando para es-
tudar com professores de mestrado em todo o mundo e participando de
competições de elite.

Zoe colocou os olhos de cachorrinho.Por favor, Em. Ficamos a noite


toda. Seu pai acha que você está passando a noite na minha casa, cer-
to?

Em nunca mentiu para o pai, mas Zoe estava implorando para ela
ir a Sadie's Hollow durante todo o verão. Ela pegou sua mochila e en-
controu o olhar de Zoe. Sua amiga havia acrescentado um lábio carnu-
do exagerado aos olhos de seu cachorro.

Em olhou para o chão.Você acha que Michael vai estar lá?

Os lábios de Zoe se curvaram em um sorriso irônico. Ela sabia que


tinha vencido.Eu vou responder a essa pergunta depois que você der
três goles no meu lindo pequeno frasco de Jackie D.

Em olhou para o frasco. Quero dizer, não importa se ele está aqui.
Eu apenas pensei que seria bom vê-lo.

— É isso aí? Você apenas pensou que seria bom vê-lo? Ele é seu vi-
zinho, não é? Você está me dizendo que não o vê desde que voltou?

Zoe estava certa. Michael MacCarron era seu vizinho do lado. Pra-
ticamente todas as memórias de infância dela o incluíra. Nascidos no
mesmo dia no mesmo hospital, Midwest Medical em Langley Park, Kan-
sas, Michael Edward MacCarron e Mary Michelle MacCaslin vieram a
este mundo parecendo gêmeos com seus pequenos tufos de cabelos rui-
vos e pele clara.

Em torceu suas pérolas. Eu não estive tanto tempo assim em casa.


Você sabe disso.

Ela viajava sem parar nos últimos três anos. Duas passagens em
Viena e depois ziguezagueizando entre Londres, Nova York e Tóquio. Foi
emocionante, mas não deixou tempo para visitar o Langley Park.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ela voltou há algumas semanas para se apresentar em vários even-
tos de arrecadação de fundos para a orquestra Kansas City Symphony e
só vislumbrou Michael. Mas, pelos breves olhares, era seguro dizer que
ele não era mais o garoto magro, todos os joelhos e cotovelos afiados,
atirando aros enquanto ouvia Nine Inch Nails. Mais cedo naquela ma-
nhã, ela espiou pela janela e o viu cortar a grama. Ela não conseguia
tirar os olhos do garoto com quem costumava dividir uma piscina infan-
til de plástico quando criança.

Durante o tempo em que esteve fora, ele se transformou no Adonis


de um homem com ombros esculpidos, pernas longas e fortes e costas
que ondulavam com músculos.

Não que isso importasse.

Ela não teve tempo de se preocupar com garotos. Logo, a vida na


estrada ia acabar. Ela havia recebido uma bolsa integral para frequen-
tar a Juilliard School, em Nova York. Em menos de duas semanas, ela
seria algo que não era desde a escola primária: uma aluna comum.

Talvez comum não fosse a palavra certa para descrevê-la.

Ela era tão comum quanto alguém que havia se apresentado para
uma audiência privada para a rainha da Inglaterra. Em, sabia que sua
reputação poderia intimidar alguns dos estudantes; mas ela esperava
que, enquanto estudassem e brincassem juntos, eles a vissem como
uma pessoa real. Uma pessoa que precisava de música para sobreviver,
assim como precisa de ar para respirar. Uma pessoa que não conseguia
imaginar um dia sem Beethoven, Mendelssohn ou Tchaikovsky. Sua
vida sempre giraria em torno da música e agora ela estava cercada por
pessoas da sua idade com a mesma paixão e impulso.

Zoe apontou para o frasco, seu sorriso arrogante ainda no lugar.


Você me da algo. Vou te dar uma coisa.

Em levou o frasco aos lábios e engoliu o líquido ardente e amargo.


Essa bebida tem um gosto ainda pior do que o cheiro.
The Sound Of Home
KRISTA SANDOR
— Vamos lá, Wunderkind . Você tem mais dois goles pela frente.

O álcool das duas últimas tentativas se instalou em sua barriga. —


Essa bebida é terrível.

— Ah, pare de reclamar e pegue um saco de dormir. Precisamos


seguir em frente.

Em pegou o saco de dormir e olhou em volta. — Onde diabos esta-


mos?

Elas haviam dirigido pelo menos uma hora ao sul de Langley Park
e agora estavam diretamente no que parecia ser o meio do nada.

— A pequena cidadezinha de Lyleville, — Zoe respondeu, levando


Em para a escuridão. — Nós apenas temos que passar por este campo e
virar à esquerda no cemitério.

— Cemitério?

— Eu não te contei?Zoe perguntou, dando mais um longo gole no


frasco antes de entregá-lo a Em. É o que há de tão bom neste lugar. Sa-
die's Hollow é essa pequena cratera perto do cemitério de Lyleville. Os
policiais não podem nos ver se passarem nem as pessoas da cidade -
bem o que resta deles na cidade não vêm aqui por causa da lenda.

— Zoe, pare de mexer comigo.

— Eu não estou mexendo com você, Wunderkind. Diz a lenda, há


muito tempo, que uma garota chamada Sadie Wilson deveria encontrar
seu verdadeiro amor aqui. Seu pai, um comerciante rico quando este
lugar era uma cidade real, os proibira de se casar. Então eles decidiram
fugir. Exceto, ele nunca veio. O chamado amor verdadeiro de Sadie aca-
bou fugindo com outra mulher. Na manhã seguinte, Sadie foi encontra-
da pendurada morta em uma árvore. Eles nunca souberam se ela foi
assassinada ou se foi suicídio.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Em olhou para as lápides antigas. Um calafrio percorreu sua espi-
nha. A lápide de Sadie Wilson brilhava assustadoramente ao luar como
um farol de advertência. Ela engoliu em seco e começou a descer um
degrau de pedra calcária que descia até o buraco quando ouviu Zoe sol-
tar um grito.

— Ei. Zoe disse, agarrando sua mochila e puxando-a para fora dos
degraus. O sorriso irônico de sua amiga foi substituído por um olhar
severo.Não dê esses passos. Estou falando sério.

— Por que não?

— As pessoas dizem que esses são os passos para o inferno. Eles


também dizem que quando a lua está cheia, você pode ver Sadie senta-
da neles, chamando pelo homem que a traiu.

Em balançou a cabeça. Era uma conversa maluca, mas isso não


impediu que outro calafrio percorresse sua espinha.

— A coisa toda de 'fantasma de Sadie' provavelmente é apenas


uma história idiota de fogueira, mas por que tentar o destino? Zoe
acrescentou, suavizando seu tom.

Em assentiu e seguiu a amiga descendo a ladeira. O Jack Daniels


estava fazendo seus membros parecerem mais leves e sua cabeça uma
espécie de felicidade, enquanto os sons sobrepostos de várias conversas
permeavam o ar úmido da noite.

Eles emergiram das árvores e passaram para uma clareira. Em viu


pelo menos quarenta, talvez cinquenta crianças em grupos. Pequenas
tendas pontilhavam o vazio enquanto as lanternas balançavam para
frente e para trás como vaga-lumes, e os adolescentes se moviam de
grupo em grupo, rindo e andando a cavalo.

— Eu posso ver por que vocês vêm aqui.Disse Em, examinando os


grandes carvalhos e salgueiros que cercavam a área. Mas Zoe não esta-
va prestando atenção nela.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Zoe aumentou o passo. — Eu vejo Gabe. Vamos dizer oi.

— Você gosta de Gabe Sinclair?

— De jeito nenhum, nada disso, — disseZoe dando uma longa tra-


gada no frasco.

Mas antes que Em pudesse fazer outra pergunta, Zoe estava levan-
do-a para o vazio.

— Ei! Olha quem voltou à cidade.

Ele entregou copos a Em e a Zoe contendo um líquido azul.

Em cheirou a xícara. — O que é isso?

Gabe tomou um gole de sua própria xícara. — Chama-se dinossau-


ro azul. É Kool-Aid Everclear e Blue Raspberry.

— Apenas beba, Em. — Zoe disse, examinando a multidão, depois


focada em Gabe. — Seu irmão vai parar por aqui?

— Sim, Sam estará aqui. — ele disse que deixaria um pouco de


cerveja.

— Como está Sam? — Em perguntou, surpresa com a facilidade


com que o ponche de dinossauro azul caiu em comparação com a quei-
ma do uísque de Zoe.

Gabe sorriu. Ele está bem. Ele ainda acha que pode me dizer o que
fazer, complexo clássico de irmão mais velho, mas está muito mais
tranquilo desde que conheceu Kara.

— Quem? Zoe perguntou, as pontas tingidas de rosa de seu cabelo


voando em seu rosto quando ela voltou sua atenção para Gabe.

— Kara é a nova namorada dele respondeu Gabe, olhando por cima


do ombro de Zoe.Eu acho que são eles agora.

Em e Zoe se viraram para ver o contorno de duas pessoas andando


de mãos dadas, a maior das duas carregando uma caixa de cerveja.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Zoe ficou rígida e voltou sua atenção para um cara alto, vestindo
uma camiseta da Portishead.

— Senhoras e senhores, a farmácia psicodélica está aberta. Se você


quiser, tenho tudo o que precisa para esquecer seus problemas. Alguém
quer fazer uma viagem à Mary Jane Land? Ele perguntou, sacudindo
um saquinho.Os vôos estão partindo.

— Eu! Zoe disse. Ela deixou cair o saco de dormir e a mochila no


chão e depois se virou para Em.Você pode simplesmente deixar nossas
coisas na frente de uma barraca vazia? Michael sempre define uma para
mim. Encontro você daqui a pouco, ok?

Antes que Em pudesse responder, Zoe estava no meio de uma bar-


raca cercada por nuvens de fumaça.

Gabe apontou para a mochila e o saco de dormir de Zoe. — Você


quer alguma ajuda com isso?

— Não, obrigada, Gabe. Eu estou bem respondeu Em.

Ela bebeu os últimos goles do ponche de dinossauro e piscou os


olhos. A luz das lanternas elétricas penduradas nos postes da barraca
ficou turva na noite. Ela piscou novamente, tentando focar o olhar.

— A barraca de Zoe é a azul no fim da fila Gabe colocou uma mão


firme no cotovelo. E, Em, vá devagar com a bebida. Quando o Everclear
entra em ação, bate como um filho da puta.

Isso a fez rir. Ela riu quando partiu para a tenda delas e jogou os
pacotes e sacos de dormir dentro. Alguém lhe entregou outro copo de
ponche e ela engoliu o líquido saboroso em segundos.

Ela examinou o buraco e sorriu. Eram crianças comuns festejando


em Sadie's Hollow antes de irem para a faculdade - e hoje à noite ela
também estava.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ela caminhou pelo perímetro do buraco e procurou nos rostos dos
adolescentes enquanto eles passavam em borrões difusos de gritos e
risadas. Embora tivesse deixado Langley Park aos doze anos para estu-
dar no exterior, reconheceu muitas das crianças da escola. Suas boche-
chas rosadas e uma vez arredondadas estavam mais magras agora, mas
ela podia ver lembretes das crianças de que se lembrava.

Era como se ela tivesse entrado em uma máquina do tempo e ace-


lerado no futuro.

— Eu sou o Dr. Who, extraordinário viajante do tempo. — ela riu.

Ela esticou os braços em direção ao céu, tentou se concentrar na


lua cheia e girou com a cabeça jogada para trás, observando o luar
dançar na ponta dos dedos.

Dedos mágicos.

Foi assim que seu primeiro professor de violino, Tom Lancaster, os


chamou. Ela sorriu e fez uma anotação mental para visitá-lo antes de
partir para Nova York. Mas quando ela estava prestes a afastar o pen-
samento do Sr. Lancaster, seu pé bateu em uma pedra e ela se lançou
para a frente. Quando ela estava prestes a cair de cara no chão, duas
mãos fortes a agarraram pela cintura.

— Não achei que você fosse capaz de ficar em pé por muito mais
tempo, senhorita Time Traveler Extraordinaire.

Um corpo sólido pressionou em suas costas. Ela se virou, querendo


descobrir a identidade de seu socorrista, mas ficou em branco quando
olhou nos olhos de um jovem de cabelos loiros.

— Você não se lembra de mim, lembra?

Em balançou a cabeça e tentou limpar o zumbido do álcool. — Es-


pere. Eu faço. Você é Kyle, Kyle Benson. Eu sou Em MacCaslin.

— Eu sei quem você é, Em. Todo mundo sabe quem você é.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Você teve aulas de violino comigo quando éramos pequenos, cer-
to? Veja, eu me lembro! — Em acrescentou. Sua língua formigou e pa-
recia mais pesada do que o habitual quando ela falou.

Kyle soltou uma risada, as mãos ainda em volta da cintura fina de-
la. — Isso mesmo, mas você sempre foi a melhor.

— Você era muito bom. — respondeu Em. — Você ainda toca?

— Não, eu parei há alguns anos atrás. Eu era bom o suficiente pa-


ra competir em algumas competições estaduais e locais, mas nada pró-
ximo ao seu nível.

— Agora é fotografia, certo, Benson? — veio uma voz da escuridão.

O coração de Em pulou uma batida. Ela teria reconhecido aquela


voz em qualquer lugar.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
02
— Michael! — Em exclamou e apertou a mão dele.

Michael apertou seu aperto. — Eu posso assumir daqui, Benson.

Kyle diminuiu um pouco a pagada em sua cintura e deu um passo


atrás.

— Aqui. — disse Michael, pressionando uma câmera no peito de


Kyle. — Você deve ter perdido isso no chão. Tenho certeza que você não
quer que nada aconteça.

— Obrigado, MacCarron— respondeu Kyle, seu tom vazio de um


pingo de gratidão. — Eu estava apenas me certificando de que Em esta-
va bem.

— Ela vai ficar bem. Estou aqui.

Michael encontrou o olhar de Kyle, e uma carga de testosterona


ondulou entre eles. Um jogo milenar de galinha. A única pergunta era
quem sairia primeiro?

Kyle quebrou o impasse. — Foi bom ver você, Em. — aceitando a


derrota, ele se virou e caminhou em direção a um grupo de adolescentes
em pé ao redor de um barril.

— O que você está fazendo, Em? — Michael perguntou. Seu pri-


meiro impulso foi continuar segurando a mão dela, mas ele se soltou
quando um mal-estar se instalou na boca do estômago.

Em sorriu para ele. — Eu estava girando. Zoe foi para Mary Jane
Land, e eu andei por aí com dinossauros azuis.

Seus lábios se curvaram em um sorriso divertido.

— O que eu quero dizer é que ando por aí bebendo dinossauros


azuis.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Michael riu. — Vejo que você tentou o beber. Quanto você teve?

Em estendeu a mão. Ela levantou o dedo indicador e depois lenta-


mente adicionou o dedo médio. Os olhos dela se estreitaram como se o
controle muscular exigisse um nível sobrenatural de concentração.

Michael balançou a cabeça, Em você não pode nem pesar cem li-
bras. Eu acho que você já teve o suficiente.

— Senti sua falta, Michael, — disse ela, seu olhar abandonando os


dedos e encontrando os dele.

Ele sentiu vontade de tocá-la. Ele queria passar os dedos sobre ca-
da pequena sarda que tinha em suas bochechas.

Pare com isso, MacCarron. Esta não é uma das líderes de torcida
fanáticas disputando atenção. Esta é a Em.

— Vamos nos sentar nas pedras, — disseele.

Ele enfiou as mãos nos bolsos e levou-a a um grupo de pedras


grandes. Eles se estabeleceram em uma e Em se inclinou para ele. O
álcool estava diminuindo suas inibições, e ele gostou - ele gostou mais
do que queria admitir.

Ele não parava de olhar para ela. Ela sempre foi tão bonita? A úl-
tima vez que a viu foi há três anos, quando ela voltou a Langley Park
para passar o Natal com o pai. Os pais de Em se divorciaram quando
ela era jovem, e ela costumava dividir seu tempo entre Langley Park
com o pai e Sydney, na Austrália, com a mãe. Mas uma vez que ela co-
meçou a viajar para estudar violino em todo o mundo, ele a viu cada vez
menos.

Em alisou as pregas da saia e ele deu uma risadinha. Enquanto a


maioria das meninas da festa usava shorts jeans e regatas, deixando
pouco para a imaginação, Em usava uma saia xadrez, um cardigã de
manga curta e um colar de pérolas.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Malditas pérolas.

— Por que você está olhando assim para mim? — ela perguntou.

— Você usava pérolas na festa de Sadie's Hollow, — ele respondeu.


Ele nunca pensou que pérolas e xadrez eram sexy antes desta noite.

— Eu quero que você saiba ela ergueu o dedo indicador, — que ho-
je à noite eu ajudei a levantar bastante dinheiro para a Sinfonia de
Kansas City. Como grandes quantia de dólares.

Jesus, ela era uma adorável bêbada. Você fez, não é?

— Eu certamente fiz respondeu Em, levantando-se e fingindo tocar


violino.

— O que você tocou? Ele perguntou, incapaz de segurar um sorri-


so.

Ela fechou os olhos e começou a se curvar com a mão direita. Ape-


nas Paganini. Nel cor più non mi sento.1

— Ah, sim, apenas a composição mais difícil de Niccolò Paganini e,


sem dúvida, uma das peças mais tecnicamente desafiadoras já escritas?

Ela abriu os olhos e encontrou o olhar dele. Só isso.

Puta merda, ela era impressionante.

— Você pode perder o violino por um minuto e sentar-se novamen-


te. Eu odiaria ver você cair de bunda novamente.

— Eu quase caí no meu traseiro. Felizmente, Kyle Benson estava lá


para me pegar,Em respondeu e se acomodou na rocha.

— Você pode dizer bunda, Em. Ninguém vai ouvir você.

— Eu sei.

1
https://www.youtube.com/watch?v=xNVkRy64teA

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Então diga. Seu pai não está aqui.

Ela torceu suas pérolas.

— Você não pode fazer isso, pode? Uma vez uma boa garota, sem-
pre uma boa garota.

— Ei, — disse Em, agarrando sua mão. Seu toque enviou uma on-
da de eletricidade surgindo do ponto de contato. “Você se lembra de
quando tocamos” Heart and Soul 2"no piano quando estávamos no jar-
dim de infância?

— Como eu poderia esquecer? Seu pai deixou-nos ficar acordados


até tarde e assistir Big. Você perdeu a cabeça vendo Tom Hanks e aque-
le velho pulando no teclado gigante.

— Você se lembra da sua parte? — Ela perguntou, seu rosto espe-


rançoso e branco-amarelado brilhante ao luar.

Doce Cristo, ela era linda. Quando diabos isso aconteceu?

Michael tentou afastar qualquer pensamento sexual de sua mente.


Ele teve que lembrar seu pênis se contraindo que nada poderia aconte-
cer com Em.

Ele soltou um suspiro. Eu poderia soletrar minha parte se fosse


necessário.

— Vamos fazer, — disse ela, em seguida, virou-se para a pedra


longa e lisa.

Em colocou as mãos na rocha como se fosse um piano. Ela gesti-


culou com o queixo para ele fazer o mesmo. Pronto ela disse, e começou
a tocar. Ela o observou com uma sobrancelha franzida enquanto ele fin-
gia brincar ao lado dela. Você está fazendo isso errado. As notas são
mais staccato.

2
https://www.youtube.com/watch?v=cCXoK04gefY

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Em, nós estamos tocando em uma porra de pedra. Como você po-
de dizer?

Eu apenas sei, Michael. É como se a música falasse comigo, como


se estivesse dentro de mim. Sempre esteve comigo.

Porra, ele poderia se perder nos olhos dela. Ela ainda usava aque-
las calcinhas de algodão, aquelas com pequenas flores, como quando
era apenas uma menina?

Chega, MacCarron!

Ele deu um soco mental na boca. Claro que não. Ela não tinha oito
anos. Ela tinha dezoito anos, uma mulher. A garotinha com quem ele
costumava tocar duetos de piano e lanterna cresceu.

Em cutucou-o com o ombro. Coloque sua mão em cima da minha.


Então você poderá sentir como as notas foram tocadas.

Ele colocou a mão grande sobre a dela. Por um segundo, ele pen-
sou que Em tremia, mas então ela começou a tocar. Enquanto seus de-
dos dançavam através das teclas imaginárias do piano, Michael sentiu
cada nota e pôde ouvir a música quase como se estivesse dentro dela,
conectada a ela.

— Veja, se você tocou cada nota um pouco mais.

Ele a silenciou com um beijo. O corpo dela ficou tenso. Ele afastou
uma fração, permitindo que seus dentes beliscassem seu lábio inferior.
O contato fez sua cabeça nadar. Os lábios dela se separaram e ele apro-
fundou o beijo. Ela suspirou em sua boca, suas respirações se tornando
rasas. Se beijar Em fosse a última coisa que ele faria, ele morreria um
homem feliz. Mas ele queria mais. Ele deslizou a língua na boca dela e a
acariciou em um ritmo quente e desesperado, implorando para que ela
correspondesse à sua intensidade.

Em era doce. Tão fodidamente doce. Ele provou o ponche de fram-


boesa na língua dela, mas tinha uma vantagem. Ela deve ter bebido al-

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
go antes do ponche, algo picante como uísque ou rum. Os dois sabores
atacaram seus sentidos e provocaram seu pau. Ele sabia que Em Mac-
Caslin era inocente, todo mundo sabia. Mas a intensidade desse beijo
lhe disse que havia algo mais profundo, algo mais escuro dentro dela,
mesmo que ela não soubesse que existia.

Então o atingiu. Ele estava beijando Mary Michelle MacCaslin.

Jesus, o que ele estava fazendo?

Sua segunda adivinhação terminou quando ela sussurrou o nome


dele, sua voz faminta de necessidade.

— Oh, Michael.

Em falou não apenas com seu pênis, que estava implorando por li-
bertação como um touro em uma rampa, mas com sua alma. Quando
ela guiou a mão dele pelas finas teclas do piano, um despertar quase
espiritual explodiu dentro dele, como se estivesse na encruzilhada de
um tornado e uma maré.

Ele levantou a mão de onde repousava sobre a dela e deslizou as


pontas dos dedos pelo comprimento do braço dela. Ele os arrastou pelo
ombro dela e encontrou o colar de pérolas em volta do pescoço. Lenta-
mente, ele envolveu o delicado colar em volta dos dedos e a puxou para
mais perto. Cada vez que ele torcia outro segmento, Em engasgou como
se ela estivesse se aproximando cada vez mais de algo que seu corpo
nunca soube que queria e não podia mais negar.

Sua respiração ficou irregular, e ele quase entrou em suas calças


quando a mão dela se moveu para descansar em sua coxa. — Em, você
tem gosto de todas as cores do arco-íris — ele sussurrou. Ele puxou o
colar, forçando-a a virar a cabeça e permitir que ele beijasse e lambesse
a pele delicada do pescoço e a área sensível atrás da orelha.

— Michael, ela respirou novamente.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Quando ela disse o nome dele, parecia tão novo, uma melodia du-
radoura trancada em seu coração.

Ele soltou o colar e segurou o rosto dela em suas mãos. — O que é,


Em?

Ela sorriu para ele. Esse foi o meu primeiro beijo.

A admissão foi tão honesta, tão real, tão crua. Ele só conseguiu
responder pressionando os lábios nos dela.

— Hum, Michael e Em.

Droga. Essa não era voz de Em. Era da Tiffany Shelton.

O tom de Tiffany era como o som de um freio de emergência em um


trem em alta velocidade. Ele soltou as pérolas de Em. Ei, Tiff.

Tiffany manteve o olhar fixo nele, o nariz arrebitado, que ele consi-
derava fofo, agora parecia infantil. Gabe diz que todo o equipamento es-
tá pronto para ir. Essa festa esta foda, C, H, A, T, A, sem músicas de-
centes.

Michael virou-se para Em. Eu disco a maioria das festas. Estou fi-
cando muito bom. Muito bom? Tiffany latiu. Você é o maldito chefe.

Michael nem reconheceu os elogios de Tiffany. Deixe-me começar a


música. Você quer que eu pegue outra bebida primeiro?

— Isso foi legal disse Tiffany, segurando uma xícara Solo vermelha
do ponche azul.

Em pegou o copo. Ela sorriu para ele, e seus lábios inchados fize-
ram seu pênis apertar contra sua bermuda. Eu vou ficar bem. Eu vou
encontrar minha barraca. Quero vestir roupas mais confortáveis.

Tiffany bufou. Acho que ninguém lhe disse que é uma zona estri-
tamente sem mangas em Sadie's Hollow.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ele lançou um olhar irritado para Tiffany, depois pegou a mão de
Em. Deixe-me começar a música. Eu vou te encontrar daqui a pouco.

Em assentiu, depois tomou um gole do ponche.

Ele se levantou e seguiu Tiffany. Eles não estavam a quinze metros


de distância antes que ela o puxasse para trás de uma barraca. Você
acha que a senhorita vovó Pearls ali saberia o que fazer com isso. Ela
apalpou seu pau duro através de seus shorts cargo.

Michael não pôde evitar sua resposta. Ele já estava excitado com
aquele beijo com Em. Tiffany não era sua namorada, nem mesmo perto.
Eles estavam juntos em todas as festas de Sadie's Hollow, e ela era gos-
tosa, uma líder de torcida com pernas assassinas. Com Tiff, era foda,
pura e simples.

O que seria com Em?

Nada.

Não seria nada, porque ele não iria transar com ela - não na festa
de Hollie na escola secundária. Não era isso que Em merecia. E ela não
era apenas uma garota. Ela era literalmente uma das principais violinis-
tas do planeta.

A porra do planeta.

Em estava indo para uma carreira brilhante, tocando em todo o


mundo. E o que ele estaria fazendo? Ele queria estudar música. Ele
queria misturar e produzir faixas. Ele queria sentir a batida do baixo
enquanto colocava os sons um em cima do outro, criando algo que era
poderoso, emotivo e real. Mas o que ele estaria fazendo? Seguindo o
plano de seu pai. O plano da faculdade de direito. O plano de continuar
o legado de seu pai.

— Você sabe onde eu estarei depois que você terminar de arrasar


festa ronronou Tiffany. Ainda de frente para ele, ela deu vários passos

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
para trás. Ela estava tentando parecer atraente, mas só conseguiu pa-
recer barata.

— MALDITOS PÁSSAROS BARULHENTOS Michael gemeu, esfregando o


sono dos olhos.

Ele se desembaraçou da perna comprida pendurada sobre a coxa.


Ele era um idiota. Ele deixou Tiff trazer cerveja após cerveja enquanto
ele tocava seu set. E, assim como todas as outras malditas noites vazi-
as, ele acabou transando com ela ao estilo cachorrinho em uma névoa
bêbada.

Ele saiu da tenda e examinou Sadie's Hollow. Outros adolescentes


estavam saindo de suas tendas, protegendo os olhos do sol da manhã
como híbridos de zumbis e vampiros. Ele viu Zoe andando com uma
camiseta amassada de Portishead.

Ela sorriu para ele, mas seu rosto caiu quando Tiffany rastejou pa-
ra fora da tenda.

— Michael! Zoe chamou, olhando para Tiffany Shelton. — Onde es-


tá a Em?

Michael coçou a cabeça. Imaginei que ela te encontraria. Eu não a


vejo desde...

— Desde que você colocou a língua na garganta dela, em seguida,


se deixou cair com essa este vadia vulgar.

— Oh, foda-se, Zoe. Tiffany jogou de volta, depois tentou puxá-lo


para um beijo.

— Descanse um pouco, Tif — disse ele, virando-se e caminhando


até Zoe.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ele cruzou os braços. Como assim, você não sabe onde ela está?
Esta não é o jeito dela, Zoe. Alguém poderia ter se aproveitado dela. Ela
estava bem bêbada quando eu a deixei.

— Eu sei que essa não é o jeito dela, mas eu a vi com você! Eu imaginei
que ela estaria segura com você de todas as pessoas. Eu não pensei que
você a abandonaria por Tiffany, a "foda fácil" Shelton. Você ainda não
superou essa merda?

Michael balançou a cabeça e rolou o pescoço de um lado para o ou-


tro. Vamos procurar no buraco. Ela não poderia ter ido longe. Ela pro-
vavelmente acabou de desmaiar em algum lugar.

Uma camada de suor pegajoso cobria sua pele, mas não era da
umidade abafada do Kansas. — Você a vê? — ele gritou para Zoe, que
estava procurando o lado oposto do buraco.

Ela não respondeu, mas seu ritmo ficou frenético enquanto ela ba-
lançava tendas, acordando os habitantes adormecidos, nenhum dos
quais era Em.

— Vamos verificar as árvores— ele gritou. — Você não acha que ela
entraria no cemitério, não é?

O rosto de Zoe ficou sem toda a cor. — Como eu iria saber? Jesus,
Michael, onde ela está?

— Merda! — Seu olhar foi atraído para o chão, e ele pegou um co-
lar quebrado de pérolas.

— Oh, merda, — disse Zoe, pegando as pérolas da mão.

— Os degraus, — Michael gritou e correu em direção aos degraus


para o inferno.

Longos cabelos ruivos se espalhavam pelas escadas de calcário.


Em ainda usava a mesma saia xadrez e cardigã, mas suas roupas esta-
vam amassadas e sujas com pó de pó acinzentado, como se ela tivesse

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
esbarrado em um quadro negro coberto de giz. Os joelhos estavam ar-
ranhados e ensanguentados.

— Em! Em! Você está bem? — Ele examinou o rosto, o torso, as


pernas e depois viu a mão dela. A mão esquerda dela. A mão que foi
responsável por tocar algumas das mais belas peças de música já com-
postas.

Zoe caiu de joelhos. — Porra! O que aconteceu com a mão dela, Mi-
chael?

Ele ignorou as palavras de Zoe e o reuniu em seus braços. — Em!


Acorde!

Ela estava respirando, a ascensão e queda do peito lhe deu alguma


esperança até que ela abriu os olhos e o pânico se espalhou pelo rosto.
— Você nunca voltou, Michael. Você nunca voltou! E então havia os
homens altos! Os homens altos vieram atrás da ponte! E Paganini! Ele
estava lá também!

Zoe caiu de joelhos e segurou a bochecha de Em na mão. — Mi-


chael, ela está queimando. E, caramba, olhe para os olhos dela. Alguém
lhe deu algo, talvez Ecstasy? Merda, eu não sei.

Gotas de suor brilhavam no lábio superior de Em, e seus olhos di-


latados inundaram de medo. Michael apertou a mandíbula. Porra, ele
era um idiota. — Eu acho que ela está no LSD ou algo assim. Ela não
está fazendo nenhum sentido. Ela deve estar saindo de uma viagem
ruim.

MICHAEL

LIGOU o motor do seu velho Range Rover e entrou na estrada. — E o


seu pai, Zoe? Podemos levá-la para sua casa e seu pai pode consertar a
mão dela.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Zoe estava sentada no banco de trás, segurando Em no colo, uma
toalha enrolada na mão esquerda. — Jesus, Michael! Eu acho que ela
tem pelo menos dois dedos quebrados e esse corte no dedo anelar. Eu
posso ver até os ossos. O que nós vamos fazer? Ela deveria partir para
Juilliard em alguns dias.

— Zoe, foco! Seu pai é cirurgião. Não podemos simplesmente levá-


la para sua casa?

— Meus pais estão em Phoenix neste fim de semana conhecendo a


mãe da noiva do meu irmão. Eles não voltam até tarde hoje à noite. De-
vemos apenas levá-la para casa? —

— Porra, não, Z. Temos que levá-la a um hospital. É a mão esquer-


da dela toda mutilada. Você sabe o que isso pode significar?

Zoe olhou para Em. — Apenas nos leve ao hospital, Michael. Tem
que ser o hospital do meu pai. Tem que ser Midwest Medical em Langley
Park. É o centro de trauma nível mais próximo. Eles conseguirão levar
um cirurgião de mão para lá mais rápido do que em qualquer outro lu-
gar. —

Ele pressionou o pé no acelerador, empurrando o carro além do li-


mite de velocidade. Ele olhou de volta para Zoe pelo espelho retrovisor e
observou o rosto dela amassar enquanto as lágrimas escorriam por su-
as bochechas.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
03
— EU preciso de um médico! Eu preciso de ajuda!

Michael irrompeu pelas portas da sala de emergência do Centro


Médico do Centro-Oeste, carregando Em nos braços.

Ele reprimiu uma maldição quando viu a enfermeira correndo em


sua direção. Anita Benson. Mãe de Kyle Benson.

— Sra. Benson - ele disse. Suas bochechas queimavam de vergo-


nha. — Em precisa de ajuda. Algo aconteceu com a mão dela, e acho
que ela . . .

— Ela está drogada— respondeu a enfermeira, as mãos nos qua-


dris, os olhos implorando para Michael negar.

— Sim, acho que pode ser ácido ou LSD. Mas é algo que a faz alu-
cinar.

Em estendeu a mão boa e bateu em algo imaginário no ar.

A enfermeira Benson franziu os lábios. — Você pensa?

Zoe correu pelas portas do pronto-socorro, e as pontas rosadas de


seu cabelo cortaram lado a lado em suas bochechas.

— E você, Zoe Stein? Você está envolvida nisso tudo também? Não
posso imaginar que seu pai ficaria feliz em tê-la misturada com drogas.

— Não sabemos o que aconteceu, senhora Benson, — disse Zoe,


ecoando Michael. — Nós a encontramos assim há cerca de uma hora.
Ela precisa de ajuda.

Duas outras enfermeiras correram, e a enfermeira Benson fez um


gesto para Michael colocar Em deitada em uma das maca. — Vamos
pegar daqui— disse ela e desapareceu atrás de um conjunto de portas
duplas.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
EM

OLHOU para o prato do hospital Jell-O, a cor imitando o soco de di-


nossauro de Sadie's Hollow.

Zoe sentou na beira da cama do hospital. — O que devemos dizer


aos médicos, Em? Eles vão querer saber o que aconteceu. Jesus, o que
vamos dizer ao seu pai?

Bile cobriu sua garganta, grossa e amarga, e ela empurrou a gela-


tina para longe.

O que aconteceu?

Seus pensamentos saltaram como uma máquina de pinball. As


memórias se materializaram apenas para desaparecer em um piscar de
olhos, assim como uma nova imagem irrompeu na bagunça emaranha-
da de sua consciência. Mas três coisas continuavam aparecendo em um
loop de cores, sensações e sons desconexos: Paganini. Uma ponte Ho-
mem alto.

Paganini fazia sentido. Ela tocara a peça de Paganini no evento dos


doadores antes de ir para Sadie's Hollow. Mas uma ponte? Ela não con-
seguia imaginar. Ela só podia sentir isso - uma sensação esburacada
em seus ossos, como se ela tivesse andado em um veículo atravessando
algo frágil. Ela estava dentro de um carro quando passou pela ponte?
Ela e Zoe não cruzaram nenhuma ponte no caminho para o buraco. Ela
atravessou uma ponte a caminho do evento dos doadores? Não, ela não
fez. E homens altos? As palavras homens altos estavam cimentadas em
sua mente. Mas ela não conseguia imaginar nada sobre homens de ver-
dade: alto ou baixo ou nenhum.

Ela soltou um suspiro. — Não sei o que aconteceu. Tudo o que me


lembro é . . .

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Eu sei, Em. — Zoe a interrompeu. — Homens altos, a ponte es-
buracada e a peça de Paganini, Nel cor più, tanto faz. Você continuava
repetindo isso várias vezes no carro. Não sei o que isso significa.

Em tentou se concentrar. Ela teve que juntar as peças. Mas seu


cérebro parecia fluido e confuso. O médico da emergência havia lhe da-
do um tranqüilizante suave. Isso ajudou a parar o pânico e o medo in-
capacitante, um remanescente de qualquer droga que ela recebera, mas
sua mente ficou incapaz de analisar o real do ilusório.

Michael passou as mãos pelos cabelos. — Alguém lhe ofereceu algo


que parecia um adesivo? Você se lembra com quem você estava?

Ela ignorou as perguntas de Michael e tentou flexionar os dedos.


As enfermeiras disseram para ela não mexer a mão. Ela continuou ten-
tando, mas nada aconteceu.

Nenhum movimento.

Sem dor.

Nada.

Houve danos em pelo menos um dos tendões da mão esquerda.


Sua incapacidade de dobrar o dedo anelar falava com a probabilidade
de uma lesão no tendão flexor. O cirurgião da mão estava a caminho,
mas ninguém no hospital poderia dizer se seria capaz de tocar violino
com o mesmo nível de destreza precisa que conhecera a vida inteira.

Michael enfiou as mãos nos bolsos. — Em, vamos lá. Você precisa
se lembrar de algo.

Ela fechou os olhos. — Isso vai estragar tudo, não é? —Ninguém


respondeu. O silêncio falou alto até que o som de vozes abafadas no
corredor do hospital serpenteou no ar.

— Agora, o bom Deus sabe que eu seria o último a julgar, mas ve-
ja, apenas veja o que Deus deu àquela garota. E o que ela faz com todo

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
esse talento? Ela joga fora para beber, usar drogas e agir como uma
prostituta. Trouxe tudo sobre si mesma, ela fez. E, claro, ela diz que não
consegue se lembrar de nada. —

As palavras da enfermeira Benson pairaram no ar.

Outra enfermeira entrou na sala e inspecionou seu IV. — Seu pai


está a caminho e vamos prepará-la para a cirurgia. — Ela escreveu uma
nota rápida no prontuário do hospital de Em e olhou para Zoe e Micha-
el. — Seus amigos terão que sair.

— Em, vai ficar tudo bem, — disse Zoe, com medo e exaustão
amarrando suas palavras.

— Estaremos na sala de espera. Vamos vê-lo no minuto em que


você sair da cirurgia — disse Michael, deixando a cabeceira ao lado de
Zoe.

Em não suportava nem olhar para eles. — Apenas vá.

Zoe enxugou uma lágrima. — Nós não estaremos longe. Vai ficar
tudo bem.

A cabeça de Em levantou e ela encontrou o olhar choroso de Zoe.


— Ok? Vai ficar tudo bem?

— Eu só quero dizer isso

— Ela só quer dizer que estamos aqui para você, Em—, — disse
Michael.

O quarto ficou quieto por uma batida, depois duas.

— SAIA!— As palavras rasgaram a garganta de Em, cortando o ar


como um milhão de cacos de vidro.

Ninguém se mexeu. A sala parou como se estivesse congelada em


um estado suspenso de descrença. A raiva inundou o sistema de Em.
Uma onda de dor, raiva e amargura percorreu suas veias. Isso foi culpa

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
deles. Culpa de Michael e Zoe. Eles a abandonaram. Eles a abandona-
ram.

Em saltou da cama do hospital e o IV se soltou. O equipamento


médico apitou em uma cacofonia frenética e agitou o ar carregado.

Em investiu contra sua amiga. — Tira essa merda daqui. NUNCA


QUERO VER MAIS UM DE VOCÊS!

A enfermeira a agarrou pela cintura. Mas um interruptor havia si-


do acionado. Para Em, todo mundo era uma ameaça, e sua única opção
era lutar.

— Eu preciso de ajuda aqui, — a enfermeira chamou. — Temos um


código verde.

O olhar de Em saltou entre os rostos de seus amigos. Ela gostou do


medo e da vergonha que viu refletidos nos olhos de Michael e Zoe. Era
como combustível para sua raiva.

Uma enfermeira correu com uma seringa. Uma picada e queimadu-


ra se espalharam por seu braço quando uma onda de dormência difusa
tomou conta de seu corpo. Seus olhos pesados encontraram o olhar de
Michael. Você nunca voltou. Você nunca voltou para mim, Michael.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
04
PRESENTE DIA - 30 DE OUTUBRO

— Holy, vaca! Eu nunca pensei que algo assim pudesse acontecer


comigo! —

Droga! Ele estava falando de novo.

Em montou o programador de computador educado, e sua saia


subiu ao redor dos quadris.

Ela voou diretamente de Sydney, na Austrália, para Los Angeles,


sentada ao lado de um padre que estava mais interessado em salvar
sua alma do que entrar em sua calcinha. Mas sua sorte mudou quando
ela transferiu os aviões nas últimas três horas da viagem de LAX para
Kansas City. Ela sentou ao lado de? Aaron, Adam? Alguma coisa. Ela
nem tentou lembrar o nome dele quando ele se apresentou e lhe ofere-
ceu um chiclete.

Chiclete, pelo amor de Deus.

Ela recusou o chiclete, mas serviu-se de dois Jack Daniels e


Coca-Cola durante o vôo.

Ela deveria ter encomendado um terceiro.

— Quanto menos falar, melhor, — disse ela e mudou de corpo. Ela


deveria ter perguntado a esse cara que tipo de carro ele dirigia antes
que ela decidisse transar com ele. Enroscar um Prius dentro de uma
garagem do aeroporto não foi tarefa fácil. Mas ela gostava dos nerds.
Eles eram inofensivos e fáceis de controlar. Ela provavelmente era uma
lenda no Reddit agora.

— Mary Michelle— disse o programador. Duas palavras. Quatro sí-


labas. Ela parou de usar seu apelido, Em, e começou a usar seu nome
real mais de uma década atrás após o acidente em Sadie's Hollow. Mas

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
aqui, no Kansas, parecia errado. Em sua cidade natal, Langley Park, ela
sempre fora Em por causa dele. A própria pessoa que ela nunca perdoa-
ria.

Ela tentou não parecer irritada. — O que é Aaron?

— É Adam.

— Claro que sim— disse ela. Ela levantou a blusa e revelou um su-
tiã de renda preta. Se isso não o calasse, nada o faria. Os nerds adora-
vam renda preta.

Como se fosse uma sugestão, as mãos de Adam encontraram seus


seios. Ele puxou a renda fina e enterrou o rosto no decote dela.

— Preservativo, — disse Em, puxando o pacote Trojan do bolso.

— Certo, certo. Você quer que eu…

Ela pressionou os seios no rosto de Adam e levantou o corpo. Ela


rasgou o invólucro de preservativo com os dentes, abriu o zíper do pro-
gramador e alcançou seu pênis - que parecia bastante substancial.
Aquilo foi uma surpresa agradável.

— Você realmente conhece o caminho de um cara, não é? — Adam


perguntou sua voz uma mistura de medo e desejo.

Ela afundou em seu pau embainhado. — Eu sei uma coisa ou duas


sobre uma coisa ou duas.

Em revirou os quadris. Se ela cavalgasse com esse nerd, ele chega-


ria em trinta segundos e ela precisava que ele durasse. Na maior parte,
o sexo se tornou uma ferramenta para se distanciar de suas emoções.
Em seu mundo, sexo significava poder, e poder significava controle.
Mas sua mente nem sempre cooperava.

— Aaron, eu vou montá-lo como uma vaqueira

Os olhos do programador se arregalaram, e as pontas dos dedos


cravaram nos quadris dela.
The Sound Of Home
KRISTA SANDOR
Ela agarrou o apoio de cabeça e balançou o corpo para cima e para
baixo, aumentando a velocidade como um trem de carga. Ela fechou os
olhos e uma enxurrada de imagens, sons e sensações brilhou como
uma luz estroboscópica dentro de sua mente.

Paganini. A torção complexa de notas fluiu através de seu corpo.

A ponte de madeira Cada impulso imitava o movimento agitado que


seus músculos recordavam.

Homem alto. Isso nunca fez sentido. Mas as palavras foram cimen-
tadas em seu cérebro.

Ela abriu os olhos. Ela precisava parar o fluxo de lembranças, não


permitir que elas voltassem correndo.

— Estou chegando perto, Mary Michelle. Tão muito . . .

Acabou, e a onda de memórias recuou para as profundezas ocultas


de sua mente.

— Você quer que eu lhe ligue?

Pobre Aaron - ou era Adam? Ela esqueceu novamente. Em olhou


para seus cabelos castanhos despenteados e seus olhos, sonhadores de
gratificação. — Não, você não precisa me ligar. —

— Obrigado, eu acho. Obrigado por...

— Porra, — disse ela, saindo do colo dele e no banco do passageiro.

— Não, quero dizer, bem, sim.

— Você é doce. — Ela acendeu uma luz interior, ajustou o espelho


retrovisor e verificou o rosto. Seus olhos azuis estavam alinhados com
delineador preto e esfumaçados com sombra cinza. Ela notou as sardas
fracas em suas bochechas provocando-a. Ela podia se esconder atrás da
maquiagem, esconder-se de si mesma, mas por baixo de tudo estava
sua pele branca e cremosa, salpicada de sardas após sardas: o rosto de
Em MacCaslin.
The Sound Of Home
KRISTA SANDOR
Adam removeu o preservativo e amarrou-o. Ele ajeitou a cueca bo-
xer. Eles foram adornados com notas musicais.

Ele ofereceu a Em um sorriso tímido. — Eles foram um presente da


minha avó. Eu toquei piano quando era mais jovem. Eu não toquei em
um em anos, mas minha avó ainda me compra como se eu tivesse seis
anos de idade.

Um músculo pulsou em sua mandíbula.

— Você toca? Quero dizer, você já tocou um instrumento?

Em abriu a porta do carro. Um formigamento de eletricidade pul-


sava em seus dedos como se eles estivessem implorando por reconhe-
cimento.

Ela cerrou os punhos. — Não, eu não toco nenhum instrumento.

— VOCÊ TEM PLANOS PARA O HALLOWEEN?

Em encontrou o olhar do taxista no espelho retrovisor e balançou a


cabeça.

— Eu moro em Lenexa— ele disse, descansando o braço sobre o


banco da frente, — mas acho que minha esposa e eu vamos levar nossa
filha a Langley Park para doces ou travessuras amanhã à noite. Eles
fazem tudo certo, você sabe - os jardins botânicos estão todos ilumina-
dos, as lojas distribuindo doces, música na praça da cidade. Fomos no
ano passado e minha pequena Becky adorou.

O taxista entrou na Langley Park Boulevard e o Centro Médico e


Psiquiátrico de Midwest apareceu. Uma ambulância com suas sirenes
tocou na entrada da sala de emergência.

— Você está bem ai atrás, senhorita?

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ela havia embalado a mão esquerda como um pássaro ferido, se-
gurando-a no peito e massageando a cicatriz no dedo anelar. Ela deixou
cair as mãos. — Estou bem.

— Você é daqui ou está apenas visitando?

— Meu pai mora em Langley Park.

— Isso é bom! Muito bom! Aposto que ele ficará feliz em vê-la. —

— Ele está doente. — Ela respirou fundo. As palavras simplesmen-


te voaram.

A testa do taxista se enrugou no espelho. — Lamento ouvir isso,


senhorita. Ele está na Midwest Medical?

— Não, ele acabou de se mudar para o Langley Park Senior Living


Campus.

Por que ela estava descarregando nesse cara? Não era dela se der-
ramar assim, n coragem.

— Esse lugar é o padrão-ouro para o atendimento a idosos. Pelo


menos, foi o que ouvi. Eles têm um centro de atendimento de alto nível
para a doença de Alzheimer. É por isso que seu pai está lá?

— Não, ele não está lá para Alzheimer. Ele tem DPOC.

O taxista inclinou a cabeça.

— Doença de obstrução pulmonar crônica. É um distúrbio respira-


tório— - acrescentou ela, inclinando a cabeça para trás e fechando os
olhos.

Era um distúrbio respiratório que seu pai tinha por causa dela. O
acidente dela o levou a voltar a fumar. Ele havia desistido quando ela
era bebê, mas após o ferimento, o estresse e a culpa o levaram de volta
ao hábito de lobo solitário.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Alguns momentos de silêncio se passaram antes que o taxista fa-
lasse novamente. — Alguém deve estar se casando ou algo assim no Pa-
vilhão do Lago Botanic Gardens

Em sentou-se e olhou pela janela. O brilho das luzes brancas do


pavilhão refletia na água escura do lago Boley. Quantas vezes ela brin-
cou lá quando criança? Quantas vezes ela se apresentou lá? Os dedos
dela se contraíram.

— Eu tenho que contar, sim. Adoro dirigir até o parque Langley, —


disse o taxista enquanto passavam pelo lago e dirigiam para o centro da
cidade, todos os vestígios de sua sombria conversa apagados.

Fazia mais de uma década desde que ela voltou. Nos primeiros
anos após o acidente, seu pai a visitou na Austrália. Essas visitas foram
difíceis. Eles nunca conversaram sobre sua lesão, e a culpa pairava so-
bre cada interação. Suas visitas iam de uma vez por ano a cada poucos
anos e agora, aqui estava ela, dirigindo para Langley Park. Fazia três
anos desde que ela viu o pai. Em sua última visita à Austrália, ele ten-
tou esconder o cheiro do tabaco com balas de hortelã e chiclete. Ele
atribuiu uma tosse quase constante às alergias. Em sabia no minuto
que ele a deixou, ele estava fumando.

Ela engoliu em seco o nó na garganta. — Isso mudou um pouco


desde a última vez que estive aqui.

— Você deve ter ido embora há muito tempo. Dez, quinze anos
atrás, eram principalmente idosos e muitas lojas vazias. Mas agora, é
como Beaver Cleaverville por aqui. Todo mundo está comprando as ca-
sas antigas e reformando-as. Você nunca saberia que Kansas City fica-
va a apenas alguns quilômetros de distância. Parece Smalltown, EUA.

Com uma população de quase quatro mil habitantes, o pequeno


município de Langley Park era um paraíso para pedestres e de bicicleta,
para famílias e jovens profissionais que clamam por morar nas encan-
tadoras casas de estilo Tudor, Federal ou bangalô, construídas na dé-

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
cada de 1930, cercavam o centro da cidade ao norte, sul e oeste. Os
Jardins Botânicos de Langley Park, situados ao lado do Lago Boley, fa-
ziam fronteira com o centro da cidade a leste.

— Você quer um pequeno passeio pelo centro da cidade antes de


eu te deixar? Eles têm tudo decorado para os doces ou travessuras.

Em assentiu. Ela precisava de um pouco mais de tempo na segu-


rança do táxi. Uma vez que ela saísse daquele carro, tudo se tornaria
real.

O taxista passou por sua rua, depois virou à direita no quarteirão


seguinte e seguiu para o norte na Baneberry Drive. Mesmo às nove ho-
ras de uma noite fria de outubro, a cidade estava cheia de atividades. O
centro da cidade de Langley Park percorria quatro quadras de leste a
oeste e três quadras de norte a sul. Embalado com escritórios profissio-
nais, butiques da moda e restaurantes, os moradores vestidos com ca-
sacos e lenços passeavam pelas ruas. O Scoop, a sorveteria local, ainda
tinha famílias alinhadas para seus batidos caseiros e banhos duplos. A
fonte em camadas na praça da cidade era iluminada por luzes brancas
que cruzavam o espaço e balançavam com a brisa da noite.

— Quer que eu continue dirigindo, senhorita? O estúdio de ioga na


Mulberry Drive tem um ótimo esqueleto na janela.

— Tudo bem. Eu já vi o suficiente. — Langley Park havia mudado,


mas os ecos de sua vida passada permaneceram. Mil anos poderiam
passar, mas ela sempre reconheceria esse lugar. Estava nos ossos dela,
uma parte dela. Não importava que ela tivesse se mudado do outro lado
do mundo, essa era sua cidade natal. Ela era a garota de ouro aqui, era
uma vez. Agora ela rezava para que ninguém a reconhecesse.

A casa do pai dela ficava no bairro a alguns quarteirões ao sul do


centro da cidade. O táxi virou na rua Foxglove Lane e seu pulso acele-
rou. Todas as ruas de Langley Park receberam o nome de plantas nati-
vas do Kansas, mas a flor Foxglove, com formato de sino e pétalas vi-

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
brantes, costumava ter um significado especial para ela. Digitalis pur-
purea, o nome científico da planta, significa "dedo".

Quando menina, ela se perguntava se sua capacidade de tocar pi-


ano e violino vinha magicamente das flores de dedaleira que cresciam
em lindos ramos por todo o parque de Langley. Só mais tarde, depois do
acidente, ela soube que o lindo broto era extremamente venenoso. Era
irônico como os dedos dela, os dedos que ela pensava que eram tola-
mente mágicos, agora eram responsáveis pela doença de seu pai.

— Aqui estamos senhorita. 718 Foxglove Lane.

Ela olhou para a casa.

— Ei, essa é uma daquelas casas americanas do Quadrangular?


Você não vê muitos por aqui.

A maioria das casas em Langley Park era do tipo Tudor, com al-
guns bangalôs coloniais, federais e aconchegantes espalhados. Enquan-
to o Quadrangular americano compartilhava algumas semelhanças com
o estilo federal boxier, o Quadrangular exibia uma grande trapeira cen-
tral e um telhado baixo de pirâmide e quadril que deixava um pouco de
saliência. Quando criança, ela costumava ficar de pé ao lado de sua ca-
sa e pressionar seu corpinho nos tijolos arranhados para se manter se-
ca durante as tempestades de verão. Mas um choque de raiva esmagou
a doce lembrança quando ela se lembrou de quem estava pressionado
contra a casa ao lado, sorrindo para ela.

— E olhe! Há outro quadrangular americano ao lado! — o taxista


exclamou.

O Quadrangular Americano ao lado dela estava escuro, mas havia


uma luz acesa dentro da garagem autônoma situada no final de sua en-
trada.

— Sim, — ela respondeu. Seu tom pingava veneno. —Dois qua-


drangulares americanos, lado a lado.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
05
— GOSTO de abençoar os irlandeses.

Em pousou a mala e olhou para a garrafa de uísque irlandês Tee-


ling Single Grain, sentada em um aparador na sala de estar.

Ela se serviu de um copo e caminhou pela casa escura, arrastando


as pontas dos dedos ao longo da parede. Sugestões de fumaça de tabaco
perfumavam o ar. Alguém estaria morando aqui em breve. Estranhos
cozinhariam na cozinha e dormiriam nos quartos. Talvez uma família
morasse aqui. Talvez eles tivessem uma garotinha.

Pare! Tire esse final feliz, besteira sonhadora da sua cabeça.

Uma semana atrás, seu pai ligou. Mas essa ligação era diferente
dos check-ins sem graça. Ele havia se mudado para uma cabana de es-
tar assistida no Campus de Vida Sênior de Langley Park. Aconteceu rá-
pido. Duas semanas antes, ele sofreu seis ataques respiratórios e pas-
sou dez dias internado no hospital. Os médicos disseram ao pai que, a
menos que ele quisesse uma vida que girasse em torno das visitas às
urgências e emergências, viver por conta própria não era mais uma op-
ção viável. Então, quando uma unidade cobiçada no campus de vida
assistida ficou disponível, ele a pegou.

Em tomou um gole de uísque e examinou sua casa de infância. O


Quadrangular americano era, como o nome sugeria, uma grande praça.
Uma grande sala de estar retangular separada no centro por um pe-
queno vestíbulo e uma escada formava a frente da casa, enquanto a sa-
la de jantar e a cozinha ficavam lado a lado na parte de trás da estrutu-
ra. Quatro quartos arrumados e quadrados compunham o segundo an-
dar.

Seu piano de cauda Steinway ainda estava no canto da sala de es-


tar. A luz do poste refletia o acabamento polido de mogno. Em flexionou

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
os dedos. As teclas suaves de abeto sussurravam como a música de
uma sirene que chamava a ser tocada. Ela resistiu ao desejo de passar
os dedos pela longa extensão de teclado em preto e branco. Ela não
acendeu nenhuma luz e a casa permaneceu envolta em trevas. Ela pre-
cisava que estivesse escuro. A escuridão abafou o emaranhado de me-
mórias embrulhadas nesta casa.

Um chiado agudo veio da cozinha. Em franziu a testa, tomou outro


gole de uísque e foi investigar. O som parou quando ela examinou o es-
paço. O relógio digital no forno marcava 10:27. Ela ficou lá uma batida
e ouviu. Lá estava novamente. Estava vindo da janela. Ela passou o de-
do ao longo da borda, encontrou a trava e a pressionou firmemente no
lugar, silenciando o som estridente e sibilante. A brisa de outubro deve
ter pegado e sacudido a trava aberta. Seu Quadrangular americano era
de tijolo e argamassa sólidos, mas as janelas originais da década de
1930, embora encantadoras, pouco fizeram para combater o vento do
Kansas.

Ela abriu a geladeira e a luz interior iluminou a cozinha confortá-


vel. Um grande saco de doces de Halloween estava no balcão, ao lado de
uma planta de casa murcha e de aparência genérica. Os balcões do
açougue pareciam gastos, e a luz fraca destacava os arranhões e cortes
que assolavam os armários antigos.

Ela pegou uma caixa de leite, cheirou e fez uma careta com o chei-
ro azedo. Um pedaço de queijo cheddar com mofo nas bordas estava em
um prato ao lado de uma caixa de comida do The Park Tavern Grill. Ela
fechou a porta e rasgou a sacola de doces.

Ela estava protelando.

Em colocou um Kit Kat em sua boca e caminhou até as escadas.


Ela teve que ir para o quarto dela. Olhando para a garrafa de uísque,
ela encheu novamente o copo e depois subiu as escadas. A porta do

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
quarto dela estava fechada. Ela tocou a maçaneta com cuidado, como
se tentasse verificar se havia fogo do outro lado.

Estava gelado.

Ela girou a maçaneta. As dobradiças chiaram. Ela abriu a porta e


um cheiro rançoso encheu a sala.

Ela deu dois passos hesitantes para dentro. A luz da lua brilhava
através da janela e ela ofegou. — Ele nunca tocou em nada.

Placas quebradas, troféus dobrados e fotografias rasgadas espalha-


vam-se pelo chão. O quarto dela era uma cápsula do tempo. Um santu-
ário para o último dia que ela passara nesta casa.

— NÃO PODEMOS DIZER DEFINITIVAMENTE se você recuperará o mesmo


nível de função e destreza. —

O Dr. Neil Stein, pai de Zoe e chefe de cirurgia do Centro Médico e


Psiquiátrico de Midwest, estava sentado na beira da cama, mas Em não
encontrou seu olhar.

— Não fiz a cirurgia, mas observei todas as anotações e fotos do


reparo da Dra. Medina. Foi um rasgo limpo do tendão, e ela notou que o
nervo e a artéria digital permaneciam intactos. Isso é bom, Em.

Em embalou seu dedo quebrado. Ela não tinha falado uma palavra
desde sua explosão no hospital. Uma semana se passou desde a cirur-
gia. Mesmo com a chegada da mãe, ela ainda não tinha pronunciado
uma palavra.

— Você precisará usar a tala por várias semanas e fazer os exercí-


cios com as mãos— disse Stein, modelando o exercício movendo sua-
vemente o dedo anelar com a outra mão. — Certifique-se de que sua
boa mão esteja fazendo todo o trabalho. Não queremos que você dobre o

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
dedo reparado sozinho. O tendão precisa se curar, mas movê-lo ajudará
a diminuir a chance de o tendão grudar no tecido próximo.

Ela observou as mãos do dr. Stein, mas sua mente estava na corda
A, a terceira corda do violino, e como seu dedo anular dançava, desliza-
va e estalava agilmente ao longo dele.

A Dra. Stein deu um tapinha na perna dela. — Em querida? Você


tem alguma pergunta?

Ela não respondeu.

Sua mãe havia trançado os cabelos naquela manhã. Uma adorável


trança rabo de peixe que serpenteava na parte de trás da cabeça e des-
cansava vários centímetros abaixo do ombro direito. Ela balançou a ca-
beça e olhou para a trança. Ela queria que o Dr. Stein fosse embora.
Suas palavras apenas solidificaram o que ela já sabia. Não haveria Juil-
liard. Não haveria vida tocando a música que ela amava.

— Tudo bem então. Tome cuidado, Em.

Assim que o Dr. Stein saiu, Em ficou de pé, fechou a porta e a


trancou. Ela pressionou as costas contra a madeira dura e examinou a
sala. Troféus alinhados em todas as prateleiras e fitas e certificados
pendurados ordenadamente, preenchendo cada centímetro do espaço
da parede. Todos esses lembretes de seu passado a estavam provocan-
do.

Você perdeu tudo, e é tudo culpa sua.

— Cale a boca, — ela sussurrou. As palavras tinham gosto de ca-


cos de vidro.

Um vulcão de raiva rasgou seu corpo. Ela rasgou as fitas azuis de


onde estavam penduradas na parede. Era bom derrubar esses símbolos
de sua antiga vida. Ela passou a mão pela parte superior da penteadei-
ra. O clamor satisfatório do metal atingindo o metal soou como troféus
caídos no chão. Endorfinas invadiram seu corpo, e ela continuou como

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
um corredor de maratona, atingindo a marca de vinte e cinco quilôme-
tros.

Não havia como parar agora.

Seus pais bateram na porta. Ela ignorou os pedidos e se concen-


trou na caixa de violino em cima da mesa. Ela abriu a tampa e levantou
o violino do seu compartimento aveludado. Ao longo dos anos, ela teve o
privilégio de tocar alguns dos mais requintados instrumentos de corda
já criados, no valor de centenas de milhares, se não milhões de dólares.

Stradivarius, Vuillaume, Guarneri.

Em tinha a história em suas mãos enquanto orquestras a acompa-


nhavam por todo o mundo. Mas aquele pedaço de madeira e barbante
que ela segurava na mão agora, carinhosamente apelidado de Polly, a
deixou de joelhos.

Feito de pinheiro suíço, seu olhar varreu o instrumento: um violino


de tamanho grande de Paul Bailly, produzido em 1880. Foi um presente
de seus pais. Não era da mesma liga que os Strads que ela havia tocado
emprestado, mas esse violino teve um custo significativo para o pai. Ele
brincou que, enquanto algumas meninas queriam um pônei, a sua me-
nina queria um violino feito por um renomado luthier treinado pelas
lendas Jules Galliard e Jean-Baptiste Vuillaume.

Em segurou o violino na frente dela como se alguém estivesse ava-


liando ceticamente um item em uma venda de quintal. Ela avaliou o vio-
lino e olhou para baixo do pescoço, passando pelos delicados f-f.

Esmagá-lo.

Rasgue os pinos.

Rasgue as cordas.

Esta não é mais sua vida.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
As vozes zangadas em sua cabeça a convidaram a destruir esse elo
tangível a uma vida que não seria mais dela. Ela apertou o pescoço do
violino quando sua respiração veio em passadas curtas. Parecia errado
estar segurando o instrumento na mão direita. Sua mão direita estava
curvada e seus músculos ficaram tensos com o desconhecimento da
posição. Ela olhou para a mão esquerda imobilizada, pendendo flácida e
inútil ao seu lado, e seu peito se apertou de emoção.

Ela precisava segurar Polly uma última vez. Ela equilibrou o pesco-
ço do violino na mão esticada. O queixo dela se conectou com o resto do
queixo enquanto seu corpo encontrava um alinhamento perfeito, e seus
músculos relaxavam em posição. Como o último adeus entre os aman-
tes no final de um caso, ela inalou o cheiro de madeira e resina. Ela fe-
chou os olhos e lembrou-se da última peça que tocara, Nel cor più non
mi sento, de Paganini.

Traduzido do italiano: No meu coração, não sinto mais.

A partir desse momento, ela não sentiria mais nada. Uma voz som-
bria sacudiu sua mente. Raiva e raiva seria um santuário do tormento
de seus sonhos perdidos. Ela olhou o instrumento e sua visão ficou em-
baçada. Ela sabia o que tinha que fazer.

EM ENTROU no quarto de sua infância e pegou uma foto quebrada


do chão. Com apenas o luar, ela ainda conseguia distinguir a imagem.
Era uma foto de seu primeiro verão em Shelter Island, Nova York, onde
ela havia participado de um acampamento de prestígio para algumas
dezenas de músicos jovens mais talentosos do mundo.

Ela assumiu que o pai jogara tudo fora ou, pelo menos, colocara
essas lembranças do passado em uma caixa, deixadas para sentar
abandonadas e esquecidas no canto do porão como velhos anuários do
ensino médio.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ela terminou o uísque e colocou o copo na mesa ao lado de uma
caixa de violino fechada.

As feridas de seu passado, antes escondidas sob camadas de raiva


e indiferença forçada, formigavam quando ela tocou a cicatriz irregular
no dedo anelar esquerdo. Deitou-se na cama, dobrou-se no canto da
sala e olhou pela janela apenas para ver a janela escura do quarto da
casa ao lado. Quarto de infância de Michael. Mas antes que seus pen-
samentos pudessem se mover para Michael MacCarron, para seu sorri-
so torto e a maneira como ele sempre cheirava a hortelã e erva-cidreira,
algo pequeno e esburacado cavou em seu ombro. Ela estendeu a mão e
puxou um longo colar de contas. O colar deve estar deitado em sua ca-
ma. Enquanto ela tocava os orbes minúsculos, a respiração ficou presa
na garganta.

As pérolas da avó.

Um presente lhe foi passado da avó australiana. Era a herança es-


timada que ela usava quando costumava se apresentar. Seus dedos to-
caram cada conta reverentemente, metodicamente, como se rezasse o
rosário. Mas algo estava faltando. O fecho vintage em forma de quadra-
do. O fecho desapareceu há muito tempo, perdido na noite em que ela
não conseguia se lembrar.

Naquela noite maldita.

Mesmo depois de mais de uma década tentando juntar os eventos,


ele permaneceu um enigma. Nublado e distorcido como um quadro
apagado às pressas, deixando apenas fragmentos obscuros de imagens
e palavras.

Em engoliu em seco. Ela precisava parar a tempestade de tristeza e


desgosto que ameaçava dominar seu coração. Ela enrolou o colar que-
brado em volta da mão e deslizou dentro da calcinha. Ela fechou os
olhos e esfregou as pérolas contra seu pacote sensível de nervos, sen-
tindo a excitação tomar conta.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ela ia pegar aquelas pérolas e mostrar quem estava no comando
agora. Raiva e luxúria percorreram seu corpo. Ela pressionou as pérolas
em seu ponto ideal e fez pequenos círculos rítmicos, provocando seu
sexo a pulsar sob seu toque.

A casa estava parada quando ela alcançou seu pico, e ela gritou em
uma onda de fúria e alívio.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
06
— Estou aqui para ver Bill MacCaslin. Eu sou filha dele.

Em estava no portão de segurança do campus de Langley Park Se-


nior Living e protegeu os olhos vermelhos do sol.

Ela terminou o uísque tarde da noite passada e sucumbiu a dezes-


seis horas de sono. Ela sonhava em tocar violino. Um sonho que ela ti-
nha todas as noites; e, embora a raiva a isolasse da dor de sua perda
durante as horas de vigília, a força da música não era páreo para sua
mente subconsciente.

— Filha de Bill MacCaslin, — o segurança repetiu e estreitou os


olhos.

— Sim, ele se mudou para uma das casas assistidas na semana


passada. Estou aqui para visitá-lo. —

O guarda de segurança era um cavalheiro mais velho que parecia


ter sessenta e poucos anos. Ela o conhecia de algum lugar? Ele não pa-
recia familiar.

— Você quebrou o coração do seu pai.

Em endureceu o olhar. — Eu te conheço, senhor?

— Não, você não me conhece. Mas, há muito tempo, você significou


algo para esta cidade, e todo mundo viu o que aconteceu com o pobre
Bill depois que você jogou fora seu futuro para ficar bêbada e chapada.
Seu pequeno acidente não apareceu nos jornais, mas as pessoas falam
em Langley Park. Lembro-me de que Bill costumava ir ao café a cami-
nho da universidade. Eu o via de tempos em tempos antes de iniciar
meu turno trabalhando com segurança no hospital. Ele sorria de orelha
a orelha, dizendo a toda a loja sobre você tocar violino neste lugar chi-
que e naquela cidade chique. Ele nunca mais foi o mesmo depois do seu

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
acidente. Partiu o coração desta cidade ver aquele pobre homem viver
com esse tipo de tristeza. —

Suas narinas dilataram e ela apertou as mãos em punhos aperta-


dos, mas a torção em seu intestino disse que ele estava certo. Suas pa-
lavras também confirmaram seu pior medo: a cidade inteira sabia do
que aconteceu em Sadie's Hollow, e eles a culparam.

Em ergueu o queixo uma fração e engoliu sua culpa. — Meu pai


está me esperando. Acho que terminamos aqui. —

Com um último desdém, o segurança entregou-lhe um mapa e a


conduziu através do portão.

Ela continuou subindo a calçada paralela à entrada principal. O


campus ficava a apenas dez minutos a pé da casa dela em Foxglove La-
ne. Ela poderia ter dirigido o cupê Mercedes-Benz vermelho maçã de
1980 que seu pai mantinha trancado na garagem da casa de carros,
mas ela precisava caminhar para clarear a cabeça.

Ela agarrou o mapa e forçou o ar fresco aos pulmões. Ela não po-
dia chegar à casa de seu pai toda extressada.

Em examinou o gramado. Este lugar parecia um infomercial para


idosos ativos. Havia um grupo praticando Tai Chi no gramado, enquan-
to vários senhores imponentes jogavam bocha nas proximidades.

A totalidade do Senior Living Campus ficava no canto sudoeste do


Langley Park, do outro lado da rua dos Jardins Botânicos de Langley
Park e a menos de cinco minutos de carro do Centro Médico e Psiquiá-
trico de Midwest. O complexo fechado consistia em moradias em banda
para idosos que ainda moravam de forma independente e em casas de
campo para pessoas que precisavam de cuidados em casa. Um centro
de atendimento à memória para indivíduos com Alzheimer e demência
foi alojado dentro do edifício principal.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Em olhou para o mapa. Além do edifício principal que abrigava a
unidade de tratamento de memória, também continha uma área de re-
feições, um café, salas de artesanato, um centro de bem-estar com pis-
cina olímpica, cinema e até um salão de baile.

Este lugar não podia ficar barato.

Ela passou pelo prédio principal e seguiu em direção à comunidade


do bairro, que consistia em uma grade de quatro ruas pontilhadas de
casas e chalés. Isso a lembrou de uma pequena vila que ela havia visi-
tado no interior da Inglaterra depois de se apresentar na Filarmônica de
Londres.

Ela estava prestes a virar a rua do pai quando um homem andan-


do de bicicleta com um banco coberto veio correndo pela curva.

— Desculpe, moça, — gritou o cavaleiro, imperturbável, enquanto


duas mulheres de cabelos grisalhos sentavam-se rindo e se abraçando
como garotas da escola no banco de trás. — Teddy-táxi, chegando!

Em saltou para fora do caminho. — Vá com calma, cara!

Ela balançou a cabeça, mas o homem continuou na rua impertur-


bável. Ela verificou o mapa, encontrou a cabana do pai e bateu na por-
ta. Uma placa foi postada na janela da frente: Proibido fumar. Oxigênio
em uso.

— Ei, criança, eu estava pensando quando você chegaria aqui.

Em tentou mascarar sua surpresa. O pai dela usava uma mochila


pequena com uma lata de oxigênio portátil. Os tubos claros da cânula
que forneciam oxigênio para o nariz traçavam suas bochechas e se cur-
vavam em torno de suas orelhas. Seus olhos azuis haviam escurecido
desde a última vez que o vira.

— Não me olhe assim, Em. As senhoras do grupo de tricô dos anos


80 me dizem que ainda sou um bom partido.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Até o ano passado, o Dr. Bill MacCaslin era professor do departa-
mento de educação da Universidade de Missouri-Kansas City. Foi aí que
seus pais se conheceram há 35 anos, quando sua mãe, quinze anos
mais nova de Bill, veio da Austrália para terminar seu trabalho de dou-
torado sobre os estilos de aprendizagem de crianças na comunidade
surda e com deficiência auditiva.

— Sinto muito, pai. Estou um pouco de folga com a viagem, e en-


tão um surfista quase me atropelou com um riquixá.

— É o Ted da loja de bicicletas no centro da cidade. Ele vem algu-


mas vezes por semana para nos dar uma volta no campus em seu pedi-
cab3.

Em assentiu e eles caíram em silêncio enquanto o zumbido suave


do oxigênio portátil a lembrava de que a doença respiratória que seu pai
estava lutando era tudo culpa dela.

— Bem, entre, entre, — Bill gesticulou.

Em entrou na cabana. O cheiro de tinta fresca pairava no ar. Uma


imagem solitária estava sobre uma mesa de canto. Uma fotografia em
preto e branco dela segurando um troféu com o dobro do seu tamanho -
sua primeira competição de violino. Seu pai estava tão orgulhoso dela
naquele dia. Se ela tivesse virado a câmera e tirado uma foto de seu pai,
teria capturado ele sorrindo de orelha a orelha, o ruivo escuro de sua
barba destacando o brilho rosado de suas bochechas.

— A casa é muito legal, pai, — disse ela, afastando o olhar da foto


e sentando-se em uma pequena mesa da cozinha. — Como você está se
sentindo?

Bill ajustou o tubo de oxigênio. — Eu daria meu braço direito por


um cigarro. Provavelmente não é a resposta que você queria ouvir, mas

3
O ciclo-riquixá, também conhecido como ecotáxi, pedicab.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
acho que passamos por meias-verdades e caminharmos sobre cascas de
ovos.

Em esfregou sua cicatriz debaixo da mesa.

Seu pai respirou fundo,duas vezes. — Você esteve em casa.

Era mais uma afirmação do que uma pergunta.

— Sim, cheguei tarde ontem à noite. Meu quarto, esta exatamente


como eu o deixei.

— Sua mãe e eu concordamos há muito tempo que não era nosso


lugar limpá-lo ou decidir o que acontece com seu conteúdo.

— Por que vocês não podem simplesmente se odiar como todos os


outros casais divorciados normais?

Bill riu, quebrando a tensão, mas a risada se transformou em uma


tosse.

— Sua mãe e eu sempre vamos cuidar um do outro. Sua pesquisa


a levou de volta à Austrália e a minha me manteve aqui. Sempre fomos
o tipo de pessoa que era casada com o nosso trabalho. O presente que
nós dois recebemos foi você.

Nas últimas duas décadas, a mãe de Em foi uma participante ins-


trumental na criação de um currículo educacional formal para crianças
surdas na Austrália. Seu trabalho a levou ao Instituto Real de Crianças
Surdas e Cegas, Renwick Centre, em Sydney. Após o acidente, Em pas-
sou um tempo com a mãe em seu escritório. Ela era fluente em lingua-
gem de sinais, graças a passar um tempo com sua avó australiana sur-
da, vovó Mary. No começo, Em só podia usar a mão direita para assi-
nar, mas, enquanto curava e continuava ajudando a mãe em suas pes-
quisas, ela se ofereceu nas salas de aula e acabou sendo contratada
como assistente de professor.

— Como estão as coisas no centro, garota?

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Sem pensar, Em assentiu: — Está bom.

Seu trabalho no Renwick Center foi a única coisa que a levou nos
primeiros anos após o acidente. As crianças e o silêncio a isolaram do
mundo musical, enquanto também lhe deram algo diferente de sua rai-
va por Zoe e Michael para concentrar sua energia. Renwick durante o
dia, e afogando suas mágoas com Jack Daniels à noite, tornou-se sua
rotina.

Mas a música estava sempre lá.

Sempre que ela pegava uma melodia tocando embaixo da conversa


em um restaurante lotado ou passava por alguém assobiando na rua,
seus dedos tremiam. Seus pensamentos se voltariam para escalas e
harmonias, semínimas e pausas. A linguagem da música, vivendo
adormecida em sua alma, chamaria a atenção apenas para ser empur-
rada de volta por sexo ou álcool ou funcionar como enfiar o boneco no
Jack in the Box.

— Pai, você não precisa vender a casa agora. Eu poderia lhe dar o
dinheiro para cobrir o que você deve pela cabana. Vovó Mary me deixou
muito em seu testamento. Mais do que eu preciso, pai.

Um rubor iluminou as bochechas de Bill. — O dinheiro que sua


avó deixou para você é seu. Não vou aceitar um centavo disso. — O
olhar dele se suavizou. — Garota, eu preciso vender a casa. Eu gostaria
de colocá-la no mercado após o ano novo. Isso lhe dá cerca de dois me-
ses para passar por tudo.

O peito de seu pai subiu e caiu em respirações curtas e pontuadas.


Ela não queria aborrecê-lo, mas sabia que ele amava aquela casa. O
pensamento de estranhos que moravam na casa que haviam comparti-
lhado partiu seu coração.

— Mas, pai, se eu não tivesse. Se eu não... — Em parou. Ela não


conseguiu dizer. Ela não podia admitir que era a razão de seu pai come-
çar a fumar novamente. Ela era a razão de ele ter Doença Pulmonar
The Sound Of Home
KRISTA SANDOR
Obstrutiva Crônica. Ela foi a razão pela qual ele foi forçado a vender sua
casa.

Bill levantou a mão. — Em, vamos divulgar algo em aberto. Eu me


culpo pelo que aconteceu com você. Talvez eu devesse ter insistido que
você teve uma infância mais convencional. Você estava sempre viajando
e tocando em todo o mundo. Eu estava tão orgulhoso de você, criança,
mas nunca considerei o fato de você não ser criança. Você tinha todas
as responsabilidades de um adulto antes mesmo de dirigir. Inferno, tal-
vez você não achasse que tinha que mentir para mim se crescesse indo
a festas, namorando. Fazendo as coisas que as crianças comuns fazem.

Ela nunca mencionou os homens altos ou a ponte para ninguém


além de Zoe e Michael. Tanto quanto seu pai sabia, ela mentira sobre
passar a noite no Zoe's para festejar em Sadie's Hollow, onde fez a má
escolha de beber, usar drogas e depois se machucar.

O peso pesado de sua vergonha se instalou em seu peito. Mas an-


tes que pudesse esmagar seu espírito, uma idéia tomou conta.

Tinha que haver mais na noite do acidente. Alguém tinha que sa-
ber alguma coisa. Outra pessoa deve ter participado de sua lesão. E
agora, ela tinha dois meses para descobrir a verdade. Dois meses para
reunir o que aconteceu naquela noite de agosto. Dois meses para mos-
trar ao pai que ela não tinha jogado a vida fora.

Em esfregou a cicatriz e encontrou o olhar de seu pai. O cinza de


sua barba havia ultrapassado o ruivo. Ele parecia cansado.

— Vou preparar a casa para entrar no mercado, pai. Você não pre-
cisa se preocupar com nada. Apenas descanse. Volto para visitar em
breve.

O pai estendeu a mão para ela e ela colocou a mão esquerda na de-
le. Ele olhou para a cicatriz no dedo anelar e deu um aperto suave na
mão dela. — Obrigado Em. Obrigado por voltar para casa.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ela assentiu. — Você parece cansado, pai. Você deve tirar um co-
chilo.

O pai dela assentiu. — Essa não é uma má ideia. Você poderia me


fazer um favor?

— Certo. Qualquer coisa, pai.

— Você vai distribuir doces de Halloween para os doces ou traves-


suras hoje à noite? Deveria haver um saco de chocolates no balcão da
cozinha.

Seu pai sempre adorara celebrar o Halloween em Langley Park. Em


forçou um sorriso. — Sim, pai, eu posso entrega-lós para os doces ou
travessuras.

ajudando o pai a ir para a cama, deu uma última olhada na foto-


grafia na mesa final e virou-se para abrir a porta da frente. Antes que
sua mão chegasse à maçaneta, a porta se abriu e ela ficou cara a cara
com Anita Benson.

— Sra. Benson, eu não esperava . . .

Anita estreitou os olhos e encontrou o olhar de Em. Doze anos se


passaram, mas a expressão presunçosa e honrada da mulher estava tão
fresca como sempre. — Olha quem finalmente voltou para Langley Park.

Em abriu a boca para falar, mas fechou quando nada saiu.

Anita estava de avental azul de enfermagem. Ela estava segurando


uma boneca com uma lata de oxigênio. — Eu vim trocar o tanque de
oxigênio do seu pai. Espero que você não o tenha perturbado. Ele teve
algumas semanas difíceis.

Em mordeu o interior de sua bochecha.

— Suponho que você está aqui para ajudar a vender a casa de seu
pai?

Em levantou o queixo. — Isso é entre meu pai e eu.


The Sound Of Home
KRISTA SANDOR
As sobrancelhas de Anita se ergueram. — Entendo. Bem, no que
diz respeito aos cuidados do seu pai, você deve saber que uma enfer-
meira estará presente todos os dias para verificar o oxigênio e garantir
que ele esteja tomando os medicamentos.

— Você é a enfermeira dele? Eu pensei que você trabalhava no


hospital.

— Você se foi há muito tempo. Saí do hospital anos atrás. Eu só


trabalho a tempo parcial agora. Estou aqui no Senior Living Campus
três dias por semana. Parece que vamos nos ver muito enquanto você
estiver de volta.

Anita Benson foi a última pessoa que Em queria encontrar no Se-


nior Living Center. O olhar aguçado da mulher transbordou de julga-
mento. Em queria arrancar o tanque de oxigênio da boneca e bater nela
com a cabeça, mas ela apertou as mãos na frente dela. — Obrigado por
ajudar meu pai, senhora Benson. —

— Ora, é o mínimo que eu poderia fazer. Ele já passou por muita


coisa. E tudo por conta própria.

As palavras de Anita torceram como uma faca em seu coração, mas


também adicionaram combustível ao fogo da urgência queimando den-
tro de seu peito. Ela tinha que descobrir o que aconteceu naquela noite.
Ela tinha que mostrar ao pai que a lesão não era culpa dela. E agora
que estava de volta, encontraria a verdade e mostraria a todos que não
desperdiçara seu talento e jogara sua vida fora.

EM ENCONTROU uma segunda garrafa de uísque irlandês Teeling na


despensa, se serviu de um copo e depois colocou uma barra de Snickers
em miniatura na boca. Ela pensou nos desentendimentos com a guarda
de segurança e Anita Benson. Ela tinha que descobrir a verdade, mas
por onde começar?

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ela foi para o quarto e trançou os cabelos em uma elaborada tran-
ça invertida de rabo de peixe. O chão ainda estava cheio de lembranças
de seu passado, e seus dedos se moveram como as engrenagens de um
relógio enquanto ela tentava se lembrar da última coisa que se lembra-
va da noite em Sadie's Hollow. Mas o som de alguém batendo na porta
da frente interrompeu sua concentração.

Ela desceu as escadas, acendeu a luz externa e abriu a porta para


encontrar uma garotinha vestida de Harry Potter. — Você é o meu pri-
meiro doces ou travessuras.

A criança inclinou a cabeça para o lado. — “Sua luz está apagada.


Ninguém vai bater na sua porta se sua casa estiver escura.

Um sorriso iluminou o rosto de Em. Ela gostou desta pequena es-


pertinha. — Você bateu.

Isso pareceu surpreender a mini bruxa. Em deu uma risadinha e


estendeu a grande tigela de doces. A expressão cética da menina foi
substituída por uma de deleite. A garota começou a folhear os chocola-
tes quando a voz de um homem gritou: — Em, é você?

Era surreal ouvir alguém que não fosse o pai chamá-la pelo apeli-
do. Depois de deixar o parque Langley, ela passou por Mary Michelle.
Foi mais fácil. Ela precisava se distanciar da pessoa que era e largar o
apelido foi o primeiro passo para deixar seus sonhos de lado.

— Isso, sim!

A garotinha pegou alguns chocolates e desceu os degraus da va-


randa. Em seguiu atrás, mas parou no último degrau.

— É Ben Fisher, — respondeu o homem.

Embora ela não o visse há mais de uma década, Em sabia muito


bem que era o meio-irmão mais velho de Zoe Stein, Ben. Ela o conhecia
a vida inteira. Ele costumava fazer fortes de travesseiros na sala de es-
tar do Stein. O olhar dela passou por Ben e foi até a calçada, onde ela

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
viu uma loira esbelta, parecida com a Barbie, ao lado das duas últimas
pessoas que ela sempre quis olhar: Zoe Stein e Michael MacCarron.

Barbie se aproximou e ficou ao lado de Ben, e Em cerrou os pu-


nhos.

— Em, esta é minha esposa, Jenna, e nossa filha, Kate. — Ele


apontou para a boneca Barbie sorridente e a mini Harry Potter que ago-
ra estava acariciando um cachorro no jardim da frente.

— Em, — a menina ecoou, em seguida, olhou de volta para Zoe. —


Este é um dos seus gengibre favorito, tia? —

Em vibrou com raiva. Quem diabos Zoe era de todas as pessoas


para dizer a sua sobrinha que ela, ela era um de seus “gengibres favori-
tos"?

O ar pairava pesado e carregado como se a menor das faíscas pu-


desse provocar uma explosão maciça. Em desviou o olhar da garotinha
e fixou o olhar fervoroso em Zoe, que havia aberto a boca para falar,
apenas para fechá-la.

Jenna-Barbie deu alguns passos à frente e estendeu a mão. — Eu


amei seu cabelo.

Em voltou sua atenção para a mulher alta e, sem pensar, apertou


sua mão.

— Talvez em algum momento você possa me mostrar como fazer


isso, — continuou ela, gesticulando para a trança de Em. — Kate é ob-
cecada por tranças, e tenho certeza que ela vai me pedir para fazer o
cabelo dela como o seu quando chegarmos em casa hoje à noite.

— Sim, claro, — Em respondeu com um sorriso forçado. Ela estava


aqui para vender a casa do pai e descobrir o que aconteceu em Sadie's
Hollow. Se ela tivesse apenas um pingo de sorte, seria a primeira e a
última vez que veria Ben Fisher e a família dos sonhos de Barbie.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Barbie estava falando de novo, dizendo adeus ou algo assim. Mas
Em não conseguia se concentrar em suas palavras. A apenas alguns
metros, Zoe e Michael estavam de queixo caído, como se tivessem visto
um fantasma.

A temperatura parecia cair. Os olhos de Em dispararam entre seus


dois amigos de infância mais próximas. O olhar de Michael foi para a
mão esquerda. Ela puxou as mangas da blusa para baixo, para que
apenas as pontas dos dedos permanecessem visíveis.

Ela sabia o que Michael estava pensando, e não lhe daria a satisfa-
ção de olhar para a cicatriz irregular que atravessava o comprimento do
dedo anelar.

— Eu não sabia— Michael começou suas palavras cheias de apre-


ensão.

A voz dele. Deus, ela sentiu falta da voz dele. Agora era mais pro-
funda, diferente, mas ainda o mesmo. Era como ouvir uma música pre-
ciosa que você havia esquecido o quanto amava.

O suficiente.

Este é o homem que te abandonou quando você mais precisava dele.


Este é o homem que te beijou e depois te deixou para foder com uma líder
de torcida sacana.

Michael mudou seu peso de pé para pé. — Você é-

Em sorriu. Michael MacCarron, sempre tão à vontade, sempre tão


sob controle, estava falando como se sua boca estivesse cheia de bolas
de gude. Uma onda de calor triunfante encheu seu peito, espinhoso e
quente, a raiva envolvendo cada vez mais seu coração.

Michael parou. “— Você voltou”.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Suas palavras pairaram no ar quando o som do riso longínquo das
crianças flutuou no espaço entre elas. A raiva ardia mais quente dentro
do peito de Em com cada sílaba falada.

Você voltou? É isso aí? É o que ele tem a dizer depois de todo esse
tempo?

Ela poderia gritar. Ela poderia chamá-los de idiotas egoístas. Isso é


o que eles eram, certo? Ela poderia dizer a eles que estava presa, inca-
paz de avançar por causa de suas escolhas egocêntricas. Eles a aban-
donaram, a deixaram e ela pagou o preço final por confiar neles.

Ela encontrou o olhar de Michael e lembrou-se do garoto de cabe-


los ruivos. Lembrou-se de seu corpo pressionado contra a casa, enca-
rando Micheal pressionado contra a casa dele, rindo enquanto se desa-
fiavam a correr para a chuva e passar para o outro lado.

Michael sempre corria para ela. Ele sempre foi o único a enfrentar
a tempestade. Ensopado, ele corria pelas calçadas e achatava o corpo
contra o lado da casa ao lado dela. Em quase podia sentir seu ombro
molhado pressionando o dela enquanto eles riam e ouviam a chuva,
uma sinfonia de som - as gotas ecoando no telhado.

Em empurrou a memória de um Michael sorridente, a água escor-


rendo pelas bochechas, da mente dela e deixou a raiva tomar o controle.

Foda-se eles. Esqueça eles. Não importava que o arrependimento


parecesse soprar sobre eles como o cheiro do atropelamento que se de-
compõe ao sol quente. O que eles fizeram foi imperdoável.

Imperdoável.

A palavra rolou em sua mente. Isso reforçou sua determinação e


aniquilou todas as boas lembranças da infância de permear a fortaleza
de raiva construída em torno de seu coração.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ela levantou o queixo e encontrou o olhar de Michael. Então, sem
dizer uma palavra, ela voltou para dentro de casa e bateu a porta com
força.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
07
— Você sabia que ela estava de volta à cidade?

Michael balançou a cabeça.

— Jesus, Michael! Ela nunca abriu nenhuma das cartas que eu


enviei depois que ela partiu para a Austrália.

Michael cruzou os braços e lembrou-se da caixa de sapatos que


guardara no fundo do armário, cheia de letras estampadas RETORNAR
AO ENVIO.

— Vamos lá, — disse Michael. — Vamos conversar na casa da ga-


ragem.

Quase todas as casas em Langley Park vinham com uma garagem,


uma estrutura separada de um ou dois andares situada no canto da
propriedade. Do tamanho de uma garagem para dois carros, a maioria
das pessoas estacionava seus veículos no interior e às vezes construía o
segundo andar para ser um depósito ou até um estúdio. A garagem de
Michael espelhava a garagem na propriedade dos MacCaslin. Com uma
história de altura, Michael's continha o Range Rover que ele dirigia no
ensino médio, um saco de pancadas bem usado e sua estação de traba-
lho de áudio digital para mixar e produzir faixas musicais.

— Você não quer ir para casa? — Zoe perguntou.

Michael balançou a cabeça e assobiou para seu golden retriever,


Cody.

Desceram a calçada de cascalho em silêncio. O ruído das pequenas


pedras soou alto demais para seus ouvidos. Uma luz acendeu dentro do
Quadrangular MacCaslin, mas ele não se atreveu a olhar para a casa.
Ele destrancou a porta lateral de sua garagem e conduziu Zoe para den-
tro quando Cody entrou e se enrolou em um futon velho contra a pare-

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
de dos fundos. Ele ligou um aquecedor e sentou-se na cadeira em sua
estação de trabalho, em seguida, virou-se para ver Zoe andando de um
lado para o outro.

Ela cruzou os braços. — Pelo menos sabemos como ela se sente


sobre nós. Quero dizer, Jesus, você acabou de ajudar o Dr. MacCaslin a
se mudar para o Campus de Vida Sênior. Ele não mencionou nada so-
bre Em voltar para casa?

— Você sabe que ele não faria. Depois que Em partiu para a Aus-
trália, Bill mal falou uma palavra sobre ela.

Zoe puxou as pontas dos cabelos na altura dos ombros. — Micheal,


eu sei que ela perdeu muito. Eu sei que ela merece ficar com raiva. Mas
também perdemos parte de nós naquela noite. Sei que não foi a magni-
tude que Em perdeu, mas nós . . . pagamos por aquela noite.

— Eu sei.

— Eu não conseguia nem conviver no Gwyer College. Meus pais ti-


veram que vir me buscar depois que o semestre da primavera terminou.
Eu simplesmente não conseguia continuar fingindo que estava bem. Eu
pensei que estar cercada por estranhos seria a melhor coisa para mim,
mas...

Michael encontrou o olhar de Zoe. Ele sabia tudo sobre o colapso


de Zoe, sabia que a culpa que ela carregava sobre a lesão de Em se tor-
nara demais para suportar.

— Eu sei, Zoe. Eu sei.

— Levei muito tempo para chegar aqui. Para chegar a um lugar


onde eu não me odeio. Se não fosse pela minha mãe. — Zoe colocou as
mãos nos quadris e olhou para o teto. — Eu não sei onde eu estaria.

Após o colapso de Zoe em Gwyer, ela compartilhou os eventos da


noite em Sadie's Hollow com sua mãe. A mãe de Zoe, Kathy Stein, uma

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
assistente social aposentada, havia trabalhado com a filha e Michael
durante o verão entre o primeiro e o segundo ano da faculdade.

Kathy nunca chamou isso de terapia, mas a cada dois dias ela li-
gava para o escritório de advocacia MacCarron no centro da cidade on-
de Michael estava trabalhando para seu pai durante o verão. Ela per-
guntava se ele poderia ajudar ela e Zoe em um projeto de jardinagem.
Sempre haveria algo pesado para levantar ou um enfeite de gramado
para se mover. Enquanto os três trabalhavam no quintal do Stein, eles
conversavam. No começo, era difícil para ele discutir seus sentimentos,
mas depois de algumas semanas, ele se viu assistindo o telefone no es-
critório de advocacia de seu pai, esperando que a próxima ligação fosse
de Kathy Stein.

Ele nunca esqueceu as palavras de Kathy: você não pode forçar al-
guém a perdoá-lo, mas pode aprender a conviver com o conhecimento de
que fez tudo o que era humanamente possível para tentar consertar as
coisas.

Zoe deu um tapinha no capô do seu velho Range Rover. — Eu não


posso acreditar que você ainda tem isso.

— Ela se sai muito bem na neve e no gelo, — ele respondeu, mas


essa não foi a única razão pela qual ele ficou com o carro velho.

Zoe passou a mão nervosamente pelo capô. — Eu pensei que isso


seria mais fácil. Você sabe, vendo Em pela primeira vez. Eu não pensei
que ficaria lá como uma espécie de idiota.

— Jesus, Zoe, — disse Michael e balançou a cabeça. — De onde


você tira essas palavras?

Ela escovou uma lágrima e soltou um suspiro trêmulo. — Nós


nunca quisemos que algo terrível acontecesse com Em. Nós eramos jo-
vens. Poderíamos ter feito melhores escolhas, mas o que aconteceu,
aconteceu. Passamos anos alcançando ela. Tentamos pedir desculpas.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Zoe estava certa, mas ainda assim - apenas ver Em quase rasgou
seu coração. A culpa e a vergonha voltaram ao seu peito tão frescas
quanto na manhã em que a encontraram esparramada nos Passos para
o Inferno.

Zoe enxugou as bochechas. — É melhor eu ir.

— Você quer que eu te dê uma carona?

— Não, meu carro está no Ben. Acho que a caminhada me faria


bem.

Um táxi parou em frente ao Quadrangular de Em enquanto Micha-


el e Zoe caminhavam pela entrada da garagem. Eles ficaram na sombra
da casa e observaram Em, vestido com botas de cano alto e uma saia
que lembrava um pedaço de tecido, saindo da varanda e indo em dire-
ção ao táxi. Ela abriu a porta.

— Para onde, senhorita?

— O dique.

MICHAEL XINGOU baixinho e ligou o pisca-pisca do Audi. O carro pe-


gou a estrada quando ele entrou na Westport Road e seguiu em direção
a The Levee. O dique era uma instituição de Kansas City. Um bar que
existia há anos, oferecia música ao vivo no andar principal e um bar
esportivo no andar de cima. Esta noite, estaria cheio de clientes come-
morando o Halloween.

Depois que ele se despediu de Zoe, ele deixou Cody de volta em ca-
sa e pegou seu moletom da Universidade de Missouri-Kansas City
School of Law. Em pode não ter nada a dizer, mas ele não deixaria nada
acontecer com ela. Ele não se importava se suas intenções eram anti-
quadas. Ele seria condenado se ele iria ficar parado enquanto ela pas-
seava no bar sozinha no Halloween.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ele estacionou na rua a alguns quarteirões de distância e entrou
no bar. Assim como ele pensava, estava lotado, cheio de adultos vestin-
do fantasias e comemorando. O bar estava agitado e barulhento en-
quanto uma banda tocava, e os clientes batiam nas costas e bebiam as
cervejas artesanais locais de Kansas City. Não foi difícil de encontrar
Em. Seu cabelo vermelho trançado pode parecer infantil para outra
pessoa, mas nela era deslumbrante - ruivo com notas de ouro e ardente
como o sol. Ele não tinha notado que suas perneiras estavam rasgadas,
dando a todos um vislumbre de suas coxas cremosas. Seus olhos azuis
pareciam maiores, delineados e com maquiagem escura e esfumaçada.

Cristo, ela era sexy.

Em tinha uma vantagem sobre ela, algo que dizia: eu posso ser pe-
quena, mas vou te foder . Pequena e curvilínea em todos os lugares cer-
tos, ela se moveu em direção ao bar como se fosse a dona do lugar.

Ela não o havia notado. Ele se plantou em um banquinho perto do


outro lado do bar. Ele se curvou para frente e puxou o capuz, tentando
disfarçar o corpo de um metro e oitenta. Do seu ponto de vista, ele foi
capaz de observar todos os movimentos de Em. Ela era uma sirene. Sua
mandíbula tremeu observando homem após homem disputando a aten-
ção dela. Ela deixou que alguns lhe comprassem uma bebida, mas seus
olhos continuavam examinando a multidão como um lobo.

Um trio de homens se instalou no bar ao lado dela, e Michael deu


um suspiro de alívio ao observar a postura apreensiva do grupo. Estes
não eram os seus típicos brigadistas de bar, captadores. Esses caras
eram do tipo mais à vontade em um laboratório ou decifravam linhas de
código. Nerd não poderia ser do tipo de Em. Que ele achava que tinha
certeza, até que ela se virou no banco, bateu no ombro de um dos ho-
mens e lhe lançou um sorriso sedutor.

O nerd havia colado uma tonelada de amostras de tinta cinza em


sua camiseta. Cinqüenta tons de cinza de verdade. Cristo todo podero-

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
so, é isso que Em gostava? Ela se inclinou e tocou uma das amostras,
puxando Fifty Shades para mais perto. Michael levantou-se. Ele preci-
sava olhar mais de perto.

Era fácil para ele observá-la, mas ainda assim ela estava fora de
sua linha de visão. O lugar estava lotado com várias camadas de clien-
tes em pé ao redor do bar, muitos tentando entrar para pedir bebidas.
Michael se estabeleceu ao lado de um grande grupo. Sua mandíbula se
apertou enquanto observava Fifty Shades se inclinar e sussurrar algo
no ouvido de Em. Suas pernas estavam cruzadas entre as dele, revelan-
do mais de sua coxa. A posição parecia íntima, e Michael quase carre-
gou a barra quando o cara colocou a mão no joelho dela, mas sua aten-
ção foi mais baixa quando Em esfregou a bota na perna do nerd.

Como uma viúva negra atraindo um companheiro, Em estava no


controle. Michael viu o brilho assertivo em seus olhos, a elevação confi-
ante do queixo e ficou duro. Observar Em brincando com esse nerd foi à
coisa mais quente que ele já viu. O que ela faria se fosse a mão dele se-
gurando sua coxa? Ele rasgaria aquela calça e a pressionaria contra o
bar. Ele a foderia ali no meio de todas essas pessoas. Mas quando ele
estava prestes a se perder na fantasia, Em se levantou e levou Fifty
Shades até a pista de dança.

Do seu ponto de vista, ele ainda podia manter Em na mira. A ere-


ção dele se esticou contra as calças quando ela passou os braços em
volta do pescoço do nerd e pressionou seu corpo no dele. Ela moveu os
quadris em círculos rítmicos, moendo no pênis de Fifty Shade. O siste-
ma de Michael inundou com uma mistura tórrida de raiva e excitação.

O cara sorriu como uma criança no Natal e abaixou as mãos para


descansar acima da bunda dela. Os dedos de Michael se contraíram e
ele os forçou a punhos. Seu olhar estava preso em sua bunda perfeita
envolto naquela pequena saia, e outra enxurrada de pensamentos
imundos inundou sua mente.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Jesus Cristo - ele já sentiu esse tipo de atração?

Ou ele estava enfeitiçado por Em como o pobre rapaz com quem ela
estava brincando na pista de dança?

Ele passou a mão sobre a nuca ruiva e no rosto. Ele teve que parar
de pensar sobre o que seria estar dentro dela - porra do céu, se seu pau
tivesse algo a dizer sobre isso. Ele precisava ter certeza de que esse ca-
ra, ou qualquer outro coringa, também não tivesse a chance de desco-
brir.

O que diabos ele ia fazer? Invadir e jogá-la por cima do ombro co-
mo um homem das cavernas? Socar Fifty Shades na mandíbula por re-
agir a Em da maneira exata que ele fez? Felizmente, Em parecia menos
preocupada com o cara, enquanto seu olhar focava na banda.

Uma banda local de bluegrass progressivo estava no palco hoje à


noite. Michael os vira algumas vezes em Langley Park quando tocava no
bar e churrascaria do bairro, Park Tavern. O grupo de cinco membros
incluía um violinista. Em o observou atentamente e sua testa se enru-
gou de agitação. Ela se libertou de Fifty Shades e caminhou até o lado
do palco.

Ela gesticulou para o violinista, um jovem, que provavelmente pen-


sou que ela iria tentar bater nele enquanto um sorriso iluminava seu
rosto. Ele se agachou ao nível dela, mas seu sorriso desapareceu quan-
do ela o puxou pela gola e gritou em seu ouvido, seus olhos se movendo
para frente e para trás entre Em e seu instrumento.

Michael cruzou os braços. O que diabos ela estava fazendo?

A música terminou, e o vocalista se dirigiu a ela pelo microfone


com um sorriso curioso. — O que está acontecendo, Red?

Em levantou o queixo. — Eu estava tentando ajudar seu violinista


a parar de estragar a música.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
O cantor riu e o bar ficou imóvel. — É um violino. Ele é meu violi-
nista.

— Violino ou violino, — disse Em, subindo ao palco, — eles são o


mesmo instrumento. A diferença é apenas o tipo de música tocada.

O queixo de Michael caiu. Mas ela estava certa. O violino pode ser
considerado um violino ao tocar bluegrass, folk, country ou músicas
mais dançantes. O instrumento foi considerado violino ao tocar música
clássica e jazz. Mas nenhuma dessas regras era rígida e rápida.

— Parece que temos um verdadeiro know-how conosco esta noite,


pessoal, — disse o cantor, mas o sorriso de seu rosto parecia mais di-
vertido do que irritado. — Você gostaria de mostrar ao meu humilde to-
cador de violino como é feito, Red?

O queixo de Em caiu uma fração, mas depois ela o colocou de volta


no lugar. — Eu não sei se você será capaz de acompanhar.

Quem era essa mulher? Não a garota doce e inocente que ele havia
beijado em Sadie's Hollow.

A multidão estava adorando essa troca. Um usuário de maquiagem


zumbi gritou: — Charlie Daniels Band, — — Devil Wed Down to Geor-
gi—. Coloque seu dinheiro onde está sua boca, querida!

— Essa música geralmente não está no nosso set, mas acho que
podemos agradar o cavalheiro zumbi, — respondeu o cantor. — O que
você diz Red? Você está pronta para o desafio? —

O bar aplaudiu quando o violinista entregou seu violino a Em, os


braços estendidos com um arco exagerado que levou a platéia a cantar:
— Vermelho, Vermelho, Vermelho!

Ela ficou rígida, mas pegou o instrumento.

O cantor fez um gesto para ela ficar ao lado dele no centro do pal-
co.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ela entrou no centro das atenções. — Faz um tempo desde que eu
toquei.

— Então é assim Red? Vocês todos falam isso? Você pode devolver
o violino.

Em levou o violino ao queixo e levantou o arco.

A respiração ficou presa na garganta de Michael.

Ela encontrou o olhar do cantor. — Tente acompanhar.

O baterista tocou quatro batidas rápidas, e o que aconteceu naque-


le palco fez a multidão completar o silêncio enquanto Em puxava o arco
pelas cordas. O cantor, visivelmente chocado com seu talento, tropeçou
nas primeiras letras, mas se recuperou. A multidão se juntou, dançan-
do e cantando.

Os dedos de Em se moveram na velocidade da luz, e um sorriso


apareceu em seus lábios. Ela se inclinou na direção do cantor. Eles pa-
reciam estar tocando essa música há anos.

A multidão estava adorando, mas Michael estava paralisado.

Ele a viu tocar bastante antes do acidente, mas apenas peças clás-
sicas. Enquanto ela estava sempre linda de assistir, seu corpo se tor-
nando um com a música, isso era algo completamente diferente. Isso
era sexy e poderoso.

Em virou-se para os outros músicos, e eles tocaram juntos em per-


feita sincronicidade. A energia do palco estava pulsando quando eles
terminaram a música. A multidão aplaudiu, e o cantor pegou Em pela
cintura e deu-lhe um giro.

— É isso, — disse o cantor ao microfone, ofegante e sorridente de


orelha a orelha, — é assim que se toca a porra do violino, senhoras e
senhores!

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
A multidão chamou por um bis. Em sorriu e levantou a mão para
bloquear as luzes brilhantes do palco. Ela olhou para o mar de pessoas,
e sua expressão eufórica mudou para uma de horror quando ela encon-
trou seu olhar.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
08
Em abriu caminho através da multidão.

O ar frio de outubro cortou sua pele quando ela atravessou a saída


do bar e pisou na calçada.

— Em, — Michael gritou por trás.

Ela continuou andando. Pra que diabos Michael estava lá?

Então, como uma bala penetrando na carne, um pensamento per-


furou seu cérebro. Ela tocara violino. Ela segurou o arco, deixou os de-
dos acariciarem cada corda, deixou a música assumir o controle e fluir
através de seu corpo, assim como o oxigênio entrava em seus pulmões.
Nada parecia tão real desde a última vez que ela segurou Polly - na noi-
te em que tocou a peça Paganini antes de se encontrar com Zoe para ir
a Sadie's Hollow.

Na noite em que seus amigos a abandonaram.

A raiva agarrou seu coração e se contraiu como um punho.

— Mary Michelle MacCaslin! Estou falando com você. —

Ela ficou rígida. O som de Michael chamando-a pelo seu nome ver-
dadeiro causou arrepios na espinha.

— Oh, — disse ela e virou-se para encará-lo. — Agora é Mary Mi-


chelle, não é? — Lufadas de ar ondulavam em rajadas de som brancas
enquanto ela mordia cada palavra no ar gelado da noite.

— Em, você ainda pode tocar? — Os olhos de Michael estavam ar-


regalados de descrença.

Ela balançou a cabeça. — Eu não toco mais. Eu não posso. Eu, vo-
cê e Zoe agradecemos por isso, não é? —

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Os olhos dele imploraram para ela. — Em, eu acabei de ver você.
Você foi incrível.

O que diabos havia acontecido com ela? Por que ela não saiu do
bar quando viu a banda tocando? Ela ficou longe, muito longe da músi-
ca nos últimos doze anos. Passar um tempo com sua avó australiana
surda e ajudar sua mãe em suas pesquisas com crianças surdas lhe
permitiu viver uma vida com pouca exposição à música. Mas agora que
ela estava de volta a Langley Park, as regras e limitações em que confia-
ra para se isolar do mundo da música estavam se desintegrando como
cubos de açúcar em uma caneca escaldante de chá.

Ela ergueu o queixo e encontrou o olhar de Michael. — Eu nunca,


nunca poderei tocar como costumava fazer. — Ela levantou a mão e re-
velou a longa cicatriz que ziguezagueou em seu dedo anelar. — É por
isso que nunca poderei tocar.

Michael deu um passo para trás.

— É o que você queria ver, certo? Eu vi você olhando para minha


mão depois que o irmão de Zoe e sua família de bonecas Barbie foram
embora.

Michael estremeceu.

Ela sabia disso! Tudo o que ela era para ele era alguma atração de
carnaval que despertou sua curiosidade.

O vento soprava na rua e uma chuva gelada caía do céu. Em es-


tremeceu e puxou a jaqueta pelo corpo.

Michael tirou o capuz. — Você está congelando. Põe isto.

O gesto a fez rir. — Você tem que estar brincando comigo. Então
agora você se importa com o meu bem-estar

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Eu sempre me importei com você, Em— ele disse, suas palavras
cheias de emoção. — Agora pegue o capuz. Você não está vestida para o
frio.

— Desculpe? Você não tem uma opinião sobre como me visto!

Ela não estava prestes a esperar a resposta dele e se afastou. Ela


não sabia para onde estava indo, mas precisava estar em algum lugar
onde não precisasse olhar para o rosto de Michael MacCarron. Em al-
gum lugar ela não precisava sentir a intensidade irradiando dele. Eles
eram como dois fios vivos dançando precariamente um perto do outro.
Se eles tocassem, faíscas voariam.

Ela acelerou o passo, mas passos pesados seguiram atrás dela. Os


saltos eram uma péssima escolha e, em segundos, ela avançou na cal-
çada escorregadia e caiu em um grupo de pessoas agrupadas na calça-
da.

— Peguei — veio a voz de um homem.

Ela olhou para cima e tentou ver a pessoa que estava segurando
seu cotovelo. — Eu conheço você?

— Em está bem, Kyle, — veio a voz cortada de Michael. Eu estava


prestes a levá-la para casa.

— Kyle Ben, você— Em perguntou, encontrando seu equilíbrio.

Um olhar de choque cruzou o rosto de Kyle, mas ele o substituiu


por um sorriso hesitante. — Parece que você se lembrou de mim. Faz
muito tempo, Em.

Ela olhou para Michael. Ele estava olhando para ela e apertando o
capuz nas mãos.

Ela ignorou o olhar ardente de Michael. — Você dirigiu até aqui,


Kyle

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Eu fiz. Estou estacionado do outro lado da rua. Você precisa de
uma carona?

— Ela não precisa de carona em lugar algum. — Michael rosnou.

— Na verdade, Kyle, — disse Em, encontrando o olhar pedregoso


de Michael, — eu adoraria ir para casa. Eu vou ficar na casa do meu
pai.

Michael soltou um suspiro audível. — Pelo amor de Deus, Em! Vi-


vemos ao lado um do outro.

— Não é problema, — disse Kyle, mexendo nas chaves. — Ainda


moro em Langley Park. Não vai ficar fora do meu caminho levar você
para casa.

— Pelo menos pegue o capuz. — Michael colocou o moletom gasto


por cima dos ombros.

Ele puxou o algodão macio em volta do pescoço dela. Ela inalou o


cheiro dele, e toques de hortelã e erva-cidreira a enviaram de volta à
noite em que ele a beijou. Seus dedos quentes pressionaram seu pesco-
ço nu, e um flash daqueles dedos entrelaçados com as pérolas de sua
avó inundou sua mente. Ela estremeceu, mas não tinha nada a ver com
o frio.

— E Kyle— disse Michael, deslizando as mãos na clavícula, — vá


direto para casa. Esse granizo pode virar gelo, e não quero que você leve
Em a qualquer lugar durante uma tempestade de gelo.

Ela queria dizer a Michael para se foder. Quem era ele para fazer
alguma exigência? Mas o corpo dela estava preocupado demais com os
dedos dele enquanto roçavam o pescoço dela. Ela nem percebeu o gra-
nizo criando uma camada de gelo na calçada.

Porra, essa paixão estúpida que ela sempre abrigara por Michael
MacCarron. Maldito aquele pequeno espaço em seu coração que nunca
esqueceria a maneira como ele a beijou.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Uma mão pressionou contra sua parte inferior das costas. Ela re-
cuou e arqueou longe do toque. Era a mão de Kyle. Ela deu um passo
para trás e deu a ele um sorriso de desculpas.

Michael enfiou as mãos nos bolsos, mas seus olhos ficaram presos
nela. Ela encontrou o olhar dele. Eles eram como crianças em um con-
curso de olhar fixo, nem dando nenhuma indicação de derrota.

Kyle quebrou o impasse. — Nós devemos ir, Em. Michael está certo
em ficar à frente do tempo.

EM ESFREGOU a cicatriz no dedo anelar. Voltar a Langley Park era


como entrar em uma realidade alternativa. Uma realidade em que ela
podia tocar violino e tudo o que ela tentara esquecer sobre Michael Ma-
cCarron voltou com ela na velocidade da luz.

— Em, você está bem? — Kyle perguntou.

Ela piscou. — Você disse alguma coisa? Sinto muito, estou toda na
minha cabeça agora. O que você falou?

Kyle apertou um botão no console do carro. — Você está quente o


suficiente?

Suficiente, — ela respondeu secamente, depois decidiu moderar


sua resposta. Kyle teve a gentileza de levá-la para casa. Ela não tinha
motivos para ser cruel com ele. Ele não a fez tocar violino. Ele não pediu
que Michael a seguisse até o bar. — Obrigado por me levar para casa.
Espero não ter arruinado seus planos. Vi que você estava com amigos.

Kyle ligou o pisca-pisca e virou a caminhonete F-150 para a Lan-


gley Parkway. — Não é incomodo. Eu estava saindo de um pequeno
evento de arrecadação de fundos nas proximidades.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Por que você estava arrecadando dinheiro no Halloween? — Em
perguntou, aliviada por se concentrar em Kyle e tirar sua mente de Mi-
chael MacCarron.

— Foi para mim.

— Para voce?

Kyle ajeitou o volante. — Sim, algumas pessoas gostariam de me


candidatar a representante estadual.

— Kyle, isso é maravilhoso! Eu nunca soube que você estava inte-


ressado em política. Eu pensei que era…

— Fotografia, — ele forneceu.

— Sim, fotografia! Ainda é um hobby seu?

— É a minha profissão.

— E isso? — Em perguntou, sentando-se no banco da frente e re-


laxando as mãos no colo.

— Faço um pouco de tudo, mas minha paixão é a fotografia da na-


tureza.

Em acenou com a cabeça e olhou pela janela quando eles passa-


ram pelo Campus de Vida Sênior de Langley Park.

Kyle bateu os dedos no volante. — Eu não pretendo bisbilhotar,


mas minha mãe mencionou que seu pai se mudou para os chalés de
vida assistida.

Em esfregou a parte de trás do pescoço dela. Apenas o pensamento


de Anita Benson a deixou tensa. — Sim, ele passou por uma situação
difícil com sua saúde. Uma cabana se abriu e seus médicos o pediram
para pegá-la. Estou na cidade há alguns dias para colocar a casa em
forma para que ele possa colocá-la no mercado. Então eu vou voltar pa-
ra a Austrália.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Minha mãe mencionou ter falado com você. — ele disse isso
quase como um pedido de desculpas.

Ela soltou uma risada nervosa. — Eu não acho que estou na lista
de suas pessoas favoritas.

— Há dias em que nem tenho certeza se eu faço essa lista. Ela é


uma pessoa intensa. Ela espera muito, mas seu coração está sempre no
lugar certo.

Em esfregou sua cicatriz. — Sua mãe foi a enfermeira que me


atendeu depois que fui ferida em Sadie's Hollow.

— Eu sei, — disse ele, os dedos ainda batendo. — Minha mãe disse


que você não se lembrava do que aconteceu naquela noite.

Ela assentiu. — Quase não me lembro de nada - e tudo o que lem-


bro não faz nenhum sentido.

Ele deu um sorriso simpático. — Eu sinto Muito. Isso deve ser ter-
rível.

Em sentou-se para a frente. — Você se lembra de me ver naquela


noite? Quero dizer, eu lembro de esbarrar em você, mas depois disso
tudo fica confuso.

— Sinto muito, Em. Havia uma tonelada de pessoas. Eu estava


saindo com todo mundo.

— Eu realmente preciso saber o que aconteceu naquela noite, Kyle.


Mesmo que minha lesão tenha sido minha culpa, eu só preciso saber.

— O que você acha que poderia ter acontecido? " ele perguntou,
entrando na Foxglove Lane.

— Eu não sei. Talvez eu tenha saído da festa e vagado pela cidade.


Mas, de alguma forma, voltei para Sadie's Hollow. Michael e Zoe me en-
contraram nos degraus perto do cemitério.

— Os passos para o inferno? — Kyle perguntou.


The Sound Of Home
KRISTA SANDOR
— Sim, Os Passos para o Inferno, — ela ecoou quando sua casa
escura apareceu.

As luzes estavam acesas na porta ao lado de Michael. Ele bateu


nas costas dela.

— Aqui estamos, — disse Kyle, diminuindo a velocidade do cami-


nhão.

Em olhou para a casa dela. Ela não estava pronta para ir para ca-
sa. Ela não estava pronta para ser cercada por sua antiga vida. E ela
certamente não estava pronta para estar a poucos passos de Michael
MacCarron.

— Que tal irmos tomar uma bebida. Ainda não estou pronta para
encerrar a noite.

A expressão de Kyle ficou em branco.

— A menos que você tenha algum lugar que você precisa estar, —
Emendou.

— Não não! Claro, podemos tomar uma bebida — disse Kyle. —


Vamos tentar o Park Tavern.

Ele deu a volta no quarteirão e entrou na Mulberry Drive. O centro


da cidade fervilhava com a atividade de Halloween. Os doces ou traves-
suras haviam voltado para casa horas atrás, mas os adultos ainda esta-
vam fora desfrutando dos bares e restaurantes de Langley Park.

Kyle circulou o quarteirão procurando estacionamento. — Vou te


deixar na porta. Você pode pegar alguns lugares no bar. Encontro você
lá dentro depois de encontrar uma vaga de estacionamento.

Ela deixou o calor do carro de Kyle. A chuva gelada havia diminuí-


do e o centro da cidade brilhava sob o brilho quente das lâmpadas da
rua. Seus olhos se arregalaram quando ela olhou pela janela da frente

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
do Park Tavern. Sam Sinclair estava atrás do bar conversando com um
casal vestido como personagens de Game of Thrones.

Sam.

Sam tinha sido o irmão mais velho que ela nunca teve. Ele era
primo de Michael, mas eles pareciam mais irmãos, com os mesmos ca-
belos ruivos e olhos verdes. Sam passou muito tempo na infância de
Michael. Ele seria encarregado de levá-los ao parque ou ao jardim botâ-
nico. Sempre alto para a idade dele, Sam era um gigante gentil, quer ele
estivesse empurrando-a nos balanços ou levantando-a para pegar uma
folha de um galho de árvore.

Uma rajada de vento sacudiu os galhos nus das árvores que ladea-
vam a rua, e Em inalou o perfume de hortelã e capim-limão do capuz de
Michael. Ela tinha esquecido que ainda estava usando. Ela puxou a ja-
queta ao seu redor. Mas antes que ela tivesse a chance de voltar a pen-
sar em Michael, seu olhar viajou pela taverna até uma mesa alta perto
dos fundos. Zoe estava sentada sozinha, pegando o rótulo de uma gar-
rafa de cerveja, os olhos fixos em Sam.

Depois de todos esses anos, Zoe ainda estava ansiosa por Sam
Sinclair?

O olhar angustiado em seu rosto deu a resposta. Por um momento,


a raiva de Em por seu velho amigo diminuiu. Ela observou Sam encon-
trar o olhar de Zoe com um sorriso sem noção enquanto ele acenava
para ela do bar. Sam não tinha ideia de como Zoe se sentia.

Uma mistura de alegria e triunfo tomou conta dela. Ela sussurrou:


— Zoe merece a indiferença de Sam. Você perdeu muito. É justo que
Zoe sinta seu quinhão de miséria.

Uma mão bateu em seu ombro, e ela girou.

Kyle levantou as mãos em falsa rendição. — Sou só eu.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ela puxou o capuz ao seu redor. — Desculpe, Kyle. — Ela olhou
para o Park Tavern. Um momento atrás, ela estava pronta para aprovei-
tar a dor de Zoe, mas agora tudo que sentia era vergonha. — Eu não
acho que esse lugar seja bom pra mim. Eu só vou voltar para casa.

— Eu poderia levá-la, ou poderíamos tentar em outro lugar.

Kyle era o doce tipo de cachorrinho que ela perseguia, mas ela não
podia ir lá com Kyle - especialmente com a mãe de todas as pessoas que
cuidavam de seu pai.

— Isso é doce, mas um pouco de ar fresco me faria bem. — Ela


começou a ir embora, mas voltou-se para encará-lo. — Talvez possamos
tomar um café enquanto estou na cidade.

Kyle enfiou a mão no bolso. — Aqui está o meu cartão. Todos os


meus números estão nele.

— Obrigado por me levar de volta ao Langley Park. Você foi um sal-


va-vidas hoje à noite. Você acha... — ela parou.

— O que? Eu penso o que?

Ela enfiou o cartão na bolsa e mordeu o lábio. — Eu te disse. Eu


tentaria descobrir o que aconteceu comigo na noite em que me machu-
quei.

Kyle assentiu.

— Se eu tiver alguma dúvida sobre Sadie's Hollow ou as cidades


próximas, você acha que poderia me ajudar com isso? Faz muito tempo
desde que estou em casa. Só não estou mais tão familiarizado com a
área.

Ele iluminou uma sombra. — Claro. Eu vou ajudá-la com o que


você precisar.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
O BATER de seus sapatos de salto alto estalou na calçada quando
ela entrou na Foxglove Lane. Os Tudors e os bangalôs que antes eram
iluminados para doces ou travessuras de Halloween agora estavam es-
curos com abóboras esculpidas estoicas e ainda nos degraus da varan-
da.

A casa de Michael estava escura, e sua casa da garagem também.


Ela soltou um suspiro aliviado. Ele deve ter ido para a cama. Algo na
calçada em frente à sua varanda brilhava à luz. Ela se abaixou e pegou
um Kit Kat. A filha de Ben Fisher deve ter desistido.

Ela balançou a cabeça e sorriu, pensando na menininha atrevida.


Ela estava prestes a guardar o doce quando um homem saiu das som-
bras.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
09
Em gritou e jogou o Kit Kat na forma escura que pairava em sua
varanda.

— Cristo, Em! Sou só eu.

— O que diabos você está fazendo aqui fora?

Michael saiu das sombras e a luz da lua iluminou seu rosto. Seus
traços eram rudes como um pai exasperado, esperando um adolescente
rebelde quebrando o toque de recolher. Ele esfregou a nuca e cruzou os
braços. — Por que você demorou tanto para chegar em casa? E por que
diabos você estava andando? Kyle Benson tentou mexer com você?

Em passou por ele e abriu a porta da frente. — Eu sinto Muito.


Não recebi o memorando que você tinha a dizer sobre o que faço ou com
quem faço. E para sua informação, como caras como Kyle Benson no
café da manhã.

Michael colocou a mão no batente da porta. — Nós precisamos


conversar.

Ela se abaixou sob o braço dele e entrou. — Não tenho nada a dizer
para você e não há nada que possa me dizer que mudaria alguma coisa.
Então, eu não vejo o ponto.

Ela foi até a barra lateral e serviu um uísque. — Eu ofereceria


uma. — Ela levantou o copo e jogou o conteúdo para trás. — Mas você
está indo embora. — Ela pegou a garrafa de Teeling e serviu mais três
dedos.

Michael acendeu uma lâmpada. A poça de luz suave poderia muito


bem ter sido um holofote que aumentava o significado de cada móvel e
de todas as fotografias emolduradas. O olhar de Em repousou no bebê
grandioso.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Eu aposto que você ainda pode tocar isso, — disse ele, cami-
nhando até o piano, sua voz suavizando. Ele levantou a tampa e passou
os dedos silenciosamente pelas teclas.

Ela se juntou a ele e baixou o olhar para onde o dedo indicador es-
tava no meio C.

— Em, você sabe que Zoe e eu tentamos entrar em contato com vo-
cê. Nós escrevemos cartas. Nós ligamos. Sabíamos que não havia como
fazer isso direito, mas você nos interrompeu. Realmente destruiu Zoe.
Ela teve que voltar para casa depois do primeiro ano de faculdade.

Em deslizou o dedo indicador sobre as teclas, deixando-o apenas a


alguns milímetros do de Michael.

Michael continuou, — Desculpe-me. Zoe está arrependida. Se você


apenas lesse nossas cartas, já teria visto. Você teria entendido. Nunca
quisemos que nada acontecesse com você.

Ela colocou o copo vazio no piano e lambeu os lábios. Seus olhos


se ajustaram à luz fraca, e ela encontrou o olhar dele. Seus olhos verdes
estavam nublados com culpa e dor. Se ela não estivesse armada de rai-
va, talvez não tivesse sido capaz de resistir a ele.

Ela pegou a mão dele e o puxou para sentar no banco do piano. Ele
obedeceu. Ela soltou a mão dele, ficou entre as coxas e apoiou as mãos
nos ombros dele. Agora eles estavam olho no olho.

— Você sente muito? — Ela disse as palavras como uma viúva ne-
gra tecendo sua teia.

Ele assentiu.

Ela passou as pontas dos dedos pela mandíbula dele. O movimento


fez cócegas nas pontas dos dedos, e um calor cresceu dentro de seu nú-
cleo. Mas isso não era sobre sexo. Isso era sobre poder. Era sobre mos-
trar a Michael MacCarron que ele não conseguiu conquistar o perdão
dela. A raiva que a sustentou todos esses anos rosnou e se contorceu de

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
prazer. Ela levantou uma perna e a prendeu na de Michael. A expressão
dele se transformou em confusão quando ela colocou a outra perna em
volta da dele. Ela montou em seu colo, sua minúscula saia subindo pe-
rigosamente pelas coxas. As mãos dele caíram na cintura dela, e ela cir-
culou os quadris.

Michael mudou. — O que você está fazendo, Em?

— Como é que eu estou fazendo? — Ela levantou os quadris uma


fração. Ele estava respondendo aos avanços dela. A evidência de sua
excitação pressionou fortemente contra seu centro.

Ela sorriu. Essa viagem de poder fez seu núcleo vibrar de excita-
ção.

— Você não gosta disso? — ela perguntou, sussurrando em seu


ouvido.

Os dedos dele flexionaram e se apertaram ao redor dos quadris de-


la. Ela estava vencendo. Ela estava no controle - ou pelo menos ela pen-
sava que estava.

Ela inalou, e o perfume de Michael encheu suas narinas, evocando


a lembrança do beijo deles em Sadie's Hollow. Levou cada grama de rai-
va que ela teve para enterrar esses pensamentos profundamente em
sua mente. Ela fechou os olhos e se concentrou. Ela o trataria como se
tratasse de todos os homens que ela fodia - como um brinquedo, como
algo que ela costumava usar.

Em deslizou a mão para baixo e tocou em seu pau por cima da cal-
ça. Ele estremeceu e implorou por seu toque.

Ela abaixou a cabeça e encontrou o olhar dele. As respirações su-


perficiais dele vieram em sopros suaves contra os lábios dela. Ela desa-
botoou a calça dele, e a mão dele se moveu do quadril para o cabelo de-
la. Ele enlaçou os dedos em sua trança e embalou a parte de trás da
cabeça dela com a palma da mão grande.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ela tinha Michael MacCarron exatamente onde ela o queria.

— Em, — disse ele. A palavra saiu em uma sílaba apertada.

— Hmm, — ela respondeu, girando os quadris e triturando en-


quanto trabalhava para soltar o próximo botão na calça dele.

Ele passou os dedos ao redor da cauda da trança e puxou como ele


tinha feito com as pérolas da avó. Sua determinação caiu uma fração. A
raiva que impulsionava essa escapada estava perigosamente perto de
desmoronar em um desejo pleno, e ela não podia se render a essa emo-
ção.

— Em, — ele sussurrou. Ele puxou com mais força, forçando um


gemido a escapar dos lábios dela.

— Sim, — ela respondeu sua respiração superficial encontrando a


dele.

Ele manteve o controle e encontrou o olhar dela. — Você não está


no comando aqui.

— Eu acho que estou, — ela respondeu, moendo em seu pênis até


outro puxão rápido e deliciosamente doloroso de sua trança forçá-la a
parar.

— Eu não sou um garoto que você pode manipular Mary Michelle.

Ela estremeceu com o som do seu nome verdadeiro e mordeu o lá-


bio inferior. Ela estreitou o olhar na tentativa de recuperar a vantagem.
Ela teve que virar a mesa. A única maneira de superar seus sentimen-
tos por Michael MacCarron era fazer dele uma conquista e usá-lo como
se usasse todos os outros homens que dominara.

Michael MacCarron como seu igual era uma perspectiva muito as-
sustadora.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Eu assisti você a noite toda, Em. Eu conheço o seu jogo. Sei que
você pensa que está no controle agora, mas tenho más notícias para
você. — Ele soltou a trança e moveu as mãos para agarrar sua bunda.

Ela inalou bruscamente.

Ele pressionou os lábios contra a concha da orelha dela. — Você


não está no controle. Nem mesmo perto.

Em um movimento limpo, Michael se levantou e a levantou no ar.


Ela apertou as pernas em volta da cintura dele quando ele se virou e a
pressionou contra a parede. O contato afiado enviou pulsos elétricos
correndo para seu núcleo. Seu centro ficou quente e úmido. A raiva es-
tava perdendo e o desejo estava assumindo. Ela suavizou o olhar, mas
os olhos de Michael endureceram. Ele deu um passo para trás e suas
mãos se moveram da bunda dela para a cintura dela. As botas dela fize-
ram um forte clique contra o chão de madeira quando ele afastou o cor-
po dela e a colocou no chão.

— Nós vamos conversar, Em, mas não assim.

Ela abriu os lábios para responder. Mas ela não conseguiu falar.
Uma pontada de ansiedade explodiu em seu peito. Nenhum de seus
truques iria funcionar com ele. Tudo o que ela pôde fazer foi olhar nos
olhos dele por um breve momento antes de ele se virar e sair pela porta
da frente.

MICHAEL ABRIU a porta do escritório de advocacia MacCarron na se-


gunda-feira de manhã e colocou três xícaras fumegantes de cafés para
viagem e um buquê de girassóis em sua mesa. Ainda era cedo, mas ele
sabia que os ocupantes do escritório de arquitetura ao lado já estariam
lá. Ele clicou em seu computador e conferiu seus compromissos.

Seu pai, E. Noland MacCarron, Esq., Abriu o escritório de advoca-


cia há mais de três décadas e rapidamente se tornou o advogado que as

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
famílias de Kansas City procuravam por todas as suas necessidades de
confiança, vontade e planejamento imobiliário.

Ele viu seu pai em todos os cantos do espaço. Fotos de seu pai re-
cebendo o prêmio de Advogado Mais Prestigiado de Kansas City e tro-
féus de golfe estavam nas prateleiras. Uma fotografia de sua mãe e pai
no dia do casamento estava ao lado de um vaso de girassóis murchas.

Depois que sua mãe faleceu sete anos atrás, seu pai insistiu em
manter o vaso cheio da flor favorita de sua esposa morta. Michael jogou
os girassóis caídos no lixo e os substituiu pelo buquê fresco. Ele olhou
para as flores. Fazia séculos desde que seu pai entrou no escritório. Mi-
chael não tinha que continuar a tradição do girassol. Mas na segunda-
feira de manhã, sua primeira parada foi sempre na florista no centro da
cidade de Langley Park.

Ele passou as mãos pelos cabelos e balançou a cabeça. Ele mal


dormiu uma piscadela na noite passada e, quando conseguiu dormir,
seus sonhos explodiram com imagens de Em. Seus olhos selvagens,
azuis e brilhantes. Seu corpo pressionou contra o dele. Seu doce aroma
como o sabor das laranjas recém-cortadas. Levou cada grama de força
para resistir a ela na noite passada.

Não era como se ele não estivesse com outras mulheres. Ele namo-
rou pessoas diferentes através da faculdade de direito. Mas nada nunca
ficou preso. Todo relacionamento carecia de algo que ele não podia
identificar. Quando a saúde de seu pai se deteriorou, sua vida no na-
moro passou de esparsa para inexistente.

Ele soltou um suspiro frustrado, pegou os cafés e foi para a porta


ao lado. Os olhos de uma mulher pequena e mais velha brilharam
quando ele entrou no escritório de arquitetura da Fisher Designs.

— Bom dia, senhora G, — disse ele, entregando um café à mulher.

— Benjamin me disse que Em está de volta.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
A sra. G não era alguém que mede palavras.

A Sra. Rosemary Giacopazzi, conhecida por todos na cidade como


Sra. G, tinha sido a amada professora da terceira série da Langley Park
Elementary School antes de se aposentar e começar a trabalhar como
gerente da firma de arquitetura de Ben Fisher, Fisher Designs. Dificil-
mente havia uma pessoa em Langley Park que não fosse tocada por sua
bondade. O próprio Michael fora aluno dela, juntamente com Ben, Zoe,
seu primo, Sam e Em.

Michael tomou um gole de café e seus ombros relaxaram um pou-


co. Só estar perto da sra. G o fez se sentir melhor.

— Eu não tinha ideia de que ela estava voltando para casa. O Dr.
MacCaslin não mencionou nada para mim, nem mesmo quando eu o
ajudei a mudar para o chalé assistido.

— Bem, querido, — a Sra. G disse, apertando seu antebraço, — vo-


cê sabe que ele não diria nada sobre Em. Aquele homem nunca passou
do que aconteceu com a filha. Tenho certeza que ele se culpa. Acho que
ele não falou uma palavra sobre ela com ninguém em mais de uma dé-
cada.

Michael assentiu. A sra. G estava certa.

— E como está seu pai? — ela perguntou, mas antes que ele pu-
desse responder, Ben Fisher apareceu por trás da porta fechada da sala
de conferências.

— Graças a Deus pelo café, — disse Ben com um sorriso. Ele pe-
gou a xícara fumegante e tomou um gole.

— Tarde da noite? — Michael perguntou, agradecido pela mudança


de assunto.

O sorriso de Ben aumentou. Michael ficou maravilhado com a mu-


dança do arquiteto outrora rígido e estóico desde que Jenna entrou em
sua vida seis meses atrás. A primeira esposa de Ben cometeu suicídio,

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
deixando-o para criar sua filha Kate, sozinha. Michael ficou feliz ao ver
que Ben e Jenna haviam se encontrado. Ele invejava o sorriso contente
que vinha tão facilmente para seu amigo nos dias de hoje.

— Eu acho que deveria haver uma lei que, se o dia seguinte ao Hal-
loween cair em um dia da semana, eles cancelam a escola, — disse Ben
com uma risada.

— Amém, — ecoou a Sra. G enquanto organizava uma pilha de


plantas em sua mesa.

— Kate era um urso para acordar esta manhã e exigiu Kit Kats no
café da manhã.

— É pela sua esposa que sinto muito hoje, — disse a sra. G. — É


preciso a paciência de um santo para lidar com crianças que vêm de
ressaca de açúcar no Halloween

A esposa de Ben já havia trabalhado como especialista em leitura


itinerante, indo de cidade em cidade, estabelecendo um programa de
leitura direcionado aos alunos do ensino fundamental. Agora ela traba-
lhava como professora de intervenção em leitura na Langley Park Ele-
mentary.

— Concordo. Espero que você tenha algo bom planejado para Jen-
na hoje à noite - acrescentou Michael.

Um olhar malicioso cruzou o rosto de Ben.

Michael balançou a cabeça. — Cristo, Ben! Eu quis dizer como vo-


cê preparando o jantar ou trazendo para casa uma garrafa de seu vinho
favorito.

A sra. G ergueu os olhos do poleiro na recepção. — Antes de tudo,


observe seu idioma, Michael Edward MacCarron.

Ben e Michael trocaram um olhar divertido, mas como bons garoti-


nhos, eles se endireitaram e reprimiram seus sorrisos.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Segundo, aqui está o design da sua escada, Michael, — disse a
sra. G, entregando a Michael um pedaço de papel.

Michael olhou para o jornal e engoliu em seco. O telefone tocou e


ele ficou agradecido.

— É melhor eu começar esse dia também, — disse Michael. Ele co-


locou o papel debaixo do braço e pegou o café.

Ben o acompanhou. — Espero que você não se importe de eu trazer


isso à tona, mas pareceu bastante tenso com Em ontem à noite. Eu po-
deria dizer que foi um choque completo para Zoe. Você sabe por que Em
voltou?

— Eu tenho ajudado o Dr. MacCaslin com todas as legalidades de


mudar para o Senior Living Campus. Ele vai vender o Quadrangular. —
Michael não mencionou que o pai de Em teve que vender sua casa para
comprar a casa de campo assistida. — Presumo que Em esteja aqui pa-
ra examinar o conteúdo da casa e decidir se há algum item que ela gos-
taria de manter. — Michael também guardou para si mesmo que tinha
vislumbrado dentro do quarto de Em. Estava no lixo e a camada de po-
eira que cobria cada troféu e fotografia quebrada sugeria que o dano
havia sido causado há muitos anos.

Ben balançou a cabeça. — É uma pena o que aconteceu com Em.

Mesmo que Ben fosse o irmão mais velho de Zoe, Michael sabia
que Zoe nunca compartilhou os detalhes de Sadie's Hollow com ele. Ben
conhecia o resto da cidade - Em se machucou enquanto festejava, ter-
minando qualquer chance de carreira na música, e ela havia deixado o
Langley Park para morar com a mãe na Austrália.

— É, — respondeu Michael, mas sua atenção foi atraída para um


cupê vermelho Mercedes que se aproximava.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Uma mulher segurando uma xícara grande do The Drip Coffee
Shop com um mapa estendido sobre o painel passou ignorando a pre-
sença deles na calçada.

Era Em. Mas para onde ela estava indo?

— Parece que o velho cupê do Dr. MacCaslin ainda é dirigível, —


disse Ben, enquanto os dois homens observavam o carro passar.

Michael franziu a testa. — Os pneus estão carecas, e aposto que já


se passaram cinco anos desde que o óleo foi trocado.

— Ela provavelmente vai visitar o pai, — disse Ben, dando um ta-


pinha no ombro dele com a mesma gentileza bondosa que ele mostrara
a Michael desde que eram crianças.

Michael assentiu, mas sua mente estava acelerada.

Em não precisaria de um mapa para encontrar o caminho para o


Campus de Idosos.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
10
Em passara pelo escritório de Michael todas as manhãs naquela
semana, e a cena era a mesma todos os dias: Em segurando um café
gigante do The Drip com um mapa espalhado pelo painel do cupê. Ela
não chegaria em casa até tarde da noite. Ele ouvia a Mercedes estacio-
nar a entrada de carros de pedregulho e a batida da porta da garagem
enquanto ela trancava o carro dentro de sua garagem, situada a um
metro e meio dele.

Ele estaria dentro de sua casa de garagem, mexendo com sua esta-
ção de trabalho de áudio digital quando ela finalmente retornasse. Um
hobby que ele praticava em segredo.

Quem confiaria seu planejamento imobiliário a um advogado que


passava seu tempo livre misturando batidas Techno? Ninguém.

Seu pai nunca apoiou seu amor pela música e, especialmente, não
entendeu sua afinidade pelo baixo com camadas de melodias eletrôni-
cas. O talento de Em era algo que seu pai podia entender. Claro, estava
tudo bem para Mary Michelle MacCaslin seguir seus sonhos. Ela era
uma renomada violinista clássica. E o que ele era? Segundo o pai, ape-
nas um garoto fazendo barulho.

Michael dera tudo à advocacia MacCarron. Nos últimos cinco anos,


ele não apenas administrou o negócio, como também o tornou ainda
mais lucrativo. Mas não foi fácil. Ele trabalhou duro dia após dia. Seu
pai fundou a empresa há quase quarenta anos e construiu uma sólida
reputação. Pessoas de todo o estado vinham com E. Noland MacCarron
Esq. vasculhe suas finanças e crie vontades e relações de confiança me-
ticulosas.

Michael tamborilou com os dedos no painel. Ele manteve seu Audi


estacionado na garagem e tinha certeza de que Em o reconheceria. En-
tão, hoje, ele optou por pegar o carro que dirigia durante o ensino médio
The Sound Of Home
KRISTA SANDOR
e a faculdade - seu fiel e velho Range Rover. Em só havia montado uma
vez, e ele estremeceu ao se lembrar daquela viagem do Hollow para o
Centro Médico do Centro-Oeste.

Eram sete e dez da manhã. Em passou por essa hora todos os dias
desta semana. Agora sexta-feira, uma garoa fria de novembro apimen-
tou o ar e escureceu a calçada. Ele ajustou o espelho retrovisor do car-
ro. Como um caçador esperando por sua presa, ele se sentou e obser-
vou a Mercedes passar. Ele reagendou todas as suas reuniões até a
próxima semana. Sua sexta-feira estava aberta, e ele precisava desco-
brir para onde diabos ela estava indo todos os dias.

Um choque de adrenalina aumentou seus sentidos quando avistou


o carro vermelho cereja. Construído para passeios de verão, atraves-
sando a estrada escorregadia do final do outono. Ele insistia que ela di-
rigisse seu Audi ou mesmo seu Rover enquanto ela estivesse em casa. O
cupê ficaria paralisado em uma polegada de neve e não era páreo para
as tempestades de gelo que poderiam devastar o estado em questão de
minutos. Então ele se lembrou do fogo nos olhos azuis gelados de Em e
do jeito que ela pensou que poderia seduzi-lo tão facilmente. Ela não
era mais a garota inocente ao lado. Seria uma luta levá-la a considerar
pedir emprestado um de seus carros.

Em passou pelo Rover - café na mão e mapa bem aberto. Michael


deslizou o veículo no trânsito e seguiu alguns carros atrás dela. O cupê
Mercedes seria fácil de manter em vista. Nadando em um mar de sedãs
e SUVs de cores sedutoras, o cupê gritou: Aqui estou mundo! E a garo-
ta bonita de cabelos ruivos seria uma distração, mesmo que estivesse
em um Buick surrado.

Ele a seguiu para o sul, deixando a área de Kansas City até se fun-
direm na Highway 169 e os arranha-céus da cidade foram substituídos
por campos inativos e gado itinerante. Eles dirigiram quase meia hora
antes de ela pegar a saída 59 e depois clicar.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Em estava indo para Sadie's Hollow.

O tráfego era escasso. Ela poderia identificá-lo facilmente se ele


continuasse a segui-la até a pequena cidade de Lyleville, Kansas. Ele
saiu da estrada e dirigiu para a cidade vizinha de Garrett, uma popula-
ção enorme de três mil e quatrocentos - um gigante comparado a Lyle-
ville - e parou ao lado da estrada.

Ele cortou a ignição. Ele queria lhe dar uma vantagem. Mais im-
portante, ele queria pegá-la fazendo o que diabos ela estava fazendo no
vazio.

Mas ele não podia esperar muito.

Depois de alguns minutos, seu joelho saltou com energia nervosa.


Ele ligou o carro e seguiu a rota familiar para o antigo ponto de encon-
tro da escola.

O Mercedes estava estacionado ao lado da estrada em frente ao


cemitério. Um nó pesado e ameaçador se formou na boca do estômago.
Ele não estava de volta ao vazio desde a noite do acidente de Em. Na
noite em que ele deixou -a para se defender enquanto nadava nos elogi-
os de adolescentes, dançando ao som da música e da atenção de Tiffany
Shelton.

Ele fechou o paletó e passou pelo cemitério. Ele olhou para os de-
graus de pedra calcária que levavam ao buraco.

Os Passos para o Inferno.

Os próprios degraus em que ele encontrara Em estendida como


uma boneca de pano - sua mão mutilada, suas roupas polvilhadas com
uma película de giz. As memórias voltaram à tona com a mesma facili-
dade que a exibição de um filme que você assistiu mil vezes.

A espessa folhagem de verão que envolvia o oco se foi, as folhas so-


pradas no chão pelo vento do Kansas. Galhos nus estavam espalhados
finos e nus pelo céu, permitindo que Michael observasse Em investigar

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
o buraco. O espaço parecia menor para ele. Quando adolescente, o bu-
raco, cheio de tendas e adolescentes, parecia quase mágico. Tudo era
possível sob as estrelas e longe do pai.

A garoa enevoada mudou para um granizo cortante, e Michael ajei-


tou o boné, puxando a aba para baixo na testa. Em estava usando uma
trincheira preta apertada firmemente em volta da cintura. Ele franziu a
testa. Depois que ele a convencer a dirigir um carro mais apropriado,
ele insistiria que ela comprasse um casaco de inverno decente. Mas sua
irritação se dissipou enquanto a observava metodicamente traçar seus
passos ao redor do buraco. Ela parou em um pequeno aglomerado de
pedras e passou os dedos pela superfície escorregadia pela chuva. A ou-
tra mão dela foi para a garganta e demorou, e ele pôde ler seus pensa-
mentos.

Os lábios dele nos dela.

Seus dedos embrulhados no colar de pérolas delicadas.

A pressão de seu corpo leve contra seus ângulos duros.

Ele soltou um suspiro irregular. Aquele beijo perfeito sempre seria


emaranhado e marcado pelo acidente que alterou a vida de Em. Mas
antes que sua culpa pudesse se apoderar, ela foi superada pela admira-
ção.

Em levantou os braços, palmas para cima. A chuva fria caiu sobre


suas mãos estendidas. Ela girou em círculos lentos quando seu corpo
se posicionou e começou a tocar um violino invisível com o braço direito
curvando-se graciosamente.

Era como assistir o sonho de outra pessoa. Os cabelos de Em, mo-


lhados e soltos, fluíam como uma crina ruiva. Seu corpo leve se moveu
em sincronia com alguma música trancada dentro de sua mente. Ela
era fascinante, e ele queria tocá-la como havia feito naquela noite todos
aqueles anos atrás. Ele fechou os olhos e a lembrança do beijo deles o
transportou de volta no tempo.
The Sound Of Home
KRISTA SANDOR
— O que diabos você está fazendo aqui?

Michael piscou. Em olhou para ele, suas mãos não tocando mais
violino, mas em bolas apertadas contra seus quadris. Um rubor enver-
gonhado subiu por seu pescoço exposto e suas bochechas floresceram
escarlate.

— O que eu estou fazendo aqui— ele perguntou, caminhando em


sua direção através das árvores estéreis. — O que você está fazendo
aqui?

— Não é da sua conta, o que eu faço, — disse ela. Ela estreitou os


olhos. — Você me seguiu até aqui?

Michael enfiou as mãos nos bolsos da calça jeans. Era a única ma-
neira de impedi-los de puxar o capuz de sua cabeça e entrincheira na
de Em. Ela tinha que estar congelando.

— Alguém precisa cuidar de você. Por um lado, os pneus no cupê


são quase carecas. Você pode sofrer um acidente. Estradas geladas não
são brincadeiras, especialmente aqui no meio do nada.

Os olhos dela estavam brilhando. Então, voltamos a isso. O pro-


grama "Michael realmente se importa com Em", hein?

Cristo! Quantas vezes tenho que lhe dizer, me desculpe. Eu nunca


parei de cuidar de você. Nunca!

Seus olhos estavam alinhados com o delineador preto que ele a viu
usar na noite de Halloween, e a maquiagem tinha borrado, fazendo-a
parecer uma fada distópica. Ele reuniu sua determinação e suavizou o
olhar, esperando que ela diminuísse a raiva.

— Você poderia ter-me fodido no Halloween, ela desafiou.

Michael soltou um suspiro. Não era isso que você queria. O sexo
não teve nada a ver com a pequena façanha que você fez.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ela balançou a cabeça, passou por ele e foi em direção ao cemité-
rio. Ele a seguiu, mas parou quando ela foi dar os passos.

— Em, não ande nos degraus!

Ele sabia que a lenda de Os Passos para o Inferno era uma história
boba passada de geração em geração para impedir que jovens inquietos
desfigurassem as lápides antigas. Mas suas palavras ainda saíram em
um suspiro rouco.

Em olhou por cima do ombro, ergueu o queixo e depois subiu os


primeiros degraus. Ela parou no meio do caminho quando ele subiu a
grama inclinada ao lado dela. Sua expressão brilhou algo que o lembrou
da garota inocente que ele lembrava, mas então seus olhos endurece-
ram em gelo azul.

— Em, eu.

Ela o interrompeu. — Você honestamente acha que Os passos para


o inferno pode me machucar agora? Não há mais nada para levar, Mi-
chael. Eu poderia dançar de um lado para o outro o dia inteiro, e nada
poderia me machucar.

Ela estava segurando firme sua raiva. Ele podia sentir isso irradi-
ando dela. Os olhos dela ardiam com isso. Mas além da raiva, havia
tristeza enterrada nas profundezas de seu olhar.

— Em. Esta não é você. Fale comigo.

Ela se virou e foi para o cupê. Suas mãos tremiam e ela largou as
chaves enquanto tentava destrancar a porta do carro.

Ele pegou as chaves. Ela estava de costas para ele. Os ombros dela
subiram e caíram com a respiração em impulsos raivosos. Ela se virou e
se encostou no carro. O olhar dela passou por ele como um matemático
avaliando uma equação.

— Você realmente quer me ajudar, Michael?

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ela esfregou as mãos. As pontas de seus dedos estavam vermelhas
pelo frio cortante. Ele colocou as chaves no bolso e cruzou as mãos pe-
quenas entre as dele. Ela ficou tensa com o toque dele, mas não se afas-
tou.

— Sim, eu quero ajudá-la

Por um momento, ele viu a garota que beijou na pedra. A garota


que costumava sentar-se à janela, com a lanterna na mão, enquanto
sinalizavam de um lado para o outro tarde da noite. Ele viu Em, pressi-
onado as costas ao lado da casa dela, sorrindo e chamando-o para cor-
rer pela chuva e se juntar a ela.

Ela piscou, e a garota que ele lembrava desapareceu.

— Se você quer me ajudar, vai me deixar em paz. Você é a última


pessoa em quem eu confiaria.

Ela tentou puxar as mãos do aperto dele, mas ele segurou firme.
As palavras dela doíam. Suas palavras o cortaram completamente, mas
ele sabia que ela estava mentindo. Ela pode não perceber, mas ele per-
cebeu. Raiva e raiva podem ter sido sua configuração padrão nos últi-
mos doze anos, mas não era quem ela era.

Michael soltou as mãos dela, mas em vez de deixá-la ir, ele segurou
o rosto dela. — Você esquece, eu te conheço a vida toda. Não me impor-
to se faz doze ou doze mil anos, sempre conhecerei seu coração.

O lábio inferior de Em tremeu. Ela relaxou um pouco e ele passou


o polegar pelos lábios dela. Ele sorriu, mas sua expressão caiu quando
ela o empurrou de volta.

— Você não me conhece, Michael, não mais. — Ela estendeu sua


mão. — Eu tenho que voltar para o parque Langley. Eu quero minhas
chaves. Agora!

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
11
Em esfregou as mãos e acelerou o passo em direção ao Campus de
Vida Sênior. O vento gelado de novembro havia diminuído, mas o céu
continuava cinzento e sombrio.

Teria feito mais sentido dirigir, mas os quatro tiros de Teeling que
ela deu depois de voltar para casa de Sadie's Hollow ainda estavam com
a cabeça nadando. Esta cidade já pensava que ela era uma tola egoísta
e imprudente. Adicionar um acidente de carro à sua lista de realizações
apenas provaria que estavam certas - e mataria o pai dela.

Ela puxou as mangas da trincheira sobre as pontas dos dedos, e


uma onda de raiva quente floresceu em seu peito. Michael estava certo.
Ela não veio preparada para o frio. As bochechas dela queimavam pen-
sando em ele a seguindo. Ela deve ter parecido uma lunática empinan-
do em torno do buraco. Mas era o único lugar em que ela conseguia
pensar em começar. Infelizmente, depois de uma semana refazendo
seus passos, ela não estava mais perto de desvendar os eventos daquela
noite horrível.

Para acrescentar insulto à lesão, Michael a observara pairando so-


bre as pedras onde ele a beijara. Ela odiava o quão vividamente se lem-
brava do beijo dele. Aquele beijo despertou uma parte dela que ela nun-
ca soube que existia. Ela foi de um oco de garota. Aquele beijo a fez se
sentir como uma mulher. Ela se irritou com vergonha. O uísque não a
ajudou a esquecer suas mãos quentes embalando seu rosto ou seus
olhos verdes sérios cheios de preocupação. Ela puxou a trincheira com
força sobre o peito e caminhou o último quarteirão até o Campus de Vi-
da Sênior.

Um jovem estava trabalhando no posto de segurança. Ele a acenou


com um sorriso - uma recepção muito diferente do chicote de língua
que ela havia recebido do último guarda. O estacionamento principal

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
estava cheio e ela viu famílias se amontoando em minivans e entrando
no prédio principal.

Ela chegou à cabana do pai, mas antes que pudesse bater, ele
abriu a porta.

— Kiddo, temos que ir para o prédio principal. O show está prestes


a começar — disse Bill, com um sorriso largo no rosto. Ele estava carre-
gando um concentrador de oxigênio portátil, e a batida suave e arejada
da pequena máquina zumbia em expectativa.

Show? Seu pai não havia mencionado nada sobre um concerto.


Quando ele pediu que ela se juntasse a ele para um evento no campus
principal, ela imaginou que eles iriam participar de um torneio de ca-
nastra ou jogar damas. Ela não tinha idéia do que as pessoas faziam
nesse tipo de comunidade.

— Como assim, um concerto? — Ela perguntou, tentando manter a


voz firme.

— Tom e Mindy Lancaster estão fazendo seus alunos se apresenta-


rem para os residentes. Eles trazem as crianças para brincar aqui vá-
rias vezes ao ano, — disseram-me.

Os Lancasters foram seus primeiros professores de música. Mindy


ensinou piano e Tom, o violino. Tom tinha sido fundamental para co-
nectá-la ao mundo da música clássica de elite. Violinista profissional,
tocando com a Sinfonia de Kansas City, ele a convidara para tocar para
o maestro da sinfonia que havia confirmado que seu talento era do tipo
que só acontecia uma vez na vida. Foi Tom quem convenceu seus pais
de que seu talento ia muito além de ser bom. Foi Tom quem a encorajou
a incendiar o mundo da música clássica.

A culpa se instalou espessa e pesada dentro de seu peito. Ela nun-


ca o contatou após o acidente. Ele estendeu a mão. Ela ouviu a mãe fa-
lar com ele por telefone semanas após o acidente, mas não teve forças

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
para atender a ligação dele. Ele era apenas outra pessoa que ela havia
decepcionado.

Em acompanha o ritmo do pai quando eles saem da cabana e se


dirigem ao prédio principal. Um cavalheiro sorridente com uma garoti-
nha nos braços segurou a porta aberta para eles. O saguão do edifício
principal cheirava a canela e especiarias. Mostras de bom gosto de abó-
boras e cabaças adornavam todas as mesas, e uma guirlanda vermelha
estava drapeada dramaticamente em uma grande escadaria. Crianças
de todas as idades, vestidas com as melhores roupas de domingo, pula-
ram os degraus com folhas de música na mão.

O pai dela apertou o ombro dela. — Você está pronta para subir?

Sua garganta estava apertada. — Claro, pai.

Eles entraram em um grande salão de festas no segundo andar.


Moradores e famílias sentaram-se juntos enquanto as crianças ficavam
perto da frente da sala afinando violinos e revezando-se para esquentar
o piano. Em flexionou os dedos e puxou as mangas para baixo. Estava
muito alto. Os guinchos da corda do encontro a cortaram como lâminas
de barbear. Sua respiração superficial imitava a batida rápida de seu
coração. Ela sentou-se ao lado do pai e forçou o olhar para o chão.

— Encontrei Tom Lancaster há alguns dias no campus, — disse o


pai, depositando o oxigênio portátil no chão entre eles. Eu disse a ele
que você estava na cidade e ele me pediu para convidá-la para o recital.

Em assentiu. Não havia escapatória. Ela tinha que passar a próxi-


ma hora mais ou menos. Ela examinou os alunos. Sete crianças, com
idades entre seis ou sete e até o final da adolescência, estavam todas
quietas, com o violino na mão. Nove crianças segurando partituras for-
maram uma fila ao lado de um piano de cauda. Tom e Mindy estavam
passando de aluno para aluno. Eles eram jovens recém-casados quando
Em era uma garotinha. Agora, com cinquenta e poucos anos, eles mal

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
haviam mudado de como ela se lembrava deles, exceto que o pulso de
Mindy estava engessado.

Tom bateu palmas duas vezes, e a sala se aquietou quando um pe-


queno grupo de residentes entrou na sala acompanhado por várias en-
fermeiras.

— Essas são algumas das pessoas do Memory Care Center, — dis-


se Bill, apontando para o grupo. O campus possui uma das melhores
instalações de tratamento de Alzheimer e demência do país.

O taxista contou a mesma coisa na noite em que chegou.

Os olhos de Em se arregalaram quando Michael entrou na sala,


empurrando o pai em uma cadeira de rodas. Ele estacionou a cadeira e
manteve a mão no ombro do pai. Uma enfermeira parou para falar com
ele e sua testa se enrugou enquanto eles falavam.

E. Noland MacCarron tinha sido uma força da natureza. Mas o


homem magro que ela viu sentado em uma cadeira de rodas parecia
confuso. Ele balançou de um lado para o outro, vasculhando a sala co-
mo se estivesse tentando entender como chegara lá.

Tom e Mindy deram as boas-vindas a todos, e uma garotinha com


os pés pendurados no banco do piano começou o recital com uma vari-
ação irregular de "Twinkle, Twinkle Little Star".

O recital progrediu com criança após criança anunciando nervo-


samente sua peça de desempenho e depois avançando pela música.
Houve os guinchos habituais e notas mal interpretadas, mas famílias e
residentes aplaudiram a cada jovem músico.

No início, Em concentrou-se na batida aérea do oxigênio portátil de


seu pai, preocupada que as memórias de sua antiga vida a sobrecarre-
gassem. Mas logo ela se pegou sorrindo - as lembranças de sua infância
feliz e musical silenciando temporariamente sua raiva.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
O participante final estava terminando sua peça de violino quando
a voz elevada de um homem cortou o ar.

Noland olhou para Michael com raiva nos olhos. — Quem diabos é
você? Tire suas malditas mãos de mim!

O salão ficou parado. Michael e uma enfermeira se agacharam pa-


ra confortá-lo, mas Noland persistiu. — Eu preciso de ajuda! Essas pes-
soas querem me matar!

Noland puxou o braço para trás. O estalo do punho contra a bo-


checha ecoou pela sala. A cabeça de Michael torceu com o golpe. Mas
em segundos, ele estava de volta tentando acalmar o pai.

Em ficou de pé e encontrou uma adolescente segurando um violino


de tamanho normal. — Pode me emprestar isso? — ela perguntou, ges-
ticulando para o instrumento da garota.

A adolescente assentiu distraidamente, sua atenção fixada em No-


land.

Em pegou o violino, levou o instrumento ao queixo e levantou o ar-


co. Ela exalou e passou o arco pelas cordas.

C #, B, A, A

As quatro primeiras notas do hino do século XVIII, “Venha mil fon-


tes de toda bênção”, ecoou pelo salão de baile. Uma das primeiras can-
ções que Tom a designara para memorizar, ela se apaixonara pela me-
lodia calmante. Ela repetiu o hino enquanto atravessava o salão de baile
e parava na frente de Noland. Ele se aquietou e a observou com admira-
ção infantil.

Em se ajoelhou e repetiu o hino. A platéia desapareceu e a música,


hipnótica em sua elegante simplicidade, pareceu transportar a Nolândia
para outro lugar e outra hora.

E, F #, G #, A, G #

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Uma expressão curiosa ultrapassou seus traços doloridos. O olhar
vítreo dele passou do rosto para as mãos.

F #, E, F #, E, C #

De novo e de novo, ela repetiu o hino. O deslizar das pontas dos


dedos em cascata para cima e para baixo nas cordas e o mergulho e o
deslize rítmicos do arco pareciam despertar Noland. Ele encontrou seu
olhar, e a confusão que ela viu em seus olhos desapareceu.

Em começou outra repetição do hino quando vários violinos inici-


antes se juntaram e tocaram a primeira medida junto com ela. Ela
olhou para trás. Seis crianças tocando violinos minúsculos concentra-
ram-se enquanto trabalhavam para manter o ritmo. Como um nascer
do sol tão deslumbrante que parece sobrenatural em sua beleza, a mú-
sica assumiu uma qualidade assombrosa e etérea, enquanto o som dos
sete violinos penteava suavemente o ar, embalando a platéia em um es-
tado hipnotizado de admiração.

Noland sorriu e Em viu o homem que conhecera a vida inteira.


Continuando a brincar, levantou-se, virou-se para as crianças e mur-
murou: — Mais uma vez.

Eles tocaram o hino uma última vez antes de Em encerrar sua


apresentação improvisada. Ela respirou e encontrou o olhar de Michael.
Uma magnitude de alegria e dor pairava no ar entre eles. Cada fibra do
seu ser queria ir até ele, confortá-lo, mas ela não se mexeu. Os olhos
dela se voltaram para a platéia, de queixo caído no salão de baile. A
multidão permaneceu em silêncio por um instante, então uma salva de
palmas estrondosa ecoou pela sala, chamando a atenção de Noland pa-
ra as crianças que sorriam orgulhosamente.

— Em, é você? — Noland olhou para ela. Seus inteligentes olhos


verdes brilhavam de emoção.

— É, — ela respondeu, caindo de joelhos.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ele estendeu a mão e tocou o rosto dela. — Você mudou, — disse
ele. Seu descontentamento com a maquiagem pesada dos olhos estava
escrito em todo o rosto.

Ela riu. — Você também, Sr. MacCarron.

Ele pegou a mão dela. — Eu sempre amei esse hino. Seu pai e eu
costumávamos sentar na varanda da frente e ouvir você tocar repetida-
mente. Bill, não é?

Em olhou por cima do ombro e viu o pai, sua expressão nostálgica


imitando a de Noland.

Bill colocou a mão no ombro do homem. — Com certeza, Noland.

— Michael sentiu sua falta, Em, — disse Noland, olhando para o fi-
lho.

Michael deu um sorriso cansado. — Vamos pai. Devemos levá-lo de


volta ao seu quarto.

Noland assentiu, mas voltou sua atenção para Em. —Você virá me
visitar em breve, não é? Talvez com um pouco menos disso— Ele apon-
tou para os olhos dela. — Você não precisa, querida. Você não tem nada
a esconder.

Em limpou uma lágrima da bochecha e assentiu.

Michael soltou o freio na cadeira de rodas de seu pai.

Ela olhou para cima e encontrou o olhar de Michael. As pontas afi-


adas de sua raiva não foram tão profundas quando ela olhou para ele.
Em vez da adolescente descuidada que mantinha congelada nos recôn-
ditos escuros do coração, onde o tempo parava, ela agora via um ho-
mem carregando uma carga pesada. Seus olhos verdes falavam de pro-
funda perda, angústia e remorso. Era fácil pintar Michael e Zoe como
vilões. Preto e branco. Certo e errado. Pecador e santo. Após a lesão, ela

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
precisou compartimentar cada parte de sua vida em categorias rígidas
para sobreviver.

Ele deve ter percebido a mudança na resposta dela, mas antes que
pudesse responder, Anita Benson emergiu da multidão.

— Michael, querido, devemos levar seu pai de volta para o quarto


dele.

A pele de Em formigou quando ela assistiu Michael e Noland seguir


Anita para fora do salão de baile.

Tom e Mindy Lancaster estavam conversando com alunos e pais


saindo do salão de baile. Esquecida a explosão de Noland, as famílias
estavam jorrando sobre o desempenho do grupo no hino.

Tom passou pelas famílias e acenou. — Em, Bill, é tão bom ver vo-
cês dois! Isso foi alguma coisa, Em. Como você sabia que essa música
ajudaria a Noland?

— Eu não sabia, — ela respondeu. — Parecia a coisa certa a fazer.

A dona adolescente do violino se aproximou, parecendo arrasada, e


Em entregou-lhe o violino e o arco. — Um pouco mais de resina na pró-
xima vez. Mas fora isso, você está cuidando muito bem do seu instru-
mento.

A garota sorriu e olhou para o violino com amor antes de se des-


culpar.

Tom olhou para a esposa, que estava ocupada ajudando as crian-


ças a colocar seus violinos e partituras dentro dos estojos. — Você está
na cidade por muito tempo, Em?

— Eu estarei aqui durante as férias, — ela respondeu. Seus dedos


pós-performance tremeram e ela os apertou.

Um olhar esperançoso cruzou o rosto de Tom. — Posso pedir um


favor a você?

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ela compartilhou um olhar com o pai. — Certo.

— Você se importaria de ajudar com a música no Senior Living


Campus? Mindy geralmente lida com todas as necessidades musicais
no SLC durante as férias de inverno, mas ela machucou o pulso. Eu
ainda estou na sinfonia, e a agenda de apresentações é louca nos feria-
dos. Caso contrário, eu teria assumido o controle dela.

— Tom, eu não tenho certeza— Em disse, mudando seu peso de pé


para pé.

Mas Tom a interrompeu. — Existem alguns familiares de residen-


tes da SLC que geralmente ajudam. Você não ficaria presa fazendo isso
sozinha. Isso realmente ajudaria Mindy e eu se você fizesse isso por
nós.

— Você deveria fazer isso, criança, — disse Bill. Seus olhos brilha-
vam de emoção.

O rosto de Tom se iluminou. — É principalmente música de fundo


para alguns eventos de férias. Dê-me o seu endereço de e-mail e envia-
rei os detalhes.

O que ela deveria dizer? Ela jurara voltar a tocar, exceto que ape-
nas se apresentava na frente de um salão de baile lotado.

Ela reuniu um sorriso fraco. — Claro, Tom. Fico feliz em ajudar.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
12

Michael colocou os fones de ouvido nos ouvidos e sentou-se na ca-


deira, escondida no canto mais distante da garagem. Ele olhou para a
tela de sua estação de trabalho de áudio digital. Seu encontro com Em
em Sadie's Hollow e a explosão de seu pai durante o recital o deixaram
vazio. Ele passou a mão pela mandíbula. Foi forte, mas nenhum dano
real foi feito.

O comportamento de Noland estava se tornando mais irregular.


Talvez eles precisassem reavaliar seus remédios novamente?

Michael fechou os olhos e soltou um suspiro cansado.

Foi uma merda de idéia levar o pai ao recital. Os médicos mencio-


naram que problemas de comportamento poderiam ocorrer com mais
frequência durante o final da tarde e à noite, à medida que a doença de
Alzheimer de seu pai progredia. Ao pôr do sol, era assim que eles cha-
mavam. E foi exatamente o que aconteceu esta noite - até que Em tocou
violino.

Michael esfregou os olhos. Cristo, ele estava cansado. Ele estava


quase cochilando quando Cody, que estava dormindo alegremente no
futon, pulou e abanou o rabo.

— Você precisa sair, garoto? — Michael perguntou, sacudindo o


sono.

O velho retriever levantou e girou em círculos animados quando a


porta da garagem se abriu.

Em entrou na casa da garagem e agachou-se. — Cody, você é um


menino tão grande agora. — Ela coçou atrás das orelhas dele, e o ca-
chorro se inclinou para ela.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— A última vez que vi Cody, ele era um filhote, — disse ela.

Michael colocou os fones de ouvido na mesa. Ele esfregou os mús-


culos tensos em seu pescoço. — Eu não tenho condiçoes de brigar com
você agora Em. — Ele entrou no modo advogado. Seu tom era curto e
sem emoção.

— Eu não vim aqui para brigar!

Ele a observou acariciar Cody. Sem calças rasgadas ou saias do


tamanho de um palmo. Ela estava confortavelmente vestida com calças
de ioga e o capuz dele. Seus cabelos ruivos caíam em ondas soltas pelos
ombros. Ele queria juntar os fios nas mãos e torcer os dedos nas ondas
ruivas. Ele tirou o pensamento de sua mente e encontrou o olhar dela.
Seu estômago apertou.

Os olhos dela não estavam cheios da ferocidade fervente que ele


conhecera desde que ela chegara de volta a Langley Park.

Seus olhos estavam cheios, mas não com bondade ou mesmo a lu-
xúria que ele tinha visto quando ela tentou seduzi-lo. Não havia como
errar o que ele viu nos olhos azuis de safira dela: pena. Ele apertou a
mandíbula.

Ela poderia manter sua maldita pena.

— Eu sei o que você vai dizer, Mary Michelle, e não quero ouvir, —
disse ele, levantando-se.

Ele podia ver pena vindo de uma milha de distância. Há cinco


anos, quando a saúde de seu pai diminuiu, ele mal podia pisar no cen-
tro da cidade de Langley Park sem que alguém desse a ele aquele olhar.

Sinto muito por ouvir sobre seu pai, Michael.

Tenho certeza que isso é muito difícil para você, Michael.

— Eu não sabia sobre o seu pai, — disse Em, dando a Cody um úl-
timo tapinha em sua cabeça antes que ela se levantasse para encará-lo.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Seu pai não te contou? — Ele perguntou, ainda no modo advo-
gado.

Em torceu a manga do capuz. — Meu pai e eu nunca conversamos


sobre Langley Park. Depois do acidente, depois que eu fui para a Aus-
trália, não conversamos sobre nada do passado.

Michael assentiu. Em tinha cortado completamente ele e Zoe da vi-


da dela. Não era demais imaginar que ela queria esquecer tudo sobre
esse lugar.

Em deu um passo em sua direção. — Fale comigo.

Ele cruzou os braços. — Quid pro quo"

Em franziu a testa. — O que isso deveria significar?

Ele manteve uma expressão neutra. — Você responde uma das mi-
nhas perguntas e eu responderei uma das suas.

Ela cruzou os braços. — Justo, o que aconteceu com seu pai?

— Imaginei que seu pai teria lhe contado tudo isso depois da ex-
plosão de meu pai no recital.

Em quebrou o contato visual. — Ele me disse que Noland foi diag-


nosticado com Alzheimer. — ele disse que a saúde do seu pai diminuiu
rapidamente.

Michael passou a mão pelos cabelos ruivos. — Tudo começou há


seis anos, após a morte de minha mãe.

Em se encolheu, e Michael sabia o porquê. Ela não voltou a Lan-


gley Park para o funeral de sua mãe. Sua mãe viajou pelo oceano para
comparecer, mas ela permaneceu na Austrália.

O dedo dela torceu o punho. — Sinto muito, Michael. Eu me senti


horrível. Eu queria voltar. Eu simplesmente não podia.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ele assentiu e olhou para um arranhão na parede logo atrás do
ombro dela. — Foram pequenas coisas com meu pai no começo - esque-
cer uma reunião ou o nome de um cliente. Mas a doença progrediu ra-
pidamente. Vendi minha casa em Kansas City e fui morar com ele. Mas
não consegui administrar o escritório e cuidar dele. — Ele engoliu em
seco a emoção e segurou firme a máscara neutra de indiferença que es-
tava escondendo nos últimos cinco anos.

— Meu pai disse que, às vezes, ele não reconhece você, Em acres-
centou suavemente.

Ele soltou um bufo incrédulo. Se você já sabia sobre o meu pai, por
que diabos você perguntou?

Ela encontrou o olhar dele de frente. Eu queria ouvir isso de vo-


cê.Ele mudou seu peso. Minha vez. Quid pro quo, lembra?

— Vá em frente, — disse ela, erguendo o queixo.

— O que você estava fazendo no Sadie's Hollow?

Suas bochechas cremosas floresceram vermelho.Eu estava tentan-


do lembrar. Tentando despertar minha memória.

— Por quê?

Ela soltou o punho torcido. Porque eu preciso saber o que aconte-


ceu naquela noite vazia. Talvez tenha sido apenas um acidente idiota
como todo mundo sempre disse, mas algo dentro de mim sabe que há
mais do que isso.

— Você se lembra de mais alguma coisa? Ele perguntou, sua per-


gunta quase um sussurro.

Ele passou várias vezes naquela noite por anos, tentando lembrar
se tinha visto algo suspeito. Mas esses pensamentos sempre chegavam
à mesma conclusão vergonhosa: ele estava muito ocupado tocando mú-
sica e perdendo tempo com Tiffany Shelton para não ter notado nada.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
A expressão de dor dela respondeu à pergunta dele.

— Minha coisa, — disse ela, os olhos brilhando.Ainda estamos jo-


gando o jogo quid pro quo, certo?

Ele assentiu. Ela teria feito um advogado de ballbuster.

— Zoe ainda está apaixonada por Sam?

Isso o pegou desprevenido. — Zoe é o quê?

— Não aja como você não soubesse Michael. Eu a vi no Park Ta-


vern. Eu vi o jeito que ela estava olhando para ele. —

A fúria disparou através de seu sistema. — Você é ciumenta? Você


ainda está encantada por Sam esse tempo todo?

— Você está louco?Ela atirou de volta. Sam era como um irmão


mais velho para mim, pelo amor de Deus.A flor vermelha estava de volta
amadurecendo suas bochechas.

Michael virou-se para o saco de pancadas pendurado no canto


oposto. O pensamento de Em com qualquer cara quase o levou à violên-
cia. Flashes de sua dança com aquele homem no bar enviaram faixas
quentes de ciúmes correndo por suas veias. Ele precisava amarrar as
luvas e passar as próximas horas esmurrando o saco de pancadas. Tal-
vez então ele fosse capaz de liberar a montanha de tensão que estava
crescendo dentro dele.

— Eu não vim aqui para brigar com você, Michael. Fechei tudo so-
bre Langley Park por tanto tempo. Doze anos se passaram. Mas para
mim, é como se eu voltasse no tempo.

Ele não podia vê-la, mas podia senti-la. A energia dela. O espírito
dela. Ele manteve o olhar fixo no saco de pancadas. Pensamentos dela
pressionados contra sua casa chamando-o para correr pela chuva e se
juntar a ela ecoaram em sua mente. Ele sentiu a mesma atração agora,

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
o mesmo desejo de correr por qualquer obstáculo que estivesse ao seu
lado.

— Deixe-me ajudá-la — disse ele.

— Com o que? — Em perguntou.

Michael virou-se para encará-la. Com a lembrança.

Os dedos de Em voltaram a torcer o punho do capuz. Não sei co-


mo você poderia ajudar. Depois que você me deixou...

Culpa e desejo torceram dentro de seu peito. Em não teve que ter-
minar sua frase para que ele soubesse o que ela queria dizer. Depois
que ele a deixou, ele nunca mais voltou. Ele nunca foi encontrá-la.

Mas isso não significava que ele não poderia ajudá-la agora.

— Você mesma disse, Em. Você se foi há muito tempo. Posso te


ajudar. Podemos pesquisar a área ao redor do oco, visitar as cidades
próximas. Talvez você veja algo que a ajude a lembrar.

Ela abriu os lábios para falar, mas nada saiu.

Michael continuou: Eu sempre tive a sensação de que você deve ter


sido levada a algum lugar naquela noite. Não sei como você poderia ter
se machucado tanto sem alguém ver ou ouvir algo.

— Eu pensei a mesma coisa. Suas palavras eram apenas um sus-


surro.

— Deixe-me ajudá-la — disse ele e deu um passo mais perto.

Ela balançou a cabeça, mas o sulco na testa lhe disse que estava
considerando a oferta dele.

— Talvez seja uma ideia estúpida uma perseguição selvagem, —


disse ela. Eu deveria estar ajudando meu pai...

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Vender a casa, — disse Michael, terminando seu pensamento.
Eu sei que seu pai precisa vender a casa para pagar a casa de campo
no Senior Living Campus.

A raiva brilhou em seus olhos. Como você sabe disso?

— Quem você acha que o ajudou a entrar no campus? Quem você


acha que lidou com todas as legalidades e documentos? Quem você
acha que tinha dinheiro reservado para atualizar seu Quadrangular?

Os dedos dela torceram o punho do capuz.

— Eu não estou lhe dizendo isso para machucá-la, Em, Ele falou
quando uma ideia veio a ele.

O fogo em seus olhos diminuiu uma fração.

— Você pode trabalhar em casa durante a semana, e podemos pas-


sar os fins de semana pesquisando a área em torno de Sadie's Hollow.

Em não estava mais mexendo no punho. Ela permaneceu imóvel, o


azul de seus olhos agora enganosamente sereno como a calma antes da
tempestade.

O advogado nele insistiu, ansioso para defender sua causa. Eu sei


que sua casa precisa de algum trabalho. Posso colocar você em contato
com um arquiteto que conhece as casas de Langley Park como as costas
da mão dele. E, mais importante, você não pode andar pelas estradas
secundárias do Kansas no velho cupê Mercedes de seu pai. Aquele carro
não foi feito para atravessar estradas cobertas de neve ou gelo. Você sa-
be como o clima do Centro-Oeste pode ser imprevisível nessa época do
ano. Podemos pegar meu velho Range Rover. Pode passar por qualquer
coisa.

Em lançou seu olhar para o Rover. Quid pro quo?

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ele assentiu. Ele havia perdido a noção de quem era a vez de fazer
uma pergunta. Mas, neste momento, não importava. Em estava perto de
aceitar sua ajuda. Ele podia sentir isso.

Seus olhos viajaram pela estação de trabalho digital. Um teclado,


baixo e bateria estavam apoiados ao lado de um par de alto-falantes. A
tela estava iluminada com uma faixa que ele estava mixando.

— Por que você não estudou música na faculdade?

Ele olhou para os instrumentos e soltou um suspiro. Porque eu


não fiz. Um acidente pode ter atrapalhado sua vida. A obrigação descar-
rilou a minha.

Michael encontrou seu olhar. Era como estar diante de uma barra-
gem de lembranças segundos antes de ceder. Lembrou-se do sorriso no
rosto dela e de seu riso doce e borbulhante enquanto corria através da
chuva em sua direção. Lembrou-se de adormecer ao som dela tocando
violino tarde da noite enquanto a música escapava pela janela aberta do
quarto e flutuava sobre ele como beijos suaves.

— Eu deveria ir, — disse ela. Mas ela não se mexeu.

Ele sabia que ela também sentia. A história deles preencheu o es-
paço entre eles. Memória após memória estalou e estalou como fogos de
artifício no quarto de julho.

Ele pegou a mão dela. Em, deixe-me ajudá-la.

Ela inalou bruscamente. Ele estava segurando a mão esquerda de-


la. Ele podia sentir a cicatriz suave e elevada que corria ao longo de seu
dedo anelar - um lembrete tátil e visual da noite em que ela perdeu tu-
do. Uma carta escarlate em ziguezague proclamando sua maior perda.
Ele roçou o polegar no pulso dela, provocando outra respiração afiada.
A mão dela relaxou, mas ela não encontrou o olhar dele.

— Eu sei que você não confia em mim. Mas prometo que não vou
decepcioná-la novamente.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Sua mão ficou tensa, mas ela não se afastou.

— Estarei no The Drip no centro da cidade amanhã às oito. Ela co-


nhecia o lugar. Ele a assistia dirigir-se a seu escritório todos os dias da
semana, segurando uma xícara gigante do café local. Vou estacionar o
Rover na frente. Ela estará toda preparada e pronta para partir. Pode-
mos sair de lá e começar a procurar onde quiser.

— Eu não acho ela sussurrou, mas ele não a deixou terminar.

— Você não precisa decidir nada agora. Você sabe onde eu estarei
amanhã. Depende de você, Mary Michelle.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
13
EM Trancou a porta da casa de sua infância e deu uma olhada na
casa de Michael. O sol brilhava nas janelas do segundo andar como se
estivessem jogando-a brilhante, conhecendo piscadelas.

— Essa é realmente a casa de Michael ela sussurrou, apertando os


olhos enquanto um carrilhão de vento distante ecoava na brisa.

Claro, ela se lembrava da casa de Michael. Lembrou-se de toda a


cidade. Mas depois de todo esse tempo fora, Langley Park se transfor-
mou em um lugar quase fingido.

Mas este lugar não era obra de ficção.

Os pitorescos Tudors e bangalôs que ladeavam as ruas, o pitoresco


centro da cidade repleto de lojas populares, os jardins botânicos, sere-
nos com folhas espalhadas pelo chão, eram tão reais quanto o sol bri-
lhando.

Ela inalou o ar da manhã. O frio e o granizo de ontem eram uma


lembrança distante. O sol conheceu o dia livre das pesadas nuvens que
mais recebiam nos dias de outono no Kansas.

Ela vestiu uma calça jeans e uma camiseta justa e depois terminou
a roupa com uma jaqueta de couro cortada. Antes de sair de casa, ela
parou em frente ao espelho pendurado no hall de entrada. Ela esfregou
o rosto no chuveiro e se esqueceu de abrir a bolsa de maquiagem. Um
punhado de sardas beijou a pele de suas maçãs do rosto. Mas foram
seus olhos que chamaram sua atenção. Sem o delineador pesado, a cor
que envolvia suas pupilas explodiu como um campo de hortênsia azul
profunda que não estava mais envolta em um denso nevoeiro.

Ela saiu de casa e seguiu para o norte na Foxglove Lane em dire-


ção ao centro da cidade. Ela estava realmente fazendo isso? Ela real-

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
mente aceitaria a oferta de Michael? Michael, que a decepcionara. Mi-
chael, que havia escolhido Tiffany Shelton ao invés dela.

Mas as coisas não estavam mais tão em preto e branco.

Depois que ela saiu da casa de Michael na noite anterior, ela pas-
sou o resto da noite se mexendo e se virando. Sua mente foi bombarde-
ada com uma lista interminável de prós e contras. Depois que ela resol-
veu tudo, havia apenas uma escolha. Ela tem que descobrir o que acon-
teceu na noite do acidente por qualquer meio possível. Se isso significa-
va permitir que Michael ajudasse, que assim seja.

Virou na Mulberry Drive e continuou em direção ao The Drip Cof-


fee Shop. O velho Range Rover de Michael estava estacionado do lado de
fora. O ritmo cardíaco dela acelerou, e o brilho das mãos dela apertou
as dele quando o polegar dele deslizou sobre o ponto de pulso no pulso
dela, atacando seus sentidos. Seus mamilos se apertaram, e ela puxou
a jaqueta com força contra o peito, tentando esconder qualquer evidên-
cia de sua excitação.

Maldito seja aquele amor de infância. Maldita seja a sinapse que


provocou excitação ao pensar em sua pele nua roçando a dela.

Ela parou em frente à cafeteria e olhou para dentro. Michael estava


sentado a uma mesa com um mapa espalhado pela superfície. Ele olhou
para cima e encontrou o olhar dela através do vidro. Uma corrente pal-
pável passou entre eles como um navio retornando ao porto.

Ela olhou para a mesa e balançou a cabeça. Um par de xícaras


pendentes ficava lado a lado.

Um homem abriu a porta para entrar na loja e a abriu. Você vai


entrar, senhorita?

Ela assentiu ao homem e entrou.

Ela caminhou até a mesa de Michael. — Você deve ter certeza de


que eu iria aparecer.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ele sorriu seu sorriso torto, e seus olhos enrugaram nos cantos.
Sua expressão era tão familiar, tão reconfortante. Ela não o via sorrir
assim desde que retornara a Langley Park.

— Eu tive um palpite que você viria, — disse ele, acenando em di-


reção a um assento vazio ao lado dele.

Ela se sentou e ergueu as sobrancelhas, exigindo provas.

Michael riu e os olhos enrugados estavam de volta. Cody me disse.

— Você está se sentindo bem? — Ela perguntou, mordendo o lábio


para segurar o sorriso que seu coração estava implorando para dar a
ele.

— Quando levei Cody para o passeio matinal, ele quase quebrou a


trela tentando correr até a porta dos fundos. Imaginei que você já estava
em pé e na cozinha. Eu apenas juntei dois e dois.

Ela o estudou. Ela ainda podia ver o garoto, mas o conjunto de


seus ombros largos e os fortes tendões em suas mãos eram os sinais
não tão sutis de que Michael MacCarron era todo homem agora. Ela
pensou na noite de Halloween. Ela montou nele, pressionou-se contra
ele.

Ela sabia em primeira mão que ele não era mais um garoto.

Uma onda de vergonha espinhosa passou por ela. Por que ela ten-
tou seduzi-lo? Era uma coisa estúpida e infantil pensar que ela poderia
colocar Michael com seus encontros anteriores.

Tristos. A verdade nua da palavra torceu seu intestino. Ela nunca


teve um relacionamento real. A revelação a atingiu como uma bola de
demolição.

— Eu acho que descobri seu pedido, — disse ele, rompendo seus


pensamentos em espiral.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ela deve ter desaparecido. Não fisicamente, é claro, mas mental-
mente. Ela costumava fazer isso quando tocava música. Ela desapare-
ceria na complexidade das notas, perdendo a si mesma e se tornando
uma com a composição.

Michael cutucou o copo em sua direção. Em sabia que a tinha visto


em branco, mas ele não parecia incomodado com isso. Pelo contrário,
um calor encheu seu olhar. Ela tomou um gole e cantarolou em aprova-
ção. Ele acertou o pedido dela. Ela estava comprando flat white a sema-
na toda. O leite cozido no vapor e o rico café expresso dançavam em seu
paladar.

— Como você sabia meu pedido?

Michael deu a ela outro sorriso enrugado, e isso a fez acelerar o


pulso.

— Eu disse ao barista que estava conhecendo à ruiva que vinha


aqui todas as manhãs desta semana. Entre você,eu, Sam, e um punha-
do de crianças de cinco anos, formamos toda a população ruiva de Lan-
gley Park.

A sugestão de um sorriso apareceu no canto de seus lábios quando


uma rajada de ar soprou na loja, seguida pelo som de uma conversa
animada. Várias mulheres passaram carregando tapetes enrolados de
ioga e formaram uma fila no balcão.

— A aula de ioga de Kathy Stein ao lado deve ter acabado, — disse


Michael, então um olhar de reconhecimento cruzou seu rosto, e ele se
levantou.

Uma mulher alta com um coque loiro bagunçado parou na mesa


deles. Era a boneca Barbie do Halloween. Jennife?Jeanie? algo assim.
Em assistiu eles conversarem um pouco. Uma onda amarga de ciúme
pulsou através dela quando a mulher tocou casualmente o braço de Mi-
chael enquanto eles falavam.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ela estava prestes a abandonar toda essa idéia estúpida de deixar
Michael ajudá-la quando a loira sorridente colocou a mão em seu om-
bro.

— Em, não tenho certeza se você se lembra de mim. Eu sou Jenna


Fisher. Nós nos conhecemos no Halloween. É tão bom encontrar você.

O ciúme aquecido bombeando em suas veias se dissipou quando


ela encontrou o olhar quente de Jenna.

— Sim eu lembro. Sua garotinha estava vestida como Harry Potter.

— Isso Potter respondeu Jenna, depois olhou para o mapa do Kan-


sas espalhado sobre a mesa.Você está planejando uma viagem?

— Não é realmente uma viagem, — respondeu Em.

O que ela deveria dizer? Eles estavam procurando uma ponte velha
e alguns homens altos?

— Vamos visitar alguns dos lugares que as crianças costumavam


frequentar no ensino médio. Talvez dê uma olhada em algumas das an-
tigas pontes da região— disse Michael, entrando.

Pontes velhas? Ela ficou chocada por ele se lembrar de suas me-
mórias fragmentadas: homens altos, ponte velha e o pedaço de Pagani-
ni.

Antes que ela pudesse dizer outra palavra, Jenna continuou: Você
sabe com quem pode querer conversar...

A porta da cafeteria se abriu e o rosto de Jenna abriu um sorriso


largo, e ela acenou para alguém.

No espaço de uma respiração, Em estava olhando para Zoe Stein.


Seu cabelo escuro estava preso em um rabo de cavalo alto. Ela usava
mais longo agora. No ensino médio, as pontas tingidas de rosa dos ca-
belos costumavam escovar os ombros. Ela estava vestida com roupas de

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
ioga e tinha um tapete enrolado debaixo do braço. Zoe cumprimentou
sua cunhada e Michael antes de encontrar o olhar de Em.

— Ei, Em, — disse Zoe. Sua voz quase inaudível sobre a conversa
do café.

O grupo parou.

— Ei, — respondeu Em, esperando que o sorriso que ela conseguiu


produzir para Jenna ainda estivesse no lugar. Mas o olhar no rosto de
Zoe disse a ela que seu sorriso se foi há muito tempo.

Jenna apontou para as cadeiras vazias. Podemos sentar com vo-


cês?

Em assentiu. O sorriso caloroso de Jenna era fascinante.

Jenna sentou em frente a Michael, deixando Zoe sentada em frente


a ela. A energia que irradiava do triângulo Zoe-Michael-Em zumbia co-
mo um enxame de vespas. Os sussurros de todas as coisas não foram
ditos estalando e mudando o ar.

Jenna virou-se para Zoe. Antes de você chegar aqui, Em e Michael


estavam me dizendo que eles estavam partindo para encontrar pontes
antigas perto dos lugares que vocês costumavam sair quando crianças.
Talvez você possa ajudá-los?

Zoe empalideceu, e uma onda de compreensão passou por seu ros-


to. Pontes velhas disse Zoe, de olhos arregalados, repetindo as palavras
de sua cunhada.

— Sim, — disse Jenna, aparentemente imperturbável pela resposta


de Zoe.Eu sei o quão boa você é em rastrear as coisas.

Jenna apertou a mão de Zoe.

Jenna voltou sua atenção para Em. Veja bem, não faz muito tem-
po, Zoe conseguiu me rastrear.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Zoe sorriu e a cor voltou às bochechas dela. Ela tamborilou com as
pontas dos dedos na mesa. Existem vários sites que destacam pontes
antigas. A NPR chegou a fazer uma história sobre estados que têm pá-
ginas inteiras criadas para tentar levar as pessoas a adotar pontes anti-
gas e assumir a manutenção.

— Zoe trabalha para a Rádio Pública do Kansas. Ela é especialista


em reportagens investigativas acrescentou Michael.

O olhar de Zoe caiu no mapa. — Eu poderia montar uma lista.


Acho que conheço a área em que você está interessado.

Aqui estava. O ramo de oliveira. Tudo que Em teve que fazer foi es-
tender a mão e pegá-lo. Ela sabia que Zoe queria ajudar. Ela podia ver o
apelo nos olhos castanhos de sua velha amiga. Deixe-me ajudá-lo. Deixe-
me tentar fazer isso certo. Em se mexeu na cadeira.

— Pode ser um bom lugar para começar disse Jenna. — Eu certa-


mente não consigo ver isso prejudicando sua pesquisa.

Quem era essa mulher? Ela era como duas partes de Mary Poppins
e uma parte de rainha do baile.

Em assentiu com relutância. Ela precisava descobrir o que aconte-


ceu. Ela estava fazendo isso por seu pai. A raiva em seu coração queria
dizer a Zoe que se fodesse, mas a necessidade de descobrir a verdade
estava ficando mais forte, superando a raiva.

Ela encontrou o olhar de Zoe. — Eu apreciaria sua ajuda.

— Vou tratar disso imediatamente disse Zoe com olhos vidrados.

— Você pode enviar um texto ou e-mail com qualquer coisa que


encontrar, — disse Michael.

Zoe assentiu quando uma garotinha entrou pela loja e caiu no colo
dela.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Monstrinho disse Zoe, beijando o topo da cabeça da garota. O
que você fez com seu pai e vovó?

— Oh, eles estão bem, respondeu a garota. Eles são simplesmente


super, lesma de banana lenta.

— Eu me lembro de você disse Em à garotinha. Você é a Kate. Você


era Harry Potter no Halloween.

Kate olhou para as mãos de Em. Porque você fez isso?

— Fazer o que? — Em perguntou.

— Você estava conversando e assinalando ao mesmo tempo, Jenna


entrou na conversa.

Em apertou as mãos dela. Ela nem percebeu que havia assinalado.

— Eu trabalho em uma escola na Austrália, onde todas as crianças


usam linguagem de sinais. Eu acho que, quando estou conversando
com crianças, é como uma opção padrão.

Kate assentiu lentamente, digerindo a informação. Seu nome ver-


dadeiro é Emma? Eu tenho três Emma na minha turma da segunda sé-
rie: Emma King, Emma Vasquez e Emma O'Malley. Ah, e há uma Emily.
Esse poderia ser o seu nome verdadeiro também, certo?

Em olhou para Michael. Não, meu nome verdadeiro não é Emma


ou Emily. É Mary. Mary Michelle. Recebi o nome de minhas duas avós.

O rosto de Kate se iluminou. Eu também! Sou Kathryn Elizabeth,


depois das minhas avós. A testa dela franziu. Então, por que as pesso-
as te chamam de Em se seu nome verdadeiro é Mary Michelle

— Isso é culpa minha, — disse Michael.Quando eu era pequeno,


não conseguia pronunciar Mary Michelle. Tudo o que eu podia dizer era
a parte "M". Então, eu a chamei de Em, e todo mundo começou a cha-
má-la de Em também.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ele estava certo. Antes do acidente, ela adorara aquela história. Ao
lhe dar um apelido, era como se ele tivesse se incorporado à própria al-
ma dela, e nenhuma quantidade de tempo ou distância poderia mudar
isso. Em se mexeu em seu assento. Ela precisava mudar de assunto.

— Você quer que eu lhe mostre como assinar, Harry Potter?

O rosto de Kate se iluminou. Certo!

Em levou a mão à têmpora e, com o ponteiro e os dedos do meio


estendidos, ela fez o movimento rápido da cicatriz do raio.

Kate imitou o sinal.Jenna, Michael, tia! Estou assinalando Harry


Potter!

— Isso é tão legal, Kate disse Jenna, depois voltou sua atenção pa-
ra Em. Eu não tinha ideia de que você era professora.

Suas bochechas esquentaram. Eu não sou professora, apenas au-


xiliar de professor.

— O assessor de um professor é certamente um professor. Sou o


especialista em leitura da Langley Park Elementary e não sei o que nos-
sa escola faria sem a equipe de suporte respondeu Jenna.

Kate saltou no colo de sua tia. Agora você pode me mostrar a placa
para Jedi Knight? É para o meu pai. Ele ama Guerra nas Estrelas.

— Claro, é como se você estivesse puxando um capuz sobre a ca-


beça disse Em e demonstrou o sinal.

Kate a observou de perto, então ofegou e virou-se para Jenna. Vo-


cê viu o que Em tem no dedo dela?

Em retraiu as mãos e as apertou no colo.Eu não quis assustá-la.

— Você não a assustou disse Jenna com um sorriso tranquiliza-


dor.A cicatriz no seu dedo se parece com a de Harry Potter.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ela nunca percebeu. Em passou o dedo indicador sobre o compri-
mento em zigue-zague da cicatriz.

Kate assentiu com os olhos arregalados. — Você conseguiu essa ci-


catriz de uma pessoa má como Harry, a cicatriz de Voldemort?

Em encontrou o olhar da menina. — Não tenho certeza de como


consegui essa cicatriz, Kate, mas espero que em breve descubra.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
14
—É melhor sairmos, — disse Michael, dobrando o mapa.

Em assistiu as mãos dele dobrarem o papel em quadrados perfeitos


enquanto a pergunta de Kate girava em sua mente. Uma pessoa má fez
isso com ela? Alguém a machucou deliberadamente? Ela sempre pen-
sou que alguém deveria saber o que aconteceu naquela noite. Vi alguma
coisa. Ouvi alguma coisa. Mas o pensamento de que alguém pode ter
machucado ela de propósito nunca passou pela sua cabeça - até agora.

— Em, — disse Michael, puxando-a de seus pensamentos. — Você


quer um refil antes de partirmos?

Ela balançou a cabeça e afastou a revelação.Não, eu estou bem.

O grupo se despediu e ela seguiu Michael para fora da cafeteria.

— Você esta pronta para partirmos? Ele perguntou.

— Sim, é apenas ...

— Muito o que voltar para casa? — Michael ofereceu, terminando


seu pensamento.

Esse foi o eufemismo do século. Mas antes que ela pudesse res-
ponder, ela ouviu alguém chamando seu nome.

— Em! Oh, Em! É tão bom ver você, querida!

Ela se virou para ver a mãe de Zoe, Kathy Stein, correndo em sua
direção.

— Oi, senhora Stein respondeu Em.

A mulher a envolveu em um abraço caloroso. Nada disso, nada de


'Sra. Stein '. Chame-me de Kathy.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ela amava essa mulher quase tanto quanto amava sua própria
mãe.

Em piscou para conter as lágrimas. Não sei se posso. Você sempre


foi a senhora Stein para mim.

— Você e Michael, ambos respondeu Kathy. Eu também acho que


você nunca me chamou de Kathy, — disse ela, brincando, olhando para
Michael.

— Você está assediando as pessoas na rua de novo, mãe? — Ben


Fisher se aproximou e se juntou ao trio.

— Oh, Benjamin! Não estou assediando ninguém. Estou tão feliz


em ver nossa Em de volta ao Langley Park.

— Estou feliz por ter encontrado você, — Em disse Ben. — Você


quer agendar um horário para que eu possa dar uma olhada no seu
Quadrangular?

Em olhou de Ben para Michael. Por que você olharia o meu Qua-
drangular?

Michael segurou o olhar dela.Lembra quando eu mencionei conhe-


cer alguém que poderia ajudar com a casa - você sabe, para ajudar com
pequenos reparos?

Em assentiu. Entre seu encontro com Jenna Fisher, Zoe e agora


Kathy Stein e Ben Fisher, foi como se ela estivesse presa em algum tipo
de carrossel de memória girando fora de controle.

— Ben é o arquiteto que eu queria lhe contar. Foi ele quem reno-
vou muitas casas em Langley Park acrescentou Michael.

— Agora, meninos Kathy interrompeu. Em tem o suficiente em seu


prato sem se preocupar com reparos domésticos às oito e meia em uma
manhã de sábado.

Em deu à mulher um sorriso agradecido.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ben enfiou a mão no bolso. Não há pressa. Aqui está o meu cartão.
Ligue para mim assim que estiver pronta.

Em deslizou o cartão no bolso. Ela poderia usar a ajuda de Ben


Fisher na casa. No mínimo, a casa precisava de uma reforma. Os armá-
rios e rodapés cortados precisavam de uma nova camada de tinta, e o
piso de linóleo gasto provavelmente tinha que passar por completo.

— Ben, obrigado. Entrarei em contato, — disse ela, depois se virou


para Kathy. Foi tão bom encontrar você, senhora Stein.

— Teremos que levá-lo para jantar. Vocês dois - acrescentou


Kathy, apertando a mão de Michael.

— E não se esqueça da festa disse Ben.

O rosto de Kathy se iluminou. Está certo! Você deve vir à nossa fes-
ta de fim de ano daqui a apenas algumas semanas. E Michael estou co-
locando você no comando de trazer Em.

— É um plano, senhora Stein.

Em olhou com admiração enquanto sua vida passada a tomava


como um tsunami. Fazia mais de uma década que ela não mantinha
contato com essas pessoas, e elas ainda a tratavam com o mesmo amor
e familiaridade de sempre. Ela não sabia dizer se o aperto no peito era
alegria ou mágoa. Michael deve ter sentido sua angústia. Ele pressionou
a mão nas costas dela, e seu toque instantaneamente acalmou seus
nervos.

-— Até breve, querida. Estou tão feliz que você esteja em casa disse
Kathy, dando-lhe um último abraço antes de seguir o filho até a cafete-
ria.

Casa.

A palavra soou estranha aos seus ouvidos. O lar nunca fora um lu-
gar físico. Nunca importou se ela estava na Ásia, Europa ou América do

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Norte; lar era a música. Em qualquer lugar que ela tocava violino se
tornava seu santuário, seu lugar seguro.

Mas ela não podia negar que algo sobre Langley Park falava com
sua alma - uma conexão que ia além do tijolo e argamassa de sua casa
até seu próprio DNA.

Podia sentir som do lar sussurrar na brisa, soprando mechas de


cabelo pelo rosto? Poderia o som do lar ser o coro de famílias rindo e
conversando enquanto passeavam pelas ruas do centro da cidade de
Langley Park?

O rangido da porta de um carro chamou sua atenção.

Michael manteve a porta do Range Rover aberta. É melhor seguir-


mos em frente.

Em deu um passo à frente e congelou. Ela poderia acabar com isso


agora. Ela poderia dizer a Michael que não precisava da ajuda dele. Não
queria a ajuda dele. Ela soltou um suspiro trêmulo. As raízes de sua
raiva não pareciam mais seguras, como uma erva daninha no solo úmi-
do pela chuva, um puxão rápido poderia desfazer os dias e meses e
anos de crescimento apodrecido em meros segundos.

— Eu posso literalmente ouvi-la pensando Em, — disse ele, dei-


xando a porta do carro aberta enquanto se inclinava contra a lateral do
carro.

Ela odiava o quanto ela queria entrar no carro dele. Era muito
mais fácil odiá-lo com um oceano entre eles.

— O que você tem a perder? Ele perguntou e sorriu aquele sorriso


torto e de olhos amarrados.

O que você tem a perder?

E se a resolução dela escapasse? E se o nó apertado de raiva que a


mantinha unida se desfizesse? Quem ela seria?

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
As palavras de Michael ecoaram em sua mente antes que a respos-
ta soasse como sinos de igreja: Tudo. Ela tinha tudo a perder.

MICHAEL OLHOU PARA EM. Eles haviam percorrido quase oitenta qui-
lômetros a sudoeste até Sadie's Hollow em silêncio. Ela olhou para fren-
te, seu olhar treinado na estrada. Expressão em branco e ilegível.

Em estava em sua cabeça novamente. Ele conhecia bem esse as-


pecto. Ele a observava quando menino - agachado, com o queixo apoia-
do no parapeito da janela enquanto olhava da janela do quarto para o
quarto dela. Ela ficava parada como uma estátua, emoldurada pela ja-
nela, segurando o violino por horas a fio. Ela estava trabalhando em
algo em sua mente. Em não só podia ouvir a música em sua cabeça,
mas vê-la e senti-la, e ele sempre podia dizer o momento em que ela cli-
cou. Algo no ar mudaria e uma onda de antecipação passaria por ele.
Ela puxaria o arco pelas cordas, e ele estaria trancado naquele momen-
to com ela. Um segredo clandestino em sua viagem musical.

Ele brincou com a idéia de ligar o rádio ou colocar uma fita no ve-
lho deck do Range Rover para tentar distraí-la, mas ele sabia que seria
inútil. Tudo o que ele podia fazer era esperar até que ela descobrisse o
que estava acontecendo em sua cabeça. E não era como se ele não ti-
vesse coisas para contemplar.

Ele precisava elaborar um plano. Tinha que haver mais na história


da lesão de Em. Mas quando ele saiu da interestadual e desceu a estra-
da rural em direção a Sadie's Hollow, uma sensação de pavor passou
por ele. Mesmo que houvesse um crime cometido ou jogo sujo, isso teria
ocorrido mais de uma década atrás. A área ao redor do oco permaneceu
relativamente inalterada depois de todo esse tempo, mas qualquer evi-
dência certamente estaria longe.

Seus pensamentos escureceram. E se Em não se lembrasse de algo


novo? E se isso acabasse sendo uma perseguição de ganso selvagem? O

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
que isso faria com ela? Isso reacenderia sua raiva? Ela desapareceria
por mais doze anos?

— Hey, — disse ela, seu olhar focado no console entre eles.

Ele olhou para baixo quando seu telefone tocou um e-mail recebi-
do. A cobertura celular é irregular nos bastões. Pode ser um email da
Zoe. Você pode dar uma olhada?

Em pegou o telefone. Seu telefone não está protegido por senha?


Isso não parece muito legal da sua parte.

Um músculo em sua bochecha se contraiu. Ele suportaria alegre-


mente suas provocações. Nunca precisei de uma. Esse telefone é como o
meu terceiro anexo. Eu sempre tenho comigo.

— Você toma banho com isso? — Ela perguntou.

Ele conteve um sorriso. Não.

— Você dorme com ele debaixo do travesseiro?

Ele manteve o olhar fixo na estrada, mas ele podia ouvir o sorriso
na voz dela.

— Não ele respondeu, novamente. Ela realmente teria feito um in-


ferno de um litigiante.

Ela cantarolou sua desaprovação.Se estou ouvindo direito, parece


que seu telefone pode não ser um apêndice adicional.

— O que o email diz, Mary Michelle?

Ele olhou quando um rubor rosa coloriu suas bochechas, e seus


dentes roçaram seu lábio inferior. Ela reagiu assim da última vez que
ele a chamou pelo nome completo na noite de Halloween. A noite em
que ele usou toda a sua determinação para resistir a ela.

Todas as noites desde então, ele tinha ido para a cama com a me-
mória de seu corpo pequeno e apertado em volta dele. Suas coxas pres-

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
sionadas contra as dele. Os seios dela estavam macios contra o peito
dele. O aroma apimentado do uísque ainda molhado nos lábios dela en-
viou seus pensamentos para uma enxurrada suja de imagens. Ele que-
ria passar a língua ao longo da costura dos lábios dela e prová-la, pres-
sionar seus lábios nos dela e beijá-la até que a chamada de seu corpo
fosse demais para negar. Ele poderia tê-la ali mesmo no banco do pia-
no. Suas mãos flexionaram contra o volante, lembrando o modo como a
bunda dela se encaixava em seu aperto.

Ele tomara uma porrada de banhos frios desde aquela noite.

Em sentou-se para a frente. É da Zoe. Ela enviou uma lista de


pontes. Alguns têm fotos em anexo.

— Alguma coisa parece familiar?

— Deve haver vinte deles - e estes são apenas os que estão próxi-
mos ao oco.

Ele ouviu uma pitada de desesperança na voz dela.

— É um começo, Em. Vamos dar um passo de cada vez.

— Mas eu não tenho... Ela parou, mas ele sabia o que ela estava
pensando. Ela não teve muito tempo. Ela teve que vender a casa o mais
rápido possível para permitir que o pai finalizasse a compra da casa de
campo do Senior Living Campus.

Ele parou em frente ao antigo cemitério quando uma pontada de


irritação atravessou seu peito. Eles não foram os únicos a visitar Sadie's
Hollow esta manhã.

— ESSE É KYLE BENSON? Em perguntou.

Michael cortou a ignição, tirou o cinto de segurança e abriu a porta


do carro. Fique aqui — disse ele, seus olhos brilhando de raiva quando
ele saiu do carro.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Michael caminhou até onde Kyle estava tirando uma foto de uma
velha lápide. Os homens apertaram as mãos, mas sua postura parecia
tudo menos amigável.

Em abriu a porta do carro e balançou a cabeça. Ninguém, nem


mesmo Michael MacCarron, — disse a ela o que fazer.

O chão ainda estava úmido pela chuva gelada de ontem, fazendo as


lâminas da grama seca brilharem e brilharem à luz da manhã. Quase
um dia se passou, mas o buraco parecia um lugar diferente. Com o céu
escuro desaparecido, todos os galhos e galhos se destacavam contra o
grande céu azul do Kansas.

Kyle segurava uma câmera em uma mão e bloqueava o sol dos


olhos com a outra. — Oi, Em.

— Ei, Kyle. O que você está fazendo aqui fora? — Ela perguntou.

— Apenas trabalho — disse ele, olhando para Michael. Eu estava


dizendo a Michael sobre o projeto que estava trabalhando para a socie-
dade histórica do Kansas. Estou fotografando alguns dos cemitérios an-
tigos do estado.

— Entendo. Deve ser um trabalho interessante ela respondeu. Ela


não conseguia descobrir por que Michael parecia pronto para atacar.

— Você está aqui para tentar se lembrar mais sobre a noite em que
você foi ferida? Kyle perguntou.

— Não é da sua conta porque estamos aqui, latiu Michael.

“Está bem”. Eu já disse a Kyle que tentaria aprender mais sobre a


noite em que fui ferida respondeu Em.

Michael a encarou com seu olhar. Você disse a ele?

— Conversamos um pouco na noite em que a levei para casa, res-


pondeu Kyle.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Você não a levou completamente para casa, não é, Benson? Mi-
chael jogou de volta.

O olhar de Em saltou entre os homens. Ei, está tudo bem. E sim,


estamos aqui para ver se consigo me lembrar mais daquela noite.

Kyle colocou a alça da câmera em volta do pescoço. Alguma coisa


voltou para você?

Ela balançou a cabeça e olhou para Michael. Qual foi o problema


dele? Ela sabia que ele nunca era louco por Kyle, mas ele ainda era al-
guém que estava no vazio naquela noite. Ele poderia ser útil.

Um pensamento surgiu em sua mente.Kyle, você está familiarizado


com essa área - quero dizer do seu trabalho?

— Um pouco, por que você pergunta?

A mandíbula de Michael se contraiu como se ele estivesse moendo


seus molares em pó.

“Você vê, ela começou, eu me lembro de uma ponte. Não me lem-


bro como é, apenas como foi atravessá-lo. Fiquei imaginando se você
sabia de alguma ponte velha e possivelmente de madeira na área.

Kyle coçou a parte de trás da cabeça. Eu acho que você teria mais
sorte ao norte daqui. Não consigo pensar em muitas pontes por aqui.

— Temos uma lista de mais de vinte pontes na área, rebateu Mi-


chael.

Kyle levantou as mãos. Desculpe, conselheiro! Não sou testemunha


especializada quando se trata de encontrar pontes antigas. Você pode
querer conversar com Tiffany Shelton. Ela pode se lembrar de algo so-
bre aquela noite. Aposto que você poderia encontrá-la, Michael. A últi-
ma vez que ouvi dizer que ela não havia se mudado muito do Langley
Park.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Com a menção de Tiffany Shelton, o pulso de Em acelerou em uma
corrida de luta ou fuga. As pontas de seus dedos formigavam, e a explo-
são de raiva aqueceu sua pele.

— É melhor eu sair disse Kyle, pegando sua bolsa de câmera.

Ela viu a caminhonete desaparecer na estrada e depois se virou


para Michael. Ele enfiou as mãos nos bolsos.

— Por que você não gosta de Kyle? O que ele fez com você?

— Eu não gosto do jeito que ele olha para você. respondeu Michael,
mantendo o olhar fixo nos sapatos.

— Isso é realmente uma bagunça, — ela retrucou.

Ele olhou para cima, o fogo queimando em seus olhos verdes. —


Bagunça?

— Você desistiu de qualquer direito de julgar homens em meu no-


me quando escolheu...

Ele a cortou. Sinto muito por ter abandonado você por Tiffany
Shelton!

Ele fechou a distância entre eles. Antes que ela percebesse, as


mãos dele estavam segurando seu rosto.

— Eu não sei mais o que posso dizer, Em. Porra, vou me desculpar
com você todos os dias pelo resto da minha vida, se é isso que é preciso.

As pontas dos dedos pressionaram a nuca dela, e a deliciosa pres-


são implorou para que ela derretesse em suas garras. O cheiro dele agi-
tou seus sentidos quando flashes de seus lábios roçando nos dela atra-
palharam seus pensamentos. A respiração de Michael estava chegando
curta e acelerrada, dançando e provocando sua pele beijada por sardas.
Ela levantou as mãos e as descansou em cima das dele.

Os dedos dela se contraíram quando descansaram em cima dos de-


le. Instinto estava assumindo. Ela queria entrelaçar os dedos com os
The Sound Of Home
KRISTA SANDOR
dele. Ela queria guiá-los em seus cabelos. Ela queria que ele enrolasse
suas mechas ruivas em torno de seu punho e puxasse. Ela queria pai-
rar à beira do prazer e da dor enquanto ele devorava sua boca com bei-
jos. Mas ela se conteve.

Ela engoliu em seco.Você já considerou que seu problema não é


com Kyle Benson?

Michael franziu a testa. O que isso deveria significar?

— Você não está bravo com ele. Você está com raiva de si mesmo
ela disse.

Ele fechou os olhos e pressionou a testa na dela.Você não sabe do


que está falando.

Ela exalou um suspiro trêmulo.Você está errado. Sei tudo sobre


raiva deslocada e ainda mais sobre como viver com uma culpa devasta-
dora.

Michael se afastou e deixou cair as mãos.Estamos perdendo tem-


po. Vamos nos concentrar no que viemos fazer aqui.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
15

Agitei a colher na tigela de sopa de tomate que estava ficando mais


fria a cada minuto. Eram três horas da tarde e ela e Michael haviam
parado em uma lanchonete em Garrett, Kansas, a alguns quilômetros
ao norte de Sadie's Hollow para um almoço tardio, embora nenhum de-
les estivesse fazendo muito mais do que pegar a comida.

Após o confronto com Kyle Benson, eles haviam percorrido o perí-


metro dos incontáveis tempos sem conta e visitaram três pontes na lista
de Zoe.

E do que ela se lembrava?

Nada.

Esta foi sua sexta viagem ao oco em tantos dias. Ela dirigiu as
quase oitenta milhas, para trás e para trás frente, todos os dias daquela
semana, esperando que algo despertasse sua memória.

As pontes da lista de Zoe não eram nada para se escrever. Sim,


elas eram velhas e precisavam de reparos, mas nenhuma delas era de
madeira. Mas isso não a impediu de fazer Michael dirigir de um lado
para o outro por cada ponte quando ela fechou os olhos e desejou que
seu corpo se lembrasse.

Agora eles estavam sentados um em frente ao outro, enquanto um


rádio batido apoiado na caixa registradora tocava uma música country
estridente. Michael entrou no modo advogado após a conversa tensa.
Engajado, mas educadamente reservado, ele manteve distância. Quan-
do chegaram à lanchonete, ele pegou o mapa e trabalhou metodicamen-
te, marcando os locais restantes das pontes da lista de Zoe.

— Alguém precisa de um refil?

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Uma garçonete com um longo rabo de cavalo cinza e um crachá
com "Peggy" escrito à mão em letras encaracoladas sorriu para ela. As
linhas profundas gravadas em seu rosto falavam de uma longa vida
cheia de trabalho duro. Ela se inclinou para encher a água de Michael,
mas ele levantou a mão e acenou para ela.

— Não, obrigada. Estamos prontos para terminar.

Ele olhou para cima e Em deu um leve aceno de cabeça. Eles esta-
vam dançando um com o outro com brincadeiras o dia todo.

A garçonete mexeu no bolso do avental, tirou a conta e a colocou


na mesa. Ela ofereceu um sorriso gentil. — Eu queria perguntar se vo-
cês queriam doar para o 4-H Club. Sempre pegamos uma coleção du-
rante o ano e doamos todo o dinheiro no aniversário de Tina.

A mulher apontou para a caixa registradora, onde, junto com o rá-


dio, havia uma jarra cheia de moedas e notas. Uma fotografia emoldu-
rada de uma jovem com um chapéu de formatura e um vestido ao lado
da jarra. Seu cabelo escuro era formado por duas tranças que repousa-
vam perto da clavícula.

— Quem é Tina? Em perguntou, incapaz de desviar o olhar da fo-


tografia. A garota, tão adorável e vibrante, sorriu como se acreditasse
que tudo de bom estava à sua frente.

A garçonete tocou a cruz que usava em uma delicada corrente em


volta do pescoço.

— Tina Fowler. Ela era de LaRoe, a poucos quilômetros de Garrett.


Ela costumava ser garçonete aqui durante todo o ensino médio. Ela era
uma garota tão boa. Até conseguiu uma bolsa integral para a faculdade.
Ela queria ser veterinária. Ela estava sempre criando galinhas e coe-
lhos. É por isso que gostamos de doar para o 4-H Club. Que perda.

— O que aconteceu com ela? — Em perguntou.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Bondade! Isso deve durar doze anos agora. Doce Jesus, como o
tempo passa. Tina estava andando de bicicleta para me ajudar a abrir a
lanchonete. Abrimos às cinco da manhã, então Tina estava na estrada
bem cedo. Sua família tinha um lugar perto de LaRoe, cerca de oito qui-
lômetros a oeste de Garrett. A polícia disse que foi uma batida e fugi-
ram.

— Isso é horrível! Sinto muito disse Em, olhando para Michael, que
permaneceu em silêncio.

A garçonete soltou a cruz. A polícia nunca encontrou o bastardo


que a atingiu e a deixou morrer sozinha. Tina foi morta uma semana
antes de sair para a faculdade. Atingiu esta cidade com força. Ela era
como um raio de sol, eu vou te dizer. Mas a comunidade se uniu exa-
tamente como fizemos todos aqueles anos atrás, quando a fábrica de
cimento faliu e muitas pessoas ficaram sem trabalho. Tudo o que você
pode fazer é ficar junto e tentar cuidar um do outro. O bom Deus decide
o resto.

— Para Tina, — disse Michael, surpreendendo Em e a garçonete.

Ela estava tão encantada com a história de Tina Fowler que quase
esqueceu que ele estava lá.

Michael entregou à garçonete duas notas de cem dólares.

A garçonete pressionou as notas no peito. Obrigado senhor.

Michael colocou mais algumas notas ao lado do cheque e seu olhar


disparou para a fotografia da eterna jovem Tina Fowler. Vamos pegar a
estrada, Em.

EM OLHOU PARA O TELEFONE. Eram quase quinze para as cinco, e o


sol estava baixo no céu quando o segurança do Campus do Living Li-
ving acenou e a conduziu através do portão. Ela já vira esse guarda de
segurança algumas vezes, e ele deu um sorriso fácil quando ela passou.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Felizmente, ela não encontrou o guarda presunçoso em sua primeira
visita.

Ela caminhou pelo caminho em direção ao edifício principal. Ela


pegou o telefone e parou para rolar os e-mails. Tom Lancaster havia lhe
enviado todos os horários e datas em que ela precisaria tocar “música
para o jantar” enquanto os moradores desfrutavam da refeição de sába-
do.

Ela olhou para a lista de reprodução e um formigamento cintilante


percorreu seu corpo. Apesar da ansiedade agitada em sua barriga, ela
estava animada para tocar piano novamente. Ela pensou na noite pas-
sada e em como havia ajudado a acalmar a Noland tocando "Venha,
fonte de toda bênção".

Ela abriu a porta do prédio principal e quase colidiu com a esposa


de Tom, Mindy Lancaster.

O olhar assustado no rosto de Mindy destacou suas feições afia-


das. Eu não tinha certeza se você iria aparecer.

Em colou um sorriso nos lábios. Ela nunca se importou com Mindy


Lancaster. Enquanto Tom era gentil e encorajador, sua esposa era rígi-
da e séria. Quando era pequena, a sra. Lancaster costumava lembrá-la
de uma diretora rígida - e nada havia mudado nos últimos doze anos
para alterar essa percepção.

Em levantou o telefone e exibiu o e-mail de Tom. Tom disse que


chegar às quinze para as cinco deve me dar bastante tempo antes que
os moradores apareçam para jantar.

— E a lista de reprodução? Mindy continuou. Você acha que con-


seguirá tocar todas as músicas? Trouxe as partituras por precaução. Eu
não tinha certeza de quanto tempo faz desde que você tocou.Ela deixou
as últimas palavras pairarem no ar como pedaços de frutas podres.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Em digitalizou o email. Fur Elise de Beethoven, Greensleeves de
Mozart e Clair de Lune de Debussy estavam no topo da lista. Era como
se reunir com velhos amigos. Tom deve ter lembrado que essas eram
algumas de suas peças favoritas.

— Você precisa da música? Mindy perguntou novamente, seguran-


do as folhas com a mão boa enquanto ela acenava com a outra, envolta
em um tom rosa brilhante.

Um fio de hesitação percorreu seu peito. E se ela não pudesse fazer


isso? E se seus dedos tivessem esquecido o que já foi uma segunda natu-
reza? Ela encontrou o olhar de Mindy e viu um lampejo de triunfo nos
olhos da mulher. Mindy era uma pianista talentosa, mas nunca subira
nem uma fração do que Em alcançara como músico.

A confiança que Em não conhecia há anos surgiu em suas veias.


Ela pensou em suas primeiras competições de piano. Os competidores,
duas vezes, às vezes três vezes a idade dela, zombavam ou até riam
quando ela subia ao palco, toda de tranças e saia xadrez. Mas a zomba-
ria terminou no momento em que seus dedos pressionaram as teclas de
marfim.

Em levantou o queixo.Vou me sair bem sem as partituras, sra.


Lancaster. Acho que você não se lembra, mas eu dominei essas peças
no meu quarto aniversário talvez fosse meu quinto, mas quem está con-
tando?

Mindy apertou ainda mais as partituras. O papel desabou para


dentro como o aperto de um laço.Faça do seu jeito. Você pode sair de-
pois do jantar. Um DJ virá tocar música para a parte de dança que se-
gue a refeição. Alguma pergunta?

— Eu me apresentei para a rainha da Inglaterra. Eu acho que pos-


so lidar com isso. Em revidou.

Ela não iria mais receber nada de Mindy Lancaster. Ela pode ter
decepcionado o pai. Ela pode ter decepcionado toda essa cidade. Mas a
The Sound Of Home
KRISTA SANDOR
raiva que a mantinha longe da música, longe das lembranças que ame-
açavam separá-la com culpa e tristeza, estava se transformando. Essa
nova raiva precisava aprender a verdade. Essa nova raiva teve um in-
cêndio por trás, alimentado por uma determinação obstinada.

A porta se abriu, trazendo uma rajada de ar frio, e Bill MacCaslin


entrou no prédio.

— Oi, criança, — disse Bill. Ele deu um beijo na bochecha da filha.


Mindy, é tão bom ver você.

A expressão azeda de Mindy desapareceu e foi substituída por um


sorriso sacarina. É sempre bom ver você, Dr. MacCaslin. Como você es-
tá se sentindo?

— Não vou correr uma maratona — disse ele, apontando para o


oxigênio portátil, mas, considerando tudo, estou indo muito melhor.

Mindy brincou de forma consciente com o gesso em seu braço. —


Fico feliz em ouvir isso.

— E eu ouço minha garotinha tocar piano hoje à noite, então eu di-


ria que sou um homem de muita sorte.

Em juntou as mãos e traçou o comprimento da cicatriz com o dedo


indicador. O olhar aguçado de Mindy seguiu os movimentos de seu de-
do.

Ela deixou cair as mãos para os lados. É melhor eu me aquecer


pai, — disse ela, depois se virou para Mindy. Obrigada por sua ajuda,
senhora Lancaster. Eu posso pegar daqui.

MICHAEL ENTROU no saguão do prédio principal do campus. O espa-


ço geralmente movimentado estava estranhamente silencioso. Os únicos
habitantes eram duas enfermeiras sentadas no balcão de informações e
até pareciam inconscientes da presença dele. Uma delas estava trico-

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
tando. Ela tinha as agulhas nas mãos, mas parou no meio do ponto. A
outra enfermeira sentou-se com os olhos fechados.

Que diabos estava acontecendo aqui?

Michael estava prestes a fazer essa pergunta quando as primeiras e


lentas sonhadoras notas de Nocturne nº 20 de Chopin no C-Sharp Mi-
nor4 flutuaram no ar.

Agora ele entendia o comportamento das enfermeiras. Foi Em. Ela


estava tocando piano. Ele conheceria o som dos dedos dela nas teclas
em qualquer lugar.

Ele passou pelas enfermeiras e em direção ao salão de baile como


uma mariposa impotente para resistir à chama. O salão estava cheio de
pessoas. Ele estava discotecando no campus há alguns anos. Mindy
Lancaster normalmente tocava piano enquanto os moradores jantavam,
e então ele vinha e tocava algumas músicas na parte da noite da dança.
Muitos residentes compareceram, mas ele nunca tinha visto o salão
cheio de enfermeiras, médicos e a equipe de limpeza e gerenciamento de
instalações.

Era como se toda alma viva que ouviu Em tocar fosse atraída para
o salão de baile. Até os garçons estavam imóveis segurando bandejas,
congeladas no lugar.

Ele se encostou na parede. O corpo de Em balançou e mergulhou


quando seus dedos deslizaram pelas teclas com a facilidade de um pás-
saro em vôo. Seus olhos estavam vidrados e ela piscou lentamente. Ele
conhecia esse olhar. Ela foi pega em algum lugar entre este mundo e o
outro, pairando em um lugar onde apenas harmonia e melodia existi-
am. O pensamento de ela se afastar da música por mais de uma década
quase o fez chorar. Mas aqui estava ela, brincando como se o acidente
nunca tivesse acontecido.

4
https://www.youtube.com/watch?v=DqpPRj6UZqc

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Um arrepio percorreu toda a espinha. Talvez o presente dela não
tivesse sido levado naquela noite fatídica no oco?

A peça chegou ao fim e as mãos de Em pairaram acima das teclas.


Todas as pessoas no salão pareciam prender a respiração, observando
suas mãos subirem e depois caírem no colo. Ela não estava de volta da-
quele lugar intermediário ainda. Seus olhos permaneceram vazios até a
explosão de aplausos a levarem de volta a este mundo.

Ele olhou para as portas quando Mindy Lancaster saiu do salão.


Em todos os anos em que tocou para os moradores, ela nunca recebeu
esse tipo de resposta. O salão ecoou com aplausos e aplausos, e todos
os pensamentos de Mindy Lancaster foram esquecidos quando ele olhou
através do salão e encontrou o olhar de Em.

Não era como o Halloween quando o vira depois de tocar violino no


palco. Naquela noite, seus olhos estavam cheios de ódio e ressentimen-
to. Mas hoje à noite, eles estavam cheios de admiração, como se ela mal
pudesse acreditar no que tinha feito.

Michael caminhou em sua direção quando o feitiço que tomara


conta do salão desapareceu no barulho barulhento de garçons remo-
vendo pratos e residentes retomando suas conversas. O pai de Em foi o
primeiro a alcançá-la como uma mola que Michael não via há anos.

Bill MacCaslin sorriu com orgulho. Garota, isso foi...

— Incrível, Michael ofereceu, acenando para o Dr. MacCaslin antes


de se virar para Em.

Ela estava usando maquiagem, mas não foi o delineador escuro e


pesado que a fez parecer tão agourenta e perigosa. Não, hoje à noite ela
estava luminosa. Lábios rosados e a sugestão de uma sombra cintilante
fizeram seus olhos azuis brilharem. As ondas soltas de seus cabelos
ruivos estavam escondidas atrás da orelha e, quando uma mecha se
soltou, ele estendeu a mão, roçando as pontas dos dedos contra a pele
macia do pescoço dela e alisando-a de volta ao lugar.
The Sound Of Home
KRISTA SANDOR
A mão de Em foi para seus cabelos, e um rubor subiu por seu pes-
coço. Eu não sabia que você era o DJ, — disse ela, olhando os fones de
ouvido pendurados na bolsa de equipamentos pendurados no ombro
dele.Você não mencionou nada sobre isso hoje.

— Hoje? Bill perguntou.

Em ficou tensa. É Michael e eu demos uma volta.

— Levei Em para alguns de nossos velhos locais de pisoteamento,


acrescentou Michael.

A expressão de Em relaxou.

— Isso é maravilhoso! Fico feliz que vocês, crianças, estão ficando


juntos. Houve um tempo em que mal podíamos separar vocês dois. Me-
lhor juntos, é isso que eu e seu pai costumamos dizer disse Bill, colo-
cando a mão no ombro dele.

Michael forçou um sorriso. Ele não sabia o que doía mais, pensan-
do na época em que seu pai se lembrava dele, ou agora, quando ele não
lembrava.

— Pai, você se importaria de perguntar se ainda resta alguma coisa


para o jantar? Não como desde o almoço e estou com muita fome.

— Tenho certeza de que um dos garçons poderia nos ajudar. Eu já


volto disse Bill e desapareceu na multidão.

A mesma mecha do cabelo de Em caiu para a frente novamente e


passou por sua bochecha. Uma batida de silêncio passou entre eles. Ela
queria que ele o colocasse novamente no lugar?

Um rubor rosado floresceu em suas bochechas quando ela segurou


os fios lisos atrás da orelha. Mas a mão dela permaneceu no local em
que ele a tocara quando recolocara a mecha errante. Ela deixou cair as
mãos.

— Eu esperava ver seu pai hoje à noite.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Michael mudou de posição. — Os residentes do centro de atendi-
mento à memória geralmente não participam desses eventos. Estáva-
mos tentando algo novo na noite em que você... Ele parou. Pensamentos
da explosão de seu pai fizeram seu corpo endurecer, a manifestação fí-
sica de seu coração endureceu quando seu pai deslizou cada vez mais
longe.

Em passou o dedo pela alça da bolsa e deixou-a nos fones de ouvi-


do.Você vai la e começa a ser um DJ.

Ela estava dando uma bronca nele, e ele ficou agradecido por ter-
minar qualquer conversa sobre seu pai.

— Oh sim, Eu vou, as pessoas boas de Langley Park não parecem


se importar com o advogado mixando músicas, se for para um monte de
idosos.

Os olhos de Em continham uma faísca travessa. Bem, Sr. Dj, o que


você tem para nós hoje à noite?

— Eu odeio desapontá-la, mas não acho que você ficará muito im-
pressionada. Ao longo dos anos, aprendi que um fluxo constante de Li-
onel Ritchie intercalado com alguns Bee Gees é o que faz com que essa
multidão continuar.

Ela riu e o som tomou conta dele como uma brisa quente de verão.

— Oh,sim ele continuou,depois de completar 70 anos, espere des-


frutar de uma boa dança lenta.

— Talvez eu fique por aqui, — disse ela com um toque de sorriso.


Faz um tempo desde que ouvi 'Three Times a Lady'.

— Um clássico ele acrescentou, segurando o olhar dela.

O ROSTO DE EM BRILHAVA. Ela havia dado apenas algumas mordidas


na massa que seu pai conseguiu arranjar da cozinha antes que todo

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
habitante do sexo masculino do Langley Park Senior Living Center soli-
citasse uma dança. Michael a observou dar a cada homem um sorriso
genuíno, mas ela recusou todos os convites.

Ele gravou a música seguinte, tirou os fones de ouvido e foi até a


mesa de Em.

— A última música é a próxima — disse ele, oferecendo-lhe a mão.

— Eu não danço — respondeu Em.

— Oh, vamos lá, garota! É o Michael! Costumávamos dar banho


em vocês dois juntos. Certamente, você poderia dar-lhe uma dança.

Em balançou a cabeça quando um doce rubor rosa subiu pelo pes-


coço cremoso. Pai, não somos mais crianças!

— Uma dança, Em, — disse Michael.

— Se meu pai parar de discutir nossos dias de banho conjunto, en-


tão sim, eu dançarei com você.

— Você com certeza sabe como fazer um cara se sentir especial —


disse ele, pegando a mão dela e levando-a para a pista de dança.

O clássico de Bee Gee, "How Deep is Your Love5", terminou e a voz


icônica de Lionel Ritchie encheu o salão de baile.

Os olhos de Em se arregalaram. Isto é…

— Sim, — ele respondeu, colocando a mão nas costas dela e pe-


gando a mão dela. Se você quer ser técnico, são os Commodores. Mas
sim, isso é bom para Lionel nos vocais.

Ele começou a mudar para a música, mas Em ficou tensa

— Michael, espera. Não posso...

— Não pode o quê?

5
https://www.youtube.com/watch?v=XpqqjU7u5Yc

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ela mordeu o lábio. Não é como se eu fosse ao baile ou algo assim.

— Do que você está falando, Em?

— Eu nunca dancei com ninguém, quer dizer sóbria pelo menos.

Sua memória inundou com imagens dela moendo contra aquele


homem no bar no Halloween. Sua mandíbula apertou, mas rapidamente
relaxou. Um rubor subiu por seu pescoço, e ele percebeu que ela estava
genuinamente nervosa.

Ele suavizou sua expressão. Sorte sua, sou um excelente dançari-


no — disse ele, guiando-a em um mergulho exagerado. Ele a levantou
devagar e a abraçou.

O salão de baile exibia uma bola de discoteca. Ele odiava bolas de


discoteca. Que porra de queijo você poderia ter? Mas quando ele olhou
para o rosto de Em, sua opinião sobre as bolas de discoteca mudou
completamente. A luz pegou o ruivo em seus cabelos e brilhou verme-
lho-dourado como a chama reconfortante de uma fogueira em uma noi-
te fria.

Ele balançou ao ritmo, e Em relaxou em seus braços. Ela mexeu os


dedos e os atou aos dele, e instantaneamente ele a imaginou em sua
cama - seus cabelos espalhados pelos lençóis. Suas mãos ergueram-se
acima da cabeça, entrelaçadas às dele, enquanto seu pênis a penetrava,
repetidamente.

— Ei, — disse Em, pegando-o no meio do impulso imaginário.Eu


queria perguntar sobre Tina Fowler.

Isso pôs um fim imediato à sua fantasia.

— O que você quer dizer?

— Você estava um pouco estranho na lanchonete quando a garço-


nete estava conversando conosco sobre ela. Você a conheceu?

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Michael balançou a cabeça.Não, mas pensei que me lembrava de
algo sobre ela. Provavelmente apenas algo que vi no noticiário ou no
jornal.

A testa dela enrugou.

— O que é, Em?

— Eu me perguntei...Mas ela parou de falar quando uma expressão


estranha cruzou seu rosto.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
16

Quem era essa mulher?

A expressão de Em mudou de confusa para curiosa. Michael parou


de dançar e esticou o pescoço para ver.

— Oh, Cristo ele riu.É Eunice Teller. Ela deve ter passado pelas en-
fermeiras. Ela é como Houdini. Prepare-se para uma caminhada pela
estrada da memória.

— Mary Michelle MacCaslin! — A mulher exclamou.

Em procurou no rosto da mulher e depois se virou para Michael.


Ele estava fazendo o possível para não rir. Irritação inundou seu siste-
ma. Por que ele estava se dando bem com isso?

A Sra. Teller deu a ela um olhar de adoração, Em não pôde deixar


de retribuir o sorriso da mulher com um dos seus.

— Seis libras e sete onças, — disse a mulher, os olhos brilhando de


emoção.

— Eu... Em começou, mas Michael interrompeu.

— Sra. Teller era nossa enfermeira de parto ele disse, ainda segu-
rando uma risada.

— Nossa o quê?

— Ajudei a libertar vocês dois e a trazê-los para este mundo peri-


goso, respondeu a sra. Teller, depois se virou para Michael. E você, jo-
vem, era...

— Eu sei. Eu sei, senhora Teller. Nove libras e três onças.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Oh, sua pobre mãe! A mulher mais velha sorriu. Meus dois lin-
dos bebês ruivos nascidos apenas a alguns minutos.

Agora fazia sentido. Fazia anos desde que vira a Sra. Teller, e a
mulher parecia antiga até então.

— Oh, que noite foi essa. Tínhamos poucos funcionários e eu con-


tinuava correndo de um lado para o outro entre os quartos. Graças a
Deus, Michael era um bebê tão educado. Se ele não tivesse esperado
cinco minutos, vocês dois não apenas teriam o mesmo aniversário, mas
teriam nascido exatamente no mesmo horário.

— Sra. Teller Michael disse gentilmente você gostaria que eu te


acompanhasse de volta ao seu quarto?

— Meu quarto? — Ela ecoou e virou a cabeça de um lado para o


outro como uma criança perdida.

A música parou e os lustres banharam a sala com luz brilhante.

Uma Anita Benson de rosto corado se dirigiu a eles.

— Eu tenho procurado por você em todos os lugares, Sra. Teller.

— Mas ouvi a música e vi todas as pessoas dançando, respondeu a


mulher mais velha.

Michael soltou a mão dela, mas manteve a palma da mão pressio-


nada contra as suas costas. Um movimento que não passou desperce-
bido por Anita Benson quando a enfermeira olhou em sua direção.

O coração de Em torceu. Momentos atrás, a Sra. Teller estava bor-


bulhando de vida e entusiasmo. Agora, seus olhos estavam cheios de
confusão.

Michael deu um passo à frente. Está tudo bem, senhora Benson.


Posso escoltar a sra. Teller de volta ao Centro de Atendimento à Memó-
ria.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Veja, — disse a sra. Teller, sempre um jovem tão educado. Você
me lembra meu Rodney. Nós nos encontramos na escola secundária de
Garrett. Ele era o quarterback principal e eu era a líder de torcida. A
história de amor perfeita de uma cidade pequena.

— Sim, sim, senhora Teller, — disse Anita com um sorriso tenso.

— Foi aí que você conheceu seu Bobby, certo Anita? A mulher con-
tinuou. Que pena o que aconteceu em LaRoe. O rosto da sra. Teller se
iluminou. Eu vi a irmã mais nova dele aqui. Ela sempre foi tão boa em...

— Sra. Teller- disse Anita, colocando a mão no braço da mulher.Eu


acho que você está confusa, querida. Vamos levá-la de volta ao seu
quarto.

— Não, eu não estou confusa. Eu lembro. Ainda me lembro disse a


sra. Teller, enquanto um pânico entrelaçou suas palavras.

— Sra. Teller, — disse Michael, oferecendo o braço à mulher eu fi-


caria honrado em acompanhá-lo de volta.

A mulher mais velha o encarou sem expressão, mas o gesto cava-


lheiresco pareceu aliviar sua confusão. Ela ligou o braço frágil ao dele.
Anita está certa. Hoje fico um pouco confusa.

Michael deu alguns passos com a Sra. Teller e depois voltou. Eu te


encontro mais tarde, Em.

— É claro, — ela respondeu, pegando Anita Benson assistindo a


troca deles com um olhar aguçado.

EM ENROLOU o cabelo úmido em um coque bagunçado. Ela olhou


para o reflexo no espelho do quarto. Ela havia limpado o quarto e o tor-
nado habitável. As fitas, troféus e fotografias uma vez espalhadas pelo
chão, agora estavam empilhadas na penteadeira. Ela colocou uma blusa

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
por cima da cabeça e pegou o capuz de Michael. Inalando profunda-
mente, ela sentiu o perfume de hortelã e capim-limão.

Depois que Michael saiu para levar a Sra. Teller de volta ao Centro
de Atendimento à Memória, ela se despediu do pai e caminhou a curta
distância até Foxglove Lane.

Ela flexionou os dedos e traçou a cicatriz em ziguezague. Ela esta-


va tocando música novamente. O calor floresceu em seu peito, mas uma
pequena voz em sua cabeça estampou sua excitação.

O prodígio musical de Langley Park jogou fora seu talento anos


atrás.

O que faz você pensar que é algo além de medíocre? Você nem jogou
nada difícil.

Você nunca será tão boa quanto era.

Ela olhou para a caixa de violino em sua mesa, enfiou as mãos nos
bolsos do capuz e foi para a cozinha. Ela colocou a chaleira para ferver
e encostou-se ao balcão da cozinha.

No mesmo dia ela viu Zoe, Ben, Kathy, Kate e Jenna. Ela encon-
trou Kyle Benson em Sadie's Hollow e tocou piano para os residentes do
Senior Living Campus.

E então havia Michael.

Michael segurando-a nos braços. Michael alisando seus cabelos. As


pontas de seus dedos roçando seu pescoço fizeram seu corpo querer
coisas que não deveriam.

A chaleira assobiou e Em derramou a água fervente em uma cane-


ca. Empurrando um saquinho de chá, ela examinou a tinta descascada
nos armários da cozinha. Talvez fosse uma coisa boa que ela tivesse en-
contrado Ben Fisher. Ela precisaria da ajuda dele para preparar a casa
para vender.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Pronto para vender.

Essa foi a razão de voltar para casa, certo? Ela precisava ajudar o
pai a vender a casa, mas e depois? Voltar para a Austrália? Claro, ela
adorava trabalhar no Renwick Center e estar perto de sua mãe. Mas
sua vida não parecia mais tão em preto e branco. A raiva que costuma-
va sustentá-la não era suficiente.

Ela tomou um gole do chá e olhou pela janela. Sua casa da gara-
gem estava escura, mas havia uma luz acesa dentro da de Michael. As
janelas quadradas brilhavam amarelo-alaranjadas como um farol na
escuridão.

Ela vestiu suas velhas botas de chuva e viu seu reflexo na janela.
Cabelo bagunçado. Moletom com capuz de grandes dimensões. Minús-
culos shorts de dormir e botas de chuva velhas. Ela parecia a definição
de um acidente de trem. Mas a aparência dela não importava. Ela só ia
à garagem de Michael perguntar pela sra. Teller.

Ela abriu a porta dos fundos e agarrou a caneca quente. Uma brisa
gelada agitava os galhos das árvores, e ela dobrou o passo quando suas
respirações saíram em suspiros curtos e excitados.

Não havia motivo para se excitar, mas seu coração discordou. Cla-
ro, ela queria perguntar a Michael sobre a Sra. Teller. Essa era a razão
suficiente para estar caminhando pelo quintal, meio vestida, não era?

Antes que ela pudesse se conter, bateu na porta lateral. Michael


abriu e todos os pensamentos sobre a Sra. Teller desapareceram. Toda
vez que ela olhava para ele, fogo e gelo corriam por suas veias, e seu
coração batia como um pêndulo balançando loucamente entre extre-
mos.

Foco.

— Posso entrar?

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Michael deu um passo para trás.Claro, eu estava apenas... Ele
apontou para o laptop. Foi conectado a um teclado de piano elétrico.

Em pesquisou o espaço.O Range Rover estava estacionado na pri-


meira cabine. Um computador juntamente com o teclado e o grande
monitor de computador de Michael estava situado em uma mesa em
forma de L no canto. Um velho futon caiu ao longo da parede dos fun-
dos e um saco de pancada bem usado estava pendurado no canto opos-
to ao lado. Um aquecedor conectado ao lado da porta brilhava em ver-
melho e estava fazendo um bom trabalho em manter a sala aquecida.

— Por que você não faz isso em casa? — Ela perguntou, cami-
nhando para o canto mais distante e dando uma cutucada no saco de
pancadas.

Michael passou a mão pela mandíbula. Meu pai nunca me deixou


guardar nenhum dos meus equipamentos em casa. Ele nunca aprovou
isso. Ele pensou que era uma distração.

— Entendi. Mas agora ele está...

— Se foi? Praticamente um vegetal?

— Não, Michael, você sabe que não foi isso que eu quis dizer.

Ele assentiu e a tensão em seus ombros relaxou.

Em foi até a mesa, pousou a caneca e examinou a tela. Parecia algo


que você veria no hospital com linhas onduladas semelhantes a um
monitor de batimentos cardíacos. Seu olhar foi atraído para um pedaço
de papel colado no canto. Ele dizia: Chopin Nocturne 20 remix.

— Você está fazendo algo com Nocturne? — Ela perguntou, saben-


do que Michael a ouviu tocar a peça hoje à noite.

— Não é nada, — disse ele e alcançou para fechar seu laptop, mas
Em colocou a mão dela em cima da dele.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Espere um segundo. Diga-me o que são todas essas linhas? —
Perguntou ela, deixando a mão no lugar.

Michael abriu o laptop e as linhas ganharam vida.

— Sente-se, — disse ele, puxando a cadeira. Ele deslizou os fones


de ouvido nos ouvidos dela, depois se inclinou e apontou para a tela.
Esse é o equalizador ou equalização. Ajuda a moldar as frequências do
som. Ele apontou para a próxima linha. Isso é compressão. Controla a
dinâmica. A última linha é reverb. Dá espaço ao som e pode fazer com
que algo que foi gravado em um pequeno estúdio pareça estar em uma
sala de concertos.

Ele moveu o dedo pelo touchpad do laptop e a música ganhou vida


dentro dos fones de ouvido. Era a peça de Chopin, mas Michael havia
misturado sons eletrônicos e industriais que adicionavam uma profun-
didade de emoção que ela não estava preparada para ouvir.

A música terminou e ela deslizou os fones de ouvido para pendurar


no pescoço. Michael, isso foi incrível. Você fez isso com o Noturno 20?

Ele assentiu, mas manteve os olhos na tela.Estou brincando com a


idéia de pegar peças clássicas e adicionar um elemento eletrônico e mo-
derno a elas

— É como nada que eu já ouvi.Partiu seu coração que ele sentiu


que tinha que manter essa parte de si escondida.

Michael inclinou-se, e eles estavam nariz a nariz. Ele fechou os


olhos e pressionou a testa na dela.

— Em, ele respirou. Você tem que saber. Você não perdeu nenhum
de seu talento. Você ainda consegue.

Ela balançou a cabeça. Não é o mesmo. Não toco nada tecnicamen-


te difícil há mais de uma década. Qualquer um poderia ter nocauteado
as peças que eu toquei hoje à noite.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Não, — disse Michael, abrindo os olhos e colocando o rosto em
suas mãos. Eu conheço você. Eu ouvi você tocar piano e violino a vida
toda. Eu ouço sua música nos meus sonhos. Estou lhe dizendo, você
não perdeu nada. Eu saberia. Eu seria o único que saberia se você sou-
besse.

Lágrimas picaram seus olhos. — Eu ainda preciso saber o que


aconteceu.

— Eu sei, — ele respirou e pressionou seus lábios nos dela. — Eu


também.

Suas respirações estavam ficando mais rápidas. Os dedos de Mi-


chael traçaram o comprimento de sua mandíbula e pousaram nos fones
de ouvido em volta do pescoço. Ele afastou uma fração. Em esticou o
pescoço para frente para tentar alcançá-lo, mas antes que ela pudesse
se mover mais um centímetro, Michael a segurou mais perto os fones de
ouvido pressionando mais firme.

A pressão em torno de seu pescoço a forçou a ofegar, e ele pressi-


onou os lábios contra a boca dela aberta quando as línguas se encon-
traram em um choque quente de desejo, cada beijo alimentando o calor
crescente em seu núcleo.

Michael soltou os fones de ouvido, empurrou-os para o lado e pas-


sou as mãos nuas ao redor do pescoço dela. A pressão requintada fez
seu peito arfar enquanto ela ofegava por ar. Isso deveria tê-la aterrori-
zado. Para ela, sexo era sobre controle. Dependia de manipulação e
conquista. Mas agora, tudo em que ela conseguia pensar era em Micha-
el torcendo o colar de pérolas na noite em que ele a beijou no Sadie's
Hollow.

Ninguém mais a tocou dessa maneira.

A língua dele traçou a costura dos lábios dela. — Você gosta disso
não é? — ele respirou.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Sim, — ela ofegou, a deliciosa pressão a forçando a trabalhar
para cada respiração.

Ele manteve uma mão no pescoço dela, e com a outra, abriu o zí-
per do capuz. A mão dele encontrou o peito dela, e ela arqueou contra
ele quando ele amassou a carne delicada, e seus mamilos se apertaram
em picos agudos.

Michael se afastou suas mãos liberando seu pescoço e peito. Ele


pegou os fones de ouvido e os deixou pendurados no dedo indicador.
Coloque iss — disse ele, depois lambeu os lábios.

Doce Jesus, ele era sexy quando estava dizendo a ela o que fazer.

Em pegou os fones de ouvido e os deslizou sobre os ouvidos. Mi-


chael apertou um botão em seu laptop, e sua versão techno da peça de
Chopin apareceu. Encheu sua mente cheia de luxúria com batidas pul-
santes e a melodia assustadora do Noturno.

Em manteve o olhar fixo no de Michael e, quando ele murmurou:


Levante-se, — ela seguiu seu comando.

Ele girou a cadeira e sentou-se. Ela estava prestes a protestar con-


tra ele roubando seu assento, mas Michael a puxou para seu colo, as
costas contra o peito largo. Sua bunda pressionou contra a protuberân-
cia dura de seu pau.

Ela agarrou os braços da cadeira e deixou suas pernas se abrirem.


A mão de Michael passou gentilmente ao redor do pescoço dela, en-
quanto a outra traçou uma linha do esterno, passou por seu estômago e
deslizou dentro do short do pijama. O tecido fino se esticou quando ele
segurou seu sexo. Ele soltou a mão do pescoço dela e plantou beijos
quentes na pele delicada, onde as pontas dos dedos pressionaram e
provocaram sua carne.

Em rolou a cabeça para trás, permitindo que caísse contra o peito


de Michael. Os quadris dela se moveram para frente e para trás, esfre-

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
gando contra o comprimento dele. Michael a massageava em um ritmo
constante que combinava com o ritmo pulsante.

Com seus sentidos em sobrecarga, Em se rendeu. Rendeu-se ao


perfume de hortelã e capim limão que encheu suas narinas. Ela se ren-
deu à boca dele, quente e úmida, beliscando a pele delicada abaixo do
lóbulo da orelha. Ela se rendeu ao toque dele enquanto ele trabalhava
em seu doce broto. Estendendo a mão e entrelaçando os dedos nos ca-
belos ruivos de Michael, ela se rendeu a tudo, contorcendo-se com lu-
xúria e moendo a bunda contra ele como uma cadela no cio.

Seu orgasmo rasgou através dela como um crescendo. Como um


trovão. Como o grande final de uma sinfonia. Todo som, toda nota, tra-
balhando em perfeita harmonia. Ela o chamou, e suas palavras eram
um emaranhado de gemidos entrelaçados com o nome dele.

— Michael! Michael! Michael!

Ele tirou os fones de ouvido e os jogou no chão. Com um movimen-


to rápido, ele a levantou do colo e a colocou na beira da mesa. Em agar-
rou a camisa de Michael. Se ela estivesse um pouco mais de força teria
arrancado a maldita coisa. Mas ele leu a mente dela e arrancou-a com
um puxão rápido. Camisa descartada, Em deixou seus dedos desliza-
rem pelo plano de seu estômago, sentindo cada forte quantidade de
músculo.

Ele segurou o rosto dela. Eu quase gozei na porra da calça ouvindo


você chamar meu nome. A boca dele colidiu com a dela quando ele
agarrou sua bunda e puxou seu corpo com o dele.

— Por que você ainda está vestindo calças? — Ela ofegou contra os
lábios dele.

— Porra, Em. Eu sempre soube que seria assim — ele rosnou e de-
sabotoou sua calça.

Mas assim que o botão se soltou, um som alto encheu o ar.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Michael congelou, e a campainha voltou. Ele se afastou e pegou o
celular ao lado de seu laptop.

Em procurou em seu rosto. Quem é esse?

Michael olhou para a tela. Sua pele corada empalideceu em um


branco fantasmagórico. — É o meu pai. Algo está errado. Eles só ligam
tão tarde se for uma emergência.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
17
— Estou indo com você — disse Em, colocando os cabelos desgre-
nhados atrás das orelhas.

Michael puxou a camiseta por cima da cabeça e enfiou o celular no


bolso. Não, você não vem.

Ela agarrou a barra da camisa dele. Dê-me um minuto para correr


para dentro e vestir uma calça.

— Em, você não quer ver isso. — Michael fechou os olhos.Cristo,


eu não quero ver isso.

— Ver o que? Seu pai está machucado?

— Eu instruí a equipe de enfermagem a me ligar sempre que ele ti-


ver um episódio agressivo.

Imagens de Noland dando um soco na mandíbula de Michael du-


rante o recital de música infantil brilharam diante de seus olhos.

— Por favor, Michael. Eu quero ir com você. Eu posso ajudar.

Seus olhos verdes escureceram. Meu pai tem estágio seis da doen-
ça de Alzheimer. Você sabe o que isso significa?

Ela não respondeu.

— Significa grave declínio, porra. Isso significa que ele não conse-
gue se lembrar das pessoas que vê todos os dias. Pessoas que ele co-
nheceu a vida inteira. Ele tem ilusões. Ele acha que estamos todos fora
para pegá-lo.

Em levantou o queixo.Você pode me esperar ou estou dirigindo pa-


ra o campus eu mesmo. De qualquer maneira, eu vou com você.

— Jesus, Mary Michelle! — Ele abaixou a cabeça e fechou os olhos.


— Bem. Eu vou parar na frente da sua casa. Nós vamos pegar o Audi.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— TONY, — Michael disse em um tom cortante. — Obrigado pela
sua chamada.

— Claro, — Michael, respondeu o homem. Seu pai está tendo uma


noite difícil. Liguei para o médico dele. Eu gostaria de lhe dar algo para
ajudá-lo a se acalmar e descansar um pouco. Devemos ouvir a qualquer
momento.

Michael assentiu. — Tudo bem se Em MacCaslin se juntar a mim?


Ela é amiga da família.

Os lábios de Em se abriram em um sorriso fraco. Entre sua preo-


cupação com Noland e Michael, descrevendo-a como "uma amiga da
família", ela sabia que sua expressão parecia longe de ser amigável.

— Entre aqui, Srta. MacCaslin, — disse a enfermeira, olhando a


mochila pendurada ao seu lado e depois lhe entregou um crachá. —
Pedimos que todos usem um desses. Lembretes visuais são úteis para
nossos residentes. Quando entrarmos, você notará que tudo está mar-
cado com palavras e imagens. — Seu olhar estava de volta na bolsa. —
Você não tem comida, líquidos ou medicamentos, não é?

Em balançou a cabeça, em seguida, olhou para Michael. Ele mu-


dou de posição e olhou o relógio.

A enfermeira digitalizou o formulário. — Ok, parece que tudo está


em ordem. Vamos voltar.

O Memory Care Center estava alojado no prédio principal do Senior


Living Campus. A enfermeira os conduziu por dois conjuntos de portas
fechadas antes de entrar na sala principal. Parecia mais uma pré-escola
do que um lar de idosos. A sala foi dividida em centros. Havia uma área
com ferramentas de jardinagem, uma área que lembrava o berçário de
uma criança com bonecas e berços, uma área de escritório com papéis e

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
calculadoras e uma área com cavaletes, tintas e outros materiais de ar-
tesanato.

— Não é o que você esperava, é? Tony perguntou. Ele era um ho-


mem imponente, quase tão alto quanto Michael. Mas quando ele sorriu,
passou de intimidador a parecer tão gentil quanto um cordeiro.

— Não, — respondeu Em. Não é o que eu esperava.

— Há algumas pesquisas bastante sólidas que mostram que indi-


víduos com Alzheimer e demência se beneficiam de um ambiente famili-
ar. Esses centros permitem que nossos moradores representem as par-
tes de suas vidas de que se lembram. — Tony apontou para os berços e
depois para a área do escritório. — Cuidar dos filhos e entrar no traba-
lho são atividades com as quais muitos de nossos residentes podem se
relacionar. Eles experimentam menos ansiedade quando estão envolvi-
dos em comportamentos confortáveis e rotineiros.

Em olhou para Michael, que olhou para a frente como um soldado


entrando em batalha. Ela voltou-se para Tony. Isso faz muito sentido.

A enfermeira os conduziu por um corredor, e a voz furiosa de um


homem ecoou pelo corredor.

— Droga, eu já falei para as pessoas um milhão de vezes, preciso


chegar ao meu escritório. Eu tenho reuniões a manhã toda, e sou espe-
rado no tribunal esta tarde.

Michael soltou um suspiro audível. — Há quanto tempo ele está


assim?

Eles pararam diante da porta de Noland.Não muito tempo, cerca de


meia hora. Liguei para você depois que ele se recusou a tomar os remé-
dios da noite.

Michael assentiu. Ele estava usando sua máscara de advogado. In-


diferente. Em branco. Separado. Um bando de lobos vorazes poderia
estar se aproximando dele, e ele nem sequer piscou um olho.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Você sabe, Sr. MacCarron - disse Tony, abaixando a voz, esta-
mos equipados para lidar com isso. Não me interpretem mal; você tem
todo o direito de ser notificado sobre os cuidados de seu pai. Mas você
não precisa vir cada vez que ele tem um episódio.

Máscara ainda no lugar, Michael cruzou os braços. Ele é meu pai.

A enfermeira assentiu, OK. Carmen e Anita estão com ele agora.


Vou avisá-las de que você está aqui e avisá-lo quando o médico enviar
os pedidos para o sedativo.

— Obrigado Tony, Michael disse tão roboticamente quanto o pró-


prio homem de lata.

Em agarrou sua mochila e seguiu Michael para o quarto.

Era um quarto de bom tamanho, mas o olhar de Em foi atraído pe-


los lençóis espalhados pelo chão. Papéis em branco cobertos de rabiscos
estavam espalhados por todas as superfícies como o laboratório de um
cientista louco. Em uma cadeira no centro da sala, estava sentado E.
Noland MacCarron, com o rosto vermelho e olhos selvagens.

— Quem é esse filho da puta? — Noland rosnou quando eles entra-


ram na sala.

Noland desviou o olhar do filho e deixou cair no rosto dela. Ele sor-
riu. Ela estava prestes a retribuir o sorriso dele com um dos seus quan-
do a expressão de Noland se desvaneceu.

Ele cruzou os braços. Senhorita, não pretendo ofendê-la com essa


linguagem grosseira. Estamos no meio de negociações aqui. Por que vo-
cê não liga para o meu escritório? Vamos marcar uma consulta para
outra hora.

— Você é o marido dela? Noland perguntou, dirigindo a pergunta a


Michael, mas continuou sem esperar por uma resposta. Como eu disse
a sua esposa, ligue para o escritório e podemos marcar um horário para
nos encontrar semana que vem.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Michael se agachou. Pai, sou eu. É o seu filho, Michael.

Noland deu uma risada. Que diabos você está brincando? Meu fi-
lho tem sete anos.

Michael e seu pai estavam perto de cuspir imagens um do outro.


Noland não conseguia ver que o homem que o olhava nos olhos era seu
próprio filho?

Anita Benson e a outra enfermeira, Carmen, deram um passo


atrás. A sala caiu em um silêncio espesso quando todos os olhos se vol-
taram para Noland e Michael.

— Pai sou eu. Michael. Lembre-se, eu estou crescido agora.

Noland piscou algumas vezes e depois encarou o filho. Segundos


pairavam pesados no ar enquanto esperavam para ver se Noland reco-
nheceu Michael.

O homem mais velho se inclinou para frente. Você não é meu filho,
seu mentiroso bastardo.

Em abriu o zíper da mochila, e seu corpo vibrou com o choque da


adrenalina. Ela pegou sua caixa de violino e com as mãos trêmulas, sol-
tou as travas e abriu a tampa.

Polly. A Polly dela. Seu lindo violino Paul Bailly.

Sua respiração ficou curta, enquanto ela inalava o cheiro de pi-


nheiro suíço. Como uma mãe reunida com um filho perdido, ela retirou
o instrumento do estojo. Ela quebrou todos os troféus e rasgou cada
certificado. Ela havia tirado fotos e massacrado todos os lembretes de
sua vida com a música. Mas ela não tinha destruído Polly.

Ela respirou fundo, e se atrapalhou com o pequeno compartimento


que continha à resina. Colocou o violino no chão, tirou o arco do estojo
e passou o pequeno bolo laranja-dourado com resíduos de âmbar pega-
joso de um lado para o outro sobre as cordas do arco. Ela olhou para

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Noland. Manchas vermelhas de raiva furaram seu pescoço. Ela respirou
fundo mais uuma vez e esfregou a resina em seu arco em movimentos
suaves e firmes. Ela não teve tempo de afinar o instrumento, mas sem
aplicar resina no arco, não haveria som algum.

Em levantou-se e segurou o violino em posição. Ela passou o arco


pela corda. Um pouco chato. Ela teria que viver com isso.

Noland recuou, mas desta vez, Michael estava pronto para o gan-
cho de direita de seu pai e evitou o soco.

Em passou o arco pelas cordas, e as primeiras notas de “Vem a


fonte de toda bênção” encheram a sala.

Os dedos de Em pressionaram as cordas familiares e Noland pa-


rou. Ela encontrou o olhar dele, mas seus olhos não estavam cheios do
reconhecimento que ela viu da última vez que tocou essa música para
ele. Nem mesmo perto. Seus olhos se estreitaram em fendas raivosas e o
rubor que subia em seu pescoço agora envolvia seu rosto, vermelho e
quente.

Noland pulou na direção dela e jogou a cadeira no chão. — Quem é


Você? Ele rosnou. Pare com isso! Pare com essa merda!

Michael ficou de pé e se posicionou na frente dela. Papai! Ele dis-


se, segurando os ombros do pai. É Em. É a nossa Mary Michelle. Ela
está tentando ajudar.

Os olhos de Noland dispararam para frente e para trás como um


animal preso. Todo mundo aqui me quer morto!

A porta se abriu e Tony entrou segurando uma seringa.

— Sr. MacCarron, eu sou Tony, um enfermeiro aqui no Memory


Care Center. Vai dar tudo certo. Este é um remédio para ajudá-lo a des-
cansar.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Michael segurou o pai enquanto Tony administrava o sedativo. No-
land piscou como se cada movimento tivesse concentração especializa-
da. Sua expressão feroz derreteu como um sorvete de criança deixado
ao sol do verão. Em encontrou seu olhar vidrado. Naquele momento, ela
juraria que ele a havia reconhecido.

Mas antes que ele pudesse dizer outra palavra, seu corpo ficou mo-
le e Noland MacCarron ficou pendurado como uma boneca de pano nos
braços de seu filho.

EM ENCOSTOU-SE à parede do lado de fora do quarto de Noland, se-


gurando seu violino. A onda de adrenalina ainda estalou em suas veias,
e ela quase pulou para fora da pele quando a porta do quarto de Noland
se abriu.

— Sou só eu, — disse Anita Benson. Ela entregou-lhe a mochila


vazia e a caixa de violino.

Em pegou os itens e agachou no chão e prendeu o instrumento no


estojo. Ela colocou a maleta na mochila e obrigou as mãos a parar de
tremer.

— Eu sei que você vai dizer que piorei para a Noland. Mas da últi-
ma vez que toquei para ele, funcionou. A última vez que toquei para ele,
ele me reconheceu. Ele voltou para si mesmo. Você estava lá, senhora
Benson. Você viu isso.

A expressão comprimida de Anita relaxou. O cérebro é um órgão


complicado,somando isso a um diagnóstico de Alzheimer e a complexi-
dade é ampliada. Ela deu um passo mais perto. Eu não vim aqui para
repreendê-la, Em. Eu acho que o que você tentou fazer pelo Sr. MacCar-
ron foi muito gentil. Mas a doença de Alzheimer é uma doença imprevi-
sível. O que ajuda um paciente um dia, pode não funcionar no próximo.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Oh, foi tudo o que ela pôde reunir em resposta, enquanto olhava
de olhos arregalados para a mulher que a julgara tão severamente no
passado.

— Por que não sentamos, Anita apontou para um grupo de cadei-


ras na área principal. Noland está dormindo, mas Michael ainda está
conversando com as enfermeiras. Eles não devem demorar muito.

Em tocou no rosto dela. Ela nem tinha notado as lágrimas quentes


fazendo trilhas escorregadias em suas bochechas. Cristo! Ela não queria
chorar na frente de Anita Benson.

— Eu sei o que você viu pode ser bastante chocante, — disse Anita,
dando um tapinha no ombro dela. Mas o que aconteceu hoje à noite é
um produto de sua doença.

Em olhou para os arranhões no chão de linóleo.Eu só queria aju-


dar.

— Claro que você fez. Anita fez um gesto para ela se sentar. Nin-
guém duvida disso.

Em encontrou seu olhar e a mulher sorrio. Em todos os anos em


que conheceu Anita Benson, foi a primeira vez que a viu sorrir.

Anita olhou para o quarto de Noland, depois se sentou em uma ca-


deira. Kyle mencionou vê-lo perto de Garrett esta manhã em Sadie's
Hollow.

Isso foi só esta manhã?

— Sim, nós o encontramos enquanto estávamos... enquanto eu es-


tava tentando... Em interrompeu.

Mas Anita foi rápida em preencher o vazio. Kyle também mencio-


nou que você não se lembra de nada desde a noite em que... Ela aper-
tou os lábios. A noite do seu ferimento.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Em preferia ter as unhas dos pés arrancadas com um alicate do
que discutir sua lesão com Anita Benson, mas a mulher parecia since-
ra. Em procurou em seu rosto algum fragmento de nojo ou ressenti-
mento, mas não conseguiu encontrar nenhum.

— Não, não me lembro de muita coisa. Apenas flashes de imagens


e sensações que não fazem nenhum sentido.

A testa de Anita franziu.Tenho certeza que isso é frustrante. Ela se


inclinou para frente, mas você tem muito em seu prato agora, querida.
Seu pai precisa de ajuda para se instalar na casa de campo assistida, e
você foi encarregada de deixar a casa dele pronta para vender. Tem cer-
teza de que tem tempo para fazer viagens a Sadie's Hollow?

A boca de Em ficou seca. Tudo o que Anita Benson disse era ver-
dade.

Uma porta se abriu e fechou. Em e Anita estavam de pé, esperando


ver Michael e as enfermeiras, mas era a Sra. Teller. Ela estava vestindo
um roupão rosa e uma tiara de plástico infantil.

— Eu ouvi música? — A mulher disse, seus braços em uma pose


de dança falsa.

— Não, não, senhora Teller respondeu Anita. Foi apenas Em Mac-


Caslin tocando violino para o Sr. MacCarron. É tarde acrescentou ela,
olhando o relógio. Deixe-me ajudá-la a voltar para o seu quarto.

A senhora Teller apertou a mão de Em. Você se formou na Garrett


High? — Ela perguntou com um brilho inocente nos olhos, enquanto os
ossos dos dedos de seus dedos se apertavam.

Em pegou a roupa com babados da mulher e sorriu. Não, senhora


Teller, eu não fiz.

— Você tem certeza? A senhora Teller se soltou. A outra jovem que


vem tocar piano para nós se formou lá. Estou certa disso.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Anita deu uma tapinha no braço da mulher. Sra. Teller era a rai-
nha do baile de Garrett High. Não está certo, querida?

— Ai sim! E meu Rodney era o rei do baile. Eu ainda tenho minha


coroa ela disse, empurrando a tiara infantil que estava torta.

Anita abaixou a voz. Sra. Teller acha que somos todos de Garrett. É
um produto da demência dela.

Em assentiu.

A senhora Teller dançou pelo chão, abraçando um parceiro invisí-


vel.

Um trio de vozes ecoou pelo corredor. Em chamou a atenção de


Michael quando o grupo entrou na sala principal.

— Vou ajudar a senhora Teller a voltar para o quarto. Tome cuida-


do, querida disse Anita, presenteando-a com outro sorriso.

Michael segurou o cotovelo dela e a levou em direção à saída.

Em tentou encontrar seu olhar, mas Michael não fez contato visu-
al.

— Eu sinto Muito. Eu pensei que poderia ajudar como fiz da última


vez.

Michael parou de andar, mas manteve a mão em volta do braço de-


la. Ela procurou o rosto dele. A angústia em seus olhos agitou-se como
um mar escuro e furioso.

— Oh, Michael! Sinto muito — ela sussurrou.

Ele apertou o braço dela como uma criança segurando um cobertor


precioso.

— Eu sei que isso é difícil para você, — disse ela, procurando as


palavras certas.

Ela não tinha escolhido sabiamente.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Os olhos de Michael se arregalaram como se ela tivesse lhe dado
um tapa. A emoção crua desapareceu e a máscara estava de volta. Em
branco. Separado.

Ele soltou o braço dela. — É tarde, Em. Vamos lá.

18
— Michael, fale comigo. Por favor, diga alguma coisa.

Em estava em frente a ele, parado na entrada da garagem. Ele a


encarou, de pé sobre ele. Ele olhou para a faixa de grama seca que se-
parava a propriedade MacCaslin da propriedade MacCarron. Um pé,
talvez quatorze centímetros, mas poderia muito bem ter sido o rio Kan-
sas.

Ele não tinha dito uma palavra durante o caminho de casa. Os


apelos de Em escorregaram dele como Teflon. Levou tudo o que ele ti-
nha para mantê-lo unido para manter toda aquela dor trancada por
dentro.

Mas havia uma coisa que ele tinha certeza: Ele não tinha tempo
para a pena dela.

Ele tinha um escritório de advocacia para administrar. Seus clien-


tes esperavam que ele prestasse o mesmo serviço diligente, como seu
pai havia feito nos últimos quarenta anos. Além de viver de acordo com
o legado de E. Noland MacCarron, ele também teve que ficar por dentro
da condição de seu pai. Um trabalho que ocupava cada vez mais tempo
e energia todos os dias.

Ele não podia ceder a um momento de fraqueza. Mas Cristo, ele


queria.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ele queria enfiar a cabeça no colo de Em e fazê-la acariciar sua bo-
checha. Ele queria deixar tudo sair. A frustração. A culpa. O fingimento.
A monotonia de viver uma vida que ele não escolheu.

Ele enfiou as mãos nos bolsos e deixou os olhos percorrerem o


comprimento do corpo dela. A sugestão de um sorriso brincou em seus
lábios. Ela ainda estava usando o capuz dele. Ela estremeceu e puxou o
tecido extra-apertado sobre o peito. Algumas horas atrás, aquele corpo
estava se contorcendo e ofegando em seu colo. Ela não estava usando
calcinha, apenas aqueles minúsculos shorts de pijama. E ela estava
molhada. Tão molhada. A mão dele flexionou dentro do bolso, coçando
para sentir o deslizar escorregadio de calor entre as coxas dela.

— Michael, eu sei que isso é difícil.

Os olhos dele focaram. Ele ficou tão perdido em sua fantasia que
quase esqueceu o pai.

Em o observou como um falcão, o queixo erguido. Ele procurou os


olhos dela e viu. Pena. Filho da puta, pena.

— Deixe-me ajudá-lo, — ela tentou novamente.

— “Você não é a panela chamando a chaleira de prato”, — disse


ele, as palavras cheias de nojo

Em deu um passo para trás como se ele a tivesse dado um tapa no


rosto.

— O que isto quer dizer?

Ele deu uma risada. Você não queria nenhuma ajuda. Você teve
mais de uma década doze anos para responder minhas cartas. Eu teria
feito qualquer coisa para ajudá-la. Agora você está de volta e mal está
me deixando levantar um dedo. Eu sou basicamente seu motorista glo-
rificado.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Você sabe que isso não é verdade. É complicado. Tudo é tão
complicado. Ela deu um passo mais perto. Seu pai, Michael. Eu não
fazia ideia. Eu realmente não fiz.

— Chega de meu pai pelo amor de Deus! Sim, é péssimo. Sim, isso
parte meu coração. Mas é a minha cruz para carregar.

— Não precisa ser — ela sussurrou.

Suas palavras o cortaram como cacos de vidro quebrado. Ele que-


ria acreditar nela. Mas não assim. Não se tudo o que ela sentia por ele
fosse pena. O pensamento fez seu interior se contorcer.

— Foi uma noite longa, Em. Nós dois estamos cansados. Entre e
descanse um pouco.

Ela cruzou os braços. Eu não tenho pena de você. Eu sei que é isso
que você está pensando. Mas você está errado. Ela pegou a mochila e
deu um passo em sua direção. Se o que você pensa que vê nos meus
olhos é pena, ela disse e respirou trêmula, então você não me conhece.
E você nunca fez.

Os olhos dela se arregalaram, mas ela piscou para afastar a emo-


ção. Sem outra palavra, ela girou e saiu. Ele olhou fixamente para a en-
trada de automóveis de cascalho, ouvindo o barulho da porta da frente
aberta e o estrondo furioso quando se fechou. O mesmo estrondo furio-
so que ele ouvira no Halloween.

Aquele acidente virou seu mundo de cabeça para baixo.

Ele fechou os olhos e passou a mão pelo rosto. Ele odiava admitir,
mas estava feliz que ela estivesse com ele esta noite. Sua presença, sua
vontade de fazer o que pudesse para ajudar - isso lhe trouxe conforto.

Ela tocara violino hoje à noite. A Polly dela. Cristo, isso não poderia
ter sido fácil para ela. Ele nem tinha certeza de que Polly havia sobrevi-
vido quando ela destruiu seu quarto após o ferimento. Ele espiou o
quarto dela quando ajudou o pai a se mudar. As camadas de tempo e

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
poeira haviam se acumulado em todos os tesouros desarrumados e
quebrados, e o estojo de violino parecia uma tumba antiga que ninguém
ousava abrir. Ele tinha certeza de que o Dr. MacCaslin também não o
tocara. Saber que ela havia destruído Polly teria sido demais para ele.

Michael olhou para o lado da casa de Em. Imagens dela sorrindo


na chuva o encheram de um desejo que se infiltrou em seus ossos. Ele
fechou os olhos e deixou a imagem se expandir nos cantos vazios de
sua alma. Eles eram melhores juntos. Não importa onde ela estivesse
neste planeta - França, Japão, Austrália, algo em seu coração sempre
chamava o dela.

Mas ele a decepcionou. A culpa apertou seu coração, afiada e pe-


sada. Ele fechou os olhos quando as notas gentis do Nocturne 20 de
Chopin no C-Sharp Minor flutuavam no ar e dançavam na brisa da noi-
te.

Ele soltou um suspiro exasperado. Agora ele estava iludido. Talvez


ele não estivesse muito atrás do pai em perder a porra das bolas de gu-
de. Mas quando ele olhou para cima, Em estava lá, em pé na frente da
janela do quarto dela. A luz dourada a envolvia como um tesouro pre-
servado em âmbar.

Ele olhou para a janela. Ela estava tocando para ele. Ela sempre
tocou para ele. Ele podia ouvir a voz dela chamando-o em todas as no-
tas, em todas as vibrações de suas pontas dos dedos pressionadas nas
cordas delicadas. Ele irrompeu pela porta da frente e subiu correndo as
escadas para o quarto dela. Seu coração sempre soube encontrá-la. Ele
poderia ter sido vendado. Ele ainda teria feito isso sem um arranhão.

Ela colocou o violino para descansar no estojo e ficou na frente de-


le. Ela ficou na ponta dos pés e segurou o rosto dele nas mãos.

— O que você vê? — Ela perguntou, forçando-o a encontrar seu


olhar.O que você realmente vê, Michael?

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
A sala estava silenciosa, mas ele ainda podia ouvir a música. Ela
era a música.

— Eu vejo tudo, Em. Ele deslizou as mãos pelas costas dela e a le-
vantou em seus braços. Você é meu tudo.

Ela havia tirado o jeans e estava de volta com aquele doce short de
pijama. Suas pernas nuas envolveram sua cintura enquanto seus dedos
pressionavam suas nádegas através do tecido fino. Ela não estava
usando calcinha. Seu pênis virou aço, e Em lançou um gemido ofegan-
te.

Ela sentiu isso também. A conexão deles era mais do que luxúria
carnal. Era camada sobre camada de sorrisos e risadas. Um loop infini-
to de memórias e música.

Ele a carregou até a cama e sentou-se com as pernas ainda em vol-


ta dele. Ela deslizou de joelhos, mas manteve seu núcleo pressionado
contra ele. O brilho dourado da pequena lâmpada iluminou suas fei-
ções, e ele resistiu à vontade de puxar seu pau, arrancar aqueles shorts
de pijama e entrar nela.

Ele respirou fundo e deu beijos suaves na aspersão de sardas que


espanavam a ponte do nariz dela. Ele deixou seus lábios explorar seu
pescoço e lóbulo da orelha.

Em passou os dedos pelo comprimento de sua mandíbula. Seu to-


que era como um fósforo puxado pela faixa de ataque. Isso colocou seu
corpo em chamas. Ela agarrou a camisa dele, mas ele terminou o traba-
lho, puxando-o por cima da cabeça e jogando-o no chão.

Em mudou de posição, colando nele. Ele abriu o zíper e tirou a


roupa, permitindo que seus dedos permanecessem ao longo da pele de
marfim de sua delicada clavícula. Ela não estava mais usando sua blu-
sa, e seus seios nus pesavam a cada respiração.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Cristo, Em! Você é perfeita — ele disse, pegando o peito dela na
mão e circulando o polegar ao redor do mamilo.

Ele mudou seu corpo mais para a cama, mas parou quando algo
pressionou sua coxa. Ele se abaixou e puxou um colar de pérolas. —
Estas são as pérolas? — Ele os segurou sob a luz da lâmpada. Faltava o
fecho, e finos pedaços de fio torcido pendiam frouxos de cada lado, onde
algumas pérolas deveriam ter descansado.

— Sim, — ela respondeu, juntando os cabelos em cima da cabeça.

Em esticou o pescoço para o lado, e Michael sabia exatamente o


que ela queria que ele fizesse. Ele colocou as pérolas em volta do pesco-
ço dela, torceu os dedos em torno das pequenas esferas frias e apertou
o ajuste. Em ofegou, e ele rosnou quando seus lábios colidiram com os
dela.

Ele não podia se conter agora. Imagens e sensações do primeiro


beijo em Sadie's Hollow inundaram sua mente. Aquelas pérolas, frescas
e lisas contra a pele dela, enviaram sua necessidade de tê-la em exces-
so.

Michael afrouxou as pérolas e deixou o fio cair na palma da mão.


Ele passou o colar pelos dedos e apalpou o peito dela. Ele deixou as pé-
rolas passarem pelo auge do seio esquerdo e depois pelo direito. A cabe-
ça de Em caiu para trás, e ela fechou os olhos, arqueando em seu toque
enquanto segurava suas coxas. Ela parecia uma deusa devassa imersa
em cada toque, cada sensação deliciosa.

Ela inclinou a cabeça e abriu os olhos. Piscinas de azul infinito


inundaram sua mente cheia de luxúria. Ele largou as pérolas e captu-
rou sua boca, pressionando um beijo em cada canto. Ele se moveu para
baixo beijando sua mandíbula, seu pescoço. A luz suave iluminava os
delicados recortes redondos feitos pelas pérolas. Ele beijou cada marca
e permitiu que sua língua deslizasse sobre a pele dela. Tinha gosto de

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
laranja e luz do sol e as manhãs de domingo passadas enroladas na
cama.

Em trançou os dedos nos cabelos na nuca dele. — Michael — ela


respirou, — faça amor comigo.

Ele procurou o rosto dela. Ele conhecia cada sarda, cada pestana.
Ele memorizou todos os seus sorrisos. O rosto dela assombrara seus
sonhos há anos.

— Eu só quero olhar para você por um minuto.

Seus lábios se curvaram e ela sorriu com um sorriso tímido.

Ele passou o polegar pelo lábio inferior dela.Estamos melhor jun-


tos, Em.

Seu sorriso tímido floresceu, e ele conhecia aquele sorriso fácil, pe-
gajoso com picolé de cereja escorrendo pelo queixo. Ele segurou o rosto
dela. — Eu preciso saber que você acredita nisso também — disse ele,
inclinando-se e tomando o lábio inferior suavemente entre os dentes.

Ela estremeceu, seu hálito quente se misturando ao dele. Ele sol-


tou o lábio dela e encontrou o lóbulo da orelha.

— Diga-me, Mary Michelle.

Agora era ela se afastando e segurando o rosto dele. Os olhos dela


escureceram com luxúria. Você e eu. Ela apertou os lábios nos dele.
Sempre fomos nós dois.

— Diga, — ele murmurou contra os lábios dela.

— Nós somos melhores juntos. Sempre.

Ela mal respirou as palavras antes que Michael a tivesse deitada


de costas. Ele tirou a mão dela de sua calça e afundou para pairar so-
bre seu corpo nu, beijando uma trilha que passava pelo umbigo dela e
até seu doce centro. Seus joelhos caíram para os lados e, sem vergonha
e desprotegida, ela se abriu para ele. Ele lambeu uma linha através das
The Sound Of Home
KRISTA SANDOR
delicadas dobras dela quando ela ergueu os quadris para encontrar a
língua dele.

Seu olhar se voltou para cima e ele seguiu a linha do corpo dela.
Ela estava esparramada na cama, como em sua fantasia, cabelos ruivos
escorrendo pelo travesseiro, mãos descansando sobre a cabeça. Ele no-
tou um flash branco emaranhado entre os dedos dela. As pérolas. Um
novo choque de luxúria atingiu seu pênis. Ele agarrou seus quadris e
trabalhou seu broto inchado com a língua.

Sua pele esquentou sob o toque dele, enquanto seu núcleo ficou
quente e úmido. Ela se contorceu e torceu. Seus suspiros, juntamente
com gemidos doces, pareciam mais bonitos do que qualquer música que
ele já ouvira. Seus quadris se contraíram sob seu toque em uma batida
constante que apenas os dois podiam ouvir. Ela gritou, o êxtase ras-
gando através dela quando suas coxas se apertaram ao redor dele, e ela
cavalgou cada onda de felicidade.

Em encontrou seu olhar com olhos semicerrados e o presenteou


com um sorriso preguiçoso de picolé de cereja. Mas desta vez, ele era o
único com algo doce e molhado nos lábios. Ele desfez a braguilha com
uma mão e tirou as calças e a cueca em um movimento rápido.

Ele lambeu os lábios e rondou o comprimento do corpo dela. Eu


amo o jeito que você prova, ele rosnou. Seu pênis ficou pesado e se con-
torceu ao roçar a parte interna da coxa de Em. Ele parou um momento
e encontrou o olhar dela. — Precisamos usar proteção?

Ela balançou a cabeça e presenteou-o com um sorriso sexy. Estou


tomando pílula.

Ele arrastou a mão pela lateral do estômago dela e entrelaçou os


dedos nos dela. Com o colar de pérolas entre os dedos, ele empurrou
dentro dela.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Seu corpo acolheu seu pênis e o agarrou com um calor delicioso.
Ele se afastou e empurrou novamente, sentindo aquele doce deslize, en-
quanto se enterrava no punho dentro dela.

Ele parou, a preocupação enrugando a testa. — Está tudo bem? Eu


não quero te machucar, Em.

Seu olhar cheio de luxúria suavizou. — Você não vai me machucar,


Michael. Eu confio em você.

Ele quase podia ouvir o barulho da corrente se soltando quando os


laços de culpa, arrependimento e vergonha desapareceram. Bêbado com
essa nova liberdade, a adrenalina subiu por seu corpo.

Ela apertou a mão dele, e as pérolas cavaram na palma da mão.


Uma corrente quente de prazer oscilando na ponta da dor disparou em
sua mão e foi direto para seu pênis.

Ele balançou os quadris para trás como um estilingue puxado,


pronto para a liberação e encontrou seu olhar. — Eu vou te foder até
que você não consiga se lembrar do seu nome.

— Qual deles, Em ou Mary Michelle? — Ela perguntou com um


sorriso travesso.

— Ambos — ele rosnou.

Ele apertou a mão dela e dirigiu dentro dela. Em arqueou seus


quadris, levando seu pênis mais fundo.

Puta merda.

Michael capturou a outra mão e a segurou acima da cabeça. Ele


largou todas as suas inibições. Ele a fodeu como uma máquina bem
oleada. Pressionando mais e mais, seu corpo doía pela liberação perfeita
que ele só podia encontrar com ela. Um fino brilho de suor cobriu sua
pele, amplificando os sentidos, as palmas e deslizando de seus corpos
quando Em encontrou seus impulsos em perfeita harmonia.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Seu clímax veio em explosões de som, respiração e movimento. Ele
soltou as mãos dela e a beijou, segurando seu rosto e provando seus
gritos e suspiros quando ele derramou nela com um rosnado primitivo.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
19
Prendi a respiração. O sol do fim da tarde atravessava a janela da
frente como um holofote destacando cada tecla no Steinway. Com o
olhar fixo no dedo machucado, ela tocava escala após escala, tentando
discernir se Michael estava certo.

E se ela não tivesse perdido tudo naquela noite em Sadie's Hollow?

E se o talento dela não tivesse desaparecido?

O que isso significaria?

Claro, ela tocava piano e violino desde que voltou para casa em
Langley Park, mas não tocara nada tecnicamente difícil. O teste real se-
ria Paganini. Um calafrio percorreu sua espinha ao pensar nisso. Ela
não estava pronta para experimentar Nel cor più non mi sento. Ainda
não.

As tábuas do piso rangiam acima dela, e os pesados passos de Mi-


chael ecoavam pela casa. Um arrepio delicioso percorreu sua espinha.
Ela passou a noite enrolada nele em sua pequena cama. Ele a abraçou
e ela adormeceu cercada por sua força e cheiro inebriante de erva-
cidreira e hortelã.

Ela não teve que se virar para saber que ele estava atrás dela. Mi-
chael passou um dedo pelas costas dela e juntou os cabelos na mão de-
le.

Ela continuou tocando piano, passando de escalas para um arpejo


de quatro oitavas. Michael a cutucou para frente e se abaixou atrás dela
no banco. Ela arqueou em sua força sólida enquanto seus dedos subi-
am e desciam as teclas.

Ele beijou a pele sensível atrás da orelha dela. Eu pensei que esta-
va sonhando quando ouvi o piano.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Em esticou a cabeça para trás e Michael capturou sua boca em um
beijo preguiçoso. Suas pernas poderosas se apertaram ao redor dela.
Ele colocou as mãos nas coxas dela e arrastou as pontas dos dedos dos
joelhos dela para o espaço entre as pernas dela. Ele acariciou sua parte
interna da coxa, fazendo círculos lentos com os polegares.

— Esses shorts de pijama serão a minha morte — disse ele, com a


voz baixa e rouca de sono.

Ela se contorceu para frente, mas não conseguiu esconder o sorri-


so da voz. Você está arruinando a minha performa.

Ele se endireitou. "Está certo", — ele respondeu. Pés firmemente no


chão. Pulsos para cima. Não deixe os cotovelos balançarem.

Ele exagerou cada movimento com uma expressão falsa e séria.

— Você lembra, — disse ela, gritando quando ele a reuniu em seu


colo.

Ele beijou a cicatriz no dedo anelar dela. Lembro-me de tudo. E eu


quis dizer o que eu disse, Em. Não acho que o acidente tenha levado
seu presente.

Ela procurou o rosto dele. Mesmo que eu ainda possa tocar como
antes e não estou dizendo que posso. Eu ainda preciso saber o que
aconteceu naquela noite. Eu preciso saber para o meu pai. Eu preciso
saber por mim mesma. Preciso que todos em Langley Park saibam que
não quis decepcioná-los.

A testa de Michael franziu.Você não decepcionou ninguém. E qual-


quer pessoa que não esta bem com a sua saída, nunca se importou com
você.

Ela descansou a cabeça na curva do pescoço dele. Ela sabia que


ele estava certo, mas uma voz irritante dentro de sua cabeça precisava
que o mundo soubesse que ela não jogou fora seu futuro de propósito.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ele deu um beijo na têmpora dela. Nós vamos descobrir isso. Eu
prometo. Mesmo que seja a última coisa que faço nesta terra, obteremos
algumas respostas.

Michael a embalou em seus braços. Ele pegou a mão dela e entre-


laçou os dedos nos dela. Ela olhou para a marca irregular e soltou um
suspiro audível. Quase parecia difícil acreditar que um pouquinho de
tecido cicatricial ditara os últimos doze anos de sua vida.

Michael passou o polegar pela pele levantada. Eu tenho uma idéia


— disse ele, soltando a mão dela e ajudando-a a se levantar. Mas você
tem que manter esses shorts.

EM caiu no futon na casa da garagem de Michael. Isso não é o que


eu pensei que você estava fazendo alusão.

Michael abriu o laptop e apertou algumas teclas. Eu acho que você


vai gostar disso ele disse, lançando-lhe um sorriso irônico.

Seu remix de Nocturne 20, de Chopin, saiu de dois pequenos alto-


falantes em sua mesa. O olhar dela foi para os fones de ouvido. Seu
corpo incendiou com desejo, lembrando como ela sentou no colo dele, a
música dele pulsando em seus ouvidos, iluminando cada canto escuro
de sua mente.

Ela se inclinou para o futon e fechou os olhos. Ela sorriu quando


sentiu o cheiro de hortelã de capim-limão de Michael. Ele plantou beijos
suaves em cada canto da boca dela.

— Você sempre cheira tão bem ela suspirou. O que é isso?

Ele riu e enroscou a mão nos cabelos dela, passando os longos fios
ruivos pelos dedos. É minha mãe.

Em abriu os olhos. Sua mãe?

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ele riu, e algo sentimental aqueceu sua expressão. Ela adorava es-
se perfume. Ela sempre comprava o detergente orgânico de hortelã e de
capim-limão e o xampu do Pete's Organic Grocery, no centro da cidade.

Em fechou os olhos e inalou. Pensamentos de um Michael pré-


adolescente sentado no chão do quarto, pernas e cotovelos longos, to-
cando uma melodia enquanto praticava violino encheu sua mente. Sua
presença fácil e cheiro familiar adicionaram uma camada de familiari-
dade à música dela, uma textura pacífica que cobria cada nota.

Ela apertou os lábios nos dele, mas congelou quando ele colocou
algo sólido em seu colo. Ela abriu os olhos e estreitou o olhar. Era um
violino. Mas não um violino tradicional como sua Polly. Essa coisa pare-
cia algo saído de um filme de ficção científica. Como um violino comum,
tinha quatro cordas, um apoio para o queixo e estacas no topo para afi-
nar. Mas este violino estava completamente limpo, com pequenas toma-
das na lateral e um interruptor para ligar e desligar.

Em levantou o instrumento de aparência estranha.

— É um violino elétrico, — disse Michael com um sorriso largo.

— Eu percebi isso ela respondeu, olhando o instrumento de cima a


baixo. Se Cinderela precisava de um violino para combinar com seus
chinelos de vidro, era isso.

— É feito de acrílico e possui luzes LED embutidas.

Michael puxou uma corda e uma enxurrada de luzes piscou dentro


do instrumento.

Era difícil não ficar animado quando Michael emanava uma alegria
tão crua.

— O que você está fazendo com isso? — Ela perguntou.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Eu tenho mexido com isso, brincando com sons diferentes. Mui-
tos artistas tocam violinos elétricos especialmente aqueles que estão
passando para o techno.

Ela levantou o instrumento na posição. Apesar de parecer mais um


violino talhado em gelo do que um instrumento real, o descanso do
queixo era robusto e os dedos relaxavam contra as cordas.

Ele deslizou os fones de ouvido sobre as orelhas dela e os conectou


à entrada na lateral do violino. Ele encontrou o olhar dela com olhos
sorridentes.Tente. Você pode se surpreender.

Em torceu o nariz. Eu não sei respondeu ela, olhando para o ins-


trumento alienígena. Ela era uma violinista de formação clássica, e essa
massa brilhante de acrílico transparente parecia algo de um filme de
ficção científica.

Michael estendeu o arco. Vamos, Em. O que machucaria?

Ela pegou o arco e seus lábios se curvaram em um sorriso. Pelo


menos o arco não acende.

Michael devolveu o sorriso dela e inclinou a cabeça em direção ao


violino como um desafio.

Ela fechou os olhos e passou o arco pelas cordas.Oh meu Deus ela
exclamou, abrindo os olhos.

— Nada mal, certo? Michael disse.

— É diferente, mas não, nada mal.

Ele removeu os fones de ouvido e ligou o violino no altofalante. To-


que algo simples. Eu quero te mostrar algo.

— Simples, certo disse Em, estreitando os olhos.

— Twinkle, Twinkle, Little Stars irrompeu dos alto-falantes.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Michael riu e balançou a cabeça. O que você acha disso? ele per-
guntou, pressionando algumas teclas em seu laptop.

Em engasgou quando a música amplificou. Parecia que havia ou-


tros vinte violinos tocando junto com ela. Ela repetiu a música da cri-
ança repetidamente, encantada com o instrumento brilhante enquanto
Michael manipulava o som com efeitos diferentes.

Ela havia perdido a conta de quantas vezes tocou a música quando


Michael se virou para ela. Seu tom brincalhão se foi, e seus olhos ver-
des escureceram para um sábio enfumaçado. Toque algo real. Toque
Nocturne 20 de Chopin para mim. Ele pressionou algumas teclas em
seu laptop e sua versão eletrônica da música saiu dos alto-falantes.

Em ouviu a composição sonhadora crescer em complexidade, à


medida que os elementos tecno complementavam a melodia assustado-
ra de Chopin. Sua mente esvaziou de pensamentos e preocupações. Seu
pai, a venda iminente de sua casa de infância, sua lesão e sua dor eva-
poraram como gotas de chuva beijadas pela luz do sol.

Ela passou o arco pelas cordas, mas o que saiu não foi o que Cho-
pin compôs. Como uma ourivesaria transformando metais preciosos em
obras de arte, ela tocava a música, dobrando-a e moldando-a em algo
novo.

Então a música parou. Em piscou uma vez, depois duas vezes. Ela
se deslocou para aquele lugar onde sua mente pairava entre este mun-
do e o outro.

— Você estava gravando isso?

Seus olhos verdes brilhavam com admiração e adoração. — Sim, —


ele respondeu.

Uma pontada de ansiedade surgiu em seu peito. É só para nós, tu-


do bem. Não quero mais ninguém ouvindo isso.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Eu não compartilharia com ninguém sem verificar com você —
disse ele, pegando o violino das mãos dela e colocando-o sobre a mesa.
Você quer que eu reproduza para você?

Ela assentiu. Ela não confiava em sua voz. Como música, ela nun-
ca se desviou das notas escritas na página. Como um soldado treinado,
ela seguia todas as marcações, todas as notações. Ela passou toda a
infância tocando piano e violino exatamente como o arranjo exigia. Ela
nunca sonhara em colocar sua marca em algo tão atemporal como a
peça de Chopin.

Michael sentou-se à mesa e focou em seu laptop. A tela estava


cheia de linhas irregulares e em arco, e seus dedos se moveram rapi-
damente entre as teclas e o mousepad. Estou apenas brincando com o
reverb e a compressão.

Ele bateu uma última chave e girou a cadeira. O remix encheu o ar


quando o riff de seu violino se contorceu e virou o caminho através da
explosão de som como fios vivos pulando e provocando.

Ela encontrou o olhar de Michael. Ela precisava da conexão, preci-


sava se manter de castigo neste momento.

— Este é você, Em — disse ele.

Ela fechou os olhos. A música estava em toda parte, nela, ao seu


redor. As mãos quentes de Michael seguraram seu rosto, e ela inalou o
cheiro dele. Apenas duas coisas existiam em seu mundo: Michael e mú-
sica. Ele a beijou, e o contato enviou calor pulsante ao seu núcleo.

Ela agarrou a camisa dele e envolveu o algodão macio em volta dos


dedos. Os solavancos duros dos abdominais cinzelados pressionavam
contra os nós dos dedos. Ela soltou o tecido e pressionou as mãos con-
tra a pele nua dele.

Michael tirou a camiseta, revelando um torso duro cortado com li-


nhas limpas e musculosas. Uma camada de cabelo ruivo escuro desceu

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
do umbigo até uma protuberância grossa nas calças. Em recuou uma
fração, seu olhar ganancioso devorando cada centímetro de seu corpo
cinzelado. Não era de admirar que o saco de pancadas no canto pare-
cesse batido para o inferno. Ela imaginou Michael, suado, socando e
chutando até que seus músculos alcançaram a beira da exaustão. Ela
passou os dedos pelo torso dele, memorizando cada centímetro de mús-
culo envolto em pele esticada e macia.

Michael pressionou a mão dela em seu coração.Eu nunca deixei


você ir, Em. Você sempre esteve aqui. Você sempre estará aqui. Seu
aperto aumentou e seu coração acelerou sob o toque dela, sincronizan-
do com o zumbido da música.

Ela engoliu em seco. Ele também vivia no coração dela. Ela tentou
cortá-lo, tentou encadear a parte dela que sempre seria dele. Mas esta-
va sempre lá, por mais que tentasse lutar contra isso. Seus ventos ro-
dopiantes de raiva e ressentimento não podiam destruir o lugar onde
Michael sempre viveu em seu coração.

Ele soltou as mãos dela e a levantou em seus braços. Ele caiu na


cadeira e ela montou nele como no Halloween. Mas ela não queria con-
trolá-lo e não queria usá-lo. Agora seu corpo doía pelo toque dele. Ela
choramingou de desejo quando ele levantou os lábios da pele dela por
uma fração de segundo.

A música os banhou em som e vibração, e Em pressionou seu nú-


cleo contra ele. A excitação animal correu por suas veias, e Michael sol-
tou um rosnado baixo e cru.

— Estamos melhor juntos ela sussurrou, inclinando-se para trás e


torcendo para fora da blusa.

Ele terminou o trabalho, tirando o pijama dela. — Porra, sim, nós


somos.

Michael se mexeu na cadeira e puxou as calças em um movimento


rápido, expondo seu pênis, pesado e brilhando com a semente de seu
The Sound Of Home
KRISTA SANDOR
desejo. Ela afundou nele, e seu calor úmido acolheu seu eixo duro. Ele
a esticou, polegada por polegada deliciosa, e ela soltou um suspiro irre-
gular.

— Você sente isso? Ele respirou, segurando a carne macia de sua


bunda, guiando seu corpo em fortes golpes medidos.

Ela sentiu tudo: o pulso exigente da música, seu corpo subindo de


desejo, o comprimento duro dele a preenchendo completamente. A ca-
deira rangeu e gemeu quando ela agarrou seus ombros e permitiu que
seu corpo estabelecesse um ritmo punitivo. O suor percorreu o espaço
entre os seios dela e ele lambeu a umidade. Ela observou a língua dele,
hipnotizada e embriagada pela luxúria.

Ele massageava seu clitóris inchado em círculos rítmicos perfeitos.


Em jogou a cabeça para trás, perdida em uma onda de sensações. Ele
agarrou sua bunda com ferocidade de leão e pressionou um dedo hábil
entre suas nádegas, massageando o lugar sensível que nenhum homem
jamais havia tocado antes.

Ele trabalhou o corpo dela, mais e mais fundo. Suas respirações ir-
regulares vieram em batidas quentes entre beijos. Mary Michelle, você é
tão doce e tão apertada.

O nome dela, pingando dos lábios dele, parecia tão quente e tão
sujo. Ela não conseguiu se segurar e encontrou a liberação, as pálpe-
bras tremulando, seu corpo não era mais o seu.

Ela pertencia a Michael. Ela pertencia à música. Música deles. As


notas a derramaram como uma represa se soltando. Ele se juntou a ela
em segundos, apertando sua bunda com uma força carnal que certa-
mente deixaria uma marca.

Em baixou a cabeça no ombro de Michael. Tremores de seu orgas-


mo percorreram seu corpo como uma chuva quente, deixando-a solta e
saciada. Ele soltou o aperto na bunda dela e a carne macia doía com

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
uma queimadura deliciosa oscilando no precipício tentador de onde o
prazer encontrava dor.

— Em, Michael respirou em seu ouvido quando as pontas dos de-


dos pintaram formas estúpidas nas costas dela. Senti sua falta. Eu sen-
ti tanto sua falta.

Ela encontrou o olhar dele. Ele deve ter visto a verdade nos olhos
dela, porque o sorriso torto que ele lhe deu enviou faíscas ricocheteando
o comprimento de sua coluna.

Ele se inclinou. Ouça. Apenas ouça.

O remix estava tocando em um loop sem parar. A música parecia


tão familiar agora que ela não conseguia imaginar um momento em que
essa música não fazia parte de sua alma.

— Isso é bom, Em. Não é como nada que eu já ouvi. Nós podería-
mos fazer isso. Nós poderíamos fazer música juntos.

Ela fechou os olhos, deixando a ideia enraizar-se quando uma cor-


rente de ar gelado invadiu seu corpo nu em uma rajada de gelo.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
20
Eu ofeguei e arqueei em Michael quando algo frio e úmido cutucou
sua coxa. Ele olhou para baixo e soltou um suspiro aliviado. Cody, ga-
roto! Você ficou sozinho ela perguntou, cumprimentando o intruso ca-
nino e coçando entre as orelhas dele.

Michael riu. “Eu prometo a você, Cody MacCarron é o cachorro


menos solitário de Langley Park. Kate Fisher o acompanha quase todos
os dias. E ela traz guloseimas para você, não é velho? — Ele deu uma
tapinha na barriga saliente do cachorro.

Em e Michael desembaraçaram seus corpos, e Cody pulou pela sa-


la. Michael ajeitou as calças e olhou para o relógio. Cristo, já são seis
horas. Deixe-me colocar Cody de volta em casa. Kate deve ter deixado a
porta do cachorro aberta.

Em terminou de se vestir. Eu irei com voce. Eu não estive em sua


casa desde que voltei.

Os ombros de Michael ficaram tensos quando ele puxou a camiseta


por cima da cabeça.

— O que é isso?

— A casa não está em ótima forma.

Ela pegou a mão dele. Você sabe que eu não ligo para isso.

Percebendo que era hora de partir, Cody atravessou a porta dos


cachorros da garagem e correu em direção à casa principal. Michael
apertou mais a mão dela quando se aproximaram da porta da frente.

O American Foursquare de Michael era quase uma cópia dela, ex-


ceto que, em vez de tijolo vermelho, o dele era de uma cor amarelo limão
silenciado. Quando menina, ela sabia disso como as costas da mão. A
sra. MacCarron sempre mantinha os doces escondidos em uma gaveta

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
embaixo das toalhas de prato. Ela e Michael caminhavam na ponta dos
pés até a cozinha, abriam a gaveta e passavam as guloseimas como as-
saltantes de gatos em um grande assalto. Ela sorriu quando a memória
esquentou em seu peito. A sra. MacCarron deve ter sabido o que esta-
vam fazendo. Conhecendo-a, ela provavelmente deixou os doces lá de
propósito.

Ela entrou no vestíbulo e parou. Assim como em sua casa, a esca-


da estava situada em frente ao vestíbulo. Exceto que a escada da casa
dos MacCarron foi destruída. O corrimão estava faltando, e ripas de
madeira manchada de café expresso que antes serviam como degraus
estavam em uma pilha. Alguém deve ter chegado e tentado consertar as
escadas que faltavam, mas usavam madeira compensada comum, dan-
do à estrutura uma qualidade disforme, como um projeto de arte infan-
til.

— O que aconteceu com a escada? Você fez isso? — Em perguntou,


vendo as postagens de café expresso encostadas na parede.

— Não, isso foi tudo o meu pai.

— Por que ele fez isso? Ele estava tentando consertar alguma coi-
sa?

Michael não respondeu. Ele passou por ela e entrou na cozinha.


Um zumbido mecânico baixo pulsou por alguns segundos, e Cody sol-
tou um gemido agudo. Hora do jantar dos cachorros.

Em agachou-se e olhou mais de perto as ripas. As tábuas eram afi-


adas e esfarrapadas, como se alguém usasse um pé de cabra para ar-
rancá-las do lugar.

Michael saiu da cozinha e cruzou os braços. Eu disse que o lugar


estava uma bagunça.

— Isso não é uma bagunça. Isto é…

— Insanidade? Ele ofereceu.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ela encontrou o olhar dele, mas não mordeu a isca. Ela permane-
ceu quieta, dando-lhe espaço para conversar.

— Quer se sentar? — Michael perguntou e inclinou a cabeça em


direção à sala de estar.

Ela o seguiu até o sofá .

— Eu sabia que algo estava errado com meu pai depois que minha
mãe faleceu. Ele esqueceria pequenas coisas, uma reunião aqui, um
prazo de entrega lá. Eu disse a ele que ele precisava contratar um secre-
tário jurídico. Mas você conhece meu pai, ele gostava de fazer tudo so-
zinho. Ele se orgulhava de ser auto-suficiente.

Michael passou o braço em volta dela e a puxou para perto. Ela


descansou a cabeça no peito dele, sentindo a garganta dele se contrair
quando ele engoliu.

— Ele não entrou no escritório um dia. Liguei para a casa, mas ele
não atendeu. Eu tive que cobrir todas as suas reuniões, assim como as
minhas. Então, eu não consegui parar na casa até tarde. Quando che-
guei aqui, entrei nisso - ele disse, com o olhar fixo na escada.

— O que ele estava fazendo?

O abraço de Michael se apertou. Ele estava procurando minha


mãe. Ele pensou que ela estava presa debaixo da escada. Entrei e ele
parecia tão aliviado ao me ver. Ele disse: 'Michael, temos que ajudar a
mãe. Ela está me chamando o dia todo. Ela está presa debaixo da esca-
da.

Em entrelaçou os dedos com os dele. O que você disse?

— Tentei dizer a ele que minha mãe estava morta, mas ele apenas
me encarou como se eu fosse louco. Tornou-se beligerante, começou a
arrancar a grade, atingindo os postes com um machado como um luná-
tico. Eu o observei por quase uma hora. Michael soltou um suspiro
cansado. Finalmente, eu decidi ajudá-lo. Imaginei que, se ajudasse, po-

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
deria tentar desmontar as escadas sem danificá-las completamente. Foi
isso que fizemos até meu pai ficar sem fôlego e desmaiar no sofá. Voltei
com ele dois dias depois.

Em apertou sua mão. Ela estava tão envolvida com a raiva que
nunca perguntou ao pai sobre Michael; e, quando o pai fizesse um bre-
ve comentário sobre Langley Park, ela mudaria de assunto.

Um caroço doentio, cheio de vergonha e culpa, pesava no peito. Me


desculpe, eu nunca estendi a mão para você, Michael.

Ele descansou o queixo na cabeça dela.Não teria importado. Você


conhece a reputação do meu pai. Ele era uma lenda. As pessoas o ama-
vam. As pessoas confiavam nele com tudo: seu dinheiro, seus sonhos,
seus segredos. Eu não ia deixar ninguém saber que E. Noland MacCar-
ron havia perdido a sanidade.

— O que você fez? Quero dizer, você tinha que saber que ele não
podia trabalhar?

— Eu aceitei tudo. Foi um lento declínio. No começo, eram apenas


esses episódios malucos. Ele entrava no escritório e parecia normal, en-
tão eu olhava para o que ele estava trabalhando, e seria uma bobagem.
Comecei a fingir clientes para que ele sentisse que estava trabalhando.

— Oh, Michael, — disse ela, afastando-se de seu abraço para en-


contrar seu olhar.

Ele apontou para a mesa da sala de jantar cheia de papéis. Hoje


foi a primeira vez que dormi depois das cinco da manhã em anos. Eu
tenho trabalhado muito, primeiro para manter em segredo a condição
de meu pai, e agora, para manter a empresa em andamento. Meu pai
nem me reconhece, mas não quero decepcioná-lo. Lei nunca foi o meu
sonho, mas eu serei amaldiçoado se deixar a reputação de MacCarron
cair na merda.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Em entendeu. Ela estava prestes a dizer a ele que quando uma fo-
tografia emoldurada na mesa de café chamou sua atenção. Ela olhou
para duas jovens reclinadas lado a lado nas cadeiras Adirondack na va-
randa do MacCarron. Cada mulher estava segurando um pequeno em-
brulho. As palavras Better Together foram escritas na letra de seu pai
na parte superior da foto.

Em pegou a foto. Sua mãe tinha uma cópia em uma prateleira em


seu escritório, a meio mundo de distância. Anos atrás, Em havia muda-
do as fotos, ocultando essa foto atrás de livros e bugigangas, para que
ela não precisasse olhar para ela. Mas ela sempre soube que estava lá.

Michael traçou o rosto sorridente de sua mãe com a ponta do dedo.


Estou feliz que você voltou, Em.

— Eu também, — ela respondeu quando um tremor de descrença


passou por ela, porque era verdade. Ela estava feliz por estar em casa,
feliz por estar com Michael. Todas as suas bordas irregulares suaviza-
ram quando ela estava nos braços dele.

Ele segurou o rosto dela nas mãos e deu um beijo na testa dela. É
o mais feliz que já estive há muito tempo.

Em fechou os olhos. As palavras dele caíram sobre ela em uma on-


da de felicidade de hortelã-limão, mas seu estômago vazio respondeu
antes que ela pudesse. O som alto emanando de seu estômago a fez ofe-
gar de vergonha. Eles passaram a maior parte do dia na casa da gara-
gem sem parar para comer. Sua barriga não estava satisfeita.

Michael riu uma risada fácil e a abraçou de volta. Vamos jantar.


Não podemos deixar o Wunderkind de Langley Park morrer de fome.

Ela se libertou do aperto de Michael e tentou dar-lhe o seu melhor


olhar de "foda-se", mas ambos caíram na gargalhada quando seu estô-
mago roncou novamente. Desta vez, o som foi ainda mais alto. Em colo-
cou as mãos em volta do estômago.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Michael a levantou do sofá e a jogou por cima do ombro. — Vamos,
urso crescido. Parece que você não pode sobreviver apenas com sexo.
Vamos colocar um pouco de comida em você.

Ela bateu nas costas dele e riu quando seu estômago soltou outro
coro de rosnados.

— MACCARRON! Precisamos que você quebre um empate.

Em e Michael nem haviam passado pelo limiar do Park Tavern an-


tes que alguém estivesse chamando Michael. Ela examinou o restauran-
te. Alguns fregueses estavam sentados no bar, enquanto um grupo de
homens estava sentado em uma mesa alta. Ela reconheceu o irmão de
Zoe, Ben Fisher e Sam Sinclair, mas não conhecia os outros dois ho-
mens.

Michael se inclinou e sussurrou em seu ouvido: — Parece que en-


tramos na reunião semanal da Legião Rebelde de Guerra nas Estrelas.

— O rebelde o quê? — Em perguntou, mas Ben foi rápido em en-


trar.

— MacCarron, você sabe muito bem que não fazemos parte da Le-
gião Rebelde.

Michael riu e balançou a cabeça. — The Rebel Legion é um grupo


de super fãs de Star Wars que gostam de se vestir e assustar as pesso-
as.

Ben lançou a Michael um olhar falso e incrédulo, depois encontrou


seu olhar. “Michael entendeu tudo errado, Em”. De tempos em tempos,
nos reunimos e conversamos sobre Guerra nas Estrelas.

— Ou Jenna expulsou Ben de casa por fazer seus ouvidos sangra-


rem ouvindo todas as teorias de Star Wars, — disse Sam, rindo e vaci-
lando quando Ben lhe deu um soco brincalhão no braço.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Sam a envolveu em um abraço de urso. É bom ver você, Em. Eu
estava pensando quando você viria dizer olá.

O peito de Em apertou quando ela olhou para o gigante gentil que


tinha sido como um irmão mais velho para ela com seus cabelos ruivos
e um sorriso caloroso.

— E vejo que você arrastou meu primo inútil para longe do traba-
lho. Caminho a percorrer acrescentou Sam e deu um tapa nas costas de
Michael.

— Sua cara feia não poderia fazer isso, com certeza Michael res-
pondeu com um sorriso atrevido.

Sam apontou para a mesa. Deixe-me apresentá-lo aos outros não


membros da Legião Rebelde. Ele acenou com a cabeça em direção a um
homem com cabelo curto e cortado. — Este é o nosso oficial de paz, de-
tetive Clayton Stevens.

— Apenas Clay serve disse o homem, apertando a mão dela.

— E nossa moradora Amelia Earhart, Nick Kincade - acrescentou


Sam, dando um tapa nas costas de um homem que parecia mais uma
estrela de cinema do que um piloto.

— Você é o Nick que Sam conheceu no verão em que construiu es-


colas em Honduras? — Em perguntou.

— Esse seria eu respondeu Nick. É um prazer conhecê-la, Em.

— O capitão Nick voa de avião para a UPS. Então, se um dos seus


pacotes se perder em trânsito, provavelmente é culpa desse cara.

Nick balançou a cabeça. Você não acreditaria na merda que eu tiro


desse cara. Se não fosse por toda a cerveja grátis, eu seria ...

— Você estaria onde, Kincade? — Sam perguntou, olhos dançando.


No The Scoop, pegando um saque suave com crianças de seis anos de
idade?

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Nick olhou pela janela, avaliando a opção. — Você sabe, uma co-
lher tripla não parece tão ruim.

Sam balançou a cabeça. — Bem, se você for, me traga de volta uma


caneca de chips de hortelã. Enquanto isso, vou roubar a pequena Miss
Mary Michelle.

Michael encontrou seu olhar. Não por muito tempo, — disse ele,
seus olhos verdes escurecendo.

— Eu vou trazê-la de volta em um instante, — disseSam por cima


do ombro enquanto levava Em para o bar.

— Este lugar é lindo, — disse ela, admirando o bar Cherrywood


cintilante e as fileiras de espíritos brilhando em ouro e âmbar sob as
luzes quentes do bar.

Sam parou atrás do balcão e limpou um local com um pano de


prato. É um trabalho de amor respondeu ele, mas sua voz havia perdido
seu tom de provocação.

Sam apoiou os braços no bar. Ouvi dizer que você está fazendo vi-
agens para Sadie's Hollow?

— Zoe te contou? Em atirou de volta.

— Não fique com raiva. Ela se importa com você, Em.

Eu sei que ela faria qualquer coisa para ajudá-la.

— Eu sei. Eu sei que você está certo, Sam. É apenas…

— Só que é difícil deixar de lado a raiva, a decepção, a perda? Sam


ofereceu.

Ela assentiu. Não adiantava negar. Eu preciso saber o que aconte-


ceu comigo naquela noite.

— E Michael está ajudando você a descobrir isso?

— Sim.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Sam olhou para as tatuagens que apareciam sob as mangas arre-
gaçadas. Isso é bom. Ele precisa disso. Tudo o que ele faz é trabalhar
duro e cuidar de seu pai. Isso não é uma vida.

Em desviou o olhar, sem saber o que dizer.

— Ele precisa de você, Em. Ele sempre precisou. E tenho certeza


de que você também precisa dele. Vocês dois são a grande esperança da
corrida do gengibre acrescentou com um sorriso irônico.

— Gingers conspiram para governar o mundo, — disse Zoe, cami-


nhando em direção a eles.

Sam abriu a tampa de uma Boulevard Pale Ale e a entregou a Zoe.


Se escondendo no banheiro de novo?

Zoe soltou um suspiro exasperado. Eu amo Guerra nas Estrelas.


Não me interpretem mal. Quero dizer, eu estava enlouquecendo a prin-
cesa Leia no Halloween por cinco anos seguidos quando eu era criança.
Mas não posso lidar com outro debate sobre qual ordem você deve as-
sistir aos episódios.

A voz de Ben percorreu a taverna. Você precisa assistir aos episó-


dios de quatro a seis, primeiro.

— E então assista de um a três Nick entrou na conversa. — Caso


contrário, você sentirá falta da grande revelação de Luke ser filho de
Vader.

Ben e Nick tilintaram nos copos como se tivessem resolvido o


aquecimento global.

— Ben tem Star-dar. Ele pode sentir uma discussão sobre Guerra
nas Estrelas em qualquer lugar num raio de oito quilômetros - disse
Zoe, soprando um beijo exagerado no irmão mais velho.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Sam saiu do bar e foi para a mesa dos homens. “Caras De jeito ne-
nhum”! Cronológico é o caminho a percorrer. É a ordem natural. Ste-
vens, MacCarron, me apoiem, pessoal. —

Zoe se inclinou na direção de Em. Elas viram a mesa irromper em


um debate acalorado.

— “Nem mencione que Jar Jar seja o que for ou você ficará presa
aqui por dias”, — disse Zoe com uma risada trêmula.

Em conhecia aquela risada estranha. Seu coração torceu ao saber


que sua velha amiga estava nervosa.

Zoe continuou. Sam apresentou você para os caras?

— Sim, o detetive da polícia, Clay, e o piloto, Nick.

Zoe se inclinou. Sam disse a você que Nick costumava namorar a


esposa de Ben?

— Não, ele não mencionou nada disso. Eu sabia que Nick era ami-
go de Sam há muito tempo, mas nada sobre a esposa de Ben. Jenna,
certo?

— Sim, é ela. E sim, é uma coincidência louca.

— E eles se dão bem? — Em perguntou.

— Não no começo, mas, ao que parece, Nick é tão geek de Star


Wars quanto Ben. Você sabe caras, segundos depois de saberem que
ambos acamparam para comprar o primeiro ingresso para o último fil-
me de Guerra nas Estrelas, eles se tornaram amigos pela vida toda.

— Então, Em perguntou, mudando a conversa,você e Sam...

O sorriso de Zoe caiu um pouco, mas ela o colou de volta no lu-


gar.Estamos ótimos. Nós somos grandes amigos.

Essa não era a verdade, mas Em assentiu. Ela viu o jeito que Zoe
estava assistindo Sam na noite de Halloween. Naquele breve momento,

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
ela sabia que os sentimentos de Zoe por Sam foram muito mais profun-
dos do que apenas grandes amigos.

Uma garçonete apareceu carregando um sanduíche de queijo gre-


lhado. Foi torrado com perfeição e escorrendo com queijo derretido. Ela
colocou o prato na barra junto com um leite com chocolate. O cara ali
pensou que você poderia estar com fome. Ele mandou isso para você.

Em olhou para a mesa do cara e encontrou o olhar de Michael. Ele


a observou com um sorriso largo. Ela balançou a cabeça e murmurou:
Obrigada.

Zoe pegou uma batata frita do prato. Ele lembrou da sua refeição
favorita. Leite com chocolate e tudo.

Um rubor quente aqueceu suas bochechas.

Zoe não pareceu notar e tomou um longo gole de cerveja. — Estou


feliz por ter encontrado você hoje à noite. Eu queria ver como estava
indo a caçada da ponte. Alguma coisa mexe com sua memória?

Zoe queria ajudá-la. Ela podia ver a necessidade brilhando nos


olhos de sua velha amiga.Não, visitamos algumas pontes, mas nada cli-
cou. Algo estranho aconteceu, no entanto. Duas coisas, na verdade.

Zoe se inclinou. Algo que você lembrou?

— Não, vimos Kyle Benson. Ele estava tirando fotos de algumas


das lápides antigas no pequeno cemitério perto de Sadie's Hollow. —
ele disse que era para alguma coisa histórica da sociedade.

Zoe assentiu e bateu mais uma batata. Agora que ele está meio
preparado para concorrer a um cargo estadual, eu o notei assumindo
mais projetos comunitários centrados no Kansas provavelmente tentan-
do suprir seu currículo. Mas, tenho que lhe dizer, não sei se ele real-
mente quer concorrer a alguma coisa. O conteúdo bonito do cara com
apenas tirar fotos. Parece muito importante para a mãe dele. Ela dirá a
quem quiser ouvir. Você se lembra dela, enfermeira Ratched.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Em riu. O humor contundente de sua velha amiga estava borbu-
lhando de volta à superfície. Sim, tivemos alguns desentendimentos
desde que voltei. Mas ela foi gentil comigo outro dia. E sei que ela foi
boa com meu pai.

— Estou feliz, — disse Zoe.Talvez ela esteja calma. E a segunda


coisa?

Em deu a Zoe um olhar confuso.

— Você disse que duas coisas estranhas aconteceram quando você


visitou o buraco.

— Sim disse Em, mordendo seu sanduíche. — Você sabe o nome,


Tina Fowler?

Os olhos de Zoe se arregalaram. Eu faço. Fizemos uma história so-


bre ela para a Rádio Pública do Kansas, há alguns anos, pelo aniversá-
rio de dez anos de sua morte. Se bem me lembro, ela morreu em um
acidente, e eles nunca pegaram o agressor. A pequena cidade de onde
ela era ainda arrecada dinheiro para o clube 4-H local. Não apareceu
nos jornais de Kansas City quando aconteceu. A cidade fez muito para
manter sua memória viva foi o que atraiu o KPR à hisFowler

Os pensamentos de Em vagaram. Algo sobre a morte de Tina


Fowler arranhou sua mente.

— O que fez você perguntar sobre o sucesso e fuga de Fowler? Zoe


perguntou.

— Michael e eu paramos em uma lanchonete em Garrett, — res-


pondeu Em. Conhecemos uma garçonete que conhecia a garota.

— Essa área foi atingida com força. Eles costumavam ter uma fá-
brica de cimento que empregava literalmente todo mundo que não era
agricultor por aí. A fábrica faliu ou foi fechada. Não me lembro. Isso
aconteceu anos atrás. Enfim, essa Tina Fowler foi morta. Ela era algum

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
tipo de garota de ouro para a comunidade. A foto dela ainda está na
maioria das pequenas lojas e restaurantes.

— Sim, — disse Em. Você deveria ter ouvido a garçonete falar so-
bre ela.

A sensação incômoda em sua mente se transformou em um zum-


bido. Algo estava lá, mas ela não podia aproveitar o pensamento por
tempo suficiente para processá-lo.

Zoe tamborilou com os dedos no bar.

— O que é isso? — Em perguntou.

— Eu teria que checar duas vezes para ter certeza absoluta, mas
acho que Tina Fowler pode ter morrido na mesma noite em que você se
machucou em Sadie's Hollow.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
21
A cabeça de Em zumbia com um tambor inebriante. Isso não pode
estar certo, Zoe. A garçonete da lanchonete disse que Tina foi morta in-
do para o trabalho nas primeiras horas, como as quatro da manhã.

Zoe se inclinou. Michael e eu não te encontramos até, Cristo, eu


não sei? Oito ou oito e meia da manhã.

O zumbido se intensificou e se espalhou por todos os cantos de


sua mente.

— Chegamos ao vazio por volta das dez e meia da noite, continuou


Zoe.Lembre-se, você teve uma apresentação naquela noite, então saí-
mos tarde.

Em assentiu. Ela teve que se concentrar, mas algo no fundo de sua


mente ansiava por ser revelado. — Provavelmente já era quase meia-
noite quando Michael me deixou para começar como o DJ da festa.

— Isso deixa uma janela de pelo menos oito horas, Em. Oito horas
que você não se lembra e oito horas ninguém se lembra de ter visto vo-
cê.

— Ei. — disse Michael, assustando-as. Você conseguiu comer o su-


ficiente? Só pergunto por que Clay acabou de mencionar Jar Jar Binks.
Nós saímos agora ou estamos presos aqui por pelo menos mais duas
horas.

— Conversaremos mais tarde, Zoe disse Em, processando essa no-


va revelação.

— OK. Vou investigar mais isso. Zoe pegou o telefone e rolou a lista
de contatos. Posso verificar com o repórter que cobriu a história.

Em colocou a mão no antebraço de Zoe, e Zoe encontrou seu olhar.


Um olhar cheio de segredos sussurrados, pratos compartilhados de bis-

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
coitos de chocolate e dias passados vendendo bicicletas lado a lado pas-
saram entre eles.

— Obrigado, Z.

Zoe assentiu e piscou para conter as lágrimas. Eu vou deixar você


saber o que eu descobrir.

MICHAEL APERTOU a mão de Em quando eles deixaram o Park Ta-


vern. Consegui afastar Ben do debate de Guerra nas Estrelas por tempo
suficiente para discutir seu Quadrangular. Ele queria que eu lhe dis-
sesse que ele terminará esta semana para ajudá-la a descobrir o que
precisa ser feito antes de colocar a casa no mercado.

Um calafrio passou por ele, mas não era do frio. Ele faria tudo o
que estava ao seu alcance para ajudar o Dr. MacCaslin a pagar por sua
cabana no Senior Living Campus, mas o pensamento de outra pessoa
morando no Quadrangular de Em bateu como um soco no estômago.

Em não respondeu. Pelo canto do olho, ele a observou assentir.


Mas sua mente estava em outro lugar.

Ele apertou a mão dela. Você está bem?

— Podemos andar um pouco antes de voltarmos para casa? — Ela


perguntou. Sua voz soou distante.

— Claro, vamos caminhar pelos jardins.

Eles foram para o leste na Bellflower Street e passaram pela praça


da cidade. Em soltou a mão e ligou o braço dela. Eles andaram em um
ritmo confortável quando ela se inclinou para ele.

Era uma noite fria, mas não fria. As luzes quentes que cruzavam a
praça da cidade eram sua única companhia. A sorveteria em frente ao
Park Tavern havia fechado a loja à noite e as famílias de Langley Park

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
estavam em casa em segurança, colocando as crianças na cama e pla-
nejando a semana seguinte.

— O que você está pensando, Em?Ele perguntou quando atraves-


saram a rua e entraram no Jardim Botânico de Langley Park. As árvo-
res estavam iluminadas com luzes em preparação para as férias, e os
jardins brilhavam em tons de vermelho, verde, azul e branco.

Em apertou seu aperto em seu braço. Lembra da Tina Fowler? A


garota que morreu naquele golpe e corre.

— Claro. É uma história trágica.

— Eu mencionei isso para Zoe, e ela sabia tudo sobre isso porque a
Kansas Public Radio fez uma história sobre os dez anos de sua morte,
alguns anos atrás.

— OK. Não sei para onde você está indo com isso.

— Zoe acha que meu acidente pode ter acontecido na mesma época
em que Tina Fowler foi morta.

Michael pensou na interação com a garçonete. Mas Tina morreu de


manhã cedo a caminho de ajudar a abrir a lanchonete no café da ma-
nhã.

— Certo. Mas você e Zoe não me encontraram até as oito da manhã


e me deixou por volta da meia-noite para atuar como DJ.

O coração de Michael se apertou com a lembrança. Sim, eu não es-


tava olhando para um relógio, mas a meia-noite parece certa.

— Há quase oito horas em que não posso explicar o que aconteceu.


Só faz sentido que eu tenha sido ferida em algum lugar entre meia-noite
e oito da manhã.

Michael deixou a linha de tempo afundar. Cristo, ela estava certa.


Mas isso não significava automaticamente que os eventos estavam co-
nectados.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
- Em, a lanchonete fica a pelo menos dez minutos de carro de Sa-
die's Hollow. Quais são as chances de você ter se desviado tanto?

— Eu não sei. Eu sei que não faz muito sentido, mas é uma coinci-
dência bem estranha, certo? Quero dizer, quantas batidas e corridas
você acha que acontecem em uma cidade desse tamanho? Não podem
ser muitos.

"Concordo. É uma coincidência estranha, mas não vejo como os


eventos estão conectados. Você tinha arranhões nos joelhos e estava
coberto por algum tipo de poeira calcária. Mas a única lesão real foi na
sua mão. Parece que ninguém tentou fazer algo tão extremo quanto o
que aconteceu com a pobre Tina Fowler. E nós nem sabemos...

Em soltou um longo suspiro. Nós nem sabemos se havia alguém na


minha situação. Poderia ter caído como todo mundo em Langley Park
pensa, e eu realmente sou aquela garota imprudente que ficou bêbada e
chapada e se machucou. Talvez eu esteja agarrando palhinhas, qual-
quer coisa que prove que não fiz isso comigo mesma de propósito. Não
tenho muito tempo para descobrir tudo isso.

Ele a levou até um banco. Nós vamos descobrir isso. Nós vamos
encontrar as respostas. Só não sei se Tina Fowler faz parte da equação.

Cristo, ele desejou ter uma porra de uma bola de cristal que lhes
daria a resposta. Ele desejou poder estalar os dedos e Em não teria que
sair, não teria que vender o Quadrangular. Seu coração afundou. Eles
foram feitos para ficar juntos.

Ele fechou os olhos e encostou a testa na dela. Ele tentou ser posi-
tivo. Uma coisa de cada vez, MacCarron. Ela não vai embora amanhã.
Há tempo. Ele repetiu o mantra como uma oração.

— Você ouviu isso? Em inclinou a cabeça. É música.

Ele ouviu também. A batida de um-dois-três da “Valsa de Viena” de


Johann Strauss sussurrou no ar noturno.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ele balançou a cabeça e riu. Eu acho que sei o que é isso. Vamos.

Michael levou Em em direção ao pavilhão que dava para o lago Bo-


ley. Hoje à noite, o pavilhão geralmente aberto estava equipado com
abas brancas.

Os contornos das pessoas dançando lá dentro o lembraram de


quando ele e Em se deitaram no chão do quarto com uma lanterna en-
quanto seus dedos criavam cães latindo e borboletas voando no teto.

— São os cotilhões do ensino médio.

— Cotilhão? — Em perguntou.

— Sim, você aprende as maneiras da mesa e como não quebrar o


vento em público. É como a Etiqueta 101 e o pior pesadelo de um ado-
lescente.

Em riu. — E a valsa?

— Essa é a pior parte — disse ele, enquanto observavam as som-


bras se moverem em pares estranhos. Você tem que dançar com uma
garota enquanto os acompanhantes adultos cuidam.

— Pelo menos eles conseguem ouvir uma bela peça de música dis-
se Em, balançando ao ritmo.

— Posso dizer por experiência própria que essa é a última coisa em


que essas crianças estão pensando.Michael acrescentou com um sorri-
so.

Em fechou os olhos e se inclinou para ele.

Ele teve uma ideia. Ele levantou as mãos unidas e apoiou a palma
da mão nas costas dela.

Os olhos de Em se abriram. O que você está fazendo?

— Valsa. Você sabe, o passo da caixa. Mas não me lembro se estou


no topo da caixa ou se você deveria estar no topo da caixa.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Em relaxou em seus braços.Eu não sei nada sobre caixas. Além
disso, você está perguntando à garota errada. O mais perto que eu já
cheguei de uma dança foi a preparação para as danças na escola em
que trabalhei na Austrália.

— Mas você não trabalha em uma escola para crianças surdas? Ele
abandonou a valsa e voltou a balançar de um lado para o outro.

O rosto de Em se iluminou.Só porque eles não conseguem ouvir,


não significa que eles não gostam de música e dança. Eles sentem to-
talmente a batida, especialmente com bateria. As pessoas estão desen-
volvendo instalações realmente legais que transformam ondas sonoras
em luzes e vibrações. A comunidade de surdos realmente abraçou isso.

— Você é feliz na Austrália? As palavras escaparam antes que ele


pudesse detê-las.

Em desviou o olhar, mas justamente quando ele pensou que ela


não iria responder, ela encontrou seu olhar.

— Eu precisava da Austrália. Eu precisava fugir depois de me ma-


chucar. Eu estava tão perdida.

— Sinto muito ele começou, mas ela o interrompeu.

— Por favor não. Não peça desculpas novamente. Eu estava com


raiva. Tão brava, Michael. Mas eu sei que você e Zoe nunca quiseram
que eu me machucasse. Eu acho que sempre soube disso. Eu simples-
mente não tinha mais nada para me segurar. A música se foi. Eu me
senti como a vida como eu sabia que tinha acabado. Transformei toda
essa raiva em culpar você e Zoe.

Seus olhos azuis se aprofundaram com emoção.

— O primeiro ano foi difícil. Eu queria ficar na cama o dia todo.


Mas minha mãe e minha avó acreditavam firmemente que o trabalho é
bom para a alma. Se eu não estava no Centro ajudando minha mãe,
estava com minha avó Mary. Então, passei a maior parte do meu dia em

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
silêncio, comunicando-me através da linguagem de sinais. Só pude as-
sinar com a mão direita por um tempo, o que foi irritante, mas, com o
passar do tempo, minha mão esquerda ficou mais forte.

— Fiquei triste ao ouvir que sua avó morreu. Eu gostaria de poder


tê-la conhecido.

Os olhos de Em brilharam. Não lidei bem com a morte dela. Eu só


estava de volta na Austrália há alguns anos, e então ela se foi. Comecei
a sair, beber, usar toda aquela maquiagem. Foi quando comecei a lem-
brar mais do que aconteceu comigo.

— Eu não acho que você se lembrava mais do que essas poucas


coisas.

— Homens altos, uma ponte esburacada e a peça Paganini,Em ofe-


receu.

Michael assentiu. Sim, tem mais?

Em balançou a cabeça. Não, mas às vezes quando eu era impru-


dente, como realmente fora de controle com álcool ou sexo, eu me sen-
tia como se estivesse de pé nessa borda, como se as respostas estives-
sem presas em algum lugar na minha cabeça, mas fora de alcance.
Quanto mais imprudente eu era, mais me sentia perto de lembrar a
verdade.Ela desviou o olhar. Não tenho orgulho da pessoa que me tor-
nei.

— Em, você fez o que tinha que fazer para sobreviver. Eu não estou
te julgando. Eu nunca pensaria menos de você.

Seus lábios se curvaram no fantasma de um sorriso. Bem, você


conhece minha mãe. Ela não iria me aguentar ficar a noite toda. Ela me
deu um ultimato: reuni-lo e conseguir um emprego de verdade como
assistente de professor na escola do Centro ou sair. Minha avó me dei-
xou um pouco de dinheiro depois que ela faleceu, mas eu só tive acesso
depois que completei vinte e um. Então, eu estava praticamente sem

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
dinheiro. Aceitei o trabalho e era a melhor coisa para mim na época.
Isso me deu um amortecedor da música. Você sabe, até alguns anos
atrás, eu não conseguia nem ouvir alguém assobiando na rua. E as cri-
anças tornaram fácil esquecer. As oito horas que eu passava na escola
todos os dias eram como um refúgio de toda aquela raiva que tomava
conta de mim.

A valsa de Strauss terminou e o Jazz Suite No. 2 de Shostakovich


encheu o ar como uma trilha sonora alegre para um trapézio voador.

— Você não respondeu minha pergunta, Em. Você é feliz na Aus-


trália?

Eles balançavam juntos à luz da lua cercada por árvores projeta-


das em luzes cintilantes. Era o tipo de noite que inspirava histórias en-
cantadas de cavaleiros corajosos e donzelas sonhadoras. Com os cabe-
los soltos em ondas soltas e a luz suave aquecendo seus traços, Em pa-
recia uma princesa de conto de fadas, sem idade em beleza e graça.

Ela só estava em casa há pouco mais de uma semana. Mas aquela


semana parecia uma vida inteira. Ele deixou de viver todos os dias, con-
tando as horas, e esperando a próxima crise com o pai, contando os se-
gundos até que ele pudesse passar as mãos pelos cabelos dela e fazê-la
tremer com seu toque.

Ela encontrou o olhar dele, e ele quase se afogou nas infinitas pis-
cinas azuis.

— Agora é o mais feliz que já estive em doze anos.Ela mordeu o lá-


bio. Não, isso não está certo.

A incerteza passou por ele. Ele tentou falar, mas ela o silenciou
pressionando o dedo indicador nos lábios dele.

— Eu nunca fui tão feliz como agora, aqui com você.

Ele segurou o rosto dela. Estamos melhor juntos, ele sussurrou,


alívio e esperança amarrando suas palavras.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Em ficou na ponta dos pés e pressionou os lábios contra os dele.
Algo além deste mundo passou entre eles. Um contrato silencioso que
não exigia advogados ou notários. Uma conexão que foi profundamente
profunda.

Michael a abraçou e a levou para um local privado atrás do pavi-


lhão. O som de risadas e tilintar de copos cantarolavam sobre a música
que flutuava debaixo das abas da tenda como sinais de fumaça cha-
mando-os de volta a um lugar que apenas os dois sabiam encontrar. A
parte dançante do evento de cotilhões havia terminado, e a série de val-
sas desapareceu quando o Nocturne 20 de Chopin, em C Sharp Minor,
fluiu da tenda como raios de sol quente.

Aquela música. A música deles.

Ele a levantou contra a lateral do pavilhão, e a respiração deles fi-


cou mais urgente, mais irregular. Com uma mão apoiando sua bunda,
Michael alcançou entre suas coxas.

— Quanto você gosta dessas calças? Ele rosnou, sentindo o tecido


fino que separava o sexo dela do seu toque.

Ele a acariciou através da barreira fina.

— Não muito ela respirou.

— Bom, — ele disse e rasgou o material em pedaços. Ela não esta-


va usando calcinha. Jesus, Mary Michelle! Primeiro, aquelas shorts de
pijama e agora essas calças justas. Por mim, nunca mais quero que vo-
cê use calcinha.

Ela riu em seu ouvido, mas ele a silenciou, desfazendo as calças,


libertando seu pau e deslizando profundamente dentro dela. A onda do
ar frio da noite e o calor da união provocaram um inferno onde seus
corpos se encontraram e se tornaram um. A necessidade de reivindicá-
la surgiu através dele como uma tempestade furiosa em mar aberto.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ondas bateram e rosnaram na batalha da natureza entre caos e har-
monia.

Michael agarrou a bunda de Em e guiou seu corpo para cima e pa-


ra baixo em movimentos constantes.Eu nunca quero te perder de novo,
— disse ele, dobrando o ritmo.

Ela respondeu com um suspiro emaranhado de gritos de prazer.


Ela enrijeceu os músculos e entrelaçou os dedos nos cabelos dele. Ele
podia sentir o tremor apertado de seu núcleo quando ela se aproximou
da liberação. Ele encontrou sua boca com um beijo feroz, sufocando
seus gritos quando seu corpo estremeceu ao redor de seu pênis.

Ele encontrou o ritmo perfeito, e os músculos de seus braços flexi-


onaram e contraíram. Incapaz de se segurar, ele se juntou a ela, voando
sobre a borda. Sua respiração, seus gritos e o deslizar de seu corpo con-
tra o dele produziram o trio de som mais sexy que ele já ouvira.

Em exalou um pequeno zumbido satisfeito, e Michael inalou o leve


aroma de laranja de seu xampu. Eles sempre seriam melhores juntos.
Em pertencia a Langley Park. Ela pertencia a ele. Ele não tinha muito
tempo, mas usaria cada minuto que tinha para provar isso a ela.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
22
Apoiei-me no balcão da cozinha do seu Quadrangular e entreguei
uma caneca de café a Ben Fisher. — A casa está realmente se unindo.
Vocês fazem um trabalho incrível.

As últimas semanas voaram em uma enxurrada de artesãos traba-


lhando para atualizar e reparar a casa antiga. Uma nova camada de tin-
ta havia introduzido os últimos traços de fumaça de tabaco, e sua casa
de infância estava se transformando de um espaço preso na década de
1950 em uma sofisticada casa pronta para morar.

— Está parecendo bom.Ben inspecionou o recém-instalado piso de


madeira manchada de café expresso na cozinha do Quadrangular, onde
descansava o linóleo usado. Michael está por aí?

Ela sorriu. Ela e Michael haviam caído em um ritmo confortável


nas últimas três semanas. De segunda a sexta-feira, ela visitava o pai e
supervisionava as reformas enquanto Michael passava longas horas no
escritório. Aos sábados, eles visitavam pontes perto de Sadie's Hollow.
E, embora nada de relevante tivesse surgido, eles estavam constante-
mente percorrendo a lista que Zoe havia reunido.

Os domingos eram gastos na cama, encontrando novos usos para


as pérolas da vovó, e a cada momento eles não eram um emaranhado
de corpos contorcidos e suados, eles estavam na casa da garagem com-
pondo, misturando e fazendo música juntos.

Em tomou um gole de café. Não, ele teve que ir se encontrar com


um cliente. As pessoas parecem gostar de mudar suas vontades duran-
te as férias.

— Mas hoje é dia de ação de graças!

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Michael diz que as pessoas ficam um pouco chapadas por esta
época do ano. Um sobrinho que escolhe ir a Cabo durante as férias, em
vez de voltar para casa para homenagear a tia-avó.

— Ah, a vida de ser o advogado mais confiável de Langley Park, —


disse Ben e foi em direção à porta da frente.

Em sorriu com o comentário e agarrou o casaco dela quando eles


passaram pelo vestíbulo.

— Você precisa que eu te deixe em algum lugar? Ben perguntou,


enrolando um lenço no pescoço.

— Não, obrigada. Eu me sinto bem com uma caminhada. Eu que-


ria pegar um strudel para meu pai naquela pequena padaria no centro
da cidade antes de tudo terminar esta tarde no Dia de Ação de Graças.

— Você e Michael estão indo para o Campus de Vida Sênior hoje?

— Sim, Michael diz que eles fizeram uma boa divulgação no Dia de
Ação de Graças. Além disso, nós dois podemos estar com nossos pais
dessa maneira.

— Como está a Noland?

— Ele tem dias bons e ruins. Eles ajustaram seus remédios e ele
não teve nenhum episódio violento recentemente.

— É bom ouvir isso disse Ben. Ele apertou o chaveiro e destrancou


o carro. - Envie meus cumprimentos ao seu pai e ao Sr. MacCarron. E
não se esqueça, a festa de férias dos meus pais está a apenas algumas
semanas de distância. Minha mãe está convencida de que você e Mi-
chael se juntam a nós este ano.

— Nós não faltaríamos.

O carro de Ben desapareceu na Foxglove Lane. Em apertou o cinto


de seu casaco e partiu em direção ao centro da cidade. Enquanto cami-
nhava, ela começou a analisar todas as coisas que ainda precisavam ser

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
feitas com a casa. Ben estava facilitando a conexão com contratados
respeitáveis, mas ela ainda precisava escolher um corretor de imóveis e
tirar fotos profissionais.

Ela realmente iria vender esta casa? Não havia escolha. Ela teve
que. O pai dela precisava da receita da venda do Quadrangular para
comprar sua casa de campo assistida. Era tão simples assim.

Ela pegou o telefone e examinou uma lista de corretores de imóveis


locais. Alguns pareciam promissores. Ela continuou rolando para baixo
quando entrou em um corpo na calçada.

— Perdão. Sou completamente culpada por andar distraída, ela


disse.

— Pode ser assim que nos cumprimentamos, respondeu Kyle e


ajustou a bolsa da câmera.

— Ei, Kyle! Estou tão feliz por ter encontrado você. Ela olhou para
a bolsa. Preciso contratar um fotógrafo para tirar algumas fotos do meu
Quadrangular. Você já fotografou casas?

— Eu tenho. Kyle mudou de um lado para o outro. Eu já trabalhei


bastante fotografando casas antigas para várias sociedades históricas
no Kansas e Missouri.

— Posso ver algumas amostras do seu trabalho? Você tem um


website?

Ele desviou o olhar e balançou a cabeça. Nenhum desses trabalhos


está online. Eu tenho as fotografias impressas na minha casa.

Em olhou para o relógio. Eram dez e pouco. Ela tinha pelo menos
algumas horas antes de encontrar Michael no Senior Living Campus.

— Eu tenho algum tempo agora, ela ofereceu. Você ainda mora em


Langley Park, certo?

Ele assentiu e mudou de posição novamente. Sim.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Você mora perto da casa da sua mãe? Ela não estava no lado
oeste do Langley Park?

O sorriso dele tremeu. Eu moro na casa de garagem da minha mãe.


Eu tenho um apartamento no segundo andar. Parece meio patético, não
é?

Em encontrou seu sorriso nervoso com um sorriso tranquilizador.


Kyle, moro com minha mãe há doze anos. Sou a última pessoa que o
julgaria por morar na casa de garagem de sua mãe.

— LAR DOCE LAR, — DISSE Kyle, abrindo a porta lateral de sua casa
de garagem.

A parte da garagem do primeiro andar continha o que parecia ser


um carro sob uma lona grossa. O espaço restante estava abarrotado de
caixas.

Em levantou a borda da tela. Este não é seu caminhão, é?

— Não, não, respondeu Kyle, colocando a tela de volta no lugar.


Apenas o velho batedor que eu costumava dirigir no ensino médio.

— Michael manteve seu Range Rover na escola. O que há com os


caras e seus primeiros carros?

Kyle apontou para a escada que levava ao segundo andar. Nem


sempre é fácil dizer adeus ao passado.

Ela encontrou o olhar de Kyle. Sim, eu sei o que você quer dizer.

Ela subiu as escadas e ouviu os pesados passos de Kyle nos de-


graus atrás dela.

— Você teve alguma sorte em descobrir o que aconteceu naquela


noite em Sadie's Hollow? Ele perguntou.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ela entrou no apartamento da casa da garagem. O espaço retangu-
lar foi dividido em cozinha, área de estar e jantar. Uma mesa grande do
outro lado estava cheia de fotos e equipamentos de fotografia.

— Não, Michael e eu visitamos várias pontes na área, mas nada


clicou ainda.

Kyle acendeu algumas lâmpadas e vasculhou uma pilha de fotogra-


fias. Sinto muito por ouvir isso. Deixe-me pegar algumas dessas fotos
da casa para você. Como você pode ver, minhas habilidades organizaci-
onais não são de primeira qualidade.

Enquanto Kyle folheava as fotos, Em estudou sua estante. Ele ti-


nha várias cenas pastorais emolduradas, alguns clássicos bem usados
de Steinbeck e Dickens, e um violino estava dormente sob uma camada
de poeira.

— Não está mais tocando muito violino?

— Não, — ele respondeu vasculhando outra pilha. Eu parei de to-


car depois do colegial.

Uma nova cópia em papel da Democracia na América de Tocqueville


estava na prateleira. Sua coluna era lisa e sem vincos ou rachaduras.

Em levantou o livro. — Isso é para ajudar com toda a coisa do se-


nado estadual?

Kyle ergueu os olhos da pilha de fotos. Minha mãe pegou isso para
mim. Mas nada está escrito em pedra ainda. O cara que ocupa o assen-
to agora foi preso com sua amante de dezenove anos e tem um passado
cheio de má conduta sexual. O jornal fez uma exposição completa sobre
ele. Alguns ativistas locais que conheci através do meu trabalho com a
Sociedade Histórica demonstraram algum interesse em me candidatar,
mas ainda é cedo no processo.

— Tenho certeza que eles querem alguém sem esqueletos no armá-


rio depois de algo assim disse Em e devolveu o livro à prateleira.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Kyle deu um sorriso tenso. Vou ver se há mais algumas fotos de
casa no meu quarto.

Em folheou a cópia gasta de Grapes of Wrath quando o som das


gavetas abrindo e fechando encheu o pequeno apartamento. Ela folheou
algumas páginas do livro e descobriu uma fotografia de uma mulher
segurando um bebê. Ela a reconheceu. A mulher era uma Anita Benson
mais jovem e mais feliz. Havia um homem, quase a imagem cuspida de
Kyle, parado à sua esquerda com o braço em volta do quadril. Uma ga-
rota, possivelmente no início da adolescência, ficou à direita de Anita. A
jovem parecia familiar com o cabelo castanho-claro pendurado em me-
chas moles.

Mindy Lancaster?

Em olhou para a foto. Ela deixou cair quando sentiu um toque em


seu ombro.

— Eu não quis te assustar, — disse Kyle, recuperando a foto.

Em estava focada na garota. Esta é Mindy Lancaster?

Kyle assentiu. Sim, essa é minha tia Mindy.

— Tia Mindy? Em repetiu. Eu não sabia que você era parente dos
Lancasters?

— Meu pai era o irmão mais velho de Mindy. Ela era muito mais
nova que meu pai, quinze anos mais nova. Meu pai morreu logo após a
foto ser tirada. Kyle apoiou a foto na prateleira. É a única foto que te-
nho dele. Um incêndio destruiu todas as fotos e lembranças de quando
eu era bebê.

— Sinto muito, Kyle. Você se lembra muito dele?

— Não, na verdade não.

— E Mindy? Vocês dois estão perto?

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Não, respondeu Kyle. Sua expressão passou de amigável para
vazia. Aqui estão as fotos da casa.

Em tirou a pilha de fotos. Kyle, me desculpe. Eu não quis bisbilho-


tar sua vida. Eu estava apenas folheando o livro e...

— Não é grande coisa, Em, — disse ele. Seu sorriso estava de volta
no lugar. Você pode levar as fotos com você. Deixe-me saber se e quan-
do você gostaria que eu fotografasse sua casa.

Um relógio na parede marcava como um bibliotecário irritado tam-


borilando nas unhas. Um silêncio constrangedor se espalhou entre eles.
Ela queria perguntar a Kyle mais sobre sua conexão com Mindy Lancas-
ter, mas ele já estava indo em direção à porta.

A reunião improvisada terminou.

EM ABRIU a porta da sala de Artes e Ofícios do Senior Living Cam-


pus.As enfermeiras disseram que eu te encontraria de volta aqui. Você
quer que eu te ajude.

Michael se inclinou e parou a pergunta com um beijo. Ele enterrou


as mãos nos cabelos dela, transformando suas ondas suaves em uma
bagunça desarrumada. Ele a empurrou contra a porta. Seu pênis se
esticou contra suas calças e pressionou sua barriga. Ela deixou escapar
um gemido delicioso. Aquele pau magnífico havia sido enterrado pro-
fundamente dentro dela nesta manhã.

— Eu senti sua falta, — disse ele entre beijos.

— Michael, ela respirou. Estamos dentro da sala de artes e ofícios


de uma comunidade de aposentados.

— Sim, — ele respondeu, plantando uma linha de beijos quentes


ao longo de sua mandíbula. Não passa muito de você, Em.

— E se alguém vier aqui? Isso não seria bom.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ele apalpou o peito dela. O que não é bom é o fato de você ainda
estar usando sutiã.

A mão dele abandonou o cabelo dela e agarrou sua bunda. Doce


Cristo, adoro quando você veste calças justas.

Ela estava usando outra saia, meia-calça, botas combinadas. Ela


fechou os olhos e se rendeu ao toque dele. Michael havia quebrado o
zíper da calça pelo menos quatro vezes desde a noite deles atrás do pa-
vilhão.

Os olhos dela se abriram. Não há como eu estar sentada no jantar


de Ação de Graças com seu pai e meu pai com um buraco nas minhas
calças.

Ele fez um som entre um rugido e um gemido. Continua?

Ela encontrou seu olhar e apalpou seu pau. Você ainda tem que
perguntar?

O olhar dele foi para a mão dela.Um pouco menos disso, senão
acho que não vou conseguir passar pelo jantar.

Ela soltou o aperto. — O que você esta fazendo aqui?

— Eles precisavam de mais peças centrais, — disse ele, ajustando


sua braguilha. — Vamos, Mary Michelle, você pode me ajudar a carre-
gá-los para o salão de baile.

Michael entregou a ela uma coisa dourada e branca com aparência


de cornucópia. Ela olhou para a peça central estranha.

— Eu tive a coisa mais estranha que aconteceu com Kyle Benson


hoje", — disse ela, passando a peça central debaixo do braço enquanto
Michael lhe entregava um segundo.

— Não é estranho todo encontro com Kyle Benson?

Ela ignorou o comentário dele. Ele nunca tinha gostado de Kyle.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Kyle Benson é sobrinho de Mindy Lancaster. Mindy é a irmã do
falecido pai de Kyle. Você sabia disso?

— Não, mas muitas pessoas estão relacionadas de uma forma ou


de outra por aqui.

— Ele diz que eles não estão perto, continuou ela. Eu quero saber
porque?

Michael equilibrou uma terceira cornucópia em cima das duas que


ele já tinha nos braços. Se há uma coisa que eu sei, especialmente de-
pois de passar boa parte do dia deserdando um caminhão cheio de so-
brinhas e sobrinhos, é que todas as famílias têm sua parte justa de pe-
culiaridades e drama.

— Sábias palavras de sabedoria do advogado mais quente de Lan-


gley Park, — disse ela com um sorriso travesso.

Um brilho travesso brilhou em seus olhos.Eu gosto disso. Posso ter


isso impresso nos meus cartões de visita. Ele se abaixou com as mãos
cheias e deu um beijo nos lábios dela. Ela deixou cair uma cornucópia
quando a que estava equilibrada precariamente nos braços dele a se-
guiu até o chão. Eles riram e se beijaram quando as peças centrais res-
tantes caíram no chão quando a porta da sala de Artes e Ofícios se
abriu.

— Está tudo bem aqui?

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
23
Eu me afastei do beijo de Michael. — Ó meu Deus!

Mindy e Tom Lancaster estavam na porta. Tom trabalhou para es-


conder um sorriso divertido enquanto as bochechas de Mindy estavam
vermelhas, e seus olhos quase saltaram de suas órbitas.

— Este é um lar de idosos, — Mindy ofegou. O olhar dela saltou


entre as peças centrais, espalhadas em uma pilha de ouro e branco no
chão, e Michael, que estava trabalhando para remover a mão de onde
começara a avançar na frente de sua blusa.

— Eu acho que a comunidade de aposentados é mais politicamente


correta, — respondeu Tom gentilmente, afastando a atenção de Mindy
de Em e Michael.

— É Deus, respondeu Mindy quando o rubor nas bochechas come-


çou a desaparecer.

— isso é um local popular, comentou Michael e apertou a mão de


Tom. O que leva vocês dois à sala de Artes e Ofícios?

Sua pergunta fez com que as bochechas de Mindy voltassem para o


rosa quente.

— A equipe estava se perguntando o que levaria tanto tempo para


recuperar as peças centrais, respondeu Mindy. — Acho que agora sa-
bemos.

— Dê um tempo, Min. Tom colocou a mão nas costas da esposa.


Você se lembra como era o amor jovem?

— Bem, nunca em uma sala de artes e ofícios, respondeu ela.

— Você está tocando hoje à noite, Tom? Em perguntou, desespe-


rada para mudar de assunto.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Eu vou. Alguns de nós, da sinfonia, nos apresentamos um pou-
co antes do jantar ser servido. Fazemos isso todos os dias de ação de
graças nos últimos anos. O rosto de Tom se iluminou. Em, você deve se
juntar a nós.

— Tenho certeza que Em está aqui para curtir o Dia de Ação de


Graças com o pai, querido, — disse Mindy ao marido.

— Eu nem tenho meu violino, Em respondeu, observando pelo can-


to do olho enquanto Mindy brincava com o tom rosa ainda envolvendo
seu pulso.

— Outra hora, Tom ofereceu com um sorriso fácil. E pelo que ouvi,
você pode ser ainda melhor agora do que quando era menina.

Em sorriu. Ela passou anos estudando violino sob a orientação


gentil de Tom. Ele ainda tinha esse jeito de fazê-la sentir como se pu-
desse fazer qualquer coisa. Obrigada, Tom.

Mindy se agachou e tentou pegar todas as cornucópias. Essas pe-


ças centrais não vão encontrar seu próprio caminho para o salão de
baile.

Tom balançou a cabeça com facilidade, compartilhou um último


sorriso com Em e depois se inclinou para ajudar sua esposa.

— EU NÃO ACHO que posso comer mais uma mordida, — disse Bill
MacCaslin e deu um tapinha no estômago.

Michael cortou uma fatia de torta para o pai. Eles fazem um ótimo
trabalho todos os anos.

Noland MacCarron permaneceu quieto durante a refeição. De vez


em quando, ele perguntava sobre sua esposa ou compartilhava alguma
tradição em que eles haviam participado enquanto ela ainda estava vi-

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
va. Enquanto seus comentários eram desarticulados, ele não parecia
estar agitado ou se importar com a presença de Michael.

— Você mal tocou na comida, — disse a sra. Teller. Espero que


você não esteja em uma dessas dietas. Uma garota precisa ser forte e
saudável. É o que meu Rodney sempre diz.

— Meu estômago está apenas um pouco azedo. Tenho certeza de


que ficarei bem - disse Em, batendo na mão da mulher.

Os Tellers nunca tiveram filhos e, quando Eunice entrou no salão


sozinha, Michael insistiu que ela se sentasse com eles, o que acabou
sendo uma dádiva de Deus. Quando Noland dizia algo insólito ou sem
sentido, a sra. Teller a acompanhava e elogiava Noland por seu humor
rápido ou excelente senso de humor.

— Você tem certeza que está bem, Em? — Michael perguntou, co-
locando o braço em volta da cadeira dela. Sra. Teller está certa. Você
quase não teve nada.

— Isso é tão doce disse a sra. Teller a Noland e Bill. Michael é tão
atencioso quanto meu Rodney. A mulher sorriu e voltou sua atenção
para Michael Rodney.Eu já contei a vocês jovens sobre o meu primeiro
encontro com Rodney?

Eles sorriram educadamente. A sra. Teller mal podia passar meia


hora antes de mencionar seu amado marido falecido.

A senhora Teller soltou um suspiro contente. Foi muito escandalo-


so para a época. A pele de suas bochechas finas como papel corou em
um vermelho suave. Eu saí da janela do meu quarto. Rodney estava es-
perando no Buick Skylark de seu pai. Oh, que carro era esse! O pai de
Rodney era uma grande peruca na fábrica e aquele Skylark era seu bem
mais precioso. Bem, nós dois escapamos, e Rodney nos levou para Sa-
die's Hollow.

Os ouvidos de Em se ergueram com a menção do oco.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Ele tinha uma cesta de piquenique inteira cheia de todas as mi-
nhas coisas favoritas. Colocamos um cobertor sob as estrelas e conver-
samos e conversamos por horas. Estava frio naquela noite, e ele me deu
sua jaqueta. Os olhos de Eunice Teller brilharam com nostalgia e o
olhar vítreo que freqüentemente iluminava seu olhar se esvaiu como um
limpador de para-brisa lançando gotas pesadas de chuva. Insisti que
Rodney fosse enterrado naquele pequeno cemitério ao lado do buraco.
Costumávamos ter muitos amigos nessa área. Anos atrás, os habitantes
de LaRoe, Garrett e Lyleville sempre se reuniam para apoiar um ao ou-
tro. Só parecia certo que esse fosse o local de descanso de Rodney.

Em não percebeu que suas mãos estavam tremendo até que Mi-
chael alcançou seu colo e lhes deu um aperto tranquilizador.

— Sra. Teller - perguntou Em quando você se lembra de alguma


ponte, alguma ponte de madeira velha na área em torno de Sadie's Hol-
low?

— Meu Deus, as pontes mais antigas estariam em LaRoe. Mas já se


passaram duas ou três décadas desde que alguém morou lá. Agora é
uma cidade fantasma

— Existem pontes de madeira em Lyleville ou Garrett? Em pergun-


tou, tentando capitalizar o momento de clareza da mulher.

A senhora Teller apertou os lábios, pensando na pergunta. O rosto


dela se iluminou.

— Você pode perguntar à jovem Sra. Hale. Ela saberia.

— Eu não conheço a Sra. Hale, — disse Em, observando os olhos


da mulher nublarem-se.

— Ela está aí, — disse a sra. Teller e acenou para Anita Benson.

Anita se aproximou da mesa e cumprimentou o grupo. Eu estava


procurando por você, senhora Teller.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Sra. Hale, você consegue pensar em alguma ponte de madeira
velha perto de Garrett? Foi aí que você conheceu seu Bobby.

O rosto de Anita ficou em branco.

A senhora Teller continuou. Eu já te disse que foi onde conheci


meu Rodney? Eu era a rainha do baile e ele era o rei do baile na Garrett
High School.

— Sra. Teller, querida - começou Anita, foi uma tarde agitada. Va-
mos voltar para o seu quarto para descansar um pouco.

— Eu vou me juntar a você, — disse Michael. Acho que meu pai


também poderia descansar um pouco.

— Mas, senhora Hale, continuou a senhora Teller, você certamente


se lembra do seu Bobby?

Anita presenteou a Sra. Teller com um sorriso tenso. Querida, está


sendo um dia emocionante. Eu acho que você está um pouco confusa.
Eu não sou a Sra. Hale. Sou Anita Benson, uma de suas enfermeiras no
Memory Care Center.

Centro de atendimento à memória? A senhora Teller ecoou de vol-


ta, sua voz baixa e confusa.

Bill MacCaslin levantou-se. Eu vou acompanhá-la. Seria meu privi-


légio acompanhá-la de volta ao seu quarto, senhora Teller.

A mulher mais velha sorriu.

Bill pressionou a mão no ombro de Noland. Eu também posso aju-


dar seu pai a voltar para o quarto, Michael.

Você tem certeza, doutor MacCaslin? Fico feliz em fazê-lo.

Bill deu uma piscadela para ele. Você e Em não têm um lugar pa-
ra estar? Além disso, seria bom para meus velhos ossos esticar um
pouco as pernas antes de voltar para a cabana. Ele se levantou e amar-

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
rou sua mochila de oxigênio portátil. Ele destrancou a cadeira de rodas
de Noland e a inclinou em direção à porta.

O olhar de Em saltou entre seu pai e Michael. Algo estava aconte-


cendo com os dois. Mas ela não conseguia parar de pensar no que a
Sra. Teller havia dito.

Anita Benson bateu no ombro dela. Espero que a senhora Teller


não tenha incomodado você. Você sabe que ela costuma pensar que
somos todo alguém desde os tempos de escola dela.

— Sim, eu lembro de você me dizendo isso, — disse Em. Mas ela


estava convencida de que pelo menos parte do que a Sra. Teller havia
dito a ela era real. Uma onda de tontura tomou conta dela, acompanha-
da por um zumbido desorientador.

— Pronta para ir, Em? — Michael perguntou.

Suas palavras cortaram a confusão de barulho, e ela pegou a mão


dele.

— Espero que vocês dois aproveitem o resto do seu Dia de Ação de


Graças disse Anita, seguindo atrás de seu pai que estava empurrando a
cadeira de rodas de Noland.

— Jovem, a senhora Sr. Teller chamou Em.

— Sim, senhora Teller?

— Não consigo encontrar minha tiara. Você já viu.

O rosto de Em caiu.

Anita olhou para Em e depois deu uma tapinha no braço da mu-


lher mais velha. Eu acho que sua tiara está no seu quarto, querida. Vou
ajudá-la a procurá-la quando voltarmos.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— EU PENSEI que poderíamos dar um passeio pelos jardins botâni-
cos antes de voltarmos para casa, — disse Michael.

Eles andaram de mãos dadas pela estrada principal do Campus de


Vida Sênior. As luzes da rua que ladeavam a estrada lançavam piscinas
quentes de luz, enquanto as últimas respirações da luz do dia sucum-
biam à escuridão crescente do céu noturno. A temperatura estava ame-
na no final de novembro, e uma brisa suave brincava com as últimas
folhas dispersas espalhadas pelo gramado.

— Eu poderia andar respondeu Em, inalando o ar fresco.

O zumbido em sua cabeça havia se acalmado e as náuseas que a


atormentavam durante o jantar haviam passado. Ela estava tentando
desvendar o que a sra. Teller havia lhe dito. Analisar o que era real do
que era apenas um produto da demência da mulher estava provando
ser uma tarefa tola.

Eles passaram pelo portão principal do jardim. Michael estava


mais quieto que o normal, o polegar traçando círculos nervosos na pal-
ma da mão.

— O que você achou da senhora Teller? — Em perguntou.

— O que você quer dizer? A conexão com o oco do Sadie?

— Sim, a conexão. Você não acha estranho?

— Em, não há muita coisa acontecendo no sudeste do Kansas.


Qualquer pessoa da área saberia sobre o buraco. As crianças estão fes-
tejando lá há séculos. Inferno, sabíamos disso e vivemos a mais de uma
hora de carro.

- E quando ela ligou para Anita, Sra. Hale. Você não acha isso es-
tranho?

Ele apertou a mão dela.Ela também pediu sua tiara desaparecida.

Em soltou um suspiro. Eu sei. Eu sei.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Acho melhor levar tudo o que a sra. Teller diz com um grão de
sal. Ela tem demência bastante grave.Michael levantou as mãos unidas
e beijou os nós dos dedos. Eu quero que você faça algo por mim.

— O que está rolando? — Em perguntou, pegando-o com um sorri-


so pateta.

Ele jogou uma piscadela para ela. Por que eu tenho que fazer al-
guma coisa

— Isso não é uma resposta, e algo está acontecendo entre você e


meu pai. Você achou que eu não percebi? Ela se recuperou.

— Apenas feche seus olhos.

Ela os fechou no meio do caminho. Eles estão fechados.

— Mentirosa! Faça de verdade.

Em encolheu os ombros.Ok, eles estão fechados de verdade.

Com os olhos fechados, ela pegou o braço dele e eles caminharam


mais para os jardins.

— Abra seus olhos, Mary Michelle.

Ela piscou algumas vezes se ajustando à luz. Ele a levou ao pavi-


lhão. As tentativas da outra noite, quando eles chegaram à dança coti-
lhão, haviam desaparecido. Em seu lugar, penduravam cordas de luzes
brancas.

— É lindo, mas por que estamos aqui?

— Por quê? Ele repetiu, sorrindo. Porque você nunca foi ao baile e
ninguém te forçou a sofrer torturas de cotilhões de valsa.

Suas lágrimas embaçaram as luzes cintilantes.

— Eu queria lhe contar toda a experiência, ele começou, levando-a


pelos degraus até o centro do pavilhão. Primeiro, eu te levei para jantar.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ela limpou uma lágrima e inclinou a cabeça. O dia de ação de gra-
ças em uma casa de repouso conta como jantar?

Michael sorriu.Elegante, hein?

— E se estivesse nevando ou congelando lá fora?

Uma expressão confiante cruzou seu rosto.Eu tinha um plano de


backup.

— Oh sim?

— Oh sim. Ele a girou em um círculo lento.Você se lembra do


Tony, um dos enfermeiros do meu pai?

Em assentiu com um sorriso irônico. — Eu lembro de Tony. Ele


disse que acenderia algumas luzes na sala de artesanato se eu desse a
ele um aceno durante o jantar.

— A sala de artes e ofícios? — ela riu.

Michael a abraçou.Parecia trabalhar para você esta tarde.

Ela encontrou o olhar dele. Ok, você tem a localização coberta. Não
sou especialista, mas não deveria haver música?

Os olhos verdes de Michael brilharam. Ele enfiou a mão no bolso e


lhe entregou um fone de ouvido.Eu nunca esqueceria a música.

Ela colocou o fone no ouvido, e ele fez o mesmo. O remix de Chopin


deles começou a tocar. Ela ouviu a melodia original se misturar perfei-
tamente com as batidas techno. Ela fechou os olhos e inalou o cheiro
dele.

— Isso é perfeito, Michael. Tudo isso, é melhor do que eu jamais


poderia imaginar — e a música. Eu nunca pensei em recuperá-lo.

— Você poderia fazer isso, Em. Nós poderíamos fazer isso juntos.
Quero dizer, em apenas algumas semanas já criamos quatro faixas. E
eles são bons. Eles são muito bons.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Eles pegaram peças clássicas populares e adicionaram um toque
techno. Em tocou violino elétrico em cada faixa, modificando sutilmente
a melodia e criando um som que era familiar e completamente único.

— E o seu trabalho no escritório de advocacia? E a sua reputação?

— Em, eu sou um advogado melhor quando estou fazendo música


com você. Executar a prática nessas últimas semanas não parece uma
tarefa ou obrigação. Tudo flui. Há um equilíbrio que não conheço há
anos, e é você. Está tendo você de volta na minha vida. Estavam…

— Melhor Estava, — disse ela.

Ele sorriu aquele sorriso torto. — Não volte para a Austrália, Em.
Fique comigo.

Ela queria gritar que sim, mas algo a estava segurando. — E a mi-
nha mãe?

— Vamos visitá-la todas as férias. Passaremos o tempo que você


quiser. Mas o Langley Park é a sua casa. É a nossa casa.

Ele estava certo. Ela amava a Austrália. A Austrália tinha sido o


abrigo que ela precisava após a lesão, mas a Austrália não era sua casa.
Era o seu esconderijo. Langley Park estava em seus ossos. O fluxo e re-
fluxo da cidade era a trilha sonora que nunca parava de chamá-la de
casa.

E então havia Michael.

Michael estava em todas as notas que ela já tocara. Toda melodia


que ela já cantarolava. O sorriso torto dele. Seu perfume de hortelã e
erva-cidreira. Seus olhos verdes se encheram de admiração quando ele
se sentou de pernas cruzadas no chão do quarto dela.

Ele inclinou o rosto para cima. — Eu te amei a vida toda. Eu te


amei antes mesmo de saber o que era o amor. Eu não poderia me sepa-

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
rar de você nem se tentasse. Você não está no meu coração, Mary Mi-
chelle. Você é meu coração. Por favor, fique comigo.

Ela encontrou o olhar dele. Duas poças de verde sálvia profundo


refletiam seu passado, seu presente e seu futuro.

Ela sorriu para ele. Eu preciso que você me leve a algum lugar.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
24
—Por que você quis vir aqui, Em?

Michael puxou o Range Rover para o lado da estrada, mas manteve


as luzes acesas. Estava escuro lá fora. O poste mais próximo era um
pontinho de luz ao longe. Eles haviam percorrido oitenta quilômetros
em completo silêncio.

O pavilhão era demais? Ele a assustou? Ele a pressionou para ficar


muito cedo?

O único conforto durante a viagem foi que Em segurou a mão dele,


os dedos macios dela entrelaçados nos dele, durante toda a viagem.

— Este é o lugar onde eu pensei que tudo terminasse, — disse ela,


quebrando a bolha do silêncio.

A luz do painel iluminou seu rosto. Ela estava olhando diretamente


para o recesso escuro de Sadie's Hollow.

Ela soltou a mão dele. — Vamos.

Em pulou do carro e entrou na noite negra e escura. Nuvens havi-


am rolado, e a lua estava obscurecida por trás de uma espessa faixa de
nuvens pesadas. Ele pegou a lanterna que mantinha no Rover e correu
para alcançá-la. Ligando-o, ele apontou o fluxo de luz à sua frente para
onde Em estava indo em direção ao cemitério e The Steps to Hell.

— Em! Não! — Ele gritou, envergonhado por ainda acreditar na-


quela superstição boba.

Este lugar também tinha horrores para ele. Ele não se atreveu a fe-
char os olhos. Se o fizesse, sabia o que veria. Em, inconsciente e cober-
to de um pó cinza. Cabelos ruivos espalhavam-se empoeirados e cober-
tos de suor sobre os degraus. E a mão dela. Cristo, aquele corte raivoso
no dedo, coberto de sangue seco e pedaços de vidro e terra.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ela pegou a mão dele. — Eu queria responder você aqui. Não vou
deixar este lugar controlar minha vida. Não estou mais zangada com o
que aconteceu comigo. Eu só quero saber a verdade.

Ele se juntou a ela no primeiro passo. Seus olhos se ajustaram ao


escuro e ele espiou escada abaixo. Apenas alguns passos. Ele não viu o
corpo apático de Em caído na escada de pedra calcária

— O que você diz, Em?

Ela encontrou o olhar dele na escuridão escura. — Eu quero fazer


música com você. É como se eu estivesse vivendo com pão e água nos
últimos doze anos. E agora, todo dia é uma festa mágica de harmonias e
melodias. Mas não estou pronta para compartilhar isso com ninguém.
Ainda não. Nenhuma postagem na web ou envio de demos ou o que es-
ses músicos da Internet fazem atualmente.

Ele sorriu. — Eu posso concordar com esses termos.

O vento aumentou, e mechas do cabelo de Em sopraram em seu


rosto. Ele soltou a mão dela e enfiou as mechas atrás da orelha. As pon-
tas dos dedos permaneceram, e ele traçou uma linha em sua mandíbu-
la.

Ela pegou a mão dele e a pressionou contra o coração.

— Isso sempre pertenceu a você.

Seu coração batia uma canção constante de vida e amor contra a


palma da mão. Mas se esse seria o novo começo, ele precisava contar
tudo a ela.

Ele engoliu em seco. Eu preciso te contar uma coisa.

Ela assentiu, dando-lhe espaço para falar.

— Eu costumava dizer a mim mesmo que não voltei e te encontrei


naquela noite porque era jovem e estúpido. A verdade é que naquela
noite você era demais. Tanta beleza. Muito talento. Tanta vida. Você

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
mereceu o mundo e tudo o que estava implorando para lhe oferecer. Era
mais fácil enviar para Tiffany, para todos me elogiando na minha músi-
ca, porque eu sabia que era isso para mim. Este foi o ponto alto da mi-
nha vida. Mas você, você estava indo para conquistar o mundo.

Lágrimas quentes caíram de sua bochecha e em sua mão. Ele in-


clinou o rosto para cima e beijou cada lágrima.

— Juro pela minha vida. Nunca mais serei imprudente com seu co-
ração. Eu sempre vou mantê-la seguro. Eu te amei a vida toda. Eu co-
nheço todos os seus sorrisos. Eu memorizei cada sarda. Eu nunca,
nunca vou decepcioná-la novamente, Em.

Ela separou os lábios e ele capturou sua boca, beijando-a profun-


damente. Ele se afastou e passou a língua pelo lábio inferior dela.

— Diga sim. Diga que você vai ficar — ele respirou.

— Sim, — ela respondeu. Eu vou ficar. Estou em casa. Você é mi-


nha casa.

Ele deslizou as mãos nos cabelos dela e torceu punhados de casta-


nho suave. Ela soltou um suspiro, soando de alívio e amor e desejo, tu-
do em um único suspiro. O ar estava carregado ao redor deles como se
a própria natureza estivesse esperando que Em concordasse em ficar. O
céu brilhou como o quarto de julho, e um estrondo profundo vibrou
através do oco. Eles protegeram os olhos enquanto folhas pesadas de
granizo caíam do céu.

— Tempestade — disse ele, quando outro flash rápido de luz esta-


lou no ar. Vamos. Michael agarrou a mão dela e eles correram de volta
para a segurança do Rover.

Em torceu o cabelo úmido em um coque bagunçado. — Eu não ex-


perimentei trovoada desde que era pequena.

Ele ligou o carro e ligou o fogo. Através do brilho dos faróis, eles
observaram o ar cheio de sopro encharcar com grossas correntes de ge-

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
lo e água. O tamborilar do granizo contra o carro desapareceu no fundo
e foi pontuado com a ocasional explosão de luz e resmungo de trovões.

Em inclinou-se sobre o console e aconchegou a cabeça na curva do


pescoço dele. Eu sempre amei trovoada.

Ele passou um braço em volta dela. Eu também.

A mistura de chuva e gelo se transformou em grandes flocos de ne-


ve, e ela deu um beijo no pescoço dele.Vamos para casa.

Ele colocou o carro na estrada e eles atravessaram a estrada escu-


ra do país. Os lábios dela viajaram do pescoço dele e beliscaram a ore-
lha dele. Ela se equilibrou segurando a coxa dele. A mão dela deslizou
pela perna dele, e agora estava perigosamente perto do seu eixo endure-
cedor. Ele agarrou o volante com mais força quando a mão dela passou
lentamente sobre seu pênis.

Ele virou para uma estrada rural. Ele não tinha certeza de qual de-
les, e ele não se importava. Ela o apalpou com força, persuadindo seu
pênis a ficar quente e grosso.

— Você está testando minhas habilidades de condução, ele sibilou


entre dentes.

A mão de Em acariciou um ritmo constante, e ele deu outra volta


sem sentido para outra estrada rural aleatória. Ele tinha certeza de que
estava a segundos de arrancar o volante da coluna de direção.

— Nós vamos nos perder no meio do Bumble-fuck Nowhere, se vo-


cê continuar assim.

Ela respondeu desabotoando sua calça.

— Eu pensei que você disse que seu Rover poderia passar por
qualquer coisa.

— Pode ter encontrado seu par com você, — ele gemeu.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ela se inclinou e levou o pênis em sua boca. Sua cabeça inclinou-
se para trás e ele parou o carro e bateu no estacionamento.

— Porra, Em. As pessoas devem escrever baladas sobre a sua boca.

Ele deslizou as mãos nos cabelos dela, torcendo as mechas em vol-


ta dos dedos enquanto ela trabalhava mágica com a boca gloriosa. Ele
poderia passar toda a eternidade com os lábios dela deslizando para
cima e para baixo em seu pênis, mas ele queria mais.

— Devagar, — ele gemeu.

Ela virou a cabeça e encontrou o olhar dele. Um sorriso sujo enfei-


tou seus lábios, e ela lambeu a cabeça do pênis como se estivesse tiran-
do a cereja de um sorvete.

— Porra, Cristo, — ele rosnou e a puxou sobre o console.

Ela montou nele e lambeu os lábios.

— Você está tentando me fazer perder a cabeça em trinta segun-


dos? — Ele respirou.

Ela pegou o pau dele na mão. — Talvez? Isso parece estar funcio-
nando para você.

Ele alcançou entre suas coxas e a massageou através de mais um


par de calças justas.

— Vá em frente, — disse ela, lendo a mente dele enquanto passava


o polegar sobre a cabeça do pênis dele.

Ele agarrou o nylon e puxou, rasgando possivelmente o vigésimo


par de calças que ela possuía.

— Pelo menos eu sei o que levar para o Natal — disse ele.

Ela riu e pressionou os lábios nos dele. —Eu te amo, Michael


Edward MacCarron.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ele se mexeu no assento e deslizou as calças pelos quadris. Ela
deu um sorriso sexy e mordeu o lábio. Um choque elétrico viajou direto
para seu pau duro como uma pedra. Ele apalpou sua bunda e a guiou
em seu eixo.

— Está muito quente quando você diz isso. — Diga isso de novo.

Seus lábios se separaram e ela gemeu quando ele a encheu.

— Diga ele sussurrou em seu ouvido, empurrando em movimentos


deliciosos e lentos.

— Eu, eu . . .

Ele tomou isso como um elogio quando ela não conseguiu respon-
der. Seu cabelo caiu livre do coque improvisado, e as ondas de casta-
nho-avermelhado brilhavam de um azul nebuloso à luz que vinha do
painel. Ela parecia uma criatura mítica balançando e balançando na
luz.

Ele bombeou dentro dela, rasgando mais as calças de nylon para


agarrar sua bunda nua. Ele estava perto de deixar ir, mas não havia
nenhuma maneira no inferno que ele viria antes que ela encontrasse
sua libertação. Ele revirou os quadris e alterou o ângulo de penetração.
Era exatamente o que ela precisava. Em cravou as unhas nos ombros
dele. Seu corpo estremeceu e se contraiu em torno de seu pênis com um
aperto de ferro.

— Foda-se, sim ele respirou.

Ele rasgou a blusa dela e pressionou os lábios na clavícula, beijan-


do e mordendo a pele delicada quando encontrou sua libertação pro-
fundamente dentro de seu núcleo.

Em segurou o rosto dele nas mãos dela. Ela estava respirando com
dificuldade, tentando recuperar o fôlego. — Eu te amo Michael.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ele desenhou círculos sonolentos nas costas dela.Veja, isso não foi
tão difícil de dizer, foi?

Ela inclinou a cabeça para o lado e deu-lhe seu sorriso mais doce
de picolé de cereja. Ele olhou nos olhos dela, mas algo estava diferente.
Ela não estava mais banhada apenas na luz azul do painel. Ele piscou
quando o zumbido de um motor de carro acompanhou o estouro de lu-
zes que agora iluminavam totalmente o rosto dela.

— Oh meu Deus! É um carro! — Em disse, saindo do colo dele.

Seu coração disparou. Havia uma boa chance de que algum depu-
tado pobre de Garrett tivesse enviado para patrulhar as tranquilas es-
tradas do condado na noite de Ação de Graças. Michael levantou as cal-
ças e trabalhou para garantir sua dignidade. Se algum policial pedisse
para ele sair do veículo, as evidências de sua fuga estariam por toda a
frente de suas calças.

Em afagou seus cabelos e fechou o casaco, mas fez pouco para es-
conder as meias rasgadas. Ele a olhou e soltou uma risada.

Ela mordeu o lábio. — Eu tenho que pelo menos tentar parecer


apresentável.

Ele colocou uma mecha selvagem ruiva atrás da orelha dela. Acho
que estamos bem apresentáveis.

O carro estava quase sobre eles. Uma luz branca encheu o interior
do Rover. Michael pegou o porta-luvas. Ele queria ter seu cartão de se-
guro pronto para o policial. Mas antes que ele pudesse olhar para cima,
o carro passou por eles. Tudo o que viu foram as luzes traseiras desa-
parecendo na escuridão nevada.

— Eu acho que não era um policial. Ele jogou seu cartão de seguro
de volta no porta-luvas. Provavelmente é algum fazendeiro.

Ele estava prestes a colocar o carro em marcha quando Em abriu a


porta do carro, acionando as luzes brilhantes do interior.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Michael protegeu os olhos. O que você está fazendo, Em?

— Vi algo quando o carro passou.

— Em, espere um segundo, — disse ele, os olhos borrando da luz,


mas ela já estava fora do carro, correndo para a escuridão.

— Traga a lanterna, — ela chamou de volta.

— Eu sei que estamos no meio do nada, mas ainda não é seguro


estar aqui.

Michael acendeu a lanterna e varreu a beira da estrada com o fino


feixe de luz. Em estava agachado na beira da estrada em frente a algum
tipo de objeto.

— O que é, Em?

— Você precisa ver isso ela respondeu.

Ele correu para encontrá-la escovando flocos frescos de neve de


uma cruz de madeira. A imagem sorridente de uma garota de boné e
vestido estava afixada no topo. Alguém havia gravado o nome Tina
Fowler abaixo da foto.

Em passou o dedo sobre a fotografia envolta em plástico. — É Tina.


Deve ser onde ela foi morta.

Um calafrio tomou conta dele. Tina Fowler havia morrido sozinha


neste mesmo local. Ele balançou a lanterna para frente e para trás. A
olho nu, não havia nada notável nesse trecho de estrada rural, mas isso
não impediu que um gosto amargo e acobreado invadisse sua boca.

— Olha, — disse Em, tocando um pequeno buquê de flores caídas


e murchas. Alguém deve manter isso. Eu pensei que a garçonete disse
que a família de Tina deixou a área.

— Sim, acho que você está certa sobre a família dela. Mas as pes-
soas nesta área estão levantando dinheiro em seu nome há muito tem-
po. A garçonete da lanchonete pode ser a que está mantendo isso.
The Sound Of Home
KRISTA SANDOR
Em pressionou o dedo na cruz e traçou cada letra no nome de Ti-
na.

Ele se agachou. — Em, devemos ir. Eu nem tenho certeza de onde


estamos, e essa neve não parece que vai desaparecer tão cedo.

Ela deixou o dedo permanecer enquanto flocos de neve substituíam


os que ela acabara de escovar. Ela encontrou o olhar dele. Acho que já
estive aqui antes.

Ele sabia que ela estava desesperada para descobrir o que aconte-
ceu na noite em que ela foi ferida. Não importava que ela ainda pudesse
tocar piano e violino. Naquela noite, esse ferimento havia transformado
seu mundo inteiro e roubado doze anos dela. Mas e se ela estivesse
agarrando palhinhas, procurando alguma conexão com aquela noite
para tentar explicar o que havia acontecido?

Ele espanou a neve dos ombros dela. Estamos bem longe do oco.
Não sei como você poderia ter chegado aqui.

— Alguém poderia ter me trazido aqui — ela retrucou.

— Possivelmente, Em, mas por quê? Por que alguém te levaria a


algum lugar?

— Eu não sei, mas quero voltar para o restaurante em Garrett e


conversar com a garçonete.

Ele pegou a mão dela e a ajudou a se levantar. Nada está aberto


agora. Podemos voltar em alguns dias. Eu simplesmente não...

— Não o que? — Ela perguntou.

— Eu não quero que você anexe todas as suas esperanças a Tina


Fowler. Eu acho que é mais inteligente focar no que você lembra: a pon-
te, homens altos. É mais concreto.

Ela assentiu. Eu sei o que você está dizendo. Só tenho a sensação


de que minha lesão e sua morte podem ter algo em comum.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Concordo. Os dois eventos ocorreram na mesma época, mas isso
não significa que eles estejam conectados.

Ela estremeceu e cruzou os braços. Você sempre tem que entrar no


modo advogado?

— Precisamos examinar todas as possibilidades de todos os ângu-


los. Ele soltou um suspiro. Você está congelando. Estou congelando.
Vamos encontrar o caminho de onde diabos estamos e voltar para o
parque Langley. Nós vamos analisar isso. Eu sei que você quer respos-
tas, eu também as quero. Mas não há mais nada que possamos fazer
hoje à noite.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
25

Fiquei imóvel e segurei o painel.

— Respire, Em, — disse Michael. Ele apertou o joelho dela e cortou


a ignição.

Depois de voltar para casa no final da noite de Ação de Graças, eles


usaram um mapa e o aplicativo de navegação no telefone de Michael
para determinar que o memorial na estrada de Tina Fowler estava loca-
lizado nos arredores da cidade abandonada de LaRoe.

A estrada rural parecia diferente à luz do dia. As mudanças de


humor no final do outono da Mãe Natureza significavam que uma noite
tempestuosa poderia ser seguida por uma manhã ensolarada. A neve do
Dia de Ação de Graças havia desaparecido, deixando a grama alta com
um tom seco e amarelado na brisa da manhã de sábado.

Em soltou a respiração. Ela estava presa desde a viagem para o


oco. Tudo estava se movendo tão rápido e ao mesmo tempo, tão deva-
gar.

Em questão de semanas, ela havia retornado à música e ao Micha-


el. Isso por si só deveria ter sido suficiente, mas a necessidade de des-
cobrir o que aconteceu naquela noite em Sadie's Hollow não desapare-
ceu. As imagens e sensações que ela lembrava a provocavam como um
prêmio pendurado fora de alcance.

Ela olhou para a pequena cruz de madeira. Era fácil ver o nome de
Tina esculpido na madeira sem o véu da escuridão da neve. O olhar de-
la seguiu para o vaso preso ao fundo do memorial à beira da estrada,
onde um novo buquê de girassóis recebia a manhã.

— Essas são novas, — disse ela, abrindo a porta do carro.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— As flores? — Michael perguntou, seguindo-a até a cruz.

— Sim, quando estávamos aqui no Dia de Ação de Graças, as flores


estavam murchas. E acho que eram rosas. Foi difícil dizer. Mas eles não
eram girassóis. Eu sei disso com certeza.

Michael apontou uma pétala fresca. Você está certa. O que quer
que estivesse aqui foi trocado.

— O que você acha que isso significa?

— Poderia ser apenas local. Talvez alguém na cidade de Ação de


Graças que conhecesse os Fowlers.

Em olhou para o campo de pradaria seca, mas um velho carvalho


atingindo membros nus no céu, denso com a idade, chamou sua aten-
ção. Alguém apareceu e pregou tiras de madeira no tronco, criando uma
escada improvisada que levava aos galhos. A madeira parecia quase tão
velha quanto a árvore. Era cinza alvejado por inúmeros dias resistindo
ao vento e ao sol do Kansas, e as unhas usadas para prender as ripas
haviam enferrujado até um vermelho queimado que sangrava na madei-
ra circundante.

— Esta deve ter sido a árvore de alguém escalando, — disse Micha-


el. Ele puxou um dos degraus. Ainda é bastante sólido.

Em passou a mão por um dos degraus inferiores. Instantaneamen-


te, seu corpo ficou pegajoso de suor. A pele dela coçava. Sua visão du-
plicou, depois triplicou como um caleidoscópio, e a náusea tomou conta
dela em ondas quentes e espessas.

— Em, você está bem?

Ela se inclinou contra Michael e agarrou sua jaqueta. Ela respirou


fundo algumas vezes e sua visão se nivelou.

— Você está branca como um fantasma — disse ele, pegando-a nos


braços.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ela piscou devagar. Estou bem. Coloque-me no chão. Eu preciso
tocar nessa árvore novamente.

— Inferno, não, — ele respondeu. Talvez você tenha pegado alguma


coisa. Você não estava se sentindo bem durante o jantar de Ação de
Graças. Você pode ter um vírus ou algo assim.

— Não, não parece assim. O zumbido estranho em sua cabeça es-


tava de volta. Por favor, Michael. Me coloque no chão. Estou bem.

Ele não parecia convencido.

Ela acariciou sua bochecha. — Sério, eu estou bem. Acabei de re-


ceber esse flash bizarro quando passei a mão sobre aquele pedaço es-
tranho de madeira.

Ele a colocou no chão. Se você ficar tonta de novo, estamos indo


para o hospital mais próximo.

Ela assentiu com a cabeça e correu as mãos pela árvore, sentindo


o ruído áspero da casca e, em seguida, a elevação e queda das pontas
dos dedos enquanto elas se moviam para cima e para baixo e passavam
pela escada improvisada.

Ela fez outro passe na metade da velocidade.Eu já senti isso antes.

— Você tem certeza? — Michael perguntou.

— Acho que sim. Existem árvores com ripas de madeira pregadas


assim no Langley Park? Eu poderia estar confundindo esta árvore com
uma que escalamos quando crianças?

Michael passou a mão pelo tronco da árvore. — Não que eu possa


lembrar.

Ela deu um passo para trás e examinou a árvore por inteiro. — O


que você acha que isso significa?

— Eu não sei, Em. Essa árvore é velha e os degraus de madeira


pregados no tronco podem ter dez, vinte, talvez até trinta anos ou mais.
The Sound Of Home
KRISTA SANDOR
É possível, se você estivesse de alguma forma aqui na noite em que se
machucou, que essa árvore pudesse parecer e se sentir assim.

Ele estava certo. A árvore parecia ter resistido ao teste do tempo. O


Kansas era propenso a tempestades selvagens e tornados catastróficos -
nenhum dos quais havia arrancado esse majestoso carvalho.

Ela encontrou o olhar de Michael. Ele não estava bancando o ad-


vogado do diabo com suas premonições hoje. Talvez ele pudesse sentir
isso também. Tina Fowler pode ter morrido aqui. Mas havia mais do que
apenas um trágico início da manhã. Ela sabia disso e podia sentir Mi-
chael vindo a bordo.

Ele colocou um braço em volta do ombro dela. Acho que precisa-


mos ir ao restaurante.

A RUA PRINCIPAL DE GARRETT, NO Kansas, estava movimentada com


atividades no sábado de manhã. Famílias enfileiradas dentro de casa
durante o feriado de Ação de Graças estavam em vigor, aproveitando as
lojas e o sol.

Eles entraram na lanchonete e Em olhou para a fotografia de Tina.

— Alguns lugares estão abertos no balcão pelo caixa, — disse Mi-


chael.

Em espiou os assentos, mas seu olhar foi atraído para os frascos


de vidro estranhamente familiares do que parecia geléia caseira, senta-
dos em fileiras organizadas perto da foto de Tina Fowler.

Esses frascos estavam lá da última vez que eles visitaram a lan-


chonete? Ela não conseguia se lembrar.

Ela sentou-se ao lado de Michael e examinou a sala, esperando que


a garçonete que eles conheceram há algumas semanas estivesse traba-
lhando hoje. Qual era o nome da mulher? Pamela? Patty? Tudo o que

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
ela conseguia se lembrar era o desenho da letra "P" na etiqueta de seu
nome.

— Posso começar vocês dois com um café?

Em girou no banquinho e viu as letras encaracoladas no avental da


garçonete.

Peggy.

— Claro, isso seria ótimo— respondeu Michael.

— Você se lembra de nós? — Em perguntou. Nós estávamos em al-


gumas semanas atrás.

A garçonete terminou de servir o café e olhou para cima. Eu faço.


Eu faço. Você doou um pouco para a nossa coleção para a Tina. Como
vocês estão?

— Estamos bem, — respondeu Em. Seu batimento cardíaco au-


mentou um pouco.

— Estávamos dirigindo pela área e vimos o memorial de Tina


Fowler na estrada. Alguém na cidade que o fez?

Peggy encostou-se ao balcão.Isso é um pouco de mistério. Eu não


sei quem continua. Eu perguntei bastante, mas nunca descobri quem é.
É um gesto gentil, com certeza.

— Há quanto tempo está lá? — Michael perguntou.

— Bondade! Peggy tamborilou com os dedos.Está lá desde que me


lembro. Por que você pergunta?

— Percebemos que as flores foram trocadas, — respondeu Em.

Peggy assentiu.Eu não saio tanto assim. Nada muito lá fora, mas
algumas fazendas, nos dias de hoje. É bom saber que alguém ainda es-
tá honrando a memória de Tina.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Você acha que os agricultores estão mantendo o memorial? —
Michael perguntou.

— Acho que não. Como eu disse, venho perguntando há anos.


Acho que perguntei a todas as almas da região. Ninguém viu isso quem
coloca. Eu gosto de pensar que é um anjo da guarda - disse Peggy en-
quanto seu olhar se voltava para a porta e o som de sinos tocando. As
rugas profundas ao redor de seus olhos enrugaram quando ela sorriu.
— Bem, veja o que o gato arrastou.

— Oi, Peggy! Meu pedido de geléia está pronto?

Em reconheceu aquela voz. Ela se virou para ver Mindy Lancaster.


Mindy encontrou seu olhar, e uma expressão atordoada passou por su-
as feições feias.

— Vocês todos se conhecem? — Peggy perguntou.

— Nós fazemos, — respondeu Em.

— Prazer em vê-la, Mindy, — disse Michael, oferecendo-lhe seu as-


sento, mas ela acenou para ele.

Peggy colocou vários potes de geléia em uma caixa de pape-


lão.Estamos muito orgulhosos da nossa Mindy. Ela ganhou todos os
tipos de prêmios por tocar piano quando menina. Ganhou uma bolsa de
estudos para uma escola chique em Boston.

A postura de Mindy ficou rígida. Isso foi há muito tempo, Peg.

— O marido de Mindy, Tom, era meu professor de violino, — disse


Em, esperando que essa pepita de informação deixasse Peggy falando.

Peggy bateu palmas. Que mundo pequeno! Tom é um dos meus fa-
voritos. Ele trouxe nossa Mindy de volta ao Kansas. Ele ainda está na
sinfonia?

Mindy deu um aceno agudo. Ele está.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Tom sempre amou minha geléia, — disse Peggy, dirigindo o co-
mentário a ninguém em particular.

Então clicou. Em já tinha visto esses congestionamentos distintos


antes. Os Lancasters os entregaram aos alunos como presentes de feri-
ado.

— O que traz vocês para Garrett? Mindy perguntou, mas Peggy in-
terveio.

— Eles chegaram algumas semanas atrás para almoçar e contribu-


íram para a coleção 4-H de Tina. Eles se depararam com o memorial
dela e se perguntavam quem o manteria.

Mindy olhou para a foto de Tina. Que perda.

Peggy fechou a caixa e deslizou-a em direção a Mindy.

Michael colocou algumas notas no balcão e pegou a caixa. Foi bom


ver você de novo, Peggy. Ele mudou o olhar para Mindy. Deixe-me fazer
isso por você.

Mindy tocou o tecido ainda envolvendo seu pulso e deu um aceno


educado a Michael.

Eles seguiram Mindy até o carro dela, e Michael colocou a caixa no


porta-malas. Ele foi fechá-lo, mas Mindy fez sinal para ele parar.

— Aqui, ela abriu a caixa e entregou a cada um um pote de ge-


léia.Tom e eu queríamos agradecer a vocês dois por ajudarem com a
música no Senior Living Campus. Ela sorriu e suas feições se suaviza-
ram. Em, sua mãe sempre me dizia o quanto ela gostava dessa geléia.
Deseja que outro frasco seja trazido de volta para a Austrália? Imagino
que você esteja ansiosa para voltar.

Em tentou ler a mulher. Mindy Lancaster nunca tinha gostado de-


la. Ela não era o tipo de pessoa que gostava de ninguém, exceto Tom.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Em compartilhou um olhar com Michael. Não vou voltar para a
Austrália, mas ficaria feliz em enviar a geléia para minha mãe. Eu me
lembro dela gostando.

Mindy apertou os lábios. Eu não quero me exceder, mas seu pai


disse a Tom que ele iria vender sua casa.

— Em vai ficar comigo, — disse Michael.

Um sorriso sacarina enfeitou os lábios de Mindy. Isso é tão doce. O


garoto na porta ao lado acaba com a garota na porta ao lado. Vou avisar
Tom. Ele ficará emocionado por você ficar.Ela olhou para o carro. Bem,
é melhor eu voltar. Não quero perder a performance de Tom esta tarde.

Mindy virou-se para sair, mas Em a pegou pelo braço.É difícil?

Mindy franziu o cenho. O que é difícil?

Em encontrou seu olhar. Quando ela era pequena, os Lancasters


pareciam muito mais velhos. Mas Mindy não podia ter mais do que cin-
quenta agora. A diferença de idade, que não poderia ter mais de vinte
anos, no máximo, não parecia um abismo.Eu nunca pensei sobre isso
até agora, mas você voltou para o Kansas para Tom, para que ele pu-
desse tocar com a sinfonia, não é?

Um rubor floresceu vermelho nas bochechas pálidas de Mindy


quando ela se virou para fechar o porta-malas.Coisas mais loucas foram
feitas por amor.

EM TORCEU o fundo da manga.

— O que você está pensando? — Michael perguntou.

Estavam a meio caminho de casa e ela estava revirando os aconte-


cimentos da manhã em sua cabeça. Estou tentando juntar tudo de uma
maneira que faça sentido.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Michael assentiu, mas manteve o olhar na estrada. A única coisa
que sabemos com certeza é que sua lesão ocorreu na mesma época em
que Tina Fowler foi morta.

— Certo disse Em, mentalmente assinalando isso em sua cabeça.

— E algo sobre aquela árvore perto do memorial na estrada parecia


familiar para você.

— Sim, eu não posso colocar meu dedo nisso. Mas parecia familiar.

Eles caíram no bolso do silêncio. As peças estavam lá. Ela sim-


plesmente não estava vendo a foto toda.

Em tentou explicar. Mindy Lancaster é tia de Kyle. Mas a mãe de


Mindy e Kyle não são próximas. Pelo menos foi o que Kyle me disse ou-
tro dia.

— Sim, mas lembre-se, Em, as famílias são complexas. Quando o


marido de Anita morreu, poderia haver uma disputa familiar sobre di-
nheiro ou propriedade. Esse tipo de coisa acontece nas famílias todos os
dias. É lamentável, mas não é incomum que os membros da família se
afastem.

Ela esfregou a parte de trás do pescoço. E tudo o que a Sra. Teller


mencionou?

Michael começou a dizer algo, mas ela o parou. Eu sei, eu sei, a


senhora Teller sofre de demência e acha que estamos todos no desfile de
boas-vindas da Garrett High School com seus noventa por cento do
tempo. Mas realmente parecia que ela conhecia Anita Benson de outra
época. Lembre-se, ela a chamou de 'jovem Sra. Hale'.

— Você tem razão. Eu nunca conheci Anita e acho que Kyle tam-
bém era dessa área. Não há muito em Lyleville - apenas Sadie's Hollow,
o cemitério e um punhado de lojas e casas. Parece que LaRoe é uma
cidade fantasma há anos. Há uma chance de a Sra. Teller estar certa e

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Anita Benson ser de Garrett ou em algum lugar nessa área também.
Mas essas coisas podem ser apenas coincidências.

Em pressionou as pontas dos dedos nos olhos. Talvez você esteja


certo. Talvez eu esteja pulando em alguém e qualquer coisa que tenha a
menor conexão com esse lugar.

Ele pegou a mão dela e a levou aos lábios.Acho que você está ten-
tando levar tudo em consideração e analisar todas as opções. Isso não é
uma coisa ruim.

A tensão no pescoço e nos ombros liberou uma fração. Ela olhou


para o perfil de Michael. Seu cabelo sempre tinha sido um tom mais es-
curo que o dela, e a luz que entrava pelo para-brisa realçava brilhos de
cobre como um centavo brilhante ao sol. Ela estudou a curva de sua
bochecha, o corte de sua mandíbula, a nuca escura e ruiva. Ela conhe-
cia o rosto dele tão bem quanto o seu. Mesmo durante seus anos estu-
dando música no exterior, a imagem dele chamando por ela sempre foi
o último pensamento a percorrer sua mente antes de adormecer.

Ela o amara a vida toda, mesmo quando queria odiá-lo.

Ele olhou para ela e deu um sorriso irônico. Pensando em como eu


sou bonito? Ele levou a mão dela aos lábios e deu outro beijo nos nós
dos dedos.

— Não, estou pensando em como tenho essa beleza pra mim, —


disse ela, surpresa quando sua voz falhou.

— Ei ele disse, com uma leve inclinação em sua voz.

Eles passaram pelo hospital e o lago Boley apareceu, calmo e sere-


no como uma folha de vidro cinza-azulado. Ele parou o carro e Em se
concentrou no pavilhão à beira da água.

Ela balançou a cabeça e tentou afastar as lágrimas nos olhos.Não


sei por que não posso deixar passar. Estou em casa. Estou contigo. A

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
música está de volta na minha vida e, quando eu vender a casa, meu
pai poderá finalizar a compra da casa. Isso não deveria ser suficiente?

Ele segurou o rosto dela com as mãos e ela derreteu com o calor do
toque dele.

— Não há nada de louco ou egoísta em querer saber o que aconte-


ceu na noite em que você foi ferida. Não passou um dia em que eu não
quis saber exatamente a mesma coisa. Ele passou o polegar pelo lábio
inferior dela. Estamos melhor juntos, certo?

Em fechou os olhos e deixou o calor do toque dele aquecer seu ros-


to.

Ele deu um beijo na testa dela. Nós vamos descobrir isso. —

Ela abriu os olhos e encontrou o olhar verde sábio de Michael.


Obrigada.

O canto da boca dele se ergueu em um sorriso torto.

—Eu te amo, Em. Não há nada que eu não faria por você.

Ela sabia que ele estava falando sério.

Ele se inclinou sobre o console e deu um beijo suave nos lábios,


nas bochechas e no queixo. Algo entre eles vibrou uma vez, duas vezes.
Aquietou-se por um momento e depois voltou a zumbir.

— Eu acho que é para você, — disse Michael, recuperando o tele-


fone do console central

— Kathy Stein está me mandando uma mensagem.

— O que o texto diz? — Michael perguntou.

Em olhou para a tela. Ela diz que há uma emergência. Ela precisa
que eu vá ao estúdio de ioga. Em estendeu o telefone para Michael ver.
Parece que Zoe e outro número estão incluídos no texto.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Michael puxou o carro de volta ao trânsito. Mande uma mensagem
de volta e diga que estamos a caminho.

ELES PARARAM em frente ao estúdio de ioga no coração do centro da


cidade de Langley Park e saltaram do Rover enquanto Zoe e Jenna Fis-
her desciam correndo pela Mulberry Drive.

— Eu vi minha mãe mandando uma mensagem para você também


disse Zoe. Você já entrou no estúdio?

— Não respondeu Em. Acabamos de chegar.

Michael compartilhou um olhar preocupado com Jenna.Espero que


não seja o tornozelo dela.

— Ela torceu o tornozelo há cerca de seis meses, — disse Jenna,


preenchendo-a.

Michael abriu a porta e conduziu as mulheres para dentro.

O estúdio tranquilo estava iluminado com velas. Quatro esteiras


foram espalhadas em um padrão circular em torno de uma pequena
estátua de Buda. Várias outras estátuas de Buda sentadas de pernas
cruzadas estavam espalhadas pelo espaço. Em encontrou mais alguns
espreitando por trás de uma estante de esteiras como gnomos de jardim
iluminados.

— Mãe! Zoe chamou. Mãe, onde você está?

Kathy Stein surgiu de trás de uma porta do outro lado do estúdio


de yoga, segurando mais uma estátua de Buda.Eu estava lá atrás. Ela
examinou as expressões atormentadas do grupo. Aconteceu alguma coi-
sa?

— Mãe, você nos enviou um texto dizendo que houve uma emer-
gência e para chegar ao estúdio de ioga o mais rápido possível. Aconte-
ceu alguma coisa?

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Kathy assentiu. Absolutamente, algo aconteceu. E isso acontece há
mais de uma semana.

— Sra. Stein - Michael começou - é o seu tornozelo? Você está com


dor?

Kathy riu, — Oh, não, meu tornozelo está completamente curado.

Em, Michael, Zoe e Jenna encararam Kathy, confusão e preocupa-


ção gravadas em seus rostos.

Kathy colocou o Buda no chão, depois levantou as mãos e as aper-


tou em uma pose de oração. — Mercúrio é retrógrado, — disse ela como
um médico dando más notícias a um paciente.

Um bolso de silêncio engoliu o estúdio.

— O planeta, Mercúrio? — Jenna perguntou.

Os olhos de Kathy se arregalaram. Sim, quando Mercúrio está re-


trógrado, parece estar se movendo na direção oposta em comparação
com os outros planetas.

Zoe levantou a mão como um jardim de infância.E como isso é


uma emergência, mãe?

— Quando Mercúrio está retrógrado, qualquer coisa que pode dar


errado muitas vezes vai dar errado.

— Então, você não está machucada, senhora Stein? — Michael


perguntou e olhou para o mar dos Budas.

— Não, enviei uma mensagem para Jenna, Zoe e Em para que pu-
déssemos reequilibrar nossos chakras durante esse período turbulento
respondeu Kathy.

— Eu tenho que ficar para isso? — Michael perguntou.

— Você é sempre bem-vindo a ficar, querido. Mas liguei para as


meninas aqui para aproveitar o poder da energia feminina.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Os olhos de Michael quase saltaram de sua cabeça, e ele encontrou
o olhar de Em com um cervo na expressão dos faróis.

Ela conteve uma risada. Por que você não vai para casa, — disse
ela. O pobre homem parecia aterrorizado. — Eu te encontro mais tarde.

No espaço de cinco segundos, Michael se moveu a uma velocidade


que os homens só são capazes quando fogem de festas no jardim, chás
de bebê e discussões em clubes de livros femininos.

A porta bateu atrás dele e as mulheres caíram na gargalhada.

— Você deveria ter dito a ele que íamos sincronizar nossos ciclos
menstruais, — disse Zoe, enxugando uma lágrima da bochecha.

— Eu nunca o vi se mover tão rápido acrescentou Jenna.

Em estava rindo tanto que ela mal conseguia falar. Zoe chamou
sua atenção, e eles estavam de volta ao lugar especial que você faz com
sua namorada mais querida. De volta às noites passadas compartilhan-
do segredos e sonhos. De volta aos preguiçosos dias de verão, mergu-
lhando os dedos dos pés no lago Boley.

Kathy se posicionou no topo de sua esteira de ioga. — Tudo bem,


meninas. Vamos levar esta energia alegre para a nossa prática hoje.

Pelo que parece, Jenna e Zoe tinham acabado de correr ao ar livre


e estavam praticamente vestidas para praticar ioga. Ela, por outro lado,
usava botas, perneiras e túnica.

— Acho que não tenho as roupas certas para ioga, sra. Stein.

— Tire suas botas e meias, querida. As poses que faremos hoje não
exigirão roupas especiais - respondeu Kathy.

— Então, isso está acontecendo? — Zoe perguntou para ninguém


em particular.

— Eu poderia fazer uma limpeza de chakra, — disse Jenna e to-


mou seu lugar em um tapete de ioga. Provavelmente deve ser um requi-
The Sound Of Home
KRISTA SANDOR
sito para quem trabalha em escolas primárias, especialmente durante
as férias.

— Eu concordo, — disse Em, chegando a ficar no tatame entre


Jenna e Zoe. — O mesmo aconteceria na escola em que trabalhei na
Austrália. Algo no ar ou na água deixava as crianças mais loucas nessa
época do ano. —

— Então é bom que eu chamei essa sessão de ioga de emergência


disse Kathy com um brilho de conhecimento nos olhos.

Zoe tirou os sapatos e mexeu os dedos dos pés. Depois que termi-
narmos este yoga de emergência, teremos uma discussão séria sobre o
seu vício em Buda.

As meninas riram, mas Zoe tinha razão. Várias velas acesas eram
cabeças de Buda de cera.

— Tudo bem, — disse Kathy, ignorando o comentário de


Zoe.Estamos aqui hoje para nos reequilibrar e nos concentrar. Vamos
encontrar a pose da montanha enquanto desaceleramos nossas mentes
hiperativas e nos aterramos na prática de hoje.

Em fechou os olhos e seguiu as instruções de Kathy. Depois da


manhã em Garrett, um pouco de centralização e reflexão não era uma
má idéia.

— Suavize e relaxe seu rosto e junte-se a mim em Eagle Pose, Ga-


rudasana.

Em copiou o pretzel de Kathy parecendo posar enquanto passava a


perna esquerda ao redor da perna direita e depois passava o braço es-
querdo sob o braço direito.

— Na Eagle Pose, estamos atraindo nossa energia para a linha mé-


dia do corpo. Devemos atrair para dentro antes que possamos liberar
todas as coisas que nos distraem. Todas as coisas que nos levam a par-
tir do nosso verdadeiro propósito.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Em fechou os olhos e se acomodou na pose. O zumbido do centro
da cidade movimentando-se do lado de fora flutuava no ar como uma
suave canção de ninar. Ela inspirou e expirou, ouvindo o riso de uma
criança na calçada. Ela abriu os olhos e olhou para a margem das jane-
las. Ela piscou e deu outra olhada, sem ter certeza se seus olhos esta-
vam pregando peças nela.

Uma mulher estava olhando dentro do estúdio. Cabelo loiro. Nariz


arrebitado. Ela segurava uma criança nos braços enquanto uma criança
mais velha com o mesmo nariz levemente inclinado estava ao lado dela
e puxava a mão dela. Em encontrou o olhar da mulher e, por uma fra-
ção de segundo, ela viu a versão adolescente dessa pessoa em minúscu-
los shorts jeans segurando um copo de plástico vermelho.

Em piscou novamente, e a mulher se virou e correu pela rua.

Doze anos se passaram, mas ela nunca esqueceu o rosto de Tiffany


Shelton.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
26
—Sra. Stein, me desculpe. Eu tenho que ir.

Em perdeu o equilíbrio e caiu da pose de ioga. Ela se dirigiu para a


porta. Com os pés descalços, ela procurou na rua por Tiffany Shelton. A
mulher não estava se movendo rápido com dois pequenos a tiracolo.
Eles atravessaram a rua e estavam indo em direção à sorveteria Scoop.

— Tiffany! — Em chamou. Ela gesticulou para um carro parar e


atravessou a rua.

Tiffany parou e endireitou a coluna antes de se virar para encará-


la.

A cor sumiu do rosto da mulher. Sim, eu posso te ajudar?

— Tiffany? — Em disse. — Tiffany Shelton?

— É Tiffany Morrison agora.

Em encontrou o olhar de Tiffany. Eu sei que você me reconhece.

O menino puxou a manga do casaco de Tiffany. Mamãe, quem é a


mulher sem sapatos?

— Apenas uma senhora que mamãe conhecia quando era pequena


respondeu Tiffany, segurando o olhar de Em.

— Eu não estou aqui para causar problemas, Tiffany.

O rosto de Tiffany se suavizou. Ela olhou para o filho mais velho


que estava entretido por um momento, espiando dentro das janelas da
sorveteria. Ela mudou a criança nos braços para o outro qua-
dril.Lamento ouvir o que aconteceu com você naquela noite no Sadie's
Hollow.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Você se lembra de alguma coisa daquela noite? — Em pergun-
tou.

A criança mexeu e puxou uma mecha do cabelo de Tiffany. Um


minuto, — disse Tiffany, sacudindo a criança.Foi há muito tempo, Em.

— Eu sei. Eu sei. Mas veja bem, estou tentando entender o que


aconteceu naquela noite. Não tenho lembrança de ter sido ferida.

Os olhos de Tiffany se arregalaram.Ouvi dizer que você bebeu de-


mais e caiu.

Um caroço se formou na garganta de Em. A cidade inteira acredi-


tava nessa história.

Ela engoliu em seco a emoção.Não sei o que aconteceu naquela


noite. Só me lembro de interagir com algumas pessoas naquela noite e
você é uma delas.

— Não tenho orgulho de como me comportei naquela noite, mas


nunca iria fazer isso.

— Eu não estou acusando você de nada, — Em disse Tiffany.

Eu sei, eu sei disse Em.Mas seria uma grande ajuda para mim se
pudéssemos conversar. Se você pudesse me dizer o que lembra daquela
noite.

Tiffany olhou para o filho que ainda estava se divertindo na janela.


Então seu olhar varreu a rua. — Michael?

Em virou-se e viu Michael correndo em direção a elas.

— O que você está fazendo lá fora sem os sapatos, Em?

Ele se juntou a elas na calçada, tirou o casaco e envolveu-o nos


ombros dela. Ele olhou para ela e depois olhou para Tiffany. Tiff? — ele
disse como se não pudesse acreditar em seus olhos.

As bochechas de Tiffany floresceram vermelho. Faz muito tempo.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ele assentiu e seu olhar saltou de Tiffany para a criança em seus
braços. Estes são seus filhos?

A pergunta retornou o rubor de Tiffany. — Sim, Cal tem quatro


anos e Lila, dezesseis meses.

Ele assentiu e deu um sorriso tenso. — Vocês duas... —Ele parou e


gesticulou entre Em e Tiffany.

— Eu estava no estúdio de ioga quando vi Tiffany passar. Eu pen-


sei que ela poderia nos ajudar a descobrir o que aconteceu na noite em
que fui ferida.

O menino perdeu o interesse pela janela e puxou a manga do casa-


co de sua mãe.Mamãe, você disse que poderíamos tomar sorvete.

Tiffany deu um tapinha nos cachos loiros do garoto. — Espere, Cal.

— Eu posso ver que é um momento ruim disse Em, observando a


criança dar outro puxão no cabelo de Tiffany. — Talvez possamos tomar
um café esta semana?

Tiffany encontrou seu olhar, e Em pôde ver a exaustão nos olhos


da mulher.Hoje vamos para a Flórida visitar a família do meu marido
por algumas semanas. Só estou na cidade porque paramos na casa dos
meus pais em Langley Park esta manhã para nos despedir antes de par-
tirmos. Prometi às crianças que tomaríamos sorvete depois.

— E quando você voltar da sua viagem? — Em perguntou. Ela sa-


bia que Tiffany só tinha alguns minutos antes que os dois filhos entras-
sem no modo de crise.

— Acho que não vou ajudar muito. Realmente me lembro muito


pouco daquela noite.

— Qualquer coisa que você se lembra pode ser útil, — disse Micha-
el, passando o braço em volta de Em e esfregando seu ombro.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Tiffany sorriu, mas algo melancólico coloriu sua expressão.Eu
sempre soube que vocês dois acabariam juntos.

— Por favor, Tiffany — disse Em. — Apenas uma conversa. Apenas


uma xícara de café quando você voltar. Significaria muito para mim.
Para nós.

Michael a puxou um pouco mais perto e esfregou a mão no braço


dela. - Qualquer coisa que você se lembre pode ser útil, Tiff. Em está
certa. Nós poderíamos usar sua ajuda.

Tiffany assentiu e remexeu com a mão livre na bolsa. Ela entregou


uma caneta e um bloco de notas a Em. Anote o seu número de telefone.
Ligo para você quando voltarmos à cidade.

MICHAEL PEGOU A MÃO DELA. Vamos pegar seu casaco e sapatos. Você
deve estar congelando.

Em assistiu Tiffany disputar seus filhos e entrar na sorveteria.

— Eu pensei que você fosse para casa? — Em disse.

— Esse era o meu plano, mas vi Nick saindo da cafeteria e come-


çamos a conversar. Ele decidiu fazer de Kansas City sua casa e quer se
mudar para Langley Park.

— Eu pensei que ele já morava aqui?

— Não, ele mora em Nashville, mas voa por toda parte. Sempre que
passa uma escala em Kansas City, fica com Sam ou com uma tia que
tem nas proximidades em Mission Springs.

Zoe saiu do estúdio de yoga. Ela entregou o casaco e as botas a


Em. Era quem eu pensava que era?

— Era, Em respondeu, puxando suas meias e botas. — Eu não po-


dia acreditar nos meus olhos. Eu tive que tentar falar com ela. Ela é
uma das poucas pessoas que me lembro da noite no buraco.
The Sound Of Home
KRISTA SANDOR
Zoe esticou o pescoço para olhar para a sorveteria.A última vez que
soube, ela estava morando nos subúrbios. Eu acho que o marido dela é
bombeiro. Só a vi algumas vezes desde o colegial.

— Eu não a vi uma so vez nos últimos doze anos, — disse Michael.

Em soltou um suspiro apertado e uma onda de alívio tomou conta


dela. Ela não perguntou a Michael sobre Tiffany. Ela sabia que era toli-
ce se preocupar com uma garota com quem ele se conhecera no ensino
médio, mas algo profundo na parte mais escura dela ainda odiava o fato
de Tiffany e Michael terem história.

— Você quer voltar Em?Perguntou Zoe, inclinando a cabeça em di-


reção ao estúdio de yoga. Oh não, — disseEm, eu acho que terminei de
yoga por hoje. E você Zoe?

— De jeito nenhum! Eu ainda vou fazer yoga, algum dia. Não me


interpretem mal. Eu entendo todos os benefícios disso. Mas minha mãe
e Jenna levam a um nível totalmente diferente. As duas têm que aturar
meu irmão muito mais do que eu, então vejo totalmente o apelo de zo-
near o chacra como um rutaguarda por duas horas.

Em balançou a cabeça e passou os braços em torno de Zoe. Eu re-


almente senti sua falta, Z.

— Digo o mesmo de volta para você, Zoe respondeu com um tremor


incomum em sua voz.

— Podemos ir tomar uma xícara de café no The Drip Michael ofere-


ceu.

Zoe estalou os dedos. Sim! Vamos fazer isso. Eu queria lhe contar,
falei com a repórter que fez a história no aniversário de dez anos da
morte de Tina Fowler, alguns anos atrás.

Eles andaram alguns passos ao lado do The Drip. Michael foi pedir
enquanto Zoe e Em pegavam uma mesa.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Ele ou ela se lembrou de alguma coisa?Em perguntou.

— É ela, e sim, ela lembrou que havia algumas coisas estranhas


sobre o sucesso e fuga de Fowler.

Michael acenou para eles do balcão. Eu sei a bebida de Em. O que


eu posso pegar para você Zoe?

— Três, não faça quatro doses de café expresso Zoe respondeu de


volta.

— Planeja dormir a qualquer momento esta semana? — Em provo-


cou.

— Vou dormir quando estiver morta. Agora escute. Havia algumas


coisas que meu amigo repórter achou interessantes. Zoe se inclinou pa-
ra frente.Havia dois conjuntos de marcas de pneus no local do acerto e
fuga, e a polícia não sabia ao certo qual acertou Tina.

— Ok, isso parece um pouco estranho. Eles poderiam determinar o


tipo de carro que a atingiu?

— Sem dados. Eles só podem determinar os tipos de carros que


acompanham certos pneus. Nesse caso, eles foram capazes de localizar
vários sedãs de médio porte e um caminhão utilitário leve.

Em franziu a testa.Parece que noventa por cento dos veículos que


circulam pelo Kansas.

— Sim, mas havia outra coisa que ela se lembrava do caso disse
Zoe, agora empoleirada na beira do assento.

Michael se juntou a eles e distribuiu suas bebidas. O que eu perdi?

— Eu estava apenas chegando à parte interessante. Zoe tomou um


gole rápido de seu café. Eles encontraram algumas jóias perto do corpo
de Tina. Mas a família não tinha certeza se pertencia a ela.

— Sua amiga sabia que tipo de joia?

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Ela não conseguia se lembrar. A polícia considerou alguns detri-
tos aleatórios na estrada depois que a família disse que não era dela.

Em tocou seu pescoço. Meu colar de pérolas quebrou naquela noi-


te. Não sei quantas pérolas estão faltando, mas se a polícia tivesse en-
contrado pérolas...

— Era isso que eu estava pensando, — disse Zoe. Quando a encon-


tramos, o colar estava quebrado. Pegamos porque sabíamos o quanto
era importante para você.

— Eu poderia pedir a Clay Stevens para investigar isso? Michael


ofereceu.

— Clay é o detetive da polícia? — Em perguntou.

Ele assentiu. Sim, ele pode conhecer alguém da polícia de Garrett


que não se importaria de dar uma olhada no arquivo do caso.

- Vocês ainda estão checando a lista de pontes que encontrei? Al-


guma coisa parece familiar? Zoe perguntou.

Em ergueu o branco liso para tomar um gole, mas o cheiro estava


apagado. Ela colocou a bebida na mesa.Já estivemos em várias, mas
nenhuma delas parecia a ponte por onde eu passava.

Zoe assentiu. Eu fiz algumas pesquisas por homens altos e tentei


localizar os resultados na área de Garrett. Tudo o que consegui até ago-
ra são anúncios de lojas de roupas.

— Você tem certeza de que são as palavras" homens altos "e não
um bando de caras altos? — Michael perguntou.

— Eu posso ver as palavras como se elas tivessem sido cimentadas


no meu cérebro.

— Talvez você tenha dirigido por uma loja de roupas a caminho do


buraco? Michael ofereceu.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Eu verifiquei isso Zoe respondeu.Em e eu não dirigimos por ne-
nhuma loja de roupas grandes e altas a caminho da cavidade naquela
noite.

— Seu repórter se lembrou de mais alguma coisa? — Michael per-


guntou.

Zoe assentiu. Sim, algo meio estranho. Há um memorial perto de


onde Tina foi morta, e ninguém na cidade parece saber quem o man-
tém.

— Também encontramos na noite antes da Ação de Graças, Em


entrou na conversa. E quando voltamos hoje, alguém trocou as flores
velhas e deixou um buquê fresco.

Zoe torceu o nariz. O que vocês estavam fazendo lá no dia de ação


de graças? Imaginei que vocês dois estavam convivendo com a multidão
de mais de oitenta pessoas no Senior Living Campus.

— Começamos no campus, Em, com as bochechas aquecidas e en-


tão nós...

Michael passou o braço em volta dos ombros dela. Precisávamos ir


ao oco para fazer as pazes com alguns demônios do passado.

O olhar de Zoe dançou entre eles, um brilho irônico nos olhos. Mas
então seu olhar se suavizou. Eu sou a favor de colocar velhos demônios
para descansar. Ela fez uma pausa e tamborilou com os dedos sobre a
mesa.Então o que vem depois? Eu esqueci de perguntar. O sonho de
adolescente, Tiffany Shelton, lembra de alguma coisa? Eu assumi que é
por isso que você correu para fora do estúdio.

Em balançou a cabeça. Ela disse que não se lembrava muito. Ela


não teve tempo para conversar. Ela está saindo hoje para ir para a Fló-
rida com o marido e os filhos. Mas ela concordou em se encontrar comi-
go depois que sua família voltar em algumas semanas. Talvez se eu a
pegar sozinha, ela se abrirá mais.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Isso supõe que as duas células cerebrais que Deus lhe deu ain-
da funcione disse Zoe.

— Eu sei que você nunca gostou dela, Z, mas ela parecia genuina-
mente arrependida por aquela noite.

— Possivelmente respondeu Zoe. Mas mantenha a guarda com ela,


Em.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
27
"Você vai se atrasar, Em chamou as escadas.

— Eu nunca estou atrasado, Michael respondeu, descendo os de-


graus dois de cada vez.

Em mordeu o lábio, bebendo-o quando Cody saltou entre eles. Mi-


chael MacCarron em um traje de três peças poderia acionar calor sufi-
ciente para acionar um alarme de incêndio.

— Acho que sei por que tantos de seus clientes são velhinhas, —
disse ela e ajeitou a gravata.

Ele passou a mão pelas costas dela, deixando-a assentar na bunda


dela. Por meu enorme intelecto?

— Tenho certeza de que é algo enorme. Talvez não seja seu intelec-
to?

Ele deu um beijo no nariz dela. Enorme, hein?

— Você não me ouve reclamando.

— Acha que você quer um almoço enorme no Park Tavern? Eu po-


deria passar e buscá-la depois da minha reunião.

Ela soltou um suspiro. Eu adoraria, mas os caras de Ben deveriam


terminar hoje. Quero estar aqui se tiverem alguma dúvida.

Nas últimas três semanas, seu Quadrangular havia passado de


uma zona de trabalho com um fluxo constante de comerciantes para
parecer uma daquelas casas de sonho da HGTV.

Ela mudou o que precisava para o Quadrangular de Michael. Fazia


sentido ficar lá. Ela estava fora do caminho dos trabalhadores, Cody
tinha suas portas de cachorrinho e podia ir e vir como quisesse, e Mi-
chael tinha uma cama king-size. Enquanto eles haviam passado bas-

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
tante tempo nas últimas semanas sem fôlego e emaranhados em sua
irmã gêmea, a cama de Michael era mais propício a preguiçosas ma-
nhãs de domingo .

— E meu estômago está me incomodando um pouco esta manhã.


Eu posso pular o almoço completamente.

Ele deslizou a mão da bunda dela para o estômago. — Você parece


um pouco inchada.

Os olhos dela se arregalaram.

Michael riu. Em, eu estou brincando. Provavelmente é a transição


da Austrália para a América. Tenho certeza de que você está se acostu-
mando a todos os bugs e vírus nos estados. Você sempre pode pergun-
tar ao Dr. Stein. A festa deles é hoje à noite, certo?

— Oh, sim, Zoe e Sra. Stein já mandaram uma mensagem duas ve-
zes esta manhã confirmando que estaremos lá.

— Não perderíamos por nada no mundo. Você decidiu se vai tocar?

Kathy pediu que ela trouxesse o violino. Ela tocava regularmente


no Senior Living Campus e com Michael, compondo faixas no violino
elétrico à noite, mas ainda não havia tentado a peça de Paganini.

Os dedos dela se contraíram. Não faria mal em trazer Polly.

Michael levantou o queixo e deu um beijo nos lábios. Não doeu na-
da.

O telefone dele tocou.

— O dever chama.

— Diga à sra. Bigglesworth-Bucksdale a terceira que ela pode


apreciar, mas ela não pode tocar.

Os lábios de Michael se torceram em um sorriso torto. Tenho outra


reunião depois do almoço. Talvez eu precise te encontrar no Steins, se

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
demorar muito. Ele agitou as orelhas de Cody. Cuide da nossa Em hoje,
garoto.

Ela o acompanhou até a porta e alisou uma ruga na camisa dele.

Ele apalpou sua bunda novamente e a puxou para perto. — Vou


informar à senhora Bigglesworth-Bucksdale a terceira que você envia
seus cumprimentos.

Ela riu e balançou a cabeça.

— Eu amo você, Mary Michelle, — disse ele, seu olhar verde sálvia
suavizando quando ele deu um último beijo na testa dela.

ERAM QUASE dez e MEIA quando o último artesão deixou o Quadran-


gular. Após as últimas semanas de atividade constante, a casa final-
mente ficou em silêncio. Em caminhou de sala em sala, admirando os
rodapés manchados de café expresso, as paredes recém-pintadas e os
novos aparelhos. Várias janelas foram substituídas e foram feitas atua-
lizações nos sistemas elétricos e hidráulicos.

A casa estava pronta para vender.

Ela passou as pontas dos dedos ao longo do topo do lambris. Essa


casa sempre seria querida pelo seu coração, mas ela não abrigava mais
reservas quanto à sua venda. O lar nunca fora um lugar físico. Casa era
o sorriso de Michael. Casa era a risada borbulhante de Zoe. Home pas-
sava horas assinando com a avó. Casa era a música fluindo através de
sua alma que a raiva nunca poderia acabar.

O telefone tocou com uma mensagem de texto recebida. Ela sorriu,


pensando que deveria ser Michael. Mas o texto era de um número des-
conhecido.

Voltei da Flórida. Posso encontrá-lo no Jardim Botânico de Langley


Park em quinze minutos.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
EM QUESTÃO DE SEGUNDOS, Em saiu pela porta e foi em direção aos
jardins. Um frio frio de dezembro tomou conta da noite para o dia, e ela
enrolou um lenço no pescoço enquanto subia Foxglove Lane. Depois da
estranha conversa na calçada, ela quase perdeu a esperança de que Tif-
fany a alcançasse. Em dobrou o passo. Ela não queria dar tempo para a
mulher adivinhar o encontro.

Tiffany estava parada na entrada dos jardins com duas xícaras de


café do The Drip na mão. Eu não tinha certeza do que você gosta de be-
ber. Ela passou um copo para Em. Achei que o chá de ervas era uma
aposta segura.

Em aceitou a bebida com um sorriso agradecido. Isso foi gentil da


sua parte, — disse ela, tomando um gole. Ela nunca tinha sido fã de
chá de ervas. Mas chegou ao ponto hoje.

Tiffany mudou de posição. Me desculpe, demorou tanto tempo para


eu entrar em contato com você. Voltamos da Flórida e as duas crianças
ficaram resfriadas. Hoje foi o primeiro dia em que saí de casa desde que
voltamos.

— Obrigado por concordar em se encontrar comigo. Eu sei que to-


da essa situação é bem estranha.

Tiffany assentiu. Podemos andar? Estou presa há dias.

Eles caminharam em silêncio, seguindo um caminho de pedra,


passando por sebes de grandes zimbros e grossos grupos de pradarias
adormecidas, brilhando em amarelo dourado ao sol do inverno.

— Seus filhos estão com seus pais? — Em perguntou, quebrando o


silêncio.

— Sim, não chegamos muito ao Langley Park atualmente. Com as


crianças sendo tão pequenas, meus pais costumam vir até nós. Tiffany

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
tomou um gole de chá e parou de andar. Eu preciso te dizer uma coisa,
Em.

Em gesticulou para eles se sentarem em um banco com vista para


o lago Boley.

— Eu menti para você outro dia disse Tiffany.

— O que você quer dizer?

Tiffany mexeu na tampa do copo de papel.Lembro-me daquela noi-


te no Sadie's Hollow. Na noite em que você foi ferida.

O pulso de Em aumentou um pouco. O que você lembra?

— Quão ciumenta estava. Quanto eu odiava ver Michael te beijar.


Como eu saí do meu caminho para ter certeza de que ele estava bêbado
demais para te encontrar depois que ele tocou seu set.

O coração de Em afundou, mas ela tentou manter sua expressão


neutra. Foi há muito tempo. Nós éramos apenas crianças.

Tiffany balançou a cabeça.Você sabe, ele estava sempre falando


sobre você. Sempre dizendo a todos sobre todos os lugares incríveis que
você estava visitando e sobre todas as suas apresentações com grandes
orquestras e maestros famosos.

Tiffany fez uma pausa, mas Em se forçou a ficar quieta. Ela preci-
sava dar a Tiffany espaço para conversar.

— Quando soube que você estava no vazio naquela noite, eu queria


gritar, porque sabia.

— Sabia o que? — Em perguntou.

Tiffany encontrou seu olhar. Eu sabia que ele iria buscá-la.

Em respirou fundo quando algo afiado e frio picou seu coração.


Você ainda tem sentimentos por Michael?

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Tiffany balançou a cabeça.Não, acho que nunca tive sentimentos
reais por ele. Ele era mais um prêmio. Eu sei que isso soa horrível. Mas
é a verdade. Fico doente quando penso na pessoa que eu era naquela
época.

— Parece que você está indo bem agora. Você tem dois filhos lin-
dos.

Tiffany sorriu. Eu cresci muito depois daquela noite. Conheci meu


marido alguns anos depois na faculdade. Foi quando eu descobri como
era o verdadeiro amor. Ela passou o dedo pela aliança de casamento.
Eu queria falar com você, pedir desculpas pelo meu comportamento.
Mas ouvi dizer que você se mudou para a Austrália e depois semanas se
transformaram em meses e meses em anos.

— Eu não estou brava com você, Tiffany. Eu só quero descobrir o


que aconteceu naquela noite.

Tiffany olhou para o lago. Eu passei por aquela noite na minha ca-
beça desde que você me parou na rua. Tudo o que me lembro é de al-
guém me entregando uma bebida, e então eu dei a você.

— Você se lembra quem lhe deu a bebida? Foi Gabe Sinclair? Ele
me entregou uma bebida quando cheguei com Zoe.

— Não, eu teria lembrado se era Gabe - e Gabe estava ocupado


montando o equipamento do DJ. Não, alguém me entregou a bebida.

Em assentiu. A última coisa concreta que me lembro daquela noite


foi tomar essa bebida de você. Depois disso, é como se tudo tivesse se
tornado um sonho louco e distorcido.

Tiffany ofegou. Parece que você estava drogada. Eu tinha essa ami-
ga na faculdade e o mesmo aconteceu com ela quando ela tentou o Spe-
cial K.

— K especial? Em ecoou.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Sim, o nome verdadeiro é cetamina. Pode realmente atrapalhar
você. Minha amiga ficou fora por horas.

— As crianças fizeram isso no Sadie's Hollow?

— Geralmente não, mas aquela noite deveria ser o grande golpe


antes que todos fossem para a faculdade. Eu não ficaria surpresa se
alguém colocasse as mãos em um Special K para a ocasião.Tiffany fez
uma pausa e sua mão voou para o peito. Jesus Cristo.

— O que é isso? — Em perguntou.

— Ninguém me disse para lhe dar essa bebida, Em. Só o fiz porque
queria afastar Michael de você. Mas, se esse soco foi cravado com algu-
ma coisa, não acho que foi para você. Deve ter sido para mim.

— VOCÊ ACHA QUE alguém estava tentando drogar Tiffany? — Mi-


chael perguntou, puxando o Audi para o trânsito.

Em se acomodou no banco da frente. A reunião de Michael estava


atrasada, mas ele insistira em parar na casa para buscá-la.

Ela soltou um suspiro. Até onde sabemos, a bebida tinha que está
com algum tipo de droga. Você consegue pensar em algum garoto do
ensino médio que gostava desse tipo de coisa?

— Eu posso pensar em algumas pessoas do ensino médio que po-


deriam estar nessa cena. Infelizmente, essa merda não foi difícil de en-
tender. Mas eu não os vejo há anos. Eu nem sei se eles ainda estão na
área.

Em pegou na ponta da manga. Alguém se desentendeu com Tiffany


naquela época? Eu sei que Zoe não gostava dela, mas está muito longe
de não gostar de alguém e drogá-la.

Michael balançou a cabeça, mas manteve o olhar na estrada.Não,


não consigo pensar em ninguém. Tiffany era bastante popular, e ela

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
principalmente se manteve com sua multidão. As garotas do ensino
médio podem ficar chatas, mas eu nunca ouvi falar de alguém a odian-
do o suficiente para machucá-la assim. O que é esse K Especial, afinal?

— O nome real é cetamina respondeu Em.Tiffany mencionou que


uma amiga dela tentou na faculdade. Ela disse que a garota pratica-
mente desmaiou e não se lembrava de nada. Eu fiz uma pequena pes-
quisa sobre isso hoje. É considerado um remédio para estupro, como o
Rohypnol. Pode fazer você se sentir preso em algum estado de sonho.
Pode distorcer o som e a visão. As pessoas dizem que perdem partes do
tempo que não conseguem explicar quando estão nele.

— Cristo! Zoe e eu pensamos que talvez alguém tivesse lhe dado


ácido ou cogumelos. Esse material estava sempre por perto. Eu nunca
toquei, mas muitas crianças tocaram. Não me lembro de alguém usan-
do drogas pesadas como a cetamina.

Em olhou para a estrada.Estou preocupada que minhas memórias


daquela noite não sejam reais. Se eu ingerisse este medicamento, qual-
quer coisa poderia ter acontecido comigo. Eu não teria sido capaz de
dizer o que era real e o que não era.E Clay Stevens? Já ouviu falar sobre
as jóias encontradas no local do acidente de Tina Fowler?

— Ainda não. Eu verifiquei com ele alguns dias atrás. — ele disse
que faria uma ligação, mas não tinha ouvido nada. Eu sei que o Depar-
tamento de Polícia de Garrett é muito fraco quando se trata de dólares
para a aplicação da lei. Quem quer que ele contatou pode estar inunda-
do de casos. Podemos perguntar a ele novamente hoje à noite. Há uma
boa chance de ele estar na festa.

— Não, eu não quero estragar o clima. Sei que os Steins investem


muito em sua reunião de férias.

Michael pegou a mão dela. Você tem certeza de que está pronta pa-
ra uma festa hoje à noite? Eu sei que seu estômago estava incomodan-
do você mais cedo e agora tudo isso com Tiffany é bastante estressante.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ela apertou a mão dele. Estou bem.

— Estou feliz que você decidiu trazer Polly — disse ele.

Ela olhou por cima do ombro para onde havia segurado o violino
Paul Bailly no banco de trás.Eu não gostaria de decepcionar a senhora
Stein.

— Você tem alguma peça em mente que gostaria de tocar?

— Os sinos de tinir. Convés dos Salões. Essa música fofa de pião.


Não é uma lista de reprodução tão difícil nesta época do ano.

— Você sabe o que eu quero dizer — disse ele.

Encontrara seu antigo livro de bolso contendo os 24 caprichos para


violino de Paganini, mas não havia tentado tocar nenhum deles, especi-
almente Nel cor più non mi sento. Ela nem abriu a capa. Mas ela não
precisava. A música estava gravada em sua alma. Ela tentou demais
nos últimos doze anos, mas nunca conseguiu se separar da música.

Os dedos dela se contraíram. Veremos. Tenho certeza de que pode-


rei inventar alguma coisa.

Michael fez a última curva na rua Stein, e eles foram recebidos


com um mar de carros na estrada. A casa em estilo colonial de tijolo
vermelho do Stein's Langley Park estava enfeitada com grinaldas e luzes
cintilantes, como Em lembrou nos últimos anos. Quando ela estava na
escola, Zoe e ela costumavam fazer esconderijos e brincar de agentes
secretos sob a toalha de mesa ornamentada que cobria a mesa do bufê.

Michael encontrou uma vaga de estacionamento algumas casas


abaixo, e eles caminharam de mãos dadas para os Stein.

— Você quer que eu carregue Polly? Ele perguntou.

— Não, obrigado, eu do conta.Em apertou sua pegada. O peso sóli-


do do violino era tão reconfortante quanto o querido ursinho de pelúcia
de uma criança.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Eles nem tinham batido na porta antes que ela se abrisse e Kathy
Stein os encontrou com um sorriso fácil.

— Michael! Em! Estou tão feliz que você conseguiu.

Kathy levou-os para dentro e pegou seus casacos. Ela olhou para o
estojo de violino. — Posso? — Ela perguntou, gesticulando para o caso.

Em entregou.

Kathy abriu as travas e, com um toque gentil da mãe, levantou a


tampa. Lembro quando você conseguiu isso. Seus pais ficaram tão ani-
mados quando encontraram este violino.

Em assentiu, sabendo que se ela dissesse alguma coisa, sua voz fa-
lharia de emoção.

Kathy encerrou o caso. Como está a sua mãe? Aposto que ela está
ansiosa para levá-la de volta à Austrália.

— Minha mãe está indo bem. Conversei com ela hoje mais cedo,
mas não pretendo voltar para a Austrália tão cedo.

Os olhos de Kathy se arregalaram. Você vai ficar?

Em compartilhou um olhar com Michael. Ainda não haviam conta-


do a ninguém sobre sua decisão de ficar em Langley Park, nem mesmo
o pai.

— Você não está vendendo a casa? — Kathy perguntou.

— Não, eu ainda estou vendendo a casa, mas . . .

— Mas, Em vai ficar comigo, — acrescentou Michael.

Os olhos de Kathy brilharam. Por quanto tempo?

Michael passou o braço em volta do ombro dela. Eu estava espe-


rando para sempre — disse ele.

Em encontrou seu olhar. Eu gosto do som disso.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Oh, vocês dois disse Kathy, estendendo os braços e puxando os
dois para um abraço. O prazer é todo meu. Apenas encantada. Alguém
mais sabe? Zoe e Ben não mencionaram nada para mim.

— Você é a primeira pessoa que contamos disse Em.

Kathy os soltou, mas segurou suas mãos. Ela fechou os olhos e os


três ficaram em círculo, as mãos entrelaçadas.

— Você sente isso? Kathy perguntou.

Michael lançou um olhar divertido para Em.

Kathy abriu os olhos. É a sua energia. Você se equilibra perfeita-


mente.

— Eu quero tocar Ring Around the Rosie, — veio a voz de uma ga-
rotinha.

Kate Fisher apareceu vestindo um suéter de férias de Harry Potter


e se abaixou sob as mãos entrelaçadas para ficar no meio do círculo.

Eles soltaram as mãos e riram.

— Eu gosto do seu suéter Harry Potter disse Em, assinando en-


quanto falava com a garotinha.

O rosto de Kate se iluminou e ela fez o sinal de Harry Potter de vol-


ta.

Jenna Fisher se juntou ao grupo com o marido, Ben, ao lado dela.


Ben estava vestindo um suéter de férias com Darth Vader em um cha-
péu de Papai Noel.

— Somos uma casa dividida, — disse Jenna com um sorriso.

— Ouvi dizer que os caras terminaram o trabalho no seu Quadran-


gular hoje. Eu adoraria vir e conferir o produto final - disse Ben.

— A qualquer momento! E muito obrigado por toda a sua ajuda. A


casa está maravilhosa - respondeu Em.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Eu posso até ter um comprador em potencial para você acres-
centou Ben. — Sra. A afilhada de G está querendo se mudar para Lan-
gley Park.

— E não se esqueça de mim. Vou procurar comprar nesta área dis-


se Nick Kincade, enquanto ele e Zoe se juntavam à reunião vindos do
saguão.

Em olhou de Ben para Nick. Nick estava usando a mesma estrela


Camisola de guerras como Ben.

— Veja, Michael disse com um sorriso irônico.Eu disse que eles le-
varam essa coisa de Guerra nas Estrelas a sério.

— Isso aconteceu puramente por acaso Nick disse, apertando a


mão de Michael.

— E por acaso disse Zoe, ele quer dizer totalmente de propósito.

Kate colocou as mãos nos quadris e puxou a manga de Kathy. Se


vamos ficar no hall de entrada durante toda a festa, posso ir buscar a
tigela de doces?

Kathy bateu palmas.Kate está certa! Venham todos. Vamos nos


juntar aos outros convidados.

Michael pressionou a mão nas costas dela.Você está bem?

Em sorriu. Eu estou bem.

Eles entraram em uma grande área da cozinha que se abriu em


uma espaçosa sala de estar. O marido de Kathy, Dr. Neil Stein, acenou
do outro lado da sala. Ele estava falando com uma mulher mais velha
que parecia vagamente familiar.

— Em! Michael! Neil disse, juntando-a em um abraço caloroso. Es-


tou tão feliz que você conseguiu.

— Esta é Eve Medina disse Neil. Eu não tenho certeza se você se


lembra dela.
The Sound Of Home
KRISTA SANDOR
— Dra. Eve Medina - Michael acrescentou.A futura sensação médi-
ca da internet.

A mulher sacudiu a cabeça. É tão bom ver você, Em. Nós nos co-
nhecemos há muitos anos. Fiz sua cirurgia de reparo do tendão.

Em procurou em sua memória. Seu tempo no hospital foi quase


tão desfocado quanto na noite em que ela foi ferida. Ela deu outra olha-
da na Dr. Medina. Um pouco de cinza estava entrelaçado nos cabelos
negros da mulher agora, mas ela se lembrava dos olhos castanhos tran-
quilizadores da mulher.

— Dr. Medina - disse Em, pegando a mão da mulher.É tão bom ver
você. Eu não estava no meu melhor na última vez que nos vimos.

— Não me lembro assim disse a médica. Lembro que você era uma
jovem muito corajosa. Posso? Ela apontou para a mão machucada de
Em.

Ela levantou a mão para a inspeção do Dr. Medina.

— Lembro que foi um corte limpo. Ela flexionou e dobrou o dedo


anelar de Em. Você acompanhou a fisioterapia? Parece que seu tendão
sarou lindamente.

— Na verdade não respondeu Em.Parti para a Austrália logo após


me machucar. Fiz alguma terapia, mas nada regularmente.

— Huh, — disseMedina, continuando a manipular o dedo. — Posso


perguntar que tipo de trabalho você faz? Lembro-me de ouvir que você
era música.

— Depois de me machucar, parei de tocar música e fui trabalhar


em uma escola para crianças com deficiência auditiva

O médico estreitou o olhar.Você usou linguagem gestual?

— Sim todo dia.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
O Dr. Medina compartilhou um olhar com Neil.Você está pensando
o que eu estou pensando?

Neil sorriu. Seu tempo trabalhando na escola e assinando todos os


dias é provavelmente o que fortaleceu seu dedo e permitiu que você re-
cuperasse o pleno uso. Parece certo, Eve?

Dr. Medina assentiu. Eu concordo com essa avaliação, Dr. Stein.

Em engoliu um nó na garganta. Isso é incrível! Todo esse tempo,


pensei que havia perdido minha capacidade de tocar.

— E o tempo todo você estava ajudando seu tendão a se recuperar


acrescentou Michael.

— Posso roubá-lo de você por um momento, — disse Medina, apon-


tando para Michael.

— Eve quer publicar algumas de suas cirurgias no YouTube, —


disse Michael.Estou revisando um pouco do idioma no aviso.

— Michael está me fazendo um grande favor. Dê-me um tendão ex-


tensor rompido e sei exatamente o que fazer. Mas quando se trata de
jargão jurídico, é tudo grego para mim.

"Só vou demorar um segundo", — disse Michael, depois seguiu o


Dr. Medina até a cozinha.

Neil deu a ela um sorriso sorridente. As coisas têm um jeito de se


resolver, não é?

Em engoliu outro pedaço. Eles fazem.

Neil apontou para o estojo de violino.Eu esperava que você tocasse


para nós esta noite. Você tem algo em mente?

— Sim, — ela respondeu.

Ele deu um tapinha no ombro dela. Todos! Todo mundo, posso ter
sua atenção? Ele chamou enquanto as conversas se acalmavam. Temos

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
um grande prazer para você hoje à noite. Nossa própria Em MacCaslin
trouxe seu violino e tocará para nós hoje atenção.

Em examinou a sala em busca de Michael, mas seu olhar encon-


trou Tom e Mindy Lancaster primeiro. Eles tinham acabado de chegar e
ainda estavam de casaco.

Tom assentiu com a cabeça enquanto Mindy permanecia congelada


no lugar.

Ela piscou e, quando abriu os olhos, Michael estava se movendo


em sua direção através da multidão de pessoas que se reuniram ao seu
redor.

Ela abriu a caixa e pegou o violino e o arco. Pensei em começar


com uma peça que não interpreto há muito tempo, — disse ela, dese-
jando que sua voz não falhasse.Esta é uma peça de Niccolò Paganini. É
intitulado Nel cor più non mi sento.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
28
Em fechou os olhos. Alguém uma vez perguntou a ela o que passou
por sua cabeça antes de tocar uma peça musical. Ela nunca poderia
responder à pergunta porque o que aconteceu não aconteceu apenas
em sua mente. Antes de tocar a primeira nota, todo o seu corpo deixou
de ser uma coleção de sangue, ossos e órgãos. Quando ela segurava um
violino, ela desapareceu em um lugar onde apenas o som e a vibração
habitavam.

Ela abriu os olhos e encontrou o olhar de Michael antes de desapa-


recer para aquele lugar distante. Então, como uma artista desenhando
a primeira pincelada de tinta na tela, ela tocou a peça. Seus dedos lem-
braram cada nota e cada puxão das cordas. A música de Paganini saiu
dela como a corrente de uma inundação repentina sobre o Serengeti
banhado pelo sol. O arco não era apenas pedaços de madeira, marfim e
crina de cavalo. Era a extensão viva do seu braço direito. As regras do
tempo pareciam se curvar. Ela poderia estar tocando por cinco segun-
dos ou cinco horas quando, com um golpe final, a peça chegou ao fim.

Ela exalou. Ela nem tinha certeza se havia respirado enquanto


brincava. Abrindo os olhos, ela olhou para o comprimento do violino. A
cicatriz em seu dedo anelar espreitava como uma atleta estrela implo-
rando para voltar ao jogo. Até agora, essa cicatriz era a prova inabalável
de seu fracasso. Agora, era a marca inconfundível de seu triunfo.

Ela segurou o violino ao seu lado e encontrou Michael na multidão.


A sala inteira ficou parada como se não tivessem certeza se o que havia
acontecido era real. Ele sorriu e acenou para ela, seus olhos verdes sál-
via vidrados de emoção. Ele fechou a distância entre eles e a beijou na
frente de toda a festa.

Ela estava em casa.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Michael recuou uma fração.Você foi incrível, ele sussurrou contra
os lábios dela antes de pressionar outro beijo no canto da boca dela.

A sala explodiu em aplausos. Em examinou a multidão. Zoe e


Kathy estavam se abraçando, lágrimas escorrendo pelo rosto. Tom Lan-
caster encontrou seu olhar e deu uma tapinha em seu coração, assim
como na última vez em que ela tocou essa peça há doze anos, quando
se apresentou no benefício da sinfonia antes de sua infeliz viagem a Sa-
die's Hollow.

Ela olhou para o violino. Eu fiz isso. Eu realmente fiz isso.

— Tudo o que você passou trouxe você aqui, — Michael respondeu.

Tom se juntou a eles, e seu sorriso lacrimejante falou muito. Nun-


ca ouvi a peça de Paganini ser tocada com mais profundidade ou mais
emoção. A última vez que você tocou essa peça não me interpretem mal
foi tecnicamente perfeita. Mas agora, agora sua música tem um compo-
nente emocional inigualável.

O calor de um rubor subiu por seu pescoço. Pareceu diferente. Eu


senti...

— Grata? — Tom ofereceu.

Ela assentiu. Foi isso. Antes de sua lesão, seu presente era algo
que ela sempre teve. Desde o momento em que acordou, até os segun-
dos antes de adormecer, seu presente estava com ela como uma gêmea
inseparável. Mas após o acidente, pela primeira vez em sua vida, ela es-
tava completamente sozinha, sem seu companheiro musical constante.

— Sim, sou grata, — disse ela.Eu nunca pensei em recuperá-lo. Eu


pensei que tinha perdido para sempre.

— Seu presente ainda está lá. Na verdade, acho que você nunca
pareceu melhor — disse Tom.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Ele está certo, acrescentou Michael. Ouvir você tocar era como
ser transportado para outro mundo.

Tom assentiu. Eu acho que devemos colocá-la de volta no palco.


Eu posso falar com algumas pessoas na sinfonia.

— Eu concordo, — disse Michael. Ele se virou para Tom. Em e eu


estamos trabalhando em algumas músicas. É uma mistura de peças
clássicas misturadas com elementos eletrônicos e techno. É coisa de
vanguarda. Há muitos seguidores para isso online. Muitos músicos da
Internet conseguiram contratos lucrativos de gravação começando des-
sa maneira.

Tom assentiu.Comecei a ouvir esse tipo de gênero crossover. É


uma coisa fascinante e realmente envolve a geração mais jovem para
explorar as raízes clássicas.

O olhar de Em saltou entre Michael e Tom como se ela estivesse


assistindo uma partida de tênis. A agitação de suas palavras fez sua
cabeça girar.

— Espere, — disse ela, colocando o violino cuidadosamente em


uma mesa de canto. Ela passou o braço pelo de Michael e se inclinou
para ele.

— Você está bem, Em? — Ele perguntou.

Ela estava tonta.É tudo um pouco esmagador, respondeu ela, con-


centrando-se em sua respiração.Não estou pronta para tocar a sinfonia
agora. E definitivamente não estou pronta para ser uma sensação da
Internet.

— Claro, Em, Tom disse com o mesmo sorriso gentil que ele lhe de-
ra quando criança. Mas você deve saber, tudo estará lá quando você
estiver pronta. Apenas diga a palavra. Não tenho certeza de quando vo-
cê está voltando para a Austrália, mas...

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Kathy Stein interrompeu e bateu uma colher em uma taça de
champanhe.Acho que é um momento tão bom quanto qualquer outro
para fazer um brinde.

A sala ficou em silêncio quando Neil, Ben e Zoe distribuíram taças


de champanhe.

Kathy sorriu para seus convidados. Temos muitas coisas pelas


quais agradecer, não temos amigos?

A sala zumbiu com murmúrios de acordo quando Neil passou um


braço em volta de sua esposa.

— Somos gratos por todo o seu amor e amizade. Somos gratos pe-
los muitos presentes que a vida nos dá todos os dias.

Em olhou para cima e Kathy encontrou seu olhar. Os olhos de


Kathy fizeram uma pergunta. Em sabia o que ela estava perguntando e
assentiu.

— Somos gratos por ter Em casa. Fico feliz em lhe dizer que ela de-
cidiu ficar em Langley Park.

A sala mudou seu foco de Kathy para ela. Michael passou o braço
em volta dos ombros dela e deu um beijo em sua têmpora.

Kathy piscou para conter as lágrimas. Querida, é tão bom ter você
em casa. Vamos todos levantar nossos copos e, com profunda gratidão
em nossos corações, vamos brindar a Langley Park. Não é só onde mo-
ramos. É onde nós amamos.

O tilintar de vidro encheu o ar, e Michael bateu seu copo contra o


dela. Eu acho que é oficial. Você está aqui para ficar.

Ela olhou ao redor da sala. Sam havia chegado e estava segurando


Kate nos braços. O par deu a ela sorrisos brilhantes e dois polegares
para cima. Zoe estava ao lado de Ben e Jenna.

Sua amiga enxugou uma lágrima e murmurou: — Te amo.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Em moveu a boca respondeu: — Também te amo!

Ela largou o champanhe e apoiou as mãos no peito de Michael. ca-


sa, — disse ela, É bom estar em casa, — disse ela, levantando os dedos
dos pés. Ele a encontrou no meio e deu outro beijo em seus lábios.

— EU TENHO algumas coisas de última hora que preciso fazer antes


de irmos para o Campus de Vida Sênior, — disse Michael, fechando o
casaco. E uma dessas coisas pode ou não envolver um determinado
presente de Natal para você.

Em aconchegou-se no sofá na sala de estar de Michael. Seu estô-


mago estava agitando novamente, mas ela não queria preocupá-lo.

— Para minha sorte, terminei minhas compras há dois dias. Você


está com tudo certo, não é? É véspera de Natal.

Eles haviam comprado uma árvore de um vendedor na praça da


cidade de Langley Park há alguns dias, pescado todos os seus ornamen-
tos de infância favoritos de caixas empoeiradas e pendurado as meias
na lareira no Quadrangular de Michael. Ela comprou o presente de Mi-
chael - um teclado sofisticado para eles usarem no estúdio de gravação
da casa da garagem - alguns dias após a festa do Stein. Mas ela não ti-
nha ideia do que ele tinha reservado para ela.

— Você não pode colocar um limite de tempo na perfeição, — disse


ele. Ele a olhou. É seu estômago, de novo?

— Não é nada, — disse ela, dando um tapinha em Cody, que esta-


va cochilando no sofá ao lado dela.

Ele lançou-lhe um olhar duvidoso. Vou trabalhar o mais rápido


que puder. Se eu conseguir resolver algumas coisas hoje, não precisarei
trabalhar muito na próxima semana.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ela o acompanhou até a porta. Desculpe, você acabou de dizer
lamber?

Ele se abaixou e deu um beijo nos lábios dela. Quando eu voltar,


não vamos sair da minha cama pela próxima semana.

Ela inclinou a cabeça para o lado. E a comida?

— Completamente superestimado. Mas, com o estômago, é melhor


fazermos alguns pratos de queijo grelhado. Podemos deixá-los ao lado
da cama.

Ela balançou a cabeça. Vejo você em algumas horas.

— Eu posso demorar um pouco mais que isso. Vou trabalhar o


mais rápido que puder. Ele deu um beijo na testa dela.Você deveria dar
uma olhada na caixa velha que encontrei na sua casa da garagem
quando estava procurando os enfeites de Natal. Acho que tinha alguns
de seus livros de música antigos e possivelmente um diário ou dois.

Os olhos de Em se arregalaram. Eu certamente espero que você


não tenha lido nada.

— Eu acho que eles são apenas seus velhos registros de prática.

Ela bateu no peito dele. Você os leu!

— Não, você sabe que eu não faria isso, Em, — disse ele, apertando
a mão dela.Dê uma olhada. Deixei a caixa na cozinha.

Michael foi para o escritório e ela entrou na cozinha. A velha caixa


estava quebradiça e branqueada pelo sol em um canto de onde devia
estar exposta à luz na última década, talvez mais. Ela abriu a caixa e
sacudiu uma nuvem de poeira.

— Olhe para eles, — disse ela quando Cody se juntou a ela na co-
zinha. Ela adorava usar agendas para registrar não apenas o tempo de
prática, mas quase todos os aspectos de seu dia. Desde os oito anos de
idade e até o acidente, ela gravou todas as suas atividades diárias.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Eu era uma garota muito completa, Cody.

O cachorro inclinou a cabeça de um lado para o outro como se en-


tendesse.

— Gravei tudo:Quando acordei, quando pratiquei, até meu...Ela


parou a narração e passou o dedo por uma série de pontos vermelhos,
cada um aparecendo por cinco dias consecutivos.

— Oh meu Deus, ela sussurrou. A menstruação dela era irregular


desde que ela era adolescente. Os pontos vermelhos eram sua maneira
não tão sutil de rastrear seu ciclo. Ela começou a tomar pílulas anti-
concepcionais para combater isso aos dezoito anos, pouco depois de se
mudar para a Austrália. Então uma realização quase a deixou sem fôle-
go.

Ela correu para o banheiro e vasculhou sua bolsa de cosméticos


onde guardara as pílulas. Ela parou de usar maquiagem pesada e mal
tocou a bolsa nas últimas semanas.

De volta à Austrália, ela tinha uma rotina definida. Primeiro, ela


tomava a pílula anticoncepcional. Em seguida, ela aplicaria sua másca-
ra de maquiagem. Mas agora que ela estava em Langley Park, essa roti-
na havia sido abandonada. Quanto tempo se passou desde que ela
abriu o zíper da bolsa? Ela examinou a mochila. Quase cheio, e deveria
estar quase vazio.

Apesar de tomar a pílula, ela sempre insistiu em usar camisinha


com seus parceiros sexuais.

Mas ela não tinha com Michael.

Em olhou-se no espelho. Virando-se para o lado, ela olhou para o


abdômen. Ela não parecia diferente. Pelo menos, ela não achava que
sim. Ela tamborilou com os dedos na pia e tentou pensar. Seu último
período começou no dia seguinte ao Halloween e terminou alguns dias
depois. Ela não tinha um desde então.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ela fechou os olhos e tentou organizar seus pensamentos. Ela teve
crises de náusea. Ela preferia o chá de ervas ao seu café expresso em
branco liso, e não conseguia se lembrar da última vez que quisera um
gole de álcool. Ela abriu os olhos e se examinou no espelho.

— Uau, ela respirou, pressionando as mãos no abdômen.

O CRONÔMETRO APITOU. Em olhou enquanto outro sinal cor-de-rosa


ousado florescia sob a tira de plástico transparente. Todos os dez testes
de gravidez em casa chegaram à mesma conclusão: Mary Michelle Mac-
Caslin estava grávida.

— Cody, você vai ser um irmão mais velho.

O cachorro inclinou a cabeça e Em riu, depois chorou, depois riu


mais um pouco.

— Um bebê, — disse ela, incapaz de parar de sorrir. Ela nunca ha-


via considerado a maternidade. Mas o pensamento de ter um bebê com
Michael apenas fez seu coração explodir de alegria.

— Devemos ligar para Michael? — Ela perguntou ao cachorro. Co-


dy inclinou a cabeça. Oh, você não ajuda, — disse ela, coçando entre as
orelhas dele.

— Não! Vamos surpreendê-lo.

Em coletou todos os dez testes de gravidez e os escondeu por toda


a casa enquanto Cody a observava com uma expressão perplexa.

Ela levantou o último. Não podemos esquecer a casa da garagem.

Ela calçou as botas e caminhou a curta distância pelo quintal. Ela


acendeu a luz da casa da garagem e um calor floresceu em seu peito.
Folhas de papel rabiscadas com anotações musicais estavam espalha-
das pela mesa ao lado do equipamento da estação de trabalho de áudio
digital.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ela queria esconder esse último teste de gravidez sob as partituras
do remix Chopin Nocturne 20, mas um pedaço de papel laranja preso
ao lado da estação de trabalho chamou sua atenção.

Carregar todos os arquivos do projeto EM

Ela arrancou o bilhete da mesa. A raiva esmagadora substituiu a


onda de euforia alegre. Ele prometeu que não faria nada com a música
deles até que ela estivesse pronta. Ela pegou um lápis e escreveu uma
mensagem no final da nota de Michael:

Tanta coisa por ser MELHOR JUNTO!

Lágrimas furiosas embaçaram sua visão. Esfregando os olhos, ela


deixou a nota e o teste de gravidez em cima da mesa e saiu correndo da
casa. Seu olhar saltou entre os dois quartetos americanos. Toda a his-
tória compartilhada se aproximava dela. Sufocando-a. Abafando-a com
seu engano. Ele foi pelas costas dela. Ele mentiu. Ela balançou a cabe-
ça. Não poderia ser verdade. Michael não faria isso. Ele faria?

Ela teve que sair dali. Mas para onde ela iria? Ela pegou o telefone
do bolso de trás. Passava pouco das três da tarde, mas era véspera de
Natal. Ela olhou para a casa da garagem. O cupê Mercedes vermelho
cereja espiava através das janelas quadradas.

Ela iria dar uma volta. Limpe a cabeça dela. Ela abriu a garagem,
pegou as chaves do bolso e ligou o motor. Cascalho triturou e cuspiu
em um som zangado quando ela desceu a calçada e entrou na Foxglove
Lane.

Nuvens escuras rolaram quando a temperatura caiu. Ela ligou o


aquecedor e dirigiu sem rumo em círculos pelo centro da cidade de Lan-
gley Park, tomando cuidado para não passar pelo escritório de Michael.

O que ele estava pensando? Ele realmente acreditava que ela ficaria
satisfeita com isso? Essa traição deveria ser o presente de Natal dela?

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ela piscou de volta as lágrimas quentes que ameaçavam derramar
em suas bochechas. Ela não teve o luxo de se afundar de raiva. Não
dessa vez. Ela estava gravida. Havia outra vida a considerar. Em apoiou
a mão no estômago, e as lágrimas que ela mantinha afastadas vieram
escorrendo em raias raivosas.

Ela entrou na Mulberry Drive e uma garoa gelada embaçou seu pá-
ra-brisa. Ela ligou as palhetas no momento em que o telefone tocou,
alertando-a para uma nova mensagem de texto. Ela parou perto da ca-
feteria e olhou para a tela. Foi um texto de Michael.

Encontrei sua nota. Não é o que você pensa. EM é Eve Medina. Dr.
Medina. Os arquivos que eu enviei foram suas cirurgias. Venha para ca-
sa, Em. Nós precisamos conversar. Eu preciso ver você. Encontrei todos
os testes. Eu te amo, Em. Eu nunca iria pelas suas costas. Sempre somos
melhores juntos.

Ela olhou para o texto enquanto lágrimas de alívio substituíam as


lágrimas de raiva. Ela limpou o rosto com a manga do casaco e depois
mandou uma resposta:

Apenas dirigindo por aí. Eu voltarei para casa.

Ela colocou o telefone no console do cupê, girou o volante e acele-


rou. Imediatamente, ela pisou no freio. Um homem saiu para atravessar
a rua. Ela jogou o carro no parque e saiu.

— Sinto muito, — disse ela, protegendo os olhos do vento e da


chuva gelada que se intensificaram. Eu não vi você!

O homem abaixou o capuz.

— Kyle?

Kyle Benson encontrou seu olhar. Sim, sou eu.

— Eu sinto muito. Você está bem?

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Estou bem. Ele olhou para o céu. Você se importaria de me dar
uma carona para casa. Está caindo muito bem agora.

Ela apontou para o cupê. É claro é claro.

Eles entraram no carro e Kyle pegou o telefone.

— Você tem planos para o Natal? — Ela perguntou, guiando o ve-


lho Mercedes no trânsito.

Kyle estava digitando algo em seu telefone. Em olhou por cima. Ela
não sabia dizer se era um texto ou e-mail. Ela esperou que ele respon-
desse, mas ele não respondeu.

— Kyle? Ela tentou novamente. Está tudo bem?

Ele parecia mais magro, oco.

— Você está doente?

A cabeça de Kyle se levantou. Não.

Em virou a rua e parou na frente de sua casa.Estamos aqui, —


disse ela, olhando para o telefone. Michael estaria se perguntando por
que ela não tinha voltado ainda.

— Você tem um minuto para entrar Em?

Kyle parecia um fantasma. Seu brilho saudável habitual foi substi-


tuído por um tom pálido e cinza de água da louça. E pelo que parece,
ele não tinha se barbeado há alguns dias também.

— Eu realmente não tenho muito tempo. É melhor eu ir. Michael


está me esperando.

— Só vai demorar um segundo. Tenho algumas fotos que gostaria


de mostrar. Ultimamente tenho passado muito tempo perto de Sadie's
Hollow. Eu pensei que você gostaria de vê-los.

Os olhos dela se arregalaram com a menção do oco.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Lembra? Eu tenho trabalhado para a sociedade histórica do
Kansas.

Ele sorriu, mas algo em sua voz fez os cabelos da nuca dela arrepi-
arem.

- É melhor eu ir, Kyle. Eu adoraria fazer isso em outra hora.

— Cinco minutos, Em. Tenho certeza que Michael pode cuidar de


si mesmo.

Ela olhou para o telefone e voltou para Kyle. A chuva pingava do


capô do cupê com uma urgência crescente.

— Tudo bem, mas apenas por alguns minutos. Eu realmente deve-


ria estar voltando para casa.

Eles cobriram a cabeça e correram pela entrada da casa da gara-


gem de Kyle. Ele abriu a porta e a conduziu para dentro.

— As fotos estão no meu quarto. Me dê um segundo. — Kyle desa-


pareceu em seu quarto e fechou a porta parcialmente atrás dele.

Ela percorreu o comprimento do apartamento algumas vezes. A fo-


tografia que encontrara da última vez em que esteve aqui estava em ci-
ma do balcão. Mas agora, ele estava preso com fita adesiva como se al-
guém a tivesse rasgado e depois tentado reconstituir.

Ela tocou a borda da fotografia. Havia um prédio ao fundo que ela


não havia notado na primeira vez em que o olhou. Ela ficou tão surpre-
sa ao saber que Anita Benson era casada com o irmão de Mindy Lan-
caster. Ela tinha perdido completamente. Ela olhou para o prédio. Havia
algo familiar nisso.

Um barulho chamou sua atenção da foto e ela olhou pela janela.


Um carro parou atrás do Mercedes e ficou parado na rua.

— Você está esperando alguém?

Kyle não respondeu.


The Sound Of Home
KRISTA SANDOR
Ela se aproximou e espiou pela fresta da porta. Ele estava digitan-
do algo furiosamente em seu telefone.

Isso parecia errado. Em pegou o telefone, mas xingou baixinho. Ti-


nha esquecido no carro.

Kyle olhou para cima e a pegou observando-o. Ele não disse nada.
Ele nem sequer moveu um músculo.

— Eu realmente tenho que ir, Kyle. Feliz Natal.

Ela saiu do apartamento e desceu correndo as escadas. Ela abriu a


porta e parou, soltando as chaves. A mulher em pé na frente dela, com
cabelos castanhos e tingidos, produzindo um sorriso sarcastico.

— É melhor você se acalmar, — disse Mindy Lancaster, revelando


um pequeno revólver brilhante escondido dentro de sua bolsa. Vamos
dar uma volta.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
29
Michael
— EM, eu sei que já deixei um monte de mensagens, mas eu real-
mente preciso que você ligue ou me envie uma mensagem de volta as-
sim que receber isso.

Michael apertou o botão de chamada final no telefone e olhou para


o fluxo constante de chuva gelada enquanto navegava na estrada cober-
ta de gelo. Depois de meia hora dirigindo por Langley Park procurando o
cupê Mercedes vermelho de Em, ele não estava mais perto de encontrá-
la do que quando começou. Ele parou em frente ao Park Tavern. Talvez
Em tenha parado para dizer olá para Sam.

Mas onde diabos estava o carro dela?

Ele entrou na taberna e acenou com a cabeça para Sam.Você viu


Em?

Sam o encontrou na esquina do bar.Não, porque ela deveria apare-


cer? Você sabe que estou fechando em trinta minutos.

— Não posso alcançá-la. Ela não está respondendo a nenhuma


mensagem e todas as suas chamadas vão para o correio de voz.

— Aconteceu alguma coisa? — Sam perguntou.

Michael passou as mãos pelos cabelos.Tivemos uma falta de co-


municação, mas eu mandei uma mensagem com ela. Tudo parecia bem.

— Ela provavelmente parou no Steins disse Sam, cruzando os bra-


ços. Eu não ficaria muito preocupado.

— Você acha que eu já não fui lá? Ele mordeu de volta.

Sam levantou as mãos.Que porra é essa? O que está acontecendo?


Você acha que Em está com problemas ou machucada?

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Michael balançou a cabeça. Ele queria gritar. Ele acabou de desco-
brir que a mulher que amava mais do que a própria vida estava grávida
de seu filho, e de alguma forma, entre ela mandando uma mensagem
para ele, ela estava a caminho de casa, ela havia desaparecido.

Ele soltou um suspiro trêmulo. Eu só preciso encontrá-la.

Sam colocou a mão no ombro dele. Deixe-me dizer que Benson es-
tava fechando agora, e eu vou ajudá-lo a olhar.

O olhar de Michael desviou para o homem que tomou doses de te-


quila. Quando Kyle chegou aqui?

— Eu não sei. Meia hora, quarenta e cinco minutos atrás. O cara


está batendo em Cuervo desde que ele chegou aqui. É como se ele esti-
vesse em algum tipo de missão.

Kyle olhou por cima do fim do bar e depois jogou de volta outro ti-
ro. O cara parecia uma merda.

— Kyle — Michael chamou. — Você viu Em?

Kyle se inclinou para frente. Ele estava balançando a cabeça e


murmurando.

Michael caminhou até o fim do bar. — Kyle?

— Eu nunca quis que nada acontecesse com nenhum deles — dis-


se ele, rolando algo pequeno e branco entre os dedos.

Michael olhou para o pequeno objeto e a respiração ficou presa na


garganta. Ele enfiou a mão no bolso do paletó e tirou uma caixa de jóias
retangular e fina. Seu presente de Natal para Em. Ele mandou um joa-
lheiro consertar o colar de pérolas da avó.

Sam se juntou a eles e cruzou os braços. Que porra você tem em


sua mão, Kyle?

Kyle colocou a pequena esfera em cima da mesa. Uma pérola deli-


cada estava branca como manteiga contra o bar escuro.
The Sound Of Home
KRISTA SANDOR
Michael pegou a pérola e a comparou com o colar de Em na caixa
de jóias.

Uma copia perfeita.

Ele agarrou Kyle pela gola e o girou.Como você conseguiu isso,


Kyle?

Kyle não resistiu. Ele ficou mole nas garras de Michael. Nunca de-
veria ser Em.

— Do que diabos você está falando, Benson? — Michael rosnou.

Kyle encontrou seu olhar com os olhos vermelhos.Era para ser Tif-
fany. Em nunca deveria ter tomado essa bebida.

— Você batizou a bebida da Tiffany naquela noite? Por quê?

Um músculo bateu na mandíbula de Kyle. Por sua causa. Porque


você sempre conseguiu tudo. A garota mais gostosa da nossa classe.
Todo mundo clamando ao seu redor, dizendo a você que grande DJ você
era. Queria Tiffany fora de serviço naquela noite. Eu queria ver você fo-
dendo sozinho. Eu queria que você sentisse o gosto de não ser o melhor
cachorro pela primeira vez. Seu rosto caiu e ele olhou para o chão.Eu
não sabia que Em estaria no Sadie's Hollow naquela noite. Eu nunca
quis que ela se machucasse.

— Onde está Em? Eu sei que você sabe, Kyle. Você não estaria
sentado aqui acariciando esta pérola e se metendo no esquecimento do
outro lado.

— Ela está com minha tia.

— Mindy Lancaster? — Michael perguntou. Por que diabos ela es-


taria com Mindy?

Kyle deu um uivo lamentável quando Michael apertou seu aperto.

— Por que Mindy? — Michael perguntou novamente.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Você sabe o quanto eu te odeio? Kyle perguntou, seus olhos
trêmulos trabalhando para manter o foco.

Michael fez uma careta.

— Mindy odeia Em mil vezes mais.

Michael puxou Kyle para que eles fiquem nariz a nariz. Onde está
Em?

Kyle fungou.Vocês estavam chegando muito perto. Você passou to-


do esse tempo quieto.Então você encontrou o memorial de Tina.

— Foi aí que Mindy levou Em? Para o oco?

Kyle balançou a cabeça. Não, a fábrica de cimento.

— Que porra de fábrica de cimento? — Sam exigiu.

Kyle levantou o olhar. A planta abandonada em LaRoe.

— A antiga fábrica de cimento Hale? — Sam perguntou.

Michael virou-se para Sam. O que você disse?

— A antiga fábrica de cimento Hale. Foi falida anos atrás e deixou


muita gente em Garrett, LaRoe e Lyleville, sem sorte. Pelo que me lem-
bro, os Hales que administravam o local eram bastante sombrios e o
jogaram no chão.

Michael estreitou os olhos.Eunice Teller ligou para sua mãe, a jo-


vem sra. Hale. Eu pensei que ela estava confusa. Mas ela não estava,
estava?

Kyle não respondeu, mas o olhar patético em seus olhos revelou


que Michael estava certo.

Michael soltou a gola da camisa de Kyle e o agarrou pelo braço. Es-


tou levando esse saco de merda comigo para esta fábrica de cimento
Hale, — disse ele, encontrando o olhar de Sam.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Você quer que eu vá com você? Sam perguntou.

— Não, ligue para Clay Stevens. Veja se ele recebeu notícias do de-
tetive de Garrett. Deixe Clay saber o que está acontecendo. Eu tenho
que ajudar Em. E Kyle vai me mostrar o caminho.

EM APERTOU seu aperto no volante. Os pneus carecas do cupê der-


raparam e escorregaram na estrada gelada enquanto ela passava pelo
memorial de Tina Fowler. Mindy estava sentada no banco do passagei-
ro, aparentemente inconsciente das condições traiçoeiras, cantarolando
uma música em voz baixa. A arma estava em seu colo, e o rosa brilhan-
te de seu esmalte parecia caricatural em contraste com o metal brilhan-
te.

Os limpadores de pára-brisa empurravam granizo e chuva gelada


de um lado para o outro, e Em apertou os olhos. Eu deveria encostar.
Está ficando muito ruim.

— Continue dirigindo, — Mindy mordeu.Não estamos longe agora.

Em olhou para a arma. Por que você está fazendo isso, Mindy?

Mindy bateu o gesso duro contra o cano do revólver e olhou pela


janela. Os homens da minha família estragam tudo. Meu pai, meu ir-
mão. Eu pensei que meu sobrinho poderia ser diferente.

Em soltou um suspiro trêmulo. — Eu não entendo. Como isso tem


alguma coisa a ver comigo?

— Você! É sempre sobre você, Em.

Em manteve os olhos treinados na estrada.

As batidas de Mindy na arma aumentaram em ritmo. Sabe, quando


eu conheci Tom, eu era o mundo inteiro dele. Ele foi o meu novo começo
longe deste lugar esquecido por Deus. Então ele recebeu a oferta para
tocar com a Sinfonia de Kansas City. Eu não queria voltar aqui. Mas eu

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
fiz isso por ele.A batida parou.Mal estávamos ganhando dinheiro sufici-
ente para sobreviver. Sugeri que começássemos a ensinar a tentar ga-
nhar um pouco de dinheiro extra. Depois que ele conheceu você, ele não
conseguiu parar de falar sobre você. O pequeno Wunderkind de Langley
Park. Não é assim que eles te chamavam?

— Eu era criança. Tom era meu professor. Nunca foi mais do que
isso.

— Ele simplesmente não conseguia calar a boca sobre você. Eles


estão tocando com esta prestigiada orquestra. Em está viajando pelo
mundo aprendendo com os melhores dos melhores. Foi nauseante.

— Então você mandou Kyle me drogar e cortou meu dedo para que
eu não pudesse tocar?

Mindy soltou uma risada seca.Você acha que Kyle poderia planejar
algo assim? Kyle nem sabia que você estaria no vazio naquela noite. Vo-
cê não deveria ter aquela bebida estúpida e com cravos. Ele estava
guardando para outra garota. Não, Kyle, como seu pai e avô, só sabia
como estragar as coisas. Kyle ficou tão assustado quando viu você be-
ber o soco espetado. Ele não sabia o que fazer. Ele entrou em pânico e
trouxe você para a antiga fábrica de cimento da nossa família. Mas você
continuou piorando e, depois de algumas horas, ele começou a surtar.
Ele estava voltando para o oco para confessar quando aquela cadela de
bicicleta entrou em seu caminho.

Em cravou as unhas no volante, e bile quente subiu em sua gar-


ganta. Como você sabe tudo isso? Mas assim que a pergunta escapou
de sua boca, o carro balançou e saltou.

— Cuidado! — Mindy gritou, preparando-se.Estamos atravessando


o cruzamento da ferrovia.

— Junção ferroviária? — Em sussurrou.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
O corpo dela ficou tenso. Ela conhecia essa sensação. O movimen-
to se fundiu em todas as células de todos os músculos de seu corpo.
Todo esse tempo, ela pensou que tinha atravessado uma ponte de ma-
deira esburacada, mas a ascensão e queda dos velhos conjuntos de tri-
lhos de trem não podia ser confundida. Essa era a sensação de empur-
rão que seu corpo nunca poderia esquecer.

O zumbido estava de volta. Mas desta vez, o som foi amplificado e


rasgou sua mente como uma serra elétrica. Ela bateu o pé no acelera-
dor. Em vez de diminuir a velocidade, as rodas do cupê deslizaram so-
bre os trilhos em solavancos violentos e desarticulados, e o carro voou
para a frente na estrada gelada.

Mindy estava dizendo algo, gritando algo, mas o olhar de Em esta-


va preso em uma grande estrutura na frente deles. Os faróis do carro
iluminavam letras brancas desbotadas impressas ao lado de um edifí-
cio. Anos atrás, ele deve ter dito CIMENTO Hale, mas o lettering do H e
E havia desaparecido, tornando a aparência H mais como um minúscu-
lo t e o E em uma maiúscula L.

O C e E em “cimento” tinha desaparecido juntamente com o T final


de revelar apenas as letras M, E, N.

Homem alto.

As duas palavras que a assombraram por mais de uma década a


encararam como a capa esquecida de um livro antigo.

Em fechou os olhos. Flashes da noite de sua lesão ecoaram em sua


mente. Os olhos risonhos de Zoe e os lábios de Michael contra os dela
se transformaram em uma enxurrada de imagens do rosto preocupado
de Kyle, pedindo-lhe para não adormecer enquanto os faróis ilumina-
vam o lado de um prédio cinza e as palavras homens altos se gravavam
profundamente em sua mente.

Ela abriu os olhos quando o carro saiu da estrada e derrapou em


uma vala. Ela se virou para Mindy. A arma não estava mais em seu co-
The Sound Of Home
KRISTA SANDOR
lo. O olhar de Mindy saltou de seu colo para o banco traseiro. Ela se
virou e tentou alcançar a arma que havia se instalado diretamente atrás
dela. Ela estava lutando com o cinto de segurança, saltando loucamente
para tentar se libertar.

Os cintos de segurança no cupê podem ser temperamentais. Com


as mãos trêmulas, Em estendeu a mão, apertou o botão de liberação do
cinto e deu uma rápida sacudida. O cinto se soltou e ela saiu do carro.
Ainda não estava escuro, mas a pesada cobertura de nuvens e a garoa
congelante lançavam uma sombra escura na fábrica de cimento. Ervas
daninhas cobertas de vegetação, arbustos e árvores há muito negligen-
ciados envolviam a estrutura como uma cobra se contraindo em torno
de suas presas.

Em correu em direção à planta, e suas botas ficaram pesadas com


lama e terra endurecidas. Ela não queria entrar, mas era o único lugar
que poderia fornecer um lugar para se esconder. Era uma instalação
enorme. Várias estruturas altas de silo estavam lado a lado. Ela viu
uma estrutura retangular de três andares, cheia de janelas quebradas.
Lutando contra as garras cobertas de galhos nus, ela encontrou uma
abertura e correu para dentro.

Mesmo na penumbra, ela podia ver o chão coberto de escombros.


Anos e anos de folhas e galhos mortos se misturavam com metal enfer-
rujado, vidro quebrado e caixas de papelão manchadas de água. Ela
pressionou o corpo contra a parede, tentando se afastar dos pedaços
ameaçadores de madeira irregular que se projetavam do chão. Ela ina-
lou e sufocou uma tosse. O pó cinza que cobria suas roupas na manhã
em que foi encontrada ferida no Degraus para o Inferno estava grudado
nas mãos e grudado na pele, onde seu corpo havia se pressionado con-
tra a parede.

— Não há para onde ir, Em, — Mindy chamou. Sua voz ecoou con-
tra as paredes de concreto. Eu segui suas pegadas. Eu sei que você po-
de me ouvir.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Em agachou-se atrás de uma meia parede. A acústica do espaço
abandonado chiou e rangeu quando Mindy chutou detritos para fora do
caminho.

— Conheço este lugar como a palma da minha mão. Meu bisavô


construiu e administrou esta fábrica. Era uma vez, a família Hale em-
pregava toda a LaRoe. Até pessoas de Garrett e Lyleville trabalhavam
aqui. Os Hales eram respeitados. Reverenciado.

Em espiou pelo lado da parede. Mindy arrastou uma cadeira enfer-


rujada para o meio da sala, e o som de madeira raspando madeira gri-
tou como um animal ferido. Mindy sentou-se e inspecionou o revólver.

— Tenho certeza de que você pode dizer, a partir deste estado, que
a história da família Hale não é feliz. Veja bem, meu pai e meu irmão
não foram cortados do mesmo tecido que meu avô. Meu pai quase jogou
esta planta no chão. Ele era ganancioso. Ele queria sugar cada centavo
que pudesse desta planta. Ele começou a despejar águas residuais po-
luídas no riacho para reduzir custos. Depois que ele morreu e meu ir-
mão Bobby assumiu, eu rezei para que mudasse as coisas. Ele tinha
Anita, e Kyle era apenas um bebê. Mas ele não era melhor que meu pai.
Só que ele não apenas ainda estava despejando lixo no riacho, mas
também estava canalizando dinheiro da planta para alimentar seu pe-
queno hábito de jogar. Ele se matou neste mesmo edifício. Ele se tran-
cou em seu escritório e, quando as autoridades estavam prestes a ar-
rombar a porta do escritório para levá-lo, ele puxou o gatilho.

Em pressionou o rosto contra o lado da parede e colocou as mãos


sobre a boca. As finas partículas de poeira fizeram cócegas em seu na-
riz. A cada respiração, sua garganta convulsionava enquanto seu corpo
implorava para tossir.

Mindy disparou a arma.

Em gritou, e seus gritos se misturaram com os sons de vidro que-


brado.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Mindy havia se matado?

Em fechou os olhos e se pressionou com mais força contra a pare-


de, implorando à estrutura sem vida para engolir toda.

O som de folhas secas esmagando sob os pés encheu a câmara de


concreto. Em olhou para cima e viu Mindy espiando por cima da meia
parede em ruínas.

Mindy soltou uma gargalhada. O que? Você achou que eu me ma-


tei? Não sou fraca como meu irmão. Ela apontou a arma para a cabeça
de Em.Levante-se.

Em levantou-se e colocou as mãos na defensiva. Você não precisa


me machucar. Podemos acabar com isso agora. Por favor, deixe-me ir
para casa.

— Oh, eu adoraria que você voltasse para casa... para a Austrália.


Mas esse não é o plano, é? Mindy perguntou, agitando a arma. Quando
Kyle me disse que você e Michael MacCarron estavam bisbilhotando, eu
sabia que era apenas uma questão de tempo até que você se lembrasse
do que aconteceu naquela noite. — Mindy rangeu os dentes. E eu não
estou perdendo Tom. E eu não vou viver em um mundo onde todos os
momentos em que ele quer falar é você.

— Por que você perderia o Tom? Mindy, você não está fazendo ne-
nhum sentido?

Mindy levantou a arma e aquele sorriso sacarina deslizou por seus


lábios. — Quem acha que te deu essa cicatriz?

Em olhou para a mão esquerda e a costura em ziguezague da pele


levantada percorrendo o comprimento do dedo anelar. Foi você? Por
quê?

— Kyle virou-se para mim em busca de ajuda depois que ele bateu
naquela garota Fowler. Ele não podia contar para a mãe. Você sabe co-
mo ela é. Não, ele me ligou. Eu o encontrei no oco. — disse a ele que

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
voltasse para casa e dissesse à mãe que ele atingira um cervo ou um
coiote.

Em esfregou os olhos. A imagem de uma árvore com uma escada


improvisada ao lado de uma bicicleta mutilada banhada pelos primeiros
raios do amanhecer brilhou em sua mente.

Mindy deu um passo mais perto. Ela bateu as mãos no rosto de


Em. Fui eu quem a arrastou até o buraco para o inferno. Fui eu quem
pegou aquele pedaço de vidro e feri seu dedo.

Antes que Em pudesse responder, raios de luz passaram por ela


através do vidro quebrado, deixando o cabelo castanho-avermelhado de
Mindy branco. Mindy protegeu os olhos e se virou.

Em correu para a saída. Eu estou aqui! Estou aqui ela gritou, es-
quivando-se de uma pilha de metal retorcido quando uma bala ricoche-
teou na parede de cimento.

Ela caiu no chão e cobriu a cabeça.

— Em? Em onde você está?

Era Michael, mas ela não conseguiu responder. Mindy pegou um


punhado de cabelos e a arrastou de volta para o centro da sala. O revól-
ver pendia de sua mão embainhada no tom rosa quente.

Mindy firmou seu aperto nos cabelos de Em. Parece que vou con-
seguir matar dois coelhos com uma so cajadada hoje à noite.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
30
Michael correu para dentro da sala em ruínas.

— Em! — Ele chamou. Ele congelou quando Mindy apontou a arma


para ele.

— Você pode parar por aí, Michael, — disse Mindy, dando um pu-
xão forte no cabelo de Em.

Ele levantou as mãos. Mindy, não precisa ser assim.

Kyle entrou na sala.

Os olhos de Mindy se arregalaram.O que você está fazendo aqui,


Kyle?

— Não podemos fazer isso, tia Mindy. Isso tem que acabar — ele
disse e caminhou lentamente em sua direção.

— Pare! — Mindy gritou, seu olhar dançando loucamente. Ela sol-


tou o cabelo de Em.

— Michael e Em, quero os dois exatamente onde posso vê-los. Ela


apontou para um banco de janelas quebradas.

Em levantou-se, lançou um olhar hesitante para Mindy e o encon-


trou na parede.

Ele segurou o rosto dela. Estava manchado de poeira e manchas


cinzentas de pó.

— Eu vi o carro. Você está machucada?

— Cale-se! — Mindy gritou, andando de um lado para o outro.

Em deu um aceno rápido com a cabeça. Estou bem.

— Kyle, Mindy gemeu. Eu disse que cuidaria disso.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Não, você me disse que precisava conversar com Em sozinha.
Quando te mandei uma mensagem, você não disse nada sobre levá-la à
mão armada.

Mindy balançou a cabeça. Você foi quem me disse que andava bis-
bilhotando há semanas. Eu os vi no restaurante em Garrett perguntan-
do tudo sobre Tina. Eles encontraram o memorial ao lado da estrada.
Eu lhe disse para parar de manter esse pequeno santuário a culpa é
sua.

— Eu contei tudo a Michael, — disse Kyle, olhos vermelhos encon-


trando o olhar de sua tia. Ele sabe que eu trouxe Em aqui depois que
ela tomou a bebida batizada. Ele sabe que eu matei Tina Fowler. Ele
sabe que você cortou a mão de Em.

Mindy olhou para o teto e soltou um grito primitivo.Ela não pode


ter tudo! Você a ouviu tocar? Tom não para de falar sobre ela. Ele acha
que ela é ainda melhor do que era antes. E ele. Ela apontou para Mi-
chael.Ele não era o motivo pelo qual você queria que aquela garota be-
besse a bebida? Ele não é o motivo de toda essa farsa começar? Ambos
ficaram entre nós e nossa felicidade, Kyle.

Kyle chutou um monte de cimento em ruínas.Nós não podemos fa-


zer isso. Isso tem que acabar. Isso me assombrou a vida toda.

Mindy pegou a mão de Kyle. Tudo pode ficar bem. Você tem a
chance de concorrer a um cargo estadual. Você tem a chance de trazer
alguma honra de volta à nossa família. Tudo o que sua mãe sempre
quis foi que você fizesse algo de si mesmo para não acabar como seu
pai. Ela se virou para Em.Você nunca deveria ter voltado ao Langley
Park. Você deveria ter ficado escondida a meio mundo de distância.

O lamento de uma sirene entrou pela sala com uma brisa gelada.

Mindy virou-se para o banco de janelas quebradas. — O que é is-


so?

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Liguei para a polícia quando Kyle e eu encontramos o carro dis-
so, — disse Michael.

— Acabou, Mindy. Abaixe a arma.

Mindy virou-se para Kyle.Você deixou ele chamar a polícia? Não é


só sua bunda que está em jogo. Não pensa em mim? Sobre o Tom? So-
bre sua mãe?

Kyle passou as mãos pelo rosto.Eu não queria que nada disso
acontecesse. Bater em Tina foi um acidente. Eu estava exausto. Eu es-
tava preocupado que Em tivesse uma overdose. Eu não estava prestan-
do atenção. Mas aconteceu, tia Mindy. Eu matei Tina Fowler. Eu deve-
ria ter ido direto à polícia.

Mindy deu uma risada. Meu irmão falhou com você e sua mãe. Não
vou falhar com você agora. Ela levantou a arma e apontou para
Em.Você não tem tudo, Mary Michelle MacCaslin. Você não merece isso.
Você nunca trabalhou para isso.

Os carros da polícia avançaram no caminho. Sirenes soaram e lu-


zes brilharam em um emaranhado de vermelho e azul.

Mindy apontou a arma e atirou. Michael jogou seu corpo na frente


de Em enquanto uma queimadura quente queimava seu ombro.

— Não! Kyle gritou, tirando a arma da mão de Mindy.

— Você foi baleada? — Michael perguntou.

Lágrimas escorreram pelas bochechas de Em. — Não, mais você


sim. Você está sangrando.

Outro tiro ecoou pela sala. Eles olharam para cima para ver Kyle,
segurando seu estômago, o sangue encharcando sua camisa. Uma Min-
dy chocada ficou de queixo caído, o revólver apertado firmemente em
suas mãos.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
As portas dos carros se abriram e se fecharam em uma cacofonia
de estalo agudo. Uma voz cortou o ar. Polícia de Garrett. Largue sua
arma.

Mindy largou a arma quando Kyle caiu no chão, segurando seu es-
tômago.

Michael levantou-se e chutou a arma para o canto da sala. Nós


precisamos de um médico. Um homem foi baleado.

— Dois homens, Em chamou. Ela tirou o casaco, enrolou-o e pres-


sionou-o no ombro dele.

— Em, — disse Kyle, em um sussurro rouco.

Eles se voltaram para onde Kyle estava deitado em uma poça de


sangue. Ele levantou a mão encharcada de sangue em direção a Em. Eu
sinto Muito Em. Eu nunca quis que você se machucasse.

Ela apertou a mão escorregadia dele. Eu sei, Kyle. Eu sei - ela dis-
se. Espere, Kyle. Uma ambulância está a caminho.

— Deixe os Fowlers saberem que sinto muito. Que eles saibam que
foi um acidente. Ela não sofreu. Ela se foi quando eu pude verificar seu
pulso.

— Kyle! — Mindy gritou.

Suas feições relaxaram e o canto da boca se ergueu em um último


sorriso. Acabou, tia Mindy. Finalmente acabou.

MICHAEL EXALOU e ouviu a série de bipes e conversas baixas que flu-


tuavam do corredor do hospital. Uma ambulância havia levado ele e Em
ao hospital comunitário Garrett, e ela não saiu do lado dele. Ela dormia
na minúscula cama de hospital enrolada em volta dele.

Uma enfermeira bateu rapidamente na porta, entrou e verificou os


monitores.Tudo parece bom, Michael.Ela levantou o curativo cobrindo o
The Sound Of Home
KRISTA SANDOR
ombro direito. A bala apenas o arranhou e não houve danos muscula-
res.A ferida não mostra sinais de infecção. Contanto que você aplique a
pomada tópica e troque o curativo, você deve estar tão bom quanto novo
em pouco tempo. Ainda vamos manter vocês dois da noite para o dia
apenas como precaução.

— Você pode me dizer se Kyle Benson conseguiu? Um nó se formou


em sua garganta. A imagem da mão ensangüentada de Kyle apertando a
de Em estava tatuada na parte de trás de suas pálpebras.

A enfermeira balançou a cabeça. — Não, ele morreu quando che-


gou ao hospital. Eu sinto muito.

Michael exalou e apertou seu aperto em Em.

A enfermeira deu um sorriso compreensivo.Existem algumas pes-


soas na sala de espera que adorariam vê-lo. Gostaria que eu os enviasse
de volta?

Ele assentiu. A enfermeira foi até a porta e acenou. Em segundos,


Sam, Nick e Zoe entraram na sala.

— Ei! Como está o ombro? —Sam perguntou, colocando uma mão


protetora na perna.

— Vai ficar tudo bem. Foi só uma brincadeira - respondeu Michael.

— E Em? Ela vai ficar bem? Zoe perguntou.

Michael afastou as ondas de cabelos ruivos do rosto adormecido.


Sim, ela é uma coisinha difícil. Ela ficará bem.

— Ouvimos falar de Kyle Benson, — disse Nick.

Michael assentiu. A enfermeira acabou de me dizer. Será que al-


guém entrou em contato com sua mãe?

Nick cruzou os braços.Eles devem ter. Nós a vimos entrar no hos-


pital com um assistente.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Um silêncio pesado engoliu a sala. Anita Benson, uma vez Anita
Hale, tentou se libertar do nome Hale, apenas para que seu filho e cu-
nhada fossem vítimas da maldição de Hale.

— Como Mindy Lancaster se envolveu em tudo isso? — Nick per-


guntou.

— Ela era tia de Kyle. Michael olhou para Em e abaixou a voz. Na


noite da lesão, Em acidentalmente bebeu uma bebida cravada que Kyle
batizou para outra garota. Ele enlouqueceu e a levou para a fábrica de
cimento de Hale, para que ninguém descobrisse que ela estava drogada.
Ele entrou em pânico quando ela piorou e decidiu levá-la de volta ao
oco. Ele bateu em uma garota local chamada Tina Fowler no caminho
de volta. Ela morreu ali mesmo na beira da estrada.

Zoe ofegou.Os Fowlers nunca souberam o que aconteceu.

— Agora eles saberão, — disse Michael com um sorriso fraco. Ele


respirou fundo e exalou.Em vez de chamar a polícia, Kyle ligou para
Mindy. Ela o encontrou no oco. Ela disse que levaria Em de volta à sua
tenda e o mandou para casa.

Zoe levou a mão ao peito.Mindy machucou propositalmente a mão


de Em?

— Ela arrastou Em até buraco para o inferno, encontrou uma gar-


rafa quebrada e ...Ele não pôde continuar.

— Mas por que? — Sam perguntou.

Michael balançou a cabeça.Ciúmes. Ressentimento profundo. O


marido de Mindy, Tom, foi o primeiro professor de violino de Em. Ele foi
a força motriz por trás de Em se tornar uma música de classe mundial.
Mindy odiava se sentir em segundo lugar. Ela estava com inveja da co-
nexão de Tom com Em.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— É difícil acreditar que ela possa fazer algo tão cruel, — disse Zoe,
sentando-se no canto da cama do hospital.Você acha que conhece al-
guém; então você descobre que tudo é mentira.

Sam deu um passo para trás e olhou pela janela.

Um homem magro de jaleco branco entrou na sala lendo um gráfi-


co. Ele empurrou um par de óculos pelo nariz. Eu queria que você sou-
besse que o trabalho de sangue para a sra. MacCaslin voltou. Tudo pa-
rece perfeito para ela e o bebê.

— Bebê! — Zoe, Sam e Nick disseram todos em uníssono.

O médico assustou-se e olhou em volta, aparentemente alheio aos


três adultos que estavam a centímetros dele.

Michael riu. Temos algumas novidades.

Em virou a cabeça de um lado para o outro e abriu os olhos. Ela


examinou a sala e encontrou o olhar dele.

Ele deu um beijo no topo da cabeça dela. A turma está toda aqui.

— Ah, que bom, Srta. MacCaslin. Você está acordada o médico dis-
se.

— Eu estava dizendo ao Sr. MacCarron que seu exame de sangue é


completamente normal. O gráfico indica que você tem cerca de seis se-
manas. Gostaria de ouvir os batimentos cardíacos do seu bebê?

Em olhou além do médico e acenou para Zoe, Sam e Nick. Oi pes-


soal. Estou grávida.

— Sim, nós soubemos, — disse Zoe.

— Há quanto tempo você sabe? Sam perguntou, seu olhar de olhos


arregalados preso no estômago de Em.

— Que horas são? — Em perguntou.

— Cerca das dez e meia — respondeu Nick.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Michael olhou para Em. — Cerca de oito horas.

— É, é exatamente isso, — ela respondeu. Seus olhos azuis brilha-


vam quando ela lhe deu um sorriso tímido.

— Santa mãe de pérola! — Zoe exclamou.

Uma enfermeira entrou na sala com um ultra-som portátil.

— Todo mundo está ficando para isso? — O médico perguntou.

— Inferno que sim, vamos ficar, — disse Zoe. Ela se sentou na bei-
ra da cama e deu uma tapinha na perna de Em.

O médico fez um gesto para Em levantar a blusa. Ele esguichou


uma substância gelatinosa no abdômen e pressionou a varinha de ul-
trassom na barriga. Uma imagem granulada em preto e branco apare-
ceu no monitor.

— Ah, — disse o médico. Aí está você.

Michael olhou para a tela confusa. Esse é o nosso bebê?

— Sim. Eu vejo o coração e o saco vitelino. É isso que dará nutri-


ção ao seu bebê até que a placenta se forme. Ele apertou um botão, e
uma rápida batida whooshing encheu a sala.

Em apertou a mão de Michael.

— Esse é o batimento cardíaco do bebê? — A voz de Em estava


cheia de emoção.

— Isto é. Noventa e oito batidas por minuto. Perfeitamente normal.

— Será um mundo totalmente novo para nós, — disse Em, sua voz
tingida de admiração.

Michael olhou ao redor da sala. Todos os olhos estavam colados ao


monitor e a vida minúscula do tamanho de amendoim pulsando em on-
das difusas de preto e branco.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Em inclinou a cabeça e encontrou seu olhar. Em seus profundos
olhos azuis, ele viu a garota rindo com tranças ruivas. Ela estava cha-
mando-o para correr através da chuva e ficar ao seu lado.

— Eu prometo a você, Mary Michelle, — disse ele, — sua voz quase


um sussurro.

— Não importa o que aconteça, estamos sempre melhores juntos.


Mas agora, seremos nós três.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Epílogo
O colar de pérolas de Em balançava entre os seios nus. — Nós
nunca vamos montar esse berço.

Ela apertou as mãos contra o peito de Michael, a pélvis dela contra


ele em movimentos suaves e constantes. Ele agarrou seus quadris e
guiou seu corpo enquanto ela montava seu pau. O sol da manhã enviou
raios de luz dourada através da sala. Ele realçava seus cabelos ruivos e
lançava um brilho suave no arredondamento suave do estômago.

Em estava com quase vinte semanas, e Michael adorou tudo sobre


seu corpo grávido. O peso adicional de seus seios. A curva de seus qua-
dris. Para ele, não havia nada mais sexy que Em, grávida de seu filho. E
ele certamente não se importava com o impulso sexual aumentado da
gravidez.

— Você foi quem entrou no berçário usando apenas um colar, ele


respirou.

Os lábios dela desenharam um sorriso perverso. Eu não vejo você


reclamando.

Ele respondeu a sua provocação rolando os quadris. Ela ofegou e


arqueou as costas quando ele enfiou as pontas dos dedos na carne de
sua bunda. Ela era deslumbrante. Cabeça jogada para trás em êxtase.
Corpo se contorcendo. Mordendo o lábio inferior e ronronando com ge-
midos luxuriosos.

Ela olhou para ele com olhos saciados. Seu corpo se apertou e a
base de seu pênis ficou tensa e preparada para a liberação. Ele encon-
trou o olhar dela, soltou um rosnado primitivo e se perdeu nas profun-
dezas de seus olhos azuis e em seu calor úmido, apertando-o como um
vício.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Ele respirou e passou as pontas dos dedos ao longo do comprimen-
to de sua barriga. Ele deslizou para baixo para apertar suas coxas,
pressionado contra as dele.

Em examinou a sala. Um quarto meio pintado. Um berço meio


construído. E o chão, cheio de travesseiros minúsculos e roupas de ca-
ma brancas e cremosas.

— Eu sei o que você está pensando — disse ele, sentando-se, mas


sem interromper a conexão.

Um olhar preocupado cruzou seu rosto corado por sexo. — Não


temos muito tempo.

A mãe de Em estava vindo da Austrália para assistir ao ultrassom


de vinte semanas, onde eles esperavam descobrir o sexo do bebê.

— É uma vida agitada, sendo uma sensação na internet, ele brin-


cou.

Ela olhou para o teto.Precisamos mudar algo com o remix de Shos-


takovich. Ainda não consigo apontar o dedo ainda.

Ele sorriu. Em questão de semanas, eles acumularam milhares de


seguidores online. Havia um grande apetite por peças clássicas remis-
turadas com elementos eletrônicos modernos, e o mundo se apaixonou
pelo violinista ruivo fascinante no centro de cada remix.

Em reclinou ao seu lado. Os caras estão vindo?

— Eles deveriam estar aqui a qualquer momento. Eu queria mos-


trar a eles a garagem pronta e depois suborná-los com cerveja para me
ajudar a montar o resto do berçário.

Ela beijou o pescoço dele. Bom plano.

Eles decidiram abrir o topo da garagem e construir um estúdio no


segundo andar para quando a mãe de Em veio visitar.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Em passou a mão sobre o peito e deixou as pontas dos dedos viaja-
rem para o sul em direção ao seu pênis. Seu cheiro é tão bom.

Ele sorriu. Ele amava seus hormônios da gravidez alimentados por


sexo.

Uma batida na porta da frente interrompeu a descida de sua mão.

— Os caras estão aqui disse Em com um suspiro.Eu provavelmen-


te deveria colocar mais do que apenas pérolas.

— Tenho certeza de que poderia encontrar um saco de batatas que


funcionasse. Ele se tornou mais protetor com ela nas últimas semanas.
Ele culpou o equivalente masculino aos hormônios da gravidez. Se ou-
tro homem sequer olhou para Em, ele se viu pronto para atacar o cara
inocente.

Em lançou-lhe um olhar duvidoso e entrou no quarto deles. Junto


com o acabamento da casa da garagem, eles tiveram a escada recons-
truída profissionalmente e reformado o quarto principal.

O Quadrangular sempre seria o lar de sua infância. Mas com Em


chegando em casa agora, a energia na casa havia mudado. O Quadran-
gular não era o lugar que ele era forçado a viver. Era o lugar que ele es-
colheu morar, e ele não conseguia pensar em um lugar melhor para
começar sua família.

Michael se certificou de que a porta do quarto estivesse fechada,


pegou um chapéu e caminhou para atender a porta.

— O que diabos está acontecendo lá? Sam perguntou.

Nick murmurou: Puta merda, cara.

Michael se juntou aos caras na varanda. Não deixe que ninguém


lhe diga que a gravidez é o melhor, rapazes, — disse Michael, puxando a
touca sobre seu emaranhado de cabelos bagunçados. Eu posso estar

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
fazendo duas horas da manhã na mercearia orgânica de Pete para to-
mar sorvete, banana, bacon

Nick e Sam fizeram uma careta em uníssono.

— Mas, certamente tem suas vantagens, Michael terminou, sorrin-


do como um idiota e não dando uma única foda.

— Você e Em são a última esperança para a corrida do gengibre. A


ciência diz que somos uma raça moribunda. Então, por todos os meios,
vá fazer todos os bebês ruivos que vocês dois puderem! Sam acrescen-
tou com um empurrão brincalhão.

Michael balançou a cabeça e riu.

Nick apontou para o Quadrangular de Em. Os novos proprietários


já se mudaram? Você sabe no Quadrangular você não vendeu para
mim.

Eles nem precisavam colocar a casa no mercado. A sra. G, a ama-


da professora aposentada de Langley Park Elementary e atual gerente
de escritório da empresa de arquitetura de Ben Fisher, comprou a casa.

Do ponto de vista jurídico, era uma compra criativa. A sra. G paga-


ra pelo Quadrangular com fundos de uma relação de confiança criada
para sua afilhada da qual ela era executora. A sra. G explicou que sua
afilhada estava envolvida em um rompimento "confuso" e precisava agir
com discrição. Se tivesse sido outra pessoa que não a Sra. G, Michael
teria desconfiado das circunstâncias. Mas ele conheceu a Sra. G a vida
inteira. Se a afilhada dela precisasse de um lar, ele ficaria feliz em obe-
decer.

— Cara, — disse Sam com simulada surpresa.Você não gosta de


bater na minha casa?

— Você sabe que eu aprecio sua hospitalidade, amigo Nick disse


com um sorriso.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Mas agora que vou ficar permanentemente em Langley Park,
preciso encontrar um lugar que não inclua acordar para você cantar:
'Oh, que manhã linda'.

— Você tem algo contra Rodgers e Hammerstein em Oklahoma,


Kincade?

— Você conseguiu o emprego? — Em perguntou, juntando-se a


eles na varanda.

— Você está olhando para o mais novo diretor de aviação do Kan-


sas City Downtown AKincad, — disse Nick com um sorriso. Começo na
próxima semana.

— Corações estão partindo em todos os portos. Aeroportos, é isso.


O capitão Nick está criando raízes - disse Sam, batendo nas costas do
amigo.

— Você vai sentir falta de voar? — Em perguntou.

— Ainda vou voar. Vou dirigir o aeroporto, mas também darei ins-
truções sobre o vôo. Posso até pegar alguns vôos corporativos se a opor-
tunidade se apresentar. Agora, preciso descobrir uma situação de vida
mais permanente.

— Sério, cara, — disse Sam, — você é sempre bem-vindo à minha


casa. Você sabe disso.

— Espere um segundo, — disse Em e compartilhou um olhar com


Michael. — Nick, você deve se mudar para o apartamento da nossa ga-
ragem até encontrar um lugar no parque Langley.

— Absolutamente, — disse Michael, passando um braço em volta


dos ombros de Em. — Em e eu crescemos ouvindo Sam cantar músicas
de programas. É um milagre que você tenha sobrevivido por tanto tem-
po.

Sam balançou a cabeça.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— E sua mãe? Ela não está chegando em breve? — Nick pergun-
tou. Ela não vai precisar da casa da garragem?

— Ela pode ficar no nosso quarto de hóspedes no Quadrangular, —


respondeu Em.

— Se você tem certeza que não se importa, eu agradeceria. Estou


pronto para pular quando algo estiver no mercado na área - por isso
não devo ficar no seu cabelo por muito tempo. Tenho uma tia por perto
em Mission Springs. Ela se ofereceu para me deixar ficar com ela, mas
isso envolveria torneios semanais do Euchre com suas damas da Liga
Júnior. Recusei educadamente.

— Compreensível, — disse Michael.

— Sério, Nick, não seria problema algum. Você pode ficar o tempo
que precisar, — acrescentou Em.

— Obrigado, pessoal, — disse Nick. —Você sabe que eu te amo,


Sam. Mas com meu novo emprego e as horas loucas, pode ser bom ter
um lugar para mim.

Sam deu um tapinha nas costas de Nick. O que quer que funcio-
ne, amigo. Estou feliz que você esteja fazendo de Langley Park sua casa.

Michael apontou para a porta.Vamos entrar. Podemos elaborar os


detalhes enquanto tentamos descobrir como montar esse berço. Quem
escreve essas instruções?

Mas quando o grupo estava prestes a entrar na casa, um sedan en-


trou na Foxglove Lane e chamou sua atenção. O carro passou por eles,
mas em questão de minutos estava de volta e estacionado em frente ao
antigo Quadrangular de Em. Havia uma mulher dentro do carro. Ela
estava usando óculos escuros e um chapéu. Uma longa cascata de ca-
belos castanhos caiu sobre seus ombros.

— Você acha que é a afilhada da sra. G? — Em perguntou.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— Eu não tenho certeza, respondeu Michael. Eu nunca a conheci.
A sra. G disse que passara um verão em Langley Park aos dezesseis
anos. Ela trabalhou no acampamento de verão do Langley Park
Community Center. Você já a conheceu, Sam? A sra. G disse que vocês
têm a mesma idade.

Sam balançou a cabeça. Não, eu não penso assim.

Nick olhou para a mulher. Eu trabalhava no acampamento de ve-


rão do Langley Park Community Center quando tinha dezesseis anos.

— Você fez? — Sam perguntou. Como diabos eu não sabia disso?

— Minha mãe me enviou para ficar com minha tia em Mission


Springs. Eu praticamente me guardei - respondeu Nick, olhando fixa-
mente para a mulher misteriosa.

A mulher saiu do carro e olhou para o Quadrangular. Ela não deve


ter notado eles na varanda e mantido o olhar fixo na casa. Ela estava
vestindo um moletom folgado e jeans desgastado. Nada nela disse olhar
para mim, mas Nick não conseguia tirar os olhos dela.

— Olá! Em chamou, saindo da varanda e atravessando o quintal


enquanto os homens seguiam atrás.

A mulher soltou um suspiro assustado e suas mãos subiram prote-


toramente.

— Eu sinto muito! Não pretendíamos assustá-la Eu sou Em Mac-


Caslin. Este é Michael MacCarron. Nós somos seus vizinhos. E este é
Sam Sinclair e Nick Kincade. Eles são nossos amigos e vivem em Lan-
gley Park também.

As mãos da mulher tremiam. Ela as apertou na frente dela e pro-


duziu um sorriso tenso. — É um prazer conhecer todos vocês. Eu sou
Lindsey...

— Lindsay Hanlon, — disse Nick.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
— É Lindsey Davies, agora, — disse ela, olhando para o outro lado.
Mas ela não estava usando um anel de casamento.

— Vocês dois se conhecem? Em perguntou.

Nick ficou pálido. Nós dois trabalhamos no acampamento de verão


do Community Center. Foi nesse verão que eu estava falando sobre vo-
cê.

Um rubor apareceu no pescoço de Lindsey. Eu mal me lembro da-


quele verão. Faz muito tempo.

Lindsey deu um passo para trás. Não quero ser rude, mas fiz uma
longa viagem. Eu gostaria de me instalar lá dentro.

— Claro disse Em.Você conseguiu a chave da sra. G? Ela é sua


madrinha, certo?

Lindsey assentiu.

— Suas coisas estão sendo entregues hoje? — Michael perguntou.


— Se você precisar de ajuda para transportar caixas ou mover móveis,
informe-nos. Estamos felizes em ajudar.

— Não há caminhão em movimento, respondeu Lindsey e deu ou-


tro passo para trás.

Um silêncio de pesado pairou no ar.

— Bem, — disse Em, pegando a mão de Michael.Você sabe onde


estaremos. Você é bem-vinda a nossa casa a qualquer momento.

Lindsey assentiu rapidamente, depois se virou e correu para dentro


do Quadrangular.

— Eu não acho que ela se lembra de você, Nick, — disse Sam.

Nick olhou para a casa. Não, eu sei que ela se lembra de mim. Ela
só deseja que não.

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR
Fim

The Sound Of Home


KRISTA SANDOR

Você também pode gostar