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CAPÍTULO 1

FUNÇÕES

Função é um dos assuntos mais utilizados em Matemática e que tem várias aplicações. Nessa aula, vamos estudar
um pouco o que é função, de maneira geral, e algumas caracterı́sticas gerais.
Se você quiser saber um pouco sobre a história das Funções, pode conferir aqui: https://www.youtube.com/
watch?v=pYQzdY40yr8.

1.1 Relações
Antes de definir o que é uma função, vamos ver o que é uma relação. E para isso, precisamos de alguns conceitos
iniciais.

1. Par
Para Iezzi et al (2013), chama-se par todo conjunto formado por dois elementos.
Assim, t1, 2u, t3, ´1u, ta, bu indicam pares. Lembrando do conceito de igualdade de conjuntos, observamos
que inverter a ordem dos elementos não produz um novo par:

t1, 2u “ t2, 1u, t3, ´1u “ t´1, 3u, ta, bu “ tb, au.

2. Par ordenado
Os mesmos autores acima admitem a noção de par ordenado como conceito primitivo. Para cada elemento a
e cada elemento b, admiti-se a existência de um terceiro elemento pa, bq, que é denominado par ordenado, de
modo que se tenha

pa, bq “ pc, dq ô a “ c e b “ d

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1.1 Relações Capı́tulo 1. Funções

3. Plano cartesiano

Consideremos dois eixos x e y perpendiculares em O, os quais determinam o plano α. Dado um ponto P


qualquer, P P α, conduzamos por ele duas retas: x1 paralela a x e y 1 paralela a y. Denominenos P1 a interseção
de x com y 1 e P2 a interseção de y com x1 .

Figura 1.1: Plano cartesiano

Fonte: Elaborado pelo autor

Nessas condições definimos:

a) abscissa de P é o número real xP representado por P1 ;

b) ordenada de P é o número real yP representado por P2 ;

c) coordenadas de P são os números reais xP e yP , geralmente indicados na forma de um par ordenado


pxP , yP q em que xP é o primeiro termo;

d) eixo das abscissas é o eixo x (ou Ox);

e) eixo das ordenadas é o eixo y (ou Oy);

f) sistema de eixos cartesiano ortogonal (ou ortonormal ou retangular) é o sistema xOy;

g) origem do sistema é o plano O;

h) plano cartesiano é o plano α.

Exemplo: Vamos localizar os pontos Ap2, 0q, Bp0, ´3q, Cp2, 5q, Dp3, 4q, Ep´7, ´3q, F p4, ´5q, Gp 25 , 92 q e Hp´ 52 , 92 q
no plano cartesiano, lembrando que, no par ordenado, o primeiro número representa a abscissa e o segundo,
a ordenada do ponto.

Figura 1.2: Exemplo de plano cartesiano

Fonte: Elaborado pelo autor

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Capı́tulo 1. Funções 1.1 Relações

4. Produto Cartesiano
O produto cartesiano é uma operação entre dois conjuntos, como já visto em outras unidades. Vamos rever
sua definição.

Sejam A e B dois conjuntos não vazios. Segundo Iezzi et al p2013q, Denominamos produto cartesiano de
A por B o conjunto A ˆ B cujos elementos são todos os pares ordenados px, yq, em que o primeiro elemento
pertence a A e o segundo elemento pertence a B.

A ˆ B “ tpx, yq|x P A e y P Bu.

Lê-se a notação AˆB assim: “A cartesiano B” ou “produto cartesiano de A por B”. Se A ou B for o conjunto
vazio, definiremos o produto cartesiado de A por B como sendo o conjunto vazio.
Exemplo: Se A “ t1, 2, 3u e B “ t1, 2u, temos:

A ˆ B “ tp1, 1q, p1, 2q, p2, 1q, p2, 2q, p3, 1q, p3, 2qu e B ˆ A “ tp1, 1q, p1, 2q, p1, 3q, p2, 1q, p2, 2q, p2, 3qu.

5. Relação Binária
Se ouvirmos que duas pessoas, Henriqueta e Horácio, se relacionam, entenderemos que existe algum laço
afetivo entre eles - que (Henriqueta, Horácio) distinguem-se dos demais pares ordenados de pessoas por haver
uma relação (são parentes, namorados, amigos etc.) que Henriqueta e Horácio verificam.
O análogo matemático é distinguir determinados pares ordenados de objetos dos demais porque seus elementos
satisfazem alguma relação que os componentes dos demais pares, em geral, não satisfazem.

Exemplo: Sejam A “ t1, 2u e B “ t2, 3u; então temos A ˆ B “ tp1, 2q, p1, 3q, p2, 2q, p2, 3qu.

Se estivermos interessados na relação de igualdade, então p2, 2q será o único par que se distinguirá no produto
A ˆ B, isto é, o único par ordenado cujas componentes são iguais.
Se estivermos interessados na propriedade do primeiro número ser menor do que o segundo, escolheremos os
pares p1, 2q, p1, 3q e p2, 3q como os pares ordenados de A ˆ B que se distinguem dos demais por apresentarem
tal propriedade.
No Exemplo, poderı́amos selecionar os pares ordenados px, yq dizendo que x “ y ou que x ă y. Analoga-
mente, a notação xRy indica que o par ordenado px, yq satisfaz à relação R. A relação R pode ser descrita
com palavras ou simplesmente pela enumeração dos pares ordenados que a satisfazem.

Portanto, dados os conjuntos A e B, uma relação binária em A ˆ B é um subconjunto de A ˆ B.

Podemos também representar uma relação por meio de um diagrama de flechas, como na figura.

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1.1 Relações Capı́tulo 1. Funções

Figura 1.3: Diagrama de flechas

Fonte: Elaborado pelo autor

6. Domı́nio e Imagem
Seja R uma relação de A em B. De acordo com Iezzi et al p2013q, chama-se domı́nio de R, o conjunto DpRq
de todos os primeiros elementos dos pares ordenados pertencentes a R, isto é,

x P DpRq ô Dy P B|px, yq P R .

De uma maneira informal, o domı́nio são os elementos de onde saem as flechas, no primeiro conjunto.

Denomina-se imagem de R, o conjunto ImpRq de todos os segundos elementos dos pares ordenados perten-
centes a R, isto é,

y P ImpRq ô Dx P A|px, yq P R .

Como consequência, temos que DpRq Ă A e ImpRq Ă B.


Analogamente, a imagem são os elementos do segundo conjunto que recebem as flechas.

Exemplo: Dados os conjuntos A “ t0, 1, 2, 3u e B “ t1, 2, 3, 5, 6u, determinar o domı́nio e a imagem da


relação R “ tpx, yq P A ˆ B|y “ x ` 1u.

Como o domı́nio é o conjunto dos primeiros elementos dos pares ordenados e a imagem é o conjunto dos
segundos elementos dos pares ordenados, essa relação pode ser escrita como:
Para o elemento zero p0q, tem-se y “ 0 ` 1 “ 1; para o elemento 1, tem-se y “ 1 ` 1 “ 2; para o elemento 2,
tem-se y “ 2 ` 1 “ 3; e para o elemento 3, tem-se y “ 3 ` 1 “ 4.
A relação é o conjunto R “ tp0, 1q; p1, 2q; p2, 3q; p3, 4qu. Como o conjunto B não tem o elemento 4, o
par ordenado p3, 4q não pode pertencer ao produto cartesiano A ˆ B. A relação é viável e, então, R “
tp0, 1q; p1, 2q; p2, 3qu. Como o primeiro elemento do par ordenado define o domı́nio e o segundo, a imagem,
tem-se que o domı́nio é formado pelos elementos 0, 1 e 2. A imagem é o conjunto dos elementos 1, 2 e 3. Veja
a figura.

DpRq “ t1, 2, 3u Ă A e ImpRq “ t1, 2, 3u Ă B.

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Capı́tulo 1. Funções 1.1 Relações

Figura 1.4: Exemplo de domı́nio e imagem na relação

Fonte: Elaborado pelo autor

7. Relação Inversa

O que você entende por relação inversa? Uma vez que já sabe o que é relação, é intuitivo pensar na inversa.

Dada uma relação binária R de A em B, consideremos o conjunto:

R´1 “ tpy, xq P B ˆ A|px, yq P A ˆ Bu.

Como R´1 é subconjunto de B ˆA, temos que é uma relação binária de B em A. Essa relação será denominada
relação inversa de R.

Exemplo: A “ t0, 1, 2, 3u, B “ t1, 2, 3, 5, 6u e R “ tpx, yq P A ˆ B|y ą 2x ` 1u.

R “ tp0, 2q; p0, 3q; p0, 5q; p0, 6q; p1, 5q; p1, 6q; p2, 6qu.

A relação inversa é tp2, 0q; p3, 0q; p5, 0q; p6, 0q; p5, 1q; p6, 1q; p6, 2qu, ou seja, os primeiros elementos dos pares
ordenados da relação R passam a ser os segundos elementos da relação inversa e os segundos elementos da
relação inversa são os primeiros da relação inicial.

Figura 1.5: Relação inversa

Fonte: elaborado pelo autor

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1.2 Exercı́cios Capı́tulo 1. Funções

" *
y´1
R´1 “ tp2, 0q; p3, 0q; p5, 0q; p6, 0q; p5, 1q; p6, 1q; p6, 2qu “ py, xq P B ˆ A|x ă .
2

DpRq “ t0, 1, 2u e ImpRq “ t2, 3, 5, 6u.

DpR´1 q “ t2, 3, 5, 6u “ ImpRq e ImpR´1 q “ t0, 1, 2u “ DpRq.

Propriedades:

(a) DpR´1 q “ ImpRq;

(b) ImpR´1 q “ DpRq;

(c) pR´1 q´1 “ R.

1.2 Exercı́cios
1. Dê as coordenadas de cada ponto do plano cartesiano abaixo.

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Capı́tulo 1. Funções 1.3 Função

2. Assinale no plano cartesiano os pontos: Ap2, ´3q, Bp0, ´4q, Cp´4, ´5q, Dp´1, 0q, Ep0, 5q, F p5, 4q, Gp3, 0q, Hp´3, 2q.

3. Dados os conjuntos A “ t1, 4, 7u, B “ t´3, 6u, C “ t0, 3u, D “ tx P R|1 ď x ď 3u, E “ tx P R| ´ 2 ď x ď 2u,
represente graficamente os seguintes produtos e identifique domı́nio e imagem.
a) A ˆ B; f) E ˆ D;

b) B ˆ A; g) A ˆ D;

c) A ˆ C; h) E ˆ B;

d) C ˆ B; i) D ˆ A;

e) D ˆ E; j) pE ˆ Dq Y pD ˆ Aq.
4. Enumerar os elementos de R´1 , relação inversa de R, nos seguintes casos:

a) R “ tp1, 2q; p3, 1q; p2, 3qu;

b) R “ tp1, ´1q; p2, ´1q; p3, ´1q; p´2, 1qu;

c) R “ tp´3, ´2q; p1, 3q; p´2, ´3q; p3, 1qu.

1.3 Função
Agora que você já sabe o que é uma relação, vamos definir função. O que você entende por função? Já parou
para pensar nisso? Antes de formalizar, vamos analisar algumas situações.
Sejam os conjuntos A “ ta, b, c, du e B “ te, f, g, h, iu e as relações binárias R1 , R2 , R3 , R4 e R5 , representadas
pelos conjuntos a seguir:
R1 “ tpa, gq; pb, hq; pc, iqu;

R2 “ tpa, f q; pb, eq; pb, gq; pc, hq; pd, iqu;

R3 “ tpa, f q; pb, eq; pc, iq; pd, gqu;

R4 “ tpa, iq; pb, hq; pc, gq; pd, f qu;

R5 “ tpa, gq; pb, gq; pc, gq; pd, gqu.

Essas relações podem ser representadas, graficamente, como:

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1.3 Função Capı́tulo 1. Funções

Figura 1.6: Exemplo de relações

Fonte: elaborado pelo autor

Analisemos cada uma das relações:

a) O domı́nio da relação é DpR1 q “ ta, b, cu ‰ A e a imagem é o conjunto ImpR1 q “ tg, h, iu.


O domı́no dessa relação é diferente de A pois o conjunto A possui o elemento d e a relação R1 tem origem
nos elementos a, b e c. Observa-se, nesse caso, que nem todos os elementos dos conjuntos A (elemento d) e B
(elementos e e f ) são usados.

@x P DpR1 q, D!y P B tal que px, yq P R1 , em que D! significa “existe um único”.

b) O domı́nio da relação é DpR2 q “ ta, b, c, du “ A e a imagem é o conjunto ImpR2 q “ te, f, g, h, iu “ B.


O domı́no dessa relação é igual a A, pois todos os elementos de A são originários da relação R2 . Observa-se,
nesse caso, que todos os elementos dos conjuntos A e B são usados. O elemento b do conjunto A tem duas
imagens (e e g).

@x P DpR2 q, Dy P B tal que px, yq P R2 , mas não é imagem única, pois pb, eq P R2 e pb, gq P R2 .

c) O domı́nio da relação é DpR3 q “ ta, b, c, du “ A e a imagem é o conjunto ImpR3 q “ te, f, g, iu.


O domı́no da relação R3 é igual a A. Observa-se, nesse caso, que os elementos do conjuntos A são todos
usados e o elemento h, do conjunto B, não é utilizado.

@x P DpR3 q, D!y P B tal que px, yq P R3 .

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Capı́tulo 1. Funções 1.3 Função

d) O domı́nio da relação é DpR4 q “ ta, b, c, du “ A e a imagem é o conjunto ImpR4 q “ tf, g, h, iu.


O domı́no da relação R4 é igual a A. Observa-se, nesse caso, que os elementos do conjuntos A são todos
usados e o elemento e, do conjunto B, não é utilizado.

@x P DpR4 q, D!y P B tal que px, yq P R4 .

e) O domı́nio da relação é DpR5 q “ ta, b, c, du “ A e a imagem é o conjunto ImpR5 q “ tgu.


O domı́no da relação R5 é igual a A. Observa-se, nesse caso, que os elementos dos conjuntos A são todos
usados e somente o elemento g do conjunto B é utilizado.

@x P DpR5 q, D!y P B tal que px, yq P R5 .

As relações R3 , R4 e R5 apresentam a particularidade de, para todo elemento de A, associar um único elemento
de B. Essas relações recebem o nome de aplicação de A em B ou função definida em A com imagens em B ou,
simplesmente, função de A em B.

Definição 1.3.1. Dados dois conjuntos A, B Ă R, não-vazios, uma relação f de A em B recebe o nome de aplicação
de A em B ou função definida em A com imagens em B ou, simplesmente, função de A em B se, e somente se,
para todo elemento x de A existir um único elemento y em B, tal que px, yq P f . (IEZZI at al, 2013)

f é função de A em B ô @x P A, D!y P B|px, yq P f .

Vejamos agora, com o auxı́lio do diagrama de flechas, que condições deve satisfazer a relação f de A em B para
ser função.

1o q É necessário que todo todo elemento x P A participe de pelo menos um par px, yq P f , isto é, todo elemento
de A “deve servir como ponto de partida de flecha”.

2o q É necessário que cada elemento x P A participe de apenas um único par px, yq P f , isto é, cada elemento de
A “deve servir como ponto de partida de uma única flecha”.

Uma relação f não é função se não satisfizer uma das condições acima, isto é:
1o q Se existir um elemento de A do qual não parta flecha alguma ou

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1.3 Função Capı́tulo 1. Funções

Figura 1.7: Exemplo de relação que não é função (sobra elemento no domı́nio)

Fonte: elaborado pelo autor

2o q se existir um elemento de A do qual partam duas ou mais flechas.

Figura 1.8: Exemplo de relação que não é função (elemento do domı́nio com duas imagens)

Fonte: elaborado pelo autor

Notações:
Toda função é uma relação binária de A em B, portanto, toda função é um conjunto de pares ordenados.
Geralmente, existe uma sentença aberta y “ f pxq que expressa a lei mediante a qual, dado x P A, determina-se
y P B tal que px, yq P f , então

f “ tpx, yq|x P A, y P B e y “ f pxqu

.
Isso significa que, dados os conjuntos A e B, a função f tem a lei de correspondência y “ f pxq.
Para indicarmos uma função f , definida em A Ă R com imagens em B Ă R segundo a lei de correnpondência
y “ f pxq, usaremos uma das seguintes notações:

f
f :A Ñ B A Ñ B
ou ou f : A Ñ B tal que y “ f pxq.
x ÞÑ f pxq “ y x ÞÑ f pxq “ y

Observações:

1. Em todo nosso estudo fica estabelecido que A, B Ă R, a menos que se diga algo contrário.

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Capı́tulo 1. Funções 1.3 Função

2. x é denominada variável independente da função (varia sem depender de nenhuma outra variável).

3. y é chamada variável dependente da função (como y “ f pxq, temos que y depende da variação da variável x).

1.3.1 Domı́nio e imagem

Você já pensou se a sua função existe para qualquer número? E se, dado um y na imagem, sempre vai ter um
x que está relacionado com ele?
A resposta para essas perguntas nos levam ao conceito de domı́nio e imagem.

f :A Ñ B
Seja uma função. Iezzi et al p2013q define Dpf q “ A como o domı́nio, CDpf q “ B, o
x ÞÑ f pxq “ y
contradomı́nio e Impf q Ă CDpf q “ B, o conjunto imagem da função f . Temos que Impf q “ tf pxq|x P A}.

Como a função é uma relação, esse conceito é uma extensão do anterior. Para determinarmos o domı́nio de uma
função, estaremos procurando qual o maior conjunto possı́vel A Ă R que satisfaça a lei de correspondência definida
(lembremo-nos de que, para termos uma função, todos os elementos do conjunto A têm de estar associados a um
elemento em B).

O domı́nio é o conjunto de todos os elementos x que possuem um correspondente y. Já a imagem, pensando
num diagrama de flechas, é todo elemento do contradomı́nio que recebe uma flecha, ou seja, tem um x associado.

f :A Ñ B
Exemplos: Seja uma função. Vamos determinar o domı́nio das seguintes leis de corres-
x ÞÑ f pxq “ y
pondência:

a) f pxq “ y “ 7x.
Nesse caso, não existe nenhum valor de x P R que não possa ser multiplicado por 7. Logo, qualquer x P R
terá um valor y P R associado a ele. Daı́, Dpf q “ A “ R.

1
b) f pxq “ y “ .
2x ` 4
Como a divisão por zero é impossı́vel, 2x ` 4 ‰ 0. Temos, então, que x ‰ ´2. Logo,Dpf q “ A “ Rzt´2u.

c) f pxq “ y “ x3 ´ 1.
Da mesma forma que no exemplo da letra paq, não existe nenhuma restrição para x. Então, Dpf q “ A “ R.

?
d) f pxq “ y “ x ´ 8.
Sabemos que só existe raiz de ı́ndice par (no caso 2) de números positivos ou iguais a zero. Portanto,
x ´ 8 ě 0 ñ x ě 8. Daı́, Dpf q “ A “ r8, `8q.

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1.3 Função Capı́tulo 1. Funções

1.3.2 Funções iguais


f :A Ñ B g:C Ñ D
Duas funções e são iguais se, e somente se, A “ C, B “ D e
x ÞÑ f pxq “ y1 x ÞÑ gpxq “ y2
f pgq “ gpxq, @x P A.

Exemplos:

f :R Ñ R g:R Ñ R ?
a) e ? são iguais, pois |x| “ x2 , @x P R.
x ÞÑ f pxq “ |x| x ÞÑ gpxq “ x2

f : R` Ñ R g : R` Ñ R
b) e são iguais, pois |x| “ x, @x P R` .
x ÞÑ f pxq “ |x| x ÞÑ gpxq “ x

f :R Ñ R g:R Ñ R
c) e são diferentes para valores de x negativos.
x ÞÑ f pxq “ |x| x ÞÑ gpxq “ x
Por exemplo, se x “ ´5, f p´5q “ | ´ 5| “ 5 e gp´5q “ ´5.

1.3.3 Gráfico de uma função


f :A Ñ B
Dada uma função , construir seu gráfico é representar no sistema cartesiano ortogonal (ou
x ÞÑ f pxq “ y
plano xy) o conjunto de pontos tpx, yq|x P A e y “ f pxqu.
Ou seja, de maneira bem informal, é o desenho da função.
Podemos verificar pela representação cartesiana se f é ou não função: basta verificarmos a reta paralela ao
eixo y conduzida pelo ponto px, 0q, em que x P A, “encontra sempre o gráfico de f em um só ponto.”Alguns livros
chamam esse procedimento de testa da reta vertical.

Exemplos:

a) A relação f de A em R, com A “ tx P R| ´ 1 ď x ď 3u, representada abaixo, é função, pois toda reta vertical
conduzida pelos pontos de abscissa x P A “encontra sempre o gráfico de f num só ponto.”

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Capı́tulo 1. Funções 1.3 Função

Figura 1.9: Exemplo de função com teste da reta vertical

Fonte: elaborado pelo autor

b) A relação f de A em R, representada abaixo, com A “ tx P R| ´ 2 ď x ď 2u, não é função, pois há retas
verticais que encontram o gráfico de f em dois pontos.

Figura 1.10: Exemplo 1 que não é função com teste da reta vertical

Fonte: elaborado pelo autor

c) A relação f de A em R, representada abaixo, com A “ tx P R|0 ď x ď 4u, não é função de A em R, pois a


reta vertical conduzida pelo ponto p1, 0q não encontra o gráfico de f . Observamos que f é função de B em R
em que B “ tx P R|2 ď x ď 4u.

Figura 1.11: Exemplo 2 que não é função com teste da reta vertical

Fonte: elaborado pelo autor

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1.3 Função Capı́tulo 1. Funções

1.3.4 Propriedades de funções


As funções apresentam algumas propriedades, ou classificações de acordo com sua estrutura. Vamos ver quais
são elas, segundo Iezzi et al p2013q.

1. Funções injetoras

Uma função f : A Ñ B tal que f pxq “ y é dita injetora (ou injetiv a ou um para um) se nenhum elemento de
B é a imagem, sob f , de dois elementos distintos de A. Isto é, @x1 , x2 P A, se x1 ‰ x2 então f px1 q ‰ f px2 q.
Equivalentemente, se f px1 q “ f px2 q então x1 “ x2 .

Informalente, são as funções em que para todo x só existe um y correspondente. Nesse caso, não tem problema
sobrar elemento no contra-domı́nio.

Exemplos: Seja f : A Ñ B tal que f pxq “ y.

a) f pxq “ 3x é injetora, pois: x1 ‰ x2 ñ 3x1 ‰ 3x2 ñ f px1 q ‰ f px2 q.

b) f pxq “ x2 não é injetora, pois, por exemplo, se x1 “ 2 ‰ x2 “ ´2, temos que 22 “ p´2q2 “ 4 ñ f px1 q “
f px2 q “ 4.

2. Funções sobrejetoras Uma função f : A Ñ B tal que f pxq “ y é dita sobrejetora (ou sobrejetiva) se sua
imagem é igual ao seu contradomı́nio. Isto é, @y P B, Dx P A tal que f pxq “ y.

Informalmente, é a função que não sobra elemento no contradomı́nio, podendo inclusive ter um elemento de
x associado a mais de um elemento de y.

Exemplos: Seja f : A Ñ B tal que f pxq “ y.


y ´y¯ y
a) f pxq “ 3x é sobrejetora, pois: @y P R, Dx “ P R tal que f pxq “ f “ 3. “ y.
3 3 3
b) f pxq “ x não é sobrejetora, pois, por exemplo, se y “ ´2, Ex P R tal que f pxq “ y “ x2 .
2

3. Funções bijetoras Uma função f : A Ñ B tal que f pxq “ y é dita bijetora (ou bijetiva ou uma bijeção) se
ela for injetora e sobrejetora (ao mesmo tempo).

Exemplos: Seja f : A Ñ B tal que f pxq “ y.

a) f pxq “ 3x é bijetora.

b) f pxq “ x2 não é bijetora.

Graficamente, podemos verificar se uma função é injetora, sobrejetora ou bijetora. Dada a função f de A em
B, consideram-se as retas horizontais por p0, yq, com y P B. Em alguns livros, é conhecido como teste da reta
horizontal.

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Capı́tulo 1. Funções 1.3 Função

(a) se nenhuma reta corta o gráfico mais de uma vez, então f é injetora.

(b) se toda reta corta o gráfico, então f é sobrejetora.

(c) se toda reta corta o gráfico em um só ponto, então f é bijetora.

4. Funções compostas

Podemos construir novas funções a partir de outras funções existentes de várias maneiras, como por exemplo,
usando as operações (soma, subtração, multiplicação, divisão). Uma outra maneira, é fazendo a composição.

Sejam f : A Ñ B tal que f pxq “ y1 e g : B Ñ C tal que gpxq “ y2 . Chama-se função composta de g e f à
função h : A Ñ C tal que hpxq “ gpf pxqq “ pg ˝ f qpxq. (IEZZI et al, 2013).

Figura 1.12: Função composta

Fonte: elaborado pelo autor

Informalmente, com base no desenho acima, a composta seria uma maneira direta de ir de A para C, sem
passar por B.

Observações:

(a) A expressão hpxq “ pg ˝ f qpxq “ gpf pxqq, se lê: g composta com f ou g bola f , ou simplesmente g ˝ f .

(b) A composta g ˝ f só está definida quando o contradomı́nio da f é igual ao domı́nio da g (conjunto B).

(c) Em geral, g ˝ f ‰ f ˝ g.

Exemplos: Sejam as funções f pxq “ x ` 1 e gpxq “ 2x ` 1.

a) pf ˝ gqpxq “ f pgpxqq “ f p2x ` 1q “ 2x ` 1 ` 1 “ 2x ` 2.

b) pg ˝ f qpxq “ gpf pxqq “ gpx ` 1q “ 2px ` 1q ` 1 “ 2x ` 3.

c) pf ˝ f qpxq “ f pf pxqq “ f px ` 1q “ x ` 1 ` 1 “ x ` 2.

d) pg ˝ gqpxq “ gpgpxqq “ gp2x ` 1q “ 2p2x ` 1q ` 1 “ 4x ` 3.

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1.3 Função Capı́tulo 1. Funções

5. Funções inversas

Como toda função é uma relação, podemos determinar a relação inversa de uma função, da mesma maneira
que fizemos com as relações.

Teorema 1.3.1. Seja f : A Ñ B. A relação f ´1 é uma função de B em A se, e somente se, f é bijetora.

Definição 1.3.2. Se f : A Ñ B é uma função bijetora, a relação inversa de f é uma função de B em A que
denominamos função inversa de f e indicamos por f ´1 .

Para determinarmos a função inversa, temos de explicitar x em relação a y. Portanto, temos a seguinte regra
prática:

1o q escrevemos y “ f pxq;
2o q fazemos uma mudança de variável, isto é, trocamos x por y e vice-versa;
3o q transformamos algebricamente a expressão x “ f pyq, expressando y em função de x para obtermos
y “ f ´1 pxq.

Observação: O sı́mbolo f ´1 é apenas para indicar a inversa. Cuidado para não confundir com o inverso de
1
número real, pois f ´1 ‰ .
f

Exemplo: Qual é a função inversa da função f , bijetora em R, definida por f pxq “ 3x ` 2?

1o q Escrevemos f pxq “ y “ 3x ` 2.

2o q Trocamos as variáveis: x “ 3y ` 2.

x´2 x´2
3o q Expressamos y em função de x: x “ 3y ` 2 ñ x ´ 2 “ 3y ñ “ y. Portanto, f ´1 pxq “ “ y.
3 3

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] FRIEDLI, Sacha. Cálculo 1 disponı́vel em www.mat.ufmg.br/ sacha. Acesso em 08/06/2020.

[2] GERSTING, J. L.. Fundamentos matemáticos para a ciência da computação 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2004.
612p.

[3] IEZZI, Gelson; MURAKAMI, Carlos. Fundamentos de matemática elementar: conjuntos e funções vol.1, 9.
ed, São Paulo: Atual, 2013.

[4] MEDEIROS, Valéria Zuma; CALDEIRA, André Machado; SILVA, Luiza Maria Oliveira; MACHADO, Maria
Augusta Soares. Pré-Cálculo 2.ed. - São Paulo: Cengage Learning, 2013.

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