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1 Introdução

É comum estabelecer-se uma relação direta entre o comportamento de todos os custos e o volume de
produção ou nível de atividade. Todavia, conforme visto em capítulos anteriores, muitos custos permanecem
sem alteração diante da variação da atividade/produção. Os custos menos sensíveis à alteração do nível de
atividade estão identificados com a estrutura de produção, pois sua existência está vinculada à manutenção da
capacidade produtiva, independentemente de a mesma estar ociosa ou em atividade. É o caso do custo do
aluguel da fábrica, uma vez que, estando a fábrica operando na sua capacidade máxima ou em férias coletivas,
seu valor não é afetado por essas variações no volume de produção. Nesse sentido, a alteração desses custos
só acontecerá se houver uma ruptura na capacidade produtiva, de modo a permitir outro patamar em termos de
nível de atividade.

Por outro lado, as variações rotineiras no volume produtivo no âmbito da capacidade normal de produção estão
sustentadas por uma estrutura de custos que se mantém fixa, variando apenas aqueles custos mais sensíveis à
volatilidade das quantidades produtivas.

Interessante ressaltar que, se de um lado o máximo uso da capacidade instalada permite que se tenha um alto
grau de eficiência do uso dos recursos disponíveis, por outro lado, a existência da capacidade ociosa pode
possibilitar ganhos marginais que minimizam o efeito dos custos fixos num cenário em que não haja um melhor
equilíbrio entre os custos e as vendas. Esses ganhos marginais são decorrentes, por exemplo, de vendas
sazonais.

Isso oferece uma gama de possibilidades de gerenciamento da capacidade de produção com vistas a obter um
equilíbrio entre o comportamento dos custos, o volume de produção e o resultado da conjunção desses dois
fatores, como será visto nos tópicos a seguir.

2 Análise do ponto de equilíbrio

O ponto de equilíbrio é obtido quando determinada quantidade é vendida de forma a permitir a obtenção de uma
receita suficiente para cobrir todos os custos e despesas de modo que o resultado seja igual a zero. Sinaliza
que nesse ponto de venda a empresa consegue cobrir todos os custos e, a partir daí, cada unidade vendida
produz um lucro. Desse modo, o ponto de equilíbrio permite que a empresa saiba a partir de que montante das
vendas a empresa começa a obter lucro, por isso a denominação “ponto de ruptura” (break even point).

Vale ressaltar que o estudo que envolve a análise sobre ponto de equilíbrio leva em consideração que o assunto
está sendo abordado no âmbito do curto prazo, pois toma-se por base uma estrutura de produção existente,
bem como seus custos e despesas fixas orçados para determinada capacidade de produção.

Fórmula de Cálculo

A abordagem do ponto de equilíbrio pode então ser apresentada matematicamente como:

V = CDVt + CDFt + L
Onde:

V = Vendas totais;

CDVt = Custos e despesas variáveis totais;

CDFt = Custos e despesas fixas totais; e

L = lucro, sendo que no ponto de equilíbrio o lucro é igual a zero. Considerando ainda que o cálculo do ponto de
equilíbrio é fortemente afetado pelo volume de produção, tem-se que:

Onde:

pv = Preço de venda;

cdv = Custo e despesa variável por unidade; e

q = Quantidade vendida. Desse modo, a equação completa do ponto de equilíbrio pode ser apresentada da
seguinte maneira:

pv . q = cdv. q + CDFt + 0

Resultando na seguinte fórmula:

q(pv – cdv) = CDFt

ou

Como pv – cdv é a expressão matemática para a margem de contribuição, tem-se então a fórmula do ponto de
equilíbrio apresentada como:

Onde:

PEq = Ponto de equilíbrio em quantidades;

CDFt = Custos e despesas fixas totais; e


MCun = Margem de contribuição por unidade.

Exemplo:

O custo fixo de uma empresa é de $ 10.000,00 por mês. O produto é vendido a um preço de $ 3,00 e os custos
variáveis de produção são de $ 0,50 por unidade. Quantas unidades devem ser vendidas mensalmente para a
empresa alcançar o ponto de equilíbrio?

PEun = CDF/MC

PEun = $ 10.000/(3,00 – 0,50)

PEun = 4.000 unidades

Conferindo:

Com base no exemplo acima a empresa deverá vender 4.000 unidades, obtendo uma receita com vendas no
valor de R$ 12.000,00, permitindo-lhe cobrir todos os seus custos e despesas do período.

Essa receita foi calculada multiplicando-se 4.000 unidades ao preço de R$ 3,00. Outra maneira de se chegar ao
valor da receita no ponto de equilíbrio é através da seguinte fórmula: Simplificando:

Onde:

PEv = Ponto de equilíbrio em valor de vendas;

%MC = Percentual da margem de contribuição em relação às vendas.

Logo:

= %MC = 1 – (0,50/3,00) = 0,8333 = 10.000/0,8333 = $ 12.000

Esta última fórmula permite que seja calculado o ponto de equilíbrio com base nos dados da demonstração do
resultado do exercício e quando não se dispõe dos dados de preços e custos e despesas variáveis. Em muitos
casos, o valor da receita no ponto de equilíbrio é uma informação muito mais útil para a tomada de decisão do
que um número de unidades. Para empresas que trabalham com mais de um produto a abordagem do ponto de
equilíbrio expressa em unidades é tida como limitada, pois não esclarece o tipo e quantidade de produto que
precisa ser vendido para se alcançar o ponto de equilíbrio. Daí a opção pela informação em unidades
monetárias.
3 Abordagem gráfica

A análise gráfica da relação custo-volume-lucro possibilita uma visualização rápida e objetiva do volume de
venda necessário para alcançar o equilíbrio entre receitas e custos mais despesas. A forma clássica de
apresentação do gráfico do ponto de equilíbrio será apresentada na Figura 8.1.

Com base nos dados do exemplo apresentado anteriormente temos o seguinte gráfico:

No gráfico anterior, a reta que representa os custos e despesas variáveis tem início na origem da reta que
representa os custos e despesas fixas. A projeção da reta representativa dos custos e despesas variáveis até o
eixo referente às quantidades produzidas fornece uma dimensão dos custos e despesas totais. O ponto de
convergência da reta relativa à receita total com a dos custos e despesas variáveis representa o ponto de
equilíbrio. A área verificada à direita, depois do cruzamento das retas, representa o potencial de lucro a ser
obtido pela empresa após ser alcançado o ponto de equilíbrio. Da mesma forma, a área à esquerda desse ponto
corresponde à área de prejuízo.

4Margem de segurança Margem de segurança é o intervalo existente entre o volume de unidades vendido e
aquele relativo ao ponto de equilíbrio. Supondo determinada empresa que venda 100 unidades e que seu ponto
de equilíbrio seja de 80 unidades, consequentemente, sua margem de segurança será de 20 unidades. Em
termos financeiros, a margem de segurança é o volume de vendas que excede as vendas calculadas no ponto
de equilíbrio.

A margem de segurança representa ainda quanto as vendas podem cair sem que a empresa incorra em
prejuízo, podendo ser expressa em valor, unidade ou percentual. A fórmula para calcular a Margem de
Segurança (MS) é:

Em unidade:

Onde:
Va = volume atual de vendas; e

Ve = Volume no ponto de equilíbrio.

Considerando o ponto de equilíbrio calculado no exemplo anterior, e supondo uma venda atual de 5.000
unidades e um preço de venda de $ 2,50, teríamos:

Va = 5.000;

Ve = 4.000;

MS = (5.000 – 4000)/5.000;

MS = 1.000/5.000 = 0,20 × 100 = 20%. O percentual da margem de segurança indica que a empresa possui uma
sobra de 20% sobre o volume de vendas. Vejamos então: 5.000 × 0,20 = 1.000 unidades.

Ou:

Utilizando o mesmo exemplo anterior teríamos:

Receita atual = 5.000 unidades × $ 2,50/un. = $ 12.500

Receita no ponto de equilíbrio = 4.000 × $ 2,50/un. = $ 10.000

Logo:

MS = ($ 12.500 – $ 10.000)/$ 12.500 = 0,20

Temos: $ 12.500 × 0,20 = $ 2.500.

Esse número indica que a empresa está trabalhando com uma “sobra” nesse valor, o que nada mais é do que o
excedente ao ponto de equilíbrio.

Cada unidade adicional acima do nível do ponto de equilíbrio acresce ao lucro a quantia da margem de
contribuição por unidade. Assim, caso seja desejável calcular o lucro em determinado nível de vendas acima do
ponto de equilíbrio, basta que se multiplique a margem de segurança pela margem de contribuição unitária
através da seguinte fórmula:

Onde:

MS = Margem de Segurança em unidades

MC = Margem de Contribuição Unitária


No exemplo em que a empresa atingia o ponto de equilíbrio ao vender 4.000 unidades, supondo-se que ela
passasse a vender 5.000 unidades, o resultado dessa modificação no volume de vendas poderia ser calculado
da seguinte maneira:

MS = Va – Ve 5.000 – 4.000 MS = 1.000

Lucro = MS × MC Lucro = 1.000 × $ 2,50 = $ 2.500

5 Alavancagem operacional

A alavancagem operacional representa o efeito no lucro decorrente de uma alteração no volume de vendas. O
grau de alavancagem operacional – GAO é medido pela variação percentual do lucro sobre a variação
percentual das vendas em determinado nível de atividade. A fórmula que possibilita apurar o GAO é a seguinte:

Para exemplificar o cálculo do resultado pela margem de segurança apresentado no tópico anterior, considere-
se o volume atual de vendas de 5.000 unidades e, consequentemente, o lucro de $ 2.500. Supondo, agora, um
aumento de 20% sobre o volume atual de vendas de 5.000, quanto será o aumento no lucro?

Novo volume = 6.000 un. (5.000 un. + 20%)

Nova MS = 2.000 un., já que o ponto de equilíbrio é de 4.000 un.

Novo lucro = MS × MC 2.000 un. × $ 2,5 = $ 5.000

Variação no lucro: De $ 2.500 para $ 5.000 Variação de: 100%

Logo:

GAO = 5 vezes

Assim, pode-se afirmar que a alavancagem operacional da empresa é de cinco vezes, isto é, a cada percentual
de aumento no volume de vendas o lucro irá aumentar cinco vezes esse percentual. No caso, quando o volume
de vendas aumentou 20%, o lucro aumentou 100%.

Essa informação pode ser especialmente útil quando a empresa deseja aportar recursos visando aumentar o
volume de vendas. Muitas vezes, o investimento pode apresentar um retorno abaixo da expectativa da empresa
ou num prazo extremamente longo. Nesse contexto, o grau de alavancagem financeira pode contribuir no
processo de decisão, pois permite a avaliação do impacto no resultado decorrente das variações do volume de
vendas.

6 Pontos de equilíbrio contábil, econômico e financeiro

A abordagem do ponto de equilíbrio está muito associada ao contexto contábil de resultado e dessa forma sua
aplicação visa saber a partir de que momento a empresa conseguirá obter lucro. Sua aplicação acontece no
contexto da relação custo, volume de vendas e lucro.

Entretanto, o estudo do ponto de equilíbrio numa abordagem mais ampla contempla algumas variáveis que
podem ser adequadas a diversas situações dependendo do problema que está sendo investigado. Por exemplo,
é sabido que nem todos os custos fixos são efetivamente desembolsáveis. A depreciação, por exemplo, é um
gasto que não gera desembolso no momento da sua ocorrência, ou seja, trata-se apenas do reconhecimento do
desgaste do equipamento. Posto isso, qual o ponto de equilíbrio necessário para suportar apenas os gastos
desembolsáveis? Para esse tipo de questionamento deve ser considerada a adoção de um ponto de equilíbrio
financeiro.

Por outro lado, se a empresa atingir o ponto de equilíbrio contábil, o resultado obtido nesse ponto será igual a
zero. Entretanto, um resultado contábil nulo não significa que a empresa está em equilíbrio, de acordo com uma
abordagem econômica que leva em consideração o valor do patrimônio da empresa (pelo menos os juros do
capital próprio investido precisam ser recuperados).

Supondo, por exemplo, que a empresa tenha um capital de $ 10.000. Colocando esse valor numa caderneta de
poupança no início do ano, ao final do período a aplicação lhe renderia um total de pelo menos $ 10.616,78,1
considerando uma taxa de 0,5% ao mês; isto é, tem-se um lucro mínimo desejado de $ 616,78. Assim, conclui-se
que o verdadeiro lucro da atividade será obtido quando contabilmente o resultado for superior a esse retorno.
Logo, haverá um ponto de equilíbrio econômico quando a empresa alcançar um lucro contábil mínimo de $
616,78.

No exemplo apresentado, a empresa trabalha com custo fixo de $ 10.000,00 por mês. O produto é vendido a um
preço de $ 3,00 e os custos variáveis de produção são de $ 0,50 por unidade. O Ponto de Equilíbrio Contábil –
PEC será então de:
Com um prejuízo de $ 2.000, pode-se afirmar que a empresa está abaixo do equilíbrio contábil, uma vez que as
3.200 unidades vendidas não cobrem todos os custos, mas ao mesmo tempo pode-se afirmar que ela está em
equilíbrio financeiro, posto que o prejuízo contábil de $ 2.000 refere-se justamente à depreciação que, embora
seja uma despesa legítima relativa à parte do reconhecimento do desgaste do ativo imobilizado, é um gasto que
não gera no momento uma saída de dinheiro do caixa da empresa.

6.1 Pontos de equilíbrio para mais de um produto

Nos dias atuais, dificilmente as empresas se limitam à fabricação de apenas um produto. Esse fato faz com
que seja necessário conhecer de que forma pode-se calcular o ponto de equilíbrio de cada unidade produzida
em meio a uma produção diversificada. Inicialmente poder-se-iam ratear os custos fixos aos produtos e em
seguida calcular o ponto de equilíbrio com a fórmula que já foi trabalhada referente ao custo fixo sobre a
margem de contribuição. Ocorre que trabalhando dessa forma compromete-se o cálculo, uma vez que, como já
sabemos, o rateio dos custos fixos é um dos principais motivos de distorções nas análises gerenciais. O
exemplo abaixo apresenta uma forma simplificada e principalmente de fácil compreensão para o cálculo do
ponto de equilíbrio de cada produto em uma produção diversificada.

Custos e despesas fixas totais: $ 100.000.

O primeiro passo consiste em calcular o ponto de equilíbrio em vendas, conforme a seguinte fórmula:

Logo: PEV = 100.000,00/[1 – (320.000,00/600.000,00)] = $ 214.285,71.

Na fase seguinte, distribui-se o valor do ponto de equilíbrio em receitas de acordo com o percentual das
vendas, para em seguida dividir o valor obtido pelo preço de venda e obter o ponto de equilíbrio em quantidade.
Como pode ser depreendido, o modelo apresentado evita a utilização do tão criticado rateio do custo fixo.

Onde:

PEq = Ponto de Equilíbrio em quantidade;

PrV = Preço de Venda Unitário.

Essa forma de apuração do ponto de equilíbrio para mais de um produto é uma ferramenta interessante do
ponto de vista gerencial. Ao alcançar o ponto de equilíbrio em vendas, a empresa já tem uma informação
relevante. O ponto de equilíbrio em volume de vendas indica que, alcançado esse valor em receita total, a
empresa já alcançou o ponto de equilíbrio, porém, sem saber com precisão qual volume por produto foi vendido.
Ressalte-se, porém, que esse modelo também apresenta restrições. A principal delas é que esse cálculo sempre
dependerá do mix de produtos, ou seja, em caso de sazonalidades de volumes de produtos, esse cálculo deverá
ser ajustado para um cálculo relativo ao volume médio de vendas, o que, se não for corretamente elaborado,
poderá distorcer fortemente os resultados apresentados.

Resumo

O ponto de equilíbrio representa o nível de venda onde não há ganho ou perda da atividade empresarial. Na sua
análise, vale salientar que os pontos de equilíbrio contábil, econômico e financeiro não são coincidentes, uma
vez que, para gerar um lucro mínimo desejado pela empresa, ela precisa vender acima do ponto de equilíbrio
contábil. Por outro lado, considerando que nem todos os custos e despesas fixos são desembolsáveis para
atingir o ponto de equilíbrio financeiro, a empresa precisa vender um número de unidades abaixo do ponto de
equilíbrio contábil. É possível também o cálculo do ponto de equilíbrio para mais de um produto, ressalvando-se
as suas restrições. Trata-se de uma razoável ferramenta de análise.

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