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RESUMO
O trabalho mostrará a evolução conceitual dos Estudos de Segurança
Internacional e também abordará os desdobramentos do ataque terrorista em 11
de Setembro, expondo as consequências no âmbito internacional e doméstico
nos Estados Unidos. Na abordagem internacional, será discutido as ações que
os EUA tomaram, princiapalmente no Oriente Médio, já na abordagem
doméstica, será tratada a perda da liberdade dos norte-americanos ante a
Guerra ao Terror. O trabalho irá sustentar-se atráves de pesquisas em fontes
bibliográficas, trazendo autores e estudiosos do tema.
Palavras-Chave: Segurança Internacional; Terrorismo; Democracia
1. INTRODUÇÃO
1
Bacharelando em Relações Internacionais pela Faculdade da Serra Gaúcha, Caxias do Sul,
Brasil.
visão ocidental. Além disso apresentará a evolução conceitual do tema de
Segurança Internacional ao longo da Guerra Fria até os ataques de 11 de
Setembro.
Na segunda parte, será discutido as consequências dos ataques
terroristas na Agenda de Segurança dos Estado Unidos. As suas atuações no
Oriente Médio, a Guerra ao Terror e como essas ações auxiliaram a fomentação
e fortificação dos grupos terroristas na região. Para terminar essa seção, será
abordado a questão da perda de direitos e liberdades dos norte-americanos,
mostrando a contradição das suas próprias concepções de democracia.
2 Lionel Curtis nasceu em 1872, foi autor, advogado e diplomata britânico. Graduou-se na New
College, da Oxford, suas principais contribuições foram na Guerra da Africa do Sul, a criação
de estudos de R.i na Royal Institute of International Affairs e foi autor do livro The
Commonwealth of Nations: An Inquiry Into the Nature of Citizenship in the British Empire, and
Into the Mutual Relations of the Several Communities Thereof.
3 Informações retiradas do site da CHATAM HOUSE, na aba History.
Estados enfrentam são predominantemente militares. Mas com a complexidade
da disputa Leste-Oeste e com a ampliação da agenda de ESI na década de 70,
essa simples diferença tornou-se limitada e a partir desse ponto, houve maior
independência entre as disciplinas (2009. Pág. 44 e 45), apesar do ESI continuar
a ser uma das principais subáreas das R.I.
Antes da Segunda Guerra Mundial, o tema de Segurança Internacional,
estava incluído nos Estudos de Guerra, Grande Estratégias e Estratégia Militar.
Com a evolução dos estudos, os conceitos alteraram-se, há uma nova distinção
na formulação da Segurança Internacional, segundo Buzan e Hansen (2009,
pág.24) surge em três etapas: a primeira mudança, é no conceito-chave, que
parte de uma esfera simples, como defesa ou guerra e acaba ampliando-se para
Segurança, dessa forma, há o aumento do conjunto de questões, tanto políticas
como sociais, além da separação das ameaças militares e não militares. A
segunda etapa, inclui o período crucial para os ESI, a Guerra Fria, que começa
abordar novos problemas, como a Guerra Nuclear, as questões econômicas e
ambientais. A terceira etapa abrange a mudança de responsabilidade, alterando
os encarregados que cuidam da temática. Hoje em dia, em países
ocidentais/democráticos, o ESI não é mais pensado exclusivamente por
militares, há uma grande parcela de civis contribuindo para a expansão dos
conhecimentos, diferente dos países não ocidentais, onde geralmente os
militares ficam a cargo dessa tarefa.
No fim da década de 70 e no decorrer da década de 80, a URSS perde a
sua força hegemônica, com isso, novos atores internacionais surgem no S.I,
como ONGS, organismos multilaterais, entre outros, também há novos temas na
agenda da política internacional, como direitos humanos e o meio-ambiente.
Aliado a todas essas mudanças, na década de 90, há a expansão da
globalização, que segundo Held e McGrew, pode trazer algumas consequências,
como a aparição de novas animosidades e conflitos, fortalecimento de políticas
reacionárias e xenofóbicas, pois uma parcela da população não é atingida pela
globalização, ficando excluída dos seus benefícios, causando um forte processo
de desagregação.4 Exemplo da xenofobia existente atualmente é oriunda dos
países ocidentais, tanto da Europa como dos EUA, em relação aos povos
mulçumanos do Oriente Médio e da África. Em 2017, foi aprovado nos EUA, a
“travel ban”, também conhecida como “Executive Order 13769”, medida que
proíbe a entrada de imigrantes oriundos do Irã, Iraque, Líbia, Somália, Sudão,
Síria e Íemen, alegando medidas de segurança e combate a terroristas5,
afirmando de forma subtendida que todos que nasceram nesses países são
terroristas.
4
OLIVEIRA, Ariana. O FIM DA GUERRA FRIA E OS ESTUDOS DE SEGURANÇA
INTERNCIONAL: O CONCEITO DE SEGURANÇA HUMANA. Dezembro de 2009.
5 6. NATIONAL SECURITY AND DEFENSE. EXECUTIVE ORDER PROTECTING THE
NATION FROM FOREIGN TERRORIST ENTRY INTO THE UNITED STATES. Washington.
Março de 2017
3. A SEGURANÇA NOS EUA A PARTIR DE 1945: UMA BREVE
APRESENTAÇÃO
6
7. KENNAN, G. TELEGRAM FROM MOSCOW: THE CHARGE IN THE SOVIET UNION TO
THE SECRETARY OF STATE. Moscou. 22 de Fevereiro de 1946.
7 8. KENNAN, G. X, Mr. THE SOURCES OF SOVIET CONDUCT FROM FOREING AFFAIRS.
1947
tecnologia nuclear. As armas nucleares caracterizam-se por permitir aos seus
possuidores alcançarem um novo nível de coerção e dissuasão, visto que há
uma limitação nas ações dos oponentes já que as consequências para o país
que é alvo dos artefatos nucleares é altíssima, não somente sua força militar é
destruída, mas seu território permanece radioativo e inabitável por décadas,
também há um alto números de civis que pereceriam não somente na explosão,
mas anos após, com câncer e outras doenças. Tendo em mente a periculosidade
dos artefatos nucleares, os norte-americanos ampliam a sua cruzada.
Adicionaram em sua política de Segurança uma forma de combater a
proliferação dos artefatos nucleares, utilizando-se de seu poderio e de sua
influência, conseguiram que a URSS, a Grã-Bretanha e posteriormente China e
França assinassem o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares8,
atualmente 189 países são signatários do acordo9.
Sabendo do poderio e da imagem que as armas nucleares causam na
opinião pública, ambas as potências foram forçadas a conviver em uma relativa
paz, sem embate direto, apesar de ocorrem as chamadas “guerras por
procuração” (proxy war), como foi o caso das já citadas: Guerra do Vietnã; da
Coreia e do Afeganistão. Sendo assim, na década de 70, há uma mudança na
política de Segurança dos EUA, entra em cena a chamada détente que “nomeia
uma fase da Época da Guerra Fria durante a qual diferentes políticas destinadas
a relaxar as tensões foram perseguidas por elites dirigentes alinhadas em de
ambos os blocos.”10 Esse período caracterizou-se por uma maior cooperação
entre as duas potências, mesmo que ocorressem ainda as competições entre
ambas. Também é nesse período que estabelece padrões aceitáveis para
solucionar possíveis divergências.
A détente foi deteriorando-se, nos EUA, a maior crítica nesse período era
de que, com essa política, a URSS conseguiu realmente se tornar uma
superpotência11, pois há um declínio nas foças militares norte-americanas, que
só foram restabelecidas quando Reagan assumiu a presidência e impulsionou
os gastos militares. Outros elementos ajudam a explicar o enfraquecimento da
détente, são eles: a falta de confiança mútua entre os dois países; a falta de
compartilhamento de valores; a falta de uma real interdependência, visto que a
URSS não tinha muita coisa para oferecer aos Estado Unidos em termos de
produtos; o jogo de soma zero estava desequilibrado de forma proposital e a
corrida armamentista, proveniente de pressões de diversas esferas pressionou
para que acabassem com a détente12.
8
9.ORGANISMO INTERNACIONAL DE ENERGÍA ATOMICA. CIRCULAR INFORMATIVA:
TRATADO SOBRE LA NO PLORIFERACIÓN DE LAS ARMAS NUCLEARES. 1970.
9 10. REIS, Stephanie A. TRATADO DE NÃO PLORIFERAÇÃO NUCLEAR. JusBrasil.
2015.
10 E 12 MUNHOZ, Sidnei J; ROLLO, José H. DÉTENTE E DÉTENTES NA ÉPOCA DA
13 E 14 SHIMABUKURO,
A. A POLÍTICA DE SEGURANÇA DOS ESTADOS UNIDOS NO PÓS-
GUERRA FRIA. Campinas, 2005.
15 SEGURANÇA HUMANA: UM CONCEITO MULTIDIMENSIONAL. 2019
Segurança, saíram da mão de um Estado, pois são problemas transnacionais e
que necessitam uma cooperação para serem resolvidos.
NACIONAL DOS EUA DE 2002: REFLEXÕES NOS DEZ ANOS DO ONZE DE SETEMBRO.
IBRI: Meridiano 47. Volume 12; N° 126; Julho- Agosto de 2011.
18 THE WHITE HOUSE. THE NATIONAL SECURITY STRATEGY OF THE UNITED STATES
21
Rank Order: Troop-year Contributions
A FISA foi criada em 1978 e desde a sua implementação, dispôs de
diversas alterações e complementos na sua finalidade. Em 2008, foi sancionado
por parte do Congresso norte-americano a seção 702, que serviu para substituir
e colocar uma roupagem legal aos grampos e as escutas sem mandado judicial
implementada por George W. Bush após os atentados do 11 de Setembro. A
seção 702 foi renovada no governo de Barack Obama e no de Donald Trump até
pelo menos 202422. Ela atuou durante a última década recolhendo qualquer meio
de comunicação, sem precisar de autorização, de indivíduos fora do território
norte-americano e de cidadãos estadunidenses dentro de seu território,
mostrando clara contradição entre seus preceitos básicos que estão na
Constituição de 1787, ferindo a primeira emenda, que trata da liberdade dos
norte-americanos, a quarta e a quinta emenda, que tratam das apreensões
arbitrárias e dos abusos estatais. Além disso, outro ponto de contradição norte-
americana é sobre o pretexto usado na invasão do Afeganistão e do Iraque,
como já visto anteriormente, foi usado a desculpa de que seria dever do país,
lutar pela liberdade e democracia naquela região, livrando os povos indefesos
do Oriente Médio das mão de cruéis tiranos.
O verdadeiro uso da FISA decorreu em 2013, quando Edward Snowden,
administrador de sistemas que prestou serviço para a CIA e a NSA, revelou o
esquema de espionagem do governo dos EUA para os jornais The Guardian e
The Washington Post. Snowden revelou que entre 10 pessoas que o governo
espionava, 9 eram cidadãos comuns, que tiveram sua vida monitoradas e
perderam a privacidade de seus e-mails, telefonemas, mensagens enviadas,
contas bancárias, além de fotos familiares, currículos profissionais, receitas
médicas e até mesmo notas escolares23. Todas essas informações, que foram
obtidas, talvez não de forma ilegal, mas de forma antiética, eram irrelevantes e
inofensivas à Segurança dos Estados Unidos.
A espionagem feita pelos norte-americanos não se restringiu somente aos
seus cidadãos, expandiu-se para outros países, incluiu civis, políticos,
diplomatas, entre outras pessoas. Atingiu a presidência brasileira da época,
Dilma Rousseff teve seus e-mails e telefonemas acessados pela NSA. Coube,
diplomaticamente ao Brasil, cobrar o governo americano e questionar
esclarecimentos do ocorrido. Outros governos foram espionados também, como
a Alemanha, a Itália e a França24, causando desconforto e desarranjo no Sistema
Internacional.
7. CONCLUSÃO
22
AHRENS. J.M. EUA RENOVAM PROGRAMA QUE PERMITE ESPIONAGEM INDISCRIMINADA FORA DE
SAUS FRONTEIRAS. Washington. 2018.
23
Redação Época. 9 EM 10 ESPIONADOS PELOS EUA ERAM CIDADÃOS COMUNS, DIZ SNOWDEN. 2014
24
G1. ENTENDA O CASO DE EDWARD SNOWDEN, QUE REVELOU ESPIONAGEM DOS EUA. São Paulo.
2013.
Os Estudos de Segurança Internacional evoluíram com o passar das
décadas, partiram da visão mais tradicionalista implementada no pós Segunda
Guerra para algo mais amplo, incluindo outras questões, além das militares,
como as questões ambientais; o tráfico de drogas e de armas; a imigração;
problemas alimentares, entre outros novos aspectos, sendo cunhado nos anos
90 o termo Segurança Humana, que passou a fazer parte da agenda
internacional dos Estados.
Após acompanhar a concisa linha do tempo feita nesse artigo, sobre a
evolução da Segurança dos Estado Unidos, pode-se perceber que ela foi usada
por diversas vezes como forma de propagação da sua hegemonia, sendo
utilizada como pretexto de dominação internacional. As melhores amostras
dessa conjectura partem do período pós Guerra-Fria, quando a rivalidade com a
extinta URSS estanca. Sob o comando George W. Bush, Dicky Cheney, Colin
Powell, entre outros, a busca pela Segurança deu poderes quase ilimitados ao
governo norte-americano, sustentou diversas atrocidades, entre elas duas
guerras no Oriente Médio.
Além da cruzada contra o terrorismo, os anos 2000, revelaram uma das
maiores controvérsias, tanto no âmbito interno como externo, a seção 702 da
The Foreign Intelligence Surveillance, que permitiu ao governo espionar
praticamente o mundo todo, sempre utilizando como indulto, as questões de
Segurança, nem mesmo os países aliados ficaram de fora dessa prática. O artigo
chega ao seu desfecho, deixando em aberto o seguinte questionamento: a
Segurança do Estado, está acima da privacidade, do direito a liberdade e da
democracia?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS