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Lipídios

Conceitos e Metodologia de Análise

Bromatologia
2020

Fonte:
Cecchi, H.M. “Fundamentos teóricos e práticos em análise de alimentos” Ed. UNICAMP, 2ª ed., 2012.
Nepomuceno M.F., Ruggiero, A.C. “Manual de Bioquímica – Roteiro de Análises Bioquímicas Qualitativas e
Quantitativas”. Ed. Tecmedd, 2004.
Vicenzi, R. Apostila Análise de Alimentos. Química Industrial de Alimentos – UNIJUI. 2012.
LIPÍDIOS

• Lipídeos, lipídios ou lípidos são


biomoléculas insolúveis em água,
e solúveis em solventes orgânicos,
como o álcool, benzina, éter e clorofórmio.
• A família de compostos designados por lípidos é muito vasta.
• Cada grama de lipídio armazena 9 calorias de energia cinética,
enquanto cada grama de glicídio (carboidrato) ou proteína
armazena somente 4 Calorias.
Classificação
• Os lipídios podem ser classificados
em óleos (substâncias insaturadas)
e gorduras (substâncias saturadas), encontrados nos alimentos, tanto
de origem vegetal quanto animal, por exemplo: nas frutas (abacate e
coco), na soja, na carne, no leite e
seus derivados e também na gema
de ovo.

A maior parte da origem animal: sólida - saturada


Funções do tecido adiposo (gordura):

• Por fornecer energia para o corpo, esse tecido - As gorduras auxiliam no transporte e
poupa proteínas para a síntese de tecidos ao invés absorção de vitaminas lipossolúveis.
destas serem utilizadas como fonte de energia. Deprimem as secreções gástricas e
tornam mais lento o esvaziamento
• Auxiliam a manter órgãos e nervos em posição e gástrico.
protegê-los contra choques e lesões traumáticas.
• A camada subcutânea de gordura isola o
organismo, preservando o calor e mantendo a - Adicionam o paladar da dieta e
temperatura do organismo. produzem uma sensação de saciedade
após a refeição.
• Componentes das membranas celulares,
juntamente com as proteínas (fosfolipídios e - Formam uma película protetora
colesterol); (isolante térmico) sobre a epiderme de
• Composto bioquímico mais calórico em animais e muitos animais (tecido adiposo);
sementes oleaginosas sendo a principal forma de
armazenamento (triacil-gliceróis) e geração de
energia metabólica através da ß-oxidação de ácidos - Funções especializadas como hormônios
graxos; e vitaminas lipossolúveis;

Por que estudar LIPÍDIOS ?

Obesidade e doenças cardiovasculares


Lipídios
• Lipídios: insolúveis em água e solúveis em solventes orgânicos

• Ex: éter etílico, acetona, éter de petróleo, clorofórmio, etc

• Extração dos lipídios com solventes apolares

• Após extração e remoção do solvente, determina-se


gravimetricamente a quantidade de lipídeos presente.

Resíduos: mistura de triglicerídios,fosfatídeos, esteróis, vitaminas A e D, carotenóides, óleos


essenciais, etc., mas em quantidades relativamente pequenas, que não chegam a representar
uma diferença significativa na determinação.
Lipídios: Método
EXTRAÇÃO COM SOLVENTES A QUENTE

ETAPAS
O método está baseado em três etapas:
• Extração de gorduras da amostra com solventes
• Eliminação do solvente por evaporação.
• A gordura é quantificada por secagem.

Interferentes:
Alta proporção de proteínas, e a presença de
carboidratos também interfere.

Vicenzi, R. Apostila Análise de Alimentos. Química Industrial de


Alimentos – UNIJUI. 2012.
EXTRAÇÃO COM SOLVENTES A QUENTE
A eficiência da extração a quente depende de uma série de fatores:
• 1. Natureza do material a ser extraído;
• 2. Tamanho das partículas: quanto menor mais fácil à penetração do solvente;
• 3. Umidade da amostra: a água presente ria amostra dificulta a penetração do
solvente orgânico por imiscibilidade;
• 4. Natureza do solvente;
• 5. Semelhança entre as polaridades do solvente e da amostra;
• 6. Ligação dos lipídeos com outros componentes da amostra;
• 7. Circulação do solvente através da amostra;
• 8 A velocidade do refluxo não deve ser nem muito alta nem muito baixa, porque
pode haver pouca penetração do solvente na velocidade muito alta;
• 9. Quantidade relativa entre solvente e material a ser extraído: quanto mais
solvente maior é a extração, porém não se deve usar em excesso por causa do alto
custo do solvente.
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Alimentos – UNIJUI. 2012.
Solventes mais usados
• ÉTER ETÍLICO, extração mais ampla: vitaminas, esteróides,
resinas e pigmentos - apesar de ser um excelente extrator
para lipídeos, tem algumas desvantagens:

• ÉTER DE PETRÓLEO, mais usado - apesar de não ser o


solvente por excelência, traz uma série de vantagens:
• a) não extrai outras frações que não seja a lipídica;
• b) é muito mais barato;
• c) não é afetado por pequenas quantidades de água, e
• d) a sua recuperação por destilação é muito mais
conveniente.
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Alimentos – UNIJUI. 2012.
TIPOS DE EQUIPAMENTOS
• SOXHLET - Características
• 1. É um extrator que utiliza refluxo de solvente.
• 2. O processo de extração á intermitente.
• 3. Pode ser utilizado somente com amostras sólidas.
• 4. Tem a vantagem de evitar a temperatura alta de ebulição do
solvente, pois a amostra não fica em contato com o solvente muito
quente, evitando assim a decomposição da gordura da amostra.
• 5. A quantidade de solvente é maior porque o volume total tem
que ser suficiente para atingir o sifão do equipamento.
• 6. Tem a desvantagem da possível saturação do solvente que
permanece em contato com a amostra antes de ser sifonado, o que
dificulta a extração.

Vicenzi, R. Apostila Análise de Alimentos. Química Industrial de


Alimentos – UNIJUI. 2012.
SOXHLET
SOXHLET
TIPOS DE EQUIPAMENTOS
GOLDFISH - Características
• 1. E um método que também utiliza refluxo de solvente
para extração.
• 2. O processo de extração é contínuo e, portanto, mais
rápido.
• 3. Pode ser utilizado somente com amostras sólidas.
• 4. Tem a desvantagem do contato do solvente muito
quente com a amostra, o que pode acarretar degradação da
gordura.
• 5. Tem a vantagem de utilizar menos solvente e ser mais
rápido, pois o método, sendo contínuo, faz com que a
amostra esteja permanentemente em contato com o
solvente.
Vicenzi, R. Apostila Análise de Alimentos. Química Industrial de
Alimentos – UNIJUI. 2012.
Outros métodos

EXTRAÇÃO COM SOLVENTES A FRIO – MÉTODO DE BLIGH-DYER

- Mistura de três solventes, clorofórmio-metanol-água.


- Inicialmente, a amostra é misturada com metanol e clorofórmio que
estão numa proporção que forma uma só fase com a amostra.

- Em seguida, adiciona-se mais clorofórmio e água de maneira a formar


duas fases distintas, uma de clorofórmio, contendo os lipídeos, e outra
de metanol mais água, contendo as substâncias não lipídicas. A fase de
clorofórmio com a gordura é isolada e, após a evaporação do
clorofórmio, obtemos a quantidade de gordura por pesagem.
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Alimentos – UNIJUI. 2012.
Outros métodos

EXTRAÇÃO COM SOLVENTES A FRIO – MÉTODO DE BLIGH-DYER

-
Vantagens
- Extrai todas as classes de lipídeos, inclusive os polares que
representam um alto teor em produtos de trigo e soja e são
importantes para avaliações dietéticas;

- Por não usar temperatura, pode-se utilizar os extratos para


avaliação de deterioração dos lipídeos através do índice de
peróxidos e ácidos graxos livres, além das determinações do teor
de carotenóides, vitamina E, composição de ácidos graxos e
esteróis.

- Sem equipamentos sofisticados


Vicenzi, R. Apostila Análise de Alimentos. Química Industrial de
Alimentos – UNIJUI. 2012.
• EXTRAÇÃO DA GORDURA LIGADA A
OUTROS COMPOSTOS, POR HIDRÓLISE
ÁCIDA E ALCALINA

• Gordura ligada a proteína e


carboidrato (pão, leite)
A liberação da gordura é feita por
uma hidrólise ácida ou alcalina.

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Alimentos – UNIJUI. 2012.
• HIDRÓLISE ÁCIDA HIDRÓLISE ALCALINA
• Processo de Gerber - Europa Método de Rose-Gottlieb e Mojonnier
• Método de rotina utilizado : -
leite e produtos lácteos. -Hidróxido de amônia e álcool para
• Gordura em emulsão hidrolisar a ligação proteína-gordura,
• Filme proteíco Extraçào com éter de petróleo e éter
etílico. O álcool precipita a proteína
• H2SO4
que é dissolvida na amônia e a gordura
• Álcool isoamílico separada pode ser extraída com éter.
• Butirômetro.
• Processo de Babcock – EUA Amostras contendo muito açúcar
• troca álcool isoam. por água como, por exemplo, leite condensado.
quente Empregado para laticínios em geral.
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Reações Químicas
dos Lipídeos
Reações dos ácidos graxos
• Hidrogenação: é a reação do ácido graxo insaturado + H2,
formando ácido graxo saturado.

• Halogenação : é a reação do ácido graxo insaturado com um


halogênio, formando ácido graxo saturado halogenado.

• Saponificação : é a reação de um ácido graxo + base, formando


sal (sabão).

• Oxidação: reação com oxigênio


Hidrogenação:
• INVENTOR – William Normann
• Patente 1903
• Primeira fábrica 1911 :
• Os ácidos graxos insaturados
podem ser solidificados em presença
de hidrogênio e de catalisadores
como: Ni (níquel), Pt (platina), Pb (chumbo).

Adição de hidrogênio às duplas ligações dos ácidos graxos insaturados livres ou combinados
Hidrogenação:
• Importância industrial
• Permite a conversão de óleos em gorduras adequadas para a
produção de margarinas e para aplicação em produtos de panificação.
• Melhorar a consistência das gorduras:
• Reduzir a sensibilidade à rancidez;

Adição de hidrogênio às duplas ligações dos ácidos graxos insaturados livres ou combinados
Hidrogenação:
Adição de hidrogênio às duplas ligações dos ácidos graxos insaturados livres ou combinados

CH3CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2 O
C C CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2 C O CH2
H H O
CH3CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2 C O CH
H H O
C C CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2 C O CH2
CH3CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2

óleo
H2/catalizador
(Ni, Pd ou Pt)

O
CH3CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2 C O CH2
O
CH3CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2 C O CH
O
CH3CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2CH2 C O CH2
Oxidação

• Oxidação é a principal causa de deterioração, alterando diversas


propriedades:
• Qualidade sensorial (sabor, aroma, textura e cor);
• Valor nutricional (perda de vitaminas, carotenóides, proteínas e ácidos
graxos essenciais);
• Depreciação do produto e toxicidade (grande formação de radicais livres).
• Os efeitos dos produtos de oxidação lipídica presentes na dieta mostram ser
maléficos à saúde do consumidor, embora necessitem de mais estudos
• Existem poucas dúvidas de que o malonaldeído, produto secundário da
oxidação lipídica, seja tóxico às células vivas
A Oxidação leva a:
• PERDA DE COR
• PERDA DE ODOR
• APARECIMENTO DE AROMAS ESTRANHOS
• REAÇÃO DE ESCURECIMENTO COM AS PROTEÍNAS
• POSSÍVEL TOXICIDADE
Oxidação lipídica e alimentos
• O sal, adicionado durante a manufatura A oxidação lipídica é
de vários produtos cárneos, tem sido normalmente associada à
responsabilizado como catalisador da carnes que são cozidas ou cujas
oxidação lipídica
membranas sofreram um
• Pela legislação atual não é permitida a processo de desintegração,
adição de antioxidantes à carne moída,
o que é um resultado da preocupação como no caso de moagem.
com a saúde no sentindo de não Os lipídios ligados às
permitir a ingestão de um aditivo a membranas são constituídos, na
mais, porém é desconsiderado que maioria das vezes, de
estes alimentos, se oxidados, também fosfolipídios altamente
apresentam fatores negativos ao insaturados, que são
consumo humano.
especialmente susceptíveis à
• Sabe-se que o sal e os íons metálicos oxidação lipídica
servem como catalisadores na oxidação
lipídica.
Importância na tecnologia de alimentos

• Modifica as características sensoriais dos alimentos


(odor, cor, aroma).
• Os óleos proporcionam um dos processamentos
térmicos mais energéticos (frituras).
• Formação de peróxidos e outros produtos voláteis
(aldeídos) responsáveis pela rancidez.
• Gorduras são importantes para dar consistência aos
produtos alimentícios
Oxidação de
Lipídeos

https://www.kemin.com/sa/pt/markets/food/antioxidants
Sequestradores de
Antioxidantes Metais (quelantes)
Os antioxidantes impedem a
oxidação, eles combinam-se São aqueles capazes de se
com o radical livre combinar aos pró - oxidantes
impedindo que este se ligue (Ni, Cu, Fe, etc.) retirando-os
ao oxigênio e se processe a do meio pela formação de
reação e, cadeia (R.. + AH quelatos (agentes
RH+A.)
Os principais antioxidantes sequestrantes) são eles:
utilizados são: Vitamina C, ácido cítrico, ácido fosfórico,
Butil hidroxi anisol, vitamina EDTA, etc.
E, etc.
Antioxidantes

https://www.kemin.com/sa/pt/markets/food/antioxidants
CARACTERIZAÇÃO
DE
ÓLEOS E GORDURAS
ÍNDICES DE ÓLEOS E GORDURAS
• ajudam a identificação do óleo
• determinação de pureza
índice de iodo
• presença de adulterantes índice de saponificação
• acompanhar as etapas de índice de peróxidos
refinação índice de acidez
• acompanhar as etapas de
decomposição
Índice de Iodo
• O índice de iodo é uma medida do grau de insaturação dos ácidos
graxos presentes nas gorduras.
— Fundamenta-se no número de gramas de iodo absorvido em 100g de
gordura.
— Este índice é baseado no fato de que o iodo e outros halogênios (F,
Cl, Br e I) se adicionam numa dupla ligação da cadeia insaturada dos
ácidos graxos.
Índice de Saponificação
— Verificar adulteração por outros óleos com índices de saponificação
bem diferentes, como
— Óleo de coco (I.S. = 255),
— Óleo de palma ou dendê (I.S. = 247)
— Manteiga (I.S. = 225). amendoim I.S.: 185-195
oliva I.S.: 190-195
algodão I.S.: 190-198
— É uma indicação da quantidade relativa de manteiga I.S.: 222-232
ácidos graxos de alto e baixo peso molecular. côco I.S.: 245-265
— O I.S. não serve para identificar o óleo, pois
muitos óleos possuem estes índices muito
semelhantes (188-196).
Índice de Saponificação
Fundamenta-se no número de miligramas de hidróxido de potássio
(KOH) ou NaOH necessário para neutralizar os ácidos graxos livres e
saponificar um grama de gordura.

Quanto maior o índice de saponificação, mais base será consumida,


portanto, é uma gordura que se presta para a fabricação de sabão.
Índice de Acidez
• Indica a quantidade relativa de ácidos graxos livres
• DEFINIÇÃO: é o número de miligramas de KOH ou NaOH necessários
para neutralizar os ácidos graxos livres de 1g de óleo ou gordura
• Não caracteriza o óleo, não tem nada a ver com a composição do óleo
usado para acompanhar a rancidez hidrolítica e o processo de
neutralização na refinação do óleo
Índice de Acidez
• Fundamenta-se na dissolução da gordura em solvente misto (éter
etílico: álcool) e neutralizado com uma solução padrão de hidróxido
de sódio (NaOH), na presença de fenolftaleína como indicador do
ponto final da titulação.
Índice de TBA (ácido tiobarbiturico)

— É uma medida da rancidez.


— O índice de TBA só pode ser corretamente aplicado nos primeiros estágios
da oxidação, porque nos estágios mais avançados vai haver muita
modificação nos compostos produzidos.
— Inicialmente usado para leite e produtos lácteos, porém tem sido
reconhecido como bom método, também, para gorduras vegetais e
animais.
— Baseia-se na reação do ácido tiobarbitúrico com os aldeídos formados na
oxidação dos lipídios. É mais utilizado na análise de alimentos gordurosos
(manteiga, margarina, etc.) do que na de óleos e gorduras.
— Espectrofotométrico
Índice de Peróxido
— É o mais usado para determinar o grau de oxidação.

— A quantidade de peróxido não constitui um índice infalível das


características de conservação, porém indica até que ponto a
oxidação progrediu.
— Como os peróxidos são os primeiros com postos formados quando
uma gordura deteriora, toda gordura oxidada dá resultados positivo
nos testes de peróxidos.

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