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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA _ VARA

CRIMINAL DA COMARCA DE GUARAPUAVA DO ESTADO DO PARANÁ

CLEBERSON, nacionalidade..., estado civil..., profissão, portador do RG


sob n° ..., inscrito no CPF/MF sob nº ..., com endereço eletrônico e-mail ...,
residente e domiciliado na Rua..., n° ..., no município de Guarapuava/PR, vem à
presença de Vossa Excelência, por intermédio de seu procurador abaixo
assinado, (procuração em anexo), inscrito na OAB/... sob n°..., com endereço
profissional na Rua..., n° ..., bairro ..., cidade ..., Estado ..., requerer o

RELAXAMENTO DA PRISÃO EM FLAGRANTE

Com fundamento no artigo 306, parágrafos 1º e 2º, artigo 310, inciso


I, ambos do Código de Processo Penal e Súmulas 11 e 145, ambas do Supremo
Tribunal Federal, pelos motivos de fato e de direito a seguir expostos:

1. DOS FATOS

Cleberson, 35 (trinta e cinco) anos de idade, conhecido na cidade


onde reside, Guarapuava/PR, por ser traficante de drogas. Por diversas vezes,
a Polícia invadiu a localidade em busca de substâncias ilícitas, mas nunca
encontrou nada de concreto para que houvesse a prisão de Cleberson ou de
seus comparsas.
Maricata, Policial Militar, resolveu investigar o caso sozinho, e no dia
13.08.2020, decidiu ir até Cleberson para pedir substância entorpecente. Ao
encontrar-se com o traficante, o agente policial solicita 10 kg de droga ilícita, no
entanto Cleberson informa que não possui em depósito, uma vez que a demanda
é muito grande na região e, ainda, por estar tentando largar a vida do crime.
Com o intuito de prendê-lo em flagrante, Maricata pede ao traficante
que vá pegar a droga em outro lugar, oferecendo a ele cinco vezes o valor de
mercado da substância.
Cleberson, haja vista não ter a substância em deposita, motivado pelo
elevado lucro, resolve buscar junto a outro traficante a droga pedida pelo agente.
No entanto, ao retornar com a droga, o policial militar se identifica e realiza a
prisão em flagrante pelo crime de tráfico de entorpecentes, previsto no art. 33 da
Lei nº 11.343/2006.
Mesmo sem demonstrar qualquer oposição à ordem legal e
inexistindo qualquer circunstância que indicasse o risco de fuga ou risco à
integridade física do policial ou de terceiros, Cleberson foi algemado e conduzido
à Delegacia Local. Lá foram cumpridas as formalidades de praxe, com a remessa
do flagrante ao juízo competente, ao Ministério Público, bem como ao Advogado
indicado por Cleberson, além da comunicação imediata à família do preso, tudo,
frisa-se, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas. O delegado deixou de entregar
a nota de culpa ao preso, bem como de tomar-lhe o devido recibo.
É o relato fático.

2. DOS FUNDAMENTOS

2.1 DA INOBSERVÂNCIA AO PRAZO CONTIDO NO ART. 306, §1º E §2º


DO CPP

Dispõe o artigo 306, parágrafos 1º e 2º do Código de Processo Penal


que:
Art. 306. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão
comunicados imediatamente ao juiz competente, ao Ministério Público
e à família do preso ou à pessoa por ele indicada.
§ 1o Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, será
encaminhado ao juiz competente o auto de prisão em flagrante e, caso
o autuado não informe o nome de seu advogado, cópia integral para a
Defensoria Pública.
§ 2o No mesmo prazo, será entregue ao preso, mediante recibo, a
nota de culpa, assinada pela autoridade, com o motivo da prisão, o
nome do condutor e os das testemunhas.

Desta forma, conforme os fatos supracitados, resta evidente a


inobservância e o não cumprimento do prazo de 24 (vinte e quatro) horas para o
cumprimento das formalidades, haja vista que a remessa do flagrante ao juízo
competente, ao Ministério Público, bem como ao Advogado indicado por
Cleberson, além da comunicação imediata à família do flagranteado se deu no
prazo de 48 (quarenta e oito) horas, e ainda, o delegado deixou de entregar a
nota de culpa ao requerido, bem como de tomar-lhe o devido recibo.
Portanto, resta evidenciado o não cumprimento do disposto no artigo
306, parágrafos 1º e 2º do Código de Processo Penal.
2.2 DO USO ILÍCITO DE ALGEMAS

A Súmula Vinculante nº 11, do Supremo Tribunal Federal, dispõe que:


SÚMULA VINCULANTE Nº 11 “só é lícito o uso de algemas em caso
de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade
física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada
a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade
disciplinar civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da
prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da
responsabilidade civil do Estado”

Ocorre que, conforme o relato fático, mesmo sem demonstrar


qualquer oposição à ordem legal e inexistindo qualquer circunstância que
indicasse o risco de fuga ou risco à integridade física do policial ou de terceiros,
o flagranteado foi algemado e conduzido à Delegacia Local.
Logo, resta evidenciada a violação da Súmula nº 11 do STF, haja vista
o uso ilícito de algemas, uma vez que as circunstâncias do presente caso não
demonstravam necessidade do uso destas.

2.3 DO CRIME IMPOSSÍVEL

A Súmula nº 145 do Supremo Tribunal Federal, dispõe que “não há


crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna impossível a sua
consumação.”, ou seja, não há crime quando o fato é preparado mediante
provocação ou induzimento, direto ou por concurso, de autoridade, que o faz
para fim de aprontar ou arranjar o flagrante.
Sendo assim, tendo em vista que a prisão foi efetivada por
consequência da provocação realizada pelo agente, o flagrante preparado é
ilegal e se denomina como crime impossível, uma vez que ao agente instigar o
flagranteado evita, desta forma, a consumação do crime, excluindo por
consequente sua tipicidade.

2.4 DO RELAXAMENTO DA PRISÃO

Dispõe o artigo 310, inciso I do Código de Processo Penal que:

Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo máximo


de até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, o juiz
deverá promover audiência de custódia com a presença do acusado,
seu advogado constituído ou membro da Defensoria Pública e o
membro do Ministério Público, e, nessa audiência, o juiz deverá,
fundamentadamente:
I - relaxar a prisão ilegal;

Desta forma, conforme supramencionado a prisão em ocorreu de


forma ilícita, haja vista que o flagrante foi preparado pelo agente, violando ainda
a Súmula nº 145 do STF e, tornando assim, devido o relaxamento da prisão
ilegal.
Nesse senido, segundo doutrina e jurisprudência mojoritárias, não há
crime quando a situação de flagrância é provocada.1
Destarte Excelência, requerer o relaxamento da prisão ilegal, com
fundamento no artigo 310, inciso I do Código de Processo Penal.

3. DOS PEDIDOS

Ante o exposto requer:

a) O recebimento do presente pedido.


b) Nos termos do artigo 310, inciso I, do Código de Processo Penal, o
Relaxamento da Prisão em Flagrante Ilegal, colocando o requerente em
liberdade.
c) Seja oportunizada a manifestação ao Ministério Público.
d) Seja expedido o alvará de soltura, para que o requerente possa
livrar-se solto.

Termos em que,
Pede deferimento.

Guarapuava, data...

Advogado ...
OAB/... N° ...

1
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 2ª ed. Salvador: Juspodivm.
2014.
Documentos:
a) Procuração

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