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30/03/2021
Número: 1012643-55.2021.4.01.3400
Classe: AÇÃO CIVIL PÚBLICA CÍVEL
Órgão julgador: 3ª Vara Federal Cível da SJDF
Última distribuição : 10/03/2021
Valor da causa: R$ 1.000.000,00
Assuntos: COVID-19, Unidade de terapia intensiva (UTI) / unidade de cuidados intensivos (UCI)
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
DEFENSORIA PUBLICA DA UNIAO (AUTOR)
COMPANHIA DO METROPOLITANO DO DISTRITO LUCIANA CAIXETA GANIM (ADVOGADO)
FEDERAL METRO DF (REU) BRUNO OLIVEIRA DIAS (ADVOGADO)
UNIÃO FEDERAL (REU)
DISTRITO FEDERAL (REU)
AGENCIA NACIONAL DE TRANSPORTES TERRESTRES -
ANTT (REU)
Ministério Público Federal (Procuradoria) (FISCAL DA LEI)
MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO (FISCAL DA LEI)
MINISTERIO PUBLICO DO DISTRITO FEDERAL E
TERRITORIOS (FISCAL DA LEI)
Conselho Regional de Educação Física da 7ª Região ARLINDO LUIZ PIMENTEL CELSO (ADVOGADO)
(CREF7) (AMICUS CURIAE)
Sindicato das Academias do Distrito Federal (AMICUS LEONARDO TAVARES CHAVES (ADVOGADO)
CURIAE)
Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do VALERIO ALVARENGA MONTEIRO DE CASTRO
Distrito Federal (AMICUS CURIAE) (ADVOGADO)
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Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
49386 30/03/2021 20:45 Decisão Decisão
5896
PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA FEDERAL
Seção Judiciária do Distrito Federal
3ª Vara Federal Cível da SJDF
PROCESSO: 1012643-55.2021.4.01.3400
CLASSE: AÇÃO CIVIL PÚBLICA CÍVEL (65)
POLO ATIVO: DEFENSORIA PUBLICA DA UNIAO
POLO PASSIVO:COMPANHIA DO METROPOLITANO DO DISTRITO FEDERAL METRO DF e outros
REPRESENTANTES POLO PASSIVO: BRUNO OLIVEIRA DIAS - DF26376 e LUCIANA CAIXETA GANIM - DF22353
DECISÃO
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presente feito, que poderão, ainda, ser objeto de maiores restrições, nos termos da inicial, caso
haja o agravamento dos índices e da situação geral, o que se pede em estrito acordo com a
evolução fática da situação, como inclusive faz parte da ratio decidendi da r. decisão judicial
vigente no feito; 3. Seja deferida tutela cautelar, determinando que o Distrito Federal passe a
informar nos autos da presente ação civil pública, em periodicidade a ser previamente
definida pelo próprio Juízo, a) o número de pessoas que estavam à espera de leitos de UTI,
mas vieram a óbito, b) o tempo médio de espera até o óbito; c) o tempo médio de espera
até o fornecimento de leito de UTI e, d) o número de óbitos ocorridos nos leitos de UTI
COVID-19 no mesmo período, bem como e) a taxa de transmissão da Covid-19 no DF,
mensurada dia a dia a ser sempre incluída no boletim diário da Diretoria de Vigilância
Epidemiológica/SVS/SESDF para acesso público no sítio onde já são publicados. 4. Seja
deferida tutela cautelar, determinando ao Distrito Federal que informe nos autos quanto as
medidas expansão de novos leitos de UTI, não somente no que concerne ao aspecto
material/estrutural (número de leitos em expansão propriamente ditos), mas também sobre
o aspecto subjetivo/humano (comprovação do aumento efetivo da quantidade de
profissionais da saúde necessários para receber adequadamente nova demanda
expandida); 5. Não se opõe à audiência urgente de conciliação sugerida pelos ilustres
presentantes do Ministério Público em sua manifestação de Id.479703363 destacando que esta,
para maior efetividade, deve, se deferida pelo juízo, se dar em data ANTERIOR à programada
para entrada em vigor do novo regime exposto pelo Réu, Distrito Federal, no Decreto 41.913, de
19.03.0221, que ocorrerá em 29.03.2021 (id. 484446348).
Sustenta que a fila de espera por UTIs no DF quando proposta a ação estava em
181 (cento e oitenta e uma) pessoas e hoje, às 14h, se encontra em 411 (quatrocentos e onze
pessoas), em franco crescimento nos últimos dias. Taxar tão situação de normalidade ou de
melhoria ofende à razão (id. 484446348).
Entende que, apesar de o Distrito Federal argumentar que vem adotando todas as
medidas necessárias e atrelar qualquer maior flexibilização à continuidade da melhoria dos
números, sustenta que, formalmente, o citado ente distrital não o fez, uma vez que prorrogou as
medidas em vigor somente até a data de 28.03.2021 por meio do novo Decreto 41.913 de
19.03.2021, mas nele já previu uma grande flexibilização para a data de 29.03.2021, com
abertura de shoppings centers, liberação de praticamente toda atividade comercial (ainda que
com todo um Anexo de restrições) e, inclusive, liberando treinos e eventos esportivos (embora
sem público). Não há no decreto Decreto 41.913, de 19.03.2021 esse compromisso do Réu, DF,
qual seja, o de que as medidas flexibilizadoras só venham a ser implementadas se mantida a
taxa de contaminação abaixo de 1 (id. 484446348).
Ademais, sustenta que deve ser informado pelo Distrito Federal quanto a expansão
de novos leitos de UTI, não somente no que concerne ao aspecto material/estrutural (número de
leitos em expansão propriamente ditos), mas também sobre o aspecto subjetivo/humano
(aumento da quantidade de profissionais da saúde necessários para receber adequadamente
nova demanda) (id. 484446348).
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Juntou documentos (id. 484446348 ao id. 484459862).
Entende que nova discussão sobre o assunto esbarraria no óbice da coisa julgada.
Ademais, reitera a continência com a ação popular 0701252-39.2021.8.07.0018 já anteriormente
indicada na sua anterior petição, o Distrito Federal vem também informar continência com a ação
popular 0701650-83.2021.8.07.0018, na qual também se pretende que o Poder Judiciário interfira
indevidamente na gestão na crise de saúde pública, para determinar o fechamento das atividades
presenciais nas creches, escolas, universidades e faculdades da rede de ensino privadas (id.
490465927).
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Judiciário não tem ingerência na estratégia de enfrentamento da pandemia e no cronograma de
vacinação estabelecidos pelo Executivo, não lhe cabendo proferir decisão judicial para alterar a
política discricionária atribuída pelo Poder Discricionário inerente à Administração para regular o
combate à pandemia, oportunidade em que também pugna pela perda de objeto em virtude da
Instrução Normativa SGP/SEDGG/ME n. 37, de 25 de março de 2021, e comunica a interposição
de agravo de instrumento (id. 492111353 ao id. 492109371).
É o relatório. DECIDO.
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua
promoção, proteção e recuperação.
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JUDICIÁRIO. POLÍTICAS PÚBLICAS. SENTENÇA MANTIDA. 1. "A ação civil
pública é o meio adequado para que o Ministério Público Federal promova a
proteção de direitos individuais indisponíveis, como, no caso, em que se busca
resguardar o direito à saúde e à vida de pessoa enferma e carente de recursos
financeiros para o custeio de tratamento médico (CF, art. 127, caput)" (AC 0000896-
66.2010.4.01.3803 / MG, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL SOUZA PRUDENTE,
QUINTA TURMA, e-DJF1 p.1466 de 11/05/2012). 2. A legitimidade ativa do órgão
ministerial para defesa dos direitos individuais indisponíveis decorre de expressa
disposição constitucional, a teor do art. 127 da Carta Magna, na qual se inclui a
tutela de pessoa individualmente considerada. A indisponibilidade do direito à vida é
suficiente para fundamentar a legitimidade ativa do Ministério Público Federal. 3.
Nos termos do art. 196 da Constituição da República, incumbe ao Estado, em todas
as suas esferas, prestar assistência à saúde da população, configurando essa
obrigação, consoante entendimento pacificado do Supremo Tribunal Federal,
responsabilidade solidária entre os entes da Federação. Portanto, é possível o
ajuizamento da ação contra um, alguns ou todos os entes estatais. 4. Quanto à
alegação da impossibilidade de interferência do Poder Judiciário na
formulação de Políticas Públicas, o Supremo Tribunal Federal entende que
reconhecer a legitimidade do Poder Judiciário para determinar a concretização
de políticas públicas constitucionalmente previstas, quando houver omissão
da administração pública, não configura violação do princípio da separação
dos poderes, haja vista não se tratar de ingerência ilegítima de um poder na
esfera de outro 5. Consoante se extrai da Constituição Federal de 1988, à
Saúde foi dispensado o status de direito social fundamental (art. 6º), atrelado
ao direito à vida e à dignidade da pessoa humana, consubstanciando-se em
"direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao
acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,
proteção e recuperação" (art. 196). 6. É responsabilidade do Poder Público,
independentemente de qual seja o ente público em questão, garantir a saúde
ao cidadão. No caso em análise, a obrigação de fazer consistiu em determinar aos
Réus, que fornecessem, imediatamente, ao paciente Fellipe Eduardo Ribeiro Reis
as vacinas Meningococco B e Meningite ACWY, por ser o autor, portador de
paralisia cerebral e epilepsia, e precisa fazer uso das vacinas solicitadas e que elas
são caras e não fornecidas pelo SUS. 7. Não pode a divisão administrativa de
atribuições estabelecida pela legislação decorrente da Lei n. 8.080/1990 restringir
essa responsabilidade, servindo ela, apenas, como parâmetro da repartição do ônus
financeiro final dessa atuação, o qual, no entanto, deve ser resolvido pelos entes
federativos administrativamente ou em ação judicial própria e não pode ser óbice à
pretensão da população ao reconhecimento de seus direitos constitucionalmente
garantidos como exigíveis deles de forma solidária. 8. Encontra-se presente, no
caso, a excepcionalidade apta a justificar a atuação do Judiciário pelos seguintes
motivos: a) a parte autora demonstrou que não tem condições financeiras de arcar
com o custo do tratamento pleiteado; b) não existe outro medicamento fornecido
pelo SUS para a doença que a acomete; c) o tratamento não é de cunho
experimental, como disposto na decisão proferida na STA 244/STF e d) o Poder
Público não demonstrou a impossibilidade de arcar com os custos do tratamento, aí
incluída prova do direcionamento dos meios disponíveis para a satisfação de outras
necessidades essenciais. 9. Recurso de apelação conhecido e não provido. (AC
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0009855-16.2016.4.01.3803, Desembargador Federal Kassio Nunes Marques,
TRF1 - SEXTA TURMA, e-DJF1 01/09/2017) grifei
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(RTJ 175/1212-1213, Rel. Min. CELSO DE MELLO). Não deixo de conferir, no
entanto, assentadas tais premissas, significativo relevo ao tema pertinente à reserva
do possível (STEPHEN HOLMES/CASS R. SUNSTEIN, The Cost of Rights, 1999,
Norton, New York), notadamente em sede de efetivação e implementação (sempre
onerosas) dos direitos de segunda geração (direitos econômicos, sociais e
culturais), cujo adimplemento, pelo Poder Público, impõe e exige, deste, prestações
estatais positivas concretizadoras de tais prerrogativas individuais e/ou coletivas. É
que a realização dos direitos econômicos, sociais e culturais além de caracterizar-se
pela gradualidade de seu processo de concretização depende, em grande medida,
de um inescapável vínculo financeiro subordinado às possibilidades orçamentárias
do Estado, de tal modo que, comprovada, objetivamente, a incapacidade
econômico-financeira da pessoa estatal, desta não se poderá razoavelmente exigir,
considerada a limitação material referida, a imediata efetivação do comando
fundado no texto da Carta Política. Não se mostrará lícito, no entanto, ao Poder
Público, em tal hipótese mediante indevida manipulação de sua atividade financeira
e/ou político-administrativa criar obstáculo artificial que revele o ilegítimo, arbitrário e
censurável propósito de fraudar, de frustrar e de inviabilizar o estabelecimento e a
preservação, em favor da pessoa e dos cidadãos, de condições materiais mínimas
de existência. Cumpre advertir, desse modo, que a cláusula da reserva do possível
ressalvada a ocorrência de justo motivo objetivamente aferível não pode ser
invocada, pelo Estado, com a finalidade de exonerar-se do cumprimento de suas
obrigações constitucionais, notadamente quando, dessa conduta governamental
negativa, puder resultar nulificação ou, até mesmo, aniquilação de direitos
constitucionais impregnados de um sentido de essencial fundamentalidade. Daí a
correta ponderação de ANA PAULA DE BARCELLOS (A Eficácia Jurídica dos
Princípios Constitucionais, p. 245-246, 2002, Renovar): Em resumo: a limitação de
recursos existe e é uma contingência que não se pode ignorar. O intérprete deverá
levá-la em conta ao afirmar que algum bem pode ser exigido judicialmente, assim
como o magistrado, ao determinar seu fornecimento pelo Estado. Por outro lado,
não se pode esquecer que a finalidade do Estado ao obter recursos, para, em
seguida, gastá-los sob a forma de obras, prestação de serviços, ou qualquer outra
política pública, é exatamente realizar os objetivos fundamentais da Constituição. A
meta central das Constituições modernas, e da Carta de 1988 em particular, pode
ser resumida, como já exposto, na promoção do bem-estar do homem, cujo ponto
de partida está em assegurar as condições de sua própria dignidade, que inclui,
além da proteção dos direitos individuais, condições materiais mínimas de
existência. Ao apurar os elementos fundamentais dessa dignidade (o mínimo
existencial), estar-se-ão estabelecendo exatamente os alvos prioritários dos gastos
públicos. Apenas depois de atingi-los é que se poderá discutir, relativamente aos
recursos remanescentes, em que outros projetos se deverá investir. O mínimo
existencial, como se vê, associado ao estabelecimento de prioridades
orçamentárias, é capaz de conviver produtivamente com a reserva do possível. Vê-
se, pois, que os condicionamentos impostos, pela cláusula da reserva do possível,
ao processo de concretização dos direitos de segunda geração - de implantação
sempre onerosa -, traduzem-se em um binômio que compreende, de um lado, (1) a
razoabilidade da pretensão individual/social deduzida em face do Poder Público e,
de outro, (2) a existência de disponibilidade financeira do Estado para tornar efetivas
as prestações positivas dele reclamadas. Desnecessário acentuar-se, considerado o
encargo governamental de tornar efetiva a aplicação dos direitos econômicos,
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sociais e culturais, que os elementos componentes do mencionado binômio
(razoabilidade da pretensão + disponibilidade financeira do Estado) devem
configurar-se de modo afirmativo e em situação de cumulativa ocorrência, pois,
ausente qualquer desses elementos, descaracterizar-se-á a possibilidade estatal de
realização prática de tais direitos. Não obstante a formulação e a execução de
políticas públicas dependam de opções políticas a cargo daqueles que, por
delegação popular, receberam investidura em mandato eletivo, cumpre reconhecer
que não se revela absoluta, nesse domínio, a liberdade de conformação do
legislador, nem a de atuação do Poder Executivo. É que, se tais Poderes do Estado
agirem de modo irrazoável ou procederem com a clara intenção de neutralizar,
comprometendo-a, a eficácia dos direitos sociais, econômicos e culturais, afetando,
como decorrência causal de uma injustificável inércia estatal ou de um abusivo
comportamento governamental, aquele núcleo intangível consubstanciador de um
conjunto irredutível de condições mínimas necessárias a uma existência digna e
essenciais à própria sobrevivência do indivíduo, aí, então, justificar-se-á, como
precedentemente já enfatizado - e até mesmo por razões fundadas em um
imperativo ético-jurídico -, a possibilidade de intervenção do Poder Judiciário, em
ordem a viabilizar, a todos, o acesso aos bens cuja fruição lhes haja sido
injustamente recusada pelo Estado. Extremamente pertinentes, a tal propósito, as
observações de ANDREAS JOACHIM KRELL (Direitos Sociais e Controle Judicial
no Brasil e na Alemanha, p. 22-23, 2002, Fabris): A constituição confere ao
legislador uma margem substancial de autonomia na definição da forma e medida
em que o direito social deve ser assegurado, o chamado `livre espaço de
conformação (...). Num sistema político pluralista, as normas constitucionais sobre
direitos sociais devem ser abertas para receber diversas concretizações consoante
as alternativas periodicamente escolhidas pelo eleitorado. A apreciação dos fatores
econômicos para uma tomada de decisão quanto às possibilidades e aos meios de
efetivação desses direitos cabe, principalmente, aos governos e parlamentos. Em
princípio, o Poder Judiciário não deve intervir em esfera reservada a outro
Poder para substituí-lo em juízos de conveniência e oportunidade, querendo
controlar as opções legislativas de organização e prestação, a não ser,
excepcionalmente, quando haja uma violação evidente e arbitrária, pelo
legislador, da incumbência constitucional. No entanto, parece-nos cada vez mais
necessária a revisão do vetusto dogma da Separação dos Poderes em relação ao
controle dos gastos públicos e da prestação dos serviços básicos no Estado Social,
visto que os Poderes Legislativo e Executivo no Brasil se mostraram incapazes de
garantir um cumprimento racional dos respectivos preceitos constitucionais. (ADPF
45 MC, Rel. Min. CELSO DE MELLO, DJ 04/05/2004). IV - Em sendo assim,
caracterizada, na espécie, a impossibilidade de a parte autora, portadora de
diabetes mellitus, hipertensão arterial, cardiopatia dilatada, atualmente cursando
com descontrole dos membros inferiores, com dificuldades de deambular e outras
enfermidades; arcar com os custos do tratamento de saúde, afigura-se
juridicamente possível o fornecimento pelo Poder Público da internação requerida
conforme indicação médica, possibilitando-lhe o exercício do seu direito à vida, à
saúde e à assistência médica, como garantia fundamental assegurada em nossa
Carta Magna, a sobrepor-se a qualquer outro interesse de cunho político e/ou
material. Precedentes. V - Processo julgado na linha da prioridade legal
estabelecida no artigo 1.048, I, do novo CPC. VI Remessa necessária e apelação do
Município de Salvador desprovidas. Sentença confirmada. (REO 0013342-
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82.2015.4.01.3300, Desembargador Federal Souza Prudente, TRF1 - Quinta Turma,
PJe 13/12/2020) grifei
Feitas tais ponderações iniciais, registro que não resta qualquer dúvida que a
sociedade como um todo se debate e se divide entre opiniões sobre a necessidade de manter ou
não atividades fechadas, considerando abordagens de interesse pessoal, profissional, econômico
e político.
Como afirma o ilustre Min. Roberto Barroso, que muito engrandece a Corte
Constitucional, na obra A Judicialização da Vida, (...) atores políticos, muitas vezes, preferem que
o Judiciário seja a instância decisória de certas questões polemicas, em relação às quais exista
desacordo moral razoável na sociedade. Com isso, evitam o próprio desgaste na deliberação de
temas divisivos...(p.134).
Ainda que, em momento anterior, não se tenha vislumbrado omissão por parte do
Governo do Distrito Federal na adoção de medidas necessárias ao enfrentamento da pandemia
decorrente do novo coronavírus, os números atuais, infelizmente, revelam o contrário.
Importante que se tenha em mente que não se trata apenas de números, mas de
pessoas que, lamentavelmente, vieram à óbito e de pessoas que aguardam na fila de espera por
uma vaga de leito de UTI e se agonizam nos corredores dos hospitais.
Em 19.03.2021, data da decisão proferida por este Juízo (id. 483173494), tínhamos
a seguinte realidade fática, que transcrevo para me ater a exatidão dos números:
[...]
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Número do documento: 21033020455564700000488178120
óbitos [11], um número menor do que no dia 15.03.2021, quando foram notificados
29 óbitos[12], conforme informações extraídas do resumo diário de óbitos por
COVID-19 divulgado pela Diretoria de Vigilância Epidemiológica do Distrito Federal,
ocupando o DF, no coeficiente de mortalidade, a 6ª colocação[13].
Na data de hoje, por sua vez, de acordo informações extraídas do resumo de óbitos
por COVID-19, divulgado pela Diretoria de Vigilância Epidemiológica do Distrito Federal
juntamente com o Boletim Epidemiológico de nº 393, datado de 30.03.21, verifica-se que foram
notificados 94 (noventa e quatro) óbitos no DF.
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Número do documento: 21033020455564700000488178120
notificados no Distrito Federal 341.758 casos confirmados de COVID-19 (1.592 casos novos em
relação ao dia anterior).
Dos citados números extrai-se, portanto, que houve aumento do número de óbitos
e que, apesar de não ter tido um aumento exponencial, não houve uma redução do número
casos confirmados.
[...]
Hoje, dia 19.03.2021, em consulta à sala de situação [8] - última atualização ocorreu
em 19.03.2021, às 18:10h - verificou-se que a taxa de ocupação de leito UTI-
COVID 19 encontrava-se em 92.83% de ocupação e com uma lista de espera de
325 (trezentos e vinte e cinco) pacientes aguardando leito de UTI, sendo para
UTI-COVID 19 uma lista de espera de 237 (duzentos e trinta e sete) pacientes
(atualização em 19.03.2021, às 19h e 18:30h, respectivamente).Confira-se:[...]
Assinado eletronicamente por: KATIA BALBINO DE CARVALHO FERREIRA - 30/03/2021 20:45:55 Num. 493865896 - Pág. 11
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Número do documento: 21033020455564700000488178120
30.03.21, às 12:10h, verificou-se que a taxa de ocupação de leito UTI – COVID 19 encontrava-
se em 94.34% de ocupação e com uma lista de espera de 379 (trezentos e setenta e nove)
pacientes aguardando leito de UTI, sendo para UTI-COVID 19 uma lista de espera de 272
(duzentos e setenta e dois) pacientes (atualização em 30.03.2021, às 13:30h e 13:45h,
respectivamente). Confira-se:
Assinado eletronicamente por: KATIA BALBINO DE CARVALHO FERREIRA - 30/03/2021 20:45:55 Num. 493865896 - Pág. 12
http://pje1g.trf1.jus.br:80/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=21033020455564700000488178120
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No dia 19.03.21, em relação à taxa de transmissão tínhamos os seguintes dados,
confira-se o trecho da decisão sobre tal ponto:
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Da citada tabela, à propósito, é possível extrair diversas outras informações
importantes e que estão sendo consideradas por este Juízo, tais como o fato de que, o número
de leitos de UTI - 81 leitos - a serem entregues nos próximos 15 (quinze) dias sequer são
suficientes para gerar algum impacto necessário na lista espera de leitos de UTI COVID-19, que
não apresentou qualquer redução nos últimos dias, embora tenha havido alguma ampliação do
número de leitos ; e, o Gestor Público não pode se socorrer dos leitos privados de UTI-COVID-
19, uma vez tais estabelecimentos se encontram com uma taxa de ocupação de 99,31% de sua
capacidade. Esses dados nos conduzem à constatação do quase que completo esgotamento da
capacidade dos hospitais públicos e privados.
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Na data de ontem, o Distrito Federal peticionou informando a continuidade da taxa
de transmissão da doença abaixo de 1,00 (atualmente em 0,91 - Figura 6 do Boletim COVID n.
391) e a continuidade na redução da média móvel dos casos confirmados (Figura 4 do Boletim
COVID n. 391) (id. 491418366).
Ocorre que, 01 (um) dia após a reabertura de diversas atividades determinadas pelo
Decreto nº 41.913, de 19 de março de 2021, o índice de transmissão já se encontra em
crescimento, sendo que o número de óbitos, a taxa de ocupação de UTI’s públicas e privadas e
a lista de espera de UTI’s (COVID e não COVID), indicam que não existem elementos que
apontem para a possibilidade de mudança na conduta de isolamento social na véspera de um
feriado, como que a sinalizar para a população que a pandemia está sob controle.
Interessante notar que as medidas tomadas pelo Distrito Federal, às quais este
Juízo demonstrou total deferência, sem qualquer juízo de valor sobre a essencialidade das
atividades autorizadas no período, comprovaram uma capacidade de reduzir aos poucos o índice
de transmissão, mas, decorridos mais de 15 (quinze) dias, ainda não surtiram o efeito esperado
na gestão da saúde pública, que segue incapaz de atender a demanda.
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Como afirmou o Diretor Geral da Organização Mundial de Saúde - OMS, em agosto
de 2020, nós não temos que escolher entre a vida e o sustento, ou entre saúde e economia.
Essa é uma falsa escolha. Muito pelo contrário, a pandemia é um lembrete de que saúde e
economia são inseparáveis. (We do not need to choose between lives and livelihoods, or between
health and the economy. That’s a false choice. On the contrary, the pandemic is a reminder that
health and the economy are inseparable) [1].
Vale ressaltar que dentro das preocupações econômicas com relação a medidas
mais fortes de combate a transmissão, vemos o apoio de economistas renomados. Um estudo
feito pela Five Thirty Eight, em parceria com a Initiative on Global Markets na University of
Chicago Booth School of Business, constantemente considerada uma das melhores do mundo,
mostrou que, dos macroeconomistas entrevistados em setembro de 2020, 74% acreditam que os
Estados Unidos estariam melhor economicamente se medidas mais fortes tivessem sido tomadas
no início da pandemia, e o principal motivo dado à essa resposta foi que um controle do vírus
teria permitido uma volta mais suave e abrangente da atividade econômica. Sustentam, assim,
que medidas que protegem a saúde da população não vão contra o desenvolvimento econômico
e sua recuperação.
Apoiadores de medidas mais restritas tem apontado para o Japão, Nova Zelândia e
diversos países europeus como exemplos de como uma redução dos níveis de infecção permite
uma recuperação econômica mais rápida que caminha de mãos dadas a questões sanitárias [2].
Porém, as intervenções mais efetivas foram aquelas feitas com mais de um NPI,
especialmente as que incluíram distanciamento social, prática recomendada pela
Organização Mundial de Saúde (OMS) desde o início da pandemia. Já a
intervenção mais comum nos países analisados foi a restrição na mobilidade
urbana.
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conclui o estudo. (in https://exame.com/ciencia/lockdown-funciona-o-que-diz-a-
ciencia-sobre-as-medidas-de-distaciamento-social/)
Embora este Juízo tenha procurado se informar sobre a existência de algum dado
organizado sobre a relação entre óbitos, a lista de espera de UTI’s e a ocupação de leitos em
percentuais de quase 100% (se é que não poderíamos dizer que somando os dois a taxa seriam
superior à ocupação integral – 13 vagas e 288 pessoas esperando, em um total de 407 leitos
disponíveis – às 17:06 do dia 30.03.2021), certo é que estes três fatores atualmente indicam que,
apesar da taxa de transmissão, segundo boletins epidemiológicos oficias
(http://www.saude.df.gov.br/boletinsinformativos-divep-cieves/) encontrar-se abaixo de 1,00
desde o dia 19 de março, o sistema de saúde no DF não está cumprindo a garantia
constitucional de saúde e coloca em risco a vida de todos que habitam no Distrito Federal.
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uma vez que, em meio a uma crise sanitária sem qualquer precedente, o Distrito Federal está “à
beira” do colapso no sistema de saúde, não havendo qualquer dado a justificar e fundamentar a
flexibilização de atividades, ainda mais às vésperas do Feriado de Semana Santa.
Intime-se o Distrito Federal, com urgência, por mandado a ser cumprido por
oficial de justiça, para a adoção de medidas necessárias ao IMEDIATO CUMPRIMENTO da
presente liminar, inclusive de fiscalização, a partir do dia 01.04.2021.
Mantenho, por ora, a decisão agravada no que diz respeito a União Federal, até
porque visualizo, em princípio, o seu cumprimento com a edição da Instrução normativa
SGP/SEDGG/ME nº 37, de 25 de março de 2021.
Dê-se vista à Defensoria Pública da União – DPU dos documentos juntados pela
União e pela ANTT, no prazo de 15 (quinze) dias.
Publique-se. Intimem-se.
(assinado digitalmente)
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[1] https://www.who.int/director-general/speeches/detail/who-director-general-s-opening-
remarks-at-the-media-briefing-on-covid-19---21-august-2020).
[2] https://fivethirtyeight.com/features/experts-think-the-economy-would-be-stronger-if-covid-19-
lockdowns-had-been-more-aggressive/.
[3] (https://www.correiobraziliense.com.br/cidades-df/2021/03/4914782-covid-19-sirio-libanes-
fecha-pronto-socorro-e-adia-cirurgias-e-exames.html)
[5] https://atos.cnj.jus.br/files/original181819202010155f88926b6ae41.pdf
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