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A compreensão forma o senso crítico do enxadrista, que irá filtrar as informações "percebidas"
e ordena o quê é relevante e por quê;
A ordem dos temas expostos acima não foi ocasional. Baseado na opinião de mestres e em
minhas observações, a respeito de meus alunos e a mim mesmo, os finais devem ser a
prioridade inicial do enxadrista. É claro que não pode ser regra estudar somente os finais
quando se inicia, nem é regra estudar exclusivamente algum tema em nenhum momento;
estuda-se de tudo, sempre, mas deve haver prioridade no estudo, de acordo com as próprias
necessidades. Por isso recomendo que, no estágio inicial do aprendizado, os finais sejam
priorizados.
Essa idéia não é nova. Na verdade, Capablanca já afirmava em sua época e foi seguido por uma
série de treinadores desde então. Cito aqui Capablanca porque foi em sua compilação "Lições
Elementares de Xadrez" que passei a ver essa recomendação com outros olhos. Segundo ele,
após a abertura e o meio-jogo chegamos ao final; por isso, devemos considerar que toda a
partida bem jogada deve ser decidida no final, senão, algum dos contendores cometeu erros
graves e permitiu uma derrota nos estágios primários - aí está uma justificativa lógica para
iniciar pelos finais: de nada adianta jogar em bom nível a abertura e o meio-jogo se não se
sabe jogar o final. Penso que isso, apenas, não é justificativa suficiente pois pode-se
argumentar "mas se não souber jogar a abertura e o meio-jogo, pode-se perder antes de
chegar ao final!". Pois bem, há um segundo motivo: os lances efetuados na abertura irão
moldar a posição do meio-jogo, bem como os lances efetuados no meio-jogo darão origem à
posição do final; portanto, um final pode emergir vantajoso ou desvantajoso de acordo com os
lances efetuados nas fases que o precederam. O enxadrista que não sabe jogar os finais
também não compreenderá muitos lances na abertura e meio-jogo que servem para obter
uma possível posição de final superior ou para evitar uma posição de final inferior para si.
- Assimilar conceitos gerais válidos para tipos específicos de posição de final (de acordo com o
material restante, a posição dos reis ou a estrutura de peões, por exemplo).
- Analisar finais de partidas magistrais, comentadas pelos próprios mestres, a fim de absorver
suas idéias;
- Comentar, por si, finais de partida magistrais para posteriormente comparar com os
comentários dos próprios mestres;
- Preparar o enxadrista para posições taticamente complexas e ricas, onde a análise estratégica
se torna quase ou totalmente supérflua, cedendo o papel principal à sensibilidade tática e ao
cálculo de variantes.
- Encontrar o melhor lance em posições onde um dos lados dispõe de uma operação tática
ganhadora [no popular: realizar exercícios de "joga e ganha"...]
- Selecionar uma posição complexa onde não há, necessariamente, um ganho forçado mas é
rica taticamente para então "desmembrá-la": calcular as variantes consideradas relevantes,
uma a uma, observar os perigos, oportunidades e assinalar uma continuação, tomando nota
de todas as variantes importantes. É interessante usar um tempo limite (de 15 a 40 minutos,
dependendo da posição) e trabalhar na tal posição até que o tempo se esgote - o objetivo não
é encontrar uma resposta "certa", mas calcular de forma ampla, profunda e organizada.
Uma vez construído um repertório razoável de posições de final e estando familiarizado com a
tática, a estratégia deve ser priorizada. Este é, certamente, o fundamento mais importante e
difícil do xadrez. Enquanto o estudo de finais e aberturas resumem-se à fases do jogo, a
estratégia (assim como a tática) está presente ao longo de toda a partida e, diferente da tática,
não é um campo onde há certezas vistas a olho nu: toda a estratégia se baseia em métodos,
indícios e padrões - onde há um enorme espaço para exceções e divergências de opinião.
Como esclarecido acima, a estratégia é o fundamento que trata do longo prazo no xadrez -
análise, avaliação e planejamento -, e é aí que reside o controle sobre os acontecimentos em
uma partida. A estratégia é o maestro dos fundamentos técnicos: está presente nas aberturas,
orienta o caminho correto no final e é o sucesso na luta estratégica que aumenta as
possibilidades de golpes táticos.
- Conhecer os elementos posicionais (material, posição dos reis, potencial das peças, estrutura
de peões e espaço) e suas representações durante uma partida, quer dizer, as formas como se
apresentam estes elementos no tabuleiro, quais vantajosas ou não, etc. Num estágio inicial,
provavelmente é necessário estudar algum manual de estratégia que descreva os elementos
separadamente.
- Assimilar o modus operandi, o melhor método de jogo em determinadas situações;
Depois que o enxadrista domina a técnica de análise e planejamento, precisa desenvolver sua
nova perícia das seguintes maneiras:
- Comentando partidas magistrais por si, para posterior comparação com os comentários do
mestre;
Por fim, resta apenas um fundamento, propositalmente deixado para o fim. Os iniciados no
xadrez costumam buscar com avidez o conhecimento neste campo, sem perceber que isso é
pouco ou nada relevante até um determinado estágio de compreensão.
A preparação de aberturas é uma poderosa arma, mas apenas nas mãos daqueles que são
capazes de raciocinar estrategicamente, sobreviver às complicações e dominar os finais. e o
pior: os amadores citeados acima, além de priorizar o estudo de aberturas (como se isso
pudesse melhorar seus resultados por si), ainda as estudam da forma errada, simplesmente
memorizando variantes ou posições chave - essa é a menor das etapas no processo de
preparação, apenas um complemento.
Antes de trabalhar seriamente nas aberturas é preciso desenvolver-se até certo estágio nos
outros fundamentos. Não sei dizer exatamente onde se dá essa divisão de águas, mas acredito
que depende de cada um. O que todo o enxadrista deve ter em mente que a preparação de
aberturas é uma arma de efeito, mas coadjuvante - o que define a disputa é o domínio dos
finais, a compreensão estratégica e percepção tática. Uma boa preparação de aberturas pode,
no máximo, proporcionar um meio-jogo favorável ou mais confortável e alguma vantagem de
tempo no relógio. Raras são as vezes em que uma boa preparação define as coisas
rapidamente - mesmo acertando na abertura, há uma longa luta a seguir.
Uma vez selecionado o repertório, começa-se a trabalhar nas aberturas escolhidas, com os
seguintes objetivos em sua respectiva ordem:
- Dividir a tal abertura em subgrupos, classificados pelo tipo de estrutura e disposição de peças
resultante, e compreender os planos de desenvolvimento plausíveis em cada um desses
subgrupos de posições;
Esses quatro objetivos servem para que o jogador se integre com a abertura, esteja
familirizado com seus objetivos estratégicos e por isso não fique sem direção quando sua
memória não puder mais ajudar. Há um ponto importante que engloba todos esses objetivos e
é negligenciado pela maioria dos enxadristas que gastam sua energia estudando aberturas: é
preciso verbalizar as idéias da abertura. Não basta saber os lances; é preciso saber por quê são
feitos, para onde levam e como se portar nos tipos de posição que surgem após a abertura.
O estudo desses quatro fundamentos provê o que o enxadrista precisa do ponto de vista
técnico. Reafirmo que, diferente dos chamados fatores secundários, o desenvolvimento deste
componente da força só depende do próprio esforço e disciplina. Também é importante
acautelar que o desenvolvimento da técnica é uma fase preparatória, anterior às batalhas. O
enxadrista deve, nos intervalos entra as competições, usar todo o tempo que dispor para se
preparar tecnicamente e avaliar suas performances anteriores (a única forma de desenvolver
de forma concreta os componentes secundários da força). No momento da competição não há
tempo nem energia disponível para refletir sobre esses dois componentes:
o único foco do enxadrista deve ser a terceira parte de sua força, que será detalhado em um
próximo post.
FONTE
http://xadrezdojo.blogspot.com.br