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Caracterização LER e DORT
Revisão Textual:
Prof.ª Me. Sandra Regina Fonseca Moreira
Caracterização LER e DORT
• LER/DORT;
• Atuação Fisioterapêutica na LER/DORT;
• Perícia Judicial em Fisioterapia.
OBJETIVOS
DE APRENDIZADO
• Estudar os conceitos de lesões por esforços repetitivos (LER) dos distúrbios osteomusculares
relacionados ao trabalho (DORT);
• Verificar a atuação do profissional fisioterapeuta na LER e nos DORT;
• Conhecer a área de perícia judicial em fisioterapia e a atuação do profissional.
UNIDADE Caracterização LER e DORT
LER/DORT
As Lesões por Esforço Repetitivo e os Distúrbios Osteomusculares Relacionados
com o Trabalho (LER/DORT) se destacam por serem consideradas síndromes que
vêm provocando sequelas para a saúde dos trabalhadores, o que pode implicar em
invalidez permanente, alterações físicas e psicológicas. A dor e a fragilidade nos mem-
bros inferiores e superiores, ou na região da coluna, podem se tornar crônicas, impos-
sibilitando a realização desde tarefas simples até as mais complexas, no cotidiano do
trabalhador, o que pode se estender para as atividades a nível social e domiciliar.
Nesse contexto, as LER/DORT permeiam os pilares do trabalho, e inicialmente
eram associadas ao trabalhos manuais repetitivos. Pensando nos conceitos históricos,
em meados de 1713, o médico Bernardo Ramazzini (considerado pai da medicina
ocupacional), apresentou e descreveu um grupo de afecções músculo esqueléticas,
dentre as quais a encontrada em notários e escreventes que, acreditava ele, ser pelo
uso excessivo das mãos, bem como a repetição no trabalho de escrever.
Essa patologia que anos depois foi denominada de “câimbra do escrivão” ou “pa-
ralisia do escrivão”, para o médico Ramazzini era caracterizada por três fatores bási-
cos que, em sua essência, influenciavam de forma determinante no seu surgimento.
Os três fatores eram:
1. Sedentarismo;
2. Uso contínuo e repetitivo da mão em um mesmo movimento;
3. Grande atenção mental para não borrar a escrita.
Desse modo, a doença tinha como caracterização uma sensação de parestesia de
membros superiores, acompanhada por sensação de peso e fadiga nos braços, tendo
como fator associado dores cervicais e/ou lombares. Nesse momento histórico, uma
nova doença estava descrita pelo pesquisador, que tempos depois, por possuir sinto-
mas comuns, foi também relacionada e descrita em diversas outras atividades laborais.
Já no ano de 1833, diversos casos de trabalhadores ingleses acometidos por sinto-
mas semelhantes aos já descritos por Ramazzini, nos anotadores do serviço britânico,
sendo tal aspecto relacionado ao uso de uma pena de aço mais pesada.
Parestesia: são sensações cutâneas subjetivas (ex. frio, calor, formigamento, agulhadas,
adormecimento, pressão, dentre outras).
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Desse maneira, os problemas relacionados aos aspectos emocionais, associados a
essa nova doença epidêmica e indenizável foram analisados pelo médico, que consi-
derou essas manifestações clinicas não simplesmente como um problema ligado ao
tipo de trabalho em que o trabalhador estava inserido diariamente, mas sim, uma
verdadeira neurose ocupacional.
Em sua análise, o neurologista descreveu que, mais do que uma simples doença,
os trabalhadores apresentavam severa insatisfação com o tipo de trabalho, bem como
a intensidade de cargas nas suas rotinas, além de ansiedade, problemas no âmbito
familiar, instabilidade emocional e humoral, revolta e dificuldade de diferenciar o que
verdadeiramente sentiam daquilo que era irreal.
Em 1891, o grande cirurgião do século XIX, Fritz De Quervain, iniciou estudos e
descreveu a doença por esforços repetitivos, caracterizando-se pela restrição ao livre
movimento de um tendão, deletério de uma inflamação deste ou de sua bainha. Essa
doença ficou conhecida na época como entorse das lavadeiras, pois era comumente
encontrada em mulheres que atuavam na prática laboral de lavagem de roupas, des-
se modo, essas trabalhadoras apresentavam severos desgastes sobre os tendões e os
músculos adutor longo e extensor curto do polegar.
Posteriormente, essa doença foi denominada como “tenossinovite do polegar ou
enfermidade de De Quervain”, sendo batizada com o sobrenome médico. Assim, a
câimbra ocupacional foi encontrada em grade escala em trabalhadores de fábrica de
algodão, e, em consonância na era da industrialização, as LER/DORT ganharam
ainda mais destaque no cenário do trabalho.
No cenário brasileiro, a década de 80 foi marcada pelo conhecimento acerca das
LER/DORT, pois os casos de tenossinovite entre os profissionais digitadores leva-
ram os sindicatos de trabalhadores em processamento de dados a começar a lutar
pelo reconhecimento das lesões como doenças profissionais. No dia 06 de agosto de
1987, o Ministério da Previdência identificou coerência na solicitação do sindicato,
elaborando assim, por meio da portaria 4.602, a inclusão da tenossinovite do digita-
dor no índice de doenças do trabalho. A portaria supracitada, embora mencionasse
outras categorias profissionais além do digitador, era compreendida pela perícia do
INSS como exclusiva aos digitadores.
Já em 1993, foi publicada uma norma técnica, que instituiu o nome Lesões Por
Esforços Repetitivos (LER), o que ampliou o conceito e aplicação dos direitos previ-
denciários ao grupo de trabalhadores portadores de doenças relacionadas ao trabalho.
Em 1998, na revisão de sua norma técnica, a Previdência Social mudou o termo
LER para Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho – DORT, reduzindo
consideravelmente os direitos previdenciários.
No campo da prevenção, fruto de mobilização sindical, há uma Norma Regula-
mentadora (NR-17) que fixa alguns limites para as empresas em que há postos de
trabalho que exigem esforços repetitivos, ritmo acelerado e posturas inadequadas,
mas ainda não contempla diversos fatores responsáveis pelas lesões.
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Importante!
O Ministério da Saúde destaca que LER/DORT é um fenômeno relacionado ao trabalho. São
danos decorrentes da utilização excessiva, imposta ao sistema musculoesquelético, e da
falta de tempo para recuperação. No livro Análise Ergonômica do Trabalho: Prática de
Transformação das Situações de Trabalho (2016), Ollay e Kanazawa comprovam que
os eventos ou condições incertas referentes à ergonomia, ou simplesmente riscos ergo-
nômicos, podem desenvolver distúrbios psicofisiológicos, mudanças no funcionamento do
organismo ou no comportamento humano, assim, causando graves problemas à saúde do
trabalhador relacionados ao sistema muscular, articulatório e esquelético.
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Figura 1 – Profissional com dores advindas da LER
Fonte: Getty Images
Desde o ano 2000, o dia 28 de fevereiro é considerado o Dia Internacional de Combate às Lesões
por Esforços Repetitivos ou Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT).
Agora vamos falar sobre os DORT, que se caracterizam por ser os “Distúrbios
Osteomusculares Relacionados ao Trabalho”, sendo introduzidos em substituição à
sigla LER, particularmente por duas razões:
• A maioria dos trabalhadores com sintomas no sistema musculoesquelético não
apresentam evidências de lesão em qualquer estrutura;
• Além do esforço repetitivo (sobrecarga dinâmica), outros tipos de sobrecargas
durante a jornada de trabalho podem ser nocivas para o trabalhador, como sobre-
carga estática (uso de contração muscular por períodos prolongados para manu-
tenção de postura); sobrecarga de força empregada para realização das atividades
programadas para a prática laboral; utilização de instrumentos que transmitam
vibração excessiva e práticas executadas de maneira errada por meio das posturas
inadequadas. O termo permitiu maximizar os mecanismos de lesão, não só res-
tritos aos movimentos repetitivos, mas que também circunscreve formas clínicas
peculiares a algumas atividades ocupacionais, e ainda propõe o estabelecimento
do nexo causal, classificando-o como doença ocupacional. (VIEIRA, 2000)
O trabalhador que possui algum tipo de dor ou outro sintoma desconfortável não
necessariamente será portador de LER/DORT, pois os diversos sintomas como a
presença de dor, dormência nos membros tanto inferiores quanto superiores, sen-
sação popularmente conhecida como formigamento (como profissionais, devemos
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• Visualizar os aspectos gerais em que o trabalhador não tem controle sobre suas
atividades (caixa, digitador, operador de telemarketing e outros);
• Obrigatoriedade na manutenção rítmica de maneira acelerada para garantir o
rendimento da produção;
• Trabalho fragmentado, que é compreendido como aquele em que cada trabalha-
dor exerce uma única tarefa de forma repetitiva;
• Identificar o baixo número de profissionais para determinadas funções;
• Alta jornada de trabalho, além da parte de mobiliários, ambiente, equipamentos,
falta de EPIs adequados e necessários para aquela determinada função;
• Ausência de pausas durante o trabalho também é um grande fator para desen-
volvimento de doenças ocupacionais.
Assim, pode-se pensar em cinco fatores de riscos que devem ganhar um olhar
ampliado do profissional que atua com ergonomia.
Fatores de risco:
• Fatores intrínsecos: relacionam-se com o trabalhador como, por exemplo: má
postura, antropometria inadequada, dentre outros;
• Fatores extrínsecos: referem-se às empresas e organizações, como o ritmo das
atividades, condições ambientais desfavoráveis, organização do trabalho etc;
• Fatores biomecânicos: força excessiva na realização de determinada atividade
laboral, por exemplo;
• Riscos organizacionais: a ausência de pausa, seja para ir ao banheiro, beber
água, alongar a musculatura, dentre outros;
• Riscos ambientais: altas ou baixas temperaturas a que os trabalhadores podem
ser expostos;
• Riscos psicoemocionais: o estresse é a alteração mais comumente citada
dentre os fatores de risco, sendo essa, por sua vez, uma alteração grave que
pode modificar de maneira acentuada a qualidade de vida do profissional
durante os momentos de trabalho, ampliando essa modificação para sua
vida pessoal.
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Amplie seu conhecimento sobre uma das LER/DORT mais comuns no cenário de tratamento
fisioterapêutico: a síndrome do túnel do carpo. Leia o artigo: “Avaliação das condutas fisio-
terapêuticas na síndrome do túnel do carpo: uma revisão de literatura”.
Disponível em: https://bit.ly/3lIGFSk
Nos espaços laborais existem três níveis de atenção preventiva. A seguir, vamos
compreender cada um deles:
• Prevenção primária: esse nível de atenção tem em sua essência a eliminação
ou diminuição dos riscos de possíveis lesões e distúrbios de maneira preventiva
em saúde. O fisioterapeuta poderá atuar na prescrição de exercícios de treina-
mento (ginástica laboral, por exemplo) e educação em saúde (palestras, treina-
mentos e ações voltadas para auxiliar o trabalhador de maneira a prevenir os
agravos na sua saúde);
• Prevenção secundária: caracterizada pelo período de patogênese, sendo ne-
cessário inserir intervenções terapêuticas para que o trabalhador retorne ao seu
estado de saúde, baseando-se na conceituação da qualidade de vida ao exercer
sua rotina laboral. O fisioterapeuta deverá realizar avaliações contínuas e as-
sistência integral ao trabalhador (incluindo ações que viabilizem a promoção e
prevenção da saúde, para que a saúde do trabalhador seja protegida);
• Prevenção terciária: visa elaborar ações que evitem o surgimento refratário das
lesões acometidas ao trabalhador, ou seja, que já tenha passado pelos estágios
anteriores, por exemplo, tratamento de algum pós-operatório, reabilitação fun-
cional durante o período de recuperação.
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Importante!
A fisioterapia preventiva engloba um conjunto de ações que amenizam ou eliminam
os fatores etiológicos de dores e desconfortos no trabalho, por meio de estímulos da
percepção e consciência corporal, instrução acerca das posturas inadequadas, organiza-
ção espaço-temporal, programas preventivos de orientação e ginástica laboral, que são
exercícios físicos específicos durante o expediente, objetivando o relaxamento e alonga-
mento muscular (LIMA, 2005).
Assim, a anamnese ocupacional é uma etapa que, além de relevante para elabora-
ção de tratamentos e diagnóstico fisioterapêutico, torna-se investigativa, o que amplia
a visão do profissional para inserir condutas que beneficiem a saúde do trabalhador.
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Perícia judicial é definida como um procedimento solicitado por alguma autorida-
de judiciária com a finalidade de apontar os fatos de natureza específica necessários
ao esclarecimento de um determinado processo (FERNANDES; CHEREM, 2005).
Vale ressaltar que a perícia judicial se diferencia das demais perícias, até mesmo
de outras modalidades de perícias oficiais, e possui três características específicas:
• Realizada por meio de direção e autoridade do juiz;
• Garante a presença das partes durante a produção da prova pericial;
• Visa possibilitar a intimação do perito a comparecer à audiência para responder
a esclarecimentos, por requerimento das partes, ou iniciativa do juiz.
O COFFITO, por meio das Resoluções nº 464, 465, 466, e do Acórdão nº 479, normatizou e
orientou a prática da Fisioterapia neste campo de atuação.
Não existem disposições legais que determinam que o perito tenha formação
acadêmica exclusivamente profissional do campo da medicina ou de qualquer outra
área de especialização do conhecimento humano, visto que deve: ser profissional
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• Ações por estados de incapacidade causados por erro médico ou de
conduta fisioterapêutica;
• Ações por estados de incapacidade causados por ações criminosas das mais
diversas (matrimoniais, assaltos em via pública etc.);
• Ações por estados de incapacidade ocasionados por atividades de responsabilidade
federal, do estado, ou do município: vacinação, acidentes em parques públicos etc.
Importante!
Por meio da Resolução-COFFITTO n0 466/2016, destacam-se alguns aspectos:
• A perícia fisioterapêutica é ato exclusivo do fisioterapeuta;
• Não compete ao fisioterapeuta, na função de perito, a sugestão de aplicação de
quaisquer medidas punitivas;
• É vedado ao fisioterapeuta deixar de atuar com absoluta isenção quando designado
para servir como perito ou assistente técnico, bem como ultrapassar os limites de
suas atribuições e de sua competência.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
ABRAPEFI – Associação Brasileira De Perícias Fisioterapêuticas
https://bit.ly/3nIRt4C
Vídeos
Dor no ombro? Tratamento e Exercícios Domiciliares
https://youtu.be/oZqA12jj-ts
Leitura
Cartilha: Perícia Fisioterapêutica - Perícia Judicial e Assistência Técnica
https://bit.ly/313s9MT
Resolução nº 464, de 20 de Maio de 2016 – Dispõe sobre a elaboração e emissão de atestados, relatórios
técnicos e pareceres
https://bit.ly/372gSQI
Análise Ergonômica: Métodos Rula e Owas aplicados em uma Instituição de ensino superior
https://bit.ly/3151RtL
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Referências
BRANDIMILLER, P. A. Perícia judicial em acidentes e doenças do trabalho. São
Paulo: Senac, 1996.
VENDRAME, A.C. F. Curso de introdução à perícia judicial. São Paulo: LTR, 1997.
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