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A
física é, sem dúvida, um dos para minimizar alguns problemas Fernanda Ostermann
mais claros e bem sucedidos acima apontados. O entusiasmo dos Instituto de Física, Universidade
exemplos de construção do co- estudantes em aprender, na própria Federal do Rio Grande do Sul, Porto
nhecimento humano, mesmo quando escola, assuntos que lêem em revistas Alegre, RS
não se está falando apenas de conhe- de divulgação, em jornais ou na inter- e-mail: fernanda@if.ufrgs.br
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cimento científico. Conseqüente- net, justifica definitivamente a neces-
mente, para formar um cidadão ple- sidade da atualização curricular. Além Cláudio J. de H. Cavalcanti
no, consciente e participativo na socie- disso, FMC pode ser instigante para Centro Universitário La Salle, Canoas,
RS
dade, é necessário proporcionar-lhe os jovens, pois não significa somente
e-mail: cjhc@if.ufrgs.br
acesso a esse conhecimento, não ape- estudar o trabalho de cientistas que ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

nas no sentido prático do aprendizado viveram centenas de anos atrás, mas


escolar, mas também no sentido da também assistir cientistas falando na
física como visão de mundo, como televisão sobre seus experimentos e
cultura1. Sua aprendizagem deve ser expectativas para o futuro. Estudar
facilitada, e isso é feito primordial- problemas conceituais existentes na
mente na escola, em particular no ní- FMC envolve os estudantes nos desa-
vel médio. No entanto, é possível veri- fios filosóficos de alguns aspectos da
ficar que este papel não está sendo física. O fato de que nem tudo, no
cumprido. mundo científico, é sabido ou enten-
Desde as últimas décadas, a dete- dido, modifica a idéia que os alunos
rioração da qualidade do ensino de fí- em geral têm de física - um assunto
sica nas escolas, sobretudo da rede pú- que é uma “massa” de conhecimentos
blica, é uma situação alarmante. Não e fatos, um livro fechado. Ou são
é difícil constatar a baixa qualificação mostrados aos jovens os desafios a
acadêmica dos professores, a desmo- serem enfrentados pela física no fu-
tivação dos estudantes, a abordagem turo ou eles não serão encorajados a
excessivamente formulística da física, reconhecer essa ciência como um
enfim, uma visão do tipo “colcha de empreendimento humano e, portan-
retalhos” dessa ciência, com demasia- to, mais próxima a eles2.
da ênfase no ensino da cinemática, a No sentido de proporcionar uma
ausência da física moderna e contem- visão de mundo mais atualizada a
porânea nos currículos escolares, nossos estudantes, estamos investin-
apenas para citar alguns problemas do em mudanças na licenciatura em
nesta área específica. Transformar esta física da Universidade Federal do Rio
realidade não é trivial, pois ela está Grande do Sul já há algum tempo. O
contextualizada em um cenário mais objetivo é formar professores críticos
amplo de pouca vontade política de em relação ao currículo de física e com
melhorar a educação em nosso país. ferramentas que possibilitem o en-
Pesquisando na área de ensino de frentamento da questão da atuali-
física, temos tentado encarar certos zação curricular. Essa experiência de
desafios através da incorporação de ensino envolveu, até o presente mo-
resultados dessa pesquisa à formação mento, estagiários da disciplina Prá-
do professor. Em particular, estamos tica de Ensino de Física e escolas da Já é hora de temas mais atuais passarem a fazer
investigando a respeito da inserção de rede pública e privada de Porto Alegre, parte dos currículos de física e ciências em geral.
tópicos de física moderna e contem- levando a quase seiscentos estudantes O artigo, descreve um pôster para auxiliá-lo
no ensino de um dos mais instigantes temas
porânea (FMC) em escolas de nível de ensino médio temas atuais de física. da física contemporânea: as partículas elemen-
médio e na formação de professores. Um passo importante para a imple- tares. O pôster encontra-se na última capa da
Parece que essa linha pode contribuir mentação dessas mudanças consistiu revista.

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na preparação de textos e materiais interna (são os “blocos”, até o momen-
didáticos sobre tópicos de FMC. Dentre to considerados indivisíveis, que cons-
esses materiais, elaborou-se um pôs- tituem toda a matéria do universo):
ter colorido sobre partículas elemen- quarks, léptons e partículas mediado-
tares e interações fundamentais ras. Na natureza, os quarks se agru-
(Figura 1). Ele foi criado a partir da pam somente de duas maneiras dife-
necessidade de suprir uma grande rentes. Esses dois tipos de agrupamento
escassez, em nosso meio, de materiais formam os sistemas chamados de há-
didáticos sobre temas de FMC escritos drons, que se dividem em bárions
em língua portuguesa3. A seguir, des- (constituídos por três quarks) e os mé-
creveremos com detalhes o conteúdo sons (constituídos por um par quark-
e a estrutura desse pôster. antiquark). Este esquema encaminha Figura 2. A estrutura do pôster segundo
os seus setores.
para as quatro tabelas existentes no
Informações Contidas no Pôster setor. Na parte superior esquerda, vê- ra geração. A primeira geração consti-
Na Figura 1 vemos o pôster com- se a tabela dos seis quarks e dos seis tui a matéria estável do universo. Por
pleto, cujos setores são organizados léptons e nela estão algumas de suas exemplo, observando os elementos quí-
como mostra a Figura 2. Cada setor propriedades (massa de repouso e carga micos em uma tabela periódica, cons-
está reproduzido e comentado ao elétrica). Essas partículas possuem spin tata-se que eles são compostos de
longo do texto. semi-inteiro e são divididas em três quarks u e d (presentes nos prótons e
O esquema central do setor 1 (Fi- gerações, sendo classificadas como fér- nêutrons) e de elétrons.
gura 3) mostra quais são as partículas mions. As duas primeiras linhas corres- Na física contemporânea o concei-
fundamentais existentes no universo. pondem à primeira geração, a terceira to de força dá lugar à idéia de intera-
Primeiramente foram agrupadas as e a quarta linhas à segunda geração e ção via troca de partículas, chamadas
partículas que não possuem estrutura as duas últimas linhas formam a tercei- partículas mediadoras. Na parte supe-

Figura 1. Visão geral do pôster. Veja detalhes na última capa.

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quark-antiquark. Além disso, apare-
cem, neste setor, várias explicações: o
sistema de unidades utilizado, a rela-
ção massa-energia de Einstein, a con-
versão de MeV/c2 em kg, uma analo-
gia clássica do spin, a unificação das
interações eletromagnética e fraca e o
que são bósons e férmions.
O setor 2 (Figura 4) trata das qua-
tro interações fundamentais da natu-
reza:
• interação gravitacional;
• interação eletromagnética;
• interação forte;
• interação fraca.
Este setor tem na sua parte supe-
rior uma tabela que resume todas as
interações fundamentais e suas pro-
priedades principais.
Interação Gravitacional
Figura 3. Conteúdo do setor 1 do pôster. Quaisquer corpos que possuem
massa atraem-se mutuamente. Esta
rior direita está a tabela das partículas dente antipartícula, simbolizada por
mediadoras das interações fundamen- uma barra acima do símbolo da partí-
tais (eletrofraca, forte e gravitacional). cula. Partícula e antipartícula têm mas-
Uma boa analogia para compreender sa e spin idênticos, mas cargas opostas.
esse mecanismo seria considerar dois Por exemplo, a antipartícula do elétron
jogadores de vôlei, onde a bola é a partí- é o pósitron, que possui mesma massa
cula mediadora da interação repulsiva de repouso, mesmo spin e carga elétrica
entre eles4. Quando o primeiro jogador de mesmo valor, porém com sinal posi-
impulsiona a bola, ele sofre um recuo, tivo.
por conservação de momentum linear. Esta tabela fornece, além das mas-
O segundo, ao receber e devolver a bola, sas de repouso e das cargas elétricas, o
também sofrerá um recuo, resultando spin e a composição de quarks para
em uma repulsão efetiva entre os dois cada bárion e antibárion. Observe que
devido à troca da bola. a massa do próton, por exemplo, é
Essa tabela também fornece a maior que a soma das massas de seus
massa de repouso e a carga elétrica de quarks constituintes. Isto se deve à
cada uma das partículas mediadoras. equivalência massa-energia. Parte da
Por possuírem spin inteiro, são classi- massa do próton deve-se à energia de
ficadas de bósons. No espaço reser- confinamento dos quarks. O símbolo
vado ao gráviton existe um símbolo abaixo desta tabela ilustra que os bá-
(um olho com um “X” superposto) rions são compostos por três quarks.
denotando que ele ainda não foi obser- Estes estão unidos através da troca de
vado experimentalmente. glúons, simbolizados por uma espécie
A esfera que aparece abaixo destas de “cola”.
duas tabelas (quarks & léptons e partí- Na parte inferior direita aparece
culas mediadoras) é usada para repre- outra tabela com alguns exemplos de
sentar partículas sem estrutura inter- mésons, que são hádrons formados
na. por um par quark-antiquark. Para ca-
Na parte inferior esquerda aparece da méson é também apresentado o seu
uma tabela com alguns exemplos de correspondente antiméson, com as
bárions, que são hádrons formados por massas de repouso e as cargas elétri-
três quarks. Para cada bárion é apre- cas, o spin e a composição de quarks
sentado o seu correspondente antibá- para cada um deles. O símbolo abaixo
rion (formado por três antiquarks). To- desta tabela é usado para mostrar que
da partícula possui a sua correspon- os mésons são compostos por um par Figura 4. Conteúdo do setor 2 do pôster.

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é a chamada interação gravitacional, interagem eletromagneticamente. É tica dos quarks.
que diminui de intensidade quanto por meio da interação eletromagnética Assim como na interação eletro-
maior for a distância entre os corpos. que os elétrons e o núcleo estão unidos magnética, partículas carregadas
É ela que rege o movimento dos cor- formando os átomos. Como no caso eletricamente interagem via troca de
pos celestes no universo. Já no campo da interação gravitacional, a interação fótons; na interação forte fundamen-
da física de altas eletromagnética é de tal, partículas com carga de cor inte-
energias esta intera- A interação gravitacional é longo alcance. Sua ragem via troca de glúons. Léptons,
ção não será impor- uma interação atrativa de intensidade depende fótons e bósons W+, W- e Z0 não pos-
tante quando a longo alcance (estende-se da carga das partí- suem carga de cor, não interagindo
energia cinética da até o infinito). Sua partícula culas e torna-se ca- portanto via interação forte. Não é
partícula for muito mediadora é o gráviton da vez mais fraca à possível isolar quarks e glúons; eles
maior que sua ener- (ainda não detectado medida que a dis- estão confinados nos sistemas neutros
gia potencial gravi- experimentalmente) tância entre as par- em carga de cor (sistemas brancos),
tacional, o que nor- tículas aumenta. A que são os hádrons. Este confinamen-
malmente acontece. Mas é claro que partícula mediadora desta interação to resulta de trocas múltiplas de
todos os objetos com massa experi- é o fóton . A primeira evidência ex- glúons entre objetos com carga de cor.
mentam a interação gravitacional, perimental de sua “existência” foi em Na parte referente à interação forte
mesmo quando esta é muito fraca. A 1905, quando Einstein explicou o efei- fundamental da tabela superior do se-
partícula mediadora da interação to fotoelétrico, atribuindo à luz pro- tor 2, vê-se que a intensidade relativa
gravitacional é chamada de gráviton, priedades corpusculares, através da dessa interação tem dois casos: o caso
que nunca foi detectada experimen- hipótese de que sua energia é armaze- em que dois quarks u estão separados
talmente. A interação gravitacional é nada em pequenos pacotes (ou quan- por uma distância de 10-18 metros (ca-
uma interação atrativa de longo al- ta) de energia: os fó- so padrão, em rela-
cance (matematicamente, infinito). tons. Todas as pro- A interação forte fundamen- ção ao qual são cal-
Na tabela superior do setor 2, vê-se priedades acima des- tal é uma interação atrativa, culadas todas as
suas propriedades principais. Esta critas estão sinteti- de curto alcance, que atua intensidades) e o
interação afeta massa ou energia, to- zadas na tabela su- na carga de cor dos quarks. caso em que dois
das as partículas experimentam esta perior do setor 2. A Sua partícula mediadora quarks u estão se-
interação, sua partícula mediadora é sua intensidade em é o glúon parados por uma
o gráviton (na tabela está indicado por relação à interação distância de 10-17
um símbolo o fato desta partícula ain- forte fundamental aparece na última metros, ou seja, dez vezes mais
da não ter sido detectada experimen- linha e é dada pelo fator 10-2. Isso in- afastados. No segundo caso, a inte-
talmente) e seu alcance é infinito. Na dica que a interação eletromagnética ração é 2,4 vezes mais intensa do que
última linha desta tabela é dada a in- é tipicamente 100 vezes menos inten- no primeiro, como mostra a tabela
tensidade relativa, tomando-se como sa do que a interação forte fundamen- superior do setor 2.
unidade a interação forte fundamen- tal, no caso tomado como padrão. A interação forte residual atua so-
tal, no caso em que dois quarks u bre todos os hádrons e se dá via troca
estão separados por uma distância da Interação Forte de mésons. No caso mais conhecido,
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ordem de 10 metros. A interação Na tabela superior do setor 2 vê- é uma interação atrativa que age en-
forte fundamental é 1040 vezes mais se que a interação forte se subdivide tre os núcleons (o nome coletivo para
forte do que a interação gravitacional, em duas: a interação forte fundamen- prótons e nêutrons). É atrativa para
aparecendo o fator 10-40 para a sua tal e a interação forte residual. A todas as combinações de prótons e
intensidade relativa. interação forte fundamental ocorre nêutrons, ou seja, um núcleon atrai
entre os quarks, que compõem, por outro núcleon. Ela se deve à interação
Interação Eletromagnética exemplo, os prótons e nêutrons do forte residual entre os constituintes
Na interação eletromagnética está núcleo. Esta interação atua em carga dos núcleons, os quarks. Tanto os pró-
envolvida a carga elétrica que os cor- de cor, uma propriedade que somente tons quanto os nêutrons apresentam
pos possuem. Partículas carregadas, os quarks apresentam. Cada quark neutralidade em carga de cor, o que
tais como o elétron carrega um dos três não acontece com os quarks. A inte-
e o próton, experi- A interação eletromagnética tipos de carga de cor ração forte residual é análoga à inte-
mentam uma inte- pode ser atrativa ou (vermelho, verde e ração eletrostática residual, que liga
ração eletromagné- repulsiva, de longo alcance. azul), chamada os átomos eletricamente neutros para
tica atrativa, pois Sua partícula mediadora é o também de carga formar as moléculas.
possuem cargas de fóton forte. Esta carga não Quando confinados no núcleo,
sinais contrários. está relacionada ao prótons e nêutrons estão em média
Partículas com cargas de sinais iguais sentido cotidiano da palavra cor. Essa muito próximos entre si. Portanto, a
se repelem. Já as partículas neutras nomenclatura foi utilizada apenas interação eletromagnética repulsiva
(como o nêutron e o neutrino), não para designar uma propriedade quân- entre os prótons é muito intensa e ten-

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de a romper o núcleo (fissão). A inte- tabela superior. interação eletromagnética, passando
ração forte residual garante a estabili- A tabela central do setor 2 tem o pela molécula (distâncias da ordem de
dade do núcleo (por ser mais intensa título Escalas de comprimento, instru- 10-8 metros) e indo até o átomo (dis-
do que a interação A interação forte residual é mentos de medida e tâncias da ordem de 10-10 metros), on-
eletromagnética uma interação atrativa, de interações funda- de os elétrons se unem ao núcleo gra-
repulsiva nessas curto alcance, e atua sobre mentais e contém ças a essa interação. Neste caso, o ins-
distâncias), impe- todos os hádrons. Sua informações sobre trumento de medida mais adequado
dindo o seu rompi- partícula mediadora é o as distâncias típicas é o microscópio (ótico e eletrônico).
mento. Esta intera- méson de cada interação, No domínio subatômico, a força ele-
ção é de curto seus respectivos ins- tromagnética (embora intensa) deixa
alcance, pois está restrita a dimensões trumentos de medida e os sistemas de ser a responsável pela estabilidade
de 10-15 metros, como mostra a tabela. envolvidos nessas escalas de compri- dos sistemas. No caso dos prótons e
mento. O domínio mais vasto é o da nêutrons, que compõem os núcleos,
Interação Fraca interação gravitacional, que engloba ela é sobrepujada pela interação forte
A interação fraca é assim chamada desde os limites conhecidos do uni- (residual), que mantém o núcleo coe-
porque é fraca em intensidade se verso (que envolve distâncias da or- so, apesar da forte repulsão eletro-
comparada à interação forte, tendo dem de 1026 metros), aglomerados de magnética entre os prótons. O domí-
uma intensidade relativa da ordem de galáxias (distâncias da ordem de 1022 nio da interação forte começa na for-
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10 . Esta é a interação responsável metros) e galáxias típicas (distâncias mação dos núcleos (distâncias típicas
pelo decaimento β. Os neutrinos são da ordem de 1019 metros) até sistemas da ordem de 10-15 metros) e vai até os
afetados apenas pela interação fraca, planetários (distâncias típicas de 1012 quarks, confinados dentro dos há-
já que, se possuem massa, ela é muito metros). Essa interação é a principal drons (distâncias típicas de 10-18 me-
pequena (logo praticamente não inte- responsável pela estabilidade desse tros). Sistemas que possuem um “ta-
ragem gravitacionalmente). Além dis- tipo de sistema. Isso porém não quer manho” da ordem de 10-18 metros são
so, não possuem carga elétrica (o que dizer que as restantes não estejam pre- os quarks e os léptons. No entanto,
exclui a interação eletromagnética). sentes nele. Os telescópios (óticos ou apenas os quarks experimentam essa
Sempre que um neutrino estiver envol- rádiotelescópios) são os instrumentos interação. Os instrumentos de medida
vido em uma reação, é sinal de que esta de medida mais usados na observação (indireta) relativos a essa interação
é governada pela interação fraca. As dos sistemas envolvidos na interação mais comumente utilizados são os
partículas mediadoras desta interação gravitacional. A interação gravitacio- aceleradores de partículas.
são: W+, W- e Z0. Estes mediadores são nal também engloba o dia-a-dia dos No setor 3 (Figura 5), aparecem
muito massivos e, ao contrário das ou- seres vivos, porém não é a preponde- três quadros que ilustram (da esquer-
tras partículas me- rante nesse tipo de da para a direita) a estrutura atômica
diadoras (gráviton, A interação fraca é sistema. Neste caso, segundo o modelo atualmente aceito,
fóton e glúon), que de curto alcance, e atua entramos no domí- o decaimento beta do nêutron e a ani-
possuem massa de sobre os quarks e léptons. nio da interação ele- quilação de um par quark-antiquark.
repouso nula, estes Suas partículas tromagnética, res- Vê-se, no quadro do modelo atômico
têm massa quase mediadoras são o ponsável pela esta- atual (onde está representado um áto-
cem vezes maior que W+, o W- e a Z0 bilidade das molé- mo de hélio), que o próton e o nêu-
a massa do próton, culas e átomos e por tron, que compõem o núcleo, são bá-
o que implica que a interação fraca tem qualquer “contato” dos seres vivos en- rions, ou seja, cada um deles é com-
um raio de ação limitado, da ordem de tre si e com a matéria, visível ou não. posto por três quarks. O próton tem
10-18 metros. O instrumento de medida principal, dois quarks u e um quark d. Já o nêu-
A tabela superior do setor 2 mos- nesse sistema, é o olho e as distâncias tron, dois quarks d e um u. Os elé-
tra que quarks e léptons são os que típicas envolvidas são da ordem de 1 trons, conforme mostra a figura, não
sofrem este tipo de interação, que têm metro. Nessa tabela, é exatamente têm estrutura interna. As dimensões
a propriedade de mudar o sabor (tipo nesse ponto que começa o domínio da no átomo são as seguintes: os elétrons
de lépton ou quark) das partículas,
sendo responsável por qualquer pro-
cesso de transmutação de uma partí-
cula em outra. A partir daí, pode-se
entender a sua importância na evolu-
ção da matéria e do universo como
um todo, pois é através dessa trans-
mutação que se pode explicar a diver-
sidade de elementos químicos que são
observados. O quadro inferior do se-
tor 2 fornece algumas explicações da Figura 5. O setor 3 do pôster.

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e os quarks (as partículas sem estru- decai em dois fótons provenientes da relatado foi a de criar um recurso
tura interna) têm um ”tamanho” de aniquilação de seus quarks, que for- didático (em português), à luz de mate-
10-18 metros; o próton e o nêutron, mam um par partícula-antipartícula. riais desenvolvidos no exterior. A idéia
10-15 metros; o núcleo, 10-14 metros e O texto que aparece nesse setor está, é que este tema possa ser gradativa-
o átomo, 10-10 me- em grande parte, mente introduzido nas escolas, através,
tros. As proporções A concepção da física como reproduzido acima. por exemplo, de uma visão mais atual
desta figura não são uma ciência estruturada Trata-se da explica- da estrutura da matéria, na qual o mo-
corretas. Se o pró- pode ser discutida com os ção das três figuras delo de átomo não se reduza ao que é
ton e o nêutron alunos a partir da percepção apresentadas nesta normalmente ensinado nas aulas de
tivessem 1 metro de de que todos os “infinitos” parte do pôster. química. A concepção da física como
diâmetro, os quarks tipos de força abordados no uma ciência altamente estruturada
e os elétrons teriam ensino médio recaem Conclusões pode ser discutida com os alunos a par-
1 milímetro. O nú- basicamente em quatro O objetivo deste tir da percepção de que todos os “infi-
cleo teria 10 metros interações fundamentais trabalho foi divul- nitos” tipos de força abordados no ensi-
e o átomo inteiro, gar um material no médio recaem basicamente em
100 quilômetros. didático, em forma de pôster, que quatro interações fundamentais. Como
No quadro do centro (decaimento possa contribuir para a atualização exemplo, pode-se classificar a força de
beta do nêutron), vê-se que um nêu- do currículo de física em escolas bra- atrito, a força normal, o empuxo ou a
tron decai em um próton, um elétron sileiras, através da inserção de um tensão em uma corda como manifes-
e um antineutrino do elétron via a troca tópico contemporâneo: partículas tações da interação eletromagnética.
do bóson mediador W-. Este é um clás- elementares e interações fundamen- Espera-se que o pôster apresentado,
sico exemplo de interação fraca. tais. Trata-se de uma área do ensino uma vez integrado à formação inicial
No quadro bem à direita, está re- médio de física que ainda apresenta e continuada de professores, possa
presentada a aniquilação de um par pouca tradição didática em nosso país. facilitar a inserção desta área fascinante
quark-antiquark. O méson pi-zero A contribuição do trabalho aqui da física nos currículos escolares.

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1, n. 1, p. 6-8, out. 2000. Bristol, v. 27, n. 2, p. 64-65, Mar. 1992.
2. Ostermann, F. Tópicos de física contem- Leia Mais
porânea em escolas de nível médio e na formação Na Internet
de professores de física. Porto Alegre: Curso de Ostermann, F. Um texto para professores
Pós-Graduação em Física - UFRGS, 2000. Tese. do ensino médio sobre partículas elementares. Fermi National Accelerator Laboratory.
3. Ostermann, F.; Cavalcanti, C.J.H. Física Revista Brasileira de Ensino de Física, São Paulo, http://www.fnal.gov./ 17 abr. 2001.
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pôster, sobre partículas elementares e temporánea en la escuela secundaria: una 4. Particle Data Group. A aventura das par-
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Força ‘Inteligente’?
Considere uma massa M presa na extremidade de uma corda
que gira com velocidade v em um círculo de raio R. A corda faz
um ângulo θ com a vertical. Como todo estudante sabe, a tensão
T na corda é dada por
T = Mg/cosθ
e o ângulo θ é dado por
θ = tg-1 (v2/Rg),
onde g é a aceleração da gravidade. Quando a velocidade cresce, o ângulo também aumenta.
Como a corda ‘sabe’ que deve variar a tensão?
a) Devido ao estiramento das ligações químicas?
Desvendando b) Pela ação da força gravitacional?
a Física! As forças de atrito estático entre duas superfícies também são ‘inteligentes’. Podem variar
de zero até um valor máximo. Você conhece outras forças ‘inteligentes’? Cartas ao Editor.

18 Física de Partículas Física na Escola, v. 2, n. 1, 2001

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