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MILHO

FISIOLOGIA, NUTRIÇÃO E ADUBAÇÃO


NITROGENADA DO MILHO1
Fred E. Below2

des de uma cultura de milho em crescimento, com somente 2-3% do


INTRODUÇÃO N convertidos para forma disponível a cada ano. Como resultado,

E
em geral precisa-se da adição de N através de fertilizantes químicos
ntre os elementos minerais essenciais, o nitrogênio
para otimizar o crescimento e o rendimento de milho.
(N) é o que com mais freqüência limita o crescimen-
to e o rendimento do milho. Esta limitação ocorre O nitrogênio é o único, entre os nutrientes minerais, que
porque as plantas requerem quantidades relativamente grandes de pode ser absorvido pelas plantas em duas formas distintas: como
N (de 1,5 a 3,5% do peso seco da planta), e porque a maioria dos ânion NO3- ou como cátion NH4+. Várias fontes diferentes de ferti-
solos não tem N suficiente em forma disponível para sustentar os lizantes nitrogenados são comumente usadas nos Estados Unidos,
níveis de produção desejados. Já que a deficiência de N pode dimi- as quais contêm relações variadas de NO3- e NH4+. Porém, devido
nuir o rendimento e a qualidade dos grãos, elaboram-se medidas às bactérias do solo oxidarem rapidamente o NH4+ a NO3- em solos
para assegurar que níveis adequados de N estejam disponíveis às quentes, bem arejados, favoráveis ao crescimento da cultura, o NO3-
plantas. Algumas estimativas sugerem que o fertilizante nitrogenado é a forma predominante absorvida pelas plantas, independente da
responde por 80% do custo total de fertilizantes e 30% de toda a fonte de N aplicada.
energia associada com a moderna produção agrícola (STANGEL, Além de ser a forma de N mais disponível à planta, o NO3-
1984). também é responsável pelas maiores perdas de N do solo já que é
Embora bem aceito pelos produtores de milho que teores suscetível à lixiviação ou desnitrificação. Também pode ser removi-
adequados de N são necessários para obter altos rendimentos, o do temporariamente da reserva disponível do solo através da
dilema está em saber que quantidade aplicar. Este problema resulta adsorção, fixação e imobilização microbiana. As implicações eco-
do complexo ciclo do N no ambiente, que pode permitir perdas nômicas destas perdas são patentes, especialmente quando elas
abaixo da zona radicular. É ainda mais complicado por problemas são grandes o bastante para limitar a produtividade da cultura. Es-
mecânicos associados a aplicações de N-fertilizantes e por incerte- tas perdas também muito ajudam em perpetuar a incerteza associa-
zas relacionadas às condições meteorológicas, especialmente dis- da com o manejo do adubo nitrogenado e o potencial de dano
ponibilidade de água. O N do fertilizante não aproveitado, além do ambiental.
prejuízo econômico, pode causar dano ambiental se perdido do
solo. Perdas excessivas de fertilizantes nitrogenados de culturas
agrícolas implicaram em contaminação de lençóis freáticos por ni- NITROGÊNIO NA PLANTA
trato, e tem contribuído para a zona hipóxica no Golfo do México
(CARPENTER et al., 1998; BURKART & JAMES, 1999). Com o cres- Independente da forma absorvida, uma vez na planta o N
cente interesse da opinião pública na qualidade ambiental, estão inorgânico tem que ser assimilado (isto é, incorporado em compos-
aumentando as pressões sobre os agricultores para melhorar o ma- tos contendo carbono) em formas orgânicas, tipicamente amino-
nejo de N. Com o advento das práticas de conservação do solo ácidos. Enquanto o N é incorporado em numerosos compostos
também aumentaram as questões relativas ao melhor manejo do essenciais à planta, a vasta maioria (90% ou mais) está presente nas
fertilizante nitrogenado. proteínas. Embora complexo, o impacto do metabolismo do N no
Este artigo explica brevemente como o N governa o cresci- crescimento e rendimento do milho pode ser resumido em duas
mento e o rendimento da planta e discute vários modos para melho- funções gerais: 1) estabelecimento e manutenção da capacidade
rar seu manejo. fotossintética e 2) desenvolvimento e crescimento dos drenos
reprodutivos (BELOW, 1995).
O objetivo em estabelecer a capacidade fotossintética é as-
DISPONIBILIDADE DE NITROGÊNIO segurar que a provisão de N não venha a limitar o desenvolvimento
do aparato fotossintético (enzimas, pigmentos e outros compostos
Sob condições naturais, o N entra no ambiente do solo como necessários à fotossíntese). Dentro de limites, o aumento no supri-
resultado da fixação biológica e/ou da decomposição dos resíduos mento de N aumenta o crescimento e o vigor da planta, enquanto a
animais e vegetais. A maior parte do N nos solos está contida na deficiência resulta em plantas menores, pálidas. Coletivamente, es-
matéria orgânica (> 90%), que é relativamente estável e não direta- tas diferenças afetam a interceptação solar, a fotossíntese e em
mente disponível às plantas. Embora uma porção do N na matéria última instância o rendimento de grãos. Enquanto deficiências de N
orgânica possa se tornar disponível pela mineralização através dos são prontamente identificáveis pelos agricultores (e pelos seus vi-
microrganismos do solo, a quantidade liberada é variável e depen- zinhos) devido à cor verde mais clara da cultura (Figura 1), já é
de das práticas de manejo e das condições ambientais. Além disso, muito mais difícil identificar com base na cor da cultura quando o
a liberação é normalmente muito lenta para satisfazer as necessida- nível de N está adequado, e não excessivo.

1
Palestra apresentada no 1o Simpósio sobre Rotação Soja/Milho no Plantio Direto, promovido pela POTAFOS, Piracicaba-SP, em 03 a 06/julho/2000.
2
Departamento de Ciências do Solo, Professor Associado, University of Illinois, Urbana, EUA. E-mail: f-below@uiuc.edu

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Deficiente em N Suficiente em N
Figura 1. Vista aérea de uma cultura de milho onde diferentes doses
de N-fertilizante foram aplicadas antes do plantio. Áreas
Figura 3. Comparação entre espigas maduras de milho oriundas de
deficientes em N são vistas facilmente pela cor verde mais
plantas cultivadas com suprimento suficiente e deficiente
clara, enquanto áreas com excesso de N não podem ser
de N. Notar que as plantas deficientes em N exibem dimi-
facilmente distinguidas. A cultura está cerca de duas se-
nuição de fileiras de grãos no topo da espiga.
manas antes do florescimento.

Para alcançar altos rendimentos, as plantas têm que estabe- um impacto menor sobre o peso individual dos grãos, que no núme-
lecer não só a capacidade fotossintética, mas também continuar a ro de grãos. A adição de fertilizante nitrogenado aumentou o peso
fotossíntese durante a formação da semente e durante o período de de cada grão em apenas 10%, e este aumento foi obtido principal-
enchimento de grãos. Este papel é particularmente importante, des- mente com o primeiro incremento de N (67 kg N/ha). Por outro lado,
de que a acumulação de matéria seca nos grãos de milho depende todos os incrementos em fertilizante nitrogenado resultaram em
da fotossíntese presente. A maior parte do N na folha de milho está maior número de grãos, em um padrão bem parecido com a típica
associada ao cloroplasto (ao redor de 60% do N total da folha), e resposta de rendimento de grãos ao suprimento de N (Figura 4).
estas proteínas estão sujeitas ao desdobramento e remobilização
dos aminoácidos resultantes. Com o envelhecimento das folhas, a
capacidade fotossintética diminui, e também o suprimento de assi-
milados e o rendimento de grãos. Este declínio ocorre mais rapida-
mente para as folhas deficientes em N (Figura 2), e conduz a espigas
menores, com menos grãos (Figura 3).

Figura 4. Efeito de doses de N sobre os componentes de rendimento


do milho. Valores médios de dois híbridos em dois anos. As
barras indicam a DMS ao nível de 5% de probabilidade
Figura 2. Plantas de milho deficientes em N mostram folhas verdes para a comparação das doses de N.
pálidas e senescência precoce. Note também a variabili-
dade no tamanho, posição e fases de desenvolvimento da
No milho, o suprimento de N afeta o número de grãos princi-
espiga.
palmente pelo menor aborto de grãos (Figura 5). O número poten-
cial de óvulos é determinado no início do desenvolvimento da plan-
Outro importante papel do N em assegurar alta produtivida- ta (isto é, no estádio de folha 12), e é relativamente inalterado pelo
de de milho está no estabelecimento da capacidade do dreno fornecimento de N. No entanto, a proporção de grãos que abortam,
reprodutivo. ou aqueles que cessam cedo o desenvolvimento, é muito afetado
pela disponibilidade de N (Figura 5).
Apesar da capacidade do dreno reprodutivo ser função do
número e do tamanho dos grãos, o número de grãos por planta Como outros estresses, o aborto de grãos induzido pela
normalmente está mais relacionado ao rendimento de milho que deficiência de N ocorre principalmente na ponta da espiga (Figu-
qualquer outro componente de produção. Por conseguinte, muitos ra 3). Não se sabe ainda se este efeito é resultado direto da quanti-
estudos mostram que os aumentos de rendimento induzidos pelo N dade de N fornecida à espiga, ou resultado indireto de uma limita-
são primeiro o resultado de mais grãos por planta (BELOW, 1995; ção na fotossíntese induzida pela falta de N. Experimentos sobre
UHART & ANDRADE, 1995); um exemplo disso é mostrado nas redução na fonte (pelo sombreamento ou deficiência de N), realiza-
Figuras 3 e 4. Neste estudo, o aumento no suprimento de N causou dos por UHART & ANDRADE (1995), sugerem que o suprimento

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de N afeta o rendimento de milho alterando a interceptação lumino- mente devido ao desejo de altos rendimentos e o conceito do N
sa e a fotossíntese do dossel; já nossa pesquisa com cultivo in extra como segurança.
vitro e infusão do caule indica que ao menos uma porção do efeito No Estado de Illinois, a recomendação atual de fertilizante
do N no desenvolvimento dos grãos e no rendimento se deve a uma nitrogenado para o milho é de 21,4 kg de N por tonelada de produ-
modificação no metabolismo dos grãos em resposta ao suprimento ção esperada (média de 5 anos mais 5% para melhorias genéticas
de N (BELOW et al., 2000). antecipadas), menos qualquer crédito para uma leguminosa como a
cultura anterior e para qualquer N casual (isto é, como starters,
fertilizantes fosfatados amoniacais, carregadores de herbicidas ou
aplicações de esterco). Quando a soja foi a colheita anterior (que é
o caso em mais de 90% do milho cultivado em Illinois), um “crédito
de N da soja” de 17 kg N por tonelada de soja colhida, até um
máximo de 45 kg, é subtraído das necessidades calculadas de N.
As evidências, porém, sugerem que a exigência de N pelo
milho é mais uma função do tipo específico de solo do que do nível
de rendimento produzido (VANOTTI & BUNDY, 1994a, 1994b), e
que o crédito de N da soja pode ser na verdade maior que o usado
nas recomendações de N-fertilizante (BUNDY et al., 1993; SCHOES-
SOW et al., 1996). Nosso dados também tendem a apoiar estas
considerações.
Os dados apresentados na Tabela 1 resumem as respostas
ao N de experimentos com milho seguido de soja conduzidos em
campo altamente produtivo em Champaign, IL, num período de cin-
co anos. Durante este período, as máximas produções de grãos
Figura 5. Efeito de doses variadas de N sobre os componentes do variaram de baixa, 8,0 t/ha, a alta, 13,2 t/ha, com rendimento médio
número de grãos de milho. Valores médios de dois híbri- de 10,5 t/ha; e doses econômicas ótimas de N de 130 a 180 kg/ha,
dos em dois anos. As barras indicam a DMS ao nível de 5%
uma dose média de 159 kg N/ha. Usando esta média de rendimento
de probabilidade para a comparação das doses de N.
de cinco anos (10,5 t/ha) e um crédito de N da soja de 45 kg N/ha, o
sistema atual de recomendação de N em Illinois calcularia a neces-
sidade de 191 kg de N-fertilizante para o máximo rendimento. De ma-
MANEJO DA ADUBAÇÃO NITROGENADA neira interessante, em nenhum momento os 191 kg de N-fertilizante
foram necessários para ótimo rendimento, e em dois dos anos (1995
A resposta do milho ao fertilizante nitrogenado é afetada e 1998) muito menos fertilizante nitrogenado (ao redor de 55 kg) foi
por muitos fatores como ambiental, cultural e de solo, de modo que requerido. Outros experimentos de resposta ao N, conduzidos em
as curvas de resposta podem variar bastante entre diferentes lo- outros locais do Estado, forneceram resultados semelhantes (da-
cais. Assim, em um solo fértil, com alto suprimento residual de N, dos não mostrados).
adubações nitrogenadas podem não ter efeito ou até mesmo dimi-
nuir os rendimentos. Também, se outro fator além do N, como umi-
Tabela 1. Dose ótima econômica de N e exigência de N para máximo
dade do solo ou outro nutriente, estiver limitante, as aplicações de rendimento de milho desenvolvido no mesmo campo, num
N não aumentarão o crescimento e o rendimento mesmo quando o período de cinco anos. Todos os valores foram calculados a
suprimento de N no solo está baixo. A dose ótima econômica de N partir de curvas de resposta da produção de grãos ao N. A
também depende de vários outros fatores, como fonte de fertilizan- soja sempre foi a cultura anterior, e o crédito de N reco-
te nitrogenado e época de aplicação de N, e também das práticas mendado de 45 kg/ha está incluído nos valores calculados
culturais usadas no sistema de produção. A parte final desta revi- para N requerido.
são examinará brevemente estes fatores e usará alguns dos resulta-
Ano Rendimento Dose ótima Nitrogênio
dos de pesquisa de meu laboratório como exemplos. de grãos de N requerido
Nos Estados Unidos, as recomendações de adubação nitro-
genada são normalmente baseadas no histórico da cultura anterior t/ha kg/ha kg de N/t
e na meta de produtividade buscada e, em menor extensão, nas 1995 8,0 135 22,4
fórmulas para estimar a capacidade do solo em mineralizar o N. A 1996 10,7 170 19,9
cultura anterior também pode afetar a necessidade de N-fertilizante, 1997 11,2 180 20,0
como também outros fatores, como práticas culturais utilizadas e a 1998 9,5 130 18,8
relação custo/benefício do fertilizante. Apesar de lógicos, os pro-
1999 13,2 180 16,9
blemas com as recomendações de N-fertilizante podem surgir se a
meta de rendimento for irreal, ou se os produtores não avaliam com
precisão a capacidade do solo em prover a cultura com N. Soman- A exigência em N calculada (que incluiu o crédito de 45 kg
do-se a isso, há o fato que as recomendações de N-fertilizante po- N/ha da soja) também foi menor que a da recomendação atual
dem variar consideravelmente de Estado para Estado, em alguns (21,4 kg N/t de grãos) em todos os anos, menos no que apresentou
casos em Estados adjacentes, sem razão aparente ou explicação. menor rendimento (Tabela 1). Assim, em contraste com o que a
Levantamentos recentes e entrevistas face-a-face indicaram que maioria do produtores acredita, a exigência em N foi realmente mais
muitos fazendeiros aplicam mais N que o recomendado habitual- baixa no ano de maior produtividade, e mais alta no ano de menor
mente. Esta superaplicação ocorre por várias razões, mas principal- produtividade. Aparentemente, quando o ambiente é favorável a

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altos rendimentos, também é favorável a altas taxas de mineralização Além de quanto N-fertilizante aplicar, os agricultores nos
do N do solo. Estes dados refutam ambas as razões (o desejo de Estados Unidos também têm que escolher entre várias fontes dife-
altos rendimentos e a idéia de N extra como seguro) que os fazen- rentes de fertilizantes nitrogenados. Estas fontes diferem na sua
deiros freqüentemente usam para justificar o uso de maiores doses porcentagem por peso de N, e na sua porcentagem de N como NH4
de adubo nitrogenado que as recomendadas, e sugerem que as ou NO3 (Tabela 2). Embora quaisquer destas fontes possa ser usa-
recomendações de adubos nitrogenados atuais estejam conserva- da em lavoura convencional ou no plantio direto, algumas reque-
doramente elevadas. rem considerações especiais para maximizar sua eficiência. Por exem-
A alusão adicional de que híbridos de milho modernos pos- plo, amônia anidra deve ser incorporada no solo e isto causa um
sam usar N mais eficazmente (e assim requerer menos N-fertilizan- certo revolvimento do solo. Alguns agricultores tiram proveito desta
tes) é indicada por um aumento contínuo no rendimento médio de aplicação plantando a semente diretamente sobre o corte da faca,
milho em Illinois durante os últimos 25 anos, enquanto o uso de uma prática de cultivo chamada cultivo em faixa (strip-tillage). Não
fertilizante nitrogenado permaneceu relativamente constante. apenas pela área estar relativamente livre de resíduo, mas devido à
Embora a soja seja uma removedora de N do solo (ou seja, proximidade íntima de N, em muitos casos o seedling tem um de-
deixa saldo negativo), há claramente um benefício à cultura de mi- senvolvimento inicial mais rápido.
lho subseqüente, conhecido como crédito de N da soja. As estima-
tivas desses créditos são normalmente obtidas pela determinação Tabela 2. Algumas fontes diferentes de fertilizante nitrogenado em
da dose de N-fertilizante exigida para produzir o mesmo rendimento uso nos Estados Unidos. Notar que elas contêm porcenta-
em milho contínuo comparada com o da rotação milho/soja, e são gens variadas de N e provêm porcentagens variadas deste N
referidas como valor de substituição de N (HESTERMAN, 1988). como amônio ou nitrato.
Estimativas experimentais do crédito de N para soja diferem nota-
Fertilizante %N % como NH4+ % como NO3-
damente entre locais e anos, e variam de 22 a 210 kg N/ha (BUNDY
et al., 1993). Apesar de variável de acordo com o Estado, a maior Amônia anidra 82 100 0
parte dos sistemas de recomendação de N-fertilizante nos Estados Liquid 28% 28 75 25
Unidos selecionou, empiricamente, o crédito máximo de N da soja Uréia 46 100 0
em 45 kg N/ha. Assim, outro fator que poderia conduzir a excessi-
Sulfato de amônio 21 100 0
vas aplicações de N-fertilizante é a subestimativa do crédito de N
da soja. Nitrato de amônio 35 50 50
Nitrato de potássio 14 0 100
O rendimento de milho como uma função da cultura anterior
e da taxa de N-fertilizante, para um solo altamente produtivo de
Illinois, é mostrado na Figura 6. Neste experimento, o rendimento de
grãos do milho contínuo foi menor que o do milho em rotação, a Enquanto algumas fontes de N podem ser aplicadas na su-
cada nível de N-fertilizante testado. Cerca de 135 kg/ha de fertilizan- perfície (que é o método de fertilização lógico em cultivos mínimos),
te nitrogenado foram exigidos para otimizar o rendimento do milho outras são mais sujeitas a perdas com esta prática. Este problema é
em rotação com a soja, enquanto o rendimento do milho contínuo maior para uréia ou fertilizantes contendo uréia (por exemplo, Liquid
ainda estava aumentando com 235 kg de N/ha. Com base na técnica 28%) porque a uréia é rapidamente dividida em NH4+ e CO2 pela
do valor de substituição de N, o crédito de 97 kg N/ha da soja pode ação de enzimas urease presentes no solo e nos resíduos de planta.
ser calculado a partir destes dados, que é duas vezes mais o normal- Esta conversão promove altos níveis de NH4+ e pH elevado no local
mente utilizado em recomendações de N-fertilizante. de aplicação, duas propriedades que contribuem para perdas por
volatilização de N como NH3 gasoso. Já o sulfato de amônio, por
não exibir reação alcalina com o solo, é muito menos sujeito a per-
das de N através da volatilização, mas é mais acidificante que a
maioria das outras fontes de N.
Diferenças nas proporções de NO3- ou NH4+ do fertilizante
nitrogenado também podem ter importantes efeitos no manejo de
N, já que o N-NH4 é muito menos sujeito a perdas de N por lixiviação
ou desnitrificação. Aumentando-se o suprimento de NH4+ nos so-
los pode-se também aumentar o desempenho da planta, como tem-
se observado em numerosas espécies de plantas que absorvem
mais N e crescem mais rapidamente quando supridas com misturas
de NO3- e NH4+ que quando supridas somente com NO3- (BELOW,
1995). Como sistemas com 100% de NH4+ são impossíveis de serem
obtidos sob condições normais de produção, a alteração da forma
de N nos solos se dá principalmente aumentando-se o suprimento
de NH4+ acima da quantidade que normalmente estaria presente.
Figura 6. Efeito da cultura anterior sobre a resposta do rendimento Este conceito tem sido livremente reportado como “suprimento acen-
de grãos de milho à dose de N-fertilizante aplicada. Os tuado de amônio” ou “nutrição nitrogenada mista”.
dados de rendimento de milho foram obtidos em 1999 para
Usando experimentos hidropônicos, onde a forma de N pode
milho após soja (milho/soja) ou milho (contínuo) em 1998.
As duas culturas cresceram adjacentes em um mesmo cam- ser estritamente controlada, observamos maiores e consistentes
po. Barras indicam a DMS ao nível de 5% de probabilidade rendimentos de milho (variação de 10 a 14%, para uma média de
para comparar a resposta da cultura anterior a uma deter- 12%) quando as plantas cresciam com nutrição nitrogenada mista
minada dose de N. do que somente com NO3- (Tabela 3). Embora estes aumentos te-

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nham sido obtidos com hidroponia, onde é possível maior controle aplicação do N, mais eficiente seria seu uso. Devido a restrições de
das relações NO3-/NH4+, moderados aumentos de rendimento (6 a tempo, porém, esta prática nem sempre é possível, e uma considerá-
10%) também foram observados para alguns híbridos sob condi- vel quantidade de N-fertilizante é antecipada e aplicada no outono,
ções de campo usando fertilizante amoniacal e inibidor de nitrificação em Illinois. Além disso, algumas fontes de N, particularmente sulfa-
para aumentar o suprimento de N do solo como NH4+ (SMICIKLAS to de amônio, são aplicadas na superfície do solo congelado no
& BELOW, 1992). inverno. Esta prática é especialmente atraente para os agricultores
que utilizam o cultivo mínimo e que querem evitar a compactação do
solo.
Tabela 3. Efeito da forma de N no rendimento de grãos e nos parâ-
Nós avaliamos a melhor época para o N aplicando sulfato de
metros fisiológicos de milho cultivado até a maturidade
em meio hidropônico. Os valores são a média de todos o
amônio a intervalos mensais em 10 locais (num período de três
híbridos avaliados durante seis anos. anos) em doses consideradas adequadas para maximizar o rendi-
mento de grãos (dose padrão). Estes locais foram selecionados
Parâmetro Nitrato/Amônio para representar as variadas práticas de cultivo, e incluiu cultivo
com aiveca, mulch-till, strip-till e plantio direto (no-till). Apesar das
100/0 50/50
variações anuais, na média, foi observada uma notável diminuição
Rendimento de grãos (t/ha) 12,3 13,8 no rendimento quando o N foi aplicado no outono ou no inverno
Número de grãos (n /planta)
o
652 737 comparada à aplicação na primavera (Tabela 4). As diferenças em
Absorção de N pela planta (kg/ha) 279 343 magnitude destas diminuições na produção foram atribuídas a dife-
renças na precipitação de primavera (dados não mostrados). Para
locais com baixa precipitação primaveril a época de aplicação de N
Em todos os casos, os aumentos de rendimento induzidos não afetou notadamente o rendimento de grãos, enquanto o opos-
pela mistura de N foram devidos a mais grãos por planta, princi- to foi observado naqueles locais com alta precipitação primaveril.
palmente pelo menor abortamento de grãos na ponta da espiga Embora incrementos adicionais de fertilizante nitrogenado acima da
(Tabela 3 e Figura 7). Estes resultados sugerem um efeito fisiológi- dose padrão aumentaram os rendimentos nesses ambientes onde
co direto da forma de N no desenvolvimento dos grãos, já que aplicações de outono e inverno foram menos efetivas, não aumen-
ambos os tratamentos com N presumivelmente tiveram suprimen- taram os rendimentos ao nível obtido com a dose padrão aplicada
tos de N disponível mais que adequados. Embora a base fisiológica na primavera (dados não mostrados). De maneira interessante, a
para o menor aborto com a mistura de N ainda não esteja esclarecida, prática de cultivo utilizada não afetou a resposta à época de aplica-
o acúmulo adicional de N parece estar implicado, já que as plantas ção de N (dados não mostrados).
que se desenvolveram com mistura das duas formas de N conti-
nham mais N que as desenvolvidas somente com NO 3- (Tabela 3).
Estes resultados foram observados em plantas cultivadas hidropo- Tabela 4. Efeito da época de aplicação de N no rendimento de grãos de
milho em Illinois. O nitrogênio foi aplicado em pré-plantio
nicamente (Tabela 3) e também em solos (SMICIKLAS & BELOW,
na superfície do solo como sulfato de amônio, a intervalos
1992), e sugerem que plantas de milho são incapazes de absorver N mensais, em doses consideradas adequadas para ótimos ren-
suficiente para produtividades máximas quando o N for suprido dimentos. Valores que representam o outono são médias
majoritariamente como NO3-. dos meses de outubro e novembro, para o inverno os meses
de dezembro, janeiro e fevereiro, e para a primavera os
meses de março e abril (três locais em 1997 e 1998 e quatro
locais em 1999).

Época de Ano
Média
aplicação 1997 1998 1999
- - - - - - - - - - t/ha - - - - - - - - - - - -
Nenhum N 8,0 5,8 7,0 6,9
Outono 9,4 8,5 8,6 8,8
Inverno 9,3 9,4 9,2 9,3
Primavera 9,7 10,0 9,6 9,8

Além dos fatores previamente mencionados, numerosas prá-


ticas culturais (por exemplo, seleção de híbridos, manejo do solo,
controle de pragas, etc.) também podem influenciar a resposta do
Figura 7. Efeito da forma de nitrogênio no desenvolvimento da espi- milho ao fertilizante nitrogenado. O cultivo do solo pode afetar a
ga de plantas de milho cultivadas até a maturidade em disponibilidade de N e seu uso pela cultura pela alteração das pro-
meio hidropônico. Note que as plantas cultivadas com mis- priedades físicas do solo, como também seus componentes quími-
turas de NH4+ + NO3- exibiram melhor desenvolvimento de cos e bióticos. Iniciamos recentemente experimentos para investi-
grãos na ponta da espiga. gar o impacto do manejo do solo sobre as exigências em N pelo
milho, e alguns de nossos dados preliminares estão apresentados
Além da quantidade, da fonte e da forma de N disponível à na Tabela 5. As três práticas de cultivo mais comuns atualmente em
planta, a época em que este N está disponível também pode influen- uso em Illinois estão sendo avaliadas. Estas incluem mulch-till, que
ciar o uso de N e a produtividade. A ciência tradicional prescreve consiste em escarificação no outono seguida por uma gradagem
que quanto mais próximo do momento da absorção da cultura for a leve na primavera, strip-till, onde apenas a faixa da lavoura onde a

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 99 – SETEMBRO/2002 11


MILHO
Tabela 5. Efeito do sistema de cultivo na resposta do rendimento de grãos produzida. A soja como cultura prévia reduz claramente a
grãos de milho às doses variadas de N-fertilizante (Valores necessidade por N-fertilizante, enquanto o suprimento de N à cul-
médios de três locais em 1999). tura como mistura de NO3- e NH4+ também pode aumentar a produ-
tividade. Quanto mais próximo da época de uso da cultura o N-
Dose de Sistema de cultivo
fertilizante for aplicado, maior será o rendimento. O cultivo, apesar
N Plantio direto Strip-till Mulch-till de afetar a produtividade quando o suprimento de N-fertilizante é
kg/ha - - - - - - - - - - - - - - - - - - - t/ha - - - - - - - - - - - - - - - - - - limitante, não afeta a dose de N-fertilizante necessária para rendi-
0 6,4 7,4 8,0 mento máximo.
45 8,9 9,6 9,8
90 11,2 11,2 12,0 LITERATURA CITADA
135 12,5 12,7 12,4
180 13,4 13,6 13,6 BELOW, F.E. Nitrogen metabolism and crop productivity. In: PRESSARAKLI,
246 13,6 13,9 13,9 M. (ed.) Handbook of Plant and Crop Physiology. New York: Marcel
Dekkar, Inc., 1995. p.275-301.
BELOW, F.E.; CAZETTA, J.O.; SEEBAUER, J.R. Carbon/nitrogen interactions
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ling Kernel Set in Maize. Madison: ASA, CSSA, SSSA, 2000. p.15-24.
nenhum cultivo é feito. O mulch-till deixa pouco ou nenhum resíduo
(CSSC Spec. Pub. No 29)
na superfície do solo quando a cultura prévia for soja, e menos de
BUNDY, L.G.; ANDRASKI, T.W.; WOLKOWSKI, R.P. Nitrogen credits in
30% de cobertura de resíduo quando a cultura prévia for milho, e
soybean-corn crop sequences on three soils. Agronomy Journal, v.85,
não é considerado cultivo de conservação; já strip-till e plantio p.1061-1067, 1993.
direto (no-till) deixaram mais de 30% de cobertura de resíduo e são BURKART, M.R.; JAMES, D.E. Agricultural-nitrogen contributions to hypoxia
consideradas práticas de cultivo de conservação. in the Gulf of Mexico. Journal of Environment Quality, v.28, p.850-
Nossos dados iniciais mostram que o cultivo pode influen- 859, 1999.
ciar a resposta do milho ao fertilizante nitrogenado, mas só nas CARPENTER, S.R.; CARACO, N.E.; CORRELL, D.L.; HOWARTH, R.W.;
baixas doses, quando o fornecimento de N foi limitante (Tabela 5). SHARPLEY, A.N.; SMITH, V.H. Nonpoint pollution of surface waters
with phosphorus and nitrogen. Ecol. Applic., v.8, p.559-568, 1998.
Nos talhões que não receberam N-fertilizante, onde o suprimento
de todo o N para a cultura foi através da mineralização, houve uma HESTERMAN, O.B. Exploiting forage legumes for nitrogen contribution in
cropping systems. In: HARGROVE, W.L. (ed.) Cropping Strategies for
clara vantagem do mulch-till sobre o strip-till e deste sobre o no-till Efficient Use of Water and Nitrogen. Madison: ASA, CSSA, SSSA,
(plantio direto). Este efeito pode ser devido à melhor aeração e à 1988. p.155-166. (ASA Spec. Pub. N o 51).
maior temperatura do solo causadas pelo cultivo do solo, que le- SCHOESSOW, K.A; KILLIAN, K.C.; BUNDY, L.C. Site-specific prediction
vam à decomposição mais rápida dos resíduos das culturas e da of soybean nitrogen contributions. In: NORTH CENTRAL EXT. INDUS.
matéria orgânica. Esta diferença persistiu com as doses mais baixas SOIL FERT. CONF., St. Louis, MO., 20-21, Nov. 1996. Proceedings.
de N-fertilizante, que não resultaram em máximos rendimentos (isto p.27-40.
é, 45 e 90 kg N/ha), mas não foi observada quando a dose de fertili- SMICIKLAS, K.D; BELOW, F.E. Role of nitrogen form in determining yield
zante estava acima daquela necessária para ótimo rendimento. En- of field-grown maize. Crop Science, v.32, p.1220-1225, 1992.
quanto estes resultados preliminares mostram que o cultivo pode STANGEL, P.J. World nitrogen situation, trends, outlook, and requirements.
afetar a resposta do rendimento ao N-fertilizante, eles não apóiam a In: HAUCK, R.D. (eds.). Nitrogen in Crop Production. Madison: ASA,
CSSA, SSSA, 1984. p.23-54.
idéia de que as práticas de adubação deveriam ser alteradas de
UHART, S.A.; ANDRADE, F.H. Nitrogen deficiency in maize: II. Carbon-
acordo com o sistema de cultivo.
nitrogen interaction effects on kernel number and grain yield. Crop
Em resumo, o N desempenha numerosos papéis importan- Science, v.35, p.1384-1389, 1995.
tes na planta de milho, onde aumenta o rendimento pela redução no VANOTTI, M.B; BUNDY, L.G. An alternative rationale for corn nitrogen
aborto de grãos. Enquanto as necessidades de N-fertilizante são fertilizer recommendations. J. Prod. Agric., v.7, p.243-249, 1994a.
variáveis de acordo com o ano e o local, a exigência em N para VANOTTI, M.B; BUNDY, L.G. Corn nitrogen recommendations based on
rendimento máximo raramente excede 20 kg de N por tonelada de yield response data. J. Prod. Agric., v.7, p.249-256, 1994b.

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12 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 99 – SETEMBRO/2002

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