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SALOMÉ, Josélia Schwanka. A arte na escola e o conhecimento do sensível. Eletras, vol. 18, n.18, jul.2009.
www.utp.br/eletras
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Doutoranda em Artes –Instituto de Artes – UNICAMP e Mestre em Educação pela UTP. Coordenadora e professora do
curso de Artes Visuais da Universidade Tuiuti do Paraná.
Eletras, vol. 18, n.18, jul.2009
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Dossiê especial: Artes Visuais
SALOMÉ, Josélia Schwanka. A arte na escola e o conhecimento do sensível. Eletras, vol. 18, n.18, jul.2009.
www.utp.br/eletras
Nessas condições, a pedagogia tecnicista acabou por contribuir para aumentar o caos no campo
educativo, gerando tal nível de descontinuidade, de heterogeneidade e de fragmentação, que
praticamente inviabiliza o trabalho pedagógico. (SAVIANI, 2002a, p.15)
[...] a inspiração liberalista que caracterizava a Lei 4.024/61 cedeu lugar a uma tendência tecnicista
tanto na Lei 5.540/68 como na Lei 5.692/71. A diferença entre as duas orientações se caracteriza pelo
fato de que, enquanto o liberalismo põe a ênfase na qualidade em lugar da quantidade; nos fins
(ideais) em detrimento dos métodos (técnicas); na autonomia em oposição à adaptação; nas
aspirações individuais antes que nas necessidades sociais; e na cultura geral em detrimento da
formação profissional, com o tecnicismo ocorre o inverso.
No que se refere à arte e seu ensino, a Lei 5.691 de 1971 torna a Educação Artística
obrigatória no currículo escolar de 1º e 2º graus. Essa obrigatoriedade está prevista pelo
artigo 60º onde: “Será obrigatória a inclusão de Educação Moral e Cívica, Educação Física,
períodos, são atividades isoladas com o caráter de trabalhar o ‘fazer expressivo’, através de
aulas com temas, ou simplesmente com o desenvolvimento de técnicas artísticas.
Nas aulas de arte, os professores enfatizam 'saber construir' reduzidos aos seus
aspectos técnicos e ao uso de materiais diversificados (sucatas, por exemplo), e
um 'saber exprimir-se' espontaneístico, na maioria dos casos caracterizando
poucos compromissos com o conhecimento de linguagens artísticas. (FUSARI,
1992, p. 32)
Diante desse quadro, os rumos que o ensino da arte toma após a implementação
dos cursos de formação dos professores têm, nas associações dos Arte–Educadores os
movimentos para tentar mudar os rumos da arte na escola. Alguns desses movimentos
tiveram importância fundamental nas discussões sobre a polivalência e os conteúdos para a
área, como o encontro de arte-educadores realizado na Universidade de São Paulo em 1983
e que contou com mais de dois mil professores de arte do país e que discutiu os aspectos
políticos que tentavam imobilizar o ensino da arte nesse momento histórico. E assim,
diversos outros encontros que culminaram em documentos e resoluções propondo
alterações significativas nos currículos das escolas.
Esses movimentos, entretanto, foram diluídos pelo sistema político dominante neste
período (1970-1980), que procurava veicular sentidos que nada tinham a ver com a
realidade que se apresentava, buscando moldar um padrão para que os pensamentos e
sentimentos deixassem de ser críticos e se tornassem consumistas. A televisão entrou como
um veículo de difusão e de homogeneização cultural, impondo a forma de pensar e de
sentir, levando o ensino da arte a um processo de tecnicização.
Esta visão de educação, apesar de pretender, não conseguiu a superação da
marginalidade, pois o próprio processo gerou este resultado. Sem ter a mediação crítica que
perceba esta conseqüência, temos nesta teoria apresentada, a reprodução da sociedade na
qual ela está inserida, sem a preocupação com as classes menos favorecidas.
A esse momento histórico, a educação em arte é discutida na perspectiva da
possibilidade de superação desta ordem. Quando tratada de forma a desenvolver o do olhar
pensante e sensível no intuito de formar homens mais sensíveis ao mundo que os cerca..
Convertida em mercadoria, a obra de arte perde sua significação humana, sua qualidade, sua relação
com o homem. Seu valor – sua capacidade de satisfazer uma necessidade humana específica
mediante suas qualidades estéticas – já não se funda nela mesma, e, portanto, em suas qualidades
estéticas específicas, mas em sua capacidade de produzir lucro.
O cinema e o rádio não precisam mais se apresentar como arte. A verdade é que não passam de um
negócio, sendo utilizados como veículos ideológicos destinados a legitimar o lixo que
propositadamente produzem. Eles definem a si mesmos como indústrias e a cifras publicitárias dos
rendimentos de seus diretores gerais suprimem toda dúvida quanto à necessidade social de seus
produtos. (ADORNO, 1985, p.114)
[...] o fato decisivo da cultura do século XX, o surgimento de uma revolucionária indústria de
diversão popular voltada para o mercado de massa, reduziu as formas tradicionais de grande arte a
guetos de elite, e de meados do século em diante, seus habitantes eram essencialmente pessoas com
educação superior.
Em suma, o que se procura apontar aqui, com relação ao saber sensível, é que sua desvalorização ao
longo dos tempos modernos sofreu um vigoroso incremento em nossa contemporaneidade, e do
modo mais paradoxal. Isto é; na medida em que a sociedade industrial sistematizou e ampliou esse
seu ramo de negócios conhecido como “indústria cultural”, visando a produzir e vender
quinquilharias pretensamente estéticas, e os próprios artistas se deixaram iludir pelas promessas da
razão instrumental e de sua filha direta, a tecnologia, destituindo a própria arte de seu aspecto
sensível,[...] a educação da sensibilidade humana passou sistematicamente a perder espaço no
cotidiano das pessoas. Ao pretender (falsamente) “estetizar” a realidade urbana, a indústria cultural e
os artistas que se colocaram a seu serviço rebaixaram o nível de qualidade de seus produtos
oferecidos ao público como obras de arte e passaram a difundir a versão de que tido em nosso
entorno possui uma dimensão intrinsecamente estética, de talheres a aeroportos, de canetas
descartáveis a shoppings centers[...]
Na sociedade capitalista, há milhões de homens com os quais um verdadeiro artista não pode
dialogar. Para milhões de homens, romperam-se as pontes que deveriam colocá-los em relação com a
arte.[...] Deste fato, ou seja, do fato de que , na sociedade burguesa – como manifestação profunda da
hostilidade do capitalismo à arte – o artista se divorcie necessariamente das massas, já que não pode
descer ao nível delas, nem estas querem ou podem elevar-se ao nível da arte; do fato de que o artista
não pode aspirar hoje a compartilhar a sua mensagem como os milhões de seres humanos que o
capitalismo mantém em sua condição de homens-coisa; deste fato histórico – divorcio real, efetivo,
entre as artes e a massa – alguns deduzem que a arte de nosso tempo deve ser necessariamente uma
arte minoritária, para iniciados ou eleitos.
REFERÊNCIAS
i
Adorno e Horkheimer (1947) utilizam a expressão ‘indústria cultural’ para designar a atividade capitalista
que almeja “uma produção em série de bens culturais para satisfazer de forma ilusória necessidades geradas
pela estrutura de trabalho e também para manter a carência por novos produtos.” (FREITAS, 2003, p. 18)
ii
O termo “ser humano” refere-se ao resgate da humanidade do homem, da sua sensibilidade, emoção e
sentidos.
iii
(des) ordem entendida como estruturas de poder que nos fazem vislumbrar ordens.